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EU LEIO TEXTOS, IMAGENS, CIDADES, ROSTOS, GESTOS E CENAS. (ROLAND BARTHES) Escravo no Pelourinho sendo açoitado. Gravura de Debret, 1835.

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EU LEIO TEXTOS, IMAGENS, CIDADES, ROSTOS, GESTOS E CENAS. (ROLAND BARTHES)

Escravo no Pelourinho sendo açoitado. Gravura de Debret, 1835.

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O USO DE IMAGENS EM PROVAS DE VESTIBULARES

-As imagens deixam de ser simples ilustrações e passam a ser categorias de

fonte histórica, linguagem, e indícios de revelação de realidades.

-Como documento, as imagens revelam desejos, anseios, valores,

sentimentos, e representações que os homens fazem de si, do outro e do

mundo;

-O conhecimento histórico e o conhecimento artístico não somente podem

beneficiar-se mutuamente, como são mutuamente interdependentes (Artur

Freitas);

-Observar o público ao qual a obra se destinou e perceber os silêncios,

ausências, vazios e lacunas deixados pelo produtor, dado que a imagem

não é uma realidade total, embora traga porções, traços, aspectos, símbolos,

representações e códigos registrados.

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HISTÓRIA E IMAGEM ARTÍSTICA: POR UMA ABORDAGEM TRÍPLICE – ARTUR FREITAS

-Proposta de Artur Freitas: As fontes visuais e as artísticas devem ser vistas em função de três dimensões:a)Perspectiva formal: abrange a estecidade do visual;b)Perspectiva semântica:interconexão com as demais representações culturais de um certo período;c)Perspectiva social: releitura de suas condições de produção e a genealogia de suas recepções: é a história.

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PROPOSTA PARA ANALISE DE IMAGENS (EKFRASIS)

Começar com exercício de descrição da imagem;

“Isolar metodologicamente” Escrever a partir do que se vê;

A)aspecto formal; B)Conceitos; C)Referências (objetos); D)Pessoas; E)Contexto político e social;

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1) Procedência: Por quem foi elaborado? Onde? Quando? Como foi sua conservação? Existe alguma inscrição em seu corpo?

2) Finalidade: Qual seu objetivo? Por que e/ou para quem foi feito? Qual sua importância para a sociedade que o fez? Em que contexto foi feito? Com quais finalidades? Onde se encontra o objeto atualmente?

3) Tema: Possui título? Existem pessoas retratadas? Quem são? Como se vestem? Como se portam? Percebe-se hierarquia na representação? Que objetos são retratados? Como aparecem? Que tipo de paisagem aparece?

Qual é o tempo retratado? Há indícios de tempo histórico na representação? É possível identificar práticas sociais no objeto iconográfico retratado? Percebe-se relação/aproximação com a realidade da sociedade ou período retratados?

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VAMOS PRATICAR?

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Cartaz militar inglês da I Guerra. Legenda: Mulheres da Inglaterra, digam: “vá!”

Cartaz militar estadunidense da II Guerra. Legenda: Nós podemos fazer!

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UFG (2011/1): Na primeira metade do século XX, durante as duas guerras mundiais, os cartazes foram importantes ferramentas para a mobilização de pessoas, orientando suas ações e seus sentimentos em relação aos conflitos. Com base na comparação entre os cartazes acima,

a) descreva como a atitude da figura feminina é representada em cada um deles;

Resposta esperada: No primeiro cartaz, a mulher é representada de maneira passiva, restrita ao ambiente doméstico e às funções tradicionalmente relegadas à condição feminina, como, por exemplo, o cuidado dos filhos. Neste sentido, o cartaz incita as mulheres a apoiarem moralmente os homens engajados militarmente. Já, no segundo cartaz, a representação da passividade feminina é substituída por uma imagem ativa, que associa a mulher à força, à capacidade e à confiança no cumprimento de seu dever. Desse modo, o cartaz incita a participação das mulheres no esforço de guerra norte-americano

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b) explique a utilização da força de trabalho das mulheres no período de cada uma das guerras; Resposta esperada: Desde a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as mulheres contribuíam com sua força de trabalho para a indústria, muito embora essa participação fosse reduzida. Além disso, essa participação tinha pouca visibilidade, pois era considerada antinatural à condição feminina. Já na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a força de trabalho feminina adquire maior visibilidade, principalmente na indústria bélica, com o objetivo de substituir a mão de obra masculina, garantindo assim o incremento da produtividade deste setor.

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UFG 2012/1...

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As duas imagens datam do século XV e integram estudos sobre o corpo humano. A primeira ilustra um manuscrito anônimo do início do século, enquanto a segunda retrata o “Homem vitruviano”, esboçado por Leonardo da Vinci em 1492. Elas expressam o convívio entre representações distintas do corpo humano. Tendo em vista essas informações e comparando as duas imagens,

A) relacione a mudança na representação do corpo humano ao desenvolvimento científico no período;

B) identifique um elemento pictórico, explicando de que forma ele exemplifica essa mudança

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RESPOSTA ESPERADA PELA UFG... a) Comparando as imagens, a relação entre a

representação do corpo e o desenvolvimento científico encontra-se no fato de que o conhecimento matemático passava a orientar o olhar dirigido ao corpo e à sua representação. Dessa maneira, a representação do corpo humano, com o estudo de Da Vinci (figura 2), passava a comportar elementos tais como a simetria, o cálculo matemático, o conhecimento da musculatura e de novas técnicas de desenho. A representação anterior à de Da Vinci (figura 1) incorpora elementos de simetria e proporcionalidade, porém, esses elementos não se assentavam em cálculos matemáticos. Cabe anotar, ainda, que o desenvolvimento científico foi devedor, dentre outros, do aprofundamento dos estudos no campo da Medicina (Anatomia), impulsionados pelo Renascimento.

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b) A seguir, identificam-se os elementos pictóricos, explicando de que forma eles exemplificam a mudança da imagem 01 para a imagem 02 (o candidato deve identificar e explicar apenas um elemento):

• uma região abdominal mais definida, na qual se observa o aperfeiçoamento na representação da musculatura. Esse elemento pictórico se associa ao conhecimento anatômico;

• uma melhor simetria e proporcionalidade no desenho dos membros do corpo humano (o uso de formas geométricas no desenho de Da Vinci). Esses elementos estão relacionados ao aprofundamento dos estudos matemáticos;

• a exposição da região pubiana, que antes aparecia encoberta. Esses elementos relacionam-se à distinção entre os dogmas morais impostos pela religião e os interesses científicos

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UFG 2010/2AMOÊDO, Rodolpho. “O último Tamoio”, 1883.Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

ECKHOUT, Albert. “Mulher Tapuia”, 1641. Museu Nacional de Copenhague

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QUESTÃO: As pinturas expressam olhares distintos sobre os

nativos, da Colônia ao Império. Enquanto a primeira pintura, datada de 1641, foi feita pelo holandês Albert Eckhout, integrante da comitiva de artistas e cientistas trazidos para o Brasil por Maurício de Nassau, a segunda foi elaborada, em 1883, por Rodolpho Amoêdo, pertencente à geração de pintores românticos. Considerando estas informações e a análise dos elementos compositivos das pinturas, explique a mudança ocorrida na representação do indígena.

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Resposta esperada: Na pintura de Albert Eckhout, a mulher tapuia é representada como uma selvagem, o canibalismo está explícito nas imagens do pé na cesta e da mão decepada que a índia segura. A nudez corrobora a ideia do afastamento da civilização. Cabe notar que, no século XVII, os elementos que compõem a pintura explicitam uma visão europeia sobre o mundo americano. Já, na pintura romântica de Amoêdo, retrata-se um índio ferido, amparado pelo religioso, o que indica a aproximação do índio com o mundo do branco; no lugar da selvageria, a civilização. Assim, comparando as pinturas, a principal mudança alude a um índio que, por meio da religião, é incorporado à nação, construção fundamental patrocinada pelo Império, após 1840. Desde então, a representação romântica se aproxima de um ideal nacional, sendo mais do que a expressão do olhar europeu sobre o nativo; nesse contexto, embora a Europa ainda seja o modelo, tratava-se de incorporar o índio a uma nação independente

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Critério de correção: Atendeu plenamente ao que foi solicitado a

resposta do candidato que: 1) no caso da pintura de Albert Eckout, identificou a

representação da selvageria (oposta à civilização) e/ou do canibalismo e associou tal identificação aos elementos que compõem o quadro (a nudez, o pé na cesta, a mão que a mulher tapuia segura);

2) no caso da pintura de Amoêdo, identificou a religiosidade como elemento de civilização e associou tais elementos (religião e civilização) aos que compõem o quadro (o índio ferido e o padre como “amparo”);

3) expressou que as representações pictóricas são fruto, no primeiro caso, do olhar europeu sob o nativo americano e, no segundo caso, de um desejo de incorporar o índio à nação, sendo esse último tomado como elemento passível de civilização.

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PROFESSORA NATHÁLIA DE FREITAS

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BIBLIOGRAFIA:

BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo:Cortez Editora, 2005.

FREITAS, Artur.História e imagem artística: por uma abordagem tríplice.In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n 34, julho-dezembro de 2004, p.3-21.

MENESES, Ulpiano T. Bezerra. Fontes visuais, cultura visual, História visual: balanço provisório, propostas cautelares. V. 23, nº 45, pp. 11-36, 2003. Disponível em<http://www.scielo.br/pdf/rbh/v23n45/16519.pdf>

SILVA, Nádia Moreira Terra. Grafite: arte do imaginário urbano: Goiânia, 2006.