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445 Rev Esc Enferm USP 2010; 44(2):445-52 www.ee.usp.br/reeusp/ Efeito da música no trabalho de parto e no recém-nascido EFFECT OF THE MUSIC IN LABOR AND NEWBORN EFECTO DE LA MUSICA EN EL TRABAJO DE PARTO Y EN EL RECIÉN NACIDO RESUMO A música tem sido aplicada para o equilí- brio de energias alteradas pelo stress do mundo moderno. Este estudo objetivou verificar o efeito da música no trabalho de parto e no recém-nascido, quando subme- tido às mesmas melodias ouvidas por suas mães na gestação. Gestantes, usuárias de Unidades Básicas de Saúde, foram subme- tidas a sessões de sensibilização musical a partir do quinto mês de gestação. Durante o trabalho de parto, a parturiente foi sub- metida às melodias selecionadas por ela, com interrupções de 30 minutos a cada duas horas. Os dados foram coletados em três entrevistas realizadas após o parto, em diferentes momentos, e o discurso obtido foi analisado qualitativamente. Constatou- se, pelo conteúdo das falas, que a música minimizou os desconfortos do trabalho de parto e facilitou a adaptação do bebê nos primeiros meses de vida. DESCRITORES Musicoterapia. Parto. Parto humanizado. Recém-nascido. 1 Enfermeira do Setor de Educação Continuada do Hospital Sanatorinhos de Itu. Itu, SP, Brasil. [email protected] 2 Enfermeira da Unidade Pré-Hospitalar da Secretaria Municipal de Saúde de Sorocaba. Sorocaba, SP, Brasil. [email protected] 3 Enfermeira Graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected] 4 Professor Titular do Departamento de Morfologia e Patologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected] 5 Professora Associada do Departamento de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected] ARTIGO ORIGINAL Camila Sotilo Tabarro 1 , Luciane Botinhon de Campos 2 , Natália Oliveira Galli 3 , Neil Ferreira Novo 4 , Valdina Marins Pereira 5 ABSTRACT Music has been applied for balancing ener- gies that have been disturbed by the stress of modern life. The objective of the present study was to verify the effect of music in labor and on the newborn, when submit- ted to the same melodies heard by their own mothers during pregnancy. Pregnant women, Health Center users, were submit- ted to musical sensitization sessions since their fifth month of pregnancy. During la- bor, the melodies previously selected by the pregnant women were played all the time with a thirty-minute break for every two hours of music. Data collection was per- formed through interviews performed af- ter labor, at different moments, and the mother' statements were qualitatively ana- lyzed. According to the women's words, music minimized the distress of labor and made it easier for the baby to adjust in the first months of life. KEY WORDS Music therapy. Parturition. Humanizing delivery. Infant, newborn. RESUMEN La música ha sido aplicada para el equilibrio de las energías alteradas por el estrés del mundo moderno. Este estudio tuvo por ob- jetivo verificar el efecto de la música en el trabajo de parto y en el recién nacido cuan- do es expuesto a las mismas melodías oídas por sus madres durante el embarazo. Muje- res embarazadas atendidas en Unidades Bá- sicas de Salud fueron expuestas a períodos de sensibilización musical a partir del quin- to mes de embarazo. Durante el trabajo de parto, la parturienta escuchó las melodías elegidas por ella misma, con interrupciones de 30 minutos cada dos horas. Los datos fue- ron recolectados en tres entrevistas realiza- das en diferentes momentos; las respuestas obtenidas fueron analizadas cualitativamen- te. Los autores constataron en las respues- tas a las entrevistas que la música minimizó las incomodidades del trabajo de parto y fa- cilitó la adaptación del bebé en sus prime- ros meses de vida. DESCRIPTORES Musicoterapia. Parto. Parto humanizado. Recién nacido. Recebido: 27/04/2009 Aprovado: 16/06/2009 Português / Inglês www.scielo.br/reeusp

Efeitos Da Música No Trabalho de Parto e No Recém-nascido

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  • 445Rev Esc Enferm USP2010; 44(2):445-52www.ee.usp.br/reeusp/Efeito da msica no trabalho de parto e norecm-nascidoTabarro CS, Campos LB, Galli NO, Novo NF, Pereira VM

    Efeito da msica no trabalho de partoe no recm-nascido

    EFFECT OF THE MUSIC IN LABOR AND NEWBORN

    EFECTO DE LA MUSICA EN EL TRABAJO DE PARTO Y EN EL RECIN NACIDO

    RESUMOA msica tem sido aplicada para o equil-brio de energias alteradas pelo stress domundo moderno. Este estudo objetivouverificar o efeito da msica no trabalho departo e no recm-nascido, quando subme-tido s mesmas melodias ouvidas por suasmes na gestao. Gestantes, usurias deUnidades Bsicas de Sade, foram subme-tidas a sesses de sensibilizao musical apartir do quinto ms de gestao. Duranteo trabalho de parto, a parturiente foi sub-metida s melodias selecionadas por ela,com interrupes de 30 minutos a cadaduas horas. Os dados foram coletados emtrs entrevistas realizadas aps o parto, emdiferentes momentos, e o discurso obtidofoi analisado qualitativamente. Constatou-se, pelo contedo das falas, que a msicaminimizou os desconfortos do trabalho departo e facilitou a adaptao do beb nosprimeiros meses de vida.

    DESCRITORESMusicoterapia.Parto.Parto humanizado.Recm-nascido.

    1 Enfermeira do Setor de Educao Continuada do Hospital Sanatorinhos de Itu. Itu, SP, Brasil. [email protected] 2 Enfermeira da Unidade Pr-Hospitalarda Secretaria Municipal de Sade de Sorocaba. Sorocaba, SP, Brasil. [email protected] 3 Enfermeira Graduada pela Pontifcia UniversidadeCatlica de So Paulo. So Paulo, SP, Brasil. [email protected] 4 Professor Titular do Departamento de Morfologia e Patologia da Pontifcia UniversidadeCatlica de So Paulo. So Paulo, SP, Brasil. [email protected] 5 Professora Associada do Departamento de Enfermagem da Pontifcia Universidade Catlicade So Paulo. So Paulo, SP, Brasil. [email protected]

    AR

    TIGO O

    RIG

    INA

    L

    Camila Sotilo Tabarro1, Luciane Botinhon de Campos2, Natlia Oliveira Galli3, Neil Ferreira Novo4,Valdina Marins Pereira5

    ABSTRACTMusic has been applied for balancing ener-gies that have been disturbed by the stressof modern life. The objective of the presentstudy was to verify the effect of music inlabor and on the newborn, when submit-ted to the same melodies heard by theirown mothers during pregnancy. Pregnantwomen, Health Center users, were submit-ted to musical sensitization sessions sincetheir fifth month of pregnancy. During la-bor, the melodies previously selected by thepregnant women were played all the timewith a thirty-minute break for every twohours of music. Data collection was per-formed through interviews performed af-ter labor, at different moments, and themother' statements were qualitatively ana-lyzed. According to the women's words,music minimized the distress of labor andmade it easier for the baby to adjust in thefirst months of life.

    KEY WORDSMusic therapy.Parturition.Humanizing delivery.Infant, newborn.

    RESUMEN La msica ha sido aplicada para el equilibriode las energas alteradas por el estrs delmundo moderno. Este estudio tuvo por ob-jetivo verificar el efecto de la msica en eltrabajo de parto y en el recin nacido cuan-do es expuesto a las mismas melodas odaspor sus madres durante el embarazo. Muje-res embarazadas atendidas en Unidades B-sicas de Salud fueron expuestas a perodosde sensibilizacin musical a partir del quin-to mes de embarazo. Durante el trabajo departo, la parturienta escuch las melodaselegidas por ella misma, con interrupcionesde 30 minutos cada dos horas. Los datos fue-ron recolectados en tres entrevistas realiza-das en diferentes momentos; las respuestasobtenidas fueron analizadas cualitativamen-te. Los autores constataron en las respues-tas a las entrevistas que la msica minimizlas incomodidades del trabajo de parto y fa-cilit la adaptacin del beb en sus prime-ros meses de vida.

    DESCRIPTORESMusicoterapia.Parto.Parto humanizado.Recin nacido.

    Recebido: 27/04/2009Aprovado: 16/06/2009

    Portugus / Inglswww.scielo.br/reeusp

  • 446 Rev Esc Enferm USP2010; 44(2):445-52www.ee.usp.br/reeusp/Efeito da msica no trabalho de parto e norecm-nascidoTabarro CS, Campos LB, Galli NO, Novo NF, Pereira VM

    INTRODUO

    O interesse inicial de explorar a msica na assistncia gestante e parturiente como tambm seus possveis efeitosno recm-nascido vem de observaes contnuas, emborano sistemticas, do cotidiano de nossa profisso de enfer-meira. Em diversas circunstncias temos notado que o usode medicamentos tem trazido, no raro, mais prejuzos doque benefcios s pessoas. E isto acontece, particularmente,na situao de trabalho de parto, uma vez que sabemos sereste um fenmeno fisiolgico, podendo, em aproximadamen-te 90% dos casos, ter um desfecho natural.

    Tendo trabalhado, durante vrios anos, com preparode gestantes para o parto, utilizamos a msica para as ses-ses de relaxamento, prtica esta, realizada sempre no in-cio dos encontros. A muitas dessas gestantes foi oferecidauma cpia, em fita cassete, das melodias utilizadas no re-laxamento, sugerindo-se que colocassem para seus bebsouvirem. Ainda que de forma no sistemtica, obtivemosrelatos interessantes dessas mes quanto s reaes deseus recm-nascidos quando submetidos s melodias quehaviam sido utilizadas nas sesses de relaxamento: para-vam de chorar, ficavam mais calmos, adormeciam com fa-cilidade, entre outras reaes. O relato dessas mes nosimpulsionou a explorar mais este assunto, ampliando lei-turas pertinentes.

    A hiptese era de que, o uso da msica, um procedi-mento de aplicao simples e de baixo custo, pudesse co-laborar para a harmonizao da dinmica do trabalho departo, individualizando e humanizando a assistncia e,quem sabe, propiciando maior nmero de partos eutcicos.

    A msica est presente, tradicionalmente, em vrios ri-tuais importantes na vida do homem em sociedade. Hmelodias apropriadas para casamento, aniversrio, msi-cas de ninar, msicas para festas cvicas, para rituais religi-osos, para funerais, etc. Assim, a msica encontrada emtodas as culturas do mundo, mesmo nas mais primitivas edesprovidas de conhecimentos tecnolgicos.

    Msica, segundo o dicionrio especfico(1), a arte decombinar os sons de modo a agradar ao ouvido para, pon-do em ao a inteligncia, falar aos sentimentos e como-ver a alma. Como cincia, a msica a disposio dos sonsde forma a contemplar trs elementos: a melodia, o ritmoe a harmonia.

    Algumas cincias como a Fsica, a Acstica e a Matem-tica contriburam para explicar as formas de produo dosom porm no do conta de desvendar os efeitos produ-zidos pela msica nos seres humanos. O texto a seguir(2)

    resume, magistralmente, essa reflexo:

    Um fsico lhe dir que as agitaes das molculas de ar sobem parecidas para quaisquer ouvidos, sejam os de umsapo, de uma vaca ou de um ser humano. Mas um psiclo-go advertir que as sensaes derivadas dessas vibraesvariam imensamente de uma espcie para outra.

    A Musicoterapia, cincia organizada como tal no sculoXX, estuda os efeitos teraputicos da msica nos seres huma-nos. J a Biomsica aplicvel a pessoas sadias, auxiliando nore-equilbrio de comportamentos alterados pelas presses davida moderna. Um dos pioneiros nesta rea(3) relaciona umasrie longa de benefcios auferidos pela Biomsica, dos quaisdestacamos alguns de interesse para este trabalho:

    Torna mais lenta e profunda a respirao; Aumenta a resistncia s excitaes sensoriais; Combate o estresse; Permite o domnio das foras afetivas e Auxilia no bom funcionamento da fisiologia.

    OBJETIVOS

    Verificar e descrever os efeitos da msica, individual-mente selecionada, no trabalho de parto de mulheres as-sistidas em cinco maternidades;

    Verificar o comportamento e reaes do beb, quan-do submetido s melodias ouvidas por suas mes durantea gestao e o trabalho de parto, atravs dos discursos dasmes, obtidos nos trs primeiros meses aps o parto.

    MTODO

    As gestantes foram contatadas em quatro UnidadesBsicas de Sade (UBS) de Sorocaba; posteriormente foiincluda uma Unidade de Porto Feliz/SP, cidade localizada acerca de 40 Km de Sorocaba. Esta incluso para ampliaoda casustica foi facilitada porque uma das pesquisadorasreside nessa cidade. As gestantes foram convidadas a parti-cipar de reunies semanais, para sensibilizao musical, apartir da 20 semana de gestao.

    Para ser includa na casustica deste trabalho, a gestan-te teria que:

    Estar matriculada nas UBSs escolhidas para a realiza-o deste trabalho;

    Ser classificada como gestante de baixo risco; No apresentar deficincias de audio; Participar de, pelo menos, cinco sesses de sensibili-

    zao musical;

    Comprometer-se a dar luz em uma das maternida-des indicadas;

    Ter o seu trabalho de parto e parto entre a 37 e 42semana de gestao;

    Aceitar as condies desta pesquisa, assinando o Ter-mo de Consentimento (conforme Res. 196/96, do ConselhoNacional de Sade)

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    Na primeira reunio foi preenchida uma folha com dadosde identificao e informaes sobre as experincias anterio-res com relao msica. Em uma sala preservada de rudostanto quanto possvel, foram disponibilizados colchonetes ealmofadas e, acomodadas em posio confortvel, as gestan-tes foram submetidas sensibilizao musical.

    Sensibilizao musical atravs de um toca-fitas port-til, foi disponibilizada uma srie de 8 a 10 melodias, seleci-onadas especialmente para o estudo, em intensidade com-patvel com a aceitao do grupo. O perodo destinado aessa experincia variou de 35 a 45 minutos. No fim da ses-so, as gestantes respondiam, individualmente, a algumasquestes sobre como se sentiram durante a audio dasmsicas, quais delas haviam lhe agradado mais e se algu-ma havia provocado sensaes/lembranas desagradveis;estas observaes foram anotadas em uma folha apropria-da e anexada ficha de inscrio da gestante.

    Em cada sesso, uma srie diferente de melodias foi ou-vida pelo mesmo grupo. Os grupos variaram de duas a novemulheres.

    As informaes registradas nas folhas de cada gestanteforam utilizadas para a gravao de um CD individualizadoque foi, ento, entregue a cada futura me com a reco-mendao de lev-lo maternidade por ocasio do parto.

    O acompanhamento das parturientes foi feito nas Ma-ternidades dos Hospitais Santa Lucinda, Dr. Linneu de Ma-tos Silveira e Santa Casa de Misericrdia, em Sorocaba/SP; no Hospital Santo Antnio, em Votorantim/SP e naSanta Casa de Misericrdia, em Porto Feliz/SP.

    Durante o tempo de observao do trabalho de parto,conforme foi convencionado para esta pesquisa, a cada duashoras, a msica foi suprimida por um perodo de 30 minu-tos. Ao findar cada um desses perodos (com a msica esem a msica) os elementos de controle da evoluo dotrabalho de parto (freqncia, intensidade e durao dascontraes, freqncia dos batimentos crdio-fetais, fre-qncia cardaca e respiratria da me) foram registradosem uma folha de observao.

    Quando foi indicada a cesrea no decorrer do trabalhode parto, a mulher foi excluda da casustica; porm, sem-pre que demonstrou desejo, a msica ambiente foi mantida.Esta me foi includa para a visita domiciliar ps-parto, paraavaliao qualitativa dos efeitos da msica no seu beb.

    Para serem includos no estudo, os recm-nascidosdeveriam:

    Ter APGAR acima de 7 (sete) na avaliao aos 5 minutos; Ter aceitao da me para a visita domiciliar aps a alta.As melodias utilizadas nas sesses de sensibilizao, sele-

    cionadas de acordo com a literatura consultada(1-2), incluramo gnero erudito das pocas barroca (Bach, Vivaldi) clssica(Mozart), e romntica (Chopin, Listz, Schubert), composies

    contemporneas de Steven Halpern, Gergia Kelly, AlexandreGuerra, nia e algumas melodias do folclore japons.

    Dois mtodos foram utilizados para coleta dos dados: oregistro dos parmetros de evoluo do trabalho de partoe a entrevista semiestruturada, que foi realizada em trsmomentos:

    1 - nas primeiras 24 horas aps o parto (PP 1);

    2 - entre 2 e 4 meses aps o parto (PP 2) e

    3 - at o terceiro ms aps o parto, para registro dapercepo da me sobre o efeito da msica no beb (RN).

    Os discursos obtidos nas entrevistas foram registradosem fita cassete, transcritos na ntegra e analisados luz daproposta de autores(4), determinando-se as Unidades deSignificado dos relatos e, posteriormente, categorizando-as. As vrias categorias foram, ento, analisadas frente aosobjetivos do trabalho.

    Este trabalho foi aprovado pelo Comit de tica emPesquisa do Centro de Cincias Mdicas e Biolgicas deSorocaba PUCSP, em 10/05/2004 sob n 390, de acordocom a Resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Embora tenham sido inscritas no estudo 87 gestantes,apenas 27 (31%) cumpriram os critrios previstos para in-cluso, ou seja, participaram de cinco ou mais sesses desensibilizao. Esta condio constituiu-se na primeira di-ficuldade para a obteno de uma casustica satisfatria.Das 27, nove tiveram partos cesreos, cinco no comunica-ram s pesquisadoras quando foram maternidade e umaapresentou hipertenso no final da gestao; estas 15 fo-ram excludas para a anlise do trabalho de parto.

    Assim, apenas 12 parturientes tiveram seu trabalho departo acompanhados com as melodias de sua escolha e es-tas foram entrevistadas no ps-parto. Quanto ao efeito damsica nos recm-nascidos, foram entrevistadas 20 mes (11bebs nascidos de partos normais e 9 nascidos por cesrea);uma das doze acompanhadas no trabalho de parto no es-tava com seu aparelho de som durante o puerprio, nopodendo realizar a observao com seu beb.

    Comparando-se as caractersticas das 87 mulheres ins-critas com o grupo das 12 que completaram os quesitosexigidos, observou-se grande semelhana na paridade e nafaixa etria. Apenas em trs aspectos os dois grupos se di-ferenciaram: o peso dos bebs que foi ligeiramente mai-or no grupo das 12 mes; o Apgar, que foi entre 9 e 10 aoscinco minutos para 100% dos bebs de partos acompanha-dos com msica (ocorrendo em 90% dos 87) e as vivnciasanteriores relacionadas msica, que foi expressivamentemaior entre as 12 gestantes, isto , 91% destas ouvia ospais cantarem na sua infncia (apenas 54% entre as 87 daamostra). Estas experincias anteriores podem ter contri-budo para a maior adeso da gestante ao projeto.

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    Quanto s escolhas e rejeies em relao s melodiasutilizadas, aps uma apreciao, foram constatadas gran-des diferenas de reao s mesmas melodias. Corroboraesta observao uma pesquisa sobre os efeitos da msicana dor crnica(5), que alerta sobre a importncia de se levarem conta as preferncias individuais, em um elenco pr-determinado de melodias indicadas para cada situao.

    No final do estudo, as melodias mais rejeitadas foramsubstitudas por outras, tambm adequadas, resultando emcinco sries meldicas, gravadas em cinco CDs.

    As melodias mais escolhidas pelas gestantes, em ordemdecrescente, foram:

    20 escolhas:

    Melodia do folclore japons denominada Aka Tombo,de Ksaku Yamada (extrada do Cd denominado JaponeseMelodies da gravadora Denon Records).

    17 a 15 escolhas:

    Ave Maria de Bach-Gounod, extrada do CD Silencevolume 2 (denominada de Rainbow), gravado pela Paulus;

    Danbio Azul de R. Strauss, executado pela ViennaState Opera Orchestra regida por Albert Lizzio (excerto),do CD Strauss, gravado pela Apollo Classics;

    Aurora do Corao de Alexandre Guerra (compositorbrasileiro contemporneo), extrada do CD Gestao Msica suave para gestantes, gravado pela Azul Music;

    Aus dem Fltenkonzert e-moll - Andante de Buffardin,com solo de flauta de Eckart Haupt acomp. de DresdnerBarocksolisten, extrada do CD Die Flte, gravao Laserlight;

    ria em r maior da sute n. 2 (ria na 4 corda) de J.S.Bach, extrada do CD Silence volume 2, (no menciona osexecutantes), gravado pela Paulus;

    Greensleaves para flauta e harpa, de compositor an-nimo (1600), com Jean-Pierre Rampal flauta e Lily Laskinena harpa, extrada do CD The best of Jean-Pierre Rampal,acomp. Orchestre de Chambre de Jean-Franois Paillard,gravao da Erato Disques S.A.;

    Midnight in Maksimir, de Gergia Kelly , CD Gardensof the Sun, solo de harpa da prpria Gergia Kelly, grava-o Global Pacific Records.

    importante lembrar que a casustica foi extremamentediversificada quanto s condies scio-culturais e de esco-laridade uma vez que se trabalhou com clientela de UBSs dediferentes localizaes geogrficas. Em uma destas Unida-des, as sesses foram realizadas em um continer de aproxi-madamente 9 m2, mostrando que as condies fsicas noso impeditivas para aes de humanizao na assistncia.

    Apesar de terem sido registrados os parmetros fisiol-gicos da evoluo do trabalho de parto na tentativa de umaapreciao objetiva do efeito da msica, no foi possvel

    uma anlise vlida dessas variveis pelo uso rotineiro deocitcicos e rutura artificial da bolsa amnitica nas mater-nidades envolvidas, procedimentos estes que influenciamna evoluo do processo.

    A parte central deste estudo foi a anlise dos discursosdas mes, sobre sua experincia de ter o parto com msica.O parmetro de comparao foram os perodos de 30 minu-tos sem msica, previstos na metodologia. Para a anlisedos discursos, foi utilizada a proposta de Szymanski e col.(4),determinando-se as Unidades de Significado dos relatos e,posteriormente, categorizando-as. As vrias categorias fo-ram, ento, analisadas frente aos objetivos do trabalho.

    Todos os discursos, obtidos por gravao das entrevis-tas, foram transcritos literalmente e analisados a partir dasUnidades de Significado que emergiram das vrias falas. Estasforam analisadas no todo, no se restringindo s questesnorteadoras, porque, nem sempre, a entrevistada seguiu aordenao prevista. Priorizou-se, no momento da entrevis-ta, os sentimentos da mulher e o que ela queria expressarcom relao vivncia do parto com msica. Assim, consi-derou-se o contedo das falas, que algumas vezes no eramexatamente as respostas aos itens do roteiro, porm eramsignificativas para a purpera naquele momento.

    O fato de a mulher no perodo do ps-parto imediatoestar, em geral, alterada pela emoo e pelos hormniosliberados no processo parturitivo, motivou as pesquisado-ras a incluir uma segunda oportunidade de ouvir o relatoda mulher sobre seu parto, aps dois meses deste. O rotei-ro para ambas as entrevistas foi o mesmo. Isenta (ou me-nos sujeita) influncia das fortes emoes que acompa-nham o nascimento de um filho, esperou-se um discursomais consciente e verdadeiro sobre a experincia de parircom msica. Desta forma, 10 das 12 mes que haviam dado luz com msica, foram entrevistadas aps dois e antesdos seis meses do parto, na maioria, em seus domiclios.

    Os contedos analisados a seguir so, portanto, prove-nientes de trs situaes:

    Entrevistas no ps-parto imediato, na maternidade,realizada nas primeiras 24 horas aps o parto. Participa-ram 12 mulheres (PP 1);

    Entrevistas realizadas no perodo de 2 a 6 meses apso parto, com 10 mes. Duas mes mudaram de domiclio eno puderam ser contatadas (PP 2);

    Entrevistas sobre os efeitos da msica no comporta-mento do beb, realizada nos primeiros trs meses aps onascimento, com 20 mes (RN).

    Anlise das entrevistas realizadas no ps-parto imediato(PP 1)

    Algumas das categorias que concentram as unidades designificado dos discursos transcritos abaixo permitem infe-rir que a msica pode trazer benefcios mulher em traba-lho de parto, no mensurveis, porm relevantes. Ressal-

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    te-se que esto includas neste estudo mulheres de varia-dos nveis scio-econmicos, culturais e de escolaridade.

    CATEGORIA: Sensaes agradveis

    Tranqilidade, paz

    Sensao assim de tranquilidade, n, que o beb bem tavaali...tava vindo, de tranqilidade, aquela paz que a msi-ca... (2).

    Foi o nico momento de tranquilidade que eu tive foi amsica... Foi o que me tranqilizou... (12).

    Alvio da dor

    ...sente aquela dor, de repente, acalma, e a msica pareceque nossa, que alivia... tira aquela tenso da dor... (4).

    A sensao diferente que eu percebi que com a msica,parece que alivia at a dor (10).

    Segurana, calma

    Olha, olha, eu me sentia segura... (13)

    Lembrava de casa e fazia de conta que estava... a msicame deixava sossegada. A... 3 foi a que trouxe mais calma(14).

    CATEGORIA: Situaes positivas

    Ambientalizao

    ...por ter ouvido j a msica em casa, acho que a msicaacalmou bem mais... (21)

    ...na hora que entrei na sala de parto e voc colocou amsica, eu me senti ambientalizada... (41).

    Vnculo parturiente/profissional, apoio, estmulo

    Bom, mas a ajuda conta mais (36).

    ...criou um certo vnculo, que nem, com a sua equipe... um momento que voc est mais precisando de confian-a... (37)

    ...na hora de sentir a dor e fazer fora uma coisa que agente nunca aprende, ningum ensina pra gente ... no casode voc estar me estimulando, assim muito melhor doque voc ficar fazendo l sozinha (39).

    CATEGORIA: Efeito favorvel da msica

    Percebendo a diferena nos perodos com e sem msica

    Voc percebe a diferena nesses intervalos de meia horae que voc fica sem a msica, parece que voc continuaouvindo... Realmente fez falta... ali naquele momento, na-quele intervalinho, a que voc sente assim que com amsica realmente fica mais tranqilo, comea a relaxarmesmo... (41).

    Eu pude notar a diferena que tem quando a gente ouvemsica e as mes que no ouvem, por que chegaram duasque nossa..., tavam para morrer, parecia (42).

    Nos momentos sem msica sentia falta. Dava angstia.Ficava mais concentrada na dor. A msica relaxa... sem,ficava vazio! (44).

    ...eu lembro que durante as contraes, eu ficava nervosae quando no tava tocando msica, eu realmente no con-seguia me controlar... e quando estava tocando msicamesmo nas contraes mais difceis, eu fiquei traquila...Eu no gostava quando diminua a msica ou tiravam deuma vez, eu no gostava nem um pouquinho. Ajuda bas-tante a relaxar... tanto que eu ficava mto macha qdo vcsparavam a msica (45).

    As interrupes da msica a cada duas horas, permitiuque as parturientes estabelecessem comparaes com operodo em que a msica esteve presente.

    Um estudo semelhante, que aplicou a msica em tra-balho de parto em perodos intermitentes, registrou tam-bm modificaes do estado de relaxamento e da resposta dor de cada parturiente. Segundo a autora as mulheresse alteraram dramaticamente quando a msica era supri-mida e as falas dessas mulheres foram bastante semelhan-tes s obtidas neste estudo tais como eu no poderia terfeito o que fiz sem a msica(6).

    Os termos tranqilidade e calma foram citados inme-ras vezes nos discursos deste estudo assim como alvio dador e estes sentimentos foram atribudos pelas purperas msica, tornando o momento da contrao mais supor-tvel, segundo seus relatos. Este no um fenmeno pu-ramente psicolgico, uma vez que a msica, quando agra-dvel ao ouvinte, provoca liberao de endorfinas no san-gue, um neuropeptdeo produzido naturalmente pelahipfise, eficaz na reduo da dor. Estudos cientficos(7) de-monstraram que composies do estilo barroco, em espe-cial os movimentos lentos, apresentam um ritmo previsvelentre 55 e 70 batidas por minuto, proporcionando um es-tado cerebral alerta mas relaxado, estimulando a liberaode endorfinas e reduzindo os hormnios do estresse.

    Anlise das entrevistas realizadas no ps-parto tardio(PP 2)

    CATEGORIA: Sensaes agradveis

    Tranqilidade / Relaxamento

    Uma tranqilidade, uma lembrana to gostosa... d at sau-dade... benefcio da criana e da tranqilidade da me (3).

    Quando tava forte l, aquela hora l no quarto, a que eragostoso... porque relaxava, sabe...aquela coisa, sensaogostosa, da quando voltava... (5)

    CATEGORIA: Efeito favorvel da msica

    Segurana

    ...eu tive a oportunidade de ter a msica, o mdico, meumarido,... (risos) tudo na mesma sala, no mesmo quarto.Ento ... eu me senti super segura (11).

  • 450 Rev Esc Enferm USP2010; 44(2):445-52www.ee.usp.br/reeusp/Efeito da msica no trabalho de parto e norecm-nascidoTabarro CS, Campos LB, Galli NO, Novo NF, Pereira VM

    Eu tava sozinha aqui, as vezes no tinha uma... com quemconversar... ento eu sempre quando vinha pra c (ses-ses de sensibilizao), eu saia daqui... mais tranqila. Eusentia assim aliviada, eu saia daqui tranqila, sossegada,sem medo de enfrentar a gravidez, meu filho... (12).

    Alvio da dor, comparao positiva, com msica e semmsica

    ...no, eu fiquei tranquila e no senti tanta dor assim comotodo mundo fala que eu achei que fosse sentir (6).

    ...doa menos, parece que doa bem mais quando tava sema msica... (7).

    Eu ficava brava quando interrompia a msica! ... (17).

    Eu entrava no banheiro pra tomar banho, e deixava a portaaberta pra escutar a msica... (risos) (18).

    ...eu tava, n... com aquela dor que no passava... e aque-la msica, as vezes eu deitava assim, ficava escutandonossa, que gostoso! (21).

    No sei como ter filho sem msica, acho que com amsica eu me senti relaxada....doa menos, parece quedoa bem mais quando tava sem a msica... (36).

    ...com a msica, relaxou bem mais... sabia, sabia que nointervalo... a parece que a dor aumentava... (37)

    ...por incrvel que parea, no momento que parava, aque-le intervalo da msica eu... sentia falta... parece que tavafaltando... algo... que supria alguma coisa... (38).

    Ambientalizao

    ...ouvi muito bem, foi a primeira msica do CD que tocou nomomento que ela tava nascendo a hora que a msica surgiude novo, a V. ligou na sala de parto, nossa, parece que voltouao normal... o que tava acontecendo assim... muito bom... (13).

    Religiosidade

    Eu... um momento nico n (risos)... A msica fez muitadiferena principalmente assim, eu sou catlica, ento naminha seleo tinha a Ave Maria, toda vez que passava atocar, a hora da AM, a, sabe, lgico que no momento eutava rezando bastante, nesse momento da Ave Maria, pa-recia que me fortalecia... (34).

    CATEGORIA: Experincia positiva

    Lembrana agradvel do parto, saudade

    Uma tranqilidade, uma lembrana to gostosa... d atsaudade... (3).

    ...na novela ...eu me lembro que eu ouvi a msica, eu falei:nossa, essa msica a que estava tocando quando AnaLaura nasceu.... e j olhei. Realmente, traz uma sensaode plena felicidade (20).

    Eu falo pro Gabriel: Gabriel, essa aqui a nossa musiqui-nha... Eu sofri,claro, senti dores... mas foi uma coisa to...que hoje eu no lembro, sinto saudade at, sabe... eu nolembro aquela dor, como uma dor sofrimento... (40).

    ...E a msica. A msica re-evoca a saudade, a vontade denovo de passar... uma sensao agradvel! (42).

    Analisando as Unidades de Significado da segunda entre-vista ps-parto, constata-se que os discursos confirmaram ossentimentos de tranqilidade e calma, a ajuda no relaxamen-to e no alvio da dor relacionados msica no trabalho departo. Observa-se que a diferena entre os perodos com esem msica foi bem marcante para a mulher e isto foi refora-do nas expresses detectadas na 2 entrevista.

    Vale comentar a ambientalizao que a msica propor-cionou s parturientes no centro obsttrico, uma vez queelas j conheciam as melodias utilizadas no trabalho de par-to. Esse sentimento foi manifestado em algumas falas aci-ma transcritas.

    Outro aspecto, no menos importante, foi o apoio pro-porcionado pela presena das pesquisadoras no trabalho departo e este fato foi valorizado em duas entrevistas ps-par-to. A literatura confirma que a msica possibilita um dilogono verbal, conecta os olhares, favorece a cumplicidade en-tre sujeitos... fenmenos estes que s ocorrem na relaoEu-Tu(8), imprescindvel na to almejada humanizao da as-sistncia. Vale mencionar que nas maternidades onde foirealizado o estudo, no era ainda permitida de rotina apresena de acompanhantes no trabalho de parto, regula-mentada na Lei Estadual n 10.241 (SP) de 17-03-99(9) e, maisrecentemente, na Lei Federal n 11.108, de 7-04-2005(10).

    Emergiu, ainda, nos discursos, mais fortemente na 2entrevista, a ligao da msica religiosidade latente namulher, despertada em duas das entrevistadas pela AveMaria de Bach-Gounod, e que passou a ser referncia nalembrana do parto dessas mulheres. Um dos fundadoresdo Centro de Pesquisas em Sade Primal(11), aponta essaconexo entre o nascimento e a orao: rezar reduz, efeti-vamente a atividade do supercomputador neo-cortical epode ajudar algumas pessoas a atingir uma outra realida-de, fora do tempo e do espao.

    As categorias encontradas, em ambos os momentos emque a me foi entrevistada, foram semelhantes e confluempara sensaes agradveis, situaes positivas e valorizaoda experincia/vivncia do trabalho de parto com msica.Constata-se que este estudo permitiu aos sujeitos pesquisa-dos auferirem os benefcios descritos na literatura pertinen-te. O conhecimento popular concebe a dor do parto comouma dor que, passado algum tempo, esquecida. Os relatosdos sujeitos, neste trabalho, demonstram que nem sempre assim. A msica permitiu a estas mulheres lembrarem-se doseu parto com sentimentos agradveis e at com saudade.

    Anlise das entrevistas realizadas com a me sobre oefeito da msica no recm- nascido RN

    CATEGORIA: Situaes positivas

    Reconhecimento da msica pelo beb

    ...reconhece e pra p/ ficar ouvindo (1).

  • 451Rev Esc Enferm USP2010; 44(2):445-52www.ee.usp.br/reeusp/Efeito da msica no trabalho de parto e norecm-nascidoTabarro CS, Campos LB, Galli NO, Novo NF, Pereira VM

    Primeiro que eu acho que ele reconhece as msicas, por-que as msicas que eu ouvia na gestao, normalmenteeu ficava murmurando... e ele dormia (2).

    Ela fica calma, n? Quando ela sai, quando ta chorando...quando est com dor de barriga... ela acalma... com a m-sica ela fica mesmo mais calma, tranquiliza bem mais. diferente! (4).

    Ento o CD, as msicas, principalmente do CD, vc v quechama muito a ateno dela. bem surpreendente assim!(5).

    impressionante, sabe? E ele fica olhando p/ o rdio pro-curando a msica... (6).

    Ela reconhece a msica e fica procurando de onde vem... (7).

    ...Ah, ela d aquele ar de riso... (8).

    Ela para e fica prestando ateno na msica... (14).

    Na hora que t mamando... ele fica assim... mamando eprestando ateno... no barulhinho da msica... mama quie-tinho... ele fica assim quieto, ouvindo... mesmo como setivesse outra coisa ali... prestando ateno mesmo... namusiquinha... eu percebo que ele presta ateno na msi-ca... fica ouvindo... (19)

    No primeiro dia que eu coloquei j percebi, ela ficava as-sim... parece que conhece, n, a msica. Da eu conver-sava com ela, falava: j escutou na barriga, n ? ...ela prestaateno... na msica... j percebe o som... ela gosta demsica, com certeza vai gostar quando crescer... (20).

    ... Ele fica calmo, s vezes ele acorda e fica observandoas msicas (21).

    V. percebe que ele fica observando, atento... (22).

    Achei gozado, sabe, ela parou de chorar na hora, sabe,...ela prestou ateno... foi no comeo n... (40).

    CATEGORIA: Resultados favorveis da msica

    Calma, tranquilidade

    Quando ela fica nervosa, da ela fica calminha, procura amsica e para de mamar (3).

    Coloquei... assim quando to dando banho nela, n... eucoloco a musiquinha p/ ela e ela fica calminha (9).

    Eu coloco toda manh, quando ela ta agitada, ela fica quie-tinha (12).

    ...Agora eu tou colocando diariamente... Eu sinto que eleta mais calmo... quando ele t nervoso eu sinto que ele vaise acalmando com a musiquinha! (17).

    J aconteceu quando ela est chorando mto, qdo ela taquerendo mamar e eu no to aqui, n? ...minha me colo-ca (a msica) porque ela acalma... (31).

    Ele gosta, fica calmo e chega at a dormir (32).

    Ele fica quietinho... (33)

    ...Tambm fica calma ao ouvir, para de choramingar e co-mea a prestar ateno (34).

    ...Eu ponho ela aqui no sof, ela fica ouvindo e at dorme.Fica at mais calma (35).

    Alvio das clicas

    E no primeiro ms, principalmente durante o perodo queele teve clica... ajudava ele pegar no sono... e conseguiafazer com que ele dormisse (38).

    Ela tava sentindo muita dor de barriga no comeo,...elatava chorando muito... ento eu coloquei um dia pra ela...eu percebi que ficou mais calminha, sabe... eu coloquei osom perto, n... j escutou na barriga, n? (40).

    Ela tava com muita coliquinha... agora j melhorou mais (42).

    Ambientalizao

    Como a gente mudou de apartamento, eu aproveitei p/colocar pra ajudar ele a se familiarizar c/... realmente eleno estranhou o local. Ele dormiu super bem desde a pri-meira noite aqui no apartamento novo... Ficou um resqu-cio do que ele j conhece... (10).

    ...Ele comeou estranhar, n... a casa... ele comeou achorar, ele chorava e... da eu lembrei da msica. Come-cei tocar a musiquinha, nesse tempo eu comecei pegarele... colocava ele pertinho de mim, junto com a msica,danando com ele, a ele se acalmava... (18).

    Por restrio de espao, foram aqui apresentados ape-nas os discursos mais significativos; por esse motivo a nu-merao apresenta-se descontnua.

    O reconhecimento da msica pelo beb, ficou bastantedestacado nos discursos das mes; este fato foi mencionadomuitas vezes. A msica auxiliou tambm na ambientalizaodo beb quando foi necessria a mudana de domiclio oumesmo ao chegar no domiclio, aps a alta da maternidade.

    Quanto ao alivio das clicas comuns do recm-nascido, autilizao da msica tambm trouxe benefcios, segundo osrelatos. Igualmente, foi significante o nmero de refernciaspara a unidade de significado: indutor de calma e tranquilidadepara o beb. Embora seja esta uma avaliao subjetiva da me,sabemos, por estudos anteriores, que a influncia da msicasobre os seres um efeito da Fsica: as vibraes sonoras ex-ternas se reproduzem no interior do corpo humano, resultan-do alteraes que no esto ainda bem esclarecidas at estemomento. Vale lembrar que o feto tem percepes auditivasem torno do 4 ou 5 ms, e que alm de captar as vibraessonoras pelo aparelho auditivo, tambm as recebe atravs dasvibraes do corpo materno(11). Da a importncia e a univer-salidade das canes de ninar que deveriam ser entoadaspelas mes desde a gestao.

    A observao se limitou ao terceiro ms de vida do beb,porm a literatura nos mostra que outros efeitos favor-veis podem advir no desenvolvimento da criana submeti-da msica adequada, tais como, melhor discriminaoespao-temporal, facilidade no desenvolvimento da lingua-gem e na socializao(7).

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    CONSIDERAES FINAIS

    Este estudo objetivou verificar os efeitos da msica notrabalho de parto de mulheres sensibilizadas na gestao pormelodias especialmente selecionadas. A anlise dos discur-sos dessas mulheres evidenciou efeitos surpreendentemen-te favorveis com relao a aspectos importantes da vivnciado trabalho de parto. Um fato marcante na pesquisa foi o deque nenhuma parturiente solicitou a interrupo da msi-ca; pelo contrrio, todas manifestaram claramente o desejode que a msica fosse mantida at o final do parto.

    Foram relatados efeitos como alvio da dor durante ascontraes, auxilio na diminuio da tenso e do medo, am-bientalizao da parturiente no hospital, estmulo oraoe espiritualidade. Essas condies possibilitaram que a par-turiente experimentasse um estado de relaxamento maiseficaz nos intervalos das contraes, levando a uma evolu-o mais amena e eutcica do trabalho de parto, elevandona mulher o limite de tolerncia dor e ao desconforto.

    Quanto aos recm-nascidos, que precocemente foramsubmetidos msica nos perodos de sensibilizao musicalda me, nos relatos obtidos dessas mes, apresentaram rea-es positivas ao reconhecerem o sons, quer acalmando-se edormindo, quer mostrando-se atentos s melodias, s vezesat de forma seletiva. Algumas mulheres referiram a melhoradas clicas e do choro decorrente, fenmeno bastante co-mum nos primeiros meses e que chega a perturbar o ambi-ente familiar. A observao se limitou ao terceiro ms de vidado beb, porm estes, como suas mes, puderam se benefi-ciar dos efeitos da msica, j comprovados na literatura.

    A nossa meta era encontrar formas no prejudiciais deminimizar os desconfortos do parto, favorecendo o vnculoafetivo me-beb, enfim, permitindo mulher - que setransforma em me - viver uma experincia digna de serlembrada. As mes que participaram deste estudo nos con-venceram de que estamos no caminho...

    REFERNCIAS

    1. Borba T, Graa FL. Dicionrio de msica. Lisboa: Edies Cos-mos; 1963. v. 2.

    2. Jourdain R. Msica, crebro e xtase. Trad. de Snia Coutinho.Rio de Janeiro: Objetiva; 1998.

    3. Baol F.S. Biomsica. So Paulo: cone; 1993.

    4. Szymanski H, Almeida LR, Prandini RCAR. A entrevista na pes-quisa em educao: a prtica reflexiva. Braslia; 2002.

    5. Leo ER, Silva MJP. Msica e dor crnica msculoesqueltica:o potencial evocativo de imagens mentais. Rev Lat Am Enferm.2004;12(2):235-41.

    6. Hanser SB, Larson SC, OConnell AS. The effect of music on re-laxation of expectant mothers during labor. J Music Therapy.1983;20(2):50-8.

    7. Verny TR, Weintraub P. Bebs do amanh: arte e cincia de serpais. Trad. de Cristiane Almeron. Porto Alegre: Millennium; 2004.

    8. Leo ER, Flusser V. Msica para idosos institucionalizados: per-cepo dos msicos atuantes. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(1):73-80.

    9. So Paulo (Estado). Lei n. 10.241, de 17 de maro de 1999.Dispe sobre os direitos dos usurios dos servios e das aesde sade no Estado e d outras providncias. Dirio Oficial doEstado de So Paulo, So Paulo, 18 mar. 1999. Seo 1, p.1.

    10. Brasil. Lei n.11.108, de 7 de abril de 2005. Altera a Lei n.8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir s parturi-entes o direito presena de acompanhante durante o tra-balho de parto, parto e ps-parto imediato, no mbito doSistema nico de Sade SUS. Dirio Oficial da Unio,Braslia, 8 abr. 2005.

    11. Odent M. O renascimento do parto. Trad. de Roland B.Calheiros. Florianpolis: Saint Germain; 2002.

    Agradecimentos

    Os pesquisadores expressam seus agradecimentos ao CNPq, pelas bolsas PIBIC fornecidas s trs alunas de Enferma-gem, co-autoras do estudo, ao Fundo de Apoio Pesquisa (FAP), pela bolsa-pesquisa-doutor, utilizada pela orientadora.Sem estes auxlios, no seria vivel a realizao do estudo. Agradecem ainda a assessoria de Ari Dias de CamposJunior, na gravao dos CDs fornecidos s gestantes, a Fbio Luis Pereira, pela equalizao e seriao final dos CDs ea Carlos Magno Antunes Pereira, pela seleo das melodias para o fim a que se destinavam neste estudo.

    Correspondncia: Camila Sotilo TabarroRua Coronel Jos Pedro de Oliveira, 412 - Jardim FaculdadeCEP 18030-220 - Sorocaba, SP, Brasil