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Efeito da Recirculação dos Gases de Exaustão e Estagiamento de Ar nas Emissões de Gases e Partículas de uma Caldeira Doméstica Mafalda da Costa Bernardes Figueira Henriques Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Júri Presidente: Professor Luís Rego da Cunha de Eça Orientador: Professor Mário Manuel Gonçalves da Costa Vogal: Doutor Abel Martins Rodrigues Novembro de 2013

Efeito da Recirculação dos Gases de Exaustão e ... · Efeito da Recirculação dos Gases de Exaustão e Estagiamento de Ar nas Emissões de Gases e Partículas de uma Caldeira

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Efeito da Recirculação dos Gases de Exaustão e Estagiamento de Ar nas Emissões de Gases e Partículas

de uma Caldeira Doméstica

Mafalda da Costa Bernardes Figueira Henriques

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Mecânica

Júri

Presidente: Professor Luís Rego da Cunha de Eça

Orientador: Professor Mário Manuel Gonçalves da Costa

Vogal: Doutor Abel Martins Rodrigues

Novembro de 2013

i

ii

Resumo

O presente estudo visa analisar o efeito de dois métodos distintos na redução da emissão de

gases e partículas resultantes da combustão da biomassa numa caldeira doméstica alimentada a

pellets. Os métodos estudados são a recirculação dos gases de exaustão (RGE) e o estagiamento

de ar, os quais foram examinados para duas cargas térmicas da caldeira. A aplicação de RGE

traduz-se em melhorias nas emissões de NOx, tendo, no entanto, um efeito pouco significativo nas

emissões de CO. A sua aplicação como estratégia de redução da emissão de partículas, em

especial, das de menor dimensão, apresenta um carácter promissor, mas requer estudos

adicionais. O estagiamento de ar mostrou ser um método muito eficaz na redução das emissões

de PM2,5. Neste caso, todavia, é necessário dar especial atenção às emissões de CO, as quais

podem aumentar face à situação em que não é aplicado qualquer estagiamento.

Palavras-chave: Biomassa, caldeira doméstica, poluentes, recirculação dos gases de exaustão

estagiamento de ar

iii

Abstract

The present study aims to evaluate the effect of two distinct methods in the reduction of the

emission of gases and particles from a domestic boiler fired with pellets. The methods studied are

flue gas recirculation and air staging. Both methods were examined for two boiler thermal loads.

The application of RGE led to improvements in NOx emissions, but its effect on the CO emissions

was marginal. This method, however, is promising as a strategy to reduce the emission of particles,

in particular, ultra fine particles. This requires, however, further investigation. The air staging

proved to be a very effective method to reduce PM2,5 emissions. In this case, however, it is

necessary to give special attention to the CO emissions, which may increase when air staging is

applied to the boiler.

Keywords: Biomass, domestic boiler, pollutants, flue gas recirculation, air staging

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Professor Doutor Mário Costa, orientador deste estudo, por me ter possibilitado a

realização de uma investigação tão importante e ao mesmo tempo porque se insere na área de

estudo do meu interesse. O meu mais reconhecido agradecimento por todo o apoio e orientação, e

pela experiência que me providenciou ao longo de todas as fases do estudo.

Agradeço ao Ulisses Fernandes pela disponibilidade e ajuda que me forneceu durante todo o

trabalho, as quais foram imprescindíveis para a realização e compreensão do mesmo.

Agradeço ao Jorge Coelho pelo apoio que me prestou na resolução gráfica e de imagens, e ao

Manuel Pratas pela ajuda concedida durante a realização dos trabalhos experimentais.

Agradeço aos meus colegas de laboratório, Francisco Portela, Tiago Carvalho, Ricardo Maximino,

João Pires, João Pina, Bruno Bernardes, Wang Gogliang, António Silva, por toda a camaradagem

e bom ambiente que sempre me proporcionaram. Um agradecimento especial à Isabel Ferreiro,

pela sua amizade e encorajamento ao longo do curso.

Agradeço aos meus amigos, Tiago, Joana, Marta e Diogo, por todas as palavras de ânimo e

coragem que me deram durante o decorrer do curso.

Agradeço à minha família, em especial aos meus avós e à tia Aldinha, por terem sempre

acreditado em mim e pela ajuda prestada em todos os momentos.

Agradeço ao Nicola, por me aconselhar, escutar e dar apoio em dias menos bons.

Finalmente agradeço ilimitadamente aos meus pais e irmã, por todo o carinho e compreensão que

sempre me deram, em especial por sempre terem acreditado em mim e me terem dado força nos

momentos que me foram mais difíceis.

v

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 1

1.1. Enquadramento .................................................................................................................. 1

1.2. Estudos anteriores .............................................................................................................. 6

1.3. Objetivos ............................................................................................................................. 8

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS .................................................................................................... 9

2.1. Biomassa como combustível .............................................................................................. 9

2.2. Combustão da biomassa .................................................................................................. 14

2.3. Poluentes gasosos ........................................................................................................... 16

2.4. Partículas .......................................................................................................................... 18

2.4.1. Processos de formação de partículas e de cinzas ................................................... 19

2.4.2. Partículas resultantes da combustão incompleta ........................................................... 25

2.4.3. Outros fatores na emissão de partículas ........................................................................ 27

2.5. Recirculação dos gases de exaustão ............................................................................... 28

2.6. Estagiamento de ar .......................................................................................................... 29

3. INSTALAÇÃO EXPERIMENTAL .............................................................................................. 31

3.1. Caldeira doméstica ........................................................................................................... 31

3.2. Modificações realizadas na caldeira de combustão ......................................................... 34

3.3. Métodos experimentais .................................................................................................... 37

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................ 41

4.1. Características do combustível ........................................................................................ 41

4.2. Condições de operação da caldeira ................................................................................. 41

4.3. Efeito da recirculação dos gases de exaustão nas emissões gasosas e de partículas .. 43

4.4. Efeito do estagiamento de ar nas emissões gasosas e de partículas ............................. 46

5. FECHO ..................................................................................................................................... 50

5.1. Conclusões ....................................................................................................................... 50

5.2. Recomendações para trabalhos futuros .......................................................................... 51

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 53

vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Ciclo de carbono da combustão da biomassa. ................................................................... 4

Figura 2. Mecanismos de formação de partículas primárias durante a combustão da biomassa em

grelha fixa [36]. ................................................................................................................................. 21

Figura 3. Processo de formação de partículas a partir dos elementos presentes nas cinzas [16].. 22

Figura 4. Representação esquemática do processo de formação da fuligem [19]. ......................... 26

Figura 5. Representação esquemática da formação de fuligem na chama envolvente do resíduo

carbonoso durante a combustão do carvão [36]. ............................................................................. 26

Figura 6. Esquema simplificado do processo de RGE. .................................................................... 29

Figura 7. Esquema simplificado do processo de estagiamento de ar. ............................................ 30

Figura 8. Instalação Experimental. ................................................................................................... 31

Figura 9. Dimensões da caldeira. ..................................................................................................... 32

Figura 10. Esquema da alteração realizada na caldeira para testar o efeito de RGE. .................... 35

Figura 11. Esquema da alteração realizada na caldeira para testar o efeito de estagiamento de ar.

.......................................................................................................................................................... 36

Figura 12. Dispositivo utilizado para estagiamento de ar. ............................................................... 36

Figura 13. Esquema da instalação experimental. ............................................................................ 37

Figura 14. Sonda acoplada com impactor LPI para recolha de gases e de partículas. .................. 38

Figura 15. Representação esquemática da sonda responsável pela amostragem de gases e suas

dimensões [1]. .................................................................................................................................. 39

Figura 16. Princípio de funcionamento do LPI [19]. ......................................................................... 40

Figura 17.Efeito de RGE nas emissões gasosas e de PM para 13 e 17 kW. .................................. 44

Figura 18. Efeito de RGE nas emissões de PM2,5 para 13 e 17 kW. ............................................... 45

Figura 19. Efeito do estagiamento de ar nas emissões de gasosas e de partículas para 13 e 17

kW. .................................................................................................................................................... 46

Figura 20. Efeito da aplicação de estagiamento de ar nas emissões de PM2,5 para 13 e 17 kW. .. 48

vii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Consumo Anual de energia Global (Gtoe), 2010 [6]. ......................................................... 3

Tabela 2. Comparação entre as propriedades físicas e químicas da biomassa e do carvão [22]. . 13

Tabela 3. Propriedades dos pellets de acordo com a norma DIN 51731. ....................................... 34

Tabela 4. Características dos analisadores utilizados na medição da concentração das espécies

químicas. .......................................................................................................................................... 38

Tabela 5.Propriedades das pellets utilizadas. .................................................................................. 41

Tabela 6. Condições de operação dos testes com Recirculação dos gases de exaustão. ............. 42

Tabela 7. Condições de operação dos testes com estagiamento de ar. ......................................... 42

viii

NOMENCLATURA

Caracteres Latinos

cp Calor específico

Texaustão Temperatura dos gases de exaustão

P Carga térmica

Caudal mássico de pellets

Caracteres Gregos

Coeficiente de excesso de ar

Razão de equivalência

Abreviaturas

PCS

Poder Calorífico Superior

PCI

Poder Calorífico Inferior

ESP

Precipitador Electroestático

RGE

Recirculação dos Gases de Exaustão

PM

Particulate Matter

LPI Low Pressure Impactor

DLPI Dekati Low Pressure Impactor

daf Dry ash free

1

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho enquadra-se na temática das energias renováveis, abordando, em particular,

as questões relacionadas com a combustão da biomassa. O trabalho está dividido em cinco

partes. O presente capítulo apresenta um enquadramento geral em torno da problemática das

emissões resultantes da combustão da biomassa e as suas implicações no ambiente e na saúde

pública. É depois apresentado o estado da arte nesta matéria através dos últimos trabalhos

publicados. Neste capítulo são ainda definidos os objetivos da presente investigação. O capítulo 2

apresenta os fundamentos teóricos que servem de base à discussão dos presentes resultados

enquanto o capítulo 3 descreve a instalação e as técnicas experimentais usadas no decurso do

presente estudo. O capítulo 4 é dedicado à análise e interpretação dos resultados obtidos.

Finalmente, o capítulo 5 resume as principais conclusões deste estudo e lista algumas sugestões

para trabalhos futuros.

1.1. Enquadramento

O uso de energia tornou-se, possivelmente, no elemento mais importante para a qualidade de vida

humana. A sua importância vem desde os tempos pré-históricos, aquando da descoberta do fogo.

Este foi, talvez, o marco mais importante na história de toda a humanidade.

O homem, na sua constante mudança, sempre teve a necessidade de evoluir. A maior progressão

na história da energia surgiu com a Revolução Industrial. Esta marcou uma viragem na história

mundial tanto em termos económicos e de qualidade de vida, como também em termos

ambientais, produzindo um grande impacto na natureza.

Com a Revolução Industrial descobriu-se um novo combustível que revolucionaria o mundo: o

carvão. Com o seu surgimento, construíram-se grandes centrais de produção de vapor para gerar

energia por todo o mundo, prevendo-se atualmente que o seu consumo continuará a crescer,

embora a uma taxa mais reduzida.

O petróleo foi o outro protagonista da revolução industrial, representando um marco na evolução

do sector automóvel, sendo até aos dias de hoje o principal combustível usado neste sector,

existindo poucos combustíveis alternativos ao seu uso.

No entanto, o uso inconsciente dos combustíveis fósseis provocou graves problemas respeitantes

não só no referente à sua escassez, mas também nas grandes alterações climáticas que resultam

da enorme quantidade de emissões de poluentes derivadas do uso abusivo dos combustíveis

fósseis. Devido à carência emergente destes, os preços inflacionaram, tendo a sua utilização

vindo a tornar-se, para os países mais pobres, cada vez mais limitativa.

2

Como resultado da contínua procura dos combustíveis fósseis, a sua disponibilidade tem vindo a

diminuir. Contudo, as emissões causadoras do efeito de estufa apresentam uma evolução

contrária, sendo este talvez o problema mais grave que a humanidade enfrenta. Conclui-se que

para terminar com o abuso do consumo dos combustíveis fósseis é necessário estabelecer novas

medidas que controlem o nível de emissões e que incentivem a redução do seu uso.

Em Março de 2007 [1] novas metas foram impostas aos países da União Europeia que visavam a

redução das emissões gasosas responsáveis pelo efeito de estufa até 20% dos níveis registados

em 1990 até 2020, incentivando também o investimento nas energias renováveis de forma que

estas em 2020 contribuam até 20% do consumo de energia primária.

As energias renováveis têm, nos dias de hoje, uma importância cada vez mais acrescida. A sua

contribuição na redução da dependência dos combustíveis fósseis é notável. Em 2007, 8,5% do

consumo final de energia na UE foi devido às energias renováveis [2]. A biomassa conta como

sendo 2/3 de toda a fonte renovável de energia na Europa e as tendências atuais confirmam esta

posição, sendo esperado um contínuo crescimento neste setor, de forma a atingir as metas da UE

[2].

O termo biomassa é referido a todo o material derivado de plantas ou adubo animal. A energia

proveniente da biomassa deriva de material de origem florestal ou animal, tais como madeira de

florestas, resíduos de agricultura, processos de silvicultura e resíduos animais, humanos e

industriais [3].

A biomassa é a quarta fonte de energia mais abundante no mundo e é a fonte de energia

renovável dominante [4]. Contudo, muitos resíduos de biomassa não são ainda aproveitados e são

deixados nas florestas e campos agrícolas após limpeza destes, sem qualquer aproveitamento. A

Tabela 1 mostra o consumo energético anual em 2010, em que o consumo de biomassa mundial

foi de aproximadamente 2%.

A biomassa é a forma de conversão de energia mais antiga, sendo muito utilizada nos países

menos desenvolvidos, em especial em processos caseiros, tais como fogões de cozinha ou

lareiras. Nestes países a biomassa é responsável pelo fornecimento de aproximadamente 35% de

toda a energia requerida [5]. Também nos países mais desenvolvidos a biomassa é um

combustível que se tem revelado competitivo em relação aos combustíveis fósseis.

Contudo, faltam ainda dados e estatísticas a longo termo no que diz respeito à biomassa, e a

dificuldade de os obter é grande, uma vez que este combustível é geralmente usado para uso

individual. Adicionalmente, outros usos não energéticos são dados à biomassa, o que dificulta o

fornecimento desta e a avaliação de recursos mais difíceis.

3

Tabela 1. Consumo Anual de energia Global (Gtoe), 2010 [6].

Combustíveis fósseis 10.45

Petróleo 4.03

Carvão 3.56

Gás natural 2.86

Energia nuclear 0.63

Energias renováveis 0.94

Hídrica 0.78

Eólica 0.16

Biomassa 1-2

Energia total consumida 13-14

A biomassa é, como já foi anteriormente mencionado, muito competitiva em relação aos

combustíveis fósseis. Tal facto deve-se a que esta não contribui para o incremento das emissões

de CO2, um dos poluentes responsáveis pelo efeito de estufa, chuvas ácidas e contaminação dos

solos.

Na verdade, a sua queima representa um ciclo de formação e consumo de CO2, tal como se

mostra na Figura 1. O ciclo de carbono da queima da biomassa tem início quando esta retira da

atmosfera o CO2 que necessita para o seu desenvolvimento, durante o processo de fotossíntese.

Durante a sua combustão, como a biomassa tem na constituição quase 50% de carbono, produz

grandes quantidades de CO2 que são libertadas para a atmosfera. No entanto, todo o CO2

libertado será novamente absorvido pela biomassa que se encontra em crescimento. Assim, todo

o CO2 que é emitido durante a combustão de biomassa é utilizado, sem que ocorra o incremento

das emissões de CO2 libertadas na atmosfera, sendo, assim, o balanço ao carbono neutro.

Um outro motivo pelo qual a biomassa se tem tornado cada vez mais relevante é o fato de nunca

se esgotar na natureza, isto é, de ser renovável, podendo o seu reabastecimento ser obtido num

curto espaço de tempo [7]. Comparativamente aos combustíveis fósseis é também uma fonte de

energia muito económica, requere um tecnologia de aplicação simples, podendo por vezes a sua

combustão ser realizada em sistemas de queima de carvão [6].

A fácil obtenção da biomassa face aos combustíveis fósseis, assim como as reduzidas emissões

de certos poluentes gasosos libertados durante a sua combustão quando comparados com as dos

combustíveis fósseis são outros motivos pelos quais a biomassa se tem tornado um combustível

cada vez mais procurado.

A biomassa tem, contudo, aspetos negativos. Durante a combustão de biomassa emissões

gasosas e sólidas são libertadas em quantidades elevadas, sendo muitas vezes difícil a sua

4

redução e o seu controlo. As emissões sólidas, em particular, serão alvo de intenso estudo

durante esta tese, devido a estas terem um impacto extremamente prejudicial na saúde humana.

A matéria particulada (PM), ou simplesmente partículas, consiste em partículas de dimensões

muito pequenas suspensas no ar. A sua dimensão está relacionada com o impacto que estas têm

nas perturbações causadas, sendo que as de menor dimensão são as que apresentam maiores

transtornos na saúde. Tal acontece devido ao facto de algumas partículas apresentarem uma

dimensão de tal forma reduzida que se conseguem infiltrar nos alvéolos pulmonares, aumentando

o risco do desenvolvimento de doenças.

Figura 1. Ciclo de carbono da combustão da biomassa.

Em países cujos sistemas de queima não são controlados, como nos países em vias de

desenvolvimento, a concentração de partículas no ar atmosférico é elevada e está fortemente

relacionada com o aparecimento de cancro de pulmão, enfarte de miocárdio, asma, bronquites

crónicas, entre outras [8]. Segundo a United States Environmental Protection Agency [8], estima-

se que dezenas de milhares de pessoas morram prematuramente por cada ano, pela exposição a

níveis elevados de partículas finas na atmosfera.

A preocupação relativa às emissões de partículas não se confina aos países menos

desenvolvidos. Nos países do norte da Europa, onde as temperaturas são muito reduzidas, o uso

de caldeiras domésticas é uma fonte de aquecimento muito comum. Devido a características

particulares deste tipo de sistemas de queima, o seu processo de combustão liberta maiores

quantidades de partículas do que as unidades de queima de maiores dimensões.

CO2, H

2O e luz solar

CO2 devolvido à atmosfera

H2O

Queima da biomassa

Fotossíntese

Novas fontes de biomassa

5

Na Finlândia, estima-se que a combustão de madeira residencial é uma das maiores fontes de

emissões de pequenas partículas e compostos orgânicos voláteis (VOC) [9] Contudo, não existem

métodos que sejam eficazes ou económicos na captura ou redução das emissões de partículas

finas.

Em sistemas de leito fluidizado existem sistemas de limpeza dos gases de exaustão, sendo as

emissões de partículas muito afetadas pela eficiência dos sistemas de filtração de partículas. As

tecnologias mais comuns de separação de partículas incluem ciclones, precipitadores

electroestático (ESP), filtros manga e purificadores. No entanto, estas técnicas detêm as partículas

quando estas já se encontram no escoamento dos gases de escape, e não são eficientes na

captura das que possuem menores dimensões, sendo estas libertadas na atmosfera. Por este

motivo o estudo das emissões de partículas é também um assunto pertinente quando se trata da

combustão em sistemas de leito fluidizado.

A biomassa é, portanto, uma forte opositora aos combustíveis fósseis devido às emissões de CO2

praticamente nulas, à sua abundância elevada e ao facto de não se esgotar. Contudo apresenta

aspetos negativos, como a sua baixa densidade energética e poluentes extremamente prejudiciais

à saúde humana.

De modo a reduzir as emissões de partículas é necessário agir sobre o processo de combustão,

uma vez que os processos de captura pós-combustão destas não são eficazes na recolha das

menores partículas. Alguns autores estudaram os efeitos de métodos pós-combustão

(catalisadores) na diminuição das menores partículas em pequenas instalações, no entanto, estes

não apresentaram efeitos notórios na diminuição destes poluentes [10]. Entendeu-se, portanto,

que é necessário incidir sobre o processo de combustão de forma a afetar os processos de

formação de partículas, e assim favorecer a redução ou abate destas, diminuindo desta forma o

número de partículas pequenas, difíceis de captar através dos métodos convencionais.

No presente estudo utilisaram-se como métodos de alteração ao processo de combustão a

Recirculação dos Gases de Exaustão (RGE) e o estagiamento de ar. O RGE consiste no reenvio

de uma fracção dos produtos do processo de combustão para o interior da câmara de combustão,

enquando o estagiamento de ar consiste na introdução do ar de combustão em duas etapas,

criando uma zona pobre em ar junto ao queimador (zona primária de combustão) e uma zona rica

em ar acima do queimador (zona secundária de combustão). Estes métodos são já muito

utilizados na redução de emissões de NOx, no entanto, eles não foram ainda suficientemente

estudados relativamente ao seu efeito nas emissões de partículas.

O presente trabalho de investigação foca-se, assim, no estudo da influência destes processos nas

principais emissões resultantes da combustão da biomassa, testando a sua eficácia na diminuição

dos poluentes libertados. Para tal uma introdução prévia dos fenómenos presentes no processo de

6

combustão da biomassa serão adiante apresentados. Justifica-se igualmente o estudo mais

aprofundado dos poluentes e dos seus processos de formação que resultam da combustão da

biomassa. Os métodos aplicados para a modificação do processo de combustão, tal como os

processos físicos subjacentes e os seus efeitos nas emissões gasosas, serão descritos mais à

frente nos capítulos subsequentes.

1.2. Estudos anteriores

Os estudos realizados no respeitante à redução de partículas emitidas durante a combustão de

biomassa em pequenas aplicações são bastante limitados. A investigação referente às emissões

de partículas e sua redução envolvendo modificações diretamente no processo de combustão é

ainda mais escassa.

Apesar de a bibliografia ser muito limitada apresentam-se os esforços mais recentes que têm sido

realizados no estudo de novos métodos de redução de partículas, bem como outros trabalhos de

investigação realizados cuja informação se mostrou muito relevante no decorrer deste estudo. Os

estudos apresentados são apenas referentes à aplicação de estagiamento de ar em pequenas

instalações como estratégia de redução das emissões de partículas, não tendo sido encontrados

trabalhos anteriores cujo estudo incidisse sobre a aplicação de RGE.

Zandeckis et al. [11] realizaram um estudo que incidiu sobre a influência do estagiamento de ar na

otimização do processo de combustão, avaliando as emissões gasosas e as cinzas de fundo. Os

autores indicaram que para que a aplicação deste método seja eficaz é necessário que a razão

(mássica) se encontre nas proporções corretas, que o local de incidência dos jatos de ar

secundário na chama seja o apropriado e que a orientação dos jatos de ar secundário seja a

adequada. Os autores constataram que a aplicação de estagiamento reduz as emissões gasosas

e de cinzas e concluíram, então, que o estagiamento de ar pode ter grandes benefícios na

redução de emissões, mas que se for mal implementado pode também ter o efeito contrário.

Fernandes e Costa [12] estudaram as emissões de partículas resultantes da queima de pellets de

pinho numa caldeira doméstica com o objetivo de quantificar e caracterizar morfológica e

quimicamente as mesmas. Os autores verificaram que o valor máximo de emissões de CO

coincide com o valor máximo de emissões de partículas, apresentando evoluções semelhantes,

concluindo que as emissões de CO são um bom indicador da eficiência da caldeira. As partículas

foram diferenciadas em ultra finas (<100 nm), aglomerados de partículas da ordem dos

submícrons e mícrons e partículas maiores isoladas, cuja forma é esférica ou irregular. Uma

análise química detalhada às menores partículas revelou que estas são constituídas

maioritariamente por O, K, Cl, Na e S, sendo que são possivelmente formadas devido à

condensação de metais alcalinos sobre partículas de fuligem, contribuindo para as partículas de

dimensões inferiores a 100nm. As partículas de dimensão da ordem dos submícrons e mícrons

7

são constituídas por elementos de C, O, Ca, Mg, K e P, sendo compostas essencialmente por

fuligem. Finalmente, as partículas de dimensões superiores a 10 µm são constituídas

essencialmente por carbono e oxigénio.

Lamberg et al. [13] analisaram os efeitos do estagiamento de ar e carga térmica nas emissões de

gases e de partículas finas de numa pequena caldeira alimentada a pellets. Realizaram-se testes

em que se reduziram três parâmetros diferentes: carga térmica parcial, ar primário e ar

secundário. Concluíram que as emissões de CO e de partículas diminuem com o aumento da

carga parcial, sendo o de CO mais notório. A redução do ar primário teve como consequência a

redução das emissões de CO e da temperatura na zona de combustão primária, reduzindo a

libertação de metais alcalinos do combustível. A redução de ar secundário tem um efeito negativo

nas emissões de partículas, na vaporização de metais alcalinos e na formação de produtos

originados a partir da combustão incompleta do combustível. Foi também concluído que uma boa

mistura entre o ar secundário na câmara e os produtos de combustão da zona primária tem um

grande impacto na diminuição das emissões.

Becidan et al. [2] observaram o comportamento das cinzas durante a combustão de pellets de

biomassa com estagiamento e sem estagiamento de ar, num reator experimental. O estudo foi

realizado para três pellets diferentes (madeira, madeira demolida e resíduos de café) e para seis

pellets cuja composição é uma mistura entres as anteriores. Um efeito do estagiamento de ar foi a

ocorrência de uma maior retenção de K, contrariamente ao que acontece com Na, nas cinzas de

fundo no caso das pellets sem mistura. As emissões das pellets de mistura não revelaram

qualquer alteração face ao estagiamento de ar, o que sugere que ao misturar os combustíveis,

estes interagem entre si, e estas interações têm efeitos químicos não lineares. Concluíram que a

mistura de diferentes combustíveis pode ser um método eficiente para afetar o processo químico

dos elementos constituintes dos combustíveis, e que o estagiamento, afetando a formação de

partículas, tem um caráter promissor no que concerne a redução de problemas associados com as

emissões das mesmas.

Wiinikka e Gebart. [14] testaram o efeito da distribuição do ar nas emissões de partículas na

combustão de pellets de madeira e de casa de árvore num reator experimental de 10 kW. Foram

estudadas três condições diferentes de fornecimento de ar. Primeiramente o ar de combustão foi

fornecido diretamente na grelha, tendo sido depois dividido igualmente entre a grelha e acima

desta e por último, estudou-se a situação em que todo o ar foi injetado acima da grelha. Os

resultados mostraram que as emissões de partículas grosseiras são menores no caso em que o ar

é dividido igualmente entre a grelha e acima desta, sucedendo o contrário na situação em que o ar

se encontra dividido. As emissões de partículas finas diminuem com a diminuição de ar primário,

tendo sido verificado que as menores emissões ocorreram para a situação em que todo o ar é

injetado acima da grelha.

8

Fernandes e Costa [15] estudaram o processo de formação de partículas numa caldeira doméstica

alimentada a pellets de pinho. A câmara de combustão sofreu alterações, de modo a permitir a

introdução horizontal de sondas no seu interior, ao longo do seu eixo vertical, tendo sido, assim,

todas as medições realizadas no interior da câmara. Para tal foram feitos 5 orifícios, a que se deu

o nome de portas, em cada uma das posições laterais da caldeira. As concentrações máximas de

CO e CO2 encontram-se nas regiões mais próximas da chama, e a sua concentração reduz-se

com o aumento da distância vertical em relação ao queimador, indicando que ocorreu um

melhoramento do processo de combustão. A quantidade máxima de fuligem formada situa-se na

porta 1, indicando que esta se forma no início da combustão, e tende a ser oxidada entre a porta 1

e 2 devido às temperaturas elevadas e à concentração de O2 alta. Nesse estudo foram recolhidas

amostras de partículas na porta 3, verificando-se que os vapores inorgânicos coexistiam com a

fuligem. Os autores apontam para a importância de se projetar um sistema de queima que

favoreça tanto a oxidação da fuligem quando as temperaturas são elevadas, como a inibição da

vaporização de metais alcalinos, em que temperaturas mais baixas devem ser aplicadas.

1.3. Objetivos

A emissão de partículas de pequenas dimensões durante a combustão da biomassa pode tornar-

se um problema de saúde pública, e por isso, é importante a sua diminuição. Contudo, os métodos

atuais de redução de emissões pós combustão não permitem a captura das menores partículas.

Por este motivo, é importante o estudo de novos métodos de diminuição das emissões de

partículas.

A aplicação de métodos que incidam directamente sobre o processo de combustão poderá

apresentar vantagens respeitantes à diminuição destes poluentes. A realização desta dissertação

tem, assim, como objetivo o estudo da influência que a aplicação dos métodos de RGE e

estagiamento de ar tem nas emissões de emissões de gases e de partículas em sistemas

domésticos de queima.

Os testes foram realizados numa caldeira doméstica alimentada a pellets, cuja potência máxima é

de 22 kW. Para cada teste foram medidas as emissões de gases e partículas. As partículas foram

recolhidas num filtro que permite a sua diferenciação de acordo com o seu diâmetro aerodinâmico.

A influência da aplicação de cada método nas emissões de gases e partículas foi analisada para

as cargas térmicas de 13 kW (2,6 kg/h) e de 17 kW (3,4 kg/h).

9

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1. Biomassa como combustível

As propriedades da biomassa variam muito, dependendo da sua origem e do pré-tratamento a que

esta foi sujeita. Contudo, apesar da sua enorme disponibilidade na natureza, o seu nível de

utilização é relativamente reduzido, uma vez que a biomassa apresenta outros fins para além da

utilização energética.

A biomassa tanto se pode encontrar no seu estado natural, tal como é encontrada na natureza,

como pode estar disponível enquanto produto processado, fabricado a partir da madeira, palha e

outros resíduos agrícolas (como é o caso dos pellets, briquetes, combustíveis pulverizados, entre

outros).

O conhecimento das propriedades da biomassa é de extrema importância para ser possível a

seleção de um equipamento de combustão adequado às suas características. Um combustível

que apresente uma elevada heterogeneidade e uma baixa qualidade deve ser utilizado num

sistema de combustão mais sofisticado [16].

Os combustíveis fósseis sólidos convencionais são classificados através de uma grande variedade

de testes, tendo em conta as suas diversas propriedades. Comercialmente, o valor de um

combustível é determinado pelo seu poder calorífico, quantidade de matéria volátil e conteúdo de

cinzas. A biomassa, sendo também um combustível que se encontra no estado sólido é

igualmente caracterizada pelos mesmos padrões que os outros combustíveis fosseis. Outros

critérios que determinam a facilidade ou o modo de transporte e a facilidade ou a eficiência do

processo para seu uso final são também considerados, assim como fatores ambientais (conteúdo

de S, N).

O processo de utilização térmica (fornecimento do biocombustível, sistema de combustão e

emissões gasosas e sólidas) de todos os biocombustíveis sólidos depende muito das suas

características físicas (tamanho das partículas, densidade, humidade, PCI) e da sua composição

química.

A composição da biomassa funciona como um código fundamental que carateriza e determina as

propriedades, a qualidade, o potencial de aplicação e problemas ambientais relacionados com o

combustível. Assim, análises físicas, químicas, minerais e geoquímicas são realizadas para a

caracterização dos combustíveis sólidos. As mais relevantes do ponto de vista da combustão de

combustíveis sólidos são a análise imediata, a análise elementar e o poder calorífico.

10

A análise imediata determina a humidade, o conteúdo de cinzas e de matéria volátil presentes na

biomassa, e o carbono fixo [17]. A análise elementar fornece percentagens precisas do teor de C,

S, H, N, Cl e O. As características físicas e químicas mais relevantes para a classificação da

biomassa são apresentadas.

Teor de humidade

O teor de humidade na biomassa varia muito, podendo os seus valores estar situados numa gama

entre 10-70%. A madeira recém-cortada apresenta cerca de 50% de humidade, e mesmo após a

sua secagem ao ar livre, esta continua a ter entre 15-20% de humidade [6].

A humidade presente na biomassa tem uma grande influência no processo de combustão, devido

à sua influência no poder calorífico do combustível [18] e no volume dos gases de exaustão

produzidos por unidade de energia, sendo por isso uma fator a ter em atenção. Um combustível

que apresente elevados teores de humidade necessita também de maiores tempos de residência

antes da fase de pirólise e da combustão do resíduo carbonoso, para que ocorra toda a sua

evaporação. Adicionalmente um maior teor de humidade requere um maior uso de combustível,

gerando maiores quantidades de gases de combustão e necessitando também de equipamentos

de maiores dimensões [17].

O poder calorífico do combustível diminui com o aumento do teor de humidade. Para os

biocombustíveis, em que o teor de humidade é elevado, podem ocorrer problemas durante a sua

queima, como dificuldade na ignição e redução da temperatura de combustão, o que dificulta o

desenvolvimento da combustão, afetando a qualidade da mesma.

Teor de matéria volátil

A matéria volátil resulta essencialmente de combinações entre carbono e hidrogénio e contribui

em cerca de 70% para o calor libertado durante a combustão da biomassa, ao contrário do que

acontece durante a combustão do carvão, em que apenas 36% da sua constituição é matéria

volátil. Consequentemente a combustão de voláteis é o processo dominante durante a combustão

de biomassa, sendo que a combustão do resíduo carbono tem uma importância menos acrescida

[6]. O valor típico de biomassa volatilizada é aproximadamente de 75% da sua massa.

Os voláteis são constituídos por espécies gasosas (HC, CO, CO2, H), humidade e alcatrões.

Devido à elevada quantidade de voláteis presentes na biomassa, a sua ignição é facilitada,

mesmo a temperaturas mais baixas, no entanto ocorre a taxas de combustão elevadas e pode

torna-se difícil de controlar. O resultado desta rápida libertação de voláteis é a necessidade de

temperaturas elevadas de forma que ocorra a combustão completa dos elementos vaporizados,

implicando que os princípios de operação e de projeto da combustão do carvão não são os mais

adequados para a queima da biomassa.

11

Teor de cinzas

As cinzas são a fração inorgânica não combustível que permanece após a combustão completa do

combustível. A libertação dos compostos inorgânicos da biomassa é influenciada tanto pela sua

volatilidade como pelas reações dos compostos orgânicos do combustível. O material que é

volatilizado às temperaturas de combustão inclui os metais alcalinos, como o potássio e o sódio e

outros elementos como o Cl e S. Outros materiais não voláteis podem ser libertados durante a

pirólise por transporte convectivo.

O material inorgânico das cinzas pode ser divido no material que é inerente ao combustível, e

aquele que é adicionado ao combustível a partir de processos de tratamento e recolha da

biomassa [19]. O material inerente à biomassa é composto essencialmente por elementos tais

como Si, Al, Ti, Fe, Ca, Mg, Na, K, S e P, O teor de cinzas varia desde <1% para o caso da

madeira, até 18-25%, como é o caso da casca de arroz. Na biomassa, o teor de cinzas é, em

geral, inferior ao do carvão.

Carbono fixo

O carbono fixo é a fração residual de biomassa, quando descontados os teores de humidade, de

cinzas e de matéria volátil. Após a combustão dos voláteis permanece no queimador uma

estrutura de forma esférica constituída por carbono fixo e cinzas. Devido ao elevado teor de

voláteis presentes na biomassa, o carbono fixo representa uma fração pequena quando

comparado com o teor existente no carvão. No entanto, a sua importância no processo de

combustão é igualmente elevada.

Análise Elementar

Os elementos presentes na biomassa variam muito, dependendo da origem e tipo de biomassa.

Os principais constituintes da biomassa são o carbono (C), o hidrogénio (H) e o oxigénio (O).

Estes elementos formam arranjos complexos de celulose, hemicelulose e lenhina [18]. No entanto,

a biomassa apresenta na sua composição outros elementos tais como minerais, lípidos, proteínas,

amido, açúcares e água. A quantidade destes compostos presentes nas plantas, depende do seu

estado de desenvolvimento e do tipo de tecido ou estrutura (folhas, caules, flores, entre outros),

variando de espécie para espécie [18].

C e H são oxidados durante a combustão através de reações exotérmicas, formando CO2 e H2O,

contribuindo ambos positivamente para o PCS, enquanto o oxigénio contribui negativamente [20].

Devido aos hidrocarbonetos presentes na sua estrutura, a biomassa é muito oxigenada se

comparada com os combustíveis fósseis [18].O fato de na biomassa existir carbono em formas

parcialmente oxidadas, contribui para baixar o seu PCS [21].

O principal componente da biomassa é o carbono, correspondendo a aproximadamente 30-60%

da matéria em base seca, dependendo do seu conteúdo de cinzas. Em média, 30% a 40% da

12

composição química em base seca da biomassa é oxigénio, e é o segundo elemento dominante

na composição da biomassa. Devido a esta alta concentração, parte do oxigénio necessário para

a reação de combustão é fornecido pelo oxigénio que é libertado durante a decomposição térmica

da biomassa, sendo o resto provido pela injeção de ar [16]. O terceiro elemento com maior

concentração é o hidrogénio (H), correspondendo a cerca de 5% a 6% de matéria em base seca

[18], tendo uma influência considerável no PCI devido à sua transformação em água.

A biomassa é igualmente constituída por azoto (N), enxofre (S) e cloro (Cl), sendo os seus teores

geralmente inferiores a 1% em base seca [18]. Segundo Obernberger [20], a madeira sem casca

de árvore possui o menor teor de N, tendo a casca de árvore, a palha, o miscanthus e os resíduos

de fruta teores elevados deste elemento.

Poder Calorífico

O poder calorífico pode ser definido como superior (PCS) ou inferior (PCI). O PCS é o conteúdo

energético total libertado quando o combustível é queimado, incluindo o calor latente contido no

vapor de água. Por outro lado, o PCI corresponde à energia total libertada subtraída da energia

necessária para evaporar a humidade presente no combustível. O PCI da biomassa é bastante

inferior ao do carvão devido ao elevado teor de humidade presente na sua composição.

Densidade

A densidade é uma das propriedades físicas de maior importância, devido a razões económicas e

tecnológicas. A generalidade dos biocombustíveis apresenta baixas densidades, em especial os

de origem agrícola, como a palha (50-120 Kg/m3) ou a casca de arroz (122 kg/m

3). Estes valores

quando comparados com o carvão são extremamente baixos, como se pode verificar observando

a Tabela 2.

São várias as desvantagens relacionadas com a baixa densidade dos combustíveis, tais como um

PCI baixo, o difícil controlo de alimentação de combustível, a necessidade de um espaço maior

para armazenamento, os elevados custos de transporte, e as limitações de tecnologias de queima.

O valor de densidade energética, relacionado com a densidade do combustível e o PCS

influenciam a sua necessidade de armazenamento e o controlo do sistema de fornecimento de

combustível ao sistema de queima.

Na forma como se encontra na natureza, a biomassa apresenta, em geral, características não

representativas de um bom combustível, como por exemplo:

Baixo poder calorífico;

Problemas económicos associados ao transporte e distribuição;

Elevada humidade que pode dificultar muito a sua combustão;

Dificuldade em controlar a taxa de combustão;

Elevada área necessária para armazenamento.

13

Tabela 2. Comparação entre as propriedades físicas e químicas da biomassa e do carvão [22].

Propriedade Biomassa Carvão

Densidade (kg/m3) ~ 500 ~ 1300

Tamanho da partícula (mm) ~ 3 ~ 100 x 10-6

Carbono 42 - 54 65 – 85

Oxigénio 35 – 45 2 – 15

Enxofre Máx. 0.5 0.5 – 7.5

SiO2 23 – 49 40 – 60

K2O 4 – 48 2 – 6

Al2O3 2.4 – 9.5 15 – 25

Fe2O3 1.5 – 8.5 8 – 18

Temperatura de ignição (K) 418 – 426 490 – 595

PCI (MJ/kg) 14 - 21 23 - 28

Muitos destes inconvenientes devem-se à baixa densidade da biomassa, sendo necessário o

tratamento desta de forma a aumentar a sua densidade. Surgem, assim, as técnicas de

densificação de biomassa, que visam o aperfeiçoamento das suas propriedades de queima,

transporte e armazenamento.

A biomassa densificada apresenta várias vantagens, das quais se destacam [23], [1] as

enunciadas seguidamente:

Baixo teor de humidade, o que facilita a sua combustão;

Facilidade de armazenamento;

Facilidade de transporte;

Maior densidade energética;

Hipótese de combustão espontânea da biomassa armazenada é reduzida;

Combustão uniforme;

Menor emissão de partículas;

Maior durabilidade, devido a um teor de humidade menor, o que proporciona uma menor

degradação;

Elevado rendimento térmico.

Na densificação de biomassa as duas técnicas mais utilizadas são a produção de pellets e a de

briquetes, sendo a primeira mais usada nos países desenvolvidos, utilizando-se em equipamentos

de alimentação automática, enquanto a segunda técnica é mais comum nos países em vias de

desenvolvimento [24].

14

O uso de pellets tem-se tornado muito popular, em alguns países europeus, tais como a Suécia,

Dinamarca, Bélgica, Alemanha, Áustria, Finlândia e Itália [25]. Em alguns destes países já estão

em vigor normas que regulamentam os critérios de qualidade a exigir ao combustível, pois a

utilização deste em sistemas domésticos automáticos requer elevados padrões de qualidade [24].

No entanto, a combustão da biomassa, incluindo a de pellets, particularmente em pequenas

aplicações, apresenta graves problemas no tocante às emissões de poluentes. Estas são

agravadas devido à combustão incompleta da biomassa. Os poluentes são libertados na

atmosfera, e entre os mais graves encontram-se as partículas de pequenas dimensões compostas

por cinzas volantes e material não oxidado.

2.2. Combustão da biomassa

O processo de combustão da biomassa envolve vários aspetos físicos e químicos de extrema

complexidade, e que dependem das propriedades do combustível e da aplicação da combustão.

A combustão, quando desejada, é muito vantajosa em aplicações domésticas, tanto a nível de

conforto como também a nível de processos culinários. Os produtos resultantes podem ser usados

diretamente para aquecimento se a combustão tiver lugar em pequenas unidades, para

aquecimento de águas ou geração de eletricidade.

As várias fases são a ignição, a secagem da biomassa, a pirólise, a combustão da matéria volátil e

a oxidação do resíduo carbonoso (o que sobra depois de oxidada toda a matéria volátil). O

processo de combustão pode ser contínuo, sendo esta referente a unidades de combustão médias

a grandes ou intermitente, quando relacionada com pequenas unidades de combustão. A adição

de ar pode ser intermitente, geralmente quando usada com pequenas unidades de combustão, ou

contínua, para maiores unidades de combustão [16].

A combustão da biomassa inicia-se com a fase de ignição. A ignição tem lugar num instante de

tempo tig, para o qual a partícula de biomassa tem uma massa inicial m0. Os passos seguintes são

a secagem e a pirólise. A sua importância varia dependendo da tecnologia implementada, das

propriedades do combustível e das condições do processo de combustão [16].

Após a ignição a superfície da partícula sofre um aumento de temperatura e à medida que a

temperatura no interior da câmara de combustão aumenta, a superfície externa da partícula

recebe calor por convecção [1]. O interior da partícula recebe calor por condução, a partir da

superfície externa que se encontra a uma temperatura superior. O processo de secagem ocorre

i) Biomassa secagem biomassa seca

ii) Pirólise voláteis + resíduo carbonoso

iii) Voláteis + ar CO + CO2 (+ PAH + HC + fuligem + PM)

iv) Resíduo carbonoso + ar CO + CO2

15

para temperaturas inferiores a 473 K. Nesta fase ocorre a libertação do vapor de água do

combustível para o exterior. A reação de combustão é exotérmica, isto é, liberta calor, ao contrário

da evaporação da água, que é endotérmica. Sucede, então, que o processo de secagem requere

a energia libertada pela combustão da biomassa, reduzindo a temperatura no interior da câmara

de combustão. Como a taxa de reação depende fortemente da temperatura de combustão, a

redução da última afeta o processo de combustão, tornando-o mais lento. Verificou-se que se o

conteúdo de humidade for superior a 60% em base húmida, o processo de combustão não

consegue ser mantido, pois a energia requerida para evaporar toda água presente no combustível

é demasiado elevada [16].

Depois da secagem da biomassa segue-se a fase da pirólise em que ocorre a libertação da

matéria volátil presente no combustível, sem que ocorra a sua oxidação, uma vez que o oxigénio

não se consegue difundir com os voláteis, devido à rápida libertação destes. Mais tarde, quando a

mistura dos voláteis com o oxigénio é possível ocorre a oxidação, na presença do oxigénio que se

encontra na periferia [1], apresentando-se a chama visível. As temperaturas típicas desta fase

situam-se entre 533 e 775 K, e a reação é fortemente exotérmica. Esta etapa da combustão da

biomassa é muito relevante, visto que uma grande parte da biomassa é convertida em matéria

volátil (pode atingir 80%) [6]. Nesta fase ocorre um grande decréscimo na massa da partícula de

combustível, pois como esta apresenta um teor muito elevado de voláteis, estes ao serem

oxidados contribuem para uma grande perda de massa. Esta fase é de extrema importância no

processo de formação de partículas, pois é durante a combustão de voláteis que se forma a

fuligem, libertando-se também CO, CH4 e CO2.

Durante a fase de combustão dos voláteis, cria-se uma frente de chama que rodeia a partícula de

combustível, e pouco oxigénio consegue penetrar na chama em direção à mesma. Após a

extinção da chama resultante da combustão dos voláteis, o oxigénio consegue penetrar na

superfície da partícula e inicia-se a combustão do resíduo carbonoso resultante do processo de

volatilização. Nesta fase importantes reações de transformação da matéria inorgânica em cinzas

ocorrem [1]. Este processo ocorre para temperaturas a partir de 775 K e envolve reações

heterogéneas, sendo que as espécies químicas envolventes estão presentes tanto no estado

solido como no estado liquido (reações gás-solido).

O resíduo carbonoso tem na sua composição essencialmente carbono e cinzas com pequenas

quantidades de hidrogénio, azoto, oxigénio e enxofre [26]. A sua forma é esférica e pode

apresentar fissuras ou cavidades consequentes da libertação dos gases no decorrer do processo

de volatilização. Internamente é muito poroso, sendo a estrutura dos poros e o tamanho do

resíduo dependentes do tipo de combustível, da dimensão das partículas e das condições de

ocorrência da volatilização.

16

2.3. Poluentes gasosos

Os poluentes emitidos durante o processo de combustão podem ser classificados em dois grupos

principais: os que são originados devido à combustão incompleta do combustível e aqueles que

são formados devido às propriedades físicas e químicas do combustível. Os primeiros são

influenciados pelo equipamento usado e pelas condições decorridas durante o processo de

combustão, enquanto os segundos são função das propriedades intrínsecas ao combustível. As

condições necessárias para que ocorra a combustão completa são:

Fornecimento de ar para que ocorra a total oxidação do combustível;

Temperatura elevada para que as reações possam ser processadas;

Tempo de residência longo o suficiente a temperaturas elevadas;

Turbulência que favoreça a mistura entre o combustível e o ar.

No entanto, durante as aplicações do processo de combustão, estas condições não são possíveis

de ser atingidas na sua plenitude e em simultâneo [27]. O resultado é a combustão incompleta,

dando origem a produtos parcialmente oxidados. A combustão incompleta origina CO, HC,

alcatrões, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, entre outros, que são formados durante o

processo de volatilização. A composição e a quantidade destas emissões são determinadas pela

temperatura, quantidade de oxigénio e composição do combustível.

Durante a oxidação completa da biomassa, origina-se sempre CO2, H2O e NOx. No último incluem-

se os poluentes NO e NO2, sendo que o primeiro se forma em maior quantidade. A formação de

CO2 deve-se à oxidação do carbono presente no combustível e é o principal produto de

combustão de todos os combustíveis de biomassa. O dióxido de carbono é responsável pelas

emissões causadoras do efeito de estufa. No entanto, quando se trata da combustão da biomassa

considera-se que as suas emissões são neutras.

A formação de NO é devida à oxidação do azoto molecular presente no ar de combustão, podendo

também ser devida à oxidação do azoto presente no combustível (mecanismo do combustível) se

na composição deste existir azoto. A formação de NO devido à presença de azoto no combustível

é o principal mecanismo de geração de NO na combustão da biomassa. Na queima dos

combustíveis fósseis o mecanismo de combustível é responsável por 75%-80% das emissões

totais de NO, sendo o resto atribuído ao mecanismo térmico [28]. Na combustão da biomassa este

valor é ainda mais elevado, pois as temperaturas no interior da câmara são bastante inferiores

àquelas que se atingem na combustão do carvão.

A formação de NO via mecanismo do combustível ocorre devido à libertação dos radicais HCN,

presentes nos voláteis, que originam radicais NHi (i = 0,1, 2, 3), que vão reagir com as moléculas

de O2 e de NO formando NO e N2, respetivamente [26].

17

Este processo de formação de NO é fortemente dependente da fração mássica de azoto no

combustível e da concentração de O2 local, sendo a influência da temperatura muito pouco

significativa.

Os processos de formação de NO a partir do azoto presente no ar de combustão são três e

encontram-se descritos seguidamente.

Mecanismo térmico

Este mecanismo é dominante a altas temperaturas (acima de 1800 K) numa vasta gama de razões

de equivalência . O azoto no ar de combustão reage com os radicais O, formando NO a altas

temperaturas. A quantidade de NO formada aumenta com o aumento da temperatura, com a

concentração de O2 e com o tempo de residência [16].

Mecanismo imediato

O azoto proveniente do ar de combustão reage com hidrocarbonetos formando HCN e CN que

depois são oxidadas formando NO. Este mecanismo é apenas importante em zonas de condições

ricas e é muito dependente da concentração local de hidrocarbonetos. Este mecanismo tem pouca

expressão na combustão da biomassa, em contraste com o que sucede durante a combustão do

carvão.

Mecanismo com óxido nitroso como intermédio

Este mecanismo de formação de NOx é importante em chamas pobres de pré mistura (<0,8),

caraterizadas por baixas temperaturas. As reações que regem este mecanismo estão descritas

seguidamente:

Para além das emissões de NOx que têm uma forte dependência da composição da biomassa,

outros poluentes gasosos podem ser formados devido aos elementos presentes no combustível,

tais como SO2, metais pesados e HCl. Durante a combustão, todo o enxofre presente no

combustível reage com o O2, formando SO2 e uma pequena parcela de SO3. No entanto, na

N presente no combustível HCN NHi

NO

O2

N2

NO

NO2 + N2 + M N2O + M

H + N2O NO + NH

NO + N2O NO + NO

18

maioria dos casos, estas emissões podem ser desprezadas devido ao baixo teor de S presente na

biomassa.

O processo de formação dos poluentes CO é muito semelhante ao processo de formação de HC e

segue os mesmos princípios. Durante a fase da gaseificação os hidrocarbonetos são volatilizados,

misturam-se com o ar e são oxidados numa chama. A combustão incompleta destes pode ocorrer

em zonas muito ricas ou muito pobres da chama de difusão criada durante a combustão dos

compostos voláteis. Nas zonas muito ricas a combustão incompleta é devida à fraca mistura entre

os fragmentos de combustível e o ar que alimenta a chama, diminuindo o tempo de residência

destes na câmara de combustão, impossibilitando a combustão completa [26]. Nas zonas muito

pobres pode também ocorrer a queima incompleta, devido a à combustão muito lenta causada

pela concentração de oxidante muito elevada, o que reduz a temperatura de combustão. Deste

modo, a oxidação do combustível é somente parcial, tendo como consequência a formação de

produtos não oxidados [26].

As emissões de CO são especialmente importantes no arranque e paragem das caldeiras, como

foi verificado por Buddeker [25], tendo sido já desenvolvidos sistemas de aquecimento de pellets

combinados com aquecimento solar, com o intuito de reduzir a operação intermitente do

funcionamento da caldeira [29]. No entanto, é importante ressaltar que para a caldeira em estudo

as emissões de CO foram sempre significativas, mesmo quando trabalhava em regime

estacionário.

2.4. Partículas

Nas secções anteriores foram discutidos os poluentes gasosos emitidos durante a combustão

completa e incompleta da biomassa. No entanto, outros poluentes não gasosos resultam do

processo de queima. As partículas são um poluente que deriva da vaporização e posterior

condensação da matéria inorgânica presente nas cinzas, e também da combustão incompleta do

combustível (fuligem). Estas representam uma fração muito elevada das emissões resultantes

durante a queima da biomassa. Estes poluentes afetam não só a saúde humana, como também

os próprios sistemas de queima, criando depósitos e aglomerações no equipamento que podem

levar à ruina deste e à subsequente deterioração do processo de combustão. O seu processo de

formação é complexo, e depende de fatores inerentes ao combustível mas também de fatores

externos e é ainda alvo de muita pesquisa.

Quando comparada com os combustíveis fósseis, a biomassa apresenta grandes diferenças nas

suas propriedades, que produzem impacto na formação de partículas durante a sua combustão.

Uma destas diferenças já foi enunciada previamente e reside no facto de a biomassa ter um teor

de matéria volátil muito elevado, tendo por outro lado um baixo teor de resíduo carbonoso.

19

Outra diferença importante está no baixo poder calorífico da biomassa, se comparada com os

combustíveis fósseis. O poder calorífico da madeira é aproximadamente de 20 MJ/kg enquanto o

do carvão é de 30 MJ/kg, tendo como consequência que a temperatura de combustão da

biomassa seja inferior à dos combustíveis fósseis. Finalmente, as cinzas de biomassa possuem

um elevado teor de matéria volátil, em especial de potássio, sendo que uma grande fração desta

vaporiza durante a combustão e forma partículas pequenas [30].

No entanto, a formação de partículas provenientes da combustão do carvão foi já alvo de intenso

estudo, [31], [32], [33], [34], havendo muitas semelhanças entre o processo de formação de

partículas durante a sua combustão e a de combustíveis sólidos de biomassa. Assim sendo, é

possível utilizar os fundamentos teóricos relativos à formação de partículas do carvão, no estudo

das partículas geradas durante a queima da biomassa.

A concentração de partículas depende da sua composição química e da eficiência da combustão,

sendo por isso importante estudar os processos de formação de partículas derivadas da

combustão completa e incompleta e os principais parâmetros de que elas dependem.

2.4.1. Processos de formação de partículas e de cinzas

As partículas emitidas durante o processo de combustão que possuam um diâmetro aerodinâmico

inferior a 1 m são designadas aerossóis. Durante a sua formação estas partículas de sofrem

processos internos que podem causar tanto o aumento do seu tamanho, como também podem

promover a fragmentação de partículas maiores. Estes fenómenos são complexos e dependem de

fatores externos, tais como a temperatura e pressão. O presente tópico debruça-se sobre os

principais mecanismos que participam no processo de desenvolvimento das emissões de

partículas.

A nucleação de aerossóis consiste na formação de novas partículas diretamente da fase gasosa,

originando novos núcleos destas. Este processo altera tanto o número de aerossóis, como a

concentração mássica destes. Este fenómeno é espontâneo e aleatório, e ocorre quando o meio

se torna sobreaquecido ou subarrefecido.

Os mecanismos que levam ao crescimento dos aerossóis envolvem a condensação heterogénea

de vapores, coagulação, aglomeração e reações superficiais [30]. Durante a coagulação a

partícula aumenta de dimensão devido à adesão ou colisão entre partículas, ocorrendo a

diminuição do seu número, sem alterar o volume ou massa total. A coagulação de partículas é

favorecida pelo aumento da temperatura de combustão e pode ser devida ao movimento relativo

entre elas, ou a forças externas, como a gravidade ou forças elétricas.

A condensação é um fenómeno no qual vapores se condensam sobre partículas já existentes,

aumentando a dimensão destas sem formação de novos núcleos. O crescimento de partículas a

20

partir da condensação heterogénea depende do tamanho delas, mas também da razão de

saturação, tendo lugar quando a concentração de partículas é elevada.

As partículas podem também sofrer mecanismos de redução de tamanho, sendo o mais comum a

sua fragmentação, processo que dá origem a muitas partículas pequenas. Fenómenos de

eliminação de partículas, devido a impactos e deposição sobre superfícies adjacentes são também

recorrentes [35].

As partículas são classificadas como sendo primárias ou secundárias. As primeiras são emitidas

diretamente da zona de combustão para a atmosfera. Contrariamente às partículas primárias, as

secundárias são formadas na pluma dos gases de exaustão ou já na atmosfera. Neste estudo o

objetivo centrou-se nas partículas primárias, formadas durante o processo de combustão, e

libertadas diretamente da câmara de combustão para a atmosfera.

A Figura 2 mostra o percurso de transformação das partículas primárias, que se podem dividir em

partículas volantes finas e grosseiras, durante a combustão da biomassa. As primeiras têm

dimensões reduzidas e têm origem a partir de dois percursores diferentes: a partir do material

facilmente vaporizável presente nas cinzas da biomassa e a partir de matéria orgânica não

oxidada, denominada por fuligem. Estas últimas são constituídas essencialmente por carbono

elementar. As partículas grosseiras apresentam maiores dimensões (diâmetro> 10 m) e resultam

de cinzas residuais que foram removidas da partícula incandescente que permaneceu no

queimador e foram transportadas nos gases de combustão.

As partículas formadas durante a queima dos combustíveis sólidos ou líquidos apresentam dois ou

três modos distintos na sua distribuição mássica, sendo o modo dominante o correspondente às

partículas finas. O segundo modo corresponde às partículas grosseiras e apresenta geralmente

uma baixa concentração mássica de partículas [36].

Esta secção debruçar-se-á sobre os processos de formação de partículas a partir da vaporização

dos elementos inorgânicos presentes nas cinzas. A teoria referente às partículas originadas a

partir da combustão incompleta (fuligem) será abordada na secção 2.4.2.

21

Figura 2. Mecanismos de formação de partículas primárias durante a combustão da biomassa em grelha fixa [36].

As cinzas são a matéria inorgânica do combustível e são sempre um produto da combustão,

independentemente de esta ser completa ou incompleta [19]. Uma pequena fração dos compostos

inorgânicos que constituem as cinzas é vaporizada durante a pirólise, no entanto a maioria é

libertada durante a fase de combustão do resíduo carbonoso formando depois as cinzas volantes

finas. No entanto, existem também compostos não voláteis (Ca, Si, Mg, Fe, Al), que permanecem

no fundo do queimador, formando as cinzas de fundo. Uma fração deste material é arrastada pelo

escoamento, originando as cinzas grosseiras volantes.

Contudo, os mecanismos de formação de cinzas durante a combustão da biomassa precisam

ainda de maior investigação, sendo necessário recorrer a estudos já realizados e referentes à

formação de cinzas durante a combustão do carvão.

O carvão é, com já referido, um combustível muito diferente da biomassa, devido ao seu longo

processo de formação, que envolve um aumento de pressão e calor contínuo ao longo do tempo.

Contudo, por serem ambos um combustível sólido, partilham alguns mecanismos de

transformação das cinzas, pelo que será exposta seguidamente o processo de formação de cinzas

durante a combustão de combustíveis sólidos.

22

As cinzas volantes classificam-se de acordo com o seu diâmetro aerodinâmico, variando não só

no seu processo de formação, mas também na própria composição. As cinzas volantes que

possuem um diâmetro aerodinâmico inferior a 1m denominam-se cinzas volantes finas, enquanto

as que apresentam um diâmetro aerodinâmico superior a 10m, são as cinzas volantes grosseiras

[36].

A Figura 3 mostra o processo de formação de partículas originadas a partir do material inorgânico

existente nas cinzas. Estas diferenciam-se em cinzas volantes finas e cinzas volantes grosseiras.

A matéria inorgânica presente na biomassa que vaporiza facilmente, e que experimenta mais tarde

condensação ou nucleação, origina as cinzas volantes finas. Durante a combustão do resíduo

carbonoso ocorre a vaporização de metais alcalinos presentes nas cinzas (K, Ca) que sofrem

reações com outros vapores formando compostos alcalinos. K, Cl e S são os elementos

predominantes nestas partículas, sendo por isso os mais relevantes. As suas temperaturas de

evaporação são, respectivamente, de 700 ºC, abaixo de 500 ºC e 500 ºC. Praticamente todo o Cl e

S, e uma grande quantidade de K, são vaporizados durante a combustão [9], [37].

Fortes evidências revelaram que o cloro aumenta a volatilidade dos metais alcalinos, reagindo

com eles, formando compostos alcalinos como cloretos ou hidróxidos alcalinos, que são

posteriormente libertados na fase gasosa. A espécie dominante é o KCl, e a sua vaporização

aumenta quando a temperatura de combustão aumenta de 800 para 1100 ºC. A contribuição de

metais alcalino-terrosos, Mg, e de metais pesados (Zn, Pb) para a formação de aerossóis é de

menor relevância. [38], [9].

Figura 3. Processo de formação de partículas a partir dos elementos presentes nas cinzas [16].

Cl e pequenas quantidades de K são libertadas nas primeiras fases da combustão, isto é, na

pirólise. A libertação de Cl dá-se em duas fases distintas, a temperaturas diferentes.

23

Aproximadamente 60% do teor de Cl é libertado quando a temperatura de pirólise aumenta de 200

para 400 ºC, voltando a ser novamente evaporado somente a temperaturas entre 700 a 900 ºC.

Quando a temperatura se reduz para ≈ 1000 ºC formam-se os sulfatos de potássio (K2SO4),

através da sulfatação de hidróxidos alcalinos (KOH) e cloretos alcalinos (KCl). O processo de

sulfatação de KCl liberta Cl, o qual pode reagir cataliticamente com a superfície do permutador de

calor pelo mecanismo de oxidação ativa [1].

Posteriormente, os sulfatos alcalinos formados podem ficar supersaturados, devido a uma menor

pressão de vaporização dos compostos, originando novas partículas por nucleação. A fracção de

potássio que não forma sulfatos dá origem aos compostos KCl ou K2CO3. Estes podem condensar

sobre partículas já existentes (fuligem ou metais refratários), a partir de condensação heterogénea

formando pequenas partículas. Estas podem ser constituídas por um núcleo de material orgânico

e a sua superfície é constituída por elementos alcalinos. O teor de cloretos de potássio, presentes

nas partículas finas, aumenta com a diminuição do diâmetro das partículas.

A formação de cinzas volantes finas por nucleação ou por condensação heterogénea de vapores

noutras já existentes são processos que competem entre si [39]. Quanto maior for a área

superficial das partículas já existentes mais difícil se torna a nucleação e é favorecido o

crescimento de partículas via condensação.

O comportamento da vaporização dos compostos presentes nas cinzas é extremamente

influenciado pelas características da biomassa. O efeito do aumento da concentração de cinzas no

combustível é seguramente um fator marcante no aumento das emissões de partículas. A razão

deste fenómeno é devida à vaporização dos elementos voláteis presentes nas cinzas, que é tanto

maior quanto maior for a concentração de cinzas no combustível.

A maior facilidade dos elementos metais alcalinos se volatilizarem depende também do teor de Si

no combustível, pois a presença elevada desta reduz a quantidade de alcalinos volatilizados na

fase gasosa. Do mesmo modo constatou-se que o teor de Cl no combustível afeta o

comportamento de volatilização dos alcalinos. Assim, o aumento do teor de Cl conduz a um

aumento da concentração das partículas finas, pois os metais alcalinos contribuem de uma forma

muito generosa para as emissões de partículas finas [37]. A concentração de Cl dita a quantidade

de alcalinos vaporizados durante a combustão, mais do que o próprio teor de alcalinos [17].

Os elementos existentes no resíduo carbonoso que não volatilizam e permanecem na grelha

consistem particularmente em material não volátil (Ca, Mg, Si). Podem, contudo, também ser

constituídas por material volátil que não foi libertado (K, Na e Al) [38], [17]. Estes compostos

fundem e coalescem dentro e sobre a partícula incandescente, dependendo da temperatura e

composição química das partículas [1]. O resultado são partículas de cinzas residuais com uma

24

vasta gama de composição, tamanho e forma diferentes, fatores que estão relacionados com o

material que lhes deu origem. Dependendo da sua densidade, tamanho, tecnologia e velocidade

dos gases de combustão, uma fração das partículas residuais irá ser arrastada pelo escoamento,

formando as cinzas volantes grosseiras, que podem sofrer aglomeração e fundir umas nas outras

ou fragmentar em pequenos pedaços. Sucede assim que, por vezes, frações de combustível não

queimado que são arrastados pelo escoamento originam também as cinzas volantes grosseiras

[30].

As temperaturas máximas atingidas em sistemas de leito fixo de biomassa são da ordem de 1000-

1200 ºC. Dependendo do tipo de material que constitui as cinzas e das temperaturas atingidas na

zona de queima das partículas de combustível, pode ocorrer a fusão das cinzas constituintes do

material que permanece no queimador, acontecendo originar aglomerados de cinzas de grandes

dimensões. Tal facto pode interferir com a distribuição do ar de combustão que se mistura com o

combustível, afetando o processo de combustão.

Alguns dos constituintes da matéria inorgânica que dão origem às cinzas são nutrientes essenciais

para o crescimento de plantas, e as suas cinzas podem ser usadas para o crescimento de novas

plantas [30]. Os países que utilizam a queima de biomassa para geração de energia, tais como a

Finlândia, Suécia, Dinamarca, Áustria e Alemanha têm já legislações que favorecem e controlam a

reciclagem das cinzas para deposição destas em florestas e áreas destinadas à agricultura [40].

No entanto, a quantidade de cinzas reciclada é muito menor que a produzida durante a combustão

da biomassa, apesar de este ser um problema mais relevante nas cinzas volantes.

As cinzas volantes, para além de contribuírem fortemente para as emissões de partículas, são

também causadoras de fenómenos de depósitos e aglomerações (fouling e slagging na literatura

inglesa) nas superfícies dos sistemas de combustão, podendo causar a sua ruína.

Depósitos é o termo relacionado com as camadas de material que se encontram alojadas nas

superfícies do equipamento de transferência de calor. Os depósitos são formados a partir da

matéria inorgânica do combustível, dos quais os metais alcalinos, potássio e sódio apresentam a

concentração mais elevada. Este fenómeno ocorre para temperaturas inferiores a 1000 ºC, e é um

processo relativamente lento, em que o crescimento dos depósitos de cinzas se dá ao longo de

dias. Com a diminuição da temperatura eles tendem a ser menos extensos e enfraquecem. Os

depósitos criam uma resistência adicional à transmissão de calor, aumentando a temperaturas dos

gases de combustão. Devido à natureza dos elementos químicos que participam neste fenómeno,

o potencial de ocorrência de corrosão é elevado.

Aglomerações é o termo associado aos depósitos nas paredes da caldeira ou outras superfícies

expostas ao calor por radiação. Este fenómeno ocorre para temperaturas da ordem dos 800 ºC e é

25

um processo rápido, que se desenvolve numa questão de horas, envolvendo processos de fusão e

sinterização de cinzas volantes.

2.4.2. Partículas resultantes da combustão incompleta

As partículas resultantes da combustão incompleta dividem-se em fuligem, que consiste

essencialmente em carbono elementar, e partículas orgânicas condensadas (alcatrões). O

processo de formação da fuligem é complexo e não é ainda totalmente compreendido. A sua

constituição é essencialmente de carbono sólido elementar, e a sua génese consiste numa

sucessão de várias reações químicas.

Em grandes unidades, como centrais térmicas e sistemas de aquecimento urbano, as emissões de

partículas são compostas somente por material proveniente das cinzas do combustível, pois a sua

elevada área permite a existência de uma boa aerodinâmica no interior da câmara, sendo por isso

as emissões devidas à combustão incompleta menores.

Os processos químicos que levam à formação e crescimento das partículas de fuligem durante a

combustão da biomassa encontram-se esquematizados na Figura 4. A formação de fuligem ocorre

cedo na chama, e a sua oxidação dá-se muito rapidamente em zonas quentes da frente de chama,

sendo os agentes oxidantes envolvidos a molécula de O2 e o radical OH.

Este processo inicia-se aquando da libertação de voláteis no momento em que fragmentos de

hidrocarbonetos abandonam a partícula de combustível, em zonas localmente ricas da chama,

onde a concentração de O2 é baixa. Estes fragmentos fracionam-se em pedaços menores que

reagem entre eles e com os gases circundantes, formando anéis aromáticos. Julga-se que a estes

anéis aromáticos se juntam grupos alquilos, formando-se hidrocarbonetos aromáticos

polinucleares (PAH na literatura inglesa), que crescem até formarem a fuligem.

Os fenómenos que levam ao crescimento destas partículas são inicialmente o crescimento

superficial e a coagulação. No entanto, quando a coagulação já não é possível devido à falta de

crescimento superficial, ocorre a aglomeração de fuligem. As partículas de fuligem resultantes são

então formadas por pequenos agregados de partículas esféricas.

26

Figura 4. Representação esquemática do processo de formação da fuligem [19].

Pesquisas anteriores sugerem que a nucleação das partículas de fuligem, no carvão, ocorre na

envolvente da partícula em combustão [36]. Os voláteis ao serem libertados do resíduo carbonoso

originam um escoamento exterior a este, que devido a fenómenos de impulsão origina uma esteira

a jusante da partícula de resíduo carbonoso [35]. A formação da fuligem ocorre ao longo do

escoamento, e aglomeram-se na esteira deste, tal como se mostra na Figura 5.

Figura 5. Representação esquemática da formação de fuligem na chama envolvente do resíduo carbonoso durante

a combustão do carvão [36].

27

Os principais parâmetros que afetam a taxa de oxidação da fuligem são a concentração de

oxigénio e a temperatura, sendo que as condições ideais para a sua geração são as regiões muito

ricas. No entanto, se a temperatura decrescer, a importância da concentração de oxigénio é

menor.

Existe assim uma quantidade de adição de ar ótima, pois quando a quantidade de ar é elevada, a

temperatura diminui, provocando o decréscimo da taxa de oxidação da partícula de fuligem,

reduzindo o seu tempo de residência para que ocorra oxidação completa e contribuindo para o

incremento das emissões de aerossóis [36].

Tanto o teor de metais alcalinos como o de material volátil têm influência na formação de fuligem.

A formação de fuligem é afetada pela presença de metais alcalinos, pois estes podem ter uma

ação catalítica na oxidação da fuligem, aumentando a sua taxa de oxidação. A quantidade de

matéria volátil tem também influência na formação de fuligem, tendo-se verificado que, para o

carvão, quanto maior o seu teor em voláteis maior a quantidade de fuligem formada.

2.4.3. Outros fatores na emissão de partículas

A redução de partículas tem sido alvo de intensos estudos, em especial durante o processo de

combustão, uma vez que, devido aos custos elevados, os sistemas de limpeza gasosos não são

uma boa opção para as unidades de pequena escala, [36]. Para que o progresso do estudo da

diminuição das emissões de partículas seja alcançado, é necessário o conhecimento dos fatores

que influenciam a sua formação e o seu desenvolvimento.

São vários estes fatores, sendo que muitos deles necessitam ainda de um estudo mais

aprofundado. Entre os principais, estão a temperatura dentro da câmara de combustão, as

propriedades do combustível, a aerodinâmica da combustão e a estratégia de fornecimento de ar

[36].

Temperatura da câmara de combustão

A temperatura tem um efeito contraditório nas emissões de partículas. O aumento da temperatura

no interior da câmara promove a taxa de vaporização do material inorgânico na zona de queima,

aumentando as emissões de cinzas volantes. Estudos anteriores sugerem que o potássio é

libertado em quantidades apreciáveis quando a temperatura excede 700 ºC, e que a sua

quantidade libertada aumenta com o aumento da temperatura, sendo que a 1150 ºC entre 50-90%

de todo o K se encontra já na fase gasosa.

Por outro lado, o aumento da temperatura diminui as emissões das partículas volantes grosseiras,

provavelmente devido a uma maior tendência destas para, com a subida da temperatura, se

fixarem às paredes da câmara, causando, contudo, a sua deposição nas paredes [16]. As

28

emissões de fuligem diminuem também, como resultado de uma maior taxa de oxidação a altas

temperaturas.

Aerodinâmica

Uma boa mistura a altas temperaturas, durante um tempo de residência adequado permite a

oxidação completa da fuligem e outros hidrocarbonetos. Pelo contrário, se o escoamento resultar

numa fraca mistura entre o ar e o combustível e existir quenching local devido às paredes mais

frias da câmara, as emissões de fuligem podem ser elevadas. Estes fenómenos são, no entanto,

mais relevantes a baixas temperaturas.

Fornecimento de ar

Johansson et al. [41] observaram que perante menores quantidades de excesso de ar ocorre um

deslocamento da distribuição da concentração mássica das partículas em direção às partículas de

maiores dimensões. Os autores concluíram que uma menor presença de excesso de ar pode ser

favorável na redução de menores partículas. Por outro lado, Kaufmann [42] afirma que a

vaporização dos elementos minerais da biomassa aumenta com o aumento da temperatura

causada pelo decréscimo do excesso de ar.

Contudo, Johansson et al. [41] reportaram igualmente que a redução do excesso de ar pode

aumentar a emissão de partículas de fuligem, sugerindo que excessos de ar reduzidos conduzem

à combustão menos completa. De facto, uma reduzida presença de excesso de ar pode afetar o

processo de combustão através da diminuição de oxidante disponível para oxidação completa do

combustível. No entanto, um excesso de ar elevado causa também um decréscimo acentuado na

temperatura, podendo congelar as reações de oxidação, conduzindo à combustão incompleta do

combustível e à formação de fuligem e acumulação de cinzas, causando uma obstrução à

passagem de ar [11].

Estratégias de fornecimento de ar têm sido implementadas para estudar o seu efeito nas emissões

de partículas. A estratégia de fornecimento de ar que tem sido alvo de maiores estudos foi o

estagiamento de ar. Esta técnica poderá ter uma influência muito positiva na formação de fuligem.

Isto porque se o carbono que não foi ainda oxidado encontrar a zona de ar secundário, ainda a

temperaturas elevadas, poderá favorecer a sua oxidação.

2.5. Recirculação dos gases de exaustão

Um dos principais métodos, e dos mais eficientes, de redução das emissões de NO é a

recirculação dos produtos de combustão, que consiste no reenvio dos produtos resultantes da

combustão novamente para a zona da chama. As suas principais vantagens são o facto de ser um

processo muito económico e que requer poucas modificações na caldeira, ao contrário das

29

modificações pós combustão, como é o caso de catalisadores, que apresentam custos muito

elevados.

A Figura 6 mostra um esquema simplificado do mecanismo deste processo. Os constituintes dos

produtos da combustão, CO2, N2 e H2O entre outros, são reintroduzidos na chama e agem como

diluentes do oxidante, o que resulta na redução da temperatura de combustão. Tal fenómeno é

devido ao calor específico (cp) dos produtos de combustão ser muito superior ao calor específico

do ar fresco. Assim sendo, para o mesmo calor libertado, quando os produtos são recirculados

aumentam o calor específico do ar de admissão na caldeira, conduzindo a um decréscimo da

temperatura no interior da câmara de combustão [43].

Uma outra consequência é que, pelo fato de haver mistura entre o ar de combustão e os gases de

exaustão recirculados, ocorre a diminuição da concentração de oxigénio na zona de reação, o que

afeta a formação de NO, pois este é fundamental na química de formação deste poluente, e

permite um maior tempo de residência de NO, visto este ser recirculado [44] [43]. Este método é

mais eficaz se a combustão ocorrer a temperaturas altas, pois o decréscimo de temperatura

consequente da aplicação de RGE inibe a formação de NO via mecanismo térmico.

Apesar de efetivamente reduzir as emissões de NO e de ser um método bastante económico de

redução de NO apresenta algumas desvantagens, como o aumento da instabilidade da chama,

menor eficiência da combustão e aumento das emissões de CO [45]. No entanto, estudos

anteriores provaram igualmente que este método é eficaz na redução das emissões de CO, para

misturas estequiométricas, e no aumento da eficiência da combustão [46].

Figura 6. Esquema simplificado do processo de RGE.

2.6. Estagiamento de ar

O estagiamento de ar é uma outra técnica de controlo de NO muito usada em centrais elétricas a

carvão. A figura 7 mostra um esquema simplificado deste processo que consiste na criação de

uma zona rica, zona primária de combustão, que resulta numa combustão da chama menos

intensa. Posteriormente os produtos resultantes da combustão primária são novamente

queimados numa zona rica em O2 (zona de combustão secundária).

Gases de

Exaustão

Gases de Exaustão Recirculados

Combustão

Combustível

Ar de combustão

30

Esta técnica reduz as emissões de NO devido a:

Privação de O2 e menor mistura entre o combustível e o ar de combustão, inibindo a

formação de NO via mecanismo do combustível,

Temperatura da chama na zona de combustão primária menor, devido à escassez de O2,

dificultando a formação de NO via mecanismo térmico.

A aplicação desta técnica em caldeiras domésticas/pequenas não é comum, no entanto algumas

pesquisas sugerem que reduza as emissões de NO entre 40% a 70%, dependendo do conteúdo

de N no combustível e outras condições [47]. No entanto, pelo facto de a câmara de combustão

das caldeiras domésticas possuir dimensões reduzidas, a redução de NO a partir de estagiamento

de ar pode ser pouco significativa, pois a mistura entre o ar secundário de combustão e o

combustível é mais difícil de obter. Um outro problema desta técnica em pequenas instalações é

que as diminuições de NO podem ser acompanhadas de um aumento das emissões de CO e HC,

devido a uma pior mistura entre o ar secundário e os produtos da zona primária de combustão,

como resultado de maiores restrições no tamanho da câmara.

Figura 7. Esquema simplificado do processo de estagiamento de ar.

Gases de Exaustão

Ar secundário

Combustível

Ar primário Zona de

Combustão

Secundária

Zona de

Combustão

Primaria

31

3. INSTALAÇÃO EXPERIMENTAL

O trabalho experimental desenvolvido durante o processo de investigação foi realizado no

Laboratório de Combustão do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto Superior

Técnico. A Figura 8 apresenta a instalação experimental, podendo-se visualizar a caldeira em

estado operacional.

Figura 8. Instalação Experimental.

3.1. Caldeira doméstica

Os testes foram realizados numa caldeira doméstica com uma capacidade térmica máxima de 22

kW, de ventilação forçada, cujo modelo é TERMO IDEAL CERAMIC 22 kW, do fabricante Anselmo

Cola. Estes tipos de equipamentos de combustão de biomassa estão sujeitos à norma EN

14785:2006. Tal como se mostra na Figura 9 as dimensões da caldeira são de 1204 mm de altura

(excluindo o painel de controlo), 602 mm de largura e 638 mm de profundidade, com uma tara de

210 kg. A estrutura e a câmara de combustão são constituídas por aço e ferro forjado.

32

Figura 9. Dimensões da caldeira.

A caldeira possui um circuito de água interno destinado a trocar calor com os gases de

combustão, permitindo que estes arrefeçam. Esta troca de calor é realizada num permutador de

calor situado no topo da câmara de combustão. O caudal do circuito interno de água da caldeira é

medido recorrendo a um rotâmetro convencional.

A troca de calor entre os gases de combustão e a água do circuito interno permite a libertação de

calor para o exterior, tendo assim a caldeira a função de aquecimento central. O circuito de água

interno, aquecido pelos gases de combustão, necessita trocar calor com um circuito de água

externo de forma a diminuir a sua temperatura. Para esse fim, utilizou-se um permutador de

placas, e recorreu-se a uma bomba de recirculação para promover a circulação entre o

permutador de calor intrínseco à caldeira e o permutador de placas.

As pellets são introduzidas manualmente num depósito afunilado com 45 dm3

de capacidade

máxima. No fundo do depósito encontra-se um parafuso sem fim, cuja função é o transporte das

pellets até à câmara de combustão através de uma calha ascendente. A alimentação das pellets é

do tipo vertical pelo topo.

As pellets ao serem recolhidas pelo parafuso sem fim são transportadas para uma braseira (ou

queimador) de 120 mm de diâmetro, local onde se dará a ignição do combustível. A ignição é

provocada recorrendo a uma resistência elétrica que se encontra colocada junto à braseira. A

limpeza diária do queimador é de extrema importância para garantir que a combustão tenha uma

quantidade de ar suficiente e que não haja contaminação de cinzas de testes anteriores.

33

A carga térmica é selecionada a partir do painel de comandos da caldeira, que controla o número

de rotações por minuto do parafuso sem fim, controlando assim a quantidade de pellets que

alimenta a chama a cada minuto. Um sensor de pressão controla a perda de carga de pellets por

minuto, sendo este valor lido a cada minuto num computador, ficando assim registado o valor do

consumo horário do combustível em cada ensaio.

O material que não foi queimado durante a combustão acumula-se num depósito de secção

retangular, localizado por baixo do queimador. A este componente dá-se o nome de coletor de

cinzas e antes do início de cada teste a sua limpeza é realizada.

Localizado abaixo do coletor de cinzas encontra-se um ventilador, componente da caldeira que é

responsável pelo fornecimento de ar para a combustão, realizando simultaneamente a extração

dos gases de combustão para a conduta de escape. Para que o fornecimento de ar no queimador

seja conseguido existe uma pequena folga entre o coletor e as paredes da caldeira, de forma que

o ar fornecido pelo ventilador alimente o queimador.

A caldeira não trabalha sempre em modo estacionário, na realidade existem diferentes fases

durante todo o seu processo de funcionamento, sendo cada uma caracterizada por uma diferente

velocidade de ventilação e caudal de alimentação de pellets diferente. Durante o seu

funcionamento, o painel de comandos dá a informação da fase em que a caldeira está a trabalhar.

Após ligada a caldeira inicia-se a fase de arranque. Esta é a primeira fase, caracterizada pelo

aquecimento da resistência elétrica e início do carregamento das primeiras pellets. Ocorre ainda

nesta fase o aparecimento da primeira chama. O sensor de temperatura montado na exaustão

deteta a presença de chama e o sistema fica condicionado até a deteção da primeira chama

estável [35]. Após a primeira chama estável, a temperatura deve subir até um mínimo de 54oC,

temperatura a partir da qual se inicia um nova fase: a fase em regime estacionário. Nesta fase a

bomba de recirculação é ativada, dando inicio à transferência de calor entre o circuito de água

interno e o circuito de água externo. Durante esta fase a alimentação de pellets é constante e a

temperatura deve-se situar entre 54oC e 75

oC. Se a temperatura ultrapassar este valor, a caldeira

irá reduzir o consumo de pellets, de modo a diminuir a temperatura no mínimo até 6oC. Durante

esta fase ocorre a fase de limpeza, que se repete a cada 11,5 minutos e tem a duração de 30

segundos. Durante a fase de limpeza o consumo de pellets diminui e ocorre simultaneamente o

aumento do caudal de ar de forma a remover as cinzas presentes no queimador, para evitar a

obstrução deste à passagem do ar de combustão.

Inicialmente a câmara de combustão foi projetada de forma a ser dividida em duas zonas: a zona

de ar primário e a zona de ar secundário. O ar primário é fornecido pelo ventilador que se encontra

por baixo do coletor de cinzas, e que alimenta o queimador a partir de pequenos orifícios

localizados na sua parte inferior. O ar secundário é fornecido por um tubo vertical. No entanto,

34

este método não permitia regular o rácio

pelo que o tubo que fornecia o ar secundário

foi retirado ficando assim a câmara de combustão restringida apenas à zona de combustão

primária.

A caldeira foi projetada para trabalhar exclusivamente com pellets de diferentes tipos de madeira,

que se cumpram os requisitos impostos pela norma DIN 51731, cujas características estão

listadas na Tabela 3.

Tabela 3. Propriedades dos pellets de acordo com a norma DIN 51731.

PCI mínimo 17,28 MJ/kg (4180 kcal/kg)

Massa volúmica 680-720 kg/m3

Humidade max. 10% peso

Diâmetro 6 ± 0,5 mm

Teor de cinzas max. 1,5% peso

Comprimento min. 6 mm – max. 30 mm

Composição madeira 100% não tratada sem aditivos ou resíduos

Salienta-se que o uso de pellets cujo diâmetro seja diferente do especificado pode conduzir a

problemas de mal funcionamento da caldeira, devido a que a velocidade de rotação do parafuso

sem fim foi especificada para o diâmetro das pellets especificados acima.

3.2. Modificações realizadas na caldeira de combustão

Recirculação dos gases de combustão

Para o estudo do efeito que o RGE tem na diminuição das partículas foi necessário efetuar

mudanças ao esquema de funcionamento normal da caldeira. A passagem de ar circulante na

conduta de ar de admissão encontra-se separada da conduta de passagem dos gases de escape

por uma válvula, que se encontra fechada durante os testes sem recirculação. Durante os testes

com RGE a quantidade de ar admitida é controlada por uma válvula, que se encontra totalmente

aberta quando não se dá a recirculação.

A Figura 10 mostra o esquema das modificações efetuadas na caldeira quando se aplicou RGE.

Quando se implementa a recirculação dos gases de combustão é necessário a abertura total da

válvula que separa os gases de exaustão do ar admitido. A válvula que permite a introdução de ar

de combustão é parcialmente fechada, permitindo assim a entrada de uma percentagem de gases

de exaustão na conduta de admissão de ar. Assim, uma fração dos gases de combustão é

introduzida na conduta de admissão de ar, circulando agora uma mistura entre o ar e os produtos

de combustão, mistura esta que consiste no oxidante.

35

Para que a percentagem de produtos de combustão recirculados seja a desejada é necessário

inicialmente monitorizar com o auxílio de uma sonda arrefecida a água a percentagem volumétrica

de CO2 presente nos gases de exaustão. O funcionamento e a estrutura da sonda são explicados

na secção seguinte, Métodos experimentais, estando a estrutura da sonda esquematizada na

Figura 15. De forma a obter a percentagem pretendida de CO2 na conduta de admissão

multiplicou-se a percentagem volumétrica de CO2 pela percentagem de RGE desejada. O valor

resultante é ajustado através da válvula de fornecimento de ar de combustão e lido a partir dos

analisadores de gases, tendo-se para tal colocado a sonda na conduta de admissão de ar.

Figura 10. Esquema da alteração realizada na caldeira para testar o efeito de RGE.

Estagiamento de ar

Para criar uma zona secundária de combustão, usou-se uma estrutura de aço inoxidável com a

forma apresentada na Figura 12 por onde escoa o ar comprimido, fornecido por um compressor.

Um outro rotâmetro convencional mediu o caudal de ar injetado, sendo o seu ajuste controlado

manualmente pela abertura ou fecho da válvula responsável pelo fornecimento do ar secundário.

Desta forma a razão

desejada foi controlada.

A estrutura por onde escoa o ar secundário apresenta orifícios ao longo de toda a sua forma.

Assim, o ar secundário circulante alimenta a chama diretamente, a partir dos orifícios, formando

jatos de ar, como mostra a Figura 11. Estes jatos de ar secundário fazem um angulo de 45º com a

vertical, tendo sido esta orientação definida manualmente. Esta orientação foi a única testada.

A quantidade de ar total fornecido manteve-se constante, sendo o ar primário fornecido pelo

ventilador da caldeira. A quantidade de ar primário fornecido é função do aumento do ar

secundário e é um parâmetro controlado pela própria caldeira.

Ar+

produtos decombustão

Ar

320

25

0

Pellets

Dimensões em mm

Profundidade = 180

Coletor de cinzas

Gases de exaustão

36

O ar primário ao ser injetado por baixo da grelha promove o aquecimento e secagem do

combustível, iniciando a libertação da matéria volátil e sua combustão em condições muito ricas.

Na zona secundária, acima do queimador, ocorre a combustão da matéria volátil em condições

com um teor de O2 elevado [11].

Figura 11. Esquema da alteração realizada na caldeira para testar o efeito de estagiamento de ar.

Figura 12. Dispositivo utilizado para estagiamento de ar.

Ar primário

Ar secundário

Ar secundário

Pellets

Orifícios por onde

escoa o ar secundário

37

3.3. Métodos experimentais

A Figura 13 mostra o esquema de toda a instalação experimental. Uma bomba extrai a amostra

gasosa dos gases de exaustão, recolhida por uma sonda, que atravessa um circuito fechado de

remoção de humidade e filtragem de partículas, bombeando a amostra até aos analisadores. A

humidade presente na amostra dos gases de combustão é removida por um condensador e

seguidamente em gel de sílica. A amostra já seca passa então por um filtro de algodão que

remove partículas residuais, chegando aos analisadores uma amostra limpa e seca. Chega assim

aos analisadores um caudal de amostra constante de gases de combustão. Os analisadores

fornecem a concentração das espécies gasosas em percentagem volumétrica e em base seca.

Durante a recolha de partículas um filtro foi usado, de forma a capturar as mesmas, para o seu

estudo posterior.

Figura 13. Esquema da instalação experimental.

Medição de temperatura

Para a medição da temperatura à entrada (T1) e saída (T2) da água da câmara, bem como da

temperatura dos gases de combustão (T3) foram usados três termopares do tipo K, cujo material é

constituído por Ni-Cr e Ni-Al. Estes termopares têm como vantagem o seu baixo custo e são

indicados para a medição de temperaturas abaixo de 1000 ºC. Os sinais analógicos dos

termopares são lidos num computador, sendo convertidos através de uma placa de conversão

A/D, e os valores registados a cada segundo.

Medição de espécies gasosas

Para cada tipo de espécie gasosa é necessário usar um analisador apropriado, cada um com um

princípio de funcionamento diferente. A Tabela 4 descreve o tipo de analisador para as cinco

espécies gasosas medidas, e o princípio de funcionamento de cada um.

Gases deexaustão

Rede deabastecimento

de água

Pellets

Termopares tipo K

Analisador de HC

Analisador deCO e CO2

Analisador deNOx

Analisador deO2

Ar

Balança Gel de silicaCondensador

Filtro dealgodão

Bombadiafragma

Garrafas decalibração

Sonda

LPI3

Entradade água

Saídade água

12 bit A/D

BOILER

T1

T2T3

220 V

RS 232

38

Tabela 4. Características dos analisadores utilizados na medição da concentração das espécies químicas.

Espécie gasosa Analisador Princípio de funcionamento

O2 Horiba

Modelo CMA-311A

Paramagnetismo

CO2 HORIBA

Modelo CMA-311 A

Não dispersiva de

infravermelhos

CO Horiba

Modelo CMA-311 A

Não dispersiva de

infravermelhos

NOx Horiba

Modelo CLA-510 SS

Quimiluminescência

HC Amluk

Modelo FID E 2020

Deteção por ionização de

chama

A recolha das amostras gasosas foi conseguida com o auxílio de duas sondas diferentes, ambas

de aço inoxidável: uma que se coloca no tubo de escape, no eixo de simetria deste, a uma

distância vertical elevada da secção de entrada da conduta de exaustão de modo a evitar

turbulência do escoamento e de forma a permitir a recolha de gases com uma quantidade de

sujidade menor. Esta sonda permite a recolha de gases e de partículas, e apresenta uma secção

de entrada estreita de forma a garantir uma velocidade de escoamento elevada. A sonda

encontra-se acoplada com o impactor que permite a recolha de partículas, como mostrado na

Figura 14.

Figura 14. Sonda acoplada com impactor LPI para recolha de gases e de partículas.

Uma outra sonda, arrefecida a água (ver Figura 15), é também colocada na conduta de exaustão,

a uma distância de 0,75 m da secção de entrada da conduta de exaustão. Esta é também

colocada na conduta de admissão do ar, de forma a medir a quantidade de produtos de

combustão existentes neste quando se realizam os ensaios com RGE.

A sonda arrefecida a água é constituída por um tubo interior, de diâmetro igual a 2 mm, por onde

circulam os gases. A envolver o tubo interior estão dois tubos concêntricos, por onde escoa um

circuito de água destinado a arrefecer os gases. As dimensões da sonda encontram-se

representadas na Figura 15.

39

Figura 15. Representação esquemática da sonda responsável pela amostragem de gases e suas dimensões [1].

Medição de partículas

No presente trabalho a captura de partículas realizou-se recorrendo a um impactor de baixa

pressão de três estágios, LPI (Low Pressure Impactor), mostrado na Figura 14, que filtra as

partículas e as distingue em três gamas diferentes de tamanho: PM < 2,5 µm, 2,5 < PM < 10 µm,

PM > 10 µm. Os filtros usados para captura de partículas são feitos de microfibra de quartzo, do

fabricante Munktell e possuem um diâmetro de 47 mm.

As amostras gasosas e de partículas foram realizadas em simultâneo e tiveram a duração de uma

hora. A sonda que recolhe as amostras gasosas e de partículas foi colocada no eixo central, no

topo, do tubo de exaustão, na posição horizontal, tal como mostra a Figura 14. As partículas ficam

depois retidas no LIP. A amostragem das partículas deve ser isocinética (a velocidade da amostra

na entrada do bocal da sonda é igual à velocidade do escoamento dos gases de exaustão), de

forma a evitar desvios das linhas de corrente, uma vez que as partículas apresentam diferentes

dimensões [1].

O princípio de operação do impactor encontra-se ilustrado na Figura 16. O escoamento de

partículas é recolhido pela sonda com uma velocidade elevada, e é direcionado contra uma placa

plana, denominada de placa de impacto. Esta placa força o escoamento a contorná-la, fazendo um

angulo de 90º. As partículas cuja inercia é superior a um determinado valor não conseguem

prosseguir com o escoamento e colidem na placa [19].

Dá-se o nome de impactor em cascata aos impactores compostos por diferentes estágios

individuais de impacto. Cada estágio do impactor representa uma determinada gama de tamanho

de partículas, o que é conseguido diminuindo a secção de passagem do escoamento de ar. As

partículas superiores a uma determinada dimensão são recolhidas na placa de impacto. Aquelas

que apresentam dimensões menores do que as que foram recolhidas no estágio anterior

prosseguem e são recolhidas no estágio ao qual corresponde o seu tamanho.

As emissões de partículas serão aqui discutidas de acordo com a sua concentração mássica e

distribuição mássica de acordo o seu tamanho. A primeira refere-se à massa de partículas por

40

unidade de volume dos gases de exaustão, enquanto a segunda é a concentração mássica

distribuída ao longo do tamanho das partículas [41].

Figura 16. Princípio de funcionamento do LPI [19].

De forma a evitar a condensação no interior do impactor usou-se um casaco de aquecimento do

modelo Winkler WOTX1187, usado durante a execução da experiencia. O seu aquecimento é

conseguido a partir da corrente elétrica, e a temperatura atingida é de 150 ºC.

De forma a garantir a ausência de humidade nos filtros, é necessário introduzir estes numa estufa

a uma temperatura de 80ºC durante aproximadamente uma hora antes do início de cada teste.

Após este período de tempo realiza-se a pesagem os filtros sem partículas numa balança digital,

com sensibilidade de 0.01 g. Após a sua pesagem, os filtros são colocados no impactor e

encontram-se preparados para a realização do teste. No final de cada deste os filtros são

novamente colocados na estufa, aproximadamente por uma hora de forma a retirar qualquer

humidade residual. Fina a secagem dos filtros com partículas, estes são novamente pesados. O

valor registado quantifica a massa de partículas em cada estágio. Este valor permite então

determinar a concentração mássica de partículas, isto é, a concentração de partículas por m3 de

gases de exaustão (kg/Nm3).

Medição do caudal de água do circuito interno

O caudal de água que circula no circuito interno da caldeira é medido com 0 auxílio de um

rotâmetro convencional. A escala deste é percentual, variando entre 0% e 100% e apresentando

uma incerteza de 0,5%.

41

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1. Características do combustível

As pellets utilizadas durante todo o trabalho experimental foram produzidas a partir de resíduos da

indústria da transformação da madeira (serradura de pinho). Este tipo de pellets é o mais comum

no mercado e foram produzidos pela empresa Vimasol, situada em Guimarães. A Tabela 5 indica

as principais propriedades físicas e químicas das pellets utilizadas. A análise elementar e a análise

imediata foram realizadas pelo Laboratório de Análises do Centro de Química Estrutural do

Instituto Superior Técnico.

Tabela 5.Propriedades das pellets utilizadas.

4.2. Condições de operação da caldeira

As condições de operação da caldeira durante os testes realizados com RGE estão listadas na

Tabela 6. Salienta-se que as variações de carga térmica implicam também uma variação no

excesso de ar (caracterizado pelo parâmetro λ), e consequentemente na concentração de O2 nos

gases de exaustão. Esta situação resulta do fato de a velocidade de rotação do ventilador da

Parâmetro Valor

Analise Elementar (% wt, daf)

Carbono 46.0

Hidrogénio 6.2

Azoto 0.5

Enxofre < 0.01

Oxigénio 47.3

Analise Imediata (% wt, ar)

Voláteis 80.5

Carbono fixo 10.9

Humidade 7.3

Cinzas 1.3

Análise às cinzas (wt% db)

SiO2 20.9

Al2O

3 6.2

Fe2O

3 21.6

CaO 26.2

SO3 0.3

MgO 4.3

P2O

5 4.2

K2O 11.5

Na2O 2.5

Cl 0.04

Outros óxidos 2.3

PCI (MJ/kg) 17.1

Dimensões médias dos pellets (mm)

Diâmetro 6

Comprimento 18

42

caldeira ser constante, independentemente da taxa de alimentação das pellets. Assim, quando a

taxa de consumo de pellets aumenta, o excesso de ar diminui [25].

Tabela 6. Condições de operação dos testes com Recirculação dos gases de exaustão.

Carga

térmica

(kW)

Consumo de

pellets (kg/h)

Oxidante O2 nos gases

de exaustão

(vol. %)

RGE

(%) O2

(vol.%)

CO2

(vol.%)

13 2,6

20,9 0 17,28 0

20,39 0,47 17,2 10

20,13 0,98 17,28 20

19,59 1,31 17,05 30

19,30 1,81 17,59 45

18,35 2,49 16,71 60

17 3,4

20,9 0 16,1 0

20,09 0,47 15,6 10

19,79 0,91 16,0 20

19,39 1,27 16,4 30

18,31 2,08 15,9 40

17,76 2,67 16,0 50

17,11 3,17 16,3 60

A Tabela 6 revela que o aumento de RGE produz uma diminuição da concentração de O2 nos

gases de exaustão. Esta situação é de prever, uma vez que o aumento de RGE conduz a uma

maior diluição de O2. O aumento de CO2 deve-se ao facto de se ter reintroduzido uma fração dos

produtos de combustão.

Tabela 7. Condições de operação dos testes com estagiamento de ar.

Carga térmica

(kW)

Consumo de

pellets (kg/h)

O2 nos gases de

exaustão (vol. %)

Estagiamento de

ar (%)

13 2,6

17,4 0

17,3 3

17,5 6

17,1 9

17,3 12

17 3,4

16,1 0

16,3 3

16,1 6

16,7 9

16,4 12

43

A Tabela 7 é referente aos testes realizados com estagiamento de ar. Uma vez mais, verifica-se

que a percentagem de O2 nos gases de exaustão diminui com o aumento da carga térmica.

Verifica-se também que, para ambas as cargas, a quantidade de O2 nos produtos de combustão é

relativamente constante, uma vez que o ar de combustão foi sempre mantido aproximadamente

constante.

4.3. Efeito da recirculação dos gases de exaustão nas emissões gasosas e

de partículas

A apresentação dos resultados encontra-se normalizada relativamente a caso em que não se

aplicou RGE, pois facilita a compreensão do efeito que a aplicação deste tem nas emissões de

gases e partículas. Como mostra a Figura 17 aplicou-se, para ambas as cargas térmicas, RGE até

60%.

A Figura 17 mostra o efeito que a aplicação de RGE tem na emissão dos poluentes gasosos CO e

NOx e nas partículas totais para as cargas térmicas de 13 kW e 17 kW. Verifica-se que o seu efeito

na redução das emissões de NOx é ligeiramente superior para 13 kW. Um estudo anterior

realizado por Buddeker [25] atestou que, para a presente caldeira, o aumento da carga térmica

provoca uma diminuição do excesso de ar, e que a diminuição de NOx se verifica para maiores

excessos de ar. Tal significa que a diminuição de NOx é tanto maior quanto menor for a carga

térmica.

Devido às relativamente elevadas quantidades de ar no interior da câmara, ocorre uma redução da

temperatura no seu interior [48]. A diminuição da temperatura tem um efeito muito forte no

processo de combustão, pois as temperaturas reduzidas podem provocar o congelamento das

reações químicas, dificultando a formação de novas espécies. Posto isto, Rabaçal [1] sugere que,

para a caldeira em estudo, o mecanismo térmico de formação de NO tenha uma contribuição

significativa na génese deste poluente, apesar de as temperaturas no interior da câmara de

combustão serem inferiores a 1800 K, temperatura a partir da qual este mecanismo é dominante.

O aumento de RGE produz uma maior diluição de O2 no oxidante. Para o caso de 13 kW, em que

o excesso de ar é elevado, a redução deste pode ser favorável, pois a formação de NOx depende

fortemente da concentração local de O2 [24]. Este motivo, a par com a redução da temperatura de

combustão causada pelo aumento da capacidade térmica dos gases queimados, podem ter um

efeito predominante na redução de NOx. Possivelmente para 17 kW, havendo uma menor

disponibilidade de O2 inicial, a aplicação de RGE possui um efeito relevante somente na redução

da temperatura dos gases de combustão, sendo o fator associado à oxidação do azoto menos

significativo.

No tocante às emissões de CO com a aplicação de RGE, estas não apresentam melhorias para

nenhuma das cargas térmicas estudadas, sendo relativamente mais elevadas para 13 kW.

44

Rabaçal [1] verificou que para maiores cargas térmicas, as emissões de CO apresentam um

comportamento contrário ao de NOx, diminuindo com estas. Assim, as emissões de CO

resultantes da combustão incompleta aumentam com o excesso de ar, isto é, com a diminuição da

carga. Lamberg et al. [13] constataram igualmente que um maior excesso de ar provoca uma

menor temperatura resultando na redução da taxa de oxidação de CO. Tal pode ser explicado pelo

facto de a taxa de reação do processo depender fortemente da temperatura, que diminui com o

aumento de excesso de ar. Por conseguinte, as reações de oxidação processam-se a uma taxa

mais lenta, não sendo possível a oxidação total do combustível, resultando na combustão

incompleta deste. Por isto, a redução de temperatura com o aumento de RGE poderá ter um efeito

negativo nas emissões de CO.

Figura 17.Efeito de RGE nas emissões gasosas e de PM para 13 e 17 kW.

Por último, analisando a evolução das emissões de CO, estas apresentam um comportamento

semelhante ao das emissões de partículas, como foi anteriormente discutido por Fernandes e

Costa [12]. Tal comportamento sugere que as emissões de CO podem ser um bom indicador da

eficiência da caldeira, no respeitante às emissões de PM. Sendo assim, o comportamento das

emissões de partículas poderá estar relacionado com a formação de fuligem, isto é, com a

combustão incompleta que adveio do excesso de ar e do aumento de RGE, resultando na redução

da temperatura.

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

PM

/PM

refe

rên

cia

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

CO

/CO

refe

rên

cia

, N

Ox/N

Ox

refe

rên

cia

referência 10 20 30 45 60

FGR

PM

CO

NOx

EGR , 13 kW

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

referência 10 20 30 40 50 60

PM

/PM

refe

rên

cia

RGE

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0C

O/C

Ore

ferê

ncia

, N

Ox/N

Ox

refe

rên

cia

PM

CO

NOx

RGE, 17 kW

RGE

RGE, 13 kW

45

A Figura 18 mostra a variação da emissão das partículas inferiores a 2,5 µm, recolhidas pelo

impactor de 3 estágios. A evolução da concentração mássica de PM2,5 apresenta-se normalizada

em relação aos valores de referência, em que não se aplicou recirculação dos gases de

combustão.

O aumento de RGE nas emissões de PM2.5 evidencia um efeito contrário ao desejado, não sendo

evidente qualquer melhoria no que concerne a redução de partículas. Possivelmente devido a uma

combustão mais incompleta ocorre uma menor oxidação da matéria orgânica libertada durante a

fase de pirólise, favorecendo a formação de fuligem. Perante cargas superiores o efeito de RGE

ostenta melhores resultados nas emissões de PM2,5. Tal facto pode estar associado à menor

presença de excesso de ar.

Figura 18. Efeito de RGE nas emissões de PM2,5 para 13 e 17 kW.

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

PM

/PM

refe

rência

referência 10 20 30 45 60

RGE

PM < 2.5 µmRGE, 13 kW

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

referência 10 20 30 40 50 60

PM

/PM

refe

rência

RGE

RGE, 17 kW PM < 2.5 µm

46

4.4. Efeito do estagiamento de ar nas emissões gasosas e de partículas

Na secção anterior foi analisado o efeito de RGE nas emissões gasosas e de partículas. A

presente secção foca-se no estudo das mesmas emissões com a aplicação de estagiamento de

ar. Tal como anteriormente, tanto as espécies gasosas como as de partículas foram normalizadas

para 13% de O2 e comparadas em relação à situação referencial sem estagiamento.

Analisando a Figura 19 constata-se que, para 17 kW, a diminuição de NOx com a aplicação de

estagiamento de ar não foi bem-sucedida, ao contrário do que ocorreu quando se aplicou o RGE.

Uma vez mais, os resultados estão de acordo com a conclusão de Rabaçal [1] que observou que,

para a mesma caldeira, as emissões de NOx aumentam com a carga térmica.

Figura 19. Efeito do estagiamento de ar nas emissões de gasosas e de partículas para 13 e 17 kW.

O estagiamento de ar não apresenta melhorias nas emissões de CO para cargas térmicas de 13

kW, tendo, no entanto, aumentado a eficiência de combustão para 17 kW. Tal ocorrência reforça,

uma vez mais, o facto de que as condições de combustão são mais eficientes perante a presença

de menores excessos de ar.

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

PM

/PM

refe

rên

cia

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

CO

/CO

refe

rên

cia

, N

Ox/N

Ox

refe

rên

cia

referência 0.03 0.06 0.09 0.12

Ar sec./Ar prim.

PM

CO

NOx

Estagiamento de ar, 13 kW

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

PM

/PM

refe

rên

cia

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

CO

/CO

refe

rên

cia

, N

Ox/N

Ox

refe

rên

cia

referência 0.03 0.06 0.09 0.12

Ar sec./Ar prim.

PM

CO

NOx

Estagiamento de ar, 17 kW

47

O facto de as emissões de CO não apresentarem melhorias face à aplicação de estagiamento de

ar para 13 kW poderá estar associado a uma má estratégia de distribuição de ar secundário, para

esta carga térmica. Tal aparenta indicar que o aumento de ar secundário não tem uma boa

influência no processo de combustão. De facto, o mesmo tinha sido já verificado por outros

autores, [11], [49]. Chaney e Liu [49] sustentam que quanto maior for o caudal de ar secundário,

maior será a área necessária para a oxidação de CO. Uma vez que a caldeira possui dimensões

pequenas, como foi já comentado anteriormente, a mistura entre combustível e ar torna-se mais

difícil. A necessidade de maior área aumenta devido ao aumento do caudal de ar secundário,

podendo tornar o processo de combustão menos eficiente. Porém, Lamberg et al. [13] indicam que

o aumento de ar secundário traz grandes benefícios no referente às emissões de combustão

incompleta.

De facto, para 17 kW as emissões de CO com o aumento de ar secundário aparentam ter sofrido

uma redução significativa. Possivelmente devido à menor presença de excesso de ar, o que causa

um menor caudal de ar secundário e uma redução de temperatura no interior da câmara menos

acentuada, criando melhores condições para combustão completa do combustível. Com o

aumento da contribuição de ar secundário face ao ar primário, o caudal do primeiro aumenta. No

entanto, havendo um menor excesso de ar, o seu caudal é inferior ao caso de 13 kW. Assim

sendo, as condições de mistura no interior da câmara poderão ser beneficiadas em comparação

com o caso de 13 kW.

Ao contrário do sucedido para os testes com RGE, as evoluções de partículas com CO

apresentam evoluções diferentes. Tal situação poderá estar relacionada com a menor vaporização

de elementos alcalinos, devido à redução da temperatura na zona primária de combustão,

juntamente com a redução de fuligem, devido à condensação do material inorgânico sobre as

partículas originadas da combustão incompleta, causada pelas menores temperaturas. Verifica-se

também que a redução das emissões de partículas é mais acentuada para 17 kW. O facto de

haver um menor excesso de ar pode provocar temperaturas relativamente mais altas para 17 kW,

permitindo uma melhor oxidação de fuligem do que no caso de 13 kW.

A Figura 20 mostra a variação das PM2,5 com a aplicação de excesso de ar. Ao contrário do

sucedido aquando da aplicação de RGE, a variação das emissões de PM2,5, ostenta um

comportamento diferente das emissões totais de partículas. De facto, comparando a evolução das

emissões de partículas, verifica-se uma redução muito significativa das emissões de PM2,5, ao

mesmo tempo que se verifica um aumento do estagiamento de ar e é menos notória a redução

das emissões totais de partículas. Esta diferença poderá assinalar que ocorreu um deslocamento

da concentração mássica de partículas no sentido das menores para as de maiores dimensões.

Também Wiinikka e Gebart. [14] e Žandeckis et al. [11] verificaram que as partículas volantes

grosseiras aumentam perante maiores caudais de ar secundário. Tal facto deve-se a que o

aumento de ar secundário produz um aumento da velocidade do ar no interior da câmara de

48

combustão. Este aumento de velocidade, ao provocar uma força maior, consegue retirar pequenas

partículas que permaneciam no queimador. Estas partículas são arrastadas ao longo do

escoamento, incrementando a concentração das partículas de maiores dimensões.

Figura 20. Efeito da aplicação de estagiamento de ar nas emissões de PM2,5 para 13 e 17 kW.

Com o aumento do estagiamento de ar secundário introduzido na câmara verifica-se que, de facto,

ocorre uma melhoria substancial nas emissões de PM < 2,5 µm. Tal evidência está de acordo com

os estudos realizados anteriormente por Wiinikka e Gebart [14], que confirmaram que o aumento

de ar secundário em relação ao ar primário se traduz na diminuição das emissões de partículas da

ordem dos submícrons. Segundo os autores, tal ocorrência poderá estar relacionada com o facto

de que o aumento de ar secundário, ao criar uma maior velocidade dentro da câmara, permite a

redução de temperatura no interior da câmara de combustão. Assim, os autores sugerem que

devido a uma redução da temperatura junto ao queimador, possa ocorrer a inibição da

vaporização de alguma parte da matéria mineral do combustível.

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0P

M/P

Mre

ferê

ncia

referência 0.03 0.06 0.09 0.12

Ar sec/Ar prim

PM < 2.5 µmEstagiamento de ar, 13 kW

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

PM

/PM

refe

rência

referência 0.03 0.06 0.09 0.12

Ar sec/Ar prim

PM < 2.5 µm

Estagiamento de ar, 17 kW

49

Uma outra explicação é que o aumento de ar secundário produz uma redução no caudal de ar

primário, resultando numa diminuição de temperatura na zona primária de combustão. Lamberg et

al. verificaram igualmente que a redução de ar secundário apresenta efeitos negativos nas

emissões de partículas finas e na vaporização de metais alcalinos. A explicação dada pelos

autores para tal situação centra-se no facto de que a redução do caudal de ar primário, e respetivo

aumento de caudal de ar secundário, reduz a temperatura na zona primária de queima. A

diminuição de temperatura na zona primária de combustão pode, assim, levar à menor

vaporização dos metais alcalinos da grelha. Os autores apontam também que o aumento do

caudal de ar secundário resulta igualmente numa melhor mistura na zona secundária de

combustão. Assim sendo, de acordo com os autores, a melhor mistura na zona secundária, reduz

as emissões de gases da combustão incompleta e de partículas. Devido à diminuição de

temperatura, a inibição da vaporização de uma fração dos compostos minerais presentes no

combustível pode ocorrer. Assim sendo, estes podem fundir na partícula incandescente que

permanece na grelha, podendo ser mais tarde arrastados pelo escoamento. Podem ainda

contribuir tanto para o incremento das partículas leves de maiores dimensões, com para o

aumento as cinzas de fundo.

A redução da temperatura poderá também influenciar a condensação do material inorgânico

vaporizado sobre partículas já existentes. Uma vez que as partículas de fuligem podem servir

como núcleos onde a matéria inorgânica das cinzas do combustível condensa, a concentração de

fuligem poderá diminuir e a dimensão das partículas finas poderá aumentar. Desta forma, a

concentração mássica de partículas no modo PM2,5 diminui, enquanto a concentração das

partículas de maiores dimensões aumenta.

Para os caudais de ar secundário mais elevados, poderá também ocorrer uma melhor mistura

entre o combustível e o ar secundário, resultando na maior oxidação da fuligem, diminuindo

também a sua contribuição para as menores partículas. Possivelmente, a mistura é mais eficaz

quando o excesso de ar é menor, a 17 kW, devido à menor área necessária para obter uma boa

mistura.

50

5. FECHO

5.1. Conclusões

O uso de caldeiras domésticas para aquecimento central de casas ou aquecimento de águas tem

vindo a aumentar. O uso excessivo de combustíveis fósseis resultou numa maior procura de

fontes de energia alternativas. A biomassa tem vindo a tornar-se um combustível competitivo, pois

a sua queima não contribui para as emissões de efeito de estufa. No entanto, durante a sua

combustão, poluentes extremamente nefastos à saúde humana são emitidos. Entre os mais

gravosos encontram-se as partículas. A sua captura é possível, contudo, apenas a partir de

métodos pós combustão de custos elevados sem possibilidade de filtrar as partículas mais

pequenas (aerossóis). Assim sendo, é necessário o estudo de novos métodos de remoção ou

diminuição de partículas finas a partir da modificação do processo de combustão.

O trabalho teve como objetivo de estudo a influência que a recirculação dos gases de exaustão e

o estagiamento de ar apresentam nas emissões de gases e de partículas resultantes da

combustão de pellets de pinho numa caldeira doméstica. Para tal, foi necessário modificar o

sistema de queima de forma a permitir a realização da presente investigação, alterando nos dois

testes o esquema de admissão do oxidante.

A análise das espécies gasosas (CO, NOx) foi executada recorrendo a analisadores de espécies

gasosas. Para recolha e classificação de partículas recorreu-se a um impactor de baixa pressão

de três estágios, que classifica as partículas de acordo com o seu diâmetro aerodinâmico em três

gamas de tamanhos diferentes.

As amostras gasosas e de partículas foram corrigidas para 13% O2, para as cargas térmica de 13

e 17 kW. Foram analisados os diferentes casos estudados, avaliando a evolução das espécies

gasosas e de partículas face à situação referencial, na qual nenhuma modificação na caldeira foi

implementada.

A aplicação das estratégias implementadas tem efeitos nas emissões gasosas e de partículas,

devido às temperaturas menores que se atingem no interior da câmara. A redução de temperatura

na câmara de combustão traz benefícios no que diz respeito à vaporização de matéria inorgânica

das cinzas constituintes da biomassa, bem como à sua condensação sobre partículas de fuligem.

Contudo, pode ocorrer um aumento das emissões de fuligem, ao tornar a combustão menos

completa. Assim, é necessário que a câmara de combustão seja bem projetada, no sentido de

proporcionar a menor vaporização das cinzas, ao mesmo tempo que promove uma boa mistura

entre matéria orgânica que volatiliza e se mistura com o ar.

51

Concluiu-se que a aplicação de RGE se traduz em melhorias nas emissões de NOx, tendo, no

entanto, um efeito pouco significativo nas emissões de CO. A sua aplicação como estratégia de

melhoria das emissões de partículas, em especial as que apresentam tamanhos inferiores aos

submícrons, apresenta um caráter promissor, porém, é necessário uma maior investigação neste

campo.

O estagiamento de ar mostrou ser um método muito eficaz na redução das emissões de PM2,5.

Todavia, especial atenção deve ser dada às emissões de CO, que apresentam um maior

incremento face à situação em que não é aplicado qualquer estagiamento. Esta situação foi

observada para excessos de ar elevados, revelando que o estagiamento de ar pode ter efeitos

negativos se aplicado em condições em que pode prejudicar uma boa eficiência de combustão.

No entanto, este método, por inibir a vaporização de uma parte da matéria inorgânica, pode

causar a aglomeração desta na zona do queimador, obstruindo a passagem de ar primário,

afetando o fornecimento de ar necessário para obter a oxidação do combustível, e podendo criar

instabilidade da chama, tornando o processo de combustão menos eficiente.

Os objetivos do trabalho foram cumpridos, tendo sido estudado o efeito que cada um dos

processos de modificação de combustão tem nas emissões de gases e de partículas. Verificou-se

ainda que tanto a aplicação de RGE como a de estagiamento de ar durante a combustão da

biomassa em leito fixo são técnicas promissoras na redução das partículas menores de forma

eficiente. Contudo, é necessário prestar a devida atenção a fatores externos que possam causar

perturbações no processo de combustão, podendo prejudicar a eficiência da mesma.

5.2. Recomendações para trabalhos futuros

O trabalho realizado confirmou que, de facto, a modificação do processo de combustão visando a

redução de partículas, tem um caracter bastante promissor. No entanto, é necessária uma maior

investigação nesta área. Assim sendo, são propostas nesta secção algumas recomendações para

futuras pesquisas:

Testes semelhantes deveriam ser realizados, no entanto medições de temperatura e

espécies gasosas no interior da câmara devem ser efetuadas, tornando possível a análise

do efeito que o RGE e o estagiamento de ar têm em todo o processo de formação de

partículas, nas diversas secções da câmara de combustão.

Os mesmos testes deveriam ser realizados em diversas caldeiras domésticas, que

apresentem secções diferentes do queimador. A realização destes testes poderá ser

interessante para compreensão do efeito que a variação da secção do queimador terá,

aquando da libertação da matéria inorgânica existente nas cinzas.

A separação entre a fração orgânica da matéria e a inorgânica presente nas amostras

recolhidas deve ser realizada. No entanto, este ponto não é de fácil realização, uma vez

52

que estudos anteriores que relatam a sua execução envolvem equipamentos

dispendiosos.

A realização de novos testes de estagiamento de ar para diferentes orientações dos jatos

de ar secundário, com diferentes cargas térmicas, de forma a observar o efeito que a

orientação dos jatos e o caudal de ar secundário têm nas emissões gasosas e de

partículas poderiam ser realizados.

Testes semelhantes deveriam ser realizados com pellets diferentes, com o intuito de

avaliar a interação entre os elementos inorgânicos libertados das cinzas e os métodos de

alteração ao processo de combustão.

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