147
I UFOP - CETEC - UEMG REDEMAT REDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS UFOP – CETEC – UEMG Dissertação de Mestrado "Análise do Risco de Danos por vibração mecânica nos monumentos setecentistas do Caminho Tronco de Ouro Preto" Autor: Luiz Mauro de Resende Orientador: Prof. Adilson Rodrigues da Costa Junho de 2011

EDE EMÁTICA EM NGENHARIA DE ATERIAIS · monumentos setecentistas do Caminho Tronco de Ouro Preto" Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia

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  • I

    UFOP - CETEC - UEMG

    REDEMATREDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

    UFOP – CETEC – UEMG

    Dissertação de Mestrado

    "Análise do Risco de Danos por vibração

    mecânica nos monumentos setecentistas do

    Caminho Tronco de Ouro Preto"

    Autor: Luiz Mauro de Resende

    Orientador: Prof. Adilson Rodrigues da Costa

    Junho de 2011

  • II

    UFOP - CETEC - UEMG

    REDEMATREDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

    UFOP – CETEC – UEMG

    "Análise do Risco de Danos por vibração mecânica nos

    monumentos setecentistas do Caminho Tronco de Ouro Preto"

    Dissertação de Mestrado apresentada ao

    Programa de Pós-Graduação em Engenharia

    de Materiais da REDEMAT, como parte

    integrante dos requisitos para a obtenção do

    título de Mestre em Engenharia de Materiais.

    Área de concentração: Engenharia de Superfícies

    Orientador: Prof. Adilson Rodrigues da Costa

    Ouro Preto, Junho de 2011

  • III

    Catalogação: [email protected]

    R433a Resende, Luiz Mauro de.

    Análise do risco de danos por vibração mecânica nos monumentos setecentistas

    do Caminho Tronco de Ouro Preto [manuscrito] / Luiz Mauro de Resende. – 2011.

    xi, 136f.: il. color.; grafs., tabs., mapas.

    Orientador: Prof. Dr. Adilson Rodrigues da Costa.

    Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de

    Minas. Rede Temática em Engenharia de Materiais.

    Área de concentração: Análise e Seleção de Materiais.

    1. Vibração - Teses. 2. Mecânica - Vibração - Teses. 3. Monumentos -

    Preservação - Teses. 4. Patrimônio cultural - Conservação e restauração - Teses.

    5. Ouro Preto(MG) - Monumentos - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. II. Título.

    CDU: 534:725.94(815.1)

    CDU: 669.162.16

    mailto:[email protected]

  • IV

    RESUMO

    A conservação de um Centro Histórico é uma atividade que envolve aspectos múltiplos,

    passando pelo conhecimento dos materiais e das técnicas construtivas, dos agentes de

    degradação, das características do solo, da utilização dos espaços, e ainda outros.

    No caso de Ouro Preto, um aspecto a ser considerado é a incidência de vibrações

    mecânicas causadas pelo trânsito de veículos automotores. Estas vibrações são

    transmitidas do solo para as edificações, podendo causar danos.

    A intensidade e a desordem do trânsito de veículos na cidade de Ouro Preto geram um

    grave problema para a comunidade. Observamos com freqüência a ocorrência de

    acidentes, pondo em risco a integridade física das pessoas, e de danos ao patrimônio

    causados pelo efeito das vibrações.

    Esta dissertação estabelece os parâmetros científicos necessários ao entendimento da

    forma e das conseqüências da presença das vibrações no acervo edificado. Fornece os

    elementos e possibilita a formatação de um mapa de risco de danos para os setores de

    maior interesse de preservação.

    Para tanto, são utilizados conceitos científicos consagrados relacionados à composição e

    ao comportamento da matéria, conceitos matemáticos e estatísticos aplicados aos

    resultados obtidos nas medições das vibrações mecânicas dos solos superficiais, e ainda

    conceitos teóricos específicos da ciência da conservação e do restauro.

    Tal mapa foi idealizado a partir do cruzamento dos dados obtidos ao longo de pesquisa

    (tipo de solo, sistema construtivo, período do ano, horário, tipo e fluxo de veículos,

    níveis de vibração), e deverá subsidiar as ações restritivas ao trânsito de veículos no

    Centro Histórico. Ele pretende apresentar de forma clara e precisa os resultados obtidos

    na pesquisa, e facilita o entendimento das condições às quais estão submetidos

    determinados monumentos existentes na cidade.

  • V

    ABSTRACT

    The conservation of a historical site is an activity which involves multiple aspects,

    going through the knowledge of material and constructing techniques, the agents of

    degradation, the characteristics of the settling soil, the use of spaces and others.

    In the case of Ouro Preto, one aspect to be considered is the incidence of mechanical

    vibrations caused by the traffic of vehicles. Those vibrations are transmitted from the

    soil to the buildings and may cause damage.

    The intensity and disorder of traffic of vehicles in the city of Ouro Preto cause a great

    problem to the community. We have often observed the occurrence of accidents,

    threatening one’s physical integrity and the damages to the historical heritage caused by

    the effect of vibrations.

    This insight sets the necessary scientific parameters to the knowledge of the way and

    consequences of the presence of vibrations within the built heritage. It supplies the

    elements and enables the making of a damage risk map to the areas of greater interest of

    preservation.

    For so, old scientific concepts related to the composition and behavior of material,

    mathematical and statistical concepts applied to the results obtained in the

    measurements of mechanical vibrations on superficial soils, and moreover specific

    theorical concepts of the science of conservation and restoration are used.

    Such map was idealized from the crossing of data obtained throughout the research

    (type of soil, constructing system, time of year, time of day, type and flux of vehicles,

    levels of vibration), and shall subsidize the restrictive actions to traffic of vehicles in the

    Historical Center. It aims to show, clearly and precisely, the results gained in the

    research and helps understanding the conditions to which some city landmarks are

    submitted.

  • VI

    ÍNDICE

    RESUMO ........................................................................................................................... I

    ABSTRACT ......................................................................................................................II

    ÍNDICE ........................................................................................................................... III

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ..................................................................... V

    LISTA DE FIGURAS E FOTOS..................................................................................... V

    LISTA DE TABELAS ................................................................................................... VII

    1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................1

    1.1 - APRESENTAÇÃO ........................................................................................... 1

    1.2 - OBJETIVOS ............................................................................................... ..... 4

    1.2.1 - Objetivo Geral ........................................................................................... 4

    1.2.2 - Objetivos Específicos ............................................................................... 5

    2. BASES CONCEITUAIS....................................................................................... 6

    2.1 - OURO PRETO ................................................................................................. 6

    2.1.1 - Histórico e Evolução da Ocupação Urbana ........................................... ...7

    2.1.2 - Meio Físico ............................................................................................. 13

    2.1.2.1 - Geomorfologia e Geologia...........................................................13

    2.1.2.2 - Clima............................................................................................15

    2.1.2.3 - Vegetação e Hidrografia...............................................................16

    2.1.3 - O Problema das Vibrações em Ouro Preto ............................................. 17

    2.2 - VIBRAÇÕES VERSUS PRESERVAÇÃO .................................................... 19

    2.3 - VIBRAÇÕES ................................................................................................. 22

    2.3.1 - Conceitos..................................................................................................22

    2.4 - PRESERVAÇÃO......................................................................................... .32

    2.4.1 - Conceitos..................................................................................................32

    2.4.2 - Análise da Consistência dos Dados de Conservação...............................34

    2.5 - INFLUÊNCIA DA VIBRAÇÃO NA DEGRADAÇÃO DE

    MONUMENTOS ............................................................................................................ 34

    2.6 - TRABALHOS CORRELACIONANDO VIBRAÇÕES E DEGRADAÇÃO

    DE MONUMENTOS ..................................................................................................... 37

    2.7 - VULNERABILIDADE DE UMA EDIFICAÇÃO FRENTE ÀS

    VIBRAÇÕES...................................................................................................................47

    3. METODOLOGIA................................................................................................50

    3.1 - INTRODUÇÃO ............................................................................... ...............50

    3.2 - COLETA DE DADOS .................................................................................... 53

    3.2.1 - Dados dos Vibrações........................................................................... ... 53

    3.2.2 - Parâmetros de Medição das Vibrações....................................................55

    DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091906#_Toc137091906DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091907#_Toc137091907DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091908#_Toc137091908DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091909#_Toc137091909DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091910#_Toc137091910DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091911#_Toc137091911DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091912#_Toc137091912DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091913#_Toc137091913DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091914#_Toc137091914DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091915#_Toc137091915DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091916#_Toc137091916DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091918#_Toc137091918DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091919#_Toc137091919DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091920#_Toc137091920DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091921#_Toc137091921DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091922#_Toc137091922DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091923#_Toc137091923DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091924#_Toc137091924DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091925#_Toc137091925DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091926#_Toc137091926DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091926#_Toc137091926DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091927#_Toc137091927DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091927#_Toc137091927DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091928#_Toc137091928DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091929#_Toc137091929DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091930#_Toc137091930DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091931#_Toc137091931

  • VII

    3.3 - ANÁLISE DA CONSISTÊNCIA DOS DADOS DAS

    VIBRAÇÕES............................... ................................................................................60

    3.4 - ANÁLISE PRELIMINAR DA ESTRUTURA...................................... ........61

    3.4.1 - Percentagem da Área em Planta...............................................................62

    3.4.2 - Relação Entre a Área Efetiva e o Peso.....................................................62

    3.4.3 - Método Simplificado Baseado na Resistência ao Corte das Paredes.......63

    3.5 - CORRELAÇÃO ENTRE VIBRAÇÃO E DEGRADAÇÃO..........................63

    3.5.1 - Comportamento e Modos de Ruptura de Estruturas................................64

    3.5.2 - Relação entre vibração e degradação...................................................... 68

    3.6 - A ESTATÍSTICA................................................................................................70

    3.6.1 - Introdução................................................................................................70

    3.6.2 - Análise dos Riscos Inerentes às Vibrações Transmitidas às Estruturas...71

    3.6.3 - Análise de Risco, Vulnerabilidade, e Previsão de Eventos Adversos.....72

    3.6.4 - Relatório de Risco Como Meio de Gestão do Risco e de Minimização de

    Impacto de Eventos Adversos.........................................................................................77

    3.6.5 - Classificação do Risco Como Exigência.................................................78

    3.6.6 - Possíveis Aplicações de Análise de Risco às Vibrações Transmitidas às

    Estruturas.........................................................................................................................79

    3.6.7 - Conclusões...............................................................................................84

    4. CONTEXTUALIZAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS.......................86

    4.1 - INTRODUÇÃO ............................................................................................. 86

    4.2 - VIBRAÇÕES NOS AMBIENTES..................................................................87

    4.2.1- Fontes e Efeitos das Vibrações................................................................87

    4.2.2- Propagação das Ondas pelo Solo.............................................................88

    4.2.3- Atenuação das Ondas com a Distância....................................................89

    4.2.4- Vibração em Edifícios..............................................................................90

    4.2.5- Vibrações Continuadas e Impulsivas................................ ......................90

    4.3 - NORMATIZAÇÃO DE CONTROLE DE VIBRAÇÃO EM

    CONTRUÇÕES...........................................................................................................91

    4.3.1- Critérios de Admissibilidade...........................................................................93

    4.3.2- Normas Portuguesas e Critérios LNEC...........................................................93

    4.4 - A NORMA PORTUGUESA 2074..................................................................95

    4.5 - CRITÉRIOS INTERNACIONAIS......................................................................96

    4.6 - CONCLUSÕES...................................... ..........................................................100

    4.7- DADOS DO CADASTRO DOS EDIFÍCIOS....................................................102

    5. CONCLUSÃO ............................................................................................. 121

    5.1 - INTRODUÇÃO.................................................................................................121

    5.2 - DIAGNÓSTICO............................................................................................121

    5.3 - TRATAMENTO................................................................................................123

    5.4 - SUGESTÕES PARA PESQUISAS ADICIONAIS ..................................... 124

    DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091934#_Toc137091934DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091935#_Toc137091935DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091937#_Toc137091937DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091939#_Toc137091939DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091941#_Toc137091941DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091942#_Toc137091942DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091953#_Toc137091953DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091953#_Toc137091953DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091954#_Toc137091954DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091940#_Toc137091940DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091967#_Toc137091967DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091968#_Toc137091968DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091969#_Toc137091969

  • VIII

    REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 127

    1- Fontes Primárias........................................................................................................127

    2- Referências Bibliográficas........................................................................................127

    ANEXO I - MAPA GEOTÉCNICO DE OURO PRETO

    ANEXO II – LEVANTAMENTO CADASTRAL DO CAMINHO TRONCO DE OURO

    PRETO

    ANEXO III - PLANTA CADASTRAL DO MUNICÍPIO DE OURO PRETO

    L I S T A D E S I G L A S E A B R E V I A T U R A S

    Alcan – Alumínio Minas Gerais S/A

    BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

    IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

    IEF – Instituto Estadual de Florestas

    INBISU – Inventário Nacional dos Bens Imóveis – Sítios Urbanos

    IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

    MinC – Ministério da Cultura

    UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto

    UNESCO – United Nations Education, Scientific and Cultural

    ZPE – Zona de Proteção Especial

    L I S T A D E F I G U R A S E F O T O S

    F i g u r a s

    FIGURA 1 – Mapa Mundial de Epicentros Sísmicos e Suas Profundidades............ 2

    FIGURA 2 - Evolução da ocupação em Ouro Preto (Modificado de Faria, 1996).... 11

    FIGURA 3 – Mapa da ocupação atual de Ouro Preto............................................... 12

    FIGURA 4 – Esboço Geológico da Região de Ouro Preto (Fonte: Sobreira &

    Fonseca, ) 2001..........................................................................................................

    15

    FIGURA 5 – Gráfico dos Índices Pluviométricos mensais de Ouro Preto................ 16

    FIGURA 6 - Ondas de Corpo e Ondas de Superfície................................................ 26

    FIGURA 7-A – Comprimento de onda. de onda na água......................................... 27

    FIGURA 7-B – Comprimento de ondas numa corda................................................ 27

    FIGURA 8 – Amplitude e Comprimento de onda..................................................... 27

    FIGURA 9 – Vibração de um Pêndulo. .................................................................... 29

    FIGURA 10 – Sismógrafo......................................................................................... 31

    FIGURA 11 – Representação do comportamento do edifício frente à vibração...... 35

    DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091970#_Toc137091970DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091971#_Toc137091971DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091975#_Toc137091975DissertaçãoFinal%20LuizR.doc#_Toc137091975#_Toc137091975

  • IX

    FIGURA 12 – Gráfico do Nível de Ruído no Centro............................................... 43

    FIGURA 13 – Gráfico do Nível de Ruído no Bairro Antônio Dias.......................... 43

    FIGURA 14 – Gráfico do Nível de Ruído nas Igrejas.............................................. 44

    FIGURA 15 – Gráfico das Vibrações no Centro....................................................... 44

    FIGURA 16 – Gráfico das Vibrações no Bairro Antônio Dias................................. 45

    FIGURA 17 – Gráfico das Vibrações nas Igrejas...................................................... 45

    FIGURA 18 – Fluxograma das etapas do trabalho.................................................... 51

    FIGURA 19 - Trecho inventariado pelo Programa Monumenta. FONTE: IPHAN.

    INBI-SU. Rio de Janeiro (2002)................................................................................

    52

    FIGURA 20- valores de velocidade de vibração em mm/s em função da

    freqüência em Hz e das características da estrutura...................................................

    57

    FIGURA 21 - diagrama proposto pela recomendação francesa das vibrações

    admitidas para os três tipos de estrutura....................................................................

    59

    FIGURA 22 - Estudo das trincas em um edifício esquemático................................. 63

    FIGURA 23 – Esquemas representativos da análise do perigo e análise do risco 75

    FIGURA 24 – Exemplo de representação gráfica da lei de propagação de

    vibrações....................................................................................................................

    81

    FIGURA 25 – Exemplo de Mapa de Risco de Danos por Vibrações Mecânicas...... 84

    FIGURA 26 – Atenuação das Vibrações com a Distância........................................ 90

    FIGURA 27 – Efeito da Litologia do Terreno na Velocidade nas Velocidades........ 92

    FIGURA 28 – Localização dos Monumentos em Planta Cadastral........................... 103

    F o t o s

    FOTO 1 – Rua das Flores – Acidente com vítima Fatal............................................ 20

    FOTO 2 – Praça Américo Lopes S/N – Colisão no Chafariz do Pilar....................... 20

    FOTO 3 – Praça Tiradentes S/N – Prédio da Escola de Minas.................................. 34

    FOTO 4 – Rua Felipe dos Santos – Pousada Vila Rica............................................. 34

    FOTO 5 – Rua São José 12 – Casa dos Contos......................................................... 36

    FOTO 6 – Praça Tiradentes 33 – Casa da Baronesa.................................................. 67

    FOTO 7 – Museu da Inconfidência............................................................................ 104

    FOTO 8 – Prédio da Escola de Minas........................................................................ 104

    FOTO 9 – Passo à Praça Tiradentes .......................................................................... 104

    FOTO 10 – Igreja de Nossa Senhora do Carmo ....................................................... 105

    FOTO 11 – Casa de Ópera......................................................................................... 105

    FOTO 12 – Hotel Casa da Ópera .............................................................................. 105

    FOTO 13 – Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia ............................. 106

    FOTO 14 – Prédio do IFAC ...................................................................................... 106

    FOTO 15 – Chafariz dos Contos ............................................................................... 106

    FOTO 16 – Casa dos Contos...................................................................................... 107

    FOTO 17 – Ponte da Rua São José ........................................................................... 107

    FOTO 18 – Passo da Rua São José ........................................................................... 107

    FOTO 19 – Antigo Hotel Central ............................................................................. 108

    FOTO 20 – Passo da Rua do Rosário........................................................................ 108

    FOTO 21 – Casa da FAOP ....................................................................................... 108

    FOTO 22 – Igreja de Nossa Senhora do Rosário ...................................................... 109

    FOTO 23 – Ponte do Rosário .................................................................................... 109

  • X

    FOTO 24 – Passo da Ponte Seca ............................................................................... 109

    FOTO 25 – Ponte Seca............................................................................................... 110

    FOTO 26 – Chafariz da Rua Antônio de Albuquerque ............................................ 110

    FOTO 27 – Capela do Senhor do Bonfim.................................................................. 110

    FOTO 28 – Chafariz do Pilar..................................................................................... 111

    FOTO 29 – Ponte do Pilar.......................................................................................... 111

    FOTO 30 – Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar................................................ 111

    FOTO 31 – Casa do Pilar........................................................................................... 112

    FOTO 32 – Igreja de São Francisco de Assis............................................................ 112

    FOTO 33 – Chafariz do Passo de Antônio Dias........................................................ 112

    FOTO 34 – Chafariz do Passo de Antônio Dias........................................................ 113

    FOTO 35 – Casa de Gonzaga.................................................................................... 113

    FOTO 36 – Oratório da Rua Barão de Ouro Branco................................................. 113

    FOTO 37 – Chafariz do Alto da Cruz ....................................................................... 114

    FOTO 38 – Capela de Nossa Senhora das Dores....................................................... 114

    FOTO 39 – Passo da Rua Alvarenga......................................................................... 114

    FOTO 40 – Casa à Rua Alvarenga 383...................................................................... 115

    FOTO 41 – Casa à Rua Alvarenga 480...................................................................... 115

    FOTO 42 – Igreja do Bom Jesus do Matosinho....................................................... 115

    FOTO 43 – Chafariz do Alto das Cabeças............................................................... 116

    FOTO 44 – Sede da FAOP........................................................................................ 116

    FOTO 45 – Igreja de São Francisco de Paula.......................................................... 116

    FOTO 46 – Igreja de São José................................................................................... 117

    FOTO 47 – Ponte da Barra........................................................................................ 117

    FOTO 48 – Chafariz da Praça de Marília................................................................ 117

    FOTO 49 – Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias........... 118

    FOTO 50 – Ponte de Antônio Dias.......................................................................... 118

    FOTO 51 – Igreja de Santa Efigênia......................................................................... 118

    FOTO 52 – Capela de Nossa Senhora do Rosário de Padre Faria............................. 119

    FOTO 53 – Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões...................................... 119

    FOTO 54 – Casa da Baronesa.................................................................................... 119

    FOTO 55 – Pousada Vila Rica.................................................................................. 120

    FOTO 56 – Pavimetnação Rua Xavier da Veiga....................................................... 124

    FOTO CAPA – Montagem de vistas de Ouro Preto

    AUTORES: Robson Godinho e Rodrigo Marcandier, 2002

    L I S T A D E T A B E L A S

    TABELA 1 – Evolução da população de Ouro Preto.............................................. 6

    TABELA 2 - Comparação entre Reações Humanas e Efeitos sobre as

    Edificações...............................................................................................................

    42

    TABELA 3 – Níveis seguros de velocidades de vibração da partícula para

    estruturas civis (Fonte: Bacci, 2000, adaptado de Siskind et al., 1980)...................

    55

  • XI

    TABELA 4 – Valores máximos de velocidade de vibração da partícula, adotados

    pela Norma AS2187, segundo os tipos de construções civis (Fonte: Bacci, 2000,

    adaptado de Scott, 1996)..........................................................................................

    55

    TABELA 5 - Valores limites estabelecidos pelo CMRI para vibrações na

    fundação a diferentes níveis de freqüência (Fonte: adaptado de Pal Roy, 1998)....

    56

    TABELA 6 – Valores mínimos de vibrações produzidas por desmontes nos quais

    ocorreram danos, medidos nas estruturas, segundo CMRI (1991)..........................

    56

    TABELA 7 – Valores admitidos pela norma alemã para danos em

    edifícios....................................................................................................................

    57

    TABELA 8 – Valores sugeridos pela norma suíça. Os valores de Vp foram

    medidos para fontes de vibração de tipo ocasional.................................................

    58

    TABELA 9 - Valores de velocidade de vibração da partícula, segundo a

    recomendação francesa............................................................................................

    59

    TABELA 10 – Valores limites de Vp na componente vertical em mm/s para

    danos em estruturas civis.........................................................................................

    60

    TABELA 11 – Limites estabelecidos na NP 2074, para a velocidade da vibração

    de pico (mm.s-1)......................................................................................................

    96

    TABELA 12 - Critérios de dano para estruturas submetidas a vibrações................ 97

    TABELA 13 – Comparação de diferentes cenários com velocidade vibratória de

    pico igual (15mm.s-¹)...............................................................................................

    98

    TABELA 14 - Tabela para determinação do Grau de Risco Geotécnico................ 124

  • 1

    1 . I N T R O D U Ç Ã O

    1 . 1 – A P R E S E N T A Ç Ã O

    Grande parte dos estudos que envolvem as vibrações nos solos deve-se à necessidade de

    compreensão dos fenômenos sísmicos de grande porte, os terremotos, pois eles

    oferecem grandes riscos à vida e ao patrimônio das pessoas. A compreensão destes

    fenômenos facilita a proposição de ações preventivas para a proteção das comunidades

    envolvidas em tais situações.

    Estes fenômenos estão associados à movimentação das placas tectônicas espalhadas

    pela superfície do planeta. A forma e a localização destas placas já foram mapeadas em

    estudos geológicos, e sabe-se que a possibilidade de ocorrência de grandes abalos

    sísmicos está restrita a algumas regiões preferenciais do planeta (FIG. 1). Estes abalos

    fazem parte do processo natural de acomodação das placas tectônicas, e são registrados

    em intensidades variadas, sendo que a maioria deles não é sequer percebida sem o uso

    de equipamento adequado.

    No continente americano, a faixa costeira oeste é uma destas regiões de maior

    probabilidade de ocorrência destes fenômenos, devido ao deslocamento de toda a massa

    continental neste sentido. Este deslocamento é responsável pelo surgimento de cadeias

    de montanhas alinhadas no sentido vertical; os Andes na América do Sul e as

    Montanhas Rochosas na América do Norte.

    Existem também os abalos sísmicos nos solos sob os mares e oceanos, os maremotos,

    que também oferecem perigo às populações. Possuem a mesma origem dos terremotos e

    são perigosos pela possibilidade de formação de ondas gigantes que atingem as regiões

    costeiras. Sua formação e desenvolvimento são igualmente estudados, no sentido de

    minimizar o impacto da sua ação sobre as populações, já que não são fenômenos

    passíveis de controle pelo ser humano.

  • 2

    Figura 1 - Mapa Mundial de Epicentros Sísmicos e Suas Profundidades

    Porém, além do caráter preventivo dos danos causados pelos terremotos e maremotos,

    outras atividades humanas carecem de informações quanto ao funcionamento dos

    sismos e ao efeito das vibrações incidentes nos solos, mesmo aquelas de pequena

    intensidade. A preservação do patrimônio cultural é uma destas atividades, já que as

    vibrações são transmitidas para as edificações, podendo causar vários tipos de danos ao

    acervo edificado.

    Para facilitar a identificação do tipo de onda vibratória que trataremos neste trabalho,

    vamos separar esta fenomenologia em dois grandes grupos. Um deles caracterizado pelo

    longo alcance das ondas, e nele estão incluídos os tremores de terra causados pela

    movimentação das placas tectônicas que cobrem a superfície do planeta. Este fenômeno

    composto de ondas mecânicas de longo alcance não será objeto específico de estudos

    neste trabalho. Será abordado apenas como conceituação teórica com a finalidade do

    entendimento de um outro modelo de ondas mecânicas.

    O outro modelo é reconhecido pelo pequeno alcance das ondas e pela possibilidade de

    controle do fenômeno, já que tem origem na atividade humana. Mesmo apresentando

  • 3

    ondas mecânicas de pequeno alcance, seu resultado pode ser bastante nocivo. Este

    grupo apresenta uma série de fatores que dão origem às vibrações, como veremos a

    seguir. Um destes fatores corresponde ao trânsito de veículos automotores circulando

    pelas ruas do Centro Histórico. Ele será o objeto principal dos nossos estudos.

    Os danos com origem nas vibrações mecânicas ao patrimônio são mais intensos em

    cidades históricas devido às características das suas edificações e pelo tipo de

    pavimentação das suas vias. Estas edificações são mais sensíveis às vibrações

    provocadas pelo trânsito de veículos principalmente pela rusticidade do pavimento das

    suas ruas, que geralmente são em blocos prismáticos de pedra ou paralelepípedos

    (poliedro regular de rocha ígnea), o que proporciona uma superfície extremamente

    irregular. Esta irregularidade propicia a geração de níveis mais elevados de vibração

    frente ao trânsito de veículos automotores.

    O efeito das vibrações provocadas pelos veículos pesados que atualmente circulam em

    Ouro Preto pode ser observado pelo surgimento de trincas e fissuras nos edifícios,

    exigindo manutenção e conservação em intervalos menores. Dependendo do nível de

    vibração, estes edifícios podem, com o tempo, sofrer danos estruturais graves e de

    difícil correção, colocando em risco o patrimônio tombado.

    As edificações antigas foram construídas numa época que não havia uma preocupação

    com vibrações com origem no tráfego que era constituído basicamente por carroças e

    animais.

    Além das vibrações instaladas por razões intrínsecas a estes solos, como a

    movimentação das placas tectônicas, as pressões naturais provocadas pela altitude e pela

    temperatura, os esforços com origem nos desaterros ou alterações do perfil natural, o

    uso de explosivos, dentre outras, destacamos a vibração pelo trânsito de veículos. Este

    tipo de vibração pode atingir índices significativos e comprometer em maior ou menor

    grau o patrimônio edificado.

  • 4

    1 . 2 – O B J E T I V O S

    1 . 2 . 1 – O b j e t i v o G e r a l

    O objetivo geral desta pesquisa é dar continuidade aos estudos sobre o comportamento

    das edificações antigas frente à presença das vibrações mecânicas provocadas pelo

    trânsito de veículos na cidade de Ouro Preto, mais precisamente, no Caminho Tronco*,

    setor mais antigo e de maior interesse de preservação. Este caminho abrange os bairros

    de Cabeças, Rosário, Pilar, Centro, Lajes, Carmo, Antônio Dias, Santa Efigênia e Padre

    Faria (FIG. 19).

    Como em qualquer Centro Histórico (doravante denominado CH), o efeito das

    vibrações pode ser observado nos edifícios sob a forma de lesões ou trincas que surgem

    nos panos de vedação, principalmente nas proximidades dos vãos de abertura ou

    esquadrias. A evolução destas lesões causa descolamentos e perda de material, pondo

    em risco o esquema estrutural do bem.

    Muito se fala sobre o efeito das vibrações nos edifícios, sejam eles antigos ou não. O

    que podemos perceber é que nos edifícios modernos o efeito das vibrações não se

    manifesta de forma acentuada, uma vez que o sistema construtivo utiliza materiais e

    técnicas bastante distintas, com estrutura usualmente contraventada ou amarrada.

    Já nos edifícios antigos o efeito das vibrações mecânicas causa danos mais evidentes. O

    travamento da estrutura não é tão efetivo quanto nas estruturas novas e os materiais

    utilizados não resistem bem aos esforços de tração impostos pelo movimento vibratório.

    * Vila Rica formou-se a partir de um eixo estruturador: ao longo das catas de ouro eram

    construídas barracas, organizadas em torno de uma capela provisória, que consolidaram os

    arraiais e, em 1711, uma vila que se desenvolveu ao longo de um caminho tronco.

  • 5

    1 . 2 . 2 – O b j e t i v o E s p e c í f i c o

    As vibrações mecânicas e suas implicações representam apenas um dos problemas

    provocados pelo trânsito de veículos na cidade de ouro Preto. A desordem deste trânsito

    tem causado uma série de danos à comunidade. Observamos atualmente a ocorrência de

    acidentes graves, pondo em risco a vida das pessoas, e também de danos ao patrimônio

    cultural, com perda para a conservação dos edifícios históricos.

    A implantação de um novo código restritivo ao trânsito de veículos na cidade não tem

    revelado eficiência para promover conforto e segurança para as pessoas e nem assegurar

    a integridade física dos imóveis. Com isso, os danos se avolumam.

    Este trabalho de pesquisa estabelece os parâmetros científicos da suposta degradação

    por vibrações mecânicas ao patrimônio edificado, com foco no NH de Ouro Preto, e

    propõe uma metodologia para elaboração de um Mapa de Risco de Danos para o setor,

    com a finalidade de subsidiar, caso necessário, as ações restritivas ao trânsito de

    veículos na cidade.

  • 6

    2 - B A S E S C O N C E I T U A I S

    2.1 - OURO PRETO

    A área de estudo deste trabalho abrange parte da zona urbana do município de Ouro

    Preto, cidade na região centro-sul de Minas Gerais, Brasil. A cidade encontra-se na

    porção sudeste do Quadrilátero Ferrífero, possui uma área de 1.274 km² com as altitudes

    variando entre 989 (Foz do Rio Maracujá) e 1.772 (Pico do Itacolomi) metros. Segundo

    os dados do IBGE, em 2000 sua população total é de aproximadamente 66.277

    habitantes, sendo que a taxa de crescimento da população de Ouro Preto se mostrou

    significativa no período. A Tabela 1 ilustra a evolução dos números da população

    urbana de Ouro Preto, no período de 1960 a 2000.

    ANOS URBANA RURAL TOTAL

    1960 - - 33.927

    1970 31.883 14.282 46.165

    1980 37.964 15.446 53.410

    1991 - - 62.483

    1992 - - 63.800

    1993 - - 65.003

    2000 56.292 9.985 66.277

    Tabela 1– Evolução da população de Ouro Preto

    Fonte: Fundação Instituto de Geografia e Estatística (IBGE).

    A distância entre Ouro Preto e a atual capital do Estado, Belo Horizonte, é de

    aproximadamente 100 km. A cidade possui como limite ao norte as cidades de Itabirito

    e Santa Bárbara, ao sul Ouro Branco, Catas Altas da Noruega, Piranga e Itaverava, a

    leste a cidade de Mariana e a oeste Belo Vale e Congonhas.

    Na zona urbana da sede do município de Ouro Preto existem muitos problemas

    relacionados com as vibrações mecânicas com origem no trânsito de veículos. Há vários

    anos, temos presenciado na cidade a ocorrência de acidentes com origem na desordem

    do trânsito, com conseqüências dramáticas para o acervo arquitetônico e para a vida das

    pessoas. Em alguns pontos críticos aconteceram graves e reincidentes acidentes que

    danificaram edifícios, chafarizes, capelas, passos, e, principalmente, que foram fatais

  • 7

    para a vida humana. Dentre estes pontos críticos podemos destacar o entorno imediato

    da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar e a ladeira da Rua das Flores.

    Além dos danos por choque mecânico incidindo de forma direta no monumento, um

    fator de degradação parece comprometer bastante a conservação do conjunto edificado

    em Ouro Preto: as vibrações mecânicas com origem no trânsito dos veículos, que são

    transmitidas pelo solo até as fundações dos edifícios. As evidências deste

    comprometimento se mostram em forma de fissuras, trincas, e até mesmo rachaduras

    nas paredes dos imóveis. Este comprometimento se dá de acordo com o tipo e a

    intensidade do fluxo de veículos no setor.

    2.1.1 - Histórico e Evolução da Ocupação Urbana

    A área onde se situa a cidade de Ouro Preto foi descoberta pelos bandeirantes no final

    do século XVII, em 1698, e sua ocupação se efetivou já na primeira década do século

    seguinte. Os habitantes pioneiros distribuindo-se em núcleos esparsos, localizados nos

    morros ou às margens de córregos onde era maior a afluência do ouro. Os arraiais

    primitivos foram oficialmente elevados à condição de vila em 08 de Julho de 1711, com

    o nome de Vila Rica de Albuquerque de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto,

    tornando-se mais tarde a primeira capital da província. Os arraiais já se encontravam

    interligados e, daí por diante, desenvolveu-se o seu tecido urbano, tal como se vê hoje,

    entrecortado de becos, travessas e ladeiras. As ruas principais acompanhavam o desenho

    topográfico dos morros e córregos.

    A população cresceu rapidamente e as primeiras capelas foram insuficientes para

    atender as necessidades religiosas de seus habitantes. Por volta de 1730 surgiram os

    edifícios definitivos das matrizes de Nossa Senhora do Pilar e Conceição de Antônio

    Dias. A fase áurea da produção se estendeu de 1725 até aproximadamente 1750, quando

    começam a ser notados os primeiros sintomas da decadência das minas. Nesse período

    as moradias ganharam acréscimos, suas varandas de trás se ampliaram, surgiram os

    forros de madeira, e as portas e janelas ganharam almofadas.

  • 8

    Apesar desse esplendor, a taipa e o pau-a-pique ainda não haviam cedido lugar ao

    quartzito do Itacolomi, só aproveitado mais tarde, na construção do Palácio dos

    Governadores, iniciada em 1747. Na segunda metade do século XVIII Vila Rica

    começou a tomar o aspecto atual.

    O surgimento das duas principais Ordens Terceiras do Carmo e São Francisco, entre

    1740 e 1760, compostas pelas classes mais abastadas, se reflete de maneira favorável no

    movimento de construção das igrejas e no seu valor estético. A rivalidade entre as

    ordens terceiras e as irmandades determinou a construção de algumas obras-primas do

    Barroco e do Rococó no segundo quartel do século XVIII, nas quais trabalhariam tanto

    os mestres portugueses como uma primeira geração de artistas mineiros, principalmente

    mulatos, esses últimos com uma nova e mais livre interpretação dos elementos formais,

    a exemplo de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, o mais importante nome da

    época.

    Assim, a vila já estava urbanisticamente definida e as grandes obras públicas já estavam

    erigidas, como o Palácio dos Governadores, os inúmeros e bem ornamentados

    chafarizes, e as sólidas pontes de cantaria. Nesse período, as primitivas construções

    particulares de canga ou pau-a-pique cederam lugar a prédios com reforço de alvenaria,

    com maiores requintes de acabamento e surgiram também empreendimentos urbanos de

    maior vulto.

    Até fins do século XVIII, o arruamento da vila foi melhorado. Foram criadas praças e

    ruas foram pavimentadas em pedra. Dentre outras, as Matrizes de Nossa Senhora da

    Conceição de Antônio Dias e Nossa Senhora do Pilar foram construídas ou estavam em

    fase de conclusão nesta época. A igreja do Carmo foi construída a partir de 1767, e é

    uma das mais ricas. Seu risco foi modificado pelo Aleijadinho, tornando seu frontispício

    curvo e as torres circulares. A de São Francisco de Assis (1766) é a obra-prima do

    Aleijadinho, onde a dinâmica barroca se verifica a partir do frontispício em planos,

    destacando-se a portada monumental.

    Destacam-se ainda a bela Igreja de Nossa Senhora do Rosário, sede de uma irmandade

    de pretos, cuja planta é toda resolvida em curvas, e a Igreja de Santa Efigênia,

    pertencente à outra irmandade de pretos, pelo seu excepcional conjunto de talha, tendo

  • 9

    ali trabalhado o entalhador e escultor Francisco Xavier de Brito, que igualmente

    colaborara na Matriz do Pilar.

    Inúmeros outros exemplares da arquitetura religiosa de Ouro Preto apresentam

    características notáveis tanto na arquitetura quanto na arte das esculturas e nas pinturas

    do seu interior. Cabe ressaltar a singularidade do Barroco local, onde se verifica a

    perfeita adaptação dos modelos tradicionais portugueses às condições e aos materiais

    locais, como o emprego da alvenaria caiada e da pedra-sabão. É também interessante

    observar a evolução da decoração interna da influência do Barroco português para as

    soluções mais leves do Rococó.

    Quanto à arquitetura civil, embora nem sempre adote soluções imponentes, caracteriza-

    se pela elegância das formas, conferindo à cidade uma ambientação extremamente

    agradável e uniforme. Entre seus melhores exemplares, o Palácio dos Governadores,

    projetado pelo arquiteto militar Alpoim, domina a praça principal e lembra o poderio

    colonial até mesmo em seu aspecto de fortaleza.

    Do outro lado da mesma praça fica a Casa de Câmara e Cadeia (atual Museu da

    Inconfidência), projetada pelo governador Luís da Cunha Menezes, predominando em

    suas linhas o espírito neoclássico. Já a Casa dos Contos vincula-se muito mais aos

    modelos do norte de Portugal, com seus fortes cunhais de pedra e seus detalhes mais

    eruditos também trabalhados em cantaria.

    Sobressai ainda na cidade, a beleza de seus inúmeros chafarizes barrocos que, singelos

    ou eruditos, empregam o vocabulário formal do estilo com grande criatividade, a

    exemplo dos chafarizes do Passo de Antônio Dias, dos Contos, de Marília, da Glória,

    entre outros, além de pontes e capelas dos Passos.

    Em 1823, Vila Rica passa para a categoria de cidade, recebendo o nome de Ouro Preto.

    A partir de 1888, com a construção da estação ferroviária, a expansão da cidade segue

    em direção ao Morro do Cruzeiro, ultrapassando os limites dos trilhos da ferrovia.

  • 10

    A decadência das atividades mineradoras do ouro provocou uma crise econômica em Vila

    Rica e uma redução no crescimento e expansão da cidade. A velocidade da crise econômica

    contribuiu para a preservação das características do conjunto arquitetônico da cidade.

    A transferência da capital para Belo Horizonte, em 1897, provocou um esvaziamento

    econômico e político da cidade. Além disso, a queda da mineração acarretou um

    despovoamento da zona periférica, ocupada por escravos e trabalhadores das minas.

    Em 1934 houve a implantação da indústria Eletro Química Brasileira S/A, que em 1950

    foi encampada pela ALCAN (Alumínio do Brasil S/A) e atualmente é denominada

    NOVELIS DO BRASIL. Com a implantação desta indústria houve uma recuperação

    econômica e um novo surto de ocupação urbana na cidade, voltando a se desenvolver.

    O novo crescimento populacional da cidade, gerado pela industrialização, potencialidade

    ao turismo e a expansão dos centros acadêmicos (ensino técnico e superior), resultou em

    processos de ocupação das áreas periféricas, em um cenário totalmente desordenado,

    ocupando encostas e com edificações com baixos padrões construtivos.

    Até os dias de hoje, o desenvolvimento da cidade e sua expansão vem ocorrendo de

    maneira desordenada, caótica e em locais não apropriados. Estes fatores somados as

    características morfológicas e geotécnicas desfavoráveis propiciam ambiente de risco.

    A Figura 2 apresenta a formação e evolução da malha urbana em Ouro Preto. Em (a) foi

    o início do povoamento no período da descoberta do ouro. Em (b) o crescimento da

    população em torno das áreas mineradas.

    A formação da atual Praça Tiradentes e o crescimento em torno de si podem ser

    visualizados em (c). A criação da estação ferroviária e a ocupação ao seu redor (d) e a

    ocupação do Morro do Cruzeiro e a expansão da malha urbana no Bairro Saramenha (e).

    A atual configuração da cidade pode ser visualizada na Figura 3.

  • 11

    Figura 2 – Evolução da ocupação em Ouro Preto (Modificado de Faria, 1996)

    (a)

    (e)

    (c) (d)

    (b)

  • 12

    Figura 3 – Ocupação atual de Ouro Preto

    O conhecimento da ocupação ao longo dos séculos proporciona um melhor entendimento

    sobre os problemas relacionados a movimentos de massa nas regiões de Ouro Preto. A

    ocupação das áreas mineradas, ou seja, terrenos que já sofreram perturbações, aliadas a

    baixa qualidade das habitações geram áreas de grande risco.

    Alguns bairros mais recentes, como os Bairros Bauxita e Vila dos Engenheiros, são

    melhores estruturados e com padrão construtivo melhor, tendo assim poucas ocorrências de

    movimentos. No entanto, as novas ocupações próximas ao Pico do Itacolomi e nas encostas

    da Serra de Ouro Preto estão sendo realizadas de forma precária, sem supervisão técnica e

    com baixa qualidade das construções, repetindo os erros das ocupações anteriores.

    Mais do que todas as cidades coloniais mineiras, Ouro Preto conseguiu manter a sua

    antiga imagem setecentista, constituindo-se no exemplo mais autêntico da civilização

    urbana aqui implantada pelos colonizadores portugueses, o que levou Ouro Preto, por

    decisão da UNESCO, à condição de Cidade Monumento Universal, em 1981.

  • 13

    2.1.2 – Meio Físico

    2.1.2.1 - Geomorfologia e Geologia

    A cidade de Ouro Preto se encontra em um grande vale, tendo como limite a norte a

    Serra de Ouro Preto e a sul a Serra do Itacolomi. A Serra de Ouro Preto está situada no

    flanco sul do Anticlinal de Mariana. Essa estrutura regional orienta-se na direção leste-

    oeste, possuindo as camadas com mergulhos gerais para o sul, na ordem de 30º

    (Sobreira & Fonseca, 2001).

    Os níveis altimétricos variam entre 800 e 1.500 metros. O relevo é acidentado, com

    vertentes bem íngremes e vales profundos e encaixados. Cerca de 40% da área urbana

    exibe feições com declividades entre 20 e 45% e apenas 30% com declividades entre 5 e

    20%. Zonas escarpadas são comuns em toda área urbana (Gomes et al, 1998).

    Na região, destacam-se dois tipos básicos de encostas (Carvalho, 1982):

    ■ Aquelas elaboradas sobre as rochas pouco coesas, muito alteradas e com o pendor

    concordante com o mergulho das rochas. Estas são as mais instáveis e apresentam

    processos de erosão acelerada.

    ■ Aquelas que possuem pendor oposto ao mergulho, mesmo apresentando declividades

    mais acentuadas, são menos instáveis e menos susceptíveis à ação dos processos

    erosivos.

    Ainda segundo IGA (1994), a ocorrência de rochas mais resistentes como os itabiritos

    da Formação Cauê ou a existência da proteção de crosta limonítica proveniente de sua

    alteração “in situ” criam uma situação de maior estabilidade, resistindo melhor aos

    processos erosivos e aos movimentos de massa.

    Em relação à geologia, Ouro Preto apresenta rochas pertencentes a três grandes unidades

    metasedimentares: Supergrupo Rio das Velhas (Grupo Nova Lima), Supergrupo Minas e

    Grupo Itacolomi. O Supergrupo Minas é o predominante na área urbana da cidade.

  • 14

    As formações geológicas presentes em Ouro Preto apresentam comportamento

    geotécnico com grande vulnerabilidade a problemas ambientais. Entre as unidades que

    apresentam este tipo de comportamento pode-se citar (Sobreira, 1992):

    ■ Os xistos do Grupo Nova Lima: alto grau de alteração, tendência a ravinamentos e

    escorregamentos superficiais; ocorrem no Bairro São Sebastião e na encosta aos fundos

    da Santa Casa de Misericórdia;

    ■ Os filitos da Formação Batatal: baixas características de resistência e alta

    impermeabilidade, favorecendo o solapamento de blocos de itabirito e canga e a

    conseqüente formação de depósitos de meia encosta, pressões de percolação e

    descalçamento de blocos. Ocorre na porção norte da cidade;

    ■ O quartzito ferruginoso e o filito cinzento e prateado da Formação Cercadinho: baixa

    resistência aos processos denudacionais e sobre os quais se instalaram muitos dos

    antigos bairros de Ouro Preto, tais como, Cabeças, Rosário, Centro, Antônio Dias, Santa

    Efigênia e Praça Tiradentes;

    ■ Quartzitos da Formação Barreiro: ocorrem de forma descontínua, são alterados e de

    baixa resistência, além de coesos, o que favorece os ravinamentos. Ocorrem na Vila São

    José, Novo horizonte e Buraco Quente.

    Além destas unidades, ocorrem também outras mais estáveis, como os itabiritos,

    revestidos de contínua couraça limonítica, denominada canga, da Formação Cauê do

    Grupo Itabira (IGA, 1994). A seguir, apresentamos um esboço da geologia local.

  • 15

    Figura 4 – Esboço Geológico da Região de Ouro Preto (Fonte: Sobreira & Fonseca, 2001)

    O substrato rochoso da área urbana é composto predominantemente por rochas brandas,

    que podem estar intercaladas ou associadas a rochas duras (Bonuccelli & Zuquette,

    1999). O estado de alteração e o fraturamento intenso das rochas contribuem para o

    fraco comportamento geotécnico dos terrenos do local.

    2.1.2.2 – Clima

    O clima de Ouro Preto possui características básicas de clima tropical de montanha, em

    que a baixa latitude é compensada pela atitude e conformação orográfica regional

    (Carvalho, 1982). Os verões são suaves e os invernos são brandos com baixas

    temperaturas e elevada umidade atmosférica (Gomes et al, 1998).

    A média anual da temperatura em Ouro Preto é de 18,5ºC, sendo o mês de janeiro o mais

    quente e o mês de julho o mais frio. As temperaturas mais elevadas coincidem com o

    período chuvoso enquanto as temperaturas mais baixas ocorrem no período seco.

    A região de Ouro Preto possui alta pluviosidade, concentrada principalmente entre os

    meses de outubro e março (Figura 5), concentrando 87% da precipitação anual. O

    regime pluviométrico é caracterizado como tropical com uma média de 1.610,1 mm

  • 16

    anuais (série de 1988 a 2004). A altitude elevada do município é um dos fatores

    responsáveis pelo alto índice pluviométrico (IGA, 1994).

    327,3

    202,8

    182,2

    76,0

    39,5

    6,310,6 18,0

    62,7

    121,9

    243,9

    318,9

    0,0

    50,0

    100,0

    150,0

    200,0

    250,0

    300,0

    350,0

    Pre

    cip

    itação

    (m

    m)

    Jan

    eir

    o

    Fev

    ere

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    Índices Pluviométricos mensais (Série 1988 a 2004)

    Figura 5 – Índices Pluviométricos mensais de Ouro Preto

    Fonte: Novelis do Brasil

    Segundo relatório do IGA (1994), em 1º de fevereiro de 1979 ocorreu a maior altura de

    chuva registrada, chegando a 161,0 mm. Neste ano ocorreram chuvas muito intensas e

    prolongadas, causando sérios fenômenos de deslizamentos de taludes, intenso

    ravinamento, aceleração de processos normalmente lentos de escoamentos superficiais,

    queda de blocos, desmoronamentos e colapsos de muros de arrimo, resultando em

    grandes transtornos à população, principalmente aos ocupantes das encostas e

    conseqüentemente ao poder público (Carvalho, 1982).

    2.1.2.3 - Vegetação e Hidrografia

    Em posição mais elevada a vegetação é de campos naturais, compostas essencialmente

    de gramíneas, com subarbustos disseminados. De acordo com Souza (1996) é comum

    encontrar áreas desmatadas, resultado de diversas atividades, como minerações,

    implantações de núcleos urbanos e obras de engenharia.

  • 17

    Mesmo com a devastação, ainda ocorrem matas naturais, que através de decreto

    estadual, foram declaradas de preservação permanente. Além disso, foi criada a Estação

    Ecológica do Tripuí, onde existe cobertura florestal densa (IGA, 1994). Algumas áreas

    foram reflorestadas por eucaliptos.

    Ouro Preto é constituída por uma densa rede de drenagens formada por diversos rios,

    ribeirões e córregos; além de um grande número de nascentes e fontes naturais.

    Portanto, apresenta um pequeno número de poços tubulares (Souza, 1996).

    2.1.3 - O Problema das Vibrações em Ouro Preto

    Quem mora em Ouro Preto ou visita a cidade sabe que as vibrações provocadas pelos

    carros causam alguns efeitos graves. O simples fato de caminhar pelas ruas e ladeiras da

    cidade (com seus passeios estreitos) provoca um inevitável confronto com os veículos.

    Estes veículos estão sempre engrenados em marcha forte, condição imprescindível para

    que se possa vencer a declividade das vias, mas também favorável ao aumento do nível

    de vibração transmitida para o solo.

    As ruas de Ouro Preto são predominantemente estreitas, então, o transeunte está sempre

    muito próximo da fonte das vibrações, ou seja, dos carros. Somam-se a esta

    proximidade outros fatores que favorecem ou potencializam as vibrações, como o tipo

    de terreno onde foi instalado o NH, o tipo de pavimentação e a qualidade da

    manutenção da via, o tipo de ocupação do setor específico, etc.

    O solo de Ouro Preto é formado por camadas inclinadas sobrepostas de material com

    grande concentração de quartzito, com significativa estabilidade, mas sem capacidade

    de amortecimento dos impactos. Sendo assim, o efeito das vibrações se faz sentir no

    próprio corpo, mesmo que seja uma vibração provocada por um veículo de pequenas

    dimensões.

    Da mesma forma, estas vibrações alcançam os edifícios. A maioria deles está instalada

    em situação de proximidade do “graid” da rua, absorvendo as ondas vibracionais.

  • 18

    Dependendo das circunstâncias, estas vibrações podem adquirir proporções

    preocupantes, com riscos para a integridade física dos edifícios.

    O comprometimento da integridade física dos edifícios se dá pela desagregação de

    materiais por fricção, ou por fadiga, ou ainda pela instalação de recalques diferenciais

    nas fundações a partir do adensamento dos solos. E não são apenas os edifícios que

    sofrem a ação das vibrações mecânicas. O comprometimento pode ser observado em

    forma de pavimentações de ruas desarticuladas e com lacunas, de passeios e muros

    trincados, de tubulações rompidas; ou seja, uma série de lesões que têm uma causa

    comum: as vibrações provocadas por veículos automotores e, em outra escala, por

    vibrações sonoras.

    A causa do aparecimento de trincas ao longo das estruturas edificadas no NH de Ouro

    Preto está frequentemente e popularmente associada ao fluxo e ao tipo de veículo

    envolvido no processo. Na prática, o efeito das vibrações é considerado um agente de

    degradação porque causa o adensamento do solo, e, como conseqüência, o

    estabelecimento de recalque diferencial (diferencial porque o adensamento não é o

    mesmo ao longo da infra-estrutura), formando um quadro de fissuras no edifício. E

    também pelo efeito da desagregação de material provocada pelo aumento da

    movimentação das partículas que compõem os materiais de construção.

    Muitas vezes o tratamento das lesões em forma de trincas e lacunas não acontece de

    forma adequada. Se o traço da argamassa utilizada na recomposição é inadequado,

    muito distinto do traço das argamassas tradicionais que utilizam terra e cal, o resultado

    pode comprometer pela textura diferenciada e pela fixação menos eficiente.

    A argamassa que utiliza cimento e areia lavada costuma “descolar” com o tempo, pois o

    seu coeficiente de rigidez é maior que o da argamassa tradicional de terra e cal, e não

    acompanha a dilatação e a tenacidade apresentadas pela argamassa antiga. Neste caso

    fica difícil a execução de uma recomposição adequada, gerando novas fissuras e

    desagregações com o passar do tempo ao longo das superfícies. Isto sem nos referirmos

    às diferenças de textura existente entre estas argamassas, fato que também compromete

    o aspecto formal. O resultado deste tipo de intervenção é uma imagem alterada e uma

    suposta interferência negativa no bem patrimonial em questão (FOTO 5).

  • 19

    As conseqüências das vibrações atuando em NH podem ser desastrosas, no sentido da

    possibilidade de ocorrerem eventos interligados, imprevisíveis, já que estamos tratando

    de estruturas relativamente frágeis em pelo menos um dos diversos aspectos analisados.

    Esta suposta fragilidade das estruturas é ditada pelas inúmeras variáveis possíveis

    existentes num processo de degradação específico como este: o tempo, as condições

    atmosféricas, a topografia, a vizinhança ou entorno, a qualidade e a umidade presente no

    solo, as térmitas, etc.

    O crescimento da cidade de Ouro Preto levou a uma situação de movimento de pessoas

    e de veículos muito intensa. As encostas das serras foram ocupadas em partes, novos

    loteamentos foram instalados, rotas preferenciais de circulação foram criadas, enfim, a

    cidade se transformou muito, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento

    das potencialidades e das vocações universitária, industrial, e turística. Tudo isso levou

    a um aumento da circulação de veículos pela cidade, com reflexos nos níveis de

    vibração instalados no solo da cidade.

    Em Ouro Preto, devido aos altos índices de acidentes e danos ao patrimônio

    relacionados ao trânsito de veículos, foram realizados alguns trabalhos nos últimos anos

    abordando as questões das vibrações mecânicas, tanto aquelas transmitidas pelo solo

    quanto às transmitidas pelo ar.

    Este trabalho organiza e interpreta os trabalhos existentes sobre o tema e acrescenta

    novos dados. Estabelece novos conceitos e conclui questões relacionadas ao efeito

    danoso das vibrações nos edifícios históricos.

    2.2 - VIBRAÇÃO VERSUS PRESERVAÇÃO

    As vibrações provocadas pelos veículos são transmitidas pelo solo e atingem os

    edifícios. Provocam fissuras, trincas, e até mesmo rachaduras nas paredes, na proporção

    do tipo e da intensidade do fluxo de veículos. Além dos danos por vibração, os danos

    podem ser por choque mecânico, quando existe colisão do veículo de forma direta ou

    indireta com o monumento (FOTOS 1 e 2).

  • 20

    Fonte: Arquivo do IPHAN – ET Ouro Preto

    Assim sendo, permanecem algumas dúvidas quanto ao comportamento dos edifícios

    frente à presença das vibrações. Estas dúvidas são abordadas neste trabalho sob a luz da

    ciência, de estudos físicos, mais precisamente da mecânica, da teoria das ondas

    vibracionais e sua transmissão.

    Dúvidas sobre o comportamento das edificações na presença de vibrações são

    recorrentes entre os proprietários de imóveis e pessoas em geral interessadas na

    conservação do patrimônio. Possíveis questionamentos são listados a seguir:

    ■ Até que ponto uma estrutura edificada em modelo tradicional (alvenaria de pedra,

    adobe, pau-a-pique) é capaz de resistir à incidência de uma determinada onda

    vibracional?

    ■ Qual a viabilidade de um veículo com determinado peso e determinada velocidade

    trafegar pelas ruas do CH?

    ■ Quais os setores críticos do CH para a estabilidade dos edifícios com relação aos

    danos provocados pelas vibrações mecânicas?

    ■ Qual sistema construtivo tradicional é capaz de suportar vibrações com maiores

    intensidades e freqüências?

    FOTO 1

    Acidente com vítima fatal na Rua das

    Flores.

    FOTO 2

    Chafariz do Pilar parcialmente arruinado

    após colisão.

  • 21

    ■ Com determinada margem de segurança, qual a probabilidade de determinado

    edifício apresentar danos quando submetido a uma determinada vibração mecânica?

    Estas questões só poderão ser resolvidas mediante um estudo suplementar sobre o

    comportamento das edificações na presença das vibrações e dos fatores variáveis em

    questão.

    Como ação preventiva e mitigadora dos danos causados pelas vibrações é comum a

    proposição da instalação de obstáculos físicos (peças balizadoras) e de placas

    informativas, restringindo o tráfego de veículos de grande porte por determinadas vias

    dos NH(s). Os veículos de grande porte são quase sempre mais pesados e provocam

    maiores danos que os veículos leves, já que são responsáveis pela instalação de maiores

    índices de vibração nos solos.

    No caso de Ouro Preto, a instalação das placas e dos balizadores não tem sido suficiente

    para restringir o fluxo de veículos automotores leves ou pesados a níveis adequados.

    Classificamos como adequados àqueles níveis para os quais existe uma situação

    confortável de comportamento das estruturas edificadas. O que presenciamos

    atualmente é uma dificuldade de compatibilizar o aumento da frota de veículos que

    circula pelo NH com as atividades que envolvem a sua própria preservação.

    Consideramos que a restrição total ao trânsito de veículos no CH, como é o caso de

    Parati, RJ, não é adequado para o caso Ouro Preto. Tanto pela sua extensão quanto pela

    sua implantação em local de topográfica muito acidentada. E também pela diversidade e

    pela intensidade da sua ocupação. Então, fica estabelecido um paradoxo na cidade de

    Ouro Preto. As pessoas utilizam os veículos para a facilitação das atividades da vida

    cotidiana. Porém, a utilização dos veículos causa vibrações supostamente danosas para

    os edifícios.

    As atividades da vida moderna dependem da utilização de veículos automotores para

    sua execução. De acordo com as características sócio-econômicas locais, as atividades

    mais importantes estão ligadas ao comércio, à indústria, à construção civil, ao transporte

    urbano, ao turismo e ao lazer. Para tento, são utilizados caminhões, ônibus, carros

    pequenos e motocicletas.

  • 22

    Enquanto isso, o volume de danos causados pela utilização de veículos nos monumentos

    da cidade tende a crescer na mesma proporção do crescimento da frota, confirmando o

    paradoxo, pois, em muitos aspectos, a preservação deste patrimônio é que caracteriza a

    dinâmica social da cidade. Então, a cidade fica ameaçada pelo risco de danos ao que ela

    tem de mais especial, a sua história e sua morfologia urbana.

    A seguir serão descritos os principais conceitos de vibração e de preservação, a inter-

    relação entre os dois e os trabalhos já realizados na área de correlação entre eles. Estes

    conceitos são importantes, na medida em que facilitam o entendimento da ação física da

    qual estamos tratando e respaldam cientificamente o diagnóstico e também uma

    eventual proposta para o tratamento terapêutico para a situação.

    2.3 - VIBRAÇÕES

    2.3.1 - Conceitos

    ■ VIBRAÇÃO:

    Qualquer objeto que descreva um movimento rápido tipo vai e vem, no mesmo

    caminho, está a vibrar (p.ex: corda de guitarra, edificio durante um sismo). Cada

    movimento de vai e vem é um ciclo de vibração.

    Segundo IIDA (1995), se um corpo executa um movimento em torno de um ponto fixo,

    então ele está vibrando. Esse movimento pode ser regular ou irregular, como sacolejar

    de um carro andando em uma estrada de terra. As vibrações são transmitidas através das

    partes do corpo que está em contato com a fonte, geralmente as nádegas, as mãos, os

    braços e os pés. Seus efeitos variam desde um enjôo, até danos físicos consideráveis. As

    vibrações podem ser divididas em três faixas:

    - freqüências baixas, de 1 a 6 Hz;

    - freqüência média, de 6 a 60 Hz.

  • 23

    - freqüência alta, acima de 60 Hz.

    Os efeitos de vibrações no homem dependem da complexidade estrutural do seu corpo,

    como as diferentes massas dinamicamente suspensas respondem a vibrações de

    diferentes freqüências. Dentre outros efeitos podemos citar: deslocamento dos órgãos

    internos, estiramento dos ligamentos de suporte dos grandes órgãos, provocando danos

    a tecidos delicados, o aparecimento de traços de sangue na urina, dores lombares e

    abdominais, prejuízo no sistema auditivo.

    Segundo VERDUSSEN (1978), as vibrações também afetam a estrutura de um prédio,

    com aparecimento de trincas e rachaduras. Também interferem no funcionamento e

    exatidão de equipamentos. A medição de vibrações é feita por instrumentos

    eletromagnéticos, eletromecânicos. A intensidade das vibrações é dada é dada por uma

    unidade arbitrária, o vibro, de símbolo P.

    A primeira publicação internacional que estabelece limites de exposição a vibrações

    para os trabalhadores, foi a Norma ISO no 2631 de 1978, que apresenta valores

    máximos suportáveis para o tempo de um minuto a 12 horas de exposição nos

    ambientes que haja vibração. Embora haja extensa literatura sobre danos causados por

    vibrações, sabe-se relativamente pouco acerca do modo pelo qual tais vibrações atuam.

    Também se desconhece qualquer literatura ou trabalho acadêmico de pesquisa sobre

    efeitos das vibrações na sala de aula.

    ■ INÉRCIA

    É uma propriedade física da matéria de não desejar modificar seu estado de movimento.

    Isto significa que, se o corpo está parado, tende a permanecer parado, e se está em

    movimento, tende a permanecer em movimento e a sua velocidade se mantém.

    ■ ONDA

    Uma onda é uma perturbação que se move através de uma substância (ou meio). Se

    lançarmos uma pedra num lago profundo e quieto, observaremos a formação de montes

    e vales de água deslocando-se para fora sobre a superfície da água em todas as direções.

  • 24

    Folhas e varinhas, que flutuam sobre a água, não são transportadas pelas ondas, mas

    vibram para cima e para baixo, repetidamente, à medida que as ondas passam por elas.

    A água não é transportada pelas ondas. Você pode ter visto ondas sobre um campo de

    trigo. O vento empurra para um lado algumas hastes de trigo, estas se inclinam contra

    suas vizinhas que, por sua vez, se inclinam contra outras e assim a perturbação inicial se

    desloca para diante.

    Uma onda sísmica é uma onda que se propaga através da Terra, geralmente como

    conseqüência de um sismo, de uma explosão, ou também do trânsito de veículos

    pesados. Estas ondas são estudadas pelos sismólogos, e medidas por sismógrafos,

    sismômetros ou geofones.

    As ondas de corpo (FIG. 6) ou volume propagam-se através do interior da Terra.

    Apresentam percursos radiais deformados devido às variações de densidade e

    composição do interior da Terra. Trata-se de um efeito semelhante à refração de ondas

    de luz. As ondas de corpo são as responsáveis pelos primeiros tremores sentidos

    durante um sismo bem como por muita da vibração produzida posteriormente durante o

    mesmo. Existem dois tipos de ondas de corpo: primárias (ondas P) e secundárias (ondas

    S).

    As ondas P ou primárias são as primeiras a chegar, pois têm uma velocidade de

    propagação maior. São ondas longitudinais que fazem a rocha vibrar paralelamente à

    direção da onda, tal como um elástico em contração. Verifica-se alternadamente uma

    compressão seguida de uma distensão com amplitudes e períodos baixos, impondo aos

    corpos sólidos elásticos alterações de volume (contudo não há alterações na forma). No

    ar, estas ondas de pressão tomam a forma de ondas sonoras e propagam-se à velocidade

    do som.

    A velocidade de propagação deste tipo de ondas varia com o meio em que se propagam,

    sendo típicos valores de 330 m/s no ar, 1450 m/s na água e 5000 m/s no granito. Não

    são tão destrutivas como as ondas S ou as ondas de superfície que se lhes seguem. A

    velocidade de propagação destas ondas é, em geral, ligeiramente inferior ao dobro

    daquela das ondas S.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ondahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Terrahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sismohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Explos%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sismologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sism%C3%B3grafohttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Sism%C3%B3metro&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Geofonehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Densidadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Refrac%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Luzhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ondas_Shttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ondas_Shttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rochahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ondahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Amplitudehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Velocidade_do_somhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Velocidade_do_somhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Granitohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ondas_S

  • 25

    As ondas S ou secundárias são ondas transversais ou de cisalhamento, o que significa

    que o solo é deslocado perpendicularmente à direção de propagação como num chicote.

    No caso de ondas S polarizadas horizontalmente, o solo move-se alternadamente para

    um e outro lado. São mais lentas que as P, com velocidades de propagação ente 2000 e

    5000 m/s, sendo as segundas a chegar.

    Estas provocam alterações morfológicas, contudo não há alteração de volume. As ondas

    S propagam-se apenas em corpos sólidos, uma vez que os fluidos (gases e líquidos) não

    suportam forças de cisalhamento. A sua velocidade de propagação é cerca de 60%

    daquela das ondas P, para um dado material. A amplitude destas ondas é várias vezes

    maior que a das ondas P.

    As ondas de superfície (FIG. 6) são semelhantes às ondas que se observam à superfície

    de um corpo de água e propagam-se imediatamente abaixo da superfície terrestre.

    Deslocam-se mais lentamente que as ondas de corpo. Devido à sua baixa freqüência,

    longa duração e grande amplitude, podem ser das ondas sísmicas mais destrutivas.

    Propagam-se pela superfície a partir do epicentro de um sismo (tal como as ondas de

    uma pedra ao cair num charco), com velocidades mais baixas que as ondas de corpo.

    Existem dois tipos de ondas de superfície: ondas de Rayleigh e ondas de Love.

    As ondas de Rayleigh (R) são ondas de superfície que se propagam como as ondas na

    superfície da água. A existência destas ondas foi prevista por John William Strutt, Lord

    Rayleigh, em 1885. São mais lentas que as ondas de corpo. Essas ondas são o resultado

    da interferência de ondas P e S. Estas ondas provocam vibração no sentido contrário à

    propagação da onda, ou seja, um movimento de rolamento (descrevem uma órbita

    elíptica), e a sua amplitude diminui rapidamente com a profundidade.

    As ondas Love (L) são ondas de superfície que produzem cisalhamento horizontal do

    solo e a sua energia é obrigada a permanecer nas camadas superiores da Terra por

    ocorrer por reflexão interna total. São assim chamadas em honra de A.E.H. Love, um

    matemático britânico que criou um modelo matemático destas ondas em 1911. Essas

    ondas são o resultado da interferência de duas ondas S. São ligeiramente mais rápidas

    que as ondas de Rayleigh. São ondas cisalhantes altamente destrutivas.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Cisalhamentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Fluidohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Frequ%C3%AAnciahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Epicentrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Lord_Rayleighhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Lord_Rayleighhttp://pt.wikipedia.org/wiki/1885http://pt.wikipedia.org/wiki/A.E.H._Love

  • 26

    Figura 6 – Ondas de Corpo acima e Ondas de Superfície abaixo

    ■ COMPRIMENTO DE ONDA

    O comprimento de uma onda é a distância entre as cristas desta onda. Observando as

    ondas de água num rio notamos que suas cristas estão afastadas umas das outras. (Fig.

    7-A). Ondas numa corda esticada podem ter algumas dezenas de centímetros de

    comprimento (Fig. 7-B). O comprimento de onda das ondulações numa bacia de lavar

    roupa pode ser de apenas uns 2 ou 3 centímetros. Os comprimentos das ondas luminosas

    são iguais a alguns centésimos de milésimos de centímetro.

  • 27

    Figura. 7-A - Comprimento de onda. de ondas Figura 7-B - Comprimento de ondas

    na água numa corda.

    ■ AMPLITUDE

    Por amplitude de uma onda entendemos a altura de sua crista em relação ao nível médio

    da substância ou meio. Isto difere da altura da onda que é a maior distância percorrida

    por um objeto flutuante movendo-se para cima e para baixo (FIG. 8).

    Figura 8 - A amplitude OM das ondas em A é a mesma que as das ondas em B. Elas têm

    diferentes comprimentos de onda. Em C e D as amplitudes são diferentes e o comprimento da

    onda é o mesmo.

  • 28

    ■ FREQÜÊNCIA

    Freqüência é uma grandeza física associada a movimentos de característica ondulatória

    que indica o número de revoluções (ciclos, voltas, oscilações, etc) por unidade de

    tempo. A freqüência de um movimento vibratório é o número de vibrações completas,

    de um lado para o outro e de volta ao ponto de partida, por segundo.

    Suponha que um cachorro balance sua cauda três vezes por segundo. Então, dizemos

    que a freqüência da vibração é de 3 vibrações por segundo. Se as hastes de um diapasão

    se movem de um lado para o outro 200 vezes por segundo, sua freqüência é de 200

    vibrações por segundo. Suas unidades são:

    -Hertz (Hz): Corresponde ao número de oscilações por segundo. Nome dado em honra

    ao físico Alemão Heinrich Rudolf Hertz.

    -Rotações por minuto (rpm): Corresponde ao número de oscilações por minuto.

    ■ PÊNDULO

    Um pêndulo é um corpo pesado suspenso por uma corda, uma corrente ou uma haste.

    Muitos relógios têm pêndulos. Num relógio antigo com um pêndulo de 1 metro de

    comprimento sua freqüência é de 30 vibrações por minuto. O pêndulo vibra de um lado

    para o outro e de volta ao ponto de partida cada 2 segundos.

    ■ PERÍODO (T)

    O período é o tempo gasto para que uma vibração se complete. O período é o inverso da

    freqüência.

    Foi Galileu quem descobriu as leis do pêndulo. Podemos repetir algumas das

    experiências que ele deve ter feito. Amarremos uma bola de ferro à extremidade de uma

    corda, presa a uma barra rígida, de modo a constituir um pêndulo simples (Fig. 9).

    Tomemos a distância da barra ao centro da bola igual a 25 centímetros. Façamos que a

    bola oscile, percorrendo uma pequena distância, uns 2 a 3 centímetros, e meçamos o

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Grandeza_f%C3%ADsicahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ondulat%C3%B3riahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hertzhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Segundohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Heinrich_Rudolf_Hertzhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rota%C3%A7%C3%B5es_por_minutohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Minuto

  • 29

    tempo que ela gasta para fazer 25 vibrações, de um lado para o outro, completas. Este

    tempo será 25 segundos, ou seja, 1 segundo para cada vibração. Repitamos a

    experiência, mas façamos o comprimento do pêndulo simples igual a 100 centímetros.

    Agora, o intervalo de tempo gasto por cada vibração será 2 segundos. Ao tornar o

    comprimento quatro vezes maior, nós duplicamos o período. O intervalo de tempo que

    leva uma vibração de um pêndulo, ou seu período, é diretamente proporcional à raiz

    quadrada de seu comprimento.

    Figura. 9 - O pêndulo mais curto vibra duas vezes mais depressa que o mais longo.

    O período de um pêndulo varia como a raiz quadrada de seu comprimento.

    Façamos outro pêndulo de igual comprimento, mas usemos uma bola de madeira. Os

    dois pêndulos vibrarão com o mesmo período. O período de um pêndulo não depende

    de sua massa.

    Outras experiências provam que o tempo de uma vibração depende também da

    aceleração da gravidade g. O período, T, de um pêndulo de comprimento l é dado por:

  • 30

    ■ SISMÓGRAFO

    O sismógrafo (FIG. 10) é o aparelho que registra, com precisão e nitidez, as ondas

    sísmicas, ou seja, a medição da intensidade dos terremotos ou vibrações no solo. O

    Instrumento detecta e mede as ondas sísmicas naturais ou induzidas e permite

    determinar, principalmente se organizado em rede de vários sismógrafos, a posição

    exata do foco (hipocentro) dessas ondas e do ponto da sua chegada na superfície

    terrestre (epicentro) e quantificar a energia desses fenômenos expressa na escala de

    Richter.

    Existem vários tipos de sismógrafos, por exemplo, os que registram os movimentos

    horizontais do solo, os que registram os movimentos verticais, etc.

    O gráfico obtido num sismógrafo através do qual se pode observar características da

    propagação diferentes das ondas sísmicas, designa-se sismograma. Um sismograma, em

    período de calma sísmica, apresenta o aspecto de uma linha reta com apenas algumas

    oscilações. Quando ocorre um sismo, os registros tornam-se mais complexos e com

    oscilações bastante acentuadas, evidenciando a amplitude das diferentes ondas.

    No ano 132, o chinês Chang Heng inventou o primeiro sismógrafo ("O Sismocóspio").

    Este aparelho consistia numa bola de bronze sustentada por oito dragões que a

    seguravam com a boca. Quando ocorria um tremor de terra, por menor que fosse, a boca

    do dragão abria e a bola caía na boca aberta de um dos oitos sapos de metal que se

    encontrava em baixo. Era, deste modo, que os chineses determinavam a direção de

    propagação do sismo.

    A partir desta invenção foram-se desenvolvendo novos inventos até chegar aos

    sismógrafos de hoje. Os sismografos são ultilizados para medir as vibrações da terra e

    para definir se a camada é muito densa ou pouco densa.

    As pessoas que vivem em cidades notam que às vezes os prédios tremem quando um

    grande caminhão ou o metrô passa nas proximidades. Sismógrafos eficazes para medir

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Terremotohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sismogramahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Chang_Heng&action=edit&redlink=1

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    intensidade de terremotos são, portanto, isolados e conectados a uma rocha para

    prevenir esse tipo de "poluição de informações".

    O principal problema ao criar um sismógrafo é que ele não trema quando o chão treme.

    Portanto, a maioria dos sismógrafos é isolada de alguma forma. É possível fazer um

    sismógrafo muito simples pendurando um peso em uma corda sobre uma mesa.

    Amarrando uma caneta ao peso e colocando na mesa um pedaço de papel para que a

    caneta