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e a construção da sociedade” (WWF/ - Terra Brasilis · 2014. 7. 24. · e biológica, fundamentais para a conservação e para um convívio harmônico entre diferentes culturas

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  • Educação ambiental é, sem dúvida, um dosmeios mais indicados para se resgatar valoresque incluem o respeito pela diversidade culturale biológica, fundamentais para a conservação epara um convívio harmônico entre diferentesculturas e entre essas e a natureza. A aceitaçãosem questionamento do modelo de desenvol-vimento baseado no consumo desenfreado temlevado o ser humano a adotar atitudes queacabam resultando em diferenças sociais cres-centes e em perdas culturais e biológicas irrepa-ráveis. No Brasil a gravidade dessas perdas écompatível à sua riqueza. Como um dos paíseslíderes em biodiversidade no mundo, a responsa-bilidade do Brasil em proteger tal riqueza ée n o rme e a educação ambiental pode serfundamental nesse processo.

    A educação ambiental no BrasilHá muito que o Brasil vem percebendo a

    importância da educação ambiental. Durante ofórum paralelo da Rio-92, foi elaborado odocumento “Tratado de Educação Ambientalpara Sociedades Sustentáveis e Re s p o n s a-bilidade Global”. Um de seus princípios é que“a educação ambiental deve ter como base opensamento crítico e inovador, em qualquertempo ou lugar, em seus modos formal, nãoformal e informal, promovendo a transformação

    e a construção da sociedade” (WWF/ECOPRESS, 2000:22). Reconhece, ainda, quea “educação ambiental deve ajudar a desen-volver uma consciência ética sobre todas asformas de vida com as quais compartilhamoseste planeta, respeitar seus ciclos vitais e imporlimites à exploração dessas formas de vida pelosseres humanos” (WWF/ECOPRESS, 2000:24).

    Ainda em 1992, os Ministérios do MeioAmbiente, da Educação, da Cultura e daCiência e Tecnologia instituíram o ProgramaNacional de Educação Ambiental – PRONEA.Na perspectiva de cumprir suas determinações ena qualidade de executor da política nacional demeio ambiente, o IBAMA elaborou diretrizespara a implementação do PRONEA. Incluiu aeducação ambiental no processo de gestãoambiental, o que a torna presente em quasetodas as suas áreas de atuação (IBAMA, 1996).

    Já o Ministério da Educação elaborou em1997 uma nova proposta curricular conhecidacomo Parâmetros Curriculares Nacionais -PCNs, onde a dimensão ambiental passa a serum tema transversal nos currículos básicos doensino fundamental (de 1ª a 8ª séries). Aopermear todas as disciplinas, a educação ambi-ental integra questões socioambientais de formaampla e abrangente (MEC, 2000).

    A culminância do reconhecimento de suaimportância se deu em abril de 1999, quando aeducação ambiental passou a contar com a Leinº 9795/99, que a oficializa como área essen-cial e permanente em todo processo educacionaldo país. A lei está embasada no artigo 225,inciso VI da Constituição Federal de 1988, quemenciona a responsabilidade, individual ecoletiva, da sociedade na implementação eprática da educação ambiental. A Po l í t i c aNacional de Educação Ambiental instituída

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    A importância daeducação ambientalna proteção dabiodiversidade do Brasil

  • pela lei reconhece o dever de defender epreservar o meio ambiente para as presentes efuturas gerações e estimula a participação detoda a sociedade para assumir responsabili-dades em sua implantação (MEC, 2000).

    Mesmo reconhecendo formalmente suaimportância, o Brasil ainda tem um longo cami-nho a percorrer para imple-mentar a educação ambientalcom efetividade. No ensinoformal o MEC vem se esfor-çando para capacitar profes-sores que possam desenvolverprogramas pertinentes. Noentanto, o tamanho continen-tal do país e os escassosrecursos alocados à área sãofatores que dificultam suaimplementação adequada.

    Os desafios são muitos.Como outros países que con-tam com rica biodiversidade,raras são as ocasiões em quec o n s e rvação ou a própriaeducação ambiental são prio-rizadas. Sendo assim, osdanos ambientais têm se intensificado, provo-cando a perda da diversidade biológica ecultural, a contaminação do ar e da água eoutros impactos igualmente irreparáveis.

    A educação ambiental e seu papel naconservação da biodiversidade

    Apesar da preocupação com a sobrevivênciade espécies e ecossistemas ter levando à criaçãode unidades de conservação que visam não só aproteção, mas a continuidade de processosevolutivos indispensáveis ao desenvolvimento dariqueza biológica existente no planeta, umagrande maioria dessas áreas é rodeada dedesmatamento ou de acentuada descaracte-rização de sua condição original. Muitas

    unidades de conservação tornaram-se “ilhas devida” e sua proteção é muitas vezes indispen-sável à sobrevivência de espécies e ecossistemasúnicos no mundo. Contudo, são raros os exem-plos onde existem profissionais e infraestruturaà altura de sua importância biológica.

    Neste cenário, o envolvimento de comuni-dades locais passa a ser umdos mais promissores meiosde proteção às unidades deconservação. O fortalecimen-to de tais comunidades podelevar à participação efetiva, oque difere da condição co-mum em regiões remotas,onde muitas destas unidadesde conservação estão locali-zadas, em que segmentossociais menos favorecidos sãobanidos do processo decisó-rio. O fato de pessoas nãoterem o hábito de participar,comumente não perceberemseu direito de reivindicar, oumenos ainda seu potencialtransformador, torna a edu-

    cação um meio singular de abrir caminhos quepodem beneficiar tanto a realidade socialquanto à ecológica. É na valorização do que épossível ser feito localmente para a melhoria daqualidade e da proteção da vida, dentro de umprincípio sugerido por Schumacher (1989) ondea chave pode estar no singelo e não nograndioso, que a educação ambiental representaum meio eficaz de transformação. Com base norespeito à vida humana e aos demais seres,como proposto por Buber (1987), as relaçõespassam a representar um caminho de cresci-mento, de cooperação e de concretizaçõesefetivas que podem beneficiar a coletividade.

    A educação ambiental dirigida às populaçõesque vivem cerca de unidades de conservaçãopode contribuir a tornar essas áreas em focos de

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    A Política Nacional deEducação Ambiental

    instituída pela lei reconheceo dever de defender e

    preservar o meio ambientepara as presentes e futuras

    gerações e estimula aparticipação de toda asociedade para assumir

    responsabilidades em suaimplantação.

  • orgulho por meio do enriquecimento de conheci-mentos e da sensibilização quanto a sua impor-tância. As áreas naturais são ideais para oaprendizado pela experimentação direta, o quefavorece a incorporação de valores abrangentes,podendo assim despertar maior interesse emotivação no engajamento e na participação emmudanças que reflitam a integração daspopulações locais com a natureza. Uma vez queas unidades de conservação são encaradas comorgulho, torna-se mais fácil trabalhar a auto-estima individual e coletiva, o que por sua vezpode contribuir para um envolvimento efetivo eamplo dessas comunidades em conservação.

    Como obter apoio e participação decomunidades locais para a conservação

    Vários são os processos de estimular aparticipação de comunidades locais emmelhorias socioambientais. Um exemplo é ummodelo participativo desenvolvido poreducadores ambientais do IPÊ – Instituto dePesquisas Ecológicas que tem surtido efeitossignificativos em diferentes categorias deunidades de conservação da Mata Atlântica.Nesta abordagem, cada passo é direcionado arefletir os anseios de todos, o que torna aparticipação da população envolvida em umcomponente imprescindível (Tabela 1).

    Baseada em tabela proposta por Padua &Tabanez (1997) e Pádua, Tabanez, Souza &Hoefel (1999). O processo assemelha-se a umaconstrução e por isso é representado de baixopara cima.

    O primeiro passo deste processo tem sido a

    identificação de problemas ou temas locais, quenem sempre são àquelas observados pelo educa-dor ou facilitador externo. Daí a importância dorespeito e da receptividade, facilitando o sensode inclusão de todos. Ao se refletir sobre poten-ciais locais, passa-se a valorizar o que existe naregião, aumentando a auto-estima e o orgulho,fundamentais para motivar o engajamento emações de mudanças. A seguir vem o sonhar, queé um exercício à criatividade onde a afetividadepelo local é mais facilmente expressada. Umavez que situações ideais se tornam claras, épossível elaborar estratégias que ousem direcio-nar esforços para se chagar a determinadosfins. A colaboração por meio de parcerias repre-senta uma soma de esforços para se chegar maisrapidamente onde se pretende, além de ajudar aintegrar diversas facções de uma comunidade.Finalmente, um monitoramento constante énecessário para que se possa ajustar e melhorarcada passo, sem desperdiçar tempo, energia erecursos. Não se trata de um processo linear,pois vários temas podem ser tratados de uma sóvez e em compassos diversos. Entretanto, hásempre um direcionamento para melhorias quereflitam os anseios coletivos.

    Em todo o processo é de fundamental impor-tância o respeito ao outro, a atenção a opiniõesdiversas e a valorização de culturas regionais.Trata-se, em última análise, de uma nova éticacom paradigmas em consonância com ummundo mais harmônico, que depende dainstauração de valores que incluem e constroeme não impõem ou dominam.

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  • FlexibilidadeAltruísmoTransformaçãoRenovação

    Humildade

    Entusiasmo

    Ousadia

    Persistência

    Criatividade

    Intuição

    Afetividade

    Auto-estima

    Ética

    Respeito

    Empatia

    Receptividade

    Solidariedade

    Cooperação

    6. Acompanhamento

    • modificar estratégias

    • disseminar resultados

    • obter apoio

    5- Parcerias

    4- Desenvolvimento de estratégias:

    • buscar recursos locais – humanos, ambientais emateriais.

    • trazer “inputs” externos – humanos, ambientais emateriais.

    3- Sonho ou visão

    • objetivos e metas

    2- Reflexão sobre potenciais locais

    • troca de idéias, experiências e conhecimentos

    1- Identificação de desafios, problemas e temas

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    Tabela 1Modelo da abordagem participativa.

    A

    V

    A

    L

    I

    A

    Ç

    Ã

    O

    Etapas do Processo Valores Correspondentes

  • Referências BibliográficasBUBER, M. 1987. Sobre Comunidade. São Paulo: Editora Perspectiva.

    IBAMA. 1996. Diretrizes para a Implementação do PRONEA. Série Meio Ambiente em Debate 09.Brasília: IBAMA.

    MEC, 2000. Política Nacional De Educação Ambiental. Coordenação Geral de Educação Ambiental.Texto elaborado para Programa Salto para o Futuro – TV Escola.

    PADUA, S. & TABANEZ, M. 1997. Uma abordagem participativa para a conservação de áreasnaturais: educação ambiental na Mata Atlântica. In: Anais do Congresso de Unidades deConservação. Curitiba, Paraná: Universidade Livre do Meio Ambiente, Rede Nacional PróUnidades de Conservação e Instituto Ambiental do Paraná: Volume 2. 371-379.

    PADUA, S., TABANEZ, M., SOUZA. M. G. & VON HÖEFFEL, J.L. 1999. Participação: Umelemento-chave para envolvimento comunitário - Uma experiência em Educação Ambiental naÄrea de Proteção Ambiental - APA Piracicaba. Revista de Educação e Ensino. Universidade de SãoFrancisco, SP. Vol. 4 (2) 75-84.

    SCHUMACHER, E.F. 1989. Small is Beautiful – Economics as if People Mattered. New York: HarperPerennial.

    WWF/ ECO PRESS. 2000. Educador Ambiental – 6 anos de experiências e debates. São Paulo: WWF/ ECOPRESS.

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    Suzana Machado Padua Mestre em Educação Ambiental pela Universidade da Flórida, EUA e doutoranda no Centro de DesenvolvimentoSustentável – UnB

    Presidente do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e diretora para o programa do Brasil do Wildlife Trust, EUA