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“E se fizéssemos um jornal com estes gajos?...” José Silva Pinto Se eu fosse um tipo “organizado” e “capaz de prever o futuro”, ainda deveria conservar num qualquer baú duas pequenas folhas de papel, onde, num qualquer dia de Novembro ou De- zembro de 1974, eu e o Manuel Beça Múrias escrevemos alguns dos nomes que viriam a constar da lista dos 15 jornalistas fundadores de “O Jornal”. Talvez ainda os tenha guardado algures, num dos meus inúmeros caixotes de papéis antigos, os quais já sei que nunca, ja- mais, em tempo algum, irei conseguir consul- tar... Mas não preciso desses antigos “linguados” de papel amarelado que eram usados para es- crever os originais no “Diário de Notícias”, on- de ambos trabalhávamos, para me lembrar perfeitamente de que num deles eu escrevi, antes de uma lista de nomes, uma pergunta muito simples: “E se fizéssemos um jornal com estes gajos?”. O Beça Múrias escreveu outra lista, na qual, curiosamente, os nomes eram quase todos os mesmos. [Diga-se, em abono da verdade, que já antes o Beça Múrias havia feito, individualmente, dili- gências no sentido de encontrar quem quises- se apoiar a criação de um novo jornal, mas não foi bem sucedido. Sem margem para dú- vidas, o que nos levou à busca de uma solu- ção jornalística nova — e a todos os títulos in- dependente — foi o facto de, no final de 1974, sucessivas tentativas de controlo partidário e diversos desvarios pseudo-revolucionários começarem a tornar insustentável a perma- nência num jornal estatizado como era, então, o “Diário de Notícias”]. Era, ainda, um rol muito incompleto aquele con- junto de nomes por nós redigido, mas, se bem me lembro, já lá estavam os nomes do Joa- quim Letria, do Afonso Praça, do Pedro Rafael dos Santos, do Francisco Sarsfield Cabral, do Carlos Cáceres Monteiro, do Hernâni Santos, do Fernando Gaspar e do Joaquim Lobo — e poucos mais. O mesmo aconteceu, um pouco mais tarde, nos casos do Rui Pimenta, do Ri- beiro Cardoso, do António Carlos Carvalho e do Luís Almeida Martins, bem como no do Jo- ão Segurado, entretanto regressado do seu exílio em Londres, onde privara com o Joa- quim Letria. Quanto ao José Pinto Nogueira, também ex-exilado (na Suíça), começou como colaborador, só mais tarde vindo a ser plena- mente integrado na equipa de societários. Um caso singular foi o do José Carlos de Vas- concelos: o seu nome constava, obviamente, da nossa lista comum inicial, não obstante a sua condição de director-adjunto do “Diário de Notícias”, que viria a abandonar em solidarie- dade com o director, José Ribeiro dos Santos, vítima de um saneamento totalmente injusto — e estúpido — típico dessa época, mesmo antes do 11 de Março de 1975 — o que o le- vou, provisoriamente à Direcção de Informa-

“E se fizéssemos um jornal com estes gajos?”nese-de-um... · !3 jornais que então abordámos aceitou o desa-fio de partilhar os riscos do lançamento de um jornal de jornalistas

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  • E se fizssemos um jornal com estes gajos?... Jos Silva Pinto

    Se eu fosse um tipo organizado e capaz de

    prever o futuro, ainda deveria conservar num

    qualquer ba duas pequenas folhas de papel,

    onde, num qualquer dia de Novembro ou De-

    zembro de 1974, eu e o Manuel Bea Mrias

    escrevemos alguns dos nomes que viriam a

    constar da lista dos 15 jornalistas fundadores de O Jornal. Talvez ainda os tenha guardado

    algures, num dos meus inmeros caixotes de

    papis antigos, os quais j sei que nunca, ja-

    mais, em tempo algum, irei conseguir consul-

    tar...

    Mas no preciso desses antigos linguados de

    papel amarelado que eram usados para es-

    crever os originais no Dirio de Notcias, on-de ambos trabalhvamos, para me lembrar

    perfeitamente de que num deles eu escrevi,

    antes de uma lista de nomes, uma pergunta

    muito simples: E se fizssemos um jornal

    com estes gajos?. O Bea Mrias escreveu

    outra lista, na qual, curiosamente, os nomes

    eram quase todos os mesmos.

    [Diga-se, em abono da verdade, que j antes o

    Bea Mrias havia feito, individualmente, dili-gncias no sentido de encontrar quem quises-

    se apoiar a criao de um novo jornal, mas

    no foi bem sucedido. Sem margem para d-

    vidas, o que nos levou busca de uma solu-

    o jornalstica nova e a todos os ttulos in-

    dependente foi o facto de, no final de 1974,

    sucessivas tentativas de controlo partidrio e

    diversos desvarios pseudo-revolucionrios

    comearem a tornar insustentvel a perma-

    nncia num jornal estatizado como era, ento,

    o Dirio de Notcias].

    Era, ainda, um rol muito incompleto aquele con-

    junto de nomes por ns redigido, mas, se bem

    me lembro, j l estavam os nomes do Joa-quim Letria, do Afonso Praa, do Pedro Rafael

    dos Santos, do Francisco Sarsfield Cabral, do

    Carlos Cceres Monteiro, do Hernni Santos,

    do Fernando Gaspar e do Joaquim Lobo e

    poucos mais. O mesmo aconteceu, um pouco

    mais tarde, nos casos do Rui Pimenta, do Ri-

    beiro Cardoso, do Antnio Carlos Carvalho e

    do Lus Almeida Martins, bem como no do Jo-o Segurado, entretanto regressado do seu

    exlio em Londres, onde privara com o Joa-

    quim Letria. Quanto ao Jos Pinto Nogueira,

    tambm ex-exilado (na Sua), comeou como

    colaborador, s mais tarde vindo a ser plena-

    mente integrado na equipa de societrios.

    Um caso singular foi o do Jos Carlos de Vas-

    concelos: o seu nome constava, obviamente,

    da nossa lista comum inicial, no obstante a sua condio de director-adjunto do Dirio de

    Notcias, que viria a abandonar em solidarie-

    dade com o director, Jos Ribeiro dos Santos,

    vtima de um saneamento totalmente injusto

    e estpido tpico dessa poca, mesmo

    antes do 11 de Maro de 1975 o que o le-

    vou, provisoriamente Direco de Informa-

  • 2

    o da RTP (cargo que exerceu numa espcie

    de servio cvico pro bono). Embora desde

    o incio participante na sociedade e nos traba-

    lhos preparatrios do lanamento do novo jor-

    nal, s viria a entrar a tempo inteiro nas vs-peras da sada do primeiro nmero, mas ain-

    da a tempo de produzir a primeira manchete:

    O Conselho da Revoluo decidiu: a Intersin-

    dical j confederao.

    Em resumo, quase todos os nomes inicialmente

    seleccionados tinham como denominador co-

    mum o facto de estarem relacionados com

    trs publicaes: o Dirio de Lisboa, a Fla-

    ma e A Capital. * * *

    Joaquim Letria, Manuel Bea Murias, Joao Segurado e Lus Almeida Martins

    nos primeiros dias da construo de O Jornal

    Joaquim Letria foi, naturalmente, de entre todos,

    o escolhido para assumir o cargo de director

    do novo semanrio: para alm da sua compe-

    tncia comprovadssima como grande reprter

    oriundo do Dirio de Lisboa, acumulara tam-

    bm um imenso capital profissional durante alguns anos nos quadros da seco portu-

    guesa da BBC, em Londres, de onde regres-

    sou logo a seguir ao 25 de Abril, para ingres-

    sar na RTP, onde protagonizaria diversos

    programas que dele fizeram uma verdadeira

    estrela televisiva.

    Se bem me lembro, o projecto comeou a ser

    delineado, em reunies aqui e ali, por exem-

    plo num andar da Rua Barata Salgueiro, onde

    o Joaquim Letria trabalhava tambm como de-

    legado de um jornal de Moambique. Isso an-tes de comearem as reunies na sala Kioto,

    no Hotel Altis, no outro lado da rua, onde viria

    a ser requerida a certido de nascimento

    das Publicaes Projornal (resumidamente

    designada por Projornal) e de O Jornal. Es-

    sas reunies na sala Kioto eram bem longas e

    animadas e fumava-se tanto que at os

    alarmes de incndio chegavam a disparar

    Outro nome que, numa segunda fase do proces-so, tambm chegou a constar da lista da Re-

    daco foi o do Jos Manuel Barroso, oriundo

    do Comrcio do Funchal e do MFA, em que

    participara na qualidade de capito miliciano.

    E tambm o do Fernando Antunes, quase

    desde o incio como colaborador permanente,

    funes que exercia em simultneo como re-

    dactor do Jornal de Notcias, bem como o do

    reprter-fotogrfico Incio Ludgero, vindo de A Capital.

    * * *

    Por ser verdade, tambm me cumpre atestar que

    fundao de O Jornal esteve associada

    uma pequena empresa, editora de uma revis-

    ta chamada Casa Viva, de que eram scios,

    entre outros, Antnio Reis, Eduardo Fortunato

    de Almeida e Diogo da Fonseca (os trs j

    desaparecidos) e Maria Fernanda Diniz. Sem o seu contributo, a aventura no teria sido

    possvel: na verdade, nenhum outro editor de

  • 3

    jornais que ento abordmos aceitou o desa-

    fio de partilhar os riscos do lanamento de um

    jornal de jornalistas...

    (Como acima deixei expresso, a abordagem

    mais significativa nesse sentido foi feita, em primeiro lugar, individualmente, pelo Manuel

    Bea Mrias, ao presidente da Renascena

    Grfica e director do Dirio de Lisboa, Ant-

    nio Pedro Ruella Ramos: era nosso amigo

    muitos de ns tnhamos trabalhado com ele

    no DL, mas no aceitou o desafio. Foi pena,

    como mais tarde foi por todos reconhecido).

    A propsito, lembro-me bem da diligncia admi-

    nistrativa que consistiu na busca da primeira sede de O Jornal, no n. 232 da Avenida da

    Liberdade, num rs-do-cho direito ento em

    runas: tendo sido pedidos vinte contos de

    renda, foi contraposto por Antnio Reis um

    pagamento de dez contos mensais, sendo ns

    a fazer as obras. E foi aceite. (Enquanto as

    obras necessrias se faziam, a toda a pressa,

    a nova redaco funcionou, provisoriamente,

    num andar na Avenida Sidnio Pais, prximo do Parque Eduardo VII).

    [O proprietrio do prdio da Avenida da Liberda-

    de era o sr. Mrio Macedo, tambm dono da

    Livraria Rodrigues, na Rua do Ouro, um ho-

    mem reconhecidamente muito poupado, que,

    vivendo no primeiro andar do nosso prdio,

    s concedia filha, j mais do que adulta, o

    direito de ocupar uma pequena sala que dava

    para a Rua Rodrigues Sampaio, onde ela ar-ranjou maneira de ganhar algum espao cons-

    truindo uma espcie de mezzanine, s pos-

    svel porque a casa tinha um p direito muito

    alto

    Ainda estou a v-lo a regressar a casa, vindo da

    Baixa, em dias mais frios, com um sobretudo

    castanho, com umas abas largussimas, que imagino ter sido adquirido ainda no princpio

    do sculo XX Mas, os mais divertidos epi-

    sdios passados com o sr. Macedo aconteci-

    am quando era necessrio negociar qualquer

    coisa com ele e amos (eu, o Joaquim Letria e

    o Henrique Pavo) procur-lo no seu escrit-

    rio na livraria controlava os seus funcion-

    rios mediante o uso de um apito, sendo que o

    nmero de apitadelas variava segundo o em-pregado a chamar para tratar deste ou daque-

    le assunto].

    * * *

    A Projornal foi constituda como uma sociedade

    por quotas, com um capital de 2 170 contos,

    em que os 15 jornalistas societrios detinham

    em conjunto 60 por cento (cada um exacta-

    mente com 86 800$00, correspondentes a

    trs meses de salrios brutos no recebidos na nova empresa...), cabendo Casa Viva os

    restantes 40 por cento.

    Cada uma das partes tinha um gerente efectivo e

    um suplente. gerente Casa Viva competia a

    administrao da sociedade em tudo quanto

    respeitasse, nomeadamente, aos assuntos

    comerciais, de promoo, publicidade e ven-

    das. Ao gerente designado pelos restantes

    scios nesse caso eu prprio cabia a administrao no respeitante ao aspecto e ao

    contedo das publicaes peridicas a editar.

  • 4

    Essa parceria manter-se-ia at finais de 1982,

    quando os jornalistas fundadores adquiriram a

    quota do grupo Casa Viva, passando, assim,

    a deter a propriedade total da Projornal.

    No se pense que foi fcil convencer todos os futuros societrios a entrar na aventura tal-

    vez por isso mesmo: porque era uma aventu-

    ra... Por exemplo, lembro-me perfeitamente

    do que me custou vencer as resistncias do

    Francisco Sarsfield Cabral. Nesse tempo, no

    estava ainda instituda a moda dos almoos

    de trabalho, mas lembro-me, como se fosse

    hoje, de conversarmos sobre o assunto me-

    sa de um restaurante chamado O Chocalho, no Largo de Santos, e de ele s aceder medi-

    ante uma condio sine qua non: s trabalha-

    ria em casa... Foi, pois, um precursor do tele-

    trabalho...

    E o trabalho que tambm tive para convencer o

    Lus Almeida Martins de que no devia desis-

    tir de ser jornalista de O Jornal, para se tor-

    nar professor numa qualquer escola secund-

    ria? Talvez ele se lembre dessa conversa bem prolongada, numa pastelaria do Largo do Ca-

    lhariz, certamente num intervalo do fecho se-

    manal de O Jornal, cuja composio e mon-

    tagem se fazia nas instalaes do Dirio de

    Lisboa, no Bairro Alto, para depois vir a ser

    impresso na Lisgrfica, em Queluz de Baixo.

    J o Antnio Carlos Carvalho entrou, mas a sua

    peculiar viso pessimista do mundo e sua

    posterior transformao em sacerdote ortodo-xo, depressa o levou a abandonar a nave de

    loucos que era, para ele, a redaco de O

    Jornal... O Ribeiro Cardoso tambm no

    aguentou muito tempo seduzido que estava

    pelos amanhs que [ainda] cantavam, na re-

    daco do Dirio de Lisboa, onde queria in-

    tervir todos os dias... Fernando Gaspar, que fazia parte da lista inicial, s se manteve na fi-

    cha tcnica at ao n. 3, aps o que desapa-

    receu sem deixar rasto.

    Quanto ao Rui Pimenta e ao Jos Manuel Barro-

    so, esses sairam bastante mais tarde, desa-

    pontados porque, em sua opinio, O Jornal

    no apoiava suficientemente a candidatura

    presidencial do general Eanes... [Isto talvez

    possa contribuir para desfazer o velho mito de que O Jornal era eanista...].

    Com a sada da scia Casa Viva e de alguns

    jornalistas societrios, a sociedade passou a

    integrar nomes como os do Henrique Segura-

    do Pavo (que inicialmente apenas funciona-

    va como conselheiro pro bono), do Antnio

    Gomes da Costa, do Fernando Assis Pacheco,

    do Silva Costa, que, cada um a seu modo,

    segundo as suas competncias prprias, tam-bm contribuiram em muito para o que foi o

    xito de O Jornal e de tudo o que lhe esteve

    associado, nas dcadas de 1970 e 1980.

    * * *

    Claro que tudo isso aconteceu h muito tempo,

    numa poca em que os jornalistas ainda no

    tinham deixado de ser camaradas, para se

    tornarem colegas... [E, j agora, devo dizer

    que temo bem que ainda venha o dia em que se trataro por companheiros de redao,

    como nas unies de facto...]. Outro pormenor

  • 5

    que d bem ideia de como tudo isso se pas-

    sou h muitos anos a inexistncia de um s

    nome de mulher na lista de fundadores: nessa

    poca, as redaces eram quase feudos

    masculinos, ao contrrio do que hoje, feliz-mente, acontece. (O primeiro nome feminino a

    constar da lista da redaco foi o da Lurdes

    Feio, uma jovem estagiria que, ainda en-

    quanto estudante, colaborara na Reuters e na

    Associated Press. E mais tarde, em diversas

    etapas da vida de O Jornal entraram tam-

    bm a Edite Soeiro, a Clara Pinto Correia, a

    Ana Paula Correia, a Paula Serra, a ngela

    Caires, a Cludia Lobo, a Olga Lobo, a Ana Pereira da Silva e a Emlia Caetano).

    * * *

    ramos, poca, rapazes mais ou menos idea-

    listas, mais ou menos jovens, na casa dos vin-

    te e tais / trinta e poucos anos, ainda no vis-

    tos como cotas e ultrapassados, como hoje

    acontece. Ainda no tinha chegado o tempo

    em que nenhum emprego garantido, ne-

    nhuma percia valorizada, nenhuma experin-cia prtica considerada de utilidade duradoura.

    Alis, penso at que a cartilha dos direitos

    humanos actualmente seguida deixou de in-

    cluir o direito a um emprego, por mais bem

    executado que seja. Por isso, muitas carreiras,

    at h pouco julgadas de futuro, esto a reve-

    lar-se vias rpidas para o desemprego...

    O primeiro nmero de O Jornal sado com

    data de 2 de Maio, mas colocado venda no prprio 1. de Maio que antecedeu o clebre

    Vero Quente de 1975 , espelhava j os di-

    as que se viviam no Portugal ps-

    revolucionrio, com notcias sobre o Conselho

    da Revoluo, a Intersindical transformada em

    Confederao e a presena dos capites de

    Abril na festa de Maio. Mas havia tambm notcias sobre os combates das ruas de Lu-

    anda e ao fim da Guerra do Vietname, que

    nessa semana ocorreu.

    Capa do primeiro nmero de O Jornal

    Essa primeira edio haveria de se esgotar rapi-

    damente em todo o pas, mas foi fruto de um parto com frceps, aps uma noite sem sono

    nas instalaes da Lisgrfica. O papel dispo-

    nvel, inicialmente adquirido empresa das

    listas telefnicas, no se adequava rotativa

    e a impresso foi vrias vezes interrompida.

    Por isso, s o nmero seguinte responderia

    efectivamente grande expectativa que no

    pas se criara quanto ao aparecimento de O

    Jornal. A verdade que, na sequncia dos

  • 6

    acontecimentos e das nacionalizaes de

    Maro desse ano, a Informao portuguesa

    estava controlada e O Jornal, pelas suas

    prprias caractersticas de publicao de pu-

    blicao independente e de jornal de jornalis-tas, era um sopro de respirao num ambien-

    te politicamente sufocante.

    * * *

    O primeiro anncio sobre O Jornal, que a RTP

    passara nos dias anteriores era uma ilustra-

    o disso mesmo. No guardamos notcias

    na gaveta, era o slogan. O grupo de jornalis-

    tas que, contra ventos e mars, se abalanara

    quele projecto, transportara, fora dos pr-prios braos, algumas secretrias para o rel-

    vado do Parque Eduardo VII. Dentro das se-

    cretrias, havia passarinhos, que voaram li-

    vremente quando as gavetas se abriram. Era

    uma metfora da informao em liberdade.

    Pssaros que rumavam rumo ao cu azul,

    como a gaivota que voava, voava, da cano

    que, por esses dias, se tornara uma espcie

    de hino ao 25 de Abril de 1974. Mas, enquanto a gaivota foi ferida na asa pelas

    perversidades da Revoluo, estes pssaros

    eram aves de esperana. Independente polti-

    ca e economicamente, O Jornal, sem rece-

    ber ordens nem instrues de ningum, reflec-

    tia, contudo, os sinais desse tempo simulta-

    neamente glorioso e dramtico. Na primeira

    edio, sob o ttulo Porqu O Jornal?, fala-

    va-se de uma aventura s possvel num jor-nal de jornalistas, em que estes sejam colecti-

    vamente os nicos responsveis pela sua ori-

    entao e execuo. E sublinhava-se como

    s a mordaa que o 25 de Abril tirara aos jor-

    nalistas proporcionava essa iniciativa.

    * * *

    Nomes importantes da cultura portuguesa sem-pre estiveram ligados a O Jornal, que, por

    isso, marcou, decisivamente, ao longo de uma

    poca, a poltica e as ideias no nosso pas.

    Logo no n. 1, vem publicado um poster de um

    artista que marcou, indelevelmente, o arran-

    que de O Jornal: Joo Abel Manta. O escri-

    tor Jos Gomes Ferreira tambm um dos

    colaboradores do primeiro nmero, bem como

    Csar Oliveira, autor de escritos politicos mui-to incisivos.

    No segundo nmero, teramos a colaborao de

    Mrio Zambujal, que mais tarde haveria de

    juntar-se equipa como primeiro director do

    jornal Se7e, criado pela Projornal e, durante

    alguns anos, tambm um fenmeno de ven-

    das, sobretudo devido s divertidssimas cr-

    nicas do Z Carioca de Limo, pseudnimo

    com que Pedro Rafael dos Santos dava novi-dades semanais sobre as novelas brasileiras

    que, entretanto, chegavam a Portugal, via TV

    Globo.

    Nesse mesmo n. 2, Salgado Zenha e Nandim

    de Carvalho, dois politicos que remavam con-

    tra a mar do poder estabelecido, davam uma

    marca de pluralismo ento impossvel na qua-

    se totalidade da Imprensa portuguesa, onde

    s o Expresso se mantinha tambm indepen-dente do poder politico. No n. 3, haveria a

    primeira colaborao de Marcelo Rebelo de

  • 7

    Sousa e tambm a de Fernando Namora, com

    os seus Cadernos de um Escritor.

    Mas tambm o poder dominante colaborava nas

    pginas do novo semanrio: na quarta edio,

    publica-se um texto de Octvio Pato e, poucas semanas depois, outro de Carlos Carvalhas,

    ambos nomes proeminentes do PCP.

    Jos Cardoso Pires, Eduardo Prado Coelho,

    Nuno Brederode Santos (com as suas diverti-

    dssimas Crnicas de Ribera Dulce), Fran-

    cisco Mata, Nuno Bragana, Lus Filipe Castro

    Mendes, Jos Nuno Martins, Eduardo Louren-

    o, Jos Augusto Seabra, Urbano Tavares

    Rodrigues, Miguel Urbano Rodrigues, Lus Sttau Monteiro (com a sua Guidinha), Arnal-

    do Saraiva, Joo Benard da Costa, Joo Cra-

    vinho, Nuno Portas, Antnio Reis, Jos Vaz

    Pereira, Miller Guerra eis apenas alguns

    dos colaboradores dessa primeira fase de O

    Jornal. Tambm Miguel Esteves Cardoso ini-

    ciava neste semanrio as suas lides jornalsti-

    cas, primeiro a fazer tradues e, depois, a

    partir de 5 de Novembro de 1975, com crni-cas assinadas. Tambm colaboradores eram

    Augusto Abelaira, com a sua crnica semanal

    Escrever na gua, mas tambm o militar de

    Abril Rodrigo Sousa Castro, com os seus

    bem informados textos assinados com o

    pseudnimo Manuel F. Andrade (nome cor-

    respondente s iniciais do MFA).

    * * *

    Pouco depois de ter aparecido, em circunstn-cias em que era difcil assumir posies inde-

    pendentes, sendo um jornal que se assumia

    como independente de esquerda, O Jornal

    chegou a receber ameaas da esquerda que

    estava no poder antes do 25 de Novembro de

    1975. Rotulado como alinhado com os capi-

    tes de Abril, as suas pginas revelavam-se uma conscincia crtica, o que muitas vezes

    se traduzia em manchetes que ficaram famo-

    sas, como Os homens sem sono andam a

    dormir? e muitas outras. Seis meses de-

    pois de ter aparecido, O Jornal d uma das

    suas maiores cachas de sempre, com a reve-

    lao do Documento dos Nove, os militares

    liderados por Melo Antunes, que se opunham

    faco de Vasco Gonalves. Jornal de esquerda, este semanrio sempre

    constituiu, contudo, um espao de debate pa-

    ra todas as correntes. Numa altura em que o

    CDS era perseguido e considerado um parti-

    do antidemocrtico, Adelino Amaro da Costa

    vinha, muitas vezes, nossa redaco con-

    cluir os seus artigos. Uma vez, falhou a elec-

    tricidade e ele escreveu ali mesmo, numa das

    salas do n. 232 da Avenida da Liberdade, luz de velas

    Adelino Amaro da Costa a escrever um artigo na Redaco de O Jornal

    * * *

    Foi um tempo bem difcil esse Vero de 1975,

    em que os jornalistas que constituam a redu-

  • 8

    zida Redaco de O Jornal viveram sobre o

    fio da navalha, prolongando as quintas-feiras

    at alta madrugada, pois era difcil prever a

    evoluo dos acontecimentos. [Nesses tem-

    pos hericos, em que no havia maneira de se conseguir fechar O Jornal antes das 3 ou

    4 horas da manh, o Joaquim Letria e eu, en-

    tre outros, amos para a estao de Santa

    Apolnia tentar convencer o chefe da estao

    a adiar a partida do comboio para o Porto]

    O Pas estava dividido ao meio e, por mais do

    que uma vez, esteve, sem exagero, beira da

    guerra civil. Data dessa poca a primeira das

    conotaes que foram coladas a O Jornal, inicialmente ao MFA (Movimento das Foras

    Armadas) e depois ao chamado Grupo dos

    Nove, mas nem por isso os militares eram

    poupados a crticas. No incio de Julho, fazia-

    se uma pergunta sria ao MFA: Os homens

    sem sono andam a dormir?. No final do

    mesmo ms, a manchete era ainda mais inci-

    siva: Senhores do MFA / Resolvam l isto

    a malta est farta! Os moderados venceriam o despique, no 25 de

    Novembro, mas nem por isso os campos dei-

    xaram de estar extremados. Os primeiros cin-

    co anos de O Jornal foram particularmente

    conturbados, com os partidos politicos ainda

    em busca de um lugar no xadrez Mas no

    das contas do extenso rosrio de histrias po-

    lticas cobertas por O Jornal que pretendo

    tratar nesta breve comemorao da sua vida, que viria a durar 17 anos, seis meses e 26 di-

    as at edio n. 927, datada de 27 de

    Novembro de 1992.

    Durante todo esse tempo, O Jornal procurou

    cumprir o que se poderia chamar um saudvel

    dever de desrespeito pelo Poder. Em nome,

    precisamente, das multides que no tm qualquer parcela de poder, esforou-se por

    revelar ao grande publico as ambies secre-

    tas de tantos daqueles que, gravitando ao re-

    dor do Poder do Estado, dos partidos, do

    dinheiro ou das confisses religiosas , colo-

    cam os seus interesses pessoais acima dos

    reais interesses do Pas.

    * * *

    De tudo quanto se passou nas 927 semanas em que durou, procurou O Jornal ser, em cada

    nmero, a histria de importantes instantes

    histricos, procurando captar a quente o que

    iria ser lido a frio. Isto sob diversas direces

    editoriais, desde a primeira, de Joaquim Letria,

    entre Maio de 1975 e Novembro de 1977. Se-

    guiu-se-lhe, em 2 de Dezembro desse ano,

    Jos Carlos de Vasconcelos, sendo eu prprio

    director-adjunto, at que, em 1985, quando JCV foi tentado pela poltica (no PRD), fui eu

    prprio eleito director pelos restantes societ-

    rios.

    Nesse posto, que ocupei at ao ponto final!, em

    1992, fui coadjuvado por trs directores-

    adjuntos (Manuel Bea Mrias, Carlos Cce-

    res Monteiro e Pedro Rafael dos Santos),

    sendo que o primeiro deles, j no lugar de n.

    2 desde 1981, foi surpreendido por uma morte inesperada e prematura, em 1987, aos 49

    anos de idade.

  • 9

    Essa morte representou um golpe durssimo, em

    termos pessoais, mas tambm no captulo

    profissional: era ele um dos mais talentosos

    construtores de ttulos jornalsticos que algu-

    ma vez conheci, pertencendo-lhe a autoria dos que mais se distinguiriam nas capas de

    O Jornal. Foi, tambm por isso, uma falta

    que nunca mais foi possvel colmatar.

    O anncio que levou Nobre da Costa a So Bento...

    [Entre as manchetes mais originais concebidas

    pelo M. B. M., recordo uma particularmente

    incisiva, publicada no n. 171 (edio de 4/10

    de Agosto de 1978), sob a forma de um ima-

    ginrio anncio da Presidncia da Repblica,

    quando Ramalho Eanes procurava resolver o impasse da falta de um novo chefe do Gover-

    no, antes da escolha de Alfredo Nobre da

    Costa para o lugar de primeiro-ministro (29 de

    Agosto/22 de Novembro de 1978). Dizia as-

    sim: Primeiro-ministro / Precisa-se / Demo-

    crata e competente, com ou sem prtica, livre

    de obrigaes militares. Exigem-se bons con-

    tactos e apoio dos partidos politicos, mesmo

    de sinais contrarios. Assunto muito srio.

    Condies a combinar. Entrada imediata para

    prestao de provas em So Bento. / Respos-

    ta ao palcio de Belm].

    * * *

    Nunca uma migalha da independncia de O Jornal alguma vez foi beliscada nas suas re-

    laes com os protagonistas politicos que ao

    longo dos anos se sucederam no Poder. Alis,

    apenas uma vez na sua histria deu indicao

    de voto explcita aos seus leitores, nas elei-

    es intercalares de Dezembro de 1979,

    quando, posicionando-se contra a AD (Aliana

    Democrtica) de S Carneiro, defendeu o voto

    na FSP (Frente Socialista Popular), liderada por Mrio Soares. O malogrado lder do ento

    PPD zangou-se, tendo inclusivamente amea-

    ado com um corte de relaes. Mas a zanga

    passou-lhe depressa: a AD ganhou e, na edi-

    o seguinte, Francisco S Carneiro um

    social-democrata de gema j falava dos

    seus projectos a O Jornal, enquanto Mrio

    Soares analisava a derrota da FSP e, por

    conseguinte, do PS. * * *

    Nos primeiros anos da dcada de 1980, alguns

    reforos da equipa de O Jornal foram espe-

    cialmente relevantes. por essa poca que

    Silva Costa entra tambm para a sociedade,

    como accionista e redactor. E a Redaco e o

    corpo de colaboradores so, um pouco mais

    tarde, enriquecidos com as entradas de Fer-

    nando Dacosta, Daniel Ricardo, Francisco Va-le, Fernanda Mestrinho, Clara Pinto Correia,

    Rogrio Rodrigues, Antnio Mega Ferreira,

  • 10

    Antnio Duarte e os grafistas Antnio Martins

    e Joaquim de Brito. Outros nomes de colabo-

    radores, chegados desde logo ou um pouco

    mais tarde: Clara Ferreira Alves, Ins Pedrosa,

    Miguel Lemos, Jaime Antunes, Lus Salgado Matos e Jos Lus Saldanha Sanches (que a

    certa altura fizeram as pginas de Economia

    de O Jornal, em longas madrugadas alimen-

    tadas a caf).

    O ficheiro de colaboradores externos de O Jor-

    nal inclua centenas de nomes, sendo por is-

    so de impossvel enumerao no corpo deste

    texto: a sua listagem figurar em anexo, espe-

    rando-se que sem nenhuma falha significativa. Assinale-se, entretanto, que Carlos Fino foi cor-

    respondente em Moscovo, Manuel Lopes e

    Juan Frisuelosem Madrid e Bernardo Futcher

    Pereira em Washington, J. M. Nobre-Correia

    em Bruxelas e Carlos Martins em Bona. Em

    Paris, sucederam-se os nomes de Isabel Soa-

    res, Virglio de Lemos e Daniel Ribeiro. Na

    frente interna, designadamente no Porto, hou-

    ve tambm dois excelentes delegados-correspondentes: primeiro, Rodrigues Alves;

    depois, Germano Silva, reconhecidamente um

    dos maiores conhecedores de tudo o que diga

    respeito cidade. Em Coimbra, o correspon-

    dente era Joo Fonseca.

    Tantos so os nomes a registar tendo pertencido,

    de forma mais ou menos prxima, grande

    famlia de jornalistas e colaboradores (regula-

    res ou episdicos) de O Jornal que vou, cer-tamente, correr o risco de deixar algum es-

    quecido. Mesmo assim, tento completar o

    quadro, acrescentando alguns nomes de re-

    prteres e reprteres-fotogrficos: Nuno Ribei-

    ro, Pedro Vieira, Carneiro Jacinto, Rogrio Vi-

    digal, Rogrio Rodrigues, Horcio Piriquito, Fi-

    lipe Lus, Jos Manuel Rodrigues da Silva, Ferreira Fernandes, Isabel Oneto, Jos Lus

    Feronha, Nicolau Santos, Carlos Vaz Marques,

    Maria Joo Martins, Eunice Andreia, Fernando

    Ricardo, Lus Barra e Jos Eduardo Rebelo

    que seria o ultimo chefe de Redaco, depois

    de Assis Pacheco e Carneiro Jacinto. (Para

    diminuir o risco de excluses injustas, anexa-

    rei a esta memria uma lista exaustiva, alfa-

    beticamente ordenada, de quantos nos foram, por assim dizer, familiares).

    * * *

    Com a passagem dos anos, O Jornal transfor-

    mar-se-ia na pea principal de um corpo de

    publicaes diversas, entre as quais se distin-

    guia o Se7e (lanado em Junho de 1978),

    grande semanrio dedicado area dos espec-

    tculos, mas tambm o JL Jornal de Le-

    tras, Artes e Ideias (Maro de 1981), a revista Histria (1978), O Jornal da Educao, ou,

    com menor expresso, o Bisnau e o Correio

    Econmico (este, na verdade, uma espcie

    de newsletter em que se reproduziam artigos

    da imprensa especializada internacional). Mas

    viria a desempenhar igualmente algum prota-

    gonismo na criao da TSF-Rdio Jornal e da

    SIC, em 1986, sobretudo na primeira, em que

    chegou a ter 34 por cento da prpria Projornal, mais cinco por cento da Intereditor, uma em-

    presa cujo capital era pertena dos accionis-

  • 11

    tas de O Jornal. Assim sendo, a Projornal ti-

    nha dois dos cinco administradores da TSF,

    entre os quais o lugar de presidente (eu pr-

    prio), enquanto Emdio Rangel era o director-

    geral. Outros projectos no chegaram a vingar, ou no

    foram sequer tentados. Em 1980, a Imprensa

    dava conta de que O Jornal e o dirio fran-

    cs Le Monde planeavam associar-se, para

    lanar em Portugal um dirio intitulado O

    Mundo, mas a verdade que a ideia no foi

    avante, por no ter havido acordo no grupo

    dos fundadores de O Jornal.

    Mas O Jornal foi tambm ncleo central de uma editora de livros, que, sendo embora relativa-

    mente modesta em termos quantitativos, ain-

    da se traduziu num catlogo com mais de oi-

    tenta ttulos de meia centena de autores, entre

    os quais Augusto Abelaira, Natlia Correia,

    Baptista-Bastos, Jos Cardoso Pires, Mrio

    Dionsio, Eugnio de Andrade, Maria Velho da

    Costa, lvaro Guerra, Sophia de Mello Brey-

    ner, Gabriel Garcia Marquez, Lygia Fagundes Teles, Carlos Drumond de Andrade, Joo

    Ubaldo Ribeiro, Maria Judite de Carvalho, Jo-

    s Fernandes Fafe, Manuel Alegre, Antnio

    Victorino de Almeida, Hlia Correia, Amrico

    Guerreiro de Sousa, Jorge Listopad, Maria Al-

    berta Meneres, Carlos Correia, Teolinda Ger-

    so e Nuno Bragana.

    Obras singulares neste campo de actividade

    seriam, ainda na dcada de 1970, Cartoons e Caricaturas Portuguesas dos Anos de Sa-

    lazar, de Joo Abel Manta, e A Revista

    Portuguesa Uma Histria Breve do Teatro

    de Revista, de Vtor Pavo dos Santos, bem

    como a edio, ilustrada por Joo Abel Manta,

    de um texto esquecido de Ea de Queirs,

    Primeiro de Maio, apresentada por A. Cam-pos Matos. (Um rol completo dessas obras e

    respectivos autores vai tambm em anexo).

    Embora se trate de um mini-retrato do que foi O

    Jornal, no seria justo esquecer o seu Centro

    de Documentao, dirigido por Maria Joo

    Mrias, nem a Intergrfica, uma empresa por

    ns constituda com dois grficos (Lus Arajo

    e Lus Desorta). No que me diz respeito de

    uma forma mais prxima, refiro simbolicamen-te as minhas primeira e ltima secretrias

    Rita Fonseca e Paula Godinho. Outras secre-

    trias passaram, igualmente, pela Projornal,

    entre elas Cristina Cardoso, Isabel Pires, He-

    lena Garcia, Teresa Rodrigues, Maria Jos

    Mourato, Ana Paula Figueiredo, Otlia Peixoto

    e Teresa Brs (no centro de documentao),

    mas no deixo tambm de lembrar o indis-

    pensvel Fernando Moreno, verdadeiro pau para toda a obra).

    Neste caudal de recordaes, necessariamente

    limitado, no quero deixar de evocar aqueles

    que, de entre os iniciadores desta aventura,

    no podem celebrar este 40. aniversrio. Diz-

    se que Roberto Marinho, o clebre criador do

    universo da Globo brasileira, mesmo j com

    muita idade, nunca dizia Quando eu mor-

    rer, mas sim Se eu faltar Eis, pois, de entre os fundadores de O Jornal, aqueles

    que faltaram: Manuel Bea Mrias (e a sua

  • 12

    mulher, Maria Joo), Afonso Praa, Rui Pi-

    menta, Carlos Cceres Monteiro e Joaquim

    Lobo. E, tambm, outros que vieram, posteri-

    ormente, a ser tambm societrios: Antnio

    Gomes da Costa, Fernando Assis Pacheco e Manuel da Silva Costa.

    * * *

    O que fica registado so apenas alguns epis-

    dios entre os muitos que se poderiam evocar,

    retirados de um riqussimo historial de uma

    experincia pioneira, que se prolongou at ao

    final de 1992, sendo depois continuada com a

    criao da Viso, a que tambm gostei muito

    de estar associado. No sou muito de ficar agarrado ao passado,

    mas nem por isso deixo de me lembrar com

    alguma saudade da minha ida a Lausanne,

    onde ca de paraquedas, apenas armado com

    um recorte do El Pas, que o Cceres Mon-

    teiro, sabedor do meu interesse por notcias

    sobre Imprensa e os media em geral, me tinha

    dado um dia. Era uma pequena notcia a duas

    colunas em que se dava conta da entrada do Grupo Edipresse em Espanha. No final, l se

    dava tambm notcia de que a Edipresse po-

    deria vir a interessar-se por Portugal.

    Resolvi telefonar a Pierre Lamunire, o lder da

    Edipresse, a pedir-lhe uma entrevista. Foi o

    incio de uma negociao que durou alguns

    meses, conseguindo-se com ela uma faanha

    rara em Portugal: a sua confidencialidade do

    princpio ao fim A verdade que a diligncia veio a ter um desfe-

    cho positivo, com a aquisio pela Edipresse

    de 68 por cento da Projornal (entretanto trans-

    formada em sociedade annima, com o capi-

    tal a atingir 200 mil contos, graas a sucessi-

    vos aumentos por incorporao de reservas).

    Mais tarde, a Edipresse adquiriu-nos os res-tantes 32 por cento, mas devo dizer que em

    momento algum foi posta em causa, sob ne-

    nhuma forma, a nossa total liberdade e inde-

    pendncia jornalstica.

    Isso permitiu a O Jornal viver mais algum tem-

    po, antes de nos decidirmos pelo seu desapa-

    recimento definitivo, com a edio de 27 de

    Novembro de 1992, para dar lugar Viso,

    cujo primeiro nmero foi publicado em 25 de Maro de 1993, com um lanamento especta-

    cularmente assinalado com uma festa numa

    tenda gigante, em frente do n. 232, onde se

    situava a sede hisrica da Projornal. O ento

    Presidente Mrio Soares foi uma das muitas

    centenas de convidados presentes, entre poli-

    ticos, diplomatas, intelectuais, artistas e jorna-

    listas. Foi uma festa inesquecvel.

    Virar de pgina, na apresentao da Viso, em 25 de Maro de 1993: Jos

    Silva Pinto, Mrio Soares, Pierre Lamunire e Jos Carlos de Vasconcelos

    A preparao da nova revista foi objecto de in-

    tensos trabalhos, em todos os domnios re-

  • 13

    dactorial, fotogrfico, grfico, mas tambm

    administrativo , alguns dos quais realizados

    na Sala Kioto do Hotel Altis, onde o prprio O

    Jornal havia sido idealizado, mas tambm em

    Lausanne, na sede da Edipresse. (Recordo com particular saudade os contactos que

    mantive com Pierre Lamunire, Marcel Pas-

    che, Jean Pierre Mrot, Andr Jaunin e Andr

    Stumpges, entre outros).

    A Viso foi, logo desde o incio, indiscutivel-

    mente um xito, fazendo actualmente parte do

    universo de publicaes da Impresa, em con-

    sequncia da deciso da Edipresse de aban-

    donar todas as suas actividades no estrangei-ro, em consequncia da sua aliana com ou-

    tro grande grupo suo.

    * * *

    Passados 40 anos sobre a fundao de O Jor-

    nal, no posso deixar de sublinhar a excepci-

    onalidade dessa experincia, que ningum,

    alis, voltou a tentar levar a cabo.

    Repeti-la nos mesmos moldes ser, decerto,

    uma tarefa impossvel: ainda que se possa admitir que haja, hoje, jornalistas teoricamente

    desejosos de repetir a experincia, no me

    parece que abunde o nimo necessrio sua

    concretizao.

    As circunstncias so irrepetveis: quem acredita

    que seja possvel, por estes dias, reunir um

    grupo de jornalistas ainda jovens, mas sufici-entemente experientes para arriscar um tal

    empreendimento, sabendo-se que o capital

    inicial exigido seria muito mais elevado do que

    o equivalente aos salrios de trs meses?

    Os nossos 2 150 contos iniciais seriam, hoje,

    quanto?

    A minha vida passa-se, hoje, longe do universo

    dos media. Mas, como costumo dizer, os anos

    que nesse mundo vivi (quase 50...) esses ningum me tira. E os anos que passei, na

    Projornal, em O Jornal e nos primeiros tem-

    pos da Viso, foram seguramente dos me-

    lhores e mais felizes dos que me foi dado vi-

    ver.

    Por isso estou muito grato a quantos comigo

    partilharam a aventura. E termino com um dito

    do Raul Solnado de que gosto muito: faam

    [tambm] o favor de ser felizes...

    JOS SILVA PINTO

    Quem foi quem nas Redaces de O Jornal & afinsAfonso Praa Albino Ribeiro Cardoso Ana Paula Correia Ana Pereira da Silva Ana S Lopes ngela Caires Antnio Carlos Carvalho Antnio Carneiro Jacinto

    Antnio Macedo Antnio Mega Ferreira Carlos Cceres Monteiro Clara Ferreira Alves Clara Pinto Correia Cludia Lobo Daniel Ricardo Edite Soeiro

    Emlia Caetano Fernando Antunes Fernando Assis Pacheco Fernando Dacosta Fernando Gaspar Fernando Negreira Fernando Ricardo Ferreira Fernandes

  • 14

    Filipe Lus Francisco Sarsfield Cabral Francisco Vale Gonalo Mendes Hlia Correia Henrique Monteiro Hernni Santos Horcio Piriquito Incio Ludgero Ins Pedrosa Isabel Fragoso Isabel Oneto Joo Adelino Faria Joo Garcia Joo Ribeiro Joo Segurado Joaquim Bizarro Joaquim Letria Joaquim Lobo Jos Carlos de Vasconcelos Jos Eduardo Rebelo Jos Lus Feronha Jos Manuel Barroso Jos Manuel Fernandes Jos Manuel Rodrigues da Silva

    Jos Pedro Castanheira Jos Pinto Nogueira Jos Plcido Jnior Jos Silva Pinto Lina Pacheco Pereira Lus Almeida Martins Lus Barra Lus Ribeiro Lurdes Feio Manuel Bea Mrias Manuel da Silva Costa Mnica Pereira Nuno Guerreiro Nuno Ribeiro Paula Serra Paulo Chitas Paulo Fidalgo Pedro Castro Pedro Mrias Pedro Rafael dos Santos Pedro Vieira Rogrio Rodrigues Rogrio Vidigal Rui Pimenta Viriato Teles

    Vtor Pinto Basto Se7e Accio Barradas Antnio Costa Santos Belino Costa Joo Vaz Maria Joo Duarte Manuel Falco Manuel Neto Mrio Zambujal Oscar Mascarenhas Pedro Rolo Duarte Rudolfo Iriarte JL Jos Jorge Letria Maria Joo Martins Ricardo Arajo Pereira Histria Fernando Rosas Irene Pimentel

    Servios Administrativos e Comerciais Antnio Gomes da Costa Carlos Varo

    Helena Sequeira Manuela Machado

    Natacha Gomes Teresa Meio-Tosto

    Um rico e diversificado corpo de colaboradores A. Campos Matos Adelino Amaro da Costa Afonso de Barros Agustina Bessa Lus Alberto Arons de Carvalho Albertino Antunes Alberto Martins Alberto Pimenta Alexandre Melo Alfredo Campos Matos lvaro Cunhal

    Amadeu Lopes Sabino Antnio Almeida Santos Antnio Barreto Antnio Freitas de Sousa Antnio Guterres Antnio Jorge Branco Antnio Lobo Antunes Antnio Lopes Vieira Antnio Macedo Antnio Noronha Antnio Pedro Vasconcelos

    Antnio Reis Antnio Rolo Duarte Antnio Sousa Franco Antnio Victorino dAlmeida Arnaldo Saraiva Artur Portela Augusto Abelaira Augusto de Carvalho (Maputo) Baptista-Bastos Baslio Horta Benjamin Kuznetsov (Moscovo)

  • 15

    Bernardo Futcher Pereira Bernardo Santareno Carlos Andrade Carlos Brito Carlos Fino Carlos Gil Carlos Oliveira Santos Cssio Loredano Catarina Vaz de Almeida Clara Pinto Correia Cludia Costa Daniel Amaral Daniel Ribeiro Eduardo Loureno Eduardo Paes Mamede Eduardo Prado Coelho Elisa Drago (Paris) Eunice Andreia Eurico de Figueiredo Eurico da Fonseca Francisco Lou Francisco Lucas Pires Fernanda Dinis Fernando Mateus Fernando Namora Franco Caruso Francisco Mata Gabriel Garca Marquz Germano Silva Guilherme Oliveira Martins Helena Roseta Helena Salem (Rio de Janeiro) Helena Sanches Osrio Henrique de Barros Ildio Rocha Irineu Garcia Isabel Atade Cordeiro Isabel do Carmo Isabel Risques Jacinto Baptista Jacinto Rego de Almeida Jill Jolliffe Joo Abel Manta Joo Antunes Joo Benard da Costa Joo Cravinho

    Joo de Freitas Branco Joo Fonseca Joo Grego Esteves Joo Madeira Joo Mrio Grilo Joo Medina Joo Palma-Ferreira Joo Paulo Guerra Joo Paulo Martins Joo Pinharanda Joo Salgueiro Joo Ubaldo Ribeiro Jorge Gaspar Jorge Listopad Jos A. Salvador Jos Augusto Seabra Jos Cardoso Pires Jos Costa Rodrigues Jos Gameiro Jos Guilherme Moreira Jos Lus Porfrio Jos Lus Saldanha Sanches Jos Manuel Garcia Jos Manuel Jardim J. M. Nobre-Correia Jos Navarro de Andrade Jos Sesinando (Palla e Carmo) Jos Vaz Pereira Juan Frisuelos (Madrid) Leonor Xavier Lus Filipe Barreto Lus Osrio Lus Paixo Martins Lus Pinheiro de Almeida Lus Poas Lus Salgado de Matos Lus Sttau Monteiro Lusa Mellid-Franco Manuel F. Andrade (Rodrigo Sousa e Castro) Manuel Lopes Manuel Rio de Carvalho Manuel S. Fonseca Manuel Vieira Manuel Vilas Boas Manuela Paixo (Roma)

    Marcello Duarte Mathias Margarida Amaro Maria Carrilho Maria do Carmo Caracol Maria Filomena Mnica Maria Joo Mrias Maria Joo Bea Mrias Mrio Neves Melo Antunes Miguel Esteves Cardoso Miguel Urbano Rodrigues Miller Guerra Natlia Correia Natlia Henriques (Cairo) Nelson di Maggio Nicolau Santos Nuno Brederode Santos Nuno Portas Onsimo Teotnio Almeida Os 3 Garfos (Maria Carrilho) (Isabel Ribeiro) (Francisco Capelo) Paulo Lameira Paulo de Matos (Bruxelas) Pedro Pezarat Correia Rodrigues Alves Rui Pimentel Serras Gago Severo Portela Teresa Matos Torres Couto Tolentino de Nbrega Urbano Tavares Rodrigues Vasco Colombo Verssimo Serro Vital Moreira Vtor Pavo dos Santos

  • 16

    Livros e autores publicados pelas Edies O Jornal Abelaira, Augusto. A Cidade das Flores. Abelaira, Augusto. Bolor. Abelaira, Augusto. Deste Modo ou Daquele. Abelaira, Augusto. O Bosque Harmonioso. Abelaira, Augusto. O nico Animal Que. Alegre, Manuel. Babilnia. Almada Negreiros, Maria Jos. Conversas com Sarah Affonso. Almeida, Antnio Victorino de. Coca-Cola Killer. Almeida, Antnio Victorino de. Memria da Terra Esquecida. Almeida, Jacinto Rego de. O Monculo. Andrade, Carlos Drummond de. 60 Anos de Poesia. Seleco, prefcio e notas de Arnaldo Saraiva. Andrade, Eugnio de. Poesia e Prosa I. Andrade, Eugnio de. Poesia e Prosa II. Andrade, Eugnio de. Porto. Os Sulcos do Olhar. Fotografias de Dario Gonalves. Andresen, Sophia de Mello Breyner. A Noite de Natal. Ilustraes de Jos Escada. Baptista-Bastos. A Colina de Cristal. Baptista-Bastos. As Palavras dos Outros. Baptista-Bastos. Elegia para um Caixo Vazio. Baptista-Bastos. O Secreto Adeus. Baptista-Bastos. Um Homem Parado no Inverno. Baptista-Bastos. Viagem de um Pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura. Barros, Henrique de, e Fernando Ferreira da Costa. Antnio Srgio: uma Nobre Utopia. Bragana, Nuno. Do Fim do Mundo. Buarque, Chico. pera do Malandro. Cabral, Lus. Crnica da Libertao. Caixeiro, Madalena. Sementes de S, Razes de Mim. Carvalho, Maria Judite de. Alm do Quadro. Correia, Carlos. Um Pssaro no Psiclogo. Ilustraes de Charlotte Dufour. Correia, Clara Pinto. Histrias Naturais. Correia, Hlia. A Fenda Ertica. Correia, Natlia. A Pcora. Correia, Natlia. As Npcias. Correia, Natlia. Erros Meus, M Fortuna, Amor Ardente. Correia, Natlia. O Sol nas Noites e o Luar nos Dias I. Correia, Natlia. O Sol nas Noites e o Luar nos Dias II. Correia, Natlia. Somos Todos Hispnicos. Costa, Maria Velho da. Lcialima. Coutinho, Alexandre. Como se Faz um Presidente. Ensaio sobre Mediatizao Poltica. Diffie, Bailey W. Preldio ao Imprio. Navegaes e Comrcio Pr-Henriquinos. Traduo de Flvia Coelho Dias (co-

    edio Teorema). Dionsio, Mrio. A Morte para os Outros. Dionsio, Mrio. Autobiografia. Dolores, Carmen. Retrato Inacabado. Duarte, Mrio. Jornal Polidrico. Fafe, Jos Fernandes. Esquerda a Novssima e a Eterna. Fafe, Jos Fernandes. Os Lusadas e os Outros e Outros Poemas. Ferraz, Ivens. A Asceno de Salazar. Prefcio e anotaes de Csar Oliveira. Ferro, Gaetano. As Navegaes Portuguesas no Atlntico e no ndico. Traduo de Jos Colao Barreiros (co-edio

    Teorema). Figueiredo, Eurico. Psicanlise da Saudade. Gerso, Teolinda. O Silncio. Gerso, Teolinda. Os Guarda-Chuvas Cintilantes. Gerso, Teolinda. Paisagem com Mulher e Mar ao Fundo.

  • 17

    Guerra, lvaro. A Lebre. Guerra, lvaro. Caf Repblica. Guerra, lvaro. Caf Central. Guerra, lvaro. Caf 25 de Abril. Guerra, lvaro. Os Mastins seguido de O Disfarce. Jolliffe, Jill. Timor, Terra Sangrenta. Jorge, Artur. Vrtice da gua. Letria, Joaquim, et al. Eleies 76. Letria, Joaquim. Histrias para Ler e Deitar Fora. Listopad, Jorge. Mar Seco, Gelado Quente So 21 de Repente. Ilustraes de Henrique Cayatte. Lopes, David. A Expanso em Marrocos (co-edio Teorema). Loureno, Eduardo. A Europa Desencantada. Macedo, Antnio. Na Outra Margem de Abril. Pequenas Histrias de Grandes Homens. Prefcio de Antnio Almeida

    Santos. Manta, Joo Abel. Caricaturas Portuguesas. Manta, Joo Abel. Cartoons. Prefcio de Jos Cardoso Pires. Mrquez, Gabriel Garca. A Aventura de Miguel Littn Clandestino no Chile. Traduo de Margarida Santiago. Mrquez, Gabriel Garca. Crnica de uma Morte Anunciada. Traduo de Fernando Assis Pacheco. Mata-Ces, Francisco. Lord Canibal. Menres, Maria Alberta, e Carlos Correia. O Stimo Descarrilamento. Desenhos de Jorge Colombo. Monteiro, Cceres. Amaznia Probida. Um Reprter Portugus no ltimo Lugar do Mundo onde a Aventura ainda

    Possvel. Monteiro, Cceres. O Mundo em AZERT (co-edio Crculo dos Leitores). Morison, S. E. As Viagens Portuguesas Amrica. Traduo de Lus M. Maia Varela

    (co-edio Teorema). Mrias, Manuel Bea. Mundos e Fundos. Crnicas de Paixo e Maldizer. Namora, Fernando. Autobiografia. Neves, Mrio. A Chacina de Badajoz. Relato de uma Testemunha de um dos Episdios Mais Trgicos da Guerra Civil

    de Espanha. Oliveira, Csar. Salazar e a Guerra Civil de Espanha. Oliveira, Csar. Salazar e o seu Tempo. Pearson, M. N. Os Portugueses na ndia. Traduo de Ana Mafalda Telo Dias (co-edio Teorema). Pezarat Correia, Pedro. Centuries ou Pretorianos? Pimentel, Rui. Desenhos de Escrnio e Mal-Dizer. Prefcio de Agostinho da Silva. Pires, Jos Cardoso. Balada da Praia dos Ces. Pires, Jos Cardoso. Jogos de Azar. Pires, Jos Cardoso. O Anjo Ancorado. Pires, Jos Cardoso. O Hspede de Job. Queiroz, Ea de, Ramalho Ortigo, Batalha Reis, et al. Cartas Inditas. Introduo, comentrios e notas de Beatriz

    Berrini. Queiroz, Ea de. Primeiro de Maio. Nota prvia de A. Campos Matos e ilustraes de Joo Abel Manta. Quental, Antero de. Cartas Inditas a Alberto Sampaio. Transcrio, organizao, prefcio e notas de Ana Maria

    Almeida Martins. Resende, Jlio. Autobiografia. Ribeiro, Joo Ubaldo. Livro de Histrias. Ricardo, Daniel. Manual do Jornalista. Rosas, Fernando. As Primeiras Eleies Legislativas sob o Estado Novo. 16 de Dezembro de 1934. Salvador, Jos A. Roteiro de Vinhos Portugueses 1991. Salvador, Jos A. Roteiro de Vinhos Portugueses 1992. Santos, Vtor Pavo dos. A Revista Portuguesa. Uma Histria Breve do Teatro de Revista. Sousa, Amrico Guerreiro de. A Morte das Baleias. Suza, Linda de. A Mala de Carto. Telles, Lygia Fagundes. A Disciplina do Amor. Torrado, Antnio. Almanaque Lacnico. Ilustraes de Espiga. Torrado, Antnio. Dez Contos de Reis. Ilustraes de Jos Pinto Nogueira. Torrado, Antnio. Dez Dedos de Conversa. Ilustraes de Jos Pinto Nogueira. Ventura, Cndida. O Socialismo que Eu Vivi.