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Economia Brasileira: como entender o presente e o que esperar do futuro Leda Maria Paulani Profa. Titular do Departamento de Economia da FEA-USP Apresentação preparada para o 17° Seminário Econômico da Fundação CEEE – Porto Alegre – 12/11/2015

Economia Brasileira: o que esperar do futuro próximo · Economia Brasileira: como entender o presente e o que esperar do futuro Leda Maria Paulani . Profa. Titular do Departamento

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Economia Brasileira: como entender o presente e o que esperar do futuro

Leda Maria Paulani Profa. Titular do Departamento de Economia da FEA-USP

Apresentação preparada para o 17° Seminário Econômico da

Fundação CEEE – Porto Alegre – 12/11/2015

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Estrutura

Breve retrospecto

Diagnóstico da situação presente

Perspectivas para 2015-2016

Considerações sobre o médio e longo prazos

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Breve retrospecto

• Entre 1930 e 1980, o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo ⇒ tx média anual de 6,5%

• Nas três décadas e meia seguintes, o resultado é pífio ⇒ crescimento médio anual de 2,4%

• Na passagem entre uma e outra etapa:

Externamente: crise mundial, choque do petróleo, elevação brutal dos juros americanos

Internamente: crise da dívida externa, e explosão inflacionária

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Breve retrospecto

0

2

4

6

8

10

12

BRASIL - tx crescimento PIB (%) - média por quinquênio

2,4

1930-1980

6,5

1981-2014

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Breve retrospecto • Uma alteração dessa dimensão não pode ter uma explicação fortuita: ela tem de

ser estrutural e global

• As soluções encontradas para os problemas internos têm que ver com essa explicação.

A securitização da dívida externa resolveu o problema trazido pela moratória de 1987 e reabriu ao país o acesso aos capitais externos.

O Plano Real trouxe a estabilidade monetária e resolveu o problema inflacionário.

• Junto com ambas as soluções, veio a construção de uma nova institucionalidade para a economia brasileira, associada às transformações no plano mundial, com crescimento exponencial da riqueza financeira.

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Breve retrospecto

0,00

50,00

100,00

150,00

200,00

250,00

300,00

Riqueza Financeira (ativos financeiros) e Renda Real (PIB Mundial) - US$ trilhões - 1980/2014

Ativos Financeiros

PIB Mundial

Ativos Financeiros

PIB Mundial

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Breve retrospecto • (Nova institucionalidade: um novo conjunto de regras, procedimentos e

comportamentos onde passa a se mover o crescimento e a reprodução capitalistas – economia financeirizada)

• Nessa nova institucionalidade:

Políticas intervencionistas e desenvolvimentistas são abandonadas;

O Setor Produtivo Estatal (SPE) encolhe;

A economia torna-se mais aberta, tanto comercial quanto financeiramente;

Os ganhos financeiros são privilegiados e incentivados;

As conquistas e os direitos consagrados pela Constituição de 1988 são permanentemente questionados.

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Breve retrospecto

• Nova institucionalidade ⇔ Neoliberalismo (menos Estado e mais mercado)

• Mais importante:

com a nova institucionalidade

⇒ dinâmica econômica pautada mais pelos interesses patrimoniais e rentistas do que pela produção

⇒ privilégios à riqueza financeira e aos ganhos financeiros.

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Breve retrospecto • Exemplos de medidas tomadas desde o início dos anos 1990, que materializaram

essa nova institucionalidade:

Abertura financeira da economia (garantia de livre disposição dos recursos em divisas – retirada de regulações e controles);

Abertura do mercado de títulos brasileiros (privados e públicos);

Concessão de isenções tributárias a ganhos financeiros de não residentes;

Alterações legais para dar mais garantias aos direitos dos detentores de passivos públicos;

Reforma previdenciária para cortar gastos públicos e abrir o mercado previdenciário ao capital privado.

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Breve retrospecto

• Em paralelo com isso, veio a adoção, pós-estabilidade monetária, de:

política monetária rígida, com elevadíssimos juros reais; política fiscal idem (apesar dos déficits primários do 1º FHC); taxa de câmbio apreciada.

• Depois da crise cambial do início de 1999, essa política transformou-se no tripé macroeconômico até hoje vigente:

regime de metas de inflação; produção de superávits primários; regime de câmbio flutuante.

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Breve retrospecto • A ascensão do PT ao governo federal não alterou esta institucionalidade.

• Lula investiu em políticas sociais de alto impacto, mas deu continuidade às iniciativas para consolidar essa moldura institucional:

Reformou a lei de falências para dar mais garantias aos credores do setor privado; Adotou medidas para aumentar o grau de abertura financeira; Estendeu a reforma previdenciária ao funcionalismo público.

• Tampouco houve alteração na política econômica: temos continuidade de aperto monetário, juros reais elevadíssimos e superávit primário maior que o exigido pelo FMI.

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• A partir do segundo governo Lula, algumas mudanças pontuais foram tentadas no arcabouço de política econômica.

• Ao final de 2007 foi lançado o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – um volume de recursos equivalente a 13% do PIB para aplicação nos 4 anos seguintes nas áreas de transporte, energia, saneamento, recursos hídricos e habitação.

• O governo falava então de uma nova economia política. A expressão era evidentemente um exagero:

A política econômica permanecia, no essencial, a mesma;

A institucionalidade construída no início dos anos 1990 continuava intacta.

Breve retrospecto

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Breve retrospecto

• De qualquer forma, o PAC sinalizava alguma mudança, aproveitando a recuperação da economia graças a:

1. Crescimento da economia mundial e boom internacional de commodities; e

2. Algum efeito multiplicador das políticas sociais de alto impacto, a recuperação do emprego e o crescimento do grau de sua formalização.

• Ao final de 2008, o país é colhido pela crise financeira internacional, cujos efeitos se fazem presentes até hoje.

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Breve retrospecto • A reação do governo à crise foi composta por mais algumas heterodoxias, considerados

os cânones de política econômica onde até então ele se movia:

Política monetária relaxada e resultado primário reduzido; Bancos públicos fortalecidos e utilizados para destravar o crédito; Consumo e compra a crédito incentivados pelo próprio presidente; rápida expansão

do crédito; Concessão de subsídios à indústria automobilística e de eletrodomésticos.

• Mas é no primeiro governo Dilma que entra em cena a assim chamada “nova matriz econômica” e tem lugar aquilo que alguns analistas vêm chamando de “ensaio desenvolvimentista”.

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Diagnóstico da situação presente

• Havia então um diagnóstico de que o crescimento baseado no consumo estava se esgotando.

-4

-2

0

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PIB - taxa acum 4 trim (T4) - %

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Diagnóstico da situação presente

• Ao mesmo tempo as condições internacionais não permitiam prever uma recuperação da demanda externa.

• Percebeu-se como necessário recuperar a variável investimento.

Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria

0

5

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20

25

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35

2010 T1 2010 T2 2010 T3 2010 T4 2011 T1 2011 T2 2011 T3 2011 T4

FBKF - tx crescimento real trimestral 2010-2011 (%)

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Diagnóstico da situação presente • Mas ao mesmo tempo era preciso combater a inflação e elevar a

produtividade da economia.

Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria

• Apostou-se então na recuperação do Investimento privado, ao invés de no efeito multiplicador do investimento público.

3,5

4

4,5

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5,5

6

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7,5

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IPCA acum. 12 meses – jan 2009-jul 2011 (%)

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Diagnóstico da situação presente • A Nova Matriz Macroeconômica nasce assim como uma combinação de:

redução da taxa de juros para viabilizar a desvalorização do real e reduzir custos das empresas;

Adoção de algum controle sobre o fluxo internacional de capitais para evitar apreciação cambial;

políticas de desoneração de folha para compensar o real apreciado e incentivar o investimento privado;

aumento do resultado primário para controlar a inflação e abrir espaço fiscal para as desonerações;

queda forte do investimento público (como resultado).

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Diagnóstico da situação presente

Fonte dos dados primários: Ministério da Fazenda (STN). Elaboração: Profa. Laura Carvalho (FEA-USP)

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 (*)

Investimento Público Gov. Central – 2002-2014 (% PIB)

Formação Bruta de Capital Fixo Minha Casa Minha Vida

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Diagnóstico da situação presente

• Esse conjunto de medidas configurou uma mudança mais efetiva na política econômica até então vigente, em particular pela redução dos juros e pela adoção de controles s/ os fluxos de capital. (Se pode ou não ser chamado de desenvolvimentista é algo discutível, que será retomado quando das perspectivas.)

Cabe agora avaliar os resultados da nova matriz.

O que mais se aguardava era a recuperação da variável investimento da demanda agregada.

A redução dos juros, combinada às desonerações e à relativa desvalorização cambial derivada da queda dos juros deveria recuperar rapidamente a relação FBKF/PIB. Mas isso não acontece.

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Diagnóstico da situação presente

Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria

14,5

15,5

16,5

17,5

18,5

19,5

20,5

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

BRASIL - FBKF/PIB (%) - 2002-2014

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Diagnóstico da situação presente • Sem essa recuperação e com o consumo interno e a demanda

externa continuando sem dinamismo, o resultado para o PIB ficou longe do esperado.

Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria

-2

-1

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PIB tx real acum 4 trim – T1 2006 a T2 2015 (%)

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Diagnóstico da situação presente

• Muitas são as razões que podem explicar o resultado decepcionante do investimento. As mais importantes são:

as expectativas ruins sobre a renda e o consumo futuros, adiando investimentos privados; a possibilidade, por parte do capital produtivo privado, de elevar a margem de lucro sem

transformá-la em investimentos, num ambiente econômico com elevado grau de incerteza;

a continuidade do câmbio apreciado, desestimulando a busca de demanda externa e elevando a penetração das importações no mercado brasileiro;

a pouca disposição política de investir e fortalecer um governo visto cada vez mais como intervencionista; e

a própria redução dos investimentos públicos.

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Diagnóstico da situação presente • Mas além dos resultados ruins do Investimento e do Produto,

outros indicadores pioraram:

• O déficit de transações correntes cresceu muito; a inflação dava sinais de piora.

Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria

-95000

-75000

-55000

-35000

-15000

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25000

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

transações correntes - 1990-2013 (US$ milhões)

4,00

4,50

5,00

5,50

6,00

6,50

7,00

7,50

8,00

2010

.01

2010

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2010

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2010

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.03

2011

.05

2011

.07

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.09

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.11

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.01

2012

.03

2012

.05

2012

.07

2012

.09

2012

.11

2013

.01

2013

.03

2013

.05

IPCA acum. 12 meses - 2010-2013

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Diagnóstico da situação presente • No início de 2013, a política monetária retoma sua trajetória usual,

praticando-se uma forte elevação dos juros.

Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria

• Juros elevados + manutenção das desonerações + fraqueza do produto ⇒ piora das contas públicas (2014 fecha com resultado primário negativo pela primeira vez desde 2002).

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13ab

r/13

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t/13

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r/14

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t/14

jan/

15ab

r/15

jul/1

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t/15

SELIC taxa decidida pelo COPOM - 2010-2015

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Diagnóstico da situação presente

-600.000

-500.000

-400.000

-300.000

-200.000

-100.000

0

100.000

200.000

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NFSP - primário + juros nominais acum 12meses - R$ milhões

NFSP NFSP NFSP

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Diagnóstico da situação presente

Sobre as contas públicas: 1) Problemas existem, mas não é descalabro – nada capaz de assustar muito,

comparado a outros momentos já vividos pela economia brasileira. (Resultado primário negativo de 0,6% do PIB é aceitável. França, Índia, Canadá, Estados Unidos, México, Austrália, Espanha e Reino Unido, por exemplo, têm resultados bem piores.)

2) Resultado primário negativo + elevada despesa com juros + falta de dinamismo do produto ⇒ a relação dívida bruta/PIB também piora. (2014 fecha em 59%, contra 53% em 2013.) Novamente nenhum descalabro quando comparado a outros países. (Nos EUA e Canadá essa relação é de cerca 90%, no Reino Unido de 100% e no Japão passa dos 200%.)

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Diagnóstico da situação presente

Resultado prim. negativo + inflação no teto da meta ⇒ terrorismo midiático.

Terrorismo midiático + incerteza política + pressão dos interesses rentistas ⇒ presidente reeleita abandona a nova matriz.

Nova matriz é substituída pelos cânones da política ortodoxa (mais adequados à institucionalidade em vigor desde os anos 1990).

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Diagnóstico da situação presente

Os resultados dessa virada da política econômica são, até agora bem ruins. As duas variáveis mais visadas (inflação e contas públicas) apresentam sensível piora.

A inflação não cede porque seu principal problema não é o excesso de demanda, mas reajuste de preços administrados e desvalorização do câmbio (além da seca).

As contas públicas sentem o peso enorme dos juros, a queda de arrecadação e a própria retração do produto.

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Diagnóstico da situação presente

Fonte dos dados primários: BCB e Ipeadata. Elaboração própria Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria

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14

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15

NFSP - % do PIB - 2011-15

primário juros nominal total

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35,0

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45,0

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55,0

60,0

65,0

70,0

jan/

11

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11

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mai

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Dívida Bruta e Líquida - % do PIB 2011-15

Dívida Bruta Dívida Liquida

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Diagnóstico da situação presente

Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

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10,00

IPCA acum. 12 meses (%) 2012-2015

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8

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10

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0

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10

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1

out/

11

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12

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12

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13

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3

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13

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4

out/

14

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15

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15

jul/1

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Taxa de desemprego (%) - PME (IBGE) - 2009-2015

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Diagnóstico da situação presente

Fonte dos dados primários: Ipeadata. Elaboração própria

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PIB - taxa acum 4 trim (T4) - % - 2011-15

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Diagnóstico da situação presente: conclusão

O ajuste fiscal ortodoxo sobre uma economia já deprimida aprofundou a recessão e piorou os indicadores, cuja melhora se buscava.

Inflação e contas públicas estão piores hoje do que antes do ajuste.

O aprofundamento da recessão atinge rapidamente o nível de emprego, e o desemprego aumenta velozmente.

As conquistas sociais da última década estão ameaçadas.

Por conta de resultados que não causam alvoroço em muitos outros lugares do mundo, no Brasil, o Estado está impedido de agir contraciclicamente.

O que esperar desse cenário no curto, médio e longo prazos?

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Perspectivas para 2015-2016 Pressupostos das previsões de curto prazo

Permanência do modelo econômico ora vigente

Nenhum evento novo importante de cunho político, social ou econômico

Nenhuma alteração nos cargos mais importantes da área econômica, capaz de transformar radicalmente o ambiente

Relativa estabilidade no setor externo (ou seja, permanência de uma situação ruim para o Brasil)

Permanência da situação de ameaça de elevação da taxa de juros, porém sem efetivação, ou no máximo com elevação marginal.

Resumindo: Coeteris Paribus

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Perspectivas para 2015-2016

O que aconteceu com as expectativas de janeiro para cá?

O mercado via com otimismo o ajuste fiscal, percebido como rápido e necessário, para, em pouco tempo, retomar o crescimento (governo também parecia acreditar nisso).

Mas o mercado começou 2015 projetando crescimento de 0,5% para este ano e 1,5% para 2016 e está agora, 10 meses depois, em -3,1% para este ano e -1,9% para o próximo.

A conclusão é que o mercado foi surpreendido pela violência das consequências do ajuste.

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-3

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-1

0

1

2

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Previsão p/ o PIB 2015-2016 Boletim Focus janeiro a novembro – 1º boletim do mês

previsão PIB 2015 previsão PIB 2016

2015

2016

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Perspectivas para 2015-2016

O mesmo crescimento do pessimismo ao longo do ano se percebe nas expectativas com relação ao comportamento dos preços.

Mercado começa o ano projetando IPCA de 6,6% para este ano e de 5,6% para o ano que vem.

Agora essa previsão está em 10% para este ano e 6,5% para o ano que vem.

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10

11

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Previsão p/ o IPCA - 2015-2016 Boletim Focus

previsão IPCA 2015 previsão IPCA 2016

2016

2015

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Perspectivas para 2015-2016

Piora das expectativas em relação ao

produto ⇒ desestímulo ainda maior aos investimentos

Retração dos investimentos ⇒ piora ainda maior no produto agregado (círculo vicioso)

Cortes de gastos + complicação com a Petrobrás ⇒ investimentos públicos não podem compensar os investimentos privados

A perspectiva é de crescimento real nulo ou negativo para a FBKF em 2015 e 2016 e de redução de sua participação no PIB (a indústria de bens de capital encolhe faz 14 meses)

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FBKF - tx de crescimento real trimestral (%)

Nova matriz

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Perspectivas para 2015-2016

Retração do produto ⇒ retração do emprego

(Comentário: até agora o nível de emprego resistia bem ao crescimento muito baixo do PIB. Mas o bônus, derivado de questões demográficas – número menor de jovens na PIA – e sociais – número menor de jovens na PEA porque se dedicam exclusivamente aos estudos – não parece resistir às quedas continuadas do produto.)

A perspectiva é de elevação do nível de desemprego, ao menos até o final de 2016

(Comentário: a elevação continuada do nível de desemprego ao longo de dois anos constitui forte ameaça aos ganhos em redução de desigualdade recentemente obtidos).

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Perspectivas para 2015-2016 As contas públicas tampouco prometem uma recuperação rápida.

(Comentário: a expectativa era que o ajuste trouxesse rapidamente melhora nesses indicadores, mas o gasto com juros e a queda da arrecadação tendem a suplantar qualquer esforço que se faça no plano das despesas correntes e/ou de capital).

Em termos de relação com o PIB, a situação pode ser ainda pior.

Seja em relação aos fluxos (necessidades de financiamento do setor público), seja em relação aos estoques (dívidas bruta e líquida), a forte retração do PIB não colabora com esse tipo de indicador.

Difícil prever reversão, mesmo no caso do resultado primário, dada a forte queda do nível de arrecadação.

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Perspectivas para 2015-2016 • O comportamento da inflação até o final de 2016 dependerá fundamentalmente do

comportamento do câmbio.

Baixa pressão de demanda com economia em retração (apesar da persistência de algum grau de indexação na economia)

Preços administrados (energia, combustível etc.) sem defasagem ou com menores defasagens após sucessivos reajustes.

• Num ambiente de permanência de incerteza (principalmente política), o câmbio pode ter um comportamento errático, sendo vítima de sucessivos overshootings, o que dificulta as previsões.

• De qualquer forma, dada a previsão de continuidade de forte retração econômica, é possível prever para 2016 uma redução da taxa acumulada em 12 meses para o nível em torno de 6,0%.

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Perspectivas para 2015-2016 • O resultado das contas correntes deve continuar a melhorar no

futuro próximo (até 2016) (mais pela retração das importações do que pelo crescimento das exportações).

• Apesar da volatilidade do câmbio, dificilmente voltaremos a ter no curto prazo (até o final de 2016) os níveis de apreciação cambial que tivemos na última década e meia. -110.000

-90.000

-70.000

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10.000

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deficit em transações correntes 2011-2015 - US milhões

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Perspectivas para 2015-2016

Com relação à variável mais importante, o crescimento do produto, não dá para dizer que o mercado não tenha razão.

A permanecer tudo como está, a retração do PIB deve alcançar a casa dos 3% neste ano, ocorrendo nova retração em 2016 e mesmo, talvez, em 2017.

Isso, significa que a economia brasileira é inviável?

A resposta é não.

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Considerações sobre o médio e o longo prazos

1) A alteração de política econômica promovida por Dilma I não pode ser chamada propriamente de desenvolvimentista, mas talvez apenas de “ensaio heterodoxo”.

2) Seja como for, a institucionalidade vigente é incompatível com esse tipo de política e mais ainda com o desenvolvimentismo.

3) A institucionalidade vigente é incompatível, para resumir, com políticas pelo lado da demanda. Só parece compatível com políticas pelo lado da oferta.

4) Em Lula I e II a política predominante foi pelo lado da oferta, com alguma ênfase no crescimento da demanda doméstica. Mas esse crescimento foi baseado mais no consumo que no investimento (o PAC não andou) e o consumo, por sua vez, foi ancorado no crédito, mais do que no crescimento da massa salarial.

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Considerações sobre o médio e o longo prazos

5) O modelo “deu certo”, porque o ambiente internacional era extremamente favorável, mas trouxe como ônus a aceleração do processo de desindustrialização.

6) A tentativa de Dilma de resgatar o Investimento e brecar o processo de desindustrialização foi feita com políticas mais pelo lado da oferta (subsídios e desoneração para incentivar o investimento privado) do que pelo lado da demanda (os investimentos públicos foram penalizados).

7) Tampouco houve uma política industrial claramente definida. O ingrediente heterodoxo ficou por conta do enfrentamento dos juros e da tentativa de controlar os fluxos de capital. Por isso não se pode dizer que foi um “ensaio desenvolvimentista”.

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Considerações sobre o médio e o longo prazos

8) O ensaio heterodoxo de Dilma I não funcionou pela incompatibilidade entre a institucionalidade vigente e alguns dos elementos da nova matriz.

9) O círculo vicioso que envolve quedas sucessivas de investimento com impactos sobre o produto compromete o longo prazo) “E o que mais me preocupa é que uma recessão afeta não só o resultado hoje, mas tende a levar a um crescimento fraco no futuro, porque você não está investindo no capital humano, em novas tecnologias. Por isso, os efeitos são de longo prazo” (Stiglitz sobre o ajuste fiscal brasileiro em entrevista à FSP em 3/11).

Será que um ajuste recessivo dessa ordem era necessário?

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Considerações sobre o médio e o longo prazos

• Dani Rodrik, influente economista de Harvard, respondeu “Brasil” quando um repórter lhe perguntou, numa conversa em 27 de outubro último, qual era o país mais subestimado do mundo pelos investidores.

• “The market reaction to Brazil’s economic and political troubles has been overwhelmingly negative and some analysts wonder if the market is overreacting. Bloomberg analysis suggests it is.” (Bloomberg market Specialist - 6/11).

• O terror midiático sobre os resultados não tão bons das contas públicas brasileiras em 2014 é a expressão, pelo lado social e politico, da incompatibilidade entre a institucionalidade vigente (com os interesses que ela beneficia) e qualquer política parecida com desenvolvimentismo.

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Considerações sobre o médio e o longo prazos

• Materialmente não há nada que nos impeça de crescer com redução da desigualdade e inclusão social: temos um Mercado interno potencial enorme, um enorme território e riquezas naturais como poucos, além de uma população com bonus demográfico ainda por desfrutar, se as políticas forem na direção correta.

• Era uma inquietação desse tipo que angustiava Celso Furtado.

• O mesmo Dani Rodrik na mesma entrevista disse que apostaria no Brasil no longo prazo.

• O Brasil e suas elites precisam querer apostar.

OBRIGADA!