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 DIREITO REAIS 2º.ANO  Aula nº.  01 – Data:  02.10.2007  Sumário: Apresentação.  Aula nº.  02 – Data:  09.10.2007  Sumário: Direito subjectivo É o poder conferido pela ordem jurídica a um sujeito para a tutela de um seu interesse Poder jurídico Uma disponibilidade de meios jurídicos atribuídos a pessoa determinada para a realização de interesses jurídico-privados, mediante a afectação jurídica de certo bem. Direito real É um direito subjectivo, no sentido de poder jurídico absoluto, atribuído a uma pessoa determinada para a realização de interesses jurídico-privados, mediante o aproveitamento imediato de utilidades de uma coisa corpórea. Direitos reais Características: Normas de direito privado Carácter absoluto Carácter patrimonial Objecto dos direitos reais são coisas corpóreas Normas dos direitos reais têm a ver com a apropriação privada de bens e forma de as utilizar Existem três concepções sobre os direitos reais: 1. Clássica/realista – dizia que os direitos reais tratavam da relação entre o sujeito e uma coisa, objecto do seu direito. Veio a ser criticada porque seria pouco natural falar de relações entre pessoas jurídicas e coisas. 2. Personalista – concebe os direitos reais como uma relação entre uma pessoa e uma pluralidade de sujeitos dando origem à obrigação passiva universal.  Também esta teoria foi criticada porque se preocupava mais com o conteúdo do direito real. 3. Concepção eclética – 2 Lados que existem nos direitos reais: interno e externo. Interno – Poder directo e imediato que um titular de um direito real tem sobre a coisa que é objecto do seu direito. Externo – Tem a ver com a sua oponibilidade contra todos “erga omnes”, opõe-se perante todos Distinção entre os direitos reais e direitos de crédito: Direitos reais – direito imediato sobre o objecto do direito. Opõem-se a todos. Direitos de crédito – Não há mediatização, tem de existir sempre a intervenção de outrem para que o meu interesse seja satisfeito. Eficácia inter partes. Objecto dos direitos reais: Art.1302º - tendencialmente são coisas corpóreas 1

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DIREITO REAIS 2º.ANO

 Aula nº.  01 – Data:  02.10.2007 Sumário: Apresentação.

 Aula nº.  02 – Data:  09.10.2007 Sumário: …

Direito subjectivoÉ o poder conferido pela ordem jurídica a um sujeito para a tutela de um seuinteresse

Poder jurídicoUma disponibilidade de meios jurídicos atribuídos a pessoa determinada para arealização de interesses jurídico-privados, mediante a afectação jurídica de certobem.

Direito real

É um direito subjectivo, no sentido de poder jurídico absoluto, atribuído a uma pessoadeterminada para a realização de interesses jurídico-privados, mediante oaproveitamento imediato de utilidades de uma coisa corpórea.

Direitos reaisCaracterísticas:

• Normas de direito privado• Carácter absoluto• Carácter patrimonial• Objecto dos direitos reais são coisas corpóreas

Normas dos direitos reais têm a ver com a apropriação privada de bens e forma de asutilizar

Existem três concepções sobre os direitos reais:1. Clássica/realista – dizia que os direitos reais tratavam da relação entre o

sujeito e uma coisa, objecto do seu direito. Veio a ser criticada porque seriapouco natural falar de relações entre pessoas jurídicas e coisas.

2. Personalista – concebe os direitos reais como uma relação entre uma pessoa euma pluralidade de sujeitos dando origem à obrigação passiva universal. Também esta teoria foi criticada porque se preocupava mais com o conteúdo

do direito real.3. Concepção eclética – 2 Lados que existem nos direitos reais: interno e

externo. Interno – Poder directo e imediato que um titular de um direito realtem sobre a coisa que é objecto do seu direito. Externo – Tem a ver com a suaoponibilidade contra todos “erga omnes”, opõe-se perante todos

Distinção entre os direitos reais e direitos de crédito:

Direitos reais – direito imediato sobre o objecto do direito. Opõem-se a todos.Direitos de crédito – Não há mediatização, tem de existir sempre a intervenção deoutrem para que o meu interesse seja satisfeito. Eficácia inter partes.

Objecto dos direitos reais:Art.1302º - tendencialmente são coisas corpóreas

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Art.666º - PenhorArt.1439º - Usufruto (já não é uma coisa corpórea)Art.202º - Coisas corpóreas dentro do comércio (móveis ou imóveis) e que possam serobjecto de relações jurídicas.ARTIGO 1302º(Objecto do direito de propriedade)Só as coisas corpóreas, móveis ou imóveis, podem ser objecto do direito de propriedade regulado

neste código.

ARTIGO 666º(Noção)1. O penhor confere ao credor o direito à satisfação do seu crédito, bem como dos juros, se os houver,com preferência sobre os demais credores, pelo valor de certa coisa móvel, ou pelo valor de créditosou outros direitos não susceptíveis de hipoteca, pertencentes ao devedor ou a terceiro.2. É havido como penhor o depósito a que se refere o nº 1 do artigo 623º.3. A obrigação garantida pelo penhor pode ser futura ou condicional.

ARTIGO 1439º(Noção)

Usufruto é o direito de gozar temporária e plenamente uma coisa ou direito alheio, sem alterar a suaforma ou substância.

ARTIGO 202º(Noção)1. Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objecto de relações jurídicas.2. Consideram-se, porém, fora do comércio todas as coisas que não podem ser objecto de direitosprivados, tais como as que se encontram no domínio público e as que são, por sua natureza,insusceptíveis de apropriação individual.

Modalidades dos direitos reais:

Direitos reais de gozo:• Servidões prediais• Direito de superfície• Direito de propriedade• Direito de usufruto• Posse• Uso e habitação• Habitação periódica

Direitos reais de garantia:• Hipoteca

• Penhor• Privilégios creditórios• Direito de retenção• Penhora e arresto• Consignação de rendimentos

Direitos reais de aquisição:• Direito de preferência com eficácia real• Direito do beneficiário de uma promessa de alienação ao qual tenha sido

atribuída eficácia realDireitos reais de gozo – um direito real adquirido em primeiro lugar vai prevalecer

sobre outro direito real do mesmo bem, desde que posteriormente constituído.

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Direitos reais de garantia – a garantia constituída em primeiro lugar, prevalece sobre

todas as outras posteriores.

A dimensão é diferente caso se trate de direito real de gozo ou de garantia.

Nas de gozo um direito exclui todos os outros constituídos sobre o mesmo bem.

Excepções:• Bens imóveis – o registo é que é constitutivo do direito e o registo efectuado em

primeiro lugar prevalece sobre todos os outros posteriores.

• Direitos de garantia – o direito real de garantia prevalece sobre outras garantias, nos

termos do art. 751.º

ARTIGO 751º(Privilégio imobiliário e direitos de terceiro)Os privilégios imobiliários são oponíveis a terceiros que adquiram o prédio ou um direito real sobre ele,

e preferem à consignação de rendimentos, à hipoteca ou ao direito de retenção, ainda que estasgarantias sejam anteriores.

Características/princípios dos direitos reais:1. Oponibilidade Erga Omnes – eficácia perante todos, a ela corresponde a

obrigação passiva universal2. Tipicidade/taxatividade (art.1306º) – apenas aqueles reais que estão

previstos na lei existem. Só são reais os direitos que a lei qualifica como tal,tendo os direitos reais um conteúdo definido por lei

3. Elasticidade dos direitos reais – o seu conteúdo é mais ou menosabrangente consoante a existência de um direito menor. Ex. Usufruto. Esta

elasticidade é mais notória no direito de propriedade. Verifica-se sempre quedois ou mais direitos reais tenham por objecto a mesma coisa. A mesma coisapode ser objecto de diferentes direitos reais.

a. Exemplo: Quando um proprietário, oferece a propriedade em usufruto aoutrem; neste caso o direito do proprietário como que “encolhe” e sóretoma plenamente a sua dimensão quando cessa esse direito deusufruto.

4. Especialidade/individualização – não pode existir um direito real sobrecoisas genéricas. O objecto do direito tem que ser específico.

a. Os direitos reais têm por objecto coisas certas e determinadas . b. Coisas certas e determinadas, mas não necessariamente individualizadas (ex: as

coisa futuras)c. Coisas certas e determinadas, o que não impede que o objecto dos direitos reais

possam ser coisas compostas (ex: uma biblioteca, um rebanho, etc.)5. Imediação e actualidade – O sujeito tem direito imediato ao objecto sobre o

qual incide o direito e assim tem que ser actual.6. Compatibilidade ou exclusão – só pode existir um direito real sobre uma

determinada coisa quando for compatível com outros direitos reais sobre amesma coisa.

7. Sequela – O titular do direito real pode seguir o objecto sobre o que o seudireito incida independentemente do local onde ele se encontre ou outro tipo de

vicissitudes de ordem material (atr.1311º e ss.). As múltiplas manifestações dasequela constituem importantes meios de tutela e defesa dos direitos reais.

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a. Nos direitos reais de gozo, - a primeira e imediata manifestação da sequela éa acção de reivindicação (arts. 1311° a 1315°), pela qual se assegura apossibilidade de o titular do direito obter o reconhecimento deste e vindicar acoisa, pedindo a sua entrega onde quer que esta se encontre.

 b. Na generalidade dos direitos reais de garantia - o interesse do credor fica, emgeral, assegurado mediante a possibilidade de fazer vender a coisa, esteja elano património do devedor ou de terceiro, para através do produto da sua vendarealizar o seu direito.

c. Nos direitos reais de aquisição, - Como por exemplo o direito de preferência,o que importa ao preferente é a possibilidade de adquirir a coisa, alienada porquem está vinculado a dar preferência, com violação do seu direito.

d. Independentemente da modalidade do direito real - o titular do direito real éprotegido contra os efeitos de actos jurídicos, relativos à coisa que constitui oseu objecto, quando praticados por pessoa sem legitimidade, a manifestação dasequela impõe a sua ineficácia ou inoponibilidade em relação ao verdadeirotitular do direito.

8. Prevalência/preferência – Um direito real há-de preferir sobre um qualquerdireito de crédito. Um direito real vai prevalecer sobre todos os direitos reais

constituídos posteriormente mas vai ceder perante direitos anteriores eincompatíveis(ex: art. 407°)

a. A prevalência é um corolário da natureza absoluta e da inerência dosdireitos reais (Mota Pinto)

 b. A prevalência não faz sentido enquanto não houver incompatibilidade de direitossobre a mesma coisa (Pinto Coelho)

c. O direito real prevalece sobre o direito de crédito9. Publicidade – conferida pelo registo ou pela posse. Matéria do Registo Predial

em particular e do Registo em geral. A publicidade dos direitos reais, temem vista o registo da coisa e a sua cognoscibilidade relativamente a terceiros.O registo não é obrigatório. O registo serve para organizar o poder público.

a. N atureza jurídica do registoi. O registo não tem eficácia constitutiva de direitos reaisii. O registo constitui um requisito de eficácia do direito real

iii. Excepcionalmente na hipoteca o registo tem eficácia constitutiva dedireitos reais( art. 687)

10. Transmissibilidade – os direitos reais são transmissíveis inter vivos ou mortiscausa. Existem algumas excepções – Uso e habitação e usufruto.

a. Funciona como regra de verificação tendencialb. A transmissão pode ser inter-vivos ou mortis-causac. Não se pode determinar convencionalmente a transmissibilidade dos direitos

reais, por atentar ao princípio da tipicidade (art. 1306°)

d. Limitações ao princípio da transmissibilidadei. Usufruto - Apenas se transmite inter-vivos, mas com limitações e certas

condições (art. 1444°)ii. Uso e habitação – não é transmissível, nem inter-vivos nem mortis-

causa. (art. 1484)iii. Servidões legais – a transmissibilidade dos direitos de servidões só se

verificam com a transmissibilidade dos respectivos prédios, pois aservidão legal é constituída em função do prédio e não do seu titular

iv. Preferências legais - Por exemplo, o direito de preferência de comprade imóvel, devido à sua condição de inquilino

 Aula nº.  03 – Data:  16.10.2007 Sumário: Estudo do direito de propriedade: aspectos gerais (características, modos de aquisição e de extinção); comproriedade(noção, natureza jurídica, características); aspectos específicos da propriedade sobre prédios (ius aedificandi, relações devizinhança e respectivas problemáticas)

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Aspectos gerais da propriedade

ARTIGO 1305º(Conteúdo do direito de propriedade)O proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas quelhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por ela impostas.

Este artigo dá-nos um ponto de partida para uma noção do direito de propriedade

Direito de propriedade - O direito real máximo, mediante o qual é assegurada acerta pessoa, com exclusividade, a generalidade dos poderes de aproveitamentoglobal das utilidades de certa coisa.

Características do direito de propriedade:• Plenitude - Resulta do art.1305º

ARTIGO 1305º(Conteúdo do direito de propriedade)O proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas quelhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por ela impostas.

• Elasticidade – é na propriedade que esta característica melhor se revela.Extinto o direito limitativo ou onerador (ex: usufruto), a propriedade expande-see retoma o seu conteúdo pleno 

• Perpetuidade – é tendencialmente perpétuo, a propriedade não cessa pelodecurso do tempo – art.298ºnº3

ARTIGO 298º(Prescrição, caducidade e não uso do direito)…3. Os direitos de propriedade, usufruto, uso e habitação, enfiteuse, superfície e servidão nãoprescrevem, mas podem extinguir-se pelo não uso nos casos especialmente previstos na lei, sendoaplicáveis nesses casos, na falta de disposição em contrário, as regras da caducidade.

• Transmissibilidade - o objecto pode ser transmitido por negócio inter vivosou por mortis causa (factos sucessórios), excepto o direito de usufruto que setem como limite de duração a vida do usufrutuário, não podendo sertransmitido mortis causa – art. 1444.º e 1476º.

ARTIGO 1444º(Trespasse a terceiro)1. O usufrutuário pode trespassar a outrem o seu direito, definitiva ou temporariamente, bem comoonerá-lo, salvas as restrições impostas pelo título constitutivo ou pela lei.2. O usufrutuário responde pelos danos que as coisas padecerem por culpa da pessoa que o substituir.

ARTIGO 1476º(Causas de extinção)1. O usufruto extingue-se:a) Por morte do usufrutuário, ou chegado o termo do prazo por que o direito foi conferido, quando nãoseja vitalício;b) Pela reunião do usufruto e da propriedade na mesma pessoa;

c) Pelo seu não exercício durante vinte anos, qualquer que seja o motivo;d) Pela perda total da coisa usufruída;e) Pela renúncia.2. A renúncia não requer aceitação do proprietário.

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Modos de constituição/aquisição de uma propriedade:

ARTIGO 1316º(Modos de aquisição)O direito de propriedade adquire-se por contrato, sucessão por morte, usucapião, ocupação, acessão edemais modos previstos na lei.

• Contrato e sucessão por morte – formas gerais da aquisição de direitos• Usucapião - forma de aquisição originária de propriedade que decorre de duas

condições: decurso de um certo lapso de tempo e Posse (posse ≠ detenção)• Ocupação – 1318º e seguintes – só podem ser adquiridos por ocupação: bens

móveis, animais…que nunca tiveram dono ou foram abandonados, perdidos ouescondidos pelos seus proprietários.

ARTIGO 1318º(Coisas susceptíveis de ocupação)Podem ser adquiridos por ocupação os animais e outras coisas móveis que nunca tiveram dono, ouforam abandonados, perdidos ou escondidos pelos seus proprietários, salvas as restrições dos artigosseguintes.

• Acessão – 1325º e seguintes. O artigo 1325º dá-nos a noção de acessão:incorporação de uma coisa noutra; as coisas são de proprietários diferentes.Consiste na união ou incorporação, em coisa de que é titular certa pessoa, deoutra coisa pertença de pessoa diferente.

ARTIGO 1325º(Noção)Dá-se a acessão, quando com a coisa que é propriedade de alguém se une eincorpora outra coisa que lhe não pertencia.

ARTIGO 1326º(Espécies)1. A acessão diz-se natural, quando resulta exclusivamente das forças da natureza; dá-se a acessãoindustrial, quando, por facto do homem, se confundem objectos pertencentes a diversos donos, ouquando alguém aplica o trabalho próprio a matéria pertencente a outrem, confundindo o resultadodesse trabalho com propriedade alheia.

2. A acessão industrial é mobiliária ou imobiliária, conforme a natureza das coisas.

Espécies de acessão:Natural – decorre da força da natureza

ARTIGO 1327º(Princípio geral)Pertence ao dono da coisa tudo o que a esta acrescer por efeito da natureza.

Industrial – decorre da intervenção humana

ARTIGO 1333º(União ou confusão de boa fé)1. Se alguém, de boa fé, unir ou confundir objecto seu com objecto alheio, de modo que a separaçãodeles não seja possível ou, sendo-o, dela resulte prejuízo para alguma das partes, faz seu o objecto

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adjunto o dono daquele que for de maior valor, contanto que indemnize o dono do outro ou lheentregue coisa equivalente.2. Se ambas as coisas forem de igual valor e os donos não acordarem sobre qual haja de ficar com ela,abrir-se-á entre eles licitação, adjudicando-se o objecto licitado àquele que maior valor oferecer porele; verificada a soma que no valor oferecido deve pertencer ao outro, é o adjudicatário obrigado apagar-lha.3. Se os interessados não quiserem licitar, será vendida a coisa e cada um deles haverá no produto davenda a parte que deva tocar-lhe.4. Em qualquer dos casos previstos nos números anteriores, o autor da confusão é obrigado a ficarcom a coisa adjunta, ainda que seja de maior valor, se o dono dela preferir a respectiva indemnização.

Mobiliária – consoante a natureza, bens móveis

Imobiliária – bens imóveisModos de extinção da propriedade:

• Perecimento físico da coisa sobre que incide o direito de propriedade• Abandono – equivale a uma renúncia tácita do objecto do direito (art.1318º e

1397º – fazem-lhe referencia)• Renuncia expressa – art.1411º; 1472º nº3 – é uma acção unilateral

Renúncia abdicativa – renúncia pura e simplesRenúncia liberativa - é uma forma de o titular de certo direito seeximir/libertar do cumprimento de uma obrigação Ex. no usufruto – art.1472.º e 1476.

Transmissibilidade da propriedadeA respeito da transmissibilidade da propriedade existiriam três sistemas:

1.  Titulo – direito real transmite-se por mero efeito do contrato (principio daconsensualidade) - artºs 408.º e 1317.º, al. A)

2. Modo – implica a entrega da coisa3. Sistema misto

Entre nós verifica-se o sistema de títulos – art.408º e 1317ºc)

ARTIGO 408º(Contratos com eficácia real)1. A constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa determinada dá-se por mero efeito docontrato, salvas as excepções previstas na lei.2. Se a transferência respeitar a coisa futura ou indeterminada, o direito transfere-se quando a coisafor adquirida pelo alienante ou determinada com conhecimento de ambas as partes, sem prejuízo do

disposto em matéria de obrigações genéricas e do contrato de empreitada; se, porém, respeitar afrutos naturais ou a partes componentes ou integrantes, a transferência só se verifica no momento dacolheita ou separação.

ARTIGO 1317º(Momento da aquisição)O momento da aquisição do direito de propriedade é:a) No caso de contrato, o designado nos artigos 408º e 409º;b) No caso de sucessão por morte, o da abertura da sucessão;c) No caso de usucapião, o do início da posse;d) Nos casos de ocupação e acessão, o da verificação dos factos respectivos.

Aspectos específicos da propriedade

Compropriedade – art.1403ºARTIGO 1403º

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(Noção)1. Existe propriedade em comum, ou compropriedade, quando duas ou mais pessoas sãosimultaneamente titulares do direito de propriedade sobre a mesma coisa.2. Os direitos dos consortes ou comproprietários sobre a coisa comum são qualitativamente iguais,embora possam ser quantitativamente diferentes; as quotas presume-se, todavia, quantitativamenteiguais na falta de indicação em contrário do título constitutivo.

São vários titulares de um direito de propriedade sobre um só objecto de direito.Quantitativamente, o direito de compropriedade presume-se que os direitos sãoiguaisQualitativamente, os direitos de compropriedade são sempre iguais

Quanto à natureza jurídica existem três tipos:1. Considera-se que quanto à compropriedade existe um único direito com

vários proprietários2. Não é um direito que existe mas vários, tantos quantos os comproprietários.

Numa o direito incide sobre a quota ideal e noutra, esses vários direitos

incidem sobre o seu todo (do bem como um todo)3. A versão aceite é aquele que concebe a compropriedade como a existência

de vários direitos sobre quotas ideais.

Aspectos do regime da compropriedade:• Uso da coisa comum – em princípio prevalecerá, quanto ao uso da coisa aquilo

que as partes acordarem. Se não houver acordo a lei terá que definir comodeverá ser usada a coisa por cada um dos comproprietários – art.1406º

• Obrigação de participar nas benfeitorias necessárias e despesas – art.1411º• Administração da coisa comum – art.1407º que remete para o 985º

• Divisão da coisa comum – nenhum dos comproprietários é obrigado a estar noregime da compropriedade, pode exigir o fim do regime de compropriedade emcoisa que seja divisível – art.1412º e 1413º

• Direito da preferência – art.1409º, no caso de um comproprietário quereralienar parte da compropriedade os demais comproprietários têm preferênciana aquisição dessa quota-parte.

ARTIGO 1406º(Uso da coisa comum)1. Na falta de acordo sobre o uso da coisa comum, a qualquer dos comproprietários é lícito servir-sedela, contanto que a não empregue para fim diferente daquele a que a coisa se destina e não prive os

outros consortes do uso a que igualmente têm direito.2. O uso da coisa comum por um dos comproprietários não constitui posse exclusiva ou posse de quotasuperior à dele, salvo se tiver havido inversão do título.

ARTIGO 1411º(Benfeitorias necessárias)1. Os comproprietários devem contribuir, em proporção das respectivas quotas, para as despesasnecessárias à conservação ou fruição da coisa comum, sem prejuízo da faculdade de se eximirem doencargo renunciando ao seu direito.2. A renúncia, porém, não é válida sem o consentimento dos restantes consortes, quando a despesatenha sido anteriormente aprovada pelo interessado, e é revogável sempre que as despesas previstasnão venham a realizar-se.3. A renúncia do comproprietário está sujeita à forma prescrita para a doação e aproveita a todos os

consortes, na proporção das respectivas quotas.

ARTIGO 1407º(Administração da coisa)

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DIREITO REAIS 2º.ANO

1. É aplicável aos comproprietários, com as necessárias adaptações, o disposto no artigo 985º; paraque haja, porém, a maioria dos consortes exigida por lei, é necessário que eles representem, pelomenos, metade do valor total das quotas.2. Quando não seja possível formar a maioria legal, a qualquer dos consortes é lícito recorrer aotribunal, que decidirá segundo juízos de equidade.3. Os actos realizados pelo comproprietário contra a oposição da maioria legal dos consortes sãoanuláveis e tornam o autor responsável pelo prejuízo a que der causa.

ARTIGO 985º(Administração)1. Na falta de convenção em contrário, todos os sócios têm igual poder para administrar.2. Pertencendo a administração a todos os sócios ou apenas a alguns deles, qualquer dosadministradores tem o direito de se opor ao acto que outro pretenda realizar, cabendo à maioriadecidir sobre o mérito da oposição.3. Se o contrato confiar a administração a todos ou a vários sócios em conjunto, entende-se, em casode dúvida, que as deliberações podem ser tomadas por maioria.4. Salvo estipulação noutro sentido, considera-se tomada por maioria a deliberação que reúna ossufrágios de mais de metade dos administradores.5. Ainda que para a administração em geral, ou para determinada categoria de actos, seja exigido oassentimento de todos os administradores, ou da maioria deles, a qualquer dos administradores é lícito

praticar os actos urgentes da administração destinados a evitar à sociedade um dano iminente.ARTIGO 1412º(Direito de exigir a divisão)1. Nenhum dos comproprietários é obrigado a permanecer na indivisão, salvo quando se houverconvencionado que a coisa se conserve indivisa.2. O prazo fixado para a indivisão da coisa não excederá cinco anos; mas é lícito renovar este prazo,uma ou mais vezes, por nova convenção.3. A cláusula de indivisão vale em relação a terceiros, mas deve ser registada para tal efeito, se acompropriedade respeitar a coisas imóveis ou a coisas móveis sujeitas a registo.

ARTIGO 1413º(Processo da divisão)

1. A divisão é feita amigavelmente ou nos termos da lei do processo.2. A divisão amigável está sujeita à forma exigida para a alienação onerosa da coisa.

ARTIGO 1409º(Direito de preferência)1. O comproprietário goza do direito de preferência e tem o primeiro lugar entre os preferentes legaisno caso de venda, ou dação em cumprimento, a estranhos da quota de qualquer dos seus consortes.2. É aplicável à preferência do comproprietário, com as adaptações convenientes, o disposto nosartigos 416º a 418º.3. Sendo dois ou mais os preferentes, a quota alienada é adjudicada a todos, na proporção das suasquotas.

Aspectos específicos da propriedade sobre prédios – art.1344º e seguintes:Ius aedificandi – direito de construir ou edificar. O direito de naquela propriedadeconstruir, fazer obras e outras. No entanto, compreende uma série de limitaçõesadministrativas, desde logo a obediência a certos limites que a lei imprime – PDM,licença camarária, outros.Estas limitações dependem do imóvel que esteja em causa

Relação de vizinhança – A noção de vizinhança é, desde logo, mais abrangente doque a confinação. Por outro lado, a utilização do imóvel deve respeitar determinadasregras/restrições e assim, este direito não será tão absoluto como poderia parecer.

Uma outra limitação prende-se com o facto da demarcação, onde começa e acabadeterminado prédio e onde começa e acaba o prédio do vizinho. Um não poderá fazero uso do seu prédio que esbarre com a vizinhança.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

A lei regulamenta uma série de aspectos para resolver as questões devizinhança:

• Direito de demarcação – art.1353º e 1354º. Para que se exerça este direito,terá que se usar obrigatoriamente os meios extrajudiciais e, só se não houverentendimento se deve recorrer a meios judiciais.

• Direito de tapagem – art.1356º e 1357º. Tapar, vedar – ajudam a resolver oproblema da demarcação.• Direito de plantação:

o Raízes e troncos invasores – art.1366ºo Frutos caídos noutros prédios – art.1367ºo Arvores e arbustos nas linhas divisórias: Não se podem plantar (regra de

proibição); Se nascer espontaneamente – art.1369º (só podem sercortadas ou arrancadas se for de comum acordo)

• Emissão – art.1346º - a regra é que o proprietário se pode opor à emissão – éaqui que começam os problemas no que toca às questões de delimitação das

relações de vizinhança.• Instalações – a lei diferencia dois regimes – art.1347º

o - Instalações que têm as respectivas licenças (basta o perigo para seremfechadas)

o - Não basta o perigo, o prejuízo tem que ser efectivo• Escavações – art.1348º• Passagem forçada momentânea – 1349º• Recepção de água – 1351º e 1352º• Abertura, rasgões ou plataformas em edifícios em função de

proximidade de outros prédios – art.1360º a 1364º. Art.1363º - não há

necessidade de se resguardar a distância de lei• Abertura de janelas, portas, varandas e obras semelhantes – art.1360º -

Deve resguardar-se um intervalo de metro e meio em relação ao prédio dovizinho

• Aquisição por usucapião de servidão de vistas – 1362º• Art.1365º - Estalicídio – Obrigação imposta ao proprietário de evitar que a

cobertura goteje para o vizinho. Pode, no entanto constituir-se uma servidão deestalicídio.

 Aula nº.  04 – Data:  23.10.2007 Sumário: Continuação do estudo do direito de propriedade. Elaboração de casos práticos

Ainda sobre as restrições sobre o direito de propriedade:Acessão de dívidas – art.1325º e seguintes- Acessão natural – os casos mais importantes são os previstos nos art.1328º e 1329º- Acessão industrial imobiliária – o artigo mais importante é o 1340º

Parte-se de2 Pressupostos importantes:Boa fé e não conhecimento de que o terreno não era seu

Problemática do art.1340ºnº1 – só se pode dar acessão se:• Não houver uma relação jurídica anterior• Distinção entre obras novas ou benfeitorias – só em caso de obras novas se

pode dar a acessão

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Estes dois pressupostos evitam efeitos não desejados

De qualquer forma, levanta-se aqui uma questão: para efeitos de acessão deveconsiderar-se apenas a parte do terreno onde a obra foi feita ou todo o terreno?Segundo a doutrina deverá apenas considerar-se o terreno onde a obra foi feita

(pág89 no livro).

O art.1341º - parte de um premissa diferente, não de boa fé mas de má fé (sabia queo terreno não era seu ou não foi autorizado para lá fazer…)Aqui o regime a aplicar já será outro:O proprietário pode exigir que o terreno seja restituído;O autor das obras …pode ficar com ele pelo valor fixado segundo as regras doenriquecimento sem causa.

Resolução de casos práticos….

 Aula nº.  05 – Data:  30.10.2007 Sumário: Estudo do regime da propriedade horizontal.

Propriedade Horizontal – art. 1414º e seguintesDL. 268/94 de 25 de OutubroDL. 269/94 de 25 de OutubroARTIGO 1414º(Princípio geral)As fracções de que um edifício se compõe, em condições de constituírem unidades independentes,podem pertencer a proprietários diversos em regime de propriedade horizontal.

Em abstracto, levantam-se dois problemas na Propriedade Horizontal:A relação entre o conjunto dos condóminos sobre as partes comuns;Os poderes que cada um dos condóminos tem relativamente à sua fracção autónoma

Organização propriamente dita dos condóminos (esta resulta directamente da Lei)Regime da propriedade horizontal:

Art.1414º, permite definir o âmbito de aplicação do regime da propriedadehorizontal- Pressupõe que haja várias fracções do mesmo edifício e que constituam unidadesindependentes (habitacionais)

Art.1438º-A - Outro âmbito de aplicação do regime de propriedade horizontal- Que existam vários edifícios ligados entre si.

ARTIGO 1438º-A(Propriedade horizontal de conjuntos de edifícios)O regime previsto neste capítulo pode ser aplicado, com as necessárias adaptações, a conjuntos deedifícios contíguos funcionalmente ligados entre si pela existência de partes comuns afectadas ao usode todas ou algumas unidades ou fracções que os compõem.(Aditado pelo Dec.-Lei 267/94, de 25-10)

Art.1415º - limita a aplicabilidade do regime da propriedade horizontal, enunciandomais condições para que ser constituída a propriedade horizontal.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

ARTIGO 1415º(Objecto)Só podem ser objecto de propriedade horizontal as fracções autónomas que, além de constituíremunidades independentes, sejam distintas e isoladas entre si, com saída própria para uma parte comumdo prédio ou para a via pública.

A propriedade horizontal pressupõe a existência de duas zonas:• Fracções autónomas• Zonas comuns

ARTIGO 1421º(Partes comuns do prédio)1. São comuns as seguintes partes do edifício:a) O solo, bem como os alicerces, colunas, pilares, paredes mestras e todas as partes restantes queconstituem a estrutura do prédio;b) O telhado ou os terraços de cobertura, ainda que destinados ao uso de qualquer fracção;c) As entradas, vestíbulos, escadas e corredores de uso ou passagem comum a dois ou maiscondóminos;d) As instalações gerais de água, electricidade, aquecimento, ar condicionado, gás, comunicações esemelhantes.

2. Presumem-se ainda comuns:a) Os pátios e jardins anexos ao edifício;b) Os ascensores;c) As dependências destinadas ao uso e habitação do porteiro;d) As garagens e outros lugares de estacionamento;e) Em geral, as coisas que não sejam afectadas ao uso exclusivo de um dos condóminos.3. O título constitutivo pode afectar ao uso exclusivo de um dos condóminos certas zonas das partescomuns.(Redacção do Dec.-Lei 267/94, de 25-10)

O que é uma zona autónoma e uma zona comum? Art.1421ºnº1 – São zonas obrigatoriamente comuns:

• Zonas estruturantes do edifício•  Telhados, terraços, …• Entradas corredores usados por mais de um condómino• Instalações gerais de água, electricidade, …

Este nº1 levanta algumas questões, nomeadamente no que toca à alínea d9, por setornar difícil a definição de onde é que acaba e começa a noção de instalações gerais.

nº2 – Estabelece uma presunção:Presumem-se comuns, todas as partes descritas neste nº2.“a) Os pátios e jardins anexos ao edifício;

b) Os ascensores;c) As dependências destinadas ao uso e habitação do porteiro;d) As garagens e outros lugares de estacionamento;e) Em geral, as coisas que não sejam afectadas ao uso exclusivo de um doscondóminos.”

Quanto a esta presunção, levanta-se uma questão: Se a prova em contrário é apenasfeita através da constituição da propriedade horizontal ou, poderá ser feito porqualquer outro meio de prova?O que tem sido dito é que essa prova pode ser feita por feita por um qualquer outromeio de prova.

Art.1418º - Titulo constitutivo.Institui o regime da propriedade de propriedade horizontal

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DIREITO REAIS 2º.ANO

ARTIGO 1418º(Conteúdo do título constitutivo)1. No título constitutivo serão especificadas as partes do edifício correspondentes às várias fracções,por forma que estas fiquem devidamente individualizadas, e será fixado o valor relativo de cadafracção, expresso em percentagem ou permilagem, do valor total do prédio.2. Além das especificações constantes do número anterior, o título constitutivo pode ainda conter,

designadamente:a) Menção do fim a que se destina cada fracção ou parte comum;b) Regulamento do condomínio, disciplinando o uso, fruição e conservação, quer das partes comuns,quer das fracções autónomas;c) Previsão do compromisso arbitral para a resolução dos litígios emergentes da relação decondomínio.3. A falta da especificação exigida pelo nº 1 e a não coincidência entre o fim referido na alínea a) do nº2 e o que foi fixado no projecto aprovado pela entidade pública competente determinam a nulidade dotítulo constitutivo.(Redacção do Dec.-Lei 267/94, de 25-10)

Como é que se constitui a propriedade horizontal?Art.1417º - negócio jurídico (obrigatoriamente sujeito a forma – escritura pública –artº80 Código do Notariado); usucapião; decisão administrativa ou decisão judicial.

ARTIGO 1417º(Princípio geral)1. A propriedade horizontal pode ser constituída por negócio jurídico, usucapião ou decisão judicial,proferida em acção de divisão de coisa comum ou em processo de inventário.2. A constituição da propriedade horizontal por decisão judicial pode ter lugar a requerimento dequalquer consorte, desde que no caso se verifiquem os requisitos exigidos pelo artigo 1415º.

Conteúdo obrigatório do título constitutivo (requisitos):

O art.1418º dispõe elementos obrigatórios e facultativos

Obrigatórios:• Deve especificar as partes do edifício que correspondem às várias fracções

e fixar o valor relativo a cada uma delas expresso em percentagem ou permilagem

Facultativos:•

Fim a que se destina o edifício– se o fim a que se destina o edifício constar

da propriedade horizontal, este fim só poderá ser alterado por unanimidade; senão constar da propriedade horizontal, a sua alteração poderá ser feita pormaioria simples (art.1432º)

• Regulamento do condomínio – vais disciplinar as regras que vêm regular ouso, fruição e conservação das partes comuns e autónomas do prédio e vincularos diferentes condóminos. É, de qualquer forma um instrumento que em ladoalgum na lei refere que tem de ser publicitado. No entanto, ainda que nãoexista essa obrigatoriedade, ele é oponível a terceiros (o facto de não se exigira sua publicitação, é um aspecto menos feliz)

O art.1429º-A estabelece a obrigatoriedade da existência do regulamento sempreque existam mais de 4 condóminos.Neste caso, o regulamento deve disciplinar apenas as partes comuns.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

ARTIGO 1429º-A(Regulamento do condomínio)1 - Havendo mais de quatro condóminos e caso não faça parte do título constitutivo, deve serelaborado um regulamento do condomínio disciplinando o uso, a fruição e a conservação das partescomuns.2 - Sem prejuízo do disposto na alínea b) do nº 2 do artigo 1418º, a feitura do regulamento compete à

assembleia de condóminos ou ao administrador, se aquela o não houver elaborado.(Aditado pelo Dec.-Lei 267/94, de 25-10)

Não será à partida obrigatória a existência de um regulamento de condomínio, noentanto o art. 1429.º-A, n.º 1, torna obrigatório este regulamento quando haja maisdo que 4 condóminos, cuja competência de elaboração pertence à assembleia decondóminos, ou ao administrador do condomínio quando aquela não o elabore (n.º 2)

Outras questões no âmbito do regulamento do condomínio:Saber qual a maioria necessária para o alterar:

• Se fizer parte do titulo constitutivo da propriedade horizontal, só por

unanimidade dos condóminos (art.1419º)• Se não fizer parte do título constitutivo da propriedade horizontal e tiver sido

feito posteriormente, já não há necessidade de unanimidade mas apenasmaioria (art.1432º)

Natureza jurídica do direito de condomínio:• Direito de propriedade – fracção autónoma• Direito de compropriedade – zonas comuns

Entre regime da compropriedade em geral e o regime do condomínio em particular,

estabelecem-se algumas diferenças:Compropriedade em geral Regime do condomínio, em

particular Todo o comproprietário podeexigir a divisão da coisa

Nenhum comproprietário podeexigir a divisão da coisa (zonascomuns)

Direito de preferência Não goza desse direitoO direito incide sobre a quotaideal da compropriedade

O direito incide sobre a zonaautónoma especificada

Neste regime não existem órgãos Existe organicidade

Direitos e obrigações dos condóminos:

Direitos dos condóminos:• Direito sobre a fracção autónoma – art.1414º e 1420ºnº1

ARTIGO 1420º(Direitos dos condóminos)1. Cada condómino é proprietário exclusivo da fracção que lhe pertence e comproprietário das partescomuns do edifício.

2. O conjunto dos dois direitos é incindível; nenhum deles pode ser alienado separadamente, nem élícito renunciar à parte comum como meio de o condómino se desonerar das despesas necessárias àsua conservação ou fruição.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

• Direito de compropriedade (zonas comuns) – art.1420ºnº1• Perante terceiros há a possibilidade de um proprietário agir sem a

intervenção dos outros condóminos• Direito de participar na administração do condomínio, através da

assembleia de condóminos – art.1430º e seguintes

Direitos dos condóminos, mais específicos:• Direito de efectuar reparações indispensáveis, necessárias e urgentes nas

partes comuns do edifício.• Art.1428º - direito de proceder à venda do prédio e participar no produto

dessa venda, sempre que fique destruído na totalidade ou em parte querepresente pelo menos ¾ dos eu valor.

ARTIGO 1428º(Destruição do edifício)1. No caso de destruição do edifício ou de uma parte que represente, pelo menos, três quartos do seu

valor, qualquer dos condóminos tem o direito de exigir a venda do terreno e dos materiais, pela formaque a assembleia vier a designar.2. Se a destruição atingir uma parte menor, pode a assembleia deliberar, pela maioria do número doscondóminos e do capital investido no edifício, a reconstrução deste.3. Os condóminos que não queiram participar nas despesas da reconstrução podem ser obrigados aalienar os seus direitos a outros condóminos, segundo o valor entre eles acordado ou fixado judicialmente.4. É permitido ao alienante escolher o condómino ou condóminos a quem a transmissão deve ser feita.

Obrigações dos condóminos:• Obrigação de afectar a sua fracção apenas ao fim a que foi destinada –

art.1422ºnº2 c)• Obrigação de contribuir para as despesas necessárias à conservação e

fruição das partes comuns, em valor proporcional às suas fracções.• Obrigação de participar em despesas correntes e despesas com

ascensores ou escadas mas aqui o critério que a lei fixa não é o mesmo (sóparticipam os condóminos que deles de sirvam).

• Obrigação dos condóminos que não residam no edifício de darem aconhecer a sua morada de residência ou a mora da de quem os representa

• Obrigação de participar em despesas com inovação, segundo o critério departicipação em despesas correntes – art.1426ºnº1. O nº2 do mesmo artigoconstitui uma excepção para não participar em tais despesas

• Obrigação de seguro contra incêndio quer nas partes comuns quer nas partesautónomas – art.1429º• Obrigação de contribuir para um fundo de reserva do condomínio

(normalmente equivale a 10% das despesas), decorre do art.4º do DL 268/94• Obrigação de respeitar o título constitutivo – art.1422ºnº2 d)• Obrigação de não prejudicar, por acção ou omissão a segurança e linha

arquitectónica dos edifício – art.1422ºnº2 a)Obras inovadoras:Art.1422ºnº2 a)“Prejudicar, quer com obras novas, quer por falta de reparação, a segurança, a linha

arquitectónica ou o arranjo estético do edifício” Por oposição:

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Art.1422ºnº3“As obras que modifiquem a linha arquitectónica ou o arranjo estético do edifício podem ser realizadas se para tal se obtiver prévia autorização da assembleia decondóminos, aprovada por maioria representativa de dois terços do valor total do prédio” 

Como conciliar estes dois regimes?- Se as obras modificarem mas não prejudicarem, podem fazer-se desde que….- Se prejudicarem então estão vedadas.

 Teoricamente a solução parece ser simples mas na prática, a sensibilidade de cadaum é única.

Nota: o nº3 do art.1422º não fala em segurança, isto é, a maioria de 2/3 já não secoloca quando esteja em causa a segurança.

O problema não acaba aqui,

O art.1425º também trata esta questão das obras inovadoras, não sendo claro seapenas trata as obras nas partes comuns ou também as obras nas fracçõesautónomas

ARTIGO 1425º(Inovações)1. As obras que constituam inovações dependem da aprovação da maioria dos condóminos, devendoessa maioria representar dois terços do valor total do prédio.2. Nas partes comuns do edifício não são permitidas inovações capazes de prejudicar a utilização, porparte de algum dos condóminos, tanto das coisas próprias como das comuns.

O nº1 repete a ideia do art1422ºnº3O nº2 em si não merece grande problema e é apenas este:Apenas se refere às partes comuns do edifício o que nos leva a questionar se o nº1 domesmo artigo (1425º) se refere também apenas às partes comuns ou também àspartes autónomas.

Duas soluções:Ou consideráramos que o art.1425ºnº1 se refere a fracções autónomas e oart.1422ºnº3 às partes comuns;Ou devemos interpretar que o legislador disse a mesma coisa duas vezes.Segundo Antunes Varela e Pires de Lima sustentam que só as obras inovadoras nas

partes comuns dependem de autorização dos condóminos enquanto que Rui VieiraMiller sustenta o contrário.

Alteração do título constitutivo:

Regra – Só pode ser alterado com o acordo de todos os condóminos – art.1419ºExcepção – fusão e divisão de fracções autónomas – art.1422º-A

ARTIGO 1419º(Modificação do título)1. Sem prejuízo do disposto no nº 3 do artigo 1422º-A, o título constitutivo da propriedade horizontalpode ser modificado por escritura pública, havendo acordo de todos os condóminos.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

2. O administrador, em representação do condomínio, pode outorgar a escritura pública a que se refereo número anterior, desde que o acordo conste de acta assinada por todos os condóminos.3. A inobservância do disposto no artigo 1415º importa a nulidade do acordo; esta nulidade pode serdeclarada a requerimento das pessoas e entidades designadas no nº 2 do artigo 1416º.(Redacção do Dec.-Lei 267/94, de 25-10)

ARTIGO 1422º-A(Junção e divisão de fracções autónomas)1. Não carece de autorização dos restantes condóminos a junção, numa só, de duas ou mais fracçõesdo mesmo edifício, desde que estas sejam contíguas.2. Para efeitos do disposto no número anterior, a contiguidade das fracções é dispensada quando setrate de fracções correspondentes a arrecadações e garagens.3. Não é permitida a divisão de fracções em novas fracções autónomas, salvo autorização do títuloconstitutivo ou da assembleia de condóminos, aprovada sem qualquer oposição.4. Nos casos previstos nos números anteriores, cabe aos condóminos que juntaram ou cindiram asfracções o poder de, por acto unilateral constante de escritura pública, introduzir a correspondentealteração no título constitutivo.5. A escritura pública a que se refere o número anterior deve ser comunicada ao administrador noprazo de 30 dias.(Aditado pelo Dec.-Lei 267/94, de 25-10)

Administração do condomínio:Art.1430º e seguintesPressupõe a existência de órgãos:

Administrador do condomínio• Cabe-lhe representar todos os condóminos nos interesses que lhes sejam

comuns.• Vai ser eleito e exonerado pela assembleia. Se a assembleia não eleger

administrador, qualquer condómino pode requerer ao Tribunal que nomeie umadministrador – art.1435ºnº1 e 2

• Qualquer um dos condóminos como um terceiro pode ser administrador docondomínio e o período é de funções é de 1 ano.

• A administração do condomínio pode ser oneroso ou não – art1435º• O administrador tem legitimidade para agir em juízo…- art.1437º• Os actos do administrador são passíveis de recurso para a assembleia de

condóminos – art.1438º

ARTIGO 1435º(Administrador)1. O administrador é eleito e exonerado pela assembleia.2. Se a assembleia não eleger administrador, será este nomeado pelo tribunal a requerimento dequalquer dos condóminos.3. O administrador pode ser exonerado pelo tribunal, a requerimento de qualquer condómino,quando se mostre que praticou irregularidades ou agiu com negligência no exercício das suas funções.4. O cargo de administrador é remunerável e tanto pode ser desempenhado por um dos condóminoscomo por terceiro; o período de funções é, salvo disposição em contrário, de um ano, renovável.5. O administrador mantém-se em funções até que seja eleito ou nomeado o seu sucessor.(Redacção do Dec.-Lei 267/94, de 25-10)

ARTIGO 1435º-A(Administrador provisório)1. Se a assembleia de condóminos não eleger administrador e este não houver sido nomeado judicialmente, as correspondentes funções são obrigatoriamente desempenhadas, a título provisório,

pelo condómino cuja fracção ou fracções representem a maior percentagem do capital investido, salvose outro condómino houver manifestado vontade de exercer o cargo e houver comunicado talpropósito aos demais condóminos.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

2. Quando, nos termos do número anterior, houver mais de um condómino em igualdade decircunstâncias, as funções recaem sobre aquele a que corresponda a primeira letra na ordemalfabética utilizada na descrição das fracções constante do registo predial.3. Logo que seja eleito ou judicialmente nomeado um administrador, o condómino que nos termos dopresente artigo se encontre provido na administração cessa funções, devendo entregar àquele todosos documentos respeitantes ao condomínio que estejam confiados à sua guarda.(Aditado pelo Dec.-Lei 267/94, de 25-10)

ARTIGO 1436º(Funções do administrador)São funções do administrador, além de outras que lhe sejam atribuídas pela assembleia:a) Convocar a assembleia dos condóminos;b) Elaborar o orçamento das receitas e despesas relativas a cada ano;c) Verificar a existência do seguro contra o risco de incêndio, propondo à assembleia o montante docapital seguro;d) Cobrar as receitas e efectuar as despesas comuns;e) Exigir dos condóminos a sua quota-parte nas despesas aprovadas;f) Realizar os actos conservatórios dos direitos relativos aos bens comuns;g) Regular o uso das coisas comuns e a prestação dos serviços de interesse comum;h) Executar as deliberações da assembleia;

i) Representar o conjunto dos condóminos perante as autoridades administrativas; j) Prestar contas à assembleia;l) Assegurar a execução do regulamento e das disposições legais e administrativas relativas aocondomínio;m) Guardar e manter todos os documentos que digam respeito ao condomínio.(Redacção do Dec.-Lei 267/94, de 25-10)

ARTIGO 1437º(Legitimidade do administrador)1. O administrador tem legitimidade para agir em juízo, quer contra qualquer dos condóminos, quercontra terceiro, na execução das funções que lhe pertencem ou quando autorizado pela assembleia.2. O administrador pode também ser demandado nas acções respeitantes às partes comuns doedifício.

3. Exceptuam-se as acções relativas a questões de propriedade ou posse dos bens comuns, salvo se aassembleia atribuir para o efeito poderes especiais ao administrador.

ARTIGO 1438º(Recurso dos actos do administrador)Dos actos do administrador cabe recurso para a assembleia, a qual pode neste caso ser convocadapelo condómino recorrente.

Assembleia de condóminos (art.1431º e 1432º)A regra decorre do DL268/94

ARTIGO 1431º

(Assembleia dos condóminos)1. A assembleia reúne-se na primeira quinzena de Janeiro, mediante convocação do administrador,para discussão e aprovação das contas respeitantes ao último ano e aprovação do orçamento dasdespesas a efectuar durante o ano.2. A assembleia também reunirá quando for convocada pelo administrador, ou por condóminos querepresentem, pelo menos, vinte e cinco por cento do capital investido.3. Os condóminos podem fazer-se representar por procurador.

As deliberações da assembleia de condomínio são vinculativas para os condóminos epara terceiros titulares de algum direito desde que seja consignada em acta.

Forma de funcionamento: art.1432º• Reúne obrigatoriamente uma vez por ano, na 1ª quinzena de Janeiro para

apresentar o relatório de contas do ano anterior e aprovação do orçamento dopróximo ano.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

• Reunirá extraordinariamente, convocada pelo administrador ou peloscondóminos que representem ….

• Os condóminos podem fazer-se representar por procurador

ARTIGO 1432º(Convocação e funcionamento da assembleia)1. A assembleia é convocada por meio de carta registada, enviada com 10 dias de antecedência, oumediante aviso convocatório feito com a mesma antecedência, desde que haja recibo de recepçãoassinado pelos condóminos.2. A convocatória deve indicar o dia, hora, local e ordem de trabalhos da reunião e informar sobre osassuntos cujas deliberações só podem ser aprovadas por unanimidade dos votos.3. As deliberações são tomadas, salvo disposição especial, por maioria dos votos representativos docapital investido.4. Se não comparecer o número de condóminos suficiente para se obter vencimento e na convocatórianão tiver sido desde logo fixada outra data, considera-se convocada nova reunião para uma semanadepois, na mesma hora e local, podendo neste caso a assembleia deliberar por maioria de votos doscondóminos presentes, desde que estes representem, pelo menos, um quarto do valor total do prédio.5. As deliberações que careçam de ser aprovadas por unanimidade dos votos podem ser aprovadas porunanimidade dos condóminos presentes desde que estes representem, pelo menos, dois terços do

capital investido, sob condição de aprovação da deliberação pelos condóminos ausentes, nos termosdos números seguintes.6. As deliberações têm de ser comunicadas a todos os condóminos ausentes, por carta registada comaviso de recepção, no prazo de 30 dias.7. Os condóminos têm 90 dias após a recepção da carta referida no número anterior para comunicar,por escrito, à assembleia de condóminos o seu assentimento ou a sua discordância.8. O silêncio dos condóminos deve ser considerado como aprovação da deliberação comunicada nostermos do nº 6.9. Os condóminos não residentes devem comunicar, por escrito, ao administrador o seu domicílio ou odo seu representante.(Redacção do Dec.-Lei 267/94, de 25-10)

 Aula nº.  06 – Data:  06.11.2007 Sumário: Estudo das principais características do registo predial português. Elaboração de casos práticos.

Qual o objectivo/fim do registo predial? Art.1º do Código registo predial

- Dar publicidade - Enunciar um direito - Criar segurança jurídica de terceiros

Para além deste fim, o Registo predial pode desempenhar outros objectivos:

• Fim constitutivo transmissivo – o próprio registo é uma condição de constituiçãoou transmissão de direitos. Pode ser o único acto ou fazer parte de um conjuntode actos para a constituição ou transmissão de um direito.

Entre nós, um caso em que o registo predial é condição para a constituição de umdireito, é a constituição de hipoteca – art.686ºCCO registo predial é condição de eficácia perante terceiros – art.5º CrP

Características que o sistema jurídico português do Registo predialapresenta:

•  Tem carácter Estatal, é um órgão estatal• Assenta numa base real; organização com base nos prédios

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DIREITO REAIS 2º.ANO

• É descentralizado, dependendo do concelho, há sempre uma ou maisconservatórias do Registo Predial

Alguns princípios fundamentais de funcionamento do R.P, entre nós:• Assume a natureza de ónus jurídico. Da sua não verificação não advém

qualquer sanção mas se o não fizer, daí podem resultar certo tipo de

desvantagens. Assim, é mais que uma mera faculdade mas menos que umaobrigação. Essa natureza de ónus jurídico retira-se de algumas regras do CrP –art.9º e 5º. O nº4º dá-nos uma noção de terceiros.

• Princípio da instância – para que o registo predial seja elaborado énecessário que os interessados o requeiram. Depende da iniciativa dosinteressados. O art.189-A do Código do Notariado estabelece uma possibilidadediferente que se assemelha ao registo oficioso, embora não o sendo.

• Apenas os factos típicos do registo predial é que vão estar sujeitos aregisto – art.2º e 3º CrP. O art.3º do CrP dedica-se às acções judiciais quedevem ser registadas. Interessa, à contrari, verificar quais são os factos que não

estão sujeitos a registo – art.5ºnº2: aquisições fundadas em usucapião eservidões aparentes.• Sistema de controlo da legalidade – é o conservador que tem de verificar a

legalidade formal substancial do registo• Princípio do trato sucessivo – para que possa constituir um direito ou um

encargo sobre esse prédio, tem que haver uma sequência/cadeia de registosprediais – art.34 CrP.

Excepções:Art.116º CrP – situação de justificação notarial. Se não se consegue provar essacadeia de registos para que se possa transmitir esse direito, faz-se uma justificação

notarialArt.119º CrP – quando não é em favor da pessoa que está a ser executada que oregisto está inscrito (caso de arresto ou penhor). Nesse caso, já permite aconstituição de ónus sobre um bem que não está registado a favor de certa pessoa.

• Regra da prioridade – art.6 CrP. Quando existem vários direitos registadossobre o mesmo bem, direitos que entre si não são compatíveis. Neste caso,prevalecerá o registo que tenha sido feito em primeiro lugar.

São excepções, aquelas que são ditadas por normas de valor substantivo. Exemplo:terceiros de boa fé

Outros efeitos relacionados com o registo predial português:• Efeito Presuntivo – art.7º CrP. A inscrição no registo predial faz presumir que

aquela pessoa é proprietária daquele bem. Esta presunção pode ser elidida - sese demonstrar que o registo está viciado – art.14 e SS. CrP. Se o facto queserviu de base para aquele registo é inválido ou insuficiente para lhe servir debase.

• Efeito de legitimação – preocupa-se a transmitir ou a constituir um certodireito sobre um certo prédio. Esse prédio terá que estar registado a favor dequem o vai transmitir.

Incompatibilidade de algumas regras do CrP com algumas regras com CC: O art.408º CC é incompatível com o art.5º do CrP

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Art.408º nº1CC – a transferência de propriedade dá-se por mero efeito de contratoArt.5º nº1 CrP – até pode ser mas, para efeitos de terceiros é necessário o registo

O nº4 do art.5º CrP vem dizer quem são os terceiros para efeitos de registo (noçãorestrita de terceiros), só neste caso o nº1 do art.5º tem relevância.

Norma 291º CCnº1- Protegido- Oneroso- Boa fé

- Registada a aquisição antes do registo da acção de nulidadec/v c/v

A B CNULA

nº2- Deixa de estar protegido, no prazo de 3 anos pode ser proposta uma acção denulidade- Valem as regras do direito substantivo – Código civil

 Aula nº.  07 – Data:  20.11.2007 Sumário: Estudo do direito de usufruto e do direito de uso e de habitação. Elaboração de casos práticos.

Usufruto – É o direito de gozar temporariamente e plenamente uma coisa ou direito,sem alterar a sua forma ou subsistência (1439º)ARTIGO 1439º(Noção)Usufruto é o direito de gozar temporária e plenamente uma coisa ou direito alheio, sem alterar a suaforma ou substância.

Características – confere o gozo pleno que se manifesta por usar, gozar ou

administrar a coisa. É um gozo temporário. Não pode alterar subsistência da coisa. Éum direito que coexiste com o direito de propriedade. A chamada “nua propriedade”ou “propriedade raiz”. Esse direito de propriedade tem de ser alheio (1476º nº 1 b)

Conteúdo do direito do usufruto (pag. 167) - É o gozo pleno que se traduz nafaculdade de uso, fruição e administração sobre a coisa que incide o direito (1446º)

ARTIGO 1446º(Uso, fruição e administração da coisa ou do direito)O usufrutuário pode usar, fruir e administrar a coisa ou o direito como faria um bom pai de família,respeitando o seu destino económico.

O usufruto tem os poderes que cabem no direito de propriedade, salvo o poderde disposição do objecto sobre que incide

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Esse gozo não pode alterar a forma ou a substancia de objecto do usufruto(salvo no caso de usufruto de coisas consumíveis – 1451º)

O objecto do usufruto pode ser transformado, o artigo 1449º diz que o usufrutoabrange as coisas acrescidas à coisa usufruída.

Objectos possíveis do usufruto – podem ser um direito; não tem que ser

necessariamente uma coisa corpórea.

Carácter próprio do usufruto:

O usufruto é um direito temporário

A limitação temporal do usufruto visa impedir a perpetuação da divisão dos

poderes sobre a coisa do seu objecto e as consequências potenciais no que toca

á conservação e ao seu desenvolvimento.

As fontes de imitação temporal do usufruto são várias

o No que respeita ao usufruto constituído a favor de pessoas singulares, o mesmo

não se pode exceder a duração da vida do usufrutuário (primitivo) art. 1443º.

o No caso do usufruto constituído a favor de duas ou mais pessoas singulares, o

mesmo não pode exceder o termo da vida do que mais viver. O usufruto

constituído a favor de mais do que uma pessoa tanto pode ser simultâneo como

sucessivo, no entanto em caso de usufruto sucessivo só pode ser beneficiário do

usufruto quem já seja vivo ao tempo em que o direito do primeiro beneficiário se

torne efectivo (limitada à duração máxima do direito – 1441º)

o A Lei permite que o usufruto seja constituído ate que uma terceira pessoa

perfaça certa idade, no caso de esse terceiro falecer antes da idade designada o

usufruto manter-se-á pelo tempo previsto, excepto se “tiver sido concedido só

em atenção á existência de tal pessoa – 1447º.

A usufruto B transmitente C

À morte de B, o usufruto transmitente extingue-se. No caso de ser C a morrer, ousufruto que B transmitiu ao C volta para B ou para os herdeiros de C. Extingue-sesempre quando morre B.

Transmissibilidade limitada:

– “intervivos” – art. 1444.º, n.º 1, 1.ª parte

Artigo 1444.ºTrespasse a terceiro

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DIREITO REAIS 2º.ANO

1. O usufrutuário pode trespassar a outrem o seu direito, definitiva ou temporariamente, bemcomo onerá-lo, salvas as restrições impostas pelo título constitutivo ou pela lei.

- “mortis causa” – à partida essa situação não será possível, legalmente - art.1476.º, n.º 1, al. a), 1.ª parte…

Artigo 1476.º

Causas de extinção1. O usufruto extingue-se:a) Por morte do usufrutuário, ou chegado o termo do prazo por que o direito foi conferido,quando não seja vitalício;…

Modos de constituição do usufruto – art. 1440.º

 Artigo 1440.ºConstituição

O usufruto pode ser constituído por contrato

 

, testamento, usucapião ou disposição da lei.

(quanto à “disposição da lei” – é um vazio, não há norma)

Possíveis objectos de usufruto:• Artigo 1451.º - Usufruto de coisas consumíveis• Artigo 1452.º - Usufruto de coisas deterioráveis• Artigo 1453.º - Perecimento natural de árvores e arbustos• Artigo 1454.º - Perecimento acidental de árvores e arbustos• Artigo 1455.º - Usufruto de matas e árvores de corte• Artigo 1456.º - Usufruto de plantas de viveiro• Artigo 1457.º - Exploração de minas• Artigo 1458.º - Exploração de pedreiras• Artigo 1459.º - Exploração de águas• Artigo 1462.º - Usufruto sobre universalidades de animais• Artigo 1463.º - Usufruto de rendas vitalícias• Artigo 1464.º - Usufruto de capitais postos a juro• Artigo 1465.º - Usufruto constituído sobre dinheiro e usufruto de capitais levantados• Artigo 1466.º - Prémios e outras utilidades aleatórias• Artigo 1467.º - Usufruto de títulos de participação

Direitos do usufrutuário

1. Gozar plenamente a coisa ou o direito – artºs 1349.º a 1446.º

ARTIGO 1349º(Passagem forçada momentânea)

1. Se, para reparar algum edifício ou construção, for indispensável levantar andaime, colocar objectossobre prédio alheio, fazer passar por ele os materiais para a obra ou praticar outros actos análogos, é odono do prédio obrigado a consentir nesses actos.2. É igualmente permitido o acesso a prédio alheio a quem pretenda apoderar-se de coisas suas queacidentalmente nele se encontrem; o proprietário pode impedir o acesso, entregando a coisa ao seudono.3. Em qualquer dos casos previstos neste artigo, o proprietário tem direito a ser indemnizado doprejuízo sofrido.

ARTIGO 1446º(Uso, fruição e administração da coisa ou do direito)O usufrutuário pode usar, fruir e administrar a coisa ou o direito como faria um bom pai de família,respeitando o seu destino económico.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

2. Incluir no objecto do usufruto certos acréscimos ao mesmo – art.1449.º, 1471.º e 1473.º, n.º 2

ARTIGO 1449º(Âmbito do usufruto)O usufruto abrange as coisas acrescidas e todos os direitos inerentes à coisa usufruída.

ARTIGO 1471º(Obras e melhoramentos)1. O usufrutuário é obrigado a consentir ao proprietário quaisquer obras ou melhoramentos de que sejasusceptível a coisa usufruída, e também quaisquer novas plantações, se o usufruto recair emprédios rústicos, contanto que dos actos do proprietário não resulte diminuição do valor do usufruto.

3. Das obras ou melhoramentos realizados tem o usufrutuário direito ao usufruto, sem serobrigado a pagar juros das somas desembolsadas pelo proprietário ou qualquer outraindemnização; no caso, porém, de as obras ou melhoramentos aumentarem o rendimentolíquido da coisa usufruída, o aumento pertence ao proprietário.

ARTIGO 1473º(Reparações extraordinárias)…2. Se o proprietário, depois de avisado, não fizer as reparações extraordinárias, e estas forem deutilidade real, pode o usufrutuário fazê-las a expensas suas e exigir a importância despendida, ou opagamento do valor que tiverem no fim do usufruto, se este valor for inferior ao custo.…

4. Transferir os seus poderes para a indemnização devida em caso dedeterioração ou perda – art. 1480.º

ARTIGO 1480º(Indemnizações)1. Se a coisa ou direito usufruído se perder, deteriorar ou diminuir de valor, e o proprietário tiver direitoa ser indemnizado, o usufruto passa a incidir sobre a indemnização.2. O disposto no número antecedente é aplicável à indemnização resultante de expropriação ourequisição da coisa ou direito, à indemnização devida por extinção do direito de superfície, ao preço da

remição do foro e a outros casos análogos.

5. Ser indemnizado no montante da cessação por despesas da produção em curso– art. 1447.º

ARTIGO 1447º(Indemnização do usufrutuário)O usufrutuário, ao começar o usufruto, não é obrigado a abonar ao proprietário despesa alguma feita;mas, findo o usufruto, o proprietário é obrigado a indemnizar aquele das despesas de cultura,sementes ou matérias-primas e, de um modo geral, de todas as despesas de produção feitas pelousufrutuário, até ao valor dos frutos que vierem a ser colhidos.

6. Ser indemnizado pelo valor de reparações extraordinárias a que procedalicitamente – art. 1473.º

ARTIGO 1473º(Reparações extraordinárias)1. Quanto às reparações extraordinárias, só incumbe ao usufrutuário avisar em tempo o proprietário,para que este querendo, as mande fazer; se, porém, elas se tiverem tornado necessárias por máadministração do usufrutuário, é aplicável o disposto no artigo anterior.2. Se o proprietário, depois de avisado, não fizer as reparações extraordinárias, e estas forem deutilidade real, pode o usufrutuário fazê-las a expensas suas e exigir a importância despendida, ou opagamento do valor que tiverem no fim do usufruto, se este valor for inferior ao custo.3. Se o proprietário fizer as reparações, observar-se-á o disposto no nº 2 do artigo 1471º.

Obrigações do usufrutuário24

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Antes de tomar conta dos bens - - relacioná-los – art. 1468.º, al.a)

 Artigo 1468.ºRelação de bens e caução Antes de tomar conta dos bens, o usufrutuário deve:a) Relacioná-los, com citação ou assistência do proprietário, declarando o estado deles, bemcomo o valor dos moveis, se os houver;

…Prestar caução – art. 1468.º, al. b) e 1469.º

 Artigo 1468.ºRelação de bens e caução Antes de tomar conta dos bens, o usufrutuário deve:…b) Prestar caução, se esta lhe for exigida, tanto para a restituição dos bens ou do respectivovalor, sendo bens consumíveis, como para a reparação das deteriorações que venham a padecer por sua culpa, ou para o pagamento de qualquer outra indemnização que seja devida. Artigo 1469.ºDispensa de caução

 A caução não é exigível do alienante com reserva de usufruto e pode ser dispensada no títuloconstitutivo do usufruto.

Após tomar conta dos bens - fazer bom uso da coisa – art. 1446.º

 Artigo 1446.ºUso, fruição e administração da coisa ou do direitoO usufrutuário pode usar, fruir e administrar a coisa ou o direito como faria um bom pai defamília, respeitando o seu destino económico.

Não o fazendo – art. 1482.º (1473.º, nº 1, 2.ª parte)

 Artigo 1482.ºMau uso por parte do usufrutuárioO usufruto não se extingue, ainda que o usufrutuário faça mau uso da coisa usufruída; mas, seo abuso se tornar consideravelmente prejudicial ao proprietário, pode este exigir que a coisa lheseja entregue, ou que se tomem as providências previstas no artigo 1470.º, obrigando-se, no primeiro caso, a pagar anualmente ao usufrutuário o produto líquido dela, depois de deduzidasas despesas e o prémio que pela sua administração lhe for arbitrado.

 Artigo 1473.ºReparações extraordinárias1. Quanto às reparações extraordinárias, só incumbe ao usufrutuário avisar em tempo o proprietário, para que este, querendo, as mande fazer; se, porém, elas se tiverem tornadonecessárias por má administração do usufrutuário, é aplicável o disposto no artigo anterior.…- Obrigação de restituir- Medidas conforme o art. 1470.º

 Artigo 1470.ºFalta de caução1. Se o usufrutuário não prestar a caução devida, tem o proprietário a faculdade deexigir que os imóveis se arrendem ou ponham em administração, que os móveis sevendam ou lhe sejam entregues, que os capitais, bem como a importância dos preçosdas vendas, se dêem a juros ou se empreguem em títulos de crédito nominativos, que ostítulos ao portador se convertam em nominativos ou se depositem nas mãos de terceiro,ou que se adoptem outras medidas adequadas.

2. Não havendo acordo do usufrutuário quanto ao destino dos bens, decidirá o tribunal.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Suportar as despesas de administração – art. 1472.º, n.º 1

 Artigo 1472.ºReparações ordinárias1. Estão a cargo do usufrutuário tanto as reparações ordinárias indispensáveis para aconservação da coisa como as despesas de administração.…

Fazer reparações ordinárias – art. 1472.º, nºs 1 e 3

 Artigo 1472.ºReparações ordinárias1. Estão a cargo do usufrutuário tanto as reparações ordinárias indispensáveis para aconservação da coisa como as despesas de administração.…3. O usufrutuário pode eximir-se das reparações ou despesas a que é obrigado, renunciando aousufruto.

Consentir na realização pelo proprietário de obras, melhorias e plantações –art. 1471.º

 Artigo 1471.ºObras e melhoramentos1. O usufrutuário é obrigado a consentir ao proprietário quaisquer obras ou melhoramentos deque seja susceptível a coisa usufruída, e também quaisquer novas plantações, se o usufrutorecair em prédios rústicos, contanto que dos actos do proprietário não resulte diminuição dovalor do usufruto.2. Das obras ou melhoramentos realizados tem o usufrutuário direito ao usufruto, sem ser obrigado a pagar juros das somas desembolsadas pelo proprietário ou qualquer outraindemnização; no caso, porém, de as obras ou melhoramentos aumentarem o rendimentolíquido da coisa usufruída, o aumento pertence ao proprietário.

Informar o proprietário da raiz, da necessidade de reparaçõesextraordinárias e quaisquer factos lesivos por terceiros – art. 1473.º e1475.º

 Artigo 1473.ºReparações extraordinárias1. Quanto às reparações extraordinárias, só incumbe ao usufrutuário avisar em tempo o proprietário, para que este, querendo, as mande fazer; se, porém, elas se tiverem tornadonecessárias por má administração do usufrutuário, é aplicável o disposto no artigo anterior.2. Se o proprietário, depois de avisado, não fizer as reparações extraordinárias, e estas foremde utilidade real, pode o usufrutuário fazê-las a expensas suas e exigir a importânciadespendida, ou o pagamento do valor que tiverem no fim do usufruto, se este valor for inferior ao custo.3. Se o proprietário fizer as reparações, observar-se-á o disposto no n.º 2 do artigo 1471.º.

 Artigo 1475.º Actos lesivos da parte de terceirosO usufrutuário é obrigado a avisar o proprietário de qualquer facto de terceiro, de que tenhanotícia, sempre que ele possa lesar os direitos do proprietário; se o não fizer, responde pelosdanos que este venha a sofrer.

Suportar impostos e outros encargos anuais sobre rendimentos – art. 1474.º

 Artigo 1474.ºImpostos e outros encargos anuaisO pagamento dos impostos e quaisquer outros encargos anuais que incidam sobre o

rendimento dos bens usufruídos incumbe a quem for titular do usufruto no momento dovencimento.

Restituir a coisa findo o usufruto – art. 1483.º26

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DIREITO REAIS 2º.ANO

 Artigo 1483.ºRestituição da coisaFindo o usufruto, deve o usufrutuário restituir a coisa ao proprietário, sem prejuízo do disposto para as coisas consumíveis e salvo o direito de retenção nos casos em que possa ser invocado.

Modos de extinção do usufruto – art. 1476.º e 1051.º, n.º 1, al. a)

 Artigo 1476.ºCausas de extinção1. O usufruto extingue-se:a) Por morte do usufrutuário, ou chegado o termo do prazo por que o direito foi conferido,quando não seja vitalício;b) Pela reunião do usufruto e da propriedade na mesma pessoa;c) Pelo seu não exercício durante vinte anos, qualquer que seja o motivo;d) Pela perda total da coisa usufruída;e) Pela renúncia.2. A renúncia não requer aceitação do proprietário.

 Artigo 1051.º

Casos de caducidade1. O contrato de locação caduca:a) Findo o prazo estipulado ou estabelecido por lei;

Morte do usufrutuário; Reunião do usufruto e propriedade na mesma pessoa; Pelo não exercício; Pela perda total da coisa; Pela renúncia.

 Aula nº.  08 – Data:  27.11.2007 Sumário: Estudo do direito de superfície. Estudo do Direito Real de Habitação Periódica. Casos Práticos.

Direito de superfície

Inicialmente encontrava-se estabelecida no direito público.

A sua noção resulta do art.1524º: - Faculdade de fazer ou construir - Faculdade de manter uma obra ou plantação

ARTIGO 1254º(Presunções de posse)

1. Se o possuidor actual possuiu em tempo mais remoto, presume-se que possuiu igualmente notempo intermédio.2. A posse actual não faz presumir a posse anterior, salvo quando seja titulada; neste caso, presume-seque há posse desde a data do título.

Estes dois aspectos resultam de uma natureza jurídica diferente:- O primeiro caso é quando está em causa a faculdade de fazer ou construir, oconteúdo do direito de superfície, é mais semelhante ao direito real de aquisição.- O segundo caso é quando está em causa a faculdade de manter a construção, oconteúdo do direito de superfície assemelha-se ao conteúdo do direito de propriedade(art.1538º).

O direito de superfície pode ser temporário ou perpétuo – art.1524ºARTIGO 1524º(Noção)

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DIREITO REAIS 2º.ANO

O direito de superfície consiste na faculdade de construir ou manter, perpétua ou temporariamente,uma obra em terreno alheio, ou de nele fazer ou manter plantações.

Objecto do direito de superfície: - Realização ou manutenção de obras - Realização ou manutenção de plantações

O art.1525º1 – diz-nos que o direito se superfície poderá abranger não só a parte dosolo necessário para a construção mas também a parte que seja necessária para ouso da obra

ARTIGO 1525º(Objecto)1. Tendo por objecto a construção de uma obra, o direito de superfície pode abranger uma parte dosolo não necessária à sua implantação, desde que ela tenha utilidade para o uso da obra.2. O direito de superfície pode ter por objecto a construção ou a manutenção de obra sob solo alheio.(Redacção do Dec.-Lei 257/91, de 18-7)

1528º - Constituição do direito de superfície – princípio geralARTIGO 1528º(Princípio geral)O direito de superfície pode ser constituído por contrato, testamento ou usucapião, e pode resultar daalienação de obra ou árvores já existentes, separadamente da propriedade do solo.

1529º - Constituição de servidõesARTIGO 1529º(Servidões)1. A constituição do direito de superfície importa a constituição das servidões necessárias ao uso efruição da obra ou das árvores; se no título não forem designados o local e as demais condições deexercício das servidões, serão fixados, na falta de acordo, pelo tribunal.

2. A constituição coerciva da servidão de passagem sobre prédio de terceiro só é possível se, à data daconstituição do direito de superfície, já era encravado o prédio sobre que este direito recaía.

1525º2 – Construção ou manutenção da obra em solo alheio

O direito de superfície coexiste sempre com o direito de propriedade (característicade quase todos os direitos reais menores)

Art.1534º - Transmissibilidade – são direitos livremente transmissíveis, quer por actoentre vivos, quer por acto mortis causa.

ARTIGO 1534º(Transmissibilidade dos direitos)O direito de superfície e o direito de propriedade do solo são transmissíveis por acto entre vivos ou pormorte.

Art.1528º - Modos de constituição do direito de superfície (principio geral):- Contrato, testamento, usucapião.

Direitos do superficiário (titular do direito de superfície): - Direito de construir ou realizar plantação que é simultaneamente um dever

porque, no caso, se, no prazo de 10 anos não o fizer, extingue-se esse direito.

- Direito de manter essa obra ou plantação realizada

Obrigações:

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DIREITO REAIS 2º.ANO

- Obrigação de construir ou fazer a plantação no prazo fixado, se não o fizer emtal prazo, supletivamente aplica-se o prazo de 10 anos.

- Obrigação de refazer a obra ou plantação, no mesma prazo, se a obra sofreudestruição, sob pena de se extinguir o direito de superfície – art.1536º1 a) e b)

- Obrigação de pagar o preço, fixado no título de constituição do direito desuperfície, que será pago de uma só vez ou em prestações anuais – art.1530º e

1531º - Obrigação de consentir no uso e fruição do proprietário do solo ou enquanto

não se inicia a obra ou plantação – art.1532º e do subsolo – art.1533º - Obrigação de dar preferência em caso de venda.

Art.1536º1 – Modos de extinção.ARTIGO 1536º(Casos de extinção)1. O direito de superfície extingue-se:a) Se o superficiário não concluir a obra ou não fizer a plantação dentro do prazo fixado ou, na falta defixação, dentro do prazo de dez anos;

b) Se, destruída a obra ou as árvores, o superficiário não reconstruir a obra ou não renovar aplantação, dentro dos mesmos prazos a contar da destruição;c) Pelo decurso do prazo, sendo constituído por certo tempo;d) Pela reunião na mesma pessoa do direito de superfície e do direito de propriedade;e) Pelo desaparecimento ou inutilização do solo;f) Pela expropriação por utilidade pública.2. No título constitutivo pode também estipular-se a extinção do direito de superfície em consequênciada destruição da obra ou das árvores, ou da verificação de qualquer condição resolutiva.3. À extinção do direito de superfície, nos casos previstos nas alíneas a) e b) do nº 1, são aplicáveis asregras da prescrição.

Direito real de habitação periódica – DL 275/93 de 5 de Agosto- Direito real de gozo mais recente

Noção: Direito de gozar sobre um imóvel, destinado a fins turísticos; imóvel alheio ecujo conteúdo permite o gozo desse imóvel para fins habitacionais, gozo essetemporário e cíclico.

Características:

- Carácter temporário e cíclico de gozo daquele imóvel - Coexiste com o direito de propriedade - Constituído por certificados emitidos pelo registo predial.

- Duração – Direito perpétuo ou temporário. Se temporário, não pode serconstituído com um prazo inferior a 15 anos.

Modo de constituição:- Através de negócio jurídico sob a forma de escritura pública publicada eposteriormente levada a registo predial, altura em que é emitido o certificado predial.Este é um negócio jurídico sujeito a apertadas regras, com o objectivo de proteger oadquirente.

Direitos e obrigações dos titulares:

Direitos:• Alguns que são desde logo fixados no titulo constitutivo;• Direito de habitar;

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DIREITO REAIS 2º.ANO

• Direito de participar na assembleia-geral dos titulares de direitos reais dehabitação periódica:

• Direitos de receber informações pela entidade responsável pela administraçãodo empreendimento;

• São beneficiários da caução prestada a propósito da boa administração;• Ceder, gratuitamente, a faculdade de habitar aquela unidade de alojamento,

mediante certos requisitos;• Direito de transmitir o seu direito.

Obrigações:• Exercer os seus direitos com critérios de razoabilidade;• Respeitar o título constitutivo e outras regras de funcionamento do

empreendimento;• Pagar anualmente a prestação periódica estipulada.

Modos de extinção:

• Sendo um direito temporário, vai extinguir-se com o decurso do prazo;• Renuncia;• Resolução do contrato em que se deu a aquisição daquele direito.

 Aula nº.  09 – Data:  04.12.2007 Sumário: Apresentação de trabalho - servidões prediais Resolução de casos práticos

Servidão predialNoção – art.1543ºARTIGO 1543º(Noção)

Servidão predial é o encargo imposto num prédio em proveito exclusivo de outro prédio pertencente adono diferente; diz-se serviente o prédio sujeito à servidão e dominante o que dela beneficia.

Conteúdo – art.1544ºARTIGO 1544º(Conteúdo)Podem ser objecto da servidão quaisquer utilidades, ainda que futuras ou eventuais, susceptíveis deser gozadas por intermédio do prédio dominante, mesmo que não aumentem o seu valor.

Características – art.1545º e 1546ºARTIGO 1545º(Inseparabilidade das servidões)1. Salvas as excepções previstas na lei, as servidões não podem ser separadas dos prédios a quepertencem, activa ou passivamente.2. A afectação das utilidades próprias da servidão a outros prédios importa sempre a constituição deuma servidão nova e a extinção da antiga.

ARTIGO 1546º(Indivisibilidade das servidões)As servidões são indivisíveis: se o prédio serviente for dividido entre vários donos, cada porção ficasujeita à parte da servidão que lhe cabia; se for dividido o prédio dominante, tem cada consorte odireito de usar da servidão sem alteração nem mudança.

Nota: A servidão legal de passagem (art.1550º) – exige que os prédios sejam rústicos.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Constituição de servidões:Servidões voluntárias – contratos, testamento e usucapiãoServidões legais – servidão de prédio encravado, servidão legal de aqueduto eservidão legal de escoamento.

Extinção das servidões – art.1596º1 CC

ARTIGO 1569º(Casos de extinção)1. As servidões extinguem-se:a) Pela reunião dos dois prédios, dominante e serviente, no domínio da mesma pessoa;b) Pelo não uso durante vinte anos, qualquer que seja o motivo;c) Pela aquisição, por usucapião, da liberdade do prédio;d) Pela renúncia;e) Pelo decurso do prazo, se tiverem sido constituídas temporariamente.2. As servidões constituídas por usucapião serão judicialmente declaradas extintas, a requerimento doproprietário do prédio serviente, desde que se mostrem desnecessárias ao prédio dominante.3. O disposto no número anterior é aplicável às servidões legais, qualquer que tenha ido o título da suaconstituição: tendo havido indemnização, será esta restituída, no todo ou em parte, conforme ascircunstâncias.

4. As servidões referidas nos artigos 1557º e 1558º também podem ser remidas judicialmente,mostrando o proprietário do prédio serviente que pretende fazer da água um aproveitamento justificado; no que respeita à restituição da indemnização, é aplicável o disposto anteriormente, nãopodendo, todavia, a remição ser exigida antes de decorridos dez anos sobre a constituição da servidão.5. A renúncia a que se refere a alínea d) do nº 1 não requer aceitação do proprietário do prédioserviente.

Tipos de servidões prediais no direito português:• De escoamento – art.1563º• De passagem – art.1550º• De estalicídio – art.1365•

Para aproveitamento de água – art.1557º e 1558º• De passagem de conduta• De vistas – art.1362º• De presa – art.1559º e 1560º• De aqueduto – art.1561º e 1562º

 Aula nº.  10 – Data:  11.12.2007 Sumário: Estudo dos direitos reais de garantia: enquadramento. O penhor

Noção de Penhor: O penhor é o direito real de garantia de origem negocial que tempor objecto coisa corpóreas móveis, créditos ou outros direitos não susceptíveis ehipoteca. Art.666º CC.ARTIGO 666º

(Noção)1. O penhor confere ao credor o direito à satisfação do seu crédito, bem como dos juros, se os houver,com preferência sobre os demais credores, pelo valor de certa coisa móvel, ou pelo valor de créditosou outros direitos não susceptíveis de hipoteca, pertencentes ao devedor ou a terceiro.2. É havido como penhor o depósito a que se refere o nº 1 do artigo 623º.3. A obrigação garantida pelo penhor pode ser futura ou condicional. Objectos possíveis do Penhor:

• Coisas corpóreas arts.666º, n.º1, e 669 e SS• Participações sociais• Créditos arts.666º, nº.1, e 685

Penhor de Direitos (679º e SS) mesmas regras que o penhor das coisas,excepto as que forem incompatíveis.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

• Objecto – coisa móvel passível de transmissão (680º)• Regimes específicos que delimitam o campo de aplicação nomeadamente o

penhor comercial.• Forma (681º) exigido para a transmissão do direito empenhado• Publicidade (681º) registo, quando necessário, a regra é que não é necessária a

notificação ao devedor.• 681 nº 3, independentemente de registo e notificação, estas regras podem ser

desviadas se tiver sido proveito de terceiro ou mesmo o devedor já tenhaconhecimento do penhor.

ARTIGO 679º(Disposições aplicáveis)São extensivas ao penhor de direitos, com as necessárias adaptações, as disposições da subsecçãoanterior, em tudo o que não seja contrariado pela natureza especial desse penhor ou pelo preceituadonos artigos subsequentes.

ARTIGO 680º(Objecto)

Só é admitido o penhor de direitos quando estes tenham por objecto coisas móveis e sejamsusceptíveis de transmissão.

ARTIGO 681º(Forma e publicidade)1. A constituição do penhor de direitos está sujeita à forma e publicidade exigidas para a transmissãodos direitos empenhados.2. Se, porém, tiver por objecto um crédito, o penhor só produz os seus efeitos desde que sejanotificado ao respectivo devedor, ou desde que este o aceite, salvo tratando-se de penhor sujeito aregisto, pois neste caso produz os seus efeitos a partir do registo.3. A ineficácia do penhor por falta de notificação ou registo não impede a aplicação, com asnecessárias correcções, do disposto no nº 2 do artigo 583º.

Deveres do credor pignoratício (683º e 685º)~• Pratica dos actos indispensáveis à conservação do direito empenhado;• Cobre os juros e mais prestações compreendidos na garantia;• Se o direito se vencer o credor deve exigir o seu crédito (685º nº 1)• Se houver vários penhores quem tem legitimidade para cobrar o crédito é o

primeiro que constituiu este penhor de forma válida, isto é, o mais antigo (685ºnº 3).

ARTIGO 683º

(Conservação do direito empenhado)O credor pignoratício é obrigado a praticar os actos indispensáveis à conservação do direitoempenhado e a cobrar os juros e mais prestações acessórias compreendidas na garantia.

ARTIGO 684º(Relações entre o obrigado e o credor pignoratício)Dando em penhor um direito por virtude do qual se possa exigir uma prestação, as relações entre oobrigado e o credor pignoratício estão sujeitas às disposições aplicáveis, na cessão de créditos, àsrelações entre o devedor e o cessionário.

ARTIGO 685º(Cobrança de créditos empenhados)1. O credor pignoratício deve cobrar o crédito empenhado logo que este se torne exigível, passando openhor a incidir sobre a coisa prestada em satisfação desse crédito.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

2. Se, porém, o crédito tiver por objecto a prestação de dinheiro ou de outra coisa fungível, o devedornão pode fazê-la senão aos dois credores conjuntamente; na falta de acordo entre os interessados, temo obrigado a faculdade de usar da consignação em depósito.3. Se o mesmo crédito for objecto de vários penhores, só o credor cujo direito prefira aos demais temlegitimidade para cobrar o crédito empenhado; mas os outros têm a faculdade de compelir o devedor asatisfazer a prestação ao credor preferente.4. O titular do crédito empenhado só pode receber a respectiva prestação com o consentimento docredor pignoratício, extinguindo-se neste caso o penhor.

Consignação de rendimentos (656º e SS) 238º• Incide sobre o rendimento que certo objecto tem e não sobre o próprio objecto,

objecto este móvel sujeito a registo ou não;• Obrigação condicional ou futura.

ARTIGO 656º(Noção)1. O cumprimento da obrigação, ainda que condicional ou futura, pode ser garantido mediante aconsignação dos rendimentos de certos bens imóveis, ou de certos bens móveis sujeitos a registo.2. A consignação de rendimentos pode garantir o cumprimento da obrigação e o pagamento dos juros,

ou apenas o cumprimento da obrigação ou só o pagamento dos juros.

Ao contrário do penhor ou da hipoteca, a consignação de rendimentos pode funcionarindependentemente do seu cumprimento, isto é, não desempenha exclusivamente oseu direito de garantia.

Esta pode garantir só o capital, só as obrigações, ou as duas.• Constituição (quem dispõe do rendimento 657º)

o Voluntária (658º)o  Judicial (658º)

ARTIGO 657º(Legitimidade. Consignação constituída por terceiro)1. Só tem legitimidade para constituir a consignação quem puder dispor dos rendimentos consignados.2. É aplicável à consignação constituída por terceiro o disposto no artigo 717º.

ARTIGO 658º(Espécies)1. A consignação é voluntária ou judicial.2. É voluntária a consignação constituída pelo devedor ou por terceiro, quer mediante negócio entrevivos, quer por meio de testamento, e judicial a que resulta de decisão do tribunal.

• Forma (660º)o Escritura pública ou testamento (imóveis)o Escrito particular (moveis)

ARTIGO 660º(Forma. Registo)1. O acto constitutivo da consignação voluntária deve constar de escritura pública ou testamento, serespeitar a coisas imóveis, e de escrito particular, quando recaia sobre móveis.2. A consignação está sujeita a registo, salvo se tiver por objecto os rendimentos de títulos de créditonominativos, devendo neste caso ser mencionada nos títulos e averbada, nos termos da respectivalegislação.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Extinção – decurso do tempos e pelas causas do direito da hipoteca (excepto oartºs 730º b)) 664º (matéria mais importante dos direitos reais de gozo, v.Posse)

ARTIGO 664º(Extinção)A consignação extingue-se pelo decurso do prazo estipulado, e ainda pelas mesmas causas por que

cessa o direito de hipoteca, com excepção da indicada na alínea b) do artigo 730º.

 Aula nº.  11 – Data:  18.12.2007 Sumário: Apresentação de trabalho sobre a hipoteca. Resolução de casos práticos.

Introdução

A Hipoteca é um dos ramos dos Direitos Reais de Garantia, tal como o são, o Penhor,os Privilégios Creditórios, O Direito de Retenção, a Penhora, o Arresto e aConsignação de Rendimentos, todas estas figuram compõem então os chamadosDireitos Reais de Garantia, que ao contrario dos Direitos Reais de Gozo não têm umafunção de conferir aos titulares das coisas, objecto dos direitos, retirarem delasutilidades, mas sim garantir créditos.

Este direito real de garantia encontra-se regulado nos artigos 686º a 732º do código

Civil.

Noção e objecto

A hipoteca é assim um direito de um credor ser pago, este tem preferência sobre

todos os outros credores normais e de igual modo terá a prioridade na reclamação decréditos face às datas de registo das hipotecas, isto para o caso de haver registosposteriores (por exemplo: penhoras, arrestos). Esta noção está consagrada no nossoCódigo Civil (CC) no artigo 686º.A hipoteca é um direito real de garantia e, portanto, nessa medida torna-se inerenteao bem sobre o qual incide. Como direito real que é, é um direito absoluto e,portanto, oponível a qualquer um. O conteúdo desse direito consiste no facto de, sefor interposta uma acção executiva que incida sobre esse bem, o titular da hipotecaserá o primeiro a obter satisfação pelo produto da venda judicial desse bem.

 ARTIGO 686º(Noção)

1. A hipoteca confere ao credor o direito de ser pago pelo valor de certas coisas imóveis, ouequiparadas, pertencentes ao devedor ou a terceiro com preferência sobre os demais credoresque não gozem de privilégio especial ou de prioridade de registo.2. A obrigação garantida pela hipoteca pode ser futura ou condicional.

A propósito de privilégios especiais, a hipoteca prevalece sobre todas as garantiasreais, nomeadamente outras hipotecas que venham a ser constituídas sobre o mesmobem. Os únicos direitos reais de garantias que, mesmo tendo sido constituídosposteriormente à hipoteca, prevalecem sobre ela são:1. Direito de retenção (art. 759.º, 2.).2. Privilégios imobiliários especiais (art. 751.º)

3. Também o Fisco tem privilégios especiais no âmbito do IMT e do IMI.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Outro aspecto importante da figura da hipoteca é a indispensabilidade do registo, sobpena de não produzir efeitos, mesmo em relação às partes, o que também seencontra descrito no CC no artigo 687º.

 ARTIGO 687º(Registo)

 A hipoteca deve ser registada, sob pena de não produzir efeitos, mesmo em relação às partes.

Se por um lado já se definiu o que é a Hipoteca, interessa agora ver qual o seuobjecto.

 Tanto a figura do Penhor como da Hipoteca garantem uma garantia real sobre umcrédito, todavia é na análise do objecto sobre que coisas podem incidir, queconseguimos efectuar uma distinção.

Coisas ImóveisNa hipoteca Artigo 688º do CC

Coisas móveis1 sujeitas a registo

 ARTIGO 688º(Objecto)1. Só podem ser hipotecados:a) Os prédios rústicos e urbanos;b) O domínio directo e o domínio útil dos bens enfitêuticos;c) O direito de superfície;d) O direito resultante de concessões em bens do domínio público, observadas as disposições legaisrelativas à transmissão dos direitos concedidos;e) O usufruto das coisas e direitos constantes das alíneas anteriores;f) As coisas móveis que, para este efeito, sejam por lei equiparadas às imóveis.2. As partes de um prédio susceptíveis de propriedade autónoma sem perda da sua naturezaimobiliária podem ser hipotecadas separadamente.

O bem sobre o qual recai a hipoteca pode pertencer ao devedor ou aterceiro.Exemplos:

• A contrai empréstimo face a B no montante de 10.000€. Para garantir opagamento do valor, A constitui a hipoteca sobre um edifício que tem.• A pede ao banco um empréstimo de 10.000€, para adquirir um automóvel, C.Para garantir o crédito do bem C, o pai de A constitui uma hipoteca sobre umprédio rústico que tem.

Pode ainda ser hipotecado bens comuns, que se refere o artigo 689º do CC ARTIGO 689º(Bens comuns)1. É também susceptível de hipoteca a quota de coisa ou direito comum.2. A divisão da coisa ou direito comum, feita com o consentimento do credor, limita a hipoteca à

 parte que for atribuída ao devedor.

Coisas corpóreas móveisNo penhor art. 666 n.º 1 do CC

Créditos ou outros direitos não susceptíveis de hipoteca

1 Automóveis, navios e aeronaves.35

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DIREITO REAIS 2º.ANO

 ARTIGO 666º(Noção)1. O penhor confere ao credor o direito à satisfação do seu crédito, bem como dos juros, se os houver,com preferência sobre os demais credores, pelo valor de certa coisa móvel, ou pelo valor de créditosou outros direitos não susceptíveis de hipoteca, pertencentes ao devedor ou a terceiro.…

Como vimos é pela natureza do objecto que no nosso actual sistema jurídico se faz adistinção entre estes dois institutos, todavia também podemos considerar emparalelo outra distinção. Esta prende-se com a posse dos bens, ou seja na hipotecaesta não confere posse ao credor, antes uma garantia real, por outro lado o penhor (eo que recai sobre coisas) essa posse passa efectivamente para o credor. A nossa leiprevê contudo hipóteses de haver penhor sem entrega de coisa, mas mesmo nessescasos é o credor que passa a ser o detentor da posse da coisa (é o caso do penhor afavor de instituições financeiras, e destina-se essencialmente a facilitar o recurso aocrédito).Ainda dentro do âmbito da noção e objecto da hipoteca, de referir o carácterrelevante deste instituto na vida social, na medida em que sendo o campo deaplicação principal da hipoteca o crédito imobiliário, este permitiu abrir apossibilidade a um conjunto alargado de pessoas acederem á compra de habitaçãoprópria, que de outra forma não a teriam. Possibilitou ainda aos construtores epromotores imobiliários expandirem os seus negócios, e às instituições financeirasque concedem crédito mediante a prestação da hipoteca uma nova e lucrativa frentede negócio.

Espécies de Hipoteca ARTIGO 703º(Espécies de hipoteca) As hipotecas são legais, judiciais ou voluntárias.

É a própria lei que define de forma clara e inequívoca quais as espécies de hipotecapossíveis na nossa ordem jurídica.

Legais “…resultam imediatamente da lei, semdependência

da vontade das partes,…” art. 704 CC

Espécies de Por iniciativa do credor, mediante o facto de serHipoteca   Judiciais proferida uma sentença que condene alguém numa

prestação. Art. 710 CC

Voluntárias Provêem dos contratos ou dos negócios unilaterais.art. 712 CC

As hipotecas Legais e, como a lei refere no art. 704 “… resultamimediatamente da lei, sem dependência da vontade das partes, e podem constituir-sedesde que exista a obrigação a que servem de segurança. No entanto de referir quetal como todas as demais espécies de hipotecas estas carecem de registo para seconstituírem, por esse facto as hipotecas não podem assim resultar imediatamenteda lei. Esta espécie de hipoteca encontra no art. 705 quais os credores com hipotecalegal, conforme se pode notar da sua leitura. No entanto aos enumerados neste artigoá a acrescentar outros referenciados em diplomas diversos. Em relação aos bens

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DIREITO REAIS 2º.ANO

passíveis de hipoteca, eles são e segundo o descrito no art. 708, todos os do devedorcom excepção do que resulte da lei.

 ARTIGO 705º(Credores com hipoteca legal)Os credores que têm hipoteca legal são:a) O Estado e as autarquias locais, sobre os bens cujos rendimentos estão sujeitos à constituição

 predial, para garantia do pagamento desta contribuição;b) O Estado e as demais pessoas colectivas públicas, sobre os bens dos encarregados da gestão defundos públicos, para garantia do cumprimento das obrigações por que se tornem responsáveis;c) O menor, o interdito e o inabilitado, sobre os bens do tutor, curador e administrador legal, paraassegurar a responsabilidade que nestas qualidades vierem a assumir;d) O credor por alimentos;e) O co-herdeiro, sobre os bens adjudicados ao devedor de tornas, para garantir o pagamento destas;f) O legatário de dinheiro ou outra coisa fungível, sobre os bens sujeitos ao encargo do legado ou, nasua falta, sobre os bens que os herdeiros responsáveis houverem do testador.

As hipotecas Judiciais e, tal como a anterior também resulta da lei, é pela

iniciativa do credor (art. 710 CC) que munido de uma sentença (mesmo que nãotransitada em julgado) condene outro numa prestação. Também aqui e como naanterior espécie todos os bens são penhoráveis, existe no entanto uma limitação nalei que se relaciona com o valor das hipotecas e que é regulado pelo art. 140, n.º3 docódigo da Insolvência e da Recuperação de Empresas.

 ARTIGO 710º(Constituição)1. A sentença que condenar o devedor à realização de uma prestação em dinheiro ou outra coisafungível é título bastante para o registo de hipoteca sobre quaisquer bens do obrigado, mesmo quenão haja transitado em julgado.2. Se a prestação for ilíquida, pode a hipoteca ser registada pelo quantitativo provável do crédito.3. Se o devedor for condenado a entregar uma coisa ou a prestar um facto, só pode ser registada ahipoteca havendo conversão da prestação numa indemnização pecuniária.

As hipotecas Voluntárias, diz-nos a art. 712 CC “Hipoteca voluntária é a quenasce de contrato ou declaração unilateral”. São a maioria das hipotecas realizadas, ecomo já anteriormente referimos esta espécie de hipoteca tem uma relevância sociale económica muito importante na sociedade. Assim deve-se de atentar àscaracterísticas mais importantes desta espécie de hipoteca.

Pode ser constituída pelo devedor da obrigação ou por terceiro (art. 717 CC)

A constituição e a modificação da hipoteca voluntária sobre imóveis deve deconstar de escritura ou eventualmente de testamento se for o caso, existe noentanto uma excepção, onde é admitido uma forma menos solene, é o caso dashipotecas destinadas a garantir mútuo bancário para financiamento de comprade prédio urbano para habitação, a lei faculta a possibilidade de documentoparticular, todavia parece ser prática corrente das instituições financeirasoptarem pela escritura. (art. 714 CC)

No que respeita à hipoteca de bens móveis, existem diversos diplomas

reguladores, exigem no entanto todos os recursos á forma escrita. Exemplodisso é a forma escrita a que recorrem as instituições financeiras ligadas aocrédito automóvel, quando na sequência de um financiamento automóvel

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DIREITO REAIS 2º.ANO

necessitam de recorrer à figura da hipoteca, para tal emitem um documentoparticular escrito que o cliente assina.

O que decorre do art. 694 CC - Pacto Comissário – “É nula, mesmo que sejaanterior ou posterior à constituição da hipoteca, a convenção pela qual o credorfará sua a coisa onerada no caso de o devedor não cumprir”

Sendo “…igualmente nula a convenção que proíba o respectivo dono de alienar

ou onerar os bens hipotecados, embora seja lícito convencionar que o créditohipotecário se vencerá logo que esses bens sejam alienados ou onerados.” Deacordo com o art. 695 CC (Cláusula de inalienabilidade dos bens hipotecados).

Regras comuns às diferentes espécies de Hipoteca

. Necessidade de recurso a tribunal para a execução das hipotecasEmbora não resulte de nenhum preceito legal, no nosso sistema jurídico aexecução das hipotecas é maioritariamente feito por via judicial.

. Registo constitutivoComo já anteriormente referimos, a hipoteca deve ser registada para produzirefeitos (art. 687º CC), para além disso esta realidade deve ser aplicada a todasas espécies: Voluntárias, Legais e Judiciais.

. Âmbito físico das HipotecasQual o objecto das hipotecas? Em face da constante mudança dos prédios sejapor forças naturais ou humanas gera uma enorme fonte de dúvidasrelativamente ao âmbito físico dos objectos das hipotecas. O artigo 691º CCclarifica o que é abrangido: as coisas imóveis alíneas c) a e) do n.º1 do artigo204º CC (Coisas Imóveis); as acessões naturais; as benfeitorias. No que respeita

às partes integrantes das coisas imóveis o restante do artigo 691º, também oclarifica.

 ARTIGO 691º(Extensão)1. A hipoteca abrange:a) As coisas imóveis referidas nas alíneas c) a e) do nº 1 do artigo 204º;b) As acessões naturais;c) As benfeitorias, salvo o direito de terceiros.2. Na hipoteca de fábricas, consideram-se abrangidos pela garantia os maquinismos e demais móveisinventariados no título constitutivo, mesmo que não sejam parte integrante dos respectivos imóveis.3. Os donos e possuidores de maquinismos, móveis e utensílios destinados à exploração de fábricas,

abrangidos no registo de hipoteca dos respectivos imóveis, não os podem alienar ou retirar semconsentimento escrito do credor e incorrem na responsabilidade própria dos fiéis depositários.(Redacção do Dec.-Lei 225/84, de 6-7)

. Obrigações CobertasO que assegura a hipoteca, para além do crédito em si? Esta pergunta encontraresposta no art. 693º CC, ou seja para além do crédito, os acessórios do créditoque constem do registo fazem parte das obrigações cobertas. Os acessórios sãoos juros que o crédito principal origine e as despesas implicadas pela cobrança.Esta é a leitura do n.º1 deste artigo, todavia o seu n.º2 estabelece um limite detrês anos no que respeita a juros, ou seja com isto quer o legislador

principalmente obter do credor uma célere acção face a um incumprimento. ARTIGO 693º

(Acessórios do crédito)38

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DIREITO REAIS 2º.ANO

1. A hipoteca assegura os acessórios do crédito que constem do registo.2. Tratando-se de juros, a hipoteca nunca abrange, não obstante convenção em contrário, mais do queos relativos a três anos.3. O disposto no número anterior não impede o registo de nova hipoteca em relação a juros em dívida.Indivisibilidade da hipoteca

A hipoteca é indivisível, salvo convencionado em contrário. Alias como refere oart. 696º CC. Para dar um exemplo recorrente na nossa sociedade da

indivisibilidade da hipoteca, é o caso do financiamento por parte dos bancos aum promotor da construção de um prédio constituído em propriedadehorizontal, nesse caso cada fracção autónoma responde por toda a divida emcausa, fica ao critério do credor hipotecário efectuar a renuncia sobre cadafracção, caso se efectue parte da dívida.

 ARTIGO 696º(Indivisibilidade)Salvo convenção em contrário, a hipoteca é indivisível, subsistindo por inteiro sobre cada uma dascoisas oneradas e sobre cada uma das partes que as constituam, ainda que a coisa ou o crédito sejadividido ou este se encontre parcialmente satisfeito.

Transmissibilidade e nova oneração dos bens hipotecadosA lei permite aos donos e bens hipotecados disporem dos mesmos paraalienação, no entanto refere que é lícito desde logo convencionar que o créditohipotecário se vença nesse momento, conforme o estipulado no art. 695º CC. Alei também refere no seu art. 713º a liberdade que o dono dos bens tem deefectuar novas hipotecas sobre os mesmos bens2.

 ARTIGO 695º(Cláusula de inalienabilidade dos bens hipotecados)É igualmente nula a convenção que proíba o respectivo dono de alienar ou onerar os benshipotecados, embora seja lícito convencionar que o crédito hipotecário se vencerá logo que esses benssejam alienados ou onerados.

 ARTIGO 713º(Segunda hipoteca) A hipoteca não impede o dono dos bens de os hipotecar de novo; neste caso, extinta uma dashipotecas, ficam os bens a garantir, na sua totalidade, as restantes dívidas hipotecárias.

Transferência do direito de hipoteca para os créditos indemnizatóriosEsta regra refere que no caso em que o bem hipotecado se perder, forexpropriado ou requisitado ou eventualmente se deteriorar e, por estes factosder lugar a indemnização a hipoteca passa a incidir sobre essa indemnização.Como decorre do disposto no art. 692º CC as preferências hipotecárias passam

a incidir sobre o direito à indemnização. ARTIGO 692º

(Indemnizações devidas)1. Se a coisa ou direito hipotecado se perder, deteriorar ou diminuir de valor, e o dono tiver direito aser indemnizado, os titulares da garantia conservam, sobre o crédito respectivo ou as quantias pagas atítulo de indemnização, as preferências que lhes competiam em relação à coisa onerada.2. Depois de notificado da existência da hipoteca, o devedor da indemnização não se libera pelocumprimento da sua obrigação com prejuízo dos direitos conferidos no número anterior.3. O disposto nos números precedentes é aplicável às indemnizações devidas por expropriação ourequisição, bem como por extinção do direito de superfície, ao preço da remição do foro e aos casosanálogos.

2O recurso à constituição de diversas hipotecas sobre o mesmo imóvel explica-se pelo valor de edifício, ao ser elevado, ser 

suficiente para satisfazer diversas dívidas.39

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Execução da hipoteca – Destino dos arrendamentos de imóveis com hipotecaEm caso de execução da hipoteca, pela figura da penhora, e segundo umagrande maioria da doutrina Portuguesa, defende que o direito do arrendatário,que arrenda antes da penhora, fica salvaguardo da venda judicial, ou seja nadamuda na sua esfera. Esta solução parece ser bastante razoável todavia omesmo não se põe no caso de o arrendamento ser posterior à hipoteca, na

medida em que isto pode causar desvalorização dos imóveis.Cedibilidade da hipotecaA transmissibilidade da hipoteca é por princípio possível, a hipoteca é enquantogarantia, uma mais-valia com valor económico. Por este facto pode ser emmúltiplos casos interessante ceder uma hipoteca a outro crédito garantido. Todavia esta cedibilidade obedece a alguns critérios precisos: a transmissão dacoisa hipotecada apenas se pode processar para garantir de créditopertencente a outro credor do mesmo devedor; se a coisa hipotecada for deterceiro este tem de consentir; este tipo de cessão deve observar as regras decessão de crédito; e a hipoteca que incida sobre mais de uma coisa só pode sercedida na sua totalidade. Todos estes preceitos encontram-se regulados nos

artigos 727º e 728º CC. ARTIGO 727º(Cessão da hipoteca)1. A hipoteca que não for inseparável da pessoa do devedor pode ser cedida sem o créditoassegurado, para garantia de crédito pertencente a outro credor do mesmo devedor, com observânciadas regras próprias da cessão de créditos; se, porém, a coisa ou direito hipotecado pertencer aterceiro, é necessário o consentimento deste.2. O credor com hipoteca sobre mais de uma coisa ou direito só pode cedê-la à mesma pessoa e nasua totalidade.

 ARTIGO 728º(Valor da hipoteca cedida)

1. A hipoteca cedida garante o novo crédito nos limites do crédito originariamente garantido.2. Registada a cessão, a extinção do crédito originário não afecta a subsistência da hipoteca.Substituição ou reforço da hipoteca

Esta regra permite ao credor, em nome da segurança da divida, e no caso de acoisa hipotecada perecer ou ficar insuficiente para garantir a totalidade docredito garantido, exigir a substituição ou reforço da hipoteca. Se esta exigêncianão for cumprida pelo devedor pode o credor exigir o imediato cumprimento daobrigação, contudo se tratar de obrigação futura3, o credor pode registarhipoteca sobre outros bens do devedor. De referir que tanto pode ser exigido oreforço ou substituição quer se trate de bens do devedor ou de bens de terceiro,conforme disposto no art. 701º CC.

 ARTIGO 701º(Substituição ou reforço da hipoteca)1. Quando, por causa não imputável ao credor, a coisa hipotecada perecer ou a hipoteca se tornar insuficiente para segurança da obrigação, tem o credor o direito de exigir que o devedor a substitua oureforce; e, não o fazendo este nos termos declarados na lei de processo, pode aquele exigir o imediatocumprimento da obrigação ou, tratando-se de obrigação futura, registar hipoteca sobre outros bens dodevedor.2. Não obsta ao direito do credor o facto de a hipoteca ter sido constituída por terceiro, salvo se odevedor for estranho à sua constituição; porém, mesmo neste caso, se a diminuição da garantia for devida a culpa do terceiro, o credor tem o direito de exigir deste a substituição ou o reforço, ficando omesmo sujeito à cominação do número anterior em lugar do devedor.

3 Nos créditos futuros, existe uma vantagem de constituir a hipoteca antes de constituir o crédito que ela venha a garantir. Quandoo crédito se constituir, ele beneficia logo da hipoteca e de uma hipoteca com data de constituição anterior. O seu crédito

garantido, embora constituído mais tarde que outro crédito, está mais tutelado, porque tudo se passa como se ele tivesse sido

constituído na data de constituição da hipoteca.40

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Expurgação da hipotecaO devedor tem sempre a possibilidade de se libertar da hipoteca, contudo semprejuízo para o credor. Esta facilidade de expurgação regulada nos artigos 721ºa 723º CC bem como nos artigos 998 e SS do CPC, permite aos devedoresmediante pagamento aos credores do valor em divida, libertar desse modo agarantia hipotecária.

 ARTIGO 721º(Expurgação da hipoteca) Aquele que adquiriu bens hipotecados, registou o título de aquisição e não é pessoalmenteresponsável pelo cumprimento das obrigações garantidas tem o direito de expurgar a hipoteca por qualquer dos modos seguintes:a) Pagando integralmente aos credores hipotecários as dívidas a que os bens estão hipotecados; b)Declarando que está pronto a entregar aos credores, para pagamento dos seus créditos, até à quantia pela qual obteve os bens, ou aquela em que os estima, quando a aquisição tenha sido feita por títulogratuito ou não tenha havido fixação de preço.

 ARTIGO 722º(Expurgação no caso de revogação de doação)

O direito de expurgação é extensivo ao doador ou aos seus herdeiros, relativamente aos benshipotecados pelo donatário que venham ao poder daqueles em consequência da revogação daliberalidade por ingratidão do donatário, ou da sua redução por inoficiosidade.(Redacção do Dec.-Lei 497/77, de 25-11)

 ARTIGO 723º(Direitos dos credores quanto à expurgação)1. A sentença que declarar os bens livres de hipotecas em consequência de expurgação não será proferida sem se mostrar que foram citados todos os credores hipotecários.2. O credor que, tendo a hipoteca registada, não for citado nem comparecer espontaneamente em juízo não perde os seus direitos de credor hipotecário, seja qual for a sentença proferida em relaçãoaos outros credores.3. Se o requerente da expurgação não depositar a importância devida, nos termos da lei de processo,fica o requerimento sem efeito e não pode ser renovado, sem prejuízo da responsabilidade dorequerente pelos danos causados aos credores.

Extinção das hipotecas

Neste último ponto iremos analisar o modo como se extinguem as hipotecas, sendoentão quatro os modos de extinção

1. Extinção da obrigação garantida – Por aquilo que anteriormente já se referiuneste trabalho, nomeadamente na noção de hipoteca, ela é acessória de um

credito, nesse sentido a extinção de um credito garantido, leva à extinção dahipoteca, todavia e, em caso de um novo credito garantido que tenha a mesmahipoteca, a extinção do primeiro não pressupõe a extinção da hipoteca, o novocredito só na altura da sua extinção levará à extinção da hipoteca.

2. Perecimento da coisa – Determina também extinção da hipoteca a perda doobjecto da hipoteca, sem prejuízo do direito atrás referido sobre a transferênciado direito de hipoteca para os créditos indemnizatórios, regulado no art. 692ºcc.)

3. Prescrição – Figura de aplicação rara, e que apenas se aplica ao adquirente deprédio hipotecado, pois depende da aplicação cumulativa de dois períodos, umde vinte anos desde o registo de aquisição por parte desse adquirente e de

cinco sobre o vencimento da obrigação garantida.4. Renuncia pelo credor - Se a anterior causa de extinção é rara, esta é sem

dúvida mais vulgar, pois quando se dá o pagamento, da obrigação garantida, a41

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DIREITO REAIS 2º.ANO

forma mais célere de obter o cancelamento do registo da hipoteca é obter docredor uma declaração de renúncia do credor.

 ARTIGO 730º(Causas de extinção) A hipoteca extingue-se:a) Pela extinção da obrigação a que serve de garantia;b) Por prescrição, a favor de terceiro adquirente do prédio hipotecado, decorridos vinte anos sobre o

registo da aquisição e cinco sobre o vencimento da obrigação;c) Pelo perecimento da coisa hipotecada, sem prejuízo do disposto nos artigos 692º e 701º;d) Pela renúncia do credor.

 ARTIGO 731º(Renúncia à hipoteca)1. A renúncia à hipoteca deve ser expressa e exarada em documento autenticado, não carecendo deaceitação do devedor ou do autor da hipoteca para produzir os seus efeitos.2. Os administradores de patrimónios alheios não podem renunciar às hipotecas constituídas embenefício das pessoas cujos patrimónios administram.(Redacção do Dec.-Lei 163/95, de 13-7)

 ARTIGO 732º(Renascimento da hipoteca)

Se a causa extintiva da obrigação ou a renúncia do credor à garantia for declarada nula ou anulada, ouficar por outro motivo sem efeito, a hipoteca, se a inscrição tiver sido cancelada, renasce apenasdesde a data da nova inscrição.

 Aula nº.  12 – Data:  08.01.2008 Sumário: Estudo da posse

Posse (1251º e ss) 277ºARTIGO 1251º(Noção)Posse é o poder que se manifesta quando alguém actua por forma correspondente ao exercício dodireito de propriedade ou de outro direito real.

As pessoas têm uma perspectiva em como a posse não tem uma perspectiva jurídica,no entanto isso não corresponde à realidade.

É a detenção (posse) de um objecto, em formas análogas existem aqueles que gozamdo direito de propriedade, ou seja, todos os direitos reais (mais concretamente degozo) tem por objecto a posse, isto é, são susceptíveis de ser possuídos.

o Conteúdo – manifesta-se num poder de exercer as faculdades próprias do dtoreal que é o de propriedade ou de outro direito real

Existem dois tipos de posse:

o Casual – quando à posse corresponde o direito real respectivo, não tem muitarelevância pratica

o Formal – a posse à qual não corresponde a titularidade do direito realrespectivo ou seja, “eu sou possuidor, mas não sou o proprietário”.

NOTA – a posse é um direito real com características próprias, isto é sui generis, éum direito real em termos precários, pois no caso da posse formal, ela é até nãohaver ninguém que afirme e prove que não é do “proprietário” em questão.

Concepções doutrinárias: existem essencialmente duas:42

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o Concepções subjectivistas – (Savingny) para alguém afirmar que épossuidor, é necessário a materialidade e a intenção/vontade de agir, porexemplo como proprietários.

o Concepção objectivista – (Ihering) menos exigente que a anterior, pois paraalguém ser possuidor basta a potencialidade de praticar actos materiais sobre acoisa.

Estas duas concepções permitem a distinção entre a detenção e a posse, sendo que asubjectivista, mais concretamente o facto de existir intencionalidade de agir deacordo com o direito real em questão é que pode distinguir se existe posse oudetenção. Para esta distinção existem vários problemas a ser resolvidos (ver pág.284)

A concepção adoptada pelo legislador, segundo os artºs 1267º e 1289º nº 2 é aobjectivista, pois falta o objecto volitivo (intenção). No entanto o 1251º e o 1253ºcontradizem e afirmam que é uma concepção subjectivista, logo podemos afirmarque a doutrina está dividida sendo que a maioria dos juristas entendem que é maisaceitável a subjectiva com base no 1253º

Formas de aquisição (1263º + sucessão mortis causa)o Aquisição originária da posse – é quando o direito surge de novo naquele

titular (1263º a) e d)) acaba por ser uma espécie de ocupação – apoderamentoe inversão do título de posse (não sou proprietário, mas ou penso que o sou oucompro a um terceiro que não é proprietário e a partir daí comporto-me comopossuidor de tal (usucapião)

o Aquisição derivada da posse e de um direito – funda-se na transmissão,isto é, o direito funda-se num direito anterior. mortis causa, pois é um direito

patrimonial passível por isso de posse, tradição material, ex: contrato decompra e venda, doação, ou simbólica (ex: no caso de doação de umapartamento entrego a chave), constitutivo possessório (ex: quando passo deproprietário e possuidor a mero detentor, isto é, no caso de um ser proprietárioe possuidor de um apartamento e vende-lo, mas continuando a morar lá, passoa ser mero detentor, sendo que o novo proprietário tem uma posse nãoefectiva pois não tem detenção coisa).

ARTIGO 1263º(Aquisição da posse)A posse adquire-se:

a) Pela prática reiterada, com publicidade, dos actos materiais correspondentes ao exercício do direito;b) Pela tradição material ou simbólica da coisa, efectuada pelo anterior possuidor;c) Por constituto possessório;d) Por inversão do título da posse.Extinção (1267º)ARTIGO 1267º(Perda da posse)1. O possuidor perde a posse:a) Pelo abandono;b) Pela perda ou destruição material da coisa ou por esta ser posta fora do comércio;c) Pela cedência;d) Pela posse de outrem, mesmo contra a vontade do antigo possuidor, se a nova posse houver duradopor mais de um ano.

2. A nova posse de outrem conta-se desde o seu início, se foi tomada publicamente, ou desde que éconhecida do esbulhado, se foi tomada ocultamente; sendo adquirida por violência, só se conta a partirda cessação desta.

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Poderes conferidos ao respectivo titular (pag. 287) confere, no caso de a posse seridêntica no direito de propriedade, o uso e fruição, benfeitorias (1273º e 1275), risco(1269º).

Modalidades ou caracteres tem a ver com o facto de poder ser adquirida por

usucapião ou não, são elas:o Titulada (1259º) – quando tem na sua origem um modo legítimo de aquisição

do direito que estiver em causa, caso contrário, é não titulada.o Boa fé ou má fé (1260º) é de má fé quando sei que a coisa não é minha e que

teria prejudicado alguémo Pacífica ou violenta (1261º)o Pública ou oculta (1262º)

Defesas (1276º e SS) – são essencialmente três as acções:

o Prevenção – visa proteger o possuidor de uma futura possível perturbação naposse (1276º) ou seja, quando ainda não foi perturbada mas existe o justoreceio.

o Restituição – já foi perturbada a posse (1278º) e, portanto ele pretendereaver, readquirir a posse daquele terreno

o Manutenção – pode verificar-se havendo ou não já a perturbação da posse.o Acção directa – defesa da posse por meio próprio e não de recurso ao

tribunal (1267º)o Legitimidade para intentar (1281º)o Prazo de um ano (1282º)

Efeito:

Regra – usucapião (1287 e SS) – a posse por certo lapso de tempo incorre depois emaquisição do direito real correspondente e que é possuidor presumivelmenteproprietário (1268º)

Excepção: 1293 b), uso e habitação tem um cariz pessoal que o ajuda a distinguir dousufruto. Numa situação de posse de um ou de outro direito seria difícil qualificar odireito que foi adquirido por usucapião, por isso a lei acabou por proibir a usucapiãopor uso e habitação. O que está aqui em causa é uma questão pragmática, prática.

Posse por usucapião: pag. 292

Havendo mais que uma posse, ou seja, sucessão na posse, o que está aadquirir de novo pode aproveitar a posse do anterior para efeitos de usucapião, istose for da mesma espécie (1256º), isto é importante para efeitos de prazo.

1290º O prazo só é contado a partir da inversão do título da posse1289º Capacidade (todos, até incapazes)

O prazo depende do tipo de bem e da espécie e modalidade da posse. A posse é umdireito possível de registo.

Imóveis: 1294º - Imóveis com registo e título de aquisição: boa fé – 10 anos; má fé – 15

anos

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1295º Registo de mera posse: boa fé – 5 anos a partir da data do registo; má fé10 anos

1296º Sem registo: boa fé – 15 anos; má fé – 20 anos 1297º Havendo violência na aquisição da posse, apenas quando esta se torna

pública é que começa a contar

Móveis• 1298º Sujeitos a registo• 1299º Não sujeitos a registo• 1300º Posse oculta ou violenta

 Aula nº.  13 – Data:  15.01.2008 Sumário: Continuação do estudo da posse. Resolução de casos práticos. Apresentação de trabalho.

Casos PráticosCaso prático Ia) Em Dezembro de 1998, António vendeu a Belmiro, por escritura pública,com simulação absoluta, um prédio rústico.Respeitou a forma, mas o negócio é no nos termos do art. 240.º, n.º 2, 286.º e 289.º

 Artigo 240.ºSimulação1. Se, por acordo entre declarante e declaratário, e no intuito de enganar terceiros, houver divergência entre a declaração negocial e a vontade real do declarante, o negócio diz-sesimulado.2. O negócio simulado é nulo.

 Artigo 286.ºNulidade A nulidade é invocável a todo o tempo por qualquer interessado e pode ser declaradaoficiosamente pelo tribunal

 Artigo 289.ºEfeitos da declaração de nulidade e da anulação1. Tanto a declaração de nulidade como a anulação do negócio têm efeito retroactivo, devendoser restituído tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituição em espécie não for possível, ovalor correspondente.2. Tendo alguma das partes alienado gratuitamente coisa que devesse restituir, e não podendotornar-se efectiva contra o alienante a restituição do valor dela, fica o adquirente obrigado emlugar daquele, mas só na medida do seu enriquecimento.3. É aplicável em qualquer dos casos previstos nos números anteriores, directamente ou por analogia, o disposto nos artigos 1269.º e seguintes.

Logo, não se produzem os efeitos previstos no art. 879.º para a compra e venda Artigo 879.ºEfeitos essenciais A compra e venda tem como efeitos essenciais:a) A transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito;b) A obrigação de entregar a coisa;c) A obrigação de pagar o preço.

b) – Em Dezembro de 1998, Belmiro vendeu o imóvel a Carlos quedesconhecia com culpa o acto anterior. A venda foi realizada segundo aforma prescrita e registada.Apesar de respeitar a forma e o registo, não podia vender o imóvel nos termos do art.

892.º, sendo por isso nula. Artigo 892.ºNulidade da venda

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É nula a venda de bens alheios sempre que o vendedor careça de legitimidade para a realizar;mas o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador de boa fé, como não pode opô-la aovendedor de boa fé o comprador doloso.

Porém, nos termos do art. 291.º, Daniel não está de boa fé, logo é oponível.

 Artigo 291.ºInoponibilidade da nulidade e da anulação

1. A declaração de nulidade ou a anulação do negócio jurídico que respeite a bens imóveis, ou amóveis sujeitos a registo, não prejudica os direitos adquiridos sobre os mesmos bens, a títulooneroso, por terceiro de boa fé, se o registo da aquisição for anterior ao registo da acção denulidade ou anulação ou ao registo do acordo entre as partes acerca da invalidade do negócio.2. Os direitos de terceiro não são, todavia, reconhecidos, se a acção for proposta e registadadentro dos três anos posteriores à conclusão do negócio.3. É considerado de boa fé o terceiro adquirente que no momento da aquisição desconhecia,sem culpa, o vício do negócio nulo ou anulável.

c) – Em Dezembro de 2000, Carlos vendeu, por escritura pública, o referidoimóvel a Daniel que, desconhecendo sem culpa o que acontecera antes,registou o acto.

Respeita a forma, com registo, mas trata-se ainda de venda de bens alheios. Danielestá de boa-fé, nos termos do art. 291.º

d) – Em Junho de 2001, Daniel doou o prédio a Eduardo, por escriturapública, não tendo este registado a acção.Daniel doou bem que ainda não era seu, nos termos do art. 956.º, n.º 1

 Artigo 956.ºDoação de bens alheios1. É nula a doação de bens alheios; mas o doador não pode opor a nulidade ao donatário de boafé.2. O doador só responde pelo prejuízo causado ao donatário quando este esteja de boa fé e se

verifique algum dos seguintes factos:a) Ter o doador assumido expressamente a obrigação de indemnizar o prejuízo;b) Ter o doador agido com dolo;c) Ter a doação carácter remuneratório;d) Ser a doação onerosa ou modal, ficando a responsabilidade do doador limitada, neste caso,ao valor dos encargos.3. É imputável no prejuízo do donatário o valor da coisa ou do direito doado, mas não osbenefícios que ele deixou de obter em consequência da nulidade.4. Não havendo lugar a indemnização, o donatário fica sub-rogado nos direitos que possamcompetir ao doador relativamente à coisa ou direito doado.

e) – Em Dezembro de 2001, Daniel vendeu o prédio a Fernando por escritura

pública, não tendo este registado a aquisição.Esta venda é válida, pois respeita a forma e já decorreu o prazo de três anosprevistos par a inoponibilidade.

Quem pode invocar, actualmente, a titularidade de direitos reais sobre oprédio?Será Fernando quem pode invocar a titularidade dos direitos reais do prédio,atendendo aos princípios da consensualidade – art. 408.º…

 Artigo 408.ºContratos com eficácia real 1. A constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa determinada dá-se por mero

efeito do contrato, salvas as excepções previstas na lei.2. Se a transferência respeitar a coisa futura ou indeterminada, o direito transfere-se quando acoisa for adquirida pelo alienante ou determinada com conhecimento de ambas as partes, sem prejuízo do disposto em matéria de obrigações genéricas e do contrato de empreitada; se,

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 porém, respeitar a frutos naturais ou a partes componentes ou integrantes, a transferência sóse verifica no momento da colheita ou separação.

… da publicidade e do princípio da tipicidade.

Caso prático IIa) - Em 1995, Amílcar por documento particular, doou a Berta a antenaparabólica instalada no telhado de sua casa, sem que a mesma fosseretirada do local.Em primeiro lugar, atente-se ao facto de a lei considerar a antena como coisa imóvel.Assim, nos termos do art. 204.º, n.º 1, al. e) e n.º 3, sendo a antena parabólicaconsiderada coisa móvel ligada materialmente ao prédio, logo é também consideradacoisa imóvel, a par com outros tipos de construções (janelas, portas, etc…)

 Artigo 204.ºCoisas imóveis1. São coisas imóveis:…e) As partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos.…

3. É parte integrante toda a coisa móvel ligada materialmente ao prédio com carácter de permanência.Portanto a doação não se poderia verificar por esse facto, atendendo àindivisibilidade.Solução diversa poderia ser encontrada caso se viesse a separar fisicamente a antenado prédio à posteriori, mas ainda assim a lei proíbe a doação de bens futuros, nostermos do art. 942.º, n.º 1

 Artigo 942.ºObjecto da doação1. A doação não pode abranger bens futuros.…

Analise-se porém o art. 408.º, nomeadamente o seu n.º 2, “in fine” , que permite a

transferência de direitos reais respeitante a parte componente ou integrante (videart. 204.º), mas que só ocorre no momento da separação.

 Artigo 408.ºContratos com eficácia real …2. Se a transferência respeitar a coisa futura ou indeterminada, o direito transfere-se quando acoisa for adquirida pelo alienante ou determinada com conhecimento de ambas as partes, sem prejuízo do disposto em matéria de obrigações genéricas e do contrato de empreitada; se, porém, respeitar a frutos naturais ou a partes componentes ou integrantes, a transferência sóse verifica no momento da colheita ou separação.

Assim sendo a doação não teria carácter real, apenas tão-somente obrigacional, pelasexpectativas que eventualmente foram criadas á contraparte.

b) - Em 1996, Amílcar, por documento particular, vendeu a referida antena aCarlos, permanecendo a mesma no telhado.Solução semelhante à anterior, com a diferença de que em vez da doação estaríamosperante a venda, sendo neste caso aplicável os art.s 408.º, n.º 2 (reproduzido supra)e 880.º, n.º 1

 Artigo 880.ºBens futuros, frutos pendentes e partes componentes ou integrantes1. Na venda de bens futuros, de frutos pendentes ou de partes componentes ou integrantes deuma coisa, o vendedor fica obrigado a exercer as diligências necessárias para que o comprador adquira os bens vendidos, segundo o que for estipulado ou resultar das circunstâncias do

contrato.…

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DIREITO REAIS 2º.ANO

c) - Em 1997, Amílcar vendeu por escritura pública, a referida casa a Duarte,que registou a sua aquisição.A casa foi vendida de acordo com o estipulado legalmente, art. 875.º, tendo poisrespeitado a forma e efectuado o registo posteriormente

 Artigo 875.ºFormaO contrato de compra e venda de bens imóveis só é válido se for celebrado por escritura

 pública.A transferência do direito real sobre a mesma dá-se então pelo mero efeito docontrato, nos termos do art. 408.º, n.º 1

 Artigo 408.ºContratos com eficácia real 1. A constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa determinada dá-se por meroefeito do contrato, salvas as excepções previstas na lei.…

São observados três princípios: o da publicidade, da consensualidade e da tipicidade.

d) - Em 1998, Duarte vendeu verbalmente a referida antena a Eugénio,

sendo a mesma retirada do local.E vendeu muito bem. Há transferência dos direitos reais, nos termos dos art.s 408.º,n.º 2 e 880.º, n.º 1 (já reproduzidos), e houve a correspondente entrega da antena,nos termos do art. 882.º

 Artigo 882.ºEntrega da coisa1. A coisa deve ser entregue no estado em que se encontrava ao tempo da venda....

e) - Em 1999, Amílcar vendeu a casa a Fernanda, por escritura pública, nãotendo esta registado a sua aquisição.Amílcar não tem legitimidade para vender a casa. Estamos perante a venda de bens

alheios, nos termos do art. 892.º Artigo 892.ºNulidade da vendaÉ nula a venda de bens alheios sempre que o vendedor careça de legitimidade para a realizar;mas o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador de boa fé, como não pode opô-la aovendedor de boa fé o comprador doloso.

f) - Em 2000, Amílcar constitui por escritura pública um usufruto sobre oprédio a favor de Guilherme.Ora Amílcar não pode onerar um bem que não é dele. Atente-se aos princípios daprevalência e ao da elasticidade.

Quem pode invocar, actualmente, a titularidade de direitos reais sobre oprédio?

 Justifique a resposta, analisando os co-implicados princípios constituintesde direitos reais.Certamente que será Duarte pelos motivos já mencionados na resposta da alínea c).Caso Prático IIIa) Paula vendeu a Estêvão, em 1960, por escritura pública, um terreno.Contudo, a compra não foi registada.Nos termos do art. 875.º

 Artigo 875.º

FormaO contrato de compra e venda de bens imóveis só é válido se for celebrado por escritura pública.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

A propriedade é transmitida nos temos do art. 408.º, n.º 1 Artigo 408.ºContratos com eficácia real 1. A constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa determinada dá-se por meroefeito do contrato, salvas as excepções previstas na lei.…

A venda é válida e o registo para este efeito não é relevante.

b) Estêvão faleceu, tendo sido seu filho, Fernando, que continuou a utilizaro dito terreno para fins agrícolas.Fernando adquire o terreno por efeito sucessório, o que lhe dá o direito de o usar.Não é aplicável o art. 291.º porque a sucessão não tem título oneroso.

 Artigo 291.ºInoponibilidade da nulidade e da anulação1. A declaração de nulidade ou a anulação do negócio jurídico que respeite a bens imóveis, ou amóveis sujeitos a registo, não prejudica os direitos adquiridos sobre os mesmos bens, a títulooneroso, por terceiro de boa fé, se o registo da aquisição for anterior ao registo da acção denulidade ou anulação ou ao registo do acordo entre as partes acerca da invalidade do negócio.…3. É considerado de boa fé o terceiro adquirente que no momento da aquisição desconhecia,

sem culpa, o vício do negócio nulo ou anulável.

c) Por sua vez, os herdeiros de Paula, alegando não ter tido conhecimentoda venda efectuada a Estêvão, registaram, aquando do falecimento dePaula, sobre o referido terreno, a sucessão mortis causa em seu favor.Nos termos do art. 4.º do Código do Registo Predial, os sucessores de Paula sãoherdeiros, visto este art. referir que não é considerado para efeitos de registo osherdeiros por mortis causa, o que confere o direito a Fernando.d) Desde 1994 que Fernando tem o terreno abandonado. No entanto só hojeterá ido conhecimento de que um dos filhos de Paula terá construído umimóvel de 5 pisos no terreno.Presume-se que á boa fé porque não sabiam da venda.E necessário saber qual o valor do terreno e qual o valor do imóvel construído paradepois saber qual o n.º do art. 1340.º a aplicar

 Artigo 1340.ºObras, sementeiras ou plantações feitas de boa fé em terreno alheio1. Se alguém, de boa fé, construir obra em terreno alheio, ou nele fizer sementeira ou plantação, e o valor que as obras, sementeiras ou plantações tiverem trazido à totalidade do prédio for maior do que o valor que este tinha antes, o autor da incorporação adquire a propriedade dele, pagando o valor que o prédio tinha antes das obras, sementeiras ou plantações.2. Se o valor acrescentado for igual, haverá licitação entre o antigo dono e o autor daincorporação, pela forma estabelecida no n.º 2 do artigo 1333.º.

3. Se o valor acrescentado for menor, as obras, sementeiras ou plantações pertencem ao donodo terreno, com obrigação de indemnizar o autor delas do valor que tinham ao tempo daincorporação.4. Entende-se que houve boa fé, se o autor da obra sementeira ou plantação desconhecia que oterreno era alheio, ou se foi autorizada a incorporação pelo dono do terreno.

Caso Prático IVa) Carlos, proprietário de um prédio sito em Felgueiras, construiu, emNovembro de 1970, a pouco menos de 30 cm da estrema do seu prédio, umavivenda composta de 4 pisos, tendo beneficiado, desde então, à vista detodos e sem qualquer oposição, das vistas magnificas que as janelas do seuprimeiro-andar e rés-do-chão proporcionavam.Não poderia construir nos termos do art. 1360.º…

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 Artigo 1360.º Abertura de janelas, portas, varandas e obras semelhantes1. O proprietário que no seu prédio levantar edifício ou outra construção não pode abrir nela janelas ou portas que deitem directamente sobre o prédio vizinho sem deixar entre este e cadauma das obras o intervalo de metro e meio.2. Igual restrição é aplicável às varandas, terraços, eirados ou obras semelhantes, quandosejam servidos de parapeitos de altura inferior a metro e meio em toda a sua extensão ou partedela.3. Se os dois prédios forem oblíquos entre si, a distância de metro e meio conta-se perpendicularmente do prédio para onde deitam as vistas até à construção ou edifícionovamente levantado; mas, se a obliquidade for além de quarenta e cinco graus, não temaplicação a restrição imposta ao proprietário.

… mas uma vez que o construído aplica-se o art. 1362.º Artigo 1362.ºServidão de vistas1. A existência de janelas, portas, varandas, terraços, eirados ou obras semelhantes, emcontravenção do disposto na lei, pode importar, nos termos gerais, a constituição da servidãode vistas por usucapião.2. Constituída a servidão de vistas, por usucapião ou outro título, ao proprietário vizinho só é permitido levantar edifício ou outra construção no seu prédio desde que deixe entre o novo

edifício ou construção e as obras mencionadas no n.º 1 o espaço mínimo de metro e meio,correspondente à extensão destas obras.

Em Maio de 2005, Camila, proprietária de um prédio contíguo ao de Carlos,recém chegada de Paris, onde esteve emigrada desde 1968, iniciou obras noseu prédio, fazendo erguer um muro, que tapou parte das vistas dasreferidas janelas.Carlos, aborrecido com a situação e sentindo-se fortemente prejudicado,recorreu ao Tribunal, pretendendo que lhe seja reconhecida uma servidãode vistas por usucapião e que Camila seja obrigada a demolir o muro.Quid iuris?

 Artigo 1547.ºPrincípios gerais1. As servidões prediais podem ser constituídas por contrato, testamento, usucapião oudestinação do pai de família.2. As servidões legais, na falta de constituição voluntária, podem ser constituídas por sentença judicial ou por decisão administrativa, conforme os casos. Artigo 1548.º

Constituição por usucapião1. As servidões não aparentes não podem ser constituídas por usucapião.2. Consideram-se não aparentes as servidões que não se revelam por sinais visíveis e permanentes.

O prazo do usucapião é o previsto no art. 1296.º Artigo 1296.ºFalta de registoNão havendo registo do título nem da mera posse, a usucapião só pode dar-se no termo dequinze anos, se a posse for de boa fé, e de vinte anos, se for de má fé.

Caso Prático n.º VMaria e Bernardo, condóminos de um prédio, intentaram uma acçãoordinária contra carolina, pedindo que esta fosse condenada a pagar-lhes aquantia de 20.000,00, acrescida de juros legais desde a citação, alegandoque os trabalhadores que realizavam obras numa fracção imobiliária depropriedade da segunda vinham danificando, fora da área de obras, uma

zona comum do prédio.Nos termos do art. 1420.º, n.º 1, cada condómino é proprietário exclusivo da suafracção e comproprietário das partes comuns do edifício.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

 Artigo 1420.ºDireitos dos condóminos1. Cada condómino é proprietário exclusivo da fracção que lhe pertence e comproprietário das partes comuns do edifício.…

De acordo com o previsto no art. 1403.º, existe compropriedade quando duas oumais partes são titulares do direito de propriedade sobre a mesma coisa, sendo que

os seus direitos são qualitativamente iguais e presumem-se quantitativamente iguais Artigo 1403.ºNoção1. Existe propriedade em comum, ou compropriedade, quando duas ou mais pessoas sãosimultaneamente titulares do direito de propriedade sobre a mesma coisa.2. Os direitos dos consortes ou comproprietários sobre a coisa comum são qualitativamenteiguais, embora possam ser quantitativamente diferentes; as quotas presumem-se, todavia,quantitativamente iguais na falta de indicação em contrário do título constitutivo.

Prevê o art. 1406.º, n.º1, quanto ao uso da coisa comum, que a qualquer doscomproprietários é lícito fazer uso dela, desde que não a empregue para fim diferentee não prive os outros consortes do mesmo uso.

 Artigo 1406.º

Uso da coisa comum1. Na falta de acordo sobre o uso da coisa comum, a qualquer dos comproprietários é lícitoservir-se dela, contanto que a não empregue para fim diferente daquele a que a coisa sedestina e não prive os outros consortes do uso a que igualmente tem direito.2. O uso da coisa comum por um dos comproprietários não constitui posse exclusiva ou possede quota superior à dele, salvo se tiver havido inversão do título.

Ora, havendo danos na coisa comum, tem que haver reparação por parte de quem osconstituiu, nos termos do art. 562.º, isto é, tem que haver em primeira ordemreintegração dos danos.

 Artigo 562.ºPrincípio geral Quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a situação que existiria, se não se

tivesse verificado o evento que obriga à reparação.Daqui resulta que Carolina tem efectivamente que reparar os danos na parte comum.No entanto, para demandar carolina, Maria e Bernardo não têm legitimidade, sendoque essa é atribuída a quem exerce o cargo de administrador, conforme decorre doart. 1437.º, n.º 1

 Artigo 1437.ºLegitimidade do administrador 1. O administrador tem legitimidade para agir em juízo, quer contra qualquer dos condóminos,quer contra terceiro, na execução das funções que lhe pertencem ou quando autorizado pelaassembleia.…

Caso Prático nº VIO condomínio do prédio sito na rua do Padeiro, na baixa de Coimbra,intentou, sem recorrer a deliberação em assembleia de condóminos, umaacção especial de prestação de contas, contra a empresa “Gesimóvel, Ld.a”alegando que esta exerceu as funções de administradora de condomínio doreferido imóvel até 20/04/1998, data em que foi notificada da exoneração docargo.Terminado o seu mandato, a referida empresa não apresentou contasrelativamente ao ano de 1998, para além de que as referentes a 1997 e1996, embora facultadas a alguns moradores, fora por estes, sem

recorrência a reunião geral de condóminos, desaprovadas. Acresce que areferida empresa não terá apresentado nem os livros, nem quaisquer outrosdocumentos alusivos ao seu exercício de administradora de condomínio.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Uma vez citada, a “Gesimóvel, L.da” alegou que prestou contas relativas aoano de 1996 e 1997, sendo certo que o facto de não terem sido aprovadasnão invalidaria a sua efectiva prestação. Quanto às de 1998, ainda nãoforam declaradas visto que o novo condomínio ainda não teria definido datapara tal.Nos termos do art. 1436.º, al. l), compete ao administrador do condomínio assegurar

a execução do regulamento e das disposições legais e administrativas relativasrelativas ao condomínio… Artigo 1436.ºFunções do administrador São funções do administrador, além de outras que lhe sejam atribuídas pela assembleia:…l) Assegurar a execução do regulamento e das disposições legais e administrativas relativas aocondomínio;…

… bem como, nos termos do art. 1437.º, n.º 1, para agir em juízo contra terceiros naexecução das funções que lhe pertençam.

 Artigo 1437.º

Legitimidade do administrador 1. O administrador tem legitimidade para agir em juízo, quer contra qualquer dos condóminos,quer contra terceiro, na execução das funções que lhe pertencem ou quando autorizado pelaassembleia.…

Ora, é o administrador - e não o condomínio - que pode intentar a acção,representando-o. Tal dispõe o art. 1436.º, al. i), que o administrador representa os condóminos peranteas autoridades administrativas.

 Artigo 1436.ºFunções do administrador São funções do administrador, além de outras que lhe sejam atribuídas pela assembleia:

…i) Representar o conjunto dos condóminos perante as autoridades administrativas;…

No que se refere à deliberação da assembleia de condóminos, esta seriadesnecessária, já que aquela reúne apenas para discussão e apreciação das contas eorçamento, conforme prevê o art. 1431º, n.º 1

 Artigo 1431.º Assembleia dos condóminos1. A assembleia reúne-se na primeira quinzena de Janeiro, mediante convocação doadministrador, para discussão e aprovação das contas respeitantes ao último ano e aprovaçãodo orçamento das despesas a efectuar durante o ano.…

Relativamente ao ano de 1998 aquela empresa não exerceu funções, mas tinhaobrigação de manter e guardar os documentos e entregá-los a quem passasse aexercer aquelas funções, conforme resulta da conjugação dos art.s 1436, al. m) e1435.º-A, n.º 3

 Artigo 1436.ºFunções do administrador São funções do administrador, além de outras que lhe sejam atribuídas pela assembleia:…m) Guardar e manter todos os documentos que digam respeito ao condomínio.

 Artigo 1435.ºA Administrador provisório…

3. Logo que seja eleito ou judicialmente nomeado um administrador, o condómino que nostermos do presente artigo se encontre provido na administração cessa funções, devendoentregar àquele todos os documentos respeitantes ao condomínio que estejam confiados à suaguarda.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Pelo que só após a nomeação do novo administrador é que podem requerer aprestação de contas.No que se refere aos anos de 1996 e 1997, há causa de pedir, já que conforme atrásreferimos, as contas têm que ser aprovadas em assembleia de condóminos.

Caso prático VII

Diga se o titular de uma fracção autónoma de um edifício em propriedadehorizontal pode fazer cada uma das seguintes obras sem aprovação pelosoutros condóminos:

a) numa fracção do R/C destinada a comércio, aumentar a dimensão damontra;

De acordo com o previsto no art. 1422.º, n.º 2, al. a)… Artigo 1422.ºLimitações ao exercício dos direitos…2. É especialmente vedado aos condóminos:a) Prejudicar, quer com obras novas, quer por falta de reparação, a segurança, a linhaarquitectónica ou o arranjo estético do edifício;

… é proibido aos condóminos prejudicar o arranjo estético do edifício, bem como, nostermos do art. 1425.º, n.º 1, as obras que constituam inovação dependem daaprovação da maioria dos condóminos…

 Artigo 1425.ºInovações1. As obras que constituam inovações dependem da aprovação da maioria dos condóminos,devendo essa maioria representar dois terços do valor total do prédio.…

… devendo essa maioria representar 2/3 do valor total do prédio.Deste modo, não poderia um condómino, sem a autorização dos restantes, aumentara dimensão da montra.

b) instalar equipamento de ar condicionado, furando a parede exterior;As paredes exteriores são partes comuns, de acordo com o art. 1421.º, n.º 1, al. a)…

 Artigo 1421.ºPartes comuns do prédio1. São comuns as seguintes partes do edifício:a) O solo, bem como os alicerces, colunas, pilares, paredes mestras e todas as partes restantesque constituem a estrutura do prédio;…

… cuja administração compete à assembleia de condóminos.Conjugados os art.s 1422.º, n.º 2, al. a) e o 1425.º…

 Artigo 1422.ºLimitações ao exercício dos direitos…2. É especialmente vedado aos condóminos:a) Prejudicar, quer com obras novas, quer por falta de reparação, a segurança, a linhaarquitectónica ou o arranjo estético do edifício;…

 Artigo 1425.ºInovações1. As obras que constituam inovações dependem da aprovação da maioria dos condóminos,devendo essa maioria representar dois terços do valor total do prédio.2. Nas partes comuns do edifício não são permitidas inovações capazes de prejudicar autilização, por parte de algum dos condóminos, tanto das coisas próprias como das comuns.

…não poderia um condómino instalar o aparelho de ar condicionado, furando aparede exterior, sem autorização dos restantes condóminos.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

c) instalar equipamento de ar condicionado sem furar a parede exterior,mas colocando o compressor encostado a tal parede, bem visível;

A instalação de ar condicionado sem furar a parede mas com o compressor encostadoa ela, põe em causa a estética, pelo que nos mesmos termos supra explicados, nãopoderia ser colocado, novamente sem autorização dos restantes condóminos.

d) fechar uma varanda com materiais amovíveis; Tal como já foi explicado, o fecho de uma varanda, independentemente de ser feitocom materiais amovíveis ou não, modifica a linha arquitectónica do edifício, pelo quenão poderia ser feito, excepto se obtivesse autorização dos co-condóminos.

e) colocar uma placa numa parede exterior, publicitando que na fracçãoem causa está instalado um consultório médico;

O art. 1422.º, n.º 2, al. c) veda aos condóminos a prática de actividades proibidaspelo título constitutivo...

 Artigo 1422.ºLimitações ao exercício dos direitos…2. É especialmente vedado aos condóminos:…d) Praticar quaisquer actos ou actividades que tenham sido proibidos no título constitutivo ou, posteriormente, por deliberação da assembleia de condóminos aprovada sem oposição.…

… o qual pode ser modificado por escritura pública, desde que todos os condóminosconcordem, conforme decorre do art. 1419, n.º 1.

 Artigo 1419.ºModificação do título1. Sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo 1422.º-A, o título constitutivo da propriedadehorizontal pode ser modificado por escritura pública, havendo acordo de todos os condóminos.…

 Artigo 1422.º-A Junção e divisão de fracções autónomas…3. Não é permitida a divisão de fracções em novas fracções autónomas, salvoautorização do título constitutivo ou da assembleia de condóminos, aprovada semqualquer oposição.…

O título constitutivo deve conter a menção do fim a que se destina cada fracção. Ora,se à referida fracção se destinasse ao uso de consultório médico, então poderia serutilizado para tal fim, caso contrário não poderia ser utilizado para fim diferente, atéque fosse alterado o título constitutivo.

f) alterar as paredes divisórias (interiores) da fracção em causa.

Caso prático VIIICom autorização paterna, B construiu uma casa de habitação num prédiorústico de seu pai, A. Por morte deste último, os seus outros filhos, C e D,pretendem que o prédio, incluindo a casa, seja integralmente consideradocomo fazendo parte da herança, sustentando B que, pelo contrário, a casaque edificou bem como todo o prédio em que a mesma está implantada sãosua propriedade, por força do art. 1340.º

 Artigo 1340.ºObras, sementeiras ou plantações feitas de boa fé em terreno alheio1. Se alguém, de boa fé, construir obra em terreno alheio, ou nele fizer sementeiraou plantação, e o valor que as obras, sementeiras ou plantações tiverem trazido àtotalidade do prédio for maior do que o valor que este tinha antes, o autor da

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DIREITO REAIS 2º.ANO

incorporação adquire a propriedade dele, pagando o valor que o prédio tinha antesdas obras, sementeiras ou plantações.2. Se o valor acrescentado for igual, haverá licitação entre o antigo dono e o autor daincorporação, pela forma estabelecida no n.º 2 do artigo 1333.º.3. Se o valor acrescentado for menor, as obras, sementeiras ou plantações

 pertencem ao dono do terreno, com obrigação de indemnizar o autor delas do valor que tinham ao tempo da incorporação.4. Entende-se que houve boa fé, se o autor da obra sementeira ou plantaçãodesconhecia que o terreno era alheio, ou se foi autorizada a incorporação pelo donodo terreno.

Sabendo que o valor da edificação é maior do que todo o prédio tinha antesda obra, diga se se aplica o invocado artigo.Indique ainda (ainda que conclua pela negativa) se, em caso afirmativo:

a) o objecto de aquisição por B é todo o prédio ou só o terreno na qual acasa foi edificada;

Nesta situação configura-se a acessão imobiliária, isto é, a junção de um bemimobiliário a outro que não é do mesmo proprietário.B juntou uma habitação a um prédio rústico. O regime da acessão imobiliária está

previsto no art. 1339.º e ss.De acordo com o art. 1340.º, n.º 1, aquele que de boa fé construí obras em terrenoalheio e se o valor daquela for maior que o do terreno, o autor da incorporaçãoadquire a propriedade pelo valor que tinha antes das obras.

 Artigo 1340.ºObras, sementeiras ou plantações feitas de boa fé em terreno alheio1. Se alguém, de boa fé, construir obra em terreno alheio, ou nele fizer sementeira ou plantação, e o valor que as obras, sementeiras ou plantações tiverem trazido à totalidade do prédio for maior do que o valor que este tinha antes, o autor da incorporação adquire a propriedade dele, pagando o valor que o prédio tinha antes das obras, sementeiras ou plantações.…

Nos termos do n.º 4 do mesmo artigo é boa-fé se a obra foi autorizada pelo dono doterreno.

 Artigo 1340.ºObras, sementeiras ou plantações feitas de boa fé em terreno alheio…4. Entende-se que houve boa fé, se o autor da obra sementeira ou plantação desconhecia que oterreno era alheio, ou se foi autorizada a incorporação pelo dono do terreno.

Neste caso o objecto de aquisição por B é só o terreno onde a casa foi construída.

 b) a aquisição por B é automática ou depende de declaração sua.A aquisição do terreno por parte de B depende de declaração, não sendo por isso

automática, já que B tem que pagar o preço do terreno e isso implica a declaração deaceitação.

Caso prático IXA vendeu a B a sua propriedade do prédio X, e a C o usufruto sobre omesmo prédio. Antes de estar registada a favor de B a sua propriedade,mas depois de estar registada a favor de C o usufruto, D fez registar sobre oprédio em causa uma penhora feita no âmbito de uma execução que movecontra A.Se o prédio vier a ser vendido em tal processo judicial, poderão B e C oporao adquirente os direitos que compraram a A?O registo não é constitutivo de direitos. No entanto torna o registo eficaz contraterceiros e como tal oponível a eles, conforme resulta da conjugação dos art.s 5.º e6.º do CodRegPredial.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

B não cumpriu a obrigação de registar o imóvel em seu nome, não tendo tornado asua aquisição eficaz. Apesar do negócio ter produzido efeitos interpartes, não ficou odireito consolidado.B nada pode fazer quanto à penhora porque ela ocorreu antes do registo. A únicacoisa que B pode fazer se o prédio for vendido em acção judicial, é ser ressarcido oureembolsado por A.

No que se refere a C, o seu direito de usufruto é inoponível porque foi registado, peloque poderá opor o seu direito ao novo adquirente.

Caso prático XO banco B, S.A., tinha registada a seu favor uma hipoteca sobre um certoprédio de que B era proprietário. Após ter obtido o cancelamento do registoda hipoteca com base num documento falso pelo qual o banco renunciava àhipoteca, A vendeu o mesmo prédio a C (que ignorava a falsificação).Sabendo que C registou a aquisição, diga se o banco pode fazer reverter ocancelamento da hipoteca e fazer valer esta contra C.De acordo com o art. 687.º…

 Artigo 687.ºRegisto A hipoteca deve ser registada, sob pena de não produzir efeitos, mesmo em relação às partes.

… sendo que nos termos do art. 730.º, al. a)…

 Artigo 730.ºCausas de extinção A hipoteca extingue-se:…d) Pela renúncia do credor.

A renúncia do credor à hipoteca deve ser expressa e exarada em documentoautenticado conforme prevê o art. 731.º, n.º 1

 Artigo 731.ºRenúncia à hipoteca1. A renúncia à hipoteca deve ser expressa e exarada em documento autenticado, nãocarecendo de aceitação do devedor ou do autor da hipoteca para produzir os seus efeitos.…

Ora, a hipoteca do caso em concreto foi registada conforme o exigido e extinguiu-sepor renúncia do Banco, apesar do documento ser falso.No entanto, decorre do art. 16.º, al. a), do CódRegPredial que o registo é nulo quandofor falso ou tiver sido lavrado com base em títulos falsos. A nulidade do registo sópode ser invocada depois de declarada por decisão judicial, transitada em julgado.,nos termos do art. 17.º, n.º 1, do referido Código, a qual não prejudica os direitos

adquiridos a título oneroso por terceiros de boa fé.A hipoteca transmitia-se a C porque o registo da sua extinção era nulo. No entanto Cteria depois que alegar a inoponibilidade da nulidade do registo aos seus direitos.

Caso prático XIA comprou a B uma fracção autónoma num edifício em propriedadehorizontal.B não pagou a contribuição autárquica relativa aos 4 anos imediatamenteanteriores à venda, o condomínio relativo aos dois anos anteriores, bemcomo o preço de um serviço de reparações efectuado.Diga se A está obrigado a pagar algumas das dívidas contraídas por B e se a

fracção autónoma responde por algumas delas

Caso prático XII56

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DIREITO REAIS 2º.ANO

António era usufrutuário de um prédio urbano. Em 1998 emprestou o ditoprédio a Bernardo. Em 2000, alienou o seu direito a Catarina.

a) Tendo por base que Catarina faleceu em 2002 e António em 2003, quedireitos incidem hoje sobre o referido prédio urbano?

Decorre do art. 1444.º que… Artigo 1444.ºTrespasse a terceiro1. O usufrutuário pode trespassar a outrem o seu direito

 

, definitiva ou temporariamente, bemcomo onerá-lo, salvas as restrições impostas pelo título constitutivo ou pela lei.…

… sendo deste modo trespasse a terceiro o negócio celebrado entre António eCatarina. O usufruto extingue-se com a morte do usufrutuário e não pode exceder avida do usufrutuário, conforme resulta da conjugação dos art.s 1443.º e 1476.º, al. a)…

 Artigo 1443.ºDuração

Sem prejuízo do disposto nos artigos anteriores, o usufruto não pode exceder a vida dousufrutuário

 

; sendo constituído a favor de uma pessoa colectiva, de direito público ou privado, a

sua duração máxima é de trinta anos. Artigo 1476.ºCausas de extinção1. O usufruto extingue-se:a) Por morte do usufrutuário, ou chegado o termo do prazo por que o direito foi conferido,quando não seja vitalício;…

 Tendo falecido o primeiro usufrutuário, bem como o segundo, todos os direitos sobreo imóvel voltam à esfera jurídica do proprietário, passando este a ter propriedadeplena do prédio; uso, gozo e fruição.

 b) Imagine agora que o usufruto constituído a favor de António o foi até

Daniel, filho deste, perfazer 25 anos de idade. Entretanto Daniel, com19 anos, morre vítima de acidente de viação. Quid iuris?De acordo com o art. 1477.º…

 Artigo 1477.ºUsufruto até certa idade de terceira pessoaO usufruto concedido a alguém até certa idade de terceira pessoa durará pelos anos prefixos,ainda que o terceiro faleça antes da idade referida, excepto se o usufruto tiver sido concedidosó em atenção à existência de tal pessoa.

Ora, o usufruto constituído a favor de António, durará até ao tempo em que Danielfaria 25 anos, apesar de ter falecido antes, excepto se o usufruto foi concedido a este.

c) Entretanto o proprietário de raiz resolveu fazer obras de ampliaçãonaquele prédio, construindo uma garagem onde pretende guardar umcarro antigo de que é proprietário. Quid iuris?

O usufrutuário é obrigado a consentir ao proprietário quaisquer obras oumelhoramentos, conforme resulta do art. 1471.º, n.º 1…

 Artigo 1471.ºObras e melhoramentos1. O usufrutuário é obrigado a consentir ao proprietário quaisquer obras ou melhoramentos deque seja susceptível a coisa usufruída, e também quaisquer novas plantações, se o usufrutorecair em prédios rústicos, contanto que dos actos do proprietário não resulte diminuição dovalor do usufruto.2. Das obras ou melhoramentos realizados tem o usufrutuário direito ao usufruto, sem ser obrigado a pagar juros das somas desembolsadas pelo proprietário ou qualquer outraindemnização; no caso, porém, de as obras ou melhoramentos aumentarem o rendimentolíquido da coisa usufruída, o aumento pertence ao proprietário.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

O usufrutuário tem direito ao usufruto dessas obras ou melhoramentos realizados,conforme resulta do n.º 2.O usufruto abrange assim as coisas acrescidas e todos os direitos inerentes à coisa,de acordo com o art. 1449.º

 Artigo 1449.º Âmbito do usufrutoO usufruto abrange as coisas acrescidas e todos os direitos inerentes à coisa usufruída.

Assim, o proprietário poderia construir a garagem no dito prédio dado a usufruto, noentanto não poderia usufruir do mesmo, cabendo esse direito a António.

d) Depois de um ano de chuvas fortes e granizo, o telhado do prédiodeteriorou-se gravemente, sendo necessário proceder à sua reparaçãourgente. O proprietário de raiz recusou-se a fazer essas obras,alegando que não beneficiaria delas. Quid iuris?

As reparações extraordinárias competem ao proprietário da raiz, conforme resulta doart. 1473.º, n.º 1, 1.ª parte.Do n.º 2 do mesmo artigo, resulta que se depois de avisado não as efectuar, o

usufrutuário pode fazê-la a expensas próprias e exigir a importância dispendida doproprietário Artigo 1473.ºReparações extraordinárias1. Quanto às reparações extraordinárias, só incumbe ao usufrutuário avisar em tempo o proprietário, para que este, querendo, as mande fazer; se, porém, elas se tiverem tornadonecessárias por má administração do usufrutuário, é aplicável o disposto no artigo anterior.2. Se o proprietário, depois de avisado, não fizer as reparações extraordinárias, e estas foremde utilidade real, pode o usufrutuário fazê-las a expensas suas e exigir a importânciadespendida, ou o pagamento do valor que tiverem no fim do usufruto, se este valor for inferior ao custo.…

Caso prático XIIIAnacleto deu o usufruto da colheita de maçãs do seu pomar a Bernardinopor 6 meses. Este deu essas maçãs a troco de 200,00 €, que posteriormentegastou na reparação do seu automóvel.

a) Decorridos 6 meses, Anacleto dirigiu-se a Bernardino e pediu-lhe arestituição daquelas maçãs. Quid iuris?

De acordo com o previsto no art. 1451.º, n.º 1… Artigo 1451.ºUsufruto de coisas consumíveis1. Quando o usufruto tiver por objecto coisas consumíveis, pode o usufrutuário servir-se delas

ou aliená-las, mas é obrigado a restituir o seu valor, findo o usufruto, no caso de as coisasterem sido estimadas; se o não foram, a restituição será feita pela entrega de outras do mesmogénero, qualidade ou quantidade, ou do valor destas na conjuntura em que findar o usufruto.…

Quando o usufruto tenha por objecto coisas consumíveis, pode o usufrutuário servir-se delas ou aliená-las, tendo no entanto que restituir o valor.Bernardino poderia alienar as maçãs, não tendo que as devolver a Anacleto, noentanto teria que restituir o valor da alienação.

b) Imagine agora que em vez de as ter vendido, Bernardino, numa ida aPamplona na tradicional festa daquela cidade, não lhe tendo sido

disponibilizados os tradicionais tomates, fez uso das maçãs para asarremessar aos restantes presentes naquela festa. Que meios temAnacleto ao seu dispor?

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DIREITO REAIS 2º.ANO

O usufrutuário deve usar a coisa ou o direito como o faria um bom pai de família,conforme regulado pelo disposto no art. 1446.º…

 Artigo 1446.ºUso, fruição e administração da coisa ou do direitoO usufrutuário pode usar, fruir e administrar a coisa ou o direito como faria um bom pai defamília, respeitando o seu destino económico.

O usufruto não se extingue, ainda que o usufrutuário faça mau uso da coisa, de

acordo com o art. 1482.º Artigo 1482.ºMau uso por parte do usufrutuárioO usufruto não se extingue, ainda que o usufrutuário faça mau uso da coisa usufruída; mas, seo abuso se tornar consideravelmente prejudicial ao proprietário, pode este exigir que a coisa lheseja entregue, ou que se tomem as providências previstas no artigo 1470.º, obrigando-se, no primeiro caso, a pagar anualmente ao usufrutuário o produto líquido dela, depois de deduzidasas despesas e o prémio que pela sua administração lhe for arbitrado.

Deste modo, o usufruto não se extinguiu, não obstante a atitude de Bernardino.

Caso prático XIVAmílcar cedeu a Belarmino o seu andar no Porto para que este pudesse láhabitar com a sua família, uma vez que este tinha sido recentementedespedido.

a) Entretanto o filho de Belarmino jogou no Euromilhões e foi sorteadocom um prémio de 500.000.000,00 €. Amílcar pediu-lhe a restituiçãodo andar, o que é recusado por Belarmino que o queria utilizar para láhospedar o motorista que entretanto havia contratado. Quid iuris?

 b) Imagine agora que Belarmino opta por alienar o seu direito. Quid iuris?

Caso prático XV

Carlos, proprietário de um prédio sito em Felgueiras, autorizou Daniel aconstruir nesse prédio uma vivenda, tendo, para tanto, concedido-lheonerosamente o direito de superfície nesse prédio pelo prazo de 40 anos.

a) Ao construir a vivenda, Daniel ocupou uma área de terreno superior àárea de implantação da vivenda, justificando esse facto com anecessidade dos alicerces da vivenda carecerem desse espaço. Quidiuris?

De acordo com o previsto no art. 1525.º, n.º 1… Artigo 1525.ºObjecto1. Tendo por objecto a construção de uma obra, o direito de superfície pode abranger uma

 parte do solo não necessária à sua implantação, desde que ela tenha utilidade para o uso daobra.2. O direito de superfície pode ter por objecto a construção ou a manutenção de obra sob soloalheio.

Os alicerces são imprescindíveis para a construção da obra, a vivenda.O negócio celebrado teve por base o direito de superfície que, nos termos do art.1524.º

 Artigo1524.ºNoçãoO direito de superfície consiste na faculdade de construir ou manter, perpétua outemporariamente, uma obra em terreno alheio, ou de nele fazer ou manter plantações.

b) Decorridos 15 anos sobre a constituição do direito de superfície, Danielainda não tinha iniciado a construção da vivenda. Quid iuris?De acordo com o art. 1536.º, n.º1, al. a)…

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DIREITO REAIS 2º.ANO

 Artigo 1536.ºCasos de extinção1. O direito de superfície extingue-se:a) Se o superficiário não concluir a obra ou não fizer a plantação dentro do prazo fixado ou, nafalta de fixação, dentro do prazo de dez anos;…3. À extinção do direito de superfície, nos casos previstos nas alíneas a) e b) do n.º 1, sãoaplicáveis as regras da prescrição.

Não tendo Daniel concluído, ou sequer iniciado, a construção da vivenda, o seu direitode superfície extinguiu-se.

c) Entretanto Daniel resolve alienar aquele direito a Eduardo. Carlos,indignado, contesta essa alienação. Que terá Carlos alegado?

O direito de superfície é transmissível, conforme decorre do art. 1534.º… Artigo 1534.ºTransmissibilidade dos direitosO direito de superfície e o direito de propriedade do solo são transmissíveis por acto entre vivosou por morte.

… tendo o proprietário direito de preferência sobre essa alienação, nos termos do art.

1535.º Artigo 1535.ºDireito de preferência1. O proprietário do solo goza do direito de preferência, em último lugar, na venda ou dação emcumprimento do direito de superfície; sendo, porém, enfitêutico o prédio incorporado no solo, prevalece o direito de preferência do proprietário.2. É aplicável ao direito de preferência o disposto nos artigos 416.º a 418.º e 1410.º

Assim, Daniel poderia transmitir o seu direito a Eduardo desde que Carlos tivesserenunciado ao seu direito de preferência, motivo que poderia ser utilizado então porCarlos para contestar a alienação

d) Que direitos assistem a Daniel ou aos seus sucessores no decurso do

prazo de 40 anos, fixado para o direito de superfície?Decorre do art. 1538.º… Artigo 1538.ºExtinção pelo decurso do prazo1. Sendo o direito de superfície constituído por certo tempo, o proprietário do solo, logo queexpire o prazo, adquire a propriedade da obra ou das árvores.2. Salvo estipulação em contrário, o superficiário tem, nesse caso, direito a uma indemnização,calculada segundo as regras do enriquecimento sem causa.3. Não havendo lugar à indemnização, o superficiário responde pelas deteriorações da obra oudas plantações, quando haja culpa da sua parte.

… que logo que o prazo expire, o proprietário adquire a propriedade da obra, tendonesse caso o superficiário direito a uma indemnização, calculada segundo as regras

do enriquecimento sem causa.Assim, Daniel teria direito a receber uma indemnização nesses termos, findo o prazoestipulado.

Caso Prático XVICarmo e Branca são proprietárias de imóveis contíguos, sitos em Cascais. Oprédio da primeira mantém do segundo uma distância de 40 cm, sendo queambos têm comunicação com a via de comunicação principal que serveaquela cidade.Entretanto, Daniel procedeu à venda a Carmo de outro imóvel contíguo aodela e, consequentemente, ao de Branca, que não tinha nem abertura para

a referida estrada, nem para qualquer outra, pelo que, para poder sair-sedele, ter-se-ia que utilizar o prédio de Branca.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

a) Tendo por base que o referido direito de passagem foi conferido a Danielpor Eduardo, anterior proprietário do prédio (que hoje pertence a Branca),qual o seu valor e que efeitos implica?De acordo com o art. 1543.º…

 Artigo 1543.ºNoçãoServidão predial é o encargo imposto num prédio em proveito exclusivo de outro prédio

 pertencente a dono diferente; diz-se serviente o prédio sujeito à servidão e dominante o quedela beneficia.

A servidão deste caso em concreto é a da servidão legal de passagem, que nostermos do art. 1550.º, n.º 1 é a faculdade de …

 Artigo 1550.ºServidão em benefício de prédio encravado1. Os proprietários de prédios que não tenham comunicação com a via pública, nem condiçõesque permitam estabelece-la sem excessivo incómodo ou dispêndio, tem a faculdade de exigir aconstituição de servidões de passagem sobre os prédios rústicos vizinhos.…

Esta servidão é positiva porque permite ao seu titular praticar algo q é aparenteporque tem sinais externos. No termos do art. 5.º, n.º 2, al. b) do CódRegPredial, asservidões aparentes não dependem de registo para produzirem efeitos contraterceiros.

b) A servidão de passagem de Daniel continuará a beneficiar Carmo após oprimeiro lhe ter vendido o terreno?De acordo com o previsto no art. 1545.º, n.º 1…

 Artigo 1545.ºInseparabilidade das servidões1. Salvas as excepções previstas na lei, as servidões não podem ser separadas dos prédios aque pertencem, activa ou passivamente.…

… e só se extinguem nos casos previstos na lei.Ora a venda, não é causa de extinção, pelo que o novo titular do terreno, continuaráa beneficiar da servidão que foi constituída a favor do terreno adquirido a Daniel.

c) Que providências poderá tomar Carmo se o telhado do seu novo imóvelpassar a verter sobre o de Branca a água resultante das chuvas)Nos termos do art. 1365.º…

 Artigo 1365.ºEstilicídio1. O proprietário deve edificar de modo que a beira do telhado ou outra cobertura não gotejesobre o prédio vizinho, deixando um intervalo mínimo de cinco decímetros entre o prédio e abeira

 

, se de outro modo não puder evitá-lo.…

Branca não cumpriu os 50 cm de distância. Se eventualmente tiver servidão deestilicídio, Carmo deverá tomar as providências adequadas para o escoamento daságuas se fazer sobre o seu prédio.

Caso prático XVIICarlos, proprietário de um prédio sito em Felgueiras, construiu emNovembro de 1970, a pouco menos de 30 cm da estrema do seu prédio, umavivenda composta por 4 pisos, tendo beneficiado desde então, à vista detodos e sem qualquer oposição, das magníficas vistas que as janelas do seu

primeiro andar e rés do chão proporcionavam.Em Maio de 2005, Camila, proprietária do prédio contíguo ao de Carlos erecém chegada de paris, onde esteve imigrada desde 1968, iniciou obras no

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DIREITO REAIS 2º.ANO

seu prédio, fazendo erguer um muro que tapou parte das vistas dasreferidas janelas.Carlos, aborrecido com a situação e sentindo-se fortemente prejudicado,recorreu a tribunal, pretendendo que lhe seja reconhecida uma servidão devistas por usucapião e que Camila seja obrigada a demolir o muro.Decorre do art. 1360, n.º 1 que…

 Artigo 1360.º Abertura de janelas, portas, varandas e obras semelhantes1. O proprietário que no seu prédio levantar edifício ou outra construção não pode abrir nela janelas ou portas que deitem directamente sobre o prédio vizinho sem deixar entre este e cadauma das obras o intervalo de metro e meio.…

Carlos não cumpriu esta regra já que a distancia deixada foi apenas de 30 cm.No entanto e nos termos do art. 1362.º, n.º 1…

 Artigo 1362.ºServidão de vistas1. A existência de janelas, portas, varandas, terraços, eirados ou obras semelhantes, emcontravenção do disposto na lei, pode importar, nos termos gerais, a constituição da servidãode vistas por usucapião.

… a violação daquelas normas pode constituir a servidão de vistas por usucapião,sendo que este se constitui pelo decurso de 10 ou 15 anos, consoante o caso.Decorreram 35 anos desde que Carlos tem aquelas vistas, pelo que estará constituídaa servidão.Deste modo Camilo só pode construir se deixar 1,5 m de distância ao prédio deCarlos. Tudo depende do local onde Camilo construiu o muro.A servidão em causa é a de conteúdo negativo porque impede a construção emdeterminadas circunstâncias.

Caso prático XVIII

Bernardo intentou contra a CivilPrédios, S. A. uma acção invocando asrecentes obras efectuadas pela segunda, tendentes a reabilitar uma fracçãonum prédio de sua propriedade e adjacente ao prédio de Bernardo,dificultando a utilização deste último da respectiva servidão de passagemque dava acesso às suas garagens e que era beneficiada por ele, desde ocontrato realizado com o anterior proprietário, datado de 1976 e que haviasido registada em 1998.De facto, a servidão de passagem consubstanciada numa rampa e ponte deacesso ao prédio de Bernardo passou, em função das obras, a ser feita poruma área diferente, vindo depois a ligar à original, embora neste processose houvessem perdido alguns centímetros de largura de estrada, que

passou de 10 m para 9,5 m.Na respectiva acção, bernardo pretende que a CivilPrédio, S. A. sejaobrigada a:a) remover, demolindo, todos os pilares, placas e betão armado relativos àobra e que, actualmente, limitam a entrada na ponte, deixando apenasdisponíveis 9,5 m de largurab) construir nova ponte em betão pré-esforçado de 10 m em toda a sualargura e com resistência necessária para suportar cargas de veículospesados, de modo a restabelecer a servidão de passagem.c) pagar a Bernardo os prejuízos que o mesmo sofra durante todo o tempo

em que a servidão de passagem de 10 m de comprimento não estejarestabelecida.Alega ainda que:

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DIREITO REAIS 2º.ANO

- se encontra constituída uma servidão de passagem a favor do seu imóvelsobre o do CivilPrédios, localizada ao longo da vertente sul do prédio daempresa, de 10 m, delimitada, vincadamente, no terreno, registada em1998 e objecto de contrato em 1976 com um anterior proprietário;- no contrato constava que a servidão havia sido criada com 10 m delargura, ao longo da parte sul do prédio serviente, sendo que a área de

passagem foi calcetada pelo próprio com pedras de mármore da Tailândiahá já largos anos e estava delimitada no terreno, pelo lado sul, por umaparede, em estilo arcaico-romano, em toda a largura dos 10 m;- a ré apenas deixou livre uma placa em betão com 9,5 m de comprimento,diminuindo o gozo da servidão acima referida, na medida em que o próprionão poderia dispor do seu prédio como o fazia antes, designadamente noque toca à circulação de veículos com grande tonelagem de peso, queficavam estacionados nas suas garagens, circunstância que vemacarretando enormes prejuízos;- desconhecia o que iria ser construído e que sempre informou a ré daexistência da servidão e das suas características, o que ela não terá

respeitado.Na contestação, a CivilPrédios, S. A., alegou que:- Apenas tiha conhecimento da existência de uma servidão de passagem qupemitia o acesso a veículos ligeiros e pessoas ao prédio de Bernanrdo;- A aquisição do seu imóvel deu-se em 1997 e é assim anterior ao registo daservidão de passagem (1998) e as obras em causa foram objecto deaprovação pelos poderes administrativos locais, respeitando todos osplanos directores, e constantes de acordo entre si e o anterior proprietário;- Bernardo terá acompanhado a evolução de toda a obra e jamais teráhavido qualquer manifestação da sua parte de desacordo com o que ia

sendo construído;- Que Bernardo age de má-fé e com abuso de direito, sobretudo porque jánem usa a garagem do dito prédio.Quid iuris?De acordo com o art. 1543.º…  Artigo 1543.º

NoçãoServidão predial é o encargo imposto num prédio em proveito exclusivo de outro prédio pertencente a dono diferente

 

; diz-se serviente o prédio sujeito à servidão e dominante o quedela beneficia.… e nos termos do art. 1547.º, n.º 1…

 Artigo 1547.ºPrincípios gerais

1. As servidões prediais podem ser constituídas por contrato, testamento, usucapião oudestinação do pai de família.…

No caso em apreço, há uma servidão voluntária, outorgada por contrato a favor deBernardo.É também uma servidão positiva que lhe permite a prática de determinado factopositivo – a passagem – e também aparente porque tem vestígios externos.Decorre do art. 2.º, n.º 1, al. a) do CódRegPredial que a servidão é um facto sujeito aregisto, sendo que nos termos do art. 5.º, n.º 1 do mesmo código, os factos sujeitos aregisto só produzem efeitos contra terceiros depois da data do registo ocorrer.No entanto a alínea b), n.º 2 do mesmo art., refere que isso não se aplica às servidões

aparentes, produzindo deste modo efeitos contra terceiro.A CivilPrédio, S. A. é um terceiro para este efeito, já que o contrato foi celebradoentre Bernardo e o anterior proprietário.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

Decorre do art. 1568.º, n.º 1 que…

 Artigo 1568.ºMudança de servidão1. O proprietário do prédio serviente não pode estorvar o uso da servidão, mas pode, a todo otempo, exigir a mudança dela para sítio diferente do primitivamente assinado, ou para outro prédio, se a mudança lhe for conveniente e não prejudicar os interesses do proprietário do

 prédio dominante, contanto que a faça à sua custa

 

; com o consentimento de terceiro pode aservidão ser mudada para o prédio deste.…

Se for entendimento que a mudança da servidão não prejudica Bernardo, então elapoderá fazer-se, caso contrário não.Não parece no entanto razoável que 50 cm possam fazer a diferença na passagem decamiões e tendo em conta que a ponte está a ser feita em betão, será resistente osuficiente para a passagem daqueles veículos.Quanto ao argumento da CivilPrédio, S. A., relativamente ao facto de Bernardo estar aexercer o seu direito excedendo os limites da boa-fé, parece exagerado; é claro que aservidão deve ser utilizada para o fim que foi destinada, mas não parece que pelo

facto de pretender a servidão tal qual foi constituída, seja abuso de direito.No que se refere ao facto de Bernardo não usar a servidão, tudo depende do prazo donão-uso; se for um prazo de 20 anos, extingue-se a servidão conforme decorre do art.1569.º, n.º 1, al. b)…

 Artigo 1569.ºCasos de extinção1. As servidões extinguem-se:…b) Pelo não uso durante vinte anos

 

, qualquer que seja o motivo;…

Se o for por prazo inferior a 20 anos, a servidão mantém-se.Apesar destas questões, Bernardo não tem razão já que a servidão vai manter-se e,

apesar dos 50 cm em que foi diminuída a servidão, não irá impedir que continuem apassar os camiões conforme necessita.

Caso prático XIXAnabela e Bernardo, pais de carolina, proprietários de um prédio sito emVimioso, procederam à venda do mesmo, em partes indivisas, à CâmaraMunicipal de Bragança que, por sua vez, efectuou o loteamento à empresaRochacivil, S. A.Após a venda, Anabela e Bernardo continuaram a ocupar o prédio mas comomeros detentores e não possuidores, não tendo havido inversão do título de

posse.Com o falecimento dos pais, carolina vem arrogar-se como legítimaproprietária do prédio, alegando que os primeiros sempre ocuparam oterreno como sendo seu.Refira-se ainda que todos os actos foram contemplados com as exigênciaslegais e registrais necessárias.Quid iuris?De acordo com o art. 1251.º…

 Artigo 1251.ºNoçãoPosse é o poder que se manifesta quando alguém actua por forma correspondente ao exercíciodo direito de propriedade ou de outro direito real.

Diferente é a simples detenção, prevista no art. 1253.º, al.s a) e b) que define que… Artigo 1253.ºSimples detenção

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DIREITO REAIS 2º.ANO

São havidos como detentores ou possuidores precários:a) Os que exercem o poder de facto sem intenção de agir como beneficiários dodireito

 

;b) Os que simplesmente se aproveitam da tolerância do titular do direito;…

Anabela e Bernardo eram simples detentores pois não adquiriram a posse pornenhum dos meios previstos no art. 1263.º, em que…

 Artigo 1263.º Aquisição da posse A posse adquire-se:a) Pela prática reiterada, com publicidade, dos actos materiais correspondentes ao exercício dodireito

 

;b) Pela tradição material ou simbólica da coisa, efectuada pelo anterior possuidor 

 

;c) Por constituto possessório;d) Por inversão do título da posse.

Havendo posse, esta transmite-se aos herdeiros do possuidor, nos termos do art.1255.º…

 Artigo 1255.ºSucessão na posse

Por morte do possuidor, a posse continua nos seus sucessores desde o momento da morte,independentemente da apreensão material da coisa.Carolina não passou a ter na sua esfera jurídica por herança dos pais a posse poisesta não existia na esfera jurídica daqueles.

Caso prático XXA 1 de Novembro de 1990, Simão constituiu em benefício de Margarida,através de documento particular, um direito de usufruto vitalício sobre umprédio rústico.Margarida aproveitou tal situação para começar de imediato a explorar oprédio em causa, na qualidade de usufrutuária, tendo efectuado

benfeitorias no valor de 10.000,00.Em Setembro de 2005, Simão ocupou o referido prédio, impedindoMargarida de o explorar. Questionado acerca das razões que o levaram atomar tal atitude, Simão alegou que o direito de usufruto não havia sidoconstituído por escritura pública e por isso, não assistiria qualquer direito aMargarida.a) Terá Simão qualquer legitimidade na sua actuação, ou poderá Margaridareagir, designadamente por via judicial contra tal atitude?b) E se Simão tivesse intentado uma acção de reivindicação?Decorre do art. 1439.º que o…

 Artigo 1439.º

NoçãoUsufruto é o direito de gozar temporária e plenamente uma coisa ou direito alheio, sem alterar a sua forma ou substância.

… o qual, nos termos do art. 1440.º… Artigo 1440.ºConstituiçãoO usufruto pode ser constituído por contrato, testamento, usucapião ou disposição da lei.

No entanto, resulta do art. 80.º, nº 1 do CodNotariado, que a constituição do usufrutodepende da realização da escritura.Ora, Simão constitui o usufruto a favor de Margarida através de documento particular,pelo que o contrato é nulo por inobservância de forma, nos termos do art. 220.º…

 Artigo 220.º

Inobservância da forma legal  A declaração negocial que careça da forma legalmente prescrita é nula, quando outra não sejaa sanção especialmente prevista na lei.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

… devendo ser restituído tudo aquilo o que houver sido prestado, de acordo com oart. 289.º

 Artigo 289.ºEfeitos da declaração de nulidade e da anulação1. Tanto a declaração de nulidade como a anulação do negócio têm efeito retroactivo, devendoser restituído tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituição em espécie não for possível, ovalor correspondente.

…Uma forma de aquisição do usufruto á a usucapião, que depende da determinação dotipo de posse de Margarida sobre o prédio.A posse, nos termos do art. 1263.º, al. a),

 Artigo 1263.º Aquisição da posse A posse adquire-se:a) Pela prática reiterada, com publicidade, dos actos materiais correspondentes ao exercício dodireito;…

Margarida agia como usufrutuária do prédio. A posse era pacífica, adquirida semviolência, de acordo com o art. 1261.º, n.º 1…

 Artigo 1261.ºPosse pacífica1. Posse pacífica é a que foi adquirida sem violência.…

... e pública, pois era exercida de forma a ser conhecida por interessados, nos termosdo art. 1262.º

 Artigo 1262.ºPosse públicaPosse pública é a que se exerce de modo a poder ser conhecida pelos interessados.

Apesar de haver um título constituidor do usufruto, ele é formalmente inválido, peloque é uma posse não titulada a de Margarida, conforme dispõe o art. 1259.º, n.º 2

 Artigo 1259.ºPosse titulada…2. O título não se presume, devendo a sua existência ser provada por aquele que o invoca.

Resulta do art. 1260., n.º 1 que… Artigo 1260.ºPosse de boa fé…2. A posse titulada presume-se de boa fé, e a não titulada, de má fé.…

Verifiquemos então se Margarida adquiriu o usufruto por usucapião.No caso em concreto, não há título nem registo da posso do usufruto e é de má fé,

pelo que nos termos do art. 1296.º Margarida só adquiriria o usufruto por usucapiãoem…

 Artigo 1296.ºFalta de registoNão havendo registo do título nem da mera posse, a usucapião só pode dar-se no termo dequinze anos, se a posse for de boa fé, e de vinte anos, se for de má fé.

… a posse. Ora, esse prazo ainda não decorreu.Simão apenas poderia ocupar o prédio por forma de acção directa se, nos termos doart. 336.º…

 Artigo 336.º Acção directa1. É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, quando a acçãodirecta for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos

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DIREITO REAIS 2º.ANO

normais, para evitar a inutilização prática desse direito, contanto que o agente não exceda oque for necessário para evitar o prejuízo.2. A acção directa pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração de uma coisa, naeliminação da resistência irregularmente oposta ao exercício do direito, ou noutro acto análogo.3. A acção directa não é lícita, quando sacrifique interesses superiores aos que o agente visarealizar ou assegurar.

Margarida, face a esta ocupação, poderia intentar uma acção de restituição da posse,

bem como poderia fazê-la prover de um procedimento cautelar comum.Por seu turno, Simão poderia intentar uma acção de reivindicação, nos termos do art.1311.º…

 Artigo 1311.º Acção de reivindicação1. O proprietário pode exigir judicialmente de qualquer possuidor ou detentor da coisa oreconhecimento do seu direito de propriedade e a consequente restituição do que lhe pertence.…

… e sendo esta procedente, restituir Margarida das benfeitorias feitas no prédio,conforme resulta do art. 1273.º…

 Artigo 1273.º

Benfeitorias necessárias e úteis1. Tanto o possuidor de boa fé como o de má fé têm direito a ser indemnizados das benfeitoriasnecessárias que hajam feito, e bem assim a levantar as benfeitorias úteis realizadas na coisa,desde que o possam fazer sem detrimento dela.2. Quando, para evitar o detrimento da coisa, não haja lugar ao levantamento das benfeitorias,satisfará o titular do direito ao possuidor o valor delas, calculado segundo as regras doenriquecimento sem causa.

Caso prático XXIHá 23 anos, B comprou ao Alfarrabista A os 8 volumes da 1.ª edição de umimportante Tratado de Direito, datado de meados do séc. XIX.Há 5 anos, B emprestou ao seu colega e amigo C a obra em causa, o qualnunca a devolveu.Tendo C morrido há 2 anos (em 2005), os seus herdeiros venderam atotalidade dos livros que encontraram na sua biblioteca – incluindo a obraemprestada por B – ao alfarrabista D. Este por seu turno, vendeu a outrocomerciante do mesmo ramo, E, alguns do livros integrados naquelaBiblioteca, incluindo a obra em causa. E nunca pagou o preço da sua compraa DEste ano (2007) a ESTGF comprou a E essa mesma obra pelo preço de2.500,00.

Diga quem é o proprietário da obra em causa. Se concluir que o proprietárionão é a ESTGF, diga se os interesses desta são de alguma forma protegidospor lei.O negócio celebrado entre B e A permitiu a transmissão de propriedade, através dacompra e venda, nos termos do art. 874.º

 Artigo 874.ºNoçãoCompra e venda é o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou outrodireito, mediante um preço.

Quanto ao negócio que preside o empréstimo da obra por B ao seu colega e amigo C,estamos, nos termos do art. 1129.º, perante um contrato de comodato…

 Artigo 1129.º

NoçãoComodato é o contrato gratuito pelo qual uma das partes entrega à outra certa coisa, móvel ouimóvel, para que se sirva dela, com a obrigação de a restituir.

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DIREITO REAIS 2º.ANO

… havendo, como refere a última parte da norma, obrigação de C em restituir a obraquando finde o contrato.

 Artigo 1135.ºObrigações do comodatárioSão obrigações do comodatário:…h) Restituir a coisa findo o contrato.

Com se depreende do enunciado não terá sido estabelecido prazo para a restituição,logo, nos termos do art. 1137.º, n.º 2… Artigo 1137.ºRestituição…2. Se não foi convencionado prazo para a restituição nem determinado o uso da coisa, ocomodatário é obrigado a restitui-la logo que lhe seja exigida.…

… se B tivesse solicitado a restituição, C seria de imediato obrigado a fazê-la.Paralelamente, durante o decurso do prazo que vigora aquele contrato, C é simplesdetentor, nos termos do art. 1253.º, al. a)

 Artigo 1253.º

Simples detençãoSão havidos como detentores ou possuidores precários:a) Os que exercem o poder de facto sem intenção de agir como beneficiários do direito;…

Aquando da morte de C, o contrato caducou, nos termos do art. 1141.º Artigo 1141.ºCaducidadeO contrato caduca pela morte do comodatário.

Assim, a partir desse momento passam os herdeiros de C a deter a posse da obra,agindo como possuidores, nos termos do art. 1251.º

 Artigo 1251.ºNoçãoPosse é o poder que se manifesta quando alguém actua por forma correspondente ao exercíciodo direito de propriedade ou de outro direito real.

Posse esta que se pode caracterizar como:- de má-fé – art. 1260.º, a contrario

 Artigo 1260.ºPosse de boa fé1. A posse diz-se de boa fé, quando o possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito deoutrem.…

- pacífica – art. 1261.º

 Artigo 1261.ºPosse pacífica1. Posse pacífica é a que foi adquirida sem violência.…

- pública – art. 1262.º Artigo 1262.ºPosse públicaPosse pública é a que se exerce de modo a poder ser conhecida pelos interessados.

Atendendo a que venderam a obra, não decorreu tempo suficiente para que tivessemadquirido, por usucapião, a mesma.A venda que efectuaram é nula, atendendo ao disposto no art. 892.º, pois careciamde legitimidade para o fazer…

 Artigo 892.ºNulidade da venda

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DIREITO REAIS 2º.ANO

É nula a venda de bens alheios sempre que o vendedor careça de legitimidade para a realizar;mas o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador de boa fé, como não pode opô-la aovendedor de boa fé o comprador doloso.

 Já D também age como possuidor:- com a posse titulada nos termos do art. 1259.º;

 Artigo 1259.º

Posse titulada1. Diz-se titulada a posse fundada em qualquer modo legítimo de adquirir, independentemente,quer do direito do transmitente, quer da validade substancialdo negócio jurídico.2. O título não se presume, devendo a sua existência ser provada por aquele que o invoca.

- de boa-fé – art. 1260.º, n.º 1 Artigo 1260.ºPosse de boa fé1. A posse diz-se de boa fé, quando o possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito deoutrem.2. A posse titulada presume-se de boa fé, e a não titulada, de má fé.3. A posse adquirida por violência é sempre considerada de má fé, mesmo quando seja titulada.

- pacífica – art. 1261.º Artigo 1261.ºPosse pacífica1. Posse pacífica é a que foi adquirida sem violência.2. Considera-se violenta a posse quando, para obtê-la, o possuidor usou de coacção física, ou decoacção moral nos termos do artigo 255.º.

- e pública – art. 1262.º Artigo 1262.ºPosse públicaPosse pública é a que se exerce de modo a poder ser conhecida pelos interessados.

O proprietário da obra em questão é assim B, devendo ser-lhe restituída a mesma Artigo 289.º

Efeitos da declaração de nulidade e da anulação1. Tanto a declaração de nulidade como a anulação do negócio têm efeito retroactivo, devendoser restituído tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituição em espécie não for possível, ovalor correspondente.…

Não há qualquer protecção à ESTGF, porque não é nenhum dos casos em que háprotecção de terceiros pela nulidade do negócio

Caso prático XXIIEm 1980, A arrendou a B o imóvel X.

B, em 1982, vendeu o prédio por documento particular a C.C, por sua vez, emprestou-o a D em 1986.Em 1987 D vendeu-o a E por escritura pública.Qual a posição possessória dos diferentes intervenientes em relação aoimóvel X?1980 – A arrenda prédio X a BB é mero detentor, nos termos do art. 1253.º, al. a)

 Artigo 1253.º - Simples detençãoSão havidos como detentores ou possuidores precários:a) Os que exercem o poder de facto sem intenção de agir como beneficiários do direito;…

1982 – B vende por documento particular, o prédio X a CB, ao vender, age como possuidor nos termos do art. 1251.º…

 Artigo 1251.º

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DIREITO REAIS 2º.ANO

NoçãoPosse é o poder que se manifesta quando alguém actua por forma correspondente ao exercíciodo direito de propriedade ou de outro direito real.

… e adquiriu a posse nos termos dos art.s 1263.º, al. a) e 1265.º Artigo 1263.º Aquisição da posse A posse adquire-se:

a) Pela prática reiterada, com publicidade, dos actos materiais correspondentes ao exercício dodireito;…

 Artigo 1265.ºInversão do título da posse A inversão do título da posse pode dar-se por oposição do detentor do direito contra aquele emcujo nome possuía ou por acto de terceiro capaz de transferir a posse.

A posse é de má-fé, cf. o art. 1260.º, n.º 2, pacífica – art. 1261.º, n.º 1 e pública –art. 1262.º

 Artigo 1260.ºPosse de boa fé1. A posse diz-se de boa fé, quando o possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito deoutrem.…

 Artigo 1261.ºPosse pacífica1. Posse pacífica é a que foi adquirida sem violência.…

 Artigo 1262.ºPosse públicaPosse pública é a que se exerce de modo a poder ser conhecida pelos interessados.

B não tem, contudo, legitimidade, pelo que o negócio é nulo, visto tratar-se de vendade bens alheios – art. 892.º…

 Artigo 892.ºNulidade da vendaÉ nula a venda de bens alheios sempre que o vendedor careça de legitimidade para a realizar;mas o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador de boa fé, como não pode opô-la aovendedor de boa fé o comprador doloso.

… e também nulo quando careça da forma legal – art.s 220.º… Artigo 220.ºInobservância da forma legal  A declaração negocial que careça da forma legalmente prescrita é nula, quando outra não sejaa sanção especialmente prevista na lei.

… o que no caso dos bens imóveis é aplicável, se o contrato de compra e venda nãoobservar a escritura pública – art. 875.º

 Artigo 875.ºFormaO contrato de compra e venda de bens imóveis só é válido se for celebrado por escritura pública.

1986 – C emprestou prédio X a DEstamos aqui perante um contrato de comodato, nos termos do art. 1129.º…

 Artigo 1129.ºNoçãoComodato é o contrato gratuito pelo qual uma das partes entrega à outra certa coisa, móvel ouimóvel, para que se sirva dela, com a obrigação de a restituir.

… mas mais uma vez não há legitimidade por parte de C em celebrar tal contrato.

1987 – D vendeu prédio X, através de escritura pública, a EPosse titulada – art. 1259.º

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DIREITO REAIS 2º.ANO

 Artigo 1259.ºPosse titulada1. Diz-se titulada a posse fundada em qualquer modo legítimo de adquirir, independentemente,quer do direito do transmitente, quer da validade substancial do negócio jurídico.2. O título não se presume, devendo a sua existência ser provada por aquele que o invoca.

De boa fé – 1260.º, n.º 2 Artigo 1260.º

Posse de boa fé1. A posse diz-se de boa fé, quando o possuidor ignorava, ao adquiri-la, que lesava o direito deoutrem.2. A posse titulada presume-se de boa fé, e a não titulada, de má fé.….

Pacífica – 1261.º, n.º 1 Artigo 1261.ºPosse pacífica1. Posse pacífica é a que foi adquirida sem violência.…

Pública – 1262.º Artigo 1262.ºPosse públicaPosse pública é a que se exerce de modo a poder ser conhecida pelos interessados.

Quanto à aquisição por usucapião, há que atender em primeiro lugar a que a mesmase funda apenas no título de aquisição, pelo que nos termos do art. 1296.º, o prazo éde 15 anos (para a posse de boa-fé)…

 Artigo 1296.ºFalta de registoNão havendo registo do título nem da mera posse, a usucapião só pode dar-se no termo dequinze anos, se a posse for de boa fé, e de vinte anos, se for de má fé.

… situação que em caso de haver título e paralelamente registo do mesmo, seria de10 anos a contar desde a data de registo (quando estivéssemos em face da posse deboa-fé), ou de 15 anos no caso de posse de má-fé, tudo conforme o art. 1294.º

 Artigo 1294.º Justo título e registoHavendo título de aquisição e registo deste, a usucapião tem lugar:a) Quando a posse, sendo de boa fé, tiver durado por dez anos, contados desde a data doregisto;b) Quando a posse, ainda que de má fé, houver durado quinze anos, contados da mesma data.

E, está protegido quanto à sua aquisição, nos termos do art. 291.º, visto terpreenchido todos os requisitos

 Artigo 291.ºInoponibilidade da nulidade e da anulação1. A declaração de nulidade ou a anulação do negócio jurídico que respeite a bens imóveis, ou amóveis sujeitos a registo, não prejudica os direitos adquiridos sobre os mesmos bens, a títulooneroso, por terceiro de boa fé, se o registo da aquisição for anterior ao registo da acção denulidade ou anulação ou ao registo do acordo entre as partes acerca da invalidade do negócio.2. Os direitos de terceiro não são, todavia, reconhecidos, se a acção for proposta e registadadentro dos três anos posteriores à conclusão do negócio.3. É considerado de boa fé o terceiro adquirente que no momento da aquisição desconhecia,sem culpa, o vício do negócio nulo ou anulável.

Caso prático XXIIIEm Janeiro de 1975 Gustavo vendeu a Hugo um prédio rústico pordocumento particular, pretendendo ambos ocultar um comodato.Em Janeiro de 1977, Hugo arendou aquele prédio a Ivone.Em Janeiro d 1979, Hugo doou o prédio a Ivone por escritura pública.

Sabendo que Gustavo faleceu em 1991 e que lhe sucedeu Luísa, nascida a31/10/1981, com representante legal, diga, caracterizando as sucessivas

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DIREITO REAIS 2º.ANO

posições possessórias, quem e quando poderá adquirir por usucapiãodireitos reais sobre o móvel.

Caso prático XXIVEm 12/1998, Fernando, proprietário e possuidor de um relógio de ouro,vendeu-o a Guilherme, a quem o entregou de imediato.

Porém, tal venda teve apenas por objectivo afastar o referido relógio doalcance dos credores de Fernando, não tendo ambos qualquer outraintenção ao celebrar o negócio.Em Dezembro de 1993, Heitor aproveitou um momento de distracção deGuilherme e furtou-lhe o referido relógio.Em Dezembro de 1994, Heitor, sob coacção moral, doou o referido relógio aIsaías, a quem o entregou de imediato.Em Dezembro de 1995, Isaías vendeu verbalmente o relógio a Júlio.Sabendo que a situação de coacção moral se mantém até hoje, diga,caracterizando as sucessivas posições possessórias, quem e quando poderáadquirir por usucapião, direitos sobre o relógio.

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