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EAD Rotas Musicais do Brasil Modulo 3 - Centro Oeste e Sul Introdução Nossa última ‘rota musical’ sobrevoará agora as regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil. Depois haverá mais dois textos: um resumo geral, colocando na linha do tempo alguns dos principais gêneros vistos ao longo do curso e, por fim, um texto curtinho sobre a construção de projetos musicais nas escolas. Vamos começar? 1. Rota 3. A música no Centro-Oeste e Sul do Brasil A música no coração do Brasil (CO)

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EAD Rotas Musicais do Brasil Modulo 3 - Centro Oeste e Sul Introdução

Nossa última ‘rota musical’ sobrevoará agora as regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil. Depois haverá mais dois textos: um resumo geral, colocando na linha do tempo alguns dos principais gêneros vistos ao longo do curso e, por fim, um texto curtinho sobre a construção de projetos musicais nas escolas. Vamos começar?

1. Rota 3. A música no Centro-Oeste e Sul do Brasil A música no coração do Brasil (CO)

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Rumando ainda mais para o interior do Brasil, chegamos a uma região muito especial e talvez tão pouco explorada e conhecida por sua diversidade musical. Para começar, a região Centro-Oeste do Brasil apresenta uma característica única dentre as cinco: faz fronteira com praticamente todas as outras regiões brasileiras e, por isso, é uma das principais Rotas Musicais do Brasil, dada à confluência das mais diversas culturas presentes em seu território. O entroncamento geográfico dessa região permitiu trocas e influências culturais de Norte a Sul e Leste (NE e SE) dentro do Brasil, além das fronteiras e diálogos com os países vizinhos: Paraguai, Bolívia a Oeste (e também Argentina, Chile e Uruguai mais ao sul). Não bastasse isso, temos também a moderna cidade de Brasília, historicamente o terceiro Distrito Federal e Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, inaugurada em 1960, e para onde migraram e ainda migram brasileiros de todos os cantos deste país de dimensões continentais. Um verdadeiro caldeirão cultural contemporâneo que já escreveu importantes páginas do rock nacional. Por isso tudo, neste módulo estamos tratando da música do “Coração do Brasil”. Porém, para entender a riqueza cultural dessa região devemos retroceder no tempo à época das expedições que partiam do NE e SE desde o século do descobrimento do Brasil: Entradas (iniciativa da Coroa Portuguesa), Bandeiras (iniciativas particulares) e Monções (rotas fluviais). Todas essas expedições tinham como objetivo o desbravamento do sertão Oeste, conquista de territórios para a União, além da exploração e extrativismo de bens minerais (ouro e pedras preciosas), animais (peles e carne) e vegetais (drogas do sertão), bem como a captura de indígenas para escravidão, ou mesmo seu extermínio para usurpação de suas terras. Os jesuítas também acompanhavam às vezes as expedições no intuito de disseminar o catolicismo e catequese dos povos indígenas. Toda essa massiva corrente exploratória deixou marcas indeléveis na cultura da região que podemos observar até hoje em dia, afinal, esses expedicionários trouxeram consigo sua cultura europeia, e com ela dois instrumentos musicais que permeiam as mais antigas tradições do Centro-Oeste: a viola e a sanfona, personagens centrais da chamada música caipira ou “sertaneja”.

A viola e a sanfona: a música nas entranhas do Brasil “Sertanejo” hoje em dia nos remete à “cultura caipira”, que por sua vez tem suas ligações com o termo “caboclo”. Ora, é sabido que caboclo é a mescla étnica entre indígenas e europeus, sendo, portanto, a designação e identificação étnico-cultural de grande parte da população do interior do Brasil. Há uma cultura em comum nesse interior que perpassa o interior de São Paulo, o norte do Paraná e a região centro oeste do Brasil.

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Iremos nos apoiar agora em dois instrumentos musicais que servirão como bússola para nos guiar por essas “rotas” do interior brasileiro: a viola e a sanfona. A viola, instrumento português inspirado nos alaúdes árabes, chegou ao Brasil já no século XVI (como já abordado no Módulo 2) e prontamente foi utilizada pelos jesuítas no processo de catequização dos indígenas. Assim, a viola se disseminou pelo território (sobretudo a viola campaniça) e foi ganhando novos formatos e afinações, bem como novas denominações: viola caipira, viola sertaneja, viola brasileira, viola de arame, viola de repente, viola de cocho etc. Pela sua portabilidade e baixo custo, além do timbre único, tornou-se muito popular tanto no litoral quanto no interior do Brasil, sendo onipresente em expressões culturais folclóricas das mais variadas, como a folia de reis, congada, catira, entre outras.

Já a sanfona, como é popularmente chamado o acordeão no Brasil, chegou ao país somente em meados do século XIX, e apesar de ser um instrumento mais caro e complexo que a viola, também se popularizou sobretudo na inserção da chamada música “sertaneja” de Norte a Sul e de Leste a Oeste brasileiro, embora fizesse parte também de muitos “regionais” de samba e choro em SP e RJ. O acordeon tem uma história muito interessante e é um instrumento encontrado em praticamente toda a Europa (Portugal, França, Itália, Leste Europeu) e foi disseminado pelos ciganos provindos do Leste Europeu (com origem no Rajastão, Índia). O instrumento possui muitos tipos diferentes, como o bandoneon argentino usado no tango, a concertina portuguesa, a sanfona de 8 baixos usada no forró e o acordeon de 120 baixos, que é um dos instrumentos mais completos e complexos para se tocar e que tem tantos “sotaques” dentro do Brasil (vide filme “Milagre de Santa Luzia”)

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A música tradicional do Centro-Oeste baseia-se na mistura cabocla, sendo pouco utilizados instrumentos de percussão (geralmente chocalhos e ganzás), não obstante encontramos influências de instrumentos típicos de outros países, como o charango da Bolívia e a Harpa paraguaya. Índios Quechua da Bolívia, índios Bororo do norte de Mato Grosso, índios Guarany do Paraguai, índios Tupy da costa brasileira, e logicamente muitas outras nações indígenas do interior brasileiro influenciaram o “sotaque da música caipira” do Centro-Oeste, que outrossim abrange todo Oeste Paulista, Norte do Paraná e toda Minas Gerais. Essa influência pode ser constatada em tradições tão comuns a esses lugares como a catira ou cateretê, a folia de reis e a moda de viola. Diálogos com Paraguai – guarânia, polca paraguaia e chamamé

A música mato-grossense estabelece diretamente diálogos com os países vizinhos, sobretudo com o Paraguai. Com seu ritmo ternário, a guarânia, a polca, a querumana e o chamamé são os gêneros mais representativos da região.

• Guaranias – Música Paraguaya

https://www.youtube.com/watch?v=mYjlgd2tR38

• Chamamé Paraguai e MS

https://www.youtube.com/watch?v=OPxLZXz2-M4

• Querumana

https://www.youtube.com/watch?v=oBkzG0pcIWU

Outros dois significativos gêneros típicos da região, mas também encontrados no interior de São Paulo são o siriri e o cururu Siriri De cunho religioso, é dançada por homens e mulheres, inclusive crianças, ao som da viola de cocho - instrumento típico da região e reconhecido como patrimônio nacional, do ganzá e do mocho. Ao dançar os dançarinos parecem estar fazendo brincadeiras indígenas.

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Cururu Esta é dançada exclusivamente por homens ao som da viola de mocho, do reco-reco e do ganzá, bem como do desafio dos repentistas - herança dos migrantes paulistas. Também de cunho religioso, está presente especialmente nas festas do Divino Espírito Santo. O Cururu é um gênero muito representativo da cultura caipira, sendo muito forte na região de Piracicaba onde encontramos até hoje os cururuzeiros criando seus versos e improvisando ao som da viola.

• Siriri e Cururu

https://www.youtube.com/watch?v=5g1Iut5rP2k

• Cururu de SP (jesuítas)

https://www.youtube.com/watch?v=ycwSp3qiBR4

https://www.youtube.com/watch?v=B2RecxjpTW8

3.1 Mato Grosso do Sul

Como dissemos muitas vezes ao longo do curso, é impossível retratarmos todos os

gêneros musicais do Brasil. Podemos citar, por exemplo, apenas no estado do Mato

Grosso do Sul inúmeras danças, festas e manifestações musicais que refletem a

mistura de culturas presentes no interior brasileiro. Dentre elas estão:

Engenho de Maromba

Essa dança lembra um valseado e imita os passos dados no engenho de cana. Há

fileiras de homens e mulheres que ficam rodando em sentido contrário. Os versos

cantados durante as coreografias são mais tristes e, por isso, ela costuma ser

executada no fim das festas.

https://www.youtube.com/watch?v=wP_kW75qiJs

https://www.youtube.com/watch?v=DUqGGmu3qTs

Sarandi

Também chamada de Cirandinha, essa dança é caracterizada por pares que dão voltas

e vão trocando de duplas. A dança acaba quando todos os versos são cantados por

todos os homens da roda.

https://www.youtube.com/watch?v=DlSbqu_L6ic

Chupim

Essa dança é realizada com três pares e utiliza o ritmo das danças paraguaias devido à

proximidade com esse país. O movimento feito pelo homem imita as asas do pássaro,

que tem o mesmo nome da dança, quando ele tenta conquistar sua fêmea. São

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utilizadas castanholas para dar o ritmo da dança que utiliza os movimentos de tourear

o par, dançar e rodar.

https://www.youtube.com/watch?v=7DCs36dI9Ig

Palomita

São casais que se revezam enquanto dançam músicas de polca paraguaia ou chamamé.

https://www.youtube.com/watch?v=exKuz7046fQ

Polca de Carão

É uma dança de salão que tem uma brincadeira inserida no contexto. Cada um dos

dançarinos deve levar um carão, ou seja, ser esnobado pelo seu par. A dança continua

até todos eles terem passado por essa situação.

https://www.youtube.com/watch?v=hXRX4Y9PlzE

Outras danças típicas do Mato Grosso do Sul:

• Arara;

• Caranguejo;

• Catira;

• Engenho Novo.

• Dino Rocha (sanfona)

https://www.youtube.com/watch?v=Qezjao5B8pY

• A Catira (Goiás, São Paulo e Paraná)

Cateretê na viola

https://www.youtube.com/watch?v=3IIVPgBHP-8

2. Rumando para o Sul: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul

A música desenvolvida na região Sul do Brasil sofreu forte influência cultural dos países que compõem a Bacia do Prata: Paraguai, Uruguai e Argentina.

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Com o Paraguai, a influência se deu tanto com a guarânia, o chamamé, a polka paraguaia quanto com a música caipira em geral, sobretudo nas fronteiras do Paraná com Mato Grosso do Sul e São Paulo, além da própria fronteira com o Paraguai. Já Argentina e Uruguai forneceram à região Sul o entrosamento com a cultura gaúcha dos Pampas, representado sobretudo pelo tango e pela milonga Riograndense*. O gaúcho é o resultado da miscigenação dos índios do Sul com europeus (principalmente espanhóis e portugueses). Tanto a música platina rural dos pampas (milonga, chamamé, chacarera, zamba) quanto a urbana (tango) foram influências determinantes na formação cultural da música sulina. Devemos apontar também a forte imigração europeia em fins do século XIX até a primeira metade do século XX. Sobretudo alemães e italianos sentaram praça em muitas localidades do Sul, e lá fundaram povoados e vilas que evoluíram para cidades de aspectos culturais muito semelhantes aos de seus países de origem. Assim, trouxeram polkas, valsas, scottishs e danças de salão à formação desse diferente caldeirão cultural do Sul do Brasil. A influência africana também se faz presente, embora de maneira menos difundida, mas há expressões importantes, tais como a famosa Congada da Lapa do Paraná.

• *Diálogos com Argentina: chamamé (MS e RG), milonga e tango

https://www.youtube.com/watch?v=k3vaNs9U3tk 2.1 A música do estado do Paraná Estado do Paraná parece estar sempre buscando uma identidade própria, árdua tarefa de pesquisadores e historiadores. Isto porque o Paraná foi fortemente influenciado pelo estilo gaúcho, pois muitas cidades surgiram do troperismo. No norte do estado a predominância da música sertaneja é muito forte, convivendo com outros ritmos como o fandango, forró, o quadradinho, a catchaca, o country, o rock. O seu folclore é um caso à parte porque é formado por um conjunto de manifestações artístico-culturais assimiladas e desenvolvidas pelos paranaenses. Recebeu também muitas influências dos portugueses, espanhóis, africanos, indígenas e outros imigrantes como os italianos, alemães, poloneses, ucranianos, japoneses, árabes, coreanos, chineses e búlgaros, além das contribuições dos gaúchos, catarinenses, mineiros e nordestinos.

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Curitibano

O curitibano é uma dança de roda praticada aos pares, conhecida especialmente no

município de Campo Largo. Ao ritmo da música tocada em gaita, as quadrilhas cantam

declarações de amor, despeitos e ciúmes. Os rapazes tiram versos, as moças

respondem e os casais vão dançando. A encenação só termina quando todos os pares

tiverem cantado.

https://www.youtube.com/watch?v=DGDz7Qk6mic

Quebra – Mana

Também conhecida como quero – mana (ou querumana), é uma dança popular não

apenas no Paraná, mas também no Rio Grande do Sul, Matogrosso e em São Paulo.

Sua execução é sapateada, valsada e acompanhada por violas e palmas.

https://www.youtube.com/watch?v=dg9g69hNtkc

Dança de São Gonçalo

Originária de Portugal, a dança de São Gonçalo é praticada no interior do Paraná, mas

também em diversos lugares do Brasil, como interior de São Paulo e Minas Gerais, com

registros também no Nordeste do Brasil (BA e CE). A cerimônia que envolve reza e

procissão acontece em torno da imagem do santo. A dança, acompanhada de música

de viola, é dividida em partes, chamadas de ‘voltas’. No Paraná, essas ‘voltas’ têm

nomes especiais, como ‘marca passo’, ‘parafuso’, ‘despontam’, ‘confissão’ e

‘casamento’.

• Paraná

https://www.youtube.com/watch?v=2ED9Wf4yBL8

• São Paulo

https://www.youtube.com/watch?v=Gt0213zKmx4

• Tocantins

https://www.youtube.com/watch?v=gpK27zkRzYE

• Minas Gerais

https://www.youtube.com/watch?v=peg9FTZv52U

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Congada da Lapa

Manifestação cultural típica do Paraná, a congada da lapa está ligada ao culto a São

Benedito, patrono espiritual da comunidade negra da Lapa. A manifestação veio dos

descendentes de escravos e graças a eles se manteve. A participação na dança é

restrita a descendentes de africanos e devotos de São Benedito, não sendo permitida a

participação de outras etnias. A congada é uma manifestação presente em todo o

Brasil, sobretudo em Minas Gerais e interior de SP.

https://www.youtube.com/watch?v=nXx0OgAIiGY

https://www.youtube.com/watch?v=IRZq8Gj3qKQ

Fandango

Dança típica do litoral paranaense, o fandango está fortemente associado ao modo de

vida caiçara. Os versos são cantados ao som de violas e rabecas. A dança pode

acontecer em pares ou através dos chamados batidos, quando os homens usam

tamancos de madeira, intercalando palmas e batidas no assoalho

• Documentário Fandango paranaense

https://www.youtube.com/watch?v=M_XfGwl9LJk

https://www.youtube.com/watch?v=_CZJrHSgoDM

• Ouça o fandango da Doralice

http://www.vagalume.com.br/grupo-minuano/fandango-da-doralice-2.html

2.2 A música do estado de Santa Catarina Santa Catarina é muito bem representada pelo seu folclore, com forte influência do estilo gaúcho, além das tradicionais danças típicas da Europa de onde veio a maioria dos seus imigrantes, com forte influência da Ilha dos Açores.

Dentre as manifestações folclóricas mais praticadas pelo florianopolitano, destacam-se as chamadas Brincadeiras de Boi, que demonstram o caráter eminentemente rural do açoriano aqui aportado que, ao contrário do que se poderia imaginar, liga-se sob este aspecto mais à terra do que ao mar.

Boi de Mamão A dança do Boi de Mamão é a brincadeira mais cultivada e, por isso mesmo, a mais apreciada dança folclórica da região. Sendo uma das tradições folclóricas mais antigas de Santa Catarina, principalmente nas regiões litorâneas, recebendo maior destaque

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entre o Natal e o Carnaval. Inicialmente, o Boi de Mamão era denominado de O Folguedo do Boi Falso ou Boi de Pano da Ilha de Santa Catarina e, somente na década de 30, recebeu o nome atual. Isso porque as crianças, na falta do crânio original, usaram um mamão para fazer a cabeça do boi. Mas ainda há algumas divergências no que diz respeito à origem do nome.

Diferentemente das outras brincadeiras que foram trazidas à Ilha de Santa Catarina pelos açorianos, o Boi de Mamão é uma tradição comum a outros estados brasileiros, apresenta diversas variações, com tipos diferentes de apresentação, mas semelhantes na oralidade de sua história. Muitas semelhanças são vistas entre o Boi de Mamão e o Boi-Bumbá, ou o Bumba Meu Boi, todavia, para conhecer a verdadeira origem da tradição, é preciso recorrer à Europa, em uma região chamada Galícia que ao sul limita-se com Portugal. Galícia é uma comunidade autônoma espanhola, onde foram registradas as primeiras referências do costume https://www.youtube.com/watch?v=O9UhlcnGr2I Obs.: Santa Catarina também possui um forte cenário dentro da música eletrônica.

• Boi de mamão – Santa Catarina

https://www.youtube.com/watch?v=O9UhlcnGr2I

• Curiosidade: Música eletrônica Festival de Santa Catarina

https://www.youtube.com/watch?v=qWzYyGyq5wE 2.3 A música do estado do Rio Grande do Sul No estudo da música sul rio grandense, é comum encontrarmos o termo música nativista. Este termo é sempre usado quando se trata de designar os diversos gêneros musicais que caracterizam a música gaúcha. Encontramos aí o xote, o vaneirão, a rancheira, o Bugio, a milonga, a chimarrita e a chamaria, além das cantigas folclóricas como balaio, tatu, facão e pau de chita. A chamada música nativista se destaca de outros gêneros da música popular brasileira, porque carrega forte influência da cultura popular do Cone Sul (Argentina, Uruguai, parte do Paraguai e extremo sul do Brasil). Os temas recorrentes são o amor pelo Rio Grande do Sul e suas tradições: a culinária regional, os valores morais, o campo, o cavalo e a mulher gaúcha. A música nativista tem um andamento mais lento e intimista e as letras sugerem conteúdos conotativos e a construção de metáforas. Neste cancioneiro destacam-se Teixeirinha, José Mendes e Gildo de Freitas.

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• Música Querência Amada – Teixeirinha - Rio Grande do Sul

http://musica.com.br/artistas/teixeirinha/m/querencia-

amada/letra.html#video

• Ritmo do vaneirão – hino do Rio Grande do Sul

https://www.youtube.com/watch?v=NZqTbgpB8D0

• Ritmo chimarrita – marcas do Sul

https://www.youtube.com/watch?v=XaKX6tUoGks

Alguns autores da região sul:

Paraná Arrigo Barnabé; Augusto Stresser; Bambico; Bento Mossurunga; Calouros do Ritmo; Carmen Queiroz; De Kalafe; Henrique de Curitiba; João Lopes; Luis Carlos Paraná; Lápis; Nho Belarmino e Nhá Gabriela; Paulo Leminski; Paulo Soledade; Romano Nunes; Stelinha Egg; Waltel Branco.

Santa Catarina Alberto Heller; Cravo da Terra; Dazaranha; Denise de Castro; Eduardo Pimentel; Expresso; Felipe Moritz; Felix Fônica; Iriê; Ive Luna; Jorge Coelho; Kléber Alexandre; Luiz Gustavo Zago; Leonardo Ilha Bela; Luciano Candemil; Metal Brasil; Neno Miranda; Nosso Choro; Rodrigo Piva; Rodrigo Paiva; Renato Pimentel; Samambaia; Silvia Beraldo; Silvio Mansani; Tijuquera; Tito Lys. Rio Grande do Sul Adelar Bertussi; Cenair Maicá; César Oliveira e Rogério Melo; César Passarinho; Dante Ramon Ledesma; Elton Saldanha; Gaúcho da Fronteira; Gildo de Freitas; Leonardo; Jair Gonçalves; João de Almeida Neto ;Joca Martins;José Cláudio Machado; José Mendes; Leopoldo Rassier; Luciano Maia; Luiz Marenco; Luiz Carlos Borges; Mano Lima; Marcello Caminha; Noel Guarany; Os Mirins; Os Monarcas; Os Fagundes;Os Serranos; Osvaldir e Carlos Magrão; Pedro Ortaça; Pirisca Grecco; Porca Véia; Renato Borghetti; Rui Biriva; Teixeirinha; Telmo de Lima Freitas; Tio Bilia; Wilson Paim.

3. Um resumo da história da MPB nos últimos 100 anos

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Estamos chegando ao final de nosso curso. A partir de nossas “Rotas Musicais” tivemos uma visão geral sobre algumas das principais manifestações musicais do Brasil. Entretanto, esse é só um primeiro degrau para que você possa continuar suas pesquisas e seu interesse pela nossa música tão ampla e diversa. Segue abaixo um breve resumo (por décadas) contendo alguns dos principais artistas, gêneros e estilos que vimos ao longo do curso, sobretudo a música do Sudeste. Temos em nossas mãos um manancial infindável de compositores, intérpretes, canções, temas da música instrumental, arranjadores, instrumentistas, maestros e uma história musical que reflete muito a cultura e o pensamento do povo brasileiro.

• Século XVII, XVIII e XIX: gêneros europeus presentes no Brasil: polcas, valsas, mazzurcas, schottish e a música erudita europeia. Havia também os ritmos afro-brasileiros (ijexá, congo de ouro, barra vento, jongo, moçambique, congada, batuque de umbigada (semba de Angola), maracatu (Recife), samba de roda (Bahia), tambor de crioula (Maranhão), dentre outros).

• As origens: Europa+África: a Modinha e o Lundu: O principal representante da música brasileira no final do século XIX foi Domingos Caldas Barbosa, o qual fez sucesso até na corte portuguesa em Lisboa. Podemos, grosso modo, dizer que seguem-se duas correntes fortes da música brasileira: da Modinha (influência direta de Portugal) veio a música caipira, sertaneja ou romântica do Brasil, e do Lundu e das danças de umbigada (influência direta africana) veio o samba e os ritmos mais dançantes.

• 1900: Surgem os primeiros gêneros “genuinamente” brasileiros: podemos considerar o CHORO como um dos primeiros e mais representativos gêneros urbanos autenticamente brasileiros do final do séc. XIX. Outros gêneros nascidos em solo brasileiro no final do século XIX e início do séc. XX: o maxixe (tango brasileiro), o frevo do Recife, a marchinha de carnaval. A principal representante da música brasileira do início do século XX foi Chiquinha Gonzaga.

• 1910: O choro e o início do samba: Joaquim Calado, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Jacó do Bandolim, Valdir Azevedo. Foi em 1917 que foi registrado o primeiro samba chamado “Pelo Telefone” por Donga.

• 1920: A consolidação do samba como gênero. Principais representantes: Noel Rosa, Donga, Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Pixinguinha e Sinhô. Contudo, o samba destes compositores era muito próximo do maxixe. Foram os sambistas do Estácio, como Bide e Ismael Silva que criaram o samba

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• “sincopado”, trazendo maior influência dos ritmos afro-brasileiros para o samba.

• 1930: A Era do rádio. Principais representantes: Orlando Silva, Dalva de Oliveira, Dolores Duran, Nora Ney, Vicente Celestino, Francisco Alves e Carmen Miranda. Orquestras da rádio: Ary Barroso, Radamés Gnatalli. Samba exaltação, nacionalismo exacerbado graças à era Getúlio Vargas. Modas de viola no interior do Brasil.

• 1940: Samba-canção: Dolores Duran, Dorival Caymmi (Ary Barroso), Roberto Luna, Lupicínio Rodrigues, Altemar Dutra. O Rádio ainda predomina, mas começa sua decadência. Contudo, as Orquestras de baile viajam pelo Brasil tocando ritmos como bolero, chá chá chá, mambo, músicas românticas, samba e samba-canção. Surge Luiz Gonzaga.

• 1950: O baião de Luiz Gonzaga. A Bossa-Nova (1956): Roberto Menescal, Nara Leão, Carlos Lyra, João Gilberto, Ronaldo Bôscoli, Vinícius de Morais e Tom Jobim. O rock´n´roll chega ao Brasil. Surge a Jovem Guarda.

• 1960: “A MPB” e os festivais da canção: Chico Buarque, Edu Lobo, Elis Regina, Jair Rodrigues. A Jovem Guarda e o iê iê iê: Roberto Carlos, Erasmo, Wanderléia, Golden Boys. Os trios instrumentais de Bossa-Nova e Samba Jazz estavam em voga nos anos 60 como Zimbo trio, Sambalanço, Tamba trio, Os Copa 5, entre outros. No final dos 60 iniciou uma modernização da música sertaneja com Léo Canhoto e Robertinho, Sérgio Reis, Trio Parada Dura, João Mineiro e Marciano, Gilberto e Gilmar, entre outros.

• 1970: A Tropicália: Caetano, Gil, Gal, Bethânia. O Clube da Esquina: Milton Nascimento, Lô Borges, Toninho Horta, Beto Guedes, Flávio Venturini. A retomada do samba (Cartola, Nelson Cavaquinho), Elizete Cardoso, Elis, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Alcione, Beth Carvalho, Clara Nunes, Zeca Pagodinho e Fundo de Quintal. O Rock de Mutantes (Rita Lee), Raul Seixas, Secos e Molhados (Ney Matogrosso). O funk no Brasil: Tim Maia, Jorge Ben, Cassiano, Banda Black Rio.

• 1980: O Rock brasileiro dos anos 80: Titãs, Paralamas, Ultraje a Rigor, Legião Urbana, Capital Inicial, Engenheiros do Havaí. A MPB continua forte: Djavan, João Bosco, Ivan Lins, Chico, Tom, Vinícius. O “Brega” também está em alta com Wando, José Augusto, Amado Batista, Genival Lacerda, Waldick Soriano, Sidney Magal, Gretchen e Reginaldo Rossi. A lambada também foi um gênero em voga nos anos 80. No final da década surge o pagode com Raça Negra, o “novo”

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sertanejo com Chitãozinho e Xororó e o Axé com Daniela Mercury.

• 1990: O Pop: Skank, Cidade Negra, Jota Quest. O Sertanejo continua: Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo e muitas outras duplas. O Axé music: Daniela Mercury, Margareth Menezes, Olodum, Timbalada, Banda Eva, Netinho. Pagode: Zeca, Exaltasamba.

• 2000: A “Nova” MPB: Lenine, Zeca Baleiro, Ana Carolina, Zélia Duncan, Maria Rita, Maria Gadú, Adriana Calcanhoto, Ana Cañas, Céu, etc.

• 2010 até hoje: Sertanejo universitario, funk, e o que mais????

4. Planejamento e construção de projetos musicais no contexto escolar A diversidade musical e a Interdisciplinaridade Neste curso, entendemos que uma das principais funções da Educação Musical no contexto escolar é que a criança entre em contato com os mais diversos gêneros e estilos musicais do Brasil e do Mundo. Talvez a escola seja uma das poucas oportunidades que a criança tenha de conhecer e de vivenciar manifestações musicais que não sejam apenas aquelas que estejam na mídia atual, na moda ou fortemente divulgada pela indústria cultural de massa. Contudo, para que o trabalho não caia numa visão conteudista e enciclopédica, torna-se fundamental um planejamento dessas atividades, para que as crianças tenham experiências significativas com a música. Nesse Planejamento, você deve incluir os vários tipos de atividades propostas, como: a apreciação, a sensibilização, a expressão corporal, a prática com instrumentos e a criação musical, construindo assim um saber musical mais completo e diversificado. Como mais um pilar fundamental para a inserção dos conteúdos musicais na escola, podemos concluir esse curso propondo o desenvolvimento de Projetos Musicais, que podem ser bimestrais, semestrais ou até anuais. A prática do Planejamento e da criação de Projetos já faz parte do cotidiano do professor, não sendo tarefa em que estes encontrarão dificuldade. Muito pelo contrário, essa parte pode ser onde o professor poderá criar, dar ideias, trocar, socializar com os colegas e executar à sua maneira um projeto com o qual se identifica e sinta prazer em fazê-lo. Esse Projeto Musical poderá ser desenvolvido a partir de um tema como, por exemplo: 1. Um compositor (Projeto Caymmi, Vinícius de Moraes ou Adoniran Barbosa);

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2. Um gênero musical (O Maracatu do Pernambuco, A História do Samba, ou ainda, Música Clássica para Crianças); 3. Uma época (Os sons do Século XIX, A Era do Rádio no Brasil, ou O Rock dos anos 60 e 70); 4. Pode ser também pesquisa de instrumentos (O acordeon no Brasil ou A história do Violão); 5. Ou ainda regiões do Brasil e do mundo, manifestações, sons, rituais, estilos, grupos, bandas etc. Por fim, a proposta principal desses projetos Musicais é a socialização e a integração entre os educadores, alunos, pais e comunidade. Outra finalidade é que o trabalho com a música seja interdisciplinar, integrado a outras disciplinas, fazendo intersecções com as artes, a educação física, a língua portuguesa, a matemática, a história, a geografia, abrindo portas para a um aprendizado mais holístico e integral, diminuindo as fronteiras e a segmentação dos conhecimentos das mais diversas áreas, sem é claro perder de vista o desenvolvimento da criança dentro da linguagem musical. Desejamos a você todo sucesso nesse caminho que pode ser muito enriquecedor e muito prazeroso. Bom trabalho e bom divertimento!!!

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Referências Bibliográficas

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BOLÃO, O. Batuque é um privilégio: percussão na música do Rio de Janeiro para

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