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Área Temática: Ensino de administração Educação Ambiental: Um Instrumento de Diagnóstico para a Inclusão da Temática de Sustentabilidade em Instituições de Ensino Superior AUTORES LEONARDO VICTOR DE SÁ PINHEIRO Universidade Estadual do Ceará [email protected] DANIELLI LEITE CAMPOS MONTEIRO Universidade Estadual do Ceará [email protected] VERONICA PEÑALOZA Universidade Estadual do Ceará [email protected] DIEGO DE QUEIROZ MACHADO Universidade Estadual do Ceará [email protected] RESUMO A educação ambiental, no âmbito dos cursos de administração, ainda encontra-se em fase de maturação, sendo muitas vezes resumida a sua abordagem em uma única disciplina e com poucas produções científicas na área. Este estudo tem como objetivo analisar como os motivos e preocupações ambientais se relacionam diante da perspectiva de ação dos estudantes do curso de administração frente às práticas de conservação do meio ambiente. A pesquisa contou com a participação de 219 estudantes universitários, sendo os dados trabalhados com o software SPSS - versão 18.0, módulos de estatística descritiva, análise de variância - ANOVA, análise fatorial e regressão binária logística. Uma relação significativa foi encontrada entre o motivo ecocêntrico e as ações pró-ambientais, ratificando que as pessoas com motivos ecocêntricos possuem maior propensão para ações de conservação da natureza. Por sua vez, observou-se uma relação das preocupações altruístas e biosféricas com a predisposição à ação. As relações encontradas demonstram aspectos importantes de compreensão do comportamento humano diante da temática ambiental, tendo em vista que dependendo dessa relação entre motivos e preocupações, evidenciada no ambiente universitário, pode-se identificar uma melhor forma de direcionar a educação da sustentabilidade no ensino superior. Palavras Chave: Educação Ambiental, Motivos Pró-Ambientais, Preocupação Ambiental ABSTRACT The environmental education, within the business administration courses, yet is still maturing and is often summarized his approach in a single discipline and with little scientific production in the area. This study aims to analyze the reasons and environmental concerns relate to the prospect of action by students of management practices in the face of

Educação Ambiental: Um Instrumento de Diagnóstico para a ...sistema.semead.com.br/13semead/resultado/trabalhosPDF/578.pdf · Tais preocupações estão cada vez mais atreladas

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Área Temática: Ensino de administração

Educação Ambiental: Um Instrumento de Diagnóstico para a Inclusão da Temática de Sustentabilidade em Instituições de Ensino Superior AUTORES LEONARDO VICTOR DE SÁ PINHEIRO Universidade Estadual do Ceará [email protected] DANIELLI LEITE CAMPOS MONTEIRO Universidade Estadual do Ceará [email protected] VERONICA PEÑALOZA Universidade Estadual do Ceará [email protected] DIEGO DE QUEIROZ MACHADO Universidade Estadual do Ceará [email protected] RESUMO A educação ambiental, no âmbito dos cursos de administração, ainda encontra-se em fase de maturação, sendo muitas vezes resumida a sua abordagem em uma única disciplina e com poucas produções científicas na área. Este estudo tem como objetivo analisar como os motivos e preocupações ambientais se relacionam diante da perspectiva de ação dos estudantes do curso de administração frente às práticas de conservação do meio ambiente. A pesquisa contou com a participação de 219 estudantes universitários, sendo os dados trabalhados com o software SPSS - versão 18.0, módulos de estatística descritiva, análise de variância - ANOVA, análise fatorial e regressão binária logística. Uma relação significativa foi encontrada entre o motivo ecocêntrico e as ações pró-ambientais, ratificando que as pessoas com motivos ecocêntricos possuem maior propensão para ações de conservação da natureza. Por sua vez, observou-se uma relação das preocupações altruístas e biosféricas com a predisposição à ação. As relações encontradas demonstram aspectos importantes de compreensão do comportamento humano diante da temática ambiental, tendo em vista que dependendo dessa relação entre motivos e preocupações, evidenciada no ambiente universitário, pode-se identificar uma melhor forma de direcionar a educação da sustentabilidade no ensino superior.

Palavras Chave: Educação Ambiental, Motivos Pró-Ambientais, Preocupação Ambiental

ABSTRACT The environmental education, within the business administration courses, yet is still maturing and is often summarized his approach in a single discipline and with little scientific production in the area. This study aims to analyze the reasons and environmental concerns relate to the prospect of action by students of management practices in the face of

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environmental conservation. The research included the participation of 219 students, with data being worked with the software SPSS - version 18.0, modules descriptive statistics, analysis of variance - ANOVA, factor analysis and binary logistic regression. The significant relationship was found between the ecocentric reason and pro-environmental actions, confirming that individuals with ecocentric motives have a greater propensity for stock conservation. In turn, there was a relation of altruistic and biospheric concerns with a predisposition to action. The relations found demonstrate important aspects of understanding human behavior in the face of environmental issues, considering that depending on this relationship between motives and concerns, as evidenced in the university environment, one can identify a better way to direct the education of sustainability in higher education. Keywords: Environmental Education, Grounds Pro-Environmental, Environmental Concern

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1 Introdução O aumento da abordagem sobre os problemas ambientais deve-se a uma maior

divulgação de pesquisas e informações que tratam a preocupação com a natureza como tema importante a ser estudado. Tais preocupações estão cada vez mais atreladas ao mundo acadêmico e corporativo, deixando de ser apenas do interesse de ecologistas e ganhando espaço de discussão entre governos, organizações e sociedade.

O número de pessoas que passaram a se preocupar com uma imagem ecologicamente correta está em ascensão (Cf. RIBEIRO; KAKUTA, 2008), tendo em vista a nova visão da sociedade em considerar as condições ambientais como um dos fatores preponderantes para o seu bem estar. Infelizmente, este compromisso, aparentemente forte em relação à preservação ambiental, nem sempre parece ser traduzido em ações voltadas à conservação dos recursos naturais. Muitas pessoas que expressam pontos de vistas positivos em relação à preservação ambiental não apresentam comportamentos de conservação, o que ajudaria a diminuir os danos ao meio ambiente (THOMPSON; BARTON, 1994).

Corroborando com as idéias anteriores, Thompson e Barton (1994) sugeriram dois tipos de motivos relacionados aos comportamentos diante das questões ambientais: ecocêntricos e antropocêntricos. Ambos os motivos são favoráveis à preservação ambiental, porém a principal diferença encontra-se nas percepções que orientam suas atitudes com relação ao meio ambiente. O motivo ecocêntrico refere-se a pessoas que acreditam no valor da natureza por ela mesma, considerando ser a própria natureza o principal motivo de preservação. Os indivíduos que apresentam motivo antropocêntrico acreditam no valor da natureza pelos benefícios materiais e físicos que ela pode proporcionar, entendendo ser o homem o principal motivo para preservação.

Schultz (2001), baseado no trabalho realizado anteriormente por Stern e Dietz (1994), propõe a mensuração das preocupações referentes às conseqüências ambientais, dividindo-as em três fatores: altruísta, egoísta e biosféricos. Os indivíduos altruístas demonstram preocupações referentes às outras pessoas, os egoístas a si próprios e, por sua vez, os biosféricos com a natureza de modo geral.

Aliada as duas escalas ditas anteriormente, a importância de se estudar os alunos do curso de administração deve-se ao fato destes estarem sendo preparados para serem futuros líderes e gestores de empresas, podendo influenciar de forma significativa nas decisões que envolvam a temática ambiental. Segundo Loures (2009), existe a necessidade de que os administradores tenham um bom julgamento nos assuntos que dizem respeito ao meio ambiente, mas isso só será possível através da introdução de aperfeiçoamentos substanciais nos cursos de administração.

Embora o assunto tenha ganhado grande repercussão nos últimos anos, ainda são poucas as políticas de ensino superior voltadas para práticas de responsabilidades ambientais. Jacobi (2003) acredita que seja preciso criar todas as condições necessárias para facilitar o processo de educação ambiental, suprindo dados, desenvolvendo e disseminando indicadores a fim de tornar transparentes os procedimentos que garantam os meios de criar estilos de vida e promovam uma consciência ética que questione o atual modelo de desenvolvimento.

O conhecimento dos motivos e preocupações ambientais que melhor indicam indivíduos predispostos a transformar o discurso em prática, faz-se importante pelo potencial subsídio de contribuir para uma melhor abordagem da educação ambiental no ensino superior. Essa contribuição torna-se possível a partir do momento em que se entende como estes fatores se relacionam. Diante disso, o estudo pretende responder ao seguinte questionamento: qual dos motivos e preocupações melhor indica indivíduos propensos para ações pró-ambientais? Para responder a essa questão, determinou-se como objetivo geral dessa pesquisa analisar

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como os motivos e preocupações ambientais se relacionam diante da perspectiva de ação dos estudantes do curso de administração frente às práticas de conservação do meio ambiente. 2 Revisão Teórica

A literatura base revisada para fundamentação deste trabalho encontra-se organizada mediante a exploração de três aspectos-chave para a compreensão das análises e discussões. Inicialmente, é feita a contextualização do conceito de sustentabilidade na sociedade atual, seguida dos aspectos principais que permeiam o cenário da educação ambiental. A necessidade de se trabalhar esses conceitos proporciona uma maior maturidade para as bases teóricas e conhecimento das habilidades importantes no âmbito empresarial e acadêmico. Por fim, os motivos e preocupações ambientais são apresentados tendo em vista a sua importância como ferramenta educacional e fatores de favorecimento de uma consciência para a sustentabilidade. 2.1 Contextualizando a Sustentabilidade

O conceito de sustentabilidade vem sendo trabalhado desde 1972 com a realização

da Conferência de Estocolmo, que tratou especificamente dos problemas com a poluição ambiental. Esta primeira conferência ambiental foi o marco inicial para que, nos anos subsequentes, muitos outros movimentos se voltassem para a problemática da conservação dos recursos naturais. No Brasil, duas conferências ganharam destaque: a Conferência Rio-92, de 1992 e a Conferência Rio+5, de 1997. A primeira foi responsável pela introdução do conceito de Desenvolvimento Sustentável, sendo a Rio+5 uma consequente avaliação de resultados da Conferência Rio-92 (BRASIL, 1998; RIBEIRO; PROFETA, 2004; FARIAS; TEIXEIRA, 2006).

Uma consequência direta desta mobilização mundial em torno de questões ambientais é que, atualmente, a importância do meio ambiente para a humanidade e para as organizações não é mais questionada (GONÇALVES-DIAS et al., 2009). Desta forma, o desenvolvimento sustentável é algo que deve ser incorporado ao ambiente empresarial e de planejamento estratégico, levando cada vez mais as organizações a trabalharem conceitos relacionados ao meio ambiente: “um dos componentes importantes dessa reviravolta nos modos de pensar e agir foi o crescimento da consciência ecológica, na sociedade, no governo e nas próprias empresas, que passaram a incorporar essa orientação em suas estratégias” (DONAIRE, 1995).

Kloetzel (1998) define meio ambiente como o “conjunto de soluções, leis, influências e infra-estruturas de ordem física, química, biológica e psíquica, que permite, abriga e rege a vida (e ainda, a qualidade de vida e o bem-estar do cidadão) em todas as suas formas”. Já a sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável, é um tipo de desenvolvimento que busca a satisfação das necessidades da geração presente sem comprometer, entretanto, as necessidades das gerações futuras, levando-se em conta não apenas a dimensão ambiental. Consiste na busca por um desenvolvimento equilibrado no contexto ecológico, justo no contexto social e viável no contexto econômico, fruto de um ambientalismo que aumenta a preocupação com a proteção ao meio ambiente e leva à decisões, por vezes ecocêntricas, em vista da preservação (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008; FARIAS; TEIXEIRA, 2006; LENCASTRE, 2006). Como afirmado por Jacobi (2003, p. 194-195):

As dimensões apontadas pelo conceito de desenvolvimento sustentável contemplam cálculo econômico, aspecto biofísico e componente sociopolítico, como referenciais para a

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interpretação do mundo e para possibilitar interferências na lógica predatória prevalecente. O desenvolvimento sustentável não se refere especificamente a um problema limitado de adequações ecológicas de um processo social, mas a uma estratégia ou um modelo múltiplo para a sociedade, que deve levar em conta tanto a viabilidade econômica como a ecológica. Num sentido abrangente, a noção de desenvolvimento sustentável reporta-se à necessária redefinição das relações entre sociedade humana e natureza e, portanto, a uma mudança substancial do próprio processo civilizatório, introduzindo o desafio de pensar a passagem do conceito para a ação.

Destas definições, pode-se perceber a prevalência de três dimensões fundamentais que se relacionam e formam o conceito de sustentabilidade: ambiental, econômica e social. A dimensão ambiental é conhecida também como dimensão ecológica ou capital natural, sendo responsável por estimular as empresas a uma maior consideração sobre a utilização dos recursos naturais e o impacto de suas ações no ambiente. Por outro lado, a dimensão econômica, ou capital artificial, aborda o aumento da renda monetária e do padrão de vida dos indivíduos pela alocação eficiente dos recursos e modificações em investimentos. Por fim, a dimensão social, também chamada capital humano, envolve as qualidades e habilidades pessoais, dedicação e experiências (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008). Dessa forma, fica claro que a noção de sustentabilidade envolve a integração destas três dimensões, implicando em uma “inter-relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento” (JACOBI, 2003, p. 196).

A divulgação de tais conceitos, especialmente através dos meios de comunicação, aliada a uma mudança no comportamento de consumo dos indivíduos, dispostos a consumir produtos mais saudáveis e menos prejudiciais ao ambiente e o fortalecimento de certificações ambientais, no Brasil e no mundo, têm afetado as atividades organizacionais. Cada vez mais as empresas são forçadas a se preocuparem com os possíveis problemas ambientais frutos de suas atividades. As normas da série ISO 14000 são exemplos claros da importância das empresas exercerem suas atividades dentro de níveis e padrões aceitáveis de segurança ambiental, em vista do reconhecimento deste esforço pela sociedade (CLARO; CLARO, 2004; FARIAS; TEIXEIRA, 2006).

Sendo vista como um processo, a sustentabilidade precisa ser trabalhada na esfera empresarial no que diz respeito aos seus aspectos explorativos de recursos e qualitativos do uso destes recursos, sempre com uma ênfase no desenvolvimento social e aumento dos recursos-base para a humanidade. Sua ação envolve a definição de limites de exploração e políticas de desenvolvimento que não ignorem as limitações ecológicas (JACOBI, 2003).

Desta maneira, a figura do administrador destaca-se no ambiente empresarial como gestor destas mudanças de mentalidade e ações de produção, conduzindo as organizações para um nível de atuação cada vez mais sustentável. Como destacado por Krunglianskas (1993), “o administrador moderno cada vez mais terá que ser um solucionador de problemas ambientais ao invés de gerador de impactos adversos ao meio ambiente”. Percebe-se, então, a importância da formação de administradores que estejam não apenas focados em níveis elevados de desempenho organizacional, mas que se preocupem com a incorporação de ações e projetos de redução de problemas sociais e ambientais.

2.2 A Importância da Educação Ambiental Ribeiro e Profeta (2004, p. 128-129) diferenciam a educação ambiental da

ecologia ao incorporar esta última como um aspecto da primeira, afirmando ser a educação ambiental “um processo, uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação que utiliza os vários conhecimentos, inclusive os da Ecologia, para promover a compreensão dos mecanismos da inter-relação natureza-homem, em suas dimensões”. Jacobi (2003) expressa

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essa relação entre educação e meio ambiente como algo desafiador, que demanda cada vez mais novos conhecimentos e saberes na formulação de uma educação ambiental. Consiste em uma nova maneira de entender a relação homem-natureza através de diferentes valores morais, comportamentais e éticos, trabalhada na forma de uma aprendizagem permanente, em especial, dentro de ambientes educacionais, capazes de lidar com a multiplicidade de saberes que formam a sua complexidade.

A educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos educandos (REIGOTA, 1998). Nesse sentido, Jacobi (2003) comenta que o educador passa a ter a função de mediador na construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza. A escola adquire um papel fundamental no desenvolvimento desta consciência ambiental ao ajudar o aluno a ter uma visão ampla e completa do ambiente em que vive. Seu papel consiste em revelar-se como um espaço de discussão e análise da natureza e das questões sociais, evitando cair em práticas apenas pontuais que não refletem a realidade social de seus alunos. A verdadeira formação ambiental ocorre quando esta é trabalhada aos níveis da sensibilidade e da vivência, de forma sistemática e transversal, em todos os níveis de ensino (LENCASTRE, 2006; RIBEIRO; PROFETA, 2004; JACOBI, 2003; GADOTTI, 2005).

No âmbito acadêmico, Gonçalves-Dias et al. (2009) relatam um crescimento da preocupação com a incorporação de ensino ambiental nos cursos de administração. No entanto, tal preocupação ainda não se reverteu em mudanças representativas. O aumento da quantidade de cursos superiores na área não solucionou os desafios presentes para a inserção da temática ambiental. Krunglianskas (1993) cita quatro destes desafios a serem considerados, resumidos no QUADRO 1, a seguir.

QUADRO 1 Desafios para a inserção da temática ambiental no curso de administração

DESAFIOS COMENTÁRIOS

Institucionalização da temática

Refere-se à forma como o tema da questão ambiental tem sido introduzido nos currículos, seja na forma de discussões, criação de disciplinas específicas, ou criação de programas e centros de estudos dedicados ao tema. O fator de sucesso, independente da abordagem, é a existência de professores comprometidos.

Engajamento de atores-chave

externos

Objetiva trazer relevância para a sociedade com os programas de gestão ambiental, envolvendo indivíduos das esferas organizacionais e/ou governamentais.

Abordagem didática Refere-se ao desafio de alterar as abordagens tradicionais para uma interdisciplinaridade que promova o aprendizado em gestão ambiental, inserindo a gestão ambiental nas disciplinas tradicionais e não concentrando estas discussões em uma disciplina específica.

Perspectivas profissionais

Aborda a necessidade de apresentar a gestão ambiental como uma oportunidade de desenvolvimento de carreira, em que profissionais capacitados para trabalhar suas problemáticas têm uma demanda cada vez mais crescente no mercado.

Fonte: baseado em KRUNGLIANSKAS, 1993 apud GONÇALVES-DIAS, 2009, p. 5-8. Uma consequência direta destas dificuldades em se trabalhar a questão ambiental

nos cursos de administração é a pouca produção acadêmica referente à área. Jabbour, Santos e Barbieri (2008), através de um levantamento de toda a produção científica entre os anos 1996

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e 2005, observaram que apenas 2,3% do total de trabalhos em administração no Brasil são na área da gestão ambiental.

Não apenas a baixa quantidade de trabalhos publicados, mas a falta de diversidade de autoria também se revela preocupante, porquanto, além de haver concentração da massa crítica em gestão ambiental em determinados centros de ensino e pesquisa, grande parte da produção é relativa a um restrito número de pesquisadores. Apenas cinco instituições de ensino e pesquisa são responsáveis por quase 60% da produção observada, que se mostra, no todo ou em parte, atrelada a quatro pesquisadores que, tomados em conjunto, correspondem a 32% das pesquisas em gestão ambiental empresarial dos periódicos examinados (JABBOUR; SANTOS; BARBIERI, 2008, p. 706).

Estudos como o de Ferreira e Ferreira (2008) revelam que a presença da educação ambiental nos cursos de graduação em administração geralmente é percebida quando esta está concentrada em uma disciplina, chamada comumente de Gestão Ambiental. No entanto, 50% dos cursos analisados na pesquisa não possuem nem mesmo esta disciplina em sua grade curricular, apresentando um vácuo no que diz respeito à educação ambiental em seus programas de ensino. Se apenas a presença de tal disciplina no currículo do curso não é suficiente para gerar administradores conscientes de seu papel ambiental, sendo recomendado que a temática “deve ser contemplada em todas as grades curriculares do referido curso” (FERREIRA; FERREIRA, 2008, p. 14), a ausência dela mostra-se ainda mais prejudicial para este tipo de formação.

Como o processo educativo ambiental não se dá apenas pela aquisição de informações, é necessário que sua proposta envolva a promoção de transformações no aluno no que diz respeito à sua postura, implicando uma vinculação afetiva com estes valores sustentáveis de mundo (CARVALHO, 2001).

Assim, nossa argumentação vai no sentido de reforçar que as práticas educativas articuladas com a problemática ambiental não devem ser vistas como um adjetivo, mas como parte componente de um processo educativo que reforce um pensar da educação orientado para refletir a educação ambiental num contexto de crise ambiental, de crescente insegurança e incerteza face aos riscos produzidos pela sociedade global, o que, em síntese, pode ser resumido como uma crise civilizatória de um modelo de sociedade (JACOBI, 2005, p. 243-244).

Evidencia-se, portanto, a necessidade de se trabalhar tais conceitos de gestão ambiental e sustentabilidade de forma que os cursos de administração possam gerar não apenas pesquisas na área, mas gestores ambientais profissionais, com todas as bases teóricas e habilidades que tal função exige no âmbito empresarial (FERREIRA; FERREIRA, 2008).

2.3 Motivos e Preocupações Ambientais Pesquisas e estudos relacionados ao comportamento humano apresentam uma

série de fatores que influenciam suas ações diante de questões ambientais. Thompson e Barton (1994), por exemplo, propuseram uma escala bidimensional, onde existem dois tipos de motivos (ecocêntrico e antropocêntrico) que favorecem toda atitude pró-ambiental, diferenciando-se apenas pelas razões que levam a estas atitudes. Pessoas ecocêntricas valorizam a natureza pelo seu valor intrínseco, enquanto os antropocêntricos a valorizam pela sua importância na vida da humanidade, pelos benefícios que ela oferece ao homem. Ambos expressam consciência ambiental, mas os ecocêntricos vêem uma dimensão espiritual na natureza e os antropocêntricos vêem os aspectos da vida humana que dela dependem.

Além destes motivos ambientais, a ausência de qualquer motivo ambiental foi levada também em consideração por Thompson e Barton (1994). Os autores chamam de apáticos os indivíduos que acreditam que os problemas ambientais são supervalorizados e

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tratados de uma forma exagerada. Os apáticos, portanto, diferentemente dos antropocêntricos e ecocêntricos, são aqueles indivíduos que não apresentam nenhuma forma de motivos pró-ambientais, não demonstrando qualquer interesse por essas questões.

Uma escala que mensura as preocupações com as consequências dos problemas ambientais foi proposta por Schultz (2001), distinguindo três tipos distintos de indivíduos: egoístas, que são indivíduos preocupados apenas consigo; altruístas, aqueles mais preocupados com as outras pessoas; e biosféricos, preocupados com a natureza. Dessa forma, foi possível perceber uma relação entre tais indivíduos e suas preocupações com as consequências dos problemas ambientais.

(...) uma relação foi empiricamente estabelecida entre as orientações de valor “egoísta”, “socioaltruísta” e “biosférica” e as opiniões sobre as consequências da destruição ambiental sobre si, para os seres humanos em geral, e para elementos não-humanos do planeta, respectivamente. Deste modo, pessoas que enfatizam as consequências da destruição ambiental sobre si (sua saúde, estilo de vida, etc.) parecem basear suas opiniões em valores egoístas; aqueles que salientam as consequências da destruição ambiental para os seres humanos em geral parecem basear suas opiniões em valores socioaltruístas; e por fim, aqueles que sublinham as consequências da destruição ambiental sobre animais, plantas, e ecossistemas parecem basear suas opiniões em valores biosféricos (AMÉRIGO et al., 2007, p. 98, grifos do autor, tradução nossa).

Esta escala foi desenvolvida baseando-se nas orientações de valor propostas por Schwartz na sua teoria dos tipos motivacionais de valores (CALVO; AGUILAR; BERRIOS, 2008; COELHO; GOUVEIA; MILFONT, 2006). Tais valores foram utilizados por Stern e Dietz (1994) em seu modelo de predição do comportamento ecológico, enfatizando que tais orientações de valores podem afetar o comportamento do indivíduo. A contribuição de suas pesquisas deu-se mediante a inserção dos valores egoístas e biosféricos no modelo de Schwartz, possibilitando a comprovação empírica de que há uma correlação negativa entre valores egoístas e comportamentos pró-ambientais e positiva entre estes comportamentos e os valores biosféricos.

Segundo Amérigo et al. (2007) há uma relação entre tais motivos e valores ambientais e a intenção em se engajar em programas ambientais. Através de uma pergunta que trazia um convite fictício para participar de um comitê ambiental, foi mensurada esta possibilidade de transformar tais motivos e valores em ações concretas. O resultado foi que pessoas com uma maior dimensão antropocêntrica demonstraram menor interesse em engajar-se em programas ambientais, enquanto que indivíduos com uma maior dimensão ecocêntrica mostraram-se mais interessados em promover ações nesta linha.

Finalmente, de acordo com Ribeiro (2010), a relação entre motivos e atitudes deve ser levada em consideração para que a consciência ecológica seja mais bem trabalhada nas sociedades. Uma sociedade de indivíduos ecocêntricos resultaria em um salto no que diz respeito às ações ecológicas e níveis de consciência ambiental, disseminado o respeito ao meio ambiente e aos seres que dele fazem parte, não apenas o homem. Tal resultado é corroborado pela afirmação de Rokeach (1981 apud COELHO; GOUVEIA; MILFONT, 2006, p. 202) que: “as crenças, atitudes e valores estão atrelados, formando um sistema cognitivo funcionalmente integrado; portanto, uma mudança em qualquer parte deste sistema afetará outras partes e culminará em mudança comportamental”.

Outras pesquisas levantam discussões de gênero no que diz respeito a comportamentos ambientais (CIOMMO, 2003). Pesquisas empíricas evidenciam uma maior intenção das mulheres em promover comportamentos ambientais, enquanto os homens possuem mais conhecimentos na área (BARREIROS; FERREIRA; VIEIRA, 2004; DIETZ; STERN, 1998).

Em resumo, é possível afirmar que existe um consenso dos autores em relacionar os motivos como influenciadores de atitudes comportamentais. Estudos mais aprofundados de

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tais motivos e valores podem, de acordo com Thompson e Barton (1994, p. 156, tradução nossa), “levar a um melhor entendimento de comportamentos relacionados ao meio ambiente e novas idéias a respeito de vias para encorajar a sua conservação”.

3 Métodos de Pesquisa

A amostra utilizada é de natureza não-probabilística, por conveniência, participando da pesquisa 219 estudantes do curso de administração de empresas de uma universidade privada localizada em uma região metropolitana do nordeste brasileiro. Foi utilizado como instrumento de pesquisa um questionário estruturado dividido em quatro partes. A primeira apresenta uma escala de Likert de 11 pontos, composta por 12 itens adaptados da escala original desenvolvida por Schultz (2001). Esta escala propõe a mensuração do grau de preocupação com as consequências dos problemas ambientais, sendo 0 correspondente a nenhuma preocupação e 10 a extremamente preocupado. Os 12 itens dão formação a três constructos: biosféricos, egoístas e altruístas, conforme a escala original adaptada de Schultz (2001).

A segunda escala compõe-se de 33 itens adaptados da escala desenvolvida por Thompson e Barton (1994). As questões foram aplicadas através de uma escala de Likert de 11 pontos, onde o 0 corresponde a discordo totalmente e 10 a concordo totalmente. As afirmativas mensuram os motivos pró-ambientais que podem ser antropocêntricos, ecocêntricos ou apáticos em relação à preservação dos recursos.

Além dessas questões, foram incluídas questões de natureza demográfica, tais como gênero, idade e estado civil. Por último, para avaliar se a preocupação ambiental pode ser traduzida em ação, foi incluída ao final do questionário uma pergunta sobre o interesse que o respondente teria em participar de um comitê para o desenvolvimento de ações voluntárias, com o intuito de diminuir a poluição ambiental (Cf. COELHO et al., 2006). Para validar o real intuito, foi solicitado o e-mail e a quantidade de horas semanais disponíveis para o trabalho voluntário. Os questionários foram aplicados em salas de aula por três pesquisadores que davam instruções sobre como respondê-los. Estes intervieram o mínimo possível no processo de aplicação dando apenas explicações quando solicitados, evitando emitir significados diferentes das atribuídas pelos respondentes. Cada respondente gastou em média 15 minutos para finalizar o preenchimento do questionário.

Os dados foram trabalhados com o software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 18.0, módulos de estatística descritiva, análise de variância-ANOVA, análise fatorial e regressão binária logística. A formulação e estimação de relações onde estão em jogo características qualitativas de pessoas ou objetos, são melhores descritas por modelos de escolha discreta, que podem ser representados por uma variável binária que toma o valor 1 na presença da característica e valor 0 na ausência da característica estudada, participação versus não participação, no caso deste trabalho. A regressão logística é uma das técnicas estatísticas apropriadas quando a variável dependente é categórica e as variáveis independentes são métricas (HAIR JR. et al., 2005).

A partir das discussões realizadas anteriormente, propõe-se as seguintes hipóteses para esta pesquisa:

H1: Há uma relação direta entre os motivos ecocêntricos e as preocupações altruístas.

H2: Existe uma relação inversa entre indivíduos com motivos apáticos e preocupações biosféricas.

H3: Existe uma relação direta entre indivíduos biosféricos e ecocêntricos.

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H4: Indivíduos com motivos ecocêntricos possuem maior propensão para ações de conservação ambiental.

H5: Há uma relação direta entre as preocupações ambientais biosféricas e uma maior propensão para ações de conservação ambiental.

H6: Existe diferença significativa entre homens e mulheres com relação ao motivo ecocêntrico.

4 Resultados A análise preliminar dos resultados revelou que quanto ao gênero, 51% dos

entrevistados eram do sexo masculino e 49% do feminino, com idade média de 24 anos. Foi realizada a análise fatorial da escala que mede as preocupações com as conseqüências dos problemas ambientais (SCHULTZ, 2001), que agrupou os itens em três fatores conforme QUADRO 2, tendo explicado 69% da variância total. A confiabilidade da escala foi verifica através do teste de Alpha de Cronbach (0,841), mostrando-se bastante satisfatório de acordo com o parâmetro de 0,700 sugerido por Hair Jr. et al. (2005).

QUADRO 2 Relação dos fatores conforme escala de preocupações de Schultz

1 - Altruista 2 - Biosférico 3 - Egoísta

Brasileiros Plantas Eu mesmo População Mundial Animais Marinhos Meu Estilo de

Vida Crianças Aves Minha Saúde

Gerações Futuras Animais Terrestres Meu Futuro Fonte: Elaborado pelos autores e adaptado de Schultz, 2001.

O primeiro fator apresentou uma explicação de 37,91% da variância total, sendo composto por quatro itens que representam as preocupações altruístas referentes: aos brasileiros, população mundial, crianças e gerações futuras. Portanto, esses indivíduos são caracterizados pela preocupação com o bem estar de outras pessoas.

Identificando as preocupações biosféricas, o segundo fator compõe-se de quatro itens: plantas, animais marinhos, aves e animais terrestres, apresentando explicação de 18,84% da variância total. Desta forma, esses indivíduos apresentam uma maior tendência a se preocuparem com a natureza de modo geral. Por sua vez, explicando 12,17% da variância total, o terceiro fator passou a representar as preocupações egoístas, tendo-se por base os itens: eu mesmo, meu estilo de vida, minha saúde e meu futuro. Assim, verifica-se que essas pessoas preocupam-se com as relações ligadas ao próprio bem estar. Observa-se que os fatores descritos acima apresentaram os mesmos resultados encontrados na pesquisa de Schultz (2001) e Amérigo et al. (2005), possibilitando uma confirmação referente a aplicabilidade da escala utilizada.

A análise fatorial da escala que mede os motivos para ter atitudes pró-ambientais (THOMPSON; BARTON, 1994) apresentou três fatores, explicando 56,80% da variância total e estando de acordo com a escala da pesquisa original dessas autoras. A confiabilidade da escala foi verifica através do teste de Alpha de Cronbach (0,741), mostrando-se satisfatório de acordo com o parâmetro de 0,700 sugerido por Hair Jr. et al. (2005). A escala adaptada de Thompson e Barton (1994) é composta por 33 itens, os quais, após a análise fatorial foram

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utilizados os 13 que apresentaram comunalidade acima de 0,500, o que segundo Hair Jr. et al. (2005) evidenciam explicação suficiente.

Os motivos apáticos foram identificados no primeiro fator, apresentando uma explicação de 26,79% da variância total. Os motivos ecocêntricos, identificados no segundo fator, apresentaram uma explicação de 18,83% da variância total e, por sua vez, no terceiro fator, foram agrupados os motivos antropocêntricos, que apresentaram uma explicação de 11,18% da variância total. Algumas afirmativas foram agrupadas em fatores distintos da classificação original de Thompson e Barton (1994), conforme verificado na QUADRO 3 abaixo.

QUADRO 3 Disposição dos itens da escala de Thompson e Barton (1994) após a análise fatorial

Dime nsã o Ítens1. Eu acho que o esgota me nto dos recursos na turais não é tão ruim c omo muitas pessoas faz em pa recer2. A única coisa que me pr eocupa com o desma tam ento é que nã o ha ve rá madeir a suficiente para as ge ra çõe s futura s*3. Eu acho que os seres huma nos não são depe ndentes da naturez a para so breviver4. Uma das razões ma is importante s pa ra mantermos rios e lagos limpos é pa ra que pessoas tenham um lugar para aprec iar esportes a quáticos*5. Eu sou contra progra mas de pre servação da natur ez a, reduçã o de poluição e c onse rva çã o dos rec ursos na tur ais6. Ênfase demais é coloc ada sobr e a conservaçã o da na tur ez a

1. Eu prec iso de maior contato com a na tureza p ara se r feliz2. Às ve ze s, quando estou triste, enc ontro consolo na nature za3. Estar na nature za é um gra nde re dutor de stre ss par a mim

1. P rec isamos pre serva r os re cur so s natura is par a mante r uma e le vada qua lida de de vida2. Uma das razões ma is importante s pa ra a c onservaç ão dos r ec ursos natur ais é a sse gurar um elevado padr ão de vida3. A prese rva ção de área s selvagens é impor tante para a c onserva çã o dos recursos naturais**4. C onta nto que uma alta qua lida de de vid a p ossa ser mantida, a ur banização c ontínua é uma boa idé ia

F onte: Ela borad o pe los autores e ad aptado de Thompso n e B arton, 1994.No ta : * Af ir mativas cla ssificadas na esca la origina l de Thompson e B arton (199 4) c omo antropocê ntr ic as. ** Afirmativa classificada na escala or iginal de Thomp son e B arton (1994) como eco cêntric a

Apá tico

Ecocêntrico

Antropocêntrico

Ao relacionar a escala de preocupações a respeito das consequências dos problemas ambientais com a escala que verifica os motivos pró-ambientais, constatou-se, conforme TAB. 1, a seguir, a existência de uma relação positiva entre os motivos ecocêntricos e as preocupações altruístas, confirmando a hipótese H1. Ribeiro (2010) afirma que um salto em termos de consciência e de ação ecológica se dá quando se atua com respeito geral a tudo o que vive e com benefício estendido ao planeta, aos seres vivos, e passa-se a adotar uma perspectiva ecocêntrica e não mais apenas antropocêntrica. O altruísmo pode ser mais relacionado com motivos ecocêntricos à medida que acredita na preservação da natureza como fator preponderante para a sobrevivência humana.

Apático Ecocêntrico AntropocêntricoPearson Correlation

-0,12 0,27** 0,08

Sig. (2-tailed) 0,08 0 0,24Pearson Correlation

-0,15* 0,32** 0,1

Sig. (2-tailed) 0,03 0,00 0,15Pearson Correlation

0,06 -0,01 0,01

Sig. (2-tailed) 0,37 0,85 0,84** Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).* Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).Fonte: SPSS

Resultados das correlações entre as escalar de Schultz e de Thompson e BartonTABELA 1

Altruísta

Biosférico

Egoísta

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Em sequencia foi possível confirmar a hipótese H2, conforme se observa na TAB. 1 uma relação negativa entre o motivo apático e a preocupação biosférica, considerando que quanto maior a preocupação do indivíduo com a natureza, menor será sua tendência a apresentar motivos apáticos. Essa relação foi também confirmada por Thompson e Barton (1994) quando estas mostraram que os indivíduos mais preocupados com a natureza demonstram uma menor propensão a apresentar motivos apáticos a esse respeito.

A correlação de 0,32 entre o motivo ecocêntrico e a preocupação biosférica, observada na TAB. 1, confirma a hipótese H3. Essa correlação corrobora com o resultado encontrado na pesquisa de Amérigo et al. (2005) quando esta afirma que indivíduos com motivos ecocêntricos possuem uma maior tendência a se preocuparem com as consequências dos problemas ambientais sobre a natureza de modo geral, desenvolvendo, por sua vez, preocupações biosféricas em relação ao meio ambiente.

Visando verificar se os motivos e preocupações traduzem-se em ações pró-ambientais foi realizada uma regressão binária logística. Os resultados apresentados na TAB. 2 indicam que existe uma relação positiva significativa (sig 0,005) entre o motivo ecocêntrico e as ações pró-ambientais, confirmando a hipótese H4. Observa-se também que existe uma relação negativa entre os motivos apáticos e antropocêntricos e a ação, ainda que não significante. Este resultado ratifica as descobertas das pesquisas realizadas por Thompson e Barton (1994) quando estas encontram significativa relação entre a predisposição de participação em organizações ambientais e motivos ecocêntricos.

B S.E. Wald df Sig. Exp(B)Step 1a Apático_N -0,219 0,146 2,244 1 0,134 0,804

Ecocêntrico_N 0,418 0,15 7,78 1 0,005* 1,518Antropocêntrico_N -0,289 0,15 3,7 1 0,054 0,749Constant 0,121 0,146 0,682 1 0,409 1,128

Fonte: SPSSNota: *sig<0.05. O valor estatisticamente significativo é apresentado em negrito.

Correlação entre motivos e açõesTABELA 2

Na TAB. 3 observa-se que as preocupações altruístas e biosféricas apresentam

uma relação positiva com a ação, sendo essa relação não significativa para o segundo caso, rejeitando-se com isso a hipótese H5. Observa-se ainda uma relação negativa e não significativa entre as preocupações egoístas e a ação.

B S.E. Wald df Sig. Exp(B)Step 1a Altruísta_N 0,464 0,15 9,532 1 0,002 1,59

Biosférico_N 0,242 0,143 2,887 1 0,089 1,274Egoísta_N -0,079 0,144 0,301 1 0,583 0,924Constant 0,121 0,142 0,727 1 0,394 1,129

Fonte: Elaborado pelos autores.Nota: *p<0.05. O valor estatisticamente significativo é apresentado em negrito.

TABELA 3Correlação entre preocupações e ações

Foi realizada a ANOVA para verificar a existência de diferenças entre homens e

mulheres comparando-se os seis constructos obtidos na análise fatorial. Somente foi encontrada uma única diferença entre os constructos e o gênero, onde a média das respostas das mulheres foi significativamente maior em relação ao motivo ecocêntrico, o que confirma a hipótese H6. Ao verificar a possibilidade de o gênero feminino possuir uma maior tendência a transformar os motivos e preocupações ambientais em ação, constatou-se que 54% das

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mulheres demonstraram interesses em participar de ações voluntárias em prol do meio ambiente. Conforme Barreiros et al. (2004) e Stern et al. (1998), é possível evidenciar uma maior intenção das mulheres em promover comportamentos pró-ambientais. Todas as pessoas que se disponibilizaram a participar de trabalhos voluntários deixaram e-mail para contato. Além disso, as mesmas declararam possuir uma média de 5 horas semanais disponíveis, sendo isto um indício de comprometimento em traduzir a preocupação ambiental em ação.

5 Considerações Finais

As investigações realizadas demonstraram que os estudantes de administração apresentaram uma relação positiva entre motivos ecocêntricos e preocupações altruístas, fazendo com que esta possa ser mais relacionada com a preservação da natureza como fator importante para a sobrevivência humana. Constatou-se uma relação antagônica entre os motivos apáticos e as preocupações biosféricas, identificando que os alunos de administração mais preocupados com a natureza demonstram uma menor propensão a apresentar motivos apáticos a esse respeito. Verificou-se ainda a existência de uma relação direta entre indivíduos biosféricos e ecocêntricos, demonstrando que os alunos com motivos ecocêntricos possuem uma maior tendência a se preocuparem com as consequências dos problemas ambientais sobre a natureza.

Uma relação positiva foi encontrada entre o motivo ecocêntrico e as ações pró-ambientais, admitindo que alunos ecocêntricos possuem maior propensão para ações de conservação da natureza. Por sua vez, não foi observada uma relação significativa entre as preocupações biosféricas e a predisposição à ação, sendo evidenciada uma vinculação significativa somente entre preocupação altruísta e ações pró-ambientais. Constato-se também uma diferença significativa entre o gênero feminino e o motivo ecocêntrico.

A compreensão das relações encontradas poderá auxiliar para um melhor direcionamento da abordagem da temática de sustentabilidade nos cursos de administração, de modo a melhorar a formação multidisciplinar dos estudantes, principalmente no que diz respeito ao enfoque para a avaliação dos impactos das atividades dessa profissão no contexto social e ambiental. Essas relações podem servir como importante ferramenta de compreensão do comportamento humano diante da temática ambiental, tendo em vista que dependendo da conexão entre os motivos e preocupações voltados para a ação, pode-se identificar uma melhor forma de direcionar a educação ambiental nas diversas áreas do curso de administração.

O presente trabalho não teve como pretensão a classificação dos indivíduos nas categorias estudadas, e sim a identificação de uma relação que sirva de ferramenta para uma maior compreensão do perfil dos estudantes do curso de administração. Essa identificação poderá servir como base para futuras estratégias de inserção da temática sustentável no ensino superior.

Finalmente, apesar de a pesquisa possuir limitações próprias de uma amostra por conveniência, ela serve como subsídio para novas investigações sobre os motivos e preocupações pró-ambientais. Para um maior entendimento das relações evidenciadas neste estudo, torna-se importante a aplicação de outros instrumentos com diferentes amostras formadas por estudantes de outras regiões geográficas, diferentes cursos e instituições de ensino superior. O uso de métodos qualitativos também possibilitaria um maior aprofundamento nas relações evidenciadas.

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