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ECONOMIA INTERNACIONAL: NOTAS DE AULA Elaboraªo: Alexandre B. Cunha 9 O MODELO MUNDELL-FLEMING COM MC IMPERFEITA Neste tpico, estudaremos o modelo IS-LM-BP quando a curva BP Ø positivamente inclinada; tambØm consideraremos o caso limite em que ela Ø vertical. Com intuito de simplicar a anÆlise, assumiremos que: P Ø constante; C nªo depende de R. 9.1 Recapitulaªo As equaıes das curvas IS, LM e BP sªo dadas, respectivamente, por: Y = C (Y T )+ I (R)+ G + Z (q;Y;Y ) (1) M P = L(R; Y ) (2) Z (q;Y;Y )+ K (R R e )= (3) Equilbrio no modelo IS-LM-BP: ver grÆco 1 (vÆlido para cmbio xo e cmbio utuante). Deslocamentos da curva BP: Conforme mencionado no tpico 7, uma elevaªo em desloca a curva BP para a esquerda. 1

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ECONOMIA INTERNACIONAL: NOTASDE AULA

Elaboração: Alexandre B. Cunha

9 O MODELO MUNDELL-FLEMING COM MCIMPERFEITA

� Neste tópico, estudaremos o modelo IS-LM-BP quando a curva BP é positivamenteinclinada; também consideraremos o caso limite em que ela é vertical.

� Com intuito de simpli�car a análise, assumiremos que:

� P é constante;

� C não depende de R.

9.1 Recapitulação

� As equações das curvas IS, LM e BP são dadas, respectivamente, por:

Y = C(Y � T ) + I(R) +G+ Z(q; Y; Y �) (1)

M

P= L(R; Y ) (2)

Z(q; Y; Y �) +K(R�R� � �e) = � (3)

� Equilíbrio no modelo IS-LM-BP: ver grá�co 1 (válido para câmbio �xo e câmbio�utuante).

� Deslocamentos da curva BP:

�Conforme mencionado no tópico 7, uma elevação em � desloca a curva BPpara a esquerda.

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Notas de Aula para Economia Internacional Elaboração: Alexandre B. Cunha

� Fixe R e diferencie (3) com respeito à variável �.

@Y

@�=1

Z2< 0

� �� > 0: o banco central passa a acumular reservas internacionais maisrapidamente.

�Uma elevação em q desloca a curva BP para a direita.

@Y

@q= �Z1

Z2> 0

9.2 Magnitudes dos deslocamentos das curvas IS e BP

� Observe que Z(q; Y; Y �) aparece na equação da curva IS e na equação da curvaBP. Adicionalmente, um acréscimo em q ou Y � desloca ambas as curvas para adireita.

� Será que podemos dizer algo sobre magnitude relativa desses deslocamentos? Sim.Detalhes abaixo.

� Variação em q.

�Grá�co 2.

� Suponha que, para q = q0, as curvas IS e BP se cruzem no ponto (Y0; R0),Agora, assuma que o valor da taxa real de câmbio mude para q1 > q0.

�Fixe a taxa de juros no patamar R0. Para que equilíbrio das contas externasfosse reestabelecido, o produto precisaria atingir o patamar Y1 > Y0. Observeque Z(q0; Y0; Y �) = Z(q1; Y1; Y �), pois K e � permaneceram constantes.

�Por outro lado,Y1 � C(Y1 � T ) > Y0 � C(Y0 � T ) (4)

e

Y0 � C(Y0 � T ) = I(R0) +G+ Z(q0; Y0; Y�))

Y0 � C(Y0 � T ) = I(R0) +G+ Z(q1; Y1; Y�) . (5)

Combine (4) e (5). Este procedimento leva a

Y1 � C(Y1 � T ) > I(R0) +G+ Z(q1; Y1; Y �))Y1 > C(Y1 � T ) + I(R0) +G+ Z(q1; Y1; Y �) .

Logo, a taxa de juros que equilibra o mercado do produto para Y = Y1 eq = q1 é menor do que R0.

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Notas de Aula para Economia Internacional Elaboração: Alexandre B. Cunha

�Conclusão: o �deslocamento horizontal� da IS é menor do que o �desloca-mento horizontal�da BP.

� O mesmo vale para uma variação em Y �.

9.3 Câmbio Fixo

9.3.1 Política Fiscal

� Expansão �scal (�G > 0 e/ou �T < 0) com � constante.

�Hipótese: a inclinação da curva BP é menor do que a da curva LM.

�Ver grá�co 3.

� A0: equilíbrio inicial.� IS se desloca para a direita (política �scal).� Câmbio �xo e � constante: LM se desloca endogenamente para a direita.� A1: equilíbrio �nal.

�Resultado: �R > 0, �Y > 0, �M > 0.

� O sinal de �M depende das inclinações das curvas LM e BP.

�Potencial problema: sustentabilidade intertemporal do BP.

� �Z < 0; �K > 0

� �K > 0: aceleração do endividamento externo.

� Se em A0 o balanço de pagamentos estava em um equilíbrio de longoprazo, então o ponto A1 não pode ser um equilibrio de longo prazo.

� Expansão �scal (�G > 0 e/ou �T < 0) com M constante.

�Hipótese: a inclinação da curva BP é maior do que a da curva LM.

�Ver grá�co 4.

� A0: equilíbrio inicial.� IS se desloca para a direita (política �scal).� BP se desloca para a direita (�� < 0).� A1: equilíbrio �nal.

�Resultado: �R > 0, �Y > 0, �� < 0.

� O sinal de �� depende das inclinações das curvas LM e BP.

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Notas de Aula para Economia Internacional Elaboração: Alexandre B. Cunha

� Isso será discutido mais à frente.�Novamente, a sustentabilidade intertemporal do BP é um problema potencial.

� �Z < 0; �K > 0, �� < 0

� �K > 0: aceleração do endividamento externo do setor privado.� �� < 0: aceleração da perda de reservas internacionais.

� Se em A0 o balanço de pagamentos estava em um equilíbrio longo prazo,então o ponto A1 não pode ser um equilibrio de longo prazo.

� Tal problema terá natureza distinta se a inclinação da BP for menor doque a da LM; ver grá�co 5.

� �Z < 0; �K > 0, �� > 0� Aceleração do endividamento do setor privado e do acúmulo de reser-vas internacionais; porém, o endividamento total se acelerou (pois�Z < 0).

� Os exercícios acima têm uma importante implicação. Considere uma pequenaeconomia aberta com mobilidade de capital imperfeita (ou seja, curva BP positi-vamente inclinada).

� Se E está �xo e o governo deseja ter autonomia na condução da política �scal,então uma das duas variáveis M ou � será endógena.

� Mais precisamente: dentre as variáveis E, M e �, no máximo duas delasserão exógenas.

9.3.2 Política Monetária

� Uma expansão monetária deve ser acompanhada por (i) uma queda em � ou (ii)uma mudança na política �scal.

�Hipótese: a inclinação da curva BP é menor do que a da curva LM.

�Consideraremos o caso (i).

�Ver grá�co 6.

� Ponto A0: equilíbrio inicial.� LM se desloca para a direita (�M > 0).� BP se desloca para a direita (�� < 0).� A1: equilíbrio �nal.

�Resultado: �R < 0, �Y > 0, �� < 0.

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Notas de Aula para Economia Internacional Elaboração: Alexandre B. Cunha

� Esse resultado não depende das inclinações das curvas LM e BP.

�Caso (ii): o resultado e o tipo de ajuste �scal (expansão ou contração) de-pendem das inclinações das curvas LM e BP.

9.4 Câmbio Flutuante

� Em tal contexto, � = RLEE (pois KC = 0). Logo, � não é uma variável depolítica econômica. Desta forma, � sempre permanecerá constante.

� Exercício: �M > 0; G e T permanecem constantes.

�Hipótese: a inclinação da curva BP é menor do que a da curva LM.

�Ver grá�co 9.

� A0: equilíbrio inicial.� LM se desloca para a direita (�M > 0).� IS e BP se deslocam para a direita (�E > 0).� A1: equilíbrio �nal.� Observe que aqui nós utilizamos o resultado apresentado na seção 9.2.

�Resultado: �R < 0, �Y > 0, �E > 0.

� Esse resultado não depende das inclinações das curvas LM e BP.

�Como podemos garantir que um mesmo �E fará com que IS e BP se deslo-quem até a nova curva LM?

� Truque: dado E, seja X(E) o ponto no qual IS e BP se cruzam. Amedida que E cresce, X(E) se desloca para a direita.

� Grá�co 10; o novo ponto de equilibrio �cará entre X1 e X2.

� Exercício: �G > 0; M e T permanecem constantes.

�Hipótese: a inclinação da curva BP é maior do que a da curva LM.

�Ver grá�co 11.

� A0: equilíbrio inicial.� IS se desloca para a direita (�G > 0).� IS e BP se deslocam para a direita (�E > 0).� A1: equilíbrio �nal.

�Resultado: �R > 0, �Y > 0, �E > 0.

� O sinal de �E depende das inclinações das curvas LM e BP.

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Notas de Aula para Economia Internacional Elaboração: Alexandre B. Cunha

9.5 O Caso da Curva BP Vertical

� Assuma que a curva BP é vertical

�Ou seja, K não depende de R.

� Total controle no movimento de capitais ou situações de crise (1982).

� Exercício: �M > 0 com câmbio �xo.

�Ver grá�co 7.

� �� < 0

�Mais uma vez, existe um possível problema de sustentabilidade do balançode pagamentos.

� Exercício: expansão �scal.

�O governo precisará implementar pelo menos uma das seguintes políticas:�M < 0, �� < 0 ou �E > 0 (esta somente se estiver no regime de câmbio�xo).

� Considere agora a situação de uma economia com câmbio �xo no patamar �E emobilidade de capital (perfeita ou imperfeita) que está em um equilíbrio de longoprazo.

�O país se defronta com um sudden stop.

� Sudden stop: redução súbita no ingresso de capitais.� Crise da dívida externa em 1982.

�Ver grá�co 8.

�Opções de política econômica:

1. A1: manter G, T e E constantes e permitir que ocorra uma queda emM .

� IS e BP1 não se deslocam; LM se desloca.

2. A01: manter M e E constantes e efetuar um ajuste �scal.

� LM e BP1 não se deslocam, IS se desloca.

3. A0: manter M constante, desvalorizar a moeda doméstica e efetuar umajuste �scal.

� LM e IS não se deslocam; BP se desloca (de BP1 até o ponto A0).

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Notas de Aula para Economia Internacional Elaboração: Alexandre B. Cunha

4. Alguma combinação das alternativas anteriores.

� Minicaso: a crise de 1982.

�Choque do petróleo de 1974: Brasil e outros países latino-americanos pas-saram a ter um dé�cit em conta-corrente mais elevado. Ou seja, passaram ase endividar mais rapidamente.

�A política monetária dos EUA se tornou mais rígida a partir de 1981.

� Combinação: taxa de juros mais altas e dívida com taxa de juros �utu-antes.

�O México decretou moratória em agosto de 1982.

�México, Argentina, Chile e Brasil tiveram que renegociar as suas dívidasexternas.

�Ocorreu um sudden stop que afetou toda a América Latina.

�PIB do Brasil: + 9,2% em 1980; �4,3% em 1981; + 0,8% em 1982; �2,9%em 1983.

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