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Escola Superior de Educação de Almeida Garrett - Lic. Educação Física 1 Efeitos da Inactividade e Readaptação Física do Desportista após uma lesão por Mestre Francisco Batista

Efeitos da Inactividade e Readaptação Física do ... · muscular em 20-30%. No entanto, Klauser y col. (1981) concluíram que, num grupo de sujeitos previamente sedentários que

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Efeitos da Inactividade e Readaptação Física do Desportista

após uma lesão

por Mestre Francisco Batista

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IntroduçãoComo sabemos uma actividade física desenvolvida regularmente por uma pessoa sedentária dá lugar a uma melhoria, tanto ao nível do trabalho máximo como do submáximo, observa-se habitualmente depois de várias semanas de treino aeróbio.Ao contrário, o desportista de alto nível necessita de vários meses a anos de treino para alcançar o “pico” do seu rendimento físico.

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Infelizmente, quando se interrompe totalmente o treino, ao longo das seguintes semanas produz-se uma perda gradual da capacidade para render fisicamente ao mesmo nível, tanto no desportista previamente sedentário, como no de alto nível (Neufer, 1989). Quer dizer, apesar de que o treino físico induz uma série de adaptações fisiológicas, a inactividade (destreino) está associada com a involução de muitas delas.

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O “conceito de reversibilidade” sustenta que quando um programa de treino físico pára ou é reduzido, o corpo reajusta-se de acordo com essa diminuição de oferta de estímulos fisiológicos. Esta é a razão principal pela qual muitos desportistas e seus treinadores evitam na medida do possível parar ou reduzir o treino, durante uns dias ou mais tempo, quando estão próximos de uma competição importante, ou depois de uma temporada dura de competição, ou para recuperar-se de um traumatismo ou lesão.

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Temem assim que se produza um decréscimo da sua condição física e do seu rendimento. No entanto, este temor é infundado. Diferentes estudos, realizados sobretudo nos últimos 20 anos, demonstram que muitas mudanças involutivas relacionadas com a inactividade podem minimizar-se, conservando as adaptações fisiológicas próprias da preparação física, durante pelo menos vários meses, quando se mantém um nível reduzido de treino (PD Neufer, 1989).

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A partir daqui portanto, o nosso objectivo vai ser, por um lado, descrever as mudanças cardiovasculares, metabólicas e ao nível do rendimento físico que acompanham a inactividade; e por outro lado, dar alguma informação sobre a quantidade de actividade física necessária para manter os benefícios obtidos com o treino.

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Os efeitos da inactividade e da redução do treino

Infelizmente, as adaptações fisiológicas que se produzem com o treino físico não são permanentes. Poucos dias depois de deixar de treinar, produz-se uma descida significativa da função cardiovascular e do potencial metabólico muscular que coincidem com uma redução do rendimento físico, tanto ao nível sub-máximo como máximo (Coyle y col.1986b; Houston y col.1979; Orlander y col.1977).

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Assim por exemplo, no que se refere ao exercício sub-máximo, Houston y col. (1979), observaram num grupo de atletas bem treinados (atletas de maratona com um tempo inferior a 3.17 h) uma descida de cerca de 25% no tempo até ao esgotamento, durante uma prova realizada a 90% do VO2 máx., depois de apenas 15 dias de inactividade.

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A partir dos estudos frequentemente realizados sobre os efeitos da inactividade no VO2 máx. podemos saber que uma inactividade completa e acamada de cerca de 20 dias, corresponde a uma perda de 25% do VO2 máx., aproximadamente uma perda diária correspondente a 1% da função fisiológica.É evidente que normalmente a inactividade nos desportistas não é caracterizada por situações de acamamento.

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O aumento dos valores do Consumo máximo de oxigénio que se produz num sedentário que participa num programa de treino de resistência aeróbica, pode desaparecer completamente depois de 2-3 meses de inactividade.

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O treino da resistência aeróbica aumenta o número de capilares que rodeiam a fibra muscular em 20-30%. No entanto, Klauser y col. (1981) concluíram que, num grupo de sujeitos previamente sedentários que treinaram apenas durante 8 semanas, a densidade capilar regride após 8 semanas de inactividade.

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Pela sua parte , em desportistas bem treinados aerobicamente, estão descritos também descidas significativas do VO2 máx. aos 10-21 dias de inactividade; no entanto durante o segundo e terceiro mês de inactividade, esta descida é mais moderada. Quando um desportista adopta um estilo de vida sedentária depois de vários anos de treino aeróbico, a descida do VO2 máx. observado durante a fase inicial deste período de inactividade poderia dever-se principalmente a uma redução no volume sanguíneo.

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Em relação à actividade enzimática do metabolismo energético, quando uma pessoa treinou intensamente durante muitos anos, a actividade enzimática (significativamente elevada com o treino) desce progressivamente durante os primeiros 54 dias, para estabilizar-se a cerca de 50% superior ao observado em sujeitos sedentários.Uma vez mais, não está claro, se estes valores nos sujeitos altamente treinados, são obra do treino durante anos, ou pelo contrário, têm uma base genética.

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Quando queremos reduzir o treino evitando no possível a perda das adaptações fisiológicas e de rendimento físico, a intensidade do exercício físico é a componente principal. Concretamente, em relação a sedentários e desportistas de nível recreativo, Hickson y col. (1985) concluíram que ainda que se reduza em 1/3 ou 2/3, o volume e a frequência de treino, a intensidade do exercício deve manter-se ao menos em 70% ou mais elevada (provavelmente a 90-100%) da intensidade habitual, para manter a longo prazo as adaptações ganhas com o treino de resistência.

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Estas adaptações podem manter-se até 15 semanas, desde que não se diminua a intensidade abaixo dos níveis normais.

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Em desportistas de alto nível pode sugerir-se que 3 sessões por semana, com uma redução do volume de treino semanal de 70-80%, realizadas a uma intensidade > 70% VO2 máx. é um estímulo suficiente para manter durante 1 a 4 semanas as variáveis relacionadas com o exercício máximo (VO2 máx.; frequência cardíaca e velocidade máxima).

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A posiçãoÉ claro pois que a nossa posição é a de que o atleta mesmo que lesionado não permaneça completamente inactivo, executando um programa de trabalho físico dentro das suas possibilidades e de acordo com as necessidades de ordem fisiológica que permitam a manutenção das suas capacidades de rendimento, até ao seu regresso à actividade.

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O Conceito de Readaptação

Conjunto de medidas que se aplicam desde que o atleta sofre uma lesão, até que esteja em plenas condições para iniciar a competição

FISIOTERAPIA TREINO

READAPTAÇÃO

LESÃO COMPETIÇÃO

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As Fases da ReadaptaçãoFase I

Fisioterapia + Exercícios de manutenção

Fase IIFisioterapia + Iniciação ao treino

Fase IIITransição à Competição

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Fase I (aproximadamente 10 dias)

Exemplos de Sessões de Treino para manutenção da Condição FísicaSessão 1

20 minutos de mobilidade articular, percorrendo todas as articulações (excepto a área lesionada), realizando todos os exercícios possíveis em todos os eixos e planos. Aproximadamente 15 reps. Por exercício escolhido.20 minutos de stretching, com 6 segundos de contracção isométrica do grupo muscular; 6 segundos de relaxação muscular e 10 segundos de alongamento passivo máximo.

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Sessão 1 (continuação)30 minutos de exercícios de grupos musculares de braços, pernas e tronco que a lesão permita, como por exemplo 5 x 20 abdominais / 5 x 20 lombares / 4 x 20 oblíquos de cada lado/ 5 x 20 flexões de braços (posição inclinada) / 4 x 15 tríceps ou outros para abdutores, adutores, psoas ilíaco, etc...

O treino proposto deverá ser adaptado a cada situação e nível do jogador no momento da lesão. O objectivo é a mínima perda de condição física no jogador parcialmente lesionado, bem como um benefício de ordem psicológica, já que o jogador sente-se menos lesionado, ao participar no treino e continuar integrado com companheiros, técnicos, etc...

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Sessão 2Realizamos um circuito com 12 exercícios. A metodologia consiste em realizar os testes máximos dos exercícios propostos e depois trabalhar com eles percentualmente, segundo o tipo de força que queremos desenvolver no futebolista.

Como exemplo, o trabalho consistiria em:• 12 exercícios de diferentes grupos• 3 series de 15 repetições de cada exercício• 10 segundos de recuperação entre exercícios• Aquecimento prévio• Alongamentos posteriores

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Fase II

Inicia-se a actividade sobre o terreno de jogo, com corrida contínua durante 10 minutos no primeiro dia.

Em continuação nos dias seguintes, incrementa-se o número de series, assim como inicia-se o trabalho com bola. Torna-se muito importante valorizar durante esta fase, as “sensações” do futebolista sobre o estado da sua lesão.

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Metodologia do treino depois da lesão

Realização de teste para avaliar o estado do jogador e as perdas sofridas durante a lesão.

Força - Ergojump Bosco / 30” abdominais com joelhos em flexão / máximo número de flexões de braços.Resistência - Cooper com valorização do VO2 ou 2400 mts por tempoVelocidade - De aceleração (20 mts parados) / Máxima (30 mts lançados) Flexibilidade - Flexão anterior do tronco (bateria EUROFIT)

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Proposta de treino para a melhoria das perdas

Tarefa 1 - 3 x 8 minutos CCVV de Bosco(corrida contínua com variação de velocidade) para melhoria da potência aeróbia

CCVV110” ritmo normal2” sprint(10 mts)30” ritmo normal 5” sprint (30 mts)70” ritmo normal7” sprint (50 mts)110” ritmo normal

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Tarefa 2 - Melhora a capacidade técnico-táctica e a força explosiva.

Finalizações (remates) a centros de de ambos os lados. Previamente o rematador deverá realizar 6 multisaltos e 6 barreiras (20 minutos) - 15 segundos de recuperação entre repetições.

Tarefa 3 -50 mts com condução de bola a máxima velocidade + remate à baliza (15 minutos)Intensidade máximaRecuperação total

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Tarefa 4 -4 x 5 minutos em situações de 1 x 1

Tarefa 5 -30 minutos de trabalho de flexibilidade de todos os grupos musculares, especialmente naqueles em que se detectaram perdas.

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Conclusão

O tratamento e estudo da lesão individualizada e adaptado a cada situação, é a filosofia no tratamento, contra as situações standartizadas;

O treino que o futebolista realize durante o período da lesão, é fundamental tendo em atenção factores físicos e psicológicos;

O trabalho em equipas interdisciplinares de diferentes profissionais, potencia uma aceleração do processo de recuperação, incluindo a possibilidade da generação de novas capacidades.