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Planejamento e gestão pública da cultura

SNC – Sistemas de Cultura municipais, estadual e nacional

Elaboração e texto Luiz Augusto Rodrigues e Ernani Viana Saraiva

disciplina 31

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SNC – Sistemas de Cultura

municipais, estadual e nacional

Luiz Augusto Rodrigues Ernani Viana Saraiva

Ao fi nal da disciplina, você deverá ser capaz de:

• Compreender os processos de planejamento e gestão em curso na agenda atual das políticas públicas de cultura.

• Entender o Sistema Nacional de Cultura e seus componentes.

• Capacitar o aluno para fomentar proativamente a implantação dos Sistemas Municipais de Cultura.

• Desenvolver metodologias que auxiliem na defi nição e implementação dos Planos Municipais de Cultura.

Objetivos

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Planejamento e gestão cultural na agenda das políticas atuais

Iniciando/recapitulando conversas...

Como operar no campo da gestão em cultura

O primeiro e mais importante norteador é sobre como entender Cultura, percebendo-a

como resultado de uma dupla noção: aquilo que se encontra já assentado nas relações dos

indivíduos com seus grupos e consigo mesmo, e também todo o aparato individual e coletivo

ainda por vir. Neste sentido, o mediador cultural – seja ele um gestor público ou privado, um

agente local ou um articulador externo – precisa tanto de informações prévias sobre o que

existe quanto de sensibilidade para perceber o que está em gestação. Saber ouvir, falar e calar...

O gestor não pode ser um burocrata da cultura. Precisa

sustentar sua ação com base em um claro e amplo entendimento

da cultura que ultrapasse a dimensão operacional. As práticas

culturais presentes em todos os indivíduos nos põem em

estreitas interações com outros indivíduos. O gestor planeja,

executa e, sobretudo, fomenta. Articula processos capazes

de ativar mediações diversas. Não podemos nos restringir

ao campo administrativo ao pensarmos a gestão. Mesmo no

campo administrativo, as decisões devem focar a efetividade.

Não basta sermos efi cientes e efi cazes. Faço aqui um parêntese

para explorar um pouco mais o campo do processo decisório.

Para decidir, é preciso conhecer, avaliar possibilidades e

defi nir caminhos. Conhecer, sim, mas segundo estratégias que

ultrapassem o imediato e o operacional. O conhecimento é um

somatório de experiências intelectuais, sensoriais, perceptivas e

éticas. Quanto à defi nição de caminhos, é sempre bom reafi rmar

SNC – Sistemas de Cultura municipais, estadual e nacional

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as metodologias participativas. A gestão compartilhada é mais

do que democrática; é estratégica. Mesmo bem-intencionados,

não somos capazes de, sozinhos, atingir a efetividade de nossos

objetivos. Por meio da mediação e com a coparticipação dos

sujeitos, temos chances mais ampliadas de caminhar em

terrenos mais sólidos.1

Mediadores culturais externos podem se constituir como ótimos articuladores e dinamizadores

locais, mas precisam ter cuidado e humildade ao “chegar” nos territórios com seus grupos já

constituídos e, muitas vezes, temerosos e descrentes tanto de ações governamentais quanto de

qualquer outra ação externa. Portanto, todo cuidado é pouco!

A principal lógica da gestão cultural deve ser o pensar articulado e compartilhado, integrador

de temáticas e de agentes sociais, continuado e sistêmico.

Agora queremos sua participação no texto.

Observe as três defi nições de cultura a seguir, e refl ita sobre a função do gestor cultural no Brasil.

O que se quer não é reconstituir uma cultura em vias de desaparecimento sob condições modernas que a tornem impossível, mas fazer crescer uma cultura contemporânea sobre as velhas raízes.

(ELIOT, T.S. Notas para uma defi nição de cultura. Sem referências bibliográfi cas.)

Cultura é, fundamentalmente, desenvolvimento humano: construção de valores da paz e da solidariedade, modos de vida culturalmente saudáveis, imaginário rico e eivado [contaminado por] de utopias possíveis e impossíveis, geração de emprego e renda que valorize raízes e escolhas, identidades abertas a novas vivências, poéticas de um mundo novo. Enfi m, é também um espetáculo que celebra a comunidade humana e não apenas o sombrio mundo dos negócios.

(FARIA, Hamilton. O desenvolvimento cultural como desafi o: desenvolvimento cultural e plano de governo. São Paulo: Polis, 2000. p. 7-35. p. 19.)

1 RODRIGUES, Luiz Augusto F. Gestão cultural e diversidade: um ponto de cultura em estudo. In FRADE, Cáscia et al. (org.). Políticas públicas de cultura do estado do Rio de Janeiro: 2009. Rio de Janeiro: Uerj, Decult, 2012. p. 143-158. p.145.

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Cultura como tudo aquilo que, no uso de qualquer coisa, se manifesta para além do mero valor de uso. Cultura como aquilo que, em cada objeto que produzimos, transcende o meramente técnico. Cultura como usina de símbolos de um povo. Cultura como conjunto de signos de cada comunidade e de toda a nação. Cultura como o sentido de nossos atos, a soma de nossos gestos, o senso de nossos jeitos.

(GIL, Gilberto. Discurso de posse como Ministro da Cultura. 2003. Disponível em www.gilbertogil.com.br/sec_texto.php. Acesso em: 31 ago 2015.)

As políticas municipais contemporâneas apontam para o fortalecimento da constituição

de redes e dos níveis de participação social. Pode-se dizer que se enfatiza a possibilidade de

os cidadãos desenvolverem suas próprias práticas culturais e canais de expressão de novos

protagonismos (políticos, sociais etc.). Observe o trecho extraído da Carta do Rio de Janeiro,

documento defi nido no Encontro de Cultura das Cidades (novembro/2003):

Moramos na realidade crua e dura das cidades marcadas por

contrastes. Precisamos redescobrir a função integradora das

cidades e sua cultura viva, para que ela possa revelar a plenitude

de seu patrimônio imaterial. O caminho para transformar o

espaço urbano no espaço da realização da cidadania tem início

na democratização da comunicação e da informação e passa

pelo compromisso dos órgãos de governo com as organizações

populares e a transparência na gestão da coisa pública.

E o trecho extraído do texto da jornalista norte-americana Jane Jacobs no livro Morte e vida

de grandes cidades.2

[...] onde quer que vejamos um distrito com um comércio

exuberantemente variado e abundante, descobriremos ainda

que ele também possui muitos outros tipos de diversidade,

como variedade de opções culturais, variedade de panoramas

e grande variedade na população e nos freqüentadores. É

2 JACOBS, Jane. Morte e vida das grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 162.

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mais do que uma coincidência. As mesmas condições físicas

e econômicas que geram um comércio diversifi cado estão

intimamente relacionadas à criação, ou à presença, de outros

tipos de variedade urbana.

Pensar sistemicamente...

Primeiro, vamos entender o que é Planejamento, que pressupõe processo em constante

avaliação. Temos um “estado das coisas” e o queremos diferente. Para isso lançamos mão do

planejamento, o que nos leva a ter muito claro que situação queremos atingir. Como em um dito

popular: “Quem procura o que não sabe quando encontra não o reconhece!”. Além das metas

a atingir, é preciso defi nir de que forma o planejamento será construído. As políticas públicas

de cultura atualmente vêm apontando para planejamentos que sejam sistêmicos e construídos

em parceria. Vejamos: a ideia de sistema pressupõe que existam mecanismos que funcionem

como engrenagens, nas quais um elemento é parte essencial e complementar ao todo. No caso

da implantação de sistemas públicos, busca-se que as esferas federal, estaduais e municipais

funcionem como engrenagens, agindo de modo compartilhado tanto entre as esferas públicas

quanto entre poder público e sociedade civil. Oportunamente, poremos uma lupa nestas

engrenagens para entender os mecanismos da gestão compartilhada.

“Quem procura o que não sabe quando encontra não o reconhece...” Ou seja, não podemos

planejar sem termos informações sobre as realidades. As maneiras de conhecer são diversas.

Há aquilo que já se encontra instituído, e que é mais fácil identifi car, mas há também a dimensão

instituinte da cultura, que muitas vezes não se encontra apenas nos saberes e fazeres existentes,

e sim também na perspectiva de nossos quereres e de nossas potencialidades. Para melhor

conhecermos o que há nas realidades sob estas diversas dimensões e perspectivas é necessário

que o gestor (seja este um sujeito da esfera governamental ou da esfera societária) faça boas

“escutas”, que seja sensível e mantenha abertos seus olhos, ouvidos e mente, mas é também

necessário que as pessoas se deem a conhecer. Neste sentido, as políticas de cultura demandam,

para suas melhores performances, sujeitos que sejam protagonistas de si mesmos e que

estejam estimulados a operar em rede, em articulação. Protagonismo social, empoderamento

social, emancipação social são ideias que precisam estar devidamente materializadas.

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Agora pesquise você. Destaque alguns autores para conceituar:

PROTAGONISMO SOCIAL – EMPODERAMENTO SOCIAL – EMANCIPAÇÃO SOCIAL

Antes de prosseguirmos, vamos ampliar certos conceitos e trazer alguns autores para

dialogar conosco.

Gestão cultural:

Gestão cultural é um termo relativamente recente no cenário

cultural brasileiro. Pressupõe procedimentos administrativos e

operacionais, mas não se resume a eles. Pressupõe também a

gerência de processos nos campos da cultura e da arte, mas vai

além deles.

Para melhor conceituarmos o campo da gestão cultural,

podemos articulá-lo à idéia de mediação de processos

de produções material e imaterial de bens culturais e de

mediação de agentes sociais os mais diversos. Mediação que

busca estimular as práticas de coesão social e de sociabilidade

(RODRIGUES, 2009, p. 77).3

Portanto, as bases da gestão cultural devem ser pluralistas, isto é, devem incluir a diversidade

de práticas e de saberes dos diversos agentes da sociedade. A ideia de diversidade – por sua

vez – precisa ser esgarçada para que não termine por restringir parte do que deseja fomentar.

A ideia de diversidade cultural corre o risco de se assentar sob um repertório de expressões e

de algumas de suas representatividades, o que por si pode ser excludente. Para tanto, é preciso

estar atento a que nem todos conseguem vivenciar sua diversidade sob condições igualitárias

e, também, que a diferença pressupõe disputas e não consensos. Como já apontado por alguns

pensadores, é preciso tratar os desiguais com desigualdade, apontando a necessidade de ações

compensatórias e políticas de reconhecimento junto àqueles que têm menos oportunidades.

3 RODRIGUES, Luiz Augusto F. Gestão cultural e seus eixos temáticos. In CURVELLO, Maria Amélia et al. (org.) Políticas públicas de cultura do estado do Rio de Janeiro: 2007-2008. Rio de Janeiro: Uerj/Decult, 2009. p. 76-93.

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Multiculturalismo:

As políticas de multiculturalismo apontam a exigência do reconhecimento, mas como adverte

Charles Taylor (1994, p. 45):

A tese consiste no fato de a nossa identidade ser formada,

em parte, pela existência ou inexistência de reconhecimento

e, muitas vezes, pelo reconhecimento incorreto dos outros,

podendo uma pessoa ou grupo de pessoas serem realmente

prejudicadas, serem alvo de uma verdadeira distorção, se

aqueles que os rodeiam refl etirem uma imagem limitativa,

de inferioridade ou de desprezo por eles mesmos. O não

reconhecimento ou o reconhecimento incorreto podem afetar

negativamente, podem ser uma forma de agressão, reduzindo

a pessoa a uma maneira de ser falsa, distorcida, que a restringe.

E segue o autor tecendo refl exões sobre a necessidade de políticas diferenciadas que deem

conta de abarcar as diferenças:

Em primeiro lugar, o princípio do respeito igual exige que as

pessoas sejam tratadas de uma forma que ignore a diferença. A

intuição fundamental de que este respeito depende das pessoas

centra-se naquilo que é comum a todas elas. Em segundo lugar,

temos de reconhecer e até mesmo encorajar a particularidade.

A crítica que a primeira faz à segunda consiste na violação que

esta comete do princípio de não-discriminação. Inversamente, a

primeira é criticada pelo fato de negar a identidade, forçando as

pessoas a ajustarem-se a um molde que não lhes é verdadeiro.

Já seria sufi cientemente mau se se tratasse de um molde neutro

– ou seja, que não pertencesse a ninguém, em particular.

Mas, geralmente, as pessoas levam a reclamação mais longe.

Queixam-se do fato de o conjunto, supostamente neutro, de

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princípios que ignoram a diferença e que regem a política de

igual dignidade ser, na verdade, um refl exo de uma cultura

hegemônica (TAYLOR, 1994, p. 63).4

Planejar: fazer bem, e com bons resultados...

Os campos do planejamento e gestão pressupõem conjuntos de procedimentos centrados

da efi cácia, na efi ciência e na efetividade. Por seu turno, o campo da cultura pressupõe também

conjuntos de valores estéticos (ou simbólicos), éticos (dimensão cidadã) e econômicos. Portanto,

se estamos no campo da gestão cultural nossos norteadores precisam englobar todos esses seis

“e”: efi ciência (fazer bem feito), efi cácia (atingir os resultados), efetividade (traçar os objetivos certos).

Este último, o mais importante dos três primeiros “e”, pois uma ação pode ser desenvolvida

com efi ciência e efi cácia, mas partir de pressupostos equivocados o eu comprometerá sua

efetividade (ao menos sob o viés que vimos discutindo). Norteados pelos três “e” seguintes, o

gestor cultural, o mediador de processos no campo da cultura deverá estar movido pela ideia de

provocar estranhamentos nos sujeitos de sua ação, ampliar as condições de encantamento e re-

encantamento de mundo, envolver indivíduos e grupos entre si. Com isso, o gestor fomentará nos

indivíduos a busca tanto pela manutenção quanto pela ampliação de seus repertórios estéticos,

buscando ampliar a vida ética e a felicidade por meio de diferentes formas de acesso (físico,

fi nanceiro e cognitivo) dos sujeitos e grupos às expressões culturais, e ampliar as capacidades

econômicas da dimensão cultural (sem colocar a dimensão econômica na centralidade da ação).

4 TAYLOR, Charles. A política de reconhecimento. In TAYLOR, Charles et al. Multiculturalismo: examinando a política de reconhecimento. Lisboa: Instituto Piaget, 1994. p. 45-94.

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Os esquemas apresentados na imagem a seguir são fruto de uma apresentação em coautoria

com Flávia Lages de Castro em seminário sobre políticas culturais5.

Âmbitos e escalas das Políticas Culturais governamentais

As políticas culturais podem estabelecer-se nos âmbitos municipal, estadual e federal,

voltando-se para os contextos local, regional e nacional. O importante é pensar as políticas

culturais numa perspectiva de articulação entre os três âmbitos, de forma sistêmica, articulada.

A questão do espaço tem sido uma preocupação crescente no campo das políticas culturais,

tendo sido internacionalmente apontada pela Agenda 21 da Unesco.

5 RODRIGUES, L.A.F.; CASTRO, F.L. de. Políticas culturais e gestão participativa. Apresentação no II Seminário Internacional de Políticas Culturais. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, out. 2012.

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Vejamos alguns de seus pontos:

As cidades são uma elaboração cultural em constante

evolução. O debate sobre o futuro das cidades é, hoje, o debate

sobre a situação e as perspectivas da civilização e sobre os

valores humanos que devem articular. Hoje, somente apelando

à cultura podemos encontrar o encaixe de conceitos entre as

identidades e as diversidades culturais, somente apelando à

cultura se pode conceber a cidade como um lugar dinâmico e

criativo. [...]

As cidades também tem estado, são e serão, sobretudo, os

espaços da pesquisa, da imaginação e do conhecimento. São

nas cidades do mundo onde nascem as oportunidades que

converterão as características de suas sociedades do futuro:

inovação, convivência e participação, novas formas de trabalho,

inclusão social e sustentabilidade.

[...]

As cidades são hoje os espaços de experimentação e de

respostas à nova realidade que caracteriza o mundo de hoje. Os

cidadãos e os habitantes de cidades, dos movimentos sociais

e dos governos locais abarcam a luta por uma globalização

diferente, humana, ao serviço das pessoas.6

O Sistema Nacional de Cultura (SNC) e seus componentes

SNC: marcos legais

Os diferentes níveis de complexidade das escalas local, regional e nacional requerem um

procedimento para lidar com cada uma delas e também para que elas possam se articular.

6 UNESCO. Agenda 21 da Cultura. Disponível em: http://blogs.cultura.gov.br/cnc/fi les/2009/07/agenda21.pdf. Acessado em 07 maio 2013.

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Quanto maior o nível de integração entre esses âmbitos, certamente, maior serão os alcances e

os efeitos das políticas culturais.

É preciso conferir capilaridade às ações e práticas das políticas culturais nesses diversos

níveis e também entre eles.

A lógica do Sistema Nacional de Cultura é o governo federal, os entes federados e o distrito

federal, e os municípios operarem em parceria, entre si e com os diversos agentes do segundo

e terceiro setor (respectivamente agentes da iniciativa privada e agentes comunitários não

governamentais). O SNC se coloca como a possibilidade de ser um agente propulsor de políticas

emancipatórias, pois pressupõe ampla participação. É uma espécie de emancipação do próprio

sistema de gestão das políticas públicas de cultura, seu CPF. Se o CPF identifi ca os sujeitos como

cidadãos, o CPF da cultura identifi ca também a possibilidade cidadã desta política: Conselhos e

Conferências, Planos e Fundos passam a ser condição “obrigatória” para a gestão compartilhada,

nos âmbitos federal, estaduais e municipais.

Para a constituição de um sistema de cultura efetivamente nacional, torna-se imprescindível a

consolidação de sistemas próprios dos entes, ou seja, de sistemas federal, estaduais e municipais

ou intermunicipais de cultura. Municípios vizinhos podem optar pela instituição de sistemas/

consórcios em conjunto, estruturarem seus sistemas culturais pelas respectivas microrregiões,

de forma a garantir as condições adequadas de planejamento, gestão e agrupamento das ações

e instalações culturais.

A viabilização dos sistemas de cultura depende principalmente da participação da sociedade

civil para a defi nição de prioridades e o controle e acompanhamento das metas programadas.

Mais do que isso, por corresponderem pelo maior volume das ações e do calendário cultural do

país, se deve destinar à sociedade civil parte substantiva dos programas culturais fomentados

pelo Estado. A sociedade civil cumpre, portanto, papel decisivo na construção dos sistemas

culturais públicos e do Estado democrático.

O Sistema Nacional de Cultura passou a ser um instrumento com força de política de Estado,

a partir de sua aprovação como emenda constitucional (EC 71/2012). O SNC está incluído

no Artigo 216-A da Constituição Federal de 1988 (CF). Além da articulação dos sistemas dos

entes federados, o SNC resultará da estruturação de (sub)sistemas ou políticas setoriais (por

exemplo, nas áreas de bibliotecas, museus, fomento às artes, em suas variadas linguagens ou

agrupamentos de linguagens e promoção do patrimônio cultural – material e imaterial). Tais

subsistemas contarão, em princípio, com colegiados ou fóruns próprios na União, nos estados

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e municípios (ou respectivas microrregiões), propiciando a formulação das políticas setoriais em

âmbito local, regional e nacional.

Outro instrumento legal importante é o Plano Nacional de Cultura (PNC). As formulações

dos entes federados e dos diferentes setores da cultura conduziram à formulação do Plano

Nacional de Cultura, a ser sistematicamente debatido com a sociedade, nas conferências de

cultura de âmbitos nacional, estaduais e municipais ou regionais, e com a devida contribuição

e sistematização pelos conselhos de políticas culturais e os colegiados setoriais. O PNC foi

também instituído de marco legal, tendo sido acrescentado ao Art. 215 da CF. Pela Emenda

Constitucional 48/2005, o Art. 215 ganhou um terceiro parágrafo, em que consta:

§ 3º. A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de

duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do

País e à integração das ações do poder público que conduzem

à:

I – de fesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;

II – produção, promoção e difusão de bens culturais; 

III – formação de pessoal qualifi cado para a gestão da cultura

em suas múltiplas dimensões;

IV – democratização do acesso aos bens de cultura;

V – valorização da diversidade étnica e regional.

Outro elemento importante para a gestão das políticas culturais são os indicadores,

necessários para se entender e avaliar a situação e melhoria das condições culturais das regiões

e do país como um todo. O Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais (SNIIC)

visa compilar e disponibilizar dados sobre bens, serviços, programas, instituições e execução

orçamentária no campo da cultura no país.

O SNC, portanto, precisa que a esfera cultural encontre-se minimamente formalizada para

que a efi cácia de suas premissas se institua. Então, é prioritário que os municípios disponham de

órgão específi co para o planejamento e implementação de ações culturais, ou seja, uma secretaria

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municipal de cultura. É também fundamental que a formulação das políticas e o planejamento dos

programas e projetos dela decorrentes sejam constituídos de modo democrático e participativo,

o que leva à existência de Conselhos de Cultura e à implementação regular de Conferências e

Fóruns de cultura.

Cabe argumentarmos que as políticas públicas não podem se submeter à temporalidade das

gestões governamentais nem à transitoriedade das práticas partidárias, portanto é preciso que

as demandas estejam lançadas em Planos de Cultura (nacional, estaduais, distrital, municipais e/

ou regionais) que ganhem força de lei para suas implantações a curto, médio e/ou longo prazo.

Institui-se assim, como já visto, políticas de Estado.

Conceituamos anteriormente que uma política pressupõe seus vetores conceituais e os

planejamentos deles decorrentes, e também os meios e recursos para sua implantação. No

caso das políticas de cultura é necessário que existam os Planos, que estes sejam construídos

participativa e democraticamente, por meio de Conferências e Conselhos, e que haja dotação

orçamentária própria para sua implementação, isto é, que existam fundos públicos voltados

especifi camente para a questão cultural.

Consórcios intermunicipais

Há que se considerar a possibilidade de ações consorciadas entre municípios, principalmente

redes de municípios de pequeno porte. Os consórcios permitem dividir responsabilidades

e otimizar recursos. Nem toda realidade municipal, por exemplo, pode, em curto prazo, ter

seus próprios cinemas, teatros, lonas de circo, centros culturais multiuso, casas de espetáculos

etc. No entanto, pode-se pensar em equipar um conjunto de pequenas cidades de forma

complementar, propiciando que os diversos agentes locais possam se benefi ciar e utilizar os

diferentes espaços. Tal expediente atende, também, a possibilidade de maior circulação de bens

e expressões culturais e de pessoas. A partir dos consórcios se pode implementar e estimular a

criação de corredores de cultura que aglutinem artistas locais em ações regionais.

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Capacitação para implantação dos sistemas municipais de cultura

Concepção de cultura

Como já abordado anteriormente no curso, a cultura apresenta uma tríplice dimensionalidade.

• A dimensão simbólica fundamenta-se na ideia de que é inerente aos

seres humanos a capacidade de simbolizar, que se expressa por meio de

diversas línguas, valores, crenças e práticas. Nessa perspectiva, também

chamada antropológica, a cultura humana é o conjunto de modos de

viver, os quais variam de tal forma que só é possível falar em culturas

humanas, no plural. Adotar a dimensão simbólica possibilita superar a

tradicional separação entre políticas de fomento à cultura (geralmente

destinadas às artes) e de proteção do patrimônio cultural, pois ambas

se referem ao conjunto da produção simbólica da sociedade. E mais, ao

se apontar a dimensão simbólica se está querendo afi rmar as diferentes

práticas e formas de subjetivação, e não apenas aquelas que se encontram

melhor assentadas. Práticas tradicionais e ações inovadoras. O campo

das linguagens artísticas e o campo das práticas culturais de modo mais

amplo.

• A dimensão cidadã fundamenta-se no princípio de que os direitos

culturais fazem parte dos direitos humanos e devem constituir-se como

plataforma de sustentação das políticas culturais. Essa dimensão está

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garantida na Constituição brasileira. Pensar o direito à cultura está

imbricado no pensar o direito à cidade, o direito à integração social, o

direito aos direitos...

• A dimensão econômica compreende que a cultura, progressivamente,

vem se transformando num dos segmentos mais dinâmicos das

economias de todos os países, gerando trabalho e riqueza. Mais do que

isso, a cultura, hoje, é considerada elemento estratégico da chamada nova

economia ou economia do conhecimento, que se baseia na informação

e na criatividade, impulsionadas pelos investimentos em educação e em

cultura. Fundamenta-se, ainda, no entendimento de que muitas de nossas

práticas culturais têm forte potencial econômico, mas este não deve ser

o único norteador, ou melhor, não entender nossas práticas culturais

como obrigatoriamente conduzidas pela possibilidade de resultados

econômicos.

Questões para refl exões e debates:

– A cultura pode ser economicamente viável e produtiva, mas não se pode reduzir a

cultura a tal lógica.

– As manifestações culturais não podem ser “obrigadas” a serem economicamente

rentáveis.

Sistema Municipal de Cultura – peças integrantes

Um sistema para funcionar bem precisa de um conjunto de engrenagens que lhe vão

modelando. É preciso que haja um órgão gestor específi co para cuidar da cultura (secretaria

ou fundação), e é preciso manter um canal regular de diálogo com os setores artísticos e com

a sociedade municipal como um todo (conferências, bienais e conselho de cultura). Estamos

muito acostumados com o planejamento pensado para gestões governamentais específi cas,

o que não confere ao planejamento cultural sua continuidade necessária ao pleno êxito de

ações que nem sempre se realizam no médio prazo. Para resolver tal impasse, é necessário se

traçar Planos de Cultura que atinjam o prazo de dez anos, ultrapassando a lógica das políticas

de governo em direção às políticas de estado. Para conseguirmos implementar nossas metas

precisamos de recursos fi nanceiros (sistema municipal de fi nanciamento).

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Outrossim, é necessário que saibamos se estamos atingindo nessas metas, e qual a situação

em que nos encontramos. Ou seja, precisamos conhecer nossas realidades por meio de um

conjunto de informações e indicadores culturais. Se estivermos tratando com realidades muito

grandes e complexas, precisaremos dividir nossas atenções em setores (sistemas setoriais de

cultura). E, por fi m, mas não por último, precisamos ter pessoas qualifi cadas para implementar as

ações planejadas, sejam os gestores governamentais e institucionais, sejam os agentes culturais

e profi ssionais do ensino, enfi m, é necessário um programa de formação na área da cultura.

A imagem a seguir ilustra esta “roda de políticas e ações”, que são brevemente comentadas

à frente.

• Conselho Municipal de Política Cultural: os conselhos de Política

Cultural constituem espaços de pactuação de políticas públicas de cultura,

com caráter deliberativo e consultivo, tendo na sua composição, no mínimo,

50% de representantes da sociedade civil, eleitos democraticamente.

• Plano Municipal de Cultura: o Plano Municipal de Cultura deve

expressar motivações, desejos, intenções, políticas, diretrizes, programas,

objetivos e projetos para o desenvolvimento da cultura num espaço de dez

anos. Embora elaborado sob a liderança do poder executivo municipal,

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por intermédio de seu órgão de cultura, e com ampla participação do

Conselho Municipal de Cultura, o Plano deve servir à comunidade e não

aos seus autores ofi ciais, exigindo, para a sua construção, o envolvimento

e atuação de segmentos representativos da cultura local.

• Fundo Municipal de Cultura: o Fundo de Cultura é um importante

mecanismo de fi nanciamento de projetos e atividades culturais,

podendo ser constituído por vinculação à receita líquida, até o teto

de 0,5% como prevê o art. 216 da Constituição Federal, e podendo

também ser constituídas dotações orçamentárias do próprio município,

contribuições e aportes de recursos oriundos dos governos estadual e

federal, contribuições e doações de setores privados e empresariais, e

por arrecadação de preços públicos cobrados pela prefeitura e outros.

O Fundo estará vinculado ao Órgão Ofi cial de Cultura do Município, cujo

Titular será o seu gestor e ordenador de despesas.

• Programa Municipal de Formação na Área da Cultura: programas de

formação e qualifi cação em cultura são ações contínuas voltadas para

a capacitação e a atualização dos atores culturais, gestores, artistas,

dirigentes, produtores, técnicos do setor cultural, bem como para o

fomento de pesquisas no campo cultural.

• Sistemas de Informações e Indicadores Culturais: informações sobre

o campo da cultura são fundamentais para subsidiar o planejamento e

a tomada de decisão. Têm por fi nalidade integrar os cadastros culturais

e os indicadores a serem coletados pelos municípios, os estados e o

governo federal, para gerar informações e estatísticas da realidade

cultural brasileira.

• Conferência Municipal de Cultura: coletivo mais representativo da

sociedade que estabelece as macrodiretrizes da política cultural, as quais

devem ser detalhadas pelo Plano Municipal de Cultura (PMC). Exige muita

preparação e envolve custos, e como ela estabelece diretrizes de política

cultural e avalia o cumprimento dos compromissos pactuados, é bom que

haja um tempo entre uma e outra, para que o Órgão Gestor da Cultura

possa atuar e ser avaliado.

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• Sistemas Setoriais Municipais de Cultura: quando determinados

setores da cultura apresentam maior complexidade, torna-se necessário

criar subsistemas específi cos para estes discutirem internamente suas

demandas e apresentá-las à sociedade.

Das peças que integram o Sistema Municipal de Cultura, o Plano Municipal de Cultura é

o mais estruturante e compreende o conjunto de diretrizes, princípios e estratégias a serem

desenvolvidas no seu âmbito de aplicação, que orienta o poder público na formulação de

políticas culturais, envolvendo a sociedade civil, desde sua elaboração à efetivação de sua

prática, durante período de dez anos. Detalharemos uma proposta metodológica para os planos

municipais mais adiante.

Refl exões para debate:

– Conselhos consultivos correm o risco de se constituírem meros ratifi cadores das

políticas governamentais.

– As representações nos conselhos devem incluir esferas do executivo e do legislativo.

– Devem incluir representantes de diversas instituições e grupos culturais.

– Os conselheiros devem ser capacitados para a função.

Proposta metodológica para nortear os municípios na construção e avaliação dos planos de cultura

Plano Municipal de Cultura – marco estruturante da participação social

Planejar é buscar antecipar o futuro. Quando traçamos planos e projetos, estamos

vislumbrando uma situação que queremos alcançar, a qual seja diferente da realidade atual.

Para tanto, duas questões são primordiais: conhecer a realidade que desejamos mudar e ter

clareza sobre a situação que queremos alcançar. E mais, é difícil fazermos tudo sozinhos, e o

mesmo acontece com os poderes públicos. Portanto é necessário termos claro quem podem

ser os potenciais agentes parceiros de cada ação pensada e qual a temporalidade necessária.

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21disciplina 31

Atentemos para a questão da temporalidade, pois além de algumas ações serem alcançáveis

em prazos diferenciados, é muito comum que diferentes ações precisem ser encaminhadas ao

longo do tempo para se obter algo mais complexo e/ou de mais longo alcance.

Buscando planejamento sistêmico e processual, nosso país vem implementando os

Sistemas de Cultura (nacional, estaduais, municipais), e neles a tríade Conselho/Plano/Fundo.

O “CPF” da Cultura precisa ser visto como algo integrado, com ações interligadas, ou seja,

as Conferências elegem diretrizes e prioridades, e avaliam seus resultados, os Conselhos

ampliam e fazem a continuidade das relações dialógicas entre governo e sociedade, os Planos

garantem a continuidade do planejamento sob bases democráticas e independentes de lógicas

governamentais mais imediatas, os Fundos garantindo um sistema público e continuado de

fi nanciamento, com dotações próprias, dotações de outros fundos (estadual e federal), recursos

complementares etc.

A base da gestão de políticas culturais deve seguir uma dupla lógica: preservação e difusão

daquilo que se encontra instituído e estruturado; fomento e criação daquilo potente de ser

realizado, transitando na dimensão instituinte e estruturante da cultura. O desafi o é grande, não

há dúvidas, mas precisa ser trilhado. O gestor cultural, seja ele público ou não, deve desenvolver

uma observação acurada e participativa e trilhar ações que ultrapassem o mapeamento

quantitativo das práticas culturais e artísticas, buscando diagnosticar as formas como tais

práticas se dão ou não se dão. Tais desafi os são impossíveis de se empreender sozinho, portanto

a gestão compartilhada entre governos e grupos sociais diversos é uma demanda oportuna e

urgente.

O que segue como metodologia para a construção de planos municipais de cultura são

procedimentos possíveis e pensados mais como estratégias para identifi cação das ações do

que como o plano efetivamente.

A formulação e/ou condensação das diretrizes do Plano devem ser debatidas com a sociedade

civil quando de sua formulação inicial, intermediária e fi nal.

Para a construção do Plano Municipal de Cultura devemos considerar alguns conceitos

norteadores gerais:

• Entender os territórios como lugares privilegiados de produção,

recepção e fruição de práticas culturais.

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22disciplina 31

• Perceber a Cultura como elemento de fortalecimento das sociabilidades.

Exigências e condições dos planos de cultura

Todas as pessoas responsáveis pela formulação do plano de cultura devem estar cientes de

suas condições e exigências.

Sugere-se um estudo inicial dessas condições e exigências pelos grupos de trabalho e

comissões. Durante o processo, sempre que possível, será bom retomar esses pontos para

garantir que sejam respeitados.

Conceito

O plano de cultura é um documento formal que representa a política de gestão cultural de

uma cidade. Nesse documento estão as ações culturais que se pretende desenvolver na cidade

por um período de dez anos.

O plano deve promover a igualdade de oportunidades e a valorização da diversidade das

expressões e manifestações culturais.

Premissas

As premissas são as ideias que devem orientar o processo de construção do plano.

• O plano deve ser participativo, isto é, deve envolver os representantes

eleitos – prefeito ou prefeita e vereadores – e a sociedade civil para discutir

propostas e meios de alcançá-las, e para acompanhar seus resultados.

• A sociedade civil pode participar de várias maneiras, mas dois espaços

de participação são obrigatórios: o conselho de cultura e a conferência de

cultura.

• O plano deve ser político, isto é, deve ser resultado de um acordo entre

os diferentes interesses de classes e grupos sociais.

• O plano deve ser técnico, ou seja, basear-se em práticas e procedimentos

que deem suporte à realização das ações aprovadas.

• O plano deve fazer parte do planejamento da política pública, isto é, a

cultura deve se relacionar com outras áreas de desenvolvimento.

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23disciplina 31

• Os planos nacional, estadual e municipal devem ter correspondência

entre si. Isso quer dizer que o desenvolvimento cultural da cidade deve

ser planejado considerando as metas estabelecidas nos planos estadual

e federal.

Princípios

Os princípios são as regras que devem conduzir a preparação do plano. Eles orientam

a conduta dos governos federal, estadual, distrital e municipal e da sociedade civil em suas

relações como parceiros e responsáveis pelo funcionamento do plano.

• Princípio do protagonismo municipal

Cabe ao prefeito ou à prefeita a iniciativa e a responsabilidade pela condução do plano

municipal de cultura. São os prefeitos quem indicam o responsável pelo sistema municipal de

cultura na relação com o Ministério da Cultura e o coordenador do plano municipal de cultura.

• Princípio do diálogo interinstitucional e social

O diálogo é a forma de comunicação que deve orientar todo o processo de elaboração

do plano. As decisões e os acordos devem acontecer de modo conjunto entre os organismos

públicos municipais, os demais poderes e esferas de governo, a sociedade em geral e, em

especial, a comunidade cultural.

• Princípio da legitimidade

Para terem legitimidade, todo o processo de elaboração do plano de cultura e o próprio

plano devem ter legalidade formal, isto é, devem respeitar as leis que se aplicam ao caso. O

plano de cultura também terá legitimidade política se for reconhecido por todos os envolvidos.

Outra fonte de legitimidade é a coerência técnica do plano.

• Princípio da visão sistêmica e territorial

Os temas abordados no plano de cultura devem desenvolver uma visão de conjunto

da política cultural, estabelecer relações entre as áreas ou os processos do fazer cultural, e

relacionar o plano a outras políticas públicas e a outras esferas de governo.

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• Princípio da transparência e objetividade

Todo o processo de planejamento e elaboração do plano deve ser conduzido de forma clara

e objetiva. O plano deve ser elaborado de tal modo que todas as pessoas possam compreender

os caminhos a serem percorridos e os resultados a serem alcançados.

Instâncias ou espaços de participação e colaboração

• Instâncias de consulta e debate: são os espaços de divulgação e consulta

sobre questões importantes. Exemplos: mesas de debate, ofi cinas,

seminários ou fóruns, consultas públicas e plenárias.

• Instâncias técnicas: são espaços ocupados por representantes indicados

em razão de sua representatividade e seu conhecimento técnico e

específi co. Essas instâncias são também chamadas de grupos de trabalho

ou comissões técnicas. As reuniões desses grupos e comissões são

registradas em atas ou relatórios.

• Instância de coordenação e validação: é o conselho de cultura. Os

conselhos devem ser eleitos democraticamente e devem ser paritários,

isto é, pelo menos a metade dos conselheiros deverá ser formada por

representantes da sociedade civil.

A importância do conselho está em estimular o processo de elaboração do plano e garantir

que tal processo seja efetivamente participativo. O conselho deve fazer reuniões periódicas

abertas com a função de dinamizar as discussões sobre o plano. Deve também cumprir uma

agenda de aprovação dos documentos parciais e fi nal do plano.

Da elaboração do Plano Municipal de Cultura

O exercício de participação entre poder público e sociedade civil estabelece o caráter

democrático que o processo aponta, garantindo de modo singular a construção coletiva das

diretrizes de políticas de cultura de uma cidade. Os princípios de um governo democrático

incluem tanto a transparência informativa, como a participação cidadã na concepção das

políticas culturais e nos processos de tomada de decisão, na avaliação de programas e projetos.

Mantendo calendário de debates, encontros, fóruns e/ou conferência, entre gestores públicos,

sociedade civil, trabalhadores de cultura, arte-educadores e artistas (identifi cados em grupos de

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25disciplina 31

trabalho, nos setores específi cos), o município apresentará resultados das diversas reuniões,

atuando em conjunto na construção do Plano Municipal de Cultura, com texto-base inicial. Este

texto-base deve ser fruto de pesquisas históricas de autores locais, ou pesquisadores da área,

ou ainda, a partir dos acúmulos de encontros balizadores na esfera intermunicipal, estadual ou

federal, realizados nos recentes anos, em que foram determinadas diretrizes norteadoras para

todo Brasil, no setor cultural.

O Fórum de debates é passo de extrema importância para a elaboração do Plano, a partir

das propostas apresentadas pelos diversos segmentos. Os fóruns distritais de debates são

exercícios embrionários, com grupos de trabalho movimentando toda cidade. Os Grupos de

Trabalho (GTs), podem ser agrupados ou organizados nos seguintes setoriais: instituições da

sociedade civil; movimentos sociais e organizações livres; música; dança; teatro e circo; patrimônio

e museologia; literatura e bibliotecas; matrizes africanas/matrizes indígenas/LGBT/ mulheres;

culturas populares; artes plásticas e visuais; juventude e culturas urbanas; comunicação; artes

digitais e audiovisual, e outros que possam ser identifi cados de modo mais particular na cidade.

Objetivos gerais dos processos de construção dos Planos de Cultura

• Estabelecer uma compreensão integral e abrangente da signifi cação

de cultura para o município, abrangendo a fruição e os processos

produtivos artísticos e culturais, as manifestações culturais populares no

entorno do município; as ações e demandas relativas ao turismo cultural

bem como aos valores relativos ao patrimônio ambiental, construído e

imaterial existentes; além dos aspectos concernentes à sociabilidade,

comunicação, participação social numa perspectiva de desenvolvimento

socioeconômico sustentável.

• Estimular e envolver todos os segmentos sociais tanto no levantamento

de dados, quanto na proposição de demandas e desafi os a serem

cumpridos para que a cultura se sustente de forma equilibrada em suas

três dimensões: simbólica, econômica e cidadã.

• Desenvolver as bases necessárias à formulação e elaboração de um

Planejamento Cultural Integrado, entendendo suas etapas e seus agentes.

• Formular planos e programas culturais, buscando assegurar seus

processos de gestão.

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26disciplina 31

• Assegurar de forma legal a subsistência de um planejamento de longo

prazo (10 anos) que permitirá à cultura sua sustentabilidade.

Eixos estruturantes do planejamento da cultura

Para facilitar que certos eixos de ações não sejam relegados, propomos pensar desafi os

separados por eixos estruturantes (por mais que em alguns momentos algumas ações se

cruzem):

• fomento das linguagens artísticas;

• fomento das expressões culturais populares;

• valorização e preservação dos patrimônios culturais (formais e afetivos),

históricos e ambientais (construídos e naturais).

Há questões que são transversais, mas que correm o risco de ser pouco valorizadas,

portanto devem ser pensadas também em separado e inseridas nos eixos acima: integração

de ações em cultura com ações de outras áreas (turismo, educação, meio ambiente, saúde

etc.), a comunicação das ações e a comunicações entre agentes e setores da gestão municipal,

a questão cidadã e da participação nos processos, a questão das relações sociais geradas e

da sociabilidade nos espaços públicos, do desenvolvimento local sustentável (desenvolvimento

econômico, cultural, humano, ambiental), entre outras.

Outra questão que precisa ser posta em evidência é a necessidade de se pensar todo o

processo de produção, como acontece com outras produções fora do ambiente da cultura, por

exemplo, uma coisa qualquer que consumimos passa por uma cadeia sistêmica:

• precisa ser criada e produzida,

• precisa estar disponível e acessível ao meu alcance e ciência (distribuída

e divulgada),

• é preciso que eu tenha acesso fi nanceiro a ela, seja comprando e/ou

por meio de alguma forma subsidiada e também de acesso físico, e – por

fi m, e para fomentar o início cíclico de todo esse sistema –

• é preciso que se cumpra a etapa do consumo.

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27disciplina 31

Na área cultural busca-se falar tanto em consumo quanto em uso, pressupondo que

precisamos estar amplamente inseridos nos apropriando, entendendo e usufruindo dos bens

e produtos culturais a que tivermos acesso – e aqui o que se pretende é ampliar ao máximo o

acesso, tanto acesso à fruição quanto à criação artístico-cultural e ao planejamento das ações

em cultura. Quando se fala em acesso, então, deve-se ter em mente a necessidade de acesso

(físico, fi nanceiro e intelectual) aos diversos bens e produtos dos demais sujeitos e grupos

quanto acesso aos mecanismos de produção daquilo que já trazemos como bagagem cultural

em nós mesmos, ou seja, poder criar e me expressar artística e culturalmente e também ter

acesso às demais criações artísticas e culturais.

Sensibilização e participação democrática

Uma das condições do plano de cultura é que ele deve ser participativo. Isso quer dizer que

ele deve ser elaborado com a população da cidade. Participação é uma das características mais

importantes dessa proposta de política cultural. Mas será que todo mundo vai participar?

Como sabemos, participar é direito, não é obrigação. Sendo assim, cabe à prefeitura incentivar

a participação, a começar pela divulgação das ações que estão sendo feitas. As pessoas precisam

de informação para decidir participar. Por isso, a prefeitura deve promover ações de divulgação

desde o início do processo de construção do plano.

Para mobilizar as pessoas a participar de uma reunião pública, é preciso demonstrar o

quanto o tema pode ser essencial para suas vidas. É preciso haver um envolvimento emocional,

uma necessidade de mudança, uma ideia que as motive.

Mas quem seriam as pessoas da cidade que poderiam ou gostariam de participar dos debates

e da elaboração do Plano de Cultura?

As ações de convite e sensibilização devem ser iniciadas logo após o prefeito ou a prefeita

nomearem uma equipe interna da prefeitura para cuidar do plano de cultura da cidade.

Apresentamos a seguir algumas formas de incentivar e defi nir a mobilização e a participação

das pessoas no processo de produção do plano.

Identifi car pessoas com quem seria importante contar no processo

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Essas pessoas podem estar entre os artistas e criadores, mestres populares, gestores

públicos, professores, pesquisadores, bibliotecários, museólogos e tantos outros. O importante

é que tenham experiência e envolvimento com a causa cultural.

Cabe ao prefeito ou à prefeita defi nir a composição do grupo de trabalho para a elaboração

do plano. Além de indicar pessoas do serviço público e vereadores, também devem ser indicadas

pessoas da sociedade.

Divulgar o processo de elaboração do plano

Quanto mais pessoas souberem, em diferentes locais, maior será a participação. Para isso, é

preciso fazer uma divulgação efi ciente.

A imprensa e a internet são os meios mais comuns, embora nem todos os indivíduos tenham

acesso a eles. Há cidades em que o rádio continua sendo um meio muito efi caz, até mesmo para

alcançar as pessoas que vivem na zona rural. A divulgação também pode ser feita por meio de

faixas e cartazes e pelo site da prefeitura.

Criar espaços de consulta e debate

É muito importante garantir a troca de informações entre o governo e a população. O

Ministério da Cultura possui ferramentas on-line, disponíveis a qualquer gestor, que ajudam

a estabelecer espaços de discussão entre diferentes grupos sociais. As aplicações “Delibera”

e “Consultas Públicas” são acessíveis por meio da página do Plano Nacional de Cultura, na

plataforma CulturaDigital.BR, disponível no portal pnc.culturadigital.br.

Divulgação das consultas

A informação sobre as consultas programadas e o convite para participar delas devem chegar

ao maior número possível de pessoas. A divulgação deve ser muito ampla, é preciso divulgar

bastante o dia e o local dos encontros abertos, o endereço do site ou plataforma digital na qual

vai ser realizada a consulta. Isso pode ser feito por meio de cartazes e faixas, com comunicados

nas rádios ou estações de televisão da cidade ou em carros de som. As informações também

devem estar no portal da prefeitura na internet, caso possua um, e podem chegar às pessoas

em boletins enviados por e-mail.

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Estimular e facilitar a participação

A prefeitura tem de usar recursos para estimular e facilitar a participação das pessoas

interessadas. Os encontros presenciais devem ocorrer em dias, horários e lugares de fácil

acesso. A plataforma digital também deve ter um sistema fácil de usar.

A questão dos prazos é muito importante para garantir a participação. É preciso haver tempo

sufi ciente para que as pessoas leiam o plano, opinem e para que a equipe de trabalho faça as

alterações no texto. Se o prazo da consulta pública for muito curto, não haverá tempo para tudo

isso, e o papel de ouvir a sociedade não será cumprido.

Visão geral do processo de criação do Plano de Cultura

A ideia do planejamento proposto é basicamente estruturada em:

• Fazer mapeamentos culturais, e diagnósticos que ajudem a identifi car

quais as potências e quais os empecilhos à plena realização das vocações

e desejos culturais dos munícipes.

• Identifi car ações que possam contribuir para ampliar as potências e/ou

minimizar as carências identifi cadas.

• Traçar qual o desafi o a ser enfrentado (tanto o fomento e/ou a

implementação de potências quanto à solução e/ou minimização das

difi culdades).

• Pensar a temporalidade mais viável para cada ação (curto, médio ou

longo prazo).

• Prever os melhores agentes parceiros para o desenvolvimento da ação

(entes públicos, comunitários e/ou privados).

• Buscar formas de avaliação constante e continuada sobre os resultados

que estão sendo atingidos.

O que se busca instituir, como políticas públicas de cultura nos municípios, implica

necessariamente na valorização e indução de dinâmicas culturais locais em todas as etapas de

seus sistemas de produção/criação/divulgação/comercialização/fruição, no âmbito das artes e

das culturas, buscando dirimir possíveis desigualdades territoriais e sociais.

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Como metodologia para a construção inicial do planejamento municipal, a partir dos desafi os,

potencialidades, carências e difi culdades identifi cadas preliminarmente, sugerimos que a

proposta a seguir deve ser desenvolvida no âmbito governamental para posterior debate com a

sociedade como um todo. Se possível, a construção no âmbito governamental deve contar com

a participação de técnicos, mas também de representantes da cultura local e deve observar

as demandas e diretrizes apontadas em conferências já realizadas e/ou outros procedimentos

de identifi cação de demandas junto aos munícipes. Caso não tenha sido realizada nenhuma

Conferência de Cultura, esse é um bom momento para realizá-la.

Chamamos especial atenção para a Conferência Municipal de Cultura: a Conferência Municipal

de Cultura é uma das principais instâncias de articulação do Sistema Municipal de Cultura. É a

reunião de todos os integrantes dos Fóruns de Cultura, contando, também, com a participação

dos agentes do Sistema Municipal, grupos culturais e cidadãos interessados, podendo ser

organizada pela prefeitura em articulação com a Câmara de Vereadores e Conselho Municipal

de Cultura.

A Conferência Municipal é um momento muito especial para apresentação e discussão, com

a sociedade, das políticas, diretrizes, desafi os, programas de cultura e avaliação de resultados

objetivando a construção conjunta de caminhos para o desenvolvimento da cultura no município.

Como roteiro preliminar dessa abordagem, sugerimos as seguintes etapas:

1ª Etapa – Mapeamento preliminar de dados do município

Mapeamento Cultural municipal é o levantamento de dados referentes a atividades, práticas,

espaços, eventos, festas, manifestações, institucionalizados ou não, de grupos e artistas em

determinado território, urbano e rural. Não é um registro frio da realidade, mas uma amostragem

dinâmica das realidades materiais e simbólicas que constituem os fazeres e os saberes culturais

de uma região. Uma das melhores referências que se pode ter é a realização da Conferência

Municipal de Cultura. Caso já tenha sido realizada, buscar nela os dados levantados, pois eles

serão importantes na construção do diagnóstico e das demandas da sociedade civil para

compilar informações históricas e censitárias sobre o município.

Para o levantamento de dados pode-se recorrer a fontes diversas: censos, publicações

turísticas; publicações históricas; publicações em geral; entrevistas; trabalho de campo; dados

censitários; matérias de jornal, sites etc.

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31disciplina 31

• Preparar um texto preliminar com dados e informações sobre o

município e sobre a situação da cultura na cidade. Nesse momento,

buscam-se informações descritivas sobre a cidade, de uma maneira geral,

incluindo dados como: a) aspectos físicos; b) aspectos demográfi cos

(faixas etárias, gênero); c) oportunidades de trabalho, sistemas produtivos

e economia local; d) aspectos culturais e políticos institucionais,

identifi cando movimentos organizados, formais e informais.

• Preparar um texto preliminar com avaliações sobre a situação da

cultura na cidade, apontando desafi os e oportunidades. É importante

identifi car as demandas culturais e o estado atual da cultura local. O

objetivo é inventariar a cultura local tanto na perspectiva material como

imaterial, por exemplo, os serviços prestados; o patrimônio arqueológico

e cultural; os sítios urbanos tombados; o acervo iconográfi co; os museus,

as bibliotecas, as casas de cultura, as salas de espetáculos, as cinematecas;

os projetos que desenvolvem atividades culturais permanentes; livrarias e

sebos e feiras culturais permanentes.

Dentre os principais objetivos do mapeamento cultural estão:

a. Abranger uma parcela maior dos produtores culturais da cidade, não

se restringindo ao universo dos artistas mais populares, propiciando um

conhecimento mais amplo a respeito de artistas e grupos que atuam no

município.

b. Mostrar a diversidade cultural local e suas possibilidades.

c. Elaborar um banco de dados culturais que permita um uso contínuo

das informações por parte da prefeitura, da população e dos visitantes.

d. Estimular um trabalho mais criativo do agente cultural, possibilitando

melhor atendimento à sociedade no que se refere às atividades culturais.

e. Diminuir os eventuais preconceitos existentes com relação a práticas e

linguagens culturais não reconhecidas como tais.

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32disciplina 31

f. Identifi car as demandas e ofertas existentes em determinada região

para um melhor planejamento das políticas culturais.

Esse passo é crucial para o sucesso da elaboração do Plano Municipal de Cultura. Quanto

mais aprofundado for o levantamento, melhor será a compreensão do contexto, atores e

agentes que possam se envolver ou serem envolvidos no processo de planejamento. Nesse

sentido, pede-se atenção para as ações e metodologias para identifi cação e aproximação com

as realidades locais:

• Identifi cação, análise e agrupamentos de diretrizes pré-elencadas em

conferências de cultura e demais ações.

• Entrevistas com técnicos e dirigentes (projetos e políticas) e com a

população (costumes, rotinas, interesses locais).

• Valorização das observações e vivências nos territórios, identifi cando

relações de pertencimento e de reconhecimento com os lugares.

• Registros fotográfi cos de bens e apropriações espaciais.

Outros elementos importantes para um levantamento de dados culturais do município:

• Mapas, indicando: a) o município e seus distritos e bairros; b) áreas

específi cas e detalhamento de equipamentos e atividades.

• Identifi cação dos atrativos naturais, arquitetônicos, históricos e

culturais.

• Breve histórico: origem, principais realidades culturais, trajetória

econômica, principais planos de desenvolvimento, buscando-se avaliar

do passado o que sustenta a situação presente.

• Perfi l populacional (urbano e rural, faixa etária, nível da renda, grau de

instrução, condições de emprego) por meio de dados estatísticos atuais.

• Institucionalidade municipal na área de cultura (secretaria, fundação,

diretorias etc.); legislações próprias (Plano Diretor, Lei de Patrimônio,

entre outros); principais organizações e instituições culturais públicas e

privadas.

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33disciplina 31

• Mapear espaços onde se realizam manifestações artístico-culturais,

(bibliotecas, espaços para exposição, museus, teatros, praças, áreas livres,

auditórios, centros culturais, casas de cultura, pontos de cultura, arquivos,

cinemas, circos, igrejas, terreiros, ginásios etc).

• Identifi car artistas (atores de teatro, artesãos, dançarinos, cantores,

fotógrafos, escritores, músicos, contadores de histórias etc.) e grupos

(corais, blocos de carnaval, capoeira, dança, teatro, orquestras, grupos

de folclores, bandas, grupos religiosos, de artesanato, grupos musicais,

grupos literários etc.).

• Festas: populares, folclóricas, religiosas, cívicas, procissões. Gastronomia

típica. Produção artesanal. Feiras, exposições e festivais.

• Empresas relacionadas à cultura, como livrarias, editoras, lojas de

artigos culturais, emissoras de rádio e TV, sites e servidores de internet.

• Identifi car os agentes das ações: quem faz, com quem faz, para quem

faz.

2ª Etapa – Elaboração de diagnóstico preliminar a partir dos dados levantados

Ao se pensar em um Diagnóstico Cultural, não se está necessariamente apenas querendo

mapear espaços e grupos, mas pesquisar e entender como se dão as expressões materiais e

imateriais dos diferentes grupos, e como os bens culturais são apropriados pela população,

considerando-se suas diferentes regiões, faixas etárias, condições socioeconômicas etc., e cruzar

estes diversos dados com proposições que atendam aos diversos interesses e necessidades

dos grupos almejados. Os diagnósticos permitem tecer uma caracterização e observar vocações

e tendências, e também entraves e riscos.

O objetivo é, após conhecer a realidade, traçar diretrizes para o planejamento cultural local

por meio de ações específi cas, conforme os diversos agentes sociais envolvidos.

• Elencar, a partir dos diagnósticos feitos, os desafi os e as demandas

no sentido de se corrigir problemas detectados e de maximizar

aproveitamento de recursos subaproveitados, naturais ou não. É uma

resposta que se dá ao olhar algum fenômeno, seja ele positivo ou negativo

e se perguntar: “O que pretendemos fazer a respeito?”

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34disciplina 31

• Consolidar o material em um formato que possa ser apresentado e

debatido em reuniões públicas (por exemplo: Qual a realidade cultural

em nossa cidade? – situação atual) e preparar palestra de abertura dos

trabalhos a serem apresentados.

3ª Etapa – Fórum de abertura de trabalhos

Nesse momento, combina-se com o poder público uma chamada geral à sociedade para

se apresentar o processo de dinamização, entender melhor as expectativas, apresentar dados

preliminares e escutar os anseios de todos.

Utilizar-se sempre dos conceitos preliminares de sensibilização para a participação

democrática.

• Apresentar o material do documento preliminar “A cultura em

nossa cidade – situação atual” em fóruns, reuniões, mesas de debate,

entre outras instâncias, como estratégia de sensibilização e convite à

participação democrática.

• Coletar nos debates públicos elementos para complementar e apurar o

documento “A cultura em nossa cidade – situação atual”.

• Coletar nos debates públicos elementos para elaborar a parte do plano

referente ao “A cultura em nossa cidade – aonde queremos chegar?”

(Diretrizes, prioridades, objetivos, estratégias, metas e ações).

• Sistematizar o documento “A cultura em nossa cidade – situação atual

e futura” e mantê-lo acessível ao público.

4ª Etapa – Construção do Plano Municipal de Cultura

Metodologia para a formulação das diretrizes do Plano de Cultura: montagem de quadros

analítico-propositivos que, a partir do mapeamento e diagnóstico cultural desenvolvidos,

apontem programas e diretrizes para a gestão cultural, segundo a tipologia a seguir:

• EIXO 1: FRUIÇÃO E PRODUÇÃO ARTÍSTICA E CULTURAL;

• EIXO 2: MANIFESTAÇÕES CULTURAIS POPULARES;

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• EIXO 3: TURISMO CULTURAL, PATRIMÔNIO AMBIENTAL E

CONSTRUÍDO;

• EIXO 4: SOCIABILIDADE, COMUNICAÇÃO, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E

DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO SUSTENTÁVEL.

As propostas lançadas devem identifi car os agentes protagonistas potenciais de cada ação e

planejá-las segundo perspectivas de curto, médio ou longo prazo.

Como critério genérico para as perspectivas temporais:

– ação de curto prazo, 1 a 2 anos;

– de médio prazo, 3 a 6 anos;

– de longo prazo, 7 a 10 anos.

Os quadros analítico-propositivos devem apontar, também, mecanismos para avaliação

continuada dos resultados obtidos, e devem ser replicados e detalhados tanto quanto necessário.

Exemplo:

1. Considerando como DESAFIO, dentro do eixo FRUIÇÃO E PRODUÇÃO

ARTÍSTICA E CULTURAL, o fomento às artes cênicas, podemos então

buscar elencar um conjunto de ações para enfrentar tal Desafi o.

Levando em conta as fases do circuito ou sistema de produção cultural, temos:

a. Criação/Produção:

a.1) desenvolvimento de ofi cinas de teatro, de dança, de cenotécnica, de construção de

cenários e fi gurinos etc.;

a.2) workshops com grupos artísticos locais e externos;

a.3) residências artísticas.

b. Distribuição e divulgação:

b.1) concursos (esquetes, dramaturgia etc.) e festivais;

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b.2) editais para circulação de espetáculos;

b.3) construção de teatro.

[FASES contempladas por indicações gerais]

c. Troca: deve-se estimular ações com acesso gratuito e oferta de fi nanciamento

por meio de editais (que devem estimular que as montagens sejam produzidas

no município, estimulando a economia local).

d. Fruição e uso: contrapartida por meio de projeto-escola, debates junto às

apresentações etc.

Ações propostasTempo de

implementaçãoParceiros possíveis

Resultados esperados

Formas de AVALIAÇÃO dos

resultados

1.1. Ofi cinas de teatro e de dança Curto prazo

– SM Educação (integração curricular);

– grupos locais

4 ofi cinas semanais:

a) teatro;b) dança;c) cenografi a;d) fi gurino e maquilagem

• relatórios dos ofi cineiros;

• acompanhamento dos egressos.

1.2. Workshops com grupos artísticos (locais e externos)

Curto prazo – MinC3 workshops (1 a cada 6 meses): teatro, dança e circo

• lista de presença;

• atratividade de grupos externos.

1.3. Residências artísticas Médio prazo

– Funarte;

– Universidades

5 residências por ano e 5 apresentações públicas de resultados por ano

- demanda pelo programa;- grau de satisfação do público expectador;- reverberação em espetáculos

1.4. Concursos e festivais Médio prazo

- Escolas;

- Agremiações e referências locais (júris)

Apresentações públicas de poesias e esquetes.Publicação de poesias e contos.

- públicos participantes

- procura pelas publicações nas bibliotecas

1.5. Editais de circulação de espetáculos

Médio prazo

- Municípios da região

- SEC-RJ

- Funarte

“x” espetáculos apresentados

- públicos

- municípios envolvidos

- grupos participantes e concorrentes

1.6. Construção de teatro Longo prazo

- SM Obras;

- Empresas;

- MinC

- Min. Turismo

Teatro capaz de abrigar espetáculos cênicos e multimídias

- atratividade do equipamento

- capacidade de absorção das produções locais

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5ª Etapa – Preparar versão preliminar do plano

Identifi cados os principais desafi os e as ações e programas propostos para enfrentá-los, é

hora de buscar priorizar as ações.

Na versão preliminar do Plano Municipal de Cultura, deve-se ter em mente que a proposição

deve contemplar um percurso de 10 anos para a construção das demandas e desafi os a serem

enfrentados. Nesse sentido, é preciso fazer escolhas e decidir qual será a direção da política

cultural do município. É hora de decidir também que áreas e projetos serão desenvolvidos

primeiro e, para cada área, explicar quais são os resultados que se pretende alcançar.

Esse planejamento é composto de três conceitos: diretrizes, prioridades e objetivos. A

defi nição desses conceitos deve envolver ampla participação da sociedade, e isso pode ser feito

por meio de conferências, conselhos, fóruns e outras formas de consulta pública.

Diretrizes e prioridades

Diretrizes são ideias, princípios e compromissos que orientam a tomada de decisões. As

diretrizes ajudam a planejar o caminho a percorrer, ou seja, elas mostram a direção.

Escolher prioridades é dizer o que vai receber atenção em primeiro lugar. Isto é, quais

manifestações, setores artísticos, grupos culturais e desafi os serão considerados mais urgentes

no Plano de Cultura.

As diretrizes e as prioridades são defi nidas a partir das informações do diagnóstico sobre a

cultura do município. Elas orientam o planejamento dos objetivos, metas e ações do plano de

cultura e indicam:

• A relação desse plano com outras políticas públicas do município, do

estado e do país.

• A concepção de cultura que está sendo adotada.

• As relações entre cultura, economia, trabalho, educação, turismo e

outras áreas.

• Os direitos do cidadão que serão garantidos.

• As manifestações culturais e os patrimônios que serão valorizados e

protegidos.

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• O que será feito em relação aos equipamentos culturais do município.

• Qual a política em relação aos intercâmbios culturais.

• O que se planeja em relação ao consumo, à produção e à circulação da

cultura.

• O que se planeja em relação ao ensino e à profi ssionalização.

• Outras características da política cultural que se deseja implantar no

município.

Objetivos

Para defi nir objetivos, é preciso esclarecer onde se está e aonde se quer chegar. Como está a

cultura no município? Quais os equipamentos culturais? Quais os recursos, iniciativas, projetos,

perspectivas? As respostas para essas perguntas estão no diagnóstico. Daí se chega ao segundo

ponto: o que se deseja para o município na área cultural.

Objetivos são os resultados que se pretende alcançar no futuro desejado. Assim, estabelecer

objetivos também é decidir o que precisa mudar. Se a situação da cultura em seu município está

muito longe do que a sociedade deseja, haverá um caminho mais longo a percorrer. Agora, se

muitas conquistas já foram alcançadas, o caminho estará mais bem delimitado. Mas é preciso

ter claro que ambas as situações envolvem desafi os.

Nessa fase, a equipe responsável deverá:

• Preparar o elenco de resultados e impactos esperados.

• Trabalhar com outros setores da prefeitura para ter apoio técnico nas

questões relativas a prazos de execução, custos, classifi cação de despesas

etc.

• Trabalhar na explicitação dos indicadores de monitoramento e

avaliação.

• Trabalhar na consolidação do modelo de gestão, dos mecanismos de

consulta e participação.

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6ª Etapa – Consulta e aprovação do plano

• Submeter uma versão preliminar do plano à consulta pública e posterior

aprovação pelo conselho.

• Enviar o plano para aprovação da Câmara em forma de lei.

7ª Etapa - Implantação do Plano Municipal de Cultura (SMC)

• Planejar e executar as ações para iniciar a implantação do Plano

Municipal de Cultura (PMC).

• Montar as equipes internas da prefeitura que vão coordenar a

implantação do PMC e preparar os programas e projetos específi cos, os

quais darão forma objetiva às diretrizes aprovadas.

• Preparar os recursos de comunicação pública para divulgar a agenda

do PMC e incentivar a participação das pessoas em sua efetivação.

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