95
VICTOR ANASTÁCIO DUARTE HOLANDA EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM CAMUNDONGOS EXPOSTOS AO MODELO DO DESAMPARO APRENDIDO Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Mestre em Psicobiologia Natal (RN) 2015

EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

VICTOR ANASTÁCIO DUARTE HOLANDA

EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM CAMUNDONGOS

EXPOSTOS AO MODELO DO DESAMPARO APRENDIDO

Dissertação apresentada à

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, para obtenção do título de

Mestre em Psicobiologia

Natal (RN)

2015

Page 2: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

VICTOR ANASTÁCIO DUARTE HOLANDA

EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM CAMUNDONGOS

EXPOSTOS AO MODELO DO DESAMPARO APRENDIDO

Dissertação apresentada à

Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, para obtenção do título de

Mestre em Psicobiologia.

Orientadora: Profa. Dra. Elaine Cristina Gavioli

Natal (RN)

2015

Page 3: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de Biociências

Holanda, Victor Anastácio Duarte.

Efeito de antagonistas do receptor NOP em Camundongos expostos ao modelo do desamparo

aprendido / Victor Anastácio Duarte Holanda. – Natal, RN, 2015.

94 f.: il.

Orientadora: Profa. Dra. Elaine Cristina Gavioli.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências.

Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.

1. Camundongo. – Dissertação. 2. Antagonistas do receptor NOP. – Dissertação. 3. Antidepressivos. –

Dissertação. I. Gavioli, Elaine Cristina. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 599.323.4

Page 4: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

Um dia aprendi que sonhos, existem para tornar-se realidade. E, desde aquele

dia, já não durmo para descansar. simplesmente durmo pra sonhar.

(Walt Disney)

Page 5: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

Dedico este trabalho aos meus pais, Ozana Duarte e Antonio Carlos Holanda,

pelo amor e apoio incondicional a todos os meus sonhos e objetivos

Page 6: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

Agradecimentos

À Deus pela oportunidade que Ele me deu. A oportunidade da vida, a

oportunidade de poder correr atrás dos meus sonhos e dos meus ideais. " O Senhor é

meu pastor e nada me faltará... " (Salmo 23).

Ao meu maior amor, minha primeira amiga, a minha maior cúmplice, aquela

que sempre acreditou em mim mesmo quando nem eu acreditava, minha mãe. Muito

obrigado pelas inúmeras vezes que a senhora abriu mão dos seus sonhos em prol dos

meus, em escolher o meu sorriso em detrimento do seu, enfim, só tenho que

agradecer por ser a melhor mãe do mundo.

Ao meu pai e ao meu irmão por estarem ao meu lado sempre que

precisei, por mostrarem que sem família não somos absolutamente nada.

À Profa. Dra. Elaine Gavioli. Não só pela orientação, mas sim por ter

acreditado no meu potencial, por sempre ter me incentivado a seguir em busca

dos meus objetivos, por sempre apresentar aquela palavra acolhedora nos

momentos mais difíceis durante todo esse período. Agradeço por ter confiado

em mim, e contribuído no meu amadurecimento, transformação e formação.

Certamente, o seu apoio, preocupação e carinho foram indispensáveis para

que eu pudesse chegar ate aqui.

À família que eu tive a oportunidade de escolher: os meus amigos que

são irmãos. Espero que ao citar nomes não esqueça ninguém, mas isso se faz

necessário:

Àquela que me fez conhecer o real sentido da amizade, aquela que

estava ao meu lado nos momentos mais tristes e felizes da minha vida.

Page 7: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

Mesmo distante fisicamente um do outro, sempre nos manteremos unidos por

esse lindo laço que é a amizade. Muito obrigado por torna a minha vida mais

doce, Samila.

Luana, minha eterna parceira, minha irmã, meu xuxu; Joaquim, meu

amigo, parceiro, minha companhia/carona de todas as manhas por longos

quatro anos e meio; Maíra, a cearense mais abusada que eu conheço e

também a mais amada! Marina, a vaquinha mais linda e fofa de todas. Mesmo

nossa relação sendo firmada entre tapas e beijos, eu te amo muito. Portanto, a

todos vocês eu quero dizer que podem ter certeza que para todo o sempre a

minha amizade e a minha gratidão.

A Roney, pela paciência, pelo ombro amigo,por sempre se fazer

presente, por conseguir tornar os momentos finais desse ciclo muito mais

prazerosos. Enfim, muito obrigado pelas inúmeras vezes que você me exergou

melhor do que eu sou.

À Mari, que sempre se mostrou solícita e companheira. Um presente em

minha vida. Saiba que estarei sempre torcendo pelo seu sucesso.

Aos amigos do laboratório de Farmacologia Comportamental, Juliana,

Manara, Lisiane, Julia, Décio, Adriana, Ephifanio, Nathaly. Agradeço

principalmente a Iris e a Laila, que contribuíram para que eu chegasse ate esse

momento. Obrigado por cada experiência compartilhada e pelos momentos de

descontração, que tornaram o trabalho no laboratório ainda mais prazeroso.

Aos professores, Dr Felipe Duarte e Dra Rovena Engelberth por

aceitarem o convite para compor a banca e pela colaboração no

aprimoramento desse trabalho.

Page 8: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

Enfim, agradecer à todos que de uma forma ou de outra colaboraram

para que este momento se tornasse realidade.

Page 9: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

RESUMO

A nociceptina/orfanina FQ (N/OFQ) é um heptadecapeptídeo, sendo o ligante endógeno, de um receptor acoplado a proteína G do tipo inibitória, o receptor NOP. O sistema da nociceptina/orfanina FQ (N/OFQ) e seu receptor NOP tem se mostrado com grande potencial para o desenvolvimento de fármacos antidepressivos com evidências farmacológicas e genéticas apontando um potencial efeito antidepressivo induzido pelo bloqueio do receptor NOP. O modelo do desamparo aprendido (DA) emprega eletrochoques, incontroláveis e imprevisíveis, nas patas dos animais como evento estressor para induzir um fenótipo tipo depressivo. Este paradigma é baseado no fato de que após exposição à eletrochoques incontroláveis, os animais desenvolvem déficits no comportamento de escape do compartimento eletrificado, evento este revertido pelo uso de antidepressivos. O DA é um modelo de depressão mais bem validado em comparação com os testes de desespero comportamental, que são atualmente mais utilizados no screening de novos agentes antidepressivos. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo validar o modelo do desamparo aprendido nas nossas condições experimentais, bem como avaliar a ação de antagonistas do receptor NOP em animais que desenvolveram a condição de desamparo. Para realização deste estudo, camundongos machos foram submetidos a três fases do protocolo DA (i.e., (1) indução, (2) screening e (3) teste). Os animais que desenvolveram o fenótipo tipo depressivo foram submetidos à sessão teste, cuja fase existe a possibilidade de escape do eletrochoque e o tempo de escape do compartimento onde recebeu o choque, bem como o número de vezes que o animal não escapou deste compartimento foi registrado. O efeito dos seguintes tratamentos, administrados antes da sessão de teste, foi avaliado: nortriptilina (30 mg/Kg, ip, 60 min),fluoxetina (30 mg/Kg, ip, 60 min), ambos antidepressivos clássicos, SB-612111 (1 e 10 mg/Kg, ip, 30 min) e UFP-101 (1 e 10 nmol, icv, 5 min), ambos antagonistas NOP. Ainda, para descartar possíveis falsos positivos no comportamento do tipo desamparado, foi avaliado o efeito destas drogas sobre os componentes motivacional e cognitivo. Assim, foi evidenciado que nos animais que desenvolverem o fenótipo tipo depressivo nortriptilina, SB-612111 e UFP-101 foram eficazes em reduzir a latência de escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes motivacional e cognitivo do DA; o mesmo não ocorre com a administração de fluoxetina, que não promove nenhuma alteração nos parâmetros analisados. Em conclusão, o tratamento agudo com antagonistas NOP é capaz de promover um efeito do tipo antidepressivo em camundongos submetidos ao modelo do desamparo aprendido.

Palavras chaves: antidepressivos; antagonistas do receptor NOP; desamparo aprendido; camundongo.

Page 10: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

ABSTRACT

The nociceptin/orphanin FQ (N/OFQ) is a heptadecapeptide being the endogenous ligand of a Gi protein-coupled receptor, named NOP receptor. Pharmacological and genetic evidence suggests potential antidepressant effect induced by the blockage of NOP receptor. The learned helplessness model (LH) employs uncontrollable and unpredictable electroshock in the animals' paws as a stressor to induce a depressive-like phenotype. This paradigm is based on the fact that after exposure to uncontrollable electric shock, animals develop deficits in avoidance behavior of electrified compartment, an event reversed by antidepressants. The LH is a well-validated model of depression compared with behavioral despair tests that are currently most used in the screening of new antidepressants. Thus, the present study aims to validate the helplessness learned model in our experimental conditions, and to evaluate the action of NOP receptor antagonists in animals that developed the helpless condition. For this study male mice went through three phases of the DA protocol (i.e., (1) induction, (2) screening, and (3) test). Animals that developed the depressive-like phenotype were subjected to the test session. In this phase it is possible to escape the chamber electroshock. Therefore, the latency to escape after the shock, and the frequency of failures (when the animal did not escape from the eletroshoch compartment) was recorded. The effect of the following treatments administered before the test session was evaluated: nortriptyline (30 mg/kg, ip, 60 min), fluoxetine (30 mg/kg, ip, 60 min), both classical antidepressants, SB-612111 (1 to 10 mg/kg, ip, 30 min) and UFP-101 (1 to 10 nmol, icv, 5 min), both NOP antagonists. Still, to rule out possible false positives helpless kind of behavior, we evaluated the effect of these drugs on the motivational and cognitive components. Thus, it was shown that in animals that develop the depressive phenotype , nortriptyline, UFP-101 and SB-612111 were effective in reducing the escape latency and the frequency of failures without causing any change in motivational and cognitive components; the same is not true with fluoxetine administration, which does reverse helplessness behavior. In conclusion, acute treatment with NOP antagonists promotes a genuine antidepressant-like effect in mice submitted to the learned helplessness model.

Key words: antidepressants; NOP receptor antagonists; learned helplessness; mice.

Page 11: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIAÇÕES ....................................................................................... XIII

LISTAS DE FIGURAS .............................................................................................. XIV

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 19

1.1 Sistema nociceptina/orphanina FQ – receptor NOP .......................................... 21

1.1.1 Antagonistas do receptor NOP no tratamento da depressão ...................... 23

1.2 Teste de desespero comportamental e desamparo aprendido .......................... 25

2. OBJETIVOS ........................................................................................................... 30

2.1 Geral ................................................................................................................. 30

2.2 Específicos ........................................................................................................ 30

3. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................... 32

3.1 Animais ............................................................................................................ 32

3.2 Drogas ............................................................................................................. 32

3.3 Cirurgia esteriotáxica ........................................................................................ 33

3.4 Desamparo aprendido ...................................................................................... 34

3.5 Desenho experimental ...................................................................................... 38

3.5.1 Etapa 1: Padronização do modelo de desamparo aprendido ...................... 38

3.5.2 Etapa 2: Efeito do antagonista não-peptídico do receptor NOP, SB-612111,

em animais submetidos ao teste do desamparo aprendido ................................. 42

3.5.3 Etapa 3: Efeito do antagonista peptídico do receptor NOP, UFP-101, em

animais submetidos ao teste do desamparo aprendido ....................................... 43

3.5.4 Etapa 4: Efeito dos antagonistas peptídicos do receptor NOP, SB-612111 e

UFP-101, no componente motivacional e cognitivo do comportamento de

desamparo aprendido .......................................................................................... 44

Page 12: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

3.6 Análise histológica ............................................................................................. 46

3.7 Análise estatística ............................................................................................. 47

4. RESULTADOS ....................................................................................................... 48

4.1. Etapa 1: Padronização do modelo de desamparo aprendido............................ 48

4.2. Etapa 2: Efeito do antagonista não-peptídico do receptor NOP, SB-612111, em

animais submetidos ao teste do desamparo aprendido ........................................... 55

4.3. Etapa 3: Efeito do antagonista peptídico do receptor NOP, UFP-101, em

animais submetidos ao teste do desamparo aprendido ........................................... 59

5. DISCUSSÃO .......................................................................................................... 66

6. CONCLUSÃO......................................................................................................... 80

7. REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 82

Page 13: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

XIII

LISTA DE ABREVIAÇÕES

(AMPc) Adenosina 3',5'-monofosfato cíclico;

(Ami) Amígdala;

(ANOVA) Análise de variância;

(AUC) Área sob a curva;

(ATV) Area tegmental ventral;

(CEUA) Comissão de Ética no Uso de Animais;

(CPF) Córtex pré-frontal;

(DA) Desamparo aprendido;

(ECLI) Estresse crônico leve imprevisível;

(CRF) Fator de liberação de corticotrofina;

(BDNF) Fator neurotrófico derivado do cérebro;

(Hip) Hipocampo;

(I.C.V.) Intracerebroventricular;

(IP) Intraperitoneal;

(LC) Locus coeruleus;

(N/OFQ) Nociceptina/orfanina FQ;

(NA) Noradrenalina;

(NCaa) Núcleo accubens;

(NTS) Núcleo do trato solitário;

(NDR) Núcleo dorsal da rafe;

(POMC) Pró-opiomelanocortina;

(LTP) Potencial de longa duração;

(RNAm) RNA mensageiro;

(5-HT) Serotonina;

(SNC) Sistema nervoso central;

(FST) Teste da natação forçada;

(TST) Teste de suspensão da cauda.

Page 14: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

XIV

LISTAS DE FIGURAS

Figura 1: Desenho experimental para indução do comportamento de

desamparo em camundongos;

Figura 2: Desenho experimental para avaliação do componente motivacional e

locomotor do desamparo aprendido em camundongos;

Figura 3: Desenho experimental para avaliação do componente cognitivo do

modelo do desamparo aprendido;

Figura 4: Esquema representativo da Etapa 1- Avaliação do efeito da

nortriptilina e fluoxetina em camundongos submetidos ao teste do desamparo

aprendido;

Figura 5: Esquema representativo da Etapa 1 - Avaliação do efeito de

nortriptilina e fluoxetina, ambos a 30 mg/Kg, sobre o componente motivacional

do desamparo aprendido;

Figura 6: Esquema representativo da Etapa 1- Avaliação do efeito de

nortriptilina e fluoxetina, 30 mg/Kg, sobre o componente cognitivo do

desamparo aprendido;

Figura 7: Esquema representativo da Etapa 2 - Avaliação do efeito do SB-

612111 em animais submetidos ao teste do desamparo aprendido;

Figura 8: Esquema representativo da Etapa 3 - Avaliação do efeito do UFP-101

em animais submetidos ao teste do desamparo aprendido;

Page 15: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

XV

Figura 9: Esquema representativo da Etapa 4- Avaliação do efeito de

antagonistas do receptor NOP sobre o componente motivacional do desamparo

aprendido;

Figura 10: Esquema representativo da Etapa 4 - Avaliação do efeito de

antagonistas do receptor NOP sobre o componente cognitivo do desamparo

aprendido;

Figura 11: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre

a latência de escape do compartimento eletrificado, em animais que

desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do

desamparo aprendido;

Figura 12: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre

o número de vezes que o animal escapou do compartimento eletrificado, em

animais que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao

modelo do desamparo aprendido;

Figura 13: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre

a latência para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de

eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do

desamparo aprendido;

Figura 14: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre

o número de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro

na ausência de eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e

locomotor do desamparo aprendido;

Page 16: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

XVI

Figura 15: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre

a latência de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de

escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo

aprendido;

Figura 16: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre

o número de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de

escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do

desamparo aprendido;

Figura 17: Efeito da administração de fluoxetina (30 mg/Kg), por via ip, sobre a

latência de escape do compartimento eletrificado, em animais que

desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do

desamparo aprendido;

Figura 18: Efeito da administração de Fluoxetina (30 mg/Kg), por via ip, sobre o

número de vezes que o animal escapou do compartimento eletrificado, em

animais que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao

modelo do desamparo aprendido;

Figura 19: Efeito da administração do antagonista não peptídico do receptor

NOP, SB-612111 (1 e 10 mg/Kg), por via ip, sobre a latência de escape do

compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo

desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido;

Figura 20: Efeito da administração de do antagonista não-peptídico do receptor

NOP, SB-612111 (1 e 10 mg/Kg), por via ip, sobre o número de vezes que o

animal escapou do compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram

Page 17: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

XVII

o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do desamparo

aprendido;

Figura 21: Efeito da administração de SB SB-612111 (10 mg/Kg), por via ip,

sobre a latência para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de

eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do

desamparo aprendido;

Figura 22: Efeito da administração de SB-612111 (10 mg/Kg), por via ip, sobre

o número de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro

na ausência de eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e

locomotor do desamparo aprendido;

Figura 23: Efeito da administração de SB-61211 (10 mg/Kg), por via ip, sobre a

latência de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de

escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo

aprendido;

Figura 24: Efeito da administração de SB-61211 (10 mg/Kg), por via ip, sobre o

número de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de

escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do

desamparo aprendido;

Figura 25: Efeito da administração do antagonista não peptídico do receptor

NOP, UFP-101 (1 e 10 nmol), por via icv, sobre a latência de escape do

compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo

desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido;

Page 18: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

XVIII

Figura 26: Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv, sobre a

latência para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de

eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do

desamparo aprendido;

Figura 27: Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv,sobre o

número de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro na

ausência de eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e

locomotor do desamparo aprendido;

Figura 28: Efeito da administração de UFP-101(10 nmol), por via icv, sobre a

latência de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de

escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo

aprendido;

Figura 29: Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv, sobre o

número de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de

escape do eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do

desamparo aprendido;

Figura 30: Interações neuroanatômicas entre os receptores NOP e neurônios

monoaminérgicos.

Page 19: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

19

1. INTRODUÇÃO

1.1 Transtorno depressivo

A depressão é um dos transtornos psiquiátricos mais prevalentes na

população, causando perturbações cognitivas e afetivas, afetando de forma

negativa a qualidade de vida dos pacientes. Esse transtorno acomete pessoas

de qualquer idade e classe social, porém afeta aproximadamente duas vezes

mais mulheres que homens (Kessler et al., 2003; Accortt et al., 2008). Estima-

se que o transtorno depressivo maior afete cerca de 340 milhões de pessoas

no mundo. De acordo com o DSM-V-TR (2013), o transtorno depressivo maior

é um transtorno psiquiátrico caracterizado por cinco ou mais episódios

depressivos maiores, quando em um período de, pelo menos, duas semanas,

caracterizados principalmente por: humor depressivo ou perda de interesse em

quase todas as atividades diárias. Além disso, o paciente experimenta, pelo

menos, quatro sintomas adicionais de uma lista que inclui alterações no apetite

ou peso, sono e atividade psicomotora, diminuição da energia, sentimentos de

desvalorização pessoal ou culpa, dificuldades em pensar, concentrar-se ou

tomar decisões, pensamentos recorrentes de morte, planos ou tentativas

suicidas (DSM-V-TR, 2013). Por causa das alterações comportamentais

evidenciadas nesse transtorno de humor existe um alto grau de morbidade

Page 20: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

20

para essas doenças, o que leva a necessidade de intervenção através da

farmacoterapia (Barge-Schaapveld et al., 1999).

As evidências atuais convergem para uma disfunção na transmissão

monoaminérgica do sistema nervoso central (SNC), como fisiopatologia da

depressão maior, envolvendo principalmente serotonina (5-HT) e

noradrenalina. Sendo assim os fármacos utilizados no tratamento da depressão

atualmente, tem como objetivo aumentar a concentração de monoaminas na

fenda sináptica o que consequentemente acarreta em longo prazo, na

plasticidade nos circuitos neuronais (Nemeroff e Owens, 2002). Os

antidepressivos atualmente usados na clínica são divididos em quatro classes:

inibidores seletivos da recaptação de serotonina, antidepressivos tricíclicos,

inibidores da enzima monoamino oxidase e os recentemente aprovados para

uso, agonistas de receptores de melatonina (Catena-Dell'Osso et al., 2012;

Berton e Nestler, 2006; Krishnan e Nestler, 2008). Os efeitos terapêuticos

dessas classes de fármacos aparecem após semanas de uso, conferindo de

início somente efeitos adverso o que dificulta a adesão ao tratamento (Lafer et

al., 2009; Thase e Denko, 2008); Como exemplo de efeitos colaterais podemos

citar: os problemas sexuais, perda ou ganho de peso, desconforto no trato

gastrointestinal e alterações cardiovasculares (Duman e Monteggia, 2006).

Baseado-se na gama de efeitos colaterais e no alto custo da terapia é

necessário identificar novos alvos terapêuticos para o tratamento da depressão

maior (Berton e Nestler, 2006).

Page 21: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

21

1.2 Sistema nociceptina/orphanina FQ – receptor NOP

A nociceptina/orfanina FQ (N/OFQ) é um heptadecapeptídeo

(FGGFTGARKSARKLANQ), com estrutura semelhante à dinorfina A, sendo o

ligante endógeno do receptor NOP. Apesar da N/OFQ apresentar estrutura

química semelhante aos receptores opioides, a mesma não é classificada

como um opioide clássico (Reinscheid et al., 1995) e os ligantes endógenos

dos receptores opioides clássicos não apresentam nenhuma afinidade pelo

receptor NOP (Cox et al., 2000).

O receptor NOP é um receptor acoplado à proteína G do tipo inibitória,

que ao ser ativado aumenta o efluxo de K+, reduz a entrada de Ca+2 e diminui a

produção de AMPc (Connor et al., 1996; Vaughan e Christie, 1996; Wu et al.,

1997). Sendo assim, dependendo da localização da expressão do receptor

NOP (pré ou pós-sináptica), a ativação do mesmo induz efeitos inibitórios sobre

a transmissão sináptica, reduzindo a quantidade de neurotransmissor liberado

(Schlicker e Morari, 2000) e diminuindo a taxa de disparo de neurônios

(Heinricher, 2003).

O receptor NOP possui alta expressão em diversas áreas do sistema

nervoso central, em particular no prosencéfalo, sistema límbico, na medula

espinhal, nos cornos dorsal e ventral. É densamente localizado nos núcleos

serotonérgicos, noradrenégicos e dopaminérgicos, como nos núcleos da rafe,

locus coeruleus, núcleo do trato solitário, área tegmental ventral e substância

nigra (Mollereau et al., 1994; Neal et al., 1999). Já o precursor da N/OFQ, a

proteína pronociceptina, possui distribuição mais limitada em comparação ao

Page 22: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

22

receptor NOP. No cérebro de rato, transcritos do gene da pronociceptina foram

encontrados em áreas envolvidas na transmissão ou modulação de estímulos

nociceptivos, em núcleos pertencentes a outras vias sensoriais, incluindo

aferências visuais e auditivas, no sistema límbico e núcleos hipotalâmicos

(Boom et al., 1999). A N/OFQ e o seu receptor estão bem distribuídos em

estruturas do sistema límbico envolvidos no processamento de estímulos

emocionais, como hipocampo, septo, núcleo do leito da estria terminal, banda

diagonal de Broca, habênula, complexo amigdalóide e nos núcleos do

hipotálamo (Mollereau e Mouledous, 2000), o que dá suporte ao papel

modulatório deste sistema em psicopatologias como a ansiedade e depressão

(Gavioli e Calo’, 2006). Além disso, pode-se citar o processamento de

estímulos nociceptivos, balanço hídrico, controle motor, resposta ao estresse,

controle das funções neuroendócrinas, modulação dos processos emocionais,

comportamento sexual e regulação da pressão arterial como papéis funcionais

da N/OFQ e seu receptor (Lambert et al., 2008).

Evidências sugerem uma relação entre o sistema da N/OFQ e o receptor

NOP na modulação de processos cognitivos. De fato, foi relatada uma ampla

expressão do RNAm da N/OFQ no córtex e regiões límbicas do cérebro

(Henderson e McKnight,1997; Sim-Selley et al., 2003). Além disso, há

expressão do receptor NOP no hipocampo, tronco cerebral e córtex de ratos

(Darland, et al., 1998; Meunier, 1997; Neal, et al., 1999a,b; Henderson e

McKnight, 1997). Estudos também têm evidenciado um possível papel da

N/OFQ na plasticidade neural no hipocampo e nos processos de aprendizagem

e memória dependente do hipocampo. Por exemplo, foi demonstrado que a

Page 23: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

23

N/OFQ inibe a indução de potencial de longa duração (LTP) no giro denteado e

CA1 em fatias do hipocampo de rato (Yu, et al., 1997; Yu e Xie, 1998). Além

disso, as infusões intrahipocampais de N/OFQ produzem efeitos bifásicos na

memória espacial em ratos com facilitação em doses baixas e perda de

memória em doses mais altas (Sandin et al., 1997; 2004). Porém, a

administração de antagonistas do receptor NOP não altera o desempenho dos

animais no labirinto aquático de Morris, mas reverte o prejuízo de memória

espacial promovido pela N/OFQ (Kuzmin, et al., 2009). Diante do acima

exposto, o papel da N/OFQ e do receptor NOP nos processos de aprendizado

e memória ainda não estão totalmente esclarecidos.

1.2.1 Antagonistas do receptor NOP no tratamento da depressão

O desenvolvimento de antagonistas seletivos para o receptor NOP, seja

eles peptídicos (Calo' et al., 2000; 2002) ou não peptídicos (Ozaki et al., 2000;

Zaratin et al., 2004), permitiu desvendar o papel do sistema N/OFQ-receptor

NOP em diferentes funções. Gavioli e Calo’, em 2006, mostraram que os

antagonistas do receptor NOP, incluindo [Nphe1]N/OFQ(1-13)-NH2, J-113397,

UFP-101 e SB-612111 possuem atividade do tipo antidepressiva em animais.

Estudos mostram que esses antagonistas (por via i.c.v.) reduzem o tempo de

imobilidade de roedores submetidos ao teste da natação forçada e teste da

suspensão pela cauda (Redrobe et al., 2002; Gavioli et al., 2003; 2004).

Enquanto que a administração de N/OFQ ou do agonista sintético do receptor

NOP, Ro64-6198, não foi capaz de alterar o tempo de imobilidade dos animais

Page 24: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

24

nos referidos testes comportamentais (Gavioli et al., 2004; Goeldner et al.,

2012). Vitale e colaboradores (2009) demonstraram que o bloqueio do receptor

NOP produzido pelo antagonista do receptor, UFP-101, via i.c.v. produziu

atividade do tipo antidepressiva, em tratamento repetido por 21 dias, no modelo

de estresse crônico variável. Neste contexto, os autores mostraram que o

tratamento com UFP-101 restaurou a preferência por solução de sacarose que

havia sido perdida em decorrência do estresse. Também foi observado que o

estresse crônico variável alterou a concentração de serotonina (5-HT) no córtex

frontal e o nível de cortisol sérico, enquanto que o tratamento com o

antagonista do receptor NOP restaurou estes parâmetros (Vitale et al., 2009).

Complementar aos achados farmacológicos, camundongos knockout

para o gene do receptor NOP (NOP−/−) apresentam redução no tempo de

imobilidade na natação forçada e no teste de suspensão da cauda quando

comparados aos animais selvagens (NOP+/+) (Gavioli et al., 2003; Gavioli et

al., 2004). Ainda foi demonstrado que ratos knockout para o receptor NOP

também apresentam um fenótipo do tipo antidepressivo quando avaliados no

teste da natação forçada (Rizzi et al., 2011).

Estudos com animais knockout para o receptor NOP mostraram que este

efeito do tipo antidepressivo produzido por antagonistas do receptor NOP é

dependente da interação dos compostos com o receptor NOP. De fato, o

tratamento com antagonistas do receptor NOP, J-113397, UFP-101 e SB-

612111, reduziu o tempo de imobilidade dos camundongos selvagens

(NOP+/+), porém o comportamento dos animais knockout para o receptor NOP

Page 25: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

25

não foi afetado pelo tratamento com tais compostos (Gavioli et al., 2003; Rizzi

et al., 2007; Gavioli e Calo´, 2006).

1.3 Teste de desespero comportamental e desamparo aprendido

Um modelo animal da depressão humana apropriado deve cumprir os

seguintes critérios, tanto quanto possível: fortes semelhanças fenomenológicas

e fisiopatológicas (face validade), etiologia comparável (validade de construto),

e apresentar tratamento comum (validade preditiva) (Willner e Mitchell, 2002;

Vollmayr et al., 2007). Baseado nessas exigências, Porsolt e seus

colaboradores (1977) desenvolveram o teste da natação forçada (FST),

inicialmente em ratos e em seguida em camundongos, sendo atualmente um

das ferramentas mais utilizadas para screening de novas moléculas com

potencial antidepressivo (Nestler et al.,2002; Petit-Demouliere et al., 2005).

Esse amplo uso, em sua grande maioria, é devido a sua fácil execução e ampla

replicabilidade dos resultados (Borsini e Meli, 1988). O teste é baseado na

observação de ratos, que após os movimentos orientados de fuga iniciais tende

a assumir uma postura imóvel, quando colocados em um cilindro com água de

forma que não consigam escapar. Quando expostos novamente ao aparato, 24

horas depois, assumem esta postura rapidamente. Alguns autores sugerem

que este comportamento reflete uma falha na persistência do comportamento

de escape direcionado ou, em outras palavras, o animal desenvolve um

comportamento passivo que o capacita a enfrentar o evento estressor (Lucki,

1997). Uma grande desvantagem da natação forçada (como acontece com

Page 26: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

26

muitos paradigmas sensíveis aos antidepressivos) está no fato de que os

tratamentos agudos com antidepressivos revertem a imobilidade, enquanto que

na clínica pode demorar semanas para os mesmos antidepressivos mostrarem

eficácia terapêutica (Detke et al.,1997).

Outro tipo de modelo baseado no comportamento em situação de

desespero é o teste de suspensão da cauda (TST), que foi descrito a primeira

vez em 1985 para mensurar a efetividade dos antidepressivos (Steru et al.,

1985). Este teste baseia-se na mesma fundamentação do FST. O roedor é

suspenso pela cauda durante seis minutos e o tempo de imobilidade é

cronometrado. Normalmente, os roedores imediatamente após serem

suspensos exibem certa agitação ou comportamentos do tipo fuga, com o

tempo desenvolvem uma postura imóvel (Cryan et al., 2005). Ao se administrar

antidepressivos antes do teste, os roedores apresentaram comportamentos de

escape por períodos mais longos quando comparados ao grupo controle.

Apesar de largamente utilizado para prever os efeitos de

antidepressivos, os teste acima citados são considerados por alguns autores

como um conjunto muito específico de comportamentos induzidos por estresse

que não têm nenhuma relação direta empírica com os sintomas depressivos

nos seres humanos (Holmes, 2003; Petit-Demouliere et al., 2005). Deficiências

na validade de face (semelhanças fenomenológicas entre o modelo e a

depressão) e validades de construto (uma justificativa teórica do modelo) são

as principais desvantagens destes ensaios (Petit-Demouliere et al., 2005).

Considerando a vasta gama de evidências oriundas de testes de desespero

comportamental que sustentam um efeito do tipo antidepressivo para

Page 27: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

27

antagonistas do receptor NOP, estudos envolvendo um modelo animal para

depressão que apresente validade de construto e de face considerável são

requeridos para ampliar as evidências atuais.

Como alternativa aos testes mencionados acima, apresenta-se o modelo

do desamparo aprendido, que emprega eletrochoques, incontroláveis e

imprevisíveis, nas patas dos animais como evento estressor para induzir um

fenótipo tipo depressivo (Overmier e Seligman, 1967; O’Neil e Moore, 2003). O

paradigma do desamparo aprendido (DA) é baseado no fato de que após

exposição à eletrochoques incontroláveis, os animais desenvolvem déficits no

comportamento de escape, que são revertidos com uso de agentes

antidepressivos (Weiss e Kilts, 1998). Maier e Seligman (1976) mostraram que

além do déficit no comportamento de escape desenvolvido após a exposição

ao modelo do desamparo aprendido, os animais apresentam outras alterações

comportamentais, como por exemplo: um aumento das emoções negativas,

inferidas a partir de alterações no repertório comportamental e no estado físico

dos animais, tanto no momento do teste como na gaiola. Estas alterações

incluem: aumento da estereotipia, diminuição da discriminação apetitiva,

alteração no comportamento alimentar, aumento da ulceração e frequência

cardíaca. Outros exemplos de alterações comportamentais que também são

observadas nos animais desamparados, destacam-se: modificações nos

padrões de sono REM (Adrien et al., 1991), redução do peso corporal,

alterações no comportamento sexual (Dess et al.,1988) e níveis elevados de

fator de liberação de corticotrofina (CRF) e corticosterona (Greenberg et al.,

1989).

Page 28: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

28

Mudanças motivacionais e cognitivas, além das emocionais, também

são observadas nos animais que desenvolveram o fenótipo desamparado,

após serem submetidos ao DA. De fato, observa-se que os animais

apresentam motivação reduzida para escapar do local onde recebeu o choque,

observado durante a sessão teste, haja visto que a resposta motora neste

momento é reduzida, e pode indicar um déficit na motivação para escapar

deste ponto da gaiola. Ainda, em nível cognitivo, os animais apresentam

capacidade reduzida para detectar uma associação entre uma resposta

comportamental adaptativa e as consequências dessa resposta, inferido a

partir de resultados em que os animais que desenvolveram o comportamento

do desamparo aprendido exibem algumas poucas vezes respostas de fuga do

lado da gaiola onde receberam o choque, mas estes não são capazes de

apresentar uma curva de aprendizagem, ou seja, respostas de fuga não se

tornam mais frequentes (são sempre uma exceção e aparecem ao acaso)

(Pryce et al., 2011).

O desamparo aprendido (DA) apresenta validade translacional de acordo

com os critérios propostos para modelos animais de depressão, esse modelo

apresenta validade etiológica, pois a incontrolabilidade sobre um evento

aversivo é um fator causal inequívoco em roedores e humanos (Willner, 1984;

Markou et al., 2009). Há validade de face em relação a um déficit na resposta

operante direcionada a um objetivo em responder a uma situação aversiva. Há

também validade de construto, uma vez que, a experiência aversiva de

incontrolabilidade dos eventos parece ser a base, das alterações fisiológicas,

emocionais, cognitivas e motivacionais em ambos roedores e seres humanos

Page 29: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

29

(para revisão: Pryce et al., 2011). Um detalhe importante, o comportamento de

desamparo dos animais possui semelhança com sintomas apresentados por

pacientes com diagnóstico de depressão maior, além disso, tais alterações

comportamentais (sofridas por animais e humanos) podem ser revertidas com

a administração de antidepressivos (Takamori et al., 2001). Atualmente,

estudos mostram que doses repetidas de antidepressivos (Sherman et al.,

1982) ou terapia eletroconvulsiva (McKinney, 1986) são capazes de reduzir a

latência de escape do compartimento eletrificado e diminuir o número de

animais que apresentam o comportamento do desamparo aprendido. Este

efeito é bastante robusto como evidenciado na literatura, onde nenhum

composto eficaz e em uso na clínica falhou em reverter o DA (Vollmayr e Henn,

2003). Em contraste, uma vasta gama de compostos (incluindo

benzodiazepínicos ansiolíticos, antipsicóticos, como a clorpromazina,

psicoestimulantes, tais como cafeína e anfetaminas, e sedativos, como

fenobarbital e etanol) não são eficazes em reverter o comportamento de

desamparo, sugerindo que o modelo do desamparo aprendido apresenta

validade preditiva ( Para uma maior revisão, ver Pryce et al., 2011).

Baseado nas evidências da literatura, o modelo do desamparo aprendido

apresenta validades etiológica, de face, de construto e preditiva que o fazem

um modelo interessante para explorar a fisiopatologia da depressão (Vollmayr

e Henn, 2003), bem como entender melhor o potencial terapêutico de

antagonistas do receptor NOP.

Page 30: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

30

2. OBJETIVOS

2.1 Geral

O presente estudo tem como objetivo padronizar o modelo do

desamparo aprendido nas nossas condições experimentais, bem como avaliar

a ação de antagonistas do receptor NOP em animais que desenvolveram a

condição de desamparo após serem submetidos ao modelo do desamparo

aprendido.

2.2 Específicos

Para melhor atender o objetivo geral desse estudo, foram elaborados

diversos objetivos específicos:

1. Verificar o efeito tipo antidepressivo da nortriptilina (30 mg/Kg, ip, 60 min

antes da sessão teste) e fluoxetina (30 mg/Kg, ip, 60 min antes da

sessão teste), antidepressivo tricíclico e inibidor seletivo da recaptação

de serotonina, respectivamente, em camundongos que desenvolveram o

fenótipo tipo depressivo após exposição ao modelo do desamparo

aprendido. Ainda nesta etapa será verificado o efeito do tratamento com

nortriptilina e fluoxetina na cognição e motivação de roedores, como

forma de descartar possíveis resultados falso-positivos, em grau de

influenciar o comportamento desamparado;

Page 31: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

31

2. Avaliar o efeito da administração de SB-612111 (1 e 10 mg/Kg, ip, 30

min), antagonista não-peptídico do receptor NOP, em camundongos que

desenvolverem o desamparo após exposição ao modelo do desamparo

aprendido;

3. Testar o efeito da administração de UFP-101 (1 e 10 nmol, icv, 5 min),

antagonista peptídico do receptor NOP, em camundongos que

desenvolveram o desamparo após exposição ao modelo do desamparo

aprendido;

4. Investigar o efeito sobre o componente cognitivo e motivacional de

camundongos tratados com os antagonistas do receptor NOP, SB-

612111 e UFP-101, em doses ativas na reversão do comportamento de

desamparo, com a finalidade de descartar possíveis vieses na

interpretação do comportamento de desamparo.

Page 32: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

32

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Animais

Foram utilizados camundongos Swiss machos pesando entre 30 e 35 g

provenientes do biotério do Departamento de Biofísica e Farmacologia da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os animais foram alojados em

caixas de polietileno, medindo 33 x 40 x 17 cm, sob ventilação e temperatura

controladas (25 ± 1 ºC), com ciclo claro/escuro (12h/12h, luzes acesas às

06h00) com livre acesso a comida e água em ambiente climatizado. Todos os

procedimentos experimentais deste plano de estudo foram submetidos e

aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) (063/2013) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Para a realização deste estudo

foram empregados em média 12 animais por grupo

.

3.2 Drogas

Para a realização deste estudo foi utilizado nortriptilina (30 mg/Kg, ip, 60

minutos antes do teste, diluído em salina) e Fluoxetina (30 mg/Kg, ip, 60

minutos antes do teste, diluído em salina), um inibidor da recaptação de

noradrenalina e serotonina pertencente à classe dos antidepressivos tricíclicos

e um inibidor seletivo da recaptação de serotonina, respectivamente, com a

finalidade de estabelecer uma padronização do modelo e apresentar um

controle positivo para futuras comparações de efeito. Também foi utilizado um

Page 33: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

33

antagonista do receptor NOP não peptídico SB-612111 (1 e 10 mg/Kg, ip, 30

min antes do teste, diluído em salina) e um antagonista peptídico, UFP-101 (1 e

10 nmol, icv, 5 min antes do teste, diluído em salina), ambos doado pelo Prof.

R. Guerrini (Dept. of Biotechnology and Pharmaceutical Chemistry, University

of Ferrara, Itália).

3.3 Cirurgia esteriotáxica

Para testar a ação do antagonista peptídico dos receptores NOP, UFP-

101, os animais foram submetidos a uma cirurgia esteriotáxica para

implantação de uma cânula guia no ventrículo lateral dos camundongos. Este

procedimento foi realizado em animais anestesiados com ketamina 100 mg/Kg

e xilasina 10 mg/Kg i.p. (intraperitonial) através do emprego de um aparelho

estereotáxico. A pele dos camundongos da região craniana foi removida para

facilitar a visualização do bregma, que serve de ponto de partida para a

orientação das coordenadas. Uma cânula-guia de 8 mm foi implantada

unilateralmente no ventrículo lateral de acordo com as seguintes coordenadas:

AP 0,6 mm; ML 1,1 mm; DV 1,0 mm (de acordo com Paxinos e Franklin, 2001).

A cânula foi fixada com acrílico e, se necessário, pontos serão aplicados a fim

de fechar a incisão. Todo o procedimento foi executado sob condições de

higiene e o local da incisão foi tratado com o agente antisséptico iodo-povidine.

A fim de prevenir inflamação e infecção bacteriana decorrente do procedimento

cirúrgico, após a cirurgia os animais foram tratados com tetraciclina e

Page 34: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

34

diclofenaco. Após um período de três dias os animais serão submetidos ao

processo de indução de depressão pelo desamparo aprendido.

3.4 Desamparo aprendido

O desamparo aprendido foi realizado em camundongos Swiss machos

como descrito anteriormente por Maeng et al. (2008) e modificado por Oz

Malkesman et al. (2011). O teste do desamparo aprendido ocorreu em uma

shutlle box, composta por dois compartimentos (50 x 30 x 30 cm) separados

por uma porta-guilhotina (12 x 25 cm). A shuttle box foi confeccionada em

acrílico preto, enquanto no piso existem barras de aço inoxidável (0,3 cm de

largura e 1 cm de distância), local onde são disparados os choques elétricos. A

sessão de indução do desamparo foi realizada no dia 1, onde os animais

receberam 180 sessões de choques elétricos inescapáveis na pata [0,45 mA,

20 s de duração com intervalos médios entre as tentativas de 15 s (variando de

10-20 s)] acompanhados por uma luz fraca 3 s antes da liberação do choque.

A sessão de screening acontece 24 h após a sessão de indução(dia 2)

sendo composta de 30 ciclos de 20 s cada. Cada ciclo é dividido em dois

blocos de 10 s, no primeiro bloco o animal recebe aleatoriamente, dentro desse

intervalo, 3 s de uma luz fraca (estímulo condicionado) mais um eletrochoque,

com duração variável de 1 a 10 s. O segundo bloco é o período de descanso

para o animal com duração de 10 s. Na sessão de screening, a porta que

conecta os dois compartimentos da shuttle box permanece aberta e são

considerados em desamparo aprendido os camundongos que falharam em

Page 35: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

35

mais de 20 tentativas em sair do comportamento onde receberam o choque

elétrico. Os animais que não entraram em desamparo foram descartados do

estudo. Na última fase do teste (dia 3), 24 h depois da sessão de screening,

realizou-se a avaliação do efeito de fármacos. Nesta etapa os animais em

desamparo foram divididos em grupos, nos quais receberam um dos

tratamentos, nortriptilina, fluoxetina, SB-612111, UFP-101 ou veículo. Nesta

fase, os animais em desamparo foram novamente submetidos a um dos

compartimentos da shuttle box e a porta que conecta os compartimentos

permaneceu aberta. No dia do teste, os animais foram submetidos a 30

sessões de choques (antecipados por uma luz) e os parâmetros mensurados

foram: latência de escape do compartimento onde recebeu o choque (medida

em segundos) e a frequência de falhas na fuga do compartimento onde o

choque foi acionado.O procedimento acima descrito encontra-se ilustrado na

figura 1. Estima-se de acordo com a literatura que cerca de 70 a 80 % dos

animais submetidos ao protocolo anteriormente descrito apresentem o

comportamento de desamparo aprendido (Pryce et al.,2011).

Page 36: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

36

Figura 1: Desenho experimental para indução do comportamento de desamparo em

camundongos.

A fim de avaliar se o efeito dos tratamentos farmacológicos está

afetando a motivação/locomoção e/ou cognição dos animais, em séries

experimentais distintas, camundongos foram submetidos às seguintes

situações. Primeiramente, animais naive foram submetidos à shuttle box, como

descrito anteriormente (dia 1, 2 e 3), porém estes não receberam choques

elétricos em nenhuma das sessões, e o tempo gasto para mudar de

compartimento, bem como o número de falhas na fuga foi registrado. No dia 3,

os animais receberam os tratamentos, como previsto anteriormente e o efeito

isolado do tratamento sobre o comportamento motivacional e locomotor do

animal foi investigado. (Figura 2).

Page 37: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

37

Figura 2: Desenho experimental para avaliação do componente motivacional e

locomotor do desamparo aprendido em camundongos.

Visando descartar um possível efeito cognitivo induzido pelo tratamento

farmacológico, os camundongos foram submetidos no dia 1 a uma sessão de

180 ciclos de choque controlável e escapável (uma vez que a porta da shuttle

box permaneceu aberta durante toda a sessão de treino). Neste caso, uma luz

se acendeu antes da apresentação do choque elétrico e, caso o animal mude

de compartimento após o choque, um outro choque foi aplicado somente após

20 s. No dia 3, os animais receberam o tratamento farmacológico, como

previsto anteriormente, e o tempo gasto para mudar de compartimento, bem

como o número de falhas na fuga foi registrado. Cabe lembrar que nesta série,

os animais receberam choque elétrico (todos os dias, mesmo número de ciclos

da série que visa induzir o comportamento de desamparo), porém a porta da

shuttle box, que conecta os dois compartimentos, permaneceu aberta durante

todos os dias do teste. Deste modo, foi possível verificar se o tratamento

farmacológico foi capaz de promover isoladamente algum efeito sobre o

componente cognitivo deste modelo. Portanto, estas duas últimas séries são de

Page 38: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

38

relevância para descartar um efeito do tratamento com drogas sobre as

componentes motivacionais e cognitivas do comportamento de desamparo. A

alteração de um destes componentes isoladamente (motivação/locomoção e

cognição) pode indicar um efeito falso positivo de uma dada droga em reverter

o comportamento de desamparo aprendido exibido pelos animais (Figura 3).

Figura 3: Desenho experimental para avaliação do componente cognitivo do modelo

do desamparo aprendido

.

3.5 Desenho experimental

3.5.1 Etapa 1: Padronização do modelo de desamparo aprendido

Esta fase do estudo tem por objetivo de estabelecer o protocolo

experimental, onde os animais desenvolvem a condição de desamparo

aprendido. Foi executado o teste do desamparo aprendido conforme proposto

acima. Uma vez encontrada a condição experimental onde os animais

desenvolvem a condição de desamparo, os mesmos serão divididos em três

Page 39: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

39

grupos, de acordo com os tratamentos a seguir: nortriptilina (30 mg/Kg; ip; 60

min), fluoxetina (30 mg/Kg; ip; 60 min) e salina (ip; 60 min).

Figura 4: Esquema representativo da Etapa 1- Avaliação do efeito da nortriptilina e

fluoxetina em camundongos submetidos ao teste do desamparo aprendido.

Page 40: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

40

Nesta etapa experimental, visando descartar possíveis vieses de

interpretação, o efeito do tratamento com nortriptilina ou fluoxetina foi avaliado

sobre os componentes motivacional e cognitivo apresentados pelos animais

submetidos ao DA. Para tanto, os efeitos do tratamento com nortriptilina e

fluoxetina (60 min antes do teste – dia 3) em animais naives submetidos a

shuttle box nos dias 1 a 3 (sem apresentação choques) foram avaliados.

Figura 5: Esquema representativo da Etapa 1 - Avaliação do efeito de nortriptilina e

fluoxetina, ambos a 30 mg/Kg, sobre o componente motivacional do desamparo

aprendido.

Page 41: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

41

Ainda, com o intuito de investigar o efeito do tratamento com nortriptilina

e fluoxetina no componente cognitivo do comportamento de desamparo, os

animais foram submetidos a sessões de choques controláveis e escapáveis

(dia 1 e 2) e, no dia 3, receberam o tratamento com nortriptilina ou fluoxetina,

60 min antes do teste. Os parâmetros avaliados foram: o tempo gasto para

mudar de compartimento e o número de falhas na fuga de um compartimento

para outro.

Page 42: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

42

Figura 6: Esquema representativo da Etapa 1- Avaliação do efeito de nortriptilina e

fluoxetina, 30 mg/Kg, sobre o componente cognitivo do desamparo aprendido.

3.5.2 Etapa 2: Efeito do antagonista não-peptídico do receptor NOP, SB-612111, em

animais submetidos ao teste do desamparo aprendido

Page 43: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

43

Após a fase de padronização, iniciou-se a avaliação do efeito do

antagonista não-peptídico SB-612111 (1 e 10 mg/Kg, ip, 30 min) nos animais

que desenvolveram a condição de desamparo aprendido.

Figura 7: Esquema representativo da Etapa 2 - Avaliação do efeito do SB-612111 em

animais submetidos ao teste do desamparo aprendido.

3.5.3 Etapa 3: Efeito do antagonista peptídico do receptor NOP, UFP-101, em animais

submetidos ao teste do desamparo aprendido

Os animais foram submetidos a uma cirurgia esteriotáxica para

implantação de uma cânula guia no ventrículo lateral e após um período de

recuperação de três dias foram submetidos à sessão de indução do

desamparo. Os animais que desenvolveram a condição de desamparo foram

divididos em três grupos, de acordo com os seguintes tratamentos: salina,

UFP-101 1 nmol e UFP-101 10 nmol, por via icv,5 min após a administração os

animais foram expostos à sessão de teste.

Page 44: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

44

Figura 8: Esquema representativo da Etapa 3 - Avaliação do efeito do UFP-101 em

animais submetidos ao teste do desamparo aprendido.

3.5.4 Etapa 4: Efeito dos antagonistas peptídicos do receptor NOP, SB-612111 e UFP-

101, no componente motivacional e cognitivo do comportamento de desamparo

aprendido

Visando descartar possíveis vieses de interpretação do comportamento

de desamparo aprendido, o efeito do tratamento com SB-612111 e UFP-101,

na dose efetiva identificada na etapa 2 e 3, foi avaliado sobre os componentes

motivacional e cognitivo apresentados pelos animais submetidos ao DA. Para

tanto, foram avaliados os efeitos do tratamento com SB-612111 e UFP-101,

ambos administrados em animais naives submetidos a shuttle box (sem

apresentação choques), conforme descrito previamente. No dia 3, os

parâmetros avaliados foram: o tempo gasto para mudar de compartimento e o

número de vezes que o animal não mudou de um compartimento para o outro

(ex.: número de falhas na fuga).

Page 45: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

45

Figura 9: Esquema representativo da Etapa 4- Avaliação do efeito de antagonistas do

receptor NOP sobre o componente motivacional do desamparo aprendido.

Ainda, com o intuito de investigar o efeito do tratamento com SB-612111

e UFP-101, na dose efetiva identificada na etapa 2 e 3, no componente

cognitivo do comportamento de desamparo, os animais foram submetidos a

sessões de choques controláveis e escapáveis (dia 1 e 2) e, no dia 3,

receberam o tratamento com os antagonistas NOP antes do teste. Os

seguintes parâmetros comportamentais foram avaliados: o tempo gasto para

mudar de compartimento e o número de vezes que o animal não mudou de um

compartimento para o outro (ex.: número de falhas na

Page 46: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

46

fuga).

Figura 10: Esquema representativo da Etapa 4 - Avaliação do efeito de antagonistas

do receptor NOP sobre o componente cognitivo do desamparo aprendido.

3.6 Análise histológica

Ao terminar todos os testes, os animais que foram submetidos à cirurgia

esteriotáxica para implantação da cânula guia no ventrículo lateral, sofreram

eutanásia com uma injeção intraperitoneal de tiopental sódico (overdose > 100

mg/Kg). Foi infundida uma solução de corante azul de metileno no ventrículo

lateral, a fim de determinar a localização da cânula. Os animais foram

transcardiacamente perfundidos com solução salina. A análise do

posicionamento da cânula foi feita a olho nu, de acordo com a presença do

corante nos ventrículos dos cérebros dos animais. Os animais que

apresentaram danos cerebrais visíveis e/ou cânula localizada fora do ventrículo

lateral foram desconsiderados da análise estatística.

Page 47: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

47

3.7 Análise estatística

Os dados foram apresentados como média ± erro padrão da média da

latência de escape, do número de ciclos falhos (que ocorre quando o animal

não mudou de compartimento após receptor um choque nas patas) e da

porcentagem de animais que entrou em desamparo em cada grupo testado. As

curvas de latência de escape dos animais no teste do desamparo aprendido,

obtidas a partir do registro do tempo que o animal leva a partir do disparo do

choque até o mesmo mudar de compartimento, ao longo dos 30 ciclos, foram

avaliadas estatisticamente a partir da determinação da área sob a curva (AUC)

e na sequência pelo teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov. Para a análise

estatística deste último parâmetro foi utilizada a análise de variância (ANOVA)

de um fator seguida pelo teste post-hoc de Newman-Keuls, para dados

paramétricos, ou Kruskal-Wallis seguida do teste de Dunn, para dados não-

paramétricos. O teste do X² será calculado em duas situações: 1- para avaliar a

porcentagem de animais que permaneceu impotente no paradigma do

desamparo aprendido após a administração dos seus respectivos tratamentos

(salina, nortriptilina, SB-612111 e UFP-101), 2- na avaliação do número de

falhas na fuga do compartimento onde o choque foi aplicado. O nível de

significância assumido será para valores de P≤0,05.

Page 48: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

48

4. RESULTADOS

4.1. Etapa 1: Padronização do modelo de desamparo aprendido

Objetivando a padronização do modelo do desamparo aprendido como

uma nova ferramenta para screening e estudo do mecanismo de ação de

novas drogas com potencial antidepressivo em nossas condições

experimentais, investigou-se o efeito do tratamento com nortriptilina, um

antidepressivo tricíclico, sobre os animais que desenvolveram o

comportamento de desamparo após serem expostos ao modelo. Os resultados

mostram que as nossas condições experimentais são eficientes em gerar nos

animais expostos ao modelo do desamparo aprendido um déficit no

comportamento de escape e o tratamento com o antidepressivo foi eficiente em

reestabelecer esta latência de escape.

Conforme ilustrado nas figuras 11 e 12 a administração de nortriptilina

(30 mg/Kg; ip; 60 min) reduz significativamente o déficit comportamental gerado

pelo modelo, em ambos os parâmetros, latência de escape (t= 10,60; df= 12 n=

5-9; P<0,05; teste t não pareado) e número de vezes que o animal escapou do

compartimento onde recebeu o choque (t= 15,03; df= 12 n= 5-9; P<0,05; teste t

não pareado).

Page 49: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

49

Figura 11: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre a

latência de escape do compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o

fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido.

*P<0,05 vs. salina (n= 5-9; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos

grupos deu-se através do Teste t não pareado).

Figura 12: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre o

número de vezes que o animal escapou do compartimento eletrificado, em animais

que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do

desamparo aprendido.*P<0,05 vs. salina (n= 5-9; Teste t não pareado).

A fim de evitar vieses de interpretação dos resultados acima relatados,

avaliamos o efeito da administração de nortriptilina sobre os componentes

motivacional e cognitivo do desamparo aprendido.

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25

30

Salina Nortriptina

*

Ciclos

Latê

ncia

de

Escap

e (

s)

Salina Nortriptilina

0

5

10

15

20

25

30

*

Escasp

es

Page 50: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

50

As figuras 13 e 14 ilustram o efeito da administração de nortriptilina (30

mg/Kg; ip; 60 min) sobre o componente motivacional e locomotor do

desamparo aprendido. Percebe-se que a referida administração não altera a

motivação do animal para realizar a translação de lado na caixa na ausência do

eletrochoque. Esse efeito é evidenciado em ambos os parâmetros analisados:

latência de escape (t= 1,820; df= 8 n= 3-7; P>0,05; Teste t não pareado) e

número de escapes (t= 1,411; df= 8 n= 3-7; P>0,05; Teste t não pareado).

Figura 13: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre a

latência para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de eletrochoque,

visando avaliar o componente motivacional e locomotor do desamparo aprendido (n=

3-7; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do

Teste t não pareado).

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25

30

35

Salina Nortriptilina

Ciclos

Latê

ncia

de

Escap

e (

s)

Page 51: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

51

Figura 14 Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre o

número de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro na

ausência de eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do

desamparo aprendido (n= 3-7; Teste t não pareado).

As figuras 15 e 16 ilustram o efeito da administração de nortriptilina (30

mg/Kg; ip; 60 min) sobre o componente cognitivo do desamparo aprendido. A

referida administração não altera a capacidade do animal em estabelecer a

associação entre exibir o comportamento necessário e assim receber a

recompensa, neste caso realizar a translação de lado para assim finalizar o

eletrochoque. O referido efeito é evidenciado em ambos os parâmetros

analisados: latência de escape (t= 1,108;df= 10 n= 6-6; P>0,05; Teste t não

pareado) e número de escapes (t= 0,642; df= 10 n= 6-6; P>0,05; Teste t não

pareado).

Salina Nortriptilina0

5

10

15

20

25

Escap

es

Page 52: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

52

Figura 15: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre a

latência de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do

eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 6-

6; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do

Teste t não pareado).

Figura 16: Efeito da administração de nortriptilina (30 mg/Kg), por via ip, sobre o

número de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do

eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 6-

6;Teste t não pareado).

Ainda na fase de padronização do modelo, foi testado o efeito da

administração de fluoxetina, um antidepressivo inibidor seletivo da recaptação

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25

30

Salina Nortiptrilina

Ciclos

Latê

ncia

de

Escap

e (

s)

Salina Nortiptrilina0

5

10

15

20

25

30

Escap

es

Page 53: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

53

de serotonina, em animais que desenvolveram o fenótipo desamparado após a

exposição ao DA. Conforme pode-se visualizar nas figuras 17 e 18, a

administração de fluoxetina (30 mg/Kg; ip; 60 min) não é capaz de

reestabelecer o déficit na latência de escape (t= 1,486; df= 9 n= 4-7; P>0,05;

teste t não pareado) e número de escapes (t= 1,395; df=9 n= 4-7; P<0,05; teste

t não pareado) gerados nos animais desamparados.

Page 54: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

54

Figura 17: Efeito da administração de fluoxetina (30 mg/Kg), por via ip, sobre a latência

de escape do compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo

do tipo desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido (n= 4-7;

Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do

Teste t não pareado).

Figura 18: Efeito da administração de Fluoxetina (30 mg/Kg), por via ip, sobre o

número de vezes que o animal escapou do compartimento eletrificado, em animais

que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após exposição ao modelo do

desamparo aprendido (n= 4-7; Teste t não pareado).

0

5

10

15

20

25

30

Salina Fluoxetina

Escap

es

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25

30

Salina Fluoxetina

Ciclos

Latê

ncia

de

Esc

ape

(s)

Page 55: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

55

4.2. Etapa 2: Efeito do antagonista não-peptídico do receptor NOP, SB-

612111, em animais submetidos ao teste do desamparo aprendido

Após a padronização do modelo em nossas condições experimentais,

iniciou-se o estudo do efeito de antagonistas do receptor NOP sobre o fenótipo

tipo depressivo (desamparado) gerado pelo modelo do desamparo aprendido.

Conforme ilustrado nas figuras 19 e 20, a administração do antagonista

não peptídico NOP, SB-612111 (10 mg/Kg, ip, 30 min) apresenta um efeito do

tipo antidepressivo, sendo capaz de reestabelecer significativamente a latência

para mudar de compartimento e o número de vezes que o animal escapa do

compartimento onde recebeu o choque. Porém, quando o SB-612111 foi

administrado em menor dose (1 mg/Kg, ip, 30 min), o efeito tipo antidepressivo

não foi observado, visto que não houve alteração entre os parâmetros: latência

de escape e números de escapes em comparação ao grupo controle (Latência

de escape: n= 4-5; *P<0,05; K= 9,231; Kruskall-Wallis seguido do teste de

Dunn's; Número de escapes: n= 4-5; *P<0,05; K= 9,181; Kruskall-Wallis

seguido do teste de Dunn's).

Page 56: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

56

Figura 19: Efeito da administração do antagonista não peptídico do receptor NOP, SB-

612111 (1 e 10 mg/Kg), por via ip, sobre a latência de escape do compartimento

eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após

exposição ao modelo do desamparo aprendido. *P<0,05 vs. salina (n= 5-9; Após

obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do Teste de

Kruskal-Wallis seguido do teste de Dunn's).

]

Figura 20: Efeito da administração de do antagonista não-peptídico do receptor NOP,

SB-612111 (1 e 10 mg/Kg), por via ip, sobre o número de vezes que o animal escapou

do compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo

desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido.*P<0,05 vs. salina

(n= 5-9; *P<0,05 vs. salina ; Teste de Kruskal-Wallis seguido do teste de Dunn's).

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25

30

SalinaSB-612111 (10 mg/Kg)

SB-612111 (1 mg/Kg)

*

Ciclos

Latê

ncia

de

Escap

e (

s)

0

5

10

15

20

25

30

Salina

*

SB-612111(10mg/Kg)

SB-612111(1 mg/Kg)

Escap

es

Page 57: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

57

As figuras 21 e 22 ilustram o efeito da administração de SB-612111 (10

mg/Kg; ip; 30 min) sobre o componente motivacional do desamparo aprendido.

Percebe-se que a referida administração não altera a motivação do animal para

realizar a translação de lado na caixa na ausência do eletrochoque. Esse efeito

é evidenciado em ambos os parâmetros analisados: latência de escape (t=

0,461; df= 8 n= 4-6; P>0,05; Teste t não pareado) e número de escapes (t=

0,788; df= 8; n= 4-6; P>0,05; Teste t não pareado).

Figura 21: Efeito da administração de SB SB-612111 (10 mg/Kg), por via ip, sobre a

latência para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de eletrochoque,

visando avaliar o componente motivacional e locomotor do desamparo aprendido (n=

4-6; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do

Teste t não pareado).

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25

30

Salina SB-612111

Ciclos

Latê

ncia

de

Escap

e (

s)

Page 58: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

58

Figura 22: Efeito da administração de SB-612111 (10 mg/Kg), por via ip, sobre o

número de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro na

ausência de eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do

desamparo aprendido (n= 4-6; Teste t não pareado)..

As figuras 23 e 24 ilustram o efeito da administração de SB-612111

(10mg/Kg; ip;30 min) sobre o componente cognitivo do desamparo aprendido.

A administração de SB-61211 não altera a capacidade do animal em

estabelecer a associação entre exibir o comportamento necessário e assim

receber a recompensa, neste caso realizar a translação de lado para assim

finalizar o eletrochoque. O referido efeito é evidenciado em ambos os

parâmetros analisados: latência de escape (t= 0,092; df=8 n= 4-6; P>0,05;

Teste t não pareado) e número de escapes (t= 0,101; df= 8 n= 4-6 P>0,05;

Teste t não pareado).

Salina SB-612111 0

5

10

15

20

25

30

Escap

es

Page 59: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

59

Figura 23: Efeito da administração de SB-61211 (10 mg/Kg), por via ip, sobre a

latência de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do

eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 4-

6; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do

Teste t não pareado)..

Figura 24 Efeito da administração de SB-61211 (10 mg/Kg), por via ip, sobre o número

de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do

eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 4-

6;Teste t não pareado).

4.3. Etapa 3: Efeito do antagonista peptídico do receptor NOP, UFP-101,

em animais submetidos ao teste do desamparo aprendido

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25

30

Salina SB-612111

Ciclos

Latê

ncia

de

Escap

e (

s)

Salina SB-612110

5

10

15

20

25

30

Escap

es

Page 60: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

60

Continuando o estudo do efeito dos antagonistas do receptor NOP no

modelo do desamparo aprendido, nesta etapa foi testado o efeito da

administração de um antagonista peptídico, UFP-101 (1 e 10 nmol; icv; 5 min),

em camundongos que desenvolveram o fenótipo desamparado após serem

expostos ao modelo do desamparo aprendido.

As figuras 25 e 26 ilustram que a maior dose de UFP-101 (10 nmol) é

capaz de reverter o déficit comportamental gerado pela exposição ao modelo

do desamparo aprendido, conforme demonstrado pelos parâmetros analisados:

latência para escapar do comportamento onde recebeu o choque e o número

de vezes que escapou do compartimento eletrificado. Por outro lado, a menor

dose de UFP-101 (1 nmol) não foi capaz de reverter o comportamento

desamparado, não apresentando nenhuma diferença estatística quando

comparado ao grupo controle (Latência de escape= n= 6-9; *P<0,05;

F(2,18)=149,8; ANOVA seguida do teste de Student-Neuman-Keuls; Número de

escapes= n= 6-9; *P<0,05; F=260,5; ANOVA seguido do teste de Student-

Neuman-Keuls).

Page 61: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

61

Figura 25: Efeito da administração do antagonista não peptídico do receptor NOP,

UFP-101 (1 e 10 nmol), por via icv, sobre a latência de escape do compartimento

eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo desamparado após

exposição ao modelo do desamparo aprendido. *P<0,05 vs. salina (n= 6-9; Após

obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do da

ANOVA seguida do teste de Student-Neuman-Keuls)

.

Figura 26: Efeito da administração de do antagonista não-peptídico do receptor NOP,

UFP (1 e 10 nmol), por via icv, sobre o número de vezes que o animal escapou do

compartimento eletrificado, em animais que desenvolveram o fenótipo do tipo

desamparado após exposição ao modelo do desamparo aprendido.*P<0,05 vs. salina

(n= 6-9; *P<0,05 vs. salina ; ANOVA seguida do teste de Student-Neuman-Keuls).

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25

30

Salina UFP- 10 nmol

*

UFP- 1 nmol

Ciclos

Latê

ncia

de

Escap

e (

s)

Salina UFP- 1 nmol UFP- 10 nmol0

5

10

15

20

25

30

*

Escap

es

Page 62: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

62

Objetivando evitar equívocos na interpretação dos resultados acima

relatados, foi avaliado o efeito da administração de UFP-101 sobre os

componentes motivacional e cognitivo do desamparo aprendido.

As figuras 26 e 27 ilustram o efeito da administração de UFP-101 (10

nmol; icv; 5 min) sobre o componente motivacional do desamparo aprendido.

Percebe-se que a referida administração não altera a motivação/locomoção do

animal para realizar a translação de lado na caixa na ausência do

eletrochoque. Esse efeito é evidenciado em ambos os parâmetros analisados:

latência de escape (t= 1,396; df= 8 n= 4-6; P>0,05; Teste t não pareado) e

número de escapes (t= 1,265; df=8 n= 4-6; P>0,05; Teste t não pareado).

Figura 27: Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv, sobre a latência

para escapar de um compartimento da caixa, na ausência de eletrochoque, visando

avaliar o componente motivacional e locomotor do desamparo aprendido (n= 4-6; Após

obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do Teste t não

pareado).

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25

30

Salina UFP-101

Ciclos

Lat

ênci

a d

e E

scap

e (s

)

Page 63: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

63

Figura 28: Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv,sobre o número

de vezes que o animal escapou de um compartimento para o outro na ausência de

eletrochoque, visando avaliar o componente motivacional e locomotor do desamparo

aprendido (n= 4-6; Teste t não pareado).

Ainda objetivando eliminar vieses de interpretação sobre o efeito do tipo

antidepressivo do UFP-101 (10nmol, icv, 5 min), foi testado o efeito desta

referida administração sobre o componente cognitivo do desamparo aprendido.

A administração de UFP-101 não altera a capacidade do animal em

estabelecer a associação entre exibir o comportamento necessário e assim

receber a recompensa, neste caso realizar a translação de lado para assim

finalizar o eletrochoque. As figuras 29 e 30 ilustram o efeito da administração

de UFP-101 (10nmol; icv; 5 min) sobre o componente cognitivo do desamparo

aprendido. O referido efeito é evidenciado em ambos os parâmetros

analisados: latência de escape (t= 1,890; df=9 n= 5-6; P>0,05; Teste t não

Salina UFP-1010

5

10

15

20

25

30E

scap

es

Page 64: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

64

pareado) e número de escapes ( t= 0,590 ; df= 9 n= 5-6 P>0,05; Teste t não

pareado).

Figura 29: Efeito da administração de UFP-101(10 nmol), por via icv, sobre a latência

de escape de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do

eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 5-

6; Após obtenção da área sob a curva a comparação dos grupos deu-se através do

Teste t não pareado).

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25

30

Salina UFP-101

Ciclos

Lat

ênci

a d

e E

scap

e (s

)

Page 65: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

65

Figura 30 Efeito da administração de UFP-101 (10 nmol), por via icv, sobre o número

de escapes de animais submetidos à caixa com a possibilidade de escape do

eletrochoque, visando avaliar o componente cognitivo do desamparo aprendido (n= 5-

6;Teste t não pareado).

Salina UFP-1010

5

10

15

20

25

30

Escap

es

Page 66: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

66

5. Discussão

O presente estudo teve como objetivo padronizar o modelo do

desamparo aprendido em nossas condições experimentais, como uma

ferramenta de screening de drogas com potencial antidepressivo. Os

resultados aqui apresentados mostram que o protocolo escolhido é capaz de

induzir o fenótipo desamparado, tendo uma média eficiente em 80% dos

animais (dado não mostrado), o que está de acordo com a literatura (Seligman,

1972). Ainda, a administração de nortriptilina mostrou-se capaz de reverter o

estado do tipo depressivo em que os animais se encontram após a exposição

ao modelo, enquanto que a administração de fluoxetina não promoveu

nenhuma alteração significativa em nenhum dos parâmetros analisados.

O desamparo aprendido é um modelo animal baseado na observação,

que após exposição à eletrochoques incontroláveis, imprevisíveis e

inescapáveis os animais desenvolvem déficits no comportamento de escape do

compartimento onde recebeu o choque e este prejuízo é revertido com uso de

fármacos antidepressivos (Weiss e Kilts, 1998; Maier e Seligman, 1976).

Porém, além do déficit na fuga do compartimento eletrificado, os animais

apresentam outras alterações comportamentais muito similares aos sintomas

relatados por pacientes diagnosticados com depressão maior, como por

exemplo: um aumento das emoções negativas, inferidas a partir de alterações

no repertório comportamental e no estado físico dos animais, tanto no

momento do teste como na gaiola, modificações nos padrões de sono REM

(Adrien et al., 1991), redução do peso corporal, alterações no comportamento

Page 67: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

67

sexual (Dess et al., 1988) e níveis elevados de fator de liberação de

corticotrofina (CRF) e corticosterona (Greenberg et al., 1989). Em conjunto, tais

alterações comportamentais observadas em animais desamparados reforçam

as validades de face e de construto apresentadas pelo modelo do DA.

Neste estudo foi demonstrado que a administração de nortriptilina (30

mg/Kg, ip, 60 min), um antidepressivo tricíclico amplamente utilizado na clínica,

foi capaz de reverter o déficit gerado pelo modelo em ambos os parâmetros

analisados, latência de escape e frequência de escape do compartimento onde

recebeu o choque, isso sem promover nenhuma alteração nos componentes

motivacional/locomotor e cognitivo, dados estes em concordância com a

literatura. De fato, em 1981, Telner e colaboradores descreveram pela primeira

vez a nortriptilina como sendo capaz de reverter o déficit comportamental

gerado pelo DA. Chourbaji e colaboradores (2005), utilizando a imipramina,

outro antidepressivo tricíclico, observaram que esse composto agudamente

administrado foi capaz de reverter o déficit na latência de escape do

compartimento eletrificado em camundongos, em ambas as doses testadas

(ex.: 10 e 30 mg/kg).

Ao contrário do que foi observado com a administração de nortriptilina, a

fluoxetina não foi capaz de reverter o prejuízo gerado pela exposição ao

modelo do DA em nenhum dos parâmetros analisados (ex.: latência de

escapes e números de escapes do compartimento onde recebeu o choque).

Em concordância com os achados acima citados, Zazpe e colaboradores

(2007) evidenciaram que a administração aguda de fluoxetina (30 mg/kg) é

incapaz de atenuar o déficit comportamental gerado pela exposição ao DA.

Page 68: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

68

Porém, ao se estabelecer um tratamento repetido, por três dias consecutivos,

tanto a fluoxetina (15 e 30 mg/Kg), como a paroxetina (15 e 30 mg/Kg) e

sertralina (15 e 30 mg/Kg) revertem significativamente o comportamento

desamparado gerado pela exposição ao modelo DA (Zazpe et al., 2007).

Valentine et al. (2008) também evidenciou a necessidade de um tratamento

repetido para o aparecimento do efeito do tipo antidepressivo da fluoxetina,

neste caso, foram necessários pelo menos seis dias de administração para

promover uma melhora sobre os déficits comportamentais gerados pelo DA.

Dados da literatura sugerem uma modulação, principalmente

noradrenérgica, por trás das mudanças comportamentais evocadas pelo

eletrochoque inescapável no DA. De fato, eletro-choques na pata, caso seja

suficientemente forte, reduz significativamente os níveis de NA no tronco

cerebral de ratos (Maynert e Levi, 1964). Weiss e seus colaboradores (1975)

mostraram que uma única exposição a um evento estressor, eletrochoque

inescapável, cria um déficit na latência de escape na shutle box. Além disso,

uma única sessão de exposição a eletrochoque inescapável promove uma

redução nos níveis de noradrenalina no hipotálamo e córtex dos animais

estressados em comparação ao grupo controle (Weiss et al., 1975; Zigmond e

Harvey, 1970; Bliss e Zwanziger, 1966; Thierry et al., 1968). Estudo utilizando a

técnica de microdiálise in vivo, mediu a liberação de NA no hipocampo, antes e

depois da exposição a eletro-choques inescapáveis na calda e antes da

realização da sessão teste para o desamparo aprendido, em ratos. Os

resultados deste estudo mostraram que os animais com perfil resilientes, que

não desenvolveram o fenótipo desamparado, apresentam níveis basais de

Page 69: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

69

liberação de NA mais elevados do que os animais que desenvolveram o

fenótipo desamparado (Petty et al., 1993). Esses achados mostram que os

eletrochoques geram alterações neuroquímicas na transmissão noradrenérgica

no sistema nervoso central após a exposição ao modelo do DA. Sendo assim

essa modulação, principalmente noradrenérgica poderia explicar a ausência de

efeito da administração aguda de fluoxetina, visto que esse antidepressivo inibe

seletivamente a recaptação de serotonina, não promovendo alterações na

transmissão noradrenérgica.

A literatura vigente já mostra algumas evidências que justificam a

necessidade de um tratamento prolongado para o surgimento do efeito do tipo

antidepressivo evocado pela administração de fluoexetina. De fato, durante a

tarefa no DA o animal pode expressar diferentes estratégias operantes, por

exemplo: o freezing ou correr, sendo estas estratégias aparentemente

moduladas por neurotramissores diferentes. Santos et al. (2006) mostrou que o

tratamento subcrônico com fluoxetina, mas não com desipramina, diminuem a

resposta de freezing e aumenta a de sobressalto, e o tratamento agudo, com

ambos os fármacos, não promoveu nenhuma alteração em nenhum dos

comportamentos (Santos et al., 2006 ; Joca et al., 2006). Além dessa

informação devemos levar em consideração o papel modulatório da 5-HT na

neurotramissão noradrenérgica, visto que o uso prolongando dos ISRS

promove adaptações tardias, dentre elas o aumento da liberação de NA por

reduzir os efeitos inibitórios dos receptores 5-HT2A, localizados em neurônios

noradrenérgicos (Azmitia e Whitaker-Azmitia, 1995; Hyman e Nestler, 1996).

Sendo assim, o tratamento repetido com fluoxetina, por diminuir o freezing

Page 70: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

70

aumentaria as chances de o animal desenvolver uma estratégica de escape

eficiente, o que promoveria o restabelecimento do comportamento de escape e

assim evidenciaria um efeito do tipo antidepressivo.

O presente trabalho também visou avaliar o efeito da administração de

antagonistas do receptor NOP de diferentes naturezas, exemplo, peptídica e

não-peptídica, em animais que desenvolveram a condição desamparada após

a exposição ao modelo do desamparo aprendido. Observou-se que a

administração de UFP-101 (10 nmol; icv) foi capaz de reverter o prejuízo criado

após a exposição ao modelo do desamparo aprendido nos parâmetros

analisados, exemplo: latência de escape e números de escapes do

compartimento onde recebeu o choque; sem, no entanto, promover nenhuma

alteração significativa nos componentes motivacional/locomotor e cognitivo do

teste, sugerindo que o efeito observado pelo antagonista NOP no DA é genuíno

e se refere seletivamente a reversão do componente desamparado.

Há mais de uma década, o UFP-101 foi proposto como um potente

antagonista competitivo e seletivo para o receptor NOP (Calo, et al., 2002).

Gavioli e seus colaboradores (2003 e 2004) apresentaram as primeiras

evidências de um efeito do tipo antidepressivo , evocado pela administração de

UFP-101, em testes de desespero comportamental (FST e TST), tanto em

camundongos como em ratos. Em ambos os teste, o UFP-101 reduziu o tempo

de imobilidade dos animais, em um efeito dose dependente, apresentando

diferença estatística somente na maior dose (1-10 nmol; icv). Esse efeito é

dependente da interação com o receptor NOP, visto que a co-administração de

UFP-101 e N/OFQ bloqueia o referido efeito do tipo antidepressivo. Nesses

Page 71: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

71

mesmos trabalhos, os pesquisadores mostraram que os camundongos

knockout para o gene do receptor NOP apresentam um fenótipo do tipo

antidepressivo, com uma redução no tempo de imobilidade em ambos os

testes, quando comparados aos camundongos selvagens, e o antagonista

peptídico do receptor NOP só evoca o efeito do tipo antidepressivo nos

animais selvagens ( Gavioli et al., 2003 e 2004). Vitale e seus colaboradores

(2009) mostraram que a administração crônica de UFP-101 é capaz de

restaurar a preferência pela ingestão de sacarose em ratos após o estresse

crônico leve imprevisível (ECLI). O referido trabalho mostra que após cinco

semanas de exposição ao ECLI surge uma diferença estatística entre a

ingestão de sacarose dos ratos em comparação ao seu próprio baseline. A

parti da oitava semana de exposição ao ECLI iniciou-se as administrações

diárias de UFP-101 (5, 10 e 20 nmol; icv) por um período de 21 dias. Essas

administrações mostraram-se capaz de reestabelecer a preferência pela

ingestão de sacarose dos animais dose-dependente, quanto maior a dose mais

rápido se reestabelece a preferência pela solução adocicada. Quando ocorreu

a co-administração de UFP-101 e N/OFQ esse efeito foi bloqueado e não

existe diferença entre os grupos estudados. Sendo assim, nossos achados

corroboram com os dados encontrados na literatura, em que a administração

de UFP-101 promove uma ação do tipo antidepressiva dose-dependente.

Neste trabalho, o outro antagonista do receptor NOP em questão, o SB-

612111, este de natureza não-peptídico, também mostrou um efeito do tipo

antidepressivo em camundongos que desenvolveram o fenótipo desamparado

após a exposição ao modelo do desamparo aprendido. A administração de SB-

Page 72: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

72

612111 (10 mg/Kg; ip) foi capaz de reestabelecer o déficit comportamental

gerado pelo DA e esta administração não promoveu nenhuma alteração dos

componentes motivacional e cognitivo do modelo, eliminando assim qualquer

viés de interpretação sobre o efeito do tipo antidepressivo evocado pela

administração de SB-612111. Estes achados dão suporte adicional para o

potencial antidepressivo de antagonistas do receptor NOP, visto que o modelo

do desamparo aprendido proporciona uma situação comportamental mais

semelhante ao transtorno depressivo.

Assim como o UFP-101, o antagonista não peptídico SB-612111 foi

descrito como um antagonista seletivo e competitivo para o receptor NOP

(Zaratin et al., 2004). Rizzi et al. (2007) realizaram a caracterização

farmacológica do SB-612111 em testes in vivo. Neste estudo, os autores

mostraram que a administração de SB-612111 (1-10 mg/Kg; ip) reduz o tempo

de imobilidade dos camundongos expostos ao teste da natação forçada, em

um efeito dose-dependente, atingindo diferença estatística na dose maior.

Ainda, em animais pré-tratados com SB-612111 e tratados com N/OFQ por via

icv, observou-se que na dose de 1 nmol, a N/OFQ revertia a redução do tempo

de imobilidade evocada pela administração de SB-612111, sugerindo que esse

efeito é dependente da interação com o receptor NOP (Rizzi et al., 2007).

Usando camundongos knockout para o gene do receptor NOP, mostrou-se que

o antagonista não peptídico NOP só manifesta seu efeito do tipo antidepressivo

em animais selvagens, mas não nos camundongos knockout (Rizzi et al, 2007).

Neste mesmo trabalho, os pesquisadores também realizaram testes avaliando

o perfil de ação do SB-612111 sobre o teste da suspensão pela cauda. Os

Page 73: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

73

resultados obtidos seguiram a mesma linha dos achados com a natação

forçada, com o SB-612111 reduzindo o tempo de imobilidade dos

camundongos no teste; a co-administração com N/OFQ bloqueia esse efeito e

o antagonista só apresenta seu efeito do tipo antidepressivo nos animais

selvagens. Em conjunto, nossos achados vem somar fatos que evidenciam o

antagonista peptídico, UFP-101, e o não-peptídico, SB-612111, do receptor

NOP como promissores agentes antidepressivos, visto que este referido efeito

foi observado ao ser testado em um modelo animal com ampla validade de

face e de construto, como é o caso do desamparo aprendido.

A literatura já descreve e sugere alguns mecanismos pelo qual, os

antagonistas do receptor NOP produzem o efeito do tipo antidepressivo (Gavioli

e Calo’, 2013). Como a maioria dos antidepressivos em uso na clínica, diversas

evidências sugerem que os antagonistas do receptor NOP apresentam como

mecanismo final de ação elevação nos níveis de monoaminas na fenda

sináptica. De fato, a ativação do receptor NOP evoca sinalização inibitória

sobre a transmissão nervosa reduzindo a liberação de diversos

neurotransmissores (Schlicker & Morari, 2000) e/ou diminuindo o disparo

neuronal (Heinricher, 2003). Comparado ao receptor NOP, a RNAm da N/OFQ

está expresso em áreas bem restritas do sistema nervoso central. As áreas

límbicas com expressão elevada de N/OFQ destacam-se: núcleo do leito da

estria terminal, área pré-óptica medial, septo lateral e núcleos da amígdala

(Boom et al, 1999; Neal et al, 1999b). Já o receptor NOP apresenta ampla

expressão encefálica, incluindo as áreas corticais, regiões olfativas, tálamo, e

uma variedade de estruturas límbicas, tais como hipocampo, septo, núcleo do

Page 74: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

74

leito da estria terminal, banda diagonal de Broca, habênula, complexo

amigdalóide e em muitos núcleos do hipotálamo, que estão envolvidos no

processamento de estímulos emocionais, mostrando que esse sistema se

apresenta com grande capacidade de modular diferentes fisiopatologias, como

ansiedade e depressão (Neal et al., 1999a; Mollereau e Mouledous, 2000).

Muitos achados sugerem o envolvimento da neurotransmissão

serotoninérgica sobre o efeito do tipo antidepressivo evocado pela

administração de antagonistas do receptor NOP. Le Maître e seus

colaboradores (2005) demonstraram a expressão de receptores NOP em

neurônios serotoninérgicos no núcleo dorsal da rafe. Além disso, a

administração crônica de paroxetina, um antidepressivo inibidor seletivo da

recaptação de serotonina (ISRS), aumenta os sítios de ligação a N/OFQ em

neurônios do núcleo dorsal da rafe (Vilpoux et al., 2002). Além disso, estudos

mostraram que a infusão de N/OFQ diminui a liberação de 5-HT em

sinaptossomas cerebrocorticais e que a administração de UFP-101 é capaz de

reverter esta inibição (Mela, et al., 2004), Fantin e seus colaboradores (2007)

evidenciaram que a infusão de N/OFQ reduz a liberação de 5-HT em

sinaptossomos no neocórtex e esse efeito é bloqueado por diversos

antagonistas do receptor NOP, de diferentes natureza (peptídico e não

peptídico). Fazendo uso de técnicas de eletrofisiologia, Nazzaro e

colaboradores (2010) mostraram, tanto in vivo como in vitro que a infusão de

N/OFQ no núcleo dorsal da rafe diminui a taxa de disparo dos neurônios

serotoninérgicos do núcleo dorsal da rafe e essa inibição é revertida pela

administração de UFP-101. Vitale e colaboradores (2009) mostraram que a

Page 75: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

75

exposição ao ECLI gera um desequilíbrio da atividade serotoninérgica,

diminuindo os níveis desse transmissor no córtex pré-frontal e a administração

crônica de UFP-101 também mostrou-se capaz de reestabelecer esses

parâmetros. Ainda, a depleção in vivo de 5-HT previne o efeito do tipo

antidepressivo do UFP-101 em animais expostos à natação forçada (Gavioli, et

al., 2004).

Tao e seus colaboradores (2007) utilizando a técnica de microdiálise,

evidenciaram que a infusão de N/OFQ no núcleo dorsal da rafe (NDR),

promove uma redução dose-dependente nos níveis de 5-HT extracelular no

NDR, apresentando redução máxima de ~40% na maior dose (1000 µM).

Resultado similar foi encontrado após a infusão de N/OFQ no núcleo accubens

(NCaa), onde também foi relatado uma redução dose-dependente nos níveis

de 5-HT extracelular, após a infusão do peptídeo (Tao et al., 2007). Além disso,

os pesquisadores mostraram que essa redução é dependente da ativação do

receptor NOP, pois ao promover a infusão de um antagonista NOP, este per se

promove um aumento de 5-HT no NDR e atenua significativamente a ação da

N/OFQ quando promove-se o pré-tratamento com o referido antagonista e

posterior infusão de N/OFQ. Sendo assim, esses achados sugerem que o

efeito do tipo antidepressivo evocado pelos antagonistas NOP pode ser

mediado por uma potencialização da transmissão serotoninérgica.

Porém existe evidências que mostram uma ampla modulação do sistema

N/OFQ - receptor NOP sobre o sistema noradrenérgico. Estudos mostram que

tanto a N/OFQ como o receptor NOP estão expressos no locus coeruleos (Neal

et al., 1999a; Florin et al., 2000). Estudos utilizando métodos de eletrofisiologia

Page 76: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

76

em tecido ex-vivo mostraram que a N/OFQ reduziu o disparo no locus

coeruleus (Connor et al., 1996) sendo este efeito prevenido pela ação do UFP-

101 (Gavioli et al., 2004). Evidências adicionais mostram que a infusão de

N/OFQ no núcleo basolateral da amígdala, promove uma pequena, porém,

significativa redução nos níveis de noradrenalina extracelular e a infusão do

antagonista J-113397 promove um aumento na liberação de noradrenalina

extracelular em cerca de 200% dos níveis basais do grupo controle (Kawahara

et al.,2004). Pesquisas in vitro, mostram que a infusão de N/OFQ exerce

influência inibitória sobre a liberação de noradrenalina no córtex cerebral, tanto

de roedores como de humanos (Okawa et al., 2001; Rominger et al., 2002;

Siniscalchi et al., 2002). Da mesma forma, Yoshitake e colaboradores (2013)

mostraram que a infusão de N/OFQ no córtex medial frontal, reduz os níveis de

noradrenalina e AMPc no córtex pré-frontal de ratos. Além disso, estudo

utilizando microdiálise revelou que a ativação do receptor NOP no locus

coeruleos, reduz a liberação de noradrenalina no córtex pré-frontal (Okawa et

al., 2001). Sendo assim, pode-se sugerir que o bloqueio do receptor NOP

também culminaria em elevações dos níveis de noradrenalina, o que poderia

contribuir, baseado nas evidências já descritas anteriormente, pela reversão do

déficit na latência de escape gerado pelo DA.

Dessa forma, pode-se sugerir que a N/OFQ exerce efeitos inibitórios

sobre a transmissão monoaminérgicas (Figura 31).

Page 77: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

77

Figura 31- Interações neuroanatômicas entre os receptores NOP e neurônios

monoaminérgicos. Neurônios serotoninérgicos, noradrenérgicos e dopaminérgicos

localizados no tronco cerebral enviando projeções para todo o cérebro. Os receptores

NOP estão localizados no corpo celular dos neurônios monoaminérgicos no tronco

cerebral como também nos terminais nervosos em áreas límbico e córtex cerebral

Todas essas áreas cerebrais são descritas como participantes do processamento de

estímulos emocionais e humor. Resumindo, ativação de receptores NOP no locus

coeruleus (LC), núcleo do trato solitário (NTS), núcleo dorsal da rafe (NDR) e área

tegmental ventral (ATV) inibe diretamente os neurônios monoaminérgicos. Além disso,

a ativação de receptores NOP pré-sinápticos inibem a liberação de

neurotransmissores nas seguintes áreas: córtex pré-frontal (CPF), a amígdala (Ami),

Nucleus accumbens (NAc), e no hipocampo (Hip). (Adaptado de Gavioli e Calo', 2013)

Existe evidências demonstrando uma íntima relação entre o

desenvolvimento do fenótipo desamparado e os níveis de BDNF. De fato,

relatos na literatura já mostram que os níveis de BDNF no córtex pré-frontal

medial (MPFC), CA3 e giro denteado (DG) foi significativamente menor no

grupo que desenvolveu o fenótipo desamparado do que nos grupos controle e

Page 78: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

78

resilientes (animais expostos ao modelo do DA que não desenvolveram o

fenótipo desamparado) (Yang et al., 2015; Bland et al., 2006). Além disso, já

existe trabalhos na literatura mostrando um papel modulatório do sistema da

N/OFQ - NOP sobre a expressão de BDNF em várias áreas encefálicas.

Apesar dos dados iniciais relatados por Vitale e colaboradores (2009)

mostrarem que a exposição ao estresse crônico leve e a administração

repetida de UFP-101 não foram capaz de afetar significativamente a expressão

de mRNA para BDNF e os níveis de BDNF no hipocampo Porém, Filaferro et

al. (2011) mostrou que a exposição ao estresse crônico leve induz uma

redução na neurogênese hipocampal, processo este relacionado com a

expressão de BDNF e a administração contínua de UFP-101 num período de

24 dias reestabelece os níveis de neurogênese nessa região. Alder e seus

colaboradores (2013) baseados em evidências genéticas, mostraram que

camundongos N/OFQ (- / -) apresentam amplos dendritos e espinhas

dendríticas, evidenciando um efeito inibitório da N/OFQ sobre a morfogênese

dendrítica, usando testes in vitro, os pesquisadores mostraram que a N/OFQ é

capaz de atenuar os efeitos do BDNF sobre a morfogênese dendrítica de

forma independente sobre os dendritos (Alder et al., 2013). Esses achados

sugerem que o efeito do tipo antidepressivo, evocado pela administração dos

antagonistas NOP, podem estar relacionados com uma modulação nos níveis

de BDNF. Porém, são necessários mais estudos para um melhor detalhamento

dessa possível relação.

Achados na literatura evidenciam uma estreita relação entre o sistema

N/OFQ - receptor NOP e CRF, em resposta a situações estressoras. De fato, a

administração icv de N/OFQ aumenta a expressão do RNAm do CRF no núcleo

paraventricular do hipotálamo e do RNAm do POMC na hipófise e essas

alterações são bloqueadas pela coadministração de N/OFQ e UFP-101

(Leggett et al., 2006). O estresse agudo de contenção reduz o teor de N/OFQ

no prosencéfalo basal, porém nenhuma alteração nos níveis de N/OFQ foi

encontrada após a exposição ao estresse crônico multivariado, sugerindo um

Page 79: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

79

restabelecimento dos níveis de N/OFQ após o estresse agudo (Devine, et al.,

2003). Ainda utilizando o estresse agudo de contenção Nativio et al. (2012),

mostrou que os ratos expostos a esse teste apresentam uma elevação na

expressão de N/OFQ no hipocampo, no núcleo paraventricular, nas áreas CA1

e CA3 e no giro denteado. Nazzaro e colaboradores (2010) mostraram,

utilizando testes in vitro e in vivo, que após o estresse induzido pela natação

forçada, ocorre um aumento da inibição gerado pela N/OFQ sobre os neurônios

serotoninérgicos do NDR e notadamente esse aumento na inibição é

bloqueado após a coadministração com um antagonista do receptor CRF1,

sugerindo um possível efeito sinérgico entre N/OFQ e CRF após um evento

estressor (Nazzaro, et al., 2010). Baseado em tudo que foi descrito acima,

pode-se hipotetizar que o sistema N/OFQ-NOP exerce uma função modulatória

sobre a resposta ao estresse. Sugere-se que quando ocorre ativação em

excesso do receptor NOP surge no indivíduo um fenótipo do tipo depressivo e

o bloqueio da ativação endógena do receptor NOP, realizada pelos

antagonistas NOP contrabalancearia este efeito inibitório e capacitaria o

organismo a buscar alternativas e se manter resistente a esses eventos, o que

propiciaria o efeito do tipo antidepressivo.

Page 80: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

80

6. CONCLUSÃO

Em conclusão, o protocolo experimental proposto para as nossas

condições experimentais, com um único dia de exposição, com 180 ciclos de

eletrochoques incontroláveis, imprevisíveis e inescapáveis e dois dias seguidos

com possibilidade de escape é eficaz em gerar um déficit comportamental em

cerca de 80% dos animais testados, visualizado através do aumento do tempo

de escape do compartimento onde recebeu o choque e do número de escapes

deste compartimento.

A administração do antidepressivo tricíclico, nortriptilina foi capaz de

reverter o déficit gerado após exposição do DA, em ambos os parâmetros

(latência de escape e número de escapes) sem promover nenhuma alteração

estatisticamente significativa, quando se compara ao grupo controle, sobre os

componentes motivacional/locomotor e cognitivo do modelo. Já a

administração aguda de fluoxetina, inibidor seletivo da recaptação de

serotonina, não foi capaz de reestabelecer os parâmentros mencionados, não

evidenciando efeito sobre o fenótipo desamparado.

A admistração do antagonista peptídico do receptor NOP, UFP-101, por

via icv, apresentou um efeito do tipo antidepressivo, sendo efetivo em

reestabelecer a latência de escape e o número de escapes do compartimento

eletrificado somente na maior dose (10 nmol). Enquanto que, nenhuma

alteração nos componentes motivacional e cognitivo do teste foram observadas

nesta dose de UFP-101.

Page 81: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

81

A administração do antagonista não-peptídico do receptor NOP, SB-

61211, por via ip, assim como o UFP-101, apresentou efeito do tipo

antidepressivo, sendo capaz de reestabelecer a latência de escape e o número

de escapes somente na maior dose (10 mg/Kg), sem promover nenhuma

alteração sobre os componentes motivacional e cognitivo do teste, ao se

comparar com o grupo controle.

Em conjunto, pode-se afirmar que tanto o UFP-101 como o SB-61211

induz efeito do tipo antidepressivo em camundongos submetidos ao modelo do

desamparo aprendido.

Page 82: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

82

7. REFERÊNCIAS

Accortt, E. E., Freeman, M. P., Allen, J. J. B. (2008) Women and Major

Depressive Disorder: Clinical Perspectives on Causal Pathways. Journal Of

Womens Health.; 17(10): 1583-1590;

Adrien, J., Dugovic, C., Martin, P. (1991) Sleep-wakefulness patterns in the

helpless rat. Physiol Behav, 49: 257-262;

Alder J., Kallman S., Palmieri A., Khadim F., Ayer J.J., Kumar S., Tsung K.,

Grinberg I., Thakker-Varia S. (2013) Neuropeptide orphanin FQ inhibits

dendritic morphogenesis through activation of RhoA. Dev Neurobiol.

73(10):769-84;

Anton, B., Leff, P., Meissler, J. J., Calva, J.C., Acevedo, R., Salazar, A., Matus,

M., Flores, A., Martinez, M., Adler, M. W., Gaughan, J. P., Eisenstein, T. K.

(2010) Nociceptin/orphanin FQ suppresses adaptive immune responses in vivo

and at picomolar levels in vitro. J Neuroimmune Pharmacol. 5(1): 143-154;

Azmitia, E. e Whitaker-Azmitia, P. 1995 Anatomy, ceel biology, and plasticity of

the seronergic system. Psysychopharmacology. 443-449;

Barge-Schaapveld, D., Nicolson, N., Berkhof, J., deVries, M. (1999) Quality of

Life in Depression: daily life determinants and variability. Psychiatry. 88: 173-

189;

Berton, O., Nestler, E. J. (2006) New approaches to antidepressant drug

discovery: beyond monoamines.Nat Rev Neurosci. 7(2), 137–151;

Bland, S., Schmid, M., Der-Avakian, A., Watkins, L., Spencer, R., Maier, S.

(2006) Expression of c-fos and BDNF mRNA in subregions of the prefrontal

cortex of male and female rats after acute uncontrollable stress. Brain Research

105: 90 – 99;

Page 83: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

83

Bliss,E., Zwanziger, J. (1966) Brain amines and emotional stress. JPsychiat

Res 4L:189-198;

Boom, A., Mollereau, C., Meunier, J. C., Vassart, G., Parmentier, M.,

Vanderhaeghen, J. J. (1999) Distribution of the nociceptin and nocistatin

precursor transcript in the mouse central nervous system. Neuroscience 91(3),

991–1007;

Borsini, F., Meli, A. (1988) Is the forced swimming test a suitable model for

revealing antidepressant activity? Psychopharmacology (Berl.)94, 147–160;

Bruchas M., Schindler A., Shankar H., Messinger D., Miyatake M., Land B.,

Lemos J., Hagan C., Neumaier J., Quintana A., Palmiter R., Chavkin C. (2011)

Selective p38α MAPK deletion in serotonergic neurons produces stress

resilience in models of depression and addiction. Neuron.11;71(3):498-511;

Calo', G., Guerrini, R., Bigoni, R., Rizzi, A., Marzola, G., Okawa, H. (2000)

Characterization of [Nphe(1)]nociceptin(1-13)NH(2), a new selective nociceptin

receptor antagonist. Br J Pharmacol 129, 1183–1193;

Calo', G., Rizzi, A., Rizzi, D., Bigoni, R., Guerrini, R., Marzola, G. (2002)

[Nphe1,Arg14,Lys15]nociceptin-NH2, a novel potent and selective antagonist of

the nociceptin/orphanin FQ receptor. Br J Pharmacol 136, 303–311;

Catena-Dell'Osso, M., Marazziti, D., Rotella, F., Bellantuono, C. (2012)

Emerging targets for the pharmacological treatment of depression: focus on

melatonergic system. Curr Med Chem. 19(3):428-37;

Chourbaji S., Zacher C., Sanchis-Segura C., Dormann C., Vollmayr B., Gass P.

(2005) Learned helplessness: Validity and reliability of depressive-like states in

mice. Brain Research Prot 16: 70 – 78;

Connor, M., Vaughan, C. W., Chieng, B., Christie, M. J. (1996) Nociceptin

receptor coupling to a potassium conductance in rat locus coeruleus neurones

in vitro. Br J Pharmacol 119, 1614–1618;

Cox, B. M., Chavkin, C., Christie, M. J., Civelli, O., Evans, C., Hamon, M. D., et

al. (2000) Opioid receptors. In D. Girdlestone (Ed.),The IUPHAR compendium

Page 84: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

84

of receptor characterization and classification. London: IUPHAR Media (321–

333) (2nd ed.);

Cryan, J. F., Mombereau, C., Vassout, A. (2005) The tail suspension test as a

model for assessing antidepressant activity: review of pharmacological and

genetic studies inmice. Neurosci Biobehav Rev, 29: 571-625;

Darland, T., Heinricher, M. M., Grandy, D. K. (1998) Orphanin GQ/nociceptin: a

role in pain and analgesia, but so much more. Trends Neurosci. 21, 215–22;

Dess, N. K., Raizer, J., Chapman, C. D., Garcia, J. (1988) Stressors in the

learned helplessness paradigm: effects on body weight and conditioned taste

aversion in rats. Physiol Behav, 44: 483-490;

Detke, M. J. (1997) Acute and chronic antidepressant drug treatment in the rat

forced swimming test model of depression. Exp. Clin. Psychopharmacol.5, 107–

112;

Devine, D., Hoversten, M., Ueda, Y., Akil, H. (2003). Nociceptin/orphanin FQ

content is decreased in forebrain neurones during acute stress. J

Neuroendocrinol 15(1): 69–74;

Duman, R. S. (2004).Role of neurotrophic factors in the etiology and treatment

of mood disorders.Neuromolecular Med 5(1), 11–25;

Fantin, M., Fischetti, C., Trapella, C., & Morari, M. (2007). Nocistatin inhibits 5-

hydroxytryptamine release in the mouse neocortex via presynaptic Gi/o protein

linked pathways. Br J Pharmacol 152(4), 549–555;

Filaferro M., Ruggieri V., Novi C., Calò G., Cifani C., Micioni Di Bonaventura

M.V., Sandrini M., Vitale. G. (2014) Functional antagonism between

nociceptin/orphanin FQ and corticotropin-releasing factor in rat anxiety-related

behaviors: Involvement of the serotonergic system. Neuropeptides 0143-4179;

Filaferro, M., Zucchini, S., Ruggieri, V., Vitale, G., Novi, C., Cifani, C., et al.

(2011).Effects of the continuous delivery of a potent NOP receptor antagonist,

[Nphe1, Arg14, Lys15] N/OFQ-NH2 (UFP-101), on molecular, cellular and

Page 85: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

85

behavioral alterations in a chronic model of stress. 35° Congresso Nazionale

della società Italiana di Farmacologia; Bologna 14-17 settembre, P-5/39;

Florin, S., Meunier, J., & Costentin, J. (2000).Autoradiographic localization of

[3H] nociceptin binding sites in the rat brain.Brain Res 880(1–2), 11–16;

Gavioli, E. C., Calo', G. (2006) Antidepressant- and anxiolytic-like effects of

nociceptin/orphanin FQ receptor ligands. Naunyn Schmiedebergs Arch

Pharmacol 372(5), 319–330;

Gavioli, E. C., Calo', G. (2013) Nociceptin/orphanin FQ receptor antagonists as

innovative antidepressant drugs. Pharmacology & Therapeutics ,140 10–25;

Gavioli, E. C., Marzola, G., Guerrini, R., Bertorelli, R., Zucchini, S., De Lima, T.

C. (2003) Blockade of nociceptin/orphanin FQ-NOP receptor signaling produces

antidepressant-like effects: pharmacological and genetic evidences from the

mouse forced swimming test. Eur J Neurosci 17, 1987–1990;

Gavioli, E. C., Vaughan, C. W., Marzola, G., Guerrini, R., Mitchell, V. A.,

Zucchini, S. (2004) Antidepressant-like effects of the nociceptin/orphanin FQ

receptor antagonist UFP-101: new evidence from rats and mice. Naunyn

Schmiedebergs Arch Pharmacol 369, 547–553;

Goeldner, C., Spooren, W., Wichmann, J., Prinssen, E. P. (2012) Further

characterization of the prototypical nociceptin/orphanin FQ peptide receptor

agonist Ro 64-6198 in rodent models of conflict anxiety and despair.

Psychopharmacology (Berl) 222(2), 203–214;

Greenberg, L., Edwards, E., Henn, F. A. (1989) Dexamethasone suppression

test in helpless rats. Biol Psychiatry, 26: 530-532;

Heinricher, M. M. (2003) Orphanin FQ/nociceptin: from neural circuitry to

behavior. Life Sci 73, 813–822;

Henderson, G., McKnight, A.T. (1997). The orphan opioid receptor and its

endogenous ligand -nociceptin/orphanin FQ. Trends Pharmacol. Sci. 18, 293–

300;

Page 86: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

86

Holmes, C., Cunningham, C., Zotova, E., Culliford, D., Perry, V. H. (2009)

Proinflammatory cytokines, sickness behavior, and Alzheimer disease.

Neuroimmunomodulation. 16(1): 1-12;

Holmes, P. V. (2003) Rodent models of depression: reexamining validity without

anthropomorphic inference.Trends Pharmacol Sci 15, 143–174;

Hyman, S. e Nestler, E. 1996 Initiation and adaptation: a paradigm for

understanting psychotropic drug action. J. Psychiatry. 153:151-162;

Joca S., Zanelati T., Guimaraes F. (2006) Post-stress facilitation of

serotonergic, but not noradrenergic, neurotransmission in the dorsal

hippocampus prevents learned helplessness development in rats. Brain Res

1087:67–74;

Kawahara, Y., Hesselink, M. B., van Scharrenburg, G., Westerink, B. H. (2004)

Tonic inhibition by orphanin FQ/nociceptin of noradrenaline neurotransmission

in the amygdala. Eur J Pharmacol 485(1–3), 197–200;

Kessler, R. C., Berglund, P., Demler, O., Jin, R., Koretz, D., Merikangas, K. R.,

Rush, A. J., Walters, E. E., Wang, P. S., National Comorbidity Survey

Replication. (2003). The epidemiology of major depressive disorder: results

from the National Comorbidity Survey Replication (NCS-R). JAMA 289, 3095–

3105;

Koizumi, M., Midorikawa, N., Takeshima, H., & Murphy, N. P.

(2004).Exogenous, but not endogenous nociceptin modulates mesolimbic

dopamine release in mice. J Neurochem 89, 257–263;

Krishnan V., Nestler E. (2008) The molecular neurobiology of depression.

Nature, 455: 894-902;

Kuzmin, A., Madjid, N., Johansson, B., Terenius, L., Ögren, S. O. (2009) The

nociceptin system and hippocampal cognition in mice A pharmacological and

genetic analysis. Brain Res 1305 S7–S19;

Page 87: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

87

Lafer B., Dias R., Macedo-Soares M. (2009) Depressão Bipolar. In: Kapczinski

F, Quevedo J (Orgs.). Transtorno Bipolar: Teoria e Clínica. Porto Alegre, RS:

Artmed,. pp. 146-158.

Lambert, D. G. (2008) The nociceptin/orphanin FQ receptor: a target with broad

therapeutic potential. Nat Rev Drug Discov 7(8), 694–710;

Le Maître E., Vilpoux C., Costentin J., e Leroux-Nicollet I. (2005) Opioid

receptor-Like 1 (NOP) receptors in the rat dorsal raphe nucleus: evidence for

localization on serotoninergic neurons and functional adaptation after 5,7-

dihydroxytryptamine lesion. Journal of Neuroscience Research 81:488–496;

Leggett, J. D., Harbuz, M. S., Jessop, D. S., e Fulford, A. J. (2006).The

nociceptin receptor antagonist [Nphe1, Arg14, Lys15]nociceptin/orphanin FQ-

NH2 blocks the stimulatory effects of nociceptin/orphanin FQ on the HPA axis in

rats.Neuroscience 141(4), 2051–2057;

Lucki, I. (1997) The forced swimming test as a model for core and component

behavioral effects of antidepressant drugs. Behav. Pharmacol.8, 523–532;

Maeng, S., Hunsberger, J. G., Pearson, B., Yuan, P. (2008) BAG1 plays a

critical role in regulating recovery from both manic-like and depression-like

behavioral impairments. Proceedings of the National Academy of Sciences

USA105, 8766–8771;

Maier, S. F., Grahn, R. E., Kalman, B. A., Sutton, L. C., Wiertelak, E. P.,

Watkins, L. R. (1993) The role of the amygdala and dorsal raphe nucleus in

mediating the behavioral consequences of inescapable shock. Behav Neurosci

107, 377–388;

Maier, S. F., Seligman, M. E. P. (1976) Learned helplessness: theory and

evidence. J Exp Psychol,3–46;

Maier, S. F., Watkins, L. R. (2005) Stressor controllability and learned

helplessness: the roles of the dorsal raphe nucleus, serotonin, and

corticotropin-releasing factor. Neurosci Biobehav Rev 29, 829–841;

Page 88: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

88

Malkesman, O., Austin, D. R., Tragon, T., Wang, G., Rompala, G., Hamidi, A.

B., Cui, Z., Young, W. S., Nakazawa, K., Zarate Jr, C. A.,. Manji, H. K., Chen,

G. (2012) Acute D-serine treatment produces antidepressant-like effects in

rodents. I. J. Neuropsychopharmacol 15, 1135–1148;

Markou, A., Chiamulera, C., Geyer, M. A., Tricklebank, M., Steckler, T. (2009)

Removing obstacles in neuroscience drug discovery: the future path for animal

models. Neuropsychopharmacol 34,74–89;

Maynert, E., Levi, R. (1964) Stress-induced release of brain norepinephrine and

its inhibition by drugs. J Pharmacol Exp Ther 143:90-95;

McKinney, W. T. (1986) Electroconvulsive therapy and animal models of

depression. Ann N Y Acad Sci, 462: 65-69;

Mela, F., Marti, M., Ulazzi, L., Vaccari, E., Zucchini, S., Trapella, C., et al.

(2004).Pharmacological profile of nociceptin/orphanin FQ receptors regulating

5-hydroxytryptamine release in the mouse neocortex.Eur J Neurosci 19(5),

1317–1324.

Meunier, J. C. (1997) Nociceptin/orphanin FQ, and the opioid receptor-like

ORL1 receptor. Eur. J. Pharmacol. 340, 1–15;

Mollereau, C., Mouledous, L. (2000) Tissue distribution of the opioid receptor-

like (ORL1) receptor. Peptides 21, 907–917;

Mollereau, C., Parmentier, M., Mailleux, P., Butour, J. L., Moisand, C., Chalon,

P., Caput, D., Vassart, G., Meunier, J. C. (1994) ORL1, a novel member of the

opioid receptor family. Cloning, functional expression and localization. FEBS

Lett. 341(1): 33-38;

Murphy, N. P., & Maidment, N. T. (1999).Orphanin FQ/nociceptin modulation of

mesolimbic dopamine transmission determined by microdialysis.J Neurochem

73(1), 179–186;

Page 89: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

89

Murphy, N. P., Lam, H. A., Chen, Z., Pintar, J. E., & Maidment, N. T. (2002).

Heroin-induced locomotion and mesolimbic dopamine release is unchanged in

mice lacking the ORL.1 receptor gene.Brain Res 953(1–2), 276–280;

Nativio, P., Pascale, E., Maffei, A., Scaccianoce, S., Passarelli, F. (2012).

Effect of stress on hippocampal nociceptin expression in rat. Stress 15(4): 378–

384;

Nazzaro C., Barbieri M., Varani K., Beani L., Valentino R. J. e Siniscalchi A.

(2010) Swim stress enhances nociceptin/orphanin fqinduced inhibition of rat

dorsal raphe nucleus activity in vivo and in vitro: role of corticotropinreleasing

factor. Neuropharmacology; 58(2): 457–464;

Neal Jr, C. R., Mansour, A., Reinscheid, R., Nothacker, H. P., Civelli, O., Akil,

H., Watson Jr, S. J. (1999a) Opioid receptor-like (ORL1) receptor distribution in

the rat central nervous system: comparison of ORL1 receptor mRNA expression

with (125)I-[(14)Tyr]-orphanin FQ binding. J. Comp. Neurol. 412 (4), 563–605;

Neal Jr, C. R., Mansour, A., Reinscheid, R., Nothacker, H. P., Civelli, O.,

Watson Jr, S. J. (1999b) Localization of orphanin FQ (nociceptin) peptide and

messenger RNA in the central nervous system of the rat. J. Comp. Neurol. 406

(4), 503–547;

Nemeroff, C. B., Owens, M. J. (2002) Treatment of mood disorders.Nat

Neurosci 5, 1068–1070 (Suppl.);

Nestler, E. J., Gould, E., Manji, H., Buncan, M., Duman, R.S., Greshenfeld, H.

K. (2002) Preclinical models: status of basic research in depression. Biol

Psychiatry, 52: 503-528;

Nutt, D. J. (2002) The neuropharmacology of serotonin and noradrenaline in

depression. Int Clin Psychopharmacol 17,S1–S12;

Okawa, H., Kudo, M., Kudo, T., Guerrini, R., Lambert, D. G., Kushikata, T., et

al. (2001). Effects of nociceptinNH2 and [Nphe1]nociceptin(1–13)NH2 on rat

brain noradrenaline release in vivo and in vitro. Neurosci Lett 303(3), 173–176;

Page 90: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

90

Overmier, J. B., & Seligman, M. E. (1967) Effects of inescapable shock upon

subsequent escape and avoidance responding. J Comp Physiol Psychol 63,28–

33;

Ozaki, S., Kawamoto, H., Itoh, Y., Miyaji, M., Azuma, T., Ichikawa, D. (2000) In

vitro and in vivo pharmacological characterization of J-113397, a potent and

selective non-peptidyl ORL1 receptor antagonist. Eur J Pharmacol 402(1–

2),45–53;

Paxinos, G.; Franklin, K. B. J. (2001) The Mouse Brain in Stereotaxic

Coordinates. Academic Press San Diego, Second Edition;

Petit-Demouliere, B., Chenu, F., & Bourin, M. (2005) Forced swimming test in

mice: a review of antidepressant activity.Psychopharmacology (Berl) 177(3),

245–255;

Petty, F., Kramer, G., Wilson, L., Chae, Y. (1993) Learned helplessness and

in vivo hippocampal norepinephrine release. Pharmacol Biochem Behav 46(1):

231-235;

Porsolt, R. D., Bertin, A., Jalfre, M. (1977) Behavioral despair in mice: a primary

screening test for antidepressants. Arch Int Pharmacodyn Ther, 229: 327-336;

Redrobe, J. P., Calo', G., Regoli, D., & Quirion, R. (2002) Nociceptin receptor

antagonists display antidepressant-like properties in the mouse forced

swimming test. Naunyn Schmiedebergs Arch Pharmacol 365, 164–167;

Reinscheid R., Nothacker H., Bourson A., Ardati A., Henningsen R., Bunzow J.,

Grandy D., Langen H., Monsma F. Jr, Civelli O. (1995) Orphanin FQ: a

neuropeptide that activates an opioidlike G protein-coupled receptor. Science.

270(5237): 792-794.

Rizzi, A., Molinari, S., Marti, M., Marzola, G., Calo', G. (2011)

Nociceptin/orphanin FQ receptor knockout rats: In vitro and in vivo studies.

Neuropharmacology. 60(4) 572-579;

Page 91: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

91

Rominger, A., Förster, S., Zentner, J., Dooley, D. J., McKnight, A. T.,

Feuerstein, T. J., et al. (2002).Comparison of the ORL1 receptor-mediated

inhibition of noradrenaline release in human and rat neocortical slices. Br J

Pharmacol 135(3), 800–806;

Rutten, K., De Vry, J., Bruckmann, W., & Tzschentke, T. M.

(2011).Pharmacological blockade or genetic knockout of the NOP receptor

potentiates the rewarding effect of morphine in rats.Drug Alcohol Depend 114,

253–256;

Sandin, J., Georgieva, J., Schött, P. A., Ogren, S. O., Terenius, L. (1997)

Nociceptin/orphanin FQ microinjected into hippocampus impairs spatial learning

in rats. Eur J Neurosci. 9(1): 194-197;

Sandin, J., Ögren, S. O., Terenius, L. (2004) Nociceptin/orphanin FQ modulates

spatial learning via ORL-1 receptors in the dorsal hippocampus of the rat. Brain

Res. 997, 222–233;

Santos J., Martinez R., Brandao M. (2006) Effects of acute and subchronic

treatments with fluoxetine and desipramine on the memory of fear in moderate

and high-intensity contextual conditioning. Eur J Pharmacol 542:121–128;

Schlicker, E., Morari, M. (2000) Nociceptin/orphanin FQ and neurotransmitter

release in the central nervous system. Peptides 21, 1023–1029;

Seligman, M. E. (1972) Learned helplessness. Annu Rev Med 23, 407–412;

Seligman, M. E. P., Maier, S. F., & Solomon, R. L. (1971) Unpredictableand

uncontrollable aversive events. In F. R. Black (Ed.),Aversive Conditioning and

Learning. New York: Academic Press 347–400;

Sherman, A. D., Sacquitne, J. L., Petty, F. (1982) Specificity of the learned

helplessness model of depression. Pharmacol Biochem Behav, 16: 449-454;

Sim-Selley, L. J., Vogt, L. J., Childers, S. R., Vogt, B. A. (2003) Distribution of

ORL-1 receptor binding and receptor-activated G-proteins in rat forebrain and

Page 92: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

92

their experimental localization in anterior cingulated cortex. Neuropharmacology

45, 220–230;

Siniscalchi, A., Rodi, D., Morari, M., Marti, M., Cavallini, S., Marino, S., et al.

(2002).Direct and indirect inhibition by nociceptin/orphanin FQ on noradrenaline

release from rodent cerebral cortex in vitro.Br J Pharmacol 136(8), 1178–1184;

Steru, L., Chermat, R., Thierry, B., Simon, P. (1985) The tail suspension test: a

new method for screening antidepressants in mice. Psychopharmacology (Berl),

85: 367-370;

Takamori, K., Yoshida, S., Okuyama, S. (2001) Availability of learned

helplessness test as a model of depression compared to a forced swimming

test in rats. Pharmacology, 63: 147-153;

Tao, R., Ma, Z., Thakkar, M. M., McCarley, R. W., & Auerbach, S. B. (2007)

Nociceptin/ orphanin FQ decreases serotonin efflux in the rat brain but in

contrast to a kappa-opioid has no antagonistic effect on mu-opioid-induced

increases in serotonin efflux.Neuroscience 147(1), 106–116;

Telner J., Singhal R. e Lapierre Y. (1981) Reversal of learned helplesseness by

nortriptyline. Prog. Neuro-Psychopharmacol.5: 587-590;

Thase, M. E., Denko, T. (2008) Pharmacotherapy of mood disorders. Annu Rev

Clin Psychol. 4: 53-91;

Thierry A-M., France, J., Glowinski, J., Seymour, S. (1968) Effects of stress on

the metabolism of norepinephrine, dopamine and serotonin in the central

nervous system of the rat. I. Modifications of norepinephrine turnover. J.

Pharmacol. Exp. Ther. 163: 163-171;

Valentine G., Dow A., Banasr M., Pittman B., Duman R. (2008) Differential

effects of chronic antidepressant treatment on shuttle box escape deficits

induced by uncontrollable stress. Psychopharmacology 200:585–596;

Page 93: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

93

Vaughan, C. W., & Christie, M. J. (1996) Increase by the ORL1 receptor (opioid

receptor-like1) ligand, nociceptin, of inwardly rectifying K conductance in dorsal

raphe nucleus neurones. Br J Pharmacol. 117(8), 1609–1611;

Vilpoux, C., Naudon, L., Costentin, J., & Leroux-Nicollet, I. (2002).Chronic

paroxetine increases [3H]nociceptin binding in rat dorsal raphe nucleus.

Neuroreport 13(1),111–114;

Vitale, G., Ruggieri, V., Filaferro, M., Frigeri, C., Alboni, S., Tascedda, F. (2009)

Chronic treatment with the selective NOP receptor antagonist [Nphe 1, Arg 14,

Lys 15] N/OFQ-NH 2 (UFP-101) reverses the behavioural and biochemical

effects of unpredictable chronic mild stress in rats. Psychopharmacology (Berl)

207(2), 173–189;

Vollmayr, B. and Henn, F. A. (2003) Stress models of depression. Clin Neurosci

Res, 3: 245-251;

Vollmayr, B., Mahlstedt, M. M., Henn, F. A. (2007) Neurogenesis and

depression: what animal models tell us about the link. Eur Arch Psychiatry Clin

Neurosci 257: 300-303;

Weiss J., Glazer H., Pohorecky L., Brick J., Miller N. (1975) Effects of chronic

exposure to stressors on avoidance-escape behavior and on brain

norepinephrine. Psychosomatic Medicine .37,No.6: 522-534;

Willner, P. (1984) The validity of animal models of depression.

Psychopharmacology 83,1–16;

Willner, P., Mitchell, P. J. (2002) The validity of animal models of predisposition

to depression. Behav Pharmacol, 13: 169-188;

Wu, Y. L., Pu, L., Ling, K., Zhao, J., Cheng, Z. J., Ma, L., et al. (1997) Molecular

characterization and functional expression of opioid receptor-like1 receptor. Cell

Res 7(1), 69–77;

Yoshitake, S., Ijiri, S., Kehr, J., & Yoshitake, T. (2013).Concurrent modulation of

extracellular levels of noradrenaline and cAMP during stress and by anxiogenic-

Page 94: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

94

or anxiolytic-like neuropeptides in the prefrontal cortex of awake

rats.Neurochem Int 62(3), 314–323;

Yu, T. P., Fein, J., Phan, T., Evans, C. J., Xie, C. W. (1997). Orphanin FQ

inhibits synaptic transmission and long-term potentiation in rat hippocampus.

Hippocampus 7, 88–94;

Yu, T. P., Xie, C. W. (1998) Orphanin FQ/nociceptin inhibits synaptic

transmission and long-term potentiation in rat dentate gyrus through

postsynaptic mechanisms. J. Neurophysiol. 80,1277–1284;

Zaratin, P. F., Petrone, G., Sbacchi, M., Garnier, M., Fossati, C., Petrillo, P.

(2004) Modification of nociception and morphine tolerance by the selective

opiate receptor-like orphan receptor antagonist (-)-cis-1-methyl-7-[[4-(2,6-

dichlorophenyl)piperidin-1-yl]methyl]-6,7,8,9-tetrahydro-5H-benzocyclohepten-

5-ol (SB-612111). J. Pharmacol. Exp. Ther. 308(2), 454–461;

Zaveri, N. T. (2011).The nociceptin/orphanin FQ receptor (NOP) as a target for

drug abuse medications.Curr Top Med Chem 11(9), 1151–1156;

Zazpe A., Artaiz I., Labeaga L., Lucero M. L., Orjales A. (2007) Reversal of

learned helplessness by selective serotonin reuptake inhibitors in rats is not

dependent on 5-HT availability. Neuropharmacology 52: 975-984;

Zigmond, M., Harvey, J. (1970) Resistance to central norepinephrine depletion

and decreased mortality in rats chronically exposed to electric footshock.

JNeuro-Visc Rel 31:373-381;

Page 95: EFEITO DE ANTAGONISTAS DO RECEPTOR NOP EM …€¦ · escape e o número de vezes que o animal não escapou do compartimento eletrificado, sem promover nenhuma alteração nos componentes

95