20
editorial Este primeiro Vector do ano de 2010 traz vários textos de colegas abordando assuntos variados. Neste número teremos a contribuição da Procuradoria Jurídica, através da Procuradora Chefe, Maria Lúcia Gross Siqueira Cunha, além de uma entrevista feita com o Benedicto da Silva, em 1995, por Liana Cardoso Soares e a presença do "Núcleo de Estudos de Leishmaniose Visceral Americana", a semelhança do que já vem ocorrendo com o" Núcleo de Estudos sobre Febre Maculosa". Apresentaremos, também, como resultado do "Encontro Técnico Científico" realizado em Avaré, a conclusão do grupo de Febre Maculosa e LVA, redigida pelo PqC Adriano Pinter. Pretendemos apresentar outros resultados de grupos, um de cada vez, nos próximos exemplares. Fazendo uma avaliação do ano de 2009, constamos que foram submetidos e examinados 19 projetos pela Comissão Científica. A Comissão de Serviços Especiais analisou e deu parecer em sete pedidos de avaliação de produtos e/ou propostas de contratos e convênios. O Grupo de Estudos sobre Pesquisa na SUCEN continuou se reunindo, tendo a sua última proposta se concretizado na contratação do Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e Inovação - GEOPI da UNICAMP. Foi iniciado, em fevereiro, o projeto “Apoio ao Planejamento e Gestão das Atividades de Pesquisa e Inovação na SUCEN” elaborado e orientado pelo GEOPI. A experiência deste grupo na assessoria de instituições que têm afinidades com a SUCEN como, a Fundação Osvaldo Cruz - FIOCRUZ, o Instituto Butantan, o Ministério da Saúde, além de outras com diferentes atuações como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, instituições de grande peso no país e fora dele, traz muitas expectativas de que se possa alavancar a pesquisa na Autarquia. A proposta do GEOPI é de um trabalho com comprometimento e participação de todos os interessados em pesquisa, para que o resultado do trabalho seja incorporado à cultura da Instituição. Como produtos ainda do "Grupo de Estudos sobre Pesquisa na SUCEN" foram realizados quatro “Encontros Técnico-Científicos” e divulgados quatro números do informativo Vector. Por fim, como em números anteriores do Vector, incitamos todos a participar deste nosso meio de comunicação. Virgília Luna Castor de Lima I NFORMATIVO TÉCNICO E CIENTÍFICO SUCEN-SES-SP Superintendente: Affonso Viviani Junior Responsável: Virgília Luna Castor de Lima Grupo Editorial: Cristina Sabbo da Costa, Lúcia de Fátima Henriques Ferreira, Luis Filipe Mucci, Rosa Maria Tubaki, Rubens Antonio da Silva Projeto gráfico editoração e revisão: Liana Cardoso Soares número 5 março/2010

editorial - saude.sp.gov.br

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

eeddiittoorriiaall

Este primeiro Vector do ano de 2010 traz vários textos de colegas abordando assuntos variados. Neste número teremos a contribuição da Procuradoria Jurídica, através da Procuradora Chefe, Maria Lúcia Gross Siqueira Cunha, além de uma entrevista feita com o Benedicto da Silva, em 1995, por Liana Cardoso Soares e a presença do "Núcleo de Estudos de Leishmaniose Visceral Americana", a semelhança do que já vem ocorrendo com o" Núcleo de Estudos sobre Febre Maculosa". Apresentaremos, também, como resultado do "Encontro Técnico Científico" realizado em Avaré, a conclusão do grupo de Febre Maculosa e LVA, redigida pelo PqC Adriano Pinter. Pretendemos apresentar outros resultados de grupos, um de cada vez, nos próximos exemplares.

Fazendo uma avaliação do ano de 2009, constamos que foram submetidos e examinados 19 projetos pela Comissão Científica. A Comissão de Serviços Especiais analisou e deu parecer em sete pedidos de avaliação de produtos e/ou propostas de contratos e convênios. O Grupo de Estudos sobre Pesquisa na SUCEN continuou se reunindo, tendo a sua última proposta se concretizado na contratação do Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e Inovação - GEOPI da UNICAMP. Foi iniciado, em fevereiro, o projeto “Apoio ao Planejamento e Gestão das Atividades de Pesquisa e Inovação na SUCEN” elaborado e orientado pelo GEOPI. A experiência deste grupo na assessoria de instituições que têm afinidades com a SUCEN como, a Fundação Osvaldo Cruz - FIOCRUZ, o Instituto Butantan, o Ministério da Saúde, além de outras com diferentes atuações como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, instituições de grande peso no país e fora dele, traz muitas expectativas de que se possa alavancar a pesquisa na Autarquia. A proposta do GEOPI é de um trabalho com comprometimento e participação de todos os interessados em pesquisa, para que o resultado do trabalho seja incorporado à cultura da Instituição.

Como produtos ainda do "Grupo de Estudos sobre Pesquisa na SUCEN" foram realizados quatro “Encontros Técnico-Científicos” e divulgados quatro números do informativo Vector.

Por fim, como em números anteriores do Vector, incitamos todos a participar deste nosso meio de comunicação.

Virgília Luna Castor de Lima

INFO

RM

ATI

VO

TÉCN

ICO

E

CIE

NTÍ

FICO

S

UC

EN

-SE

S-S

P

Superintendente: Affonso Viviani Junior Responsável: Virgília Luna Castor de Lima Grupo Editorial: Cristina Sabbo da Costa, Lúcia de Fátima Henriques Ferreira, Luis Filipe Mucci, Rosa Maria Tubaki, Rubens Antonio da Silva Projeto gráfico editoração e revisão: Liana Cardoso Soares

número 5 março/2010

2

ppoonnttoo ddee vviissttaa AUTARQUIA:

CONCEITO E FINALIDADE

Maria Lucia Gross Siqueira Cunha

Já estamos acostumados a ouvir críticas de todos os setores da sociedade de que o Estado é muito lento na resolução dos problemas. Claro que vivemos numa época em que as mudanças ocorrem num ritmo extraordinário, o que faz parecer que o Estado fica cada vez mais lento. A introdução de novas tecnologias, da informática, da informação em tempo real, do conhecimento e das inovações acontecendo nas diversas áreas de atuação humana exige que a administração pública melhore suas práticas sob pena de se tornar inadministrável. Quando hoje falamos de Poder Público, Estado e Administração Pública, devemos lembrar que seus conceitos não são estáticos. Sofreram, ao longo da história, grandes transformações, até chegarem às suas formas atuais. Pretendo a seguir fazer um apanhado geral, superficial, sobre as alterações por que passaram o assim chamado “Estado Moderno” desde o seu surgimento e do surgimento das várias instituições que o compõem e que passaram por todo um processo de adaptação, até chegarem ao modelo atual. O primeiro ponto a ser abordado é o da origem do termo Estado Moderno. Esta denominação corresponde à época histórica de seu surgimento: a Idade Moderna, que tem como marco histórico a queda de Constantinopla (conquista da capital bizantina pelo Império Otomano, em1453, no século XV). O sistema

econômico, político e social que prevalecia no continente europeu era o feudal. O poder que, neste período, se caracterizava pela descentralização, ao longo dos anos passou a caminhar para a centralização. A fase mais antiga (início da centralização) é a da Monarquia, a segunda fase é a do Estado Liberal, fruto da Revolução Francesa e da Revolução Industrial, a terceira caracteriza-se pela crise do Estado Liberal, no final do século XIX. Na quarta fase presenciamos o aparecimento do Estado Democrático Liberal, fruto da crise econômica e social de 1929. Onde conclui-se que o Estado Moderno não se constituiu de uma só vez, mas durante alguns séculos. Em sua transformação se torna mais complexo e se burocratiza. Data da época da Revolução Francesa (1792) a teoria da separação de poderes de Montesquieu, com a publicação de “O Espírito das Leis”: o Estado dividido em poder legislativo, poder executivo, poder judiciário e poder moderador. Com a Revolução Francesa a política se torna a coisa de todos (res publica). Imagine-se o Estado atual desenvolvendo todas as atividades necessárias ao bem comum social, realizando de modo centralizado todas as suas atribuições, repartidas apenas entre os poderes sugeridos por Montesquieu. Logo se percebeu a necessidade de desconcentração das atividades, dividindo-as em regiões, ministérios, secretarias, etc. O Estado (lato senso) pode desenvolver suas atividades administrativas por si mesmo, conforme determinado constitucionalmente ou pode prestá-las através de outros sujeitos: por delegação aos particulares, privatizações, concessão de serviço público ou por meio da criação de outros entes privados (fundações públicas, sociedades de economia mista, empresas públicas) ou públicos (autarquias).

3

Nesta hipótese, ou transfere a particulares o exercício de certas atividades que lhe são próprias ou, então, cria outras pessoas para desempenhá-las. Ao criá-las, a algumas conferirá personalidade jurídica de direito público, a outras personalidades de direito privado. Pode, também, transferir atividades através de delegações para os estados membros (através de convênios) ou concessões com entidades privadas (através de contratos). Assim, a atividade administrativa é descentralizada quando é exercida por pessoa distinta do Estado e é centralizada quando exercida pelo próprio Estado, ou seja, pelo conjunto de órgãos que o compõem. Na descentralização, o Estado atua indiretamente através de seres juridicamente distintos dele, ainda que sejam criaturas suas e por isto se constituam em parcelas (personalizadas) da totalidade do aparelho administrativo estatal. No Brasil, um marco na história da Administração (poder executivo) foi o Decreto Lei 200 de 25/2/1967, que dispõe sobre a organização da Administração Pública Federal. LEGISLAÇÃO O artigo 4º do Decreto Lei 200/67 estabelece: A Administração Federal compreende: I – a Administração Direta, que se constitui dos serviços integrados na estrutura administrativa da Presidência da República e dos Ministérios; II – a Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias: a) Autarquias; b) Empresas Públicas; c) Sociedades de Economia Mista. ξ 1º - As entidades compreendidas na Administração Indireta consideram-se vinculadas ao Ministério em cuja área de competência estiver enquadrada sua principal atividade. ξ 2º - Equiparam-se às Empresas Públicas, para efeitos desta lei, as Fundações instituídas em virtude de lei federal e de cujos recursos participe a União quaisquer que sejam suas finalidades. O conceito de autarquia vem estabelecido no artigo 5º. Para fins desta lei, consideram-se:

I – Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.

Etimologia da palavra AUTARQUIA: • AUTOS (PRÓPRIO) • ARQUIA (COMANDO,

DIREÇÃO) A doutrina moderna é concorde no assinalar as características das entidades autárquicas.

• Criação por lei específica (artigo 37 da C.Federal e 111 da C.Estadual)

• Personalidade jurídica de direito público

• Patrimônio próprio • Capacidade de auto-administração

sob controle estadual • Desempenho de atribuições

públicas típicas PRIVILÉGIOS: As autarquias brasileiras nascem com privilégios administrativos da unidade estatal que as instituem, auferindo, também, as vantagens tributárias e as prerrogativas processuais da Fazenda Pública, além dos que lhe forem outorgados por lei especial, como necessários ao bom desempenho das atribuições da instituição. Além desses privilégios, expressos ou implícitos nas leis vigentes reputam-se extensíveis às autarquias quaisquer outros de caráter administrativo que sejam concedidos às entidades estatais, tendo em vista o desempenho da função pública. Entretanto, os privilégios específicos de determinadas entidades ou órgãos estatais centralizados – justiça, polícia, serviços sanitários, etc. – não se estendem às autarquias, como a elas não se transferem prerrogativas políticas e poder normativo das autonomias administrativas (estados membros, municípios e Distrito Federal). Embora as autarquias tenham personalidade de Direito Público, não têm autonomia, possuindo capacidade meramente administrativa, isto é, têm competência apenas para executar os serviços para os quais foram criadas,

4

submetendo-se ao controle do ente central que as criou.

CONTROLE: Sujeição a controle – tutela do ente político que a tenha criado, bem como controle interno e do Tribunal de Contas, além de controle dos Poderes Legislativo e Judicial. Controle autárquico é a vigilância, orientação e correção que a entidade estatal exerce sobre os atos e a conduta dos dirigentes de suas autarquias. É restrito aos atos da administração superior e limitado aos termos da lei que a estabelece, para não suprimir a autonomia administrativa dessas unidades. Sendo as autarquias serviços públicos descentralizados e autônomos, não se acham integrados na estrutura orgânica do Executivo, nem hierarquizadas a qualquer chefia, mas, tão somente vinculadas à administração direta, compondo, separadamente, a administração

indireta do Estado com outras entidades públicas e sociedades de economia mista. Por este motivo, não se sujeitam ao controle hierárquico, mas sim a um controle diverso, finalístico, fiel às suas normas. Entre nós, o controle das autarquias se realiza na tríplice linha: política, administrativa e financeira, mas todos adstritos aos termos da lei que os estabelece. O controle financeiro se opera nos moldes da administração direta, inclusive prestação de contas ao Tribunal de Contas competente, por expressa determinação constitucional. Com o passar do tempo, ao contrário do que poderia acontecer, o próprio Estado, ao invés de descentralizar cada vez mais suas atividades, com o objetivo de tornar mais ágil sua atuação, passou a retirar, paulatinamente, a autonomia das autarquias, tornando sua capacidade de funcionamento semelhante à de um órgão da administração centralizada.

MUNICIPALIZAÇÃO COM BASE CIENTÍFICA:

É POSSÍVEL?

Horacio Manoel Santana Teles

De pronto parece oportuna a colocação de que o atendimento satisfatório das demandas da população no quesito saúde, seja no modelo da municipalização ou de quaisquer outros, depende de ações simples ou complexas, posto que a preservação do estado de saúde coletivo ou individual é um processo dinâmico sujeito a influência de determinantes biológicos, sociais, econômicos e ambientais estabelecidos por inter-relações cujos extremos apresentam enormes gradientes. Apenas como exemplo, todos sabem dos males causados pela falta e pelo excesso de certos nutrientes, como o açúcar. Portanto, o pressuposto é que o funcionamento adequado do sistema de saúde depende do dinamismo e da flexibilidade, condições essenciais para a definição de prioridades que

atendam as diferentes realidades de vida da sociedade.

Após as considerações iniciais, também parece oportuna a lembrança de que os marcos legais da municipalização são a "Constituição de 88" e a "Lei Orgânica da Saúde". A esses dois marcos segue-se um enorme cipoal de leis, decretos, resoluções, normas ou manuais, cujo entendimento exige um saber jurídico que não interessa para a discussão em pauta. Entretanto, é digno de nota que o a municipalização das ações de saúde em São Paulo começou no ano de 1987, fato que pressupõem a discussão do tema entre os profissionais da saúde, em momentos que antecedem a publicação da “Carta Constitucional de 88”, logo alcunhada de cidadã, que estabeleceu a universalidade do sistema de saúde com todos os direitos e sem as garantias que permaneceram objetos para regulamentações posteriores. Assim, passados mais de 20 anos, a concepção do sistema brasileiro de saúde ainda é refém da

5

publicação de regras e orientações em forma de leis, resoluções, etc., que certamente não se resumem na última.

Numa leitura rápida, os principais problemas com a municipalização tomam dimensões importantes porque o acabamento da obra depende de acertos mais dependentes do campo da política de balcão do que dos resultantes de mudanças do perfil demográfico, econômico e epidemiológico da população brasileira ou da necessidade da incorporação de avanços científicos e tecnológicos, como seria o adequado. Aqui vale a pena a colocação de um ponto de vista pessoal: a eliminação da maioria dos entraves do sistema de saúde não exige tantas reformas estruturais ou administrativas quanto as apregoadas e recomendadas, de tempos em tempos, por pensadores de plantão.

Para a continuidade da discussão do assunto parece fundamental que os integrantes do sistema saibam da distinção do significado de notificação de um agravo, que no coletivo exige tratamento estatístico e da morbidade do agravo, considerando que nem sempre a notificação informa a ocorrência de um caso ou pede o desencadeamento de medidas de abrangência coletiva. A esse respeito é importante a compreensão de que o desencadeamento de uma ação coletiva de saúde, no caso das doenças transmissíveis, dentre as quais as endemias, pede a avaliação consistente da possibilidade de repetição do fenômeno para o reconhecimento dos verdadeiros riscos da amplificação da incidência.

Outro ponto de vista pessoal: a possibilidade da análise consistente da situação em qualquer nível, depende da disponibilidade de pessoal capacitado e de um sistema integrado que disponha informações em tempo real, com vários pontos de acesso. A propósito, o sistema nacional de informações da saúde apresenta dificuldades de comunicação e de relacionamento comuns a muitos sistemas estrangeiros, principalmente porque os indivíduos, grupos e demais componentes do sistema, quase nunca apresentam leituras homogêneas das situações epidemiológicas. Uma das principais fragilidades causada pela inconsistência das análises é o descompasso da intensidade das ações independentemente do nível de gravidade do problema. Na prática, quando a

recomendação das intervenções coletivas não possui fundamento real, o resultado é a perda do tempo e de recursos financeiros. Como as responsabilidades dos municípios ainda permanecem mal definidas ou fracionadas, o sucesso das intervenções tornam-se quase sempre um fruto da casualidade. Sobram as cobranças para a realização de atividades baseadas em lógicas e processos não entendíveis, não embasadas cientificamente e, pior, com resultados nunca avaliados.

Essa situação exige, já de longa data, a consideração dos pesquisadores e cientistas.

É clara a necessidade da montagem de uma grade que possibilite a inserção de informações mais precisas, que transcendam o aporte de detalhes que servem apenas de modelo para avaliação da capacidade operacional e do rendimento das equipes. A mudança desse padrão constitui um bom desafio, cujo enfrentamento pede a interlocução dos pesquisadores com os níveis locais de saúde para a construção de propostas legitimadas pela participação ampla de todos os profissionais do setor e a disponibilidade para a utilização de técnicas ou procedimentos que não se finalizam em patentes ou produtos.

Nessa linha de raciocínio, o que não faltam são enfrentamentos. Não seria um outro bom desafio a realização de estudos que indiquem parte das condições ambientais que promovem os acasalamentos das espécies de vetores, por exemplo? A execução desse tipo de estudo depende quase exclusivamente da observação da natureza e, se efetuada com cuidado, possivelmente reduziria o abstracionismo, como a obrigatoriedade de registros de ocorrências em “outros criadouros”, entre outros, que servem apenas para o abastecimento dos bancos de dados com elementos insondáveis.

São muitas as possibilidades de obtenção de conhecimentos a partir de procedimentos simples e que não dependem da alocação ou o dispêndio de grandes volumes financeiros. Aqui não se trata de nenhum desprezo pelo requinte, mas sim da necessidade da realização de pesquisas de relativa simplicidade, que exige anotações sobre certos parâmetros paisagísticos e climáticos como, por exemplo, aqueles que gerem indicações que favoreçam a concepção de atividades mais adequadas ao controle dos vetores.

6

O interesse por projetos com foco na municipalização pede o idealismo profissional para a resolução dos problemas do cidadão e da sociedade como um todo. Claro que os resultados atrairão bem menos os holofotes e os interesses de mídia. Em compensação, o interesse pelo assunto, se articulado em propostas simples e factíveis, ao menos será favorável à descoberta de um maior número de determinantes presentes nas diferentes circunstâncias epidemiológicas e à proposição de indicadores, no mínimo, melhor mensuráveis.

Embora a situação aborreça alguns, fato é que a negligência dos pesquisadores com a municipalização resulta na continuidade dos municípios cheios de obrigações, na maioria das vezes

incompatíveis com as próprias necessidades, amarrados em atividades discriminadas por critérios incompreensíveis, desprovidos de base científica, responsabilizados pela falta de capacidade de atendimento de demandas que são inatingíveis, providos apenas de informações que também são comuns aos jornais televisivos.

No que diz respeito ao funcionamento das medidas destinadas ao controle dos vetores e das endemias no contexto da municipalização, este também depende de uma mudança de postura dos pesquisadores, só assim a expectativa de avanços sustentados em bases científicas se tornará possível.

painel

EXPERIÊNCIAS DE PESQUISA COM DENGUE

Francisco Chiaravalloti Neto

Antes da ocorrência de transmissão do

vírus do dengue, a preocupação da SUCEN era evitar índices de Breteau acima de cinco recipientes com formas imaturas de Ae. aegypti por 100 imóveis, valores que eram ultrapassados nos verões. Isto desencadeou a realização de nebulizações com equipamentos durante muitas semanas por ano por vários anos em diversos municípios da região de São José do Rio Preto. Mas a impressão que se tinha era a de que a sua eficiência era baixa e não alterava o nível de infestação. Neste momento já se sabia que a maioria dos criadouros encontravam-se no peridomicílio dos imóveis, apesar da importância dos vasos com água, geralmente presentes no intradomicílio. O que estaria ocorrendo? Onde estariam os mosquitos adultos? Projeto coordenado pela Dra. Eudina Barata1 e desenvolvido em São José do Rio Preto mostrou que quase 90% das fêmeas adultas encontravam-se no intradomicílio. Elas eram pouco atingidas pela nebulização, uma vez que estas eram realizadas à noite e que parte importante da população mantinha as portas e

as janelas fechadas: argumento importante para a não realização das nebulizações com equipamentos pesados, mesmo posteriormente com a ocorrência de casos de dengue.

Com o início e a disseminação das epidemias de dengue, as perguntas que se colocavam e que ainda se colocam são: (1) as sobre a validade do índice de Breteau como indicador de risco de transmissão do vírus; (2) a identificação, no espaço e no tempo, das áreas de maior risco; a identificação de fatores de risco; (3) a avaliação da eficiência e efetividade das medidas de controle, entre uma série de outras questões. Um primeiro estudo, neste sentido, foi o desenvolvido pelo Dr. Antonio Ismael Paulino da Costa2, que mostrou para o município de São José do Rio Preto em 1995 uma relação entre os piores níveis socioeconômicos e as maiores incidências de dengue. De fato, esta era a impressão inicial, já que a epidemia originou-se no lado mais pobre da cidade, sendo o resultado plausível e podendo ser utilizado para a estratificação de medidas de controle

7

em locais com condições semelhantes à de São José do Rio Preto.

Resolvemos testar a hipótese, nos anos seguintes a 1995, da relação entre níveis socioeconômicos e incidência de dengue em São José do Rio Preto . Os resultados não foram muito animadores, com a introdução do sorotipo 2 do vírus do dengue, além do sorotipo 1 que continuava circulando, essa relação existia de maneira fraca ou mesmo inexistia3-5. Recentemente, apareceu a oportunidade de se testar novamente esta hipótese em função da introdução do sorotipo 3 do vírus em São José do Rio Preto e da ocorrência de importantes epidemias de dengue em 2006 e 2007. Em um projeto conjunto com o Laboratório de Virologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto foram realizados testes tipo PCR em uma amostra bastante razoável de pacientes com suspeita de dengue. Desta maneira, foi possível caracterizar a epidemia de 2006 como majoritariamente causada pelo sorotipo 3. Estudos preliminares mostraram que, novamente para este ano, houve uma associação entre menores níveis socioeconômicos e maiores incidências de dengue.

Quando da introdução de um novo sorotipo, pode-se formular a hipótese de que as incidências sejam maiores nas áreas de menores níveis socioeconômicos, mas com o caminhar da transmissão e o aumento do grau de imunidade da população, conseqüentemente todas as áreas de um município passam a ser afetadas igualmente. Estamos utilizando os dados de vigilância epidemiológica e de biologia molecular, obtidos para os anos de 2006 a 2008, para testar esta hipótese.

Em relação à análise da ocorrência da doença no espaço e no tempo, estudos mostraram: (1) que os municípios maiores têm importância na disseminação e manutenção da transmissão do vírus da dengue para os demais municípios da região de São José do Rio Preto3; (2) que os poucos casos de dengue com ocorrência no período desfavorável ao mosquito podem garantir a disseminação da doença no verão3,6; (3) que a doença tem, na região de São José do Rio Preto, associação com temperatura e principalmente com as precipitações pluviométricas7 e (4) que, apesar

da grande variabilidade encontrada, a identificação de áreas de maior risco dentro de um município é possível.8

A maioria dos estudos citados utilizou dados da vigilância epidemiológica que, reconhecidamente, apresentam muitos problemas e limitam, muitas vezes, as suas conclusões. O uso de técnicas de biologia molecular para confirmação de parte dos casos suspeitos e dos sorotipos circulantes, de técnicas de imunologia para obtenção das soroprevalências por sorotipo e de técnicas de geoprocessamento e análise espacial podem mudar o quadro ao permitir que hipóteses sejam mais adequadamente testadas. Um exemplo é o estudo realizado utilizando-se biologia molecular, geoprocessamento e análise espacial, que forneceu informações importantes sobre a distribuição espacial e temporal da doença e apontou para a falta de relação, em algumas situações, da transmissão com o local de residência.9

Referências 1. Barata EAMF, Costa AIP, Chiaravalloti-Neto F, Glasser CM, Barata JMS, Natal D. População de Aedes aegypti (l.) em área endêmica de dengue, Sudeste do Brasil. Revista de Saúde Pública 2001; 35: 237-242. 2. Costa AIP, Natal D. Distribuição espacial da dengue e determinantes socioeconômicos em localidade urbana no sudeste do Brasil. Revista de Saúde Pública 1998; 32: 232-6. 3. Chiaravalloti-Neto F. Epidemiologia da dengue nas regiões de São José do Rio Preto e Araçatuba, São Paulo, 1990 a 1996. São Paulo. 1999. [Tese de Doutorado - Faculdade de Saúde Pública da USP]. 4. Mondini A, Chiaravalloti-Neto F. Variáveis socioeconômicas e a transmissão de dengue. Revista de Saúde Pública 2007; 41: 923-30. 5. Mondini A, Chiaravalloti-Neto F. Spatial correlation of incidence of dengue with socioeconomic, demographic and environmental variables in a Brazilian city. Science of the Total Environmental 2008; 393: 241-248. 6. Mondini A, Chiaravalloti-Neto F, Sanches MG, Lopes JCC. Análise espacial da transmissão de dengue em cidade de porte médio do interior paulista. Revista de Saúde Pública 2005; 39: 444-451. 7. Dibo MR, Chierotti AP, Ferrari MS, Mendonça AL, Chiaravalloti-Neto F. Study of the relationship between Aedes (Stegomya) aegypti egg and adult densities, dengue fever and climate in Mirassol, state of São Paulo, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 2008: 103: 554-560. 8. Galli B, Chiaravalloti-Neto F. Modelo de risco tempo-espacial para identificação de áreas de risco para ocorrência de dengue. Revista de Saúde Pública 2008; 42: 656-663. 9. Mondini A, Bronzoni RVM, NUNES SH, Chiaravalloti-Neto F, Massad E, Alonso WJ, Lazzaro EM, Ferraz AA, Zanotto PMA, Nogueira ML. Spatio-temporal tracking and phylodynamics of an urban dengue 3 outbreak in São Paulo, Brazil. Plos Neglected Tropical Diseases 2009; 3: e448.

NÚCLEO DE ESTUDOS DE LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA (LVA)

Núcleo de LVA

Oficializado em junho de 2009 (portaria Sucen-66,de 4/6/2009), o Núcleo de Estudos de Leishmaniose Visceral Americana (LVA) da Superintendência de Controle de Endemias tem se reunido sistematicamente, assegurando o cumprimento de suas atribuições como referência técnica no âmbito da temática. Dentre as atividades do Núcleo destacam-se a produção técnico-científica e a implementação de ajustes relativos ao Programa de Vigilância e Controle de Leishmaniose Visceral Americana (PVCLVA). Tanto uma quanto a outra foram encaradas como desafios, não só pela complexidade técnica, mas também pela necessidade de mudanças em seus paradigmas. O Núcleo propôs para o V Encontro Técnico Científico realizado na SUCEN o tema LVA, com um ciclo de debates altamente produtivo, ocasião em que participaram especialistas do Ministério da Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde-SP e do município de Campo Grande-MS.

Em decorrência das atividades do Núcleo, foram produzidos trabalhos sobre a colonização e ecologia do vetor, indicadores entomológicos e experiências municipais no controle da doença, sendo os mesmos apresentados nos eventos: 25ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Doenças de Chagas/13ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Leishmaniose realizada em Uberaba- MG e XXI Congresso Brasileiro de Parasitologia/II Encontro de Parasitologia do Mercosul, ocorrido em Foz do Iguaçu-PR. Além disso, foram implementadas mudanças no PVCLVA em relação às atividades de Levantamento Entomológico e Unidade Fixa, permitindo maior sensibilidade para detectar e monitorar o vetor. Também foram analisados trabalhos de educação em saúde, uso de coleira em cão impregnada com inseticida e controle químico. Com relação à educação em saúde há escassez

8

9

de estudos, principalmente no estado de São Paulo, indicando a necessidade de mais investigação nesta área.

Representantes do Núcleo também participam do Comitê de Leishmaniose Visceral Americana da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (formado por membros da Coordenadoria de Controle de Doenças, Centro de Vigilância Epidemiológica, Instituto Adolfo Lutz, Instituto Pasteur e Sucen), que acompanha e assessora as ações relacionadas à prevenção, vigilância e controle da LVA no Estado de São Paulo. Segundo dados divulgados pela Divisão de Zoonoses/CVE (até 10-01-2010), desde janeiro de 1999 até dezembro de 2009, o estado apresentou 57 municípios com registros de transmissão humana de LVA, totalizando 1559 casos autóctones. Destes, em 55 municípios existem também registros de transmissão canina. Em 22 outros municípios foi verificada somente a ocorrência de transmissão canina. Atualmente disso, o estado conta com 318 municípios classificados como Silenciosos Não Receptivos Vulneráveis e 210 como Silenciosos não Receptivos Não Vulneráveis, além dos que se encontram sob investigação, situados na Região Metropolitana de São Paulo.

Quanto a presença do vetor Lutzomyia longipalpis, a mesma foi assinalada em 106 municípios (Figura 1), sendo que em 11 desses, o encontro do vetor ocorreu em 2009.

Figura1: Distribuição de municípios com detecção de Lutzomyia longipalpis no Estado de São Paulo. Janeiro de 1970 a dezembro de 2009. Fonte: SUCEN.

Todas as atividades entomológicas do PVCLVA estão sendo reavaliadas quanto à

efetividade na vigilância e controle do vetor, uma vez que a transmissão da doença encontra-se em franca expansão no estado. Neste aspecto o Núcleo de Estudos busca novas tecnologias para a melhoria das práticas atuais, que possam ser incorporadas ao Programa.

FEBRE MACULOSA BRASILEIRA: SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

Núcleo de Febre Maculosa

O Núcleo de Estudos de Doenças transmitidas por Carrapatos da SUCEN informa que

no ano de 2009 foram notificados 28 casos de FMB no Estado (incluindo 1 caso importado de Minas Gerais). A região de Campinas como esperado foi a mais acometida pela doença, apresentou 14 casos distribuídos por 10 municípios, seguido pela região da Grande São Paulo com 7 casos, sendo que destes, 5 ocorreram no município de Santo André. A seguir quadro demonstrativo dos casos do ano passado.

10

Situação Epidemiológica da Febre Maculosa Brasileira Estado de São Paulo - 2009

Regiões

Administrativas Municípios Número de

Casos Grande São Paulo (SR.01)

Santo André São Bernardo dos

Campos Mogi das Cruzes

5 1 1

Total 3 7 São Vicente (SR02) Juquiá 1 Taubaté (SR03) Ubatuba 1 Sorocaba (SR04) São Roque

Tatuí Itu

1 1 1

Total 3 3 Campinas (SR05) Amparo

Campinas Cosmópolis Holambra

Monte Alegre do Sul Santa Bárbara do Oeste

Valinhos Vinhedo

Piracicaba Mogi Guaçu

1 3 1 1 1 1 1 2 1 2

Total 10 14 Marilia (SR11) Candido Mota 1 Total 17 27

A letalidade continua bastante elevada, 35,7% (fonte: CVE). Ocorreu transmissão em

4 novos municípios: Mogi Guaçu, Juquia, Tatuí, São Roque. O Núcleo de Estudos de Doenças transmitidas por Carrapatos da SUCEN está em fase

de término da revisão do Programa de Vigilância e Controle de Carrapatos. Promoveu neste mês de março uma reunião com o Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado (CVE) para inclusão das orientações da Vigilância Epidemiológica e deverá ainda contar com a inclusão de orientações dos Laboratórios de Referência para a doença no Estado. Informações estas que delinearão o formato final do Programa, incluindo um novo sistema de informações.

O Núcleo pretende apresentar o novo formato do Manual do Programa no ano de 2010, e prevê capacitações para profissionais das áreas de zoonoses e vigilância epidemiológica de todo o Estado.

AVALIAÇÃO DAS DISCUSSÕES SOBRE LVA E FMB OCORRIDAS NA OFICINA CIENTÍFICA DA SUCEN

Adriano Pinter

Realizado entre os dias 16 e 17 de dezembro de 2009, o encontro científico realizado pela SUCEN, no município de Avaré – SP, teve como objetivo criar uma oficina de trabalho na qual, somando-se a experiência dos participantes, avaliou-se o atual estado de conhecimento sobre as doenças transmitidas por vetores no estado de São Paulo.

11

Neste texto serão abordadas resumidamente as atividades realizadas no grupo que trabalhou as enfermidades de Leishimaniose Visceral Americana (LVA) e Febre Maculosa Brasileira (FMB). Como recomendado pela organização do evento, três questionários contendo questões sobre diversos aspectos da biologia, ecologia e tópicos ambientais, relacionados aos vetores destas doenças, foram aplicados ao grupo. Os integrantes classificaram de forma quantitativa a importância de cada um dos fatores, assim como também classificaram de forma qualitativa cada um dos ítens quanto a existência ou ausência de pesquisas científicas que teriam gerado conhecimento para o melhor entendimento da importância do fator avaliado. Após o preenchimento uma tabela, foi aplicado um filtro sobre a mesma, que salientou os ítens que foram avaliados como muito importantes e que também foram classificados como pouco abordados em artigos científicos. A combinação destes fatores gerados pelo filtro produziu uma série de recomendações de prioridade em pesquisa para o melhor entendimento da dinâmica e da epidemiologia de cada uma das doenças abordadas no Estado de São Paulo . Para a LVA foram relacionados as seguintes recomendações em ordem de importância: 1. Realização de estudos de bioecologia de flebotomineos para a construção de indicadores de densidade populacional e correlação com o risco de transmissão canina e humana. 2. Elaboração de estudos sobre a eficácia/efetividade das técnicas existentes de controle de alados e estudos de técnicas de controle de fases imaturas. 3. Aprimoramento da metodologia de vigilância de alados e desenvolvimento de metodologia de vigilância para formas imaturas. 4. Expansão de estudos sobre a avaliaçao de técnicas visando detectar a infectividade do vetor e hábito alimentar, com ferramentas como a biologia molecular e imunodiagnóstico. 5. Ampliação de estudos sobre a área de vida e raio de vôo de flebotomíneos e correlacão com a ocorrência de casos humanos e caninos. 6. Execução de estudos da correlação da agregação do vetor com a ocorrência de casos humanos e caninos. 7. Efetuação de estudos da mobilidade do reservatório canino relacionado a dispersão da doença. 8. Aperfeiçoamento dos estudos de controle químico em cães, como a ampliação de estudo do uso de coleiras impregnadas e avaliação da eficácia da eutanásia ou tratamento de cães infectados. 9. Realização de estudos de aspectos sócio-econômicos e culturais relacionados ao controle da população animal no controle e vigilância da LVA. 10. Efetivação de estudos de bioecologia e capacidade vetorial em áreas urbanas sob diferentes condições climaticas. 11. Realização de estudos dos aspectos do solo (ph, temperatura, tipo e composição) na influência do desenvolvimento das formas imaturas.

12

Para a FMB foram relacionados as seguintes recomendações em ordem de importância: 1. Realização de estudos para correlacionar a densidade do vetor no ambiente ao risco de transmissão da doença para o homem, assim como realização de estudos para estabelecer indicadores de densidade. 2. Efetivação de estudos sobre o controle ambiental, principalmente o uso de acaricidas e, também, de educação e participação da população no controle do vetor. 3. Execução de estudos sobre descrição de modelos de soroepidemiologia para vigilância da presença da bactéria Rickettsia rickettsii em população de carrapatos, utilizando o hospedeiro vertebrado como sentinela. 4. Ampliação de estudos de competência e capacidade vetorial, assim como de controle e vigilância para cada estágio evolutivo das diferentes espécies de carrapatos. 5. Concretização de estudos sobre a capacidade de hospedeiros vertebrados carrearem e dispersarem carrapatos infectados e não infectados. 6. Expansão de estudos sobre a bioecologia das diferentes espécies de carrapato. 7. Cumprimento de estudos ecológicos correacionado a biodiversidade de vertebrados e invertebrados com a fauna acarologica no Estado de São Paulo. 8. Produção de estudos sobre a relação parasita hospedeiro Rickettsia. 9. Instituição de estudos sobre a influência de fatores climáticos sobre a densidade, competência e capacidade vetorial das diferentes espécies de carrapatos e estágios de vida. As recomendações não devem ser entendidas como restritivas à pesquisa e sim como uma figura do panorama atual dos pontos onde há necessidade de expansão do conhecimento científico, o que pode nortear o desenvolvimento de pesquisa na SUCEN.

publicações científicas De 7/2009 a 2/2010

ARTIGOS Lima MA, Romano-Lieber NS, Duarte AMRC. Circulation of antibodies against yellow fever virus in simian population in the area of Porto Primavera Hydroelectric plant, São Paulo, Brazil. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo, 2010; 52(1): 11-15. Santos LC, Curotto SM, Moraes W, Cubas ZS, Costa-Nascimento MJ, Barros-Filho IR, Biondo AW, Kirchgatter K. Detection of Plasmodium sp. in capybara. Vet. Parasitol., 2009; 163(1-2):148-51. Wanderley DMV, Silva RA, Barbosa G, Rodrigues VLCC, Carvalho ME. Doença de Chagas no Estado de São Paulo: dos primórdios do controle vetorial à vigilância sustentável. Cad. Saúde Coletiva, 2009; 17:857-872.

13

Mo Yang H, Macoris MLG, Galvani KC, Andrighetti MTM, Wanderley DMV. Assessing the effects of temperature control on dengue transmission. Epidemiology and Infection, 2009; 1:1-9. Mo Yang H, Macoris MLG, Galvani KC, Andrighetti MTM, Wanderley DMV. Assessing the effects of temperature on the population of Aedes aegypti, vector of dengue. Epidemiology and Infection, 2009; 1:1-15. Melo-Santos MA, Varjal-Melo JJ, Araújo AP, Gomes TC, Paiva MH, Regis LN, Furtado AF, Magalhaes T, Macoris ML, Andrighetti MT, Ayres CF. Resistance to the organophosphate temephos: Mechanisms, evolution and reversion in an Aedes aegypti laboratory strain from Brazil. Acta Trop., 2010; 113:180-189. Lima WP, Chiaravalloti-Neto F, Macoris MLG, Zuccari DAPC, Dibo MR. Estabelecimento de metodologia para alimentação de Aedes aegypti (Díptera-culicidae) em camundongos Swiss e avaliação da toxidade e do efeito residual do óleo essencial de Tagetes minuta L (Asteraceae) em populações de Aedes aegypti. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., 2009; 42(6):638-641. Mondini A, Bronzoni RVM, Nunes SHP, Chiaravalloti-Neto F, Massad E, Alonso WJ, Lázzaro E, Ferraz AA, Zanotto PMA, Lacerda-Nogueira ML. Spatio-temporal tracking and phylodynamics of an urban dengue 3 outbreak in São Paulo, Brazil. PLoS – Neglected Tropical Diseases, 2009; 3(5):448. Ferreira ITRN, Veras MASM, Silva RA. Participação da população no controle de dengue: uma análise da sensibilidade dos planos de saúde de municípios do Estado de São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública, 2009; 25:2683-2694.

DISSERTAÇÕES E TESES Iole Arumi Sei. Dípteros da Subfamília Phlebotominae: Padronização da Técnica Imunoenzimática (ELISA) para detecção de fontes alimentares sanguíneas. São Paulo, 2009. [Dissertação de Mestrado, Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo]. Cristina Sabbo da Costa. Promovendo Saúde no Horto Florestal. São Paulo, 2009. [Dissertação de Mestrado, Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo]. Maurício V. Botti. Controle de Aedes aegypti: Período residula de temefós na água em recipientes de plástico, vidro e borracha, ação larvicida residual em recipientes de borracha e segurança das condições de trabalho na nebulização de malathion. São Paulo, 2010. [Tese de Doutorado, Universidade Estadual de São Paulo – Campus Jaboticabal].

LIVRO Ohlweiler FPO, Takahashi FY, Guimarães MCA, Gomes SR, Kawano T. Manual de Gastrópodes límnicos e terrestres do Estado de São Paulo Associados às Helmintoses. Redes Editora, Porto Alegre, 2010; 230p. ISBN: 978-85-61638-21-4.

14

fatos e fotos Esta entrevista foi realizada em 24 de outubro de 1995. Na época, apresentei ao então Superintendente da Superintendência de Controle de Endemias - SUCEN, Guilherme Antonio de Souza, um projeto denominado "Instantâneos da Memória: Um Estudo da Documentação Iconográfica da SUCEN - SES - SP". Um dos objetivos da pesquisa era coletar, reunir e ordenar as fotografias, os cartazes e as plantas dos lugares, relativos ao trabalho de combate às endemias no Estado de São Paulo, que vêm sendo produzidos desde o Instituto de Profilaxia do Impaludismo (IPI-SP/1933) até os tempos da SUCEN. A contextualização dos documentos iconográficos seria feita segundo dois procedimentos: a) formação de seqüências cronológicas e/ou culturais e b) coleta de relatos orais. Benedicto da Silva, o "Benê", foi um dos primeiros a ser entrevistado devido ao tempo em que participou e participa ativamente do trabalho nesta instituição, contribuindo para sua história.

Liana Cardoso Soares

..."a lembrança não se constrói sem a memória coletiva, mas, ao mesmo tempo, a recordação pessoal é uma forma de testemunho

que impõe limites à tirania ou à ditadura das imagens coletivas" Franco Cardini (1933)

Benê, quando você começou a trabalhar na SUCEN?

Entrei no serviço da hoje SUCEN em 8 de setembro de 1958, no “Serviço de Erradicação da Malária e Profilaxia da Doença de Chagas” do "Departamento de Saúde da Secretaria da Saúde Pública e da Assistência Social", para exercer a função de homem número 3 da equipe de reconhecimento geográfico.

O homem nº 3 tinha a função de numerar as casas que eram levantadas para fazer o trabalho de campo. O homem nº 3 compunha uma equipe de três homens. O primeiro fazia os croquis, que eram os desenhos das localidades; o segundo fazia a medição das casas para posterior “borrifação” ou “rociado” e o terceiro, o homem nº 3, era o que colocava o número na casa, colocava o “numerozinho”.

Após o trabalho de reconhecimento geográfico, começamos a aprender a fazer o rociado propriamente dito, que consistia em aplicar inseticida nas casas com o intuito de erradicar a malária. A aplicação de inseticida para erradicação da malária, de maneira mais ampla, teve início em 1960. Porém, durante os anos de 1958 e 59, a utilização deste serviço já acontecia em Piracicaba. Este foi o local escolhido para o nosso aprendizado, foi onde realmente aprendemos a aplicar o inseticida (DDT), a trabalhar com as bombas nas costas e a passar pelos chamados paredões, onde o treinamento do “rociado” era feito. Há várias fotos, na SUCEN, que retratam os momentos da aplicação de inseticida nos famosos paredões, são fotos emblemáticas dos treinamentos realizados pelo “Serviço de Erradicação da Malária e Profilaxia da Doença de Chagas”. Sim, há diversas fotos.

15

O "Serviço de Erradicação da Malária e Profilaxia da Doença de Chagas” era ligado ao "Departamento de Saúde" da "Secretaria da Saúde Pública e da Assistência Social do Estado de São Paulo". Com esta denominação trabalhamos até 1960 quando, então, surgiu o "Fundo de Erradicação de Malária e Profilaxia da Doença de Chagas - FMC", que existiu até 1970, vinculado à "Campanha de Erradicação da Malária e do Combate à Doença de Chagas" no Estado de São Paulo. O "Fundo" pretendia mudar o regime de trabalho do pessoal contratado em 1958 e 59, queriam que fôssemos regidos pela "Consolidação das Leis do Trabalho - CLT". Todavia, como havíamos sido admitidos no "Regime de Pessoal para Obras - P.O." isso não foi possível. A própria administração centralizada chegou à conclusão de que quem fazia parte do "Regime de Pessoal para Obras" não poderia mudar para o regime da CLT. Decidiram, então, nos transformar em "Extras Numerários Mensalistas". Não tínhamos a estabilidade de um concursado, mas, de qualquer forma, estávamos submetidos a um regime de trabalho mais estável. Os "P.O." eram contratados para uma determinada atividade, terminada a atividade eram dispensados. O “Extra Numerário” não, esses, tinham uma maior continuidade de tempo no serviço. Com que idade você entrou no “Serviço de Erradicação da Malária e Profilaxia da Doença de Chagas”? Dezoito anos Qual era a sua formação? Era primária, mas eu fui umas das pessoas que teve a oportunidade de estudar na região de Presidente Prudente. O dirigente era o engenheiro George Kenge Ishihata. Ele estimulava o pessoal a estudar, era uma política dele, apesar da campanha ter um regime militar bem acentuado. As pessoas tinham que ser muito disciplinadas em relação a horário, uniforme, produção e tinham, principalmente, que aprender a respeitar a hierarquia. A hierarquia era muito marcada e marcante.

16

Você se lembra de como o "Serviço de Erradicação da Malária e Profilaxia da Doença de Chagas” ou o "Fundo de Erradicação de Malária e Profilaxia da Doença de Chagas" eram compostos hierarquicamente? Na época do "Fundo", havia uma administração central e administrações regionais que eram divididas por "zonas" (zona I - São Vicente, zona II - Campinas, zona III - Sorocaba, zona IV - Ribeirão Preto, zona V - São José do Rio Preto, zona VI - Marília, zona VII - Presidente Prudente, zona VIII - Araçatuba). Na zona em que eu trabalhava havia um engenheiro que cuidava da operação de campo e um médico chefe que era quem dirigia a zona. No nível central o presidente do FMC era o Dr. Victor Homem de Mello que era a maior autoridade, era quem presidia o conselho. Em seguida vinham os diretores de nível central: o diretor administrativo e o diretor chefe de epidemiologia que era o Dr. Urias Pinto Alves. O Dr. Urias Pinto Alves já faleceu? Não sei, não tenho notícias dele, acho que não. O Eng. José Benedito Meireles França ainda é vivo, ele era o chefe da operação, o chefe do “rociado” no Estado. A campanha se estendeu até 1970, apesar da previsão de sua duração ser de 4 anos, até que, em 1970, o "Fundo" foi transformado em autarquia, a "SUSAM - Superintendência de Saneamento Ambiental", pelo Decreto 232, de 17 de abril de 1970. Na SUSAM havia dois departamentos: o "Departamento de Controle de Vetores" e o "Departamento de Poluição do Ar". O "Departamento de Controle de Vetores" é o que originou a SUCEN, o de "Poluição do Ar" foi para a CETESB, isto em 1975. Foi em 1975 que a SUSAM passou a ser a SUCEN. Entre os dois departamentos a coqueluche na época era o saneamento ambiental. A SUSAM foi criada com este nome "Superintendência de Saneamento Ambiental" porque em termos de convencimento político era mais fácil, com este nome, saneamento ambiental, a criação de uma autarquia. Isto fez com que o governador da época a aprovasse. A poluição do ar era o motivo do momento. Tinha mais importância politicamente do que o trabalho que vínhamos desenvolvendo todos esses anos. O trabalho com o controle das endemias? Sim, com as endemias. Em 1975, a poluição do ar foi para a CETESB e o controle de vetores ficou com a SUCEN, até os dias de hoje. Qual o porquê da criação de uma autarquia? O regime autárquico é mais autônomo. Como ente jurídico a autarquia é dotada de personalidade jurídica e patrimônio próprio e goza dos privilégios, regalias e isenções referentes à Fazenda Estadual. O Fundo era vinculado diretamente à administração centralizada. Era dependente das decisões desta. As autarquias foram criadas para ter maior agilidade e autonomia. E elas conseguiram isto? Conseguiram. Conseguiram no passado ter bastante autonomia. Hoje, as autarquias são, em alguns aspectos, mais dependentes da administração centralizada, ou seja, no caso da SUCEN, da "Secretaria de Estado da Saúde". Perderam muito de sua autonomia de funcionamento e, ainda assim, esta autarquia, a SUCEN, consegue ser ágil no seu trabalho. Principalmente nas atividades fins – no controle de vetores – apesar das dificuldades financeiras, em alguns momentos.

17

Na época do aparecimento das autarquias foram criadas, também, fundações estatais? Poucas. Em 1970, na época do governador Abreu Sodré, havia um entendimento de que as autarquias seriam um mecanismo que possibilitariam dinamizar as ações do Estado. Sua criação fazia parte, no período, da uma chamada reforma administrativa. Com a reforma administrativa aquilo que se pudesse "autarquizar", "autarquizava-se". Naquela época, foram criadas a maior parte das autarquias, a mais antiga é a "DR - Departamento de Estradas de Rodagem", depois foram criadas umas 10 ou 12 autarquias, em 1970 e 71 que, com o decorrer do tempo, foram perdendo agilidade e autonomia, mas, mesmo assim, conservam uma parte desta autonomia, porque a legislação que as instituiu ainda garante isto. Hoje em dia, as fundações são mais ágeis que as autarquias? Sim. As fundações são autônomas, sem vinculação. Elas gerenciam autonomamente os seus recursos. As autarquias não, elas são vinculadas a administração centralizada, por isso as fundações são mais independentes comparativamente. Voltemos a sua trajetória profissional na SUCEN. Entrei como homem nº 3, que era o numerador das casas da equipe de reconhecimento geográfico. Fui promovido, posteriormente, para o nº 2, que era quem media as casas e preenchia o formulário (censo). Seria um nível acima. O nº 1 era aquele que fazia o croqui, desenhava os mapas (o croqui tinha em média 50 casas) e, também, tomava conta do n º 2 e do 3. Iniciei o trabalho em 1958 na zona II - Campinas e em 1959 fui transferido para a zona VII - Presidente Prudente. Nós fizemos o reconhecimento geográfico de todas as ilhas do rio Paraná. Isto era muitíssimo importante porque nós conhecíamos cada casa de cada município. E, no final, onde estava cada casa no estado de São Paulo. Se nós quiséssemos saber onde ficava a casa do município tal, nós sabíamos a sua localização pelo nome do município e pelo nome do bairro. Depois disso eu fui chefe, também da equipe do rociado. Após Presidente Prudente nós “rociamos” as casas de outros municípios, Rosana entre eles. Posteriormente, em 1963, por ato do Senhor Governador fui enquadrado na função de “Escriturário Assistente de Administração” setor de Presidente Venceslau – zona VII – Presidente Prudente.. Paralelamente você estudava? Ainda não. Quando vim para o setor de Presidente Venceslau, pertencente à zona II, é que comecei a estudar. Eu só tinha o curso primário, naquele instante é que iniciei o curso ginasial. Trabalhava na sede do setor e estudava à noite. Eu me formei em professor primário em Presidente Venceslau. Depois disso fui transferido, 1968, para trabalhar em Presidente Prudente, onde era a sede da regional, zona VII, naquela ocasião. Trabalhava como escriturário e, também, substituía, quando preciso, os encarregados de setor e os encarregados da área administrativa. Trabalhei em Presidente Prudente até 1971, momento em que foi instituída a autarquia. Aí, o Dr. George me designou chefe da seção administrativa da SUSAN, zona VII . Trabalhei como chefe de seção de administração até 1973, em Presidente Prudente, quando fui convidado pelo Superintendente da época o Engenheiro Nelson Nefussi para ser Diretor de Serviço de Pessoal e Atividades Complementares, aqui na capital, na sede da autarquia. Fui, então, designado, em junho de 1973, onde permaneci até 1983. Quais eram as responsabilidades do cargo? Estava sob minha responsabilidade a "Seção de Pessoal", a "Seção de Comunicação", a "Seção de Transportes e a "Seção de Compras".

18

Fiquei administrando o serviço até 1983, quando o Dr. Guilherme Antonio de Souza foi nomeado Superintendente e me indicou para ser o diretor da "Divisão de Administração", exercida por mim até hoje. A "Divisão de Administração" tem na sua estrutura o "Serviço de Pessoal de Atividade Complementar", o "Serviço de Finanças” e a "Seção de Contabilidade". Quando deixei de ser o “Diretor do Serviço de Pessoal" quem assumiu foi o Joel Guimarães. O "Serviço de Finanças" era dirigido pelo Daniel Antunes, e a "Seção de Contabilidade" pelo Osório Luiz Moreto. Os três ainda exercem as mesmas funções até hoje. Em 1994 me aposentei e fui contratado sob o regime da CLT para continuar a dirigir a "Divisão de Administração". Quando você se formou? Eu me tornei bacharel em Direto em 1978 pela FMU - Faculdades Metropolitanas Unidas, aqui em São Paulo. Mas eu já havia me formado em Letras em Dracena. Em língua portuguesa? Em português, em gramática e literatura. Olha só, então temos um conhecedor de literatura? Eu só fiz me formar em letras, não me aprofundei. Não tive muita oportunidade para isto no exercício das minhas funções na SUCEN. Eu me formei na Faculdade de Letras de Dracena. Faculdade Dr. Ministro Társio Dutra. Por que a opção de fazer letras? Porque eu gostava de português e eu queria fazer um curso em que eu tivesse aptidão, facilidade. Não estava vinculada à minha atividade, mas me facilitou também. No que lhe facilitou? Toda vez que você melhora o seu nível, você tem condições de estar melhorando o seu trabalho. O curso de Direito eu fiz em São Paulo, porque a área administrativa tem muito a ver com a área do direito. Eu continuo usando o direito até hoje no meu trabalho e, também, um pouco do que aprendi no curso de Letras. Quais foram os momentos marcantes vividos por você na SUCEN? Marcantes, “hum”, momentos marcantes? Ah, a minha vinda para São Paulo foi um momento marcante. Deixei de trabalhar no interior e vim trabalhar numa situação totalmente diferente. Lá, na regional, a atividade era mais restrita, mais limitada. No nível central as atividades são mais abrangentes, mais complexas. Abarcam um maior número de problemas. Mas a experiência adquirida no campo facilitou muito o trabalho no nível central. Você trabalhou na SUCEN durante toda s sua vida? Sim, só na SUCEN. O que você pensa sobre isso? Eu acho que foi ótimo, aprendi bastante, gosto muito da instituição. Eu a acho muito respeitável. Seus dirigentes sempre foram muito sérios e trataram isso aqui com a seriedade

19

devida. As atividades exercidas por ela no campo têm muita credibilidade junto à população. Eu sinto assim: se alguém fala mal da SUCEN é como se estivesse falando mal de mim também, pois me sinto fazendo parte da vida desta instituição. Acho que a seriedade tem que continuar para que sua história faça sentido. Há alguma diferença marcante em relação ao que hoje é a SUCEN e o que ela foi? O regime de trabalho era um regime bastante militarizado, isto tinha a ver com o espírito "campanhista", mas eu acho que isso contribuiu para que a erradicação da malária tivesse êxito. Hoje as relações de trabalho na instituição são mais democráticas.

seção cult

... E QUASE NINGUÉM VIU!

Ricardo Ciaravolo Mas ainda é tempo de ver um dos melhores documentários musicais brasileiros: “O

homem que engarrafava nuvens”, filme sobre Humberto Teixeira, compositor, advogado, deputado federal, criador das leis de direito autoral e sobretudo parceiro do grande Luís Gonzaga, o rei do baião. O filme, de 100 minutos de duração, foi dirigido por Lírio Ferreira, sendo lançado em 2009. Ao assisti-lo, a emoção vem fácil, com as belas cenas e principalmente devido às interpretações marcantes de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Bebel Gilberto, Mutantes, Fagner, Chico Buarque, David Byrne, só para citar algumas e é claro que a emoção amplifica-se sempre que o querido Luís Gonzaga aparece.

Pai da atriz Denise Dumont, Humberto Teixeira tem importantes momentos de sua vida e obra retratados no filme, sendo que Denise, que o produziu, também contracena, conduzindo a narrativa.

Atualmente, na cidade de São Paulo, este apaixonante documentário conta, infelizmente, com uma programação reduzida: apenas na sala 4 do Espaço Unibanco Augusta (rua Augusta, 1475 -tel.: (11)32875590, com somente uma sessão diária (17:30 horas).

Em época de filmes concorrentes/premiados do Oscar, eu recomendo mesmo é este ótimo “canarinho” que percorre a história do baião!

20

Liana Soares sem título pintura e colagem s/ papel