Educação e cotidiano no brasil

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  • 1. 2009SOCIOLOGIA DA EDUCAOSolange Menezes da Silva Demeterco2. edioEsse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br

2. IESDE Brasil S.A.Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200Batel Curitiba PR0800 708 88 88 www.iesde.com.brTodos os direitos reservados. 2003-2009 IESDE Brasil S.A. proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza-o por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.Capa: IESDE Brasil S.A.Imagem da capa: Jupiter images / DPI imagesCIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJD449s2.ed.Demeterco, Solange Menezes da Silva.Sociologia da educao / Solange Menezes da Silva Demeterco. - 2.ed. - Curitiba, PR :IESDE Brasil, 2009.352 p.Inclui bibliografiaISBN 978-85-387-0265-81. Sociologia educacional. I. Inteligncia Educacional e Sistemas de Ensino.II. Ttulo.09-1973 CDD: 306.43CDU: 316.74:37Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 3. Doutora e Mestre em Histria do Brasil pela UFPR. Especialista em Currculo ePrtica (Tutoria a Distncia) pela PUC-Rio. Graduada em Cincias Sociais pelaUFPR.Solange Menezes da Silva DemetercoEsse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 4. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 5. SumrioA sociologia e a educao......................................................13O que sociologia? .................................................................................................................. 14A sociologia da educao e alguns conceitos bsicos................................................. 19A socializao e seus agentes................................................................................................ 20A sociologia da educao.......................................................33Os primeiros grandes socilogos:a educao como tema e objeto de estudo..................................................................... 34As teorias sociolgicas e a educao.................................................................................. 43A sociologia da educao no Brasil....................................51Formao da sociedade brasileira:economia agrrio-exportadora e economia industrial................................................ 52A sociologia continua seu caminho: dos anos 1970 aos dias atuais........................ 55Educao e famlia....................................................................63As transformaes da famlia................................................................................................. 64Educao e famlia no Brasil................................................................................................... 70Concepes de infncia e juventude.................................81O sentimento de infncia o trabalho de Aris.............................................................. 82O surgimento das escolas e as vises da infncia.......................................................... 85Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 6. A escola como instituio social..........................................99A escola como organizao..................................................................................................103Algumas possibilidades.........................................................................................................105A escola e o controle social..................................................113Padres sociais de comportamento..................................................................................116A escola e o desvio social.....................................................133Comportamentos desviantes..............................................................................................135Conformidade versus conformismo...................................................................................137A mudana social....................................................................151Fatores que desencadeiam a mudana............................................................................154A ao pedaggica e a mudana social...........................................................................157A estratificao social............................................................169Formas de estratificao social............................................................................................173A educao e a estratificao social..................................................................................177A mobilidade social................................................................189Tipos de mobilidade social...................................................................................................190Educao como fator de mobilidade social....................................................................193Educao e movimentos sociais........................................203As formas de luta e ao coletiva.......................................................................................206Alguns tipos de movimentos sociais e educao.........................................................210Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 7. A educao e o Estado..........................................................223O conceito de Estado e suas funes................................................................................226Estado e educao no Brasil.................................................................................................228Educao e desenvolvimento.............................................241As desigualdades sociais e o subdesenvolvimento.....................................................245Origens histricas do subdesenvolvimento...................................................................247As desigualdades sociais e o papel transformador da educao...........................248Educao e cotidiano no Brasil...........................................259O difcil cotidiano dosmenos iguais...............................................................................263Problemas da educao no Brasil......................................275O fracasso escolar: uma tentativa de explicao..........................................................279A profisso de professor.......................................................293A questo da formao profissional..................................................................................295O ofcio de professor e seu papel na sociedade............................................................298Perspectivas da educao no Brasil..................................311A questo da diversidade cultural o multiculturalismo..........................................315A democratizao da educao..........................................................................................317...Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 8. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 9. ApresentaoO que voc espera dessa disciplina? Quais so suas expectativas em relao so-ciologia? No que a sociologia se aproxima da educao? Essas e outras perguntasnos acompanharo a partir daqui.Mas, antes disso, seria interessante esclarecer algumas questes que nortearonosso trabalho. Inicialmente, deve-se destacar que o que se apresenta aqui umasntese dos temas mais relevantes da sociologia enquanto Cincia Social, preocu-pada em tentar explicar a vida social e as questes relacionadas vida do homemem sociedade, em seus mltiplos aspectos. No se pretendeu elaborar um manuale muito menos um compndio que pretendesse dar conta de todos os temas e/ou conceitos relacionados a essa cincia. Optou-se por privilegiar alguns tpicosque so considerados bsicos e depois relacion-los com a questo da educao.A sociologia da educao tem como objetivo pesquisar e analisar a educao emseus aspectos sociolgicos, isto , os fenmenos sociolgicos.O objetivo maior procurar conhecer e analisar a inter-relao entre o homem, asociedade e a educao, luz de diferentes teorias sociolgicas, bem como dasprticas pedaggicas ratificadoras e/ou transformadoras dos contextos cultural,social, poltico, econmico e ecolgico.A proposta despert-lo para discusses futuras a partir do embasamento tericoque essa cincia oferece e, sempre que possvel, trazer o debate para a realidadeeducacional brasileira. Para tanto, sugere-se alguns textos de apoio, bem comoatividades para autoavaliao. Indicaes de leituras complementares e filmesacompanharo o texto-base, e so importantes para aprofundar algum assunto/tema que se considere relevante.Vale lembrar tambm que nada substitui a leitura dos prprios mestres, no casoaqui, osfundadoresda sociologia e da sociologia da educao. Portanto, no de-sanime em buscar na prpria fonte as respostas s suas inquietaes. V em frente!A disciplina pretende desenvolver mdulos que possibilitem a compreensoda constituio da realidade social e sua relao com a educao, por meio doestudo de aspectos dos processos sociais presentes na produo e configuraodo sistema educacional. Assim, o livro est estruturado em 18 unidades, em quese prope uma discusso sobre a relao entre a sociologia e a educao, apresen-tando as contribuies dos autores clssicos e sua percepo acerca das questesrelacionadas educao (A Sociologia da Educao) e contextualizando a cinciano Brasil (A Sociologia da Educao no Brasil).A partir da, tem-se a discusso de alguns temas/conceitos fundamentais paraa reflexo aqui proposta. Na unidade intitulada educao e famlia apresenta-seuma sntese das transformaes pelas quais passou a famlia ao longo do tempoe sua importncia quando se discute educao. Para tanto, tambm se faz ne-cessrio observar como o sentimento de infncia surge e se modifica a partir doque se tem, inclusive o surgimento dos colgios e novas vises da infncia e dajuventude (concepes de infncia e juventude).Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 10. A discusso sobre a escola luz de alguns conceitos sociolgicos compe asprximas unidades: a escola como instituio social, a escola e o controle social e aescola e o desvio social. Em seguida, so abordados outros conceitos tambm im-portantes para a sociologia da educao: a mudana social, a estratificao social,a mobilidade social, educao e movimentos sociais e a educao e o Estado.Finalmente, so apresentados alguns temas mais amplos que dizem respeito rea-lidade do pas (educao e desenvolvimento, educao e cotidiano no Brasil e pro-blemas da educao no Brasil), da escola e do professor (a profisso de professor),alm de chamar a ateno para questes que exigem muita reflexo por parte dodocente, no sentido de avaliar sua prtica pedaggica (perspectivas da educaono Brasil).Vale ressaltar, enfim, que vivemos um momento privilegiado na histria, uma vezque a presena da sociologia no currculo est intimamente ligada democratiza-o do acesso ao conhecimento cientfico, com vistas ao incremento da discussoconsciente, racional e bem fundamentada do educador na realidade social.Bom trabalho!Solange Menezes da Silva DemetercoEsse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 11. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 12. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 13. Solange Menezes da Silva DemetercoA sociologia nasce enquanto cincia como uma tentativa de explicar asmudanas sociais produzidas num novo momento histrico, num contex-to de grandes e profundas transformaes sociais, cujos marcos principaisforam a Revoluo Industrial, a Revoluo Francesa e a formao dos Es-tados Nacionais. Esse momento de mudanas radicais na sociedade e namentalidade das pessoas a chamada modernidade , em decorrncia dosurgimento e da consolidao do capitalismo como modo de produo,trar consigo a necessidade de se pensar teoricamente as novas deman-das que surgem. Que sociedade essa que surge?Mas por que sempre que se fala em sociologia no falta quem per-gunte para que ela serve? Por que no acontece o mesmo com a maioriadas outras cincias? A resposta est relacionada com a prpria naturezadessa cincia, que tem o homem em interao e a sociedade como objetode estudo. A questo que se coloca de imediato por que isso se tornounecessrio? O que teria mudado tanto na vida do homem ou da sociedadecomo um todo que demandariam a existncia de uma nova cincia paradar conta de explicar essas transformaes? Assim, est feito o convite reflexo sobre a relao existente entre sociedade e educao a partir daperspectiva sociolgica.A sociologia da educao uma cincia produtora de conhecimen-tos especficos que levam discusso da democratizao e do papel doensino, promovendo uma reflexo sobre a sociedade e seus problemasrelacionados educao, tendo como subsdios alguns conceitos socio-lgicos como processos sociais, socializao, poder, status, grupo social,ao social, mudana social e outros.A sociologia e a educaoEsse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 14. 14Sociologia da EducaoVamos procurar perceber quais so os valores sociais que definem os obje-tivos da educao, do ensino e seus mtodos, alm de tentar estabelecer as re-aes existentes entre a sociedade e o que se privilegia ensinar, e como isso feito no cotidiano da escola e fora dela, por outras instituies sociais tais comoa famlia, por exemplo. fundamental entendermos que os sistemas educacio-nais relacionam-se com as instituies sociais e com as determinantes culturaisque regem a vida em sociedade. importante tambm a discusso sobre o papel do educador no atual con-texto educacional, bem como alguns dos vrios problemas educacionais brasi-leiros. O saber docente tem sua especificidade a partir do princpio de que umofcio que exige uma capacitao que, na verdade, nunca se esgota. Alm disso,o papel da escola cresceu e se modificou, exigindo ainda mais de todos os atoresenvolvidos no processo educativo.O que sociologia?Podemos comear tentando esclarecer o que a sociologia, lembrando queos homens diferenciam-se dos animais por sua capacidade de se relacionar demaneiras diferentes, incluindo a prpria linguagem, cdigo que lhe possibilitacomunicar-se com outros homens e, assim, tornar-se um ser social. E qual a im-portncia disso para ns? Esse um dado fundamental para entendermos comoo homem biolgico torna-se um ser social capaz de ter e produzir cultura queenvolve a todos e modela nossa personalidade e quando se internalizam regrassociais, maneiras de ser, de pensar e de agir, transmitidas atravs do processo desocializao. Laraia (1989, p. 46) nos diz que o homem o resultado do meiocultural em que foi socializado.Mas o que seria a cultura? O homem, ao longo do tempo, vem procurandoorganizar a vida em sociedade, usar os recursos naturais de diferentes manei-ras, o que acaba por gerar diversas formas de ver e entender a realidade. Essasdiferenas podem eventualmente desencadear confrontos, conflitos e estranha-mento entre culturas e indivduos. Assim, conforme Santos (1986, p. 8), culturadiz respeito humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dospovos, naes, sociedades e grupos humanos. Ainda de acordo com o autor,haveria duas concepes bsicas de cultura: a primeira concepo de culturaremete a todos os aspectos de uma realidade social; a segunda, refere-se maisespecificamente ao conhecimento, s ideias e crenas de um povo(p. 23).Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 15. A sociologia e a educao15Istockphoto.Istockphoto.FernandoPeresRodrigues.O homem precisa compreender-se, compreender os outros e buscar respos-tas para as perguntas que a vida lhe coloca, participando de forma diferentede sua cultura. Ao fazer isso, est sempre produzindo cultura e internalizandopadres e caracteres culturais. A cultura dinmica e opera de vrias formas,condicionando a viso de mundo do homem e interferindo no plano biolgico.Finalmente, preciso destacar que a cultura dinmica e tem sua prpria lgica(Laraia, 1989). Tentar captar essa lgica o comeo para se fugir do etnocen-trismo, que ignora as diferenas e a pluralidade cultural, como sendo algo quedeveria agregar e no separar os homens.Particularmente, como educadores, devemos sempre lembrar que o modode ver o mundo, as apreciaes de ordem moral e valorativa, os diferentes com-portamentos sociais e mesmo as posturas corporais so assim produtos de umaherana cultural, ou seja, o resultado da operao de uma determinada cultu-ra(Laraia, 1989, p. 70). Caso contrrio, cai-se no chamado etnocentrismo que,ainda conforme Laraia (p. 75), constitui-se nacrena de que a prpria sociedade o centro da humanidade, ou mesmo a sua nica expresso, o que desencadeiaa autodeterminao de alguns povos, a intolerncia e o preconceito nos maisvariados graus.Vimos, ento, que a sociologia uma cincia e, como tal, deve ter uma baseterico-metodolgica que serve para estudar os fenmenos sociais, tentandoexplic-los e analisando os homens em suas relaes de interdependncia. Utili-za-se de estratgias e tcnica de pesquisa que lhe so prprias e que lhe garanteo carter de cientificidade. Afinal, conforme nos diz Thiollent (1987, p. 21),[...] sem investigao concreta, a sociologia no est longe de ser um discurso filosfico oupoltico arbitrrio. Por outro lado, sem problemtica terica, a sociologia considerada apenascomo enquete e degenera em vulgar pesquisa de opinio ou em pesquisa administrativatotalmente permeada pelo empirismo e pela ideologia a curto prazo dos utilizadores dapesquisa. O uso de questionrios e entrevistas no sinnimo de empirismo quando estastcnicas, consideradas como meio de captao de informao, a ser criticada, e no comofins em si, so submetidas ao controle metodolgico e subordinadas a uma verdadeirapreocupao de teoria sociolgica.Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 16. 16Sociologia da EducaoComo se pode apreender das palavras do autor, a sociologia dispe de baseterico-conceitual-metodolgica especfica e da escolha dos recursos meto-dolgicos que sero empregados pelo socilogo em seu trabalho, de algumaforma. Deve estar a servio de sua pesquisa e demanda sempre uma anlise cr-tica dos dados, para que se configure como pesquisa consistente e que atendaaos objetivos da sociologia enquanto cincia.Assim, compreender as diferentes sociedades e culturas um dos objetivosda sociologia, que ir tomar como objeto de estudo exatamente essa nova so-ciedade que se configura a partir das transformaes pelas quais passou a hu-manidade, a partir do final do sculo XVIII.Essas mudanas esto relacionadas com as revolues burguesas que eclo-dem num momento em que a ordem reinante no conseguia mais dar respostass demandas das populaes cada vez mais empobrecidas e oprimidas, em meio nobreza, que usufrua de privilgios estabelecidos s custas do trabalho e daexplorao desse povo, durante o chamado Antigo Regime1.Nesse contexto, a Revoluo Francesa constitui-se num dos momentos de maiorexpresso na histria do Ocidente quando se fala em movimentos sociais e po-lticos apresentando uma pro-posta baseada em ideais comoliberdade, igualdade e fraternida-de. Mesmo deixando muito a de-sejar em relao a esses valoresrevolucionrios, atualmente nose pode negar que o seu podertransformador se concretizouem vrias regies do mundo e re-percutiu a ponto de mudar parasempre a histria do homem e dasua vida em sociedade.Sendo decisiva para a transio do Feudalismo2ao capitalismo, essa revolu-o aconteceu num perodo de violentos conflitos e lutas sociais, levando aopoder uma nova classe social, a burguesia, que viria a acabar com os privilgiosfeudais e colocar abaixo a aristocracia que deles usufrua. Essa elite social viviaindiferente pobreza da maioria, especialmente as populaes rurais, que se1Termo que designa a organizao poltico-institucional e a ordem social vigente na Frana, at a Revoluo de 1789, pautado na monarquiaabsoluta, sociedade estamental e direitos feudais.2Feudalismo foi um fenmeno histrico restrito Europa na Idade Mdia; tratava-se de um sistema econmico, poltico, social e cultural, definidopelas relaes servis de produo, em que o senhor o proprietrio da terra e o servo depende dele, devendo cumprir obrigaes servis, tanto daprestao de servios gratuitos quanto na entrega de parte da produo agrcola.Domniopblico.Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 17. A sociologia e a educao17debatiam com a alta dos preos, as ms colheitas, o xodo rural em razo doavano das atividades txteis, o descaso e o abandono. As graves repercussessociais e econmicas desse quadro foram a base que impulsionou os revolucio-nrios. Essa revoluo ultrapassou os limites da Frana e seus ideais se estende-ram por toda a Europa, ameaando hierarquias e privilgios.Como se viu, alm da Revoluo Francesa, outros momentos de ruptura ge-raram transformaes significativas para o mundo. A Revoluo Industrial cons-tituiu-se em outro momento importantssimo para entendermos o contexto dosurgimento da sociologia enquanto cincia. Trata-se de acontecimentos quemudaram a histria para sempre.A partir da instalao definitiva do capitalismo e da nova sociedade industrial,tem-se um modelo de produo pautado na industrializao, que dissocia tec-nologia, natureza e homem. Ocorreu inicialmente na Inglaterra, o pas que criouas condies polticas econmicas que possibilitaram a implantao dos ideaisburgueses. Dentre os fatores que contriburam para esse pioneirismo, pode-secitar a superioridade tecnolgica e cientfica, a consolidao da monarquia par-lamentar, a disponibilidade de mo de obra, a explorao do carvo como fontede energia e a acumulao de bens de capital.Novas formas de organizao, que de certa maneiraabalarama ordem socialestabelecida, trouxeram inquietaes aos setores mais conservadores da socie-dade europeia da poca e representaram mais que uma revoluo tcnico-cien-tfica. A separao do homem, dos meios de produo, do local de trabalho e oprocesso de urbanizao que cresceu intensamente, trazem consigo uma pro-funda mudana social que transformou a vida dos homens com novas formasde trabalho, elevados custos sociais e ambientais. A explorao dos recursos na-turais se realiza numa intensidade nunca vista e sem nenhum critrio; que nofosse o avano da prpria industrializao.Alm das novas formas de trabalho,o prprio significado do que era o tra-balho mudou nesse momento. O traba-lho, que antes era visto como um casti-go divino em razo do pecado original,adquiriu novo sentido. Tornou-se umacondio bsica para a salvao e, almdisso, uma forma de se conseguir ri-queza, prosperidade e dignidade. OIndstria de carros. Birmingham, 1960.Domniopblico.Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 18. 18Sociologia da Educaotrabalho passa a ser visto e vivido de outra maneira, no mais como algo humi-lhante, degradante ouprivilgiodos escravos (tal como era visto na antiguidade)ou dos servos (no mundo feudal). Adquire um carter de atividade que dignifica equalifica o homem, podendo gerar lucro e riqueza.Passa a haver uma separao entreo trabalhador e o produto final doseu trabalho, uma vez que o capitalis-ta quem passa a exercer o controletcnico do processo de produo e adeter os chamados meios de produo(terra, ferramentas e instrumentos detrabalho). O trabalhador tem apenassua fora de trabalho e passa a vend--la em troca de um salrio, alienando--se do processo e perdendo a visoglobal da produo.A transio do sculo XIX para osculo XX foi marcada por movimentosoperrios e sindicais que j eram frutodos novos ideais iluministas e das revo-lues acima citadas que abalaramainda mais a ordem social estabeleci-da, exigindo ferramentas para pensar oconflito e as contradies decorrentesdesses fatos. A sociedade de classes que emerge nesse novo contexto e que viriasubstituir a ordem feudal, passa a ser marcada pela diviso do trabalho que, porsua vez, traz conquistas e frustraes para todos os atores sociais. A sociedadeindustrial vive crises e conflitos, especialmente pelo rompimento entre o capitale o trabalho, que divide e agita a sociedade como um todo.Ao lado dessas, outras mudanas aconteceram, na maneira das pessoas vive-rem, morarem, trabalharem e se organizarem em sociedade. As cidades mudame muitas delas, especialmente as industriais, transformam-se em locais insalu-bres e desagradveis para os operrios viverem. Faltam moradias (e as existen-tes, em sua maioria, acomodam muitas pessoas de forma precria); as jornadasde trabalho so longas e exaustivas; crianas, idosos, gestantes e mulheres, emgeral, so empregados em pssimas condies. A noo de privacidade emergee transforma profundamente a vida em famlia, a concepo de criana, juven-Mulheres trabalhando em indstria de whiskyem Louisville, Kentucky, EUA.Domniopblico.Domniopblico.Parque industrial, 1955, EUA.Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 19. A sociologia e a educao19tude e as relaes entre os homens. Hbitos, costumes e ideias se transformamrapidamente, gerando, inclusive, uma nova mentalidade e a separao entre opblico e o privado explicitada, sobretudo, pela separao do local de trabalhoe moradia.As novas formas de organizao do trabalho e da famlia seguiram modifi-caes. Novas demandas passam a existir, sugerindo que o corpo terico e me-todolgico, do qual se dispunha naquele momento, no seria suficiente paraanalisar e conseguir explicar as questes que se colocavam diante dos olhos dosespectadores de todas essas transformaes to importantes para a humanida-de. Isso foi decisivo para a constituio da sociologia como cincia, uma vez queser a rea do conhecimento que ter amissode pensar essa nova sociedadeque surgia.Do que vimos at agora, podemos concluir que o homem passa a ser o grandeobjeto de estudo da nova cincia num contexto que estava se tornando cadavez mais racional e cientfico em detrimento s anlises baseadas nas explica-es e dogmas religiosos, filosficos e do senso comum. Essa inquietude intelec-tual estimulou e instigou a reflexo sobre o homem, a vida social e a sociedadecomo objetos de estudo. Com nomes como Comte (paida sociologia com suafsica social), Durkheim e Marx, a sociologia se consolida como cincia e abrecaminho para novas teorias e mtodos que vo se constituindo medida queavanam as reflexes sobre os consensos, os conflitos e os problemas geradospor essa sociedade capitalista e industrial em suas mltiplas manifestaes.A sociologia da educaoe alguns conceitos bsicosE assim como existem vrias culturas e vrias sociedades, tem-se tambm maisde uma sociologia. Dentre essas vrias sociologias, a sociologia da educao ci-ncia que investiga a escola enquanto instituio social, analisando os processossociais envolvidos assim como as demais sociologiasespecializadas, tm comobase as teorias sociolgicas. O que importa discutir, neste momento, que todasaquelas transformaes vividas pela sociedade trouxeram novos temas para dis-cusso no campo da educao entendida aqui tal como Meksenas (2002, p. 19),como o conjunto das vriasmaneiras de transmitir e assegurar a outras pessoasos conhecimentos de crenas, tcnicas e hbitos que um grupo social j desen-volveu a partir de suas experincias de sobrevivncia.Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 20. 20Sociologia da EducaoSegundo outro autor, a sociologia da educao[...] pe em relevo a transmisso da cultura atravs da educao sistemtica, parassistemticae assistemtica, bem como a mtua influncia entre a educao e os grupos sociais, asinstituies sociais, a estratificao social, o controle social, o desvio social, o desenvolvimentosocial,amudanasocialetc.Enfoca,tambm,asrelaesintergeracionaiseocondicionamentosociocultural da personalidade. Estuda, ademais, a escola como instituio social, como gruposocial e o status e papis na organizao escolar. Apresenta, ainda, como a educao se situanas diversas formaes sociais [...]. Investiga, por fim, as perspectivas da educao. (PESSOA,1997, p. 15)Partindo desse conceito, pode-se perceber como o campo de estudos da so-ciologia da educao pode ser amplo e diversificado, uma vez que no se podeesquecer que a educao e o processo educativo no esto descolados da socie-dade na qual esto inseridos.Vimos que o conceito de cultura fundamental para a sociologia. Os con-ceitos a esse relacionados so fundamentais para se pensar sociologicamentea educao, em sua relao com o contexto social em que acontece o proces-so educativo. No se pode esquecer que tanto o educando quanto o educador,assim como todo o sistema educacional, esto inseridos nesse contexto, sendoprodutores e resultados dessa interao que acontece durante todo o tempo,construindo social e historicamente os fatos e eventos que sero ou no elei-tos pela sociologia para serem analisados. Deve-se frisar aqui que a sociologiapode ter um carter conservador ou transformador, conforme a teoria que sebusca para pautar as pesquisas e anlises sociolgicas. Na verdade, o que vocdeve ter em mente que o fenmeno educativo relevante socialmente erequer, portanto, uma anlise terica especfica e detalhada. importante ressaltar que os primeiros tericos da sociologia no analisaramdiretamente os problemas educacionais, o que no os impediu de perceberem aligao entre o sistema escolar e o restante da sociedade, discutindo questes re-lacionadas educao, seus diferentes atores, os projetos educacionais, a questodo poder, a questo curricular, entre outras. A escola surge como uma instituioque ter como uma de suas funesprepararo indivduo para a vida em socieda-de, alm de desenvolver suas potencialidades e capacidades individuais.A socializao e seus agentesPara se discutir a socializao e outros temas ligados sociologia e sociolo-gia da educao necessrio explicar alguns conceitos bsicos tais como pro-cesso social, interao social, instituio social, sistema escolar, poder, status,papel social e outros.Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 21. A sociologia e a educao21JupiterImages/DPIimages.Podemos comear pela noo deinterao social, processo por meiodo qual o homem se constri en-quanto ser social, isto , adquire seucarter de humanidade, diferencian-do-se de outros seres vivos. Ao estarem relao a outro, o homem conce-be sua identidade.A ideia de processo social bsicaparaseentenderaprpriadinmicadasociedadequenoesttica,querdizer,que no est parada; mas, pelo contrrio, est em constante movimento. Trata--se da maneira como os atores sociais se relacionam ou no. a comunicaoque garante que o ser biolgico se torne um ser social e socivel. Podem serprocessos associativos (que tendem a aproximar) ou dissociativos (que tendema separar), sendo que os mais comuns so o isolamento, o contato, o conflito, acompetio, a interao, a cooperao, a adaptao, a acomodao e a assimila-o. Em diferentes graus, cada um deles implica uma maior ou menor proximi-dade entre os indivduos, de acordo com seus interesses, que ligam-se classesocial, ao status e aos papis desempenhados pelos indivduos.O conceito de classe social, por sua vez, relaciona-se com mobilidade social,diferentemente da noo de estamentos3, que se baseavam em hierarquia e/oucdigos de honra, muitos ligados prpria condio de nascimento. De acordocom Vieira (1996, p. 58), as classes sociais[...]organizam-seemcamadassociaisfundadasnaseparaoentretrabalhadoreseproprietriosdos meios de produo, s vezes com conscincia social correspondente s suas condies deexistncia [...] e admitem mobilidade entre si, abrindo-se aos movimentos sociais e revelandotambm conflitos, principalmente quanto distribuio do poder entre elas, na disputa sobreo domnio econmico, poltico e intelectual na sociedade industrial.J status social definido socialmente e diz respeito ao lugar ou posioque o indivduo ocupa na estrutura social, de acordo com o consenso do gruposocial, podendo advir mais ou menos prestgio, conforme os elementos que odeterminam e as funes a ele relacionadas. A partir dessa posio, cabero aoindivduo determinados papis, que podem ser definidos como conjuntos deimagens e expectativas que so ligadas a cada status, determinando como aspessoas devero se comportar em suas relaes com ocupantes de status supe-rior e/ou inferior.3Estamento uma camada social semelhante casta, porm, mais aberta. Numa sociedade estamental, a possibilidade de ascenso social difcil,mas no impossvel como na sociedade de castas. A sociedade feudal um exemplo de sociedade estamental (OLIVEIRA, P. dos Santos. Introduo Sociologia. 24. ed. So Paulo: tica, 2003. p. 240).Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 22. 22Sociologia da EducaoUm indivduo tem tambm vrios papis na sociedade. Podemos dar o exem-plo do professor: em determinadas sociedades, uma categoria social que temcerto prestgio e ao mesmo tempo exerce o papel que se espera dele enquantotal alm de desempenhar tambm o papel de marido, pai, membro de umclube etc. Na verdade, o que est em jogo aqui uma relao de poder, visto queo comportamento dos indivduos est ligado aos papis que desempenham eao seu status na sociedade, o que, por outro lado, implica em normas e sanesque compem esses papis. A superioridade de um indivduo advm do poder,isto , da fora, do prestgio e do reconhecimento que o grupo v nele ou lheatribui, a partir de sua posio social.Toda essa discusso nos leva necessidade de explicitar melhor o que vema ser socializao, fundamental para se entender o processo social e tambm oprocesso educativo. A criana quando introjeta valores e regras a partir da famlia,principal grupo de socializao, est se capacitando para a vida em sociedade,garantindo inclusive a perpetuao do prprio grupo social (entendido como co-letividade) e a formao da sua personalidade. A famlia vista como um rgode controle social e agente da socializao na medida em que regula grandeparte do comportamento de seus membros, impedindo ou procurando impedirconduta que a sociedade considere condenvel(LENHARD, 1985, p. 115).No momento, preciso destacar a importncia da socializao para a forma-o da conscincia humana e social, da internalizao da cultura, que aconteceao longo da vida inteira. A difuso dos valores comuns que compem a culturade um grupo social se d de vrias formas, especialmente na atualidade, quandoos diversos meios de comunicao colocam-se ao lado da famlia e da escolacomo agentes da socializao. Como existem vrias culturas e vrias sociedades,pode-se deduzir que a socializao deve respeitar e considerar essa pluralidadecultural. E educao exerce um papel fundamental nesse processo, mesmo quese leve em conta que impossvel interiorizar a totalidade social.Mas conhecer os aspectos culturais deseu grupo possibilita a transformao deum indivduo em um ser social. A socializa-o comea na infncia e segue pela vidatoda, sempre que se interioriza aspectosda cultura.O processo educativo adquire cada vezmais importncia ao longo da vida, umaJupiterImages/DPIimages.Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 23. A sociologia e a educao23vez que pela ao educativa e no contexto da aprendizagem que se aprendeos papis que se deve representar. Sempre que houver um processo educativo,se estar falando de socializao. De acordo com Pessoa (1997, p. 26),[...] nessa altura da evoluo social, o processo de socializao assume um carter que exigea ao de pessoas especializadas e a criao de instituies voltadas para a tarefa educativa,em que os indivduos se socializam de forma diferenciada, em funo da posio ocupada nasociedade, em face da propriedade.Pode-se perceber ento, que a socializao e a educao so vivenciadas deforma diferenciada numa mesma sociedade.Texto complementarA formao da sociologia(BRASIL ESCOLA, 2009)No final do sculo passado, o matemtico francs Henri Poicar referiu-se sociologia como cincia de muitos mtodos e poucos resultados. Ao quetudo indica atualmente, poucos duvidam dos resultados alcanados pela so-ciologia. A sua realidade atestada pelas inmeras pesquisas dos socilogos,pela sua presena nas universidades e empresas e nos organismos estatais.Ao lado desta crescente presena da sociologia no nosso dia a dia, continua,porm, chamando a ateno de todos os que se interessam por ela, os fre-quentes e acirrados debates travados em seu interior sobre o seu objeto deestudo e seus mtodos de investigao.A falta de um entendimento comum entre os socilogos sobre a sua cin-cia possui, em boa medida, uma relao com a formao de uma sociedadedividida pelos antagonismos de classe. A existncia de interesses opostos nasociedade capitalista penetrou e invadiu a formao da sociologia. Esse con-texto histrico influenciou enormemente suas vises sobre como deveria seranalisada a sociedade, o que refletiu tambm no contedo poltico de seustrabalhos. Esse antagonismo deu origem ao aparecimento de diferentes tra-dies sociolgicas ou distintas sociologias, como afirmam alguns socilogos.No podemos esquecer que a sociologia surgiu num momento de grandeexpanso do capitalismo e, por isso mesmo, alguns socilogos otimistas as-Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 24. 24Sociologia da Educaosumiram, diante da sociedade capitalista nascente, que os interesses e osvalores da classe dominante eram representativos do conjunto da sociedadee que os conflitos entre as classes sociais eram passageiros.Os conservadores chamados de profetas do passado construram suasobras contra a herana dos filsofos iluministas. No eram intelectuais quejustificavam a sociedade por suas realizaes polticas ou econmicas. Aocontrrio, a inspirao do pensamento conservador era a sociedade feudal,com sua estabilidade e acentuada hierarquia social. No se interessavam emdefender uma sociedade moldada nos princpios defendidos pelos iluminis-tas, nem um capitalismo que se transformava mostrando sua faceta indus-trial e financeira. O fascnio que as sociedades da Idade Mdia exercia sobreesses pensadores conferiu s suas obras um forte sabor medieval. Por inte-resse direto, alguns deles eram defensores ferrenhos das instituies religio-sas, monrquicas e aristocrticas,em franco processo de desmantelamento.As ideias dos conservadores eram um ponto de referncia para os pionei-ros da sociologia, interessados na preservao da nova ordem econmica epoltica que estava sendo implantada. Adaptando, inclusive, algumas con-cepes dos profetas do passado s novas circunstncias histricas, pelaimpossibilidade total de retorno ao passado. entre os autores positivistas,como Saint-Simon, Auguste Comte e Emile Durkheim, que as ideias dos con-servadores exerceriam uma grande influncia. [...]Saint-Simon acreditava que a nova poca era a do industrialismo, quetrazia consigo a possibilidade de satisfazer todas as necessidades humanas econstitua a nica fonte de riqueza e prosperidade. Percebeu que no avanoque estava ocorrendo no conhecimento cientfico havia uma grande lacuna,nesta rea do saber, qual seja, a inexistncia da cincia da sociedade. Admi-tia, mesmo tendo uma viso otimista da sociedade industrial, a existncia deconflitos entre os possuidores e os no possuidores.Vrias das obras de Saint-Simon seriam retomadas por Auguste Comte(1798-1857), seu secretrio particular, pensador menos original, emboramais sistemtico que Saint-Simon, a quem deve suas principais ideias. Amotivao da obra de Comte repousa no estado de anarquia e de desor-dem de sua poca histrica. Segundo ele, as sociedades europeias encon-travam-se em um verdadeiro estado de caos social. Entendia que se as ideiasreligiosas no teriam mais foras para reorganizarem a sociedade, muitoEsse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 25. A sociologia e a educao25menos as ideias dos iluministas. Era extremamente impiedoso no ataque aesses pensadores, a quem chamava de doutores em guilhotina, vendo emsuas ideias o veneno da desintegrao social. Para ele, para haver coesoe equilbrio na sociedade, seria necessrio restabelecer a ordem nas ideiase nos conhecimentos, criando um conjunto de crenas comuns a todos oshomens. Comte considerava como um dos pontos altos de sua sociologia areconciliao entre aordeme oprogresso, pregando a necessidade mtuadesses dois elementos para a nova sociedade.Tambm para Durkheim, (1858-1917) a questo da ordem social seriauma preocupao constante. De forma sistemtica, ocupou-se em estabe-lecer o objeto de estudo da sociologia, assim como indicar o seu mtodode investigao. Foi atravs dele que a sociologia penetrou a Universidade,conferindo a essa disciplina o reconhecimento acadmico. Sua obra foi ela-borada em poca de crises econmicas constantes, quando o desempregoe a misria provocavam o acirramento das lutas de classes com os operrios,utilizando a greve como instrumento de luta e fundando seus sindicatos.Vivendo nesta poca em que as teorias socialistas ganhavam terreno,Durkheim no poderia ignor-las, tanto que em certo sentido, suas ideiasconstituam a tentativa de fornecer uma resposta s formulaes socialistas.Discordava das teorias socialistas mormente quanto nfase atribuda aosfatos econmicos para diagnosticar a crise das sociedades europeias. Acre-ditava que a origem dos problemas no era de natureza econmica, masoriginados na fragilidade da moral em orientar adequadamente o compor-tamento dos indivduos.Preocupado em estabelecer um objeto de estudo e um mtodo para asociologia, Durkheim dedicou-se a essa questo, salientando que nenhu-ma cincia poderia constituir-se sem uma rea prpria de investigao. Asociologia deveria ocupar-se com os fatos sociais que se apresentavam aosindivduos como exteriores e coercitivos. Isso quer dizer que o indivduoquando nasce j encontra a sociedade formada, criada pelas geraes pas-sadas, cuja organizao dever ser transmitida s geraes futuras atravsda educao.O seu pensamento marcou decisivamente a sociologia contempornea,principalmente as tendncias que se tm preocupado com as questes damanuteno da ordem social. A sua influncia fora do meio acadmico fran-cs comeou por volta de 1930, quando, na Inglaterra, dois antroplogosEsse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 26. 26Sociologia da Educao Malinowski e Radcliffe-Brown armaram, a partir de seus trabalhos, osalicerces do mtodo de investigao funcionalista (busca de explicao dasinstituies sociais e culturais em termos da contribuio que estas forne-cem para a manuteno da estrutura social). Nos Estados Unidos, a partir da-quela data, as suas ideias comearam a ganhar terreno no meio universitrio,exercendo grande fascnio em inmeros pesquisadores. No entanto, foramdois socilogos americanos, Mertom e Parsons, em boa medida, os respon-sveis pelo desenvolvimento do funcionalismo moderno e pela integraoda contribuio de Durkheim ao pensamento sociolgico contemporneo,destacando a sua contribuio ao progresso terico dessa disciplina.A formao e o desenvolvimento do conhecimento sociolgico crtico enegador da sociedade capitalista, sem dvida liga-se tradio do pensa-mento socialista, que encontra-se em Marx (1818-1883) e Engels (1820-1903)a sua elaborao mais expressiva. Esses pensadores no estavam preocupa-dos em fundar a sociologia como disciplina especfica. A rigor, no encon-tramos neles a inteno de estabelecer fronteiras rgidas entre os diferentescampos do saber, to ao gosto dos especialistas de nossos dias. Eles, emsuas obras, interligavam disciplinas como antropologia, cincia poltica, eco-nomia, procurando oferecer uma explicao da sociedade como um todo,colocando em evidncia as suas dimenses globais. Seus trabalhos noforam elaborados nos bancos das universidades, mas, frequentemente, nocalor das lutas polticas.A formao terica do socialismo marxista constitui uma complexa ope-rao intelectual, na qual so assimiladas de maneira crtica as trs principaiscorrentes do pensamento europeu do sculo passado, tais como o socialis-mo, a dialtica e a economia poltica. O socialismo pr-marxista, tambm de-nominadosocialismo utpico, constitua uma clara reao nova realidadeimplantada pelo capitalismo, principalmente quanto s suas relaes de ex-plorao. Marx e Engels, ao tomarem contato com a literatura socialista dapoca, assinalaram as brilhantes ideias de seus antecessores sem deixaremde elaborar algumas crticas a esse socialismo, a fim de dar-lhe maior consis-tncia terica e efetividade prtica. Assinalavam que as lacunas existentesEsse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 27. A sociologia e a educao27nesse tipo de socialismo possuam uma relao com o estgio de desenvolvi-mento do capitalismo da poca, uma vez que as contradies entre burgue-sia e proletariado no se encontravam ainda plenamente amadurecidas.Atuavam os utpicos como representantes dos interesses da humani-dade, no reconhecendo em nenhuma classe social o instrumento para aconcretizao de suas ideias. A filosofia alem da poca de Marx encontraraem Hegel uma de suas mais expressivas figuras. Como se sabe, a dialticaocupava posio de destaque em seu sistema filosfico. A tomarem contatocom a dialtica hegeliana, eles ressaltaram o carter revolucionrio, uma vezque o mtodo de anlise de Hegel sugeria que tudo o que existia, devido ssuas contradies, tendia a extinguir-se. A crtica que eles faziam dialticahegeliana se dirigia ao seu carter idealista. Assim, procuraram corrigi-la ,recorrendo ao materialismo filosfico de seu tempo.A inteno em conferir sociologia uma reputao cientfica encontraem Max Weber (1864-1920) um marco de referncia. Durante toda sua vida,insistiu em estabelecer uma clara distino entre o conhecimento cientfico,fruto de cuidadosa investigao, e os julgamentos de valor sobre a realidade. Abusca de uma neutralidade cientfica levou Weber a estabelecer uma rigorosafronteira entre o cientista homem do saber, das anlises frias e penetrantes e o poltico homem de ao e de deciso, comprometido com as questesprticas da vida. Essa posio deWeber, que tantas discusses tm provocadoentre os cientistas sociais, constitui, ao isolar a sociologia dos movimentos re-volucionrios, um dos momentos decisivos da profissionalizao dessa disci-plina. A ideia de uma cincia social neutra seria um argumento til e fascinantepara aqueles que viviam e iriam viver da sociologia como profisso.A sociologia por ele desenvolvida considerava o indivduo e a sua aocomo ponto chave da investigao. Com isso, ele queria salientar que o ver-dadeiro ponto de partida da sociologia era a compreenso da ao dos in-divduos e no a anlise das instituies sociais ou do grupo social, toenfatizadas pelo pensamento conservador.(Disponvel em: http://www.brasilescola.com/sociologia/formacao-dasociologia.htm. Acesso: em fev. 2009)Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 28. 28Sociologia da EducaoDicas de estudoAssista aos filmes indicados e reflita sobre eles.GerminalMostra a realidade dos operrios franceses nas minas de carvo, no final dosculo XIX, convivendo com a fome, a misria e as ms condies de trabalho,que acabam gerando conflitos e manifestaes contra os patres. O que aconte-ce nessa mina um retrato do que acontecia nas fbricas, em geral, nos primr-dios da Revoluo Industrial. Sem o amparo de uma rede de proteo social, ostrabalhadores eram expostos a todo tipo de explorao, em nome do alto lucrodos capitalistas. Observe as mudanas que j aconteceram na realidade das f-bricas at os dias atuais.Sociedade dos Poetas MortosO filme se passa num internato masculino, em meados de 1959, e apresentaum modelo de escola de ensino tradicional, em que tudo acontece a partir deconcepes de tempo e espao predeterminados, num modelo dominador deensino. Por meio da prtica do professor que passa a atuar na instituio, tem-sea ideia do que seria um profissional representante de um novo ideal pedaggicoe a discusso de vrios dos conceitos apresentados nessa unidade. Procure ana-lisar o filme a partir dos conceitos apresentados, tais como poder, status, papelsocial, ao educativa e socializao. De que forma eles aparecem?Sugestes de leituraBARREIRA, C. (Org.). A Sociologia no Tempo. So Paulo: Cortez, 2003.CARMO, Paulo Srgio do. A Ideologia do Trabalho. So Paulo: Moderna,1992.CATANI, Afrnio Mendes. O que Capitalismo? 23. ed. So Paulo: Brasiliense,1986. (Coleo Primeiros Passos).FLORENZANO, Modesto. As Revolues Burguesas. 8. ed. So Paulo: Brasi-liense, 1987. (Coleo Tudo Histria).GUARESCHI, Pedrinho. Sociologia Crtica . Porto Alegre: PUCRS, 2002.HOBSBAWM, Eric. A Era das Revolues. 23. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,2007.Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 29. A sociologia e a educao29LALLEMENT, Michel. Histria das Ideias Sociolgicas. Das origens a MaxWeber e de Parsons aos contemporneos. Petrpolis: Vozes, 2004. 2v.MARTINS, Carlos Benedito. O que Sociologia. So Paulo: Brasiliense, 1980.NASCIMENTO, Maria das Graas; NASCIMENTO, Milton Meira do. Iluminis-mo: a revoluo das luzes. So Paulo: tica, 1998. (Coleo Histria emMovimento).SANTOS, Jos Luiz dos. O que Cultura? 5. ed. So Paulo: Brasiliense, 1986.(Coleo Primeiros Passos).*Ver tambm: artigo de Graziella Moraes Dias da Silva, intitulado Socio-logia e Educao: um debate terico e emprico sobre modernidade. Enfoques Revista Eletrnica. Rio de Janeiro, v.1, n.1, p. 89-117, 2002. Disponvel em:www.enfoques.ifcs.ufrj.br/pdfs/dezembro2002.Todas so obras introdutrias aos temas discutidos ao longo do captulo efornecem mais elementos sobre os fatos/eventos decisivos para se entenderas profundas mudanas que se verificaram no mundo, do final do sculo XVIIIao final do sculo XIX, e que contriburam para o surgimento da sociologia.Atividades1. Procure escrever, em uma frase, o que voc entende por sociologia, desta-cando qual seria seu objetivo maior.Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 30. 30Sociologia da Educao2. A partir das transformaes pelas quais passou a humanidade, das quais asociologia fruto, cite trs problemas que passaram a ser estudados pelanova cincia.3. Pense na sua famlia e procure perceber como ela exerceu sua ao sociali-zadora com voc. Faa uma redao para contar como isso aconteceu e co-mente com seus colegas para trocar experincias.Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 31. A sociologia e a educao31Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 32. Esse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br 33. A sociologia e a educao1. A sociologia a cincia que procura compreender e analisar o homemem interao social, isto , em sociedade, bem como as estruturas des-sa sociedade, por meio de teorias e mtodos especficos, com o obje-tivo de manter ou transformar essa organizao social.2. Entre os vrios problemas gerados pelas mudanas verificadas na so-ciedade, a partir do sculo XVII, podem-se citar as novas formas e rela-es de trabalho, o xodo rural e a nova organizao das cidades.3. Deve constar na redao que por meio da socializao que ocorre nomeio familiar, o indivduo vai aprender a viver em sociedade, ou seja,lhes sero transmitidos as normas, regras e valores que norteiam avida na sociedade na qual ele se insere.GabaritoEsse material parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A,mais informaes www.videoaulasonline.com.br