Artigo Resenha Prof Edmundo

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  • NOVOS PARADIGMAS DA CINCIA PROCESSUAL NO BRASIL E A

    REFORMA DO CDIGO DE PROCESSO CIVIL: POR UM PROCESSO CIVIL

    DE RESULTADOS1.

    Edmundo Gouva Freitas

    1. Introduo. 2. A constitucionalidade do Exame de Ordem\OAB. 3. Processo como

    instrumento de liberdade. 4. Acesso Justia. 5. Justia em Nmeros. 6. Direito e

    Desenvolvimento. 7. Processo para o Desenvolvimento. 8. Possveis entraves ao

    aperfeioamento do processo. 9. Reformas processuais. 10. O projeto do Novo Cdigo

    de processo Civil. 11. Consideraes Finais.

    1- INTRODUO

    O presente artigo tem como inspirao a transcrio de palestra realizada pelo

    Professor Ps-Doutor Antnio Pereira Gaio Jnior em 11 de agosto de 2011 em

    comemorao ao Dia do Advogado.

    O cabedal de ensinamentos trazidos a lume na brilhante exposio do Mestre,

    no obstante a didtica e oratria do palestrante sejam insubstituveis, resultou na

    elaborao da presente pesquisa que aborda, de forma sistematizada, os modelos e

    tendncias do processo civil ptrio.

    Com a devida venia academia, mantm-se o emprego da primeira pessoa para

    no descaracterizar o real objetivo deste trabalho que perpetuar nas letras jurdicas o

    incomensurvel contributo intelectual de memorvel conferncia, mantendo as

    caractersticas infungveis do evento.

    A pesquisa em tela trata, inicialmente, da constitucionalidade do exame de

    ordem da OAB passando pela necessidade de melhoria da qualidade do ensino jurdico

    brasileiro. Nessa vereda, adentra-se no tema do processo como instrumento democrtico

    estabelecendo sua relao com o acesso justia como direito fundamental do cidado.

    Em derradeiro, com estudo sistemtico dos dados estatsticos concatena-se o tema da

    qualidade da prestao do servio pblico da Justia ao desenvolvimento do pas. Aps

    1 Palestra proferida pelo Professor Ps-Doutor Antnio Pereira Gaio Jnior em 11 de agosto de 2011 na

    sede da Ordem dos Advogados do Brasil Subseo Trs Rios RJ.

  • tudo isso, analisa-se os principais pontos das ltimas reformas processuais civis e o

    Projeto do Novo Cdigo de Processo Civil.

    2- A CONSTITUCIONALIDADE DO EXAME DE ORDEM \ OAB2

    Hoje ns estamos a a comemorar os 184 anos da criao dos cursos jurdicos

    do pas.3 Em 1827 So Paulo

    4 e Olinda

    5 foram as duas primeiras Faculdades de Direito

    instauradas aqui no Brasil, at ento tnhamos que ir para Coimbra estudar eu s fiz

    isso em 2003 para 2004 quando do meu ps-doutorado, mas rememorei esses anos

    todos que os advogados brasileiros tinham que ir at Coimbra, em famlias abastadas,

    para ento cursar as cadeiras desse magnfico curso.

    Trata-se de uma classe de luta, sinnimo de liberdade, que participa e

    participou de todos os fenmenos importantes do Brasil at agora e sempre est ativa

    neste sentido6.

    Antes de comear a apresentao de nosso tema algumas reflexes so

    importantes aproveitando no somente a presena de nossos colegas advogados e

    mesmo alunos da Faculdade de Direito da Universidade Federal Rural do Rio de

    Janeiro7 o papel que nossa classe representa hoje, mais especificamente, o papel dos

    cursos de direito.

    bem verdade que o curso de direito hoje no forma advogado. O curso de

    Direito, o curso no de Advocacia e; por isso, que o mesmo possui o exame de

    ordem como conhecemos hoje.

    O exame de ordem o exame para formar advogados, porque a faculdade de

    direito forma profissionais do direito, no somente advogados. Na semana passada eu

    2 ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - EXAME DE ORDEM - LEI N 8.906/94 -

    CONSTITUCIONALIDADE ASSENTADA NA ORIGEM - Possui repercusso geral a controvrsia

    sobre a constitucionalidade do artigo 8, 1, da Lei n 8.906/94 e dos Provimentos n 81/96 e 109/05 do

    Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, no que condicionam o exerccio da advocacia a

    prvia aprovao no Exame de Ordem.

    (RE 603583 RG, Relator(a): Min. MARCO AURLIO, julgado em 10/12/2009, DJe-067 DIVULG 15-

    04-2010 PUBLIC 16-04-2010 EMENT VOL-02397-05 PP-01379 ) 3 Lei n. 3.150-1882 -\ Lei de 11 de Agosto de 1827 Cra dous Cursos de sciencias Juridicas e Sociaes,

    um na cidade de S. Paulo e outro na de Olinda. 4 Acesse: http://www.direito.usp.br/

    5 Recomenda-se a leitura das seguintes obras: BEVILAQUA, Clvis - Histria da Faculdade de Direito

    do Recife. 2 ed. Braslia: INL; Conselho Federal de Cultura, 1977. \ PINTO FERREIRA, Lus - Histria

    da Faculdade de Direito do Recife. Recife: UFPE, Universitria, 1980. 6 CF, Art. 133 - O advogado indispensvel administrao da justia, sendo inviolvel por seus atos e

    manifestaes no exerccio da profisso, nos limites da lei. 7Acesse: http://www.itr.ufrrj.br/

  • estava nos Estados Unidos, fui dar uma palestra na George Washington University8

    sobre jurisprudncia brasileira e l indagaram sobre a constitucionalidade ou no do

    exame de ordem no Brasil.9 Interessante que um dos professores que radicado nos

    E.U.A., mas vive os problemas brasileiros e comunga da postura, inclusive do I.A.B.-

    Institutos dos Advogados Brasileiros10

    , ao qual eu fao parte, de que o exame de ordem

    constitucional.

    Evidentemente, a Constituio brasileira d livre acesso ao exerccio de

    profisses, mas algumas necessitam de Lei especfica11

    para regular como se dar este

    exerccio e a advocacia uma delas.

    Na verdade nos sabemos que o exame de ordem ataca a consequncia, no

    ataca a causa. A causa esta abertura indiscriminada e perniciosa de faculdades de

    direito pelo Brasil de modo que resulta em faculdades de baixa qualidade. O Brasil tem

    hoje 1.263 faculdades de direito mais do que o mundo inteiro somado que tem 1.060,

    mais de 1.000.000 de bacharis. Certamente, se coloca o exame de ordem da OAB

    como se fosse uma reserva de mercado. Reserva de mercado de um milho de

    bacharis? O mercado j est desreservado h muito tempo se me permite o

    neologismo.12

    O fato que o exame de ordem necessrio para guardar sociedade

    profissionais de qualidade e que estes profissionais de qualidade passem pelo exame

    que vai prestar essa qualidade a eles. A faculdade volto a dizer faculdade de

    8 Disponvel em: http://www.gwu.edu/ . Acesso em 10/012013.

    9 A exigncia de aprovao prvia em exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para que

    bacharis em direito possam exercer a advocacia foi considerada constitucional pelo Plenrio do Supremo

    Tribunal Federal (STF). Por unanimidade, os ministros negaram provimento ao Recurso Extraordinrio

    (RE 603583) que questionava a obrigatoriedade do exame. Como o recurso teve repercusso geral

    reconhecida, a deciso nesse processo ser aplicada a todos os demais que tenham pedido idntico. A

    votao acompanhou o entendimento do relator, ministro Marco Aurlio, no sentido de que a prova,

    prevista na Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia), no viola qualquer dispositivo constitucional.

    Concluram desta forma os demais ministros presentes sesso: Luiz Fux, Dias Toffoli, Crmen Lcia

    Antunes Rocha, Ricardo Lewandowski, Ayres Britto, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Cezar Peluso. Disponvel em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/vernoticiadetalhe.asp?idconteudo=192411. Acesso em:

    18/01/2013. 10

    Disponvel em: http://www.iabnacional.org.br/ . Acesso em 10/01/2013. 11

    Lei n. 8.906\94:

    Da Inscrio

    Art. 8 Para inscrio como advogado necessrio:

    (...)

    II - diploma ou certido de graduao em direito, obtido em instituio de ensino oficialmente autorizada

    e credenciada;

    (...)

    IV - aprovao em Exame de Ordem;

    (...) 12

    Para melhor entender o perfil do aluno no ensino superior privado vide a obra: GASSET, Jos Ortega y.

    A rebelio das massas. Trad. Marilene Pinto Michael e Maria Estela Heider Carvalho. So Paulo: Martins

    Fontes, 2002.

  • direito no faculdade de advocacia. Portanto, a classe, mais do nunca, deve estar

    sempre firme neste tipo de questionamento.

    Neste sentido que o tema de hoje aborda os Novos Paradigmas da Cincia

    Processual no Brasil e a Reforma do Cdigo de Processo Civil: Por um Processo Civil

    de resultados.

    Eu estou dizendo aqui da liberdade de exercer a profisso ou da necessidade

    que ns temos de prestar um exame pblico que o exame de ordem. A mesma coisa

    mutatis mutandis instrumento de liberdade, processo instrumento democrtico,

    processo instrumento para tornar as pessoas mais felizes ou menos infelizes.13

    Ns que temos militncia intensa no foro sabemos exatamente que a todo dia, a

    toda hora, lidamos com instrumento de liberdade14

    para salvaguardar direito do

    cidado comum. Direito daquele que urge a o tornar mais feliz ou menos infeliz e; o

    instrumento processo, longe de ser qualquer dado cientfico ou dogmtico, prtico,

    mais do que nunca. Ele deve atender o que Chiovenda j definia no incio do sculo XX

    j falava processo deve dar a quem tem um direito, exatamente aquilo que ele teria

    direito, caso seu direito no fosse inadimplido15. Essa a real virtude do processo.

    Chiovenda, grande expoente do processo na Europa continental, disse isso em 1902.

    Veja isso, no incio do sculo vinte, e ainda to real e to verdadeiro para ns.

    3- PROCESSO COMO INSTRUMENTO DE LIBERDADE

    Por isso ento, basicamente, eu sempre gosto de fazer algumas ponderaes

    desses contedos relacionados que o processo representa no pas como instrumento

    de liberdade. Para isso importante ns tratarmos aqui a questo relacionada

    propriamente com a realidade do homem voltado para o progresso, voltado

    edificao, para construo do saber e construo de ideias.

    13

    C.f.. GAIO JNIOR, Antnio Pereira. Direito Processual Civil: cumprimento de sentena, processo de

    execuo, processo cautelar e procedimentos especiais. Vol. 2. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. xxx. 14

    Confira na obra do Mestre: O Processo nos Juizados especiais Cveis Estaduais. Belo Horizonte: Del

    Rey, 2010, p. xix. : de virtude do Direito, como instrumento de liberdade, corresponder e ser

    correspondido no mbito do tecido social o qual se faz destinado a se servir seja atravs da regulao das

    condutas do ser humano, como tambm e a, vigorando hoje o papel preponderante restaurador das garantias fundamentais por vezes inadimplidas, proporcionando, com isso, a crena do cidado comum na

    segurana jurdica, fator decisivo na perspectiva de bem estar social. 15

    Sobre o tema veja na obra: GAIO JNIOR, Antnio Pereira. Tutela Especfica das Obrigaes de

    Fazer. Rio de janeiro: Forense: 2000, p. 01.

  • Um autor clssico da primeira quadra do sculo XX, chamado Machado

    Pauprio, grande publicista, tem uma obra intitulada Instituies de Direito Pblico

    que ele trata exatamente o paralelo entre o homem e o animal. Ele diz assim: a abelha

    produz o seu fel antes e depois de cristo da mesma forma. J o homem no. O homem

    voltado para o progresso. O homem voltado para superao de realidades, ainda

    que estas realidades, ou ainda que este progresso seja um regresso. O fato que nos

    move as discusses em torno das reformas processuais16

    , nas modificaes da

    qualidade de vida do cidado exatamente essa virtude do homem voltado edificao

    de melhoria de qualidade de vida e progresso.17

    Da ento se entra no tema: Acesso

    Justia.

    4- ACESSO JUSTIA

    importante que ns nos policiemos em relao a esse termo. Acesso justia

    no acesso ao Judicirio. O acesso Justia muito mais do que o acesso ao

    judicirio evidentemente.18 Quando ns colocamos a ideia de que o acesso justia

    tem judicirio presente, certamente preciso fazer algumas ponderaes anteriores.

    Refletir sobre o que se leva e o que se entrava o direito ao acesso a uma justia. Tem

    um autor brasileiro, Professor da USP de Filosofia do Direito e Teoria Geral do

    Direito chamado Luiz Eduardo Faria, ele tem uma teoria chamada Das Foras

    Centrpedas e Das Foras Centrfugas, ou seja, o que levado ao Judicirio atravs do

    Executivo e do Legislativo que se chama ento foras centrpetas, bem como o que o

    16

    Neste contexto trazemos baila o contributo da obra: DINAMARCO, Cndido Rangel. A reforma da reforma. 3 ed. rev. e Atual. So Paulo: Malheiros, 2002: A remodelao do Cdigo de 1973 comeou, a

    bem dizer, j no prprio ano em que foi editado e durante a prpria vacatio legis: a lei n. 5.925, de 1 de

    outubro de 1973, foi portadora de uma srie grande de retoques, alterando perto de uma centena de

    dispositivos do Cdigo. 17

    No se pode perder de vista as ideias do Mestre na obra A Proteo do Consumidor no Mercosul. So Paulo: LTr, 2003, p. 01.: Neste sentido, eles (Estados-Membros partcipes do Mercosul) esto

    convencidos da necessidade, dentre outras, de modernizar suas economias, ampliando a oferta e a

    qualidades de bens e servios disponveis, otimizando a melhora das condies de vida de seus habitantes. 18 Sobre o tema acesse o artigo Informao e Educao para um Acesso Justia: Ocorre que, quando se

    refere ao termo Justia em um senso vulgar, rapidamente procura-se adequ-lo como sinnimo de Poder Judicirio, o que, indubitavelmente, no somente o .

    Justia igualmente no se resume ou equivale a Direito, ou, se quisermos tambm, a um conjunto normativo que delineia o ordenamento jurdico ptrio. Mais que tudo, justia termo amplo, referencial

    terico para as mais variadas reas das cincias humanas e sociais, por isso, dotada de construes

    empricas e racionais visando a sua concretude e percepo (vide Aristteles, Perelman, Nozik, Hayek,

    Hawls, dentre outros). Disponvel em:

    http://www.gaiojr.adv.br/artigos/informacao_e_educacao_para_um_acesso__justica. Acesso em

    10/01/2013.

  • Judicirio devolve quando recebe isso desses poderes que so chamadas foras

    centrfugas.

    Ns sabemos que, na rea do Executivo, h baixa qualidade das polticas

    pblicas. No Brasil, por exemplo, 52% da populao no tem saneamento bsico. Isso

    recai onde? No Poder Judicirio no restam dvidas. Falta de poltica pblica na

    rea de sade, de qualidade do ensino ensino de baixa qualidade seja Municipal,

    Estadual ou Federal transforma-se em uma demanda em potencial.

    O que acontece com energia eltrica e com telefonia, ns vemos todo dia, so

    foras centrpetas, ou seja, desembocam no Judicirio, problemas estruturais do pas.

    Sabemos que 01 em cada 04 brasileiros sabe ler. Dados do IBGE vm reafirmando isso

    at novembro do ano passado.

    Temos analfabetos funcionais o que sabe ler mais no entende o que est

    lendo. Nesse contexto, o Cdigo Civil em sua Lei de Introduo (LICC), atualmente

    denominada, Lei de Introduo s normas do Direito Brasileiro, coloca que ningum

    pode se escusar de cumprir a lei alegando que no h conhecia19

    , quando o sujeito nem

    sabe ler. Isso vai desembocar no Poder Judicirio.

    Da mesma forma o Legislativo com a baixa produo de qualidade. Em maro

    de 2012 foi publicada uma pesquisa que jornal O Globo levantou que 86% dos Projetos

    de Lei no so de autoria do Deputado. Assim, se terceiriza a legitimidade do voto. Ns

    sabemos que o Deputado vai at as Universidades, compra projetos que j vm com

    toda uma ideologia poltica20

    e ele aplicado na prtica. Esse problema da baixa

    qualidade da legislao desemboca no Poder Judicirio.

    Eu costumo dizer para os meus alunos, da Constituio de 1988, somado Unio,

    Estado e Municpios, at hoje ns temos no Brasil 5.000.000 de Leis21

    . Da o Governo,

    no momento de editar uma Lei, j no h mais ao final da Lei a preocupao em dizer

    qual a Lei ab rogada, derrogada ou revogada, ou seja, ao final da legislao diz-se:

    19

    Decreto-Lei n. 4.657\42 , art. 3: Ningum se escusa de cumprir a lei, alegando que no conhece. 20

    A ideologia em sentido forte inerente s sociedades histricas e, no momento em que os sujeitos

    sociais e polticos deixarem de usar um saber transcendental ou anterior\posterior sua prxis legitimadora de variadas dominaes, passaro a pensar sobre si ( do discurso poltico e social; ao

    discurso poltico, impessoal, sobre poltica e sociedade). Quando se passa do discurso da poltica e da

    sociedade para o discurso sobre a poltica e sobre a sociedade, constitui-se o primeiro momento de

    elaborao ideolgica (FREITAS, Bruno Gouva. As lacunas na Teoria Pura do Direito: uma

    abordagem da ideologia nos discursos sistemticos. Monografia apresentada como Trabalho de

    Concluso do Curso de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora, 2004, p. 12). 21

    Dados do Instituto de Estatstica da USP.

  • revogam-se todas as disposies em contrrio22

    . No se tem mais esta preocupao,

    pois se perdeu esta noo de qual lei que se revogou ou no. H pouco estvamos

    fazendo uma adjudicao compulsria, que um Decreto de 1937, resgatando

    legislaes de 70 anos. Basta ver nosso Cdigo Comercial de 1850, que foi apenas

    derrogado pelo Cdigo Civil, mas continua em vigor em vrios de seus contedos. E

    vejam vocs, que so problemas que desembocam no Judicirio.

    Hoje oferecido no mercado um programa de computador que rastreia lei em

    vigor. Isto , realmente, surreal! Os americanos perguntaram sobre isso quando

    abordei o tema em nossa palestra, j que inimaginvel cinco milhes de leis no nosso

    pas.

    E o Judicirio devolve como? Com baixa qualidade das decises, baixa

    qualidade da formao dos juzes hoje, estrapolao ou descumprimento daquilo que a

    E.C. n. 45 colocou para ns no art. 5, LXXVIII da Constituio Federal, que a

    durao razovel dos processos.23

    Atualmente nos temos o controle do juiz, j que ns podemos acessar a

    homepage dos Tribunais e controlar a produtividade do juiz24

    , por exemplo, quantas

    decises interlocutrias, sentenas e despachos aquele magistrado prolatou aquele

    ms, quantas processos esto acumulados naquele juzo. Pelo menos, a partir da

    criao do Conselho Nacional de Justia25

    , se estipulou este controle sobre a

    judicatura brasileira. At ento o presidente Lula dizia que o Judicirio era uma caixa

    preta, hoje j est um pouco cinza melhorou um pouco. De fato o CNJ vem prestando

    uma excelente atividade naquilo que se props que controlar o Poder Judicirio -

    que apesar de ainda insuficiente, j h significativos avanos.

    Com isso, temos dados estatsticos capazes de identificar quais so, na verdade,

    os pontos de estrangulamento do processo, qual a mdia de durao do processo no

    22

    Em concluso, a vida social apresenta uma incessante renovao de valores explicando a incessante

    renovao da ordem positiva. Nem todos valores, porm, esto sujeitos a variao. (REALE, Miguel.

    Fundamentos do Direito. 3 ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p.317). 23

    CF, Art. 5: Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos

    brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade,

    igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:

    LXXVIII a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e

    os meios que garantam a celeridade de sua tramitao. (Includo pela Emenda Constitucional n 45, de

    2004) 24

    Para pesquisar sobre a produtividade de serventias judiais de 1 e 2 grau, magistrados, e serventias

    extrajudiciais acesse a homepage da Corregedoria Nacional de Justia. Disponvel em:

    http://www.cnj.jus.br/corregedoria/justica_aberta/ . Acesso em 10/01/2013. 25

    O Conselho Nacional de Justia (CNJ) uma instituio pblica que visa aperfeioar o trabalho do

    sistema judicirio brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle e transparncia

    administrativa e processual. Disponvel em: http://www.cnj.jus.br/sobre-o-cnj. Acesso em 10/01/2013.

  • Brasil dentre outros dados. A ONU acabou de medir nosso IDH e o Judicirio entra

    agora como critrio no modelo de ndice de Desenvolvimento Humano e a mdia de

    durao do processo no Brasil de 1.500 dias, comparado apenas ao Equador dado

    que alarmante.

    Ns, sobretudo, que conhecemos desta problemtica em sede de foro sabemos o

    qual duro, no somente criticarmos, mas construirmos solues para que esta

    situao modifique.26

    5- JUSTIA EM NMEROS

    Eu como aqui para vocs alguns dados. Ns temos hoje a Justia em Nmeros

    que um convnio que o Conselho Nacional de Justia fez com a Fundao Getlio

    Vargas para rastrear a partir de dados que os Tribunais informam qual a situao do

    Judicirio no Brasil. Os dados so de 2009 porque os de 2010 sairo na segunda

    quinzena de setembro de 2011. O Brasil tem hoje 16.108 juzes. A mdia por 100.000

    habitantes. A cada 100.000 habitantes nos temos 08 juzes. O valor muito baixo, j

    que a mdia ideal estabelecida pela ONU de, no mnimo, 16 magistrados para cada

    100.000 habitantes. o que Itlia e Frana tm, a Argentina tem 18 e Portugal tem

    at mais 21 juzes para cada 100.000 habitantes. Basta lembrar que no ano de 2010

    apenas 13 juzes ingressaram na magistratura no Brasil inteiro.

    Com relao litigiosidade, em 2009 ingressaram 25.000.000 de processos

    novos. Contudo, temos pendentes 61.000.000. Em sntese, ns temos 86.000.000 de

    processos em tramitao. Como se nota, 01 processo para cada 03 habitantes um em

    cada trs habitantes no Brasil litiga.

    Como enfrentar isto? Ser que uma reforma capaz de minorar esse impacto

    avassalador de falta de qualidade do servio pblico j que o judicirio um servio

    pblico. Ns sabemos que o servio de Justia um servio pblico, como um hospital,

    26

    A obra GARCA G., Jos Francisco, et al. Reforma Al Poder Judicial: Gobierno Judicial, Corte

    Suprema y Gestin: bases jurdicas y de poltica pblica para um debarte necesario. Carmen:

    Universidad Adolfo Ibez, 2007, p. 10, corrobora-se harmnica ao contedo da conferncia em tela,

    seno vejamos: En l se plantean diagnsticos profundos y propuestas de reforma respecto de las

    discusiones ms relevantes em matria de gobierno judicial, rol de la Corte Suprema em nuestro

    ordenamiento jurdico y cmo mejorar la gestin de ls tribunales de justicia, tanto desde la perspectiva

    jurdica como tambin desde la mirada de otras cincias sociales: economia, administracin y polticas

    pblicas, ls que buscan enriquecer significativamente ls miradas tradicionalmente utilizadas por la

    comunidad jurdica nacional.

  • energia, saneamento. O servio de justia um servio pblico onde pagamos tributos

    que alimentam o salrio dos magistrados. Acabamos de presenciar agora o oramento

    do Supremo Tribunal Federal de mais de R$25.000.00,00. Vamos obervar quais eram

    os gastos: os Ministros esto pedindo 15% de reajuste, de R$26.000,00 para

    R$30.000,00 o salrio; outro trocar o carpete que R$2.000.000,00, outro a

    construo do prdio da TV Justia, a assim, sucessivamente, chegamos aos

    R$25.000.000,00.

    No ano de 2010 ns tivemos 99 Comarcas fechando no Brasil, que tem 9.000

    Varas. A principal reclamao dos 48 juzes da Paraba banheiro nas secretarias.

    Muitas vezes fico at constrangido de ensinar processo eletrnico se est faltando

    banheiro. O que eu queria deixar claro que preciso ns entendermos e

    conscientizarmos no sentido de potencializar o desenvolvimento a partir do servio de

    justia.

    6- DIREITO E DESENVOLVIMENTO

    Direito uma forma de se tentar chegar ao desenvolvimento. Hoje, o conceito

    de desenvolvimento27

    , ao qual eu trabalho com alguns alunos em grupo de pesquisa do

    CNPQ, deve estar voltado para melhoria dos padres de qualidade de vida do cidado.

    A noo de desenvolvimento no mundo mudou, j que no se trata apenas transferncia

    de PIB ou pautada na grade mercadolgica macroeconmica que o Estado tenha

    potencial para produzir. Mais do que isso, o desenvolvimento que a ONU reconhece

    est voltado para melhoria da qualidade de vida. O Cidado ter maior e melhor acesso

    27

    Despiciendo dizer que o conceito de desenvolvimento, hodiernamente, se relaciona, no somente com a tradicional tica de crescimento econmico, mas sobretudo, na perspectiva de um avano significativo

    no quadro das polticas pblicas voltadas edificao da cultura de melhoria das condies daquela

    sociedade destinatria de tais polticas (GAIO JNIOR, Antnio Pereira. Instituies de Direito

    Processual Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2011, p. 2) . Ratificando tal concepo desenvolvimentista,

    VASCONCELOS, Marco Antnio; GARCIA, Manuel Enriquez (Fundamentos de Economia. So Paulo:

    Saraiva, 1998, p. 205) apontam para ideia de que, em qualquer conceituao de desenvolvimento, h que

    se levar em conta de que o mesmo, deva incluir as alteraes da composio do produto e a alocao de recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar

    econmico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condies de sade, alimentao, educao,

    moradia). Por outro lado, avanando no conceito de desenvolvimento como liberdade, numa viso do prprio

    desenvolvimento como um processo de expanso das liberdades reais, ainda que estas, tanto um meio de

    garantia quanto um fim em si mesma, atravs da fruio de outras importantes liberdades, fundamental a

    obra de SEN, Amartya. Development as freedon. New York: Archor Books, 2000, p. 297.

    Sobre o assunto ver tambm o nosso Direito, Processo e Desenvolvimento: Pacto de Estado e a Reforma

    do Judicirio. In: Revista Magister de Direito Empresarial, Concorrencial e do Consumidor, v.19,

    fev/mar., Magister: Porto Alegre, 2008, p. 31-34. (Ibidem)

  • aos servios pblicos sade, saneamento, servio judicial. A ONU fez isso atravs da

    Resoluo 2625 conhecida como Declarao do Direito ao Desenvolvimento que a

    toda sociedade se d o Direito ao Desenvolvimento. O direito da sociedade a ter

    desenvolvimento um direito social do cidado comum.

    A nossa Constituio plasmou no artigo 3, inciso II que os objetivos da Carta

    Maior Brasileira a garantia do desenvolvimento nacional28

    . O que o direito pode

    fazer para garantir melhoria de qualidade de vida? Ns j sabemos que ns temos

    direito ao desenvolvimento. Mas e o Direito para o Desenvolvimento? Esta a

    pergunta.29

    Certamente, nos primeiros bancos escolares da graduao em Direito ns

    aprendemos que o conceito de direito um conjunto de normas editadas pelo Estado

    para regular a sociedade. Isso muito belo, muito romntico, mas no terceiro ou

    quarto perodo esse romantismo cai. Na verdade. Direito no serve apenas para

    regular a sociedade que j muito , pejorativamente falando, regular a sociedade j

    muito. Mais do que isso, existe um autor clssico da dcada de 70, chamado Dennis

    Lloyd, que j atualiza o conceito de direito. Ele diz que o direito deve servir a uma

    estabilidade econmica e social do cidado. preciso estabilidade e segurana na

    vida do cidado. Aqui eu digo estabilidade das polticas pblicas e das decises e

    segurana que fundamental. Na Amrica do Norte, por exemplo, a Suprema Corte

    no decide sobre economia. papel do Estado e no do Judicirio, pela

    sustentabilidade, pela previsibilidade. Aqui de uma comarca para outra as decises

    sobre a mesma matria de direito so completamente diferentes. Importante observar,

    por exemplo, pedido de dano moral pautado na devoluo de cheque depositado antes

    da data. Na cidade do Rio de Janeiro, um cliente te procura para ingressar com uma

    demanda, justificado pelo fato de um posto de gasolina ter descontado cheque antes da

    data prevista. Entra-se com Ao pleiteando Dano Moral e Material. A, o juiz da

    28

    CF, Art. 3 Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidria;

    II - garantir o desenvolvimento nacional;

    III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

    IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras

    formas de discriminao.

    (destacamos) 29

    Consoante a doutrina de Antnio Pereira Gaio Jnior, o Poder Judicirio deve ser encarado como

    Governo e no como mera funo controladora da atividade Estatal e, por tudo isso, instrumento

    propiciador de efetivas polticas pblicas voltadas melhoria dos padres de qualidade de vida do

    cidado. (FREITAS, Edmundo Gouva. A Constituio Federal e a Tutela das Massas. GAIO JNIOR,

    Antnio Pereira (Org.). in: Direito Processual em Movimento. Vol. II. Curitiba, CRV, 2012, p. 48).

  • determinada vara diz: o Autor tem curso Superior? Porque o questionamento sobre o

    nvel de escolaridade para determinar o dano moral? Porque, no caso, se tivesse curso

    superior o consumidor teria condies de previsibilidade de que isto poderia acontecer.

    Em Minas Gerais, um cidado o procura ingressar com demanda, justificado pelo fato

    de um curso de informtica ter ingressado com cheque antes da data prevista. O

    primeiro ganhou um dano moral de R$1.000,00. O segundo, pautado na mesma regra

    de direito, somente porque no tinha condies de previsibilidade, ganha um dano

    moral de R$8.000,00. As decises de direito, e no de fato, por exemplo, o ingresso com

    cheque antes da data prevista, voc tem resultados completamente distintos.

    Observamos isto com telefonia na regio Norte, Nordeste, Sudeste etc. Discusses em

    torno de reclamaes acerca da cobrana de pulso com decises diferentes. Alis, a Lei

    da Ao Civil Pblica30

    e Cdigo de Defesa do Consumidor31

    estipula a competncia

    por rea. Eu entro com uma ao em Trs Rios a deciso s valer para comarca de

    Trs Rios. Por incrvel que parea, o mesmo problema se eu tiver que usar para outra

    comarca o resultado j no estende mais se o problema exatamente o mesmo.

    Porque que a eficcia de uma deciso que vai beneficiar uma coletividade de

    numerrio difuso no poderia ser propriamente aproveitada. Isto um problema srio.

    7- PROCESSO PARA O DESENVOLVIMENTO

    Da a questo que envolve o Direito para o Desenvolvimento, que a qualidade

    da legislao, qualidade da produo legislativa. O Cdigo de Defesa do Consumidor

    um exemplo disso.32

    uma legislao produzida para melhoria de qualidade de vida.

    isso que se deve obervar hoje, o Direito no somente para regular a vida em sociedade,

    mas para melhorar a, certamente, a qualidade de vida do cidado comum. E o

    processo? Como o Processo pode ser utilizado para melhoria da qualidade de vida?

    Ns enquanto processualistas demandamos com isso diariamente e; no foro, todos ns,

    demandamos isso o tempo todo. Qual a qualidade que o processo, aqui o processo civil,

    pode implementar para melhorar a qualidade de vida do jurisdicionado que urge por

    30

    Lei n. 7.347/85. 31

    Lei n. 8.078/90. 32

    Sobre o tema confira as obras do Mestre: Harmonizao Legal Mnima para a Proteo Consumerista

    no Mercosul. In: Integrao na Amrica Latina: A Histria, a Economia e o Direito. Jundia, Paco

    Editorial, 2011, p.181-196 e Compendio de Direito Econmico. Rio de Janeiro: Amrica Jurdica, 2005.

  • aquilo que ele tanto deseja, retomando as ideias de Chiovenda quanto efetividade do

    processo. Tem um autor que trabalha com Direito e Economia, Armando Castelar

    Pinheiro33

    professor da USP, diz quais seriam os problemas especficos que deveriam

    ser enfrentados para melhoria da prestao jurisdicional neste pas, quais sejam: baixo

    custo; decises justas, rpidas e previsveis. Talvez isto seria um ponto de partida e um

    ponto de chegada para a melhoria da qualidade da prestao jurisdicional neste pas.

    8- POSSVEIS ENTRAVES AO APERFEIOAMENTO DO PROCESSO

    Basicamente, est havendo desde a dcada de 80 uma modificao conceitual

    em vrios tpicos que ns chamamos de trilogia estrutural do processo: Ao,

    Jurisdio e Processo. O conceito de jurisdio vem mudando, notadamente, desde a

    dcada de 50. Ns tnhamos o conceito de jurisdio como o poder do Estado de julgar

    dentro do seu territrio, de fazer valer as suas leis no seu territrio.34

    Aqui no Brasil j

    foi modificado desde a Emenda Constitucional n. 45. Ns termos hoje no Art. 5,4 da

    Constituio Federal a jurisdio do Tribunal Penal Internacional. Se o Massacre do

    Carandiru acontecesse hoje, certamente, tal fato no seria julgado somente pela Corte

    Brasileira, pois que o T.P.I. trataria deste tema os casos de genocdio, por exemplo.

    Pela primeira vez na histria deste pais,35

    o Supremo Tribunal Federal aceita uma

    jurisdio acima do prprio Supremo que o Tribunal Penal Internacional. Na Europa

    j se viveu isso desde o Tratado de Roma em 1957. Os pases delegaram parte de sua

    soberania nos Tribunais para duas Cortes, o Tribunal de Direitos Humanos e o

    Tribunal de Justia da Unio Europeia. Atualmente, o principal Tribunal na Europa

    no um dos Tribunais dos pases. O juiz francs, o juiz alemo, o juiz italiano so os

    principais controladores de constitucionalidade dos Tribunais supranacionais. Na

    Europa pode-se trabalhar na Grcia, contribuir para previdncia na Espanha e

    aposentar na Frana. H esta possibilidade. O conceito clssico de jurisdio como

    poder, a funo e atividade do Estado de julgar soberanamente em seu territrio

    comea a ser flexibilizado. A Sra. Maria da Penha, que deu origem ao nome da lei que

    regula o crime de violncia domstica, um exemplo disso, j que no obstante a

    33

    PINHEIRO, Armando Castelar. Magistrados, Judicirio e Economia no Brasil. In: ZYLBERSZTAJN, Decio e SZTAJN, Rachel (Orgs.). Economia e Direito. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 34

    Veja na obra do Mestre (Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo, Processo de

    Conhecimento e Recursos. Vol. I, 4 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010, p. 64-67) quadro esquemtico

    acerca das Jurisdies Internacionais. 35

    Expresso ldica em aluso ao jargo utilizado pelo ex-presidente Luiz Incio Lula da Silva.

  • tramitao de ao judicial no Supremo Tribunal Federal, diante da ausncia de

    celeridade, ingressou na Corte Interamericana de Direitos Humanos na Costa Rica e o

    Pas foi condenado pela demora na prestao jurisdicional. H um controle fora

    Estado.

    A mesma coisa acontece com ao e com processo que tm seu conceito se

    modificando sistematicamente no decorrer dos anos. Quando ns ingressamos com uma

    ao no Poder Judicirio, por exemplo, distribumos a petio inicial, o ru contesta e

    alega nas preliminares processuais que nos falta possibilidade jurdica do pedido,

    interesse de agir ou legitimidade ad causam. Diante disso, o juiz diz que ns somos

    carecedores de ao. O que ns utilizamos neste caso se o processo foi extinto por

    carncia de ao? Como a cincia denomina esse ingresso no Judicirio que no pode

    ser denominado como ao? Para o professor de processo muito cmodo ensinar

    faltou as condies da ao carecedor de ao, prximo tpico e no se enfrenta

    este buraco na cincia. Na verdade, no exemplo, ns estamos utilizando o Direito de

    Petio, contido no art. 5, inciso XXXIV da Constituio Federal36

    . Todo indivduo

    neste pas tem direito de peticionar ao Poder Judicirio que no , propriamente, Ao.

    A cincia tem reformulado alguns conceitos.37

    9- REFORMAS PROCESSUAIS

    Com relao s reformas processuais podemos partir de duas premissas

    bsicas. A primeira de ordem constitucional que a combinao do art. 5, inciso

    XXXV38

    com inciso LXXVIII39

    da Constituio Federal. Nosso Cdigo de Processo

    Civil atual foi elaborado em perodo ditatorial, onde o juiz tinha pouca liberdade, no

    havia sequer reflexos constitucionais sobre o processo e sobre a lei ordinria de

    modo geral. Hoje, os constitucionalistas mais abalizados j falam de um

    Neoconstitucionalismo e de um Ps-positivismo.40

    Eu sou um pouco reticente com

    36

    CF, art 5, XXXIV - so a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

    a) o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de

    poder; 37

    Sobre o tema confira a obra do Mestre: (Instituies de Direito processual Civil..., p. 78) e GRECO,

    Leonardo. A teoria da Ao no Processo Civil. So Paulo: Dialtica, 2003, p. 45. 38

    CF, art. 5, XXXV - a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito; 39

    CF, art. 5, LXXVIII a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao

    do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao. (Includo pela Emenda

    Constitucional n 45, de 2004) 40

    Cf. STRECK, Lnio Luiz. Ontem os Cdigos; Hoje as Constituies: O papel da Hermenutica na Superao do Positivismo pelo Neoconstitucionalismo. In: ROCHA, Fernando Luiz Ximenes, MORAES,

  • relao a estes termos porque ainda acho que podemos viver do que temos,

    teoricamente falando, sem precisar trocar o nome. O ps-positivismo, na verdade, uma

    anlise de princpios, ou a chamada Fora Normativa da Constituio, trabalhada,

    notadamente, pelo autor Konrad Hesse41

    que coloca a Lei Maior como valor real

    exercendo uma fora normativa sem depender de legislaes infraconstitucionais. A

    prpria Constituio tem o valor por ela mesma, no dependendo, basicamente, das

    leis infraconstitucionais, ou seja, a Constituio aplica-se por ela mesma. Isso faz parte

    de um movimento denominado Neoconstitucionalismo que tem razes histricas,

    filosficas e jurdicas. Dentro deste movimento ns temos o ps-positivismo que uma

    anlise da regra iluminada por princpios maiores que trabalham o sistema jurdico.

    Entretanto, se me permitem, a Teoria da Hermenutica, a Teoria da Exegese resolvem

    esse problema.42

    Isto estudado nas faculdades e exercitado na vida prtica analisando

    leis de maneira teleolgica, axiolgica, gramatical, outras vezes costumeira ou

    histrica. Interpretar a lei pode suavizar sua aplicabilidade, muitas vezes, sem

    necessitar de princpios. Esta seria a primeira premissa constitucional.

    A segunda premissa de ordem infraconstitucional. Todas as reformas

    processuais realizadas desde o ano de 2005 tm se pautado no binmio Tempo e

    Efetividade. O legislador infraconstitucional parou de ficar no panorama do processo

    civil no Brasil e tem usado do binmio tempo e efetividade. Leis construdas pelo tempo

    para melhoria atravs da celeridade processual, tudo somado a efetividade, que dar

    exatamente aquilo que voc quer,, processualmente falando.

    Com relao ao tempo, ns temos vrias legislaes edificadas neste pas como:

    Tutela Antecipada43

    , que traz a urgncia, antecipando os efeitos da sentena, quando

    h necessidade ou perigo de leso ao direito; no sistema recursal44

    , smula vinculante,

    Filomeno. Direito Constitucional Contemporneo: Estudos em homenagem ao professor Paulo

    Bonavides. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 521. 41

    HESSE, Konrad. A Fora Normativa da Constituio. Trad. Gilmar Mendes. Porto Alegre: Srgio

    Antnio Fabris Editor, 1991. 42

    Sobre o tema ver: MAXIMILIANO, Carlos. Hermenutica e aplicao do direito. 10 ed. Rio de

    Janeiro: Forense, 1988. 43

    A tutela antecipatria constitui o grande sinal de esperana em meio crise que afeta a Justia Civil.

    Trata-se de instrumento que, se corretamente usado, certamente contribuir para restaurao da igualdade

    no procedimento. (MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipao de Tutela. 12 ed. So Paulo: Revista dos

    Tribunais, 2011, p. 22). 44

    A atualizao das bases estruturantes do modelo processual civil brasileiro ponto comum entre as

    ltimas reformas legislativas voltadas a esta esfera da Cincia Jurdica, onde se deve ter como um dos

    vetores (e virtudes), a constante preocupao com a proteo real e efetiva do direito denegado ou em

    vias de s-lo, cujo tratamento acurado e intenso merece ateno de todos, sobretudo dos responsveis em

    dotar a normatividade de um sentido prosperador e apto ao desenvolvimento com melhor qualidade de

    vida por parte jurisdicionados, usurios do servio pblico ofertado pelo Estado, atravs da funo

  • smula impeditiva de recursos, repercusso geral, multiplicidade de recursos

    repetitivos no STF e STJ45

    que so exemplos de que o legislador quer prestigiar o

    tempo, no a pressa. No pode haver tramitao com pressa. A celeridade

    importante, mas no a pressa.

    Certamente, a todo momento, seja o leigo ou o no leigo, diz que o processo

    demora. Ns temos dados estatsticos que, realmente, demora, mas, evidentemente, o

    tempo do processo no o tempo da vida e no pode ter o tempo da vida. Na C.P.I. do

    Mensalo, por exemplo, havia inmeros comentrios dos Deputados que o Judicirio e

    Ministrio Pblico so muitos lentos, no trabalham com a prova, demoram a dar um

    resultado que est sendo ansiado pela populao. Evidentemente, que no! O processo

    judicial tem o tempo dele, que o contraditrio pleno, isonomia, igualdade de armas.

    Se tirarmos isto, realmente, o processo vira uma ameaa. As garantias de um devido

    processo legal so as garantias de que o processo precisa ter um tempo preclusivo dos

    atos, mas que garanta contraditrio intenso, isonomia, igualdade de armas e

    oportunidades. O Projeto do Novo Cdigo de Processo Civil46

    pretende manter isto.

    uma preocupao urgente nossa, que o processo tenha um tempo, mas um tempo real e

    razovel. Houve uma pesquisa ano passado, tambm do CNJ que identificou o tempo

    morto do processo, ou seja, 96% do tempo de tramitao do processo (andamento do

    processo), os autos ficam na prateleira do respectivo juzo competente o que

    realmente grave.

    Quanto a Efetividade, nos tivemos tambm alguns contedos legislativos que

    prestigiaram este elemento do j referido binmio que so: a tutela especfica das

    obrigaes de fazer, no fazer, dar e entregar, que trabalha com a sentena

    autoexecutvel. Atualmente, ns no executamos um Despejo, um Usucapio, j que a

    sentena autoexecutvel. No precisa de um processo de execuo ou procedimento

    de cumprimento de sentena para isto. Evidentemente, isto veio para ns a partir do

    art. 461 e 461-A todos do CPC, influenciado pelo Cdigo de Defesa do Consumidor,

    judicante. (GAIO JNIOR, Antnio Pereira. A Repercusso Geral e a Multiplicidade dos Recursos

    Repetitivos no STF e STJ. in: NOVELINO, Marcelo (Org.) Leituras Complementares de Constitucional.

    3 ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Jus Podivm, 2010, p.431). 45

    Sobre o assunto ver o vdeo da 50 reunio do Frum Permanente de Especializao e Atualizao do Direito e do Processo Civil\EMERJ que tratou do tema CPC e os Filtros Processuais na Teoria Geral dos

    Recursos a qual teve o Professor Ps-Doutor Antnio Pereira Gaio Jnior como conferencista. Disponvel

    em:http://www.gaiojr.adv.br/obras_publicadas/dvd__cpc_e_os_filtros_processuais_na_teoria_geral_dos_

    recursos . Acesso em 10/01/2013. 46 Cdigo de Processo Civil : anteprojeto / Comisso de Juristas Responsvel pela Elaborao de Anteprojeto de Cdigo de Processo Civil. Braslia : Senado Federal, Presidncia, 2010.

  • Lei 8.078/90 que j tinha esta previso no art. 40, - regra incorporada pelo Cdigo de

    Processo Civil.47

    A mesma coisa a Tutela Inibitria48

    que no tem previso legal na lei especifica.

    Como exemplo, temos o Direito de Imagem. Mutatis Mutandis, o interdito

    proibitorium possessrio aplicado ao Direito de Imagem. Se o cidado fica sabendo

    que sua foto ser publicada no Jornal, ele tem condies, mediante a ameaa, usar uma

    adaptao do interdito proibitorium da seara possessria para esfera da

    personalidade, aplicar esta ao para proteger a prpria imagem. H pouco tempo a

    atriz Daniela Cicarelli tentou isso, o ex-governador do Estado de Gois, Joaquim Roriz

    tambm utilizou este instituto para evitar, liminarmente, que certa publicidade fosse

    veiculada nos jornais no Distrito Federal.

    Neste contexto, ao menos importante, a reformulao das vias satisfativas do

    direito. Isto novo, tendo em vista que existem alteraes com pouqussimo tempo de

    vigncia, no sendo consolidado sequer entendimento jurisprudencial sobre certo tema.

    E ns j estamos falando da edio de um Novo Cdigo de Processo Civil.

    Em derradeiro, identificamos algumas perspectivas necessrias a modificao

    da legislao processual brasileira. Algumas modificaes ainda esto pendentes. O

    Direito Processual Coletivo, o projeto encontra-se parado no Senado Federal e que

    vai, certamente, melhorar as condies de proteo e defesa dos direitos da

    coletividade (interesses Difusos, Coletivos e Individuais Homogneos) estes hoje

    protegidos, essencialmente, pelo Cdigo de Defesa do Consumidor e Lei da Ao Civil

    Pblica subsidiariamente pelo Cdigo de Processo Civil. Nosso CPC sumamente

    individualista, pois que trata de relaes intersubjetivas e no foi edificado para

    proteo de coletividade e demandas de massa. Por isso, nos aplicamos o Cdigo de

    47

    Sobre o tema veja a obra do Mestre: Tutela Especfica das Obrigaes de Fazer. 4 ed. Curitiba: Juru,

    2012. 48

    Atravs do princpio constitucional do direito de ao, inserido na Constituio Federal em seu art. 5,

    XXXV, se vislumbrou a autorizao, acima de tudo constitucional, de uma tutela preventiva capaz de

    suprir os anseios do jurisdicionado por um processo mais justo e efetivo. Diante disso, surgiu a tutela

    inibitria, visualizada a partir da distino entre ilcito e dano, sendo ela capaz de realizar uma tutela

    contra o ilcito, ou seja, apta em inibir a prtica, a repetio ou continuao de um ilcito, demonstrando a

    sua natureza essencialmente preventiva. A possibilidade de se alcanar a tutela inibitria na forma pura antes da realizao do ilcito se mostra possvel pela utilizao dos comandos legais previstos no art. 461 do CPC e 84 do CDC, sendo necessria, na maioria das vezes, a sua obteno de forma antecipada,

    haja vista ser a inibitria uma tutela voltada para o futuro. Destarte, no resta dvida da aplicabilidade e

    efetividade da tutela inibitria no ordenamento jurdico ptrio. (GAIO JNIOR, Antnio Pereira e

    BAS, Rodrigo Lessa Vilas. Aplicabilidade da Tutela Inibitria no Sistema Processual Civil Ptrio.

    Disponvel em: http://www.diritto.it/docs/31550-tutela-inibit-ria-e-sua-aplicabilidade-no-sistema-

    processual-civil-brasileiro . Acesso em 10/01/2013.)

    )

  • Defesa do Consumidor que muito falho na parte processual, trazendo apenas alguns

    institutos. Devido a isso, ns temos que adaptar ao Cdigo de Processo Civil ao Cdigo

    de Defesa do Consumidor. A implementao do Cdigo de Processo Civil Coletivo vai

    salvaguardar muito dos pleitos que ficam entravados por falta de normatividade

    tcnica e adaptao.49

    A a parte fica na mo do juiz, se o mesmo domina o CDC e

    consegue compreender a aplicabilidade daquela norma coletiva realidade normativa

    individual. Mesmo as Faculdades de Direito no se preocupam muito, por que, regra

    geral, no h matria obrigatria de Direito Coletivo e os profissionais que ingressam

    na vida pblica, no militam e no aprenderam a fundo o Direito de Massa. Isso um

    problema srio. Eu tinha juzes alunos do Curso de Mestrado que no perguntavam em

    sala de aula, mas enviavam dvidas por e-mail destes contedos. Logicamente, eu no

    era servidor pblico ainda, eu no respondia. Eu voltava em sala de aula e perguntava:

    Fulano, aquela pergunta que voc me fez por e-mail (...), justamente para dividir com

    seus colegas. H esta questo do receio. O magistrado muitas vezes fica refm daquilo

    que no aprendeu e no consegue ainda trabalhar com isso50

    . Retomando as ideias j

    ditas, isto resulta em tempo morto do processo, esperando o julgador estudar uma

    soluo para o caso, porque no compreendeu ou adaptou isso na realidade do caso.

    Isto uma realidade neste pas. Alis, um pleito nosso, da Advocacia Mineira e das

    Escolas de Magistratura.

    Outrossim, importante ressaltar o esvaziamento dos efeitos suspensivos

    recursais, sendo, na medida do possvel, diminudos para que pudesse ter efetividade

    nos recursos em si. Isto est caminhando. O projeto do Novo Cdigo de Processo Civil

    acaba, inclusive, com efeito suspensivo geral, ou seja, somente apelao, agravo de

    instrumento e recurso ordinrio tero, mas no imediato como a legislao hoje

    praticamente prev no agravo de instrumento e boa parte da apelao, trata-se de

    incumbncia do relator em deferir o efeito suspensivo.

    Ademais, os Processos Eletrnicos que uma realidade da Lei n. 11.419/06,

    mas que, infelizmente, uma falha do projeto do NCPC no contemplou os processos

    49

    C.f.: FREITAS, Edmundo Gouva. Aspectos processuais relevantes na tutela coletiva do consumidor.

    in: GAIO JNIOR, Antnio Pereira (Org.). Direito Processual em Movimento. Curitiba, CRV, 2011, p.

    65. 50

    Correlato ao tema colaciona-se as letras do jurista Mauro Cappelletti: Justamente para remediar o risco

    da clausura corporativa, particularmente ameaador numa magistratura de carreira, deve-se adotar, por

    isso, os instrumentos normativos, organizativos e estruturais que possam tornar a autonomia dos juzes

    aberta ao corpo social e, assim, s solicitaes dos consumidores do supremo bem que a Justia. CAPPELLETTI, Mauro. Juzes Irresponsveis? Trad. Carlos Alberto lvaro de Oliveira.Porto Alegre:

    Srgio Antnio Fabris Editor, 1989, p. 93).

  • eletrnicos. Isso realmente ficou de fora. No ingressaram as regulamentaes acerca

    do processo eletrnico no contedo do projeto do Novo Cdigo de Processo Civil,

    deixando apenas a cargo, j mencionada, lei correlata matria.

    10- O PROJETO DO NOVO CDIGO DE PROCESSO CIVIL

    Quero dizer a vocs de imediato que, deste projeto, ns participamos da

    subcomisso de reforma a qual eu me orgulho muito e trocaria todos os meus ttulos

    por esta participao em uma lei processual no pas, que de uma inefvel civilidade.

    Isto no tem preo e eu sempre agradeo de pblico o Instituto Brasileiro de Direito

    Processual (IBDP)51

    , rgo a que sou filiado, e proporcionou este prazer.

    O projeto tem origem no Senado, tramita hoje na Cmara dos Deputados e

    voltar casa de origem, mas com vrios destaques e modificaes. No se pode

    estabelecer, de forma responsvel, uma previso para a vigncia desta nova legislao

    processual civil, tendo em vista que seu contedo estabelece vacatio legis de um ano,

    aps a formalizao da aprovao do texto legislativo. Podem ficar bem calmos que

    ainda resta um bom tempo ainda.

    Vamos tratar, enfim, dos pontos mais importantes da reforma. Esta, talvez, seja

    a real tnica da palestra de hoje, como diria Benjamin Cardoso, o jurista como um

    viajante e deve estar sempre pronto para o dia de amanh,52 exatamente isso que

    ns vamos colocar aqui uma previso para o dia de amanh. So pontos estratgicos

    da reforma que, raramente, sero modificados.

    A princpio, a exposio de motivos da lei extremamente clara53

    e determina a

    influncia que a Constituio Federal vai ter sobre este Cdigo. A principal virtude que

    o projeto do NCPC tem de organizao. No CPC atual tem 5 livros: Livro I (Processo

    de Conhecimento); Livro II (Processo de Execuo); Livro III (Processo Cautelar);

    Livro IV (Procedimentos Especiais, Jurisdio Contenciosa e Voluntria) e Livro V

    (Disposies Gerais e Transitrias). O que fez a comisso? Reorganizou, repaginou os

    livros. No Livro I, era um anseio da academia j h muito tempo que o Cdigo tivesse

    uma Parte Geral. A Parte Geral faz falta em qualquer ordenamento, j que

    51

    Disponvel em: http://www.direitoprocessual.org.br/. Acesso em 10/01/2013. 52

    Veja a obra do Mestre: Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo, Processo de

    Conhecimento e Recursos. Vol. I, 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009, p. xxxi. 53

    Um sistema processual civil que no proporcione sociedade o reconhecimento e a realizao dos

    direitos, ameaados ou violados, que tm cada um dos jurisdicionados, no se harmoniza com as garantias

    constitucionais de um Estado Democrtico de Direito.

  • justamente ela que resolve os problemas mais pesados do sistema, consegue fechar este

    sistema. O Cdigo de 73 no tem esta parte geral, a tudo aplica-se o processo de

    conhecimento, Livro I, subsidiariamente. Por conseguinte, no NCPC, o Livro II trata

    do Processo de Conhecimento; o Livro III regula a Execuo. O atual Livro III que

    Cautelar acaba. A Cautelar no vai ser mais livro e acaba, inclusive, a cautelar

    nominada como: busca e apreenso, arresto, sequestro, separao de corpos, exibio

    de documento. Os termos, na verdade, saem, mas vamos ter cautelares inominadas e o

    juiz vai entender com base naquele princpio iura novit curia ( o juiz conhece do

    Direito), interpretando qual a cautelar que voc quer. A Cautelar vai passar,

    basicamente, para o Livro II juntamente com Tutela Antecipada. O Livro III, ento, sai

    para dar lugar ao processo de Execuo. O Livro IV atual (Procedimentos Especiais,

    Jurisdio Contenciosa e Voluntria), estes procedimentos vo para o Livro II e o

    Livro IV passa a ser um Livro somente para Recursos (Dos Processos nos Tribunais e

    Dos Meios de Impugnao de Decises Judiciais).

    O projeto do NCPC fez questo de contemplar do art. 1 ao 11 vrios Princpios

    que j esto na Constituio Federal. Isso foi pedaggico. Se repetiu para mostrar,

    exatamente, esta relao umbilical entre a Constituio Federal e o Processo. O

    Processo um instrumento de liberdade que protege os Direitos Constitucionais.

    Ento, reproduziram-se Princpios da Publicidade, Isonomia, Contraditrio, Produo

    de Provas Ilcitas e da Cooperao. O Princpio da Cooperao nunca teve

    explicitamente em nosso Cdigo de Processo Civil, consta plasmado no art. 5 do

    projeto. Os portugueses e alemes trabalham muito com este princpio. As partes tm o

    direito de participar ativamente do processo cooperando com o juiz e fornecendo

    subsdios para que profira decises, realize atos executivos ou determine a prtica de

    medidas de urgncia. Este Princpio da Cooperao era espalhado no Cdigo, ou seja,

    deve haver boa-f entre as partes, o juiz deve primar pela ordem no processo, mas nada

    que fosse categrico como Princpio da Cooperao.

    As partes tm o direito de no serem constrangidas a no participar do

    processo. Isso acontece muito com juiz da rea criminal. Voc entra com pedido de

    provas depois de uma fase instrutria, e ele diz que voc no pode mais apresentar

    provas por que tal prerrogativa precluiu. O prazo para produo de provas precluiu.

    Quem que o maior interessado na prestao jurisdicional neste pas? O Estado. No

    ele que monopoliza a Jurisdio? Ento Ele como pode negar a possibilidade de se

    chegar a uma verdade. Precluso de prova inadmissvel. O projeto corrigiu isso. No

  • haver precluso de prova. Alis, no haver mais precluso durante o processo. No

    h algo mais arbitrrio do que o juiz negar parte colocar prova nos autos. O

    destinatrio da prova no juiz. O destinatrio da prova a verdade. O juiz um

    interlocutor. Ele pega a prova e traz para o processo. A doutrina, antes da Constituio

    de 1988, que construiu que o juiz o destinatrio da prova que ela fique mumificada

    por que no h lugar no Estado Democrtico de Direito para precluso probal.

    Em ltima anlise, outra questo trata o art. 9 do projeto do NCPC. No se

    proferir sentena ou deciso contra uma das partes sem que esta seja previamente

    ouvida, salvo em se tratar de medida de urgncia, medida afim de evitar o perecimento

    do direito. Neste caso, a militncia de foro algo fundamental. Quem ao se deparou

    com um pedido de tutela antecipada em petio inicial em que o juiz no fala nada e

    manda citar o ru. O magistrado se cala perante o pedido de tutela antecipada, medida

    urgente para evitar o perecimento do direito. Seu cliente precisando de um remdio

    especfico ou internao diante da falta de leitos nos hospitais. Eu defendo na minha

    obra um remdio para isto atravs do Agravo de Instrumento. Mas em tal recurso deve-

    se, necessariamente, formar o instrumento com a deciso de negao. Mas voc no

    tem a deciso de negao porque ele omitiu e mandou citar o ru. O instrumento, neste

    caso, formado com o despacho citatrio que a representao grfica daquilo que

    lhe foi negado. Outra questo comum, referente ao art. 285-A do CPC, conhecido

    como jurisprudncia de vara ou indeferimento prima facie. O juiz pode julgar

    improcedente o seu pedido, ou seja, julgar mrito, quando naquela vara dele j houver

    deciso de improcedncia sobre o mesmo assunto. Jurisprudncia em 1 instncia

    autorizada pelo CPC. Daqui a pouco o magistrado transferido para outro juzo e

    assume outro que pensa de forma complemente contrria ao julgador anterior.

    tamanha violao das garantias constitucionais, j que faz coisa julgada material sem

    sequer apreciao, de fato, do mrito da causa. A regra do art. 9 do NCPC termina

    com as decises de ofcio do juiz sem deixar voc oportuniz-las.54

    54

    Sobre as temticas envolvendo o Projeto do Novo Cdigo de processo Civil recomenda-se a leitura das

    obras: DIDIER JR., Fredie e BASTOS, Antnio Adonias Aguiar (Orgs.). O projeto do Novo Cdigo de

    processo Civil: Estudos em Homenagem ao professor Jos Joaquim Calmon de Passos. 2 serie. Salvador:

    Jus Podivm, 2012. e SILVA, Jos Anchieta da. O Novo Processo Civil: Colgio dos Presidentes dos

    Institutos dos Advogados do Brasil. So Paulo: Lex, 2012.

  • Termino esta exposio com as palavras de Eugenio Ral Zaffaroni que trago

    em uma de minhas obras55: Dentro da relatividade do mundo, a impossibilidade do

    ideal no legitima a perverso do real.

    11- CONSIDERAES FINAIS.

    Em sntese, o aprofundamento de cada um dos temas tratados na conferncia

    objeto desta pesquisa, certamente, culminaria em primorosa e robusta obra de Direito

    Processual.

    Como em todas suas obras, na presente conferncia, nota-se esmerado rigor

    tcnico associado distinta didtica ao tratar de assuntos profundos com clareza,

    simplicidade e objetividade.

    Por fim, como lio precpua desta pesquisa o Direito e, aqui o Processo deve

    atender os anseios do tecido social atravs da necessria participao da Cincia

    Jurdica no contexto do desenvolvimento do pas, traduzindo-se em melhoria dos

    padres de qualidade de vida do cidado indissocivel de um Processo Efetivo e Justo.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BEVILAQUA, Clvis - Histria da Faculdade de Direito do Recife. 2 ed. Braslia:

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    Elaborao de Anteprojeto de Cdigo de Processo Civil. Braslia: Senado Federal,

    Presidncia, 2010.

    55

    O Processo nos Juizados Especiais Cveis Estaduais..., p.ix.

  • DIDIER JR., Fredie e BASTOS, Antnio Adonias Aguiar (Orgs.). O projeto do Novo

    Cdigo de processo Civil: Estudos em Homenagem ao professor Jos Joaquim Calmon

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    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Disponvel em : http://www.itr.ufrrj.br/.

    Acesso em 10/01/2013.

    Direito Processual em Movimento - Volume 3

    ORGANIZADOR

    Antnio Pereira Gaio Jnior

    AUTORES

    Alberto Nogueira

    Ana Cristina Koch Torres de Assis

    Antnio Pereira Gaio Jnior

    Athos Rocha Trindade

    Brener Duque Belozi

    Bruna Almeida Marlire

    Edmundo Gouva Freitas

    Evandro Marcelo dos Santos

    Fbio de Oliveira Vargas

    Gustavo Henrique de Almeida

    Gustavo Rocha Martins

    Raphael Bargiona Gaio

    Rodrigo Almeida Magalhes

    Rodrigo Ribeiro Rolli

  • Tatiane Dures

    Thais Miranda de Oliveira

    ISBN: 978-85-8042-617-5

    Editora: EDITORA CRV

    Distribuidora: EDITORA CRV

    Disponibilidade: 15 Dia(s)

    Nmero de pginas: 218

    Ano de Edio: 2013

    Formato do Livro: 16x23

    Nmero da Edio: 1

    com imenso prazer que damos sequncia j festejada Coleo de Volumes de DIREITO

    PROCESSUAL EM MOVIMENTO, agora em seu virtuoso Vol. III.

    De certo que o contributo aos meios cientfico e pragmtico da Cincia do Direito a marca

    maior desta coleo, levando por isso a cabo reflexes crticas nas mais diversas dinmicas e

    temticas que envolvem os velhos e novos rumos da processualstica hodierna nos seus mais

    variados pontos e tons.

    Os autores que aqui publicam seus trabalhos esto, inquestionavelmente, envolvidos com as

    pesquisas propostas em suas matrias pertinentes. E mais do que isso: nos possveis

    contributos a que suas letras podem empreender na melhoria do sistema jurisdicional,

    consubstanciando, da, na melhoria de qualidade de vida do cidado, tudo a partir de crticas,

    descortinamento de naturezas jurdicas afins, ponderaes, esclarecimentos, divulgao de

    conhecimentos com reflexes responsveis, negando-se veementemente a se sucumbirem

    diante de um preocupante achismo que impera sobre mantos de ideologia nos mais diversos meios de informao que nos assolapam sem pudor.

    Em verdade, flego de pesquisador predicado essencial para aqueles que, na Academia,

    empreendem esforos diante do enfrentamento de paradigmas que j no mais correspondem

    com a contemporaneidade de seu tempo.

    Por tudo, justificando a crena nas letras que aqui se acostam, de se merecer parafrasear o

    notvel Prof. Zerbini que como ns! no acreditava somente em talento, mas em mais do isso: no homem que trabalha!