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Esta é a reprodução (aqui, sem as marcas normais dos anunciantes, que foram substituídas por X de um anúncio publicitário real, colhido em uma revista, publicada no ano de 2012. Como toda mensagem, esse anúncio, formado pela relação entre imagem e texto, carrega pressupostos e implicações: se o observarmos bem, veremos que ele expressa uma determinada mentalidade, projeta uma dada visão de mundo, manifesta uma certa escolha de valores e assim por diante. Redija uma dissertação em prosa, na qual você interprete e discuta a mensagem contida nesse anúncio, considerando os aspectos mencionados no parágrafo anterior e, se quiser, também outros aspectos que julgue relevantes. Procure argumentar de modo a deixar claro seu ponto de vista sobre o assunto.

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Esta é a reprodução (aqui, sem as marcas normais dos anunciantes, que foram substituídas por X de um anúncio publicitário real, colhido em uma revista, publicada no ano de 2012.Como toda mensagem, esse anúncio, formado pela relação entre imagem e texto, carrega pressupostos e implicações: se o observarmos bem, veremos que ele expressa uma determinada mentalidade, projeta uma dada visão de mundo, manifesta uma certa escolha de valores e assim por diante.Redija uma dissertação em prosa, na qual você interprete e discuta a mensagem contida nesse anúncio, considerando os aspectos mencionados no parágrafo anterior e, se quiser, também outros aspectos que julgue relevantes. Procure argumentar de modo a deixar claro seu ponto de vista sobre o assunto.

“In hoc signo vinces¹”

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A representação do cartão de crédito como chave da porta que guarda “o melhor que o mundo tem a oferecer” traz implícita a redução da vida e da experiência humanas. Se hoje o indivíduo é “aquilo que consome”, o valor simbolizado pelo cartão de crédito se tornou o sinal que comprova essa existência, bem como a medida que a qualifica, como se verifica através da engenhosa hierarquia que divide as pessoas em “comuns”, “silver”, “gold” e “platinum”.

Nos meios de comunicação de massa, parte significativa do conteúdo (tempo de televisão e rádio ou espaço em jornais, revistas e páginas da Internet) é reservada aos anúncios publicitários, que invariavelmente incitam ao consumo nos mais variados graus, desde o “sonho da casa própria” até artigos de luxo, passando por prestação de serviços e maravilhas tecnológicas. Como se não bastasse, os habitantes das grandes zonas urbanas são brindados com “hipermercados”, “shopping centers”, concentrações geográficas de oferta com o objetivo de maximizar a eficiência da consumação.

O Estado também desempenha seu papel na promoção do consumo. O modelo de desenvolvimento social vigente no país desde a década passada é baseado não em investimentos em educação, na cultura, no acesso ao conhecimento e na efetiva participação política, mas na expansão da capacidade nacional de consumo, através de programas de transferência de renda e incentivos fiscais. A cidadania também passou a ser traduzida como consumo, e os direitos do cidadão restritos ao Código de Defesa do Consumidor, como se deriva a partir de discursos eleitorais no último pleito. Por fim, o sistema penal é estruturado em torno da proteção à propriedade, sem a qual não pode haver troca, fundamento do consumo.

Não se faz mais necessário dizer com quem se anda para que nos digam quem somos: basta mostrar o quanto consumimos (através dos conhecidos símbolos de status) e logo saberemos qual letra do alfabeto nos define e o nome do metal precioso correspondente que nos toca. Educação, sexo, política e dignidade nada mais são do que produtos disponíveis àqueles que portarem a carteirinha de acesso exigida. Esvaziada de qualquer discussão cognitiva, nossa vida prescinde de virtudes (no sentido clássico da palavra), e não é mais possível dizer: “scientia vinces²”. Hoje o signo da vitória é um pequeno retângulo de plástico, que informa tudo o que se supõe valer a pena e ser necessário para nós.

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1 Com este sinal vencerás. Palavras que circundavam a cruz que se diz ter aparecido a Constantino antes da batalha da Ponte Mílvio, quando derrotou a Maxêncio em 312.

2 "Vencerás pela Ciência" (divisa da Universidade de São Paulo, USP).