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DIREITO PROCESSUAL CIVIL DA FORMAÇÃO, DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO PROCESSO RICARDO S. TORQUES 1 DA FORMAÇÃO, DA EXTINÇÃO E DA SUSPENSÃO DO PROCESSO CAPÍTULO I - DA FORMAÇÃO DO PROCESSO Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial. O art. 262, do CPC, traz o princípio da demanda (presente também nos artigos 2º, 128 e 459, todos do CPC), que é regra no direito processual civil. Existem exceções, como na hipótese em que o juiz determina o início do inventário, de ofício, quando nenhum dos legitimados a requer no prazo (art. 898, do CPC); bem como, a determinação de ofício pelo juiz para que o detentor do testamento exiba o documento testamentário (art. 1.128, do CPC). Art. 263. Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz, OU simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A propositura da ação, todavia, produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados no art. 219 depois que for validamente citado. O momento da propositura da ação é importante para determinar a perpetuatio jurisdicionis (art. 87, do CPC) que provoca a estabilização da competência, segundo a qual, alterações posteriores nas circunstâncias de fato ou de direito serão irrelevantes para fins de fixação da competência. Contudo, em duas situações a estabilização da competência não prevalece: 1. alteração da competência absoluta e 2. supressão do órgão judiciário. Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por lei. Parágrafo único. A alteração do pedido ou da causa de pedir em nenhuma hipótese será permitida após o saneamento do processo. A modificação da causa de pedir ou do pedido (elementos objetivos da ação): admissível antes da citação; admissível, desde que o réu consinta, após a citação e inadmissível após o saneamento do processo. A fundamentação legal não integra a causa de pedir, logo, é possível alterá-la a qualquer tempo. CAPÍTULO II - DA SUSPENSÃO DO PROCESSO

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DA FORMAÇÃO, DA EXTINÇÃO E DA SUSPENSÃO DO PROCESSO

CAPÍTULO I - DA FORMAÇÃO DO PROCESSO

Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso

oficial.

O art. 262, do CPC, traz o princípio da demanda (presente também nos artigos 2º, 128 e 459,

todos do CPC), que é regra no direito processual civil. Existem exceções, como na hipótese em

que o juiz determina o início do inventário, de ofício, quando nenhum dos legitimados a requer no

prazo (art. 898, do CPC); bem como, a determinação de ofício pelo juiz para que o detentor do

testamento exiba o documento testamentário (art. 1.128, do CPC).

Art. 263. Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz,

OU simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A propositura da ação, todavia, só

produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados no art. 219 depois que for validamente citado.

O momento da propositura da ação é importante para determinar a perpetuatio jurisdicionis

(art. 87, do CPC) que provoca a estabilização da competência, segundo a qual, alterações

posteriores nas circunstâncias de fato ou de direito serão irrelevantes para fins de fixação

da competência. Contudo, em duas situações a estabilização da competência não prevalece:

1. alteração da competência absoluta e

2. supressão do órgão judiciário.

Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o

consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por

lei.

Parágrafo único. A alteração do pedido ou da causa de pedir em nenhuma hipótese será

permitida após o saneamento do processo.

A modificação da causa de pedir ou do pedido (elementos objetivos da ação):

admissível antes da citação;

admissível, desde que o réu consinta, após a citação e

inadmissível após o saneamento do processo.

A fundamentação legal não integra a causa de pedir, logo, é possível alterá-la a qualquer tempo.

CAPÍTULO II - DA SUSPENSÃO DO PROCESSO

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Art. 265. Suspende-se o processo:

I - pela morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu

representante legal ou de seu procurador;

II - pela convenção das partes;

III - quando for oposta exceção de incompetência do juízo, da câmara ou do tribunal, bem como

de suspeição ou impedimento do juiz;

IV - quando a sentença de mérito:

a) depender do julgamento de outra causa, ou da declaração da existência ou inexistência

da relação jurídica, que constitua o objeto principal de outro processo pendente;

b) não puder ser proferida senão depois de verificado determinado fato, ou de produzida

certa prova, requisitada a outro juízo;

c) tiver por pressuposto o julgamento de questão de estado, requerido como declaração

incidente;

V - por motivo de força maior;

VI - nos demais casos, que este Código regula.

§ 1º No caso de morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes, ou de seu

representante legal, provado o falecimento ou a incapacidade, o juiz suspenderá o processo,

salvo se já tiver iniciado a audiência de instrução e julgamento; caso em que:

a) o advogado continuará no processo até o encerramento da audiência;

b) o processo só se suspenderá a partir da publicação da sentença ou do acórdão.

§ 2º No caso de morte do procurador de qualquer das partes, ainda que iniciada a audiência

de instrução e julgamento, o juiz marcará, a fim de que a parte constitua novo mandatário, o

prazo de 20 (vinte) dias, findo o qual extinguirá o processo sem julgamento do mérito, se o

autor não nomear novo mandatário, OU mandará prosseguir no processo, à revelia do réu,

tendo falecido o advogado deste.

§ 3º A suspensão do processo por convenção das partes, de que trata o no Il, nunca poderá

exceder 6 (seis) meses; findo o prazo, o escrivão fará os autos conclusos ao juiz, que

ordenará o prosseguimento do processo.

§ 4º No caso do no III, a exceção, em primeiro grau da jurisdição, será processada na forma do

disposto neste Livro, Título VIII, Capítulo II, Seção III; e, no tribunal, consoante Ihe estabelecer o

regimento interno.

§ 5º Nos casos enumerados nas letras a, b e c do no IV, o período de suspensão nunca poderá

exceder 1 (um) ano. Findo este prazo, o juiz mandará prosseguir no processo.

MORTE OU PERDA DA CAPACIDADE:

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1) parte ou representante legal: suspende o processo, salvo, se iniciada a audiência de

instrução e julgamento, caso em que o processo somente se suspenderá após o final do ato,

ficando o advogado, como substituto processual até habilitação dos sucessores.

2) do advogado, suspende o processo, ainda que iniciada a audiência de instrução é

julgamento, devendo o juiz determinar prazo de 20 dias para parte constituir novo patrono. Se

não fizer, em relação ao:

a) autor – extinção do processo sem julgamento do mérito

b) réu – revelia e

c) terceiro – exclusão.

CONVENÇÃO DAS PARTES – máximo 6 meses

EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA, IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO – não haverá suspensão

se recair sobre:

1) Ministério Público – MP;

2) serventuário

3) auxiliar do juízo e

4) perito.

PREJUDICIALIDADE EXTERNA – quando a sentença de mérito depender do julgamento de

outra causa ou da declaração de in/existência de relação jurídica, objeto principal de outro

processo pendente. Entende-se que a suspensão não é obrigatória (por exemplo, art. 110, do

CPC). Não excederá a 1 ano.

QUANDO A SENTENÇA DEPENDER DE FATO OU PROVA. Não excederá a 1 ano.

QUANDO A SENTENÇA DEPENDER DE DECLARAÇÃO INCIDENTE. Não excederá a 1 ano.

FORÇA MAIOR, consistente em fato imprevisto e insuperável.

DEMAIS CASOS LEGAIS:

1) regularização de representação processual (art. 13, do CPC);

2) nomeação à autoria (art. 64, do CPC);

3) denunciação da lide (art. 72, do CPC);

4) chamamento ao processo (art. 79, do CPC);

5) incidente de falsidade (art. 394, do CPC);

6) impugnação ao cumprimento de sentença (art. 475-M, do CPC) e

7) embargos à execução (art. 739-A, §1º, do CPC).

Art. 266. Durante a suspensão é defeso praticar qualquer ato processual; poderá o juiz,

todavia, determinar a realização de atos urgentes, a fim de evitar dano irreparável.

CAPÍTULO III - DA EXTINÇÃO DO PROCESSO

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Art. 267. Extingue-se o processo, SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO:

I - quando o juiz indeferir a petição inicial;

Il - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; [O

arquivamento será determinado pelo juiz passados 48 horas de intimação pessoal, após o

decurso do prazo. Ocorrendo a extinção do processo, as partes pagarão

proporcionalmente as custas.]

III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor abandonar a causa

por mais de 30 (trinta) dias; [O arquivamento será determinado pelo juiz passados 48 horas

de intimação pessoal, após o decurso do prazo. Ocorrendo a extinção do processo, o autor

será condenado ao pagamento das despesas e honorários de advogado.]

IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento

válido e regular do processo; [Cognoscível de ofício, entretanto, caso não alegado pelo

réu, na primeira oportunidade, responderá pelas custas do retardamento.]

V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;

[Cognoscível de ofício, entretanto, caso não alegado pelo réu, na primeira oportunidade,

responderá pelas custas do retardamento.]

Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a

legitimidade das partes e o interesse processual; [Cognoscível de ofício, entretanto, caso não

alegado pelo réu, na primeira oportunidade, responderá pelas custas do retardamento.]

Vll - pela convenção de arbitragem;

Vlll - quando o autor desistir da ação;

IX - quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;

X - quando ocorrer confusão entre autor e réu;

XI - nos demais casos prescritos neste Código.

§ 1º O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e Ill, o arquivamento dos autos, declarando a extinção

do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a falta em 48 (quarenta e oito) horas.

§ 2º No caso do parágrafo anterior, quanto ao no II, as partes pagarão proporcionalmente as

custas e, quanto ao no III, o autor será condenado ao pagamento das despesas e honorários de

advogado (art. 28).

§ 3º O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a

sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na

primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de

retardamento.

§ 4º Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o consentimento do

réu, desistir da ação.

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REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE PARA O EXAME DO MÉRITO

1) condições da ação – requisitos para o exercício regular da ação, sendo aferidas segundo as

afirmações ou assertivas – in statu assertionis – (teoria da asserção), antes da provas serem

produzidas (lembre-se que o CPC, no art. 3º, permite que tais matérias seja conhecidas de

ofício).

a) gerais:

i) possibilidade jurídica do pedido – ausência de vedação normativa;

ii) legitimidade das partes – aptidão específica para agir em juízo, conferida aos titulares

da relação jurídica material hipotética ou afirmada;

iii) interesse processual – caracteriza-se pelo binômio utilidade-necessidade e

adequação:

(1) utilidade potencial: a jurisdição deve ser apta a conferir alguma vantagem ou

benefício jurídico;

(2) necessidade: indispensabilidade da jurisdição;

(3) adequação: pertinência do procedimento escolhido e do provimento requerido.

b) específicas – previstas para determinados procedimentos.

2) pressupostos processuais – são requisitos para a existência (pressupostos de constituição)

e a validade (pressupostos de desenvolvimento válido e regular) do processo:

a) de existência:

i) demanda;

ii) jurisdição e

iii) citação.

b) de validade:

i) petição inicial apta;

ii) competência do juízo e imparcialidade do juiz;

iii) citação válida;

iv) capacidade postulatória;

v) capacidade processual e

vi) legitimação processual.

c) negativos:

i) perempção;

ii) litispendência

iii) coisa julgada e

iv) convenção de arbitragem.

Com relação ao pressupostos processuais, há divergências doutrinárias. Por exemplo, há quem

considere a capacidade postulatória como pressuposto processual de existência, enquanto

outros entendem que os pressupostos processuais negativos são pressupostos processuais de

validades às avessas, ou que a presença de um deles caracteriza falta de interesse de agir.

Marinoni (p.260:2010) “os pressupostos processuais devem ser compreendidos como condições

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para concessão da tutela jurisdicional do direito, e não mais como requisitos de existência e

validade do processo”.

Por fim, de acordo com o STJ (Inf. 429), a oposição à desistência da ação pelo autor, nos termos

do art. 267, §4º, do CPC, deve ser fundamentada e justificada sob pena de configurar abuso de

direito.

Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V [perempção, litispendência e coisa julgada], a

extinção do processo não obsta a que o autor intente de novo a ação. A petição inicial,

todavia, não será despachada sem a prova do pagamento ou do depósito das custas E dos

honorários de advogado.

Parágrafo único. Se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo

fundamento previsto no nº III [perempção] do artigo anterior, não poderá intentar nova ação

contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar

em defesa o seu direito.

Há doutrinador que entende ser possível a renovação do pedido somente se houver correção do

vício anterior (nesse sentido o art. 468, §1º, do Projeto do Novo CPC).

De acordo com o STJ (Inf. nº 458) a extinção do processo sem resolução do mérito por

carência da ação (falta das condições da ação) não há coisa julgada material, apenas formal.

Art. 269. Haverá resolução de mérito:

I - quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor;

II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido;

III - quando as partes transigirem;

IV - quando o juiz pronunciar a decadência [a legal, pois a convenção não é cognoscível de

ofício] ou a prescrição;

V - quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação.

Reconhecimento jurídico do pedido Transação

Réu adere ao pedido do autor,

unilateralmente.

Ambas as partes fazem concessões

recíprocas, podendo incluir matérias não

postas em juízo.

Reconhecimento jurídico do pedido Confissão

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Ato exclusivo do réu. Pode ser praticado pelo autor ou pelo réu.

Não é meio de prova. É meio de prova.

Incide sobre o direito. Incide sobre o fato.

Acarreta a prolação de sentença de mérito. Não acarreta a imediata prolação de sentença

de mérito.

Entende a doutrina que no caso de decretação de ofício da prescrição, por se tratar de direito

patrimonial disponível, que permite renúncia, deve o juiz antes de decretá-la conceder o

contraditório, para que as partes manifestem-se.