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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA CURSO DE DIREITO DISCIPLINA DE DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE GUILHERME PEREIRA GAEBLER VT – DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEL

ECA artigos 129 e 130 - Medidas aos pais

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Trabalho sobre artigos 129 e 130 do ECA (LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990) Com Resumo dos artigos, Notícias e Jurisprudência

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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA

CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA DE DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

GUILHERME PEREIRA GAEBLER

VT – DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEL

Goiânia

2015

GUILHERME PEREIRA GAEBLER

VT – DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEL

Trabalho apresentado à Disciplina de Direito da Criança e do Adolescente do curso de Direito da Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO, como parte dos requisitos para conclusão da disciplina e do curso.

Orientador: Silvia Maria Gonçalves Santos de Lacerda Santana Curvo

Mestre em Direito Agrário

Goiânia

2015

JURISPRUDENCIA

TJSP - AGRAVO DE INSTRUMENTO No 58.362-0/0-0 Camara Especial

RELATOR: OETTERER GUEDES.

D.J. 02/09/99

MENOR – Pedido de Providencias – Recurso interposto contra decisão que determinou o afastamento do agravante de sua residencia – Hipotese dos autos onde a medida, expressamente prevista em Lei, e necessária e foi determinada com base em documentação existente nos autos – Conveniencia de sua manutenção integra – Inteligencia do artigo 130 do ECA – Recurso não provido.

Há que se salientar que a obrigação decorre do dever de todos em comunicar às autoridades e ao Conselho Tutelar os casos de suspeita ou confirmação de maus- tratos ou abuso de direitos contra crianças e adolescentes.

Art. 18. E dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatorio ou constrangedor.

Art. 70. E dever de todos prevenir a ocorrencia de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.

Nesse mister, a comunicação da situação de violencia, alem da necessidade determinada em lei, pode ser feita por serviço de utilidade publica desenvolvido pela Subsecretaria de Promoção dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, orgão vinculado à Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministerio da Justiça, pelo qual e possivel veicular noticia sobre abuso ou exploração sexual ou quaisquer outras formas de violencia contra crianças ou adolescentes (disque denuncia ou disque 100), garantido o sigilo da identidade do informante.

AGRAVO DE INSTRUMENTO CIVEL N° 1.0317.10.007297-2/001

Tribunal: Tribunal De Justiça Do Estado De Minas Gerais

Órgão Julgador: 1a Câmara Civel

Tipo do Recurso: AI

No Processo: 1.0317.10.007297-2/001

Relator (a): Rel. Armando Freire

Data de Publicação: 19/08/2011

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - CRIANÇA EM SITUAÇAO DE RISCO - ECA - MEDIDA PROTETIVA - GENITORA MENOR DE IDADE E COM PROBLEMAS PSIQUIATRICOS - AUSENCIA DE ESTRUTURA FAMILIAR - DEFERIMENTO DE ABRIGO - NECESSIDADE. RECURSO NAO PROVIDO. - A ordem de acolhimento de menor em abrigo municipal e medida necessária e urgente para assegurar a dignidade da infante, tendo em vista a gravidade dos relatos do Conselho Tutelar que noticia a falta de cuidados da genitora para com a menor, assim como a possibilidade de estar a genitora sofrendo abuso sexual na presença da criança. A decisão judicial, nesse sentido, não causa gravame, na medida em que se faz ajustada, notadamente, aos principios insculpidos no ECA, aplicáveis à hipotese dos autos.

AGRAVO DE INSTRUMENTO CIVEL N° 1.0317.10.007297-2/001 - COMARCA DE ITABIRA - AGRAVANTE(S): MUNICIPIO ITABIRA - AGRAVADO(A)(S): MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO. SR. DES. ARMANDO FREIRE

ACÓRDAO

(SEGREDO DE JUSTIÇA)

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1a CAMARA CIVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sob a Presidencia do Desembargador EDUARDO ANDRADE, incorporando neste o relatorio de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM REJEITAR PRELIMINAR E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

Belo Horizonte, 02 de agosto de 2011.

DES. ARMANDO FREIRE - Relator

O SR. DES. ARMANDO FREIRE:

VOTO

Trata-se de agravo de instrumento interposto pelo Municipio de Itabira, contra decisão proferida pela MM. Juiz de Direito da Comarca de Itabira, em autos de Pedido de Aplicação de Medidas Previstas no artigo 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente e Medida Protetiva de acolhimento institucional ou colocação em familia substituta sob a forma de guarda, que consistiu em determinar ao municipio recorrente a indicação de instituição adequada para receber a menor, alem de informaçoes e relatorios sobre a possibilidade de manutenção do vinculo familiar ou sua ruptura (fls. 114/116-TJ).

Em suas razoes recursais, alega o agravante que, embora não seja parte na ação, não se manteve inerte diante da situação deflagrada nos autos. Salienta que celebrou convenio com a Cáritas Diocesana de Itabira, cujo objeto e a implantação de abrigo para 10 (dez) crianças, contudo não há como acatar a ordem judicial, tendo em vista a inexistencia de vagas no momento. Aduz que a quantidade de menores atendidos no abrigo não está sob sua alçada e competencia, por trata-se de Lei Federal (7644/87). Narra que o Poder Judiciário não pode substituir ou impor ao Poder Executivo aplicação e adoção de medidas publicas, por caracterizar ingerencia e ofensa ao Principio Constitucional da Separação de Poderes eleito na Carta Magna de 1988. Por fim assevera que não se trata de omissão do ente, mas sim de uma situação contemporânea entre a demanda da sociedade e as possibilidades do poder publico.

Pugna ela concessão do efeito suspensivo ao recurso e, ao final, pelo seu provimento.

Em decisão de fl. 145 e verso, recebi o recurso e deferi o almejado efeito suspensivo.

Informaçoes prestadas às fls. 155/156 TJ.

A parte agravada apresentou contraminuta às fls. 187/191 TJ, pugnando pelo não conhecimento do recurso diante da ausencia de interesse recursal.

A douta Procuradoria Geral de Justiça em parecer de fls. 195/198 TJ, opina pelo desprovimento do recurso.

Inicialmente, cabe analisar a preliminar aduzida pelo agravante em sua minuta recursal. Salienta que a ação foi proposta pelo Ministerio Publico em face de R.C.S., nascida em 31/05/1996 filha de N.E.S. e M.C.C., genitora da menor M.E.T.C., pela conduta prejudicial ao desenvolvimento da filha. Aduz o recorrente que inexiste qualquer envolvimento do Municipio de Itabira, principalmente na

qualidade de parte no processo, pelo qual não pode sofrer os efeitos da decisão liminar.

Embora não desconhecendo que a principio o agravante não figurava no polo passivo da ação ou procedimento, o seu interesse surgiu no momento da decisão judicial que lhe impos uma obrigação, qual seja, o recolhimento da menor a instituição especializada. Como bem asseverou o douto Procurador de Justiça, oficiante, a decisão encontra respaldo na Constituição Federal, mais precisamente em seu artigo 227, caput, como tambem no Estatuto da Criança e do Adolescente, não podendo o ente publico furtar-se ao cumprimento das suas obrigaçoes, utilizando como pretexto o principio da separação de poderes. Assim, rejeito a preliminar e passo à análise do merito.

A legislação pátria e unissona quando reconhece ser dever de toda a sociedade, e do proprio Estado, promover a assistencia indispensável à criança e ao adolescente.

"Art. 227. E dever da familia, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saude, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivencia familiar e comunitária, alem de colocá-los a salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração, violencia, crueldade e opressão."

No mesmo sentido, assevera o Estatuto da Criança e do Adolescente no que concerne a proteção a ser dispensada pelos entes politicos, nas hipoteses de risco ao desenvolvimento dos menores.

Analisando os autos, diante das inumeras provas documentais carreadas, verifico a gravidade da situação em que se encontra a menor, a exigir atuação imediata do ente municipal, a fim de resguardar-lhe a integridade fisica e moral.

Constata-se que a menor, atualmente com 02 anos de idade, encontra-se totalmente desamparada, sem apoio familiar, em situação de grave risco, em decorrencia da omissão e impotencia da sua genitora. A mãe da criança e uma adolescente de apenas 15 anos de idade, e o pai seria um homem de, aparentemente, 40 anos. Pelos inumeros relatorios do Conselho Tutelar acostados aos autos, depreende-se que a genitora, ora demandada, possui problemas psiquicos, encontra-se afastada da escola e relata relaçoes sexuais, provavelmente decorrentes de abuso praticado por primos, inclusive na presença da criança. A avo materna da criança, aparentemente, tambem não possui condiçoes de cuidar da infante, existindo relato do Conselho Tutelar, datado de

2001, de que ela não cuida dos filhos. Na decisão vergastada, esclareceu o MM. Juiz a quo:

"(...) a entidade familiar da demandada vem sendo acompanhada desde o ano de 2000, constatando-se desnutrição da demandada e de seus irmãos Daniel Eduardo dos santos, Weulas Aparecido dos santos, Rosilaine Patricia Santos e Liliane Costa santos violencia domestica reiterada em desfavor da genitora da demandada, do genitor deixado o lar conjugal" (Fl. 114 TJ).

A meu inteligir, em situaçoes como esta, a evidencia do perigo de dano irreparável à menor e incontestável, exigindo com urgencia a adoção de medidas excepcionais, de modo a garantir e promover o seu desenvolvimento sadio.

A Lei n.o 8.069/90 estabelece:

"Art. 98. Medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos, reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:

I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; (...)."

Diante da realidade constatada no caso sub examine, o fornecimento de abrigo à menor em risco encontra-se bem fundamentado no art. 101 e 129 do ECA:

"Art. 101. Verificada qualquer das hipoteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: (...)

IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxilio à familia, à criança e ao adolescente; (...)

VII - acolhimento institucional;"

"Art. 129 São medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis":

I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à familia".

Cumpre salientar que a carencia de vagas no estabelecimento municipal instalado para recebimento de crianças não pode, em principio, servir ao ente politico como justificativa para se furtar de sua obrigação constitucional.

Nesse sentido já decidiu este egregio Tribunal de Justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇAO CIVIL PUBLICA - PROTEÇAO A CRIANÇA E AO ADOLESCENTE - (...) NECESSIDADE DE PRESERVAÇAO DOS DIREITOS SUSTENTADOS - AMEAÇA CONCRETA DE DANO - ABRIGAMENTO

DE MENOR - REQUISITOS PRESENTES - DECISAO DE PRIMEIRO GRAU MANTIDA." (TJMG - Processo no. 1.0432.09.020732-0/001 - Rel. Des. Audebert Delage - Publicação: 23/09/2009).

AGRAVO DE INSTRUMENTO - MEDIDA ESPECIFICA DE PROTEÇAO EM CARATER DE URGENCIA - MENOR TOXICOMANO - TRATAMENTO EM INSTITUIÇAO ESPECIALIZADA - LIMINAR - DEFERIMENTO - MANUTENÇAO - IMPROVIMENTO DA IRRSIGNAÇAO - INTELIGENCIA DO ART. 227, § 1o DA CONSTITUIÇAO DA REPUBLICA E ARTS. 7o, 98 E 101 TODOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. A liminar deferida no sentido da imposição ao Municipio de internação de menor em centro especializado no sentido de sua desintoxicação, há de ser mantida, por atendidos os pressupostos para o seu deferimento, por atender, inclusive, a preceitos contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente." (TJMG - Processo no. 1.0342.07.089910-5/001 - Rel. Des. Dorival Guimarães Pereira - Publicação: 15/01/2008).

Com essas consideraçoes e razoes de decidir, nego provimento ao recurso, mantendo incolume a r. decisão fustigada.

Custas ex lege.

E o meu voto.

Votaram de acordo com o (a) Relator (a) os Desembargador (es): ALBERTO VILAS BOAS e EDUARDO ANDRADE.

SUMULA: REJEITARAM PRELIMINAR E NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.

Apelação Cível n. 2012.033428-3, de Concórdia

Relator: Des. Artur Jenichen Filho

APELAÇAO CIVEL. DESTITUIÇAO DO PODER FAMILIAR. ALEGAÇAO DE NULIDADE DA SENTENÇA POR VIOLAÇAO AOS PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. INOCORRENCIA. INOBSERVANCIA NA ORDEM CRESCENTE DE SEVERIDADE DAS MEDIDAS APLICAVEIS AOS PAIS OU RESPONSAVEIS PREVISTAS NO ART. 129 DO ECA. DESNECESSIDADE DIANTE DA REALIDADE DO CASO CONCRETO E DA GRAVIDADE DOS FATOS. PEDIDOS INVIAVEIS. RECURSO NAO PROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Civel n. 2012.033428-3, da comarca de Concordia (Vara da Familia, Órfãos, Sucessoes Infância e Juventude), em que e/são apelante E. P., e apelado Ministerio Publico do Estado de Santa Catarina:

A Câmara Especial Regional de Chapeco decidiu conhecer do recurso, negar-lhe provimento e manter-se a sentença guerreada. .

Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Des. Jose Volpato de Souza, presidente com voto, e o Exmo. Sr. Des. Eduardo Mattos Gallo Junior, como revisor.

Chapeco, 04 de setembro de 2012.

Artur Jenichen Filho

Relator

RELATÓRIO

O Ministerio Publico, calcado em diversos procedimentos alcançados pela doutrina da proteção integral, principalmente naqueles pertinentes aos pedidos de providencias (autos nº 019.11.00434-3; fls. 07/75) e de verificação de situação de risco e aplicação de medida de proteção (autos nº 019.10.004832-1; fls. 77/155), os quais se encontram apensados ao presente feito, ingressou em juizo com a pertinente "ação de destituição do poder familiar".

Recebida a inicial o juiz de direito deferiu a liminar suspendendo o poder familiar dos reus Eliane e Adilson, em relação aos filhos E.G.A, E.C.A, D.L.A. E.J.A, e A.P.A.

Citados (fl. 168-169) os reus apresentaram, por intermedio dos defensores dativos, as respostas, em forma de contestação. O reu Adilson, na ocasião, arrolou testemunhas.

Em audiencia de instrução e julgamento, para a qual estavam intimados os reus e testemunhas, foram ouvidas as testemunhas arroladas, com desistencias. Ainda, a re apresentou, naquele ato, rol de testemunhas de forma intempestiva, que resultou no indeferimento da oitiva.

O Ministerio Publico, em alegaçoes finais, pugnou pela procedencia do pedido inaugural, em contrapartida às alegaçoes finais dos reus, que, evidentemente, sustentaram a improcedencia.

Sobreveio a sentença de procedencia dos pedidos que destituiu os reus do poder familiar.

Inconformada, a re interpos o recurso de apelação, sustentando, sinteticamente que: "Os fundamentos do presente apelo são pontuados: a) nulidade da sentença, por omissão insanável, face ao principio da ampla defesa e contraditorio; b) reforma quanto a procedencia do feito"(fl. 246).

Nas duas instâncias, o Ministerio Publico se inclinou, em contrarrazoes e parecer, pela manutenção da sentença (fl. 258-265 e 271-279).

Este e o relatorio.

VOTO

Com relação ao pedido de nulidade da sentença, no qual argumentou a defesa sobre a necessidade do que denominou de "esgotamento" (fl. 184) das medidas pertinentes aos pais e responsáveis, previstas no art. 129 da Lei 8.069/90; por outras palavras, a observância da progressividade na aplicação das medidas, como por exemplo, encaminhamentos a programas de proteção familia, orientação e tratamento a alcoolatras, tratamento psicologico, advertencia, perda da guarda, suspensão ou destituição do poder familiar e ausencia de afastamento das teses relacionadas, pelo douto magistrado sentenciante, Dr. Uziel Nunes de Oliveira, percebe-se que a sentença (fls. 233/238), não obstante a ausencia de grifo pontuando os argumentos despendidos por ocasião da contestação, refutou, de maneira generica, cada qual, e merecem transcrição:

1. "Depreende-se dos procedimentos instaurados que inumeras foram as tentativas para ver os filhos de Elaine e Adilson no seio familiar. Orientaçoes foram repassadas à genitora no tocante à higiene, bem como, da necessidade de sempre ficar um responsável com aqueles para alimenta-los e cuida-los. Todavia,

à revelia, Elaine deixava-os urinados e com fezes, por diversas vezes o Conselho Tutelar em visita periodica encontrava as crianças sozinhas em casa, sem luz e sem comida. (fls. 02/04, autos apenso). Registro, que o Municipio forneceu terreno e materiais para construção da casa de Elaine, obtendo esta um bom espaço para poder desempenhar o poder familiar de forma satisfatoria, alem de receber cestas básicas, todavia, nunca se dedicou para este fim".

2. "(...), que foram feitos os encaminhamentos para que o genitor se submetesse à tratamento do vicio em alcoolismo, mas que sempre se recusou."

3. "(...), que a genitora embora não trabalhasse, sequer levava as filhas ao CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil), que fica proximo a sua residencia".

4. "(...), que os genitores abandonaram seus filhos, material, moral e afetivamente".

5. "(...), as crianças Emilin e Erica, estão institucionalizadas no Abrigo Anjo Gabriel, Denilson esta sob a guarda dos padrinhos (fl. 33) e Anderson e Emerson, internados para tratamento da dependencia quimica".

O magistrado, ainda, arrematou com seguinte conclusão:

"Diante do colacionado, portanto, não podem prosperar as alegaçoes da defesa, vez que os genitores receberam todo e qualquer tipo de auxilio dos orgãos publicos, desde moradia à alimentação, vagas em escola, orientaçoes no que tange à higiene e cuidado com os filhos. Mas nada surtiu efeito."

Tudo com base na prova colhida por intermedio da oitiva das testemunhas, no caso, as conselheiras tutelares, assistente social e equipe do lar onde se encontram as crianças.

De outra sorte, os depoimentos prestados pelas testemunhas defensivas, não tiveram o condão de ilidir aquela produzida em desfavor dos reus.

Com relação à disposição do art. 129 do ECA, em que pese sejam aparentemente em "ordem crescente", não há observância legal no sentido de que se tenha que esgotar, uma a uma, ate a derradeira medida.

Numa logica, inclusive, essa sistemática requerida pela defesa e inviável, pois que, cada medida se aplica a um caso especifico que se inexistente não suprime a aplicação da medida subsequente.

Ademais, o acompanhamento especializado indica a necessidade e provável eficácia da aplicação de uma ou outra medida e no caso dos autos, o que se

entendeu pertinente, fora tentado, conforme dito anteriormente e concluido sabiamente pelo juiz: "Mas nada surtiu efeito".

Nesse aspecto, não há que se falar em nulidade da sentença.

Ademais, a defesa não observou a regra do art. 407, caput, do CPC, no sentido de que "Incumbe às partes, no prazo que o juiz fixará ao designar a data da audiencia, depositar em cartorio o rol de testemunhas, precisando-lhes o nome, profissão, residencia e o local de trabalho; omitindo-se o juiz, o rol será apresentado ate 10 (dez) dias antes da audiencia.", limitou-se a apresentar o rol de testemunhas um dia antes do ato designado, razão pela qual usando da sua faculdade o magistrado rejeitou a oitiva, sem embargos, diante da evidente preclusão temporal.

A legada falta do depoimento pessoal da re, inclusive, não macula a instrução processual, tampouco a sentença. A uma, porque o magistrado não determinou de oficio o depoimento pessoal; A duas, porque a parte autora, no caso o Ministerio Publico, não o requereu, circunstância que se amolda perfeitamente à regra do art. 343 do CPC: "Quando o juiz não o determinar de oficio, compete a cada parte requerer o depoimento pessoal da outra, a fim de interrogá-la na audiencia de instrução e julgamento.”.

Nesse sentido este Tribunal se manifestou anteriormente:

Igualmente, não há falar em cerceamento de defesa em razão da não oitiva do genitor em processo de destituição de poder familiar, na medida em que, via de regra, o depoimento pessoal (art. 342, do CPC) deve ser requerido pela parte contrária, no intuito de obter a confissão, e o interrogatorio (art. 342, do CPC)e faculdade conferida ao magistrado, a fim de permitir o melhor conhecimento dos fatos. Assim, não requerido o depoimento pessoal pela parte adversa e formando a magistrada seu convencimento diante das demais provas constantes dos autos, perfeitamente dispensável a aludida oitiva. Apelação Civel, Rel.Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt Schaefer.

Por fim, no que cerca o pedido de realização de novas diligencias e eventual apuração da retomada do vinculo familiar, ao nosso sentir, e totalmente descabido na fase atual, mormente porque, conforme dito, a prova produzida dá conta de que foram esgotadas as tentativas e todas restaram infrutiferas no sentido de organizar a relação familiar conturbada.

As provas são irrefutáveis e se encontram, alem das produzidas nestes autos, nos autos do pedido de aplicação de medidas (019.11.000434-3) e nos autos da Ação de Verificação de Situação de Risco e Aplicação de Medida de Proteção

(019.10.004832-1), forçando, inegavelmente, a rigorosa aplicação da medida extrema de destituição do poder familiar.

Nestes termos, vota-se pelo conhecimento do recurso, porque preenchidos os pressupostos de admissibilidade recursal, porem, noutro sentido, para negar-lhe provimento e manter-se a sentença guerreada.

Este e o voto.

Gabinete Des. Artur Jenichen Filho

Apelação da Vara da Infancia e da Juventude 2008 01 3 000004-9 APE

EMENTA

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO INFRACIONAL ANALOGO AO TIPO DO ARTIGO 14 DA LEI 10.826/2003. ADEQUAÇAO DA SEMILIBERDADE CUMULADA COM MEDIDA DE PROTEÇAO. MEDIDAS APLICAVEIS AOS PAIS. COMPATIBILIDADE COM A GRAVIDADE DOS ATOS E DA VIDA PRETERITA DO ADOLESCENTE. RECURSO PROVIDO. Impoe-se maior rigor na resposta estatal quando o jovem pratica ato infracional grave, análogo ao porte ilegal de arma de fogo e munição, quando o relatorio social confirma que e facilmente influenciado por más companhias e registra seis atos infracionais graves, revelando-se inocuas as medidas socio-educativas anteriormente aplicadas. Recurso provido.

ACÓRDAO

Acordam os Senhores Desembargadores da 1ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territorios, GEORGE LOPES LEITE - Relator, EDSON ALFREDO SMANIOTTO - Vogal, MARIO MACHADO - Vogal, sob a Presidencia do Senhor Desembargador GEORGE LOPES LEITE em proferir a seguinte decisão: PROVER. UNANIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasilia (DF), 18 de setembro de 2008

Certificado nº: 6C4376B10002000007D6

23/09/2008 - 18:11

Desembargador GEORGE LOPES LEITE

Relator

RELATÓRIO

O Ministerio Publico representou contra o adolescente M. L. C. por ato infracional correspondente ao artigo 14 da Lei nº 10.826/2003, uma vez que no dia 30/12/2007, por volta de 23h45min, no Bar e Lanchonete Fim de Tarde, Samambaia, portava um revolver Taurus calibre 38, municiado com cinco cartuchos, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. A sentença lhe impos medida socio-educativa de liberdade assistida pelo prazo minimo de seis meses, mais prestação de serviços à comunidade por dois meses, prescrevendo, ainda, tratamento contra a dependencia de drogas, fundada no artigo 112, incisos IV e III, e artigo 101, inciso VI, do Estatuto da

Criança e do Adolescente. Impos tambem aos genitores do adolescente as medidas do artigo 129, incisos IV e VI do mesmo dispositivo.

Insurge-se o Ministerio Publico visando a aplicação de medida socio-educativa de semiliberdade, argumentando que o adolescente possui outras cinco passagens pela Vara da Infância e da Juventude e que já foi beneficiado com medida em meio aberto, mas voltou a delinquir. Alem disso, abandonou os estudos, consome entorpecentes e tem sua integridade fisica ameaçada por desafetos, exigindo acompanhamento mais proximo.

A Procuradoria de Justiça, no parecer de folhas 151/158, opina pelo conhecimento e provimento do apelo.

E o relatorio. Inclua-se em pauta.

VOTOS

O Senhor Desembargador GEORGE LOPES LEITE - Relator

Conheço do recurso, porque presentes os pressupostos legais.

A materialidade e a autoria do ato infracional foram comprovadas nos autos pela descrição dos fatos contida no interrogatorio do adolescente, que confessou haver adquirido a arma. Incensurável, portanto, a aplicação de medida socio-educativa ao adolescente por fato semelhante ao previsto no artigo 14 da Lei 10.826/2003. Acrescento, com relação ao contexto pessoal e social do adolescente, que o relatorio do CESAMI pontuou:

[...] Conta que adentrou na criminalidade aos 14 anos de idade, periodo em que começou a usar drogas e se envolver com más influencias de rua. Acredita que essas amizades foram os grandes mobilizadores para adentrar na criminalidade, e na intenção de adquirir respeito e aceitação perante o grupo, passou a agir conforme a demanda desses jovens. Das drogas, começou a cometer crimes de maior repercussão social, tambem como forma de conseguir dinheiro rápido e fácil (folha 84).

Nota-se como situação de risco ao adolescente, seu ambiente social, que e permeado por drogas, “guerras” entre gangues rivais e criminalidade, influenciando negativamente o desenvolvimento e representaçoes sociais de M., alem de colocar em risco sua vida. Justifica seu ato infracional pelo grande numero de desafetos, usando da arma de fogo como meio de proteção individual. (folha 85).

Durante o periodo de permanencia na instituição M. demonstrou comportamento adaptativo. Não apresenta interesse em retornar as atividades escolares ou fazer cursos profissionalizantes e demonstra pouca intenção em se afastar de suas amizades envolvidas na criminalidade; e imaturo e não está consciente das consequencias de seus atos para si ou para outrem. (folha 87).

O adolescente registra seis passagens, incluindo esta, pela prática de atos infracionais equiparáveis ao porte de arma (tres vezes), porte de entorpecentes, tentativa de homicidio e furto de veiculo (ambos em andamento) e já recebera anteriormente medidas de liberdade assistida (PIA nº 2005.01.3.005472-8) e de semiliberdade (PIA 2006.01.3.008294-9). E indiscutivel, portanto, que a personalidade, ainda em formação, está seriamente comprometida por tendencia aparentemente irrefreável ao cometimento de delitos, haja vista as infraçoes graves cometidas em curto espaço de tempo. Tais atitudes demonstram facilidade em se envolver com atividades antissociais perigosas para ele e para a sociedade, tanto que revelou portar arma devido ao grande numero de desafetos.

Há, tambem, evidencias de incapacidade da familia para impor limites, deixando-o vulnerável às más companhias, conforme anota o relatorio do CESAMI (folhas 58/66). Isso demonstra a vulnerabilidade do adolescente, facilmente influenciável pelos falsos amigos, tornando-o incapaz de, por si so, resistir aos apelos para cometimento de novas transgressoes. Assim sendo, e necessário impor medida mais severa, no intuito de resgatá-lo para o convivio social pleno e sadio, já que atualmente não frequenta escola e nem exerce atividade licita.

Dessa forma, a medida mais consentânea a ser aplicada ao adolescente e a semiliberdade, por prazo indeterminado, cumulada com a medida do artigo 101, inciso VI e do artigo 129, incisos IV e VI, do Estatuto da Criança e do Adolescente, conforme aplicado na sentença.

Com essas consideraçoes, dou provimento ao recurso.

O Senhor Desembargador EDSON ALFREDO SMANIOTTO - Vogal

Com o Relator

O Senhor Desembargador MARIO MACHADO - Vogal

Com o Relator

DECISAO

PROVER. UNANIME.

MIDIA

Medidas para responsabilizar jovens infratores são subutilizadas

As medidas socioeducativas aplicadas a jovens infratores levam em consideração o historico e as condiçoes de vida dos adolescentes. “A Justiça da Infância tem um tratamento mais humanizado que leva em consideração todo o contexto social, a necessidade de recuperação e de ressocialização desse jovem”, explica o advogado e membro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo Ariel de Castro Alves.

Os profissionais envolvidos neste processo ouvidos pela Agencia Brasil reclamam, entretanto, que nem todos os instrumentos fornecidos pela legislação são usados na prática. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) inclui possibilidades que vão desde a cobrança legal de envolvimento dos pais no processo ate a utilização da semiliberdade – medidas que atualmente são subutilizadas. Para esses especialistas, alterar a legislação para infratores – com a redução da maioridade penal – sem aplicar a lei atual de forma plena não faz sentido.

O juiz titular da 4ª Vara da Infância e Juventude da cidade de São Paulo, Raul Khairallah de Oliveira e Silva, diz que faz determinaçoes para que os pais de infratores cumpram medidas socioeducativas – entre elas, o tratamento psicologico, psiquiátrico ou de drogas e o acompanhamento da frequencia e desempenho escolar dos filhos –, mas elas dificilmente são cumpridas. “Quando o adolescente responde por ato infracional, não e so ele que está respondendo. Responde ele e os pais ou responsáveis”, ressalta. Mas, segundo ele, a maioria dos magistrados não aplica nenhum tipo de medida aos pais. “E as medidas que eu aplico [aos responsáveis], muitas vezes, não são executadas porque o Estado não e estruturado para isso”, acrescenta.

Apesar das dificuldades em responsabilizar os pais pela conduta dos filhos, os infratores chegam às audiencias acompanhados de responsáveis. Ricardo e pai de Luciano*, de 14 anos, acusado de participar de dois roubos. Convencido da inocencia do filho, o pai, que trabalha como segurança, diz que a familia toda se sente punida, especialmente nos dias de visita. “Não e nada tranquilo, nada fácil. Eles marcam para entrar às 14h, a fila está dobrando o quarteirão. Voce entra às 15h ou 15h30. Voce passa um constrangimento. E muita humilhação. Voce se sente um preso tambem, junto com eles”, relata sobre as dificuldades para encontrar o filho durante o mes de internação provisoria. Já o jovem reclama de maus-tratos por parte dos internos. “Eles me tratam mal, pisam em nos”, queixou-se.

Vice-presidente do Movimento do Ministerio Publico Democrático, o promotor da infância Tiago Rodrigues ve problemas na aplicação das medidas voltadas aos proprios adolescentes. Segundo levantamento feito por ele na Promotoria da Infância de Juventude da capital, os infratores ficam, em media, pouco mais de sete meses internados. “O processo educativo não está sendo utilizado. Nos temos tres anos para trabalhar esses adolescentes. Nos estamos trabalhando, em media, um pouco mais de sete meses”, enfatizou com base na análise de 3,3 mil processos que passaram pela promotoria entre agosto de 2014 e março de 2015.

De acordo com o promotor, a falta de vagas e uma das razoes para que as internaçoes não tenham a duração necessária para um efetivo trabalho de reeducação dos infratores. “Neste momento, nos tememos que, infelizmente, a superlotação e a necessidade de abertura de vagas estejam abreviando o periodo de internação”, diz Rodrigues que critica ainda a pouca utilização de recursos como a semiliberdade, quando o jovem estuda e trabalha durante o dia, voltando para a unidade de internação apenas para dormir. “Nos não vamos conseguir mudar essa realidade simplesmente alterando o periodo máximo de internação [de tres anos, previsto no ECA]”, acrescenta ao descartar que a redução da idade penal possa trazer beneficios ao processo de reinserção social.

Enquanto esperava a audiencia do filho Ivan*, de 17 anos, acusado de estupro, o vigilante Roberto* disse que preferia que o filho recebesse uma medida de liberdade assistida. “Ele nunca tinha dado problema em relação a isso. Eu preferia que ele tivesse liberdade assistida para ter um acompanhamento, para que ele entenda a responsabilidade, o que ele fez. Porque eu acho que se ele ficar preso não vai mudar nada”, ressaltou o pai, que ate voltou a estudar para poder acompanhar de perto o desempenho do filho. “Ver o que ele está fazendo, para ele não cabular aula. So que eu vi como era a escola. Era para ter cinco aulas e so tinha uma. Vários professores faltando. Alem de o aluno não querer, eles tambem não incentivam”, conta ao reclamar tambem das condiçoes oferecidas pelo Estado para educação dos jovens.

As medidas que liberam a volta gradual do jovem ao convivio social permitem, segundo o promotor Rodrigues, uma avaliação mais precisa do processo socioeducativo. [A equipe multidisciplinar] pode observar um comportamento natural do adolescente e ver se houve um progresso no processo socioeducativo, ou não”, destaca.

A liberdade assistida, entretanto, apresenta outros desafios para os jovens. Depois de cumprir um mes de internação provisoria por roubo, o adolescente Gustavo*, hoje com 17 anos, conta que sofreu preconceito ao retornar à escola. “Alguns professores implicavam comigo. Eu tive um trabalho extra. Todo trabalho que eu

fazia, não ganhava a nota minima de cinco. Isso me prejudicou. O que me salvou foi a feira cultural em que eu consegui tirar dez”, relata sobre os problemas que enfrentou para conseguir concluir o ultimo ano do ensino medio.

O tecnico socioeducativo Danilo Ramos confirma a versão de Gustavo*. Com base nos oito anos de trabalho no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente (Cedeca) em Sapopemba (zona leste da capital paulista), ele diz que os jovens que cumprem medidas de semiliberdade ou liberdade assistida tendem a sofrer perseguição no ambiente escolar. “O menino e visado. Qualquer coisa que ele faz, ligam aqui ou para a familia. E fica um embate. Com isso, o jovem acaba abandonando [a escola]”, conta.

02/05/2015 - São Paulo

Daniel Mello - Reporter da Agencia Brasil. Edição: Lilian Beraldo.

http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-05/medidas-para-responsabilizar-jovens-infratores-sao-subutilizadas

Senado faz audiência pública para debater diminuição da maioridade penal

A diminuição da maioridade penal foi tema de audiencia publica, hoje (3), no Senado. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinicius Furtado, e a procuradora da Republica, Raquel Elias Dodge, se manifestaram contra a proposta de redução da maioridade por considerá-la inconstitucional e ineficiente no combate aos crimes cometidos por adolescentes.

Na opinião dos dois debatedores, não e possivel emendar o texto constitucional para retirar direitos individuais. Alem disso, eles entendem que a Constituição “blinda” os adolescentes de punição penal pelo fato de terem ainda formação moral e fisica não concluida.

Maioridade penal e assunto que gera controversia no Congresso Nacional

Furtado alertou que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) preve uma serie de direitos aos menores de idade e de obrigaçoes do Estado e da familia que nunca foi implementada de fato. Na opinião do advogado, enquanto essas questoes como direito a educação, lazer e proteção da familia não forem resolvidas, não haverá embasamento para falar em diminuição da idade penal.

“Nos temos a sanção aos pais, por exemplo. As medidas pertinentes aos pais e responsáveis tambem não são aplicadas. Este Congresso criou um estatuto que não está sendo aplicado. Nos vamos modificar um sistema antes mesmo de implementá-lo totalmente?”, perguntou o presidente da OAB.

Furtado tambem lembrou que o sistema penal brasileiro não objetiva apenas punir, mas tambem ressocializar e reeducar. Na avaliação dele, enquanto o Estado falhar em promover esses valores nas prisoes, não poderá submeter os adolescentes ao sistema carcerário que existe hoje. “Se o sistema carcerário não funciona em relação ao adulto, muito menos em relação a uma pessoa em desenvolvimento”, disse.

A procuradora da Republica Raquel Dodge declarou ser favorável ao aperfeiçoamento do ECA, especialmente no que se refere a tratar de maneira diferente os adolescentes que cometem crimes graves dos que cometem pequenos delitos. “Não e possivel tratar da mesma forma o menor que comete crimes como homicidio e tráfico de drogas em grande escala o que comete um furto, por exemplo”, ressaltou.

Para Raquel Dodge, e possivel aumentar o rigor das medidas socioeducativas e o prazo de punição. Alem disso, acha que os pais e adultos que corrompem

menores de idade tambem deveriam ser tratados com mais rigor pela lei. Ela, no entanto, não concorda com a redução da maioridade penal, ressaltando que a opção dos constituintes de 1988 foi uma legislação que aprofunda as garantias sociais e não a persecução penal dos adolescentes. Para a procuradora, modificar esse foco seria contrariar a essencia do texto constitucional.

Um dos principais defensores da reforma do ECA, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), alegou que a sociedade não pode esperar ate que todas as medidas de proteção social previstas no estatuto sejam implementadas para conferir se elas darão resultado na diminuição da criminalidade. O senador propoe a manutenção da idade penal em 18 anos, mas defende que, nos casos de crimes hediondos, os adolescentes, a partir dos 16 anos, possam ser responsabilizados criminalmente se o juiz da Vara da Infância entenda que tenha discernimento da gravidade do ato que cometeu.

Aloysio Nunes discorda do parecer que considera a redução da idade penal inconstitucional. Na opinião do parlamentar, a propria legislação já trata o adolescente, de 16 anos de idade, como adulto em diversas situaçoes relevantes. “Apesar do adolescente ser uma pessoa ainda em fase de formação, a propria lei brasileira e a Constituição brasileira admitem que, em determinadas circunstâncias, ele pode exercer atos da maior relevância na vida civil e na vida publica”, disse.

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado promoverá mais duas audiencias publicas nas proximas segundas-feiras para debater o tema. Juristas e especialistas no assunto deverão ser ouvidos antes que a comissão analise a proposta do senador Aloysio Nunes e outras referentes à redução da maioridade penal.

03/06/2013 – Belo Horizonte

Agencia Brasil

http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/06/03/interna_politica,398590/senado-faz-audiencia-publica-para-debater-diminuicao-da-maioridade-penal.shtml

Quem mata quem na terra de ninguém?

Em dezembro de 1995, fui convidada pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca) a realizar a reconstituição da historia de vida de crianças e adolescentes, vitimas da violencia extrema na cidade de Salvador, atraves da visão dos pais e da comunidade. Para esse projeto, reuni dados de 21 jovens, dos quais 20 eram crianças e adolescentes que foram alvos de fuzilamento ou chacinas: chacina de Lobato (tres adolescentes e um jovem), chacina do IAPI (dois adolescentes e dois jovens), fuzilamento na Fonte do Capim (uma adolescente grávida e tres jovens), sequestro em São Cristovão e posterior fuzilamento (um adolescente e dois jovens).

Depois de ter realizado a reconstituição da historia de vida de todos eles, nos encontramos com a pergunta: por que eles? E poderiamos levantar algumas hipoteses: porque eram curiosos; porque eram rebeldes; porque transgrediam; porque desconheciam o perigo de contestar a lei da arma; porque correram para se defender ou apenas por estar assistindo a um show; porque na sua maioria eram negros, pobres e moravam em bairros perifericos. Por que eles?

Nunca deveria existir um motivo para matar uma criança, 19 adolescentes, nem oito jovens. Se essa criança ou esse adolescente for infrator, seguramente podemos nos perguntar sobre qual e sua historia para chegar a cometer uma infração, quais as causas? Mas em todo caso, no Brasil existe o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que preve medidas de proteção e medidas socioeducativas para esses meninos, alem de existirem tambem medidas pertinentes para os pais ou responsáveis.

Todos esses meninos tinham familias e moravam com elas. Seus pais eram trabalhadores. Em tres casos eram profissionais de classe media. Os outros pertenciam à classe media baixa ou eram de baixa renda. Todos esses meninos trabalhavam e/ou estudavam, moravam com seus pais. Mas parece que ser adolescente, ser negro e morar em bairros pobres ou invasoes e suficiente motivo para que, se estiver correndo, se pense que está em infração. Por isso primeiro disparam contra eles e depois se averigua a situação. Logo são taxados de marginais. E a palavra marginal em Salvador tem um peso muito grande, especialmente porque não se questiona a marginalização institucional e social existente.

Uma vez num programa de rádio, 20 anos atrás, me perguntaram se não seria necessário reduzir a idade que preve o Estatuto sobre maioridade, e eu respondi

que se as crianças ou adolescentes roubavam ou matavam era porque não tinham seus direitos garantidos.

Agora, quando revisei esse texto por conta da comemoração dos 20 anos da fundação do Centro Interdisciplinar de Estudos Grupais Enrique Pichon-Rivière (Cieg), me dei conta da sua vigencia, especialmente em dois aspectos: o projeto de lei de redução da maioridade penal e o ocorrido na chacina do Cabula, quando 12 jovens foram mortos pela policia, em fevereiro deste ano.

O trabalho de reconstituição da historia de vida que realizei entre 1993 e 1996 e um retrato do que continua acontecendo nesta cidade depois de 20 anos. Hoje, parece que se acrescenta outro argumento para matar um adolescente: alem de ser negro e pobre, trabalha para o tráfico de drogas ou rouba bancos sem armas.

Uma resposta para esses policiais que participaram da chacina do Cabula seria: "E que nossos meninos são 'demais', eles são muito sabidos". E uma resposta para essa autoridade que comparou um policial com um jogador de futebol para argumentar o acontecido no Cabula, seria: "Lamentável comparar a vida de uma pessoa com uma trave e uma bola com um tiro".

Alguem chamou essa comparação infeliz de metáfora, tambem lamentável. A metáfora e poetica, criatividade, e essa comparação foi falta de humanidade.

15/05/2015 – Salvador

Graciela Chatelain - Psicologa social, presidente do Centro Interdisciplinar de Estudos Grupais Enrique Pichon-Rivière

http://atarde.uol.com.br/opiniao/noticias/1681169-quem-mata-quem-na-terra-de-ninguem-premium