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universovisual.com.br EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO JULHO 2017 | ano XV | n o 100 | Jobson Brasil

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EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO

JULHO 2017 | ano XV | no 100 | Jobson Brasil

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CONSELHO EDITORIAL 2017

Publisher & EditorFlavio Mendes Bitelman

Editora ExecutivaMarina Almeida

Editor ClínicoMarcos Pereira de Ávila

EDITORES COLABORADORES

Oftalmologia GeralNewton Kara JoséRubens Belfort Jr.

AdministraçãoCláudio ChavesCláudio LottenbergMarinho Jorge ScarpiSamir Bechara

CatarataCarlos Eduardo ArietaEduardo SorianoMarcelo VenturaMiguel PadilhaPaulo César Fontes

Cirurgia RefrativaMauro CamposRenato Ambrósio Jr.Wallace ChamonWalton Nosé

Córnea e Doenças ExternasAna Luisa Höfling-LimaDenise de FreitasHamilton MoreiraJosé Álvaro Pereira GomesJosé Guilherme PecegoLuciene BarbosaPaulo DantasSérgio Kandelman

EstrabismoAna Teresa Ramos MoreiraCarlos Souza DiasCélia NakanamiMauro Plut

GlaucomaAugusto Paranhos Jr.Homero Gusmão de AlmeidaMarcelo HatanakaPaulo Augusto de Arruda MelloRemo Susanna Jr.Vital P. Costa

Lentes de ContatoAdamo Lui NettoCésar LipenerCleusa Coral-GhanemEduardo MenezesNilo Holzchuh

Plástica e ÓrbitaAntônio Augusto Velasco CruzEurípedes da Mota MouraHenrique KikutaPaulo Góis Manso

RefraçãoAderbal de Albuquerque AlvesHarley BicasMarco Rey de FariaMarcus Safady

RetinaJacó LavinskyJuliana SallumMarcio NehemyMarcos ÁvilaMichel Eid Farah NetoOswaldo Moura Brasil

TecnologiaPaulo Schor

UveíteCláudio SilveiraCristina MuccioliFernando Oréfice

Jovens TalentosAlexandre Ventura Bruno FontesPaulo Augusto Mello FilhoPedro Carlos CarricondoRicardo HolzchuhSilvane Bigolin

Editora Marina AlmeidaDiretora de arte e projeto gráfico Ana Luiza VilelaGerente comercial Jéssica BorgesAssistente comercial Cristiana BritoGerente administrativa Juliana Vasconcelos

Colaboradores desta edição: Amaury Guerrero, Fernanda Belga Ottoni Porto, Francisco Max Damico, Jeanete Herzberg, Paulo Ricardo Oliveira, Paulo Schor, Paulo Zantut e Tânia Schaefer (artigos); Christye Cantero, Davi Gentilli, Flavia Lo Bello e José Vital Monteiro (texto); Antônio Palma (revisão); Regina Vicari (tradução).

Importante: A formatação e adequação dos anúncios às regras da Anvisa são de responsabilidade exclusiva dos anunciantes.

Publisher e editor Flavio Mendes

Redação, administração, publicidade e correspondência:Rua Cônego Eugênio Leite, 920 Pinheiros, São Paulo, SP, Brasil, CEP 05414-001Tel. (11) 3061-9025 • Fax (11) 3898-1503 E-mail: [email protected]

Assinaturas: (11) 3971-4372Computer To Plate e Impressão: Ipsis Gráfica e Editora S.A.

Tiragem: 16.000 exemplares

As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade dos autores.

Nenhuma parte desta edição pode ser reproduzida sem a autorização da Jobson Brasil.

A revista Universo Visual é publicada sete vezes por ano pela Jobson Brasil Ltda., Rua Cônego Eugênio Leite, 920 Pinheiros, São Paulo, SP, Brasil, CEP 05414-001.

A Jobson Brasil Ltda. edita as revistas View, Universo Visual e Host&Travel by Auroraeco viagens.

Edição 100 – ano XV – Julho 2017

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4 EDITORIAL4

N em parece, mas já se passaram 15 anos desde a primeira edição da Universo Visual. No começo, a revista só tratava de Lentes de Contato, pois

era uma parceira com a SOBLEC e o Paulo Dantas foi nosso primeiro editor clínico.

Com o passar do tempo, percebemos a importância de tratarmos de todos os temas que envolvem a Oftal-mologia, e somos muito gratos à diretoria da SOBLEC, na época comandada pelo Newton Kara José, que com-preendeu o nosso momento e a necessidade do mundo da Oftalmologia e nos incentivou a nos tornarmos uma revista de Oftalmologia Geral.

Então, o querido Hamilton Moreira se tornou nosso editor clínico e muito nos ajudou nos temas abordados, assim como em construir um conselho editorial que abrangesse todos os rincões do Brasil e todos os líderes das especialidades. Depois de muito nos ajudar, Hamilton se tornou presidente do CBO e nos deixou.

Na sequência, Paulo Augusto de Arruda Mello tornou-se nosso editor clínico e nos ajudou a dar um grande desenvolvimento à revista. Mas Paulo Augusto também se tornou presidente do CBO e o Hamilton Moreira voltou por mais um tempo...

Jacó Lavinsky, quando se despedia da Presidência da SBRV, teve a brilhante ideia de ter uma revista impressa da SBRV e nos convidou a fazê-la, logo em seguida pas-sando o bastão ao Jorge Mitre, que muito nos ajudou na execução da Revista de Retina e Vítreo.

Depois, Paulo Augusto também nos convidou para fa-zer a revista da SBG e foi o editor clínico por vários anos.

Outro grande impulso também veio das mãos de Jacó Lavinsky, no XXXVI Congresso Brasileiro do Oftalmo-logia, em 2011, em Porto Alegre, em que ele nos pediu que fizéssemos o Jornal diário do Congresso - UV News

Universo Visual 15 anos

- e desde então temos feito o UV News com a proposta de cobertura diária sobre os acontecimentos do maior encontro da oftalmologia nacional.

Após um período, as diretorias da SBRV e SBG decidi-ram encerrar as revistas que faziam conosco, mas nossos amigos retinólogos e glaucomatólogos nos apoiaram em fazer nossos suplementos independentemente das sociedades, que têm sido um sucesso desde então.

De lá nasceram outros suplementos, como o de Catara-ta e Cirurgia Refrativa, Lentes de Contato, Refratometria Médica, Glaucoma e Retina, e em breve lançaremos os de Gestão de Clínicas Oftalmológicas.

Após a saída do Paulo Augusto, Homero Gusmão de Almeida se tornou o editor clínico da revista por dois anos, e uma vez mais o perdemos para a Presidência do CBO.

Desde então, Marcos Ávila, ex-presidente do CBO, o substituiu com muito charme e grandeza e tem muito nos ajudado a desenvolver temas de interesse de toda a classe oftalmológica.

Somos muito gratos a todos os que nos ajudaram durante esses 15 anos, muitas vezes de maneira si-lenciosa, como Rubens Belfort Jr., Remo Susanna Jr., Wallace Chamon, Paulo Schor, entre muitos outros.

Sem a colaboração e parceria de todos, a Universo Visual não existiria e não seria a referência que é hoje na Oftalmologia Brasileira.

Muito obrigado a todos!

Flavio Mendes Bitelman Publisher [email protected]

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F oi muito prazeroso ler nossa 100ª edição. Todas as edições dos últimos 15 anos acrescentaram muito à Oftalmologia Brasileira. Este número é especial!

Traz a lembrança do passado e nos ajuda a planejar o futuro. Temas cruciais da nossa especialidade são revi-sitados e atualizados a cada número. Esta edição fecha um ciclo de histórias de sucesso, de entidades e pessoas que ajudaram a construir a oftalmologia brasileira.

Tânia Schaefer destaca o papel da SOBLEC e dos oftal-mologistas que ajudaram a desenvolver a contatologia no Brasil e os inúmeros desafios atuais, como o comércio indiscriminado e os riscos pelos quais passa a população no uso indevido das lentes de contato. As entrevistas realizadas pelo consagrado jornalista José Vital trazem a opinião de experts em seis áreas importantes da nos-sa especialidade: catarata, glaucoma, retina, córnea, refração e lentes de contato. A reportagem mostra os fantásticos avanços de 2002 a 2017. Foi estimulante ler e voltar no tempo, relembrando o quanto avançamos em um período tão curto. Entrevista de quem iniciou a carreira nos últimos 15 anos reflete parte destas histórias e mostra para nós que temos trabalhado a construção de uma nova oftalmologia em prol daqueles que chegaram nos últimos 15 anos e escolheram a oftalmologia como sua especialidade.

A parte clínica como sempre tem artigos de destaque. O tratamento das uveítes não infecciosas com drogas biológicas, escrito pela Fernanda Porto, presidente da SBU, também reflete o quanto as novas drogas terapêu-ticas têm ajudado no tratamento das uveítes.

Simuladores de tempo cirúrgico passaram a fazer parte do ensino da oftalmologia, é o que mostra a repor-tagem da seção “Em Pauta”. Já o conceito de Big Data e a grande concentração universal de informações no mundo contemporâneo chegou e nós devemos estar prontos para aproveitar esta informação universalizada.

A saúde financeira das clínicas oftalmológicas passa por um novo momento, e devemos estar atentos e im-

Caros colegas,

plementando exigências típicas do setor empresarial e comercial para agregar, com a criação de valor às nos-sas clínicas, fazendo com que elas se tornem um ativo familiar, e com valor de mercado. Duas reportagens tratam desse assunto neste número da Universo Visual.

Finalmente, o amor e o carinho com que os editores da Universo Visual conduziram o trabalho nos últimos 15 anos podem ser traduzidos nas entrevistas cedidas à reportagem do “Especial UV 15 anos” pelos ex-editores Hamilton Moreira, Paulo Augusto de Arruda Mello e Homero Gusmão de Almeida. É minha opinião que a Universo Visual sempre contribuiu e continuará contri-buindo para a Oftalmologia Brasileira. No nosso meio, a Universo Visual faz esse papel com grande eficiência: orienta e ajuda o oftalmologista brasileiro.

Compete-me finalmente, com muita satisfação e ale-gria, agradecer a todos os repórteres que ajudaram a construir a Universo Visual ao longo destes anos. Em especial, agradecer muito ao meu contato diário com a Marina Almeida, que tão gentilmente trata de todas as matérias e me ajuda no trabalho editorial. E em especial meu agradecimento ao meu amigo Flavio Bitelman, que com sua característica visionária, com muito esfor-ço, dedicação, persistência e empenho, fez com que a Universo Visual fosse uma conquista e uma alegria de todos nós oftalmologistas. Flavio, meus parabéns por você conseguir traduzir nossa realidade! A Oftalmologia Brasileira lhe deve muito.

Minha satisfação e alegria em participar desta 100ª edição comemorativa.

Boa leitura!

Marcos Ávila Editor Clínico

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08 ENTREVISTA Paulo Zantut fala sobre seu estudo experimental escolhido pela ARVO para participar da conferência de Imprensa

12 CAPA A oftalmologia e a Universo Visual, hoje e há 15 anos

23 OPINIÃO Associar-se para crescer

24 GESTÃO Residência em oftalmologia: os desafios dos últimos anos

27 INOVAÇÃO O conceito de Big Data e a área de saúde

SUMÁRIO

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EDIÇÃO 100 - JULHO 2017

32 EM PAUTA Quando simular é aprender

35 SAÚDE FINANCEIRA 15 anos de Universo Visual

36 PONTO DE VISTA A melhor idade

38 ESPECIAL UV 15 ANOS Universo Visual: 100 números de dedicação à comunidade oftalmológica

42 UVEÍTES O tratamento das uveítes não infecciosas com drogas biológicas

44 LENTES DE CONTATO Velhos e novos desafios da contatologia no Brasil

48 EVENTOS Cobertura do BRASCRS 2017 e do XVII Simpósio Internacional da SBG

51 NOTÍCIAS E PRODUTOS

54 DICAS DA REDAÇÃO Israel - Terra Santa, sagrada e querida

57 AGENDA

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ENTREVISTA8

Estudo brasileiro na ARVO 2017

Francisco Max Damico

O congresso anual da ARVO (Association for Research in Vision and Ophthalmology) foi realizado de 7 a 11 de maio de 2017, em Baltimore (EUA). Trata-se do maior congresso de pesquisa em Of-talmologia do mundo e conta com mais de 11.000 participantes

de 75 países. A ARVO é a entidade que congrega os maiores oftalmologistas e pesquisadores do mundo na área da visão.

Neste ano, dentre os mais de 6.000 estudos científicos apresentados, os organizadores do congresso escolheram os três mais interessantes e inova-dores para divulgar para a imprensa americana. Um deles foi o estudo que relatou os resultados preliminares da tese de Doutorado do oftalmologista Paulo Zantut, pós-graduando (nível Doutorado) do Departamento de Oftal-mologia da Faculdade de Medicina da USP.

Em entrevista à revista Universo Visual, Paulo Zantut fala sobre o seu estudo e alguns detalhes sobre a Conferênica de Imprensa da ARVO, uma vez que ele foi o primeiro brasileiro a participar deste evento tão impor-tante e que coloca a pesquisa realizada pela Oftalmologia brasileira em destaque no mundo.

Revista Universo Visual - Antes de falarmos sobre a Conferência de Imprensa, conte-nos sobre o estudo que você apresentou na ARVO 2017.

Paulo Zantut - Nosso estudo é uma colaboração entre a Faculdade de Medicina da USP e a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da

Paulo Zantut Pós-graduando (nível Doutorado) do Departamento de Oftalmologia da FMUSP, apresentando estudo experimental dos efeitos da inalação da fumaça da queima da maconha por gestantes na retina dos descendentes, durante a Conferência de Imprensa do Congresso Anual da ARVO 2017.

Paulo Zantut fala sobre seu estudo experimental sobre os efeitos da inalação da fumaça da queima da maconha por gestantes na retina dos descendentes

USP. Os resultados preliminares apre-sentados no congresso da ARVO são parte da minha tese de Doutorado, que é orientada pelos Profs. Drs. Fran-cisco Max Damico (Departamento de Oftalmologia da FMUSP) e Mariana Matera Veras (Laboratório de Polui-ção Atmosférica Experimental do De-partamento de Patologia da FMUSP). Nas suas várias etapas, o estudo vem contando com a participação de ou-tros pesquisadores, como os Profs. Drs. Paulo Saldiva, Walter Takahashi e Aline Bolzan.

Resumidamente, nós expusemos camundongas grávidas à fumaça da queima de cigarros de maconha por cinco minutos diários durante toda a gestação, simulando o uso recreacional da maconha em hu-manos. Após o nascimento dos be-bês camundongos, nós realizamos

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tomografia de coerência óptica de domínio espectral (Heidelberg) da retina deles aos 3, 6 e 12 meses de vida. Nossos resultados mostram que os camundongos cujas mães fo-ram expostas à fumaça da maconha durante a gestação tinham a retina neurossensorial significativamente mais fina do que aqueles cujas mães não foram expostas. O afilamento ocorreu tanto na retina externa quanto na interna. Interessante-mente, a retina neurossensorial foi ficando cada vez mais fina até a vida adulta dos camundongos, mesmo que eles nunca mais tivessem tido contato com a maconha depois do nascimento. Esses achados suge-rem que a exposição intrauterina à fumaça da maconha tem efeitos na retina (que é uma extensão do sistema nervoso central) a curto e longo prazo. Nossos resultados nos permitiram sugerir que os filhos de mães que usaram maconha durante a gestação devem ser acompanhados mais frequentemente pelo maior ris-co de possuírem alterações visuais clínicas ou subclínicas.

UV - E qual o racional para a pes-quisa de alterações retinianas em indivíduos expostos à fumaça da queima da maconha?

Zantut - Vários estudos compro-vam a existência de receptores cana-binoides em vários tecidos do olho humano, como corpo ciliar, malha trabecular e retina (cones, bastone-tes, células horizontais, bipolares, amácrinas e ganglionares). Os recep-tores canabinoides desempenham papel fisiológico na retina humana: eles parecem estar envolvidos em alguns aspectos do processamento visual e a ativação do sistema endo-canabinoide pode levar à proteção das células ganglionares retinianas. No entanto, ainda não se conhecem os efeitos da ativação desses recepto-

res por estímulos exógenos (como o uso da maconha, ainda que de for-ma recreacional).

Como esses receptores estão pre-sentes naturalmente na retina hu-mana, nós resolvemos estudar quais são os efeitos do uso da maconha sobre a retina humana de camun-dongos cujas mães foram expostas à fumaça da queima da maconha durante a gestação.

UV - Do ponto de vista epidemio-lógico, qual a importância do estudo dos efeitos da maconha nos filhos de mães que usaram a droga durante a gestação?

Zantut - O principal componente psicoativo da maconha (o tetraidro-canabinol) pode atravessar a barreira placentária e gerar efeitos adversos no feto. Estudos experimentais com-provam que não há níveis seguros de uso da maconha durante a gestação.

Entre as mulheres gestantes, a maconha é a droga mais consu-mida durante a gestação. Apesar do conhecimento dos efeitos ad-versos que o uso dessa droga pode provocar sobre o desenvolvimento fetal e suas consequências na vida adulta, o número de mulheres que consome algum tipo de droga du-rante a gestação aumentou signifi-cativamente nos últimos anos. Em São Paulo, 4% das gestantes usam maconha durante a gestação. Nos Estados Unidos, 7% das gestantes com idades entre 18 e 25 anos usam a maconha em algum período du-rante a gravidez.

Esses números são considerados alarmantes devido aos potenciais efeitos nocivos (comportamentais e funcionais) que o uso da maconha pela gestante pode acarretar aos bebês, durante a infância e a vida adulta.

Autores dos estudos científicos apresentados na Conferência de Imprensa do Congresso Anual da ARVO 2017: Petr Baranov, MD, PhD (Harvard Medical School), Hrvoje Bogunovic, PhD (Medical University of Vienna), Julia Oswald, PhD (Harvard Medical School), Francisco Max Damico, MD, PhD e Paulo Zantut, MD (Faculdade de Medicina da USP).

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ENTREVISTA10

UV - Vamos falar especificamente sobre a sua experiência na Conferên-cia de Imprensa da ARVO, um evento que nós sequer conhecíamos aqui no Brasil?

Zantut - A Conferência de Impren-sa acontece anualmente durante o congresso da ARVO. Ela é convo-cada pela Assessoria de Imprensa da ARVO e o objetivo é divulgar as pesquisas em Oftalmologia que eles consideram mais inovadoras e inte-ressantes. A conferência é coman-dada pelo presidente ou pelo vice--presidente da ARVO. Encontram-se presentes jornalistas americanos da área da saúde e a conferência é transmitida on-line para jornalistas de todo o mundo. A duração é de 45 minutos. Inicialmente, os autores dos três trabalhos escolhidos fazem uma apresentação oral durante dez minutos cada e, em seguida, os jornalistas presentes (e os que se encontram em seus países) fazem perguntas para os autores.

UV - Como foi o processo de se-leção dos trabalhos?

Zantut - Vinte dias antes do início do congresso, recebemos um e-mail da ARVO informando que nosso tra-balho havia sido escolhido como Hot Topic, ou seja, a ARVO o considerou um dos 2% mais interessantes do congresso. Poucos dias depois, re-cebemos outro e-mail informando que nosso trabalho era 1 dos 11 mais interessantes e inovadores do ano e pedindo que gravássemos um vídeo de 10 minutos com o conteúdo do trabalho utilizando uma linguagem menos técnica, para que eles pudes-sem entender melhor a importância do trabalho e dos resultados. Passa-dos mais poucos dias, fomos infor-mados que nosso trabalho havia sido escolhido como um dos três melho-res e, portanto, nós participaríamos da Conferência de Imprensa.

UV - Como foi a preparação para a Conferência de Imprensa?

Zantut - Inicialmente, os asses-sores de imprensa da ARVO (que são pesquisadores com PhD e, por-tanto, com muita experiência em pesquisa) fizeram uma conferên-cia por telefone conosco. Eles nos explicaram detalhadamente como seria a conferência de imprensa e nos informaram sobre o enfoque bem mais leigo que os jornalistas costumam dar aos trabalhos. Ou seja, nos alertaram que as perguntas não seriam técnicas e provavelmen-te teriam um componente subjetivo – e até de opinião pessoal – sobre os assuntos. Eles nos alertaram para que evitássemos dar opiniões pessoais e reforçássemos sempre que estávamos divulgando exclu-sivamente o que nossos resultados permitiam concluir.

Em seguida, eles indagaram que perguntas nós achávamos que po-deriam ser feitas e como nós as responderíamos. E, finalmente, colocaram perguntas que eles consideravam prováveis. Para todas elas, nós respondíamos e eles nos davam sugestões de como melhorar as respostas.

UV - E como foi a preparação para a apresentação dos trabalhos aos jornalistas?

Zantut - Nós preparamos uma apresentação de dez minutos. Eles nos solicitaram que usássemos boa parte do tempo para falar da importância do nosso estudo e que incluíssemos apenas um gráfico de resultados, que deveria resumir os achados principais e ser facilmente entendido. Outra parte da apresen-tação à qual dedicamos um bom tempo foi a interpretação dos nossos resultados, mostrando didaticamen-te quais as possíveis implicações dos nossos achados na visão. Segundo os

assessores da ARVO, essa é a forma mais adequada de despertar o inte-resse do público que não está fami-liarizado com a pesquisa científica.

Nossa apresentação ficou muito boa. Os americanos são muito di-retos na forma com que abordam os assuntos e não admitem que as apresentações sejam mais longas do que o tempo destinado a elas. Por isso, esse foi um excelente trei-no para nós: além de termos vivido essa experiência inédita, ganhamos conhecimentos que nos ajudarão a sermos melhores divulgadores de novas informações, tanto no meio acadêmico quanto para aqueles que não estão vinculados à área da saú-de e à pesquisa científica.

UV - Quais foram os outros dois trabalhos apresentados na Confe-rência de Imprensa?

Zantut - Um deles foi realizado no Schepens Eye Research Institute, afiliado à Harvard Medical School. Os autores promoveram o cresci-mento in vitro de células ganglio-nares da retina de camundongos a partir de células-tronco. Em segui-da, essas células foram injetadas no vítreo de camundongos e foram incorporadas pela retina. Os pesqui-sadores ainda conseguiram identifi-cá-las fenotipicamente e comprovar o seu funcionamento. Os resultados podem ter implicações clínicas no tratamento do glaucoma e neurite óptica.

O outro estudo foi realizado na Universidade de Viena e coorde-nado pela Profa. Dra. Ursula Sch-midt-Erfurht (uma das criadoras do PDT). Os autores desenvolveram um modelo computadorizado pre-ditivo da progressão da DMRI para a fase avançada a partir de quatro avaliações fotográficas mensais con-secutivas. O modelo previu correta-mente a progressão em 74% dos ca-

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sos e os resultados podem permitir detectar muito mais precocemente o início da forma exsudativa e, por-tanto, permitir início mais rápido do tratamento.

UV - Na sua opinião, quais os mo-tivos que levaram o seu estudo a re-ceber tanto destaque no congresso da ARVO, que é o mais importante congresso de pesquisa em Oftalmo-logia do mundo?

Zantut - Esta foi a primeira vez que um trabalho latino-america-no foi selecionado e recebeu tanto destaque durante um congresso da ARVO. Na minha opinião, além do

trabalho envolver métodos inéditos (mas que já foram validados pelo nosso grupo em publicações inter-nacionais prévias), ele foca no uso recreacional da maconha, que vem aumentando progressivamente no mundo inteiro, de acordo com es-tatísticas oficiais da OMS. Conside-rando que atualmente há inúmeras discussões a respeito da legalização da maconha, tanto para uso medici-nal quanto recreacional, esse é um assunto muito atual e que ganha cada vez mais relevância.

UV - Qual foi a repercussão do seu estudo na imprensa mundial?

Zantut - Diversas entidades publi-caram notícias sobre o nosso estu-do. A abrangência foi grande: desde órgãos da imprensa de notícias em geral, de organizações médicas e de associações de pacientes, até de uma organização que defende o uso medicinal da maconha. Para nossa alegria, as informações contidas nas reportagens foram fieis à nos-sa apresentação e à discussão que houve durante e após a conferência de imprensa. Nos dias seguintes à conferência, ainda recebemos al-guns e-mails solicitando informa-ções mais detalhadas sobre o nosso estudo. 6

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CAPA12

Q uinze anos é muito tempo em medicina!” Foi o que declarou o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Marco Antônio Rey de Faria, avisando que qualquer tentativa de estabelecer parâmetros sobre como se faziam as coisas

em 2002 e como se faz agora sempre seria algo subjetivo e dificilmente consensual. Ele e seus colegas usaram várias vezes a palavra “revolução” para descrever os avanços ocorridos em várias áreas da Oftal-mologia nos últimos 15 anos e uma vista panorâmica sobre estas diferentes “revoluções” e suas consequências para a saúde ocular dos pacientes atesta como é difícil a reconstrução da Oftalmologia praticada naquele nem tão longínquo ano de fundação da revista Universo Visual e as mudanças ocorridas a partir de então.

A OFTALMOLOGIA

E A UNIVERSO VISUAL, HOJE E HÁ 15 ANOS

O que uma década e meia representam para a medicina? Que mudanças ocorrem em tantos

anos? Desde 2002, ano de fundação da revista Universo Visual, muita coisa mudou...

vamos aos fatos!

José Vital Monteiro

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CatarataRey de Faria enumera aqueles

que, no seu entender, são os avan-ços mais significativos registrados na área da cirurgia de catarata. Começa com a anestesia tópica, que no período consolidou-se na preferência da grande maioria dos cirurgiões.

Com relação às lentes intrao-culares, o professor da UFRN des-taca que mais importante do que os novos modelos surgidos foi o desenvolvimento de plataformas que, por sua estabilidade e quali-dade ópticas, propiciaram o uso de lentes para a correção com sucesso do astigmatismo.

“O sonho de lentes multifocais tornou-se realidade com o desen-volvimento de tecnologias que permitem esculpir e moldar lentes com superfícies ópticas difrativas e refrativas complexas, que melho-raram muito a visão dos pacientes com lentes multifocais, com redu-ção dos halos e glare e menor perda de contraste, que eram algumas das maiores queixas dos pacientes com relação a essas lentes. Também tive-mos a junção de lentes multifocais com lentes tóricas, proporcionando excelente visão e independência dos óculos para pacientes que até então estavam fadados a depender deles permanentemente”, afirmou.

A facoemulsificação já era pra-ticada em 2002, mas os aparelhos usados para a sua realização ga-nharam sofisticados sistemas de fluídica, que proporcionam estabi-lidade de câmara. Outra inovação foi o surgimento da faco torcional e elíptica, que aumentou a eficiência e reduziu a energia despendida. Marco Rey afirma ainda que novas ponteiras e novas luvas adequadas aos vários tamanhos de incisões também aumentam a eficiência do procedimento e diminuem queima-

duras da incisão e o astigmatismo induzido.

Para ele, novidade mesmo foi a chegada do laser de femtossegundo para a realização de etapas da ci-rurgia de catarata. “Sua utilização é um avanço, embora não tenha provado ainda que melhore os resultados na cirurgia. Por outro lado, ainda é um aparelho muito caro para essa cirurgia, o que inibe o seu uso e dificulta seu desenvolvi-mento. Comparo o uso do laser de femtossegundo com a facoemulsi-ficação em seu início, quando não tínhamos substâncias viscoelásticas que protegessem o endotélio, nem lentes intraoculares que entrassem na pequena incisão. Acredito que com o tempo, a popularização e melhor logística, a novidade será progressivamente incorporada de maneira definitiva ao procedimen-to”, pontifica.

Marco Rey destaca por fim o sur-gimento de novas técnicas cirúrgi-cas, como a pré-fratura do núcleo e novas técnicas de implante se-cundário com fixação da alça na esclera.

Na saúde ocular, 2002 foi mar-cado como o ano em que foram realizados os grandes mutirões nacionais de cirurgias de catarata. Marco Rey considera que hoje a rea-lização de iniciativas semelhantes é desnecessária nas regiões urbanas e, nas regiões mais afastadas, a me-lhor solução seria a utilização de centros cirúrgicos móveis.

“Hoje podemos montar verda-deiros hospitais itinerantes para atender esses lugares. Há, entre-tanto, que se obedecer normas que regulamentam a construção dessas unidades, para evitarmos contami-nação e epidemias de infecções, assim como assegurar condições apropriadas de pré-operatório e in-dicação do procedimento, além da

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garantia do acompanhamento pós--operatório. Tudo isso guiado por protocolos aprovados por comitê de ética, garantindo desta maneira a saúde da população”, declarou.

E o futuro? Marco Rey considera que as cirurgias facorrefrativas se imporão lenta, mas progressiva-mente, e que a correção refrativa corneana será utilizada para corri-gir pequenas ametropias e melho-ria do resultado final e aumento da satisfação do paciente. Tratamento clínico da catarata? Prevenção da desnaturação das proteínas do cris-talino e sua opacificação? O pro-fessor da UFRN acompanha com interesse, mas com muitas dúvi-das, as notícias sobre tais pontos oriundas de centros científicos in-ternacionais.

“Entre o céu e a terra, tudo é pos-sível; vamos ver o que ocorre nos próximos 15 anos”, brinca Marco Antônio Rey de Faria.

GlaucomaA evolução do glaucoma nos úl-

timos 15 anos tem que ser observa-da sob três aspectos: diagnóstico, tratamento clínico e tratamento cirúrgico; é o que avalia o professor titular da Disciplina de Oftalmolo-gia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Remo Susanna Júnior.

Para o catedrático, os últimos anos foram marcados pelo aper-feiçoamento dos equipamentos de imagem auxiliares no diagnóstico do glaucoma, com a consolidação dos aparelhos de OCT (Optical Coherence Tomography – Tomo-grafia de Coerência Óptica), que ocuparam a maior fatia do mercado em detrimento dos aparelhos GDX (Scanning Laser System) e HRT (Hei-delberg Retina Tomograph).

“Outro fator importante no tra-tamento do glaucoma, que envolve

fator de risco, foi a descoberta de que a espessura corneana é im-portante porque quando a córnea é fina, a medida da pressão apre-senta valores inferiores aos reais e quando a córnea é mais espessa, a medida da pressão pelo tonôme-tro de Goldman apresenta valores mais elevados do que a existente dentro do olho. As propriedades biofísicas da córnea também adqui-riram importância no correto di-mensionamento da probabilidade de progressão da doença”, explicou Remo Susanna Júnior.

Por outro lado, acrescentou que o debate que existia sobre qual o parâmetro mais importante da pressão intraocular (PIO), se o pico ou a média ou ainda sua flutuação, hoje está suficientemente esclareci-do. “A flutuação tem poder muito pequeno, além de ser de muito difí-cil medição e não ser reprodutível. O estabelecimento da média tam-bém mostrou-se inconclusivo e a medida do pico tornou-se, então, a forma mais fácil e segura de avaliar a PIO para avaliar a progressão da doença e o cálculo da pressão-alvo do paciente,” afirmou.

Quanto ao tratamento clínico, o período foi marcado pelo surgimen-to de várias combinações fixas de drogas que permitem o uso de dois componentes num mesmo frasco, com menos conservantes. Tais aprimoramentos, de acordo com o especialista, contribuem para o aumento do conforto do paciente e da fidelidade ao tratamento.

Por fim, quanto à cirurgia, houve aprimoramentos nas técnicas para a realização da trabeculectomia, considerada por Remo Susanna Júnior como o padrão ouro deste tipo de tratamento.

No período foram testados ou-tros procedimentos, como a cirur-gia de esclera não penetrante, que

“O debate que existia sobre qual o

parâmetro mais importante da pressão intraocular (PIO), se o pico ou a média ou ainda sua flutuação, hoje está suficientemente esclarecido Remo Suzanna Jr.

“O sonho de lentes multifocais

tornou-se realidade com o desenvolvimento de tecnologias que permitem esculpir e moldar lentes com superfícies ópticas difrativas e refrativas complexas Marco Rey de Faria

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é usada principalmente na Europa, mas que não se consolidaram no continente americano.

“Atualmente outras cirurgias es-tão surgindo, com destaque para as chamadas cirurgias minimamen-te invasivas, como por exemplo as cirurgias canaliculares, feitas na câmara anterior, que reduzem pou-co a pressão, são indicadas para o paciente tirar uma medicação ou evitar que necessite de outro colírio e geralmente precisam ser associa-das à facoemulsificação, que por si só já reduz a PIO. Outra cirurgia que parece ser promissora, mas ne-cessita de mais tempo de seguimen-to, é a colocação de implante via câmara anterior para escoamento sob a conjuntiva. É uma fístula, só que a cirurgia é muito mais fácil, rápida, com menos complicações que a trabeculectomia, embora envolva custos maiores, concluiu o professor titular de Oftalmologia da USP, Remo Susanna Júnior.

RetinaO diagnóstico e o tratamento

das doenças da retina constituíram uma das áreas da medicina que mais se beneficiaram dos avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas, de acordo com o coorde-nador do Setor de Oftalmologia do Centro Cirúrgico do HCFMUSP e diretor de Assuntos Internacionais da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV), Leandro Cabral Zacharias.

“O principal avanço na área do diagnóstico foi o desenvolvimento da tomografia de coerência óptica. Os primeiros modelos de OCT fo-ram comercializados desde o final da década de 1990, mas durante os anos 2000 os avanços tecnológicos permitiram a obtenção de imagens cada vez mais detalhadas, com re-solução de alguns micra, reprodu-

zindo in vivo verdadeiros cortes histológicos da retina. Essa tecno-logia nos auxiliou a compreender melhor a fisiopatologia de diversas doenças retinianas, realizar diag-nósticos mais precoces, e acompa-nhar de maneira seriada e objetiva a resposta a diversos tratamentos”, afirmou.

O médico da USP acrescentou que outro avanço diagnóstico re-levante foi a obtenção de imagens em grande angular, que permitem a documentação de aproximada-mente 200 graus da retina de uma só vez.

Na parte de tratamento, Zacha-rias considera que a fotocoagulação a laser, já consagrada no início do século, tornou-se mais difundida e acessível e também foi contempla-da com avanços tecnológicos, tais como diferentes cumprimentos de onda, que podem ser incorporados ao mesmo aparelho para tratamen-tos distintos, criação do laser em padrão ou grade que permite dispa-ros quase simultâneos, que causam menos desconforto ao paciente e laser em micropulso, que provoca menos danos colaterais nos tecidos.

“Agora temos também o laser navegado por software, que permi-te ao médico selecionar os pontos específicos para a realização do tra-tamento e o laser é emitido pelo computador com precisão milimé-trica. Por isto, o tratamento a laser das doenças da retina, que existe há décadas, vem sendo constantemen-te reinventado com a incorporação de novas tecnologias e tornando-se mais acessível”, afirmou.

Outra terapia consagrada, a vi-trectomia via pars plana, também experimentou modificações ao lon-go dos anos e atualmente é cirurgia muito mais segura e efetiva. Zacha-rias cita alguns dos avanços que considera mais significativos neste

ponto: sistemas de grande angular permitiram melhor visualização da periferia retiniana; cirurgia por trocanteres transconjuntivais in-troduzida em 2005 por Eugene De Juan, que permitiu a realização de procedimentos com instrumentos mais delicados, de menor calibre e maior precisão, sem necessidade de suturas; sondas com velocida-des de corte cada vez mais rápidas melhoraram a fluídica e o controle cirúrgico, permitindo a remoção efetiva do vítreo e desenvolvimento de corantes para permitir a identi-ficação e remoção com segurança de tênues estruturas pré-retinianas.

“Mais recentemente, tivemos a utilização intraoperatória de OCT acoplado a microscópios e a vitrec-tomia assistida por recurso digital, que utiliza câmeras e sensores di-gitais para compor a imagem tri-dimensional de grande resolução, que permite ao cirurgião trabalhar com luz menos intensa. Estes úl-timos dois avanços ainda não são muito difundidos, pelo alto custo relacionado, mas como toda tec-nologia, a tendência é que eles se tornem mais acessíveis e difundi-dos ao longo do tempo. Também não podemos esquecer a cirurgia robótica, ainda em fase experimen-tal”, declarou.

Porém, Zacharias considera que o grande divisor de águas na tera-pia retiniana ocorrida nos últimos anos foi a injeção intraocular de medicações anti-VEGF (sigla em inglês de fator de crescimento endotelial vascular), inicialmente aprovadas para tratamento da de-generação macular relacionada à idade (DMRI) na forma exsudativa e posteriormente utilizadas para tratamento de outras condições, como oclusões venosas e edema macular diabético.

“O impacto foi e está sendo ex-

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traordinário. No caso da DMRI na forma exsudativa, antes da era das injeções intravítreas apenas 10% dos pacientes apresentavam visão de 20/40 ou melhor dois anos após o diagnóstico da doença; hoje, 50% dos pacientes retêm visão de 20/40 ou melhor cinco anos após o início do tratamento, segundo dados do estudo CATT. A diferença em qualidade de vida é sensível. Mas os desdobramentos dos avan-ços terapêuticos que estamos pre-senciando são bem mais amplos, pois a baixa visão em idosos está associada a risco maior de quedas, com as morbidades relacionadas, e também a maior taxa de depressão. No caso de pacientes diabéticos, o controle rigoroso da glicemia continua sendo a principal arma para retardarmos e minimizar-mos a retinopatia diabética, mas as injeções intravítreas auxiliam a restaurar a visão em boa parte desses pacientes, sobretudo nos que apresentam edema macular, sendo mais efetivas que a aplicação isolada de laser, segundo diversos trabalhos científicos. Além disso, a severidade da retinopatia diabética comprovadamente retrocede após injeções intravítreas de antiangio-gênicos”, explicou o médico da USP.

Para o futuro, Zacharias con-sidera que a injeção cirúrgica de vetores adenovírus ou lentivírus no espaço sub-retiniano através de vitrectomia provavelmente terá grande progresso no tratamento de doenças hereditárias da retina, ao passo que o transplante da retina ainda continua distante; da mesma forma, a utilização de células-tron-co, que continua experimental e sujeita a lamentáveis acidentes. Considera, também, que o chip de retina, por seu alto custo, ainda continuará tendo utilização muito restrita nos próximos anos.

“Penso que novas drogas, mais efetivas que os atuais anti-VEGF surgirão, personalizando e me-lhorando ainda mais o resultado dos tratamentos de pacientes com problemas retinianos. Plataformas de liberação lenta poderão reduzir a necessidade de constantes reapli-cações, reduzindo o desconforto dos pacientes e a necessidade de aplicações periódicas. A restaura-ção da mácula através de células-tronco e transplantes retinianos confeccionados em laboratório abririam horizonte totalmente novo no tratamento de pacientes com danos hoje irreversíveis. No plano cirúrgico, creio que a curto prazo os sistemas digitais permi-tirão integração de imagens como o OCT intraoperatório e imagens endoscópicas simultaneamente à imagem cirúrgica tradicional mo-dificarão a atuação do cirurgião. A retina evoluiu muito nos últimos 15 anos, mas ainda temos muito a evoluir no tratamento e cuidado dos nossos pacientes”, concluiu Leandro Cabral Zacharias.

CórneaPara o professor associado do

Departamento de Oftalmologia da FMUSP, Milton Ruiz Alves, os avanços ocorridos em passado re-cente na área da córnea estiveram ligados à propedêutica, isto é, aos equipamentos que melhoraram o conhecimento e permitiram obter informações das doenças da super-fície ocular e das condições para melhor tratar o paciente.

“Há alguns anos, para diagnos-ticar o olho seco usavam-se coran-tes e papel de filtro para medir a produção de lágrimas. Hoje temos equipamentos que medem por meios não invasivos a altura do menisco do filme lacrimal, a espes-sura da camada lipídica do filme

lacrimal, o tempo de rompimento da lágrima e muitas outras coisas”, explicou Ruiz Alves.

Na área da topografia e cerato-metria, os equipamentos de wave front permitem medidas com pre-cisão de 0,01 dioptria e grandes avanços no diagnóstico de astig-matismos irregulares. Embora já tenham mais de 15 anos, Ruiz Al-ves explica que tais aparelhos são constantemente aprimorados com a incorporação de tecnologia de última geração.

“Todos estes equipamentos, to-pógrafos e tomógrafos e OCTs trou-xeram novas luzes a uma série de problemas. Hoje, com a tomogra-fia de coerência óptica da córnea, conseguimos verificar a presença de células negríticas, que até há pouco tempo não sabíamos para que serviam e hoje sabemos que têm participação ativa em proces-sos inflamatórios. As descobertas continuam e ainda temos muito a percorrer, mas o progresso obtido nos últimos anos foi espetacular”, afirmou.

Na parte cirúrgica, Ruiz Alves destaca o recente uso de laser de femtossegundo para colocação de anéis intracorneanos para corre-ção de astigmatismos irregulares e ceratocone e a popularização das técnicas de transplante lamelar da córnea.

Ressalta também que os fárma-cos que evoluíram, com a fabrica-ção de antibióticos mais potentes e com penetração maior, corticoides que controlam o processo infla-matório sem desencadear efeitos colaterais importantes, como au-mento da pressão e catarata e novos anti-inflamatórios que atuam em células envolvidas em processos que destroem a córnea.

“Assistimos à confluência do de-senvolvimento de equipamentos

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para diagnóstico, para obtenção de informação sobre a condição do tecido corneano e da forma de tratamento. Temos antibióticos me-lhores, anti-inflamatórios melho-res, cirurgias de reconstrução da superfície melhores. Torna-se viável a possibilidade de colonizar uma membrana amniótica a partir de pequeno número de células-tronco, tiradas do olho contralateral, em laboratório e realizar o transplante para a recuperação mais rápida da superfície ocular. Enfim, estamos passando por uma revolução nesta área”, concluiu Milton Ruiz Alves.

RefraçãoSe na área de córnea e doenças

externas, Milton Ruiz Alves ressalta os avanços científicos e tecnológi-cos de vanguarda, no campo da re-fração ele ainda espera que o pro-gresso seja medido com adoção de técnicas e aparelhos que permitam a realização de grande número de exames de forma confiável, rápida e econômica.

“Como determinar o grau das lentes que o paciente precisa não é problema há pelo menos dois sé-culos. O problema é como chegar a isso de maneira rápida, reprodu-tível e em larga escala e atender a uma parte substancial da popu-lação que não tem acesso à refra-ção feita em consultório médico oftalmológico. Há uma revolução tecnológica nesta direção em várias partes do mundo, mas que ainda não se concretizou em termos prá-ticos aqui no Brasil”, disse.

Milton Ruiz Alves explicou que equipamentos chamados foto-scree-ners permitem examinar pessoas e identificar aquelas que precisam de exames oftalmológicos completos. Cita como exemplo que um apare-lho desses permite a triagem de 300 crianças em uma manhã e cita

também que, ainda hoje, no Hos-pital das Clínicas da USP, cerca de 50% das crianças enviadas pelas professoras para o programa ofi-cial de atendimento oftalmológico de escolares são triadas de manei-ra equivocada, o que representa grande desperdício em todos os sentidos.

Conta que quando começou na Oftalmologia, a refração era feita com espelho plano, semelhante ao utilizado pelos otorrinolaringolo-gistas e que atualmente é possível fazer exames extremamente so-fisticados com aparelhos de wave front. Além disso, os recursos da teleoftalmologia permitem que o olho seja fotografado em determi-nado local e o exame feito por um especialista em outro.

“A refração ocular é uma coisa magnífica e as novas tecnologias apontam para uma realidade na qual toda a população possa ser atendida e possa enxergar com qualidade. Mas para isto temos que quebrar paradigmas e ousar na adoção de novas tecnologias de forma apropriada”, concluiu Mil-ton Ruiz Alves.

Lentes de contatoHá 15 anos o Brasil ganhou a

primeira edição da revista Univer-so Visual. Entre os bons artigos publicados neste período, muitos tiveram como principal tema as lentes de contato. Assim, a revista acompanhou e participou da evolu-ção das lentes de contato no Brasil de 2002 a 2017.

Segundo Paulo Ricardo de Olivei-ra, Doutor em Oftalmologia pela Faculdade de Medicina da Univer-sidade de São Paulo e ex-presidente da SOBLEC, as lentes de contato são um recurso extraordinário. O seu uso é motivo de alegria para muitas pessoas por dar-lhes a condição de

“Novos materiais, desenhos mais compatíveis

com a topografia e a fisiologia da córnea e modernas tecnologias tornaram-nas mais sofisticadas, seguras, eficientes e com um número ainda maior de indicações Paulo Ricardo de Oliveira

“O avanço dos últimos anos em todas as

áreas da especialidade foi revolucionário, mas a maioria da população brasileira ainda não enxerga por falta de óculos e catarata e a maioria dos cegos do país chegaram a esta condição por falta de atendimento na hora certa Suel Abujamra

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enxergarem sem óculos, trazendo-lhes uma agradável sensação de liberdade. Para atletas, que apre-sentam problemas de visão, estão associadas à capacidade e segu-rança na prática de esportes. Para outros representam uma melhora da estética equivalente ou mesmo superior a uma cirurgia plástica bem sucedida. Existem ainda aque-les que têm, nas lentes de contato, a única opção para verem o que precisam em tudo que fazem.

Segundo conta, muita coisa mu-dou na Oftalmologia durante este tempo e as lentes de contato fazem parte deste processo. Novos mate-riais, desenhos mais compatíveis com a topografia e a fisiologia da córnea e modernas tecnologias tornaram-nas mais sofisticadas, seguras, eficientes e com um nú-mero ainda maior de indicações.

Para ele, não é possível escrever sobre lentes de contato no Bra-sil, sem mencionar a atuação da SOBLEC, que há 46 anos, além de atuar nas áreas de córnea e refra-ção, contribui para a divulgação, modernização e ensino da adapta-ção de lentes de contato no nosso país, orientando e treinando os of-talmologistas e seus auxiliares. “Nos últimos 15 anos, utilizando os mais modernos recursos de informática e mídia, a SOBLEC desenvolveu um extraordinário e pioneiro programa de educação continuada à distância, beneficiando estudantes, residentes, oftalmologistas e seus auxiliares e até mesmo informando a popula-ção geral, sempre com seriedade, responsabilidade e ética”, explica Oliveira.

Sem deixar de usar os recursos tradicionais, aproveitando a tecno-logia avançada disponível na atua-lidade e contando no seu quadro social e científico com palestrantes, que estão entre os maiores conhe-

cedores do assunto no Brasil, for-taleceu sua credibilidade no país e adquiriu credibilidade interna-cional, sendo na atualidade, o pi-lar mais importante do Conselho Médico Internacional de Lentes de Contato (IMCLC), ao lado das sociedades americana, européia e japonesa. “O advento de materiais de alta permeabilidade ao oxigênio propiciaram a produção de lentes mais seguras e confortáveis. A pro-dução em série e com baixo custo viabilizou a existências das lentes de contato descartáveis de uso úni-co, que tem ganhado a preferência de grande parte dos usuários, es-pecialmente nos Estados Unidos, em alguns países da Europa e no Japão. No Brasil, a sua utilização tem crescido de forma relevante e são as mais indicadas para uso ocasional”, revela.

Para Oliveira, os novos materiais rígidos gás-permeáveis tornaram possível a criação de novos desenhos e diâmetros para córneas irregula-res, aumentado a taxa de sucesso na adaptação destes casos difíceis.

“A utilização de uma lente de contato gelatinosa sob uma lente de contato rígida gás-permeável, técnica chamada de adaptação a cavaleiro, com os novos materiais, passou a apresentar baixo risco de complicações, proporcionando o conforto das lentes de contato gelatinosas, com a qualidade de visão das lentes rígidas”, avalia. “São suas principais indicações a intolerância às lentes de contato rígidas e a dificuldade de centrali-zação e estabilização sobre a cór-nea. É recomendável adaptar uma lente de silicone-hidrogel de grau baixo e sobre ela, uma rígida gás--permeável. Como não se recorre à adaptação a cavaleiro sem antes tentar uma rígida, adapta-se sobre a de silicone-hidrogel a rígida que tiver mostrado o melhor padrão de adaptação. O poder da rígida é determinado por sobre-refração. Ambas precisam apresentar mo-bilidade para que haja adequada troca lacrimal sob as duas”, explica.

De acordo com o especialista, apesar da importância de avanços como as lentes de contato de sili-cone-hidrogel, lentes de descarte diário, lentes rígidas de alta trans-missibilidade ao oxigênio, lentes de curva reversa para pós-cirurgia refrativa, lentes de ortoceratologia para correção temporária da mio-pia e para controle da sua evolução em crianças e adolescentes, o que mais causou repercussão no meio médico e que talvez tenha trazido mais benefícios para os pacientes, foi o surgimento das lentes rígi-das de diâmetro grande, maior do que o da córnea, as semi-esclerais e esclerais. “Surgidas em 1880 o seu material não-permeável ao oxi-gênio, o vidro e o desenho simples inviabilizaram o seu sucesso. Na última década, feitas com material de alta permeabilidade e desenhos

Lente de contato monocurva em ceratocone

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“A refração era feita com espelho plano,

semelhante ao utilizado pelos otorrinolaringologistas e que atualmente é possível fazer exames extremamente sofisticados com aparelhos de wave front Milton Ruiz Alves

sofisticados, computadorizados, ga-nharam popularidade entre médi-cos e pacientes”, revela.

Na atualidade, Oliveira salienta que as lentes rígidas, quanto ao seu diâmetro ou a sua zona de apoio, podem ser classificadas em corneais, com diâmetro igual ou menor do que o da córnea, ou seja, até 12,5 mm aproximadamente. As maiores do que a córnea podem ser classifi-cadas em semi-esclerais de 12,50 a 15 mm e esclerais de 15 a 25mm de diâmetro. As de 15 a 18 mm são tam-bém chamadas de mini-esclerais.

“Estas medidas podem variar li-geiramente dependendo do autor da classificação, mas o mais importante é que vieram resolver o problema de pacientes que há anos não conse-guiam enxergar bem e apresentam conforto e acuidade visual muitas vezes surpreendentes”, acrescenta.

Segundo conta, apesar da grande evolução da cirurgia refrativa, dos diferentes desenhos e materiais do anel intra-estromal, dos diferentes tipos de transplante de córnea e da moderna cirurgia da catarata, mui-tos pacientes não alcançam uma visão satisfatória e as lentes de con-tato, frequentemente, voltam a ser a melhor opção ou mesmo a única, em determinados casos, capaz de fa-zê-los enxergarem o suficiente para trabalharem e desenvolverem suas atividades habituais.

“No Brasil, produzem lentes es-clerais e semi-esclerais as empresas Solótica, Mediphacos, Ultralentes e outras que estão entrando neste mercado. Lentes com desenhos que apresentam diferentes opções de curvatura, zona óptica, diâmetro, elevação da borda, toricidade e mes-mo assimetria estão à disposição dos oftalmologistas”, acrescenta.

Oliveira afirma que são lentes fantásticas, mas não são para todos os casos. “Sua adaptação é comple-

Lente de contato semi-escleral

Lente de contato escleral

“O grande divisor de águas na terapia retiniana

ocorrida nos últimos anos foi a injeção intraocular de medicações anti-VEGF, inicialmente aprovadas para tratamento da DMRI na forma exsudativa e posteriormente utilizadas para tratamento de outras condições, como oclusões venosas e EMD Leandro Zacharias

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xa e suas indicações são específicas e devem ser restritas aos casos em a utilização de lentes mais simples não é viável. Por isso, mesmo que o oftalmologista seja experiente na adaptação de lentes de contato, ele deve ter um canal de comunicação com um consultor da empresa res-ponsável pela fabricação ou distri-buição das lentes que ele utiliza, para tirar dúvidas e buscar soluções para seus pacientes. Já quanto à técnica de adaptação, embora haja uma orientação geral, cada marca e desenho tem suas peculiarida-des e a melhor conduta é seguir a orientação do fabricante, que acom-panha ou deve acompanhar a caixa de prova”, explica.

Enfim, Oliveira diz que, com todo este progresso, a adaptação de len-tes de contato, mais do que nunca, tornou-se uma subespecialidade da oftalmologia e, como todas as ou-tras, requer esforço, investimento e sobretudo conhecimento e atualiza-ção constante. Isto, entretanto, não significa que o oftalmologista não especialista não deva trabalhar com lentes de contato. “Ao contrário, é muito importante que trabalhe, que ocupe o espaço e caso não queira en-volver-se com os casos mais comple-xos, os encaminhe para um colega mais experiente, não deixando o paciente sem a devida orientação”, finaliza. “Parabéns à Revista Univer-so Visual, que nestes 15 anos acom-panhou e divulgou o progresso das lentes de contato e da Oftalmologia brasileira como um todo”.

Longo caminhoEm 2002, o presidente do Conse-

lho Brasileiro de Oftalmologia era Suel Abujamra, professor livre-do-cente da USP e fundador do Institu-to Suel Abujamra. Com visão mais pessimista, preocupa-se em levar seus colegas médicos oftalmologis-

tas a refletirem sobre o alcance do progresso científico e tecnológico e de como colocá-lo a serviço da saúde ocular da população.

“Quando vou aos congressos vejo avanços tecnológicos inimagináveis, mas como trazer tudo aquilo para a realidade, para o paciente pobre, para o Brasil que passa por uma enorme crise? A maioria desses avanços implica custos crescentes, que os deixam fora do alcance dos nossos pacientes. Temos que levar em conta que os avanços tecnoló-gicos não acontecem no vazio, mas sim em ambiente social, econômico, político e cultural que os moldam completamente. No Brasil, infeliz-mente, a Oftalmologia ainda está muito aquém das necessidades de nosso povo”, lamenta.

Abujamra esclarece que não existe no país nenhuma política unificada de prevenção da cegueira e de aten-dimento oftalmológico em larga es-cala. Afirma também que o paciente do SUS fica preso no sistema, sendo encaminhado de uma instituição para outra e que quando chega ao local onde pode receber assistência oftalmológica adequada, muitas ve-zes já é tarde demais, principalmente em casos de retina e glaucoma.

“Não quero ser o chato, mas apenas pedir para que os médicos oftalmologistas reflitam sobre a realidade que nos cerca e de como podemos utilizar a maravilhosa tecnologia que existe na Oftalmo-logia em benefício da população. O avanço dos últimos anos em todas as áreas da especialidade foi revolu-cionário, mas a maioria da popula-ção brasileira ainda não enxerga por falta de óculos e catarata e a maioria dos cegos do país chegaram a esta condição por falta de atendimento na hora certa. Alguma coisa precisa ser feita”, sentencia categórico Suel Abujamra. 6

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INIÃ

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A velocidade nas trans-formações e inovações experimentadas por em-presas nos mais diversos

segmentos de mercado, incluindo-se a área da saúde, tem se intensificado exponencialmente nas últimas déca-das. Lidar com este fator, que inclui o avanço das tecnologias digitais e a consolidação de processos de aquisi-ção, fusão e associação de empresas pode ser uma tarefa extremamente complexa, porém essencial, para quem busca a sustentabilidade de seu negócio.

Transformações aceleradas exi-gem uma maior velocidade no processo de aquisição da informa-ção, análise da situação e tomada de decisões. Para abordar aspectos relacionados à área da saúde, espe-cificamente no Brasil, é importan-te destacar a alta informação dos pacientes quando buscam serviços médicos. Além disso, nos últimos anos o segmento vem sofrendo pro-fundas transformações pautadas por verdadeiras revoluções tecnológicas

e mercadológicas. A operação remo-ta de equipamentos de diagnóstico, incluindo a realização de consultas médicas também remotamente é uma realidade inimaginada há uma década. Somam-se a estes desafios a aprovação da entrada de capital estrangeiro, a solidificação das ope-radoras de saúde, as fusões e as ver-ticalizações de hospitais, fatores que têm exigido profunda reflexão dos gestores sobre os caminhos a serem adotados na busca pela sobrevivên-cia de seu negócio. O fato é que, se as mudanças acontecem de modo exponencial no que diz respeito à quantidade e velocidade, os próxi-mos três anos, provavelmente, serão tão ou mais intensos que os últimos dez anos.

Lidar com esta complexa rea-lidade exige, ainda, de empresas de todos os portes, investimento constante na profissionalização da gestão e o suporte de uma equipe com expertise elevada. Redução de custos aliada à eficiência absoluta dos processos não é uma opção, mas

Amaury GuerreroCEO do Hospital de Olhos Brasil e responsável pela consolidação de clínicas de Oftalmologia no Brasil para formação de uma instituição com liderança nacional

Associar-se para crescer

uma obrigação de empresas que vis-lumbram o crescimento sustentado.

Neste sentido, modelos de negó-cio associativos apresentam vanta-gens competitivas importantes e adicionam inteligência estratégica, proporcionando maior rentabilida-de, melhores negociações e acesso facilitado às tecnologias de ponta. O modelo HOBrasil – empresa de oftalmologia criada da associação de um grupo de médicos e o Fundo de Investimentos Pátria –, por exem-plo, foge da proposta simplesmente financeira, optando pela integração inclusiva. Assim, diferentemente do que se vê na maior parte dos casos de consolidação, o HOBrasil dá voz ativa aos oftalmologistas nas delibe-rações relacionadas à qualidade dos serviços e todas as decisões médicas, incluindo-se a escolha de novas má-quinas e equipamentos. Somente assim é possível conciliar a comple-xidade do negócio oftalmológico à profissionalização da gestão e à redução de custos. O foco é crescer mais, preservando a reputação das marcas e do negócio visando a alta qualidade do atendimento médico, a humanização com os pacientes e o acesso à tecnologia de ponta. Tudo pautado pela ética e o com-promisso com rigorosos critérios de governança.

Criado há um ano, o modelo do HOBrasil permite aos sócios par-ticipar do conselho de gestão, da definição do planejamento estra-tégico e das decisões do negócio, além de liderar atividades e con-dutas clínicas. O grupo, que está composto, atualmente, por Instituto de Olhos Freitas, DayHorc e Clínica Villas (BA); HOB (DF); e Hospital de Olhos Santa Luzia (AL), somando 12 unidades em território nacional, já se configura como um dos prin-cipais em medicina oftalmológica na América Latina. 6

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Os desafios dos últimos 15 anos na oftalmologia

A Universo Visual chega ao seu número 100. Sua primeira edição saiu em fevereiro de 2002. E para

falar sobre o que mudou nesse perío-do, conversamos com médicos que entraram para o mundo da oftalmo-logia há 15 anos, assim como nós. Que trajetórias profissionais toma-ram? Que desafios encontraram? Que mudanças no mercado vivenciaram?

Para um jovem médico recém-formado, as possibilidades de traje-tórias profissionais são inúmeras, e cada uma é desafiadora a seu modo. Mudar de cidade, seja para prosse-guir os estudos ou para estabelecer-se profissionalmente, pode ser uma oportunidade.

Para Luiz Taranta, que em 2002 entrava para residência em oftal-mologia na USP de Ribeirão Preto, a ideia de estabelecer-se em outro Estado surgiu por acaso. “Enquan-to fazia doutorado, conheci mais a fundo um colega de residência, Mar-co Bonini Filho. Logo descobrimos

que tínhamos um grande amigo em comum. O uísque Jack Daniels. E em uma das reuniões onde os três estávamos presentes, Marco me convidou para conhecer sua cidade, Campo Grande (MS)”, conta Taranta. A capital sul-mato-grossense agra-dou ao oftalmologista: “A cidade me encantou. É um lugar calmo, onde as pessoas ainda almoçam em casa e têm tempo para uma conversa, acompanhada de um café ou tere-ré”. Hoje, Taranta pôde realizar seus dois sonhos: montou sua própria clínica e é professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

A mudança pode ser para mais longe. Formada oftalmologista e doutora pela Escola Paulista de Me-dicina (Unifesp), Karolinne Maia Rocha foi para o EUA para fazer seu pós-doutorado na Cleveland Clinic. Depois foi para a Emory University. Nesse período ficou noiva e resolveu mudar-se em definitivo para os EUA. Estabelecer-se em outro país exigiu paciência. Foi necessária uma série

de provas para validar o diploma de medicina, fazer um ano de internato e refazer a residência em oftalmo-logia no país. “Foi o momento mais desafiador. Já com um doutorado e depois de tantos anos exercendo a oftalmologia, voltar para a base e ter que passar um ano no internato”. Hoje Rocha é professora assistente e diretora do setor de córnea e cirurgia refrativa na Medical University of North Carolina.

Para João Marcos Atique, que também se formou oftalmologista na USP de Ribeirão Preto, o destino também reservou algumas surpresas, ainda que a mudança de cidade não tenha ocorrido. “Quando terminava a residência, havia uma proposta de trabalhar em Florianópolis (SC) com um primo que também é oftalmolo-gista, no início de 2005. Mas logo no fim de 2004 as portas se fecharam na cidade”, conta. Mas a frustração durou pouco. “Na mesma semana re-cebi um convite para trabalhar aqui em Ribeirão Preto mesmo. Quem crê

Davi Gentilli

Médicos que entraram na residência em oftalmologia em 2002, ano do lançamento da Universo Visual, contam suas trajetórias e desafios que encontraram na carreira nesse período

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em Deus, entende que essa foi uma resposta muito grande Dele.”

Após a residência, tendo perma-necido em Ribeirão, Atique seguiu direto para o doutorado, também na USP. Deu aulas durante cinco anos na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) e foi responsável, entre 2009 e 2016, pelo laboratório de lente de contato do Hospital das Clínicas. Hoje está somente em consultório.

Prosseguir os estudos e buscar um doutorado é uma opção para muitos. Alexandre Ventura, oftalmologista do Recife (PE), que em 2002 entrou para a residência na Fundação Altino Ventura, seguiu a recomendação de seu pai, também oftalmologista, que repetia o conselho recebido de seu mestre Hilton Rocha (1911-1993). O professor mineiro sempre dizia que para que uma pirâmide possa ser alta, precisa de base larga, sugerin-do que para um oftalmologista ser grande na carreira, precisa de uma sólida formação. Fez fellowship em retina na Universidade de Toronto e em uveítes na Universidade Federal de Goiás. Seguiu para um doutorado em retina na UnB e um pós-doutora-do na Cleveland Clinic, nos EUA. “Vi colegas já trabalhando e ganhando dinheiro enquanto eu estava com a cabeça voltada para o estudo, justa-mente para me tornar um oftalmo-logista melhor”, justifica.

Para Sonia Hae Sun Lee, oftalmo-

logista que iniciou a residência há 15 anos na Faculdade de Medicina da USP, entrar no mercado de trabalho não foi simples. “Temos certo choque de realidade ao iniciarmos a vida profissional”, afirma. “Confronta-mo-nos com dilemas éticos, desafios clínicos e má medicina praticada por muitos. Dá até saudade dos proble-mas da residência!”, relata Sonia Lee.

Após a residência, Lee passou mais dois anos no Hospital das Clínicas em complementação especializada em retina e fez fellowship na França. Tornou-se sócia de uma clínica com duas colegas da residência, tornou-se médica assistente no Hospital das Clínicas e entrou para a equipe de checkup do Hospital Sírio-Libanês.

Outro momento árduo na carrei-ra de Lee foi abrir um consultório “com todas as dificuldades de não termos nenhuma experiência ad-ministrativa, o desafio de fortalecer a união e parceria no caso de uma sociedade, e ter a persistência de insistir nessa empreitada”, afirma a oftalmologista.

Embora muitos médicos sonhem em se tornar empreendedores, a au-sência de uma formação voltada para a gestão de um negócio costuma ser a maior dificuldade. Luiz Taranta também enfrentou esse problema. “Abrir minha própria clínica exi-giu planejamento, investimento e perseverança, além de conhecimen-

tos sobre administração e gestão e constantes adaptações às novas si-tuações”, conta.

Mudanças As mudanças tecnológicas desde

2002 foram grandes e rápidas. “Eu comecei a fazer cirurgia de catarata com a técnica extracapsular”, relem-bra Alexandre Ventura. “E você tinha que ser treinado para fazer uma bela biomicroscopia de fundo de olho, porque nós não tínhamos OCT”, acrescenta.

Além do OCT, retinólogos contam com equipamentos mais modernos para cirurgia “Na minha residência, a punição para um residente menos dedicado era segurar a lente em uma cirurgia de retina, que durava ho-ras”, diverte-se Luiz Taranta. Hoje, a cirurgia vitreorretiniana tornou-se rápida e segura e muitas vezes sem a necessidade de um auxiliar para segurar a lente.

Para especialistas em córnea, o la-ser de femtossegundo e os tomógra-fos de córnea foram revolucionários, assim como o desenvolvimento do crosslinking. “Antes não tínhamos muita coisa para fazer para prevenir a progressão da doença até que che-gasse a estágios muito avançados”, relata Karolinne Maia Rocha.

No mercado de trabalho, por ou-tro lado, as mudanças preocupam os médicos. Hoje há muito mais gente

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recebendo o diploma anualmente. A abertura de novas residências também aumentou o número de especialistas. “Será que é necessário? Será que vai ter demanda?”, pergun-ta Ventura.

“Eu tenho percebido uma difi-culdade muito maior para o recém-formado em passar na prova de re-sidência, porque a quantidade de pessoas prestando a prova é muito maior que o número de vagas”, afir-ma João Marcos Atique. O oftalmolo-gista acredita ainda que a abertura indiscriminada de novas escolas es-taria afetando a credibilidade dos profissionais médicos. “Percebemos que tem muita gente no mercado, e talvez muita gente sem grande qualificação. Estão acontecendo muito mais erros, a internet tem divulgado muito mais facilmente os erros; então a desconfiança nos profissionais de saúde tem aumenta-do. Antigamente confiava-se muito mais no médico”, afirma Atique.

O achatamento nas tabelas do SUS e dos planos de saúde relatado pelos médicos também afeta a carreira. Segundo Alexandre Ventura, “o pre-ço da tabela de pagamento do SUS para procedimentos de cirurgia é o mesmo desde a minha entrada na minha residência. São 15 anos sem alterações. Já era baixa e está pior por conta da inflação desse período”. Ventura reclama ainda da crescente

judicialização, devido a operadoras que recusam demais procedimentos. De acordo com Karolinne Rocha, o problema não é exclusivo do Brasil. A mesma dificuldade é enfrentada nos EUA, onde trabalha.

O contexto da crise atual também gera preocupações. Bruno Fontes, que cursou residência e doutorado na Escola Paulista de Medicina (Uni-fesp) e está estabelecido no Rio de Janeiro, afirma que o momento mais desafiador na carreira está sendo este. “O Rio é uma cidade que sofreu mais que outras no país com a crise. O desemprego é muito grande, a vio-lência aumentou, e a instabilidade é crescente”, afirma. Para Fontes, o efeito da inflação foi devastador. “A inflação médica é maior que a mé-dia. Isso comprimiu as margens de lucro e impactou nosso investimento em tecnologia.” Fontes lamenta que nessa situação quem mais sai per-dendo é o paciente: “Você vê uma determinada patologia, sabe o que tem à disposição para tratar, mas não consegue botar em prática porque o SUS não tem ou porque o paciente não pode pagar. A gente fala que saú-de não tem preço, mas tem custo. E um custo muito alto”.

Outra mudança apontada pelos oftalmologistas é uma maior “mer-cantilização” da medicina. Ventura se queixa do assédio de fundos de investimentos que querem “comprar

a oftalmologia”. São fundos que es-tão interessados em adquirir clínicas oftalmológicas e implantar um novo modelo de negócios, oferecendo ser-viços baratos para planos de saúde, o que está um mercado altamente competitivo e voraz.

Nesse cenário incerto, os oftal-mologistas com 15 anos na estrada deixam seus conselhos para médicos que estão hoje na residência. “Dedi-quem-se, pois sempre haverá espaço para quem é bom. Não tenham pres-sa, pois os resultados vêm com o tem-po, como consequência do trabalho bem-feito” aconselha Luiz Taranta.

Já Bruno Fontes recomenda profis-sionalismo. “Seja ético, pontual, res-peitoso, educado e competente. Ser profissional é essencial na profissão médica, pelo cuidado que você está tendo com o paciente, que está fragi-lizado por conta de uma patologia.”

Sonia Lee repassa o conselho rece-bido pelo seu mestre, o Prof. Newton Kara-José: “aproveitem cada dia da residência para aprender o máximo possível. Não desperdicem um só dia. Acreditem, aprendemos com todos os casos, os bons, os maus, e tudo é uma vivência para o mundo lá fora”.

Para Karolinne Rocha, o segredo é você realmente ser apaixonado pelo seu trabalho e assim o profissional pode chegar onde quiser na carreira. A frase que ela sempre repete a seus residentes é “Sky is the limit”. 6

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Volume, variedade e velocidade

N o início da década de 1990, a NASA começou a usar um termo para descrever os grandes

grupos de informações complexas que armazenava e que envolviam a captação, o processamento e a aná-lise dos dados por meio de sistemas de alto impacto. Surgiu aí o Big Data. Essa é uma das versões da origem do conceito que ganhou força no início dos anos 2000 quando Doug Laney, analista do Gartner, associou o Big Data aos 3Vs: volume (as empresas coletam dados de uma grande va-riedade de fontes, incluindo tran-sações comerciais, redes sociais e de sensores ou dados transmitidos de uma máquina para outra), velocida-de (as informações fluem em uma velocidade sem precedentes e devem ser tratadas em tempo hábil), e va-riedade (as informações são geradas em diferentes formatos, como dados estruturados, numéricos em bancos de dados tradicionais, documentos de texto, e-mail, vídeo, áudio, etc.).

Em um mundo cada vez mais co-nectado, o Big Data representa uma revolução na análise de dados arma-zenados. André Gradvohl, membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e dou-tor em Ciência da Computação e pro-fessor da Universidade de Campinas

Christye Cantero

O conceito de Big Data e a área de saúde

(Unicamp), indica que dois campos férteis para a utilização desse méto-do serão a Internet das Coisas e as Ci-dades Inteligentes. “Com o aumento do volume de dados que as ‘coisas’ ligadas à internet geram e com os processos das cidades cada vez mais automatizados, os algoritmos para Big Data são a melhor alternativa para tratar esse ‘tsunami’ de dados. Teremos dispositivos saturando a

internet o tempo inteiro. Se esses dados não forem tratados ou arma-zenados, então não faz sentido ter dispositivos ligados na rede”, afirma.

Essa saturação é prevista pelo Gartner. Estima-se que em 2020 se-rão 20,8 bilhões de ‘coisas’ conec-tadas, gerando cerca de 44 trilhões de gigabites de dados. Todos eles, quando analisados, podem extrair informações importantes para di-

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versos campos do conhecimento. E isso chega também à área de saúde. Quando se fala nesse assunto, regis-tros de pacientes, informações sobre prescrição médica, planos de saúde, prontuários eletrônicos, e relatórios de gestão administrativa e financei-ra de clínicas e hospitais são alguns dos dados constantes em sistemas de informação. E muito mais. “Na medicina, por exemplo, é possível coletar dados epidemiológicos e his-tóricos sobre uma doença específica e determinar qual a melhor política de saúde pública a ser aplicada em algumas populações e em que mo-mento”, explica.

Entre os casos de sucesso de Big Data na área médica está o de pesqui-sadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), do Hospital Brigham (Boston) e da Escola de Me-dicina da Harvard, que estudaram os eletrocardiogramas (ECG) de um grupo de risco e encontraram indi-cadores que antes não eram notados. Ao avaliar fragmentos de dados de ECG, os profissionais de saúde não conseguiam chegar a uma determi-nante para o quadro dos pacientes, o que foi possível ao enxergar o quadro todo por meio de técnicas de data mining e machine learning. Com esses dados em mãos, os pesquisa-dores desenvolveram uma solução que determina com mais precisão a possibilidade de ataques cardíacos e risco de morte em pessoas com doença cardíaca.

No Brasil, o conceito já faz parte da rotina de alguns hospitais, am-bientes complexos onde são gerados grandes volumes de informações. “Esses dados têm grande variedade e diversas naturezas e podem ser divididos ‘didaticamente’ entre os de relevância para assistência e ad-ministrativos”, comenta Vladimir Ribeiro Pizzo, gerente de informáti-ca clínica do Hospital Sírio-Libanês.

LEVANTAMENTO

A pesquisa Agenda 2017, realizada pela Deloitte, traz algumas informações relevantes no que diz respeito às inovações tecnológicas e ao caminho que o Brasil ainda tem de percorrer quando o assunto é TI. O estudo contou com a participação de gestores de 746 empresas que, juntas, projetam receita líquida de R$ 1,6 trilhão em 2016, o equivalente a pouco mais de um quarto do valor do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no acumulado de 12 meses a partir de setembro de 2016 (R$ 6,1 trilhões), segundo o BCB (Banco Central do Brasil). Entre os respondentes, 18% são CEOs; 44%, diretores ou superintendentes; 5%, membros dos conselhos de administração; 30%, gerentes; e 3%, analistas.

Entre os recortes da pesquisa é possível perceber alguns desafios para a adoção de novas tecnologias nos negócios. Das 12 frentes tecnológicas sugeridas no levantamento, os participantes foram convidados a escolher três opções que serão prioritárias em suas empresas no próximo ano. A prática de analytics surge no topo das indicações, com 36% de citações, seguida pela Internet das Coisas (IoT, da sigla em inglês, Internet of Things, com 29%). A segurança cibernética surge na terceira posição (22%); acompanhada por Indústria 4.0 (13%); saúde digital (12%); plataformas autônomas (12%); tecnologias exponenciais (7%); realidade virtual e aumentada (6%); impressão 3D (7%); smart cities (5%); bitcoins (2%); e blockchain (2%).

Dos respondentes, 61% não têm ideia do que seja blockchain (sistema de registros que garante a segurança e integridade das operações financeiras realizadas sem a necessidade de uma autoridade central; seu uso mais conhecido são as moedas digitais); 40% dos participantes disseram desconhecer completamente o que é Indústria 4.0 (conceito que representa a tendência da nova manufatura integrada, com as tecnologias disruptivas unindo máquinas, sistemas e pessoas; é considerada uma “nova revolução industrial”); 36% nunca ouviram falar em tecnologias exponenciais (pelas quais, segundo a chamada Lei de Moore, estimam o avanço exponencialmente rápido dos processadores); e 33% dos respondentes apenas ouviram falar sobre o conceito de smart cities, ou cidades inteligentes, conectadas por redes que otimizam a gestão de seus recursos e serviços.

Outras importantes frentes tecnológicas também foram citadas como pouco ou moderadamente conhecidas: impressão 3D (48%); internet das coisas (IoT, 47%); cyber security (44%); bitcoins e realidade virtual aumentada (38%); e analytics e plataformas autônomas (37%).

Pizzo exemplifica que para a gestão dos custos são necessárias informa-ções originadas do prontuário clí-nico do paciente (como o nome do procedimento ou cirurgia) e sobre os valores de materiais utilizados no procedimento. “Na prática, esta divisão pode não ser tão simples”, completa.

Ele explica que para dar vazão às necessidades de transações nas ins-tituições é necessário que a integra-ção desses dados aconteça, muitas vezes, em tempo real; portanto, a

velocidade de seu processamento é importante. O que o gerente de infor-mática clínica aponta faz parte dos 3Vs do conceito de Big Data: volume, variedade e velocidade.

Pizzo não revela o valor emprega-do anualmente em tecnologia, mas afirma que o Hospital Sírio-Libanês tem investido significativamente em tecnologia da informação e comu-nicação. “A diretoria de inovação e tecnologia da informação é a deten-tora de um dos maiores orçamentos da instituição. A maior parte desses

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“A aplicação do Big Data está longe de alcançar

todo seu valor. O grande desafio não é apenas obter os dados, mas, principalmente, o que fazer com eles. Quando estamos falando de Big Data, invariavelmente precisamos entender como vamos ativá-lo e obter o melhor resultado com ele Rodrigo Turra

“O maior benefício do Big Data é

permitir a construção de conhecimento. Tal conhecimento é possível com a utilização de recursos que viabilizem a gestão dos dados, desde sua aquisição, e permitem a transformação destes dados em informação Vladimir Ribeiro Pizzo

COMO SE PREPARAR PARA O BIG DATA

Vladimir Pizzo, do Hospital Sírio-Libanês, dá algumas dicas de como os médicos po-dem se preparar para a gestão de dados:

- Atenção às tendências do Big Data;- Explorar esse novo mundo de analytics;- Os profissionais devem se apropriar dos

conceitos de business intelligence, clinical intelligence, machine learning, entre tantos outros e aprenderem a utilizar as ferramen-tas que se apresentam;

- Aproximar-se de instituições que estejam se preparando para conviver no mundo do Big Data da Indústria 4.0 e que estejam atentas ao processo de transfor-mação digital.

como vamos ativá-lo e obter o me-lhor resultado com ele. Assim, antes de sairmos perseguindo a aplicação de uma nova moda, precisamos ter uma visão clara se estamos prepara-dos para isso e qual o real benefício para a sua empresa”, afirma Rodrigo Turra, presidente da iProspect Brasil.

Segundo o executivo, a discussão ainda é maior do que a aplicação do conceito, já que muitos ainda não fazem o básico, que é usar um dos ativos mais estratégicos que pos-suem: seus dados primários. “Tem-se à disposição um arsenal grande de onde coletar informações, mas há dificuldade de consolidá-las, integrá--las e fazê-las ‘endereçar’ demandas específicas de negócio”, aponta.

Por onde começar? Pela base, ou seja, pelo small data, aconselha Tur-ra. “Tendo como base a combinação entre velocidade, volume e varieda-de, reunidos, o Big Data deve focar a análise e a inter-relação desses da-dos, a fim de proporcionar maior poder de decisão para as empresas”, conclui. 6

investimentos é destinada a projetos que garantem a operação, continui-dade do negócio e segurança da in-formação”, comenta. “Nos últimos anos, sistematicamente, viemos aumentando os investimentos em projetos de inovação nos âmbitos evolutivos e disruptivos”, completa.

Que benefícios o uso do Big Data traz? “O maior benefício é permitir a construção de conhecimento. Tal conhecimento é possível com a uti-lização de recursos que viabilizem a gestão dos dados, desde sua aqui-sição, e permitem a transformação destes dados em informação”, avalia o executivo do Hospital Sírio-Libanês.

Desafios De acordo com estudo da consul-

toria ResearchFox, em 2018 o merca-do de Big Data e analytics vai atingir US$ 48,3 bilhões e será comandado, principalmente, pelo setor de saúde. Esse movimento se dá porque cada vez mais os profissionais se interes-sarão por tecnologias que permitam centralizar e analisar informações em tempo real sobre diferentes as-suntos, como performance financei-ra e cuidados com os pacientes, o que acarreta melhor entendimento da gestão e do comportamento dos pacientes. Isso levará a tomadas de decisões mais pontuais e assertivas, tanto dos profissionais ligados à área clínica como à administrativa.

Mas não basta investir em tecno-logia. É preciso que toda a equipe se conscientize sobre a importância da análise de dados para o sucesso do negócio, indo além de simplesmente captar dados que, porventura, não serão utilizados. “A aplicação do Big Data está longe de alcançar todo seu valor. O grande desafio não é apenas obter os dados, mas, principalmen-te, o que fazer com eles. Quando estamos falando de Big Data, inva-riavelmente precisamos entender

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EM PAUTA32

Lançamento: quando simular é aprender!

A credito que em futuro próximo será considera-do antiético realizar ci-rurgias oculares em seres

humanos sem que o cirurgião tenha passado por processo de aprendizado em simuladores.”

Esta é a previsão feita pelo chefe da Disciplina de Oftalmologia e res-ponsável pelo Serviço de Catarata da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Antônio Carlos Lottelli Rodrigues, acerca das atividades do simulador para cirurgias de catarata EyeSy®.

Esse aparelho, um dos três exis-tentes no Brasil, foi desenvolvido pela empresa VRMagic, da Alema-nha, e compreende sistema com mi-croscópio binocular, montado em mesa com cabeça e olhos artificiais, acoplados a computador, pedal do microscópio e facoemulsificador, re-produzindo o mais fielmente possível o equipamento de cirurgias oculares, notadamente a de catarata com fa-coemulsificação. Os instrumentos são inseridos pelo cirurgião nas in-cisões do olho artificial e seus movi-mentos são captados por sensores de movimento, projetando na ocular do microscópio cirúrgico a imagem binocular do segmento anterior do olho e dos instrumentos, possibili-tando o treinamento das manobras cirúrgicas em ambiente virtual.

O instrumento permite o ajuste dos parâmetros do facoemulsificador e do microscópio, bem como para controle dos exercícios e evolução do treinamento. Existe também um mo-nitor que possibilita a visualização da tarefa por supervisor e a repetição do vídeo do exercício realizado. O apa-relho possui currículo de exercícios com grau crescente de dificuldade e exigência, iniciando com exercícios virtuais básicos de coordenação mo-tora dentro do olho e evoluindo para etapas das cirurgias propriamente ditas. O aparelho fornece feedback imediato após cada atividade e há pontuação mínima de desempenho para a passagem à etapa seguinte.

O simulador é utilizado basica-mente para o treinamento de mé-dicos em processo de especialização ou de cirurgiões que pretendem se aprimorar. O EyeSy® possibilita a simulação de cirurgia de facoemul-sificação e, com upgrades, cirurgias de retina.

O aparelho também pode ser usa-do para aprimorar o treinamento de cirurgiões e para pesquisa para estudo do desempenho do médico em situações adversas, como restri-ção de sono, distração e ausência de estereopsia.

PioneirosO primeiro desses aparelhos ins-

talados no Brasil foi adquirido por

Flávio Rezende e implantado no Instituto de Diagnóstico e Terapia Ocular (IDTO), no Rio de Janeiro (RJ), em maio de 2012. O IDTO é a sede do Curso de Especialização em Oftal-mologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). De acordo com Tiago Bisol, um dos professores da PUC/IDTO, a instalação do simulador exigiu investimentos da ordem de US$ 200 mil, acrescidos dos custos de importação, uma vez que na época não havia representação da empresa no Brasil. Além disso, há taxa anual para manutenção e atualização de software. Bisol afirma que nos cinco anos de instalado, o aparelho exigiu apenas a manutenção das ponteiras dos instrumentos, em consequência do desgaste provocado pelo uso.

José Vital Monteiro

Tiago Bisol, Flávio Rezende e Renata Rezende.

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“O currículo de exercícios simu-lados recria as etapas da cirurgia, prevendo as complicações mais fre-quentes relacionadas à facoemulsifi-cação nas diversas etapas. O aluno é exposto a situações de maior dificul-dade técnica e risco de complicações à medida que avança no treinamen-to, como por exemplo cápsulas de maior elasticidade, com fibrose cap-sular, diálise de zônula e cataratas brancas”, afirmou.

O médico da PUC/IDTO destacou também que o aprendizado da cirur-gia de catarata guarda dificuldade considerável e que durante sua curva de aprendizado o índice de complica-ções é bastante significativo. Citando trabalhos científicos recentes, enfa-tiza que o treinamento com o simu-lador reduz de 7,2 para 3,6% o risco de rotura de cápsula posterior (Grae-fes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2013 Mar;251(3):777-81) e de 15% para 5% o risco de complicações relacionadas à confecção da capsulorrexe (Ophthal-mology. 2013, vols. 120(12):2456-61).

“O investimento em tecnologia de ensino cirúrgico deveria ser uma prioridade de saúde pública, pois a

redução das complicações durante o aprendizado cirúrgico repercutiria não somente na qualidade do serviço de saúde prestado pela rede pública, mas também diretamente na redu-ção dos custos do sistema público de saúde”, declarou.

Desde sua instalação, o simulador da PUC/IDTO já possibilitou o trei-namento de mais de 210 cirurgiões.

No início de 2015, a Faculdade de Medicina da UNESP de Botucatu adquiriu equipamento semelhante, com investimentos da ordem de US$ 270 mil. A partir de sua instalação, os alunos do curso de especialização e residentes em Oftalmologia da ins-tituição não realizam mais cirurgias de facoemulsificação em pacientes sem antes ter completado o curso no simulador.

“Mudamos também a forma de ensinar a cirurgia. Antes do simula-dor adotávamos o método “de traz para frente”, no qual o orientador realiza as etapas iniciais da cirurgia e vai deixando que o aluno realize as etapas finais, gradativamente, até fazer toda a cirurgia. Com o simu-lador, ficou patente que os alunos e

residentes já haviam adquirido ha-bilidade para efetuar toda a cirur-gia, com adequada supervisão e, às vezes, sem qualquer intervenção do orientador”, declarou Antônio Carlos Lottelli Rodrigues.

Entre as vantagens proporciona-das pelo uso do simulador, destaca-se que a semelhança e a elasticidade dos tecidos são mais próximas à ca-tarata senil humana do que aquela encontrada em olhos de cobaias (porcos), a disponibilidade do equi-pamento é permanente, sem depen-der de insumos perecíveis de origem animal ou de materiais cirúrgicos de consumo (viscoelástico, solução salina, lentes intraoculares).

Além disso, as tarefas são con-troladas e repetidas até que sejam realizadas com a habilidade mínima exigida pelo equipamento e, junta-mente com o certificado de conclu-são da etapa, é emitida súmula com o desempenho do aluno, que permite que o orientador faça análise objeti-va de sua destreza.

O simulador da UNESP de Botu-catu foi usado apenas para o treina-mento dos alunos da instituição, 21

O terceiro EyeSy do Brasil foi instalado no Centro de Simulação de Micro Cirurgia Oftalmológica, em São Paulo, e foi construído pelo Laboratório Latinofarma em parceria com o Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia (IPEPO).

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EM PAUTA34

facoemulsificação, também per-mite o treinamento de vitrecto-mia e outros procedimentos cirúrgicos da retina, como des-colamento de hialoide posterior. Explicou também que, durante a simulação, acidentes podem ocorrer, contribuindo para tor-nar o médico mais seguro na realização desses procedimentos extremamente delicados.

O Centro de Simulação de Micro Cirurgia Oftalmológica será disponibilizado para alu-nos dos cursos de especializa-ção e residentes de Oftalmolo-gia do Estado de São Paulo.

O presidente da Cristália Pro-dutos Químicos Farmacêuticos (da qual a Latinofarma é subsi-diária), Ogari Pacheco, declarou na inauguração que aquele cen-tro abriria um novo paradigma no ensino da Oftalmologia, e que embora o laboratório não tivesse interesse imediato nas cirurgias de catarata, a tradição de protagonismo da empresa nos vários segmentos em que atua havia determinado o es-tabelecimento da parceria com o IPEPO para a construção do estabelecimento.

Experiência internacionalMarshall Dial, vice-presidente da

VRMagic Inc, empresa fabricante do EyeSi®, que proferiu uma pales-tra na solenidade de 25 de maio, afirmou que nos Estados Unidos existem 88 simuladores cirúrgicos instalados em programas de ensino de Oftalmologia e 36 instalados em centros médicos.

Segundo ele, na América Latina estão sendo colocadas em prática diferentes soluções para disponi-bilizar o uso do simulador EyeSi® aos médicos. Na Argentina e na Co-lômbia, as sociedades nacionais de

no total. A partir de julho de 2017 foi iniciado o curso “Cirurgia de Cata-rata por Facoemulsificação Dry Lab” para treinamento de médicos que não pertençam aos quadros da UNES-P-Botucatu. O curso é individual, com 20 horas de duração, exigindo investimento de R$ 1.700,00 (mais informações no site www.inscricoes.fmb.unesp.br/principal.asp).

Novo paradigma no ensinoO terceiro EyeSy do Brasil foi

instalado no Centro de Simulação de Micro Cirurgia Oftalmológica, inaugurado em 25 de maio. Loca-lizado na região oeste da cidade de São Paulo (SP), esse centro foi construído pelo Laboratório Latino-farma em parceria com o Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia (IPEPO - entidade sem fins lucrativos ligada à Universida-de Federal de São Paulo - UNIFESP), com apoio do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

A compra, a instalação e a cons-trução dos anexos necessários para o funcionamento exigiram investi-mentos da ordem de R$ 1 milhão. Ao fazer a apresentação do centro cirúrgico, o Professor Adjunto do Departamento de Oftalmologia da UNIFESP e ex-presidente do IPEPO, Michel Eid Farah, ressaltou as gran-des possibilidades do simulador na educação, avaliação de alunos e mé-dicos, treinamento de cirurgiões, pesquisa e integração de sistemas de saúde para ampliar a segurança do paciente.

“Como o piloto tem que treinar em simulador antes de pilotar o avião propriamente dito, o cirur-gião também deveria treinar antes, se possível, num simulador antes de atuar no olho ou na vida do pacien-te”, afirmou.

Eid Farah explicou que esse simu-lador, além de estar programado para

oftalmologia responsabilizaram-se pela instalação e cobram taxas por sua utilização. Já no Paraguai, os investimentos foram feitos por uma fundação e organizações não gover-namentais e o uso do equipamento é exclusivo para seus residentes.

Ao comentar a experiência do Centro de Simulação de Micro Ci-rurgia Oftalmológica, Dial afirmou que o Brasil é o único país da região que está tentando uma solução que envolve empresas, instituições uni-versitárias e organizações não go-vernamentais para disponibilizar o equipamento sem exclusivismos, beneficiando todo o sistema de en-sino da especialidade. 6

Farlley Silvestre

REALIDADE VIRTUAL“O aparelho é bem real, bem sensível,

principalmente no módulo de capsulorrexe, parte crucial da cirurgia de catarata. O alu-no consegue repetir o procedimento várias vezes. Eu mesmo fiz mais de 300 vezes.”

Foi o que declarou o médico Farlley Silvestre, que está fazendo especialização na PUC-Rio e que utilizou o simulador em seu aprendizado.

Explicou que o curso de simulação é dividido em quatro módulos, com graus crescentes de dificuldade. O último módulo, basicamente, é composto de complicações e casos que exigem extrema perícia.

“A experiência com o simulador me ajudou muito na realização de cirurgia em seres humanos, principalmente para deter-minar o movimento certo, a profundidade adequada e medir os parâmetros do apa-relho que estamos utilizando no momento”, concluiu Silvestre.

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universovisual universovisual 35

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A carreira médica está sendo invadida paulati-namente por requisitos e exigências típicas do se-

tor empresarial e comercial.” Frase de 2002 (autor desconhecido).

Visão interessante daquela épo-ca, em que as clínicas e consultórios funcionavam eminentemente com agendas de papel, sistemas “pbx” de telefonia, notas fiscais em talões e emitidas à mão...

O que se sabe é que o médico, só-cio da clínica ou consultório, pedia essas informações para seu controle das finanças e assim conhecia um pouco da situação.

Os mais avançados tinham algum controle sobre os convênios mais im-portantes para a clínica em número de pacientes e em produção. Talvez até de qual convênio pagava mais por consultas ou procedimentos.

Mas será que os médicos utilizam todas as ferramentas disponíveis em seu favor, em prol da saúde financei-ra de seu empreendimento?

Se os registros feitos à mão fun-cionavam, por que agora eles são tão difíceis de fazer, mesmo com

todas as ferramentas existentes?Hoje existem agendas na internet,

serviços terceirizados de marcação de consultas, notas fiscais eletrônicas emitidas e impressas em segundos nos sites das prefeituras e entregues aos pacientes instantaneamente, sis-temas de telefonia ligados aos celu-lares, confirmação automática de consultas via aplicativos, sistemas eletrônicos de senhas para filas e tantas outras novidades.

Com a informatização, os contro-les, o que e como medir ficaram mais poderosos e complexos. Trabalhos manuais foram substituídos por processos automatizados, mas que precisam de “suporte humano” para funcionar.

Toda evolução tem seu preço, seus desdobramentos... A implantação do sistema de gestão de uma clínica, requer alguns passos importantes:

1. Antes da aquisição (ou aluguel ou licença de uso) é necessário que se defina o que se quer controlar na clínica. Exemplos:

a) Produção, faturamento, recebi-mento, glosas, contas pagas e contas a pagar. Todas essas informações fil-

Jeanete HezbergAdministradora de empresas graduada e pós-graduada pela EAESP/FGV. Autora do livro “Sociedade e Sucessão em Clínicas Médicas”. Membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia, gestão 2016-2018.

tradas por médicos assistentes, por convênio, por tipo de procedimentos;

b) Que proporção do faturamento vem de convênios e de particulares? E em relação à quantidade de aten-dimentos?

c) Que percentual dos recebimen-tos vem de cada fonte pagadora?;

d) Existem horários, dias e meses ociosos na agenda? Há potenciais não aproveitados - salas, equipamentos para procedimentos ou exames?

e) Qual a rentabilidade de cada convênio, ou de cada procedimento?

2. Buscar um sistema que aten-da minimamente o que se deseja controlar.

3. Entender tipos e coberturas de contrato: tempo para resolução de problemas no sistema quando em operação, treinamentos incluídos, ajuda na migração de dados de ou-tros sistemas em uso ou para outros sistemas quando trocar de fornece-dor, atualização tecnológica do sis-tema, upgrades e assim por diante.

4. Verificar preços e condições comerciais.

5. Planejar a implantação, com responsáveis, cronograma de ativida-des e orçamento. Esta é a fase mais difícil, custosa e crítica do projeto.

6. Envolver toda equipe que ti-ver qualquer influência ou contato com o sistema na clínica e na im-plantação.

7. Treinar toda a equipe da clíni-ca para o uso do sistema, para que produza os melhores resultados.

Enfim, com tanta tecnologia, ficou mais fácil administrar uma clínica? Provavelmente não – e os riscos ao se negligenciar controles financeiros cresceram. Por outro lado, aumentaram as possibilidades de sofisticar a inteligência na gestão da clínica, com informações de qua-lidade para a tomada de decisão e consequente alcance do sucesso tão desejado. 6

15 anos de Universo Visual

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PONTO DE VISTA36

R evendo criticamente a estratégia de atendimen-to médico, temos quase sempre profissionais

jovens e energéticos nas linhas de frente. Nos prontos-socorros, nos programas de fronteiras, sendo pio-neiros em cidades nascentes, nos plantões de pronto-atendimento.

O Programa de Valorização do Pro-fissional da Atenção Básica (PROVAB), que visa levar mais saúde à ponta, conferindo vantagens na pontuação para ser aceito nos programas de Re-sidência Médica, atrai exatamente esses jovens, que vão trabalhar em locais distantes, com grande deman-da de preceptoria e teleapoio. Numa primeira leitura, nada mais justo socialmente que os recém-formados (especialmente de Universidades Pú-blicas) exerçam a profissão favore-cendo as camadas que têm menor acesso à saúde. Numa leitura mais profunda, esses jovens encontram uma realidade para a qual não foram preparados, onde há responsabiliza-ção intensa e carência de suporte de especialidades.

Em grandes hospitais encontra-mos as equipes de retaguarda. São pessoas experientes, de prontidão, acionadas a distância, caso necessá-rio. Na linha de frente encontramos médicos um pouco menos jovens que os primeiros (em geral se requer residência médica) ouvindo queixas diversas de grande número de pa-cientes. O treinamento em serviço, que se recebeu até então, é colocado à prova, com maior demanda por parte dos pacientes, e pressão da administração por resultados com menos desperdício. Caso seja neces-sário, é chamada a equipe de plan-tão, com custo pessoal e monetário envolvido. O estresse do sistema é óbvio, e refletido em enorme contin-gente de depressivos e rotatividade entre os médicos plantonistas. No-vamente temos as pessoas inapro-priadas em locais inapropriados, provavelmente porque há uma lei-tura corrente e mais rasa, de que se economizam recursos contratando-se os menos experientes.

Na sociedade víamos grupos de especialistas se reunirem e monta-

Paulo SchorChefe do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina com atuação em óptica cirúrgica

A melhor idade

rem clínicas para atender planos de saúde. A competição com empresas tradicionais e centros maiores des-loca esses arranjos para o interior, ou para as franjas de grandes cida-des. Agora temos especialistas ainda jovens, unidos, de modo “liberal”, em todas as demandas de determi-nada especialidade. Brincávamos que os médicos só se instalavam em cidades onde houvesse restaurante que servisse comida japonesa. Na verdade, nos instalamos onde há uma rede de proteção e conforto. Onde as dúvidas médicas sejam di-vididas e resolvidas. Fazer o que se sabe é muito fácil! Difícil é consertar o avião em pleno voo.

Escrevo que “víamos” esses ar-ranjos, pois essa realidade está mudando rapidamente. A “libera-lidade” se transforma em trabalho corporativo, e grandes conglome-rados verticalizam o atendimento, criando protocolos de conduta que permitem o planejamento monetá-rio, diminuindo aparentemente a importância da experiência clínica individual. Agora (teoricamente) im-porta menos ainda a vivência médi-ca na linha de frente.

A justificativa social, a economia de recursos e os protocolos escon-dem a nova função do médico, e chamar a atenção para o futuro é responsabilidade de quem já pas-sou por todas essas etapas, como estudante, médico ou gestor.

Convido aqui a uma reflexão. O que aconteceria se colocássemos os médicos mais experientes, e, portan-to, com maior poder de raciocínio lógico complexo (com processamen-to mais poderoso, pois detentores de mais dados), na linha de frente do atendimento?

O custo inicial aparentemente aumentaria, mas a maior eficiência, com menos tempo para se chegar a diagnósticos e realizar cirurgias, e

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menos demanda de exames subsi-diários, tenderiam a minimizar tal impacto inicial. Vale lembrar que há um contingente grande de médicos com menor volume de atendimento em consultório ou substituídos no sistema de saúde, que estão dispo-níveis, e têm exatamente a carac-terística de carregar em cima do pescoço uma engrenagem cerebral funcionante e experiência de sobra, e pela lei da oferta e procura, não seriam tão “caros” assim.

As complicações certamente di-minuiriam em relação à medicina “liberal”, provavelmente se igualan-do à medicina “protocolizada”, mas mais importante, o ecossistema de saúde se formaria de modo mais sólido, com referências locais que atrairiam os mais jovens.

Essa provocação se opõe ao mo-delo atual, onde casos mais com-plexos são vistos por médicos mais experientes. Onde se “esperam” complicações e se oferece correção. Muito se fala de medicina preventi-va, na forma de saneamento básico e vacinas. Não seria uma forma de prevenir a inversão de posições?

As máquinas já substituem funções que o ser humano desem-penhava há séculos. Seu poder computacional é completamente desconhecido, mas a computação em nuvem com bilhões de dados já é suficiente para identificar lesões específicas ou realizar uma ação me-cânica (um passo cirúrgico) pontual. O sistema completo bate à nossa porta, e maximizar nosso maior recurso, a massa cinzenta, parece ser nossa única opção inteligente. Após isso, nos restam a empatia e o comprometimento, que nunca serão compartilhados da mesma forma com os “in-humanos”. 6________________________________Dúvidas, críticas, sugestões, fale comigo! [email protected]

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ESPECIAL UV 15 ANOS38

Hamilton Moreira, diretor clínico do Hospital de Olhos do Paraná – editor clínico da UV de abril de 2004 a julho de 2007 e de setembro

de 2009 a fevereiro de 2012.

Veículo formador de opinião

A revista Universo Visual tem uma característica única, ela é uma

publicação independente, que ob-jetiva o interesse direto do médico oftalmologista. Diferente das revistas das diversas Sociedades Oftalmológi-cas, a UV se interessa pelos assuntos pertinentes ao oftalmologista em seu consultório, utilizando uma lin-guagem direta e preenchendo uma importante lacuna no mercado edi-torial brasileiro.

Durante os primeiros anos de

sua existência, a UV estava dando os seus primeiros passos, com poucas páginas, ainda tateando o mercado editorial. Os patrocinadores não co-nheciam o produto e o consumidor, médico, ainda não dava a importân-cia devida ao novo veículo de comu-nicação. Alguns anos se passaram e a revista ganhou corpo. Não apenas em número de páginas e anuncian-tes, mas passou a ter importância no mercado oftalmológico. Hoje é um veículo formador de opinião.

Um dos maiores desafios que tive como editor clínico da revista foi, sem dúvida, administrar os prazos. A questão do tempo é sempre um desafio! Sou uma pessoa multidisci-plinar e para uma publicação como a UV, tantos compromissos podem atrapalhar. A revista tem prazos que precisam ser cumpridos à risca. O fechamento da revista não pode es-perar pelo tempo do editor clínico.

As respostas no mercado editorial devem ser instantâneas. Cheguei a escrever editoriais em meia hora para cumprir prazos. Por outro lado, relacionar-me com todas as subespe-cialidades acabou sendo uma vanta-gem para orientar as fontes e repor-tagens pertinentes ao momento. A definição da pauta também sempre será um grande desafio para o edi-tor clínico de uma publicação que visa informar o momento atual da oftalmologia.

Comandei a revista Universo Vi-sual como editor clínico por duas vezes e de lá para cá muito tempo se passou, mas é interessante, pois minha amizade com o Flavio (Bitel-man) e com todos do corpo editorial continua muito fresca e viva. A vida é assim, recheada de prazeres em que encontramos pessoas e aprendemos com elas. A UV é assim também e foi um grande prazer estar à frente

Universo Visual: 100 números de dedicação à comunidade oftalmológicaFlavia Lo Bello

N este número em que comemoramos 100 edições da revista Universo Visual, trazemos uma matéria especial na qual entrevistamos todos os editores clí-nicos que passaram pela publicação, abordando a época em que estiveram à frente da revista, com todos os desafios impostos pelo cargo que ocuparam,

assim como as satisfações pessoais que levaram dessa experiência. A seguir, acompanhe o depoimento desses nossos renomados e queridos especialis-

tas, que se dedicaram a comandar a UV em períodos diferentes da revista, sempre com muito profissionalismo e dedicação.

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universovisual 39

dela como editor clínico. Eu nunca havia trabalhado em uma revista tão organizada, com reuniões e fecha-mentos de pauta, definição das fon-tes, pós-produção e todos os detalhes que envolvem uma publicação séria como esta. Não tinha noção de todo o profissionalismo necessário para fazer este negócio prosperar. Apren-di muito com o Flavio e continuo aprendendo e colaborando com a UV sempre que posso, pois tenho uma ligação muito afetiva com a revista. Que venham mais 100 edições!

Paulo Augusto de Arruda Mello, professor titular do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo/Escola

Paulista de Medicina (Unifesp/EPM) - editor clínico da UV de julho de 2007 a setembro de 2009.

Atualização e aprendizado constante

A revista Universo Visual tem ocupado, desde o seu início,

um espaço muito importante na mídia direcionada à comunidade of-talmológica. Isso porque ela possui

uma atualização muito bem progra-mada, com uma linguagem de fácil leitura, que difere um pouco das re-vistas tradicionais, sendo, portanto, muito mais palatável em compara-ção a outras publicações científicas, o que é um ponto bastante positivo da UV, porque ela consegue discutir assuntos por vezes áridos em uma linguagem totalmente acessível.

A preocupação maior que eu tinha quando assumi a editoria clínica da UV era trazer assuntos importantes para a especialidade, mas sempre com a preocupação de publicar matérias e artigos que ti-vessem conteúdo de qualidade, de atualização científica. Acredito que a grande responsabilidade do editor é selecionar profissionais que tra-gam contribuições verdadeiras, de confiabilidade. Algumas alegações não têm referências bibliográficas, portanto é imperativo trazermos participantes que tenham credibi-lidade no meio e que possuam uma larga experiência profissional.

Esse desafio, de sempre trazer assuntos que sejam atuais e que venham colaborar com a formação do oftalmologista ou com a sua edu-cação continuada, é um exercício constante para o editor clínico da UV. Creio que a revista não pode ser

uma mera publicação daquilo que já existe no meio científico, ela tem que buscar por assuntos de relevân-cia para a especialidade e ao mesmo tempo deve ser acessível. Ela deve ter ainda o desafio de instigar o of-talmologista e acompanhar tudo o que acontece em termos de avanços na área; isso é muito importante para que o oftalmologista se prepare para o cenário futuro.

Há uma série de exames novos que estão chegando, assim como novos tratamentos. A propedêutica está se desenvolvendo e precisamos estar preparados para interagir com toda essa evolução. Dessa maneira, acredito que a revista tem a função de projetar para onde a saúde ocular está caminhando e de informar so-bre as políticas de saúde pública que estão acontecendo no nosso meio. A nossa população está envelhecen-do e com isso está surgindo uma prevalência maior de doenças oftal-mológicas, portanto o especialista tem que se preparar para atender essa demanda, uma vez que vivemos na área da saúde uma economia de guerra. Assim, cada vez mais preci-samos buscar métodos que sejam mais baratos, porém sem perder a qualidade.

Além do excelente conteúdo, a

Nossos renomados e queridos especialistas que se dedicaram a comandar a UV em períodos diferentes da revista, sempre com muito profissionalismo e dedicação.

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ESPECIAL UV 15 ANOS40

UV possui um layout muito bonito e uma diagramação agradável e to-dos esses aspectos fazem com que a revista seja muito querida entre os oftalmologistas, especialmente pela seleção dos colaboradores cien-tíficos, que são realmente profis-sionais de grande credibilidade na área, abordando assuntos pertinen-tes, de interesse aos especialistas, fazendo com que a revista seja um importante veículo de atualização e aprendizado constante.

Homero Gusmão de Almeida, Professor Adjunto da Faculdade de Medici-na da UFMG, Chefe dos Serviços de Cata-rata e de Glaucoma

do Instituto de Olhos de Belo Horizonte (IOBH) e Presidente do Conselho Bra-sileiro de Oftalmologia (CBO) - editor clínico da UV de fevereiro de 2012 a setembro de 2015.

Prestígio consolidado

A experiência de comandar a re-vista Universo Visual no cargo

de editor clínico foi muito interes-sante e, de certa forma, um grande desafio. Desafio este que consistia em apresentar a revista e dizer um pouco do seu conteúdo a cada dois meses. E muito frequentemente éramos atropelados pelo tempo e tínhamos que redigir o editorial em meio a viagens, estando envolvidos em congressos e outras atividades. O maior desafio, no entanto, era elaborar um texto (editorial) ade-quado, que refletisse o conteúdo da revista e fosse um convite à leitura! Não deveria ser somente um descritivo, pois isso seria um índice. Dessa forma, sempre procu-rei produzir um texto provocativo, instigante! A começar pelo título...

Só para dar alguns exemplos: Nunca antes na história deste país, Metamor-fose ambulante, Onde fica a televisão?, A invasão dos bárbaros, Dependência química em Oftalmologia...

O conselho que dou aos futuros editores da revista é que saboreiem o desafio e imprimam um toque pessoal, mesmo nos dois ou três parágrafos que lhes é reservado! A Universo Visual, pela sua concep-ção, despida de academicismos, permite uma leitura muito agradá-vel, propiciando um diálogo mais fluido. Sem dúvida, a UV tem hoje um prestígio consolidado junto à classe oftalmológica graças ao zelo com que foi conduzida desde sua fundação e à construção de um corpo editorial de profissionais respeitados em suas áreas. Para-béns à revista por ter chegado à sua 100ª edição!

Marcos Ávila, professor titular de Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) – atual editor clínico da UV, desde

setembro de 2015.

Alto padrão ético de informação

E star no comando da revista Universo Visual como editor

clínico está sendo uma experiência extremamente prazerosa, pois se trata de uma publicação com uma percepção muito aguçada do sis-tema oftalmológico brasileiro e isso facilita muito o trabalho do editor, porque conseguimos, de-mocraticamente, chegar a um con-senso comum de pautas e definir os assuntos que mais interessam à comunidade oftalmológica em prol da saúde ocular da população

brasileira. Dessa forma, tem sido uma alegria e satisfação imensa fazer parte dessa equipe.

O maior desafio para mim é, jun-tamente com toda a equipe da UV, definir quais são as melhores pau-tas de cada edição. Os assuntos são tão pujantes, tão vibrantes, que por vezes é difícil selecionar os temas mais importantes. Sendo assim, o desafio hoje é, sem dúvida, a seleção dos melhores temas de interesse aos leitores. Uma boa escolha, eu acredi-to, tem muito a ver com atualização, estar em sintonia com as publicações científicas, as teses de doutoramento, as apresentações de congressos na-cionais e internacionais, portanto é um conjunto de fatores que faz com que haja uma boa escolha na elabo-ração das pautas.

Quanto à seleção dos especialistas que irão colaborar em cada edição da revista, essa é a parte mais fácil, porque certamente os profissionais de maior destaque da especialidade têm uma exposição muito ampla em publicações e apresentações em even-tos científicos. Eu diria, portanto, que essa escolha dos colaboradores é a parte mais tranquila do processo. O critério utilizado para esta seleção é o da meritocracia, isto é, não existe um critério político nem de escolha pessoal, mas pura e simplesmente de merecimento, pois são convidados a participar aqueles especialistas que realmente têm um mérito consig-nado pela participação em publica-ções científicas, pela seriedade de atuação na especialidade, pela ética profissional e pelas características técnico-científicas do seu trabalho.

O aprendizado que eu levo de toda essa experiência é muito va-riado, porque é preciso ler tudo o que chega antes de ser publicado, e a revista aborda uma variedade muito grande de temas, desde uma maté-ria de turismo que possa interessar

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Avanços da oftalmologia

no Brasil e no mundo

universovisual.com.br

ABRIL 2017 | ano XV | no 98 | Jobson Brasil

PREVENÇÃO É O MELHOR TRATAMENTO

ANESTESIA NA OFTALMOLOGIAE os cuidados para que o ato

cirúrgico e a recuperação transcorram de forma mais

rápida e indolor possível

Especialistas falam sobre trauma ocular nos serviços

de emergênciaUV98_ Capa OK.indd 1

29/03/17 19:05

AvAvA anços

ANESTESIANA OFTATAT LME os cuidados parrúrgico e a recupnscorram de forda e indolor pos

Ernd

universovviiisual.comm..bbbrr

MAIO/JUNHO 2017 | ano XV | no 99 | Jobson Brasil

AAAMPPPLLIIAAANNDDDOOO

HHOOORRRIIZZOOONNTTEESS

Na oftalmologia, programas

de fellow dentro e fora do país

ganham cada vez mais adeptos

CAMPANHA DE CONSCIENTIZAÇÃO

“Abril Marrom” alerta a população

para a importância de prevenir

e combater a cegueira

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ao oftalmologista, até conceitos de administração, de gestão de negócios e de tecnologia. São assuntos diver-sos e que despertam o interesse do especialista, além de, obviamente, trazer uma gama enorme de doenças oftalmológicas, diagnósticos e tra-tamentos. E tudo isso abordado por quem realmente entende do assun-to. Por tudo isso, é um aprendizado constante ser editor de uma revista do porte e da abrangência da UV.

A grande importância da revista, na minha opinião, é que ela traduz para o oftalmologista, no dia a dia do seu consultório, tudo aquilo que acontece em termos de atualização da especialidade, seja em novas tec-nologias, novos tratamentos, mé-todos diagnósticos e até mesmo a parte de gestão de negócios, com assuntos muito interessantes para os oftalmologistas, de forma que a revista preenche de fato uma lacuna no sistema oftalmológico brasileiro e que falta em outras publicações científicas.

O número de elogios que a revis-ta recebe faz com que ela se torne uma publicação sólida, que con-segue levar para o oftalmologista assuntos de relevância e abordados de forma direta e simples; dessa maneira, considero a UV hoje uma revista consolidada no mercado, de grande respeito, e só tenho a agra-decer muito a colaboração de todos, tanto dos oftalmologistas como dos não oftalmologistas, e parabenizar toda a equipe por esta 100ª edição, uma equipe maravilhosa e tão bem preparada, sem a qual eu não teria conseguido fazer nem metade de tudo o que eu fiz estando à frente da publicação. Eu desejo ao próximo editor clínico da UV muita sorte e que ele continue mantendo a re-vista com esse alto padrão ético de informação e, acima de tudo, cien-tificamente muito bem orientada. 6

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UVEÍTES42

U veítes não infecciosas são doenças oculares graves, caracterizadas por infla-mação intraocular, que

podem ocorrer limitadas ao olho ou em associação a doenças sistê-micas. Os pacientes que apresentam uveíte sofrem com essa doença por décadas, sofrem com as recidivas, sofrem com o acúmulo de dano ocular, que resulta em deficiência visual grave e com a morbidade do tratamento, especialmente relacio-nada ao corticoide. Isso agora pode mudar.

O tratamento das doenças au-toimunes está evoluindo muito. A melhor compreensão da resposta imune anormal nas várias formas de uveíte resultou na busca por uma terapia focada. As alterações do sistema imunitário foram carac-terizadas por populações de células atípicas, expressão de citocinas e interações célula-célula. Diferentes

padrões de expressão de citocinas foram agora delineados no trato uveal anormal com expressão au-mentada e/ou anormal de TNF, IL-1, IL-2, IL-6 e IL-17. O desenvolvimento de terapias para outras condições nas quais estas citocinas desempe-nham um papel importante resul-tou na disponibilidade de agentes biológicos que foram aproveitados para uso no tratamento das uveítes.

O TNF é uma citocina pivotal no desenvolvimento e manutenção da autoimunidade e inflamação. Há mais de duas décadas, o bloqueio do receptor TNF mostrou melhorar a uveíte em modelos animais, e já se antecipava que poderia beneficiar os pacientes. Infliximabe e adali-mumabe, duas drogas inibidoras do TNF alfa, são os agentes imuno-moduladores mais estudados nas uveítes. Estudos prospectivos não comparativos abertos suportam o uso de infliximabe e adalimu-

O tratamento das uveítes não infecciosas com drogas biológicas

Fernanda Belga Ottoni Porto Doutora em oftalmologia pela UFMG; Presidente da Sociedade Brasileira de Uveítes.

Os pacientes que apresentam uveíte sofrem com essa

doença por décadas, sofrem com as

recidivas, sofrem com o acúmulo de dano ocular, que

resulta em deficiência visual grave e

com a morbidade do tratamento, especialmente relacionada ao

corticoide

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mabe no tratamento das uveítes não infecciosas, e são considerados agentes de primeira linha para o tratamento das manifestações ocu-lares na doença de Behçet, segundo alguns autores. Já o etanercepte, outra droga inibidora do TNF alfa, com alguma eficácia no tratamento da forma mucocutânea da doença de Behçet, foi associado ao apare-cimento de uveítes nos pacientes com artrite idiopática juvenil, ao desenvolvimento de doença sarcoi-dose-like em outros, e portanto não deve ser usada nas uveítes.

As terapias anti-TNF e outras drogas biológicas revolucionaram a vida dos pacientes com artrite reu-matoide, doença de Crohn e muitas outras doenças inflamatórias sistê-micas; o adalimumabe tem poten-cial para transformar da mesma maneira o cuidado dos pacientes com uveítes potencialmente devas-tadoras. Os resultados dos estudos clínicos que mostraram a eficácia e segurança do adalimumabe nos pacientes com uveítes ativa e ina-tiva (VISUAL I e VISUAL II) foram publicados nos últimos meses. Esses dados resultaram em aprovação do adalimumabe para o tratamento das uveítes não infecciosas inter-mediária, posterior e pan-uveíte – o primeiro tratamento licenciado no mundo para essa indicação.

Além das uveítes não infecciosas (posterior, intermediária e pan-uveí-te), o adalimumabe é aprovado para doenças sistêmicas que cursam com manifestações oculares inflamató-rias, entre elas artrite idiopática juvenil, artrite reumatoide e pso-riásica, espondilite anquilosante e doença inflamatória intestinal. O efeito dos anti-TNF alfa na uveíte an-terior da artrite idiopática juvenil foi descrito em estudos retrospecti-vos de pequena série de casos e que sugerem que a maioria das crianças

tratadas com anti-TNF alfa (adali-mumabe ou infliximabe) consegue diminuir a atividade da uveíte e reduzir o corticoide. Entretanto, algumas crianças terão reativação mesmo durante o tratamento. Pou-cos estudos pequenos comparam diretamente o resultado da troca de anti-TNF alfa (infliximabe e adali-mumabe). Existem estudos que mos-tram que o adalimumabe diminui as recidivas das uveítes anteriores não infecciosas nas espondiloartri-tes, mas o aparecimento da uveíte durante o tratamento com anti-T-NF alfa também já foi descrito na literatura.

Melhor controle da esclerite é descrito em pacientes portadores de artrite reumatoide requerendo imunomodulação e usando adali-mumabe por falha ou por contrain-dicação aos imunomoduladores antimetabólitos ou inibidores da calcineurina.

Outros agentes biológicos para tratamento das uveítes não infeccio-sas também vêm sendo estudados.

O daclizumabe, um anticorpo monoclonal dirigido contra o re-ceptor IL-2, também demonstrou-se útil no tratamento da uveítes não infecciosas no trial prospecti-vo aberto. Entretanto, no caso da uveíte associada à doença de Beh-çet, o daclizumabe não se mostrou superior ao placebo.

O interferon alfa-2a mostrou eficácia em trial retrospectivo na doença de Behçet sistêmica que in-cluía pacientes com uveítes. Existe também evidência de eficácia do interferon alfa-2a na uveíte não anterior não infecciosa associada à doença de Behçet. O interferon alfa-2b peguilado mostrou eficácia em um pequeno estudo piloto re-trospectivo.

Existe evidência limitada para suportar o uso do gevoquizumabe,

rituximabe, alentuzumabe, imuno-globulinas endovenosas, golimu-mabe, canaquinumabe, abatacepte, anacinra e tocilizumabe nas uveítes não infecciosas não anteriores re-fratárias.

Estas terapias biológicas apor-taram um grande armamentário para tratar as uveítes, mas permane-cem muitos desafios. A uveíte não é uma doença única; pelo contrário, a uveíte é uma manifestação de vá-rias doenças sistêmicas potenciais que podem ter alvos terapêuticos individuais muito específicos. Nem sempre se alcança a caracterização e a identificação destas doenças subjacentes, e mais importante, as terapias mais eficazes para cada en-tidade ainda restam ser definidas. 6

As terapias anti-TNF e outras drogas biológicas

revolucionaram a vida dos pacientes com artrite reumatoide, doença de Crohn e muitas outras

doenças inflamatórias sistêmicas; o

adalimumabe tem potencial para transformar da

mesma maneira o cuidado dos

pacientes com uveítes potencialmente devastadoras

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F alar que a tecnologia avança de maneira sur-preendentemente rápida pode parecer lugar-co-

mum num contexto em que es-tamos cercados de equipamentos que trazem mais conforto e faci-lidade para o cotidiano. Mas nas áreas da medicina, novos estudos resultam em diagnósticos cada vez mais precoces e tratamentos ainda mais eficientes, que se traduzem em longevidade, sobretudo com qualidade de vida. No campo da contatologia, subespecialidade e área da ciência oftalmológica, o desenvolvimento tecnológico mere-ce grande atenção, uma vez que as lentes de contato têm participação importante neste processo evoluti-vo, trazendo, sobretudo, grandes benefícios para aqueles que neces-sitam de correção visual.

Num curto espaço de tempo che-gam ao nosso conhecimento novas lentes, com novos materiais, que causam cada vez menos transtor-nos à fisiologia ocular do usuário. A indústria farmacêutica tem se es-pecializado para oferecer modelos

de lentes cada vez mais compatíveis com a topografia da córnea, o que tem contribuído com o aumento do número de usuários das lentes de contato no Brasil e no mundo.

Hoje são fabricadas lentes de alta transmissibilidade de oxigênio, bai-xa ionicidade, resistência a depósi-tos e descartabilidade, objetivando o respeito à integridade e fisiologia da córnea e o conforto ao paciente. Enfim, a modernização nos métodos de fabricação, permitidos por tornos multidirecionais que possibilitam a personalização da adaptação das lentes a níveis antes inimagináveis, a redução dos custos pela automa-ção dos polímeros gelatinosos e a descoberta de novos materiais têm permitido a produção de lentes des-cartáveis para uso num único dia ou mensal, bem como para trocas anuais planejadas.

Velhos e novos desafios da contatologia no Brasil

Tânia Schaefer Médica oftalmologista; Doutora em Medicina pela USP;Vice-presidente da SOBLEC

Num curto espaço de tempo chegam ao nosso conhecimento

novas lentes, com novos materiais, que

causam cada vez menos transtornos à fisiologia ocular do

usuário

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É sabido que as lentes têm a pro-priedade de corrigir as ametropias, que são doenças refracionais, pro-porcionando um melhor campo visual comparadas com as lentes de óculos. Elas também podem ser usadas por razões estéticas, em casos de doenças que provocam opacidade da córnea, no pós-ope-ratório em pacientes que passaram por transplante, no tratamento do ceratocone, no controle da miopia por meio da ortoceratologia, e ain-da para correção de diversas outras patologias.

Comércio indiscriminadoO que não mudou, no entanto,

é o controle sobre o comércio in-discriminado das lentes de conta-to pela internet. Sem indicação ou acompanhamento médico, de ma-neira absolutamente irresponsável, muitas pessoas compram lentes de contato à sua própria sorte, o que pode acarretar consequências da-nosas à saúde ocular.

Frequentemente atendemos nos consultórios pessoas que apresen-tam desde uma leve irritação até problemas oculares severos, que poderiam causar cegueira. Consi-derando que a lente de contato é uma órtese que interage diretamen-te com o olho, principalmente com a córnea e superfície ocular, parece óbvio que, se não for corretamente indicada e adaptada, ela pode modi-ficar os processos fisiológicos destes tecidos. As complicações mais co-muns são a redução da oxigenação e umidificação da córnea e conjun-tiva, traumas, alergias, infecções causadas por parasitas, bactérias ou fungos.

Uma boa adaptação de lentes deve ter especial atenção à maneira como o olho reage a este processo. A correta limpeza, das lentes e do estojo, o descarte, os cuidados essen-

ciais para evitar complicações fazem parte de um processo de educação do paciente que deve ser orientado exclusivamente pelo médico oftal-mologista. Por isso reforçamos a importância de se fazer um exame oftalmológico completo, antes de o paciente começar a usar a lente de contato, e também o acompanha-mento para aqueles que já usam.

Sem medo das consequências

Recentemente o resultado de uma pesquisa feita na Região Su-deste revelava uma dura, mas já conhecida realidade: 90% dos bra-sileiros se automedicam de forma indiscriminada e sem medo das consequências. A autoindicação de lentes de contato também per-passa essa realidade, justamente pela facilidade de se comprar pela internet. Elas são entregues no con-forto de casa e estão ao alcance de qualquer pessoa. Muitas vezes, por conta da desinformação, há quem

decida usar lentes seguindo “reco-mendação” de um amigo, parente, vizinho ou com base no que leu na internet.

Apenas quando os primeiros pro-blemas começam a aparecer é que esses usuários recorrem ao consul-tório médico. A correta adaptação do usuário à lente de contato inclui exame oftalmológico completo, com o objetivo de avaliar se há indica-ção ou contraindicação do uso. O exame clínico passa por avaliar o seguimento anterior e posterior dos olhos, com ênfase na observação de processos alérgicos ou alterações que possam inviabilizar a adapta-ção. São feitas ainda avaliações da refração, do filme lacrimal, da cur-vatura e topografia da córnea, da fundoscopia, além de testes para saber se haverá aceitação.

Mesmo dentro dessa complexida-de há quem coloque a saúde ocular em risco, recorrendo diretamente às óticas e sites de vendas pela in-ternet. Esse processo danoso tem feito com que o número de usuários de lentes de contato não cresça no Brasil. O percentual de usuários tem permanecido estagnado há anos, pois o contingente de pessoas que inicia o uso das lentes é igual ao que deixa de usá-las por alguma razão, sempre ligada ao uso inadequado e incorreto. Esta realidade é objeto de preocupação, por excluir muitos usuários que poderiam usufruir dos magníficos benefícios da adapta-ção correta das lentes de contato. Pessoalmente posso falar de tais be-nefícios, não somente como uma médica especialista da área, mas também como usuária que sou de lentes multifocais.

Visionários e valentesCreio que quatro décadas atrás

não se imaginava que o comércio indiscriminado das lentes de con-

É sabido que as lentes têm a propriedade de corrigir as

ametropias, que são doenças refracionais, proporcionando um melhor campo visual comparadas com as

lentes de óculos

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tato seria um dos embates a ser en-frentados no Brasil. Mas já havia a preocupação de resguardar a saúde ocular da população quando, na dé-cada de 1970, um grupo de médicos oftalmologistas visionários assumiu a missão de acompanhar o processo de expansão das lentes de contato no país, estimulando os colegas da especialidade a se aprofundarem no estudo desta área da ciência of-talmológica.

Eles reconheceram a importância de ter uma entidade médica que ministrasse conhecimentos, incen-tivasse o aprendizado da adaptação e acompanhasse as evoluções das lentes em solo brasileiro. Para as-segurar que a adaptação de lentes de contato fosse reconhecida como um procedimento médico, estes visionários criaram a Sociedade Brasileira de Lentes de Contato e Córnea (SOBLEC), uma entidade que hoje é referência no exterior como a maior, mais ativa e conceituada em sua área de representação. Desde os primórdios de sua fundação, a enti-dade mantém como meta o estudo da problemática do uso de lentes de contato como um todo, visando fun-damentalmente resguardar a saúde visual da população brasileira.

Mais que visionários, eles foram valentes. Enfrentaram uma série de objeções da classe médica na época, por dedicarem atenção a um “produto de venda”, pois não havia então o entendimento de que se tratava de um insumo do traba-lho médico. E foi com uma política marcada pela seriedade e foco no desenvolvimento científico que estes precursores construíram a história da contatologia no Brasil, tornando a SOBLEC uma sociedade médica de grande importância para a co-munidade oftalmológica nacional e internacional.

Isso porque o Brasil é considerado

um dos países mais avançados em relação à correta inserção da conta-tologia e da optometria como áreas da ciência médica afetas à oftalmo-logia. Os mais renomados profissio-nais se sucederam na presidência da SOBLEC cuidando, cada um à sua maneira, de desenvolver o ensino de suas áreas de atuação: córnea, refratometria e lentes de contato. O resultado, percebido ao decorrer dos anos, foi que um grande contingen-te de médicos passou a se interessar por adaptar lentes de contato. Estas gestões conseguiram sedimentar uma sociedade de grande respeito e credibilidade, uma verdadeira famí-lia, à qual tenho o prazer e orgulho de pertencer, tendo-a presidido por duas gestões.

Ato médico exclusivo Frente à SOBLEC, nossa diretoria,

como cada uma que nos precedeu e sucedeu, lutou em todas as esferas – políticas, jurídicas e administrativas – para esclarecer e mostrar às auto-ridades do país os riscos oculares e

os custos sociais da dissociação da adaptação de lentes de contato ao procedimento médico. A adaptação de lentes de contato constitui uma área especializada dentro da oftal-mologia. Adaptar lentes de contato é um procedimento médico que se inicia no momento em que o usuá-rio em potencial realiza a consulta oftalmológica com esta finalidade ou tem a indicação de seu médico, e que se estende durante todo o pe-ríodo em que o paciente for usuário das lentes. São necessários retor-nos e novas consultas periódicas com o oftalmologista para que o usuário possa fazer uso das lentes dentro das melhores condições de segurança possíveis. O grande risco está no fato de o paciente usuário de lentes de contato se convencer de que quando não há sintomas, não há complicações. Esta conclusão ilusória tem trazido consequências funestas e não é raro encontrarmos pacientes usuários de lentes de des-carte mensal usando a mesma lente por seis ou oito meses, com olho calmo e córnea em condições pato-lógicas, algumas vezes irreversíveis.

O trabalho da SOBLEC teve um de seus principais frutos no dia 2 de março de 2011, quando o Conselho Federal de Medicina (CFM), preocu-pado com relatos de complicações do uso inadequado das lentes de contato e do seu comércio sem a devida avaliação oftalmológica, pu-blicou resolução afirmando serem atos exclusivos médicos a indicação, adaptação e acompanhamento de lentes de contato. Segundo a Reso-lução 1965 do CFM, o ato médico quanto às lentes de contato deve cumprir a seguinte sequência: con-sulta médica, exames complemen-tares, avaliação clínica da escolha das lentes, processos de adaptação e controle médico periódico.

Em brilhante analogia, o De-

Adaptar lentes de contato é um

procedimento médico que se inicia no

momento em que o usuário em potencial

realiza a consulta oftalmológica com

esta finalidade ou tem a indicação de seu

médico

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partamento Jurídico do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) citou, certa vez que: “o protético faz a prótese dentária que é encomen-dada pelo odontólogo, mas somente este pode adaptá-la na cavidade oral. As ópticas não estão autorizadas a vender lentes de contato baseadas nas receitas de óculos, porque a prescrição destes está relacionada somente a um parâmetro: o grau (a lente de contato depende de, no mínimo, cinco). Profissionais não médicos desconhecem o estado de saúde dos olhos para aconselhar ar-bitrariamente o uso de um corpo estranho em um órgão tão nobre.”

Melhor descrição impossível. A nós, profissionais e entidades mé-dicas resta educar a população para os riscos do uso de lentes de conta-to sem o devido acompanhamento médico.

Tratando a miopia com lentes durante o sono

Atualmente, no campo da con-tatologia, confesso grande empol-gação com as lentes ortoqueratoló-gicas no tratamento e controle da miopia, onde venho concentrando e aprofundando estudos. Nos con-sultórios, as correções comumente indicadas para tratar a miopia são o uso de óculos, lentes de contato e cirurgias refrativas. Mas a ortoque-ratologia, que permite a correção visual enquanto o paciente dorme, começa a ganhar espaço e interesse no Brasil. Trata-se de uma terapia corretiva transitória que consiste na adaptação de lentes de contato de curva reversa, com a finalidade de alterar o formato da córnea do paciente. Estudos demonstram que o tratamento contribui para um re-tardo no crescimento axial do olho, resultado em uma correção tempo-rária da miopia.

Esse tipo de terapia corretiva exis-

te há décadas nos Estados Unidos e na Europa, mas foi a partir da evolu-ção dos materiais das lentes de con-tato que a ortoqueratologia passou a ser considerada uma opção viável, para trazer mais qualidade de vida a milhares de pacientes portadores de miopia. Para reduzir esses erros de refração são utilizadas lentes de contato rígidas, cujo formato é con-cebido com o intuito de remodelar a córnea, através de um processo de aplanação da mesma.

Usadas enquanto o paciente dor-me, as lentes ortoqueratológicas agem moldando o epitélio, cama-da mais superficial da córnea, que possui propriedades elásticas. Se aplicado pelo médico oftalmologista treinado e certificado, o método é totalmente seguro e confortável, conseguindo promover uma redu-ção de até 6 dioptrias de miopia. A ortoqueratologia também pode ser aplicada no controle do astigmatis-

mo, mas dentro de certos limites de grau e de indicação clínica.

Estudos clínicos recentes revelam que boa parte dos pacientes (60%?) com indicação para este tipo de tra-tamento tem resultados expressivos em poucas semanas, mas também é comum perceber-se uma melhora da visão depois de poucos dias do uso das lentes.

Antes de iniciar a adaptação das lentes é realizada uma minuciosa avaliação do paciente pelo especia-lista, para determinar a curvatura corneal por meio de topógrafo ou por queratoscopia computadoriza-da. O videoceratoscópio ou topó-grafo verifica se o paciente tem ou não a indicação para o tratamento. Estes equipamentos também são essenciais no acompanhamento da evolução do paciente. Entre as vantagens da técnica estão a rápida recuperação visual e o fato de não haver limite de idade para a aplica-ção da terapia.

A rotina dos pacientes em tra-tamento inclui colocar as lentes durante a noite e tirar ao levantar. O resultado é uma visão nítida du-rante o dia sem ajuda de óculos ou lentes de contato. Mas se o pacien-te deixar de usar a lente à noite, a visão volta a ficar como antes da terapia. As lentes devem ser troca-das uma vez por ano e estudos não registraram quaisquer complicações no uso, sendo completamente segu-ras e eficazes, desde que aplicadas por profissional habilitado.

Com o aumento da incidência de casos de miopia em todo o mundo e os inúmeros impactos socioeco-nômicos gerados por ela, além das patologias correlacionadas à mio-pia, tais como alterações retinianas, catarata e glaucoma, aposto fichas que o tratamento com as lentes or-toqueratológicas vai se tornar bas-tante popular nos próximos anos. 6

Atualmente, no campo da contatologia,

confesso grande empolgação

com as lentes ortoqueratológicas no tratamento e controle

da miopia, onde venho concentrando

e aprofundando estudos

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EVENTOS48

1 Bruna Ventura, 2 Fernanda Rocha e Thiago Álvaro (Optivision), 3 Marcelo Frison e Régis Marcus (Leedsay), 4 Felipe Accioly, Fabio Yamkawa, Patrícia Selin, Guilherme, Eduardo Machado e Felipe Breowics, 5 Equipe Zeiss, 6 Cleber Godinho, Newton Kara José e Ivan Aliaga (Essilor); 7 Fredson Braga e Sergio Kandelman, 8 Equipe Technicall, 9 Luciano Marques, Reginaldo Kuhn, Rodrigo Guaraná e Soren Tietze (Alcon), 10 Equipe Genom, 11 Janina Hofman e Enrico Nitschke (Oda Brasil).

BRASCRS 2017Excelência científica e um clima familiar e amigável foram as características do IX Congresso Brasileiro de Catarata e Cirurgia Refrativa, realizado de 31 de maio a 03 de junho em Foz do Iguaçu. Como em todo Congresso Brasileiro de Catarata e Refrativa, o objetivo foi aliar aprendizado prático e efetivo a momentos inesquecíveis de lazer e descanso. E, desta vez, regados aos famosos respingos das Cataratas do Rio Iguaçu! Veja quem esteve por lá.

O que? XVII Simpósio Internacional da Sociedade Brasileira de Glaucoma Quando? De 25 a 27 de maio Onde? Rio de Janeiro, RJ

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universovisual universovisual 49

12 Luis Alberto, Marcos Sanches, Gilberto Telles, Régis Marcus (Leedsay), 13 Luciano Marques, Rodrigo Guaraná e Cleiton Silva (Alcon), 14 Cleiton Silva, Fernando Veiga (Alcon), Marcelo Nishi, Dario Braz e Carlos Umeoka, 15 Ulisses Daólio (Alcon) e Milton Yogi, 16 Equipe Essilor, 17 Paulo Schor, 18 Paulo Cesar Fontes, José Estropio Vaz e Amaury Guerrero (Hospital de Olhos Brasil), 19 Sirley Freygang, Carlos Augusto Pedroso, Natália Rodrigues e Mario Novaes (Ophthalmos), 20 Ricardo Nosé e Walton Nosé, 21 Takahshi Hida e Leila Gouveia, 22 Equipe Allergan, 23 Rogério Mazon e Fernando Paranhos (Adapt).

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EVENTOS50

1 Paulo Augusto de Arruda Mello e Carlos Akira Omi, 2 Seção de abertura, 3 Homero Gusmão de Almeida, Nubia Faria e Roberto Vessani, 4 Equipe Novartis, 5 Luis Monteiro, Augusto Lyra e Luis Lopes (Allergan), 6 Marcelo Carletti e Fernando Marino (Glaukos), 7 Equipe Genom, 8 Fred Veloso, Remo Susanna Jr. e Cleomar Aliane (Mundipharma), 9 Alexandre Moura, Joyce Rodrigues, Jorge Martignoni e David Cruz (Legrand), 10 Vagner Dantas (Adapt).

SBG 2017O XVII Simpósio Internacional da Sociedade Brasileira de Glaucoma, realizado entre os dias 25 a 27 de maio de 2017, no Rio de Janeiro, atraiu especialistas de todo o país, que se reuniram para discutir temas relacionados aos mais recentes avanços do glaucoma, com foco na prática clínica diária, e contou com a presença dos mais importantes especialistas brasileiros e de seis renomados convidados internacionais.

O que? XVII Simpósio Internacional da Sociedade Brasileira de Glaucoma Quando? De 25 a 27 de maioOnde? Rio de Janeiro, RJ

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TECNOLOGIA PROTEGE OS OLHOS CONTRA LUZ AZUL

O crescimento do acesso a smartphones e à internet, somado ao tempo em frente à televisão e ao computador, faz com que, em média, a população brasileira passe um terço do dia expondo diretamente os olhos à luz azul emitida por esses dispositivos. Ao mesmo tempo em que é importante, ela também pode ser prejudi-cial aos olhos: uma parte dessa luz é essencial para a regulação do nosso metabo-lismo, enquanto outra se mostrou tóxica para células retinianas em estudos de la-boratório. A boa notícia é que a tecnologia em lentes de óculos já permite uma filtragem seletiva da luz azul, impedindo que sua parte nociva atinja os olhos.

“Os aparelhos eletrônicos atualmente são os maiores ‘vilões’ quando se trata de luz azul, já que incidem diretamente sobre os olhos. Existem evidências de que a degeneração macular relacionada a idade seja causada/acelerada pela luz azul nociva”, afirma o Marcus Safady, médico oftalmologista, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

Durante o IX Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, que aconteceu no Recife (PE) entre os dias 6 e 8 de julho, a Essilor deu desta-que ao sistema Eye Protect System™, criado para evitar que a luz azul prejudi-que os olhos. As lentes de óculos desenvolvidas com essa tecnologia oferecem proteção contra a luz azul nociva (azul-violeta) e radiação UV. O sistema preser-va a estética transparente da lente, sendo possível utilizar em diferentes tipos de armação e ser usada por qualquer pessoa, até mesmo por quem não precisa de correção visual.

Família Adaptis

Neste ano, a linha Adaptis do Le-grand Oftalmo também celebra a par-ceria com a Oftalmologia Brasileira junto com a Universo Visual. Os qua-tro lubrificantes ADAPTIS que fazem parte do do portfólio no mercado bra-sileiro completam três anos de comer-cialização no Brasil em 2017, sempre oferecendo o poder da lubrificação adaptado ao conforto ocular.

Desde 2014, o Legrand disponibiliza quatro apresentações: Adaptis 1% (car-melose 1%), Adaptis 0,5% (carmelose 0,5%), Adaptis Fresh (hialuronato de sódio 0,4%) e Adaptis Gel (carbopol 0,2%), sendo o ADAPTIS FRESH, único produto exclusivo no Brasil com até 4x mais H.S em apenas uma gota.

O Legrand Oftalmo parabeniza a Re-vista Universo Visual por sua 100ª Edi-ção em parceria com a oftalmologia!

PRÊMIO XOVA 2017A Novartis anuncia os cinco vencedores do eXcellence in Ophthalmology Vision

Award (XOVA) 2017, uma premiação anual lançada em 2010, que financia projetos destinados a proporcionar melhorias sustentadas no cuidado do olho a nível mundial, inclusive países em desenvolvimento. “O Prêmio XOVA é uma das muitas formas con-cretas pelas quais a Novartis apoia a melhoria do cuidado ocular em alguns países em desenvolvimento do mundo. Ver como esse prêmio, ano após ano, atrai projetos inova-dores com impacto real no atendimento dos pacientes é verdadeiramente motivador para todos nós”, disse o Dr. Dirk Sauer, chefe da Unidade de Desenvolvimento Global para Oftalmologia da companhia.

Os cinco vencedores, selecionados entre 96 projetos de alta qualidade vindos de 37 países neste ano são: Edison Mutsinzi do Hospital Kabgayi, em Ruanda; Prema Chande, do Lotus College of Optometry, Mumbai; Marty Spencer, da Seva Canada; Kurfa Beyo e Desalegn Amanuel, de Girarbet Tehadiso, Mahber, Etiópia; Walimbwa Wilson da Christian Rural Eye Sight Promotion.

Os vencedores foram formalmente anunciados durante o 17º ESASO Retina Aca-demy, realizado em Berlim, dia 30 de junho. “O programa XOVA é uma oportunidade extraordinária para melhorar a qualidade de vida e a visão nas áreas em desenvolvi-mento e criar uma comunidade de pessoas atentas aos mais necessitados”, disse o Prof. Francesco Bandello na ocasião.

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NOTÍCIAS E PRODUTOS52

Educando futuros líderes em oftalmologia

A Bolsa de Estudo para Mestrado em Cirurgia em Oftalmologia Clínica David E I Pyott, Universida-

de de Edimburgo dá suporte ao treinamento médico e cirúrgico especializado para médicos de países em desenvolvimento que seguem carreiras em oftalmologia.

Graças à generosa doação filantrópica de 250.000 libras do Dr. David Pyott, CBE, em 2016 através de sua Fundação para a sua alma mater escocesa, a Universidade de Edimburgo, seis bolsas de estudos serão disponibi-lizadas em 2017 para médicos elegíveis que estejam iniciando seus estudos no exclusivo curso online de Mestrado em Cirurgia (ChM) em Oftalmologia Clínica da Universidade de Edimburgo.

Médicos da África subsaariana, do Sudeste Asiático e da América do Sul são elegíveis para essas bolsas de estudo que cobrem todas as taxas de matrícula deste programa de mestrado on-line de dois anos, meio-pe-ríodo, bem como acesso à Internet de banda larga e um laptop. As bolsas são administradas pela Univer-sidade de Edimburgo e as inscrições terminam em 28 de julho de 2017.

O ChM em Oftalmologia Clínica destina-se a futuros líderes em oftalmologia que estão aprendendo a desen-volver serviços de atendimento oftalmológico hospitalar secundário e terciário, que requerem treinamento de subespecialidade e que se beneficiariam de um estreito acompanhamento em metodologia de pesquisa para poder fornecer uma pesquisa clínica relevante para suas comunidades locais e nacionais.

O ChM, que é totalmente online, foi projetado para apoiar, complementar e promover o aprendizado clínico, desenvolver habilidades de pesquisa clínica e fornecer uma plataforma a partir da qual os oftalmologistas em

treinamento são orientados enquanto ainda estão viven-do e trabalhando em seus próprios países e unidades de oftalmologia. Tudo o que eles necessitam é acesso a um computador e conexão à internet para estudar de qualquer lugar do mundo e um mínimo de 10-15 horas por semana de comprometimento com seus estudos. Os alunos do curso ChM online à distância têm pleno acesso à biblioteca e aos recursos on-line consideráveis da Universidade de Edimburgo, incluindo publicações eletrônicas.

O conteúdo geral e de subespecialidades segue os currículos das Bolsas de Oftalmologia do Royal College of Surgeons of Edinburgh (RCSEd) e do The Royal Col-lege of Ophthalmologists (RCOphth) no Reino Unido e Irlanda e os objetivos de aprendizagem são organizados de acordo com as competências exigidas dos estagiários do Reino Unido submetidos aos exames para obtenção do Certificado de Conclusão de Treinamento Especia-lizado. O formato da administração do curso de ChM incorpora uma mistura multimídia de conteúdo e ativi-dades de aprendizagem, incluindo fóruns de discussão assíncronos com tutores eletrônicos consultores em oftalmologista, palestras em vídeo, clínicas virtuais e diários recíprocos de portfólio eletrônico.

A Faculdade de ensino internacional de ChM tem experiência e expertise para ministrar o conteúdo clinica-mente relevante em toda a abrangência da oftalmologia clínica e cirúrgica a uma bolsa de estudo global. A Facul-dade está atenta às várias culturas, climas e contextos geográficos em que os alunos praticam a oftalmologia e as limitações de recursos disponíveis em ambientes menos abastados. Isto moldou a maneira como os tópi-cos didáticos e discursivos são priorizados e praticados dentro do ambiente de aprendizagem virtual do ChM e é uma das características inerentes do curso.

O ChM oferece um veículo inovador e eficaz para melhorar a educação de uma nova geração de oftalmo-logistas que aprendem em uma comunidade global de mentores e colegas. Isto beneficia tanto a profissão, incentivando a consulta, refletindo sobre a prática e ampliando o expertise clínico como, for fim, seus pa-cientes, cujos cuidados especializados serão aprimorados através deste programa de aprendizagem à distância.

Data de Encerramento das Inscrições para a Bolsa: 28 de julho de 2017.

Mais informações em www.ed.ac.uk/student-funding/postgraduate/e-learning/david-pyott

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DIGITAL LENSES ZEISSNa noite de 25 de maio, a jornalista Astrid Fontenelle mediou uma conversa

sobe o universo digital com especialistas brasileiros, como Pedro Eugênio - fundador da Black Friday no Brasil. A discussão, que fez parte do evento de lançamento do novo produto da Zeiss, abordou a maneira em que os aparelhos digitais mudaram o comportamento do consumidor brasileiro.

A lente digital foi desenvolvida para responder às necessidades de pessoas que sentem desconforto na visão e utilizam diariamente celulares, computado-res e tablets. Direcionada ao público entre 30 e 40 anos, a lente para uso diário oferece uma área confortável para todas as distâncias, reduzindo o impacto negativo da tela de dispositivos digitais na visão.

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VISÃO DE LONGO ALCANCENo ano em que completa 70 anos no mundo, a Alcon está lançando a lente intrao-

cular de foco estendido ACTIVEFOCUS, que reforça a visão de longo alcance. A tecno-logia permite que os pacientes submetidos à cirurgia de catarata possam tratar ao mesmo tempo o astigmatismo e a presbiopia. A lente intraocular (LIO) com o design óptico ACTIVEFOCUS oferece aos pacientes submetidos à cirurgia de catarata o trata-mento do astigmatismo e da presbiopia, ao mesmo tempo. O seu exclusivo design óptico proporciona visão para longe nítida e clara e uma faixa de visão ampliada, re-duzindo a dependência dos óculos para atividades que exijam a visão intermediária.

A LIO com design óptico ACTIVEFOCUS é a única lente intraocular na qual a porção central é 100% dedicada à visão à distância. Outras lentes multifocais com design diferentes podem comprometer a visão à distância ao proporcionar uma faixa mais ampla de visão.

Também é projetada para ter mais estabilidade. As LIO Tóricas só funcionam de forma ideal se permanecerem no eixo correto para corrigir o astigmatismo. Em um estudo retrospectivo, a plataforma AcrySof® IQ foi 2,5 vezes menos propensa a rodar do que outras lentes. Além disso, a plataforma AcrySof® IQ Toric é líder de mercado, com mais de 1,7 milhões de lentes implantas por cirurgiões de catarata do mundo todo até hoje.

Para Rodrigo Guaraná, diretor da área Cirúrgica da Alcon, a novidade traz uma nova perspectiva no setor de oftalmologia. “Essa tecnologia é um avanço significativo que aprimora os procedimentos cirúrgicos em catarata”, ressalta. “O lançamento dentro do congresso é uma oportunidade de reforçamos com a comunidade médica as inovações da Alcon, que trabalha para ajudar os profissionais a cuidar melhor da saúde ocular de seus pacientes”, afirma.

Tecnologia e pioneirismo

A nova LIO RayOne® é muito mais que um preloaded, é um sistema inte-grado de lente intraocular que propor-ciona o melhor sistema para o cirurgião e paciente.

Fabricada e comercializada pela Adapt/Rayner, a nova lente permite criar um sistema de injeção de LIO de micro incisão (MICS) para a cirurgia de catarata totalmente preloaded que tra-balhe de forma consistente era projetar o sistema como um todo — tanto lente quanto injetor. Essa foi a inspiração por trás da RayOne®.

Ao criar o RayOne®, desenvolveram a lente MICS e a tecnologia Lock & Roll ™ patenteada exclusivamente como parte do mesmo processo de projeto, combi-nação esta, que resultou no injetor, com o menor bocal totalmente preloaded disponível no mercado.

A nova lente RayOne® MICS é uma versão aprimorada da testada e apro-vada plataforma C-flex® e Superflex®, combinada em um único design óptico de 6,0 mm.

RayOne® não é um preloaded, é um sistema de injeção de LIO por micro incisão com uma segunda geração de Rayacryl®.

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DICAS DA REDAÇÃO54

F oi minha quinta viagem ao país, desde a primeira, em 1970, quando passei uma boa temporada em Israel e em especial no Kibutz Mashabe Sadé, localizado no deserto de Negev.

Naqueles tempos, realizei o sonho de me sentir um pouco como aqueles pioneiros que, bem antes do advento do Estado e originários de todas as partes do mundo, fin-carem as bases sobre as quais assentaria possivelmente a mais fantástica experiência humana do século 20.

Realizada em 2014, a viagem me fez sentir ainda

mais orgulhoso deste país que se fez nação e para cujo povo nada parece impossível de mudar e sempre mais comprometido com a soberania, a solidariedade, o desenvolvimento, a sustentabilidade, os costumes, as tradições e a democracia, cada vez mais ampliada. Mi-nha esperança é de que as fotos a seguir sejam capazes de retratar Israel e suas gentes. É uma tarefa difícil em um território tão fotogênico, onde as pedras têm coisas para contar, os caminhos relatam epopeias, e a história se fez História. 6

Flavio Bitelman

ISRAEL - Terra Santa, sagrada e querida

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A CIDADE DE TEL AVIV é um importante centro econômico, sedia a Bolsa de Valores, além de escritórios corporativos e centros de pesquisa e desenvolvimento.

NAS IMEDIAÇÕES DE MEA SHEARIM, o principal meio de comunicação a respeito dos eventos e acontecimentos que interessam aos heredim (os ultra-ortodoxos) são os cartazes e panfletos colados em locais específicos. Embora isso se tornasse comum com o advento da impressão, no final do século 15, como ninguém é de ferro, o celular também ajuda.

O MURO DAS LAMENTAÇÕES OU MURO OCIDENTAL é o lugar mais sagrado para os judeus, única parte sobrevivente do Segundo Templo, destruído pelos romanos.

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DICAS DA REDAÇÃO56

NO SHUK HACARMEL, uma drusa israelense exibe seus dotes na arte de fazer a pita em diversos tamanhos, à escolha do freguês. A massa roda em suas mãos, dá piruetas e depois é levada ao forno. No quiosque dela se compram ingredientes indispensáveis a um bom falafel, mas aos não iniciados, ela recomenda comer nas falaferias próximas.

JARDINS DO TEMPLO BAHAI, são belos e imponentes. Ao longo de um km encosta acima, enfeitando e colorindo o

Monte Carmel, os jardins formam uma das paisagens mais espetaculares de Israel.

O PASTOREIO DE OVELHAS é algo muito difundido no mundo antigo, desde os tempos mais remotos. Atualmente, na cidade de Belém, a atividade ainda é recompensadora.

DICAS DA REDAÇÃO56

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09 a 12 agostoXXXIII CONGRESSO PAN-AMERICANO DE OFTALMOLOGIA LOCAL: Centro de Convenciones de Lima – Lima/PeruSITE: www.paaolima2017.com

06 a 09 setembro61º CONGRESSO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIALOCAL: Centro de Convenções de Fortaleza – Fortaleza/CESITE: www.cbo2017.com.br

02 a 04 novembroXXXVII CONGRESSO DO HOSPITAL SÃO GERALDOLOCAL: Hotel Mercure Lourdes – Belo Horizonte/MGSITE: www.hospitalsaogeraldo.com.br

20 a 21 outubro3º CONGRESSO BRASILEIRO DE CERATOCONELOCAL: A Hebraica – São Paulo/SPSITE: www.ceratocone.net.br

26 a 28 outubroSIMPÓSIO INTERNACIONAL DO BANCO DE OLHOS DE SOROCABALOCAL: Hospital Oftalmológico de SorocabaE-MAIL: [email protected]

19 a 21 outubroX CONGRESSO BAIANO DE OFTALMOLOGIALOCAL: Hospital São Rafael – Salvador/BASITE: www.sofba.com.br

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02 e 03 de novembroII CONGRESSO IBEROAMERICANO DE OFTALMOLOGIALOCAL: Buenos Aires – ArgentinaSITE: www.iberoamericanodeoftalmologia.com

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ANUNCIANTES58

AMPTel. 0800 13 6006

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Bausch & LombTel. 0800 702 6464Páginas 30 e 31

Congresso CBOwww.cbo2017.com.br

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Hoya Lab BrasilTel. 0800 707 6575 (RJ)Tel. 0800 702 2541 (SP)

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3D PrecisionTel. (11) 3333 5858

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LegrandTel. (19) 3795 9036

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Look Vision Tel. (11) 5565 4233

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OptolentesTel. (51) 3358 1700Fax (51) 3358 1701

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Zeiss Tel. 0800 770 5556

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Mais informações: www.cbo2017.com.br | (85) 4011-1572

Organização:Agência Oficial:Apoio Institucional:

Sociedade Cearensede Oftalmologia

Promotor:

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