6
Ciência e Natura, Santa Maria, 11: 113· 117, 1989 113 EFEITOS DO SOBREAMENTO EM MUDAS DE Cabralea Glaberrima Juss. SOB CONDIÇOES DE VIVEIRO Odilson dos Santos ·Oliveira, Juarez Martins Hoppe e [lio Luiz Champ! nhol Departamento de Ciências Florestais. Centro de Ciências Rurais.UFSM. Santa Mari a, RS. RESUMO No viveiro do Departamento de Ciências Florestais,da UFSM, Santa Maria-RS, foi analisado o desenvolvimento de mudas de canger! na (CabraZea gZaberrimaJ, sob O, 25, 50, 70 e 80% de sombreamento. O experimento foi instalado em campânulas de l,5Om x l,Om x O,7Om de comprimento, altura e largura, respectivamente, com armação de ferro, cobertas com tela plã~ tica com diferentes niveis de sombreamento, envolvidas lateralmente com a mesma tela, em três repetições e 30 individuos por parcela. Após 12 meses foram avali! das suas alturas finais, diâmetro de colo e produção de materia seca, quando foi observado uma altura estatisticamente superior em mudas sob 70% e 80% de ·som breamento. Iguais resultados foram obtidos para a produção de matêria seca total nos referidos niveis, influenciada por uma maior produção de matêria seca da pa! te aerea, sigificativamente superior aos demais tratamentos. Para o diâmetro de colo, não houve diferença significativa entre os tratamentos. 5UMMARY OLIVEIRA, O. dos 5.; HOPPE, J.M. and CHAMPANHOL, E.L., 1990. Effects of shading on yield of CabraZea gZaberrima Juss. undercon ditions of nursery. Ciência e Natura 11: 113-117, 1989 In the nursery at the Department of Science Foresty, of t~ UF5M, the development of seedlings of cangerana (CabraZea gZ~ berrima) was analysed with O, 25, 50, 70 and 80 percent of shade. The experiment was set under iron bell-glass and web plastic. After a period of 12 months results were obtained of the height of see dlings in 70 and 80% of shade levels statistically greate·r than for the rest of treatment. The production of dry matter also was statis tically greater being influenced by a larger production of dry matter of the aerial parto Regarding the collor diameter no signifi cant difference was found. INTRODUÇ1l0 Face a necessidade do enriquecimento das florestas nativas e principalmente a conservação de potenciais geneticos, pesquisad~ res vem buscando dados, atraves de pesquisas, sobre as exigências dessas especie~, colecionando informações importantes sobre sua au toecologia.

EFEITOS DO SOBREAMENTO EM MUDAS DE Cabralea Glaberrima

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Ciência e Natura, Santa Maria, 11: 113· 117, 1989 113

EFEITOS DO SOBREAMENTO EM MUDAS DE Cabralea Glaberrima Juss.SOB CONDIÇOES DE VIVEIRO

Odilson dos Santos ·Oliveira, Juarez Martins Hoppe e [lio Luiz Champ!nholDepartamento de Ciências Florestais. Centro de Ciências Rurais.UFSM.Santa Mari a, RS.

RESUMONo viveiro do Departamento de Ciências Florestais,da UFSM,

Santa Maria-RS, foi analisado o desenvolvimento de mudas de canger!na (CabraZea gZaberrimaJ, sob O, 25, 50, 70 e 80% de sombreamento.O experimento foi instalado em campânulas de l,5Om x l,Om x O,7Om de comprimento,altura e largura, respectivamente, com armação de ferro, cobertas com tela plã~tica com diferentes niveis de sombreamento, envolvidas lateralmente com a mesmatela, em três repetições e 30 individuos por parcela. Após 12 meses foram avali!das suas alturas finais, diâmetro de colo e produção de materia seca, quando foiobservado uma altura estatisticamente superior em mudas sob 70% e 80% de ·sombreamento. Iguais resultados foram obtidos para a produção de matêria seca totalnos referidos niveis, influenciada por uma maior produção de matêria seca da pa!te aerea, sigificativamente superior aos demais tratamentos. Para o diâmetro decolo, não houve diferença significativa entre os tratamentos.

5UMMARY

OLIVEIRA, O. dos 5.; HOPPE, J.M. and CHAMPANHOL, E.L., 1990. Effectsof shading on yield of CabraZea gZaberrima Juss. underconditions of nursery. Ciência e Natura 11: 113-117, 1989

In the nursery at the Department of Science Foresty, oft~ UF5M, the development of seedlings of cangerana (CabraZea gZ~

berrima) was analysed with O, 25, 50, 70 and 80 percent of shade.The experiment was set under iron bell-glass and web plastic. Aftera period of 12 months results were obtained of the height of seedlings in 70 and 80% of shade levels statistically greate·r than forthe rest of treatment. The production of dry matter also was statistically greater being influenced by a larger production of drymatter of the aerial parto Regarding the collor diameter no significant difference was found.INTRODUÇ1l0

Face a necessidade do enriquecimento das florestas nativase principalmente a conservação de potenciais geneticos, pesquisad~res vem buscando dados, atraves de pesquisas, sobre as exigênciasdessas especie~, colecionando informações importantes sobre sua autoecologia.

114

Experiências tem mostrado que muitas essências autoctonesnão apresentam bom desenvolvimento e adaptação quando utilizados pla.!!tios em plena luz, carecendo de informações de ambientes própriosonde, dentre outros fatores, o controle de luminosidade faz-se co.!!dição bãsica, para sua melhor produtividade. Assim, face as dificuldades e elevados custos nos trabalhos de experimentação a campo para obtenção dessas informações, são justificãveis pesquisas a n;velde viveiro para a coleta de s ub sTd i o s que possam levar grandes suce~sos ã implantação de povoamentos a n;vel comercial, face suas indi~cut;veis qualidades.REVISAo BIBLIOGRAFICA

Pouca atenção tem sido dado ao conhecimento das necessidades ecológicas das espêcies nativas. Condições do meio ambiente, s~bretudo o fator luz, são importantes para o desenvolvimento e sobr~vivência das mesmas.

O sombreamento de algumas especies resulta numa respostapositiva ao crescimento em altura e diâmetro de colo (JESUS et alli7e FERREIRA et alli3). Jã para outras especies, a luminosfdade se torna condição bà s í c a para o seu desenvolvimento (ALENCAR & ARAOJ01) ~Outras especies reagem de forma indiferente ao fator luz (OLIVEIRASe ANDRr2).

FERREIRA et alli3, trabalhando com quatro especies flore~tais sob diferentes graus de sombreamento, verificaram que para

En t e r o Lob i um oon to r t i e i l i q uum ; as maiores taxas em altura e diâmetrode colo foram obtidas quando com 70% de sombreamento, o que Ja nãoocorreu de forma significativa entre os tratamentos para SahizoZibium

parahyba, Hymenaea stiZgoaarpa e PeZthophorum dubium. Para PinUB

inBuZariB, FERREIRA et alli5 obtiveram igualmente melhores resultados em altura quando com sombreamento de 70%, jã para diâmetro -decolo e produção de ma t ê r t a seca, os resultados foram maiores em pla.!!tas não sombreadas. Resultados semelhantes foram obtidos por JESUSet alli7 para Cordia triahotoma quando com 50% de sombreamento.

Para EuaaZyptus grandis, FONSECA et alli6 obtiveram os melhores resultados com nlveis de sombreamento entre 25% e 50%. Já GOMES et alli5, trabalhando com a mesma e spê c ie , obtiveram maiores alturas, produção de materia seca e diâmetro de colo quando sem sombreamento. Semelhantes resultados foram obtidos por STURION & IEDE9~com Oaotea porosa, sob três n;veis de sombreamento, após 10 mesesde observações, melhor desenvolvimento diametrico e produção de materia seca a ceu aberto, porem com menor percentagem de sobrevivencia e altura inferior, quando comparado com 30% de sombreamento.

Analisando o comportamento de Carapa guainensis sob trêsnlveis de sombreamento a campo, OLIVEIRAS não observou diferenças~ignificativas em altura entre os tratamentos. concluindo tratar-se

115

de e s pe c i e de fãcil adaptação â diferentes intensidades de luz. Entretanto. ALENCAR & ARAOJ01• trabalhando com especies florestais nareglao amazônica. observaram que a sobrevivência e o crescimento devãrias especies eram sensivelmente afetados pelas diferentes intensidades de luz.MATERIAIS E METO DOS

o ensaio foi instalado nasFlorestais. da Universidadeagosto/89 a agosto/90.

As mudas foram produzidas por semeadura direta em sacosde polietileno de 12cm de diâmetro por 25cm de ,altura. utilizando-secomo substrato. solo de viveiro. construldo de terra de campo e co~posto orgânico. na proporção de 3:1. dispostas no sentido Norte-Sul.

O experimento foi instalado num delineamento.inteiramentecasual í z a do , com cinco tratamentos, três repetições e trinta plantaspor parcela. Os níveis de sombreamento utilizados. f o ram 25. 50. 70e 80% obtidos por meio de telas de polielefinas de cor preta e 0%ao ab~rto. cobrindo as porçôes superiores e lalerais das mudas emcampânulas com armaçâo de ferro. nas dimensôes de 1,50m x 1.Om x0.70m. de comprimento. altura e largura. respectivamente.

Para evitar concorrência de sombra com ervas daninhas,ef~tuou-se a limpeza das mudas sempre que necessãrio.

Mensalmente. eram avaliadas suas alturas e diâmetro de co10, com avaliação do peso de matéria seca apôs a última medição. Opeso de materia seca foi obtido através do peso seco em estufa comventilaçâo forçada a 750C. por 48 horas.

Com os dados coletados. procedeu-se a anãlise de vatiânCoiapara altura. diâmetro de colo. peso das razfses , parte aérea e peso total.Para comparação das medias. utilizou-se o teste Tukey. ao nlvel de1% ~e probabilidade.

Ciênciasrlodo de

dependências do Departamento deFederal de Santa Maria. no p~

RESULTADOS E DISCUssAOOs níveis de sombreamento mostraram diferenças no compo~

tamento entre os parâmetros analisados. A.al!ura foi significativamente influenciada. onde o melhor crescimento foi verificado em mudas com 70% e 80% de sombreamento. Jã no caso do diâmetro de colo.os tratamentos não mostraram qualquer diferença significativa (Tab~Ta I). Quando sob plena 1 uz , as mudas. alêm de apresentarem crescimento reduzi~o e irregular.·o lndice de sobrevivência era menor.

A produção de ma tê r í a seca total. em função das diferentesintensidades luminosas. foi significativamente maior em mudas com so~breamento de 70% e 80% em relaçâo aos demais nlveis. Com relação aprodução de matéria seca da parte aêrea. observou-se maiores incrementos em mudas sombreadas e que a produção de matéria seca total

116

foi grandemente influenciada pela produção de matéria seca da parteaérea em relação às de menor sombreamento.TABELA I - MtDIAS DAS ALTURAS E DIAMETRO DE COLO SOB DIFERENTES NI

VEIS DE SOMBREAMENTO.

Nível de sombreamento Altura Diâmetro de colo(% ) (cm) (mm)

O 13,7 a 8,3 a25 16,4 a 7,4 a50 20,6 b 7,1 a70 26,6 c 8,9 a80 31,7 d 8,8 a

Obs.: Medias seguidas da mesma letra, não diferem estatisticamenteentre si, ao nível de 1% de probabilidade, pelo teste Tukey.

Embora a produção de matéria seca da parte aerea e parteradicu1ar não tenha mostrado diferenças significativas entre os tratamentos, observou-se uma nltida superioridade dos tratamentos comníveis de 50%, 70% e 80% de sombreamento em relação aos de menorso.!'!breamento e que as mudas sob plena luz, apresentaram elevado lndicede bifurcações.

O aumento da p ro duç ão de ma teri a seca provocado pelo maiornível de sombreamento pode ser explicado por um baixo ponto de co.!'!pensação luminosa da especie em virtude de sua to1erãncia â sombra,fato este comprovado em mata natural.TABELA 11 - MEDIAS DE PRODUçAO DE MATtRIA SECA TOTAL, PARTE AEREA E

PARTE RADICULAR, EM DIFERENTES N1vEIS DE SOMBREAMENTO.

Nível de sombreamen to Total P. Aerea P. r a d t c u l+ r(% ) (gr, ) (gr. ) (gr. )

O 4,7 a 1,8 a 3,0 a25 4,8 a 1,3 a 2,4 a50 7,6 a 4,0 a 4,6 a70 12,6 b 8,0 a 6,3 a80 16,2 b 6,6 a 5,1 a

Obs.: Medias, segui das da mesma letra, não diferem estatisticamenteentre si, ao nlve1 de 1% de probabilidade, pelo teste Tukey.

CON CL USOES1) A altura das mudas foi influenciada significativamente pelos di

ferentes nlveis de sombreamento, onde 70% e 80% proporcionarammelhor desenvolvimento, diferindo dos demais.

2) O diâmetro de colo não foi influenciado pelos tratamento.

117

3) O peso de matéria seca total foi significativamente maior em mudas com maior sombreamento. influenciada por uma maior produçãode matéria seca da parte aérea.

4) A produção de matéria seca da parte aérea e parte radicular de

forma isolada. estatisticamente. não foram influenciadas pelostratamentos. embora tenha sido observado uma nitida superiorid~de dos tratamentos 50%. 70% e 80%. em relação aos demais para aparte aérea.

LITERATURA CITADA

1. ALENCAR. J.C .. & ARAUJO. V.C. Comportamento de Es pâ c i e s FlorestaisAmazônicas quanto a Luminosidade. Manaus. Acta Amazônica. 10(3):435-444.1980.

2. ANDRAE. F.H. Ecologia Florestal. Santa Maria. U.F.S.M. Depart~mento de Ciéncias Florestais. 1978. 228 p.

3. FERREIRA. M.G.; CÂNDIDO. J.F.; CANO. N.A.O. & CONDt, A.R. Efeitodo Sombreamento da Produção de Mudas de Quatro Especies Florestais Nativas. Viçosa. REV. 1\RVORE. V.l (2) 121-134. 1977.

4. FERREIRA. M.G.; CÂNDIDO. J.F.; SILVA. D.A. & COLODETTE. J.L. Efe.!..to do Sombreamento e da Densidade de Sementes sobre o Desenvolvimento de Mudas de Pinus insularia Endlicher e seu Crescimento Inicial no campo. Curitiba. REV. FLORESTA. 12 (1):56-6l.1981.

5. GOMES. S .M.; FERREIRA. M. G.M.; BRANDI, R.M. & NETO, F. P. Infl uê n

cia do Sombreamento no Desenvolvimento de Eucaliptua grandis

W. Hill ex Maiden. Viçosa. REV. 1\RVORE, V.2 (1):68-75. 1978.6. FONSECA, A.G.; BRANDI. R.M.; PAUL A NETO, F. & CÂNDIDO, J.F. Efe.!..

to do Sombreamento, Tamanho e Peso de Sementes na Produção deMudas de E. grandis W. Hill ex Maiden e no seu Crescimento Inicial no Campo. Viçosa. REV. 1\RVORE. V.3(2):145-149. 1979.

7. ~-ESUS, R.M.; LOGISTER, F. & MENANDRO, M.S. Efeito da Lum t no s i dade e do Substrato na Produção de Mudas de Cordiatrichotoma

(VEll) Ar r a b., In: VI CONGRESSO FLORESTAL ESTADUAL, V.l. NovaPrata. 1988. p:459-469.

S OL)VEIRA, O.S. A andiroba (Carapa guianensia) e seu ComportamentoSilvicultural em Diferentes Intensidades de Luz. In: I CONGRES

SO BRASILEIRO DE FLORESTAS TROPICAIS. Viçosa. Universidade F~deral de Viçosa. 1974. p:579-590.

9. STURION. J.A. & IEDE, E.D. Influencia da Profundidade de Semeacj~r a , Cobertura de Canteiros e Sombreamento na Formação de Mudasde Ocotea porosa (Ness) Barroso. Documentos. EMBREPA/URPFCS.Curitiba. NQ 10. 1982. p:71-79.

Recebido em outubro, 1990; aceito em.novembro, 1990.