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    IVES SOLANO ARAUJO

    UM ESTUDO SOBRE O DESEMPENHO DE ALUNOS DE FSICA USURIOSDA FERRAMENTA COMPUTACIONALMODELLUS NA INTERPRETAO

    DE GRFICOS EM CINEMTICA

    Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de Mestre em Fsica, Cursode Ps-Graduao em Fsica, Instituto de Fsica,Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Moreira

    Co-orientadora: ProfaDra Eliane Angela Veit

    PORTO ALEGRE2002

    Trabalho parcialmente financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico eTecnolgico (CNPq).

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    A minha famlia e amigos pelo apoio constante.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo

    - Aos professores Eliane Angela Veit e Marco Antonio Moreira, pela dedicadaorientao e ajuda.

    - Ao professor Fernando Lang da Silveira, pelo valioso auxlio na parte dotratamento estatstico dos dados.

    - Aos professores Maria Helena Steffani, Trieste Ricci, Paulo Machado Mors e

    Fernando Lang da Silveira que, juntamente com os orientadores, compuseram abanca de especialistas que validou o teste inicial e final em relao ao contedo.

    - A Patrcia F. Carrasco que soube conviver com as necessrias ausncias.

    - Aos meus companheiros de viagem Daniela Kempf, Karen P. Bastos, Luis F.Zagonel, Marcelo R. Thielo, Maikel M. Traversi pelo apoio nos momentosdifceis.

    - Aos professores, funcionrios e colegas do Instituto de Fsica da UFRGS, pelosensinamentos e amizade.

    Meu especial agradecimento a todas as pessoas que colaboraram como sujeitosda pesquisa.

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    Uma descoberta, seja feita

    por um menino na escola ou por um

    cientista trabalhando na fronteira do

    conhecimento, em sua essncia uma

    questo de reorganizar ou transformar

    evidncias, de tal forma que se possa ir

    alm delas assim reorganizadas,

    rumo a novas percepes

    Jerone Bruner

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    SUMRIO

    LISTA DE TABELAS ...............................................................................................viiLISTA DE FIGURAS .............................................................................................. viiiRESUMO .................................................................................................................... ixABSTRACT ................................................................................................................ x1 INTRODUO .................................................................................................... 12 REVISO DA LITERATURA ........................................................................... 72.1 APLICAES DOMODELLUS .......................................................................... 72.2 INTERPRETAO DE GRFICOS DA CINEMTICA ..................................13

    3 FUNDAMENTAO TERICA ......................................................................183.1 A TEORIA DE APRENDIZAGEM DE DAVID AUSUBEL ..............................183.1.1 Aprendizagem Mecnica ..................................................................................193.1.2 Subsunores ......................................................................................................193.1.3 Condies para a Aprendizagem Significativa .................................................203.2 MODELAGEM ESQUEMTICA ........................................................................213.2.1 O Processo de Modelagem Esquemtica ..........................................................253.2.2 Modelagem Esquemtica para a Resoluo de Problemas de Paradigma ........263.2.2.1 Seleo do modelo ..........................................................................................273.2.2.2 Construo do modelo ....................................................................................273.2.2.3 Validao do modelo ......................................................................................283.2.2.4 Anlise do modelo ..........................................................................................283.2.2.5 Expanso do modelo .......................................................................................284 OBJETO DE ESTUDO E METODOLOGIA...................................................304.1 OBJETO DE ESTUDO ..........................................................................................304.2 DELINEAMENTO DE PESQUISA .....................................................................314.3 AMOSTRA ............................................................................................................31

    4.4 ELABORAO, VALIDAO E APLICAO DO TESTE INICIAL ...........324.5 TRATAMENTO ....................................................................................................334.6 ELABORAO, VALIDAO E APLICAO DO TESTE FINAL .............365 RESULTADOS E DISCUSSO .........................................................................375.1 ANLISE DE FIDEDIGNIDADE DOS TESTES INICIAL E FINAL ...............375.2 COMPARAO ENTRE O GRUPO EXPERIMENTAL

    E O DE CONTROLE ............................................................................................385.3 ANLISE DO LEVANTAMENTO DE OPINIES E DAS

    ENTREVISTAS .....................................................................................................44

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    6 CONCLUSO .......................................................................................................497 APNDICES7.1 APNDICE A ........................................................................................................53

    7.2 APNDICE B ........................................................................................................627.3 APNDICE C ........................................................................................................747.4 APNDICE D ......................................................................................................108REFERNCIAS ........................................................................................................109

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    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 - Objetivos do teste TUG-K de compreenso de grficosda Cinemtica .........................................................................................16TABELA 2 - Dificuldades dos estudantes em interpretao de grficos

    da Cinemtica .........................................................................................16TABELA 3 - Delineamento da pesquisa .....................................................................31TABELA 4 - Sntese da Anlise de Consistncia Interna para os testes

    inicial e final aplicados s turmas piloto ................................................37TABELA 5 - Sntese da Anlise de Consistncia Interna para os testes

    inicial e final aplicados s turmas do curso de Fsica ............................38TABELA 6 - Correlao item-total e coeficiente alfa se o item especificado na

    primeira coluna da tabela for eliminado dos testes iniciale final ......................................................................................................39

    TABELA 7 - Discriminao das escolhas realizadas pelos alunos aoresponderem o teste inicial. Os escores das alternativas corretasesto em negrito ......................................................................................40

    TABELA 8 - Discriminao das escolhas realizadas pelos alunos ao responderem oteste final. Os escores das alternativas corretas esto em negrito ..........41

    TABELA 9 - Comparao entre o desempenho dos alunos nas questescomuns aos testes inicial e final .............................................................42

    TABELA 10 - Comparao entre o grupo experimental e o grupo decontrole nas mdias do teste inicial e final ..........................................43

    TABELA 11 - Comparao entre o grupo experimental e o grupo decontrole nas mdias ajustadas do teste final ........................................44

    TABELA 12 - Viso geral da opinio dos alunos sobre o tratamento ........................48

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    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 - Ilustrao das principais caractersticas doModellus(Veit e Teodoro, 2002) ........................................................................... 9

    FIGURA 2 - Fluxograma explicitando os passos necessrios para odesenvolvimento de um teste (Beichner, 1994) .....................................15

    FIGURA 3 - Representao esquemtica do processo de modelagem(Hestenes apud Halloun, 1996) ..............................................................26

    FIGURA C.1 - Tela ilustrativa do modelo Gposhv.mdl ..............................................75FIGURA C.2 - Tela ilustrativa do modelo Espiral.mdl ...............................................76FIGURA C.3 - Tela ilustrativa do modelo Mov_h1.mdl .............................................78FIGURA C.4 - Tela ilustrativa do modelo Noel_bar.mdl ...........................................79

    FIGURA C.5 - Tela ilustrativa do modelo Incl_xt.mdl ...............................................81FIGURA C.6 - Tela ilustrativa do modelo Vl_area1.mdl ............................................82FIGURA C.7 - Tela ilustrativa do modelo Mov_h2.mdl .............................................91FIGURA C.8 - Tela ilustrativa do modelo Areas.mdl .................................................93FIGURA C.9 - Tela ilustrativa do modelo Acelera.mdl ..............................................95FIGURA C.10 - Tela ilustrativa do modelo Ac_incl.mdl ............................................97FIGURA C.11 - Tela ilustrativa do modelo Quant.mdl ..............................................99FIGURA C.12 - Tela ilustrativa do modelo Revesam.mdl ........................................100

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    RESUMO

    O objetivo deste trabalho foi o de investigar o desempenho de estudantesquando expostos a atividades complementares de modelagem computacional naaprendizagem de Fsica, utilizando o software Modellus. Interpretao de grficos daCinemtica foi o tpico de Fsica escolhido para investigao. A fundamentaoterica adotada esteve baseada na teoria de Halloun sobre modelagem esquemtica ena teoria de Ausubel sobre aprendizagem significativa.

    O estudo envolveu estudantes do primeiro ano do curso de Fsica daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul. Vinte seis destes estudantes - grupoexperimental - foram submetidos a atividades de modelagem exploratrias e de criaodurante um breve intervalo de tempo (quatro encontros, com 2h15min cada). Vinte e

    seis outros estudantes constituram um grupo de controle, adotando-se umdelineamento quasi-experimental.

    Os resultados deste trabalho mostram que houve melhorias estatisticamentesignificativas no desempenho dos alunos do grupo experimental, quando comparadoaos estudantes do grupo de controle, submetidos apenas ao mtodo tradicional deensino. A percepo do aluno em relao relevncia de conceitos e relaesmatemticas, bem como a motivao para aprender, gerada pelas atividades,desempenharam um papel fundamental nesses resultados. Alm disso, registrou-se altareceptividade em relao ao tratamento utilizado.

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    ABSTRACT

    The purpose of this work was to investigate students performance whileexposed to complementary computational modelling activities in the learning of physics,using the softwareModellus.Interpretation of kinematics graphs was the physics topicchosen for investigation. The theoretical framework adopted was based on Hallounsschematic modelling theory and on Ausubels meaningful learning theory.

    The study was carried out with freshmen physics majors of the UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul. Twenty six of these students - the experimental group -have been submitted to modelling activities during a short time interval (fourmeetings, with 2h15min each one). Twenty six others students have composed thecontrol group; a quasi-experimental design was used.

    The results of this work show that there has been a statistically significantimprovement on the experimental group students performance when compared to thecontrol group, submitted just to the tradicional teaching method. The studentsperception with respect to the concepts and mathematical relations, as well as themotivation to learn, originated by the activities, have played a fundamental role onthese findings. In addition, the experimental treatment was very well received by thestudents.

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    1 INTRODUO

    Nos dias de hoje, as atividades de ensino de Fsica esto permeadas de

    propostas didticas envolvendo o uso de computadores, onde softwarescada vez mais

    elaborados vm sendo criados na tentativa de facilitar a construo do conhecimento

    por parte do estudante. Entretanto, poucos so os estudos sistemticos sobre a

    influncia destes programas no processo de ensino/aprendizagem. Dentre as propostas

    didticas mais significativas podemos destacar as cinco principais modalidades de uso

    do computador no ensino de Fsica: tutoriais (Interactive Journey Through Physics,

    The Particle Adventure); aquisio de dados (Science Workshop, Real Time Physics,

    VideoPoint); simulao (Interactive Physics, xyZET, Graphs and Tracks); modelagem

    (Stella, Dynamo, PowerSim, Cellular Modelling System, Modellus).

    Planilhas eletrnicas (Excel, Lotus, Qpro, Kspread, Gnumeric, etc.) e outros

    softwaresmatemticos (MathCad, Octave, Matlab, Mathematica, etc.) tambm podem

    ser considerados como ferramentas de modelagem e so utilizados no ensino de Fsica

    (Workshop Physics Tools, por exemplo). Porm, consideraremos como ferramentas de

    modelagem neste trabalho, apenas softwaresque tenham como propsito fundamental

    a anlise qualitativa dos fenmenos estudados (Stella, PowerSim, Cellular Modelling

    System, Modellus, etc.) e no a computao numrica (apesar deles serem poderosos o

    suficiente para isto).

    Trabalharemos com a idia de modelos fsicos vistos como descries

    simplificadas e idealizadas de sistemas ou fenmenos fsicos, aceitos pela comunidade

    cientfica, que envolvem elementos como representaes (externas), proposies

    semnticas e modelos matemticos subjacentes; estes, passaremos a denominar

    simplesmente de modelos. Entenderemos modelagem como um processo de criao de

    um modelo, dividido em cinco estgios no-hierrquicos: seleo, construo,

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    validao, anlise e expanso do modelo, onde os trs estgios intermedirios

    sobrepem-se, podendo ser conduzidos ao mesmo tempo (Halloun, 1996).

    Dentre as ferramentas de modelagem disponveis atualmente, o Modellus

    (Teodoro, Vieira e Clrigo, 1997) destaca-se por permitir que estudantes e professores

    faam experimentos conceituais utilizando modelos matemticos definidos a partir de

    funes, derivadas, taxas de variao, equaes diferenciais e equaes a diferenas,

    escritos de forma direta, ou seja, assim como o aluno aprendeu na sala de aula sem a

    necessidade de metforas simblicas, tais como os diagramas de Forrester utilizados

    nos modelos confeccionados com o STELLA (Santos et al., 2000). Outra caracterstica

    importante provida peloModellus a representao mltipla, i.e., o usurio pode criar,

    ver e interagir com as representaes analticas, analgicas e grficas dos objetos

    matemticos (Teodoro, 1998).

    O Modellus possui uma interface grfica intuitiva, o que vem a facilitar a

    interao dos estudantes com modelos em tempo real e a anlise de mltiplas

    representaes desses modelos, permitindo tambm, observar mltiplos experimentos

    (conceituais) simultaneamente. Vale a pena destacar que o Modellus um programa

    de distribuio gratuita e vem sendo muito utilizado em diversos pases, tendo sido

    traduzido para vrios idiomas (ingls, espanhol, eslovaco, grego e portugus do

    Brasil), inclusive logo aps a sua criao (Teodoro, Vieira e Clrigo, 1997) o software

    obteve reconhecimento internacional (vencedor do 1996 Software Contest of theJournal Computer in Physics promovido pela American Physical Society; 1

    prmio da Categoria de Cincia do Concurso Nacional de SoftwareMicrosoft, 1998,

    em Lisboa, Portugal). O Modellus foi tambm um finalista da SPA (US Software

    Publishers Association) em 1998.

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    Apesar de o Modellusvir sendo bastante utilizado como uma ferramenta de

    auxlio ao ensino de Fsica, desconhecemos, como ser abordado no captulo de

    reviso bibliogrfica, a realizao de qualquer estudo no sentido de determinar

    explicitamente os eventuais ganhos obtidos pelos alunos, em termos de aprendizagem,

    aps trabalharem com o Modellus. O presente trabalho visa contribuir para o

    preenchimento desta lacuna propondo a investigao do desempenho de alunos

    expostos a atividades complementares envolvendo criao e explorao de modelos

    com esse software e a subseqente comparao destes resultados com o desempenho

    de outros alunos submetidos somente ao modo tradicional de ensino.

    Um dos principais recursos disponveis no Modellus so as suas sadas

    grficas, que podem ser vistas simultaneamente com animaes. Um grfico permite-

    nos resumir uma grande quantidade de informaes e reconhecer facilmente dados de

    um evento fsico, que de outra forma seriam mais difceis de identificar. Para um

    cientista, trabalhar confortavelmente com grficos uma habilidade indispensvel. O

    tema interpretao de grficos da Cinemtica, i.e, grficos de posio, velocidade, ou

    acelerao versus tempo, geralmente, o primeiro estudo envolvendo o uso de

    grficos de forma mais extensiva nos cursos de Fsica. No entanto, este tema nem

    sempre bem compreendido pelos estudantes.

    Segundo Beichner (1996) a crena de que os grficos so uma espcie de

    fotografia do movimento , provavelmente, a principal confuso que os alunos fazemao se depararem com grficos da Cinemtica. Como um exemplo bvio desta situao,

    imaginemos um garoto numa bicicleta descendo uma colina e depois ficando sobre um

    pequeno morro. Quando os alunos so solicitados a traarem grficos cinemticos

    relevantes da situao, freqentemente o que traado um grfico y versus x,

    mostrando a descida da colina e a subida no pequeno morro ao invs de um grfico de

    y (ou qualquer outra varivel cinemtica) versus t. Este erro especialmente

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    problemtico quando o movimento horizontal uma funo linear do tempo. No

    movimento de projteis, por exemplo, as curvas nos grficos altura versus alcance e

    altura versus tempo tm o mesmo formato parablico, fazendo com que a viso de

    grficos como fotografias do movimento seja difcil de detectar, pois o estudante pode

    estar trabalhando com um tipo de grfico, mas pensando em outro.

    O uso de uma ferramenta que pudesse descrever os processos dinamicamente,

    permitindo ao aluno interagir com o movimento dos corpos envolvidos ao mesmo

    tempo em que observa os grficos sendo traados, como pode ser feito no Modellus,

    poderia vir a facilitar a sua compreenso do evento. Deste modo, o tema interpretao

    de grficos da Cinemtica mostra-se apropriado na elaborao de atividades com o

    Modellus.

    Vrios estudos encontrados na literatura (Brassel, 1987; Mokros e Tinker,

    1987; Testa et al., 2002) narram o desenvolvimento de propostas de ensino de Fsica

    que foram bem sucedidas em aumentar as habilidades de interpretao de grficos a

    partir de experincias de aquisio de dados em tempo real utilizando o computador

    (propostas MBL: Microcomputer-Based Laboratory). Os pesquisadores comearam

    inicialmente a investigar a que se devia esta melhora na interpretao. Uma das

    dificuldades que mais apareceram nos trabalhos foi a da interpretao errnea por

    parte dos alunos dos grficos como fotografias da trajetria do movimento. As

    melhorias promovidas pelas atividades utilizando MBL pareciam estar intimamentevinculadas a esta questo, pois estas atividades permitiam aos alunos observar o

    traado em tempo real dos grficos conforme a experincia se desenvolvia.

    Em algumas experincias, os alunos usavam o prprio corpo como objeto de

    estudo na anlise dos movimentos. Esses movimentos eram detectados atravs de

    sensores e os dados obtidos eram utilizados para traar grficos cinemticos na tela do

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    computador. Suspeita-se que esta interatividade seja a fora motriz da melhoria na

    interpretao de grficos ocasionada pelas atividades envolvendo MBL.

    Beichner (1990) props um estudo onde o feedback sinestsico fosse

    completamente removido, somente dando aos estudantes rplicas visuais de situaes

    de movimento. A produo dos grficos foi sincronizada com a reanimao do

    movimento de forma que os estudantes pudessem ver o objeto se movendo e o traado

    de um grfico cinemtico, correspondente a este movimento, simultaneamente. Os

    resultados obtidos neste estudo indicam que esta tcnica no apresentou uma vantagem

    educacional sobre a forma de instruo tradicional. O autor argumenta que desde que

    Brassel (1987) e outros pesquisadores demonstraram a superioridade das prticas

    utilizando MBL em relao s tcnicas tradicionais de ensino, os resultados de seu

    estudo sugerem que a justaposio visual no uma varivel relevante na melhora do

    desempenho dos alunos na interpretao de grficos da cinemtica. O fator que

    realmente faz a diferena segundo Beichner a interatividade do estudante com o

    experimento.

    O nosso estudo baseia-se na proposta de atividades complementares de ensino

    envolvendo a explorao e a construo de modelos como um processo de interao

    (experimento-aluno). A explorao do modelo faz com que o estudante se questione

    constantemente sobre os efeitos de suas aes sobre os resultados gerados pelo

    modelo, normalmente esta questo pode ser descrita como: - se eu alterar "isso" o queacontece com "aquilo"? Este raciocnio causal subjacente servir como pano de fundo

    para a promoo da interatividade. As atividades de ensino elaboradas visam levar o

    aluno a questionar-se sobre as relaes existentes, entre os conceitos cinemticos e os

    grficos do movimento de um determinado mvel em questo.

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    No prximo captulo, faremos uma reviso da literatura pertinente. Nos

    demais, sucessivamente, sero enfocados o referencial terico da pesquisa, o objeto de

    estudo e a hiptese de pesquisa, a metodologia utilizada, a anlise dos resultados e as

    concluses.

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    2 REVISO DA LITERATURA

    Neste captulo revisamos a literatura nas principais revistas de pesquisa darea de ensino de cincias em busca de relatos envolvendo a aplicao doModelluse

    trabalhos sobre a interpretao de grficos da Cinemtica por parte dos estudantes.

    Foram consultadas1as seguintes revistas: American Journal of Physics(1980-2002),

    Caderno Catarinense de Ensino de Fsica (1984-2002), Journal of Research on

    Science Teaching(1980-2002), Revista Brasileira de Ensino de Fsica(1980-2002),

    Intenational Journal of Science Education (1987-2002), Science Education (1980-1995; 1997-1998; 2001-2002) e Enseanza de las Ciencias(1983-2001), bem como

    trabalhos disponveis na Internet. Vrios estudos sobre interpretao de grficos da

    Cinemtica foram encontrados, porm no encontramos relatos de pesquisas utilizando

    oModellus2.

    2.1 APLICAES DOMODELLUS

    Teodoro (1998) apresenta alguns aspectos da ferramenta computacional

    Modelluse discute as condies necessrias para um uso bem sucedido do software.

    Em um primeiro momento, o autor define o conceito de modelo como uma

    representao simplificada de um sistema, no objetivando representar todas as

    caractersticas do mesmo. De acordo com Webb e Hassel (apudOp. cit., p. 13-14)

    existem cinco famlias de modelos em geral:

    modelos de sistemas dinmicos;

    modelos de distribuio espacial;

    1 A pesquisa bibliogrfica envolvendo a aplicao doModelluscom estudantes foi feita a partir doano de sua criao, ou seja, 1996.

    2 Por vias pessoais, obtivemos um relato de aplicao doModellusatravs do Prof. Vitor DuarteTeodoro em sua Tese de doutorado, no defendida at a presente data.

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    modelos qualitativos do raciocnio lgico;

    modelos de eventos probabilsticos;

    modelos de anlise de dados.

    Na Fsica, muitos modelos representam sistemas dinmicos, i.e., os modelos

    que estabelecem alguma espcie de relao matemtica entre quantidades fsicas e o

    tempo, considerado como uma varivel independente. So estes os modelos que

    serviro como nosso objeto de estudo. Buscando evidenciar as potencialidades do

    Modellus, Teodoro o analisa atravs de dois pontos de vista.

    Do ponto de vista computacional, o programa pode ser visto com um

    micromundo no computador para uso tanto dos estudantes quanto dos professores, no

    sendo baseado numa metfora de programao. Na janela do modelo o usurio pode

    escrever modelos matemticos, quase sempre da mesma forma que a manuscrita do

    dia-a-dia, dispensando o aprendizado de uma nova linguagem para a elaborao desses

    modelos.

    Do ponto de vista educacional, o Modellus incorpora tanto os modos

    expressivos quanto os modos exploratrios das atividades de aprendizagem (Bliss e

    Ogborn apud Teodoro, 1998), como pode ser observado na figura 1. Em uma atividade

    de aprendizado expressiva, os estudantes podem construir seus prprios modelos

    matemticos e criar diversas formas para represent-los. Em um modo exploratrio, os

    alunos podem usar modelos e representaes feitos por outros, analisando como

    grandezas diferentes se relacionam entre si ou visualizando a simulao de um evento

    fsico. O delineamento pedaggico do Modellus admite que o computador uma

    ferramenta cognitiva, mas no substitui habilidades humanas de alta ordem, ou seja,

    assume-se que oModellus auxilia na aprendizagem, mas que a inteligncia, emoo,

    cultura, poesia e arte residem no usurio, no no software(Teodoro, 1998).

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    FIGURA 1 Ilustrao das principais caractersticas doModellus(Veit e Teodoro, 2002).

    Quanto aplicao do softwareno currculo, Teodoro (Op.cit.) argumenta que

    impossvel, devido natureza do uso do computador e da disponibilidade dos

    recursos, concentrar esforos simultaneamente sobre todos os segmentos do currculo,

    sugerindo que os esforos sejam concentrados apenas no Ensino Mdio e Superior

    onde os alunos esto mais preparados para usarem ferramentas formais e abstratas.

    Como outra sugesto, o autor prope cinco princpios para favorecer o entendimento

    (Nickerson apud Teodoro, 1998): 1) comear onde o estudante est; 2) promover o

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    processamento ativo e a descoberta; 3) usar modelos matemticos e representaes

    apropriadas; 4) usar simulaes e 5) fornecer um ambiente de suporte.

    Veit e Teodoro (2002) discutem a importncia da modelagem no processo de

    ensino/aprendizagem em Fsica conectada com os novos parmetros curriculares

    nacionais para o Ensino Mdio (PCNEM). Nesse artigo so apresentadas algumas

    caractersticas essenciais doModellus, sob o ponto de vista do ensino, enfatizando o

    processo de aprendizagem, a explorao e a criao de mltiplas representaes de

    fenmenos fsicos e de objetos matemticos. Dentro deste contexto, o Modellusdestaca-se como uma ferramenta que permite:

    a construo e a explorao de mltiplas representaes de modelos;

    a anlise da qualidade dos modelos;

    o reforo do pensamento visual, sem memorizao dos aspectos de

    representao formal, atravs de equaes e outros processos formais;

    a abordagem de forma integrada dos fenmenos naturais, ou simplesmente

    representaes formais;

    o trabalho individual e em classe, em que a discusso, a conjetura e o teste de

    idias so atividades dominantes.

    Quanto modelagem, os autores partem do pressuposto de que a sua

    introduo no ensino de Fsica tende a desmitificar a imagem da Fsica como uma

    disciplina de memorizao de frmulas complicadas, pois a modelagem facilita a

    construo de relaes e significados, favorecendo uma aprendizagem construtivista e

    permitindo tambm (Webb e Hassen apud Veit e Teodoro 2002):

    elevar o nvel do processo cognitivo, exigindo que os estudantes pensem em

    um nvel mais elevado, generalizando conceitos e relaes;

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    exigir que os estudantes definam suas idias mais precisamente;

    propiciar oportunidades para que os estudantes testem suas prprias idias,

    detectem e corrijam inconsistncias.

    Teodoro3descreve duas aplicaes do Modellus, uma com estudantes do 11

    grau do ensino secundrio em Lisboa, e outra com alunos da Faculdade de Cincia e

    Tecnologia da Universidade Nova, Lisboa. No primeiro estudo, 12 alunos do ensino

    secundrio participaram de um curso de vero, usando o Modellus com uma

    abordagem exploratria, fazendo modelos a partir de dados reais ou a partir depensamentos tericos sobre cincia. No segundo estudo, 10 estudantes do segundo ano

    do curso de Bacharelado em Cincia (futuros professores de Biologia e Geologia)

    usaram oModellus, tambm com atividades exploratrias durante trs dias.

    Para a primeira investigao, Teodoro (Op. cit.) formulou as seguintes

    questes de pesquisa:

    Podem os estudantes criar seus prprios modelos e animaes?

    Quais as vantagens e desvantagens para os estudantes que podemos identificar

    quando utilizamos o Modellus para o aprendizado de modelos matemticos

    simples descrevendo o movimento de objetos?

    Atravs de observaes e da aplicao de um questionrio envolvendo

    perguntas baseadas nas questes de pesquisa, Teodoro sugere que os estudantes do

    ensino secundrio podem comear a utilizar o Modellus, depois de uma breve

    introduo sobre seu uso, se eles tiverem conhecimento suficiente de Fsica e

    Matemtica necessrio para a criao dos modelos. Outro resultado importante, foi o

    3TEODORO, V. D. Modellus: learning physics with mathematical modelling. Faculdade de Cincias

    e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal. Tese de doutorado a ser defendida em2002.

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    de que os estudantes reconhecem que oModelluspode ser uma ferramenta importante

    para auxiliar o pensamento e a reflexo sobre como a Fsica usa modelos matemticos

    para descrever os movimentos. Nenhuma desvantagem significativa foi levantada.

    Em relao ao estudo feito com os estudantes universitrios, Teodoro

    formulou as seguintes questes de pesquisa:

    Podem os estudantes criar seus prprios modelos e animaes?

    Os estudantes concordam que o Modellus pode promover uma abordagemmais integrada entre a Fsica e a Matemtica?

    Os estudantes concordam que o Modellus pode ajud-los a trabalhar mais

    concretamente com objetos formais?

    Quais as diferenas que os estudantes identificam quando resolvem problemas

    com e sem o auxlio doModellus?

    Mediante observaes feitas durante a execuo das atividades e a partir dos

    resultados obtidos por um questionrio aplicado ao final dos trs dias de curso,

    Teodoro obteve indcios que levam a crer que estudantes universitrios com

    preparao em Fsica podem facilmente utilizar o Modellus para criar seus prprios

    modelos com funes lineares, quadrticas e paramtricas. Os estudantes concordaram

    que o Modellus pode promover uma abordagem mais integrada entre a Fsica e a

    Matemtica que eles tiverem na escola. Outro fator reconhecido pelos alunos foi o da

    importncia do conhecimento prvio para obter vantagens em seu uso. Estas vantagens

    esto relacionadas s capacidades de visualizao que podem ajudar melhorando o

    raciocnio e a capacidade de abstrao. Os estudantes tambm concordam que o

    Modellusajudou-os a trabalhar mais concretamente com objetos formais, reduzindo a

    abstrao dos modelos matemticos e da necessidade de um trabalho mais extensivo

    para superar a m preparao que eles tiveram no ensino secundrio.

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    2.2 INTERPRETAO DE GRFICOS DA CINEMTICA

    No estudo do tema interpretao de grficos da Cinemtica, McDermott,Rosenquist e van Zee (1987) analisaram as narrativas feitas pelos estudantes durante o

    processo de elaborao e anlise dos grficos e identificaram 10 das principais

    dificuldades apresentadas por esses alunos ao trabalharem com grficos cinemticos.

    Cinco destas dificuldades esto em conectar os grficos aos conceitos fsicos: a)

    discriminar entre inclinao e altura; b) interpretar mudanas na altura e mudanas na

    inclinao; c) relacionar um tipo de grfico a outro; d) relacionar a narrao de ummovimento com um grfico que o descreve; e) interpretar a rea sob o grfico. As

    outras cinco dificuldades encontradas esto em conectar grficos ao mundo real: a)

    representar movimento contnuo por uma linha contnua; b) separar a forma de um

    grfico da trajetria do movimento; c) representar velocidade negativa; d) representar

    acelerao constante; e) fazer distino entre diferentes tipos de grficos do

    movimento.

    Ainda dentro do mesmo tpico de estudo, Murphy (1999) faz uma reviso da

    literatura e identifica a viso do grfico como uma fotografia (GCF) e a confuso entre

    altura e inclinao no grfico (CAI), como as duas principais dificuldades dos alunos

    ao interpretarem grficos da Cinemtica. Neste mesmo trabalho a autora argumenta

    que a dificuldade GCF pode ser pensada de uma outra forma, visto que em seus

    estudos ela chegou concluso de que os estudantes no imaginam o grfico como

    uma fotografia do movimento, mas sim como um mapa onde o eixo vertical

    representaria o eixo Norte-Sul, e o eixo horizontal corresponderia ao eixo Leste-Oeste.

    Desse ponto de vista, os estudantes apresentam a dificuldade GCF por terem mais

    experincias com mapas do que com grficos cinemticos e estariam incorretamente

    aplicando um esquema de interpretao de mapas para estes grficos.

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    Quanto confuso entre altura e inclinao em um grfico, Murphy (Op. cit.)

    argumenta que esta dificuldade pode estar relacionada no interpretao do grfico

    em si, mas simplesmente aplicao mecnica da estratgia mais significa mais alto;mais rpido significa mais inclinado para todas as questes que se apresentam, sem

    distinguir se a quantidade em questo a mesma representada no eixo vertical do

    grfico. Em um grfico de velocidade versus tempo maior velocidade significa maior

    altura, mas no maior acelerao. Maior mudana na velocidade significa maior

    inclinao, mas no maior rapidez.

    Uma das referncias mais significativas para execuo do presente estudo foi

    o trabalho desenvolvido por Beichner (1994) onde proposto o desenvolvimento e a

    anlise de um teste para averiguar a interpretao de grficos da Cinemtica por parte

    dos estudantes, e o levantamento de suas principais dificuldades. Ele argumenta que os

    professores de Fsica utilizam grficos como uma segunda linguagem de comunicao,

    admitindo que seus estudantes possam obter uma descrio detalhada do sistema fsico

    analisado, atravs deste tipo de representao. Infelizmente, seu trabalho indica que os

    estudantes no compartilham do mesmo vocabulrio que os professores.

    Seguindo o fluxograma ilustrado na figura 2, Beichner elaborou um teste

    chamado TUG-K (Teste do Entendimento de Grficos da Cinemtica), preocupando-se

    exclusivamente com a interpretao dos grficos, no tendo como meta abordar as

    dificuldades na criao dos mesmos. As primeiras verses do TUG-K foram aplicadas

    a 134 estudantes universitrios que j haviam tido aulas sobre Cinemtica. Os

    resultados destes testes foram utilizados para verificar a validade do instrumento de

    medida, ou seja, se o teste estava realmente medindo o que se supunha que ele

    estivesse. Aps algumas correes, uma verso final do teste foi aplicada a 524

    estudantes de ensino mdio e universitrio (Universidade do Estado da Carolina do

    Norte - EUA).

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    FIGURA 2 - Fluxograma explicitando os passos necessrios para o desenvolvimento de umteste (Beichner, 1994).

    Todos os estudantes que participaram do teste j haviam sido expostos

    Cinemtica. A tabela 1 descreve quais foram os objetivos abordados pelo teste e a

    tabela 2 refere-se s dificuldades que foram mapeadas atravs da utilizao do teste.

    Agrello e Garg (1999) traduziram o teste TUG-K para o portugus e o

    aplicaram a 228 estudantes oriundos do Ensino Mdio recm ingressos na

    Universidade de Braslia (UnB) em diferentes cursos (na rea de Cincias Exatas), mas

    Reconhecer a necessidade doteste

    Formular os objetivos

    Construir os itens do teste

    Verificar a validade do contedo

    Determinar a confiabilidade doteste

    Distribuio do teste

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    matriculados na disciplina de Fsica I. Todos os estudantes testados j tinham tido

    contato com Cinemtica no Ensino Mdio.

    TABELA 1 - Objetivos do teste TUG-K de compreenso de grficos da Cinemtica.

    Dado: O Estudante dever:1)Grfico de posio versus tempo Determinar a velocidade2)Grfico da velocidade versus tempo Determinar a acelerao3)Grfico da velocidade versus tempo Determinar o deslocamento4)Grfico da acelerao versus tempo Determinar a variao na velocidade5)Grfico da Cinemtica Selecionar outro grfico correspondente6)Grfico da Cinemtica Selecionar a descrio textual adequada

    7)Descrio textual do movimento Selecionar o grfico correspondente

    TABELA 2 - Dificuldades dos estudantes em interpretao de grficos da Cinemtica.

    Dificuldades1) Viso de grficos como uma fotografia do movimento2) Confuso entre altura e inclinao3)Confuso entre variveis Cinemticas4) Erros quanto determinao de inclinaes de linhas que no

    passam pela origem5) Desconhecimento do significado das reas no grfico abaixo dascurvas Cinemticas

    6) Confuso entre rea/inclinao/altura

    Em um primeiro momento, Agrello e Garg (Op. cit.) comparam seus

    resultados com aqueles obtidos por Beichner (1994); nesta comparao os estudantes

    brasileiros da UnB pareciam estar mais bem preparados que os americanos para lidar

    com grficos de Cinemtica. Apesar disso, verificou-se que os alunos da UnB tinham

    os mesmos tipos de dificuldades que os alunos americanos. Em seguida, os autores

    fizeram uma comparao dos resultados obtidos pelos estudantes brasileiros entre si,

    dividindo-os em grupos segundo o tipo de escola que freqentaram no Ensino Mdio,

    se escola pblica ou escola privada. Apesar do ndice de acertos dos alunos oriundos

    de escolas privadas ser maior do que os vindos da escola pblica, os resultados no

    foram estatisticamente diferentes.

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    Este estudo comparou tambm o nvel de acertos das respostas no teste em

    relao ao curso escolhido pelos alunos. Segundo os autores este tipo de anlise

    permite melhorar o ensino para os alunos mais despreparados e sugere que o ensinonos cursos tidos como bsicos no deve ser ministrado igualmente para todas as reas

    de conhecimento, visto que os alunos iniciantes no tm o mesmo nvel de formao.

    Uma vez realizada a reviso da literatura pertinente a este trabalho, passemos,

    no captulo seguinte, sua fundamentao terica propriamente dita.

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    3 FUNDAMENTAO TERICA

    Neste captulo apresentamos o referencial terico utilizado na pesquisa,

    enfocando a teoria de aprendizagem significativa de Ausubel, base para a construo

    da hiptese de pesquisa, e a teoria da modelagem esquemtica de Halloun, que

    descreve formalmente o processo de modelagem utilizado no tratamento de pesquisa.

    3.1 A TEORIA DE APRENDIZAGEM DE DAVID AUSUBEL

    A teoria de aprendizagem de David Ausubel (1980) tem como cerne a idia da

    aprendizagem significativa, definida como um processo onde uma nova informao

    interage com algum aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivduo.

    Podemos dizer que uma aprendizagem significativa ocorre quando uma nova

    informao assimilada atravs da interao com conceitos relevantes preexistentes na

    estrutura cognitiva do aprendiz (Ausubel, 2002). Estes conceitos foram denominados

    por Ausubel de subsunores.Porm, a aprendizagem significativa no se restringe a

    influncia direta dos subsunores sobre elementos da nova informao. Devemos

    considerar tambm as modificaes e o crescimento desses subsunores devido

    interao com o novo material, pois neste processo o subsunor evolui tornando-se

    mais inclusivo e aumentando a sua capacidade de se relacionar com novas

    informaes. Isto significa que os subsunores podem apresentar grandes variaes de

    um indivduo para outro podendo ser amplos e bem diferenciados ou limitados emquantidade e variedade de elementos, segundo as experincias de aprendizagem de

    cada pessoa.

    Para Ausubel, as informaes na mente humana esto dispostas de forma

    altamente organizada. Estas informaes formam uma hierarquia conceitual onde os

    elementos mais especficos de conhecimento so ligados e assimilados a conceitos

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    mais gerais e inclusivos. Deste modo, estrutura cognitiva significa uma estrutura

    hierrquica de conceitos, que so representaes resultantes de experincias sensoriais

    do indivduo e do processamento mental da informao recebida (Moreira, 1999) .

    3.1.1 Aprendizagem Mecnica

    Ausubel define aprendizagem mecnica (ou automtica) como aquela em que

    o indivduo adquire uma nova informao com pouca ou nenhuma relao com os

    subsunores existentes em sua estrutura cognitiva. Este conhecimento armazenadode forma literal e arbitrria, no se ligando a subsunores especficos. Apesar deste

    tipo de aprendizagem contrapor-se aprendizagem significativa, importante destacar

    que Ausubel no apresenta os dois tipos de aprendizagem como antagnicos e sim

    como em extremos de um contnuo, isto , existem diferentes nveis de aprendizagem

    significativa e mecnica.

    3.1.2 Subsunores

    Visto a importncia dos subsunores na desejada aprendizagem significativa,

    se fazem pertinentes as seguintes perguntas: O que fazer quando estes no existem?

    Como os primeiros subsunores so formados? Uma possvel resposta para estas

    perguntas que em uma rea do conhecimento totalmente nova para o indivduo, a

    aprendizagem ser inicialmente mecnica. A aprendizagem significativa no ocorrer

    at que alguns elementos de conhecimento, relevantes a novas informaes na mesma

    rea, existam na estrutura cognitiva e possam servir de subsunores ainda que pouco

    elaborados. Na medida que a aprendizagem comea a ser significativa, os subsunores

    vo tornando-se cada vez mais elaborados e o indivduo capaz de assimilar novas

    informaes.

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    Moreira (Op. cit.) apresenta outra possvel resposta para as perguntas acima,

    evocando o caso de crianas pequenas, onde os primeiros conceitos so adquiridos em

    um processo chamado formao de conceitos, o qual envolve generalizaes deinstncias especficas. Porm, quando as crianas atingem a idade escolar a maioria j

    possui um conjunto adequado de conceitos que permite a ocorrncia da aprendizagem

    significativa. A partir da, apenas ocasionalmente haver ainda a formao de

    conceitos; a maioria dos novos conceitos sero adquiridos atravs de assimilao,

    diferenciao progressiva e reconciliao integrativa.

    Para Ausubel, do ponto de vista instrucional, extremamente recomendvel o

    uso de organizadores prvios como veculos facilitadores da aprendizagem

    significativa quando no existem na estrutura cognitiva os subsunores adequados. Os

    organizadores prvios so materiais introdutrios apresentados em nvel mais alto de

    abstrao, inclusividade e generalidade antes do material a ser aprendido em si. O

    aspecto mais significativo do processo de assimilao de conceitos o relacionamento,

    de forma substantiva e no-arbitrria, a idias relevantes estabelecidas na estrutura

    cognitiva do aprendiz com o contedo potencialmente significativo implcito nas

    novas informaes. Os organizadores prvios funcionam como pontes cognitivas

    para o processo de aprendizagem significativa.

    3.1.3 Condies para a Aprendizagem Significativa

    Ausubel prope duas condies bsicas para que ocorra a aprendizagem

    significativa:

    As informaes a serem assimiladas devem ser potencialmente significativas

    para o aprendiz, ou seja, ele tem de ter em sua estrutura cognitiva conceitos

    relacionveis, de forma substantiva e no-arbitrria, vinculados diretamente

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    com o conhecimento a ser aprendido, o qual, por sua vez, deve ter significado

    lgico.

    O aprendiz deve manifestar uma disposio para relacionar o novo material,de forma substantiva e no-arbitrria, sua estrutura cognitiva. Em outras

    palavras, podemos dizer que mesmo que uma informao seja potencialmente

    significativa, se o aprendiz no se dispuser a aprend-la, a aprendizagem s

    poder ser mecnica. Da mesma forma, se o material no potencialmente

    significativo, tanto o processo como o resultado no sero significativos.

    No presente trabalho estas condies serviram como base para a elaborao da

    hiptese de pesquisa apresentada no captulo 4, guiando-nos tambm na interpretao

    parcial dos resultados obtidos.

    3.2 MODELAGEM ESQUEMTICA

    Modelagem esquemtica uma teoria de desenvolvimento epistemolgico

    baseada na pesquisa cognitiva. Nela admite-se que modelos so os componentes

    majoritrios do conhecimento de qualquer pessoa, e que modelagem um processo

    cognitivo para construir e empregar o conhecimento no mundo real. Halloun (1996)

    estabelece trs dos mais fundamentais princpios para a modelagem esquemtica:

    1) Ns construmos modelos mentais que representam aspectos significantes de

    nosso mundo fsico e social, e manipulamos elementos destes modelos

    quando pensamos, planejamos e tentamos explicar os eventos deste mundo

    (Bower e Morrow apudOp. cit.).

    2) Nossa viso de mundo tem dependncia causal da forma como o mundo est

    e de como ns estamos (Johnson-Laird apudHalloun, 1996).

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    3) Modelos mentaisesto dentro das mentes das pessoas. Eles so tcitos, e no

    podem ser explorados diretamente. Entretanto, eles podem ser explorados via

    modelos conceituais que so os modelos utilizados por uma pessoa paracomunicar-se com outras verbalmente, simbolicamente ou de forma pictrica

    (e/ou via modelos fsicos, definidos como artefatos materiais). Modelos

    conceituais utilizados na nossa comunicao no dia-a-dia so freqentemente

    subjetivos, idiossincrticos e no coerentemente estruturados. Com instruo

    apropriada estes modelos podem tornar-se relativamente objetivos e

    coerentemente estruturados (Gentner e Stevens; Giere; Hestenes; Nersessian;Redish; apudHalloun, 1996).

    Halloun (Op. cit.) argumenta que quando os cientistas se propem a estudar

    um sistema fsico, eles concentram-se em um nmero limitado de caractersticas deste

    sistema, construindo a partir disso um modelo conceitual3 (um modelo matemtico,

    por exemplo) e/ou um modelo fsico (como um artefato material). Eles analisam o

    modelo construdo e fazem inferncias sobre o sistema fsico que este representa. O

    processo inteiro habitualmente guiado por alguma teoria fsica.

    Ainda segundo Halloun, modelos cientficos so esquemticos no sentido de

    que como outros esquemas cientficos (conceitos, leis e outras estruturas

    compartilhadas pelos cientistas) eles: (a) utilizam um nmero limitado de

    caractersticas bsicas quase independentes das idiossincrasias individuais dos

    cientistas, e (b) so desenvolvidos e aplicados seguindo esquemas genricos de

    modelagem. O conhecimento necessrio para que algum compreenda realmente um

    modelo conceitual cientfico, pode ser caracterizado em quatro dimenses definidas

    por Halloun como:

    3 Estes modelos so tambm chamados por Halloun de modelos conceituais cientficos, distinguindo-os dos modelos comumente usados pelas pessoas.

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    a) Domnio

    O domnio de um modelo consiste em um conjunto de sistemas fsicos(referncias do modelo) que compartilham uma estrutura comum e/ou caractersticas

    comportamentais que o modelo pode ajudar a descrever, explicar e/ou predizer em

    alguns aspectos e com um certo grau de preciso. O modelo pode, tambm, permitir o

    controle das referncias usadas e o delineamento de novas a partir de seus resultados.

    b) Composio

    Durante a modelagem de uma situao fsica os cientistas tendem a agrupar os

    objetos envolvidos dentro de sistemas finitos. Cada sistema pode incluir uma ou mais

    entidades que exibem propriedades especficas de interesse e que interagem umas com

    as outras. Entidades fsicas dentro e fora do sistema podem ser representadas no

    modelo correspondente por entidades conceituais que pertencem ao contedo e ao

    ambiente do modelo respectivamente, sendo caracterizadas por descritores

    apropriados. Contedo e ambiente e seus respectivos objetos e agentes, formam a

    composiode um modelo. Um descritor uma propriedade conceitual (uma varivel

    em um modelo matemtico, por exemplo) que representa uma propriedade especfica

    das entidades dentro ou fora do modelo. Podemos ter os seguintes tipos de descritores:

    1) Descritor de objeto: dividido em duas categorias; descritor intrnseco

    (parmetro), representando uma propriedade fsica que admitida como

    constante (massa de um corpo, por exemplo); ou descritor de estado

    (varivel), representando uma propriedade fsica que pode variar com o tempo

    (posio e energia cintica de um corpo, por exemplo).

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    2) Descritor de interao: definido como uma caracterstica mtua

    compartilhada por um objeto e um agente em um modelo. Ele representa a

    interao fsica entre uma entidade dentro das referncias do modelo e outrafora (fora e energia potencial, por exemplo).

    Halloun faz questo de ressaltar que um modelo no isomrfico em relao

    s suas referncias, ou seja, nem todas as entidades de um sistema fsico precisam estar

    presentes no modelo que o representa. Entretanto, cada objeto em um modelo deve

    corresponder a no mnimo uma entidade dentro da sua referncia, e cada agente, a nomnimo uma entidade fora. Similarmente, cada descritor deve corresponder a uma

    propriedade fsica especfica do seu sistema fsico de referncia.

    c) Estrutura

    A estrutura de um modelo constituda pelas relaes existentes entre os

    descritores que representam propriedades fsicas da referncia do modelo. Trs tipos

    de estruturas so englobadas pelas relaes: geomtrica, relacionada com a

    configurao espacial dos objetos e agentes; interativa, vinculada a relacionamentos

    atemporais expressos em leis de interao entre um descritor de objeto e um descritor

    de interao (Lei de Newton da gravitao universal, por exemplo)ecomportamental,

    referindo-se aos relacionamentos espao-temporais que descrevem ou explicam o

    comportamento de objetos individuais do contedo de um modelo em determinadas

    condies especficas. Estes relacionamentos so expressos em dois tipos de leis: leis

    de estado e leis causais.

    As leis de estado expressam o relacionamento entre as propriedades de um

    determinado objeto e tambm descrevem a mudana de estado do mesmo (e.g.

    equaes de movimento). Leis causais expressam o relacionamento entre uma

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    propriedade de interao e uma propriedade de estado de um objeto e explicam a sua

    mudana de estado (leis de Newton da Dinmica e as leis de conservao, por

    exemplo).

    d) Organizao

    Modelos pertencentes mesma categoria podem ser classificados em grupos e

    subgrupos (ou famlias) de modelos seguindo critrios convenientes. Cada grupo inclui

    uma famlia especial de modelos chamados modelos bsicos. Um modelo bsico quasesempre um modelo simples, mas abrangente, que descreve e explica um fenmeno

    fsico elementar. Estes modelos so partes indispensveis para um aprendizado

    significativo de conceitos individuais e princpios de uma dada teoria cientfica, bem

    como para o desenvolvimento de modelos mais complexos. Alm do critrio de

    classificao, cada teoria contm leis de organizaoe regrasque especificam: como

    os modelos dentro de uma dada famlia se relacionam entre si e com modelos de outras

    famlias; e, conseqentemente, como combinar diferentes modelos para o estudo de

    situaes fsicas que esto fora do escopo do domnio de compreenso dos modelos

    disponveis.

    3.2.1 O Processo de Modelagem Esquemtica

    A figura 3 mostra um processo genrico de modelagem esquemtica que pode

    ser sistematicamente aplicado no contexto de uma teoria conveniente para a

    construo de novos modelos, refinando-os e/ou empregando-os em situaes

    especficas (experimentos de laboratrio, problemas do tipo livro-texto, etc.

    (Hestenes apudHalloun, 1996).

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    O primeiro passo no processo de modelagem esquemtica consiste em

    identificar e descrever a composio de cada sistema fsico em questo e o respectivo

    fenmeno. Em paralelo a isto devemos identificar, tambm, o propsito(conjunto deobjetivos em um livro-texto, por exemplo) e a validadedas sadas esperadas (incluindo

    a preciso dos resultados). Seguindo estes passos, importantes para a escolha da teoria

    apropriada no contexto que a modelagem deve seguir, selecionamos um modelo

    apropriado e ento o construmos. O modelo ento processado e analisado, enquanto

    continuamente validado. Seguindo esta anlise, concluses apropriadas so inferidas

    sobre o sistema em questo e as sadas so justificadas em funo do propsito damodelagem e da validade requerida (Halloun; Hestenes; apudOp. cit.).

    FIGURA 3 - Representao esquemtica do processo de modelagem (Hestenes apudHalloun, 1996).

    3.2.2 Modelagem Esquemtica para a Resoluo de Problemas de Paradigma

    Halloun denomina como problemas de paradigma os problemas que abrangem

    caractersticas especiais evitando a aplicao direta de frmulas numricas e incluindo

    Situao

    SistemaFenmeno

    Modelo

    Anlise

    Concluses/Justificao

    ValidadePropsito

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    questes abertas que permitem que os estudantes reflitam sobre suas prprias

    concepes sobre os sistemas fsicos.

    A resoluo desse tipo de problema ocorre em cinco estgios: seleo,

    construo, validao, anlise e expanso. O processo no-hierrquico. Os trs

    estgios do meio sobrepem-se, e alguns desses passos podem ser conduzidos ao

    mesmo tempo. Em cada estgio, o modelador pergunta a si mesmo questes

    especficas e tenta respond-las sistematicamente. Cada um dos cinco estgios ser

    discutido abaixo.

    3.2.2.1 Seleo do modelo

    A soluo de problemas de um livro-texto, freqentemente envolve modelos

    bsicos e/ou modelos emergentes que so combinaes destes modelos bsicos, visto

    que o processo de modelagem sempre comea com a seleo de modelos apropriados

    de um repertrio de modelos familiares em uma teoria especfica. A seleo guiada

    pelo domnio de cada modelo e governada pelo propsito da modelagem e da validade

    requerida.

    3.2.2.2 Construo do modelo

    Neste estgio, o modelador procura construir modelos matemticos que

    ajudam a resolver o problema. Eles constroem, ou reproduzem, a composio e a

    estrutura de cada modelo selecionado.

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    3.2.2.3 Validao do modelo

    Este estgio pode ser concomitante construo do modelo, considerandoessencialmente a consistncia interna do modelo, com perguntas do tipo: quo bem

    cada representao matemtica corresponde ao seu equivalente no sistema fsico de

    referncia? As condies de contorno so satisfeitas?

    3.2.2.4 Anlise do modelo

    Uma vez que o modelo tenha sido validado, a anlise pode ser feita no sentido

    de verificar se todos os propsitos esto sendo contemplados com o modelo que est

    sendo construdo. A anlise do modelo na resoluo de problemas do tipo livro-texto

    consiste primeiramente no processamento do modelo matemtico, obtendo as respostas

    para as questes levantadas no problema e a interpretao e justificativa para as

    respostas.

    3.2.2.5 Expanso do modelo

    Uma vez que o modelo foi analisado e completamente validado, algumas

    implicaes podem ser inferidas em relao ao propsito original, bem como a outros

    propsitos de validao. Isto ajuda ao modelador a desenvolver suas habilidades de

    transferncia. A expanso de modelos inclui:

    uso de um dado modelo para descrever, explicar e/ou predizer novas situaes

    fsicas pertencentes ao sistema em estudo;

    inferir implicaes para outros sistemas fsicos de referncia do modelo;

    extrapolar o modelo para a construo de outros novos modelos.

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    A expanso de modelos tambm inclui atividades reflexivas, onde o

    modelador examina e aprimora seu conhecimento em termos de sua experincia de

    modelagem.

    No presente trabalho estamos interessados nos modelos fsicos vistos como

    descries simplificadas e idealizadas de sistemas ou fenmenos fsicos, aceitos pela

    comunidade cientfica, que envolvem elementos como representaes (externas),

    proposies semnticas e modelos matemticos subjacentes; estes, passamos a

    denominar simplesmente de modelos.

    Entendemos modelagem computacional aplicada no ensino de Fsica como o

    processo de modelagem proposto por Halloun (Op. cit.) acrescido do uso do

    computador como uma ferramenta facilitadora na execuo dos estgios no-

    hierrquicos de construo, validao, anlise e expanso do modelo. Cabe aqui

    ressaltar que no presente trabalho consideramos um modelo fsico no somente como

    um artefato material (definio de Halloun), mas de forma mais ampla conforme a

    definio de Greca e Moreira (2001): Quando os enunciados da teoria (teoria fsica)

    esto de acordo com um fenmeno ou com um sistema fsico idealizado e simplificado,

    a descrio resultante um modelo fsico.

    No prximo captulo apresentaremos a metodologia de pesquisa utilizada, o

    objeto de estudo e a hiptese de pesquisa que guiaram o experimento.

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    4 OBJETO DE ESTUDO E METODOLOGIA

    Neste captulo, apresentamos o objeto de estudo e a hiptese de pesquisa queguiaram a realizao deste trabalho e, em seguida, descrevemos a metodologia

    desenvolvida na verificao dessa hiptese.

    4.1 OBJETO DE ESTUDO

    Este trabalho tem como objeto de estudo o uso conjunto de atividades demodelagem exploratria e de criao, apresentadas na forma de situaes-problema e

    desenvolvidas com o software Modellus, que foram utilizadas como um complemento

    instrucional em reas problemticas do ensino de Fsica.

    As situaes-problema, referidas anteriormente, dizem respeito a questes

    formuladas a partir de uma situao fsica bem definida onde os alunos expressam suas

    respostas do modo tradicional (lpis e papel) e depois confrontam os seus resultados

    com aqueles obtidos atravs dos modelos, procurando justificar as eventuais

    disparidades entre ambos. Muitas vezes essas questes so apresentadas na forma de

    desafio.

    Como hiptese de pesquisa admitimos que o tratamento de pesquisa

    promover a predisposio do aluno para aprender, relacionando as novas

    informaes, de forma substantiva e no-arbitrria, sua estrutura cognitiva, criando

    assim condies para uma aprendizagem significativa do contedo trabalhado que

    resultar em melhor desempenho em teste de conhecimento sobre tal contedo.

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    4.2 DELINEAMENTO DE PESQUISA

    Para testar a hiptese levantada buscamos na literatura uma rea problemticado ensino de Fsica que poderia ser potencialmente melhor tratada com a aplicao de

    atividades adequadas de modelagem computacional. Conforme visto no captulo de

    reviso da literatura, vrios autores chamam ateno para as dificuldades existentes na

    interpretao de grficos da Cinemtica. Por acreditarmos que este contedo uma

    pedra basilar sobre a qual vrios conceitos costumam ser construdos ao longo do

    curso de Fsica, escolhemos este como tema para nossa pesquisa.

    O estudo, envolvendo estudantes do primeiro semestre do curso de Fsica da

    UFRGS, foi desenvolvido segundo um delineamento de pesquisa com grupo de

    controle no-equivalente devido impossibilidade de adequao de horrios comuns

    entre todas as turmas para a realizao do estudo. Usando a notao de Campbell e

    Stanley (1963), podemos escrever o delineamento quasi-experimental adotado

    (design 10) conforme a tabela 3.

    TABELA 3 - Delineamento da pesquisa.

    DelineamentoGrupo

    ExperimentalO1 X O2

    Grupo de Controle O1 O2

    FONTE: Adaptado de Campbell e Stanley (1963).

    4.3 AMOSTRA

    O experimento foi realizado no 1osemestre de 2002 envolvendo 57 alunos das

    nove turmas (A, B, C, D, E, F, G, H e I) do 1o

    ano do curso de Fsica matriculados

    O1= Teste inicialX = Tratamento (Atividades de

    modelagem computacional)

    O2 = Teste final

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    (total de 115 estudantes) na disciplina Fsica Geral I. Para atender a compatibilidade de

    horrio, escolhemos apenas as seis primeiras para a seleo dos alunos que vieram a

    compor, de forma voluntria, o grupo experimental. Os estudantes das turmas G, H e Ie aqueles no participantes do grupo experimental que se identificaram durante a

    realizao do teste inicial compuseram o grupo de controle.

    O grupo experimental foi formado inicialmente por 31 estudantes, mas

    somente 26 concluram o experimento. O grupo de controle contou com um nmero

    total de 26 alunos. Cabe aqui ressaltar que todos os alunos envolvidos, desde avalidao do instrumento at a sua aplicao, j haviam sido expostos aos contedos

    da Cinemtica e que tanto os estudantes que compunham o grupo experimental quanto

    o de controle freqentaram normalmente as aulas da disciplina de Fsica Geral I

    durante o perodo de quatro semanas em que o experimento foi realizado. As

    atividades de modelagem computacional eram, ento, complementares.

    4.4 ELABORAO, VALIDAO E APLICAO DO TESTE INICIAL

    Com o propsito de aplicao de um teste inicial para os grupos de controle e

    experimental adaptamos o Teste do Entendimento de Grficos da Cinemtica (TUG-

    K), consistindo de 21 questes de escolha simples com cinco alternativas cada,

    proposto por Beichner (1994), para a lngua portuguesa. No adotamos a traduo para

    o portugus feita por Agrello e Garg (1999) porque no h qualquer referncia

    validao do teste traduzido e, tambm, porque em algumas questes o enunciado no

    suficientemente rigoroso, mesmo na verso original.

    O teste inicial foi elaborado com o objetivo de identificar as dificuldades

    apresentadas na literatura (indicadas na tabela 2) e servir como uma covarivel para a

    anlise dos resultados obtidos no teste final.

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    Para fins de validao, inicialmente submetemos o teste ao exame de seis

    especialistas no contedo, todos doutores em Fsica do Instituto de Fsica da UFRGS.

    A incorporao das modificaes sugeridas resultou no teste apresentado no ApndiceA, que foi aplicado a uma turma de 37 estudantes do 1oano do curso de Engenharia

    Eltrica (UFRGS) no 2o semestre letivo de 2001, com a inteno de obtermos o

    coeficiente de fidedignidade do instrumento (alfa de Cronbach). A aplicao do teste

    durou aproximadamente uma hora.

    Concluda a etapa de validao, aplicamos o teste a 88 alunos do 1

    o

    semestredo curso de Fsica4em sua primeira semana de aula. Antes da aplicao do teste, em

    todas as turmas, foi feita uma exposio sucinta sobre os objetivos de nossa pesquisa.

    Nas turmas A, B, C, D, E e F esta exposio incluiu a metodologia que

    empregaramos, em especial, quanto ao grupo experimental e quanto possibilidade

    de que os estudantes se inscrevessem voluntariamente no grupo experimental. Os

    voluntrios comunicaram seu interesse em participar do grupo experimental ao final

    do teste. Aos alunos das demais turmas e para aqueles que no ingressaram no grupo

    experimental a identificao foi facultativa, somente tornando-se necessria caso eles

    quisessem tomar conhecimento do seu escore geral no teste. As folhas com as questes

    do teste e as grades de resposta foram recolhidas ao final da aplicao do mesmo.

    4.5 TRATAMENTO

    Elaboramos uma srie de atividades de modelagem5 utilizando o software

    Modellus para auxiliar os alunos na superao de eventuais dificuldades enfrentadas

    4 O teste foi validado para estudantes de Fsica Geral da Engenharia e foi usado com estudantes deFsica Geral da Fsica supondo que as populaes so semelhantes. Tal suposio necessriaporque a validade de um instrumento de medida sempre relativa situao na qual o estudo de

    validade foi conduzido, ou seja, ao grupo respondente (Moreira e Silveira, 1993, p.83).5 Estas atividades podem ser encontradas em Araujo e Veit (2002a) e Araujo e Veit (2002b).

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    por eles na interpretao de grficos, apresentadas na tabela 2. Estas atividades podem

    ser classificadas em duas categorias:Atividades exploratriaseAtividades de criao.

    As atividades exploratrias caracterizam-se pela observao, anlise e

    interao do sujeito com modelos j construdos, no intuito de permitir ao aluno a

    percepo e a compreenso das eventuais relaes existentes entre a matemtica,

    subjacente ao modelo, e o fenmeno fsico em questo. Neste tipo de atividade, vrias

    questes so apresentadas em forma de perguntas dirigidas e desafios para os quais

    o aluno deve interagir com o modelo para chegar s respostas. Esta interao feitaatravs de modificaes nos valores iniciais e parmetros do modelo podendo ser

    utilizados recursos como barras de rolagem e botes para facilitar as modificaes

    dos mesmos.

    As atividades de criao, tambm conhecidas como atividades expressivas,

    podem ser caracterizadas pelo processo de construo do modelo desde sua estrutura

    matemtica at a anlise dos resultados gerados por ele. Neste tipo de atividade so

    apresentadas questes que visam elaborao de modelos a partir de determinados

    fenmenos de interesse onde podem ser fornecidas tanto informaes qualitativas

    quanto quantitativas do sistema. O aluno pode interagir totalmente com o seu modelo,

    podendo reconstru-lo tantas vezes quanto lhe parea necessrio para a produo de

    resultados que lhe sejam satisfatrios. Cabe aqui ressaltar que em ambos os tipos de

    atividades a interao entre elas e o aluno foi mediada pelo professor/pesquisador,

    tanto em termos de auxlio tcnico para a operao do software, como tambm no

    esclarecimento de eventuais dvidas sobre a Fsica e a Matemtica envolvidas no

    desenvolvimento de seus modelos.

    Como j foi destacado, um dos princpios norteadores na elaborao das

    atividades foi o de que estas teriam um carter complementar s aulas tradicionais, e

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    no a finalidade de substitu-las. Para a construo deste material auxiliar, admitimos

    que a testagem da hiptese poderia ser feita atravs de uma interao curta, mas

    efetiva, com o estudante. O tratamento se constituiu em quatro encontros de 2h15minem um laboratrio de computao onde os estudantes trabalhando em duplas ou

    individualmente6 (conforme sua escolha) foram submetidos a um conjunto de

    atividades7 de modelagem, que visavam permitir aos alunos a superao de suas

    dificuldades, referidas anteriormente na tabela 2, e o alcance dos objetivos enumerados

    na tabela 1.

    Os alunos pertencentes ao grupo experimental (31 estudantes) foram divididos

    em trs turmas (T1, T2e T3) para a aplicao do tratamento, segundo a disponibilidade

    de horrio. Vinte e seis estudantes participaram de todo o experimento, sendo sua

    distribuio nas turmas T1, T2 e T3 de sete, seis e treze estudantes, respectivamente.

    Aps a realizao do ltimo encontro foi solicitado aos alunos do grupo

    experimental que entregassem por escrito, e sem identificao, um depoimento sobre o

    tratamento incluindo possveis crticas, comentrios e sugestes. Concomitantemente a

    isso, realizamos entrevistas semi-estruturadas8 com dois alunos voluntrios de cada

    turma T1, T2 e T3, visando ampliar o estudo sobre a eventual disposio para

    aprender proporcionada pelas atividades de modelagem computacional realizadas

    com a ferramentaModellus.

    6 Mesmo os alunos que optaram por trabalhar individualmente com o computador interagiram com osseus colegas adjacentes.

    7 Os enunciados destas atividades encontram-se no Apndice C.8 Ver Apndice D.

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    4.6 ELABORAO, VALIDAO E APLICAO DO TESTE FINAL

    Para avaliar a eficcia do tratamento necessrio medir o desempenho dosalunos do grupo experimental aps o tratamento e compar-lo com o desempenho

    obtido pelos integrantes do grupo de controle. Para isto elaboramos um teste final a

    partir do teste inicial onde houve um reordenamento das questes desse teste e quatro

    questes adicionais foram introduzidas, totalizando 25 questes de escolha simples

    com cinco alternativas cada. Essas questes adicionais foram elaboradas tendo como

    base os problemas propostos por McDermott, Rosenquist e van Zee (1987) e seguindoos mesmos objetivos descritos na tabela 1. As questes extras tambm foram

    submetidas aos mesmos especialistas que avaliaram o teste inicial, ou seja, seis

    doutores do Instituto de Fsica da UFRGS. O teste final encontra-se no Apndice B.

    O teste foi aplicado a uma turma de 35 estudantes da disciplina de Fsica Geral

    I do curso de Engenharia Civil UFRGS, com a inteno de obtermos o coeficiente de

    fidedignidade do instrumento (alfa de Cronbach). A aplicao do teste durou

    aproximadamente uma hora.

    Aps a validao do instrumento, ele foi aplicado a 94 alunos pertencentes s

    nove turmas de Fsica Geral I do curso de Fsica no 1o semestre letivo de 2002. Foi

    solicitado aos alunos que todos aqueles que se identificaram no teste inicial se

    identificassem no teste final tambm. Alm disso, foi facultada a identificao para os

    que quisessem saber sua pontuao no teste final. O tempo de execuo do teste foi de

    aproximadamente 1h30min.

    Apresentado o objeto de estudo, a hiptese de pesquisa e a metodologia

    utilizada, passemos no prximo captulo para os resultados obtidos.

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    5 RESULTADOS E DISCUSSO

    Neste captulo apresentamos os resultados obtidos na investigao. Para a anlise dosdados foi utilizado o pacote estatstico SPSS for Windows Release 11.0.

    5.1 ANLISE DE FIDEDIGNIDADE DOS TESTES INICIAL E FINAL

    Conforme visto anteriormente, aplicamos os testes inicial e final a duas turmas piloto

    com o propsito de avaliar a fidedignidade dos instrumentos antes de aplic-los aos grupos decontrole e experimental. A partir dos resultados realizamos uma Anlise de Consistncia

    Interna (ACI) dos testes. Segundo Cronbach (1967, apud. Moreira e Silveira, 1993) podemos

    decompor a varincia do escore total em uma parcela atribuda ao que h de comum entre os

    escores parciais (escores das questes do teste) e uma outra parte ao erro da medida. A

    estimativa desta parcela fidedigna comum aos itens do teste pode ser quantificada pelo

    coeficiente alfa de Cronbach. Quando se deseja utilizar os escores gerados pelo instrumento

    para comparar grupos em mdias, podemos tolerar coeficientes da ordem de 0,7 (Moreira e

    Silveira, 1993, p.83). Nas tabelas 4 e 5 so mostrados de forma resumida os resultados da ACI

    para os dois testes.

    TABELA 4 - Sntese da Anlise de Consistncia Interna para os testes inicial e finalaplicados s turmas piloto.

    Teste N Mdia do escoreTotal

    Desvio padro doEscore total

    Nmero deItens

    CoeficienteAlfa

    Inicial 37 14,60 4,13 21 0,81Final 35 16,89 4,89 25 0,84

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    TABELA 5 - Sntese da Anlise de Consistncia Interna para os testes inicial e finalaplicados s turmas do curso de Fsica.

    Teste N Mdia do escoretotal

    Desvio padro doEscore total

    Nmero deItens

    CoeficienteAlfa

    Coeficiente decorrelao inicial-final

    Inicial 52 12,25 4,63 21 0,83Final 52 18,00 5,36 25 0,88

    0,64

    Fez parte tambm da ACI o clculo do coeficiente de correlao do escore em cada

    questo com o escore total e o coeficiente alfa do escore total caso o item fosse removido do

    teste. Na tabela 6 podemos observar que a eliminao de qualquer item no aumentaria

    significativamente os coeficientes alfa dos testes.

    5.2 COMPARAO ENTRE O GRUPO EXPERIMENTAL E O DE CONTROLE

    Os resultados obtidos na aplicao dos testes so explicitados nas tabelas 7 e 8

    mostrando o nmero de estudantes que optaram pelas diferentes alternativas nos testes

    inicial e final. Os objetivos que fundamentaram a construo dos testes (ver tabela 1)

    aparecem relacionados com os itens que compem os mesmos.

    Conforme mencionado anteriormente, o teste final foi elaborado a partir do

    reordenamento das questes do teste inicial e do acrscimo de alguns itens extras

    (questes 22, 23, 24, 25). Para facilitar a comparao entre o desempenho dos grupos,

    dispomos na tabela 9 os itens do teste inicial e sua correspondente numerao no teste

    final.

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    TABELA 6 - Correlao item-total e coeficiente alfa se o item especificado na primeiracoluna da tabela for eliminado dos testes inicial e final.

    Teste Inicial (21 itens)= 0,83

    Teste Final (25 itens)= 0,88

    ItemCorrelaoitem-total

    Coef. alfa se oitem for

    eliminado

    Correlaoitem-total

    Coef. alfa seo item foreliminado

    1 0,35 0,82 0,20 0,882 0,05 0,84 0,43 0,873 0,51 0,82 0,46 0,874 0,53 0,82 0,68 0,865 0,22 0,83 0,21 0,886 0,54 0,81 0,53 0,877 0,59 0,81 0,54 0,878 0,43 0,82 0,46 0,879 0,27 0,83 0,38 0,87

    10 0,35 0,82 0,47 0,8711 0,56 0,81 0,35 0,8712 0,21 0,83 0,43 0,8713 0,40 0,82 0,32 0,8614 0,34 0,82 0,64 0,8715 0,60 0,81 0,35 0,8716 0,35 0,82 0,29 0,8817 0,57 0,81 0,67 0,8718 0,11 0,84 0,44 0,8719 0,36 0,83 0,57 0,8720 0,20 0,83 0,39 0,8721 0,61 0,81 0,42 0,8722 - - 0,50 0,8723 - - 0,37 0,8724 - - 0,60 0,8725 - - 0,31 0,88

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    TABELA 7 - Discriminao das escolhas realizadas pelos alunos ao responderem o testeinicial. Os escores das alternativas corretas esto em negrito.

    Teste Inicial Escolhas do Grupo Experimental (N=26) Escolhas do Grupo de Controle (N=26)

    Item Objetivo A B C D E brancoPerc.

    acertosA B C D E branco

    Perc.Acertos

    1 4 4 5 0 5 11 1 19% 3 12 2 4 5 0 46%

    2 2 1 2 4 0 19 0 73% 0 2 1 0 23 0 88%

    3 6 4 0 2 18 2 0 69% 3 0 2 21 0 0 81%

    4 3 0 4 3 5 14 0 19% 0 0 4 14 8 0 54%

    5 1 0 0 21 4 1 0 81% 0 1 23 2 0 0 88%

    6 2 8 13 1 1 3 0 50% 9 12 1 3 1 0 46%

    7 2 9 6 2 6 1 2 35% 15 8 0 1 2 0 58%

    8 6 0 2 5 17 2 0 65% 0 2 1 22 1 0 85%

    9 7 2 6 2 1 15 0 23% 3 4 7 0 12 0 15%

    10 4 7 2 16 1 0 0 27% 11 2 12 0 1 0 42%

    11 5 5 3 1 16 1 0 62% 2 7 0 16 1 0 62%

    12 7 2 22 1 0 1 0 85% 2 21 2 0 1 0 81%

    13 1 6 3 4 9 2 2 35% 12 1 0 12 0 1 46%

    14 5 2 19 1 2 1 1 73% 2 19 2 3 0 0 73%15 5 8 3 6 2 7 0 31% 17 3 1 3 2 0 65%

    16 4 2 3 7 7 7 0 27% 0 6 8 10 2 0 38%

    17 1 9 9 1 2 4 1 35% 13 8 2 1 1 1 50%

    18 3 2 14 8 0 1 1 54% 0 18 7 0 1 0 69%

    19 7 5 1 13 4 2 1 50% 2 1 22 1 0 0 85%

    20 3 3 1 2 2 18 0 69% 0 0 0 0 26 0 100%

    21 6 13 13 0 0 0 0 50% 21 5 0 0 0 0 81%

    NOTA: a numerao dos objetivos a mesma utilizada na tabela 1, ou seja:1) Dado o grfico posio versus tempo o estudante deve ser capaz de determinar a velocidade.2) Dado o grfico da velocidade versus tempo o aluno deve ser capaz de determinar a acelerao.3) Dado o grfico da velocidade versus tempo o estudante deve ser capaz de determinar o

    deslocamento.4) Dado grfico da acelerao versus tempo o aluno deve ser capaz de determinar a variao na

    velocidade.5) Dado um grfico cinemtico o estudante deve ser capaz de selecionar outro grfico

    correspondente.6) Dado um grfico cinemtico o aluno deve ser capaz de selecionar a descrio textual adequada.7) A partir da descrio textual do movimento o estudante deve ser capaz de selecionar o grfico

    correspondente.

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    TABELA 8 - Discriminao das escolhas realizadas pelos alunos ao responderem o testefinal. Os escores das alternativas corretas esto em negrito.

    Teste Final Escolhas do Grupo Experimental (N=26) Escolhas do Grupo de Controle (N=26)

    Item Objetivo A B C D E brancoPerc.

    acertosA B C D E br anco

    Perc.acertos

    1 1 0 0 25 1 0 0 96% 0 1 21 4 0 0 81%2 2 2 22 0 0 2 0 85% 9 16 0 0 0 1 62%3 2 14 7 2 2 1 0 54% 14 6 0 2 3 1 54%4 4 0 16 0 5 5 0 62% 3 13 0 1 9 0 50%5 2 0 2 1 0 23 0 89% 0 1 1 0 24 0 92%6 6 0 0 5 21 0 0 81% 0 2 0 24 0 0 92%

    7 7 1 5 1 2 17 0 65% 2 3 2 0 19 0 73%8 4 15 0 9 0 2 0 58% 12 1 9 2 2 0 46%9 7 1 23 2 0 0 0 89% 0 24 0 0 2 0 92%

    10 5 1 8 0 17 0 0 65% 0 5 0 19 2 0 73%11 1 12 1 0 13 0 0 50% 6 0 0 19 1 0 73%12 5 2 21 1 2 0 0 81% 0 24 1 1 0 0 92%13 4 0 4 6 16 0 0 62% 0 3 6 12 4 1 46%14 5 17 1 4 2 2 0 65% 20 0 0 4 2 0 77%15 1 17 7 1 0 1 0 65% 13 11 0 0 1 1 50%16 3 1 23 2 0 0 0 89% 0 22 4 0 0 0 85%

    17 7 6 1 18 1 0 0 69% 1 0 24 0 1 0 92%18 3 1 0 2 0 23 0 89% 1 0 0 0 25 0 96%19 6 15 9 0 2 0 0 58% 22 4 0 0 0 0 85%20 6 0 0 1 22 3 0 85% 0 0 2 24 0 0 92%21 3 0 2 1 21 2 0 81% 1 0 1 19 5 0 73%22 1 1 1 2 2 20 0 77% 1 3 0 1 21 0 81%23 1 1 0 21 2 2 0 81% 4 1 17 3 1 0 65%24 5 5 2 4 13 1 1 50% 6 0 5 15 0 0 58%25 4 5 4 12 3 1 1 46% 5 7 8 2 3 1 31%

    NOTA: a numerao dos objetivos a mesma utilizada na tabela 1, ou seja:1) Dado o grfico posio versus tempo o estudante deve ser capaz de determinar a velocidade.2) Dado o grfico da velocidade versus tempo o aluno deve ser capaz de determinar a acelerao.3) Dado o grfico da velocidade versus tempo o estudante deve ser capaz de determinar o

    deslocamento.4) Dado grfico da acelerao versus tempo o aluno deve ser capaz de determinar a variao na

    velocidade.5) Dado um grfico cinemtico o estudante deve ser capaz de selecionar outro grfico

    correspondente.6) Dado um grfico cinemtico o aluno deve ser capaz de selecionar a descrio textual adequada.7) A partir da descrio textual do movimento o estudante deve ser capaz de selecionar o grfico

    correspondente.

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    TABELA 9 Comparao entre o desempenho dos alunos nas questes comuns aos testesinicial e final.

    Grupo Experimental Grupo de Controle

    ObjetivosNumeraoteste inicial

    Numeraoteste final

    Perc. acertosteste inicial

    Perc.acertos teste

    final

    Perc. acertosteste inicial

    Perc.acertos teste

    final4 1 4 19% 62% 46% 50%2 2 5 73% 89% 88% 92%6 3 20 69% 85% 81% 92%3 4 21 19% 81% 54% 73%1 5 1 81% 96% 88% 81%2 6 2 50% 85% 46% 62%

    2 7 3 35% 54% 58% 54%6 8 6 65% 81% 85% 92%7 9 7 23% 65% 15% 73%4 10 8 27% 58% 42% 46%5 11 10 62% 65% 62% 73%7 12 9 85% 89% 81% 92%1 13 11 35% 50% 46% 73%5 14 12 73% 81% 73% 92%5 15 14 31% 65% 65% 77%4 16 13 27% 62% 38% 46%1 17 15 35% 65% 50% 50%3 18 16 54% 89% 69% 85%7 19 17 50% 69% 85% 92%3 20 18 69% 89% 100% 96%6 21 19 50% 58% 81% 85%

    NOTA: a numerao dos objetivos a mesma utilizada na tabela 1, ou seja:1) Dado o grfico posio versus tempo o estudante deve ser capaz de determinar a velocidade.2) Dado o grfico da velocidade versus tempo o aluno deve ser capaz de determinar a acelerao.3) Dado o grfico da velocidade versus tempo o estudante deve ser capaz de determinar o

    deslocamento.4) Dado grfico da acelerao versus tempo o aluno deve ser capaz de determinar a variao na

    velocidade.5) Dado um grfico cinemtico o estudante deve ser capaz de selecionar outro grfico

    correspondente.6) Dado um grfico cinemtico o aluno deve ser capaz de selecionar a descrio textual adequada.7) A partir da descrio textual do movimento o estudante deve ser capaz de selecionar o grfico

    correspondente.

    Da tabela 9 podemos observar que, de um modo geral, houve um aumento no

    escore obtido no teste inicial para o teste final nos dois grupos. Para responder a nossa

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    questo de pesquisa a partir da anlise dos resultados dos testes nos concentramos na

    comparao entre as mdias de acertos. Para fazer inferncias sobre as causas de

    eventuais variaes estatisticamente significativas entre os escores individuais de cadaquesto necessitaramos de mais itens relacionados aos objetivos subjacentes aos testes

    e de algumas modificaes no delineamento de pesquisa. Apesar deste aspecto fugir

    do escopo do presente trabalho, acreditamos que ele aponte para uma possvel

    perspectiva futura de continuao do mesmo.

    Podemos observar na tabela 10 que h uma diferena entre as mdias dos doisgrupos no teste inicial, o que nos sugere que deva ser feita uma anlise da Varincia e

    Covarincia (ANOVA/ANCOVA)). Este procedimento corrige (ajusta por regresso)

    os escores do teste final, equiparando os sujeitos entre si nos escores da prova inicial,

    ou seja, calcula por regresso quais seriam os escores na prova final caso no houvesse

    diferenas entre os indivduos (conseqentemente no houvesse tambm diferena em

    mdia entre os dois grupos) no teste inicial. Os resultados do uso da

    ANOVA/ANCOVA so mostrados na tabela 11 que apresenta as mdias ajustadas na

    prova final nos dois grupos, bem como a razo F de Snedecor (atravs do qual obtido

    o nvel de significncia) para a diferena entre as duas mdias e o nvel de

    significncia estatstica desta diferena (FINN, 1997).

    TABELA 10 - Comparao entre o grupo experimental e o grupo de controle nas mdias doteste inicial e final.

    Teste inicial (21 itens) Teste final (25 itens)

    GrupoMdia do

    escore totalDesvioPadro

    Perc.acertos

    Mdia doescore total

    DesvioPadro

    Perc.acertos

    Coeficiente decorrelao inicial-

    final

    Experimental 10,65 4,24 51% 17,88 6,23 73% 0,72Controle 13,85 4,51 66% 18,12 4,45 75% 0,64

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    TABELA 11 - Comparao entre o grupo experimental e o grupo de controle nas mdiasajustadas do teste final.

    Grupo Mdia ajustada noteste final

    F Nvel deSignificnciaestatstica

    Experimental 19,21Controle 16,79

    4,08 0,049

    Da tabela 11 vemos que o grupo experimental possui uma mdia superior ao

    grupo de controle e que podemos descartar a hiptese nula (o desempenho mdio dos

    estudantes o mesmo com ou sem a aplicao do tratamento) em um nvel de

    significncia menor do que 0,05.

    Este resultado sugere fortemente que vantajoso utilizar atividades

    complementares de modelagem com o Modellus para promover uma aprendizagem

    significativa em Fsica na rea de interpretao de grficos da Cinemtica.

    5.3 ANLISE DO LEVANTAMENTO DE OPINIES E DAS ENTREVISTAS

    Tendo em vista o resultado positivo sobre a significncia do tratamento

    apresentado na seo anterior, buscamos validar a nossa hiptese de pesquisa

    analisando tambm os dados obtidos a partir do levantamento das opinies escritas e

    das entrevistas sobre a aplicao do tratamento, e seus resultados, com alunos

    pertencentes ao grupo experimental, conforme mencionado no captulo anterior.

    A partir dessa anlise, acreditamos que ocorreram melhorias nas condies de

    aprendizagem significativa devido complementao da atividade tradicional pelas

    atividades de modelagem na medida em que estas permitiram que os alunos

    percebessem a relevncia das relaes matemticas subjacentes aos modelo fsicos e

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    refletissem sobre o papel desempenhado pelos grficos no estudo dos movimentos.

    Nas palavras dos prprios alunos:

    ...pude aprender o que o desenho de um grfico, o que ele mostra e o que

    ele est representando. Antes eu procurava fugir de um problema que tivesse

    grficos, agora eu noto como a gente pode extrair muitas informaes teis deles.

    (Aluno 1)

    Ao fazer as atividades tu vs no que o valor das equaes mudam o jeito dosgrficos, ou o que eles esto representando na vida real. (Aluno 2)

    ...ao mexer com uma barra para l e para c podemos observar o que isto

    causa no nosso movimento. Como essa mexida na barra representa que a gente est

    mudando algum valor numa equao, podemos saber o que a varivel que a gente

    est mexendo representa no movimento e nos grficos. (Aluno 3)

    Na parte de criao a gente consegue ver o que precisa e o que no to

    necessrio botar, para criar um modelo do nosso problema. (Aluno 4)

    ...eu achei bem interessante perceber que o grfico no uma fotografia do

    movimento, um carrinho pode estar andando para um lado e o grfico que representa

    a posio (contra o tempo) dele estar para cima. Tu tens que analisar o movimento

    bem para poder montar o grfico. (Aluno 5)

    ...acho que com o Modellus fica bem fcil identificar o que a gente pode tirar

    (extrair informaes) dele, d para ver tambm que o grfico da velocidade no vai

    ser sempre igual ao da acelerao como eu achava que era. (Aluno 6)

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