22
EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO BRASIL Edineia Koeler 1 Santa Maria de Jetibá ES Brasil RESUMO Este trabalho discute memórias e experiências no processo educativo do Povo Tradicional Pomerano (Decreto 6.040/2007) da comunidade de Alto Santa Maria município de Santa Maria de Jetibá/ES/Brasil. Problematizam-se práticas de uma professora pomerana em sua comunidade. Recorre-se ao romance Canaã (Graça Aranha, 1901), para contextualizar os conflitos, dificuldades e o abandono dos pomeranos no período da imigração. Busca-se fundamentação teórica no professor crítico, com ênfase na valorização das culturas locais (Freire: 2005; Faundez: 2012). O estudo beneficia-se de debates sobre comunidade (Tönnies 1995; Buber 1987;) e de Comunidade Tradicional (Brandão: 2012). A coleta e análise de dados tomaram por base abordagens qualitativas, enfatizando o estudo da memória oral (Galvão: 2010 e Simpsom: 1996). Pode-se afirmar que a comunidade dispensa atenção especial aos anos iniciais de escolarização, destacando a importância de a professora pertencer ao mesmo grupo étnico cultural. As experiências escolares são mencionadas mais tarde pelos moradores, destacando o cuidado da professora com a cultura e língua pomeranas que é lembrado de forma positiva pelos alunos e comunidade em geral. Palavras-chaves: Memórias de resistência; educação; Povo Tradicional Pomerano. Introdução O presente estudo tem como contexto a comunidade camponesa de Alto Santa Maria, situada no interior do município de Santa Maria de Jetibá, Estado do Espírito Santo-Brasil. Trata-se de um município, cuja população, em grande parte, é composta por 1 Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo/UFES. Linha de pesquisa Curriculo Cultura e Formação de Educadores. Orientador: Professor Dr. Erineu Foerste. Bolsista CAPES.

EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE

POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL

Edineia Koeler1 – Santa Maria de Jetibá — ES – Brasil

RESUMO

Este trabalho discute memórias e experiências no processo educativo do Povo

Tradicional Pomerano (Decreto 6.040/2007) da comunidade de Alto Santa Maria –

município de Santa Maria de Jetibá/ES/Brasil. Problematizam-se práticas de uma

professora pomerana em sua comunidade. Recorre-se ao romance Canaã (Graça Aranha,

1901), para contextualizar os conflitos, dificuldades e o abandono dos pomeranos no

período da imigração. Busca-se fundamentação teórica no professor crítico, com ênfase

na valorização das culturas locais (Freire: 2005; Faundez: 2012). O estudo beneficia-se

de debates sobre comunidade (Tönnies 1995; Buber 1987;) e de Comunidade Tradicional

(Brandão: 2012). A coleta e análise de dados tomaram por base abordagens qualitativas,

enfatizando o estudo da memória oral (Galvão: 2010 e Simpsom: 1996). Pode-se afirmar

que a comunidade dispensa atenção especial aos anos iniciais de escolarização,

destacando a importância de a professora pertencer ao mesmo grupo étnico cultural. As

experiências escolares são mencionadas mais tarde pelos moradores, destacando o

cuidado da professora com a cultura e língua pomeranas que é lembrado de forma positiva

pelos alunos e comunidade em geral.

Palavras-chaves: Memórias de resistência; educação; Povo Tradicional Pomerano.

Introdução

O presente estudo tem como contexto a comunidade camponesa de Alto Santa

Maria, situada no interior do município de Santa Maria de Jetibá, Estado do Espírito

Santo-Brasil. Trata-se de um município, cuja população, em grande parte, é composta por

1 Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo/UFES. Linha de pesquisa

Curriculo Cultura e Formação de Educadores. Orientador: Professor Dr. Erineu Foerste. Bolsista CAPES.

Page 2: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

descendentes de imigrantes europeus vindos principalmente da Província Pomerana da

Prússia, que chegaram ao Brasil no século XIX. Desde a criação em 2005 da Comissão

Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais – CNPCT e sua oficialização através do

Decreto 6.040/2007, conforme discute Foerste (2013 e 2015), os pomeranos no Brasil são

reconhecidos pelo Estado Brasileiro como Povo Tradicional Pomerano, assim como os

indígenas e os quilombolas etc., que compõem a CNPCT.

Os imigrantes alemães, assim denominados na época pelo poder público e

sociedade brasileira em geral, ao chegar na região Serrana no Estado do Espírito Santo,

na qual está inserida a comunidade de Alto Santa Maria, sofreram abusos contra os

direitos humanos, denunciados em 1901 pelo romance Canaã, de Graça Aranha. A obra

tem o seu valor histórico, devido ao modo como apresentou o processo imigratório,

recriando o entrechoque das ideias, e o debate ideológico entre brasileiros e imigrantes,

dos quais nasceram alguns exemplos de resistência.

Ao contextualizarmos a história dos primórdios da imigração, a partir de Graça

Aranha, objetivamos discutir as memórias de resistência da professora pomerana

Marineuza Plaster Waiandt e da comunidade de Alto Santa Maria, onde ela vive. Nesse

sentido pretendemos problematizar suas práticas de resistência no contexto da educação

escolar, contrapondo-se ao conformismo que o governo brasileiro esperava das colônias

de imigrantes, tal qual nos aponta Graça Aranha.

A questão central deste trabalho visa responder às seguintes perguntas:

Conformismo ou resistência? O que tem a dizer a professora e a comunidade pomeranas?

Como práticas culturais do Povo Tradicional Pomerano em Alto Santa Maria, em suas

interfaces com o processo educativo escolar, forjam naquele contexto uma comunidade

de resistência?

Discutimos inicialmente o processo imigratório dos alemães, numa interlocução

com o romance Canaã de Graça Aranha e alguns conflitos linguísticos que foram

identificados no período, decorrentes do descaso do governo brasileiro, mais

especificamente em relação à escolarização. Num segundo momento não dissociado do

anterior, definimos conceitos centrais, como: comunidade e comunidade de resistência.

Aqui são trabalhadas teorizações de Paulo Freire (2000 e 2005), de Schilling (1974),

Page 3: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

Tönnies (1995) e Buber (1987). No terceiro tópico, caracterizamos a comunidade onde

desenvolvemos a pesquisa. Finalizamos com análise de dados e nossas considerações.

A imigração no romance Canaã

O escritor Graça Aranha, em seu romance Canaã, consciente dos problemas sociais

do Brasil, no período da implantação da República, que iniciou em 1889, transpõe para a

Literatura, várias problemáticas, como, por exemplo, a abolição da escravatura, que se

caracterizava como problema de integração social; a produção de café, principal fonte

econômica do país; a “aplicação” da justiça, onde reinava a corrupção; e a imatura

República que se instalava como sistema político, alheia à compreensão da população. A

própria concepção de “Nação”, traz preocupações referentes ao estrangeirismo,

decorrente do processo da imigração. Diante do contexto, Graça Aranha tematizava a

imigração a partir das vertentes comuns na época: de um lado discutindo o processo de

“branqueamento” da população e, de outro, a ameaça à soberania brasileira. O expressivo

número de estrangeiros que veio para o Brasil naquele momento, em busca de melhores

condições de vida, representava ao mesmo tempo ameaça ao poder instituído. No estado

do Espírito Santo, especificamente nas cidades de Porto de Cachoeiro e Santa Teresa, o

romance destaca o embate entre imigrantes e brasileiros.

A cidade de Porto de Cachoeiro, atual município de Santa Leopoldina, foi

considerada por Graça Aranha como “o limite entre dois mundos” (Idem, ibidem, p.46).

Era o ponto de entrada de muitos colonos que, depois de certo tempo, dispersavam-se

entre as montanhas. Esse movimento deu origem a várias cidades, entre elas, o município

de Santa Maria de Jetibá. No romance, os colonos alemães foram descritos como um povo

de fácil adaptação e, de muita energia para o trabalho, foram eles que mais desenvolveram

suas colônias; contudo, desde o início, sofreram várias formas de violência. Um dos

exemplos é o fato de os luteranos não poderem sepultar seus mortos nos cemitérios

existentes até então, pois os mesmos eram administrados ou pelo Estado ou pela Igreja

(ambos católicos). A forma violenta como os pomeranos eram tratados evidencia-se em

diversas passagens do romance, sobretudo no discurso nacionalista do personagem Dr.

Page 4: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

Brederodes, que repudiou os imigrantes, definindo-os como “perigosos conspiradores,

avassaladores do País”. (Idem, ibidem, p. 179).

A fala desse personagem indica que a exploração contra os colonos parecia ser

consensual entre as autoridades brasileiras. Possivelmente por dificuldades para se

comunicar com o poder oficial, pelo fato de não dominarem a língua brasileira, os

imigrantes alemães pouco podiam fazer. Todavia, suas comunidades progrediam

rapidamente, graças ao trabalho dedicado na terra, com tempo de dedicação a mutirões

para abertura de estradas, construção de templos, centros comunitários e escolas.

A corrupção no âmbito da administração pública já se iniciava no processo de

assentamento e negociação na venda das glebas de terras aos imigrantes pomeranos. Logo

se evidenciou falta de critérios universais e justos, pois sequer havia regulamentação do

sistema fundiário brasileiro na época, problemática questionada por Graça Aranha, um

juiz da Comarca de Porto de Cachoeiro. No processo de legalização dos lotes, magistrados

destacados pelo governo brasileiro periodicamente “visitavam” os colonos para fazer

inventários e relatórios. A obra Canaã, portanto, traz relatos de total impotência dos

pomeranos aos “homens da lei”. Em um dos casos o autor relata a história de uma jovem

viúva, que declarou possuir quinhentos pés de café, mas o inventariante registrou lavoura

com mil e quinhentos pés, com o propósito de aumentar suas despesas com impostos. A

mesma viúva foi repreendida pelo fato de ter se apossado das terras do falecido marido,

o que os magistrados julgaram ser ilegal, visto que o lote de terras foi entregue ao marido

e não à esposa.

A riqueza narrativa de Graça Aranha constitui registro-denúncia contra os

desmandos do poder público na relação do Estado com os imigrantes europeus. Através

do romance podemos perceber como os conflitos entre brasileiros e os descendentes dos

imigrantes estão presentes ao longo da história. Contudo, os tensionamentos e conflitos

atuais não são mais tão explicitamente relacionados às propriedades e posse de terras. As

lutas incansáveis para preservar a cultura e espiritualidade mantêm-se atuais. A

revitalização permanente da língua pomerana e o direito de permanência no território é

exemplo bem concreto de resistência à dominação da mão cada vez mais poderosa e

fortalecida do Estado sobre o Povo Tradicional Pomerano (e todos os demais povos e

Page 5: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

comunidades tradicionais no Brasil inteiro).2 Sob esse aspecto, vale ressaltar que, por

meio da obra de Graça Aranha, talvez pela primeira vez no Brasil registram-se conflitos

linguísticos no que se refere aos pomeranos que aportaram no Estado do Espírito Santo.

Na passagem, onde o agrimensor Felicíssimo encaminha o personagem central da

narrativa ao seu respectivo lote, este desdenha dos colonos alemães, por não se esforçarem

em aprender a língua oficial do Brasil, “obrigando” os brasileiros a se empenharem em

aprender o alemão, para ter uma comunicação possível. Essa passagem do romance, ao

nosso entender, é a que mais caracteriza a ação de resistência das comunidades

pomeranas, que perdura até hoje, 160 anos após a chegada dos primeiros pomeranos ao

Brasil.

O município de Santa Maria de Jetibá, emancipado de Santa Leopoldina (Porto de

Cachoeiro, em Canaã) em 1988, encontra-se atualmente, com uma população de

aproximadamente 38 mil habitantes, dos quais 80% são pomeranos, que cultivam práticas

culturais de seus ascendentes europeus, principalmente a tradição da língua pomerana

(WEBER, 1998); (TRESSMANN, 2005); (SILLER, 1999); (HARTWIG, 2011);

(SCHAFFEL, 2012); (MARQUARDT–DETTMANN, 2014).

A resistência à língua portuguesa deve-se principalmente ao descaso do governo

brasileiro em relação à oferta de educação pública nas comunidades pomeranas locais,

compreendida como direito social. Diante disso, dadas as frustradas e recorrentes

tentativas de diálogo com o Estado, os pomeranos organizaram-se para promover a

educação escolar comunitária dos seus filhos. Estudos de Castelluber (2014) contribuem

nos debates sobre a história da educação nas comunidades pomeranas, em que as parcerias

2 Vale ressaltar que o território do Povo Tradicional Pomerano é muito visado, colocando a

dignidade das famílias em permanente risco; é muito cobiçado pelo agronegócio e os grandes

empreendimentos predatórios, a considerar-se da agroecologia e da sustentabilidade. Exemplo disso é a

criação do Parque Nacional dos Pontões no município de Pancas (durante o Governo de Fernando Henrique

Cardoso), na região noroeste do Estado do Espírito Santo. Também podem ser citadas acirradas disputas

pelas águas da região de montanhas por parte dos detentores do hidronegócio, ali onde se localizam

municípios como os de Domingos Martins, Marechal Floriano, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá,

Santa Teresa entre outros, cuja salvaguarda dos remanescentes de água potável é do Povo Tradicional

Pomerano, juntamente com outros povos e comunidades tradicionais que produzem suas existências

materiais e simbólicas nestes territórios e onde viram florescer seus saberes e culturas tradicionais como

cultivadores de água limpa e viva, como forma de respeito à vida, ao meio-ambiente, enfim, ao ser humano

como sujeito histórico.

Page 6: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

com a Igreja Luterana Alemã da época foram primordiais.3 Ocorre que a absoluta maioria

dos pomeranos professava a teologia de Martin Luther (quadro que se mantém até nossos

dias). Ou os pomeranos são filiados à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil

– IECLB, que se vincula à tradição da Deutsche Evangelische Kirche; ou se denominam

Luteranos Missouri, através da Igreja Evangélica Luterana do Brasil – IELB de origem

norte americana.

Tal processo na organização das escolas paroquiais não só favoreceu a

escolarização das gerações mais novas, o que representava por si só conquista coletiva de

grande significação, como também, de forma muito peculiar, a preservação da língua

pomerana ou Plattdeutsch, hoje uma língua de imigração viva entre nós. Na medida em

que as aulas eram ministradas pelos pastores-professores na língua alemã, o chamado

Hochdeustch, e os materiais didáticos eram apresentados na mesma língua (geralmente

enviados diretamente da Alemanha) introduziu-se, talvez de modo pioneiro, um projeto

de ensino plurilíngue no Brasil, em contexto de imigração, no sentido analisado nos

estudos de Savedra e Höhmann (2012). O contato, portanto, entre pelo menos três

variedades linguísticas bastante distintas, a saber: a Língua Portuguesa, o Pommerisch

(Tressmann, 2005; Schaffel-Bremenkamp, 2014) e o Hochdeutsch encontrou condições

de ensino muito favoráveis e peculiares na sua forma de organização pedagógica.

Segundo Foerste, Schaffel-Bremenkamp e Peres (2015), esse currículo escolar alternativo

(Foerste, Merler e Schütz-Foerste, 2013 e 2015) fez emergir um dinâmico e complexo

processo de contatos linguísticos (Savedra, 2010; Savedra et al., 2015) nas comunidades

locais, que até o momento foi pouco acolhido por estudos na academia. Como esse projeto

plurilíngue de educação comunitária favoreceu a vitalização da língua pomerana

fundando as bases culturais do Povo Tradicional Pomerano?

Soboll (2011), pastor-professor luterano, que atuou nessas comunidades

pomeranas a partir de 1929, narra a sua trajetória com a educação. Engajou-se em trabalho

eclesiástico associado à educação escolar em comunidades luteranas no município de

Domingos Martins, que faz divisa com os municípios de Santa Leopoldina, assim como

3 A Deutsche Evangelische Kirche (Igreja Luterana Alemã) havia se consolidado no sul do Brasil

com a chegada dos imigrantes germânicos da região do Hunsrücker no Vale do Rio dos Sinos com

desembarque na cidade de São Leopoldo, a partir de 1824.

Page 7: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

Santa Maria de Jetibá e Santa Teresa, de modo que as histórias da educação dessa região

assemelham-se em muitos aspectos (GAEDE, 2012; HESS, 2005; SOBOLL, 2011).

Segundo Soboll (2011,p.105) as crianças seguiam a pé – e não raro descalças - por

picadas abertas nas matas, durante quatro ou cinco horas por dia para estudar, expostas a

riscos de todo tipo, partindo de seus lares ou a eles retornando no escuro da noite. Devido

à distância entre as casas e a escola, os pastores-professores, sensibilizados, aceitavam

alunos com idade mínima de 10 anos de idade. A escolarização era obrigatória, segundo

critérios da igreja, até os 14 anos, quando de costume ocorre a confirmação. As crianças

não compreendiam nem a língua portuguesa, nem a alemã, a qual era usada para

alfabetizar. Mas Soboll (2011, p. 107) vangloria-se de suas técnicas pedagógicas, as quais

seguramente garantiam aos alunos alfabetização em dois anos. Nesse período, aprendiam

a ler a Bíblia Sagrada e o Catecismo de Martin Luther. Também, de acordo com o autor,

não era possível aos pastores-professores atenderem a todas as comunidades, por isso,

“treinavam” os alunos considerados os melhores das turmas para assumir funções

docentes nas escolas paroquiais. Esses multiplicavam de forma pioneira e através de uma

espécie de “missão” seus conhecimentos de leitura, escrita e matemática nas comunidades

pomeranas locais. Construíram as bases, ao longo de quase 200 anos de história da

presença do Povo Tradicional Pomerano no Brasil, onde hoje funcionam, ainda que de

forma precária, escolas com ensino fundamental completo e até em alguns casos de

Ensino Médio.

Pelas narrativas do pastor-professor Soboll (2011, p.109) percebe-se o espírito de

solidariedade e colaboração que é típico até hoje entre os imigrantes em relação à

educação, cujo principal compromisso era à época com a alfabetização das crianças. A

estratégia adotada pelas comunidades em parceria com a igreja parece que, dadas às

limitações, foram bem sucedidas, pois ainda de acordo com Soboll (2011, p. 105) não

havia em toda a região uma única escola construída pelo governo. Contudo, a igreja se

orgulhava de “em toda as comunidades, não haverem um único analfabeto, enquanto que,

no Brasil, se contavam de 30 a 60% de analfabetos” (SOBOLL 2011, p 105).

Essa história entre igreja luterana e educação, foi duramente golpeada entre 1937 e

1945, quando ocorreu a Campanha de Nacionalização no Governo de Getúlio Vargas

Page 8: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

(HEES, 2003, p.95). Durante esse período as escolas estrangeiras sofreram perseguições

e foram fechadas, especialmente as de língua alemã, que eram associadas ao Nacional-

Socialismo. A educação passou então a ser assumida pelo Estado, mas a escola brasileira,

como os pomeranos a denominam, não chegou a todos, especialmente às localidades mais

isoladas, negando um direito social fundamental ao Povo Tradicional Pomerano.

Uma discussão sobre comunidade de resistência

A comunidade de Alto Santa Maria, situada no município de Santa Maria de Jetibá,

Estado do Espírito Santo, Brasil, foi o lócus onde desenvolvemos nosso trabalho de

pesquisa. E apresenta características elencadas por Freire (2000) como práticas de

resistência.

O autor discute a resistência não como antônimo de desistência, mas como

possibilidade de não se conformar, de não se acomodar, de não fraquejar, de não se negar

a intervir. Também é uma prática de revisão de conceitos manipulados que a visão

dominante e opressora impõe. Essa manipulação de ordem ideológica resulta em invasão

cultural, que para Freire incide na tentativa de “conformar” as massas populares aos

interesses das elites. E quanto mais imaturas politicamente estejam (rurais ou urbanas),

mais fácil se deixam manipular pelos opressores (FREIRE, 2005, p. 165).

Sob esse aspecto, os “invadidos” são convencidos de que sua cultura é inferior e,

quando não há resistência, acabam de fato reconhecendo sua inferioridade e,

consequentemente, a superioridade do “invasor”. Nesse sentido, para Freire é de

fundamental importância a práxis do oprimido, isso significa o uso da palavra, “dizer a

sua palavra” e posicionar-se diante da dominação. (FREIRE, 2005, p. 19).

Assim, tomando a palavra como principal arma, a comunidade de Alto Santa Maria

engajou-se na luta pela educação escolar, pela agroecologia, pela preservação de suas

práticas culturais. Esses fatores ligam-na, conforme Schilling (1974), a um lugar comum

como grupo unido por interesses semelhantes. Nessa perspectiva comunidade designa

“qualquer corpo social, mais ou menos importante (matrimônio, família, parentesco,

tribo, povo, Estado, associação, Igreja, seita e até mesmo uma fábrica ou uma empresa)”.

Para Tönnies (1995, p.239), o conceito de comunidade delineia-se a partir de quatro

Page 9: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

gêneros articulados entre si: parentesco; vizinhança; amizade e ideais comuns. As

características trazidas por Schilling (1974) e Tönnies (1995), portanto, contribuem

significativamente no sentido de compreendermos a constituição da comunidade em sua

complexidade. No entanto para Buber (1987, p.34) Vida e comunidade são uma só coisa.

Buber (1987) entende que a comunidade pode ser exemplificada até certo ponto

com base em laços sanguíneos, caracterizando-se como seguidoras de tradições. Aqui

trata especificamente de alguns dos tipos de comunidades antigas, que têm como base o

utilitarismo. Para o autor a nova comunidade está baseada em relações derivadas da livre

escolha, cujas bases encontram-se na prática do diálogo. Assim passa-se a entender a

comunidade não apenas como descrição histórica, mas como um centro vivo, atual e

ativo, onde as relações se estabelecem pela alteridade que tem na ação dialógica sua base.

O autor aponta para a importância de se educar para a comunidade, nesse sentido

as relações iniciam desde a infância. Em princípio nos laços que unem a família, seguida

dos que se constroem na escola “educação para a comunidade”. Assim, a educação seria

a preparação para o sentido de comunidade, na vida pessoal e com a vida pessoal,

introduzindo a partir da infância aquilo que o autor chama de “aqui e agora”.

A educação para a comunidade não deve, portanto, ser teórica, mas sim acontecer

na prática. E ao afirmar isto o autor vê a comunidade do campo como possibilidade

concreta, ilustrando que é o local onde ainda se experimentam vestígios de autênticos

sentidos de comunidade.

Para isso, a comunidade necessita de um professor crítico, que labore em favor de

diálogos entre os conteúdos oficiais predeterminados por um currículo padrão, e as

culturas e saberes vivos da comunidade produzindo uma pedagogia comprometida e

responsável diante dos dilemas sociais.

O professor não deve se restringir aos aspectos escolares tão somente, mas procurar

ver na comunidade os recursos para tornar a sua prática pedagógica significativa para os

alunos e para a comunidade. E ao fazê-lo possibilita aos membros dessa comunidade

resistir ao domínio hegemônico e firmar-se como um grupo social não isolado, mas

perceber-se como comunidade com direitos adquiridos dentre os quais o respeito à

valorização da cultural local.

Page 10: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

A comunidade de Alto Santa Maria e os sujeitos da pesquisa

Alto Santa Maria é uma comunidade localizada a 20 km ao sul da sede de Santa

Maria de Jetibá. O município integra a região serrana do Estado do Espírito Santo, e

passou a ser ocupada por imigrantes pomeranos a partir de 1859, quando as primeiras

levas de imigrantes da Pomerânia — embarcadas no Porto de Hamburgo na Alemanha —

aportaram no Porto de Vitória no Estado do Espírito Santo no Brasil.

Especificamente a comunidade de Alto Santa Maria, passou a se formar por volta

de 1940, quando as primeiras famílias (dos senhores Alberto Schneider, Augusto Gering,

Ricardo Friedrich e Herbert Waiandt) se estabeleceram no local, vindos de regiões

vizinhas. Fundando assim, uma das comunidades do Povo Tradicional Pomerano

(Decreto 6.040/2007), onde a língua pomerana é mantida viva, juntamente com os

costumes típicos como a culinária, vestuário, medicina alternativa, festas de casamentos

e datas religiosas etc.

Hoje vivem em Alto Santa Maria aproximadamente 1500 pessoas. Dos quais cerca

de 90% seguem fortemente suas raízes pomeranas. Em sua maioria, são pequenos

agricultores, proprietários de suas terras, onde trabalham incansavelmente, com todos os

membros da família dividindo as tarefas.

Uma vez por semana, alguns integrantes das famílias vão para as cidades de Vitória

e Colatina (principalmente) vender seus produtos em feiras. Recentemente conquistaram

um espaço dentro de um conhecido shopping na região metropolitana de Vitória para

comercializar seus produtos orgânicos. Pois muitos produtores da comunidade produzem

alimentos orgânicos e muito se orgulham disso.

A atividade agrícola em propriedades familiares é a base econômica e as terras vêm

sendo herdadas de uma geração a outra. Muito raramente ocorre de uma família vender

sua propriedade familiar. Contudo, a cada geração a área disponível para o trabalho

familiar diminuía, assim, o cultivo foi se dando cada vez mais de forma intensiva,

predominando a produção de hortaliças e de café.

De acordo com Fehlberg (2011), o que já havia sido discutido de alguma maneira

por Graça Aranha, no Brasil, os imigrantes pomeranos apresentaram comportamentos

Page 11: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

adaptativos em relação ao trabalho na agricultura. Foram tidos como os trabalhadores

mais dedicados à lavoura e os que mais rápido e melhor se adaptaram às condições do

solo e clima. Ainda hoje, conforme o autor os pomeranos são vistos como trabalhadores

persistentes e fortes. Sua dedicação ao trabalho de sol a sol no cultivo da terra evidencia-

se através de rostos precocemente envelhecidos, por causa da intensa exposição ao sol.

Muitos pomeranos desenvolvem câncer de pele.

As características físicas citadas acima aparecem também na descrição da clientela

pomerana feita pelos professores no Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual de

Ensino Fundamental e Médio Fazenda Emílio Schroeder. Trata-se de crianças e

adolescentes provenientes do meio rural e que auxiliam os pais no trabalho agrícola, no

contra turno escolar.

Vale destacar ainda sobre as características físicas de Alto Santa Maria, a

exuberância da mata atlântica, ainda muito preservada e a variedade de cores que tingem

as casas. Os pomeranos gostam de colorir suas casas das mais variadas cores. Assim é

comum na comunidade, encontrarmos casas amarelas, azuis, roxas, vermelhas, verdes,

cor de rosa, combinando com as flores dos jardins e da própria mata preservada, assim

como é comum encontrar todas essas cores em uma única casa.

Produção de dados e análises preliminares

Nossas fontes contam com relatos orais de sujeitos da comunidade de Alto Santa

Maria. Esforços envidados simultaneamente para aprofundamento das investigações a

partir de documentos disponíveis em espaços públicos e/ou privados pouco frutificaram.

Von Simson et al. (1997) contribuem para problematizar processos investigativos que se

deparam com poucas fontes documentais ou mesmo sua inexistência, para registro e

análise de memórias. Diante de cenários assim, estes autores trabalham com a história

oral em diversos contextos e situações e discutem a validade do trabalho de pesquisa dessa

natureza em termos metodológicos. Partindo de dificuldades, conquistas e descobertas, a

metodologia da história oral proporciona ao pesquisador e sujeitos da investigação

oportunidades para a narrativa de histórias vividas. Estabelecem-se relações de confiança

que permitem vir à tona vozes silenciadas por alguma razão. A metodologia da história

Page 12: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

oral, segundo Galvão (2010, p.75), é um recurso usado principalmente quando o

pesquisador, diante do problema pesquisado, dispõe de poucos testemunhos escritos. Essa

forma de fazer história chama-se oral porque a fonte fala.

No nosso caso, a pesquisa está diretamente relacionada às histórias dos

entrevistados da comunidade, norteada pelo interesse comum à escola. A escola possui

poucos registros que nos permitem responder às questões propostas, assim, surgiu a

necessidade de recorrermos ao recurso oral para a investigação. Nesse sentido,

evidenciam-se as narrativas da professora Marineuza Plaster Waiandt que, desde 1979,

vive na comunidade uma história de luta.

Marineuza Plaster Waiandt, aos quinze anos de idade, iniciou sua “aventura” no

mundo da educação como professora. Casou-se, tornou-se mãe, constituiu família. Em

um dado momento, viu-se obrigada a conciliar a família, o trabalho e a escola com sua

constante e permanente formação profissional. Efetivou-se no magistério, tornou-se

diretora, aposentou-se, e voltou para a sala de aula posteriormente. Tudo sem perder o

vínculo com a comunidade que a recebeu ainda adolescente.

A professora relata que, ao iniciar a docência era comumente confundida com os

alunos, crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos de idade, os quais tinham o mesmo tipo

físico que ela. Com esse depoimento inicial, Marineuza nos remete a Moura (1978, p. 61)

que ao apresentar o pensamento de Paulo Freire, enfatiza o fato de que o professor não

trabalha para os alunos, mas com os alunos. De forma que ao agir assim ele pratica e

aprende a partilha. O professor torna-se, deste modo, um sujeito que procura com os

alunos, e com a comunidade uma relação horizontal baseado no diálogo. E o professor

que age com esse princípio não aplica simplesmente uma técnica aprendida, mas assume

uma atitude diante da educação.

No caso específico da professora Marineuza, a relação horizontal desta docente

acabou se tornando também literal, pois, mesmo sabendo de sua posição de professora,

nos momentos do intervalo virava criança e brincava com os alunos de igual para a igual.

Na sala de aula assumia uma postura, que sugere o equilíbrio entre a amizade que nutria,

especialmente com os alunos de idade próxima a sua, e a docência dialogada.

Page 13: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

Na sua relação com a comunidade era preciso demonstrar ser merecedora do voto

de confiança, e corresponder às expectativas de quem lhe confiou a importante missão de

alfabetizar e oferecer instrução primária. Por isso, apresentava uma postura firme,

participando ativamente da igreja, do Ensino Confirmatório, das reuniões de associações,

entre outras.

Para compreendermos por que a professora Marineuza iniciou sua carreira docente

tão precocemente, precisamos recorrer à história da Escola Estadual de Ensino

Fundamental e Médio “Fazenda Emilio Schroeder” (comumente conhecida como EEEF

“Fazenda Emílio Schroeder”). Está situada à Estrada de Alto Santa Maria – Garrafão,

Comunidade de Alto Santa Maria, Santa Maria de Jetibá, Estado do Espírito Santo, Brasil.

A trajetória dos moradores em relação à educação remete a 1968, marco histórico

na organização comunitária que contribuiu para fundar a primeira sala de aula na casa do

professor Emílio Schroeder, designado pela comunidade para atuar nas séries iniciais,

organizadas em classes multisseriadas.4

Contudo, no ano de 1971, a escola precisou se adaptar oficialmente às regras

nacionais para a formação do professor, ditadas pelo Art. 30 da Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional - LDB nº 5.692/71. Entre outras resoluções, essa lei regulamentava

o nível de instrução dos professores de acordo com a série e a faixa etária dos alunos.

Como o nível de ensino da EEEF “Fazenda Emilio Schroeder” limitava-se à

alfabetização, a qualificação do professor que nela atuasse deveria obedecer no mínimo à

formação de nível de 2º grau, destinada a formar o professor polivalente das quatro

primeiras séries do 1º grau.

Essa normatização oficial acabou afastando o professor Emilio Schroeder de suas

funções docentes, visto que seu nível máximo de instrução naquele momento era de

quarta série do Ensino Fundamental. Devido à distância, ao difícil acesso e à dificuldade

com a Língua Pomerana, os professores que vinham da sede do município de Santa

Leopoldina, ou de outros municípios, inclusive da cidade de Vitória, capital do Estado do

4 Classes multisseriadas, segundo Moretto (2015) e Baldotto (2015) caracterizadas

pelo agrupamento de alunos de diferentes séries escolares em uma mesma sala de aula,

geralmente sob a responsabilidade de um único professor. Muito comum à realidade

educacional brasileira.

Page 14: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

Espírito Santo, não conseguiam se estabelecer na região. Desse modo a escola ficou dois

anos sem professor (1977-1979). Somente a partir do ano de 1979 passou a ter novamente

uma professora com vínculos efetivos na comunidade, inicialmente em caráter

emergencial.

Essa conquista que garantiu a contratação dessa professora concretiza uma

característica típica das comunidades de resistência, segundo o conceito freireano de não

conformismo. Como a escola foi fechada compulsoriamente, sem que o Estado oferecesse

qualquer outra opção, e diante de frustrantes tentativas de diálogo com o poder público,

a comunidade tomou uma atitude no mínimo inusitada: A Professora Marineuza relata

que certo dia o prefeito da cidade estava em Alto Santa Maria, e dirigia seu próprio carro.

Mas foi surpreendido por uma forte chuva que fez seu carro atolar na lama, pois a estrada,

ainda hoje é desprovida de pavimentação. O prefeito precisou recorrer aos moradores,

para pedir ajuda. Já era noite, e os moradores viram na situação uma oportunidade: Só

ajudariam a desatolar o carro se, em troca, o prefeito garantisse a reabertura da escola.

Sem saída, ele concordou, desafiando a própria comunidade a encontrar entre eles,

alguém instruído, apto a assumir as aulas.

Como Marineuza era, à época, a única que havia cursado até a sexta série do Ensino

Fundamental, a comunidade então a elegeu como professora, e assim começa a sua

trajetória profissional, aos 15 anos de idade.

A primeira alternativa por parte da comunidade foi buscar o diálogo com as

autoridades, e na ausência deste elemento tão fundamental, as lutas de resistência

seguiram para construção de possibilidades alternativas que favorecessem vencer os

impasses gerados pela omissão do poder público. A comunidade não é contrária à

educação pública; opõe-se ao autoritarismo da administração oficial. Em face disso, as

condições favorecem a comunidade e a decisão é pela contratação da professora

Marineuza Plaster, que por decisão comunitária é conduzida a assumir as aulas.

Porém persistia um problema: a pouca idade da Schaullehrisch (docente) recém-

contratada. Essa questão foi resolvida diplomaticamente na organização da comunidade

e como a nova alfabetizadora adolescente estava sendo contratada em caráter

emergencial, entendeu-se que a idade não seria empecilho. Após muitas negociações, a

Page 15: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

nova docente comprometeu-se formalmente em tomar parte da formação realizada pelo

programa do governo federal denominado HAPRONT (Projeto de Habilitação de

Professores não Titulados), destinado à habilitação de professores leigos do Ensino

Fundamental de zonas rurais, em nível de 2º Grau. Esse projeto foi criado pelo Ministério

de Educação e Cultura, na década de 1970, com objetivo de adequar a formação dos

professores das áreas rurais, (Art. 30 da LDB nº 5.692/71) e extinto em 1991 no Estado

do Espírito Santo.

Na década de 70, ano em que Marineuza inicia suas atividades docentes, vigoraram

no Brasil as orientações tecnicistas no sistema educacional, fortemente determinadas pelo

behaviorismo norte americano (comportamentalista). Essa influência envolvia alterações

na organização da escola e no currículo, e culminava no tecnicismo que se instalou

oficialmente com a já mencionada LDB nº 5.692/71. Essa tendência tinha como principal

característica a preocupação com os métodos de ensino. O eixo do ensino nessa

perspectiva, era a organização racional dos meios, e não propriamente o aluno e o

aprendizado. Contrariando o tecnicismo, Marineuza de partida engajou-se para trabalhar

na perspectiva dos pressupostos da escola nova, cujos meios são definidos pelos

professores e alunos prezando o ensino aprendizagem. A técnica estabelecida então pela

professora, seus alunos e a comunidade, para viabilizar o ensino, foi recorrer à língua

materna. Assim, a professora conseguia estabelecer o diálogo, ensinar a língua portuguesa

e cumprir o seu papel de professora. Percebe-se que a alfabetizadora promove resistência

pedagógica, quando introduz no currículo a cultura pomerana, problematizando assim a

imposição pelo Estado da educação oficial.

Os alunos desse período se recordam saudosos dessa fase de suas vidas; um deles,

em depoimento disse lembrar-se unicamente de Marineuza como sua professora, embora

tenha tido outras, das quais não lembra nem o nome e nem a fisionomia. (Jorge Schneider,

em entrevista realizada em 13/04/2015). Esse mesmo ex-aluno lembra a metodologia de

trabalho usada pela professora. Segundo ela tinha o hábito de cantar com os alunos em

pomerano, e das letras ele ainda se recordo, apesar de já terem decorrido mais de duas

décadas. O saudoso aluno lembra ainda que a professora explicava os conteúdos primeiro

em língua portuguesa, e depois em língua pomerana. Ela usava esse recurso para que os

Page 16: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

alunos se familiarizassem também com a pronúncia em língua portuguesa. Assim ela fazia

o duplo trabalho de alfabetizar e ensinar a língua oficial do país.

Jorge lembra que a dificuldade dele era a mesma da turma inteira: a língua

portuguesa. Porque todos seus colegas eram descendentes de pomeranos, em casa usavam

somente a língua pomerana e raramente saíam da comunidade. Os eventos sociais dos

quais participavam eram todos em contexto pomerano, de modo que o contato com a

língua portuguesa era restrito à escola. Até mesmo os meios de comunicação eram pouco

utilizados na comunidade.

Vale ressaltar que Jorge foi aluno de Marineuza na década de 1990, o que sugere

que desde o início de sua atividade profissional até mais de uma década, pouco ou nada

se modificou na comunidade em termos culturais, o que de certa forma também

caracteriza a resistência.

A década de 90 foi muito importante para a educação na comunidade de Alto Santa

Maria. Desde o período que Marineuza assumiu as aulas (1979), a estrutura escolar

aumentou a ela se somaram outras professoras, e gradativamente foi se ampliando a oferta

do ensino. Em 1993, a escola ofertava as quatro séries iniciais do Ensino Fundamental (1ª

a 4ª séries) em salas individuais (uni docentes). Neste mesmo ano a comunidade sentiu

necessidade de ampliar a oferta de ensino até a 8ª série. Assim, em 1994, de acordo com

o Projeto Politico e Pedagógico da escola, por iniciativa de 23 famílias, a comunidade se

reuniu para reivindicar junto à Secretaria de Estado da Educação-SEDU, uma unidade

completa de Ensino Fundamental. A solicitação foi atendida conforme a Portaria nº 3068

de 19/08/1994, publicada no Diário Oficial de 22/08/1994.

Iniciam-se novos desafios, um deles era a falta de espaço físico, assim, seria

necessário ampliar o número de salas para tornar o projeto possível. Por outro lado, não

bastava construir novas salas de aula, pois o sistema de ensino que a comunidade queria

não era o convencionalmente ofertado pelo Estado. A comunidade almejava uma

pedagogia alternativa (Foerste, Schütz-Foerste e Merler, 2013 e 2015), que valorizasse a

atividade agrícola de base familiar, expressão máxima da economia local e dialogasse

com a comunidade. E entendiam que a escola deveria subsidiar essa atividade,

Page 17: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

sistematizando conhecimentos teóricos que se somassem as práticas desenvolvidas em

casa.

Inspiraram-se então na Escola Família Agrícola de São de Garrafão – comunidade

localizada a aproximadamente 20 km de Alto Santa Maria – com funcionamento em

tempo integral e Regime de Alternância. As escolas em Alternância se constituem de

horários de aula convencionais (teoria) e horários de prática na lavoura, criação de

animais de pequeno porte, visando à articulação entre a teoria e a prática. Essa proposta

possibilita o permanente contato do aluno com a atividade agrícola. Esse era um dos

anseios da comunidade que reivindicou o mesmo sistema de ensino para a EEEF

“Fazenda Emilio Schroeder”, a partir da 5ª série.

Unida por esse objetivo, a comunidade, com recursos próprios, arrecadados por

meio de mutirões, rifas, festas, e por convênios de doação de materiais (pela Prefeitura

Municipal) construiu a unidade escolar que atenderia aos alunos em Regime de

Alternância. O funcionamento da escola nesse regime de ensino, foi aprovada pelo

Conselho Estadual de Educação somente no ano de 2000, conforme a Resolução CEE

157/2000 publicada no Diário Oficial de 26/01/2001. Mas desde 1994, mesmo sem

autorização formalizada a escola já funcionava conforme o desejo da comunidade.

A unidade onde são ofertadas as séries finais do Ensino Fundamental e Ensino

Médio, conta com uma propriedade agrícola de 10,5 (dez e meio) hectares e foi declarada

de utilidade pública e desapropriada pela Prefeitura Municipal com fim específico da

construção de uma Escola Família Agrícola (Decreto nº 121/92, publicado no Diário

Oficial no dia 26 de outubro de 1992), situa-se há aproximadamente 2 km de distância da

localização do prédio escolar onde se ofertam hoje as séries iniciais do ensino

fundamental. O terreno foi cedido, por comodato, para a Paróquia Evangélica de

Confissão Luterana de Rio Possmoser (10 km de Alto Santa Maria), pelo fato da mesma

ser parceira na conquista deste modelo de ensino. Naquele momento se pôde assumir a

representatividade legal no comodato, conforme Contrato assinado em 28 de dezembro

de 1992.

A propriedade é utilizada pela escola como unidade de experimentação de produção

orgânica de hortifrutigranjeiros em geral. Sua produção é utilizada na complementação

Page 18: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

da alimentação escolar, além de permitir que os alunos coloquem em prática as questões

teóricas estudadas nas aulas de agricultura e zootecnia, além das disciplinas de Base

Nacional Comum. Os professores, por sua vez, fazem visitas às famílias dos alunos,

promovendo um intercâmbio entre a escola e a família, para verificar como os alunos

aplicam os conhecimentos teorizados na escola, em unidades produtoras de seus próprios

familiares.

Considerações

Os descendentes de pomeranos que se estabeleceram na região serrana do Estado

do Espírito Santo — Brasil, portanto, desde o início de sua instalação em solo brasileiro,

lutam para terem seus direitos reconhecidos. Em principio, pela posse dos lotes de terra

que lhes cabiam. Direito prometido ainda no continente europeu, mas que não foi

cumprido, em regra, no Brasil como os colonos esperavam, conforme relata Graça Aranha

(2002). Em seguida, lutaram pela preservação de seus traços culturais, onde se inclui a

língua materna. Lutaram pela educação que era gratuita na Pomerânia, no Brasil, porém,

precisou ser assumida pelos próprios pais, ou pela Igreja (SOBOLL, 2011). E apesar dos

esforços empreendidos ainda foram perseguidos pelo governo Vargas (1930-1945)

durante a campanha de nacionalização das escolas no Brasil (HESS, 2005).

Especificamente na comunidade de Alto Santa Maria, os pomeranos não se calaram

diante do fechamento da escola em 1977, enfrentaram pessoalmente o prefeito em favor

da educação escolar, e ainda ousaram indicar o nome de uma pessoa da comunidade que

julgaram possuir as qualidades necessárias para se tornar professora. Lutaram pela

construção das salas de aula, instituíram a escola em Regime de Alternância.

Todas essas características do povo pomerano, somadas a forma como trabalham a

terra, como preservam seus valores culturais, faz com que hoje sejam considerados povo

tradicional como prevê o Decreto 6.040/2007, e de acordo com a descrição de Brandão

(2012) segundo o qual, comunidade tradicional é aquela que se cria em um espaço, para

o qual se migrou de maneira imposta e arbitrária. Foi nesses termos que os pomeranos se

instalaram nas terras altas, da região centro serrana, e donde ajudaram a construir o Estado

do Espírito Santo.

Page 19: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

A comunidade de Alto Santa Maria se constitui ainda em comunidade de

resistência. Primeiro pelo não conformismo com o fechamento da escola, ressaltando-se

que o não conformismo é uma prática de resistência em Paulo Freire. E depois, pela

prática da professora, que “eleita” pela comunidade, em comum acordo com ela,

encontrou pelo diálogo, na língua materna pomerana, o meio de construir um aprendizado

mais humano, num momento em que o Estado ditava um sistema de ensino tecnicista.

Outra forma de resistência pode ser verificada ainda quando a comunidade

reivindica a escola em Alternância. A força reivindicatória, embora de ordem prática, dá

vida à comunidade (BUBER, 1987, p. 34), torna possível a resistência em Alto Santa

Maria. Pois é uma das características que subsidiam a existência física da comunidade,

que por sua vez, faz surgir um movimento que une os indivíduos e os impulsiona a lutarem

pela manutenção de uma vida comunitária preexistente, estabelecida pela educação para

essa comunidade (BUBER, 1974, p.90). Pois os pais veem na escola tradicional uma

ameaça a forma de organização de sua comunidade.

Assim diante dos aspetos trazidos para essa discussão concluímos que a

comunidade de Alto Santa Maria, bem como o Povo Tradicional Pomerano, jamais

adotou uma postura de conformismo diante das intempéries a que estiveram expostos, e

sim de resistência. O relato apresentado pela professora atestando a não omissão da

comunidade diante da escola negada aos filhos, em 1977, demonstra a atitude de uma

comunidade que se identifica como tal, e que tem ciência de sua condição de injustiçada.

Lutou comunitariamente em prol de uma causa comum e que não se calou diante da

injustiça.

REFERÊNCIAS

ARANHA, Graça. Canaã. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

BUBER, Martin. Sobre comunidade. São Paulo: Perspectiva, 1987.

BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução de Newton Aquiles von Zuben. São Paulo:

Cortez e Moraes, 1974.

Page 20: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

CASTELLUBER, Arildo. Ensino Primário e matemática dos imigrantes e

descendentes germânicos em Santa Leopoldina (1857-1907). Vitória: Programa de

Pós-Graduação em Educação/UFES (tese de doutorado), 2014.

Decreto nº 121/92, publicado no Diário Oficial no dia 26 de outubro de 1992.

DELBONI, Juber Helena Baldotto – A Escola Multisseriada Em Imagens:

Construindo A Memória e o Significado Da Escola Na Comunidade Campesina- UFES- Pôster- GT03 – 4585- 37ª Reunião Nacional da ANPEd – 04 a 08 de outubro de

2015, UFSC – Florianópolis

DETTMANN, Jandira Marquardt. Práticas e Saberes da Professora Pomerana:

Um Estudo Sobre Interculturalidade. Dissertação (Mestrado em Educação)–

Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2014.

FEHLBERG, Jamily. E MENANDRO, P.R.M. Terra, Família e Trabalho entre

Descendentes de Pomeranos no Espírito Santo. Revista Barbarói, n º 34, 80-100, 2011.

FOERSTE, Erineu. Presença pomerana no Estado do Espírito Santo - Brasil:

Questões de pesquisa sobre interculturalidade. In: X Deutscher Lusitanistentag 2013.

Hamburg/Alemanha: Deutscher l\usitanistenverband e. V. (DLV), 2013.

FOERSTE, Erineu. Políticas linguística e cultural: os Povos Tradicionais do

Brasil no Estado do Espírito Santo. In: 11. Deutscher Lusitanistentag 2015.

Aachen/Alemanha: Deutscher l\usitanistenverband e. V. (DLV), 2015.

FOERSTE, Erineu; SCHAFFEL-BREMENKAMP, Elisana; PERES, Edenize

Ponzo. Análise sociolinguística da manutenção da língua pomerana em Caramuru, Santa

Maria de Jetibá, Espírito Santo. Veredas (UFJF. Online), v. 19, p. 50-70-70, 2015.

FOERSTE, Erineu; SCHUTZ-FOERSTE, Gerda Margit; MERLER, Alberto.

Educação do campo e culturas: uma discussão sobre pedagogias alternativas. Visioni

Latinoamericane, v. V, p. 30-41, 2013.

FOERSTE, Erineu; SCHÜTZ- FOERSTE, Gerda Margit; MERLER, Alberto.

Educação do campo: uma contribuição para a pedagogia social. In: FOERSTE, Erineu;

CARVALHO, Leticia Queiroz de; CHISTÉ, Priscila de Souza (orgs.). A pedagogia

social em diálogo: educação profissional, linguagens e saberes do campo. São Carlos:

Pedro e João, 2015, p. 27 - 44.

FREIRE. Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e

Terra, 1999.

FREIRE. Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos.

São Paulo. Paz e Terra, 2000.

Page 21: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

FREIRE. Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005,

42.ªedição.

GAEDE, Valdemar. Presença Luterana no Espírito Santo: os primórdios da presença

luterana no estada do Espirito Santo e a História da Paróquia de Santa Maria de Jetibá.São

Leopoldo: Oikos, 2012.

GALVÃO, Ana Maria de Oliveira; LOPES, Eliane Marta Teixeira. Território

Plural: a pesquisa em história da educação. São Paulo: Ática, 2010.

HARTUWIG, Adriana V. Guedes. Professores (as) Pomeranos(as): Um estudo

de caso sobre o Programa de Educação Escolar Pomerana -Proepo -desenvolvido em

Santa Maria de Jetibá/ES. Dissertação (Mestrado em Educação)– Universidade Federal

do Espírito Santo, Vitória, 2011.

HEES, Regina Rodrigues. FRANCO. Sebastião Pimentel; A república e o

Espírito Santo. Vitória: Multiplicidade, 2003.

http://www.educacao.es.gov.br/ acesso em 26 de maio de 2015.

MORETO, Charles. Gerações de Professoras de Escolas de Classes

Multisseriadas do Campo. Vitória: Programa de Pós-Graduação em Educação/UFES

(tese de doutorado), 2015.

MOURA, M. O Pensamento de Paulo Freire – Uma Revolução na Educação.

Lisboa: Multinova, 1978.

Portaria nº 3068 de 19/08/1994 publicada no Diário Oficial de 22/08/1994.

Resolução CEE 157/2000 de 20/09/2000 publicada no Diário Oficial de 26/01/2001.

SAVEDRA, Mônica & HÖHMANN, Beate. A formação de professores bilíngues

em projetos de revitalização de línguas de imigrantes: O caso do PROEPO. In: MOLICA,

Cecília; PATUSO, Cynthia; BARBOSA, Fátima (orgs.). Olhares transversais em

pesquisa e inovação. Rio de janeiro: Tempo Brasileiro, 2012.

SAVEDRA, Mônica. A língua alemã no Brasil: uma língua de/em contato. In: VON

BORSTEL, C. N.; COSTA-HÜBES, T. (orgs.). Linguagem, cultura e ensino. Cacavel:

EDUNIOESTE, 2010.

SAVEDRA, Mônica; MARTINS, Marco Antônio; DA HORA, Dermeval (orgs.).

Identidade social e contato linguístico no Português Brasileiro. Rio de Janeiro:

FAPERJ/EDUERJ, 2015.

Page 22: EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE … · 2016. 7. 21. · EDUCAÇÃO: MEMÓRIAS DE UMA COMUNIDADE DESCENDENTE DE POMERANOS NO ESPIRITO SANTO — BRASIL Edineia Koeler1

SCHAEFFER, Shirlei Conceição Barth. Descrição Fonética e Fonológica do

Pomerano Falado no Espírito Santo. Dissertação (Mestrado em Educação) -

Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2012.

SCHILLING, Kurt. História das Ideias Sociais, Individuo, Comunidade,

Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974.

SILLER, Rosali Rauta. A constituição da subjetividade no cotidiano da

Educação Infantil. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do

Espírito Santo, Vitória, 1999.

SOBOLL, Heinz Friedrich. Burros e Pastores na Terra do Espírito Santo = Esel und

Pastoren im Land des Heiligen Geistes/ Heinz Friedrich Soboll; tradução de Waltraude

Wartchow, Jürgen Soboll e Walter Soboll.- São Paulo: Artebr, 2011. (edição bilíngue).

TÖNNIES, Ferdinand. Comunidade e sociedade como entidades típico-ideais.

In: FERNANDES, Florestan. (org.). Comunidade e sociedade: leituras sobre problemas

conceituais, metodológicos e de aplicação. São Paulo: Editora Nacional e Editora da

TÖNNIES, USP, 1973. p. 96-116.

TRESSMANN, Esmael. 2005. Da Sala de Estar à Sala de Baile. Estudo

Etnolinguístico de Comunidades Camponesas Pomeranas do Estado do Espírito Santo.

Tese de Doutorado. Museu Nacional e Faculdade de Letras. Universidade Federal do Rio

de Janeiro-UFRJ. Rio de Janeiro

VON SIMSON, Olga. Org Os desafios contemporâneos da história Oral.

Campinas: Área de publicação CMU/Unicamp.1997.

WEBER, Merklein Gerlinde. A escolarização entre descendentes pomeranos

em Domingos Martins. Vitória: PPGE/UFES (dissertação de mestrado), 1998.