34
Teocomunicação Porto Alegre v. 41 n. 1 p. 94-127 jan./jun. 2011 ECLESIOLOGIA DE COMUNHÃO E MINISTÉRIO ECCLESIOLOGY OF COMMUNION AND MINISTRY Roberto Hofmeister Pich* Resumo O tema central deste estudo é o da “comunhão de igrejas”. O conceito de “comunhão de igrejas” tem sido tratado, nas últimas duas décadas, no âmbito ecumênico, como instrumento para obter critérios novos para a unidade da Igreja. A primeira tarefa da exposição é o esclarecimento de tal conceito, quanto à sua gênese no diálogo ecumênico e segundo a visão teológica evangélico- luterana. Em segundo lugar, cumpre mostrar de que modo o tema do ministério se coloca dentro da comunhão de igrejas, de forma que possibilidades teóricas possam ser abertas a evangélico-luteranos e católico-romanos no intuito de que aproximações sejam realizadas. PALAVRAS-CHAVE: Comunhão de igrejas. Ministério. Ecumenismo. Unidade da Igreja. Abstract The central topic of this study is “church communion”. The concept of “church communion” has been treated, in the last two decades, in the ecumenical dialogue, as an instrument to find new criteria for the unity of the Church. The first aim of the exposition is to clarify that concept, especially in respect to its origin within ecumenical dialogue and according to the evangelical-lutheran perspective. After that, we try to show how the topic of ministery can be placed within church communion, so that theoretical possibilities can be opened to Evangelical-Lutherans and Roman-Catholics in order to make approximations. KEYWORDS: Church communion. Ministery. Ecumenism. Unity of the Church. * Doutor em Filosofia pela Universidade de Bonn, Alemanha. Professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUCRS. <[email protected]r>.

ECLESIOLOGIA DE COMUNHÃO E MINISTÉRIO - …repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/8289/2/Eclesiologia_de... · Eclesiologia de comunhão e ministério 95 Teocomunicação,

  • Upload
    buingoc

  • View
    219

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Teocomunicação Porto Alegre v. 41 n. 1 p. 94-127 jan./jun. 2011

ECLESIOLOGIA DE COMUNHÃO E MINISTÉRIO

ECCLESIOLOGY OF COMMUNION AND MINISTRY

Roberto Hofmeister Pich*

Resumo

O tema central deste estudo é o da “comunhão de igrejas”. O conceito de “comunhão de igrejas” tem sido tratado, nas últimas duas décadas, no âmbito ecumênico, como instrumento para obter critérios novos para a unidade da Igreja. A primeira tarefa da exposição é o esclarecimento de tal conceito, quanto à sua gênese no diálogo ecumênico e segundo a visão teológica evangélico-luterana. Em segundo lugar, cumpre mostrar de que modo o tema do ministério se coloca dentro da comunhão de igrejas, de forma que possibilidades teóricas possam ser abertas a evangélico-luteranos e católico-romanos no intuito de que aproximações sejam realizadas.

Palavras-chave: Comunhão de igrejas. Ministério. Ecumenismo. Unidade da Igreja.

Abstract

The central topic of this study is “church communion”. The concept of “church communion” has been treated, in the last two decades, in the ecumenical dialogue, as an instrument to find new criteria for the unity of the Church. The first aim of the exposition is to clarify that concept, especially in respect to its origin within ecumenical dialogue and according to the evangelical-lutheran perspective. After that, we try to show how the topic of ministery can be placed within church communion, so that theoretical possibilities can be opened to Evangelical-Lutherans and Roman-Catholics in order to make approximations.

Keywords: Church communion. Ministery. Ecumenism. Unity of the Church.

* DoutoremFilosofiapelaUniversidadedeBonn,Alemanha.ProfessordoProgramadePós-GraduaçãoemFilosofiaedoProgramadePós-GraduaçãoemTeologiadaPUCRS.<[email protected]>.

95Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

Introdução

O temaque aqui se põe emdiscussãonão é o do “ministério”,masoda“comunhãodeigrejas”ou“eclesial”.Aexpectativaéadequeasimplicaçõeseclesiológicasquesurgemapartirdareflexãosobreoconceito de “comunhão”possibilitemuma abordagemnova– ou aomenos provocativa –, para evangélico-luteranos e católico-romanos,daquiloqueseentendeporunidadedaIgrejaeministério.

Não creio que, entre evangélico-luteranos e católico-romanos,existaumentendimentocomumda“comunhãodeigrejas”,istoé,deumconceitodesenvolvidonasúltimasduasoutrêsdécadas,noâmbitoecumênico,paraqueproduzaumadisposiçãodecritériosnovosemfavordaunidadedaIgreja.Sendoassim,aprimeiratarefaquemeproponhorealizarconsistenoesclarecimentodomesmo,dopontodevistadesuagênesenodiálogoecumênicoesegundoavisãoteológicaevangélicaouevangélico-luterana.Jáaqui,noentanto,pretendoanotarconcepçõesdooutroparceirodediálogo.Emumsegundomomento,enfrentandomaioresdificuldades,tentareimostrardequemodootemadoministériosecolocadentrodacomunhãodeigrejas,queconcepçõesdeministériossãosugeridasali,quaisdivergênciasseressaltamequaispossibilidadesteóricaspodemserabertasparaevangélico-luteranosecatólico-romanosnointuitodequeaproximaçõessejamoportunizadas.Éapartirdessesdoismomentosqueconclusõesmodestasdevemsertiradas.

1 O conceito de comunhão eclesial no âmbito ecumênico

Acercadoconceitodecomunhãoeclesial,interessaempequenamedidaasuagênesehistóricacomotal;emgrandemedida,porém,osignificadoobtidopelomesmo,apartirdoseucontextodesurgimento.A “comunhão eclesial” (Kirchengemeinschaft), como evidenciamosestudos deHardingMeyer, possui hámuito umespaçoprivilegiadono âmbito ecumênico alemão – em especial –, tornando-se, daí,gradativamenteumtemamaiordediscussãonaecumene,emparticulardesdemeadosdadécadade1980.1

1 Cf. Harding Meyer, “Kirchengemeinschaft” als Konzept kirchlicher Einheit. ZurEntstehungundBedeutungdesKonzepts,in:HardingMeyer,Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie I, p. 137. Segundo Peder Nørgaard-Højen,GlaubenskonsensundkirchlicheStrukturen.ÜberlegungenzurFragenachKriterienstrukturellerGestaltwerdungdesconsensusfidei,in:HardingMeyer(Hrsg.),Gemeinsamer

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

96 PICH, R. H.

Oconceitodecomunhãoeclesialnãofoielaboradoparasubstituirasnoçõesde“unidadedasigrejas”ou“unidadeeclesial”,mas,justamenteporconteremsiuma interpretaçãodiferenciadade“unidade”–“umdeterminado entendimento de unidade”,2 a ser explorado abaixo –,vemsendoatémesmopreferidoaoconceitodeunidade.Emverdade,“comunhão eclesial” pode ser tomada como uma concepção maisantiga,aparecendojánadécadade1950,emexperiênciasecumênicasespecíficas, a saber, no surgimento de uniões de igrejas evangélicascomoaEKU (Evangelische Kirche der Union”, 1953)3 e aVELKD(Vereinigte Evangelisch-Lutherische Kirche Deutschlands, 1948), emqueasdiscussõesacercadoseurealcaráterdeIgrejaedapossibilidadeda comunhão eucarística estiveram emprimeiro plano.4A noção de“comunhãoeclesial”foitrabalhadatambémpelaComissãoTeológicadaFederaçãoLuteranaMundialemmeadosdadécadade19505emanifesta-sedeformadecididamentearticuladanosdebatesteóricosantes,duranteeapartirdaConcórdiadeLeuenberg(1973),entreevangélico-luteranosereformados.6Afundamentaçãoteológicadoconceito,elaboradaparaaConcórdiadeLeuenberg,permanecesendo,aindahoje,areferênciapara o seudesenvolvimentono âmbito ecumênico, aindaquepareçater-lhefaltadoumamaiorênfasenoselementosestruturaisdacomunhãoeclesial,7bemcomoumesclarecimentomaiselaboradocomrespeito

Glaube und Strukturen der Gemeinschaft,p.95-96,apontaparaaAssembleiadeNovaDélhicomoomarco,naagendateológicadoConselhoMundialdeIgrejas,dareflexãosobreaunidadedaIgrejaedacomunhãoeclesialemtermosdecommunio,emquejáseindicavatimidamenteaimportânciadacomunhãoeclesialestrutural.

2 Cf.HardingMeyer, “Kirchengemeinschaft” alsKonzept kirchlicherEinheit.ZurEntstehungundBedeutungdesKonzepts,op. cit.,p.137-138.

3 Desde julhode2003,aprópriaEKU seuniuàouantes transformou-senaUnion Evangelischer Kirchen (União das Igrejas Evangélicas),emambososcasosumafusãodeigrejasterritoriais.

4 Cf.HardingMeyer, “Kirchengemeinschaft” alsKonzept kirchlicherEinheit.ZurEntstehungundBedeutungdesKonzepts,op. cit.,p.139.

5 Ibid.,p.144-151.6 Ibid.,p.152-161.7 Isso pode ser dito, semelhantemente, dos desafios postos para a eclesiologiade comunhão internos àFederaçãoLuteranaMundial, desdeque ela passou a seautocompreender,apartirdasconstituiçõesresultandesdaVIIIAssembleiadaFLMemCuritiba 1990, justamente emconformidade comesse conceito teológico; cf.EugeneL.Brand,TheLutheranWorldFederation:CommunionandStructure, in:HardingMeyer (Hrsg.),Gemeinsamer Glaube und Strukturen der Gemeinschaft, p. 157-167.

97Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

aoconsensofundamentalsobreoministérioeclesiástico.8 A estrutura (experienciável e institucional) da comunhão eclesial – em troca dodebateredundantesobreasdivergênciasimpeditivasparaacomunhãode fé – foi, a propósito, tambémnodocumento “Unidade diante denós–Modelos,formasefasesdacomunhãoeclesialcatólico-luterana”(1985),9 particularmente acentuada como estando em déficit, masprecisando,pois,serfomentada.10

Tendocomopanodefundoosdiversosrefinamentosteóricosdesdeasuaorigem,HardingMeyerpôderesumirnoveelementosessenciaisque expressamavisão evangélica da comunhão eclesial.A seguir, éoportunoqueelessejamreproduzidosouparafraseados:11

(1)Oconceito“comunhãoeclesial”,emtermosde“surgimentoesignificado”estáestreitamenteligadoaoconceitodekoinonia.Trata-sedeumacomunhãoentrecristãoseigrejascujabaseéunicamenteCristo.Issoficabemexpressonofatodequetalcomunhãoésempreumacomunhãoeucarística,evice-versa.12

(2) Em termos de intenção, a comunhão eclesial é o tornar-sevisível13dacomunhãoespiritualdoscristãoscomCristoeunscom

8 Cf.AndréBimerlé,DieLeuenbergerKonkordie:EinheitohneStrukturen?,in:HardingMeyer (Hrsg.),Gemeinsamer Glaube und Strukturen der Gemeinschaft, p.11-12.

9 Umfrutosignificativododiálogobilateral,nocontextoeclesiásticoalemão,entreevangélico-luteranosecatólico-romanos.

10 Cf.HardingMeyer,StrukturierteGemeinschaftohnegemeinsameStrukturen?DasProblem strukturierterGemeinschaft imLichte der lutherischen Stellungnahmenzum katholisch/lutherischen Dokument “Einheit vor uns”, in: Harding Meyer,Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie II. Der katholisch/lutherische Dialog,p.89-94.

11 Cf.HardingMeyer, “Kirchengemeinschaft” alsKonzept kirchlicherEinheit.ZurEntstehungundBedeutungdesKonzepts,op. cit.,p.161-162.

12 Ibid.,p.161-162.13 Cf. também Harding Meyer, Die Weltweiten Christlichen Gemeinschaften.Grundanliegen–Selbstverständnis–ökumenischeVerpflichtung,in:HardingMeyer,in:HardingMeyer,Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie I,p.187.Há,nesseponto,algoeventualmentenovonaautoconcepçãoeclesiásticaprotestante, a saber, uma contraposição à ideia de que aecclesia universalis, namaiorpartedoscasos,foipensadacomoalgoinvisível,dimensionadaapenascomouma realidade crida, uma “comunhãodos corações”.Omesmoaspecto pode serconferidonas colocações sinodais respectivasda IgrejaEvangélicanaAlemanha,cf. KIRCHENAMT DER EVANGELISCHEN KIRCHE IN DEUTSCHLAND,Kundgebungder9.SynodederEvangelischenKirche inDeutschlandauf ihrer5.Tagung zumSchwerpunktthema “Eins inChristus –Kirchenunterwegs zumehrGemeinschaft”, in: KIRCHENAMT DER EVANGELISCHEN KIRCHE INDEUTSCHLAND, Kirchengemeinschaft nach evangelischem Verständnis. Ein Votum zum geordneten Miteinander bekenntnisverschiedener Kirchen,p.16.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

98 PICH, R. H.

osoutros.Nãosetrata,pois,demerapreparaçãoparaotornar-sevisíveldaunidadedadaemCristo.(3)Acomunhãoeclesialévividanacomunhãodefé,nacomunhãodaproclamaçãodoevangelhoemPalavraesacramento,nacomunhãodoministério eclesiástico e também na comunhão da vida e dapráticaeclesiásticas.(4)A comunhão eclesial pode ser realizada sem que as igrejasexistentes, geograficamente determinadas e confessionalmentecunhadas, abrammãoda sua identidade e autonomia teológicas,espirituais,litúrgicaseestruturais,transformando-seemumaúnica“Igreja”ou“denominaçãoeclesiástica”(umsóKirchentum).Trata-sedeumaformaestruturadade“unidadenadiversidade”.(5)Adiversidaderemanescentedasigrejaspodeservividaemumaautênticacomunhãodeigrejassóàmedidaque(a)dessadiversidadese retira o antigo “rigor” ou “rigorismo” (Schärfe) que separa igrejaseàmedidaque(b),naquiloqueseentendeemcomumcomofundamentalparaotestemunhodeféapostólicoeasuaproclamaçãoeclesiástica em Palavra e sacramento, obtém-se tal “consensofundamental”(Grundkonsens)queesseécapazdeabarcaresuperarasdiferençasqueaindapermanecem.(6)Talcomunhãoeclesial(emdoutrinaouconfissão)entrediferentesigrejas sópodesuceder-sequandohouverumreconhecimentodadiferençaentreoconteúdodoutrinaleaformadoutrinal,afirmando-se,comisso,queoconteúdodotestemunhodeféapostólicopodeserensinado,conhecidoerealizadoemdiferentesformasdetestemunho,dedoutrinaedeconfissão.(7)Oconsensofundamentalquetornaacomunhãodeigrejaspossívelératificado,nasuaforçaounoseupotencialparaservirdebaseàcomunhão,àmedidaquecondenaçõesdoutrinaismútuas,pelasigrejas,sãoesclarecidaseatestadascomoeventualmentenãomaisaplicáveis.(8)Nãosãoapresentados,noconceitodecomunhãoeclesial,quaissão os tipos de estruturas concretas que essa comunhão tem oudeveria ter.No entanto, a comunhão eclesial pedepor estruturasconcretasadequadas.(9)Acomunhãodeigrejasassimobtidaéumarealidadehistórica.Elaé dada,queraomesmotempo,desimesmaequeremtodasassuasáreas deaplicação,servivida,mantida,aprofundada,ratificadaeconservada.14

14 Cf.HardingMeyer, “Kirchengemeinschaft” alsKonzept kirchlicherEinheit.ZurEntstehungundBedeutungdesKonzepts,op. cit.,p.162.Paraumaexposiçãodeelementosfundamentaisdaeclesiologiadecomunhão,cf.tambémPederNørgaard-Højen,GlaubenskonsensundkirchlicheStrukturen.ÜberlegungenzurFragenachKriterienstrukturellerGestaltwerdungdesconsensusfidei,op. cit.,p.94-112.

99Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

As características assim dispostas ajudam a entender por quemotivo a comunhão de igrejas tem realização concreta em especialentreaschamadasComunhõesCristãsMundiais,15 que geralmente se estabelecementre igrejas que estão dentro de famílias confessionaisespecíficas. No entanto, o que se pode dizer daquelas comunhõesentre igrejas que vão além das famílias confessionais, centrando-se o questionamentono sentido e no reconhecimentodos elementoscristãosdacomunhão?Seotraçoessencialdetaiscomunhõeseclesiaisé que elas, emúltima análise, se autocompreendem como legítimascomunhõesmundiaiscristãs, semdúvidaparece legítimopensarqueelas,fortementeexperienciadasentrefamíliasconfessionaisprotestantes,podemaprofundarumrelacionamentodemesmaordemcomaIgrejaCatólicaRomana, admitindo, portanto, existir outras formasde vidacristãautêntica.16Dessamaneira,épossívelafirmarqueessascomunhõesestãonaturalmenteacaminhodeumacomunhãocristãmaisampla,istoé,acaminhodacomunhãoecumênica.17

A tarefa que se põe diante de evangélico-luteranos e católico-romanos emdiálogo é, antes demais nada, verificar a existência de“consensosfundamentais”comrespeitoaopróprioconceitodecomunhãoeclesialcomoconceitoqueinterpretaanoçãodeunidadedaIgreja.Paratanto,seráprecisodiferenciarposicionamentosdogmáticosereconhecerdificuldades para a aceitaçãomútua, concentradas especialmente nasdiferentesacepçõesdeministérioeclesiásticoe,por issomesmo,emdiferentesprincípiosdeumaeclesiologiadecomunhão.

Esse último apontamento é sintomático, umavez que o debateevangélico-luterano e católico-romano sobre a comunhão eclesial járeconhecera,antesmesmododocumentodaCongregaçãodoVaticanoparaaDoutrinadaFé,de1992 (cf. abaixo),queaunidadevisível einstitucionalteriadepôremrelevootemadoministério,sobreoqualsepodeafirmarque,noNovoTestamentoenaIgrejaAntiga,aparececomoelementodecisivoparaaunidadedaIgreja,aindaquesubordinado,éclaro,àPalavraeàproclamaçãodaPalavradeDeus(rigorosamente,o“ministériodareconciliação”oumesmoda“palavradareconciliação” 15 Cf.HardingMeyer,DieWeltweitenChristlichenGemeinschaften.Grundanliegen– Selbstverständnis – ökumenische Verpflichtung, in: Harding Meyer, op. cit., p.186s.

16 Id. ibid.,p.191-192.17 Nofinaldadécadade1960,começaramasurgir,porpartedetaisComunhõesCristãsMundiais,osdiálogosbilaterais,cf.ibid.,p.193,195.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

100 PICH, R. H.

em Cristo e por Cristo; cf. 2 Cor 5.18-20). Por semelhante modo,permanecenãorespondida(ounãodeterminada)aperguntapelainclusãodoministérioluteranonasucessãoapostólicaenoministérioepiscopal.18 Esses pontos serão retomados, tambémporque se tornammarcantese eventualmente destoantes diante da posição católico-romana. Emverdade,airresoluçãonessesassuntos–noquetangeaopropósitodeconsensofundamental–namaioriadasvezesprovoca,comoresumeHardingMeyer,aatitudeembaraçosade,quantoàcomunhãoeclesial,aceitar-sea“comunhãoestruturada”,porémnãoas“estruturascomuns”:alegadamente,bastariacomocomunhãoestruturada,porumaparte–emseguimentoaopróprio“modelodoreconhecimento”amiúdeaceitonoluteranismoenocatolicismoromano–,avalidadedosministériosedoseuexercícioemambososlados,semqueissoocorra,emnívelvisívele institucional,sob estruturas comuns (eventualmente,ocomponentequedefatopermitiriacumpriroplanodeumacomunhãoestruturada);19poroutraparte,fica-sesemdúvidamuitoaquémdaquelaliberdaderelativaaoordenamentoeclesialeàsestruturas,comopreconizadapelaConfissão de AugsburgoVII(=CAVII)nadialéticadosatis est – nec necesse est,apartirdoEvangelhoedasuaproclamaçãopuraedaretaministraçãodossantossacramentos.20

2 Divergências: posições da congregação para a doutrina da fé

O debate entre evangélico-luteranos e católico-romanos sobrea comunhão eclesial exige o tratamento de algumas divergências,destacadassobretudoemumdocumentodaCongregaçãodoVaticanoparaaDoutrinadaFé(Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre alguns 18 Cf.HardingMeyer,StrukturierteGemeinschaftohnegemeinsameStrukturen?DasProblemstrukturieterGemeinschaftimLichtederlutherischenStellungnahmenzumkatholisch/lutherischenDokument“Einheitvoruns”,op. cit.,p.94-100.

19 Id. ibid.,p.100-102.20 Ibid., p. 102-103.Cf.Confissão de AugsburgoArtigoVII “Da Igreja” (Livro de

Concórdia. SãoLeopoldo–PortoAlegre, 41993, p. 31): “Ensina-se tambémquesemprehaverá epermaneceráumaúnica santa igreja cristã, queé a congregaçãode todosos crentes, entreosquaiso evangelhoépregadopuramenteeos santossacramentossãoadministradosdeacordocomoevangelho.Porqueparaaverdadeiraunidadeda igrejacristãé suficientequeoevangelho sejapregadounanimementedeacordocomaretacompreensãodeleeossacramentossejamadministradosemconformidadecomapalavradeDeus”.

101Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

aspectos da Igreja entendida como comunhão)edenovodimensionadasnareaçãodaFederaçãoLuteranaMundialaomesmotexto,em1992.Comoserápercebido,aabordagemcatólico-romanaapontaparaumaeclesiologia de comunhãoque temde incluir concepções específicassobreoministério,nointuitodequesejareconhecidacomosuficienteparaaunidadedaIgreja.21Apartirdisso,orientoaminhaleituraparaos itens dodocumentoque espelhamposiçõesdivergentes acercadacomunhãoedoministério.

ACongregaçãoDoutrinal reconheceu o conceito de comunhãocomoumconceitoeclesiológico:eleécentralparaoautoentendimentodaIgreja.Oconceitodecomunhãooukoinonia éaptoparaexpressaromistério da Igreja, ainda que se recomende que a eclesiologia decomunhãointegrereflexõessobre(1)opovodeDeus,(2)ocorpodeCristoe(3)arelaçãoentreaIgrejacomocomunhãoeaIgrejacomosacramento. “Comunhão” serve para a autocompreensão da Igrejaporqueelaé“omistériodauniãopessoaldecadaserhumanocomadivinaTrindadeecomorestantedahumanidade,iniciadocomafé”.22 Assimentendida,acomunhãoteminíciocomorealidadenaIgrejanomundodeagora,estando,detodomodo,direcionada“paraaplenitudeescatológica,naIgrejacelestial”.23

Fundamental para uma compreensão teológica legítima dacomunhão é que ela, na sua dimensãovertical, é umdomdeDeus,é a nova relação entre Deus e o ser humano, mediada por Cristo,comunicadapelossacramentos.Apartirdisso,elatemcomoresultado,nasuadimensãohorizontal,umanovarelaçãoentreossereshumanos.Porissomesmo,acomunhãoexpressatantoanaturezasacramentaldaIgrejaquantoaquelaunidadequefazdosfiéismembrosdocorpomísticoeunodeCristo,portanto,umacomunidadeestruturadaorganicamentenacomunhãodaTrindade,depossedemeiosadequadosparaauniãovisívelesocial.Dissoacomunhãoeclesialnãopodeprescindir:comosacramentodasalvação,aIgrejaviveem comunhão invisível e visível, 21 Isso pode ser conferido também nos pontos destacados “sobre o conceito decomunhãoaplicadoàIgreja”in:GeraldoLuizBorgesHackmann,AIgreja,mistériodecomunhãoeasexigênciasdaevangelizaçãodomundo.In:Teocomunicação35(2005),p.20-21.

22 Cf.JosephRatzinger(prefect)andAlbertoBovone(secretary)(VaticanCongregationfortheDoctrineofFaith),SomeAspectsoftheChurchUnderstoodasCommunion,p.108,I3.

23 Ibid.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

102 PICH, R. H.

talqueessaúltima–a comunhãovisível– semanifesta, nomundo, no ensino dos apóstolos, nos sacramentos e na ordem hierárquica.Exatamente dessa forma a Igreja é, para todos, “um sacramentoinseparáveldeunidade”.24

Acomunhão eclesial se torna realidadepara cadaumpela fé epelobatismo, tendoo seucentronaeucaristia.Ocorpounonoqualcadauméintroduzidopelobatismoémantidovivopelaeucaristia.Elaéforçacriativaefontedecomunhãoentreosmembrosdaigreja,dadoqueunecadaumaopróprioCristo(1 Cor10.17).DaíquedizercomoapóstoloPauloque“aigrejaécorpodeCristo”édizerqueaeucaristiaéolugarondeaigrejaseexpressaemsuaessência.Elaestápresenteemtodososlugares,maséumatalcomooCristodaeucaristiaéum.25 Acomunhãoeclesialnosdonsdasalvaçãoé,enfim,ofundamentodacomunhãodossantos,quevemasertambémacomunhãoinvisívelentreosmembrosdaigrejaperegrinanaterraeaquelesquejáestãonaouserãoincorporadosàigrejacelestial.26

Paraquehajaumentendimentomútuobásicosobreacomunhãoeclesial,algumasdiscordânciasimportantestêmdeservencidas.

(a) Primeiramente, há que se destacar uma divergência acercada relaçãoentre Igrejauniversal e igreja local.27Aqui, tomadacomo“união” existente entre igrejas particulares, a Igreja universal, que éocorpodas igrejasparticularesnasquaisoselementosessenciaisdaigreja sacramental estão plenamente presentes, pode ser concebidacomo“comunhão”deigrejas.Porém,omodocomo,emalgunscasos,anoçãode“comunhão”édesenvolvidafazcomqueela enfraqueça o 24 Ibid.,I4.25 Ibid.,p.108-109,I5.26 Ibid.,p.109,I6.27 Foi bem ressaltado porAlbertoAntoniazzi em “Teologia do episcopado”. Umponto de vista católico, in:VVAA,Os ministérios – Seminário Bilateral Misto Católico Romano-Evangélico Luterano,p.30,queoconceitode“igrejalocal”ou“particular”,valorizadopeloConcílioVaticanoII,seidentifica,nocontextointernoaocatolicismoromano,coma“Diocese”.EéprecisoatentarparaofatodequeaterminologiadoConcílioVaticano II é“incerta”,umavezque“igrejaparticular”também é identificada com “rito”, e “igreja local” com “paróquia”. Contudo, odocumentodaCongregaçãoparaaDoutrinadaFédácertamenteumaacepçãomaisamplaaoconceitode igreja localouparticular, istoé,ele seaplicaa toda igreja,inclusivedeuma tradiçãocristãdiferentedacatólica-romana,quepodesobcertamedida conceber-se como existindo, demodo concreto, separadamente ou comodistintadeoutrasigrejaslocaisdentroouforadasuatradiçãocristã.

103Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

conceito de unidade da Igreja nos níveis visível e institucional:assimocorre, por exemplo, quando se afirma que cada igreja particular é completaemsi,talqueaIgrejauniversalvemaserapenas“oresultadodeum reconhecimento recíprocodaparte das igrejas particulares”.28 Essetipode“unilateralismoeclesiológico”–de“autossuficiência”daigrejaparticular–revelaumacompreensãoinsuficienteeequivocadadoconceitodecomunhão.Oconceitodecomunhão,aplicadoaigrejasparticulares,sópodesignificarqueessas,sendopartesdocorpounodeCristo,têmumarelaçãoespecialde“interioridademútua”comaIgrejauniversal(otodo),eissojustamenteporqueemcadarealidadelocalaIgrejadeCristouna,santa,católicaeapostólicaestáativaepresente(cf.tambémoDecretoChristus Dominus(1965).Porissomesmo,aIgrejauniversalnãoéo resultadodacomunhãodas igrejasparticulares, talcomosefosseasuasoma ou uma federaçãodelas,mas“éumarealidadeontologicamente e temporalmente anterior a toda igreja particularindividual”.29Daíqueasigrejaslocaistêmasuaeclesialidade–esuacomunhãoeclesialpossível–naeapartirdaigrejauniversal(ecclesiae in et ex ecclesia,fórmuladoConcílioVaticanoII).30

Assumindo-se que a “união” ou a “comunhão” entre as igrejasparticulares na igreja universal está fundada não só namesma fé eno mesmo batismo, mas também na eucaristia e no episcopado,31 residemnessesdois itensospróximospontosdedivergência entre aposição católico-romana e a evangélico-luterana sobre a comunhão eclesial.

(b)Assim,emsegundolugar,aeucaristiafundaacomunhãoporque,mesmoquandocelebradaemumacomunidadeparticular,nãoécelebraçãodeumacomunidadeapenas,masdetodaaIgrejauniversalsustentadapela 28 Cf.JosephRatzinger(prefect)andAlbertoBovone(secretary)(VaticanCongregationfortheDoctrineofFaith),SomeAspectsoftheChurchUnderstoodasCommunion,p.109,II8.

29 Ibid.,p.109,II9.30 Ibid.Nessa linha de abordagem, cf. tambémPedroAlbertoKunrath,A estruturavisível para a comunhão da Igreja em Tillard, in: Teocomunicação 36 (2006), p.636s.

31 Cf.JosephRatzinger(prefect)andAlbertoBovone(secretary)(VaticanCongregationfortheDoctrineofFaith),SomeAspectsoftheChurchUnderstoodasCommunion,p.110,III11.Sobreessesaspectosdaeclesiologiadecomunhãonateologiacatólico-romana,cf.porexemploGeraldoLuizBorgesHackmann,A amada Igreja de Jesus Cristo. Manual de eclesiologia como comunhão orgânica,p.96-99.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

104 PICH, R. H.

presençaeucarísticadeseuúnicoSenhor.32Porém,aênfasenaeclesiologiaeucarísticanãopodeincorreremumaindicaçãodesuficiênciadaigreja local,no sentidodeque, emsecelebrandonaeucaristia a totalidadedomistérioda igreja (a sua realidade sacramental, aomesmo tempotranscendenteeperceptível-concreta),ter-se-iacomela–naigrejalocal–umprincípiosuficientedecomunhão,demaneiraquequalqueroutroprincípiodeunidade-comunhãodaIgrejasetornassedispensável.Naverdade,aeucaristiabemcompreendidaéexatamenteaquiloque“tornaimpossível todaautossuficiênciadas igrejasparticulares”,33 em que o bomentendimentodamesmaconsisteemassociá-laaumaeclesiologiaministerial.34Seé,pois,asseveradoqueaunidadeeaindivisibilidadedocorpoeucarísticodoSenhorimplicaaunidadedaIgrejacomocorpomístico,tambéméafirmadoqueoministériopetrino,comofundamentodaunidadedoepiscopadoedaIgrejauniversal,écorrespondentementeumprincípiodeunidade-comunhãoeclesial.35

(c) Em terceiro lugar, portanto, deve ser posto como princípioespecífico que a unidade da Igreja está enraizada na unidade do episcopado.Assimcomoocorpode igrejasclamapelaexistênciadeumaigrejaquesejaacabeçadetodas,aIgrejadeRoma,assimtambémaunidadedoepiscopadoenvolveaexistênciadeumbispoquesejaacabeçadocolégiodebispos,opontíficeromano.Eleéfonteefundamentovisíveldaunidadedoepiscopado.AunidadedoepiscopadoéperpetuadapelasucessãoapostólicaeéofundamentodaidentidadedaIgrejadetodasasépocascomaIgrejaerigidaporCristosobrePedroeosdemaisapóstolos.36Se, então, cada igrejaparticular,paraque sejauniversal,deveserconstituídapelostraçosessenciaisdessaúltima,têmdeestarpresentesnaquelaocolégioepiscopaleosumopontíficeromano(cf.a 32 Cf.sobreissoGeraldoLuizBorgesHackmann,Igreja,quedizesdetimesma?Easeclesiologias,in:ManoelAugustoSantos(org.),Concílio Vaticano II – 40 anos da Lumen gentium,p.100-101.

33 Cf.JosephRatzinger(prefect)andAlbertoBovone(secretary)(VaticanCongregationfortheDoctrineofFaith),SomeAspectsoftheChurchUnderstoodasCommunion,p.110,III11.

34 Sobreisso,cf.tambémPedroAlbertoKunrath,Aeucaristiaeaigrejacomomissão.In:Teocomunicação33(2003),p.224-225,tambémnota49.

35 Cf.JosephRatzinger(prefect)andAlbertoBovone(secretary)(VaticanCongregationfortheDoctrineofFaith),SomeAspectsoftheChurchUnderstoodasCommunion,p.110,III11.

36 Ibid., p. 110, III 12. Sobre esses temas, cf. também EliasWolff,Caminhos do ecumenismo no Brasil – História, teologia, pastoral,p.324-342.

105Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

ConstituiçãoDogmáticaLumen Gentium).Essessãoelementos próprios da Igreja universal,e“nãoderivadosdaparticularidadedasigrejas”.37 A partir de dentro e necessariamente,oministériodosucessordePedropertenceàessênciadecada igrejaparticular.Unidadedaeucaristiaeunidadedoepiscopadosão,pois,elementosinterdependentesdaunidadeda Igreja,umavezque foram instituídosporCristocomo realidadesligadas (cf. a Constituição Dogmática Lumen Gentium). Eucaristiae episcopado são um: o sacrifício uno do Cristo uno.Assim, todacelebraçãoeucarísticaválidaérealizadaemuniãocomobispo,opapa,aordemepiscopal,ocleroeopovo.38

Se o que foi exposto acima reflete discordâncias sobre osprincípiosdacomunhãoeclesialentrecatólico-romanoseevangélico-luteranos, algumas diretamente ligadas ao ministério, isso ganharatificação no Documento da Congregação para a Doutrina da Féaindapormeiodaseguinteconclusão:asigrejascristãsnãocatólicasprotestantes, mesmo possuindo elementos da igreja de Cristo, pornão apresentarem celebração válida da eucaristia e não estarem emcomunhãocomaIgrejauniversal,dadoquenãotêmcomoelementosessenciaisarepresentaçãodoministériodePedroeamanutençãodasucessão apostólica, não são em si, verdadeiramente, a una, santa,apostólica e católica Igreja universal. Com tais igrejas cristãs, dá-se apenas uma “certa comunhão,muito embora imperfeita”39 (cf. oDecretoUnitatis Redintegratio (1964)40 e aConstituiçãoDogmáticaLumen Gentium (1964)). Ora, a plena unidade da Igreja, dada porCristodesdeo início, subsistena IgrejaCatólicaRomanacomoalgo 37 Cf.JosephRatzinger(prefect)andAlbertoBovone(secretary)(VaticanCongregationfortheDoctrineofFaith),SomeAspectsoftheChurchUnderstoodasCommunion, p.110,III13.Cf.tambémPedroAlbertoKunrath,AestruturavisívelparaacomunhãodaIgrejaemTillard,op. cit.,p.644-651.Sobreotópicodasvocaçõeshierárquicase não hierárquicas na Igreja, a partir doConcílioVaticano II e da ConstituiçãoDogmáticaLumen Gentium, cf.UrbanoZilles,Asdiferentes vocações segundo aLumengentium,in:ManoelAugustoSantos(org.),Concílio Vaticano II – 40 anos da Lumen gentium,p.34-39.

38 Cf.JosephRatzinger(prefect)andAlbertoBovone(secretary)(VaticanCongregationfortheDoctrineofFaith),SomeAspectsoftheChurchUnderstoodasCommunion,p.110,III,14.

39 Ibid.,p.111,V,17.40 Cf.Unitatis Redintegratio. Decreto sobre o ecumenismo –Concílio EcumênicoVaticanoII(1964),in:JoséBizon;NoemiDariva;RodrigoDrubi(orgs.),Ecumenismo. 40 Anos do Decreto Unitatis Redintegratio 1964-2004,I,3(p.66-70).

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

106 PICH, R. H.

queelanuncapodeperderedevecontinuaracresceratéofinaldos tempos.41

OsposicionamentosdaCongregaçãoparaaDoutrinadaFéforamimediatamenteapreciadospelocorpodaFederaçãoLuteranaMundial,merecendo,emumacartadoseuSecretárioGeral,sériasponderações.Crítica aparece, primeiramente, quanto há ausência de um balançoadequadoentreouniversaleoparticular,comsobre-ênfasenouniversal,ligadoaoministériopetrino.Emsegundolugar,notou-seafaltadeumaaplicaçãoecumênicadaênfasebíblicanakoinonia comocomunidadeinterdependente de partilha. O documento da Congregação para aDoutrinadaFémaissepreocupoucomacomunhãocomoumconceitoestrutural (ou relativo à estrutura e hierarquia universal-particular).42 Emterceirolugar,seachaveparaaprópriadiscussãoestruturalsobrea comunhão está ligada à comunhão comoBispodeRoma, há quesediferenciarentreoofíciopetrinocomoumministériodeunidadeeoreconhecimentodaqueleministériono presente ofício papal, isto é, na maneira como ele (modernamente) se configura.Porfim,aprópriaconstituiçãoLumen gentiumevitaasimplesidentificaçãodauna sancta coma IgrejaCatólicaApostólicaRomanade hoje.OdocumentodaCongregação do Vaticano para a Doutrina da Fé não contém essadiferenciação.43

Neste estudo, as três ênfases críticas na reação da SecretariaGeral daFederaçãoLuteranaMundial serão integradas às tentativasde elaborar uma reflexão construtiva como atitude frente às trêsprincipais divergências acima apontadas sobre os princípios dacomunhão eclesial. O quanto as condições de possibilidade dacomunhão eclesial estão centradas emconcepções deministério quedeterminam uma certa eclesiologia de comunhão, deve ter ficadoevidente:aofinal,valemcomoprincípiosdaigrejauniversalemtermosde “união”/“comunhão” de igrejas particulares os fundamentos desuaunidadenacelebraçãolegítimadaeucaristiaenoreconhecimento 41 Cf.JosephRatzinger(prefect)andAlbertoBovone(secretary)(VaticanCongregationfortheDoctrineofFaith),SomeAspectsoftheChurchUnderstoodasCommunion,p.111,V,18.

42 Cf. Gunnar Staalsett (Office of the General Secretary of the Lutheran WorldFederation). Letter on His Eminence Edward Cardinal Cassidy 4 August 1992.

43 Ibid.

107Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

doministério petrino comobase do episcopado e da sucessão apos- tólica.44

Éinteressantenotarqueexatamenteessesdoispontosjátinhamaparecido como recomendações da “primeira fase” (cf. o RelatóriodeMalta,“OEvangelhoeaIgreja”,aprovadoem1971)dosdiálogosinternacionaisentreaIgrejaCatólicaRomanaeaFederaçãoLuteranaMundial,nosentidoderefletirsobreaadmissãomútuaàeucaristiaerecomendarparaasautoridadescatólicasoreconhecimentodoministérioluterano. Esses aspectos se concretizaram como a direção precípuado diálogo bilateral em sua segunda fase, dentro de uma dinâmicade consenso e de realizaçãode comunhão eclesial.45 Sob esse olharretrospectivo,épertinentelembrar,comoofezcorretamenteoteólogocatólicoJ.-M.R.Tillard,queaeclesiologiadecomunhãocom“igrejasirmãs”nãopode ser sustentada emdeclarações deboavontade e dedesejoporreconciliação,maselasóépossível“aliondeascomunhõeseclesiais podem realmente se reconhecermutuamente comoa IgrejacomoDeusaquer,comoa‘ecclesiacatholica’”.46Daíqueoestatutode“igrejairmã”adquire,pois,“oselodeautenticidade”apenasquandoascomunhões seconstituemde talmaneiraqueépossível confessarem comum“ainteireza”(die Fülle)daféapostólica,experimentarem 44 Cf.Convém ter emmentequeoministérioapostólico, exercidodemodoprimazpeloepiscopadoeenraizadonoministériopetrino,desempenhanadoutrinacatólico-romanaumpapeldefinitórioprecípuona(a)funçãodoministério(cristologicamentefundamentada,emtermosdeministérioprofético,sacerdotaledeserviço), (b)nasua estrutura e (c) nas suas formas, cf. Paul-WernerScheele,AmtundÄmter inkatolischerSicht,in:JörgBaur(Hrsg.), Das Amt im ökumenischen Kontext,p.41-49.Assim,oministérioapostóliconãoéumameraformadeministério,mas,decertomodo,“normapermanentedetodososministériosisolados”,cf.id. ibid.,p.41.Dequemodooepiscopadode fatoconstituia sucessãoapostólica, issonãosedeixadizerapenaspelaunidadedoministériopetrino,mastambémpelacolegialidadedoministérioepiscopal,cf. ibid.,p.46.

45 Cf. Harding Meyer, Konsens und Kirchengemeinschaft. Die zweite Phase desinternationalenDialogs1973-1984,in:HardingMeyer,Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie II. Der katholisch/lutherische Dialog,p.42-45.Cf.tambémHardingMeyer,Luthertum und Katholizismus im Gespräch. Ergebnisse und Stand der katholisch/lutherischen Dialoge in den USA und auf Weltebene, p.11-16;HansL.Martensen,WegeundHindernisse,in:GüntherGassmanundPederNørgaard-Højen,Einheit in der Kirche. Neue Entwicklungen und Perspektiven, p.53-57.

46 Cf.Jean-MarieR.Tillard,“KonziliareGemeinschaft”,“versöhnteVerschiedenheit”,Communio-Ekklesiologie und Schwesterkirchen, in: Harding Meyer (Hrsg.),Gemeinsamer Glaube und Strukturen der Gemeinschaft,p.139.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

108 PICH, R. H.

comum oministério apostólico em sua inteireza e, assim, as Igrejaspodemcelebrarem comumaeucaristia.47Cabe,pois,discriminar,como“mandamentoecumênico”,osprincípiosdaIgrejasegundoavontadede Deus – a sua catolicidade – para que a comunhão eclesial sejapossível,aindaque,emumníveldiferente, igrejasseparadaspossampermanecer na comunhão criada pelo batismo.48Como a celebraçãolegítima da eucaristia e a legitimidade doministério episcopal quepreside a celebração eucarística são princípios interdependentes,retorna-se,enfim,àdefiniçãodeministériocomoprincípiodecisivoparaacomunhãoeclesial.Abaixo(cf.sob4e5),osconceitosdeeucaristiae ministério serão tratados de modo correlativo. Essa consideraçãocorrelativapermitirá,porsuavez,aelaboraçãodeumposicionamentoconstrutivosobrearelaçãoentreIgrejauniversalelocal.

3 Elementos para uma eclesiologia de comunhão evangélica

AreflexãopertinentedaIgrejaEvangélicanaAlemanha(Evangelische Kirche in Deutschland – EKD)sobreaunidadedaIgrejacombasenoconceitodecomunhãoofereceumpareceracercadascondiçõesparaacomunhãodeIgrejasde diferentes confissõesnaacepçãoevangélica.49 Odocumento“Comunhãoeclesialsegundooentendimentoevangélico.UmvotoparaacomunhãoordenadadeIgrejasdediferentesconfissões”(Kirchengemeinschaft nach evangelischem Verständnis. Ein Votum zum geordneten Miteinander bekenntnisverschiedener Kirchen,2001)deveserpressuposto,aindahoje,pelodiálogobilateraleecumênico.Emboraasposiçõesdesseparecernãosejamidentificáveiscomoespecificamenteluteranas,osseuspressupostosnãosósãoprofundamentevinculadosaos escritos confessionais luteranos como emelemento nenhum sãodissonantescomosmesmos.Queessareflexãosejarepresentativaparaodebateentrecatólico-romanoseevangélico-luteranoscomoda parte da teologia luteranaé,pois,plenamenteconsequente.

1. No entendimento evangélico, Igreja só há quando o seufundamento éCristo (1Cor 3.11).Ela é a reunião de todos os fiéis, 47 Ibid.48 Ibid.,p.140.49 Cf. KIRCHENAMT DER EVANGELISCHEN KIRCHE IN DEUTSCHLAND,

Kirchengemeinschaft nach evangelischem Verständnis. Ein Votum zum geordneten Miteinander bekenntnisverschiedener Kirchen,p.5-15.

109Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

entreosquaisoevangelhoépregadodeformapuraeossacramentossãoministradossegundoomesmoevangelho(CAVII).Éissoque,deacordocomaCAV,50criaaféeacomunhãodefé,naqualCristoestápresentenaPalavraenosacramentoatravésdoEspírito.OevangelhoépoderdeDeus,noqualganhaatualidadeagraçaeaverdadedivina,quecriaafépeloEspírito,justificaopecadoreosantifica.PortalaçãolivredeDeus,oserhumano,nafé,estácertodagraçaedaverdadedoevangelho.EmcomunhãocomDeus,oserhumanoémembrodocorpodeCristoetemneleumacomunidade.ÉassimqueafénoDeustrinoimplicaafénaIgrejauna,santa,católicaeapostólica.51

2.Definida a natureza da Igreja, a sua forma só pode ser a deuma congregatio sanctorum,“congregaçãodossantos”(CAVII-VIII),abscônditaaomundo.Issonãosignificaqueessaformaéestritamenteinvisível,poisaproclamaçãodoevangelhoemPalavraesacramentonacomunidadereunidaéumaaçãoperceptível.Oquesequerdizeréque,seocorpodeCristocriadopelaPalavraesacramentoéobra de Deus,elesóéacessívelàfé.Apesardisso,acomunhãodeféprecisanomundodeumaordem externa,visívelatodosequearesponsabilizapelapregaçãodoevangelhoeministraçãodossacramentos.AdialéticaentreIgrejaabscônditaevisíveléumresultadodoprópriofatodequeaautopresentificaçãodoDeustrinonacomunhãodeféexigeumaformaexternavisívelquelheécorrespondente.52

3.Daíqueos sinais externos e visíveis da verdadeira Igrejasãoapuraproclamaçãodoevangelhoea retacelebraçãoevangélicadossacramentos.53Semeles(CAVII),nãopodehaverordemeclesiástica.Explica-seapartirdissoquese reconheçanaCAV“oministérioda

50 Cf.Confissão de AugsburgoArtigoV“Doofíciodapregação [Vom Predigtamt]”(Livro de Concórdia.SãoLeopoldo–PortoAlegre,41993,p.30):“Paraconseguirmosessafé,instituiuDeusoofíciodapregação,dando-nosoevangelhoeossacramentos,pelosquais,comopormeios,dáoEspíritoSanto,queoperaafé,ondeequandolheapraz,naquelesqueouvemoevangelho,oqualensinaquetemos,pelosméritosdeCristo,nãopelosnossos,umDeusgracioso,seocremos”.

51 Cf. KIRCHENAMT DER EVANGELISCHEN KIRCHE IN DEUTSCHLAND,Kirchengemeinschaft nach evangelischem Verständnis. Ein Votum zum geordneten Miteinander bekenntnisverschiedener Kirchen,p.5-6.

52 Ibid.,p.6-7.53 Sobreotemado“lugardaIgrejacristã”edos“sinaisexternos”dereconhecimentodamesmanateologialuterana,cf.oclássicoestudodeJoachimFischer,Oconceito“igreja”deLuterosegundoseusescritos“DosConcíliosedaIgreja”e“ContraHansWorst”,in:Estudos teológicos6(1966),p.165-173.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

110 PICH, R. H.

pregação”(das Predigtamt),instituídoporDeus,peloqual,pormeiodeumchamamento“ordenado”ou“regular”porpartedacomunidade,deveserrealizadaapurapregaçãodoevangelhoeaministraçãoadequadadossacramentos(CAXIV).Aconfiguraçãodesseministérioé,noentanto,desimesmamutável,àmedidaqueelapodeterdeseralteradasegundoointuitodeexecutarlegitimamenteoseuserviço,emumacomunidadehistórica.54

4.Ditoisso,épossívelverificarqueaIgrejauna,santa,apostólicaecatólicaexistenoespaçoeno tempo.Éassimqueelaexistecomocomunhão universal de todos os crentes: forçosamente na forma decomunidadesespecíficas.Igrejasparticulareselocais,mormenteaquelasvinculadas,emconstituiçãoeordem,aumaunidadeeclesialmaior(auma Einzelkircheou“Igrejaespecífica”constituída),estãoligadasumasàsoutrasdemodoespiritual,porquepertencemaocorpodeCristo,àmedidaqueportamossinaisdaigrejaverdadeira.55Éumapreocupaçãodasdenominaçõesbuscardarexpressãoevangélicaàunidadeespiritualquepossuem,oqueéomesmoquetestemunharexternamenteaomundoaunidadedocorpodeCristo,ouseja,praticarointercâmbioecumêniconosâmbitosteórico,práticoeinstitucional.Nãosetratadecriarumaunidade já sempredada,masde testemunhá-la e corresponder a ela.Quer-secomissoalcançaracomunhãoeclesialplena.56

5.Dadosessespressupostoseclesiológicos,acomunhãodeIgrejassignificaquecomunidadesindependentesedenominaçõesespecíficasmantêmumascomasoutrascomunhãonaPalavraenossacramentosereconhecem-se,apartirdessessinais,como“verdadeiraIgreja”.AsdenominaçõesouigrejasespecíficasconstituídasdeclarampublicamenteacomunhãonaqualestãograçasaofatodequepertencemaocorpodeCristo.Elasordenamemcomumessacomunhãoeapraticamdemodoamplo.CumpremumatarefafundamentaldaIgreja,segundoaPalavra,queéadeserviràunidadedocorpodeCristo.Éposiçãoevangélicaque,nacomunhãoeclesial,podemestarligadasIgrejasdemesmooudediferenteestatutoconfessional–porexemplo,protestante,católicoouortodoxo.Combasenisso,éumaconclusãoimportanteque,dadosossinaisdaverdadeiraIgreja,acomunhãoeclesialéelamesmaIgreja 54 Cf. KIRCHENAMT DER EVANGELISCHEN KIRCHE IN DEUTSCHLAND,

Kirchengemeinschaft nach evangelischem Verständnis. Ein Votum zum geordneten Miteinander bekenntnisverschiedener Kirchen,p.7.

55 Ibid.,p.7-8.56 Ibid.,p.8

111Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

comoascomunidadeseasdenominaçõesespecíficasindependentesqueparticipamdela,quepodem,emtermosdedireitoeclesiástico,diferiremaspectosdecompetênciadeaçãoedeautonomiaderecepção.57

Apartir disso, são três as características de uma comunhão deIgrejas: (a) as Igrejasnelaunidas afirmamumentendimento comumdoevangelhodajustificaçãoedossacramentos,(b)demodoqueelasreconhecemoCristoqueseapresentanaPalavraenosacramentocomoofundamentoúnicodacomunhão(c)edemodoquese reconhecemmutuamentee realizamdemodopráticoa suacomunhãonaPalavrae no sacramento. Sem dúvida, esses passos só ocorrem quando asIgrejas trabalhamnonível doutrinal o seu (mútuo) entendimentodoevangelhoedossacramentos.58Nessesentido,aordenaçãodacomunhãoaparececomoconsequênciaemeta.Emmuitoscasos,issoimplicaumreconhecimentomútuodaordenaçãoeapossibilidadedeintercelebração.Comunhãoeclesialvemaser,portanto,conformedeliberouomodelodaConcórdiadeLeuenberg,comunhãodepúlpitoedeceia.Elavemasemostrar,ademais,comocomunhãoemtestemunhoeserviço,bemcomono aprofundamento teológico, pormeiodediálogos acerca deconteúdosdoutrinais.59

6.Muito embora o esclarecimento e a realizaçãoda comunhãoeclesialseja,navisãoevangélica,primeiramente,oobjetivodapráticaecumênica,comotestemunhodaIgrejauna,santa,católicaeapostólica,60 háuminteresseespecialemapontarparaorientaçõesdediálogocom católico-romanos.NoquetangeaojuízoespecíficodacomunhãocomaIgrejaCatólicaRomana,admite-sequeanoçãocatólicadeunidadevisíveleplenadasigrejasnãoécompatívelcomoconceitodecomunhãodeigrejasdesenvolvidonocontextoevangélico(-luterano).Maisumavez,umaformahistóricadeministérioseassociaàcompreensãocatólicadecomunhão,asaber,aformadoministériodePedro,oprimadodoPapaeumcertoentendimentodasucessãoapostólica.Nisso,ademais,residempremissasquedesabonamaadmissãodemulheresaoministérioordenadoeavaliamdemodoparticularolugardodireitoeclesiásticono seio da Igreja. Por outro lado, tanto evangélico-luteranos quantocatólico-romanos fazemdepender, é verdade, a unidade do corpode

57 Ibid.,p.9.58 Ibid.59 Ibid.,p.9-11.60 Ibidem,p.15.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

112 PICH, R. H.

CristoeacomunhãodasIgrejasemumentendimentodofundamentodafé.Assim,pode-seacrescentar,arevelaçãodeDeusemCristo,pormeio de quemomundopode reconciliar-se comDeus e de quemacongregaçãodosfiéisrecebeoseuencargo,asuamissãoeasuarazãodeexistir.Nessesentido,parecenecessárioesclarecerdequemaneiraoentendimentodecatólico-romanoseevangélico-luteranosacercadofundamento da fé e da autopresentificaçãodoDeus trino através dotestemunhodaIgrejaganhaexpressão.61

7.Com respeito à comunhão coma IgrejaCatólicaRomana, oconsensofundamentalsobreadoutrinadagraçaedajustificaçãopelafééumpassoimportante,62masdesinãosignificacomunhãoeclesial.Com efeito, fundamental para que essa ocorra é um entendimentomútuosobreadoutrinadaPalavradeDeus,dossacramentos,daIgrejaedoministério.Nessescasos,deve-semediroqueéexpressãodeumadiversidadelegítimaeoqueéexpressãodeumadiferençaquesepara.Háque senotar, emambosos lados,umacompreensãodiferentedeunidadedaIgreja.Adivergênciaresidenavisãoevangélicadacomunhãoeclesialcomoobjetivo da ecumeneeavisãocatólico-romanadaunidadedaIgrejadeCristocomocomunhãocomesoboBispodeRoma.Nessesentido,evangélicostêmfeitodistinçãoentrecolocações“romanas”eaquelasquesãopropriamente“católicas”emumsentidobíblicoenostermosdaconfissãodefénatradiçãodaIgrejaAntiga.63

Feitas essas considerações, passo a elaborar duas direções dereflexão, relacionadas respectivamente a dois impedimentos para acomunhãoeclesialeexistentesentreevangélico-luteranosecatólico-romanos,ambospertinentesàconcepçãodeministério.Aideiadefundoéadeque, sehácomunhãode Igrejas somente segundoaadmissãode visões específicas sobre a natureza do ministério, e evangélico-luteranos e católico-romanos se diferenciam nisso, sob que base 61 Ibid.,p.13.62 Cf.DeclaraçãoConjunta sobre aDoutrinada Justificação–DeclaraçãoConjuntaCatólicaRomanaeFederaçãoLuteranaMundial,Augsburgo,31deoutubrode1999,SãoLeopoldo–Brasília–SãoPaulo:EditoraSinodal–CONIC–EdiçõesPaulinas,1999,31pp.

63 Cf. KIRCHENAMT DER EVANGELISCHEN KIRCHE IN DEUTSCHLAND,Kundgebungder9.SynodederEvangelischenKirche inDeutschlandauf ihrer5.Tagung zumSchwerpunktthema “Eins inChristus –Kirchenunterwegs zumehrGemeinschaft”, in: KIRCHENAMT DER EVANGELISCHEN KIRCHE INDEUTSCHLAND,op. cit.,p.20.

113Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

podemmudardeposiçãoou,alternativamente,aproximar-seteóricaoudogmaticamente?

4 Duasdireçõesdereflexãoparadirimirdiscordâncias quanto ao ministério e à comunhão

Primeiramente,foravistoqueacomunhãodasIgrejasparticularesnaIgrejauniversalestáenraizadanaeucaristia,umavezqueessaremeteaofatodequeapresençaeucarísticadoSenhoréumarealidadefundanteda Igreja una.Fora dito que a celebração eucarística não torna todooutroprincípiodeunidadenãoessencial,masasuapossibilidadecomoprincípioestánadependênciadaunidadedocorpomísticoqueseligaà unidadedo episcopado.Sobre issoparece ser necessário comentarcomoseconstitui,afinal,arelaçãoteológicaadequadaentreeucaristiaeministério,detalformaqueumconsensopossaserobtido.Noquesegue,tambémporqueexpressapreocupaçãoecumênica,baseio-menaexegesedeJürgenRoloff.

4.1 Eucaristia, ministério e eclesiologia de comunhãoJürgenRolofftrata,apartirdeexegesedoNovoTestamento,da

relaçãoentreeucaristiaeministérioecrêque,emtornodela,acha-seumdebatefundamentalentrecatólicoseevangélicossobreacomunhão.Católicos sempre afirmaram que a unidade da Igreja é comunhãoeucarística.TambémnavisãoevangélicaaceiadoSenhorea Igrejapertencemumaàoutra.

Na ecumene, tem-se a problemática da legitimação eclesio- logicamente fundada da realização eucarística. Católicos alegamque a comunhão eucarística comevangélicos não é possível porqueaconcepçãoevangélicanão temcomo traçoconstitutivoaconduçãodamesmapor umministério sacerdotal legítimo.64A legitimaçãodaeucaristiasópodeserdeduzidaatravésdaordenaçãoredutívelàsucessãoapostólica.Há, pois, umdefectus ordinis para a condução válida, a

64 Comoéconhecido,naDeclaraçãoDominus Jesus(2000),pelaCongregaçãoparaaDoutrinadaFé,aafirmaçãodequeigrejasreformadasnãosãoigrejasemsentidoestritoéredutívelàausênciadeordemepiscopalesucessãoapostólicaconstitutivas;sobreoefeitonegativodaDeclaraçãonoâmbitoecumênicoesobretudonosdiálogosbilateraisentreevangélico-luteranosecatólico-romanos,cf.WolfhartPannenberg,ÖkumenischeAufgabenimVerhältniszurrömisch-katholischenKirche,in:Kerygma und Dogma50(2004),p.260-270.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

114 PICH, R. H.

saber,dapartedo sacramentodaordenação,noâmbitoevangélico.65 Nissoestáadificuldadecatólicadereconhecercomunhõescristãscomo“igrejas”.Nãopodemsê-lo,umavezquelhesfaltaoministériocorreto,pressupostoparaumatoeucarísticorelevante.66

Assim,buscandoumcritériodelegitimaçãonoNovoTestamentoenoCristianismoprimitivo,noquedizrespeitoaopapeldosministros67 napráticaeucarísticadecomunidadescristãsprimitivas,RoloffiniciaasuaexposiçãocomaPrimeiraCartaaosCoríntios.Ali,emnenhummomentoPaulotrataexplicitamentedequemdevepresidiraeucaristia,eissoemumacomunidadeondehaviaconflitosdeliderança.Acercadobatismo,foraditoaoscoríntiosclaramentequeissoeratarefadetodaacomunidaderespectiva.Em1Cor1.10-17,Pauloclaramenteindicaquea sua missão ou funçãocomoapóstoloéaproclamaçãodoevangelhoeafundaçãodecomunidades.Casoseadmitaumparalelismoentreapráticadobatismoeapráticadaceia,apartirde1Cor10.1-13,poder-se-iadizersobreaeucaristiaqueacomunidadetodaéresponsávelporela.Em1Cor10.15-17,Pauloparecefalardacomunidadeinteira,nocultoeucarístico,comoosujeitoqueoraequeage.Assim,pois,aeucaristiaé paraPauloprimariamenteumaaçãode toda a comunidade; não é,porém,emsentidoqualquer,açãoporiniciativaedecisãopróprias,masaçãoàqualCristoautorizou.

Como acontecia concretamente a eucaristia? Havia muitascomunidades que se reuniam em casas.Osmembros que possuíamcasaofereciamoespaçoparareuniãocúltica,assumindoastarefasdeanfitrião (1Cor 16.15-16).Encontram-se aqui elementos primordiaisdaliderançanaeucaristia.Aquelequecediaasuacasaassumiaatarefade conduzir o cerimonial eucarístico.Emalguns aspectos, talvez osmembrosdacomunidadeparticipassememconjuntodessacondução.

65 A títulodeprovocação, ressalte-sequeWolfhartPannenberg,ZumVerhältnisvonBischofsamtundpFarramtauslutherischerSicht,in:Kerygma und Dogma55(2009),p.344,afirmouque:“UmentendimentoecumênicosobreaconstituiçãoepiscopaldaIgrejadeveriaserpossívelse,nisso,aunidadeoriginaldeepiscopadoepresbiterato,nostermosdaexegesedasCartasPastoraispor[São]Jerônimo,fosseconsiderada”.

66 Cf. JürgenRoloff,Herrenmahl undAmt imNeuenTestament, in:Kerygma und Dogma47(2001),p.68-70.

67 As palavras “ministro” (Amtsträger) e “ministério” (Amt) são utilizadas aqui naconsciênciadequenãotêmcorrespondentesdiretosnoNovoTestamento;ésuficienteafirmar que o “ministro” é essencialmente o portador de umcarisma, concedidoe reconhecido àmedidade sua funçãoou seuministério de serviço à Igreja.Cf.tambémLotharC.Hoch,Ministériodosleigos:genealogiadeumatrofiamento,in:Estudos teológicos30(1990):3,p.258-261.

115Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

Comotempo,esselíderdacasadeveterassumidooutrastarefaseoutrosserviços,comoapreparaçãodoágape,acoletadebensparaospobresademaistarefascoordenatórias.Aqui,pode-sepelaprimeiravezfalardeumministériode“conduçãodacomunidade”(1Cor16.15-18).68 A últimacartaescritaporPaulo,aosFilipenses,mostraqueseusparceirosde diálogo e encargo são epíscopos e diáconosde comunidades (Fp 1.1-2).Fala-sedeepíscoposnoplural,semquesepossapensaremum“ministério”dosmesmos.Nacomunidade,haviaumcírculodepessoascomresponsabilidadesdeorganizaçãodocultoeucarístico,nasdiferentescomunidadesdecasa.Éperceptívelqueosdiáconostêmumaligaçãodiretacomaeucaristia.AsuatarefaéclaramenterelacionadaaoserviçodemesanaestruturadeumaCeiaeucarística,preservando-se,nessecaso,ametáforadeJesuscomoumescravodemesa(Mt10.45).OserviçodelesconsistianapreparaçãodaCeia,coletadedádivasedistribuiçãoaospobres.Noperíodopós-paulino,comoaofimdoséculoItestemunhao Didaquê,nota-seumdesenvolvimentodedivisãodetarefasefunçõesque lembra o quadro traçável na Carta aos Filipenses, acentuando-se, contudo, a pergunta pela preservação da unidade da igreja.69

Em se tratando do significado eclesiológico da eucaristia noCristianismo primitivo, mais uma vez é decisivo reportar-se aoentendimentodePaulo.Eleoapresentaem1Cor10.15-17,emqueaCeiaéoacontecimentopeloqualaIgrejaganhaforma:quandopessoas(diferentes)partemopão,tornam-sepelaparticipaçãonessepãoumsócorpo,comooCristounoquesedeupormuitos.Oconceitocentral,aqui,éodekoinonia,quedesignaumacomunhãoquenãoresultadosinteressesdosparticipantesnemdasuavontade,masdaparticipaçãocomumemumagrandezasuperioratodos,opróprioCristo.Todossetornamumorganismovivo,quenatotalidadedassuasfunçõesvitaisédeterminadopelaautodoaçãoserviçaldeCristo.Esseorganismosurge“namesadoSenhor”,“naceiaeucarística”.A“comunhãodemesaéaIgreja”.70Oqueissosignificaédesenvolvidoem1Cor12.14-30,ondeoorganismovivo–“corpodeCristo”–écompostodemuitosmembros,tendouma sóCabeça (cf.Ef 4.16): é legítimo, pois, afirmarque, naconcepçãoeclesiológicadePaulo, toda“reuniãoeucarística local”se relacionacomo“corpodeCristo”.Asconsequênciasdissopodemser 68 Ibid.,p.71-74.69 Ibid.,p.74-77.70 Ibid.,p.78-81.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

116 PICH, R. H.

visualizadas – umpasso atrás, na ordem textual – quandoPaulo fazuma crítica às práticas eucarísticas dos cristãos em 1Cor 11.17-33. A reunião local dos fiéis é um aspecto central dessa eclesiologia.Não é um acontecimento subordinado a uma Igreja universal,mas,“como reuniãonamesadoSenhor”,naqualocorrem tantokoinonia quanto soma Christou, é a aparição concreta da “dimensão de vidaescatológica”.JürgenRoloff,apartirdessainterpretaçãodacomunhãodemesaoriginal,afirmaquePauloé“fundadordoprincípiodeestruturadecomunidadeslocais”.71

Apartirdaí,JürgenRoloffinvestigaosignificadoeclesiológicodeministérioseserviçosqueconduzemacomunidadenapráticaeucarísticaemparticular, verificandoo temanos escritos deuteropaulinos e nosAtosdosApóstolos.Podemseresquematizadoscincoaspectosqueseverificamna teologia pós-paulina e que são decisivos “para o perfileclesiológicodosministérioseserviços”.

(I) Primeiramente, tem-se “a orientação dos ministérios noapostolado”.Trata-se, apesar de diferenças, de um entendimento deapostoladoquelembraaqueledePaulo,emqueosapóstolos–comoopróprioPaulo–sãosujeitosplenosdoevangelho,erguemaigrejanomundoapartirdocomissionamentodeCristo,ensinandoasuadoutrina.HáumavisãobastantepessoaldosmesmoscomotendoexperimentadocomunhãoimediatacomCristo,constituindo-seemrepresentantesdoevangelhoàscomunidades(1Tm1.12-17;2Tm1.11-14;At20.7-38);emespecialsegundoanarrativadosAtosdosApóstolos,aeles,comolíderescomunitários, liga-seoensino,ocarismademilagres,a liderançanaconduçãodaeucaristia.Nãosefalaemsucessãoapostólicahistórica,masemsucessãonoevangelho,tambémemdoutrinaeprocedimento.72

(II)Emsegundo lugar,háuma forte ligaçãodoministrocomametáfora eclesiológica da “casa” oudo “edifício”, trazida porPauloem 1Cor3.5-17,emqueaIgrejaconsistenosmembrosdacomunidadequeerguemsobreumúnicoemesmofundamentoumaIgrejaquenãoestápronta,quedevecrescer,demaneiraque,pelasfunçõesassumidasporcadaum,aconteceaedificação.NasCartasPastorais,ametáforada“casa”éotópicocentraldoentendimentodaIgreja(cf.1Tm3.15).Apartirdela,entende-seoserviçodoepíscopoqueconduzacomunidade:eletemresponsabilidadeportodaafamíliaearepresentaexternamente.

71 Ibid.,p.81-82.72 Ibid.,p.82-84.

117Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

(III) Em terceiro lugar, cabe inserir “a dimensão da história”.Experimenta-se então a distância com relação aos primórdios doanúnciodoevangelhoeàgeraçãodasprimeirastestemunhas,ganhando-se tambémconsciência demodificações devidas às novas situações.Ametáfora da casa é explorada emum sentido vertical, emque osapóstoloseosprofetassãoofundamentodaIgreja,elesdãoamedidaeaproporçãoparaaconstrução.AIgrejafazcrescervisíveleconcretamenteaCristo,apedraangular.Isso(cf.Ef4.11-16)ocorreàmedidaqueopróprioCristodáàIgrejaevangelistas,pastores,mestres,queemuniãoaosapóstoloseaosprofetascontinuamconstruindoocorpodeCristo.AcasadeDeusestá sempreemdesenvolvimento,queocorre comaliderançadosministros,osquaispreservama ligaçãocoma tradiçãodosapóstoloseprofetas(cf.2Tm2.8-13;3.10-17).73

(IV)Emquartolugar,tem-seoprincípioda“liderançaatravésdoensino”.Aliderançanãoselimitaaaspectosadministrativosecúlticos.Elaocorreapartirdoevangelho,dadoà Igrejana formada tradiçãoapostólica.Oepíscopo,portanto,devesercapazdeguiaracomunidadena“sãdoutrina”(Tt 1.9).

(V)Emquintolugar,tem-se“aconcentraçãodoaspectocarismáticonosministros”.Adoutrinapaulinadoscarismas(Ef4.7-16)épensadanosentidodequeCristopresenteouaIgreja,como“donsdagraça”,osdiversosministros.AsCartasPastoraismencionamapenasocarismadoEspírito,dadoaoministronaordenaçãoatravésdaimposiçãodemãos,capacitando-oàsuarespectivafunção(2Tm 1.6).

Emrelaçãoàliderançaeaosdonsdoministério,nãoaparecenasCartasPastoraisnenhumaaplicaçãodiretaàeucaristia.Noentanto,hácomoperceberimplicaçõesimportantesacercadolugardaeucaristianaIgrejaedarelaçãodoministériocomamesma,asquaispoderiamservirdebaseparaumconsensoacercadopapeldaeucaristianacomunhãodeIgrejas:

ACeia é umcomponente central do evangelho, doqual são1. sujeitos os apóstolos como testemunhas do Ressurreto; pormeiodesuapregaçãoemissão,veioasurgiraIgreja.Pertenceà“herança”apostólicaqueaCeiasejaministrada,talqueelasejaefetuadacomoaqueleeventopeloqualaIgrejacomocorpodeCristo“ganhaformaeéconstruída”(1Cor 10.17).

73 Ibid.,p.82-85.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

118 PICH, R. H.

ACeiatemoseulugarpróprio“nareuniãolocal”dosfiéis.Ela2. pertenceaocampoderesponsabilidade“dosujeitodoministériodeliderançadacomunidadelocal”.ParaapresidênciadaCeia,a tradiçãoda Igreja primitiva não conheceprescriçõesfixas,talquearesponsabilidadedolíderpodesercumpridadeoutromodo.74

Em seu caráter anamnético, a Ceia pertence ao âmbito da3.doutrina.Ao celebrar aCeia, a Igreja proclama “amorte doSenhor até que Ele venha” (1Cor 11.26).Assim, naCeia aliderançaserealiza“deformaconcentrada”,umavezqueéemespecialna festa eucarísticaqueo líder comunitárioobservao seu encargo de “preservar a tradição doutrinal apostó- lica”.ACeia doSenhor é aquela “naqual semanifesta a unidade4. daIgreja”.NatradiçãodePaulo,issosignificaemespecialaunidadeda comunidade local reunida.Aunidade eucarísticanãopode ser separadadaunidade tal comoéefetuada“peloentendimentocomunitáriodapalavradeproclamação”e“peloagir cristão relacionado à comunidade” (1Cor 11.27-29). A missãodoministro, demanter a unidade comunitária, não édefinidasóapartirdasuafunçãonafestaeucarística,maselaincluitambém“oensinoeotestemunhodevida”.75

Através daordenação, comoaparecena tradiçãopós-paulina, aIgrejasecertificadequeoSenhorelevadoinstituiaelaaquelesserviçosquesãonecessáriosparaasuamanutenção.Porela,aomesmotempo,osministros se tornamcertos “do seu encargopermanentediantedaIgreja”etambém“doacompanhamentodoEspíritoSanto”(2Tm 1.6s). Nessesentido,aordenaçãotorna-seumpressupostoparaqueaCeiadoSenhorsejacelebrada“segundoarequisiçãodoSenhornaIgreja”.Acontrovérsiaentreevangélico-luteranosecatólico-romanosdizrespeitoaosentidoemqueaordenação“éumapressuposiçãoàrealizaçãoválida”dafestaeucarística.Quantoaesseponto,assimcrêJürgenRoloff,nãohánenhumainformaçãodiretanoNovoTestamento.Noentendimentoluteranodaordenação,amissãodeproclamaçãodaPalavraseencontraemprimeiroplano.Apartirdaí,elaseinclinaapensaraCeiadoSenhor 74 Ibid.,p.86-87.75 Ibid.,p.86-87.

119Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

como “um caso especial de proclamação da Palavra” – em que as palavrasdeintroduçãodaCeia,recitadaspeloministroordenado,são tidascomopalavrasdoCristopresenteequefala.Acentua-seafunção,viaordenação,“doministrocomoportadordaPalavradeCristoquefala à comunidade”. Como o estudo acima mostrou, trata-se, pelavia da ordenação, de uma assimilação de encargos da parte de um“ministro”,aqual,detodomodo,nãoperverteavisãodequeafunçãooriginaldeumlíderordenadordacelebraçãodaCeiaresidia,aofinal,emprestarauxílioaumaaçãocujosujeitoeraacomunidadedosfiéiscriadanaprópriacomunhãocomCristo.Independentementedaênfase(histórica) católica no encargo doministro da eucaristia segundo osacramentodaordenação,quelheoutorgapoderdeconsagração,seriapossível haver consenso em relação aos pontos de ênfase funcionaloriginária,porcomissãodopróprioSenhordaIgreja,acercadopapeldoministronapregação,noensino,noserviçoenaministraçãodosacra- mento?76

4.2 Ministério petrino e eclesiologia de comunhãoSobreumsegundoaspectodedissensonodiálogoentreevangélico-

luteranos e católico-romanos, enfim,o dequeoministério petrino éfundamentodaunidadedoepiscopado,nasucessãodosapóstolos,edaIgrejauniversal,logo,éfundamentodacomunhãodeigrejaspossível,tenho uma reflexãomais breve a fazer. Nisso, quero basear-me emapontamentosdeHardingMeyersobreoArtigoXXVIII(“Dopoderdosbispos”)daCAeoArtigoXIV(“Daordemeclesiástica”)daApologia da Confissão, concernentes ao ministério episcopal.77 Da reflexãofeita, apreendem-se cincopontos centrais: (1)Primeiramente, há umministérioeclesiásticointroduzidoporDeus,portanto,de iure divino. (2)Emsegundolugar,aesseministériopertencemfunções,sobretudoaproclamaçãodoevangelhoeaministraçãodossacramentos,etambémfunçãoquehojesechamariam“episcopais”,comoaresponsabilidadeemquestõesdoutrinaiseafunçãodeordenaçãointernaàprópriaIgreja.78 76 Ibid.,p.87-88.77 Cf.HardingMeyer,BemerkungenzumArtikel28derConfessioAugustanaundzumArtikel14derApologiederConfessioAugustanaüberdasBischofsamt,in:HardingMeyer,Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie II,p.294-297.

78 Sobreessesdoispontos,cf.GottfriedBrakemeier,Tesesreferentesàcompreensãodeministério na Igreja Evangélica deConfissão Luterana (IECLB), in:Estudos teológicos35(1995):2,p.118-120.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

120 PICH, R. H.

(3)Em terceiro lugar,o exercícioconcretodesseúltimoconjuntodefunções,pelasucessãoapostólicaehistóricado ministério episcopal,é algobomeútildesermantido.(4)Emquartolugar,quandoissonãoé possível,emfunçãodatarefadeproclamaçãodoevangelho,oser-igrejadeumaformahistóricadaIgrejacristãnãoéessencialmenteafetado,àmedidaquefunçõesepiscopaiscentraissãocumpridasdeoutraforma.(5)Porúltimo,dadascertaspressuposições,arecolocaçãodasigrejasreformadasnaconstituiçãoeclesiásticaepiscopalépossívelemfunçãodaunidade,continuidadeeordemdaIgreja.79

Emalgunsdessesaspectos,evangélico-luteranosecatólico-romanosentram ou podem entrar em entendimento de forma relativamentesimples.80Problemáticoéodebatesobreamedidaemqueanecessidadedeumministérioepiscopalexigeaformaque,historicamente,tornou-se aquela do episcopado em sucessãoministerial apostólica, e esse mesmo como essência da Igreja.Luteranoscertamenteiriamnegarumaidentidadeestritaentre“bispado”e“episcopado”–asseverariam,antes,aligaçãoentrepresbiteriato e episcopado–,bemcomoanecessidadedeumministérioepiscopalna formaqueeleassumiuhistoricamentena tradição católico-romana.81 Aos católicos-romanos se poderia,pois, fazer o seguinte questionamento: é necessária a identificaçãode“bispado”com“episcopado”como“conteúdoe forma”daIgreja,respectivamente? Ou seria possível pensar em funções episcopaiscomoadotadasde iure divinoenecessáriasàIgreja,emdiferençaaoministério episcopal ou episcopado comouma formahistórica assu- mida?82

Senenhumadessassugestõesparecesseadmissível,aindaassimtalvezsepudesseconceberumaformadeunidadedoepiscopadoquetivessevalidadeparaambososladosdodebate.Afinal,nãoseriapossívelumarecolocaçãodasIgrejasreformadasnoepiscopadohistórico,emque,

79 Cf.HardingMeyer,BemerkungenzumArtikel28derConfessioAugustanaundzumArtikel14derApologiederConfessioAugustanaüberdasBischofsamt,in:HardingMeyer,op. cit.,p.294-295.

80 Cf.HardingMeyer,Continuidade apostólica –ministério eclesiástico – sucessãoapostólica. Problemas e possibilidade de entendimento ecumênico, in: HardingMeyer,Diversidade reconciliada – O projeto ecumênico,p.170-175.

81 Id. ibid.,p.175-182.82 Cf.HardingMeyer,BemerkungenzumArtikel28derConfessioAugustanaundzumArtikel14derApologiederConfessioAugustanaüberdasBischofsamt,in:HardingMeyer,op. cit.,p.295-296.

121Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

dopontodevistareformado,83 a identificaçãodebispadoeepiscopadoeanecessidadeeclesialsubstancialdoministérioepiscopalhistóriconão fosse afirmada,eemque,nãoobstanteisso,dopontodevistacatólico-romano,essaconcepçãosubstancialcontinuasseaservigente–semserexigidoomesmo,portanto,datradição“luterana”?

Isso significaria, segundo Harding Meyer, uma comunhão no ministérioepiscopalhistórico,apesardeumadiferençanoentendimentodesseministério. Isso não precisa ser entendido somente comoumaexperiênciadepensamento,mascomopropostaconcreta.Afinal,dentrodeumacomunhãoexistemepodemperseverar,tambémemrelaçãoaitens(ouaspectosde forma)consideradoscentrais,diferençasdeinterpretação,quenãodeixampôremdúvidaacomunhão,massãoantesumfenômenoaesperar.Ora,nãohaveriamesmoumaconcordânciafundamentalsobreo conteúdodeumministérioepiscopal,asaber,asua instituiçãoporDeuseasfunçõesevangélicasessenciaisaqueeledizrespeito?84Emumoutroesquemadereflexão,poder-se-ianotarsemelhantementecomoumaconcordânciafundamentalpoderiaserprovocada.Emseadmitindocomoparâmetrosdecontinuidadeetransmissãodotestemunhoapostólicoatríade“cânoneescriturístico”,regula fidei(ouoCredoApostólico,e 83 Umexemplodematerialaserdiscutido,emoutromomento,sobreanaturezadoministério eclesiástico e o temado episcopado como conteúdo e forma é aqueleproduzidoapartirdosartigosdeUlrichH.J.Körtner,KirchenleitungundEpiskopat,eUlrichWilckens,KirchlichesAmtundgemeinsamesPriestertumallerGetauften,comcontribuiçõesnaformadecomentáriosdeGuntherWenz,WalterDietz,ChristianGrethlein,Wolf-DieterHauschild,UlrichKühneGehrhardMüller,in:Kerygma und Dogma52(2006):1,p.1-104.

84 Ibid.,p.296-297.Aproposta,semdúvida,vaiaoencontrodoprojetode“unidadena diversidade reconciliada”, de autoria do próprioHardingMeyer, que admitea identidade confessional diversa e defende que essa é compatível com umaunidadefundamentalemdoutrinaepráticaeclesiásticas–emqueasuperaçãodeelementoscausadoresdedivisão,odiálogo,acorreçãoeaaprendizagemmútuaemesforçosconcretoseestruturaisaparecemcomoelementosfomentadoresdecisivosda comunhão eclesial e ecumênica.A “unidade na diversidade reconciliada” é,segundoGottfriedBrakemeier, uma “perspectiva”, uma “ideia orientadora” paraoecumenismo,voltada tantopara temasnovoscomopara temasclássicosdasuaagenda; cf.GottfriedBrakemeier,Apresentação, in:HardingMeyer,Diversidade reconciliada – O projeto ecumênico,p.7.Cf.sobretudoHardingMeyer,“Unidadenadiversidadereconciliada”.Panodefundoesentidodeumafórmulaecumênica,in:HardingMeyer,Diversidade reconciliada – O projeto ecumênico,p.9-24.Umareflexão atualizada sobre a essência doministério episcopal na teologia católico-romanapodeserlidain:GeraldoLuizBorgesHackmann,A amada Igreja de Jesus Cristo. Manual de eclesiologia como comunhão orgânica,p.269-273.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

122 PICH, R. H.

emespecialosconteúdosdaconfissãotrinitáriaecristológicadaIgrejaAntiga)e“ministérioepiscopal”,eemseadmitindoqueosdoisprimeiroscritériosgarantidoresdaapostolicidadedafésãosuperioresaoterceiro,85 havendo,pois,“dependêncianormativa”doministérioepiscopal–comodequalqueroutroemtermosdeforma–paracomosoutrosdois,86nãoérazoáveldizerqueoministérioepiscopalpodepossuirdiferentesformasesignificadoerelevânciadeformasdeexecução?Finalmente,devendoa forma doministério episcopal ser “fundamentalmente passível deverificação” com respeito à sua vinculação com os dois primeirosaspectosnormativos,quesãoasuaorientaçãoeasuamedidaconstante,a Igreja cristã quemutuamente se reconhece em fonte de revelaçãoe doutrina de confissão não pode, guardadas as suas especificidadesgeográficasehistóricas,mutuamentereconhecer-senasdistintasformasdeministério–tambémoepiscopal?87

85 Há um sentido importante em que essa dependência, no sentido correspondenteemque se vinculam, por exemplo,CAV eVII comCA IV (“Da justificação”),deveria evidenciar substancial apreço pela concordância acerca da doutrina dajustificaçãopela fé.Cf. JoachimRingleben,Rechtfertigung–Glaube–Kirche–KirchengemeinschaftnachevangelischemVerständnis,in:Kerygma und Dogma 47 (2001),p.227-251.

86 Issoporcertoéplenamentecoerentecomadefiniçãodo“ministérioúnico”–aqui,particularmente voltado à reflexão sobre o sentido do ministério especial (comchamadoexteriorpróprio),umaordemdeCristoaosseusfiéis–comofunçãode,emsuaexterioridade,serviràpalavraeaossacramentos(aunicidadeéasua“definiçãoformal”), sendoo seu serviço (“definição essencial” doministério) o “serviçodaIgrejaaumaexterioridadesalvífica”.Justamenteassim,noexercíciodapurapregaçãodoevangelhoeda retaministraçãodossacramentos,nota-sequeoministério,nateologialuterana,édefinidofuncionalmenteou,nostermosditos,cristologicamente–istoé,emfunçãodeCristoedesuaobragraciosaeredentoranomundo,sendooministro,pois, “umCristoparaosoutros”.Cf.obeloestudodeLuísHenriqueDreher,Algumas ideiassobre teologiadoministério.Especificidades luteranasnaconvergênciaecumênicacomaIgrejaCatólica-Romana,In:VVAA.Os ministérios – Seminário Bilateral Misto Católico Romano-Evangélico Luterano, p. 37-77.

87 Cf.HardingMeyer,Continuidade apostólica –ministério eclesiástico – sucessãoapostólica. Problemas e possibilidade de entendimento ecumênico, in: HardingMeyer,op. cit., 179-181, p. 182ss.Ameu juízo, há apontamentos nessa direção,de convergência e de dificuldades, naDeclaraçãoFinal,Ministério eMinistériosEclesiais, Seminário Bilateral Católico-Romano/Evangélico-Luterano 07-08 desetembrode2000,CasaMatrizdeDiaconisas–SãoLeopoldo-RS,in:VVAA,Os ministérios – Seminário Bilateral Misto Católico Romano-Evangélico Luterano,p. 74-76. Sobre omesmo tema, algumas sugestões afins de encaminhamento dediálogo foram recentemente formuladas, do lado católico-romano, porChristophBöttigheimer, Amtsfrage: Angelpunkt evangelisch-katholischer Ökumene, in:Kerygma und Dogma51(2005),p.168-171.

123Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

Conclusão

Para finalizar, não fiz nenhuma referência, no acima exposto,sobrea impressãodadanoDocumentodaCongregaçãoDoutrinaldeque o desenvolvimento do tema “comunhão” enfraquece a unidadeda Igreja nos níveis visível e institucional, ameaçando entender aunidadeeauniversalidadedaIgrejaapenascomoasomadasIgrejasparticulares.Simplesmente,creioqueissonãopodee,pois,nãocorrenenhum riscode acontecernomomento emque aunidadeda Igrejae a suauniversalidade sãovisivelmentemantidas–e primariamente mantidas, em sentido ontológico–pelaunidadedoSenhorquesefazpresentenaCeiaenaproclamaçãodoevangelho,sendoessesaspectosdeconstituiçãodoser-igrejajustamentereconhecidosmutuamenteporIgrejasespecíficasemcomunhão.AunidadenaPalavradoevangelhoenacelebraçãoeucarísticanãoécriada,porqueéadoaçãogratuitaeplenadoúnicoSenhor.Emseusaspectosconcretosevisíveis,essaunidadepodeser reconhecidaemcomunhão:napráticaedoutrinaassumidaspelasIgrejas.

Demomento, não tenho outras sugestões a oferecer em favordoconsenso.Comosdoiscasosacima,procureimostrarqueexistemalternativas para que se chegue a um consenso sobre a eclesiologiadecomunhãoacercade itensquea temimpedido,asaber,acercadeitens voltados à relação entre (I) unidade eucarística eministério e (II)comunhãoeclesialeministérioepiscopal.Aesperadereaçõeséoperigodesejadoporquementraemdiálogo.

Referências

ANTONIAZZI,Alberto.Teologiadoepiscopado.Umpontodevistacatólico.In:VVAA.Os ministérios – Seminário BilateralMisto Católico Romano-EvangélicoLuterano.07-08desetembrode2000.CasaMatrizdeDiaconisas–SãoLeopoldo/RS.PortoAlegre:Edipucrs,2002.p.15-35.BAUR,Jörg.DaskirchlicheAmtimProtestantismus.SkizzenundReflexionen.In:BAUR,Jörg(Hrsg.).Das Amt im ökumenischen Kontext. Eine Studienarbeit der Ökumenischen Ausschusses der Vereinigten Evangelisch-Lutherischen Kirche Deutschlands.Stuttgart:CalwerVerlag,1980.p.103-138.BIMERLÉ,André. Die Leuenberger Konkordie: Einheit ohne Strukturen?In: MEYER, Harding (Hrsg.). Gemeinsamer Glaube und Strukturen der Gemeinschaft.Frankfurta.M.:VerlagOttoLembeck,1991.p.11-27.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

124 PICH, R. H.

BIZON, José; DARIVA, Noemi; DRUBI, Rodrigo (Orgs.). Ecumenismo. 40 Anos do Decreto Unitatis Redintegratio 1964-2004. SãoPaulo:EdiçõesPaulinas,2004.BÖTTIGHEIMER,Christoph.Amtsfrage:Angelpunktevangelisch-katholischer Ökumene.In:Kerygma und Dogma,v.51,p.157-171,2005.BRAKEMEIER,Gottfried.Apresentação.In:MEYER,Harding.Diversidade reconciliada – O projeto ecumênico.SãoLeopoldo:Sinodal-EST,2003.p.5-7.______.TesesreferentesàcompreensãodeministérionaIgrejaEvangélicadeConfissãoLuterana(IECLB).In:Estudos teológicos,v.35,n.2,p.117-123,1995.BRAND, Eugene L. The Lutheran World Federation: Communion andStructure.In:MEYER,Harding(Hrsg.).Gemeinsamer Glaube und Strukturen der Gemeinschaft.Frankfurta.M.:VerlagOttoLembeck,1991.p.157-167.DeclaraçãoConjuntasobreaDoutrinadaJustificação–DeclaraçãoConjuntaCatólicaRomanaeFederaçãoLuteranaMundial,Augsburgo,31deoutubrode1999.SãoLeopoldo–Brasília–SãoPaulo:EditoraSinodal-CONIC-EdiçõesPaulinas,1999b.31p.Declaração Final, Ministério e Ministérios Eclesiais, Seminário BilateralCatólico-Romano/Evangélico-Luterano 07-08 de setembro de 2000. CasaMatriz deDiaconisas – São Leopoldo – RS. In:VVAA.Os ministérios – Seminário Bilateral Misto Católico Romano-Evangélico Luterano. 07-08desetembrode2000.CasaMatrizdeDiaconisas–SãoLeopoldo-RS.PortoAlegre:Edipucrs,2002.p.73-77.DREHER, Luís Henrique. Algumas ideias sobre teologia do ministério.EspecificidadesluteranasnaconvergênciaecumênicacomaIgrejaCatólica-Romana. In:VVAA.Os ministérios – Seminário BilateralMisto CatólicoRomano-EvangélicoLuterano. 07-08de setembrode2000.CasaMatriz deDiaconisas–SãoLeopoldo-RS.PortoAlegre:Edipucrs,2002.p.37-77.FISCHER,Joachim.Oconceito“igreja”deLuterosegundoseusescritos“DosConcílios eda Igreja” e “ContraHansWorst”. In:Estudos teológicos, v.6, p.161-175,1966.HACKMANN,GeraldoLuizBorges. A amada Igreja de Jesus Cristo. Manual de eclesiologia como comunhão orgânica.PortoAlegre:Edicpucrs,2003.______.AIgreja,mistériodecomunhãoeasexigênciasdaevangelizaçãodomundo.In:Teocomunicação,v.35,p.5-32,mar.2005.______. Igreja, que dizes de ti mesma? E as eclesiologias. In: SANTOS,ManoelAugusto (Org.).Concílio Vaticano II – 40 anos da Lumen gentium. PortoAlegre:Edipucrs,2005.p.85-119.HOCH,LotharC.Ministériodosleigos:genealogiadeumatrofiamento.In:Estudos teológicos30(1990):3,p.256-272.

125Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

Kerygma und Dogma,v.52n.1,p.1-104,2006:[artigosdebasedaautoriadeUlrichH. J.Körtner,KirchenleitungundEpiskopat, eUlrichWilckens,Kirchliches Amt und gemeinsames Priestertum aller Getauften, comcontribuições na forma de comentários de Gunther Wenz, Walter Dietz,ChristianGrethlein,Wolf-DieterHauschild,UlrichKühneGehrhardMüller].KIRCHENAMTDEREVANGELISCHENKIRCHE INDEUTSCHLAND.Kirchengemeinschaft nach evangelischem Verständnis. Ein Votum zum geordnetenMiteinanderbekenntnisverschiedenerKirchen.In:KIRCHENAMTDEREVANGELISCHENKIRCHEINDEUTSCHLAND.Kirchengemeinschaft nach evangelischem Verständnis. Ein Votum zum geordneten Miteinander bekenntnisverschiedener Kirchen.EKDTexte69.Hannover:KirchenamtderEKD,2001.p.5-15.KIRCHENAMTDEREVANGELISCHENKIRCHE INDEUTSCHLAND.Kundgebungder9.SynodederEvangelischenKircheinDeutschlandaufihrer5.TagungzumSchwerpunktthema“EinsinChristus–KirchenunterwegszumehrGemeinschaft”.In:KIRCHENAMTDEREVANGELISCHENKIRCHEINDEUTSCHLAND.Kirchengemeinschaft nach evangelischem Verständnis. Ein Votum zum geordneten Miteinander bekenntnisverschiedener Kirchen. EKDTexte69.Hannover:KirchenamtderEKD,2001.p.16-26.KUNRATH,PedroAlberto.AestruturavisívelparaacomunhãodaIgrejaemTillard.In:Teocomunicação,v.36,p.623-651,set.2006.______.A eucaristia e a igreja comomissão. In: Teocomunicação, v. 33, p.203-240,jun.2003.LIVRODECONCÓRDIA.As Confissões da Igreja Evangélica Luterana. TraduçãoenotasdeArnaldoSchüler.SãoLeopoldo–PortoAlegre:EditoraSinodal-EditoraConcórdia,1993.MARTENSEN,HansL.WegeundHindernisse. In:GASSMANN,Güntherund NØRGAARD-HØJEN, Peder (Hrsg.). Einheit in der Kirche. Neue Entwicklungen und Perspektiven.Frankfurta.M.:VerlagOttoLembeck,1988.p.53-67.MEYER, Harding. “Anerkennung” – ein ökumenischer Schlüsselbegriff. In:MEYER,Harding.Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie I.Frankfurta.M.–Paderborn:VerlagOttoLembeck–BonifatiusVerlag, 1998,p.120-136.[“Reconhecimento”–conceito-chavedoecumenismo.In:MEYER,Harding.Diversidade reconciliada – O projeto ecumênico.TraduçãodeLuísM.Sander.SãoLeopoldo:EditoraSinodal-EST,2003.p.85-101].______. Bemerkungen zumArtikel 28 der ConfessioAugustana und zumArtikel14derApologiederConfessioAugustanaüberdasBischofsamt.In:MEYER, Harding. Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie II. Der katholisch/lutherische Dialog.Frankfurta.M.–Paderborn:VerlagOttoLembeck–BonifatiusVerlag,1998.p.284-297.

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1p.94-127,jan./jun.2011

126 PICH, R. H.

______.Continuidadeapostólica–ministérioeclesiástico–sucessãoapostólica.Problemasepossibilidadedeentendimentoecumênico.In:MEYER,Harding.Diversidade reconciliada – O projeto ecumênico.SãoLeopoldo:Sinodal-EST,2003,p.170-189.______. Die Weltweiten Christlichen Gemeinschaften. Grundanliegen –Selbstverständnis – ökumenische Verpflichtung. In: MEYER, Harding.Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie I.Frankfurta.M.–Paderborn:VerlagOttoLembeck–BonifatiusVerlag,1998.p.183-196.______.“EinheitinversöhnterVerschiedenheit”.Hintergrund,EntstehungundBedeutungdesGedankens.In:MEYER,Harding.Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie I.Frankfurta.M.–Paderborn:VerlagOttoLembeck–BonifatiusVerlag,1998.p.101-120.______. “Kirchengemeinschaft” als Konzept kirchlicher Einheit. ZurEntstehungundBedeutungdesKonzepts. In:MEYER,Harding.Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie I. Frankfurt a.M.–Paderborn:VerlagOttoLembeck –BonifatiusVerlag, 1998, p. 137-162.[“Comunhãoeclesiástica”comoconcepçãodeunidadedaIgreja.Surgimentoesignificadodaconcepção.In:MEYER,Harding.Diversidade reconciliada – O projeto ecumênico.TraduçãodeLuísM.Sander.SãoLeopoldo:EditoraSinodal-EST,2003,p.102-128.]______.KonfessionalitätundökumenischeGemeinschaft.In:MEYER,Harding. Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie I.Frankfurta.M.–Paderborn:VerlagOttoLembeck–BonifatiusVerlag,1998.p.165-182.______.KonsensundKirchengemeinschaft.DiezweitePhasedesinternationalenDialogs1973-1984.In:MEYER,Harding.Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie II. Der katholisch/lutherische Dialog.Frankfurta.M.–Paderborn:VerlagOttoLembeck–BonifatiusVerlag,1998.p.42-68.______. Luthertum und Katholizismus im Gespräch. Ergebnisse und Stand der katholisch/lutherischen Dialoge in den USA und auf Weltebene.Frankfurta.M.:OttoLembeck–JosefKnecht,1973.______. Strukturierte Gemeinschaft ohne gemeinsame Strukturen? DasProblemstrukturieterGemeinschaftimLichtederlutherischenStellungnahmenzum katholisch/lutherischen Dokument “Einheit vor uns”. In: MEYER,Harding.Versöhnte Verschiedenheit. Aufsätze zur ökumenischen Theologie II. Der katholisch/lutherische Dialog.Frankfurt a.M.–Paderborn:VerlagOttoLembeck–BonifatiusVerlag,1998.p.89-103.______.“Unidadenadiversidadereconciliada”.Panodefundoesentidodeumafórmulaecumênica.In:MEYER,Harding.Diversidade reconciliada – O projeto ecumênico.TraduçãodeLuísM.Sander.SãoLeopoldo:Sinodal-EST,2003.p.9-24.(Capítulocommodificaçõessignificativasemcomparaçãocomotextooriginalemalemão.)

127Eclesiologia de comunhão e ministério

Teocomunicação,PortoAlegre,v.41,n.1,p.94-127,jan./jun.2011

NØRGAARD-HØJEN, Peder.Glaubenskonsens und kirchliche Strukturen.Überlegungen zur Frage nach Kriterien struktureller Gestaltwerdung desconsensus fidei. In: MEYER, Harding (Hrsg.).Gemeinsamer Glaube und Strukturen der Gemeinschaft. Frankfurt a.M.:VerlagOttoLembeck, 1991. p. 94-116.PANNENBERG,Wolfhart.ÖkumenischeAufgabenimVerhältniszurrömisch-katholischenKirche.In:Kerygma und Dogma,v.50,p.260-270,2004.______.ZumVerhältnisvonBischofsamtundPfarramtauslutherischerSicht.In:Kerygma und Dogma,v.55,p.342-345,2009.RATZINGER, Joseph (prefect); BOVONE, Alberto (secretary) (VaticanCongregation for the Doctrine of Faith). Some Aspects of the ChurchUnderstoodasCommunion.1992.p.108-112.RINGLEBEN,Joachim.Rechtfertigung-Glaube-Kirche-KirchengemeinschaftnachevangelischemVerständnis.In:Kerygma und Dogma,v.47,p.227-251,2001.ROLOFF, Jürgen.Herrenmahl undAmt imNeuenTestament. In:Kerygma und Dogma.n.47,p.68-89,2001.SCHEELE, Paul-Werner.Amt undÄmter in katolischer Sicht. In: BAUR,Jörg (Hrsg.). Das Amt im ökumenischen Kontext. Eine Studienarbeit der Ökumenischen Ausschusses der Vereinigten Evangelisch-Lutherischen Kirche Deutschlands. Stuttgart:CalwerVerlag,1980.p.33-49.STAALSETT,Gunnar(OfficeoftheGeneralSecretaryoftheLutheranWorldFederation).LetteronHisEminenceEdwardCardinalCassidy4August1992.TILLARD, Jean-Marie R. “Konziliare Gemeinschaft”, “versöhnteVerschiedenheit”,Communio-EkklesiologieundSchwesterkirchen.MEYER,Harding (Hrsg.).Gemeinsamer Glaube und Strukturen der Gemeinschaft. Frankfurta.M.:VerlagOttoLembeck,1991.p.135-155.Unitatis Redintegratio.Decreto sobreoecumenismo–ConcílioEcumênicoVaticanoII(1964).BIZON,José;DARIVA,Noemi;DRUBI,Rodrigo(Orgs.).Ecumenismo. 40 Anos do Decreto Unitatis Redintegratio 1964-2004. SãoPaulo:EdiçõesPaulinas,2004,p.63-90.WOLFF, Elias. Caminhos do ecumenismo no Brasil – história, teologia, pastoral.SãoPaulo:EditoraPaulus,2002.ZILLES,Urbano.As diferentes vocações segundo a “Lumengentium”. In:SANTOS,ManoelAugusto(org.).Concílio Vaticano II – 40 anos da Lumen gentium.PortoAlegre:Edipucrs,2005.p.27-39.

Recebidoem:16/04/2011.Avaliadoem:21/04/2011.