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CENTRO DE INVESTIGAÇÃO E ESTUDOS DE SOCIOLOGIA Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa Drogas e Prisões em Portugal II 2001 - 2007 Sinopse e Ficha Técnica Anália Cardoso Torres (coord.) Diana Maciel Isabel Sousa Raquel cruz Junho 2008 Lisboa, CIES/ISCTE

Drogas e Prisões em Portugal II 2001 - 2007 - Anália Torres 2001-2007.pdf · Algarve 4,4 Madeira 1,5 Açores 2,7 Impossível de codificar 5,7 No estrangeiro 0,6 Relativamente à

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CENTRO DE INVESTIGAÇÃO E ESTUDOS DE SOCIOLOGIA

Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa

Drogas e Prisões em Portugal II

2001 - 2007

Sinopse e Ficha Técnica

Anália Cardoso Torres (coord.)

Diana Maciel

Isabel Sousa

Raquel cruz

Junho 2008

Lisboa, CIES/ISCTE

3

Índice

1. Introdução................................................................................................................. 5

2. Perfil social dos reclusos: evolução de 2001 a 2007 ................................................. 8

3. Crimes relacionados com drogas continuam a prevalecer ...................................... 14

4. A maioria dos que entram no sistema prisional, em 2001 e 2007, já consumiram

drogas ........................................................................................................................ 19

4.1 Consumos de drogas nas prisões: continuam em 2007 para os que já

consumiam, mas diminuem e mudam as modalidades de consumo.......................22

5. Doenças infecto-contagiosas: Ligeira descida em 2007.......................................... 33

6. Perfil social dos Directores: em 2007, a maioria dos Directores dos Serviços

Prisionais passou a ser feminina ................................................................................ 36

7. Avaliações das condições de vida nos EP’s: opiniões comparadas dos Directores

dos Estabelecimentos Prisionais e dos reclusos......................................................... 37

8. Conclusões............................................................................................................. 43

Ficha técnica .............................................................................................................. 45

4

5

1. Introdução

A ideia segundo a qual na prisão circulam, se comercializam e se consomem drogas,

tal como em meio livre, não só é, à primeira vista, estranha, como tende a contrariar as

nossas visões de senso comum. Não temos nós a imagem dos estabelecimentos

prisionais como fortalezas, instituições fechadas e impenetráveis ao mundo exterior,

onde a vigilância é uma constante? Como se podem realizar negócios ilícitos quando

há controlo permanente da vida dos indivíduos e ausência de privacidade?

Quando olhamos mais de perto para esta realidade, estas ideias começam a desfazer-

se. Tal como acontece em meio livre, a circulação de drogas na prisão é uma

realidade vivida em todos os países desenvolvidos, independentemente dos seus

sistemas penais e molduras jurídicas.

Com efeito, as paredes dessas fortalezas, muitas vezes, tanto em sentido literal como

simbólico, são bem mais permeáveis do que parecem. Por um lado, basta pensar na

existência de contactos diários e permanentes que prestadores de serviços –

refeições, manutenção, ensino, formação, saúde, etc. – fornecedores de material

diverso, de medicamentos e de outros produtos farmacológicos e clínicos,

estabelecem com o meio prisional. Por outro lado, as visitas constituem também outra

fonte de interacção quase quotidiana entre o meio exterior e a prisão, sendo-o

igualmente os diferentes corpos – administrativos, técnicos de saúde e de reeducação,

pessoal de vigilância e de manutenção – que constituem o staff prisional. Por último,

deve ainda ter-se em conta que um grupo específico de reclusos contacta quase

diariamente, em virtude dos regimes especiais em que se encontra, com o meio livre.

Estas constantes entradas e saídas, de pessoas e de produtos são os elos fracos,

incontornáveis de resto, de uma instituição que parece invulnerável, estanque.

Mas outros factores explicam essa permeabilidade ao tráfico e consumo de drogas no

sistema prisional. Os motivos que tornam as drogas uma oportunidade de negócio de

ganhos financeiros avultadíssimos – a ilicitude do seu comércio, o seu elevado lucro –

funcionam também em meio prisional e são aí, aliás, agravados e exponenciados. São

esses factores específicos, e as suas interconexões, que se procuram analisar na

pesquisa ao mesmo tempo que se identificam a prevalência e as características do

fenómeno das drogas nas prisões portuguesas.

6

Drogas e Prisões em Portugal II: 2001-2007 é a replicação do estudo realizado em

2001, com o objectivo central de identificar semelhanças e dissemelhanças nos

comportamentos de consumidores de drogas e compreender a evolução dos últimos 6

anos a este nível.

Tendo presentes as alterações legislativas e a implementação de medidas específicas

cuja população-alvo foi precisamente a população prisional e consumidora, importa

agora analisar os resultados de forma comparada com aqueles obtidos em 2001.

Em 2007 foi aplicada a uma amostra representativa dos reclusos (2394 reclusos

seleccionados aleatoriamente que correspondem a 20% da população prisional –

amostra prevista) de todos os Estabelecimentos Prisionais portugueses [11968

reclusos], tendo-se visitado 44 prisões e obtido 1986 respostas. Realizou-se

igualmente o inquérito aos directores dos EP’s (n=37), com o objectivo de comparar

estes resultados com os de 2001.

Já em 2001 a aplicação do inquérito contemplou uma amostra representativa de

reclusos [12656 reclusos], abarcando 47 prisões, e 2057 reclusos dos 2601 (20%) que

foram seleccionados. O inquérito aos directores, neste ano, obteve 43 respostas.

Para tal, foram replicados os procedimentos metodológicos utilizados em 2001,

uma vez que, dada a complexidade do estudo, se haviam desenvolvido estratégias

metodológicas e de controlo especiais, específicas e detalhadas.

Relativamente ao inquérito que foi replicado importa salientar a preocupação em

garantir a sua comparabilidade com os resultados obtidos em 2001. A sua revisão,

pela necessidade de aprofundar algumas das questões e procurar conhecer um pouco

melhor os hábitos e comportamentos de consumo da população reclusa, implicou a

introdução de algumas questões novas.

7

INTERROGAÇÕES FUNDAMENTAIS DA PESQUISA

Que tipo de crimes praticaram os reclusos e qual a sua relação com as drogas?

Demonstrarão os números a mesma tendência do que em 2001?

Quem são os consumidores de drogas e quais as práticas de consumo no interior

da prisão? Continuarão os reclusos a consumir as mesmas substâncias e com as

mesmas modalidades que anteriormente? Que riscos essas práticas envolverão?

Quais são as doenças infecto-contagiosas que prevalecem na prisão? Farão os

reclusos análises? Quais serão os resultados? Quais são os comportamentos de risco

no consumo injectável de drogas? Teremos em 2007 uma situação melhor do que em

2001?

Que preocupações têm reclusos e directores? Partilham as mesmas opiniões e

preocupações sobre condições de vida na prisão e medidas relacionadas com

drogas? O que estará diferente em relação a 2001?

8

2. Perfil social dos reclusos: evolução de 2001 a 2007

Mantendo-se a tendência registada em 2001, a maioria dos reclusos é do sexo

masculino, jovem, com baixa escolaridade e com situação conjugal solteiro ou a viver

em união de facto, empregados em profissões de baixa qualificação. A esmagadora

maioria dos inquiridos é de nacionalidade portuguesa, residente na Grande Lisboa.

Relativamente à média etária, para 2007, entre homens e mulheres não se verificam

grandes diferenças, ao contrário do que acontecia em 2001.

A escolaridade mantém-se baixa embora registando um aumento nos graus de

ensino superiores. A maioria dos reclusos possui apenas o 1º e 2º ciclos do ensino

básico, tal como em 2001. O analfabetismo continua a afectar maioritariamente as

mulheres (15,5%) em franco contraste com os homens (7,7%). Mas importa salientar a

subida no 3º ciclo do ensino básico, ensino secundário e também no ensino superior,

tanto de homens como de mulheres – como revelam os dados expostos na caixa.

• Em 2007, 91% dos reclusos são homens, enquanto que em 2001 a população

masculina era 89% do total dos reclusos (Figura 1).

Figura 1. Sexo dos inquiridos (2001-2007) (%)

• São, na sua maioria, solteiros (62,5%) (Figura 2), embora com um peso

expressivo de indivíduos em união de facto (39,9%).

9

Figura 2. Situação conjugal dos inquiridos (2007) (%)

• A população reclusa apresenta, em 2007, um ligeiro envelhecimento em

relação a 2001. A média de idades é agora de 35,7 anos e, em 2001, era de 34 anos.

Sendo que, nos homens, a média é de 35,8 anos e nas mulheres de 35,3 anos, pelo

que não se verifica grande diferenciação etária por sexo (Quadro 1). De destacar que,

em relação a 2001, as mulheres têm agora uma média de idade inferior (37 anos em

2001) e os homens superior (33 anos em 2001).

Quadro 1. Idade dos inquiridos por sexo (2007) (%)

16-25 anos 26-35 anos 36-45 anos 46-55 anos + de 56 anos

Masculino 17,8 37,1 26,6 13,4 5,1

Feminino 17,0 39,2 27,3 14,8 1,7

� 17,7% dos reclusos inquiridos têm idades compreendidas entre os 16

e os 25 anos, 55,1% têm menos de 36 anos e 81,7% menos de 46

anos (Figura 3).

10

Figura 3. Idade dos inquiridos (2001-2007) (%)

• Em 2007, 51,1% possui até 6 anos de escolaridade (1º e 2º ciclos), contra

os 56,6% de 2001 (Figura 4).

Figura 4. Nível de escolaridade dos inquiridos (2001-2007) (%)

• Sendo que existe a tendência para o aumento da escolaridade com o avançar

da idade dos inquiridos (Quadro 2).

11

Quadro 2. Nível de escolaridade dos inquiridos por escalões etários (2001-2007)

(%)

Idades dos reclusos

16-25 26-35 36-45 46-55 56 + anos Escolaridade

2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007 2001 2007

Nunca frequentou a escola 8,5 9,2 10,2 9,9 12 8,1 10,5 5,2 44,2 6,7 Frequentou até ao 2º ciclo (6º ano ou equivalente) 57,3 48,9 55,3 50,5 56,4 53,9 60,5 49,2 48,1 50 Frequentou o 3º ciclo (9º ano ou equivalente) 25,8 28,3 25,1 27,8 19,5 24,7 14,2 29 1,3 25,6 Frequentou o ensino secundário (12º ano ou equivalente) 7,3 8,3 7,5 7,2 7,8 8,5 9,9 12,7 3,9 14,4 Frequentou o ensino superior 0,9 5,2 1,9 4,6 4,2 4,8 4,9 4 2,6 3,3

• Em 2007, os reclusos são, na sua maioria, de nacionalidade portuguesa

(84,5%) (Figura 5).

Figura 5. Nacionalidade dos inquiridos (2001-2007) (%)

• Dentro das nacionalidades estrangeiras, destacam-se os de nacionalidade

proveniente de países africanos de língua oficial portuguesa (53,7%) e da América

Latina (24,9%) (Figura 6).

12

Figura 6. Nacionalidades estrangeiras dos inquiridos (2007) (%)

• No que se refere à origem étnica, destaca-se a europeia (74,5%) e a africana

(17,4%). Sendo no entanto importante referir que dos 1986 reclusos inquiridos, 5,4%

eram de etnia cigana.

• A maioria dos reclusos residia, no período anterior à reclusão, na Grande

Lisboa (32,1%) ou no Grande Porto (15,8%) (Quadro 3).

Quadro 3. Concelho de residência (2007) (%)

Norte Litoral 11,4

Grande Porto 15,8

Interior 8,4

Centro Litoral 11,8

Grande Lisboa 32,1

Alentejo 5,7

Algarve 4,4

Madeira 1,5

Açores 2,7

Impossível de codificar 5,7

No estrangeiro 0,6

Relativamente à condição perante o trabalho, não se verificaram diferenças em

relação a 2001, dado que a maioria continua a ser empregada (passou de 67,7% em

2001 para 69,7% em 2007), com um ligeiro aumento da proporção de

desempregados, já de si elevada em relação à taxa de desemprego nacional (passou

de 15,8% em 2001 para 17% em 2007) (Figura 7).

13

Figura 7. Condição perante o trabalho dos inquiridos (2001-2007) (%)

Na última profissão do inquirido, obtém-se o mesmo panorama que em 2001, ou

seja, profissões pouco qualificadas, que envolvem o trabalho manual e comércio

(que passou de 83,1% em 2001 para 85% em 2007) e implicam baixos rendimentos.

Houve uma redução na proporção de patrões, na ordem de 0,6 pontos percentuais

(de 8% para 7,4%) (Figura 8).

Figura 8. Última profissão dos inquiridos (2001-2007) (%)

14

3. Crimes relacionados com drogas continuam a prevalecer

Tal como em 2001, a primeira verificação que podemos fazer relativamente aos dados

é que o motivo da detenção está fortemente associado ao fenómeno das drogas.

Do total dos reclusos, em 2007, 67,4% estão detidos por crimes relacionados directa

ou indirectamente com drogas. Apesar do valor decrescer 5,5 pontos percentuais

relativamente a 2001, mantém-se como a maior causa de detenção. Podemos assim

concluir que as práticas associadas ao consumo/posse ou cultivo e comercialização de

drogas domina ainda o panorama prisional português.

Percebe-se também que os reclusos detidos por crimes de tráfico e tráfico e consumo

continuam a ser maioritariamente consumidores de drogas. Da mesma forma, a

reincidência criminal permanece associada também ao fenómeno das drogas.

Por questões de comparabilidade, manteve-se a tipologia dos crimes em vigor em

2001, na pergunta do inquérito ‘indique qual o crime por que está detido’. No entanto,

o crime de consumo em si mesmo deixou de ser considerado crime, conforme

esclarece a alteração do artigo 40º da lei 15/93 de 22 de Janeiro revogado pela lei

30/2000, entrada em vigor a 1-07-2001, excepto quanto ao cultivo.

Artigo 40º do Decreto-Lei 15/93 de 22 de Janeiro referente ao regime jurídico de

tráfico e consumo de estupefacientes e substâncias psicotrópicas:

“1 – Quem consumir ou, para seu consumo, cultivar, adquirir ou detiver plantas,

substâncias ou preparações compreendidas nas tabelas I e IV é punido com pena de

prisão até 3 meses e com pena de multa até 30 dias.

2 – Se a quantidade de plantas, substâncias ou preparações cultivada, detida ou adquirida

pelo agente exceder a necessária para o consumo médio individual durante o período de 3

dias, a pena é de prisão até um ano ou de multa até 120 dias.

3 – No caso do nº 1, se o agente for consumidor ocasional, pode ser dispensado de pena.”

Artigo 2º da Lei nº 30/2000 de 29 de Novembro designa:

“1 - O consumo, a aquisição e a detenção para consumo próprio de plantas, substâncias

ou preparações compreendidas nas tabelas referidas no artigo anterior constituem contra-

ordenação.

2 – Para efeitos da presente lei, a aquisição e a detenção para consumo próprio das

substâncias referidas no número anterior não poderão exceder a quantidade necessária

para o consumo médio individual durante o período de 10 dias.”

15

Do total dos reclusos, em 2007, 67,4% estão detidos por crimes relacionados com

drogas directa e/ou indirectamente (Figura 9):

• 42% dos crimes estão directamente relacionados com drogas,

contra 50,3% em 2001 (tráfico e tráfico e consumo);

• 23,6% dos crimes estão indirectamente relacionados com drogas

(roubo, furto, etc. para obter dinheiro para consumir drogas),

contra 22,6% em 2001.

• 1,8% dos crimes estão directa e indirectamente relacionados com

drogas.

Figura 9. Situações que motivaram a detenção (2001-2007) (%)

Quanto à tipologia dos crimes, 33,3% do total dos crimes que motivaram a

detenção estão directamente relacionados com drogas, enquanto que em 2001

eram 41,5% (Figura 10).

Em 2007, aumentaram outros tipos de crimes, tais como o roubo (de 13,4% para

16,2%) e assalto à mão armada (de 3,3% para 5,3%).

16

Figura 10. Tipo de crimes praticados (2001-2007) (%)

Do subconjunto dos reclusos detidos por tráfico, em 2007, 52,8% declararam já

ter consumido drogas (Figura 11). Em 2001 esse valor era de 47,4%. Do subconjunto

dos reclusos detidos por tráfico e consumo, em 2007, 100% admitiram também já

ter consumido drogas alguma vez na vida. Comparativamente, em 2001, o valor era

de 94,9%.

Figura 11. Crimes relacionados com drogas e Consumos (2001-2007) (%)

Do subconjunto dos reincidentes (40,6% do total dos reclusos - Figura 12), 77,8

% estão detidos por crimes relacionados com drogas, enquanto para o subconjunto

dos que estão presos pela primeira vez, esse valor é de 60% (Figura 13). Em 2001,

os valores apurados foram designadamente, 80,3% de reincidentes e 68% para

primários.

17

Figura 12. Reincidência prisional dos inquiridos (2001-2007) (%)

Figura 13. Situação que motivou a detenção e reincidência criminal (2001-2007)

(%)

Do subconjunto dos condenados (81,0% do total dos reclusos - Figura 14),

68,5% foram condenados por crimes directa ou indirectamente relacionados com

drogas, enquanto que para o subconjunto dos preventivos, 63,2% estão acusados

de crimes da mesma natureza (Figura 15). Em 2001, o valor para os condenados era

de 73,5% e para os preventivos era de 63,1%.

18

Figura 14. Situação penal dos inquiridos (2001-2007) (%)

Figura 15. Situação que motivou a detenção e situação penal (2001-2007) (%)

19

4. A maioria dos que entram no sistema prisional, em 2001 e

2007, já consumiram drogas

Os que entram no sistema prisional são, de forma dominante, aqueles que já tinham

práticas de consumos e que as iniciaram muito cedo no seu percurso de vida. Na

verdade, dos reclusos inquiridos, 63,6% consumiram drogas alguma vez na vida.

Veremos ainda que nesse subconjunto prevalecem hábitos de consumo de drogas

duras e produtoras de grande dependência. Os valores de consumos indicados são

obviamente muito acima dos que se podem observar no conjunto da população

portuguesa.

Consumos de drogas, alguma vez na vida, por substância

No conjunto total dos reclusos temos uma declaração de consumo de substâncias

do seguinte teor para 2001 (Figura 16/Quadro 4):

Quadro 4. Proporção de declarações de consumos alguma vez na vida, por

substância, no total dos reclusos (2001-2007)

Proporção de declarações de consumos alguma vez na

vida no total dos reclusos

2001 (2057) 2007 (1986)

Substâncias

n % n %

Cannabis 1162 56,5 1097 55,2

Heroína 964 46,9 683 34,4

Cocaína 937 45,6 798 40,2

Fármacos 660 32,1 480 24,2

Anfetaminas 394 19,2 311 15,7

Ecstasy 349 17,0 396 19,9

Outras substâncias 174 8,5 117 5,9

20

• 56,5% do conjunto dos reclusos declaram já ter consumido cannabis;

• 46,9% do conjunto dos reclusos declaram já ter consumido heroína;

• 45,6% do conjunto dos reclusos declaram já ter consumido cocaína.

Para 2007, os valores para as mesmas substâncias são:

• 55,2% do conjunto dos reclusos declaram já ter consumido cannabis;

• 34,4% do conjunto dos reclusos declaram já ter consumido heroína;

• 40,2% do conjunto dos reclusos declaram já ter consumido cocaína.

Figura 16. Proporção das declarações de consumos de drogas alguma vez na

vida por substância no total dos reclusos inquiridos (2001-2007) (%)

No subconjunto dos reclusos que declararam, em 2001, já ter consumido

drogas alguma vez na vida (65,7%) (Figura 17), as substâncias mais consumidas

foram (Figura 18):

• a cannabis, 87,9%;

• a heroína, 72,9%;

• a cocaína, 70,9%.

21

Em 2007, na mesma amostra (63,6% do total dos reclusos inquiridos), as substâncias

com maior proporção de consumo permanecem as mesmas:

• a cannabis, 87,3%;

• a heroína, 54,4%;

• a cocaína, 63,5%.

Figura 17. Declarações de consumos de drogas alguma vez na vida (2001-2007)

(%)

Apesar de ambas as substâncias, heroína e cocaína, terem sofrido uma redução, a

cocaína é agora mais consumida do que a heroína.

Figura 18. Proporção das declarações de consumos de drogas alguma vez na

vida por substância no total dos reclusos que declararam alguma vez na vida

ter consumido drogas (2001-2007) (%)

22

É notória uma tendência decrescente na proporção de reclusos consumidores de

drogas com o avançar da idade, embora essa redução fosse muito mais acentuada em

2001. Assim, em 2007, no grupo dos 16-25 anos, 65,9% declararam consumir

substâncias ilícitas, enquanto que, no grupo dos reclusos com mais de 56 anos, o

valor é de 51,1% (Figura 19).

Figura 19. Declaração de consumos alguma vez na vida por escalões etários

(2001-2007) (%)

4.1 Consumos de drogas nas prisões: continuam em 2007 para os que já

consumiam, mas diminuem e mudam as modalidades de consumo

Tendo em conta as continuidades ou descontinuidades nas práticas de consumo de

drogas em relação à entrada no sistema prisional que se procuravam aferir em 2001 e

sendo o objectivo da pesquisa determinar as trajectórias e os comportamentos dos

que consomem, importa agora analisar a evolução registada entre 2001 e 2007.

Na verdade, basta dar um pequeno exemplo para se perceber como tudo o que se

relaciona com as drogas marca profundamente o panorama prisional. Embora, como

se disse, não se possa afirmar que os 63,6% de reclusos que consumiam drogas

antes da prisão fossem toxicodependentes, a verdade é que é certamente grande o

número dos que realmente dependem de drogas. Uma vez dentro do sistema

prisional, o acesso ao consumo dessas substâncias tem muito mais entraves, como é

óbvio, do que no meio livre. Para alimentar as suas dependências, e sujeitos à

pressão interna para consumir que a própria situação prisional naturalmente

23

exponencia, os que dependem de drogas vêem-se muitas vezes envolvidos em

situações complexas.

A circulação ilícita do produto dentro da prisão, por outro lado, tem como efeito, entre

outros, multiplicar de forma muito acentuada o preço das substâncias em relação ao

preço praticado em meio livre. Ora esta situação pode ser para traficantes e reclusos,

que não estão detidos por problemas relacionados com drogas, uma boa oportunidade

de “negócio”. E embora os riscos desse negócio ilícito sejam também acrescidos,

trata-se de uma população que dispõe de tempo para pensar a melhor forma de os

obviar e, para quem, aliás, esses riscos são de menor importância, pela situação

específica em que se encontra. As oportunidades de “negócio” podem ainda ser

tentadoras até para quem pertence aos quadros da própria instituição prisional.

Temos, assim, a procura dos que consomem e/ou dependem de drogas e uma

oportunidade acrescida para os que beneficiam ou passam a beneficiar do seu

comércio. Sublinhe-se ainda que, pelo fechamento e pelas lógicas específicas de

funcionamento do meio prisional, é muito difícil, mesmo para os reclusos que o

desejem, manterem-se completamente à margem deste mundo. Há sempre

cumplicidades a estabelecer, silêncios a comprar. São estas algumas das

características centrais que contribuem para que se diga que o fenómeno das drogas,

e muito para além do seu consumo, domina o panorama prisional.

Verificou-se, como seria de esperar, e dados os entraves apesar de tudo existentes à

circulação das drogas na prisão, uma quebra de consumos em meio prisional para

aqueles que já consumiam drogas. Por outro lado, é praticamente insignificante o

número dos que se iniciam no consumo de drogas na prisão.

Vejamos agora alguns números sobre consumos de substâncias na prisão.

24

Consumos na prisão

No conjunto total dos reclusos inquiridos, declararam consumir na prisão (Quadro

5):

Para 2001

• 38,7% cannabis;

• 27% heroína;

• 20,1% cocaína.

Para 2007, os valores para as mesmas substâncias são:

• 29,8% cannabis;

• 13,5% heroína;

• 9,9% cocaína.

Quadro 5. Proporção de declarações de consumos na prisão, por substância, no

total dos que declararam ter consumido drogas alguma vez na vida e no total

dos reclusos inquiridos (2001-2007)

Proporção de declarações de

consumos na prisão no total dos que

afirmaram ter consumido drogas, por

substância, alguma vez na vida

Proporção de declarações

de consumos na prisão

no total dos reclusos

inquiridos

2001 2007 2001 (2057) 2007 (1986)

Substâncias

n % n % % %

Cannabis 797 68,6 573 54,0 38,7 29,8

Heroína 556 57,7 263 39,4 27 13,5

Cocaína 414 44,2 193 24,7 20,1 9,9

Fármacos 505 76,5 316 67,3 24,6 16,3

Anfetaminas 145 36,8 46 14,8 7,0 2,3

Ecstasy 132 37,8 54 13,9 6,4 2,7

Outras substâncias 92 52,9 29 24,8 4,5 1,5

25

No subconjunto dos reclusos que declararam já ter consumido drogas na prisão:

Em 2001

• a cannabis, 68,6%;

• a heroína, 57,7%;

• a cocaína, 44,2%.

Em 2007

• a cannabis, 54,0%;

• a heroína, 39,4%;

• a cocaína, 24,7%.

Declarações de consumos alguma vez na vida e na prisão

– Efeito de trajectória (%)

Existe uma redução, tanto em 2001 como em 2007, no consumo de substâncias

ilícitas dentro da prisão em relação às declarações de consumo alguma vez na vida.

No entanto, a quebra é mais acentuada em 2007.

Em 2001 (Quadro 6):

• Cannabis: 2/3 continuava a consumir na prisão;

• Heroína: mais de ½ continuava a consumir na prisão;

• Cocaína: menos de ½ continuava a consumir na prisão;

• Fármacos: ¾ continuava a consumir na prisão.

26

Quadro 6. Proporção de declarações de consumos alguma vez na vida e na

prisão, por substância – Efeito de trajectória (2001)

2001

Alguma vez na

vida (1322)

Na prisão

Cannabis 1162 87,9 797 68,6

Heroína 964 72,9 556 57,7

Cocaína 937 70,9 414 44,2

Fármacos 660 49,9 505 76,5

Anfetaminas 394 29,8 145 36,8

Ecstasy 349 26,4 132 37,8

Outras substâncias 174 13,2 92 52,9

Em 2007 (Quadro 7):

• Cannabis: ½ continua a consumir na prisão;

• Heroína: mais de 1/3 continua a consumir na prisão;

• Cocaína: ¼ continua a consumir a prisão;

• Fármacos: 2/3 continua a consumir na prisão.

Quadro 7. Proporção de declarações de consumos alguma vez na vida e na

prisão, por substância – Efeito de trajectória (2007)

2007 Alguma vez na

vida (1256)

Na prisão

Cannabis 1097 87,3 573 54,0

Heroína 683 54,4 263 39,4

Cocaína 798 63,5 193 24,7

Fármacos 480 38,2 316 67,3

Anfetaminas 311 24,8 46 14,8

Ecstasy 396 30,9 54 13,9

Outras substâncias 117 9,3 29 24,8

27

O consumo no interior da prisão, em 2007, tem a tendência para ser tanto maior

quanto maior for a dimensão do Estabelecimento Prisional em que o recluso se

encontre detido.

Dos reclusos que declararam ter consumido drogas, por substância, dentro da prisão,

existe uma quebra quando comparado com os consumos no último mês durante a

reclusão (Quadro 8)1.

Quadro 8. Consumos no último mês e último ano no total dos que afirmaram

consumir pelo menos uma vez na vida (2007)

Consumiu

alguma vez

na prisão

Consumiu no

último mês na

prisão

Cannabis 573 45,9 463 36,9

Heroína 263 18,2 145 11,5

Cocaína 193 11,9 76 6,1

Fármacos 316 19,3 192 15,3

Apenas um número muito reduzido de reclusos declararam ter iniciado os seus

consumos, por substância, no interior da prisão. Sendo que o valor que se destaca é

referente aos fármacos, com 9,2% (Figura 20). No entanto, é de referir que os valores

de 2007 são ligeiramente inferiores aos de 2001.

1 Dos 463 reclusos que declararam consumir cannabis no último mês, apenas 2 estavam presos há menos de um mês;

Dos 145 reclusos que declararam consumir heroína no último mês, apenas 1 estava preso há menos de um mês; Dos 76 reclusos que declararam consumir cocaína no último mês, nenhum estava preso há menos de um mês; Dos 192 reclusos que declararam consumir fármacos no último mês, apenas 1 estava preso há menos de um mês.

28

Figura 20. Consumos pela primeira vez na prisão (2001-2007) (%)

Declarações de consumos por via injectável

• Em 2001, no total dos reclusos que já consumiram drogas alguma vez na

vida (1322), 51,7% declarou ter-se injectado pelo menos uma vez na vida e 26,8%

ter-se injectado na prisão (Quadro 9).

Quadro 9. Declaração de consumos por via injectável, alguma vez na vida e na

prisão (2001-2007)

Alguma vez na vida Na prisão

n % n %

2001 665 51,7 234 26,8

2007 409 35,2 62 15,9

• Em 2007, os valores são inferiores, atingindo os 35,2% e 15,9%

respectivamente (Figura 21).

29

Figura 21. Declarações de consumos de drogas injectáveis alguma vez na vida e

na prisão no total dos reclusos que alguma vez na vida consumiram drogas

(2001-2007) (%)

• No total dos inquiridos (1986), 20,6% declarou já se ter injectado alguma

vez na vida, em 2007, enquanto que, em 2001 (2057), o valor era de 32,3%. Já na

prisão, em 2007, a proporção é de 3,1% de indivíduos que declararam ter-se

injectado no interior do estabelecimento prisional no total dos reclusos inquiridos.

Proporção que atingia os 11,4% em 2001.

Programas de tratamento

• Do subconjunto dos indivíduos que declararam alguma vez na vida ter

consumido drogas (1256), 49,8% afirmou ter entrado em programas de tratamento

(Figura 22). Em 2001 (1322), o valor era de 46,7%.

Figura 22. Recorrência a programas de tratamento (2001-2007) (%)

30

• Em 2007, o consumo de heroína e cocaína revela modalidades diferenciadas

consoante o contexto do seu consumo, ou seja, consoante seja antes da prisão ou no

seu interior.

Modalidades de Consumo

A proporção de declarações de consumo por via injectável e inalada decresceu

dentro da prisão (Quadro 10):

• Consumo por via injectável desceu de 40,1% para 13,3% para a heroína e de

32,9% para 16,4% para a cocaína.

• Consumo na modalidade inalada desceu de 9,5% para 5,8% para a heroína

e de 40,1% para 23,2% para a cocaína.

• Aumento do consumo de substâncias, principalmente este tipo de substâncias,

na modalidade fumada (de 65,9% para 85,3% para a heroína e de 52,4% para

69,1% para cocaína).

Quadro 10. Modalidades de consumo (2007)

Modalidades de consumo (%)

Heroína Cocaína

Antes da prisão Na prisão Antes da prisão Na prisão

2007 n % n % n % n %

Injectada 250 40,1 37 13,3 241 32,9 34 16,4

inalada 59 9,5 16 5,8 294 40,1 48 23,2

Fumada 411 65,9 237 85,3 384 52,4 143 69,1

Vejamos agora através de uma análise de correspondências múltiplas os diferentes

perfis dos reclusos inquiridos. Nesta análise associam-se as categorias de diferentes

variáveis, tais como sexo, idade, nível de instrução, número de reclusões, situação

que motivou a detenção e situação relativamente ao consumo de drogas.

Note-se desde já, na Figura 23, apresentada abaixo, a identificação de forma

esquemática de três perfis principais. Estes resultam da forte associação entre as

31

diferentes características dos reclusos (categorias como, consumidores e não

consumidores, crimes relacionados ou não com drogas, escalões etários, sexos, etc.).

Figura 23. Espaço topológico dos reclusos (2007)

Em 2001 também se haviam identificado três perfis, os quais sofreram ligeiras

alterações (Figura 24).

Dimensão 11,51,00,50,0-0,5 -1,0 -1,5

1,5

1,0

0,5

0,0

-0,5

-1,0

-1,5

Feminino

Masculino

Perfil A

Perfil C

Perfil B

4ª reclusão ou +

3ª reclusão 2ª reclusão

1ª reclusão

crime desconhecido crimes c/relação directa e indirecta com drogas

crimes c/relação indirecta com drogas

Crimes c/relação directa com drogas

crimes s/relação c/drogas

46 e + anos

36 - 45 anos

26 - 35 anos

16 - 25 anos

10º ano até ensino superior

7º ao 9º ano escolaridade

Até ao 6º ano escolaridade

Sem escolaridade

Consumidores de drogas Não consumidores de drogas

Dim

en

o 2

32

1,5 1,0 ,5 0,0 -,5 -1,0 -1,5

1,5

1,0

,5

0,0

-,5

-1,0

-1,5

1ª reclusão

4ª reclusão ou +

3ª reclusão

2ª reclusão

Mulheres

Homens

Crimes c/relação directa e indirecta/e c/drogas

Crimes c/relação ind. c/drogas

Crimes c/relação directa c/drogas

Crimes s/relação c/drogas

Consumidores de drogas alguma vez na vida

Não consumidores de drogas

46 e + anos

36-45 anos

26-35 anos

16-25 anos

10º ano até ens. superior

Até 9º ano esc.

Até 6º ano esc.

Sem escolaridade

Dimensão 1

Dimensão 2

Figura 24. Espaço topológico dos reclusos (2001)

PERFIL A

PERFIL B

PERFIL C

33

5. Doenças infecto-contagiosas: ligeira descida em 2007

Relativamente a 2001, observa-se um aumento no número de análises de

despistagem realizadas e simultaneamente um decréscimo na proporção de

portadores de HIV, Hepatite B e Hepatite C.

Verifica-se também a redução do número de reclusos infectados por este tipo de

doenças pode ser explicado por:

– Um aumento do uso de agulhas novas nos consumos de drogas por via

injectável (Figura 25);

Figura 25. Agulhas utilizadas mais habitualmente no último mês (2001-2007) (%)

– Uma redução na partilha de agulhas (Figura 26);

Figura 26. Declarações de partilha de agulhas com outras pessoas no último

mês (2001-2007) (%)

– E um aumento no uso de desinfectante.

34

Análises de despistagem de doenças infecto-contagiosas:

• 76,8%, em 2001

• 81,1%, em 2007

Dos que fizeram análises para saber se tinham HIV/SIDA, e que responderam qual

tinha sido o resultado, este foi positivo para (Quadro 11 e Figura 27):

• 16,3%, em 2001

• 10%, em 2007

Figura 27. Declarações de resultados das análises ao HIV/SIDA (2001/2007) (%)

Em relação às hepatites o valor também decresceu de 2001 para 2007:

• Hepatite B: 5,1% em 2007 declararam resultados positivos, contra 9,7%,

em 2001 (Figura 28);

Figura 28. Declarações de resultados das análises à Hepatite B (2001/2007) (%)

35

• Hepatite C: 23,3% em 2007 declararam resultados positivos contra 26,9%

em 2001 (Figura 29).

Figura 29. Declarações de resultados das análises à Hepatite C (2001/2007) (%)

Em relação à tuberculose o valor mantém-se inalterado (Figura 30).

Figura 30. Declarações de ter ou já ter tido tuberculose (2001-2007) (%)

Quadro 11. Resultados positivos de análises a doenças infecto-contagiosas

(2001-2007)

2001 2007 Resultados positivos

n % n %

HIV 224 16,3 140 10

Hepatite B 122 9,7 64 5,1

Hepatite C 348 26,9 310 23,3

36

6. Perfil social dos Directores: em 2007, a maioria dos

Directores dos Serviços Prisionais passou a ser feminina

Em 2007, a média de idade dos directores é de 48,6 anos e contrariamente a 2001, a

maioria é do sexo feminino, e possuem pelo menos uma licenciatura nas seguintes

áreas de formação académica: Direito, História, Psicologia, Recursos Humanos,

Serviço Social e Sociologia.

• Em 2007, a maioria dos directores de EP’s são mulheres (52,8%);

• Em 2007, 35,1% dos directores desempenha esta função há 6 anos ou

menos. Enquanto que em 2001 eram 51,2%;

• Em 2007, 75,7% dos directores trabalha com reclusos há mais de 13 anos.

Em 2001, o valor era de 58,5%;

• Em 2007, 83,3% dos directores tem licenciatura completa, 5,6% tem

mestrado e 11,1% tem uma pós-graduação. Em 2001, 80% dos directores

tinham licenciatura completa e 7,5% apresentavam uma pós-graduação.

• Sendo que destes directores que concluíram a licenciatura, em 2007, 77,1%

tem formação na área das Ciências Sociais (sendo prevalecente a formação

em Serviço Social, Psicologia, Direito e outras áreas das Ciências Sociais,

contra os 68,4% de 2001.

37

7. Avaliações das condições de vida nos EP’s: opiniões

comparadas dos Directores dos Estabelecimentos Prisionais e

dos reclusos

DIRECTORES (2007)

• 56,8% consideram a alimentação

boa e 40,5% razoável;

• A higiene é considerada boa ou

razoável por 83,7%;

• 86,2% considera os serviços de

saúde bons/razoáveis;

• 29,7% considera o alojamento bom e

51,4 razoável.

RECLUSOS (2007)

• 61,5% considera a alimentação

insuficiente/má;

• 58,8% declara a higiene boa ou

razoável;

• 50,1% considera os serviços de

saúde insuficientes ou maus;

• 57,3% classifica o alojamento

como bom ou razoável.

No que se refere à alimentação na prisão, percebe-se claramente a divergência entre

directores e reclusos apresentando posições díspares entre si. Se para os directores

a satisfação face à alimentação é manifestada pela quase totalidade, para a maioria

dos reclusos este revela-se um domínio notoriamente negativo (61,5%).

No que diz respeito às condições de higiene é notória igualmente uma perspectiva

mais positiva por parte dos directores, enquanto que os reclusos revelam uma

posição mais satisfatória do que em 2001

Relativamente ao serviço de saúde nas prisões portuguesas, é relevante salientar

que o nível de apreciações positivas dos directores (82,2%) contrapondo com os

níveis de apreciações negativas relativamente a este serviço por parte dos reclusos

que ronda os 50%.

38

Ainda no que se refere às avaliações tecidas relativamente ao alojamento, mais uma

vez se verifica que, para os directores, existe uma perspectiva mais positiva, Enquanto

que para reclusos esta avaliação apresenta-se menos positiva

Ao nível de comparação com 2001, as mudanças subtis nas avaliações.

Os directores tendem a ter uma melhor percepção dos serviços de saúde e alojamento

e uma pior avaliação da higiene.

Os reclusos tendem a considerar uma ligeira melhoria na higiene e pioria no

alojamento.

Preocupações de directores e reclusos

DIRECTORES (2007)

• A falta de verbas (56,8% estão muito

preocupados);

• 85,5% declaram estar

preocupados ou muito preocupados

com as doenças infecto-

contagiosas;

• 83,8% estão preocupados ou muito

preocupados com a problemática

das drogas.

RECLUSOS (2007)

• 86,2% estão preocupados ou muito

preocupados sobre doenças infecto-

contagiosas;

• 31,8% afirma estar muito preocupado

com a violência entre reclusos e

19,5% declara estar nada preocupado.

• 61,7% declararam estarem

preocupados ou muito preocupados

com a problemática das drogas.

Os níveis de preocupação de directores e reclusos revelam-se bastante próximos

quando associados às doenças infecto-contagiosas não se verificando grandes

alterações para 2001. Convém, contudo, sublinhar o facto dos reclusos manifestarem

uma maior preocupação relativamente a esta problemática, pois 62,2%% corresponde

apenas ao grau de preocupação máxima.

Relativamente às preocupações com droga, Os reclusos apresentam um aumento

de preocupações em relação ao inquérito de 2001, mas menos preocupados que os

39

Directores, e os directores parecem estar menos preocupados em 2007 (86,5%) do

que em 2001 (89,5%).

Quanto à violência entre reclusos, em 2007 verifica-se um maior grau de

preocupação, 31,8% afirma estar muito preocupado enquanto que em 2001 eram

27,6%.

Já no que concerne com as preocupações com a falta de verbas disponibilizadas

para os Estabelecimentos Prisionais, os Directores apresentam níveis de preocupação

menores em 2007 (56,8%) do que em relação a 2001 (77%).

Perspectivas quanto aos toxicodependentes e à toxicodependência

DIRECTORES (2007)

• 100% concordam com a ideia “um

toxicodependente é alguém que precisa

de ajuda”;

• 91,9% consideram que “há diferentes

tipos de toxicodependentes”;

• 89,2% concordam com a ideia “um

toxicodependente é um doente”;

• 97,2% não consideram que “um

toxicodependente é um delinquente”.

RECLUSOS (2007)

• 91,9% concordam com a ideia “um

toxicodependente é alguém que

precisa de ajuda”;

• 73% consideram que “há diferentes

tipos de toxicodependentes”;

• 77,6% concordam com a ideia “um

toxicodependente é um doente”;

• 58,6% discordam com a ideia de que

“um toxicodependente é um

delinquente”.

Destaca-se a proximidade entre directores e reclusos, com excepção da afirmação de

“um toxicodependente é um delinquente”; comparativamente a 2001, mais directores

vêm no toxicodependente um doente e menos reclusos discordam com o

toxicodependente ser um delinquente.

40

Opiniões sobre as drogas nas prisões

DIRECTORES (2007)

• 81,1 % acham que “é muito difícil

controlar a entrada de drogas na

prisão”;

• 94,4% concordam com a ideia “a

prisão pode ser uma boa oportunidade

para os toxicodependentes deixarem as

drogas”;

• 73% acha que “a solução para o

problema das drogas na prisão passa

por mais programas de apoio para os

toxicodependentes”;

• 72,2% concordam da ideia que seja

“com mais controlo e vigilância que se

impede a entrada de drogas na prisão”.

RECLUSOS (2007)

• 67,2% considera que “é muito difícil

controlar a entrada de drogas na

prisão”;

• 63,4% dos reclusos concordam com a

ideia de que “a prisão pode ser uma

boa oportunidade para os

toxicodependentes deixarem as

drogas”;

• 81,1% dos reclusos acha que “a

solução para o problema das drogas

na prisão passa por mais programas

de apoio para os toxicodependentes”;

• 58,7% concordam da ideia que seja

“com mais controlo e vigilância que se

impede a entrada de drogas na

prisão”.

Tendência generalizada, tanto nos directores como nos reclusos, para a concordância

com as afirmações. Maior concordância em 2007 com “a prisão pode ser uma boa

oportunidade para os toxicodependentes deixarem as drogas”; menor para os

directores na “é muito difícil controlar a entrada de drogas na prisão”; e maior também

nos directores para “é possível com maior controlo e vigilância impedir a entrada de

drogas na prisão”.

41

Medidas a implementar no combate às drogas

DIRECTORES (2007)

(Dispostos a implementar)

86,5% e 86,1% acções de formação

sobre a temática das drogas,

respectivamente, junto do staff prisional e

dos reclusos;

89,2% acesso mais fácil a programas

terapêuticos;

83,3% maior vigilância;

61,1% acesso mais fácil a programas de

substituição;

62,9% mais alas/unidades livres de

drogas;

22,9% programas de trocas de seringas.

RECLUSOS (2007)

(Muito importante e importante)

83,1% o acesso mais fácil a programas

terapêuticos;

67,8% maior vigilância;

68,7% acesso mais fácil a programas de

substituição;

70,5% mais alas/unidades livres de

drogas;

38,7% os programas trocas de seringas.

Em relação a 2001, os directores apresentam maior disponibilidade para implementar

medidas do tipo: programas de trocas de seringas e mais alas/unidades livres de

drogas.

Em relação a 2001, os reclusos apenas sub-avaliam os programas de troca de

seringas. A grande maioria das outras opiniões aumentou nos níveis de importância.

42

Qualificação e quantidade do staff prisional

Em 2007, 43,2% dos directores considera insuficiente o pessoal clínico existente nos

estabelecimentos prisionais. Em 2001, a percentagem apurada era bastante superior,

73,2% (Quadro 12).

Quadro 12. Quantidade de pessoal nos Estabelecimentos Prisionais

Suficiente Insuficiente

2001 2007 2001 2007

Pessoal Administrativo 39 59,5 61 40,5

Pessoal de vigilância (educação/formação/reinserção) 36,6 10,8 63,4 89,2

Pessoal técnico 34,1 35,1 65,9 64,9

Pessoal clínico 26,8 56,8 73,2 43,2

Outro pessoal de Enquadramento (operários) 14,8 37,9 85,2 62,1

Os directores consideram o pessoal técnico mais disponível para a implementação

das medidas relacionadas com o consumo de drogas nas prisões do que o pessoal

de vigilância.

Estimativas fornecidos pelos serviços clínicos

Os serviços clínicos estimam, em 2007, um valor médio de consumidores de drogas

na ordem dos 42%, enquanto que em 2001 a estimativa era de 51,6%. No que se

refere às doenças infecto-contagiosas, os serviços clínicos estimaram, para 2007,

25,9% de reclusos infectados com Hepatite B e C; 10% de seropositivos e 2,4%

portadores de HIV/SIDA (Quadro 13).

Quadro 13. Estimativas fornecidas pelos serviços clínicos

2001 (%) 2007 (%)

Hepatite B e C 30,6 25,9

Seropositivos 8,5 10,0

SIDA 2,1 2,4

As estimativas dos serviços clínicos estão sempre aquém das declarações dos

reclusos.

43

8. Conclusões

Perfil dos reclusos (comparativamente com 2001):

� Esmagadoramente é uma realidade mais masculina que feminina (com pouca

modificação em relação ao que já se passava em 2001);

� Ligeiramente mais velhos;

� E mais escolarizados.

Perfil dos directores (comparativamente com 2001):

� Mais mulheres;

� Mais experiência no trabalho com reclusos;

� Mais tempo no exercício de funções;

� Mais escolarizados;

� E com maior enfoque nas ciências sociais nas suas formações académicas.

1. Tipos de crimes, desde 2001:

� O panorama global não se transformou muito. Crimes directa e indirectamente

relacionados com drogas continuam a ser a maioria dos crimes praticados;

� Ligeiro aumento do número de crimes em nada relacionados com drogas e ligeira

diminuição dos crimes directamente relacionados com drogas.

2. Consumo de drogas modificou-se desde 2001:

� Decréscimo no consumo de heroína nas declarações de consumo de substâncias

alguma vez na vida, sendo ultrapassado em 2007 pelo consumo de cocaína;

� Aumento das declarações de consumo de ecstasy pelo menos uma vez na vida;

� Diminuição do número de consumidores de drogas no interior da prisão. E

modificação das práticas de consumo para os que mantêm a sua dependência.

Injectam menos e fumam mais.

44

3. Doenças infecto-contagiosas diminuem desde 2001:

� Aumento do número de testes realizados;

� Diminuição do número de indivíduos infectados;

� Aumento do número de inquiridos que declararam apenas usar agulhas novas nos

seus consumos de droga via injectável.

4. As opiniões, avaliações e preocupações de directores e reclusos denunciam

que:

� As doenças infecto-contagiosas são a maior preocupação;

� Os programas de tratamento e as alas/unidades livres de drogas assumem-se

como as medidas relacionadas com drogas mais importantes, juntamente com

programas de substituição e terapêuticos;

� Programas de apoio a toxicodependentes no interior da prisão são considerados

enquanto uma forma importante de tratar um doente que precisa de ajuda, como é o

caso de um toxicodependente.

45

Ficha técnica

• Entidade adjudicante: Instituto da Droga e da Toxicodependência

• Colaboração: Direcção-Geral dos Serviços Prisionais

• Concepção e realização: equipa de investigação do Centro de Investigação e

Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e

da Empresa (ISCTE).

• Colaboração na concepção metodológica e aplicação do inquérito aos

reclusos: METRIS GFK – Métodos de Recolha e Investigação Social, Lda.

(empresa de estudos de mercado).

1. Inquérito aos reclusos

• Universo: 11968 indivíduos reclusos presentes, à data de 31 de Outubro de

2007, em 44 estabelecimentos prisionais (EP’s) de Portugal Continental e das

Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.

• Amostra: 2378 indivíduos (20% do universo). Destes, obtiveram-se 1986

questionários válidos. A diferença entre a amostra prevista e a amostra

realizada é consequência da existência de 349 recusas, e da anulação

posterior de 25 questionários que não respeitaram os padrões de validade

estabelecidos pela METRIS GFK, e ainda 18 questionários em branco. A

amostra foi construída pela METRIS GFK, a partir dos números

mecanográficos fornecidos pela DGSP. Em cada estabelecimento prisional, os

inquiridos foram seleccionados aleatoriamente e em número proporcional ao

total de reclusos. Foram ainda seleccionados aleatoriamente mais 2% (ou 5%

em casos específicos) do total do universo para substituições por

impedimentos2. A amostra aleatória de 1986 indivíduos tem associado um erro

de amostragem máximo admissível de 2% para um grau de confiança de

95%.

2 Tais como diligências marcadas em Tribunais, Hospitais ou noutros serviços de saúde no exterior do EP; reclusos que não compreendessem (falar, ler e escrever) a língua portuguesa e reclusos a cumprir sanção disciplinar.

46

Procedimentos metodológicos específicos:

• Inquérito por auto preenchimento, colocado em urna fechada, à vista de

todos. A intervenção de um entrevistador ocorreu em casos de analfabetismo,

e com consentimento do entrevistado.

• O total anonimato dos inquéritos e a confidencialidade das respostas (sendo

a esmagadora maioria de assinalar as escolhas com cruz e apenas duas

implicavam a escrita).

• Não identificação de dados por estabelecimento prisional.

• Realização de reuniões com os directores, guardas prisionais e técnicos dos

serviços clínicos e de reeducação antes da aplicação dos questionários para

explicar os requisitos técnicos necessários a preservar rigorosamente o

anonimato e a confidencialidade das respostas dos reclusos.

• Distribuição de folhetos informativos do estudo à totalidade dos reclusos

existentes em cada estabelecimento prisional na manhã da aplicação dos

questionários. Neles se explicava o facto de este estudo ter por objectivo o

conhecimento da realidade e de ser desenvolvido por entidades

completamente independentes e exteriores aos EP’s.

• Aplicação do questionário em salas com 20 reclusos no máximo e sem a

presença de pessoal de vigilância.

• Esclarecimentos prestados apenas pelos investigadores ou entrevistadores da

empresa METRIS GFK, por serem externos aos EP’s.

2. Inquéritos aos directores e serviços clínicos

• Universo: directores(as) e serviços clínicos dos 44 EP’s. Obtiveram-se

respostas de 37 direcções e 38 serviços clínicos.

Procedimentos metodológicos específicos:

• O total anonimato dos EP’s e confidencialidade das respostas.

• Envio pelo correio da auscultação aos directores e serviços clínicos

acompanhadas de um envelope para devolução (sem qualquer identificação de

cada EP).