Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
VICTOR ANASTÁCIO DUARTE HOLANDA
EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM CAMUNDONGOS
EXPOSTOS AO MODELO DO DESAMPARO APRENDIDO
Dissertação apresentada à
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, para obtenção do título de
Mestre em Psicobiologia
Natal (RN)
2015
VICTOR ANASTÁCIO DUARTE HOLANDA
EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM CAMUNDONGOS
EXPOSTOS AO MODELO DO DESAMPARO APRENDIDO
Dissertação apresentada à
Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, para obtenção do título de
Mestre em Psicobiologia.
Orientadora: Profa. Dra. Elaine Cristina Gavioli
Natal (RN)
2015
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de Biociências
Holanda, Victor Anastácio Duarte.
Efeito de antagonistas do receptor NOP em Camundongos expostos ao modelo do desamparo
aprendido / Victor Anastácio Duarte Holanda. – Natal, RN, 2015.
94 f.: il.
Orientadora: Profa. Dra. Elaine Cristina Gavioli.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências.
Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.
1. Camundongo. – Dissertação. 2. Antagonistas do receptor NOP. – Dissertação. 3. Antidepressivos. –
Dissertação. I. Gavioli, Elaine Cristina. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BSE-CB CDU 599.323.4
Um dia aprendi que sonhos, existem para tornar-se realidade. E, desde aquele
dia, já não durmo para descansar. simplesmente durmo pra sonhar.
(Walt Disney)
Dedico este trabalho aos meus pais, Ozana Duarte e Antonio Carlos Holanda,
pelo amor e apoio incondicional a todos os meus sonhos e objetivos
Agradecimentos
À Deus pela oportunidade que Ele me deu. A oportunidade da vida, a
oportunidade de poder correr atrás dos meus sonhos e dos meus ideais. " O Senhor é
meu pastor e nada me faltará... " (Salmo 23).
Ao meu maior amor, minha primeira amiga, a minha maior cúmplice, aquela
que sempre acreditou em mim mesmo quando nem eu acreditava, minha mãe. Muito
obrigado pelas inúmeras vezes que a senhora abriu mão dos seus sonhos em prol dos
meus, em escolher o meu sorriso em detrimento do seu, enfim, só tenho que
agradecer por ser a melhor mãe do mundo.
Ao meu pai e ao meu irmão por estarem ao meu lado sempre que
precisei, por mostrarem que sem família não somos absolutamente nada.
À Profa. Dra. Elaine Gavioli. Não só pela orientação, mas sim por ter
acreditado no meu potencial, por sempre ter me incentivado a seguir em busca
dos meus objetivos, por sempre apresentar aquela palavra acolhedora nos
momentos mais difíceis durante todo esse período. Agradeço por ter confiado
em mim, e contribuído no meu amadurecimento, transformação e formação.
Certamente, o seu apoio, preocupação e carinho foram indispensáveis para
que eu pudesse chegar ate aqui.
À família que eu tive a oportunidade de escolher: os meus amigos que
são irmãos. Espero que ao citar nomes não esqueça ninguém, mas isso se faz
necessário:
Àquela que me fez conhecer o real sentido da amizade, aquela que
estava ao meu lado nos momentos mais tristes e felizes da minha vida.
Mesmo distante fisicamente um do outro, sempre nos manteremos unidos por
esse lindo laço que é a amizade. Muito obrigado por torna a minha vida mais
doce, Samila.
Luana, minha eterna parceira, minha irmã, meu xuxu; Joaquim, meu
amigo, parceiro, minha companhia/carona de todas as manhas por longos
quatro anos e meio; Maíra, a cearense mais abusada que eu conheço e
também a mais amada! Marina, a vaquinha mais linda e fofa de todas. Mesmo
nossa relação sendo firmada entre tapas e beijos, eu te amo muito. Portanto, a
todos vocês eu quero dizer que podem ter certeza que para todo o sempre a
minha amizade e a minha gratidão.
A Roney, pela paciência, pelo ombro amigo,por sempre se fazer
presente, por conseguir tornar os momentos finais desse ciclo muito mais
prazerosos. Enfim, muito obrigado pelas inúmeras vezes que você me exergou
melhor do que eu sou.
À Mari, que sempre se mostrou solícita e companheira. Um presente em
minha vida. Saiba que estarei sempre torcendo pelo seu sucesso.
Aos amigos do laboratório de Farmacologia Comportamental, Juliana,
Manara, Lisiane, Julia, Décio, Adriana, Ephifanio, Nathaly. Agradeço
principalmente a Iris e a Laila, que contribuíram para que eu chegasse ate esse
momento. Obrigado por cada experiência compartilhada e pelos momentos de
descontração, que tornaram o trabalho no laboratório ainda mais prazeroso.
Aos professores, Dr Felipe Duarte e Dra Rovena Engelberth por
aceitarem o convite para compor a banca e pela colaboração no
aprimoramento desse trabalho.
Enfim, agradecer à todos que de uma forma ou de outra colaboraram
para que este momento se tornasse realidade.
RESUMO
A nociceptina/orfanina FQ (N/OFQ) é um heptadecapeptídeo, sendo o ligante endógeno, de um receptor acoplado a proteína G do tipo inibitória, o receptor NOP. O sistema da nociceptina/orfanina FQ (N/OFQ) e seu receptor NOP tem se mostrado com grande potencial para o desenvolvimento de fármacos antidepressivos com evidências farmacológicas e genéticas apontando um potencial efeito antidepressivo induzido pelo bloqueio do receptor NOP. O modelo do desamparo aprendido (DA) emprega eletrochoques, incontroláveis e imprevisíveis, nas patas dos animais como evento estressor para induzir um fenótipo tipo depressivo. Este paradigma é baseado no fato de que após exposição à eletrochoques incontroláveis, os animais desenvolvem déficits no comportamento de escape do compartimento eletrificado, evento este revertido pelo uso de antidepressivos. O DA é um modelo de depressão mais bem validado em comparação com os testes de desespero comportamental, que são atualmente mais utilizados no screening de novos agentes antidepressivos. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo validar o modelo do desamparo aprendido nas nossas condições experimentais, bem como avaliar a ação de antagonistas do receptor NOP em animais que desenvolveram a condição de desamparo. Para realização deste estudo, camundongos machos foram submetidos a três fases do protocolo DA (i.e., (1) indução, (2) screening e (3) teste). Os animais que desenvolveram o fenótipo tipo depressivo foram submetidos à sessão teste, cuja fase existe a possibilidade de escape do eletrochoque e o tempo de escape do compartimento onde recebeu o choque, bem como o número de vezes que o animal não escapou deste compartimento foi registrado. O efeito dos seguintes tratamentos, administrados antes da sessão de teste, foi avaliado: nortriptilina (30 mg/Kg, ip, 60 min),fluoxetina (30 mg/Kg, ip, 60 min), ambos antidepressivos clássicos, SB-612111 (1 e 10 mg/Kg, ip, 30 min) e UFP-101 (1 e 10 nmol, icv, 5 min), ambos antagonistas NOP. Ainda, para descartar possíveis falsos positivos no comportamento do tipo desamparado, foi avaliado o efeito destas drogas sobre os componentes motivacional e cognitivo. Assim, foi evidenciado que nos animais que desenvolverem o fenótipo tipo depressivo nortriptilina, SB-612111 e UFP-101 foram eficazes em reduzir a latência de escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes motivacional e cognitivo do DA; o mesmo não ocorre com a administração de fluoxetina, que não promove nenhuma alteração nos parâmetros analisados. Em conclusão, o tratamento agudo com antagonistas NOP é capaz de promover um efeito do tipo antidepressivo em camundongos submetidos ao modelo do desamparo aprendido.
Palavras chaves: antidepressivos; antagonistas do receptor NOP; desamparo aprendido; camundongo.
ABSTRACT
The nociceptin/orphanin FQ (N/OFQ) is a heptadecapeptide being the endogenous ligand of a Gi protein-coupled receptor, named NOP receptor. Pharmacological and genetic evidence suggests potential antidepressant effect induced by the blockage of NOP receptor. The learned helplessness model (LH) employs uncontrollable and unpredictable electroshock in the animals' paws as a stressor to induce a depressive-like phenotype. This paradigm is based on the fact that after exposure to uncontrollable electric shock, animals develop deficits in avoidance behavior of electrified compartment, an event reversed by antidepressants. The LH is a well-validated model of depression compared with behavioral despair tests that are currently most used in the screening of new antidepressants. Thus, the present study aims to validate the helplessness learned model in our experimental conditions, and to evaluate the action of NOP receptor antagonists in animals that developed the helpless condition. For this study male mice went through three phases of the DA protocol (i.e., (1) induction, (2) screening, and (3) test). Animals that developed the depressive-like phenotype were subjected to the test session. In this phase it is possible to escape the chamber electroshock. Therefore, the latency to escape after the shock, and the frequency of failures (when the animal did not escape from the eletroshoch compartment) was recorded. The effect of the following treatments administered before the test session was evaluated: nortriptyline (30 mg/kg, ip, 60 min), fluoxetine (30 mg/kg, ip, 60 min), both classical antidepressants, SB-612111 (1 to 10 mg/kg, ip, 30 min) and UFP-101 (1 to 10 nmol, icv, 5 min), both NOP antagonists. Still, to rule out possible false positives helpless kind of behavior, we evaluated the effect of these drugs on the motivational and cognitive components. Thus, it was shown that in animals that develop the depressive phenotype , nortriptyline, UFP-101 and SB-612111 were effective in reducing the escape latency and the frequency of failures without causing any change in motivational and cognitive components; the same is not true with fluoxetine administration, which does reverse helplessness behavior. In conclusion, acute treatment with NOP antagonists promotes a genuine antidepressant-like effect in mice submitted to the learned helplessness model.
Key words: antidepressants; NOP receptor antagonists; learned helplessness; mice.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIAÇÕES ....................................................................................... XIII
LISTAS DE FIGURAS .............................................................................................. XIV
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 19
1.1 Sistema nociceptina/orphanina FQ – receptor NOP .......................................... 21
1.1.1 Antagonistas do receptor NOP no tratamento da depressão ...................... 23
1.2 Teste de desespero comportamental e desamparo aprendido .......................... 25
2. OBJETIVOS ........................................................................................................... 30
2.1 Geral ................................................................................................................. 30
2.2 Específicos ........................................................................................................ 30
3. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 32
3.1 Animais ............................................................................................................ 32
3.2 Drogas ............................................................................................................. 32
3.3 Cirurgia esteriotáxica ........................................................................................ 33
3.4 Desamparo aprendido ...................................................................................... 34
3.5 Desenho experimental ...................................................................................... 38
3.5.1 Etapa 1: Padronização do modelo de desamparo aprendido ...................... 38
3.5.2 Etapa 2: Efeito do antagonista não-peptídico do receptor NOP, SB-612111,
em animais submetidos ao teste do desamparo aprendido ................................. 42
3.5.3 Etapa 3: Efeito do antagonista peptídico do receptor NOP, UFP-101, em
animais submetidos ao teste do desamparo aprendido ....................................... 43
3.5.4 Etapa 4: Efeito dos antagonistas peptídicos do receptor NOP, SB-612111 e
UFP-101, no componente motivacional e cognitivo do comportamento de
desamparo aprendido .......................................................................................... 44
3.6 Análise histológica ............................................................................................. 46
3.7 Análise estatística ............................................................................................. 47
4. RESULTADOS ....................................................................................................... 48
4.1. Etapa 1: Padronização do modelo de desamparo aprendido............................ 48
4.2. Etapa 2: Efeito do antagonista não-peptídico do receptor NOP, SB-612111, em
animais submetidos ao teste do desamparo aprendido ........................................... 55
4.3. Etapa 3: Efeito do antagonista peptídico do receptor NOP, UFP-101, em
animais submetidos ao teste do desamparo aprendido ........................................... 59
5. DISCUSSÃO .......................................................................................................... 66
6. CONCLUSÃO......................................................................................................... 80
7. REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 82
XIII
LISTA DE ABREVIAÇÕES
(AMPc) Adenosina 3',5'-monofosfato cíclico;
(Ami) Amígdala;
(ANOVA) Análise de variância;
(AUC) Área sob a curva;
(ATV) Area tegmental ventral;
(CEUA) Comissão de Ética no Uso de Animais;
(CPF) Córtex pré-frontal;
(DA) Desamparo aprendido;
(ECLI) Estresse crônico leve imprevisível;
(CRF) Fator de liberação de corticotrofina;
(BDNF) Fator neurotrófico derivado do cérebro;
(Hip) Hipocampo;
(I.C.V.) Intracerebroventricular;
(IP) Intraperitoneal;
(LC) Locus coeruleus;
(N/OFQ) Nociceptina/orfanina FQ;
(NA) Noradrenalina;
(NCaa) Núcleo accubens;
(NTS) Núcleo do trato solitário;
(NDR) Núcleo dorsal da rafe;
(POMC) Pró-opiomelanocortina;
(LTP) Potencial de longa duração;
(RNAm) RNA mensageiro;
(5-HT) Serotonina;
(SNC) Sistema nervoso central;
(FST) Teste da natação forçada;
(TST) Teste de suspensão da cauda.
XIV
LISTAS DE FIGURAS
Figura 1: Desenho experimental para indução do comportamento de
desamparo em camundongos;
Figura 2: Desenho experimental para avaliação do componente motivacional e
locomotor do desamparo aprendido em camundongos;
Figura 3: Desenho experimental para avaliação do componente cognitivo do
modelo do desamparo aprendido;
Figura 4: Esquema representativo da Etapa 1- Avaliação do efeito da
nortriptilina e fluoxetina em camundongos submetidos ao teste do desamparo
aprendido;
Figura 5: Esquema representativo da Etapa 1 - Avaliação do efeito de
nortriptilina e fluoxetina, ambos a 30 mg/Kg, sobre o componente motivacional
do desamparo aprendido;
Figura 6: Esquema representativo da Etapa 1- Avaliação do efeito de
nortriptilina e fluoxetina, 30 mg/Kg, sobre o componente cognitivo do
desamparo aprendido;
Figura 7: Esquema representativo da Etapa 2 - Avaliação do efeito do SB-
612111 em animais submetidos ao teste do desamparo aprendido;
Figura 8: Esquema representativo da Etapa 3 - Avaliação do efeito do UFP-101
em animais submetidos ao teste do desamparo aprendido;
XV
Figura 9: Esquema representativo da Etapa 4- Avaliação do efeito de
antagonistas do receptor NOP sobre o componente motivacional do desamparo
aprendido;
Figura 10: Esquema representativo da Etapa 4 - Avaliação do efeito de
antagonistas do receptor NOP sobre o componente cognitivo do desamparo
aprendido;
Figura 11: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre
a latência de escape do compartimento eletrificado, em animais que
desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do
desamparo aprendido;
Figura 12: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre
o número de vezes que o animal escapou do compartimento eletrificado, em
animais que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao
modelo do desamparo aprendido;
Figura 13: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre
a latência para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de
eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do
desamparo aprendido;
Figura 14: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre
o número de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro
na ausência de eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e
locomotor do desamparo aprendido;
XVI
Figura 15: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre
a latência de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de
escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo
aprendido;
Figura 16: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre
o número de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de
escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do
desamparo aprendido;
Figura 17: Efeito da administração de fluoxetina (30 mg/Kg), por via ip, sobre a
latência de escape do compartimento eletrificado, em animais que
desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do
desamparo aprendido;
Figura 18: Efeito da administração de Fluoxetina (30 mg/Kg), por via ip, sobre o
número de vezes que o animal escapou do compartimento eletrificado, em
animais que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao
modelo do desamparo aprendido;
Figura 19: Efeito da administração do antagonista não peptídico do receptor
NOP, SB-612111 (1 e 10 mg/Kg), por via ip, sobre a latência de escape do
compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo
desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido;
Figura 20: Efeito da administração de do antagonista não-peptídico do receptor
NOP, SB-612111 (1 e 10 mg/Kg), por via ip, sobre o número de vezes que o
animal escapou do compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram
XVII
o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do desamparo
aprendido;
Figura 21: Efeito da administração de SB SB-612111 (10 mg/Kg), por via ip,
sobre a latência para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de
eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do
desamparo aprendido;
Figura 22: Efeito da administração de SB-612111 (10 mg/Kg), por via ip, sobre
o número de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro
na ausência de eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e
locomotor do desamparo aprendido;
Figura 23: Efeito da administração de SB-61211 (10 mg/Kg), por via ip, sobre a
latência de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de
escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo
aprendido;
Figura 24: Efeito da administração de SB-61211 (10 mg/Kg), por via ip, sobre o
número de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de
escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do
desamparo aprendido;
Figura 25: Efeito da administração do antagonista não peptídico do receptor
NOP, UFP-101 (1 e 10 nmol), por via icv, sobre a latência de escape do
compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo
desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido;
XVIII
Figura 26: Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv, sobre a
latência para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de
eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do
desamparo aprendido;
Figura 27: Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv,sobre o
número de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro na
ausência de eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e
locomotor do desamparo aprendido;
Figura 28: Efeito da administração de UFP-101(10 nmol), por via icv, sobre a
latência de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de
escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo
aprendido;
Figura 29: Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv, sobre o
número de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de
escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do
desamparo aprendido;
Figura 30: Interações neuroanatômicas entre os receptores NOP e neurônios
monoaminérgicos.
19
1. INTRODUÇÃO
1.1 Transtorno depressivo
A depressão é um dos transtornos psiquiátricos mais prevalentes na
população, causando perturbações cognitivas e afetivas, afetando de forma
negativa a qualidade de vida dos pacientes. Esse transtorno acomete pessoas
de qualquer idade e classe social, porém afeta aproximadamente duas vezes
mais mulheres que homens (Kessler et al., 2003; Accortt et al., 2008). Estima-
se que o transtorno depressivo maior afete cerca de 340 milhões de pessoas
no mundo. De acordo com o DSM-V-TR (2013), o transtorno depressivo maior
é um transtorno psiquiátrico caracterizado por cinco ou mais episódios
depressivos maiores, quando em um período de, pelo menos, duas semanas,
caracterizados principalmente por: humor depressivo ou perda de interesse em
quase todas as atividades diárias. Além disso, o paciente experimenta, pelo
menos, quatro sintomas adicionais de uma lista que inclui alterações no apetite
ou peso, sono e atividade psicomotora, diminuição da energia, sentimentos de
desvalorização pessoal ou culpa, dificuldades em pensar, concentrar-se ou
tomar decisões, pensamentos recorrentes de morte, planos ou tentativas
suicidas (DSM-V-TR, 2013). Por causa das alterações comportamentais
evidenciadas nesse transtorno de humor existe um alto grau de morbidade
20
para essas doenças, o que leva a necessidade de intervenção através da
farmacoterapia (Barge-Schaapveld et al., 1999).
As evidências atuais convergem para uma disfunção na transmissão
monoaminérgica do sistema nervoso central (SNC), como fisiopatologia da
depressão maior, envolvendo principalmente serotonina (5-HT) e
noradrenalina. Sendo assim os fármacos utilizados no tratamento da depressão
atualmente, tem como objetivo aumentar a concentração de monoaminas na
fenda sináptica o que consequentemente acarreta em longo prazo, na
plasticidade nos circuitos neuronais (Nemeroff e Owens, 2002). Os
antidepressivos atualmente usados na clínica são divididos em quatro classes:
inibidores seletivos da recaptação de serotonina, antidepressivos tricíclicos,
inibidores da enzima monoamino oxidase e os recentemente aprovados para
uso, agonistas de receptores de melatonina (Catena-Dell'Osso et al., 2012;
Berton e Nestler, 2006; Krishnan e Nestler, 2008). Os efeitos terapêuticos
dessas classes de fármacos aparecem após semanas de uso, conferindo de
início somente efeitos adverso o que dificulta a adesão ao tratamento (Lafer et
al., 2009; Thase e Denko, 2008); Como exemplo de efeitos colaterais podemos
citar: os problemas sexuais, perda ou ganho de peso, desconforto no trato
gastrointestinal e alterações cardiovasculares (Duman e Monteggia, 2006).
Baseado-se na gama de efeitos colaterais e no alto custo da terapia é
necessário identificar novos alvos terapêuticos para o tratamento da depressão
maior (Berton e Nestler, 2006).
21
1.2 Sistema nociceptina/orphanina FQ – receptor NOP
A nociceptina/orfanina FQ (N/OFQ) é um heptadecapeptídeo
(FGGFTGARKSARKLANQ), com estrutura semelhante à dinorfina A, sendo o
ligante endógeno do receptor NOP. Apesar da N/OFQ apresentar estrutura
química semelhante aos receptores opioides, a mesma não é classificada
como um opioide clássico (Reinscheid et al., 1995) e os ligantes endógenos
dos receptores opioides clássicos não apresentam nenhuma afinidade pelo
receptor NOP (Cox et al., 2000).
O receptor NOP é um receptor acoplado à proteína G do tipo inibitória,
que ao ser ativado aumenta o efluxo de K+, reduz a entrada de Ca+2 e diminui a
produção de AMPc (Connor et al., 1996; Vaughan e Christie, 1996; Wu et al.,
1997). Sendo assim, dependendo da localização da expressão do receptor
NOP (pré ou pós-sináptica), a ativação do mesmo induz efeitos inibitórios sobre
a transmissão sináptica, reduzindo a quantidade de neurotransmissor liberado
(Schlicker e Morari, 2000) e diminuindo a taxa de disparo de neurônios
(Heinricher, 2003).
O receptor NOP possui alta expressão em diversas áreas do sistema
nervoso central, em particular no prosencéfalo, sistema límbico, na medula
espinhal, nos cornos dorsal e ventral. É densamente localizado nos núcleos
serotonérgicos, noradrenégicos e dopaminérgicos, como nos núcleos da rafe,
locus coeruleus, núcleo do trato solitário, área tegmental ventral e substância
nigra (Mollereau et al., 1994; Neal et al., 1999). Já o precursor da N/OFQ, a
proteína pronociceptina, possui distribuição mais limitada em comparação ao
22
receptor NOP. No cérebro de rato, transcritos do gene da pronociceptina foram
encontrados em áreas envolvidas na transmissão ou modulação de estímulos
nociceptivos, em núcleos pertencentes a outras vias sensoriais, incluindo
aferências visuais e auditivas, no sistema límbico e núcleos hipotalâmicos
(Boom et al., 1999). A N/OFQ e o seu receptor estão bem distribuídos em
estruturas do sistema límbico envolvidos no processamento de estímulos
emocionais, como hipocampo, septo, núcleo do leito da estria terminal, banda
diagonal de Broca, habênula, complexo amigdalóide e nos núcleos do
hipotálamo (Mollereau e Mouledous, 2000), o que dá suporte ao papel
modulatório deste sistema em psicopatologias como a ansiedade e depressão
(Gavioli e Calo’, 2006). Além disso, pode-se citar o processamento de
estímulos nociceptivos, balanço hídrico, controle motor, resposta ao estresse,
controle das funções neuroendócrinas, modulação dos processos emocionais,
comportamento sexual e regulação da pressão arterial como papéis funcionais
da N/OFQ e seu receptor (Lambert et al., 2008).
Evidências sugerem uma relação entre o sistema da N/OFQ e o receptor
NOP na modulação de processos cognitivos. De fato, foi relatada uma ampla
expressão do RNAm da N/OFQ no córtex e regiões límbicas do cérebro
(Henderson e McKnight,1997; Sim-Selley et al., 2003). Além disso, há
expressão do receptor NOP no hipocampo, tronco cerebral e córtex de ratos
(Darland, et al., 1998; Meunier, 1997; Neal, et al., 1999a,b; Henderson e
McKnight, 1997). Estudos também têm evidenciado um possível papel da
N/OFQ na plasticidade neural no hipocampo e nos processos de aprendizagem
e memória dependente do hipocampo. Por exemplo, foi demonstrado que a
23
N/OFQ inibe a indução de potencial de longa duração (LTP) no giro denteado e
CA1 em fatias do hipocampo de rato (Yu, et al., 1997; Yu e Xie, 1998). Além
disso, as infusões intrahipocampais de N/OFQ produzem efeitos bifásicos na
memória espacial em ratos com facilitação em doses baixas e perda de
memória em doses mais altas (Sandin et al., 1997; 2004). Porém, a
administração de antagonistas do receptor NOP não altera o desempenho dos
animais no labirinto aquático de Morris, mas reverte o prejuízo de memória
espacial promovido pela N/OFQ (Kuzmin, et al., 2009). Diante do acima
exposto, o papel da N/OFQ e do receptor NOP nos processos de aprendizado
e memória ainda não estão totalmente esclarecidos.
1.2.1 Antagonistas do receptor NOP no tratamento da depressão
O desenvolvimento de antagonistas seletivos para o receptor NOP, seja
eles peptídicos (Calo' et al., 2000; 2002) ou não peptídicos (Ozaki et al., 2000;
Zaratin et al., 2004), permitiu desvendar o papel do sistema N/OFQ-receptor
NOP em diferentes funções. Gavioli e Calo’, em 2006, mostraram que os
antagonistas do receptor NOP, incluindo [Nphe1]N/OFQ(1-13)-NH2, J-113397,
UFP-101 e SB-612111 possuem atividade do tipo antidepressiva em animais.
Estudos mostram que esses antagonistas (por via i.c.v.) reduzem o tempo de
imobilidade de roedores submetidos ao teste da natação forçada e teste da
suspensão pela cauda (Redrobe et al., 2002; Gavioli et al., 2003; 2004).
Enquanto que a administração de N/OFQ ou do agonista sintético do receptor
NOP, Ro64-6198, não foi capaz de alterar o tempo de imobilidade dos animais
24
nos referidos testes comportamentais (Gavioli et al., 2004; Goeldner et al.,
2012). Vitale e colaboradores (2009) demonstraram que o bloqueio do receptor
NOP produzido pelo antagonista do receptor, UFP-101, via i.c.v. produziu
atividade do tipo antidepressiva, em tratamento repetido por 21 dias, no modelo
de estresse crônico variável. Neste contexto, os autores mostraram que o
tratamento com UFP-101 restaurou a preferência por solução de sacarose que
havia sido perdida em decorrência do estresse. Também foi observado que o
estresse crônico variável alterou a concentração de serotonina (5-HT) no córtex
frontal e o nível de cortisol sérico, enquanto que o tratamento com o
antagonista do receptor NOP restaurou estes parâmetros (Vitale et al., 2009).
Complementar aos achados farmacológicos, camundongos knockout
para o gene do receptor NOP (NOP−/−) apresentam redução no tempo de
imobilidade na natação forçada e no teste de suspensão da cauda quando
comparados aos animais selvagens (NOP+/+) (Gavioli et al., 2003; Gavioli et
al., 2004). Ainda foi demonstrado que ratos knockout para o receptor NOP
também apresentam um fenótipo do tipo antidepressivo quando avaliados no
teste da natação forçada (Rizzi et al., 2011).
Estudos com animais knockout para o receptor NOP mostraram que este
efeito do tipo antidepressivo produzido por antagonistas do receptor NOP é
dependente da interação dos compostos com o receptor NOP. De fato, o
tratamento com antagonistas do receptor NOP, J-113397, UFP-101 e SB-
612111, reduziu o tempo de imobilidade dos camundongos selvagens
(NOP+/+), porém o comportamento dos animais knockout para o receptor NOP
25
não foi afetado pelo tratamento com tais compostos (Gavioli et al., 2003; Rizzi
et al., 2007; Gavioli e Calo´, 2006).
1.3 Teste de desespero comportamental e desamparo aprendido
Um modelo animal da depressão humana apropriado deve cumprir os
seguintes critérios, tanto quanto possível: fortes semelhanças fenomenológicas
e fisiopatológicas (face validade), etiologia comparável (validade de construto),
e apresentar tratamento comum (validade preditiva) (Willner e Mitchell, 2002;
Vollmayr et al., 2007). Baseado nessas exigências, Porsolt e seus
colaboradores (1977) desenvolveram o teste da natação forçada (FST),
inicialmente em ratos e em seguida em camundongos, sendo atualmente um
das ferramentas mais utilizadas para screening de novas moléculas com
potencial antidepressivo (Nestler et al.,2002; Petit-Demouliere et al., 2005).
Esse amplo uso, em sua grande maioria, é devido a sua fácil execução e ampla
replicabilidade dos resultados (Borsini e Meli, 1988). O teste é baseado na
observação de ratos, que após os movimentos orientados de fuga iniciais tende
a assumir uma postura imóvel, quando colocados em um cilindro com água de
forma que não consigam escapar. Quando expostos novamente ao aparato, 24
horas depois, assumem esta postura rapidamente. Alguns autores sugerem
que este comportamento reflete uma falha na persistência do comportamento
de escape direcionado ou, em outras palavras, o animal desenvolve um
comportamento passivo que o capacita a enfrentar o evento estressor (Lucki,
1997). Uma grande desvantagem da natação forçada (como acontece com
26
muitos paradigmas sensíveis aos antidepressivos) está no fato de que os
tratamentos agudos com antidepressivos revertem a imobilidade, enquanto que
na clínica pode demorar semanas para os mesmos antidepressivos mostrarem
eficácia terapêutica (Detke et al.,1997).
Outro tipo de modelo baseado no comportamento em situação de
desespero é o teste de suspensão da cauda (TST), que foi descrito a primeira
vez em 1985 para mensurar a efetividade dos antidepressivos (Steru et al.,
1985). Este teste baseia-se na mesma fundamentação do FST. O roedor é
suspenso pela cauda durante seis minutos e o tempo de imobilidade é
cronometrado. Normalmente, os roedores imediatamente após serem
suspensos exibem certa agitação ou comportamentos do tipo fuga, com o
tempo desenvolvem uma postura imóvel (Cryan et al., 2005). Ao se administrar
antidepressivos antes do teste, os roedores apresentaram comportamentos de
escape por períodos mais longos quando comparados ao grupo controle.
Apesar de largamente utilizado para prever os efeitos de
antidepressivos, os teste acima citados são considerados por alguns autores
como um conjunto muito específico de comportamentos induzidos por estresse
que não têm nenhuma relação direta empírica com os sintomas depressivos
nos seres humanos (Holmes, 2003; Petit-Demouliere et al., 2005). Deficiências
na validade de face (semelhanças fenomenológicas entre o modelo e a
depressão) e validades de construto (uma justificativa teórica do modelo) são
as principais desvantagens destes ensaios (Petit-Demouliere et al., 2005).
Considerando a vasta gama de evidências oriundas de testes de desespero
comportamental que sustentam um efeito do tipo antidepressivo para
27
antagonistas do receptor NOP, estudos envolvendo um modelo animal para
depressão que apresente validade de construto e de face considerável são
requeridos para ampliar as evidências atuais.
Como alternativa aos testes mencionados acima, apresenta-se o modelo
do desamparo aprendido, que emprega eletrochoques, incontroláveis e
imprevisíveis, nas patas dos animais como evento estressor para induzir um
fenótipo tipo depressivo (Overmier e Seligman, 1967; O’Neil e Moore, 2003). O
paradigma do desamparo aprendido (DA) é baseado no fato de que após
exposição à eletrochoques incontroláveis, os animais desenvolvem déficits no
comportamento de escape, que são revertidos com uso de agentes
antidepressivos (Weiss e Kilts, 1998). Maier e Seligman (1976) mostraram que
além do déficit no comportamento de escape desenvolvido após a exposição
ao modelo do desamparo aprendido, os animais apresentam outras alterações
comportamentais, como por exemplo: um aumento das emoções negativas,
inferidas a partir de alterações no repertório comportamental e no estado físico
dos animais, tanto no momento do teste como na gaiola. Estas alterações
incluem: aumento da estereotipia, diminuição da discriminação apetitiva,
alteração no comportamento alimentar, aumento da ulceração e frequência
cardíaca. Outros exemplos de alterações comportamentais que também são
observadas nos animais desamparados, destacam-se: modificações nos
padrões de sono REM (Adrien et al., 1991), redução do peso corporal,
alterações no comportamento sexual (Dess et al.,1988) e níveis elevados de
fator de liberação de corticotrofina (CRF) e corticosterona (Greenberg et al.,
1989).
28
Mudanças motivacionais e cognitivas, além das emocionais, também
são observadas nos animais que desenvolveram o fenótipo desamparado,
após serem submetidos ao DA. De fato, observa-se que os animais
apresentam motivação reduzida para escapar do local onde recebeu o choque,
observado durante a sessão teste, haja visto que a resposta motora neste
momento é reduzida, e pode indicar um déficit na motivação para escapar
deste ponto da gaiola. Ainda, em nível cognitivo, os animais apresentam
capacidade reduzida para detectar uma associação entre uma resposta
comportamental adaptativa e as consequências dessa resposta, inferido a
partir de resultados em que os animais que desenvolveram o comportamento
do desamparo aprendido exibem algumas poucas vezes respostas de fuga do
lado da gaiola onde receberam o choque, mas estes não são capazes de
apresentar uma curva de aprendizagem, ou seja, respostas de fuga não se
tornam mais frequentes (são sempre uma exceção e aparecem ao acaso)
(Pryce et al., 2011).
O desamparo aprendido (DA) apresenta validade translacional de acordo
com os critérios propostos para modelos animais de depressão, esse modelo
apresenta validade etiológica, pois a incontrolabilidade sobre um evento
aversivo é um fator causal inequívoco em roedores e humanos (Willner, 1984;
Markou et al., 2009). Há validade de face em relação a um déficit na resposta
operante direcionada a um objetivo em responder a uma situação aversiva. Há
também validade de construto, uma vez que, a experiência aversiva de
incontrolabilidade dos eventos parece ser a base, das alterações fisiológicas,
emocionais, cognitivas e motivacionais em ambos roedores e seres humanos
29
(para revisão: Pryce et al., 2011). Um detalhe importante, o comportamento de
desamparo dos animais possui semelhança com sintomas apresentados por
pacientes com diagnóstico de depressão maior, além disso, tais alterações
comportamentais (sofridas por animais e humanos) podem ser revertidas com
a administração de antidepressivos (Takamori et al., 2001). Atualmente,
estudos mostram que doses repetidas de antidepressivos (Sherman et al.,
1982) ou terapia eletroconvulsiva (McKinney, 1986) são capazes de reduzir a
latência de escape do compartimento eletrificado e diminuir o número de
animais que apresentam o comportamento do desamparo aprendido. Este
efeito é bastante robusto como evidenciado na literatura, onde nenhum
composto eficaz e em uso na clínica falhou em reverter o DA (Vollmayr e Henn,
2003). Em contraste, uma vasta gama de compostos (incluindo
benzodiazepínicos ansiolíticos, antipsicóticos, como a clorpromazina,
psicoestimulantes, tais como cafeína e anfetaminas, e sedativos, como
fenobarbital e etanol) não são eficazes em reverter o comportamento de
desamparo, sugerindo que o modelo do desamparo aprendido apresenta
validade preditiva ( Para uma maior revisão, ver Pryce et al., 2011).
Baseado nas evidências da literatura, o modelo do desamparo aprendido
apresenta validades etiológica, de face, de construto e preditiva que o fazem
um modelo interessante para explorar a fisiopatologia da depressão (Vollmayr
e Henn, 2003), bem como entender melhor o potencial terapêutico de
antagonistas do receptor NOP.
30
2. OBJETIVOS
2.1 Geral
O presente estudo tem como objetivo padronizar o modelo do
desamparo aprendido nas nossas condições experimentais, bem como avaliar
a ação de antagonistas do receptor NOP em animais que desenvolveram a
condição de desamparo após serem submetidos ao modelo do desamparo
aprendido.
2.2 Específicos
Para melhor atender o objetivo geral desse estudo, foram elaborados
diversos objetivos específicos:
1. Verificar o efeito tipo antidepressivo da nortriptilina (30 mg/Kg, ip, 60 min
antes da sessão teste) e fluoxetina (30 mg/Kg, ip, 60 min antes da
sessão teste), antidepressivo tricíclico e inibidor seletivo da recaptação
de serotonina, respectivamente, em camundongos que desenvolveram o
fenótipo tipo depressivo após exposição ao modelo do desamparo
aprendido. Ainda nesta etapa será verificado o efeito do tratamento com
nortriptilina e fluoxetina na cognição e motivação de roedores, como
forma de descartar possíveis resultados falso-positivos, em grau de
influenciar o comportamento desamparado;
31
2. Avaliar o efeito da administração de SB-612111 (1 e 10 mg/Kg, ip, 30
min), antagonista não-peptídico do receptor NOP, em camundongos que
desenvolverem o desamparo após exposição ao modelo do desamparo
aprendido;
3. Testar o efeito da administração de UFP-101 (1 e 10 nmol, icv, 5 min),
antagonista peptídico do receptor NOP, em camundongos que
desenvolveram o desamparo após exposição ao modelo do desamparo
aprendido;
4. Investigar o efeito sobre o componente cognitivo e motivacional de
camundongos tratados com os antagonistas do receptor NOP, SB-
612111 e UFP-101, em doses ativas na reversão do comportamento de
desamparo, com a finalidade de descartar possíveis vieses na
interpretação do comportamento de desamparo.
32
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Animais
Foram utilizados camundongos Swiss machos pesando entre 30 e 35 g
provenientes do biotério do Departamento de Biofísica e Farmacologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os animais foram alojados em
caixas de polietileno, medindo 33 x 40 x 17 cm, sob ventilação e temperatura
controladas (25 ± 1 ºC), com ciclo claro/escuro (12h/12h, luzes acesas às
06h00) com livre acesso a comida e água em ambiente climatizado. Todos os
procedimentos experimentais deste plano de estudo foram submetidos e
aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) (063/2013) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Para a realização deste estudo
foram empregados em média 12 animais por grupo
.
3.2 Drogas
Para a realização deste estudo foi utilizado nortriptilina (30 mg/Kg, ip, 60
minutos antes do teste, diluído em salina) e Fluoxetina (30 mg/Kg, ip, 60
minutos antes do teste, diluído em salina), um inibidor da recaptação de
noradrenalina e serotonina pertencente à classe dos antidepressivos tricíclicos
e um inibidor seletivo da recaptação de serotonina, respectivamente, com a
finalidade de estabelecer uma padronização do modelo e apresentar um
controle positivo para futuras comparações de efeito. Também foi utilizado um
33
antagonista do receptor NOP não peptídico SB-612111 (1 e 10 mg/Kg, ip, 30
min antes do teste, diluído em salina) e um antagonista peptídico, UFP-101 (1 e
10 nmol, icv, 5 min antes do teste, diluído em salina), ambos doado pelo Prof.
R. Guerrini (Dept. of Biotechnology and Pharmaceutical Chemistry, University
of Ferrara, Itália).
3.3 Cirurgia esteriotáxica
Para testar a ação do antagonista peptídico dos receptores NOP, UFP-
101, os animais foram submetidos a uma cirurgia esteriotáxica para
implantação de uma cânula guia no ventrículo lateral dos camundongos. Este
procedimento foi realizado em animais anestesiados com ketamina 100 mg/Kg
e xilasina 10 mg/Kg i.p. (intraperitonial) através do emprego de um aparelho
estereotáxico. A pele dos camundongos da região craniana foi removida para
facilitar a visualização do bregma, que serve de ponto de partida para a
orientação das coordenadas. Uma cânula-guia de 8 mm foi implantada
unilateralmente no ventrículo lateral de acordo com as seguintes coordenadas:
AP 0,6 mm; ML 1,1 mm; DV 1,0 mm (de acordo com Paxinos e Franklin, 2001).
A cânula foi fixada com acrílico e, se necessário, pontos serão aplicados a fim
de fechar a incisão. Todo o procedimento foi executado sob condições de
higiene e o local da incisão foi tratado com o agente antisséptico iodo-povidine.
A fim de prevenir inflamação e infecção bacteriana decorrente do procedimento
cirúrgico, após a cirurgia os animais foram tratados com tetraciclina e
34
diclofenaco. Após um período de três dias os animais serão submetidos ao
processo de indução de depressão pelo desamparo aprendido.
3.4 Desamparo aprendido
O desamparo aprendido foi realizado em camundongos Swiss machos
como descrito anteriormente por Maeng et al. (2008) e modificado por Oz
Malkesman et al. (2011). O teste do desamparo aprendido ocorreu em uma
shutlle box, composta por dois compartimentos (50 x 30 x 30 cm) separados
por uma porta-guilhotina (12 x 25 cm). A shuttle box foi confeccionada em
acrílico preto, enquanto no piso existem barras de aço inoxidável (0,3 cm de
largura e 1 cm de distância), local onde são disparados os choques elétricos. A
sessão de indução do desamparo foi realizada no dia 1, onde os animais
receberam 180 sessões de choques elétricos inescapáveis na pata [0,45 mA,
20 s de duração com intervalos médios entre as tentativas de 15 s (variando de
10-20 s)] acompanhados por uma luz fraca 3 s antes da liberação do choque.
A sessão de screening acontece 24 h após a sessão de indução(dia 2)
sendo composta de 30 ciclos de 20 s cada. Cada ciclo é dividido em dois
blocos de 10 s, no primeiro bloco o animal recebe aleatoriamente, dentro desse
intervalo, 3 s de uma luz fraca (estímulo condicionado) mais um eletrochoque,
com duração variável de 1 a 10 s. O segundo bloco é o período de descanso
para o animal com duração de 10 s. Na sessão de screening, a porta que
conecta os dois compartimentos da shuttle box permanece aberta e são
considerados em desamparo aprendido os camundongos que falharam em
35
mais de 20 tentativas em sair do comportamento onde receberam o choque
elétrico. Os animais que não entraram em desamparo foram descartados do
estudo. Na última fase do teste (dia 3), 24 h depois da sessão de screening,
realizou-se a avaliação do efeito de fármacos. Nesta etapa os animais em
desamparo foram divididos em grupos, nos quais receberam um dos
tratamentos, nortriptilina, fluoxetina, SB-612111, UFP-101 ou veículo. Nesta
fase, os animais em desamparo foram novamente submetidos a um dos
compartimentos da shuttle box e a porta que conecta os compartimentos
permaneceu aberta. No dia do teste, os animais foram submetidos a 30
sessões de choques (antecipados por uma luz) e os parâmetros mensurados
foram: latência de escape do compartimento onde recebeu o choque (medida
em segundos) e a frequência de falhas na fuga do compartimento onde o
choque foi acionado.O procedimento acima descrito encontra-se ilustrado na
figura 1. Estima-se de acordo com a literatura que cerca de 70 a 80 % dos
animais submetidos ao protocolo anteriormente descrito apresentem o
comportamento de desamparo aprendido (Pryce et al.,2011).
36
Figura 1: Desenho experimental para indução do comportamento de desamparo em
camundongos.
A fim de avaliar se o efeito dos tratamentos farmacológicos está
afetando a motivação/locomoção e/ou cognição dos animais, em séries
experimentais distintas, camundongos foram submetidos às seguintes
situações. Primeiramente, animais naive foram submetidos à shuttle box, como
descrito anteriormente (dia 1, 2 e 3), porém estes não receberam choques
elétricos em nenhuma das sessões, e o tempo gasto para mudar de
compartimento, bem como o número de falhas na fuga foi registrado. No dia 3,
os animais receberam os tratamentos, como previsto anteriormente e o efeito
isolado do tratamento sobre o comportamento motivacional e locomotor do
animal foi investigado. (Figura 2).
37
Figura 2: Desenho experimental para avaliação do componente motivacional e
locomotor do desamparo aprendido em camundongos.
Visando descartar um possível efeito cognitivo induzido pelo tratamento
farmacológico, os camundongos foram submetidos no dia 1 a uma sessão de
180 ciclos de choque controlável e escapável (uma vez que a porta da shuttle
box permaneceu aberta durante toda a sessão de treino). Neste caso, uma luz
se acendeu antes da apresentação do choque elétrico e, caso o animal mude
de compartimento após o choque, um outro choque foi aplicado somente após
20 s. No dia 3, os animais receberam o tratamento farmacológico, como
previsto anteriormente, e o tempo gasto para mudar de compartimento, bem
como o número de falhas na fuga foi registrado. Cabe lembrar que nesta série,
os animais receberam choque elétrico (todos os dias, mesmo número de ciclos
da série que visa induzir o comportamento de desamparo), porém a porta da
shuttle box, que conecta os dois compartimentos, permaneceu aberta durante
todos os dias do teste. Deste modo, foi possível verificar se o tratamento
farmacológico foi capaz de promover isoladamente algum efeito sobre o
componente cognitivo deste modelo. Portanto, estas duas últimas séries são de
38
relevância para descartar um efeito do tratamento com drogas sobre as
componentes motivacionais e cognitivas do comportamento de desamparo. A
alteração de um destes componentes isoladamente (motivação/locomoção e
cognição) pode indicar um efeito falso positivo de uma dada droga em reverter
o comportamento de desamparo aprendido exibido pelos animais (Figura 3).
Figura 3: Desenho experimental para avaliação do componente cognitivo do modelo
do desamparo aprendido
.
3.5 Desenho experimental
3.5.1 Etapa 1: Padronização do modelo de desamparo aprendido
Esta fase do estudo tem por objetivo de estabelecer o protocolo
experimental, onde os animais desenvolvem a condição de desamparo
aprendido. Foi executado o teste do desamparo aprendido conforme proposto
acima. Uma vez encontrada a condição experimental onde os animais
desenvolvem a condição de desamparo, os mesmos serão divididos em três
39
grupos, de acordo com os tratamentos a seguir: nortriptilina (30 mg/Kg; ip; 60
min), fluoxetina (30 mg/Kg; ip; 60 min) e salina (ip; 60 min).
Figura 4: Esquema representativo da Etapa 1- Avaliação do efeito da nortriptilina e
fluoxetina em camundongos submetidos ao teste do desamparo aprendido.
40
Nesta etapa experimental, visando descartar possíveis vieses de
interpretação, o efeito do tratamento com nortriptilina ou fluoxetina foi avaliado
sobre os componentes motivacional e cognitivo apresentados pelos animais
submetidos ao DA. Para tanto, os efeitos do tratamento com nortriptilina e
fluoxetina (60 min antes do teste – dia 3) em animais naives submetidos a
shuttle box nos dias 1 a 3 (sem apresentação choques) foram avaliados.
Figura 5: Esquema representativo da Etapa 1 - Avaliação do efeito de nortriptilina e
fluoxetina, ambos a 30 mg/Kg, sobre o componente motivacional do desamparo
aprendido.
41
Ainda, com o intuito de investigar o efeito do tratamento com nortriptilina
e fluoxetina no componente cognitivo do comportamento de desamparo, os
animais foram submetidos a sessões de choques controláveis e escapáveis
(dia 1 e 2) e, no dia 3, receberam o tratamento com nortriptilina ou fluoxetina,
60 min antes do teste. Os parâmetros avaliados foram: o tempo gasto para
mudar de compartimento e o número de falhas na fuga de um compartimento
para outro.
42
Figura 6: Esquema representativo da Etapa 1- Avaliação do efeito de nortriptilina e
fluoxetina, 30 mg/Kg, sobre o componente cognitivo do desamparo aprendido.
3.5.2 Etapa 2: Efeito do antagonista não-peptídico do receptor NOP, SB-612111, em
animais submetidos ao teste do desamparo aprendido
43
Após a fase de padronização, iniciou-se a avaliação do efeito do
antagonista não-peptídico SB-612111 (1 e 10 mg/Kg, ip, 30 min) nos animais
que desenvolveram a condição de desamparo aprendido.
Figura 7: Esquema representativo da Etapa 2 - Avaliação do efeito do SB-612111 em
animais submetidos ao teste do desamparo aprendido.
3.5.3 Etapa 3: Efeito do antagonista peptídico do receptor NOP, UFP-101, em animais
submetidos ao teste do desamparo aprendido
Os animais foram submetidos a uma cirurgia esteriotáxica para
implantação de uma cânula guia no ventrículo lateral e após um período de
recuperação de três dias foram submetidos à sessão de indução do
desamparo. Os animais que desenvolveram a condição de desamparo foram
divididos em três grupos, de acordo com os seguintes tratamentos: salina,
UFP-101 1 nmol e UFP-101 10 nmol, por via icv,5 min após a administração os
animais foram expostos à sessão de teste.
44
Figura 8: Esquema representativo da Etapa 3 - Avaliação do efeito do UFP-101 em
animais submetidos ao teste do desamparo aprendido.
3.5.4 Etapa 4: Efeito dos antagonistas peptídicos do receptor NOP, SB-612111 e UFP-
101, no componente motivacional e cognitivo do comportamento de desamparo
aprendido
Visando descartar possíveis vieses de interpretação do comportamento
de desamparo aprendido, o efeito do tratamento com SB-612111 e UFP-101,
na dose efetiva identificada na etapa 2 e 3, foi avaliado sobre os componentes
motivacional e cognitivo apresentados pelos animais submetidos ao DA. Para
tanto, foram avaliados os efeitos do tratamento com SB-612111 e UFP-101,
ambos administrados em animais naives submetidos a shuttle box (sem
apresentação choques), conforme descrito previamente. No dia 3, os
parâmetros avaliados foram: o tempo gasto para mudar de compartimento e o
número de vezes que o animal não mudou de um compartimento para o outro
(ex.: número de falhas na fuga).
45
Figura 9: Esquema representativo da Etapa 4- Avaliação do efeito de antagonistas do
receptor NOP sobre o componente motivacional do desamparo aprendido.
Ainda, com o intuito de investigar o efeito do tratamento com SB-612111
e UFP-101, na dose efetiva identificada na etapa 2 e 3, no componente
cognitivo do comportamento de desamparo, os animais foram submetidos a
sessões de choques controláveis e escapáveis (dia 1 e 2) e, no dia 3,
receberam o tratamento com os antagonistas NOP antes do teste. Os
seguintes parâmetros comportamentais foram avaliados: o tempo gasto para
mudar de compartimento e o número de vezes que o animal não mudou de um
compartimento para o outro (ex.: número de falhas na
46
fuga).
Figura 10: Esquema representativo da Etapa 4 - Avaliação do efeito de antagonistas
do receptor NOP sobre o componente cognitivo do desamparo aprendido.
3.6 Análise histológica
Ao terminar todos os testes, os animais que foram submetidos à cirurgia
esteriotáxica para implantação da cânula guia no ventrículo lateral, sofreram
eutanásia com uma injeção intraperitoneal de tiopental sódico (overdose > 100
mg/Kg). Foi infundida uma solução de corante azul de metileno no ventrículo
lateral, a fim de determinar a localização da cânula. Os animais foram
transcardiacamente perfundidos com solução salina. A análise do
posicionamento da cânula foi feita a olho nu, de acordo com a presença do
corante nos ventrículos dos cérebros dos animais. Os animais que
apresentaram danos cerebrais visíveis e/ou cânula localizada fora do ventrículo
lateral foram desconsiderados da análise estatística.
47
3.7 Análise estatística
Os dados foram apresentados como média ± erro padrão da média da
latência de escape, do número de ciclos falhos (que ocorre quando o animal
não mudou de compartimento após receptor um choque nas patas) e da
porcentagem de animais que entrou em desamparo em cada grupo testado. As
curvas de latência de escape dos animais no teste do desamparo aprendido,
obtidas a partir do registro do tempo que o animal leva a partir do disparo do
choque até o mesmo mudar de compartimento, ao longo dos 30 ciclos, foram
avaliadas estatisticamente a partir da determinação da área sob a curva (AUC)
e na sequência pelo teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov. Para a análise
estatística deste último parâmetro foi utilizada a análise de variância (ANOVA)
de um fator seguida pelo teste post-hoc de Newman-Keuls, para dados
paramétricos, ou Kruskal-Wallis seguida do teste de Dunn, para dados não-
paramétricos. O teste do X² será calculado em duas situações: 1- para avaliar a
porcentagem de animais que permaneceu impotente no paradigma do
desamparo aprendido após a administração dos seus respectivos tratamentos
(salina, nortriptilina, SB-612111 e UFP-101), 2- na avaliação do número de
falhas na fuga do compartimento onde o choque foi aplicado. O nível de
significância assumido será para valores de P≤0,05.
48
4. RESULTADOS
4.1. Etapa 1: Padronização do modelo de desamparo aprendido
Objetivando a padronização do modelo do desamparo aprendido como
uma nova ferramenta para screening e estudo do mecanismo de ação de
novas drogas com potencial antidepressivo em nossas condições
experimentais, investigou-se o efeito do tratamento com nortriptilina, um
antidepressivo tricíclico, sobre os animais que desenvolveram o
comportamento de desamparo após serem expostos ao modelo. Os resultados
mostram que as nossas condições experimentais são eficientes em gerar nos
animais expostos ao modelo do desamparo aprendido um déficit no
comportamento de escape e o tratamento com o antidepressivo foi eficiente em
reestabelecer esta latência de escape.
Conforme ilustrado nas figuras 11 e 12 a administração de nortriptilina
(30 mg/Kg; ip; 60 min) reduz significativamente o déficit comportamental gerado
pelo modelo, em ambos os parâmetros, latência de escape (t= 10,60; df= 12 n=
5-9; P<0,05; teste t não pareado) e número de vezes que o animal escapou do
compartimento onde recebeu o choque (t= 15,03; df= 12 n= 5-9; P<0,05; teste t
não pareado).
49
Figura 11: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre a
latência de escape do compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o
fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido.
*P<0,05 vs. salina (n= 5-9; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos
grupos deu-se através do Teste t não pareado).
Figura 12: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre o
número de vezes que o animal escapou do compartimento eletrificado, em animais
que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do
desamparo aprendido.*P<0,05 vs. salina (n= 5-9; Teste t não pareado).
A fim de evitar vieses de interpretação dos resultados acima relatados,
avaliamos o efeito da administração de nortriptilina sobre os componentes
motivacional e cognitivo do desamparo aprendido.
0 5 10 15 20 25 300
5
10
15
20
25
30
Salina Nortriptina
*
Ciclos
Latê
ncia
de
Escap
e (
s)
Salina Nortriptilina
0
5
10
15
20
25
30
*
Escasp
es
50
As figuras 13 e 14 ilustram o efeito da administração de nortriptilina (30
mg/Kg; ip; 60 min) sobre o componente motivacional e locomotor do
desamparo aprendido. Percebe-se que a referida administração não altera a
motivação do animal para realizar a translação de lado na caixa na ausência do
eletrochoque. Esse efeito é evidenciado em ambos os parâmetros analisados:
latência de escape (t= 1,820; df= 8 n= 3-7; P>0,05; Teste t não pareado) e
número de escapes (t= 1,411; df= 8 n= 3-7; P>0,05; Teste t não pareado).
Figura 13: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre a
latência para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de eletrochoque,
visando avaliar o componente motivacional e locomotor do desamparo aprendido (n=
3-7; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do
Teste t não pareado).
0 5 10 15 20 25 300
5
10
15
20
25
30
35
Salina Nortriptilina
Ciclos
Latê
ncia
de
Escap
e (
s)
51
Figura 14 Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre o
número de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro na
ausência de eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do
desamparo aprendido (n= 3-7; Teste t não pareado).
As figuras 15 e 16 ilustram o efeito da administração de nortriptilina (30
mg/Kg; ip; 60 min) sobre o componente cognitivo do desamparo aprendido. A
referida administração não altera a capacidade do animal em estabelecer a
associação entre exibir o comportamento necessário e assim receber a
recompensa, neste caso realizar a translação de lado para assim finalizar o
eletrochoque. O referido efeito é evidenciado em ambos os parâmetros
analisados: latência de escape (t= 1,108;df= 10 n= 6-6; P>0,05; Teste t não
pareado) e número de escapes (t= 0,642; df= 10 n= 6-6; P>0,05; Teste t não
pareado).
Salina Nortriptilina0
5
10
15
20
25
Escap
es
52
Figura 15: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre a
latência de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do
eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 6-
6; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do
Teste t não pareado).
Figura 16: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre o
número de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do
eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 6-
6;Teste t não pareado).
Ainda na fase de padronização do modelo, foi testado o efeito da
administração de fluoxetina, um antidepressivo inibidor seletivo da recaptação
0 5 10 15 20 25 300
5
10
15
20
25
30
Salina Nortiptrilina
Ciclos
Latê
ncia
de
Escap
e (
s)
Salina Nortiptrilina0
5
10
15
20
25
30
Escap
es
53
de serotonina, em animais que desenvolveram o fenótipo desamparado após a
exposição ao DA. Conforme pode-se visualizar nas figuras 17 e 18, a
administração de fluoxetina (30 mg/Kg; ip; 60 min) não é capaz de
reestabelecer o déficit na latência de escape (t= 1,486; df= 9 n= 4-7; P>0,05;
teste t não pareado) e número de escapes (t= 1,395; df=9 n= 4-7; P<0,05; teste
t não pareado) gerados nos animais desamparados.
54
Figura 17: Efeito da administração de fluoxetina (30 mg/Kg), por via ip, sobre a latência
de escape do compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo
do tipo desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido (n= 4-7;
Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do
Teste t não pareado).
Figura 18: Efeito da administração de Fluoxetina (30 mg/Kg), por via ip, sobre o
número de vezes que o animal escapou do compartimento eletrificado, em animais
que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do
desamparo aprendido (n= 4-7; Teste t não pareado).
0
5
10
15
20
25
30
Salina Fluoxetina
Escap
es
0 5 10 15 20 25 300
5
10
15
20
25
30
Salina Fluoxetina
Ciclos
Latê
ncia
de
Esc
ape
(s)
55
4.2. Etapa 2: Efeito do antagonista não-peptídico do receptor NOP, SB-
612111, em animais submetidos ao teste do desamparo aprendido
Após a padronização do modelo em nossas condições experimentais,
iniciou-se o estudo do efeito de antagonistas do receptor NOP sobre o fenótipo
tipo depressivo (desamparado) gerado pelo modelo do desamparo aprendido.
Conforme ilustrado nas figuras 19 e 20, a administração do antagonista
não peptídico NOP, SB-612111 (10 mg/Kg, ip, 30 min) apresenta um efeito do
tipo antidepressivo, sendo capaz de reestabelecer significativamente a latência
para mudar de compartimento e o número de vezes que o animal escapa do
compartimento onde recebeu o choque. Porém, quando o SB-612111 foi
administrado em menor dose (1 mg/Kg, ip, 30 min), o efeito tipo antidepressivo
não foi observado, visto que não houve alteração entre os parâmetros: latência
de escape e números de escapes em comparação ao grupo controle (Latência
de escape: n= 4-5; *P<0,05; K= 9,231; Kruskall-Wallis seguido do teste de
Dunn's; Número de escapes: n= 4-5; *P<0,05; K= 9,181; Kruskall-Wallis
seguido do teste de Dunn's).
56
Figura 19: Efeito da administração do antagonista não peptídico do receptor NOP, SB-
612111 (1 e 10 mg/Kg), por via ip, sobre a latência de escape do compartimento
eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após
exposição ao modelo do desamparo aprendido. *P<0,05 vs. salina (n= 5-9; Após
obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do Teste de
Kruskal-Wallis seguido do teste de Dunn's).
]
Figura 20: Efeito da administração de do antagonista não-peptídico do receptor NOP,
SB-612111 (1 e 10 mg/Kg), por via ip, sobre o número de vezes que o animal escapou
do compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo
desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido.*P<0,05 vs. salina
(n= 5-9; *P<0,05 vs. salina ; Teste de Kruskal-Wallis seguido do teste de Dunn's).
0 5 10 15 20 25 300
5
10
15
20
25
30
SalinaSB-612111 (10 mg/Kg)
SB-612111 (1 mg/Kg)
*
Ciclos
Latê
ncia
de
Escap
e (
s)
0
5
10
15
20
25
30
Salina
*
SB-612111(10mg/Kg)
SB-612111(1 mg/Kg)
Escap
es
57
As figuras 21 e 22 ilustram o efeito da administração de SB-612111 (10
mg/Kg; ip; 30 min) sobre o componente motivacional do desamparo aprendido.
Percebe-se que a referida administração não altera a motivação do animal para
realizar a translação de lado na caixa na ausência do eletrochoque. Esse efeito
é evidenciado em ambos os parâmetros analisados: latência de escape (t=
0,461; df= 8 n= 4-6; P>0,05; Teste t não pareado) e número de escapes (t=
0,788; df= 8; n= 4-6; P>0,05; Teste t não pareado).
Figura 21: Efeito da administração de SB SB-612111 (10 mg/Kg), por via ip, sobre a
latência para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de eletrochoque,
visando avaliar o componente motivacional e locomotor do desamparo aprendido (n=
4-6; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do
Teste t não pareado).
0 5 10 15 20 25 300
5
10
15
20
25
30
Salina SB-612111
Ciclos
Latê
ncia
de
Escap
e (
s)
58
Figura 22: Efeito da administração de SB-612111 (10 mg/Kg), por via ip, sobre o
número de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro na
ausência de eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do
desamparo aprendido (n= 4-6; Teste t não pareado)..
As figuras 23 e 24 ilustram o efeito da administração de SB-612111
(10mg/Kg; ip;30 min) sobre o componente cognitivo do desamparo aprendido.
A administração de SB-61211 não altera a capacidade do animal em
estabelecer a associação entre exibir o comportamento necessário e assim
receber a recompensa, neste caso realizar a translação de lado para assim
finalizar o eletrochoque. O referido efeito é evidenciado em ambos os
parâmetros analisados: latência de escape (t= 0,092; df=8 n= 4-6; P>0,05;
Teste t não pareado) e número de escapes (t= 0,101; df= 8 n= 4-6 P>0,05;
Teste t não pareado).
Salina SB-612111 0
5
10
15
20
25
30
Escap
es
59
Figura 23: Efeito da administração de SB-61211 (10 mg/Kg), por via ip, sobre a
latência de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do
eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 4-
6; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do
Teste t não pareado)..
Figura 24 Efeito da administração de SB-61211 (10 mg/Kg), por via ip, sobre o número
de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do
eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 4-
6;Teste t não pareado).
4.3. Etapa 3: Efeito do antagonista peptídico do receptor NOP, UFP-101,
em animais submetidos ao teste do desamparo aprendido
0 5 10 15 20 25 300
5
10
15
20
25
30
Salina SB-612111
Ciclos
Latê
ncia
de
Escap
e (
s)
Salina SB-612110
5
10
15
20
25
30
Escap
es
60
Continuando o estudo do efeito dos antagonistas do receptor NOP no
modelo do desamparo aprendido, nesta etapa foi testado o efeito da
administração de um antagonista peptídico, UFP-101 (1 e 10 nmol; icv; 5 min),
em camundongos que desenvolveram o fenótipo desamparado após serem
expostos ao modelo do desamparo aprendido.
As figuras 25 e 26 ilustram que a maior dose de UFP-101 (10 nmol) é
capaz de reverter o déficit comportamental gerado pela exposição ao modelo
do desamparo aprendido, conforme demonstrado pelos parâmetros analisados:
latência para escapar do comportamento onde recebeu o choque e o número
de vezes que escapou do compartimento eletrificado. Por outro lado, a menor
dose de UFP-101 (1 nmol) não foi capaz de reverter o comportamento
desamparado, não apresentando nenhuma diferença estatística quando
comparado ao grupo controle (Latência de escape= n= 6-9; *P<0,05;
F(2,18)=149,8; ANOVA seguida do teste de Student-Neuman-Keuls; Número de
escapes= n= 6-9; *P<0,05; F=260,5; ANOVA seguido do teste de Student-
Neuman-Keuls).
61
Figura 25: Efeito da administração do antagonista não peptídico do receptor NOP,
UFP-101 (1 e 10 nmol), por via icv, sobre a latência de escape do compartimento
eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após
exposição ao modelo do desamparo aprendido. *P<0,05 vs. salina (n= 6-9; Após
obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do da
ANOVA seguida do teste de Student-Neuman-Keuls)
.
Figura 26: Efeito da administração de do antagonista não-peptídico do receptor NOP,
UFP (1 e 10 nmol), por via icv, sobre o número de vezes que o animal escapou do
compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo
desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido.*P<0,05 vs. salina
(n= 6-9; *P<0,05 vs. salina ; ANOVA seguida do teste de Student-Neuman-Keuls).
0 5 10 15 20 25 300
5
10
15
20
25
30
Salina UFP- 10 nmol
*
UFP- 1 nmol
Ciclos
Latê
ncia
de
Escap
e (
s)
Salina UFP- 1 nmol UFP- 10 nmol0
5
10
15
20
25
30
*
Escap
es
62
Objetivando evitar equívocos na interpretação dos resultados acima
relatados, foi avaliado o efeito da administração de UFP-101 sobre os
componentes motivacional e cognitivo do desamparo aprendido.
As figuras 26 e 27 ilustram o efeito da administração de UFP-101 (10
nmol; icv; 5 min) sobre o componente motivacional do desamparo aprendido.
Percebe-se que a referida administração não altera a motivação/locomoção do
animal para realizar a translação de lado na caixa na ausência do
eletrochoque. Esse efeito é evidenciado em ambos os parâmetros analisados:
latência de escape (t= 1,396; df= 8 n= 4-6; P>0,05; Teste t não pareado) e
número de escapes (t= 1,265; df=8 n= 4-6; P>0,05; Teste t não pareado).
Figura 27: Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv, sobre a latência
para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de eletrochoque, visando
avaliar o componente motivacional e locomotor do desamparo aprendido (n= 4-6; Após
obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do Teste t não
pareado).
0 5 10 15 20 25 300
5
10
15
20
25
30
Salina UFP-101
Ciclos
Lat
ênci
a d
e E
scap
e (s
)
63
Figura 28: Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv,sobre o número
de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro na ausência de
eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do desamparo
aprendido (n= 4-6; Teste t não pareado).
Ainda objetivando eliminar vieses de interpretação sobre o efeito do tipo
antidepressivo do UFP-101 (10nmol, icv, 5 min), foi testado o efeito desta
referida administração sobre o componente cognitivo do desamparo aprendido.
A administração de UFP-101 não altera a capacidade do animal em
estabelecer a associação entre exibir o comportamento necessário e assim
receber a recompensa, neste caso realizar a translação de lado para assim
finalizar o eletrochoque. As figuras 29 e 30 ilustram o efeito da administração
de UFP-101 (10nmol; icv; 5 min) sobre o componente cognitivo do desamparo
aprendido. O referido efeito é evidenciado em ambos os parâmetros
analisados: latência de escape (t= 1,890; df=9 n= 5-6; P>0,05; Teste t não
Salina UFP-1010
5
10
15
20
25
30E
scap
es
64
pareado) e número de escapes ( t= 0,590 ; df= 9 n= 5-6 P>0,05; Teste t não
pareado).
Figura 29: Efeito da administração de UFP-101(10 nmol), por via icv, sobre a latência
de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do
eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 5-
6; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do
Teste t não pareado).
0 5 10 15 20 25 300
5
10
15
20
25
30
Salina UFP-101
Ciclos
Lat
ênci
a d
e E
scap
e (s
)
65
Figura 30 Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv, sobre o número
de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do
eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 5-
6;Teste t não pareado).
Salina UFP-1010
5
10
15
20
25
30
Escap
es
66
5. Discussão
O presente estudo teve como objetivo padronizar o modelo do
desamparo aprendido em nossas condições experimentais, como uma
ferramenta de screening de drogas com potencial antidepressivo. Os
resultados aqui apresentados mostram que o protocolo escolhido é capaz de
induzir o fenótipo desamparado, tendo uma média eficiente em 80% dos
animais (dado não mostrado), o que está de acordo com a literatura (Seligman,
1972). Ainda, a administração de nortriptilina mostrou-se capaz de reverter o
estado do tipo depressivo em que os animais se encontram após a exposição
ao modelo, enquanto que a administração de fluoxetina não promoveu
nenhuma alteração significativa em nenhum dos parâmetros analisados.
O desamparo aprendido é um modelo animal baseado na observação,
que após exposição à eletrochoques incontroláveis, imprevisíveis e
inescapáveis os animais desenvolvem déficits no comportamento de escape do
compartimento onde recebeu o choque e este prejuízo é revertido com uso de
fármacos antidepressivos (Weiss e Kilts, 1998; Maier e Seligman, 1976).
Porém, além do déficit na fuga do compartimento eletrificado, os animais
apresentam outras alterações comportamentais muito similares aos sintomas
relatados por pacientes diagnosticados com depressão maior, como por
exemplo: um aumento das emoções negativas, inferidas a partir de alterações
no repertório comportamental e no estado físico dos animais, tanto no
momento do teste como na gaiola, modificações nos padrões de sono REM
(Adrien et al., 1991), redução do peso corporal, alterações no comportamento
67
sexual (Dess et al., 1988) e níveis elevados de fator de liberação de
corticotrofina (CRF) e corticosterona (Greenberg et al., 1989). Em conjunto, tais
alterações comportamentais observadas em animais desamparados reforçam
as validades de face e de construto apresentadas pelo modelo do DA.
Neste estudo foi demonstrado que a administração de nortriptilina (30
mg/Kg, ip, 60 min), um antidepressivo tricíclico amplamente utilizado na clínica,
foi capaz de reverter o déficit gerado pelo modelo em ambos os parâmetros
analisados, latência de escape e frequência de escape do compartimento onde
recebeu o choque, isso sem promover nenhuma alteração nos componentes
motivacional/locomotor e cognitivo, dados estes em concordância com a
literatura. De fato, em 1981, Telner e colaboradores descreveram pela primeira
vez a nortriptilina como sendo capaz de reverter o déficit comportamental
gerado pelo DA. Chourbaji e colaboradores (2005), utilizando a imipramina,
outro antidepressivo tricíclico, observaram que esse composto agudamente
administrado foi capaz de reverter o déficit na latência de escape do
compartimento eletrificado em camundongos, em ambas as doses testadas
(ex.: 10 e 30 mg/kg).
Ao contrário do que foi observado com a administração de nortriptilina, a
fluoxetina não foi capaz de reverter o prejuízo gerado pela exposição ao
modelo do DA em nenhum dos parâmetros analisados (ex.: latência de
escapes e números de escapes do compartimento onde recebeu o choque).
Em concordância com os achados acima citados, Zazpe e colaboradores
(2007) evidenciaram que a administração aguda de fluoxetina (30 mg/kg) é
incapaz de atenuar o déficit comportamental gerado pela exposição ao DA.
68
Porém, ao se estabelecer um tratamento repetido, por três dias consecutivos,
tanto a fluoxetina (15 e 30 mg/Kg), como a paroxetina (15 e 30 mg/Kg) e
sertralina (15 e 30 mg/Kg) revertem significativamente o comportamento
desamparado gerado pela exposição ao modelo DA (Zazpe et al., 2007).
Valentine et al. (2008) também evidenciou a necessidade de um tratamento
repetido para o aparecimento do efeito do tipo antidepressivo da fluoxetina,
neste caso, foram necessários pelo menos seis dias de administração para
promover uma melhora sobre os déficits comportamentais gerados pelo DA.
Dados da literatura sugerem uma modulação, principalmente
noradrenérgica, por trás das mudanças comportamentais evocadas pelo
eletrochoque inescapável no DA. De fato, eletro-choques na pata, caso seja
suficientemente forte, reduz significativamente os níveis de NA no tronco
cerebral de ratos (Maynert e Levi, 1964). Weiss e seus colaboradores (1975)
mostraram que uma única exposição a um evento estressor, eletrochoque
inescapável, cria um déficit na latência de escape na shutle box. Além disso,
uma única sessão de exposição a eletrochoque inescapável promove uma
redução nos níveis de noradrenalina no hipotálamo e córtex dos animais
estressados em comparação ao grupo controle (Weiss et al., 1975; Zigmond e
Harvey, 1970; Bliss e Zwanziger, 1966; Thierry et al., 1968). Estudo utilizando a
técnica de microdiálise in vivo, mediu a liberação de NA no hipocampo, antes e
depois da exposição a eletro-choques inescapáveis na calda e antes da
realização da sessão teste para o desamparo aprendido, em ratos. Os
resultados deste estudo mostraram que os animais com perfil resilientes, que
não desenvolveram o fenótipo desamparado, apresentam níveis basais de
69
liberação de NA mais elevados do que os animais que desenvolveram o
fenótipo desamparado (Petty et al., 1993). Esses achados mostram que os
eletrochoques geram alterações neuroquímicas na transmissão noradrenérgica
no sistema nervoso central após a exposição ao modelo do DA. Sendo assim
essa modulação, principalmente noradrenérgica poderia explicar a ausência de
efeito da administração aguda de fluoxetina, visto que esse antidepressivo inibe
seletivamente a recaptação de serotonina, não promovendo alterações na
transmissão noradrenérgica.
A literatura vigente já mostra algumas evidências que justificam a
necessidade de um tratamento prolongado para o surgimento do efeito do tipo
antidepressivo evocado pela administração de fluoexetina. De fato, durante a
tarefa no DA o animal pode expressar diferentes estratégias operantes, por
exemplo: o freezing ou correr, sendo estas estratégias aparentemente
moduladas por neurotramissores diferentes. Santos et al. (2006) mostrou que o
tratamento subcrônico com fluoxetina, mas não com desipramina, diminuem a
resposta de freezing e aumenta a de sobressalto, e o tratamento agudo, com
ambos os fármacos, não promoveu nenhuma alteração em nenhum dos
comportamentos (Santos et al., 2006 ; Joca et al., 2006). Além dessa
informação devemos levar em consideração o papel modulatório da 5-HT na
neurotramissão noradrenérgica, visto que o uso prolongando dos ISRS
promove adaptações tardias, dentre elas o aumento da liberação de NA por
reduzir os efeitos inibitórios dos receptores 5-HT2A, localizados em neurônios
noradrenérgicos (Azmitia e Whitaker-Azmitia, 1995; Hyman e Nestler, 1996).
Sendo assim, o tratamento repetido com fluoxetina, por diminuir o freezing
70
aumentaria as chances de o animal desenvolver uma estratégica de escape
eficiente, o que promoveria o restabelecimento do comportamento de escape e
assim evidenciaria um efeito do tipo antidepressivo.
O presente trabalho também visou avaliar o efeito da administração de
antagonistas do receptor NOP de diferentes naturezas, exemplo, peptídica e
não-peptídica, em animais que desenvolveram a condição desamparada após
a exposição ao modelo do desamparo aprendido. Observou-se que a
administração de UFP-101 (10 nmol; icv) foi capaz de reverter o prejuízo criado
após a exposição ao modelo do desamparo aprendido nos parâmetros
analisados, exemplo: latência de escape e números de escapes do
compartimento onde recebeu o choque; sem, no entanto, promover nenhuma
alteração significativa nos componentes motivacional/locomotor e cognitivo do
teste, sugerindo que o efeito observado pelo antagonista NOP no DA é genuíno
e se refere seletivamente a reversão do componente desamparado.
Há mais de uma década, o UFP-101 foi proposto como um potente
antagonista competitivo e seletivo para o receptor NOP (Calo, et al., 2002).
Gavioli e seus colaboradores (2003 e 2004) apresentaram as primeiras
evidências de um efeito do tipo antidepressivo , evocado pela administração de
UFP-101, em testes de desespero comportamental (FST e TST), tanto em
camundongos como em ratos. Em ambos os teste, o UFP-101 reduziu o tempo
de imobilidade dos animais, em um efeito dose dependente, apresentando
diferença estatística somente na maior dose (1-10 nmol; icv). Esse efeito é
dependente da interação com o receptor NOP, visto que a co-administração de
UFP-101 e N/OFQ bloqueia o referido efeito do tipo antidepressivo. Nesses
71
mesmos trabalhos, os pesquisadores mostraram que os camundongos
knockout para o gene do receptor NOP apresentam um fenótipo do tipo
antidepressivo, com uma redução no tempo de imobilidade em ambos os
testes, quando comparados aos camundongos selvagens, e o antagonista
peptídico do receptor NOP só evoca o efeito do tipo antidepressivo nos
animais selvagens ( Gavioli et al., 2003 e 2004). Vitale e seus colaboradores
(2009) mostraram que a administração crônica de UFP-101 é capaz de
restaurar a preferência pela ingestão de sacarose em ratos após o estresse
crônico leve imprevisível (ECLI). O referido trabalho mostra que após cinco
semanas de exposição ao ECLI surge uma diferença estatística entre a
ingestão de sacarose dos ratos em comparação ao seu próprio baseline. A
parti da oitava semana de exposição ao ECLI iniciou-se as administrações
diárias de UFP-101 (5, 10 e 20 nmol; icv) por um período de 21 dias. Essas
administrações mostraram-se capaz de reestabelecer a preferência pela
ingestão de sacarose dos animais dose-dependente, quanto maior a dose mais
rápido se reestabelece a preferência pela solução adocicada. Quando ocorreu
a co-administração de UFP-101 e N/OFQ esse efeito foi bloqueado e não
existe diferença entre os grupos estudados. Sendo assim, nossos achados
corroboram com os dados encontrados na literatura, em que a administração
de UFP-101 promove uma ação do tipo antidepressiva dose-dependente.
Neste trabalho, o outro antagonista do receptor NOP em questão, o SB-
612111, este de natureza não-peptídico, também mostrou um efeito do tipo
antidepressivo em camundongos que desenvolveram o fenótipo desamparado
após a exposição ao modelo do desamparo aprendido. A administração de SB-
72
612111 (10 mg/Kg; ip) foi capaz de reestabelecer o déficit comportamental
gerado pelo DA e esta administração não promoveu nenhuma alteração dos
componentes motivacional e cognitivo do modelo, eliminando assim qualquer
viés de interpretação sobre o efeito do tipo antidepressivo evocado pela
administração de SB-612111. Estes achados dão suporte adicional para o
potencial antidepressivo de antagonistas do receptor NOP, visto que o modelo
do desamparo aprendido proporciona uma situação comportamental mais
semelhante ao transtorno depressivo.
Assim como o UFP-101, o antagonista não peptídico SB-612111 foi
descrito como um antagonista seletivo e competitivo para o receptor NOP
(Zaratin et al., 2004). Rizzi et al. (2007) realizaram a caracterização
farmacológica do SB-612111 em testes in vivo. Neste estudo, os autores
mostraram que a administração de SB-612111 (1-10 mg/Kg; ip) reduz o tempo
de imobilidade dos camundongos expostos ao teste da natação forçada, em
um efeito dose-dependente, atingindo diferença estatística na dose maior.
Ainda, em animais pré-tratados com SB-612111 e tratados com N/OFQ por via
icv, observou-se que na dose de 1 nmol, a N/OFQ revertia a redução do tempo
de imobilidade evocada pela administração de SB-612111, sugerindo que esse
efeito é dependente da interação com o receptor NOP (Rizzi et al., 2007).
Usando camundongos knockout para o gene do receptor NOP, mostrou-se que
o antagonista não peptídico NOP só manifesta seu efeito do tipo antidepressivo
em animais selvagens, mas não nos camundongos knockout (Rizzi et al, 2007).
Neste mesmo trabalho, os pesquisadores também realizaram testes avaliando
o perfil de ação do SB-612111 sobre o teste da suspensão pela cauda. Os
73
resultados obtidos seguiram a mesma linha dos achados com a natação
forçada, com o SB-612111 reduzindo o tempo de imobilidade dos
camundongos no teste; a co-administração com N/OFQ bloqueia esse efeito e
o antagonista só apresenta seu efeito do tipo antidepressivo nos animais
selvagens. Em conjunto, nossos achados vem somar fatos que evidenciam o
antagonista peptídico, UFP-101, e o não-peptídico, SB-612111, do receptor
NOP como promissores agentes antidepressivos, visto que este referido efeito
foi observado ao ser testado em um modelo animal com ampla validade de
face e de construto, como é o caso do desamparo aprendido.
A literatura já descreve e sugere alguns mecanismos pelo qual, os
antagonistas do receptor NOP produzem o efeito do tipo antidepressivo (Gavioli
e Calo’, 2013). Como a maioria dos antidepressivos em uso na clínica, diversas
evidências sugerem que os antagonistas do receptor NOP apresentam como
mecanismo final de ação elevação nos níveis de monoaminas na fenda
sináptica. De fato, a ativação do receptor NOP evoca sinalização inibitória
sobre a transmissão nervosa reduzindo a liberação de diversos
neurotransmissores (Schlicker & Morari, 2000) e/ou diminuindo o disparo
neuronal (Heinricher, 2003). Comparado ao receptor NOP, a RNAm da N/OFQ
está expresso em áreas bem restritas do sistema nervoso central. As áreas
límbicas com expressão elevada de N/OFQ destacam-se: núcleo do leito da
estria terminal, área pré-óptica medial, septo lateral e núcleos da amígdala
(Boom et al, 1999; Neal et al, 1999b). Já o receptor NOP apresenta ampla
expressão encefálica, incluindo as áreas corticais, regiões olfativas, tálamo, e
uma variedade de estruturas límbicas, tais como hipocampo, septo, núcleo do
74
leito da estria terminal, banda diagonal de Broca, habênula, complexo
amigdalóide e em muitos núcleos do hipotálamo, que estão envolvidos no
processamento de estímulos emocionais, mostrando que esse sistema se
apresenta com grande capacidade de modular diferentes fisiopatologias, como
ansiedade e depressão (Neal et al., 1999a; Mollereau e Mouledous, 2000).
Muitos achados sugerem o envolvimento da neurotransmissão
serotoninérgica sobre o efeito do tipo antidepressivo evocado pela
administração de antagonistas do receptor NOP. Le Maître e seus
colaboradores (2005) demonstraram a expressão de receptores NOP em
neurônios serotoninérgicos no núcleo dorsal da rafe. Além disso, a
administração crônica de paroxetina, um antidepressivo inibidor seletivo da
recaptação de serotonina (ISRS), aumenta os sítios de ligação a N/OFQ em
neurônios do núcleo dorsal da rafe (Vilpoux et al., 2002). Além disso, estudos
mostraram que a infusão de N/OFQ diminui a liberação de 5-HT em
sinaptossomas cerebrocorticais e que a administração de UFP-101 é capaz de
reverter esta inibição (Mela, et al., 2004), Fantin e seus colaboradores (2007)
evidenciaram que a infusão de N/OFQ reduz a liberação de 5-HT em
sinaptossomos no neocórtex e esse efeito é bloqueado por diversos
antagonistas do receptor NOP, de diferentes natureza (peptídico e não
peptídico). Fazendo uso de técnicas de eletrofisiologia, Nazzaro e
colaboradores (2010) mostraram, tanto in vivo como in vitro que a infusão de
N/OFQ no núcleo dorsal da rafe diminui a taxa de disparo dos neurônios
serotoninérgicos do núcleo dorsal da rafe e essa inibição é revertida pela
administração de UFP-101. Vitale e colaboradores (2009) mostraram que a
75
exposição ao ECLI gera um desequilíbrio da atividade serotoninérgica,
diminuindo os níveis desse transmissor no córtex pré-frontal e a administração
crônica de UFP-101 também mostrou-se capaz de reestabelecer esses
parâmetros. Ainda, a depleção in vivo de 5-HT previne o efeito do tipo
antidepressivo do UFP-101 em animais expostos à natação forçada (Gavioli, et
al., 2004).
Tao e seus colaboradores (2007) utilizando a técnica de microdiálise,
evidenciaram que a infusão de N/OFQ no núcleo dorsal da rafe (NDR),
promove uma redução dose-dependente nos níveis de 5-HT extracelular no
NDR, apresentando redução máxima de ~40% na maior dose (1000 µM).
Resultado similar foi encontrado após a infusão de N/OFQ no núcleo accubens
(NCaa), onde também foi relatado uma redução dose-dependente nos níveis
de 5-HT extracelular, após a infusão do peptídeo (Tao et al., 2007). Além disso,
os pesquisadores mostraram que essa redução é dependente da ativação do
receptor NOP, pois ao promover a infusão de um antagonista NOP, este per se
promove um aumento de 5-HT no NDR e atenua significativamente a ação da
N/OFQ quando promove-se o pré-tratamento com o referido antagonista e
posterior infusão de N/OFQ. Sendo assim, esses achados sugerem que o
efeito do tipo antidepressivo evocado pelos antagonistas NOP pode ser
mediado por uma potencialização da transmissão serotoninérgica.
Porém existe evidências que mostram uma ampla modulação do sistema
N/OFQ - receptor NOP sobre o sistema noradrenérgico. Estudos mostram que
tanto a N/OFQ como o receptor NOP estão expressos no locus coeruleos (Neal
et al., 1999a; Florin et al., 2000). Estudos utilizando métodos de eletrofisiologia
76
em tecido ex-vivo mostraram que a N/OFQ reduziu o disparo no locus
coeruleus (Connor et al., 1996) sendo este efeito prevenido pela ação do UFP-
101 (Gavioli et al., 2004). Evidências adicionais mostram que a infusão de
N/OFQ no núcleo basolateral da amígdala, promove uma pequena, porém,
significativa redução nos níveis de noradrenalina extracelular e a infusão do
antagonista J-113397 promove um aumento na liberação de noradrenalina
extracelular em cerca de 200% dos níveis basais do grupo controle (Kawahara
et al.,2004). Pesquisas in vitro, mostram que a infusão de N/OFQ exerce
influência inibitória sobre a liberação de noradrenalina no córtex cerebral, tanto
de roedores como de humanos (Okawa et al., 2001; Rominger et al., 2002;
Siniscalchi et al., 2002). Da mesma forma, Yoshitake e colaboradores (2013)
mostraram que a infusão de N/OFQ no córtex medial frontal, reduz os níveis de
noradrenalina e AMPc no córtex pré-frontal de ratos. Além disso, estudo
utilizando microdiálise revelou que a ativação do receptor NOP no locus
coeruleos, reduz a liberação de noradrenalina no córtex pré-frontal (Okawa et
al., 2001). Sendo assim, pode-se sugerir que o bloqueio do receptor NOP
também culminaria em elevações dos níveis de noradrenalina, o que poderia
contribuir, baseado nas evidências já descritas anteriormente, pela reversão do
déficit na latência de escape gerado pelo DA.
Dessa forma, pode-se sugerir que a N/OFQ exerce efeitos inibitórios
sobre a transmissão monoaminérgicas (Figura 31).
77
Figura 31- Interações neuroanatômicas entre os receptores NOP e neurônios
monoaminérgicos. Neurônios serotoninérgicos, noradrenérgicos e dopaminérgicos
localizados no tronco cerebral enviando projeções para todo o cérebro. Os receptores
NOP estão localizados no corpo celular dos neurônios monoaminérgicos no tronco
cerebral como também nos terminais nervosos em áreas límbico e córtex cerebral
Todas essas áreas cerebrais são descritas como participantes do processamento de
estímulos emocionais e humor. Resumindo, ativação de receptores NOP no locus
coeruleus (LC), núcleo do trato solitário (NTS), núcleo dorsal da rafe (NDR) e área
tegmental ventral (ATV) inibe diretamente os neurônios monoaminérgicos. Além disso,
a ativação de receptores NOP pré-sinápticos inibem a liberação de
neurotransmissores nas seguintes áreas: córtex pré-frontal (CPF), a amígdala (Ami),
Nucleus accumbens (NAc), e no hipocampo (Hip). (Adaptado de Gavioli e Calo', 2013)
Existe evidências demonstrando uma íntima relação entre o
desenvolvimento do fenótipo desamparado e os níveis de BDNF. De fato,
relatos na literatura já mostram que os níveis de BDNF no córtex pré-frontal
medial (MPFC), CA3 e giro denteado (DG) foi significativamente menor no
grupo que desenvolveu o fenótipo desamparado do que nos grupos controle e
78
resilientes (animais expostos ao modelo do DA que não desenvolveram o
fenótipo desamparado) (Yang et al., 2015; Bland et al., 2006). Além disso, já
existe trabalhos na literatura mostrando um papel modulatório do sistema da
N/OFQ - NOP sobre a expressão de BDNF em várias áreas encefálicas.
Apesar dos dados iniciais relatados por Vitale e colaboradores (2009)
mostrarem que a exposição ao estresse crônico leve e a administração
repetida de UFP-101 não foram capaz de afetar significativamente a expressão
de mRNA para BDNF e os níveis de BDNF no hipocampo Porém, Filaferro et
al. (2011) mostrou que a exposição ao estresse crônico leve induz uma
redução na neurogênese hipocampal, processo este relacionado com a
expressão de BDNF e a administração contínua de UFP-101 num período de
24 dias reestabelece os níveis de neurogênese nessa região. Alder e seus
colaboradores (2013) baseados em evidências genéticas, mostraram que
camundongos N/OFQ (- / -) apresentam amplos dendritos e espinhas
dendríticas, evidenciando um efeito inibitório da N/OFQ sobre a morfogênese
dendrítica, usando testes in vitro, os pesquisadores mostraram que a N/OFQ é
capaz de atenuar os efeitos do BDNF sobre a morfogênese dendrítica de
forma independente sobre os dendritos (Alder et al., 2013). Esses achados
sugerem que o efeito do tipo antidepressivo, evocado pela administração dos
antagonistas NOP, podem estar relacionados com uma modulação nos níveis
de BDNF. Porém, são necessários mais estudos para um melhor detalhamento
dessa possível relação.
Achados na literatura evidenciam uma estreita relação entre o sistema
N/OFQ - receptor NOP e CRF, em resposta a situações estressoras. De fato, a
administração icv de N/OFQ aumenta a expressão do RNAm do CRF no núcleo
paraventricular do hipotálamo e do RNAm do POMC na hipófise e essas
alterações são bloqueadas pela coadministração de N/OFQ e UFP-101
(Leggett et al., 2006). O estresse agudo de contenção reduz o teor de N/OFQ
no prosencéfalo basal, porém nenhuma alteração nos níveis de N/OFQ foi
encontrada após a exposição ao estresse crônico multivariado, sugerindo um
79
restabelecimento dos níveis de N/OFQ após o estresse agudo (Devine, et al.,
2003). Ainda utilizando o estresse agudo de contenção Nativio et al. (2012),
mostrou que os ratos expostos a esse teste apresentam uma elevação na
expressão de N/OFQ no hipocampo, no núcleo paraventricular, nas áreas CA1
e CA3 e no giro denteado. Nazzaro e colaboradores (2010) mostraram,
utilizando testes in vitro e in vivo, que após o estresse induzido pela natação
forçada, ocorre um aumento da inibição gerado pela N/OFQ sobre os neurônios
serotoninérgicos do NDR e notadamente esse aumento na inibição é
bloqueado após a coadministração com um antagonista do receptor CRF1,
sugerindo um possível efeito sinérgico entre N/OFQ e CRF após um evento
estressor (Nazzaro, et al., 2010). Baseado em tudo que foi descrito acima,
pode-se hipotetizar que o sistema N/OFQ-NOP exerce uma função modulatória
sobre a resposta ao estresse. Sugere-se que quando ocorre ativação em
excesso do receptor NOP surge no indivíduo um fenótipo do tipo depressivo e
o bloqueio da ativação endógena do receptor NOP, realizada pelos
antagonistas NOP contrabalancearia este efeito inibitório e capacitaria o
organismo a buscar alternativas e se manter resistente a esses eventos, o que
propiciaria o efeito do tipo antidepressivo.
80
6. CONCLUSÃO
Em conclusão, o protocolo experimental proposto para as nossas
condições experimentais, com um único dia de exposição, com 180 ciclos de
eletrochoques incontroláveis, imprevisíveis e inescapáveis e dois dias seguidos
com possibilidade de escape é eficaz em gerar um déficit comportamental em
cerca de 80% dos animais testados, visualizado através do aumento do tempo
de escape do compartimento onde recebeu o choque e do número de escapes
deste compartimento.
A administração do antidepressivo tricíclico, nortriptilina foi capaz de
reverter o déficit gerado após exposição do DA, em ambos os parâmetros
(latência de escape e número de escapes) sem promover nenhuma alteração
estatisticamente significativa, quando se compara ao grupo controle, sobre os
componentes motivacional/locomotor e cognitivo do modelo. Já a
administração aguda de fluoxetina, inibidor seletivo da recaptação de
serotonina, não foi capaz de reestabelecer os parâmentros mencionados, não
evidenciando efeito sobre o fenótipo desamparado.
A admistração do antagonista peptídico do receptor NOP, UFP-101, por
via icv, apresentou um efeito do tipo antidepressivo, sendo efetivo em
reestabelecer a latência de escape e o número de escapes do compartimento
eletrificado somente na maior dose (10 nmol). Enquanto que, nenhuma
alteração nos componentes motivacional e cognitivo do teste foram observadas
nesta dose de UFP-101.
81
A administração do antagonista não-peptídico do receptor NOP, SB-
61211, por via ip, assim como o UFP-101, apresentou efeito do tipo
antidepressivo, sendo capaz de reestabelecer a latência de escape e o número
de escapes somente na maior dose (10 mg/Kg), sem promover nenhuma
alteração sobre os componentes motivacional e cognitivo do teste, ao se
comparar com o grupo controle.
Em conjunto, pode-se afirmar que tanto o UFP-101 como o SB-61211
induz efeito do tipo antidepressivo em camundongos submetidos ao modelo do
desamparo aprendido.
82
7. REFERÊNCIAS
Accortt, E. E., Freeman, M. P., Allen, J. J. B. (2008) Women and Major
Depressive Disorder: Clinical Perspectives on Causal Pathways. Journal Of
Womens Health.; 17(10): 1583-1590;
Adrien, J., Dugovic, C., Martin, P. (1991) Sleep-wakefulness patterns in the
helpless rat. Physiol Behav, 49: 257-262;
Alder J., Kallman S., Palmieri A., Khadim F., Ayer J.J., Kumar S., Tsung K.,
Grinberg I., Thakker-Varia S. (2013) Neuropeptide orphanin FQ inhibits
dendritic morphogenesis through activation of RhoA. Dev Neurobiol.
73(10):769-84;
Anton, B., Leff, P., Meissler, J. J., Calva, J.C., Acevedo, R., Salazar, A., Matus,
M., Flores, A., Martinez, M., Adler, M. W., Gaughan, J. P., Eisenstein, T. K.
(2010) Nociceptin/orphanin FQ suppresses adaptive immune responses in vivo
and at picomolar levels in vitro. J Neuroimmune Pharmacol. 5(1): 143-154;
Azmitia, E. e Whitaker-Azmitia, P. 1995 Anatomy, ceel biology, and plasticity of
the seronergic system. Psysychopharmacology. 443-449;
Barge-Schaapveld, D., Nicolson, N., Berkhof, J., deVries, M. (1999) Quality of
Life in Depression: daily life determinants and variability. Psychiatry. 88: 173-
189;
Berton, O., Nestler, E. J. (2006) New approaches to antidepressant drug
discovery: beyond monoamines.Nat Rev Neurosci. 7(2), 137–151;
Bland, S., Schmid, M., Der-Avakian, A., Watkins, L., Spencer, R., Maier, S.
(2006) Expression of c-fos and BDNF mRNA in subregions of the prefrontal
cortex of male and female rats after acute uncontrollable stress. Brain Research
105: 90 – 99;
83
Bliss,E., Zwanziger, J. (1966) Brain amines and emotional stress. JPsychiat
Res 4L:189-198;
Boom, A., Mollereau, C., Meunier, J. C., Vassart, G., Parmentier, M.,
Vanderhaeghen, J. J. (1999) Distribution of the nociceptin and nocistatin
precursor transcript in the mouse central nervous system. Neuroscience 91(3),
991–1007;
Borsini, F., Meli, A. (1988) Is the forced swimming test a suitable model for
revealing antidepressant activity? Psychopharmacology (Berl.)94, 147–160;
Bruchas M., Schindler A., Shankar H., Messinger D., Miyatake M., Land B.,
Lemos J., Hagan C., Neumaier J., Quintana A., Palmiter R., Chavkin C. (2011)
Selective p38α MAPK deletion in serotonergic neurons produces stress
resilience in models of depression and addiction. Neuron.11;71(3):498-511;
Calo', G., Guerrini, R., Bigoni, R., Rizzi, A., Marzola, G., Okawa, H. (2000)
Characterization of [Nphe(1)]nociceptin(1-13)NH(2), a new selective nociceptin
receptor antagonist. Br J Pharmacol 129, 1183–1193;
Calo', G., Rizzi, A., Rizzi, D., Bigoni, R., Guerrini, R., Marzola, G. (2002)
[Nphe1,Arg14,Lys15]nociceptin-NH2, a novel potent and selective antagonist of
the nociceptin/orphanin FQ receptor. Br J Pharmacol 136, 303–311;
Catena-Dell'Osso, M., Marazziti, D., Rotella, F., Bellantuono, C. (2012)
Emerging targets for the pharmacological treatment of depression: focus on
melatonergic system. Curr Med Chem. 19(3):428-37;
Chourbaji S., Zacher C., Sanchis-Segura C., Dormann C., Vollmayr B., Gass P.
(2005) Learned helplessness: Validity and reliability of depressive-like states in
mice. Brain Research Prot 16: 70 – 78;
Connor, M., Vaughan, C. W., Chieng, B., Christie, M. J. (1996) Nociceptin
receptor coupling to a potassium conductance in rat locus coeruleus neurones
in vitro. Br J Pharmacol 119, 1614–1618;
Cox, B. M., Chavkin, C., Christie, M. J., Civelli, O., Evans, C., Hamon, M. D., et
al. (2000) Opioid receptors. In D. Girdlestone (Ed.),The IUPHAR compendium
84
of receptor characterization and classification. London: IUPHAR Media (321–
333) (2nd ed.);
Cryan, J. F., Mombereau, C., Vassout, A. (2005) The tail suspension test as a
model for assessing antidepressant activity: review of pharmacological and
genetic studies inmice. Neurosci Biobehav Rev, 29: 571-625;
Darland, T., Heinricher, M. M., Grandy, D. K. (1998) Orphanin GQ/nociceptin: a
role in pain and analgesia, but so much more. Trends Neurosci. 21, 215–22;
Dess, N. K., Raizer, J., Chapman, C. D., Garcia, J. (1988) Stressors in the
learned helplessness paradigm: effects on body weight and conditioned taste
aversion in rats. Physiol Behav, 44: 483-490;
Detke, M. J. (1997) Acute and chronic antidepressant drug treatment in the rat
forced swimming test model of depression. Exp. Clin. Psychopharmacol.5, 107–
112;
Devine, D., Hoversten, M., Ueda, Y., Akil, H. (2003). Nociceptin/orphanin FQ
content is decreased in forebrain neurones during acute stress. J
Neuroendocrinol 15(1): 69–74;
Duman, R. S. (2004).Role of neurotrophic factors in the etiology and treatment
of mood disorders.Neuromolecular Med 5(1), 11–25;
Fantin, M., Fischetti, C., Trapella, C., & Morari, M. (2007). Nocistatin inhibits 5-
hydroxytryptamine release in the mouse neocortex via presynaptic Gi/o protein
linked pathways. Br J Pharmacol 152(4), 549–555;
Filaferro M., Ruggieri V., Novi C., Calò G., Cifani C., Micioni Di Bonaventura
M.V., Sandrini M., Vitale. G. (2014) Functional antagonism between
nociceptin/orphanin FQ and corticotropin-releasing factor in rat anxiety-related
behaviors: Involvement of the serotonergic system. Neuropeptides 0143-4179;
Filaferro, M., Zucchini, S., Ruggieri, V., Vitale, G., Novi, C., Cifani, C., et al.
(2011).Effects of the continuous delivery of a potent NOP receptor antagonist,
[Nphe1, Arg14, Lys15] N/OFQ-NH2 (UFP-101), on molecular, cellular and
85
behavioral alterations in a chronic model of stress. 35° Congresso Nazionale
della società Italiana di Farmacologia; Bologna 14-17 settembre, P-5/39;
Florin, S., Meunier, J., & Costentin, J. (2000).Autoradiographic localization of
[3H] nociceptin binding sites in the rat brain.Brain Res 880(1–2), 11–16;
Gavioli, E. C., Calo', G. (2006) Antidepressant- and anxiolytic-like effects of
nociceptin/orphanin FQ receptor ligands. Naunyn Schmiedebergs Arch
Pharmacol 372(5), 319–330;
Gavioli, E. C., Calo', G. (2013) Nociceptin/orphanin FQ receptor antagonists as
innovative antidepressant drugs. Pharmacology & Therapeutics ,140 10–25;
Gavioli, E. C., Marzola, G., Guerrini, R., Bertorelli, R., Zucchini, S., De Lima, T.
C. (2003) Blockade of nociceptin/orphanin FQ-NOP receptor signaling produces
antidepressant-like effects: pharmacological and genetic evidences from the
mouse forced swimming test. Eur J Neurosci 17, 1987–1990;
Gavioli, E. C., Vaughan, C. W., Marzola, G., Guerrini, R., Mitchell, V. A.,
Zucchini, S. (2004) Antidepressant-like effects of the nociceptin/orphanin FQ
receptor antagonist UFP-101: new evidence from rats and mice. Naunyn
Schmiedebergs Arch Pharmacol 369, 547–553;
Goeldner, C., Spooren, W., Wichmann, J., Prinssen, E. P. (2012) Further
characterization of the prototypical nociceptin/orphanin FQ peptide receptor
agonist Ro 64-6198 in rodent models of conflict anxiety and despair.
Psychopharmacology (Berl) 222(2), 203–214;
Greenberg, L., Edwards, E., Henn, F. A. (1989) Dexamethasone suppression
test in helpless rats. Biol Psychiatry, 26: 530-532;
Heinricher, M. M. (2003) Orphanin FQ/nociceptin: from neural circuitry to
behavior. Life Sci 73, 813–822;
Henderson, G., McKnight, A.T. (1997). The orphan opioid receptor and its
endogenous ligand -nociceptin/orphanin FQ. Trends Pharmacol. Sci. 18, 293–
300;
86
Holmes, C., Cunningham, C., Zotova, E., Culliford, D., Perry, V. H. (2009)
Proinflammatory cytokines, sickness behavior, and Alzheimer disease.
Neuroimmunomodulation. 16(1): 1-12;
Holmes, P. V. (2003) Rodent models of depression: reexamining validity without
anthropomorphic inference.Trends Pharmacol Sci 15, 143–174;
Hyman, S. e Nestler, E. 1996 Initiation and adaptation: a paradigm for
understanting psychotropic drug action. J. Psychiatry. 153:151-162;
Joca S., Zanelati T., Guimaraes F. (2006) Post-stress facilitation of
serotonergic, but not noradrenergic, neurotransmission in the dorsal
hippocampus prevents learned helplessness development in rats. Brain Res
1087:67–74;
Kawahara, Y., Hesselink, M. B., van Scharrenburg, G., Westerink, B. H. (2004)
Tonic inhibition by orphanin FQ/nociceptin of noradrenaline neurotransmission
in the amygdala. Eur J Pharmacol 485(1–3), 197–200;
Kessler, R. C., Berglund, P., Demler, O., Jin, R., Koretz, D., Merikangas, K. R.,
Rush, A. J., Walters, E. E., Wang, P. S., National Comorbidity Survey
Replication. (2003). The epidemiology of major depressive disorder: results
from the National Comorbidity Survey Replication (NCS-R). JAMA 289, 3095–
3105;
Koizumi, M., Midorikawa, N., Takeshima, H., & Murphy, N. P.
(2004).Exogenous, but not endogenous nociceptin modulates mesolimbic
dopamine release in mice. J Neurochem 89, 257–263;
Krishnan V., Nestler E. (2008) The molecular neurobiology of depression.
Nature, 455: 894-902;
Kuzmin, A., Madjid, N., Johansson, B., Terenius, L., Ögren, S. O. (2009) The
nociceptin system and hippocampal cognition in mice A pharmacological and
genetic analysis. Brain Res 1305 S7–S19;
87
Lafer B., Dias R., Macedo-Soares M. (2009) Depressão Bipolar. In: Kapczinski
F, Quevedo J (Orgs.). Transtorno Bipolar: Teoria e Clínica. Porto Alegre, RS:
Artmed,. pp. 146-158.
Lambert, D. G. (2008) The nociceptin/orphanin FQ receptor: a target with broad
therapeutic potential. Nat Rev Drug Discov 7(8), 694–710;
Le Maître E., Vilpoux C., Costentin J., e Leroux-Nicollet I. (2005) Opioid
receptor-Like 1 (NOP) receptors in the rat dorsal raphe nucleus: evidence for
localization on serotoninergic neurons and functional adaptation after 5,7-
dihydroxytryptamine lesion. Journal of Neuroscience Research 81:488–496;
Leggett, J. D., Harbuz, M. S., Jessop, D. S., e Fulford, A. J. (2006).The
nociceptin receptor antagonist [Nphe1, Arg14, Lys15]nociceptin/orphanin FQ-
NH2 blocks the stimulatory effects of nociceptin/orphanin FQ on the HPA axis in
rats.Neuroscience 141(4), 2051–2057;
Lucki, I. (1997) The forced swimming test as a model for core and component
behavioral effects of antidepressant drugs. Behav. Pharmacol.8, 523–532;
Maeng, S., Hunsberger, J. G., Pearson, B., Yuan, P. (2008) BAG1 plays a
critical role in regulating recovery from both manic-like and depression-like
behavioral impairments. Proceedings of the National Academy of Sciences
USA105, 8766–8771;
Maier, S. F., Grahn, R. E., Kalman, B. A., Sutton, L. C., Wiertelak, E. P.,
Watkins, L. R. (1993) The role of the amygdala and dorsal raphe nucleus in
mediating the behavioral consequences of inescapable shock. Behav Neurosci
107, 377–388;
Maier, S. F., Seligman, M. E. P. (1976) Learned helplessness: theory and
evidence. J Exp Psychol,3–46;
Maier, S. F., Watkins, L. R. (2005) Stressor controllability and learned
helplessness: the roles of the dorsal raphe nucleus, serotonin, and
corticotropin-releasing factor. Neurosci Biobehav Rev 29, 829–841;
88
Malkesman, O., Austin, D. R., Tragon, T., Wang, G., Rompala, G., Hamidi, A.
B., Cui, Z., Young, W. S., Nakazawa, K., Zarate Jr, C. A.,. Manji, H. K., Chen,
G. (2012) Acute D-serine treatment produces antidepressant-like effects in
rodents. I. J. Neuropsychopharmacol 15, 1135–1148;
Markou, A., Chiamulera, C., Geyer, M. A., Tricklebank, M., Steckler, T. (2009)
Removing obstacles in neuroscience drug discovery: the future path for animal
models. Neuropsychopharmacol 34,74–89;
Maynert, E., Levi, R. (1964) Stress-induced release of brain norepinephrine and
its inhibition by drugs. J Pharmacol Exp Ther 143:90-95;
McKinney, W. T. (1986) Electroconvulsive therapy and animal models of
depression. Ann N Y Acad Sci, 462: 65-69;
Mela, F., Marti, M., Ulazzi, L., Vaccari, E., Zucchini, S., Trapella, C., et al.
(2004).Pharmacological profile of nociceptin/orphanin FQ receptors regulating
5-hydroxytryptamine release in the mouse neocortex.Eur J Neurosci 19(5),
1317–1324.
Meunier, J. C. (1997) Nociceptin/orphanin FQ, and the opioid receptor-like
ORL1 receptor. Eur. J. Pharmacol. 340, 1–15;
Mollereau, C., Mouledous, L. (2000) Tissue distribution of the opioid receptor-
like (ORL1) receptor. Peptides 21, 907–917;
Mollereau, C., Parmentier, M., Mailleux, P., Butour, J. L., Moisand, C., Chalon,
P., Caput, D., Vassart, G., Meunier, J. C. (1994) ORL1, a novel member of the
opioid receptor family. Cloning, functional expression and localization. FEBS
Lett. 341(1): 33-38;
Murphy, N. P., & Maidment, N. T. (1999).Orphanin FQ/nociceptin modulation of
mesolimbic dopamine transmission determined by microdialysis.J Neurochem
73(1), 179–186;
89
Murphy, N. P., Lam, H. A., Chen, Z., Pintar, J. E., & Maidment, N. T. (2002).
Heroin-induced locomotion and mesolimbic dopamine release is unchanged in
mice lacking the ORL.1 receptor gene.Brain Res 953(1–2), 276–280;
Nativio, P., Pascale, E., Maffei, A., Scaccianoce, S., Passarelli, F. (2012).
Effect of stress on hippocampal nociceptin expression in rat. Stress 15(4): 378–
384;
Nazzaro C., Barbieri M., Varani K., Beani L., Valentino R. J. e Siniscalchi A.
(2010) Swim stress enhances nociceptin/orphanin fqinduced inhibition of rat
dorsal raphe nucleus activity in vivo and in vitro: role of corticotropinreleasing
factor. Neuropharmacology; 58(2): 457–464;
Neal Jr, C. R., Mansour, A., Reinscheid, R., Nothacker, H. P., Civelli, O., Akil,
H., Watson Jr, S. J. (1999a) Opioid receptor-like (ORL1) receptor distribution in
the rat central nervous system: comparison of ORL1 receptor mRNA expression
with (125)I-[(14)Tyr]-orphanin FQ binding. J. Comp. Neurol. 412 (4), 563–605;
Neal Jr, C. R., Mansour, A., Reinscheid, R., Nothacker, H. P., Civelli, O.,
Watson Jr, S. J. (1999b) Localization of orphanin FQ (nociceptin) peptide and
messenger RNA in the central nervous system of the rat. J. Comp. Neurol. 406
(4), 503–547;
Nemeroff, C. B., Owens, M. J. (2002) Treatment of mood disorders.Nat
Neurosci 5, 1068–1070 (Suppl.);
Nestler, E. J., Gould, E., Manji, H., Buncan, M., Duman, R.S., Greshenfeld, H.
K. (2002) Preclinical models: status of basic research in depression. Biol
Psychiatry, 52: 503-528;
Nutt, D. J. (2002) The neuropharmacology of serotonin and noradrenaline in
depression. Int Clin Psychopharmacol 17,S1–S12;
Okawa, H., Kudo, M., Kudo, T., Guerrini, R., Lambert, D. G., Kushikata, T., et
al. (2001). Effects of nociceptinNH2 and [Nphe1]nociceptin(1–13)NH2 on rat
brain noradrenaline release in vivo and in vitro. Neurosci Lett 303(3), 173–176;
90
Overmier, J. B., & Seligman, M. E. (1967) Effects of inescapable shock upon
subsequent escape and avoidance responding. J Comp Physiol Psychol 63,28–
33;
Ozaki, S., Kawamoto, H., Itoh, Y., Miyaji, M., Azuma, T., Ichikawa, D. (2000) In
vitro and in vivo pharmacological characterization of J-113397, a potent and
selective non-peptidyl ORL1 receptor antagonist. Eur J Pharmacol 402(1–
2),45–53;
Paxinos, G.; Franklin, K. B. J. (2001) The Mouse Brain in Stereotaxic
Coordinates. Academic Press San Diego, Second Edition;
Petit-Demouliere, B., Chenu, F., & Bourin, M. (2005) Forced swimming test in
mice: a review of antidepressant activity.Psychopharmacology (Berl) 177(3),
245–255;
Petty, F., Kramer, G., Wilson, L., Chae, Y. (1993) Learned helplessness and
in vivo hippocampal norepinephrine release. Pharmacol Biochem Behav 46(1):
231-235;
Porsolt, R. D., Bertin, A., Jalfre, M. (1977) Behavioral despair in mice: a primary
screening test for antidepressants. Arch Int Pharmacodyn Ther, 229: 327-336;
Redrobe, J. P., Calo', G., Regoli, D., & Quirion, R. (2002) Nociceptin receptor
antagonists display antidepressant-like properties in the mouse forced
swimming test. Naunyn Schmiedebergs Arch Pharmacol 365, 164–167;
Reinscheid R., Nothacker H., Bourson A., Ardati A., Henningsen R., Bunzow J.,
Grandy D., Langen H., Monsma F. Jr, Civelli O. (1995) Orphanin FQ: a
neuropeptide that activates an opioidlike G protein-coupled receptor. Science.
270(5237): 792-794.
Rizzi, A., Molinari, S., Marti, M., Marzola, G., Calo', G. (2011)
Nociceptin/orphanin FQ receptor knockout rats: In vitro and in vivo studies.
Neuropharmacology. 60(4) 572-579;
91
Rominger, A., Förster, S., Zentner, J., Dooley, D. J., McKnight, A. T.,
Feuerstein, T. J., et al. (2002).Comparison of the ORL1 receptor-mediated
inhibition of noradrenaline release in human and rat neocortical slices. Br J
Pharmacol 135(3), 800–806;
Rutten, K., De Vry, J., Bruckmann, W., & Tzschentke, T. M.
(2011).Pharmacological blockade or genetic knockout of the NOP receptor
potentiates the rewarding effect of morphine in rats.Drug Alcohol Depend 114,
253–256;
Sandin, J., Georgieva, J., Schött, P. A., Ogren, S. O., Terenius, L. (1997)
Nociceptin/orphanin FQ microinjected into hippocampus impairs spatial learning
in rats. Eur J Neurosci. 9(1): 194-197;
Sandin, J., Ögren, S. O., Terenius, L. (2004) Nociceptin/orphanin FQ modulates
spatial learning via ORL-1 receptors in the dorsal hippocampus of the rat. Brain
Res. 997, 222–233;
Santos J., Martinez R., Brandao M. (2006) Effects of acute and subchronic
treatments with fluoxetine and desipramine on the memory of fear in moderate
and high-intensity contextual conditioning. Eur J Pharmacol 542:121–128;
Schlicker, E., Morari, M. (2000) Nociceptin/orphanin FQ and neurotransmitter
release in the central nervous system. Peptides 21, 1023–1029;
Seligman, M. E. (1972) Learned helplessness. Annu Rev Med 23, 407–412;
Seligman, M. E. P., Maier, S. F., & Solomon, R. L. (1971) Unpredictableand
uncontrollable aversive events. In F. R. Black (Ed.),Aversive Conditioning and
Learning. New York: Academic Press 347–400;
Sherman, A. D., Sacquitne, J. L., Petty, F. (1982) Specificity of the learned
helplessness model of depression. Pharmacol Biochem Behav, 16: 449-454;
Sim-Selley, L. J., Vogt, L. J., Childers, S. R., Vogt, B. A. (2003) Distribution of
ORL-1 receptor binding and receptor-activated G-proteins in rat forebrain and
92
their experimental localization in anterior cingulated cortex. Neuropharmacology
45, 220–230;
Siniscalchi, A., Rodi, D., Morari, M., Marti, M., Cavallini, S., Marino, S., et al.
(2002).Direct and indirect inhibition by nociceptin/orphanin FQ on noradrenaline
release from rodent cerebral cortex in vitro.Br J Pharmacol 136(8), 1178–1184;
Steru, L., Chermat, R., Thierry, B., Simon, P. (1985) The tail suspension test: a
new method for screening antidepressants in mice. Psychopharmacology (Berl),
85: 367-370;
Takamori, K., Yoshida, S., Okuyama, S. (2001) Availability of learned
helplessness test as a model of depression compared to a forced swimming
test in rats. Pharmacology, 63: 147-153;
Tao, R., Ma, Z., Thakkar, M. M., McCarley, R. W., & Auerbach, S. B. (2007)
Nociceptin/ orphanin FQ decreases serotonin efflux in the rat brain but in
contrast to a kappa-opioid has no antagonistic effect on mu-opioid-induced
increases in serotonin efflux.Neuroscience 147(1), 106–116;
Telner J., Singhal R. e Lapierre Y. (1981) Reversal of learned helplesseness by
nortriptyline. Prog. Neuro-Psychopharmacol.5: 587-590;
Thase, M. E., Denko, T. (2008) Pharmacotherapy of mood disorders. Annu Rev
Clin Psychol. 4: 53-91;
Thierry A-M., France, J., Glowinski, J., Seymour, S. (1968) Effects of stress on
the metabolism of norepinephrine, dopamine and serotonin in the central
nervous system of the rat. I. Modifications of norepinephrine turnover. J.
Pharmacol. Exp. Ther. 163: 163-171;
Valentine G., Dow A., Banasr M., Pittman B., Duman R. (2008) Differential
effects of chronic antidepressant treatment on shuttle box escape deficits
induced by uncontrollable stress. Psychopharmacology 200:585–596;
93
Vaughan, C. W., & Christie, M. J. (1996) Increase by the ORL1 receptor (opioid
receptor-like1) ligand, nociceptin, of inwardly rectifying K conductance in dorsal
raphe nucleus neurones. Br J Pharmacol. 117(8), 1609–1611;
Vilpoux, C., Naudon, L., Costentin, J., & Leroux-Nicollet, I. (2002).Chronic
paroxetine increases [3H]nociceptin binding in rat dorsal raphe nucleus.
Neuroreport 13(1),111–114;
Vitale, G., Ruggieri, V., Filaferro, M., Frigeri, C., Alboni, S., Tascedda, F. (2009)
Chronic treatment with the selective NOP receptor antagonist [Nphe 1, Arg 14,
Lys 15] N/OFQ-NH 2 (UFP-101) reverses the behavioural and biochemical
effects of unpredictable chronic mild stress in rats. Psychopharmacology (Berl)
207(2), 173–189;
Vollmayr, B. and Henn, F. A. (2003) Stress models of depression. Clin Neurosci
Res, 3: 245-251;
Vollmayr, B., Mahlstedt, M. M., Henn, F. A. (2007) Neurogenesis and
depression: what animal models tell us about the link. Eur Arch Psychiatry Clin
Neurosci 257: 300-303;
Weiss J., Glazer H., Pohorecky L., Brick J., Miller N. (1975) Effects of chronic
exposure to stressors on avoidance-escape behavior and on brain
norepinephrine. Psychosomatic Medicine .37,No.6: 522-534;
Willner, P. (1984) The validity of animal models of depression.
Psychopharmacology 83,1–16;
Willner, P., Mitchell, P. J. (2002) The validity of animal models of predisposition
to depression. Behav Pharmacol, 13: 169-188;
Wu, Y. L., Pu, L., Ling, K., Zhao, J., Cheng, Z. J., Ma, L., et al. (1997) Molecular
characterization and functional expression of opioid receptor-like1 receptor. Cell
Res 7(1), 69–77;
Yoshitake, S., Ijiri, S., Kehr, J., & Yoshitake, T. (2013).Concurrent modulation of
extracellular levels of noradrenaline and cAMP during stress and by anxiogenic-
94
or anxiolytic-like neuropeptides in the prefrontal cortex of awake
rats.Neurochem Int 62(3), 314–323;
Yu, T. P., Fein, J., Phan, T., Evans, C. J., Xie, C. W. (1997). Orphanin FQ
inhibits synaptic transmission and long-term potentiation in rat hippocampus.
Hippocampus 7, 88–94;
Yu, T. P., Xie, C. W. (1998) Orphanin FQ/nociceptin inhibits synaptic
transmission and long-term potentiation in rat dentate gyrus through
postsynaptic mechanisms. J. Neurophysiol. 80,1277–1284;
Zaratin, P. F., Petrone, G., Sbacchi, M., Garnier, M., Fossati, C., Petrillo, P.
(2004) Modification of nociception and morphine tolerance by the selective
opiate receptor-like orphan receptor antagonist (-)-cis-1-methyl-7-[[4-(2,6-
dichlorophenyl)piperidin-1-yl]methyl]-6,7,8,9-tetrahydro-5H-benzocyclohepten-
5-ol (SB-612111). J. Pharmacol. Exp. Ther. 308(2), 454–461;
Zaveri, N. T. (2011).The nociceptin/orphanin FQ receptor (NOP) as a target for
drug abuse medications.Curr Top Med Chem 11(9), 1151–1156;
Zazpe A., Artaiz I., Labeaga L., Lucero M. L., Orjales A. (2007) Reversal of
learned helplessness by selective serotonin reuptake inhibitors in rats is not
dependent on 5-HT availability. Neuropharmacology 52: 975-984;
Zigmond, M., Harvey, J. (1970) Resistance to central norepinephrine depletion
and decreased mortality in rats chronically exposed to electric footshock.
JNeuro-Visc Rel 31:373-381;
95