3
Economia. | 32 DOMINGO, 11 DE JUNHO DE 2017 Macroeditor: Abdo Filho z [email protected] Editora: Joyce Meriguetti z [email protected] WhatsApp (27) 98135.8261 Telefone: (27) 3321.8327 ATENDIMENTO AO ASSINANTE (27) 3321-8699 Aeroportômetro dias para a conclusão da obra 107 BASTIDORES DOS NEGÓCIOS BERNARDO COUTINHO A QUEDA DE UM IMPÉRIO LUÍSA TORRE [email protected] Oanoera1946.OjovemCa- miloColavoltavaaCachoei- ro de Itapemirim após lutar na Segunda Guerra Mun- dial, na Itália, como inte- grante da Força Expedicio- nária Brasileira. Com o di- nheiro ganho em território italiano, comprou um Ford Hercules e começou a trans- portar cargas e passageiros. Como os soldados tinham prioridade na compra des- ses veículos, estimulou cole- gas de front a comprá-los e colocá-los à venda, ganhan- do um bom dinheiro. “Se eu for contar tudo, vamos precisar de outro en- contro”, brinca Camilo Co- la, sobre a origem do impé- rio que fundou: o grupo Ita- pemirim. Ele conta que, em 1948, surgia a Empresa de Transporte Autos - ETA, que tinha um único ônibus entre Castelo e Cachoeiro. Em 1950, a frota já era de dez veículos. A empresa foi cres- cendo e, em 4 de julho de 1953, nascia, em Cachoei- ro, a Viação Itapemirim. “A empresa foi expandindo pa- ra Sul e Norte do Estado, e, na década de 1960, foi para o Nordeste. Quando entrei, há 42 anos, a Itapemirim fa- zia a ligação entre São Pau- lo, Espírito Santo e o Nor- deste”, lembra Camilo Cola Filho, o Camilinho, ex-pre- sidente da companhia. O estilo empreendedor de Camilo Cola levou a em- presa a dobrar quando, em 1972, incorporou uma das grandes empresas do país, a Nossa Senhora da Penha. De repente, a operação da Itapemirim alcançava prati- camente todo o Sul brasilei- ro, chegando ao Uruguai. “Nos anos 1980, chega- mos ao nosso ápice. Com- pramos a linha Rio-São Pau- lo e nos tornamos a 14ª montadora do Brasil, fabri- cando nossos ônibus, a mar- ca Tecnobus. A Transporta- dora Itapemirim, de cargas gerais, também cresceu. Já na década de 1990, entra- mos no serviço aéreo de transporte de carga expres- sa. Foi uma época bonita da empresa”, conta Camilinho. DECADÊNCIA Em seus tempos áureos, a Viação Itapemirim figura- vaentreumadasmaioresda América Latina. Atualmen- te é uma empresa endivida- da,emrecuperaçãojudicial, e não pertence mais à famí- lia Cola, que vendeu o con- trole acionário da compa- nhia no final de 2016. Se- gundo o ex-presidente da empresa, Camilo Cola Fi- lho, a decadência é resulta- do de uma combinação de fatores: “No início dos anos 2000, começamos a sofrer muito com transporte clan- destino. A fiscalização era fraca e havia lugares, como Pará e Maranhão, em que o transporte pirata ocupava 60% do mercado”. Outro ponto foi a queda nospreçosdaspassagensaé- reas e incentivos fiscais da- dos às empresas de aviação, a partir de 2003. Somado a isso, pontua Camilinho, es- tãoleisaprovadasnadécada que deram gratuidade a es- tudantes que atestem po- breza e a idosos, por exem- plo. “A margem do setor pio- rou, e, em 2008, veio a crise internacional”, conta. No entanto, o principal problema que atingiu a em- presa foi um impasse na re- gulação pela Agência Nacio- naldeTransportesTerrestres (ANTT), que começou em 2008 e só foi resolvido em 2015. As concessões foram substituídas por um modelo de autorização por linhas. A demora, no entanto, provo- cou queda no faturamento das empresas, enquanto que o crédito ficou mais caro. “Começamos a vender empresas para pagar outros negócios. Até 2008, o nosso passivo tributário era zero. Com a crise internacional, a empresa deixou de pagar al- guns impostos e as multas e juros são altos. Sem certidão negativa, o crédito ficou maiscaroe,seasvendasnão reagiam, não conseguíamos cobrir”, explica Camilinho. Em junho de 2015, com a definição da ANTT, a Itape- mirim repassou, por R$ 100 milhões, 68 das 118 linhas que operava à Kaissara, em- presa que detinha uma li- nha, cujos sócios eram fun- cionários da Itapemirim. Filha de Camilinho, An- dréa Cola reconhece que houve problemas na admi- nistração dos negócios. Ela conta que tentou profissio- nalizar a gestão, mas atritos com outros diretores impe- diramdeseguircomoplano. “Tinha muitos atritos profis- sionais com a diretoria, e de- cidi sair. Havia diretor que estava na empresa antes de eu nascer. Cheguei a brigar com meu pai”, conta. Diante de um quadro de dívidas trabalhistas e com fornecedores da ordem de R$330milhõeseumpassivo tributário de R$ 1 bilhão, a empresa entrou, em março de 2016, em recuperação ju- dicial. O processo ainda está correndo e resultou,até ago- ra, no negócio com a Kaissa- ra desfeito e na venda do grupo Itapemirim para in- vestidoresdeSãoPaulo.Mas esse não é o ponto final da história. Alegando ter sido vítimadeumgolpe,afamília Cola tenta na Justiça reto- mar o controle da empresa, enquanto que os novos só- cios argumentam que as tra- tativas foram legais. Garagem da Viação Itapemirim, em Cariacica: empresa chegou a ser uma das maiores da América Latina A Itapemirim, que já foi um grande grupo, hoje está endividada

Economia. Aeroportômetro 107 - IJSN...2017/06/29  · Camilo Cola Filho, foram notificadosnaúltimasema-naparadesocupar oplatô zero,áreadaempresaonde está a casa do fundador, atualmentecom93anos

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Economia. Aeroportômetro 107 - IJSN...2017/06/29  · Camilo Cola Filho, foram notificadosnaúltimasema-naparadesocupar oplatô zero,áreadaempresaonde está a casa do fundador, atualmentecom93anos

Economia. | 32DOMINGO, 11 DE JUNHO DE 2017

Macroeditor: Abdo Filhoz [email protected]: Joyce Meriguettiz [email protected]

WhatsApp (27) 98135.8261 Telefone: (27) 3321.8327ATENDIMENTO AO ASSINANTE (27) 3321-8699

Aeroportômetro

dias para a conclusão da obra

1 0 7

BASTIDORES DOS NEGÓCIOSBERNARDO COUTINHO

A QUEDA DE UM IMPÉRIOLUÍSA TORRE

[email protected]

Oanoera1946.OjovemCa-miloColavoltavaaCachoei-ro de Itapemirim após lutarna Segunda Guerra Mun-dial, na Itália, como inte-grante da Força Expedicio-nária Brasileira. Com o di-nheiro ganho em territórioitaliano, comprou um FordHerculesecomeçouatrans-portar cargas e passageiros.Como os soldados tinhamprioridade na compra des-sesveículos,estimuloucole-gas de front a comprá-los ecolocá-losàvenda,ganhan-doumbomdinheiro.“Se eu for contar tudo,

vamosprecisardeoutroen-contro”, brinca Camilo Co-la, sobre a origemdo impé-rioque fundou:ogrupo Ita-pemirim. Ele conta que, em1948, surgia a Empresa deTransporteAutos -ETA,quetinhaumúnicoônibusentreCastelo e Cachoeiro. Em

1950, a frota já era de dezveículos.Aempresafoicres-cendo e, em 4 de julho de1953, nascia, em Cachoei-ro, a Viação Itapemirim. “Aempresafoiexpandindopa-ra Sul e Norte do Estado, e,nadécadade1960, foiparao Nordeste. Quando entrei,há42anos,aItapemirimfa-zia a ligação entre São Pau-lo, Espírito Santo e o Nor-deste”, lembra Camilo ColaFilho, o Camilinho, ex-pre-sidente da companhia.O estilo empreendedor

deCamiloCola levoua em-presa a dobrar quando, em1972, incorporou uma dasgrandesempresasdopaís,aNossa Senhora da Penha.De repente, a operação daItapemirimalcançavaprati-camente todooSulbrasilei-ro, chegando aoUruguai.“Nos anos 1980, chega-

mos ao nosso ápice. Com-pramosalinhaRio-SãoPau-lo e nos tornamos a 14ª

montadora do Brasil, fabri-candonossosônibus,amar-ca Tecnobus. A Transporta-dora Itapemirim, de cargasgerais, também cresceu. Jána década de 1990, entra-mos no serviço aéreo detransporte de carga expres-sa. Foi uma época bonita daempresa”, contaCamilinho.

DECADÊNCIAEm seus tempos áureos,

a Viação Itapemirim figura-vaentreumadasmaioresdaAmérica Latina. Atualmen-teéumaempresaendivida-da,emrecuperaçãojudicial,e nãopertencemais à famí-lia Cola, que vendeu o con-trole acionário da compa-nhia no final de 2016. Se-gundo o ex-presidente daempresa, Camilo Cola Fi-lho, a decadência é resulta-do de uma combinação defatores: “No início dos anos2000, começamos a sofrermuito com transporte clan-

destino. A fiscalização erafraca e havia lugares, comoPará eMaranhão, emque otransporte pirata ocupava60%domercado”.Outro ponto foi a queda

nospreçosdaspassagensaé-reas e incentivos fiscais da-dosàs empresasdeaviação,a partir de 2003. Somado aisso, pontua Camilinho, es-tãoleisaprovadasnadécadaque deram gratuidade a es-tudantes que atestem po-breza e a idosos, por exem-plo.“Amargemdosetorpio-rou, e, em2008, veio a criseinternacional”, conta.No entanto, o principal

problema que atingiu a em-presa foi um impasse na re-gulaçãopelaAgênciaNacio-naldeTransportesTerrestres(ANTT), que começou em2008 e só foi resolvido em2015. As concessões foramsubstituídas porummodelode autorização por linhas. Ademora, no entanto, provo-

cou queda no faturamentodasempresas,enquantoqueo crédito ficoumais caro.“Começamos a vender

empresasparapagaroutrosnegócios. Até2008, onossopassivo tributário era zero.Comacrise internacional, aempresadeixoudepagaral-guns impostos e asmultas ejurossãoaltos.Semcertidãonegativa, o crédito ficoumaiscaroe,seasvendasnãoreagiam,nãoconseguíamoscobrir”, explicaCamilinho.Emjunhode2015,coma

definição da ANTT, a Itape-mirimrepassou,porR$100milhões, 68 das 118 linhasqueoperavaàKaissara,em-presa que detinha uma li-nha, cujos sócios eram fun-cionários da Itapemirim.Filha de Camilinho, An-

dréa Cola reconhece quehouve problemas na admi-nistração dos negócios. Elaconta que tentou profissio-nalizar a gestão,mas atritos

com outros diretores impe-diramdeseguircomoplano.“Tinhamuitos atritos profis-sionaiscomadiretoria,ede-cidi sair. Havia diretor queestava na empresa antes deeu nascer. Cheguei a brigarcommeupai”, conta.Diante de um quadro de

dívidas trabalhistas e comfornecedores da ordem deR$330milhõeseumpassivotributário de R$ 1 bilhão, aempresa entrou, em marçode2016,emrecuperaçãoju-dicial.Oprocessoaindaestácorrendoeresultou,atéago-ra,nonegóciocomaKaissa-ra desfeito e na venda dogrupo Itapemirim para in-vestidoresdeSãoPaulo.Masesse não é o ponto final dahistória. Alegando ter sidovítimadeumgolpe,afamíliaCola tenta na Justiça reto-mar o controle da empresa,enquanto que os novos só-ciosargumentamqueastra-tativas foram legais.

Garagem da ViaçãoItapemirim, em

Cariacica: empresachegou a ser uma

das maiores daAmérica Latina

A Itapemirim, que já foi um grande grupo, hoje está endividada

Page 2: Economia. Aeroportômetro 107 - IJSN...2017/06/29  · Camilo Cola Filho, foram notificadosnaúltimasema-naparadesocupar oplatô zero,áreadaempresaonde está a casa do fundador, atualmentecom93anos

| 33DOMINGO, 11 DE JUNHO DE 2017“A Itapemirim tem uma tradição grande debons serviços prestados. Me sinto responsávelpelos funcionários e pela qualidade”

CAMILO COLA FUNDADOR DA ITAPEMIRIM

Brigapelo controleacionárioda ItapemirimApósvender empresas,famíliaCola entrounaJustiçapara retomaragestãodogrupo

VITOR JUBINI

Andréa Cola, Camilo Cola e Camilo Cola Filho alegam que são vítimas de um golpe

A recuperação judicial e oprocessodevendadaItape-mirim abriu mais um capí-tulonahistóriadaempresa.Comacusaçõesmútuas dosantigosenovossócios,adis-putapelocontroleacionárioda companhia virou imbró-glio jurídico.Comdívidastrabalhistas

e com fornecedores de R$336,49 milhões, além deumpassivotributáriodeR$1 bilhão, o grupo Itapemi-rimentrouemrecuperaçãojudicial emmarçode2016.No final do mesmo ano, afamília Cola resolveu ven-der o controle acionário dogrupo, que inclui seis em-presas (Viação Itapemirim,Transportadora Itapemi-rim,ITA-ItapemirimTrans-portes, Imobiliária Bianca,ColaComercial eDistribui-dora e Flecha Turismo Co-mércio e Indústria) para ascompanhias SSG Incorpo-raçãoeAssessoriaeCSVIn-corporação e AssessoriaEmpresarial, cujos sóciossão Sidnei Piva de Jesus eCamila de Souza Valdívia.No negócio firmado, os

novos sócios não pagariamvalores à família Cola, masassumiriamtodasasdívidasdo grupo. Camilo Cola Fi-lho, ex-presidente da em-presa, afirma que Sidnei eCamilaseapresentavamco-moempresáriosquetinhamR$5bilhõesemcréditos tri-butários, o que iria sanar ascontas da empresa.A família Cola, no en-

tanto, acusa os novos só-

cios denão teremhonradoo acordo. Eles alegam queo processo de compra evenda não é válido, já quenãoassinaramtodososter-mos do contrato. De acor-do com Filho, no contratodevendahaviaanexosquedescreveriam os bens queficariam coma família, co-moimóveisquesãodepro-priedade da ImobiliáriaBianca,detentoradopatri-mônio dos Cola. “Firma-mos uma declaração que

só teria validade se os ane-xos fossem assinados, maseles nunca foram”.A família alega que, em

dezembro,o juizdarecupe-ração judicial, Paulino JoséLourenço, determinou atransferência do controleacionário das empresas pa-ra o grupo e que o patrimô-nioconstruídoestáameaça-do. No entanto, uma escri-tura pública registrada emmaio em cartório de SãoPaulo do advogado MarcioMastropietro, responsávelpela confecção do contratode comprae venda, dá con-tadequenãohouveassina-tura dos anexos.Apenas o controle socie-

tário da imobiliária não foirepassado aCamila e a Sid-nei por causa do espólio dafalecida esposa de CamiloCola, IgnezMassadCola.Deacordo comos ex-do-

PASSIVO

1 bilhãode reais

É o valor do passivotributário do grupoItapemirim.

Camilo Colaé intimado asair da casaonde moraOs ex-proprietários da

Itapemirim, Camilo Cola eCamilo Cola Filho, foramnotificadosnaúltimasema-na para desocupar o platôzero, áreadaempresaondeestá a casa do fundador,atualmente com93anos.O pedido, segundo An-

dréa Cola, não foi aceitopela Justiça. Isso porque,diz ela, o imóvel édeposseda Imobiliária Bianca, aúnica das empresas em re-cuperação judicial aindaemnome da família.Na notificação extraju-

dicial, a Viação Itapemi-rim,queéquempedeade-socupação,informaquefoifeito acordo verbal paraque o espaço fosse utiliza-dodeformaprovisória,en-quanto iniciavamoproces-so demudança. A notifica-ção diz que “entretanto, autilizaçãoprovisória epre-cária dos notificados noimóvel em debate tor-nou-se insustentável emdecorrência das diversasacusações difamatórias in-verídicas e litígios insanosextrajudiciais e judiciais”.A notificação também

trazainformaçãodeque,em4de abril, foi comunicado opedido de desocupação porhaverem impedido acessodos funcionários da viaçãoaodepósito de arquivo.

nos do grupo Itapemirim,assimqueocontroleacioná-rio foi transferido, a novagestãoteriacomeçadoade-mitir sem cumprir obriga-ções, teriadeixadodepagarfornecedoreseaindaestariarealizando retiradas diáriasdos caixas das empresas,através de notas fiscais friasdirecionadas a outras em-presas deles, como a DeltaX, sediada emSãoPaulo.Os Cola ingressaram na

Justiça, então, com umaaçãopararetomarocontro-le acionário da Itapemirim.O processo terá audiêncianodia 23de junho.

TRAIÇÃOOs Cola alegam terem

sido induzidos a entrar noprocesso de recuperaçãojudicial por dois profissio-nais antigos da Itapemi-rim:AnísioFioresi,naépo-

ca diretor-financeiro, e ochefedo setor jurídico,Rô-mulo Barros Silveira. “Aní-sio está na empresa há 42anos. A família dele é vizi-nha da fazenda dos meusavós.Tinhatotalconfiançanele”, frisa Camilo Filho.Segundo ele, Fioresi e

Silveiraagiramdemá-fé in-duzindoa famíliaaumare-cuperação judicial desne-cessária, isolando diretorese incluindo no processouma empresa sadia, a Imo-biliáriaBianca. “Com infor-maçãoprivilegiadaeprocu-rações,elesse juntaramaosnovossócios,queaplicaramumgolpe”, diz Filho.O juiz Paulino José Lou-

rençofoiprocurado,atravésassessoria de imprensa doTribunal de Justiça, que in-formou que “o magistradonão concede entrevista so-bre processo emcurso.”

EMPREGOS

11 milfuncionários

Foi o número detrabalhadores que aempresa teve no ápice,durante os anos 1980

Page 3: Economia. Aeroportômetro 107 - IJSN...2017/06/29  · Camilo Cola Filho, foram notificadosnaúltimasema-naparadesocupar oplatô zero,áreadaempresaonde está a casa do fundador, atualmentecom93anos

34 | ECONOMIA DOMINGO, 11 DE JUNHO DE 2017

BASTIDORES DOS NEGÓCIOS

Diante das denúnciasaventadaspela famíliaCola,ex-controladora da ViaçãoItapemirim, os novos sóciosdo grupo, Sidnei Piva de Je-suseCamiladeSouzaValdí-via, se defendem, mostran-do documentos e afirmamquea transação foi legal.A reportagem solicitou

entrevista pessoalmente,porvideoconferênciaouportelefone,mas os sócios pre-feriram responder os ques-tionamentos por e-mail.Deacordocomogrupo,a

transferência do controleacionário foi realizada pormeiodecontratodecomprae venda de participações,elaborado pelos advogadosdos próprios vendedoresCamilo Cola e Camilo ColaFilho.Elesafirmamquetodaadocumentaçãoparatrans-ferênciadasempresasfoias-sinadapelos antigos donos.“Todos os documentos

foramassinados.Osanexostambém foram apresenta-dos em Juízo. A família,num primeiro momento,chegouanegaraassinaturados contratos. Depois decomprovada a assinatura,passou a dizer que haviapendência de assinaturados anexos”, completam.O grupo informa que a

questãovirouobjetodedis-cussão na Câmara Bra-

sil-Canadá. “Quando sur-giu o primeiro questiona-mento pelos ex-sócios, osnovos sócios, por proteção,requereram perante a Câ-mara Brasil-Canadá, a ins-tauração de procedimentoarbitral visandoseprotegerdeeventualconflitodeinte-resses dos ex-sócios”.Também por e-mail, o

grupoenviouumdocumen-to comasalterações contra-tuais levado a registro naJuntaComercial doEspíritoSanto,comtodasaspáginasassinadasporCamiloColaeCamilo Cola Filho, sem re-conhecimentode firma.O grupo também desta-

cou que, “não fosse a recu-

DÍVIDAS

“Quando a atualgestão assumiu aempresa no final domês de outubro de2016, dívidas seacumulavam aosmontes, e os saláriosdos trabalhadoresestavam com quatromeses de atraso”

SIDNEI PIVA E CAMILAVALDÍVIA, DONOS DAITAPEMIRIM

Fioresi e Silveira dizem que nãoindicaram recuperação judicialHojediretordenovosne-

gócios da Itapemirim, Aní-sio José Fioresi, que foi di-retor financeiro e partici-pou da empresa durante42anosnagestãodosCola,afirmou que não cometeuqualquer ato de traiçãocomafamíliaedizquenãofoimentor da recuperaçãojudicial. Ele afirmaqueeracontra a ideia.“Todososdocumentos,

está tudo chancelado pe-los acionistas. A decisãoda recuperação judicial,eueracontranaquelemo-mento. Não concordavaporque a empresa não es-

tava preparada para issopor uma série de ques-tões”, explica.

Segundo ele, a dívidaera impagável e a empre-sa estava dando prejuízo,sem conseguir nem mes-mo pagar os juros. “Gran-de parte da frota, suamaior geradora de recei-ta, estava parada. A em-presa não tinha mais in-clusive patrimônio parasuportar a dívida na esca-lada que ela estava. A si-tuação foi alertada, apon-tada e advertida”, diz.Segundo ele, havia

desde recursos utilizadospara socorrer outras em-presas até retiradas docaixa. “A empresa não fez

Grupodizqueprocessodevendadeempresas foi legalAtuaisdonosdogrupoItapemirimnegamacusaçõesdosantigosproprietários

RAMON BARROS

Sidnei Piva e Camila Valdívia disseram que recuperação judicial livrou empresa de perder todas as linhas

CONSIDERAÇÃO

“ Ao fundador(Camilo Cola),tenho a maiorestima, convivi comele mais que convivicom meu pai”

ANÍSIO JOSÉ FIORESIDIRETOR DE NOVOSNEGÓCIOS DAITAPEMIRIM

ENDIVIDAMENTO

“O grupo foiperdendo bonsativos, mas nãoteve a sensibilidadede reduzir seuendividamento”

ROMULO BARROSSILVEIRA CHEFE DOSETOR JURÍDICO DAVIAÇÃO ITAPEMIRIM

umtrabalhodegovernan-ça familiar, então a famí-lia vivia do caixa da em-

presa. Isso foi se acumu-lando ao longo do tem-po”, explica.Ele diz que não traiu a

família. “Não participeida composição do negó-cio, eu fui comunicado datransferência da socieda-de.Sempreprocurei fazertudo com amaior lisura.”Aindachefedosetor ju-

rídico da Viação Itapemi-rim, o advogado RomuloBarros Silveira tambémafirma que não orientouninguémaentrar emumarecuperação judicial.“Quem trouxe a ideia foium outro diretor institu-cional”, diz.Na época, Silveira diz

que não advogava, mas co-mo conselheiro, disse quepodia ser uma boa alterna-

tiva para a empresa.“Eu sempre achei esse

negócio extremamente di-fícil, uma empresa com dí-vidas da ordem de R$ 1 bi-lhão, reverter é quase im-possível. Achei que a em-presadeveriaserreestrutu-rada pelo grupo que con-trolava ela naquele mo-mento.Arecuperaçãonun-ca foi pautada na geraçãodecaixa,esim,navendadeativos”, explicou.Silveiraafirmaqueconti-

nuounaempresa comano-vagestãopoisCamiloFilhoodispensou. “Eu me senti àvontade profissionalmenteemaceitaroconvitefeitope-los novos donos”. Atual-mente,eletrabalhaparaou-trasempresasdeSidneiPivaeCamilaValdívia.

peração judicial, a empresateria perdido todas as suaslinhas”porquerecebeuumaDeclaração de Inidoneida-de emitida pelaANTT.Sobre a denúncia de que

osdébitosdasempresasnãoestão sendoquitados, os só-cios dizem que “os paga-mentos são rigorosamentecomprovados dentro doprocesso de RecuperaçãoJudicial”. Os sócios aindaafirmamqueasretiradaspa-raaDeltaXsãoprestaçãodeserviço.“ADeltaXéumaem-presaquecompõeogrupoe,comoénatural,prestaservi-çoparaaViação Itapemirimeoutrasempresasvisandoàreduçãodos custos”.

Os sócios afirmam que“quandoaatualgestãoassu-miu a empresa no final deoutubro de 2016, dívidas seacumulavam aos montes, eos salários dos trabalhado-resestavamcomquatrome-ses de atraso. Também nãopode ser esquecido que háoutros créditos excluídosdoregimederecuperaçãojudi-cialqueestãosendocumpri-dos pela empresa”.Nesseponto,citamcomo

exemplo a renegociação deuma dívida comoBanestesque, segundo eles, afetauma fazendada família.Após as denúncias da fa-

míliaCola,ogrupoprocessaCamilo Cola Filho por calú-nia. “Omesmo não honra oqueassinaeprefereespalharfofoca pelo Estado ao invésde assumir que vendeu aempresa,emaisdoqueisso,assumir que errou em suaadministração levando aempresa ao colapso”, afir-mamos sócios por e-mail.Eles também destaca-

ram que “têm um enormerespeito por Camilo Cola,fundador do grupo Itape-mirim, e jamais adotarãoqualquermedidaparades-pejá-lo. A única intenção épromover a recuperaçãodas áreas dos escritórios”.O grupo ainda esclareceque a área onde fica a casadeCamiloCola é chamadade área histórica, e nãocontempla opedidodede-socupação, “inclusive sen-domatrículas diferentes”.

CUSTOS

“A Delta X é umaempresa quecompõe o grupo e,como é natural,presta serviçopara a ViaçãoItapemirim eoutras empresasvisando à reduçãodos custos”

SIDNEI PIVA E CAMILAVALDÍVIA DONOS DAITAPEMIRIM