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13 ECA - Estatuto e cidadania código civil, que rege a garantia dos direitos inerentes à pessoa hu- mana. Muitos, por não conhecerem o ECA, dizem que a lei veio apenas para proteger pequenos "bandidos" e tirar a autoridade dos pais, mas, ao interpretá-Ia, entendemos que esta lei veio para refor- çar a responsabilidade da família em relação a seus filhos, dando garantia dos direitos já assegurados pela lei federal de 1988, fazen- do com que esses direitos sejam respeitados. Direito à vida, à saú- de, ao trabalho, educação, praticar esporte, lazer, profissionalização, convivência comunitária e familiar. Bastaria a realização plena e a garantia de um só desses artigos, o 7°, para que o Brasil resgatasse a maior parte de sua dívida social para com milhões de crianças e adolescentes, garantindo a constru- ção básica de uma nova sociedade. Art.7°: "A criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais e públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência". Com alimentação adequada, saneamento básico, moradia, acom- panhados por medidas simples de prevenção, educação em saúde e facilidades no pronto atendimento médico de crianças e adolescen- tes, quase 70% das doenças poderiam ser evitadas ou atenuadas. Direito à saúde está junto ao direito à vida porque uma coisa leva à outra: se a pessoa tem saúde, o direito à vida está sendo garantido. Quando falamos em vida saudável, o que logo pensamos é prati- car esportes, ter uma boa alimentação, dormir bem, essas coisas. Mas quando falamos em saúde, o problema é mais grave no Brasil: pensa- mos nos hospitais públicos, nos planos de saúde, nas epidemias, nos preços dos remédios, não se sabem quais desses são prioridades ou quais estão piores. De repente todos são ruins, são péssimos! O que precisamos lembrar é que a SAÚDE é um direito. E o Estado tem sua responsabilidade de viabilizar o acesso de graça para você, adolescente. Estes são alguns dos direitos que o Estado deve assegurar: • Atendimento pré e perinatal: atendimento na gravidez e no parto. a) Objetivos: Despertar para direitos e deveres do cidadão. Estimular a expressão dos conhecimentos sobre o tema e favorecer a discussão. Analisar o Estatuto da Criança e do Adolescente como um instrumento de consulta diária. b) Conteúdos: Lei 8069 - ECA; educação e cultura na cons- trução da cidadania, instrumentos de exercício da cidadania; direi- tos e deveres; Estado e poder. c) Dinâmicas: a) Teatro ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente; b) Voto, um exercício de cidadania; c) Ouvindo e concluindo; d) Estudo dividido. o exercício da cidadania Iniciaremos falando sobre a lei que determina os direitos e de- veres da criança e do adolescente, e depois dos instrumentos para exer- cer uma cidadania no seu bairro, município, Estado e país. O ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a cons- tituição das crianças e dos adolescentes, veio para garantir igual- dade de condições a todas as crianças e adolescentes deste país, ou seja, até 1988 vigorava no Brasil o código de menores. Esse código de menores se aplicava a todas as crianças e adolescentes pobres, órfãos; no entanto, os filhos de classe média acima estavam sob o ·122· • 123 •

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13ECA - Estatuto e cidadania

código civil, que rege a garantia dos direitos inerentes à pessoa hu-mana. Muitos, por não conhecerem o ECA, dizem que a lei veioapenas para proteger pequenos "bandidos" e tirar a autoridade dospais, mas, ao interpretá-Ia, entendemos que esta lei veio para refor-çar a responsabilidade da família em relação a seus filhos, dandogarantia dos direitos já assegurados pela lei federal de 1988, fazen-do com que esses direitos sejam respeitados. Direito à vida, à saú-de, ao trabalho, educação, praticar esporte, lazer, profissionalização,convivência comunitária e familiar.

Bastaria a realização plena e a garantia de um só desses artigos,o 7°, para que o Brasil resgatasse a maior parte de sua dívida socialpara com milhões de crianças e adolescentes, garantindo a constru-ção básica de uma nova sociedade.

Art.7°: "A criança e o adolescente têm direito à proteção, à vidae à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais e públicas quepermitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,em condições dignas de existência".

Com alimentação adequada, saneamento básico, moradia, acom-panhados por medidas simples de prevenção, educação em saúde efacilidades no pronto atendimento médico de crianças e adolescen-tes, quase 70% das doenças poderiam ser evitadas ou atenuadas.

Direito à saúde está junto ao direito à vida porque uma coisa levaà outra: se a pessoa tem saúde, o direito à vida está sendo garantido.Quando falamos em vida saudável, o que logo pensamos é prati-car esportes, ter uma boa alimentação, dormir bem, essas coisas. Masquando falamos em saúde, o problema é mais grave no Brasil: pensa-mos nos hospitais públicos, nos planos de saúde, nas epidemias, nospreços dos remédios, não se sabem quais desses são prioridades ouquais estão piores. De repente todos são ruins, são péssimos!

O que precisamos lembrar é que a SAÚDE é um direito. E oEstado tem sua responsabilidade de viabilizar o acesso de graçapara você, adolescente.

Estes são alguns dos direitos que o Estado deve assegurar:

• Atendimento pré e perinatal: atendimento na gravidez e noparto.

a) Objetivos: Despertar para direitos e deveres do cidadão.Estimular a expressão dos conhecimentos sobre o tema e favorecera discussão. Analisar o Estatuto da Criança e do Adolescente comoum instrumento de consulta diária.

b) Conteúdos: Lei 8069 - ECA; educação e cultura na cons-trução da cidadania, instrumentos de exercício da cidadania; direi-tos e deveres; Estado e poder.

c) Dinâmicas:a) Teatro ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente;b) Voto, um exercício de cidadania;c) Ouvindo e concluindo;d) Estudo dividido.

o exercício da cidadania

Iniciaremos falando sobre a lei que determina os direitos e de-veres da criança e do adolescente, e depois dos instrumentos para exer-cer uma cidadania no seu bairro, município, Estado e país.

O ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a cons-tituição das crianças e dos adolescentes, veio para garantir igual-dade de condições a todas as crianças e adolescentes deste país, ouseja, até 1988 vigorava no Brasil o código de menores. Esse códigode menores se aplicava a todas as crianças e adolescentes pobres,órfãos; no entanto, os filhos de classe média acima estavam sob o

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• Atendimento emergencial: o hospital tem que prestar socorroimediato, em casos de risco de vida.• Acompanhamento dos pais: pelo menos um dos pais ou res-ponsável tem o direito de ficar com seu filho em caso de inter-nação.

• Prioridade absoluta de atendimento médico.• Informação: campanhas de prevenção - do uso de drogas, dedoenças transmitidas pelo sexo (DST, da Aids, da gravidez ino-portuna).E ainda, no art. 4°: "É dever da família e da sociedade e do Esta-

do assegurar, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,a alimentação, à educação, à convivência familiar e comunitária,além de colocá-Ias a salvo de toda forma de negligência, discrimi-nação, exploração, violência, crueldade e opressão".

A família é composta por pai, mãe, filho, avós, tios, sendo as-sim, entende-se que também é dever da criança e do adolescente as-segurar a efetivação dos diretos referentes à vida, cuidar da saúde, eisso inclui não fazer uso de substâncias que prejudiquem o seu de-senvolvimento físico e moral.

A educação não é aquela informal que se aprende desde peque-no, esta educação de que trata a lei é a escolar, então a leitura que sedeve ter é que é responsabilidade da criança e do adolescente estu-dar e fazer disto uma prioridade.

Mas, então, por que não têm força, no Brasil, estas leis tão jus-tas, progressivas e das quais tanto nos orgulhamos?

Por que continua sendo vilipendiado o direito à saúde, à prote-ção contra os maus-tratos e ao abuso físico e sexual? O extermíniode menores e o aumento das taxas de criminalidade e acidentes sãoexemplos trágicos da desumanização e da ineficiência prática denossas leis e de nossas redes de apoio social.

Um dos motivos por que as palavras da lei não se transformamem ações concretas do poder público é que a maioria da populaçãonão sabe que além de ter direitos, tem o poder e o dever de organi-zar-se para exigi-los. Muitos desconhecem o fato de que hoje qual-quer cidadão pode participar das decisões sobre políticas públicas -

incluindo decisões sobre verbas através de conselhos paritários, obri-gatórios por lei e ligados aos poderes executivos municipal, esta-dual e federal.

O conceito de cidadania é importante para entender o papel daspolíticas públicas.

L Ci~a~ania: direito de ter, usufruir e c nhecer os pró~r~s ~ei- í7C~tQ.Lque as pessoas têm d~ partici ar da sociedade de ter I

acesso aos benefício ociais. Além da garantia de direitos, a con- »f cepção de cidadania aqui apresentada inclui a articulação entre pro-I jetos pessoais e coletivos, ou seja, trata-se de ética, de responsabili-I dade, em que há desenvolvimento pessoal na medida em que aumen-I tam os compromissos e os encargos assumidos com o coletivo. A ci-I dadania é centrada no respeito a valores socialmente acordados.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não utiliza o termo me-nor por se tratar de um termo apenas para os pobres e com sentidopejorativo. O art. 2° determina que: "considera-se criança, para osefeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos e ado-lescente entre doze e dezoito anos de idade".

Todo adolescente é um cidadão e como cidadão deve ter.a opor-tunidãâeae conhecer as leis que garantem seus direitos e, ao mes-mo tempo, ser estimulado llõSentido de agir para tirar a lei do pa-pele fazê-Ia acontecer.

Conhecer a lei, apontar o abuso, o dano, já é o primeiro passopara encontrar a dignidade.

Nós, como educadores, devemos incentivar as ações solidárias,intervir em situações de riscos e promover ações de saúde, coorde-nadas intersetorialmente entre áreas de educação, saúde, justiça,comunicação e outras. Isto é exercer o direito pleno de cidadania,compartilhando a responsabilidade civil no processo de erguer umanação saudável.

Num desses itens está em o adolescente conhecer bem, conhe-cer muito todos os seus direitos e deveres é um caminho seguropara o exercício da cidadania. Em sua casa, por exemplo, as regrasque tem de seguir o ajuda a viver em harmonia. E elas existem so-mente para o bem-estar familiar. É também com essa finalidade

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que nosso país, nosso Estado e nosso município são organizadossegundo alguns princípios e algumas normas. Eles nos indicam aspossibilidades e os limites de um cidadão para agir individualmen-te ou em grupo, respeitando toda e qualquer diferença. Por isso mes-mo, precisamos saber como está organizada a nossa sociedade equais são os nossos direitos e deveres.

Ao trabalharmos com os jovens nos perguntamos se não seriamais fácil lidar com as coisas que eles já conhecem. E a partir des-ses conhecimentos trabalhar com as informações de lei, facilitandoo interagir com a sua realidade.

Ao elaborarmos as dinâmicas de grupo, nossa preocupação eraque os temas escolhidos fossem agradáveis para serem discutidos.Iniciamos levantando os problemas do bairro, da escola, da regiãoem que morávamos. A intenção era elaborarmos um texto objeti-vo que possibilitasse discutir e compreender educação e cultura naconstrução da cidadania; quais os instrumentos de exercício da ci-dadania; seus direitos e deveres; o que é Estado e poder; qual a im-portância do voto, do título de eleitor; bem como funções exercidaspor um vereador, um deputado, um prefeito. Neste momento conta-mos com a ajuda de uma profissional advogada que veio enriquecero conhecimento dos adolescentes e da equipe. Realizamos uma vi-sita à Câmara Municipal, e ao Fórum da cidade; essas visitas opor-tunizaram aos adolescentes conversar com alguns vereadores, juí-zes, promotores e funcionários.

Promovemos um evento e convidamos candidatos à vaga devereador no legislativo na nossa cidade de Foz do Iguaçu; tal inicia-tiva obteve como resultado a redação da carta de reivindicações dosadolescentes do bairro Porto Meira, (que foi publicada no jornal dacidade). E mais tarde discutida com representantes do bairro e dolegislativo.

Tais iniciativas aqui apresentadas servem como sugestões que ob-tiveram uma avaliação positiva dos adolescentes que nos solicitaramoutros momentos como esses (Apêndice I- Textos do ECA, p. 214).

Dizer que o adolescente é o futuro do país, mas, co-mo ser futuro se o presente não lhe pertence!

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