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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFBV | WYDEN CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL - MPGE EDSON LOPES CEDRAZ FILHO INFLUÊNCIA DOS PROGRAMAS DE INCENTIVO SOBRE A PERCEPÇÃO DE RISCOS DOS EXECUTIVOS: RECOMPENSAS COMO ALAVANCA DE RESULTADOS OU COMO POTENCIALIZADOR DOS PROBLEMAS DE AGÊNCIA RECIFE, 2018

EDSON LOPES CEDRAZ FILHO...Influência dos programas de incentivo sobre a percepção de riscos dos executivos: recompensas como alavanca de resultados ou como potencializador dos

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFBV | WYDEN

CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL - MPGE

EDSON LOPES CEDRAZ FILHO

INFLUÊNCIA DOS PROGRAMAS DE INCENTIVO SOBRE A PERCEPÇÃO DE

RISCOS DOS EXECUTIVOS:

RECOMPENSAS COMO ALAVANCA DE RESULTADOS OU COMO

POTENCIALIZADOR DOS PROBLEMAS DE AGÊNCIA

RECIFE, 2018

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EDSON LOPES CEDRAZ FILHO

INFLUÊNCIA DOS PROGRAMAS DE INCENTIVO SOBRE A PERCEPÇÃO DE

RISCOS DOS EXECUTIVOS:

RECOMPENSAS COMO ALAVANCA DE RESULTADOS OU COMO

POTENCIALIZADOR DOS PROBLEMAS DE AGÊNCIA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Profissional em Gestão Empresarial do Centro

Universitário UniFBV | Wyden, como requisito

para obtenção do título de Mestre em Gestão

Empresarial, sob a orientado;áo do Prof. Dr.

Marcus Augusto Vasconcelos de Araújo.

Recife, 2018

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Catalogação na fonte - Biblioteca do Centro Universitário UniFBV | Wyden, Recife/PE

F481 Filho, Edson Lopes Cedraz.

Influência dos programas de incentivo sobre a percepção de

riscos dos executivos: recompensas como alavanca de resultados

ou como potencializador dos problemas de agência. / Edson Lopes

Cedraz Filho. – Recife : UniFBV | Wyden 2018.

113 f. : il.

Orientador(a): Marcus Augusto Vasconcelos de Araújo.

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Centro Universitário

UniFBV | Wyden.

1. Remuneração de executivos. 2. Teoria de agência. 3.

Percepção de riscos. 4. Governança Corporativa. I. Título. DISS 658[18.1]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca.

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFBV – WYDEN

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL - MPGE

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso

à dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - do Centro Universitário

UniFBV é definido em três graus:

Grau 1: livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);

Grau 2: com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em consequência, restrita a

consulta em ambientes de bibliotecas com saída controlada;

Grau 3: apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto,

se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou

custódia;

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor. Solicita-se aos

depositários e usuários sua fiel observância, afim de que se preservem as condições éticas e

operacionais da pesquisa científica na área de administração.

Título da Dissertação: “INFLUÊNCIA DOS PROGRAMAS DE INCENTIVO SOBRE A

PERCEPÇÃO DE RISCOS DOS EXECUTIVOS: RECOMPENSAS COMO

ALAVANCA DE RESULTADOS OU COMO POTENCIALIZADOR DOS

PROBLEMAS DE AGÊNCIA”

Nome do(a) autor(a): Edson Lopes Cedraz Filho

Data da Aprovação: 01 de outubro de 2018

Classificação conforme especificação acima:

Grau 1 ×

Grau 2 ×

Grau 3 ×

Recife, 01 de novembro de 2018

__________________________

Edson Lopes Cedraz Filho

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Aos meus pais, que sempre me

serviram de exemplo, pela entrega e

dedicação sem limites. Espero que

um dia eu possa ser como vocês

para os meus filhos.

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AGRADECIMENTOS

Antes de mais nada, agradeço a Deus pelo dom da vida. A conclusão desta pesquisa representa

um marco importante, tanto na minha carreira, quanto no meu desenvolvimento pessoal. Nesse

contexto, muitas pessoas fizeram parte dessa conquista e ficarão guardados para sempre na

memória.

Não poderia deixar de registrar o agradecimento especial a Bianca, minha esposa e

companheira, principal incentivadora nessa jornada.

Ao meu orientador, professos Marcus Araujo, que assumiu, desde o primeiro dia do mestrado,

o papel de líder, assim como ao professor Diogo Helal, coordenador do curso, que teve papel

fundamental na construção deste trabalho. Guardarei, além dos ensinamentos, a gratidão por

toda atenção que vocês me deram.

Agradeço aos meus colegas do curso, que vivenciaram os desafios em conjunto. Tenho certeza

que todos nós crescemos muito juntos.

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RESUMO

O equilíbrio entre recompensas pagas a executivos e geração de valor é um desafio constante

para as organizações, assim como corresponde a uma importante ferramenta para minimizar os

problemas de agência. Programas de incentivo devem ser adaptados às características de cada

organização, suas estratégicas, modelos de gestão e percepção de risco do agente, já que os

mesmos incentivos que levam o executivo a gerar valor também podem leva-lo a assumir riscos

inaceitáveis para a organização em que trabalha. Este estudo tem por objetivo avaliar a relação

entre o prazo de pagamento e a variabilidade das recompensas e a percepção de riscos do agente,

bem como sua motivação para gerar valor. O método quantitativo foi escolhido para a execução

da pesquisa, aplicada em dois estágios, através da coleta de dados secundários nos relatórios

publicados nos formulários de referências de uma amostra de 196 empresas brasileiras de

capital aberto, complementada com a coleta de dados primários em um survey aplicado junto a

155 executivos brasileiros, que responderam a quesitos relacionados aos modelos de

recompensa das empresas em que eles trabalham, bem como sobre suas percepções de riscos.

Os resultados demonstraram que a percepção de riscos dos executivos, assim como a sua

motivação para gerar valor, possuem relação estatisticamente significativa com a

representatividade da remuneração variável. Variáveis que caracterizam o executivo, tais como

idade e tempo de trabalho na empresa também apresentaram relação estatisticamente

significativa com a sua percepção de riscos.

Palavras chave: Remuneração de executivos. Teoria de agência. Percepção de riscos.

Governança corporativa.

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ABSTRACT

The adequate balance between executive compensation and value added is a constant challenge

for organizations, as well as an important key to minimize agency problems. Incentive programs

must be tailored to the characteristics of each organization, its strategies, management models

and the agent’s risk perception profile, since the same incentive that leads the executive to add

value can also lead the organization to unacceptable risk exposure. This study aims to evaluate

the relation between compensation variability and term of payment and the executives risk

perception, as well as their motivation to add value. Quantitative methods were applied in two

stages, by collecting secondary data at the financial statements of 196 Brazilian public traded

companies and by collecting primary data with 155 Brazilian executives, who answered a

survey regarding their company’s incentive program and their risk perception. Study results

showed that executives' risk perception, as well as their motivation to generate value, have

statistically significant relationship with the level of variability of the compensation.

Statistically significant relationship was also found between individual characteristics, such as

age and time working for the organization, and the executive’s risk perception.

Key words: Executive compensation. Agency theory. Risk perception. Corporate governance.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Eixos teóricos relacionados aos objetivos de pesquisa 22

Figura 2 - Modelos de recompensa de executivos 25

Figura 3 - Ciclo de performance e motivação do agente versus sua percepção de

riscos

37

Figura 4 - Curva de esforço/recompensa do agente 38

Figura 5 - Período de avaliação: curto-prazo x longo-prazo 39

Figura 6 - NBR ISO 31000 42

Figura 7 - Oito dimensões da Governança Corporativa 44

Figura 8 - Visão esquemática dos programas de incentivo como instrumento de

geração de valor ou potencializados dos riscos decorrentes dos problemas de agência

48

Figura 9 - Legenda da relação entre os eixos teóricos a ser pesquisada 49

Figura 10 - Modelos de remuneração 53

Figura 11 - Visão geral dos resultados do estudo 94

Figura 12 - Elementos que podem determinar a eficácia dos programas de incentivo 97

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Principais indicadores utilizados para medir desempenho de executivos 23

Gráfico 2 - Relação entre recompensas e lucro nas empresas brasileiras 26

Gráfico 3 - Relação entre recompensas e geração de valor nas empresas brasileiras 26

Gráfico 4 - Distribuição da remuneração de executivos no Brasil 29

Gráfico 5 - Histograma de frequência da variável dependente da Pesquisa 1 63

Gráfico 6 - Distribuição da remuneração dos executivos 64

Gráfico 7 - Crescimento da remuneração versus crescimento do lucro 65

Gráfico 8 - Evolução do ROE médio por ano para empresas que adotam RLP versus

empresas que não adotam RLP

66

Gráfico 9 - Evolução do ROE médio por ano para empresas que adotam RV versus

empresas que não adotam RV

67

Gráfico 10 - Distribuição do nível de representatividade da remuneração variável

entre as categorias de empresas que geram e as que não geram valor

69

Gráfico 11 - Distribuição do nível de representatividade da remuneração de longo

prazo entre as categorias de empresas que geram e as que não geram valor

70

Gráfico 12 - Distribuição da amostra por segmento 77

Gráfico 13 - Distribuição da amostra por tipo de controle da empresa 77

Gráfico 14 - Distribuição da amostra por porte da empresa 78

Gráfico 15 - Distribuição da percepção de risco por sexo 78

Gráfico 16 - Distribuição da percepção de risco por idade 79

Gráfico 17 - Distribuição da percepção de risco por tempo de empresa 80

Gráfico 18 - Distribuição da representatividade da remuneração variável sobre a

remuneração total

80

Gráfico 19 - Distribuição da percepção de risco por nível de remuneração variável 81

Gráfico 20 - Distribuição do grau de indução a motivação por nível de remuneração

variável

81

Gráfico 21 - Distribuição da percepção de risco por prazo de pagamento da

remuneração

82

Gráfico 22 - Distribuição da percepção de risco por prazo de pagamento da

remuneração

82

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Gráfico 23 - Distribuição do grau de indução a motivação por prazo de pagamento

da remuneração

83

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Tipos de problemas de agência 33

Quadro 2 - Relação entre modelos de programas de incentivo e perfis de risco do

principal-agente

36

Quadro 3 - Principais linhas de pesquisa utilizadas 46

Quadro 4 -Variáveis utilizadas na pesquisa 1 54

Quadro 5 - Referências utilizadas na elaboração do instrumento de coleta da

pesquisa 2

58

Quadro 6 - Convergência do resultado das pesquisas realizadas 95

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Valor médio das perdas provocadas nas empresas, por categoria de

fraudes

16

Tabela 2 - Pesquisas nas fontes de estudos científicos 21

Tabela 3 - Crescimento das remunerações no Brasil 27

Tabela 4 - Distribuição da amostra por setor econômico 64

Tabela 5 - Teste de Normalidade da pesquisa 1 68

Tabela 6 - Média, desvio padrão e significância do teste de Mann-Whitney para a

Pesquisa 1

69

Tabela 7 - Cálculo do α de Cronbach 73

Tabela 8 - Testes de Normalidade da pesquisa 2 83

Tabela 9 - Coeficientes de correlação de Spearman para a Pesquisa 2 84

Tabela 10 - Variáveis na equação do modelo 1 de regressão logística 89

Tabela 11 - Níveis de probabilidade do executivo assumir percepção neutra a riscos

de acordo com o nível de remuneração variável

89

Tabela 12 - Níveis de probabilidade do executivo assumir percepção neutra a riscos

de acordo com a sua idade

90

Tabela 13 - Níveis de probabilidade do executivo assumir percepção neutra a riscos

de acordo com o tempo de empresa

90

Tabela 14 - Índices de ajustamento do modelo 1 de regressão logística 91

Tabela 15 - Variáveis na equação do modelo 2 de regressão logística 91

Tabela 16 - Níveis de probabilidade do executivo se motivas de acordo com a

representatividade da remuneração variável

92

Tabela 17 - Índices de ajustamento do modelo 2 de regressão logística 92

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16

1.1 Contextualização ............................................................................................................... 16

1.2 Pergunta de pesquisa ........................................................................................................ 19

1.3 Objetivos ............................................................................................................................ 19

1.4 Justificativa prática .......................................................................................................... 19

1.5 Justificativa teórica........................................................................................................... 21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 23

2.1 O conceito de geração de valor nas organizações como forma de avaliar a eficácia

dos programas de incentivo ................................................................................................... 23

2.2 Os modelos de recompensa que compõem um programa de incentivos ...................... 25

2.2.1 Remuneração de curto prazo ........................................................................................... 28

2.2.2 Remuneração de longo prazo .......................................................................................... 29

2.2.3 Recompensas não financeiras .......................................................................................... 31

2.3 A influência da teoria da agência sobre os programas de incentivo ............................ 31

2.4 Percepção de riscos de executivos ................................................................................... 35

2.5 Gestão de riscos e Governança Corporativa como elementos de fortalecimento dos

programas de incentivo nas organizações ............................................................................ 41

2.6 Estudos anteriores ............................................................................................................ 47

2.7 Hipóteses testadas ............................................................................................................. 49

3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 52

3.1 Delineamento da pesquisa ................................................................................................ 52

3.1.1 Pesquisa 1 - Levantamento de dados secundários, a partir de demonstrações contábeis e

demais relatórios financeiros publicados nos formulários de referências de uma amostra de

empresas de capital aberto ........................................................................................................ 53

3.1.2 Pesquisa 2 - Levantamentos de dados primários a partir da aplicação de questionários de

pesquisa (survey) ...................................................................................................................... 57

4 ANÁLISE DE RESULTADOS ........................................................................................... 63

4.1 Análise de resultados da Pesquisa 1: Levantamento de dados secundários, a partir de

demonstrações contábeis e demais relatórios financeiros publicados nos formulários de

referências de uma amostra de empresas de capital aberto ............................................... 63

4.1.1 Caracterização da amostra e tratamento de dados atípicos da Pesquisa 1 ....................... 63

4.1.2 Estatísticas descritivas da Pesquisa 1 .............................................................................. 65

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4.1.3 Teste de normalidade da distribuição de dados da Pesquisa 1 ........................................ 69

4.1.4 Teste de Mann-Whitney U para a Pesquisa 1 .................................................................. 69

4.2 Análise de resultados da Pesquisa 2: Levantamentos de dados primários a partir da

aplicação de questionários de pesquisa (survey) .................................................................. 73

4.2.1 Confiabilidade do instrumento de coleta da pesquisa 2 .................................................. 73

4.2.2 Tratamento dos dados da pesquisa 2 ............................................................................... 75

4.2.3 Estatísticas descritivas da pesquisa 2............................................................................... 78

4.2.4 Teste de normalidade da distribuição dos dados ............................................................. 84

4.2.5 Análise da correlação entre as variáveis da pesquisa 2 ................................................... 85

4.2.6 Regressão logística .......................................................................................................... 87

5 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 95

5.1 Implicações acadêmicas e corporativas .......................................................................... 97

5.2 Limitações do estudo e sugestões para pesquisas futuras ........................................... 100

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 102

APÊNDICE A – QUADRO RESUMO DA METODOLOGIA DE PESQUISA ............ 107

APÊNDICE B –QUESTIONÁRIO DE COLETA DA PESQUISA 2 .............................. 109

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1 INTRODUÇÃO

Nesta seção é apresentada a contextualização do tema abordado, a problemática endereçada e

os objetivos da pesquisa. Também são apresentadas as justificativas teórica e prática,

contemplando a importância do estudo e os stakeholders que poderão se utilizar dele.

1.1 Contextualização

A manutenção de executivos motivados e produzindo valor para os acionistas passa

necessariamente pelo modelo de programa de incentivo adotado pela organização. De acordo

com Krauter (2013), tais modelos contemplam recompensas financeiras e não financeiras, que

devem estar suportadas por mecanismos que mensurem e reconheçam, de forma meritocrática,

resultados alcançados.

O alinhamento dos interesses entre os diversos stakeholders de uma organização tem sido,

desde o início do século XX, um desafio enfrentado por empresas que passam a adotar modelos

onde o controle e a gestão são executados por agentes diferentes daqueles que detêm a sua

propriedade. Esse desafio é refletido na Teoria da Agência, que representa a análise dos

potenciais conflitos entre proprietários do capital (principal) e profissionais responsáveis pela

gestão (agentes), cuja interpretação, segundo Eisenhardt (1989, p. 60), pode oferecer uma visão

abrangente sobre como os conflitos de interesse se dão nas organizações e quais mecanismos

podem ser utilizados para minimizá-los.

As conclusões de Jensen e Meckling (1976, p. 308) para demonstrar os problemas previstos na

teoria da agência indicam que a separação entre a propriedade, representada pelo principal, e a

gestão de uma organização, representada pelo agente, naturalmente provoca conflitos de

interesse, na medida em que a intenção do agente será maximizar seus resultados, enquanto que

o desejo do proprietário ou acionista é a geração e preservação de valor dos seus investimentos.

Para os referidos autores, a pactuação de um acordo que estabeleça claramente critérios de

recompensa do agente em decorrência dos resultados alcançados na sua gestão pode servir

como ferramenta importante na mediação desse conflito. Este acordo pode ser refletido em um

programa de incentivo.

Para Gonzaga, Yoshinaga e Eid Junior (2013), além de exercer a função de motivar os

executivos a produzirem os melhores resultados para a organização, os programas de incentivo

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têm papel fundamental no alinhamento de interesses entre o principal e o agente. O uso de

mecanismos como remuneração de curto e longo prazo e a aplicação de instrumentos de

remuneração variável atreladas à geração de valor em detrimento de remunerações fixas são

exemplos de modelos de incentivo que podem ser aplicados para atingir a esses objetivos. Nesse

contexto, variáveis como o prazo de pagamento e variabilidade das recompensas exercem papel

chave no equilíbrio dos interesses de executivos e acionistas.

Por outro lado, algumas correntes teóricas ressaltam o efeito negativo dos programas de

incentivo. A exemplo, Bebchuk e Fried (2005) indicam que os programas de incentivo também

podem ser vistos com parte integrante e potencializador do problema de agência, já que

executivos detém muito poder para influenciar resultados e nem sempre essas medidas ficam

claras, tampouco são adequadamente supervisionadas pelos acionistas.

Segundo pesquisas da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), das fraudes

corporativas mais comuns, adulterações de demonstrações financeiras por parte de executivos

com o objetivo de inflar resultados e, consequentemente, elevar suas remunerações variáveis,

são as práticas que provocam as maiores perdas para as empresas, se comparados com os demais

tipos de fraude, conforme Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 - Valor médio das perdas provocadas nas empresas, por categoria de fraudes

Categorias de fraude Valor médio envolvido

U$

Apropriação indevida de ativos 125.000

Corrupção 200.000

Fraudes em demonstrações financeiras 975.000 Fonte: Association of Certified Fraud Examiners (2016).

Como pode ser visto na tabela 1, o mesmo incentivo criado para estimular os esforços do

executivo para maximizar resultados também pode leva-lo a prática de atitudes fraudulentas.

No seu estudo sobre a susceptibilidade dos líderes ao risco de corrupção nas organizações,

Santos et al. (2012) indicam que líderes estão mais expostos a decisões que envolvem dilemas

éticos. Os autores citam ainda o estudo realizado pela Association of Certified Fraud

Examiners, com estatísticas do Federal Board of Investigation dos Estados Unidos, em que:

Um assaltante de banco levará, em uma ação, aproximadamente US$ 12.000,00, com

uma chance em nove de ser preso; um fraudador em uma empresa levará, em média,

US$ 100.000,00 com uma chance em 10.000 de ser preso, e uma proporção ainda

menor de que a vítima recupere os recursos subtraídos (ASSOCIATION OF

CERTIFIED FRAUD EXAMINERS, 1993 apud SANTOS et al., 2012).

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Em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, 30 de outubro de 2017, o conselheiro da empresa

Odebrecht, Jermyn Brooks, que também é integrante da organização Transparência

Internacional, mencionou que a forma como algumas empresas recompensam seus executivos

os motiva a praticar atos de corrupção (BROOKS, 2017). De acordo com Brooks (2017):

As empresas pagam salários de US$ 1 milhão por ano e, provavelmente, dois terços

desse valor são bônus. A empresas dão incentivos errados às pessoas pelo modo como

pagam os funcionários de alto escalão [...]. Promoção tem de seguir padrões não

financeiros. De outro modo, você está estimulando a corrupção.

O estabelecimento de programas de incentivo que atendam aos dois propósitos sugeridos por

Gonzaga, Yoshinaga e Eid Junior (2013) depende do adequado endereçamento das expectativas

tanto do principal quanto do agente. Para isso, as contribuições de Hart e Holmström (1986

apud NOBEL PRIZE COMMITTEE, 2016) sobre a teoria dos contratos sugerem que a relação

entre principal e agente seja previamente detalhada em contratos, assim como desenvolvida

habilidade de medir e verificar a performance do agente.

No alvo central do programa de incentivos, está a percepção de riscos dos executivos. Segundo

Slovic e Peters (2006), os indivíduos percebem riscos por duas maneiras: a) através de

sentimentos intuitivos ou instintivos; ou b); através de análises lógicas, baseadas em fatos e

dados históricos. Nesse contexto, entender a forma como os executivos de uma organização

percebem riscos é fundamental para se estabelecer um modelo eficaz de incentivo, pois este

entendimento permite o estabelecimento de recompensas que minimizem as incertezas do

agente sobre os benefícios que ele auferirá e, consequentemente, maximizem seus esforços para

a geração de valor para o acionista.

De acordo com Byrd, Parrino e Pritsh (1998), um dos principais desafios para equilibrar os

interesses entre o acionista e executivos é a diferença na percepção de riscos de cada um desses

stakeholders. Nesse contexto, o programa de incentivo tem como uma das suas funções regular

esse equilíbrio, estabelecendo métricas que influenciem positivamente a percepção de riscos do

executivo.

O desafio de estabelecer modelos e estruturar mecanismos de recompensa que direcionem os

esforços do executivo para a adoção de medidas efetivamente geradoras de valor, levando em

consideração sua percepção de riscos, é o tema central do estudo que se pretende executar. Em

consequência, é esperado que seja avaliada a eficácia desses modelos e quais as melhores

combinações de mecanismos podem produzir os melhores resultados para as organizações.

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Neste estudo, pretende-se demonstrar como duas variáveis fundamentais dos modelos de

remuneração e incentivo a executivos podem afetar sua percepção de riscos: o nível de

variabilidade das recompensas e o prazo de pagamento das recompensas. Essas duas variáveis

sustentam a base da qualificação dos programas de incentivo, na medida que, segundo Pepper

e Gore (2012), contribuem para definir o nível de risco assumido pelo agente em relação ao

potencial de maximizar suas recompensas.

1.2 Pergunta de pesquisa

A percepção de riscos do executivo sobre o programa de incentivo pode determinar o seu

comportamento em relação às medidas adotadas para maximização das suas recompensas,

podendo resultar em conflitos em relação aos interesses do acionista. Este potencial conflito

leva ao seguinte questionamento: Qual a relação entre os programas de incentivo e a percepção

de risco dos executivos sobre a geração de valor para as organizações?

1.3 Objetivos

O objetivo geral da pesquisa é de verificar a relação entre os programas incentivo e a percepção

de risco dos executivos sobre a geração de valor para as organizações.

Os objetivos específicos são os seguintes:

a) O1: Verificar a relação entre o prazo de pagamento e variabilidade dos incentivos

ofertados aos executivos e a geração de valor para a organização;

b) O2: Identificar o efeito do prazo de pagamento e variabilidade dos incentivos sobre a

percepção de riscos dos executivos;

c) O3: Identificar as características de programas de incentivo com maior potencial de

induzir os executivos a gerar valor para as organizações.

1.4 Justificativa prática

O conhecimento da forma como executivos reagem a incentivos pode ser utilizado como um

poderoso instrumento de vantagem competitiva para as empresas. Programas de incentivo não

alinhados às expectativas e percepção de risco do agente podem se tornar fator potencializador

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dos problemas de agência, fazendo com que os investimentos da empresa em remuneração

sejam convertidos em prejuízos aos acionistas.

Fatos históricos recentes de medidas adotadas por executivos que provocaram a materialização

de riscos relevantes para algumas empresas ilustram com clareza a relevância desse estudo e

como ele poderá ser útil para as organizações:

a) Fato histórico 1: Fraudes contábeis provocaram a crise de confiança no ano de 2001,

após a identificação da situação financeira deficitária de grandes empresas americanas

como Enron e Worldcom. Nesses casos, conforme citado por Brickey (2003), os

executivos dessas empresas agiram de má fé, através da adulteração de resultados das

empresas como forma de maximizar suas remunerações. A falha na supervisão da

atuação dos agentes, especialmente por parte dos auditores independentes, provocou a

crise;

b) Fato histórico 2: O prejuízo e até mesma a falência de grandes instituições financeiras

americanas nos anos de 2007 e 2008, decorrentes da crise do subprime, provocaram,

além de perdas para acionistas, uma grave crise global. Entretanto, muitos dos

executivos dessas instituições financeiras ganharam bônus significativos nesse mesmo

período, decorrentes de programas de incentivo que, segundo Dobbin e Jung (2010),

estimulavam a prática de medidas de curto prazo, sem preocupações com perdas no

longo prazo. Essa situação provocou o extremo paradoxo de empresas falidas pagarem

bônus milionários para os executivos que as levaram à falência;

c) Fato histórico 3: Em setembro de 2015, a Volkswagen assumiu que fraudou o processo

de inspeção ambiental de alguns dos seus veículos movidos a diesel, instalando um

dispositivo em aproximadamente 600 mil carros em todo o mundo para que a emissão

de poluentes fosse maquiada durante os testes e a sua venda liberada. Por trás da prática

que levou a companhia a perdas na ordem d e U$20 bilhões, estava a adoção de

medidas por parte de executivos que buscavam alavancar resultados de curto prazo,

entregar mais lucro e, consequentemente, auferir maiores recompensas atreladas a

programas de incentivo (DIESELGATE..., 2017);

d) Fato histórico 4: No início do ano de 2017, a imagem da indústria de alimentos

brasileira, especificamente de produção de proteína animal (carnes e frangos) foi

severamente afetada por uma crise derivada de uma suposta prática de desvio de

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conduta. Executivos de algumas das maiores empresas desse setor no país foram

acusados de adotar práticas de corrupção para facilitar o processo de embarque de

produtos sem a devida inspeção da vigilância sanitária. Quando indagados, alguns

desses executivos afirmaram que a prática dos desvios de conduta era um atalho para

conseguirem cumprir as metas que lhes foram impostas e, consequentemente, auferir a

recompensa pelo seu cumprimento (LANDIM, 2017).

Tanto acionistas quanto executivos poderão se beneficiar dos resultados dessa pesquisa, pois

pretende-se analisar as variáveis que compõem um programa de incentivos alinhado aos

interesses tanto do agente quanto do principal. Adicionalmente, o mercado, consumidores e a

sociedade sempre se beneficiam quando as empresas desenvolvem mecanismos de governança

corporativa, onde executivos atuam de forma ética e em linha com a sustentabilidade da

organização em que trabalha.

Nesse contexto, a presente pesquisa produz resultados de ordem prática, para auxiliar as

organizações no desenho dos seus programas de incentivo e na minimização dos potenciais

conflitos decorrentes desse programa.

1.5 Justificativa teórica

O tema programas de incentivo foi alvo de diversos estudos no Brasil, o que permitiu a obtenção

de vasta fundamentação teórica para a pesquisa. Da mesma forma, estudos sobre percepção de

riscos são bastante difundidos. Entretanto, não foram encontradas nas bases de pesquisas

científicas, especialmente na língua portuguesa, quantidade significativa de estudos que

associem a percepção de riscos de executivos aos programas de incentivo.

Conforme temas chave a serem utilizados na pesquisa, foram realizadas consultas a bases de

dados de trabalhos científicos, obtendo-se os seguintes resultados:

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Tabela 2 - Pesquisas nas fontes de estudos científicos

Fonte / Quantidade de estudos encontrados

Tema Ebsco Scielo Spell Anpad

Remuneração 121 217 26 37

Compensation 53.778 399 11 1

Programas de Incentivo - 38 14 5

Incentive program 994 41 1 0

Percepção de risco 29 195 89 2

Risk Perception 5.319 325 1 2

Percepção de risco e remuneração 2 3 0 0

Risk Perception and Compensation 27 1 0 0

Percepção de risco e programas de incentivo - 2 0 0

Risk Perception and Incentive Program 1 0 0 0

Fonte: O autor, 2017.

Como pode ser constatado na Tabela 2, grande parte dos estudos anteriores relacionados aos

eixos teóricos da pesquisa está baseada em estudos realizados fora do país. Verificou-se ainda

que grande parte dos estudos realizados no Brasil utiliza-se de dados secundários, através da

coleta de informações a partir das demonstrações financeiras de companhias de capital aberto

(CAMARGOS; HELAL, 2007; FUNCHAL; TERRA, 2006; SILVA; CHIEN, 2013; SOUZA;

DUQUE; SILVA JÚNIOR, 2016). Poucos estudos utilizam-se de dados primários, coletando a

percepção dos executivos sobre como motiva-los a adotarem medidas alinhadas aos interesses

do acionista e que maximizem o resultado dos programas de incentivo.

Nesse contexto, estudo fornece uma contribuição relevante ao avaliar de forma mais detalhada

como os diversos modelos de recompensa, de curto e longo prazo, podem ser melhor

combinados e produzir os melhores resultados para as organizações, de acordo com a percepção

de riscos do agente.

A presente pesquisa se utiliza da literatura disponível sobre os temas relacionados, tais como

modelos de remuneração, teoria da agência e percepção de riscos, para verificar como a relação

entre esses temas pode resultar em modelos de incentivo mais adequados para as organizações.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica da pesquisa é suportada por correntes da literatura relacionada aos

programas de incentivo, problemas de agência e percepção de riscos dos executivos,

considerando:

a) O conceito de geração de valor nas organizações como forma de avaliar a eficácia dos

programas de incentivo;

b) Os modelos de recompensa que compõem um programa de incentivos;

c) A influência da Teoria da agência sobre os programas de incentivo;

d) Percepção de riscos de executivos;

e) Gestão de riscos e Governança Corporativa como elementos de fortalecimento dos

programas de incentivo nas organizações.

Os eixos teóricos podem ser visualizados de forma resumida na Figura 1 a seguir:

Figura 1 - Eixos teóricos relacionados aos objetivos de pesquisa

Fonte: O autor

2.1 O conceito de geração de valor nas organizações como forma de avaliar a eficácia dos

programas de incentivo

O estabelecimento das medidas de desempenho para aferir a geração de valor e,

consequentemente, recompensar o agente é o ponto de partida para um bom programa de

incentivo. A definição clara dos critérios de mensuração de performance dos executivos faz

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parte das regras a serem estabelecidas no contrato entre o principal e o agente. Segundo

Malvessi e Pereira Filho (2016, p. 41, grifo do autor),

um sistema de indicadores de desempenho bem alinhado, estruturado com estratégia

de sustentabilidade econômica da empresa, que enfatize a meritocracia e a melhoria

contínua do desempenho econômico, é fator crítico de sucesso para que o modelo de

remuneração variável produza os benefícios esperados de geração de valor aos

acionistas e stakeholders.

Segundo Lambert e Larcker (1987), as medidas comumente utilizadas são baseadas em: a)

indicadores contábeis, a exemplo do retorno sobre patrimônio líquido; ou b) indicadores de

performance de mercado, a exemplo da variação do valor das ações da Companhia. Segundo

os autores, o uso de indicadores baseados em performance de mercado é mais utilizado quando:

a) As demonstrações financeiras da empresa apresentam altos índices de variação das

linhas de receitas, gastos ou investimentos ao longo dos exercícios;

b) A empresa está passando por um período de crescimento acelerado nas vendas ou em

expansão dos seus ativos;

c) Os executivos detêm propriedade de baixo ou nenhum valor em ações da empresa.

Conforme estudo realizado por Malvessi e Pereira Filho (2016), as principais variáveis

utilizadas para medir desempenho nas empresas brasileiras constantes no seu estudo estão

associadas a indicadores financeiros, conforme gráfico 1:

Gráfico 1 - Principais indicadores utilizados para medir desempenho de executivos

Fonte: Malvessi e Pereira Filho (2016)

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Como pode ser percebido no gráfico 1, a maioria das empresas adota indicadores de

desempenho de executivos baseado em informações financeiras essencialmente relacionadas a

resultados de curto prazo, como o EBITDA e Lucro líquido e volume de vendas como critério

para os seus programas de incentivo.

A adoção de modelos de mensuração de desempenho essencialmente baseados em informações

contábeis para balizar programas de incentivo pode potencializar os problemas de agência.

Estudos empíricos realizados por Healy (1985), indicaram a predisposição de executivos a

adotarem práticas contábeis que maximizem seus indicadores e, consequentemente, sua

recompensa.

2.2 Os modelos de recompensa que compõem um programa de incentivos

No centro dos programas de incentivo, dois elementos formam o eixo de sustentação: os

modelos de avaliação e as recompensas. Como o foco dos documentos avaliados nesse estudo

está no estudo dos modelos de recompensa, foram enfatizados os principais aspectos

relacionados a:

a) Recompensas financeiras ou remuneração: conceituada por Milkovich e Boudreau

(2000, p. 381) como “o retorno financeiro e os serviços e benefícios tangíveis que os

empregados recebem como parte de pagamento em uma relação de trabalho”;

b) Recompensas não financeiras: definidas por Krauter (2013) como o conjunto de fatores

associados à possibilidade de ascensão na carreira, ao desenvolvimento pessoal e

profissional, planejamento e acompanhamento de carreira, de recolocação em caso de

demissão, de recrutamento interno e de preparação para a aposentadoria.

Dentre os modelos de recompensa, a remuneração variável é a que mais aproxima recompensa

de resultado. Wood Jr. e Picarelli Filho (2004, p. 102) indicam que os principais objetivos da

remuneração variável devem consistir em:

a) Favorecer a meritocracia na organização, através do reconhecimento pelo desempenho;

b) Promover a busca pela melhoria contínua;

c) Criar senso de compartilhamento de responsabilidade, através da partilha de bons e

maus resultados;

d) Transformar custo fixo em variável.

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Estabelecer um modelo de recompensa equilibrado internamente, competitivo a ponto de reter

talentos, mas coerente externamente em relação ao mercado é um desafio para as organizações.

A combinação das diversas modalidades de remuneração, especialmente as formas de

remuneração variável, tem sido fator de sucesso para empresas que conseguem desenhar

critérios meritocráticos e que reconheçam o real valor que os profissionais produzem para a

organização.

Os modelos de recompensa de executivos podem ser divididos da seguinte forma:

Figura 2 - Modelos de recompensa de executivos

Fonte: Adaptado de Krauter (2013)

De acordo com o estudo realizado por Malvessi e Pereira Filho (2016) sobre uma série histórica

dos anos de 2010 a 2013 para 62 empresas não financeiras classificadas no Novo Mercado da

BM&FBovespa, há descasamento na relação entre a geração de valor das empresas e a

recompensa de executivos. Os autores compararam, através de análise empírica, a evolução dos

índices de Geração de Valor ao Acionista ou Valor Econômico Criado (VEC)1 com a evolução

da remuneração dos executivos dessas 62 empresas, identificando os resultados resumidos nos

Gráficos 2 e 3 a seguir.

1 Conforme definido por Malvessi e Pereira Filho (2016), o índice de Valor Econômico Criado representa a

capacidade de a empresa gerar lucro operacional suficiente para cobrir os custos do capital investido, comparando

o ROIC (Retorno sobre o Capital Investido, obtido pela divisão do resultado operacional pelo capital aplicado)

com o WACC, sigla em inglês de Weighted Average Cost of Capital, representa o custo médio ponderado de

capital e contempla a consolidação do custo do capital do acionista e de terceiros aplicado em um projeto ou

empresa.

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Gráfico 2 - Relação entre recompensas e lucro nas empresas brasileiras

Fonte: Malvessi e Pereira Filho (2016).

Conforme ilustrado na Gráfico 3, a evolução da geração de valor nas empresas foi inversamente

proporcional à evolução da remuneração de executivos, para a amostra pesquisada por Malvessi

e Pereira Filho (2016).

Gráfico 3 - Relação entre recompensas e geração de valor nas empresas brasileiras

Fonte: Malvessi e Pereira Filho (2016).

Como pode ser visto nos Gráficos 2 e 3 nem sempre a recompensa do executivo está diretamente

associada ao retorno ao acionista. Os resultados desta pesquisa indicam que os riscos do

problema de agência podem ter se materializado em algumas dessas organizações.

Resultados semelhantes aos encontrados por Malvessi e Pereira Filho (2016), também foram

encontrados por Silva e Chien (2013), cujo estudo demonstrou que não houve relação

significativa entre remuneração executiva, valor e desempenho da empresa para as 420

companhias abertas brasileiras selecionadas pelos autores no período de 2002 a 2009.

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Funchal e Terra (2006) também demonstraram que não há relação significativa entre o

desempenho das empresas pesquisadas e a remuneração dos seus executivos. Em uma amostra

com empresas do Brasil, Argentina, Chile e México com ações listadas em bolsa nos Estados

Unidos, os autores constataram que, apesar de haver relação positiva entre o tamanho da

empresa e a remuneração dos executivos, as referidas remunerações não estão conectadas

diretamente à geração de riqueza ao acionista.

Adicionalmente, pesquisa realizada pela Deloitte (2017) indica que a remuneração de Diretores

teve o maior ganho real dentre todos os demais cargos pesquisados, conforme Tabela 3, o que

pode suscitar a hipótese de que Executivos de alto escalão detém maior poder para influenciar

suas remunerações.

Tabela 3 - Crescimento das remunerações no Brasil

Áreas

Média de

remuneração em

2017

Média de

remuneração em

2016

% de Variação

Aumento/Redução

Diretores R$ 45.654,70 R$ 41.647,08 8,8%

Gerentes R$ 20.539,50 R$ 19.613,12 4,5%

Profissionais R$ 6.402,96 R$ 6.382,75 0,3%

Supervisores R$ 8.940,18 R$ 9.208,31 -3,1%

Demais níveis R$ 2.690,14 R$ 2.733,43 -1,6%

Fonte: Deloitte (2017)

São descritos a seguir os principais modelos de remuneração de curto prazo, de longo prazo e

o modelo de recompensa não financeira.

2.2.1 Remuneração de curto prazo

De acordo com Souza, Duque e Silva Jr. (2016), a remuneração de curto prazo compreende os

seguintes tipos de recompensa:

a) Remuneração fixa: salário e pró-labore, ajudas de custo, abonos, anuênios, benefícios,

honorário fixo, verbas de representação, licença remunerada, dentre outras;

b) Remuneração variável de curto prazo: bônus, gratificações, comissões, participação nos

resultados, dentre outras.

Ainda para Souza, Duque e Silva Jr. (2016, p. 137), “um plano de remunerações composto por

muitas remunerações de curto prazo pode influenciar nas escolhas contábeis dos executivos,

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pois estes passam a agir com pensamento de curto prazo prejudicando os interesses dos

acionistas no longo prazo”.

A pressão por retornos de curto prazo cada vez mais agressivos incentiva executivos a adotarem

medidas que podem se traduzir em perdas futuras. Nesses casos, aparentemente, no curto prazo,

todos saem ganhando, tanto principal quanto agente, porém, no médio e longo prazo, o principal

assume o risco das perdas futuras, principalmente os acionistas minoritários.

O estudo realizado por Machado e Beuren (2013) com empresas brasileiras, americanas e

inglesas de capital aberto indicou que, no período entre 2007 e 2010, houve aumento na

remuneração fixa dos executivos brasileiros, enquanto que os valores pagos a título de

remuneração de longo prazo para esses executivos brasileiros, a exemplo de opções de ações,

tiveram redução nesse mesmo período. Nesse mesmo período, os salários fixos dos executivos

de empresas estadunidenses reduziram, enquanto que suas remunerações baseadas em ações

(longo prazo) tiveram aumento.

2.2.2 Remuneração de longo prazo

Este tipo de remuneração geralmente está diretamente atrelado ao desempenho e a geração de

resultados no longo prazo, o que torna o seu desenho mais desafiador, já que a mensuração de

resultados nem sempre é uma tarefa fácil. De acordo com Souza, Duque e Silva Jr. (2016), a

remuneração de longo prazo compreende, dentre outras, os seguintes tipos de recompensa:

a) Opções de ações;

b) Phanton options ou opções de ações virtuais;

c) Performance stock units;

d) Ações restritas.

Bebchuk e Fried (2005) ressaltam a importância das remunerações de longo prazo na medida

em que indicam que programas de opções de ações fornecem incentivos aos executivos de

forma alinhada com os interesses do principal no longo prazo. Os autores recomendam,

inclusive, a adoção de práticas de contingenciamento ou até mesmo devolução de recompensas,

no caso de prejuízo futuros. Pode-se citar como exemplo de uma situação de republicação de

resultados de exercícios anteriores, em que a geração de valor tenha sido inferior à base utilizada

para recompensar o executivo.

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Segundo pesquisa da Deloitte (2017), a distribuição da remuneração de executivos no Brasil,

considerando os modelos do gráfico 4, ainda está muito fortemente baseada em remuneração

de curto prazo (fixa ou variável), o que demonstra que os modelos de programas de incentivo

no Brasil ainda estão em um estágio de maturação inicial. Apenas uma pequena fração das 140

empresas brasileiras pesquisadas adota incentivos de longo prazo.

Gráfico 4 - Distribuição da remuneração de executivos no Brasil

Fonte: Deloitte (2017)

Malvessi e Pereira Filho (2016) encontraram resultados semelhantes à pesquisa realizada pela

Deloitte (2017). Em uma amostra de 69 empresas brasileiras pesquisadas, foi constatado que

apenas 21% da remuneração dos executivos é composta por recompensas de longo prazo. Ou

seja, mais de três quartos da remuneração do agente considera apenas métricas de curto prazo.

Por outro lado, o estudo realizado por Pepper, Gore e Crossman (2013) indica que a percepção

de executivos seniores sobre recompensas de longo prazo não é positiva. O estudo realizado

pelos autores indica que o valo percebido pelos executivos seniores sobre esse tipo de

remuneração é inferior ao custo empregado pela organização, já que a complexidade dos

modelos de longo prazo traz muitas incertezas ao executivo.

De acordo com os autores pesquisados, pode-se concluir que as remunerações de longo prazo

representam um tipo de remuneração variável, pois o valor da recompensa sempre depende de

eventos futuros.

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2.2.3 Recompensas não financeiras

Krauter (2013) indica que reconhecimentos não financeiros devem ser utilizados de forma

extensiva pelas empresas. Apesar de exigirem menor emprego de capital, não é correto afirmar

que essas medidas são de baixa complexidade. Estimular pessoas por métodos não financeiros

passa pela percepção de vantagem que os colaboradores de uma empresa passam a ter pelo fato

de estarem trabalhando e convivendo no ambiente da organização. A possibilidade de

crescimento futuro da carreira é uma das formas mais poderosas e recompensa não financeira.

Para Farrell, Kadous e Towry (2008), organizações que conseguem prover aos seus executivos

uma visão de crescimento promissor na carreira no longo prazo e que alinham essa capacidade

com medidas de recompensa de longo prazo, incentivam seus executivos a adotarem medidas

mais alinhadas com o interesse do acionista e a atuarem pensando na perpetuidade da

organização.

Tanto para Holmström (1999) quanto para Byrd, Parrino e Pritsh (1998), o efeito da percepção

de carreira e a preocupação em manter boa reputação no mercado são fatores importantes na

determinação das medidas tomadas por executivo. Nesse contexto, o executivo é induzido a

adotar práticas que garantam a geração de valor para o acionista não somente para maximizar

a sua recompensa financeira, mas principalmente para garantir a ele a sua boa empregabilidade.

Entretanto, o estudo da efetividade de recompensas não financeiras é dificultado pela ausência

de mecanismos de observação. Souza, Duque e Silva Júnior (2016) citam essa limitação ao

comentar que as Companhias Brasileiras de capital aberto não possuem a prática de publicar

seus métodos de recompensa não financeira, o que impede a realização de estudos empíricos.

2.3 A influência da teoria da agência sobre os programas de incentivo

A teoria econômica indica que os indivíduos envidarão esforços para as atividades que

otimizam seu retorno (HOLMSTRÖM, 1979). Essencialmente, todas as relações humanas

denotam conflitos de interesses e os riscos decorrentes do problema de agência devem ser

endereçados para que a relação principal-agente produza resultados satisfatórios para ambos.

Nesse contexto, a interpretação de Eisenhardt (1989) sobre as duas linhas da teoria da agência

considera as seguintes definições:

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a) A teoria da agência clássica define os elementos que podem provocar conflitos de

interesse entre o agente e o principal e pode ser extrapolada para circunstâncias de

relações diversas, tais como relações entre advogado/cliente ou comprador/vendedor.

As soluções propostas pela teoria da agência clássica passam pela definição do modelo

ideal de contrato a ser firmado entre o agente e o principal, incluindo o tipo de incentivo

a ser utilizado para o melhor alinhamento de expectativas;

b) A teoria da agência positivista se predispõe a identificar quais são as circunstâncias em

que o agente e o principal divergem na definição de objetivos, especialmente na divisão

de níveis importância para o paradoxo capital/trabalho, e quais são os mecanismos de

governança que delineiam os limites de autoridade do agente, tais como estrutura de

capital com participação acionária do agente e modelos de recompensa que aumentem

o interesse do agente nos resultados de longo prazo da organização.

As duas linhas de estudo sobre a teoria da agência são importantes para esta pesquisa, pois

trazem contribuições relevantes para o delineamento dos programas de incentivo para

executivos.

Pepper e Gore (2012) sugerem uma nova roupagem para a teoria da agência, denominada teoria

da agencia comportamental. Nesse novo contexto, os autores sugerem que, para um programa

de incentivo ser eficaz (alinhar interesses do agente e principal) e eficiente (atingir resultados

com menor custo possível), é preciso levar em consideração quatro fatores:

1) Aspectos motivacionais intrínsecos, naturais do indivíduo, e extrínsecos, decorrentes

por exemplo do programa de incentivo, que levam o agente a tomar medidas alinhadas

com os interesses do principal;

2) Perfil de riscos dos executivos: até que ponto o agente está disposto a arriscar sua

remuneração;

3) Orientação temporal: a taxa de desconto ou recompensa adicional utilizada para

pagamentos no longo prazo podem variar de acordo com o perfil do executivo e devem

ser estudadas caso a caso;

4) Equilíbrio entre esforço e recompensa: o executivo tende a procurar aplicar o esforço

nas medidas que tragam a sua utilidade esperada.

De acordo com Jensen e Meckling (1976, p. 308), o problema de agência inicia quando uma ou

mais pessoas que detêm a propriedade de uma organização (principal) contratam executivos

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(agentes) e delegam a estes a responsabilidade pela gestão do negócio, de forma que o agente

será recompensado de acordo com um conjunto de resultados pactuados com o principal. Os

autores utilizam a metáfora de um contrato para definir a pactuação desse alinhamento, onde

são expressas as expectativas do principal na geração de valor, os compromissos do agente e as

formas de recompensa que o agente terá caso cumpra suas metas. Nessa relação, nem sempre o

agente toma iniciativas que produzirão valor sustentável para o principal e, se o referido

conjunto de resultados pactuados não for adequadamente desenhado ou se não houver adequada

supervisão sobre as medidas tomadas pelo agente, este será recompensado sem ter produzido

valor ao principal, ou, pior ainda, assumirá riscos excessivos em nome da organização como

forma de maximizar suas recompensas.

Dentre outros quesitos, Jensen e Meckling (1976) incluem entre os custos de agência as

possíveis perdas de riqueza nas organizações decorrentes de medidas tomadas pelos agentes em

benefício próprio, porém contraditórios aos interesses do principal. Esse custo representa um

dos principais riscos decorrentes do problema de agência. Os quatro fatos históricos citados na

introdução deste estudo ilustram exemplos de materialização desse risco.

Considerando o estudo realizado por Jensen, Murphy e Wruck (2004, p. 19), no qual os autores

sugerem que o modelo ideal de recompensas deve contemplar três aspectos: 1) atrair os

executivos certos ao menor custo; 2) reter os executivos certos ao menor custo; e 3) motivar os

executivos a tomar medidas que criam valor para os acionistas a longo prazo, os problemas de

agência passam necessariamente pelo custo dos incentivos e pela orientação temporal dos

agentes em relação às medidas tomadas para gerar valor para a Organização.

Para Byrd, Parrino e Pritsh (1998), os problemas de agência podem ser definidos através de

quatro classificações:

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Quadro 1 - Tipos de problemas de agência

Problemas de agência Definição

Esforço A expectativa de emprego de esforço por parte dos executivos para a

geração de valor para a organização é inferior à expectativa dos

acionistas, especialmente se o executivo não detém parcela significativa

de propriedade da empresa.

Horizonte Executivos tendem a ter expectativa de retorno e de realização

financeira em um horizonte de tempo muito mais curto do que a dos

acionistas.

Perfil de risco Considerando que o gerenciamento de portfólio é um dos principais

instrumentos de gestão de riscos e que, enquanto os acionistas podem

diversificar investimentos, os executivos possuem grande parte do seu

investimento e fonte de renda concentrada na empresa em que trabalha,

o agente tende a ter nível de aversão a riscos muito maior que o

principal.

Uso dos ativos Executivos podem adotar medidas que resultem em perdas para a

organização, decorrentes do uso inapropriado dos seus ativos. Podem

ser citados como exemplo os investimentos com foco no crescimento

da empresa, onde não há garantia de manutenção da sua rentabilidade.

O crescimento pode favorecer a remuneração de curto prazo para o

executivo, mas comprometer a rentabilidade e geração de valor ao

acionista no longo prazo.

Fonte: Byrd, Parrino e Pritsh (1998)

Para Bebchuk e Fried (2005), os programas de incentivo falham na sua função de regular e

minimizar os problemas de agência na medida em que as dificuldades de supervisão por parte

do agente, a adoção de medidas não transparentes, a manipulação de resultados ou ainda a falta

de independência do Conselho de Administração no momento de estabelecer o programa de

remuneração dos executivos, pode colocar o programa de incentivo no centro do conflito de

interesses e potencializar o problema de agência.

Dobbin e Jung (2010) ressaltam os riscos decorrentes da tendência recente das organizações

passarem a adotar cada vez mais visões de curto prazo para recompensar executivos. Os autores

destacam que, nos últimos anos, o aumento considerável da participação de fundos de

investimento na composição societária das empresas tem provocado um efeito adverso ao que

está previsto na teoria da agência: os próprios acionistas incentivam medidas com visão

estritamente de curto prazo, que podem ser prejudiciais à empresa no longo prazo. Esse

comportamento é explicado pelos autores pelo fato de que, apesar de exercerem o papel do

principal nessa relação, os fundos de investimento possuem a pressão de ofertar retorno

imediato aos seus investidores, sob pena de perder investidor. Nesses casos, o principal adota

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uma postura semelhante a do agente e tem mais preocupação no retorno de curto prazo do que

com a sustentabilidade da organização.

Quando previstos no pacote de remuneração, os pagamentos de remuneração pós emprego, que

correspondem a valores pagos pelas empresas quando do desligamento do executivo, também

podem atenuar os custos de agência, já que não é possível atrelar essa remuneração ao

desempenho do executivo. Bebchuk e Fried (2005) ressaltam situações em que executivos de

baixa performance receberam bônus milionários quando demitidos.

2.4 Percepção de riscos de executivos

A percepção de riscos de um indivíduo deriva de diversos fatores. Para Sjöberg (2000), valores

ideológicos, sensibilidade e medo são as três variáveis que podem explicar a percepção de

riscos, onde:

a) Valores ideológicos influenciam na forma como o indivíduo idealiza o risco. O autor

cita o exemplo de que as pessoas que defendem a produção de energia através de usinas

nucleares como alternativa para fomento da economia e manutenção da qualidade de

vida das pessoas percebem baixo risco de vazamentos de elementos radioativos, e vice-

versa. Portanto, a intepretação do contexto do evento de risco e o posicionamento do

indivíduo sobre a aceitação das consequências de um evento essencialmente como

benefícios podem afetar a sua percepção de riscos;

b) A sensibilidade ao risco traduz o grau de aversão ou neutralidade ao risco, medida

através de escalas de avaliação (a exemplo de alta, média ou baixa);

c) O medo decorre de eventos específicos, visualizados pelo indivíduo como

consequências maléficas de determinado evento. Para cada evento de risco, haverá um

dano que representa o pior cenário, que, por sua vez, influencia a percepção de riscos.

Sjöberg (2000) afirma ainda que a percepção de risco de um indivíduo em relação a eventos

que afetam a ele diretamente difere da percepção de riscos que envolvem outras pessoas, como

sua família ou pessoas em geral. Esse conceito pode ser aplicável no contexto do presente

estudo, onde a percepção de riscos de um indivíduo sobre eventos que o afetam diretamente

pode ser diferente da percepção de riscos que afetam a organização para a qual ele trabalha.

Considerando a afirmação de Slovic e Peters (2006), que sugerem que os indivíduos percebem

riscos tanto através de análises lógicas baseadas em fatos e dados históricos, quanto através de

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sentimentos intuitivos ou instintivos, pode-se concluir que a percepção de riscos sobre um

determinado evento depende tanto do nível de conhecimento desse indivíduo sobre as

características do evento, quanto sobre como ele se sente em relação ao evento. Nesse contexto,

a percepção de riscos pode variar significativamente de acordo com o nível de conhecimento

que ele detém sobre o evento e suas consequências, bem como depende significativamente da

forma como ele foi apresentado ao assunto.

Slovic e Peters (2006) também afirmam que a percepção de riscos dos indivíduos sofre forte

influência do nível de conhecimento que eles detêm sobre os potenciais benefícios decorrentes

desse evento. As pessoas toleram um nível maior de riscos se visualizam um nível maior de

vantagem a ser auferida.

A identificação do perfil e a interpretação da percepção de riscos do agente é um desafio a parte

na concepção do programa de incentivo. Para Weber e Milimman (1997), o perfil de risco é

inerente ao indivíduo, porém a percepção de risco pode variar de acordo com circunstâncias ou

eventos passados e, dessa forma, a atitude de risco pode ser direcionada por eventos ocorridos

no cotidiano do executivo ou fatos históricos. Por exemplo: um indivíduo pode perceber baixo

risco nas suas decisões na sua vida pessoal e perceber alto risco nas suas decisões profissionais,

apresentando níveis distintos de sensibilidade a riscos nas duas situações. Para os autores,

históricos de materialização de riscos no passado podem aumentar a sensibilidade ao risco.

Segundo Eisenhardt (1989), a unidade de medida básica para análises da teoria da agência são

os contratos firmados entre o principal e o agente. Nesse contexto, a autora indica que o

gerenciamento de riscos relacionados aos problemas de agência está diretamente relacionado à

capacidade do principal estabelecer uma relação com o agente em que os interesses e

compromissos das partes estejam suficientemente explícitos. Cabe ainda, para um melhor

alinhamento de interesses, o conhecimento e respeito ao perfil de riscos do agente, bem como

o nível de supervisão que o principal exercerá sobre o agente.

De acordo com a Teoria dos Contratos (HART; HOLMSTRÖM, 1986), o balanceamento da

tomada de riscos entre o principal e o agente pode ser uma das medidas a serem adotadas para

o melhor alinhamento de interesses. Na medida em que o agente assume riscos em conjunto

com o principal em troca de uma possibilidade de ganhos superiores, suas atitudes tendem a ser

mais alinhadas com os interesses do principal.

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Holmström e Milgrom (1987) sugerem que o perfil de risco do agente deve ser considerado na

elaboração do programa de incentivo, como forma de equilibrar o compartilhamento de riscos

entre o principal e o agente. Os autores indicam que o modelo de recompensa fixa é o ideal para

agentes avessos a riscos. Por outro lado, agentes menos avessos ao risco são mais propensos a

recompensas variáveis baseadas em performance. Para os autores, é fundamental que o

principal conheça o perfil de risco do agente, como forma de determinar o melhor modelo de

compartilhamento de riscos e, consequentemente, melhor programa de incentivo.

Eisenhardt (1989) cita algumas hipóteses para o adequado equilíbrio no compartilhamento de

riscos entre o agente e o principal, de acordo com características de cada stakeholders. Agentes

neutros ao risco possuem uma percepção com menor sensibilidade ao risco e tendem a assumir

mais incertezas. Por outro lado, agentes avessos ao risco têm maios sensibilidade ao risco a

tentem a não aceitar incertezas. Para a autora, o modelo de incentivo deve considerar a aceitação

do agente na transferência do risco do principal, conforme Quadro 2.

Quadro 2 - Relação entre modelos de programas de incentivo e perfis de risco do principal-agente

Perfil de risco Modelo de incentivo mais aplicável

Agente

Avesso ao risco Modelos com menor variação decorrente de

medição de performance

Neutro a riscos Modelos baseados em performance, com

remuneração variável

Principal

Avesso ao risco Modelos baseados em performance, com

remuneração variável

Neutro a riscos Modelos com menor variação decorrente de

medição de performance Fonte: Adaptado de Eisenhardt (1989)

Pepper, Gore e Crossman (2013) relacionam o perfil de riscos do agente à sua senioridade. Para

os autores, executivos seniores têm maior propensão a aversão ao risco e percepção de horizonte

de tempo mais curta, o que resulta em restrições a modelos de recompensa de longo prazo e

atreladas a variáveis de performance.

O estudo de Weber, Blais e Betz (2002) pode auxiliar na interpretação das percepções de riscos

dos executivos e na construção de modelos de incentivos aderentes às suas expectativas,

direcionando-o a tomar medidas alinhadas às expectativas do principal. Os referidos autores

associaram a percepção e atitude de risco de um indivíduo à utilidade esperada para

determinadas escolhas e indicaram que o comportamento de riscos depende da circunstância da

decisão, ou domínio, como especificado pelos autores. O referido estudo sugere uma escala

para mensurar a atitude de riscos de indivíduos, considerando cinco diferentes domínios

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(relações sociais, finanças, saúde, ética e lazer). Para os autores, a atitude de riscos é dependente

do domínio em questão, o que significa que um indivíduo pode apresentar comportamentos

mais avessos a riscos para determinado domínio, como finanças, e comportamentos neutros a

riscos para suas relações sociais.

Os quatro fatores indicados por Pepper e Gore (2012) para o perfeito alinhamento de interesses

entre o agente e o principal, de acordo com o modelo de teoria de agência denominada pelos

autores como teoria da agência comportamental, passam pelo alinhamento do perfil de riscos

das duas partes. A Figura 3 - a seguir resume o ciclo de performance e motivação proposto por

Pepper e Gore (2012).

Figura 3 - Ciclo de performance e motivação do agente versus sua percepção de riscos

Fonte: adaptado de Pepper e Gore (2012)

Adicionalmente, Pepper e Gore (2012) questionam a afirmação da teoria da agencia clássica de

que os executivos são na sua essência avessos a risco. Para os autores, apesar do agente ser

primariamente avesso a perdas, é possível verificar tendência de um indivíduo assumir riscos

em busca de um nível de ganho até certo ponto em que o potencial de ganho se iguala ao

potencial de perda. No referido estudo, os autores procuraram relacionar motivação intrínseca,

extrínseca, perfil de risco busca pelo equilíbrio entre esforço e recompensa, identificando 3

pontos de inflexão das curvas que associam essas variáveis:

a) λ1 ponto de inflexão entre motivação intrínseca e extrínseca;

b) λ2 ponto de inflexão entre o apetite a riscos e a aversão a perdas do executivo;

c) λ3 ponto de inflexão entre percepção de esforço e recompensa, tendo por base pares do

executivo.

De acordo com a figura 4, onde ε = f(Ni) representa a curva da motivação intrínseca, ε = f(Xi)

representa a curva da motivação extrínseca e ε = f(Ni, Xi) representa a curva da motivação total,

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os três pontos de inflexão λ1, λ2 e λ3 estão posicionados no mesmo ponto da curva que associa

esforço e recompensa do agente.

Figura 4 - Curva de esforço/recompensa do agente

Fonte: Pepper e Gore (2012)

Pode-se perceber que, de acordo com as proposições de Pepper e Gore (2012), existem diversas

combinações de modelos de recompensa (fixa/variável, de curto/longo prazo) para maximizar

o nível de motivação e, consequentemente, produzir maior valor para a organização. Algumas

proposições dos autores sugerem que:

a) λ representa o nível ótimo de recompensa que maximiza a motivação do executivo,

considerando o seu apetite a riscos, a aversão a perdas e percepção de

esforço/recompensa;

b) β representa o ponto da curva em que a motivação intrínseca é totalmente eliminada e

a motivação extrínseca começa a chegar no limite. Supostamente, a partir desse nível,

os investimentos do principal em fornecer maior remuneração ao agente não serão

eficientes, pois o esse pode ser considerado o limite de esforço empregado pelo agente;

c) ωα representa o limite de recompensa suportada pela motivação intrínseca. Pode-se

inferir que o ponto α indica a necessidade de incentivos adicionais, de forma que a

motivação extrínseca suplante o declínio da motivação intrínseca decorrente do

emprego de maiores esforços.

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É possível associar o perfil de risco do agente e o modelo de programa de incentivo que melhor

o direciona a adotar práticas alinhadas ao interesse do principal, a através da percepção temporal

do período de avaliação. Segundo Aguiar (2009), avaliações de executivos consideradas de

longo prazo são aquelas em que o desempenho é aferido após determinado período em que se

consegue de fato perceber o resultado para a organização. Esse resultado não representa

necessariamente o lucro/prejuízo de um exercício, pois pode considerar um horizonte mais

longo que um ano fiscal.

Figura 5 - Período de avaliação: curto-prazo x longo-prazo

Fonte: Aguiar (2009).

Como se pode observar da Figura 5, contratos baseados em modelos de aferição de resultados

e, consequentemente, de recompensas de longo prazo, podem garantir maior segurança ao

principal, na medida em que o agente é induzido a adotar medidas que gerem valor de forma

sustentável no longo prazo e ele é recompensado somente após um período de mensuração dos

resultados das suas medidas.

O emprego de condições contratuais que penalizem comportamentos adversos do agente pode

ser um importante mecanismo de equalização dos programas de incentivo. A utilização de

mecanismos de contingenciamento foi prevista pela Resolução n. 3.921/2010 do Banco Central

do Brasil (2010), aplicável a instituições financeiras no Brasil. Esta resolução, em seu Art. 2º,

estabelece que:

Art. 2º A política de remuneração de administradores deve ser compatível com a

política de gestão de riscos e ser formulada de modo a não incentivar comportamentos

que elevem a exposição ao risco acima dos níveis considerados prudentes nas

estratégias de curto, médios e longos prazos adotados pela instituição.

Esta mesma resolução estabelece mecanismos para a retenção de parte da remuneração variável,

como forma de incentivar executivos a adotarem medidas que preservem o valor da empresa

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no médio e longo prazos. Essa retenção se dá na forma de diferimento do pagamento, conforme

texto transcrito a seguir:

Art. 6º A remuneração variável pode ser paga em espécie, ações, instrumentos

baseados em ações ou outros ativos, em proporção que leve em conta o nível de

responsabilidade e a atividade do administrador.

§ 1º No mínimo 50% (cinquenta por cento) da remuneração variável deve ser paga em

ações ou instrumentos baseados em ações, compatíveis com a criação de valor a longo

prazo e com o horizonte de tempo do risco.

§ 2º As ações, instrumentos baseados em ações ou outros ativos utilizados para

pagamento da remuneração de que trata o caput devem ser avaliados pelo valor justo.

§ 3º Para as instituições que não possuam ações negociadas no mercado e que não

emitam instrumentos baseados em ações, os pagamentos de que trata o § 1º devem

tomar como base a variação ocorrida no valor contábil de seu patrimônio líquido, livre

dos efeitos das transações realizadas com os proprietários.

Art. 7º No mínimo 40% (quarenta por cento) da remuneração variável deve ser

diferida para pagamento futuro, crescendo com o nível de responsabilidade do

administrador.

§ 1º O período de diferimento deve ser de, no mínimo, três anos, e estabelecido em

função dos riscos e da atividade do administrador.

§ 2º Os pagamentos devem ser efetuados de forma escalonada em parcelas

proporcionais ao período de diferimento.

§ 3º No caso de redução significativa do lucro recorrente realizado ou de ocorrência

de resultado negativo da instituição ou da unidade de negócios durante o período de

diferimento, as parcelas diferidas ainda não pagas devem ser revertidas

proporcionalmente à redução no resultado (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2010).

2.5 Gestão de riscos e Governança Corporativa como elementos de fortalecimento dos

programas de incentivo nas organizações

O conceito de riscos está intrinsecamente relacionado à incerteza. De acordo com as definições

do Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission (COSO)2, o risco

pode ser definido como a possibilidade da ocorrência de eventos que comprometam o

cumprimento de determinados objetivos. Para o referido Comitê, essa definição deve ser

complementada com a visão de incerteza (se e quando o evento poderá acontecer) e severidade

(medida de impacto do evento) (COMMITTEE OF SPONSORING ORGANIZATIONS OF

THE TREADWAY COMMISSION, 2016).

2 Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission, comitê formado pela American

Accounting Association, American Institute of Certified Public Accountants, Financial Executives International,

Institute of Management Accountants e pelo The Institute of Internal Auditors, com o objetivo de estudar e

desenvolver modelos de gerenciamento de riscos (COMMITTEE OF SPONSORING ORGANIZATIONS OF

THE TREADWAY COMMISSION, 2016).

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O processo de gestão de riscos compreende o conjunto de competências e práticas que,

integradas com a definição e execução das estratégias de uma organização, são utilizadas para

gerenciar os riscos de forma a criar, preservar e gerar valor (COMMITTEE OF SPONSORING

ORGANIZATIONS OF THE TREADWAY COMMISSION, 2016).

De acordo com o Committee of Sponsoring Organizations of The Treadway Commission

(2016), o processo de gerenciamento de riscos deve contemplar cinco componentes:

a) Governança e Cultura de riscos: Governança e cultura formam a base para os demais

componentes. Estes elementos determinam o tom do processo de gerenciamento de

riscos para toda a organização e contempla, dentre outros, aspectos como supervisão da

gestão por conselheiros independentes, preceitos de conduta, comprometimento da alta

administração;

b) Estratégia e definição de objetivos: o processo de gerenciamento de riscos deve estar

integrado ao Planejamento estratégico. Gerenciar riscos pressupõe entender o contexto

das operações de uma organização, suas forças, fraquezas, oportunidades e ameaças.

Uma das definições desse componente é o apetite ao risco, bem como os limites de

tolerância aceitáveis para a exposição a riscos;

c) Identificação, avaliação e resposta: Trata-se do modelo que a organização adota para

identificar, avaliar, priorizar e responder aos seus riscos, de acordo com o apetite

estabelecido no componente anterior e às estratégias da organização. Este componente

teve considerar o portfólio de riscos prioritários;

d) Informação, comunicação e reporte: este componente corresponde a capacidade da

organização em mobilizar e engajar seus membros a adotar as medidas necessárias para

responder aos riscos, de acordo com o apetite estabelecido no componente anterior e às

estratégias da organização. Neste componente também deve ser considerada a

disponibilidade de ferramentas que garantam informações confiáveis sobre os riscos;

e) Monitoramento: este componente busca garantir que todo o processo que foi

estabelecido para gerenciar riscos e que os planos de resposta ao risco estão

funcionando.

Outra referência que pode ser usada para especificar o processo de gerenciamento de riscos é a

norma NBR ISO 31000, que fornece princípios e diretrizes para gerenciar qualquer tipo de

risco, na totalidade ou em parte, de qualquer tipo de organização. Trata-se de uma norma geral,

independente de indústria, setor ou área, e não concorre com outras normas sobre gestão de

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riscos em áreas específicas. Seus objetivos são servir como um guia mestre em matéria de

gestão de riscos e harmonizar os processos de gestão de riscos, fornecendo uma abordagem

comum, que pode ser aplicada a uma gama de atividades, incluindo estratégias, decisões,

operações, processos, funções, projetos, produtos, serviços e ativos (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2009).

Como pode ser visto na Figura a seguir, a NBR ISO 31000 considera um modelo semelhante

ao previsto no COSO para gerenciamento de riscos.

Figura 6 - NBR ISO 31000

Fonte: Brasil (2016)

Nos dois modelos, tanto de acordo com a NBR ISO 31000 quanto de acordo com o COSO, os

eventos de risco não representam necessariamente prejuízos e a gestão de riscos deve considerar

o adequado balanceamento da tomada de riscos pela organização em relação à sua estratégia.

Ao relacionarmos o conceito de riscos de negócio previsto pelo Committee of Sponsoring

Organizations of The Treadway Commission (2016) e pela NBR ISO 31000 (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2009), em que risco corresponde aos eventos que

podem comprometer o cumprimento dos objetivos de uma organização, às definições dos

problemas de agência sugeridas por Byrd, Parrino e Pritsh (1998), que classificam tais

problemas em: 1) esforço; 2) horizonte; 3) perfil de riscos; e 4) uso dos ativos, percebe-se que

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os programas de incentivo podem funcionar como instrumento chave no gerenciamento de

riscos relacionados aos problemas de agencia, já que:

a) Programas de incentivo bem equilibrados podem motivar executivos a empregar seus

melhores esforços para a geração de valor ao acionista;

b) Considerando que a expectativa do executivo será sempre de maximizar seus ganhos no

curto prazo, programas de incentivo podem estabelecer modelos que meçam o

desempenho e a geração de valor no longo prazo. Este aspecto está relacionado à

orientação temporal das recompensas oferecidas, onde um horizonte de pagamento no

longo prazo pode levar o executivo a adotar medidas sustentáveis de geração de valor e

não apenas inflar resultados de curto prazo;

c) Considerando que a oferta de recompensas variáveis atreladas a metas de desempenho

tem por objetivo o estímulo ao executivo para produzir mais valor, a imposição de metas

agressivas, que possibilitem ganhos variáveis expressivos, pode afetar a percepção de

riscos do executivo e direciona-lo a adotar medidas que exponham a Organização a

riscos excessivos. Programas de incentivo bem equilibrados, podem afetar a percepção

de riscos dos executivos de forma a direcionar suas atitudes ao perfil de risco da

organização.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009) a governança

corporativa compreende “o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e

incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre Proprietários, Conselho de Administração,

Diretoria e Órgãos de Controle”. Nesse contexto, tanto o incentivo quanto o monitoramento

fazem parte do conjunto de medidas para garantir a boa governança corporativa.

De acordo com a Deloitte (2015), um modelo de governança corporativa deve contemplar oito

dimensões, conforme figura 7 a seguir:

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Figura 7 - Oito dimensões da Governança Corporativa

Fonte: Deloitte (2015)

Como pode ser visto na Figura 7 - , a gestão de riscos está no centro dos elementos

fundamentais da boa governança corporativa.

Ainda de acordo com o Deloitte (2015), a relação entre a gestão de riscos e a governança

corporativa pode ser expressada pelo elo de ligação entre as diretrizes estabelecidas pela

Conselho de Administração, órgão que representa os interesses do acionista, e as medidas

adotadas pelos executivos.

No contexto do gerenciamento de riscos associados aos programas de incentivo, a supervisão

do executivo por parte das instâncias de governança e confiabilidade das informações que

compõe a base para a verificação do desempenho são fundamentais. Nesse contexto, Eisenhardt

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(1989) enfatiza a importância da Governança Corporativa e da atuação do Conselho de

Administração. Quando os conselhos de administração possuem instrumentos adequados de

supervisão e controle, a exemplo de auditoria externa de fato independente e auditoria interna

ativa, o executivo se torna mais engajado na efetiva geração de valor para a organização.

Segundo Camargos e Helal (2007), o Conselho de Administração elegido pelos acionistas é um

instrumento de governança corporativa que exerce papel fundamental na fiscalização da

atuação dos executivos e na asseguração da geração de valor para a organização. Na pesquisa

realizada pelos referidos autores, através da aplicação de métodos quantitativos para a análise

de 29 empresas brasileiras listadas na bolsa de valores américa (emissoras de ADRs), foi

constatada uma forte relação entre o desempenho financeiro das empresas, a remuneração

executiva e características dos seus conselhos de administração.

Os resultados encontrados por Camargos e Helal (2007, p. 13) indicam que “os pacotes de

compensação de executivos estão diretamente associados ao bom desempenho das grandes

corporações brasileiras e ao monitoramento exercido pelo conselho de administração”.

Pepper e Gore (2012) destacam que o monitoramento da performance dos agentes é tão

importante quanto a definição de metas. De acordo com o código das melhores práticas de

governança corporativa publicado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009),

outros instrumentos de governança corporativa também podem exercer a função de supervisão

dos programas de incentivo e minimização dos riscos de problemas de agência, a exemplo de:

a) Auditorias interna e externa atuantes e independentes;

b) Comitês estatutários de remuneração;

c) Regras de independência para ocupação das posições de conselheiro, com o maior

número possível de conselheiros independentes. Este requisito é também recomendado

por Byrd, Parrino e Pritsh (1998);

d) Mandato com prazo definido para as posições de conselheiro;

e) Separação entre a ocupação de posição de conselheiro e de executivo.

Principalmente para empresas de capital aberto e instituições financeiras no Brasil, a atuação

de alguns órgãos reguladores como o a Comissão de Valores Mobiliário (CVM) e até mesmo a

opinião pública têm tido papel fundamental na regulação e supervisão dos modelos de

remuneração de executivos e no fortalecimento da governança corporativa das empresas.

Alguns regulamentos fortalecem essas práticas, a exemplo da Instrução n. 480/2009

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47

(COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2009) que obriga empresas de capital aberto a

divulgar informações relacionadas à remuneração dos seus executivos.

2.6 Estudos anteriores

De acordo com os diversos autores pesquisados, é possível perceber que, no que se refere aos

riscos associados ao problema de agência, os programas de incentivo exercem função central,

podendo atuar tanto como potencializador quanto como minimizador desses riscos.

Apesar de não ter sido identificada uma solução padrão para toda e qualquer organização,

alguns requisitos são tratados de forma consistente entre as pesquisas selecionadas sobre o tema,

relacionadas no Quadro 3.

Quadro 3 - Principais linhas de pesquisa utilizadas

(continua)

Autor Eixo teórico Principais proposições

Malvessi e Pereira

Filho (2016)

Programas de

incentivo

Os autores realizaram estudos empíricos para demonstrar a relação

entre a remuneração dos executivos e a geração de valor nas

organizações, identificando distorções nos modelos praticados em

algumas empresas, onde a remuneração foi inversamente proporcional

ao resultado econômico financeiro das empresas.

De Souza, Duque e

Da Silva Jr (2016)

Programas de

incentivo

Os autores ressaltam a importância de um plano de remuneração

diversificado, que disponha de remunerações financeiras de curto e

longo prazo, além de remunerações ligadas a indicadores não

financeiros, como forma de minimizar o problema da agência.

Gonzaga,

Yoshinaga e Eid

Junior (2013)

Programas de

incentivo

O estudo concluiu que, se consideradas informações contábeis e de

mercado como referência, os incentivos oferecidos aos gestores pelas

empresas estão relacionados aos desempenhos econômicos das

mesmas.

Camargos e Helal

(2007, p.13)

Programas de

incentivo

Segundo os autores: “os pacotes de compensação de executivos estão

diretamente associados ao bom desempenho das grandes corporações

brasileiras e ao monitoramento exercido pelo conselho de

administração”.

Bebchuk e Fried

(2005)

Programas de

incentivo

Os autores indicam que os programas de incentivo também podem ser

vistos com parte integrante e potencializador do problema de agência,

já que executivos detém muito poder para influenciar resultados e nem

sempre essas medidas ficam claras para os acionistas

Carvalhal da Silva e

Chien (2013)

Programas de

incentivo

Os autores empregaram métodos de pesquisa quantitativa para avaliar

se as empresas que mais remuneram seus executivos são as que

apresentam maior geração de valor. O resultado da pesquisa indica que

não existe relação significativa entre remuneração executiva, valor e

desempenho da empresa.

Nascimento, Franco

e Cherobim (2012)

Programas de

incentivo

Os autores não encontraram correlação positiva e significante entre o

nível de Remuneração variável e o desempenho das empresas em um

estudo focado no setor elétrico do Brasil.

Nascimento et al.

(2013)

Programas de

incentivo

Os autores não encontraram diferença estatisticamente significativa no

desempenho de empresas que adotam instrumentos de remuneração de

longo prazo, baseada em stock options, em relação a empresas que não

adotam este mecanismo.

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Quadro 3 - Principais linhas de pesquisa utilizadas

(conclusão)

Autor Eixo teórico Principais proposições

Lopes et al (2018) Programas de

incentivo

Os autores buscaram identificar a influência do desempenho financeiro

e dos riscos operacionais na remuneração de executivos de empresas

brasileiras. Como resultado, concluíram que o desempenho da empresa

está relacionado com a remuneração dos executivos, já o risco

operacional não apresentou significância no modelo.

Eisenhardt (1989) Teoria da

agência

Além do desenho de programas de incentivo que motivem o agente a

tomar medidas alinhadas com o interesse do principal, com

recompensas baseadas na geração efetiva de valor, a supervisão do

executivo por parte das instâncias de governança e confiabilidade das

informações que compõem a base para a verificação do desempenho

são fundamentais. Nesse contexto, Eisenhardt (1989) enfatiza a

importância da Governança Corporativa e da atuação do Conselho de

Administração. Quando os conselhos de administração possuem

instrumentos adequados de supervisão e controle, a exemplo de

auditoria externa de fato independente e auditoria interna ativa, os

executivos se tornam mais engajado na efetiva geração de valor para a

organização.

Byrd, Parrino e

Pritsh (1998)

Teoria da

Agência

Os autores sugerem que os tipos de problema de agência são

relacionados a quatro fatores: esforço, risco, horizonte e uso dos ativos.

Hart e Holmström,

(1986)

Teoria dos

contratos

Estabelecem os critérios para o melhor alinhamento de interesses entre

principal e agente através de modelos de contratos que enderecem as

expectativas e perfil de risco da cada stakeholder.

Jensen e Meckling

(1976)

Teoria da

firma

Os autores indicam que o problema de agência inicia quando uma ou

mais pessoas que detêm a propriedade de uma organização (principal)

contratam executivos (agentes) e delegam a estes a responsabilidade

pela gestão do negócio, de forma que o agente será recompensado de

acordo com um conjunto de resultados pactuados com o principal.

Dobbin e Jung

(2010)

Teoria da

Agência

Os autores ressaltam os riscos decorrentes da tendência recente das

organizações passarem a adotar cada vez mais visões de curto prazo

para recompensar executivos

Pepper e Gore

(2012)

Programas de

incentivo

Para os autores, para um programa de incentivo ser eficaz (alinhar

interesses do agente e principal) e eficiente (atingir resultados com

menor custo possível), é preciso levar em consideração quatro fatores:

i. Aspectos motivacionais intrínsecos e extrínsecos; ii. Perfil de riscos

do executivo; iii. Orientação temporal; iv. Equilíbrio entre esforço e

recompensa

Slovic e Peters

(2006)

Percepção de

risco

O estudo sugere que o comportamento de riscos dos indivíduos é

influenciado pelas circunstâncias da decisão.

Weber e Milimman

(1997)

Percepção de

risco

Determina a relação entre o perfil de risco e os fatores que podem afetar

a percepção de riscos do indivíduo

Weber, Blais e Betz

(2002)

Percepção de

risco

Os autores utilizaram uma escala para mensurar a atitude de riscos de

indivíduos, considerando cinco diferentes domínios (relações sociais,

finanças, saúde, ética e lazer). O estudo sugere que o comportamento

de riscos depende da circunstância da decisão, ou domínio, como

especificado pelos autores

Fonte: O autor

Como pode ser visto no Quadro 3, os eixos teóricos que serviram de base para os construtos

da pesquisa possuem ampla base de fundamentação, tanto por pesquisadores consagrados

quanto por artigos seminais.

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49

2.7 Hipóteses testadas

A partir da fundamentação teórica pesquisada, foi possível relacionar os eixos teóricos, suas

conexões e relações de causa e efeito, as quais são resumidas a seguir:

Figura 8 - Visão esquemática dos programas de incentivo como instrumento de geração de valor ou

potencializados dos riscos decorrentes dos problemas de agência

Fonte: O autor

A Figura 8 demonstra que a percepção de risco do agente pode ser uma variável que influencia

o caminho entre o programa de incentivo e a geração de valor para a organização. Esse é o tema

central desse estudo, alvo das técnicas de pesquisa aplicadas e testadas através da hipóteses

elencadas a seguir..

A relação entre os qualificadores da figura 8 foi testada através dos conectores especificados na

Figura 9, detalhada a seguir, contemplando as principais correntes de pesquisa e eixos teóricos

utilizados.

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50

Figura 9 - Legenda da relação entre os eixos teóricos a ser pesquisada

Fonte: O autor

Considerando que o objetivo principal do estudo foi de verificar a relação entre os programas

incentivo e a percepção de risco dos executivos, bem como a relação entre os programas

incentivo e a geração de valor para as organizações, a metodologia de pesquisa foi direcionada

a analisar se os modelos de incentivo que combinam remunerações variáveis e de longo prazo

podem minimizar as incertezas do agente sobre os benefícios que ele auferirá e,

consequentemente, maximizem seus esforços para a geração de valor para o acionista, além de

evitar que eles adotem medidas que exponham a organização a níveis inaceitáveis de risco.

O estudo testa as hipóteses citadas a seguir, considerando a avaliação da relação entre os eixos

teóricos elencados nesta fundamentação.

Considerando que duas das principais formas de caracterização dos programas de incentivo

estão baseadas no nível de variabilidade e no prazo de pagamento das recompensas

(KRAUTER, 2013), para atender aos objetivos específicos O1 e O3, foram testadas as hipóteses

H1 e H2 descritas a seguir, com o objetivo de avaliar se empresas que adotam modelos de

remuneração no longo prazo e baseadas em recompensas variáveis são as que estimulam o

executivo a produzir os melhores resultados financeiros.

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51

a) H1: Existe relação positiva entre o prazo de pagamento das recompensas e a motivação

do executivo para geração de valor nas organizações;

b) H2: Existe relação positiva entre a variabilidade das recompensas e a motivação do

executivo para geração de valor nas organizações.

Considerando a influência que o nível de variabilidade e o prazo de pagamento das recompensas

exercem sobre a motivação extrínseca dos executivos (PEPPER; GORE, 2012), para atender

aos objetivos O2 e O3, foram testadas as hipóteses H3 e H4 descritas a seguir, que objetivam

avaliar se programas de incentivo contemplando parcelas de remuneração de longo prazo e com

mais parcelas variáveis direcionam o executivo a uma percepção avessa a tomada de risco para

a organização.

a) H3: Existe relação positiva entre o prazo de pagamento de recompensas e a percepção

de riscos do executivo3;

b) H4: Existe relação positiva entre a variabilidade das recompensas previstas nos

programas de incentivo e a percepção de riscos do executivo4.

3 Para fins de análise de resultados, a relação será considerada como positiva se a elevação do nível de

remuneração de longo prazo também elevar a neutralidade da percepção de riscos do executivo. Ou seja, uma

relação positiva entre remuneração de longo prazo e percepção de riscos pressupõe que, quanto maior o nível de

RLP, maior a propensão a tomada de riscos por parte do executivo. 4 Para fins de análise de resultados, a relação será considerada como positiva se a elevação do nível de remuneração

variável também elevar a neutralidade da percepção de riscos do executivo. Ou seja, uma relação positiva entre

remuneração variável e percepção de riscos pressupõe que, quanto maior o nível de RV, maior a propensão a

tomada de riscos por parte do executivo.

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52

3 METODOLOGIA

Nesta seção é apresentada a metodologia de pesquisa, contemplando o delineamento da

pesquisa, o público alvo, instrumentos de coleta e formas de análise. No Apêndice A é

demonstrado um quadro resumo, relacionando os objetivos de pesquisa, os eixos teóricos a

serem utilizados, as hipóteses a serem testadas, os instrumentos e métodos de coleta a serem

utilizados na pesquisa.

3.1 Delineamento da pesquisa

O estudo contemplou duas pesquisas descritivas, que, segundo Gil (2002), têm como objetivo

principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno. Em relação à

abordagem do problema, foi adotado o método quantitativo, no qual, segundo Malhotra (2006),

há coleta estruturada de dados junto a um número representativo de respondentes, bem como

tabulação e averiguação de interações entre as variáveis pesquisadas, através de análise

estatística. A pesquisa é caracterizada como de natureza aplicada, por resultar na geração de

conhecimentos de aplicação prática, com foco na solução de problemas específicos.

(SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).

O estudo foi suportado por recursos estatísticos utilizados em dois estágios:

a) Pesquisa 1: Levantamento de dados secundários, a partir de demonstrações contábeis

e demais relatórios financeiros publicados nos formulários de referências de uma

amostra de empresas de capital aberto, com o objetivo de testar as hipóteses H1 e H2;

b) Pesquisa 2: Levantamentos de dados primários a partir da aplicação de questionários

de pesquisa (survey), com o objetivo de testar as hipóteses H1, H2, H3 e H4.

Considerando que a medição de geração de valor pode ser melhor visualizada através de uma

análise de resultados concretos obtidos por Organizações e que a pesquisa com dados primários

da pesquisa 2 coletaria apenas a percepção do executivo, não podendo ser corroborada com os

resultados efetivos das organizações em que eles trabalham, optou-se de utilizar também a

pesquisa 1, coletando dados secundários de organizações de capital aberto, como forma de se

obter uma visão mais completa para o teste das hipóteses H1 e H2.

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3.1.1 Pesquisa 1 - Levantamento de dados secundários, a partir de demonstrações contábeis e

demais relatórios financeiros publicados nos formulários de referências de uma amostra de

empresas de capital aberto

Com este estágio da pesquisa, pretende-se, através de dados secundários ex post facto, atender

aos objetivos de pesquisa O1 e O3, através do teste das hipóteses H1 e H2. Nesse contexto, foi

analisada a relação entre os modelos de remuneração e a geração de valor nas organizações.

Este tipo de pesquisa foi amplamente utilizado em outros estudos que buscaram avaliar a

relação entre remuneração e geração de valor, a exemplo dos estudos realizados por Krauter

(2013), Beuren, Silva e Mazzioni (2014), Malvessi e Pereira Filho (2016), Gonzaga, Yoshinaga

e Eid Junior (2013) e Camargos e Helal (2007).

3.1.1.1 População, amostra e dados coletados na pesquisa 1

A pesquisa 1 é ex-post-facto, onde foi escolhida amostra de empresas brasileiras de capital

aberto, de diversos segmentos de negócio, para o período de 3 anos, entre 2014 e 2016.

A partir da Instrução Normativa n. 480, da Comissão de Valores Mobiliários (2009), as

empresas de capital aberto passaram a ser obrigadas a publicar, além das demonstrações

financeiras, seus formulários de referência indicando os valores e distribuição da remuneração

dos seus executivos.

Considerando as definições do código das melhores práticas de governança corporativa

publicado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009), que estabelece

claramente a diferenciação entre o papel do executivo e do conselho de administração como

instâncias diferentes na governança de uma organização, e que o foco desse estudo centrado na

relação entre remuneração e percepção de riscos de executivos, foram consideradas as

remunerações de executivos e desprezadas informações da remuneração de conselheiros de

administração.

Foram coletados dados de 205 empresas, considerando os valores médios de ROE e

remunerações pagas entre os anos de 2014 e 2016.

A técnica de amostragem adota foi não-probabilística, que, conforme Gil (2008), leva em

consideração a facilidade de acesso aos dados. A partir da seleção não-aleatória, foram

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54

coletados os dados das empresas que melhor divulgam seus relatórios de gestão e oferecem

mais detalhes sobre seus modelos de remuneração aplicados.

Seguindo o mesmo procedimento adotado por Beuren, Silva e Mazzioni (2014), não foram

consideradas na amostra da pesquisa 1 empresas do setor financeiro, em função destas

apresentarem características peculiares que poderiam provocar distorções nos resultados finais.

3.1.1.2 Variáveis utilizadas na pesquisa 1

As variáveis utilizadas na análise foram selecionadas de forma a possibilitar o teste das

hipóteses definidas na metodologia de pesquisa, as quais são baseadas na análise dos resultados

em empresas que adotam os modelos de remuneração variável e modelos de remuneração de

longo prazo. A especificação desses modelos, segundo Krauter (2013) está resumida na Figura

10 - :

Figura 10 - Modelos de remuneração

Fonte: Souza, Duque e Silva Junior (2016) adaptado de Krauter (2013)

Fazendo um paralelo entre o modelo de classificação das remunerações sugerido por Krauter

(2013) com os agrupamentos estabelecidos nos formulários de referência publicados pelas

empresas selecionadas, foram selecionadas variáveis descritas no quadro a seguir:

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Quadro 4 - Variáveis utilizadas na pesquisa 1

Variável Descrição Forma de cálculo e origem da informação

Variável

independente

1

Remuneração

Variável –

RV

Babbie (1999) define a variável independente como aquela cujos

valores supõe-se influenciar a variável dependente.

No presente estudo, foram utilizadas duas variáveis independentes.

Uma delas representa a soma das seguintes rubricas publicadas nos

formulários de referência: bônus, participação de resultados, outros

valores variáveis, remuneração baseada em ações (incluindo

opções).

Com o objetivo de identificar o nível de adoção de práticas de

remuneração variável por empresa e minimizar o efeito de oscilações

pontuais em determinados anos, essa variável foi expressa em

percentual, considerando o peso médio da RV sobre a remuneração

total de cada empresa constante na amostra durante o período de 3

anos pesquisado. Adicionalmente, essa medida permitiu ranquear as

empresas de acordo com o peso dado à RV e reduzir eventuais efeitos

macroeconômicos que afetem a remuneração de determinada

empresa em determinado momento.

O tratamento dos dados através do uso de medidas de ranqueamento

também foi utilizada por Aguiar e Pimentel (2017), que também

utilizaram a RV como variável independente para avaliar o efeito da

remuneração sobre o desempenho das empresas.

Variável

independente

2

Remuneração

de Longo

Prazo – RLP

Esta variável representa a rubrica remuneração baseada em ações

(incluindo opções) publicada nos formulários de referência.

Assim como para a RV e pelos mesmos motivos, esta variável foi

expressa em percentual, considerando o peso médio da RLP sobre a

remuneração total de cada empresa constante na amostra durante o

período de 3 anos pesquisado. Medida semelhante a esta foi adotada

por Aguiar e Pimentel (2017), que também utilizaram a RLP como

variável independente para avaliar o efeito da remuneração sobre o

desempenho das empresas.

Variável

dependente

Retorno sobre

o Patrimônio

Líquido –

ROE

Babbie (1999) define a variável dependente como a que se supõe

depender de outra, chamada independente.

Na presente pesquisa, esta variável mede a capacidade da empresa

em retornar valor ao investimento realizado pelo acionista, através

da análise do percentual que o lucro líquido de determinado exercício

representa sobre o patrimônio líquido da organização.

Assim como nas variáveis independentes, esta variável foi expressa

em percentual e considera no seu cálculo o patrimônio líquido e o

lucro líquido médio das empresas da amostra durante os 3 anos

selecionados no estudo. Essa medida busca minimizar o efeito de

eventuais alavancagens ou desalavancagens, bem como efeitos

macroeconômicos pontuais nos resultados das empresas. Fonte: O autor

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56

Nesse contexto, a pesquisa 1 busca avaliar o efeito das variáveis independentes associadas aos

modelos de remuneração sobre a variável dependente, que corresponderá ao ROE. A escolha

das variáveis independentes busca atender ao teste das hipóteses H1 e H2, através da avaliação

do efeito da orientação temporal e da variabilidade da remuneração dos executivos sobre os

resultados.

De forma semelhante ao estudo proposto nesta pesquisa 1, Aguiar e Pimentel (2017) utilizaram,

dentre outras variáveis, o ROE como variável dependente, assim como também adotaram,

dentre outras variáveis, a remuneração de longo prazo e a remuneração variável como variáveis

independentes para avaliar, através de dados secundários coletados a partir das demonstrações

financeiras e formulários de referência publicados por companhias de capital aberto, a relação

entre a remuneração dos executivos e o desempenho das empresas no mercado brasileiro.

A escolha do ROE como variável segue a mesma linha utilizada nas pesquisas realizadas por

Camargos e Helal (2007); Krauter (2013) e Gonzaga, Yoshinaga e Eid Junior (2013), que

utilizaram, dentre outras, esta mesma variável como medida de desempenho financeiro.

3.1.1.3 Métodos utilizados na pesquisa 1

Estatísticas descritivas foram utilizadas como forma de caracterizar a amostra, através da

análise de medidas de tendência central (médias, evolução histórica, composição da

remuneração, dentre outras).

Considerando que o objetivo desta pesquisa 1 foi de testar as hipóteses H1 e H2, que buscam

verificar se há relação positiva entre o prazo e a variabilidade das recompensas previstas nos

programas de incentivo e a geração de valor nas organizações, foram aplicadas as seguintes

técnicas:

a) A análise de normalidade da distribuição de dados foi realizada com base nos testes de

Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk, considerando uma probabilidade de erro de 5%.

Estes testes são recomendados por Hair et al. (2009) como forma de avaliar o grau de

assimetria na distribuição dos dados e apoiar a escolha dos testes a serem aplicados.

b) Considerando a análise de normalidade dos dados, foi aplicado o teste não paramétrico

de Mann-Whitney U que, segundo Nachar (2008), pode ser utilizado para testar a

hipótese nula de que dois grupos de uma mesma população, segregados por um atributo

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específico, apresentam distribuições iguais, contra a hipótese alternativa de que esses

dois grupos apresentam distribuições distintas.

Técnicas semelhantes foram utilizadas em estudo semelhante realizado por Beuren, Silva e

Mazzioni (2014), quando os autores buscaram avaliar a relação entre remuneração dos

administradores e desempenho das empresas.

A aplicação de técnicas paramétricas foi realizada na pesquisa 2, que concentra o estágio

principal do estudo.

3.1.2 Pesquisa 2 - Levantamentos de dados primários a partir da aplicação de questionários de

pesquisa (survey)

O objetivo principal desta segunda pesquisa foi avaliar a relação entre os modelos de

remuneração e a percepção de riscos dos executivos, bem como confirmar o entendimento

obtido na pesquisa 1 sobre a relação entre os modelos de remuneração e a geração de valor nas

organizações.

Com esta Pesquisa 2, pretende-se complementar a visão obtida a partir de dados secundários na

pesquisa 1, inserindo, no contexto, dados primários sobre qual a relação entre os modelos de

remuneração e a percepção de riscos dos executivos, bem como a relação entre os modelos de

remuneração e a motivação do executivo a gerar valor para a organização, atendendo, dessa

forma, aos objetivos O2 e O3. O teste foi complementado com essa visão para as hipóteses H1,

H2, H3 e H4.

Utilizando-se de escalas tipo likert, aplicados sobre uma amostra de executivos de empresas de

diversos segmentos de mercado, foram coletados dados sobre os modelos de remuneração

aplicados para os executivos pesquisados, bem como seus graus de motivação e suas percepções

de riscos em função do dos modelos de remuneração utilizados nas suas empresas, através do

instrumento de coleta descrito no Apêndice B.

3.1.2.1 População, amostra e dados coletados na pesquisa 2

Foram convidados a participar da pesquisa 200 executivos de empresas de médio e grande porte

do Brasil, de diversos segmentos de mercado, com envio de convites com links de acesso via

e-mail. Foram convidados apenas executivos que ocupam cargos de liderança. Para essa

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58

população de executivos, foi aplicado um survey auto administrado, especificado no Apêndice

B, com o objetivo de testar as hipóteses a partir de questionários que enderecem as variáveis de

pesquisa.

Assim como na pesquisa 1, a técnica de amostragem adota na pesquisa 2 foi não-probabilística,

pois foram convidados executivos a partir da seleção não-aleatória, de empresas e executivos

que o pesquisador possuía contatos.

Dos 200 executivos convidados, 155 se dispuseram a responder o questionário, dos quais 121

completaram todo o processo, sendo considerando este retorno válido de 60% como base para

a pesquisa. Utilizando-se das mesmas definições utilizadas por Hair et al. (2005 apud ARAÚJO,

2012), a amostra mínima de nove observações para cada variável independente em um teste de

regressão logística foi respeitada, já que foram utilizadas seis variáveis independentes na

pesquisa 2 e foram consideradas 121 observações válidas.

3.1.2.2 Variáveis utilizadas na pesquisa 2

Como forma de atender aos objetivos O2 e O3, foram utilizadas as seguintes variáveis na

pesquisa 2:

a) Variáveis dependentes: as variáveis dependentes foram representadas por questões

associadas ao perfil de risco do executivo, bem como questões associadas ao poder de

indução do programa de incentivo para levar o executivo a gerar de valor, através da

adaptação do modelo de coleta de informações utilizado em estudos anteriores;

b) Variáveis independentes: informações descritivas sobre os programas de incentivo

informadas pelos indivíduos pesquisados, além de dados demográficos.

Com estas variáveis, foi possível testar as hipóteses H1, H2, H3 e H4, através do estudo do

efeito dos diversos modelos de recompensa e características pessoais (variáveis independentes)

sobre a percepção de riscos (variável dependente do modelo 1 de regressão logística) e sobre o

poder de indução do programa de incentivo para levar o executivo a gerar de valor (variável

dependente do modelo 2 de regressão logística).

A construção do questionário de coleta buscou endereçar questões que permitissem caracterizar

as variáveis do estudo, assim como enriquecer as análises descritivas da pesquisa, tendo como

base a fundamentação sustentada pelos eixos teóricos destacados a seguir:

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Quadro 5 - Referências utilizadas na elaboração do instrumento de coleta da pesquisa 2

(continua)

Construtos Pesquisadores

utilizados para

fundamentar o

instrumento de

coleta

Caracterização do eixo teórico no instrumento de coleta

e descrição das referências utilizadas

Seção 1: Programas de

incentivo

De Souza, Duque e

Da Silva Jr. (2016)

Gonzaga, Yoshinaga

e Eid Junior (2013)

Krauter (2013)

Machado e Beuren

(2013)

A Seção 1 do questionário resulta nas variáveis

independentes, pois terá como objetivo identificar como

funciona o modelo de programa de incentivo utilizado na

organização do indivíduo pesquisado.

O questionário foi construído com base nos documentos de

coleta utilizados pelos pesquisadores citados. Para atender

aos objetivos de pesquisa, o formato de coleta foi adaptado,

a partir da indicação dos principais tipos de recompensa

destacados pelos autores pesquisados e pela segregação de

modelos de recompensa fixa e variável e de longo e curto

prazo.

Seção 2:

Capacidade

do modelo de

incentivo em

induzir o

executivo a

gerar valor

Weber, Blais e Betz

(2002)

Aguiar (2009)

Byrd, Parrino e

Pritsh (1998)

Pepper, Gore e

Crossman (2013)

Araújo (2012)

Slovic e Peters

(2006)

As Seções 2 e 3 do questionário resultam nas variáveis

dependentes, pois tratam do poder de indução do programa

de incentivo para levar o executivo a gerar de valor (Seção

2) e da percepção de risco do executivo em relação a gestão

da organização (Seção 3).

Os quesitos do questionário estão fundamentalmente

associados a aspectos contextuais, que afetam a motivação

dos executivos a tomar medidas que podem gerar valor para

a organização ou afetar substancialmente sua remuneração,

seguindo as definições conceituais de percepção de riscos do

estudo realizado por Slovic e Peters (2006).

A Seção 2 contempla seis questões com o objetivo de

suportar o teste das hipóteses H1 e H2, colocando o

executivo em posição de escolha entre possibilidades de altos

ganhos em detrimento do risco de grandes perdas ou

possibilidades de manutenção de um status quo de segurança

financeira, sem altos ganhos, porém assumindo menor nível

de risco. Estes quesitos permitiram testar a hipótese de que

programas de incentivo com maiores percentuais de

remuneração variável são as que estimulam o executivo a

gerar mais valor ao acionista

Page 61: EDSON LOPES CEDRAZ FILHO...Influência dos programas de incentivo sobre a percepção de riscos dos executivos: recompensas como alavanca de resultados ou como potencializador dos

60

Quadro 5 - Referências utilizadas na elaboração do instrumento de coleta da pesquisa 2

(continuação)

Seção 3:

Percepção de

riscos do

executivo

Weber, Blais e Betz

(2002)

Aguiar (2009)

Byrd, Parrino e

Pritsh (1998)

Pepper, Gore e

Crossman (2013)

Araújo (2012)

Slovic e Peters

(2006)

A Seção 3 contempla questões com o objetivo de suportar o

teste das hipóteses H3 e H4, através da verificação da

influência do modelo de incentivo praticado pela empresa em

que o participante trabalha em relação à sua percepção de

riscos na gestão da organização.

Foram utilizadas situações típicas de exposição da

organização a riscos, desde os esforços para maximizar

resultados até questões associadas a comportamento ético e

conformidade. Os quesitos das seções 2 e 3 foram

formulados com base na literatura pesquisada e na adaptação

de instrumentos de coleta já validados, conforme descrito a

seguir:

Weber, Blais e Betz (2002) estabeleceram uma escala

para mensuração de atitudes de risco a partir de seis

domínios, incluindo aspectos financeiros. Foram

adaptados quesitos do questionário elaborado pelos

referidos autores, com o objetivo de mensurar a

percepção de risco dos indivíduos pesquisados, no

contexto do programa de incentivo.

Pepper, Gore e Crossman (2013) aplicaram um

instrumento de coleta baseada em variações de

recompensa para avaliar a percepção de risco de 75

executivos americanos. Os quesitos da Seção 3

correspondem a uma adaptação do instrumento de coleta

utilizado pelos referidos autores no seu estudo, com o

objetivo de mensurar a percepção de risco dos indivíduos

pesquisados, no contexto do programa de incentivo.

Araújo (2012), no seu estudo sobre o papel das

subculturas na percepção e no comportamento de riscos

em organizações aplicou um instrumento de coleta que

utilizou 9 macro questões retratando as variáveis

analisadas e outras 7 questões voltadas para a

identificação de dados demográficos e profissionais dos

entrevistados. Foram adaptados quesitos do questionário

elaborado pelo autor, com o objetivo de mensurar a

percepção de risco dos indivíduos pesquisados, no

contexto do programa de incentivo.

Foram utilizadas escalas tipo likert com cinco níveis de

resposta para as seções 2 e 3 do instrumento de coleta,

variando entre concordo totalmente, concordo parcialmente,

discordo parcialmente e discordo totalmente.

Page 62: EDSON LOPES CEDRAZ FILHO...Influência dos programas de incentivo sobre a percepção de riscos dos executivos: recompensas como alavanca de resultados ou como potencializador dos

61

Quadro 5 - Referências utilizadas na elaboração do instrumento de coleta da pesquisa 2

(conclusão)

Seção 4: Questões

demográficas

Araújo (2012)

Pepper, Gore e

Crossman (2013)

Weber, Blais e Betz

(2002)

Foram selecionadas questões demográficas relacionadas ao

cargo, gênero, quantidade de filhos, idade e tempo em que

trabalha na organização atual. Estas informações

demográficas foram utilizadas em estudos anteriores

relacionados a programas de incentivo e a percepção de

riscos.

O tempo para a aposentadoria e idade foram utilizados para

corroborar a hipótese sugerida por Pepper, Gore e

Crossman (2013), de que a senioridade aumenta a

sensibilidade a riscos.

Fonte: O autor

3.1.2.3 Métodos utilizados na pesquisa 2

Considerando que o objetivo desta pesquisa 2 foi de testar as hipóteses H1, H2, H3 e H4, que

buscam verificar se há relação positiva entre o prazo e a variabilidade das recompensas previstas

nos programas de incentivo e: 1) a geração de valor nas organizações; 2) a percepção de riscos

dos executivos, foram aplicadas as seguintes técnicas:

a) A confiabilidade do instrumento de coleta utilizado na pesquisa foi testada com base no

cálculo do coeficiente de Alfa de Cronbach, conforme sugerido por Hair et al. (2009);

b) A análise de normalidade da distribuição de dados foi realizada com base nos testes de

Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk, considerando uma probabilidade de erro de 5%.

Estes testes são recomendados por Hair et al. (2009) como forma de avaliar o grau de

assimetria na distribuição dos dados e apoiar a escolha dos testes a serem aplicados;

c) Considerando a análise de normalidade dos dados, foi utilizada medida de associação

não paramétrica, através do coeficiente de correlação ordenada de Spearman que,

segundo Lira e Chaves Neto (2006), pode ser utilizado para calcular o coeficiente de

correlação entre variáveis mensuradas em nível ordinal, como as expressas na escala

tipo likert utilizada nesta pesquisa 2. Assim como no estudo de Beuren, Silva e Mazzioni

(2014), foi escolhido o coeficiente de Spearman em função da distribuição dos dados

da amostra ser não normal;

d) Por fim, foi utilizado o método quantitativo de regressão logística, o qual, segundo Hair

et al. (2009), corresponde a uma forma especial de regressão, em que a variável

dependente não-métrica e binária representa uma relação multivariada com coeficientes

de regressão, indicando o impacto relativo de cada variável independente (preditoras);

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62

e) O índice de ajustamento dos modelos de regressão logística foi testado a partir da

estatística de Hosmer-Lemeshow.

Técnicas semelhantes foram utilizadas por Araújo (2012), no seu estudo sobre o papel das

subculturas na percepção e no comportamento de risco em uma organização.

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63

4 ANÁLISE DE RESULTADOS

Nesta seção são apresentados os resultados das pesquisas 1 e 2, considerando as técnicas de

análises utilizadas.

4.1 Análise de resultados da Pesquisa 1: Levantamento de dados secundários, a partir de

demonstrações contábeis e demais relatórios financeiros publicados nos formulários

de referências de uma amostra de empresas de capital aberto

Estudos anteriormente realizados buscaram evidenciar a relação entre remuneração e

desempenho das organizações, tendo sido identificados diferentes resultados. Silva e Chien

(2013) não encontraram relação significativa entre desempenho financeiro e remuneração total.

Por outro lado, Camargos e Helal (2007) encontram relação positiva entre o desempenho e

remuneração. Da mesma forma, Gonzaga, Yoshinaga e Eid Junior (2013) encontraram relação

positiva entre a remuneração variável paga para executivos e o desempenho de mercado das

empresas, porém a relação é negativa quando utilizado o desempenho financeiro, medido pelo

ROE, como variável independente.

Como o objetivo desta pesquisa 1 é avaliar se há distinção significativa entre os modelos de

remuneração de empresas que geram das que não geram valor, foi aplicada a seguinte sequência

de procedimentos:

a) Caracterização da amostra e tratamento de dados atípicos;

b) Análises de estatísticas descritivas;

c) Teste de normalidade da distribuição dos dados;

d) Teste de Mann-Whitney U.

4.1.1 Caracterização da amostra e tratamento de dados atípicos da Pesquisa 1

Segundo Hair et al. (2009), observações atípicas devem ser analisadas antes da aplicação de

técnicas de pesquisa. Para os autores, observações atípicas problemáticas podem distorcer

seriamente os testes, por não representarem adequadamente a população.

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64

Como forma avaliar esse efeito, foram retirados da amostra os casos com valores extremos, que

representam observações atípicas problemáticas, com potencial de distorcer a análise. O

histograma da variável dependente ROE, conforme gráfico 5, demonstra que, entre as

observações da base de dados, havia outliers que precisavam ser tratados.

Gráfico 5 - Histograma de frequência da variável dependente da Pesquisa 1

Fonte: O autor

O tratamento para detecção de observações atípicas foi feito através de método univariado, no

qual, conforme orientação de Hair et al. (2009), itens cujo escore padrão supere o valor 4

possuem características de serem atípicas. Nesse sentido, os valores da variável ROE foram

convertidas para valores padronizados e foram retiradas 9 observações cujos valores de ROE

padronizado ultrapassavam o valor absoluto de 4.

Dessa forma, restaram 196 observações na amostra de pesquisa, distribuídas entre 9 setores

diferentes da economia, conforme Tabela 4 - a seguir.

Após o tratamento de dados, explicitado na seção seguinte, a base de dados da pesquisa contou

com uma amostra de 196 empresas. Utilizando-se das definições previstas por Hair et

al. (2009), a amostra mínima de 20 observações para cada variável independente foi respeitada.

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65

Tabela 4 - Distribuição da amostra por setor econômico

Setor Econômico Frequência %

Bens Industriais 46 23,47%

Consumo Cíclico 53 27,04%

Consumo não Cíclico 16 8,16%

Materiais Básicos 19 9,69%

Petróleo, Gás e

Biocombustíveis

4 2,04%

Saúde 12 6,12%

Tecnologia da Informação 7 3,57%

Telecomunicações 5 2,55%

Utilidade Pública 34 17,35%

Total 196 100%

Fonte: O autor

Como pode ser verificado na tabela 4, metade da amostra é composta por empresas dos

segmentos de bens industriais e bens de consumo cíclico.

4.1.2 Estatísticas descritivas da Pesquisa 1

A distribuição da remuneração ao longo dos 3 anos da pesquisa demonstra que as empresas da

amostra priorizaram remunerações fixas e de curto prazo, conforme gráfico 6. A

representatividade do valor da remuneração fixa se manteve em uma proporção de

aproximadamente dois terços do valor da remuneração total. Por outo lado, nota-se a baixa

representatividade do valor remuneração de longo prazo sobre a remuneração total, que não

ultrapassou 7% no período.

Gráfico 6 - Distribuição da remuneração dos executivos

Fonte: O autor

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66

Como pode ser verificado no Gráfico 6, a composição da remuneração dos executivos sofreu

transformações ao longo do período pesquisado. O peso da RV, que representava 32% da

remuneração total em 2014, reduziu para 26% em 2016. O mesmo aconteceu com o peso da

remuneração de longo prazo, que era de 7% em 2014 e foi reduzida a 5% em 2016.

Nesse mesmo período analisado, conforme informações do IBGE (2017), o produto interno

bruto teve crescimento negativo nesse período, como reflexo da crise político econômica que

se instalou no país. Nesse cenário de crise, o comportamento natural dos agentes é tomar

medidas avessas ao risco. Tal fenômeno possui relação direta com a teoria desenvolvida por

Holmström e Milgrom (1987), que sugere que o modelo de recompensa fixa é o ideal para

agentes adversos a riscos. Sendo assim, a redução do peso da RV pode ser resultante de uma

postura mais avessa ao risco por parte dos executivos.

A baixa representatividade da remuneração de longo prazo sobre a remuneração total é um

fenômeno notado também por Souza, Duque e Silva Júnior (2016). Além de perceber o baixo

percentual de remuneração de longo prazo no seu estudo, os autores concluem que os modelos

de remuneração adotados pelas companhias brasileiras de capital aberto não atenuam

adequadamente os riscos do conflito de agência, na medida em que se baseiam demasiadamente

em indicadores financeiros e levam o executivo a pensar no curto prazo.

Gráfico 7 - Crescimento da remuneração versus crescimento do lucro

Fonte: O autor

Nota: As evoluções dos indicadores são todas relativas a 2014 (base 100%)

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67

A redução gradual do volume de remunerações variáveis pode ser justificada pela redução

significativa do resultado das empresas nestes anos, quando a maioria das empresas apresentou

redução nos lucros. Entretanto, mesmo com a retomada do lucro em 2016, o nível de

remuneração baseada em performance (variável) permaneceu em queda, possivelmente em

função do efeito temporal da aferição de performance.

Mesmo com a redução significativa nos lucros em 2015, o volume de remuneração não teve

redução significativa, resultando em um aumento relevante na proporção remuneração/lucro.

Malvessi e Pereira Filho (2016) identificaram resultados semelhantes ao encontrado nesta

pesquisa para o ano de 2015, quando os autores identificaram no seu estudo que o crescimento

das recompensas foi inversamente proporcional a geração de valor nas organizações. Este

fenômeno representa um importante desequilíbrio para as empresas, pois reflete que os

programas de incentivo não se adaptaram tempestivamente ao cenário macroeconômico.

O desequilíbrio resultante da alta volatilidade da atividade econômica no país dificulta a

aplicação de modelos de remuneração consistentes, já que a variação no lucro provoca muita

insegurança nos executivos. Este cenário leva o agente a tomar posições mais avessas ao risco,

que, conforme sugerido Eisenhardt (1989), o direciona a optar por modelos com menor variação

decorrente de medição de performance.

Quando comparada a evolução do ROE para empresas que adotaram práticas de remuneração

de longo prazo com a evolução desse indicador para empresas que adotaram essencialmente

modelos de curto prazo, na amostra da pesquisa, pode ser constatado que o primeiro grupo de

empresas apresentou desempenho econômico significativamente superior, conforme Gráfico 8

Gráfico 8 - Evolução do ROE médio por ano para empresas que adotam RLP versus empresas que não adotam

RLP

Fonte: O autor

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68

Na elaboração do Gráfico 8, foi estabelecido o critério de distinção entre as empresas de mais

adotam remuneração de longo prazo a partir da mediana das remunerações. Esse critério

também foi utilizado por Araújo (2012), em um estudo que buscou associar a remuneração de

executivos ao desempenho das companhias abertas brasileiras. Nesse sentido, como uma

parcela pequena (25%) das empresas constantes na base de dados apresentou evidencias dessa

remuneração e o resultado do cálculo da mediana foi zero, caso a empresa tenha praticado esse

tipo de remuneração, ela foi classificada como empresa que remunerou seus executivos no

período selecionado com instrumentos de longo prazo.

De maneira semelhante, quando comparada a evolução do ROE para empresas que adotaram

práticas de remuneração variável com a evolução desse indicador para empresas que adotaram

essencialmente modelos de recompensa fixa, na amostra da pesquisa, pode ser constatado que

o primeiro grupo de empresas apresentou desempenho econômico significativamente superior,

conforme Gráfico 9.

Gráfico 9 - Evolução do ROE médio por ano para empresas que adotam RV versus empresas que não adotam

RV

Fonte: O autor

O ponto de corte para a escolha das empresas com maior nível de RV foi a mediana do

percentual de RV pago no período (31%). Esse critério também foi utilizado por Araújo (2012),

em um estudo que buscou associar a remuneração de executivos ao desempenho das

companhias abertas brasileiras.

Os resultados encontrados na análise descritiva para a amostra utilizada coincidem com as

hipóteses propostas no estudo, em que empresas com maior nível de RV e RLP são as que

geram mais valor para o acionista. Entretanto, o teste efetivo das hipóteses será demonstrado

nas seções subsequentes deste estudo.

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69

4.1.3 Teste de normalidade da distribuição de dados da Pesquisa 1

O teste de normalidade da distribuição dos dados foi medido através dos testes Kolmogorov-

Smirnov e Shapiro-Wilk. Ambos com probabilidade de erro de 5%, os resultados indicam que

os dados possuem distribuição não normal, pois todos tiveram níveis de significância (p-valor)

inferiores a 0,05, que é o valor típico sugerido por Hair et al. (2009).

Tabela 5 - Teste de Normalidade da pesquisa 1

Kolmogorov-Smirnova Shapiro-Wilk

Estatística Df Sig. Estatística df Sig.

ROE 0,140 196 0,000 0,903 196 0,000

% médio RV 0,084 196 0,002 0,955 196 0,000

% médio RLP 0,315 196 0,000 0,628 196 0,000

a. Correlação de Significância de Lilliefors

Fonte: O autor

Esse resultado reforça a escolha do método de análise previsto na metodologia desta pesquisa

1: teste não paramétrico de Mann-Whitney U, o qual, segundo Araújo (2012), é aderente a

amostras com distribuição de dados não normal.

4.1.4 Teste de Mann-Whitney U para a Pesquisa 1

Conforme Nachar (2008), o teste de Mann-Whitney U pode ser utilizado para estipular que dois

grupos de uma mesma população apresentam distribuições significativamente distintas para

dois blocos de variáveis.

Para a aplicação do teste não paramétrico de Mann-Whitney nesta pesquisa 1, foi estabelecida

a hipótese nula de que a distribuição do nível de representatividade da remuneração variável e

de longo prazo sobre a remuneração total paga aos executivos é a mesma entre as categorias de

empresas que geram e as que não geram valor. Nesse contexto, as organizações foram

classificadas em dois grupos:

a) Empresas que geraram valor no período de 3 anos analisado: foram consideradas nesse

grupo as empresas que apresentaram um ROE médio superior a zero no período. Para

essas empresas, foi atribuído o valor 1 para a variável dependente utilizada no teste;

b) Empresas que não geraram valor no período de 3 anos analisado: foram consideradas

nesse grupo as empresas que apresentaram um ROE médio igual ou inferior a zero no

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70

período. Para essas empresas, foi atribuído o valor 0 para a variável dependente utilizada

no teste.

Como resultado, foi constada a rejeição da hipótese nula de que a distribuição do nível de

representatividade da remuneração variável sobre a remuneração total paga aos executivos é a

mesma entre as categorias de empresas que geram e as que não geram valor.

Tabela 6 - Média, desvio padrão e significância do teste de Mann-Whitney para a Pesquisa 1

Número da

amostra Média

Desvio

Padrão

Mann-

Whitney U

Significância

(p-valor)

% médio RV Sem geração de valor 72 25% 0,21

0,009 Com geração de valor 124 34% 0,22

% médio RLP Sem geração de valor 72 4% 0,09

0,308 Com geração de valor 124 8% 0,15

Fonte: O autor

Nesse sentido, verificou-se que há diferenças significativas na distribuição da

representatividade da remuneração variável entre os dois grupos de empresas que geraram e as

que não geraram valor5.

Gráfico 10 - Distribuição do nível de representatividade da remuneração variável entre as categorias de

empresas que geram e as que não geram valor

Fonte: O autor

O resultado encontrado nesta etapa da pesquisa 1 pode ser comparado da seguinte forma com

estudos anteriores:

5 Geração de valor medida através do indicador financeiro ROE. O grupo de empresas que geraram valor

corresponde às que tiveram ROE acima de zero e assumem a variável dependente com valor 1. As empresas que

não geraram valor assumem a variável dependente com valor 0.

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a) Aguiar e Pimentel (2017) encontraram resultado semelhante ao da presente pesquisa, ao

evidenciar no seu estudo que existe relação positiva e significativa entre remuneração

variável e o desempenho financeiro das empresas pesquisadas;

b) Camargos e Helal (2007) encontraram resultado semelhante ao da presente pesquisa, ao

verificar relação positiva entre a remuneração de executivos e o desempenho das

empresas;

c) Gonzaga, Yoshinaga e Eid Junior (2013) encontraram relação positiva e significante

entre a RV e o desempenho de mercado das empresas, medido através do lucro por ação

e o retorno por ação. Entretanto, apesar de encontrarem relação positiva e significante

entre a RV e o ROE, o coeficiente foi negativo, o que indica uma relação inversa entre

RV e desempenho financeiro, divergindo dos resultados encontrados na presente

pesquisa;

d) No seu estudo sobre modelos de remuneração em empresas do setor de energia elétrica

do Brasil, Nascimento, Franco e Cherobim (2012) não encontraram correlação positiva

e significante entre o nível de remuneração variável e indicadores de desempenho

financeiro, incluindo o ROE, divergindo dos resultados encontrados na presente

pesquisa.

Por outro lado, não foi verificada diferença significativa na distribuição da representatividade

da remuneração de longo prazo entre os dois grupos de empresas que geraram e as que não

geraram valor, conforme gráfico 11.

Gráfico 11 - Distribuição do nível de representatividade da remuneração de longo prazo entre as categorias de

empresas que geram e as que não geram valor

Fonte: O autor

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72

Este resultado pode ser comparado da seguinte forma com estudos anteriores:

a) Beuren, Silva e Mazzioni (2014) também constataram no seu estudo não haver

diferenças significativas entre o desempenho financeiro e a ocorrência ou não de

remuneração baseada em ações. Porém, os autores identificaram um alinhamento

positivo entre a remuneração de opções por ações e o desempenho de mercado das

empresas pesquisadas;

b) No seu estudo sobre a influência da prática de modelos de remuneração de longo

prazo, Nascimento et al. (2013) encontraram resultado semelhante ao da presente

pesquisa, ao não verificar diferença estatisticamente significativa no desempenho de

empresas que adotam instrumentos de remuneração baseada em stock options em

relação a empresas que não adotam este mecanismo.

Flammer e Bansal (2017) afirmaram que é difícil examinar o efeito de incentivos de longo prazo

sobre a performance das empresas, especialmente se for utilizada métrica de desempenho

financeiro. Os autores só conseguiram identificar relação positiva e forte entre a aplicação de

RLP e desempenho financeiro, medido pelos autores por indicadores como o ROE, após longo

prazo. No estudo, os autores afirmam que, no curto prazo (nos dois primeiros anos após a

implantação do modelo de RLP), o resultado financeiro das organizações não apresentou

evidencias de melhora. Os autores só conseguiram verificar relação positiva entre RLP e

desempenho financeiro 3 anos após a implantação da RLP.

Os achados de Flammer e Bansal (2017) ajudam a explicar o fato de não ter sido encontrada,

nesse estudo, relação significativa entre RLP e desempenho financeiro, já que, assim como em

outros estudos anteriores que utilizaram séries históricas de até 3 anos (BEUREN; SILVA;

MAZZIONI, 2014; KRAUTER, 2013), nesta pesquisa 1 foi considerado um horizonte temporal

de três anos.

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73

4.2 Análise de resultados da Pesquisa 2: Levantamentos de dados primários a partir da

aplicação de questionários de pesquisa (survey)

Os resultados dos testes aplicados na Pesquisa 2 estão descritos a seguir, considerando a

seguinte sequência de procedimentos aplicados:

a) Confiabilidade do instrumento de coleta;

b) Tratamento dos dados;

c) Análise de estatísticas descritivas;

d) Teste de normalidade da distribuição dos dados;

e) Análise dos coeficientes de Correlação entre as variáveis;

f) Regressão logística.

4.2.1 Confiabilidade do instrumento de coleta da pesquisa 2

Segundo Hair et al. (2009), o coeficiente de Alfa (α) de Cronbach é a medida mais amplamente

utilizada para avaliar a confiabilidade de instrumentos de coleta usados em pesquisas

científicas. Dessa forma, foi optado por utilizar tal medida para avaliar a consistência das

escalas utilizadas no questionário de pesquisa.

O coeficiente α calculado para o instrumento de coleta foi de 0,601. Para chegar a este

coeficiente, foi necessário retirar a questão 12, conforme Tabela 7 - a seguir:

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Tabela 7 - Cálculo do α de Cronbach

α de Cronbach se o

item for excluído

Q5 A forma como sou recompensado atualmente maximiza a minha

motivação para envidar o máximo de esforço para gerar o máximo de

valor para a organização que trabalho.

0,568

Q6. 4. A forma como sou recompensado atualmente possui o melhor

balanceamento possível entre remuneração fixa e variável.

0,566

Q7. Remunerações variáveis agressivas em anos de bom desempenho,

mas não garantidas e com possibilidade de oscilações, me motivam mais

do que constantes e pequenas progressões de salário fixo.

0,556

Q8. Modelos de recompensa limitados à remuneração fixa reduzem o meu

esforço para atingimento de metas e inibem o meu potencial para gerar

valor para a organização.

0,580

Q9. Estou disposto a reduzir minha remuneração fixa pela metade se tiver

50% de chance de recuperar em dobro essa redução, através de uma

remuneração variável, caso atinja um conjunto de metas predeterminadas.

0,576

Q10. Estou disposto a deixar metade da minha remuneração variável

retida, se tiver 50% de chance de receber o dobro após 2 anos de bom

desempenho, caso atinja um conjunto de metas sustentáveis e de longo

prazo.

0,562

Q11. A forma como sou recompensado atualmente aumenta a minha

propensão a assumir mais riscos para a organização, como forma de

viabilizar o cumprimento das minhas metas.

0,576

Q12. A forma como sou avaliado e recompensado atualmente me leva

a adotar medidas de planejamento focadas no curto prazo.

0,601

Q13. Quanto mais desafiadoras as minhas metas, maior a minha

propensão a assumir mais riscos para a organização.

0,569

Descumprir normas internas que considero burocráticas e desnecessárias 0,555

Incentivar subordinados a jornadas de trabalho excessivas, ultrapassando

eventualmente 10 horas diárias

0,583

Entregar produtos ou serviços de qualidade levemente inferior,

imperceptíveis ao cliente, para maximizar o lucro da empresa

0,578

Assumir o mérito por conquistas alcançadas por outra pessoa (algum

membro da minha equipe ou algum par)

0,586

Descumprir pontualmente leis ou regulamentações aplicáveis às minhas

atividades profissionais

0,582

Descumprir preceitos previstos no código de conduta da empresa 0,583

Oferecer, prometer ou dar vantagem indevida a agentes públicos para

propiciar ganhos para a empresa

0,592

Fonte: O autor

Maroco e Garcia-Marques (2006) afirmam que um coeficiente α médio de 0,60 pode ser

aceitável em pesquisas científicas. Hair et al. (2009) também sugerem que o coeficiente α

mínimo aceitável é de 0,60. Dessa forma, entende-se que o instrumento de coleta apresenta

confiabilidade dentro dos níveis mínimos de confiabilidade aceitáveis.

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75

4.2.2 Tratamento dos dados da pesquisa 2

Como forma de melhorar o poder preditivo dos modelos estatísticos aplicados na Pesquisa 2,

os resultados dos quesitos coletados em formato ordinal, que representam as variáveis

dependentes, foram convertidos para formato binário, considerando os critérios a seguir:

a) A variável dependente relacionada à percepção de riscos do executivo

(var_dep_h3_h4_perrisco), utilizada para testar as hipóteses H3 e H4, resultou da

análise das respostas para 7 situações que buscaram medir a percepção de risco do

executivo. Tais respostas foram extraídas dos 7 subitens do quesito 14 da seção 3 do

questionário utilizado na coleta, detalhado no Apêndice B deste documento, onde os

participantes responderam aos questionamentos transcritos a seguir.

Para atingir as metas previstas nos critérios de avaliação do meu desempenho, estaria

disposto a:

i. Descumprir normas internas que considero burocráticas e desnecessárias;

ii. Incentivar subordinados a jornadas de trabalho excessivas, ultrapassando

eventualmente 10 horas diárias;

iii. Entregar produtos ou serviços de qualidade levemente inferior,

imperceptíveis ao cliente, para maximizar o lucro da empresa

iv. Assumir o mérito por conquistas alcançadas por outra pessoa (algum

membro da minha equipe ou algum par);

v. Descumprir pontualmente leis ou regulamentações aplicáveis às minhas

atividades profissionais;

vi. Descumprir preceitos previstos no código de conduta da empresa;

vii. Oferecer, prometer ou dar vantagem indevida a agentes públicos para

propiciar ganhos para a empresa.

Para esta variável, considerando que o limite de tolerância para as questões atribuídas

no questionário tende a ser mínimo para um indivíduo com aversão a riscos, apenas

respostas com valores equivalentes a discordo totalmente foi atribuído o valor 0, onde

considera-se que o executivo tem percepção avessa a riscos. Para todas as demais

respostas foi atribuído o valor 1, onde considera-se que o executivo tem percepção

neutra a riscos, assumindo, neste último caso, que ele está mais propenso a tomar riscos

como forma de maximizar suas recompensas.

A utilização dos termos neutro ou avesso a riscos para classificar o nível de percepção

de riscos do executivo segue às mesmas definições utilizadas por Eisenhardt (1989), que

utiliza esses mesmos termos para caracterizar a percepção de riscos do executivo no

contexto da teoria da agência.

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76

b) A variável dependente relacionada ao poder de indução do programa de incentivo a

motivar o executivo para gerar valor para a organização

(var_dep_h1_h2_motivacao), utilizada para testar as hipóteses H1 e H2, resultou da

análise conjunta das respostas que buscaram medir o grau de motivação dos executivos.

Tais respostas foram extraídas dos quesitos 4 e 5 da seção 2 do questionário utilizado

na coleta, detalhado no Apêndice 2 deste documento, onde os participantes responderam

aos questionamentos transcritos a seguir.

A forma como sou recompensado atualmente maximiza a minha motivação para

envidar o máximo de esforço para gerar o máximo de valor para a organização que

trabalho.

A forma como sou recompensado atualmente possui o melhor balanceamento possível

entre remuneração fixa e variável.

Para respostas com valores equivalentes a concordo totalmente ou concordo

parcialmente, foi atribuído o valor 1 para a variável dependente. Para respostas

equivalentes a discordo parcialmente e discordo totalmente, foi atribuído o valor 0 para

a variável dependente.

Critérios semelhantes foram adotados por Araújo (2012), no seu estudo sobre o papel das

subculturas na percepção e no comportamento de risco em uma organização, quando o autor

adotou a premissa de que apenas repostas de alta concordância seriam convertidas para o valor

1 na escala binária.

As variáveis independentes tiveram os seguintes tratamentos para conversão de valores na

escala:

a) Idade:

- 1 - <30 anos

- 2 - Entre 30 e 40 anos

- 3 - Entre 40 e 50 anos

- 4 - Entre 50 e 60 anos

- 5 - >60 anos

b) Tempo de empresa

- 1 - Menos que 5 anos

- 2 - Entre 5 e 10 anos

- 3 - Entre 10 e 15 anos

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- 4 - Entre 15 e 20 anos

- 5 - Mais de 20 anos

c) Quantidade de filhos

1 – Nenhum

2 – 1 filho

3 – 2 filhos

4 – 3 filhos

5 – Mais que 3 filhos

d) Sexo

1 – Masculino

0 – Feminino

e) Nível de remuneração variável

1 - Zero (não recebo remuneração variável)

2 - Até 10%

3 - Entre 10 e 30%

4 - Entre 30 e 50%

5 - Acima de 50%

f) Nível de remuneração de longo prazo6

1 - Zero (não recebo remuneração de longo prazo)

2 - Uma modalidade de remuneração de longo prazo

3 – Duas modalidades de remuneração de longo prazo

4 – Três modalidades de remuneração de longo prazo

5 – Mais de três modalidades de remuneração de longo prazo

6 Optou-se por não utilizar percentuais de remuneração de longo prazo em função da dificuldade que os

respondentes da pesquisa teriam para fazer o cálculo, já que esse tipo de remuneração possui alta volatilidade.

Como alternativa, para se definir a escala, optou-se por considerar a quantidade de modelos utilizados, que

indiretamente denotará a representatividade de remunerações de longo prazo.

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4.2.3 Estatísticas descritivas da pesquisa 2

A amostra utilizada na Pesquisa 2 foi composta por 121 executivos que responderem

completamente o questionário de coleta. Cinquenta e dois por cento dos executivos

participantes da pesquisa eram diretores, superintendentes ou presidentes e 48% ocupavam

cargo de gerente. Esses executivos estão distribuídos entre empresas de diversos segmentos,

porém com uma concentração de 48% no segmento de serviços.

Gráfico 12 - Distribuição da amostra por segmento

Fonte: o autor

Grande parte dos executivos da amostra trabalha em empresas de capital fechado (82%) e de

grande porte (89%).

Gráfico 13 - Distribuição da amostra por tipo de controle da empresa

Fonte: O autor

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Gráfico 14 - Distribuição da amostra por porte da empresa

Fonte: O autor

Com relação às características demográficas da amostra:

a) Homens representam 87% da amostra e, na média das respostas da pesquisa, indicaram

possuir percepção mais neutra a riscos que mulheres:

Gráfico 15 - Distribuição da percepção de risco por sexo

Fonte: O autor

b) Profissionais entre 30 e 40 anos representam 39% da amostra e, na média das respostas

da pesquisa, representaram a faixa de idade com maior percentual de profissionais com

percepção neutra a riscos. Nas faixas de 40 a 50 anos e acima de 60 anos, o percentual

de profissionais avessos a riscos foi superior aos neutros a riscos.

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Gráfico 16 - Distribuição da percepção de risco por idade

Fonte: O autor

Esses resultados coincidem com as conclusões de Pepper e Gore (2012), que no seu

estudo sugerem que executivos seniores têm maior propensão a aversão ao risco.

Executivos de idade mais avançada tendem a ter um limiar menor de exposição a riscos,

dessa forma, a aplicação de instrumentos de remuneração variável mais agressivos para

profissionais de idade mais avançada pode não influenciar a sua percepção de riscos na

mesma intensidade que influenciaria um profissional mais jovem.

c) Profissionais com menos de 5 anos de trabalho na empresa atual representam 37% da

amostra e, na média das respostas da pesquisa, representaram a faixa de tempo de

empresa com maior percentual de profissionais com percepção neutra a riscos. O

percentual de profissionais com mais de 20 anos de empresa avessos a riscos foi superior

aos neutros a riscos, o que demonstra que, na população analisada, quanto maior o tempo

de casa maior a aversão a riscos.

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Gráfico 17 - Distribuição da percepção de risco por tempo de empresa

Fonte: O autor

Com relação aos modelos de remuneração adotados para os executivos que compuseram a

amostra, para os que recebem remuneração variável, a maioria não ultrapassa 30% da

remuneração total.

Gráfico 18 - Distribuição da representatividade da remuneração variável sobre a remuneração total

Fonte: O autor

Quando analisada a distribuição da percepção de risco dos profissionais entre as faixas de

representatividade da remuneração variável, na média da amostra pesquisada, percebe-se que

quanto menor a representatividade da remuneração variável, maior o percentual de executivos

avessos a risco.

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Gráfico 19 - Distribuição da percepção de risco por nível de remuneração variável

Fonte: O autor

Quando analisada a distribuição do poder de indução para a geração de valor entre as faixas de

representatividade da remuneração variável, na média da amostra pesquisada, percebe-se que

os profissionais que recebem maiores proporções de remuneração variável são os que

responderem que os modelos de remuneração os motiva a gerar valor. Na medida em que as

faixas de representatividade da remuneração variável caem, também reduzem os percentuais de

respostas positivas relacionadas à motivação do executivo.

Gráfico 20 - Distribuição do grau de indução a motivação por nível de remuneração variável

Fonte: O autor

Assim como foi constatado na pesquisa realizada pela Deloitte (2017), que demonstrou que

menos de 15% das 140 empresas brasileiras pesquisadas adota incentivos de longo prazo,

grande parte da amostra de executivos participantes do presente estudo (88%) também afirmou

que não recebe remuneração de longo prazo.

Page 84: EDSON LOPES CEDRAZ FILHO...Influência dos programas de incentivo sobre a percepção de riscos dos executivos: recompensas como alavanca de resultados ou como potencializador dos

83

Gráfico 21 - Distribuição da representatividade da remuneração de longo prazo sobre a remuneração total

Fonte: O autor

O baixo percentual de executivos que participam de programas de remuneração de longo prazo

coincide com os resultados da Pesquisa 1. Essa característica das corporações brasileiras

compromete o endereçamento de ações de alinhamento de interesses entre principal e agente,

aumentando os riscos do conflito de agência. Segundo Farrell, Kadous e Towry (2008),

organizações que se utilizam de medidas de recompensa de longo prazo, incentivam seus

executivos a atuarem pensando na perpetuidade da organização.

Quando analisada a distribuição da percepção de risco dos profissionais entre as faixas de

representatividade da remuneração de longo prazo, na média da amostra pesquisada, percebe-

se que quanto menor a representatividade da remuneração de longo prazo, maior o percentual

de executivos avessos a risco.

Gráfico 22 - Distribuição da percepção de risco por prazo de pagamento da remuneração

Fonte: O autor

Quando analisada a distribuição do poder de indução para a geração de valor entre as faixas de

representatividade da remuneração de longo prazo, na média da amostra pesquisada, nos dois

Page 85: EDSON LOPES CEDRAZ FILHO...Influência dos programas de incentivo sobre a percepção de riscos dos executivos: recompensas como alavanca de resultados ou como potencializador dos

84

grupos o número de executivos com respostas positivas é superior ao número de executivos

com respostas negativas.

Gráfico 23 - Distribuição do grau de indução a motivação por prazo de pagamento da remuneração

Fonte: O autor

4.2.4 Teste de normalidade da distribuição dos dados

O teste de normalidade da distribuição dos dados foi medido através dos testes Kolmogorov-

Smirnov e Shapiro-Wilk. Ambos com probabilidade de erro de 5%, os resultados indicam que

os dados possuem distribuição não normal.

Tabela 8 - Testes de Normalidade da pesquisa 2

Kolmogorov-Smirnova Shapiro-Wilk

Estatística df Sig. Estatística df Sig. var_dep_h1_h2_motivacao 0,484 121 0,000 0,505 121 0,000

var_dep_h3_h4_perrisco 0,377 121 0,000 0,629 121 0,000

var_indep_h1_h3_rem_lp 0,515 121 0,000 0,394 121 0,000

var_indep_h2_h4_rem_var 0,182 121 0,000 0,916 121 0,000

var_inpep_idade 0,233 121 0,000 0,880 121 0,000

var_ inpep_tempo_empresa 0,226 121 0,000 0,852 121 0,000

var_ inpep_sexo 0,519 121 0,000 0,399 121 0,000

var_ inpep_filhos 0,214 121 0,000 0,890 121 0,000

a. Correlação de Significância de Lilliefors

Fonte: O autor

Esse resultado reforça a escolha dos métodos de análise previstos na metodologia desta pesquisa

2: análise do coeficiente de correlação de Spearman e a regressão logística, os quais, segundo

Araújo (2012), são aderentes a amostras com distribuição de dados não normal.

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85

4.2.5 Análise da correlação entre as variáveis da pesquisa 2

Os resultados do cálculo do coeficiente de correlação ordenada de Spearman indicaram que há

correlação positiva e estatisticamente significante ao nível de 5% entre a representatividade da

remuneração variável sobre a remuneração total e a percepção de riscos dos executivos. Quanto

maior a representatividade da remuneração variável maior a neutralidade da percepção de riscos

do executivo, o que resulta em maior propensão a tomada de riscos para maximização da sua

remuneração.

No seu estudo para identificar a influência do desempenho financeiro e dos riscos operacionais

na remuneração de executivos de empresas brasileiras, Lopes et al. (2018) não encontraram

relação significativa entre risco operacional e desempenho financeiro das empresas estudadas.

Porém cabe ressaltar que a medida de riscos utilizada pelos autores naquele estudo foi baseada

na avaliação da volatilidade de indicadores financeiros e de mercado e não consideraram a

percepção de risco do executivo capturada através de dados primários.

Tabela 9 - Coeficientes de correlação de Spearman para a Pesquisa 2

A B C D E F G H

A – Idade Coeficiente de

Correlação

1,000 0,170 0,561*

*

0,069 0,121 0,154 0,203* -0,210*

Sig. (2 extremidades) 0,062 0,000 0,450 0,186 0,092 0,026 0,021

B - Tempo de

empresa

Coeficiente de

Correlação

0,170 1,000 ,219* 0,005 0,021 0,071 -0,009 -0,191*

Sig. (2 extremidades) 0,062 0,016 0,956 0,822 0,441 0,920 0,036

C - Quantidade de

filhos

Coeficiente de

Correlação

0,561*

*

,219* 1,000 ,271** 0,088 0,142 0,143 -0,006

Sig. (2 extremidades) 0,000 0,016 0,003 0,339 0,119 0,118 0,946

D – Sexo Coeficiente de

Correlação

0,069 0,005 ,271** 1,000 0,147 0,121 0,033 0,154

Sig. (2 extremidades) 0,450 0,956 0,003 0,108 0,185 0,716 0,092

E -

Representatividade

da RLP

Coeficiente de

Correlação

0,121 0,021 0,088 0,147 1,000 0,257** 0,077 0,171

Sig. (2 extremidades) 0,186 0,822 0,339 0,108 0,004 0,404 0,061

F -

Representatividade

da RV

Coeficiente de

Correlação

0,154 0,071 0,142 0,121 0,257*

*

1,000 0,329** 0,223*

Sig. (2 extremidades) 0,092 0,441 0,119 0,185 0,004 0,000 0,014

G - Indução a

geração de valor

Coeficiente de

Correlação 0,203* -0,009 0,143 0,033 0,077 0,329** 1,000 0,034

Sig. (2 extremidades) 0,026 0,920 0,118 0,716 0,404 0,000 0,715

H - Percepção de

riscos

Coeficiente de

Correlação -

0,210*

-0,191* -0,006 0,154 0,171 0,223* 0,034 1,000

Sig. (2 extremidades) 0,021 0,036 0,946 0,092 0,061 0,014 0,715

Fonte: O autor

Nota: *. A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades).

**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).

Page 87: EDSON LOPES CEDRAZ FILHO...Influência dos programas de incentivo sobre a percepção de riscos dos executivos: recompensas como alavanca de resultados ou como potencializador dos

86

Os resultados do cálculo do coeficiente de correlação ordenada de Spearman indicaram que

também há correlação positiva e estatisticamente significante ao nível de 1% entre a

representatividade da remuneração variável sobre a remuneração total e a motivação para a

geração de valor, o que indica que quanto maior a representatividade da remuneração variável

maior a sua motivação para gerar valor para a organização.

O resultado encontrado nesta etapa da pesquisa 2, relacionado a correlação positiva e

significante da RV com a motivação do executivo em gerar valor para a empresa, pode ser

comparado da seguinte forma com estudos anteriores:

a) Aguiar e Pimentel (2017) encontraram resultado semelhante ao evidenciar no seu estudo

que existe relação positiva e significativa entre remuneração variável e o desempenho

financeiro das empresas pesquisadas;

b) Gonzaga, Yoshinaga e Eid Junior (2013) encontraram relação positiva e significante

entre a RV e o desempenho de mercado das empresas, medido através do lucro por ação

e o retorno por ação. Entretanto, apesar de encontrarem relação positiva e significante

entre a RV e o ROE, o coeficiente foi negativo, o que indica uma relação inversa entre

RV e desempenho financeiro;

c) Camargos e Helal (2007) encontraram relação positiva entre a remuneração de

executivos e o desempenho das empresas;

d) No seu estudo sobre modelos de remuneração em empresas do setor de energia elétrica

do Brasil, Nascimento, Franco e Cherobim (2012) não encontraram correlação positiva

e significante entre o nível de remuneração variável e indicadores de desempenho

financeiro, incluindo o ROE.

Por outro lado, não foi encontrada correlação estatisticamente significante entre a

representatividade da remuneração de longo prazo sobre a remuneração total paga aos

executivos nem sobre a percepção de riscos nem sobre a motivação para geração de valor,

medida através do indicador financeiro ROE. Este resultado coincide com o encontrado na

Pesquisa 1, para a variável dependente de geração de valor, e pode ser comparado da seguinte

forma com estudos anteriores:

a) No seu estudo sobre a influência da prática de modelos de remuneração de longo prazo,

Nascimento et al. (2013) não encontraram diferença estatisticamente significativa no

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87

desempenho de empresas que adotam instrumentos de remuneração baseada em stock

options em relação a empresas que não adotam este mecanismo;

b) Beuren, Silva e Mazzioni (2014) constataram no seu estudo não haver diferenças

significativas entre o desempenho financeiro e a ocorrência ou não de remuneração

baseada em ações. Porém, os autores identificaram um alinhamento positivo entre a

remuneração de opções por ações e o desempenho de mercado das empresas

pesquisadas.

Quando analisada a correlação entre variáveis que caracterizam demograficamente os

profissionais e as variáveis dependentes, percebe-se correlação estatisticamente significante

para:

a) Relação negativa entre a idade e a percepção de riscos. Na medida em que aumenta a

faixa etária, reduz a propensão a tomada de riscos pelo executivo, o que indica eu

profissionais de idade mais avançada possuem percepção mais avessa a riscos do que

executivos mais novos. Esse resultado coincide com as conclusões de Pepper e Gore

(2012), que no seu estudo sugerem que executivos seniores têm maior propensão a

aversão ao risco;

b) Relação negativa entre tempo de empresa e a percepção de riscos. Na medida em que o

profissional estende sua permanência na empresa, ele reduz a propensão a tomada de

riscos, o que indica eu profissionais com mais tempo de empresa possuem percepção

mais avessa a riscos do que executivos recém contratados;

c) Relação positiva entre a idade e a motivação para geração de valor. Na medida em que

aumenta a faixa etária também aumenta a propensão a geração de valor.

4.2.6 Regressão logística

As variáveis utilizadas nos dois modelos de regressão logística foram as seguintes:

a) Variáveis dependentes: foram testados dois modelos, como forma de medir o efeito do

programa de incentivo sobre o nível de percepção a risco do executivo, considerando a

sua aversão ou neutralidade em assumir riscos para a organização em que trabalha

(modelo 1) e como forma de medir o poder de indução do programa de incentivo para

levar o executivo a gerar de valor (modelo 2). As variáveis dependentes binárias foram

atribuídas de acordo com os seguintes critérios:

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88

Variável dependente do modelo 1: aversão ou neutralidade ao risco em relação à

gestão da organização: a percepção de risco do executivo foi classificada como

avessa ou neutra ao risco, de forma a indicar se a utilização de modelos de

remuneração variável ou se o uso de recompensas de longo prazo afetam a sua

percepção de risco na gestão da organização. A percepção do executivo foi

classificada entre neutra ou avessa, de acordo com as suas respostas sobre a aceitação

de medidas que exponham a organização a riscos.

No modelo 1, os grupos foram segmentados de acordo com os critérios abaixo:

o Profissionais com percepção neutra a riscos: neste grupo foram considerados os

profissionais cuja variável dependente correspondente a percepção de riscos

assumiu valor 1 após o tratamento explicitado na seção 4.2.2 - Tratamento dos

dados da pesquisa 2;

o Profissionais com percepção avessa a riscos: neste grupo foram considerados os

profissionais cuja variável dependente correspondente a percepção de riscos

assumiu valor 0 após o tratamento explicitado na seção 4.2.2 - Tratamento dos

dados da pesquisa 2;

Variável dependente do modelo 2: poder de indução do programa de incentivo para

levar o executivo a gerar de valor: o modelo de incentivo foi classificado como

positivo ou neutro no poder de indução à geração de valor, de forma a indicar se

modelos de remuneração de longo prazo e com mais parcelas variáveis melhor

induzem o executivo a gerar valor para as organizações em que trabalham.

No modelo 2, os grupos foram segmentados de acordo com os critérios abaixo:

o Profissionais motivados a gerar valor para a organização: neste grupo foram

considerados os profissionais cuja variável dependente correspondente a

motivação para geração de valor assumiu valor 1 após o tratamento explicitado

na seção 4.2.2 - Tratamento dos dados da pesquisa 2;

o Profissionais não motivados a gerar valor para a organização: neste grupo foram

considerados os profissionais cuja variável dependente correspondente a

motivação para geração de valor assumiu valor 0 após o tratamento explicitado

na seção 4.2.2 - Tratamento dos dados da pesquisa 2;

b) Variáveis independentes: corresponderam às informações descritivas sobre os

programas de incentivo informadas pelos indivíduos pesquisados. As informações

relacionadas às práticas de recompensas foram utilizadas para mensurar o nível de

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89

variabilidade e prazo de pagamento das recompensas, bem como características pessoais

dos executivos que podem afetar suas percepções de riscos, tais como idade, sexo,

tempo de empresa e quantidade de filhos.

Adicionalmente, foram utilizadas características demográficas, tais como idade,

quantidade de filhos, sexo e tempo de empresa como variáveis independentes.

O resultado da aplicação dessa técnica permitiu endereçar os testes das hipóteses H1, H2, H3 e

H4, através da avaliação da probabilidade de tomada de riscos por parte dos executivos e

também do poder do modelo de recompensa na indução a geração de valor para a organização,

de acordo com os valores assumidos para cada variável dependente inserida nos modelos

aplicados.

Os modelos de regressão logística foram executados utilizando-se do método stepwise foward,

através do software SPSS. Nesse método, as variáveis são inseridas gradativamente até que seja

encontrado o conjunto que melhor representa a estimativa de regressão (HAIR et al., 2009).

Técnica semelhante foi utilizada por Araújo (2012), no seu estudo sobre o papel das subculturas

na percepção e no comportamento de riscos em organizações.

4.2.6.1 Modelo 1 de regressão logística

Neste modelo, foram testadas as hipóteses H2 e H3, através da avaliação das chances de o

executivo adotar posição avessa ou neutra a riscos, de acordo com variações nas variáveis

independentes, representadas pelos modelos de remuneração e características demográficas.

Como foi utilizado o método de regressão logística stepwise foward, foram considerados três

passos até que foi encontrado o conjunto de variáveis independentes que melhor represente o

modelo de regressão para avaliar a probabilidade de tomada de riscos do executivo.

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90

Tabela 10 - Variáveis na equação do modelo 1 de regressão logística

B S.E. Wald df Sig. Exp(B)

Passo 1a Representatividade da RV 0,430 0,177 5,914 1 0,015 1,538

Constante -0,967 0,542 3,188 1 0,074 0,380

Passo 2b Representatividade da RV 0,533 0,190 7,852 1 0,005 1,704

Idade -0,603 0,229 6,904 1 0,009 0,547

Constante 0,400 0,750 0,284 1 0,594 1,491

Passo 3c Representatividade da RV 0,585 0,199 8,646 1 0,003 1,795

Idade -0,534 0,238 5,012 1 0,025 0,586

Tempo de empresa -0,292 0,149 3,814 1 0,051 0,747

Constante 0,789 0,791 0,994 1 0,319 2,201

a. Variável inserida no passo 1: Representatividade da RV.

b. Variável inserida no passo 2: Idade.

c. Variável inserida no passo 3: Tempo de empresa.

Fonte: O autor

Como pode ser visto na tabela 12, três variáveis possuem significância estatística para compor

o modelo, com erro padrão em 5%.

Os resultados do modelo 1 de regressão logística indicam que:

a) Com odds ratio de 1,79, seguindo a mesma tendência indicada na análise do coeficiente

de correlação de Spearman, o resultado do modelo 1 de regressão logística sugere que

programas de incentivo com maior representatividade da remuneração variável

aumentam em 1,79 vezes as chances de levar o executivo a adotar uma postura neutra a

riscos.

A tabela a seguir ilustra a distribuição das probabilidades de percepção neutra a riscos

na medida em que o nível remuneração passa a ser mais variável. Modelos em que mais

da metade da remuneração do executivo é variável têm 98% de probabilidade de leva-

lo a adotar uma postura neutra a riscos.

Tabela 11 - Níveis de probabilidade do executivo assumir percepção neutra a riscos de acordo

com o nível de remuneração variável

Representatividade da

remuneração variável

Probabilidade de

assumir percepção

neutra a riscos

Zero (não recebe RV) 80%

Até 10% em RV 88%

Entre 10 e 30% em RV 93%

Entre 30 e 50% em RV 96%

Acima de 50% em RV 98%

Fonte: O autor

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91

b) Com odds ratio de 0,58, seguindo a mesma tendência indicada na análise do coeficiente

de correlação de Spearman, o resultado do modelo 1 de regressão logística sugere que,

com o avanço da idade, o executivo tende a adotar uma postura mais avessa a riscos.

A tabela a seguir ilustra a distribuição das probabilidades de percepção neutra a riscos

na medida em que o executivo tem idade mais avançada. Executivos com mais de 60

anos de idade têm apenas 13% de probabilidade de adotar uma postura neutra a riscos,

enquanto que executivos com idade inferior a 30 anos têm 56% de probabilidade de

adotar uma postura neutra a riscos.

Tabela 12 - Níveis de probabilidade do executivo assumir percepção neutra a riscos de acordo com a sua idade

Idade

Probabilidade de

assumir percepção

neutra a riscos

<30 anos 56%

entre 30 e 40 anos 43%

entre 40 e 50 anos 31%

entre 50 e 60 anos 21%

>60 anos 13%

Fonte: O autor

c) Com odds ratio de 0,75, seguindo a mesma tendência indicada na análise do coeficiente

de correlação de Spearman, o resultado do modelo 1 de regressão logística sugere que

com mais tempo trabalhando na empresa, o executivo tende a adotar uma postura avessa

a riscos.

A tabela a seguir ilustra a distribuição das probabilidades de percepção avessa a riscos

na medida em que o executivo tem mais tempo da empresa. Executivos com mais de 20

anos de empresa têm apenas 34% de probabilidade de adotar uma postura neutra a

riscos, enquanto que executivos com menos de 5 anos na empresa têm 62% de

probabilidade de adotar uma postura neutra a riscos.

Tabela 13 - Níveis de probabilidade do executivo assumir percepção neutra a riscos de acordo com o tempo de

empresa

Tempo de empresa

Probabilidade de

assumir percepção

neutra a riscos

menos que 5 anos 62%

entre 5 e 10 anos 55%

entre 10 e 15 anos 48%

entre 15 e 20 anos 41%

>20 anos 34%

Fonte: O autor

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92

Não foi constatada significância estatística considerável na relação entre o nível de remuneração

de longo prazo e a percepção de riscos de executivos.

As demais variáveis independentes (quantidade de filhos e sexo) não apresentaram significância

estatística e foram retiradas do modelo 1 de regressão logística.

Os índices de ajustamento do modelo 1 de regressão logística, testados através do teste

estatístico de Hosmer-Lemeshow, apresentaram resultados satisfatórios, com um coeficiente de

significância de 0,545, portanto, superior ao mínimo recomendável de 0,05. (ARAÚJO, 2012;

HAIR et al., 2009).

Tabela 14 - Índices de ajustamento do modelo 1 de regressão logística

Resumo do modelo

Qui-quadrado 6,925

Graus de liberdade 8

Sig. Hosmer and Lemeshow 0,545

Verossimilhança de log -2 147,721b

R quadrado Cox & Snell 14%

R quadrado Nagelkerke 18%

Fonte: O autor

Adicionalmente, foi constatado que o modelo 1 de regressão obteve um acerto médio de 69%,

indicando um bom poder preditivo.

4.2.6.2 Modelo 2 de regressão logística

Neste modelo, foram testadas as hipóteses H1 e H2, através da avaliação das chances de o

executivo se motivar a gerar valor, de acordo com variações nas variáveis independentes,

representadas pelos modelos de remuneração e características demográficas.

Ainda que tenha sido utilizado o método de regressão logística stepwise foward, apenas um

passo do modelo foi executado, já que apenas a variável independente relacionada a

remuneração variável foi considerada significante.

Tabela 15 - Variáveis na equação do modelo 2 de regressão logística

B S.E. Wald df Sig. Exp(B)

Passo 1a Representatividade da RV 0,844 0,242 12,116 1 0,000 2,326

Constante -0,959 0,638 2,260 1 0,133 0,383

a. Variável inserida no passo 1: Representatividade da RV.

Fonte: O autor

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93

Com odds ratio de 2,3, seguindo a mesma tendência indicada na análise do coeficiente de

correlação de Spearman, o resultado do modelo 2 de regressão logística sugere que programas

de incentivo com maior representatividade da remuneração variável aumentam em 2,3 vezes as

chances de levar o executivo a se motivar a gerar valor.

A tabela a seguir ilustra a distribuição das probabilidades de indução do executivo a se motivar

a gerar valor na medida em que aumenta a representatividade da remuneração variável sobre a

remuneração total do executivo. Modelos em que mais da metade da remuneração do executivo

é variável têm 96% de probabilidade de induzi-lo a se motivar para gerar valor para a

organização, contra 47% de probabilidade dos modelos de remuneração essencialmente fixos.

Tabela 16 - Níveis de probabilidade do executivo se motivas de acordo com a representatividade da

remuneração variável

Representatividade da

remuneração variável

Probabilidade de se

motivar a gerar valor

Zero (não recebe RV) 47%

Até 10% em RV 67%

Entre 10 e 30% em RV 83%

Entre 30 e 50% em RV 92%

Acima de 50% em RV 96%

Fonte: O autor

Os índices de ajustamento do modelo 2 de regressão logística, testado através do teste estatístico

de Hosmer-Lemeshow, apresentaram resultados satisfatórios, com um coeficiente de

significância de 0,072, portanto, superior ao mínimo recomendável de 0,05 (ARAÚJO, 2012;

HAIR et al., 2009).

Tabela 17 - Índices de ajustamento do modelo 2 de regressão logística

Resumo do modelo

Qui-quadrado 6,989

Graus de liberdade 3

Sig. Hosmer and Lemeshow 0,072

Verossimilhança de log -2 111,327a

R quadrado Cox & Snell 11%

R quadrado Nagelkerke 18%

Fonte: O autor

Adicionalmente, foi constatado que o modelo 2 de regressão obteve nível de acerto médio de

81%, indicando um bom poder preditivo.

Assim como na pesquisa 1 realizada nesse estudo, através da coleta de dados secundários, não

foi constatada significância estatística considerável entre o nível de remuneração de longo prazo

e a motivação do executivo para a geração de valor.

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94

Pepper, Gore e Crossman (2013), no seu estudo sobre incentivos de longo prazo, afirmam que

os executivos usualmente não valorizam recompensas de longo prazo. Segundo os autores,

quanto maior o desconhecimento do executivo sobre o modelo de incentivo e quanto maior o

nível de complexidade, menor o seu impacto na motivação. Os autores verificaram que

executivos tendem a ter uma postura mais conservadora e não aceitarem, em sua maioria,

assumir riscos em relação a sua remuneração. Nesse sentido, modelos de longo prazo tendem a

ser preteridos. Possivelmente, por esse motivo, não foram considerados significativamente

relevantes no resultado deste presente estudo.

As demais variáveis independentes (representatividade da idade, tempo de empresa, quantidade

de filhos e sexo) não apresentaram significância estatística e foram retiradas do modelo 2 de

regressão logística.

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95

5 CONCLUSÕES

A avaliação da relação entre remuneração e geração de valor é um tema de alta relevância para

o mundo corporativo e objeto de diversos estudos acadêmicos, tanto para maximizar o retorno

das organizações sobre os investimentos em capital humano, quanto para minimizar os conflitos

de agência. Este estudo buscou adicionar um elemento chave da teoria da agência: a percepção

de riscos do agente e a capacidade dos programas de recompensa para induzir executivos a

gerar valor para as organizações. Equilibrar o nível de risco assumido pelo agente e pelo

principal, de acordo com as expectativas de cada stakeholders, é um desafio a parte no processo

de construção dos programas de incentivo a executivos.

Os resultados do estudo demonstram que há forte influência do nível de representatividade da

remuneração variável sobre a percepção de riscos e também sobre a capacidade de os programas

de incentivo motivarem os executivos a gerar valor, suportando as hipóteses H2 e H4.

Todas as técnicas aplicadas levam a conclusão de que o aumento da representatividade da

remuneração variável induz o executivo a se motivar para gerar mais valor. Modelos que

associem a recompensa do executivo ao resultado da organização podem produzir melhores

resultados. Em contrapartida, os resultados também concluem que o incremento da

remuneração variável leva o executivo a tomar mais riscos para a organização. Esse

paradoxo impõe um desafio adicional no desenho do melhor modelo de recompensa.

Figura 11 - Visão geral dos resultados do estudo

Fonte: O autor

Page 97: EDSON LOPES CEDRAZ FILHO...Influência dos programas de incentivo sobre a percepção de riscos dos executivos: recompensas como alavanca de resultados ou como potencializador dos

96

Os resultados das duas pesquisas demonstram conclusões semelhantes, no que diz respeito às

hipóteses testadas:

Quadro 6 - Convergência do resultado das pesquisas realizadas Pesquisa 1 Pesquisa 2

H1: Existe relação positiva entre o prazo

de pagamento das recompensas e a

motivação do executivo para geração de

valor nas organizações.

Hipótese não suportada Hipótese não suportada

H2: Existe relação positiva entre a

variabilidade das recompensas e a

motivação do executivo para geração de

valor nas organizações.

Hipótese suportada. Hipótese suportada pelo modelo

de regressão logística 2

H3: Existe relação positiva entre o prazo

de pagamento de recompensas e a

percepção de riscos do executivo.

Não aplicável Hipótese não suportada

H4: Existe relação positiva entre a

variabilidade das recompensas e a

percepção de riscos do executivo.

Não aplicável Hipótese suportada pelo modelo

de regressão logística 1

Fonte: O autor

Importante destacar que a identificação de estudos anteriores que coadunam com o resultado

encontrado nesta pesquisa, no tocante a relação entre remuneração variável e geração de valor.

Esta constatação se torna ainda mais relevante em função da presente pesquisa ter considerado

um período em que a economia do país passou por uma severa crise econômica (2014 a 2016),

onde os resultados negativos e decrescentes das empresas afetam significativamente o modelo

de remuneração, especialmente a variável. Mesmo considerando dados coletados em 2005, um

período em que o PIB brasileiro cresceu 2,3%, de menor volatilidade econômica e de melhor

desempenho médio geral das empresas, Camargos e Helal (2007), encontraram a mesma relação

positiva e significante entre RV e desempenho financeiro das empresas encontrada nesse

estudo, que considerou dados de um período de crise, haja vista que o PIB brasileiro recuou

3,6% em 2016 (IBGE, 2018).

Apesar de não ter encontrado relação significativa entre motivação e nível de RLP, os resultados

do estudo podem trazer reflexões sobre como maximizar esse tipo de incentivo como

ferramenta de geração de valor para as organizações. Pepper, Gore e Crossman (2013)

afirmaram que o nível de desconhecimento ou de complexidade dos programas de incentivo é

um fator que contribui para a desvalorização, aos olhos do agente, de recompensas de longo

prazo. Nesse sentido, transparência, objetividade e simplicidade podem ser elementos chave

para que esses modelos, que segundo alguns autores citados nesse estudo (DOBBIN; JUNG,

2010; SOUZA; DUQUE; SILVA JÚNIOR, 2016), são extremamente importantes para

minimizar os riscos decorrentes dos conflitos de agência, cumpram o seu papel.

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97

O efeito das recompensas sobre a percepção de riscos dos executivos foi outro achado relevante

da pesquisa. O incremento da remuneração variável leva o executivo a adotar uma percepção

mais neutra a riscos, o que significa que a oferta de um possível incremento nos ganhos pode

fazer com que o executivo assuma comportamentos que o leva a tomar mais riscos como forma

de maximizar sua remuneração. Programas de recompensa com remunerações essencialmente

fixas levam o executivo a uma percepção mais avessa a riscos. Essa conclusão pode levar as

organizações a repensar seus modelos de remuneração, no sentido de calibrar a agressividade

do nível de variabilidade de acordo com o apetite a riscos a ser assumido pelos seus executivos.

Características pessoais como idade e tempo de permanência na empresa também foram

consideradas como relevantes na percepção de riscos. Essas conclusões permitem identificar o

melhor equilíbrio da representatividade da remuneração variável de acordo com as

características demográficas do executivo.

Tanto na pesquisa 1, quanto na pesquisa 2, não foi encontrada relação estatisticamente

significante entre a representatividade da remuneração de longo prazo sobre a remuneração

total paga aos executivos e a geração de valor ou sobre a percepção de riscos. De forma

semelhante, no seu estudo sobre a influência da prática de modelos de remuneração de longo

prazo sobre o desempenho das empresas, Nascimento et al. (2013) não encontraram diferença

estatisticamente significativa no desempenho de empresas que adotam instrumentos de

remuneração baseada em stock options em relação a empresas que não adotam este mecanismo.

5.1 Implicações acadêmicas e corporativas

O desenho de programas de incentivo representa um elemento chave na estratégia das

organizações e um fator decisivo de competitividade, já que tanto os gastos com remuneração

quanto o fator de motivação dos executivos são cruciais para o atingimento das metas de

qualquer empresa. Nesse contexto, este estudo pode contribuir na avaliação dos fatores que

podem maximizar o retorno do investimento sobre as recompensas pagas pelas empresas, vis a

vis os riscos assumidos pelos seus executivos para atingimento das suas metas.

Em termos práticos, o resultado desse estudo traz uma série de premissas que podem ser

potencialmente adotadas pelas organizações no momento de modelar seus programas de

incentivo. Modelos de recompensa devem ser adaptados tanto ao público alvo (executivos)

quanto à estratégia da organização.

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98

Através da interpretação dos resultados desta pesquisa e da sua adaptação para a realidade de

cada organização, é possível desenvolver modelos otimizados de incentivo, considerando as

variáveis avaliadas e as relações identificadas. A eficácia de um programa de incentivo depende

do seu alinhamento com a estratégia pode ser resultante de fatores como: i. Estratégia e apetite

a riscos da organização; ii. Aspectos demográficos do corpo executivo; e iii. Nível de

complexidade, plano de comunicação e aceitação do modelo pelos executivos.

Figura 12 - Elementos que podem determinar a eficácia dos programas de incentivo

Fonte: O autor

A combinação desses três elementos determinará se o programa de incentivo motivará o

executivo na medida certa, sem leva-lo a extrapolar os limites de tomada de risco esperados

pela empresa.

a) Estratégia e apetite a riscos da organização: Empresas que buscam crescimento e

contam com estruturas de governança mais robustas, podem assumir modelos mais

agressivos de remuneração, com níveis de remuneração variável mais representativa,

mesmo considerando que assumirão maior risco, já que a correlação entre nível de RV

e propensão do executivo a tomar risco é positiva, assim como o motiva a gerar mais

valor. Nesse caso, o aumento da propensão a geração de valor pode compensar o

incremento na propensão a tomada de riscos pelo executivo. Por outro lado, fica

evidente que organizações com modelos mais agressivos de remuneração variável

devem investir mais em governança e contar com estruturas de supervisão e controles

internos mais robustos para compensar o incremento da exposição a riscos;

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99

b) Aspectos demográficos do corpo executivo da organização: Executivos de idade

mais avançada tendem a ter um limiar menor de exposição a riscos, dessa forma, a

aplicação de instrumentos de remuneração variável mais agressivos para profissionais

de idade mais avançada pode não influenciar a sua percepção de riscos na mesma

intensidade que influenciaria um profissional mais jovem. Nesse contexto, aplicar

modelos mais agressivos para profissionais mais seniores pode não aumentar

significativamente a exposição a riscos da Organização. Empresas com quadro de

executivos de maior senioridade podem aplicar modelos mais agressivos com menor

custo de supervisão;

c) Nível de complexidade, plano de comunicação e aceitação do modelo pelos

executivos: Simplicidade e transparência do modelo podem garantir maior eficácia no

efeito motivador dos programas de incentivo, especialmente para RLP. O estudo atual

não demonstrou relação significativa entre motivação e nível de RLP para os executivos

participantes da pesquisa 2, possivelmente em função do baixo nível de utilização dessa

prática e por ela não ser amplamente conhecida no Brasil (DELOITTE, 2017). Essa

afirmação confirma os achados de Pepper, Gore e Crossman (2013), de que o

desconhecimento e a incerteza fazem com que executivos desconfiem e não se motivem

por RLP.

O Banco do Brasil lançou em 2018 um programa de remuneração de longo prazo,

baseado em opções de ações, em que todos os seus funcionários, de todos os níveis

hierárquicos e não somente executivos, fazem parte. A essência do modelo do Banco do

Brasil está na sua simplicidade.

Cada um dos funcionários do banco na ativa terá três ações na sua conta. Isso faz parte

de um plano de incentivo de resultados, só que mais importante não é o valor em si, o

mais importante é que a gente vai poder comunicar que todo colaborador, todo

funcionário, todo empregado, além de ser colaborador, funcionário, empregado, é

também dono, acionista da empresa.

Pelas regras do benefício, essas três ações não podem ser vendidas pelo servidor até

que ele se aposente ou saia do banco. A ação fica custodiada pelo BB sob o CPF do

servidor. Enquanto ele estiver na ativa obrigatoriamente ele tem que ser acionista do

banco (PATI, 2018).

Como contribuição acadêmica, o estudo traz uma visão adicional aos estudos existentes, através

da coleta de dados primários junto a executivos, contemplando suas visões sobre os programas

de incentivo aplicados em empresas de diversos segmentos da economia no Brasil. Esta visão

traz contribuições sobre como modelos de remuneração afetam a geração de valor nas

organizações, assim como traz alguns elementos para entender o nível de influência desses

modelos sobre a percepção de riscos dos executivos.

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100

5.2 Limitações do estudo e sugestões para pesquisas futuras

A baixa quantidade de empresas que adotam modelos de remuneração de longo prazo

representou uma limitação, tanto para a pesquisa 1, quanto para a pesquisa 2. Essa constatação

coincide com os resultados da pesquisa realizada pela Deloitte (2017), que demonstrou que

menos de 15% das 140 empresas brasileiras pesquisadas adota incentivos de longo prazo. Em

decorrência dessa limitação, o poder estatístico dos modelos utilizados para testar as hipóteses

H1 e H3 foi reduzido.

Uma limitação na coleta de dados para a pesquisa 1 foi a fidedignidade e nível de detalhamento

das informações publicadas pelas empresas listadas na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo

quando da coleta. Dessa forma, foram priorizadas na amostra as empresas que publicaram

informações com maior acurácia e maior disponibilidade de informações nos formulários de

referências publicados através do site da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo.

Sobre sugestões para estudos futuros, pode-se destacar que:

a) A avaliação das variáveis associadas a motivação do executivo pode ser realizada de

maneira mais ampla, considerando que, como a remuneração não é o único instrumento

a ser utilizado para minimizar os riscos dos conflitos de agência (EISENHARDT, 1989),

é importante considerar os demais elementos que compõem os instrumentos de

alinhamento de interesses, tais como:

- Governança corporativa

- Cultura organizacional e comportamento de risco

- Impacto de aspectos regionais ou do segmento de indústria que a empresa está

inserida, sobre a percepção de riscos dos executivos

- Mecanismos que desenvolvam motivação intrínseca do executivo

- Estrutura organizacional

b) A avaliação da percepção de riscos pode ser realizada de maneira mais ampla, de forma

a avaliar demais elementos associados a comportamento de riscos. Para isso, outras

variáveis podem ser incorporadas. Uma abordagem metodológica para essa ampliação

seria considerar o agrupamento de variáveis de acordo com as dimensões do triângulo

de fraude sugerido por Cressey (1954).

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101

No seu estudo sobre a avaliação da ocorrência de fraudes corporativas em instituições

bancárias brasileiras, por intermédio de variáveis extraídas da teoria da agência e das

três dimensões do triângulo de fraude, Machado (2015) afirma que:

Percebe-se que a teoria da agência e o triângulo de fraude estão estritamente

relacionados. Enquanto a teoria da agência utiliza mecanismos de incentivos e de

monitoramento para alinhar os interesses de principais e agentes, o triângulo da fraude

resulta da interação de três fatores: a pressão, a oportunidade e a racionalização,

em que os mesmos mecanismos utilizados pela teoria da agência para controlar o

comportamento do gestor podem indicar situações de oportunidades – estruturas de

governança corporativa fracas – e de pressão – estruturas de incentivos

inadequadas, que contribuirão com a perpetração de fraudes.

Este presente estudo se concentrou na avaliação da variável que afeta apenas uma das

dimensões do triângulo da fraude previsto por Cressey (1954): a motivação pelos

incentivos, relacionada a dimensão da pressão.

Nesse contexto, estudar a influência de outras variáveis associadas às duas outras

dimensões (oportunidade e racionalização) podem acrescentar na geração de insumos

para auxiliar as organizações no desenho dos seus programas de recompensa vis a vis a

sua exposição a riscos.

O uso de dados demográficos como variáveis de agrupamento pode ser explorado em estudos

futuros, como forma de ampliar a visão sobre como características pessoais podem melhor ser

combinadas com o modelo de remuneração a ser aplicado. Dados demográficos como nível de

escolaridade e formação podem ajudar a completar o estudo.

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102

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107

APÊNDICE A – QUADRO RESUMO DA METODOLOGIA DE PESQUISA

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Quadro resumo da metodologia de pesquisa Objetivos específicos de pesquisa Eixos teóricos Principais autores Hipótese a ser testada e Método de coleta

O1. Verificar a relação entre o prazo de

pagamento e variabilidade dos incentivos

ofertados aos executivos e a geração de valor

para a organização.

Programas de incentivo e

modelos de remuneração

Teoria da agência

Gonzaga, Yoshinaga e Eid Junior (2013),

Malvessi e Pereira Filho (2016),

De Souza, Duque e Da Silva Jr (2016),

Bebchuk e Fried (2005),

Camargos e Helal (2007).

Hipóteses a serem testadas: H1 e H2

Método de coleta: Pesquisas 1 e 2

O2. Identificar o efeito do prazo de pagamento

e variabilidade dos incentivos sobre a percepção

de riscos dos executivos.

Programas de incentivo e

modelos de remuneração

Percepção de risco

Hart e Holmströn, (1986),

Eisenhardt (1989),

Jensen e Meckling (1976),

Dobbin e Jung (2010).

Malvessi e Pereira Filho (2016).

Byrd, Parrino e Pritsh (1998)

Weber e Milimman (1997)

Slovic (1964)

Weber, Blais e Betz (2002)

Aguiar (2009)

Pepper, Gore e Crossman (2013)

Hipóteses a serem testadas: H3 e H4

Métodos de coleta: Pesquisa 2

O3. Identificar as características de programas

de incentivo com maior potencial de induzir os

executivos a gerar valor para as organizações.

Programas de incentivo e

modelos de remuneração

Percepção de risco

Hart e Holmströn, (1986),

Eisenhardt (1989),

Byrd, Parrino e Pritsh (1998),

Jensen e Meckling (1976),

Dobbin e Jung (2010).

Malvessi e Pereira Filho (2016).

Byrd, Parrino e Pritsh (1998)

Weber e Milimman (1997)

Slovic (1964)

Weber, Blais e Betz (2002)

Aguiar (2009)

Pepper, Gore e Crossman (2013)

Hipóteses a serem testadas: H1, H2, H3 e

H4

Métodos de coleta: Pesquisas 1 e 2

Fonte: O autor.

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APÊNDICE B –QUESTIONÁRIO DE COLETA DA PESQUISA 2

Seção 1: Dados do programa de incentivo 1. Como o objeto da pesquisa é a remuneração de

executivos, antes de prosseguir, confirme que ocupa um

cargo de liderança na empresa em que trabalha

2. Quais os tipos de indicadores de desempenho utilizados

como base para a apuração da sua remuneração

variável?

Indicadores financeiros

( ) Receita

( ) EBITDA

( ) Lucro

( ) EVA/VEC

( ) Valor de mercado

( ) Turnover de funcionários

( ) Outros indicadores

quantitativos

Indicadores não financeiros

( ) Competências

( ) Aspectos de compliance e/ou

conduta ética

( ) Inovação

( ) Market share

( ) Captação e/ou retenção de

clientes

( ) Desenvolvimento de produtos/

projetos

( ) Outros indicadores qualitativos

3. Como é composta a sua remuneração? De curto prazo

( ) Salário fixo ou pro labore

( ) Benefícios quantificáveis (ex.:

plano de saúde, vale alimentação

etc.)

( ) Bônus ou Participação nos

lucros pagos anualmente

( ) Gratificações esporádicas

( ) Comissão

( ) Outros valores variáveis pagos

no curto prazo (dentro do ano

fiscal)

De longo prazo

( ) Retenção de bônus para

pagamento futuro (acima de 1 ano)

( ) Opções de ações

( ) Phanton options ou opções de

ações virtuais

( ) Performance stock units

( ) Outros valores de longo prazo

4. Quanto representa sua remuneração variável em relação

a sua remuneração total anual?

( ) Zero (não recebo remuneração

variável)

( ) Até 10%

( ) Entre 10 e 30%

( ) Entre 30 e 50%

( ) Acima de 50%

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Seção 2: Percepção de risco em relação a sua remuneração 1.

Concordo

totalmente

2. Concordo

parcialmente

3. Não

tenho

opinião

formada

4. Discordo

parcialmente

5.

Discordo

totalmente

5. A forma como sou

recompensado atualmente

maximiza a minha motivação

para envidar o máximo de

esforço para gerar o máximo

de valor para a organização

que trabalho.

6. A forma como sou

recompensado atualmente

possui o melhor

balanceamento possível entre

remuneração fixa e variável.

7. Remunerações variáveis

agressivas em anos de bom

desempenho, mas não

garantidas e com

possibilidade de oscilações,

me motivam mais do que

constantes e pequenas

progressões de salário fixo.

8. Modelos de recompensa

limitados à remuneração fixa

reduzem o meu esforço para

atingimento de metas e

inibem o meu potencial para

gerar valor para a

organização.

9. Estou disposto a reduzir

minha remuneração fixa pela

metade se tiver 50% de

chance de recuperar em

dobro essa redução, através

de uma remuneração

variável, caso atinja um

conjunto de metas

predeterminadas.

10. Estou disposto a deixar

metade da minha

remuneração variável retida,

se tiver 50% de chance de

receber o dobro após 2 anos

de bom desempenho, caso

atinja um conjunto de metas

sustentáveis e de longo prazo.

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Seção 3: Percepção de risco em relação a gestão da organização 1.

Concordo

totalmente

2. Concordo

parcialmente

3. Não

tenho

opinião

formada

4. Discordo

parcialmente

5.

Discordo

totalmente

11. A forma como sou

recompensado atualmente

aumenta a minha propensão

a assumir mais riscos para a

organização, como forma de

viabilizar o cumprimento das

minhas metas.

12. A forma como sou avaliado e

recompensado atualmente

me leva a adotar medidas de

planejamento focadas no

curto prazo.

13. Quanto mais desafiadoras as

minhas metas, maior a minha

propensão a assumir mais

riscos para a organização.

14. Para atingir as metas previstas nos critérios de avaliação do meu desempenho, estaria disposto a:

14.1 Descumprir normas

internas que considero

burocráticas e desnecessárias

14.2 Incentivar subordinados a

jornadas de trabalho excessivas,

ultrapassando eventualmente 10

horas diárias

14.3 Entregar produtos ou

serviços de qualidade levemente

inferior, imperceptíveis ao

cliente, para maximizar o lucro

da empresa

14.4 Assumir o mérito por

conquistas alcançadas por outra

pessoa (algum membro da

minha equipe ou algum par)

14.5 Descumprir pontualmente

leis ou regulamentações

aplicáveis às minhas atividades

profissionais

14.6 Descumprir preceitos

previstos no código de conduta

da empresa

14.7 Oferecer, prometer ou dar

vantagem indevida a agentes

públicos para propiciar ganhos

para a empresa

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Seção 4: Dados demográficos do participante 15. Qual o seu cargo (Presidente/Diretor/Gerente)?

16. Qual a sua idade?

17. Qual o segmento da empresa que você trabalha?

18. Qual o tipo de controle da empresa que trabalha?

19. Qual o porte da empresa em que você trabalha?

20. Qual a região da sede da empresa? (país/estado/cidade)

21. Há quanto tempo trabalha na empresa atual?

22. Com qual idade pretende se aposentar?

23. Qual o seu sexo? (masculino/feminino)

24. Estado civil (casado/solteiro)

25. Quantidade de filhos

26. Qual o seu grau de instrução?