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Ensaio sobre o efeito de diferentes maneios alimentares, na estrutura bioquímica de tecidos adiposos e musculares de porco alentejano
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CURSO DE ENGENHARIA ZOOTÉCNICA
EFEITO DO NÍVEL ALIMENTAR E DO SISTEMA DE PRODUÇÃO EM PARÂMETROS BIOQUÍMICOS, PLASMÁTICOS E DOS TECIDOS MUSCULAR E ADIPOSO DE SUÍNOS DE RAÇA ALENTEJANA
Trabalho de fim de curso realizado por:
Ricardo Jorge Neves da Silva, aluno nº 12489
Évora 2005
Este trabalho não inclui as
observações e críticas feitas pelo júri.
“Se queres ver o teu porco engordar, dá-lhe bolota e deixa-o fossar.”
Ditado popular
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ................................................................................................... IV
ABREVIATURAS ...........................................................................................................V
RESUMO ....................................................................................................................... VI
ÍNDICE DE QUADROS..................................................................................................X
ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................. XI
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................... 3
2.1. Raça Suína Alentejana............................................................................................... 3
2.1.1. História ................................................................................................................... 3
2.1.2. Caracterização ........................................................................................................ 5
2.1.3. Sistema de Produção (SP) ...................................................................................... 7
2.1.3.1. Sistemas de Produção (SP) Tradicional .............................................................. 8
2.1.3.2. Sistemas de Produção (SP) Actuais..................................................................... 9
2.1.4. Crescimento e desenvolvimento........................................................................... 11
2.1.5. Efeito Alimentação............................................................................................... 13
2.1.6. Efeito Raça ........................................................................................................... 15
2.2. Matéria-Prima.......................................................................................................... 16
2.2.1. O tecido muscular................................................................................................. 16
2.2.1.1. Lípidos do tecido muscular esquelético............................................................. 17
2.2.2. O tecido adiposo ................................................................................................... 19
2.2.2.1. Lípidos do tecido adiposo subcutâneo............................................................... 21
2.3. O colesterol.............................................................................................................. 22
2.3.1. O metabolismo do colesterol ................................................................................ 23
2.3.1.1. Síntese do colesterol .......................................................................................... 23
2.3.1.2. Transporte de colesterol .................................................................................... 23
2.3.2. Colesterol em suínos............................................................................................. 24
2.3.2.1. Colesterol em suínos de Raça Alentejana.......................................................... 25
2.3.3. Colesterol em outras espécies animais de interesse zootécnico ........................... 25
2.4. Os Fosfolípidos........................................................................................................ 27
2.5. As Proteínas Totais.................................................................................................. 27
2.6. A Ureia .................................................................................................................... 28
2.7. A Glucose ................................................................................................................ 28
I
3. MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................................... 29
3.1. Animais, instalações e equipamentos ...................................................................... 29
3.2. Alimento e regime alimentar ................................................................................... 29
3.3. Pesagens e abates..................................................................................................... 31
3.4. Análises laboratoriais .............................................................................................. 32
3.4.1. Amostras............................................................................................................... 32
3.4.2. Químicos............................................................................................................... 32
3.4.3. Determinação dos parâmetros plasmáticos........................................................... 33
3.4.4. Extracção e determinação do teor em lípidos totais (LT) tissulares..................... 33
3.4.5. Determinação do teor em colesterol tissular......................................................... 33
3.5. Análise Estatística ................................................................................................... 33
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...................................... 35
4.1. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre os
Parâmetros Zootécnicos.................................................................................................. 35
4.1.1. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema Produção (SP) Sobre a Idade ao
Abate (IA)....................................................................................................................... 35
4.1.2. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre a Ingestão
Total (IT) ........................................................................................................................ 36
4.1.3. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre o Ganho
Médio Diário (GMD) ..................................................................................................... 37
4.1.4. Discussão dos Resultados..................................................................................... 37
4.2. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre Parâmetros
Bioquímicos, Plasmáticos e Tissulares........................................................................... 39
4.2.1. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor em
Triacilgliceróis Plasmáticos............................................................................................ 39
4.2.2. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor em
Colesterol Total (CT) Plasmático ................................................................................... 40
4.2.3. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre o Teor em
Colesterol das LDL Plasmáticas (cLDL)........................................................................ 41
4.2.4. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre o Teor em
colesterol das HDL Plasmáticas (cHDL)........................................................................ 42
4.2.5. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor em
Fosfolípidos Plasmáticos ................................................................................................ 43
II
4.2.6. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor em
Proteína Plasmática ........................................................................................................ 44
4.2.7. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor em
Ureia Plasmática ............................................................................................................. 45
4.2.8. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre Teor em
Glúcídos Plasmáticos...................................................................................................... 46
4.2.9. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor em
Lípidos Totais (LT) no Tecido Muscular Semimembranoso ......................................... 47
4.2.10. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) no Teor em
Lípidos Totais (LT) da Gordura Subcutânea.................................................................. 48
4.2.11. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) no Teor em
Colesterol Total (CT) no Músculo Semimembranoso.................................................... 49
4.2.12. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor em
Colesterol Total (CT) da Gordura Subcutânea............................................................... 50
4.2.13. Discussão dos resultados .................................................................................... 51
5. CONCLUSÕES.......................................................................................................... 55
6. BIBLIOGRAFIA........................................................................................................ 56
III
AGRADECIMENTOS
Apesar de este trabalho estar credenciado em meu nome, existem várias pessoas
que foram essenciais para que ele fosse uma realidade. Assim, gostaria de agradecer:
Ao meu orientador, o Prof. José Manuel Martins, por toda a disponibilidade e
conhecimentos que me transmitiu.
Ao meu colega de estágio, Rodrigo Abreu, pela sua paciência e camaradagem.
Ao Prof. José Alberto Neves, pelas dicas que me deu.
Ao Prof. Amadeu de Freitas, pelo fornecimento de informação e de material para
pesquisa.
À minha família, que em casa vão mantendo “o barco à tona de água”.
Aos meus amigos, tanto em Évora como em Setúbal, especialmente ao pessoal
do 1º piso da Residência António Gedeão.
Aos meus colegas de curso.
A todo o pessoal dos laboratórios de Nutrição, Tecnologia dos Produtos
Regionais, de Química e Bioquímica e de Sanidade Vegetal, do Pólo da Mitra.
À ANCPA – Associação Nacional de Criadores de Porcos Alentejanos, por todo
o apoio prestado.
IV
ABREVIATURAS
CT: Colesterol Total
DOP: Denominação de Origem Protegida
ED: Energia Digestível
FB: Fibra Bruta
GI: Grupo I
GII: Grupo II
GIII: Grupo III
GMD: Ganho Médio Diário
HDL: High Density Lipoproteins (Lipoproteínas de Alta Densidade)
cHDL: Colesterol das HDL
IC: Índice de Conversão
IA: Idade ao Abate
IGP: Indicação Geográfica Protegida
IT: Ingestão Total
LDL: Low Density Lipoproteins (Lipoproteínas de Baixa Densidade)
cLDL: Colesterol das LDL
LT: Lípidos Totais
NA: Nível Alimentar
PB: Proteína Bruta
PV: Peso Vivo
SP: Sistema de Produção
V
RESUMO
Neste estudo avaliou-se a influência de três diferentes níveis alimentares (NA) e
de dois sistemas de produção (SP) distintos sobre alguns parâmetros zootécnicos,
plasmáticos, bioquímicos e tissulares de suínos de raça Alentejana.
Os parâmetros zootécnicos analisados foram a idade ao abate (IA), ingestão total
(IT) e ganho médio diário (GMD). Os parâmetros plasmáticos e bioquímicos
englobaram os teores de triacilgliceróis, colesterol total (CT), colesterol das LDL
(cLDL), colesterol das HDL (cHDL), fosfolípidos, proteína, ureia e glúcidos. Os
parâmetros tissulares estudados foram o teor de lípidos totais (LT) e CT de amostras de
músculo semimembranoso e de gordura subcutânea.
Este ensaio utilizou 34 animais com sexos neutralizados que, com um peso vivo
(PV) médio de 35,7kg, foram distribuídos em 2 conjuntos: o primeiro, constituído por
19 animais, manteve-se durante todo o período de ensaio em parques individuais
(sistema intensivo); o segundo, constituído por 15 animais, foi estabulado
individualmente, mas tendo acesso a um parque exterior com a dimensão de 3 hectares
(sistema semi-extensivo). Com um PV médio de 40kg os animais de ambos os
conjuntos foram distribuídos aleatoriamente por 6 grupos, 3 deles sujeitos ao sistema de
produção (SP) intensivo e os outros 3 ao sistema semi-extensivo. Assim, cada SP ficou
constituído por 3 grupos, cada qual com um nível alimentar distinto: os grupos I (GI)
com 0,85 x ad libitum durante todo o ensaio; os grupos II (GII) com 0,90 x ad libitum
até aos 80kg e 0,70 x ad libitum até aos 100kg de PV médio; os grupos III (GIII) com
0,95 x ad libitum até aos 60kg, 0,85 x ad libitum até aos 80kg e 0,70 x ad libitum até
aos 100kg de PV médio. Foi fornecido aos animais um alimento composto comercial
com 3107Kcal de energia digestível (ED) e 150% de proteína bruta (PB).
Os animais foram pesados semanalmente, tendo sido abatidos quando atingiram
um PV médio de 100kg. O sangue foi recolhido durante o processo de abate e as
amostras de musculus semimembranosus e tecido adiposo subcutâneo obtidas 24 horas
após o mesmo, na carcaça refrigerada.
Em relação aos parâmetros zootécnicos analisados, o nível alimentar não
influenciou significativamente a IA nem a IT. Em termos de GMD estes diminuíram
com a diminuição do nível alimentar, facto que só foi significativo nos GII e GIII,
devido a uma interacção detectada entre o NA e o SP (P≤0,05). Quanto aos parâmetros
VI
plasmáticos e tissulares o nível alimentar não influenciou significativamente as
diferenças encontradas.
Em termos de produção, o sistema semi-extensivo provocou uma diminuição
significativa dos valores de IA (P≤0,001) e IT (P≤0,01). Pelo contrário, provocou um
aumento significativo do GMD (P≤0,01). Quanto aos parâmetros plasmáticos, o SP
semi-extensivo não influenciou o teor de ureia, mas provocou a diminuição do teor em
triacilgliceróis (P≤0,01), CT (P=0,051), cLDL (P≤0,05), fosfolípidos (P≤0,01), proteína
(P≤0,05) e glúcidos (P≤0,001). Em relação ao cHDL o SP semi-extensivo provocou o
seu aumento (P=0,0051). Em relação aos parâmetros tissulares, o SP semi-extensivo
não influenciou os valores de LT, mas provocou a diminuição dos valores de CT, tanto
no músculo semimembranoso (P=0,055) como na gordura subcutânea (P≤0,01).
Os resultados obtidos evidenciam que o SP semi-extensivo associado a um nível
alimentar de 0,85 x ad libitum origina melhores performances zootécnicas, bem como
em parâmetros bioquímicos, tissulares e plasmáticos com um perfil menos deletério
para a saúde do consumidor.
Palavras Chave: Suíno de raça Alentejana, nível alimentar, sistema de produção,
parâmetros plasmáticos, parâmetros tissulares, parâmetros bioquímicos, parâmetros
zootécnicos, músculo semimembranoso, tecido adiposo subcutâneo.
VII
ABSTRACT
This study investigated the influence of three different feeding levels (FL) and
two rearing systems (RS) on some animal production, plasmatic, biochemist and tissue
parameters of swines from the Alentejano breed.
The analyzed animal production parameters were the slaughter age (SA), total
ingestion (TI), and average daily gain (ADG). The plasmatic parameters included
triacylglycerols, total cholesterol (TC), LDL cholesterol (cLDL), HDL cholesterol
(cHDL), phospholipids, protein, urea and glucids. The studied tissue parameters were
the total lipids (TL) and TC of samples of musculus semimembranosus and
subcutaneous fat.
This assay used 34 animals with neutralized sex that, with an average live
weight (LW) of 35,7kg, were distributed in 2 sets: the first one, with 19 animals,
remained during all the period of assay in individual pens (intensive system); the second
one, with 15 animals, was also allocated individually but with access to an exterior pen
with the dimension of 3 hectares (semi-extensive system). With an average LW of 40kg
the animals of both sets were randomly distributed into 6 groups, 3 of them under the
intensive rearing system and the others 3 under the semi-extensive system. Thus, each
rearing system was constituted of 3 groups, each one with a distinct feeding level:
groups I (GI) with 0,85 x ad libitum during all the assay; groups II (GII) with 0,90 x ad
libitum until 80kg and 0,70 x ad libitum until 100kg of average LW; groups III (GIII)
with 0,95 x ad libitum until 60kg, 0,85 x ad libitum until 80kg and 0,70 x ad libitum
until 100kg of average LW. All animals were fed with a commercial feed with
3107Kcal of digestible energy (DE) and 15% of crude protein (CP). The animals were
weekly weighed, and were slaughtered when reaching an average LW of 100kg. The
blood was collected during slaughter and the samples of musculus semimembranosus
and subcutaneous fat 24 hours after slaughter, in the chilled carcass.
In relation to the analyzed animal production parameters, the alimentary level
did not influence significantly SA or TI. ADG was decreased with the reduction of the
alimentary level but due to the significant interaction between feeding level and rearing
system, this was only significant in GII e GIII (P≤0,05). Tissue, plasmatic and
biochemists parameters the alimentary level were not influence significantly.
The semi-extensive system led to a significant reduction of the values of SA
(P≤0,001) and TI (P≤0,01). On the other hand, it significantly increased ADG (P≤0,01).
VIII
In plasmatic parameters, the semi-extensive rearing system did not influenced the urea
level, but it led to the reduction of the triacylglycerol (P≤0,01), TC (P=0,051), cLDL
(P≤0,05), phospholipids (P≤0,01), protein (P≤0,05) and glucose (P≤0,001) levels. In
relation to the cHDL, the semi-extensive rearing system induced its increase (P=0,051).
In relation to the tissue parameters, the semi-extensive rearing system did not influenced
the values of TL, but it led to the reduction of the values of TC, both in the musculus
semimebranosus (P=0,055) and in the subcutaneous fat (P≤0,01).
The results evidence that the semi-extensive rearing system associated to a 0,85
x ad libitum feeding level, originates better animal productivity, as well as less
deleterious tissue and plasmatics parameters profiles to the consumer’s healthy.
Key-Words: Swine of Alentejano breed, feeding level, rearing system, plasmatic
parameters, animal production parameters, biochemistry, tissue parameters, musculus
semimembranosus, subcutaneous adipose tissue.
IX
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1: Teor de lípidos intramusculares do musculus semimembranosus de suínos de
raça Alentejana/Ibéricos engordados em montanheira e abatidos com cerca de
160kg PV (Adaptado de Neves, 1998). ................................................................. 18
Quadro 2: Teores em colesterol (mg/100g) no musculus semimebranosus de suínos e
bovinos (Adaptado de Bragagnolo e Rodriguez-Amaya, 1995) ........................... 26
Quadro 3: Composição do alimento composto completo fornecido aos animais
utilizados no ensaio. .............................................................................................. 30
Quadro 4: Níveis alimentares utilizados nos grupos experimentais sujeitos aos sistemas
Intensivo e Semi-extensivo.................................................................................... 30
Quadro 5: Alimento distribuído ao longo do ensaio (kg ração/dia). .............................. 31
Quadro 6: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre os parâmetros
zootécnicos. ........................................................................................................... 35
X
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Evolução do crescimento dos suínos de raça Alentejana/Ibéricos (Besana
Portalagrio, 2004) .................................................................................................. 12
Figura 2: Localização do musculus semimembranosus no membro posterior da carcaça
de suíno (Adaptado de Warriss, 2000) .................................................................. 17
Figura 3: Influência do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em
triacilgliceróis plasmáticos. ................................................................................... 39
Figura 4: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em colesterol
total plasmático...................................................................................................... 40
Figura 5: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em colesterol
das LDL plasmáticas. ............................................................................................ 41
Figura 6: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em colesterol
das HDL plasmáticas. ............................................................................................ 42
Figura 7: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em
fosfolípidos plasmáticos. ....................................................................................... 43
Figura 8: Influência do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em
proteína plasmática. ............................................................................................... 44
Figura 9: Influência do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em ureia
plasmática. ............................................................................................................. 45
Figura 10: Influência do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em
glúcidos plasmáticos.............................................................................................. 46
Figura 11: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em lípidos
totais do tecido muscular semimembranoso.......................................................... 47
Figura 12: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em lípidos
totais da gordura subcutânea ................................................................................. 48
Figura 13: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor de colesterol
total do músculo semimembranoso ....................................................................... 49
Figura 14: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em colesterol
total da gordura subcutânea ................................................................................... 50
XI
1. INTRODUÇÃO
Desde hà alguns anos a esta parte que tem aumentado, na Europa, o interesse
sobre a diversificação da produção suína, no sentido da extensificação e de formas de
produção mais sustentáveis. Este interesse surgiu, em parte, devido ao excesso de
produção de carne de suíno com uma qualidade estandardizada, mas também devido à
crescente preocupação da sociedade em relação ao bem-estar animal, poluição e
degradação ambiental causada pela produção intensiva (Lachica e Aguilera, 2000).
Nesta perspectiva, a produção de raças suínas autóctones e o uso dos recursos
locais tem vindo a ser encorajada. Outros dos objectivos são a manutenção da
diversidade genética e a possibilidade dos consumidores terem acesso a nichos de
produtos tradicionais de alta qualidade organoléptica (Aguilera e Nieto, 2003).
Assim, acredita-se que a produção extensiva de suínos irá expandir-se num
futuro próximo, em detrimento da produção intensiva (Aguilera e Nieto, 2003).
Por outro lado, os países da orla mediterrânica têm hábitos alimentares muito
próprios, a designada dieta mediterrânica. Esta tem sido relacionada com baixos riscos
de doenças coronárias e alguns autores recomendam o seu consumo com o objectivo de
prevenir a hiperlipémia e o risco de doenças coronárias (Rebollo et al., 1998).
O suíno de raça Alentejana insere-se neste tipo de dieta como importante fonte
de energia e de proteína de origem animal (Nunes, 2002, citado por Silva, 2003).
Segundo o mesmo autor, as especialidades gastronómicas feitas a partir da carne e da
gordura desta raça, na companhia do pão, de diversos cereais, em alternância com o
azeite, formam a base da dieta mediterrânica. A produção extensiva de porco de raça
Alentejana orientou-se, durante muito tempo, para a elaboração de produtos
transformados certificados (presunto e enchidos). Actualmente, dadas as características
do mercado da carne de porco fresca em Portugal, os produtores de suínos de raça
1
Alentejana vêm com muito interesse a conquista de uma quota deste mercado, pelo que
o interesse da produção de carne de suíno de raça Alentejana passou também a ter como
objectivo a produção de carne para consumo em fresco (Freitas et al., 2004a).
A raça suína Alentejana apresenta características genéticas muito próprias e o
seu conhecimento ainda é pouco aprofundado, principalmente a nível de carne para ser
consumida em fresco, fruto dos poucos trabalhos realizados (Cava et al., 2002).
Também ao nível de parâmetros sanguíneos, os dados disponíveis escassos, dados esses
que são indispensáveis para estabelecer um sistema de referência aplicável a qualquer
estudo fisiológico sobre esta raça (Martins et al., 2004).
Neste estudo procedeu-se à análise de amostras de plasma sanguíneo e de tecido
muscular e adiposo de animais da raça suína Alentejana, com o objectivo de quantificar
o nível de colesterol e outros parâmetros bioquímicos e tentar relacionar essa
concentração com as diferenças a nível alimentar e de SP a que os animais foram
sujeitos durante o seu ciclo de produção.
Este trabalho experimental foi desenvolvido no âmbito do Projecto Agro 226
intitulado “Optimização da produção de porco de raça Alentejana destinada à
produção de carne para consumo em fresco” e refere-se ao segundo ano de ensaios, no
seguimento do trabalho realizado por Abreu (2004), que analisou o efeito de diferentes
pesos de abate sobre alguns parâmetros bioquímicos, do plasma e tecidos muscular e
adiposo de suínos de raça Alentejana.
2
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Raça Suína Alentejana
2.1.1. História
Até ao princípio do século XX, existiam na Península Ibérica duas grandes
populações de porcos: os Celtas, com origem nos porcos nórdicos e os denominados
Ibéricos, com origem nos porcos mediterrâneos. As duas populações de porcos
autóctones, para além da sua diferente origem racial, tinham um habitat bastante
diferenciado. Os Celtas desenvolviam-se no Noroeste da Península, em bosques do tipo
Atlântico e zonas de clima suave. Isto resultou num sistema de alimentação baseado no
aproveitamento das ervas, forragens e tubérculos durante todo o ano e aproveitamento
de frutos, como a castanha, na época de Outono/Inverno. Pelo contrário, no Oeste e
Sudoeste da Península, os porcos Ibéricos dispunham de um habitat baseado em
bosques do tipo mediterrâneo, com grande abundância de Sobreiros e Azinheiras, que
lhe conferiam grande disponibilidade de bolotas e landes durante o Inverno, e bastante
erva na Primavera. No entanto, regista-se uma grande escassez de alimentos durante o
Verão e o princípio do Outono (UNIAPRA, 2004).
Estas diferenças originaram o desenvolvimento de dois tipos de animais bastante
diferentes, devido essencialmente aos diferentes sistemas de alimentação das
populações rurais das áreas geográficas onde estes animais se foram desenvolvendo. Os
porcos Celtas, viram a sua produção orientada para a comercialização de carne fresca e
produtos de salsicharia, enquanto os porcos Ibéricos tinham as suas carnes e toucinhos
destinados para produtos curados e de larga duração (UNIAPRA, 2004).
Vários são os autores que referenciam a grande importância que os suínos de
raça Alentejana atingiram como suporte da alimentação humana no nosso país, quer
como fornecedor de carne para consumo em fresco, quer como fornecedor de matéria-
3
prima para a elaboração de enchidos que mediante vários processos de conservação
garantiam o seu consumo durante todo o ano (UNIAPRA, 2004).
Até à década de cinquenta, altura em que se iniciaram importantes
transformações na suinicultura nacional e em particular no Alentejo, a exploração de
suínos da raça Alentejana foi pedra basilar da economia rural que caracteriza a região
(Neves, 1998). Nunes (1998) refere que vicissitudes várias, entre as décadas de
cinquenta e setenta, contribuíram, para o declínio no interesse das formas de produção
porcina tradicional, consideradas arcaicas pelos defensores da intensificação. Para
explicar este declínio, surgem alguns factores de ordem social, económica, política e
sanitários:
- As alterações dos hábitos alimentares, exigindo carne com menos gordura, bem
como a propaganda em detrimento das gorduras de origem animal e o emprego
crescente de gorduras vegetais, provocaram um decréscimo nas matanças e
consequentemente o cruzamento incontrolado com outras raças por parte dos criadores;
- O êxodo rural no início dos anos sessenta levou a um aumento de salários que
tornou de alguma forma inviável a manutenção dos montados nos moldes tradicionais.
Conjuntamente com a quebra dos preços dos produtos florestais e a crescente
mecanização, ditou a regressão dos montados e, consequentemente da suinicultura em
regime extensivo. A orientação das práticas agrícolas para sistemas de exploração
alternativos com o recurso a raças de maiores rendimentos, bem como a introdução de
novas variedades de trigo e outros cereais bastante mais produtivos, tornaram – se
também num factor desfavorável. Surge também nesta altura um importante surto de
Peste Suína Africana (UNIAPRA, 2004).
Estes factores contribuíram para a quase erradicação dos suínos de raça
Alentejana. Só a partir da década de oitenta, com o desaparecimento da Peste Suína
4
Africana e com o ressurgimento da dieta Mediterrânea como uma dieta saudável, é que
começa a surgir um novo interesse nos seus produtos e na recuperação da raça
(UNIAPRA, 2004).
Já nos anos noventa surgem as duas associações de criadores de suínos da raça
Alentejana: a ACPA (Associação de Criadores de Porco Alentejano) e a ANCPA
(Associação Nacional de Criadores do Porco Alentejano). Mais tarde surge a
UNIAPRA (União das Associações de Criadores do Porco de Raça Alentejana), com o
objectivo principal de gerir a secção raça alentejana do livro genealógico português de
suínos. Desde aí, tem-se assistido a uma evolução positiva do efectivo nacional da raça,
principalmente em termos de leitões nascidos anualmente (UNIAPRA, 2004).
Depois de parecer condenada a desaparecer durante as últimas décadas, a
produção suína extensiva parece reaver uma nova importância socio-económica. Para
tal contribuiu a evolução da política agrícola na Europa, que após um período de
incentivos à intensificação das produções agrícolas geradoras de excedentes e de
desequilíbrios ambientais, mostra agora interesse por uma agricultura de carácter mais
racional e equilibrado (Neves, 1998).
Actualmente pode-se afirmar que a raça suína Alentejana e o sistema extensivo
de produção que suporta esta raça no seu solar de origem, encontra-se numa fase de
estabilidade, prevendo-se que o número de explorações e o total de população autóctone
irá aumentar, dado o aparecimento de indústrias artesanais no Alentejo (Nunes, 1994).
2.1.2. Caracterização
A raça suína Alentejana é uma das principais raças suínas autóctones
portuguesas (Oliveira, 1992). No sudoeste de Espanha existem populações de suínos de
raça Ibérica, com origem no mesmo tipo de animal e cujo solar é contíguo ao desta raça,
5
falando-se normalmente da raça suína Alentejana e sua congénere Ibérica (Maceira,
2003).
Em Portugal Continental, embora a exploração deste animal se encontre
predominantemente no Alentejo, onde as condições do binómio “porco-meio ambiente”
melhor se conjugam (Kletschke, 1998), a sua distribuição territorial acompanha
ecologicamente toda a zona geográfica na qual se destaca a produção abundante do
fruto da azinheira (Quercus rotundifolia) e do sobreiro (Quercus suber) (Oliveira,
1990). Assim, os montados são parte fundamental do ecossistema a que este animal
pertence (Kletschke, 1998).
Excepcionalmente rústico, o suíno de raça Alentejana é de uma resistência
impressionante, a qual lhe vem do seu equilíbrio hormonal hipofisário, e está
perfeitamente adaptado ao sistema de exploração extensivo nos montados e às
condições climáticas da região (Frazão, 1984, citado por Neves 1998). Freitas e Abreu
(2001) e Freitas et al. (2004a) referem também como determinantes para a importância
da raça suína Alentejana, a sua capacidade de valorização de recursos naturais, como as
ervas dos pousios, os restolhos dos cereais e os frutos e pastagens dos montados de
azinho e sobro. Nunes (1998) destaca ainda a aptidão tecnológica da sua carne e
gordura, para a obtenção de produtos genuínos de elevada qualidade. O presunto de
Barrancos, com denominação de origem protegida (DOP), os enchidos de Portalegre e
Estremoz, com indicação geográfica protegida (IGP) e a carne de porco Alentejana
(DOP) são exemplos de tais produtos, bastante apreciados pelos consumidores.
Os suínos de raça Alentejana pertencem à espécie Sus ibericus, segundo a
classificação de Sanson (Kletschke, 1998). Os animais são de corpulência média, pele
preta de ardósia, cabeça comprida e orelhas pequenas. O tórax é roliço, a região dorso-
lombar é de comprimento e largura medianos. A garupa é pouco oblíqua, o ventre
6
ligeiramente descaído e as coxas de desenvolvimento mediano. Os membros são de
comprimento médio, delgados e bem aprumados, sendo os pés pequenos e de unha rija
(IDRHa, 2004) a condizer com o seu modo de vida em pastoreio. O seu temperamento é
vivo, por vezes agressivo, e tem movimentos fáceis (Oliveira, 1992).
Em termos produtivos, o suíno de raça Alentejana é um animal de características
adipogénicas, de desenvolvimento tardio, reduzido rendimento de carne (Neves, 1998),
com má conformação, IC alimentar alto e baixa taxa de prolificidade (Oliveira, 1992).
2.1.3. Sistema de Produção (SP)
Em contraste com as raças industriais e os seus cruzamentos, o SP dos suínos de
raça Alentejana envolve um longo período de tempo. Os animais são abatidos com
idades mais tardias (12-14 meses) e pesos vivos (PV) mais elevados (150-160kg). Os
40-60 dias que precedem o abate constituem o período mais importante do sistema
produtivo devido às características da alimentação consumida pelos animais (Cava et
al., 2002). Este período, designado por montanheira, caracteriza-se essencialmente por
um período de pastoreio ao ar livre no montado, com a utilização dos recursos naturais
existentes, a erva e a bolota (IDRHa, 2004).
Numa perspectiva mais global, o aproveitamento dos recursos renováveis,
nomeadamente dos recursos disponibilizados pelos montados, permite a manutenção de
um SP sustentável e economicamente viável, o que pode contribuir decisivamente para
a fixação de população nos meios rurais, contrariando a tendência de desertificação que
actualmente se verifica (Freitas et al., 2004b).
7
2.1.3.1. Sistemas de Produção (SP) Tradicional
No sistema silvo-pastoril a bolota e a lande (frutos do sobreiro e da azinheira,
respectivamente) constituem uma fonte energética fundamental no acabamento do suíno
de raça Alentejana, que é complementada pela proteína disponibilizada pelas gramíneas
e leguminosas do sub-coberto arbóreo e arbustivo e por alguns alimentos que os porcos
desenterram e ingerem (Freitas e Abreu, 2001).
Segundo Neves (1998) o ciclo de produção dos suínos de raça Alentejana de
montanheira engloba três fases, as quais definem a sua curva de crescimento:
- A fase de cria, que está compreendida entre o nascimento e o desmame,
normalmente feito aos 2 meses;
- A fase de recria, que compreende o período entre os dois meses e o início da
fase de engorda (60 a 90kg PV);
- A fase de engorda, em montanheira.
O ciclo produtivo deste animal caracteriza-se por regimes de pós desmame e
pré-acabamento nutricionalmente pobres e por um acabamento tardio, fortemente
amiláceo, que origina uma produção marcadamente sazonal (Nunes, 1993).
O período de recria estende-se até à entrada no chamado regime de montanheira,
no Outono/Inverno, sendo os animais alimentados durante este período à base de
cereais, concentrados e restolhos até alcançar o peso ideal (100 a 130kg PV) (IDRHa,
2004), (Freitas e Abreu, 2001).
O sistema silvo-pastoril tradicional termina com a montanheira: engorda
intensiva dos animais nos montados de azinho e sobro, durante os três ou quatro meses
que decorrem entre o final de Outubro, princípios de Novembro e fins de Fevereiro.
Esta fase constitui um dos factores determinantes para a valorização da matéria-prima e
8
a obtenção de produtos transformados de alta qualidade, sendo o elemento estratégico e
central do SP (Freitas e Abreu, 2001).
2.1.3.2. Sistemas de Produção (SP) Actuais
Freitas e Abreu (2001) referem que os SP actuais conservam os traços
dominantes e as características mais interessantes do sistema tradicional, nomeadamente
a engorda de porcos na montanheira associada e complementando a exploração de
porcas reprodutoras.
Actualmente não existe um SP uniforme, já que as épocas de cobrição, maneio
alimentar, o peso e idade de entrada dos animais em montanheira e o peso de abate
variam de exploração para exploração. Na generalidade das explorações continuam-se a
utilizar malhadas tradicionais, embora se tenha assistido nos últimos anos, à introdução
e expansão do sistema camping (Freitas e Abreu, 2001).
Se na maioria das explorações apenas são utilizados reprodutores de raça
Alentejana, noutras é frequente o cruzamento de porcas Alentejanas com varrascos de
raças precoces, principalmente Duroc e Landrace, em parições que não se destinam à
montanheira (Freitas e Abreu, 2001).
Nos actuais SP de suínos do Tronco Ibérico, o denominado sistema semi-
extensivo pode ser considerado como um ajustamento do sistema tradicional às novas
realidades económicas. Nele procura-se encurtar a duração do ciclo de produção,
mediante um crescimento sustentado e contínuo dos animais no período que antecede a
engorda em montanheira. Neste sentido, uma das principais alterações introduzidas no
sistema produtivo tradicional foi a melhoria da alimentação dos animais. Embora se
continuem a utilizar os recursos alimentares da exploração na alimentação dos animais
reprodutores e dos porcos em crescimento, a administração de alimentos concentrados é
9
prática corrente, abrangendo quase todas as idades e fases de produção. As porcas são
suplementadas nas fases críticas da gestação e lactação, os leitões recebem alimentos
compostos desde a 3ª semana de idade até ao desmame (2 meses) e os porcos são
suplementados nas épocas de menores disponibilidades de recursos naturais com cereais
e alimentos compostos, de forma a atingirem o PV desejado (60-90kg) no início da
montanheira (Freitas e Abreu, 2001).
O número de porcos engordados nos montados varia entre as dezenas e as
centenas, em função da garantia de escoamento no mercado e dos contratos com as
indústrias de transformação. A par de explorações onde os porcos iniciam a engorda em
montanheira com uma idade de 14-15 meses, existem outras que utilizam animais mais
jovens, encurtando o ciclo de produção e aumentando a sua rentabilidade. Em termos
gerais, à entrada da montanheira os porcos têm entre 9 e 15 meses de idade e entre 60 e
80kg PV. O seu abate dá-se entre os 12 e 18 meses de idade, com um PV variando entre
os 100 e 130kg. Em algumas explorações, mercê da realização de contratos com a
indústria transformadora, os animais iniciam a montanheira com um PV mais elevado
(80-90kg), de forma a atingirem um PV final de 140 a 150kg (Freitas e Abreu, 2001).
Ultrapassada a crise das décadas de setenta e oitenta, a exploração do porco
Alentejano registou durante a década de noventa um renovado interesse por parte dos
produtores. Este interesse foi impulsionado basicamente pelo mercado dos produtos
transformados de alta qualidade elaborados a partir da carne produzida pelo sistema
tradicional, com engorda em montanheira. Mais recentemente a constatação de um
vasto mercado de carne fresca em Portugal levou os criadores e associações a apostar
numa nova estratégia produtiva cujo objectivo é penetrar e ganhar uma fatia de mercado
tão importante quanto possível, através de um produto cujas características são
reconhecidamente diferentes, a carne de porco Alentejano DOP (Neves et al., 2004).
10
2.1.4. Crescimento e desenvolvimento
O crescimento dos seres vivos é um fenómeno que apresenta dois aspectos
fundamentais. Por um lado refere-se ao aumento global do PV com a idade, que se
designa por crescimento absoluto, quantitativo ou ponderal. Por outro lado, refere-se às
alterações da forma e composição corporal, resultantes do desenvolvimento diferencial
dos tecidos e que é designado por crescimento relativo, qualitativo ou desenvolvimento
(Oliveira, 1990).
O crescimento em sentido lato não é senão o acréscimo tridimensional de um
indivíduo. Biologicamente é um processo muito complexo que se define como o
aumento coordenado dos componentes de um organismo em intervalos de tempo
definidos e de forma característica para cada espécie animal, condicionado por factores
hereditários e ambientais (Oliveira, 1990).
Assim, tomando o crescimento como um conjunto de alterações que se
manifestam por um aumento do PV com a idade e o desenvolvimento diferencial dos
tecidos corporais (músculo, gordura, osso) (Oliveira, 1990), pode-se caracterizar uma
raça através da sua curva de crescimento. Esta curva estabelece a relação entre o PV e a
idade do animal desde a concepção à maturidade (Figura 1).
De Pedro (1987) estudou o desenvolvimento dos tecidos em suínos de raça
Ibérica e concluiu que o tecido ósseo era o primeiro a desenvolver-se, seguindo-se o
muscular e finalmente o tecido adiposo, aumentando portanto a proporção de gordura e
diminuindo a de músculo e osso à medida que aumentava a idade e o peso do animal.
Neves et al. (2004) realizaram um estudo em suínos de raça Alentejana em que os
resultados evidenciam um claro aumento do tecido adiposo na carcaça em detrimento do
tecido muscular, principalmente a partir dos 100kg PV. Freitas et al. (1992), Freitas
(1998), citados por Neves et al., (2004) e Freitas et al., (2004c), constataram que o
11
aumento do PV ao abate se traduzia no aumento irrelevante do osso, num ligeiro
aumento do tecido muscular e num significativo aumento do tecido adiposo.
Figura 1: Evolução do crescimento dos suínos de raça Alentejana/Ibéricos (Besana Portalagrio, 2004)
Em relação ao PV ao abate, a maioria dos estudos apontam o peso de 100kg
como o peso ideal para se obter carne fresca de suíno de raça Alentejana (Freitas et al.,
2004; Freitas et al., 2004c; Neves, et al., 2004). Isto porque ocorre uma diminuição
progressiva, a partir dos 90kg, do ganho médio diário (GMD) e um aumento do IC e do
custo por cada kg de ganho de peso com o aumento do peso de abate, com uma clara
acentuação após os 100kg (Freitas et al., 2004a). Contudo, será necessário conhecer
melhor o efeito deste valor sobre a qualidade da carne (Freitas et al., 2004c).
O crescimento pode ser avaliado através da pesagem dos animais, efectuada em
determinados períodos de tempo do crescimento. O parâmetro de crescimento mais
utilizado é o GMD em termos de PV. O GMD é definido como a alteração do peso
corporal por dia, durante um determinado período de tempo, sendo estimado pelo
cálculo da diferença entre o peso final e o peso inicial, dividida pelo número de dias
12
entre esses pesos (Freitas, 1999, citado por Silva, 2002). Em relação aos suínos de raça
Alentejana, os valores encontrados na bibliografia apresentam alguma variabilidade.
Isto devido a factores que se relacionam com o SP e restrição alimentar.
Assim, para animais submetidos ao sistema semi-intensivo e abatidos aos 100kg
PV, Freitas et al. (2004a) apontam valores de GMD de 498g/d para animais submetidos
a uma restrição de 0,85 x ad libitum a partir dos 37,5kg PV, com alimento comercial
com 15% de proteína bruta (PB) e 3 100Kcal ED/kg.
Para o sistema intensivo, Freitas et al. (2004b) referem valores de 671g/d para
animais alimentados com alimento composto comercial com 15% P.B. e 3 100 Kcal
ED/kg. Entre os 55 e os 105kg PV, utilizou-se um regime alimentar próximo do ad
libitum.
2.1.5. Efeito Alimentação
A alimentação é considerada o principal factor extrínseco responsável pelas
alterações na composição corporal (Delpech e Lafaucheur, 1986). A alimentação pode
ser distribuída ad libitum ou racionada. Quando se fala em alimentação ad libitum,
pretende-se referir a máxima ingestão voluntária de alimento, de forma a satisfazer
plenamente as necessidades energéticas (Mendes, 1994).
A regulação fisiológica do consumo de alimentos, depende da sensação de fome
e saciedade, detectadas pelo sistema nervoso central (Hafez, 1972, citado por Mendes,
1994). Sempre que um animal é alimentado ad libitum, este controla a ingestão de
alimento através do seu apetite, o que é função da natureza do regime alimentar
(digestibilidade, concentração em nutrientes, palatibilidade e forma de apresentação),
capacidade do tubo digestivo, temperatura e alojamento (Freire et al., 1984, citados por
Mendes, 1994).
13
A alimentação restringida pode basear-se na limitação da quantidade diária de
alimento, na redução da digestibilidade da ração aumentando a fibra bruta (FB) ou ainda
no aumento do nível proteico à custa de uma redução do valor energético (Martin, 1990
citado por Mendes, 1994). O impacto de uma restrição alimentar sobre a composição
corporal, depende da sua intensidade, da sua duração (McMeckan, 1940, Fowler e
Livingstone, 1972 e Pedersem, 1980 citados por Delpech e Lefaucheur, 1986, citados
por Mendes, 1994) e do momento em que se aplica, assim como do genótipo (Cleveland
et al., 1983, citados por Mendes, 1994). Em raças melhoradas, uma redução de cerca de
10% na quantidade fornecida de alimento comparativamente ao ad libitum provoca,
uma ligeira diminuição da velocidade de crescimento, um melhor aproveitamento do
alimento e uma carcaça de melhor qualidade, com menor deposição de gordura (Silva,
2002). Em suínos de raça Alentejana, quando comparada com uma alimentação ad
libitum uma alimentação racionada comparativamente a uma alimentação ad libitum,
também implica a diminuição do crescimento e consequentemente, um aumento do
período de engorda, uma melhoria do IC (se a restrição não for muito acentuada) e a
obtenção de carcaças menos gordas e com teores superiores de músculo (Freitas, 1999,
citado por Silva, 2002).
Num ensaio realizado com suínos de raça Alentejana castrados, desde os 40kg
PV até à entrada em montanheira, Freitas (1998), citado por Silva (2002) constatou que
os animais alimentados próximo do ad libitum, apresentavam GMD mais elevados e PV
no final do pré-acabamento e ao abate superiores aos animais restringidos. Os animais
restringidos, por seu lado, apresentaram menor espessura de gordura subcutânea dorsal
e músculo Longissimus dorsi que os animais não restringidos, mas o rendimento médio
da carcaça não registou uma diferença significativa. A relação gordura/músculo foi
superior nos porcos alimentados próximo do ad libitum, concluindo-se que o nível
14
alimentar influenciou o crescimento e desenvolvimento, influenciando principalmente o
grau de deposição de gordura e a adiposidade das carcaças.
Num estudo mais recente Freitas et al. (2004d) concluiram que uma restrição
alimentar de 0,85 x ad libitum durante toda a fase de crescimento em animais
alimentados com alimento comercial (15%PB e 3100Kcal ED) e abatidos aos 100kg,
melhora significativamente as performances de crescimento sem afectar as
características da carcaça. Esta conclusão foi obtida quando estes animais foram
comparados com outros sujeitos a restrições alimentares de 0,90 x ad libitum entre os 40
e os 80kg PV e 0,70 x ad libitum até ao abate, bem como a 0,95 x ad libitum, entre os
40 e 60kg, 0,85 x ad libitum entre os 60 e os 80kg e 0,70 x ad libitum até ao peso de
abate. No entanto a influência sobre a qualidade da carne não foi estudada.
Lança (2004) refere valores de 472,42g/d para animais alimentados com um
alimento composto completo (15%PB e 3100Kcal ED/kg) e sujeitos a restrições de 0,85
x ad libitum, 428,10g/dia em animais submetidos a uma restrição de 0,90 x ad libitum
até aos 80kg PV e com uma restrição de 0,70 x ad libitum até aos 100kg. O mesmo
autor refere GMD de 439,17g/dia para animais submetidos a uma restrição de 0,95 x ad
libitum até aos 60kg, 0,85 x ad libitum até aos 80kg e 0,70 x ad libitum até aos 100kg.
2.1.6. Efeito Raça
O património hereditário é um dos principais factores responsáveis pelas
diferenças encontradas no desenvolvimento entre raças, possuindo as raças suínas
europeias melhoradas um formato adulto maior que o das raças Chinesas ou Ibéricas
(Delpech e Lefaucher, 1986). As variações mais significativas entre raças relacionam-se
com o conteúdo em gordura da carcaça, acentuadamente superior nos animais sujeitos a
fraca selecção genética. Os suínos da raça Alentejana e Ibérica apresentam um bom
15
poder assimilador, mas produzem essencialmente gordura, considerando-se por isso
animais adipogénicos quando comparados a outras raças melhoradas, como a Large
White ou a Landrace (Nunes, 1993).
2.2. Matéria-Prima
A composição dos tecidos muscular e adiposo são aspectos fundamentais na
determinação das características da carne e dos produtos transformados obtidos da raça
suína Alentejana, que os tornam bastante apreciados e únicos.
2.2.1. O tecido muscular
A palavra músculo é comummente usada como sinónimo de carne, mas deve-se
ter presente que a primeira é apenas a componente mais importante da carne (Warriss,
2000). A carne pode definir-se como o principal tecido animal que se pode utilizar
como alimento. Todo o estudo da carne exige o conhecimento prévio do tecido
muscular, visto este ser o maior componente da carne. As suas propriedades físicas, tal
como as dos tecidos conjuntivos anexos, são de grande importância para se estabelecer a
utilidade da carne como alimento. O músculo constitui um sistema contráctil muito
complexo que após o abate do animal sofre várias alterações físicas e químicas até se
transformar em carne após um processo degradativo gradual em que a homeostasia do
tecido muscular é afectada (Forrest et al., 1975b).
Nas raças ditas magras, os músculos esqueléticos constituem a maior parte (35 a
65%) do peso da carne das carcaças dos animais (Forrest et al., 1975a). A composição
média, em termos químicos, do músculo esquelético no mamífero adulto (em % de peso
fresco) é a seguinte: 75 % em água, 19 % em proteína, 2,5 % em lípidos, 1,2 % em
carbohidratos (essencialmente glicogénio no músculo vivo), 1,6 % em compostos
16
azotados não proteicos e 0,7 % em outras substâncias (minerais, vitaminas). Estes
valores variam segundo as espécies e as raças (Lawrie, 1985 citado por Neves, 1998).
Nos suínos de raça Alentejana a percentagem de músculo é inferior às raças
seleccionadas, variando este valor entre os 30 e os 40% do peso total da carcaça (Nunes,
1998), com as peças gordas a chegarem até aos 50% (Neves et al., 2004). A
percentagem em água dos músculos é também ligeiramente inferior, rondando os 70%
(Cava et al., 1999), devido à natureza hidrofóbica da gordura intramuscular (Bote,
2000). O músculo esquelético semimembranoso (figura 2) constitui um dos mais
importantes músculo na produção de carne fresca e produtos transformados na raça
suína Alentejana.
Figura 2: Localização do musculus semimembranosus no membro posterior da carcaça de suíno (Adaptado de Warriss, 2000)
2.2.1.1. Lípidos do tecido muscular esquelético
Os lípidos do tecido muscular esquelético são constituídos essencialmente por
triacilgliceróis (lípidos de reserva ou de depósito) e fosfolípidos (lípidos estruturais). Os
lípidos de reserva no porco estão divididos nas camadas inter e intramusculares. A
primeira acumula-se na bainha de tecido conjuntivo que envolve cada músculo
17
individualmente, encontrando-se assim entre a superfície externa de dois ou mais
músculos contíguos. A camada intramuscular segue as lâminas de tecido conjuntivo que
penetram no músculo para envolver os feixes de fibras musculares, fazendo assim parte
da estrutura muscular (Geri, 1988).
Os resultados publicados em relação ao músculo semi-membranoso mostram
que o teor de lípidos intramusculares em porcos Alentejanos/Ibéricos é muito variável
(Quadro 1). Este facto pode estar associado ao seu carácter adipogénico e às
características do SP (regime alimentar de engorda muito energético, idade e peso ao
abate elevados). Apesar disto, pode-se referir que os suínos de raça Alentejana
apresentam normalmente elevados conteúdos de lípidos intramusculares (Mayoral et al.,
1999 citados por Timon et al., 2001); (Cava et al., 2002 e 2004). Esta gordura
intramuscular contribui para uma carne mais tenra (Cava et al., 2002) sendo também
rica em ácidos gordos monoinsataurados e polinsaturados. Dietas ricas neste tipo de
lípidos têm sido associadas a uma diminuição do nível de colesterol sanguíneo e
relacionadas com uma baixa incidência de doenças cardiovasculares (Mattson &
Grundy, 1985, citados por Timon et al., 2001).
Quadro 1: Teor de lípidos intramusculares do musculus semimembranosus de suínos de raça Alentejana/Ibéricos engordados em montanheira e abatidos com cerca de 160kg PV (Adaptado de Neves, 1998).
AUTORES M. semimembranosus Cordoba, 1990 Huertas, 1990
Almeida et al., 1993 Martin, 1996
9,16 ± 0,71 5,68 ± 0,22 4,07 ± 1,4 3,42 ± 2,33
Em suínos, a gordura intramuscular aparenta ter um alto grau de heritabilidade
(Sellier e Monin, 1994 citados por Nürnberg et al., 1998). Por exemplo, o diâmetro dos
adipócitos da gordura dorsal, gordura intermuscular e intramuscular é menor na raça
18
Pietran do que em fenótipos obesos (Hauser et al., 1997, citados por Nürnberg et al.,
1998).
2.2.2. O tecido adiposo
A palavra gordura está normalmente associada ao tecido adiposo e os termos
gordura e tecido adiposo são frequentemente utilizados como sinónimos. No entanto, a
primeira é apenas a componente quantitativamente mais importante do último (Geri,
1988).
No suíno, regra geral, o tecido adiposo é composto por lóbulos de células
adiposas suportadas por uma matriz de tecido conjuntivo. As células gordas ocupam o
maior volume no tecido maduro (embora constituindo menos de 30% do número total
das células do tecido) visto os lípidos que contêm formarem 70 a 90% da massa do
tecido adiposo. Por seu lado, o tecido conjuntivo constitui aproximadamente 2,5% da
massa total, ao passo que a água representa entre 5 e 20% do tecido adiposo maduro
(Enser, 1983 citado por Neves, 1998). As respectivas proporções destes componentes
variam segundo a raça, a localização anatómica e diversos factores de produção (Lebret
e Mourot, 1998).
O tecido adiposo que não pertence ao compartimento muscular está dividido em
tecido adiposo subcutâneo (ou de cobertura) e em tecido adiposo interno, constituindo o
primeiro o maior depósito de tecido adiposo (cerca de 70% da gordura total –
Bragagnolo e Rodriguez-Amaya, 2002b). O tecido adiposo subcutâneo está localizado
entre a capa interna da pele e a superfície da massa muscular (Geri, 1988). Dentro deste
grupo incluem-se a gordura dorsal ou manta do toucinho, a gordura do abdómen, a
papada e a gordura da garganta e do peito (Girard et al., 1988). Quanto à gordura
interna, esta distribui-se ao longo das membranas serosas que rodeiam os órgãos das
19
cavidades viscerais. Nela incluem-se a gordura perirenal, e a gordura mesentérica
(Girard et al., 1988).
A gordura é a componente quantitativamente mais importante da carcaça em
animais da raça suína Alentejana abatidos acima dos 115kg PV (Neves, 1998). O
elevado grau de adiposidade verificado nas carcaças do porco Alentejano poderá ser
atribuído ao seu carácter adipogénico anteriormente referido, associado ao maneio
alimentar altamente energético a que estes animais estão sujeitos na fase de engorda. A
gordura pode representar mais de 60 % da carcaça e 8 a 10 centímetros de espessura do
toucinho (De Pedro, 1989, citado por Neves, 1998).
Os lípidos armazenados nas células adiposas são principalmente triacilgliceróis.
Estes compostos resultam da esterificação de três radicais alcoólicos com três moléculas
de ácidos gordos (Cândido e Teixeira, 1982). No tecido adiposo, os triacilgliceróis são
continuamente hidrolisados e ressintetizados. A síntese de triacilgliceróis do tecido
adiposo provém da síntese endógena (síntese de novo) de ácidos gordos nesse tecido
(O’Hea e Leveille, 1969, citados por Scott et al., 1981) sendo a síntese lípídica do
tecido subcutâneo considerada a mais importante (Mourot et al., 1999). A síntese de
novo realiza-se a partir da glicose no tecido adiposo e decresce com a idade e peso dos
animais. Nesta altura, ganha importância no tecido adiposo a deposição de ácidos
gordos absorvidos da dieta (Etherton e Allen, 1980 citados por Mateus, 2001).
O desenvolvimento do tecido adiposo do porco divide-se em três fases
consecutivas. A primeira caracteriza-se por uma hiperplasia (aumento do número de
adipócitos) dominante entre o primeiro e segundo mês de idade. A segunda fase envolve
a hiperplasia e hipertrofia celulares, entre o segundo e o quarto mês de idade. Daí em
diante ocorre quase exclusivamente a hipertrofia dos adipócitos (Anderson e Kaufmann,
1973, citados por Mourot, 2001). A hipertrofia dos adipócitos é acompanhada de uma
20
diminuição da sua proporção em proteína e por um forte aumento do teor lípidico
(Anderson e Kaufmann, 1973 e Câmara et al., 1994, citados por Lebret e Mourot,
1998), enquanto que o teor em água diminui (Lebret e Mourot, 1998). Assim, com o
aumento do PV do animal, é possível observar um aumento do teor em tecido adiposo
na carcaça, resultante do aumento do número e tamanho dos adipócitos (Henry, 1977 e
Câmara, 1995, citados por Lebret e Mourot, 1998). O nível de aumento do tecido
adiposo depende também da mobilização das reservas lípídicas, ou seja, da taxa de
lipólise (taxa de libertação de ácidos gordos pelo tecido adiposo) (Scott et al., 1981).
A hidrólise dos triacilgliceróis dá origem a glicerol e a ácidos gordos.
Normalmente, o glicerol é exportado para o fígado, enquanto que os ácidos gordos são
reesterificados em triacilgliceróis novamente. No entanto, em caso de deficiência de
glucose nas células adiposas, os componentes dos ácidos gordos são libertados no
plasma afim de servirem de substrato para a formação de energia. Daí se explica que o
exercício físico mobilize os lípidos de reserva após a utilização dos glúcidos, afim de
manter as funções celulares (Campos, 2002).
2.2.2.1. Lípidos do tecido adiposo subcutâneo
Os lípidos do tecido adiposo subcutâneo do porco são constituídos quase na sua
totalidade por triacilgliceróis (98%) sendo o conteúdo em fosfolípidos e em matéria
insaponificável (tocoferóis, esteróis e hidratos de carbono) muito reduzido (Smied et al.,
1979, citados por Flores e Nieto, 1985).
Em amostras de carne suína comercializadas em supermercados, Bragagnolo e
Rodriguez-Amaya (2002b) obtiveram valores na ordem dos 83g/100g em lípidos totais
na gordura subcutânea. Bragagnolo e Rodriguez-Amaya (2002a) apresentam valores na
ordem dos 92g /100g em estudos realizados com suínos cruzados (Hampshire x
21
(Landrace x Large White) e Duroc x (Landrace x Large White) abatidos aos 110 dias de
idade.
A capacidade dos suínos de raça Alentejana para depositar ácidos gordos
monoinsaturados (principalmente ácido oleico; Ruiz et al., 1998, Cava et al., 1999 e
Tejeda et al., 2002) aumenta com a idade, em oposição ao que ocorre em raças
seleccionadas, que mostram uma tendência para depositar mais ácidos gordos saturados
(Girard et al., 1983, citados por Edwards, 2005).
2.3. O colesterol
O colesterol é um membro da família dos esteróis e, na sua forma pura, é um
sólido cristalino, branco, insípido e inodoro. Este é um composto essencial à vida,
estando presente nos tecidos de todos os animais. Além de fazer parte da estrutura das
membranas celulares, é também um substrato de partida para a biossíntese de várias
hormonas (cortisol, aldosterona, testosterona, progesterona, estradiol), dos ácidos
biliares e da vitamina D (Vilela, 2004) colaborando também na formação da camada
mielínica que envolve os nervos (Prewitt et al., 2003, citados por Calado, 2003). O
colesterol é obtido por meio de síntese celular (colesterol endógeno, ~70%) e da dieta
(colesterol exógeno, ~30%). Excepto em pessoas com patologias do metabolismo do
colesterol, o seu excesso no sangue resulta geralmente de hábitos alimentares
incorrectos que levam a uma grande ingestão de gorduras saturadas (geralmente de
origem animal) e de colesterol (Vilela, 2004). O colesterol endógeno é sintetizado pelo
fígado, num processo regulado por um sistema compensatório: quanto maior for a
ingestão de colesterol vindo dos alimentos, menor é a quantidade sintetizada pelo fígado
(Bayón, 2001).
22
2.3.1. O metabolismo do colesterol
2.3.1.1. Síntese do colesterol
O colesterol pode ser sintetizado a partir do acetil-CoA. O fígado e o intestino,
são os principais locais de síntese do colesterol. Ele pode também ser produzido nos
testículos, ovários e córtex das suprarenais (Vilela, 2004).
2.3.1.2. Transporte de colesterol
Como é insolúvel em água e, consequentemente, no sangue, para ser
transportado na corrente sanguínea o colesterol liga-se a algumas proteínas e outros
lípidos em complexos denominados lipoproteínas através de ligações não-covalentes.
Existem vários tipos de lipoproteínas e estas são geralmente classificadas com base na
sua densidade. Entre estas, estão as "Low-Density Lipoproteins", ou LDL, que
transportam o colesterol do sítio de síntese – essencialmente o fígado e o intestino – até
as células de vários outros tecidos. Uma outra classe de lipoproteínas, as "High Density
Lipoproteins", ou HDL, transportam o excesso de colesterol dos tecidos de volta para o
fígado, onde é utilizado para a síntese dos ácidos biliares (Bayón, 2001). Quanto ao
colesterol alimentar absorvido, este chega ao fígado transportado por quilomícrons e aí
provoca a inibição da actividade da enzima da HMG-CoA redutase, diminuindo com
isto a síntese endógena (Vilela, 2004).
No Homem e no Suíno, a maior parte do colesterol é transportado pelas LDL e
em menor proporção pelas HDL. Tal também acontece especificamente com os suínos
de raça Alentejana (Martins et al., 2004). O colesterol ligado às LDL é o que se deposita
nas paredes das artérias (“mau colesterol”) quando em excesso, contribuindo para a
aterosclerose. Por outro lado, o cHDL pode ser considerado o "bom colesterol", pois
estas lipoproteínas retiram o colesterol da circulação e transportam-no para ser
23
metabolizado no fígado, desempenhando assim um papel de protecção contra a
aterosclerose (Vilela, 2004).
2.3.2. Colesterol em suínos
O conteúdo em colesterol tem vindo a ser avaliado em suínos, mas a influência
neste conteúdo de vários factores como a raça e o peso corporal é ainda contraditória
(Cross et al., 1993). Apesar de actualmente existirem bastantes dados referentes ao teor
de colesterol (plasmático e tissular) em suínos, estes variam muito, devido por ventura a
variações verificadas entre ensaios, do peso corporal e da raça dos animais utilizados, da
dieta alimentar fornecida, do SP e mesmo dos métodos de análise utilizados (Martins et
al., 2004).
A concentração em colesterol no músculo semi-membranoso de suínos varia
ligeiramente consoante o autor referido. Assim, Bohac et al. (1988), citados por
Bragagnolo e Rodriguez-Amaya (1995) referem valores entre os 55,7 e os 57,5mg/100g
e o valor de 53,1 mg/100g. Mas Mattson et al. (1972) citados também por Bragagnolo, e
Rodriguez-Amaya, (1995) apontam valores de 61,9mg/100g. Agboola et al. (1990),
utilizando animais Yorkshire x Landrace x Duroc, abatidos aos 104kg e submetidos a
dietas baseadas em milho com 20,3% PB até aos 18kg, 16,7% PB até aos 55kg e 13,9%
PB até aos 104kg, obtiveram um valor médio de colesterol de 74,8mg/100g.
Quanto à concentração em colesterol do tecido adiposo subcutâneo, os valores
obtidos pelos vários autores são discrepantes. Assim, Busboom et al. (1991) referem
valores na ordem dos 64,5mg/100g para animais Yorkshire x Hampshire x Duroc x
Spotted abatidos com cerca de 100kg, alimentados ad libitum com dietas à base de colza
e soja com 15% PB e 3535 e 3392Kcal/kg ED, respectivamente. Pond et al. (1995) com
animais Chester White x Landrace x Large White x Yorkshire, abatidos com cerca de
24
160kg obtiveram valores que variam entre os 113 e os 116mg/100g com uma dieta com
15% PB e 3800Kcal/kg ED e com dietas de 15% PB e 3300Kcal/kg ED, valores que
variam entre 79 mg/100g e os 105 mg/100g,
2.3.2.1. Colesterol em suínos de Raça Alentejana
Existem poucos dados sobre o teor de colesterol, tanto no sangue como nos
tecidos de suínos de raça Alentejana. Num trabalho realizado por Abreu (2004), este
autor refere valores de CT plasmático de 3,17mmol/L para animais mantidos em regime
intensivo (confinados em parques individuais), submetidos a uma dieta com 3107Kcal
ED e 15% PB e abatidos aos 100kg. No músculo semimembranoso, para animais
submetidos à mesma dieta e abatidos com o mesmo peso, em regime intensivo o
colesterol atingiu os 90,5mg/100g, enquanto que para o regime semi-extensivo (com
acesso a um parque colectivo) esse valor foi de 68,6mg/100g. Por fim, no tecido
adiposo subcutâneo lombar, os valores obtidos foram de 257,6mg/100g em regime
intensivo e 250,5mg/100g em regime semi-extensivo.
2.3.3. Colesterol em outras espécies animais de interesse zootécnico
A carne suína ter sido associada a níveis elevados de gordura e colesterol. No
entanto, Bragagnolo e Rodriguez-Amaya (1995) observaram que o teor em colesterol de
amostras de carne suína e bovina não diferiram estatisticamente entre si,
independentemente dos cortes analisados. Analisando o Quadro 2, é possível verificar
que os valores encontrados por diferentes autores no músculo semi-membranoso de
suínos e bovinos não apresentaram grande variação. Por outro lado, cerca de 70% da
gordura do suíno encontra-se localizada numa camada subcutânea, a qual pode ser
removida antes do consumo da carne (Bragagnolo e Rodriguez-Amaya, 2002b).
25
Quadro 2: Teores em colesterol (mg/100g) no musculus semimebranosus de suínos e bovinos (Adaptado de Bragagnolo e Rodriguez-Amaya, 1995)
AUTORES SUÍNOS BOVINOS Bohac et al., 1988 Rhee et al., 1982
Mattson et al., 1972 Bragagnolo e Rodriguez-Amaya, 1995
55,7 – 57,5 53,1 61,9 51,0
57,4 – 69,3 58,5 57,0 52,0
Em relação aos ovinos, Bunch et al. (2004) referem valores de 50mg/100g (para
animais St. Croix x St. Croix), 170mg/100g (St. Croix x Wool, 73mg/100g (Callipyge
Wool x St. Croix), 131mg/100g (Dorper x St. Croix), 149mg/100g (Dorper x Wool),
50mg/100g (Callipyge Wool x Wool) e 117mg /100g (Wool x Wool) de CT em
amostras de longisiimous dorsi de animais abatidos com 50kg PV e consumindo uma
dieta com 16% PB. Também em ovinos Hampshire x Suffolk submetidos a uma dieta
contendo 11.7% PB e 1.84Mcal ED e abatidos aos 50kg PV, Solomon et al. (1990)
obtiveram valores entre os 70 e os 80mg/100g na gordura subcutânea e, para o músculo
longisiimous dorsi, entre os 64,18 e as 69,94mg/100g.
Ayudah et al. (1991) e Hdrinka et al. (1996), citados por Mourot et al. (2001)
referem que em frangos de carne, os valores de colesterol variam entre os 20 e os
60mg/100g para carne branca e entre os 20 e 70mg/100g para carne vermelha. No caso
das avestruzes, Sales (1998) refere o intervalo entre as 56 e as 71mg/100g em músculos
da perna.
Estes dados sugerem alguma discrepância nos valores da concentração tissular
de colesterol inter e intra-espécie e parecem apontar para a existência de valores
semelhantes entre suínos e outras espécies animais de interesse zootécnico (com
excepção das aves) no teor em colesterol muscular.
No entanto, se compararmos estes dados (do tecido muscular e adiposo) com os
obtidos nos suínos de raça Alentejana e referidos na página 26 (Abreu, 2004), verifica-
26
se que esta raça apresenta um teor em colesterol superior às outras raças suínas e outras
espécies anteriormente referidas, com excepção de alguns cruzamentos de ovinos.
2.4. Os Fosfolípidos
Os fosfolípidos são semelhantes aos triglicéridos, com excepção de que um dos
ácidos gordos ligados à molécula de glicerol é substituído por uma molécula que
contém fosfato e, normalmente, azoto. Estas moléculas são polares no extremo onde o
fosfato se encontra ligado e apolares na outra extremidade (Seeley et al., 1997).
Embora também se encontrem presentes em fluidos corporais, como o plasma e
a bílis, os fosfolípidos apresentam concentrações mais elevadas nas membranas
celulares e organitos subcelulares. Aí, para além de uma função estrutural,
desempenham também um papel de activação de certas enzimas (Herrera, 1991, citado
por Calado, 2003). As propriedades detergentes dos fosfolípidos e em particular da
fosfatidilcolina, desempenham um papel importante na bílis, onde a sua função é
solubilizar o colesterol (Herrera, 1991, citado por Calado, 2003). A composição, em
termos de triacilgliceróis e fosfolípidos, é influenciada pela idade (Clemens et al., 1973,
citados por Riette e Spencer, 1999), dieta (Lin et al., 1989, Melton, 1990 e Monahan et
al., 1992, citados por Riette e Spencer, 1999), e temperatura ambiente (Fuller et al.,
1974, citados por Riette e Spencer, 1999). Desconhece-se qual a influência do genótipo
sobre a composição de fosfolípidos em músculos de suíno (Riette e Spencer, 1999).
2.5. As Proteínas Totais
São constituídas pela albumina e globulinas. As proteínas totais e a albumina são
medidas normalmente no soro ou no plasma (Fermer et al., 2000, citados por Calado,
2003). A concentração de globulinas é obtida subtraindo a albumina ao valor das
27
proteínas totais (Fermer et al., 2000, citados por Calado, 2003). A albumina é
sintetizada pelo fígado e catabolizada pelos tecidos periféricos (Fermer et al., 2000,
citados por Calado, 2003). As duas principais funções da albumina são a manutenção da
pressão oncótica plasmática e o transporte de diversas hormonas, iões e drogas (Fermer
et al., 2000, citados por Calado, 2003), embora também actue como tampão (Seeley et
al, 1997). A fracção das globulinas engloba as imunoglobulinas e diversas proteínas
transportadoras (Fermer et al., 2000, citados por Calado, 2003).
2.6. A Ureia
A ureia constitui o principal produto final do metabolismo proteico e é
produzida a partir da amónia, quase exclusivamente no fígado (Fermer et al., 2000,
citados por Calado, 2003). A amónia, por sua vez, é produzida pela flora microbiana
intestinal a partir do catabolismo dos aminoácidos e pelas células do organismo, sendo
excretada principalmente nos rins (Fermer et al., 2000, citados por Calado, 2003).
2.7. A Glucose
A glucose é o monossacárido mais abundante na natureza e é a unidade básica
de polissacáridos como o amido e o glicogénio (Halpern, 1997). A sua principal função
é servir como fonte de energia para a actividade celular (Seeley et al., 1997).
As fontes de glucose incluem o alimento ingerido e a neoglucogénese ou
glicogénese hepática (Fermer et al., 2000, citados por Calado, 2003). O seu nível
sanguíneo e a entrada nas células são reguladas pela insulina e glucagon secretadas pelo
pâncreas (Fermer et al., 2000, citados por Calado, 2003).
28
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Animais, instalações e equipamentos
Neste ensaio foram utilizados 34 suínos de raça Alentejana (17 fêmeas e 17
machos). Todos os animais foram castrados antes de serem utilizados nos ensaios, de
modo a neutralizar o efeito do sexo sobre as características da carcaça.
As primeiras quatro semanas constituíram a fase de pré-ensaio, onde se procedeu
ao alojamento dos animais em parques individuais equipados com comedouros de
madeira e bebedouros automáticos de chupeta, à habituação dos animais ao alimento
composto utilizado durante o ensaio, à identificação dos animais através de
“transponders” e à sua desparasitação e vacinação.
Estes animais foram divididos em dois conjuntos quando atingiram um PV
médio de 35,7 kg: um deles, constituído por 19 animais, manteve-se durante todo o
período de ensaio nos respectivos parques individuais na Herdade da Mitra (SP
intensivo); o outro conjunto, constituído por 15 animais, foi transferido para a Herdade
dos Delgados, Campo Maior, onde os animais foram estabulados individualmente, mas
tendo acesso a um parque exterior com a dimensão de 3 hectares (SP semi-extensivo).
3.2. Alimento e regime alimentar
Com um PV médio de 40kg os animais foram distribuídos aleatoriamente por
seis grupos: três destes grupos ficaram sujeitos ao sistema dito intensivo e outros três ao
sistema dito semi-extensivo. Assim sendo cada SP apresentou um Grupo I (GI), um
Grupo II (GII) e um Grupo III (GIII).
No GI e GII do sistema intensivo foram analisadas amostras de 6 animais. No
GIII foram analisadas amostras de 7 animais. Quanto ao sistema semi-extensivo foram
analisadas amostras de 5 animais em todos os grupos.
29
Durante o ensaio foi fornecido aos animais um alimento composto completo, de
origem comercial (Quadro 3), fornecendo 3107Kcal ED.
Quadro 3: Composição do alimento composto completo fornecido aos animais utilizados no ensaio.
CONSTITUINTES g/kg Proteína bruta Celulose bruta Gordura bruta Cinza total Lisina
150 70 35 80 9,5
O alimento composto incluía produtos e subprodutos de tubérculos e raízes,
grãos de cereais, produtos e subprodutos de sementes oleaginosas, produtos e
subprodutos da transformação de frutos, sementes oleaginosas, minerais, óleos e
gorduras, não tendo sido possível conhecer a percentagem de incorporação de cada
matéria-prima.
O GI, em ambos os SP, foi alimentado a um nível alimentar de 0,85 x ad libitum,
até atingir o peso de abate pré-estabelecido (100kg). O Grupo II recebeu 0,90 x ad
libitum entre os 40 e os 80kg PV, seguido de 0,70 x ad libitum entre os 80kg e o abate.
Por fim, o GIII, recebeu 0,95 x ad libitum entre os 40 e os 60kg, 0,85 x ad libitum entre
os 60 e 80kg e 0,70 x ad libitum entre os 80kg e o abate (Quadro 4).
Quadro 4: Níveis alimentares utilizados nos grupos experimentais sujeitos aos sistemas Intensivo e Semi-extensivo.
PESO (KG) 40 50 60 70 80 90 GRUPO I 0,85 x ad libitum GRUPO II 0,90 x ad libitum 0,70 x ad libitum GRUPO III 0,95 x Ad Libitum 0,85 x Ad Libitum 0,70 x Ad Libitum
No Quadro 5 apresenta-se a escala de alimentação utilizada ao longo do ensaio.
30
Quadro 5: Alimento distribuído ao longo do ensaio (kg ração/dia).
PESO VIVO (KG)
GRUPO I GRUPO II GRUPO III
35 - 40
40 - 45
45 - 50
50 - 55
55 - 60
60 - 65
65 - 70
70 - 75
75 - 80
80 - 85
85 - 90
90 - 95
95 - 100
1,50
1,64
1,78
1,92
2,05
2,19
2,30
2,41
2,46
2,52
2,57
2,63
2,68
1,59
1,74
1,88
2,03
2,17
2,31
2,43
2,55
2,61
2,07
2,12
2,16
2,21
1,68
1,83
1,99
2,14
2,29
2,19
2,30
2,41
2,46
2,07
2,12
2,16
2,21
A quantidade de alimento a fornecer diariamente a cada animal durante a
semana era determinado pelo peso médio do grupo, de acordo com a escala de
alimentação apresentada no quadro 5. O alimento foi distribuído uma única vez por dia,
no início da manhã, havendo o cuidado de verificar se existiam sobras de alimento do
dia anterior e se tal acontecia, as sobras eram recolhidas e pesadas. Em relação à água,
esta esteve disponível sempre e através de bebedouros automáticos de chupeta.
3.3. Pesagens e abates
Os animais foram pesados com uma periodicidade de 7 dias, numa balança
basculante e a quantidade média de ração a fornecer na semana seguinte às pesagens foi
determinada com base na média do PV dos animais de cada grupo.
31
O abate ocorreu no Matadouro de Sousel, tendo os animais sido abatidos a um
PV médio de 100kg PV, após um jejum alimentar de 24 horas. As operações inerentes
ao abate incluíram a electronarcose, a sangria, o escaldão, a depilação, a evisceração e a
fenda das carcaças. Estas foram, por fim, sujeitas a refrigeração.
3.4. Análises laboratoriais
3.4.1. Amostras
A determinação dos parâmetros plasmáticos foi realizada a partir de amostras de
sangue obtidas à altura da sangria e conservadas a + 4ºC até à sua centrifugação (20
minutos a 1500 rpm e a + 4ºC) numa centrífuga Beckman J – 6B (Bucks, Reino Unido).
A determinação do teor em lípidos e colesterol totais foi realizada em amostras
de tecido muscular (Musculus semimembranosus) e do tecido adiposo subcutâneo
lombar, retirado entre a última vértebra dorsal e a 3ª- 4ª vértebras lombares. Estas
amostras foram obtidas 24 horas após o abate, na carcaça refrigerada. As amostras,
identificadas e embaladas em vácuo em sacos de polietileno, foram de seguida
congeladas a – 20ºC até análise laboratorial.
3.4.2. Químicos
Os testes enzimáticos para determinação plasmática de ureia, glucose,
triacilgliceróis, fosfolípidos, CT e cLDL e cHDL foram adquiridos à Roche Diagnostics
(Mannhein, Alemanha). Os testes enzimáticos para a determinação do CT nos tecidos
muscular e adiposo foram adquiridos à Wako Chemicals (Mannheim, Alemanha).
Os químicos utilizados para as análises laboratoriais, do mais alto grau de
pureza, foram adquiridos à Lab-Scan (Dublin, Irlanda) e Merck (Darmstadt, Alemanha).
32
3.4.3. Determinação dos parâmetros plasmáticos
O plasma obtido pela centrifugação do sangue recolhido ao abate foi analisado à
ureia, glucose, triacilgliceróis, fosfolípidos, CT bem como ao cLDL e cHDL. Estas
análises foram realizadas com base em testes enzimáticos num analisador automático
(Hitachi 917 Automatic Analyser, Tóquio, Japão). A proteína total plasmática foi
determinada de acordo com a técnica de Lowry et al. (1951).
3.4.4. Extracção e determinação do teor em lípidos totais (LT) tissulares
Para a determinação dos LT, as amostras (4g de tecido muscular e 0,25g de
tecido adiposo) foram homogeneizadas com uma mistura de clorofórmio e metanol (2:1,
vol:vol) e extraídos segundo o método de Folch et al. (1957).
3.4.5. Determinação do teor em colesterol tissular
Depois de quantificados os LT, os extractos obtidos em 3.4.4. foram
solubilizados em 2-propanol (10 e 15 ml, respectivamente para o tecido muscular e o
tecido adiposo). Os extractos lipídicos em 2-propanol foram utilizados para o
doseamento do CT, recorrendo a testes da Wako Chemicals e a um espectrofotómetro
UV/Vis Beckman DU-530 (Berks., Reino Unido).
3.5. Análise Estatística
Os resultados apresentados nesta tese, são-no sob a forma de média ± erro
padrão da média.
A análise estatística foi realizada através de uma análise de variância (ANOVA)
simples para avaliar o efeito do nível alimentar nos parâmetros plasmáticos, e uma
ANOVA dupla, para os efeitos nível alimentar, SP (sistema intensivo vs sistema semi-
33
extensivo) e interacção entre o nível alimentar e SP. Um modelo linear (GLM) do
pacote estatístico Statview 5.0 (SAS Institute Inc, Cary, EUA) foi utilizado. O teste de
comparação múltipla de Student-Newman-Keuls foi utilizado como teste post-hoc para
comparar o efeito SP entre os níveis de restrição alimentar. A significância das
diferenças entre médias foi testada pelo teste da diferença mínima significativa (LSD) e
estabelecida para probabilidades iguais ou inferiores a 5 %.
34
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre os
Parâmetros Zootécnicos
4.1.1. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema Produção (SP) Sobre a Idade ao
Abate (IA)
Os resultados obtidos (Quadro 6) indicam que os animais sujeitos ao sistema
semi-extensivo atingiram mais cedo o peso de abate, precisando em média de 255 dias
contra 275 no sistema intensivo.
Quadro 6: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre os parâmetros zootécnicos.
Sistema Intensivo Sistema Semi-Extensivo ANOVA1
G I
G II
G III
G I
G II
G III
NA
SP
NA X
SP2
IA (dias)
257,8±3,7b
284,7±7,8a
281,8±7,7a
260,0±0,0b
253,0±0,0b
253,0±0,0b
NS
***
**
IT (kg/
animal)
285,9±7,6
311,5±10,6
311,6±10,7
288,0±0,0
281,7±0,0
284,6±0,0
NS
**
NS
GMD (g/d/
animal)3
481,2±2,4a
434,4±5,2b
437,8±7,7b
485,5±14,6a
486,7±7,0b
475,0±22,2b
*
**
NS
Notas: 1 Significância: *** – P≤0,001; ** - P≤0,01; * – P≤0,05; NS – Não significativo (P>0,05); 2 Quando significativa, médias com letras diferentes na mesma linha, são
significativamente diferentes (P≤0,05) pelo teste da comparações múltiplas de Scheffe; 3 Médias com letras diferentes na mesma linha são significativamente diferentes
(P≤0,05) para o efeito NA.
Devido ao facto de se ter observando a interacção (P≤0,01) entre o SP e o NA,
só os GII e GIII do sistema semi-extensivo foram significativamente diferentes (P≤0,05)
dos restantes.
Comparando com outros valores da bibliografia, verifica-se que eles não são
concordantes. São inferiores aos obtidos por Freitas (1998) que refere pesos vivos
médios de 95, 85 e 75kg, aos 270 dias de idade, respectivamente em animais
alimentados com alimento comercial “ad libitum” e restringidos em 15 e 30%. Abreu
35
(2004) refere que só após 324 dias no sistema intensivo e 310 dias para o sistema semi-
extensivo, é que os animais da raça Alentejana sujeitos a uma restrição de 0,85 x ad
libitum atingiram os 100kg PV. Freitas et al. (2004a) referem um período 298 dias, até
atingir os 100kg PV, em animais alimentados individualmente com alimento composto
comercial (150g PB e 3107Kcal ED) fornecido a 85% do ad libitum. Os animais
encontravam-se alojados num parque extensivo. Por outro lado, os valores obtidos neste
ensaio são superiores aos valores obtidos por Lança (2004) que refere 135 dias, 147 dias
e 145 dias para os animais atingirem um igual peso de abate (100kg), submetidos a
iguais restrições alimentares e alojados em regime intensivo.
4.1.2. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre a
Ingestão Total (IT)
Os animais sob o SP semi-extensivo ingeriram, em média, uma menor (P≤0,01)
quantidade de alimento (285kg) do que os animais do sistema intensivo (303kg). Os
valores de ingestão de cada NA não foram significativamente diferentes entre si.
Freitas (2004a) refere um valor de IT na ordem dos 277,7kg/animal com um NA
de 0,85 x ad libitum, em regime semi-extensivo. Este valor é inferior à média obtida
neste ensaio. Já Lança (2004) refere IT de 297,3kg, 310,1kg, e 311,7kg/animal, para
animais em regime intensivo e com restrições iguais às utilizadas neste ensaio, o que em
média perfaz 306,4kg de alimento, ligeiramente superior à média registada no nosso
ensaio.
36
4.1.3. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre o
Ganho Médio Diário (GMD)
Observando-se os resultados do Quadro 6, pode-se verificar que os animais
sujeitos ao SP semi-extensivo apresentaram GMD superiores (P≤0,01) aos dos animais
sujeitos ao sistema intensivo: 482,4g/dia contra 451,1g/dia.
Em relação aos diferentes NA, os animais do GI obtiveram uma média superior
(P≤0,05) à média dos GII e GIII: 483,4g/dia, 460,6g/dia e 456,4g/dia, respectivamente.
Freitas et al. (2004a) referem GMD de 498,0g/dia com um NA de 0,85 x ad
libitum, em regime semi-extensivo. Este valor é superior à média obtida neste ensaio. Já
Lança (2004) refere GMD de 472,42g/dia, 428,10g/dia e 439,17g/dia para restrições
iguais às utilizadas no nosso ensaio e em condições intensivas de produção. A sua
média é de 446,6g/dia, inferior à média obtida neste ensaio.
4.1.4. Discussão dos Resultados
Em relação aos parâmetros zootécnicos, o SP semi-extensivo, quando
comparado com o intensivo, demonstrou resultados mais favoráveis, pois provocou a
diminuição da IA, da IT e o aumento do GMD.
Em termos de IA, esta foi menor no sistema semi-extensivo, indicando que os
animais sujeitos a este SP cresceram mais rápido. No entanto, esta diferenciação não foi
significativa (P≤0,05) entre os grupos sujeitos ao sistema semi-extensivo e o GI do
sistema intensivo, devido a uma interacção entre os factores NA e SP. Esta interacção
ao nível do GI do sistema intensivo, originou uma IA semelhante às obtidas nos grupos
GI a GIII do sistema semi-extensivo.
Como seria de esperar, o valor de IT variou directamente com a IA, visto que
aos maiores valores de IA correspondem os maiores valores de IT.
37
Os animais do sistema semi-extensivo apresentam um GMD superior aos do
sistema intensivo. O efeito do exercício na deposição de proteína pode ter tido um efeito
benéfico neste grupo, aumentando-a. Por outro lado, e para além do alimento composto,
os animais podem ter tido acesso a alguma vegetação herbácea, embora provavelmente
com uma influência diminuta.
Em termos de restrição alimentar, 0,85 x ad libitum foi aquela que demonstrou
resultados mais favoráveis, com uma diminuição da IA (significativa quando comparada
com os grupos GII e GIII do sistema intensivo) e um aumento do GMD (significativa
quando comparado com os grupos GII e GIII).
Assim, a combinação SP semi-extensivo e restrição alimentar 0,85 x ad libitum,
foi aquela que apresentou dados mais favoráveis a nível produtivo.
A explicação para estas diferenças poderá ser encontrada com base na distinção
entre os dois SP estudados. A diferença principal entre ambos foi a existência de um
parque exterior com 3 hectares. Isto proporcionou aos animais sujeitos ao regime semi-
extensivo uma área de exercício, o que não aconteceu com os animais sujeitos ao
regime intensivo. O exercício físico pode ser importante para o bem-estar animal, visto
que afecta positivamente o tónus muscular e resistência óssea, apesar de aumentar as
necessidades energéticas (Edwards, 2003, citado por Edwards, 2005). Além disso, uma
maior área disponível para cada animal melhora as condições gerais de ambiente e bem-
estar, comportamentais e sociais (Honeyman, 2005; Edwars, 2005) e,
consequentemente, diminui as situações de “stress” a que os animais estão sujeitos.
Estes factos poderão ter influenciado uma diferente utilização dos nutrientes
alimentares, tornando-a mais eficiente nos animais submetidos ao SP semi-extensivo.
38
4.2. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre
Parâmetros Bioquímicos, Plasmáticos e Tissulares
4.2.1. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor
em Triacilgliceróis Plasmáticos
Os animais inseridos no SP semi-extensivo apresentaram uma média de
0,48mmol/L, inferior (P≤0,01) à média do sistema intensivo (0,59mmol/L) (Figura 3).
Figura 3: Influência do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em triacilgliceróis plasmáticos.
Nota: 1Significância: ** - P≤0,01;
NS – Não significativo (P>0,05)
ANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
**
NS
Sist. Intensivo 0,56±0,02 0,61±0,05 0,60±0,05
Sist. Semi-Extensivo 0,56±0,06 0,44±0,02 0,44±0,02
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
mm
ol/L
Sist. Intensivo Sist. Semi-Extensivo
O NA não influenciou significativamente o teor em triacilgliceróis plasmáticos.
Olhando para a bibliografia, constata-se que Abreu (2004) utilizando animais
alimentados com um regime alimentar idêntico ao nosso (15% PB e 3100Kcal ED),
sujeitos a uma restrição alimentar de 0,85 x ad libitum, a um maneio idêntico aos
animais sujeitos ao regime intensivo deste ensaio e abatidos aos 100kg PV, obteve
valores cerca de 18% inferiores aos observados neste trabalho (0,49 vs. 0,59mmol/L).
39
4.2.2. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor
em Colesterol Total (CT) Plasmático
Os animais do sistema semi-extensivo tenderam (P=0,051) a apresentar uma
média inferior à dos animais do sistema intensivo: 2,97 vs. 3,15mmol/L (Figura 4).
Figura 4: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em colesterol total
plasmático.
Nota: 1Significância: NS – Não
significativo (P>0,05)
ANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
0,051
NS
Sist. Intensivo 3,12±0,06 3,22±0,10 3,12±0,13
Sist. Semi-Extensivo 2,99±0,08 3,01±0,11 2,92±0,09
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
mm
ol/L
Sist. Intensivo Sist. Semi-Extensivo
Mais uma vez, o NA não influenciou este parâmetro plasmático.
Abreu (2004) obteve o valor de 3,17 mmol/L, em regime intensivo, similar ao
obtido neste ensaio.
40
4.2.3. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre o Teor
em Colesterol das LDL Plasmáticas (cLDL)
Os animais do sistema semi-extensivo apresentaram uma média de cLDL
inferior (P≤0,05) à média dos animais em regime intensivo (1,91 vs. 2,18mmol/L)
(Figura 5).
Figura 5: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em colesterol das LDL plasmáticas.
0,000,250,500,751,001,251,501,752,002,252,50
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
mm
ol/L
Sist. Intensivo Sist. Semi-ExtensivoANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
*
NS
Nota: 1Significância: * – P≤0,05, NS –
Não significativo (P>0,05)
Sist. Intensivo 2,31±0,08 2,19±0,09 2,04±0,11
Sist. Semi-Extensivo 1,92±0,07 1,96±0,08 1,85±0,15
Em relação aos diferentes NA, o GI apresentou 2,12mmol/L, o GII 2,08mmol/L
e o GIII 1,95mmol/L. Esta diferença não foi significativa.
Abreu (2004) obteve 1,93 mmol/L em regime intensivo, um valor ligeiramente
inferior ao observado neste ensaio.
41
4.2.4. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre o Teor
em colesterol das HDL Plasmáticas (cHDL)
Os suínos do sistema semi-extensivo apresentaram um valor em cHDL superior
(P=0,051) ao observado nos animais do sistema intensivo: 1,05 contra 1,00mmol/L,
respectivamente (Figura 6).
Figura 6: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em colesterol das HDL plasmáticas.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
mm
ol/L
Sist. Intensivo Sist. Semi-Extensivo
ANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
0,051
NS
Nota: 1Significância: NS – Não
significativo (P>0,05)
Sist. Intensivo 1,00±0,01 1,00±0,03 1,00±0,02
Sist. Semi-Extensivo 1,05±0,04 1,04±0,02 1,05±0,05
Os valores dos animais sujeitos aos três NA não foram significativamente
diferentes.
Abreu (2004) obteve 1,19 mmol/L do cHDL em regime intensivo, um valor
ligeiramente superior ao encontrado neste estudo.
42
4.2.5. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor
em Fosfolípidos Plasmáticos
Os animais do sistema semi-extensivo apresentaram uma média de 1,50mmol/L
de fosfolípidos, inferior (P≤0,01) à média dos animais do sistema intensivo
(1,63mmol/L) (Figura 7).
Figura 7: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em fosfolípidos plasmáticos.
0,00,20,40,60,81,01,21,41,61,8
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
mm
ol/L
Sist. Intensivo Sist. Semi-ExtensivoANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
**
NS
Nota: 1Significância: ** - P≤0,01; NS
– Não significativo (P>0,05)
Sist. Intensivo 1,59±0,05 1,64±0,03 1,67±0,07
Sist. Semi-Extensivo 1,57±0,04 1,54±0,11 1,38±0,03
Abreu (2004) obteve uma média de 1,78 mmol/L, em regime intensivo, um valor
ligeiramente superior ao obtido neste ensaio.
43
4.2.6. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor
em Proteína Plasmática
Os suínos do sistema semi-extensivo apresentaram uma média inferior (P≤0,05)
à média dos animais do sistema intensivo: 69,1g/L contra 71,5g/L, respectivamente
(Figura 8).
Figura 8: Influência do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em proteína plasmática.
Nota: 1Significância: * – P≤0,05, NS
– Não significativo (P>0,05)
ANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x SP
NS
*
NS
Sist. Intensivo 71,0±2,0 72,2±1,2 71,4±1,0
Sist. Semi-Extensivo 68,4±1,4 69,6±1,2 69,2±1,0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
g/L
Sist. Intensivo Sist. Semi-Extensivo
A concentração em proteína plasmática não foi afectada pelo NA.
Abreu (2004) obteve um valor de 72,2 g/L em regime intensivo, similar ao valor
obtido neste ensaio.
44
4.2.7. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor
em Ureia Plasmática
O teor em ureia nos suínos presentes neste ensaio não foi afectado pelo SP nem
pelo NA (Figura 9).
Figura 9: Influência do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em ureia plasmática.
Nota: 1Significância: NS – Não
significativo (P>0,05)
ANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
NS
NS
0
1
2
3
4
5
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
g/L
Sist. Intensivo Sist. Semi-Extensivo
Sist. Intensivo 4,15±0,18 4,43±0,21 4,34±0,19
Sist. Semi-Extensivo 4,15±0,23 4,25±0,27 4,32±0,29
45
4.2.8. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) sobre Teor
em Glúcídos Plasmáticos
Os suínos do sistema semi-extensivo apresentaram uma média de 4,7mmol/L de
glúcidos plasmáticos, inferior (P≤0,001) à média observada nos animais do sistema
intensivo (5,43mmol/L) (Figura 10).
Figura 10: Influência do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em glúcidos plasmáticos.
Nota: 1Significância: *** – P≤0,001;
NS – Não significativo (P>0,05)
ANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
***
NS
0
1
2
3
4
5
6
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
mm
ol/L
Sist. Intensivo Sist. Semi-Extensivo
Sist. Intensivo 5,28±0,16 5,55±0,27 5,46±0,19
Sist. Semi-Extensivo 4,81±0,26 4,36±0,16 4,85±0,14
O NA não afectou significativamente o teor em glúcidos plasmáticos.
Abreu (2004) refere um valor médio de 5,95mmol/L em regime intensivo,
similar à média obtida neste ensaio.
46
4.2.9. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor
em Lípidos Totais (LT) no Tecido Muscular Semimembranoso
Os animais sujeitos ao SP semi-extensivo apresentaram um teor em LT no
músculo semimembranoso de 2,96g/100g. Os animais sujeitos ao sistema intensivo,
apresentaram o valor de 3,17g/100g. Esta diferença não foi significativa (Figura 11).
Figura 11: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em lípidos totais do tecido muscular semimembranoso
Nota: 1Significância: NS – Não significativo
(P>0,05) 0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
g/10
0g
Sist. Intensivo Sist. Semi-ExtensivoANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
NS
NS
Sist. Intensivo 3,06±0,19 3,36±0,32 3,10±0,24
Sist. Semi-Extensivo 3,09±0,36 2,93±0,54 2,87±0,31
Em relação aos diferentes NA, o GI apresenta um valor de 3,08g/100g, o GII
3,14g/100g e o GIII 2,99g/100g. Estas diferenças não foram estatisticamente
significativas.
Abreu (2004) obteve valores superiores: 4,1g/100g em regime intensivo e
3,3g/100g em regime semi-extensivo.
47
4.2.10. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) no Teor em
Lípidos Totais (LT) da Gordura Subcutânea
Tal como no músculo semimembranoso, o SP e o NA não afectou
significativamente o teor em LT da gordura subcutânea (Figura 12).
Figura 12: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em lípidos totais da gordura subcutânea
Nota: 1Significância: NS – Não
significativo (P>0,05)
ANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
NS
NS
Sist. Intensivo 81,8±1,5 80,4±2,1 81,6±1,6
Sist. Semi-Extensivo 79,8±0,6 81,7±0,6 80,7±0,6
0102030405060708090
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
g/10
0g
Sist. Intensivo Sist. Semi-Extensivo
Abreu (2004) obteve o valor de 72,8 g/100g em regime intensivo e 69,1g/100g
em regime semi-extensivo. Ambos são inferiores aos obtidos neste ensaio.
48
4.2.11. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) no Teor em
Colesterol Total (CT) no Músculo Semimembranoso
Os animais inseridos no sistema semi-extensivo tenderam (P=0,055) a apresentar
uma média inferior em CT no músculo semimembranoso (69,4mg/100g) à média dos
animais inseridos no sistema intensivo (77,2mg/100g) (Figura 13).
Figura 13: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor de colesterol total do músculo semimembranoso
Nota: 1Significância: NS – Não
significativo (P>0,05)
ANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
0,055
NS
Sist. Intensivo 78,2±2,8 76,4±3,8 77,0±5,9
Sist. Semi-Extensivo 68,6±2,2 71,4±2,7 68,2±7,5
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
mg/
100g
Sist. Intensivo Sist. Semi-Extensivo
Não foi detectado nenhum efeito significativo do NA no teor em CT do músculo
semimembranoso.
Abreu (2004) indica valores de 90,5mg/100g em regime intensivo e de
68,6mg/100g para regime semi-extensivo. O primeiro valor é superior ao obtido neste
ensaio.
49
4.2.12. Efeito do Nível Alimentar (NA) e do Sistema de Produção (SP) Sobre o Teor
em Colesterol Total (CT) da Gordura Subcutânea
Os animais inseridos no SP semi-extensivo apresentaram uma média de
195,9mg/100g, significativamente inferior (P≤0,01) à média dos animais em regime
intensivo (235,1mg/100g) (Figura 14).
Figura 14: Efeito do nível alimentar e do sistema de produção sobre o teor em colesterol total da gordura subcutânea
0
50
100
150
200
250
300
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
mg/
100g
Sist. Intensivo Sist. Semi-Extensivo
ANOVA1
Nível Alimentar
(NA)
Sistema De
Produção(SP)
NA x
SP
NS
**
NS
Nota: 1Significância: ** - P≤0,01; NS
– Não significativo (P>0,05)
Sist. Intensivo 237,8±14,8 220,4±12,3 247,1±16,5
Sist. Semi-Extensivo 197,1±27,3 197,3±5,0 193,3±18,2
Os animais sujeitos ao NA do GI apresentaram uma média de 217,5mg/100g, os
do GII 208,9mg/100g e os do GIII 220,2mg/100g. Estas diferenças não foram
estatisticamente significativas.
Abreu (2004) refere o valor de 257,6mg/100g para o regime intensivo e o de
250,5mg/100g para o regime semi-extensivo. Ambos os valores são superiores aos
obtidos neste ensaio.
50
4.2.13. Discussão dos resultados
Os parâmetros plasmáticos não lipídicos foram afectados de maneira diferente
pelos tratamentos experimentais. Em relação ao teor em proteína plasmática, este foi
inferior nos suínos submetidos ao SP semi-extensivo. O eventual exercício realizado por
estes animais pode ter provocado uma maior utilização deste nutriente na formação de
proteína muscular e um consequente abaixamento do seu teor no plasma circulante.
Quanto ao nível de ureia plasmática, este não registou diferenças significativas. Por fim,
os animais sujeitos ao sistema semi-extensivo apresentaram um teor de glúcidos
plasmáticos significativamente inferior ao dos animais sujeitos ao sistema intensivo. Tal
facto pode dever-se ao aumento das necessidades energéticas devidas ao exercício.
Assim, os nutrientes energéticos (glúcidos) foram utilizados pelas células musculares de
modo a suprir as suas necessidades, com uma consequente diminuição do seu teor no
plasma.
Em relação aos triacilgliceróis plasmáticos, o sistema semi-extensivo provocou a
diminuição do seu teor quando comparado com o sistema intensivo. Os animais sujeitos
ao sistema semi-extensivo estavam contidos numa área de 3ha, a qual lhes permitia a
realização de exercício físico. O principal processo fisiológico no exercício é a
contracção dos músculos esqueléticos, tendo como fonte primária de energia para a
contracção aquela produzida pelo metabolismo aeróbico (oxidativo) da glucose, dos
lipídos e das proteínas, por esta ordem (Judy, 1984). Assim, o exercício físico aeróbico
também pode contribuir para a redução do nível plasmático de triacilgliceróis (Leaf,
2003). A actividade adipositária da lipoproteina-lipase, envolvida no armazenamento de
triacilgliceróis que derivam da hidrólise das lipoproteínas plasmáticas aumenta com o
exercício físico (Nikkilla, 1987, citado por Leaf, 2003). O exercício físico aumenta a
actividade desta enzima nos vasos capilares dos músculos esqueléticos, onde os ácidos
51
gordos das lipoproteínas plasmáticas são hidrolisados a partir para serem utilizados com
fonte energética (Leaf, 2003).
Os animais sujeitos ao SP semi-extensivo apresentaram valores inferiores em CT
(P=0,051) e cLDL (P≤0,05), em relação aos animais criados no sistema intensivo. Esta
diminuição no nível de cLDL pode indicar que existiram menos partículas de LDL a
circular nos animais sujeitos ao sistema semi-extensivo, ou que as LDL destes animais
transportaram menos colesterol que as dos sujeitos ao sistema intensivo. A primeira
hipótese parece ser confirmada pela redução do teor em fosfolípidos plasmáticos. Na
verdade, as LDL suínas são lipoproteínas ricas em fosfolípidos (Fidge, 1978) e uma
diminuição no seu número justificaria o menor teor em fosfolípidos plasmáticos
detectados nos suínos sujeitos ao sistema semi-extensivo.
Em relação ao cHDL, o seu valor foi superior (P=0,051) nos animais sujeitos ao
sistema semi-extensivo. O exercício físico é reconhecido como um factor que aumenta a
quantidade de colesterol transportado pelas HDL. Este mecanismo tem um efeito
protector sobre os acidentes cardiovasculares (Leaf, 2003). Leaf et al. (1997), citados
por Leaf, (2003) referem aumentos na ordem dos 40% no teor de cHDL, mas este efeito
parece ser mais evidente em casos em que o nível basal de cHDL é mais baixo. Assim,
exercício físico tem efeitos sobre o transporte reverso de colesterol (via HDL) e redução
da retenção do cLDL (Leaf, 2003). Este transporte reverso do colesterol induz também
uma redução na deposição deste esterol nos tractos corporais extra-hepáticos (Hill e
McQueen, 1997).
Tal como no plasma, o teor de CT foi significativamente inferior ou tendeu
fortemente a ser inferior nos tractos muscular e adiposo analisado dos suínos
submetidos ao sistema semi-extensivo, sendo estes valores concordantes com os níveis
52
superiores de cHDL detectado nesses animais e com os valores obtidos por Abreu
(2004).
Em termos de LT do músculo semimembranoso e da gordura subcutânea,
verificou-se uma diminuição do seu teor nos suínos sujeitos ao sistema semi-extensivo.
No entanto, esta não foi significativa. A deposição de gordura nos tecidos animais
aumenta com o excesso de calorias consumidas em relação às necessidades do animal e
diminui quando existe um défice neste balanço. (Bote et al., 2000). Por seu lado, a
eficiência de utilização da gordura da dieta depende da sua utilização no corpo do
animal. A gordura absorvida pelo tracto digestivo pode ser depositada directamente nos
tecidos gordos. Esta via é muito eficiente e resulta numa perda mínima de energia sob a
forma de calor corporal. Pelo contrário, a gordura terá de passar por transformações
metabólicas para poder ser utilizada em funções metabólicas como a manutenção ou o
crescimento do tecido muscular. Estas transformações implicam uma significante perda
de energia, sob a forma de calor corporal. Assim, o conteúdo energético da gordura é
usado mais eficientemente, ou tem um maior valor, quando é depositada como gordura
corporal (Stahly, 1996).
Existe uma prioridade metabólica na utilização das principais fontes energéticas
da ração: hidratos de carbono e lípidos. A síntese proteica é realizada,
fundamentalmente, com ATP obtido a partir da oxidação dos hidratos de carbono.
Portanto, se o fornecimento de hidratos de carbono é adequado, os lípidos não são
utilizados para fins metabólicos e são armazenados. Só no caso de a energia fornecida
pelos hidratos de carbono se esgotar sem cobrir as necessidades de manutenção e de
síntese proteica é que se inicia o metabolismo dos lípidos (Bote et al., 2000). Assim, as
condições que maximizem a ingestão de alimento e minimizem as necessidades
nutritivas para a manutenção, como por exemplo, ambientes controlados, permitem uma
53
eficiente deposição de gordura corporal e, consequentemente, uma eficiente utilização
da gordura da dieta. Restrições alimentares ou condições que exijam maiores ingestões
de nutrientes, como ambientes não controlados, situações de stress ou exercício físico,
irão provocar um aumento na percentagem de gordura da dieta que irá ser utilizada de
forma menos eficiente (Stahly, 1996). Devido a isto, seria de esperar uma diminuição
do teor em LT do músculo semimembranoso e da gordura subcutânea. O facto desta
diminuição não ter sido significativa, pode sugerir que o exercício físico a que os suínos
estiveram sujeitos não foi suficientemente elevado para provocar este tipo de efeito.
Aguilera e Nieto (2003) demonstraram que o exercício físico tem importantes
implicações positivas na qualidade dos produtos obtidos a partir do suíno de raça
Alentejana. Em relação aos animais restringidos, aumenta consideravelmente as
necessidades energéticas para a manutenção e deve ser tomado em consideração para
uma avaliação exacta das necessidades energéticas totais. Desta forma, a actividade
muscular parece ser mais eficiente energeticamente em suínos Ibéricos do que nas raças
melhoradas, que têm uma concentração inferior em fibras musculares do tipo I (Serra et
al., 1998 citados por Aguilera e Nieto, 2003). Estas fibras, de metabolismo
eminentemente oxidativo, apresentam melhores taxas de síntese proteica do que as
fibras do tipo II, de metabolismo predominantemente glicolítico (Garlick et al. 1989 e
Baillie and Garlick, 1991, citados por Aguilera e Nieto, 2003). As fibras do tipo I
apresentam maior concentração de gordura intra-muscular (Cameron, 1993, citado por
Aguilera e Nieto, 2003) e uma maior taxa de conversão proteica. Por outro lado,
apresentam uma cor mais escura, o que está relacionado com uma maior a retenção de
água (Gentry et al., 2001).
54
5. CONCLUSÕES
Pode-se afirmar que o SP semi-extensivo melhorou os parâmetros zootécnicos,
bioquímicos, plasmáticos e tissulares. Para tal, é provável que tenha contribuído o
exercício físico que os animais sujeitos a este sistema possam ter desenvolvido.
Nesta perspectiva, o SP semi-extensivo traz vantagens aos produtores, pois os
suínos conseguem atingir o mesmo peso de abate em menos tempo e com menores
custos de alimentação. Traz vantagens também para os consumidores, pois a carne
fresca obtida é mais saudável em termos de saúde pública devido aos níveis mais baixos
de parâmetros potenciadores das doenças cardiovasculares. Nomeadamente, a
diminuição dos triacilgliceróis, CT, cLDL e aumento do cHDL plasmático, os quais se
repercutem num menor teor em CT no músculo e gordura subcutânea dos suínos criados
em semi-extensivo.
No entanto, em estudos futuros, é aconselhável o estudo do efeito destas
diferenças sobre a qualidade da carne em termos organolépticos e de sabor, bem como
em termos de características tecnológicas, caso a matéria-prima obtida se destine à
produção de produtos transformados.
55
6. BIBLIOGRAFIA
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