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 ECA

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 A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A INFÂNCIA E A JUVENTUDE. A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL. A CONVENÇÃO DA ONU SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA.O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8069/90) está em vigor desde julhode 1990 e revolucionou o tratamento legal dispensado a pessoas com menos de 18 anos. Trouxeinúmeras inovações em relação à prevenção e proteção contra a violação dos direitosfundamentais das crianças e dos adolescentes1, que não mais são tratados como meros objetosda intervenção do Estado (tal qual ocorria no revogado Código de Menores), mas sim comoSUJEITOS DE DIREITOS.

Tem como viga mestra a DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL, que estáenunciada na Constituição Federal de 1988, em seu art.227. O artigo 227 da nossa CF é

reconhecido na comunidade internacional como a melhor SÍNTESE da convenção da ONU de1989 que dispõe sobre os direitos fundamentais de crianças e adolescentes. Tem como teor que éDEVER da FAMÍLIA, da SOCIEDADE e do ESTADO (latu sensu) assegurar à criança e aoadolescente, COM ABSOLUTA PRIORIDADE, o direito à vida à saúde, à alimentação, àeducação, ao lazer, à profissionalização à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e àconvivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

A doutrina da proteção integral, absorvida pela Constituição Federal de 1988, quese baseia na PROTEÇÃO TOTAL E PRIORITÁRIA dos direitos infanto-juvenis, tem alicerce jurídico e social na supramencionada Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança,adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989. O Brasil adotouo texto desta convenção pelo Decreto n° 99.710, de 21 de novembro de 1990, após a análise peloCongresso Nacional, que a aprovou (Dec. Legislativo n° 28, de 14.09.90).

A citada Convenção, em seus 54 artigos, reconhece o fato de que as crianças, porsua inerente vulnerabilidade, necessitaram de cuidados especiais, proteção responsável dafamília, respeitos aos seus valores culturais, da comunidade, tendo também firmado regras de nãodiscriminação, determinando que os países signatários zelem pela implementação de direitoscomo nome, nacionalidade, preservação de identidade etc.

Com a adoção da doutrina da proteção integral, não se vê a atuação dos poderesconstituídos apenas quando há prática de infração ou quando se constata que crianças e

adolescentes estão privados de condições de sobrevivência de forma digna.ATUA-SE PREVENTIVAMENTE, DE MODO QUE NÃO SE INSTALE ESTA

SITUAÇÃO. Parte-se do pressuposto de que a maior parte da população infanto-juvenil sofreconstante ameaça ou violação de seus direitos fundamentais, notadamente por omissão doEstado.

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1 tecnicamente, o termo "menor" não mais é empregado para designar pessoas com idade inferior a 18 (dezoito) anos,tendo sido abolido pelo ECA por conter uma carga negativa e pejorativa, que obviamente não se coaduna com asdoutrinas da PROTEÇÃO INTEGRAL e da PRIORIDADE ABSOLUTA sobre as quais se assenta a novel legislação.

Doutrinariamente, no entanto, persistem as figuras do "menor impúbere" e do "menor púbere" a que se refere o CódigoCivil (art.5°, inciso I e art.6º, inciso I), sendo certo que se enquadram no conceito de "menores púberes" mesmopessoas que não mais podem ser consideradas adolescentes (por terem idade superior a 18 e inferior a 21 anos);

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Forma de elaboração do Estatuto: 

Diversamente do que ocorre com a maioria das leis brasileiras, o ECA não foielaborado apenas por um grupo selecionado de juristas. É o resultado da reflexão e participaçãode vários segmentos da sociedade, como movimentos populares, profissionais da área da saúde,da educação da assistência social, profissionais de entidades de atendimento. Levou-se emconsideração a nossa realidade social. Prevê a contínua articulação de vários segmentos dasociedade civil e debates com setores governamentais, nascendo o Forum DCA - Forumpermanente de Direitos da Criança e do Adolescente.

Mudança de conceito do Direito da Criança e do Adolescente: 

Com o ECA, que absorve a doutrina da proteção integral, o "Direito da Criança edo Adolescente" deixa de ser conceituado como o conjunto de regras jurídicas referentes àsituação irregular dos menores de 18 anos, para ser conceituado como o conjunto de regras

 juríd icas relativas aos deveres impostos à família, à sociedade e ao Estado para a defesados direitos primordiais das pessoas em desenvolvimento. Somente com a exata noção dosignificado e alcance deste conceito é que vamos compreender, em relação à finalidade, oconteúdo das regras do Estatuto. Crianças e adolescentes devem ser considerados, antes esobretudo, sujeitos de direitos, a eles sendo devida proteção especial e integral por parte deTODOS: família, sociedade e Estado.

Doutrinas referentes à Justiça da Infância e da Juventude: 

Para melhor entendimento da atuação da Justiça em relação às crianças e aosadolescentes, é interessante o estudo das doutrinas que a fundamentaram ou a fundamentam

atualmente.

1 - Doutrina do Direito Penal do Menor:Segundo ela, a Justiça apenas intervém quando a criança ou o adolescente

praticam uma infração penal. Transfere-se à Justiça direcionada aos menores de dezoito anos amesma sistemática do Direito Penal. Outorga-se à sociedade o direito de reprimir os atos que lhesão lesivos e praticados pelos menores de 18 anos, sem imposição de qualquer dever paragarantia de direitos fundamentais. A Justiça, de acordo com esta doutrina, somente atua quandoocorre a prática de uma infração por criança ou adolescente.

No Brasil, esta doutrina vigorou de 1830 a 1979. A questão da infração praticada

por menores de dezoito anos era regulada no Código Penal de 1830 (do Império), dandotratamento diferenciado aos menores de 21 anos.

Adotava a teoria do discernimento, indicando que os menores de 14 anos, quetivessem agido com discernimento seriam recolhidos à casa de correção pelo tempo que o juizachasse necessário, mas não poderiam permanecer após os 17 anos. Entre  14 e 17 anosestavam sujeitos à pena de cumplicidade (2/3 da do adulto). Entre 17 e 21 tinham a atenuante damenoridade.

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Código Penal de 1890 (primeiro da República), na mesma linha anterior, declarou airresponsabilidade absoluta aos menores de 9 anos. Os de 9 a 14 anos que agissem comdiscernimento iriam para estabelecimentos disciplinares industriais, pelo tempo que o juiz achassenecessário. Aos entre 14 e 17, a pena de cumplicidade. Aos entre 17 e 21, a atenuante damenoridade.

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É claro que jamais existiram os estabelecimentos "disciplinares industriais" e as"casas de correção", sendo os jovens infratores lançados nas prisões comuns de adultos emabsoluta promiscuidade.

Esta doutrina não poderia nortear a atuação da Justiça da Infância e da Juventudeno Brasil. Somente em países desenvolvidos, onde todos os direitos fundamentais de crianças eadolescentes já são naturalmente respeitados.

2 - Doutrina da Situação Irregular ou do Direito Tutelar do Menor:Adotada pelo Código de Menores revogado e se revela na intervenção da Justiça

da Infância e da Juventude quando verificada a chamada "situação irregular".

As 06 (SEIS) situações irregulares que autorizavam a atuação do Juiz da Infância eda Juventude eram as seguintes:

a) quando a criança ou o adolescente (então genericamente chamados de "menor") seencontrava privado de condições essenciais de sobrevivência, saúde, instrução obrigatórias,ainda que eventualmente em razão de falta, ação ou omissão dos pais ou responsável emanifesta impossibilidade de os mesmos provê-las (ou seja, quando a família vivesse emcondição de miserabilidade2);

b) quando fosse vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ouresponsáveis;

c) quando estivesse em perigo moral por estar habitualmente em ambiente contrário aos bonscostumes ou em atividade contrária aos bons costumes;

d) quando estivesse privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos paisou responsável;

e) quando apresentasse desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ecomunitária;

f) quando fosse autor de infração penal.

O que se verificava, portanto, era uma total inversão de valores, conceitos eprincípios, pois mesmo quando a conduta omissiva ou comissiva da qual resultava grave violaçãode direitos da criança ou do adolescente era praticada pelos seus próprios pais ou responsável,sociedade ou Estado, quem estava em "situação irregular" era o chamado "menor", e não oresponsável pela violação de direitos.

Não se atuava de forma preventiva e, nesse aspecto em particular, o que severificava era uma inércia inadmissível dos poderes constituídos, cabendo ao antigo "Juiz de

Menores" resolver os problemas resultantes dessa omissão, praticamente estabelecendo, a seuexclusivo critério e iniciativa, um "arremedo" pouco eficaz (dada absoluta ausência de recursos emeios) ao que hoje chamamos de "política de atendimento" à criança e ao adolescente a nível decomarca.

Não reconhecia o "menor" como sujeito de direitos, mas sim mero OBJETO DAINTERVENÇÃO DO ESTADO, considerando que toda e qualquer intervenção estatal em relação

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2  esta disposição contida no Código de Menores, que de maneira evidentemente inadequada permitia a retirada dacriança ou adolescente da companhia de seus pais e encaminhamento a abrigos apenas em razão da pobreza, inspiroua regra contida no art.23 e par. único do ECA, segundo os quais "a falta ou carência de recursos materiais não

constit ui motivo suficiente para perda ou suspensão do pátrio poder " e que "não existindo outro motivo que porsi só autorize a decretação da medida, a criança ou o ado lescente será mantido em sua família de origem, a qualdeverá obrigatoriamente ser inc luída em programas oficiais de auxílio" (verbis).

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aos "menores" era do interesse destes, pelo que o "Juiz de Menores" tinha poderes amplos equase que ditatoriais nesta área, o que pode ser exemplificado através da possibilidade daexpedição, por parte desta autoridade, de portarias regulamentadoras e disciplinadoras genéricase despidas de qualquer fundamentação3, que funcionavam como verdadeiras "leis" destinadas emmuitos casos a restringir direitos de crianças e adolescentes.

Ainda em razão dessa suposta intervenção sempre "positiva", podia haver ainternação do "menor em situação irregular" em estabelecimento "correicional" ainda que nãotivesse sido por ele praticado qualquer ato infracional, permanecendo o mesmo em instituiçõespara onde também eram encaminhados os infratores, em total promiscuidade e falta de critérios.

E mais, não se reconhecia a existência de lide nos procedimentos em que seapurava a prática do ato infracional, pelo que a intervenção do defensor era apenas facultativa,sendo os eventuais recursos interpostos apreciados por órgãos de competência meramenteadministrativa dos Tribunais, como é o caso do Conselho da Magistratura, que apenasrecentemente, no estado do Paraná, deixou de ser responsável pelo julgamento de causas

referentes à área da infância e juventude4

.

3 - Doutrina da proteção integral:É a adotada pelo ECA, com base na CF e normativa internacional. Conforme

enuncia, coloca a efetivação dos direitos fundamentais como PRIORIDADE ABSOLUTA,significando esta, por regras do ECA, preferência na formulação e execução de políticas sociaispública e destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção àinfância e à juventude (art.227, caput da CF e art.4º, caput e par. único, alíneas "c" e "d"  doECA).

Como o ECA substituiu o "Código de Menores", que como vimos era um lei

extremamente autoritária que não afirmava direitos e, embora em muitos aspectos nãorecepcionados pela CF/88, ainda perdurou por 02 (dois) anos após sua promulgação, o legisladorse viu na obrigação de dizer o óbvio, reproduzindo muitas vezes o texto constitucional e em outrasmelhor explicitando os direitos e garantias nele contidas, de modo a deixar claro que elasTAMBÉM se aplicam a crianças e adolescentes, que se têm um tratamento difenciado, este se dáde forma compensatória, única forma de assegurar a plena efetivação do princípio constitucionalque estabelece a IGUALDADE entre todos os cidadãos.

Conceitos de CRIANÇA e ADOLESCENTE (art.2º, caput do ECA):

a) CRIANÇA é a PESSOA DE ATÉ 12 (DOZE) ANOS INCOMPLETOS e

b) ADOLESCENTE  é a PESSOA COM IDADE ENTRE 12  (DOZE) E 18  (DEZOITO) ANOSINCOMPLETOS.

3 o que como veremos nas aulas seguintes não mais se faz possível pela sistemática adotada pelo ECA;

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4 através da Resolução nº 05/99, publicada no Diário da Justiça de 18 de outubro de 1999 (págs.01 e 02), o Tribunal deJustiça do Estado do Paraná, por intermédio de seu Órgão Especial, houve por bem ALTERAR a redação de algunsdispositivos de seu Regimento Interno, dentre os quais seus arts.85 e 88, bem como REVOGAR seu art.94, incisoXXII, fazendo com que a COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR, EM GRAU DE RECURSO, A MATÉRIA

CONCERNENTE AO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, que antes era do Conselho da Magistratura,passasse a ser DAS CÂMARAS CRIMINAIS ISOLADAS e, nas demais hipóteses previstas no Regimento Interno, doGRUPO DE CÂMARAS CRIMINAIS. 

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 ABRANGÊNCIA do ECA (art.2º e par. único do ECA):

O ECA aplica-se indistintamente a TODAS as CRIANÇAS e ADOLESCENTES, ouseja, a todas as pessoas com idade inferior a 18 (dezoito) anos, sendo que em SITUAÇÕESEXCEPCIONAIS, expressamente definidas em lei, aplica-se TAMBÉM A PESSOAS ENTRE 18(DEZOITO) E 21 (VINTE E UM) ANOS DE IDADE5.

São hipóteses de aplicação excepcional do ECA a pessoas de idade superior a 18anos:a) a adoção, segundo as regras do Estatuto, de pessoa com mais de 18 (dezoito) e menos de 21

(vinte e um) anos que, antes dessa idade, já se encontrava sob a guarda de direito ou de fatoda pessoa ou casal adotante6 (art.40 do ECA);

b) a colocação de pessoa com idade entre 18 (dezoito) e 21 (vinte um) anos sob tutela (art.36,caput do ECA);

c) a aplicação de medidas sócio-educativas a adolescentes acusados da prática de atosinfracionais - entendimento decorrente do contido no art.121, §5º  do ECA, que prevê a

liberação compulsória do jovem que se encontra cumprindo medida privativa de liberdade deinternação quando do atingimento dos 21 (vinte e um) anos7.

Ressalvado o caso da tutela, a EMANCIPAÇÃO do jovem com idade entre 18(dezoito) e 21 (vinte e um) anos não impede a incidência do ECA nas demais situações acimarelacionadas.

O ECA somente confere direitos, deixando de lado os deveres? 

Evidente que não. A rigor o ECA não confere a crianças e adolescentes direitosoutros além daqueles assegurados a todos os cidadãos pela CF e legislação ordinária já

existente, embora existam disposições específicas destinadas a protegê-los contra a ameaça ouviolação de direitos fundamentais e naturais.

O que é importante deixar claro é que o ECA não confere qualquer espécie de"imunidade" a crianças e adolescentes, de modo a permitir que estes descumpram normas eviolem direitos de outras pessoas, sem que recebam a devida resposta estatal. A regra elementarde direito natural que reza "o direito de cada um vai até onde começa o direito do outro" valetambém para crianças e adolescentes, que dependendo o caso e grau de violação estão sujeitosà intervenção do Conselho Tutelar, polícia e autoridade judiciária, que aos adolescentes autoresde atos infracionais8 pode impor medidas sócio-educativas privativas de liberdade.

5 não se limita, portanto, a crianças e adolescentes que se encontram em situação de risco pessoal ou social na formado disposto em seu art.98, aos quais apenas prevê a especial intervenção do Conselho Tutelar e/ou Juizado da Infânciae Juverntude e a aplicação de medidas de proteção (art.101, também do ECA) para tentar reverter o quadro;

6  embora a matéria venha a ser melhor analisada oportunamente, vale aqui registrar que, salvo na mencionadahipótese, a adoção de pessoa maior de 18 (dezoito) anos ainda é possível, porém será regulada pelo Código Civil(arts.368 a 378), e não pelo ECA;

7 apesar de o dispositivo citado falar apenas na medida de internação, dada possibilidade de qualquer medida sócio-educativa anteriormente aplicada nela ser convertida, caso descumprida de forma reiterada e injustificada (com aincidência do disposto nos arts.122, inciso III e 122, §1º do mesmo Diploma Legal), firmou-se posicionamento - hojepacífico no Estado do Paraná, que mesmo em se tratando de infrações que não podem ser consideradas de naturezagrave (e assim não comportam desde logo a aplicação da medida privativa de liberdade extrema, dada redação doart.122, incisos I e II, também do ECA), o atingimento da imputabilidade penal no curso do procedimento (ainda que

antes da fase judicial) não é causa de sua extinção; 

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8 definidos pelo art.103 do ECA como condutas descritas como crime ou contravenção pela Lei Penal;

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 Como dito acima, o que o ECA faz é REAFIRMAR direitos, de modo a deixar

explícito que crianças e adolescentes deles TAMBÉM SÃO TITULARES, pois, consoanteventilado, a lei anterior assim não o reconhecia. Mas não fica só aí, pois ao encampar as citadasdoutrinas da PROTEÇÃO INTEGRAL e da PRIORIDADE ABSOLUTA, o ECA estabelece serDEVER DE TODOS (família, sociedade e Estado) e portanto DE CADA UM DE NÓS, "prevenir aocorrência de ameaça ou violação de direitos da criança e do adolescente" (verbis),consoante expressamente determina seu art.70.

Em seu art.4º, par. único, o ECA procura explicitar o que compreende a "garantiade prioridade" preconizada pelo caput  do mesmo dispositivo (que por sua vez, como vimos,praticamente reproduz o art.227, caput da CF), a saber:

a) a primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias  - evidente quetodas as pessoas que se encontram em situação de perigo têm o direito de ser protegidas esocorridas, mas em havendo crianças, adolescentes e adultos nas mesmas circunstâncias,

são aqueles que devem receber a proteção e socorro em primeiro lugar;b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública  - valemaqui, mutatis mutandis, as mesmas observações supra, pois todas as pessoas,independentemente de sua idade, têm direito ao atendimento em tais serviços. Mais uma vez,no entanto, em se encontrando em situações semelhantes, deverão ser atendidas em primeirolugar crianças e adolescentes;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas  - embora todosdevam ser beneficiados pelas políticas sociais públicas, quando de sua elaboração deverá serdado especial destaque ao atendimento de crianças e adolescentes, garantindo, por exemplo,a implantação de programas que permitam a efetivação das regras contidas nos arts.90. 101e 129 do ECA;

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d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à

infância e juventude - norma de clareza cristalina, deveria garantir a previsão, no orçamentoda União, estados e municípios, de recursos em patamar PRIVILEGIADO e SUFICIENTE paracriação e manutenção de programas de prevenção, proteção, sócio-educativos e destinados afamílias de modo a atender a demanda existente, permitindo assim que cada município (aMUNICIPALIZAÇÃO do atendimento a crianças e adolescentes é DIRETRIZ traçada peloart.88, inciso I do ECA) tenha uma estrutura de atendimento adequada ao preconizado peloECA.

Infelizmente, apesar de a GARANTIA DE PRIORIDADE encontrar respaldoconstitucional, as disposições contidas no art.4º, par. único  do ECA ainda não vêm sendocumpridas a contento, notadamente no que diz respeito à obrigação de os governantes destinar àárea um tratamento privilegiado, em especial a nível orçamentário.

O Ministério Público tem procurado de todas as formas reverter essa situação, eembora venha conseguindo obter vários resultados positivos, ainda persiste o entendimentoretrógrado e obviamente INCONSTITUCIONAL e contra legem segundo o qual o administradorpúblico teria discricionariedade para dar preferência ao atendimento de outras áreas que não ainfanto-juvenil.

Tal pensamento deve ser objeto de veemente repúdio, pois contra a PRIORIDADE -e PRIORIDADE  ABSOLUTA  que o art.227 caput da CF diz deve o Estado destinar à área dainfância e juventude, obviamente desaparece a discricionariedade.

Vale também observar que a PRIORIDADE ABSOLUTA preconizada pela normaconstitucional também atinge outros setores, inclusive no que diz respeito à atuação doMinistério Público e do Poder Judiciário, devendo este destinar à área da infância e juventudeum tratamento privilegiado, com preferência na inclusão dos casos a ela afetos nas pautas de

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audiências e nos julgamentos, de modo que entre a deflagração das ações e procedimentos e asentença decorra o menor espaço de tempo possível, evitando-se os malefícios da morosidadeda Justiça que atingem de forma particularmente cruel crianças e adolescentes.

Para tanto, notadamente nas comarcas que não contam com varasespecializadas, devem os cartórios judiciais ser, nesse sentido, orientados e continuamentefiscalizados, pois como todas as ações que tramitam na Justiça da Infância e Juventude SÃOISENTAS DE CUSTAS E EMOLUMENTOS (art.141, §2º do ECA), há uma nítida tendência decolocá-las em segundo plano na juntada de peças, cumprimento de diligências por oficiais de justiça, abertura de vista etc., negando-lhes assim o tratamento PRIORITÁRIO que merecem.

Registre-se que a prioridade no julgamento dos casos em grau de recurso pelosTribunais foi expressamente contemplada pelo art.198, inciso III  do ECA, que para garantirmaior celeridade também previu a dispensa de revisor 9.

Interessante transcrever o contido no art.6º do ECA, que tem nítida inspiração noart.5º da LICC: "na interpretação desta lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela sedirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e acondição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento "(verbis).

A interpretação do ECA, portanto, deve ser sempre a mais favorável possível àcriança e ao adolescente, levando-se em conta sua peculiar condição de pessoas (ou cidadãos)em desenvolvimento.

Também aqui se verificam algumas distorções, em especial quando da prática deato infracional por adolescentes, onde jovens de 12 ou 13 anos são tratados como se tivessem o

mesmo discernimento e "culpabilidade" de um imputável com larga experiência de vida.

9 "os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor " (art.198, inciso III - verbis).

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 LIVRO I – PARTE GERAL

I. DIREITOS FUNDAMENTAIS

1 - DIREITO À VIDA E SAÚDE:

PRINCÍPIO - A criança e o adolescente, como não poderia deixar de ser, têm direito aproteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas (que como vimosdevem ser formuladas em caráter PREFERENCIAL por parte do Poder Público - art.4º, par.único, alínea "c"  do ECA) que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,condições dignas de existência - art.7º do ECA;

É assegurado à GESTANTE, através do SUS, o ATENDIMENTO PRÉ E PERINATAL(período imediatamente anterior e posterior ao parto, ou seja, do momento em que é atendida namaternidade ou hospital para dar a luz até o momento de sua alta) - art.8º, caput, do ECA;

Cabe ainda ao Poder Público o APOIO ALIMENTAR À GESTANTE E À NUTRIZ(mulher que amamenta) que dele necessitem - art.8º do ECA;

Tanto o Poder Público quanto as instituições e os empregadores em geral têm oDEVER LEGAL de proporcionar aos recém nascidos CONDIÇÕES ADEQUADAS AOALEITAMENTO MATERNO, que vale inclusive a filhos de mulheres submetidas a medidasprivativas de liberdade.

A propósito, importante observar que a CLT prevê, em seu art.389, inciso IV, §1º, queos estabelecimentos em que trabalharem pelo menos 30 (trinta) mulheres com mais de 16(dezesseis) anos de idade, deverão ter local apropriado onde seja permitido às empregadas

guardar sob vigilância os seus filhos no período de amamentação, ou seja, DEVEM MANTERCRECHES na própria sede da empresa ou mesmo em outro local, sendo facultada a realizaçãode convênios com creches já existentes.

A CLT ainda estabelece o direito da mãe, até que seu filho complete 06 (seis) mesesde idade, a 02 (dois) descansos especiais durante a jornada de trabalho, de meia hora cada um -art.396, caput, para fins de amamentação do bebê. O período de 06 (seis) meses acima referidopoderá ser DILATADO, quando restar demonstrada a necessidade da medida, a bem da saúde dacriança - art.396, par. único da CLT.

Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde, dentre outros, têm oDEVER de:

•  MANTER REGISTRO das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais dosneonatos e parturientes, PELO PRAZO DE 18 (DEZOITO) ANOS - art.10, inciso I  doECA, inclusive sob pena da prática de CRIME previsto no art.229 do ECA;

•  IDENTIFICAR O RECÉM NASCIDO mediante o registro de sua impressão plantar (plantado pé) e digital, bem como a impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas aserem exigidas pela autoridade administrativa competente (Secretaria de Saúde) - art.10,inciso II do ECA. Caso não se proceda a identificação do neonato e a parturiente, em teserestará caracterizado o CRIME previsto no art.229 do ECA;

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•  PROCEDER A EXAMES  visando o DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA DEANORMALIDADES NO METABOLISMO do recém-nascido (por exemplo, o "teste do

pezinho", exame que deve ser realizado MAIS DE 48 horas após o parto - e também apósalgumas amamentações, que visa identificar os portadores da FENILCETONÚRIA e

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O DIREITO À LIBERDADE compreende, dentre outros, o direito de ir e vir e estar noslogradouros públicos e espaços comunitários, RESSALVADAS AS RESTRIÇÕES LEGAIS -art.16, inciso I do ECA.

Tal disposição, além de reforçar a idéia de que as crianças e adolescentes estãosujeitas ÀS MESMAS restrições e vedações estabelecidas a adultos, não tendo assim, comoacreditam alguns, uma espécie de "salvo conduto" que os colocaria "acima" ou "fora do alcance"da lei, em contrapartida estabelece a impossibilidade de serem criadas restrições específicas aodireito à liberdade de locomoção de crianças e adolescentes fora das situações expressamenterelacionadas ou autorizadas por lei.

É, portanto, VEDADO, até mesmo por afronta ao direito fundamental e constitucionalde ir e vir, o estabelecimento de "toques de recolher" para crianças e adolescentes, comorecentemente ocorreu em uma comarca paranaense (via portaria judicial).

Caso se deseje evitar que crianças e adolescentes permaneçam perambulando pelas

ruas no período noturno, por exemplo, a ação deve ser voltada no sentido da ORIENTAÇÃO do jovem e sua família, que eventualmente poderá ser RESPONSABILIZADA por permitir talpericlitante situação, podendo ser processada pelo MP ou Conselho Tutelar pela prática daINFRAÇÃO ADMINISTRATIVA prevista no art.249  do ECA (sendo o procedimento respectivoprevisto nos arts.194 a 197. do ECA), sem embargo de outras medidas previstas no art.129 domesmo Diploma Legal.

O DIREITO AO RESPEITO (art.17  do ECA) consiste na INVIOLABILIDADE daintegridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a PRESERVAÇÃODA IMAGEM, DA IDENTIDADE etc.

Tal disposição tem especial relevância quando se trata de criança ou adolescente

acusados da PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL, onde o art.143 do ECA estabelece a VEDAÇÃODA DIVULGAÇÃO de atos judiciais, policiais e administrativos que a eles digam respeito, sendoque qualquer notícia do fato NÃO PODERÁ IDENTIFICAR, DIRETA OU INDIRETAMENTE acriança ou o adolescente, sendo VEDADAS fotografias e referências a nome, apelido, filiação eparentesco.

Caso descumprida esta regra, restará CARACTERIZADA A INFRAÇÃOADMINISTRATIVA prevista no art.247 do ECA.

Como decorrência da doutrina da proteção integral e fazendo coro com as disposiçõeslegais e constitucionais já citadas, o art.18 do ECA estabelece ser DEVER DE TODOS velar pelaDIGNIDADE da criança e do adolescente, PONDO-OS A SALVO de qualquer tratamento

desumano, violento, vexatório ou constrangedor.

A violação dessa regra pode importar na caracterização do CRIME previsto no art.232 do ECA ("submeter criança ou adolescentes sob sua autoridade, guarda ou vigilância avexame ou constrangimento"), sem embargo na eventual caracterização de outros crimesespecíficos previstos na legislação penal.

3 - DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA:

12

PRINCÍPIO: Atendendo ao comando emanado do art.227, caput  da ConstituiçãoFederal, que faz expressa referência ao DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA,o art.19 do ECA estabelece que toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educadoNO SEIO DE SUA  FAMÍLIA NATURAL e, EXCEPCIONALMENTE, em FAMÍLIA SUBSTITUTA,

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sendo ASSEGURADA A CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA, em ambiente LIVRE DAPRESENÇA DE PESSOAS DEPENDENTES DE SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES.

Esta REGRA se encontra em perfeita consonância com o disposto no art.100 do ECA,onde temos que, quando da aplicação de medidas a crianças, adolescentes (inclusive as sócio-educativas, dada redação do art.113 do mesmo Diploma Legal), deve ser dado PREFERÊNCIAàquelas que visam FORTALECER OS VÍNCULOS FAMILIARES E COMUNITÁRIOS.

A permanência da criança e do adolescente junto à sua FAMÍLIA NATURAL, que pordefinição do art.25 do ECA é "a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seusdescendentes ", é DIREITO FUNDAMENTAL, sendo que NÃO POR ACASO, quando relacionouas medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis, o ECA estabeleceu como PROVIDÊNCIAPRIMEIRA o "encaminhamento a programa oficial ou comunitário de promoção à família"(art.129, inciso I  do ECA), deixando para ÚLTIMO CASO a "suspensão ou destituição dopátrio poder " (art.129, inciso X do ECA).

Tal sistemática foi adotada, principalmente, em razão de dois aspectos: a presunçãode melhor atendimento das necessidades básicas pela família natural e flagrante inconveniênciada ruptura de vínculos afetivos tão importantes para estruturação da personalidade do jovem.

Para que haja plena executoriedade de tal direito fundamental, o ECA, atendendo àrealidade de pobreza no País, estabelece em seu art.23 que "a falta ou carência de recursosmateriais  não constitui motivo suficiente para perda ou a suspensão do pátrio poder ",sendo certo que, em não havendo outro motivo, "a criança ou adolescente será mantido emsua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais deauxílio"  (art.23, par. único  do ECA). A regra aqui transcrita, diga-se de passagem, também é ocorolário do art.226, §8º da Constituição Federal.

O art.20  do ECA reproduz integralmente o art.227, §6º  da CF, estabelecendo aabsoluta IGUALDADE para todos os FILHOS, sejam eles havidos ou não da relação decasamento, naturais ou adotivos, que deverão ter os MESMOS DIREITOS E QUALIFICAÇÕES,sendo VEDADAS quaisquer DESIGNAÇÕES DISCRIMINATÓRIAS relativas à filiação.

Logo, não mais há que se fazer distinção entre "filho natural" e "filho adotivo", "filholegítimo", "ilegítimo", "adulterino" etc. TODOS SÃO FILHOS, E APENAS COMO TAL DEVERÃOSER TRATADOS, não tendo sido recepcionadas pela Constituição Federal de 1988 asdesignações discriminatórias contidas na Lei Civil.

Como a criança e o adolescente têm o DIREITO FUNDAMENTAL aoRECONHECIMENTO DO ESTADO DE FILIAÇÃO - ou seja, de saber quem são seus pais, o

art.26 do ECA ELIMINOU QUALQUER RESTRIÇÃO ao reconhecimento de filho, podendo esteser efetuado por qualquer dos pais, conjunta ou separadamente, quando do próprio nascimento,por testamento, qualquer escritura ou documento público, independentemente da origem dafiliação e do estado civil do reconhecedor.

13

A Lei nº 8.560/92, que trata do procedimento de averiguação oficiosa da paternidade,inovou ainda mais, permitindo o reconhecimento de filho mesmo por escrito particular (que deveser arquivado em cartório para posterior aferição de sua validade) ou declaração perante aautoridade judiciária, ainda que o ato não tivesse por escopo tal medida (art.1º, incisos I a IV).Ainda segundo este Diploma Legal, no registro de nascimento não poderá conter qualquerreferência à natureza da filiação, ordem do nascimento em relação a outros irmãos (exceto nocaso de gêmeos), lugar e cartório do nascimento dos pais, estado civil deste ou quaisquer indíciosde que a concepção tenha sido decorrente de relação extraconjugal (sendo inclusive proibidareferência à Lei que assim o determina).

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São eles:

a) Deveres de GUARDA, SUSTENTO e EDUCAÇÃO (devendo esta ser entendida não apenas aeducação escolar, mas sim em toda amplitude do preconizado pelo art.205  da CF -"...visando ao pleno desenvolvimento da PESSOA, seu preparo para o exercício daCIDADANIA..."), compreendendo os deveres de "assistência" e "criação" previstos peloart.229 da CF;

b) Conceder-lhes ou negar-lhes o consentimento para casarem;

c) Nomear-lhes tutor, por testamento, na forma da Lei Civil;

d) Representá-los até os 16 anos e assistí-los após essa idade, suprindo-lhes o consentimento (oart.146  do ECA, que trata do acesso à justiça, estabelece que os menores púberes eimpúberes serão assistidos ou representados na forma prevista na legislação civil ouprocessual);

e) Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha (norma que serve de fundamento a pedidos debusca e apreensão de crianças e adolescentes);

f) Exigir que lhe prestem obediência e respeito;

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g) Cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

Em relação a estes 02 (dois) últimos dispositivos, deve-se observar as restriçõescontidas no art.395 do CC (que trata das hipóteses de destituição do pátrio poder, dentre as quaisse encontra a de castigar imoderadamente o filho) e art.136 do Código Penal (que tipifica o crimede maus-tratos), pois embora possam e devam os pais exercer sua autoridade em relação a seus

filhos, impondo-lhes os necessário LIMITES (o que faz parte do conceito mais amplo deEDUCAÇÃO), não lhes é dado cometer ABUSOS, devendo quando encontrarem dificuldades nodesempenho de seu mister buscar auxílio junto aos órgãos e autoridades encarregadas da defesados direitos da criança e do adolescente, em especial o Conselho Tutelar.

O DESCUMPRIMENTO, doloso ou culposo dos deveres inerentes ao pátrio poderacima relacionados, torna os pais faltosos sujeitos ao recebimento de SANÇÕESADMINISTRATIVAS e CRIMINAIS (algumas das quais acima mencionadas), podendo mesmohaver a aplicação simultânea (embora em procedimentos distintos) de sanções penais e sançõesadministrativas sem que isto importe em bis in idem, dada natureza jurídica diversa entre ambas.

Isto ocorre porque, segundo o art.249  da Lei nº 8.069/90, o descumprimento,

DOLOSO ou CULPOSO dos deveres inerentes ao pátrio poder, daqueles decorrentes de tutela ouguarda, bem como de determinação da autoridade judiciária ou do Conselho Tutelar (que segundoo art.136, inciso II do ECA pode aplicar aos pais as medidas previstas no seu art.129, incisos I aVII), importa na prática de INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA, apenada com multa entre 03 (três) e 20(vinte) salários de referência.

Caso comprovada a GRAVE VIOLAÇÃO, por parte dos pais, dos deveres inerentes aopátrio poder, e demonstrado de forma cabal e inequívoca a ABSOLUTA INVIABILIDADE doretorno da criança ou adolescente a sua família natural, deverá ser deflagrado PROCEDIMENTOCONTRADITÓRIO com vista à SUSPENSÃO ou DESTITUIÇÃO DO PÁTRIO PODER - art.24 doECA, procedimento este previsto expressamente pelos arts.155 a 163  do ECA, com osubsequente encaminhamento do jovem para FAMÍLIA SUBSTITUTA ou ABRIGO (via aplicaçãodas medidas de proteção previstas no art.101, inc isos VII e VIII do ECA).

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EXCEPCIONAL), somente podendo ocorrer quando não existirem casais nacionais interessados.O dispositivo em questão também estabelece que a colocação de criança ou adolescente emfamília substituta estrangeira SOMENTE PODERÁ OCORRER NA MODALIDADE  ADOÇÃO, quepor sua vez, deverá seguir, além do procedimento previsto no ECA, os princípios e regrasestabelecidas pela chamada CONVENÇÃO DE HAIA (Convenção Relativa à Proteção dasCrianças e Cooperação em Matéria de Adoção Internacional), datada de 1993, assinada eratificada no Brasil, tendo sido promulgada pelo Decreto Legislativo nº 3.087, de 21 de junho de1999.

Ao assumir a GUARDA ou a TUTELA, o responsável deverá PRESTARCOMPROMISSO de bem e fielmente desempenhar seu encargo, MEDIANTE TERMO nos autos(art.32 do ECA), não tendo exigência semelhante sido feita em relação à adoção em razão de queesta, uma vez deferida, confere aos adotantes a condição de PAIS do adotado (sem qualquerdesignação ou restrição), tendo eles assim, naturalmente, TODOS OS DEVERES INERENTES AESSA SITUAÇÃO.

O procedimento para colocação de criança ou adolescente em família substituta seencontra previsto nos arts.165 a 170  do ECA, sendo que a COMPETÊNCIA para apreciar opedido respectivo deverá ser aferida segundo o disposto nos arts.148, inciso III  e 148, par.único, alínea "a", ambos do ECA:

a) em se tratando de ADOÇÃO, a competência para apreciar o pedido e seus incidentes seráSEMPRE da JUSTIÇA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE - art.148, inciso III do ECA;

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b) em se tratando de GUARDA ou TUTELA, a competência será da Justiça da Infância eJuventude APENAS SE RESTAR DEMONSTRADA A PRESENÇA DE SITUAÇÃO DE RISCOPESSOAL OU SOCIAL (nos moldes do previsto no art.98 do ECA) envolvendo a criança ou oadolescente. Do contrário, a competência será da Vara da Família (no caso de guarda) ou

Cível (no caso de tutela).

O procedimento acima referido pode ser CONTENCIOSO (sendo obrigatório ocontraditório, quando necessária a prévia destituição da tutela, perda ou suspensão do pátriopoder, caso em que haverá CUMULAÇÃO DE PEDIDOS) - art.169  do ECA, ou de naturezaVOLUNTÁRIA, quando os pais forem FALECIDOS, JÁ TIVEREM SIDO PREVIAMENTEDESTITUÍDOS OU SUSPENSOS DO PÁTRIO PODER OU HOUVEREM ADERIDOEXPRESSAMENTE AO PEDIDO - art.166, caput do ECA, sendo que nesta última hipótese, emque não há lide, O PEDIDO PODERÁ SER FORMULADO DIRETAMENTE EM CARTÓRIO, EMPETIÇÃO ASSINADA PELOS PRÓPRIOS REQUERENTES (sem, portanto, a necessidade deassistência de advogado).

Na hipótese de CONCORDÂNCIA DOS PAIS, deverão ser eles OUVIDOS PELAAUTORIDADE JUDICIÁRIA E PELO M.P., tomando-se por termo suas declarações - art.166, par.único  do ECA, sendo IMPRESCINDÍVEL, portanto, a realização de AUDIÊNCIA ESPECÍFICAPARA A COLETA DO CONSENTIMENTO, que de outro modo NÃO PODERÁ SER ACEITO(razão pela qual NÃO SUPRE tal exigência uma declaração constante de documento, ainda quecom firma reconhecida e assinada por testemunhas, por exemplo).

Importante observar que, dada IRRENUNCIABILIDADE DO PÁTRIO PODER, acimareferida, o eventual CONSENTIMENTO dos pais com a colocação do filho em família substituta,mesmo na modalidade adoção, NÃO É CAUSA DE DESTITUIÇÃO E NEM, POR SI SÓ,JUSTIFICA O DECRETO DA PERDA OU SUSPENSÃO DO PÁTRIO PODER, que somenteocorrerá em procedimento contencioso próprio OU, na hipótese de concordância dos pais, seEXTINGUIRÁ natural e necessariamente com o deferimento da adoção à pessoa ou casal,

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mantendo-se íntegro até então (ressalvada, é claro, a eventual perda de alguns de seus atributos,caso deferida a guarda provisória a terceiros).

Após, a autoridade judiciária, DE OFÍCIO ou a requerimento da parte, DETERMINARÁA REALIZAÇÃO DE ESTUDO SOCIAL DO CASO OU PERÍCIA POR EQUIPEINTERPROFISSIONAL (não basta relatório do Conselho Tutelar, que além de não sersubordinado ao Juízo, via de regra não tem capacidade técnica para realizar a diligência na formadesejada pela lei), decidindo então pela concessão da guarda provisória ou estágio deconvivência12 - art.167 do ECA.

Passa-se então à oitiva da criança ou adolescente (sempre que possível), ouvindo-sea seguir o M.P. em 05 (cinco) dias, com a posterior prolação de sentença também no prazo de 05(cinco) dias - art.168 do ECA.

4.1 - DA GUARDA (arts.33 a 35 do ECA):

Obriga a prestação de assistência MATERIAL, MORAL e EDUCACIONAL à criança eao adolescente, sendo que o guardião tem o direito de opo-la a terceiros, inclusive aos pais -art.33, caput do ECA.

É a única das modalidades de colocação em família substituta que INDEPENDE DESUSPENSÃO OU DESTITUIÇÃO DO PÁTRIO PODER, podendo com ele coexistir (sem embargoda necessidade de, previamente, no caso de discordância paterna e/ou materna com a medida,ter de ser deflagrado procedimento específico objetivando sua aplicação, sendo a "destituição deguarda" medida aplicável aos pais expressamente prevista no art.129, inciso VIII  do ECA). Aguarda é um dos atributos do pátrio poder, sendo que destituída aquela, fica este apenasdesfalcado.

Por importar no DEVER DE ASSISTÊNCIA MATERIAL, a guarda confere à criança eao adolescente a CONDIÇÃO DE DEPENDENTE do guardião para todos os fins e efeitos,inclusive previdenciários - art.33, §3º do ECA.

Tem como característica sua REVOGABILIDADE A QUALQUER TEMPO, medianteato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público - art.35 do ECA. Segundo o art.169, par.único do ECA, a "perda ou modi ficação de guarda poderá ser decretada nos mesmos autosdo procedimento...", o que no entanto não afasta a necessidade de que aos guardiães sejamassegurados os direitos ao contraditório e à ampla defesa, que são garantias constitucionais(art.5º, inciso LV da CF).

Espécies de guarda:

a) Provisória: destina-se a regularizar a POSSE DE FATO, sendo de regra deferidaincidentalmente em processos em tutela e adoção (exceto na adoção por estrangeiros, dadaredação do citado art.31 do ECA) - art.33, §1º do ECA;

b) Definitiva  (ou permanente): é medida EXCEPCIONAL, pois dada sua revogabilidade, nãoconfere maiores garantias ao guardado, sendo comum deferí-la, nessa modalidade, aPARENTES da criança ou do adolescente, seja para atender SITUAÇÕES PECULIARES, sejapara suprir a FALTA EVENTUAL dos pais ou responsável - art.33, §2º do ECA;

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12 no caso de adoção, conforme previsto no art.46 do ECA, a ser adiante analisado (item 4.3).

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c) Representativa: defere-se ao guardião o DIREITO DE REPRESENTAÇÃO para a prática dedeterminados atos em nome do guardado na hipótese de falta dos pais. Tal disposição éimportante porque o direito de representação do guardado, a rigor, PERMANECE NAPESSOA DE SEUS PAIS, pois como vimos, a guarda coexiste com o pátrio poder. - art.33,§2º, in fine do ECA.

Fora das hipóteses acima, não pode haver o deferimento da guarda, razão pela qualNÃO SE ADMITE A CONCESSÃO da chamada GUARDA "PARA FINS PREVIDENCIÁRIOS", ouseja, apenas para que o guardado possa figurar, junto à previdência social e/ou planos desaúde/seguridade privados, como dependente do guardião, pedido bastante comum efetuado poravós em relação a seus netos, quando os pais estão desempregados ou não possuem planos desaúde privados.

4.2 - DA TUTELA (arts.36 a 38 do ECA e 407 a 445 do Código Civil):

É deferida nos termos do Código Civil a pessoas de até 21 anos (sendo assim, comovimos, uma das hipóteses excepcionais de aplicação do ECA a pessoas maiores de 18 anos,como previsto no art.2º, par. único do citado Diploma Legal) - art.36 do ECA.

Seu deferimento pressupõe o desconhecimento da identidade, óbito dos pais ou aprévia decretação da perda ou suspensão do pátrio poder, implicando necessariamente no deverde guarda - art.36, par. único do ECA.

Espécies de tu tela:a) Testamentária: nomeação efetuada pelos pais ou avós por testamento ou outro documento

autêntico - art.407 do CC;

b) Legal ou legítima: quando não houver a nomeação testamentária, segundo a ordemestabelecida pelo art.409 do CC (avós, irmãos e tios), ordem esta que deve ser MITIGADAface o contido no art.28, §2º  do ECA ("na apreciação do pedido levar-se á em conta aRELAÇÃO DE AFINIDADE ou AFETIVIDADE...");

c) Dativa: quando recai sobre pessoas outras não nomeadas nem arroladas no art.409 do CC.

O ECA também mitigou a exigência quanto à necessidade da especialização dehipoteca legal (arts.418 a 421 do CC) dos bens do tutor, dispensando-a quando o tutelado nãotiver bens ou rendimentos ou por qualquer outro motivo relevante (art.37  do ECA), bem comoquando tais bens, se estiverem em nome do tutelado, constarem de instrumento públicodevidamente registrado no RI ou se os rendimentos forem suficientes apenas para a mantença do

tutelado, não havendo sobra significativa (art.37, par. único do ECA).

Caso se pretenda a destituição da tutela, deverá ser observado procedimentocontraditório, nas hipóteses de ocorrência de violação das obrigações a que alude o art.22  doECA ou previstas na Lei Civil - art.38 c/c art.24, ambos do ECA.

4.3 - DA ADOÇÃO (arts.39 a 52 do ECA):

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Instituto através do qual se estabelece o vínculo de filiação por decisão judicial (porsentença). A adoção prevista no ECA somente se aplica a crianças e adolescentes, podendo noentanto ser aplicada a pessoas maiores de 18 anos desde que já estejam sob guarda (ainda quede fato) ou tutela do(s) adotante(s) - art.40  do ECA (sendo assim mais uma das hipóteses deexpressa aplicabilidade do ECA para pessoas maiores de 18 anos).

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 Para os maiores de 18 anos que não estejam sob guarda ou tutela, permanece a

adoção prevista no Código Civil (arts .368 a 378).

O adotado passa a ter os mesmos direitos e deveres (inclusive para fins de sucessão)dos filhos biológicos do adotante, sendo mesmo vedada qualquer designação discriminatóriaquanto à filiação. Uma vez deferida a adoção (que nos termos do disposto no art.47, §6º do ECAsomente produzirá efeitos APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO da sentença respectiva, salvo nocaso de adoção póstuma, adiante analisada), há o rompimento de todo e qualquer vínculo com ospais e parentes biológicos do adotado, permanecendo apenas os impedimentos matrimoniais -art.41, caput do ECA.

Possui um caráter IRREVOGÁVEL (art.48 do ECA), sendo que a morte dos adotantesnão restabelece o pátrio poder dos pais biológicos (art.49 do ECA). Nada impede porém que ospais adotivos tenham decretada a perda do pátrio poder que exercem sobre seus filhos, tal qualocorre com os pais biológicos, aos quais como vimos se equiparam em direitos e deveres.

Dados seus efeitos, o art.45, §2º  exige que para o deferimento da adoção deadolescente é necessário seu CONSENTIMENTO EXPRESSO (não bastando assim sua meraoitiva, prevista no art.28, §2º do ECA, que em muitos casos é efetuada pelo Conselho Tutelar,Comissariado de Vigilância, também chamados de Agentes de Proteção da Infância e Juventude,equipe interprofissional a serviço do Juízo ou mesmo outras pessoas, sem maiores formalidades).

O ECA prevê a possibilidade da chamada "ADOÇÃO UNILATERAL", na qual um doscônjuges ou concubinos pode adotar o filho do outro sem que haja o rompimento dos vínculos defiliação entre o adotado e o cônjuge/concubino do adotante e os respectivos parentes - art.41, §1º do ECA.

Para adoção é necessária a IDADE MÍNIMA de 21 (vinte e um) anos,independentemente de seu estado civil, sendo que cônjuges ou concubinos poderão adotarconjuntamente DESDE QUE UM DELES tenha completado 21 anos e seja comprovada aestabilidade da família - art.42 caput e §2º do ECA.

O adotante deve ser, pelo menos, 16 (DEZESSEIS) ANOS MAIS VELHO que oadotado - art.42, §3º do ECA, sendo que algumas decisões tem mitigado a aplicação de tal norma(em especial em se tratando de adoção conjunta por cônjuges ou concubinos), desde quedevidamente comprovado que o deferimento da medida apresenta "reais  vantagens para oadotando", tal qual previsto no art.43 do ECA.

NÃO PODEM ADOTAR os ASCENDENTES e IRMÃOS do adotando - art.42, §1º do

ECA, que somente podem obter sua guarda ou tutela, como visto acima.

Existe a possibilidade de ser deferida a ADOÇÃO CONJUNTA a DIVORCIADOS EJUDICIALMENTE SEPARADOS, desde que haja acordo sobre a guarda e o regime de vistas, edesde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal -art.42, §4º do ECA.

ADOÇÃO PÓSTUMA: caso NO CURSO DO PROCEDIMENTO DE ADOÇÃO oadotante vem a falecer, após INEQUÍVOCA manifestação de vontade que pretendia concretizar amedida, poderá ser a adoção deferida, caso em que terá força retroativa à data do óbito (para queo adotado não seja prejudicado em seus direitos sucessórios) - art.42, §5º c/c art.47, §6º, ambosdo ECA.

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O art.46  do ECA prevê que a adoção será precedida de ESTÁGIO DECONVIVÊNCIA, que no caso de ADOÇÃO NACIONAL é fixado pelo Juiz, dadas as peculiaridadesdo caso (art.46, caput  do ECA), podendo mesmo ser DISPENSADO em sendo a IDADE doadotando INFERIOR A 01 (UM) ANO ou, independentemente da idade, já estiver sob a GUARDADE FATO do adotante - art.46, §1º do ECA.

Em se tratando de ADOÇÃO POR ESTRANGEIRO residente ou domiciliado fora doPaís, O ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA É OBRIGATÓRIO, devendo ser cumprido NOTERRITÓRIO NACIONAL (vide art.51, §4º do ECA, que PROÍBE a saída do adotando do Paísantes de consumada a adoção), pelo PERÍODO MÍNIMO DE 15 (QUINZE) DIAS PARACRIANÇAS DE ATÉ 02 (DOIS) ANOS e 30 (TRINTA) DIAS CASO O ADOTANDO SEJA MAIORDE 02 (DOIS) ANOS DE IDADE.

Como os prazos mínimos acima referidos são LEGAIS, não pode o Juiz reduzí-losainda mais, assim como não é admissível a chamada "dispensa do prazo de recurso" paraabreviar o tempo de permanência do adotante estrangeiro no Brasil.

Vale observar que, TAMANHA foi a preocupação do legislador em não permitir quecrianças fossem levadas para fora do País em havendo quaisquer dúvidas quanto à regularidadeda adoção, que no art.198, inciso VI  do ECA estabeleceu a OBRIGATORIEDADE de queapelações interpostas contra sentenças concessivas de adoção por estrangeiros fossemrecebidas EM SEUS EFEITOS DEVOLUTIVO E SUSPENSIVO (quando por REGRA, para osdemais casos, o dispositivo prevê o recebimento da apelação APENAS em seu efeitoDEVOLUTIVO).

O art.52 do ECA estabelece que a adoção internacional "poderá" ser condicionada àPRÉVIA ANÁLISE de uma COMISSÃO ESTADUAL JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO, que fornecerá oLAUDO DE HABILITAÇÃO da pessoa ou casal (face a análise da legislação do País de origem,

diante da possibilidade de existência de vedações ou restrições para que, lá, seja a adoçãoreconhecida e concretizada), para instruir o processo competente.

Hoje, face a citada CONVENÇÃO DE HAIA sobre adoção internacional, a préviahabilitação da pessoal ou casal estrangeiro pretendente à adoção é OBRIGATÓRIA, sendo queno Paraná, já era adotada tal sistemática mesmo antes de ter a Convenção oficialmente passadoa vigorar no País.

A Comissão Estadual Judiciária de Adoção também é conhecida por CEJA (ouCEJAI), e tem como presidente o Corregedor Geral da Justiça e mais 11 (onze) membros (doisdesembargadores, um Juiz do TA, um Procurador de Justiça, um Juiz da Infância, um Promotorda Infância, um representante da OAB, um assistente social, um médico pediatra, um psicólogo,

um agente de proteção da infância e juventude), cada qual com seus respectivos suplentes, tendocomo colaboradores os membros da equipe interprofissional do Juízo da Infância e Juventude daCapital.

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A CEJAI mantém um CADASTRO CENTRALIZADO de pessoas e casais estrangeirospretendentes à adoção, atendendo assim ao disposto no art.52, par. único do ECA.

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 5 - DIREITO À EDUCAÇÃO, À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO NO TRABALHO:

5.1 - DIREITO À EDUCAÇÃO:

Regula-se pela CF (arts.205 a 214), ECA (arts.53 a 59) e Lei nº 9.394/96 - Lei deDiretrizes e Bases da Educação (LDB).

O art.53  do ECA reproduziu em parte o art.205  da CF, que estabelece algunsPRINCÍPIOS para a EDUCAÇÃO:

a) Universalidade de acesso ("...é direito de todos...");b) Obrigatoriedade de ser proporcionada pelo Estado (latu sensu), juntamente com a família ("...e

dever do Estado e da Família...");c) Obrigatoriedade do envolvimento da sociedade no processo ("...será promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade...");

d) Objetivos que vão além do simples ensino dos conteúdos das disciplinas tradicionais, pois visapreparar o cidadão para a vida em comunidade, onde todos trabalham e colaboram para obem comum ("...visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para oexercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho...").

O art.53 do ECA estabelece ainda alguns direitos básicos de estudantes com menosde 18 anos de idade, que de forma implícita ou expressa já se encontram devidamentecontemplados na CF a TODA PESSOA.

I. Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (sendo certo que taisdireitos já se encontram previstos no art.206, inciso I  da CF, norma que serve defundamento à proibição da aplicação da expulsão ou transferência compulsória como

sanção disciplinar, bem como à proibição de que criança ou adolescente cujos pais sãoinadimplentes quanto ao pagamento das mensalidades escolares sejam impedidos defreqüentar as aulas - hoje também contemplado pela MP nº 1733-61);

II. Direito de ser respeitado por seus educadores;III. Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares

superiores;IV. Direito de organização e participação em entidades estudantis (sendo certo que a

liberdade de reunião e associação para fins pacíficos é garantia constitucional - art.5º,incisos XVI e XVII da CF);

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V. Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Como podemos observar, disposições elementares e salutares como as previstas nos

incisos III e IV supra, constituem-se em verdadeiro EXERCÍCIO DE CIDADANIA do aluno, quecomo vimos é um dos objetivos da EDUCAÇÃO.

Os pais ou responsável da criança ou do adolescente não apenas têm o direito de terciência do processo pedagógico da instituição de ensino, como também DELE PARTICIPAR,colaborando com a DEFINIÇÃO DAS PROPOSTAS EDUCACIONAIS, inclusive na elaboraçãoe/ou alteração do REGIMENTO ESCOLAR.

Os pais ou responsável têm ainda o DEVER DE MATRICULAR SEUS FILHOS OUPUPILOS NA REDE REGULAR DE ENSINO (art.55  do ECA e 6º  da LDB), podendo nessesentido receber MEDIDA ESPECÍFICA aplicada pela autoridade judiciária OU Conselho Tutelar(art.129, inciso V do ECA).

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Caso se omitam, pais ou responsável estarão sujeitos a SANÇÕESADMINISTRATIVAS (art.249  do ECA, sem embargo da possibilidade de aplicação de outrasmedidas previstas no art.129 do mesmo Diploma Legal) E PENAIS, pois pode restar caracterizadoo CRIME DE ABANDONO INTELECTUAL previsto no art.246 do Código Penal).

Os dirigentes de estabelecimento de ensino, por sua vez, têm o DEVER de comunicar,ao Conselho Tutelar, os casos de (art.56 do ECA):

a) SUSPEITA OU CONFIRMAÇÃO DE MAUS-TRATOS envolvendo seus alunos, inclusive sobpena da prática da INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA prevista no art.245 do ECA;

b) REITERAÇÃO DE FALTAS INJUSTIFICADAS OU EVASÃO ESCOLAR, após esgotados osrecursos escolares (é, pois, necessária a prévia intervenção de orientadores educacionais,direção da escola e conselho escolar junto aos pais ou responsável para reverter o quadro);

23

c) ELEVADOS NÍVEIS DE REPETÊNCIA.

A EDUCAÇÃO INFANTIL, sinônimo de CRECHE e PRÉ-ESCOLA, é OBRIGAÇÃO DOPODER PÚBLICO MUNICIPAL (art.11, inciso V da LDB), e embora não haja obrigatoriedade dematrícula, toda vez que os pais ou responsável queiram ou necessitem do atendimento, nasce aconseqüente obrigação de oferta. Interessante observar que creche e pré-escola, dadasistemática prevista na LDB, não mais podem ser consideradas, como foram no passado, umaespécie de programa de apoio sócio-familiar, nos moldes do previsto no art.90, inciso I do ECA,mas constituem-se em verdadeira POLÍTICA SOCIAL BÁSICA de educação.

O ENSINO FUNDAMENTAL, que vem a ser aquele de 1ª a 8ª série, é OBRIGATÓRIOe GRATUITO, inclusive para aqueles que não tiveram acesso na idade própria (com a criação deprogramas de "correção de fluxo" ou de "adequação idade-série"), constituindo-se em DIREITO

PÚBLICO SUBJETIVO, cujo não oferecimento ou oferta irregular importa emRESPONSABILIDADE da autoridade competente (vide art.5º, §4º  da LDB, sem embargo dapossibilidade de, na hipótese de desvio de recursos públicos para outra finalidade, haver oenquadramento na lei de improbidade administrativa) pode ser objeto de AÇÃO CIVIL PÚBLICAvisando a regularização da situação (art.54, inciso I c/c arts.54, §§ 1º e 2º do ECA e art.208,inc iso I e §1º da CF).

As instituições particulares de ensino sujeitam-se às mesmas normas que asinstituições públicas, apenas com a ressalva que lhes é permitido cobrar pelo serviço prestado. Nocaso de inadimplência, a instituição particular não pode tomar qualquer atitude que viole o direitofundamental de permanência do aluno na escola, ou que venha a ele causar qualquer espécie dediscriminação, vexame ou constrangimento, o que pode mesmo vir a caracterizar CRIME, previsto

no art.232 do ECA.

A propósito, vale transcrever o art.6º, caput e §1º da Lei nº 9.870, de 23/11/99 (quesubstituiu a Medida Provisória Nº 1733, que foi reeditada mais de sessenta vezes), cuja redação éa seguinte:

" Ar t.6º. São PROIBIDAS a suspensão de p rovas escolares, a retenção de documentosescolares, ou a aplicação de quaisquer outras penalidades pedagógicas, POR MOTIVO DEINADIMPLEMENTO, sujeitando-se o contratante, no que couber, às sanções legais eadministrativas compatíveis com o Código de Defesa do Consumidor, e com os arts.177 e 1092 doCódigo Civil Brasileiro, caso a inadimplência perdure por mais de noventa dias.

§ 1º. Os estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior DEVERÃO

EXPEDIR, A QUALQUER TEMPO, OS DOCUMENTOS DE TRANSFERÊNCIA DE SEUS ALUNOS,INDEPENDENTMENTE DE SUA ADIMPLÊNCIA ou da adoção de procedimentos legais decobranças judiciais" (verbis - grifamos).

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Dada necessidade de compatibilização entre o trabalho do adolescente e suafreqüência à escola, a conjugação das disposições contidas no art.54, inciso VI do ECA e art.4º,incisos VI e VII  da LDB deixa claro que é obrigatória a oferta de ENSINO FUNDAMENTALNOTURNO para o adolescente inserido no mercado de trabalho.

5.2 - TRABALHO INFANTIL / TRABALHO DO ADOLESCENTE:

O trabalho infantil é PROIBIDO. Nenhuma pessoa com idade inferior a doze anospode trabalhar. Com a Emenda Constitucional nº 20, de dezembro de 1998, somente é possívelo trabalho de adolescentes a partir dos 14 (quatorze) anos, NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ,sendo que o trabalho regular (fora dos casos de aprendizagem), somente é possível A PARTIRDOS 16 (DEZESSEIS) ANOS13. Houve, assim, ALTERAÇÃO ao disposto no art.60 do ECA.

Tanto a CF, em seu art.228, caput, quanto o ECA, em seu art.4º, caput e 69, deixam

claro que o adolescente tem DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO, e não ao trabalho. Caso haja otrabalho, regular ou na condição de aprendiz, são assegurados ao adolescente TODOS OSDIREITOS PREVIDENCIÁRIOS E TRABALHISTAS previstos na legislação especial (arts.61 e 65 do ECA e art.227, §3º, inc iso II da CF), sendo certo que a CF também proíbe discriminação parao salário por motivo de idade (art.7º, inciso XXX).

Para o adolescente trabalhador maior de 16 anos, além de serem asseguradostodos os direitos trabalhistas e previdenciários, a CLT prevê alguns outros direitos específicos,a saber: 

a) JORNADA DE TRABALHO IMPRORROGÁVEL de quarenta e quatro horas semanais,vedando-se a realização de horas extras;

b) NÃO FRACIONAMENTO na concessão DE FÉRIAS, bem como a coincidência destas comas férias escolares.

Existem algumas VEDAÇÕES quanto ao tipo de trabalho do adolescente, decorrentesde normas contidas na CLT (arts.404 e 405), ECA (art.67, incisos I a IV) e CF (art.7º, incisoXXXIII):

a) NOTURNO, que pela legislação trabalhista é definido como aquele que vai das 22:00 horas deum dia até as 05:00 horas do dia seguinte para o trabalhador urbano, das 20:00 horas de umdia às 04:00 horas do dia seguinte para o trabalhador rural que exerce atividade com pecuáriae das 21:00 horas de um dia às 05:00 horas do dia seguinte para o trabalhador rural quelabuta na agricultura;

b) INSALUBRE,  que vem a ser aquele prestado em condições que expõe o trabalhador aagentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância do organismo fixados em razão danatureza e intensidade do agente e do tempo de exposição a seus efeitos (art.189 da CLT eNR 15);

c) PERIGOSO,  que implica em contato com energia elétrica de alta tensão, inflamáveis ouexplosivos em condições de risco acentuado (arts.193 e 405, inciso I da CLT, NR 16, Lei nº7.369/85 e Dec. nº 93.412/86);

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13 a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), em data de 05/11/99 ingressou junto ao STF comação direta de inconstitucionalidade contra o art.1º da Emenda Constitucional nº 20, na parte em que ampliou a idademínima do trabalho do adolescente, tendo como fundamentos invocado que, face a realidade do País, não é corretoprivar adolescentes do direito de trabalhar e assim prover sua própria alimentação, bem como a Convenção de nº 138

da OIT, que permite o trabalho a partir dos 14 (quatorze) anos. A entidade ainda pondera que o Estado não podeerradicar a pobreza com normas que conduzam à condição de miséria adolescentes que necessitam trabalhar. Areferida ação foi recebida pelo STF.

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d) PENOSO,  que é aquele que exige maior esforço físico ou que se realiza em condiçõesexcessivamente desagradáveis. A CLT proíbe que pessoas com menos de 18 anos de idadeexecutem serviços que demandem EMPREGO DE FORÇA MUSCULAR SUPERIOR A 20QUILOS PARA O TRABALHO CONTÍNUO E A 25 QUILOS PARA O TRABALHOOCASIONAL (arts.405, §5º c/c 390 da CLT);

e) Realizado em locais prejudiciais à formação e desenvolvimento físico, psíquico, moral e/ousocial (art.67, inciso III do ECA);

f) Realizado em tempo e lugar que não permita sua freqüência à escola (art.67, inciso III  doECA).

Interessante observar que as vedações ao trabalho do adolescente previstas no art.67 do ECA, por expressa determinação contida no dispositivo, se aplicam mesmo ao adolescenteque exerce sua atividade EM REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR, bem como àquele aluno deescola técnica, assistido por entidade governamental ou não governamental.

Vale também lembrar que "Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua

autoridade, guarda ou vigilância (...)  sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado ...",pode em tese caracterizar o CRIME de MAUS-TRATOS, previsto no art.136 do CP.

5.2.1 - APRENDIZAGEM:Segundo o ECA, aprendizagem é a FORMAÇÃO TÉCNICO-PROFISSIONAL, assim

entendida aquela realizada em cursos oferecidos pelo SENAC, SENAI ou SENAR (ou ainda ementidades ou empresas conveniadas), de acordo com o Decreto nº 31.546/52, onde poderá oadolescente ser matriculado a partir dos 14 (quatorze) anos.

A aprendizagem é ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação em vigore que deve obedecer aos seguintes PRINCÍPIOS: 

- garantia de acesso e freqüência obrigatór ia ao ensino regular;- atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;- horário especial para o exercício das atividades.

Ao aprendiz, entre 14 e 16 anos, é garantida BOLSA APRENDIZAGEM, sendo que épossível a chamada Aprendizagem Metódica no Próprio Emprego - AMPE, prevista nas Portariasnºs 127/56 e 102/74/SA/DRT-PR), através da qual a empresa celebra convênio com o SENAI ouSENAC para que o curso de aprendizagem seja ministrado na própria empresa, de acordo com oprograma elaborado pelo SENAI ou SENAC, que também irão formar o professor, fornecersupervisão didática e pedagógica, realizar provas e expedir os certificados.

A aprendizagem constitui-se no exercício prático de ofício que exige, para o seudesempenho, conhecimentos teóricos e QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL. Assim sendo,atividades que não exigem qualquer conhecimento teórico, que NÃO COMPORTAMPROFISSIONALIZAÇÃO, não podem ser indicadas como "aprendizagem": contínuo,empacotador, empurrador de carrinho, office boy etc.

Para ter validade, o CONTRATO DE APRENDIZAGEM deve ser anotado na CTPSe o empregador deve registrá-lo no Ministério do Trabalho, no PRAZO IMPRORROGÁVEL DE30 (TRINTA) DIAS.

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Quanto à REMUNERAÇÃO do aprendiz, ser-lhe-á paga, durante a PRIMEIRAMETADE da duração máxima prevista para a aprendizagem, quantia não inferior à METADEdo salário mínimo e na SEGUNDA METADE, pelo menos, 2/3 (DOIS TERÇOS) do saláriomínimo (art.80 da CLT).

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 5.2.2 - TRABALHO EDUCATIVO:

É previsto no art.68 do ECA, sendo definido como "a atividade laboral em que asexigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educandoprevalecem sobre o aspecto produtivo" (art.68, §1º do ECA).

O trabalho educativo AINDA NÃO EXISTE na prática, por não ter sido devidamenteregulamentado.

Encontra-se em tramitação junto ao Senado Federal o Projeto de Lei da Câmara nº77/97 (nº 469/95, na Casa de Origem), que dispõe sobre o Programa Especial de TrabalhoEducativo, regulamentando assim o disposto no art.68 do Estatuto da Criança e do Adolescente,tendo por objetivo "propiciar ao adolescente, entre catorze e dezoito anos incompletos,orientação profissional e formação pré-prof issional ou de pré-aprendizagem para a escolhade um ofício ou de um ramo de formação, sendo obrigatória a freqüência escolar e

incentivado o acesso a níveis mais elevados de ensino" (art.3º do referido Projeto - verbis).

Enquanto não houver a regulamentação, não é possível celebrar com o adolescente"contrato de trabalho educativo" ou similar, pelo que fora o contrato de aprendizagem, oadolescente somente pode celebrar o contrato normal de trabalho, com todos os direitos egarantias do trabalhador adulto.

Posto isto, interessante observar que com alguma freqüência são protocolados, juntoao Juízo da Infância e Juventude, PEDIDOS DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PARA O TRABALHODE ADOLESCENTES, havendo casos em que empresas que tinham em seus quadros,regularmente contratados com registro em CTPS, adolescentes com idades entre 14 (quatorze) e16 (dezesseis) anos, passado a exigir tal autorização para não rescindir os contratos à luz do

disposto na Emenda Constitucional nº 20/98.

Bem, em primeiro lugar, a matéria é expressamente disciplinada pelo item 10.2.22 doCódigo de Normas da Corregedoria Geral de Justiça, que é categórico ao determinar que "o Juizda Infância e Juventude abster-se-á de fornecer autorização de trabalho a criança ouadolescente" (verbis), provimento este que tem suas raízes na REVOGAÇÃO tácita dos arts.405,§2º e 406  da Consolidação das Leis do Trabalho pelo advento do Estatuto da Criança e doAdolescente, haja vista que o conhecimento de pedidos de autorização para o trabalho deadolescente NÃO É DA COMPETÊNCIA do Juiz da Infância e Juventude (ou de qualquerautoridade judiciária), não tendo constado do rol estabelecido pelos art.148 e 149 do Estatuto daCriança e do Adolescente.

Ademais, se não bastasse a falta de competência para conhecer de tais pedidos,restaria a elementar constatação de que estes ou careceriam de INTERESSE de agir, no caso dehaver autorização legal expressa ou falta de vedação para o trabalho, ou seriamJURIDICAMENTE IMPOSSÍVEIS, dado confronto com norma legal ou constitucional contra asquais não poderá decidir o magistrado (salvo na hipótese de inconstitucionalidade manifesta, oque não é o caso).

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No caso acima exemplificado, à luz do princípio basilar insculpido no art.5º, incisoXXXVI da Constituição Federal, conclui-se que os adolescentes trabalhadores com idade entre 14(quatorze) e 16 (dezesseis) anos cujos contratos de trabalho haviam sido firmados antes dapromulgação da emenda em questão, assim como os adolescentes aprendizes com idade inferiora 14 (quatorze) anos já regularmente matriculados nos cursos acima referidos, tiveram suasituação inalterada após o advento da Emenda Constitucional referida, com DIREITOADQUIRIDO a continuar no emprego ou a freqüentar o curso respectivo.

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5.2.3 - MITOS EM RELAÇÃO AO TRABALHO. FALSAS JUSTIFICATIVAS PARA OTRABALHO INFANTIL (Valéria T. Meiroz Grilo):

1. o Brasil e um país pobre e todos devem trabalhar para enriquecê-lo e melhorar as própriascondições de vida.(O Brasil é um pais rico, com a população extremamente pobre e o trabalho realizado portodos não melhora as condições de vida de todos).

2. 0 trabalho e a solução para a retirada de crianças e adolescentes que se encontram nas ruas eque estão excluídos do sistema educacional(O  trabalho não é solução para proteger e resguardar os direitos de crianças eadolescentes que estão nas ruas e excluídos do sistema educacional).

3. É interessante que se inicie precocemente a formação profissional para inserção no mercadode trabalho com mais facilidade.(Não e verdade que " formação profiss ional' prematura capacita para a inserção no mercado

de trabalho com mais facilidade e para exercício de atividades qualificadas).

4. 0 trabalho iniciado precocemente propicia a obtenção prematura de benefícios previdenciários(O  trabalho iniciado precocemente, para a maioria esmagadora, não propicia a obtençãoprematura dos benefícios previdenciários)

5. 0 trabalho infantil é necessário para que haja a complementação da renda familiar(O trabalho infantil não pode ser defendido para complementação de renda familiar, pois osadultos é que tem a obrigação alimentar ).

6. A criança que trabalha é mais esperta, aprende a lutar pela sobrevivência e tem mais condiçõesde vencer profissionalmente

( A cr iança que trabalha cedo prejudica o seu desenvolvimento. Fulmina etapa da vidanecessária para o desenvolvimento de potencialidades, através de tarefas simples, comobrincar, jogar, criar. Somente através da escola e que há preparação adequada para vencerprofissionalmente).

5.3 - DA INFORMAÇÃO, CULTURA, LAZER, ESPORTES, DIVERSÕES E ESPETÁCULOS:

Diz o art.75  do ECA que "toda criança ou adolescente terá acesso àsdiversões e espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa etária",devendo os responsáveis pelas diversões e espetáculos públicos afixar, em lugar visível àentrada do local de exibição, INFORMAÇÃO SOBRE A FAIXA ETÁRIA a que não se

recomendam (art.74, par. único do ECA).

Desde que dentro da faixa etária recomendada, crianças acima de 10 (dez) anosde idade (inclusive) e adolescentes terão, a princípio, LIVRE ACESSO às diversões eespetáculos públicos, independentemente de estarem ou não acompanhados de seus pais ouresponsável.

Já crianças com idade inferior a 10 (dez) anos, somente poderão ingressar oupermanecer nos locais de apresentação ou exibição quando acompanhadas de seus pais ouresponsável (art.75, par. único do ECA).

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Todo espetáculo público, para ser apresentado ou mesmo anunciado, deveráconter o aviso de sua classificação (art.76, par. único do ECA).

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Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de empresas que explorem avenda ou aluguel de FITAS de programação EM VÍDEO, deverão cuidar para que as mesmascontenham indicação quanto a sua faixa etária, NÃO PODENDO VENDÊ-LAS OU LOCÁ-LASa crianças e adolescentes em desacordo com tal classificação (arts.77 e par. único do ECA),sob pena da prática da infração administrativa prevista no art.256  do ECA, com previsão demulta entre 03 e 20 salários-de-referência e, no caso de reincidência, a critério da autoridade judiciária, o fechamento do estabelecimento por até 15 dias.

As REVISTAS E PUBLICAÇÕES contendo MATERIAL IMPRÓPRIO OUINADEQUADO a crianças e adolescentes deverão ser comercializadas em EMBALAGEMLACRADA, com advertência de seu conteúdo (art.78 do ECA), sob pena da prática da infraçãoadministrativa prevista no art.257  do ECA, com previsão de multa de 03 a 20 salários-de-referência, duplicando-se em caso de reincidência, sem prejuízo da apreensão da revista oupublicação.

As REVISTAS e publicações DESTINADAS AO PÚBLICO INFANTO-JUVENIL não

poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de BEBIDASALCOÓLICAS, TABACO, ARMAS E MUNIÇÕES, bem como deverão respeitar os valoreséticos e sociais da pessoa e da família (art.79  do ECA), sob pena da prática da infraçãoadministrativa do art.257 do ECA.

Estabelecimentos que explorem comercialmente BILHAR, SINUCA ou congênere,bem como CASAS DE JOGOS, assim entendidas AS QUE REALIZEM APOSTAS, ainda queeventualmente14, não deverão permitir a ENTRADA E PERMANÊNCIA de crianças eadolescentes, devendo nesse sentido afixar avisos para orientação do público (art.80  doECA).

Caso se permita a entrada e/ou permanência de crianças e adolescentes no local,independentemente de estarem eles jogando ou fazendo apostas, restará caracterizada a

infração administrativa prevista no art.258 do ECA.

É também possível que a AUTORIDADE JUDICIÁRIA, mediante PORTARIA ouALVARÁ, discipline a ENTRADA e PERMANÊNCIA de crianças e adolescentes, quandoestiverem DESACOMPANHADAS de seus pais ou responsável, em (art.149, inciso I do ECA):

a) estádio, ginásio e campo desportivo;b) bailes ou promoções dançantes;c) boate ou congênere;d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.

O mesmo se podendo dizer em relação à participação de criança ou adolescente,esteja ela ou não autorizada ou acompanhada dos pais ou responsável, em (art.149, inciso II do ECA):

a) espetáculos públicos e seus ensaios;b) certames de beleza.

Importante observar que, caso não haja a expedição de portaria, a entrada noslocais relacionados no art.149, inciso I  será LIVRE, pois como vimos, a criança e oadolescente têm o direito de "ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaçoscomuni tários, ressalvadas as restrições legais" (art.16, inciso I do ECA).

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14 inserem-se aqui lotéricas e estabelecimentos que contenham máquinas de "vídeo-bingo" ou similares; 

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 As portarias e alvarás deverão ainda ser expedidos obedecendo as regras

estabelecidas pelo art.149, §§1º e 2º do ECA, pelo que OBRIGATORIAMENTE terão de serFUNDAMENTADAS, CASO A CASO (em respeito até mesmo ao disposto no art.93, inciso IX da CF) e deverão de levar em conta:

a) os princípios do ECA;b) as peculiaridades locais;c) a existência de instalações adequadas;d) o tipo de freqüência habitual no local;e) a adequação do ambiente a eventual participação ou freqüência de crianças e

adolescentes ef) a natureza do espetáculo.

São EXPRESSAMENTE VEDADAS determinações de caráter geral, tal qualocorria no revogado Código de Menores, pois não é dado ao Juiz "legislar", mas sim decidir

casos concretos, em que o estabelecimento de restrições COMPROVADAMENTE se faznecessário.

Para tanto, é IMPRESCINDÍVEL que o Juiz, através do corpo de agentes deproteção da infância e juventude (antigos "comissários de menores"), com a colaboração deoutros órgãos, autoridades e entidades (corpo de bombeiros, vigilância sanitária, fiscais daprefeitura etc.), realize VISTORIAS e SINDICÂNCIAS nos locais e estabelecimentos que serãoalvo das restrições judiciais, formando assim a convicção do julgador para que possa decidirde forma correta e justa (após, é claro, ouvido o Ministério Público, que obrigatoriamenteintervém em TODAS as causas afetas à Justiça da Infância e Juventude - art.202 do ECA).

Caso alguém se sinta prejudicado com a portaria ou alvará expedido, poderá

interpor APELAÇÃO contra o ato judicial respectivo (art.199 do ECA).

5.4 - PRODUTOS E SERVIÇOS:

É PROIBIDA A VENDA para crianças e adolescentes de:

a) ARMAS, MUNIÇÕES E EXPLOSIVOS (art.81, inciso I  do ECA), inclusive sob pena decaracterização do CRIME previsto no art.242 do ECA;

b) BEBIDAS ALCOÓLICAS E PRODUTOS cujos componentes POSSAM CAUSAR

DEPENDÊNCIA FÍSICA OU PSÍQUICA, ainda que por utilização indevida (art.81, incisosII e III do ECA), sob pena da prática do CRIME previsto no art.243 do ECA.

OBS: Tendo em vista que o art.81 do ECA faz distinção entre "bebidas alcoólicas" e "produtoscujos componentes possam causar dependência física ou psíquica", entende-se (embora não deforma pacífica) que apenas que a venda, fornecimento etc. destes últimos é que caracterizaria ocrime previsto no art.243 do ECA, caracterizando a venda de bebidas alcoólicas a pessoas commenos de 18 anos apenas a contravenção penal prevista no art.63, inciso I  do Dec. Lei nº3688/41 (LCP).

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c) FOGOS DE ESTAMPIDO E ARTIFÍCIO, exceto os que por seu reduzido potencial nãopossam causar dano físico no caso de utilização indevida (art.81, inciso IV do ECA), sobpena da caracterização do CRIME previsto no art.244 do ECA;

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d) REVISTAS E PUBLICAÇÕES a que alude o art.78 do ECA (art.81, inciso V do ECA);

e) BILHETES LOTÉRICOS E EQUIVALENTES (art.81, inciso VI do ECA), valendo lembrarque a entrada de criança e adolescente em casas que realizam apostas é VEDADA (art.80 do ECA), sob pena da prática da infração administrativa prevista no art.258 do ECA.

 Ar t.82 do ECA - É proibida a HOSPEDAGEM de criança ou adolescente em hotel,motel, pensão ou estabelecimento congênere, SALVO SE EXPRESSAMENTE AUTORIZADOou devidamente ACOMPANHADO pelos pais ou responsável, importando o descumprimentodesta regra na infração administrativa prevista no art.250  do ECA. Esta regra visa coibir aprostituição infanto-juvenil, embora seja IRRELEVANTE, para fins de caracterização dainfração, que a "hospedagem" tenha esta finalidade.

5.5 - AUTORIZAÇÃO PARA VIAJAR:

a) VIAGEM DENTRO DO TERRITÓRIO NACIONAL: nenhuma CRIANÇA (não há, portanto,qualquer restrição para viagem de ADOLESCENTE) poderá viajar para fora da comarcaonde reside DESACOMPANHADA dos pais ou responsável, sem EXPRESSAAUTORIZAÇÃO JUDICIAL (art.83 do ECA), sendo DISPENSADA tal autorização apenasem se tratando de COMARCA CONTÍGUA à da residência da criança, se na mesmaunidade da Federação (no mesmo estado), ou incluída na mesma região metropolitanaOU, se estiver acompanhada de ascendente ou colateral maior, até o 3º grau, comprovadodocumentalmente o parentesco ou de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai,mãe ou responsável (art.83, §1º  do ECA). A pedido dos pais ou responsável poderá serfornecida autorização de viagem válida por até dois anos.

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b) VIAGEM AO EXTERIOR: a REGRA é a NECESSIDADE DA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL

tanto para a viagem da CRIANÇA quanto para a viagem do ADOLESCENTE, que somenteserá dispensada caso estejam eles acompanhados de AMBOS os pais ou responsável ou,quando na companhia de apenas um dos pais, houver AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DOOUTRO, através de documento com firma reconhecida. Esta regra visa impedir que,quando da separação de um casal, um dos pais "fuja" com seus filhos para o exterior.

 Ar t.85  - Também é VEDADO que casal estrangeiro residente ou domiciliado noexterior retire do País CRIANÇA ou ADOLESCENTE nascido em território nacional SEMPRÉVIA E EXPRESSA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL, evitando assim que criança ou adolescentesaia do Brasil em companhia de estrangeiros fora dos casos de adoção.

OBS: O TRANSPORTE de criança ou adolescente com inobservância do disposto

nos arts.83 a 85  do ECA importa na prática de INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA prevista noart.251 do mesmo Diploma Legal.

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 LIVRO II - PARTE ESPECIAL

II. DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO (arts. 86 a 97 do ECA)

Definição : Conjunto de regras, planos e programas criados pelo Poder Público eexecutados por entidades governamentais e não governamentais, voltados para a distribuição debens e serviços destinados à promoção, proteção e defesa dos direitos fundamentais de criançase adolescente.

Antes do ECA, a política na área era proposta de forma autoritária, "de cima parabaixo", através de programas e diretrizes formulados a nível nacional (via Fundação Nacional doBem Estar do Menor - FUNABEM).

Atualmente ocorre mediante o  CONJUNTO ARTICULADO DE AÇÕES

GOVERNAMENTAIS E NÃO GOVERNAMENTAIS da União, dos Estados, do Distr ito Federale dos municípios (art.86 do ECA). 

A política de atendimento segue as seguintes LINHAS DE AÇÃO (art.87 do ECA):

I. Políticas sociais básicas (saúde, educação, saneamento básico etc.) - devem serproporcionadas pelo Poder Público, com PREFERÊNCIA na FORMULAÇÃO eEXECUÇÃO para a área da infância e juventude (art.4º, par. único, alínea "c"  doECA);

II. Políticas e programas de ASSISTÊNCIA SOCIAL, em caráter SUPLETIVO, paraaqueles que deles necessitem - devem ser elaboradas e executadas de acordo

com a Lei nº 8.742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social), onde também há aparticipação da sociedade civil organizada nos Conselhos de Assistência Social,que funcionam nos moldes dos Conselhos de Direitos da Criança e doAdolescente. Visam atender crianças, adolescentes e suas famílias para as quais,por sua precária condição psicossocial, não bastam as políticas sociais básicas;

III. SERVIÇOS ESPECIAIS de PREVENÇÃO e ATENDIMENTO médico e psicossociala VÍTIMAS de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão(o que obviamente não impossibilita a criação de "serviços especiais" diversos, hajavista que o objetivo do ECA, com respaldo na Constituição Federal, é aPROTEÇÃO INTEGRAL à criança e ao adolescente).

IV. SERVIÇO DE IDENTIFICAÇÃO e LOCALIZAÇÃO de pais, responsável eadolescentes desaparecidos. Em Curitiba, existe o SICRIDE (Serviço deInvestigação de Crianças Desaparecidas), órgão vinculado à Secretaria deSegurança Pública, comandado por um Delegado de Polícia, com endereço à RuaFioravante Dalla Stella nº 66, Centro Empresarial Cajurú, nesta Capital - fone: 224-6822.

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V. PROTEÇÃO JURÍDICO-SOCIAL por ENTIDADES de defesa dos direitos da criançae do adolescente. O envolvimento das ENTIDADES DE ATENDIMENTO nasquestões referentes à criança e ao adolescente é fundamental, tendo o ECA a elasdestinado um CAPÍTULO específico (de nº II), bem como previsto sua participação

nos Conselhos de Direitos, sendo as não governamentais consideradas legítimasrepresentantes da sociedade civil organizada (art.88, inciso II).

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O ECA ainda estabelece DIRETRIZES a serem observadas por essa mesma políticade atendimento (art.88):

I. MUNICIPALIZAÇÃO do atendimento - na perspectiva de que é no município ondevive a criança e o adolescente onde os problemas devem ser discutidos eencontradas as soluções, de modo que as peculiaridades locais sejam respeitadase as prioridades sejam estabelecidas de acordo com a realidade local. Ao Estado(strictu sensu) e à União cabe apenas traçar linhas gerais de atuação, dando aosmunicípios mais pobres o respaldo técnico e o auxílio financeiro necessários para acriação de uma ESTRUTURA MÍNIMA de atendimento;

II. A CRIAÇÃO DE CONSELHOS DE DIREITOS DA CRIANÇA E DOADOLESCENTE, a nível nacional, estadual e municipal, é outra das DIRETRIZESda política de atendimento traçada pelo ECA, sendo tais CONSELHOS DEDIREITOS (não confundir com os tutelares) ÓRGÃOS DELIBERATIVOS  eCONTROLADORES DAS AÇÕES  em todos os níveis, assegurada a

PARTICIPAÇÃO POPULAR, por meio de organizações representativas (via deregra entidades não governamentais de atendimento), EM CARÁTER PARITÁRIO com os representantes do Poder Público (ou seja, o número de membros da ALANÃO GOVERNAMENTAL do Conselho de Direitos será sempre O MESMO donúmero de membros da ALA GOVERNAMENTAL, VARIANDO esse número de umConselho para o outro, a nível de municípios e Estados da Federação - No PR, porexemplo, o CEDCA é composto por 12  GOV. e 12 NÃO GOV., e em Curitiba, oCOMTIBA é composto por 6 GOV. e 6 NÃO GOV.).

Os Conselhos de Direitos têm como fundamento constitucional - o PRINCÍPIO daDEMOCRACIA PARTICIPATIVA, ex vi do disposto nos arts. 1°, parágrafo único, 204, inciso IIe 277, §7°, todos da CF:

"TODO PODER EMANA DO POVO, que o exerce por meio de representantes eleitosOU DIRETAMENTE, nos termos desta Consti tuição" (art.1º, par. único da CF);

" As AÇÕES GOVERNAMENTAIS na área da in fância e juventude serão real izadastendo como DIRETRIZ a PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO, por meio de ORGANIZAÇÕESREPRESENTATIVAS, na FORMULAÇÃO DAS POLÍTICAS E NO CONTROLE DAS AÇÕES em todosos níveis" (inteligência do art.227, §7º c/c art.204, inciso II, ambos da CF).

São criados por lei, sendo que suas origens remontam aos conselhos populares ecomunitários, que eram órgãos consultivos e informativos da situação de cada localidade emdeterminadas áreas criados na década de 1980 com o processo de redemocratização do País.

Os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, no entanto, representam umenorme AVANÇO em relação aos conselhos populares e comunitários, pois enquanto oacatamento das opiniões e manifestações destes dependia do puro arbítrio do Poder Público, osConselhos de Direitos são os órgãos que detém da legitimação CONSTITUCIONAL para aELABORAÇÃO DE POLÍTICAS que garantam o atendimento aos direitos fundamentais dapopulação infanto-juvenil, atuando ainda no CONTROLE DA EXECUÇÃO destas mesmaspolíticas.

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Destarte, não são órgãos meramente "consultivos", mas sim DELIBERATIVOS eAUTÔNOMOS face os demais poderes (inclusive o Poder Executivo, ao qual estão apenasADMINISTRATIVAMENTE vinculados, embora contenham membros integrantes do PoderPúblico), detentores de significativa parcela da SOBERANIA ESTATAL. Quando o Conselho de

Direitos DELIBERA, é o Estado (latu sensu) que delibera, cabendo ao Chefe do Executivo local

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apenas o ACOLHIMENTO de tal deliberação, e com a PRIORIDADE ABSOLUTA preconizadapelo ECA e CF.

CONCEITO RESUMIDO: Conselho de Direitos é um órgão criado por lei, com ascaracterísticas da autonomia e paridade, apresentando função de governo e administrativa,situado na esfera do Poder Executivo.

 ATRIBUIÇÕES (ou "competências", na classificação feita por Felício Pontes Jr.) dosCONSELHOS DE DIREITOS:

II.1. Competências CONSCIENTIZADORAS:

a. Promover a DIVULGAÇÃO DOS DIREITOS da criança e do adolescente;

b. Promover o INTERCÂMBIO ENTRE ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS E NÃO

GOVERNAMENTAIS afetos à questão (valendo lembrar que o art.86 do ECA estabelece quea POLÍTICA DE ATENDIMENTO para a área da infância e juventude " far-se-á através deum CONJUNTO ARTICULADO DE AÇÕES governamentais e não governamentais ..."(verbis - grifei);

c. ACOMPANHAR os casos de violação de direitos de criança e do adolescente (E NÃOATENDER casos individuais, tarefa que fica a cargo do Conselho Tutelar e autoridade judiciária). Esta atribuição decorre da necessidade de que o Conselho de Direitos CONHEÇAA REALIDADE local para que, com base nela, possa encontrar falhas na sistemáticaexistente para o atendimento e promover mudanças, inclusive através da CRIAÇÃO DEPROGRAMAS ESPECÍFICOS;

d. VISITAR delegacias de polícia, hospitais, entidades de internação, de abrigo etc. Estaatribuição também visa o maior envolvimento do Conselho de Direitos com a realidade local,imprescindível para elaboração da POLÍTICA DE ATENDIMENTO para a área.

II.2. Competências MODIFICADORAS:

a. Estabelecer NORMAS PARA REGISTRO de entidades NÃO GOVERNAMENTAIS deatendimento a crianças e adolescentes, bem como destinadas à INSCRIÇÃO DEPROGRAMAS desenvolvidos por entidades GOVERNAMENTAIS e NÃOGOVERNAMENTAIS, atendendo assim ao disposto nos arts.90, par. único e 91  do ECA,que serão melhor analisados adiante.

b. Promover o REORDENAMENTO INSTITUCIONAL dos órgãos governamentais deatendimento aos direitos infanto-juvenis - Uma vez que, tomando conhecimento da realidadelocal, o Conselho de Direitos verifica a falta de articulação entre entidades governamentaisexistentes e/ou a existência de paralelismos ou antagonismos, deve atuar de forma a superartais problemas, garantindo o melhor e mais eficiente atendimento à criança e ao adolescente,podendo inclusive deliberar pela transformação do modo de atuação e/ou público-alvo dedeterminada entidade ou programa por ela mantido;

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c. Opinar sobre a PROPOSTA QUE DEFINE O PERCENTUAL DE DOTAÇÃOORÇAMENTÁRIA às políticas públicas para a infância e juventude - Ao deliberar sobre apolítica de atendimento à criança e ao adolescente o Conselho de Direitos irá elaborar, acada ano, biênio etc. (o período pode variar de acordo com a lei que o cria), o PLANO DEAÇÃO para a área da infância e juventude, que conterá a indicação dos programas a serem

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implantados e/ou mantidos no período, devendo cada qual conter a previsão de seu CUSTO(com a indicação do quanto deverá o município arcar - haja vista a possibilidade de seu co-financiamento pela própria entidade e/ou pela União/Estado, mediante convênio).

O plano de ação será então complementado com o PLANO DE APLICAÇÃO DERECURSOS, onde será previsto o montante de recursos necessários à implantação/manutençãodos programas, que deverá ser encaminhado para o chefe do Poder Executivo para que este,por sua vez, remeta ao Poder Legislativo com a proposta orçamentária anual (ou plurianual),sempre lembrando que o chefe do Executivo fica OBRIGADO a efetuar tal encaminhamento aoLegislativo SEM QUALQUER ALTERAÇÃO, pois a competência constitucional de ELABORAR APOLÍTICA de atendimento para a área da infância e juventude, bem como de CONTROLAR AEXECUÇÃO dessa mesma política, que começa por ver assegurada a INCLUSÃO NOORÇAMENTO de previsão de recursos em patamar suficiente para a área (e com aPRIORIDADE prevista pela conjugação dos já mencionados arts.227, caput da CF e 4º, caput epar. único, alínea "d"  do ECA), é do Conselho de Direitos.

Ressalte-se que o chefe do Poder Executivo poderá influir na elaboração da políticade atendimento para a área da infância e juventude, mas o fará por intermédio da ALAGOVERNAMENTAL do Conselho de Direitos, através do debate franco e em condições deabsoluta IGUALDADE com a sociedade civil organizada, sendo importante que todos osenvolvidos no processo tenham noções de finanças públicas e questões orçamentárias, para quenão deliberem pela criação de programas de custo incompatível com o orçamento do municípioe/ou deixem de observar para a área a DESTINAÇÃO PRIVILEGIADA DE RECURSOSPÚBLICOS prevista pela legislação específica acima citada.

d.  GERIR O FUNDO para a infância e adolescência (art.88, inciso IV do ECA e art.71 da Lei nº4.320/64) - O Fundo Especial para a Infância e Adolescência, também conhecido por "FIA",existe nos três níveis (Nacional, Estadual e Municipal), sendo criado por lei (normalmente na

mesma lei que cria os Conselhos de Direitos e Tutelar, em capítulo ou seção própria), emobediência à Lei Federal nº 4.320/64, que estabelece normas de gestão financeira de recursospúblicos, das quais não pode se dissociar.

O FIA é definido como um "facilitador da captação e da aplicação de recursospara a área da infância e juventude", sendo ADMINISTRADO (ou "GERIDO") pelo Conselho deDireitos da Criança e do Adolescente.

O FIA pode ter várias FONTES DE RECEITA, que devem ser também definidas emlei, sendo comuns as doações (vide art.260 do ECA, que no entanto já sofreu várias alteraçõesao longo dos anos, sendo hoje possível deduções subsidiadas para doações de até 1% do IRdevido para pessoas jurídicas e 6%  para pessoas físicas), transferências intra e

intergovernamentais (também chamadas de "dotações orçamentárias"), recursos provenientesde multas administrativas aplicadas com base nos arts.194 a 197 e 245 a 258 do ECA (valendoobservar o disposto no art.214, caput e §2º do ECA).

Quanto às DESPESAS, somente poderão ser efetuadas na área da infância e juventude, sendo no entanto VEDADA sua utilização para o custeio da implantação/manutençãoda estrutura física dos Conselhos de Direitos e Tutelares, pagamento dos conselheiros tutelaresetc. (que devem ficar a cargo do Poder Público, através de outras rubricas orçamentárias).

O controle da aplicação dos recursos do FIA, além de ser efetuado pelo PoderLegislativo quando da análise da Lei Orçamentária, também fica a cargo do Tribunal de Contasrespectivo.

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e. Elaborar proposta de ALTERAÇÃO DA LEGISLAÇÃO EM VIGOR para atendimento dosdireitos da infância e juventude - Uma vez detectadas falhas na sistemática de atendimento àcriança e ao adolescente que demandam alteração legislativa para serem superadas, pode oConselho de Direitos PROPOR tal alteração, que no entanto ficará sujeita aos trâmites e aoseu acatamento pelo Poder Legislativo, que é SOBERANO para deliberar em sentido contrário(face o princípio constitucional da autonomia e independência entre os Poderes).

II.3 - Competências ADMINISTRATIVAS:

a. Presidir o PROCESSO DE ESCOLHA DOS CONSELHEIROS TUTELARES (art.139 do ECA)- Os conselheiros tutelares são ESCOLHIDOS PELA COMUNIDADE em processoassemelhado ao eleitoral, com regras próprias definidas em LEI MUNICIPAL (o ConselhoTutelar somente existe a nível municipal), com regulamentação e condução pelo ConselhoMunicipal de Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), bem como obrigatóriaFISCALIZAÇÃO PELO MP. Anteriormente, a presidência do processo de escolha (que se

chamava eleitoral), ficava a cargo do Juiz Eleitoral, porém discussões acerca daconstitucionalidade do dispositivo fizeram-no ser alterado para a atual redação, de modo adeixar claro que a ele não se aplicam as regras do processo eleitoral regular (apenas a títulode exemplo, o voto da população é FACULTATIVO, havendo em alguns casos oestabelecimento de um COLÉGIO ELEITORAL representativo da comunidade e incumbidoda escolha).

b. Elaborar seu REGIMENTO INTERNO.

(Continuação do rol das DIRETRIZES da POLÍTICA DE ATENDIMENTO):

III - CRIAÇÃO E MANUTENÇÃO DE PROGRAMAS  específicos, observada aDESCENTRALIZAÇÃO político-administrativa (art.88, inciso III  do ECA) - a EXECUÇÃO dapolítica de atendimento à criança e ao adolescente se faz através de PROGRAMAS dePREVENÇÃO, PROTEÇÃO e SÓCIO-EDUCATIVOS, nos moldes do previsto nos arts.90, 101,112 e 129 do ECA.

São estes programas, desenvolvidos pelas entidades governamentais e nãogovernamentais de atendimento, por iniciativa própria ou mediante deliberação do Conselho deDireitos da Criança e do Adolescente, que fornecerão às autoridades encarregadas de aplicarmedidas de proteção e sócio-educativas (CT, Juiz e MP - este último apenas em sede deREMISSÃO, que será melhor analisada adiante), a ESTRUTURA DE ATENDIMENTO (ouRETAGUARDA) INDISPENSÁVEL para o encaminhamento dos casos atendidos, sem o que

muito pouco poderão fazer.

Cabe ao CMDCA apurar, no município, quais as áreas são deficitárias a nível deprogramas de atendimento, para então DELIBERAR por sua criação e manutenção, podendotambém providenciar a ampliação do número de vagas ofertadas por programas já existentes,tudo com a devida previsão de recursos e sua inclusão no orçamento, nos moldes do acimaexposto.

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IV - INTEGRAÇÃO OPERACIONAL de órgãos do Judiciário, MP, Defensoria, Segurança Públicae Assistência Social, preferencialmente num mesmo local, para efeito de AGILIZAÇÃO doatendimento inicial ao adolescente acusado da prática do ato infracional (art.88, inciso V  doECA) - é a norma que dá suporte jurídico aos chamados Centros Integrados de Atendimento aoAdolescente Infrator (CIAADIs), que em Curitiba se localiza no bairro Tarumã (próximo ao

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DETRAN), onde funcionam todos os órgãos encarregados de atender o adolescente em conflitocom a lei, lá existindo inclusive um setor destinado à INTERNAÇÃO PROVISÓRIA doadolescente, enquanto aguarda julgamento, internação esta que se estenderá pelo prazoMÁXIMO E IMPRORROGÁVEL de 45 (quarenta e cinco) dias (vide arts.108 e 183  do ECA).Facilita assim, um maior contato entre todos os envolvidos no processo de apuração do fato, desuas circunstâncias e da descoberta da medida sócio-educativa mais adequada ao caso (quedeve ser aplicada não apenas com base na gravidade do ato praticado). Além de Curitiba, existeno Paraná outro Centro Integrado apenas em Foz do Iguaçu, embora vários outros municípioscontem com entidades destinadas à internação provisória de adolescente (são os chamadosServiços de Atendimento Social - SAS).

V - MOBILIZAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA no sentido da participação dos diversos segmentosda sociedade (art.88, inciso VI  do ECA) - Como o ECA e a CF estabelecem ser DEVER DETODOS - família, sociedade e Estado - respeitar e fazer respeitar os direitos de crianças eadolescentes, prevenindo a ocorrência de ameaça ou violação de tais direitos, necessário que

nesse sentido seja a sociedade MOBILIZADA, através de campanhas de esclarecimento econscientização, dentre outros meios, que deverão ser promovidas preferencialmente pelosConselhos de Direitos (que como vimos detém a "competência conscientizadora" da sociedade).

 Ar t.89 do ECA - A função de MEMBRO DOS CONSELHOS DE DIREITOS, em todosdos níveis, é considerada de INTERESSE PÚBLICO RELEVANTE, NÃO SENDO, no entanto,REMUNERADA. Os integrantes do órgão, portanto, são considerados "agentes honoríficos", talqual o jurado no Tribunal do Júri e o mesário nas eleições. Apenas para fins de comparação (seráobjeto de melhor análise a posteriori, o ECA estabelece a POSSIBILIDADE de haver o pagamentode subsídios aos membros do CONSELHO TUTELAR).

Também é importante registrar que os conselheiros de direitos exercem MANDATOS

cuja duração é definida em LEI MUNICIPAL. Os conselheiros GOVERNAMENTAIS, que deverãoser agentes de 1º escalão do governo, com poder de decisão em suas pastas, são de livrenomeação e exoneração pelo Chefe do Executivo, devendo permanecer no Conselho enquantoestiverem à frente de seus cargos. Já os conselheiros NÃO GOVERNAMENTAIS são eleitos emASSEMBLÉIA das próprias entidades, não podendo ser exonerados pelo Chefe do Executivo,perdendo o mandato apenas nas hipóteses definidas em lei. 

ENTIDADES DE ATENDIMENTO. FISCALIZAÇÃO. PROCEDIMENTO PARA APURAÇÃO DEIRREGULARIDADES (arts.90 a 97 do ECA).

1 - ENTIDADES DE ATENDIMENTO:

Conceito: são as entidades que dão retaguarda às medidas aplicadas a crianças eadolescentes pela autoridade competente (Juiz, MP, CT), sejam medidas sócio-educativas ou deproteção (arts.101 e 112 do ECA). Também operacionalizam (planejam e executam) programaspara execução de medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis (art.129 do ECA).

O ECA, no art.90, refere-se a entidades voltadas a programas especiais, destinados acrianças e adolescentes em situação de risco (na forma do disposto em seu já mencionado art.98).

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As entidades são encarregadas de manter suas próprias unidades, bem como deplanejar e executar seus próprios programas de proteção e sócio-educativos, dentre osrelacionados no art.90 do ECA, A SABER:

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a) programas de orientação e apoio familiar, que são os mencionados nos arts.101, incisos II eIV  (acompanhamento, orientação e apoio temporários e programa de auxílio à família, àcriança e ao adolescente), 129, incisos I e II (programa oficial de auxilio à família e programade auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos);

b) apoio sócio-educativo em meio aberto;c) colocação familiar (colocação em família substituta nas três modalidades - guarda, tutela e

adoção - sempre em regime de COLABORAÇÃO com a autoridade judiciária - vide art.30 doECA);

d) abrigo (caso impossível o retorno à família de origem, ainda que momentaneamente, nem acolocação em família substituta);

e) liberdade assistida;f) semiliberdade;g) internação.

Os programas podem ser desenvolvidos por entidades governamentais e nãogovernamentais (embora quanto aos programas correspondentes às medidas sócio-educativas de

inserção em regime de semiliberdade e internação, por importarem em restrição/privação deliberdade de adolescentes, considerada verdadeira questão de segurança pública, algunssustentam que somente podem ser desenvolvidos por entidades GOVERNAMENTAIS).

 Ar t.90, par. único  do ECA - Os PROGRAMAS (e suas alterações) a seremimplantados/mantidos pelas entidades GOVERNAMENTAIS e NÃO GOVERNAMENTAIS deverãoser devidamente INSCRITOS no CMDCA, que a respeito deles fará comunicação ao Juiz e ao CT(pois serão estas autoridades que irão efetuar os encaminhamentos aos programas respectivos).

 Ar t.91  do ECA - As entidades NÃO GOVERNAMENTAIS SOMENTE PODERÃOFUNCIONAR APÓS REGISTRADAS no CMDCA, que também irá comunicar o registro ao Juiz eCT locais.

O ECA enumera hipóteses em que será negado o registro: instalações físicasinadequadas quanto higiene, salubridade e segurança; plano de trabalho incompatível com osprincípios do ECA; irregularidade quanto à constituição; pessoas inidôneas nos seus quadros(art.91, par. único).

Para as entidades de ABRIGO, o ECA relaciona alguns PRINCÍPIOS que devem serobservados (art.92), que constituem-se numa reprodução mais detalhada daqueles jámencionados quando tratávamos do DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR (vide também art.100 do ECA).

Fica EXPRESSAMENTE estabelecido que as entidades de abrigo deverão procurar

preservar os vínculos familiares, com a integração da criança ou adolescente em família substitutaquando (e APENAS quando) esgotados os recursos visando a manutenção na família de origem;integração dos jovens abrigados na vida da comunidade local, que deverá participar de seuprocesso educativo; atendimento personalizado e em pequenos grupos, com o não-desmembramento de grupos de irmãos.

1.1 - FISCALIZAÇÃO das entidades de atendimento: 

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O CMDCA efetua uma verdadeira fiscalização prévia por ocasião do registro dasentidades não governamentais. Além da fiscalização prévia, todas entidades (não governamentaise governamentais) são fiscalizadas pelo Promotor de Justiça, Autoridade Judiciária (emboraalguns sustentem que, dada redação do art.2º do CPC, aplicado por força do art.152 do ECA, nãopossa o Juiz fazer inspeção e baixar portaria instauradora de procedimento para apuração de

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irregularidades na entidade, tal qual previsto no art.191, caput  do ECA) e Conselho Tutelar,conforme o art.95 do ECA.

Sempre que uma entidade não obedecer as regras dos arts.92 e 94  do ECA(princípios das entidades de abrigo e de internação), abre-se a possibilidade do desencadeamentode procedimento para apuração de irregularidades em entidades de atendimento (previsto nosarts.191 a 193 do ECA), podendo ser aplicadas as medidas estatuídas no art.97 do ECA, semprejuízo da responsabilidade civil ou criminal de seus dirigentes ou prepostos.

SANÇÕES previstas para entidades GOVERNAMENTAIS: advertência, afastamentoprovisório dos dirigentes, afastamento definitivo do dirigente, fechamento da unidade ou interdiçãodo programa.

SANÇÕES previstas para entidades NÃO GOVERNAMENTAIS: advertência,suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas; interdição de unidades ou suspensãode programa, cassação do registro.

Além destas medidas, que são aplicadas ao final do procedimento, é possível oafastamento provisório do dirigente, liminarmente, havendo motivo grave. Pode serAFASTADO o dirigente GOVERNAMENTAL e NÃO GOVERNAMENTAL, este último SOMENTELIMINARMENTE e NÃO AO FINAL do procedimento (AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL paraesta penalidade). O motivo grave é verificado em razão do elevado grau de inescusabilidade dodescumprimento de princípios e obrigações por parte do dirigente da entidade, sendo que seuafastamento objetiva que as irregularidades apontadas sejam apuradas, sem sua interferência,garantindo-se o seu êxito.

Observação importante: a MULTA prevista no art.193, §4° do ECA, NÃO PODE SERAPLICADA. Foi um ERRO do legislador que não a suprimiu neste artigo, quando esta modalidadede sanção foi suprimida pelo rol constante do art.97  do ECA. HÁ DIVERGÊNCIA de opinião,

sustentando alguns que a multa é aplicada PARA A PESSOA DO DIRIGENTE e não para aentidade.

1.2 - Do PROCEDIMENTO (arts.191 a 193 do ECA):

a. PORTARIA do Juiz, REPRESENTAÇÃO do Ministério Público ou do Conselho Tutelar -decorrência do dever de fiscalizar, estabelecido no art.95  do ECA. A atribuição que o MPpossui de fiscalizar estabelecimentos que abriguem menores, idosos, portadores dedeficiência é ainda prevista na Constituição do Estado do Paraná, em seu art.120, inciso VIII.A inicial (portaria ou representação) sob pena de inépcia, deve expor os fatos reveladores dasirregularidades, a indicação dos autores e sua qualificação, os meios de prova com os quais

se pretende demonstrar os fatos alegados, incluindo o rol de testemunhas (deve, em suma,seguir também o disposto no art.282 do CPC).

b. Se é pedido liminarmente o afastamento provisório do dirigente, a autoridade judiciária (queserá SEMPRE o Juiz da Infância e Juventude, ex vi do disposto no art.148, inciso V do ECA)sobre ele decidirá. A liminar pode ser deferida inaudita altera pars e deve ser fundamentada.

c. Procede-se então à citação do dirigente da entidade, que deverá oferecer resposta em 10(DEZ) DIAS, com indicação das provas que pretende produzir. O ato citatório recai sobrequem o Estatuto da entidade indicar.

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d. Com ou sem resposta e entendendo necessário, o Juiz designa audiência de instrução e julgamento (pode, portanto, haver o julgamento antecipado da lide). Nesta há apresentação de

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alegações finais, que também pode ocorrer por memoriais, no prazo de 05 (CINCO) DIAS,decidindo o juiz no mesmo prazo.

Quando os autos são conclusos ao Juiz, abre-se duas opções: ou o Juiz prolata asentença ou determina prazo para a remoção das irregularidades verificadas. Findo o prazo,se as irregularidades tiverem sido removidas, há EXTINÇÃO do processo e, se não, prolata-sesentença aplicando medida prevista no art.97 do ECA.

Quando a medida (para entidade GOVERNAMENTAL) é o afastamento provisório oudefinitivo do dirigente, o Juiz comunica o fato à autoridade administrativa hierarquicamentesuperior para a indicação do substituto (art.193, §2º do ECA).

Quando a decisão é de julgamento sem análise do mérito contra entidadeGOVERNAMENTAL, observa-se o art.475, inciso II do CPC (recurso ex officio  - duplo grau de jurisdição obrigatório).

Quando as irregularidades não forem passíveis de remoção ou a aplicação dasmedidas previstas no art.97  for insuficiente para a regularização da entidade, cabe ao MP, noscasos previstos no DL 41/66 (que dispõe sobre a dissolução de sociedades civis de finsassistenciais) promover sua dissolução (art.2º do citado DL). Para os casos de entidades NÃOGOVERNAMENTAIS juridicamente constituídas sob a forma de sociedade civil de finsassistenciais, portanto, conferir o DL - art.2°.

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III - DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO (arts .98 a 102 do ECA):

Conceito: são medidas aplicadas pela autoridade competente (Juiz, Promotor,

Conselheiro tutelar) a crianças e adolescentes que tiverem seus direitos fundamentais violados ouameaçados, ou seja, quando se encontrarem em SITUAÇÃO DE RISCO pessoal ou social naforma do disposto no art.98 do ECA:

I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado (latu sensu);II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;III - em razão de sua conduta.

São ainda aplicáveis a CRIANÇAS acusadas da prática de ato infracional (art.105 doECA, a ser melhor analisado adiante).

O art.101 do ECA relaciona um total de 08 (oito) medidas de proteção, sendo que a

enumeração contida no referido dispositivo é meramente EXEMPLIFICATIVA (vide a expressão"dentre outras" contida em seu enunciado), podendo ser aplicadas medidas diversas, semprecom vista à PROTEÇÃO INTEGRAL da criança e/ou do adolescente.

Estas medidas de proteção podem ser aplicadas CUMULATIVAMENTE às sócio-educativas, no caso de prática de ato infracional por adolescente, sendo que o art.112, inciso VII do ECA prevê a possibilidade da aplicação das medidas de proteção relacionadas no art.101,incisos I a VI do ECA a título de MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS,

A aplicação das medidas protetivas deve obedecer a certos PRINCÍPIOS, alguns dosquais se encontram insculpidos nos arts.99 e 100 do ECA:

a. possibilidade de serem aplicadas ISOLADA ou CUMULATIVAMENTE (art.99, primeira parte,do ECA)

b. possibilidade de sua SUBSTITUIÇÃO A QUALQUER TEMPO, uma vez demonstrada anecessidade (art.99, in fine, do ECA); 

c. observância das NECESSIDADES PEDAGÓGICAS do destinatário da medida, devendo sernesse sentido providenciada, sempre que possível, a juntada de laudo técnico (estudopsicossocial ou similar) elaborado por equipe interprofissional a serviço do Conselho Tutelarou Juizado da Infância e Juventude (art.100, primeira parte, do ECA);

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d. PREFERÊNCIA às medidas que visem FORTALECER OS VÍNCULOS FAMILIARES ECOMUNITÁRIOS (art.100, segunda parte, do ECA, sendo esta mais uma expressão do direitofundamental à convivência familiar, previsto no art.227, caput da CF e arts.4º, caput e 19 doECA). 

Para que possam ser aplicadas e executadas a contento, as medidas de proteção(assim como as sócio-educativas previstas no art.112  do ECA e as destinadas aos pais ouresponsável, previstas no art.129  do ECA), devem corresponder a programas específicos,desenvolvidos por entidades governamentais e não governamentais, dentro da POLÍTICA DEATENDIMENTO traçada pela área pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente. 

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adolescentes as medidas de proteção que vão do art.101, incisos I ao VII, valendo a respeito dotema ainda observar o contido no art.30 do ECA);

Autoridades competentes para aplicação das medidas de proteção:

a. CONSELHO TUTELAR - medidas de proteção a adolescentes e crianças em situação derisco pessoal e/ou social (arts.98 c/c 136, inciso I do ECA) e criança infratora (com exceção,é claro, da colocação em família substituta, que é medida exclusivamente judicial).

b. JUIZ DA INFÂNCIA E JUVENTUDE - para o adolescente infrator, a título de medidasócio-educativa (art.112, inciso VII  do ECA), ou ainda, exercendo as funções dosconselheiros tutelares, por força do art.262  do ECA, enquanto ainda não instalado o CT(embora a instalação do CT não impeça a intervenção da autoridade judiciária emdeterminados casos, de maior gravidade e/ou complexidade, estabelecendo-se uma espéciede "competência concorrente" entre o Juízo da Infância e Juventude e o CT - que devem agirde forma articulada de modo a evitar decisões conflitantes).

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c. PROMOTOR DE JUSTIÇA - em sede de REMISSÃO (arts.126 a 128  do ECA), aoadolescente a quem se atribui a prática de ato infracional, como forma de EXCLUSÃO DOPROCESSO. Como todas as medidas aplicadas em sede de remissão (à exceção da deadvertência, segundo sustentam alguns), sua aplicação pressupõe a expressa concordânciado adolescente e seu responsável.

Consoante dito acima, as medidas de proteção (salvo quando forem aplicadas a títulode medida sócio-educativa, tal qual o previsto no art.112, inciso VII  do ECA), NÃO SÃOCOERCITIVAS à criança ou adolescente (embora possam sê-lo as medidas correlatas destinadasa seus pais ou responsável, a exemplo das previstas no art.129, incisos V e VI do ECA), nãosendo assim necessária a deflagração de procedimento contraditório destinado à sua aplicação

(que como vimos pode mesmo se dar na simples via administrativa através do CT).

Em sendo necessária a instauração de procedimento judicial com vista à aplicação demedidas de proteção (salvo a colocação em família substituta e/ou o abrigamento, quandoimportar em destituição de guarda, suspensão ou destituição do pátrio poder), sua tramitaçãoobedecerá o disposto no art.153 do ECA, em que tal qual ocorre nos procedimentos de jurisdiçãovoluntária, são concedidos amplos poderes à autoridade judiciária para instrução do feito etomada das providências que se fizerem necessárias, sempre tendo em vista a PROTEÇÃOINTEGRAL da criança ou do adolescente destinatário da medida. Antes de qualquer decisão judicial, no entanto, como de resto ocorre em todos os procedimentos que tramitam na Justiça daInfância e Juventude, é imprescindível a intervenção e oitiva do MP (arts.153, in fine, 202 e 204 do ECA).

O art.102  do ECA estabelece que o atendimento de criança ou adolescente que seencontra em situação de risco pessoal ou social deve ser acompanhado da REGULARIZAÇÃODO REGISTRO CIVIL, seja quando inexistir registro anterior (caso em que o assento seráREQUISITADO pela AUTORIDADE JUDICIÁRIA, à vista dos elementos disponíveis - art.102, §1º do ECA), seja quando for necessária alguma retificação dos dados nele contidos.

A exemplo do que ocorre em outras disposições estatutárias, também existe aprevisão de gratuidade dos registros e certidões necessárias para a regularização do registro civil(art.102, §2º do ECA).

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IV - DAS MEDIDAS APLICÁVEIS AOS PAIS OU RESPONSÁVEL (art.129 do ECA)

Consoante acima ventilado, uma vez detectada a presença de situação de risco naforma do disposto no art.98  do ECA, a aplicação de medidas de proteção à criança e ao

adolescente muitas vezes por si só não basta, sendo necessário que também seja realizada umaintervenção junto à sua FAMÍLIA, quer para que esta seja promovida socialmente, quer para queseus integrantes recebam alguma espécie de tratamento do qual necessitem, quer para quesejam compelidos a participar ativamente do processo de recuperação de seus filhos e a cumpriros deveres inerentes ao pátrio poder que por alguma razão se omitiram em fazer, e mesmo parareceber sanções específicas previstas em lei.

Enquanto as medidas de proteção destinadas às crianças e adolescentes não sãocoercitivas, as medidas destinadas aos pais ou responsável o são, sendo que uma vez aplicadaspela autoridade competente (unicamente Conselho Tutelar ou Juiz de Direito), seu nãocumprimento pode importar na prática da infração administrativa prevista no art.249 do ECA, semembargo de outras sanções administrativas (consistentes mesmo em outras medidas previstas no

art.129  do ECA, de consequências mais graves), ou mesmo criminais (como no caso deabandono intelectual de criança ou adolescente em idade escolar).

Também ao contrário do que acontece em relação às medidas previstas no art.101 doECA, as medidas destinadas aos pais ou responsável têm uma enumeração TAXATIVA (ouexaustiva, numerus clausus), não podendo a autoridade competente aplicar outras além dasexpressamente relacionadas no art.129 do ECA.

Embora não haja previsão expressa nesse sentido, é admissível a aplicação, tambémàs medidas destinadas aos pais ou responsável, dos princípios genéricos das medidas deproteção, relacionados nos arts.99 e 100 do ECA.

São elas:

1  - ENCAMINHAMENTO A PROGRAMA OFICIAL OU COMUNITÁRIO DE PROMOÇÃO ÀFAMÍLIA - já mencionado quando tratávamos do direito à convivência familiar, é a providênciaprimeira a ser tomada quando se detecta que direitos fundamentais de crianças e adolescentesestão sendo ameaçados ou violados principalmente em razão da condição financeira e/ou socialprecária de seus pais ou responsável. Através desses programas, que se enquadram no jámencionado art.90, inciso I  do ECA, se tentará PROMOVER SOCIALMENTE A FAMÍLIA dacriança e do adolescente, de modo que todos passem a ter melhores condições de vida. Constitui-se, dentre outras, na inclusão dos pais ou responsável em atividades que visam complementar arenda familiar e/ou em cursos profissionalizantes, que permitam àqueles uma melhor colocaçãoprofissional. Não se confunde com o singelo fornecimento de "cestas básicas", que são programas

meramente assistenciais, na forma da LOAS e art.87, inciso II do ECA;2  - INCLUSÃO EM PROGRAMA OFICIAL OU COMUNITÁRIO DE AUXÍLIO, ORIENTAÇÃO ETRATAMENTO DE ALCOÓLATRAS E TOXICÔMANOS - aplicável uma vez detectado problemade alcoolismo na família, de preferência através de laudo técnico que recomende o grau dedependência e a forma de tratamento (hospitalar ou ambulatorial), não bastando, na maioria doscasos, mero encaminhamento para os "alcoólatras anônimos" ou similar. A freqüência aotratamento deve ser acompanhada, com seus resultados periodicamente avaliados, de modo aincrementar ou complementar o trabalho realizado;

3  - ENCAMINHAMENTO A TRATAMENTO PSICOLÓGICO OU PSIQUIÁTRICO - sempre quedetectado, através de laudo técnico idôneo, sua necessidade. Valem aqui as mesmas

observações feitas ao item "2" supra;

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4 - ENCAMINHAMENTO A CURSOS OU PROGRAMAS DE ORIENTAÇÃO - aplicada geralmenteem conjunto com as relacionadas nos itens "2" e "3" supra, pode abranger desde o convencimentoacerca da necessidade de que o destinatário da medida se submeta ao tratamento necessário atéo "ensino" da forma como devem ser tratados os filhos/pupilos, de modo que não haja omissõesnem abusos no exercício do pátrio poder ou dos deveres inerentes à tutela/guarda;

5 - OBRIGAÇÃO DE MATRICULAR O FILHO OU PUPILO E ACOMPANHAR SUA FREQÜÊNCIAE APROVEITAMENTO ESCOLAR - já mencionada anteriormente, é aplicável sempre quedetectada falta de matrícula, evasão, baixa freqüência e/ou aproveitamento escolar;

6  - OBRIGAÇÃO DE ENCAMINHAR A CRIANÇA OU ADOLESCENTE A TRATAMENTOESPECIALIZADO - também já mencionado anteriormente, é geralmente aplicada em conjuntocom as medidas previstas no art.101, incisos V e VI do ECA, visando o envolvimento da famíliano processo deflagrado com vista à proteção da criança e/ou do adolescente;

7  - ADVERTÊNCIA - aplicável sempre que se verificar que os pais/responsável estiverem se

omitindo em cumprir deveres inerentes ao pátrio poder, de modo a alertá-los das consequênciasque poderão advir caso não modifiquem sua conduta (aplicação das medidas adianterelacionadas - perda de guarda, destituição de tutela, suspensão ou destituição do pátrio poder,prática da infração administrativa prevista no art.249  do ECA, prática de crimes de abandonointelectual e material etc.);

8  - PERDA DE GUARDA, DESTITUIÇÃO DE TUTELA, SUSPENSÃO OU DESTITUIÇÃO DOPÁTRIO PODER - constituem-se em sanções de considerável gravidade, devendo ser reservadaspara último caso. Mesmo que decretada a perda de guarda, não deve ser, salvo recomendaçãotécnica em contrário, suprimido o direito de visitas daquele que teve a guarda destituída, sendoque no caso da suspensão do pátrio poder, deve-se tentar incluir aquele que teve o pátrio podersuspenso em alguma das medidas acima relacionadas que o permitam, um dia, ver seu direito

restabelecido.

Quando da aplicação das medidas de destituição de tutela, suspensão ou destituição do pátriopoder, deve ser observado o disposto nos arts.23 e 24 do ECA (a falta de recursos materiais, porsi só, não justifica a destituição de tutela, perda ou suspensão do pátrio poder, e estas medidassomente poderão ser tomadas em procedimento contraditório nos casos previstos na Lei Civil eem razão de grave e injustificado descumprimento dos deveres e obrigações a que alude o art.22 do ECA), o que é óbvio (art.129, par. único do ECA).

AUTORIDADES competentes para aplicação de medidas aos pais:

a. CONSELHO TUTELAR - em razão do disposto no art.136, inciso II do ECA, o CT somente

pode aplicar as medidas previstas no art.129, incisos I a VII do ECA, ou seja, apenas até amedida de ADVERTÊNCIA, sendo portanto vedado ao órgão a aplicação de medidas queimportem em destituição (ou modificação) de guarda, destituição de tutela, suspensão oudestituição do pátrio poder. Caso entenda necessária a aplicação de qualquer dessas medidas(sem jamais perder de vista que um dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes quecabe ao CT resguardar é o direito à convivência familiar - art.227, caput  da CF e arts.4º,caput e 19 do ECA), deve o CT providenciar o encaminhamento dos elementos nesse sentidocolacionados ao MP ou autoridade judiciária.

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b. JUIZ DA INFÂNCIA E JUVENTUDE - único que pode aplicar as medidas previstas no art.129,incisos VIII, IX e X do ECA.

O Ministério Público não tem atribuição de aplicar medidas destinadas a pais ouresponsável, embora tenha legitimidade para deflagrar procedimentos específicos com essa

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finalidade e, caso não o faça, neles obrigatoriamente oficiará, sob pena de nulidade (arts.202 e204 do ECA).

 Ar t.130  do ECA - Caso seja verificada a ocorrência de maus-tratos, opressão ouabuso sexual de criança ou adolescente por parte de seus pais ou responsável, a autoridade judiciária (jamais, portanto, o CT) poderá determinar, como medida cautelar a procedimento comvista à modificação de guarda, destituição de tutela, suspensão ou destituição do pátrio poder, oafastamento DO AGRESSOR da moradia comum. A medida, que visa manter a vítima emcompanhia de seus irmãos e cônjuge/concubino do agressor na moradia familiar, evitando assimos malefícios da separação e abrigamento, bem como a proteção dos demais membros da família,deve ser tomada com prudência, pois sempre haverá a possibilidade de represálias por partedaquele que foi afastado pela ordem judicial.

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prevista para o imputável que pratica o crime e a medida sócio-educativa destinada aoadolescente que pratica a mesma conduta.

A aplicação das MSE não está sujeita aos parâmetros traçados pelo CP e doutrinapenalista para a "dosimetria da pena", sendo assim inadmissível falar em um "sistema trifásico dedosimetria de MSE" ou mesmo a utilização, bastante comum, da análise das circunstâncias judiciais do art.59 do CP.

A aplicação das MSE está sujeita a PRINCÍPIOS PRÓPRIOS, traçados pelo arts.112,§1º e 113 c/c arts.99 e 100, todos do ECA.

a) capacidade de cumprimento da medida pelo adolescente;b) circunstâncias e gravidade da infração;c) necessidades pedagógicas do adolescente;d) preferência àquelas que visam o fortalecimento dos vínculos familiares e

comunitários;

e) possibilidade de aplicação isolada ou cumulativa;f) possibilidade de sua subst ituição a qualquer tempo.

Em razão das garantias constitucionais do contraditório, devido processo legal eimpossibilidade de aplicação de sanção estatal sem a comprovação da responsabilidade doagente, o adolescente somente pode ser submetido a medida privativa de liberdade apósprocedimento contraditório em que lhe seja assegurado amplo direito de defesa (arts.110 e 111 do ECA), sendo que para a IMPOSIÇÃO de todas as MSE, exceto a de advertência, éIMPRESCINDÍVEL a COMPROVAÇÃO da AUTORIA E MATERIALIDADE da infração (art.114,caput do ECA).

Para a aplicação da MSE de ADVERTÊNCIA, bastam INDÍCIOS DE AUTORIA,

embora seja necessária a COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE do ato praticado (art.114, par.único do ECA).

Ao adolescente acusado da prática de ato infracional são asseguradas ainda algunsDIREITOS INDIVIDUAIS e GARANTIAS PROCESSUAIS.

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VI - DOS DIREITOS INDIVIDUAIS (arts.106 a 109 do ECA)

São basicamente os mesmos direitos que a CF assegura a todo cidadão:

 Ar t.106  - Nenhum ADOLESCENTE será privado de sua liberdade senão EMFLAGRANTE de ato infracional OU POR ORDEM ESCRITA E FUNDAMENTADA DEAUTORIDADE JUDICIÁRIA competente (nem se cogita da privação de liberdade de CRIANÇA,que como vimos, mesmo quando acusada da prática de ato infracional está sujeita apenas amedidas de proteção);

 Ar t.106, par. único  - Direito à identificação dos responsáveis por sua apreensão (quese ilegal poderá resultar na prática de CRIME previsto no art.230  do ECA), bem como de sercientificado de seus direitos;

 Ar t.107 - Direito à comunicação INCONTINENTI de sua apreensão e do local onde se

encontra à FAMÍLIA e AUTORIDADE JUDICIÁRIA (vale notar que o termo "incontinenti" foiutilizado em substituição ao "imediatamente" previsto no art.5º LXII da CF para não dar margem àinterpretação usual que tal comunicação poderia ser feita dentro do prazo de 24 horas após aapreensão. O termo "incontinenti", portanto, traduz uma imediatidade AINDA MAIOR, devendo sera comunicação efetuada sem qualquer demora, já quando da apresentação do adolescente àautoridade policial ou plantonista da DP).

 Ar t.107, par. único - A REGRA será a LIBERAÇÃO IMEDIATA do adolescente, quedeverá ser entregue a seus pais ou responsável, mediante termo, logo após a lavratura do"boletim de ocorrência circunstanciado" ou similar (vide art.173 do ECA). Caso a gravidade do atoou outros fatores não recomendem a liberação, deverá ser o adolescente encaminhado, juntamente com seus pais ou responsável, ao representante do MP imediatamente ou dentro doprazo máximo de 24 horas (arts.174 e 175 e par. único  do ECA). Para que seja mantida ainternação provisória do adolescente (que pode se estender por até 45 dias, ex vi do disposto nosarts.108, caput e 183 do ECA), o MP deverá requerer sua decretação pela autoridade judiciária,que terá de proferir DECISÃO FUNDAMENTADA baseada em INDÍCIOS de AUTORIA eMATERIALIDADE, com a DEMONSTRAÇÃO DA NECESSIDADE IMPERIOSA DA MEDIDA(art.108, par. único do ECA), assim aferida com base nos parâmetros traçados pelo art.174 doECA (gravidade do ato, repercussão social, necessidade da internação para garantia de suasegurança pessoal ou manutenção da ordem pública), não se aplicando assim os requisitos daprisão preventiva constantes do art.312 do CPP.

 Ar t.109  - Somente haverá a possibilidade da identificação datiloscópica (o popular

"tocar piano"), quando houver DÚVIDA FUNDADA acerca da identidade fornecida peloadolescente.

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VII - DAS GARANTIAS PROCESSUAIS (arts.110 e 111 do ECA)

 Ar t.110  - fala do DEVIDO PROCESSO LEGAL, já assegurado a todo cidadão pelo

art.5º, inciso LIV da CF;

 Ar t.111 - assegura ao adolescente o pleno e formal conhecimento do ato infracional aele atribuído; a igualdade na relação processual, com direito ao contraditório e à ampla defesa,que deverá ser exercida por advogado (vide art.207 do ECA); assistência judiciária gratuita; direitode ser ouvido pessoalmente por todas as autoridades que interferem no procedimento e direito desolicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento (esta últimaregra sendo aplicável basicamente no caso de adolescente privado de sua liberdade).

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OBRIGAÇÕES DO ORIENTADOR - que deverá delas desincumbir-se com APOIO eSUPERVISÃO da autoridade competente (Conselho Tutelar ou Juiz da Infância e Juventude, quese necessário aplicarão as medidas previstas nos arts.101 e 129 do ECA):

1. promoção social do adolescente e família, com orientação e inclusão em programa oficial oucomunitário de auxilio ou assistência social;

2. supervisão de freqüência, aproveitamento escolar. Promoção de matrícula, se necessário;3. busca da profissionalização e inserção em mercado de trabalho;4. apresentação de relatório.

Este rol de atividades (contido no art.119 do ECA) é meramente exemplificativo.

VIII.4 - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE (arts.112, inciso IV e 117 do ECA):

Medida introduzida pelo ECA. Consiste na realização de tarefas gratuitas em

entidades assistenciais, escolas, hospitais, entidades de atendimento governamentais ou não.

Período MÁXIMO de duração: SEIS MESES (devendo ser este fixado quando dasentença ou do acordo de remissão, sendo assim uma exceção à regra da duração indeterminadadas medidas sócio-educativas em geral).

Duração semanal - 8 horas, em sábados, domingos ou em dias que nãoprejudiquem a freqüência à escola ou jornada normal de trabalho.

Aplicada de acordo com as aptidões do adolescente, devendo fazer parte de umPROGRAMA SÓCIO-EDUCATIVO que contemple outros aspectos da vida do jovem (freqüência àescola, profissionalização, orientação psicológica etc.) e que tenha finalidade unicamente

PEDAGÓGICA.

Pressupõe a celebração de CONVÊNIO entre a entidade onde o adolescente irácumprir a medida e o Juízo da Infância e Juventude (ou outra entidade que centralize a execuçãode medidas sócio-educativas eventualmente existente na comarca), de modo a deixar claro osdeveres (e direitos) tanto do adolescente quanto da entidade, que deverá, dentre outras, possuiruma proposta pedagógica na qual se insira a atividade a ser desempenhada e se obrigar acontrolar a freqüência e o aproveitamento do jovem, comunicando ao Juízo faltas injustificadas eproblemas detectados ao longo da execução da medida.

VIII.5 - REGIME DE SEMILIBERDADE (arts.112, inc iso V e 120 do ECA):

Consiste na permanência em entidade própria destinada a adolescentes, que mantenha programaadequado que contemple a REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES EXTERNAS, sendo OBRIGATÓRIASa ESCOLARIZAÇÃO e a PROFISSIONALIZAÇÃO.

Dependendo da situação e da PROPOSTA PEDAGÓGICA da unidade, o período de permanênciado adolescente na entidade poderá ser à noite ou parte do dia, e/ou ainda fins de semana.

Dois tipos:1. é aquele determinado desde o início pela autoridade judiciária, através do devido processo legal(não existe a possibilidade da aplicação de medidas privativas de liberdade em sede de remissão- art.127 do ECA).

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2. caracteriza-se pela "progressão do regime": o adolescente inicialmente internado é beneficiadocom a mudança de regime, do internato para a semiliberdade.

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 A medida não comporta prazo determinado, com aplicação subsidiária de

disposições relativas à internação (notadamente quanto à reavaliação periódica, prazo máximo deduração, desligamento apenas mediante autorização judicial, liberação compulsória aos 21 anos edireitos relacionados no art.124 do ECA) - art.120 § 2° do ECA.

Importante por caracterizar-se como a inserção do jovem em programa de cunhoeducativo, cujas regras, horários e tarefas devem ser claras, estabelecidas em conjunto ecumpridas por todos.

O objetivo da medida é o de oferecer controle externo e um ambiente educacionalque permita reeducação e a reinserção social. Durante período de permanência na entidadedeverão ser realizadas atividades sócio-pedagógicas e profissionalizantes de modo a ocupar todoo tempo do jovem, pois a restrição da liberdade pura e simples de nada adiantará.

Em Curitiba, a medida é aplicada em entidade destinada ao tratamento e

recuperação de jovens usuários de substâncias entorpecentes (CRENVI).

VIII.6 - INTERNAÇÃO (arts.112, inciso VI e 121 a 125 do ECA):

O ECA, em parte reproduzindo o contido no art.227, §3º, inciso V da CF) defineinternação, como medida privativa de liberdade, sujeita aos PRINCÍPIOS da BREVIDADE,EXCEPCIONALIDADE e RESPEITO À CONDIÇÃO PECULIAR DE PESSOA EMDESENVOLVIMENTO (art.121 do ECA).

A imposição da medida sócio-educativa de internação é ato EXCEPCIONAL e EMHIPÓTESE ALGUMA será aplicada havendo outra medida adequada que a substitua (art.122 § 2° 

do ECA).

A medida deve ser cumprida em estabelecimento exclusivo para adolescentes(art.123, caput  do ECA) que adote o REGIME FECHADO, sendo que via de regra (salvoexpressa - e fundamentada - decisão judicial em sentido contrário), o adolescente poderá realizaratividades externas, a critério da equipe técnica (art.121,§1° do ECA).

PRINCÍPIOS E FINALIDADE DA INTERNAÇÃO: Três princípios orientam a aplicação da medidade internação, princípios estes que têm PREVISÃO CONSTITUCIONAL (art.227, §3º, inc iso V daCF):

a) DA BREVIDADE - a internação deverá ter um tempo indeterminado para sua duração, que fica

condicionada ao êxito do trabalho psicossocial desenvolvido com o adolescente na unidade ondecumpre a medida. A manutenção da internação deve ser reavaliada periodicamente, NO MÁXIMOa cada seis meses (art.121, §2º do ECA), respeitado o período máximo de 3 (três) anos previstopara sua duração (art.121, § 3° do ECA).

Após cumprido o prazo máximo de 3 (três) anos, deverá ser o adolescente liberado,colocado em semiliberdade ou liberdade assistida (art.121, §§ 3° e 4° do ECA), podendopermanecer em regime de semiliberdade por mais 03 (três) anos e, em liberdade assistida, pelotempo que se fizer necessário (sempre respeitado o limite dos 21 anos, previsto no art.2º, par.único do ECA).

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O art.122, § 1° do ECA, estabelece em 3 (três) meses o PRAZO MÁXIMO de duraçãopara a INTERNAÇÃO APLICADA EM RAZÃO DO DESCUMPRIMENTO  REITERADO EINJUSTIFICADO DE MEDIDA ANTERIORMENTE IMPOSTA, prevista no art.122, inciso III  do

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ECA (internação esta que é prevista para dar maior COERCIBILIDADE às medidas aplicadas emmeio aberto).

A lei não determina prazo mínimo de duração da medida, sendo que já foramcassadas decisões que estabeleciam que a reavaliação da manutenção da internação ocorresse"a cada seis meses", pois esta deve ficar a critério da equipe técnica que acompanha a execuçãoda medida (a menos, é claro, que o Juiz estabeleça um prazo reduzido para tanto, de um ou doismeses, o que viria a beneficiar o adolescente). Dado PRINCÍPIO DA BREVIDADE da duração damedida de internação, a cada reavaliação deverá ser proferida NOVA DECISÃO quanto àmanutenção da internação do adolescente. Contra decisões que optam pela manutenção dainternação quando os relatórios da equipe técnica são favoráveis à desinternação, tem seadmitido o agravo de instrumento (embora também cabível o habeas corpus, como por exemplono caso de a autoridade judiciária não fundamentar sua decisão ou fazê-lo apenas com base emargumentos flagrantemente inadmissíveis, como o supostamente pequeno tempo de duração damedida face a gravidade do ato praticado, a comparação do tempo de duração da medida com oquantum de pena previsto in abstracto pela legislação penal ou a ser possivelmente aplicado em

concreto etc).

b) DA EXCEPCIONALIDADE - a medida privativa de liberdade somente poderá ser aplicada casoCOMPROVADAMENTE inviável ou não surtir efeito a aplicação das demais. Existindo outrasmedidas, que possam substituir a de internação, o juiz deverá aplicá-las - art. 122 § 2° do ECA.

Na sentença, após concluir comprovadas autoria e materialidade da infração, deve o juiz expor de forma clara e em minúcias as razões que o levaram a concluir pela impossibilidadeda aplicação das demais medidas em meio aberto, devendo decidir com base em dispositivos eprincípios próprios do ECA (dentre os quais os previstos nos arts.99, 100, 112, §1º, 114 e par.único, 121, caput, 122 e 122, §2º), e não em regras de Direito Penal (sendo inaplicável a"dosimetria" da MSE com base no art.59 e outros dispositivos do Código Penal).

Reiteradas decisões do TJPR têm considerados NULAS sentenças que deixam defundamentar de forma adequada a aplicação da medida extrema e excepcional da internação,notadamente quando baseadas APENAS na GRAVIDADE do ato infracional praticado, sendocerto que a presença desta é UM dos fatores que EM TESE AUTORIZA, mas que JAMAISDETERMINA a aplicação da medida privativa de liberdade.

c) DO RESPEITO À CONDIÇÃO PECULIAR DE PESSOA EM DESENVOLVIMENTO  - Aoefetuar a contenção e a segurança dos infratores internos, as autoridades encarregadas nãopoderão, de forma alguma, praticar abusos ou submeter a vexame ou a constrangimento nãoautorizado por lei.

Vale dizer, devem observar os direitos do adolescente privado de liberdade, alinhadosno art.124 do ECA.

FINALIDADE DA INTERNAÇÃO: Educativa e Curativa

É EDUCATIVA quando o estabelecimento reúne condições de conferir ao infrator escolaridade,profissionalização e cultura, visando dotá-lo de instrumentos adequados para enfrentar osdesafios do convívio social;

É CURATIVA quando se dá em estabelecimento ocupacional, psicopedagógico, cujo tratamento anível terapêutico possa reverter o potencial criminógeno de que o adolescente é portador.

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infratores, eram colocados na mesma instituição), obedecendo rigorosamente à SEPARAÇÃO porcritérios de IDADE, COMPLEIÇÃO FÍSICA e GRAVIDADE DA INFRAÇÃO, sendo obrigatória aexecução de atividades pedagógicas - na perspectiva de que a contenção, por si só, não basta,haja vista que as medidas sócio-educativas privativas de liberdade, por não serem penas, nãopossuem um fim em si mesmas, sendo apenas o MEIO para que o adolescente seja tratado erecuperado (art.123 do ECA).

As unidades de internação deverão ser, de preferência, de pequeno porte (oCONANDA, em Resolução de nº 46/96, estabelece ser de 40 (quarenta) o número máximo deadolescentes por unidade de internação), e contar com pessoal altamente especializado, tudo demodo a dar o quanto possível um ATENDIMENTO INDIVIDUAL ao adolescente.

Aos 21 anos o adolescente internado pela prática de ato infracional enquantoinimputável, será IMEDIATAMENTE LIBERADO (art.121, §5° do ECA). Após essa idade, não serápossível a aplicação de qualquer medida sócio-educativa pela autoridade judiciária - CESSA apossibilidade de aplicação do ECA - art.2º, par. único do ECA.

INTERNAÇÃO PROVISÓRIA (art.108 e par. único c/c arts.174 e 183, todos do ECA):

O Juiz ao receber a ação sócio-educativa pública, proposta pelo Ministério Público, se entendernecessário, proferirá DECISÃO FUNDAMENTADA baseada em INDÍCIOS SUFICIENTES DEAUTORIA E MATERIALIDADE, demonstrando ser IMPERIOSA A IMPOSIÇÃO DA INTERNAÇÃOPROVISÓRIA (art.108 do ECA).

A internação provisória será determinada pela autoridade judiciária quando (arts.108 e 174  doECA):

a) tratar-se da prática de ato infracional com as características mencionadas nos incisos I e IIdo art.122 do ECA (praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa ou se tratar deinfração considerada de natureza grave);

b) não for possível a imediata liberação do adolescente a seus pais ou responsável;c) em virtude das conseqüências, repercussão social e gravidade do ato praticado, a segurança

e proteção do adolescente, bem como a manutenção da ordem pública estiverem ameaçadas.

Não se confunde com a "prisão preventiva" prevista no CPP para os imputáveis nem permite autilização dos requisitos desta para justificar seu decreto, que deve ocorrer apenas com base nosrequisitos relacionados nos itens "a", "b" e "c" supra.

Também será possível a internação provisória, quando o adolescente foi apreendido em flagrante

de ato infracional. Para sua MANUTENÇÃO, no entanto, TAMBÉM DEVE SER A MEDIDAJUDICIALMENTE DECRETADA, com a comprovação da presença das condições acima referidas,pois a REGRA será a LIBERAÇÃO IMEDIATA (art.107, par. único do ECA). Em outras palavras,a apreensão em flagrante do adolescente, por si só, não subsiste, sendo necessária decisão judicial que mantenha sua contenção por NECESSIDADE IMPERIOSA.

De qualquer modo, essa medida, aplicada provisoriamente, não poderá ser cumprida emrepartição policial, à exceção da hipótese do art.185, §2º do ECA, segundo o qual aPERMANÊNCIA MÁXIMA do adolescente em "seção isolada dos adultos" (a chamada "sala" ou"cela especial") será de 05 (CINCO) dias, enquanto aguarda transferência para INSTITUIÇÃOPRÓPRIA para o cumprimento da medida, devendo o procedimento ser concluído emIMPRORROGÁVEIS 45 (QUARENTA E CINCO) dias (art.183 do ECA).

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Em ambos os casos, a remissão será concedida atendendo às CIRCUNSTÂNCIASDO FATO, ao CONTEXTO SOCIAL, à PERSONALIDADE DO ADOLESCENTE e sua MAIOR OUMENOR PARTICIPAÇÃO no ato infracional.

A remissão concedida pelo MP deverá ser homologada pelo juiz (art.181, §1°  doECA).

Em qualquer caso (concedida pelo MP ou autoridade judiciária), poderá apresentar-se de DUAS FORMAS:

a. Como forma de PERDÃO PURO E SIMPLES, em que medida alguma é aplicada,independendo do consentimento do adolescente e seu responsável;

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b. ACOMPANHADA de MSE NÃO PRIVATIVA DE LIBERDADE, caso em que se constituiránuma verdadeira TRANSAÇÃO (OU AJUSTE) entre a autoridade competente e o adolescente(representado ou assistido pelo seu pai, mãe ou responsável), ficando a exclusão, suspensão

ou extinção do processo condicionadas ao cumprimento, por parte do jovem, da medidaajustada.

Em sede de remissão NÃO PODE HAVER A IMPOSIÇÃO DE MSE (mesmo quepela autoridade judiciária), sob pena de violação dos direitos constitucionais do contraditório,ampla defesa e devido processo legal do adolescente (art.5º, inc isos LIV e LV da CF).

Alguns autores sustentam a possibilidade de a MSE de ADVERTÊNCIA sertambém aplicada independentemente do consentimento do adolescente, em especial quandoaplicada pela autoridade judiciária como forma de extinção do processo, vez que a mesma seexaure num único ato (podendo ser imediatamente executada) e a rigor não traz qualquergravame ao adolescente (por força do disposto no art.127 do ECA, a remissão não prevalece para

efeitos de antecedentes).

Ainda segundo o mesmo dispositivo legal (art.127 do ECA), para a concessão daremissão não é necessário o reconhecimento ou a comprovação da responsabilidade do infrator,ou seja, que existam provas suficientes da autoria e da materialidade do ato infracional. Assim,mesmo se existirem apenas indícios do ilícito, a remissão poderá ser concedida.

Importante anotar que sobre a matéria o STJ  editou uma SÚMULA, de nº 108,segundo a qual "a aplicação de medidas sócio-educativas ao adolescente, pela prática deato infracional, é de competência exclus iva do Juiz" (verbis).

Durante algum tempo a interpretação (equivocada) dessa Súmula provocou (e

ainda provoca em alguns estados da Federação), a falsa noção de que o MP não poderia usar daprerrogativa que lhe FACULTA, de maneira expressa, o art.126, caput  c/c art.127, ambos doECA (sendo certo que se legislador quisesse em tais dispositivos fazer referência apenas ao Juiz,teria feito constar "autoridade judiciária" e não "autoridade competente" tal qual contido no textolegal, nem teria inserido disposição similar à contida no art.181, §1º, in fine  do ECA),prejudicando sobremaneira a atividade do Parquet, que ficaria no dilema de ter de concederremissão como perdão puro e simples para TODOS os casos de menor gravidade atendidos ou,mesmo em tais hipóteses se veria obrigado a oferecer representação.

Essa interpretação equivocada obviamente deixou de considerar a finalidadeprincipal da remissão, que vem a ser a de dar uma RESPOSTA RÁPIDA e eficaz aos casosatendidos, com a aplicação da MSE sem a necessidade de passar pelo moroso trâmite judicial,sendo certo que em alguns países, a remissão cumulada com MSE pode ser concedida já pelaautoridade policial ou outros atores designados na legislação específica.

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 Felizmente, no PR, a exemplo do que ocorre em boa parte dos estados brasileiros,

a "aplicação" a que se refere a citada Súmula é interpretada como sendo sinônimo de"IMPOSIÇÃO", e esta, de fato, somente cabe à autoridade judiciária AO FINAL DOPROCEDIMENTO, após comprovadas autoria e materialidade do ato infracionais.

Como na remissão NÃO HÁ IMPOSIÇÃO, mas sim AJUSTE, que ainda está sujeitoao crivo de sua legalidade pela autoridade judiciária, não existe óbice algum concessão pelo MPde remissão CUMULADA com MSE, em que o titular da ação sócio-educativa, usando do princípioda oportunidade que norteia o oferecimento da representação, CONDICIONA a não deflagraçãodo procedimento judicial ao imediato cumprimento, por parte do adolescente (devidamenterepresentado ou assistido por pai, mãe, responsável ou curador nomeado), de MSE não privativade liberdade, podendo o adolescente aceitar ou não os termos do acordo. Caso aceite, deverá sera remissão reduzida a termo e assinada por todos, e em caso negativo, restará ao MP conceder aremissão como forma de perdão puro e simples ou oferecer a representação.

Registre-se que, em sede de remissão, nem mesmo o Juiz pode IMPOR ocumprimento de medida sócio-educativa ao adolescente, que terá de com ela concordar.

A autoridade judiciária, discordando da remissão concedida, NÃO PODERÁMODIFICAR SEUS TERMOS, seja deixando de aplicar medida ajustada, seja aplicando outradiversa, devendo remeter os autos do Procurador Geral de Justiça, a exemplo da regra do art.28 CPP (art.181, §2º do ECA).

O Procurador Geral também não poderá alterar o conteúdo da remissão jáconcedida. Oferece representação, nomeia outro membro para oferecê-la ou a ratifica.

Dispõe o art.128 do ECA que a medida aplicada por força de remissão poderá ser

REVISTA JUDICIALMENTE a qualquer tempo, mediante PEDIDO EXPRESSO do adolescente,de seu representante legal, ou MP. o que apenas enfatiza o CONTROLE JUDICIAL que permeia amatéria, bem como serve como corolário ao disposto no art.99 c/c art .113 do ECA.

QUESTÕES CONTROVERTIDAS:

 ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO:

Segundo Tourinho Filho, a função do assistente não é de auxiliar a acusação, masde procurar defender seu interesse na indenização do dano ex delicto, isto porque a sentençapenal exerce influência na sede civil.

Como não possui natureza penal, nem é tecnicamente "condenatória", a decisão prolatada noJuízo da Infância e da Juventude não constitui título executivo judicial, passível de ser executadono cível. Este fator, somado às cautelas quanto ao sigilo que deve ser observado em relação aosprocedimentos para apuração de ato infracional praticado por adolescente (vide arts.143 e 144 doECA), faz imperar o entendimento segundo o qual NÃO É CABÍVEL a intervenção de assistentede acusação nestes procedimentos.

PRESCRIÇÃO:

No PR e na imensa maioria dos demais estados da Federação, é consenso de queNÃO SE APLICA, em sede de procedimentos para apuração de ato infracional, o instituto daPRESCRIÇÃO.

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Os principais argumentos para esse posicionamento são:

1  - Natureza das medidas sócio educativas. Medidas que educam, para a convivência social,propiciando-lhes realização pessoal - caráter pedagógico;

2 - A pena tem caráter retributivo e preventivo;

3 - Ausência no ECA de indicação de que se aplicam as normas da Parte Geral do Código Penal -se fosse a intenção do legislador, haveria indicação expressa;

4 - Os prazos para a prescrição penal se baseiam nos prazos fixados legalmente para cada delitoou contravenção ou o estabelecido na sentença para cumprimento. - O ECA não vincula o ato àmedida e nem prevê prazo determinado para sua duração, podendo ainda uma medida sersubstituída por outra (art.99  do ECA) e mesmo as inicialmente aplicadas em meio aberto"regredirem" para internação (art.122, inciso III do ECA).

A única hipótese de "perda da pretensão sócio-educativa" prevista no ECA é aqueladecorrente do atingimento dos 21 anos, quando então cessa toda e qualquer possibilidade deaplicação da legislação tutelar, ex vi dos já mencionados arts.2º, par. único e 121, §5º.

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 ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO TUTELAR (arts .95, 136, 191 e 194 do ECA):

art.95  - FISCALIZAÇÃO de entidades de atendimento à criança e ao adolescenteprevistas no art.90  do ECA - função exercida em conjunto com o MP e Juiz. Caso detectadaalguma irregularidade, o CT pode, via representação, deflagrar procedimento judicial com vista asua apuração (art.191 do ECA);

art.194 - O CT tem LEGITIMIDADE para deflagração de procedimento para imposiçãode penalidade administrativa por infração às normas de proteção à criança e ao adolescente,também via representação (e não "auto de infração", que somente pode ser lavrado pelos"agentes de proteção da infância e juventude", outrora chamados de "comissários de menores",mencionados no dispositivo como sendo "servidor efetivo ou voluntário credenciado");

art.136  - traz uma ampla gama de atribuições, sendo as mais importantes as quedizem respeito:

a. ao ATENDIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES nas hipóteses dos arts.98 (situaçãode risco) e 105  (criança infratora) do ECA, com a possibilidade de aplicação das medidasprevistas no art.101, incisos I a VII do ECA;

b. ao ATENDIMENTO e ACONSELHAMENTO DE PAIS OU RESPONSÁVEL, com a aplicaçãodas medidas previstas no art.129, incisos I a VII do ECA;

c. providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art.101,incisos I a VI  do ECA, para o adolescente autor de ato infracional - não significando"subordinação" entre o CT e a autoridade judiciária, mas sim COOPERAÇÃO, pois o CT faráapenas o encaminhamento ao programa que corresponder à medida;

d. REQUISITAR CERTIDÕES DE NASCIMENTO E ÓBITO de criança ou adolescente, quandonecessário - diz respeito à "segunda-via" do documento, e não a lavratura do assentorespectivo, que deverá ocorrer de acordo com o procedimento administrativo ou mesmo judicial próprio. Caso necessário lavrar ou regularizar o assento de nascimento ou óbito,providência que por sinal deve sempre ocorrer, vale a regra do art.102 e §§1º e 2º do ECA;

e. ASSESSORAR O PODER EXECUTIVO local na elaboração da proposta orçamentária paraplanos e programas de atendimento dos direitos se crianças e adolescentes - na perspectivade que, sem uma "retaguarda" de programas, pouco poderá o CT fazer, pois não terá paraonde ENCAMINHAR os casos atendidos;

f. REPRESENTAR AO MP para efeito das ações de perda ou suspensão do pátrio poder - como

o CT somente pode aplicar aos pais ou responsável as medidas previstas nos incisos I a VIIdo art.129  do ECA, caso vislumbre a necessidade do decreto da suspensão ou perda dopátrio poder deve nesse sentido provocar o MP (sendo que o CT deve procurar sempre eantes de mais nada manter, o quanto possível, a criança/adolescente junto a sua famílianatural, aplicando para tanto as medidas cabíveis);

OBS: O CT pode PROMOVER A EXECUÇÃO de suas decisões, podendo para tanto:

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- REQUISITAR (e não apenas solicitar) SERVIÇOS PÚBLICOS nas áreas da saúde, educação,serviço social, previdência, trabalho e segurança (art.136, inciso III, alínea "a"  do ECA) - sendocerto que, por ser revestido da qualidade de AUTORIDADE PÚBLICA, com poderesEQUIPARADOS ao do Juiz da Infância e Juventude, o descumprimento de suas determinaçõescaracteriza, em tese, CRIME DE DESOBEDIÊNCIA (art.330 do CP), sem embargo da prática deINFRAÇÃO ADMINISTRATIVA prevista no art.249 do próprio ECA (sendo certo que a aplicação

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das sanções previstas em ambos dispositivos não importa em bis in idem, pois ambas têmnatureza jurídica diversa).

- REPRESENTAR JUNTO À AUTORIDADE JUDICIÁRIA  nos casos de descumprimentoinjustificado de suas deliberações (art.136, inciso III, alínea "b"  do ECA) - servindo esta regra defundamento para a deflagração do procedimento administrativo por infração à regra do art.249 doECA.

COMPETÊNCIA DO CONSELHO TUTELAR: 

Aplicam-se as regras do art.147 do ECA (que fala da competência territorial para osprocedimentos judiciais):

É determinada pelo território de atuação do conselho, conforme fixação da área pelalei municipal.

a. Determina-se, de plano, pelo DOMICÍLIO DOS PAIS OU RESPONSÁVEL (art.147, inciso I doECA), independentemente do local onde ocorreu a omissão ou ação de ameaça ou violação adireito fundamental. Se pai e mãe residem em locais diferentes, qualquer um deles,prevalecendo, se for o caso, para quem detém a guarda.

b. Na FALTA DOS PAIS, será do local ONDE ESTÁ A CRIANÇA OU O ADOLESCENTE(art.147, inciso II do ECA). A regra é subsidiária da prevista no inciso I, uma vez que só seráusada se faltarem os pais ou responsáveis, ou seja, quando forem falecidos oudesconhecidos. Se ausentes, mas com domicílio certo, aplica-se a regra do art.147, inciso I.

c. Nos casos de ATO INFRACIONAL praticado por crianças, a competência é do local onde a

infração se consumou (art.147, §1º do ECA). O CT deste local é que analisa o caso e aplicaas medidas protetivas.

Quanto à EXECUÇÃO das medidas (ou melhor, o acompanhamento desta), poderáser DELEGADA ao CT da residência dos pais ou responsável (art.147, §2º do ECA).

Competência subs idiária da Justi ça da Infância e da Juventude:

A competência originária para as atribuições do art.136 do ECA é do CT, mas se nãoinstala, há competência subsidiária da Justiça da Infância e da Juventude, conforme o art.262 doECA. Tem se admitido, no entanto, que mesmo em estando o CT instalado, o Juiz da Infância e

Juventude atenda casos de maior complexidade (alguns a ele encaminhados pelo próprio CT).

Competência concorrente entre CT e MP:

Fiscalização de entidades, representação para aparar infração administrativa erepresentação para apuração de irregularidades em entidades de atendimento.

Funcionamento do CT como ÓRGÃO COLEGIADO:

Como vimos acima, reza o art.134 do ECA que a lei municipal deverá dispor sobre ohorário de funcionamento do CT.

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ATENDIMENTO, podendo apenas acompanhar casos atendidos pelo CT e outrosórgãos/autoridades para tomar conhecimento da demanda e, com base nela, elaborar apolítica de atendimento;

c. O CT é composto invariavelmente por CINCO MEMBROS, escolhidos pela população local,enquanto o CDCA tem um número de membros variável de município a município e de estadoa estado, devendo apenas ser observada a COMPOSIÇÃO PARITÁRIA entre representantesdo Poder Público e da sociedade civil organizada (entidades de atendimento à criança e aoadolescente), sendo aqueles nomeados pelo chefe do Executivo e estes eleitos emassembléia realizada entre as próprias entidades;

d. O CT pode ou não ser "remunerado" (ou subsidiado), de acordo com o que dispuser alegislação local, ao passo que os membros do CDCA NÃO PODEM SER REMUNERADOS;

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e. O MANDATO dos membros do CT é de 03 (três) anos, permitida uma recondução, ao passoque o mandato dos membros do CDCA deve ser definido em lei municipal/estadual/federal

(conforme o nível do Conselho), podendo ou não haver previsão de recondução.

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X. O ACESSO À JUSTIÇA. A JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. A JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE.O JUIZ, O MINISTÉRIO PÚBLICO, O ADVOGADO E OS SERVIÇOS

 AUXILIARES.

O ACESSO À JUSTIÇA:

A criança e o adolescente têm livre acesso à Defensoria Pública, ao MP e ao PoderJudiciário, não havendo necessidade de acompanhamento dos pais ou responsável (embora paraingressar com a medida judicial a presença destes seja necessária, devendo a autoridade judiciária nomear curador especial no caso de falta/colidência de interesses - art.142 e par. único do ECA).

Têm livre acesso, com reconhecimento de que são sujeitos de direitos, a todos osórgãos que possam promover a defesa de seus interesses judicial ou extrajudicialmente. Todoobstáculo ao acesso é considerado ilegal e abusivo.

As crianças e adolescentes, bem como seus pais, responsável ou quem tenhalegítimo interesse em defender direitos fundamentais daqueles primeiros que estejam sendoameaçados ou violados, têm direito à assistência judiciária gratuita através da defensoria públicaou de advogado nomeado. Este nomeado pela autoridade competente (Juiz da Infância e daJuventude - art.159  do ECA, por exemplo). Esta assistência tem como fonte o dispositivoconstitucional que estabelece o seguinte: "O Estado prestará assistência jurídica integral egratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos" (art.5º, inciso LXXIV  da CF -verbis).

As ações de competência da Justiça da Infância e da Juventude são ISENTAS DECUSTAS E EMOLUMENTOS (art.141, §2º do ECA), salvo na hipótese de litigância de má fé,definida no art.17 do CPC. O CM também isentava de custas os procedimentos da competênciado Juiz de Menores. Tais regras, por óbvio, visam facilitar e universalizar o acesso à Justiça daInfância e Juventude, dada extrema relevância dos direitos por ela tratados, de modo a verassegurada a PROTEÇÃO INTEGRAL de crianças e adolescentes. É regra assim decorrente dadoutrina da proteção integral preconizada pelo art.227, caput da CF.

Quanto à REPRESENTAÇÃO e ASSISTÊNCIA, a sistemática estabelecida peloart.142, caput  do ECA é a mesma do CC. As pessoas de idade inferior a 16 anos (menoresimpúberes) são representadas e as de idade entre 16 e 21 anos (menores púberes) são assistidaspelos representantes legais: pais, tutores ou curadores (art.84 do CC e art.8º do CPC).

Consoante acima ventilado, quando não há representante legal ou há colidência deinteresses, o Juiz deve nomear um curador especial (art.142, par. único do ECA).

A proteção judicial integral inclui a proibição de divulgação de atos judiciais,policiais ou administrativos que digam respeito a crianças ou adolescentes a quem se atribui aprática de ato infracional. Assim, as notícias acerca de atos infracionais não podem vir compossibilidade de identificação do apontado como infrator (fotografia, nome, apelido, filiação,endereço etc). Deve haver o resguardo quanto à publicidade nociva e estigmatizante). Conferirnos arts.143 e 247 do ECA.

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  Previsão da infração administrativa do art.247  do ECA: Divulgação, semautorização, de dados ou fotos através dos meios de comunicação (rádio, TV, jornal, revista). A

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regra contida no §2º do dispositivo, que permitia, além da multa, se fosse a infração praticada porórgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão, a apreensão do periódico, suspensão doprograma da emissora por dois dias ou a publicação do periódico por dois números foiconsiderada INCONSTITUCIONAL pelo STF, não mais valendo, portanto.

Não pode também ser expedida certidão acerca de atos referentes a práticasinfracionais com os apontados autores, salvo mediante requerimento formulado à autoridade judiciária competente (Juiz Infância e Juventude, da área de infratores), demonstrando o interessee justificada a finalidade (art.144 do ECA).

 A JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE: 

O ECA prevê a possibilidade de criação pelos estados e Distrito Federal de varasexclusivas e especializadas da infância e da juventude (art.145), dando cumprimento à doutrinada proteção integral, com prioridade absoluta. No Paraná, a Constituição do Estado, em seu

art.221, expressa que serão criadas, quando da elaboração de Código de Organização Judiciária,Varas especializadas e exclusivas para atendimento de crianças e adolescentes nas comarcas deENTRÂNCIA FINAL. A Lei Estadual nº 11.374, de 16 de maio de 1996, criou a 2ª Vara de Curitiba(especializada em colocação em família substituta - guarda e tutela, presente a situação do art.98 do ECA e adoção) e as varas exclusivas e especializadas em Cascavel, Ponta Grossa, Foz doIguaçu, Maringá e Londrina.

O Juiz da Infância e da Juventude, com a competência definida no ECA, é indicadona Lei de Organização Judiciária de cada estado.

O Juiz da Infância e da Juventude, como os demais, só atua processualmente.Mesmo na área preventiva (como no caso da expedição de alvarás e portarias, ex vi do disposto

no art.149 do ECA), só atua de maneira formal ou formalizada (via "pedido de providências" ouprocedimento instaurado na forma do art.153 do ECA). Jurisdição extraprocessual não cabe nosistema.

Por força do disposto no art.93 da CF, todas as decisões proferidas no âmbito daJustiça da Infância e Juventude devem ser FUNDAMENTADAS.

Critérios de determinação de COMPETÊNCIA: 

Com já dito, a lei estadual indicará, dentre os juizes, qual é o competente paraaplicação das normas do ECA.

Quanto à competência territorial, há disciplina no art.147  do ECA (já estudadoquando falávamos dos CTs):

A competência do art.147, incisos I e II  do ECA diz respeito à aplicação dasmedidas de proteção face a presença de SITUAÇÃO DE RISCO na forma do art.98 do ECA:

1º - Lugar do DOMICÍLIO DOS PAIS OU RESPONSÁVEL (tutor, guardião).

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2º  - Na FALTA dos pais ou responsável (morte, desaparecimento, endereço desconhecido), acompetência é do lugar ONDE SE ENCONTRA A CRIANÇA. Regra subsidiária, só aplicável parao caso de falta dos pais. Coerência com o art. 7º, §7º da LICC - "salvo o caso de abandono, odomicílio do chefe de família  (que não mais existe, dada equiparação em direitos e deveresentre os cônjuges assegurada pelo art.226, §5º  da CF) estende-se ao outro cônjuge e aos

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filhos não emancipados, e do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda" (verbis) eart.36 do CC - "os incapazes têm por domicílio o de seus representantes" (verbis).

Quanto aos procedimentos destinados à APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL, acompetência é fixada pelo LUGAR DA AÇÃO OU OMISSÃO, considerando-se a consumação,observando-se as regras de conexão, continência e prevenção do CPP (arts.72/76).

A EXECUÇÃO das medidas, sejam elas de cunho unicamente protetivo ou sócio-educativo, PODE SER DELEGADA, através de carta precatória. Há deprecação dos atos para aautoridade competente (Juiz ou CT) do local onde residem os pais ou responsável ou para o localonde está sediada a entidade que abriga a criança/adolescente (ou onde este irá cumprir a MSEde semiliberdade/internação). O juiz delegado é que resolve os incidentes (art.147, §2º do ECA).

Competência para a apuração de infrações administrativas praticadas pelatelevisão ou pelo rádio (art.247, §2º  - identificação de criança ou adolescente apontado comoautor de ato infracional e art.254 - transmitir programa fora do horário indicado como adequado,

diga-se autorizado, ou sem a classificação indicativa), quando a transmissão atinge mais de umacomarca, local da sede estadual da emissora ou da rede, tendo a sentença eficácia para todas astransmissoras e retransmissoras do Estado (art.147, §3º do ECA).

COMPETÊNCIA da Just iça da Infância e da Juventude EM RAZÃO DA MATÉRIA: 

Os incisos do art.148, caput do ECA referem-se à COMPETÊNCIA EXCLUSIVA.

É competente o juiz da infância e da juventude para :

1. conhecer de representação formulada para APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL e aplicar as

medidas cabíveis;2. conceder REMISSÃO, como forma de suspensão ou extinção do processo;3. conhecer pedidos de ADOÇÃO e incidentes;4. conhecer as AÇÕES CIVIS PÚBLICAS, observado o art.209, que expressa quanto à

competência territorial (local da ação ou omissão) e ressalva a competência da Justiça Federale originária dos Tribunais Superiores;

5. conhecer representações para apurar IRREGULARIDADES EM ENTIDADES DEATENDIMENTO, aplicando as medidas cabíveis;

6. conhecer as representações para apuração das INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS;7. conhecer os casos encaminhados pelos Conselhos Tutelares.

No art.148, par. único, alude-se à COMPETÊNCIA CONCORRENTE. Só é

competente quando, no caso em concreto, a criança ou o adolescente estão em SITUAÇÃO DERISCO (art.98 do ECA).

1. pedidos de TUTELA E GUARDA;2. ações de DESTITUIÇÃO DO PÁTRIO PODER, MODIFICAÇÃO OU PERDA DE TUTELA E

GUARDA;3. suprimento da capacidade ou consentimento para o CASAMENTO;4. conhecer de pedidos baseados em DISCORDÂNCIA paterna ou materna, em relação ao

EXERCÍCIO DO PÁTRIO PODER;5. conceder EMANCIPAÇÃO, quando faltarem os pais (requerida por tutor);6. designar CURADOR ESPECIAL quando necessário;7. conhecer de AÇÕES DE ALIMENTOS;

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8. determinar o CANCELAMENTO, a RETIFICAÇÃO e o SUPRIMENTO DOS REGISTROS DENASCIMENTO E ÓBITO.

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Funciona tanto como parte agente, atuando em nome próprio na defesa deinteresse alheio e quanto como órgão interveniente, agindo como fiscal da lei, no interessepúblico.

Na área da infância e da juventude se destaca como órgão de defesa dosinteresses difusos, coletivos e individuais indisponíveis da criança e do adolescente.

As funções do Ministério Público previstas no ECA são exercidas pelo Promotordeterminado pela Lei Orgânica. Assim, não são todas as funções arroladas no art.201 do ECAque cabem ao Promotor da Infância e da Juventude. Estas serão exercidas de acordo com asdisposições da Lei Orgânica. Normalmente, e este é o caso do Paraná, na área, há vinculaçãodas atribuições do Promotor de Justiça à competência ao órgão judiciário perante o qual atua.Entretanto, seria perfeitamente possível a existência de Promotoria sem vinculação a órgão judiciário.

As ATRIBUIÇÕES do MP relacionadas no art.201 do ECA:

1. Conceder a remissão como exclusão do processo (arts .126 a 128 e 180, inciso II do ECA);2. oferecer a representação para apuração de ato infracional e acompanhamento do

procedimento - o MP é o titular da pretensão sócio-educativa de forma exclusiva. A açãosócio-educativa é sempre PÚBLICA INCONDICIONADA;

3. Promover e acompanhar ações de alimentos, suspensão ou destituição do pátrio poder(art.201, inciso III do ECA);

4. Oficiar em todos os procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude, sobpena de nulidade absoluta (vide arts .202 e 204 do ECA);

5. Instaurar procedimentos administrativos, podendo requisitar informações, perícias edocumentos de entidades públicas e privadas, expede notificações.

6. impetrar habeas-corpus, mandado de segurança para defesa de interesses sociais e

individuais indisponíveis afetos à criança e ao adolescente.7. Oferecer representação para apuração de irregularidades em entidades de atendimento.8. Oferecer representação para apuração de infração administrativa.

DO ADVOGADO (arts.206 e 207 do ECA):

Qualquer interessado (com legítimo interesse na solução da lide) poderá intervir noprocedimento através de advogado.

Se a pessoa não tiver advogado, será nomeado um ou atuará um defensor público,garantindo-se a prestação de assistência judiciária integral e gratuita àqueles que necessitem.

Na apuração de ato infracional, é obrigatória, desde a audiência de apresentação, oadvogado (art.207, caput  do ECA). Se não tem é nomeado um, podendo constituir outro aqualquer momento. A ausência do defensor não resultará em adiamento do ato, seja constituídoou dativo, havendo a nomeação de um para aquele ato (art.207, §§1º e 2º do ECA).

Não há necessidade de procuração quando o advogado é nomeado ou constituídoe indicado em ato formal perante o Juiz (art.207, §3º do ECA).

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DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES INDIVIDUAIS, DIFUSOS E COLETIVOS(arts.208 a 224 do ECA):

Há possibilidade de aforamento da ação civil pública para a defesa dos interessesindividuais indisponíveis, difusos e coletivos da infância e da juventude próprios da infância e da juventude, indicando, exemplificativamente o ECA os referentes ao não oferecimento ou ofertairregular de ensino obrigatório, atendimento educacional especializado aos portadores dedeficiência etc. (art.208, incisos I a VIII do ECA).

É assim possível a ACP, na área da infância e da juventude inclusive para defesade DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL, com legitimação exclusiva do Ministério Público.

Legitimação:

Com a CF possibilitou-se a defesa dos interesses coletivos em mandados desegurança coletivos, por partido político ou por organização sindical, entidade de classe ou

associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa deseus membros ou associados (art.5º, inciso LXX da CF). A Lei da ACP (de nº 7.347/85) destinoua legitimidade ao MP, União, Estados, Municípios, suas autarquias, empresas públicas, fundaçõese sociedades de economia mista, além das associações que estejam constituídas há pelo menosum ano e incluam nas suas finalidades a proteção de qualquer interesse difuso ou coletivo.

O ECA RESTRINGIU OS LEGITIMADOS (para os casos de interesses difusos ecoletivos), excluindo os órgãos da administração indireta, e incluiu DF e territórios.

Quanto às associações, devem estar constituídas há mais de um ano e dispensa-seautorização da assembléia para ingresso da ação civil pública, se houver disposição estatutária,bastante comum, de que a entidade de acha legitimidade à representação de seus associados em

 juízo ou fora dele.

Legitimação passiva para os casos elencados no art.208 do ECA: As atividadessão de competência do município, com cooperação técnica dos Estados e da União. De regra,então, o pólo passivo da relação processual é ocupado pelo Município.

Competência: serão propostas no local da ação ou omissão, sendo o juízo daInfância e da Juventude o competente para o julgamento da ação, ressalvadas as hipóteses decompetência da Justiça Federal (quando a responsabilidade é imputada à União, autarquia ouempresa pública federal) e originária dos Tribunais Superiores (art.209 do ECA).

Desistência ou abandono da ação: declaração de vontade neste sentido. Oabandono independe da declaração de vontade, configurando-se caso o autor deixe o feito paradopor mais de um ano ou quando não promove atos ou diligências que lhe compete por mais detrinta dias. Nestes casos o MP ou outro legitimado pode assumir a titularidade ativa (art.210, §2º do ECA).

Desistência pelo MP. Possibilidade defendida por Hugo Nigro Mazzili e Édis Milaré.A sentença que homologa a desistência não faz coisa julgada e os outros co-legitimados poderãoingressar com a ação.

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  Termo de compromisso de ajustamento de conduta às exigências legais:previsto no art.211 do ECA. Todos os órgãos públicos legitimados poderão firmar e este termo étítulo executivo extrajudicial. Pode ser cominada multa (inclusive diária) para o caso de seu

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descumprimento (normalmente após escoado o prazo razoável estabelecido para o cumprimentodo ajuste). Basta a assinatura dos participantes e independe de homologação judicial.

Efetividade do processo: O ECA dispõe que para defesa dos direitos e interessespor ele protegidos são admissível todas as espécies de ações pertinentes. Significa que, emúltima análise, o sistema processual autorização sempre uma ação capaz de proteger de modoefetivo e concreto todos os direitos materiais (art.212, caput).

 Aplicação subsidiár ia do CPC: Para as ações previstas no Título VI, Capítulo VII do ECA aplica-se as mesmas normas contidas no CPC (art.212, §1º  do ECA). Esta regra seamolda ao contido no art.152 do ECA, já mencionado anteriormente.

 Ação mandamental: O ECA expressa que é possível ingressar com açãomandamental contra atos ilegais e abusivos de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica noexercício de atribuições do Poder Público, que lesem direitos líquido e certo previsto na lei,regendo-se pela Lei do Mandado de Segurança (Lei nº 1.533/51 e suas alterações)

Tutela antecipada: Quando o objeto da ação é obrigação de fazer ou não fazer, oJuiz poderá determinar todas as providências legítimas e compatíveis à tutela específica daobrigação de fazer (art.213, caput do ECA).

Presentes dos requisitos para concessão de liminar, o Juiz concede a tutela e, independentemente de pedido do autor , pode fixar multa diária pelo descumprimento, mesmoque o autor não peça, fixando prazo para cumprimento do preceito (art.213, §§1º e 2º do ECA).

Esta multa é devida desde o dia do descumprimento, mas só é exigível após otrânsito em julgado da decisão (art.213, §3º do ECA).

Estas multas revertem para o FUNDO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇAE DO ADOLESCENTE (que como vimos é gerido pelo Conselho Municipal de Direitos) e, se nãorecolhidas no prazo de trinta dias, o MP ou outro legitimado executa (art.214 e §1º  do ECA).Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro deverá ser depositado em estabelecimentooficial de crédito, em conta com correção monetária (art.214, §2º do ECA).

Uma vez transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao PoderPúblico, o Juiz deverá determinar a remessa de peças à autoridade competente, para apuraçãode RESPONSABILIDADE CIVIL E ADMINISTRATIVA do agente a que se atribua a ação ouomissão (art.216 do ECA).

Inquérito civil  (art.223 e §§1º a 5º do ECA): Procedimento administrativo que se

destina à apuração de fatos para ingresso com ação civil pública. Não há contraditório, não hánulidades.

Interessante observar que, segundo o art.222 do ECA, para instruir a petição inicial,qualquer interessado/legitimado poderá requerer às autoridades competentes as certidões einformações que julgar necessárias, que deverão ser fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias,sendo que esta regra tem respaldo no art.5º, inciso XXXIV, alínea "b"  da CF.

Se o MP se convence de que não tem fundamento para propor a ação, promove oarquivamento do inquérito civil e submete seu ato à apreciação do Conselho Superior doMinistério Público (o mesmo vale para os chamados "procedimentos administrativos" instauradospelo MP, que muitas vezes são sucedâneos ou preliminares do IC). Se o CSMP não homologa,designa desde logo outro Promotor.

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XI - DOS PROCEDIMENTOS (arts.152 a 197 do ECA):

O ECA relaciona um total de 06 (seis) procedimentos específicos, aos quais prevêregras próprias, sem prejuízo da APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA de normas gerais previstas na

legislação processual civil ou penal, quando necessário (disposição contida no art.152 do ECA, jámencionado).

Em alguns casos, como por exemplo no que se convencionou chamar de "pedido deprovidências" ou "procedimento para apuração de situação de risco", visando a aplicação demedida de proteção a criança ou adolescente, o ECA não estabelece qualquer procedimentoespecífico, nem existe similar a "copiar" em outra lei processual. Para tais situações, o art.153 doECA concedeu maior liberdade à autoridade judiciária, que "poderá investigar os fatos eordenar de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério Público" (verbis).

São procedimentos previstos no ECA:

XI.1 - Procedimento com vista a PERDA OU SUSPENSÃO DO PÁTRIO PODER (arts.155 a163 do ECA):

Tem início por provocação do MP ou quem tenha legítimo interesse (normalmente osparentes da criança/adolescente ou a pessoa que já detém a guarda de fato ou de direito de umacriança/adolescente e pretende adotá-la). Vale lembrar o contido art.76 do CC, onde temos que"para propor ou contestar uma ação, é necessário ter legítimo interesse econômico oumoral" (verbis).

O legitimado deverá constituir advogado para propor a ação (arts.206 do ECA, 36 doCPC e 133  da CF), cujo procedimento será obrigatoriamente contraditório (art.169, caput  doECA).

A petição inicial deverá observar o disposto no art.156 do ECA, sem descuidar dosdemais requisitos previstos no art.282 do CPC.

Deve, por óbvio, demonstrar a ocorrência de fato que se constitua em causa desuspensão e destituição do pátrio poder, tal qual o previsto no art.22 do ECA e arts.394 e 395 doCC (vide AULA Nº 02).

Havendo MOTIVO GRAVE, a autoridade judiciária poderá, OUVIDO O MINISTÉRIOPÚBLICO, decretar LIMINAR ou INCIDENTALMENTE a SUSPENSÃO do pátrio poder, devendo a

criança ou o adolescente ser confiado a PESSOA IDÔNEA (se evitou de falar em ABRIGO, dadainconveniência da institucionalização e necessidade de garantia do direito fundamental àconvivência familiar, ainda que em família substituta - vide art.19 do ECA), mediante termo deresponsabilidade (art.157 do ECA).

O requerido é citado para oferecer resposta em 10 (dez) dias, devendo DESDE LOGOindicar as provas produzidas e oferecer rol de testemunhas e documentos (art.158, caput  doECA), havendo determinação expressa para que SEJAM ESGOTADOS TODOS OS MEIOS comvista à CITAÇÃO PESSOAL do requerido (art.158, par. único do ECA).

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Caso não seja contestado o pedido, o art.161 do ECA estabelece a possibilidade do julgamento antecipado da lide, na forma do art.330, inciso I  do CPC (questão de mérito

unicamente de direito ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produção de

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prova em audiência), com a abertura de vista ao MP para manifestação em 05 (cinco) dias (salvose o Parquet for o autor da ação) e sentença em igual prazo.

Como o pedido de destituição do pátrio poder versa sobre DIREITO INDISPONÍVEL, arevelia não induz a presunção de veracidade dos fatos articulados na inicial (art.319  do CPC),sendo caso de aplicação da regra do art.320, inciso II  do CPC, o que torna imprescindível acomprovação, através de elementos idôneos e suficientes trazidos aos autos, da presença dequalquer das causas que autorizam o decreto da medida, que como vimos se encontramrelacionadas no art.22 do ECA e arts.394 e 395 do CC. Assim sendo, mesmo que não contestadoo pedido, dificilmente haverá casos em que ocorrerá o julgamento antecipado da lide, ocorrendode regra a instrução do feito.

Também existe a previsão da possibilidade de a autoridade judiciária determinar, deofício, a realização de estudo social no caso e a oitiva de testemunhas, sendo a avaliação técnicade regra determinada, notadamente quando o pedido vem cumulado com o de colocação emfamília substituta (art.161, §1º do ECA).

Caso o pedido importe em modificação de guarda (o que quase sempre ocorrerá),será também OBRIGATÓRIA, desde que possível e razoável, a oitiva da criança/adolescente(art.161, §2º do ECA), regra esta que se encontra em consonância com o disposto nos arts.28,§1º e 45, §2º do ECA (que tratam da colocação em família substituta e da adoção).

Uma vez apresentada resposta, o Juiz abre vista ao MP para manifestação em 05(cinco) dias (salvo quando este for o autor), designando a seguir audiência de instrução e julgamento (art.162, caput do ECA).

A pedido das partes, MP ou de ofício, o Juiz determina a realização de estudo sociale/ou perícia por equipe interprofissional, que poderá apresentar parecer na própria a.i.j., onde

também serão ouvidas testemunhas e se passará à fase dos debates orais, com decisão de regrana própria audiência. Excepcionalmente, a autoridade judiciária poderá designar audiência deleitura de sentença no prazo de 05 (cinco) dias (art.162, §§1º e 2º do ECA).

A sentença que decretar a perda ou suspensão do pátrio poder será averbada àmargem do registro de nascimento da criança/adolescente (art.163  do ECA), devendo acriança/adolescente ser registrado no cadastro próprio de pessoas em condições de seremadotadas que deve existir na comarca (art.50 do ECA).

XI.2 - Procedimento com vis ta à DESTITUIÇÃO DE TUTELA (art.164 do ECA): 

Deverá ser observado o procedimento para remoção de tutor previsto nos arts.1.194 a1.198 do CPC com a aplicação subsidiária ("no que couber") do contido no procedimento paraperda ou suspensão do pátrio poder.

XI.3 - Procedimento para COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA  (art.165 a 170 do ECA):

Já foi devidamente analisado quando falamos da família substituta (AULA Nº 02).

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XI.4 - Procedimento para APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL atribuído a adolescente (arts .171 a 190 do ECA): 

O adolescente17  apreendido em flagrante deverá ser encaminhado à autoridadepolicial competente (art.172 do ECA), com comunicação INCONTINENTI ao Juiz da Infância e daJuventude e sua família ou pessoa por ele indicada (art.107 do ECA). Caso haja DP especializadapara adolescentes (em Curitiba, existe uma funcionando junto ao CIAADI), deverá o adolescenteser a esta encaminhado, mesmo quando o ato for praticado em companhia de imputável, sendoque apenas após o atendimento nessa DP e realização das formalidades necessárias é quedeverá ser o adulto encaminhado à repartição própria.

Caso o ato infracional seja praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa,deverá ser lavrado AUTO DE APREENSÃO, com a oitiva de testemunhas, do adolescente,apreensão do produto e instrumentos da infração e requisição de exames ou perícias necessáriasà comprovação da materialidade do ato (art.173 do ECA). Se não for, basta a lavratura de boletimde ocorrência circunstanciado (art.173, par. único do ECA).

Com comparecimento de pai ou responsável (pode ser o dirigente da entidade deabrigo se o adolescente está em atendimento - vide art.92, par. único do ECA) e o caso não sejade internação provisória, deverá ocorrer a liberação do adolescente (independentemente deordem judicial) com termo de compromisso de apresentação ao Promotor (art.174, primeira parte do ECA).

Se o caso é de internação provisória (determinado pela gravidade do ato, repercussãosocial, necessidade de garantia da segurança pessoal do adolescente ou manutenção da ordempública - art.174, in fine, do ECA) ou não comparecem os pais, imediatamente se encaminha aoPromotor, com cópia de auto de apreensão. Se não é possível a apresentação imediata,encaminha-se à entidade apropriada (de internação provisória) e, em 24 horas, apresenta-se o

adolescente ao MP (art.175 e §1º do ECA).

Onde não houver entidade apropriada, o adolescente deverá aguardar a apresentaçãoao MP em dependência da DP separada da destinada a imputáveis (art.175, §2º do ECA).

O adolescente não poderá ser transportado em compartimento fechado de viaturapolicial (camburão), em condições atentatórias à sua dignidade ou que impliquem em risco à suaintegridade física ou mental (notadamente quando no mesmo compartimento são transportadosimputáveis ou membros de "gangues" rivais - art.178 do ECA)

Se não há flagrante, encaminha-se ao Promotor o relatório das investigações e outraspeças informativas (art.177 do ECA).

A audiência perante o MP será realizada com as peças autuadas no cartório e comcertidão de antecedentes. O MP procede a OITIVA INFORMAL do adolescente e, se possível, dospais, testemunhas e vítimas (art.179 do ECA). Por ser ato eminentemente INFORMAL (como opróprio nome indica), a princípio não será necessário reduzir a termo as declarações doadolescente, a menos, é claro, que estas divirjam daquelas prestadas perante a autoridadepolicial. Interessante, por outro lado, nesse momento colher informes junto aos pais doadolescente acerca de sua conduta pessoal, familiar e social (se estuda, trabalha, é obediente,respeitador etc.), elementos que irão influenciar tanto na tomada de decisão acerca de queprovidência deverá o MP adotar no caso quanto, ao final do procedimento (se oferecida arepresentação), qual medida a ser aplicada.

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17 não se aplica, portanto, a crianças acusadas da prática de ato infracional, que após recolhidas, como vimos devemser encaminhadas ao Conselho Tutelar;

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A princípio, não é necessária a presença de advogado no ato18, mas se o adolescentetiver, a assistência será garantida. Vale o registro que se encontra em tramitação, no CongressoNacional, Projeto de Lei visando tornar obrigatória a presença de advogado já quando da oitivainformal do adolescente, inclusive para acompanhar o ajuste da remissão cumulada com medidasócio-educativa, a ser adiante analisada.

Após a oitiva informal, o MP poderá tomar uma das seguintes providências (art.180 doECA):

1. ARQUIVAMENTO: fato inexistente, atipicidade do fato, autoria não é do adolescente, pessoatem mais de 21 anos no momento da oitiva informal;

2. REPRESENTAÇÃO: dedução da pretensão sócio-educativa pelo MP (titularidade exclusiva daação sócio-educativa) - art.182 do ECA;

3. REMISSÃO: forma de exclusão do processo. Pode ser como forma de perdão puro e simplesou com aplicação de MSE/MP.

Promovido o arquivamento ou concedida a remissão, mediante termo fundamentado(vide também art.205 do ECA), os autos deverão ser encaminhados à autoridade judiciária, parahomologação (art.181, caput, do ECA).

Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária deverá determinar,conforme o caso, o cumprimento da medida eventualmente ajustada (vide arts.126, caput  c/c127, ambos do ECA).

Caso discorde do arquivamento/remissão e/ou da medida ajustada, a autoridade

 judiciária não terá alternativa outra além de encaminhar os autos, mediante despachofundamentado, ao Procurador Geral de Justiça, que oferecerá representação, designará outromembro do MP para fazê-lo ou ratificará o arquivamento/ remissão, que então ficará a autoridade judiciária obrigada a homologar (art.181, §2º do ECA - procedimento similar ao contido no art.28 do CPP)19.

Uma vez oferecida a representação20, a autoridade judiciária designará AUDIÊNCIADE APRESENTAÇÃO, com comparecimento dos pais ou responsáveis, acompanhados deadvogado. Sem pais, designação de curador especial. Se não é localizado o adolescente,expede-se mandado de busca e apreensão e susta-se o processo até localização. Se oadolescente, apesar de citação, não comparece, é conduzido coercitivamente - arts.184 e 187 doECA.

Estando apreendido o adolescente, deve a autoridade judiciária decidir acerca danecessidade ou não da manutenção de sua internação provisória, observado o disposto noart.108 e parágrafo único do ECA.

18 a obrigatoriedade se dá apenas APÓS A AUDIÊNCIA DE APRESENTAÇÃO - art.186, §§2º e 3º c/c art.207 e §1º doECA.

19  a autoridade judiciária, portanto, nesse momento não pode homologar a remissão sem a inclusão da medidaeventualmente ajustada entre MP e adolescente/responsável, sendo-lhe vedado modificá-la de ofício (vide art.128 doECA).

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20 que embora independa de prova pré-constituída da autoria e materialidade do ato deverá ter a forma da denúnciacriminal, sem no entanto pedir a "condenação" do adolescente, mas sim a procedência da peça, com a aplicação deUMA OU MAIS das medidas sócio-educativas relacionadas no art.112 do ECA;

 

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Comparecendo adolescente e pais, serão colhidas suas declarações, podendo sersolicitada a ouvida de técnico (profissional qualificado). Neste momento, o Juiz, ouvido o MP,pode conceder a remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo (arts.186, §1° e126, par. único, ambos do ECA).

Se não concedida remissão judicial, o Juiz designa audiência em continuação e podedeterminar a realização de diligências e de estudo social (imprescindível caso se vislumbre apossibilidade da aplicação de medida privativa de liberdade, dado PRINCÍPIO CONSTITUCIONALDA EXCEPCIONALIDADE da internação).

O advogado constituído ou nomeado (vide art.207 do ECA) deverá apresentar defesaprévia no prazo de 03 (três) dias (art.186, §3º do ECA).

Na AUDIÊNCIA EM CONTINUAÇÃO (verdadeira audiência de instrução e julgamento), são ouvidas as testemunhas da representação, da defesa prévia, juntado relatório(estudo social) de equipe interprofissional, dando-se a seguir a palavra ao MP e ao advogado

para razões finais, por 20 minutos, prorrogáveis por mais 10, decidindo em seguida o Magistrado(art.186, §4º do ECA).

A sentença pode acolher ou não a pretensão sócio-educativa.

No primeiro caso, julga-se PROCEDENTE A REPRESENTAÇÃO (tecnicamente nãohá que se falar em "condenação" do adolescente) e aplica-se MSE, com fundamentação quantoprova de autoria e materialidade (e especial enfoque acerca da eventual pertinência das medidasprivativas de liberdade), com exceção à aplicação da MSE de advertência, que pode ocorrerapenas com prova de materialidade e indícios suficientes de autoria (arts.114 e 189 ECA).

No segundo caso, julga-se IMPROCEDENTE A REPRESENTAÇÃO (também não háque se falar em "absolvição"), não sendo possível a aplicação de qualquer medida (não

configuração do ato infracional - conduta atípica ou acobertada pelas excludentes deantijuridicidade; inexistência do fato ou de provas quanto ao fato; ausência de provas quanto àmaterialidade; inexistência de provas quanto à autoria). Mesmo improcedente a representação,em havendo necessidade, a autoridade judiciária pode aplicar ao adolescente medidasunicamente protetivas, ou encaminhar o caso para atendimento pelo Conselho Tutelar.

INTIMAÇÃO DA SENTENÇA que reconhece a prática infracional e aplica MSE:

Se a MSE é semiliberdade ou internação, a intimação é feita ao adolescente e aodefensor; na falta do primeiro, aos pais e ao defensor. Recaindo intimação na pessoa doadolescente, deverá se manifestar se quer ou não recorrer. Se expressar que não, o defensor nãoestá impedido de recorrer; se disser que sim, o defensor obrigatoriamente oferece razões.

Se a MSE for advertência/ obrigação de reparar o dano/prestação de serviços àcomunidade/ liberdade assistida/ medida de proteção, a intimação é feita apenas ao defensor(art.190 do ECA).

XI.5 - Procedimento para apuração de IRREGULARIDADES EM ENTIDADES DE ATENDIMENTO (arts.191 a 193 do ECA):

Já foi devidamente analisado quando falamos das entidades de atendimento

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XI.6 - Procedimento para apuração de INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA às normas de proteçãoà criança e ao adolescente (arts.194 a 197 do ECA):

Considera-se infração administrativa a conduta que viola normas de proteção àcriança e ao adolescente estabelecidas pelo ECA, que o legislador entendeu ser merecedora desanção (multa administrativa e outras) sem no entanto caracterizar crime ou contravenção (ilícitopenal).

Possuem, portanto, natureza jurídica diversa dos crimes e contravenções, emborapertençam ao gênero "sanção estatal". Assim é que se admite que um fato que ao mesmo tempocaracterize infração administrativa e crime (por exemplo, os pais que deixam de matricular seusfilhos no ensino fundamental), dê ensejo a procedimentos diversos (perante o Juiz da Infância eJuventude e o Juiz Criminal), e receba sanções diversas (multa administrativa e pena criminal),sem que isto caracterize um bis in idem.

A multa administrativa, cominada para a totalidade das infrações tipificadas, não se

confunde com a multa criminal, sendo imposta de forma OBJETIVA (independe de dolo ou culpa,não havendo que se falar em "infração administrativa dolosa" ou "culposa") e NÃO É PASSÍVELDE CONVERSÃO em pena privativa de liberdade.

As infrações administrativas estão relacionadas nos arts.245 a 258 do ECA e a elasnão se aplicam as regras quer do CPP quer do CP (inteligência dos arts.225 e 226  do ECA, acontrariu sensu, pois quisesse o legislador tal aplicação subsidiária, o teria feito expressamente,tal qual fez com os crimes em tais dispositivos).

Uma das principais consequências desse entendimento, diz respeito àINAPLICABILIDADE DA PRESCRIÇÃO PENAL, pelo que não devemos nos socorrer do prazo de02 (dois) anos relacionado no art.114 do CP para a prescrição da pena de multa.

O que se aplica, e já existem decisões do TJPR nesse sentido, é a PRESCRIÇÃOQÜINQÜENAL consoante prevê o art.174 do Código Tributário Nacional (a multa administrativa éconsiderada "receita não tributária", que embora esteja sujeita à Lei de Execução Fiscal - Lei nº6.830/80, tem na aplicação desta algumas restrições, notadamente em razão do disposto nosarts.214 c/c 154 do ECA).

Tendo em vista o contido na Súmula 150 do STF ("Prescreve a execução no mesmoprazo de prescrição da ação"), temos que o prazo qüinqüenal acima referido vale tanto para apretensão postulatória de conhecimento quanto para a ação executiva, considerando ainterrupção da fluência do prazo a data da propositura da execução (art.617 do CPC).

São LEGITIMADOS para a deflagração do procedimento:

a) O Ministério Público;b) O Conselho Tutelar;c) O "Agente de Proteção da Infância e Juventude" (antigo "Comissário de Menores"), ao qual o

art.194, caput do ECA se refere como sendo "servidor efetivo ou voluntário credenciado"(verbis).

O INSTRUMENTO utilizado para a deflagração do procedimento será:

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1 - A REPRESENTAÇÃO - que tem a forma de uma "denúncia" e deverá conter seus elementosbásicos: endereçamento, qualificação das partes, descrição dos fatos que em tese caracterizam ainfração, pedido de procedência da demanda e indicação/requerimento de provas. Será oferecidapelo MP ou pelo CT (este diretamente, independentemente de advogado, devendo apenas haver

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a cautela de indicar que a decisão do oferecimento da representação foi resultante de deliberaçãodo colegiado, em sessão deliberativa própria).

2 - O AUTO DE INFRAÇÃO - normalmente consiste em um impresso (art.194, §1º do ECA), ondea bem do princípio constitucional da ampla defesa deverá constar a qualificação do infrator, anatureza e as circunstâncias da infração e a intimação/citação para apresentação de defesa,devendo ser assinado por 02 (duas) testemunhas, sempre que possível. O autuante será sempre(e invariavelmente) o "agente de proteção da infância e juventude" (antigo "comissário demenores") acima referido, sendo VEDADO ao CT lavrar auto de infração (o CT, como vimos,deverá oferecer representação ao Juiz), tendo o TJPR já anulado decisões cujos procedimentosforam deflagrados via auto de infração lavrado pelo CT.

O prazo para apresentação de defesa pelo requerido será de 10 (dez) dias (art.195,caput do ECA), que serão contados da data da intimação (aqui também usada como sinônimo decitação), a ser efetuada:

a. pelo autuante (agente de proteção da infância e juventude), no próprio auto, quando este forlavrado na presença do requerido (ainda que o autuado se recuse a assinar o documento,desde que tal recusa seja presenciada e devidamente atestada por duas testemunhas);

b. por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, que deverá entregar cópia do auto(quando tiver sido este lavrado sem a presença do autuado) ou da representação aorequerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;

c. por via postal, com a.r., quando o requerido ou seu representante legal não forem encontradosna hipótese supra; ou

d. por edital, com prazo de 30 dias, se o requerido e seu representante estiverem em local

incerto e não sabido.

Não apresentada defesa no prazo legal, haverá o julgamento antecipado da lide, coma abertura de vista ao MP para parecer em 05 (cinco) dias, com decisão em igual prazo ( art.196 do ECA);

Caso apresentada defesa, a autoridade judiciária poderá designar audiência deinstrução e julgamento, com a coleta de prova oral e debates entre MP e procurador do requerido,pelo tempo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez) minutos, decidindo a seguir oJuiz (art.197, par. único do ECA).

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Como podemos observar, apesar de o CT/agentes de proteção terem legitimidade para a

deflagração do procedimento, não irão se manifestar no curso da demanda, ressalvada a hipótesede algum conselheiro tutelar/agentes serem ouvidos como testemunhas.

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 De acordo com a nova sistemática estabelecida, a COMPETÊNCIA PARA

PROCESSAR E JULGAR, EM GRAU DE RECURSO, A MATÉRIA CONCERNENTE AOESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, que antes era do Conselho da Magistratura,passou a ser DAS CÂMARAS CRIMINAIS ISOLADAS e, nas demais hipóteses previstas noRegimento Interno, do GRUPO DE CÂMARAS CRIMINAIS.

Assim sendo, os recursos interpostos em matéria referente ao Estatuto da Criança edo Adolescente, doravante deverão ser endereçados a uma das Câmaras Criminais do Tribunalde Justiça do Estado, sendo que nas hipóteses regimentais pertinentes (notadamente as previstasno art.85, incisos II, III e V do mesmo Regimento Interno), as petições deverão ser endereçadasao Grupo de Câmaras Criminais do mesmo Tribunal.

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XIII - DOS CRIMES PREVISTOS NO ECA (arts.225 a 244 do ECA): 

O ECA previu um total de 16 (dezesseis) tipos penais específicos21, criminalizando

condutas que violam direitos de crianças e adolescentes com especial gravidade.

Aos CRIMES definidos no ECA se aplicam toas das normas da Parte Geral do CódigoPenal e, quanto ao processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal (art.226 do ECA).

Tendo em vista que no rol constante do art.148  do ECA não consta ser o Juiz daInfância e Juventude competente para processar e julgar os CRIMES previstos no ECA, aCOMPETÊNCIA para tanto fica a cargo do JUIZ CRIMINAL, de acordo com a Lei de OrganizaçãoJudiciária própria.

Também é importante observar que TODOS OS CRIMES previstos no ECA são deAÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA (art.227 do ECA).

Dentre os crimes relacionados, merecem especial destaque:

a. o previsto no art.233  ("submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ouvigilância a tortura"), haja vista que o dispositivo em questão foi REVOGADO pela Lei nº9.455, de 07/04/97, que definiu os CRIMES DE TORTURA, prevendo penas mais rigorosasque as aqui relacionadas, estabelecendo inclusive que se a vítima for criança ou adolescentea pena será aumentada de 1/6 a 1/3;

b. o previsto no art.236  do ECA ("impedir ou embargar a ação de autoridade judiciária,membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de

função prevista nesta lei"), que não deve ser confundido com a INFRAÇÃOADMINISTRATIVA prevista no art.249  do ECA ("descumprir, dolosa ou culposamente ...determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar "), pois enquanto esta (ainfração) se resume ao DESCUMPRIMENTO da determinação, aquele (o crime) importa naCRIAÇÃO DE OBSTÁCULO, por diversos meios, ao próprio EXERCÍCIO DA FUNÇÃO poralguma das autoridades relacionadas;

c. o previsto no art.238 do ECA ("prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro,mediante paga ou recompensa"), que apesar de ser nitidamente destinado a penalizar aentrega de criança ou adolescente para a realização da chamada "adoção à brasileira", nãoexige a comprovação desse fim específico, bastando a demonstração que houve aoferta/recebimento de vantagem econômica;

d. o previsto no art.243  do ECA ("vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ouentregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujoscomponentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilizaçãoindevida"), que é norma subsidiária à do art.12 da Lei nº 6.368/76, somente aplicável asubstâncias não consideradas entorpecentes consoante Portaria do Ministério da Saúde. Foicriada justamente para permitir a punição daqueles que fornecem a crianças e adolescentesprodutos tais como "thinner" e outros solventes, "cola de sapateiro" e outros inalantes, quePOR UTILIZAÇÃO INDEVIDA podem causar dependência física ou psíquica. A rigor aquitambém poderiam ser enquadrados o CIGARRO COMUM (pois a nicotina nele contidacomprovadamente pode causar dependência) e a BEBIDA ALCOÓLICA, havendo decisões detribunais que assim o consideram. Quanto ao fornecimento de bebida alcoólica caracterizar o

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21 muitos deles já mencionados nas aulas anteriores, quando tratamos de matérias a eles relacionadas (vide).

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CRIME aqui previsto, importante registrar que existe DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA emespecial dada redação do art.81, incisos II e III  do ECA, que estabelece umaDIFERENCIAÇÃO entre "bebidas alcoólicas" e "produtos cujos componentes possamcausar dependência física ou psíquica". Assim sendo, alguns sustentam que, como opróprio ECA diferencia ambos, não é possível equipará-los para fins de incidência do crime doart.243 quando do fornecimento de bebida alcoólica a criança ou adolescente. De qualquermodo, a conduta caracteriza INFRAÇÃO PENAL, sendo na pior das hipóteses consideradaCONTRAVENÇÃO PENAL consoante previsão do art.63, inciso I do Dec. Lei nº 3.688/41.