38
Economia Industrial Prof. Marcelo Matos Aula 16

Economia Industrial Prof. Marcelo Matos · Schumpeter, 1942, Tigre, 2005; Nelson e Winter, 1982 cap 4 e 5. Estrutura / Constituição da Empresa A Firma Penrosiana (Edith Penrose)

  • Upload
    ngodiep

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Economia Industrial

Prof. Marcelo Matos

Aula 16

Visões Institucionalistas da FirmaDe Penrose à abordagem Evolucionária

Possas (K&H 2013, cap18); Hasenclever e Tigre (K&H 2013, cap19);Schumpeter, 1942, Tigre, 2005; Nelson e Winter, 1982 cap 4 e 5

Estrutura / Constituição da EmpresaA Firma Penrosiana (Edith Penrose)• Empresa enquanto conjunto de recursos organizados

administrativamente• Empresa combina recursos não há relação biunívoca entre recurso e

serviço que dele se pode obter• Vários objetivos perseguidos objetivo amplo de crescimento• Conhecimento dá caráter único a cada firma

– Capacidade de gestão– Capacidade de aproveitamento dos serviços que podem prestar os demais

recursos• Especificidade - capacidades acumuladas ao longo do tempo

– Gerente busca melhorar o rendimento dos recursos de que dispõe– Possibilidades de criação de novos serviços produtivos– Estabelece limite à velocidade de crescimento

• Grande parte das habilidades são relacionadas a um contexto específicoe tácitas trabalho em equipe

• Vários objetivos perseguidos objetivo amplo de crescimento

Objetivos da Firma em abordagens alternativas

Schumpeter• Inovações como motor do desenvolvimento do capitalismo• Tipos:

– Produtos e serviços– Processo produtivo– Novos mercados– Fontes de matérias primas– Novas organizações dentro da indústria

• Destruição e criação de estruturas econômicasdesequilíbrio

• Busca de introduzir inovações e se apropriar de lucrosexcepcionais

• Sucesso de inovadores tende a mobilizar esforços similares decompetidores cluster de inovações

• Monopólios são “mau necessário” e tendem a ser temporários

Firma e Concorrência na Visão Evolucionária

A Abordagem Evolucionária da Firma

Teoria representa fusão de:

No que se refere à firma:Racionalidade limitada (Simon), Teorias comportamentais (Cyertand March) e visão baseada em competências (Penrose)

No que se refere à concorrência e dinâmicacapitalista:Papel da inovação e os processos de inovação (InspiraçãoSchumpeteriana)

No que se refere ao ambiente e às relações entreagentes:Perspectiva Institucional Discussão do contexto evolucionário(Winter).

Fundamentos de Teoria da Competências

• Simon, 1962:– Agentes econômicos são “intendedly rational but

only limitedly so” (H. Simon)– “… because individual human beings are limited in

knowledge, foresight, skill and time that organizationsare useful investments for the achievement of humanpurpose” (H. Simon)

– Em algumas circunstâncias (p.ex., jogo de xadrez)existe informação simétrica mas existem tantassoluções alternativas que mesmo um indivíduobrilhante tem dificuldades em sistematizar todas asalternativas.

– Importância de definição de racionalidade ”noprocedimento” de resolução de problemas

• Cyert and March 1963:– Na presença de racionalidade limitada, as

possibilidades de produção são descobertas atravésde mecanismos de busca.

– Conhecimento produtivo encontra-se incorporado e éimplementado através de ”procedimentos padrões deoperação.”

Racionalidade e Competências

• Racionalidade: agente com limitada capacidadecomputacional e cognitiva em ambiente de constantemudança (bounded rationality)

“The evolutionary response to the competence puzzlefocuses on the role of learning and practice and specificallyon the degree of correspondence between the currentchallenge and the earlier context in which experiencetrained the actors.”

Mesmo assim, organizações se revelam muitocompetentes. Como explicar?

Rotinas

Competências, aprendizado erotinas

Aprendizagem

Conhecimento

Competências, aprendizado e rotinasConhecimento

Conhecimento diferente da informação que pode lhe dar origem(ao contrario da teoria neoclássica)

Conhecimento está localizado na memória das organizações –nos processos de rotinização das suas atividades – que seconstituem na forma mais importante de armazenagem deconhecimentos operacionais específicos (Nelson e Winter, 1982)

Conhecimento tecnológico é visto como informação processadaque se torna relevante na busca de respostas de determinadosproblemas identificados pelos agentes (Fransman, 1994)

A natureza do conhecimento (pública ou privada) gera certasespecificidades com relação ao seu processo de transferência,afetando suas condições de acesso (Nelson, 1993)

Competências, aprendizado e rotinas

ConhecimentoNatureza tácita e codificada do conhecimento (Polanyi)

• Conhecimento codificado: pode ser estocado, copiado e transmitidofacilmente através de infra-estruturas de informações por meio deseu registro em manuais, normas e procedimentos. Este tipo deconhecimento é mais formalizado e pode ser transmitido com umbaixo custo através de longas distâncias.

• Conhecimento tácito: do tipo não formalizado, refere-se aoconhecimento que não pode ser facilmente transferido uma vez quenão está estabelecido em uma forma explícita. Este tipo deconhecimento não pode ser vendido ou comprado no mercado,sendo que sua transferência ocorre de maneira específica dentro docontexto social.

Competências, aprendizado e rotinas

AprendizagemA aprendizagem nas firmas caracteriza-se por ser umprocesso cumulativo que amplia o seu estoque deconhecimento, que implica em custos, que ocorre nointerior das firmas e está relacionado a diferentes fontesde conhecimento internas ou externas a ela (Malerba,1992)

Para Lundvall e Johnson (1994) aprendizagem é umprocesso essencialmente social e interativo que dependedo contexto institucional para possibilitar a criação etransmição de conhecimento

Rotinas

Competências, aprendizado e rotinas

Nas organizações há um fluxo de informações em rotinas deoperação que são provenientes de mensagens oriundas deoutros membros ou a partir do ambiente externo

O conhecimento reside na memória das organizações, istoé, na rotinização das atividades destas organizações –constitui-se na forma mais importante de armazenagem deconhecimentos operacionais específicos

Rotinas são, portanto, o conhecimento criadoe depositado a partir das informações

Rotinas

Competências, aprendizado e rotinas

Rotinas de organizações habilidades individuais

• Regras: sempre a mesma ação em dada situação

• Rotinas: mais complexas; padrão de reação e adaptação da ação asituações

• Organizações exploram informações de forma rotinizada

• Resistência à mudança

• Alto custo de acumulação e acesso a informações

• Formas de lidar com situações de conflito dentro das organizações

Rotinas diferentes de regras simples

Persistência de rotinas

Ação/escolhas guiadas por rotinas

A Abordagem Evolucionária da Firma

Teoria representa fusão de:

No que se refere à firma:Racionalidade limitada (Simon), Teorias comportamentais (Cyertand March) e visão baseada em competências (Penrose)

No que se refere à concorrência e dinâmicacapitalista:Papel da inovação e os processos de inovação (InspiraçãoSchumpeteriana)

No que se refere ao ambiente e às relações entreagentes:Perspectiva Institucional Discussão do contexto evolucionário(Winter).

• Endogeneidade da inovação no âmbito dos processoseconômicos

• Inovação como um processo gradual e contínuo, processocumulativo

• Atividade inovativa é um processo cumulativo

• Processos inovativos impõem intensas articulações dentroda firma, entre firmas e instituições de pesquisa e ensino

Inovação

Processo não linear com múltiplas inter-relações edeterminações

Inovações (na firma): • Inovações de produto

• Inovações de processo

• Inovações organizacionais

• Incerteza quanto aos resultados• Fatores econômicos, institucionais e sociais

desempenham um importante papel de seleção que operaex-ante e ex-post (Dosi, 1982)

• Apropriação dos resultados do esforço inovador comoestímulo para a busca inovativa Lucros exepcionais demonopólio

• Concorrência Schumpeteriana: Analogia com a biologiaDarwiniana vs. NC com analogia com física mecanicista(ação/reação)– Geração de variedade (mutação)– Seleção e validação por mercado e outras instituições (seleção natural)– Difusão (transmissão de características)

• A seleção final por parte do mercado pode ser equiparada aoambiente de seleção de mutações (Nelson e Winter, 1982)

Inovação

O processo inovativo

• A inovação não é um ato isolado

• A inovação é um processo coletivo/sistêmico

Modelo do processo inovativo?

O Modêlo “Chain-Linked” daInovação

Fonte: Kline and Rosenberg (1989)

Investigação

MercadoPotencial

InvençãoConcepção

Criação

DesignDesenvolvimento

DetalhadoTeste

RedesignFabricação

Distribuiçãoe

Mercado

Conjunto de conhecimentos científicos e tecnológicosK K K

I I I

D

S

M

Ff

cc == Cadeia central do processo de inovaçãoCadeia central do processo de inovação

ff == FeedFeed--back loops entre fases adjacentesback loops entre fases adjacentes

FF == FeedFeed--back entre diferentes fasesback entre diferentes fases

K IK I == Ligações entre conhecimento e a investigaçãoLigações entre conhecimento e a investigaçãoe respectivas ligações de retornoe respectivas ligações de retorno

DD == Ligação directa de/para investigação eLigação directa de/para investigação eproblemas de design e invençãoproblemas de design e invenção

MM == Contribuição do sector industrial para aContribuição do sector industrial para ainvestigação através de ferramentas, máquinas einvestigação através de ferramentas, máquinas e

instrumentos científicosinstrumentos científicos

SS == Constribuição e apoio financeiro das empresas àConstribuição e apoio financeiro das empresas àinvestigação científicainvestigação científica

Legenda do Modelo Chain-Linked

Modelo de Difusão Tecnológica

1. Direção: trajetórias tecnológicas dominantes2. Ritmo: velocidade e abrangência da difusão3. Fatores condicionantes: positivos e

negativos4. Impactos: emprego e qualificações

Ritmo ou velocidade de difusão

• A difusão geralmente assume a forma de S.

• É lenta inicialmente devido as incertezastecnológicas, ao alto custo e falta de serviços einfra-estrutura.

• Torna-se rápida a partir da comprovação dosucesso pelos pioneiros.

• Esgota-se pela ampla difusão e aparecimento deoutras inovações.

Ritmo ou velocidade de difusão

Modelo A-U (Abernathy & Utterback, 1978; Utterback & Suarez, 1992)

Transição Produto – ProcessoNo início:• A inovação centra-se em conceitos-produto• Pode ser conduzida por pequenas empresas• É essencialmente exploratória• Concorrência assenta em funcionalidades:• e estratégias de diferenciação.

Logo que surja um design dominante:• A inovação centra-se nos processos, distribuição e serviços associados ao

produto• Muitas empresas saem• As grandes que resistem são mais hierarquicas• Diferenciação vertical horizontal• Estratégicas de redução de custo.

Evoluação número de competidores• Fase inicial marcada por muitos competidores• Tendência à consolidação de “vencedores” e concentração

Taxa deinovação

tempo

Inovação no processo

Inovação no produto

Ritmo ou velocidade de difusão

Númerocompeti-dores

tempo

A Abordagem Evolucionária da Firma

Teoria representa fusão de:

No que se refere à firma:Racionalidade limitada (Simon), Teorias comportamentais (Cyertand March) e visão baseada em competências (Penrose)

No que se refere à concorrência e dinâmicacapitalista:Papel da inovação e os processos de inovação (InspiraçãoSchumpeteriana)

No que se refere ao ambiente e às relações entreagentes:Perspectiva Institucional Discussão do contexto evolucionário(Winter).

Instituições e organizações

Dosi (1988) destaca a importância do papel das instituiçõesna coordenação e organização da atividade econômicareferindo-se a natureza co-evolutiva da tecnologia, estruturasprodutivas e institucionais

Importância da variedade institucional e da formulação depolíticas industriais e tecnológicas

A análise da evolução das instituições relevantes implicanuma complexa interação entre as ações privadas de firmasem competição, associações industriais, órgãos técnicos,universidades, agências governamentais, aparelho jurídico,etc.Tanto a acumulação interna de conhecimento dentro dasfirmas, quanto as interações destas com outras firmas einstituições são fortemente afetadas pelo ambienteinstitucional

Instituições e organizaçõesA análise da evolução das instituições leva emconsideração a sua natureza path-dependency -instituições de hoje quase sempre possui conexões comaquelas do período anterior (Nelson, 1994)A evolução das instituições é extremamente dependentede sua trajetória passada, ou seja, de sua história(Strachman, 2000)Dadas as características das instituições decorrentes dastrajetórias históricas diferenciadas e das condições locais,essas vão impor especificidades aos vários países ouregiõesAs instituições podem tanto favorecer quanto retardar osurgimento de novas inovações, em função da existênciade um descompasso entre a estrutura institucional e aprodutiva/tecnológica

29

Paradigma tecnológico e Trajetóriatecnológica

• “Paradigma tecnológico é definido como um padrão desolução de problemas técnico-econômicos baseados emprincípios altamente selecionados derivados das ciênciasnaturais, conjuntamente com regras específicas queobjetivam adquirir conhecimento novo e resguardá-lo,sempre que seja possível, contra a rápida difusão para oscompetidores” (Dosi, 1988).

• As características de desenvolvimento desse paradigmafocam as dimensões path-dependence e cumulativa quevão construir a rota de determinado padrão de solução.

30

Paradigma tecnológico e Trajetóriatecnológica

• Trajetória tecnológica é o padrão de resolução doproblema “normal” no plano de um paradigma tecnológico(Dosi, 1988) semelhante a definição de Nelson eWinter (1982) de trajetória natural do progresso técnico;

•Assim, a trajetória tecnológica é definida como aatividade do progresso tecnológico ao longo de trade-offseconômicos e tecnologias determinadas pelo paradigma(Dosi, 1982).

31

Paradigma tecno-econômicoFreeman e Perez (1986)

• Sucessão de paradigma: mudanças tecnológicas envolvidas vãoalém de trajetórias de engenharia para produtos específicos ouprocessos tecnológicos que afetam as estruturas dos custos dosinsumos e as condições da produção ou distribuição

• Um novo paradigma emerge começando a demonstrar suasvantagens comparativas em alguns poucos setores, mas ainda emum mundo dominado por um velho paradigma.

• Mudanças têm ampla consequência em todos setores da economiade modo que a sua difusão é acompanhada por grandes crisesestruturais de ajustamento, em que mudanças sociais e institucionaissão necessárias para promover uma melhor combinação entre novastecnologias e o sistema de administração social da economia.

32

Paradigma tecno-econômicoFreeman e Perez (1986)

• Pérez (1998) usa como referencial para sua analise asondas longas de desenvolvimento (Kondratieff,Shumpeter,...);

• Crescimento econômico mundial vem experimentandociclos de 50 a 60 anos, com 20 a 30 de prosperidade,seguidos por 20 a 30 de crescimento desigual, derecessões e depressões;

• Explicação: surgimento de revoluções tecnológicassucessivas e sua difícil assimilação;

• O que é importante observar é que os períodos de maiore mais espetacular crescimento deriva das revoluçõestecnológicas, que precedem as décadas historicamentedescritas como auge e prosperidade total.

33

34

Paradigma tecno-econômico

Duplo impacto das revoluções tecnológicas:• “El resultado de este crecimiento explosivo de los nuevosproductos, de sus insumos y de la nueva red deinfraestructura que generalmente acompaña su desplieguees el surgimiento de polos de crecimiento en regiones ysectores distintos de los tradicionales, impulsando unproceso de cambio en la estructura de la economía y delempleo en cada país y en el mundo”.

• Tais acomodações são acompanhadas de fortesdesajustes nos preços relativos;• Também se produz um realinhamento entre países, regiõese empresas movendo para cima aqueles que dominam asnovas tecnologias.

35

36

Fonte: “Economia da informação, do conhecimento e do Aprendizado”, Lastres e Ferraz, 1999

37

38