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Ebook: Dê trela para velhice

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Page 1: Ebook: Dê trela para velhice

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Adolfo Becker

Albertina Borges De Sampaio

Arlete Brasil

Bernadete Suili Kulaitis

Catarina Scabeni

Clarinda Dinamarquez Kulaitis

Eva Rodrigues Roden

Josefina Prestes

Autores

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Adriele Barbosa Paisca

Ana Cristina Guarinello

Ana Paula Pinto

Fabiana de Cassia Gryczak

Fabiane Kupicki

Jéssica Spricigo Malisky

Luciane Carlin Cazzaroto

Maria Cristina Miiller Chaves

Mariana Furquim de Azevedo

Michéli Rodrigues da Rosa

Natália Ferreira Lima

Rayssa Thayana Golinelli

Renata Rodrigues dos Santos

Stefany Teodoro

Agradecimentos

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Page 4: Ebook: Dê trela para velhice

É com satisfação que estamos lançando o primeiro ebook do grupo de

idosos que compõe a Oficina da Linguagem da Universidade Tuiuti do

Paraná. Esse grupo, que desenvolveu no ano de 2016, atividades orais, de

leitura e de escrita em torno de uma temática que envolve nuances da

velhice, pôde nos presentar com uma obra inovadora, a qual vincula o uso

de novas tecnologias computacionais com processos singulares de

envelhecimento.

Inicialmente queremos compartilhar com vocês, ainda que de forma breve, a

história dessa Oficina. Ela nasceu, em 2006, quando um grupo de pessoas

idosas explicitou o desejo de contar suas histórias de vida. Esse desejo, de

tão genuíno, nos contagiou e nos brindou com a organização de um trabalho

que tem sido reconhecido como Oficina da Linguagem. Por meio dele,

ouvimos diversos relatos pessoais, que têm nos levado a refletir sobre a

necessidade de a velhice ser ressignificada. Pois, só assim ela – a velhice -

poderá se mostrar em sua plenitude, sem que dela seja subtraída ou

acrescentada nada além do que as possibilidades e as dificuldades inerentes

à própria existência. Em outras palavras, trata-se de um trabalho que nos

permite entender a velhice como uma parte da vida que envolve dilemas,

contradições, regozijo e desejo! Sim, os mais velhos continuam a viver como

qualquer pessoa desejante!

Desde 2006, já se passou uma década, na qual acompanhamos muitos

relatos recheados de conteúdos vivenciais, que foram registrados em mais

de dez livros, os quais reuniram escritas de narrativas pessoais em torno de

assuntos diversos: músicas, imagens fotográficas, memórias, brincadeiras

de infância, entre tantos outros.

Apresentação

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Page 5: Ebook: Dê trela para velhice

Esses livros foram elaborados por pessoas interessadas em deixar um

legado a quem se interessar pelo elo que une, de forma inexorável, passado,

presente e futuro!

Especificamente no ano de 2016, o grupo de idosos escreveu um ebook

intitulado Dê trela para a velhice. Durante a elaboração dessa obra, tivemos a

satisfação de acompanhar a trajetória de oito pessoas, com 60, 70, 80, quase

noventa anos, querendo trilhar as novidades das tecnologias atuais. Sim,

partiu do próprio grupo a vontade de se aventurar pela trilha dos recursos

computacionais e, assim, registrar dados da própria velhice!

Chama atenção o título dado a obra - Dê trela para a velhice - que

convém repetir, pelo próprio convite endereçado a você leitor. Sim, deixe o

velho falar, dê ouvidos a ele, a esse outro que é tão caro a nossa própria

existência, pois nos permite entender que, em cada um de nós convive a

criança, o adulto e o velho, unindo os desejos de ontem, de hoje e de

amanhã.

Esperamos que esse livro também te convide a uma reflexão capaz de

te permitir dar trela para as muitas velhices que fazem parte do teu cotidiano!

Boa leitura!

Giselle Massi.

Curitiba, dezembro de 2016.

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Dê Trela para Velhice

Alongue o seu sorriso.

Sorria o dia inteiro.

Abra bem os braços. Me dê um abraço.

Não me deixe de lado.

Gire com cuidado o pescoço.

Olhe para mim seu moço.

Não sou invisível.

Faça uma caminhada em minha direção.

Me de a mão.

É hora de repouso. Sente‐se ao meu lado.

Me ouça por favor.

Fale com cuidado quando se referir á mim.

Á velhice.

Hoje é uma velha que está sentada aqui.

Amanhã poderá ser sua vez.

Então! Por que não dar trela pra mim?

Tarde fria com tons de cinza.

Clarinda Dinamarquez Kulaitis.

Prefácio

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Page 7: Ebook: Dê trela para velhice

1. As imagens da nossa velhice.....................................................8

2. As imagens de nossos desejos.................................................25

3. As imagens de nossa juventude................................................41

4. Nossa velhice registrada...........................................................57

5. Exposição dos objetos que remetem aos nossos desejos,

velhice e juventude.......................................................................77

Sumário

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Adolfo Becker

Escadaria

Lembra-me os degraus da vida que já vivi e que quero continuar

subindo as escadas da vida, em cada degrau tem uma história, um

amadurecimento. Um degrau da escada é a família, a liberdade que

a vida me deu.

As imagens da nossa velhice

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Adolfo Becker

Degraus da vida

Essa foto representa os degraus da vida (decrescente). Já subi

até o topo dos degraus, mas agora estou descendo. Descendo que

eu digo, no sentido da minha idade, mas referente o conhecimento,

eu só tenho a subir e ganhar.

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As imagens da nossa velhice

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As imagens da nossa velhice

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Albertina Borges De Sampaio

Saudades

Lembrança da chácara onde morava, vontade de voltar para visitar. Gostaria de terminar a vida no local de minha infância 

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As imagens da nossa velhice

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As imagens da nossa velhice

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As imagens da nossa velhice

Page 15: Ebook: Dê trela para velhice

Bernadete Suili Kulaitis

O pinheiro

Pinheiro, símbolo da fertilidade, uma árvore linda, produtiva. Quanto

mais velha, mais bonita, e é assim que eu quero ser, além de

remeter o envelhecer, também está relacionado com o meu desejo,

que é nunca deixar de produzir. Sempre buscar coisas novas, ou

seja, não se acomodar, porque a vida tem muito pra oferecer,

quanto mais vivemos mais a gente aprende. Depois que envelheci

passei além de desejante, sou desejada, pois adoro viver minha

independência. Meu objetivo é fazer com que as pessoas se

gostem e que têm seu valor. 

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As imagens da nossa velhice

Page 16: Ebook: Dê trela para velhice

Bernadete Suili Kulaitis

Araucária

Verde muito verde, isso é vida, respirar ar puro, ao fundo uma

Araucária que quanto mais velha mais bonita fica.

Na minha opinião a velhice é como o pinheiro que quanto mais

velho mais bonito fica. 16

As imagens da nossa velhice

Page 17: Ebook: Dê trela para velhice

Catarina Scabeni

Mesa e livros

A mesa representa a velhice porque é durante as refeições que são

lembrados os pratos gostosos que mamãe e vovó faziam …. Os

livros registram acontecimentos antigos histórias do começo do

mundo desde adão e eva.

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As imagens da nossa velhice

Page 18: Ebook: Dê trela para velhice

Clarinda Dinamarquez Kulaitis

Mistérios

“Silêncio” me lembra algo misterioso, como códigos e segredos.

Todos nós temos algo só nosso, fechado a sete chaves; são os

nossos segredos. Eu, idosa, sou um cofre de segredos.

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As imagens da nossa velhice

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Clarinda Dinamarquez Kulaitis

Mapa da trajetória da minha vida.

No dia do meu aniversário de 80 anos, como em todas as festas,

não podia faltar o fotógrafo para registrar tudo para a posteridade.

E ele estava lá. Meu filho Fernando procurando os melhores

ângulos e os momentos mais expressivos.

Não sou fotogênica, mas até que me sai bem na maioria delas,

graças ao esforço e a arte do fotógrafo.

Uma delas chamou a atenção pela expressão do meu rosto

sorridente, mas marcado pelo tempo. Como não tenho posses

para fazer uma plástica, ali está ao vivo e a cores o mapa da

trajetória da minha vida, todo amassado e enrugado.

Disse comigo mesma – Que bom! Envelheci e não vi!

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As imagens da nossa velhice

Page 20: Ebook: Dê trela para velhice

Observei de perto, até com a ajuda de uma lupa, no alto notei minha frente

um tanto áspera, lembrando o deserto, não tão vasto como o Saara, mas o

suficiente para trazer á tona os momentos de solidão ao cair da tarde,

trazendo lembranças de um passado feliz á dois, depois junto á meus

filhos.

Mas minha imaginação, como o mapa do trajeto nas mãos, num piscar de

olhos transforma esse deserto em um vasto jardim florido.

Mais abaixo, vincos profundos que chamei de vale de lágrimas.

São as agruras da vida, mas num repente minha copilota (imaginação)

transformou num lindo lago azul, refletindo um pouco do brilho dos meus

olhos, também azuis.

Subindo a serra encontrei montanhas insoladas, no alto de minhas

bochechas. Ai é o monte Tabor. Lembra toas as alegrias da minha vida que

colocadas numa balança somam muito mais que tristezas e magoas já

perdoadas e esquecidas.

Se possível fosse, voltaria no tempo a beijaria á vida e as mãos que me

fustigaram na infância e adolescência.

Hoje, sinto muito orgulho de toda minha trajetória vivida e da pessoa que

me tornei.

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As imagens da nossa velhice

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Eva Rodrigues Roden

Mirante

Continuando o passeio pela a universidade chegamos ao mirante.

Senti uma emoção ao olhar ao longe e ver que o velho se mistura

com o novo e que, apesar dos anos terem passado, as lembranças

do antigo tem que se misturar com a modernidade.

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As imagens da nossa velhice

Page 22: Ebook: Dê trela para velhice

Eva Rodrigues Roden

Passos que eu já dei

Olhando esse caminho me vêm à mente os anos que já vivi, que

por sinal foram bem vividos. Nesse caminho estou deixando as

coisas que já se foram como boas e ruins, mas que não impedem

uma velhice cheia de sonhos e histórias para contar.

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As imagens da nossa velhice

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Josefina Prestes

Inverno maravilhoso

Curtindo a terceira idade com muita alegria e com um sorriso

enorme no rosto! Apesar do frio nesse dia, estava aproveitando

muito o passeio.

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As imagens da nossa velhice

Page 24: Ebook: Dê trela para velhice

Josefina Prestes

Recordando o passado

Esta foto me trás a sensação de paz, liberdade, tranquilidade e

saúde. Gosto de muito de passar meu tempo lidando com as

plantas, aonde tenho muito prazer e satisfação

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As imagens da nossa velhice

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Adolfo Becker

Mirante

Ver o horizonte, a beleza da natureza, isso me faz lembrar-me da

liberdade da minha infância e é o que busco do futuro, a liberdade.

Pois somos de nós mais velhos que buscamos a sabedoria.

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As imagens de nossos desejos

Page 27: Ebook: Dê trela para velhice

Adolfo Becker

Recordações da juventude

Meu desejo é continuar com saúde, dando amor e recebendo

amor, contando com a compreensão de cada um.

Que esse grupo “oficina da linguagem”, assim como a vida,

cresça sempre no aspecto de confiança e fidelidade, porque amor já

temos uns pelos outros.

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As imagens de nossos desejos

Page 28: Ebook: Dê trela para velhice

Albertina Borges De Sampaio

Superação

Eu tinha a impressão de que não conheceria uma faculdade e hoje

estou emocionada em estar aqui.

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As imagens de nossos desejos

Page 29: Ebook: Dê trela para velhice

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As imagens de nossos desejos

Page 30: Ebook: Dê trela para velhice

Arlete Brasil

Além do horizonte

O meu desejo é ser feliz. Esta imagem representa a felicidade, me

sinto feliz em tirar fotografia. Olhando esta paisagem sinto sensação

de liberdade. Ao olhar para o universo você se sente feliz, o

pensamento é outro. Uma sensação boa.

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As imagens de nossos desejos

Page 31: Ebook: Dê trela para velhice

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As imagens de nossos desejos

Page 32: Ebook: Dê trela para velhice

Bernadete Suili Kulaitis

O pinheiro

Desejo envelhecer como um pinheiro, quanto mais velho fica mais belo, frondoso e firme. 

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As imagens de nossos desejos

Page 33: Ebook: Dê trela para velhice

Bernadete Suili Kulaitis

Qualidade de vida

Nessa foto lembro-me do ar puro que sempre respirei na minha

juventude, pois sempre estive cercada de árvores, e desejo

continuar tendo esse ar puro. 33

As imagens de nossos desejos

Page 34: Ebook: Dê trela para velhice

Catarina Scabeni

Árvore

O desejo é que mundo seja como uma arvore no meio de um

jardim cheio de flores dando frutas para todos onde não haja

discriminação nem corrupção e maus tratos mas muito respeito e

amor.

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As imagens de nossos desejos

Page 35: Ebook: Dê trela para velhice

Clarinda Dinamarquez Kulaitis

Bicho papão com o click na mão

A tecnologia para os jovens é a maravilha do século. Nascem já

favorecidos pela ciência que veio para ficar, evoluir e facilitar a vida

humana. Já para muitos idosos, a tecnologia é um “bicho papão

com o click na mão”. Mas não deixa de ser uma maravilha, um

quase milagre, fruto de um processo histórico evolutivo. Por muito

tempo relutei, mas aceitei e hoje, já uso essa tecnologia colocando

em redes sociais poemas de autoria própria, incentivando a alegria

e felicidade que é a minha missão: ser feliz e fazer o outro feliz.

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As imagens de nossos desejos

Page 36: Ebook: Dê trela para velhice

Clarinda Dinamarquez Kulaitis

Abra suas asas

Desejo ser feliz e fazer o outro feliz. Sou uma pessoa muito feliz

porque consegui realizar o meu maior sonho que era de ser mãe.

Como sou feliz tenho desejo e missão de auxiliar de todas as

maneiras as pessoas enviadas por Deus que se apresentam em

minha frente.

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As imagens de nossos desejos

Page 37: Ebook: Dê trela para velhice

Eva Rodrigues Roden

Renascendo no grupo

Alguém ali podia estar representando uma alegria, uma paz, por ter

por uma hora e meia vivido com intensidade? Sem Whatsapp, sem

telefone, uma ouvindo a outra, numa mistura de velhos e jovens,

com sonhos e desejos. E ai vem à pergunta, o que desejo daí para

frente? Tenho muitos desejos: até na vida profissional, pois sei que

posso produzir muito ainda. Mas o maior desejo, é que essas

jovens que estão nos acompanhando lembre-se que o tempo, é

sempre o tempo presente.

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As imagens de nossos desejos

Page 38: Ebook: Dê trela para velhice

Eva Rodrigues Roden

O tempo ensina

Em meio as minhas vontades na velhice, tenho desejo da preservação da natureza e o sonho de que meus netos e bisnetos

possam um dia conhecer e viver em lugares como esse, onde nossa alegria pode ser renovada, traz um novo ardor pela vida, à vontade de viver onde não se ache que está perdendo tempo em

um passeio como esse.

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As imagens de nossos desejos

Page 39: Ebook: Dê trela para velhice

Josefina Prestes

Autoestima

Meu desejo é ter um grande jardim! E ainda, se possível, uma

floricultura! Também desejo muita cor e alegria em minha vida.

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As imagens de nossos desejos

Page 40: Ebook: Dê trela para velhice

Josefina Prestes

Reflexo da natureza

Desejo muitas viagens, passeios, continuar com saúde até o fim da

vida, para poder ver meus netos crescerem, curtir tudo que a vida

pode me proporcionar. Fazendo com que minha velhice seja

aproveitada da melhor maneira possível, com a presença da minha

família e fazendo o que gosto.

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As imagens de nossos desejos

Page 41: Ebook: Dê trela para velhice

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Page 42: Ebook: Dê trela para velhice

Adolfo Becker

Carteira antiga

Lembra a minha infância, onde estudei as carteiras eram assim,

tinha um tintureiro onde molhava a caneta na tinta e escrevia, os

professores ditavam e as provas vinham de outros professores de

outros municípios e tínhamos medo de reprovar. Fomos criados

constrangidos na escola e em casa porque, além de estudar,

tínhamos que trabalhar. Trabalhávamos com porcos, batatas, mas

não fui criado pra matar bicho, sentia muita pena.

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As imagens de nossa juventude

Page 43: Ebook: Dê trela para velhice

Adolfo Becker

A pose

Essa foto me remeteu a juventude, o tempo que eu trabalhava na

agricultura, até meus 24 anos. A pose da foto foi feita em

homenagem ao “jeca tatu”, muito conhecido por suas histórias. A

vida foi sofrida, mas tínhamos liberdade, não como hoje, que as

más intenções perduram. Era menos violência, um ar mais puro. 43

As imagens de nossa juventude

Page 44: Ebook: Dê trela para velhice

Albertina Borges De Sampaio

Voltando a ser jovem

Essa foto mostra que eu consegui superar o desejo de conhecer

uma universidade, pois hoje eu frequento a oficina da linguagem da

Universidade Tuiuti do Paraná.

As imagens de nossa juventude

Page 45: Ebook: Dê trela para velhice

Albertina Borges De Sampaio

Lembrança de brincadeiras na minha infância.

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As imagens de nossa juventude

Page 46: Ebook: Dê trela para velhice

Arlete Brasil

Felicidade é o espirito da vida!

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As imagens de nossa juventude

Page 47: Ebook: Dê trela para velhice

Arlete Brasil

Vida!

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As imagens de nossa juventude

Page 48: Ebook: Dê trela para velhice

Bernadete Suili Kulaitis

Saudades

Este guarda-pó branquinho e engomado era o estilo de uniforme

escolar da época, nos idos dos meus 7 anos, linda, iniciei a minha

jornada escolar, 1° ano primário no Grupo Escolar das Mercês, que

mais tarde passou a se chamar Rosa Saporski. Que me fez lembrar

a primeira professora Glades que me lembro dela ate hoje, nunca

esqueci essa mulher, ela era linda e foi ela que me alfabetizou. A

partir de então minha paixão pela alfabetização foi crescendo e,

então na minha juventude virei professora, onde retornei a usá-lo.

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As imagens de nossa juventude

Page 49: Ebook: Dê trela para velhice

Bernadete Suili Kulaitis

Saudade

Essa fotografia lembra o quintal da casa de minha avó paterna,

pois lá tinha um rio no qual brinquei muito e tinham muitas árvores.

Que saudades daquele tempo! 49

As imagens de nossa juventude

Page 50: Ebook: Dê trela para velhice

Catarina Scaloni

Fios

Porque na juventude andamos sobre os fios e vemos tudo colorido.

É fácil de resolver.

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As imagens de nossa juventude

Page 51: Ebook: Dê trela para velhice

Clarinda Dinamarquez Kulaitis

A mescla

A nossa existência é contada em anos. No meu caso 84 anos. Já

para chegar ao alto do mirante, são degraus. É maravilhosa a visão

panorâmica do local que lembram os tempos áureos da minha

juventude. Grandes edifícios compartilham o espaço com casas

simples de antigos moradores. É uma mescla do velho e do novo.

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As imagens de nossa juventude

Page 52: Ebook: Dê trela para velhice

Clarinda Dinamarquez Kulaitis

Medo X coragem

Essa foto lembra um pouco do sofrimento que passei na minha

adolescência quando órfã de pai e mãe, interna em um colégio,

rejeitada pelas colegas que eram ricas e não trabalhavam no

trabalho escravo como eu precisava fazer. Até certo ponto a minha

vida era como esconderijo, na escuridão como um oco de uma

árvore, mas consegui transformar mágoas e sofrimentos da minha

infância e de todo o meu passado em lixo reciclável e fertilizante

que só me deixou mais forte, guerreira, combativa, perspicaz e

saudável.

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As imagens de nossa juventude

Page 53: Ebook: Dê trela para velhice

Eva Rodrigues Roden

Livros e carteiras

Remetem-me a juventude, porque senti que o conhecimento e a

vivência de hoje não precisa de diploma ou de certificado, pois as

lembranças da minha juventude fluirão naturalmente ao ver as

carteiras antigas, livros e a organização. Embora tenha mexido com

meu íntimo, pois gostaria de ter cursado uma graduação e por falta

de oportunidade não foi possível, mas nem por isso deixei para trás

o gosto pela leitura e a vontade de buscar sempre saber mais. 

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As imagens de nossa juventude

Page 54: Ebook: Dê trela para velhice

Eva Rodrigues Roden

Espelho

Na minha juventude eu ia até a casa de minha avó e lá tinha muitas

biqueiras de água que eram usadas para brincar e para consumo,

como lavar roupa. Era uma água pura e o som da água caindo da

biqueira me traz todas essas lembranças, mexendo com os

momentos vividos na adolescência e juventude. 

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As imagens de nossa juventude

Page 55: Ebook: Dê trela para velhice

Josefina Prestes

Matando a saudade

Essa imagem me remete a juventude, pois me lembro de que em

minha época as pessoas faziam filas para usar os telefones

públicos. E eu sempre enfrentava essa fila para poder conversar

com as pessoas que eu tinha saudades.

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As imagens de nossa juventude

Page 56: Ebook: Dê trela para velhice

Josefina Prestes

A colônia

Na minha infância, o lugar onde morava era uma colônia de

Russos, onde as casas tinham este estilo. Essa imagem traz a

lembrança da família, do que vivemos neste lugar.

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As imagens de nossa juventude

Page 57: Ebook: Dê trela para velhice

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Page 58: Ebook: Dê trela para velhice

Adolfo Becker

Com a chegada da velhice as coisas vão mudando, não só na aparência

(a qual eu não me incomodo nenhum pouco). Eu, às vezes, me sinto

deixado de lado, pelo desgaste físico, porque não tenho estrutura física

nem pra arrumar algo em casa e as pessoas também começam a dizer

que isso, e aquilo é “coisa de velho”.

Vivi muito bem até a velhice, mesmo com vários obstáculos. Quando eu

era mais jovem, estudei o quanto eu pude, ajudei meus pais, mas

conforme o tempo foi passando, fui me afastando da convivência familiar

e da sociedade. Não que eu quisesse, mas a vida foi me dando

responsabilidades. Fui me tornando adulto, formando minha família, e

não foi só a vida que mudou, eu também mudei. Com avanço da idade,

eu saio menos de casa, acabo tendo pouco contato com outras pessoas

e, assim, menos diálogo.

Eu, de filho virei tio, pai, sogro e avô. Sou o mesmo Adolfo, o que mudou

foram as relações que eu tinha com as pessoas, pois a vida é uma

corrente de mudança, ela não para independente se as mudanças forem

boas ou ruins. Mas, nunca me esqueci das coisas boas. Temos que

aprender a viver com a mudança, hoje pode ter sido ruim, mas amanhã

pode ser muito bom.

Sinto-me como uma árvore, criei minhas raízes, germinei, dei frutos.

Queria ter tido aos 50 anos o conhecimento que tenho hoje, pois eu teria

feito muita coisa diferente.

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Nossa velhice registrada

Page 59: Ebook: Dê trela para velhice

Devemos entender também que todos têm suas responsabilidades,

não tendo tempo de dar atenção ao outro, nossa nação vive com pressa,

mas outros realmente não querem dar atenção, e com o aumento da

tecnologia (Celular, Whatsapp) deixou mais evidente, ainda, a falta de

contato.

Depois dos 50 anos a gente entende que o tempo é precioso,

devemos aproveitar as coisas simples da vida, como um vento, um canto

dos pássaros, um abraço, um beijo, uma boa companhia. Temos que

aprender a ser feliz com o pouco, pois de nada adianta ter muito. Não

fiquei velho me importando com aquisições materiais e bens financeiros,

pois não vou levar nada comigo.

O melhor reconhecimento é ser confiável pelo seu caráter, que é

construído dia a dia, desde uma caneta que você empresta e devolve.

A velhice é boa e eu não esperava que ela fosse assim. E não acho

que a velhice tem seu lado ruim, porque me sinto mais respeitado do que

quando eu era mais novo, e as doenças... Ah! Essas são tanto para os

velhos quanto para os novos.

Estou vivendo a velhice, mas cheguei nela com ótimas histórias do

tempo que eu era jovem, em que sempre tive muito respeito, amor e

carinho aos mais velhos. E, assim, é meu desejo para velhice, que as

pessoas convivam comigo, me aceitem, me respeitem, me deem amor e

carinho.

Quero uma sociedade mais unida e igualitária independente da

idade.

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Nossa velhice registrada

Page 60: Ebook: Dê trela para velhice

Albertina Borges De Sampaio

Minha infância não foi nada fácil, nós éramos em sete irmãos. Somente o pai

trabalhava para sustentar a todos nós. Ele ia para a roça e quem ficava

cuidando das crianças era a minha mãe. Quando eu tinha, mais ou menos,

um ano de idade meu pai sofreu um acidente. Então, ficamos dependendo da

ajuda dos tios e vizinhos. Éramos muito unidos, os melhores pedaços do

frango minha mãe guardava para meu pai.

Aí veio o tempo de ir para a escola, não tínhamos dinheiro para comprar

material, íamos descalços. Comíamos o que tinha em casa. Produzíamos

milho, feijão, aipim, trigo, batata doce e arroz. Também criávamos frango,

cabrito e porco.

Com nove anos de idade, saí da escola para cuidar de quatro sobrinhos, para

minha irmã poder trabalhar.

A mãe e o pai ficaram muito felizes quando comecei a trabalhar, pois ajudava

bastante, comprava roupas para todos.

Com meu primeiro namorado, já casei, aos 23 anos.

Depois de um ano, veio o primeiro filho e meu marido passou a frequentar

bares, chegava em casa alcoolizado e quebrava as louças. Muitas vezes,

batia em mim.

Passados anos, tive o meu segundo filho e a minha vida foi trabalhar,

assumindo a responsabilidade da casa e dos filhos.

Agora viúva, com 65 anos, voltei a estudar, concretizando um sonho antigo.

Sinto-me mais leve, pois vivo o presente, livre de cobranças e de certas

responsabilidades.

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Nossa velhice registrada

Page 61: Ebook: Dê trela para velhice

Por isso, na velhice, me sinto feliz. Saio, passeio, vou almoçar na

casa de minhas amigas!

Quero superar minhas dificuldades: escutar mais, ser menos ansiosa

e confiar mais.

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Nossa velhice registrada

Page 62: Ebook: Dê trela para velhice

Arlete Brasil

Minha mãe, quando soube que estava grávida, ficou feliz da vida! Nasci e,

com meu primeiro choro, todos ficaram felizes. Pois eu era uma menina,

em uma família em que só tinham meninos.

Andei, aprendi a falar, trepei nas árvores, joguei coquinho nos outros...Tive

uma boa infância!

Aí veio a juventude, cresci e vim do nordeste, onde nasci, para o Paraná!

Tive muitos namorados, cada homem lindo!!!!

Aproveitei tudo que pude!

E as maiores alegrias que Deus me deu foram as minhas netas!

Agora, na velhice, é engraçado, pois não consigo me sentir velha, me sinto

jovem, me sinto uma pessoa gostosa!

Eu gosto de mim... Me acho linda e maravilhosa!

Às vezes, me sinto só. Mas, aí lembro que tenho minha amiga Zezinha, que

me faz companhia. Sento, converso com ela e me sinto melhor! Quem é a

Zezinha? Minha bengala! Esse é o nome dela.

Quero saúde e paz, para mim e para os outros. É o que desejo!

E vou chegar aos 100 anos. Uma velha sadia!

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Nossa velhice registrada

Page 63: Ebook: Dê trela para velhice

Bernadete Suili Kulaitis

Eu não estou muito preocupada com a velhice. Naturalmente ela chegará,

quero viver intensamente o hoje, pois é agora que estou vivendo, me

exercitando, dançando, caminhando no parque Barigüi, quase todas as

manhãs, das 8 às 10 horas, com sol ou com chuva, isso me faz muito bem,

viver bem fazendo o que gosto.

Essa tal de velhice, melhor idade, que chegue e que me traga muita paz, muita

sorte, saúde, força, vontade de viver e novas experiências!

Faço parte de uma geração que está envelhecendo, graças a Deus, feliz e

muito esperançosa de dias melhores, com muita coisa boa me acontecendo sob

todos os aspectos de vista. Creio nisso. Com muita liberdade, independência

financeira, faço o que quero, se quero. Não preciso dar satisfação para

ninguém, sou dona do meu nariz.

Os filhos, Alber e Adriana, casados, vivendo suas vidas com suas famílias, me

deram 4 netos maravilhosos, uma verdadeira paixão. Aliás, estou vivendo

minha fase de vó, que é encantadora.

Meus netos, Leonardo com 14, Julia 13, Eduardo 9 e o Guilherme 7, não me

deixam namorar. E a última do Eduardo, meu terceiro neto:

Vovó, você pode namorar, eu deixo. Mas tem que achar um namorado velho

como o meu pai.

Hahaha, adorei a permissão, meu filho tem 43 anos. Alguém conhece um

namorado velho assim?

Sinto-me abençoada a agradeço a Deus por cada dia vivido até aqui e quero

mais, uma velhice tranquila.

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Nossa velhice registrada

Page 64: Ebook: Dê trela para velhice

Gosto da pessoa que me tornei, pois as experiências de vida só ensinam

e a cada dia você aprende mais.

O envelhecimento te traz mudanças, mutações biológicas visíveis, mas

você entende mais os problemas de todo mundo e tem mais condições de

ajudar com palavras e atos. Você sempre tem uma palavra amiga, na hora

certa. Não basta ficar velho, mas garantir maior longevidade com felicidade e

satisfação com a vida.

A velhice é poder fazer um balanço de tudo que você fez na vida,

podendo contar para os jovens como você chegou até ela. Confesso que não

foi fácil, não, chegar até aqui. Mas cheguei com muito trabalho, esperança e

Deus no coração. Estou caminhando para a felicidade, dias melhores, com

minha vontade de viver, dançar, namorar, fazer novas amizades, caminhar

bastante, viajar, ajudando a cuidar dos meus netos, mas principalmente me

cuidando com alimentação, fazendo muito exercício, controlando as

guloseimas, cultivando uma boa qualidade de vida.

Minha filosofia de vida é ser muito feliz e, assim sendo, distribuir

felicidades mil a quem estiver a minha volta. Acredito que cada um de nós tem

uma missão. Tudo que acontece em nossa vida tem uma razão de ser. Nada

acontece por acaso e envelhecemos, ficamos velhos incríveis, mais libertos,

mais sábios.

Ficar velho, para mim, é um presente que recebemos, como se fosse uma

criança ganhando um brinquedo tão desejado. E, se Deus me deu esse

presente, quero curtí-lo ao máximo, passando para as pessoas que é bom viver

com flacidez, os pneus, os seis caídos, os óculos para leitura, pois não tenho

mais trinta anos e estou envelhecendo com muita sabedoria.

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Nossa velhice registrada

Page 65: Ebook: Dê trela para velhice

Enquanto envelheço, me torno mais condescendente com tudo e tendo

mais histórias para contar. Pois, escrevendo sobre a velhice, me lembrei da

linda Rua das Flores, antiga Rua XV, que agora só as pessoas podem passar

por ela. Mas, sou do tempo que passavam carros e ônibus, por ela.

Então, a velha Rua XV é, hoje, a Rua das Flores, o “point” moderno da

minha linda cidade de Curitiba. A Rua das Flores, a famosa e velha Rua XV,

com suas flores, pessoas caminhando, suas lojas, seus restaurantes, seus

artistas de rua, vida, vida e muito bem vivida. Seus bancos de praça, onde

ainda sento para conversar e apreciar o movimento.

Mas quando eu era adolescente, lembro que, por ali, passavam ônibus e

carros. Então, lá se foram cinquenta anos e ELA continua linda, oferecendo o

mesmo prazer e satisfação, quando lá passo..

Por que me lembrei da velha e maravilhosa Rua XV? Porque ela

envelheceu, ficou moderna e proporcionando o mesmo prazer e satisfação, a

mesma alegria de quando era jovem!

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Nossa velhice registrada

Page 66: Ebook: Dê trela para velhice

Catarina Scabeni

Que vamos ficar velhos, disso todos nós sabemos! Saber encarar essa

realidade é que é bem complicado. Eu, porém, encaro muito bem.

Não sei se é porque tive muitos momentos bem difíceis na minha

juventude, ou se vem mesmo de família. Do exemplo da minha vó

Francisca, que ficou viúva muito cedo, grávida de 6 meses e com 7 filhos

pequenos para criar.

Nunca mais se casou, viveu 98 anos e não reclamava de nada. Sua maior

alegria era reunir seus netos e bisnetos, oferecendo um docinho que ela

mesma fazia.

Também, o nono Lorenzo e a nona Palmira contavam o que passaram

quando vieram da Itália. O nono Lorenzo, com 10 anos de idade, já tinha

um diploma de sapateiro. Viajaram 6 meses dentro de um navio, sem ter

certeza se iriam chegar no Brasil. Quando conseguiram desembarcar, no

Rio de Janeiro, havia pessoas querendo se jogar no mar, pois faziam três

dias que estavam sem água e sem comida.

O nono não tinha mãe, pois ela havia falecido na Itália e ele veio para o

Brasil, com o pai e duas irmãs. Para piorar a situação, o pai dele faleceu

logo que chegaram aqui.

Mas, mesmo com muitas dificuldades, eles nunca desistiram de lutar

honestamente por seus objetivos. Aceitaram os desafios, confiaram em

Deus e seguiram em frente.

E essa maneira dos meus pais e avós viverem a própria velhice, me

ajudou a encarar bem o meu próprio envelhecimento.

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Nossa velhice registrada

Page 67: Ebook: Dê trela para velhice

Eu não encaro a velhice como um problema.

Eu digo que envelhecer é uma vitória porque eu consegui ficar velha.

Entendo que, se tenho dificuldade em algumas coisas, isso não é por conta

da velhice. Na juventude também tive muitas dificuldades... Mais do que

uma vez achei que não conseguiria me levantar.

A morte do meu pai, que foi tão novo levado por um câncer no

intestino... Foi terrível... Não tem explicação tamanha perda.

Não recolhi meus cacos, mas sim juntei minhas cinzas para continuar,

pois tinha dois filhos para criar.

A velhice me privou, sim, de algumas coisas, naturalmente: a saúde

debilitou, as forças diminuíram bastante, a agilidade foi para o brejo...

Mas trouxe muitas coisas boas, que hoje posso aproveitar:

experiência, calma, tranquilidade tempo para mim, e o que mais me faz

feliz, minha liberdade.

Confio em Deus e me entrego inteiramente a Ele, aceitando as

transformações da velhice com muita fé e coragem.

Sinceramente sou feliz. Sinto que tenho cumprido bem a minha

missão.

Muito obrigada a todas as pessoas do Grupo da Oficina de

Linguagem onde aprendi muito e me senti muito bem!

Um abraço, com todo o meu carinho.

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Nossa velhice registrada

Page 68: Ebook: Dê trela para velhice

Clarinda Dinamarquez Kulaitis

O que significa a velhice

A velhice, para mim, é mais um estado de espírito que uma etapa da vida. Os

anos enrugam o rosto. Mas o que faz enrugar a alma é o desgosto, a

depressão, a tristeza. A não aceitação dos limites que a velhice impõe. A

finitude da vida que a criança ignora e passa despercebida ao jovem é

lembrada constantemente à pessoa que avança na idade. Na velhice o

momento urge e o tempo passa. Não é fácil envelhecer, principalmente, se a

saúde for frágil e precisar de cuidados especiais. Mas, se estiver lúcido,

detesta ser infantilizado e detido em seus limites. Ele sabe até onde pode ir.

Dizer que a velhice é a melhor idade é simplesmente simular uma mentira.

É claro que na velhice podemos desfrutar muitas coisas boas. A maioria,

nessa idade, já é aposentada. Sentem-se mais tranquilos e despreocupados

com os filhos, já bem encaminhados na vida. Tem tempo suficiente para

curtir os netos e bisnetos. É quando aparecem as avós corujas e os vovôs

corujões.

É um estágio da vida em que você colhe o que plantou: respeito, amor,

carinho, cuidados, etc. Até certa veneração. Por que não? Tudo isso somado

à experiência e sabedoria que o velho acumulou durante sua existência.

O que desejo na velhice

Desejo ser feliz e fazer o outro feliz.

Praticamente não me falta nada. Sou uma pessoa feliz. Digo pessoa e não

uma velha, porque, por incrível que pareça não me sinto velha, apesar dos

meus 84 anos. 68

Nossa velhice registrada

Page 69: Ebook: Dê trela para velhice

Entretanto, quando me olho no espelho, percebo a passagem do

tempo.

Mesmo parecendo impossível, consegui realizar meu maior sonho:

ser mãe.

Antes, não sei o porquê, ainda muito jovem e inocente, fui parar lá

no convento. De joelhos repetia o que de cor eu sabia: conjugar o verbo

amar! Amei, amo, amarei!

Cumpri votos, regras, promessas. Fui até santa milagreira. Dei

gargalhadas com as freiras. Mas meu verbo decorei: amei, amo, amarei!

O tempo passou como tudo na vida passa. Meu coração em

pedaços, repetiu o que ele quis: amei, amo, amarei. Até que um dia eu

disse: “basta!”. Arrumei a minha pasta e falei: “fui!”. Agora não só vou

conjugar, mas vou viver o verbo amar. Amei, amo, amarei!

Saí do convento com 35 anos. Casei com 41, tive meu primeiro filho

com 42 e segundo com 44 anos. Vivi 15 anos com o grande amor de

minha vida. Quando ele faleceu, fiquei cuidando dos guris, como ele dizia,

atendendo ao seu pedido.

Tenho dois filhos amados,

Duas noras queridas,

Que me deram lindos netos,

A razão da minha vida.

Creio que, o que eu esperava ter na velhice, eu tenho. Qualidade de

vida. Um relacionamento maravilhoso com a família de minhas noras.

Muitas filhas e netas do coração. Dos grupos que faço parte, sou chamada

de “mãezona”. Em geral, sou a mais velha.

Sou feliz e sei que sou. Continuo minha missão: fazer o outro feliz!

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Nossa velhice registrada

Page 70: Ebook: Dê trela para velhice

O que desejo da velhice

Para muitos, principalmente jovens, a velhice não consta em seus

calendários. São os anos dourados da juventude. No momento que

descobrem os primeiros cabelos brancos, alguns vincos na pele, é que

se dão conta que a velhice está vindo ao seu encontro. O tempo não

poupa ninguém.

Quanto a mim, órfã muito cedo, interna num colégio de freiras muito

rígidas, fui impedida de desfrutar dessa idade de ouro por esses reveses

da vida.

Se o mundo gira, e a vida dá muitas voltas, não percebi. Pois envelheci

e não vi. Não só desejo, mas exijo da velhice tudo o que tenho direito.

Condições de viver a velhice com saúde, disposição, autonomia,

independência e liberdade. Enfim, com qualidade de vida.

Sei que o velho torna-se criança. O tempo avança, mas quero sorrir,

brincar, sem sentir as consequências. Dançar, e até os chinelos arrastar.

Mas o que mais desejo de você, velhice, é o direito de amar e ser feliz.

O que desejo com a velhice

Como a velhice é um cabedal de sabedoria e experiências, com ela

posso superar com mais facilidade os problemas enfrentados no dia a

dia. Pois já passei por eles. Se o peso da idade aumenta, o enorme

peso da responsabilidade diminui. A velhice nos proporciona mais tempo

para viagens, passeios, diversões, curtir os netos. É maravilhoso!

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Nossa velhice registrada

Page 71: Ebook: Dê trela para velhice

Com a velhice se aprende que a vida continua. Que ser útil faz parte

dessa vida. Repito: aprendi viver e não morrer. Quanto mais velha eu fico,

mais coisas eu quero inventar e fazer.

Quando escrevo, brinco com as letrinhas, como costumo dizer. Para

mim, elas estão vivas e vão continuar a me representar com prazer.

Lembro-me que numa viagem fiz um relato sobre minha cidade natal. Muito

pacata! Comparei-a à bela adormecida que guarda em seu seio algo

imorredouro. Meu filho, Fernando, estava lendo, quando parou e disse:

“Esta palavra está em desuso, não seria melhor trocar por ‘imortal’? “Lucas,

meu netinho de 6 anos, deixou de modelar a massinha, apontou o dedinho

para o pai dizendo: “Papai, deixe a vovó colocar estas palavras antigas.

Quando eu crescer, vou ler e aprender muito mais.” Aprendi muito com

esse meu netinho querido. Chamo-o de professor. Obrigada, Luquinhas.

Como a arte não tem idade, é nessa fase da vida que surgem muitos

escritores, poetas e inventores, concretizando sonhos e realizando grandes

desejos. Eu mesma me dediquei mais à escrita e à poesia depois que me

aposentei.

Velhice é uma dádiva. Chegar lá é um privilégio que não é dado a

todos. Tem muito que oferecer à sociedade. Velhice, cabedal de sabedoria

e experiência. É uma obra de arte exposta na galeria da vida. No rosto do

modelo está o mapa da trajetória da sua vida. Rugas, vincos profundos,

lembram tristezas e mágoas. Bochechas ainda coradas, as alegrias da vida.

Já a testa enrugada, as preocupações que agora na velhice são apenas

recordações.

O autor desta obra é o grande criador. O artista é você, meu velho! O

instrumento de trabalho é a vida.

A vida é bela. A felicidade existe. Procure que você acha. Está dentro

de você! 71

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Page 72: Ebook: Dê trela para velhice

Eva Rodrigues Roden

Querida professora Giselle Massi,

Acho que vou te chamar de profe, assim como as meninas. Pois, se tem uma

coisa que aprendi, nestes dois anos, é que podemos tudo, tudo aquilo que

nos faz feliz e que deixa nossos amigos felizes, ainda mais com a felicidade

que sinto em fazer parte desse grupo “oficina da linguagem”.

Devemos muitas descobertas a você que dedica muito de sua vida A esse

projeto de viver e conviver com pessoas que já alcançaram os seus 60 anos.

Aos sessenta anos... Para mim, porta de entrada de velhice, aprendemos

juntos a alegria de envelhecer com muita consciência. Agradeço a Deus pela

oportunidade que me deu de te conhecer, você tem um dom maravilhoso, o

de escutar e estar presente de corpo e alma em nossas reuniões, ou melhor,

em nossas rodas de conversa, sempre atenta. Sinto-me livre e segura para

dizer o que penso, o que faz falta, o que sei e o que não sei.

Sabe profe, a partilha que fazemos juntos de nossa infância, adolescência e

juventude, a mim traz saudades, saudades de amigos, professores, da escola

que estudei, da diretora. Lembro-me de quando conheci a Ana Maria, minha

amiga, há mais de meio século.

Sinto que Deus nos leva pela mão, nos conduz, colocando em nossa vida as

pessoas que vão ser importantes. E é assim que vejo você e esse grupo de

pessoas com sede de contar e escutar.

Como é bom viver primeiro, para depois contar, vejo que isso é envelhecer de

maneira saudável, com a mente ativa, com lucidez, não impondo e nem

reclamando, mas entendendo e compreendendo, que hoje a situação é outra.

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Nossa velhice registrada

Page 73: Ebook: Dê trela para velhice

Afinal, de que me adianta ficar presa a um passado que não volta?

Preciso seguir, sempre dando o meu melhor, vendo e aprendendo,

filtrando tudo para colher apenas o que é bom.

Um dos meus desejos é ver outros grupos como esse se formarem

para que mais pessoas possam envelhecer com dignidade. Grupos em

que seja possível esclarecer que qualidade de vida não é ter coisas de

luxo, a melhor casa, tudo na mão. Qualidade de vida é ser respeitado (a),

amada, poder ir e vir, conforme a possibilidade física, é ser incentivada a ir

em frente. Qualidade de vida está relacionada ao reconhecimento familiar

do potencial que existe no velho, “não ser tratado como um cristal”.

Sabe profe, tenho uma grande preocupação com algumas questões.

Uma delas diz respeito à deficiência auditiva, pois estamos convivendo,

nesse grupo com pessoas que têm essa deficiência. E a outra está ligada

ao esquecimento, quando falamos varias vezes a mesma coisa, e nos

deparamos com a impaciência.

Você pergunta: como é viver a velhice, hoje? Para mim é ter

saudade, doce saudade. É ter sabedoria para orientar aqueles que nos

procuram e que depositam confiança em nós, é ter medo, medo das

coisas que vêm acontecendo no mundo, como a violência, a falta de

emprego e etc... Mas o meu maior medo é o individualismo, a partir do

qual cada um vive por si, sem pensar no outro.

Mas, tenho certeza que nosso Pai do céu, vai providenciando de

tempos em tempos, pessoas que se colocam à disposição de formar

grupos de convivência que vão proporcionar momentos de felicidade para

muitos que se encontram no tempo da velhice.

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Nossa velhice registrada

Page 74: Ebook: Dê trela para velhice

Eu sou muito grata a você, a Ana Cristina, outra profe, e as meninas

estudantes de fonoaudiologia, pois com elas já foi possível entender um

pouco mais os jovens e até valorizá-las mais. Elas também nos mostraram

que podemos conviver com a tecnologia. Essas meninas farão a diferença na

vida de muitas pessoas em um futuro próximo.

Com essa convivência me foi possível ultrapassar grandes barreiras,

impostas por uma educação severa e de proibições. Sim, eu consegui fazer

tanta coisa depois de tantas conversas nossas que me abriram horizontes e

fui me enchendo de vontades. Pela primeira vez na minha vida, em uma

sexta-feira, deixei tudo e fui para o cinema com minha neta Isabelle de 15

anos, assistimos um filme romântico.

Que legal! Só de falar sobre isso, sinto uma satisfação dentro de mim!

Sabe aquela coisa que enche nossos pulmões e deixa peito fica inchado? Isso

é a pura alegria. Enfim, para mim, viver a velhice é ir além, realizar, sonhar,

ter fé, esperança, decidir e entender as limitações.

É ter curiosidades, estar com a porta da mente sempre aberta, é fazer

amigos e compreendê-los, mesmo que isso custe muito. Pois, cada um tem

sua própria personalidade e para sermos amigos verdadeiros, muitas vezes

temos até que nos contrariar.

Em uma carta convencional terminamos dizendo: “sendo o que se

apresenta para o momento-atenciosamente...” Eu quero encerrar dizendo que

ficará para sempre em minha memória, os momentos aqui vividos e que cada

um sempre estará em meu coração.

Obrigada por tudo, desejo que alcancem tudo o que vocês almejam na

vida!

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Nossa velhice registrada

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Josefina Prestes

Curitiba, 15 de Agosto 2016.

Dia chuvoso e frio. Propício para ficar em casa costurando, lendo, escrevendo

e comendo! Dia em que a chuva molha as plantas e enriquece a natureza.

Gostaria de escrever, aqui, somente coisas bonitas e lindas: a natureza, os

animais, as crianças, passeios pelo Brasil, viagens, praia, mata, viver com

alguém. Mas, não é assim a vida. Ela é cheia de altos e baixos, permeada por

enfermidades e mortes.

Eu não acho que a velhice é a melhor idade. Pois, a maioria dos idosos, hoje, é

desprezada pela família. Os jovens acham que o idoso não tem credibilidade,

que ele não entende e não acompanha mais as coisas da vida. Poucos são

aqueles que cuidam dos seus idosos com muito amor.

Eu quero que meus netos leiam esse texto e, quando crescidos, lembrem o

que estou escrevendo.

Quero alertá-los que, na minha opinião, hoje, o que predomina no mundo é o

dinheiro. Assim, muitas famílias que têm dinheiro, colocam seus idosos em

asilos e os abandonam.

Acho, também, muito triste acompanhar os idosos que perdem a memória, a

visão, a mobilidade nas pernas, etc.

O que eu espero da velhice é permanecer lúcida e forte para que eu não

dependa de ninguém.

Eu, Josefina, peço a Deus para ter uma velhice boa, andando com minhas

pernas, comendo o que eu gosto, enxergando todas as maravilhas do mundo:

as flores, as plantas, as pedras, os animais e as crianças a correr na praça.

Bom é ter uma companhia, sem depender dela fisicamente.

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Nossa velhice registrada

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Eu fui cuidadora de idosos há 10 anos e tenho lembranças boas,

outras ruins. A parte boa pode ser relacionada a ter saúde, passear, viajar,

trabalhar, namorar, dançar. A ruim é ter doenças, ter que passar por

cirurgias, ficar em hospitais.

A velhice só é boa, quando é possível considerar as experiências da

vida. Hoje, eu gostaria de ter 50 anos, com a experiência dos 67. Pois, eu

já não consigo mais correr, carregar peso, trabalhar o dia todo, escutar

bem.

Quero, até o fim da vida, poder ouvir as minhas músicas preferidas.

Sou apaixonada por músicas sertanejas e românticas.

A velhice representa dias bem vividos, nos quais dançamos,

namoramos, trabalhamos e dias sofridos, com doenças e perdas.

Quero terminar os meus dias com alegria e felicidade!

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