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DISSERTAÇÃO EFEITO RESIDUAL E MINERALIZAÇÃO DO NITROGÊNIO DE LODO DE ESGOTO NO SOLO NADIANE APARECIDA PEREIRA DE SOUZA CAMPINAS, SP 2014

EFEITO RESIDUAL E MINERALIZAÇÃO DO NITROGÊNIO DE … · À pesquisadora Adriana M. Moreno Pires, ... formação e ao meu tio Estanislau pelas sábias palavras e exemplo de determinação

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DISSERTAÇÃO

EFEITO RESIDUAL E MINERALIZAÇÃO DO

NITROGÊNIO DE LODO DE ESGOTO NO SOLO

NADIANE APARECIDA PEREIRA DE SOUZA

CAMPINAS, SP

2014

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ii

INSTITUTO AGRONÔMICO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA

TROPICAL E SUBTROPICAL

EFEITO RESIDUAL E MINERALIZAÇÃO DO

NITROGÊNIO DE LODO DE ESGOTO NO SOLO

NADIANE APARECIDA PEREIRA DE SOUZA

Orientador: Cristiano Alberto de Andrade

Dissertação submetida como requisito parcial

para obtenção do grau de Mestre em

Agricultura Tropical e Subtropical, Área de

Concentração em Gestão de Recursos

Agroambientais.

CAMPINAS, SP

BRIL 2014

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Ficha elaborada pela bibliotecária do Núcleo de Informação e Documentação do Instituto Agronômico

S729e Souza, Nadiane Aparecida Pereira de

Efeito residual e mineralização do nitrogênio de lodo de esgoto no solo. / Nadiane Aparecida Pereira de Souza. Campinas, 2014. 59 fls.

Orientador: Cristiano Alberto de Andrade Dissertação (Mestrado) Agricultura Tropical e Subtropical – Instituto

Agronômico

1. Resíduo urbano 2. Fertilizante orgânico 3. Nitrato 4. Milho I. Andrade, Cristiano Alberto de II. Título

CDD. 631.44

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iii

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iv

À minha mãe Valdimar Benícia Pereira pela

dedicação e amor contínuo e; ao meu pai

Fernando Sá de Souza pelo apoio.

Ao meu irmão Flávio Pereira de Souza pelo

carinho.

DEDICO

Á Genésio Abreu Pereira pela confiança,

incentivo e amizade e, a sua esposa Conceição

de Maria Ferreira Pereira pelo exemplo de

dedicação e coragem.

OFEREÇO

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v

AGRADECIMENTOS

À DEUS pela vida;

À coordenação do curso de pós-graduação do IAC, pela oportunidade oferecida e à

CAPES pela bolsa de estudos concedida;

À Embrapa Meio Ambiente por oferecer toda a estrutura necessária para a realização

do trabalho e pela parceria no desenvolvimento da pesquisa;

Ao pesquisador Cristiano Alberto de Andrade, pela orientação, pelo exemplo de

caráter e compromisso com a pesquisa;

À pesquisadora Adriana M. Moreno Pires, pelo apoio, paciência e incentivo que não

me permitiram desistir e, pelos ensinamentos e dedicação que tornaram possível a conclusão

deste trabalho;

À Dra. Janaina Braga do Carmo, pela disponibilização de equipamentos e materiais do

laboratório de fertilidade do solo para realização das análises;

Ao Dr. Ronaldo Berton pelas sugestões e correções da pré banca;

Aos funcionários de campo do IAC e da EMBRAPA pelo auxílio durante a montagem

do experimento e nas coletas de amostras em campo;

Ás técnicas do Laboratório de Solos e Água - LSA, pelo convívio, em especial à

Viviane Maximilliano, pelo exemplo de profissionalismo, pela paciência, disponibilidade e

auxílio na execução das análises.

Aos estagiários do LSA, por permitir que meus dias no laboratório fossem mais

divertidos e menos solitários, em especial ao Guilherme Rueda pela imensa ajuda, sem você

analisar mais de seis mil amostras teria sido impossível;

À Carina, pela alegria contagiante nos dias de alegria e pelo seu desespero, por não

saber o que fazer nos dias em que estive triste, que acabou por me fazer rir; à Cristina pelo

companheirismo no preparo, identificação e coleta de amostras sempre que foi preciso.

À Suellen e à Renata pela amizade e companhia no primeiro ano do mestrado; à

Brenda Diaz pela amizade e bom convívio nesses dois anos;

À minha família em especial a minha mãe (Val) pelo esforço em garantir minha

formação e ao meu tio Estanislau pelas sábias palavras e exemplo de determinação.

A todos que de alguma maneira contribuíram para a conclusão desse trabalho.

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vi

EPÍGRAFE

"Quanto mais um homem se aproxima de suas

metas, tanto mais crescem as dificuldades."

J. W. von Goethe

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vii

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ...................................................................................................................................... VIII

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................................................... IX

RESUMO .............................................................................................................................................................. X

ABSTRACT ......................................................................................................................................................... XI

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................. 1

2 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................................................... 3

2.1 MINERALIZAÇÃO DO NITROGÊNIO .................................................................................................................. 3 2.2 DOSE DE NITROGÊNIO A SER APLICADA NO SOLO ........................................................................................... 5 2.3 DETERMINAÇÃO DA TAXA DE MINERALIZAÇÃO DE N ..................................................................................... 7 2.4 LODO DE ESGOTO: CÁLCULO DE DOSE COM BASE NO FORNECIMENTO DE NITROGÊNIO ................................... 9

3 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................................... 13

3.1 DESCRIÇÃO DAS ÁREAS EXPERIMENTAIS ..................................................................................................... 13 3.1.1 Campo experimental da Embrapa Meio Ambiente .......................................................................... 13 3.1.2 Campo experimental do Instituto Agronômico ................................................................................ 14

3.2 EXPERIMENTO DE CAMPO............................................................................................................................ 16 3.3 EXPERIMENTO DE LABORATÓRIO ................................................................................................................ 19 3.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS .................................................................................................... 20

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................................................... 21

4.1 ESTIMATIVA DA MINERALIZAÇÃO DO NITROGÊNIO EM CONDIÇÃO DE CAMPO (IN SITU) ................................ 21 4.1.1 Tubos ................................................................................................................................................... 21

4.1.2 ABSORÇÃO DE NITROGÊNIO POR PLANTAS DE MILHO ................................................................................ 27 4.3 ESTIMATIVA DA MINERALIZAÇÃO DO NITROGÊNIO EM CONDIÇÃO CONTROLADA ......................................... 31

4.3.1 Mineralização de nitrogênio descontando-se o tempo inicial e a dose zero ....................................... 31 4.3.2 Mineralização do N descontando-se o tempo inicial ........................................................................... 33

5 CONCLUSÕES ........................................................................................................................................... 40

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................... 41

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 42

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viii

LISTA DE TABELAS

TABELA 1. PORCENTAGEM MÉDIA DE NITROGÊNIO EM RESÍDUOS ORGÂNICOS............................. 9

TABELA 2. ATRIBUTOS QUÍMICOS DE FERTILIDADE DOS SOLOS DAS ÁREAS EXPERIMENTAIS

DO INSTITUTO AGRONÔMICO (IAC) E DA EMBRAPA MEIO AMBIENTE. .................................... 16

TABELA 3. CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO LODO DE ESGOTO APLICADO EM 2012 NAS ÁREAS

EXPERIMENTAIS DA EMBRAPA MEIO AMBIENTE E DO INSTITUTO AGRONÔMICO. .............. 17

TABELA 4. TEORES DE AMÔNIO, NITRATO E N INORGÂNICO NO TEMPO INICIAL E APÓS 30 DIAS

DE PERMANÊNCIA NO CAMPO. ............................................................................................................ 21

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ix

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. CICLO DE NITROGÊNIO. ADAPTADO DE CANTARELLA, 2007. ............................................ 3

FIGURA 2. ASPECTO GERAL DA ÁREA EXPERIMENTAL COM LODO DE ESGOTO NA EMBRAPA

MEIO AMBIENTE, JAGUARIÚNA, SP. ................................................................................................... 14

FIGURA 3. VISTA AÉREA DA ÁREA EXPERIMENTAL COM LODO DE ESGOTO NO INSTITUTO

AGRONÔMICO, CAMPINAS, SP. ............................................................................................................. 15

FIGURA 4. ILUSTRAÇÃO DO CONJUNTO DE TUBOS INSTALADO NO CAMPO................................... 17

FIGURA 5. TEOR DE AMÔNIO EM SOLO TRATADO CONTINUAMENTE COM LODO DE ESGOTO

(1N, 2N, 4N E 8N) OU NÃO (0N), 20 DIAS APÓS INCORPORAÇÃO DO RESÍDUO.. ........................ 23

FIGURA 6. TEOR DE AMÔNIO NO SOLO EM FUNÇÃO DO TEMPO NO TRATAMENTO COM OITO

VEZES A DOSE NECESSÁRIA DE N VIA LODO (8N) PARA ATENDIMENTO A EXIGÊNCIA

NUTRICIONAL DO MILHO. ..................................................................................................................... 24

FIGURA 7. TEOR DE NITRATO EM SOLO TRATADO CONTINUAMENTE COM LODO DE ESGOTO

(1N, 2N, 4N E 8N) OU NÃO (0N), 20 DIAS APÓS INCORPORAÇÃO DO RESÍDUO.. ........................ 24

FIGURA 8. TEOR DE NITRATO EM SOLO TRATADO CONTINUAMENTE COM LODO DE ESGOTO

EM FUNÇÃO DO TEMPO APÓS INCORPORAÇÃO DE DOSES DE LODO DE ESGOTO. ................ 25

FIGURA 9. TEOR DE NITROGÊNIO INORGÂNICO EM SOLO TRATADO CONTINUAMENTE COM

LODO DE ESGOTO (1N, 2N, 4N E 8N) OU NÃO (0N).. .......................................................................... 26

FIGURA 10. TEOR DE N INORGÂNICO NO SOLO EM FUNÇÃO DO TEMPO APÓS INCORPORAÇÃO

DE DOSES DE LODO DE ESGOTO. ......................................................................................................... 27

FIGURA 11. TEOR FOLIAR DE NITROGÊNIO NAS PLANTAS DE MILHO CULTIVADAS EM SOLO

ADUBADO CONTINUAMENTE COM LODO DE ESGOTO (1N E 2N) OU ADUBAÇÃO MINERAL

(AM) NA ÁREA EXPERIMENTAL DO IAC............................................................................................. 28

FIGURA 12.TEOR FOLIAR DE NITROGÊNIO NAS PLANTAS DE MILHO CULTIVADAS EM SOLO

ADUBADO CONTINUAMENTE COM LODO DE ESGOTO (1N, 2N, 4N E 8N) OU NÃO (0N) NA

ÁREA EXPERIMENTAL DA EMBRAPA. ................................................................................................ 29

FIGURA 13. NITROGÊNIO ABSORVIDO POR PLANTAS DE MILHO EM FUNÇÃO DA APLICAÇÃO

DE DOSES DE LODO DE ESGOTO (1N E 2N) OU ADUBAÇÃO NITROGENADA MINERAL (AM)

NA ÁREA EXPERIMENTAL DO IAC. ...................................................................................................... 29

FIGURA 14. NITROGÊNIO ABSORVIDO POR PLANTAS DE MILHO EM FUNÇÃO DA APLICAÇÃO

DE DOSES DE LODO DE ESGOTO (1N, 2N, 4N E 8N) OU NÃO (0N) NA ÁREA EXPERIMENTAL

DA EMBRAPA.. .......................................................................................................................................... 30

FIGURA 15. TEOR DE AMÔNIO NO SOLO EM FUNÇÃO DA ADIÇÃO DE DOSES RECÉM

ADIONADAS DE NITROGÊNIO VIA LODO DE ESGOTO. ................................................................... 32

FIGURA 16. NITROGÊNIO MINERALIZADO NO SOLO EM FUNÇÃO DE NOVAS DOSES DE

NITROGÊNIO ADICIONADAS VIA LODO DE ESGOTO (BASE SECA) EM SOLO

CONTINUAMENTE ADUBADO COM LODO DE ESGOTO OU COM ADUBAÇÃO MINERAL. ...... 34

FIGURA 17. NITROGÊNIO MINERALIZADO NO SOLO EM FUNÇÃO DOS TRATAMENTOS (EFEITO

RESIDUAL) DA APLICAÇÃO (1N E 2N) OU NÃO (AM) DE LODO DE ESGOTO AO SOLO DA

ÁREA EXPERIMENTAL DO IAC. ............................................................................................................ 35

FIGURA 18. NITROGÊNIO MINERALIZADO NO SOLO EM FUNÇÃO DE NOVAS DOSES DE

NITROGÊNIO ADICIONADAS VIA LODO DE ESGOTO (BASE SECA) EM SOLO

CONTINUAMENTE ADUBADO COM LODO DE ESGOTO OU NÃO.................................................. 36

FIGURA 19. NITROGÊNIO MINERALIZADO NO SOLO EM FUNÇÃO DOS TRATAMENTOS (EFEITO

RESIDUAL) DA APLICAÇÃO DE LODO DE ESGOTO ENTRE OS ANOS DE 1999 E 2012. ............. 37

FIGURA 20. CORRELAÇÃO ESTATÍSTICA ENTRE O NITROGÊNIO MINERALIZADO NO SOLO E A

QUANTIDADE DO NUTRIENTE ABSORVIDA POR PLANTAS DE MILHO. ..................................... 38

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x

Souza, N. A. P. Efeito residual e mineralização do nitrogênio de lodo de esgoto no solo.

2014. 59fls. Dissertação (Mestrado em Gestão de Recursos Agroambientais).

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi estimar a disponibilidade de nitrogênio em solos com sucessivas

aplicações de lodo de esgoto e avaliar a taxa de mineralização do nitrogênio (TMN) de dose

recém-adicionada. O estudo foi realizado em dois experimentos em longo prazo que

receberam anualmente diferentes doses de lodo de esgoto: 0N- sem lodo, 1N- dose referência

de lodo correspondente a 120 kg ha-1

de N e 2, 4 e 8 vezes a doses referência (2N, 4N e 8N)

na área da Embrapa Meio Ambiente e; 120 kg ha-1

de N de adubo mineral (AM), uma e duas

vezes a dose de lodo referência (1N e 2N) na área experimental do IAC. Em ambos os

experimentos foi plantado milho. Foi utilizado o método de avaliação in situ para estimar a

disponibilidade de N e a TMN no campo. Foram determinados os teores de nitrogênio na

folha e a quantidade total de N absorvido pela planta. Em laboratório, foram utilizadas

amostras de solo coletadas nos dois experimentos para determinar a quantidade de N

disponibilizado no solo e a taxa de mineralização de nitrogênio por meio do método de

incubação anaeróbia. O efeito residual do lodo de esgoto, em solos tratados sucessivamente

com o resíduo, não influencia a taxa de mineralização do nitrogênio proveniente de dose

recém adicionada do resíduo. A quantidade de nitrogênio disponível em solos tratados

sucessivamente com lodo de esgoto é maior que a estimada usando a taxa de mineralização

indicada na Resolução nº375 do CONAMA. O método de incubação anaeróbia foi eficiente

em estimar a mineralização de doses recém-adicionadas de lodo de esgoto ao solo.

Palavras-chave: resíduo, nitrato, adubação nitrogenada, incubação anaeróbia, milho.

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xi

Souza, N. A. P. Residual effect and Nitrogen mineralization of sewage sludge in soil.

2014. 59fls. Msc. dissertation (Master in Agro-environmental Resources Management).

ABSTRACT

The aim of this study was to estimate nitrogen availability in soils consecutively treated with

sewage sludge and to evaluate nitrogen mineralization rate (NMR) of the recent residue dose.

The study was conducted at two long term experiments that received annually different

sewage sludge doses: 0N- without sewage sludge, 1N- reference dose of sewage sludge -

correspondent to 120 kg ha-1

of N and 2, 4 and 8 times the reference dose (2N, 4N e 8N) at

Embrapa’s experiment and; 120 kg ha-1

of mineral N, reference dose and 2 times the reference

dose (1N and 2N) at IAC’s experiment. Maize plants were grown in both experiments. The in

situ evaluation method was used to determine N availability and NMR at the field. There were

determined leaf nitrogen concentration and total nitrogen absorbed by the plants. In the

laboratory, anaerobic incubation method was used to determine total available N in the soil

and nitrogen mineralization rate in soil samples collected from both experiments. Anaerobic

incubation method was efficient to estimate nitrogen mineralization from doses recently

added to the soil. The residual effect of sewage sludge on soils treated successively with the

residue does not influence the rate of nitrogen mineralization from newly added dose of the

residue. The amount of available nitrogen in soils treated successively with sewage sludge is

higher than that estimated using the rate of mineralization indicated by CONAMA Resolution

375. The anaerobic incubation method was efficient in estimating the mineralization of newly

added sewage sludge to soil doses.

Key-words: waste, nitrate, nitrogen fertilizer, anaerobic incubation, maize.

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1

1 INTRODUÇÃO

A disposição agrícola de lodos de esgoto é alternativa das mais adequadas para o

destino final desse tipo de resíduo, uma vez que pode servir como fonte de nutrientes para as

plantas e de matéria orgânica para o solo, promovendo, de forma geral, melhoria nas

condições de cultivo. Aspectos relacionados ao custo de disposição e economia com

fertilizantes minerais solúveis também merecem destaque quando se considera a reciclagem

do lodo no solo.

Para que o lodo forneça nutrientes para as plantas, em especial o nitrogênio (N), há

certa dependência da dinâmica de mineralização da fração orgânica, regulada por

características do próprio resíduo, atributos do solo e fatores climáticos. Dessa forma, a

previsão da dinâmica de mineralização e liberação do nutriente tornam-se fundamental para a

recomendação da dose a ser aplicada, de tal forma que supra a necessidade da cultura e evite

excesso no ambiente.

A disponibilidade do nitrogênio a partir do lodo depende da transformação do N

orgânico em formas inorgânicas passíveis de absorção pelas plantas (NH4+ e NO3-). Os

processos envolvidos na transformação até formas minerais de N são essencialmente

microbiológicos e, conforme mencionado anteriormente, sujeitos a variações em função do

resíduo, do solo e do clima. Isso traz dificuldades para estimativa da disponibilidade do N do

lodo de esgoto após aplicação no solo, o que fica ainda mais complexo ao se considerar que

métodos para esta finalidade devem ser simples, operacionais e de custo acessível.

Procedimentos e critérios para a aplicação de lodos em solos agrícolas são importantes

para que a disposição seja segura e agronomicamente eficiente. O estado de São Paulo foi a

unidade federativa do país pioneira no estabelecimento desses procedimentos e critérios por

meio da Norma Técnica P 4.230 da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

(CETESB, 1999). Posteriormente, em âmbito nacional, foi elaborada a resolução nº 375 do

Conselho Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 2006a).

Em ambos os documentos orientadores, a recomendação da dose para aplicação no

solo é feita considerando-se três aspectos principais: efeito do resíduo no pH do solo, acúmulo

de metais pesados e fornecimento de N. A menor dose definida dentre as três alternativas será

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2

a recomendada. O fornecimento de nitrogênio é, geralmente, o critério mais limitante da dose

e, por isso, o mais utilizado na recomendação.

Para a definição da dose baseada no fornecimento de N, deve-se obter o N disponível

do lodo, que é função do teor total de N, do teor de N inorgânico e da taxa de mineralização

do nitrogênio (TMN) do resíduo. Os teores de N são obtidos por meio de análises em

laboratório, enquanto a taxa de mineralização pode ser também determinada em laboratório

por meio de procedimento de incubação ou ser escolhida com base no processo gerador do

lodo. A determinação da TMN em laboratório envolve procedimento com incubação de

amostras de solo tratadas com doses de lodo, de modo a quantificar por cerca de 120 dias os

teores de N inorgânico. Dessa forma, o procedimento é dispendioso em termos de tempo e de

custo relativamente alto. A escolha da TMN em função do tipo de lodo tem sido a opção mais

utilizada: lodos de esgoto não digerido (40%), lodos digeridos aerobicamente (30%), lodos

digeridos anaerobicamente (20%) e lodos compostado (10%).

Conhecendo-se o N disponível do resíduo e a exigência da cultura em N, faz-se a

recomendação da dose de lodo. Teoricamente a TMN determinada em incubação ou definida

em função do tipo de lodo é o parâmetro que define a porcentagem do N orgânico que será

mineralizado durante o ciclo da cultura. No entanto, como os valores de TMN são geralmente

inferiores a 50%, admite-se que menos da metade do nitrogênio contido no lodo será

disponibilizado em determinado período de tempo e o residual permanecerá como fonte

potencial de N, provavelmente mineralizando à menores taxas.

Áreas com aplicações anuais ou mais freqüentes de lodo de esgoto devem, portanto,

exibir aumento do potencial para fornecimento de N para as culturas, o que teoricamente,

deveria ser acompanhado pela redução das novas doses do resíduo para aplicação.

Diante do cenário descrito, foram objetivos da presente pesquisa avaliar como

aplicações anteriores de lodo (efeito residual) alteram a mineralização do N recém adicionado

via resíduo; determinar a TMN em condição de campo e; avaliar método anaeróbio de

incubação rápida (7 dias) para estimar a TMN.

As hipóteses da pesquisa foram: (i) O N mineralizado do lodo de esgoto de aplicações

anteriores aumenta a TMN de novas doses; (ii) A TMN fixa para solos tratados repetidas

vezes com lodo de esgoto subestima o N disponível no solo e; (iii) o N disponível no solo

pode ser estimado por método anaeróbio.

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3

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Mineralização do nitrogênio

O nitrogênio (N) ocupa posição de destaque entre os nutrientes requeridos pelas

culturas, pois faz parte da composição de várias moléculas como aminoácidos e proteínas,

além de ser fundamental nos processos de fotossíntese, multiplicação e diferenciação celular

(MALAVOLTA, 2006).

No solo, mais de 95% do nitrogênio encontra-se organicamente ligado em proteínas,

enzimas e aminoácidos (KEENEY, 1982). As frações inorgânicas são compostas

principalmente por amônio (NH4+) e nitrato (NO3

-). O nitrogênio na forma orgânica não é

disponível para as plantas, assim, o N presente em compostos orgânicos no solo deve ser

mineralizado a NH4+ e NO3

- para ser absorvido pelas plantas (ANDRADE et al., 2010). A

fitodisponibilização do nitrogênio orgânico é influenciada pelos processos de amonificação ou

mineralização, imobilização, nitrificação e desnitrificação, destacados na Figura 1.

Figura 1. Ciclo de Nitrogênio. Adaptado de CANTARELLA, 2007.

Deposições

Atmosféricas:

NOx, NH3, etc.

Adição de matéria

orgânica: resíduos de

plantas e animais,

adubações orgânicas, etc.

Matéria

orgânica

do solo

Fixação

Biológica

de N2

Fertilizantes

solúveis

N2O

NH3

NH3

NH4+

N2

N2O

N2

N2 N2O

NO3-

NO3-NH3 NH4

+

N inorgânico solúvel

Nitrificação

Lixiviação

Mineralização

Imobilização

Volatilização

Desnitrificação

Perdas Gasosas

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4

O processo de transformação do nitrogênio orgânico em amônio (NH4+) é conhecido

como amonificação e depende da ação de microorganismos quimiorganotróficos – que usam

compostos orgânicos como fonte de carbono e energia. Por esse processo, formas orgânicas

de nitrogênio sofrem desaminação, seguida de protonação das formas aminadas, formando o

íon amônio (NH4+) (MOREIRA; SIQUEIRA, 2006). A ilustração abaixo exemplifica o

processo de amonificação.

Proteína + H2O protease

R-NH2 + CO2 + E + outros produtos

R-NH2 + H2O + aminoácido desidrogenase

R + NH3 + E

NH3 + H+ NH4

+

A mineralização ocorre tanto em condições aeróbias quanto anaeróbias e, em ampla

faixa de pH, umidade e temperatura, contudo o potencial de transformação do nitrogênio é

intenso quando os valores de pH estão próximo a neutralidade; a temperatura entre 35 e 60ºC;

a umidade do solo em torno de 50 a 80% da capacidade de retenção de água; e com boa

oxigenação (LUCE et al., 2011). Em ambiente anaeróbio, a mineralização é mais lenta devido

à redução da diversidade de organismos que atuam na conversão do N orgânico em

inorgânico.

A imobilização do nitrogênio é o processo inverso à mineralização, no qual formas

inorgânicas de nitrogênio são transformadas em formas orgânicas por meio da ação de

microorganismos. O N inorgânico é incorporado às células microbianas e, com a morte destes

organismos, o N volta a ser mineralizado ou é novamente incorporado às células de outros

microrganismos, podendo participar da síntese de compostos nitrogenados mais complexos

(CANTARELLA, 2007).

O amônio produzido na amonificação é fonte de energia para organismos

quimiolitotróficos que realizam a oxidação deste a nitrito e sequencialmente a nitrato através

da nitrificação. Neste processo, dois grupos de bactérias aeróbias obrigatórias atuam na

oxidação das formas reduzidas de nitrogênio, fixando duas etapas bem estabelecidas, a

nitritação (1) - transformação do amônio a nitrito - realizada principalmente pelas bactérias

Nitrossomonas e, a nitratação (2) - conversão do nitrito a nitrato - onde atuam as bactérias do

gênero Nitrobacter (MOREIRA; SIQUEIRA, 2006).

NH3 + 1 ½ O2 NO2- + H

+ + H2O (1)

NO2- + H2O NO3

- + 2H

+ + 2e

- (2)

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5

Se houver carbono disponível no solo, o amônio é rapidamente incorporado à

biomassa microbiana. A maioria dos solos apresenta limitação de carbono e de energia e,

nessas condições, o amônio é consumido por nitrificadores e oxidado a nitrito, e

posteriormente a nitrato. Portanto, em condições aeróbias espera-se o predomínio da forma

nítrica no solo. Deve-se destacar que o nitrato também pode ser imobilizado por

microorganismos (CANTARELLA, 2007).

A nitrificação ocorre apenas em condições aeróbias com seu melhor desempenho com

temperatura entre 25 e 35ºC e umidade até próximo da capacidade de retenção de água do

solo (WHALEN & SAMPEDRO, 2010). Temperaturas acima de 45ºC e umidade no ponto de

saturação inibem a ação das bactérias nitrificantes favorecendo a prevalência de nitrogênio na

forma amoniacal no solo (MOREIRA; SIQUEIRA, 2006).

A desnitrificação consiste em um processo que ocorre na ausência de oxigênio, no

qual óxidos de N servem como receptores finais de elétrons durante a respiração

(CANTARELLA, 2007). Durante a desnitrificação o íon nitrato sofre redução bioquímica a

nitrito e seqüencialmente a óxido nítrico, óxido nitroso, e N2.

2NO3- + 10H

+ + 10e

- H

+ N2 + 2HO

- + 4H2O

2NO2- + 6H

+ + 6e

- N2 + 2HO

- + 2H2O

Os processos de transformação do N no solo são dinâmicos devido ao elevado

potencial redox cujo estado de oxidação varia de -3 a +5 tornando-o instável no solo. Essas

reações são influenciadas por fatores físicos, químicos e biológicos como temperatura

(SIERRA, 2002), umidade, acidez do solo (MOREIRA; SIQUEIRA, 2006), teor e grau de

humificação da matéria orgânica (CARNEIRO et al., 2013), entre outros. Estes fatores

alteram a atividade da microbiota do solo, promovendo alterações na velocidade de

mineralização da fração orgânica (KOLCHINSKI; SCHUCH, 2003).

2.2 Dose de nitrogênio a ser aplicada no solo

A maior parte do N no solo encontra-se na forma orgânica e sua transformação está

sujeita a variações ambientais, que podem modificar o teor e formas desse elemento. Assim, a

análise de teores disponíveis de nitrogênio no solo, da mesma maneira como é realizada para

outros nutrientes, não é um parâmetro seguro para recomendação de adubação nitrogenada.

Atualmente, a estimativa da dose de N a ser aplicada no solo é realizada com base em curvas

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de resposta, histórico da área e produtividade esperada, ou seja, a contribuição do solo não é

considerada.

Por exemplo, no Boletim nº 100 (RAIJ et al., 1997), compêndio de recomendações de

adubação para o estado de São Paulo, a dose recomendada de aplicação de nitrogênio

independe do teor deste elemento no solo. Informações como cultura e produtividade esperada

são as necessárias para consultar as recomendações de adubação nitrogenada no plantio e em

cobertura.

Neste contexto, a recomendação de dose pode sub ou superestimar a necessidade de N

pela planta. Segundo OKUMURA et al., (2011) e OLFS et al., (2005), subestimar a dose

reduz o potencial produtivo da cultura e doses superestimadas oneram a produção devido ao

uso desnecessário de fertilizantes, além de representar risco de contaminação das águas

subterrâneas e superficiais por nitrato.

O uso de fertilizante mineral tem sido a principal fonte de N usada para garantir o

suprimento adequado desse nutriente às culturas, no entanto, representa uma parcela

significativa dos custos de produção (SILVA et al, 2005). O elevado preço deste insumo está

relacionado com o fato de que mais de 70% do fertilizante nitrogenado no Brasil são

importados (ANDA, 2009) e com a baixa eficiência de uso desse insumo, aproximadamente

50% do total de N aplicado (CANTARELLA, 2007).

O uso de fontes orgânicas na suplementação de N tais como estercos, compostos

agroindustriais e lodo de esgoto têm sido apontados como alternativa à dependência dos

insumos externos e redução dos impactos negativos causados pela fertilização mineral. Isso

porque há oferta de resíduos orgânicos fontes de N e outros nutrientes (CARNEIRO et al.,

2013) e a liberação destes nutrientes no solo é gradual, reduzindo os riscos de lixiviação de

nitrato (MACEDO et al., 2012). Trabalhos recentes mostram que mesmo com as

complementações minerais, a fração orgânica do solo ainda é a principal fonte de N para as

culturas (DOURADO-NETO et al., 2010; FRANCO et al., 2011), atribuindo-se a isso a

liberação lenta e gradual de N das fontes orgânicas e a instabilidade das fontes minerais de N

no solo.

Entretanto, ao se recomendar a adubação nitrogenada utilizando-se fontes orgânicas

deve-se considerar, além da produtividade esperada e o histórico da área, o teor de N e a taxa

de mineralização desse nutriente no resíduo (CARNEIRO et al., 2013).

Neste caso, assim como ocorre ao se determinar a taxa de mineralização do nitrogênio

na forma orgânica presente no solo, a principal dificuldade é determinar a taxa de

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mineralização de nitrogênio oriundo da fonte orgânica, devido ao dinamismo deste processo e

aos vários fatores bióticos e abióticos que o influencia.

2.3 Determinação da taxa de mineralização de N

As constantes modificações das formas de N e as variações na velocidade de

transformação das formas orgânicas em inorgânicas dificultam a avaliação da capacidade do

solo em fornecer N às plantas. Contudo, o conhecimento desse processo de conversão é

fundamental para estimar a contribuição do solo em relação ao requerimento de N pela planta;

definir a necessidade e dose de fertilizante (ANDRADE et al., 2010), bem como quantificar

possíveis perdas para o ambiente. O mesmo raciocínio se aplica aos fertilizantes orgânicos, ou

seja, é necessário conhecer o processo de disponibilização do N presente nestes insumos para

se estimar a dose adequada que deverá ser aplicada.

Vários métodos químicos e biológicos foram propostos nos últimos cinquenta anos

(BREMNER, 1965; STANFORD & SMITH, 1972; KEENEY, 1982; BUNDY &

MEISINGER, 1994) visando estimar o potencial do solo em fornecer nitrogênio para as

plantas. Esses métodos também podem ser utilizados para estimar o potencial de fontes

orgânicas em fornecer nitrogênio para as plantas (BUNDY & MEISINGER, 1994).

Os métodos biológicos consistem em incubações de amostras de solo sob condições

aeróbia ou anaeróbia onde se mede periodicamente o N na forma mineral produzido. Essas

incubações podem variar de 7 a mais de 120 dias e são geralmente realizadas em laboratório

com temperatura e umidade controladas. Também foram desenvolvidos métodos de

determinação do N potencialmente mineralizável diretamente no campo (in situ) (RAAP et.

al., 1979; ADAMS & ATTIWILL, 1986).

O método de incubação aeróbio mais utilizado é o proposto por STANFORD &

SMITH (1972). Neste método, o potencial de mineralização do nitrogênio é estimado pela

quantificação de formas inorgânicas de N (NH4+ e NO3

-) acumuladas no tempo em condições

de temperatura, umidade e aeração do solo adequadas ao desenvolvimento microbiano.

Segundo RAISON et al. (1987), a determinação do N mineralizável por meio de

incubações aeróbias pode superestimar o potencial de disponibilidade do N, pois além das

condições adequadas temperatura, os processos de peneiramento e umedecimento do solo na

capacidade de retenção de água contribuem para maior atividade microbiana (CABRERA et

al., 2005; BOEIRA, 2005). Contudo, a incubação aeróbia é considerada o método referência,

pois os agentes de transformação do N são os mesmos encontrados em condições de campo

(BUNDY & MEISSINGER, 1994; QAFOKU et. al., 2001; CURTIN & CAMPBELL, 2006).

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O método aeróbio, porém, não é usado rotineiramente devido à longevidade do

procedimento, à baixa repetibilidade dos resultados, aos altos custos e ao estímulo à

mineralização causado pelo manuseio e preparo do solo (SHARIFI, et al.,, 2007; LUCE et al.,

2011).

Métodos de incubação anaeróbios de curta duração também são usados para estimar a

mineralização. Por esses métodos as amostras de solo são incubadas em condições saturadas

por um período de 7 a 14 dias e determina-se apenas o teor de N na forma amoniacal visto que

o processo de nitrificação não ocorre na ausência de oxigênio (KEENEY & BREMNER, 1966).

Em contraste aos métodos descritos anteriormente a incubação anaeróbia é mais simples,

rápida e menos dispendiosa.

Entretanto, a estimativa de mineralização obtida pelo método de incubação anaeróbia

tem se mostrado menos satisfatória que a obtida na incubação aeróbia (WIENHOLD, 2007;

LUCE et al., 2011). Contudo, alguns trabalhos têm demonstrado correlações significativas

entre o método aeróbio e anaeróbio (BOEIRA, 2005; WIENHOLD, 2007). Correlações

significativas entre o N potencialmente mineralizável obtido por incubação anaeróbia e o N

absorvido pelas plantas também foram relatadas em solos do Rio Grande do Sul e do estado

de São Paulo por RHODEN (2006) e YAGI (2009), respectivamente.

Para determinações in situ, vários métodos utilizando amostras de solo deformadas ou

indeformadas; amostras de solo + resinas trocadoras de íons, entre outros, foram

desenvolvidos. Atualmente, entre os métodos in situ, aqueles que usam amostras de solo

indeformadas são os mais empregados (RAISON & COHWLL, 1987; SCHAFFERS, 2000).

Por esses métodos as amostras são obtidas do interior de tubos inseridos em campo sendo,

portanto, livres de interferências do preparo do solo e alterações artificiais de umidade e

temperatura (RAISON & COHWLL, 1987). Mas, assim como nos métodos aeróbios de

incubação, as estimativas de mineralização in situ são trabalhosas, caras e demandam muito

tempo.

WIENNHOLD (2007) comparando o método de mineralização aeróbio de laboratório

com o método in situ, verificou estimativas de mineralização do N in situ inferiores às de

laboratório e atribuiu esse resultado às variações de temperatura e umidade observadas em

campo e ao estimulo à mineralização no preparo do solo do método de laboratório.

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2.4 Lodo de esgoto: cálculo de dose com base no fornecimento de

nitrogênio

Uma opção interessante de fertilizante orgânico nitrogenado é o lodo de esgoto, tanto

sob o ponto de vista econômico como ambiental, uma vez que este geralmente é um insumo

de baixo custo para o produtor rural e seu uso em solo agrícola consiste em meio de

disposição adequado, considerando-se sua condição inicial de resíduo (BETTIOL &

CAMARGO, 2006).

Observando as porcentagens de nitrogênio em fertilizantes orgânicos comumente

utilizados na agricultura (Tabela 1), tem-se que o lodo de esgoto destaca-se como fonte de

nitrogênio, apresentando, em média, 2% deste nutriente.

Como já discutido, a definição de dose de nitrogênio a ser aplicada no solo é difícil em

função do dinamismo do processo de mineralização do nitrogênio na forma orgânica. Quando

se considera um fertilizante orgânico, além da dificuldade em estimar quanto de nitrogênio

oriundo do solo estará disponível para a cultura, ainda é necessário estimar quanto do

nitrogênio oriundo do insumo orgânico será disponibilizado durante o ciclo da cultura.

Tabela 1. Porcentagem média de nitrogênio em resíduos orgânicos.

N (%)*

Resíduos

Lodo de esgoto Esterco Bovino Cama de Frango

2,1 0,9 1,0

Fonte: RAIJ, 1997 e PROSAB, 1999. * Valores expressos em base seca.

Embora os fertilizantes orgânicos sejam utilizados há muito tempo na agricultura

brasileira, a recomendação de dose ainda é empírica, normalmente baseada na experiência de

uso de cada fonte orgânica. Particularmente para lodo de esgoto, existem regulamentações

com recomendações de cálculo de dose baseadas na mineralização do nitrogênio.

No Brasil, o uso agrícola de lodos de esgoto é regulamentado pela Resolução do

Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA n º 375 de 29 de agosto de 2006

(BRASIL, 2006a), que foi baseada na norma americana USEPA 40CFR 503 (USEPA, 1996).

Alguns estados possuem suas próprias normas, que podem ser mais conservativas, mas não

mais permissivas que a regulamentação federal. No estado de São Paulo, a norma técnica

4.230 de agosto de 1999 (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB,

1999) estabelece procedimentos e critérios para aplicação de lodo de sistema de tratamento

biológico em área agrícola. Caso o lodo de esgoto atenda uma série de requisitos

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estabelecidos nas instruções normativas nº 25 e 27 do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento – MAPA (BRASIL, 2009b; BRASIL, 2006c), ele poderá ser registrado como

produto e ser comercializado diretamente ao consumidor final desde que respeitadas às

exigências de embalagem, rotulagem e verificadas as culturas consideradas aptas para a

fertilização com lodo de esgoto.

A Resolução CONAMA nº 375 (BRASIL, 2006a), que vale para todo o país, indica

que os cálculos da dose de lodo de esgoto a ser aplicada devem ser realizados com base em

três parâmetros: elevação de pH, carga acumulada de metais pesados no solo e

disponibilidade de nitrogênio. A menor dose calculada deverá ser a aplicada no campo. Na

maioria dos casos, o cálculo baseado na disponibilidade de nitrogênio resulta na menor dose

e, consequentemente, naquela que será aplicada no campo. Para lodos obtidos em processos

onde a adição de calcário consiste em etapa do tratamento para redução de patógenos, como

ocorre frequentemente no estado do Paraná, a elevação de pH poderá ser o parâmetro que

resulta na dose mais limitante.

O cálculo da taxa de aplicação de lodo baseado na disponibilidade de nitrogênio é

realizado pelo quociente entre a quantidade de nitrogênio recomendada para a cultura (em kg

ha-1

) e o teor de nitrogênio disponível no lodo (em kg t-1

).

N recomendado para a cultura (kg ha-1

)

Taxa de aplicação (t ha-1

) = ____________________________________________________________

N disponível (kg t-1

)

O N recomendado para a cultura é um valor tabelado estabelecido através de curvas de

respostas da cultura a aplicações de diferentes doses de fertilizantes em diferentes solos. No

estado de São Paulo o Boletim nº 100 (RAIJ, 1997) é recomendado para uso pela norma nº

4.230 de agosto de 1999 (CETESB, 1999). O nitrogênio disponível de lodo é definido com

base na fórmula:

Ndisp.= (TM/100) x (Ntotal- N-NH3) + N-NH4 + (N-NO2- + N-NO3

-)

Onde: Ndisp. = nitrogênio disponível em mg kg-1

; TM = taxa de mineralização do

nitrogênio orgânico presente no lodo (%); Ntotal = nitrogênio total determinado pelo método de

Kjeldahl em mg kg-1

; N-NH4 = nitrogênio amoniacal em mg kg-1

; (N-NO2- + N-NO3

-) =

nitrogênio nítrico (nitrito + nitrato) em mg kg-1

.

Para determinar a taxa de mineralização do nitrogênio, a norma CETESB (CETESB,

1999) indica dois métodos de incubação aeróbia de solo + resíduo: com ou sem lixiviação.

Em ambos os métodos, o teor de nitrogênio mineralizado da mistura solo + lodo é

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determinado em tempos pré- estabelecidos até 126 dias. São aplicadas quatro diferentes doses

de lodo (0, 1 2 e 3 vezes a dose de lodo a necessidade requerida por certa cultura) e, no

mínimo, duas repetições para cada solo estudado. O nitrogênio acumulado ao fim da

incubação é subtraído do teor de N encontrado no tempo inicial e a obtenção do N líquido nas

diferentes doses é feito pela subtração da dose 0 das demais doses. A taxa de mineralização do

nitrogênio oriundo do resíduo é então determinada dividindo-se o N líquido pela dose de N

aplicada via lodo no solo (CETESB, 1999).

O método sem lixiviação é operacionalmente mais simples segundo COSCIONE e

ANDRADE (2006) e permite a avaliação simultânea de variações no pH do solo incubado.

Alternativamente à taxa de mineralização calculada, conforme descrito acima, a norma

nº 4.230 da Cetesb permite a adoção de taxas de mineralização fixas definidas originalmente

pelo departamento de meio ambiente e saúde do Estado da Carolina do Norte, EUA (DEHNR,

1994) em função do tipo de tratamento que o lodo recebeu – lodos de esgoto não digerido

(40%), lodos digeridos aerobicamente (30%), lodos digeridos anaerobicamente (20%) e lodos

compostados (10%). Esses valores calculados originalmente para regiões de clima temperado

também foram adotados na resolução CONAMA (BRASIL, 2006a).

Vários trabalhos foram desenvolvidos para estudar a taxa de mineralização do

nitrogênio em solos tratados com resíduos e os resultados têm sido variáveis. RYAN et al.,

(1973) relataram mineralização de 4 a 48% em 112 dias de incubação; PARKER AND

SOMMERS (1983) observaram taxas de 2 a 27% estudando 13 tipos de lodos; ADEGBIDI &

BRIGGS (2003) estudando cinco resíduos verificaram taxas de 12 a 57%; CORRÊA et al.

(2012) estudando a mineralização de cinco biossólidos obtiveram taxas entre 10 e 52%. No

Brasil, ALCANTARA et al. (2007) avaliando dois tipos de lodo em dois tipos de solos

encontraram taxa de 5 a 38%; BOEIRA et al. (2009) obtiveram taxa de mineralização de 14 a

43% de dois lodos de esgoto após 224 dias de incubação; ANDRADE et al. (2013) estudando

a dinâmica de mineralização do N em solos adubados continuamente com lodo verificaram

taxas de 7 a 16% e MORETTI et al. (2013) que relataram taxas de 18 a 68% em solo tratado

com lodo de esgoto.

Essa variedade de resultados pode ser explicada por diferenças no material de origem

dos lodos (CARNEIRO et al., 2013), diferenças nos teores de N nos mesmos (CABRERA et

al., 2005), pela falta de padronização das doses aplicadas nos experimentos de estudo

(GOMES et al., 2007), diferenças nas características dos solos tratados com o resíduo

(SCHOMBERG et al., 2009) e pelo tipo de tratamento que o lodo foi submetido (BOEIRA, et

al. 2002). Além disso, o processo de mineralização é influenciado por condições climáticas

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(CROHN, 2004) e em condições tropicais a mineralização é mais intensa dada às condições

de umidade e temperatura mais favoráveis as atividades microbianas.

Dessa forma a adoção de taxas fixas pode implicar em discrepâncias na estimativa de

mineralização da fração orgânica do resíduo resultando em doses sub ou superestimadas de

nitrogênio (DYNIA et al., 2006).

Considerando-se que, de acordo com a resolução CONAMA, apenas uma fração do

resíduo, de no máximo 40%, mineraliza durante o ciclo agrícola de determinada cultura,

entende-se que a carga orgânica aplicada em excesso continua mineralizando, mas o efeito da

mineralização remanescente não é prevista no cálculo de recomendação posterior. Assim, em

solos com reaplicação do resíduo a adoção de uma taxa fixa pode resultar em doses

superestimadas, pois desconsidera a contribuição da aplicação anterior em fornecer nitrogênio

no solo. Isso implica em concentrações cada vez maiores de N inorgânico (NO3-) no solo

passível de lixiviação e contaminação de águas subterrâneas (OLIVEIRA et al., 2001;

DYNIA et al., 2006).

Nos trabalhos citados acima a maior taxa de mineralização calculada foi de cerca de

50% o que indica que pelo menos metade do N aplicado permaneceu no solo mineralizando,

provavelmente numa velocidade menor, porém contínua. BOEIRA & MAXIMILIANO

(2009) e ANDRADE et al. (2013) estudando a mineralização do nitrogênio de solos com

diferentes históricos de uso relataram que aplicações sucessivas do resíduo aumentam o teor

de N potencialmente mineralizável no solo, o que sugere a necessidade de considerar o efeito

de aplicações anteriores.

Segundo PRATT et al., (1973) a contribuição dos resíduos orgânicos no fornecimento

de nitrogênio reduz com o tempo. Esses autores estudando diferentes resíduos verificaram

taxas de mineralização de nitrogênio decrescente com o tempo. Para o lodo de esgoto líquido,

esses mesmos autores estimaram taxa de mineralização de 35% no primeiro ano, 10% no

segundo ano, 6% no terceiro e, 5% a partir do quarto ano.

Pelo exposto e pela variedade de fatores que influenciam o processo de mineralização

fica evidente a necessidade de compreender a dinâmica do nitrogênio em solos que receberam

mais de uma aplicação do resíduo. Além de que dada a variedade de composição dos resíduos

e tratamento recebido nas estações de tratamento é conveniente determinar o potencial de

mineralização do nitrogênio do resíduo.

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3 MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa foi desenvolvida a partir de duas áreas experimentais há mais de

sete anos tratadas com doses de lodo de esgoto (LE), nos municípios de Jaguariúna, SP e

Campinas, SP, respectivamente pertencentes à Embrapa Meio Ambiente (CNPMA) e ao

Instituto Agronômico (IAC). A descrição das áreas experimentais será feita na sequência.

Para estudar a TMN do lodo de esgoto após aplicação no solo e compreender a

disponibilidade de N em solos previamente (efeito residual) ou não tratados com lodo, a

pesquisa foi dividida em duas partes, sendo uma conduzida em laboratório para avaliação de

método anaeróbio rápido para estimar o N mineralizável e outra conduzida no campo para

estimar a TMN e quantificar o N absorvido por plantas de milho.

3.1 Descrição das áreas experimentais

3.1.1 Campo experimental da Embrapa Meio Ambiente

O campo experimental da Embrapa Meio Ambiente está localizado no município de

Jaguariúna – SP (latitude 22º41’S, longitude 47ºW) e o solo da área experimental é

classificado (EMBRAPA, 2006) como Latossolo Vermelho distroférrico de textura argilosa.

O experimento foi iniciado em 1999 com o objetivo de avaliar o potencial de uso

agrícola de lodos de esgoto provenientes das Estações de Tratamento de Esgotos de

Barueri, SP e Franca, SP; ambas operadas pela SABESP. O delineamento experimental

adotado foi de blocos ao acaso (3), com parcelas de 200 m2, em esquema fatorial 2 x 5 (2

lodos e 5 doses), além do tratamento com adubação mineral. Detalhes sobre esse experimento

podem ser obtidos em BETTIOL & GHINI (2011).

Somente parte da referida área experimental foi utilizada nesta pesquisa e a escolha foi

em função do maior tempo de reaplicação do lodo de esgoto de Franca, iniciado em 1999 e

com aplicações anuais até o ano de 2010 (exceto 2006), num total de 15 parcelas

experimentais (Figura 2). A dose referência (1N) para aplicação foi determinada a cada ano a

partir do teor e disponibilidade do N do lodo e na exigência em N da cultura do milho (90 a

120 kg ha-1

), gerando doses entre 10 e 15 t ha-1

ano-1

(base seca). Além da dose referência,

foram testadas doses correspondentes a 0, 2, 4 e 8 vezes a referência, sendo denominadas de

0N, 2N, 4N e 8N, respectivamente.

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Figura 2. Aspecto geral da área experimental com lodo de esgoto na

Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, SP; com aplicações

anuais do resíduo entre 1999 e 2010 e retomada das

aplicações e cultivo de milho em 2012.

Em dezembro de 2012 a área experimental voltou a receber lodo de esgoto, porém da

Estação de Tratamento de Jundiaí, SP; operada pela Companhia de Saneamento de Jundiaí –

CSJ. Semelhante ao realizado em anos anteriores, os tratamentos foram: 0 (sem lodo); 1; 2; 4

e 8 vezes a dose de lodo recomendada para atender a demanda de N pelo milho. A dose

referência do lodo foi calculada em função do teor de N do resíduo e da TMN (30% - em

função do tipo de lodo, conforme CETESB, 1999; e CONAMA, 2006). O LE foi aplicado em

área total e posteriormente incorporado na camada 0 a 20 cm. Ao todo desde 1999 foram 13

aplicações de LE na área experimental aqui utilizada. As parcelas com lodo receberam

complementação com KCl, visto que lodos de esgoto em geral são pobres em potássio.

3.1.2 Campo experimental do Instituto Agronômico

O campo experimental está localizado no município de Campinas – SP, no Centro

Experimental Central do Instituto Agronômico (IAC), na Fazenda Santa Elisa. O solo é

classificado (EMBRAPA, 2006) como Latossolo Vermelho eutroférrico, de textura argilosa.

A área experimental foi estabelecida no ano de 2001, em delineamento inteiramente ao

acaso, com 4 repetições e parcelas experimentais de 100 m2 (Figura 3).

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Figura 3. Vista aérea da área experimental com lodo de esgoto no

Instituto Agronômico, Campinas, SP; com aplicações anuais

do resíduo entre 2001 e 2007 e retomada das aplicações e

cultivo de milho em 2012.

Entre os anos de 2001 e 2007 a área experimental recebeu lodo de esgoto da Estação

de Tratamento de Jundiaí, SP; em doses calculadas para fornecer o equivalente a 80 kg ha-1

de

N para a cultura do milho (1N) e o dobro desse valor (2N). As doses referentes a 1N de lodo

(base seca) nesse período ficaram entre 7 e 10 t ha-1

ano-1

. Um tratamento com adubação

nitrogenada mineral (AM) equivalente à quantidade aplicada em 1N de lodo também tem sido

conduzido desde então na área experimental.

Em dezembro de 2012 a área voltou a receber lodo da Estação de Tratamento de

Jundiaí em dose referência (1N) calculada para fornecer 120 kg ha-1

de N, considerando-se

30% de TMN e o teor de N no lodo. Os demais tratamentos consistiram na aplicação do dobro

da dose referência (2N) e na adubação com 120 kg ha-1

de N via nitrato de amônio (AM).

Houve incorporação do lodo à camada 0 a 20 cm do solo, realizada manualmente entre

2001 e 2007 e com enxada rotativa em 2012. A complementação potássica também foi

realizada nos tratamentos como lodo, à semelhança do realizado na área experimental da

Embrapa. Ao todo entre 2001 e 2012 foram 8 aplicações de lodo ou adubação nitrogenada

mineral. Mais detalhes estão disponíveis em BUENO et al. (2011).

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3.2 Experimento de campo

Em outubro de 2012 nas duas áreas experimentais foi realizada calagem para elevação

da saturação por bases a 80%. Alguns atributos químicos do solo após correção da acidez são

apresentados na tabela 2.

Tabela 2. Atributos químicos de fertilidade dos solos das áreas experimentais do Instituto

Agronômico (IAC) e da Embrapa Meio Ambiente.

IAC Embrapa Meio Ambiente

1N* 2N AM 0N 1N 2N 4N 8N

M.O. (g dm-3

) 27 39 27 23 27 30 35 35

pH CaCl2 5,7 5,6 5,6 5,4 4,9 5 5,1 4,9

H + Al (mmolc dm-3

) 20 31 25 31 42 42 42 47

P (mg dm-3

) 46 125 17 6 22 49 96 133

K (mmolc dm-3

) 3,8 2,8 3,6 0,7 2,4 1,9 2,1 2,1

Ca (mmolc dm-3

) 71 77 39 50 46 36 46 44

Mg (mmolc dm-3

) 60 69 19 30 27 15 22 21

SB (1)

(mmolc dm-3

) 134,8 148,8 61,6 80,7 75,4 52,9 70,1 67,1

CTC (1)

(mmolc dm-3

) 154,8 179,8 86,6 111,7 117,4 94,9 112,1 114,1

V (%) (1)

87 83 71 72 64 56 63 59

S (mg dm-3

) 25 82 14 4 6 6 8 14

B (mg dm-3

) 0,15 0,25 0,26 0,21 0,22 0,24 0,23 0,31

Cu (mg dm-3

) 10,5 19,5 5,6 0,7 1,8 2,8 4,7 5,7

Fe (mg dm-3

) 28 90 14 36 99 212 258 349

Mn (mg dm-3

) 19,6 12,8 20,8 1,9 3,3 3,9 4,3 5,6

Zn (mg dm-3

) 16,1 17,3 1,7 0,6 3,6 8,1 15,3 22 (1)

SB - saturação por bases (K+ + Ca

2+ + Mg

2+), CTC – capacidade de troca catiônica (SB + H + Al), V% -

porcentagem de saturação por bases (SB x 100/ CTC). *

Dose de nitrogênio aplicada anualmente ao solo: AM,

adubação nitrogenada mineral; 1N dose referência de lodo para fornecimento de N equivalente a adubação

mineral; e 0N, 2N, 4N e 8N doses de lodo correspondentes a respectivamente 0, 2, 4 e 8 vezes o recomendado na

dose referência.

O LE foi distribuído manualmente nas parcelas em dezembro de 2012, com umidade

de 63% (massa/massa) e em doses (base seca) correspondentes a 14,6; 29,1; 58,2; e 116,4 t

ha-1

(tratamentos 1N, 2N, 4N e 8N, respectivamente). O cálculo das doses foi realizado em

função do teor de N Kjeldahl apresentado na tabela 3, de valor de TMN de 30%, conforme

indicado na Resolução 375 do CONAMA (CONAMA, 2006) e exigência de N pela cultura do

milho igual a 120 kg ha-1

(RAIJ et al., 1997).

Todas as parcelas receberam adubação com 133 kg ha-1

de K2O via cloreto de potássio.

Cerca de uma semana após a aplicação, o lodo foi incorporado ao solo, na camada 0 a

20 cm, usando arado.

Conforme mencionado na descrição das áreas experimentais, o resíduo aplicado foi

obtido junto a Companhia de Saneamento de Jundiaí (CSJ), que opera a Estação de

Tratamento de Esgotos do município de Jundiaí, SP. O lodo foi gerado por meio de

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17

tratamento biológico aeróbio, seguida de fase de decantação em lagoas e posterior

condicionamento com polímero sintético e desidratação. As características químicas do

resíduo são apresentadas na tabela 3.

Tabela 3. Características químicas do lodo de esgoto aplicado em 2012 nas áreas

experimentais da Embrapa Meio Ambiente e do Instituto Agronômico.

Atributos* Valor Atributos Valor

Umidade a 65ºC (g 100g-1

) 63 Magnésio (g kg-1

) 2,21

pH H2O 7,21 Enxofre (g kg-1

) 22,05

CTC 218,48 Manganês (mg kg-1

) 0,33

N Kjeldahl (g kg-1

) 29,39 Cobre (mg kg-1

) 0,36

N amoniacal (g kg-1

) 0,70 Cromio (mg kg-1

) 0,12

N nítrico (g kg-1

) 0,18 Cádmio (mg kg-1

) 0,01

Carbono (g kg-1

) 315,55 Níquel (mg kg-1

) 0,05

Sólidos Voláteis (%) 51,30 Zinco (g kg-1

) 2,73

Sólidos Totais (%) 33,13 Ferro (g kg-1

) 27,02

Fósforo (g kg-1

) 11,83 Alumínio (g kg-1

) 22,42

Cálcio (g kg-1

) 15,89 Chumbo (mg kg-1

) 0,13

*Concentrações expressas na massa seca (exceto Umidade).

Após a incorporação do lodo, o milho (híbrido simples de alta produtividade) foi

semeado mecanicamente utilizando-se um espaçamento de 0,45 m entre linhas, totalizando 90

mil plantas por hectare.

Cerca de vinte dias após a incorporação do lodo e uma semana após o plantio, foram

instalados tubos de PVC para quantificação in situ da mineralização do N aplicado via doses

de lodo. Para isso, foram enterrados verticalmente tubos de PVC (30 cm comprimento e 5 cm

de diâmetro), na camada 0 a 20 cm, semelhante ao descrito em ADAMS & ATTIWILL

(1986) e STENGER et al. (1996). Foram colocados três (3) conjuntos de três (3) tubos em

cada tratamento (Figura 4).

Figura 4. Ilustração do conjunto de tubos instalado no campo.

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18

Para cada conjunto de três tubos, um deles foi retirado imediatamente após sua

colocação no solo, caracterizando tempo inicial ou tempo 0 (zero). Os outros dois tubos

permaneceram no campo por 30 dias, sendo que um com a extremidade superior aberta e

outro com extremidade superior fechada. Os tubos com a extremidade aberta foram colocados

para permitir a lixiviação, enquanto que nos tubos com a extremidade fechada preveniu-se

contra lixiviação. Na porção superior dos tubos, que permaneceu fora do solo, foram feitos

dois furos laterais para permitir trocas gasosas.

No momento de retirada dos tubos que permaneceram 30 dias no campo, novos

conjuntos de três tubos foram instalados e a coleta repetiu-se conforme descrito

anteriormente, isto é, com retirada de um dos tubos imediatamente após o enterrio no solo e

outros dois permanecendo no campo por 30 dias.

Esse procedimento foi repetido de forma que amostras de solo contidas no interior dos

tubos foram coletadas aos 20, 50, 80 e 110 dias após incorporação do lodo, período em que a

cultura do milho permaneceu no campo. As amostras coletadas foram homogeneizadas no

campo e acondicionadas sob refrigeração para posterior análise dos teores de N-NH4+ e

N-NO3-.

A extração do N inorgânico foi realizada com solução de KCl 2 mol L-1

e utilizando-se

5 g de amostra de solo (relação solo : solução de 1 : 10), na presença de 2,5 cm3 de carvão

ativado (KEENEY, 1982). O extrato foi agitado por trinta minutos em mesa horizontal a 120

rpm e posteriormente filtrado.

Os teores de N-NH4+ e N-NO3

- foram determinados por meio de sistema automático de

injeção em fluxo contínuo (FIA) e leitura colorimétrica, conforme descrito em KROM (1980) e

KAMPHAKE et al. (1967), respectivamente. Outra porção com cerca de 10g da mistura (solo +

lodo) foi usada na determinação da umidade para uso posterior na correção dos dados para massa

seca.

O método indica que o N mineralizado em cada tempo de coleta deve ser obtido por

diferença entre os teores de N inorgânico dos tubos que permaneceram no campo e àquele

obtido a partir das amostras contidas nos tubos do tempo inicial (amostra coletada no dia de

enterrio dos tubos de cada tempo de coleta). O N lixiviado corresponde à diferença entre os

tubos fechado e aberto.

Amostras de planta de milho foram também coletadas próximas a época de colheita, nas

duas áreas experimentais (Embrapa e IAC), visando à quantificação do N absorvido pela cultura.

Foram amostradas seis plantas por parcela e no campo separadas em colmo, brácteas + folhas e

espiga (posteriormente separou-se, em laboratório, sabugo e grãos). As amostras foram secas

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19

a 65oC para quantificação da massa seca e depois foram moídas em moinho de faca para

garantir a homogeneidade e granulometria das amostras.

O teor de N nos tecidos vegetais foi determinado por meio de combustão seca, em

analisador elementar CN (Analisador Elementar Truspec CN – LECO, Método de Dumas).

A quantidade de N absorvida pelas plantas foi calculada a partir dos resultados de

massa seca e teor de N, somando-se os compartimentos colmo, brácteas + folhas e grãos (o

sabugo foi desprezado nessa avaliação).

3.3 Experimento de laboratório

Aos 40 dias após a calagem e antes da aplicação do lodo, amostras de solo (camada 0 a

20 cm) foram retiradas em três pontos por parcela, nas duas áreas experimentais (Embrapa e

IAC), obtendo-se uma amostra composta representativa do tratamento. O solo foi peneirado

em malha de 2 mm, seco ao ar e armazenado até o momento de uso. Às amostras de solo dos

tratamentos 0N, 1N, 2N, 4N e 8N provenientes da área experimental da Embrapa e às

amostras de solo dos tratamentos AM, 1N e 2N da área experimental do IAC foram aplicadas

novas doses de lodo de esgoto (Tabela 3). As doses corresponderam a 0, ½, 1, 2 e 4 vezes o

recomendado para a cultura do milho (120 kg ha-1

), considerando-se no cálculo uma TMN de

30% e o teor de N obtido na caracterização do resíduo (Tabela 3). Para maior homogeneidade

das misturas de solo e lodo, de forma a minimizar a variabilidade não controlada, optou-se por

utilizar amostra de lodo seco (40oC até massa constante), moído e peneirado em malha 2 mm.

Cinco gramas de solo de cada tratamento (campo) foram acondicionados em tubos tipo

Falcon de 50 mL de volume e acrescidos de 0; 0,016; 0,032; 0,065 e 0,130 g de lodo (massa

seca) respectivamente para as doses 0, ½, 1, 2 e 4 vezes a necessidade de N. Foram

preparadas quatro repetições para cada combinação entre tratamento e dose.

Antes de iniciar a incubação foi realizada a extração do N inorgânico referente ao

tempo zero, adicionando-se 12,5 mL de água deionizada e em seguida 12,5 mL de solução de

KCl 4 mol L-1

, agitando-se em mesa horizontal a 120 rpm por 30 minutos e filtrando-se para

obter o extrato para análise. Aos tubos contendo solo e solo + lodo para incubação, adicionou-

se 12,5 mL de água deionizada e estes foram em seguida colocados em estufas incubadoras

tipo BOD com temperatura de 40 ºC ± 1, onde permaneceram sete dias conforme descrito por

KEENEY & BREMNER (1966). Ao final deste período foi feita extração com 12,5 mL de

solução de KCl 4 mol L-1

.

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20

O extrato foi analisado por sistema automático de injeção em fluxo contínuo (FIA) e as

concentrações de N-NH4+ e N-NO3

- foram determinadas pelos métodos colorimétricos descritos

por KROM (1980) e KAMPHAKE et al. (1967), respectivamente.

3.4 Análise estatística dos resultados

Os dados do experimento de campo foram submetidos à Análise de Variância

(ANOVA) e posteriormente a análise de regressão para doses de lodo no caso da área

experimental da Embrapa ou teste de Tukey para a área experimental do IAC. O nível de

significância adotado, tanto no teste F, como na comparação de médias foi de 10% de

probabilidade, visto a alta variabilidade normalmente associada a dados de N inorgânico em

amostras de solo.

Para o experimento de laboratório, considerou-se esquemas fatoriais 5 x 5 e 3 x 5,

respectivamente para as áreas experimentais da Embrapa e do IAC, sendo os seguintes fatores

de variação: efeito residual x novas doses. Os dados também foram submetidos a ANOVA e

posterior análise de regressão ou comparação de médias para o efeito residual e regressão para

novas doses.

Correlações estatísticas, principalmente entre dados de laboratório e campo foram

utilizadas para avaliar a eficiência do método anaeróbio em estimar o N mineralizado.

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21

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Estimativa da mineralização do nitrogênio em condição de campo (in

situ)

4.1.1 Tubos

O método escolhido para avaliação da mineralização do nitrogênio in situ fundamenta-

se em diferenças no N inorgânico do solo amostrado por meio da instalação de conjuntos de

três tubos de PVC, em que a retirada dos mesmos ocorre em tempos pré-determinados. Um

dos tubos é retirado imediatamente após sua colocação (tempo inicial), enquanto os dois tubos

restantes permanecem por cerca de 30 dias no campo (um com a extremidade superior aberta

e outro com a extremidade superior fechada). Nessas amostras de solo são determinados os

teores de N inorgânico, sendo a diferença entre o inicial e após 30 dias atribuída a

mineralização do N no referido período.

Na tabela 4 são apresentados os resultados da comparação dos valores obtidos para os

três tubos, independentemente da dose de lodo e do tempo de coleta.

Tabela 4. Teores de amônio, nitrato e N inorgânico no solo em função da retirada de tubos de

PVC contendo amostras referentes ao tempo inicial e após 30 dias de permanência

no campo (tubos com extremidade superior aberta ou fechada).

Tempo N-NH4+ N-NO3

- N inorgânico

(1)

--------------------------- mg kg-1

---------------------------

Tempo inicial 78 A (2)

120 A 198 A

30 dias – aberto 12 B 106 A 118 A

30 dias – fechado 37 AB 170 A 207 A

CV (%) 238 153 147 (1) N inorgânico = N-NH4

+ + N-NO3

-.

(2) Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Tukey a 10%.

Observa-se na tabela 4 que as concentrações de N na forma amoniacal e nítrica, bem

como da soma de ambas (N inorgânico), foram semelhantes entre o tempo inicial e após 30

dias (tubos aberto e fechado). Tal semelhança não era esperada, pois nos tubos que

permanecem no campo, principalmente nas parcelas contendo lodo recém aplicado, a

expectativa era de teores aos 30 dias superiores aos inicialmente determinados. Nesse sentido,

não foi possível estimar a mineralização do N no campo utilizando-se o método conforme

proposto por ADAMS & ATTIWILL (1986). Mesmo diferenças no teor de N inorgânico do

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tubo aberto (sujeito a perdas por lixiviação), comparativo ao tubo fechado (não sujeito a

perdas por lixiviação), não foram detectadas.

De alguma forma, os tubos que permaneceram no campo alteraram a dinâmica de

mineralização do N. No presente trabalho, uma modificação foi feita em relação ao método

original, em que eram previstos furos laterais para, presumivelmente estabelecer o equilíbrio

da umidade do solo entre o ambiente interno e externo do tubo. No entanto, em função de

resultados da literatura pouco conclusivos sobre a mineralização do N (VIEIRA &

CARDOSO, 2003; SOARES, 2003 e GONÇALVES, 2005), cujos tubos alocados no campo

apresentavam os referidos furos laterais, optou-se por não fazê-los, pois uma fonte de erro

poderia ser a difusão de formas inorgânicas de N entre os ambientes interno e externo, de

forma a prejudicar a observação de possíveis alterações em função do tempo de permanência

no campo.

Avaliando a mineralização no campo, porém colocando-se vasos de 12L ao invés de

tubos e realizando amostragens mensais nos mesmos vasos durante 360 dias, PAULA et al.

(2013) também citaram dificuldades para a determinação da TMN de cinco resíduos

orgânicos aplicados na superfície do solo ou incorporado, dentre eles um lodo de esgoto.

Nesse trabalho os autores testaram alternativamente diferentes formas de cálculo da TMN a

partir dos resultados de campo, optando pelo uso da razão entre o N mineralizado em

determinado tempo e o N potencialmente mineralizável, cujos valores de TMN para o lodo de

esgoto incorporado ao solo em dose equivalente a 10 t ha-1

(base seca) foram 26, 46, 60 e

70%, respectivamente para 30, 60, 90 e 120 dias após a aplicação.

A partir dos resultados de N-NH4+, N-NO3

- e N inorgânico das amostras de solo

retiradas do campo sempre em seguida a colocação dos tubos (tempos iniciais), procurou-se

alternativamente formas para determinação da TMN, uma vez que o problema metodológico

foi identificado nas amostras referentes aos tubos que permaneceram no campo. Dessa forma,

foram consideradas para esta etapa as amostras retiradas por meio dos tubos após 20, 50, 80 e

110 dias da incorporação do lodo ao solo.

O teor de N-NH4+ no solo foi influenciado pela dose de lodo e época de amostragem,

com interação entre estes fatores.

Aos 20 dias da incorporação do lodo, os teores de N-NH4+ no solo aumentaram com a

dose de lodo aplicada (Tabela 5), mas após esse período nenhuma diferença em função das

doses foi observada. Considerando que 97% do total de N do lodo estavam sob formas

orgânicas (Tabela 3) e que a amonificação é a primeira etapa do processo de mineralização do

N orgânico adicionado via lodo, esperava-se, de fato, efeitos de dose em relação aos tempos

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23

iniciais de avaliação. Além disso, parte do N (2,4%) já estava na forma amoniacal,

correspondendo à adição de 10 a 80 kg ha-1

de N-NH4+ (Tabela 5).

Em laboratório, BOEIRA (2009) também observou nos períodos iniciais de incubação

(até 14 dias) comportamento linear de aumento do N-NH4+ do solo em função de doses de

lodo aplicadas.

Vale a pena lembrar que a ausência de efeito de dose nos tempos posteriores de

avaliação até 110 dias não significa que a amonificação cessou, mas sim que as diferenças

entre os tratamentos não foram suficientemente elevadas em relação à variação não

controlada.

y = 65,12x - 37,87

r² = 0,872; p < 0,0001

-100

0

100

200

300

400

500

600

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

N-N

H4

+(m

g k

g-1

)

Tratamentos

N N N N N

Figura 5. Teor de amônio em solo tratado continuamente com lodo de

esgoto (1N, 2N, 4N e 8N) ou não (0N), 20 dias após

incorporação do resíduo. 0N – sem adição de lodo; 1N – dose

referência de lodo calculada para fornecer 120 kg ha-1

de N

considerando 30% como taxa de mineralização do N; e 2N,

4N e 8N – doses correspondentes a 2, 4 e 8 vezes a dose

referência.

O efeito do tempo no teor de N-NH4+ no solo somente foi observado para a maior dose

de lodo aplicada (Figura 6), mas muito provavelmente isso também tenha ocorrido para as

demais doses, porém com diferenças insuficientes frente à variabilidade natural desses teores

no campo. Novamente reportando a dinâmica do N orgânico aplicado ao solo, após a primeira

etapa do processo de mineralização, ou seja, com a geração de NH4+ a partir da amonificação,

há, em ambiente aeróbio, a oxidação desse amônio até formas nítricas (MOREIRA &

SIQUEIRA, 2006), o que explica a redução do teor de N-NH4+ com o tempo após aplicação

do resíduo (ANDRADE et al., 2006).

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24

y = 0,086x2 - 17,24x + 857,0

r² = 0,999; p < 0,0001

0

100

200

300

400

500

600

0 20 40 60 80 100 120

N N

H4

+(m

g k

g-1

)

Tempo (dias)

Figura 6. Teor de amônio no solo em função do tempo no tratamento

com oito vezes a dose necessária de N via lodo (8N) para

atendimento a exigência nutricional do milho.

O teor de N-NO3- no solo variou em função das doses de lodo de esgoto aplicadas e

em função do tempo, porém com interação não significativa entre esses fatores.

A concentração de N na forma nítrica aumentou linearmente com a dose de lodo,

variando entre 15 e 242 mg kg-1

(Figura 7).

y = 27,86x + 9,041r² = 0,959; p < 0,0023

0

50

100

150

200

250

300

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

N-N

O3

-(m

g k

g-1

)

Tratamentos

N N N N N

Figura 7. Teor de nitrato em solo tratado continuamente com lodo de

esgoto (1N, 2N, 4N e 8N) ou não (0N), 20 dias após

incorporação do resíduo. 0N – sem adição de lodo; 1N – dose

referência de lodo calculada para fornecer 120 kg ha-1

de N

considerando 30% como taxa de mineralização do N; e 2N, 4N e

8N – doses correspondentes a 2, 4 e 8 vezes a dose referência.

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25

A dinâmica dos teores de N-NO3- no tempo é mostrada na figura 8, em que é possível

perceber um pico de mineralização entre 50 e 60 dias após a incorporação do lodo ao solo.

Posteriormente a esse período de máxima disponibilidade de N-NO3- no solo, houve redução

expressiva dos teores até o final do período de avaliação – 110 dias.

y = -0,059x2 + 6,842x - 33,31r² = 0,845; p < 0,032

0

50

100

150

200

250

0 20 40 60 80 100 120

N-N

O3

-(m

g k

g-1

)

Tempo (dias)

Figura 8. Teor de nitrato em solo tratado continuamente com lodo de

esgoto em função do tempo após incorporação de doses de

lodo de esgoto.

Menores teores de nitrato no início da incubação (Figura 8) são concordantes com o

resultado observado para o amônio (Figura 5), pois somente a partir da liberação de amônio é

que o processo de nitrificação passará a ocorrer mais intensamente, de forma a incrementar o

N-NO3- em tempos subseqüentes de avaliação. A redução do N nítrico após 58 dias (ponto de

máximo) é provavelmente função de algum nível de perda por lixiviação, mas principalmente

devido à absorção pelas plantas. De acordo com dados disponíveis em CANTARELLA &

DUARTE (2004) cerca de 50 a 75% do total de N acumulado pelo milho ocorre até o

florescimento, o que acontece por volta de 60 dias após a emergência, mas que pode variar em

função do acúmulo de graus-dia. Nesse mesmo período inicial espera-se maior

disponibilização de N pela mineralização do lodo. Segundo dados de ANDRADE et al.

(2013), obtidos em condições controladas de umidade e temperatura, metade do total de N

mineralizado do lodo de esgoto em 126 dias de avaliação ocorre nos primeiros 10 a 14 dias.

Isso significa que na medida em que o tempo passa a mineralização do N do lodo ocorre à

menores taxas, mas a absorção do N pela cultura continua, o que explica a redução no teor de

N-NO3- com o tempo.

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De forma semelhante, VIEIRA & CARDOSO (2003) avaliaram a mineralização de

nitrogênio em solo tratado com lodo de esgoto no campo e também observaram redução no

teor de nitrato a partir dos 66 dias após a emergência de plantas de milho.

O N inorgânico, obtido na soma do N nas formas amoniacal e nítrica (N-NH4+ + N-

NO3-) também foi alterado em função dos fatores testados, mas sem interação significativa.

O N inorgânico aumentou linearmente com as doses de lodo aplicadas (Figura 9) e a

partir do coeficiente angular obtido pôde-se estimar a taxa de mineralização do N adicionado

ao solo via lodo.

y = 50,93x - 0,168r² = 0,932; p < 0,0002

0

100

200

300

400

500

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

N in

org

ân

ico

(m

g k

g-1

)

Tratamentos

N N N N N

Figura 9. Teor de nitrogênio inorgânico em solo tratado continuamente

com lodo de esgoto (1N, 2N, 4N e 8N) ou não (0N). 0N –

sem adição de lodo; 1N – dose referência de lodo calculada

para fornecer 120 kg ha-1

de N considerando 30% como taxa

de mineralização do N; e 2N, 4N e 8N – doses

correspondentes a 2, 4 e 8 vezes a dose referência.

Considerando que a dose referência (1N) aplicada para atender a exigência da cultura

em N foi igual a 14,6 t ha-1

de lodo de esgoto (base seca) e que a concentração de N no lodo

foi de 29,4 g kg-1

(Tabela 3), para cada tonelada de lodo aplicada, 29,4 kg de N foram

adicionadas ao solo. De modo semelhante, porém admitindo-se que para cada 14,6 t ha-1

de

lodo aplicado, 50,9 mg kg-1

de N inorgânico (coeficiente angular – Figura 9) foi

disponibilizado no solo e que 1 hectare na camada 0 a 20 cm possui 2 milhões de quilogramas

de terra (densidade igual a 1 g cm-3

), chega-se ao valor de 7,0 quilogramas de N inorgânico no

solo por tonelada de lodo aplicada. Fazendo-se a razão entre o N inorgânico no solo (7,0 kg

t-1

) e N aplicado (29,4 kg t-1

), tendo como base uma (1) tonelada de lodo aplicada, em base

seca, tem-se 24% como TMN.

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A taxa obtida em campo mostrou-se superior à determinada em condições controladas

(cerca de 20% - item 4.3), contudo não atingiu o valor de 30% indicado na Resolução 375 do

CONAMA (BRASIL, 2006a). No entanto, além de pressupor perdas mínimas de N por

lixiviação ou outra rota qualquer, não se considerou o N absorvido pelas plantas de milho, ou

seja, a TMN deve ser superior a 24%.

Para melhorar a estimativa do N mineralizado por meio dos resultados de campo,

calculou-se a quantidade de N absorvida para cada tonelada de lodo aplicada pela equação de

reta da figura 14. Dessa forma, estimou-se que 3,8 kg t-1

de LE foram absorvidos pela cultura

do milho. Somando-se este valor aos 7,0 kg de N no solo e ponderando-se pelo N aplicado,

chega-se a TMN de 36%.

No tempo, independente da dose de lodo aplicada, houve redução nos teores de N

inorgânico no solo (Figura 10), o que é função do balanço entre mineralização de N a partir

do lodo e absorção desse nutriente pelas plantas de milho, influenciado por algum nível de

perda, principalmente por lixiviação, conforme comentado anteriormente para o N-NO3-.

y = -2,597x + 321,4r² = 0,814; p < 0,0017

0

50

100

150

200

250

300

0 20 40 60 80 100 120

N in

org

ân

ico

(m

g k

g-1

)

Tempo (dias)

Figura 10. Teor de N inorgânico no solo em função do tempo após

incorporação de doses de lodo de esgoto.

4.2 Absorção de nitrogênio por plantas de milho

Os teores foliares de nitrogênio no milho foram influenciados pelas doses de lodo, nas

duas áreas experimentais avaliadas. Na área experimental do IAC, os teores de N observados

nos tratamentos 1N e 2N foram respectivamente 25 e 35% superiores ao valor médio

encontrado no tratamento AM (Figura 11).

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28

0

3

6

9

12

15

18

AM 1N 2N

Teo

r d

e N

(m

g k

g-1

)

Tratamentos

C

B

A

Figura 11. Teor foliar de nitrogênio nas plantas de milho cultivadas em

solo adubado continuamente com lodo de esgoto (1N e 2N)

ou adubação mineral (AM) na área experimental do IAC. AM

adubação nitrogenada de 120 kg ha-1

de N mineral; e 1N e 2N

- doses de lodo correspondente a 120 e 240 kg ha-1

de N,

considerando a concentração de N no lodo e 30% de taxa de

mineralização do N. Letras iguais nas colunas não diferem

entre si pelo teste de Tukey a 10% de probabilidade.

É importante destacar que a diferença verificada entre os tratamentos AM e 1N

(Figura 11), é atribuída ao efeito residual do lodo, uma vez que o cálculo da dose de lodo visa

atender a exigência da cultura, tal qual a premissa da adubação mineral. No entanto, conforme

resultados apresentados por PITOMBO (2011), o estoque de N no solo da área experimental

do IAC (camada 0 a 20 cm) aumentou na ordem de 33% entre os tratamentos AM e 1N,

passando de 2,6 t ha-1

de N para 3,5 t ha-1

de N, respectivamente. Dessa forma, o efeito

residual do lodo está relacionado com o incremento na disponibilidade de N no solo após

sucessivas aplicações, quer seja em função do estoque do nutriente no solo, tal qual mostrado

em PITOMBO (2011), quer seja por meio de alteração na taxa de mineralização do N do solo

ou de dose de lodo recém aplicada. Outras discussões acerca da taxa de mineralização do N

em solos tratados com lodo serão feitas mais adiante neste documento.

Na área experimental da Embrapa, observou-se relação direta entre a adição de lodo e

o teor de N nas folhas (Figura 12), o que concorda com outros resultados da literatura

(NASCIMENTO et al., 2004; GOMES, et. al., 2007; TANIGUCHI, 2010).

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29

y = -0,089x2 + 1,357x + 11,31

r² = 0,882; p < 0,0327

10

12

14

16

18

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Teo

r d

e N

(m

g k

g-1

)

Tratamentos

N N N N N

Figura 12. Teor foliar de nitrogênio nas plantas de milho cultivadas em

solo adubado continuamente com lodo de esgoto (1N, 2N, 4N

e 8N) ou não (0N) na área experimental da EMBRAPA. 0N –

sem adição de lodo; 1N – dose referência de lodo calculada

para fornecer 120 kg ha-1

de N considerando 30% como taxa

de mineralização do N; e 2N, 4N e 8N – doses

correspondentes a 2, 4 e 8 vezes a dose referência.

As doses de lodo de esgoto adicionadas ao solo também influenciaram as quantidades

totais de N absorvido pelas plantas de milho, tanto na área experimental do IAC (Figura 13),

como na Embrapa (Figura 14).

0

50

100

150

200

250

300

AM 1N 2N

N a

bso

rv

ido

(k

g h

a-1

)

Tratamentos

C

B

A

Figura 13. Nitrogênio absorvido por plantas de milho em função da

aplicação de doses de lodo de esgoto (1N e 2N) ou adubação

nitrogenada mineral (AM) na área experimental do IAC. AM

adubação nitrogenada de 120 kg ha-1

de N mineral; e 1N e 2N

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30

- doses de lodo correspondente a 120 e 240 kg ha-1

de N,

considerando a concentração de N no lodo e 30% de taxa de

mineralização do N. Letras iguais nas colunas não diferem

entre si pelo teste de Tukey a 10% de probabilidade.

Na área experimental do IAC a quantidade de N absorvida pelas plantas aumentou em

função dos tratamentos. O nitrogênio absorvido no tratamento 1N apresentou um incremento

de 81 kg ha-1

em relação à adubação mineral, ou seja, o solo que recebeu a dose referencia

disponibilizou cerca de 70% de nitrogênio a mais que o disponibilizado pela adubação

mineral.

Na Embrapa, o modelo linear indica que a quantidade de N absorvida pelas plantas

aumentou proporcionalmente com a dose de lodo aplicada (Figura 14). Este resultado era

esperado uma vez que a planta responde na forma de incrementos decrescentes com o

aumento da dose de um insumo qualquer aplicado, até o ponto em que outro fator limitante do

crescimento passa a predominar (ARAÚJO et al., 2001). Considerando que a planta possui

limitada capacidade de absorção do N, perdas do nutriente com aplicações de doses que

suplantam esta capacidade, favorecem processos de perda, principalmente por lixiviação de

formas inorgânicas.

y = 55,54x + 309,6

r² = 0,744; p < 0,0001

0

100

200

300

400

500

600

700

800

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

N a

bso

rvid

o (

kg h

a-1

)

Tratamentos

N N N N N

Figura 14. Nitrogênio absorvido por plantas de milho em função da

aplicação de doses de lodo de esgoto (1N, 2N, 4N e 8N) ou

não (0N) na área experimental da EMBRAPA. 0N - sem

aplicação de lodo; 1N – dose referencia de lodo (base seca)

calculada para fornecer 120 kg ha-1

de N, considerando a

concentração de N no lodo 30% como taxa de mineralização

do N; e 2N, 4N e 8N – doses correspondentes a 2, 4 e 8 vezes

a dose referência.

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31

4.3 Estimativa da mineralização do nitrogênio em condição controlada

A mineralização do N presente em determinado resíduo orgânico pode ser estimada

por meio de métodos de laboratório, tais como os métodos aeróbios com e sem lixiviação que

constam da Norma P4230 da CETESB (CETESB, 1999). Em ambos os métodos, o N

mineralizado do resíduo é estimado partir do N inorgânico determinado após períodos pré-

estabelecidos de incubação, porém descontando-se o N inorgânico inicial (tempo zero) e o N

inorgânico mineralizado no controle (dose zero).

Como não há menção ao método de incubação anaeróbia na norma da CETESB

(CETESB, 1999), optou-se seguir o mesmo procedimento de cálculos indicados na norma

para os métodos aeróbios. Alternativamente determinou-se o teor de nitrogênio descontando-

se somente o tempo zero para considerar as quantidades mineralizadas do nitrogênio de

aplicações anteriores.

4.3.1 Mineralização de nitrogênio descontando-se o tempo inicial e a dose zero

Ao descontar os valores de N inorgânico do tempo inicial e da dose zero, atribui-se o

resultado apenas à mineralização do N adicionado ao solo via nova dose de lodo. Dessa

forma, resultados relacionados ao uso anterior do lodo ou efeito residual tornam-se menos

evidentes e somente relacionados a alguma alteração na taxa de mineralização da nova dose, o

que não foi verificado no presente trabalho.

O teor de amônio no solo aumentou linearmente com a adição de novas doses de lodo,

o que era esperado, pois quanto maior a dose aplicada, maior a quantidade de nitrogênio

aportada ao solo (Figura 15). Esse comportamento também foi observado por BOEIRA et al.

(2006) e ALCANTARA et al. (2007), cujos estudos evidenciaram incrementos de N

proporcionais às doses de lodo aplicadas. SILVA et al. (2010), estudando três doses de

resíduos em área com histórico de uso anterior de lodo também verificaram aumento na

concentração de N com o incremento da dose aplicada, embora nesse caso tenha-se observado

adicionalmente efeito de aplicações anteriores do resíduo.

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32

y = 0,368x + 1,532

r² = 0,992; p < 0,001

0

100

200

300

400

0 200 400 600 800 1000

N m

iner

aliza

do (

mg k

g-1

)

N adicionado (mg kg-1)

A

y = 0,187x - 15,51

r² = 0,997; p < 0,001

0

40

80

120

160

0 200 400 600 800 1000N m

iner

ali

zad

o (

mg

kg

-1)

N adicionado (mg kg-1)

B

Figura 15. Teor de amônio no solo em função da adição de doses recém adicionadas de

nitrogênio via lodo de esgoto. Área experimental do IAC (A) e da Embrapa

Meio Ambiente (B).

Conforme abordado anteriormente, o nitrogênio remanescente de aplicações anteriores

é desconsiderado ao se subtrair a dose zero, o que explicaria, pelo menos em parte, a ausência

de significância em função do efeito residual de aplicações anuais contínuas de lodo no solo.

Por outro lado, a nova adição de lodo poderia estimular a atividade microbiana e resultar em

quantidades de N remanescente mineralizado maiores do que a observada para a dose zero, o

que é comumente referido como efeito priming (KUZIAKOV, 2010), mas isso não ocorreu no

presente estudo. O efeito residual do lodo de esgoto em solos com reaplicação do resíduo tem

sido relatado em vários trabalhos (BOEIRA et al., 2002; DYNIA et., 2006; BARBOSA et al.,

2007; SILVA et al., 2010 e ANDRADE et al.,2013).

O método foi eficiente em estimar a mineralização do lodo recém adicionado ao solo.

Para excluir o efeito da dose e obter valor de uso mais amplo, pode-se utilizar o coeficiente

angular das equações da figura 15 como a taxa de mineralização do N (TMN) do lodo

aplicado. Percebe-se por meio desses valores que para um mesmo lodo de esgoto, a TMN

pode variar, sendo que na área experimental do IAC o valor de TMN foi igual a 37% e na

Embrapa praticamente a metade, 19%. Como as condições de incubação foram controladas,

somente diferenças entre os solos explicam a divergência entre as taxas e, por isso, a adoção

de valor de TMN em função do tipo de lodo pode não ser a melhor alternativa, devendo-se

preconizar a determinação deste valor em laboratório, utilizando-se amostra de solo do local

receptor do resíduo.

ANDRADE et al. (2013) em trabalho semelhante ao aqui apresentado, porém

utilizando método de incubação aeróbio para estimar a TMN do lodo aplicado ao solo (área

experimental do IAC), verificaram valor médio de TMN de 12%, ou seja, muito inferior ao

obtido no presente trabalho por meio do método anaeróbio (37%).

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33

Outros trabalhos da literatura citam valores de TMN para lodos de esgoto variando

entre 14 e 69% (BOEIRA & MAXIMILIANO, 2004; MORETTI et al., 2013). Essa variedade

de resultados pode ser explicada pela multiplicidade de resíduos e teores de N nos mesmos

(CABRERA et al., 2005), pela ausência de padronização das doses aplicadas nos

experimentos (GOMES et al., 2007) e pelas diferenças nas características dos solos

(SCHOMBERG et al., 2009).

Adotando-se o valor de TMN (30%) sugerido na Resolução CONAMA (BRASIL,

2006a) em função do tipo de lodo, vê-se que na média das duas áreas experimentais (Figura

15), a TMN obtida (28%) foi muito próxima do valor citado. No entanto, vale ressaltar que a

determinação da TMN em laboratório ao invés da simples adoção de valor em função do tipo

de lodo é a alternativa aqui recomendada.

Outra discussão interessante refere-se ao fato de solos tratados com lodo de esgoto

exibirem, em função do tempo e de sucessivas aplicações, aumento da capacidade em

fornecer N para as plantas (LÓPEZ-TERCERO et al., 2005; PITOMBO, 2011; GUIMARÃES

et al., 2012; ANDRADE et al., 2013), aspecto esse negligenciado na recomendação da dose

de lodo (CETESB 1999; BRASIL, 2006a). O aumento da capacidade do solo em fornecer N é

aspecto benéfico e desejado ao considerar sistemas de produção mais conservacionistas, em

que há incremento na matéria orgânica do solo e, conseqüentemente, na disponibilidade de N.

O foco de discussão deve ser o aprimoramento do sistema de recomendação da dose de lodo

de esgoto, evitando-se falta ou excesso, de forma a maximizar a eficiência de uso do N, tal

qual se almeja para a recomendação de fertilizantes minerais nitrogenados. Nesse sentido,

torna-se importante conhecer o aporte total de N disponibilizado a partir da nova dose de lodo

adicionada, bem como o efeito residual de aplicações anteriores, conforme será discutido na

seqüência.

4.3.2 Mineralização do N descontando-se o tempo inicial

Em função das considerações feitas, decidiu-se reavaliar o método tratando os dados

de forma diferenciada ao recomendado na Norma P4.230 (CETESB, 1999) , descontando-se

apenas o tempo zero e utilizando os dados da dose zero na avaliação.

Neste caso, a análise estatística indicou resultados diferentes para as duas áreas

experimentais.

Na área experimental do IAC, os fatores nova dose de lodo (Figura 16) e efeito

residual (Figura 17) alteraram a mineralização do nitrogênio, porém de forma independente,

isto é, sem interação significativa entre eles.

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34

Como esperado, o potencial do solo em fornecer nitrogênio aumentou linearmente

com as novas doses de lodo de esgoto aplicadas, exibindo valores entre 80 e 344 mg kg-1

, para

a menor e maior doses, respectivamente (Figura 16). O N disponível no solo alcançou valores

de 160, 265, 367 e 688 kg ha-1

de N, respectivamente para as doses de ½N, 1N, 2N e 4N.

Dessa forma, verifica-se que os valores disponibilizados superaram os valores teoricamente

calculados para fornecimento via lodo, ou seja, o equivalente a 60, 120, 240 e 480 kg ha-1

de

N, o que é indicativo de mineralização do N do solo (remanescente ou não de aplicações

anteriores de lodo) ou de taxa de mineralização do N do lodo superior aos 30% pressupostos

inicialmente. A mineralização de N remanescente em solos com histórico de adição de

resíduos orgânicos é fato relatado em outros trabalhos (BOEIRA, et al., 2009; SILVA et al.,

2010; ANDRADE et al., 2013).

y = 0,369x + 47,66

r² = 0,994; p < 0,001

0

100

200

300

400

0 200 400 600 800 1000

N m

iner

ali

zad

o

(mg

kg

-1)

N adicionado (mg kg-1)

Figura 16. Nitrogênio mineralizado no solo em função de novas doses

de nitrogênio adicionadas via lodo de esgoto (base seca) em

solo continuamente adubado com lodo de esgoto ou com

adubação mineral. Novas doses de lodo (base seca)

calculadas para fornecer 60, 120, 240 e 480 kg ha-1

de N,

considerando-se a concentração de N no lodo e 30% de

mineralização do N. Área experimental do IAC.

Confrontando os resultados da figura 15A com os da figura 16 é possível observar que

embora a magnitude do N mineralizado (eixo Y) seja maior quando não se desconta a dose

zero (Figura 16), o valor do coeficiente angular, que é indicativo da taxa de mineralização

praticamente não foi alterado. Isso significa que a TMN estimada para o caso de novas doses

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35

de lodo adicionadas ao solo não variou em função da opção de descontar ou não o N

inorgânico da dose zero.

Quanto ao efeito residual (Figura 17), o teor de N-NH4+ no solo com adubação mineral

foi 62% inferior ao observado no tratamento que recebeu a dose referência de lodo (1N), essa

diferença pode ser atribuída a dois processos principais: (i) mineralização de compostos

nitrogenados remanescentes de aplicações anteriores de lodo; e (ii) aumento da capacidade do

solo em fornecer N, principalmente relacionado ao incremento no estoque de matéria

orgânica, conforme mostrado em PITOMBO (2011). Como não foi verificada interação entre

as fontes de variação, admite-se que tanto no caso de não ocorrer nova adição de lodo de

esgoto, quanto no caso de adição de novas doses aplicadas, o efeito do histórico foi

semelhante, indicando certo grau de independência quanto ao estímulo à degradação de

frações remanescentes de N em função de novas doses adicionadas.

0

50

100

150

200

AM 1N 2N

N m

iner

ali

zad

o (

mg

kg

-1)

Tratamentos

B

A A

Figura 17. Nitrogênio mineralizado no solo em função dos tratamentos

(efeito residual) da aplicação (1N e 2N) ou não (AM) de lodo

de esgoto ao solo da área experimental do IAC. AM

adubação nitrogenada de 120 kg ha-1

de N mineral; e 1N e 2N

- doses de lodo correspondente a 120 e 240 kg ha-1

de N,

considerando a concentração de N no lodo e 30% de taxa de

mineralização do N. Letras iguais nas colunas não diferem

entre si pelo teste de Tukey a 10% de probabilidade.

À semelhança do ocorrido com o solo do IAC, o N mineralizado na Embrapa também

exibiu variação em função das novas doses de lodo aplicadas e do efeito residual, porém sem

interação entre estes fatores. O teor de amônio (N mineralizado) aumentou linearmente com

as doses de lodo recém aplicadas (Figura 18).

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36

y = 0,176x + 43,48r² = 0,986; p < 0,001

0

50

100

150

200

0 200 400 600 800 1000

N m

inera

liza

do

(m

g k

g-1

)

N adicionado (mg kg-1)

Figura 18. Nitrogênio mineralizado no solo em função de novas doses

de nitrogênio adicionadas via lodo de esgoto (base seca) em

solo continuamente adubado com lodo de esgoto ou não.

Novas doses de lodo (base seca) calculadas para fornecer 60,

120, 240 e 480 kg ha-1

de N, considerando-se a concentração

de N no lodo e 30% de mineralização do N. Área

experimental da Embrapa.

O coeficiente angular da equação de reta da figura 18 significa que a TMN do lodo

recém aplicado no solo da área experimental da Embrapa foi igual a 18%, ou seja,

praticamente não variou quando em comparação a TMN obtida descontando-se o tempo zero

e a dose zero (19% - Figura 15B).

Quanto ao efeito residual, observou-se comportamento quadrático (Figura 19), com

valor máximo de mineralização do N próximo ao histórico 4N (ponto de máxima

mineralização = 4,8N).

MACEDO et al. (2012) relataram concentrações de N no solo proporcionais às doses

aplicadas e ausência de diferença entre a menor dose e o tratamento controle com tendência

de estabilização nas maiores doses.

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37

y = -4,097x2 + 39,79x + 21,47

r² = 0,897; p < 0,0001

0

40

80

120

160

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

N m

iner

ali

zad

o

(mg

kg

-1)

Tratamentos

N N N N N

Figura 19. Nitrogênio mineralizado no solo em função dos tratamentos

(efeito residual) da aplicação de lodo de esgoto entre os anos

de 1999 e 2012. Doses de lodo aplicadas anualmente: 0N -

sem aplicação de lodo; 1N - dose referência de lodo calculada

para fornecer 120 kg ha-1

de N, considerando 30% como taxa

de mineralização do N; e 2N, 4N e 8N – doses

correspondentes a 2, 4 e 8 vezes a dose referência.

4.2.3 Relação entre mineralização e absorção do N pelo milho

A eficiência do método anaeróbio em estimar a mineralização foi testada por meio de

correlação com o N absorvido pelo milho cultivado no campo. Para essa associação optou-se

por correlacionar estatisticamente somente os tratamentos de laboratório exatamente

correspondentes às combinações de campo entre efeito residual e novas doses aplicadas, para

cada área experimental (Figura 20).

No experimento da IAC, o nitrogênio mineralizado correlacionou-se positivamente

com a quantidade de nitrogênio absorvido pelas plantas de milho (r = 0,688; p < 0,05) (Figura

20A).

O método de incubação anaeróbia para estimativa da mineralização do N do solo tem

sido utilizado em diversas pesquisas, como as conduzidas por ACOSTA (2009) a partir de

amostras de solo com doses de resíduo vegetais e por RHODEN et. al. (2006) que estudaram

a mineralização do nitrogênio em 15 solos do Rio Grande do Sul. Em ambos os casos foram

encontradas correlações positivas entre o N mineralizado estimado no método anaeróbio e o N

absorvido por plantas de milho (r = 0,90; p < 0,01 – ACOSTA, 2009) e arroz (r = 0,70;

p < 0,01 – RHODEN et al., 2006).

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38

Na área experimental da EMBRAPA, a situação foi semelhante, ou seja, houve

correlação significativa (r = 0,797; p < 0,01) entre o N mineralizado e o absorvido pelo milho

(Figura 20B).

y = 0,233x + 135,3r = 0,688; p < 0,05

0

50

100

150

200

250

300

350

0 200 400 600 800

N a

bso

rv

ido

(k

g h

a-1

)

N mineralizado (kg ha -1)

A

y = 1,146x + 182,7r = 0,797; p< 0,01

0

100

200

300

400

500

600

700

800

0 100 200 300 400 500

N a

bso

rv

ido

(k

g h

a-1

)

N mineralizado (kg ha-1)

B

Figura 20. Correlação estatística entre o nitrogênio mineralizado no solo e a quantidade do

nutriente absorvida por plantas de milho. A – área experimental do IAC

(Tratamentos: AM – Adubação Mineral, 1N e 2N) e B – área experimental da

Embrapa (Tratamentos: 0N, 1N, 2N e 4N). Doses de lodo aplicadas anualmente:

0N - sem aplicação de lodo; 1N - dose referência de lodo calculada para fornecer

120 kg ha-1

de N, considerando 30% como taxa de mineralização do N e; 2N e

4N – doses correspondentes a 2 e 4 vezes a dose referência.

As correlações investigadas permitem afirmar que o método de incubação anaeróbia

para quantificação da mineralização do N foi eficiente em tal estimativa. De forma geral,

cerca de 70% das variações do N absorvido foram relacionadas ao N mineralizado no solo.

A comprovação da eficiência do método anaeróbio em estimar a mineralização do N

em amostras de solo tratados com resíduos orgânicos e, conseqüentemente, a definição da

TMN desses resíduos possibilita a opção por determinar a TMN ao invés da adoção de valores

fixos em função do tipo de lodo. As principais dificuldades na determinação da TMN são

justamente o custo e o tempo para as incubações aeróbias, cerca de 120 dias, o que difere da

incubação anaeróbia aqui avaliada. De acordo com CANTARELLA et al. (2008), em revisão

sobre métodos para estimar a disponibilidade do N em solos agrícolas, incubações de curto

prazo, 1 ou 2 semanas, fornecem bons indicativos da disponibilidade de N no solo, sendo, por

vezes, utilizados na validação de métodos químicos.

Apesar do solo da área experimental do IAC ter apresentado maiores teores de N

mineralizado em comparação com os valores observados na Embrapa, a eficiência de uso

aparente do N mineralizado na área do IAC foi, com base no coeficiente angular da

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39

figura 20A, somente 23%. Em contrapartida, o valor de eficiência de uso aparente do N na

área da Embrapa foi praticamente 100% (Figura 20B) e a diferença em comparação com o

IAC deve estar relacionada com a maior produção de massa seca e absorção de N pelo milho

na EMBRAPA. Dessa forma, o risco de perda de N por lixiviação ou emissões atmosféricas

foram provavelmente maiores no IAC.

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5 CONCLUSÕES

i) O efeito residual do lodo de esgoto, em solos tratados sucessivamente com o

resíduo, não influencia a taxa de mineralização do nitrogênio proveniente de dose recém

adicionada do resíduo.

ii) A quantidade de nitrogênio disponível em solos tratados sucessivamente com

lodo de esgoto é maior que a estimada usando a taxa de mineralização indicada na Resolução

nº 375 do CONAMA.

iii) O método de incubação anaeróbia foi eficiente em estimar a mineralização de

nitrogênio proveniente de doses de lodo de esgoto recém-adicionadas ao solo.

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41

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não houve efeito residual de adições de lodo de esgoto na taxa de mineralização de

doses recém adicionadas do resíduo ao solo. Contudo, a quantidade de nitrogênio disponível

nos solos com aplicações anteriores de lodo de esgoto foram superiores em relação à

testemunha e à fertilização mineral.

Nesse sentido, a adoção da taxa fixa de mineralização do nitrogênio recomendada na

Resolução nº 375 do CONAMA (BRASIL, 2006a) não é um parâmetro adequado, pois

desconsidera a contribuição de aplicações anteriores, subestimando a capacidade do solo em

fornecer nitrogênio.

Este resultado sugere que a melhor opção para se estimar a mineralização de

nitrogênio é a realização de avaliação em laboratório, com amostras do solo no qual se

pretende adicionar o resíduo. Atualmente esta opção foi descartada devido à falta de

operacionalidade e ao tempo de duração do método recomendado para este tipo de avaliação

(incubação aeróbia – 120 dias). Neste caso, outro resultado do presente estudo indica a

possibilidade de uso da incubação anaeróbia (7 dias), método bem mais rápido e menos

trabalhoso. Sendo assim, sugere-se que avaliações mais aprofundadas da eficiência do

método, envolvendo diferentes solos, tanto quanto à classificação quanto ao histórico de uso e

diferentes tipos de lodo de esgoto sejam realizadas.

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42

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