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Neste texto são apresentadas as principais linhas concetuais de maior relevância reportadas à ecologia humana. Esta análise permite destacar os seis modelos mais importantes que passo a citar: determinismo ambiental*, viabilidade ambiental**, ecologia cultural***, modelo de abordagem eco sistémica****, modelo de decisão individual (actor- based)***** e ainda o modelo dos sistemas da ecologia humana******. Compreende-se que todos estes modelos contribuíram para uma melhor compreensão da interação de populações humanas com o ambiente sob o ponto de vista da ecologia como um sistema global, tendo esta evidenciado a sua origem com perspetiva de compreender e explicar as influências ambientais sob a interação e comportamento humano. Assim sendo, diversos teóricos debruçaram-se sobre a temática onde foram elaborados variados trabalhos focados no entendimento e análise das consequências do comportamento humano com o ambiente, que se evidenciaram expressivas no domínio de “catástrofes ecológicas”. É fundamental referir que o primeiro paradigma a ser debatido/ defendido foi o modelo reconhecido por determinismo ambiental . Este modelo numa perspetiva teórica, nomeadamente de Friedrich Ratzel, advogava que o homem é um organismo passivo, influenciado e instruído por estímulos proporcionados pelo ambiente geográfico onde se encontra. Isto é, considerava que o comportamento humano podia ser

Ecologia

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Ecologia Humana

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Neste texto so apresentadas as principais linhas concetuais de maior relevncia reportadas ecologia humana. Esta anlise permite destacar os seis modelos mais importantes que passo a citar: determinismo ambiental*, viabilidade ambiental**, ecologia cultural***, modelo de abordagem eco sistmica****, modelo de deciso individual (actor- based)***** e ainda o modelo dos sistemas da ecologia humana******. Compreende-se que todos estes modelos contriburam para uma melhor compreenso da interao de populaes humanas com o ambiente sob o ponto de vista da ecologia como um sistema global, tendo esta evidenciado a sua origem com perspetiva de compreender e explicar as influncias ambientais sob a interao e comportamento humano. Assim sendo, diversos tericos debruaram-se sobre a temtica onde foram elaborados variados trabalhos focados no entendimento e anlise das consequncias do comportamento humano com o ambiente, que se evidenciaram expressivas no domnio de catstrofes ecolgicas. fundamental referir que o primeiro paradigma a ser debatido/ defendido foi o modelo reconhecido por determinismo ambiental. Este modelo numa perspetiva terica, nomeadamente de Friedrich Ratzel, advogava que o homem um organismo passivo, influenciado e instrudo por estmulos proporcionados pelo ambiente geogrfico onde se encontra. Isto , considerava que o comportamento humano podia ser manipulado e controlado, atravs de diferenciados estmulos ambientais, e ainda sofrer influncia do meio natural sobre as particularidades fisiolgicas e psicolgicas de cada povo, construindo assim a relao natureza/homem. Para melhor ser entendido esta teoria, podemos recorrer a um exemplo bastante simples que teria partida no seguinte pressuposto: numa localidade onde h costa martima, inevitvel a caracterizao humana no mbito piscatrio. Contudo esta abordagem, foi rapidamente refutada, uma vez que o comportamento humano em contextos geogrficos semelhantes, apresentam alguma variao e assim no se considera uma verdade absoluta mas uma previsibilidade. Em sequncia da contestao e desacreditao da teoria anteriormente mencionada, emerge a proposta de uma novo modelo denominado de viabilidade ambiental. Este por seu turno, destaca-se do anterior por defender que o ambiente fornece possibilidades para as transformaes humanas, no determinando a evoluo das sociedades, advogando que o homem o agente geogrfico primordial, ainda que o meio ambiente exera sobre ele influencia. Contudo a noo basilar desta teoria, prende-se pelo facto de considerar o ser humano um elemento ativo e racional, podendo assim intervir e adaptar-se, bem como adaptar o meio natural em funo das suas necessidades, tendo a natureza o papel de possibilitar fatores que promovam a mudana do homem. Assim notvel que o modelo de viabilidade ambiental vem abolir o modelo de determinismo, privilegiando a ideia de que a ao do homem marcada pela contingncia. Acrescenta-se ainda na anlise deste tema o modelo ecolgico cultural, desenvolvido por Julian Steward e Leslie White, destacando-se a grande influncia no campo da antropologia. Este modelo terico surge com base no consumo de energias (recursos ambientais disponveis) associados e influenciados pelos padres culturais, partindo das sociedades mais primitivas s mais vigentes. Para Steward cultura inclui sistemas como por exemplo economia e organizao social, sendo que para o terico, o modelo de ecologia cultural definido por um todo constitudo por caractersticas culturais relacionadas subsistncia humana e econmica. Esta perspetiva deve ser entendida pela quantidade, qualidade e distribuio de recursos indispensveis subsistncia e reproduo da espcie humana relacionada com as suas identidades culturais.Alm destes aspetos abrangentes do modelo ecolgico, importa tambm relacionar os aspetos de demografia e dispersividade populacional, definida pela quantidade e qualidade das energias que a natureza oferece ao homem, sendo estes recursos fundamentais para que o sistema humanidade possa estabelecer nveis de homeostasia favorveis. Por esta razo, verifica-se uma forte tendncia do aumento e concentrao da densidade populacional. Se a distribuio de recursos est diretamente associada a pontos geogrficos relevantes, crescem as probabilidades de maior xodo em busca desses mesmos recursos que permitam assegurar melhores condies de vida e um crescimento populacional. Esta analogia associa-se s teorias Marxistas em que o aumento da populao traduz-se paralelamente no aumento de mos, gerando mais energia de trabalho direcionada aos solos e em sequncia disso a obteno de mais recursos da natureza (energias). Perante esta leitura podemos aferir que a oferta ecolgica incide diretamente na disparidade demogrfica. Por exemplo, em culturas da frica Ocidental, ndia ou at mesmo na sia, algumas sociedades criam grandes rebanhos de animais nomeadamente vacas, por crenas religiosas e culturais (considerando estes animais sagrados). Contudo, estes animais revelam um consumo excessivo de energia natural (alimentao/pastos) e produzem grande quantidade de gs metano altamente prejudicial ao ecossistema. Contudo estes mesmos animais so extremamente importantes para o bem-estar econmico dos camponeses pobres, ajudando-os a fazer uso mximo dos escassos recursos de seu ambiente. medida que se aborda este modelo, percebemos que o conceito de ecologia cultural incide sobre as atividades humanas numa dimenso cultural abarcada por hbitos, costumes e crenas em concomitncia com o ambiente. Porm este processo sinergtico no pode ser visto com esttico, uma vez que a interao do homem com a natureza seguramente um processo dinmico em que a relao entre estes dois sistemas est em constante adaptao na medida em que um tende a responder a mudana do outro.O entendimento internacional entre homem e natureza demonstra-se mais uma vez complexo e incompleto, pelo que alguns ecolgicos, bilogos e at mesmo antroplogos, sugerem uma nova perspetiva de abordagem inerente a este tema, denominado de Abordagem ecossistmica. Estes alertam e sugerem que estudar o processo de adaptao das culturas ao ambiente, uma viso extremamente generalista do conjunto, uma vez que consideram importante focar a ateno na relao de populaes humanas especificas nos diversos ecossistemas especficos sem descartar a cultura. Perante esta conceo terica, os seres humanos constituem apenas uma outra populao entre as muitas populaes de espcies animais que interagem entre si e com os componentes no-vivos (clima, solo, gua) de seu ecossistema local. Assim, o ecossistema , ao invs da cultura, constitui a unidade primordial de anlise na sua estrutura conceitual para a ecologia humana sob o ponto de vista dos antroplogos americanos Andrew Vayda e Roy Rappaport. O pilar central de tal argumentao, prende-se com a leitura holstica do sistema, ligando os mais diversos elementos que assim o determinam e constituem na diversidade cultural e sistmica como a relao dos elementos sade, alimentao, dimenso populacional e rituais, associados ao processo de sobrevivncia e interao. Podemos ento concluir que neste modelo ecosistmico, a organizao do meio ambiente tratada como um recurso necessrio para assegurar a homeostasia, criando e sustentando os sistemas sociais humanos, legitimando a individualidade em vez da coletividade. com base nesta ltima convico de que o que tem sido chamado de o modelo baseado em ator de ecologia humana foi formulado.Partindo deste pressuposto, o modelo de deciso individual (Actor-based), sugere que a adaptao ocorre no nvel de indivduos, e no de culturas ou populaes. No caso da sociedade humana, por conseguinte, a adaptao do ambiente no visto como o resultado da seleo natural sobre o sistema cultural ou nvel social, mas sim como o resultado de decises tomadas pelos indivduos sob a melhor forma de interagir com o ambiente. Os indivduos fazem escolhas constantemente sobre como explorar os recursos disponveis lidando com os riscos ambientais. Aqueles que fazem o escolhas " corretas" sobrevivem e prosperaram; aqueles que escolhem menos sabiamente sero prejudicados. Com o tempo, as estratgias adaptativas de maior sucesso permanecero enraizadas como normas culturais.Por ltimo, abordo a teoria geral dos sistemas, que se tem ocupado com o estudo das propriedades gerias das estruturas e funes dos sistemas.De acordo com esta abordagem terica, as estruturas tomos, clulas, ecossistemas, organismos e at mesmo sociedades, partilham caractersticas comuns. Primeiro porque so sistemas abertos e segundo porque so auto-organizadores. Para alguns tericos a sociedade vista como um sistema instvel, pelo que defendem constantes mudanas originando um processo de entropia que resultaria numa nova ordem. J para outros, as sociedades so sistemas sociais autopoiticos. Radcliffe Brown, desenvolve ento a primeira teoria, denominada de modelo estrutural-funcional que descreve a sociedade como uma instituio/ sistema organizada/o e integrada/o em que cada mudana na estrutura deste sistema ir influenciar e transformar os demais sistemas com quem interage. Contudo, o novo entusiasmo para explicar os sistemas sociais e culturais em termos de influncias ambientais causadas, tendem a perder expressividade do ponto de vista do carter sistmico da sociedade. Ao invs de tentar entender as sociedades como um sistema aberto (o sistema social ) e de que forma interagiu com outro sistema aberto (o ecossistema ) , eles concentraram sua ateno na tentativa de explicar como nomeadamente as instituies (por exemplo, vacas sagradas , festas de porco ) podem explicar a relao de condies ambientais especificas . Uma abordagem alternativa, o " modelo de sistemas de ecologia humana ", descreve os sistemas sociais bem como o processo de interao com os sistemas ecolgicos. A adaptao ocorre, no pelo nvel de traos culturais distintos ou instituies sociais como nos sugere o modelo de ecologia cultural, ou em termos de populaes humanas especficas, como defende o modelo baseado em ecossistema em termos de ecologia humana ou ainda no modelo de tomada de deciso individual (actor based), mas sim ao nvel do sistema social total, como um sistema integrante da totalidade. Desta forma podemos afirmar que, a maior virtude deste modelo (sistemas de ecologia humana), prende-se com a possibilidade de obter diretrizes especficas para fazer pesquisas sobre as interaes humanas com o meio ambiente, no focando apenas a ideia de que as influncias ambientais devem de alguma forma afetar os seres humanos ou que as aes humanas devem de alguma forma influenciar o ambiente. Portanto denota-se a importncia de reforar as atenes nas reas significativas de interao entre os sistemas humanos e sistemas ecolgicos.

Reflexo Global

Ao longo do repto que nos foi proposto com o objetivo de analisar e perceber a dinmica e repercusses entre a ecologia e o ser humano, verificamos que as abordagens inerentes ecologia humana expressas neste trabalho, tm um ponto comum: todas apresentam uma base ecolgica com forte contedo biolgico. A noo basilar deste tema remete-nos para uma importante reflexo que nos permite entender a relao do homem com a natureza, e de que forma se influenciam mutuamente. Aqui fica a noo que ambos so indissociveis como sistema. Isto , uma vez que h um padro internacional patente entre estes dois subsistemas, estes influenciam-se mutuamente sob diversos focos, nomeadamente culturais, transgeracionais e geogrficos. No h divergncia entre as linhas apresentadas, mas sim perspetivas que complementam a compreenso da ecologia humana, contribuindo cada um dos modelos com parcelas de conhecimento sobre a interao humana com o ambiente ou de uma forma mais abrangente com tudo o que nos rodeia porque ecologia isso mesmo.Este noo evolutiva de ecologia, reflete a meu ver o acompanhamento da mudana humana e em certa forma os aspetos que esto presentes na sua transformao enquanto espcie, e as mudanas que este promove/provoca no seu habitat, umas vezes egostas, outras por razes de subsistncia ou ainda por razes culturais nomeadamente as crenas.No podemos veicular estes modelos de ecologia numa crena imortal, uma vez que este processo tende a moldar-se ou at mesmo transformar-se e com a mudana humana. Assim sendo questiono-me at quando prevalecero estes modelos de ecologia humana, uma vez que o ser-humano promove rpidas e drsticas mudanas no seu meio envolvente. Por outro lado pergunto-me ainda se o homem ter noo das consequncias do seu comportamento para com o ambiente, quer no consumo de energias, quer na destruio das mesmas. Por fim, pretendo advertir que o homem tem um papel fundamental na mudana deste paradigma, sendo elementar mudar alguns comportamentos e padres de interao para que este processo de influncia mutua se denote pela homeostasia.