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Edmundo Inácio Júnior EMPREENDEDORISMO E LIDERANÇA CRIATIVA: um estudo com os proprietários-gerentes de empresas incubadas no Estado do Paraná Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Administração – PPA da Universidade Estadual de Maringá – UEM, para obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Dr. Fernando A. P. Gimenez Março de 2002 Maringá - PR

Edmundo Inácio Júnior · Edmundo Inácio Júnior EMPREENDEDORISMO E LIDERANÇA CRIATIVA: um estudo com os proprietários-gerentes de empresas incubadas no Estado do Paraná Dissertação

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  • Edmundo Inácio Júnior

    EMPREENDEDORISMO E LIDERANÇA CRIATIVA: umestudo com os proprietários-gerentes de empresas

    incubadas no Estado do Paraná

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração – PPA daUniversidade Estadual de Maringá – UEM,para obtenção do título de Mestre emAdministração.

    Orientador: Dr. Fernando A. P. Gimenez

    Março de 2002Maringá - PR

  • Edmundo Inácio Júnior

    EMPREENDEDORISMO E LIDERANÇA CRIATIVA: umestudo com os proprietários-gerentes de empresas

    incubadas no Estado do Paraná

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração – PPA daUniversidade Estadual de Maringá – UEM, para obtenção do título de Mestre emAdministração.

    Aprovada em 13 de março de 2002

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. Fernando A. P. Gimenez (Orientador)Universidade Estadual de Maringá – UEM / Departamento de Administração

    Prof. Dr. Ruy Quadros de CarvalhoUniversidade Estadual de Campinas – UNICAMP / Instituto de Geociências

    Departamento de Política Científica e Tecnológica

    Prof. Dr. José de Jesus PrevidelliUniversidade Estadual de Maringá – UEM / Departamento de Administração

  • Dedico este trabalho,

    À Deusque me é fonte constante de inspiração,

    e aos meus Pais e irmã

    pelo exemplo de empreendedorismo e criatividade em suas vidas.

  • AGRADECIMENTOS

    Não há dúvidas de que ao se elaborar um trabalho de pesquisa, são requeridas horas e mais

    horas de esforço. Este desafio, sem sombra de dúvida, não poderia se concretizar sem que

    houvesse o envolvimento de várias pessoas, que com diferentes maneiras, contribuíram de

    forma expressiva à presente dissertação. Primeiramente, agradeço à orientação do Prof.

    Gimenez que de forma tão hábil auxiliou na elaboração de cada parte do projeto bem como da

    dissertação, estabelecendo uma rota segura e precisa à conclusão do mesmo. Sua paciência,

    entusiasmo, bom humor e disponibilidade foram importantes nos momentos de dificuldades.

    Agradeço ao Prof. Tudor Rickards e à Profª. Susan Moger, que em seu período no Brasil,

    forneceram as explicações necessárias para o entendimento de seu modelo de Liderança

    Criativa. Agradeço ao Prof. José de Jesus Previdelli e à Profª. Hilka Pelizza Vier Machado

    que às vésperas de Natal, se dispuseram a participar do exame de qualificação. Todas as suas

    observações quanto à forma e conteúdo do trabalho foram pertinentes e valiosos e com

    certeza serviram para a melhoria do trabalho. Agradeço também aos professores e amigos do

    Programa de Pós-Graduação em Administração, onde passei a maior parte do tempo

    realizando os trabalhos de suas disciplinas bem como da dissertação. Agradeço aos

    proprietários-gerentes das empresas bem como aos coordenadores das Incubadoras

    Tecnológicas que, ao disponibilizarem seu tempo à pesquisa, tornaram-na possível. Agradeço

    ao Prof. Gilmar Masiero que, desde a graduação, vem contribuindo à minha formação

    acadêmica. Agradeço aos amigos e também acadêmicos Newton Hirata, Emerson, César,

    Arnaldo e Letícia pelo apoio e auxílio, sendo estes minha família em Maringá, sempre

    presentes para “o que der e vier”. Agradeço ao Sensei Roberto Nagahama pelas horas de

    descontração e prática do judô, que contribuíram para a minha saúde física e mental.

    Agradeço a minha família pelo incentivo e apoio a este novo desafio, a minha irmã Inara e

    meu cunhado Salvador e especialmente aos meus pais Edmundo e Cecília por sempre

    apoiarem minhas decisões e permanecerem fortes e constantes no apoio a minha formação

    acadêmica. Por fim, sou grato à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

    Superior – CAPES, que possibilitou esta pesquisa e contribui em grande parcela para

    inúmeros outros trabalhos acadêmicos e científicos.

    A todos, meu MUITO OBRIGADO...

  • O Homem deve criar a oportunidade e não somente encontrá-la.Francis Bacon (1561 – 1626)

  • SUMÁRIO

    Capítulo 1: Apresentação......................................................................................................11

    1.1 Tema e problema ..........................................................................................................111.2 Objetivos.......................................................................................................................141.2.1 Objetivos gerais ............................................................................................................141.2.2 Objetivos específicos....................................................................................................151.3 Justificativas .................................................................................................................151.4 Hipóteses ......................................................................................................................181.5 Aspectos metodológicos ...............................................................................................191.5.1 Características da pesquisa ...........................................................................................201.5.2 Cuidados em relação aos erros de medida....................................................................231.5.3 População e amostra .....................................................................................................241.5.4 Os Instrumentos de pesquisa ........................................................................................271.5.5 Tratamento dos dados...................................................................................................301.6 Estrutura da dissertação................................................................................................31

    Capítulo 2: Empreendedorismo, Liderança Criativa e Incubadoras Tecnológicas ........33

    2.1 Origens e definições do empreendedorismo.................................................................352.1.1 Características do empreendedor..................................................................................402.2 Liderança Criativa ........................................................................................................452.2.1 Modelo de formação de equipes segundo Tuckman ....................................................462.2.2 Os sete fatores de equipes criativas ..............................................................................472.3 Breve histórico das incubadoras tecnológicas ..............................................................492.3.1 A contribuição das incubadoras tecnológicas...............................................................52

    Capítulo 3: Análise do CEI ...................................................................................................54

    3.1 Análise geral do CEI ....................................................................................................563.2 Análise do CEI com as variáveis..................................................................................63

    Capítulo 4: Análise do TFI....................................................................................................68

    4.1 Análise geral do TFI .....................................................................................................694.2 Análise do TFI com as variáveis ..................................................................................77

    Capítulo 5: Análise da relação entre o CEI e o TFI ...........................................................82

    5.1 Discussão teórica ..........................................................................................................835.2 Análise da Associação..................................................................................................87

    Capítulo 6: Conclusão ...........................................................................................................93

    Referências Bibliográficas ...................................................................................................101

    Anexo 1: Análise da validade e confiabilidade do CEI e do TFI.........................................108Anexo 2: Carta pesquisa às incubadoras ..............................................................................130Anexo 3: CEI e TFI - versão em português .........................................................................131Anexo 4: CEI e TFI - versão original...................................................................................134Anexo 5: Instrução para tabulação do CEI...........................................................................137

  • LISTA DE TABELAS, QUADROS, GRÁFICOS E FIGURAS1

    TABELASTabela 1.1 – Número de Incubadoras por localização geográfica............................................24Tabela 3.1 – Média do CEI por tipo .........................................................................................57Tabela 3.2 – Média do CEI por sexo........................................................................................63Tabela 4.1 – Média do TFI por tipo .........................................................................................70Tabela 4.2 – Média do TFI por sexo ........................................................................................77Tabela 5.1 – Média do CEI, TFI e seus fatores agrupados por CEI.........................................88Tabela 5.2 – Matriz de correlação entre CEI e os quatro fatores .............................................89Tabela 5.3 – Matriz de correlação entre TFI e os sete fatores..................................................90Tabela 5.4 – Matriz de correlação entre CEI e os fatores do TFI.............................................90Tabela 5.5 – Matriz de correlação entre TFI e os fatores do CEI.............................................91Tabela 1 – Fatores do TFI ......................................................................................................111Tabela 2 – Fatores do CEI ......................................................................................................112Tabela 3 – Autovalores do CEI ..............................................................................................116Tabela 4 – Matriz fatorial do CEI...........................................................................................117Tabela 5 – Análise Fatorial: autovalores do TFI ....................................................................119Tabela 6 – Matriz fatorial do TFI ...........................................................................................120Tabela 7 – Análise da confiabilidade: estabilidade do CEI (Anova: fator único)..................123Tabela 8 – Análise de confiabilidade: consistência interna – Split-half do CEI ....................124Tabela 9 – Análise de confiabilidade: consistência interna - Split-half do TFI .....................125Tabela 10 – Análise da confiabilidade: consistência interna – Alfa de Cronbach do CEI.....127Tabela 11 – Análise de confiabilidade: consistência interna – Alfa de Cronbach do TFI .....129

    QUADROSQuadro 1.1 – Classificação da pesquisa ...................................................................................22Quadro 1.2 – Número de empresas, respondentes e localização das empresas........................26Quadro 2.1 – Linhas de pesquisa em empreendedorismo ........................................................34Quadro 2.2 – Características freqüentemente atribuídas ao empreendedor .............................41Quadro 3.1 – Dados demográficos da amostra (n = 73)...........................................................55Quadro 3.2 – Questões menos e mais pontuadas do CEI .........................................................62Quadro 3.3 – Foco de aprendizagem........................................................................................67Quadro 4.1 – Questões menos e mais pontuadas do TFI .........................................................74Quadro 5.1 – Características do indivíduo relativamente mais criativo...................................85Quadro 1 – Interpretação dos tiros em relação a acurácia e precisão.....................................121

    1 O primeiro número indica o capítulo e o segundo a ordem crescente de apresentação. Quando composto de

    somente um número refere-se as informações do Anexo 1.

  • GRÁFICOSGráfico 3.1 – Histograma do CEI.............................................................................................56Gráfico 3.2 – Distribuição por tipo de CEI ..............................................................................58Gráfico 3.3 – Contribuição dos fatores internos na composição do CEI .................................59Gráfico 3.4 – Somatório dos pontos por questão do CEI .........................................................61Gráfico 3.5 – Diagrama de dispersão: idade x CEI ..................................................................64Gráfico 3.6 – Diagrama de dispersão: idade (p.m.) x CEI .......................................................65Gráfico 3.7 – Diagrama de dispersão: grau de instrução x CEI ...............................................66Gráfico 4.1 – Histograma do TFI .............................................................................................69Gráfico 4.2 – Distribuição por tipo de TFI...............................................................................71Gráfico 4.3 – Contribuição dos fatores internos na composição do TFI..................................72Gráfico 4.4 – Somatório dos pontos por questão do TFI .........................................................73Gráfico 4.5 – Radar: pontuação máxima, mínima e média dos setes fatores do TFI ...............75Gráfico 4.6 – Diagrama de dispersão: idade x TFI ..................................................................78Gráfico 4.7 – Diagrama de dispersão: idade (p.m.) x TFI........................................................79Gráfico 4.8 – Diagrama de dispersão: grau de instrução x TFI................................................80Gráfico 5.1 – Diagrama de dispersão: CEI x TFI.....................................................................92Gráfico 1 – Probabilidade normal: variável Q3 .....................................................................114Gráfico 2 – Distribuição dos autovalores do CEI...................................................................115Gráfico 3 – Distribuição dos autovalores do TFI ...................................................................118

    FIGURASFigura 1.1 – Localização geográfica das incubadoras..............................................................27Figura 2.1 – Modelo revisado de formação de equipes de Tuckman.......................................46Figura 1 – Acurácia (validade) e precisão (confiabilidade) ...................................................121

  • RESUMO

    O tema/problema que deu início a esta dissertação foi o estudo do empreendedorismo e dacriatividade. Para uni-las surgiu a idéia de estudar as empresas incubadas, através de seusproprietários-gerentes, nas Incubadoras Tecnológicas do Estado do Paraná que se dedicam aosseguintes campos de atuação: automação de escritório, desenvolvimento de software,agribusiness, produtos químicos, entretenimento eletrônico, consultoria para Internet esistemas gerenciais para área de saúde. O objetivo da dissertação é analisar o potencialempreendedor e de liderança criativa dos proprietários-gerentes das micro e pequenasempresas verificando a relação existente entre empreendedorismo e liderança criativa bemcomo verificar a confiabilidade e validade da versão em português dos instrumentos CarlandEntrepreneurship Index – CEI e Team Factors Inventory – TFI. As justificativas para oestudo do empreendedorismo podem ser sintetizadas em três vertentes: a social que enfatiza oensino do empreendedorismo como uma resposta ao desemprego; a econômica que prega arelação existente entre crescimento econômico e atividade empreendedora; e a empresarialque se utiliza de instrumentos de medição do potencial empreendedor para triagem e seleçãode projetos a serem incubados. A justificativa para se escolher como amostra as incubadorastecnológicas é o rápido crescimento que esta forma de organização vem tendo nos últimosanos, e suas características peculiares de promover e fomentar a criação de novas empresasnormalmente atreladas a pessoal jovem e de áreas tecnológicas, com formação superior. Tem-se como pressupostos um conjunto de cinco hipóteses: H1: Os proprietários-gerentes possuemuma forte tendência ao comportamento empreendedor; H2: Os proprietários-gerentes possuemuma forte tendência ao comportamento criativo; H3: Existe uma associação positiva entre onível de empreendedorismo e de liderança criativa dos proprietários-gerentes; H4: A variávelsexo não tem associação com o nível de empreendedorismo (H4.1) e de liderança criativa(H4.2) dos instrumentos propostos; e H5: As variáveis grau de instrução e idade têmassociação positiva com o nível de empreendedorismo (H5.1) e de liderança criativa (H5.2).A metodologia abrangeu a revisão da literatura acerca de empreendedorismo e do modelo deliderança criativa, a tradução dos instrumentos pelo método de backtranslation, a definição dotamanho da amostra pelo uso de fórmulas estatísticas para pequenas populações e a análisedos dados utilizando-se da estatística descritiva, testes de hipóteses, análise fatorial e análisesde confiabilidade, a partir do software Statistics. A pesquisa portanto se caracteriza por ser umestudo formal, interrogativo, ex post facto, descritivo, cross-sectional e quantitativo. Osresultados apontaram para uma distribuição normal dos índices de empreendedorismo eliderança criativa, sendo a média das pontuações alcançadas alta, dando assim suporte a H1 eH2. A diferença das pontuações entre homens e mulheres não foi estatisticamentesignificativa, corroborando com H4.1 e H4.2. Indicou também uma associação positiva eestatisticamente significativa do índice de empreendedorismo com as variáveis idade e graude instrução, aceitando-se H5.1 e parcialmente com o índice de liderança criativa, que levou aaceitação com restrições de H5.2. A associação entre as duas medidas foi positiva eestatisticamente significativa, contribuindo para H3. Por fim, análises estatísticas indicaramque as versões em português dos instrumentos obtiveram níveis suficientes de validade econfiabilidade, apesar de evidenciar a necessidade de algumas alterações.

    Palavras-chave: empreendedorismo, empreendedor, incubadoras tecnológicas, criatividade.

  • ABSTRACT

    The statement problem that this project addressed was the study of entrepreneurship andcreativity. In order to link both ideas, the focus centered on small firms’ owner-managerslocated in enterprise’s incubators located in Paraná, a Southern Brazilian state, dedicated tobusinesses in the following fields: automation, software development, agribusiness,chemicals, electronic entertainment, IT consulting, and health systems. The researchobjectives were to analyze both entrepreneurial and creative leadership potential of the smallfirms’ owner-managers, verifying the relationship between entrepreneurship and creativity.The study aimed also at verifying the reliability and validity of a translated version intoPortuguese of the Team Factors Inventory – TFI and Carland Entrepreneurship Index – CEI.The importance of studying entrepreneurship can be synthesized into three pillars: the socialone that emphasizes entrepreneurship as an answer to unemployment; the economic one thatis concerned with the relationship between entrepreneurship and economic growth; and themanagerial one that uses instruments to measure entrepreneurial potential for selecting newbusinesses’ projects to be incubated. The reasons for choosing incubators’ small businesses astarget sample were due to their fast growth in the last decade, and their peculiar characteristicsin promoting and nurturing the creation of new enterprises normally started by young peoplewith outstanding education. The hypotheses analyzed in this study were: H1. Owner-managers have a strong proclivity toward an entrepreneurial behavior; H2. Owner-managershave a strong proclivity toward a creative behavior; H3. There is a positive correlationbetween entrepreneurship and creative leadership; H4. There is no association betweenowner-managers’ sex and entrepreneurship – H4.1 and creative leadership – H4.2; H5. Thereis a positive correlation between owner-managers’ age and level of education withentrepreneurship – H5.1 and creative leadership – H5.2. The research methodology included aliterature review on entrepreneurship and creative leadership, backtranslation of both CEI andTFI instruments, definition of the sample’s size by statistics formula for small populations,and data analyses through exploratory data analysis, hypothesis testing, correlation analysis,factor analysis, and reliability and validity test. The design of the research can be classified asformal, interrogation, ex post facto, descriptive, cross-sectional, and quantitative. The resultspointed out to an approximate standard normal distribution of CEI and TFI scores, with highmean along the range giving support to H1 and H2. The correlation between CEI and TFIscores produced a positive and statistically significant coefficient, apparent stronger,accepting H3. A non-significant difference between male and female CEI and TFI scores,leading to the acceptance of H4.1 and H4.2. A positive and statistically significantrelationship between CEI scores and both age and level of education variables accepting H5.1.TFI scores had positive and statistically significance only in relation to the level of educationleading us to accept partially H5.2. Finally, the reliability and validity analysis showed thatboth translated version into Portuguese of CEI and TFI achieved acceptable levels ofreliability and validity and so possess the features of a good measurement tool, although somemodifications have been suggested.

    Key words: entrepreneurship, entrepreneur, technological incubators, creativity.

  • 11

    Capítulo 1

    Apresentação

    1.1 Tema e problema

    O empreendedorismo, como campo de pesquisa acadêmica, tem sofrido de uma falta de

    consenso e uniformidade na determinação de sua definição e métodos (BRAZEAL e

    HERBERT, 1999). Conseqüentemente, pesquisadores, acadêmicos e profissionais engajados

    no estudo desse fenômeno, se esforçam na determinação de um modelo geral, de ampla

    compreensão e acordo, que possa unir os mais diversos entendimentos a respeito do que é ser

    um empreendedor ou do ato de empreender e de quais fatores contribuem para seu

    desenvolvimento ou sua inibição (COOPER, HORNADAY e VESPER, 1997; COOPER,

    2000). As razões desta falta de consenso são atribuídas ao fato de que o conjunto de pesquisas

    em empreendedorismo é, normalmente, levado a cabo por pessoas de diferentes campos de

    pesquisa que abordam o empreendedorismo a partir dos pressupostos de suas próprias áreas

    de estudo (HART, STEVENSON e DIAL, 1995).

    Concomitante a esse quadro de fragmentação e desacordo, a expansão deste campo de estudo

    tem sido rápida. Os esforços em direção à uma visão integradora tem sido relevantes,

    consolidando o empreendedorismo como uma área de conhecimento com status científico

    (BRUYAT e JULIEN, 2000; SHANE e VENKATARAMAN, 2000). Exemplos dessa

    expansão e consolidação, ao redor do mundo, podem ser citados como o da Academy of

    Management que, em 1987, criou uma divisão para estudos nesta área, inclusive com uma

    definição própria de empreendedorismo como segue:

    O estudo da criação e a administração de negócios novos, pequenos e familiares, e dascaracterísticas e problemas especiais dos empreendedores. Os principais tópicos incluemidéias e estratégias de novas empresas, influências ecológicas sobre a criação e odesaparecimento de novos negócios, aquisição e gerenciamento de novos negócios e deequipes criativas, auto-emprego, proprietários-gerentes e o relacionamento entreempreendedorismo e o desenvolvimento econômico (SHANE, 1997, p. 83, tradução doautor).

  • Capítulo 1: Apresentação 12

    Anteriormente à Academy of Management, a Universidade de Harvard, desde 1947, também

    possui uma linha de pesquisa e estudos específicos sobre empreendedorismo sendo sua

    definição um pouco diferente daquela: “Definimos Empreendedorismo como a busca de

    oportunidade além dos recursos tangíveis correntemente controlados”.2 Ademais, o Centro

    para Empreendedorismo Arthur M. Blank, da Babson College nos Estados Unidos,

    universidade responsável por uma das principais conferências internacionais sobre

    empreendedorismo3, ratifica a definição fornecida pela Harvard evidenciando seu

    alinhamento para com esta. Segundo a Babson College, empreendedorismo:

    É definido como uma maneira de pensar e agir que é obcecada pela oportunidade, holística naabordagem e balanceada na liderança. Empreendedorismo é identificar uma oportunidade semlevar em consideração os recursos correntemente disponíveis e agir sobre esta com o propósitode criação de riqueza nos setores público e privado.4

    Explicações sobre o ato de empreender têm sido buscadas tanto em características como em

    comportamentos do indivíduo empreendedor. Recentemente, abordagens mais amplas têm

    sido propostas, considerando o empreendedorismo como um processo complexo e

    multifacetado, reconhecendo as variáveis sociais (mobilidade social, cultura, sociedade),

    econômicas (incentivos de mercado, políticas públicas, capital de risco) e psicológicas como

    formadoras e influenciadoras no surgimento do empreendedorismo (KETS DE VRIES, 1985;

    CARLAND e CARLAND, 1991; HUEFNER, HUNT e ROBINSON, 1996). Dentre as várias

    características atribuídas ao empreendedor pode-se citar: Lócus Interno de Controle,

    propensão ao risco, tolerância à ambigüidade, criatividade, necessidade de realização, visão,

    alta energia, postura estratégica – inovadora e criativa – e autoconfiança (BROCKHAUS,

    1982; DRUCKER, 1994a, DEAKINS, 1999).

    Dessas características, uma das principais que emerge é a criatividade. Segundo Brazeal e

    Herbert (1999), a criatividade tem sido foco recente de pesquisas integradas no intuito de se

    afastar a fragmentação no campo e prover uma estrutura consistente para o crescimento do

    empreendedorismo. Os mesmos autores acreditam que a criatividade seja o processo através

    2 Disponível em: http://www.entrepreneurship.hbs.edu/. Acesso em: 12 set. 2001. Tradução do autor.3 Em 1981 realizou-se a 1ª Frontiers of Entrepreneurship Research. A 22ª acontecerá em 2002 sob a

    denominação Babson-Kauffman Entrepreneurship Research Conference em Colorado-EUA.4 Disponível em: http://www2.babson.Edu/babson/babsoneshipp.nsf/. Acesso em: 12 set. 2001. Tradução do

    autor.

  • Capítulo 1: Apresentação 13

    do qual as invenções ocorram, isto é, a criatividade é um processo que permite o surgimento

    de novos produtos e processos. Amabile (1998) trouxe grande contribuição a esse campo de

    estudo afirmando que não bastam somente as motivações intrínsecas, mas que também devem

    ser levados em consideração fatores do contexto social - liberdade, estilo de gerenciamento,

    recursos, encorajamento e reconhecimento, clima organizacional, excesso de avaliação e

    pressão – que contribuem ou inibem o processo criativo.

    A esse respeito Rickards e Moger (2000) publicaram resultados de pesquisas que vem sendo

    desenvolvidas desde 1972 no Creativity Research Unit of Manchester Business School na

    Inglaterra, sobre como a criatividade pode contribuir com desempenhos superiores de equipes

    de trabalho. Os autores propuseram um modelo teórico denominado de Liderança Criativa

    bem como um instrumento de pesquisa intitulado Team Factors Inventory – TFI, que mede o

    potencial de liderança criativa dentro de equipes inovadoras. Este modelo enfatiza a

    importância do líder em liberar a criatividade de um grupo de trabalho. Por fim, Brazeal e

    Herbert (1999) procuram integrar conceitos de áreas correlatas ao estudo do

    empreendedorismo, analisando-se as relações de variáveis como criatividade, inovação e

    liderança como características chaves do comportamento empreendedor que também são

    contingentes a fatores externos.

    O estudo do empreendedorismo tem, portanto, um caráter complexo e abrangente no que se

    refere às características psicológicas e de comportamento, bem como de seus impactos e

    relacionamentos com a sociedade em geral. Considerando que o tema envolve o ato de

    empreender e o processo de liderança criativa nas equipes de trabalho, a presente dissertação

    busca analisar os proprietários-gerentes5 das micro e pequenas empresas – MPE’s com o

    propósito de quantificar o quanto esses indivíduos são empreendedores e líderes criativos.

    Tratam-se de empresas, em sua grande maioria, formadas por recém graduados e que foram,

    ou ainda estão sendo, incubadas nas Incubadoras Tecnológicas do Estado do Paraná. Tendo

    em vista que esta forma de organização tem um papel importante no desenvolvimento do

    empreendedorismo, pretende-se estudar quais são os principais fatores que caracterizam estes

    5 Proprietário-gerente é um termo utilizado por Filion (1999a, 1999b) para designar aquelas pessoas que estão

    envolvidas com o gerenciamento rotineiro de uma empresa. Pelo próprio nome, são normalmente donos denegócios que assumem as atividades gerenciais de seus negócios. Uma pessoa pode assumir um papelempreendedor sem nunca se tornar um proprietário-gerente de MPE’s, como por exemplo, aqueles quetrabalham para outros. Por outro lado os proprietários-gerentes de MPE’s podem não ser consideradosempreendedores, uma vez que, em geral, administram rotinas do dia-a-dia e não fazem nenhuma mudançasignificativa nos produtos ou serviços. Dessa maneira, este termo será empregado no trabalho, até que nocapítulo 3, possa ser verificada a tendência ao comportamento empreendedor da amostra.

  • Capítulo 1: Apresentação 14

    jovens proprietários como empreendedores e avaliar em que medida a liderança criativa se

    relaciona com o empreendedorismo, na consolidação de equipes de trabalho de alto

    desempenho.

    Na presente dissertação as definições mais adequadas ao estudo do fenômeno do

    empreendedorismo estão embasadas em Filion (1999a) e Carland et al. (1998). Estes autores

    concordam que o empreendedorismo é o resultado tangível ou intangível de uma pessoa com

    habilidades criativas, sendo uma complexa função de experiências de vida, oportunidades,

    capacidades individuais e que no seu exercício está inerente a variável risco, tanto na vida

    como na carreira do empreendedor. Colocado de outra forma, o empreendedor é alguém que,

    no processo de construção de uma visão, estabelece um negócio objetivando lucro e

    crescimento, apresentando um comportamento inovador e adotando uma postura estratégica.

    Segundo esses autores, não se trata de ser ou não ser empreendedor, mas de se situar dentro de

    um espectro de pessoas mais ou menos empreendedoras. Também concordam que é uma

    tarefa difícil quantificar um atributo subjetivo, não havendo um teste ou instrumento universal

    que possa ser considerado o estado da arte no campo, sendo que o Carland Entrepreneurship

    Index – CEI (CARLAND, CARLAND e HOY, 1992), é um dos mais conhecidos, tanto do

    ponto de vista acadêmico, quanto do empresarial, no âmbito dos EUA. A esse respeito Galileu

    (apud Pereira, 1999) já dizia que tudo é passível de mensuração e que se deve medir o

    mensurável e transformar em mensurável o que, à primeira vista, não o for.

    1.2 Objetivos

    1.2.1 Objetivos gerais

    O objetivo da presente dissertação é analisar o nível de empreendedorismo e liderança criativa

    dos proprietários-gerentes das MPE’s das Incubadoras Tecnológica do Estado do Paraná.

    Como nível de empreendedorismo e liderança criativa entende-se a pontuação obtida por estas

    pessoas nas respectivas escalas dos instrumentos CEI e TFI. Baseados em uma pontuação

    máxima possível, os instrumentos fornecem a pontuação atingida pelo respondente, pela sua

    concordância ou não, com as afirmativas apresentadas e que versam sobre características

    imputadas às pessoas ditas como empreendedoras e criativas. Além disso, o estudo se propõe

    a verificar a relação existente entre empreendedorismo e liderança criativa.

  • Capítulo 1: Apresentação 15

    1.2.2 Objetivos específicos

    Espera-se também através deste trabalho atingir os seguintes objetivos específicos:

    a. Levantar o perfil dos empreendedores através de dados secundários da RedeParanaense de Incubadoras e Parques Tecnológicos – REPARTE e da AssociaçãoNacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas –ANPROTEC;

    b. Mensurar o nível de empreendedorismo dos proprietários-gerentes através do CEI(CARLAND, CARLAND e HOY, 1992);

    c. Mensurar o nível de liderança criativa dos proprietários-gerentes através do TFI(RICKARDS, MOGER e CHEN, 2001);

    d. Identificar se existe uma associação positiva entre os itens “b” e “c”; e

    e. Verificar a confiabilidade e a validade da versão traduzida em português dosinstrumentos.

    1.3 Justificativas

    O crescente interesse pelo empreendedorismo se justifica pela relevância que as MPE’s têm

    tido na participação da economia. Desde 1999, uma pesquisa intitulada Global

    Entrepreneurship Monitor – GEM (REYNOLDS et al., 2000), promovida pela London

    Business School e Babson College vem analisando as complexas relações entre o crescimento

    econômico e o empreendedorismo nos países do G-76 e na última pesquisa de 20007, em

    países em desenvolvimento como o Brasil. A pesquisa concluiu que a principal ação de um

    governo para promover o crescimento econômico consiste em estimular e apoiar o

    empreendedorismo que deve estar no topo das prioridades das políticas públicas, fazendo, a

    grande diferença para a prosperidade econômica, pois um país com baixas taxas de criação de

    empresas corre o risco da estagnação econômica.

    Como apontado pela pesquisa GEM 2000 (REYNOLDS et al., 2000), o Brasil se revelou o

    país mais empreendedor de todos os países pesquisados com um Total Entrepreneurial

    Activity (TEA) Index de 16%, seguido por Coréia do Sul com 14% e os EUA com 13%. Esse

    6 O grupo dos 7 – G-7 é formado pelos sete países mais industrializados. Países membros: EUA, Alemanha, Grã-

    Bretanha, França, Japão, Canadá e Itália (Almanaque Abril, 1999, p. 566).7 Na pesquisa de 2000 foram incluídos Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha,

    Finlândia, Índia, Irlanda, Israel, Noruega, Suécia e Singapura, no total de 21 países pesquisados.

  • Capítulo 1: Apresentação 16

    índice é a combinação de outros dois índices que mediram as taxas de envolvimento das

    pessoas adultas (entre 16-64 anos de idade) na criação de novos negócios e na sobrevivência

    dos negócios com menos de 42 meses de existência. Ainda que os métodos de análise e

    resultados do GEM possam ser questionados, acredita-se que ele seja uma tentativa

    importante e válida, embora incipiente, de se mensurar os níveis de empreendedorismo

    verificados nos países. Uma vez que essa pesquisa é conduzida por instituições de renome

    internacional, ela deverá se aperfeiçoar paulatinamente a partir da correção das falhas e

    incoerências metodológicas e de análise.

    Tem-se atribuído grande ênfase na importância do papel do empreendedorismo como

    mecanismo promotor do desenvolvimento econômico, criando-se uma nova massa de MPE’s.

    Nos países da OECD mais de 95% das empresas são MPE’s gerando mais de 50% do PIB e

    60 a 70% dos empregos (OECD, 2000). No Brasil, com relação à quantidade de MPE’s o

    percentual é próximo dos países da OECD, ou seja, 98%, contudo estas (com menos de 100

    empregados) geraram, em 1994, apenas 28% do PIB brasileiro e 43% dos empregos

    (SEBRAE/DNRC, 2000).

    A ênfase no incentivo à geração de produtos inovadores a partir das MPE’s se justifica

    porque, segundo Timmons (1994 apud DOLABELA, 1999b), desde a segunda guerra

    mundial, 50% de todas as invenções e 95% de todas a inovações radicais surgiram de novas e

    pequenas empresas. Estão incluídas nesta lista, por exemplo, o micro-computador, o

    marcapasso, a troca de óleo rápida, o fast food, o anticoncepcional oral, a máquina de raios-X,

    entre outros exemplos. Com o passar do tempo, a partir dos ganhos obtidos com as primeiras

    inovações, muitas pequenas empresas chegaram a se tonar grandes corporações, como por

    exemplo Hewlett Packard, Gradiente e Microsoft.

    Desta maneira, ao abordar o estudo do empreendedorismo tendo como pressupostos a

    importância, a urgência e a interligação deste com o desenvolvimento social e principalmente

    econômico de uma sociedade não se está, de maneira alguma, excluindo demais fatores que,

    por si só, justificariam o estudo deste campo. Dentre eles, destaca-se como exemplo, a alta

    taxa de mortalidade das MPE’s, infelizmente demonstradas em pesquisas como a do SEBRAE

    (1999) que revelam uma média, para os Estados pesquisados8, de 42% de mortalidade para as

    8 Estados pesquisados: AC, AM, MG, MS, RN, PB, PE, PR, RJ, SC, SE, SP e TO.

  • Capítulo 1: Apresentação 17

    MPE’s com menos de um ano, 52% com menos de dois anos e 60% com menos de três anos

    de existência.

    Academicamente, a possibilidade de se conhecer a tendência empreendedora dos

    proprietários-gerentes dessas MPE’s oferece a oportunidade de avaliar o desenvolvimento e

    assimilação do conteúdo do empreendedorismo que, via de regra, necessita de uma mudança

    de comportamento e atitudes, para que a pessoa possa ser considerada empreendedora.

    Dolabela levanta a questão se é ou não possível ensinar empreendedorismo, porém ele e

    diversos estudiosos concordam: “[...] é possível aprender a ser empreendedor, mas, como em

    algumas outras áreas, através de métodos diferentes dos tradicionais” (DOLABELA, 1999a,

    p. 109).

    Visualizando-se outro escopo no qual a presente pesquisa vem a contribuir, tem-se a nova

    dinâmica econômica. No cenário da nova economia “... as empresas conseguem e mantêm

    vantagem competitiva na competição internacional por meio da melhoria, da inovação e do

    aperfeiçoamento” (PORTER, 1993, p. 86). Essa pesquisa vem corroborar esse quadro

    possibilitando a investigação da tendência do comportamento empreendedor, característica

    essa, uma das mais importantes no sucesso de um novo empreendimento (LYON, LUMPKIN

    e DESS, 2000; SARASVATHY, 2001), sendo que as versões, em português do CEI e TFI

    propostas podem constituir-se em um instrumento de triagem e seleção, identificando

    possíveis tendências do comportamento empreendedor e conseqüentemente os

    empreendedores, pessoas estas indispensáveis para a dinâmica da nova economia, onde

    destaca Filion:

    [...] a velocidade da mudança tecnológica está diretamente relacionada com ashabilidades dos indivíduos [...] em gerenciar de forma empreendedora, ou seja, criativa erapidamente [...] Por causa disso, a próxima Era será a do florescimento doempreendedorismo. (1999a, p. 21).

    Ademais, como o modelo de Liderança Criativa apresenta uma nova abordagem que se

    propõe a relacionar criatividade e liderança, a possibilidade de contribuir com esse modelo em

    construção, em uma parceria com pesquisadores ingleses é um importante passo para a

    solidificação do grupo de pesquisas em empreendedorismo da UEM, levando-se à discussão

    os resultados do TFI aplicados em empresas brasileiras.

  • Capítulo 1: Apresentação 18

    1.4 Hipóteses

    H1: Os proprietários-gerentes possuem uma forte tendência ao comportamento

    empreendedor, conseqüentemente obtendo altos níveis de empreendedorismo no

    CEI, podendo ser considerados como empreendedores.

    Diversas pesquisas encontradas na literatura levam ao pressuposto de que as pessoas

    relacionadas com essa nova forma organizacional de promoção e apoio à criação de novos

    empreendimentos – as Incubadoras – possuem traços claros de características empreendedoras

    (HANSEN et al., 2000; MARUCA, 2000, OLIVEIRA, 2000). Seja pela forma de seleção das

    incubadoras, seja pelo perfil dos proprietários-gerentes, espera-se encontrar evidências de

    comportamento empreendedor na amostra, que os distinguirão dos proprietários-gerentes, em

    geral, conforme ratificam pesquisas como a de Carland et al. (1998) e Filion (1999a, 1999b).

    H2: Os proprietários-gerentes possuem uma forte tendência ao comportamento criativo,

    conseqüentemente obtendo altos níveis de Liderança Criativa no TFI.

    Pesquisa realizada por Rickards, Moger e Chen (2001) demonstram que entre os vários tipos

    de empresas pesquisadas (grandes, pequenas, públicas, privadas), as MPE’s alcançaram maior

    pontuação no TFI. Outros trabalhos também corroboram com essa afirmação, destacando

    essas características em equipes multidisciplinares que lidavam com tarefas não-rotineiras e

    em pequenas empresas ou grupos (SINETAR, 1985; RICKARDS, 1999).

    H3: Existe uma associação positiva entre os níveis de empreendedorismo e liderança

    criativa dos empreendedores pesquisados.

    Diversos autores apontam para uma relação estreita entre a criatividade e o

    empreendedorismo (WHITING, 1988; TERRA, 2000; UNSWORTH, 2001). Uma forma de

    se acessar isto, é verificando-se a associação dos resultados de um conhecido instrumento

    àqueles vindos de um novo instrumento proposto (STEVERSON, 1986; COOPER e

    SCHINDLER, 1998). Espera-se que o CEI e o TFI, que medem características semelhantes,

    relacionadas a equipes inovadoras, possuam uma associação positiva, isto é, se uma pessoa

    possui um alto nível de empreendedorismo, espera-se também que possua um alto nível de

    liderança criativa e vice-versa (HUEFNER, HUNT e ROBINSON, 1996).

  • Capítulo 1: Apresentação 19

    H4: A variável sexo não tem associação com os níveis de empreendedorismo (H4.1) e

    liderança criativa (H4.2) dos instrumentos propostos.

    Pesquisadores concordam que existem diferenças psicológicas, sociais, de pensar e agir entre

    homens e mulheres com relação ao ato de empreender, mas não com relação à capacidade

    individual de empreender. (CARLAND e CARLAND, 1991; FLEENOR e TAYLOR, 1994;

    HUEFNER, HUNT e ROBINSON, 1996).

    H5: As variáveis grau de instrução e idade têm associação positiva com os níveis de

    empreendedorismo (H5.1) e liderança criativa (H5.2).

    A relação entre idade e grau de instrução com índices de empreendedorismo vem sendo

    pesquisada em estudos como as de Reynolds et al. (1999, 2000), Gibb (1987) e Vesper

    (1982). Os autores acreditam que, à medida que a oferta de cursos sobre empreendedorismo

    torna-se maior, as pessoas vão tomando mais contato com o assunto durante sua vida e podem

    estar mais propensos a absorver e internalizar esses conhecimentos, resultando em potenciais

    empreendedores.

    1.5 Aspectos metodológicos

    Cooper e Schindler afirmam que o projeto de pesquisa é um plano para selecionar as fontes e

    os tipos de informações usadas para responder as perguntas da pesquisa. Continuam dizendo

    que o projeto é um quadro de referência para especificar o relacionamento entre as variáveis

    da pesquisa (COOPER e SCHINDLER, 1998). Encontra-se na gama de livros que tratam de

    metodologias de pesquisas diversas classificações, porém nenhuma delas aborda em total

    extensão muitos dos importantes aspectos. A escolha de certos métodos em detrimento de

    outros tem relação estreita com os objetivos da pesquisa e o tipo de fenômeno estudado

    (SELLTIZ, WRIGHTSMAN e COOK, 1987). Na presente dissertação adotou-se a

    classificação de Cooper e Schindler que compreende oito diferentes aspectos metodológicos,

    sendo que se escolheu sete deles para a caracterização da presente pesquisa. Eles serão

    abordados a seguir.

  • Capítulo 1: Apresentação 20

    1.5.1 Características da pesquisa

    O primeiro critério diz respeito à maneira com que as questões de pesquisas são formuladas.

    Um estudo pode ser visto então como exploratório ou formal. A principal diferença entre os

    dois reside no tipo de estrutura e nos objetivos imediatos da pesquisa (COOPER e

    SCHINDLER, 1998). Segundo os autores, o estudo exploratório tende a estruturas mais

    livres. Conforme os autores “o propósito imediato da exploração é normalmente desenvolver

    hipóteses ou questionamentos para pesquisas futuras” (1998, p. 131, tradução do autor). Já o

    estudo formal inicia-se onde a exploração termina com hipóteses e questões de pesquisa e

    envolve procedimentos precisos e fontes de dados específicas. O objetivo da pesquisa formal

    “é testar as hipóteses ou responder as questões de pesquisas postuladas.” (1998, p. 131,

    tradução do autor).

    O segundo critério faz distinção entre o método de coleta de dados, compreendendo processos

    de monitoração e interrogação/comunicação. O primeiro é chamado de estudo observacional e

    consiste na inspeção das atividades do objeto ou na natureza de algum material, sem a

    tentativa de colher respostas de ninguém. Segundo Cooper e Schindler (1998), a contagem do

    número de carros em uma determinada avenida, a observação das ações de um grupo de

    gerentes e uma pesquisa na biblioteca são todos exemplos de monitoração. Já no segundo

    modo, de interrogação/comunicação, o pesquisador indaga o objeto e coleta suas respostas por

    meios pessoais ou impessoais. Normalmente, a coleta de dados pode resultar de: (i) entrevista

    por telefone, (ii) instrumentos de auto-resposta enviados via e-mail ou outros meios, (iii)

    instrumentos aplicados antes ou após uma condição de tratamento ou estímulo em um

    experimento.

    O terceiro fator classifica uma pesquisa com relação ao controle das variáveis pelo

    pesquisador, podendo ser uma pesquisa experimental ou ex post facto. Em um experimento o

    pesquisador procura controlar ou manipular as variáveis do estudo. É apropriada quando o

    pesquisador deseja descobrir se certas variáveis produzem certos efeitos em outras variáveis.

    A pesquisa experimental provê o maior suporte possível para hipóteses de causa-efeito. Por

    outro lado, na pesquisa ex post facto o pesquisador não tem controle sobre as variáveis no

    sentido de ser capaz de manipulá-las, ele somente reporta o que aconteceu ou o que está

    acontecendo. Nesta pesquisa, o pesquisador está limitado a uma quantidade constante de

    fatores pela seleção criteriosa do objeto de acordo com procedimentos estritos de amostragem

    e pela manipulação estatística dos resultados.

  • Capítulo 1: Apresentação 21

    O quarto critério classifica uma pesquisa levando em consideração os propósitos, isto é, os

    objetivos da pesquisa. Uma pesquisa pode ser descritiva ou casual. O objetivo da pesquisa

    descritiva, segundo os autores, é responder aos quatro dos 5W1H9, de um determinado objeto

    de pesquisa. Via de regra, procura-se traçar um perfil do objeto estudado. Já a pesquisa casual,

    acontece quando o pesquisador está interessado em apreender o porquê de tal fato acontecer,

    isto é, como uma variável influencia a outra. Trata-se do estabelecimento de relações de

    causa-efeito entre variáveis. Os autores salientam que relações de causa-efeito podem

    aparecer em estudos descritivos e que estas relações, empiricamente nunca serão totalmente

    seguras, devido ao fato de ser tarefa difícil, na prática, o isolamento de todas as demais

    variáveis que poderiam influenciar o objeto em estudo e que não pertencem ao modelo.

    O quinto critério leva em consideração a dimensão tempo. Uma pesquisa pode ser cross-

    sectional – corte transversal – ou longitudinal. O primeiro tipo considera as informações em

    um momento específico e delimitado do objeto, analogamente é como se tirasse uma

    “fotografia” do objeto. Já no longitudinal, a mesma pesquisa é realizada em um período mais

    extenso de tempo. Como destacam Cooper e Schindler, as vantagens de tais estudos residem

    no fato de que podem ser comparados resultados de uma mesma pesquisa ao longo do tempo,

    tornando-se uma poderosa ferramenta da análise de comportamentos, mudanças, padrões e

    validação de modelos e teorias propostas. Porém as dificuldades de orçamento e tempo levam

    os pesquisadores a optarem por estudos transversais.

    O sexto critério diz respeito ao escopo da pesquisa, sendo ele breadth – em largura, chamado

    de estudo estatístico, ou depth – em profundidade, chamado de estudo de caso. No estudo

    estatístico, a tentativa é capturar as características da população pela inferência das

    características da amostra. As hipóteses são testadas quantitativamente e a generalização dos

    resultados é apresentada baseada na representatividade da amostra. Já o estudo de caso coloca

    mais ênfase na análise total do contexto de poucos eventos ou condições e suas inter-relações.

    Apesar do estudo de caso ser difamado como “cientificamente desprezível” (COOPER e

    SCHINDLER, 1998, p. 133) devido ao fato de não ter uma condição mínima para

    comparação, ele tem um papel significante na comprovação de teorias. Isso porque uma das

    características de uma proposição científica é a universalidade, isto é, uma teoria proposta

    9 O 5W1H (What, Why, When, Where, Who e How) é uma ferramenta muito utilizada pelos processos de

    melhoria de qualidade. É um tipo de lista de verificação utilizada para informar e assegurar o cumprimento deum conjunto de ações, diagnosticar um problema ou planejar soluções. Ultimamente tem-se incluído mais umH de How much (PRAZERES, 1996).

  • Capítulo 1: Apresentação 22

    teria que ser capaz de explicar todos os fenômenos que estão sob seu domínio, sendo que um

    estudo de caso bem direcionado, particular e específico pode constituir-se no maior desafio a

    uma teoria, uma vez que a teoria proposta não consegue explicá-lo. Dessa forma, um estudo

    de caso pode prover novas idéias e hipóteses para a reconstrução da mesma em busca de sua

    universalidade.

    O sétimo critério difere uma pesquisa com relação ao ambiente em que a pesquisa é realizada.

    Se a pesquisa é realizada sobre as condições atuais do ambiente do objeto é dita como

    condições de campo, e se é realizada sobre outras condições é dita como condições de

    laboratório. A essência do processo de laboratório pode ser entendida como um processo de

    simulação e replicação. Estudos em pesquisa operacionais e financeiras enquadram-se bem

    neste termo, onde são feitas previsões e análises de panoramas, levando-se em consideração

    alterações em algumas variáveis de entrada. Normalmente podem ser traduzidas em modelos

    matemáticos.

    Tendo em vista esses critérios, a classificação da presente pesquisa configura-se da forma

    apresentada no Quadro 1.1.

    Quadro 1.1 – Classificação da pesquisa

    Itens de classificação Classificação1 Forma do estudo Formal2 Método de coleta de dados Interrogação/Comunicação3 Controle da variáveis Ex post facto4 Propósito da pesquisa Descritiva5 Dimensão de tempo Corte transversal6 Escopo da pesquisa Breadth - Estatístico7 Ambiente da pesquisa Condições de campo

  • Capítulo 1: Apresentação 23

    1.5.2 Cuidados em relação aos erros de medida

    Um estudo ideal deveria ser projetado e controlado para medir inequívoca e precisamente as

    variáveis desejadas (COOPER e SCHINDLER, 1998). Desde que a obtenção deste ideal é

    improvável, o pesquisador deve reconhecer as fontes de potenciais erros e tentar eliminá-los,

    neutralizá-los ou, caso contrário, tratar com eles. Muitos dos erros potenciais são sistemáticos,

    isto é, resultam de mal delineamento da pesquisa, enquanto que os demais são aleatórios, isto

    é, ocorrem erroneamente ao acaso. Cooper e Schindler apontam quatro fontes de erros de

    medida: o respondente, a situação, o avaliador e o instrumento. A primeira e a quarta fonte

    serão tratadas separadamente nos próximos itens como População/amostra e Instrumento de

    pesquisa, por delongarem maiores esclarecimentos. Já com relação à situação e ao avaliador,

    serão aqui brevemente esclarecidos os cuidados que foram tomados.

    A situação diz respeito às condições do ambiente no qual o respondente está inserido.

    Condições estas não só físicas (como de temperatura, umidade e luminosidade), por exemplo,

    mas também de fatores como pressão, tempo (pressa), insegurança ou de percepção de se

    estar sendo avaliado. Qualquer situação que provoque algum tipo de pressão sobre o

    respondente pode ter sérios efeitos sobre suas respostas. Nesse sentido, tomou-se o cuidado de

    agendar as visitas antecipadamente nas incubadoras e, através de carta aos gerentes das

    mesmas, esclareceu os objetivos e propósitos da necessidade das entrevistas salientando que

    poderia ser usado o tempo que fosse necessário para se responder calmamente ao instrumento.

    Também se deve ter cuidado com a presença de outras pessoas. Estas podem distorcer as

    respostas pela união das opiniões, pela distração ou simplesmente pela sua presença. Nesta

    pesquisa tomou-se o cuidado de se separar, sempre que possível, os respondentes em salas

    distintas. Com relação ao anonimato dos respondentes, que às vezes pode implicar em uma

    condição não satisfatória para se expressar algum tipo de sentimento, solicitou-se que o nome

    da empresa fosse obrigatório e o nome do respondente ficasse opcional.

    Com relação ao avaliador, como os instrumentos são de auto-resposta, sua influência foi

    quase que totalmente afastada. Possíveis erros poderiam ser encontrados na tabulação dos

    dados caso, ao se recolherem as respostas, não fosse feita uma rápida avaliação dos itens

    respondidos, no sentido de se detectar a ausência de respostas para certos itens.

  • Capítulo 1: Apresentação 24

    1.5.3 População e amostra

    A população compreendeu os empreendedores das empresas das incubadoras10 tecnológicas

    do estado do Paraná. Em sua grande maioria, a população é composta por empresas

    residentes11 (pré ou incubadas). Optou-se em pesquisar as empresas das incubadoras

    tecnológicas, por esta forma de organização representar um dos maiores esforços na

    promoção e apoio ao empreendedorismo. Seu crescimento tem sido a passos largos, partindo

    de 2 incubadoras em 1988, a 135 em 2000, segundo última pesquisa divulgada pela

    ANPROTEC (2000). No cenário nacional, as incubadoras estão distribuídas geograficamente,

    conforme tabela 1.1.

    Tabela 1.1 – Número de Incubadoras por localização geográfica

    NORDESTE SUDESTE SUL NORTE CENTRO-OESTEAL BA CE PB RN PE SP MG RJ ES PR SC RS AM PA AP DF2 7 4 2 2 2 36 16 9 1 8 7 35 1 1 1 1

    19 62 50 3 1

    Fonte: Panorama 2000, Anprotec (2000).

    No Paraná, no momento da pesquisa já se contabilizam nove incubadoras espalhadas ao longo

    de todo o Estado, normalmente localizadas próximas a algum centro universitário ou

    tecnológico. De acordo com a teoria estatística, para determinar o tamanho de amostras

    probabilísticas, há considerações a serem feitas, preliminarmente quanto ao tamanho da

    população – infinita ou finita, e, também, quanto aos objetivos básicos da amostragem –

    estimação da média ou estimação da proporção (STEVERSON, 1986). Assim, a fórmula

    utilizada para determinação de uma amostra probabilística, no caso de população finitas

    (pequenas) com estimação da proporção como a da presente pesquisa, é dada por:

    10 O termo Incubadora de Empresas, para efeito desta pesquisa, designa empreendimentos que ofereçam espaço

    físico, por tempo limitado, para a instalação de empresas de base tecnológica e/ou tradicional, e quedisponham de uma equipe técnica para dar suporte e consultoria a estas empresas.

    11 Empresas Residentes são aquelas em processo de incubação, ou seja, utilizam a infra-estrutura e os serviçosoferecidos pela Incubadora, ocupando espaço físico, por tempo limitado, na mesma.

  • Capítulo 1: Apresentação 25

    qpZ

    dNNn

    ××

    ×+

    =

    2

    21

    Fonte: Silver, 2000, p. 227.

    onde:

    n : é o número de elementos da amostra (tamanho da amostra)N : é o número de elementos da população (tamanho da população)Z : é o valor da abscissa da curva normal associada ao nível de confiança fixado.d : é o erro tolerável da amostra (precisão da amostra) em porcentagem.p e q : proporção de se escolher uma dada empresa aleatoriamente.

    Então, com um tamanho de população N = 55 empresas, para um nível de significância pré-

    fixado de 5%, o que corresponde a um nível de confiabilidade de 95% sobre os resultados da

    pesquisa que, conforme afirma Silver (2000), para estudos nas áreas sociais é comum se

    utilizar, resultando em um valor Z = 1,96, admitindo-se que a proporção é desconhecida e que

    portanto utiliza-se p = q = 0,5, pois dá o maior tamanho possível de amostra e tomando-se d

    (erro amostral) de 0,10 admitindo-se que intervalos de +/- 10% de variação sobre a média das

    pontuações do CEI e do TFI encontrados fornece uma clara definição da tendência adotada, o

    tamanho mínimo necessários da amostra seria de 35 empresas, conforme demonstra o cálculo

    abaixo:

    35

    5,05,0296,1

    210,0551

    55 ≅

    ××

    ×+

    =n

    Como calculado, uma amostra igual ou superior a 35 empresas já seria suficientemente grande

    para eliminar dúvidas quanto a sua representatividade. Com relação à escolha das empresas,

    uma das possibilidades era a utilização da amostragem aleatória estratificada. Porém, adotou-

    se a amostragem por conveniência por dois motivos principais. O primeiro deles era que as

    incubadoras e respectivamente suas empresas encontravam-se geograficamente distantes; e o

  • Capítulo 1: Apresentação 26

    segundo motivo foi pela decisão tomada na aplicação do instrumento de pesquisa (visita in-

    loco). Assim, o custo (temporal e monetário) em se pesquisar algumas delas, ou todas que

    estivessem disponíveis no momento seria o mesmo.

    Com relação ao número de respondentes dentro de cada empresa, foi recomendado que se a

    empresa possuísse mais de um proprietário-gerente, que pelo menos dois deles respondessem

    a pesquisa. Todos responderam a um questionário de auto-resposta na forma de papel

    impresso, que foi disponibilizado no dia agendado da visita às incubadoras, com as devidas

    recomendações de preenchimento bem como esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa.

    O Anexo 2 traz um exemplo da carta pesquisa para o contato com os gerentes das

    incubadoras.

    Como resultado, obteve-se 73 questionários respondidos englobando 38 empresas diferentes

    de todas as oito incubadoras. A grande maioria das empresas (75%) trabalha na área

    tecnológica, agribusiness, produção de software comerciais e de entretenimento, automação

    industrial e soluções para Internet. Em geral, as incubadoras são recentes com menos de 3

    anos de existência. Com relação a idade, 66% dos proprietários-gerentes das empresas

    pesquisadas têm menos de 30 anos e 89% possuem pelo menos o terceiro grau, com 52% das

    empresas possuindo até 2 sócios e 77% sendo do sexo masculino. O Quadro 1.2 apresenta os

    dados de quantidade de empresas e de pessoas por incubadoras e a cidade das empresas

    pesquisadas e a Figura 1.1 a localização geográfica das incubadoras.

    Quadro 1.2 – Número de empresas, respondentes e localização das empresas

    Quantidade de LocalizaçãoIncubadoras Empresas Respondentes Cidade

    1 9 21 Maringá2 6 13 Pato Branco3 3 3 Cascavel4 2 3 Curitiba5 9 17 Curitiba6 3 9 Londrina7 4 4 São Mateus do Sul8 2 3 Foz de Iguaçu

    Total 38 73

  • Capítulo 1: Apresentação 27

    Figura 1.1 – Localização geográfica das incubadoras

    Fonte: www.reparte.com.br

    1.5.4 Os Instrumentos de pesquisa

    Carland Entrepreneurship Index – CEI

    O CEI é resultado de extensa pesquisa sobre empreendedorismo realizada pelos Professores

    Jim e JoAnn Carland, os quais são reconhecidos internacionalmente como especialistas neste

    campo. Segundo os próprios autores:

    Baseamo-nos em conceitos de escritores como McClelland (1961) no estudo darealização, Brockhaus (1980, 1982) na propensão pelo risco dos empreendedores,Drucker (1985) em inovação, Jung (1923), Keirsey & Bates (1984) e Myers & Briggs(1962) em tipologias cognitivas, nos estudos de características de personalidadesempreendedoras de Borland (1974), Davids (1963), Dunkelberg & Cooper (1982), Gasse(1977), Hartman (1959), Hornaday & Aboud (1971), Liles (1974), Mancuso (1975),Palmer (1971), Sexton (1980), Timmons (1978), Vesper (1980), Welsh & White (1981) eWilliams (1981) e em nossa própria linha de pesquisa nesta área (Carland, 1982; Carland,Hoy, Boulton & Carland, 1984, 1988; Carland, Carland, & Hoy, 1982, 1983, 1988;Carland & Carland, 1983, 1984, 1986, 1987, 1988, 1991, 1992). (CARLAND,CARLAND & HOY, 1992, p. 1-2).

    A avaliação dessa grande massa de literatura levou-os a concluir que o empreendedorismo é

    uma função de, principalmente, quatro elementos: (i) traços de personalidade (necessidade de

    realização e criatividade), propensão a (ii) inovação, (iii) ao risco e (iv) postura estratégica. Os

    trabalhos que os autores têm feito durante os anos sugerem que a tendência empreendedora é

  • Capítulo 1: Apresentação 28

    melhor explicada quando olhada através de um continuum (CARLAND, CARLAND & HOY,

    1992). Os quatro elementos utilizados por Carland e seus colaboradores são de grande

    consenso na literatura. A maior ou menor presença desses elementos, em um indivíduo,

    coloca-o, segundo a escala do CEI, entre os valores de 0 a 33 pontos, contidos em três faixas:

    de “Micro-Empreendedor” (0 a 15) ao “Macro-Empreendedor” (26 a 33), passando pela faixa

    intermediária de Empreendedor (16 a 25).

    Um Macro-Empreendedor verá seu negócio como um meio de mudar a indústria e tornar-se

    uma força dominante. Para ele, o sucesso é medido em termos do crescimento de seus

    negócios. Um Micro-Empreendedor, por outro lado, cria um negócio o qual nunca crescerá,

    mas que se torna uma referência em sua cidade ou comunidade. Ele vê sua iniciativa de

    negócio como a fonte primária para a renda familiar ou para estabelecer emprego familiar,

    mas ele não espera nem aspira tornar-se nada além de seu negócio familiar. Enquanto o

    Macro-Empreendedor vê, geralmente, seu negócio como o centro de seu universo, o Micro-

    Empreendedor considera o negócio como uma fonte de renda, uma importante parte de sua

    vida, mas certamente não a principal delas. Certamente, muitos empreendedores caem em

    algum lugar entre essas duas posições (CARLAND, 2000).

    O CEI consiste de um questionário de auto-resposta com trinta e três frases afirmativas em

    pares, no formato de escolha forçada. O instrumento requer menos de 10 minutos para ser

    respondido, e possui uma fácil tabulação. Ele é uma escala preferencial, indicando onde,

    baseada em sua personalidade e preferências, o respondente mais confortavelmente está como

    um empreendedor. Ele não deve ser usado como palavra final, mas como uma ferramenta, um

    forte indicador que pode auxiliar o indivíduo a alcançar uma postura empreendedora.

    Team Factors Inventory – TFI

    O TFI é o resultado de pesquisas sobre criatividade desenvolvidas diretamente com equipes

    criativas em diversas organizações da Europa, África e Ásia, que lidavam com tarefas e

    objetivos não rotineiros, freqüentemente associados à pesquisa e desenvolvimento de novos

    produtos. O TFI fundamenta-se no modelo de Liderança Criativa, criado por Rickards e

    Moger (2000). O modelo busca entender e explicar basicamente duas questões “que

    mecanismos estão em jogo quando uma equipe falha em atingir a performance esperada? e

    que mecanismos levam à performance exemplar?” (RICKARDS e MOGER, 2000, p. 275).

  • Capítulo 1: Apresentação 29

    Para os autores, a Liderança Criativa é o processo fundamental que muda o comportamento

    criativo da equipe de inaceitável para aceitável e, posteriormente para superior, através da

    introdução de estruturas “benignas”, enfatizando a cooperação (e não a coerção) e a

    mutualidade (situações que beneficiam o grupo e o líder ao mesmo tempo). Essa estrutura

    benigna é representada pelos sete fatores de equipe que distinguem equipes com elevado

    potencial para criatividade, sendo eles: plataforma de entendimento; visão compartilhada;

    clima; resiliência; idéias próprias; ativação em rede e aprendizado vindo da experiência.

    A maior ou menor presença desses fatores de equipes criativas faz com que as duas barreiras

    existentes que impedem a inserção ou o desenvolvimento das estruturas “benignas” no grupo

    e, conseqüentemente, fazem com que as equipes não sejam capazes de atingir o desempenho

    esperado em termos criativos, sejam quebradas. Rickards e Moger (2000) usam o termo

    “barreira” para indicar um impedimento estrutural coerente ao desenvolvimento da

    criatividade. Os autores vêem as barreiras para o desenvolvimento de equipe tanto

    externamente, como pressões do ambiente, quanto internamente, como barreiras socialmente

    construídas. Essas barreiras compreendem a fraca de comportamento e a forte de

    desempenho.

    O TFI consiste de um conjunto de 37 questões em uma escala de cinco pontos (escala de

    Likert), que mede a tendência de uma equipe para a liderança criativa nestes sete fatores, cada

    um contendo três itens. Posteriormente, quatro outras variáveis, contendo três itens cada,

    também foram incluídas com o mesmo propósito. Elas são três critérios de performance:

    produtividade, criatividade e conhecimento e um critério de estilo de liderança. Todas as

    questões foram expressas positivamente e a primeira questão foi introduzida para focar a

    atenção do respondente.

    Como a utilização destes instrumentos é inédita no Brasil, foi necessária a tradução do inglês

    para o português. Para tal, adotou-se o método de Douglas e Craig (2000), que compreende a

    tradução do instrumento original – source – para o idioma alvo – target, e sua re-tradução

    para o idioma original, novamente. Isto é feito para se comparar os resultados e, caso

    necessário, refazer o mesmo processo até que o instrumento resultante contenha o mesmo

    significado em todo seu contexto. Normalmente, recomenda-se utilizar para a tradução uma

    pessoa que tenha como língua mãe o idioma alvo e para a re-tradução uma pessoa que tenha

    como língua mãe o idioma original.

  • Capítulo 1: Apresentação 30

    Conjuntamente com o CEI e o TFI foram incluídas na pesquisa, três perguntas demográficas

    (variáveis de controle) sobre a idade, o sexo e o grau de instrução, com o propósito de

    observar o relacionamento destas com os índices. O Anexo 3 traz a versão em português do

    CEI e do TFI utilizados na pesquisa, o Anexo 4 traz a versão original dos instrumentos e o

    Anexo 5 traz a instrução para tabulação do CEI.

    1.5.5 Tratamento dos dados

    Com relação aos instrumentos de pesquisa, existem características que podem ser verificadas

    estatisticamente para que se possa dizer se o instrumento é um bom instrumento de pesquisa

    ou não. De um modo geral e intuitivo, acredita-se que um instrumento tenha precisão em

    indicar aquilo que se está interessado em medir e que também seja fácil e eficiente em se usar.

    Para tal, existem três principais critérios para avaliar um instrumento: validade, confiabilidade

    e praticidade (COOPER e SCHINDLER, 1998). Estes três critérios serão alvo de atenção no

    anexo 1, onde serão descritos os significados destes critérios, bem como realizadas algumas

    técnicas estatísticas paramétricas, como a análise fatorial e o alfa de Cronbach para a

    avaliação dos instrumentos.

    Já a análise dos dados iniciou-se com uma análise exploratória, seguida do uso de técnicas e

    testes mais avançados. A análise exploratória inclui o correto manuseio dos dados para a

    análise, isto é, a verificação da qualidade dos dados, o cálculo de estatísticas descritivas

    simples (média, desvio-padrão, moda, mediana) e o uso de gráficos e tabelas. (SILVER,

    2000). Como ambos os instrumentos possuem variáveis quantitativas contínuas e escala

    intervalar (PEREIRA, 1999), a oportunidade de análises numérica é muita maior do que nas

    escalas nominal ou ordinal. Técnicas como testes de hipóteses, análise multivariada e medidas

    de associação serão empregadas, utilizando-se testes estatísticos através do software

    STATISTICA for Windows – 99 Edition, fabricado pela StatSoft, Inc – USA.

  • Capítulo 1: Apresentação 31

    1.6 Estrutura da dissertação

    Este item destina-se a apresentar a estrutura da dissertação, isto é, a forma em que os assuntos

    foram divididos e abordados de maneira a se atingirem os objetivos propostos. Excluindo-se o

    capítulo chamado de Apresentação, que contém os elementos principais do projeto de

    dissertação, quais sejam: tema, objetivos, justificativas, hipóteses, aspectos metodológicos,

    estrutura da dissertação e, excluindo-se também o último capítulo intitulado Conclusão, a

    dissertação contém mais quatro capítulos, sendo eles: 2. Empreendedorismo, Liderança

    Criativa e Incubadoras Tecnológicas, 3. Análise do CEI, 4. Análise do TFI e 5. Análise da

    relação entre o CEI e o TFI. Na parte dos anexos, destaca-se o Anexo 1, em que é realizado

    um estudo estatístico sobre a validade e confiabilidade da versão em português de ambos os

    instrumentos de pesquisa.

    O capítulo dois compreende a revisão da literatura englobando dois principais temas, o

    empreendedorismo e a liderança criativa. São tratados alguns conceitos importantes sobre

    como vem sendo entendido o campo de estudo em empreendedorismo, suas principais

    correntes de pensamento e as principais características atribuídas ao empreendedor. Dentre as

    características, a criatividade é retomada, tendo-se como referência o modelo de Liderança

    Criativa.

    Para se ter uma noção melhor do papel das incubadoras no contexto do empreendedorismo

    brasileiro, o segundo capítulo também trata da origem e do desenvolvimento desta instituição.

    Através da pesquisa bibliográfica em dados secundários, pôde-se evidenciar a efetiva

    contribuição dela para a promoção e disseminação do empreendedorismo brasileiro e para o

    papel do desenvolvimento de novos produtos e serviços criativos e inovadores. Neste subitem,

    além de um breve histórico sobre a origem e o desenvolvimento das Incubadoras, é

    apresentada também sua contribuição ao empreendedorismo.

    Conforme as hipóteses propostas, a análise dos resultados foi segmentada e tratada do terceiro

    ao quinto capítulo. O capítulo três compreende a análise dos resultados da pesquisa com

    relação às informações colhidas pela aplicação do CEI. O índice de empreendedorismo foi

    analisado de forma geral e em cada uma de suas quatro características mensuradas, bem como

    deste com as variáveis idade, sexo e grau de instrução. Estas análises visam dar suporte as

    hipóteses H1, H4.1 e H5.1.

  • Capítulo 1: Apresentação 32

    O quarto capítulo aborda os resultados referentes ao índice de liderança criativa das equipes.

    O instrumento fornece um índice geral e um para cada um dos sete fatores que estão

    envolvidos no processo, sendo que a maior ou menor presença deles influencia positiva ou

    negativamente o índice total. Aqui também é interesse da pesquisa verificar se existem

    relações entre as variáveis idade, sexo e grau de instrução com o índice. Estas análises visam

    dar suporte as hipóteses H2, H4.2 e H5.2.

    As relações entre os níveis de empreendedorismo e liderança criativa foram estudadas no

    quinto capítulo. O objetivo foi verificar se os dois modelos propostos para medirem

    fenômenos semelhantes, tem alguma afinidade entre suas escalas. Apesar de serem

    instrumentos com formas diferentes, ambos medem a maior ou menor propensão a

    determinadas características que, normalmente, são atribuídas aos empreendedores e às

    pessoas criativas. Assim, analisar as variáveis de cada instrumento com relação ao outro

    fornecerá um importante indicativo da consistência dos instrumentos bem como das teorias

    relacionadas aos modelos, ou evidenciará a fragilidade e a complexidade de comparações

    entre diferentes instrumentos. Estas análises darão suporte a hipótese H3.

    O Anexo 1 tem como objetivo verificar a confiabilidade e a validade das versões em

    português dos instrumentos de pesquisa. Apesar de os mesmos já terem trabalhos empíricos e

    análises estatísticas na versão original, em inglês, esta é a primeira vez que são aplicados no

    Brasil. Como Knight afirma “[...] o pesquisador que assume que uma escala desenvolvida

    para sua casa funcionará com igual eficácia no exterior está provavelmente procurando por

    problemas” (1997, p. 213, tradução do autor). Dessa maneira, alguns cuidados metodológicos

    quanto à tradução, pré-teste, análises fatoriais e adequação dos instrumentos foram tomadas,

    permitindo-se afirmar sua confiabilidade em pesquisas no Brasil (DOUGLAS e CRAIG,

    2000; PEREIRA, 1999; SILVER, 2000). Além disso, poderão trazer subsídios para futuros

    trabalhos de adaptação dos instrumentos para a realidade brasileira.

  • Capítulo 2

    Empreendedorismo, LiderançaCriativa e Incubadoras Tecnológicas

    Embora o campo de estudo em empreendedorismo seja reconhecido como sendo de

    fundamental importância à economia e, apesar de muitos pesquisadores ao redor do mundo

    terem voltado suas atenções para este fenômeno, ainda não há concordância sobre o objeto de

    pesquisa deste campo de estudo (BRUYAT e JULIEN, 2000). O empreendedorismo tem sido

    considerado um campo de estudo recente, ainda em sua infância (BRAZEAL e HERBERT,

    1999) e como tal, carece de maturação. Esta maturação é necessária como em qualquer outro

    campo de conhecimento que se inicia. E como apontado por Kuhn (1962, apud BRAZEAL e

    HERBERT, 1999), o conhecimento evolui através de competições de paradigmas e da busca

    por melhores respostas aos novos conjuntos de inquietações.

    Ainda que haja algum conflito sobre a definição do objeto de estudo do empreendedorismo,

    Filion (1999a) destaca que a palavra “diferença” seria mais apropriada do que termos como

    “confusão” ou “não concordância” utilizados na literatura. Segundo ele, as diferenças, via de

    regra, ocorrem porque pesquisadores tendem a perceber e definir o empreendedorismo e o

    empreendedor usando premissas de suas próprias disciplinas. Filion afirma também, que

    existem grandes semelhanças dentro de uma mesma corrente, como por exemplo, a dos

    economistas com destaque a Richard Cantillon (1680-1734) e Jean-Baptiste Say (1767-1832)

    e, posteriormente, Joseph A. Schumpeter (1883-1950) que associaram o empreendedor à

    inovação. Um outro exemplo são os comportamentalistas, tendo como principal expoente

    David C. McClelland, que enfatizava os aspectos de atitude como a criatividade e a intuição.

    Estas duas correntes lançaram as fundações das posições atualmente dominantes sobre

    empreendedorismo e tendem a conter elementos comuns à maioria (BRUYAT e JULIEN,

    2000).

  • Capítulo 2: Empreendedorismo, Liderança Criativa e Incubadoras Tecnológicas 34

    Atualmente, verifica-se um aumento do número de pesquisas e publicações na área (SHANE,

    1997). Trabalhos mostram que, em 1998, existia um montante de mais de mil publicações

    surgindo anualmente e mais de 50 conferências e 25 publicações especializadas ao redor do

    mundo (FILION, 1999a). A maior parte destas atividades está sendo desenvolvida por

    instituições e pesquisadores norte americanos. Um destes reflexos é o aumento do número de

    cursos de empreendedorismo, de apenas 30 em 1970 para 370 em 1993 (COOPER,

    HORNADAY e VESPER, 1997). No Brasil, o estudo do empreendedorismo ainda mostra-se

    incipiente, embora sua prática começa a ser reconhecida como aponta o GEM 2000

    (REYNOLDS et al., 2000). As duas últimas principais conferências mundiais12 e as duas das

    mais completas obras13 sobre empreendedorismo, englobam um total de aproximadamente 25

    temas que podem ser reunidos em quatro grandes linhas de pesquisas, apresentados no

    Quadro 2.1.

    Quadro 2.1 – Linhas de pesquisa em empreendedorismo

    Estudos que buscam distinguir os empreendedores das pessoas em geral através de uma lista decaracterísticas;Estudos dos fatores (político, econômico, social, familiar, psicológico, cultural, físico e deoportunidade) que afetam o processo, o sucesso empreendedor;Estudos que buscam tipificar os empreendedores, criando tipologias e;Estudos dos meios pelos quais os fatores de sucesso podem ser melhorados em potenciaisempreendedores.

    Fonte: adaptado de SEXTON e LANDSTRÖM (2000).

    O propósito deste capítulo é discutir alguns itens dentro destas quatro grandes linhas de

    pesquisa que darão uma visão do empreendedorismo e, por conseguinte, de quem é o

    empreendedor. O capítulo será estruturado em três itens. O primeiro faz referências às origens

    e definições do empreendedorismo. Aborda as idéias e conceitos de alguns dos principais

    autores, já comentados anteriormente, que fornecerão o ponto de partida para o entendimento

    12 Babson-Kauffman Entrepreneurship Research Conference – BKERC. Nova denominação a partir de 2002,

    antiga Frontiers of Entrepreneurship Research – FER; International Council for Small Business – ICSB WorldConference.

    13 KENT, C. A.; SEXTON, D. L.; VESPER, K. H. (Ed.) Encyclopedia of Entrepreneurship. Englewood Cliffs,Prentice-Hall, 1982 e SEXTON, D. L.; LANDSTRÖM, H. (Ed.) The Blackwell Handbook ofEntrepreneurship. Oxford: Blackwell Publishers, 2000.

  • Capítulo 2: Empreendedorismo, Liderança Criativa e Incubadoras Tecnológicas 35

    do campo. A seguir, o segundo item faz menção às características que ao longo do tempo vem

    sendo atribuídas ao comportamento empreendedor, dando atenção a três, em particular:

    liderança, criatividade e inovação, resgatadas principalmente do modelo de liderança criativa

    (RICKARDS e MOGER, 2000). O terceiro e último item trata da relação das MPE’s e o

    empreendedorismo. Busca identificar a importância e a relevância dessa forma de organização

    e de como ela pode estar mais envolvida com processos empreendedores.

    2.1 Origens e definições do empreendedorismo

    Em muitos artigos sobre empreendedorismo é comum ver referências a Jean-Baptiste Say

    como aquele que cunhou a palavra entrepreneur. Contudo, o verbo entreprendre vem de bem

    antes, da antiga França do século XII para designar aquele que incentivava brigas (FILION,

    1999a) e não continha nenhuma conotação econômica. Em meados do século XV surgiu o

    substantivo entrepreneur como um sinônimo para contratante – contractor – (HAAHTI,

    1987). Isto levou ao entendimento de alguém que assumia alguma tarefa. No século XVI, seu

    significado mudou para “alguma ação bélica violenta” e era empregado a pessoas que

    tomavam a responsabilidade e dirigiam uma ação militar (FILION 1999a). Como aponta

    Haahti, isto implicava em um contexto perigoso que pode ter sido a causa para a mudança

    explícita que levou à idéia de risco inerente durante os próximos séculos até a atualidade.

    Paralelamente, na Inglaterra, situações e palavras equivalentes eram utilizadas, como projeto

    – project - e projetor – projector - e aventureiro – adventurer - e empresário – undertaker -

    para denominar o empreendedor. Haahti afirma que o termo undertaker foi usado do século

    XIV em diante paralelamente ao termo entrepreneur na França. Com o passar do tempo

    houve uma distinção entre os termos projector e undertaker, sendo que o primeiro referia-se a

    um projetista, enganador ou especulador e o segundo denotava um homem honesto

    (HAAHTI, 1987). Por fim, o termo empreendedor adquiriu o significado de alguém que

    executava sobre seu próprio risco uma tarefa imposta pelo governo e, gradualmente, se

    aproximou ao significado de uma pessoa que estava envolvida em um projeto de risco do qual

    um lucro incerto poderia ser derivado. (HAAHTI, 1987). A pesquisa de Haahti revelou que a

    primeira aparição das palavras entreprendre, enterprise e entrepreneur foi no Dicionário

    Universal do Comércio de Jacques des Brunslons Savary, publicado em Paris em 1723.

  • Capítulo 2: Empreendedorismo, Liderança Criativa e Incubadoras Tecnológicas 36

    Os primeiros pensadores no campo foram os economistas. Richard Cantillon, já em 1725

    utilizava a palavra empreendedor em seu escrito “Ensaio sobre o comércio” “Essai sur le

    Commerce” que foi publicado postumamente em 1755. Ele definia o empreendedor como

    alguém que comprava matéria-prima, com o objetivo de processá-la e depois revender por um

    preço maior não definido previamente. Desta forma a figura do empreendedor era de alguém

    que assumia riscos, aproveitando oportunidades com o objetivo de obter lucros (HAAHTI,

    1987; FILION, 1999a). Segundo Filion, o próprio Cantillon era visto como um empreendedor

    que vivia de rendas e da busca de oportunidades de investimento. Segundo suas palavras “Era

    capaz de analisar uma operação identificando nela aqueles elementos que já eram lucrativos

    e os que poderiam vir a ser ainda mais” (FILION, 1999a, p. 06).

    Posteriormente, Robert Turgot em seus escritos datados de 1766 começa a fazer distinção

    entre a figura do empreendedor e do capitalista. O empreendedor de Turgot era um rico

    industrial ou mercador, que, na busca de riqueza iniciava uma operação de risco e

    supervisionava atividades produtivas, enquanto que o capitalista provia os recursos

    necessários. A partir daí, Say, em 1816, faz uma clara distinção entre a função empreendedora

    e a função capitalista, incluindo no conceito a premissa de que o desenvolvimento econômico

    era resultado da criação de novos empreendimentos. Cabe ressaltar que Say também foi um

    empreendedor e admirava a obra de Adam Smith e ansiava pela expansão da revolução

    industrial até a França. Segundo Filion ressalta, Say pode ser considerado o pai do

    empreendedorismo, pois “... foi o primeiro a lançar os alicerces desse campo de estudo...” e

    ainda “... Schumpeter admitia que a parte mais importante de seu trabalho era transmitir aos

    anglo-saxões o universo dos empreendedores como descrito por Say” (Filion, 1999a, p. 07).

    Say enfatiza que o empreendedor é a figura central da economia com o papel de mediador.

    Sendo mediador sua função é combinar os meios de maneira a alcançar no final a produção de

    uma mercadoria. Haahti exemplifica dizendo que ele mediava entre o capitalista e o senhor

    das terras, entre os cientistas e os trabalhadores, entre os vários fornecedores de produtos e

    serviços e entre os produtores e consumidores. Mais tarde, em 1920, Frank Knight (1885 -

    1972) fez uma distinção entre risco e incerteza e tomou o ponto de vista de que a habilidade

    do empreendedor estava na capacidade de lidar com a incerteza que existia na sociedade

    (SEXTON e LANDSTRÖM, 2000).

  • Capítulo 2: Empreendedorismo, Liderança Criativa e Incubadoras Tecnológicas 37

    Segundo ele, a oportunidade de lucro aparece da incerteza que cerca a mudança (DEAKINS,

    1999). Para Knight, o risco existe quando nós temos resultados incertos, mas estes resultados

    podem ser previstos com um certo grau de probabilidade. Por exemplo, o resultado que seu

    carro poderá ser roubado ou não é incerto, mas o risco de que seu carro poderá ser roubado

    pode ser calculado com algum grau de probabilidade e este risco pode ser então garantido. Já

    a verdadeira incerteza apare