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 governo eficaz, mas funcionou bastante bem. Nun ca um povo aceitou de forma t ão completa a regra: se funciona, n ão tentemos mudar. Assim que conseguiram estabelecer um reino e uma economia baseada na agricultura, tornada poss í vel pelas cheias anuais do Nilo, os governantes do Egito, junto com os s úditos, tornaram-se ferozmente determinados a evitar qualquer tipo de progresso. E, em 3.000 anos, conseguiram e voluir muito pouco. Tal como todos os imp érios antigos, o Egito organizava-se em princí pios hierárquicos. Os deuses encontravam-se no topo da hierarquia. Abaixo destes, estendia-se a vasta assembleia dos mortos. No fundo da hierarquia estava a humanidade como um todo, a qual representava, basicamente, os eg í pcios. O faraó ocupava uma posição única e poderosa, devido ao seu lugar entre a humanidade e os mortos acima (e os deuses acima dos mortos). Nesta hierarquia de seres, era o único ser individual, o único elo de ligação entre o mundo vivo dos humanos e o mundo dos esp í ritos. O faraó era humano, mas também era mais do que humano, n ão pela sua pessoa, mas em virtude do papel desempenhado na hierarquia c ósmica. Era receado, adorado e obedecido, pois não o fazer era desafiar tudo, incluindo a regularidade das inundações do rio, das quais dependia a vida da comunidade, e a ma’at , a “ordem social”. Nessa sociedade extremamente conservadora e presa à tradição, a ordem era essencial. A agricultura eg í pcia era eficiente e produtiva, em parte devido ao solo f értil que o grande rio trazia todos os anos. Assim, existia habitualmente um excesso de mão de obra. Segundo a

Egito

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  • governo eficaz, mas funcionou bastante bem. Nunca um povo aceitou de forma to completa a regra: se funciona, no tentemos mudar. Assim que conseguiram estabelecer um reino e uma economia baseada na agricultura, tornada possvel pelas cheias anuais do Nilo, os governantes do Egito, junto com os sditos, tornaram-se ferozmente determinados a evitar qualquer tipo de progresso. E, em 3.000 anos, conseguiram evoluir muito pouco. Tal como todos os imprios antigos, o Egito organizava-se em princpios hierrquicos. Os deuses encontravam-se no topo da hierarquia. Abaixo destes, estendia-se a vasta assembleia dos mortos. No fundo da hierarquia estava a humanidade como um todo, a qual representava, basicamente, os egpcios. O fara ocupava uma posio nica e poderosa, devido ao seu lugar entre a humanidade e os mortos acima (e os deuses acima dos mortos). Nesta hierarquia de seres, era o nico ser individual, o nico elo de ligao entre o mundo vivo dos humanos e o mundo dos espritos. O fara era humano, mas tambm era mais do que humano, no pela sua pessoa, mas em virtude do papel desempenhado na hierarquia csmica. Era receado, adorado e obedecido, pois no o fazer era desafiar tudo, incluindo a regularidade das inundaes do rio, das quais dependia a vida da comunidade, e a maat, a ordem social. Nessa sociedade extremamente conservadora e presa tradio, a ordem era essencial. A agricultura egpcia era eficiente e produtiva, em parte devido ao solo frtil que o grande rio trazia todos os anos. Assim, existia habitualmente um excesso de mo de obra. Segundo a

  • interpretao egpcia da ordem social, ningum devia ficar ocioso, sendo o excesso utilizado para projetos de construo imensos. A edificao das Grandes Pirmides, ao longo de um perodo de quatrocentos anos, de cerca de 2700 a.C. a cerca de 2300 a.C., seria um desafio s capacidades modernas. Contudo, os egpcios nem sequer tinham ferramentas de metal com que trabalhar a pedra (as facas e os cinzis eram feitos de obsidiana, um vidro negro vulcnico). Por mais desencorajadores que fossem os desafios fsicos, os econmicos ultrapassaram-nos. O exrcito de trabalhadores, os quais, na sua maioria, no eram escravos, parece ter trabalhado voluntariamente. Por que os egpcios eram to conservadores e ligados tradio? Por que a ordem social era to importante que levava ao sacrifcio da mudana e de todo o tipo de progresso? Foi porque o rio que dera origem sociedade manteve seu curso inalterado? Foi um hbito em que os egpcios caram nos primrdios da sua histria, um hbito impossvel de quebrar? Ou haveria qualquer coisa no temperamento egpcio que levou este povo notvel a escolher o caminho da imutabilidade na procura da imortalidade desejada por todos os homens? difcil, se no mesmo impossvel, responder a estas questes. Um fato tem de ser tomado