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Os Contos Que Canto
Gonzaga Filho 1
Os Contos Que Canto
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Os Contos Que Canto
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Os Contos Que Canto
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OS CONTOS QUE CANTO
Gonzaga Filho
2001
Os Contos Que Canto
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Os Contos Que Canto
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Dedicação total à minha família
Agradecimento ao meu Deus.
Pois,
Sem Ele eu sou um nada.
Os Contos Que Canto
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NOTA DO AUTOR
Eu não tenho nenhuma pretensão em ser chamado
de poeta ou mesmo ser chamado de escritor. Como também
não tenho pretensão a prêmios literários, pois reconheço o
meu grau de deficiência ao escrever.
Mas podem ter certeza, que o que eu escrevo são
apenas os meus sentimentos, são as minhas emoções
passadas para o papel e entregue aos leitores.
Escrever para mim já se tornou um vício, a minha
mão já se tornou dependente da caneta. O amor, as alegrias e
as tristezas são drogas potentes que me levam a querer viajar
no mundo encantado das letras.
Como escrevi em meu primeiro livro, eu volto a
repetir que o meu desejo, é tão somente agradar pessoas que
tem sentimentos e que se interessam por uma obra feita com
carinho e dedicação.
Os Contos Que Canto nasceu de recordações de um
tempo feliz, que foi o tempo em que eu navegava pela costa
brasileira e por águas internacionais como Marinheiro de
Convés da FRONAPE. Depois de um longo período afastado
da atividade marítima, chegaram-me as lembranças dos
portos e dos companheiros de bordo, como também da vida
boêmia ao lado das meretrizes e malandros do cais do porto
de cada cidade por onde passava.
Neste livro eu procuro falar de amor e ódio,
felicidade e tristeza, vida e morte, pois um completa o outro
e tudo o que está escrito nas páginas desse livro é real, são
emoções palpáveis vividas por mim ou situações que
participei direta ou indiretamente como espectador.
Os Contos Que Canto
Gonzaga Filho 9
Espero que alguma coisa que eu escrevi, nem que seja
uma frase ou uma palavra, possa servir para que alguém
reflita sobre a vida e lhe sirva como bálsamo nos momentos
de solidão.
Gonzaga Filho
Os Contos Que Canto
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Os covardes nem mesmo tentam...
Os fracos desistem no caminho...
Somente os fortes conseguem vencer.
(Anônimo)
A fé invade o infinito e
dá respostas para o impossível”
AFRO X
(509-E)
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OCASO MARAVILHA
Neste momento maravilhoso, vejo o mais belo
espetáculo da natureza: O pôr do sol.
O sol despede-se de todos perdendo o seu brilho
tão intenso penetrando na escuridão.
Será que por um acaso, o ocaso não lhe diz nada?
Será que enquanto o sol está morrendo, para que
possamos repousar os nossos corpos cansados do árduo
dia de labor, não lhe represente coisa alguma?
Olha, é este mesmo sol que estás vendo, que
acorda nas mais longínquas fazendas com o cantar do galo
e o chilrear dos felizes pássaros em liberdade?
É este sol que faz brilhar a lápide de um grande herói
da revolução cubana:
Ernesto “Che” Guevara
É este sol que dá vida e beleza as flores na
primavera repleta de amor e de felicidade.
É este sol, que desperta os angolanos para que se
matem com armas americanas, em benefício de
inescrupulosos que estão no poder de uma White House
manchada de sangue inocente.
É este sol que tempos atrás, Incas, Astecas, Maias
e outras civilizações adoravam como a um deus.
É este sol, que bronzeia o teu corpo nesta praia que
se sente honrada com a tua presença.
É este sol, que é testemunha do meu amor por você
e é também confidente das minhas mágoas.
Este mesmo sol, que foi testemunha das minhas
travessuras quando criança em solo potiguar.
Os Contos Que Canto
Gonzaga Filho 15
E a você que voa livremente neste acaso que é a
vida, eu te agradeço por dá mais vida a este ocaso
maravilha.
Obrigado, gaivota.
Obrigado a você que é o meu símbolo de liberdade.
Os Contos Que Canto
Gonzaga Filho 16
TARDE DE OUTONO
17h53min.
Encontramo-nos por acaso no ponto do ônibus e
convidaste-me para andar na chuva que caía
torrencialmente.
Aceitei o teu convite, demos as mãos e
caminhamos juntos sentindo nos nossos rostos, as carícias
das gotas que escorriam dos nossos cabelos já totalmente
encharcados.
Andamos em direção ao cais rindo alegremente,
pisando nas poças d’água como duas crianças. Já
estávamos totalmente molhados, mas não ligávamos, pois
estávamos juntos e felizes.
Caminhamos no calçadão, passamos sob a ponte e
debaixo de toda a chuva, seguimos em direção ao jardim
em frente ao cemitério.
Sentamos em um banco de cor branca. Cor branca
que simbolizava a pureza dos nossos corações naquele
momento. Todos que passavam em seus carros nos
chamavam de loucos, mas não sabiam eles que naquele
momento nós curtíamos uma paz e uma beleza rara, mas
muito comum quando estávamos juntos.
Percebo que as gotas de chuva transformam-se em
cintilantes pérolas, que rolam suavemente sobre a tua pele
lisa e aveludada. Trocamos tantas palavras, falamos de
política, amor, filosofia e dos nossos problemas familiares,
que nos esquecemos do tempo que corria velozmente e
não percebíamos.
De repente lembrastes que tinhas que ir.
Levantamo-nos e novamente de mãos dadas
voltamos ao ponto de partida, correndo e saltando as poças
nas calçadas e sorrindo felizes como duas crianças que
Os Contos Que Canto
Gonzaga Filho 17
éramos naquele momento, sem os problemas que nos
afligiam até poucos minutos atrás.
Nunca te esquecerei.
A Ponte e o Anjo Caído do Porto do Carro são
minhas eternas testemunhas.
Por esta feliz tarde de outono que me
proporcionaste, eu te agradeço. Mas fico triste por não ter
você aqui ao meu lado.
Os Contos Que Canto
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SENTIMENTO IMATURO
Fria brisa soprando
Lua sem brilho no céu
As estrelas não aparecem
O céu está escurecendo
Com todas estas nuvens negras
Você, triste por sentir-se imatura.
Eu, feliz por estar ao teu lado.
Você, triste por distorcerem
os fatos ao nosso respeito.
Eu, triste por você e pelas pessoas
que conservam a maldade no coração.
Você, triste ao me fazer confidências.
Eu, feliz por ser o teu confidente.
Você, triste por não compreender o mundo
e sentir que está faltando algo em sua vida.
Eu, triste por não explicar o mundo para você
e feliz por saber que não estou sozinho
a procura desse algo mais na vida.
Mas, somente o tempo e a experiência
poderá dizer-nos onde está
a outra face do nosso “Eu”.
E aí sim, poderemos dizer que temos maturidade
e quem sabe até mesmo sermos felizes.
Lua sem brilho no céu
As estrelas não aparecem
O céu está escuro
Com todas estas nuvens escuras
Somente resta uma fria brisa soprando
Os Contos Que Canto
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LUZ DO MAR
Os seus olhos eram as luzes
Que me guiavam na imensidão
Deste oceano tão escuro que é a vida.
Os teus cabelos serviam de amarras
Para a atracação dos meus sentimentos.
Os teus braços era o sextante
Que me dava uma posição privilegiada.
Luz do Mar, Mar de Luz, Lucimar.
Da sua boca recebia as ordens de comando
Que o meu coração obedecia fielmente.
Como âncora eu tinha o teu coração
Que ao chocar-se com o solo arenoso
Da minha solidão, não mais deixou
O navio de o meu corpo navegar a deriva.
Lucimar, Luz do Mar, Mar de Luz.
Mas ao renunciar ao comando
Do navio do meu corpo,
Apagou-se a luz que me guiava,
Rebentaram-se as amarras,
Sem o sextante fiquei sem posição,
E deixei de receber as ordens de comando.
Sem a âncora do seu coração
Voltei a navegar na imensidão deste oceano,
Restando apenas no momento
Um cais sem navio, um píer vazio,
Mas repleto de saudades.
Mar de Luz, Lucimar, Luz do Mar.
Os Contos Que Canto
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LAMENTO DE SOLIDÃO
Afinal chega a noite
Com a eterna escuridão
A saudade é um açoite
Que machuca meu coração
Somente penso em você
Neste triste anoitecer
Nada no mundo consola
As lágrimas que em meu rosto rola
Seja na terra ou no mar
Triste sempre ficarei
Por somente saber te amar
Eu nunca te esquecerei
Por ti, oh deusa querida
Darei minha própria vida
Põe em prova este amante
Pedindo-me nesse instante
Seus olhos sempre me ofuscam
Em sonhos e pensamento
Teu sorriso de lábios-maçã
Na distância é um tormento
Teu corpo tão distante
É uma eterna ilusão
É livro fechado na estante
É lamento de solidão
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ESPIRAIS DO AMOR
Quando apaixonado
O homem ver o amor
No azul do céu
Na beleza do oceano
No copo da bebida
Na fumaça do cigarro
Nos acordes de um violão
Nas músicas românticas
Ele só não consegue ver
O amor dentro do seu coração
Quando apaixonado
O homem ver o amor
Na beleza do pôr-do-sol
No brilho das estrelas
Na gaivota que voa livremente
No sorriso de uma criança
Na natureza ao seu redor
Nas dunas de brancas areias
O amor não é chuva de verão
O amor é temporal na zona do coração
O amor não pode ser visto
O amor é para ser sentido
O amor quando visto torna-se irreal
Some com o tempo como a fumaça letal
O amor não se tem na mão
O amor tampouco é ilusão
O amor é um tesouro guardado
No cofre do coração
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DEPRESSÃO
Trancado, preso.
Fechado, deprimido.
É como me sinto.
Sem conciliar o sono, levanto-me e tomo um pouco de
café, fumo mais um cigarro, tento ler, tento escrever e não
consigo ver o que tenho à minha frente.
Deito-me outra vez e fico a observar o que me rodeia.
Quatro paredes que antes eram brancas e que hoje estão
amareladas pelo tempo e pela fuligem, uma mesa de
cabeceira com vários livros, de vários autores e vários
temas.
Um cinzeiro cheio de pontas de cigarros mal cheirosas, a
pintura de um pombo sobre uma granada, onde se destaca
em letras pretas a frase:
FALTA DE AMOR GERA VIOLÊNCIA.
Estes são os meus companheiros de quarto.
Companheiros inanimados que representam o que eu sinto
nesse momento: desprezo, nojo, confusão em meu íntimo.
Em outras palavras, estou deprimido.
Como poderia ser diferente?
Os Contos Que Canto
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Com tantos problemas existentes no país, como a fome e a
miséria no nordeste e a maneira promíscua do governo em
relação aos problemas do seu povo que morre a míngua.
Eu, nos meus devaneios e o relógio com sua falsa voz fora
do corpo a rir de mim, me faz entender que o tempo não
pára e que tenho que seguir em frente como os seus
ponteiros, para me livrar da depressão existente em todo o
meu ser.
Os Contos Que Canto
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NATAL
Natal é Natal.
Natal das belas praias,
Como a Redinha não há igual.
Ponta Negra, Areias Pretas,
Praia do Meio e dos Artistas.
Forte dos Reis Magos,
Bela visão para os turistas.
Natal das Rocas, do Canto do Mangue,
Da Ribeira boêmia e do Alecrim.
Natal das antigas praças
Perfumadas por jasmim.
Natal do Farol de Mãe Luiza
Que banha a noite escura,
Com a sua luz brilhante
Em uma incansável procura.
Natal dos veleiros e jangadas,
Natal terra do peixe e do camarão,
Natal da Pedra do Rosário,
Onde a beleza do ocaso acalma o coração.
Natal, Cidade Presépio,
Que a beleza está em tudo.
Natal, o berço de ouro
Do grande mestre Câmara Cascudo.
Natal da Praça André de Albuquerque.
Natal que a todos acolhe
Como um gigante albergue.
Do Brasil, a capital espacial.
Além de Cidade do Sol
Natal é Natal.
Os Contos Que Canto
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SAUDADES DE UM MARINHEIRO
Tarde, chegando à noite.
Sinto no crepúsculo a saudade de um amor
Deixado no Porto Solidão.
A leve brisa salgada
Que provém do ar marinho,
Resseca os meus lábios.
Lábios estes que ontem eram molhados
Com o doce sabor dos teus beijos.
Com o bater da proa do navio
De encontro às águas do oceano,
Erguem-se ondas que desprendem
Chuvas de gotículas de cristais,
Que lembram as minhas lágrimas
Ao te deixar na terra distante.
É noite.
Recolho-me ao meu camarote e tento ler,
Mas o meu pensamento
Está junto ao teu travesseiro
Perfumado pelos teus longos cabelos,
Que ontem tanto me acariciavam.
Ouço vozes pela vigia do meu camarote.
Levanto-me e percebo ao aproximar-me
Que são apenas as ondas
Em contato direto com o costado do navio,
A murmurar o teu nome.
Meia Noite.
Serviço de rotina no passadiço.
Os Contos Que Canto
Gonzaga Filho 26
De repente percebo duas luzes cintilantes.
Penso em teus olhos, mas decepciono-me
Ao ver que são as luzes de um barco de pesca.
Continuo acordado esperando o amanhecer,
O nascer do sol, que depois de você
É a coisa que mais amo.
Como o nascer e o pôr-do-sol eu te amo,
Porque Foi Deus Quem Fez Você.
Viagem terminada, navio atracado.
Mas, a tua imagem continua
A navegar em meus pensamentos.
Cada rosto que passa, te vejo a sorrir.
Cada voz que ouço, te escuto a cantar.
Somente resta-me
Para amenizar a saudade que sinto,
O barzinho, a cerveja gelada,
As músicas que nos embalavam
Em sonhos e devaneios.
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SOLITÁRIO PROFISSIONAL
Com lágrimas nos olhos, sentado em uma mesa de
bar a beber um Gim-Tônica, ouvindo uma velha melodia
de Nelson Gonçalves, aqui estou tentando afogar a
saudade com o álcool, mas infelizmente não consigo, pois
“ela” sabe nadar.
Espero. Espero por algo que não virá.
Daqui a algumas horas o navio partirá
transportando uma carga mista de petróleo, amor, ódio,
frustrações, homens tristes por deixarem a família, outros
felizes por estar indo para o porto de casa.
Cada porto, uma recordação. Às vezes boa, às
vezes má.
Mas são recordações.
Cada porto, uma felicidade, novos amigos, novos
conhecimentos, novas culturas.
Cada porto, um amor passageiro ou duradouro.
Em Vitória, Neuza.
Em Recife, Dalva.
Em Salvador, Rita.
Em São Sebastião, Suely.
Em Rio Grande, Vânia.
Em Belém... Ah! Belém, eu nunca te esquecerei
pela hospitalidade desse povo maravilhoso, pelo cupuaçu,
pelo açaí e o pato no tucupi que é uma verdadeira
maravilha.
Peço uma cerveja “pra lavar”, enquanto o garçom
vai apanhar, levanto-me e vou até a vitrola de ficha, ponho
outra ficha e escolho a música, aperto o código A-5 e ouço
outra vez a voz do Nelson a dizer-me que a “Dolores” vive
em Barcelona.
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Sento-me a observar os fregueses ao meu redor:
uma falsa loura, oxigenada, com um senhor negro
elegantemente vestido, em um beijo apaixonado. Um
bêbado que tenta cantar e não consegue. Sentadas a um
canto do bar estão três “mariposas”, a espera de seus
habituais clientes noturnos.
O Nelson em sua melodia me diz: “O navio apitou,
paguei a despesa e a história se encerra, adeus Barcelona,
adeus...”.
Como se fosse um aviso consulto o relógio e
chamo o garçom, pago a despesa e despeço-me de todos
prometendo voltar outra vez.
Saio à rua com as mãos nos bolsos do blusão, pois
está muito frio e nesse momento cai uma fina garoa que se
mistura as minhas lágrimas.
Ando, sentindo o sabor de liberdade, mas com a
sensação de um vazio enorme dentro de mim.
Passo o portão do terminal cumprimentando os
guardas, me identifico e sigo em frente.
Chego ao navio. Subindo a escada de portaló tenho
vontade de voltar, renunciar a tudo e voltar para perto de
você.
O marinheiro de serviço, o meu companheiro de
infortúnio, cumprimenta-me e me pergunta como estava o
“chão”.
Respondo-lhe que como sempre o “chão” estava
maravilhoso. Dou-lhe um tapa amigável no ombro e
dirijo-me ao meu camarote.
Volto a pensar em você, na solidão em que vivo e
volto a ler pela décima vez a tua carta, revejo a tua
fotografia, falo como se estivéssemos juntos, beijo-te e
outra vez te guardo sob o meu travesseiro.
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Ponho a “roupa de briga” e vou para a popa onde
se encontram os companheiros aguardando ordens para a
manobra de desatracação.
Desatracamos e lentamente o navio afasta-se do
cais e a hélice bate agora com mais vigor, as luzes da
cidade tornam-se um brilho a distância.
Estamos em mar aberto.
Debruço-me na amurada e choro.
Choro por amor, por sentir saudades, choro porque
te amo e somente a lua e as estrelas são testemunhas do
meu pranto solitário, que teima em afogar Minh’ alma.