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Educação empreendedora: experiências na América do Norte. AUTORES: Renato Fonseca de Andrade Aluno do curso de pós-graduação (mestrado) em Engenharia de Produção UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos Endereço: Rua São Sebastião 1442 ap. 31 CEP 14015-040 – Ribeirão Preto – SP Fone: (0**)16-632-7120 Email: [email protected] Ana Lúcia Vitale Torkomian, Profª Dra. UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos Endereço: Via Washington Luiz, Km 235 – Caixa Postal 676 CEP 13565-905 - São Carlos – SP Fone: (0**)16-260-8237 R: 218 Fax: (0**)16-260-8240 Email: [email protected] Resumo: O artigo relaciona o termo inovação ao perfil empreendedor e ao posicionamento competitivo de empresas e países no período contemporâneo. A compreensão dessa relação tem direcionado países a estimularem programas de educação empreendedora em suas universidades e escolas. Através da apresentação de experiências desenvolvidas em países da América do Norte, o artigo apresenta conclusões que podem ser utilizadas em programas semelhantes no Brasil. Palavras-chave: Empreendedorismo, educação empreendedora, inovação. Introdução: No final do século XX os países do mundo todo buscam alternativas de desenvolvimento. Muitas dessas alternativas são realizadas por direcionamentos estratégicos que enfocam o aumento da competitividade empresarial, a geração de empregos, o aumento da qualidade de vida, a erradicação da pobreza e a melhoria da qualidade de vida, entre outros. No âmbito da competitividade empresarial, o investimento em educação empreendedora tem tido um enfoque cada vez maior ao longo do tempo.

Educação Empreendedora: experiências na América do Norte

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Artigo apresentado no Seminário Anprotec

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Educação empreendedora: experiências na América do Norte.

AUTORES:

Renato Fonseca de AndradeAluno do curso de pós-graduação (mestrado) em Engenharia de ProduçãoUFSCAR – Universidade Federal de São CarlosEndereço: Rua São Sebastião 1442 ap. 31CEP 14015-040 – Ribeirão Preto – SPFone: (0**)16-632-7120Email: [email protected]

Ana Lúcia Vitale Torkomian, Profª Dra.UFSCAR – Universidade Federal de São CarlosEndereço: Via Washington Luiz, Km 235 – Caixa Postal 676CEP 13565-905 - São Carlos – SPFone: (0**)16-260-8237 R: 218Fax: (0**)16-260-8240Email: [email protected]

Resumo:

O artigo relaciona o termo inovação ao perfil empreendedor e aoposicionamento competitivo de empresas e países no período contemporâneo.

A compreensão dessa relação tem direcionado países a estimularemprogramas de educação empreendedora em suas universidades e escolas.Através da apresentação de experiências desenvolvidas em países da América doNorte, o artigo apresenta conclusões que podem ser utilizadas em programassemelhantes no Brasil.

Palavras-chave: Empreendedorismo, educação empreendedora, inovação.

Introdução:

No final do século XX os países do mundo todo buscam alternativas dedesenvolvimento.

Muitas dessas alternativas são realizadas por direcionamentos estratégicosque enfocam o aumento da competitividade empresarial, a geração de empregos,o aumento da qualidade de vida, a erradicação da pobreza e a melhoria daqualidade de vida, entre outros.

No âmbito da competitividade empresarial, o investimento em educaçãoempreendedora tem tido um enfoque cada vez maior ao longo do tempo.

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Nações desenvolvidas têm realizado grandes esforços nesse sentido e suadifusão tem alcançando uma dimensão global, como exemplificado pelosprogramas de desenvolvimento de características empreendedoras aplicados naÁfrica que, embora não apresentem soluções de curto prazo para o desemprego,talvez pela falta de um ambiente de negócios, são considerados como estratégiasde desenvolvimento naquele país (Nafukho, 1998).

No Brasil, algumas iniciativas localizadas vem sendo realizadas, mas aindanão existe um direcionamento estratégico formal que incentive a prática deeducação empreendedora em escolas, sejam elas universidades ou de primeiro esegundo graus. Dessa forma, toda informação proveniente de trabalhos realizadosna área podem determinar melhores condições para tomadas de decisão futuras.

Este artigo pretende contextualizar a educação empreendedora como itemestratégico de países em busca de posicionamento competitivo no século XXI,através da apresentação e análise de iniciativas desenvolvidas em países daAmérica do Norte.

Os dados foram coletados em visita à Toronto Referency Library eUniversity of Toronto, realizada em fevereiro de 2000.

Inovação e o Ambiente de Negócios:

Uma reflexão sobre as tendências atuais de atitudes a serem tomadas paraa concepção de uma organização ou para a atuação no mercado de trabalho deveabranger questões que traduzam o momento de transformação contemporâneo.

O chamado período pós-industrial, caracterizado por uma intensacompetição entre estruturas organizacionais direcionadas para o cliente, flexíveis,com valorização do capital intelectual e auto-organizadas (DOLL,1990) exige dasempresas constantes reposicionamentos e cada vez mais destaca a componenteinovação como diferencial competitivo.

Lidar com o novo representa um grande desafio para as organizações. Se,no final da década de 80 a flexibilidade era apontada como o grande diferencial daindústria Japonesa (De Meyer,1989), ao final da década de 90 tem suasdimensões potencializadas no mundo todo.

Empresas são formadas por pessoas e empresas inovadoras devem terem seus quadros de recursos humanos a presença de colaboradores com perfilinovador.

Surge então uma questão interessante. O potencial competitivo de umaorganização contemporânea está diretamente relacionado com a sua capacidadede revelar, conquistar, reter e unir pessoas talentosas (Reich, 1999) com altopoder criativo e de realização.

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Drucker (1985) classifica inovação como “uma ferramenta específica deempreendedores, que significa o aproveitamento das mudanças comooportunidades para diferentes negócios, diferentes produtos e serviços.”

Dessa forma, no ambiente de negócios contemporâneo, destaca-se umcomportamento pessoal personificado por um antigo conhecido do mundoempresarial: o empreendedor.

O Empreendedor e suas características:

O termo empreendedor tem suas origens no século XII, a partir da palavrafrancesa “entreprende” que significa “fazer alguma coisa”. O termo erafreqüentemente utilizado para descrever “merchant adventures” durante aRenascença. Em tempos mais recentes o termo foi popularizado pelo economistade Harvard Joseph Schumpeter, que definiu os empreendedores como aquelaspessoas capazes de liderar o desenvolvimento de novos mercados, novosprodutos, novos serviços e novos métodos de produção e distribuição.(Dyer,1992).

Bygrave (1997), afirma que o “período atual é a época doempreendedorismo e que os empreendedores estão dirigindo uma revolução queestá transformando e renovando as economias em uma amplitude mundial.”Vários postos de trabalho estão sendo criados a partir de iniciativasempreendedoras, principalmente em pequenas e médias empresas.

Pode-se então compreender que o perfil empreendedor, como criador denovas empresas ou como integrante do quadro funcional de empresas já criadaspode significar a diferença em termos da geração de diferenciais competitivos quegarantam a permanência das organizações no mercado.

Várias tentativas foram feitas na literatura para classificar as característicasde comportamento do empreendedor. No quadro 1 são apresentadas quatroreferências que fazem essa classificação. Essas referências foram selecionadaspara ilustrar fontes de características de comportamento empreendedor difundidasno Brasil, nos EUA e no Canadá. A seguir um breve comentário sobre elas.

O Programa Empretec é operacionalizado no Brasil pelo SEBRAE desde1993 através de uma parceria com o Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento - PNUD e com a Agência Brasileira de Cooperação do Ministériodas Relações Exteriores - ABC/MRE. Seu objetivo é o fortalecimento dosnegócios e estímulo ao desenvolvimento de pequenos negócios, através doreconhecimento, prática e reforço das competências características dosempreendedores de sucesso.

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The entrepreneurial experience, EUA (Gibb,1992) é uma obra queapresenta a experiência empreendedora, enfocando aspectos como dilemas dacarreira empreendedora e as características do empreendedor.

The young entrepreneurs guide to starting and running a business, EUA,(Mariotti et al, 1996) é uma obra que apresenta as características doempreendedor e traz várias informações úteis para professores que atuam emprogramas de educação empreendedora.

The entrepreneurs handbook, Canadá, é uma publicação do TheEntrepreneurship Centre. A obra foi desenvolvida pela cooperação entrefuncionários do centro com representantes da comunidade empresarial local, como objetivo de retratar suas experiências empreendedoras.

Quadro 1 – Características do comportamento empreendedor segundodiversas referências.

ProgramaEmpretec

The entrepreneurialexperience

The youngentrepreneurs

guide to startingand running a

business

The entrepreneurshandbook

Busca deoportunidades einiciativa

Habilidade dereconheceroportunidades

Correr riscoscalculados

Habilidade paracorrer riscos

Correr riscos Tolerantes àsincertezas eambiguidades

Exigência dequalidade eeficiênciaPersistência Habilidade para

suportar stressPerseverança Resistentes,

elásticosComprometimento Comprometimento

com o negócioBusca deinformaçõesEstabelecimentode metas

Orientação parametas

Direção para metas

Planejamento emonitoramentosistemáticos

Visão de futuro

Persuasão e redede contatos

Persuasão

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Independência eauto-confiança

Confiança Auto-confiantes

Habilidade pararesolver problemascriativamente

Adaptabilidade

Desejo de competir Espírito competitivoHabilidade paratornar o trabalhodivertido

Motivados emotivadores

Honestidade Integridade econfiança

Otimismo realístico Otimismo realísticoDisciplinaOrganização

Pode-se perceber semelhanças e variações entre os modelosapresentados.

A combinação dos modelos pelas características de maior intensidadesugere o empreendedor como uma pessoa criativa, auto-confiante, persistente,capaz de aproveitar oportunidades, de correr riscos e direcionada para metas.

Algumas caraterísticas são até paradoxais em um mundo de oportunidadesbaseadas na inovação. Talvez fosse mais apropriado a não generalização dessascaracterísticas mas o entendimento de que elas se referem à alguns aspectos dealguns empreendedores (Stevenson, 1999).

A Educação Empreendedora como item estratégico para o desenvolvimentodas nações:

A iniciativa empreendedora sempre foi de grande importância estratégicapara qualquer país do mundo capitalista, pois é a partir dessas ações queocorrerem a geração de riquezas e postos de trabalho.

Acrescentando-se a isso a consideração de que o ambiente de negóciosatual está baseado na inovação e que inovações são frutos de iniciativasempreendedoras, pode-se formular a seguinte questão: será possível estabelecerações que incentivem o desenvolvimento das características empreendedoras nosindivíduos de uma nação, no sentido de incremento do ambiente de negócios ecom conseqüências na melhoria de sua qualidade de vida e posicionamentocompetitivo ?

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Esta é uma questão muito importante que deve ser objeto de outrosestudos, inclusive porque o investimento em educação empreendedora, além deser potencial para o aumento da competitividade de uma nação, também podeminimizar o impacto de mudanças organizacionais causadas por estratégias dedownsizing e terceirização, entre outras, ao apresentar para a população aalternativa da carreira empreendedora.

Acreditando nessas relações, muitos países do mundo têm adotadoprogramas de educação empreendedora como estratégicos em seus processos dedesenvolvimento e geração de empregos.

Como exemplo são apresentadas abaixo a visão de futuro e metasdefinidas no plano estratégico de 1992-1995, desenvolvido pela província deOntário, Canadá, com apoio do Entrepreneurship & Small Business Office,Industry, Science & Technology Canada (1992):

Visão de futuro:

(Estabelecer) uma cultura empreendedora que incentive pessoas a sereminovadoras, criativas, responsáveis e auto-confiantes e, por consequência,melhore nossa qualidade de vida.

Metas:

1. Estabelecer a educação empreendedora como um componenteessencial do aprendizado;

2. Aumentar o número de bem sucedidas aventuras empreendedoras einiciativas;

3. Aumentar a retenção dos estudantes;

4. Estabelecer um ambiente que conduza ao empreendedorismo,inovação e mudança.

O mesmo documento apresenta a seguinte definição para educaçãoempreendedora:

Educação empreendedora tem o objetivo de desenvolver uma gama dehabilidades, atitudes e comportamentos, acrescidos por um relevanteconhecimento, entendimento e experiência, que motivem e equipem indivíduospara o direcionamento de recursos para oportunidades, através de novos einovativos esforços.

Isto é, educação empreendedora objetiva encorajar indivíduos para seremcriativos, inovativos, responsáveis e auto-confiantes em suas abordagens.

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O plano cita ainda a importância da educação empreendedora,considerando que ela:

• Prepara os estudantes para aceitarem mudanças, responder amudanças e liderar mudanças;

• Promove a criatividade e a inovação;

• Conduz nova aventuras empreendedoras, novos trabalhos eoportunidades de empregos;

• Equipa os jovens para as futuras responsabilidades que eles irãoassumir governando e tentando manter e melhorar o estilo de vida de todos oscidadãos.

As atividades previstas no plano estratégico incluem ações desde a escolaelementar, passando pela universidade e mantendo-se em programas deaprendizado para toda a vida, em um trabalho integrado com variações de foco.

Como este exemplo, existem outros que revelam o interesse estratégico depaíses em realizar investimentos em educação empreendedora.

Esses investimentos se traduzem em várias iniciativas que buscamencontrar os melhores meios para o atingimento dos objetivos propostos.

A seguir serão apresentadas algumas dessas iniciativas desenvolvidas naAmérica do Norte, procurando estabelecer alguns parâmetros que sirvam comoreferenciais para estudos futuros sobre educação empreendedora no Brasil.

Fogelman College, University of Memphis, EUA – Criando um centro deempreendedorismo.

Um bom exemplo a ser analisado de experiências em educaçãoempreendedora é o que vem sendo desenvolvido no Fogelman College, Universityof Memphis. Randall (1997) em seu artigo sobre essas iniciativas relata que oempreendedorismo é uma das áreas de mais rápido crescimento nos EUA e quedesde 1993, mais de um terço das escolas de administração de empresas nessepaís tem criado concentrações em empreendedorismo.

A participação de estudantes nos programas de empreendedorismo édecorrente da percepção da diminuição de postos de trabalho nas corporações edo entendimento de que a carreira empreendedora é uma opção válida.

Convencidos de que o empreendedorismo poderia ser ensinado, membrosdo Fogelman College, aliados a grupos formados por executivos e líderes dacomunidade estabeleceram em 1997 a seguinte meta de desenvolver o FogelmanCollege como um centro de empreendedorismo. Esse centro teria a finalidade deprover uma variedade de programas instrucionais, pesquisas e serviços

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relacionados ao empreendedorismo. Através do centro, estudantes teriam suaatenção voltada ao crescimento e oportunidades de carreira nas pequenasempresas e na área empreendedora.

Como estratégias, o futuro centro considerou a aliança com parceirosvariados como a Sociedade de Empreendedores, o Centro de Desenvolvimento dePequenas Empresas e outros grupos que estimulam o empreendedorismo e osexemplos de programas já implantados como por exemplo no Babson College(Massachusetts).

Algumas das diretrizes de atuação do Fogelman College para estabelecerum centro de empreendedorismo na University of Memphis são apresentadas àseguir (Randall,1997):

• Estabelecer um programa de empreendedorismo com abordagenstanto em aspectos práticos do mundo dos negócios como conceitos deadministração de empresas.

• Proporcionar estágios em empresas com característicasempreendedoras.

• Realizar seminários sobre empreendedorismo proferidos porempreendedores, no sentido do compartilhamento de suas experiências. Essesseminários seriam abertos à comunidade.

• Promover a participação de empreendedores dentro das salas deaulas, no sentido de apresentarem a carreira empreendedora como uma opçãoviável.

• Formar grupos de ensino compostos por empreendedores emembros da faculdade, unindo forças acadêmicas e práticas para instrução edemonstração aos estudantes de como lançar, desenvolver e operar um novonegócio com sucesso.

• Realizar aulas em empresas cujos monitores sejam proprietários oufuturos empreendedores. Essas classes ajudam no desenvolvimento dashabilidades necessárias ao sucesso de um novo negócio.

• Prover suporte a pequenos negócios. O centro deempreendedorismo ajudaria conduzindo programas e dando consultoriaespecificamente desenhadas para apoiar e capacitar pequenos negócios.Esses programas e serviços não teriam custos ou teriam custos reduzidos paraos proprietários dessas empresas.

• Promover programas de prêmios de empreendedorismo. Esseprograma reconheceria e premiaria as conquistas dos empreendedores naregião da escola, e organizaria um fórum para os estudantes e para acomunidade aprenderem mais sobre as características do negócios líderes(Randall, 1997).

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Essas diretrizes são interessantes para serem analisadas do ponto de vistade que elas criam um movimento de transformação ampla no sentido da a geraçãode uma cultura empreendedora em Memphis.

College Boreal, Canadá – Contribuindo para o desenvolvimento regional.

Uma outra abordagem na instauração de um centro para o desenvolvimentode pequenos negócios dentro de uma universidade é encontrada no CollegeBoreal, na província de Ontário, Canadá.

O caminho utilizado para o estabelecimento da cultura empreendedora naescola é a disponibilização de programas de educação empreendedora para osestudantes e de treinamento para o staff, de maneira que a escola sejaadministrada como um negócio.

O objetivo é o desenvolvimento de recursos humanos, das pequenas emédias empresas e a da economia da região, dando apoio aos estudantes quequeiram desenvolver seus próprios negócios.

Para trabalhar próxima a parceiros da comunidade e investidores para osprogramas, foi criada uma divisão chamada “Les Enterprises Boreal”, que ofereceum serviço baseado na multi-disciplinaridade das equipes da escola.

A divisão tem um Centro de Desenvolvimento de Negócios com programase serviços destinados a todas as áreas relativas ao suporte e ao desenvolvimentode pequenos negócios (Mills,1996).

University of Denver, EUA – Atuação em telecomunicações.

Também acreditando no potencial da universidade para a geração de novosnegócios e entendendo os reflexos dessas iniciativas junto ao desenvolvimentoeconômico da comunidade, a University of Denver apresenta um exemplointeressante pela concentração de foco em seu programa de empreendedorismo,direcionando-o para um setor em grande crescimento no país, o detelecomunicações.

O programa, desenvolvido através de cursos de férias e com duração decinco semanas tem o propósito de iniciar futuras empresas em sala de aula.

Nos cursos os alunos são divididos em grupos e incentivados a conceberidéias inovadoras na área de telecomunicações. A partir daí são desenvolvidosestudos de viabilidade e marketing e um plano de negócios.

Constatando-se a viabilidade, os alunos são encorajados a implantar aempresa, buscando financiamento e as condições necessárias para o início doempreendimento.

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Em 1997, a ECAP, uma empresa projetada em sala de aula para atuar naárea de fibras óticas, estava em negociações para levantar US$ 35 milhões elançar-se no mercado. (Aven, 1997).

John Hopkins University, EUA - Percebendo mudanças na engenharia

“ Dez anos atrás, um típico estudante de engenharia tinha o objetivo de sairda faculdade e ingressar em grandes companhias como IBM ou General Motors”(Marcus,1997). Com a diminuição dos postos de trabalho em grandes corporaçõese com a insegurança nos empregos, hoje em dia a realidade é diferente.

Percebendo as mudanças no direcionamento das carreiras de engenharia,a John Hopkins University proporciona aos seus estudantes contato com o mundodos negócios, no sentido de agregar valores que os auxiliem na criação de umnovo negócio e, por extensão, do próprio emprego.

A apresentação da carreira empreendedora aos estudantes de engenhariaé feita pela universidade através de um mini-curso de três dias, realizado duranteo período de recesso de inverno. O mini-curso tem o objetivo de ensinar aosestudantes temas que geralmente não são abordados em escolas de engenharia,como por exemplo, as características do trabalho em equipe e aspectos nãotécnicos sobre o mundo em volta deles. (Marcus,1997).

Ysleta Texas Independent School District’s Student Entrepreneur Centre –Unindo a teoria e a prática.

Um interessante iniciativa foi realizada pela Ysleta Texas IndependentSchool District’s Student Entrepreneur Centre. Com os objetivos de minimizar aevasão de jovens da região que saiam em busca de empregos e de capitalizar otalento e a habilidade dos estudantes, foi montado um programa de prática deprincípios básicos de negócios.

Aconselhados por uma força-tarefa formada por pessoas da comunidadeempresarial local, grupos de estudantes são incentivados a abrirem seus própriosnegócios, desde uma concessão de pipocas até o desenvolvimento de softwares.

Com a assistência de professores e membros da força-tarefa, os alunosdesenvolvem planos de negócios, analisam oportunidades e aprendem sobrelucros e perdas.

Para apoiar o currículo escolar e proporcionar para os alunos oportunidadesde mercado, o distrito está transformando um sítio de 16 acres em umacombinação de centro de aprendizado e destino turístico.

Neste espaço serão desenvolvidas classes para negócios, ciências etecnologia, além de locais para exibição de performances e filmes e uma loja paracomercializar produtos criados e produzidos pelos estudantes.

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São promovidas também feiras abertas nas quais os estudantes sãoestimulados a desenvolver diversas atividades empreendedoras como vendas deprodutos e os mais variados serviços.

O distrito tem vários planos de expansão, um deles é a hospedagem deuma incubadora de pequenas empresa que, além de proporcionar aos estudanteso contato com negócios, geraria uma integração com a comunidade.

Formado por 57 escolas, sendo 35 elementares, 10 de ensino médio, 7 highschools, 2 alternativas, 1 para adultos e um centro para o estudanteempreendedor, o distrito é apresentado como único nos EUA com esse tipo deabordagem, diferenciando-se não por ensinar os princípios de negócios, mas poroferecer um local para colocá-los em prática, um verdadeiro laboratório denegócios (Higginbotham, 1997).

Outras experiências:

A Northwood University , EUA, desenvolve seus programas deempreendedorismo focado em filhos de empresários no sentido da continuidadedos negócios. Os programas abrangem especializações em diversas áreas comomarketing automotivo, “fashion” marketing e merchandising e gerenciamento dehotéis. Após esses dois anos iniciais os alunos que quiserem podem sair daescola para o mercado ou continuidade dos negócios da família ou permanecerpor mais dois anos para obter o título de bacharel em administração.

Diferentemente de outras universidades, a remuneração dos instrutores deNothwood é feita pela quantidade de alunos inscritos nos programas. Essa medidaestimula os instrutores a desenvolverem trabalhos cada vez melhores para atrairmais estudantes (Hensell, 1997).

Janaazo (1997) observou dois programas de desenvolvimento de novosnegócios em campus universitários nos EUA. Em Case Western ReserveUniversity’s Wheaterhead School of Management, EUA, percebeu-se que oestudo do empreendedorismo aliado às áreas de tecnologia e mercadointernacional está destacando-se no processo de educação para negócios naentrada do século XXI.

Dessa forma há a proposta da criação de uma unidade acadêmica paraestudos de empreendedorismo. Enquanto isso a escola oferece aos seus alunos ocurso de “Desenvolvimento de Novos Negócios”, no qual os estudantes interagemcom equipes de empresas e apresentam como trabalho final um artigo comrecomendações. Os melhores artigos são selecionados pelo diretor da escola deadministração e enviados para as empresas analisadas, que recebem os estudoscomo uma contrapartida pelo suporte dado aos estudantes durante o curso.

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O outro programa observado por Jannazo(1997), no Rita Fitzgerald Instituteof Entrepreneurial Studies da University of Akron, EUA, também procura envolvera comunidade empreendedora no processo de educação.

O programa proporciona o desenvolvimento de um plano de negóciosatravés da análise detalhada de marketing, finanças, gerenciamento e análise deriscos. As notas semestrais são baseadas em apresentações dos planos denegócios em um painel de empreendedores de sucesso.

Para estimular uma vivência prática, os alunos de último ano realizamestágios em empresas de uma incubadora associada ao instituto. Através dessainiciativa, eles têm um contato pleno com pequenas empresas e adquirem umapercepção tanto de problemas quanto de atitudes a serem tomadas para o início edesenvolvimento de seus próprios negócios.

Atuar desde os primeiros anos com noções de cidadania e negócios são ospropósitos do Programa Junior Achievement, aplicado em várias escolas dos EUA.

Após passarem por várias atividades em salas de aula os estudantespassam um dia em uma cidade temática chamada Exchange City, na qual sãoresponsáveis por várias atividades como eleger o prefeito e outras autoridades,criar leis e preencher currículos para trabalhar em negócios da cidade (JuniorAchievement Organization,1996).

É um programa para ser objeto de estudos aprofundados, pois representauma transformação no enfoque educacional nesta faixa etária.

Conclusões:

Os modelos apresentados neste artigo podem levar a dois campos dereflexões:

O primeiro deles é se realmente as influências geradas pela educaçãoempreendedora, entendida como item estratégico, podem representar movimentoseconômicos significativos para um país, tanto em termos de seu posicionamentocompetitivo quanto em questões sociais e de qualidade de vida.

Para um melhor entendimento dessa questão são necessários estudostemporais dos resultados das ações individuais dos alunos que passaram porprojetos com esse foco.

O segundo deles é se existe um modelo de educação empreendedora quepossa ser padronizado e implantado em escolas no sentido do atendimento a umdirecionamento estratégico de um país.

Pôde-se observar nas iniciativas relatadas que os programas de educaçãoempreendedora praticados na América do Norte têm variações consideráveisdentro de um mesmo objetivo.

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Entretanto algumas similaridades podem ser referenciais para odesenvolvimento de novos programas de educação empreendedora:

• A abordagem prática de conceitos de negócios, no sentido da criação de umambiente que simule a realidade, gerando o aprendizado através daexperiência;

• A busca de parceiros junto à comunidade, principalmente aqueles ligados aomundo dos negócios, que poderão contribuir desde o fomento financeiro aoprograma até na participação das atividades didáticas, como conselheiros,consultores ou disponibilizadores de estágios;

• A abordagem de aspectos como marketing, finanças, gerenciamento e outrose sua combinação em um plano de negócios, proporcionando um raciocíniosistêmico que contextualize a relação entre oportunidade e viabilidade;

• A abordagem de aspectos comportamentais, representando um papelfundamental no auto-conhecimento e no desenvolvimento de habilidadespessoais;

• A apresentação da carreira empreendedora como opção de vida profissional;

• A apresentação das características de empreendedores como ferramental parao desenvolvimento de uma carreira corporativa.

Muito existe para ser feito no campo da educação empreendedora e muitasoutras questões surgirão, sejam elas de cunho empresarial, social ou educacional.

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