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Caminhos para a Educação Eduardo Chaves Ph.D. (Filosofia), University of Pittsburgh (1970-1972) Ex-Professor Titular de Filosofia da Educação (1974-2006) e Ex-Diretor (1976-1984) da Faculdade de Educação da UNICAMP (hoje aposentado) FGV / EAESP – São Paulo – 1º de Dezembro de 2016 1º Encontro Anual para Inovação, Competitividade e Desenvolvimento

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Caminhos para a EducaçãoEduardo Chaves

Ph.D. (Filosofia), University of Pittsburgh (1970-1972)Ex-Professor Titular de Filosofia da Educação (1974-

2006) e Ex-Diretor (1976-1984) da Faculdade de Educação da

UNICAMP (hoje aposentado)

✽ FGV / EAESP – São Paulo – 1º de Dezembro de 2016 ✽1º Encontro Anual para Inovação, Competitividade e Desenvolvimento

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Atribuído a Albert Einstein • Só insanos fazem a mesma coisa, dia após dia, e esperam que, um dia, o resultado seja diferente

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A insanidade brasileira na educação - 1•No Brasil, educratas e educadores, são, em sua grande maioria, insanos: fazem a mesma coisa nas escolas, dia letivo após dia letivo, o resultado é desastroso, mas . . . esperam que um dia a coisa vai melhorar !•Na verdade, são mais insanos do que os insanos de outras áreas, porque acreditam que a razão por que aquilo que fazem produz resultados desastrosos está no fato de que o tempo destinado ao que fazem é pouco e é necessário mais tempo para fazer mais do mesmo – porque daí (sugerem) vai funcionar . . .• Aumenta-se o número de anos de frequência obrigatória à escola, a duração do ano escolar, o número de horas em que os alunos permanecem na escola cada dia, a quantidade de matérias obrigatórias, a quantidade de tarefas para casa . . .

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A insanidade brasileira na educação - 2•No nível básico: • Criam-se mais escolas• Contratam-se mais professores • Aumentam-se os programas de formação dos educadores • Fazem-se convênios com empresas e ONGs• Introduz-se tecnologia nas escolas• Criam-se metodologias para usar a tecnologia no ensino• Inventam-se novos exames • Melhora-se o salário dos professores

•Mas a qualidade da aprendizagem dos alunos não melhora, nem mesmo em avaliações internas

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A insanidade brasileira na educação - 3•No nível superior:• Criam-se mais universidades e cursos a distância • Criam-se cursos a distância mediados pela tecnologia • Aumenta-se o número de bolsas programas de financiamento• Enviam-se alunos para estudar no exterior

•Mas aqui também os resultados são desastrosos

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A visão de um inovador radical“A única maneira de verdadeiramente

transformar o mundo, i.e., de muda-lo de forma realmente inovadora, é imaginando-o radicalmente diferente do que ele é hoje.

SE, no processo de mudança, fizermos uso demasiado do conhecimento, da sabedoria e da visão de mundo que nos trouxeram até aqui, isto é, do paradigma vigente, terminaremos bem

próximos de onde começamos e nunca criaremos um mundo novo, radicalmente

diferente.

SE quisermos obter resultados diferentes, precisamos olhar as coisas de novo, de um

jeito diferente, de uma perspectiva totalmente nova.”

(JAY ALLARD, ex-Vice-Presidente da Microsoft, criador do Xbox e do Kinect,

em entrevista para a revista Business Week, 4 Dez 2006, p.64)

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Exemplos•Quando Jay Allard inventou o Kinect para o Xbox, muita gente pensou que ele estava apenas expandindo aquela plataforma: mas ele estava reinventando como nós nos relacionamos com o computador, criando uma interface totalmente nova para interagirmos com ele •Quando Jeff Bezos criou a Amazon, muita gente pensou que ele estava apenas criando uma livraria virtual: mas ele estava não só inventando o e-book e revolucionando o mercado livreiro, mas também reinventando o varejo e criando um novo patamar para o relacionamento com os clientes

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Dois tipos de Mudança •Mudança renovadora ou reformadora (dentro do paradigma)•Mudança inovadora ou transformadora (muda o paradigma)

• Comparem-se• A "Ciência Normal" defendida por Thomas S. Kuhn • A "Ciência Revolucionária" proposta por Karl R. Popper

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Mudança pequena, aos pedaços,

gradual, incremental

Mudança dentro do paradigma:

próxima do pensamento e/ou da prática atual

RENOVAÇÃO

INOVAÇÃO

A Natureza da Mudança: da Renovação à Inovação

Adaptado de David Hargreaves, Education Epidemic

––

++

GRAU DE NOVO

Mudança que subverte o

paradigma: distante do

pensamento e/ou da prática atual

Mudança ampla, profunda, sistêmica,

holística, radical

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E a Educação? - 1• É preciso reconhecer que o paradigma vigente na educação está morto, começa a cheirar mal e precisa ser enterrado• Este é o paradigma que precisamos fazer que se escafeda: • Escola: o lugar por excelência de aprender • Currículo: conteúdos disciplinares que alguém decide que todos precisam aprender • Ensino: o método preferencial de conseguir que alguém aprenda os conteúdos disciplinares • Professor: aquele que entrega o conteúdo aos alunos • Alunos: aqueles que recebem o conteúdo ensinado• Aprendizagem: a assimilação e absorção pelos alunos dos conteúdos ensinados pelo professor • Avaliação: ocasião e formas (testes, provas e exames) em que os alunos regurgitam aquilo que supostamente aprenderam

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E a Educação? - 2• Este paradigma é essencialmente:• Escolacêntrico • Ensinocêntrico • Magistrocêntrico

•O foco dele está na escola e não na vida e no mundo •O foco dele está no ensino e não na aprendizagem, na didática e não na matética •O foco dele está no professor e em seus interesses, que é o verdadeiro protagonista dentro da escola, não no aluno aprendente, em seus talentos, suas paixões, seu projeto de vida, que deveria ser o único e verdadeiro protagonista da educação

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E a Educação? - 3 • Aprendizagem • É processo de tornar-se capaz de fazer algo que se deseja saber fazer mas que até ali não se consegue fazer (Peter Senge, A Quinta Disciplina)• Esse processo é ativo, interativo, e colaborativo, nunca um processo que envolve apenas ficar quieto e prestar atenção• Esse processo é auto motivado, porque envolve aprender a fazer aquilo que se deseja fazer (não é preciso motivar uma criança a aprender a falar e a andar)• Esse processo busca integrar os interesses dos alunos com seus talentos naturais (Vide Sir Ken Robinson) • Esse processo nem de longe se confunde com o processo de tomar ciência, tomar conhecimento, ficar sabendo, registrar na memória algo que alguém nos diz

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E a Educação? - 4• Por que a gente não aplica a visão criativa e inovadora, até mesmo revolucionária, sugerida por Allard e posta em prática por Bezos na educação? • Em 1970, antes do surgimento da microinformática e da Internet, Ivan Illich já havia proposto que tentássemos educar sem escolas, através de nossas interações informais• Por que é, então, que, quando pensamos em usar tecnologia na educação o foco está na tecnologia, e como ela pode ajudar o professor a ensinar, a fazer aquilo que ele já faz? • Paulo Freire, nessa época, já criticava a "educação bancária" e dizia que "ninguém educa ninguém", mas todos nós nos educamos uns aos outros, "em comunhão", isto é, através de nossas interações, tendo, como cenário mediador, não a escola, mas o mundo e a vida (em que a tecnologia é ubíqua e é usada de forma criativa, inovadora, revolucionária!)

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E a Educação? - 5• Por que não focamos, na área da educação, nas mudanças e inovações que podemos introduzir nas diversas formas de aprender que crianças, adolescentes e jovens já usam fora da escola, muitas vezes mediadas pela tecnologia, de modo que possam aprender o tempo todo (anytime), em qualquer lugar (anywhere), à medida que têm necessidade (just in time), fazendo coisas (hands on), adaptando a forma preferencial de aprender ao estilo cognitivo de cada um, assim personalizando o que a educação pode fazer por eles? • Por que, em vez de trazer tecnologia para dentro da escola, não transformamos o mundo em ambiente de aprendizagem privilegiado, de modo que todos possam aprender o tempo todo, enquanto estão em casa, enquanto brincam, enquanto se divertem, enquanto estão no clube ou na igreja, ou então enquanto trabalham?

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É preciso decidir• Se a gente quer realmente mudar, inovar, transformar, quebrar o paradigma, buscar uma educação nova, de verdade, ou• Se a gente quer meramente dar uma “guaribada” na velha escola, "colocando remendos em odres velhos"…

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O principal obstáculo •O principal obstáculo somos nós, os professores• Apesar de um discurso mudancista e reformador, às vezes até revolucionário, nosso mindset é, no fundo, conservador•O que esperar de quem, em sua maioria, enxerga seu ofício como sendo preservar e transmitir de uma geração para a outra aquilo a que dá o nome de "conhecimento social e historicamente construído", o legado cultural do passado? • Se nós, professores, não estivermos na ponta de lança da mudança, a escola não mudará – mas a educação passará a ser realizada sem a escola e sem nós • A questão é se queremos ser partícipes da construção do futuro ou se vamos defender a tese de que "ninguém mexe no que fazemos" . . .

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Eduardo Chaves

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