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Edição de março de 2006

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∗ Editorial .........................................................................∗ Lançamentos editoriais .................................................

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista e são de inteira responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só será permitida mediante a citação da fonte e dos autores.

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Sumário

∗ Raio solar: uma nova tecnologia para tratamento de solo∗ A planta que limpa áreas contaminadas por níquel ......∗ Um pesticida à base de açúcar e óleo de soja ..............∗ Leite cru controla melhor o oídio em abóbora .............∗ Professor lança software ecológico .............................∗ Embrapa tem nova soja de sabor suave .......................∗ Lançada em Bandeirantes, PR, nova variedade de uvafina de mesa .....................................................................∗ Manejo do solo pode reduzir gases-estufa ..................∗ Maus odores da suinocultura no Oeste Catarinense ....∗ Festival nacional de cinema e vídeo rural .....................∗ Contagem de parasitas em peixes é usada paramonitoramento ambiental ................................................∗ Eficácia do azeite de oliva contra a gordura .................∗ Laranja da Bahia – início da indústria de citros naCalifórnia ..........................................................................∗ IPT desenvolve combustível ecológico ........................∗ Chá-verde fortalece sistema imunológico, conclui estudo∗ O idealizador da “vaca mecânica” concebe o “kit-merenda” ..........................................................................

∗ Efeito de sistemas de preparo e de fontes de nutrientessobre a fertilidade do solo e o crescimento e produção demilho .................................................................................∗ Comportamento de cultivares de feijoeiro ao crestamentobacteriano comum, em condições de casa-de-vegetação∗ A importância do erro experimental ...............................∗ Incremento na frutificação efetiva de caquizeiro ‘Fuyu’pela aplicação de ácido giberélico ....................................∗ Resposta do feijoeiro à adubação foliar com biofertilizantes

∗ Ocorrência de Phyllocnistis sp. (Lepidoptera:Gracillariidae) em plantas da vegetação espontâneaintercalar de pomar de citros no Rio Grande do Sul .........

∗ A importância de pesquisar forrageiras adaptadas ......

∗ Flores e ornamentais: lindas e rentáveis ......................∗ Avicultura ecológica busca ser alternativa paraagricultores familiares ......................................................

∗ Pesquisas participativas: caminhos científicosdiferentes para construção social de conhecimentos .....∗ Povos indígenas e Epagri no Microbacias 2: um novoaprendizado na extensão rural .........................................

∗ Babosa-de-botica (Aloe vera): bioativa por excelência

Registro

Opinião

Conjuntura

Reportagem

Plantas bioativas

Artigo Científico

Nota Científica

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∗ Novas cultivares de citros para Santa Catarina .............∗ Uso de agrotóxicos e determinação da contaminação daágua do Rio Canoas na Serra Catarinense com o uso dobioindicador Rhamdia sp. (jundiá) ..................................∗ Substratos para produção de mudas hortícolas paracultivo hidropônico ..........................................................∗ Murcha-de-curtobacterium do feijoeiro: descrição econtrole ............................................................................∗ Caracterização de frutos de populações e seleções deporongo (Lagenaria siceraria) .......................................

Informativo Técnico

Entrevista

∗ Extensão rural: Glauco Olinger faz a sua análise dos 50anos da atividade em Santa Catarina ............................... 16

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A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina

Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

FICHA CATALOGRÁFICAAgropecuária Catarinense – v.1 (1988) – Florianó-polis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou

a ser quadrimestral1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC. CDD 630.5

Impressão: Reuter Gráficos Editores Ltda.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publica-ção da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Exten-são Rural de Santa Catarina S.A. – Epagri –, RodoviaAdmar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502,88034-901 Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone:(48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597, internet:www.epagri.rct-sc.br, e-mail: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVA DA EPAGRI: Presidente:Athos de Almeida Lopes, Diretores: Ademar PauloSimon, Anselmo Benvindo Cadorin, José Antônio daSilva, Valdemar Hercilio de Freitas, Valmor LuizDall´Agnol

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Dorvalino Furtado FilhoEditor: Roger Delmar FleschEditores-assistentes: Ivani Salete Piccinin Villarroel,Paulo Henrique Simon

JORNALISTA: Márcia Corrêa Sampaio (MTb 14.695/SP)

ARTE: Janice da Silva Alves

DIAGRAMAÇÃO : Janice da Silva Alves

PADRONIZAÇÃO: Rita de Cassia Philippi

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Vânia Maria Carpes

REVISÃO DE INGLÊS: Airton Spies e Roger DelmarFlesch

CAPA: Arquivo da Epagri

PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, MariaTeresinha Andrade da Silva, Neusa Maria dos Santos,Mariza Martins, Selma Rosângela Vieira, Zilma MariaVasco

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira eZulma Maria Vasco Amorim – GMC/Epagri, C.P. 502,fones: (48) 3239-5595 e 3239-5535, fax: (48) 3239-5597 ou 3239-5628, e-mail: [email protected],88034-901 Florianópolis, SC.Assinatura anual (3 edições): R$ 22,00 à vista.

PUBLICIDADE: Laertes Rebelo: GMC/Epagri – fone:(48) 3239-5682, fax: (48) 3239-5597

ERRATA: Na edição anterior (v.18, n.3, p.20), naterceira nota de ropadé, onde se lê: Advogado, M.Sc.,leia-se: Economista, Bacharel em Direito.

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE MARÇO DE 2006

Em março de 2006, aEpagri comemora 50anos de extensão rural

em Santa Catarina. Desde1956, extensionistas ruraispercorrem este Estado levandoeducação, conhecimento etecnologia aos agricultores.Com isso, a agropecuáriacatarinense deu um salto dequalidade nas últimas dé-cadas, seja no campo, seja nomar. As principais contri-buições da extensão rural noEstado foram na suinocultura,no associativismo, na educaçãosanitária, na horticultura efrutíferas de clima temperado,na produção de grãos e defrutos do mar. A produtividadeagrícola aumentou com acontribuição da extensãorural. Um agricultor queproduzia alimentos paraquatro pessoas passou a

produzir para 16 pessoas, numaumento de 300%. Os ganhosna produção de maçã, milho,cebola, arroz irrigado, alho,leite, banana, dentre outros,são os exemplos mais claros daimportância desta atividadejunto aos produtores catari-nenses. Você, leitor, estáconvidado a conhecer umpouco mais da história e dopapel preponderante da ex-tensão rural para o desenvol-vimento da agropecuária cata-rinense na entrevista com oengenheiro agrônomo GlaucoOlinger, o responsável pelaimplantação do Serviço deExtensão Rural de SantaCatarina – ETA-Projeto 17,precursor da Acaresc.

A floricultura catarinensetambém completa 100 anos deatividades em 2006, massomente nos últimos anos éque ganhou um grandeimpulso. Santa Catarinadestaca-se como segundo

produtor nacional de plantase flores ornamentais, umaatividade que se distribui portodas as regiões do Estado eque gera uma receita de R$ 30milhões. Esta atividade éexercida, em sua maioria, porpequenos e médios produtoresde flores, muitos dos quais sãoexportadores. A floricultura éuma atividade árdua e muitoexigente na qualidade doproduto oferecido, mas, aofinal, deixa os produtoressatisfeitos com a renda. Noentanto, apesar da realpossibilidade de Santa Cata-rina crescer ainda mais nestaatividade com a iniciativa doGoverno Estadual instituindoo Programa Florir SantaCatarina, que objetiva ajar-dinar os locais públicos em todoo Estado, e a organização depólos produtivos, ainda se faznecessária a ampliação dosincentivos à exportação, bemcomo ao consumo interno.

5Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Agricultores familiares, agroin-dústrias e redes de desenvolvimentorural. 2005. 338p.

O livro investiga as transformaçõesrecentes nas relações entre agriculturafamiliar, agroindústria e território, quesão interpretadas considerando comocentral a ação dos atores sociais a partirda sua inserção em redes sociais esociotécnicas. De forma inovadora otrabalho identifica trajetórias deagroindustrialização e de desenvol-vimento rural a partir do desdobra-mento das estratégias das redesconvencionais dos conglomeradosagroindustriais e, principalmente, dasredes emergentes dos agricultoresfamiliares e suas organizações naprodução artesanal de alimentos.

Contato: [email protected].

Empasc 1975/Epagri 2005: 30anos de pesquisa agropecuáriainstitucional. 2005. 80p.

Trata-se de uma publicaçãoespecial, editada em homenagem aos30 anos da pesquisa agropecuáriainstitucional em Santa Catarina. Alémde seu interesse histórico, odocumento aborda a importância dapesquisa para o desenvolvimentoagropecuário do Estado. De acordocom o texto, muitas das atuaisconquistas do setor agropecuário sóforam possíveis devido aosinestimáveis serviços prestados pelaEmpasc/Epagri ao longo desse período.

Contato: [email protected].

50 anos de extensão rural:breve histórico do serviço deextensão rural no Estado deSanta Catarina – 1956 a 2006.72p.

Publicação comemorativa dos50 anos da extensão rural emSanta Catarina. O documento,escrito por Glauco Olinger, fazum balanço da história daextensão rural no Estado. Muitomais que um texto institucional,trata-se de uma síntese do queocorreu de mais importante aolongo dos 50 anos da extensãorural, destacando sua importân-cia para o desenvolvimento daagricultura catarinense.

Síntese Anual da Agricultura de SantaCatarina 2004 – 2005. 400p.

A publicação apresenta-se como umimportante material de consulta sobre odesempenho do agronegócio catarinense. Entreoutras informações, são analisados os principaisprodutos vegetais e animais do Estado, aaqüicultura e a pesca, o setor florestal e aprodução de flores e plantas ornamentais.Apresenta ainda informações estruturaisrelativas a território, clima, população, mão-de-obra, bem como à estrutura econômica esocial da agricultura.

Contato: [email protected].

Saúde ovina em SantaCatarina: prevenção e con-trole. 2006. 94p.

O presente trabalho tem comoobjetivo disponibilizar informa-ções aos técnicos que trabalhamcom ovinos sobre as principaisdoenças infecciosas, nutricionais,metabólicas e parasitárias, seussintomas e formas de controle.Também faz parte deste docu-mento uma revisão das plantastóxicas de importância em SantaCatarina.

Contato: [email protected].

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Raio solar: uma nova tecnologiaRaio solar: uma nova tecnologiaRaio solar: uma nova tecnologiaRaio solar: uma nova tecnologiaRaio solar: uma nova tecnologiapara tratamento de solopara tratamento de solopara tratamento de solopara tratamento de solopara tratamento de solo

coletor solar é um equipa-mento de funcionamentosimples e construção barata,

que tem por finalidade acabar comfungos, bactérias e algumas plantasdaninhas dos solos que serãoutilizados para o plantio de mudas,principalmente em viveiros. Ocoletor solar é um equipamentocomposto de uma caixa de madeira,com tubos de ferro galvanizado ondeo solo é colocado e coberto por umplástico transparente que permite aentrada dos raios solares. Omecanismo de funcionamento é omesmo de um aparelho de energiasolar utilizado para aquecer águaem residências. O sol bate nos tubos,aquece a terra e os fungos sãoeliminados pelo calor. Normal-mente, em um dia de sol, atemperatura dentro dos tubos chegaa 90oC, o que é suficiente para mataros fungos mais comuns comoSclerotinia sclerotiorum, Sclero-

tium rolfsii, Verticillium eRhizoctonia solani

O coletor pode ser feitocom sucata

Para construir um coletor solaré necessário selecionar o material.Usa-se madeira para fazer os pés doaparelho. Qualquer ripa servirá,cuidando para que o ângulo deinclinação esteja correto, o qual vaidepender da latitude do local onde ocoletor for instalado. A essa latitudesomam-se mais 10o e obtém-se oângulo correto.

Toda a caixa deve ser pintada debranco por fora e preto por dentro,com tinta a óleo de boa qualidade.Os tubos onde será colocado o solotambém devem ser pintados de pretoe podem ser obtidos através do cortede tubos de chapa galvanizada,geralmente utilizados para fazercalhas em residências. Para

conseguir uma reflexão maisadequada da luz solar, é precisouma chapa de alumínio, que serácolocada no alto da caixa como sefosse uma tampa que fica aberta.Por fim, o plástico transparente deveser resistente à exposição ao sol eajustado à superfície da caixa. Apósisso, instala-se o coletor no camposeguindo o ângulo correto e deixa-se que o sol faça o resto do traba-lho.

O coletor solar foi desenvolvidona Embrapa Meio Ambiente emconjunto com o Instituto Agro-nômico de Campinas, Divisão deEngenharia Agrícola – IAC/DEA.Esse equipamento utiliza a energiasolar para desinfestar misturas desolo utilizadas em viveiros deplantas, a fim de se produziremmudas saudáveis e livres demicrorganismos prejudiciais ao seudesenvolvimento.

Fonte: www.cnpma.embrapa.br.

A planta que limpa áreas contaminadas por níquelA planta que limpa áreas contaminadas por níquelA planta que limpa áreas contaminadas por níquelA planta que limpa áreas contaminadas por níquelA planta que limpa áreas contaminadas por níquelopularmente conhecida co-mo guizo-de-cobra, a espécieCrotalaria juncea pode ser

efetiva na remediação de áreascontaminadas por níquel. A planta

é encon-trada emabundân-cia noPaís e de-monstrou,em estu-dos bá-sicos iné-d i t o s ,que pos-sui efeitopos i t ivosobre om e t a lnocivo às a ú d e

a bióloga Patrícia Felippe Cardoso.Na pesquisa de doutorado

“Resposta da Crotalaria juncea àexposição ao níquel”, realizada naUnicamp, Campinas, SP, Patríciaconstatou que o níquel é facilmenteabsorvido pela raiz e transportadopara o interior da planta. “O traba-lho é inédito e abre possibilidadespara que outros materiais pesadostambém sejam testados”, afirma. Acrotalária também é consideradaum excelente adubo verde, poispossui propriedades importantespara o solo. Suas raízes têm efeitonocivo para os parasitas. Na Índia,de onde é nativa, a raiz da planta éutilizada para confecção de redes depesca e de suas fibras são produ-zidos papéis para cigarro.

Fonte: Jornal da Unicamp,edição nº 296.

humana. As contaminações porníquel são derivadas, princi-palmente, do descarte inadequadode baterias de carro e celular. Entreos danos causados ao homem, oníquel pode apresentar sintomasalérgicos e induzir ao câncer, se apessoa for exposta a quantidadesexcessivas.

O processo de utilizar plantaspara limpar áreas com metaispesados, denominado de fitorre-mediação, é absolutamente natural.Neste caso, como a planta não fazparte da cadeia alimentar, a vanta-gem é ainda maior. “A presença demetais pesados no ambiente é umdos principais problemas decontaminação. A idéia da pesquisafoi realizar diferentes ensaios paraavaliar o efeito fitotóxico do níquelem plântulas da crotalária”, explica

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Um pesticida à base de açúcar e óleo de sojaUm pesticida à base de açúcar e óleo de sojaUm pesticida à base de açúcar e óleo de sojaUm pesticida à base de açúcar e óleo de sojaUm pesticida à base de açúcar e óleo de sojaesquisadores da Universi-dade Estadual Paulista –Unesp – estão desenvol-

vendo um pesticida a partir dasacarose de cana-de-açúcar e de óleode soja. Em testes de laboratório, oproduto já apresentou resultadosbastante animadores contraimportantes inimigos dosagricultores: a mosca-branca, alagarta-do-cartucho-do-milho e osácaros Calacarus heveae eTetranychus ogmophallus.

O novo exterminador de pragasé composto principalmente porésteres de sacarose – substânciasderivadas do açúcar utilizadas naindústria. Os ésteres destroem acamada de gordura do exoesqueleto,estrutura que sustenta o corpodesses animais. Ao se romper taldefesa, cuja principal função éevitar a perda de água dessesorganismos, eles morrem pordesidratação.

Efeito comprovado

O professor Maurício Boscolo, doInstituto de Biociências, Letras eCiências Exatas – Ibilce –, São Josédo Rio Preto, SP, explica que opesticida é produzido a partir dereações químicas com açúcar, óleo

de soja e um catalisador –substância que promove a reação.Em seguida, o produto é dissolvidoem água, numa proporção que vaide 2 a 20g de éster/L, dependendodo “alvo”.

No caso dos insetos, o professorOdair Aparecido Fernandes, daFaculdade de Ciências Agrárias eVeterinárias – FCAV –, relata queem testes de laboratório e em casasde vegetação (cultivos protegidos) asubstância eliminou entre 90% e100% das populações da mosca-branca e da lagarta-do-cartucho-do-milho. A primeira praga ataca maisde 700 espécies de plantas,incluindo hortaliças como o tomatee frutas como o melão; a segundainfesta principalmente culturas demilho e algodão. “Ainda nãodefinimos a dosagem maisapropriada para cada uma delas,mas mesmo nas concentrações maisbaixas obtivemos bons resultados”,ressalta o docente.

Ação natural

Segundo Boscolo, o pesticidaproduz efeitos tanto ao atingir ocorpo do animal quanto ao sedepositar na superfície dos vegetais.“No segundo caso, por sua

viscosidade, o produto adere àspernas do animal que, devido aoesforço para liberá-las, deixa de sealimentar da planta e transmitirdoenças, acabando por fugir paraoutro local ou morrendo em funçãodo estresse”, explica.

Por ser composto de ésteres deaçúcar, Fernandes enfatiza que oproduto não oferece risco para asaúde. “Como também ébiodegradável, não polui o ambientenem afeta o desenvolvimento daplanta”, esclarece. O pesquisadorassinala ainda a ação seletiva dasubstância, que não elimina osinsetos predadores das pragas,como ocorre com os pesticidastóxicos.

Uma outra vantagem é o custode produção. Boscolo assinala que,com menos de R$ 5,00, é possíveladquirir açúcar e óleo de sojasuficientes para obter 1kg dopesticida. Diluído em água, essevolume do produto rende 500L,capazes de pulverizar cerca de 1hade uma cultura como o tomate.“Para proteger essa área compesticidas disponíveis no mercado,o agricultor chega a gastar R$100,00”, compara.

Fonte: Jornal da Unesp, ediçãono 203.

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Leite cru controla melhor o oídio em abóboraLeite cru controla melhor o oídio em abóboraLeite cru controla melhor o oídio em abóboraLeite cru controla melhor o oídio em abóboraLeite cru controla melhor o oídio em abóboram estudo publicado recente-mente relata que o leite crué uma alternativa no contro-

le do oídio em aboboreira e que a suautilização é mais eficiente do que naforma de longa vida.

No estudo realizado com acultivar Piramoita foram avaliadosleite cru, pasteurizado tipo C,integral longa vida (UHT) e estesdois últimos misturados comproduto lácteo fermentado da marcaYakult. Como controle foi utilizadaa água. Os tipos de leite foramutilizados na concentração de 20% eo Yakult a 2%, aplicados duas vezespor semana sobre as plantas, durantecinco semanas, a uma vazão de 300L/ha. A primeira aplicação ocorreuaos 48 dias após o transplante,ocasião em que foi observada distri-

buição uniforme do patógeno nasfolhas.

No tratamento com leite cru, aárea foliar afetada pela doençapermaneceu estável (11,2%) nascinco semanas de avaliação,revelando o efeito deste tipo de leiteno controle do patógeno. No trata-mento longa vida, a área foliarafetada praticamente dobrou(21,2%). O leite tipo C teve umcontrole intermediário entre o leitecru e o leite longa vida.

O leite cru e fresco tem na suacomposição sais de Ca, fosfato, Fe,Mg, proteínas, vitaminas, aminoá-cidos, microrganismos, etc., emconcentrações diferenciadas dosdemais tipos avaliados. Sugere-seque isso se deva ao processo deindustrialização dos leites tipo C e

longa vida, que alteraria a composi-ção, concentração de substâncias edos microrganismos fermentados.

O trabalho concluiu que o uso doleite é viável no controle do oídio daaboboreira, mesmo após o início dainfecção no campo, e que a utilizaçãona forma de leite cru é mais eficientedo que na forma de longa vida.

A íntegra do trabalho pode serlida em Horticultura Brasileira,v.23, n.2, jun., 2005.

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PPPPProfessor lança softwarerofessor lança softwarerofessor lança softwarerofessor lança softwarerofessor lança softwareecológicoecológicoecológicoecológicoecológico

‘‘software’’ Viabilidade Eco-nômica de Reciclagem dosResíduos Sólidos – Verdes –

ganha a nova versão 1.4, disponívelgratuitamente para ‘‘download’’ napágina da Secretaria do Trabalho,Emprego e Promoção Social doEstado de São Paulo – SETP. Deacordo com o criador do ‘‘software’’,o professor colaborador do Institutode Filosofia e Ciências Humanas –IFCH – Márcio Magera, é possívelagora calcular a viabilidade dereciclagem de entulhos, óleo decozinha, água e lixo orgânico etambém fazer um balanço ambien-tal. Outra novidade apresentada nanova versão do Verdes é a possibili-

dade de realização do cálculo emreais e dólares.

Sociólogo, Magera explica que oprograma, além de livre, é leve eocupa apenas 21MB de espaço paraser instalado. Após a instalação,basta fornecer o nome da cidade esua respectiva população para queele forneça todos os dados sobre olixo doméstico urbano. Magera disseque é possível saber quanto seeconomiza reciclando, quanto seperde não reciclando, o número deempregos que podem ser geradosatravés da coleta e triagem seletiva,quanto se economiza de energiaelétrica, de matérias-primas, deágua, a geração per capita e total por

dia, mês e ano do lixo que a cidadegera.

Como exemplos, ele cita a latade alumínio, o vidro, o papel, opapelão, a lata de aço e o plástico.“É possível saber quanto se estágerando de produto por tonelada eaté por unidade. É possível tambémsaber o volume de recursos obtidocom a reciclagem desse lixo e quan-to está sendo perdido”, ressalta.Quanto ao lixo orgânico, Márcioesclarece que o programa calcula aquantidade de geração do gásmetano em MW e sua aplicação naenergia elétrica.

Fonte: Jornal da Unicamp, edição307.

Embrapa tem nova soja de sabor suaveEmbrapa tem nova soja de sabor suaveEmbrapa tem nova soja de sabor suaveEmbrapa tem nova soja de sabor suaveEmbrapa tem nova soja de sabor suavema cultivar de soja de sabormais adocicado que as tradi-cionais é a novidade da

Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária – Embrapa – paramercado interessado em soja paraalimentação humana. A cultivar, queainda está em fase de registro juntoao Ministério da Agricultura, estarádisponível para multiplicação desementes na próxima safra.

“Essa soja é mais doce porqueconseguimos cruzar várias plantascom características desejáveis, comomaior teor de sacarose e de ácidoglutamínico, que melhoram o sabor.A nova soja apresenta sementesgrandes, sabor suave, sendo idealpara produção de queijo de soja (tofu),farinhas e extrato de soja (leite).Essa cultivar pode ser consumidacomo soja verde ou hortaliça. Comohortaliça, a soja é vendida com asvagens presas nos galhos, com asvagens soltas ou com os grãosdebulhados”, diz a pesquisadora

Mercedes Panizzi, da Embrapa Soja.“Este é um hábito bastante comumno Japão e pretendemos estimulartambém no Brasil”.

A Embrapa Soja já lançou cincocultivares específicas para alimen-tação humana, nos últimos dez anos,que podem ser produzidas emsistemas orgânico ou convencional.“A Embrapa Soja tem procuradoestimular diferentes linhas de

pesquisa que atendam aos nichos demercado demandados pela socie-dade. Por isso, o desenvolvimentode cultivares convencionais paraalimentação, adequadas paraprodução em sistema orgânico, éuma de nossas prioridades”, diz achefe geral da Embrapa Soja, VaniaCastiglioni. As cultivares BRS 213e BRS 257, que têm como principalcaracterística a ausência delipoxigenases (que confere o gostocru à soja), já estão sendo produzidascomercialmente. A cultivar BRS258 possui sementes grandes e hiloclaro. A cultivar BRS 155 apresen-ta reduzido teor de inibidor detripsina, um fator antinutricionalque interfere na digestão deproteínas. A BRS 216 apresentagrãos pequenos (10g/100 sementes),característica que a torna adequadapara a produção de brotos de soja, aexemplo de brotos de feijão(“moyashi”).

Fonte: www.cnpso.embrapa.br.A nova soja é própria paraalimentação humana

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Lançada em Bandeirantes, PRLançada em Bandeirantes, PRLançada em Bandeirantes, PRLançada em Bandeirantes, PRLançada em Bandeirantes, PR, nova variedade, nova variedade, nova variedade, nova variedade, nova variedadede uva fina de mesade uva fina de mesade uva fina de mesade uva fina de mesade uva fina de mesa

ma mutação observada peloviticultor Sebastião BrazFerreira, de Bandeirantes,

PR, no seu parreiral com a cultivarRubi, na safra de 2000, já respondepor 15ha cultivados por 13 produtoresrurais no município, cuja média deprodutividade é de cinco a seis caixas(de 5kg cada uma) por planta. Trata-se da cultivar Rubi Bandeirantes.Borbulhas de enxertia já estão sendocultivadas em diversos municípiosdo Paraná e São Paulo.

Para o agrônomo Élcio FelixRampazzo, da Emater-PR, duranteum encontro sobre uvas finas demesa em Bandeirantes, na presençade 110 participantes oriundos dediversos municípios vitícolas doParaná, além do lançamento da‘Rubi Bandeirantes’ foram apresen-tadas novidades importantes para osetor, como o decreto do prefeito deMarialva para coibir e punir acomercialização da uva verde combrix (teor de açúcar) abaixo de 14 o, ocultivo da uva sem semente comooportunidade futura e a adoção do

plástico branco, que reduz aocorrência de doenças aos frutos efolhas durante o período chuvoso epermite reduzir o uso de agrotó-xicos.

O presidente da Associação deDesenvolvimento Comunitário dasTrês Águas – Adecot –, WanderleyAparecido da Silva, destacou asqualidades mercadológicas da uva‘Rubi Bandeirantes’: “É planta deótima produção e as bagas têmcoloração mais escura em relação àRubi tradicional. A cor chega maisrápido, ficando à espera para oaumento do brix até o mínimo de14o. Os tradicionais compradores deuva procuram a ‘Rubi Bandeirantes’pelos atrativos da cor e doçura,qualidades exigidas pelos consu-midores, e pagam 10% a 20% acimado preço da Rubi comum direto napropriedade”, assegura.

Rampazzo alerta para os produ-tores olharem com atenção os nichosde mercado com tendência decrescimento, produzirem em escalapara reduzir os custos de produção e

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mat

er.

negociarem diretamente com ocomprador os padrões de qualidadee o cronograma de entrega.

Fonte: Governo do Paraná, 28/11/2005; www.foznet.com.br.

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Manejo do solo pode reduzir gasesManejo do solo pode reduzir gasesManejo do solo pode reduzir gasesManejo do solo pode reduzir gasesManejo do solo pode reduzir gases-----estufaestufaestufaestufaestufaom a entrada em vigordo Protocolo de Kyoto, em16 de fevereiro de 2005, a

quantificação do lançamento dedióxido de carbono (CO2) na atmos-fera passou a ter grande impor-tância no cenário mundial. Essa éjustamente a tarefa a que se dedicaum grupo de pesquisadores daUniversidade Estadual Paulista –Unesp –, que estuda as diferentesquantidades de CO2 lançadas naatmosfera em várias fases doprocesso de manejo do solo nasatividades agrícolas.

Após determinar a quantidadede CO2 emitida por hectare de terra,os cientistas analisam como essaemissão se comporta nas várias eta-pas do manejo. Já se sabe, porexemplo, que tal liberação varia con-forme algumas características e pro-priedades do solo e do relevo. “Pude-mos comprovar que diferentesajustes nas enxadas rotativas e navelocidade de rotação das facas dosequipamentos agrícolas podemprovocar grandes mudanças na libe-ração desse gás”, explica o coorde-nador das pesquisas Newton LaScala Junior, físico e docente da Fa-culdade de Ciências Agrárias eVeterinárias – FCAV –, campus deJaboticabal.

Em condições normais, o sololibera anualmente em torno de 60bilhões de toneladas de CO2 para aatmosfera, uma quantidade dezvezes superior à gerada pelasindústrias. Já o preparo da terra

pelos agricultores pode lançar até2,5 bilhões de toneladas adicionais acada ano, segundo recentes estudos.“O solo utilizado na agriculturageralmente fica desprovido devegetação por um período de tempo,à espera das chuvas antes do plantio”,acentua La Scala. “É nesse momentoque esse ambiente se torna umemissor de CO 2, pois sem vegetaçãonão ocorre a fotossíntese, processoque absorve o gás.”

“O estudo vem ao encontro dasnovas práticas agronômicas quelevam em consideração também apreservação ambiental”, acrescentao engenheiro agrônomo e tambémdocente da FCAV Afonso Lopes,integrante das pesquisas. “Asatividades agrícolas estão tambémentre as maiores responsáveis pelamodificação do clima no planeta”,observa La Scala.

Fonte: Jornal Unesp, edição no

198.

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10 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Maus odores da suinocultura no Oeste CatarinenseMaus odores da suinocultura no Oeste CatarinenseMaus odores da suinocultura no Oeste CatarinenseMaus odores da suinocultura no Oeste CatarinenseMaus odores da suinocultura no Oeste CatarinenseRegião Oeste Catarinense élíder na produção e indus-trialização de suínos, com

alta concentração de animais edejetos produzidos. Segundotrabalho recente, o município deConcórdia é uma grande fonte demaus odores e a suinocultura daregião é considerada como atividadepoluidora que gera conflitos entreprodutores e a população.

O odor do suíno e de seus dejetosse caracteriza como desagradável eé considerado como incômodo

quando presente por um longoperíodo de tempo, pois incomoda acomunidade e tem impacto realsobre o modo de vida das pessoas,com alterações na saúde.

O estudo foi conduzido com oobjetivo de identificar as fontes deemissão de odores, avaliar oincômodo olfativo das emissões paraa comunidade rural e sua percepçãocomo causador de dano à saúde.Para realizar seu trabalho, osautores escolheram a BaciaHidrográfica dos Fragosos,

Concórdia, constituída depequenas propriedades rurais,com predomínio na criação desuínos e aves. Das 197propriedades ali existentes, 102formaram a amostra querespondeu ao questionárioaplicado.

Segundo o levantamento, asprincipais fontes de odoresidentificadas no meio ruralforam a distribuição de dejetosno solo (53%) e os locais dearmazenamento (33%). Nessaregião predominam o arma-

zenamento de dejetos em lagoas deestabilização do tipo aeróbica, comemissão de grande quantidade deodores, e a fertilização do solo comesses efluentes, que é práticarotineira nas propriedades. O índicede incômodo foi de 72% e variou dedesagradável até muito desa-gradável.

Oitenta por cento dos entre-vistados disseram que maus odoresse relacionam com poluentes e têminfluência nos problemas de saúde ena qualidade de vida. Entre os efeitosdos maus odores, destacam-se aintranqüilidade, a irritação, o mal-estar, a dor de garganta, a perda desono e de apetite e a necessidade defechar as janelas.

Esses odores não representamproblemas apenas para quemtrabalha com os suínos, mas tambémpara a vizinhança. Os prejuízosafetam a saúde física e o bem-estarda população rural.

A íntegra do trabalho pode serlida em: Revista de CiênciasAgroveterinárias, v.3, n.2, jul.-dez.,2004.

Festival nacional de cinema e vídeo ruralFestival nacional de cinema e vídeo ruralFestival nacional de cinema e vídeo ruralFestival nacional de cinema e vídeo ruralFestival nacional de cinema e vídeo ruralevento é inédito no Brasil.Numa parceria com a Pre-feitura Municipal de Pira-

tuba, SC, a Epagri lança, de 12 a 15de julho de 2006, o 1o FestivalNacional de Cinema e Vídeo Rural,com o patrocínio do Ministério doDesenvolvimento Agrário – MDA –e muitos apoiadores estaduais enacionais. Para o seu lançamento,foi realizada a Mostra de Cinema eVídeo Rural, em dezembro de 2005.Naquela ocasião, mais de 1.500agricultores familiares puderamassistir filmes nacionais que tratamda vida no campo e das questões demaior importância da agriculturafamiliar. O projeto busca ser o palcoda expressão do homem do campo,promovendo a sociedade agrícola

familiar brasileira, o resgate e oincentivo de suas tradições, culturas,hábitos e conhecimentos.

Através da projeção de filmes eprogramas de televisão nacionaisvoltados ao meio rural, oFestival abre espaço para odebate dos assuntos de maioratualidade na sociedadeagrícola familiar e da susten-tabilidade do meio rural, numesforço de valorização do ho-mem do campo e do meio emque vive.

Os melhores filmes serãopremiados nas categorias dedocumentários, filmes deficção, programas de TV efilmes realizados por não-profissionais, como agricul-

tores e estudantes.As inscrições serão abertas a

partir de abril de 2006, pelos fones:(48) 3239-5534 ou (49) 3553-0485 oupelo site www.piratuba.com.br.

O

11Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

U

Contagem de parasitas em peixContagem de parasitas em peixContagem de parasitas em peixContagem de parasitas em peixContagem de parasitas em peixes é usada paraes é usada paraes é usada paraes é usada paraes é usada paramonitoramento ambientalmonitoramento ambientalmonitoramento ambientalmonitoramento ambientalmonitoramento ambiental

ma nova metodologia decontrole ambiental em lagos,lagoas e reservatórios,

utilizando como princípio básico acontagem de parasitas emdeterminada espécie de peixe, foidesenvolvida por uma equipe depesquisadores do Departamento deParasitologia do Instituto de Biologiada Universidade Estadual deCampinas – Unicamp. Segundo opesquisador Rubens Riscala Madi,essa metodologia simples e barataconstitui-se em uma importanteferramenta no monitoramento depoluentes, capaz de fazer umaanálise criteriosa do meio ambiente.

A metodologia é simples –consiste em pegar o peixe atravésde redes e examinar os parasitasexistentes naquele determinadoambiente e naquele momento e, aomesmo tempo, realizar um examedo ambiente analisando fatorescomo pH, temperatura, eutrofizaçãoe turbidez da água. Dessa forma, osparâmetros físicos são relacionadoscom parâmetros biológicos. “Depen-dendo do parasita, o trabalho con-sistiu em fazer a contagem dosparasitas externos ou então realizaralgum procedimento mais invasivo,como, por exemplo, a retirada dasbrânquias para contar os parasitasali encontrados. Para cada parasita

existe um procedimento adequado”,comenta.

O parasitismo responde adeterminados tipos de poluentes.Portanto, o número de parasitasdiminui ou aumenta de acordo como tipo de poluição existente. Algunsparasitas respondem diretamente aesse tipo de variação. No caso daeutrofização da água, que é umfenômeno causado por uma grandedescarga de dejetos orgânicos, ocorre

parasita.Rubens diz que é uma

metodologia capaz de detectarpreventivamente, por exemplo, umamortandade de peixes. “Antes deatingir esse nível, é possível tomarmedidas para evitar acidentesambientais. Trata-se de um trabalhode monitoramento, indicativo dasaúde ambiental”. O pesquisadorrecomenda a metodologia paraempresas de pequeno porte, pois setrata de uma maneira econômica depoder realizar um monitoramentoeficaz de maneira regular, porquenão requer um conhecimento muitogrande; basta um treinamentosimples. Qualquer variação pode serdetectada rapidamente evitandomaiores problemas ambientais.

A professora Marlene Uetaressalta que esse trabalho estáfocado apenas na questão ambiental,e o fato de o peixe conter esse tipo deparasita não determina se estápróprio ou não para o consumohumano. “A metodologia utilizadapara avaliação de consumo écompletamente diferente. Alémdisso, alguns desses peixes utilizadoscomo indicadores de ambiente nãosão de consumo e geralmente sãopequenos”, disse ela.

Fonte: Jornal da Unicamp, ediçãono 294.

um aumento do número de plantase outros organismos aquáticos queatuam como hospedeiros inter-mediários, entre os quais moluscose copépodos. O peixe que abriga oparasita externamente serve desegundo hospedeiro intermediário,sendo que as aves que se alimentamde peixe desenvolvem o adulto deste

Eficácia do azeite de oliva contra a gorduraEficácia do azeite de oliva contra a gorduraEficácia do azeite de oliva contra a gorduraEficácia do azeite de oliva contra a gorduraEficácia do azeite de oliva contra a gorduraestes de laboratório feitosno campus da UniversidadeEstadual Paulista – Unesp –

de Botucatu, SP, demonstraram aeficácia do azeite de oliva na reduçãodo colesterol ruim – conhecido comoLDL – no sangue. Depois de ingeriresse alimento ao longo de 30 dias,um grupo de ratos registrou umaredução média de 60% na taxa deLDL. Quando acumulado, essecolesterol pode obstruir as veias eprovocar infarto do miocárdio, malresponsável pela morte de milharesde pessoas anualmente no Brasil.

A pesquisa integrou o doutorado

de Luciane Faine, defendido naFaculdade de Medicina. Segundo abióloga, os efeitos benéficos do azeitede oliva extravirgem sobre a saúdesão atribuídos, em grande parte, àação de antioxidantes naturaispresentes em sua composição. Taissubstâncias inibem a enzimaresponsável pela produção do LDL.“No sangue, o LDL pode sermodificado pelos radicais livres e sedepositar na parede dos vasos,iniciando o processo chamadoaterosclerose, que pode obstruir ofluxo sangüíneo”, ressalta Luciane.Radicais livres são moléculas

associadas a processos de oxidaçãodo organismo, em especial oenvelhecimento e o câncer.

De acordo com os testes, o azeitede oliva teve outro efeito positivo:proporcionou o aumento em 53% doHDL, considerado colesterol bom,porque remove o LDL para o fígadoe o elimina do organismo. Como oefeito do azeite foi observado emratos saudáveis, a pesquisadoraaconselha que o produto seja usadocomo fator preventivo de doençascardiovasculares e não no trata-mento de casos de aterosclerose.

Fonte: Jornal da Unesp, no 205.

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12 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

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Laranja da Bahia – início daLaranja da Bahia – início daLaranja da Bahia – início daLaranja da Bahia – início daLaranja da Bahia – início daindústria de citros na Califórniaindústria de citros na Califórniaindústria de citros na Califórniaindústria de citros na Califórniaindústria de citros na Califórnia

cultura de citros na cidadede Riverside, Califórnia,EUA, teve um papel funda-

mental no impulso da indústriacítrica americana. Tudo começouno ano de 1873, quando Eliza Tibbetsrecebeu de um amigo duas mudasderivadas de espécimes importadosda Bahia, Brasil, no ano de 1870 pelo

Departamento Americano deAgricultura e expandidos em casasde vegetação na cidade deWashington, D.C. Em Riverside, asplantas foram multiplicadas e numcurto espaço de tempo tornaram-sea cultivar mais plantada na Cali-fórnia, sendo inclusive comercia-lizada para outros países. A laranja

da Bahia recebeu então onome oficial de laranja deumbigo de Washington(“Washington navel oran-ge”).

Quem for à cidade deRiverside (120km de LosAngeles) ainda poderá veruma das plantas parentaisda laranja da Bahia, a qualdeu origem a todas as outrasplantas de laranjas deumbigo de Washington nosEstados Unidos. Naesquina das movimentadas

Planta parental da cultivar laranjade umbigo de WashingtonA

Detalhe da placa do patrimônio históricono 20

avenidas Arlington e Magnolia, umadas árvores parentais floresce atéos dias de hoje. Por causa de suaimportância histórica, esse local foitombado como patrimônio históricopelo Estado da Califórnia e hoje éreconhecido como o marco históricono 20. No local há uma placacomemorativa do marco histórico,que diz o seguinte: “Uma das duasárvores originais das quais todas aslaranjas de umbigo de Washington(“Washington navel oranges”) naCalofórnia descenderam. Propaga-das de árvores importadas da Bahia,Brasil, em 1870, pelo Departamentode Agricultura dos Estados Unidos,enviada a Riverside, Califórnia, em1873".

Fonte: Eduardo Humeres Flores,Riverside, Califórnia, EUA, e-mail:[email protected].

IPT desenvolve combustível ecológicoIPT desenvolve combustível ecológicoIPT desenvolve combustível ecológicoIPT desenvolve combustível ecológicoIPT desenvolve combustível ecológicoodemos aumentar a produ-ção de álcool, quase dobrar,sem aumentar em 1mm a

área de cana plantada”, diz AdemarHakuo Ushima, pesquisador doInstituto de Pesquisas Tecnológicas– IPT –, São Paulo, numa fala queparece beirar a ficção, mas tem sematerializado desde 2002, quando oIPT firmou parceria com a RaudiEnergia Tecnologia em Com-bustíveis Limpos Ltda. O objetivodo acordo é desenvolver umgaseificador de excedentes debagaço e palha de cana para ageração de gás combustível e desíntese.

O projeto deve ser instalado emuma usina em aproximadamentedois anos, como uma unidade dedemonstração. Depois de finalizado,o gás sintetizado no gaseificador serácapaz de gerar gasolina, óleo diesel,metanol, ácido acético, etanol, DME

(que substitui tanto o diesel quantoo GLP de cozinha), hidrogênio efertilizantes. Muitos dos derivadosde petróleo poderão ser substituídospor uma fonte renovável.

Segundo Ushima, para cadatonelada de cana utilizada naprodução de álcool são gerados140kg de bagaço e 140kg de palha,que possuem alta energiaarmazenada e têm porcentagensconsideráveis desperdiçadas. “Apalha de cana é queimada no campoe gera poluição. Podemos observaros casos de Ribeirão Preto ePiracicaba, que têm maiorocorrência de doenças pulmonaresdo que São Paulo”.

Ushima também explica que ogás carbônico produzido na queimade combustível não aumenta suaconcentração na atmosfera, já quemantém uma quantidade fixa do gásem todo o ciclo. O CO2 consumido

pela cana é o mesmo que sairá nosmotores dos carros e seránovamente absorvido pelas plantas.“Prevê-se que daqui a dez anosteremos uma crise energética e oefeito estufa estará agravado. Então,esta tecnologia desenvolvida aquiserá de grande utilidade”.

Fonte: Governo de São Paulo,2/12/2005.

Utilizações para o bagaço

13Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

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O idealizador da “vaca mecânicaO idealizador da “vaca mecânicaO idealizador da “vaca mecânicaO idealizador da “vaca mecânicaO idealizador da “vaca mecânica”””””concebe o “kit-merendaconcebe o “kit-merendaconcebe o “kit-merendaconcebe o “kit-merendaconcebe o “kit-merenda”””””

Chá-verde fortalece sistema imunológico, conclui estudoChá-verde fortalece sistema imunológico, conclui estudoChá-verde fortalece sistema imunológico, conclui estudoChá-verde fortalece sistema imunológico, conclui estudoChá-verde fortalece sistema imunológico, conclui estudoelho conhecido da medicinaoriental, o chá-verde foi oobjeto de pesquisa na Fa-

culdade de Ciências Médicas – FCM– da Unicamp, Campinas, emaspectos pouco explorados pelaliteratura médica. Em geral, aspesquisas apontam sua eficáciacontra a obesidade. O estudo,porém, realizado em camundongos,conseguiu estabelecer os meca-nismos imunológicos da substânciano organismo e seu efeito naprevenção de infecções por conta daação imunomoduladora – agentesque modulam ou interferem noprocesso de imunidade. A cons-tatação foi da farmacêutica CamilaAlexandrina Viana de Figueiredo,autora da tese de doutorado“Avaliação dos efeitos do extrato dochá-verde (Camellia sinensis L.Kuntze) sobre a resposta imunoe-matopoética de camundongos infec-tados com Listeria monocytogenes”.

Na pesquisa, Camila dividiu osanimais em dois grupos, sendo que

um não recebeu nenhum tipo detratamento e em outro o chá foiintroduzido previamente durantesete dias consecutivos. Após otratamento, os animais foraminfectados com uma dose letal dabactéria Listeria monocytogenes .Enquanto os animais sem trata-mento morreram dentro de quatrodias, 50% dos animais que rece-beram previamente o chá sobre-viveram à inoculação da bactéria.Em outro momento, a pesquisadorautilizou o modelo Listeriose Murina,que provoca alterações no sistemaimunológico, o que permitiuinvestigar os mecanismos subja-centes a esta proteção.

Embora o chá-verde sejaamplamente difundido no Brasilpara outros tratamentos, com apesquisa ficou clara sua capacidadede interferir no sistema imuno-lógico, deixando-o mais apto nocombate a alterações patológicas. Écerto, porém, que outros estudospré-clínicos e clínicos são neces-

sários para comprovar essa ação nohomem.

Oriundo da planta Cameliasinensis, o chá-verde é muitoconsumido no Japão e na China;possui propriedades estimulantes edesintoxicantes, além de ativar acirculação sangüínea e aumentar aresistência às doenças. No Brasil, ocultivo da planta é dificultado peloclima tropical, mas o produto éencontrado facilmente, na forma desachês, em supermercados efarmácias.

Jornal da Unicamp, edição n o

306, 2005.

professor Roberto Moretti,da Faculdade de Engenha-ria de Alimentos – FEA – da

Unicamp, Campinas, SP, que conce-beu a “vaca mecânica”, em 1977,concluiu a terceira versão da suainvenção: um kit-merenda capaz desuprir 42,5% das necessidadesprotéicas diárias de uma criançacom até 40kg, a um custo de R$ 0,23a unidade.

O kit-merenda é composto porum copo de 200ml de leite de soja,um hambúrguer de carne vegetal de90g e um pão francês de 50g. Os doisprimeiros são produzidos direta-mente pela vaca mecânica, enquan-to o terceiro tem de ser adquiridono mercado.

“Para usar o equipamento, aescola deve dispor de uma sala de50m2, de dois operadores com nívelbásico de instrução e de uma chapa

para grelhar os hambúrgueres”,afirma o docente da FEA. Ao usar okit-merenda, é preciso cumpriralgumas etapas. Primeiro, os grãosde soja devem ser macerados emágua à temperatura ambiente porno mínimo 4 horas. Depois, essamatéria-prima é triturada com águafervente, já na vaca mecânica. Emseguida, leva-se a mistura à centrí-fuga para separar a parte líquida dasólida. O leite é submetido, então,a um tratamento térmico para aretirada do cheiro e do sabor indese-jáveis e para destruir os fatoresantinutricionais. Na seqüência, oleite é resfriado, ganha cor e é sabo-rizado. Já o resíduo sólido é despe-jado num misturador, onde vai rece-ber a adição de farinha de trigo, pro-teína texturizada de soja, sal, coran-te e temperos diversos. Essa massapassa por uma ensacadora, usada

originalmente para confeccionarlingüiça, que confere um formatoretangular aos hambúrgueres.

De acordo com o professor,3,75kg de soja produzem 30L deleite/hora, que equivalem a 150copos de 200ml. O resíduo obtidocom o processo dá origem a 13,5kgde hambúrguer, originando 150“bifes” de 90g cada um. Conside-rando ainda o pão de 50g, cada kitfornece 27,2g de proteína e 480calorias.

O investimento necessário paramontar uma vaca mecânica é aoredor de R$ 20 mil, porém, essecusto pode ser amortizado em poucotempo, dado que este equipamentoé capaz de produzir 1.200 kits-merenda a cada 8 horas deoperação.

Fonte: Jornal da Unicamp,edição no 302.

Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 200614

A importância de pesquisarforrageiras adaptadas

os últimos meses estão sobrea minha mesa de trabalhoalguns livros bastante

antigos, como Forrageiras para oSul do Brasil (Anacreonte Ávila deAraújo, 1942), Culturas Forra-geiras (mesmo autor, 1954),Informações sobre AlgumasPlantas Forrageiras (JorgeRamos de Otero, 1961), entre outros.Os leitores podem questionar porque um pesquisador da era dainformática “se debruça” sobrepublicações tão antigas.

A resposta vem em forma deexplicação. As sementes deforrageiras de clima temperado queencontramos atualmente nomercado, principalmente deleguminosas e gramíneas perenes,são todas importadas de outrospaíses. Esse fato tem uma série deimplicações: a) essas espécies ecultivares foram selecionadas emcondições de clima e solo diferentesdos nossos, certamente maisfavoráveis, principalmente emtermos de fertilidade; b) a seleçãofoi realizada em sistema con-vencional de cultivo, ou seja,mecanização completa; c) não sãomateriais pesquisados em sistemade cultivo mínimo; isso significa quenão foram testados, por exemplo,para introdução em melhoramentode campo nativo; d) a maioria dasplantas indicadoras (as chamadas“ervas daninhas” ou “indesejáveis”)existentes na nossa região estão hámilhões de anos adaptadas a estehabitat, portanto, suportam baixafertilidade e os rigores climáticos e

Ulisses de Arruda Córdova1

por isso são mais eficientes nacompetição por água, luz enutrientes, e e) principalmente asleguminosas apresentam moderadaa baixa resistência ao frio dealtitude, onde a temperatura de relvae principalmente a sensação térmicados ventos gelados são muitoinferiores à temperatura ambiente.

Mas o que tem a ver livrostécnicos antigos com essa questão?É simples. Há décadas muitasforrageiras foram introduzidas nasestações experimentais do sul doBrasil e distribuídas em centenas depropriedades, e com o passar dosanos, disseminadas através deintercâmbio entre muitos produ-tores. Assim, aquelas que sobre-

viveram ao longo desse tempo seadaptaram às condições edafo-climáticas locais e regionais etornaram-se naturalizadas. Entreessas se pode citar o capim-lanudoou ulca (Holcus lanatus), faláris(Phalaris sp.), fluva (Anthoxantumodoratum), trevo-branco (Trifoliumrepens) e outras leguminosas dosgêneros Melilotus e Medicago. Todasessas espécies estão descritas nesseslivros citados. O trabalho deadaptação das referidas espécies foirealizado pela natureza e pelosagricultores que as preservaram. Ese foram mantidas nas propriedadesé porque apresentam qualidadesforrageiras desejáveis, comoproduzir com baixo nível de insu-mos.

A coleta de forrageiras natura-lizadas e nativas para avaliação emestações experimentais é umcaminho bem mais curto e rápidopara a obtenção de cultivares do quese trabalhar somente com materiaisexóticos. Países como a NovaZelândia, Austrália, Uruguai emesmo os Estados Unidos, entreoutros, têm coletado forrageiras emlocais até fora de suas fronteiras,mas em latitude, altitude, relevo esolo semelhantes, e lançado nomercado boas cultivares deforrageiras. Exemplo recente é acultivar uruguaia de capim-lanudo

1Eng. agr., M.Sc, Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone/fax: 3224-4400, e-mail: [email protected].

Capim-lanudo: uma das forrageiras naturalizadas de grande potencial parao Planalto Catarinense

N

15Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Fonte: Secretaria de Agricultura do RS apud Borges De Medeiros, s.d.,adaptado e citado por Córdova, (1997).

Figura 1. Desempenho de novilhos em campo nativo (média de 2 anoslotação de 0,5cab./ha na Estação Experimental de Vacaria, RS

La Magnólia, que tem apresentadoum alto desempenho em testesrealizados pela Epagri/EstaçãoExperimental de Lages, tem origemna região sudoeste do Rio Grande doSul e que em avaliações feitas noInstituto Nacional de InvestigaciónAgropecuária em Tacuarembó(Uruguai) superou todos osgenótipos importados de outrospaíses.

Outra questão deve ser levadaem consideração: selecionargenótipos altamente produtivos naépoca favorável (primavera/verão)ou forrageiras que tenham acapacidade de produzir também nooutono/inverno? Certamente asegunda opção é a que mais interessaà pecuária regional, pois o grandeproblema dessa atividade noPlanalto Catarinense é justamentea deficiência alimentar que ocorreno último período citado, quando osanimais perdem peso por autofagia(Figura 1). Nesta figura sãoapresentados dados de um trabalhoclássico realizado em Vacaria, RS,mas que serve de parâmetro para oPlanalto Catarinense, pois a altitudedo local do estudo representaaproximadamente a média destavasta região. Isso implica em ecótiposque tenham alta tolerância ao frio,pouca exigência em fertilidade (noinverno a mineralização dosnutrientes é menor), produzammassa verde mesmo com baixastemperaturas e com fotoperíodoscurtos e que estejam adaptados aopastoreio e pisoteio animal.

Mas como descobrir e obter taisgenótipos? Só há um caminho:percorrer propriedades existentesna região. Onde houver informação

de algo que possa interessar, ir lá ecoletar. Percorrer os pontos maisaltos e inóspitos verificando apossibilidade de existência dealguma forrageira interessante.Nesse trabalho é importante contarcom a colaboração de técnicosmunicipais e produtores. Todo omaterial coletado deverá seravaliado através de ensaiosexperimentais antes de qualquerrecomendação, visando, inclusive,o melhoramento genético, sem, noentanto, afetar a principalcaracterística que é a capacidade deproduzir em condições adversas.

Essa é uma alternativa maissegura para a obtenção de boasforrageiras, porém, não significa quenão demande um certo tempo parase chegar a algumas cultivares. Énecessário um trabalho persistentede um grupo de pesquisadores, depreferência interinstitucionais,recursos disponíveis e, principal-mente, acreditar que a solução paraa alimentação de nossa pecuáriapode estar mais perto do queimaginamos e em algumas infor-mações de velhos mestres queregistraram seus esforços emescassas publicações.

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Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago.

Ganho/ha/ano em kg ........................................................... 79,4 (100%) Perda/ha/ano em kg ............................................................ 49,1 (61,8%) Saldo/ha/ano em kg............................................................. 30,3 (38,2%)

Inverno = -29,2 Outono = -19,9 Verão = 41,2 Primav. = 38,2

Meses

Ga

nh

o d

iário

(g

)

8,9 12,4 16,9 16,7 13,1 11,4 - 2,0 -6,3 -11,6 -5,5 -15,7 -8,0

Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 200616

Extensão ruralExtensão ruralExtensão ruralExtensão ruralExtensão rural

lageano Glauco Olinger, nascido em 1922, é engenheiro agrônomoformado em Viçosa, MG. Foi o fundador do Serviço de ExtensãoRural de Santa Catarina – ETA-Projeto 17 – Acaresc e seu

dirigente durante 20 anos. Foi também secretário da Agricultura nosgovernos Ivo Silveira e Colombo Salles, secretário de Estado da Educaçãono Governo Colombo Salles, presidente da Embrater, fundador e diretordo Centro de Ciências Agrárias da UFSC, pró-reitor e professor eméritoda UFSC. Entre as principais obras e publicações na longa carreira deGlauco Olinger destacam-se a participação no Projeto de Fruticultura deClima Temperado – Profit – e nos planos de governo de Celso Ramos, IvoSilveira e Colombo Salles.

Glauco Olinger é autor dos seguintes livros: Política Agrária, Meios deComunicação, Êxodo Rural, Ascensão e Decadência da Extensão Rural noBrasil, Extensão Rural: Verdades e Novidades, Métodos de ExtensãoRural, Agricultura: Diagnóstico e Prioridades, Desenvolvimento eExtensão Rural.

O

Glauco Olinger faz a sua análiseGlauco Olinger faz a sua análiseGlauco Olinger faz a sua análiseGlauco Olinger faz a sua análiseGlauco Olinger faz a sua análisedos 50 anos da atividade emdos 50 anos da atividade emdos 50 anos da atividade emdos 50 anos da atividade emdos 50 anos da atividade emSanta CatarinaSanta CatarinaSanta CatarinaSanta CatarinaSanta Catarina

RAC – Onde o Senhor começou asua carreira profissional?

Glauco – Uma loucura juvenillevou-me a formar no dia 16 dedezembro de 1946 e a casar no diaseguinte, sem dinheiro, sememprego, tudo às custas de meuspais. Avalio que o gesto tinha porobjetivo “segurar” Maria, por quemestava apaixonado e com quem vivo,até hoje, sem arrependimento.

Deixei a esposa em Viçosa e vimprocurar um meio de vida na minhaterra, onde havia uma proposta dosenhor Miguel Leal para trabalharem sua fazenda, localizada no AltoBiguaçu, explorando madeira parafogão a lenha. Não vendo bom futuro,procurei a Secretaria da Agricultura,que era dirigida por Leoberto Leal(filho de Miguel Leal), com um cartãode apresentação do deputadoestadual Wilmar Dias. Na secretariafui recebido pelo diretor admi-nistrativo Vidal Arruda, que meofereceu duas oportunidades: serprofessor em Canoinhas ou Lages.Vibrei de alegria porque pudeescolher Lages, minha terra natal,para trabalhar.

“Mas, tem uma condição – disse-me o senhor Vidal –: você terá queapoiar estas letras”. Escreveu sobreum papel: PSD. Fiquei mudo, semsaber o que responder, e o senhorVidal, bondoso, sorriu e disse: “Váem paz, menino”. Foi assim quecomecei minha carreira profissional,como professor de Zootecnia naEscola Agrícola Caetano Costa, deLages, na época dirigida por umcolega de exemplar dignidadeprofissional, um ser humanosuperior, meu primeiro patrão, meuamigo inesquecível, doutor Clovisda Costa Ribeiro.

RAC – O que motivou a criaçãodo serviço de extensão rural emSanta Catarina?

Glauco – Em primeiro lugar,foi um acordo de cooperação técnicae financeira, assinado pelo presi-dente do Brasil Juscelino Kubitschekde Oliveira e o presidente dosEstados Unidos general DwightEinsenhower, visando promover odesenvolvimento rural por meio deprojetos, entre os quais se incluía aimplantação de serviços de extensãonos Estados, a exemplo do que jáexistia em Minas Gerais, desde 1948,e que era executado pela Associação

17Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

de Crédito e Assistência Rural –Acar. O acordo de cooperação tinhao nome de Escritório Técnico deAgricultura – ETA e era conduzidopor dois diretores: um brasileiro, naépoca o ex-diretor do FomentoVegetal do Ministério da Agri-cultura, agrônomo Alberto deOliveira Motta Filho, e o agrônomoamericano Ralph Hansen. A tese doETA era que com financiamento ecorreta orientação na aplicação docrédito era possível promover odesenvolvimento rural no Brasil. Acorreta orientação ocorreria peloemprego dos métodos educativosque caracterizam um bom serviçode extensão.

Em segundo lugar, a expecta-tiva bem sucedida da Acarestimulava os governos estaduais afazer o mesmo, substituindo afracassada tese do fomentopaternalista que vinha sendoexercido no Brasil, há séculos, porum sistema educacional. O fomentoagrícola oferecia gratuitamente aprodutores rurais privilegiados(afilhados políticos) sementes,mudas, adubos, reprodutores,ferramentas, máquinas agrícolas eoutras benesses, sem orientação deuso ou avaliação necessária, motivosque levaram ao desperdício e poucoresultado quanto à produção e àprodutividade agropecuária.

Terceiro, após visita aos EstadosUnidos, os diretores da Federaçãodas Associações Rurais de SantaCatarina – Faresc – regressaramentusiasmados com os métodoseducacionais empregados pelo“Extension Service”. A Faresc e oETA propuseram ao governadorJorge Lacerda a criação do serviçode extensão rural em SantaCatarina. Além disso, os governosdo Paraná e Rio Grande do Sul jáhaviam criado os serviços deextensão com os nomes de ETA-Projeto 15, no Paraná, e ETA-Projeto 11, no Rio Grande do Sul.Em 29 de fevereiro de 1956 aSecretaria da Agricultura de SantaCatarina, o ETA e a Farescassinaram um acordo criando oserviço de extensão rural de SantaCatarina com o nome de ETA-Projeto 17, com vigência de quatroanos. Devido ao prazo de extinção,em 21 de junho do ano seguinte foicriada a Associação de Crédito eAssistência Rural de Santa Catarina

– Acaresc –, nos moldes da AcarMinas, com a finalidade de darprosseguimento aos trabalhos doETA-Projeto 17.

A extensão rural vinha substituiro sistema de fomento paternalistapor um sistema educacional quetinha por princípio “ensinar a fazer,fazendo”. Hoje, acrescentamos: “eaprendendo”.

RAC – Logo no início, quaisforam as principais dificuldadesencontradas?

Glauco – A principal dificuldadena época (década de 50 do século 20)era recrutar engenheiros agrôno-mos e médicos veterinários face àgrande demanda exercida pelosserviços de extensão dos outrosEstados e, sobretudo, pela inexis-tência de escolas superiores deciências agrárias em Santa Cata-rina.

Havia alguma oferta de técnicosagrícolas porque já funcionavam osColégios Agrícolas de Camboriú e

“Extensão nãodá, não vende,não empresta:

educa”

Araquari, razão pela qual admitimosum bom contingente dessesprofissionais que muito honraram aextensão rural catarinense,principalmente na execução doprojeto dos Clubes 4-S, quecongregava a juventude rural.

A segunda dificuldade eram asfreqüentes tentativas deinterferência político-partidáriaindevida no serviço de extensão(escolha de dirigentes, transfe-rências, benefícios de variadasordens, etc.).

Merece ser assinalado o precárioestado das estradas catarinensesnaqueles idos de 50. Não haviaasfalto. Uma estrada revestida demacadame era considerada uma

maravilha. Quando chovia, fre-qüentemente o jipe “Willys-Overland” tinha que ser acionadonas quatro rodas para sair dasvaletas. As picapes Ford, não raro,recebiam correntes nas quatrorodas, mesmo assim iam para asvaletas laterais das estradas e dalisó saíam tracionadas por juntas debois-de-carroça.

Os rios eram caudalosos e nãotinham pontes. As travessias eramfeitas por balsas. Muitas vezes mediverti atravessando o Rio Chapecóe o Rio das Antas, a nado,acompanhando as balsas, que eramimpulsionadas pela mão do balseiro,que puxava um cabo de aço com aajuda de pedaço de madeira prendido.

Outro aspecto interessante eramas estalagens. Não havia o confortodos hotéis de hoje. Os banheiroseram coletivos, muitas vezes emporões com chão de terra batida, ochuveiro era de lata de querosene ea água quente era colocada por meiode baldes, retirada de panelões

ferventes, sobre fogo de achões delenha. Em Palmitos, dormi vestidosobre roupas de cama que nãohaviam sido trocadas, sujas desangue de percevejos esmagadospelo hóspede anterior.

A comida era farta, composta decarne de vários tipos (suínos,bovinos, aves), batatas, feijão,polenta e “radicchio”. Não havia aabundância de hortaliças que hojese encontra em qualquerrestaurante do interior. Adiversidade hortícola que hoje seencontra em todos os recantos doEstado é, seguramente, fruto doexcelente trabalho das exten-sionistas na execução do projeto deeducação alimentar, em que se

Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 200618

destacaram a construção de hortase o consumo de hortaliças.

De um modo geral não tínhamosdificuldades financeiras e a extensãonão terá enquanto for eficaz.

RAC – Em termos de desenvol-vimento, quais as principais con-tribuições da extensão rural para onosso Estado?

Glauco – A extensão rural temcontribuído, inquestionavelmente,para o desenvolvimento do meiorural catarinense. O serviço deextensão é o principal responsávelpelo avanço qualitativo da suino-cultura. Temos o mais adiantadosistema de manejo, de reprodução,de alimentação, de controlesanitário, de instalações que seconhece no mundo. A expansão dacriação de suínos foi tão forte que,nas áreas de grande concentração, osuíno está contribuindo, perigosa-mente, para o aumento da poluiçãoambiental. A Epagri tem consciênciadisso e os pesquisadores e exten-sionistas estão procurando soluçãopara o problema criado. A soluçãodefinitiva para esse caso específicovirá e outros problemas e soluçõesserão enfrentados.

De grande relevância foi aatuação do serviço de extensão nodesenvolvimento do associativismorural, principalmente orientando osprodutores rurais sobre as vanta-gens do cooperativismo, a partir dadécada de 60, quando praticamenteinexistiam cooperativas de grandeexpressão social e econômica. Todasas grandes cooperativas agrope-cuárias atuais, sem exceção, foramcriadas pela iniciativa de agentes daextensão rural da ex-Acaresc, emparceria com produtores rurais eagentes financeiros que acreditaramno associativismo.

Antes da extensão rural o Estadoimportava hortaliças. Hoje, expor-tamos. Exemplo marcante é ocinturão verde da Grande Florianó-polis. Na década de 50 a capitalimportava 90% dos produtoshortícolas consumidos. Hoje acapital é abastecida pelo cinturãoverde, temos um centro deabastecimento, a Ceasa, que garantea comercialização, e exportamostomate, cenoura, alface e outrashortaliças que excedem nossasnecessidades de consumo. Ninguémignora o papel dos extensionistas no

advento de tais acontecimentos.Havia comunidades com mais de

cem famílias entre as quais nãoexistia privada para os fins devidos.Exemplo marcante acontecia emJaraguá: 110 famílias fazendonecessidades no mato. Após umacampanha pela construção de fossas,109 famílias aderiram e umarecusou. O prefeito da época (décadade 60) foi pessoalmente à casa daagricultora (a mulher é quemandava) e ameaçou mandarconstruir a privada e cobrar emdobro. A privada foi construída mas,provavelmente, não usada, porteimosia.

Hoje é raro encontrar-se umaresidência rural que não tenha

privada, poço ou nascente protegidapara a obtenção de água potável,condições básicas para o controle deverminoses e diarréias. Na décadade 50, segundo médicos do oeste,80% das visitas recebidas eramcausadas pelas doenças mencio-nadas. O Projeto de EducaçãoSanitária do serviço de extensãorural mudou o quadro, relativo àsaúde, no meio rural catarinense.

Recentemente, o presidente daassociação de 350 indústriasmoveleiras do oeste afirmou àdireção da Epagri que a madeira queestá sendo consumida pelasindústrias da região provêm debosques plantados pelos jovens dosClubes 4-S, 40 a 30 anos passados.

Quem desconhece o desempenhodo Projeto de Fruticultura de ClimaTemperado – Profit? Foi ele quebuscou financiamento com prazosde carência e liquidação dos em-préstimos junto ao Banco Central, oque possibilitou aos agricultoresconstruírem seus pomares. O

projeto especializou técnicos eimportou especialistas do Japão(Kenshi Ushirosawa), de Israel(Amon Erez), dos Estados Unidos eoutros países para nos ensinar ocultivo de frutas, principalmente damaçã.

Com a extensão dos incentivosflorestais existentes até a década de70 surgiram os grandes pomares demaçã, principalmente em Fraiburgo.Foi a extensão, através do Profit,que implantou a Unidade de PesquisaAplicada em São Joaquim, que hojeé a Estação Experimental da Epagri.

Santa Catarina, no passado, foiexpressivo produtor de banana.Doenças e pragas extinguiramgrandes plantações existentes no

Vale do Tijucas. De algumas décadaspara cá o serviço de extensão aliadoà pesquisa restauraram abananicultura e, atualmente, é amaior área frutícola plantada noEstado, tornando-o exportador da“fruta geriátrica” por excelência.

Mas os resultados mais signifi-cativos obtidos pelos produtoresrurais, sob a orientação dosextensionistas, estão nos índices deprodutividade alcançados.

Na década de 50 eram precisos5kg de grãos para fazer 1kg de frangovivo. Hoje, gasta-se apenas 1,78kg eespera-se baixar para 1,4kg nospróximos dez anos. Gastavam-se 70dias para fazer 1,6kg de peso vivo defrango, hoje se faz 2,4kg de frangoeviscerado em apenas 42 dias, queserá reduzido para 35 dias nospróximos 30 anos.

Era criado o “porco-banha” e eramnecessários 6kg de grãos para fazer1kg de porco vivo. Uma porca gerava12 leitões/ano e gastavam-se maisde 12 meses para alcançar 100kg de

‘‘Antes daextensão rural o

Estadoimportava

hortaliças. Hoje,exportamos’’

19Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

porco vivo. Hoje, uma porca geramais de 22 leitões/ano e obtêm-se110kg de porco vivo em cinco mesese dez dias com menos de 2,7kg degrãos/kg.

A produção média de rebanholeiteiro/vaca em 305 dias era inferiora 1.000L. Hoje, está acima de 2.400Le há inúmeros tambos com médiasuperior a 7.000L/lactação.

A produção de milho era de1.800kg/ha. Com a introdução demelhores sementes, principalmentedos híbridos, hoje a produtividademédia elevou-se para 5.000kg/ha ehá grandes lavouras que colhemmais de 12.000kg/ha.

A produção média de arrozirrigado no Estado era de 2.500kg/ha e hoje atinge a média de 8.000kg/ha, havendo municípios (Agronô-mica) com média de 12.000kg/ha,fruto de excelente trabalho da pes-quisa na criação de novas varieda-des e da introdução do sistema deprodução Provárzeas pela extensão.

Santa Catarina ocupa o primeirolugar no Brasil na produtividade daslavouras de grãos, nas quais se colhea média de 3.403kg/ha, numa áreacultivada de 1.448.000/ha.

A produção de mexilhões, ostrase camarões não alcançava 80t e apiscicultura inexistia. Hoje, aprodução de moluscos e crustáceospor meio da aqüicultura, difundidapelos extensionistas e pesqui-sadores, atinge a 16.513t e a pisci-cultura de água doce, a 18.790t.

A cebola passou de 1.200kg/hapara 15.800kg/ha; o alho, de 600kg/ha para 7.300kg/ha; o tomate, de1.500kg/ha para 150.000kg/ha; otrigo, de 700kg/ha para 2.300kg/ha;a maçã, de 6.000kg/ha para30.000kg/ha; a uva, de 8.000kg/hapara 20.000kg/ha.

Nos pastos naturais do planaltolotava-se com 25 a 30 cabeças 100hae obtinham-se 40kg de peso vivo/ha/ano. Hoje, através de sistemas demanejo criados pelos pesquisadorese difundidos pelos serviços deextensão, os mesmos camposproduzem mais de 200kg de pesovivo/ha/ano.

Foi a extensão rural que deuinício à calagem dos solos cata-rinenses, visando a correção do pH,excessivamente baixo, na maioriadas terras agricultadas, elevandosua capacidade produtiva.

O serviço da extensão sempre

procurou tornar o trabalho doagricultor mais ameno por meio damecanização, seja pela traçãoanimal, seja pela motora. Na décadade 50 um produtor rural catarinensealimentava quatro pessoas, hojealimenta 16 pelo aumento dacapacidade produtiva. Esses sãoapenas alguns resultados para osquais a extensão rural teveimportante participação.

Atualmente, a fusão da extensãorural com a pesquisa agropecuáriaem Santa Catarina reúne em umasó instituição (Epagri) 12 centros detreinamento (ensino), nove estaçõesexperimentais (pesquisa) e 293escritórios municipais (extensão),tornando-a, virtualmente, a maiore melhor universidade ruralinformal do País.

RAC – Quais são os principaisresponsáveis pelo sucesso daextensão rural em Santa Catarinanestes 50 anos? Poderia nominá-los?

Glauco – É muito difícil fazerjustiça quando se procura citarnomes visando atribuir respon-sabilidades por sucesso ou fracasso.

Os nomes seguintes referem-se aosprimeiros 20 anos de extensão.Entre méritos, porque foram e sãomuitos, lembro Christóvão deAndrade Franco, o que sintetizatodas as virtudes dos demais; LuizCarlos Gallotti Bayer, inteligente ecriativo, e seu competente seguidorna construção da suinocultura,Adolfo Nunes Corrêa; ConradoZimmermann, cumpridor do dever;Murilo Deeke, disciplinador; MurilloPundek, organizado; Roque LinoBraun, inconformado com as imper-feições; João Dalle Ore, crítico

implacável; Ernani Maria Fiori,humanista; Érico Gebler, asso-ciativista; Renato Heyse, dedicado;Lauro Costa, incorruptível; WilmarClaudino, conciliador; NalcirSalomé, para quem nada eraimpossível; James Crooks, ameri-cano, e Ana Laureta Dias, guate-malteca, competentes consultores;Ivan Turgeneff Cajueiro, NilzaTavares Dias, consultores brasi-leiros cedidos pela Acar; GuidoAmboni, Enedite Terezinha de Souzae Terezinha de Jesus Monteiro,implantadores dos Clubes 4-S; AstorGrumann e Jerônimo AntônioFávero, extensionistas que assu-miram a direção do Centro Nacionalde Suínos e Aves e estreitaram aparceria da pesquisa com a extensão;Paulo Tramontini, presidente daACCS, um dos grandes parceiros daextensão; Bem Hur Boerer, MarioLanznaster, Paulo Ernani deOliveira, ex-extensionistas quederam prestigio à Acaresc e sãotambém responsáveis pela imagemdo extensionista catarinense. Élviode Oliveira Flores, da Sadia, a quemconsidero extensionista honoriscausa .

RAC – A Epagri é responsávelpela pesquisa agropecuária e pelaextensão rural em Santa Catarina.Como o senhor enxerga estasatividades diferenciadas atuando sobo mesmo teto?

Glauco – Extensão e pesquisasão atividades diferenciadas,interdependentes e complemen-tares. Podem atuar sob o mesmoteto, a exemplo das universidades,onde convivem ensino, pesquisa eextensão sob o comando do ConselhoUniversitário e direção de uma reito-ria com pró-reitores específicos para

‘‘O serviço daextensão sempre

procurou tornar otrabalho do

agricultor maisameno’’

Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 200620

cada uma das três atividades. Hávariações nas denominações, porém,em todos os casos, há dirigentesdiferenciados para a pesquisa e paraa extensão. A Epagri precisa corrigirum erro de nascença cometido nasua estrutura técnico-adminis-trativa, criando as Diretorias e Ge-rências de Pesquisa e de Extensão.Permaneceria em comum a Dire-toria de Administração e uma, queseria criada, de Planejamento,Acompanhamento e Avaliação,também abrangendo pesquisa eextensão.

RAC – O senhor é consideradouma das maiores autoridades emextensão rural no País. Como osenhor avalia o momento atual daatividade e quais as perspectivas daextensão rural em Santa Catarina?

Glauco – Generosidade sua. Omomento atual da atividadeextensionista em Santa Catarina éde expectativa de mudanças,visando sua otimização. Para tantohá que se reformular o sistema decapacitação inicial e de atualizaçãode conhecimentos técnicos eadministrativos. Solucionando esseaspecto, torna-se necessário criarcondições para maior permanênciados agentes de extensão junto àspropriedades e comunidades rurais.Extensão rural pressupõe contatodireto dos seus agentes com asfamílias rurais na maior parte dotempo disponível.

Há sobrecarga de serviços deescritório que afasta os exten-sionistas do campo, problema a sersolucionado. Da mais alta relevânciaé a necessidade de se instalar umsistema eficaz de acompanhamentodo trabalho executado pelas gerên-cias regionais, pelos extensionistasmunicipais e das microbaciasvisando a avaliação de desempenhoe outro sistema de avaliação dosresultados alcançados e decorrentesdo trabalho realizado. Nesse sentidoo que existe é ineficaz. É precisomais ênfase sobre o uso da meto-dologia extensionista.

Com a descentralização admi-nistrativa, o Escritório Central ne-cessita reformular suas atribuições,principalmente nas áreas técnicas ecientíficas, restringindo-se à políticageral de trabalho (filosofia, normas,princípios, metodologia), política depessoal (salários, capacitação inicial,

capacitação em serviço, pós-graduação, acompanhamento,avaliação), capacitação de recursos,prestação de contas, marketingjunto às instituições e às pessoasdas quais depende a sustentabilidadeda Empresa.

É também necessário maiorparticipação na definição do projetode extensão. Não a demagógica ouingênua “participação popular”, massim a de pessoas capazes de con-tribuir, efetivamente, para formu-lação e execução de bons projetos deextensão rural. São representantesde cooperativas, de associações deprodutores, de universidades, delíderes rurais, de sindicatos, deagroindústrias, do comércio deprodutos agrossilvipastoris, os quaisobviamente têm interesse nodesenvolvimento rural.

A extensão rural foi a principal equase única agência de desenvolvi-mento rural do Estado, até quecomeçaram a surgir os serviços deassistência técnica das cooperativasagropecuárias, das agroindústrias,dos sindicatos, das associações de

‘‘A Epagri é,virtualmente, a maior e

melhor universidaderural e informal do País,

pois reúne pesquisa,ensino e extensão’’

produtores (a partir da década de70) e, ultimamente, das uni-versidades. Se a extensão rural querdurabilidade, precisa realizar ver-dadeiras parcerias com as men-cionadas instituições, planejando eexecutando projeto de grandeimpacto na socioeconomia doEstado, sob a condição de mútuasresponsabilidades. Parece-mecondição indispensável para asse-gurar o futuro da extensão ruralpública e a sua otimização perma-nente.

RAC – Entre os fatos curiososque o senhor presenciou nestes 50anos, qual deles que o senhorgostaria de deixar registrado?

Glauco – O fato mais curiosoque presenciei nestes 50 anos de

extensão foi a demonstração deconfiança e admiração de umagricultor de Guaraciaba aoextensionista local. Omito os nomespara evitar constrangimentos. Oextensionista era um jovem moreno,com 1,85m de altura, fisicamentebem conformado, um sorriso tímidoque o tornava simpático e, sobretudo,eficiente comunicador. Certo dia, oextensionista foi visitar o agricultorpara realizar uma demonstração.Finda a prática, o agricultorconvidou-o para “dar uma olhada”na plantação de milho, quependoava. Segurando uma espiga emeio de soslaio, o agricultor falou,sem vacilação: “doutor, sou umhomem falhado, faz cinco anos queestou casado e preciso de um filho.O senhor poderia fazer um filho pramim na minha mulher?” Não contoa resposta do extensionista. O fato éque, poucos meses depois, ele foieleito para trabalhar no EscritórioCentral, em Florianópolis. Hoje eleé comunicador no Ministério doDesenvolvimento, em Brasília. Ohomem é realmente competente!

RAC – Entre os pioneiros daextensão em Santa Catarina, poucosainda estão na ativa. Qual o segredopara chegar a essa idade com tantaenergia?

Glauco – O segredo para umavida longa, saudável e prazerosa, ameu ver, tem quatro condicionan-tes indispensáveis: 1) alimentaçãobaseada em frutas, hortaliças,poucos hidratos de carbono e carnede peixes demersais; 2) exercíciofísico diário para evitar a “ferrugem”dos órgãos; 3) trabalhar no quegoste e ser bem remunerado; 4) comos três condicionamentos men-cionados você estará apto parabuscar a energia, amando e sendoamado. Estou na ativa porquequem não trabalha está morto e nãosabe.

21Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

22 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

PPPPPesquisas participativas: caminhos científicos diferentesesquisas participativas: caminhos científicos diferentesesquisas participativas: caminhos científicos diferentesesquisas participativas: caminhos científicos diferentesesquisas participativas: caminhos científicos diferentespara construção social de conhecimentospara construção social de conhecimentospara construção social de conhecimentospara construção social de conhecimentospara construção social de conhecimentos

Sergio Leite Guimarães Pinheiro1 e Walter Simon de Boef2

os últimos anos o interesseem pesquisas participativastem se evidenciado em

várias áreas da ciência, inclusive naagricultura de Santa Catarina, ondediferentes métodos participativostêm sido propostos para a pesquisae extensão rural. Atualmente oProjeto Microbacias 2 (MB 2) temreforçado a necessidade daparticipação nas ações dedesenvolvimento rural e promovidoseminários, cursos e projetos depesquisa participativa em diversasregiões do Estado.

Nestas ocasiões é comumsurgirem questionamentos do tipo“por que mais participação se apesquisa científica sempre foiparticipativa?” ou “os métodosusados na pesquisa participativa nãosão científicos?” Visando ampliar odiálogo e o aprendizado sobre esteoportuno mas polêmico tema, nestaconjuntura os autores discutemalgumas proposições e experiênciassobre construção participativa deconhecimentos desenvolvidas epraticadas ao longo dos últimosanos.

A emergência dosdiversos tipos depesquisas participativas

Nas décadas de 80 e 90 váriosmétodos participativos foramimplementados em centros depesquisa (nacionais e internacio-nais). Um dos principais motivospara reforçar a participação foi oreconhecimento de que os pequenos

agricultores familiares não estavamadotando as tecnologias geradasdevido a um enorme vazio decomunicação entre pesquisadores,extensionistas e produtores. Damesma forma que a idéia desustentabilidade, nesta época,participação e parceria se tornaramconceitos altamente populares epré-requisitos para qualquer projetoque buscasse apoio de entidadesfinanciadoras. Em conseqüência,vários modelos participativos depesquisa e extensão rural foramdesenvolvidos e experimentados.Alguns promoveram a parti-cipação através de uma visãosistêmica, outros pela açãointerdisciplinar (incluindoestudos antropológicos e socioló-gicos), mas todos tinham emcomum a ênfase na mudança dapesquisa das estações experimen-tais para a investigação empropriedades rurais (Chamberset al., 1989).

Em cada relação de comuni-cação existe algum tipo departicipação, inclusive nas açõesmenos participativas. Por isso, aimportância de tipologias como ada Figura 1, que identifica setetipos de participação em projetosde pesquisa, extensão e desen-volvimento rural. Nenhum tipo épior ou melhor que os outros.Apenas envolvem diferentesrelações de poder e responsa-bilidade entre os participantes.Dependendo da situação, deter-minado tipo pode se revelar maisadequado do que os outros.

Nos projetos de pesquisa menosparticipativos os agricultoresassumem poucas responsabilidadese atuam mais passivamente, re-cebendo e fornecendo dados (níveis1 e 2). Em outros projetos aparticipação tem evoluído para ostipos consultiva (nível 3 ou pordemanda), por incentivos oufuncional (níveis 4 e 5, caracte-rísticos das pesquisas em pro-priedades). Entretanto, estudosindicam que estas experiências nãotêm apresentado diferenças

1Eng. agr, Ph.D., Epagri/Gerência Técnica e de Planejamento, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5605, e-mail:[email protected]. agr., Ph.D., consultor da Epagri/MB 2 e professor visitante da UFSC, e-mail: [email protected].

N

Figura 1. Diferentes tipos departicipação segundo diferentesníveis de poder e responsabilidadena relação entre participantes

Fonte: Adaptado de Pretty (1994).

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23Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

significativas. Com a participaçãoconsultiva, o modelo tradicional depesquisa e extensão rural (linear eunidirecional) se tornou cíclico emelhorou-se a comunicação entretécnicos e agricultores. Contudo, temprevalecido a visão de controle e asintervenções externas para alcançarobjetivos predeterminados (ex.:adoção tecnológica). Ou seja, evoluiu-se de “pacotes tecnológicos” para“pacotes participativos”, mas nãomudou-se o paradigma dedesenvolvimento (Pinheiro, 1998).

O Projeto MB 2 propõe aparticipação interativa (tipo 6 daFigura 1) porque é a partir destenível que se mudam tanto oparadigma quanto as relações depoder e responsabilidade entretécnicos e agricultores. Nestaconjuntura, este texto discute asdiferenças e oportunidades de seexplorar tanto a pesquisaparticipativa do tipo consultiva(pesquisa “para” ou “por demanda”)como a pesquisa participativa dotipo interativa (pesquisa “com”),seguindo a proposta e o desafio doMB 2 de fortalecer as característicasconstrutivistas, a autonomia e acapacidade das comunidades locaisde construção social de conheci-mentos em interação com outrosparceiros.

Caminhos científicosdiferentes paraconstrução deconhecimentos

A Figura 2 ilustra dois caminhoscientíficos distintos (mas nãoconflitantes) para construção socialde conhecimentos, elaborados apartir dos trabalhos de Reason &Heron (1986), Maturana & Varela(1995) e Maturana (2001).

O primeiro caminho pressupõeque o conhecimento está no objetoou sistema investigado e pode ser“acessado” independentemente doconhecedor. Ou seja, o conhecimentopode ser construído “à parte” doconhecedor. As pesquisas quetrabalham nesta perspectivaenvolvem os cinco primeiros tiposde participação mostrados na Figura1 e têm os seguintes pressupostos:a) a objetividade do conhecimentoou a crença em uma única realidade,independentemente do pesquisador

Figura 2. Caminhos diferentes para a construção de conhecimentoa partir da relação entre conhecimento e conhecedor

(ou conhecedor), a qual pode seridentificada e quantificada e que aciência tem acesso privilegiadoatravés do método científico; b) asimplicidade, evidenciada peloreducionismo, identificação deproblemas e de soluções técnicas, asquais podem ser transferidas paraoutros contextos e conhecedores; e(c) a previsibilidade, caracterizadanas relações causa e efeito, pelavisão de controle, análise e engenha-ria de sistemas (para otimizar assaídas como na Figura 3).

Em situações mais simples, aciência baseada nestes pressupostostem conseguido importantes avançosna indústria, no comércio e naagricultura. Nestes casos predominaa visão setorial de desenvolvimentoe a exploração apenas das dimen-sões objetivas e quantificáveis do

conhecimento, através de produtosque podem ser pesquisados sepa-radamente (à parte) dos conhe-cedores e cujos resultados podemser difundidos e aplicados emoutras situações, independente-mente dos contextos em que estãoinseridos. Em síntese, este é ocaminho característico de umapesquisa “para” . Ou seja, dealguém (que teoricamente temmaior capacidade de produzirconhecimento, como os cientistas)“para” outro alguém (que tem menorcapacidade de produzir conheci-mentos, como os agricultores).

Em contraste, em váriassituações mais complexas (típicasde sistemas dos agricultoresfamiliares), este enfoque tem semostrado inadequado e insuficiente,requerendo conceitos e práticas

Figura 3. Na pesquisa participativa consultiva o conhecimento está noproduto e pode ser “acessado” independentemente do conhecedor

24 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

complementares. Neste contextoemergem as pesquisas participativasinterativas, ilustradas no segundocaminho da Figura 2. Este caminhopressupõe que os conhecimentos (ougrande parte deles) não estãoseparados dos conhecedores e sãoindividualmente e socialmenteconstruídos. Como ilustra a Figura4, estes conhecimentos são produtosde distinções humanas, ou seja,estão na “cabeça” (e no “coração”)dos conhecedores (e não nos objetosou sistemas observados e nem nosmétodos de observação).

Várias experiências têmcomprovado que a construção deconhecimentos inclui tanto asdimensões objetivas quanto assubjetivas. Se dois pesquisadoresavaliarem a produtividade de umpomar provavelmente obterão omesmo resultado em relação àquantidade de maçãs produzidas.Contudo, se eles experimentaremalguns frutos visando avaliar aqualidade deles, nem semprechegarão a um consenso. Um poderáachar as maçãs doces, e o outro,amargas. Estas qualidadespertencem à dimensão subjetiva doconhecimento que faz parte doconhecedor e não podem seracessadas independentemente(avaliando-se apenas o produto).

Por isso, metodologias científicasde pesquisa participativa interativase qualitativas têm sido imple-mentadas, baseadas no diálogo e nacomunicação, como a observaçãoparticipante, entrevistas semi-estruturadas e conversações focadasem determinados grupos sociais. Até

pesquisas de opinião há anoscomplementam estatísticas obje-tivas do tipo “em quais destescandidatos você votaria hoje?”, commétodos qualitativos para refletirsobre as razões e emoções queestimulam certas escolhas epreferências em diferentescontextos e categorias sociais.

Segundo Vasconcellos (2002), ascaracterísticas teóricas das pes-quisas participativas interativasincluem a abordagem construtivista,predomínio de métodos qualitativose do enfoque sistêmico “macio ouabstrato” (“soft-systems”). Emsíntese, envolvem os seguintespressupostos: a) a responsabi-lidade do conhecedor substitui aobjetividade no processo deconstrução do conhecimento (visãode múltiplas realidades); b)premissas da complexidade e dadiversidade (na vida, nos sistemas,na natureza e nos seres humanos);c), reconhecimento da impre-visibilidade dos sistemas e foconas relações (abertura paramudança, diálogo, aprendizado econstrução social de conheci-mentos); e d) entendimento dalinguagem como forma deaprendizagem humana sobre omundo (e característica organiza-cional dos seres humanos).

A Figura 5 foi inspirada em umdiálogo entre um técnico e umagricultor familiar e evidencia quediferentes conhecimentos refletemas diversas distinções, interesses epercepções humanas. Alguns sãosemelhantes, outros não. No caso, otécnico visualiza o sistema do

agricultor como um empresário quedeve seguir certas tecnologias paraotimizar seu lucro. Contudo, oagricultor está mais preocupado coma sobrevivência e reprodução socialde sua família, ameaçada peladiminuição das oportunidadeseconômicas, o crescente êxodo dosjovens e a acelerada poluição namicrobacia, que desencorajam apermanência de familiares e a visitade turistas.

Em um contexto em queprevalece a diversidade e asdimensões humanas subjetivas equalitativas, é através da linguageme do diálogo que se dividempercepções sobre realidade,harmoniza-se o entendimento emuma relação de aprendizageminterativa e constrói-se socialmenteo conhecimento, como ilustrado naFigura 6. Isto não significa queconhecedores com percepçõesdiversas cheguem sempre a umconsenso, mas que cada participanteentenda e respeite os diferentesinteresses e distinções dos demais,reflita sobre suas perspectivasoriginais e, em um processointerativo, que novos conhecimentossejam construídos.

Esta proposta caracteriza apesquisa “com”, na qual diversosatores interagem diferentes saberese tipos de conhecimentos (científico,local, popular, todos igualmenterelevantes) e através de diálogoconstroem socialmente conheci-mentos. É um enfoque territorial dedesenvolvimento, que reforça acapacidade local de interação,aprendizagem e construção deconhecimentos, valoriza a diver-sidade (biológica, cultural, social ede saberes, entre outras), promovea autonomia e a participação deatores sociais que não têm muitasoportunidades de manifestar seusvalores e interesses. Diferen-temente da pesquisa participativa“por demanda”, este caminho seinicia e se desenvolve em umterritório, e não pela identificaçãode um produto ou serviço a serpesquisado por alguém “para” aquelacomunidade.

Nas metodologias de pesquisasparticipativas interativas usadaspelos comitês de investigaçãoagrícola locais (Cial) e pelas redes deagricultores experimentadores (AE)na América Latina, o mais impor-

Figura 4. A pesquisa participativa interativa entende que conhecimentosestão na ‘‘cabeça’’ dos pesquisadores e são produtos de distinções humanas

25Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Figura 5. Nas pesquisas participativas interativas, diferentesconhecimentos refletem as diversas distinções, percepções e interesseshumanos

tante é o fortalecimento dosprocessos locais de “aprender aaprender” interativamente comoutros parceiros (pesquisa “com”) e,desta forma, lidar com qualquerquestão ou tema que futuramentepossa limitar a possibilidade dedesenvolvimento de uma comu-nidade e território. Nesta perspec-tiva, os temas ou produtos queiniciam as pesquisas são apenasmotivadores desses processos.

Para não concluir:ampliando o diálogosobre pesquisasparticipativas

Em síntese, existem dois grandescaminhos para a pesquisa parti-

cipativa, como ilustrado na Figura2: o da participação através daconsulta sobre demandas (produtosou temas) a serem pesquisadas(pesquisa “para”) e o da participaçãointerativa, que procura fortalecerprocessos locais de aprendizagem econstrução social de conhecimentosem interação com outros parceiros(pesquisa “com”).

O mais importante é respeitar asdiferenças conceituais e operacio-nais que caracterizam cada caminho.Negar a existência destes doiscaminhos significa, na prática,aceitar apenas a pesquisa par-ticipativa consultiva. Este tipo temse revelado adequado nas situaçõesem que prevalecem as dimensõesobjetivas do conhecimento, mas tem

se mostrado insuficiente quando seexploram as dimensões subjetivas equalitativas na construção do saber.

Aceitar as diferenças entre osdois caminhos abre a possibilidadede explorar as duas formas deconstrução participativa de conhe-cimentos, de acordo com a situação.Em Santa Catarina, estes doiscaminhos de pesquisa participativatêm sido implementados através deprojetos-piloto com apoio do MB 2.

A promoção do aprendizado sociale construção interativa de conheci-mentos fortalece a capacidadeterritorial de lidar com situaçõescomplexas e incertas, característicasdo público preferencial do MB 2.Este é um processo que facilita àspessoas a “aprender a aprender”,dialogar, ampliar as oportunidadese se abrir para mudanças.

Literatura citada

1. CHAMBERS, R.; PACEY, A; THRUPP,L.A. (Ed.). Farmer first: Farmerinnovation and agricultural research.London: Intermediate TechnologyPublications, 1989. 218p.

2. MATURANA, H.R. “Realidade: A buscada objetividade, ou a procura de umargumento coercitivo”. In: MAGRO, C.;GRACIANO, M.; VAZ, N. (Org.)Humberto Maturana: A ontologia darealidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG,2001, p.243-326.

3. MATURANA, H.R.; VARELA, F.J. AÁrvore do conhecimento: As basesbiológicas do entendimento humano.Campinas: Editora Psy II, 1995.

4. PINHEIRO, S.L.G. Paradigm shifts inagricultural research, development andextension: A case study in SantaCatarina, Brazil. 1998. 286f. Tese(Doctor of Philosophy) – University ofSydney, Australia.

5. PRETTY, J. Alternative Systems ofInquiry for Sustainable Agriculture. IDSBulletin, v.25, n.2, p.37-48, april 1994.

6. REASON, P.; HERON, J. Research withPeople: The Paradigm of Co-operativeExperiential Inquiry. Person-CenteredReview, v.1, p.456-76. 1986.

7. VASCONCELLOS, M.J.E.de. Pensa-mento sistêmico: o novo paradigma daciência. Campinas: Papirus, 2002. 268p.

Figura 6. Nas pesquisas participativas interativas, através do diálogodividem-se percepções diferentes e o conhecimento é socialmente construído

26 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

PPPPPovos indígenas e Epagri no Microbacias 2: um novoovos indígenas e Epagri no Microbacias 2: um novoovos indígenas e Epagri no Microbacias 2: um novoovos indígenas e Epagri no Microbacias 2: um novoovos indígenas e Epagri no Microbacias 2: um novoaprendizado na eaprendizado na eaprendizado na eaprendizado na eaprendizado na extensão ruralxtensão ruralxtensão ruralxtensão ruralxtensão rural

Rose Mary Gerber1

sta é uma narrativa sobreum processo que está sendoconstruído a muitas mãos,

com atores sociais como técnicos epovos indígenas, homens, mulheres,jovens, idosos e crianças que, comsuas diferentes formas de ver esentir a vida, contribuem com o queestá em discussão: como conseguirum novo equilíbrio socioambientalque alcance o que é chamado“sustentabilidade das terrasindígenas”?

Os povos indígenas noMicrobacias 2

A Secretaria de Estado daAgricultura e DesenvolvimentoRural de Santa Catarina, por meioda Epagri, é a entidade gover-namental responsável pela execuçãodo Projeto Microbacias 2 (MB 2) noque se refere à extensão, capacitação,assistência técnica, pesquisa,educação ambiental, geração derenda e redução da pobreza.

O MB 2 iniciou em 2002 e temtérmino previsto para 2008. OProjeto focaliza três dimensões dodesenvolvimento rural sustentável:a social, a econômica e a ambiental.Prioritariamente, são atendidos ospequenos agricultores familiaresmenos favorecidos social e econo-micamente, os trabalhadores ruraise as populações indígenas.

Quando se fala em povosindígenas, a unidade geográfica queo MB 2 estabeleceu trabalhar é aterra indígena. Assim, uma terrapode ter mais de uma microbacia,como unidade geográfica, mas étrabalhada como o todo que acompõe, como unidade de território

indígena. Agrega-se à unidadegeográfica uma referência que aextrapola, a sociocultural.

Um terreno desconhecidocomo desafio para aextensão rural

Diversas instituições foramouvidas e foram realizadas duasrodadas de consultas para obter umdiagnóstico da situação dos povosindígenas de Santa Catarina –xoclengue, caingangue e guarani. Aprimeira ocorreu em 1998 e envolveurepresentantes da FundaçãoNacional do Índio – Funai –, doConselho Indigenista Missionário –Cimi – e antropólogos vinculados aduas instituições de ensinouniversitário e pesquisa do Estado(Universidade Federal de SantaCatarina – UFSC – e FundaçãoUniversidade Regional de Blumenau– Furb).

A segunda rodada de consultasocorreu entre setembro de 2001 ejaneiro de 2002 e dividiu-se em doismomentos. No primeiro, comprofissionais do Museu Univer-sitário da UFSC, da Funai, do Cimie do Conselho Estadual dos PovosIndígenas – Cepin/SC. No segundo,realizaram-se três encontros comlideranças e representantes dos trêspovos indígenas do Estado. Destamaneira, foi construído o documentoreferente aos povos indígenas noMB 2, que pautou o começo dasações com estes povos.

O início das ações emcampo

Após estas ações iniciais, chegou

o momento de ir a campo e construircom os indígenas os seus planos, jáque o MB 2 prevê um plano paracada microbacia e terra indígenaatendida.

Tais planos se baseiam em umametodologia denominada Planeja-mento Estratégico Participativo(PEP) em que se discute, entreoutros tópicos, a visão de futuro dacomunidade, os objetivos, os pontosfortes, os pontos fracos e asprioridades. Novo espaço paraconsiderar diferenças: se para osnão-índios uma das perguntas écomo gostariam que estivesse suapropriedade no futuro, para osindígenas, falar em propriedade nãocabe e falar em futuro é difícil. “Élonge demais”, diziam nas reuniões.A pergunta foi então alterada edesdobrada em vários tópicos: comogostariam que estivesse a aldeia, afloresta, a água e as crianças daquia alguns anos? E assim deslanchoua conversa.

Seguindo o pressuposto derelação dialógica do MB 2, os Planosde Desenvolvimento das TerrasIndígenas (PDTI) aconteceram deforma diferente, por se tratar depopulações diferenciadas. Aoralidade, um dos valores maisexpressivos para os indígenas, foivalorizada. Foi necessário umprocesso de adequação a estes povos:fez-se a opção de discutir emconjunto, tendo como coordenadordos trabalhos o cacique, que é aliderança cultural e política destaspopulações.

Como era necessário coletarinformações para redigir cada plano,os técnicos da Epagri, e facilitadoresem alguns casos, a pedido do

1Assistente Social, M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5676, e-mail: [email protected].

E

27Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

cacique, foram encarregados deanotar as discussões. Para cadareunião foi composto umdocumento-memória, além doregistro fotográfico objetivandocompor a memória visual doprocesso de construção dos planos.

Em algumas aldeias foi feito umtrabalho com as crianças no qual sepediu que desenhassem comoimaginavam a terra indígena daquia alguns anos. Este material, alémde ilustrar os planos, poderá serusado pelos professores para discutiras ações nas aldeias, já que épossível observar o que foipriorizado e a visão das crianças(Figura 1).

As prioridades dos povosindígenas e a busca dasustentabilidade

Povos indígenas e diversidadeandam juntos. Diversidade porqueem Santa Catarina há os povos

xoclengue (Alto Vale do Itajaí)(Figura 2), caingangue (Oeste)(Figura 3) e guarani (Litoral)(Figura 4) e porque entre ummesmo povo há formas diferen-ciadas de comportamento quedependem da aldeia, das liderançasque a orientam, das mudanças pelasquais a aldeia já passou e do nívelde preservação cultural que buscamanter.

No entanto, algumas prioridadessão comuns aos três povos, o quefica visível nos PDTIs. Neste texto,são apresentados quatro exemplos:

Agricultura : “Nós temos quepensar, com essa seca, em plantasda terra, como mandioca, batata,para não passar fome no futuro”,(capitão Noé, Terra IndígenaXapecó); “Sustentabilidade é tercomida para todos da aldeia,ninguém pode passar fome”,(cacique Lauri, Toldo Pinhal, Seara,SC). Os alimentos de maiorinteresse são: milho, princi-

palmente os “variedade”, feijão,mandioca, batata, amendoim,arroz, pequenas hortas e pomares.

Melhoria das casas e dosaneamento : “Se vier a melhoriadas casas para os miseravelzinho,meu Deus!” (Maria, aldeia Paiol deBarro, Entre Rios, SC). Itemnúmero um nas aldeias e que dizrespeito a uma das necessidades doser humano: a segurança.

Floresta: “Você sabe como vera diferença de visão entre o índio eo não-índio? Chega um não-índioaqui e diz: que tal botar umas 20foiceiras (foices) para derrubar essamata? E nós dizemos: daqui a uns20 anos ali está um mato prosnossos filhos ver” (cacique Lauri,Toldo Pinhal). “O índio precisa dafloresta para sobreviver” (caciqueTimóteo, Terra Indígena TekoaMarangatu, Imaruí, SC). “Querodesenvolvimento sustentável,econômico, social, ambiental,planejar repor as florestas” caciqueMachado, Terra Indígena Xapecó,Ipuaçu, SC).

Água: “A água está doente eprecisa cuidar dela. A água estandodoente o homem fica doente, ascrianças também”, diz o caciqueTimóteo, da Terra Indígena TekoaMarangatu, Imaruí.

Estas são algumas prioridadesem comum que refletem uma formade viver e de ser, mas também umapreocupação com a sustentabilidadedas terras indígenas. Quando sediscute agricultura, por exemplo,em muitas terras o uso deagrotóxico é algo presente e osindígenas manifestaram interesseem buscar alternativas paraproduzir alimentos. Por outro lado,há aldeias que primam pelo cultivonatural ou próximo ao agroecológicoe pelo resgate de variedades que jánão mais são encontradas. Este é oexemplo das aldeias Guarani, quedão grande valor ao milho. Amandioca, o amendoim e a batatasão também importantes para ostrês povos.

Os resultados jáalcançados

Entre os principais resultadosalcançados pela Epagri e MB 2 nesteprocesso de aprendizado com ospovos indígenas, destacam-se:

• O número de indígenas é 40%

Visão atual da aldeia Visão futura

Figura 1. Desenhos feitos pelas crianças da aldeia Tekoa Marangatu,Imaruí, SC, por ocasião de elaboração do plano

Figura 2. Indígenas xoclengues, da Terra Laklãno, José Boiteux, emmomento de festa e confratenirzação

28 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

maior do que o MB 2 planejou. Doplanejamento inicial de atender 5mil indígenas, hoje estão envolvidosmais de 7 mil.

• Foram contratados oitofacilitadores exclusivos para atuarem terras indígenas, quatroengenheiros agrônomos e quatrotécnicos de nível médio, indo aoencontro da proposta inicialestabelecida de atuar de formadiferenciada, considerando peculia-ridades de organização e de compor-tamento.

• Implementação de um processode formação continuada para ostécnicos, que teve seu ponto inicialem 2004, quando se realizou o“I Seminário sobre Povos Indígenas:ninguém respeita o que nãoconhece”, promovido pela Epagri/MB 2. Em 2005 o conteúdocontemplou antropologia, troca deexperiências e o relato dos povosindígenas. Para 2006 está planejadoum módulo exclusivo sobrelegislação indígena.

• A conclusão de cinco PDTI, umpara o povo xoclengue, dois para opovo guarani e dois para o povocaingangue. Tais documentosregistram as prioridades destes

povos e orientam a atuação daEpagri e MB 2 até o ano de 2008.

• Nas aplicações do Fundo deInversões do MB 2 em terrasindígenas já é possível encontrarcasas e banheiros melhorados,mudas de espécies nativas efrutíferas plantadas, colmeiasinstaladas e algumas lavourasrevitalizadas, prioridades levan-tadas nos planos.

O que os povos indígenasesperam

Neste contexto, os técnicos daárea agrícola têm um papel essen-cial, pois os indígenas esperam queestes profissionais discutam comeles e que contribuam com a buscapor alternativas que tornem suasterras sustentáveis. Uma compre-ensão maior do técnico sobre estespovos é necessária, haja vista queos contextos culturais são distintos.Há necessidade de um diálogobaseado no respeito às diferenças ena busca de um novo equilíbrioentre saberes e atores sociais.

As perguntas que os indígenasfazem: Como cultivar nestas terras?Como produzir em quantidade e

qualidade para todos? A extensãorural está à frente de um grandedesafio: encontrar alternativas juntoaos povos indígenas que já perderamsuas formas tradicionais de cultivoe resgatar variedades que já não sãomais encontradas para aqueles quemantêm cultivos sem agroquímicos.Assim, é possível montar um bancode sementes que contribuirá com asegurança alimentar que estespovos querem.

O desafio está posto. O MB 2 e aEpagri têm claro que são pequenosfrente à complexidade existente,têm claro que a diversidade é umpotencial e que é necessário buscaroutros saberes e outras parceriaspara ter maiores chances desucesso. Os indígenas estãocansados, segundo eles, das inú-meras idas de “gente de fora” àsaldeias querendo dizer-lhes o quefazer. Por outro lado, ouvimos: “É aprimeira vez que um projeto vemperguntar o que a gente quer e nãovem dizer o que a gente deve fazer.O Microbacias 2 está ouvindo agente” (cacique Timóteo). Osindígenas têm claro o que quereme o que necessitam. Querem sabercomo fazer melhor. Nas ações docotidiano junto às aldeias estãosurgindo sugestões para mudanças.E assim está sendo construído o“como atuar” com os povos indí-genas: dialogando e buscando umconsenso em meio a diferenças edificuldades.

Referências bibliográficas

1. BUOGO, G.; GERBER, R.M. Estratégiapara as populações indígenas:Microbacias 2. Florianópolis: Secretariade Estado do Desenvolvimento Rural eda Agricultura, 2002.

2. GERBER, R.M. Participação interativa– uma análise critica do processo naEpagri. Agropecuária Catarinense ,Florianópolis, v.14, n.2, p.51-2, Jul.2001.

3. GERBER, R.M. Entre eles e ‘os de fora’– A ética nossa de cada dia. RevistaGrifos, Chapecó, n.15, p.233-238, Nov.2003.

4. MORIN, E. Os sete saberes necessáriosà educação do futuro . 8.ed. São Paulo:Cortez; Brasília, DF: Unesco, 2003.118p.

Figura 3. Crianças caingangues, Terra Indígena Xapecó, Ipuaçu, emmomento de saída da escola, onde aprendem, entre outras disciplinas, alíngua materna e o português

Figura 4. Índios guaranis, da aldeia Tekoa Marangatu, Imaruí, em ensaiomusical e confeccionando artesanato tradicional

Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 200632 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Barbara Marins Pettres1

Flores e ornamentaisFlores e ornamentaisFlores e ornamentaisFlores e ornamentaisFlores e ornamentaisLindas e rentáveisLindas e rentáveisLindas e rentáveisLindas e rentáveisLindas e rentáveisFlores e ornamentaisFlores e ornamentaisFlores e ornamentaisFlores e ornamentaisFlores e ornamentaisLindas e rentáveisLindas e rentáveisLindas e rentáveisLindas e rentáveisLindas e rentáveis

produção de flores e plantasornamentais é uma ativi-dade atrativa em Santa

Catarina, pela possibilidade deganhos em pequenas áreas, o que seafina com a estrutura fundiáriacatarinense, combina com o turismorural e tem relação com qualidadede vida, pois onde tem flores até aviolência pode diminuir. No Estado,370 produtores, em 112 municípios,dedicam-se ao plantio comercial deornamentais. Aqui vamos conheceralguns deles, de diferentes perfis eem diversas regiões do Estado.

O universo dos produtorescatarinenses foi conhecido em 2002,quando a Epagri elaborou umcadastro para fazer parte de umapesquisa nacional do Programa

Flora Brasilis, realizada em 2001 e2002, em 15 Estados e 392municípios. A pesquisa demonstrouque Santa Catarina é o segundomaior produtor nacional, depois deSão Paulo e seguido de Minas Geraise Paraná. Para se ter uma idéia dosalto evolutivo do setor, em 1997havia 115 produtores no Estado, emapenas 22 municípios. A área quasetriplicou, passou de 342ha naqueleano para 917ha. Hoje, SantaCatarina possui 16,9% da áreaplantada nacional e 23% dosprodutores. O valor bruto deprodução foi estimado em R$ 27,6milhões, em um mercado nacionalque movimenta em torno de R$ 1bilhão, cresce desde 1996 cerca de20% ao ano, gera 20 mil empregos

A diretos e tem 12 mil pontos de venda.Em Santa Catarina, é uma

atividade sobretudo de pequenaspropriedades: 50,3% delas utilizamsomente mão-de-obra familiar e 65%têm área cultivada de até 1ha. Afloricultura gera 4,8 empregos porpropriedade (incluindo os fami-liares). Em torno de três floricultoresexportam com freqüência, outros,eventualmente.

O coordenador do Projeto Florese Plantas Ornamentais da Epagri,Juarez Müller, diz que o cadastro foio primeiro passo para conhecer osetor. “A produção está distribuídaem todas as regiões, mesmo queincipiente em alguns lugares. Como diagnóstico podemos colaborar naorganização de pólos de produção,

1Jornalista, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5606, e-mail: [email protected].

Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006 33

em grupos de produtores ecomercialização em escala”, observa.

Estão envolvidos 40 técnicos noProjeto em todas as regiões e emsete estações experimentais. Sãodiversas frentes de pesquisa, comoa micropopagação de plantas, manejofitotécnico, fitossanidade, gestão dosnegócios, zoneamento agroecológicoe assistência técnica. Dois cursosprofissionalizantes são oferecidos: ode floricultura, em Campos Novos eJoinville, criado em 1996 e járecebeu 1.445 pessoas, em 80 etapasrealizadas; o de ajardinamento epaisagismo é realizado em Ara-ranguá desde 1999.

Outra iniciativa do Estado quepretende movimentar a cadeia dafloricultura é o Programa FlorirSanta Catarina, lançado em se-tembro de 2005. “O objetivo é tornaras cidades e o meio rural maisbonitos e agradáveis, melhorando aauto-estima da população”, explicaMüller, que também participa dogrupo gestor do programa. Entre asações previstas estão o ajardi-namento de locais públicos, a capa-citação de jovens em jardinagem e aorganização de pólos produtivos. Ainspiração veio da experiência deVinhedo, SP. Lá, depois do em-belezamento da cidade, feito pelopaisagista Gustaaf Winters, o índicede criminalidade diminuiu.

Cem anos, apenascomeçando

Neste ano a floricultura em SantaCatarina completa cem anos. Filhode alemães, Roberto Seidel chegoua Corupá em 1902. Produzia plantasornamentais e mudas frutíferas,vendidas aos imigrantes alemães.Em 1906 fundou o Orquidário Cata-rinense. Em 1945 a empresa foi divi-dida entre os filhos. Leopoldo cui-dava das ornamentais e frutíferase Alvim, das orquídeas e bromélias.

Alvim Seidel, 79 anos, que seconsidera um botânico autodidata,tornaria-se um importantedescobridor de espécies. Em 23viagens pelo Brasil, encontrou cemnovas espécies, sendo que algumaslevam seu nome. Acompanhado deamigos como o Padre Raulino Reitz,fundador do Herbário BarbosaRodrigues, de Itajaí, andou pormuitos Estados em busca de novasplantas. “Consegui salvar dezenas

de espécies da destruição, muitasepífitas que cresciam em árvoresderrubadas e outras terrestres emlugares de mineração”, diz. NoEspírito Santo, salvou de uma áreaqueimada uma bromélia que setornaria, pode-se dizer, a maiscomercializada do mundo e suaprincipal descoberta, a Vrieseafosteriana var. seideliana .

Alvim Seidel forneceu asinformações para elaboração da Lei6.255/1983, que tornou a orquídeaLaelia purpurata símbolo de SantaCatarina. Em 2001, a revista daSociedade Americana de Orquídeas,publicação na qual o Orquidárioanuncia há quase cem anos, contoua história da família Seidel. Hoje ofilho Donato, engenheiro agrônomo,é o diretor técnico e o neto Donato

Junior segue a carreira.O Orquidário possui perto de 3

mil espécies e híbridos de orquídease bromélias e 50 mil plantas.Segundo Alvim, essa é provavel-mente a coleção comercial maiscompleta que existe. A multi-plicação é feita por sementes. Daprodução, 60% são exportados parapaíses como Alemanha, EstadosUnidos, Japão e Rússia.

Destino: mercado externo

Aldacir Berri, de Araquari, outroexportador catarinense, dedica-se há16 anos à Cycas revoluta. Planta doperíodo jurássico, tem 180 milhõesde anos e consta que não passou pormutações genéticas. Foi a únicaplanta a sobreviver à detonação das

Juarez Müller no laboratório de micropropagação, em Itajaí

Alvim Seidel em um dos abrigos de orquídeas do Orquidário Catarinense

34 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

bombas nucleares em Hiroshima eNagasaki, no Japão. Está emextinção no mundo e é muito valo-rizada no paisagismo. Custa de R$4,00 a R$ 5,00 o centímetro, devidoao crescimento lento. É uma plantarústica, não requer manutenção evive bastante.

Berri, o maior produtor brasileirode cicas e provavelmente o segundodo mundo, usa adubação paraacelerar o crescimento e tem umdiferencial único. Como no País sóhavia plantas fêmeas, importouespécimes masculinos para ter opólen para a reprodução porsementes. “O padrão é melhor e areprodução é mais rápida”, conta.Nos 30ha de terras que possui emAraquari, 10ha estão cobertos porcicas. São cultivadas 160 mil mudasao ano. A produção é voltada aomercado externo, como Alemanha,França, Espanha, Arábia Saudita eJapão. Além da cica, produz e comprapara exportar outras espécies, comoo coqueiro jerivá (Syagrusromanzoffiana) e o butiazeiro. “Éum mercado com potencial enorme,mas é preciso fornecer o produtocom padrão de exportação”, observa.A atual defasagem cambial, noentanto, tem diminuído as vendas.

Borris, Igor e Ivan Zalewsky, daFlora Hansa, de Corupá, tambémexportam, especialmente sementesde palmeiras. Borris, 68 anos,descendente de russos, começou,como um leigo, há 54 anos. Trocavasementes com amigos e juntouplantas do mundo inteiro até formarquase que um jardim botânico na

atual propriedade, de 11ha. Entrepalmeiras, filodendros, aráceas,liliáceas, leguminosas, musas ezingiberáceas, são 215 espéciesbrasileiras e 79 estrangeiras. Só depalmeiras são 65 variedades. “Épreciso uma curiosidade profundapara aprender, e em meio século,qualquer um vira cientista”,considera.

A Flora Hansa foi fundada em1974. Ao longo dos anos, oinvestimento girou em torno de R$100 mil. São produzidas 150t brutasou 50t beneficiadas de sementes deornamentais diversas por ano,principalmente de palmeiras dogênero Syagrus. As sementes sãovendidas para 20 países, dentre elesHolanda, Alemanha, China e NovaZelândia. Os Zalewsky empregamseis funcionários e outros durante asafra. Como empecilhos à atividade,citam a baixa cotação do dólar e aausência de um seguro paraexportações de ornamentais.

Variedade eespecialização

José Machado, de Pirabeiraba, éuma exceção no Estado devido a suaárea de produção que chega a 50ha.Está há 37 anos no mercado, 17 anosà frente da Flora Dona Francisca,com a mulher Olívia e os filhosMichele e Rubens. Emprega outras16 pessoas. As coníferas repre-sentam 40% de sua produção. Sãojuníperos, cupressos, criptomérias,podocarpos, Taxus sp. (pinheiroeuropeu) e alguns tipos de tuias. O

restante é de arbustos e palmeiras.As coníferas são plantas de ciclomais longo e levam de 120 a 180 diaspara enraizar. Para atingir otamanho comercial, levam nomínimo dois anos, tempo que podese estender até 20 anos. Machadoatende o mercado nacional e passoua exportar em 2000.

Em Joinville, Dário Bergemanncultiva hemerocale, flor que erapouco valorizada por ser comumnos jardins e com baixo valor nomercado. Conhecida como lírio-de-são-josé, a espécie transformou-seem suas mãos. “Havia necessidadede cores diferentes nos jardins queeu plantava e os clientes pediamplantas com baixo custo demanutenção”, diz o proprietário daempresa Agrícola da Ilha. Dário fezexperimentos e aprendeu bastantesobre a planta, ajudado pelo InstitutoAgronômico de Campinas – IAC –,que o apoiou na importação devariedades dos Estados Unidos paramultiplicar no Brasil. Em 2002 elecriou o Festival Brasileiro deHemerocallis, uma vitrine dedivulgação da espécie. Na área de5ha, que será ampliada para 12haneste ano, são produzidas 54cultivares de hemerocales, vendidasa mercados até o Centro-Oeste porpreços que vão de R$ 0,46 a muda noAldacir Berri em um mar de cicas na sua propriedade, em Araquari

Ivan e Borris Zalewsky (direita)exibem o processamento de sementesde palmeiras em Corupá

35Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

atacado a R$ 45,00, no caso da novacultivar Florianópolis. Em 2005 foivendido 1 milhão de mudas.

Produção se expande emnovos nichos

Enquanto houve uma fase deconsolidação na floriculturacatarinense, em que algunsprodutores estabeleceram-se epassaram inclusive a exportar, aprodução expandiu-se em pólosregionais ou por meio de produtoresindividuais. Um dos pólos maisantigos é Rio do Oeste, no Vale doItajaí.

Ali, os viveiros de Sérgio Pissati,45 anos, e de Armando Ferrari, 51anos, guardam uma curiosacombinação de bromélias econíferas. O clima do municípiopropicia condições para plantastropicais e outras que necessitam defrio. “Com as plantas tropicais temque ter manejo cuidadoso. Aprodução a campo é mais de plantasque agüentam uma geada fraca”,explica Pissati, que é tambémpresidente da Associação Rio Mudas,com 13 associados, constituída hádez anos. Ele tem uma área deplantio de 1,5ha cultivado e viveirocom 2 mil m². Trabalha há oito anoscom um funcionário e contrataoutros, eventualmente. Tem umaprodução variada: buxinhos econíferas, estrelítzias e palmeiras.Ferrari tem 2,5ha, entre viveiro eárea plantada. Cultiva há 15 anosbromélias, ciprestres e buxinhos,entre outras espécies. O trabalho édividido com a mulher, Lourdes, ofilho Felipe e empregadoscontratados quando necessário. Aprodução de ambos é vendida no Sule Sudeste e para mercadosatacadistas.

Um problema que atinge os doise outros produtores é a falta dequalificação da mão-de-obra. “Otrabalho é manual e nós tambémfazemos topiaria, que exige alguémde confiança”, diz Pissati. A topiariaé a arte de esculpir plantas e jardins,dando-lhes formas diversas. Os doisvêem com cautela o incentivo àmudança de produções maistradicionais como do fumo para afloricultura. Para Pissati, asornamentais são muito afetadas pelamoda; pode-se cultivar uma espécieque depois não terá mercado, e é

preciso entender de fitossanidade.Conforme Ferrari, os produtores

encontram a terra desgastada complantios tradicionais e têm queinvestir para recuperar a fertilidade.“Ornamentais têm que ser vistascomo uma poupança. As culturassão bianuais, no mínimo, masgeralmente de três a quatro anos.Para formar o matrizeiro e entendera técnica de cada planta é maisdifícil. Depois de dez anos é que setem uma visão melhor do negócio”,acredita. As linhas de créditoexistentes, do Banco do Brasil e doPronaf, são de até dois anos e paracusteio, não investimento.

Trabalho quase artesanaltambém é feito em Rio do Sul. Ali,Titus Porath investe em plantas emvasos de 20 espécies, como gerâniospendentes, petúnias, fúcsias e outrasdiferenciadas, que ele introduziu no

Estado, como a Solanum“Variegata” e a Scaevola aemula, aflor canhota. Titus atua há 26 anoscom paisagismo, além de trabalharnum banco. Nos 11 mil m² de áreana sua propriedade ele construiuduas estufas e canteiros. Comopercebia a falta de variedadesdiferentes no mercado, há cinco anosresolveu produzir e comercializar oque necessitava. “Planta em vaso éuma produção mais cara, exige maisestrutura e mais dedicação, asplantas dependem do que está alidentro”, explica.

O cultivo destas plantas é maisexigente em água. A irrigação éfeita duas vezes ao dia, a nutriçãotem que ser mais cuidadosa e épreciso cuidar para que as plantasnão cresçam muito. Em torno de 8mil plantas são trabalhadas etambém é feita topiaria. Titus divide

Michele, filha de José Machado, cuida das coníferas em Pirabeiraba

Plantas tropicais e de frio convivem nos viveiros de Sérgio Pissati e ArmandoFerrari (direita), em Rio do Oeste

36 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

o trabalho com um sócio e quatrofuncionários e atende 36 clientes,principalmente floriculturas daregião, de parte do litoral e do nortedo Estado. Os preços variam de R$1,50 a R$ 12,50. As maiores vendasocorrem no período da primavera eaté maio; no inverno a produção cai.Em 2004, o faturamento alcançouR$ 10 mil/mês.

Oeste também produz

Quando Anésio Egewarth, 31anos, resolveu produzir flores,disseram-lhe que aquilo era coisa demulher. Filho de agricultores, pediuum espaço na terra dos pais, em SãoJoão do Oeste, extremo-oeste, localde cultivo de milho. Junto com ossócios, o irmão Elton, de 29, e oamigo Mário, 38, idealizador donegócio, construiu a primeira estufa,de 51 x 10m. O ano era 1998 e oinvestimento, R$ 7 mil, para produzirflores de caixaria. “Caixaria requer

um investimento menor, o giro émais rápido e mais fácil de trabalhar”,conta. Descendente de alemães, umano antes fez cursos na Alemanha eHolanda, que complementou maistarde na Áustria e outra vez naAlemanha.

Hoje, as estufas aumentarampara 2.400m² e eles são os únicosfloricultores da região. Sãoproduzidas 300 mil mudas, ou 20 milcaixas, de 28 a 30 variedades aolongo do ano: petúnias, tagetes,vinca, boca-de-leão, cravina, amor-perfeito. Os preços variam de R$4,50 a R$ 5,00 por caixa colocada.Eles possuem 60 clientes ativos naregião, principalmente floricul-turas, até Chapecó.

Mas nem tudo são flores nos ne-gócios de Anésio. O transporte temcustos altos e a seca, que tem serepetido nos últimos anos, trazprejuízos difíceis de recuperar. “Noverão, ou vende ou descarta. Temracionamento em algumas cidades,

se as pessoas plantam flores nãopodem molhar”, diz.

Em Concórdia, na estrada deturismo rural Caminho da Roça,Sestílio Gorlin, aposentado daEmbrapa e ajudado nos fins desemana pela mulher, Helena,professora de italiano, produz flores,folhagens e mudas de árvoresnativas e ornamentais há quatroanos. Sua empresa, a Nativa Florese Plantas, é a única a produzir floresem vaso no município. Sãocultivados gerânios eretos ependentes de 24 cores e outrasespécies como fúcsias, impáciens,bromélias, samambaias e cactos. Oviveiro tem 300 mil mudas deárvores nativas e ornamentais,entre elas canela-doce, grevílea,quaresmeira e palmeira-real.

A área de terras de 262 mil m²,com mata nativa, foi adquirida em1999. Foram construídas duasestufas, uma de 15 x 35m, outra de40 x 10m e um galpão. Uma temsistema de irrigação por goteja-mento e na outra o processo ainda émanual. O investimento inicial foide R$ 40 mil, recurso obtido comcrédito pessoal no Banco do Brasil,que será recuperado com mais umano de trabalho.

A produção começa com mudasenraizadas, que são transplantadaspara vasos. As mudas são compradasda empresa italiana Lazzeri, quetem uma filial em Vacaria, RS. Destaforma, Sestílio consegue trabalharcom uma funcionária na parteinterna das estufas e outroempregado para a parte externa.“Amo o que faço, mas tenho tudo aaprender”, diz. Os vasos são vendidosno atacado para as floriculturas daregião, principalmente de Piratuba,por preços que vão de R$ 3,50 a R$8,00. Segundo ele, o mercado não éestável, mas as floriculturas buscamos produtos e ele não precisa arcarcom os custos do transporte. A seca,no entanto, tem deixado marcas.“Tivemos forte escassez de água, opoço secou e agora temos queabastecer no riacho”, conta.

Rosas têm investimentomais alto

Na área urbana de Chapecó, IedaSandra Berlanda, da Castália PlantasOrnamentais, produz botões derosas. Engenheira agrônoma, tinha

Titus Porath, de Rio do Sul, tem um cuidado artesanal com suas plantas emvaso

Lidiane Apel, 19 anos, trabalha com flores de caixaria em São João do Oeste

37Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

uma área ociosa de 1ha. Em 2002importou solo agrícola para o local,construiu uma estufa e trouxe asmudas para o início do cultivo deAntônio Prado, RS. O investimentochegou a R$ 300 mil, recurso que jáestá sendo recuperado. Em 3 mil m²estão plantados 16 mil pés de rosa,sendo 10 mil pés produzindo, dosquais são colhidos 360 mil botões/ano. As variedades são Clear, Vegas,Carola e Nicole. Há também umaprodução experimental de gérberas.

O clima é a principal dificuldade.No inverno, a temperatura tem queser controlada, o plástico é mantidofechado, para não baixar de 2oC. Noverão são ligados nebulizadores eventiladores para não passar de30oC e é utilizada uma câmara fria.A cobertura do solo nos canteiros éfeita com amendoim forrageiro, paramanter a umidade do solo e ajudarna nutrição. Mas o cuidadocompensa. “As rosas têm maiordurabilidade na floricultura e nacasa do cliente”, conta Ieda, quepode competir com as rosas vindasde São Paulo, que têm durabilidademenor em virtude da longa viagem.Ela atende o mercado de Chapecó ede outras cidades da região oeste emunicípios gaúchos. Os preçosvariam de R$ 10,00 a R$ 13,00 opacote com 20 botões.

Mas Ieda tem de enfrentarataques do fungo botrítis, ácaros,pulgões e também um problema comnematóides, que atinge o sistemaradicular da planta e faz os botõesestourarem. “Quando os nematóidesatacam, as perdas podem chegar a50%”, conta. Na mão-de-obra, sãocinco funcionários, sendo trêsmulheres que fazem a colheita,colocam redes nos botões e fazempoda.

Em Urupema, na serra catari-nense, o clima faz as rosas de outroprodutor, Amarildo Gaio, cresceremmais. A temperatura média anualde 13oC contribui para o tamanhomaior de haste e botões com mais de7cm de altura. “Qualidade e tamanhocomo esses não têm igual nomercado brasileiro”, garante oprodutor e engenheiro agrônomo.As rosas, das variedades Carola, RedVelvet, Confete, Rafaela, Suplece eSkin Line, respondem por 5% dofaturamento de Gaio, que em 20hacultiva também maçã, pêra eameixa. Em 2001, iniciou a produção

de rosas e de gipsófila (mosquitinho),substituindo uma experiência comflores em vaso, de manejo maisintenso. As três estufas ocupam 4mil m² e a estrutura tem ainda umgalpão com câmara fria. O investi-mento inicial ficou em R$ 80 mil.

A temperatura amena, que ajudana qualidade das rosas, inibe aprodução no inverno. “A sazonalidadeé um problema, teríamos queaquecer as estufas ou ter maisprodutores para atender os clien-tes na época que não produzimos”,diz. A produção fica então concen-trada entre novembro e junho.Entre os problemas fitossanitáriosa serem enfrentados estão o oídio eo míldio. A comercialização é feitana região e no Vale do Itajaí, atéBlumenau, por meio da empresa

ALG Frutas e Flores.O planalto catarinense apresenta

peculiaridades de clima e solo quefazem da região local adequadotambém para outras plantas quetêm desempenho melhor com o frio,como coníferas e tulipas. Umconvênio foi assinado entre a Epagrie a empresa Terra Viva, deHolambra, SP, para experimentoscom bulbos de tulipas. O primeiroplantio já foi efetuado em SãoJoaquim.

Seja no litoral, serra, Vale doItajaí ou oeste, os exemplosapresentados aqui apontam aspossibilidades de Santa Catarinapara a produção de ornamentais.No entanto, a atividade requer maisincentivos à produção e ao consumopara que possa continuar crescendo.

A variedade de ornamentais impressiona no abrigo de Sestílio Gorlin, deConcórdia

Ieda Berlanda, de Chapecó, coloca redes que dão forma aos botões de rosa

38 Agropec. Catarin., v.18, n.3, nov. 200538 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Paulo Sergio Tagliari1

Avicultura ecológica busca ser alternativapara agricultores familiaresAvicultura ecológica busca ser alternativapara agricultores familiares

Produtores de diferentes regiões de Santa Catarina estão buscandodiversificar suas atividades e agregar valor ao produto. Uma dasalternativas que está sendo testada, apesar de necessitar mais estudose pesquisas, é a produção agroecológica de aves. A experiência dealguns pioneiros é o assunto desta reportagem.

produção industrial e emgrande escala tem propor-cionado a um crescente

número de pessoas, no mundointeiro, o acesso a um volume maiorde alimentos, de forma quaseinstantânea. Um exemplo marcantedessa moderna tecnologia é aprodução intensiva dos milhares deaviários espalhados por toda a Região

Centro-Sul do Brasil e em diversospaíses. Não obstante a facilidadedesta tecnologia, nos últimostempos, em função da demanda dosconsumidores por alimentos demelhor qualidade, cientistas,técnicos e produtores vêm estudandoprocessos mais naturais e saudáveisde criação de frangos e aves emgeral.

Dentre as várias modalidadesnaturais ou ecológicas, a produçãoorgânica ou agroecológica de frangoe ovos e os produtos ditos caipirasou coloniais são as que vêm sedestacando e atraindo a preferênciado mercado consumidor, apesar deo volume de produção ainda serpequeno. A revista AgropecuáriaCatarinense visitou alguns novos

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5533, e-mail: [email protected].

A

Agropec. Catarin. , v.17, n.1, mar. 2004 3939Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

projetos que estão surgindo nestalinha em Santa Catarina.

Pesquisa segue atendência mundial

A produção avícola sem autilização de biocidas químicos,obedecendo princípios do bem-estaranimal, já representa 35% domercado francês (produtoschamados de “label e biológico”),enquanto no Brasil não chega a 1%.O Brasil, como grande expoentemundial neste setor, está atrasadonas pesquisas que buscam respostastécnicas para satisfazer as exigênciasque o mercado importador temdemandado, principalmente da Ásiae União Européia. Some-se a isto acrescente demanda do mercadointerno pelo chamado frango caipiraou ecológico/orgânico que atrai cadavez mais a preferência dosconsumidores.

Neste sentido, a Epagri implantouuma Unidade de Pesquisa e Extensãoem Avicultura Agroecológica naEstação Experimental de CamposNovos – EECN (região do planaltocentral catarinense) – iniciando umprojeto de pesquisa para testarsistemas de manejo e produção defrangos e ovos em processo orgânico/agroecológico e assim atender ademanda de agricultores familiaresque buscam alternativas ambientaise econômicas de produção.

Segundo informa o responsávelpelo projeto, o pesquisador e médicoveterinário Nelton AntônioMenezes, a produção agroecológicade aves e ovos, além de proporcio-nar um resgate cultural, repre-senta uma diversificação dasatividades da agricultura familiar,proporcionando o consumo de ali-mentos mais saudáveis e agrega-ção de valor em seus produtos.Conforme a opinião de muitosprodutores e técnicos, estaatividade, seguindo a tendênciamundial, pode ser bastante viávelem muitas regiões do Sul do Brasilpois aproveita áreas inexploradasou consorciadas, reaproveitamateriais e instalações, pode utilizaralimentação 100% produzida napropriedade e exige pouca tecnologiae mão-de-obra. Assim, a aviculturaem sistemas agroecológicos deprodução tem plena viabilidade detornar-se auto-sustentável. Mas há

muitos desafios a vencer. Algunsquanto à produção, e muitos rela-cionados ao processamento ecomercialização.

O pesquisador destaca que amiscelânea de raças e linhagens quederam origem ao chamado frangocaipira e o sistema “caseiro” decriação comprometem a viabilidadeeconômica da atividade, poisresultam em baixo desempenho, emtermos de idade de abate, conversãoalimentar, rendimento de carcaça,produção de ovos e uniformidade delotes. O que se acompanha hoje noBrasil e no mundo são criações “àmoda caipira”, com diversossistemas de manejo e instalações,utilizando-se linhagens comerciais(com crescimento mais tardio que odos híbridos industriais “de granja”,porém adaptadas ao manejo semi-extensivo e com melhores índicesde performance que os ditoscaseiros). Apesar de os frangos degranja, ou industriais, possuíremíndices superiores às linhagenshíbridas (abate aos 45 dias contra 84a 120 dias do caipira ou orgânico, econversão de 2kg de alimentos/raçãopor quilo produzido contra 3kg doorgânico), eles têm menorresistência ao estresse e àsenfermidades. Apenas os produtos

avícolas “tipo caipira” (ou colonial)são oficialmente registrados. Anormatização dos “orgânicos” aindaestá em fase de implantação.Denominações regionais, como“natural, diferenciado, biológico,

Pesquisador Nelton Menezes naUnidade Experimental deAvicultura Ecológica de CamposNovos, da Epagri

Uma das linhas de pesquisa é a produção de pintos em pequena escala porincubação artificial

40 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

misto, verde e ecológico”, entreoutras, não são reconhecidas peloMinistério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento – Mapa.

Nelton alerta ainda que as normasde produção do frango orgânico ouagroecológico são mais exigentesque as normas para criação de frangocaipira (que também utiliza aslinhagens híbridas), principalmentequanto aos alimentos (que nãopodem ser produzidos com adubosquímicos, agrotóxicos ou gene-ticamente modificados), e a área depastoreio disponível (10 a 17m 2/ave)é maior do que a lotação do frangocaipira (5 a 10m2/ave). Além disso,para ser certificado orgânico, háexigência de serem fiscalizados aprodução dos alimentos, o manejoda criação, abate, transporte e pontosde venda. Tudo isso encarece o preçofinal do frango orgânico/agroeco-lógico, caracterizando-o como umnicho de mercado ainda mais restritoque o do frango caipira, apesar dasuperior qualidade.

Em vista desta realidade,pesquisadores e extensionistas daEpagri trabalhando com pequenosprodutores familiares de diversosmunicípios catarinenses, junta-mente com observações do mercadoconsumidor, indicaram que as pes-quisas com avicultura agroeco-lógica/orgânica para corte e posturadevem priorizar, no setor deprodução, os seguintes assuntos:melhor aproveitamento depastagens, piquetes e áreas não-agricultáveis; instalações de baixocusto; alimentação alternativa(reduzir o custo e a dependência douso de milho e soja); utilização defitoterapia e homeopatia no manejosanitário; resgate e melhoramentode matrizes “crioulas” e produção depintos; sistema integrado comoutras criações e/ou culturas; e aprodução de frangos e ovosorgânicos. Tudo isso também com ameta de reduzir os custos para osprodutores e o preço final aosconsumidores.

Com estas recomendações aUnidade de Avicultura Agroe-cológica da EECN desenvolve quatroexperimentos: avaliação de desempe-

nho de quatro linhagens de frangosde corte “tipo colonial”, avaliação daprodução de ovos de linhagens defrangos de corte “tipo colonial”, viabi-lidade da produção de pintos empequena escala por incubação artifi-cial nas próprias unidades produ-toras de frangos e produção orgânica/agroecológica de frangos e ovos.

“Os grandes desafios não estãona tecnologia de produção, mas nafalta de fiscalização dos produtosilegais,” pondera Nelton Menezes.

Produtores apostam nofrango “alternativo”

Tanto as pesquisas na EECNcomo as experiências isoladas deprodutores em diversas localidadesde Santa Catarina ajudam-semutuamente e há intercâmbioconstante de informações entrepesquisadores, extensionistas eprodutores, o que permitedesenvolver técnicas e processosque visem a evolução dos sistemasde produção. É o caso doAssentamento Sepé Tiaraju,também em Campos Novos, quepossui 20 famílias de agricultoresem 360ha de terra e onde existeuma unidade de observaçãoavançada da Estação Experimental,que avalia o manejo, a alimentaçãoe a produção de frangos, ovos epintos. As técnicas estudadas naunidade experimental da Estaçãosão adaptadas ao manejo dosagricultores.

A agricultora Zenilda Bonetti éa responsável pela unidade avícolado assentamento. Ela diz que aprodução de aves, antes da unidadede observação instalada peloveterinário e pesquisador NeltonMenezes, era sem muita técnica,misturava frangos, galinhas, pintos,patos e até outros animais. Agora opessoal do assentamento arrumouo antigo galpão e instalou divisórias,separando as aves por idade efinalidade. Foi reativada umachocadeira (incubadora elétrica)para cem ovos e melhorados oscuidados com o manejo dos piquetes(grama nativa e azevém, com 5 a15m 2/ave). Além das caipiras

comuns ou caseiras, o projetoparticipativo forneceu pintos dasquatro linhagens híbridas avalia-das na Estação para, ao mesmotempo, observar seu desempenhosob maiores desafios de manejo,principalmente com alimentosorgânicos preparados na pro-priedade. Um dos objetivos é ava-liar os cruzamentos entre asdiversas linhagens, já que aaquisição de “raças puras” éeconomicamente inviável. Aprodução e o manejo são totalmentena linha orgânica, o milho e a sojasão produzidos no próprioassentamento e as aves ganhamtambém os restos da hortaagroecológica do assentamento.“Nossa meta é sermos auto-suficientes, o único insumo quetrazemos de fora é o aditivovitamínico-mineral (“núcleonatural”, sem antibióticos ecoccidiostáticos)”, conta Zenilda erevela que utiliza produtos naturais(plantas e própolis) na prevenção econtrole de doenças. Ela fala

Agricultora Zenilda Bonetti, doAssentamento Sepé Tiaraju: produ-ção é sob manejo agroecológico

41Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

também que a meta por enquanto éproduzir carne e ovos para osustento próprio do assentamento,mais tarde poderão pensar numaescala comercial.

O pesquisador da Epagri explicaque neste momento a idéia é deixarque o pessoal do assentamento váassimilando aos poucos as técnicaspreconizadas pela pesquisa, usandoo seu próprio manejo, sem interferirmuito no processo produtivo deles.

No sul do Estado, a Associaçãodos Agricultores Ecológicos daEncosta da Serra Geral – Agreco –,entidade que possui 120 famíliasassociadas, possui um abatedourode aves próprio, recém-instalado,com capacidade para 4 mil aves/mês.Oito famílias se dedicam à produçãode frango agroecológico, sendo duasem Anitápolis, uma em Gravatal ecinco em Santa Rosa de Lima,comercializam em mercados locaise fornecem para a merendaorgânica estadual. Atualmente olote por produtor está em torno de200 aves.

O produtor José Lucas Schmidtmais três irmãos, a mãe e filhospossuem uma propriedade de 54haem Santa Rosa de Lima, região demuito morro, mas ainda com boacobertura florestal. O estabele-cimento possui produção diversifi-cada, com hortas, lavouras de cana,feijão, milho, algum gado de leite eum pouco de fruta. A aviculturaecológica é recente e o manejo possuicaracterísticas bem interessantes,como a produção ao ar livre, ou seja,as aves ficam em cercados de 40 a50m2, com uma gaiola móvel que vaicirculando dentro do cercado, e estetambém se move no terreno dapropriedade. José Lucas explica que,ao mesmo tempo que as aves comemo pasto nativo, ervas, restos deculturas, insetos, quer dizer, limpam,preparam o terreno, elas tambémestercam no local, assim o solo ficapronto para receber uma culturaposterior, no caso o milho que é amais utilizada. O núcleo, o Premix,orgânico e especial para aves, é oúnico insumo adquirido fora, alémdas vacinas obrigatórias e ospintinhos. No inverno, as aves ficam

em galinheiro, cerca de 20 a 30 dias,depois vão para o cercado. A gaiolaé protegida com um toldo e fica umou dois dias em uma área, depois émovida, e o cercado permanece de15 a 20 dias num local, e vai-sefazendo rodízio nas áreas. JoséLucas também revela que umapróxima experiência é levar as avespara lavouras de cana, que ficammais nos morros, pois é dificultosocarregar esterco lá para cima.

As duas linhagens atualmentemais utilizadas pelo produtor são aParaíso Pedrez, que tem cres-cimento mais rápido, e a MasterGris, que é mais lenta na produção,mas tem menor mortalidade que aoutra. O tempo até o abate é, emmédia, de 90 dias, e os frangosatingem de 3 a 3,5kg, com umaquebra de 15% a 20%, portanto compeso final de 2,5 a 2,80kg aoconsumidor. O custo de produção napropriedade fica em R$ 4,00/kg e opreço ao consumidor atinge R$ 8,50/kg, pois aí estão contabilizadostambém o custo de beneficiamentodo abatedouro, transporte, impos-to, embalagem e margem demercado.

No Alto Vale do Itajaí, nomunicípio de Rio do Oeste, foifundada em 2002 a CooperativaRegional Vale Agrocolonial, aCooperva, com 26 sócios-fundadoresque se especializaram na produçãode frango caipira em transição parao orgânico/agroecológico. O atual

presidente, o senhor LindolfoHoepers, conta que para reunir osagricultores em torno desteempreendimento não foi fácil. “Foimuita reunião, muito treinamentoem administração rural, asso-ciativismo e na produção de aves emsistema natural em transição para oorgânico”, assinala. Muitos dosprodutores já criavam aves, mas nosistema caseiro, sem muita técnica.Com os cursos do Senar e da Epagrieles começaram a ter uma visãomais especializada, tanto na áreatecnológica como na de mercado ecomercialização. Por enquanto oabate dos animais é terceirizado,mas logo deve entrar emfuncionamento o abatedouro próprioda cooperativa, com área cedida pelomunicípio e construído com recursospróprios e do Pronaf e teráfiscalização federal. A venda é feitaem mercados locais e para amerenda escolar com a marca fan-tasia de QVale.

Na Cooperva o modelo que temsido adotado é o de semicon-finamento, ou seja, parte do tempoas aves ficam em aviário e parteficam soltas no pasto. A produçãoainda não é totalmente orgânica,pois a ração com soja e milho aindaé convencional. Porém, aalimentação restante, comopastagem, hortaliças folhosas,tubérculos, etc., é caseira eorgânica. O Premix é natural, à basede vegetais. A fitoterapia é

José Lucas Schmidt (em primeiro plano), da Agreco: os únicos insumoscomprados fora são o Premix orgânico e os pintinhos

42 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

largamente praticada pelosprodutores, que utilizam losna,folha de bananeira, alho e ácidoacético para o tratamento deenfermidades das aves. Eviden-temente utilizam as vacinaspreconizadas pelo calendário davigilância sanitária estadual, práticaobrigatória na produção orgânica ouem transição. Atualmente acooperativa está comercializandodois tipos de aves: a colonial, que éo frango de raça caipira, e a natural,que utiliza o frango industrialbranco, cujo abate é mais rápido, ouseja, com 65 dias. O custo deprodução por quilo do primeiro estáem R$ 3,90 e do segundo, R$ 3,30.O manejo e a alimentação são iguaispara os dois. A Cooperva iniciou, apartir de janeiro de 2006, a vendade frango em cortes para diver-sificar a produção e atingir maisconsumidores. Recentemente acooperativa firmou convênio com aEmbrapa, o qual envolve o trei-namento dos produtores e oacompanhamento técnico noempreendimento.

Um dos produtores da coope-rativa é o senhor Valdemar Verdi,da Comunidade de Alto ÁguasVerdes, no município de Rio do

Senhor Lindolfo Hoepers, da Cooperva, e osfrangos caipiras em transição para orgânicos,prontos para a venda

Oeste. Possui aviário de500 frangos, daslinhagens Label Rouge eMaster Gris. A conversãoestá em torno de 2,6kg/ave, que é consideradamuito boa para frangotipo caipira ou orgânico.O abate é aos 90 dias,com peso limpo médio de3,2 e 2,6kg. “Nossas avestêm melhor qualidadeque as convencionais”,ressalta Valdemar,explicando que osdiferenciais são coxasmaiores e firmes, peitomaior, pele com menosgordura e mais cor, semfalar na quase ausênciade produtos químicos, acomeçar pelos antibió-ticos.

Iniciativa da Cooper-va, bem na linha doambiental, é que os restosdas aves, como vísceras,cartilagens e ossos, serãotratados na forma decompostagem, em umaárea anexa ao abatedouro. Ocomposto será vendido ou retornadoàs propriedades dos associados. O

projeto conta com a orientaçãotécnica da Fundação UniversidadeRegional de Blumenau, a Furb.

Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006 43

P

Antônio Amaury Silva Júnior 1

ara grande parte da popu-lação, a babosa é uma plantaornamental e exótica,

enquanto para outras é um lenitivopara tratamento de queimaduras.Não obstante, é uma das primeirasespécies de plantas a seremutilizadas terapeuticamente,notadamente no antigo Egito,Oriente Médio e pelos povos norte-africanos. Suas propriedadespreservativa, regeneradora dérmicae purgativa são conhecidas ao longode milênios. Mas somente no século20 é que essas propriedades e muitasoutras tiveram comprovaçãoassegurada por centenas depesquisas científicas nas áreasfarmacológicas, fitoquímicas,clínicas e toxicológicas. Fruto destaspesquisas, inúmeras indústrias

espalhadas em vários países,incluindo o Brasil, deram origem aum mercado bilionário de proces-samento da planta, que é hojeutilizada na produção de cosméticos,cosmecêuticos, nutracêuticos,fitoterápicos e produtos de higiene.

Identidade da espécie

Babosa é o nome popular de váriasespécies da família Aloecaceae e dogênero Aloe , o qual compreendecerca de 275 espécies. O termobabosa deve-se à particularidade dasfolhas em formar internamente uma“baba” ou gel. Apenas três ou quatroespécies são cultivadas comer-cialmente, mas somente a espécieAloe vera L. (ou Aloe barbadensisMill.) reúne as mais importantes

propriedades fitoquímicas eterapêuticas.

Aloe vera é conhecida popular-mente como aloé, aloés, babosa,babosa-medicinal, barbosa, cara-guatá, caraguatá-de-jardim, erva-babosa e erva-de-azebre. Sãoconhecidas duas variedades botâ-nicas dessa espécie: Aloe barbadensisMill. var. vulgaris Lank. e Aloebarbadensis Mill. var. chinensis(Haw) Berger.

É uma planta arbustiva, de caulecurto, dióica, rizomatosa, perene,medindo 0,50 a 1,20m de altura(Figura 1). As folhas jovens sãoretas e agudas, com pintas brancas.As folhas adultas dispõem-se emrosetas com até 20 folhas. Sãomucilaginosas, arqueadas, glauco-esverdeadas, com 50 a 60cm de

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, fax: (47) 3341-5255,e-mail: [email protected].

Babosa-de-botica (Aloe vera)Bioativa por excelência

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comprimento por 6 a 9cm de largurae 3cm de espessura na base,marginadas por espinhos trian-gulares. As flores são tubulosas, decor amarelada, pendentes, dispostasem rácemos terminais densos de 30a 40cm de comprimento, sobre umahaste simples ou ramificada (Figura2). O fruto é uma cápsula triangularque reúne várias sementes escuras.

O corte transversal das folhasrevela, externamente, uma camadade células epidérmicas deconsistência elástica e impermeávelque reveste uma segunda camada,o mesófilo, que contém canaiscondutores de seiva. Mais inter-namente ocorre o parênquimatissular mucilaginoso ou gel, decoloração vítrea (Figura 3). O gelmucilaginoso assegura a condiçãoxerófita da babosa, conservando aumidade do tecido por longo períodode tempo. O látex, que é a seiva quecircula nos canais condutoressubepidérmicos, é um líquido deconsistência leitosa, coloraçãoamarelo-ocre, sabor amargo earoma rançoso, sendo produzido porcélulas excretoras do mesófilo. Oflorescimento ocorre de agosto asetembro. A polinização ocorreatravés de insetos e pássaros. Afecundação é cruzada.

Fitoquímica

• Gel (transparente): mucilagempolissacarídica, mananos, glico-manos, acemano, ácidos urônicos,hexurônico, peteroilglutâmico,glicurônico, gamolênico; enzimas -carboxipeptidase, peroxidades,lipase, alinase, amilase, oxidase,carbopeptidase e superóxidodismutase; penta-hidroxiflavonas,germânio, selênio, lectinas, nafto-quinonas, esteróis, β-sitosterol,triterpenóides, taninos, lactato de

magnésio, aloeferon, vitaminas E eC, galactose, xilose, saponinas,pentosana, manose-6-fosfato,galactose, manose, arabinose ealoerídeo. A polpa contém oxalatode cálcio (Figura 4).

• Látex (amarelo): antraqui-nonas, aloe-emodina, aloquinodina,barbaloína, aloetina, aloína,antranol; ácido aloético, cinâmico,pícrico, crisofânico, aloínico ehidroxi-cinâmico; éster de ácidocinâmico, aloinose, aloenina, aloi-nosídeos e casantranol. O azebre –que é a massa amorfa escuraresultante da secagem do látexdas folhas – contém 40% a 80% deresina e 20% a 30% de aloína (Figu-ra 4).

• Casca verde das folhas: glio-xalases, enzimas oxidase e catalase,β-caroteno, fenóis e enxofre.

• Os princípios ativos aumentamcom a idade da planta.

Composiçãobromatológica

As folhas contêm 96% de água,em média, enquanto que o gel podeconter até 99,5% de água. O gel dababosa produzida no Havaí contém30% de mucilagem, 25,5% deaçúcares (glicose e manose) e 22,3%de óleo e resina de aloína bruta,além de proteínas e fibras. A folhacontém 215mEq/dl de potássio,235mEq/dl de cálcio, 14mEq/dl de

Figura 1. Planta adulta de Aloe vera

Figura 2. Inflorescência de Aloe veraFigura 3. Corte transversal da folha da babosa mostrando o parênquimamucilaginoso e o látex

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fósforo, 19mEq/dl de sódio, 10mEq/dl de cloro, magnésio, traços decobre, manganês, ferro e zinco,13mg/dl de glicose, 0,2mg/dl deproteínas, 3,6mg/dl de ácidosalicílico, 11mg/dl de colesterol,374mg/dl de triglicerídeos, 0,5mg/dl de ácido úrico, 37ppm de lisina,31ppm de treonina, 30ppm detriptofano, 20ppm de leucina,14ppm de isoleucina, 14ppm defenilalanina, 14ppm de metionina,14ppm de valina, 52ppm de ácidoglutâmico, 45ppm de serina, 43ppmde ácido aspártico, 28ppm de glicinae alanina, 14ppm de prolina,arginina e tirosina, 18ppm dehistidina, β -caroteno, ácido fólico,colina, hidroxiprolina, vitaminas B1,B2, B3, B6, C e E. O conteúdo deproteínas solúveis decresce dasfolhas apicais para as folhas basais.

Ações comprovadascientificamente

O gel da babosa apresentaatividades antitumorais, anti-radicais livres, gastroprotetora,antiulcerativa dérmica, antiin-flamatória, antiartrítica, regene-radora dérmica, hepatoprotetora,clareadora dérmica, hipoglicêmica,hipocolesterolêmica, hipolipe-miante, antitrombótica, esper-micida e redutora do efeito decafeína, cocaína, etanol, ferro,mentol, iodo, timol e taninos. Éutilizado também no tratamentoclínico da asma bronquial,fibromialgia, síndrome de fadigacrônica, estomatite aftosa, osteíte

alveolar, Lichen planus, Osteoma-cutis e Psoriase vulgaris.

O látex é hipotensor, antialcoo-lismo, cicatrizante, antiviral (vírusHerpes simplex tipo 1, vírus davaricela-zoster, vírus pseudorábicoe vírus do resfriado), nematicida eantimicrobiano (Staphylococcusaureus, Staphylococcus pyogenes,Salmonella typhy, Salmonellaparatyphy, Streptococcus pyogens,Streptococcus agalactiae, Serratiamarcescens, Escherichia coli,Trichomonas vaginalis, Pseudo-monas aeruginosa, Streptococcusfecalis, Bacillus subtilis, Entero-bacter cloacae, Klebsiella pneu-moneae, Citrobacter sp., Candidaalbicans, Pseudomonas aeruginosa,Shigella paradysenteriae, Myco-bacterium tuberculosis, Coryne-bacterium xerosis, Aspergillus niger,Cladosporium herbarum eFusarium moniliforme).

Toxicologia

A fração da babosa com maiortoxidez é o látex amarelo que escorreda folha quando esta é cortada. Estelátex é contra-indicado inter-namente para crianças, mulheresgrávidas, lactantes e catamênicas(metrorragia), indivíduos comhemorróida, pacientes portadoresde apendicite, enterocolites, coliteulcerosa, mal de Crohn, portadoresde varizes, afecções renais,prostatite, disenteria e cistite. Ouso interno prolongado reduz asensibilidade do intestino,necessitando doses gradativamente

mais altas do produto. Doseselevadas podem causar cólicasabdominais, diarréia, náuseas,vômitos, transtornos no ritmocardíaco, câimbras musculares,hiperaldosterismo, debilidade,hipotermia, pulso lento, glomeru-lonefrite aguda, albuminúria ehematúria. O uso crônico do látexcomo laxante pode resultar emcâncer de cólon. A dose máximarecomendada para a resina (póamarelo) é de 1,5g, sendo que 8g/diapode causar a morte. O uso internoda babosa não deve estender-se pormais de oito a dez dias. Um possívelantídoto para a intoxicação agudaconsiste em administrar ao paciente10g de carvão ativado combinadocom 0,5g de sulfato de sódio, podendo-se juntar ainda frutas ou chás ricosem tanino.

Devido provavelmente aoscristais em forma de agulhaencontrados no gel, este pode causarirritação. O uso do gel de babosa emformulações utilizadas paradermoabrasão e “peeling” químicopode resultar em sensação dequeimaduras e dermatites.

Outros usos

• A essência das folhas é utilizadana fabricação de licores, aperitivos,tônicos digestivos e cerveja amarga.

• A resina extraída das folhas éutilizada como matéria corante paratingir seda, algodão e lã.

• A essência da planta era usadapara embalsamar múmias.

• O óleo das sementes e dasraízes é utilizado como flavorizanteem bebidas alcoólicas (“bitters”,licores e vermutes), bebidas não-alcoólicas, pudins, gelatinas ebombons, em níveis médios de até0,01%, podendo chegar a 0,2%quando se trata do extrato dasemente utilizado em bebidasalcoólicas.

• A polpa, macerada em açúcarou mel, constitui alimento de certospovos asiáticos.

• As fibras das folhas sãoutilizadas na fabricação de cordoalha,esteira e tecidos grosseiros.

• O suco da planta é inseticida elarvicida. Existem relatos de pessoasque utilizam o suco da planta paracombater pulgas.

• A planta é utilizada naornamentação de jardins.

Figura 4. Amostras isoladas do gel (transparente) e do látex (alaranjado) debabosa

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Ambiente de cultivo

Aloe vera é originária da ilha deSocotra e subespontânea nasIlhas Canárias e da Madeira,Mediterrâneo, noroeste da África enas margens do Mar Vermelho.Cresce em áreas semidesérticas eem locais pedregosos e semi-áridos.Está amplamente adaptada aoBrasil.

A planta é de climas tropical esubtropical secos. É heliófita exerófita. Não tolera geada. Ventosfrios predispõem à ocorrência deavermelhamento generalizado nasfolhas. Excesso de radiação solarassociado a déficits hídricos podemoriginar folhas finas, ressecadas ecom aparência bronzeada. As folhaspodem adquirir também umaarquitetura mais horizontal do queinclinada. Em condições de estresse,observa-se um rebrote acentuado.Plantas mais expostas ao solproduzem menos polpa e mais látexamarelo. Plantas cultivadas a plenosol apresentam o dobro de produçãode matéria seca em relação àsplantas cultivadas sob sombraparcial (30% de exposição à luzsolar), além de apresentaremperfilhos mais numerosos evigorosos. Plantas semi-sombreadastambém apresentam um sistemaradicular menos desenvolvido. Aredução da exposição da babosa àluz solar não afeta a concentraçãodos metabólitos primários esecundários de carbono. Geadas enevascas prejudicam a qualidade dogel, uma vez que as célulassecretoras da resina amarela podemse romper ao congelar, misturando-se ao parênquima hialino.

A planta de babosa prefere solobem drenado, arenoso, siltoso ousílico-argiloso, levemente ácido,permeável e solto. Quando ocorreexcesso de água, seja por irrigaçãoexagerada, seja por chuvas e/ou mádrenagem do solo, as folhas,principalmente as inferiores,apresentam-se moles ao tato,dobrando-se facilmente pelo pró-prio peso. Pode ocorrer apodre-cimento na base da folha, a qual sedesprende da planta. Se houver faltade água as folhas tornam-se finas evoltadas para dentro da planta. Aplanta tolera solos pobres, mas nãosuporta solos compactados ou muitoargilosos.

Técnicas de cultivo

A planta pode ser propagada porestolões e mudas que se formamlateralmente à cepa, com cerca de10cm de altura. Estimulam-se asbrotações axilares e a formação debrotos adventícios mediante adecapitação dos renovos. Mudas debabosa podem ser produzidasmassivamente através de cultura invitro (Figura 5) , utilizando-seexplantes do meristema apical. Apropagação por sementes é muitolenta, e nem sempre é possível aobtenção de sementes. Estacaspostas a enraizar em cinza de cascade arroz, sob telado com 70% desombra e sob irrigação diária pornebulização, três vezes ao dia e emturnos de 3 minutos, no verão,enraízam em cerca de sete a dezdias e o índice de enraizamento dasestacas é de 95%. Depois deenraizadas as estacas são repicadaspara recipientes ou saquinhosplásticos contendo substrato organo-mineral. As mudas com cerca de 15a 20cm de altura ou quatro a seisfolhas podem ser plantadas ao longode todo ano a campo no espaçamentode 1 x 0,6m. Aduba-se em sulco oucovas com 1kg de composto orgânico+ 150g de fosfato natural por planta.Esta adubação deve ser feitaanualmente.

Os perfilhos que surgem na baseda planta devem ser retirados assimque apresentem 10 a 15cm de altura,para que não concorram com aplanta-mãe por nutrientes, luz eágua. Eles podem ser aproveitadospara a formação de novas mudas.Para se obter melhor produtivi-dade e qualidade de folhas, deve-seeliminar todo o primórdio floral,evitando-se com isso a re-translocação de nutrientes emetabólitos secundários das folhaspara os órgãos reprodutivos. Osnematóides podem causar danos àplanta, ocasionando a formação defolhas retorcidas, finas e com lesõespuntiformes (Figura 6). Eles tambémreduzem o crescimento da planta ea produção de gel. Os nematóidespodem ser controlados com omolhamento das raízes commanipuera diluída em água, naproporção de 1:1.

A colheita inicia-se no segundoano de cultivo. Deve ser feitapreferencialmente em períodos sem

chuva. Colhem-se apenas duas atrês folhas mais desenvolvidas,localizadas na parte basal da planta.O teor de gel e polipeptídeos é maiornas folhas maturas do que nas jovens.Para se evitarem eventuais perdasde látex por ocasião da colheita dasfolhas, deve-se extraí-las no sentidoascendente ao eixo da planta.Remove-se cada folha segurandofirmemente um dos bordos da bainhaentre o polegar e o indicador;desprende-se a bainha em ummovimento rápido em meia-lua.Uma folha é considerada maduraquando atinge cerca de 600 a 700gde peso, 50 a 60cm de comprimento,9 a 10cm de largura e 2,5 a 3,5cm deespessura na base. Alguns produ-tores alegam que as propriedadesmedicinais da babosa são máximasquando as folhas apresentam 90cmde comprimento.

O rendimento de folhas é de100kg/ha no primeiro ano, podendochegar a 400 a 1.000kg/ha no quintoou sexto ano. O cultivo pode duraraté o décimo ano. O rendimentototal por hectare de folhas frescas,látex e aloína é de, respectivamente,97t, 970kg e 8,11kg. Uma planta

Figura 5. Muda de babosa produzidapor cultivo in vitro

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adulta produz cerca de 13 a 15 folhas.Em algumas regiões mais favoráveisao cultivo são colhidas folhas comaté 1,3kg de peso bruto. Orendimento de gel em plantasmaturas e imaturas é de 60% e 30%,respectivamente. Na Flórida, EUA,obtém-se um rendimento de 15 a30kg de folhas por planta ou 150 a360t/ha de folhas, para umadensidade populacional de 10 mil a12 mil plantas/ha. Considerando-seque para cada 10kg de folhas obtém-se 7L de suco, a produção de sucopor hectare por ano é deaproximadamente 250 mil litros. EmItajaí, Santa Catarina, obtém-se emmédia folhas com 57,3cm decomprimento, 6,3cm de largura nabase, peso de 572g e com umrendimento de gel por folha de 75%,aproximadamente. As produtivi-dades total e comercial de folhasverdes são, respectivamente, 133 e95t/ha, com uma produtividade degel de 71,50t/ha.

Processamento básico

As folhas devem ser lavadas ecortadas transversalmente em suabase e na extremidade superior. Aepiderme superior é filetadalongitudinalmente com uma faca. Oparênquima gelatinoso pode serremovido manualmente com umaespátula metálica de base larga(Figura 7), para depois ser liquefeitoaté o ponto de gel homogeneizado. Aestabilização do gel pode ser feitamediante pasteurização (73 oC,durante 30 minutos) e uso deconservantes como o benzoato desódio. A refrigeração e o acondi-cionamento a vácuo são opções paraquando não se deseja utilizarconservantes. O gel pode ser filtradoa fim de se eliminarem as fibras. Aprodução de gel de babosa para usointerno não deve conter mais que10ppm do látex amarelado.

Formas de uso

• Látex: colher as folhas maismaturas, rasgando-as a partir dasbordas da base da bainha foliar.Durante a operação de colheita,utilizar um recipiente para coletaros primeiros exsudatos das folhas.Lavá-las em água corrente e cortartransversalmente a base e o ápice.Dispor as folhas em posição vertical

durante 6 horas dentro de um re-cipiente para que todo o látex desçapor gravidade. O látex pode ser uti-lizado externamente como cicatri-zante e anti-séptico; pode ser man-tido sob refrigeração por até duassemanas ou então ser desidratadoaté a obtenção da resina sólida.

• Gel: retirar com uma espátulaou colher o gel de uma folha (isentode látex). Bater no liquidificador atéa homogeneização. Para evitaroxidações no gel, adicionar ácidoascórbico a 0,5%. Conservar sobrefrigeração. O gel pode ser aplicadoem queimaduras e afecçõesdérmicas.

• Suco: bater em liquidificador50g de gel (isento do látex amarelo)com um copo de suco de uva. Tomardois copos ao dia, antes das refeições.

Pode ser utilizado o suco comercialextraído do gel, na dose de 50ml,três vezes ao dia.

• Cataplasma natural: retirar apelícula verde que reveste oparênquima gelatinoso. Utilizar ogel sobre queimaduras e afecções dapele três vezes ao dia.

• Supositório: cortar um seg-mento de folha de 3cm de com-primento por 1cm de diâmetro.Remover a cutícula, deixando apenaso parênquima gelatinoso. Manterno congelador. Utilizar comosupositório nas retites hemorroidais.

• Outros: extrato glicólico ouglicerínico, bronzeadores, cremes(2% a 5%), emulsões (5% a 10%),sabonetes, xampus e máscarasfaciais. Pode-se utilizar até 30% dogel fresco.

Figura 6. Sintomas de infestação de nematóides em Aloe vera

Figura 7. Extração manual do gel de babosa

Seção Técnico-científica

∗ Novas cultivares de citros para Santa Catarina ...............................................................Osvino Leonardo Koller

Eliséo SopranoCláudio Keske

João Favorito Debarba∗ Uso de agrotóxicos e determinação da contaminação da água do Rio Canoas na Serra Catarinense

com o uso do bioindicador Rhamdia sp. (jundiá) .............................................................Lucia Helena Baggio Martins

Luciane Costa Oliveira

∗ Substratos para produção de mudas hortícolas para cultivo hidropônico ................................Fernanda Alice Antonello Londero Backes

Candice Mello Romero SantosRogério Luiz Backes

∗ Murcha-de-curtobacterium do feijoeiro: descrição e controle .............................................Gustavo de Faria Theodoro

Antonio Carlos Maringoni∗ Caracterização de frutos de populações e seleções de porongo (Lagenaria siceraria) .................

Rogério Luiz BackesAlvadi A. Balbinot Junior

Domingos GuadagninJosé Alfredo Fonseca

Marcelo C. Pilati Bialesk

∗ Efeito de sistemas de preparo e de fontes de nutrientes sobre a fertilidade do solo e o crescimentoe produção de milho ...............................................................................................

Milton da VeigaDalvan José Reinert

Carla Maria Pandolfo∗ Comportamento de cultivares de feijoeiro ao crestamento bacteriano comum, em condições de

casa-de-vegetação .................................................................................................Fernando Vavassori

Gustavo de Faria TheodoroDaniel Henrique Herbes

Lucilene de Abreu* A importância do erro experimental .............................................................................

Cristiano Nunes NesiStéfani de Bettio

* Incremento na frutificação efetiva de caquizeiro ‘Fuyu’ pela aplicação de ácido giberélico ......Paulo Vitor Dutra de Souza

Vinícius GrasseliErnani Pezzi

Gervásio SilvestrinHardi Schmatz Maciel

* Resposta do feijoeiro à adubação foliar com biofertilizantes.............................................Eloi Erhard Scherer

Informativo Técnico

Artigo Científico

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* Ocorrência de Phyllocnistis sp. (Lepidoptera: Gracillariidae) em plantas da vegetação espontâneaintercalar de pomar de citros no Rio Grande do Sul .............................................................

Janaína Pereira dos SantosFábio Kessler Dal Soglio

Luiza Rodrigues Redaelli

Nota Científica

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ISSN 0103-0779

Comitê de Publicações/Publication CommitteeAlvadi Antonio Balbinot Júnior, M.Sc. – EpagriÂngelo Mendes Massignam, Ph.D. – EpagriCésar Itaqui Ramos, M.Sc. – EpagriCristiano Nunes Nesi, M.Sc. – EpagriEduardo Rodrigues Hickel, Dr. – EpagriFrederico Denardi, M.Sc. – EpagriHenri Stuker, Dr. – EpagriJefferson Araújo Flaresso, M.Sc. – EpagriJosé Ângelo Rebelo, Dr. – EpagriLuiz Augusto Martins Peruch, Dr. – EpagriPaulo Henrique Simon, M.Sc. – Epagri (Secretário)Roger Delmar Flesch, Ph.D. – Epagri (Presidente)Valdir Bonin, M.Sc. – Epagri

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Indexada à Agrobase e à CAB International

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICO-CIENTÍFICOS NESTA EDIÇÃO: Alvadi Antonio Balbinot Júnior, Alvimar Bavaresco, AntônioAmaury Silva Júnior, Antonio Carlos Ferreira da Silva, Antônio Oliveira Lessa, Carla Maria Pandolfo, Círio Parizotto, Eliane Rute de Andrade, Eniltode Oliveira Neubert, Faustino Andreola, Gilson José Marcinichen Gallotti, Ivan Tadeu Baldissera, Jorge de Matos Casaca, José Alfredo da Fonseca,Leandro do Prado Wildner, Luiz Antonio Chiaradia, Luiz Augusto Ferreira Verona, Márcia Mondardo Spengler, Márcio Sonego, Marco Antonio DalBó, Nelson Prestes, Onofre Berton, Renato Dittrich.

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O

Novas cultivares de citros para Santa CatarinaNovas cultivares de citros para Santa CatarinaNovas cultivares de citros para Santa CatarinaNovas cultivares de citros para Santa CatarinaNovas cultivares de citros para Santa Catarina

Osvino Leonardo Koller1, Eliséo Soprano2,Cláudio Keske3 e João Favorito Debarba4

Brasil é o maior produtormundial de frutas cítricas etambém o maior exportador

de suco de laranja, mas exportaquantidade muito pequena de frutoscítricos para consumo de mesa. Oscitricultores paulistas, que res-pondem por 80% da produçãobrasileira, têm se preocupado quaseque exclusivamente em produzirfrutos que atendam ao interesse dasindústrias de suco concentrado, asquais absorvem aproximadamente75% da produção nacional. Com isso,o mercado de consumo de frutas demesa fica relegado a segundo plano,embora os cítricos representem asfrutas mais consumidas ao natural(Koller, 2001).

O mercado de frutas frescas pagaum preço mais elevado do que aindústria, porém é mais exigenteem qualidade. Um exemplo dissosão as laranjas de umbigo, comobaía e baianinha, de mesa porexcelência devido à ótima qualidade,muito bem aceitas pelo consumidor,apesar de terem preço mais elevadoque outras cultivares. Nas regiõescatarinenses com altitudes de 400 a650m, o clima ameno possibilitaproduzir frutos de laranjas de umbigode excelente qualidade.

Pelo acompanhamento do volu-me de hortigranjeiros comercia-lizados mensalmente pelas Cen-trais de Abastecimento do Estado deSanta Catarina, S.A. – Ceasa/SC –,constata-se que a quantidade detangerinas se iguala, e às vezes até

supera, a quantidade de laranjasdurante os meses de maio, junho ejulho, apesar do preço médio maiselevado das tangerinas (Koller,2001). O cultivo mundial de tan-gerinas tem crescido, sendo que elasjá representam 17% da produçãomundial de frutas cítricas (FAO,2002). O maior aumento percentualda área cultivada com tangerinas eo crescimento de seu consumodevem-se ao fato de os consumidoresdarem preferência a frutas demelhor sabor e de mais fácildescascamento com a mão.

Santa Catarina importa mais de75% dos frutos cítricos que consomein natura. Isto representa umaevasão de divisas aproximada de R$20 milhões/por ano (Koller, 2001).Em virtude disso, na Epagri/EstaçãoExperimental de Itajaí (EEI), naEpagri/Estação Experimental deItuporanga (EEIT) e na EscolaAgrotécnica Federal de Rio do Sulencontram-se em avaliação mais decem cultivares copa de laranjas,tangerinas e híbridos, com o objetivode selecionar aquelas com adaptaçãoe boa qualidade de frutos, quetenham possibilidade de cultivocomercial para atender o mercadocatarinense de frutas de mesa.Dentre as novas cultivares sobavaliação, as seguintes começam achamar a atenção dos pesquisadores:

Laranja Shamouti

Originou-se aproximadamente

em 1844 em Jaffa (bairro antigo deTel Aviv, Israel), provavelmente deoutra cultivar do mesmo grupo, pormutação de gema. Atualmente éuma importante cultivar paraprodução de frutos de mesa emIsrael, sendo exportada para aEuropa com a marca comercialJaffa. Produz frutos alongados comcasca de média espessura, que sedesprende com certa facilidade dofruto. A polpa apresenta poucassementes e, algumas vezes,nenhuma (Figura 1). A época decolheita ocorre nos meses de julhoa setembro. Os frutos são deexcelente qualidade para consumoin natura. A planta é de médio vigor,possui folhas grandes e inicia aprodução a partir do quarto ano,portanto, mais tarde do que onormal para outras cultivares. Temboa produtividade, mas pode

Aceito para publicação em 16/8/05.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Epagri, Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul, C.P. 441, 9160-000 Rio do Sul, SC, fone: (47) 3521-3700, e-mail: [email protected]. agr., Epagri, Estação Experimental de Ituporanga, C.P. 121, 88400-00 Ituporanga, SC, fone: (47) 3533-1409, e-mail: [email protected].

Figura 1. Laranja Shamouti: ummês antes da maturação, EEI, 2004

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apresentar alternância de produção.Necessita de forte período de secaou frio intenso no outono paraproduzir uma boa florada naprimavera.

Três clones de Shamouti encon-tram-se em fase de avaliação naEEI. O clone de laranja Shamoutiintroduzido da Estação Expe-rimental de Taquari, RS, pelaEpagri em 1988, já é cultivadocomercialmente por uma empresaem Araranguá, litoral sul de SantaCatarina. Os frutos têm excelenteaceitação no mercado local peloformato alongado, cor intensa dacasca e da polpa e pelo ótimo sabor.Os frutos alongados são muito bemaceitos pelos consumidores,acostumados com a laranja pêratrazida de São Paulo, a qual temformato bastante parecido, mas oseu cultivo é desaconselhado emSanta Catarina.

Tanto no Paraná, quanto nolitoral sul de Santa Catarina, estacultivar tem se mostrado altamenteresistente ao cancro cítrico.

Laranja-baía Newhall

Surgiu na Califórnia pormutação espontânea da baíacomum. Possui frutos um poucomenores do que esta, com cor depolpa e casca mais intensa, boaaparência e maturação mais precoce(Figura 2). Os primeiros frutospodem ser colhidos a partir dasegunda quinzena de abril, umpouco antes da Navelina. Os frutossão de excelente qualidade e semsementes. A árvore é vigorosa, debom desenvolvimento. A EEI contacom dois clones de Newhall, um

deles introduzido da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul –UFRGS – em 1997 e outrointroduzido do Instituto Agronômicodo Paraná – Iapar – em 1998.

Laranja-baía Lane Late

Surgiu na Austrália em 1950 pormutação espontânea da laranja-baíacomum. O cultivo comercial naEspanha teve início em 1987. Aárvore é grande, muito produtiva einicia a produção precocemente. Ofruto é grande (Figura 3), temumbigo pouco menor do que o dabaía, possui grande aderência aopedúnculo e mantém-se na plantaem excelentes condições comerciaisdurante muito tempo sem perder aqualidade. Permite um longoperíodo de colheita, a qual iniciaquatro a seis semanas depois dabaía. Ao contrário da maioria daslaranjas de umbigo, o suco da LaneLate se mantém sem amargar porbastante tempo depois de extraído.A EEI tem dois clones de Lane Late,um introduzido da UFRGS em 1997e outro, da Embrapa FruticulturaTemperada, de Pelotas, RS, em2000.

Brasil ocorre ataque de verrugosenas folhas e frutos.

A EEI tem dois clones deClemenules. O primeiro foiintroduzido em 1994 da EmbrapaFruticultura Tropical, de Cruz dasAlmas, BA, e o segundo foiintroduzido em 2000 da EmbrapaFruticultura Temperada, de Pelotas,RS.

Figura 2. Laranja-baía Newhall, deexperimento na Escola AgrotécnicaFederal de Rio do Sul, 2005

Tangerina Clementina deNules ou Clemenules

Atualmente é a mais importantetangerina na Espanha (Figura 4).Originou-se por mutação daClementina comum em Nules(Província de Castellón). Amaturação é precoce, ocorrendo apartir do final de março. Seu pólené auto-incompatível, razão pela qualnão produz semente quando emplantios isolados. Adapta-se bem aclimas de baixa umidade do ar. Nascondições de clima úmido no sul do

Figura 4. Tangerina Clemenules, deexperimento na Escola AgrotécnicaFederal de Rio do Sul, 2005

Tangerina Okitsu

Pertence ao grupo das satsumas,o qual surgiu no Japão antes de1878. A tangerina Okitsu surgiu deuma semente da satsuma cultivarMiyagawa, em 1940. Trata-se dacultivar mais precoce em cultivocomercial na Espanha, onde o seuplantio comercial iniciou em 1987.

Os frutos apresentam casca finae lisa, presa aos gomos, donde sesolta facilmente (Figura 5), e podemser colhidos já a partir do início demarço nas regiões mais quentes. Acor da casca e da polpa é laranja-intensa. O sabor, ao contrário damaioria das satsumas, é bastanteagradável. Não produz sementes,mesmo em plantios mistos comoutras variedades. A árvore podeapresentar alguns espinhos, o quenão é comum nas demais satsumas.É muito produtiva e apresenta boaresistência ao cancro cítrico.

A coleção da EEI conta comquatro acessos de Okitsu, sendo umoriginário da Empresa de PesquisaAgropecuária do Estado do Rio deJaneiro – Pesagro –, Macaé, RJ,um da Embrapa, Pelotas, RS, e doiscoletados em Santa Catarina.

Figura 3. Laranja-baía Lane Late,2004

Foto do Instituto Valenciano deInvestigaciones Agrarias

53Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Tangelo Nova

É resultante do cruzamento datangerina ‘Fino’ com tangelo‘Orlando’ realizado em 1942 noDepartamento de Agricultura dosEstados Unidos – Usda –, Flórida,por Gardner e Bellows. É irmão dostangelos ‘Lee’, ‘Osceola’ e ‘Robinson’(Hodgson, 1967; Futch & Jackson,2004).

Os frutos são firmes, de bomtamanho, boa conservação pós-colheita e cor laranja muito forte,principalmente em regiões maisfrias (Figura 6). A casca dos frutos éum pouco aderente. A colheita podeiniciar a partir de maio. O sucoapresenta coloração alaranjada-intensa e tem excelente sabor. Aárvore tem bom vigor e desen-volvimento. Por ser de polinizaçãoauto-incompatível, necessita pólende outras cultivares (plantiointercalado) para que frutifiquebem (Futch & Jackson, 2004), mas,de acordo com o Instituto... (2004),em plantios isolados produz frutos

sem sementes. Existe um clone queproduz um número elevado desementes por fruto, quando emplantios mistos.

Tangor Ortanique

Originário da Jamaica, acredita-se ter surgido por cruzamentonatural, entre tangerina e laranja,ocorrido antes de 1920. Por ser depolinização auto-incompatível,quando em plantios isolados osfrutos não possuem sementes.Produz frutos grandes, com dez a12 gomos, de cor laranja-intensa ealto teor de suco (Figura 7). De bomsabor, os frutos podem se manterna planta em boas condições pormuito tempo. Normalmente acolheita pode ser feita a partir demeados de julho, prolongando-sepor dois meses. Assim como noutrostangores, o descascamento do frutocom a mão é difícil. A casca podeapresentar alto teor de óleo. Trata-se de cultivar bastante importantena Espanha e em Israel.

o primeiro produza frutos decoloração laranja mais forte.

Tangor Ellendale

Surgiu na Austrália, aproxima-damente em 1878. A planta de médiovigor tem copa arredondada, boaresistência ao frio, ramos semespinhos mas que se quebram commaior facilidade do que noutrascultivares. Pode apresentaralternância de produção. Por ser depolinização auto-incompatível,quando cultivada em plantiosisolados os frutos produzidos nãopossuem sementes (Australian...,2004; Instituto..., 2004).

Os frutos são médios a grandes,de excelente coloração (Figura 8),de boa resistência ao manuseio,maturação a partir de julho e cascaum pouco aderente como é normalnos tangores. A polpa é sucosa e debom sabor. O fruto se mantém muitotempo na planta, mesmo maduro.Possui elevado teor de acidez etambém elevado teor de açúcar.Apresenta boas características paramanuseio e transporte e pode serarmazenado por até três meses emcâmara fria, à temperatura de 3 a4oC.

Figura 5. Tangerina Okitsu, EEI,2004

Figura 6. Tangelo Nova, introduzidoda Embrapa, Pelotas, RS, em dez.2000, produzindo frutos de excelentecoloração na EEI, 2004

Figura 7. Tangor Ortanique, frutosde clone obtido a partir de sementesna EEI, 2004

A partir de algumas sementes deOrtanique semeadas em 1988 naEEI, obtiveram-se algumas plantas,dentre as quais selecionou-se uma,que produz frutos de bom tamanhoe de cor laranja bastante intensa,porém com casca muito aderente.Em 2000 foram introduzidasborbulhas da Embrapa de Pelotas,RS, sendo que os primeiros frutosproduzidos em 2004 permitemafirmar que existe significativadiferença entre estes dois clones. Osegundo produz frutos bem maiorese com casca menos aderente do queo clone selecionado na EEI, embora

Figura 8. Frutos ainda não madurosdo tangor Ellendale, de experimentona Escola Agrotécnica Federal deRio do Sul, 2005

A EEI introduziu o tangorEllendale em dezembro de 2000 daPesagro/Estação Experimental deMacaé, RJ.

Cultivares sangüíneas

No futuro deverão aparecer paraos brasileiros novas variedades paramesa, com polpa cor sangüínea. Dois

54 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

são os pigmentos responsáveis pelacor vermelha da polpa. Um deles, aantocianina, forma-se em algumasvariedades quando cultivadas emregiões de clima frio. A mesmavariedade plantada em regiões declima quente não apresentará a corvermelha porque não haveráformação de antocianina. O outropigmento, o licopeno, tambémpresente no tomate, teria efeitobenéfico no controle do câncer depróstata (Paula et al., 2004; Shami& Moreira, 2004). Este pigmento seforma também em climas quentes elocaliza-se nas paredes dos gomos edas glândulas de suco. Ao seespremer o fruto, o suco apresentacor normal, sem o pigmento, quefica retido no bagaço. No Brasil já ébastante conhecida a laranjaSangüínea de Mombuca, cuja corvermelha se deve à presença dolicopeno. Esta cultivar apresentaelevado número de sementes e aindanão assumiu importância comercial.Outras novas variedades do grupodas sangüíneas existem naVenezuela, Espanha, Itália, EstadosUnidos, entre outros países. A EEI,além da Sangüínea de Mombuca,introduzida do Centro de Citricul-

Figura 9. Laranja sangüínea: frutosde experimento em Itaiópolis

tura do Instituto Agronômico deCampinas, conta com outras duascultivares sangüíneas ainda em faseinicial de avaliação (Figura 9).

Literatura citada

1. AUSTRALIAN CITRUS GROWERS.Disponível em: <http://www. austcitrus.o r g . a u / i n t e r n a l _ r e p o r t . p h p ?page_id=90>. Acesso em: 09/06/2004.

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55Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Uso de agrotóxicos e determinação da contaminação daUso de agrotóxicos e determinação da contaminação daUso de agrotóxicos e determinação da contaminação daUso de agrotóxicos e determinação da contaminação daUso de agrotóxicos e determinação da contaminação daágua do Rio Canoas na Serra Catarinenseágua do Rio Canoas na Serra Catarinenseágua do Rio Canoas na Serra Catarinenseágua do Rio Canoas na Serra Catarinenseágua do Rio Canoas na Serra Catarinense

com o uso do bioindicador com o uso do bioindicador com o uso do bioindicador com o uso do bioindicador com o uso do bioindicador Rhamdia Rhamdia Rhamdia Rhamdia Rhamdia sp. (jundiá)sp. (jundiá)sp. (jundiá)sp. (jundiá)sp. (jundiá)

O

Lucia Helena Baggio Martins1 eLuciane Costa Oliveira21

ambiente aquático tem sidoo maior receptor de despejosorgânicos e inorgânicos

resultantes das atividades agrícolase industriais. A realização de estudosque permitam estabelecer um perfilda qualidade, não apenas da água,mas do sedimento e da cadeia tróficadeste ambiente, são incipientes noBrasil.

No local deste estudo, municípiode Urubici (latitude sul 27o10' elongitude oeste 49o40'), região daSerra Catarinense, estão localizadasas nascentes do Rio Canoas. Este riofaz parte do Sistema Integrado daVertente do Interior cuja baciahidrográfica ocupa uma áreaaproximada de 60.123km 2,equivalente a 63% do territóriocatarinense (Santa Catarina, 1997).

Urubici destaca-se como o maiorprodutor de hortaliças do Estado e,em menor escala, na fruticultura,com a cultura da maçã. A produçãohortícola é concentrada naprimavera/verão, enquanto que nooutono/inverno ocorre a implan-tação de pastagens para pecuária.Essas culturas associadas ao longodo ano constituem a base econô-mica do município. A quantidade deagrotóxicos utilizada neste municí-pio é alta e aplicada intensivamente.

No Brasil foram vendidas 463,6mil toneladas de produto comercialdos diferentes tipos de agrotóxicos,no ano de 2004 (Ferreira & Vegro,

2005), e Santa Catarina tem umconsumo estimado de 4% do total.

Com base neste contexto, surgea necessidade de se dar um destinoadequado à grande quantidade deembalagens resultantes do uso deagrotóxicos. No Brasil, as opções detratamento e destinação dosresíduos de agrotóxicos (embalageme produto) ocorrem por incineração,retorno para o fabricante, tríplicelavagem, reciclagem, enterrio etratamento químico. Em SantaCatarina predominam as opções deenterrio, incineração e reciclagem(Oliveira, 1997). A destinação finalno solo e a incineração são as op-ções mais usadas, sendo a primeiradiretamente ligada à contaminaçãodo lençol freático. A poluição causa-da por agrotóxicos normalmente édiscreta e silenciosa. Estudosecotoxicológicos sobre seus efeitoscrônicos no meio ambiente e nabiota ainda são incipientes.

O manejo inadequado e o não-uso de práticas conservacionistasproporcionam a ocorrência deelevadas taxas de perdas de solo porerosão e, conseqüentemente, pro-blemas de assoreamento dos rios.O controle da erosão é, na maioriadas vezes, realizado através depráticas mecânicas quase sempresub ou superdimensionadas, sem oconhecimento das condições físicasde superfície e subsuperfície do solo,o que influem diretamente na

eficácia das mesmas. Na regiãodeste estudo a horticultura e afruticultura, em especial, sãoatividades que demandam o uso dealtas doses de agrotóxicos, quelixiviam e/ou percolam no perfil dosolo até atingir os mananciaishídricos.

O presente estudo teve comoobjetivo avaliar o impacto ambientalno Rio Canoas, causado pelalixiviação e/ou percolação deresíduos de agrotóxicos resultantesdo uso intensivo associado àaplicação de práticas não-conser-vacionistas.

Metodologia

Foram elaborados e aplicadosquestionários a 126 famílias quevivem junto ao Rio Canoas, na zonarural do município de Urubici. Aárea rural estudada representa 5,5%do número total de habitantes e10,5% do número de habitantes domeio rural do município.

As perguntas elaboradas servi-ram para o levantamento de dadossobre a forma de cultivo, agro-tóxicos utilizados, uso de equipa-mento de proteção individual, formade captação, utilização e destino daágua na propriedade, entre outrasvariáveis que fornecessem o perfilda família rural com a atividadeagrícola e sua relação com o recursohídrico.

Aceito para publicação em 16/8/05.1Farmacêutica-bioquímica, M.Sc., Universidade do Planalto Catarinense – Uniplac –, C.P. 525, 88590-900 Lages, SC, fone: (49) 3222-0711,e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Universidade do Planalto Catarinense – Uniplac, fone: (49) 3227-0572, e-mail: [email protected].

56 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Para realizar esta avaliação, foiutilizado como bioindicador o peixeda espécie Rhamdia sp. (jundiá)(Figura 1), e como biomarcador daexposição aos agrotóxicos (carba-matos e organofosforados) a ace-tilcolinesterase cerebral.

O jundiá foi escolhido comobioindicador por não ser um peixemigrador e apresentar hábitobentônico, ou seja, alimenta-se dosedimento, o qual por partiçãoagrega grande parte das moléculasorgânicas, onde se pressupõe queocorra o depósito dos resíduos deagrotóxicos. Por isso, o jundiá é umbom representante para exposiçãoàs moléculas de agrotóxicos. Nacoleta in situ todos os peixescoletados para a amostra eramjuvenis e apresentaram peso médiode 50g.

As amostras de água e de peixesforam coletadas no Rio Canoas, amontante e a jusante do municípiode Urubici. O local a montante,considerado como local-controle,foi o mais próximo às nascentes doRio Canoas (latitute sul 27 o99' elongitude oeste 49 o36'), onde seobserva a ausência de exploraçãoagrícola. O local a jusante,considerado como local estudado,está localizado após o referidomunicípio (latitute sul 27o97' elongitute oeste 49 o58') e foicaracterizado como receptor da cargade agrotóxicos utilizada.

A amostragem de água e depeixes a jusante ocorreu no mês demaio de 2002 e a coleta a montante,no mês de julho de 2002. Asamostras de água foram submetidasà análise de resíduos de agrotóxicos,tipo multirresíduo, por cromato-

grafia líquida HPLC segundo osmétodos descritos por Ambrus et al.(1981).

O fígado dos peixes foi retiradoe, imediatamente, imerso emsolução de formol a 10%, tampo-nado e, posteriormente, enca-minhado para o preparo de lâminashistológicas. O cérebro foi mantidocongelado até o envio para olaboratório para análise dobiomarcador. A determinação daatividade da acetilcolinesterase foibaseada no método descrito porEllman et al. (1961).

Resultados

No município de Urubici hápredomínio do sistema convencionalde plantio de hortaliças (86,4%). Emmenor escala, as culturas anuaisacontecem em 36% das proprie-dades entrevistadas. A produção dehortaliças se concentra na prima-vera/verão (setembro a março),período em que também ocorre oplantio de culturas anuais (milho efeijão). Após a colheita dessasculturas há implantação depastagens em 21% das propriedadesno outono/inverno (abril a agosto)para alimentação do gado. A culturada maçã, que utiliza agrotóxicosintensivamente, é produzida emmenos de 20% das propriedades.

Os produtores que responderamao questionário, em sua maioria,não utilizam práticas conserva-cionistas do solo para o cultivo dehortaliças pela alta rotatividadedestas. No inverno, os agricultoresdo município de Urubici reduzem aprodução de hortaliças e investemna implantação de pastagens. Esse

tipo de sucessão é bastantecaracterístico da região e promove aincorporação de matéria orgânicaao solo. Essa incorporação ocorreno início da primavera com autilização de maquinário que,associada ao pisoteio dos animaisdurante o período, acaba pordesestruturar ainda mais o solo.Para as culturas anuais de verão osistema convencional é o maisutilizado, pois em apenas 16% daspropriedades o plantio direto éutilizado como forma de manejo dosolo. Em conseqüência dessa formade produção adotada no município,aliada à quase total ausência demata ciliar, o solo é carreado facil-mente para dentro dos cursos d’água.A compactação do horizontesubsuperficial (horizonte B), que sedá pelo uso intenso de máquinasrevolvendo o solo freqüentementena mesma profundidade, também éum dos fatores que ocasiona o deslo-camento superficial do solo e seuposterior carreamento para quotasmais baixas, nesse caso, o rio.

Como conseqüência do manejoinadequado do solo, o assoreamentodo Rio Canoas é crescente e ocarreamento de fertilizantes eagrotóxicos acaba por contaminarsuas águas. Os produtores usammáquinas em suas propriedades nomínimo duas vezes ao ano, quandoexecutam atividades de aração,gradagem e subsolagem. A realidadeconstatada in situ denuncia ummaior número de vezes em que amecanização se faz presente narotina do produtor.

O potencial de bioacumulação empeixes é considerado um parâmetrosignificativo para avaliação de riscoaquático (Heath, 1995). Os agro-tóxicos inibidores da colinesterasepertencem aos grupos dos orga-nofosforados e carbamatos, cuja açãose dá pela inibição da enzima colines-terase, que leva a um acúmulo deacetilcolina nas sinapses nervosas.

O valor da atividade da acetilco-linesterase cerebral encontrada nospeixes foi diferente quando compa-rados os resultados das amostrascoletadas a jusante e a montante. Amédia da atividade da acetilcoli-nesterase das amostras da região-controle foi de 27,44UI/dl (UnidadesInternacionais por decilitro),enquanto que a jusante da área deplantio foi de 12,82UI/dl, repre-Figura 1. Jundiá

57Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

sentando uma redução de 53,3% emrelação às amostras obtidas amontante (Figura 2).

Dos agrotóxicos utilizados nomunicípio, os grupos dos carbamatose organofosforados foram significa-tivamente os mais empregados nocombate a pragas e doenças duranteo cultivo (Figura 3), fato quejustificou a escolha do biomarcadorenzimático como ferramenta deavaliação da presença dessesagrotóxicos no rio.

Os cortes histológicos do fígadodos animais não apresentaram alte-rações degenerativas ou inflama-tórias. Porém, observou-se a presen-ça de vacuolizações citoplasmáticas,que são espaços vagos anterior-mente ocupados por depósitos delipídios, solubilizados pela técnicahistológica, que estão restritas àsáreas de vasos sangüíneos de maiordiâmetro e na região da cápsula doórgão, nas amostras provenientesda região onde se utilizam agro-tóxicos.

A análise cromatográfica dasamostras de água não detectou apresença de resíduos de agrotóxicosem nenhum dos pontos avaliados.Este resultado corrobora com a con-cepção de que os métodos de análisefísico-químicos isoladamente nãoconseguem apontar as alteraçõesbiológicas das espécies (Heath, 1995).

Considerações finais

A região estudada apresenta umaintensa atividade hortícola queutiliza grande quantidade evariedade de agrotóxicos. Os gruposcarbamatos e organofosforados,inibidores da atividade dacolinesterase, são os mais utilizadosno combate às pragas. Os resultadosdeste estudo demonstraram que,apesar de a água estar isenta detraços de contaminação poragrotóxicos, o meio biótico mostraestar sendo influenciado por estasmoléculas. A atividade enzimáticada acetilcolinesterase cerebral, queserviu como biomarcador, apresen-tou uma redução de 53,3% emcomparação com a área livre deplantio (controle). Os resultadosobtidos podem estar associadosdiretamente com a forma do uso dosolo. A retirada da mata ciliar, aliadaao manejo incorreto do solo duranteo cultivo, demonstra que os agro-

tóxicos estão sendo carreados elixiviados do solo para os cursosd’água. Desta forma, a utilização debioindicadores (peixe) e biomar-cadores (atividade da acetilcolines-terase) demonstra ser útil para arealização do diagnóstico da qua-lidade ambiental. A escolha dobioindicador e do biomarcador deveser bem criteriosa, pois cada regiãoapresenta características ecológi-cas próprias e diferentes fontes decontaminação. É sugerido que o usode novas metodologias, tais comoavaliações biológicas como a desteestudo, deve passar a compor omonitoramento da qualidadeambiental.

Literatura citada

1. AMBRUS, A.; VISI, E.; ZAKAR, F.;HARGITAI, E.; SZABO, L.; PAPA, A.General method for determination ofpesticide residues in samples of plantorigin, soil, and water. III. Gaschromatographic analysis and confir-mation. J. Assoc. Off. Anal. Chem, v.64,p.749-768, 1981.

2. ELLMAN, G.L.; COURTNEY D.;ANDRES JUNIOR, V.; FEATHERSTO-NE, R.M. A new and rapid colorimetricdetermination of acetylcholinesteraseactivity. Biochemical Pharmacology ,v.7, p.88-95,1961.

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4. HEATH, A.G. Water Polution and fishphysiology . 2ed. Boca Raton: CRCPress, 1995.

5. OLIVEIRA, F.B. Manejo de produtosresiduários do uso de agrotóxicos naBacia Hidrográfica do Cubatão Sul .1997. 152f. Dissertação (Mestrado emEngenharia Sanitária e Ambiental) -Universidade Federal de SantaCatarina, Florianópolis, SC.

6. SANTA CATARINA. Secretaria deEstado do Desenvolvimento Urbano eMeio Ambiente. Bacias hidrográficasde Santa Catarina: diagnóstico geral.Florianópolis, 1997. CD-ROM.

0

5

10

15

20

25

30

Local-controle Local estudado

Ace

tilco

lines

tera

se (

UI/d

l) 27,44

12,82

Figura 2. Valor daatividade enzimáticada acetilcolinesterasecerebral em espécimesde peixes Rhamdia sp.coletados no RioCanoas, a montante ea jusante domunicípio de Urubici,SC, 2002

Figura 3.Percentual de

produtores queutilizam

agrotóxicos comprincípios ativos

carbamatos eorganofosforadosno município de

Urubici, SC, 2002

58 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

S

Substratos para produção de mudas hortícolas paraSubstratos para produção de mudas hortícolas paraSubstratos para produção de mudas hortícolas paraSubstratos para produção de mudas hortícolas paraSubstratos para produção de mudas hortícolas paracultivo hidropônicocultivo hidropônicocultivo hidropônicocultivo hidropônicocultivo hidropônico

Fernanda Alice Antonello Londero Backes1,Candice Mello Romero Santos2 e Rogério Luiz Backes 31

ubstrato é o meio onde sedesenvolvem as raízes dasplantas cultivadas na au-

sência do solo. Este tipo de cultivose refere a qualquer sistema deprodução de plantas em um meiodistinto do solo, onde se insere ocultivo hidropônico de plantas(Kämpf, 2000). O cultivo sem apresença do solo aumentou subs-tancialmente nos últimos 20 anos,elevou a produção hortícola eproporcionou ganhos de produ-tividade, até mesmo em áreas comcondições adversas de cultivo. Arápida expansão no uso de substratospode ser explicada pelas vantagensproporcionadas ao produtor,especialmente o melhor controle domeio de cultivo (Rivière & Caron,2001).

Ainda é muito intensa a buscapor materiais que reúnam carac-terísticas adequadas para os diversosusos na horticultura, e atualmente,com o desenvolvimento da cons-ciência ambiental, há necessidadedo uso de substratos que contribuampara a diminuição do impactoambiental.

O produtor, ao adquirir umdeterminado substrato para aprodução de mudas, precisa serinformado sobre o uso correto domesmo, bem como suas principaiscaracterísticas físicas e químicas(Tabela 1). Cada substrato possuicaracterísticas próprias, que devemser conhecidas avaliando-se emcada caso sua adequação ao sistema

e à cultura que se deseja produzir(Martinez & Silva Filho, 2004).Assim, o objetivo do trabalho écaracterizar sete substratoshortícolas utilizados para a produçãode mudas para cultivo emhidroponia.

Caracterização física dossubstratos – As propriedadesfísicas dos substratos condicionamo crescimento das raízes econstituem o conjunto decaracterísticas que descrevem osubstrato em relação a suaporosidade, densidade, capacidadede retenção de água, ar e nutrientes(Andriolo, 1999; Kämpf, 2000). Aporosidade total refere-se ao volume

total do substrato não ocupado porpartículas orgânicas e minerais. Osubstrato ideal deve apresentarespaço poroso total superior a 85%do seu volume. O total de porosexistente em um substrato se divideentre microporos, responsáveis pelaretenção de água, em volume quecorresponde à capacidade deretenção hídrica do substrato, emacroporos, que estão preenchidoscom ar e o seu volume écaracterizado como espaço deaeração (De Boodt & Verdonck,1972; Kämpf, 2000). Substratosporosos, com adequada drenagem,possibilitam bom desenvolvimentode pêlos radiculares e raízes bem

Aceito para publicação em 16/8/05.1Eng. agr., Dra., Universidade do Contestado – UnC –, C.P. 1, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3622-9999 e-mail: [email protected]. agr., Dr., Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, fone: (61) 3448-4741, e-mail: [email protected]., agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected].

Tabela 1. Características físicas e químicas de alguns substratos usadosna produção de mudas hortícolas

Substrato pH CE CRA Densidade CTC

mS/cm

Turfa(1) 5,8 0,5 a 0,7 Alta Baixa Alta

CAC 7,1 - Baixa Baixa Alta

Vermiculita 7,2 0,23 Alta Baixa Alta

Areia 6,5 - Baixa Alta Baixa ou nula

Fibra de coco(2) 5,6 3,3 Alta Baixa Alta

(1) Turfa Fértil – Florestal S.A.(2) Propriedades de amostra de fibra de coco do México.Nota: CE = condutividade elétrica.CRA = capacidade de retenção de água.CTC = capacidade de troca de cátions.CAC = casca de arroz carbonizada.

59Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

ramificadas, as quais possuemgrande capacidade de absorção denutrientes.

A densidade é a relação entre amassa e o volume do substrato eafeta sua capacidade de retenção deágua e ar. Os materiais usados comocomponentes de substratos variamem densidade seca entre 100kg/m3,como turfa, espuma fenólica evermiculita, e 1.500kg/m3 , comoareia (Kämpf, 2000). É importanteconhecer e manter constante adensidade dos substratos, a fim dese obter melhor controle dairrigação, evitando-se a falta ou oexcesso de água para as plantas.

As propriedades físicas de aeraçãoe retenção de umidade são as maisimportantes, pois permitem adifusão de O2 para as raízes. O nívelótimo da capacidade de aeração variaentre 10% e 30%, pois nesta faixa asraízes dispõem de volume suficientede ar para suas funções respiratórias(Martinez, 2002).

Caracterização química dossubstratos – As propriedadesquímicas dos substratos referem-seprincipalmente aos valores de pH,capacidade tampão da acidez, graude decomposição, capacidade detroca de cátions e salinidade.

Os valores de pH variam muitoentre os componentes do materialou mistura. A faixa de pHcompreendida entre 5,5 e 6,5 é amais adequada para o crescimentoda maioria das plantas cultivadas. OpH corresponde ao critério químicode maior importância ao crescimentodas plantas. Muitos desequilíbriosnutricionais estão relacionados avalores inadequados de pH.

A capacidade tampão da acidezindica a intensidade de alteração dopH do meio com a adição defertilizantes ou água de irrigaçõesricas em carbonato. Os substratosorgânicos são mais resistentes aalterações, enquanto os inorgânicossofrem alterações bruscas no pH.Problemas de substratos com faltaou excesso de retenção de nutrientespodem ser solucionados, em parte,pelo uso de componentes queapresentem maior poder tampão ealto valor de capacidade de troca decátions, como turfa e vermiculita(Kämpf, 2000; Martinez & SilvaFilho, 2004).

A capacidade de troca de cátions(CTC) de um substrato é a

propriedade de suas partículassólidas de adsorver e trocar cátions.Os materiais selecionados para aprodução de mudas para o cultivohidropônico devem possuir baixa ounula CTC, ou seja, devem serquimicamente inertes, com oobjetivo de permitir um maiorcontrole nutricional das plantas oude evitar problemas de salinizaçãoexcessiva do substrato (Kämpf, 2000;Martinez, 2002).

Em hidroponia, a riqueza desubstratos em nutrientes mineraisnão é muito importante, pois estessão fornecidos pela solução nutritivapreviamente balanceada, conformea necessidade da cultura. O conteúdode nutrientes pode ser medido pelacondutividade elétrica (CE), a qualfornece informações sobre aconcentração total de nutrientes nasolução e é expressa em deciSie-men/m ou miliSiemen/cm.

Escolha dos substratoshortícolas – A oferta e o uso desubstratos na produção de mudashortícolas para o cultivohidropônico vêm crescendoaceleradamente e as indústriasprodutoras utilizam matéria-primade diferentes origens e, em geral,não dispõem de critérios e nem delaboratórios para o controle daqualidade de seus produtos. Poucose sabe a respeito dos teores totaise dos teores disponíveis denutrientes no material de origem.

Alguns critérios importantesdevem ser considerados na escolhade um substrato hortícola: o custo,a disponibilidade, a estabilidade ao

longo do tempo e a isenção de toxinasou patógenos. O custo de aquisiçãodeve ser baixo, a fim de nãoinviabilizar a técnica. No entanto,isto não é suficiente se não estiverdisponível em quantidade suficienteno momento da aquisição (Andriolo,1999; Martinez & Silva Filho, 2004).

Os substratos podem ser classi-ficados, segundo suas propriedades,em quimicamente inertes (materiaiscom CTC baixa ou nula) equimicamente ativos (materiais comCTC alta) e, segundo sua origem,em orgânicos (decomposição maisrápida) ou inorgânicos (decom-posição mais lenta).

Substratos organominerais –Podem apresentar as mais di-versas composições, conforme asfontes (casca de pínus, turfa,vermiculita, etc.) usadas em seupreparo, proporcionando bomdesenvolvimento das mudas dealface (Figura 1) (Backes, 2003a),tomate, pepino, flores em geral,etc. Para a produção de mudas parao cultivo hidropônico, estessubstratos apresentam algumasdesvantagens: não são inertes,podem ser veículos de contaminaçãopor patógenos (por exemplo,Fusarium sp.) e necessitam aretirada do material ao redor dasraízes antes do transplante, o queprovoca estresse às mudas, paranão haver risco de entupimento dosistema de irrigação.

Turfa – É o substrato orgâniconatural de maior expressão nocultivo de mudas olerícolas eornamentais. Esse tipo de substrato

Figura 1. Mudas de alface em substrato organomineral

60 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

constitui-se numa vegetaçãoaquática e pantanosa parcialmentedecomposta. Puro ou em misturascom outros componentes, é usadona produção de mudas (piscinas ou“floating”) para posteriortransplante para o cultivo sem solo(subirrigação, gotejamento esistema de fluxo e refluxo) e parahidroponia em sistema de fluxolaminar de nutrientes (NFT). Umproblema futuro pode ser o impactoao meio ambiente pelo excessivouso desse substrato, já que a turfaé um material natural não-renovável. Todavia, as reservasmundiais ainda são grandes(Martinez, 2002). Um sérioobstáculo à sua utilização em largaescala na horticultura é o elevadocusto de aquisição. As misturas deturfa com outros componentes comovermiculita, areia, cascas e perlitatêm sido muito utilizadas para a fasede produção de mudas.

Cascas – A casca de arroz car-bonizada e a casca de pínus sãocompostos que apresentam grandedisponibilidade e, em geral, são debaixo custo, o que torna suautilização promissora, principal-mente em misturas com materiaisminerais ou orgânicos. Do ponto devista físico, esses materiais sãomuito porosos e apresentam baixacapacidade de retenção de água, boaaeração e drenagem. Em termosquímicos, sua composição é variávelem função da origem do material.A casca de arroz carbonizada émuito utilizada para o enraiza-mento de estacas de crisântemo eroseira para cultivo hidropônico.Esse material possui baixadensidade, baixa capacidade deretenção de água, boa aeração,drenagem rápida e eficiente e valorde pH em torno da neutralidade(Kämpf, 2000). Já a casca de pínus,na produção de mudas, deve sermoída e curada. Como desvantagemao uso destes substratos destaca-sea necessidade de limpeza das mudasantes do transplante para evitar oentupimento do sistema deirrigação da hidroponia.

Areia – É constituída basica-mente por óxido de silício (SiO2) epode ser encontrada naturalmenteem grande abundância. A granu-lometria mais recomendada para ouso na produção de mudas parahidroponia está compreendida entre

0,5 e 2mm, pois apresenta boaporosidade. Granulometrias infe-riores a 0,5mm podem ser perigosaspor causarem risco de falta deoxigênio às raízes, devido à altacapacidade de retenção de água ebaixa aeração. Granulometriassuperiores a 5mm não retêmumidade suficiente, obrigando oprodutor a manter um rígidocontrole da irrigação (Martinez,2002). A utilização da areia lavadaconstitui-se em excelente meio paraa formação de mudas de algumasespécies, podendo ser misturada aoutros substratos (Santos et al.,2000).

Vermiculita – Substrato obtidoa partir do aquecimento a 1.000oCdo mineral mica. Esse material éestéril, de elevada porosidade,densidade de 90 a 150kg/m3, altacapacidade de retenção de água(45% a 50%) e alta CTC, podendoreter nutrientes em suas partículase cedê-los posteriormente àsplantas. O pH varia entre 6 e 7. Paraa produção de mudas em hidroponiaa granulometria mais indicada variaentre 0,75 e 1mm (Martinez, 2002).O uso da vermiculita apresentaalgumas desvantagens que limitamsua expressividade na produção demudas em hidroponia: exige alimpeza das raízes antes dotransplante, requer suporte para aprodução das mudas, exige maistempo e mão-de-obra durante otransplante, favorece o desenvol-vimento de algas na superfície dasbandejas e apresenta elevado custo.Outro aspecto negativo é a falta deestabilidade de estrutura, que

provoca redução no volume com odecorrer do cultivo. Esta insta-bilidade é decorrente de suaestrutura laminar com ligaçõesfrouxas, que são sensíveis aosimpactos mecânicos, desfazendo-seem partículas menores. No Brasil,a utilização da vermiculita comosubstrato hortícola tem seexpandido, associada ao sistema deprodução de mudas em bandejascom orifícios individuais (Figura 2).Para que seu uso seja viável, deve-se considerar sua economicidade,pois é um produto industrializado.

Espuma sintética – É desen-volvida para a obtenção de mudasde alta qualidade e isenta de conta-minação por patógenos, pois é umproduto estéril; apresenta elevadaporcentagem de macroporos e baixade microporos, excelente drenageme baixa produtividade elétrica(CE). Os danos causados durante aoperação de transplante são míni-mos, pois as mudas são transferidascom as células de espuma dire-tamente para os canais de cres-cimento, conforme Figura 3. Aespuma sintética tem sido utilizadacom sucesso no enraizamento deestacas de crisântemo para cultivohidropônico (Backes et al., 2002a;Backes et al., 2002b), assim comona produção de mudas de alface,rúcula e agrião (Furlani et al.,1999). A lavagem das placas deespuma fenólica é fundamental parasua utilização na produção dasmudas. Como desvantagens, asespumas fenólicas apresentam altopreço e são de difícil decomposição,gerando resíduos de descarte quepodem poluir o ambiente.

Fibra de coco – Materialindustrializado de origem vegetal,leve, de fácil manuseio, com elevadacapacidade de retenção de água, boaaeração e de estrutura físicaaltamente estável (Figura 4); éisento de pragas, doenças esementes de plantas daninhas. Afibra de coco é um material para serutilizado como substrato naprodução de mudas para hidroponia,entretanto seu uso depende de umbom tratamento e preparação paragarantir ao consumidor um produtoconfiável e isento de problemascomo o teor de sais (naturalmenterica em K). Para a melhor utilizaçãoda fibra de coco na produção demudas, devem ser adotadas práticas

Figura 2. Mudas de alface emsubstrato vermiculita

6161Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Fot

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por

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afib

ra

crisantemo en espuma fenólica condiferentes concentraciones de soluciónnutritiva. In: FLORICULTURA en laArgentina. Buenos Aires: EFA, 2002b.p.23-26.

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Figura 3. Mudas de alface em espuma fenólica

de manejo como maior intervaloentre as irrigações e realização deníveis suplementares de N, Ca, Mg,S, Cu e Fe (Malvestiti, 2004).

Considerações finais

Todos os substratos caracte-rizados neste trabalho são indicadospara a produção de mudas parahidroponia, sugerindo-se emespecial o uso de turfa, areia,espuma fenólica e fibra de coco.

Literatura citada

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Figura 4. Mudas de hortícolas em fibra de coco

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3. BACKES, F.A.A.L.; BARBOSA, J.G.;BARBOSA, M.; MORITA, R.M.Enraizamiento de estacas de

62 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

E

Murcha-Murcha-Murcha-Murcha-Murcha-dedededede-----curtobacterium do feijoeiro:curtobacterium do feijoeiro:curtobacterium do feijoeiro:curtobacterium do feijoeiro:curtobacterium do feijoeiro:descrição e controledescrição e controledescrição e controledescrição e controledescrição e controle

Gustavo de Faria Theodoro 1 eAntonio Carlos Maringoni2

ntre as doenças de etiologiabacteriana, a murcha-de-curtobacterium, causada por

Curtobacterium flaccumfaciens pv.flaccumfaciens (Hedges) Collins &Jones, tem se tornado uma ameaçaao cultivo do feijoeiro no Brasil. Foiprimeiramente constatada emDakota do Sul, EUA, em 1920,causando morte em cerca de 90%das plantas em uma lavoura de feijão(Hedges, 1922). No territóriobrasileiro, foi inicialmente relatadaem lavouras de feijão no Estado deSão Paulo (Maringoni & Rosa, 1997)e, atualmente, pode ser encontradano Paraná, Santa Catarina, Goiás eDistrito Federal (Leite Jr. et al.,2001; Uesugi et al., 2003).

Conforme Theodoro et al. (2004),a presença da murcha-de-curtobacterium foi confirmada nosmunicípios catarinenses de CamposNovos, Faxinal dos Guedes,Guatambu, Ipuaçu, Ponte Serrada eTigrinhos (Figura 1), indicando aadaptabilidade do patógeno aohospedeiro e aos dois subtiposclimáticos de Köppen (ClimaSubtropical Úmido – Cfa: tempe-ratura média do mês mais quenteacima de 22oC e a temperatura médiado mês mais frio entre 10 e 15oC;Clima Temperado Úmido – Cfb:temperatura média do mês maisquente abaixo de 22 oC e atemperatura média do mês maisfrio entre -3 e 18oC) presentes no

Estado de Santa Catarina. Com isso,aventa-se a hipótese que esta doençapossa estar em outros municípioscatarinenses.

Sintomas

Os sintomas da murcha-de-curto-bacterium do feijoeiro geralmenteaparecem em manchas ou “rebo-leiras” (Figura 2A), embora plantas

infectadas possam ser encontradasisoladas na lavoura (Theodoro etal., 2004). Inicialmente, caracteriza-se pelo amarelecimento, comconseqüente nanismo, murcha emorte do feijoeiro (Figura 2B).Conforme Theodoro et al. (2004),pode-se constatar na mesma plantapoucas folhas totalmente murchase necrosadas (Figura 2C) emcontraste com outras sem sintomas.

Aceito para publicação em 16/8/05.1Eng. agr., Dr., Epagri/Cepaf, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0615, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Faculdade de Ciências Agronômicas/Unesp, Departamento de Produção Vegetal, C.P. 237, 18603-970 Botucatu, SP,e-mail: [email protected].

Fonte: Theodoro et al. (2004).

Figura 1. Ocorrência de murcha-de-curtobacterium em lavouras defeijão em localidades do Estado de Santa Catarina

63Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

As sementes infectadas mostram-secom uma descoloração amarela oupúrpura.

Em condições ambientaisfavoráveis à doença, as plantasadultas infectadas apresentam-secom um grande número de folhasmurchas e, em condições ambientaispouco favoráveis, a murcha ocorrelentamente, podendo completar seuciclo até a maturação dos grãos edificultar sua diagnose (Hedges,1922).

O sistema vascular de plantascom murcha-de-curtobacterium podenão se apresentar escurecido e, comisso, ser um indicativo imprecisoem seu diagnóstico a campo. Porém,quando ocorre infecção mista de C.flaccumfaciens pv. flaccumfacienscom Fusarium oxysporum f.sp.phaseoli, agente causal da murcha-de-fusarium, há o escurecimento daregião vascular das plantas(Theodoro et al., 2004). A seme-lhança entre os sintomas destas duasdoenças provavelmente atrasou aconstatação de C. flaccumfaciens pv.flaccumfaciens no Brasil (Maringoni& Rosa, 1997). A murcha de plantasde feijoeiro em conseqüência dacolonização do sistema vascular porX. axonopodis pv. phaseoli, agentecausal do crestamento bacterianodo feijoeiro (CBC), também pode serconfundida com a murcha-de-curtobacterium (Theodoro et al.,2004). Porém, o CBC distingue-sedessa doença pelo fato de as plan-tas afetadas geralmente tomba-rem ou quebrarem na região do nócotiledonar, a partir da fase repro-dutiva.

Etiologia

Curtobacterium flaccumfacienspv. flaccumfaciens é uma bactériapertencente ao Domínio Bacteria,Filo Actinobacteria phy. nov., ClasseActinobacteria, Subclasse Actinobac-teridae, Ordem Actinomycetales,Subordem Micrococcineae, FamíliaMicrobacteriacea, caracterizadacomo bastonetes retos, ligeiramentecurvos ou em forma de cunha ecurtos (0,3 a 0,6 por 1 a 3μm), móvelpor um ou mais flagelos polares ousubpolares, Gram positiva, aeróbiaestrita e não forma endósporo. Emmeio de cultura extrato de levedura-glicose-ágar, apresenta colôniasligeiramente convexas, sem

Figura 2. Sintomatologia da murcha-de-curtobacterium: (A) manchasou reboleiras em lavoura de feijão cultivar Pérola, no município deFaxinal dos Guedes, safra 2003/04; (B) folhas murchas e necrosadas;(C) morte de feijoeiro ‘Pérola’, coletado em Ipuaçu

viscosidade, semi-fluidas e decoloração amarela, laranja ou rósea,podendo produzir um pigmentosolúvel em água de coloração azul apúrpura. Desenvolve-se na presençade 7% a 9% de NaCl e em tempe-raturas ótimas de 24 a 27oC emáximas de 35 a 37oC (Davis &Vidaver, 2001).

Epidemiologia

Existem poucos trabalhos tra-tando da murcha-de-curtobacteriumdo feijoeiro no Brasil. De acordocom Saettler (1991), C. flaccum-faciens pv. flaccumfaciens não écapaz de sobreviver por grandesperíodos no solo, mas pode se tornarfonte de inóculo para cultivossubseqüentes por meio de restos decultura infestados ou sobrevivendoem hospedeiros alternativos. Ainfecção inicia-se a partir dapenetração do patógeno nos tecidosdo hospedeiro, deslocando-se aosistema vascular do feijoeiro.

A cultura da soja (Glycine max)também é infectada por C. f. pv.flaccumfaciens, que causa umadoença ainda não detectada no

Brasil, denominada de “tan spot”(Dunleavy et al., 1983). Visandoavaliar o comportamento de 20cultivares de soja perante um isoladode C. f. pv. flaccumfaciens prove-niente de feijoeiro, Maringoni &Souza (2003) observaram baixosníveis de severidade da doença,independentemente do método deinoculação utilizado. SegundoBehlau & Leite Jr. (2002), C. f. pv.flaccumfaciens também podeinfectar plantas de feijão-vagem(Phaseolus sp.), feijão-caupi (Vignaunguiculata) e feijão-mungo (Vignaradiata).

A disseminação do patógeno alongas distâncias ocorre, princi-palmente, por meio do uso de se-mentes infectadas, enquanto quedentro da lavoura, pela água da chuvae/ou irrigação. Nematóides podemfavorecer a propagação da murcha-de-curtobacterium por causaremferimentos no sistema radicular dofeijoeiro e, com isso, facilitarem apenetração da bactéria nos tecidosda planta. Avaliando a relação entrea infecção de raízes de feijoeiro pornematóides e a irrigação naincidência e disseminação da

A C

B

64 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

murcha-de-curtobacterium, Schus-ter (1959) notou que, em condiçõesde casa-de-vegetação, C. f. pv.flaccumfaciens foi disseminadaatravés da água de irrigação emuma distância de aproximadamente7m. A maior porcentagem de plantasmurchas esteve positivamenterelacionada com os tratamentos emque houve a combinação de ovos deMeloidogyne incognita com asuspensão bacteriana.

Controle

O controle da murcha-de-curtobacterium do feijoeiro estáfundamentado no uso de sementessadias, rotação de culturas ecultivares resistentes. A adubaçãodas plantas sempre deve sercriteriosa, conforme indicado pelaanálise de solo. Apesar de o potássionão exercer influência na expressãodos sintomas da murcha-de-curtobacterium do feijoeiro, dosescrescentes de nitrogênio, na formade uréia, tendem a aumentar suaseveridade em função da cultivar(Theodoro & Maringoni 2005a;Theodoro & Maringoni 2005b).

Verificou-se que nenhuma dascultivares recomendadas para SantaCatarina foi resistente àCurtobacterium flaccumfaciens pv.flaccumfaciens, embora a ‘SCS 202-Guará’ tenha mostrado um maiorperíodo de incubação em relação àsdemais cultivares avaliadas porTheodoro & Maringoni (2004). Istoquer dizer que, mesmo a plantamostrando suscetibilidade aos 25dias após a inoculação, os folíolosdesta cultivar levaram um tempomaior para murchar, a partir dapenetração do patógeno nos tecidosda planta. Tem sido conduzida umapesquisa, em condições de casa-de-vegetação, na Epagri/Cepaf, embusca de germoplasmas comresistência à murcha-de-curto-bacterium, visando auxiliar oprograma de melhoramentogenético do feijoeiro para SantaCatarina. Em um dos experimentos,Theodoro & Herbes (2005) verifi-caram que, entre 28 cultivareslocais de feijoeiro, a Mouro Piratuba

mostrou resistência à Curtobac-terium flaccumfaciens pv. flaccum-faciens.

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65Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

P

Caracterização de frutos de populações e seleções deCaracterização de frutos de populações e seleções deCaracterização de frutos de populações e seleções deCaracterização de frutos de populações e seleções deCaracterização de frutos de populações e seleções deporongo (porongo (porongo (porongo (porongo (Lagenaria sicerariaLagenaria sicerariaLagenaria sicerariaLagenaria sicerariaLagenaria siceraria)))))

Rogério Luiz Backes1, Alvadi A. Balbinot Junior2, Domingos Guadagnin3,José Alfredo Fonseca4, Marcelo C. Pilati Bialesk5

opularmente conhecido co-mo porongo ou purungo naRegião Sul do Brasil e como

cabaça no Nordeste, a espécie Lage-naria siceraria é uma cucurbitáceaoriginária da África e das Américas(Bisognin, 1996). Esta espécie já eracultivada por civilizações primitivas,que utilizavam os frutos paraalimentação, confecção de utensíliospara armazenamento de líquidos ealimentos, além de instrumentosmusicais. O cultivo comercial ébastante tradicional nas regiõescentral e noroeste do Rio Grande doSul, sendo na primeira maiscultivados os porongos de casca finae na outra, porongos de casca grossa.As indústrias de produção de cuiaspara chimarrão estão distribuídasnos três Estados do sul do Brasil,mas concentram-se especialmentenas regiões que cultivam a espécie(Bisognin, 1996).

A semeadura na Região Sul podeser realizada em covas, espaçadasem 1 x 2m ou 1 x 1,5m, tão logo cesseo risco de ocorrência de geadas,deixando duas plantas por cova, oque totaliza 10 mil ou 13.333 plantas/ha. Densidades superiores a estasresultam no aumento da produçãode frutos pequenos, sem qualidadepara a indústria de cuias (Bisognin,1996).

A principal praga que acomete acultura, especialmente nos estádiosiniciais de desenvolvimento, é a

vaquinha (Diabrotica speciosa e D.bivittula). No entanto, estudorealizado por Bisognin et al. (1995)indicou que a remoção de até 50%das folhas cotiledonares após oterceiro dia da emergência não afetao crescimento da planta. A floraçãogeralmente ocorre a partir de 50dias após a semeadura. Nasramificações primárias ocorremflores masculinas e hermafroditas enas ramificações secundáriasocorrem flores femininas, as quaisproduzem os frutos. A colheita érealizada geralmente a partir de130 dias após a semeadura, quandoda senescência natural das plantas.Em dez populações avaliadas no RioGrande do Sul, o potencial de pro-dução variou de 8.125 a 13.334 frutos/ha e a porcentagem de frutos comcaracterísticas aptas à industria-lização de cuias variou de 44% a 73%(Bisognin & Estefanel, 1988).

Avaliação

Para caracterização das popu-lações, foi conduzido um ensaio naEpagri/Estação Experimental deCanoinhas, SC, na safra 2003/04,onde foram avaliadas 27 populaçõesde porongo. As populações foramcoletadas nos seguintes municípiosde Santa Catarina: Canoinhas e BelaVista do Toldo (duas populações/local), Major Vieira (quatropopulações), Monte Castelo e Três

Barras (uma população/local). Foiavaliada ainda uma populaçãooriunda de Vicente Dutra, RS, euma de Lavras, MG, além de 15populações selecionadas (SM) cedidaspelo Setor de Melhoramento Vegetalda Universidade Federal de SantaMaria – UFSM.

O ensaio foi conduzido nodelineamento de blocos aumen-tados. A unidade experimental foiconstituída de duas covas com duasplantas/cova, espaçadas em 1,5m.Entre covas de diferentes parcelaso espaçamento foi de 4 x 5m. Oplantio foi realizado em 29/10/03, aadubação consistiu de 2,5kg decomposto orgânico por cova e ostratos culturais seguiram osprincípios da agroecologia. Após acolheita dos frutos, avaliaram-se asseguintes características: diâmetrobasal, mediano e apical (cabeça) dosfrutos, e a partir destes dadosobteve-se a relação proporcionalentre estas medidas. Avaliaram-seainda a altura dos frutos e aespessura da casca, em dois pontosopostos, na altura do corte realizadopara a confecção de cuias, no casode frutos com características paratal. Nas populações/seleções comformato de fruto distinto destes, aespessura foi avaliada no ponto demaior diâmetro do fruto. Osresultados apresentados se referema médias de todos os frutosproduzidos em cada população.

Aceito para publicação em 16/8/05.1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000, Canoinhas, SC, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected]. agr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Gerência Regional de Canoinhas, e-mail: [email protected]écnico agrícola, Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected].

66 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Resultados

Observou-se grande variaçãoentre as populações quanto aotamanho e formato dos frutos,implicando diretamente sobre opotencial de uso destes. Quanto ao

formato dos frutos, são distinguíveisdois grupos: com e sem formação de“cabeça”. Para tamanho de frutostambém se distinguem dois grupos:“miniporongos” e “porongos”.

Nas populações que produzemfrutos com “cabeça”, característica

que as tornam aptas para a indústriade cuias, o diâmetro da base varioude 8,17 (mini-porongos) até 20,88cmna população Rio Claro-Casca Grossa(Tabela 1 e Figura 1A). A maiorparte das populações apresentoudiâmetro médio da base entre 11 e

Tabela 1. Características morfológicas de frutos de populações de porongo (Lagenaria siceraria) . Epagri/EstaçãoExperimental de Canoinhas, ano agrícola 2003/04

DiâmetroCód. População Relação(1) Altura Espessura

Basal Mediano Apical

.....................cm...................... cm m m

1 Rio Claro(2) – “C.F.” 16,05 6,16 6,71 2,6:1:1,1 26,44 7,01

2 Rio Claro(2) 18,14 6,34 7,83 2,9:1:1,2 34,80 6,38

3 Pulador(2) 15,15 6,68 7,52 2,3:1:1,1 29,70 7,70

8 Lavras 10,06 5,17 6,81 1,9:1:1,3 15,75 4,06

10 B. Vista do Toldo 1 8,17 3,97 4,54 2,1:1:1,1 14,17 4,00

13 Vicente Dutra 17,37 6,73 7,99 2,6:1:1,2 32,69 12,54

19 SM 1 12,49 4,32 6,33 2,9:1:1,5 21,36 4,29

20 SM 2 14,51 8,33 9,58 1,7:1:1,2 23,51 5,33

21 SM 3 12,29 3,67 5,51 3,3:1:1,5 19,70 5,30

22 SM 4 11,14 4,58 6,50 2,4:1:1,4 17,36 5,65

23 SM 5 11,83 3,89 6,06 3,0:1:1,6 20,36 4,89

24 SM 6 12,46 5,29 6,61 2,4:1:1,2 19,19 6,23

25 SM 7 12,04 5,71 7,59 2,1:1:1,3 18,70 5,86

26 SM 8 13,96 5,82 7,60 2,4:1:1,3 21,50 5,64

27 SM 9 14,60 6,02 8,44 2,4:1:1,4 23,42 7,15

28 SM 10 13,73 6,46 9,24 2,1:1:1,4 21,08 5,39

29 SM 11 14,87 5,95 7,32 2,5:1:1,2 20,31 6,19

30 SM 12 13,40 6,61 8,80 2,0:1:1,3 21,32 5,47

31 SM 13 12,75 5,27 6,89 2,4:1:1,3 19,18 5,30

32 SM 14 16,94 5,81 8,48 2,9:1:1,5 26,35 7,40

33 SM 15 19,31 8,72 10,44 2,2:1:1,2 27,45 8,94

34 Rio Claro(2) – “C.G.” 20,88 7,74 10,03 2,7:1:1,3 36,29 12,04

4 Três Barras 14,32 6,21 Sem 2,3:1(3) 23,67 3,67

6 Canoinhas 1 9,90 Sem Sem – 42,00 3,36

7 Monte Castelo 12,18 Sem Sem – 19,00 3,75

12 B. Vista do Toldo 2 7,83 Sem Sem – 22,20 3,80

15 Canoinhas 2 16,44 8,12 Sem – 17,50 5,50

(1) Relação diâmetro Basal:Mediano:Apical.(2) Coletas realizadas no município de Major Vieira, SC.(3) Relação diâmetro basal: mediano.Nota: “C.F.” = Casca Fina.“C.G.” = Casca Grossa.

67Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Figura 1. Frutos de populações de porongo (Lagenaria siceraria): (A) Rio Claro-Casca Grossa; (B) SM 2; (C) SM3; (D) B. Vista do Toldo 1; (E) Rio Claro; (F) Vicente Dutra; (G) Bela Vista do Toldo 2, (H) Canoinhas 2, (I) SM15, (J) SM 12 e (L) Três Barras. Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, ano agrícola 2003/04

20

A B C

D E F

G H

I J L

68 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

14cm, estando compreendidas nesteintervalo dez das 15 populações SM(Tabela 1). O diâmetro medianovariou de 3,67 na população SM 3 a8,72cm na população SM 15 (Tabela1 e Figura 1I), sendo que apenascinco populações apresentaramdiâmetro inferior a 5cm e, portanto,não têm características aptas àconfecção de cuias do tipo tradicionalcom aba. De forma semelhante, otamanho e/ou o diâmetro apical sãodecisivos para a qualidade ecaracterísticas da cuia a serindustrializada. Estas dimensõestêm especial importância, poisjuntamente com a espessura dacasca determinam o volume internoda cuia. Neste sentido, sabe-se queo mercado tem demandadoprincipalmente cuias de tamanhomédio. Entre as populaçõesavaliadas, o diâmetro apical varioude 4,54 (população Bela Vista doToldo 1) a 10,44cm (população SM15) (Tabela 1).

Com o objetivo de comparar opadrão de frutos entre tratamentos,obteve-se a relação entre osdiâmetros basais, medianos e apicais(Tabela 1). Observou-se grandevariabilidade na relação entre osdiâmetros basal e mediano, havendomaior freqüência de relações nointervalo de 2:1 a 2,5:1. No entanto,há genótipos com característicasbastante diversas tais como apopulação SM 2 (Tabela 1 e Figura1B), que se caracteriza por terdiâmetro mediano grandecomparativamente ao diâmetrobasal, sendo a relação do diâmetrobasal:mediano igual a 1,7:1. Apopulação SM 3 (Figura 1C)apresentou características opostas,com diâmetro mediano pequeno, deforma que a relação entre diâmetrobasal e mediano é 3,3:1.

Quanto à relação entre diâmetrosmediano e apical, houve variação devalores desde 1:1,1 (populações RioClaro-Casca Fina, Pulador e Bela

Vista do Toldo 1) (Figura 1D) até1:1,6 (população SM 5). Considerandoas exigências da indústria de cuias,é desejável que haja, dentro dedeterminados limites, contrasteentre estes diâmetros. Váriaspopulações SM apresentaram talcaracterística, com relação entre1:1,3 e 1:1,5. Para a altura dos frutostambém houve grande variaçãoentre as populações, destacando-sea Rio Claro (Figura 1E), Pulador,Vicente Dutra (Figura 1F) e RioClaro-Casca Grossa (Figura 1A), asquais produzem frutos de tamanhogrande (Tabela 1).

Outra característica de grandeimportância e determinante para otipo e qualidade das cuiasindustrializadas é a espessura dacasca. Devido às diferenças nestaespessura, não há relação diretaentre os volume interno e externoda cuia industrializada. A populaçãoVicente Dutra (Figura 1F), oriundade região tradicional produtora deporongos de casca grossa,apresentou a maior espessura entreas populações avaliadas (Tabela 1).Bisognin et al. (1992) indicam que acuia de maior aceitação no mercadoé a de tamanho médio-pequeno ecom boa espessura de casco (6,1 a9mm).

Cinco das populações avaliadasproduzem frutos sem “cabeça”, nãosendo, portanto, tradicionalmenteutilizadas na confecção de cuias.Entretanto estas têm aplicaçãoespecialmente no artesanato, aexemplo da população Três Barras(Figura 1L). Neste grupo tambémhouve variação quanto ao formato etamanho, sendo que o diâmetro basalvariou de 7,83 (Figura 1G) a 16,44cm(Figura 1H). Quanto à espessura dacasca, este grupo é classificado comocasca fina.

Observou-se grande variabilidadeno formato e no tamanho de frutosdentro das populações, (comoexemplo, as Figuras 1H e 1J), pois

elas são cultivadas onde ocorrefecundação cruzada e, a exceção daspopulações SM, as demais nãopassaram por nenhum processo deseleção ou melhoramento gené-tico.

Consideração final

O cultivo e a industrialização deporongos (cuias e artesanato) podemser alternativas de renda para umnúmero limitado de famílias porregião, visando atender um mercadolocal atualmente abastecido porprodutos oriundos especialmente deoutros Estados.

Agradecimentos

Os autores agradecem aoscolegas Luiz Augusto Meister, HélioHenkels, Pedro Perito Cardoso,Jaime Schoeder e José CarlosHaensch pelo auxílio na coleta dassementes e ao professor Dílson A.Bisognin, da UFSM, por ter cedidosementes das populações SM.

Literatura citada

1. BISOGNIN, D.A.; ESTEFANEL, V.Determinação do tamanho de parcelana cultura do porongo Lagenariasiceraria (Mol.) Standl. Revista doCentro de Ciências Rurais , Santa Maria,v.18, n.3-4, p.197-200, dez. 1988.

2. BISOGNIN, D.A. Cultura do porongo.Informe técnico. Santa Maria: UFSM.1996. 7p.

3. BISOGNIN, D.A.; AMARANTE, C.V.T.;NICHIMORI, K.H. Análise docrescimento inicial de plantas de porongo(Lagenaria siceraria ). HorticulturaBrasileira, Brasília, v.13, n.2, p.163-166, nov. 1995.

4. BISOGNIN, D.A.; AUDE, M.I.S.;MARCHEZAM, E. Densidade desemeadura e produtividade do porongo.Ciência Rural, Santa Maria, v.22, n.1,p.15-19, jan. 1992.

As normas para publicação na revista Agropecuária Catarinensepodem ser acessadas pela internet no endereço www.epagri.rct-sc.br.

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Efeito de sistemas de preparo e de fontes de nutrientesEfeito de sistemas de preparo e de fontes de nutrientesEfeito de sistemas de preparo e de fontes de nutrientesEfeito de sistemas de preparo e de fontes de nutrientesEfeito de sistemas de preparo e de fontes de nutrientessobre a fertilidade do solo e o crescimento esobre a fertilidade do solo e o crescimento esobre a fertilidade do solo e o crescimento esobre a fertilidade do solo e o crescimento esobre a fertilidade do solo e o crescimento e

produção de milhoprodução de milhoprodução de milhoprodução de milhoprodução de milho11111

Milton da Veiga2, Dalvan José Reinert 3 eCarla Maria Pandolfo4

Introdução

A adoção de sistemas conserva-cionistas de preparo do solo paraimplantação de culturas anuais noBrasil tem aumentado nos últimosanos, com destaque para o sistema

Resumo – O objetivo principal do preparo do solo é criar um ambiente favorável para o crescimento edesenvolvimento das culturas. O efeito do sistema de preparo utilizado pode ser alterado pela aplicação de fontesorgânicas e minerais de nutrientes. Foi desenvolvido um estudo pela Epagri em Campos Novos, SC, sobre umNitossolo Vermelho, para avaliar o efeito acumulado de sistemas de preparo do solo associados à aplicação denutrientes de diferentes fontes ao longo de nove anos, sobre a fertilidade do solo, o crescimento e a produção domilho no décimo ano. Os sistemas de preparo e as fontes de nutrientes apresentaram efeito acumulado sobre osindicadores básicos de fertilidade do solo. Os sistemas de preparo com resíduos mantidos na lavoura proporcionarammaior crescimento e produção de milho do que quando queimados e retirados da lavoura. Menor fertilidade foiobservada no tratamento com remoção de resíduos. Maior crescimento e maior produção de milho foram obtidoscom a aplicação de esterco de aves e de suínos, devido ao efeito acumulado sobre a fertilidade do solo, pois maioresquantidades de P e K foram aplicadas via adubo mineral na semeadura, no décimo ano.Termos para indexação: plantio direto, preparo convencional, índice de área foliar, adubação orgânica.

Effect of soil tillage and nutrient sources on soil fertility andcorn growth and production

Abstract – The general purpose of the tillage is to create a soil environment favorable to desired plant growthand development. However, tillage effects on soil properties can be affected by nutrient application through mineraland organic sources. This study was carried out at Epagri/Experiment Station of Campos Novos, in Santa CatarinaState, on a Typic Haplorthox soil, in order to evaluate long-term effect of using soil tillage systems, associated withnutrient sources, on soil fertility and crop production. Soil tillage and nutrient sources had cumulative effect onbasic soil fertility properties. Lower soil fertility was observed in conventional tillage with residues removed fromthe field. Soil tillage with crop residues on the field provided higher corn growth and production than others.Greater corn growth and production with poultry litter and pig slurry are related to greater cumulative effect onsoil fertility until the tenth year, since greater amount of P and K were applied at seeding time by mineral fertilizersin that year.Index terms: No-till, chisel plow, conventional tillage, leaf area index, organic manure.

plantio direto. Este sistema,caracterizado pela realização dasemeadura sem preparo prévio dosolo, foi utilizado em mais de 22milhões de hectares na safra 2003/04, o que corresponde a mais dametade da área cultivada com cultu-

ras anuais no Brasil.O preparo do solo geralmente

provoca alterações nas caracterís-ticas químicas e físicas deste(Derpsch et al., 1991; Beutler et al.,2003), tanto pelo seu efeito sobre aerosão do solo como pelo revolvi-

Aceito para publicação em 16/8/05.1Parte do trabalho de tese de doutorado em Ciência do Solo do primeiro autor.2Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, C.P. 116, 89620-000 Campos Novos, SC, fone/fax: (49) 3541-0748,e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., Depto. de Solos/CCR/UFSM, 97105-900 Santa Maria, RS, fone: (49) 3220-8108, e-mail: [email protected]. agr., Dr. Epagri/Estação Experimental de Campos Novos, e-mail: [email protected].

70 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

mento ou não da camada preparada,alterando a concentração e o perfilde distribuição dos nutrientes e asrelações massa/volume do solo. Aaplicação superficial de nutrientesnos sistemas conservacionistas depreparo do solo, principalmente noplantio direto, pode resultar emperda significativa de nutrientes porescoamento superficial e volati-lização (Basso, 2003), o que podedeterminar menor acúmulo no solocomparativamente à incorporaçãoou semi-incorporação destes emsistemas de preparo nos quais nãoocorre erosão significativa. Menorestaxas de erosão, por sua vez,geralmente são encontradas emsistemas de preparo com baixamobilização do solo e/ou quemantenham o máximo de resíduosna superfície (Beutler et al., 2003).

Pesquisas têm indicado que aaplicação dos estercos tem impactosignificativo nas propriedadesquímicas, físicas e biológicas do solo,e a magnitude do efeito depende dasua composição química e física, dadose aplicada e do modo, época efreqüência de aplicação. Os estercossão fontes de macronutrientes (comoN, P, K, Ca, Mg, S) e de algunsmicronutrientes essenciais àsplantas e podem ser utilizados comofontes de nutrientes em substituiçãoaos adubos minerais (Scherer &Bartz, 1984; Scherer et al., 1984),desde que considerados os aspectoseconômicos de sua aquisição e/oudistribuição.

O objetivo deste trabalho foi o deavaliar o efeito de sistemas depreparo, associados à aplicação denutrientes através de diferentesfontes, sobre a fertilidade do solo aofinal de nove anos de condução doexperimento e sobre o crescimentoe produção de milho cultivado nodécimo ano (safra 2003/04).

Metodologia

O estudo foi efetuado em umexperimento implantado em maiode 1994 na Epagri/Estação Expe-rimental de Campos Novos, em umNitossolo Vermelho (Embrapa, 1999)com 70% de argila, 3,16% de matériaorgânica e 92% de saturação de basesna camada superficial (zero a 23cm)por ocasião da instalação doexperimento.

O desenho experimental consis-

tiu em um fatorial 5 x 5, com 25tratamentos dispostos em blocoscasualizados com sorteio dirigido (ostrês tratamentos com preparoconvencional constituíram um sub-bloco em cada bloco), com trêsrepetições. Os tratamentos corres-ponderam a uma combinação desistemas de preparo do solo (PD =plantio direto; PE = preparo comescarificador; PC = preparo con-vencional; PCq = preparo conven-cional com resíduos queimados; ePCr = preparo convencional comresíduos retirados) com fontes denutrientes (T = testemunha, semaplicação de nutrientes; AM = adubomineral de acordo com a reco-mendação para manutenção de cadacultura comercial; EA = 5t/ha/anode cama de aviário, base úmida; EB= 60m3/ha/ano de esterco líquido debovinos; e ES = 40m3/ha/ano deesterco líquido de suínos). Ostratamentos de preparo do soloforam aplicados em faixastransversais ao declive principal eos de fontes de nutrientes,transversalmente aos tratamentosde preparo do solo. Os tratamentosforam aplicados a cada ano, porocasião da implantação das culturascomerciais de primavera/verão, emfaixas de 6m de largura e 30m decomprimento.

As culturas foram semeadas emum sistema de rotação de culturasde três anos, envolvendo espéciespara produção de grãos (soja, milhoe feijão) no período primavera/verãoe plantas de cobertura do solo(triticale ou centeio, vica comum eaveia-preta) no período de outono/inverno. As plantas de cobertura dosolo foram semeadas no outono,através de semeadura direta. Nodécimo ano foi semeada vica comumconsorciada com aveia-preta (respec-tivamente, 75% e 25% da populaçãorecomendada para cada cultura) emabril de 2003 e milho híbrido duplo(4,5 plantas/m linear, com 0,7mentre linhas) no final de outubro de2003. Nesse ano foi aplicadaadubação nitrogenada de coberturaem todos os tratamentos de fontesorgânicas de nutrientes (EA, EB eES), na mesma dose recomendadapara a adubação mineral.

As análises químicas do soloforam realizadas no Laboratório deAnálise do Solo da Epagri/Centro dePesquisa para Agricultura Familiar

– Cepaf –, em Chapecó, SC, emamostras coletadas no final do nonoano de experimentação (abril de2003), nas camadas de zero a 5, 5 a10 e 10 a 20cm de profundidade,utilizando metodologia descrita porTedesco et al. (1985). No mesmolaboratório foram efetuadas asanálises químicas dos materiaisorgânicos utilizados como fontes denutrientes, em amostras coletadasa cada ano por ocasião da aplicação,utilizando-se metodologia descritapelos mesmos autores. As quan-tidades de N, P2O5, e K2O aplicadasatravés das diferentes fontes aolongo de nove anos (acumulado) eno décimo ano de experimentaçãosão apresentadas na Tabela 1.

A altura das plantas foideterminada semanalmente até ocompleto florescimento, medindo-se, antes do florescimento, adistância entre a superfície do soloaté o cruzamento das duas últimasfolhas e, após o florescimento, até ofinal do pendão. A área foliar totalde uma planta representativa porparcela foi determinada sema-nalmente, da emergência ao iníciodo florescimento (66 dias apósemergência), quando as determi-nações foram suspensas em funçãoda ocorrência de granizo, queresultou em danos às folhas einviabilizou esta determinação. Oíndice de área foliar (IAF) (m2/m2) foicalculado a partir do comprimento elargura das folhas fotossinteti-camente ativas, utilizando-se aequação (Zhang & Brandle, 1997):

em que C é o comprimento da folha(m), L a largura da folha (m), P apopulação de plantas de milho(plantas/m2), i o número da folha, no número de folhas fotossinte-ticamente ativas e, 0,75 o fator paracorreção da forma da folha.

A produção de milho foideterminada em 16,8m2 de área útil(seis linhas com 4m de comprimentoe 0,7m entre linhas) em cada parcelae calculada em base de quilos porhectare de grãos com 13% deumidade. A análise estatística foiefetuada usando o pacote estatísticoSAS (SAS, 1989) e envolveu a análiseda variância e o teste de comparaçãode médias (Tukey, P < 0,05).

( ) ⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡= ∑=

n

i

PLiCiIAF1

*75.0** (1)

71Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

nutrientes no período. O maior valorde pH encontrado no EA pode estarrelacionado à maior quantidade dematéria orgânica adicionada e àpresença de óxido de cálcio na camade aviário, o qual é adicionado paraprevenir doenças e possibilitar autilização da mesma cama por várioslotes. Este balanço resultou emmaior disponibilidade de P no EA eES e de K na adubação mineral. Omenor teor de K no ES estárelacionado à menor quantidadeaplicada (baixo teor de K no ES) ealta exportação através da palha e/ou grãos. Mesmo assim, o teor de Kencontrado no solo foi alto (>60mg/dm 3) na maioria dos sistemas depreparo do solo.

A altura e o IAF do milho foramafetados tanto pelo preparo do solocomo pelas fontes de nutrientes,mas as fontes tiveram maior efeitodo que o preparo do solo no períodoestudado (Figura 1). Os sistemas depreparo do solo podem ser divididosem dois grupos em função do efeitono crescimento do milho: umformado pelos tratamentos nos quaisos resíduos foram mantidos nalavoura (PD, PE e PC), onde ocorreumaior crescimento, e outro pelostratamentos com outras destinaçõesdos resíduos (queimados = PCq ouretirados = PCr), com menorcrescimento. Estas diferençaspodem ser explicadas, por um lado,pelo suprimento de nitrogênio parao milho a partir da decomposiçãodas plantas de cobertura de inverno(antes da adubação nitrogenada decobertura) e, por outro lado, peloefeito acumulado da queima ouretirada dos resíduos sobre aspropriedades físicas do solo (Veiga,2005).

O maior efeito das fontes denutrientes sobre o crescimento domilho, comparativamente aosefeitos dos sistemas de preparo dosolo, está relacionado com o efeitoacumulado sobre a fertilidade dosolo e o efeito imediato da aplicaçãode nutrientes em diferentesquantidades por ocasião dasemeadura da cultura. Maiorcrescimento foi observado no EA eES, que apresentaram maior alturafinal e maior IAF durante o períodoestudado. O menor crescimento domilho foi observado na testemunha,devido ao fato de não terem sidoaplicados nutrientes.

Tabela 1. Total de nutrientes aplicados durante nove anos (acumulado)e no décimo ano de experimentação, utilizando diferentes fontes

NutrienteFonte de nutriente

N P2O5 K2O

Nove anos .......................kg/ha........................

Esterco de aves 1.106 847 882

Esterco de bovinos 732 531 1.019

Esterco de suínos 1.000 1.507 526

Adubação mineral 675 450 690

Décimo ano

Esterco de aves 29(1) 34 15

Esterco de bovinos 43(1) 23 44

Esterco de suínos 118 (1) 116 40

Adubação mineral 47(1) 70 100

(1) Através da fonte e adubação de cobertura com 93kg/ha de N de fontemineral.

Resultados e discussão

Os resultados de pH, fósforodisponível e potássio trocável para acamada de zero a 20cm (médiaponderada das profundidades de zeroa 5, 5 a 10 e 10 a 20cm), ao final denove anos de condução doexperimento, são apresentados naTabela 2. Não houve interação entreos sistemas de preparo do solo e asfontes de nutrientes para osindicadores de fertilidade do soloestudados. Desta forma, os testesde comparação de médias foramefetuados entre os sistemas depreparo, para o conjunto das fontesde nutrientes, e entre as fontes denutrientes, para o conjunto dossistemas de preparo do solo.Considerando em conjunto as fontesde nutrientes, os sistemas depreparo apresentaram, ao final denove anos de aplicação dostratamentos, teores médios defósforo disponível (P) e altos depotássio trocável (K).

Os sistemas de preparo do soloapresentaram efeito significativosobre a fertilidade do solo (Tabela2). Menores valores de pH, P e Kforam encontrados no PCr devido àremoção dos resíduos da lavoura,resultando em maior exportação denutrientes, incluindo bases

trocáveis. Os valores intermediáriosde P e K encontrados no PD podemestar relacionados à perda destesnutrientes dissolvidos na água deescoamento superficial e conse-qüente não-acúmulo no solo, umavez que as fontes foram aplicadassuperficialmente, sem incorporação.A perda de nutrientes porescoamento superficial pode sersignificativa quando ocorrem chuvasde alta intensidade nos primeirosdias após a aplicação superficial deesterco (Basso, 2003), eventofreqüente na região no período deprimavera/verão (Beutler et al.,2003). A incorporação parcial dosnutrientes nos tratamentos compreparo do solo, através degradagem, pode ter reduzido a perdapor escoamento superficial,resultando em maiores níveis de Knos sistemas com preparo emrelação ao PD (exceto PCr), já que aerosão nos tratamentos com preparofoi negligível (observação visual).

A variação nos teores de P e Kobservada entre as fontes denutrientes foi devida às diferençasentre o que foi aplicado (Tabela 1) eo que foi exportado durante o períodode nove anos. Por outro lado,menores valores de P e K foramencontrados na testemunha, emfunção da não-aplicação de

Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Tabela 2. pH, fósforo disponível e potássio trocável na camada de zero a20cm de solo(1) , ao final do nono ano de experimentação para combinaçõesde sistemas de preparo e de fontes de nutrientes

Preparo Fonte de nutrientedosolo T EA EB ES AM Média

pH (1:1 solo:água)

PD 5,1 5,2 5,3 5,2 5,1 5,2 AB

PE 5,2 5,4 5,3 5,4 5,0 5,3 A

PC 5,1 5,4 5,2 5,0 5,0 5,1 AB

PCq 5,1 5,3 5,0 4,9 5,0 5,1 AB

PCr 5,0 5,2 5,1 4,9 4,9 5,0 B

Média 5,1 bc 5,3 a 5,2 ab 5,1 bc 5,0 c

Fósforo disponível (mg/dm3)

PD 3,5 9,5 4,0 6,9 4,7 5,7 AB

PE 3,6 9,4 3,8 7,9 5,3 6,0 AB

PC 3,4 9,5 5,0 9,8 6,2 6,8 A

PCq 4,7 7,6 4,3 7,2 5,6 5,9 AB

PCr 3,3 7,0 4,1 6,8 3,9 5,0 B

Média 3,7 c 8,6 a 4,2 bc 7,7 a 5,2 b

Potássio trocável (mg/dm3)

PD 66 115 147 57 158 109 BC

PE 82 154 194 96 228 151 A

PC 86 159 133 90 166 127 AB

PCq 108 149 146 94 178 135 AB

PCr 63 91 109 59 98 84 C

Média 81 c 134 b 146 ab 79 c 165 a

(1)Média ponderada das camadas de zero a 5, 5 a 10 e 10 a 20cm deprofundidade.(2)Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha e maiúscula nacoluna não diferem estatisticamente entre si (Tukey, P < 0,05).Nota: T = testemunha, sem aplicação de nutrientes;EA = 5t/ha/ano de cama de aviário, base úmida;EB = 60m3/ha/ano de esterco líquido de bovinos;ES = 40m3/ha/ano de esterco líquido de suínos;AM = adubo mineral de acordo com a recomendação para manutenção decada cultura comercial;PD = plantio direto;PE = preparo com escarificador;PC = preparo convencional;PCq = preparo convencional com resíduos queimados;PCr = preparo convencional com resíduos retirados.

as fontes de nutrientes, e entre asfontes de nutrientes, considerando-se todos os sistemas de preparo. Aprodução de grãos de milho foi maiornos sistemas de preparo onde osresíduos foram mantidos na lavoura(PD, PE e PC), não havendodiferenças significativas entre eles,e a menor produção foi obtida quandoos resíduos foram retirados dalavoura (PCr). A maior produção demilho observada no PD, apesar denão se diferenciar estatisticamentedo PE e PC, provavelmente estárelacionada à maior disponibilidadede água observada neste sistema,no período do florescimento àmaturação fisiológica da cultura(Veiga, 2005). A fertilidade do soloao final do nono ano no PD erasimilar ao PE e PC, exceto pelamenor disponibilidade de K (Tabe-la 2).

O efeito da aplicação denutrientes de diferentes fontes serefletiu na produção de grãos demilho. Os maiores valores de pH,de fósforo disponível e,especialmente, de potássio trocávelencontrados no solo anteriormenteao cultivo do milho com EA pareceterem sido determinantes para amaior produção de grãos nestetratamento. Isto porque asquantidades de N e K, aplicadosatravés desta fonte por ocasião dasemeadura na safra 2003/04, forammenores do que através das outrasfontes. A mesma tendência foiobservada entre o EB e o AM, queapresentaram produção similarmesmo com a aplicação de P e K emmaior quantidade através de adubomineral no último ano.

Conclusões

A semi-incorporação ou aincorporação das fontes de nutrien-tes, nos tratamentos com preparodo solo, resulta em maiores teoresde potássio trocável na camada dezero a 20cm comparativamente aoplantio direto.

A aplicação, por um longo perío-do, de esterco de aves e de suínosem doses recomendadas parasuprimento de nutrientes resultaem aumento do fósforo disponível eda produção de milho; já o estercode aves e o esterco de bovinos são osque mais enriquecem o solo em K.

O sistema de preparo com remo-

72

Os resultados de produção degrãos de milho são apresentados naTabela 3. As baixas produções degrãos obtidas na safra 2003/04 estãorelacionadas à ocorrência de baixaprecipitação pluviométrica noperíodo compreendido entre o início

da floração e a maturação fisiológicada cultura. Não houve interaçãosignificativa entre os sistemas depreparo e as fontes de nutrientes,razão pela qual a comparação entremédias foi efetuada entre os sistemasde preparo, considerando-se todas

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ção dos resíduos da lavoura deter-mina, a longo prazo, redução dafertilidade do solo e da produção degrãos e compromete a capacidadeprodutiva do solo.

Literatura citada

1. BASSO, C.J. Perdas de nitrogênio efósforo com aplicação no solo de dejetoslíquidos de suínos. 2003. 125f. Tese(Doutorado em Agronomia –Biodinâmica do Solo) – UniversidadeFederal de Santa Maria, Santa Maria.

2. BEUTLER, J.; BERTOL, I.; VEIGA, M.;WILDNER, L.P. Perdas de solo e águanum Latossolo Vermelho Alumino-férrico submetido a diferentes sistemasde preparo e cultivo sob chuva natural.Revista Brasileira de Ciência do Solo,v.27, p.509-517, 2003.

3. DERPSCH, R.; ROTH, C.H.; SIDIRAS,N.; KÖPKE, U. Controle da erosão noParaná, Brasil: Sistemas de coberturado solo, plantio direto e preparoconservacionista do solo. Eschborn:GTZ/Iapar, 1991. 274p. (Sonderpu-blikation der GTZ, n.245).

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6. SCHERER, E.E.; BARTZ, H.R.Adubação do feijoeiro com esterco deaves, nitrogênio, fósforo e potássio. 2.ed.Florianópolis: Empasc, 1984. 15p.(Empasc. Boletim Técnico, 10).

7. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G.D.;JUCKSCH, I.; NADAL, R.D. Efeito daadubação com esterco de suínos,nitrogênio e fósforo em milho .Florianópolis: Empasc, 1984. 26p.(Empasc. Boletim Técnico, 24).

8. TEDESCO, M.J.; VOLKWEISS, S.J.;BOHNEN, H. Análise do solo, plantase outros materiais. Porto Alegre:UFRGS/Faculdade de Agronomia, 188p.1985. (Boletim técnico de solos, 5).

9. VEIGA, M. Propriedades de umNitossolo Vermelho após nove anos deuso de sistemas de manejo e efeito sobreculturas . 2005. 110p. Tese (Doutoradoem Ciência do Solo – Processos Físicose Morfogenéticos do Solo) – Universi-dade Federal de Santa Maria, SantaMaria.

10. ZHANG, H.; BRANDLE, J.R. Leaf areadevelopment of corn as affected bywindbreak shelter. Crop Science, v.37,p.1.253-1.257, 1997.

Tabela 3. Produção de grãos de milho no décimo ano de uso para ascombinações de sistemas de preparo do solo e de fontes de nutrientes(1)

Preparo Fonte de nutrientedosolo T EA EB ES AM Média

.........................................kg/ha.....................................

PD 1.719 5.471 4.624 4.983 4.412 4.242 A

PE 1.893 5.064 4.112 4.745 4.191 4.001 AB

PC 1.575 5.023 3.943 4.837 4.218 3.920 AB

PCq 980 4.564 3.849 4.651 3.955 3.600 BC

PCr 693 4.691 3.377 3.867 3.306 3.187 C

Média 1.372 c 4.963 a 3.981 b 4.617 a 4.016 b

(1) Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha e maiúscula nacoluna não diferem estatisticamente entre si (Tukey, P < 0,05).Nota: T = testemunha, sem aplicação de nutrientes;EA = 5t/ha/ano de cama de aviário, base úmida;EB = 60m3/ha/ano de esterco líquido de bovinos;ES = 40m3/ha/ano de esterco líquido de suínos;AM = adubo mineral de acordo com a recomendação para manutenção decada cultura comercial;PD = plantio direto;PE = preparo com escarificador;PC = preparo convencional;PCq = preparo convencional com resíduos queimados;PCr = preparo convencional com resíduos retirados.

Figura 1. Índice de área foliar (IAF) e altura das plantas de milho noperíodo da emergência ao florescimento, em diferentes sistemas depreparo (médias das fontes de nutrientes) e fontes de nutrientes (médiasdos sistemas de preparo)

Nota: As barras verticais correspondem à diferença mínima significativaentre tratamentos em cada época de amostragem (Tukey, P < 0,05).

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Comportamento de cultivares de feijoeiro aoComportamento de cultivares de feijoeiro aoComportamento de cultivares de feijoeiro aoComportamento de cultivares de feijoeiro aoComportamento de cultivares de feijoeiro aocrestamento bacteriano comum, em condiçõescrestamento bacteriano comum, em condiçõescrestamento bacteriano comum, em condiçõescrestamento bacteriano comum, em condiçõescrestamento bacteriano comum, em condições

de casa-de casa-de casa-de casa-de casa-dedededede-vegetação-vegetação-vegetação-vegetação-vegetação11111

Fernando Vavassori2, Gustavo de Faria Theodoro3,Daniel Henrique Herbes4 e Lucilene de Abreu 5

Resumo – Foi avaliado o comportamento de cultivares de feijoeiro frente ao crestamento bacteriano comum(CBC), causado por Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli, em condições de casa-de-vegetação. Procedeu-se àinoculação foliar pelo método de agulhas múltiplas e a avaliação da severidade da doença ocorreu aos 7, 11, 15 e19 dias após a inoculação (DAI). Posteriormente, estimou-se a área abaixo da curva de progresso do crestamentobacteriano comum (AACPCBC). Aos 19 DAI, apenas as cultivares IPR Juriti, BR 6-Barriga Verde e SCS 202-Guarámostraram-se com maiores níveis de resistência foliar ao CBC. As cultivares IPR Juriti, BR 6-Barriga Verde, SCS202-Guará e Graúna apresentaram as menores AACPCBC entre as cultivares avaliadas.Termos para indexação: Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli, Phaseolus vulgaris , resistência genética.

Behavior of common bean cultivars to common bacterial blight, undergreenhouse conditions

Abstract – The reaction of common bean cultivars to common bacterial blight (CBC), caused by Xanthomonasaxonopodis pv. phaseoli, was evaluated under greenhouse conditions. Foliar inoculations were made by themultiple needles method and the disease severity was evaluated at 7, 11, 15 and 19 days after the foliar inoculation(DAI). The area under the common bacterial blight progress curve (AUCBCPC) was also estimated. At the 19th DAI,only the cultivars IPR Juriti, BR 6-Barriga Verde and SCS 202-Guará presented greater resistance levels. CultivarsIPR Juriti, BR 6-Barriga Verde, SCS 202-Guará and Graúna had the lowest AUCBCPC among all cultivars.Index terms: Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli, Phaseolus vulgaris, genetic resistance.

Introdução

Entre as doenças de etiologiabacteriana que incidem sobre ofeijoeiro (Phaseolus vulgaris L.)destacam-se a murcha-de-curtobac-terium, causada por Curtobacteriumflaccumfaciens pv. flaccumfaciens,recentemente constatada emlocalidades da Região Oeste de SantaCatarina (Theodoro, 2004a), e ocrestamento bacteriano comum(CBC), causado por Xantomonasaxonopodis pv. phaseoli (Smith) Dye.O CBC pode ser favorecido pelas

condições climáticas que ocorremtanto na safra das águas (safra)quanto na da seca (safrinha), no oes-te catarinense (Theodoro, 2004b).

O controle do CBC é fundamen-tado no uso de sementes sadias, noemprego de cultivares resistentes,rotação de culturas, remoção deplantas doentes e enterrio de restosculturais (Rava & Sartorato, 1994).Por meio da inoculação artificial de60 genótipos de feijoeiro, Rava et al.(1990) constataram um coeficientede correlação altamente significativoentre as notas de severidade das

avaliações realizadas a campo e emcasa-de-vegetação.

O presente trabalho teve comoobjetivo avaliar o comportamentode cultivares de feijoeiro perante oisolado FJ 17, de X. axonopodis pv.phaseoli, inoculado artificialmenteem casa-de-vegetação.

Material e métodos

O trabalho foi conduzido naEpagri/Cepaf, em Chapecó, SC, emcondições de casa-de-vegetação.Foram avaliadas 18 cultivares de

Aceito para publicação em 16/8/05.1Trabalho de conclusão do curso de Agronomia, apresentado pelo segundo autor à Universidade Comunitária Regional de Chapecó– Unochapecó –, em 2005.2Eng. agr., Bunge Fertilizantes S/A, Rua Hermes da Fonseca, 2.255, Bairro Rio Branco, 92200-150 Canoas, RS.3Eng. agr., Dr., Epagri/Cepaf, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0615, e-mail: [email protected] de Agronomia, Unochapecó, C.P. 747, 89809-000 Chapecó, SC.5Eng. agr., M.Sc., Unochapecó.

75Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

feijoeiro: TPS Nobre, TPSBionobre, TPS Magnífico, TPSSoberano, TPS Bonito, IPRUirapuru, IPR Juriti, IPR Graúna,Carioca, IAPAR 44, IAPAR 31, BRSValente, EMPASC 201-Chapecó, SCS202-Guará, BR 6-Barriga Verde, RioTibagi, Pérola e Diamante Negro.

Foram empregados vasos com5L de solo de lavoura, sendo que acorreção da acidez e a adubaçãoforam realizadas conforme indicadopela análise de solo. As sementesforam tratadas mediante a imersãopor 5 minutos em solução deBenomyl (0,5g/L) e, a seguir, forampré-germinadas a 25 oC/48h, emrolos de papel “germ-test”.Posteriormente foram semeadascinco sementes em cada vaso nasafra (30/8/2004) e após duassemanas foi realizado o desbaste dasplantas menos vigorosas, deixandotrês plantas por vaso.

O isolado FJ 17, de X. axonopodispv. phaseoli variante fuscans , pato-gênico e obtido de plantas de feijoeiro‘Carioca Precoce’ oriundas do muni-cípio de Águas de Chapecó, SC, foicultivado em meio de cultura nutri-ente-sacarose-ágar (N.S.A. - extratode carne – 3g, peptona – 5g, ágar –15g, sacarose – 5g, água destiladaq.s.p. – 1.000ml) a 28oC/48h. Após acoleta da suspensão bacteriana emum “erlenmeyer” esterilizado, foramfeitas diluições em série paraalcançar a concentração de 108ufc/ml, conforme a escala de McFarland(Mariano & Assis, 2000).

Quando as plantas atingiram ofinal do estádio V4 (terceira folhatrifoliada), foi realizada a inocu-lação de dez a 15 folíolos de cadaplanta, mediante o método deagulhas múltiplas (Andrus, 1948).Embebeu-se uma esponja,depositada no fundo de uma placade Petri, com a suspensão bacte-riana e feriram-se os folíolos dasplantas com as agulhas, formandouma circunferência com diversosorifícios (Figura 1A). No trata-mento-testemunha, por ocasiãoda inoculação, embebeu-se a es-ponja com água destilada este-rilizada, em vez da suspensãobacteriana.

As avaliações foram realizadasaos 7, 11, 15 e 19 dias após a inoculação(DAI), atribuindo-se notas de 1 a 5,conforme a metodologia descrita porTorres & Maringoni (1997): 1 = sem

sintomas, 2 = até 25% de amarele-cimento ou necrose da parte inocu-lada, 3 = 26% a 50% de amarele-cimento ou necrose da parte inocu-lada, 4 = 51% a 75% de amareleci-mento ou necrose da parte inoculadae 5 = acima de 75% de amareleci-mento ou necrose da parte inoculada.A partir dos valores de severidadeobtidos foi estimada a área abaixoda curva de progresso do CBC emcada genótipo, de acordo com afórmula: AACPCBC = Σ {[(Y1+Y2)/2]*Δt}, em que Y1 e Y2 correspon-deram aos valores de severidadepara avaliações sucessivas dentrodo mesmo bloco e Δt correspondeuao intervalo de tempo entre elas.

Foram realizadas três pulve-rizações para o controle de pragas,empregando-se inseticidas regis-trados para a cultura. Diariamentefoi monitorada a temperatura nointerior da casa-de-vegetação.

O delineamento experimentalempregado foi de blocos ao acasocom cinco repetições. Cada parcelaconstituiu-se de um vaso contendotrês plantas. Os valores médios deseveridade e AACPCBC foramsubmetidos à análise de variância ecomparados pelo teste de Scott-Knott, a 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

As menores temperaturasmédias ocorreram no estádio V3(primeira folha trifoliada). Do estádioV4 ao R8 (enchimento das vagens),período em que se realizaram as

avaliações, as temperaturas médiaspermaneceram relativamenteconstantes (Tabela 1). De formageral, foram constatadas tempera-turas relativamente elevadas,propícias ao desenvolvimento doCBC (Rava & Sartorato, 1994).

O resultado do comportamentodas 18 cultivares de feijoeiro ao CBCencontra-se na Tabela 2. Nomomento da primeira avaliação, aos7 DAI, a severidade da doença foibaixa em todas as cultivares. Porém,verificou-se o início do aparecimentodos sintomas nas cultivares Pérola,Graúna, BR 6-Barriga Verde, IAPAR31, SCS 202-Guará e IPR Juriti.Estas apresentaram severidade dadoença significativamente inferiorà apresentada pela ‘Carioca’, que foiconsiderada como padrão desuscetibilidade nos trabalhosconduzidos por Maringoni &Lauretti (1999). A severidade do CBCnas cultivares TPS Soberano, TPSNobre, TPS Bionobre, TPSMagnífico, TPS Bonito, IPRUirapuru e BRS Valente não diferiudaquela que ocorreu na ‘Carioca’ (P< 0,05). Apenas as cultivares IAPAR44, Rio Tibagi, Diamante Negro eEMPASC 201-Chapecó apresenta-ram índices de severidade superioresaos da cultivar Carioca.

Na segunda avaliação, realizadaaos 11 DAI, a severidade da doençaaumentou consideravelmente,amarelecendo e/ou necrosando 26%a 50% da parte inoculada de grandeparte dos genótipos avaliados. Ascultivares IAPAR 44, Rio Tibagi,

Figura 1. (A) método de inoculação de Xanthomonas axonopodis pv.phaseoli em folíolos de cultivares de feijoeiro; (B) sintoma de CBC emfolíolo de feijoeiro ‘Carioca’, aos 15 DAI; (C) feijoeiro ‘SCS202-Guará’, aos 19 DAI. Epagri/Cepaf, Chapecó, SC, 2004

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A cultivar BR 6-Barriga Verde éoriginária do cruzamento dosprogenitores A 175 x XAN 41(Flesch et al., 1990) e também foiconsiderada resistente ao CBC emcondições de campo (Flesch et al.,1990), mas deixou de ser reco-mendada para o Estado de SantaCatarina. A ‘IPR Juriti’ teve origementre o cruzamento dos proge-nitores BAT 93 x cultivar Cariocae, desde a primeira avaliação até aúltima, destacou-se neste expe-rimento como a mais resistente epossui como progenitor a linhagemBAT 93, considerada como padrãode resistência por Ávila et al. (1998).Em condições de campo, a cultivarIPR Juriti foi considerada comreação intermediária ao CBC (Iapar,2003), enquanto que no presentetrabalho demonstrou-se resistenteao isolado FJ 17.

Estas diferenças podem estarrelacionadas com diferenças entreos isolados (diversidade genética,virulência, etc.), com a forma deinoculação (natural ou artificial),com o tipo de avaliação utilizada(avaliação dos sintomas em vagense/ou folhas, número de folíolos porparcela ou comportamento daparcela inteira) e a idade da plantana época de inoculação. Sabe-se que,em condições de campo, a incidênciado CBC pode ser favorecida ou nãopelas condições ambientais (chuvaassociada a vento) e pela presençaou ausência do patógeno na regiãode cultivo (restos de culturainfectados, proximidade de lavourasdoentes, etc.). As avaliações de doen-ças no campo, em plantas com infec-ção natural, demonstraram que acultivar SCS 202-Guará obteve rea-ção intermediária ao CBC em Cam-pos Novos e Chapecó, enquanto quea ‘Diamante Negro’ apresentou-seresistente a esta doença apenas emCampos Novos (Hemp et al., 2004).

Em experimentos conduzidos emcasa-de-vegetação, há a possibili-dade de padronizar a concentraçãode inóculo, os métodos de inoculaçãoe avaliação e, com isso, isolar fa-tores que podem alterar ou mas-carar a expressão da resistência deplantas a doenças. Constitui-se numprocedimento inicial importante eeficiente na seleção de genótiposresistentes a doenças bacterianas,em programas de melhoramentogenético.

Tabela 1. Temperaturas mínimas, médias e máximas no interior da casa-de-vegetação, durante o ciclo das plantas de feijoeiro. Epagri/Cepaf,Chapecó, SC, 2004

TemperaturaEstádio fenológico

Mínima Média Máxima

............................oC............................

V1 15,8 28,1 40,3

V2 18,3 28,8 39,3

V3 15,5 24,0 32,5

V4 16,8 25,2 33,6

R5 15,7 25,1 34,6

R6 17,3 25,0 32,7

R7 17,0 23,8 30,7

Nota: V1 = emergência de 50% das plantas; V2 = abertura das folhasprimárias em 50% das plantas; V3 = abertura da primeira folha trifolioladaem 50% das plantas; V4 = abertura da terceira folha trifoliolada em 50%das plantas; R5 = aparecimento do primeiro botão floral em 50% dasplantas; R6 = primeira flor aberta em 50% das plantas; R7 = aparecimentodo primeiro canivete em 50% das plantas; R8 = enchimento de grãos daprimeira vagem em 50% das plantas.

EMPASC 201-Chapecó, TPS,Soberano, TPS Magnífico, TPSNobre, TPS Bionobre, IPRUirapuru, BRS Valente, TPS Bonito,Pérola e Diamante Negro apre-sentaram notas de severidadeequivalentes (P < 0,05) às da cultivarCarioca. A cultivar Diamante Negro,indicada como moderadamenteresistente ao CBC (Embrapa, 2004),apresentou-se suscetível ao isoladoFJ 17, de X. axonopodis pv. phaseoli.

Aos 15 DAI, notou-se que os folío-los mostraram maior severidade dadoença, provavelmente favorecidapelas condições ambientais nointerior da casa-de-vegetação. Nestemomento, a severidade do CBC nacultivar IAPAR 31 foi semelhanteàquela que houve nos folíolos da‘Carioca’ (Figura 1B). Já na últimaavaliação da doença, aos 19 DAI, ascultivares SCS 202 Guará (Figura1C), BR 6 Barriga Verde e IPR Juritidestacaram-se por terem notas deseveridade significativamenteinferiores às da ‘Carioca’. A cultivarIAPAR 31 apresentou moderadonível de resistência foliar àbacteriose “fogo selvagem”, causadapor Pseudomonas syringae pv. tabaci(Theodoro & Maringoni, 1998), e foiindicada por Rava & Sartorato(1994) como resistente ao CBC,juntamente com as cultivares

IAPAR 14 e IAPAR 16. Porém, nopresente trabalho, esta cultivar foisuscetível ao isolado FJ 17.

A análise da AACPCBC permitiua locação das cultivares em cincogrupos distintos (Tabela 2). Noprimeiro e no segundo grupoencontram-se, respectivamente, ascultivares IPR Juriti e BR 6-BarrigaVerde, com as menores AACPCBC.No terceiro, as cultivares SCS 202-Guará e Graúna. Já no quarto grupoestiveram as cultivares IAPAR 31,Pérola, TPS Bonito, BRS Valente eTPS Magnífico, enquanto que noquinto foram agrupados os demaisgenótipos avaliados. O tratamento-testemunha, representado porplantas da cultivar Carioca nãoinoculadas, não mostrou sintomasde CBC, provavelmente porque nãohouve condições ambientais adequa-das para que ocorresse a dissemi-nação secundária do CBC das plan-tas inoculadas para as não inocula-das com X. axonopodis pv. phaseoli.

Pelo fato de a cultivar SCS 202-Guará ter se mostrado relativamen-te resistente ao CBC em condiçõesde casa-de-vegetação, assume-se queeste comportamento foi conferidopor genes oriundos da linhagem FT87-77, uma vez que seu outro proge-nitor, a cultivar Carioca, é suscetívela X. axonopodis pv. phaseoli.

77Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Tabela 2. Comportamento de cultivares de feijoeiro ao isolado FJ 17, deXanthomonas axonopodis pv. phaseoli. Epagri/Cepaf, Chapecó, SC, 2004

Severidade média(1)

Cultivar7 DAI 11 DAI 15 DAI 19 DAI AACPCBC

IAPAR 44 2,05 a(2) 3,29 a 4,66 a 5,00 a 45,92 a

Rio Tibagi 2,03 a 3,38 a 4,71 a 5,00 a 46,42 a

Diamante Negro 2,03 a 3,34 a 4,77 a 5,00 a 46,51 a

EMPASC 201-Chapecó 1,93 a 3,51 a 4,70 a 4,97 a 46,62 a

TPS Soberano 1,86 b 3,47 a 4,77 a 4,99 a 46,69 a

TPS Nobre 1,80 b 3,39 a 4,96 a 5,00 a 47,00 a

TPS Bionobre 1,76 b 3,18 a 4,77 a 5,00 a 45,92 a

TPS Magnífico 1,75 b 3,07 a 4,57 a 4,95 a 43,98 b

IPR Uirapuru 1,73 b 3,28 a 4,85 a 5,00 a 45,96 a

BRS Valente 1,71 b 2,92 a 4,40 a 5,00 a 42,72 b

TPS Bonito 1,70 b 2,88 a 4,33 a 4,92 a 42,09 b

Carioca 1,65 b 3,10 a 4,74 a 5,00 a 44,65 a

Pérola 1,58 c 3,05 a 4,65 a 4,97 a 43,90 b

Graúna 1,49 c 2,63 b 3,91 b 4,69 a 38,49 c

BR 6-Barriga Verde 1,45 c 2,06 c 3,42 c 4,26 c 33,31 d

IAPAR 31 1,33 d 2,57 b 4,35 a 5,00 a 40,34 b

SCS 202-Guará 1,27 d 2,11 c 3,84 b 4,53 b 35,37 c

IPR Juriti 1,16 d 1,96 c 2,84 d 3,79 d 29,13 e

Carioca (testemunha) 1,00 (3) 1,00(3) 1,00(3) 1,00 (3) 12,00(3)

CV (%) 12,79 13,09 7,80 4,31 7,24

(1)Média de cinco repetições;(2)Escala de notas de 1 (sem sintomas) a 5 (acima de 75% deamarelecimento ou necrose da região inoculada). Médias seguidas damesma letra não diferem entre si na vertical, a 5% de probabilidade,pelo teste de Scott-Knott.(3)Dados não incluídos na análise estatística.Nota: DAI = Dias após a inoculação; AACPCBC = Área abaixo da curvado progresso do crestamento bacteriano comum.

Este trabalho indicou que, pararegiões que favorecem a alta incidên-cia e severidade do crestamentobacteriano comum em lavouras defeijoeiro, as cultivares IPR Juriti,Graúna e SCS 202-Guará são asmais recomendadas por demonstra-rem adequada resistência foliar.

Conclusões

• Aos 19 dias após a inoculação,apenas as cultivares IPR Juriti, BR6-Barriga Verde e SCS 202-Guarámostram maior nível de resistênciafoliar ao crestamento bacteriano co-

mum, entre as cultivares avaliadas.• As cultivares IPR Juriti, BR 6-

Barriga Verde, SCS 202-Guará eGraúna apresentam menores áreasabaixo da curva de progresso docrestamento bacteriano comum emrelação às demais cultivares.

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78 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

A importância do erro eA importância do erro eA importância do erro eA importância do erro eA importância do erro experimentalxperimentalxperimentalxperimentalxperimental

Cristiano Nunes Nesi1 e Stéfani de Bettio2

Introdução

Na experimentação agrícola,utiliza-se a análise estatísticadevido à presença, em todas asobservações, de efeitos de fatoresnão controlados que causamvariação, denominados de erroexperimental. Esses efeitos ocor-rem de forma aleatória entre asunidades que receberam os trata-mentos, não podem ser conhecidosindividualmente e tendem amascarar o efeito do tratamento emestudo, pois têm interferência nos

testes de hipóteses e nos procedi-mentos para comparações múltiplasde médias (Steel & Torrie, 1960;Banzatto & Kronka, 1995).

Cochran & Cox (1978) distin-guem duas fontes principais quecontribuem para formar o erroexperimental. A primeira é avariabilidade inerente às unidadesexperimentais, produzindo resul-tados diferentes, embora tenhamsido submetidas a um mesmotratamento. A segunda ocorre nacondução do experimento devido àinexistência de uniformidade da

Resumo – O erro experimental resulta dos efeitos de fatores não controlados que causam variação e ocorremde forma aleatória entre as unidades que receberam os tratamentos, não pode ser conhecido individualmente e teminterferência nos testes de hipóteses e nos procedimentos para comparações de médias. O objetivo dessa revisãoé discutir a importância do erro experimental no teste F e na diferença mínima significativa (DMS) utilizada nosprocedimentos de comparações múltiplas de médias, exemplificando com um ensaio de competição de cultivaresde feijoeiro. A DMS se eleva quando há aumento no quadrado médio do resíduo. Para o exemplo, quando ocoeficiente de variação aumenta de 5% para 20%, a DMS aumenta em quatro vezes nos testes de Scheffé e Tukeye cinco para Dunnett e Duncan. Para um coeficiente de variação de 20%, a DMS é mais de 50% da média dascultivares para os testes de Scheffé e Tukey. Observa-se uma DMS entre dois tratamentos maior que a média doexperimento com um coeficiente de variação de 35% utilizando-se o teste de Scheffé.Termos para indexação: variação ambiental, diferença mínima significativa.

The importance of the experimental error

Abstract – The statistical analysis is used to test hypotheses due to the presence of the effects of not controlledfactors that cause variation, called experimental error. These effects are randomized among the units that receivedtreatments, they cannot be known individually and they have direct interference in the tests of hypotheses andin the procedures for comparisons of means. The objective of this review is to discuss the importance of theexperimental error in F test and least significant difference (LSD) used in the procedures of multiple comparisonsof means, using as example a competition assay of common beans cultivars. LSD increases with the increase ofthe mean square residues. When the coefficient of variation increases from 5% to 20%, LSD increases four timesin the tests of Scheffé and Tukey and five times for Dunnett and Duncan tests. For a coefficient of variation of 20%,LSD is greater than 50% of the mean of cultivars for Scheffé and Tukey tests. With a coefficient of variation of35% the LSD between two treatments is higher than the mean experiment when the Scheffé test is used.Index terms: environmental variation, least significant difference.

técnica experimental. Entre osprincipais fatores que contribuempara aumentar o erro experimental,Federer (1977), Lopes et al. (1994)e Banzatto & Kronka (1995) citama não-utilização dos princípiosbásicos da experimentação (repe-tição, casualização e controle local),a heterogeneidade das unidadesexperimentais e do materialexperimental, as competições entreas parcelas e dentro delas, arealização desuniforme dos tratosculturais e a ocorrência de pragas,doenças e plantas daninhas. Em

Aceito para publicação em 16/8/05.1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600, e-mail: [email protected]êmica do curso de Zootecnia, Udesc/Centro Educacional do Oeste – CEO –, Rua Benjamin Constant, 164-D, 89806-070 Chapecó,SC, e-mail: [email protected].

Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006 79

muitos experimentos, os resultadossão tão influenciados pelo erro expe-rimental que somente diferençasnotáveis entre tratamentos podemser detectadas, e ainda estas podemestar sujeitas a uma incertezaconsiderável (Cochran & Cox, 1978).A qualidade de um experimento éavaliada pela magnitude do erroexperimental e pelo atendimentodas pressuposições do modelomatemático, ou seja, aditividade domodelo, erros experimentaisaleatórios, independentes e nor-malmente distribuídos com médiazero e variância comum (Stork etal., 2000).

Segundo Banzatto & Kronka(1995), o quadrado médio detratamentos é um estimador davariância entre os tratamentos e oquadrado médio do resíduo é umestimador da variância comumdentro de cada um dos tratamentose, portanto, estima o erroexperimental. A aplicação destassuposições resulta em maiorprecisão experimental, e quantomenor for o quadrado médio doresíduo, menor será a diferençamínima significativa utilizada nostestes de comparações de médiasduas a duas. Na experimentação, demodo geral, ensaios com baixaprecisão podem levar a conclusõesincorretas, pois ocorre um aumentona probabilidade de ocorrência doerro tipo II, ou seja, os efeitos dostratamentos não diferem entre si,apesar de existir diferença entreeles. O erro tipo I (indica que osefeitos dos tratamentos diferemquando não existe diferença) não éafetado, pois pode ser controladopelos níveis de significância (Judiceet al., 2002). O procedimento deinferência para comparar os efeitosdos tratamentos consiste, basica-mente, em comparar a variaçãoentre as unidades experimentaiscom diferentes tratamentos com avariação entre unidades experi-mentais com um mesmo trata-mento, ou seja, com a variaçãoatribuível ao erro experimental.Desejando-se testar a hipóteseestatística iitH ∀= ;0:0 , porexemplo, com tratamentos (t i) deefeito fixo, calcula-se a estatísticadenominada de teste F dada por:

De acordo com Lúcio & Stork(1999), o valor de F calculado deveser maior que F tabelado para asignificância adotada, para serejeitar 0H e concluir que pelomenos um contraste entre médiasde tratamentos é diferente de zero.O valor de F calculado determinaquantas vezes a estimativa davariância do “erro mais o efeito dostratamentos” é maior que aestimativa da variância do erro, equanto mais F se distancia de um,mais se observa o efeito detratamentos. Em certos casos,mesmo havendo diferenças entre osefeitos dos tratamentos, estaspoderão não ser detectadas se avariância do erro for grande. Parauma dada diferença entretratamentos, mesmo sendopequena, o valor de F estimadodependerá do valor do erroexperimental. Assim, a rejeição de

0H depende, principalmente, damagnitude do erro experimental.Quando pelo teste F for concluídoque pelo menos um contraste demédias dos tratamentos difere dezero, precisa-se de um critério paradefinir quais tratamentos diferementre si. Para tanto, utiliza-se ummétodo que forneça a diferençamínima significativa (DMS) entreduas médias. Essa diferença será oinstrumento de medida, e toda vezque o valor absoluto da diferençaentre duas médias for maior ouigual à DMS, considera-se que asmédias diferem significativamente(Banzatto & Kronka, 1995). Hádiversos procedimentos disponíveisna literatura para as comparaçõesde médias. Entre eles destacam-seo teste de Scheffé, de Tukey, deDunnett e de Duncan, descritos aseguir considerando a diferençamínima significativa (DMS), oquadrado médio do resíduo (QMRes)e o mesmo número de repetições (r)para todos os tratamentos:

a)(t é o número de tratamentos, F é ovalor tabelado em função dos grausde liberdade de tratamentos e dosgraus de liberdade do resíduo);proposto por Scheffé (1953), é o maisconservador de todos os testes, poissugere apenas um valor dediferença mínima significativa,mesmo existindo várias médias.Utiliza-se nos casos em que oscontrastes de médias são estabe-

lecidos após a realização do experi-mento ou sugeridos pelos dados.

b)(q é o valor tabelado em função donúmero de tratamentos e dos grausde liberdade do resíduo); sugeridopor Tukey (1951), é um teste menosconservador que o de Scheffé,apropriado para comparar todos ospares de médias entre si.

c)(D é o valor tabelado em função dosgraus de liberdade de tratamentose dos graus de liberdade do resíduo);sugerido por Dunnett (1955), é umteste para comparações em queapenas um tratamento serve dereferência para os demais, ou seja,comparam-se todos os tratamentoscom apenas um.

d)(qi é o valor tabelado em função donúmero de médias abrangidas pelocontraste e dos graus de liberdadedo resíduo); proposto por Duncan(1955), esse teste utiliza amplitudesmúltiplas, pois existem váriasdiferenças mínimas significativas,comparadas de acordo com oposicionamento das médiasordenadas.

O objetivo deste trabalho édiscutir e exemplificar a importân-cia do erro experimental no testeF e na diferença mínima signi-ficativa utilizada nos procedimentosde comparações múltiplas demédias.

Material e métodos

Foi considerado um experimentode competição de 20 cultivares defeijoeiro de cor preta, conduzido emCampos Novos, SC (safra 2003/04),no delineamento experimental emblocos completos ao acaso comquatro repetições. A produtividademédia das cultivares e o quadradomédio do resíduo do experimentoforam 2.253,35kg/ha e 109.279,85respectivamente, o que resulta emum coeficiente de variaçãoexperimental de 14,67%. A partirdessas informações foram simu-lados diferentes quadrados médiosdo resíduo e calculados os coefi-cientes de variação experimental eas diferenças mínimas significa-tivas para os procedimentos decomparações de médias deScheffé, de Tukey, de Dunnett e deDuncan.síduoRedoMédioQuadrado

sTratamentodeMédioQuadradoF =

rsQMFtDMS S ch effé /Re.2.).1()( −=

rsQMqDMS Tukey Re.)( =

rsQMDDMS Dunnett /Re.2)( =

rsQMqDMS iDuncan Re.)( =

80 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Resultados e discussão

Na Tabela 1 são apresentadas asdiferenças mínimas significativas(DMS) simuladas para diferentesprocedimentos de comparação demédias.

Todos os procedimentos levamem consideração o quadrado médiodo resíduo, e assim, quanto maioro erro experimental, maior será adiferença mínima significativanecessária para evidenciar adiferença entre dois tratamentos.Para um coeficiente de variação de20%, que é o máximo permitido emensaios de Valor de Cultivo e Uso(Brasil, 2001), a diferença mínimasignificativa é mais de 50% da médiadas cultivares para os testes deScheffé e Tukey. Quando ocoeficiente de variação do experi-mento aumenta de 5% para 20%, adiferença mínima significativaaumenta em quatro vezes para osprocedimentos de Scheffé e Tukeye cinco vezes para Dunnett eDuncan. Para um coeficiente devariação de 35%, utilizando-se oteste de Scheffé, a diferença mínimasignificativa entre dois tratamentosfoi maior que a média do experi-mento. Em ensaios de competiçãode cultivares deve existir a preo-

cupação em manter as condiçõesexperimentais uniformes para quese obtenham estimativas precisasda média e de outros parâmetros,além de garantir que o desempenhosuperior de uma cultivar reflita oseu potencial genético (Ramalho etal., 2000).

Para minimizar o erro experi-mental e, com isso, reduzir asdiferenças mínimas significativas,alguns fatores devem serconsiderados, de acordo comCochran & Cox (1978), Costa et al.(2002) e Martin et al. (2005): omaterial experimental (sementes,mudas, solo, etc.) deve ser uniformee cuidadosamente selecionado;adequar o tamanho das parcelaspara que não sejam pequenas de-mais, deixando de ser represen-tativas da cultura a elas associadas,nem grandes demais em detrimentodo controle local; empregarbordadura e considerar o número derepetições de acordo com o erroexperimental desejado; usartécnicas de controle local como, porexemplo, blocos completos, incom-pletos, faixas, etc., para que asparcelas sejam agrupadas emcondições ambientais homogêneas;deve-se dar uniformidade narealização dos tratos culturais como

irrigação, profundidade de se-meadura, regulagem de pulveri-zadores; manter os ensaios livres deplantas daninhas, pragas e doenças,pois esses fatores ocorrem nasunidades experimentais de formaaleatória; deve-se manter o solo emfertilidade adequada para a culturaem pauta – em baixa fertilidade,pequenas variações na quantidadede recursos essenciais para asplantas proporcionam acentuadoefeito no rendimento; utilizarprocedimentos e instrumentos queproporcionem mensuração comprecisão adequada (calibragem debalanças, paquímetros, etc.);incorporar no modelo estatísticovariáveis que exprimam fontes devariação relevantes do materialexperimental e sua conseqüenteconsideração nos procedimentos deanálises estatísticas, como, porexemplo, número de plantas nasparcelas e pequenas manchas defertilidade do solo.

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Tabela 1. Diferença mínima significativa para a produtividade de grãosem quatro procedimentos de comparações múltiplas de médias a 5% deprobabilidade de erro, em função da estimativa da variância residualnum experimento de competição de cultivares de feijoeiro. Campos Novos,SC, safra 2003/04

QM Diferença mínima significativa

C.V.(2)Resíduo(1)

Scheffé Tukey Dunnett Duncan(3)

% ................................kg/ha.............................

12.693,99 5 326,87 295,75 238,58 195,48

50.775,95 10 653,74 591,50 477,17 390,96

114.245,89 15 980,61 887,26 715,75 586,43

203.103,81 20 1.307,48 1.183,01 954,34 781,91

317.349,70 25 1.634,35 1.478,76 1.192,92 977,39

456.983,57 30 1.961,22 1.774,51 1.431,51 1.172,87

622.005,42 35 2.288,08 2.070,27 1.670,09 1.368,35

(1)Quadrado médio do resíduo.(2)Coeficiente de variação experimental – representa o desvio padrãoresidual, expresso como porcentagem da média geral do experimento.(3)Para esse teste, a diferença mínima significativa foi calculadacomparando-se a maior e a menor média do experimento.

81Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

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82 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Incremento na frutificação efetiva de caquizeiro ‘FIncremento na frutificação efetiva de caquizeiro ‘FIncremento na frutificação efetiva de caquizeiro ‘FIncremento na frutificação efetiva de caquizeiro ‘FIncremento na frutificação efetiva de caquizeiro ‘Fuyu’uyu’uyu’uyu’uyu’pela aplicação de ácido giberélicopela aplicação de ácido giberélicopela aplicação de ácido giberélicopela aplicação de ácido giberélicopela aplicação de ácido giberélico

Paulo Vitor Dutra de Souza1, Vinícius Grasseli2, Ernani Pezzi3,Gervásio Silvestrin 4 e Hardi Schmatz Maciel 5

Introdução

Na década de 90 houve umincremento significativo no plantiode caquizeiros (Diospyrus kaki, L.)no Rio Grande do Sul. Atualmente,a área cultivada com esta espécie éde 1.380ha, sendo a região daEncosta Superior do Nordeste aprincipal produtora, com aproxi-madamente 80% da área. A principalcultivar plantada nos últimos anosno Estado é a Fuyu (João, 2004).

A cultivar Fuyu, por não sertaninosa, tem a preferência dos

Resumo – O presente estudo teve como objetivo testar a aplicação de diferentes concentrações de acido giberélico(AG3) na época da plena floração sobre a frutificação efetiva e a qualidade dos frutos de caquizeiro (Diospyrus kakiL.), cultivar Fuyu. Foram testados os seguintes tratamentos: testemunha (somente água), 5mg/L, 10mg/L e20mg/L de AG3 (ProGibb®). O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com uma planta portratamento e quatro repetições. O incremento na frutificação efetiva da cultivar Fuyu foi diretamente proporcionalàs doses de AG3 aplicadas, sendo que na concentração de 20mg/L de AG3 logrou-se um incremento médio de 53%.A composição em açúcares e acidez dos frutos não foi alterada pelas concentrações de AG 3.Termos para indexação : Diospyrus sp., floração, fitorreguladores, produtividade.

Fruit set improvement in Diospyrus kaki by gibberelic acid application

Abstract – The aim of this trial was to evaluate the effect of using different concentrations of gibberelic acid(GA3) on fruit set and fruit quality of Fuyu (Diospyrus kaki L.) cultivar. The treatments applied at flowering timewere: control (only water), 5mg/L, 10mg/L and 20mg/L of GA3 (ProGibb®). Experimental design was randomizedblocks, with one plant per treatment and four replications. Fruit set increased proportionally to GA3 concentrations.At 20mg/L of GA3 fruit set was 53% higher than the control. Sugar composition and acidity of fruits was notaffected by GA3.Index terms: Diospyrus sp., flowering, phytorregulators, productivity.

consumidores. Seus frutos podemdesenvolver-se partenocarpi-camente, o que permite a produçãode frutos apirênicos, que são apreferência do mercado. Porém, estacultivar tem apresentado problemasde queda acentuada de frutos aolongo do ciclo vegetativo, resultandoem baixa produtividade dospomares, provavelmente comoconseqüência da ausência desementes.

As sementes são fontes produ-toras de ácido giberélico, hormônioresponsável pela fixação de frutos

(Monselise, 1977). A aplicaçãoexógena de ácido giberélico tempermitido incrementar a produçãoe a produtividade em frutíferasapirênicas (Agustí & Almela, 1991;Pires, 1998), nas quais as concen-trações ótimas são dependentes daespécie, da cultivar em estudo, daépoca de aplicação, das condiçõesmeteorológicas, etc.

Vários estudos têm sidorealizados com sucesso testando aaplicação de ácido giberélico emcaquizeiros, com objetivos deretardar a maturação e controlar a

Aceito para publicação em 16/8/05.1Eng. agr., Dr., UFRGS/Faculdade de Agronomia/Departamento de Horticultura e Silvicultura, C.P. 15.100, 91501-970 Porto Alegre,RS, e-mail: [email protected], Pibic/UFRGS, Faculdade de Agronomia.3Eng. agr., UFRGS/Faculdade de Agronomia/Departamento de Horticultura e Silvicultura.4Eng. agr., Empresa Silvestrin Frutas Ltda., Farroupilha, RS.5Eng. agr., UFRGS/Faculdade de Agronomia/Departamento de Horticultura e Silvicultura, e-mail: [email protected].

83Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

qualidade pós-colheita de caquis(Danieli et al., 2002; Ferri et al.,2002; Ferri et al., 2004). Porém, nãohá estudos sobre os efeitos daaplicação desse fitorregulador sobrea fixação e a qualidade de frutos nascutivares apirênicas, como no casoda cultivar Fuyu.

O período de floração é uma épocaem que as frutíferas respondempositivamente às aplicaçõesexógenas de fitorreguladores.Segundo Agustí & Almela (1991),em plantas sem semente a queda noconteúdo em giberelinas ocorredesde o botão floral até a plenafloração.

Este estudo teve como objetivotestar a aplicação de diferentesconcentrações de ácido giberélicona época de plena floração sobre afrutificação efetiva e a qualidade dosfrutos da cultivar de caquizeiro Fuyu.

Material e métodos

O experimento foi desenvolvidoem um pomar comercial decaquizeiro ‘Fuyu’, com aproximada-mente dez anos de idade, localizadono município de Farroupilha, RS.

Os tratos culturais, bem como asadubações, foram feitos segundo asrecomendações para a cultura.

Previamente à aplicação dostratamentos, selecionaram-seplantas homogêneas em volume decopa e em carga de flores. Ostratamentos testados foram osseguintes: testemunha (somenteágua), 5mg/L, 10mg/L e 20mg/L deácido giberélico (AG3; ProGibb®),aplicados na plena floração, ou seja,com mais de 50% de flores abertas,com o uso de pulverizador costal,aplicando-se 3L de solução porplanta.

O intervalo de concentrações deácido giberélico testado no presenteexperimento baseou-se em resul-tados obtidos em estudos realizadoscom outras frutíferas, tais comovideira e citros (Pires, 1998; Agustí& Almela, 1991).

A pulverização foi feita em toda acopa das plantas, marcando-se emcada uma dois ramos, nos quaiscontou-se o número de flores. Aolongo do ciclo vegetativo, foramrealizadas quatro contagens donúmero de frutos por ramo, até omomento da colheita. A contagemde flores nos ramos marcados

ocorreu no dia 30 de outubro de2003 (data da aplicação dostratamentos). As contagens donúmero de frutos foram realizadasnos dias 22/12/03, 23/1/04, 23/2/04 e11/5/04 por ocasião da colheita.

O delineamento experimental foio de blocos casualizados, com umaplanta por tratamento e quatrorepetições.

A frutificação efetiva foi calculadaatribuindo-se o índice 100 para onúmero de flores, calculando-se, apartir deste, o valor relativo de frutosretidos por planta ao longo do ciclovegetativo. Coletaram-se, ao acaso,dez frutos maduros por planta e porrepetição e determinou-se o pesomédio dos frutos, o teor de sólidossolúveis totais (SST), a acidez totaltitulável (ATT) (em porcentagem

de ácido málico) e a relação SST/ATT.

As médias foram submetidas àanálise de regressão e/ou Anova.Para a análise de regressão os dadosforam transformados em ArcSen√x/100. No segundo caso, asdiferenças significativas foramcomparadas pelo teste de Duncan a5% de probabilidade.

Resultados e discussão

A aplicação de ácido giberélicona plena floração permitiu incre-mentar a frutificação efetiva decaquizeiros ‘Fuyu’ somente naconcentração de 20mg/L (Figuras 1e 2).

A resposta da planta à aplicaçãode ácido giberélico já foi notada na

Figura 1. Evolução da frutificação efetiva de plantas de caquizeiro,cultivar Fuyu, após a aplicação de concentrações de ácido giberélico emplena floração. Farroupilha, 2003/04

Figura 2. Frutificação efetiva média de plantas de caquizeiro, cultivarFuyu, submetidas à aplicação de concentrações de ácido giberélico emplena floração. Farroupilha, 2003/04

Y = 24,39 + 0,35 XR2 = 0,96(**)

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primeira avaliação (dois meses apósa floração), mantendo-se até omomento da colheita (Figura 1). Aconcentração de 20mg/L permitiuincrementar em 69,7% a frutificaçãoefetiva na primeira avaliação emrelação à testemunha (Figura 1) eem 47,6% na segunda avaliação emrelação à testemunha, mantendo-senesta porcentagem até a colheita(Figura 1). A frutificação efetivamédia da cultivar Fuyu foiincrementada linearmente com asconcentrações de ácido giberélicoaplicadas (Figura 2), sendo que aconcentração de 20mg/L permitiuum incremento médio de 53% nafrutificação efetiva da ‘Fuyu’ emrelação às plantas-testemunhas(Figura 2), com 27,2% de frutificaçãoefetiva média naquelas tratadas com20mg/L contra 17,7% nas teste-munhas.

A presença de giberelinas éessencial à frutificação efetiva,porém, tem-se encontrado diferentesrespostas às aplicações exógenas(Pires, 1998). Esta variação nasrespostas entre cultivares pode serconseqüência das diferenças nosconteúdos endógenos deste hor-mônio nos ovários (Agustí & Almela,1991). Também se deduz de outrosestudos, por exemplo, em citros,que são as sementes as responsáveispela síntese de giberelinas e, na suaausência, as paredes dos ováriosassumem este papel (Monselise,1977).

Atualmente, o mercado tempreferência pela cultivar Fuyu pelofato de não ter adstringência e nãoproduzir sementes. No caso deausência de sementes, a queda no

conteúdo de giberelinas ocorre desdeo botão floral até a plena floração(Agustí & Almela, 1991), o queexplica a maior queda de frutos nascultivares sem semente. Estecomportamento tem sido verificadoem pomares de ‘Fuyu’, que nãorecebem polinização cruzada,acarretando baixa produtividade,resultando em frutos de tamanhoexcessivo.

A aplicação exógena degiberelinas tem mostrado eficiênciaem melhorar a frutificação efetivaem algumas frutíferas, como emvideiras americanas (Pires, 1998) eem cultivares de citros semsemente (Agustí & Almela, 1991), oque se confirma no presente estudo.Porém, a concentração aplicada évariável com as espécies ecultivares, sendo que em videira ecitros as melhores respostas têmsido alcançadas nas concentraçõesde 10 a 20mg/L e 5 a 10mg/L deácido giberélico, respectivamente(Pires, 1998; Agustí & Almela,1991). Entretanto, percebeu-se quehá necessidade de testes comconcentrações superiores a 20mg/Lde ácido giberélico em caquizeiro,pois no intervalo testado a respostafoi linear-positiva.

As doses de ácido giberélico nãoafetaram significativamente o pesomédio dos frutos (Tabela 1). Aredução do tamanho dos frutos nemsempre é negativa, porque sãoobservados casos (em ausência depolinização cruzada) em que otamanho é excessivo em função dapouca produção, extrapolando ospadrões estabelecidos pelalegislação.

Tabela 1. Peso médio, composição em açúcares e acidez de frutos de caqui‘Fuyu’ submetidos à aplicação de concentrações de ácido giberélico emplena floração. Farroupilha, 2003-04

Concentração Peso Sólidos Acidezde ácido médio/ solúveis total SST/ATT(1)

giberélico fruto totais titulável

mg/L g ................%.................

0 250(2) 12,0(2) 0,06(2) 200(2)

05 220 13,1 0,05 262

10 230 11,5 0,06 192

20 230 11,7 0,05 234

(1)Relação sólidos solúveis totais/acidez total titulável.(2)Não-significativos a 5% de probabilidade.

A composição em açúcares eacidez dos frutos não foi alteradapelos tratamentos, obtendo-se 11,5%a 13% de sólidos solúveis totais e0,05% a 0,06% de acidez, resultandonuma relação SST/acidez quevariou de 192 a 262 (Tabela 1),padrões característicos destacultivar, ou seja, adocicada e combaixa acidez.

Conclusões

• A frutificação efetiva decaquizeiros, cultivar Fuyu, aumentacom a aplicação de ácido giberélicona época de plena floração, semalterar a composição de açúcares eacidez dos frutos.

• O incremento na frutificaçãoefetiva de caquizeiros ‘Fuyu’ é de-pendente da concentração de ácidogiberélico aplicada.

Literatura citada

1. AGUSTÍ, M.; ALMELA, V. Aplicaciónde fitorreguladores en citricultura .Valencia: Aedos, 1991. 261p.

2. DANIELI, R.; GIRARDI, C.L.;PARUSSOLO, A.; FERRI, V.C.;ROMBALDI, C.V. Effect of theapplication of gibberellic acid and calciumchloride in the retardation of harvestand conservability of persimmon, Fuyu.Revista Brasileira de Fruticultura ,Jaboticabal, v.24, n.1, p.44-48, abr. 2002.

3. FERRI, V.C.; RINALDI, M. M.; DANIELI,R. LUCHETTA, L.; ROM-BALDI, C.V.Maturation control of kaki ‘Fuyu’ usingaminoethoxivinilglicin and gibberelicacid. Revista Brasileira de Fruticultura,Jaboticabal, v.24, n.2, p.344-347,ago.2002.

4. FERRI, V.C.; RINALDI, M.M.; SILVA,J.A.; LUCHETTA, L.; MARINI,L.;ROMBALDI, C.V. Ácido giberélico noretardamento da maturação de caquis(Diospyrus kaki , L.), cultivar Fuyu.Ciência e Tecnologia de Alimentos,Campinas, v.24, n.1, p.1-5, mar. 2004.

5. JOÃO, P.L. (Coord.) Levantamento dafruticultura Comercial do Rio Grandedo Sul – 2003/2004 . Porto Alegre:Emater/RS-Ascar, 2004. 89p.

6. MONSELISE, S.P. Citrus fruit develop-ment: endogenous system and externalregulation. Proceedings of InternationalSociety of Citriculture, v.2, p.664-668,1977.

7. PIRES, E.J.P. Emprego de reguladoresde crescimento em viticultura tropical.Informe Agropecuário, Belo Horizonte,v.19, n.194, p.40-43, 1998.

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RRRRResposta do feijoeiro à adubação foliar comesposta do feijoeiro à adubação foliar comesposta do feijoeiro à adubação foliar comesposta do feijoeiro à adubação foliar comesposta do feijoeiro à adubação foliar combiofertilizantesbiofertilizantesbiofertilizantesbiofertilizantesbiofertilizantes11111

Eloi Erhard Scherer 2

Introdução

A cultura do feijoeiro possuigrande importância socioeconômicapara o Estado de Santa Catarina(Epagri, 1997) e, em especial, para aregião oeste, onde representa umadas principais opções de renda paramuitas das pequenas propriedadesfamiliares (Testa et al., 1996).

Em função da grande disponibi-lidade de esterco animal na região(Scherer, 1998), um número cadavez maior de agricultores passou a

Resumo – Recentemente têm surgido no mercado vários tipos de fertilizantes foliares. Alguns desses,denominados de biofertilizantes, são formulados utilizando produtos naturais disponíveis nas propriedades rurais.Com o objetivo de avaliar alguns biofertilizantes disponíveis no comércio local ou produzidos na propriedade, foiconduzida uma série de experimentos, a campo, com a cultura do feijoeiro. O estudo foi realizado de 2001 a 2003nos municípios de Chapecó e Guatambu, Região Oeste de Santa Catarina, em Latossolo Vermelho distroférricotípico, sob plantio direto. Foram avaliados os produtos Super Magro, Biosol, Leader, uréia caseira e urina devaca, aplicados nas concentrações de 1% a 5%, conforme recomendação. Estes produtos foram aplicados em trêsépocas: 21, 35 e 49 dias após a emergência das plantas. Não houve resposta do feijoeiro à aplicação foliar debiofertilizantes quando foi realizada adubação com cama de aviário na semeadura. Porém, verificou-se respostapositiva à utilização foliar de biofertilizantes, quando não foi utilizado adubo na semeadura do feijão.Termos para indexação: Phaseolus vulgaris, nutrição, agroecologia, produção orgânica.

Common bean responses to leaf biofertilizer application

Abstract – In recent years there has been a great proliferation of foliar liquid fertilizer in the agriculturalmarket. Many of these products that are commonly used for organic farming can be produced at the farms. Theaim of this research was to evaluate the effects of leaf biofertilizers application on the growth and grain yield ofcommon bean. This study was carried out in Western Santa Catarina, Brazil, on a clayey Oxisol (LatossoloVermelho distroférrico típico), under no tillage system, from 2001 to 2003. Five leaf biofertilizers (Super Magro,Biosol, Leader, home made urea and cow urine) treatments were sprayed on common bean at three times (21, 35and 49 days after plant emergence), at the concentration of 1% to 5%. Leaf fertilizing had no significant effect onbean grain yield when organic fertilizer (poultry house litter) was applied before seeding. The positive effects ofleaf fertilizing on bean productivity were only evident when no poultry house litter was applied to the soil beforeseeding.Index terms: Phaseolus vulgaris, agroecology, nutrition, organic production.

utilizar adubos orgânicos nossistemas de produção com feijão emilho e com bons resultados emprodutividade (Scherer & Bartz,1981; Scherer, 1998) e redução doscustos de produção (Scherer, 1998).

Além da adubação orgânica paraadição dos nutrientes ao solo,alguns produtores passaram autilizar também biofertilizanteslíquidos, que, de modo geral, sãoproduzidos na propriedade comesterco, urina animal e outrosaditivos, disponíveis na propriedade

ou em casas que vendem insumosnaturais (Centro de AgriculturaEcológica, 1997). Estes bioferti-lizantes são normalmente aplicadosvia foliar (Verona et al., 2003;Scherer et al., 2003a; Bio-Gärtner,2005) ou misturados aos substratosna produção de mudas de hortaliças(Aldrighi et al., 2003; Santos et al.,2003).

Os ensaios realizados no Sul doBrasil e em outras regiões têmapresentado respostas variáveis àutilização de caldas e biofertilizantes

Aceito para publicação em 16/8/05.1Trabalho financiado com recursos do CNPq.2Eng. agr., Dr., Epagri/Cepaf, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0615, e-mail: [email protected].

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em culturas anuais. Scherer et al.(2003b) e Verona et al. (2003)constataram que a utilização debiofertilizantes na cultura domorangueiro não trouxe grandesbenefícios à cultura nos sistemas deprodução utilizados. No geral, osresultados com resposta positivaindicam que os biofertilizantespodem ser utilizados com sucesso,principalmente como complementoà adubação orgânica (Bio-Gärtner,2005; Scheller, 1999; Aldrighi, et al.,2003) ou para suprir algunsmicronutrientes essenciais (Bio-Gärtner, 2005), que são exigidos emmenores quantidades pela cultura.Além disso, a sua utilização emsistemas agroecológicos é indicadapara o controle de pragas e doenças(Centro de Agricultura Ecológica,1997) ou como bioestimulante(Chaboussou, 1987).

Diversos sistemas agroecológicosde produção desenvolvidos e utili-zados por agricultores na cultura dofeijoeiro são, na visão deles, alta-mente produtivos, porém, muitasdas tecnologias utilizadas nestessistemas ainda não têm sua efi-ciência comprovada pela pesquisa.A falta de informação, por causa dacarência de pesquisa voltada à pro-dução orgânica, induz o agricultora experimentar qualquer alternativade adubação para garantir altasprodutividades e boa qualidade dosalimentos. Isto também acontececom a cultura do feijoeiro.

Visando obter informações sobrealgumas das tecnologias de adu-bação utilizadas em sistemasagroecológicos de produção, foramconduzidos experimentos paracomprovar a eficiência dos biofer-tilizantes mais utilizados na culturado feijoeiro.

Material e métodos

A pesquisa constou de seteexperimentos de campo com acultura do feijoeiro, conduzidos noperíodo de 2001 a 2003 (safra esafrinha). Cinco destes no municípiode Guatambu, SC e dois no municí-pio de Chapecó, SC. O solo, classifi-cado como Latossolo Vermelhodistroférrico típico – Lvdf1, apresen-tou antes da instalação dos experi-mentos de Guatambu e Chapecó asseguintes características químicas,respectivamente: pH em água = 5,6

e 5,8; matéria orgânica = 3,4% e 3%;P = 42 e 12mg/L, K = 148 e 102mg/L, Ca = 5,6 e 4,2cmolc/L, Mg = 2,8 e2,2cmol c/L, Zn-disponível = 3,6 e1,2mg/L e Cu-disponível = 1,8 e1,4mg/L, determinados segundoTedesco et al. (1995).

Nos cinco experimentos deGuatambu e no experimentoconduzido na safrinha de 2003, emChapecó, foram avaliados, além datestemunha, quatro adubos foliares:Super Magro, uréia caseira, Biosole Leader, aplicados nas concen-trações 5%, 5%, 1,5% e 1%,respectivamente. A uréia caseirafoi elaborada com 40kg de estercobovino fresco, 4L de leite fresco,15L de caldo de cana, 4kg de fosfatonatural e 200L de água, emfermentação aberta. O Super Magroseguiu a metodologia descrita peloCentro de Agricultura Ecológica(1997). O Biosol é um produtocomercial à base de melaço de cana,enriquecido com macro e micro-nutrientes. O Leader também é umproduto comercial à base de ami-noácidos, extrato de algas marinhase enriquecido com macronutrientes.Todos os produtos, com exceção doLeader, que foi aplicado somente naprimeira época, foram aplicados emtrês épocas: 21, 35 e 49 dias após aemergência das plantas. Na safrinhade 2003 o Leader também foi apli-cado em três épocas. Os experi-mentos foram instalados sempre emnovo local, em áreas adjacentes emum sistema de rotação com a culturado milho. Nestes experimentosforam utilizados o delineamento emblocos ao acaso com quatro repeti-ções e as cultivares Carioca e CariocaPrecoce, em Guatambu, e TPSNobre, em Chapecó.

Antes da implantação dosexperimentos, a área de Guatamburecebeu uma adubação básica comesterco de aves (cama de aviário)nas doses 4, 2 e 2t/ha, base seca, em2001, 2002 e 2003, respectivamente.A área de Chapecó (safrinha de 2003)também recebeu 2t/ha de esterco.Em média, o esterco de avesapresentou 3,6% de N, 3,8% de P2O5,3,2% de K2O, 4,1% de Ca e 1,1% deMg.

Em um experimento conduzidona safra de 2003, em Chapecó, foiutilizado o delineamento de blocosao acaso com disposição das parcelasem faixas e seis repetições. Nas

faixas, foram avaliadas as cultivaresSCS 202-Guará e IPR 88 Uirapuru enas subparcelas, quatro adubosfoliares: Biosol, Super Magro, uréiacaseira e urina de vaca, todosaplicados na concentração de 5% eem cinco épocas: 21, 28, 35, 56 e 63dias após a emergência das plantas.Neste experimento não foi usadoesterco na adubação de base,somente adubação verde com naboforrageiro e, anteriormente,crotalária. Tratava-se de uma áreaem transição da agriculturatradicional para a orgânica.

A semeadura do feijão foirealizada em linhas espaçadas em45cm, com 12 plantas/m (após odesbaste). A produção de grãos foiavaliada mediante colheita de quatrolinhas centrais de 5m e os valoresforam corrigidos para umidadepadrão de 13%. Os tratos culturaisforam realizados de acordo com asrecomendações do sistema deprodução da cultura (Epagri, 1997),com capinas manuais, sem utilizaçãode agroquímicos. Para o controle depragas, quando necessário, foiutilizado óleo de Neem e Bacillusthuringiensis somente noexperimento de Chapecó (safrinhade 2003). Por causa da severidade doataque com vaquinha (Diabroticaspeciosa) foi utilizado um inseticidapiretróide.

Para aspergir as soluções com osbiofertilizantes utilizou-se pulveri-zador costal e uma vazão de 200L/ha, aplicando-se os produtos semprenas primeiras horas da manhã e emdias não-chuvosos.

Após tabulados, os dados deprodução de grãos foram submetidosà análise de variância e ao teste deTukey a 5% de probabilidade paracomparação de médias.

Resultados e discussão

Os dados de produção de grãosdos cinco experimentos de Gua-tambu e do experimento conduzidona safrinha de 2003, em Chapecó,são apresentados na Tabela 1. Aprodução de grãos dos três anos,safra e safrinha, foi influenciada porfatores climáticos, principalmentepor curtos períodos de estiagem,que ocorreram em algumas fases dedesenvolvimento das plantas e quelimitaram a produtividade dacultura. Observa-se que, de modo

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geral, os tratamentos com adubaçãofoliar não influenciaram positiva-mente a produção de grãos (Tabela1), não diferindo significativamenteda testemunha e nem entre si.Resultados semelhantes foramobtidos por Scherer & Hemp (1998).

Somente na safrinha de 2003 otratamento com uréia caseiramostrou-se superior ao tratamentocom Leader, mas sem diferirsignificativamente da testemunha.Esse fato aconteceu porque ofertilizante Leader quando aplicadona terceira época causou umaescaldadura nas folhas das plantas,o que mais tarde se refletiu naprodução de grãos. Cabe esclarecerque essa época de aplicação tardiado adubo não é recomendada pelofabricante.

Os resultados obtidos nos seisexperimentos que receberamadubação com esterco de aves quandoda implantação da cultura indicamque os nutrientes adicionados naadubação e a boa fertilidade do solo,verificada antes da instalação dosexperimentos, foram suficientespara atender às necessidadesnutricionais das plantas. Nessacondição, as aplicações foliares debiofertilizantes não influenciampositivamente a produtividade dacultura e, por isso, são dispensáveis.

Teoricamente, os biofertili-zantes, que possuem em sua com-posição micronutrientes, poderiamsuprir as necessidades das plantascom aplicações foliares, já que estessão requeridos em menoresquantidades do que os macro-nutrientes que, de preferência,devem ser supridos via solo(Scheller, 1999; Sociedade..., 2004).Porém, como o solo das áreasexperimentais já tinha teores decobre e de zinco acima dos níveis desuficiência estabelecidos (Socie-dade..., 2004), não haveria neces-sidade da adição desses nutrientes.Normalmente, os solos quereceberam adubações com estercoapresentam na camada arável altosteores de zinco e cobre e outrosmicro e macronutrientes (Scherer& Nesi, 2004).

A produção de feijão do experi-mento da safra 2003, instalado emárea sem a utilização de adubo nasemeadura da cultura, é apresentadana Tabela 2. Pela análise estatís-tica, houve diferenças significati-

Tabela 1. Rendimento de grãos de feijão de seis experimentos conduzidos nasafra e safrinha de 2001 a 2003 nos municípios de Guatambu e Chapecó.Média de quatro repetições. Epagri/Cepaf, 2005(1)

ProdutoSafrinha(2) Safra(2) Safrinha(3) Safra(3) Safrinha(4) Safra(4)

2001 2001 2002 2002 2003 2003

.................................................kg/ha.....................................................

Testemunha 1.598 a 1.347 a 1.589 a 2.010 a 2.136 ab 1.284 a

Super Magro 1.457 a 1.564 a 1.617 a 2.060 a 2.248 ab 1.227 a

Biosol 1.782 a 1.405 a 1.635 a 1.962 a 2.290 ab 1.293 a

Leader 1.581 a 1.402 a 1.637 a 1.851 a 1.920 b 1.315 a

Uréia caseira 1.688 a 1.574 a 1.508 a 2.175 a 2.529 a 1.276 a

C.V. % 13,75 11,57 10,88 11,57 8,39 17,29

(1)Médias seguidas por letras iguais, comparadas na coluna, não diferem entre sipelo teste de Tukey a 5%.(2)Cultivar Carioca.(3)Cultivar Carioca precoce.(4)Cultivar Nobre.Nota: C.V. = coeficiente de variação.

Tabela 2. Rendimento médio de grãos das cultivares SCS 202-Guará eUirapuru, obtido nos diferentes tratamentos com biofertilizantes na safrade 2003. Média de seis repetições e de duas cultivares. Epagri/Cepaf, 2005(1)

Testemunha Super Magro Biosol Uréia caseira Urina de vaca

.........................................................kg/ha de grãos.......................................................

1.617 b 1.835 ab 1.840 a 1.897 a 1.917 a

(1)Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.

vas (P < 0,05) entre os tratamentoscom biofertilizantes, sem haverefeito diferenciado entre cultivares.O efeito da interação entrecultivares e biofertilizantes não foisignificativo. Desta forma, osresultados dos tratamentos combiofertilizantes são apresentadoscomo valores médios das duascultivares (Tabela 2).

A utilização de biofertilizantesem área não adubada, com exceçãodo Super Magro, apresentouacréscimo na produção de grãos defeijão em relação à testemunha.Resultados semelhantes foramobtidos por Aldrighi et al. (2003)com a utilização de biofertilizantesna produção de mudas de cebola.

Esse efeito diferenciado dos bio-fertilizantes no ensaio de Chapecó,em relação aos demais conduzidosem outras áreas, pode ser atribuídoà não-utilização de esterco naimplantação da cultura. Mesmo que

o solo tenha uma boa fertilidadenormalmente há falta de nitrogênio,que deve ser adicionado via adubação(Scherer & Hemp, 1998). Provavel-mente, parte das necessidades denitrogênio foi suprida pelo naboforrageiro, cultivado antes dasemeadura do feijão, mas não foisuficiente para atender plenamenteàs necessidades da cultura. SegundoLima et al. (2003), em sistemasagroecológicos, a adubação verdepode suprir até 65% das necessidadesde nitrogênio do feijoeiro, dimi-nuindo as exigências de adubação.

Outros fatores que podem tercontribuído para a resposta positivada cultura aos biofertilizantes foi omaior número de aplicações, queantes era três e passou para cinconeste ensaio, e a maior concentraçãoda calda utilizada, que antes variavade 1% a 5% e agora foi utilizada umaconcentração única de 5%. Dessaforma, foram fornecidas maiores

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quantidades de nutrientes e pormaior período.

Observações realizadas duranteo ciclo da cultura evidenciaram nãohaver efeito visual dos biofer-tilizantes sobre pragas e doenças.Na safrinha de 2003 houve uma altainfestação de vaquinha (Diabroticaspeciosa) no experimento de Cha-pecó, e para não se perder o estudoaplicou-se um inseticida químico(piretróide), prática não recomen-dada na agricultura orgânica.Ressalta-se que o ataque de insetosocorreu logo após a aplicação dosbiofertilizantes da primeira época efoi generalizado, sem diferençavisual entre as parcelas e ostratamentos utilizados. Observaçõessemelhantes foram realizadas porScherer & Hemp (1998) nos cultivosde verão (feijão safrinha).

Conclusões

Com base nos resultados obtidospode-se concluir que:

• Em sistemas orgânicos comutilização de esterco na adubação, aaplicação de biofertilizantes viaadubação foliar na cultura do feijoeironão aumenta a produtividade degrãos.

• A aplicação foliar de biofer-tilizantes influencia positivamentea produção de grãos quando a cultu-ra do feijão não recebe adubação nasemeadura.

Agradecimento

Ao CNPq pelo aporte de recursosfinanceiros para execução dosexperimentos no período de 2002 a2004.

Literatura citada

1. ALDRIGHI, C.B.; PAGLIA, A.G.;MORAES, R.D.; MORSELLI, T.B. G.A.

Aptidão ao transplante de mudas de cebolaproduzidas com insumos orgânicos. In:CONGRESSO BRASILEIRO DEAGROECOLOGIA, 1., 2003, Porto Alegre.Anais... Porto Alegre: Emater/RS-Ascar,

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ROM.

89Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

O

Ocorrência de Ocorrência de Ocorrência de Ocorrência de Ocorrência de Phyllocnistis Phyllocnistis Phyllocnistis Phyllocnistis Phyllocnistis sp. (Lepidoptera:sp. (Lepidoptera:sp. (Lepidoptera:sp. (Lepidoptera:sp. (Lepidoptera:Gracillariidae) em plantas da vegetação espontâneaGracillariidae) em plantas da vegetação espontâneaGracillariidae) em plantas da vegetação espontâneaGracillariidae) em plantas da vegetação espontâneaGracillariidae) em plantas da vegetação espontâneaintercalar de pomar de citros no Rio Grande do Sulintercalar de pomar de citros no Rio Grande do Sulintercalar de pomar de citros no Rio Grande do Sulintercalar de pomar de citros no Rio Grande do Sulintercalar de pomar de citros no Rio Grande do Sul11111

Janaína Pereira dos Santos2, Fábio Kessler Dal Soglio3 eLuiza Rodrigues Redaelli4

Resumo – O minador-das-folhas-dos-citros, Phyllocnistis citrella , Stainton (Lepidoptera: Gracillariidae), é umaimportante praga da citricultura em diversos países. No Brasil, o primeiro registro deste inseto foi em 1996, emviveiros da região de Limeira, SP, e neste mesmo ano infestou pomares e viveiros do Rio Grande do Sul. Uma outraespécie de microlepidóptero, morfologicamente semelhante a P. citrella , foi constatada no Rio Grande do Sulinfestando plantas da vegetação espontânea intercalar de pomares de citros. Trata-se de uma nova espécie dePhyllocnistis, provavelmente nativa, que está sendo descrita. Este inseto teve como hospedeiros Baccharisanomala (cambará-de-cipó), Conyza bonariensis (buva), Sida urens (guanxuma) e Ludwigia elegans , sendo asasteráceas importantes recursos alimentares para este inseto no local do estudo. Os maiores níveis populacionaisde Phyllocnistis sp. ocorreram no inverno e na primavera. Este se constitui no primeiro registro de Phyllocnistissp. no Rio Grande do Sul.Termos para indexação: minador, microlepidóptero, plantas hospedeiras, Asteraceae.

Occurrence of Phyllocnistis sp. (Lepidoptera: Gracillariidae) on weedsin citrus orchard in Rio Grande do Sul State

Abstract – Citrus leafminer, Phyllocnistis citrella, Stainton (Lepidoptera: Gracillariidae) is an importantcitriculture pest in several countries. In Brazil, the first record of this insect was in 1996, in nurseries of Limeira,São Paulo State, and, in the same year, the pest infested orchards and nurseries in Rio Grande do Sul State.Another species of microlepidopteran, morphologically similar to P. citrella, was detected in Rio Grande do Sul,weeds, in citrus orchards. This insect uses as hosts Baccharis anomala (cambará-de-cipó), Conyza bonariensis(buva), Sida urens (guanxuma) and Ludwigia elegans. Plants of the Asteraceae family were important feedingsources for this insect in the studied orchard. The largest population of Phyllocnistis sp. occurred during winterand spring. This was the first record of Phyllocnistis sp. in Rio Grande do Sul.Index terms: leafminer, microlepidopteran, hosts plants, Asteraceae.

minador-das-folhas-dos-citros ,Phyllocnistis citrella Stain-ton (Lepidoptera: Gracilla-

riidae), é uma importante praga dacitricultura na China, Índia e Japão(Generalitat Valenciana, 1996), naAustrália, no sudeste da Ásia e noleste da África (Heppner, 1993).

Atualmente encontra-se distribuídoem 68 países (Hoy & Nguyen, 1997).Originário do sudeste da Ásia, ominador-das-folhas-dos-citros foiregistrado pela primeira vez noBrasil em 1996, em viveiros naregião de Limeira, São Paulo, eneste mesmo ano a sua presença foi

constatada em pomares e viveirosdo Rio Grande do Sul. As lagartas deP. citrella têm hábito minador edesenvolvem-se nas brotações deplantas cítricas, fazendo galerias emforma de serpentina, provocandoatrofia das folhas e tornando-as decoloração prateada. Estes danos

Aceito para publicação em 16/8/05.1Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor.2Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador , SC, fone: (49) 3561-2000, e-mail:[email protected]. agr., Dr., UFRGS/Faculdade de Agronomia, Av. Bento Gonçalves, 7.712, 91501-970 Porto Alegre, RS, fone: (51) 3331-67045,e-mail: [email protected]. agr., Dr., UFRGS/Faculdade de Agronomia, fone: (51) 3331-66031, e-mail: [email protected].

90

diretos reduzem a capacidadefotossintética das plantas, uma vezque as regiões atacadas ficamcloróticas ou necróticas (Schaffer etal., 1997). Além disso, pode ocorrernecrose dos tecidos e encar-quilhamento ou abscisão das folhas(Heppner, 1993; Hoy & Nguyen,1997).

Outros representantes deGracillariidae também apresentamhábito minador, fazendo destafamília o maior grupo de minadoresde plantas em Lepidoptera, com maisde 1.600 espécies descritas, das quais80 são do gênero Phyllocnistis(Davis, 1987). No RS, uma outraespécie de microlepidóptero,morfologicamente semelhante a P.citrella , pertencente ao mesmogênero, foi detectada em plantasque crescem espontaneamente emum pomar de citros. Trata-se,provavelmente, de uma espécienativa cuja descrição está sendorealizada pelo doutor. Donald R.Davis, do National Museum ofNatural History, SmithsonianInstitution (USNM), WashingtonDC, EUA.

Este trabalho teve como objetivosdescrever alguns aspectos morfo-lógicos de Phyllocnistis sp., identi-ficar as suas plantas hospedeiras e asua variação sazonal, contribuindopara ampliar o conhecimento daecologia de insetos minadores.

A pesquisa foi desenvolvida nomunicípio de Montenegro (29 o68’S e51o46’W), localizado no Vale do RioCaí, RS, que se destaca entre osprincipais produtores de frutascítricas do Estado. O estudo foiconduzido em um pomar do híbridotangor ‘Murcott’ (Citrus sinensis xC. reticulata ), enxertado emPoncirus trifoliata Raf, conduzidosob manejo orgânico, com 0,6ha ecerca de 370 plantas de 12 anos deidade, no espaçamento de 3,5m entreplantas e 5m entrelinhas. Asamostragens foram realizadasquinzenalmente, no período de maiode 2003 a maio de 2004, na vegetaçãoespontânea que cresce entre asplantas de citros e nas entrelinhas.Em cada amostragem foramsorteadas 30 árvores que serviramde pontos de referência para retiradadas unidades amostrais. Usou-se umaro de PVC com área de 0,28m2, queera jogado à direita da linha e daentrelinha de cada árvore sorteada.

Coletaram-se da área delimitadapelo aro, em sacos plásticos, todasas plantas com “minas”. NoLaboratório de Biologia, Ecologia eControle Biológico de Insetos, doDepartamento de Fitossanidade daFaculdade de Agronomia daUFRGS, as folhas infestadas fo-ram examinadas com o auxílio demicroscópio estereoscópico, regis-trando-se o número de lagartas oupupas por folha. Estas folhas foramacondicionadas em placas de Petriou em caixas “gerbox” e mantidasem câmara climatizada do tipoB.O.D. (fotofase de 12 horas, 25 ±1oC) até a emergência dos adultosdo lepidóptero minador ou de seusparasitóides. As plantas hospe-deiras do minador foram mon-tadas em exsicatas e encaminha-das para identificação. As lagartasde primeiro ínstar de Phyllocnistissp. são translúcidas, adquirindocoloração amarela a partir dosegundo ínstar e marrom na fase de

pupa, características similares àsde P. citrella (Heppner, 1993).

As lagartas de Phyllocnistis sp.fazem galerias em forma deserpentina, com coloração variandode branca a prateada (Figura 1A).Estas galerias são semelhantes àsfeitas pelas lagartas de P. citrellaem folhas de citros (Figura 1B). Asgalerias de Phyllocnistis sp. sãoformadas pela separação daepiderme e do parênquima foliar,e no seu interior ficam deposi-tados excrementos de coloraçãopreta, deixados pelas lagartas. Aslagartas na fase de pré-pupa nãose alimentam e dobram a borda dafolha para preparar a sua câmarapupal (Figura 2A). Heppner (1993)e Hoy & Nguyen (1997) obser-varam este comportamento em P.citrella, cuja pré-pupa secreta fi-nos fios de seda que a envolvem eque, ao secarem, causam o do-bramento da folha de citros (Figura2B).

Fot

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Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Figura 1. (A) galeria feita pela lagarta de Phyllocnistis sp. em folha deBaccharis anomala; (B) galeria feita pela lagarta de P. citrella em folha decitros

A B

Figura 2. (A) dobra na borda da folha realizada pela pré-pupa dePhyllocnistis sp. em folha de Baccharis anomala; (B) dobra realizada pelapré-pupa de Phyllocnistis citrella em folhas de citros

A B

91Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

Os adultos de Phyllocnistis sp.(Figura 3A) medem aproxima-damente 3mm de comprimento e6mm de envergadura. As asas ante-riores são de coloração prateada,com manchas de coloração laranjaque se dispõem longitudinalmentee transversalmente. Já os adultosde P. citrella (Figura 3B) medemaproximadamente 2mm de compri-mento e 4mm de envergadura. Asasas anteriores são cobertas deescamas, com franjas escurasdistribuídas longitudinal e transver-salmente (Heppner, 1993). As duasespécies apresentam característicasmorfológicas semelhantes, pos-suindo uma mancha arredondadade coloração preta na extremidadedistal de cada asa anterior, sendo asasas posteriores brancas e de aspectoplumoso (Figura 3).

De acordo com Davis (1987),aspectos da biologia, formato elocalização da ‘‘mina’’, padrão dedeposição das fezes, plantas hospe-deiras e aspectos do desenvolvi-mento hipermetamórfico sãocaracterísticas de extrema impor-tância para a distinção das espéciesincluídas em Phyllocnistis. Duranteo estudo, foram coletadas 99 lagartase 137 pupas de Phyllocnistis sp., dasquais emergiram 40 microlepi-dópteros e 150 parasitóides.

Esta nova espécie de minadornão tem o hábito de atacar plantascítricas e esteve associada a quatroespécies de plantas: Baccharisanomala DC (Asteraceae), Conyzabonariensis L. Cronquist. (Aste-raceae), Sida urens L. (Malvaceae)e Ludwigia elegans (Cambess) H.Hara (Onagraceae) (Figura 4). NoEstado de São Paulo, Phyllocnistissp. foi observada somente em folhasde C. bonariensis (Costa & Pereira,2001). Phyllocnistis sp. apresentoumaior associação com as espécies deAsteraceae, nas quais foramcoletadas 98,3% das lagartas e pupas,demonstrando a importância destafamília como recurso alimentar paraeste minador neste habitat (Figu-ra 4).

A ocorrência do inseto foi maiordurante o inverno e a primavera,sendo que no início do verão onúmero de insetos coletados foibastante reduzido. A partir dametade do verão e durante o outono,a presença do minador foiinexpressiva (Figura 5). Este se

Figura 3. (A) adulto de Phyllocnistis sp.; (B) Adulto de Phyllocnistiscitrella

A B

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Espécies de pla ntas

Laga rtas Pupas Adul tos

Figura 4. Número de lagartas e pupas de Phyllocnistis sp. amostradasem plantas da vegetação espontânea intercalar em pomar de ‘Murcott’,no município de Montenegro, RS, e número de adultos emergidos emlaboratório, no período de maio de 2003 a maio de 2004

constitui no primeiro registro dePhyllocnistis sp. no Rio Grande doSul.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao doutor.Donald R. Davis, do USNM,

Washington DC, EUA, peladeterminação do microlepidópterominador; ao doutor Nelson IvoMatzenbacher, da PUC/RS, peladeterminação das espécies vegetais;à doutora Cristiane Ramos de Jesuspelas fotos concedidas; ao CNPq eao Programa RS/Rural pelo suporte

92 Agropec. Catarin., v.19, n.1, mar. 2006

financeiro para a realização destetrabalho.

Literatura citada

1. COSTA, V.A.; PEREIRA, C. de. F. Ocor-

Figura 5. Número de lagartas + pupas de Phyllocnistis sp. amostradas emplantas da vegetação espontânea intercalar em pomar de tangor ‘Murcott’,no município de Montenegro, RS, e número de adultos emergidos emlaboratório, por ocasião de amostragem, no período de maio de 2003 amaio de 2004

rência de Phyllocnistis sp. (Lep.:Gracillariidae) e seus parasitóides(Hym.: Chalcidoidea) em buva (Conyzabonariensis). In: SIMPÓSIO DECONTROLE BIOLÓGICO, 7., 2001,Poços de Caldas, MG. Resumos... Poços

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Adultos Núme ro de lagartas + pupas

Inverno Primavera

Outono Verão Outono

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8. As fotografias devem estar empapel fotográfico ou em diaposi-tivo, acompanhadas das respec-tivas legendas. Serão aceitasfotos digitalizadas, desde que emalta resolução (300dpi).

9. As matérias apresentadas paraas seções Opinião, Registro,Conjuntura e Informativo

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68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses trêsanos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de caldade raleantes químicos(1)

Tratamento Peso médio dos frutos Produção

média

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha1.900L/hac/pulverizadormanual1.900L/hac/turboatomizador

C.V. (%)Probabilidade >F 0,0002(**) 0,0011(**)0,0004(**) - -(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probalidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.

Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.

113 d122 cd131abc134ab122 cd128abc138a

125 bc

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96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3 -

1993 1994 1995 Média

................................g............................. kg/ha

Técnico devem se orientar pelasnormas do item 10.

9.1 Opinião – deve discorrer sobreassuntos que expressam aopinião pessoal do autor sobre ofato em foco e não deve ter maisque três páginas.

9.2 Registro – matérias que tratamde fatos oportunos que mereçamser divulgados. Seu conteúdo éa notícia, que, apesar de atual,não chega a merecer o destaquede uma reportagem. Não devemter mais que duas páginas.

9.3 Conjuntura – matérias queenfocam fatos atuais com baseem análise econômica, socialou política, cuja divulgação éoportuna. Não devem ter maisque seis páginas.

9.4 Informativo Técnico – refere-se à descrição de uma técnica,uma tecnologia, doenças,insetos-praga e outrasrecomendações técnicas decunho prático. Não deve termais do que oito páginas,incluídas as figuras e tabelas,nem ultrapassar 15 referênciasbibliográficas.

10. Os trabalhos devem serencaminhados em quatro vias,impressos em papel A4, letraarial, tamanho 12, espaço duplo,sendo três vias sem o(s) nome(s)do(s) autor(es) para seremutilizadas pelos consultores euma via completa para arquivo.As cópias em papel devempossuir margem superior,inferior e laterais de 2,5cm,estar paginadas e com aslinhas numeradas. Apenas aversão final deve vir acom-panhada de disquete ou CD,usando o programa “Word forWindows”.

11. Literatura citadaAs referências bibliográficasdevem estar restritas àLiteratura citada no texto, deacordo com a ABNT e em ordemalfabética. Não são aceitascitações de dados não publicadose publicações no prelo.

Eventos

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Periódicos no todo

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Artigo de periódico

STUKER, H.; BOFF, P. Tamanhoda amostra na avaliação da queima-acinzentada em canteiros de cebola.Horticultura Brasileira , Brasília,v.16, n.1, p.10-13, maio 1998.

Artigo de periódico em meioeletrônico

SILVA, S.J . O melhor caminho paraatualização. PC world, São Paulo,n.75, set. 1998. Disponível em: www.idg.com.br/abre.htm>. Acesso em:10 set. 1998.

Livro no todo

SANTANA, S.P. Frutas Brasil:Mercado e transporte. São Paulo:Empresa das Artes, 1991, v.1,166p.

Capítulo de livro

SCHNATHORST, W.C. Verticilliumwilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.)Compendium of cotton diseases.St.Paul: The American Phyto-pathological Society, 1981. Part 1,p.41-44.

Teses e dissertações

CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos dailuminação artificial sobre o cultivodo maracujazeiro amarelo(Passiflora edulis Sims f. flavicarpaDeg. ), 1998. 134f. Dissertação(Mestrado em Produção Vegetal),Faculdade de Ciências Agrárias eVeterinárias, Universidade EstadualPaulista, Jaboticabal, SP.