Upload
phungthuan
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
E se fizssemos um jornal com estes gajos?... Jos Silva Pinto
Se eu fosse um tipo organizado e capaz de
prever o futuro, ainda deveria conservar num
qualquer ba duas pequenas folhas de papel,
onde, num qualquer dia de Novembro ou De-
zembro de 1974, eu e o Manuel Bea Mrias
escrevemos alguns dos nomes que viriam a
constar da lista dos 15 jornalistas fundadores de O Jornal. Talvez ainda os tenha guardado
algures, num dos meus inmeros caixotes de
papis antigos, os quais j sei que nunca, ja-
mais, em tempo algum, irei conseguir consul-
tar...
Mas no preciso desses antigos linguados de
papel amarelado que eram usados para es-
crever os originais no Dirio de Notcias, on-de ambos trabalhvamos, para me lembrar
perfeitamente de que num deles eu escrevi,
antes de uma lista de nomes, uma pergunta
muito simples: E se fizssemos um jornal
com estes gajos?. O Bea Mrias escreveu
outra lista, na qual, curiosamente, os nomes
eram quase todos os mesmos.
[Diga-se, em abono da verdade, que j antes o
Bea Mrias havia feito, individualmente, dili-gncias no sentido de encontrar quem quises-
se apoiar a criao de um novo jornal, mas
no foi bem sucedido. Sem margem para d-
vidas, o que nos levou busca de uma solu-
o jornalstica nova e a todos os ttulos in-
dependente foi o facto de, no final de 1974,
sucessivas tentativas de controlo partidrio e
diversos desvarios pseudo-revolucionrios
comearem a tornar insustentvel a perma-
nncia num jornal estatizado como era, ento,
o Dirio de Notcias].
Era, ainda, um rol muito incompleto aquele con-
junto de nomes por ns redigido, mas, se bem
me lembro, j l estavam os nomes do Joa-quim Letria, do Afonso Praa, do Pedro Rafael
dos Santos, do Francisco Sarsfield Cabral, do
Carlos Cceres Monteiro, do Hernni Santos,
do Fernando Gaspar e do Joaquim Lobo e
poucos mais. O mesmo aconteceu, um pouco
mais tarde, nos casos do Rui Pimenta, do Ri-
beiro Cardoso, do Antnio Carlos Carvalho e
do Lus Almeida Martins, bem como no do Jo-o Segurado, entretanto regressado do seu
exlio em Londres, onde privara com o Joa-
quim Letria. Quanto ao Jos Pinto Nogueira,
tambm ex-exilado (na Sua), comeou como
colaborador, s mais tarde vindo a ser plena-
mente integrado na equipa de societrios.
Um caso singular foi o do Jos Carlos de Vas-
concelos: o seu nome constava, obviamente,
da nossa lista comum inicial, no obstante a sua condio de director-adjunto do Dirio de
Notcias, que viria a abandonar em solidarie-
dade com o director, Jos Ribeiro dos Santos,
vtima de um saneamento totalmente injusto
e estpido tpico dessa poca, mesmo
antes do 11 de Maro de 1975 o que o le-
vou, provisoriamente Direco de Informa-
2
o da RTP (cargo que exerceu numa espcie
de servio cvico pro bono). Embora desde
o incio participante na sociedade e nos traba-
lhos preparatrios do lanamento do novo jor-
nal, s viria a entrar a tempo inteiro nas vs-peras da sada do primeiro nmero, mas ain-
da a tempo de produzir a primeira manchete:
O Conselho da Revoluo decidiu: a Intersin-
dical j confederao.
Em resumo, quase todos os nomes inicialmente
seleccionados tinham como denominador co-
mum o facto de estarem relacionados com
trs publicaes: o Dirio de Lisboa, a Fla-
ma e A Capital. * * *
Joaquim Letria, Manuel Bea Murias, Joao Segurado e Lus Almeida Martins
nos primeiros dias da construo de O Jornal
Joaquim Letria foi, naturalmente, de entre todos,
o escolhido para assumir o cargo de director
do novo semanrio: para alm da sua compe-
tncia comprovadssima como grande reprter
oriundo do Dirio de Lisboa, acumulara tam-
bm um imenso capital profissional durante alguns anos nos quadros da seco portu-
guesa da BBC, em Londres, de onde regres-
sou logo a seguir ao 25 de Abril, para ingres-
sar na RTP, onde protagonizaria diversos
programas que dele fizeram uma verdadeira
estrela televisiva.
Se bem me lembro, o projecto comeou a ser
delineado, em reunies aqui e ali, por exem-
plo num andar da Rua Barata Salgueiro, onde
o Joaquim Letria trabalhava tambm como de-
legado de um jornal de Moambique. Isso an-tes de comearem as reunies na sala Kioto,
no Hotel Altis, no outro lado da rua, onde viria
a ser requerida a certido de nascimento
das Publicaes Projornal (resumidamente
designada por Projornal) e de O Jornal. Es-
sas reunies na sala Kioto eram bem longas e
animadas e fumava-se tanto que at os
alarmes de incndio chegavam a disparar
Outro nome que, numa segunda fase do proces-so, tambm chegou a constar da lista da Re-
daco foi o do Jos Manuel Barroso, oriundo
do Comrcio do Funchal e do MFA, em que
participara na qualidade de capito miliciano.
E tambm o do Fernando Antunes, quase
desde o incio como colaborador permanente,
funes que exercia em simultneo como re-
dactor do Jornal de Notcias, bem como o do
reprter-fotogrfico Incio Ludgero, vindo de A Capital.
* * *
Por ser verdade, tambm me cumpre atestar que
fundao de O Jornal esteve associada
uma pequena empresa, editora de uma revis-
ta chamada Casa Viva, de que eram scios,
entre outros, Antnio Reis, Eduardo Fortunato
de Almeida e Diogo da Fonseca (os trs j
desaparecidos) e Maria Fernanda Diniz. Sem o seu contributo, a aventura no teria sido
possvel: na verdade, nenhum outro editor de
3
jornais que ento abordmos aceitou o desa-
fio de partilhar os riscos do lanamento de um
jornal de jornalistas...
(Como acima deixei expresso, a abordagem
mais significativa nesse sentido foi feita, em primeiro lugar, individualmente, pelo Manuel
Bea Mrias, ao presidente da Renascena
Grfica e director do Dirio de Lisboa, Ant-
nio Pedro Ruella Ramos: era nosso amigo
muitos de ns tnhamos trabalhado com ele
no DL, mas no aceitou o desafio. Foi pena,
como mais tarde foi por todos reconhecido).
A propsito, lembro-me bem da diligncia admi-
nistrativa que consistiu na busca da primeira sede de O Jornal, no n. 232 da Avenida da
Liberdade, num rs-do-cho direito ento em
runas: tendo sido pedidos vinte contos de
renda, foi contraposto por Antnio Reis um
pagamento de dez contos mensais, sendo ns
a fazer as obras. E foi aceite. (Enquanto as
obras necessrias se faziam, a toda a pressa,
a nova redaco funcionou, provisoriamente,
num andar na Avenida Sidnio Pais, prximo do Parque Eduardo VII).
[O proprietrio do prdio da Avenida da Liberda-
de era o sr. Mrio Macedo, tambm dono da
Livraria Rodrigues, na Rua do Ouro, um ho-
mem reconhecidamente muito poupado, que,
vivendo no primeiro andar do nosso prdio,
s concedia filha, j mais do que adulta, o
direito de ocupar uma pequena sala que dava
para a Rua Rodrigues Sampaio, onde ela ar-ranjou maneira de ganhar algum espao cons-
truindo uma espcie de mezzanine, s pos-
svel porque a casa tinha um p direito muito
alto
Ainda estou a v-lo a regressar a casa, vindo da
Baixa, em dias mais frios, com um sobretudo
castanho, com umas abas largussimas, que imagino ter sido adquirido ainda no princpio
do sculo XX Mas, os mais divertidos epi-
sdios passados com o sr. Macedo aconteci-
am quando era necessrio negociar qualquer
coisa com ele e amos (eu, o Joaquim Letria e
o Henrique Pavo) procur-lo no seu escrit-
rio na livraria controlava os seus funcion-
rios mediante o uso de um apito, sendo que o
nmero de apitadelas variava segundo o em-pregado a chamar para tratar deste ou daque-
le assunto].
* * *
A Projornal foi constituda como uma sociedade
por quotas, com um capital de 2 170 contos,
em que os 15 jornalistas societrios detinham
em conjunto 60 por cento (cada um exacta-
mente com 86 800$00, correspondentes a
trs meses de salrios brutos no recebidos na nova empresa...), cabendo Casa Viva os
restantes 40 por cento.
Cada uma das partes tinha um gerente efectivo e
um suplente. gerente Casa Viva competia a
administrao da sociedade em tudo quanto
respeitasse, nomeadamente, aos assuntos
comerciais, de promoo, publicidade e ven-
das. Ao gerente designado pelos restantes
scios nesse caso eu prprio cabia a administrao no respeitante ao aspecto e ao
contedo das publicaes peridicas a editar.
4
Essa parceria manter-se-ia at finais de 1982,
quando os jornalistas fundadores adquiriram a
quota do grupo Casa Viva, passando, assim,
a deter a propriedade total da Projornal.
No se pense que foi fcil convencer todos os futuros societrios a entrar na aventura tal-
vez por isso mesmo: porque era uma aventu-
ra... Por exemplo, lembro-me perfeitamente
do que me custou vencer as resistncias do
Francisco Sarsfield Cabral. Nesse tempo, no
estava ainda instituda a moda dos almoos
de trabalho, mas lembro-me, como se fosse
hoje, de conversarmos sobre o assunto me-
sa de um restaurante chamado O Chocalho, no Largo de Santos, e de ele s aceder medi-
ante uma condio sine qua non: s trabalha-
ria em casa... Foi, pois, um precursor do tele-
trabalho...
E o trabalho que tambm tive para convencer o
Lus Almeida Martins de que no devia desis-
tir de ser jornalista de O Jornal, para se tor-
nar professor numa qualquer escola secund-
ria? Talvez ele se lembre dessa conversa bem prolongada, numa pastelaria do Largo do Ca-
lhariz, certamente num intervalo do fecho se-
manal de O Jornal, cuja composio e mon-
tagem se fazia nas instalaes do Dirio de
Lisboa, no Bairro Alto, para depois vir a ser
impresso na Lisgrfica, em Queluz de Baixo.
J o Antnio Carlos Carvalho entrou, mas a sua
peculiar viso pessimista do mundo e sua
posterior transformao em sacerdote ortodo-xo, depressa o levou a abandonar a nave de
loucos que era, para ele, a redaco de O
Jornal... O Ribeiro Cardoso tambm no
aguentou muito tempo seduzido que estava
pelos amanhs que [ainda] cantavam, na re-
daco do Dirio de Lisboa, onde queria in-
tervir todos os dias... Fernando Gaspar, que fazia parte da lista inicial, s se manteve na fi-
cha tcnica at ao n. 3, aps o que desapa-
receu sem deixar rasto.
Quanto ao Rui Pimenta e ao Jos Manuel Barro-
so, esses sairam bastante mais tarde, desa-
pontados porque, em sua opinio, O Jornal
no apoiava suficientemente a candidatura
presidencial do general Eanes... [Isto talvez
possa contribuir para desfazer o velho mito de que O Jornal era eanista...].
Com a sada da scia Casa Viva e de alguns
jornalistas societrios, a sociedade passou a
integrar nomes como os do Henrique Segura-
do Pavo (que inicialmente apenas funciona-
va como conselheiro pro bono), do Antnio
Gomes da Costa, do Fernando Assis Pacheco,
do Silva Costa, que, cada um a seu modo,
segundo as suas competncias prprias, tam-bm contribuiram em muito para o que foi o
xito de O Jornal e de tudo o que lhe esteve
associado, nas dcadas de 1970 e 1980.
* * *
Claro que tudo isso aconteceu h muito tempo,
numa poca em que os jornalistas ainda no
tinham deixado de ser camaradas, para se
tornarem colegas... [E, j agora, devo dizer
que temo bem que ainda venha o dia em que se trataro por companheiros de redao,
como nas unies de facto...]. Outro pormenor
5
que d bem ideia de como tudo isso se pas-
sou h muitos anos a inexistncia de um s
nome de mulher na lista de fundadores: nessa
poca, as redaces eram quase feudos
masculinos, ao contrrio do que hoje, feliz-mente, acontece. (O primeiro nome feminino a
constar da lista da redaco foi o da Lurdes
Feio, uma jovem estagiria que, ainda en-
quanto estudante, colaborara na Reuters e na
Associated Press. E mais tarde, em diversas
etapas da vida de O Jornal entraram tam-
bm a Edite Soeiro, a Clara Pinto Correia, a
Ana Paula Correia, a Paula Serra, a ngela
Caires, a Cludia Lobo, a Olga Lobo, a Ana Pereira da Silva e a Emlia Caetano).
* * *
ramos, poca, rapazes mais ou menos idea-
listas, mais ou menos jovens, na casa dos vin-
te e tais / trinta e poucos anos, ainda no vis-
tos como cotas e ultrapassados, como hoje
acontece. Ainda no tinha chegado o tempo
em que nenhum emprego garantido, ne-
nhuma percia valorizada, nenhuma experin-cia prtica considerada de utilidade duradoura.
Alis, penso at que a cartilha dos direitos
humanos actualmente seguida deixou de in-
cluir o direito a um emprego, por mais bem
executado que seja. Por isso, muitas carreiras,
at h pouco julgadas de futuro, esto a reve-
lar-se vias rpidas para o desemprego...
O primeiro nmero de O Jornal sado com
data de 2 de Maio, mas colocado venda no prprio 1. de Maio que antecedeu o clebre
Vero Quente de 1975 , espelhava j os di-
as que se viviam no Portugal ps-
revolucionrio, com notcias sobre o Conselho
da Revoluo, a Intersindical transformada em
Confederao e a presena dos capites de
Abril na festa de Maio. Mas havia tambm notcias sobre os combates das ruas de Lu-
anda e ao fim da Guerra do Vietname, que
nessa semana ocorreu.
Capa do primeiro nmero de O Jornal
Essa primeira edio haveria de se esgotar rapi-
damente em todo o pas, mas foi fruto de um parto com frceps, aps uma noite sem sono
nas instalaes da Lisgrfica. O papel dispo-
nvel, inicialmente adquirido empresa das
listas telefnicas, no se adequava rotativa
e a impresso foi vrias vezes interrompida.
Por isso, s o nmero seguinte responderia
efectivamente grande expectativa que no
pas se criara quanto ao aparecimento de O
Jornal. A verdade que, na sequncia dos
6
acontecimentos e das nacionalizaes de
Maro desse ano, a Informao portuguesa
estava controlada e O Jornal, pelas suas
prprias caractersticas de publicao de pu-
blicao independente e de jornal de jornalis-tas, era um sopro de respirao num ambien-
te politicamente sufocante.
* * *
O primeiro anncio sobre O Jornal, que a RTP
passara nos dias anteriores era uma ilustra-
o disso mesmo. No guardamos notcias
na gaveta, era o slogan. O grupo de jornalis-
tas que, contra ventos e mars, se abalanara
quele projecto, transportara, fora dos pr-prios braos, algumas secretrias para o rel-
vado do Parque Eduardo VII. Dentro das se-
cretrias, havia passarinhos, que voaram li-
vremente quando as gavetas se abriram. Era
uma metfora da informao em liberdade.
Pssaros que rumavam rumo ao cu azul,
como a gaivota que voava, voava, da cano
que, por esses dias, se tornara uma espcie
de hino ao 25 de Abril de 1974. Mas, enquanto a gaivota foi ferida na asa pelas
perversidades da Revoluo, estes pssaros
eram aves de esperana. Independente polti-
ca e economicamente, O Jornal, sem rece-
ber ordens nem instrues de ningum, reflec-
tia, contudo, os sinais desse tempo simulta-
neamente glorioso e dramtico. Na primeira
edio, sob o ttulo Porqu O Jornal?, fala-
va-se de uma aventura s possvel num jor-nal de jornalistas, em que estes sejam colecti-
vamente os nicos responsveis pela sua ori-
entao e execuo. E sublinhava-se como
s a mordaa que o 25 de Abril tirara aos jor-
nalistas proporcionava essa iniciativa.
* * *
Nomes importantes da cultura portuguesa sem-pre estiveram ligados a O Jornal, que, por
isso, marcou, decisivamente, ao longo de uma
poca, a poltica e as ideias no nosso pas.
Logo no n. 1, vem publicado um poster de um
artista que marcou, indelevelmente, o arran-
que de O Jornal: Joo Abel Manta. O escri-
tor Jos Gomes Ferreira tambm um dos
colaboradores do primeiro nmero, bem como
Csar Oliveira, autor de escritos politicos mui-to incisivos.
No segundo nmero, teramos a colaborao de
Mrio Zambujal, que mais tarde haveria de
juntar-se equipa como primeiro director do
jornal Se7e, criado pela Projornal e, durante
alguns anos, tambm um fenmeno de ven-
das, sobretudo devido s divertidssimas cr-
nicas do Z Carioca de Limo, pseudnimo
com que Pedro Rafael dos Santos dava novi-dades semanais sobre as novelas brasileiras
que, entretanto, chegavam a Portugal, via TV
Globo.
Nesse mesmo n. 2, Salgado Zenha e Nandim
de Carvalho, dois politicos que remavam con-
tra a mar do poder estabelecido, davam uma
marca de pluralismo ento impossvel na qua-
se totalidade da Imprensa portuguesa, onde
s o Expresso se mantinha tambm indepen-dente do poder politico. No n. 3, haveria a
primeira colaborao de Marcelo Rebelo de
7
Sousa e tambm a de Fernando Namora, com
os seus Cadernos de um Escritor.
Mas tambm o poder dominante colaborava nas
pginas do novo semanrio: na quarta edio,
publica-se um texto de Octvio Pato e, poucas semanas depois, outro de Carlos Carvalhas,
ambos nomes proeminentes do PCP.
Jos Cardoso Pires, Eduardo Prado Coelho,
Nuno Brederode Santos (com as suas diverti-
dssimas Crnicas de Ribera Dulce), Fran-
cisco Mata, Nuno Bragana, Lus Filipe Castro
Mendes, Jos Nuno Martins, Eduardo Louren-
o, Jos Augusto Seabra, Urbano Tavares
Rodrigues, Miguel Urbano Rodrigues, Lus Sttau Monteiro (com a sua Guidinha), Arnal-
do Saraiva, Joo Benard da Costa, Joo Cra-
vinho, Nuno Portas, Antnio Reis, Jos Vaz
Pereira, Miller Guerra eis apenas alguns
dos colaboradores dessa primeira fase de O
Jornal. Tambm Miguel Esteves Cardoso ini-
ciava neste semanrio as suas lides jornalsti-
cas, primeiro a fazer tradues e, depois, a
partir de 5 de Novembro de 1975, com crni-cas assinadas. Tambm colaboradores eram
Augusto Abelaira, com a sua crnica semanal
Escrever na gua, mas tambm o militar de
Abril Rodrigo Sousa Castro, com os seus
bem informados textos assinados com o
pseudnimo Manuel F. Andrade (nome cor-
respondente s iniciais do MFA).
* * *
Pouco depois de ter aparecido, em circunstn-cias em que era difcil assumir posies inde-
pendentes, sendo um jornal que se assumia
como independente de esquerda, O Jornal
chegou a receber ameaas da esquerda que
estava no poder antes do 25 de Novembro de
1975. Rotulado como alinhado com os capi-
tes de Abril, as suas pginas revelavam-se uma conscincia crtica, o que muitas vezes
se traduzia em manchetes que ficaram famo-
sas, como Os homens sem sono andam a
dormir? e muitas outras. Seis meses de-
pois de ter aparecido, O Jornal d uma das
suas maiores cachas de sempre, com a reve-
lao do Documento dos Nove, os militares
liderados por Melo Antunes, que se opunham
faco de Vasco Gonalves. Jornal de esquerda, este semanrio sempre
constituiu, contudo, um espao de debate pa-
ra todas as correntes. Numa altura em que o
CDS era perseguido e considerado um parti-
do antidemocrtico, Adelino Amaro da Costa
vinha, muitas vezes, nossa redaco con-
cluir os seus artigos. Uma vez, falhou a elec-
tricidade e ele escreveu ali mesmo, numa das
salas do n. 232 da Avenida da Liberdade, luz de velas
Adelino Amaro da Costa a escrever um artigo na Redaco de O Jornal
* * *
Foi um tempo bem difcil esse Vero de 1975,
em que os jornalistas que constituam a redu-
8
zida Redaco de O Jornal viveram sobre o
fio da navalha, prolongando as quintas-feiras
at alta madrugada, pois era difcil prever a
evoluo dos acontecimentos. [Nesses tem-
pos hericos, em que no havia maneira de se conseguir fechar O Jornal antes das 3 ou
4 horas da manh, o Joaquim Letria e eu, en-
tre outros, amos para a estao de Santa
Apolnia tentar convencer o chefe da estao
a adiar a partida do comboio para o Porto]
O Pas estava dividido ao meio e, por mais do
que uma vez, esteve, sem exagero, beira da
guerra civil. Data dessa poca a primeira das
conotaes que foram coladas a O Jornal, inicialmente ao MFA (Movimento das Foras
Armadas) e depois ao chamado Grupo dos
Nove, mas nem por isso os militares eram
poupados a crticas. No incio de Julho, fazia-
se uma pergunta sria ao MFA: Os homens
sem sono andam a dormir?. No final do
mesmo ms, a manchete era ainda mais inci-
siva: Senhores do MFA / Resolvam l isto
a malta est farta! Os moderados venceriam o despique, no 25 de
Novembro, mas nem por isso os campos dei-
xaram de estar extremados. Os primeiros cin-
co anos de O Jornal foram particularmente
conturbados, com os partidos politicos ainda
em busca de um lugar no xadrez Mas no
das contas do extenso rosrio de histrias po-
lticas cobertas por O Jornal que pretendo
tratar nesta breve comemorao da sua vida, que viria a durar 17 anos, seis meses e 26 di-
as at edio n. 927, datada de 27 de
Novembro de 1992.
Durante todo esse tempo, O Jornal procurou
cumprir o que se poderia chamar um saudvel
dever de desrespeito pelo Poder. Em nome,
precisamente, das multides que no tm qualquer parcela de poder, esforou-se por
revelar ao grande publico as ambies secre-
tas de tantos daqueles que, gravitando ao re-
dor do Poder do Estado, dos partidos, do
dinheiro ou das confisses religiosas , colo-
cam os seus interesses pessoais acima dos
reais interesses do Pas.
* * *
De tudo quanto se passou nas 927 semanas em que durou, procurou O Jornal ser, em cada
nmero, a histria de importantes instantes
histricos, procurando captar a quente o que
iria ser lido a frio. Isto sob diversas direces
editoriais, desde a primeira, de Joaquim Letria,
entre Maio de 1975 e Novembro de 1977. Se-
guiu-se-lhe, em 2 de Dezembro desse ano,
Jos Carlos de Vasconcelos, sendo eu prprio
director-adjunto, at que, em 1985, quando JCV foi tentado pela poltica (no PRD), fui eu
prprio eleito director pelos restantes societ-
rios.
Nesse posto, que ocupei at ao ponto final!, em
1992, fui coadjuvado por trs directores-
adjuntos (Manuel Bea Mrias, Carlos Cce-
res Monteiro e Pedro Rafael dos Santos),
sendo que o primeiro deles, j no lugar de n.
2 desde 1981, foi surpreendido por uma morte inesperada e prematura, em 1987, aos 49
anos de idade.
9
Essa morte representou um golpe durssimo, em
termos pessoais, mas tambm no captulo
profissional: era ele um dos mais talentosos
construtores de ttulos jornalsticos que algu-
ma vez conheci, pertencendo-lhe a autoria dos que mais se distinguiriam nas capas de
O Jornal. Foi, tambm por isso, uma falta
que nunca mais foi possvel colmatar.
O anncio que levou Nobre da Costa a So Bento...
[Entre as manchetes mais originais concebidas
pelo M. B. M., recordo uma particularmente
incisiva, publicada no n. 171 (edio de 4/10
de Agosto de 1978), sob a forma de um ima-
ginrio anncio da Presidncia da Repblica,
quando Ramalho Eanes procurava resolver o impasse da falta de um novo chefe do Gover-
no, antes da escolha de Alfredo Nobre da
Costa para o lugar de primeiro-ministro (29 de
Agosto/22 de Novembro de 1978). Dizia as-
sim: Primeiro-ministro / Precisa-se / Demo-
crata e competente, com ou sem prtica, livre
de obrigaes militares. Exigem-se bons con-
tactos e apoio dos partidos politicos, mesmo
de sinais contrarios. Assunto muito srio.
Condies a combinar. Entrada imediata para
prestao de provas em So Bento. / Respos-
ta ao palcio de Belm].
* * *
Nunca uma migalha da independncia de O Jornal alguma vez foi beliscada nas suas re-
laes com os protagonistas politicos que ao
longo dos anos se sucederam no Poder. Alis,
apenas uma vez na sua histria deu indicao
de voto explcita aos seus leitores, nas elei-
es intercalares de Dezembro de 1979,
quando, posicionando-se contra a AD (Aliana
Democrtica) de S Carneiro, defendeu o voto
na FSP (Frente Socialista Popular), liderada por Mrio Soares. O malogrado lder do ento
PPD zangou-se, tendo inclusivamente amea-
ado com um corte de relaes. Mas a zanga
passou-lhe depressa: a AD ganhou e, na edi-
o seguinte, Francisco S Carneiro um
social-democrata de gema j falava dos
seus projectos a O Jornal, enquanto Mrio
Soares analisava a derrota da FSP e, por
conseguinte, do PS. * * *
Nos primeiros anos da dcada de 1980, alguns
reforos da equipa de O Jornal foram espe-
cialmente relevantes. por essa poca que
Silva Costa entra tambm para a sociedade,
como accionista e redactor. E a Redaco e o
corpo de colaboradores so, um pouco mais
tarde, enriquecidos com as entradas de Fer-
nando Dacosta, Daniel Ricardo, Francisco Va-le, Fernanda Mestrinho, Clara Pinto Correia,
Rogrio Rodrigues, Antnio Mega Ferreira,
10
Antnio Duarte e os grafistas Antnio Martins
e Joaquim de Brito. Outros nomes de colabo-
radores, chegados desde logo ou um pouco
mais tarde: Clara Ferreira Alves, Ins Pedrosa,
Miguel Lemos, Jaime Antunes, Lus Salgado Matos e Jos Lus Saldanha Sanches (que a
certa altura fizeram as pginas de Economia
de O Jornal, em longas madrugadas alimen-
tadas a caf).
O ficheiro de colaboradores externos de O Jor-
nal inclua centenas de nomes, sendo por is-
so de impossvel enumerao no corpo deste
texto: a sua listagem figurar em anexo, espe-
rando-se que sem nenhuma falha significativa. Assinale-se, entretanto, que Carlos Fino foi cor-
respondente em Moscovo, Manuel Lopes e
Juan Frisuelosem Madrid e Bernardo Futcher
Pereira em Washington, J. M. Nobre-Correia
em Bruxelas e Carlos Martins em Bona. Em
Paris, sucederam-se os nomes de Isabel Soa-
res, Virglio de Lemos e Daniel Ribeiro. Na
frente interna, designadamente no Porto, hou-
ve tambm dois excelentes delegados-correspondentes: primeiro, Rodrigues Alves;
depois, Germano Silva, reconhecidamente um
dos maiores conhecedores de tudo o que diga
respeito cidade. Em Coimbra, o correspon-
dente era Joo Fonseca.
Tantos so os nomes a registar tendo pertencido,
de forma mais ou menos prxima, grande
famlia de jornalistas e colaboradores (regula-
res ou episdicos) de O Jornal que vou, cer-tamente, correr o risco de deixar algum es-
quecido. Mesmo assim, tento completar o
quadro, acrescentando alguns nomes de re-
prteres e reprteres-fotogrficos: Nuno Ribei-
ro, Pedro Vieira, Carneiro Jacinto, Rogrio Vi-
digal, Rogrio Rodrigues, Horcio Piriquito, Fi-
lipe Lus, Jos Manuel Rodrigues da Silva, Ferreira Fernandes, Isabel Oneto, Jos Lus
Feronha, Nicolau Santos, Carlos Vaz Marques,
Maria Joo Martins, Eunice Andreia, Fernando
Ricardo, Lus Barra e Jos Eduardo Rebelo
que seria o ultimo chefe de Redaco, depois
de Assis Pacheco e Carneiro Jacinto. (Para
diminuir o risco de excluses injustas, anexa-
rei a esta memria uma lista exaustiva, alfa-
beticamente ordenada, de quantos nos foram, por assim dizer, familiares).
* * *
Com a passagem dos anos, O Jornal transfor-
mar-se-ia na pea principal de um corpo de
publicaes diversas, entre as quais se distin-
guia o Se7e (lanado em Junho de 1978),
grande semanrio dedicado area dos espec-
tculos, mas tambm o JL Jornal de Le-
tras, Artes e Ideias (Maro de 1981), a revista Histria (1978), O Jornal da Educao, ou,
com menor expresso, o Bisnau e o Correio
Econmico (este, na verdade, uma espcie
de newsletter em que se reproduziam artigos
da imprensa especializada internacional). Mas
viria a desempenhar igualmente algum prota-
gonismo na criao da TSF-Rdio Jornal e da
SIC, em 1986, sobretudo na primeira, em que
chegou a ter 34 por cento da prpria Projornal, mais cinco por cento da Intereditor, uma em-
presa cujo capital era pertena dos accionis-
11
tas de O Jornal. Assim sendo, a Projornal ti-
nha dois dos cinco administradores da TSF,
entre os quais o lugar de presidente (eu pr-
prio), enquanto Emdio Rangel era o director-
geral. Outros projectos no chegaram a vingar, ou no
foram sequer tentados. Em 1980, a Imprensa
dava conta de que O Jornal e o dirio fran-
cs Le Monde planeavam associar-se, para
lanar em Portugal um dirio intitulado O
Mundo, mas a verdade que a ideia no foi
avante, por no ter havido acordo no grupo
dos fundadores de O Jornal.
Mas O Jornal foi tambm ncleo central de uma editora de livros, que, sendo embora relativa-
mente modesta em termos quantitativos, ain-
da se traduziu num catlogo com mais de oi-
tenta ttulos de meia centena de autores, entre
os quais Augusto Abelaira, Natlia Correia,
Baptista-Bastos, Jos Cardoso Pires, Mrio
Dionsio, Eugnio de Andrade, Maria Velho da
Costa, lvaro Guerra, Sophia de Mello Brey-
ner, Gabriel Garcia Marquez, Lygia Fagundes Teles, Carlos Drumond de Andrade, Joo
Ubaldo Ribeiro, Maria Judite de Carvalho, Jo-
s Fernandes Fafe, Manuel Alegre, Antnio
Victorino de Almeida, Hlia Correia, Amrico
Guerreiro de Sousa, Jorge Listopad, Maria Al-
berta Meneres, Carlos Correia, Teolinda Ger-
so e Nuno Bragana.
Obras singulares neste campo de actividade
seriam, ainda na dcada de 1970, Cartoons e Caricaturas Portuguesas dos Anos de Sa-
lazar, de Joo Abel Manta, e A Revista
Portuguesa Uma Histria Breve do Teatro
de Revista, de Vtor Pavo dos Santos, bem
como a edio, ilustrada por Joo Abel Manta,
de um texto esquecido de Ea de Queirs,
Primeiro de Maio, apresentada por A. Cam-pos Matos. (Um rol completo dessas obras e
respectivos autores vai tambm em anexo).
Embora se trate de um mini-retrato do que foi O
Jornal, no seria justo esquecer o seu Centro
de Documentao, dirigido por Maria Joo
Mrias, nem a Intergrfica, uma empresa por
ns constituda com dois grficos (Lus Arajo
e Lus Desorta). No que me diz respeito de
uma forma mais prxima, refiro simbolicamen-te as minhas primeira e ltima secretrias
Rita Fonseca e Paula Godinho. Outras secre-
trias passaram, igualmente, pela Projornal,
entre elas Cristina Cardoso, Isabel Pires, He-
lena Garcia, Teresa Rodrigues, Maria Jos
Mourato, Ana Paula Figueiredo, Otlia Peixoto
e Teresa Brs (no centro de documentao),
mas no deixo tambm de lembrar o indis-
pensvel Fernando Moreno, verdadeiro pau para toda a obra).
Neste caudal de recordaes, necessariamente
limitado, no quero deixar de evocar aqueles
que, de entre os iniciadores desta aventura,
no podem celebrar este 40. aniversrio. Diz-
se que Roberto Marinho, o clebre criador do
universo da Globo brasileira, mesmo j com
muita idade, nunca dizia Quando eu mor-
rer, mas sim Se eu faltar Eis, pois, de entre os fundadores de O Jornal, aqueles
que faltaram: Manuel Bea Mrias (e a sua
12
mulher, Maria Joo), Afonso Praa, Rui Pi-
menta, Carlos Cceres Monteiro e Joaquim
Lobo. E, tambm, outros que vieram, posteri-
ormente, a ser tambm societrios: Antnio
Gomes da Costa, Fernando Assis Pacheco e Manuel da Silva Costa.
* * *
O que fica registado so apenas alguns epis-
dios entre os muitos que se poderiam evocar,
retirados de um riqussimo historial de uma
experincia pioneira, que se prolongou at ao
final de 1992, sendo depois continuada com a
criao da Viso, a que tambm gostei muito
de estar associado. No sou muito de ficar agarrado ao passado,
mas nem por isso deixo de me lembrar com
alguma saudade da minha ida a Lausanne,
onde ca de paraquedas, apenas armado com
um recorte do El Pas, que o Cceres Mon-
teiro, sabedor do meu interesse por notcias
sobre Imprensa e os media em geral, me tinha
dado um dia. Era uma pequena notcia a duas
colunas em que se dava conta da entrada do Grupo Edipresse em Espanha. No final, l se
dava tambm notcia de que a Edipresse po-
deria vir a interessar-se por Portugal.
Resolvi telefonar a Pierre Lamunire, o lder da
Edipresse, a pedir-lhe uma entrevista. Foi o
incio de uma negociao que durou alguns
meses, conseguindo-se com ela uma faanha
rara em Portugal: a sua confidencialidade do
princpio ao fim A verdade que a diligncia veio a ter um desfe-
cho positivo, com a aquisio pela Edipresse
de 68 por cento da Projornal (entretanto trans-
formada em sociedade annima, com o capi-
tal a atingir 200 mil contos, graas a sucessi-
vos aumentos por incorporao de reservas).
Mais tarde, a Edipresse adquiriu-nos os res-tantes 32 por cento, mas devo dizer que em
momento algum foi posta em causa, sob ne-
nhuma forma, a nossa total liberdade e inde-
pendncia jornalstica.
Isso permitiu a O Jornal viver mais algum tem-
po, antes de nos decidirmos pelo seu desapa-
recimento definitivo, com a edio de 27 de
Novembro de 1992, para dar lugar Viso,
cujo primeiro nmero foi publicado em 25 de Maro de 1993, com um lanamento especta-
cularmente assinalado com uma festa numa
tenda gigante, em frente do n. 232, onde se
situava a sede hisrica da Projornal. O ento
Presidente Mrio Soares foi uma das muitas
centenas de convidados presentes, entre poli-
ticos, diplomatas, intelectuais, artistas e jorna-
listas. Foi uma festa inesquecvel.
Virar de pgina, na apresentao da Viso, em 25 de Maro de 1993: Jos
Silva Pinto, Mrio Soares, Pierre Lamunire e Jos Carlos de Vasconcelos
A preparao da nova revista foi objecto de in-
tensos trabalhos, em todos os domnios re-
13
dactorial, fotogrfico, grfico, mas tambm
administrativo , alguns dos quais realizados
na Sala Kioto do Hotel Altis, onde o prprio O
Jornal havia sido idealizado, mas tambm em
Lausanne, na sede da Edipresse. (Recordo com particular saudade os contactos que
mantive com Pierre Lamunire, Marcel Pas-
che, Jean Pierre Mrot, Andr Jaunin e Andr
Stumpges, entre outros).
A Viso foi, logo desde o incio, indiscutivel-
mente um xito, fazendo actualmente parte do
universo de publicaes da Impresa, em con-
sequncia da deciso da Edipresse de aban-
donar todas as suas actividades no estrangei-ro, em consequncia da sua aliana com ou-
tro grande grupo suo.
* * *
Passados 40 anos sobre a fundao de O Jor-
nal, no posso deixar de sublinhar a excepci-
onalidade dessa experincia, que ningum,
alis, voltou a tentar levar a cabo.
Repeti-la nos mesmos moldes ser, decerto,
uma tarefa impossvel: ainda que se possa admitir que haja, hoje, jornalistas teoricamente
desejosos de repetir a experincia, no me
parece que abunde o nimo necessrio sua
concretizao.
As circunstncias so irrepetveis: quem acredita
que seja possvel, por estes dias, reunir um
grupo de jornalistas ainda jovens, mas sufici-entemente experientes para arriscar um tal
empreendimento, sabendo-se que o capital
inicial exigido seria muito mais elevado do que
o equivalente aos salrios de trs meses?
Os nossos 2 150 contos iniciais seriam, hoje,
quanto?
A minha vida passa-se, hoje, longe do universo
dos media. Mas, como costumo dizer, os anos
que nesse mundo vivi (quase 50...) esses ningum me tira. E os anos que passei, na
Projornal, em O Jornal e nos primeiros tem-
pos da Viso, foram seguramente dos me-
lhores e mais felizes dos que me foi dado vi-
ver.
Por isso estou muito grato a quantos comigo
partilharam a aventura. E termino com um dito
do Raul Solnado de que gosto muito: faam
[tambm] o favor de ser felizes...
JOS SILVA PINTO
Quem foi quem nas Redaces de O Jornal & afinsAfonso Praa Albino Ribeiro Cardoso Ana Paula Correia Ana Pereira da Silva Ana S Lopes ngela Caires Antnio Carlos Carvalho Antnio Carneiro Jacinto
Antnio Macedo Antnio Mega Ferreira Carlos Cceres Monteiro Clara Ferreira Alves Clara Pinto Correia Cludia Lobo Daniel Ricardo Edite Soeiro
Emlia Caetano Fernando Antunes Fernando Assis Pacheco Fernando Dacosta Fernando Gaspar Fernando Negreira Fernando Ricardo Ferreira Fernandes
14
Filipe Lus Francisco Sarsfield Cabral Francisco Vale Gonalo Mendes Hlia Correia Henrique Monteiro Hernni Santos Horcio Piriquito Incio Ludgero Ins Pedrosa Isabel Fragoso Isabel Oneto Joo Adelino Faria Joo Garcia Joo Ribeiro Joo Segurado Joaquim Bizarro Joaquim Letria Joaquim Lobo Jos Carlos de Vasconcelos Jos Eduardo Rebelo Jos Lus Feronha Jos Manuel Barroso Jos Manuel Fernandes Jos Manuel Rodrigues da Silva
Jos Pedro Castanheira Jos Pinto Nogueira Jos Plcido Jnior Jos Silva Pinto Lina Pacheco Pereira Lus Almeida Martins Lus Barra Lus Ribeiro Lurdes Feio Manuel Bea Mrias Manuel da Silva Costa Mnica Pereira Nuno Guerreiro Nuno Ribeiro Paula Serra Paulo Chitas Paulo Fidalgo Pedro Castro Pedro Mrias Pedro Rafael dos Santos Pedro Vieira Rogrio Rodrigues Rogrio Vidigal Rui Pimenta Viriato Teles
Vtor Pinto Basto Se7e Accio Barradas Antnio Costa Santos Belino Costa Joo Vaz Maria Joo Duarte Manuel Falco Manuel Neto Mrio Zambujal Oscar Mascarenhas Pedro Rolo Duarte Rudolfo Iriarte JL Jos Jorge Letria Maria Joo Martins Ricardo Arajo Pereira Histria Fernando Rosas Irene Pimentel
Servios Administrativos e Comerciais Antnio Gomes da Costa Carlos Varo
Helena Sequeira Manuela Machado
Natacha Gomes Teresa Meio-Tosto
Um rico e diversificado corpo de colaboradores A. Campos Matos Adelino Amaro da Costa Afonso de Barros Agustina Bessa Lus Alberto Arons de Carvalho Albertino Antunes Alberto Martins Alberto Pimenta Alexandre Melo Alfredo Campos Matos lvaro Cunhal
Amadeu Lopes Sabino Antnio Almeida Santos Antnio Barreto Antnio Freitas de Sousa Antnio Guterres Antnio Jorge Branco Antnio Lobo Antunes Antnio Lopes Vieira Antnio Macedo Antnio Noronha Antnio Pedro Vasconcelos
Antnio Reis Antnio Rolo Duarte Antnio Sousa Franco Antnio Victorino dAlmeida Arnaldo Saraiva Artur Portela Augusto Abelaira Augusto de Carvalho (Maputo) Baptista-Bastos Baslio Horta Benjamin Kuznetsov (Moscovo)
15
Bernardo Futcher Pereira Bernardo Santareno Carlos Andrade Carlos Brito Carlos Fino Carlos Gil Carlos Oliveira Santos Cssio Loredano Catarina Vaz de Almeida Clara Pinto Correia Cludia Costa Daniel Amaral Daniel Ribeiro Eduardo Loureno Eduardo Paes Mamede Eduardo Prado Coelho Elisa Drago (Paris) Eunice Andreia Eurico de Figueiredo Eurico da Fonseca Francisco Lou Francisco Lucas Pires Fernanda Dinis Fernando Mateus Fernando Namora Franco Caruso Francisco Mata Gabriel Garca Marquz Germano Silva Guilherme Oliveira Martins Helena Roseta Helena Salem (Rio de Janeiro) Helena Sanches Osrio Henrique de Barros Ildio Rocha Irineu Garcia Isabel Atade Cordeiro Isabel do Carmo Isabel Risques Jacinto Baptista Jacinto Rego de Almeida Jill Jolliffe Joo Abel Manta Joo Antunes Joo Benard da Costa Joo Cravinho
Joo de Freitas Branco Joo Fonseca Joo Grego Esteves Joo Madeira Joo Mrio Grilo Joo Medina Joo Palma-Ferreira Joo Paulo Guerra Joo Paulo Martins Joo Pinharanda Joo Salgueiro Joo Ubaldo Ribeiro Jorge Gaspar Jorge Listopad Jos A. Salvador Jos Augusto Seabra Jos Cardoso Pires Jos Costa Rodrigues Jos Gameiro Jos Guilherme Moreira Jos Lus Porfrio Jos Lus Saldanha Sanches Jos Manuel Garcia Jos Manuel Jardim J. M. Nobre-Correia Jos Navarro de Andrade Jos Sesinando (Palla e Carmo) Jos Vaz Pereira Juan Frisuelos (Madrid) Leonor Xavier Lus Filipe Barreto Lus Osrio Lus Paixo Martins Lus Pinheiro de Almeida Lus Poas Lus Salgado de Matos Lus Sttau Monteiro Lusa Mellid-Franco Manuel F. Andrade (Rodrigo Sousa e Castro) Manuel Lopes Manuel Rio de Carvalho Manuel S. Fonseca Manuel Vieira Manuel Vilas Boas Manuela Paixo (Roma)
Marcello Duarte Mathias Margarida Amaro Maria Carrilho Maria do Carmo Caracol Maria Filomena Mnica Maria Joo Mrias Maria Joo Bea Mrias Mrio Neves Melo Antunes Miguel Esteves Cardoso Miguel Urbano Rodrigues Miller Guerra Natlia Correia Natlia Henriques (Cairo) Nelson di Maggio Nicolau Santos Nuno Brederode Santos Nuno Portas Onsimo Teotnio Almeida Os 3 Garfos (Maria Carrilho) (Isabel Ribeiro) (Francisco Capelo) Paulo Lameira Paulo de Matos (Bruxelas) Pedro Pezarat Correia Rodrigues Alves Rui Pimentel Serras Gago Severo Portela Teresa Matos Torres Couto Tolentino de Nbrega Urbano Tavares Rodrigues Vasco Colombo Verssimo Serro Vital Moreira Vtor Pavo dos Santos
16
Livros e autores publicados pelas Edies O Jornal Abelaira, Augusto. A Cidade das Flores. Abelaira, Augusto. Bolor. Abelaira, Augusto. Deste Modo ou Daquele. Abelaira, Augusto. O Bosque Harmonioso. Abelaira, Augusto. O nico Animal Que. Alegre, Manuel. Babilnia. Almada Negreiros, Maria Jos. Conversas com Sarah Affonso. Almeida, Antnio Victorino de. Coca-Cola Killer. Almeida, Antnio Victorino de. Memria da Terra Esquecida. Almeida, Jacinto Rego de. O Monculo. Andrade, Carlos Drummond de. 60 Anos de Poesia. Seleco, prefcio e notas de Arnaldo Saraiva. Andrade, Eugnio de. Poesia e Prosa I. Andrade, Eugnio de. Poesia e Prosa II. Andrade, Eugnio de. Porto. Os Sulcos do Olhar. Fotografias de Dario Gonalves. Andresen, Sophia de Mello Breyner. A Noite de Natal. Ilustraes de Jos Escada. Baptista-Bastos. A Colina de Cristal. Baptista-Bastos. As Palavras dos Outros. Baptista-Bastos. Elegia para um Caixo Vazio. Baptista-Bastos. O Secreto Adeus. Baptista-Bastos. Um Homem Parado no Inverno. Baptista-Bastos. Viagem de um Pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura. Barros, Henrique de, e Fernando Ferreira da Costa. Antnio Srgio: uma Nobre Utopia. Bragana, Nuno. Do Fim do Mundo. Buarque, Chico. pera do Malandro. Cabral, Lus. Crnica da Libertao. Caixeiro, Madalena. Sementes de S, Razes de Mim. Carvalho, Maria Judite de. Alm do Quadro. Correia, Carlos. Um Pssaro no Psiclogo. Ilustraes de Charlotte Dufour. Correia, Clara Pinto. Histrias Naturais. Correia, Hlia. A Fenda Ertica. Correia, Natlia. A Pcora. Correia, Natlia. As Npcias. Correia, Natlia. Erros Meus, M Fortuna, Amor Ardente. Correia, Natlia. O Sol nas Noites e o Luar nos Dias I. Correia, Natlia. O Sol nas Noites e o Luar nos Dias II. Correia, Natlia. Somos Todos Hispnicos. Costa, Maria Velho da. Lcialima. Coutinho, Alexandre. Como se Faz um Presidente. Ensaio sobre Mediatizao Poltica. Diffie, Bailey W. Preldio ao Imprio. Navegaes e Comrcio Pr-Henriquinos. Traduo de Flvia Coelho Dias (co-
edio Teorema). Dionsio, Mrio. A Morte para os Outros. Dionsio, Mrio. Autobiografia. Dolores, Carmen. Retrato Inacabado. Duarte, Mrio. Jornal Polidrico. Fafe, Jos Fernandes. Esquerda a Novssima e a Eterna. Fafe, Jos Fernandes. Os Lusadas e os Outros e Outros Poemas. Ferraz, Ivens. A Asceno de Salazar. Prefcio e anotaes de Csar Oliveira. Ferro, Gaetano. As Navegaes Portuguesas no Atlntico e no ndico. Traduo de Jos Colao Barreiros (co-edio
Teorema). Figueiredo, Eurico. Psicanlise da Saudade. Gerso, Teolinda. O Silncio. Gerso, Teolinda. Os Guarda-Chuvas Cintilantes. Gerso, Teolinda. Paisagem com Mulher e Mar ao Fundo.
17
Guerra, lvaro. A Lebre. Guerra, lvaro. Caf Repblica. Guerra, lvaro. Caf Central. Guerra, lvaro. Caf 25 de Abril. Guerra, lvaro. Os Mastins seguido de O Disfarce. Jolliffe, Jill. Timor, Terra Sangrenta. Jorge, Artur. Vrtice da gua. Letria, Joaquim, et al. Eleies 76. Letria, Joaquim. Histrias para Ler e Deitar Fora. Listopad, Jorge. Mar Seco, Gelado Quente So 21 de Repente. Ilustraes de Henrique Cayatte. Lopes, David. A Expanso em Marrocos (co-edio Teorema). Loureno, Eduardo. A Europa Desencantada. Macedo, Antnio. Na Outra Margem de Abril. Pequenas Histrias de Grandes Homens. Prefcio de Antnio Almeida
Santos. Manta, Joo Abel. Caricaturas Portuguesas. Manta, Joo Abel. Cartoons. Prefcio de Jos Cardoso Pires. Mrquez, Gabriel Garca. A Aventura de Miguel Littn Clandestino no Chile. Traduo de Margarida Santiago. Mrquez, Gabriel Garca. Crnica de uma Morte Anunciada. Traduo de Fernando Assis Pacheco. Mata-Ces, Francisco. Lord Canibal. Menres, Maria Alberta, e Carlos Correia. O Stimo Descarrilamento. Desenhos de Jorge Colombo. Monteiro, Cceres. Amaznia Probida. Um Reprter Portugus no ltimo Lugar do Mundo onde a Aventura ainda
Possvel. Monteiro, Cceres. O Mundo em AZERT (co-edio Crculo dos Leitores). Morison, S. E. As Viagens Portuguesas Amrica. Traduo de Lus M. Maia Varela
(co-edio Teorema). Mrias, Manuel Bea. Mundos e Fundos. Crnicas de Paixo e Maldizer. Namora, Fernando. Autobiografia. Neves, Mrio. A Chacina de Badajoz. Relato de uma Testemunha de um dos Episdios Mais Trgicos da Guerra Civil
de Espanha. Oliveira, Csar. Salazar e a Guerra Civil de Espanha. Oliveira, Csar. Salazar e o seu Tempo. Pearson, M. N. Os Portugueses na ndia. Traduo de Ana Mafalda Telo Dias (co-edio Teorema). Pezarat Correia, Pedro. Centuries ou Pretorianos? Pimentel, Rui. Desenhos de Escrnio e Mal-Dizer. Prefcio de Agostinho da Silva. Pires, Jos Cardoso. Balada da Praia dos Ces. Pires, Jos Cardoso. Jogos de Azar. Pires, Jos Cardoso. O Anjo Ancorado. Pires, Jos Cardoso. O Hspede de Job. Queiroz, Ea de, Ramalho Ortigo, Batalha Reis, et al. Cartas Inditas. Introduo, comentrios e notas de Beatriz
Berrini. Queiroz, Ea de. Primeiro de Maio. Nota prvia de A. Campos Matos e ilustraes de Joo Abel Manta. Quental, Antero de. Cartas Inditas a Alberto Sampaio. Transcrio, organizao, prefcio e notas de Ana Maria
Almeida Martins. Resende, Jlio. Autobiografia. Ribeiro, Joo Ubaldo. Livro de Histrias. Ricardo, Daniel. Manual do Jornalista. Rosas, Fernando. As Primeiras Eleies Legislativas sob o Estado Novo. 16 de Dezembro de 1934. Salvador, Jos A. Roteiro de Vinhos Portugueses 1991. Salvador, Jos A. Roteiro de Vinhos Portugueses 1992. Santos, Vtor Pavo dos. A Revista Portuguesa. Uma Histria Breve do Teatro de Revista. Sousa, Amrico Guerreiro de. A Morte das Baleias. Suza, Linda de. A Mala de Carto. Telles, Lygia Fagundes. A Disciplina do Amor. Torrado, Antnio. Almanaque Lacnico. Ilustraes de Espiga. Torrado, Antnio. Dez Contos de Reis. Ilustraes de Jos Pinto Nogueira. Torrado, Antnio. Dez Dedos de Conversa. Ilustraes de Jos Pinto Nogueira. Ventura, Cndida. O Socialismo que Eu Vivi.