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CURSO PREPARATÓRIO PARA AFT 2015 Professor Gáudio R. de Paula [email protected] Facebook: Gáudio de Paula Twitter: @gaudiodepaula DISCIPLINA: DIREITO MATERIAL DO TRABALHO SUJEITOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO EMPREGADOR Temas: 1. Empregador: conceito, caracterização. 2. Empresa e estabelecimento. 3. Sucessão de empregadores. 4. Grupo econômico. 5. Consórcio de empregadores. 6. Cartório não oficializado. 1. EMPREGADOR: CONCEITO, CARACTERIZAÇÃO. Como se sabe, assim como o de empregado, o conceito de empregador também se encontra delineado na CLT. Em seu art. 2º, pode-se ler: CLT, 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. As características que podem ser extraídas da definição legal e das contribuições doutrinárias seriam, essencialmente, as seguintes: Os entes que podem ser empregadores são: Personalidade física ou jurídica Assunção dos riscos da atividade econômica Direção das atividades laborais Pagamento da contraprestação salarial.

DISCIPLINA: DIREITO MATERIAL DO TRABALHO SUJEITOS … · 2 SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de Direito do Trabalho, pp. 129-130. São Paulo: LTr. 3 MARTINS FILHO, Ives Gandra. Manual

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DISCIPLINA: DIREITO MATERIAL DO TRABALHO SUJEITOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO EMPREGADOR Temas: 1. Empregador: conceito, caracterização. 2. Empresa e estabelecimento. 3. Sucessão de empregadores. 4. Grupo econômico. 5. Consórcio de empregadores. 6. Cartório não oficializado.

1. EMPREGADOR: CONCEITO, CARACTERIZAÇÃO.

Como se sabe, assim como o de empregado, o conceito de empregador também se encontra delineado na CLT. Em seu art. 2º, pode-se ler:

CLT, 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

As características que podem ser extraídas da definição legal e das contribuições doutrinárias seriam, essencialmente, as seguintes:

Os entes que podem ser empregadores são:

Personalidade física ou jurídica

Assunção dos riscos da atividade

econômica

Direção das atividades laborais

Pagamento da contraprestação

salarial.

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Quanto aos partidos políticos, embora possam figurar como empregadores por equiparação, sobreleva notar que a Lei 9.504/97, em seu art. 100, afasta a possibilidade de reconhecimento de vínculo quanto ao pessoal contratado para atuar nas campanhas eleitorais:

Pessoa física

• Empregador doméstico, nos termo da Lei 5.859/72, 1º

Firma individual

Condomínio residencial

• Lei 2.757/56

Grupo econômico

• Súmula 129 TST - para os que adotam a teoria do empregador único

Consórcio de empregadores

• Lei 8.212/91, 25-A

Profissionais liberais

• CLT, 2º, § 1º

Instituições de beneficência, associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos

• CLT, 2º, § 1º

Pessoas jurídicas de direito público

• Que adotem o regime da CLT - para as quais se exige a previa realização de concurso público, (CF, 37, II)

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Art. 100. A contratação de pessoal para prestação de serviços nas campanhas eleitorais não gera vínculo empregatício com o candidato ou partido contratantes.

Entretanto, a Lei 12.891/13 acrescentou ao aludo diploma legal o art. 100-A que estabelece diversas restrições quanto a tais contratações:

Art. 100-A. A contratação direta ou terceirizada de pessoal para prestação de serviços referentes a atividades de militância e mobilização de rua nas campanhas eleitorais observará os seguintes limites, impostos a cada candidato:

I - em Municípios com até 30.000 (trinta mil) eleitores, não excederá a 1% (um por cento) do eleitorado;

II - nos demais Municípios e no Distrito Federal, corresponderá ao número máximo apurado no inciso I, acrescido de 1 (uma) contratação para cada 1.000 (mil) eleitores que exceder o número de 30.000 (trinta mil).

§ 1º As contratações observarão ainda os seguintes limites nas candidaturas aos cargos a:

I - Presidente da República e Senador: em cada Estado, o número estabelecido para o Município com o maior número de eleitores;

II - Governador de Estado e do Distrito Federal: no Estado, o dobro do limite estabelecido para o Município com o maior número de eleitores, e, no Distrito Federal, o dobro do número alcançado no inciso II do caput;

III - Deputado Federal: na circunscrição, 70% (setenta por cento) do limite estabelecido para o Município com o maior número de eleitores, e, no Distrito Federal, esse mesmo percentual aplicado sobre o limite calculado na forma do inciso II do caput, considerado o eleitorado da maior região administrativa;

IV - Deputado Estadual ou Distrital: na circunscrição, 50% (cinquenta por cento) do limite estabelecido para Deputados Federais;

V - Prefeito: nos limites previstos nos incisos I e II do caput;

VI - Vereador: 50% (cinquenta por cento) dos limites previstos nos incisos I e II do caput, até o máximo de 80% (oitenta por cento) do limite estabelecido para Deputados Estaduais.

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§2º Nos cálculos previstos nos incisos I e II do caput e no §1º, a fração será desprezada, se inferior a 0,5 (meio), e igualada a 1 (um), se igual ou superior.

§3º A contratação de pessoal por candidatos a Vice-Presidente, Vice-Governador, Suplente de Senador e Vice-Prefeito é, para todos os efeitos, contabilizada como contratação pelo titular, e a contratação por partidos fica vinculada aos limites impostos aos seus candidatos.

§4º Na prestação de contas a que estão sujeitos na forma desta Lei, os candidatos são obrigados a discriminar nominalmente as pessoas contratadas, com indicação de seus respectivos números de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF).

§5º O descumprimento dos limites previstos nesta Lei sujeitará o candidato às penas previstas no art. 299 da Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965.

§6º São excluídos dos limites fixados por esta Lei a militância não remunerada, pessoal contratado para apoio administrativo e operacional, fiscais e delegados credenciados para trabalhar nas eleições e os advogados dos candidatos ou dos partidos e coligações.

MASCARO NASCIMENTO recorda as duas teses que existem sobre a possibilidade de a empresa figurar com empregadora: a) a empresa não pode ser empregadora, por ostentar a natureza jurídica de objeto e não de sujeito de direito; e b) a empresa poderia ser considerada empregadora, por não se exigir nem sequer a personalidade jurídica com condição para que se celebre um contrato de trabalho, e o art. 2º, § 2º, da CLT atribuiria, de todo modo, personalidade jurídica à empresa1.

SUSSEKIND assim descreve, com a sua privilegiada perspectiva de “co-autor” do projeto, a polemica em sua contextualização histórica e doutrinária da redação do art. 2º da CLT:

Essa definição induz que a empresa seria um dos sujeitos do contrato de trabalho, a ela se equiparando, para os efeitos da relação de emprego, as pessoas físicas ou jurídicas referidas no § 1º.

O que se passou — e nós fomos um dos protagonistas do episódio — é que na redação final do projeto da

1 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho, p. 641. São Paulo: Saraiva, 2009.

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CLT o ilustrado Procurador LUIZ AUGUSTO DE REGO MONTEIRO, que coordenou os trabalhos da Comissão, defendeu a tese de que a empresa, considerada instituição, deveria participar da relação de emprego como sujeito de direito. Defendida pelos dois institucionalistas da Comissão, entendiam, todavia, os dois contratualistas que os pressupostos nos quais se esteava a organização socioeconômica brasileira e todo o ordenamento jurídico nacional desaconselhavam a adoção da tese sugerida. Mas o entendimento foi unânime no sentido de reconhecer que os direitos e obrigações trabalhistas nascem, persistem e extinguem-se em razão de funcionamento da empresa. Daí a decisão de consagrar-se a despersonalização do empregador, motivador da continuidade do contrato de trabalho. E a redação do art. 2º da CLT acabou refletindo, em parte, a mencionada e inconciliável controvérsia.

Tendo em vista os conceitos adotados pela ordem jurídica brasileira, sobretudo no que tange às pessoas e os negócios jurídicos, cumpre fixar a exegese do dispositivo em foco negando a subjetivação da empresa, mas reconhecendo que os direitos e obrigações advindos do contrato de trabalho nascem em função dela, independentemente da pessoa física ou jurídica que na oportunidade detém o seu domínio. Somente a “empresa pública”, integrante da Administração Pública Indireta, tem personalidade jurídica em decorrência do sistema legal que lhe é aplicável em nosso país.

Segundo PAUL DURAND e ANDRÉ VITTU, “o legislador do Direito do Trabalho sentiu perfeitamente que o contrato de trabalho é formado com a empresa mais do que com a pessoa do seu proprietário”.

EVARISTO DE MORAES FILHO, com a sua incontestável autoridade, reconhece que “esta despersonalização do empregador — cuja correspondência em termos jurídicos implica em dizer que o contrato de personae quanto a um dos contratantes (exatamente o empregador), embora possa sê-lo em casos excepcionais — leva diretamente ao reconhecimento de uma afirmativa nova e mais audaciosa: a de que o contrato de trabalho, uma vez celebrado, leva mais em consideração a empresa do que propriamente a pessoa de quem o concluiu pelo lado patronal. Sem tomar partido na polêmica atual entre relação e contrato de trabalho, se existe somente elemento enfático ou também jurídico, não há como negar que o contrato de trabalho insere-se diretamente na empresa, ou no estabelecimento, com mais precisão. Do lado patronal, toma-se como ponto de

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referência ou de convergência dos contratos de trabalho, não mais a pessoa física ou jurídica do seu titular, e sim o próprio organismo produtivo”.

A organização dos empreendimentos econômicos de grande envergadura, na qual a pessoa do proprietário, geralmente uma sociedade por ações, não participa diretamente das relações de trabalho — como ainda se verifica nas pequenas empresas ou nas de tipo artesanal, nas quais o empresário dirige pessoalmente os serviços e colabora na sua execução — haveria de subordinar a revisão de alguns conceitos tradicionais no campo do Direito. Conforme salienta GEORGES RIPERT, “o direito fiscal faz aqui figura de precursor. Surpreende a empresa em funcionamento sem se preocupar com sua natureza. Considera-a unidade jurídica para lançá-la”. E conclui: “o que o direito privado não percebe ainda, senão confusamente, o direito fiscal, em sua autonomia francamente afirmada, já o realiza. O direito do trabalho fez, por seu lado, o que o direito fiscal fazia no seu. Enquanto o fisco ocupava-se dos capitais e dos lucros da empresa, a legislação operária inquietava-se com o pessoal empregado na empresa”.

Em conseqüência da definição de empregador estampada no caput do art. 2º da CLT, tornou-se indispensável a inclusão de um parágrafo considerando como tal as pessoas naturais ou jurídicas que não empreendem atividades de fins lucrativos, mas admitem trabalhadores como empregados. Também os condomínios imobiliários residenciais, embora destituídos de personalidade jurídica própria, são considerados empregadores, com responsabilidade contratual e judicial no tocante aos contratos de trabalho que os vinculam aos seus empregados (Lei nº 2.757, de 23.4.56).2

Em se tratando de pessoa jurídica, as empresas podem se constituir segundo as seguintes modalidades, previstas no Novo Código Civil, de acordo com o quadro extraído das lições do Min. Ives Gandra3, com alguns acréscimos pessoais:

2 SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de Direito do Trabalho, pp. 129-130. São Paulo: LTr.

3 MARTINS FILHO, Ives Gandra. Manual Esquemático de Direito Material e Processual do Trabalho,

pp. 47 e 223-224. Saraiva: São Paulo, 2007.

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CLASSIFICAÇÃO SOCIEDADE CONCEITO RESPONSABILIDADE CÓDIGO CIVIL CÓDIGO

COMERCIAL

Sociedades Em Comum

Sociedade não registrada (irregular, portanto), que existe

de fato, operando sem personalidade

jurídica.

Solidária e ilimitada de

todos os sócios. Arts. 986-990

Arts. 301 e 304

Não

Personificadas

Em Conta de

Participação

Sociedade de fato, que opera sob a firma

individual do sócio ostensivo, contando

com o capital dos sócios participantes

(ocultos).

Ilimitada do sócio ostensivo perante

terceiros e limitada à sua participação, dos sócios participantes.

Arts. 991- 996 Arts. 325-328

Sociedades

Personificadas

Simples

Sociedade de natureza

civil, composta por

pessoas físicas (que

podem participar

apenas com seus

serviços) e/ou jurídicas,

que adquire

personalidade jurídica

pelo simples registro

civil de pessoas

jurídicas.

Subsidiária dos sócios,

na proporção de sua

participação no capital

social.

Arts. 997-

1.038

Arts. 1.363-

1.409(CC/17)

Em Nome

Coletivo

Sociedade de pessoas

físicas que operam sob

uma única firma social.

Ilimitada e solidária de

todos os sócios.

Arts. 1.039-

1.044 Arts. 315-316

Em

Comandita

Simples

Sociedade que combina

responsabilidade limitada com ilimitada dos sócios, conforme

a sua classe.

Ilimitada e solidária dos sócios

comanditados (que dão nome à firma e a dirigem) e limitada ao

valor da respectiva quota dos sócios

comanditários (que apenas fornecem

capital).

Arts. 1.045-

1.051 Arts. 311-314

Limitada

Sociedade cujo capital se divide em quotas

assumidas pelos sócios e que não admite sócio que

apenas preste serviços.

Limitada ao valor da quota de cada sócio (solidária entre eles,

enquanto não integralizado o capital

social).

Arts. 1.052-

1.087 Decreto n. 3.708/19

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Anônima

Sociedade em que o

capital social é dividido

em ações, livremente

negociáveis e

transferíveis.

Limitada ao preço de

emissão das ações que

subscrever ou adquirir.

Arts. 1.088-

1.089

Arts. 295-299;

Leis ns. 6.404/76 e

10.303/01

Em

Comandita

por Ações

Sociedade em que o

capital social é dividido

por ações, livremente

negociáveis e

transferíveis.

Limitada ao valor das

ações para os sócios-

acionistas, mas

atribuindo-se ao

acionista-administrador

responsabilidade

subsidiária e ilimitada

pelas dívidas da

sociedade.

Arts. 1.090-

1.092

Lei n. 6.404/76,

arts. 280-284

Cooperativa

Sociedade de pessoas, com ou sem capital

social, que buscam o desenvolvimento de

uma atividade comum, sem fim

lucrativo.

Limitada ou ilimitada, conforme disponham

seus estatutos.

Arts. 1.093-

1.096

Lei 12.690/12

Arts. 317-324

(Sociedade de

Capital e Indústria)

Empresa

Individual de

Responsabilid

ade Limitada

- EIRELI

Constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente

integralizado, que não poderá ser inferior a

100 vezes o maior salário-mínimo vigente no País.

Limitada. Titular não responderá com seus bens pessoais pelas dívidas da empresa.

Art. 980-A (Lei 12.441/11)

A proposito da figura do empregador, vale recordar os privilégios concedidos à micro-empresa e à empresa de pequeno porte, na condição de empregadoras. Tais prerrogativas encontram-se na Lei Complementar 123/06:

LC 123, Art. 51. As microempresas e as empresas de pequeno porte são dispensadas:

I - da afixação de Quadro de Trabalho em suas dependências;

II - da anotação das férias dos empregados nos respectivos livros ou fichas de registro;

III - de empregar e matricular seus aprendizes nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem;

IV - da posse do livro intitulado “Inspeção do Trabalho”; e

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V - de comunicar ao Ministério do Trabalho e Emprego a concessão de férias coletivas.

Art. 52. O disposto no art. 51 desta Lei Complementar não dispensa as microempresas e as empresas de pequeno porte dos seguintes procedimentos:

I - anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS;

II - arquivamento dos documentos comprobatórios de cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias, enquanto não prescreverem essas obrigações;

III - apresentação da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social – GFIP;

IV - apresentação das Relações Anuais de Empregados e da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED.

Em resumo, as micro-empresas e empresas de pequeno porte estão, de acordo com tais preceitos:

2. EMPRESA E ESTABELECIMENTO.

Dispensadas

•Afixação Quadro Trabalho em suas dependências

•Anotação férias livros ou fichas de registro

•Emprego e matricula aprendizes cursos de Aprendizagem

•Posse livro “Inspeção do Trabalho”

•Comunicação MTE concessão férias coletivas

Não dispensadas

•Anotações CTPS

•Arquivamento documentos comprobatórios cumprimento obrigações trabalhistas / previdenciárias (prazo prescricional)

•Apresentação GFIP

•Apresentação RAIS CAGED

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A respeito da distinção entre empresa e estabelecimento, eis as lições

da ARNALDO SUSSEKIND:

A empresa corresponde a uma universalidade de pessoas intervinculadas por variadas modalidades de relações jurídicas e de bens materiais e imateriais, organizados para a realização de um empreendimento econômico. Estabelecimento é o local onde a empresa realiza, materialmente, a consecução dessa finalidade; sob o prisma do direito do trabalho, é o local onde os empregados da empresa executam suas atividades, ou a que estão vinculados os que realizam serviços externos ou no próprio domicílio.

O estabelecimento tem caráter local, sendo certo que a empresa pode ter um único ou diversos estabelecimentos: matriz, filiais, fábricas, lojas, agências, sucursais etc.

A relação de emprego vincula o trabalhador à empresa e não ao estabelecimento onde estiver lotado. Por isto mesmo, a CLT admite a transferência do empregado de um para outro estabelecimento da empresa, desde que não acarrete necessariamente mudança do seu domicílio ou ele manifeste sua concordância; quando se tratar de cargo de confiança; na hipótese de extinção do estabelecimento onde o empregado trabalha; por necessidade de serviço, desde que em caráter provisório (arts. 469 e 470).4

Em direção semelhante pode ser, igualmente, lembrado o magistério de GODINHO DELGADO:

Empresa, como se sabe, é o complexo de bens materiais e imateriais e relações jurídicas que se reúnem como um todo unitário, em função de dinâmica e finalidade econômicas fixadas por seus titulares. É a organização dos fatores de produção (bens, relações, direitos e obrigações) a serviço de um fim econômico previamente definido.

Estabelecimento é uma unidade particularizada da empresa, composta também de um complexo de bens e relações jurídicas, que se reúnem como um todo unitário em função das necessidades empresariais. É instrumento da atividade da empresa. Rubens Requião esclarece: “O fundo de comércio ou estabelecimento comercial é o instrumento da atividade do

4 SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de Direito do Trabalho, p. 132. São Paulo: LTr.

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empresário. Com ele o empresário comercial aparelha-se para exercer sua atividade. Forma o fundo de comércio a base física da empresa, constituindo um instrumento da atividade empresarial. O Código italiano o define como o complexo de bens organizados pelo empresário, para o exercício da empresa”.5

Pode-se sistematizar as distinções do seguinte modo:

3. SUCESSÃO DE EMPREGADORES.

3.1. DEFINIÇÃO E MARCOS LEGAIS.

Eis como a doutrina vem conceituando o instituto:

A sucessão, do ponto de vista jurídico, consiste na substituição de uma pessoa por outra na mesma relação jurídica (SUSSEKIND6).

(...) instituto justrabalhista em virtude do qual se opera, no contexto da transferência de titularidade de empresa ou estabelecimento, uma completa transmissão de créditos e

5 Op. cit., p. 360.

6 Op. cit., p. 138.

EMPRESA

• Universalidade pessoas intervinculadas por variadas modalidades de relações jurídicas e de bens materiais e imateriais, organizados para a realização de um empreendimento econômico

• Pode ter um único ou diversos estabelecimentos: matriz, filiais, fábricas, lojas, agências, sucursais etc.

ESTABELECIMENTO

• Local onde a empresa realiza, materialmente, a consecução dessa finalidade

• Local onde os empregados da empresa executam suas atividades, ou a que estão vinculados os que realizam serviços externos ou no próprio domicílio

• Caráter local

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assunção de dívidas trabalhistas entre alienante e adquirente envolvidos (GODINHO7).

Sucessão de empregadores ou sucessão trabalhista constitui uma

modificação contratual subjetiva, na qual o sujeito contratante (empregador) é

substituído por outro, de onde resulta, como consectário, a transferência de

responsabilidade de um empregador (sucedido) para outro (sucessor) quanto aos

créditos trabalhistas não adimplidos pelo primeiro.

O ponto de partida para compreendermos o conceito de sucessão

trabalhista são os artigos 10 e 448 da CLT, que estabelecem, respectivamente:

CLT, 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados.

CLT, 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados.

A primeira conclusão que a doutrina e a jurisprudência extraem desses

dispositivos é a de que, mesmo se houver alguma alteração na estrutura jurídica da

empresa (em que esta pode, eventualmente, sofrer modificação quanto à sua

modalidade societária – de responsabilidade limitada para sociedade anônima, por

exemplo), os direitos dos empregados são preservados e seus contratos de trabalho

permanecem intactos (esse segundo aspecto é o objeto do principio da

inalterabilidade lesiva do contrato de trabalho, formulado por GODINHO DELGADO).

Assim, o empregado X da empresa LTDA continuará com seus direitos

assegurados, mesmo que esta empresa se transforme em S.A., podendo cobrar da

empresa todos os direitos não pagos ou não concedidos.

7 Op. cit., p. 371.

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A segunda conclusão diz respeito à sucessão trabalhista, propriamente

dita. A pessoalidade, como requisito para configuração da relação de emprego, como

se recorda, não se aplica ao empregador, mas apenas ao empregado. Isso quer dizer

que o EMPREGADOR pode ser substituído, sem prejuízo para manutenção do contrato

de trabalho, à luz do principio da intangibilidade contratual objetiva, na formulação de

GODINHO.

Nesse caso, quando, por exemplo, ocorre a alienação (venda) de uma

empresa, os contratos de trabalho continuam intactos, se os empregados continuarem

a trabalhar para o novo empregador? Sim, exatamente.

Logo, se, por exemplo, uma empresa X é incorporada pela empresa Y, os

empregados da X passam a ser empregados da Y sem que se forme novo contrato de

trabalho.

3.2. REQUISITOS

Para que a sucessão ocorra, contudo, são necessárias duas condições

cumulativas:

É o magistério de ALICE MONTEIRO DE BARROS, que assim leciona:

• Alienação dos bens (imóvel, equipamentos de trabalho, ...) do sucedido para o sucessor; e

Transferência da unidade econômico-jurídica

• Necessidade de que o sucessor continue explorando a atividade econômica do sucedido.

Continuidade da atividade empresarial

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A sucessão pressupõe os seguintes requisitos: a) mudança na estrutura jurídica ou na propriedade da empresa, como ocorre na compra e venda, sucessão hereditária, arrendamento, incorporação, fusão, cisão, etc. A incorporação consiste na absorção de uma empresa por outra que lhe sucede em todos os direitos e obrigações. A fusão implica a unificação de duas ou mais empresas para a formação de uma nova, que lhe sucederá em todos os direitos e obrigações. Por fim, a cisão consiste na operação pela qual uma empresa transfere parte ou a totalidade de seu patrimônio para outra já existente, ou construída para essa finalidade. Extinguindo-se a empresa cindida, a sucessão será total. Poderá haver sucessão apenas parcial, quando subsiste a empresa cindida que transferiu apenas alguns de seus estabelecimentos para a empresa nova; b) continuidade do ramo do negócio; c) continuidade dos contratos de trabalho com a unidade econômica de produção e não com a pessoa natural que a explora. Este último requisito não é imprescindível para que haja sucessão, pois poderá ocorrer que o empregador dispense seus empregados antes da transferência da empresa ou do estabelecimento, sem lhes pagar os direitos sociais. Nesse caso, a continuidade do contrato de trabalho foi obstada pelo sucedido, podendo o empregado reivindicar seus direitos do sucessor, pois, ao celebrar o ajuste, não se vinculou à pessoa física do titular da empresa, mas a esta última, que é o organismo duradouro.8

É o que também sustenta a jurisprudencia do TST, tal como ilustram,

entre outros, os seguintes arestos:

SUCESSÃO TRABALHISTA. O Tribunal Regional, soberano na análise de fatos e provas, concluiu que, no presente caso, houve a sucessão de empregadores, visto a primeira reclamada (JBS S.A) ter ocupado as instalações anteriormente utilizadas pela segunda reclamada (BMZ Couros Ltda.) e que aquela explorou a mesma atividade econômica, sem solução de continuidade. In casu, restou incontroversa a sucessão de empregadores ocorrida, razão pela qual a recorrente, sociedade sucessora, deve responder integral e exclusivamente pelos créditos decorrentes do contrato de trabalho do reclamante. Sendo assim, a análise das alegações recursais em sentido diverso demandaria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, vedado nesta instância recursal, na forma da Súmula 126 do TST. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-148-85.2011.5.04.0261, Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, DeJT 14/02/2014)

8 BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho, p. 333. São Paulo: LTr.

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(...) SUCESSÃO TRABALHISTA - NÃO CARACTERIZADA. Segundo a doutrina, "Para a caracterização da sucessão trabalhista é necessária a transferência de uma 'unidade econômico-jurídica' ou seja, de 'parte significativa do(s) estabelecimento(s) ou da empresa (destaques do original)' permanecendo, ainda, a prestação de serviços pela empresa (continuidade da atividade empresarial)." Na hipótese dos autos, é fato incontroverso que, por imposição legal e por Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), em julho de 2007 operou-se a rescisão do contrato de trabalho de terceirização que a reclamante manteve com a primeira-reclamada, e que, a partir de agosto de 2007, iniciou-se novo vínculo de natureza celetista diretamente com o Município de Salvador, na forma prevista na Lei Municipal nº 7.196/2007. Em tal situação, o vínculo gerado foi estabelecido por forma de provimento originário ou autônomo, o qual independe de qualquer relação com a anterior situação. Outrossim, o julgado ressaltou não ter ocorrido a transferência da unidade econômica produtiva, de modo que, ante tais circunstâncias, tem-se a impossibilidade de caracterização do instituto da sucessão trabalhista. Logo, não houve a violação dos arts. 10 e 448 da CLT. Agravo de instrumento desprovido. (TST-AIRR-60700-16.2009.5.05.0016, Rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 7ª Turma, DeJT de 21/06/13)

Importante registrar que, embora o tema seja polêmico, pouco

importaria se o trabalhador continuou trabalhando para o sucessor, isto é, a

continuidade na prestação de serviços (por parte do empregado) seria irrelevante

para a sucessão. Ainda que o sucedido tenha dispensado o empregado, este poderia

cobrar do sucessor a dívida trabalhista, tendo em vista que o sucessor adquire os

bônus (ativos) mas também assume, por outro lado, os ônus (passivo). É o que

defendem diversos doutrinadores:

A não ser em casos excepcionais, de particular prestação de serviços intuito personae, de natureza intelectual, não pode o empregado negar-se a aceitar a transferência do estabelecimento comercial ou industrial. Mas, em compensação, fica o sucessor inteiramente responsável por todos os direitos adquiridos durante a vigência anterior do contrato. Mesmo para os contratos já rescindidos pelo antigo empregador, inexistentes no momento do traspasse, fica privativamente responsável o sucessor. Dívidas não pagas pelo sucedido, a antigos empregados

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ou aos poderes públicos, também por elas torna-se responsável o adquirente do negócio. (EVARISTO DE MORAES FILHO9).

O sucessor assume os direitos e as obrigações do antecessor, inclusive pelas chamadas dívidas velhas. (MESSIAS PEREIRA DONATO10).

A nosso ver, é desnecessário usar o fenômeno da despersonalização do empresário para justificar a responsabilidade do adquirente. A lição de Lamarca deve ser aproveitada no tocante que conclui que haverá sucessão ainda que o contrato de emprego não subsista, uma vez que os direitos adquiridos pelos empregados, independentemente da sobrevivência da relação de emprego, que não é exigida pela lei, estão amparados pela responsabilidade do sucessor, por força do que dispõem os artigos 10 e 448 da CLT. O fenômeno da sucessão é o fundamento da responsabilidade daquele que adquire o negócio. (THOMAS MALM11).

Nesse sentido segue, igualmente, o entendimento da Superior Corte

Trabalhista:

[...] RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. SUCESSÃO TRABALHISTA. [...] A sucessão de empregadores, figura regulada pelos arts. 10 e 448 da CLT, consiste no instituto justrabalhista em que há transferência interempresarial de créditos e assunção de dívidas trabalhistas entre alienante e adquirente envolvidos. A sucessão, em sua vertente clássica, envolve dois requisitos: a) que uma unidade econômico-jurídica seja transferida de um para outro titular; e b) que não haja solução de continuidade na prestação de serviços pelo obreiro. A nova vertente interpretativa do instituto sucessório trabalhista insiste que o requisito essencial à figura é tão só a garantia de que qualquer mudança intra ou interempresarial não venha afetar os contratos de trabalho - independentemente de ter ocorrido a continuidade da prestação laborativa. Isso significa que qualquer mudança intra ou interempresarial que seja significativa, a ponto de afetar os contratos empregatícios, seria hábil a provocar a incidência dos arts. 10 e 448 da CLT. Cabe, ainda, reiterar que a noção tida como fundamental é a de transferência de uma universalidade, ou seja,

9 MORAES FILHO, Evaristo de. Sucessão nas obrigações e a teoria da empresa. Rio de Janeiro: Forense,

1960, v. 2, p. 254. 10

DONATO, Messias Pereira. Curso de Direito do Traba¬lho. São Paulo: Saraiva, 1982, p. 22. 11

MALM, Thomas. A responsabilidade do sucessor por contratos extintos anteriormente à sucessão; A

responsabilidade do sucedido por contratos mantidos pelo sucessor. Revista Synthesis 17/93, São Paulo,

p. 126.

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a transferência de parte significativa do(s) estabelecimento(s) ou da empresa de modo a afetar significativamente os contratos de trabalho. Assim, a passagem para outro titular de uma fração importante de um complexo empresarial (bens materiais e imateriais), comprometendo de modo importante o antigo complexo, pode ensejar a sucessão de empregadores, por afetar de maneira importante os antigos contratos de trabalho. Desse modo, qualquer título jurídico hábil a operar a transferência de universalidade no Direito brasileiro (compra e venda, arrendamento, concessão, permissão, delegação etc.) é compatível com a sucessão de empregadores. É indiferente, portanto, à ordem justrabalhista, a modalidade de título jurídico utilizada para o trespasse efetuado. Nesse contexto, a decisão do Regional, que reformou a sentença e condenou a ora recorrente a responder solidariamente pelas verbas deferidas, encontra-se em plena harmonia com a ordem jurídica vigente, pois a sucessão trabalhista opera uma assunção plena de direitos e obrigações trabalhistas pelo novo titular da empresa ou estabelecimento - que passa a responder, na qualidade de empregador sucessor, pelo passado, presente e futuro dos contratos empregatícios. Logo, não há como assegurar o processamento do recurso de revista quando o agravo de instrumento interposto não desconstitui os fundamentos da decisão denegatória, que subsiste por seus próprios fundamentos. Agravo de instrumento desprovido. (TST-AIRR-833-54.2012.5.06.0018, Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, DeJT 21/03/2014)

SUCESSÃO DE EMPREGADORES. O Regional, em análise do contexto fático-probatório dos autos, esclarece que o -Contrato de Compra e Venda de Ativos- evidenciou, na verdade, transferência do patrimônio da Transpev, empregadora do reclamante, à Prosegur. Nesse contexto, considerou caracterizada a sucessão de empregadores, nos termos dos artigos 10 e 448 da CLT, sendo irrelevante que não tenha havido continuidade da prestação de serviços do empregado à sucessora. Em hipótese como essa, a empresa sucessora passa a responder por todos os deveres da sucedida, tornando-se responsável pela adimplência de todos os direitos dos trabalhadores, ainda que contraídos na época da prestação de serviços à empresa sucedida, tenham eles os seus contratos extintos ou não. Esse é o entendimento consagrado nesta Corte superior, tanto que resultou na edição da Orientação Jurisprudencial n° 261 da SBDI-1, a qual, em situação análoga à discutida nesta demanda, dispõe que, no caso da ocorrência de sucessão bancária, -as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para o banco sucedido, são de responsabilidade do sucessor, uma vez que

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a este foram transferidos os ativos, as agências, os direitos e deveres contratuais, caracterizando típica sucessão trabalhista.- Por sua vez, registra-se que eventual afronta ao artigo 5º, incisos II, XXXV, XXXVI, LIV e LV, da Constituição Federal só se verificaria de forma reflexa, tendo em vista que, para o deslinde da controvérsia, haveria a necessidade da incursão na análise da legislação infraconstitucional que norteia a matéria relativa à sucessão na seara trabalhista, mormente considerando que a decisão do Regional, quanto ao tema, encontra-se amparada no exame do quadro fático-probatório dos autos, em que se caracterizou a sucessão de empregadores, cujo reexame mostra-se inviabilizado nesta instância extraordinária, nos termos da Súmula nº 126 do Tribunal Superior do Trabalho. Agravo de instrumento desprovido. (TST-AIRR-34840-47.2007.5.03.0110, Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, DeJT de 17/05/13)

(...) SUCESSÃO. A sucessão de empresas tem como conseqüência direta a transferência de todo o passivo e ativo da empresa sucedida para a sucessora. Dessa forma, a sucessora tem responsabilidade pelas obrigações trabalhistas de todos os contratos de trabalho celebrados pela empresa sucedida, ainda que os empregados contratados não tenham prestado serviços para a empresa sucessora. (TST-AIRR-104340-11.1999.5.01.0411, Rel. Juíza Convocada Maria Doralice Novaes, 4ª Turma, DeJT de 23/02/07)

Todavia, vale lembrar que o TST tem admitido que, em algumas

cirscunstâncias, o elemento da continuidade da prestação de serviços pode ter

relevância na configuração da sucessão trabalhista ou na delimitação da responsabilidade do

sucessor. Entre outros, podem ser lembrados os seguintes casos:

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Sobreleva registrar que a transferência de marca pode acarretar a

sucessão trabalhista, segundo assevera ALICE MONTEIRO DE BARROS:

Na economia moderna, o patrimônio imaterial de uma empresa, representado substancialmente pela sua marca, industrial ou comercial, significa mais do que todo o conjunto de seu patrimônio material. É o que se verifica com empresas multinacionais, cuja produção fragmenta-se através de várias empresas situadas, na

• Jurisprudência predominante do TST

• A sucessão só poderia ser reconhecida se houver continuidade na prestação de serviços

Sucessão nos cartórios extrajudiciais

• OJ 92 da SbDI-1

• Em caso de criação de novo município, por desmembramento, cada uma das novas entidades responsabiliza-se pelos direitos trabalhistas do empregado no período em que figurarem como real empregado

Desmembramento de municípios

• OJ 225 da SbDI-1

• Em caso de rescisão do contrato de trabalho após a entrada em vigor da concessão, a segunda concessionária, na condição de sucessora, responde pelos direitos decorrentes do contrato de trabalho, sem prejuízo da responsabilidade subsidiária da primeira concessionária pelos débitos trabalhistas contraídos até a concessão

• Quanto ao contrato de trabalho extinto antes da vigência da concessão, a responsabilidade pelos direitos dos trabalhadores será exclusivamente da antecessora.

Concessão de serviço publico

• Jurisprudencia predominante do TST tem aplicado a OJ 225 da SbDI-1

Arrendamento

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maior parte, em países de terceiro mundo, onde a mão-de-obra é mais barata, enquanto a detentora da marca apenas comercializa os produtos, possuindo, como patrimônio, substancialmente, apenas a marca. Nesse contexto, a transferência da marca, maior patrimônio de empresa, revela a ocorrência da sucessão trabalhista, principalmente se considerarmos que a executada não permaneceu com patrimônio físico suficiente à satisfação de suas obrigações12.

3.3. RESPONSABILIDADE

Como regra, o chamado sucessor deve arcar com todos os créditos

relativos aos empregados do sucedido. Mas para que isso ocorra, será preciso haver a

sucessão trabalhista, isto é, a transferência de responsabilidade de um empregador

para outro, mediante o atendimento aos requisitos antes mencionados.

Portanto, a responsabilidade do sucessor é:

12

Op. cit., p. 345.

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Quanto à responsabilidade exclusiva do sucessor pelos créditos

trabalhistas, eis julgados do TST:

SUCESSÃO DE EMPREGADORES. RESPONSABILIDADE. Esta Corte tem firmado o entendimento de que a empresa sucedida não é responsável, solidária ou subsidiariamente, pelas obrigações trabalhistas transferidas à sucessora, ainda que tenham se iniciado e terminado antes de perpetrada a sucessão. Tal entendimento decorre do princípio da impessoalidade da atividade empresarial em relação ao empregado, situação desconsiderada apenas em casos

INTEGRAL

Exclusiva do sucessor

Exime o sucedido de qualquer

responsabilidade

ILIMITADA

Objeto

• Alcança todos os créditos trabalhistas

Tempo

• O sucessor responde não só pelos créditos relativos ao período em que se beneficiou dos serviços prestados pelo trabalhador como pelo periodo em que o trabalhador laborou para o sucedido.

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excepcionais, como, por exemplo, nos casos de fraude, o que não ficou evidenciado pelo Regional no presente caso. Assim, a empresa sucessora deve responder, de forma exclusiva, pelos créditos dos empregados, sem prejuízo do direito de regresso, nos casos admitidos. Recurso de Revista não conhecido. (TST-RR-1090-15.2012.5.09.0562, Rel. Min. Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, DeJT de 09/05/2014)

SUCESSÃO TRABALHISTA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. A sucessão trabalhista opera uma assunção plena de direitos e obrigações trabalhistas pelo novo titular da empresa ou estabelecimento - que passa a responder, na qualidade de empregador sucessor, pelo passado, presente e futuro dos contratos empregatícios. Não há qualquer dúvida no tocante a esse efeito jurídico do instituto sucessório regulado pela CLT. Desta forma, qualquer alteração na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afeta o contrato de trabalho dos seus empregados, tampouco os direitos por eles adquiridos. Neste sentido o disposto nos artigos 10 e 448 da CLT. Assim, tendo o Tribunal Regional consignado, de forma contundente, que houve sucessão empresarial, o que configura a sucessão de empregadores de que tratam os artigos 10 e 448 da CLT e, uma vez não revelado nenhum intuito fraudulento na transação, passa o sucessor a responder, de forma exclusiva, pelos créditos trabalhistas advindos dos contratos de trabalho mantidos tanto no período anterior como posteriormente à sucessão. Recurso de revista não conhecido, no aspecto. (TST-RR-44-54.2013.5.09.0562, Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, DeJT 21/03/2014)

(…) SUCESSÃO TRABALHISTA. RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO SUCESSOR. Como regra geral, a sucessão trabalhista transfere para o sucessor a exclusiva responsabilidade pelo adimplemento e execução dos contratos de trabalho do empregador sucedido. A responsabilidade solidária é possível apenas em circunstâncias excepcionais de fraude ou absoluta insuficiência econômico-financeira do sucessor, hipóteses não delineadas no caso. Recurso de revista conhecido e desprovido. (TST-RR-1397-03.2011.5.09.0562, Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DeJT de 14/06/13)

Contudo, como se infere do próprio precedente, tem-se admitido a

possibilidade de responsabilização solidária em situações particulares, como a de

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fraude ou insolvência do sucessor. A respeito da fraude, veja-se a OJT 30 da SbDI-1,

bastante ilustrativa:

OJT 30 da SbDI-1 do TST – CISÃO PARCIAL DE EMPRESA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. PROFORTE. É solidária a responsabilidade entre a empresa cindida subsistente e aquelas que absorverem parte do seu patrimônio, quando constatada fraude na cisão parcial.

Também pode ser lembrada, como exemplo de excepcional

responsabilidade (subsidiária nesse caso) do sucedido a da concessão de serviço

público (OJ 225 da SbDI-1).

Em relação ao objeto da sucessão, esclareça-se apenas que, caso a

empresa anterior devesse horas extras, FGTS, férias, 13º salário etc, todos estes

direitos podem ser cobrados do sucessor.

No tocante à abrangência temporal, conforme destacado, não há

delimitação quanto aos direitos a serem cobrados pelos empregados do sucedido, em

relação ao período que trabalharam para o sucessor. Veja, a esse respeito, a

Orientação Jurisprudencial 261 da SbDI-1 do TST:

OJ 261 da SbDI-1 do TST – BANCOS. SUCESSÃO TRABALHISTA. As obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para o banco sucedido, são de responsabilidade do sucessor, uma vez que a este foram transferidos os ativos, as agências, os direitos e deveres contratuais, caracterizando típica sucessão trabalhista.

Destaque-se que tal diretriz vem sendo aplicada não só a instituições bancárias:

SUCESSÃO DE EMPRESAS. FUNDO DE COMÉRCIO. APLICAÇÃO POR ANALOGIA DA ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 261 DA SBDI-1. POSSIBILIDADE. NÃO PROVIMENTO. Há de se reconhecer a ocorrência de sucessão trabalhista, na hipótese em que a RESIN - atual denominação da RAPS - adquire o fundo de comércio da UNICOR, com transferência de parte significativa do complexo empresarial, responsável pela garantia dos créditos trabalhistas, ficando essa última reduzida à insolvência. Aplicação

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por analogia da Orientação Jurisprudencial nº 261 da SBDI-1. Precedente da SBDI-1. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST-AIRR-9140-25.2001.5.02.0040, Rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, 2ª Turma, DeJT 13/05/2011)

3.4. CLÁUSULA DE RESERVA DE RESPONSABILIDADE

Recorde-se de que, se houver uma cláusula (clausula de reserva de

responsabilidade) no contrato de transferência dos bens prevendo a isenção de

responsabilidade do sucessor pelos créditos trabalhistas, tal previsão, embora seja

válida, produz efeitos apenas na esfera civil, não sendo oponível contra o trabalho.

Isso significa que o sucessor, se viesse a ser chamado a responder na Justiça do

Trabalho por esses direitos trabalhistas, deveria pagar os créditos aos empregados do

sucedido e, posteriormente, cobraria deste último, na Justiça Comum, o valor que teve

de pagar, em ação regressiva – em que se exerce o direito (direito de regresso) de

cobrar de outro importância paga no cumprimento de obrigação, cuja

responsabilidade direta e principal pertencia a esse outro.

Para ilustrar tal entendimento, pode ser citado o seguinte julgado do

TST:

SUCESSÃO DE EMPRESAS. LIMITAÇÃO DA RESPONSABILIDADE. Não viola o art. 422 do CC decisão do Regional que, de acordo com as provas dos autos entende caracterizada a sucessão de empregadores, concluindo que, em face dos arts. 10 e 448 da CLT, o acordo firmado entre as reclamadas não produz nenhum efeito na esfera do direito do trabalho. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-1255-03.2010.5.09.0669, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT de 24/05/2013)

3.5. FALENCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Nesse ponto, embora se reconheça forte resistência doutrinária, basta

recordar que os arts. 60, parágrafo único, e 141, II, da Lei 11.101/05 prevê a

impossibilidade de sucessão em caso de falência ou de recuperação judicial:

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Lei 11.101/05, Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei.

Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, observado o disposto no § 1o do art. 141 desta Lei.

(...)

Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata este artigo:

(...)

II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho.

Tais preceitos foram reputados constitucionais pelo Supremo Tribunal

Federal, com o julgamento da ADI 3.934-2/DF:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 60, PARÁGRAFO ÚNICO, 83, I E IV, c, E 141, II, DA LEI 11.101/2005. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS ARTIGOS 1º, III E IV, 6º, 7º, I, E 170, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988. ADI JULGADA IMPROCEDENTE. I - Inexiste reserva constitucional de lei complementar para a execução dos créditos trabalhistas decorrente de falência ou recuperação judicial. II - Não há, também, inconstitucionalidade quanto à ausência de sucessão de créditos trabalhistas. III - Igualmente não existe ofensa à Constituição no tocante ao limite de conversão de créditos trabalhistas em quirografários. IV - Diploma legal que objetiva prestigiar a função social da empresa e assegurar, tanto quanto possível, a preservação dos postos de trabalho. V - Ação direta julgada improcedente. (STF-ADI 3934/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe-208 de 06/11/2009)

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Essa posição do STF levou o TST a encampar a mesma diretriz, como se

pode observar:

SUCESSÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. GRUPO ECONÔMICO. LEGITIMIDADE PASSIVA. Merece reforma a decisão regional, a qual reconheceu a sucessão trabalhista quando se trata da hipótese de recuperação judicial que envolve a empregadora VARIG S.A, em face de recente decisão do STF (ADI 3934/DF), com efeito vinculante (art. 102, § 2º, CRFB) no sentido de isentar os arrematantes dos encargos decorrentes da sucessão trabalhista. Exegese do disposto no parágrafo único do artigo 60 da Lei 11.101/2005. Há precedentes do Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-ARR-108500-97.2008.5.02.0003, Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, DeJT 25/04/2014)

(...) EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. LEI Nº 11.101/2005. SUCESSÃO DE EMPREGADORES E RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INEXISTÊNCIA. Diante da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3.934-2-DF, DJe de 05/11/2009, cujo relator fora o Ministro Ricardo Lewandowski, em que se declarou a constitucionalidade, entre outros, dos artigos 60, parágrafo único, e 141, II, da Lei nº 11.101/2005, a atual jurisprudência desta Corte uniformizadora vem se direcionando no sentido da não ocorrência de sucessão trabalhista, em hipótese como a destes autos, em que a VRG Linhas Aéreas S/A adquiriu, por meio de alienação judicial, determinada unidade produtiva da VARIG S.A. - empresa em processo de recuperação judicial, nos termos da referida Lei nº 11.101/2005. Deve ser excluída da lide, portanto, a reclamada VRG Linhas Aéreas. Precedentes deste Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de revista da VRG Linhas Aéreas S.A de que se conhece parcialmente e a que se dá provimento. (...) (TST-RR-24000-23.2007.5.01.0016, Rel. Min. Pedro Paulo Manus, 7ª Turma, DEJT de 24/02/2012).

(...) ILEGITIMIDADE PASSIVA. SUCESSÃO TRABALHISTA. EMPRESA SUBMETIDA A PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ALIENAÇÃO DE UNIDADE PRODUTIVA. ARREMATAÇÃO JUDICIAL. LEI 11.101/2005. A partir da declaração de constitucionalidade do art. 60, parágrafo único, da Lei 11.101/2005, no julgamento da ADI 3.934-2/DF, pelo Supremo Tribunal Federal, assentou-se nesta Corte o entendimento de que o objeto da alienação efetuada em plano de recuperação judicial estará livre de quaisquer ônus, não se configurando a sucessão empresarial do arrematante, e

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isentando o comprador das dívidas e obrigações contraídas pelo devedor. Precedentes. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-123200-82.2007.5.02.0013, Rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, 1ª Turma, DEJT de 05/10/12).

3.6. SUCESSÃO DE PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO SUCEDIDA PELA UNIÃO OU POR ESTADO-MEMBRO – PENHORA.

Quanto à sucessão de pessoa jurídica de direito privado por ente

público (União ou Estado-membro), o aspecto processual relevante que deve ser

lembrado é o de que o TST definiu ser possivel a manutenção da penhora dos bens do

ente privado mesmo após a sucessão por ente público, ressaltando que tal

procedimento não viola o art. 100 da CF. É a diretriz fixada pela Orientação

Jurisprudencial 343 da SbDI-1:

OJ 343 da SbDI-1 - PENHORA. SUCESSÃO. ART. 100 DA CF/1988. EXECUÇÃO. É válida a penhora em bens de pessoa jurídica de direito privado, realizada anteriormente à sucessão pela União ou por Estado-membro, não podendo a execução prosseguir mediante precatório. A decisão que a mantém não viola o art. 100 da CF/1988.

3.7. SUCESSÃO DE EMPRESA PÚBLICA POR EMPRESA PRIVADA – PRIVATIZAÇÃO

O principal efeito que deve ser lembrado em caso de sucessão de empresa pública por empresa privada concerne à possibilidade de convalidação de contrato de trabalho originalmente nulo por ausência de concurso público, consoante cristalizado na Súmula 430 do TST:

Súmula 430 do TST – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA INDIRETA. CONTRATAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. NULIDADE. ULTERIOR PRIVATIZAÇÃO. CONVALIDAÇÃO. INSUBSISTÊNCIA DO VÍCIO. Convalidam-se os efeitos do contrato de trabalho que, considerado nulo por ausência de concurso público, quando celebrado originalmente com ente da Administração Pública Indireta, continua a existir após a sua privatização.

ALICE também destaca, nesse caso, a necessidade de preservação dos

direitos dos empregados públicos na privatização:

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Configura sucessão a aquisição do acervo patrimonial, do corpo funcional e de toda a infra-estrutura de sociedade de economia mista, em face da privatização. O direito adquirido dos empregados junto à sucessora, para a qual passarão a trabalhar, deverão ser preservados à luz dos art. 10 e 448 da CLT13.

Também pode ser lembrada aqui outra situação relativa à manutenção de direitos dos empregados em caso de privatização e a possibilidade de aplicação da teoria da imprevisão quanto à participação nos lucros e resultados:

GRATIFICAÇÃO DE BALANÇO. REDUÇÃO DO PERCENTUAL DE 20% PARA 1%. SUCESSÃO DO BANEB PELO BRADESCO. Caso de alteração promovida na apuração do percentual da gratificação de balanço de 20% para 1%, ocorrida no processo de privatização do Banco BANEB, o qual foi sucedido pelo Bradesco. Esta Subseção Especializada, em sua composição plena, decidiu que a referida alteração não contraria a Súmula 51, I, do TST, tampouco o art. 468 da CLT (sessão extraordinária de 27/6/2011, processos E-RR 42300-59.2000.5.05.0471 e E-ED-AIRR e RR75200-44.2000.5.05.0003, DEJT de 1º/7/2011 e 19/8/2011). Afinal, a modificação, além de ter acarretado a garantia dos postos de trabalho dos empregados do Banco sucedido, gerou a efetiva percepção da parcela - que não era recebida, ante a ausência de lucro do sucedido -, e visou à adequação dos percentuais praticados pelo Banco sucessor. Quanto a esse aspecto, na prática, afigurar-se-ia mesmo impossível assegurar aos antigos empregados do BANEB o direito a receber 20% dos resultados auferidos pela -porção BANEB do Bradesco-. Ademais, levando-se em conta o princípio da razoabilidade, não há notícia de percentual que, sendo diferente do 1% ora praticado pelo Bradesco para a generalidade dos seus empregados, atenda melhor a essa proporção, mesmo porque a verba passou a ser efetivamente paga apenas pelo sucessor, ante a sua notória condição superavitária. Por fim, tratando-se de participação nos lucros, é possível a adoção das regras da teoria da imprevisão - pacta sunt servanda e rebus sic stantibus (arts. 478 do CC e 6º do CDC) -, consoante disposição específica da própria Lei 10.101/2000, em seu art. 2º, flexibilizando-se a necessidade de intervenção sindical. Recurso de embargos conhecido e não provido. (TST-E-ED-RR-51641-41.2002.5.05.0471, Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, SbDI-1, DeJT 02/05/2014)

3.8. DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIO.

13

Op. cit., p. 346.

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Em se tratando de desmembramento de municípios, o TST pacificou o entendimento de que a responsabilidade do “sucessor” limita-se ao período em se beneficiou dos serviços prestados pelo empregado público, tal como se vê na OJ 92 da SbDI-1:

OJ 92 da SbDI-1 do TST – DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS. RESPONSABILIDADE TRABALHISTA. Em caso de criação de novo município, por desmembramento, cada uma das novas entidades responsabiliza-se pelos direitos trabalhistas do empregado no período em que figurarem como real empregador.

Eis interessantes julgados sobre intervenção municipal, nos quais o TST vem afastando a responsabilidade do interventor:

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA - INTERVENÇÃO MUNICIPAL - NÃO CONFIGURAÇÃO 1. Consoante dispõe o art. 265 do Código Civil, -a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes-. No caso dos autos, o Eg. TRT consignou que não houve sucessão de empregadores, nem assunção das responsabilidades administrativas e trabalhistas pelo ente público. Entendimento diverso, no sentido de que o Município responsabilizou-se solidariamente pelos valores devidos pela primeira Reclamada, encontra óbice na Súmula nº 126 do TST. 2. Acrescenta-se que essa Corte assentou o entendimento de que a atuação do ente público como interventor, por si só, não acarreta sua responsabilidade solidária pelos débitos trabalhistas da entidade objeto da intervenção. Precedentes. (TST-RR-130-69.2012.5.07.0027, Rel. Des. Conv. João Pedro Silvestrin, 8ª Turma, DeJT 09/05/2014)

MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE. SUCESSÃO DE EMPREGADORES. INTERVENÇÃO MUNICIPAL. O segundo Reclamado, ao atuar como interventor na primeira Reclamada, empregadora da Reclamante, por força de Decretos Municipais, visando garantir a continuidade da prestação de serviços essenciais de saúde à coletividade, não pode ser responsabilizado, de forma subsidiária, pelos haveres trabalhistas reconhecidos na presente Reclamação Trabalhista, uma vez que não há disposição de lei que determine tal responsabilidade. Precedentes da Corte. Recurso de Revista não conhecido. (TST-RR-126-32.2012.5.07.0027, Rel. Min. Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, DeJT 21/03/2014)

MUNICÍPIO DE PRAIA GRANDE. EFEITOS DO CONTRATO NULO. VALIDADE DO CONTRATO TEMPORÁRIO. SUCESSÃO DE

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EMPREGADORES. INTERVENÇÃO MUNICIPAL. O segundo Reclamado, ao atuar como interventor na primeira Reclamada, empregadora do Reclamante, por força de Decretos Municipais, visando garantir a continuidade da prestação de serviços essenciais de saúde à coletividade, não pode ser responsabilizado, de forma subsidiária, pelos haveres trabalhistas reconhecidos na presente Reclamação Trabalhista, uma vez que não há disposição de lei que determine tal responsabilidade. Precedentes da Corte. Recurso de Revista conhecido e provido. (TST-RR-85700-08.2009.5.02.0402, Rel. Min. Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, DEJT 13/12/2013)

3.9. SUCESSÃO E GRUPO ECONÔMICO.

O adquirente de empresa que integra grupo econômico não responde pelos créditos não adimplidos pelas demais empresas do grupo e que não foram adquiridas. Portanto, não haveria sucessão quanto às empresas não adquiridas, salvo em caso de fraude, que poderia ser presumida no caso de insolvência de alguma das integrantes do grupo contemporânea ou anterior à sucessão. Eis o teor da OJ 411 da SbDI-1:

OJ 411 da SbDI-1 do TST – SUCESSÃO TRABALHISTA. AQUISIÇÃO DE EMPRESA PERTENCENTE A GRUPO ECONÔMICO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO SUCESSOR POR DÉBITOS TRABALHISTAS DE EMPRESA NÃO ADQUIRIDA. INEXISTÊNCIA. O sucessor não responde solidariamente por débitos trabalhistas de empresa não adquirida, integrante do mesmo grupo econômico da empresa sucedida, quando, à época, a empresa devedora direta era solvente ou idônea economicamente, ressalvada a hipótese de má-fé ou fraude na sucessão.

3.10. SUCESSÃO E CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO.

Na concessão de serviço público, o Tribunal Superior do Superior admite a possibilidade de sucessão, mas com algumas regras específicas, entre as quais se destacam: a) a responsabilidade subsidiária do sucedido; e b) a delimitação temporal da sucessão.

Veja o que estabelece a OJ 225 da SbDI-1:

OJ 225 da SbDI-1 – CONTRATO DE CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO. RESPONSABILIDADE TRABALHISTA. Celebrado contrato de concessão de serviço público em que uma empresa (primeira concessionária) outorga a outra (segunda concessionária), no todo

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ou em parte, mediante arrendamento, ou qualquer outra forma contratual, a título transitório, bens de sua propriedade:

I - em caso de rescisão do contrato de trabalho após a entrada em vigor da concessão, a segunda concessionária, na condição de sucessora, responde pelos direitos decorrentes do contrato de trabalho, sem prejuízo da responsabilidade subsidiária da primeira concessionária pelos débitos trabalhistas contraídos até a concessão;

II - no tocante ao contrato de trabalho extinto antes da vigência da concessão, a responsabilidade pelos direitos dos trabalhadores será exclusivamente da antecessora.

3.11. SUCESSÃO E ARRENDAMENTO.

O TST vem admitindo a possibilidade de se reconhecer sucessão em caso de arrendamento, exigindo, também nesse caso, a continuidade da prestação de serviços:

CONTRATO DE ARRENDAMENTO. SUCESSÃO DE EMPRESAS. ARRENDAMENTO. O Regional manteve a condenação da segunda reclamada ao adimplemento das verbas postuladas pelo reclamante, em face da constatação de que aquela figurou como sucessora do arrendador, uma vez que, de acordo com as provas dos autos, houve transferência da administração da atividade produtiva bem como ficou comprovada a continuidade da prestação dos serviços do reclamante à recorrente. Com efeito, a controvérsia foi dirimida à luz dos artigos 10 e 448 da CLT, não sendo possível nesta instância recursal reanalisar as provas e chegar a conclusão diversa da reconhecida pelo Regional. Incidência da Súmula 126 desta Corte. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-1255-03.2010.5.09.0669, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT de 24/05/2013)

(...) DENUNCIAÇÃO DA LIDE. Não há qualquer impedimento, à luz do artigo 114 da Lei Maior, que se instaure demanda incidental com vistas a garantir a indenização por aquele que se obrigou. Assim, à luz da nova competência da Justiça do Trabalho, que não se limita pela matéria mas pela relação de trabalho e suas relações jurídicas gravitacionais conexas, não há impedimento para julgar as demandas regressivas, sendo plenamente possível a aplicação do artigo 70 do CPC. Entretanto, a questão deve ser apreciada -cum granum salis-, para que não se atente contra os

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princípios da celeridade, da economicidade e da duração razoável do processo. Na hipótese revela-se não ser aconselhável a integração do denunciado e a instauração da lide regressiva (os autos já estão em instância extraordinária), por perigo de demora na resolução do processo, com prejuízos ao Reclamante, que apresenta dependência da verba de caráter alimentar. Precedentes. Não conhecido. (...) SUCESSÃO. I) Diante das normas trabalhistas consolidadas, a sucessão trabalhista tem lugar quando há transferência de unidade econômico-jurídica e não haja solução de continuidade na prestação de serviços pelo trabalhador. II) No caso concreto, o Regional reafirma que houve tal transferência por meio da sucessão de arrendamentos e a continuidade laboral se apreende no fato de que os empregados da antiga arrendatária tiveram seus contratos de trabalho rescindido em 31.05.2001 e em 01.06.01 esses trabalhadores foram recontratados pelo Reclamado. III) Nesse cenário, é inexorável a constatação de que houve sucessão de empregadores. A mera circunstância de que o instrumento jurídico para a transferência de titularidade seja o arrendamento não afasta a possibilidade de se verificar a sucessão de empregadores. Precedentes. Não conhecido. (TST-RR-14700-13.2009.5.03.0048, Rel. Min. Emmanoel Pereira, 5ª Turma, DEJT de 28/10/11).

3.12. SUCESSÃO EM CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL.

Após alguma polêmica, o TST vem reconhecendo a possibilidade de sucessão trabalhista em caso de cartório extrajudicial. Vale notar, entretanto, que se tem exigido, como condição indispensável a continuidade na prestação de serviços, conforme se extrai dos seguintes julgados:

CARTÓRIO. SUCESSÃO TRABALHISTA. NÃO CONTINUIDADE DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. A sucessão de empregadores, a teor dos artigos 10 e 448 da CLT, pressupõe alteração significativa na estrutura interna da empresa de forma a afetar os contratos laborais. A intenção do legislador foi a de amparar o trabalhador que desconhece os negócios comerciais e que não sabe sobre quem recai a responsabilidade civil do empreendimento. Importa, portanto, resguardar os seus direitos, ainda que a ruptura contratual tenha ocorrido anteriormente à transação jurídica que ocasionou a sucessão, não olvidando, por óbvio, do direito regressivo que as empresas possuem de buscar na esfera cível as responsabilidades civis livremente pactuadas entre elas. Todavia, em se tratando de serventia cartorial, a jurisprudência desta

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Corte orienta-se no sentido de que não há se falar em sucessão de empregadores quando não houver a continuidade da relação de emprego com o novo titular do cartório. Dessa forma, sendo incontroverso nos autos não ter havido a continuidade da prestação de serviço pela reclamante ao novo titular cartorário, a aferição da alegação recursal ou da veracidade da assertiva do Regional depende de nova análise do conjunto fático-probatório dos autos, procedimento vedado nesta instância recursal, nos termos da Súmula nº 126 do TST, cuja aplicação afasta a violação legal apontada. Verifica-se, portanto, que a decisão regional foi proferida em consonância com a jurisprudência desta Corte. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-1251-98.2010.5.12.0016, Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, DeJT 21/02/2014)

CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS - FALECIMENTO DO TITULAR - DESIGNAÇÃO DE NOVO OFICIAL - SUCESSÃO DE EMPREGADORES (violação aos artigos 236, da CF, 21, da Lei 8935/94, 2º, 10 e 448, da CLT e divergência jurisprudencial). A sucessão trabalhista ocorre quando há alteração na estrutura empresarial e modificação dos empregadores, porém com a continuidade da prestação dos serviços, passando o sucessor a responder integralmente pelos débitos trabalhistas havidos antes ou após a sucessão, evitando-se desta forma prejuízos aos contratos de trabalho existentes. No caso dos cartórios extrajudiciais, o mesmo entendimento deve ser aplicado na hipótese em que o contrato não tenha sofrido solução de continuidade com a sucessão na titularidade da serventia. Ademais, os titulares de cartórios extrajudiciais são equiparados aos empregadores comuns, tendo em vista a ausência de personalidade jurídica própria dos estabelecimentos, e em face daquele ser responsável pela direção da prestação dos serviços. A simples alteração do titular da serventia não pressupõe o reconhecimento da sucessão trabalhista, quando constatada a ausência de prestação de serviços do empregado ao novo titular do Cartório. Recurso de revista conhecido e provido. Prejudicado o exame dos demais temas. (TST-RR-1076400-58.2005.5.09.0011, Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 2ª Turma, DeJT de 31/05/13)

(...) CARTÓRIO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO - SUCESSÃO DE EMPREGADORES - COMPROVADA INEXISTÊNCIA DE CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS PELO RECLAMANTE (violação aos artigos 10 e 448 da Consolidação das Leis do Trabalho e 39 da Lei nº 8.935/94 e divergência

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jurisprudencial). A sucessão trabalhista ocorre quando há alteração na estrutura empresarial e modificação dos empregadores, porém com a continuidade da prestação dos serviços, passando o sucessor a responder integralmente pelos débitos trabalhistas havidos antes ou após a sucessão, evitando-se desta forma prejuízos aos contratos de trabalho existentes. No caso dos cartórios extrajudiciais, o mesmo entendimento deve ser aplicado na hipótese em que o contrato não tenha sofrido solução de continuidade com a sucessão na titularidade da serventia, como ocorreu no presente caso. Ademais, os titulares de cartórios extrajudiciais são equiparados aos empregadores comuns, tendo em vista a ausência de personalidade jurídica própria dos estabelecimentos, e em face daquele ser responsável pela direção da prestação dos serviços. Assim, alterado o titular da serventia, e não havendo solução de continuidade no contrato de trabalho, ocorre a sucessão trabalhista nos mesmos moldes em que operados em qualquer relação de emprego. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-55500-39.2005.5.02.0020, Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 2ª Turma, DeJT de 26/03/13)

3.13. SUCESSÃO NO EMPREGO DOMÉSTICO.

Questão jurídica interessante é a da sucessão trabalhista quanto ao emprego doméstico. Em razão da natureza do empregador doméstico (pessoa física), da qual resulta a pessoalidade bilateral (tanto do ponto de vista do empregado, quanto do ponto de vista do empregador), não seria possível, em principio, reconhecer-se a sucessão trabalhista no caso dos trabalhadores domésticos, conforme se assentou nesse antigo precedente do TRT da 3ª Região:

EMPREGADO DOMÉSTICO. SUCESSÃO TRABALHISTA. A natureza das relações de trabalho doméstico exige elevada fidúcia entre as partes, bem assim pessoalidade dos contratantes, restando, portanto, inviabilizada a indiscriminada aplicação da sucessão trabalhista. (TRT-3-RO-22504/1998, Relator Juiz Fernando Antônio de Menezes Lopes, DJMG de 12/10/99)

É o que também sustentam ALICE MONTEIRO DE BARROS e GODINHO DELGADO, em pertinentes e aguçadas lições:

Dadas as peculiaridades existentes no âmbito familiar, o qual não se confunde com a empresa, e considerando-se ainda o fato de ser o doméstico trabalhador de alta confiança, encarada sob um prisma mais amplo, em que se sobressai a característica intuitu personae do ajuste, a jurisprudência não tem admitido a sucessão

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trabalhista na hipótese de morte do empregador, embora reconheça que os herdeiros devam responder pelos direitos porventura não atendidos por aquele.14

O afastamento — ou atenuação importante — da despersonalização do empregador nesta relação sociojurídica especial faz com que vicissitudes pessoais do empregador doméstico possam afetar diretamente a relação trabalhista pactuada. Nesta linha, a morte do empregador tende a extinguir, automaticamente, a relação empregatícia — a menos que a prestação laborativa mantenha-se, nos exatos mesmos moldes, perante a mesma família e unidade familiar.

Há, pois, certa pessoalidade no tocante à figura do empregador doméstico, em contraponto à regra da impessoalidade vigorante quanto aos demais empregadores. Pessoalidade apenas relativa, é claro, sem dúvida menor do que a inerente à figura do próprio empregado; porém não deixa de ser aspecto dotado de certa relevância jurídica.

Essa relativa pessoalidade que manta a figura do empregador, no âmbito da relação empregatícia doméstica, é que torna difícil a extensão à categoria dos princípios e regras da chamada alteração subjetiva do contrato (ou sucessão trabalhista — arts. 10 e 448, CLT).

De fato, em primeiro lugar, há o próprio óbice normativo encontrado no art. 7º, “a”, CLT (que inibe a aplicação da CLT aos domésticos). Além disso, existe, em segundo lugar, certa incompatibilidade teórica de ins¬titutos jurídicos, já que a sucessão trabalhista tem como um de seus fundamentos centrais o princípio da despersonalização da figura do em¬pregador — que é inaplicável à relação de emprego doméstica. A tercei¬ra incompatibilidade, relembre-se, estaria na idéia de empresa: esta é relevante à despersonalização intentada pelos artigos 10 e 448, CLT (que regulam a sucessão), ao passo que é incompatível com a noção de relação empregatícia doméstica.15

3.14. SUCESSÃO E FACTORING.

As empresas de faturização ou factoring, como são mais conhecidas, não são propriamente instituições financeiras. São entidades que prestam serviços de

14

BARROS, Alice Monteiro. Curso de Direito do Trabalho, p. 311. São Paulo: LTr. 15

Op. cit., pp. 333-334.

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assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos, administração de contas a pagar e a receber, assim como de compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços, tal como se depreende do seguinte julgado:

EMPRESA DE FACTORING - NATUREZA JURÍDICA. As empresas de factoring são aquelas que exploram as atividades de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos, administração de contas a pagar e a receber, compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços. Da definição legal, sobressai que não podem ser consideradas ou mesmo equiparadas a instituições financeiras, pois não são disciplinadas pela Lei nº 4.595/64, nem integram o Sistema Financeiro Nacional. Pela Resolução nº 2.144, o Banco Central esclarece que "qualquer operação praticada por empresa de fomento mercantil que caracterize operação privativa de instituição financeira, nos termos do art 17 da Lei nº 4.595, de 31.12.64, constitui ilícito administrativo (Lei n. 4.595, de 31/12/64) e criminal (Lei n. 7.492, de 16/6/86)". Conclui-se que tais empresas têm natureza jurídica mercantil, sendo indevidos aos seus empregados os direitos atinentes à categoria dos bancários. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-ED-RR-524464-45.1998.5.02.5555, Rel. Min. Antônio José de Barros Levenhagen, 4ª Turma, DJ de 14/05/2001)

Em decorrência de tal natureza, o TST não vem reconhecendo a

possibilidade de responsabilização, solidária ou subsidiária, de tais empresas em face do inadimplemento de obrigações trabalhistas por parte daqueles que contratam seus serviços, ressalvadas as hipóteses de fraude, conforme se depreende do seguinte julgado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. GRUPO ECONÔMICO. O Tribunal Regional registrou que a relação existente entre as três primeiras reclamadas e as três últimas, ora agravantes, excedeu o limite do objetivo da factoring, havendo, na realidade, gerência do negócio por parte das recorrentes, com interferência na direção, no controle e na administração, caracterizando a formação de grupo econômico e permitindo o reconhecimento de sua responsabilidade solidária. Diante desse contexto fático, insuscetível de revisão nesta instância extraordinária, a teor da Súmula nº 126 do TST, não é possível aferir violação literal do art. 2º, § 2º, da CLT. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-103-05.2012.5.04.0372, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT de 06/12/13)

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3.15. SUCESSÃO E INTERVENÇÃO ADMINISTRATIVA.

A jurisprudência do TST não vem admitindo a caracterização de sucessão ou, muito menos, grupo econômico em caso de intervenção administrativa por parte de entidade gestora de serviços públicos:

RECURSO DE REVISTA. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA EM VIRTUDE DA INTERVENÇÃO TEMPORÁRIA DA SPTRANS NAS ATIVIDADES DA EMPRESA. Mesmo no período em que atuou como interventora da primeira reclamada (Viação Cidade Tiradentes Ltda.), não é a SPTrans responsável pelas verbas trabalhistas, visto a intervenção administrativa não caracterizar a sucessão de empregadores, ante a ausência de mudança na estrutura jurídica da sociedade concessionária e ante o fato de que tal ação teve por objetivo evitar a interrupção dos serviços públicos de transporte. A SPTrans é mera gestora dos serviços gerais de transportes públicos na cidade de São Paulo e, como tal, limita-se a assegurar, fiscalizar e exigir a prestação de serviços de transporte à população por parte das contratadas, não se configurando a responsabilidade subsidiária. Há precedentes. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR- 199600-94.2003.5.02.0008, Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, DeJT de 25/10/2013)

[...] CONTRATO DE CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO DE TRANSPORTE COLETIVO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA EM VIRTUDE DA INTERVENÇÃO TEMPORÁRIA DA SPTRANS NAS ATIVIDADES DA EMPRESA. A SPTRANS, gerenciadora dos serviços de transporte urbano, não é tomadora dos serviços do empregado, não podendo, assim, ser responsabilizada por eventual condenação judicial ao contratado. Não há como se confundir a figura da terceirização com a da concessão. Também não há que se falar em responsabilidade solidária da SPTRANS relativa ao período em que houve sua intervenção na primeira reclamada, pois não se trata de sucessão trabalhista ou de formação grupo econômico, mas de intervenção administrativa da SPTRANS, como empresa gestora dos serviços de transporte público do município, tendo em vista a continuidade da prestação dos serviços públicos. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-ARR-119200-67.2004.5.02.0070, Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, DeJT de 25/05/2012)

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4. GRUPO ECONÔMICO. 4.1. DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS.

A definição de grupo econômico encontra-se na própria CLT, no art. 2º, §

2º, segundo o qual:

CLT, 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.

(...)

§ 2º - Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas.

Assim, o grupo econômico é caracterizado pela existência de uma ou

mais empresas (B, C, D e E), as quais, embora tenha, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estariam sob a direção, controle ou administração de outra (empresa líder – A), constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica.

Vale notar que a Lei das Sociedades Anônimas (Lei 6.404/76) assim

define as figurada das controladas e coligadas:

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Esta noção da CLT partia da premissa de que as empresas do grupo

estavam sob o domínio de uma outra. Logo, havia uma necessidade de coordenação com base em hierarquia (conhecido como grupo vertical).

Entretanto, o desenvolvimento do direito do trabalho e o incremento de

interpretações que aumentassem a segurança do trabalhador fizeram com que a leitura da CLT fosse mudada para melhor atender a intenção do legislador (proteger o hipossuficiente). Esta preocupação ficou ainda mais visível no art. 3º da Lei 5889/73, quando trata no § 2º do grupo econômico rural:

Lei 5889/73, 3º, § 2º - Sempre que uma ou mais empresas, embora tendo cada uma delas personalidade jurídica própria, estiverem sob direção, controle ou administração de outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo econômico ou financeiro rural, serão responsáveis solidariamente nas obrigações decorrentes da relação de emprego.

A lei reconhece ser possível haver grupo econômico mesmo quando as

empresas possuem autonomia entre si (grupo horizontal). Neste contexto, o elemento que justifica a existência do grupo é a coordenação entre as empresas. Assim, se várias empresas independentes entre si tiveram o mesmo sócio-administrador, deve-se reconhecer a existência de grupo econômico. E mesmo que não tenham a mesma pessoa física administradora, se as empresas se unem para exercer uma atividade econômica em conjunto (consórcio), os empregados envolvidos nesta atividade podem responsabilizar quaisquer das empresas, ainda que sejam empregados registrados em

CONTROLADAS

•Sociedade na qual a controladora, diretamente ou através de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores (§ 2º do art. 243)

COLIGADAS

•Sociedades, quando uma participa, com 10% (dez por cento) ou mais, do capital da outra, sem controlá-la (§ lº do art. cit.).

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apenas uma delas. Trata-se que de posição consograda pelo TST já de algum tempo, consoante se infere do seguinte julgado de 2003:

CISÃO DE EMPRESAS - SOLIDARIEDADE - AGRAVO. Tendo o Regional, com base na prova, ressaltado que, antes da cisão, todo o patrimônio da empresa cindida respondia pelas obrigações trabalhistas, e que inexistiu nenhuma limitação, por força de protocolo, quanto a direitos e obrigações por parte de cada empresa originária da cisão, criadas com objetivo de dar continuidade ao empreendimento, razoável se revela a interpretação que o Regional deu aos arts. 229 e 233 da Lei nº 6.404/76 e arts. 10 e 448 da CLT. Razoável a interpretação dada aos dispositivos legais em exame, especialmente considerando-se a alteração da estrutura da empresa, em decorrência de sua cisão, e o fato de que o grupo econômico, que tanto pode ser hierarquizado, quando uma empresa ou pessoa física controla as demais, quanto em sentido horizontal, quando os titulares, sócios e/ou acionistas, são os mesmos nas várias empresas. Agravo não provido. (TST-A-E-RR-490598-51.1998.5.09.5555, Rel. Min. Milton de Moura França, SbDI-1, DeJT de 19/09/03)

Na mesma direção seguem precedentes mais recentes:

EXECUÇÃO - REDIRECIONAMENTO - SUCESSÃO - GRUPO ECONÔMICO. A discussão está centrada na possibilidade, ou não, do redirecionamento da execução contra terceira empresa e sócio, para satisfazer execução nos autos da ação principal e supostamente não componente de grupo empresarial. Acontece que o quadro fático descrito pelo Tribunal Regional revela que a agravante, Padilla Indústrias Gráficas S.A., faz parte do grupo econômico da empresa Araguaia Indústria Gráfica e Editora Ltda., na medida em que as empresas têm sócios comuns e exercem atividade econômica correlata, ficando configurada a relação de coordenação horizontal entre as pessoas jurídicas, caracterizando-se a formação do grupo econômico e, por consequência, a responsabilidade solidária pelo passivo trabalhista, nos termos do artigo 2º, § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho. Logo, para se chegar à conclusão diversa, necessário seria o revolvimento de fatos e provas procedimento vedado nesta esfera extraordinária nos termos da Súmula nº 126 do TST. Nesse sentido, o exame da matéria fica vedado a esta Corte, pois eventual ofensa ao art. 5º, LIV e LV, da Constituição Federal só ocorreria de forma reflexa ou indireta (art. 896, § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho, c/c a Súmula nº 266 desta Corte). De fato, primeiro seria necessário demonstrar-se ofensa à

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legislação ordinária (artigos 2º, § 2º, 10 e 448 da Consolidação das Leis do Trabalho). Agravo de instrumento não provido. (TST-AIRR-114600-04.2006.5.02.0047, Rel. Des. Conv. Maria das Graças Silvany Dourado Laranjeira, 2ª Turma, DeJT 31/05/2013)

Não é necessária a existência de qualquer forma empresarial específica,

como holding, pools etc. Todavia, é preciso que as empresas desempenhem atividades econômicas. Não há grupo econômico entre pessoas jurídicas sem fins econômicos (como um grupo de associações ou sindicatos, por exemplo).

Vale notar que a jurisprudência do TST tem reconhecido, entretanto a

possibilidade de caracterização de grupo econômico (que alguns denominam misto ou híbrido) formado por entidades com fins econômicos (como bancos) e entidades sem fins econômicos (como fundações por eles mantidos):

(...) GRUPO ECONÔMICO. ENTIDADES SEM FINS LUCRATIVOS, MAS QUE SE INTEGRAM, SOB VÁRIAS DIMENSÕES, À DINÂMICA DAS OUTRAS ENTIDADES COM FINS LUCRATIVOS, CONFIGURANDO, NO CONJUNTO, GRUPO ECONÔMICO. EXCEÇÃO À REGRA EXCLUDENTE DO GRUPO. A ordem justrabalhista delimita claramente o tipo de sujeito de direito que pode compor a figura do grupo econômico. O componente do grupo não pode ser qualquer pessoa física, jurídica ou ente despersonificado; não se trata de qualquer empregador, mas somente certo tipo de empregador, diferenciado dos demais em função de sua atividade econômica. O que quer a lei é que o sujeito jurídico componente do grupo econômico para fins justrabalhistas consubstancie essencialmente um ser econômico, uma empresa. O caráter e os fins econômicos dos componentes do grupo surgem, assim, como elementos qualificadores indispensáveis à emergência da figura aventada pela ordem jurídica trabalhista. Em face dessa qualidade específica exigida pela ordem jurídica ao membro do grupo, não têm aptidão para compor a figura do grupo econômico entes que não se caracterizem por atuação econômica, que não sejam essencialmente seres econômicos, que não consubstanciem empresas. O caso em análise, entretanto, evidencia notável exceção à regra excludente do grupo econômico para fins justrabalhistas. É que ficou constatado, no caso dos autos, que a primeira Reclamada, Fundação de Ensino e Tecnologia de Alfenas - FETA, e a segunda Reclamada, Universidade José do Rosário Vellano - UNIFENAS, estavam sob a mesma administração, com direção hierárquica daquela sobre esta. Ficou ainda comprovado que os empregados da FETA, inclusive a Reclamante, foram transferidos para a UNIFENAS, sem qualquer prejuízo para os seus contratos de trabalho. Ficou constatado, outrossim, que a terceira

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Reclamada, Rádio Atenas Ltda., e a quarta Reclamada, Atenas Assessoria e Consultoria Ltda., embora possuam finalidade lucrativa, também estavam sob a mesma administração, e que a Reclamante atuava na Central de Jornalismo da Universidade como repórter, também executando locução de programas gravados em áudio. Por esse conjunto fático largamente demonstrado pela decisão recorrida, deve ser reconhecido que a FETA e a UNIFENAS compunham grupo econômico. Isso porque, embora constituídas para exercer atividades sem fins lucrativos, as entidades destacaram à Reclamante o desempenho de atividades de cunho econômico, não podendo se beneficiar por terem agido em desvio à finalidade para as quais foram constituídas. Ainda que se diga que as atividades da Reclamante não se desviaram dos fins da primeira Reclamada e da segunda Reclamada, a solidariedade entre estas se justifica em razão da extensão do poder empregatício por além da específica empregadora, evidenciada pela transferência de trabalhadores da primeira Reclamada para a segunda Reclamada sem qualquer prejuízo para os contratos de trabalho. Demonstrados os elementos de integração interempresarial de que trata o art. 2º, §2º, da CLT, as Reclamadas devem responder solidariamente pelo adimplemento do crédito da trabalhadora. Recurso de revista não conhecido, no aspecto. (TST-RR-103600-86.2008.5.03.0086, Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, DeJT de 25/05/2012)

Mas o que é mais relevante recordar é que, atualmente, seja para

trabalhador urbano, seja para rural, a Justiça do Trabalho interpreta a existência de grupo com base na mera coordenação interempresarial, não sendo necessário que haja efetivamente submissão de uma empresa a outra empresa. 4.2. ELEMENTOS

Como elementos utilizados para caracterização do grupo econômico, tem

sido invocados os seguintes colhidos da doutrina e jurisprudência:

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Apenas a título ilustrativo, seguem alguns julgados do TST sobre tais elementos:

GRUPO ECONÔMICO. CARACTERIZAÇÃO. REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO CONTRA EMPRESAS PERTENCENTES AO GRUPO. VIOLAÇÃO DO CONTRADITÓRIO E DO DIREITO DE DEFESA. A decisão regional, calcada no acervo probatório dos autos, concluiu que as recorrentes pertenciam ao mesmo grupo econômico da 1ª executada. Por isso, não desafia o processamento do apelo a alegação de cerceamento de defesa e do contraditório, porquanto a decisão regional está calcada em normas de índole infraconstitucional, que preveem a responsabilidade solidária das empresas pertencentes ao mesmo grupo econômico, mormente no caso dos autos, em que restou configurada a identidade de sócio, bem como a existência de coordenação. Acresça-se, ainda, que o contraditório e a ampla defesa foram devidamente assegurados dentro das regras procedimentais que regem o processo de execução. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-115700-21.2006.5.03.0029, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DEJT de 16/11/12)

GRUPO ECONÔMICO. CONFIGURAÇÃO. CONTROLE EMPRESARIAL FAMILIAR. Não se vislumbra a violação do art. 2º, §2º, da CLT, haja vista que a Corte Regional considerou a existência de indiscutível grupo empresarial familiar. Certo afirmar que os requisitos dispostos no preceito legal invocado não se subsumem à evidência formal indiscutível de administração ou ingerência de uma empresa sobre a outra, uma vez constatado o imbróglio familiar na administração majoritária do grupo empresarial, informalmente constituído, nos moldes permitidos pelo artigo 131 do CPC. Assim, diante da majoritária jurisprudência e do entendimento de que não

Participação acionária

Membros diretoria

Interferência gestão

Sócios comuns

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é condição sine qua non a comprovação formal de ingerência de uma empresa sobre a outra, para a caracterização do grupo econômico, entendo que basta que haja indícios de coordenação entre as empresas, com o mesmo intuito. Precedentes. (TST-RR-182400-55.2006.5.02.0045, Relator Ministro: Pedro Paulo Manus, 7ª Turma, Data de Publicação: 14/09/2012)

É de se ressaltar, entretanto, que a mera identidade parcial de sócios não

pode, de per si, acarretar a configuração de grupo econômico, consoante recorda o seguinte precedente:

GRUPO ECONÔMICO. O Tribunal Regional, soberano na análise do conjunto probatório, deliberou não ter sido comprovado que as reclamadas VIAÇÃO AGULHAS NEGRAS e VIAÇÃO PINHEIRAL pertencem ao mesmo grupo econômico. Ponderou que a existência de um sócio em comum não basta à caracterização dessa figura e observou que, de 2000 a 2007, a segunda empresa esteve sob administração judicial, circunstância que afastou o aludido sócio da sua administração. Nos termos em que foi colocado, o acórdão recorrido não ofendeu a literalidade do artigo 2º, § 2º, da CLT. A constatação de que a hipótese dos autos se enquadra na situação prevista neste dispositivo esbarra no teor da Súmula nº 126 desta Corte, pois demanda o revolvimento dos fatos e das provas. Recurso de revista de que não se conhece. (TST-RR-70300-06.2005.5.01.0342, Rel. Min. Pedro Paulo Manus, 7ª Turma, DeJT 01/07/2011)

4.3. MODALIDADES

As duas principais modalidades de grupo econômico são as já mencionadas:

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O grupo economico horizontal poderia ser assim representado,

graficamente:

Já o grupo econômico vertical poderia ser ilustrado do seguinte modo:

Note-se que o TST, como visto, vem reconhecendo tanto os grupos econômicos verticais como os horizontais, valendo-se, inclusive, dessa terminologia:

Horizontal

• Lei 5.889/71, 3º, § 2º

• Coordenação

• Interesses comuns

Vertical

• CLT, 2º

• Subordinação

• Controle

PJ 4 PJ 3 PJ 2 PJ 1

PJ 1

PJ 2

PJ 3

PJ 4

PJ 5

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(...) EXECUÇÃO - REDIRECIONAMENTO - SUCESSÃO - GRUPO ECONÔMICO. A discussão está centrada na possibilidade, ou não, do redirecionamento da execução contra terceira empresa e sócio, para satisfazer execução nos autos da ação principal e supostamente não componente de grupo empresarial. Acontece que o quadro fático descrito pelo Tribunal Regional revela que a agravante, Padilla Indústrias Gráficas S.A., faz parte do grupo econômico da empresa Araguaia Indústria Gráfica e Editora Ltda., na medida em que as empresas têm sócios comuns e exercem atividade econômica correlata, ficando configurada a relação de coordenação horizontal entre as pessoas jurídicas, caracterizando-se a formação do grupo econômico e, por consequência, a responsabilidade solidária pelo passivo trabalhista, nos termos do artigo 2º, § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho. Logo, para se chegar à conclusão diversa, necessário seria o revolvimento de fatos e provas procedimento vedado nesta esfera extraordinária nos termos da Súmula nº 126 do TST. Nesse sentido, o exame da matéria fica vedado a esta Corte, pois eventual ofensa ao art. 5º, LIV e LV, da Constituição Federal só ocorreria de forma reflexa ou indireta (art. 896, § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho, c/c a Súmula nº 266 desta Corte). De fato, primeiro seria necessário demonstrar-se ofensa à legislação ordinária (artigos 2º, § 2º, 10 e 448 da Consolidação das Leis do Trabalho). Agravo de instrumento não provido. (TST-AIRR-114600-04.2006.5.02.0047, Rel. Desembargadora Convocada Maria das Graças Silvany Dourado Laranjeira, 2ª Turma, DeJT 31/05/2013)

4.4. TEORIA DO EMPREGADOR ÚNICO

Um ponto costuma ser explorado nas provas quanto a esse assunto: Se o

empregado de uma das empresas do grupo prestar serviços a mais de uma empresa do mesmo grupo, durante a mesma jornada de trabalho, o contrato individual de trabalho, ainda assim, será considerado único, o que está na Súmula 129 do TST:

Súmula 129 do TST – CONTRATO DE TRABALHO. GRUPO ECONÔMICO. A prestação de serviços a mais de uma empresa do mesmo grupo econômico, durante a mesma jornada de trabalho, não caracteriza a coexistência de mais de um contrato de trabalho, salvo ajuste em contrário.

É nesse contexto que se identifica a teoria do empregador único, que se apoia na chamada solidariedade dual das empresas integrantes do grupo econômico, a qual se desdobraria em duas perspectivas:

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Deve-se recordar que, na jurisprudência mais recente do TST, tem-se

acolhido a teoria do empregador único (ao menos, parcialmente), conforme se vê do seguinte precedente:

GRUPO ECONÔMICO. TEORIA DO EMPREGADOR ÚNICO. TRANSFERÊNCIA PARA O EXTERIOR. UNICIDADE CONTRATUAL. INEXISTÊNCIA DE SUSPENSÃO CONTRATUAL. A figura do -grupo econômico-, prevista no artigo 2º, § 2º, da CLT, ao mesmo tempo em que faculta ao empregado a possibilidade de cobrar a integralidade do crédito trabalhista de qualquer dos componentes do grupo, permite que estes se valham do labor do obreiro sem que haja a necessidade de formalização de vários contratos de emprego. Isso significa dizer que os membros do grupo econômico são, a um só tempo, empregadores e garantidores dos créditos trabalhistas decorrentes do contrato de trabalho firmado com um dos componentes do grupo. É o que a doutrina denominou de -Teoria do Empregador Único-, em que as empresas integrantes de um mesmo grupo econômico consubstanciam um único empregador em face dos contratos de trabalho por elas firmados. Sendo assim, levando em consideração que a reclamada (SIEMENS LTDA.) e a SIEMENS ITÁLIA fazem parte do mesmo grupo econômico (premissa fática inconteste à luz da Súmula nº 126), o fato de o reclamante ter sido cedido temporariamente para trabalhar no exterior (para a SIEMENS ITÁLIA) não implica suspensão contratual, uma vez que esta pressupõe a cessação da prestação de serviços e da contraprestação pecuniária, a qual não

PASSIVA

• Responsabilidade solidária de todas as empresas que compõem o grupo

ATIVA

• Possibilidade de qualquer das empresas do grupo exigir a prestação de serviços por parte dos empregados das demais empresas

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restou caracterizada na hipótese dos autos, já que houve continuidade na prestação de serviços pelo reclamante perante outra empresa no exterior, integrante do mesmo grupo econômico da reclamada e, por conseguinte, também empregadora, segundo a -Teoria do Empregador Único-, com a correspondente contraprestação pecuniária. Impõe-se, assim, o afastamento da suspensão do contrato de trabalho do reclamante, ante o reconhecimento da unicidade contratual pleiteada, e o retorno dos autos ao egrégio Tribunal de origem, para que reexamine os pedidos anteriormente negados sob o enfoque da existência de suspensão contratual. Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-823800-19.2007.5.09.0029, Rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, 2ª Turma, DeJT de 01/06/12)

TERCEIRIZAÇÃO. EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES. SERVIÇO DE CALL CENTER. ATIVIDADE-FIM. GRUPO ECONÔMICO. TEORIA DO EMPREGADOR ÚNICO. VÍNCULO DE EMPREGO. DESFUNDAMENTADO. In casu, nota-se que as reclamadas, em clara desatenção ao decidido pela egrégia Corte Regional, não impugnaram o fundamento do v. acórdão regional de configuração do grupo econômico e de aplicação da teoria do empregador único, também ensejadora do reconhecimento do vínculo de emprego entre a segunda reclamada (TELEMAR) e o reclamante. A ausência de impugnação a tal fundamento demonstra, pois, que os recursos de revista se encontram, no ponto, desfundamentados, incidindo, na espécie, a Súmula nº 422. Aplicação analógica, ainda, da Súmula nº 283 do STF. Recursos de revista não conhecidos. (TST-RR-1283-79.2010.5.03.0008, Rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, 2ª Turma, DEJT 19/12/2013)

Contudo, tal teoria não tem sido levada às ultimas consequências, tendo em vista que, por exemplo, a jurisprudencia predominante do TST segue no sentido de não admitir a possibilidade de equiparação salarial quando o paradigma trabalha para empresa diversa, ainda que integrante do mesmo grupo econômico do empregador do paragonado:

(...) EQUIPARAÇÃO SALARIAL. GRUPO ECONÔMICO. EMPRESAS DISTINTAS. RECURSO DE REVISTA PARCIALMENTE PROVIDO. REQUISITO MESMO EMPREGADOR. O fato de o reclamante e o empregado paradigma prestarem serviços a empresas distintas, ainda que integrantes do mesmo grupo econômico, impede o deferimento da equiparação salarial, notadamente quando o trabalho se realiza, independente do grupo, diretamente a uma e outra empresa integrante do grupo econômico, em locais diversos, com distinção de trabalho e função. Isso porque as empresas que formam o grupo econômico constituem empregadores distintos,

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têm personalidade jurídica própria, com organização e estrutura funcional independentes, impossibilitando a presença da identidade funcional, exigida por lei para o reconhecimento do direito à equiparação salarial. Todavia, diante da existência de trabalho direto ao grupo econômico, não é possível afastar o direito à equiparação salarial apenas pelo aspecto formal relativo ao contrato de trabalho realizado com empresas distintas, em face de paragonado e paradigma. Necessário verificar os requisitos do art. 461 da CLT, exatamente como entendeu a c. Turma, já que o conceito de mesmo empregador também pode alcançar o trabalho dirigido diretamente ao grupo econômico, quando efetivamente no local da prestação de serviços existe atribuição e função idêntica. Embargos conhecidos e desprovidos. (TST-E-ED-RR-30-24.2010.5.02.0254, Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, SbDI-1, DeJT 14/06/2013)

[...] EQUIPARAÇÃO SALARIAL. EMPRESAS INTEGRANTES DE GRUPO ECONÔMICO. O entendimento sedimentado nesta Corte Superior é no sentido da impossibilidade de reconhecimento de equiparação salarial entre empregados que trabalham para empresas diversas, ainda que pertencentes ao mesmo grupo econômico, porquanto, nessa hipótese, está ausente a identidade de empregador exigida no art. 461, caput, da CLT. Embora a Varig e a Rio-Sul tenham unificado suas malhas aéreas, não há notícia de que o Reclamante (empregado da Rio-Sul) tenha prestado serviços também à Varig, pois, no acórdão regional, não está inteiramente esclarecida a extensão dessa unificação (não consta da decisão recorrida se ela consistiu no compartilhamento, por ambas as empresas, de rotas, aeronaves e/ou empregados). Assim, não se verifica a identidade de empregador exigida para efeito de equiparação. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. (TST-ARR-112600-63.2007.5.04.0007, Rel. Min. Fernando Eizo Ono, 4ª Turma, DeJT 23/08/2013)

Vale notar que, excepcionalmente, a jurisprudência do TST admite a equiparação salarial nessa hipótese, quando há fraude ou o trabalho prestado beneficia o grupo economico e não apenas o empregador formal:

EQUIPARAÇÃO SALARIAL. GRUPO ECONÔMICO. EMPRESAS DISTINTAS. Na esteira da jurisprudência da SBDI-1 do TST, constado que o labor do Reclamante e do paradigma favorecia diretamente o grupo econômico, sobretudo em razão da natureza dos serviços executados dentro da mesma agência bancária, além de evidenciados os demais pressupostos do art. 461 da CLT, cabe reconhecer a equiparação salarial, a despeito de, formalmente, Autor e paradigma serem empregados de empresas distintas

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integrantes do mesmo grupo econômico. Precedentes. Recurso de Revista parcialmente conhecido e provido. (TST-RR-131000-35.2005.5.03.0004, Rel. Min. Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, DeJT 08/11/2013)

EQUIPARAÇÃO SALARIAL. GRUPO ECONÔMICO. EMPRESAS DISTINTAS. Apesar de nesta Corte superior existir o entendimento segundo o qual as empresas que formam o grupo econômico constituem empregadores distintos, o que impede a equiparação salarial pelo fato de não haver identidade funcional, no caso concreto, embora tenha havido o reconhecimento do vínculo empregatício da reclamante com empregador diverso do paradigma, houve a comprovação de que, em verdade, o serviço prestado por ambas se deu em favor do grupo econômico (empregador único), restando preenchidos todos os requisitos do art. 461 da CLT para o deferimento do direito postulado. Precedentes. Nesse contexto, descabe cogitar de violação do art. 461, caput e § 1º, da CLT. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-2084-34.2011.5.03.0113, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DeJT 04/10/2013)

Ainda quanto à possibildiade de mitigar teoria do empregador único, pode ser citado um último exemplo concernente à estabilidade em caso de extinção de empresa integrante de grupo econômico, quanto à qual o seguinte julgado entendeu não ser possível a imposição de absorção do empregado estável por parte de outra empresa do grupo econômico:

ESTABILIDADE PROVISÓRIA. MEMBRO DA CIPA. EXTINÇÃO DO ESTABELECIMENTO. FUNCIONAMENTO, NA MESMA LOCALIDADE, DE OUTRAS EMPRESAS DO MESMO GRUPO ECONÔMICO. Não há obrigação legal para que outra empresa, ainda que do mesmo grupo econômico, absorva o empregado cipeiro quando o empregador extinguiu o estabelecimento e encerrou suas atividades. Especialmente no caso dos autos, em que se extrai que cada uma das outras empresas do mesmo grupo econômico possuíam membros distintos da CIPA, -sendo deliberadas matérias em assembleia separadamente e de acordo com os interesses específicos de cada grupo de empregados-. Incidência da Súmula nº 339, II, do TST, no sentido de que -A estabilidade provisória do cipeiro não constitui vantagem pessoal, mas garantia para as atividades dos membros da CIPA, que somente tem razão de ser quando em atividade a empresa. Extinto o estabelecimento, não se verifica a despedida arbitrária, sendo impossível a reintegração e indevida a indenização do período estabilitário. (ex-OJ nº 329 - DJ 09.12.2003)". Recurso de revista conhecido e provido. (TST-RR-

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135000-04.2009.5.09.0673, Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, DeJT 06/09/2013)

4.5. RESPONSABILIDADE

Ressalte-se ainda que a responsabilidade pelos créditos trabalhistas dos

empregados de qualquer empresa do grupo é solidária (todos respondem simultaneamente, podendo ser cobrada toda a dívida de qualquer um), não subsidiária (em que é necessário primeiro tentar executar o responsável principal e, depois, o subsidiário), em relação a todas as empresas que integram o grupo econômico, conforme prevê a parte final do art. 2º, § 2º, da CLT.

Um dos consectários da solidariedade, de acordo com a jurisprudência

do TST, é a desnecessidade de inclusão no pólo passivo na fase de conhecimento, que resultou no cancelamento da Súmula 205 do TST, de seguinte teor:

Súmula 205 do TST – GRUPO ECONÔMICO. EXECUÇÃO. SOLIDARIEDADE (cancelada). O responsável solidário, integrante do grupo econômico, que não participou da relação processual como reclamado e que, portanto, não consta no título executivo judicial como devedor, não pode ser sujeito passivo na execução.

Eis um precedente que ilustra a tese de que seria possivel o

reconhecimento da solidariedade na execução:

GRUPO ECONÔMICO. INTEGRAÇÃO AO POLO PASSIVO NA FASE DE EXECUÇÃO. OFENSA AO CONTRADITÓRIO, À AMPLA DEFESA E AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO. Uma vez reconhecida a existência de grupo econômico entre pessoas jurídicas, a inclusão no polo passivo da demanda de empresa a ele pertencente apenas na fase de execução não caracteriza, por si só, ofensa aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Precedentes. Ressalte-se que a agravante teve a oportunidade de exercer o contraditório e a ampla defesa, em face da decisão que a incluiu no polo passivo da lide, por meio do manejo dos embargos de terceiros, do agravo de petição, do recurso de revista e do presente agravo de instrumento, de modo que não está configurada a violação do artigo 5º, LIV e LV, da Constituição Federal. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST-AIRR-1488-93.2011.5.02.0043, Rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, 7ª Turma, DeJT 25/04/2014)

[...] GRUPO ECONÔMICO. DECISÃO DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO. O cancelamento da Súmula 205 do TST tornou viável a constatação de grupo econômico na fase tipicamente

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executória. Tal viabilidade não é, certamente, absoluta, sob pena de grave afronta aos princípios constitucionais do contraditório e do devido processo legal. É claro que ela desponta quando a prova da existência do grupo for sumária, evidente, prescindindo de cognição complexa (como, por exemplo, pelas vinculações manifestas nos contratos sociais entre as diversas empresas). Demonstrada, como na presente hipótese, a configuração do grupo econômico, a inserção da Executada, já na fase de execução, não implica afronta ao art. 5º, LV, da CF. Assim, não há como assegurar o processamento do recurso de revista quando o agravo de instrumento interposto não desconstitui as razões expendidas na decisão denegatória, que subsiste por seus próprios fundamentos.Agravo de instrumento desprovido. (TST-AIRR-197400-47.2000.5.15.0012, Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, DeJT de 27/04/12)

Daí decorre que o eventual reconhecimento da existência de grupo

economico afasta a legitimidade de empresa integrante do grupo propor embargos de terceiro, consoante recorda o seguinte precedente do TST:

EXECUÇÃO. EMBARGOS DE TERCEIRO. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. O Tribunal a quo registrou que a terceira embargante não detém legitimidade ativa ad causam para a presente demanda, tendo em vista que foi reconhecida como parte integrante do grupo econômico no processo de execução. Não se constata, portanto, ofensa aos incisos XXXV e LV do artigo 5º da Constituição Federal, na medida em que não houve negativa de acesso ao judiciário, tampouco inobservância do contraditório e da ampla defesa, mormente porque referidas garantias constitucionais não isentam a parte de observar a legislação processual vigente, in casu, o art. 1.046 do CPC. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-1678-25.2011.5.01.0321, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8ª Turma, DEJT 05/05/2014)

5. CONSÓRCIO DE EMPREGADORES.

A previsão legal do consórcio de empregadores, no meio rural, encontra-se no art. 25-A da Lei 8.212/91 (Incluído pela Lei 10.256/01):

Art. 25-A. Equipara-se ao empregador rural pessoa física o consórcio simplificado de produtores rurais, formado pela união de produtores rurais pessoas físicas, que outorgar a um deles poderes para contratar, gerir e demitir trabalhadores para prestação de

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serviços, exclusivamente, aos seus integrantes, mediante documento registrado em cartório de títulos e documentos.

§1º. O documento de que trata o caput deverá conter a identificação de cada produtor, seu endereço pessoal e o de sua propriedade rural, bem como o respectivo registro no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA ou informações relativas a parceria, arrendamento ou equivalente e a matrícula no Instituto Nacional do Seguro Social – INSS de cada um dos produtores rurais.

§2º. O consórcio deverá ser matriculado no INSS em nome do empregador a quem hajam sido outorgados os poderes, na forma do regulamento..

§3º. Os produtores rurais integrantes do consórcio de que trata o caput serão responsáveis solidários em relação às obrigações previdenciárias.

Quanto à possibilidade de extensão da figura do consórcio de

empregadores ao meio urbano, há diversos autores que a sustentam, como é o caso de RICARDO TADEU MARQUES DA FONSECA E MAURÍCIO GODINHO DELGADO:

Não há qualquer razão para se considerar circunscrita a idéia do consórcio de empregadores exclusivamente à área rural. Onde quer que haja necessidade diversificada de força de trabalho, na cidade e no campo, com descontinuidade diferenciada na prestação laborativa, segundo as exigências de cada tomador de serviços, pode o consórcio de empregadores surgir como solução jurídica e eficaz, ágil e socialmente equânime. De fato, ela é apta a não somente atender, de modo racional, às exigências dinâmicas dos consorciados, como também assegurar, ao mesmo tempo, um razoável patamar de cidadania jurídico-econômica aos trabalhadores envolvidos(...).16

Na mesma direção tem seguido a jurisprudencia do Tribunal Superior do Trabalho:

(...) CONSÓRCIO DE EMPREGADORES URBANOS. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 25-A DA LEI Nº 8.212/1991. REQUISITOS PARA CONFIGURAÇÃO. 1.1. O consórcio de empregadores é figura relativamente nova no direito brasileiro e encontra regulação restrita ao ambiente rural. Sua institucionalização atende aos anseios não só dos empregadores,

16

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho, pp. 414-416. São Paulo: LTr, 2002.

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mas, também, àqueles dos trabalhadores, a uns e outros resguardando contra vicissitudes decorrentes das atividades peculiares ao campo, naturalmente descontínuas. O instituto, como regrado, responde aos comandos constitucionais de respeito à dignidade da pessoa humana e de valorização social do trabalho e da livre iniciativa, dignificando a pessoa do trabalhador e garantindo o pleno emprego, além de outorgar segurança jurídica (Constituição Federal, arts. 1º, III e IV, 7º, 170, VIII e 193). 1.2. Cumpre anotar, no entanto, que, para o meio rural, a efetividade da proteção jurídica depende - agora, inclusive, sob o interesse previdenciário - de que sejam materializados os requisitos fixados pelas normas que regulam a espécie. O consórcio simplificado de produtores rurais, -formado pela união de produtores rurais pessoas físicas, que outorgar a um deles poderes para contratar, gerir e demitir trabalhadores para prestação de serviços, exclusivamente, aos seus integrantes-, ganhará corpo com o pacto de solidariedade (Código Civil, art. 256), registrado em cartório de títulos e documentos e que -deverá conter a identificação de cada produtor, seu endereço pessoal e o de sua propriedade rural-, também com o -respectivo registro no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA ou informações relativas a parceria, arrendamento ou equivalente e a matrícula no Instituto Nacional do Seguro Social - INSS de cada um dos produtores rurais-. Ainda: -o consórcio deverá ser matriculado no INSS em nome do empregador a quem hajam sido outorgados os poderes, na forma do regulamento- (Lei nº 8212/91, art. 25-A). 1.3. Afirma-se a possibilidade de extensão analógica do consórcio de empregadores ao meio urbano. Por expressa dicção legal (CLT, art. 8º), deve o Direito do Trabalho socorrer-se da analogia, atendendo aos fins sociais da norma aplicada e às exigências do bem comum. Tal processo imprescinde de lacuna no ordenamento, de molde que, em situações semelhadas e com olhos postos na mutação dos fatos, permita-se a evolução do Direito e ampla atenção aos fenômenos sociais, sempre garantida a integridade dos princípios e direitos fundamentais aplicáveis e a coerência da ordem jurídica. Embora admissível a trasladação do instituto, não será lícito autorizar-se-lhe a despir-se de todos os seus requisitos essenciais durante o trajeto. É fundamental que as mesmas formalidades exigíveis para o universo rural persistam no urbano. A solidariedade não se presume (Código Civil, art. 296): sem a adoção dos protocolos exigidos em Lei, o modelo jurídico apegar-se-ia aos estatutos corriqueiros, instalando-se dúvidas quanto à titularidade, natureza e extensão de direitos e obrigações, com a iminência de vastos prejuízos e a consequente perda de todas as benesses já descritas. A aplicação analógica das normas de

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regência do modelo há se de fazer pela sua inteireza. Recurso de revista não conhecido. (TST-ARR-104300-96.2010.5.23.0066, Rel. Min. Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DeJT de 14/06/13)

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. CONSÓRCIO DE EMPREGADORES. CONFIGURAÇÃO. Na hipótese dos autos, o Regional, manteve a responsabilidade solidária das reclamadas, na medida em que o conjunto probatório dos autos, mais especificamente as provas documental e testemunhal, evidenciaram a existência de consórcio entre as empresas. Consignou o Regional que o autor, em sua petição inicial, colacionou um documento emitido pela segunda reclamada, Siemens Ltda., que continha a afirmação de -ser ela 'líder do consórcio que envolve a NM Service' (f. 34), bem como ata de reunião relativa a 'RESULTADO DO PROGRAMA DE PARTICIPAÇÃO NOS RESULTADOS PARA OS EMPREGADOS DO CONSÓRCIO SIEMENS e NM Service' (fs. 65/67)- e que, sobre esse documento, as reclamadas não apresentaram nenhuma justificativa plausível a afastar a veracidade das informações ali contidas. Desse modo, estando comprovada a existência de consórcio entre as empresas reclamadas, deve, de fato, ser mantida a responsabilidade solidária de ambas. Para se concluir de forma diversa, como pretende a reclamada, seria inevitável o reexame dos elementos de prova produzidos, o que é vedado nesta fase recursal, consoante o que estabelece a Súmula nº 126 do Tribunal Superior do Trabalho. Agravo de instrumento desprovido. (TST-AIRR-84140-33.2009.5.03.0069, Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, DeJT 25/10/2013)

6. CARTÓRIO NÃO OFICIALIZADO.

Para iniciar, eis os ensinamentos de ALICE MONTEIRO DE BARROS sobre o

tema:

Registramos, inicialmente, que os cartórios dividem-se em duas espécies: judiciais e notariais ou de registro. Os primeiros, também chamados de serven¬tias judiciais, subordinam-se ao Poder Judiciário e seus servidores são funcioná¬rios públicos estatutários. Os cartórios notariais ou de registro, por sua vez, são exercidos em caráter privado por delegação do poder público e seus titulares são escolhidos mediante concurso público.

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Anteriormente, os cartórios judiciais e extrajudiciais tinham sua con¬cessão balizada exclusivamente no interesse político, sendo destinados aos apadrinhados e cabos eleitorais dos governantes. Com o advento da Emenda Constitucional n. 07, de 1977, passou-se a exigir a aprovação em concurso público para ingresso na atividade notarial e de registro. A propósito, o Supremo Tribunal Federal concedeu liminar, em 6 de junho de 2002, em ADIn e suspendeu a vigência da Lei Estadual n. 13.724, de 2000, de Minas Gerais que previa efetivação de notários sem concurso público.

A matéria também foi objeto de regulamentação pela Emenda Constitucional n. 22/82, a qual estabeleceu o provimento das serventias e judiciais na forma da legislação estadual, respeitada a classificação no concurso público.

Cabendo a cada Estado definir o regime a que se submetiam os servido¬res desses cartórios, era possível sua inclusão em um regime especial, equivalente ao dos funcionários públicos. Por essa razão, há jurisprudência, inclusi¬ve do TST, calcada em precedentes jurisprudenciais do Supremo Tribunal Federal, afastando a competência da Justiça do Trabalho’ para apreciar recla¬mações ajuizadas por esses servidores.

Sucede que a Constituição atualmente em vigor estabelece, em seu art. 236, que “Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público”. A partir da vigência desse dispositivo, considera-se que os notários e tabeliães prestam serviço público, por delegação. Os agentes delegados, consoante Hely Lopes Meirelles, “são particulares que recebem a incumbência da execução de determinada atividade, obra ou serviço público e o realizam em nome próprio, por sua conta e risco, mas segundo as normas do Estado e sob a permanente fiscalização do delegante” (grifou-se).

O entendimento predominante no STJ, solucionando conflito de competência, e do TST, atualmente, é o de que o titular do cartório não oficializado, no exercício de delegação estatal, contrata, assalaria é dirige a prestação laboral dos auxiliares que julgar necessários, portanto, equipara-se ao empregador comum, até porque aufere renda decorrente da exploração do cartório. É irrelevante que o contrato respeite os requisitos impostos por um regulamento próprio, como, por exemplo, a Lei de Organização Judiciária do Estado de Minas Gerais. Nesse contexto, há de se ter em conta que os notários assumem os riscos do empreendi¬mento econômico, admitindo, dirigindo e dispensando pessoal.

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A modificação dessa titularidade poderá, por isso, atrair a incidência dos art. 10 e 448 da CLT, pois hão de ser resguardados os direitos dos empre¬gados contratados anteriormente.

Nesse sentido também tem-se pronunciado o TST, como se infere das seguintes ementas:

(...)

Atualmente, a jurisprudência de alguns tribunais regionais vem susten¬tando que o novo titular assume, após submeter-se a concurso, o cargo, e não o patrimônio do antigo empregador. Não poderá, portanto, ser responsável pe¬los débitos anteriores, já que não existiu entre ele e o antigo titular do cartório nenhuma transação comercial. É o que se infere deste aresto:

(...)

Outros sustentam que empregador é empresa, vista sob o prisma da ativida¬de organizada, a qual não se confunde com o seu titular. Como a atividade cartorária é por excelência privada, apesar da ingerência pública, e conside-rando que a empresa é atividade, o fato de o cartório ter pertencido a vários gestores ou responsáveis não impede a sucessão. Essa é a nossa posição.17

Vale lembrar a adoção do regime celetista de contratação do pessoal quanto aos cartórios, prevista pela Lei 8.935/94, em seu art. 20, verbis:

Lei 8.935/94, Art. 20. Os notários e os oficiais de registro poderão, para o desempenho de suas funções, contratar escreventes, dentre eles escolhendo os substitutos, e auxiliares como empregados, com remuneração livremente ajustada e sob o regime da legislação do trabalho.

§ 1º Em cada serviço notarial ou de registro haverá tantos substitutos, escreventes e auxiliares quantos forem necessários, a critério de cada notário ou oficial de registro.

§ 2º Os notários e os oficiais de registro encaminharão ao juízo competente os nomes dos substitutos.

§ 3º Os escreventes poderão praticar somente os atos que o notário ou o oficial de registro autorizar.

17

Op. cit., pp. 322-324.

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§ 4º Os substitutos poderão, simultaneamente com o notário ou o oficial de registro, praticar todos os atos que lhe sejam próprios exceto, nos tabelionatos de notas, lavrar testamentos.

§ 5º Dentre os substitutos, um deles será designado pelo notário ou oficial de registro para responder pelo respectivo serviço nas ausências e nos impedimentos do titular.

Existe, ainda, a opção pelo regime celetista pelos servidores estatutários, em regra de transição para os admitidos anteriormente ao advento do diploma, contida no art. 48 da Lei 8.935/94:

Lei 8.935/94, Art. 48. Os notários e os oficiais de registro poderão contratar, segundo a legislação trabalhista, seus atuais escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou em regime especial desde que estes aceitem a transformação de seu regime jurídico, em opção expressa, no prazo improrrogável de trinta dias, contados da publicação desta lei.

§ 1º Ocorrendo opção, o tempo de serviço prestado será integralmente considerado, para todos os efeitos de direito.

§ 2º Não ocorrendo opção, os escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou em regime especial continuarão regidos pelas normas aplicáveis aos funcionários públicos ou pelas editadas pelo Tribunal de Justiça respectivo, vedadas novas admissões por qualquer desses regimes, a partir da publicação desta lei.

A esse respeito, eis alguns julgados do Tribunal Superior do Trabalho sobre a matéria:

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO - EMPREGADO DE CARTÓRIO DE REGISTRO - CONTRATADO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 8.935/94 - CELETISTA. A tese esposada pelo Tribunal de origem guarda consonância com o entendimento desta Corte, segundo o qual os empregados de cartório estão sujeitos ao regime jurídico da CLT, ainda que contratados em período anterior à vigência da Lei 8.935/94, pois o art. 236 da Constituição Federal já previa o caráter privado dos serviços notariais e de registro, tratando-se de norma constitucional autoaplicável. Recurso de revista não conhecido. (TST-ARR-119400-72.2009.5.12.0021, Rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 7ª Turma, DeJT 21/03/2014)

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EMPREGADO DE CARTÓRIO DE REGISTRO - REGIME JURÍDICO - CONTRATADO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 8.935/94 - CELETISTA. A tese esposada pelo Tribunal de origem guarda consonância com o entendimento desta Corte, segundo o qual os empregados de cartório estão sujeitos ao regime jurídico da CLT, ainda que contratados em período anterior à vigência da Lei 8.935/94, pois o art. 236 da Constituição Federal já previa o caráter privado dos serviços notariais e de registro, tratando-se de norma constitucional autoaplicável. Recurso de revista não conhecido. (TST-RR-170600-44.2007.5.02.0029, Rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 7ª Turma, DeJT 07/06/2013)

VÍNCULO EMPREGATÍCIO. APLICAÇÃO DO REGIME CELETISTA A EMPREGADO DE CARTÓRIO EXTRAJUDICIAL. Segundo o TRT de origem, o reclamante fez a opção pelo regime especial, nos moldes do artigo 48, § 2º, da Lei 8.935/94, não fazendo jus, portanto, aos direitos previstos na CLT. Decidir de maneira diversa implicaria o revolvimento de fatos e provas, intento vedado nesta instância extraordinária de acordo com a Súmula 126 do TST. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (TST-AIRR-246500-96.2003.5.02.0312 , Rel. Min. Dora Maria da Costa, DeJT 10/05/2013)

De outro lado, revela-se a condição de empregador do notário ou oficial de registro, à luz do art. 21 da aludida lei:

Lei 8.935/94, Art. 21. O gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços notariais e de registro é da responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no que diz respeito às despesas de custeio, investimento e pessoal, cabendo-lhe estabelecer normas, condições e obrigações relativas à atribuição de funções e de remuneração de seus prepostos de modo a obter a melhor qualidade na prestação dos serviços.

Veja-se, a proposito, alguns julgados do TST que reconhecem ao titular do cartório a condição de empregador:

CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS - FALECIMENTO DO TITULAR - DESIGNAÇÃO DE NOVO OFICIAL - SUCESSÃO DE EMPREGADORES (violação aos artigos 236, da CF, 21, da Lei 8935/94, 2º, 10 e 448, da CLT e divergência jurisprudencial). A sucessão trabalhista ocorre quando há alteração na estrutura empresarial e modificação dos empregadores, porém com a continuidade da prestação dos serviços, passando o sucessor a responder integralmente pelos débitos trabalhistas havidos antes

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ou após a sucessão, evitando-se desta forma prejuízos aos contratos de trabalho existentes. No caso dos cartórios extrajudiciais, o mesmo entendimento deve ser aplicado na hipótese em que o contrato não tenha sofrido solução de continuidade com a sucessão na titularidade da serventia. Ademais, os titulares de cartórios extrajudiciais são equiparados aos empregadores comuns, tendo em vista a ausência de personalidade jurídica própria dos estabelecimentos, e em face daquele ser responsável pela direção da prestação dos serviços. A simples alteração do titular da serventia não pressupõe o reconhecimento da sucessão trabalhista, quando constatada a ausência de prestação de serviços do empregado ao novo titular do Cartório. Recurso de revista conhecido e provido. Prejudicado o exame dos demais temas. (TST-RR-1076400-58.2005.5.09.0011, Rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, 2ª Turma, DeJT 31/05/2013)

[...] CARTÓRIO DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS. VÍNCULO DE EMPREGO. NÃO CONFIGURAÇÃO. RELAÇÃO EMPREGATÍCIA DIRETA COM O TITULAR DO CARTÓRIO. O art. 236 da Constituição Federal estabelece que os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. São serviços a ser prestados por particulares, mediante delegação, e, portanto, não têm personalidade jurídica própria. Os trabalhadores contratados para prestar serviços nos cartórios mantêm vínculo empregatício com o titular da serventia, que se equipara ao empregador comum, ante os termos dos arts. 20 e 21 da Lei n.º 8.935/94. A sucessão trabalhista entre titulares de cartórios é possível, desde que não haja solução de continuidade na prestação dos serviços pelo empregado. O reclamante, entretanto, foi dispensado antes da mudança na titularidade do Cartório, de modo que apenas o antigo titular é responsável pelos créditos trabalhistas que lhe foram reconhecidos em juízo. Recurso de revista de que não se conhece. (TST-RR-211100-39.1995.5.02.0041, Rel. Min. Kátia Magalhães Arruda, 5ª Turma, DEJT de 24/02/2012).

Por fim, convém rememorar a responsabilidade objetiva do titular do cartório pelos danos causados por seus empregados e servidores, ex vi do art. 22 da Lei 8.935/94:

Lei 8.935/94, Art. 22. Os notários e oficiais de registro responderão pelos danos que eles e seus prepostos causem a terceiros, na prática de atos próprios da serventia, assegurado aos primeiros direito de regresso no caso de dolo ou culpa dos prepostos.

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Registre-se que não seria possível o reconhecimento da responsabilidade do Estado, mesmo subsidiária, por créditos trabalhistas não adimplidos pelo titular de cartório privatizado:

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ. EMPREGADO CONTRATADO POR CARTÓRIO PRIVATIZADO. Em que pesem os fundamentos do acórdão regional, o caso em testilha refere-se à hipótese de atividade privada de exploração de serviços notariais e de registro, nos termos do art. 236 da Constituição Federal. Inexistem, no caso, as figuras do prestador e do tomador dos serviços, nem contratação mediante empresa interposta. Nos termos do art. 21 da Lei nº 8.935/94, que regulamenta o referido dispositivo constitucional, -O gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços notariais e de registro é da responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no que diz respeito às despesas de custeio, investimento e pessoal, cabendo-lhe estabelecer normas, condições e obrigações relativas à atribuição de funções e de remuneração de seus prepostos de modo a obter a melhor qualidade na prestação dos serviços-. Desse modo, o Estado não pode ser responsabilizado pelo inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte do real empregador só porque detém a função de fiscalizar os serviços notariais e de registro (art. 236, § 1º, da CF) ou, ainda, consoante assentou o acórdão regional, em razão da responsabilidade objetiva. Recurso de Revista conhecido e provido. (TST-RR-314500-24.2007.5.09.0245, Rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, 8ª Turma, DeJT 11/10/2013)

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QUESTÕES DE CONCURSO