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El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

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Page 2: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

Copyright 2016 by

Paulo da Silva Neto Sobrinho (Paulo Neto)

Belo Horizonte, MG.

Capa:

https://igrejamilitante.files.wordpress.com/2017/01/eb4613410b36b51bbf747d8d58916d20.jpg?w=1024

Revisão:

João Frazão de Medeiros Lima

Hugo Alvarenga Novaes

Diagramação:

Paulo Neto

site: www.paulosnetos.net

e-mail: [email protected]

Belo Horizonte, abril/2010.

Page 3: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

EL,EL, o verdadeiro o verdadeiro

deus dos hebreusdeus dos hebreus

(versão 6)

“Para cada indivíduo que acredita em algumacoisa, sempre há alguém que acredita no opostoou que tem mais informações.” (CHURTON,2009)

“[…] os teólogos são bem preparados para sereconômicos com a verdade […].” (ELLIS, 2004)

“Não é porque uma coisa está escrita que ela éverdadeira.” (RENAN, 2004)

Paulo Neto

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ÍNDICE

Introdução.......................................................................4

Análise das passagens base do questionamento...................8

1ª) Deus ordena Abraão a sacrificar seu filho Isaac.......11

2ª) Deus se identifica a Jacó como “Eu sou El”..............30

3ª) O bezerro de ouro é identificado como o Deus de Israel.......................................................................45

As pistas encontradas ao longo dos textos bíblicos..............49

Épocas em que os hebreus praticavam rituais pagãos..........94

a) Os patriarcas........................................................94

b) Moisés a Josué....................................................158

c) Dos Juízes a Salomão...........................................192

d) Judá e Israel.......................................................214

e) Fim do reino de Judá............................................232

f) A restauração durante o período persa....................248

g) Época helenística.................................................254

Ou crê ou morre!..........................................................260

Absurdos atribuídos à divindade dos hebreus....................299

O que de interessante os estudiosos nos informam...........319

Conclusão....................................................................396

Referências bibliográficas...............................................401

Dados biográficos do autor.............................................407

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Introdução

Certamente que um título desses é algo bem

estranho mesmo; mas, ao se analisar as informações

que vários autores passam, ver-se-á que se aplica

muito bem ao caso.

Foi-nos afirmado, pelos líderes religiosos de

antanho, que os hebreus eram um povo

monoteísta, ou seja, que defendiam a existência de

uma única divindade, ideia essa que, no decorrer do

tempo, por mais absurda que seja, os teólogos não

tiveram a coragem de demonstrar o contrário,

apenas aceitando-a comodamente.

Entretanto, as informações que coletamos, da

Bíblia e de exegetas, nos apontam para uma outra

realidade que é bem diferente dessa, uma vez que

os hebreus, como veremos, admitiam e, até mesmo,

cultuaram vários deuses, o que, por conseguinte, nos

remete, na pior das hipóteses, ao henoteísmo, ou

quiçá ao politeísmo.

Disso nos ocorreu este pensamento: “Uma

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mentira contada mil vezes, torna-se verdade,

embora, na realidade, não passe de uma

mentira”, que percebemos ter sido quase o que

Joseph Goebbels (1897-1945), ministro da

propaganda de Adolf Hitler (1889-1945), disse, no

século passado, para implantação do nazismo.

O grifo em negrito é nosso, será o padrão

daqui para frente. Quando ocorrer de não ser, nós o

avisaremos.

Vejamos em Russel Norman Champlin (1933-

2018) e J. M. Bentes as definições dos termos que

designam essas crenças mencionadas:

O Henoteísmo (enoteísmo) deriva seu nomedos termos gregos henós, “um”, e théos, “deus”. Aideia é que só existe um único Deus. Porém, nouso comum que se faz da palavra a ideiatransmitida é que existe uma divindade suprema,que tem contato com um certo mundo ou com certogrupo de seres, ao mesmo tempo em que podemexistir outros deuses com outros campos deatividade. Pelo menos em algumas culturas,como na dos hebreus, o henoteísmo pode serum passo intermediário entre o politeísmo e omonoteísmo. (1) (Só última frase grifo nosso)

Monoteísmo. Essa palavra vem do grego

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mónos, “único”, e théos, “Deus”. Portanto, elaindica aquele ensino de que só existe um Deus.Isso pode ser contrastado com o henoteísmo, queadmite uma pluralidade de deuses, embora afirmeter relações somente com um deles, que merece anossa adoração e obediência. (2)

Politeísmo. Essa palavra vem do grego, poli,“muitos”, e théos, “deus”, ou seja, a crença de queexistem muitos deuses. Isso contrasta com omonoteísmo, a crença na existência de um únicoDeus, e com o henoteísmo, a crença de queapesar de existirem muitos deuses, somosresponsáveis diante de um só Deus. (3)

Traremos a esse estudo o resultado de nossa

pesquisa para que possibilite a você, caro leitor,

participar da surpresa que tivemos sobre esse

assunto e, logo de início, nós lhe pedimos uma

pequena dose de confiança, por já afirmar no título a

realidade que, nem em sonho, esperávamos ver.

Essa ideia não nos surgiu como uma espécie

de fiat lux e nem por acaso; tivemos, na verdade,

como base três passagens bíblicas, que sempre nos

deixavam com uma certa desconfiança – ou como se

diria popularmente: “com uma pulga atrás da orelha”

–, quanto à questão do povo hebreu ter sido

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Page 8: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

realmente monoteísta, como sempre nos ensinaram

os líderes religiosos. São elas:

1ª) Deus ordena a Abraão a oferecer em

sacrifício o seu filho Isaac (Gênesis 22,1-9);

2ª) Deus se identifica a Jacó como “Eu sou El”

(Gênesis 46,3);

3ª) Com a demora de Moisés no topo do Sinai,

o povo fabrica uma estátua de um bezerro de

ouro apresentando-o como: “Este é teu Deus, ó

Israel” (Êxodo 32,1-6).

Vamos analisar cada uma dessas passagens,

para ver o que delas podemos tirar de útil ao nosso

estudo.

Teremos como ponto norteador o fato de que

“A crítica não conhece textos infalíveis; seu primeiro

princípio é admitir a possibilidade de um erro no

texto que estuda.” (4)

Todos os textos bíblicos que utilizamos, no

presente estudo, têm como fonte a Bíblia de

Jerusalém.

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Análise das passagens base do

questionamento

Primeiramente, para bem nos situarmos,

devemos explicar quem foi Abraão, o primeiro

personagem bíblico, do qual falaremos no decorrer

da análise:

Abraão. É o mais antigo dos patriarcas eantepassado do povo de Israel (Gn 11-25).Atendendo à ordem de Deus, deixou Ur doscaldeus e, na primeira metade do segundo milênioa. C., emigrou para Canaã. Ali Deus fez com eleuma aliança, prometendo uma terra e uma grandedescendência. […]. (5)

O fato importante aqui é que, ao final, ele se

estabeleceu em Canaã, região situada entre o vale

do rio Jordão e a costa do Mediterrâneo, que,

segundo apuramos, “é a antiga denominação da

região correspondente à área do atual Estado de

Israel, da Cisjordânia, da Jordânia ocidental, sul da

Síria e sul do Líbano.” (6)

Em A História de Israel no Antigo Testamento, o

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autor Samuel J. Schultz (1914-2005), explica:

A Mesopotâmia, a terra entre os dois rios, era aterra natal de Abraão (veja Gn 12:6; 24:10 e At7:2). Localizada às margens do Balique, umtributário do rio Eufrates, Harã constituía o centroda cultura onde ele vivia com seus parentes.Nomes da gente de Abraão – Terá, Naor, Pelegue,Serugue, além de outros – são confirmados nosdocumentos de Mari e dos assírios como nomes decidades daquela área. (7) Em obediência à ordemdivina de deixar sua terra natal e sua parentela,Abraão deixou Harã a fim de fixar novaresidência na Terra de Canaã.

Abraão vivera em Ur dos caldeus antes de tervindo para Harã (ver Gn 11:28-31). A identificaçãomais geralmente aceita de Ur é a moderna Tell el-Mugayyar, que está localizada a catorzequilômetros e meio a oeste de Nasiryeh, no rioEufrates, no sul do Iraque. […] O deus-lua Nanar,que era adorado em Ur, também era a principaldivindade em Harã. (8) (9)

A respeito de Canaã informa Schultz, ainda

sem mencionar as práticas religiosas da região, o

que mais à frente veremos:

O nome “Canaã” se aplica às terras que jazementre Gaza, no sul, e Hamate, no norte, ao longodas costas orientais do mar Mediterrâneo (ver Gn

9

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10:15-19). Os gregos, em seu intercâmbio comCanaã, durante o primeiro milênio a.C., chamavamseus habitantes de fenícios, nome esse queprovavelmente teve origem no termo grego quesignifica “púrpura”, que designava a cor carmesimde um corante de têxteis criado em Canaã. Desdeo século XV a.C. o nome “Canaã” vinha sendoaplicado, de modo geral, à província egípcia daSíria, ou, pelo menos às costas fenícias, o centroda indústria da púrpura. (10) Consequentemente, aspalavras “cananeu” e “fenício” têm a mesmaorigem cultural, geográfica e histórica. Mais tardeessa área veio a ser conhecida como Síria ePalestina. A designação de “Palestina” teve suaorigem no nome “Filístia”. (11)

Essa informação de Schultz é importante para

situarmos geograficamente Canaã e considerarmos a

designação moderna da região como sendo a

Palestina, região berço daquele que é nosso modelo

e guia: Jesus.

Para que essa visão seja mais clara ainda,

tomamos esta imagem (12) intitulada “O Mundo

Patriarcal” equivalente à que consta nessa obra:

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Page 12: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

1ª) Deus ordena Abraão a sacrificar seu filho

Isaac

Gênesis 22,1-9: “Depois dessesacontecimentos, sucedeu que Deus pôs Abraãoà prova e lhe disse: 'Abraão! Abraão!' Elerespondeu: 'Eis-me aqui!' Deus disse: 'Tomateu filho, teu único, que amas, Isaac, evai à terra de Moriá, e lá o oferecerás emholocausto sobre uma montanha que eu teindicarei.' Abraão se levantou cedo, selou seujumento e tomou consigo dois de seus servos eseu filho Isaac. Ele rachou a lenha doholocausto e se pôs a caminho para o lugarque Deus havia indicado. No terceiro dia,Abraão, levantando os olhos, viu de longe o

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lugar. Abraão disse a seus servos: 'Permaneceiaqui com o jumento. Eu e o menino iremos atélá, adoraremos e voltaremos a vós.' Abraãotomou a lenha do holocausto e a colocou sobreseu filho Isaac, tendo ele mesmo tomado nasmãos o fogo e o cutelo, e foram-se os doisjuntos. Isaac dirigiu-se a seu pai Abraão edisse: 'Meu pai!' Ele respondeu: 'Sim, meufilho!' – 'Eis o fogo e a lenha,' retomou ele,'mas onde está o cordeiro para o holocausto?'Abraão respondeu: 'É Deus quem proverá ocordeiro para o holocausto, meu filho', eforam-se os dois juntos. Quando chegaram aolugar que Deus lhe indicara, Abraão construiuo altar, dispôs a lenha, depois amarrou seufilho e o colocou sobre o altar, em cima dalenha.”

Sempre achamos completamente fora de

propósito essa atitude de Abraão de atender a ordem

para sacrificar seu único filho, pelo motivo de que o

sacrifício de seres humanos era algo comum

somente entre os povos que adoravam deuses

pagãos.

Para nós o Criador do Universo, jamais

compactuaria com uma atrocidade desse gênero,

mesmo que, no último minuto, tenha voltado atrás,

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Page 14: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

pois alguma espécie de mal já havia sido feito.

Imagine, leitor, se você estivesse no lugar de

Abraão, o que teria passado de sofrimento moral

para “provar” sua fidelidade a esse deus (letra

minúscula mesmo).

Avalie também o que seu filho passou, ao

saber ser ele próprio a vítima do holocausto? Aliás,

muito nos surpreende ver como as pessoas aceitam

piamente isso, sem o menor constrangimento.

A prontidão com que Abraão agiu só pode

significar que ele já vivia num meio em que era

prática comum o sacrifício de seres humanos.

Assim, não é difícil concluir que ele, na

verdade, seguia a um deus pagão. Moloque (Moloc

ou Moloch), por exemplo, é citado vezes na Bíblia.

Eis uma imagem que o representa. (13)

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Na obra Enciclopédia de Bíblia, Teologia e

Filosofia, os autores R. N. Champlin e J. M. Bentes,

explicam-nos que:

A adoração a esse deus estava associada aosacrifício de crianças ou infantes, na fogueira(Lev, 18:21; 20:2-5; II Reis 23:10; Jer, 32:35; II Reis20:3-5; 17:31). Essa prática é confirmada nosantigos cultos mesopotâmicos e filisteus. Aarqueologia tem demonstrado abundantemente essa prática. As referências bíblicas sãoperfeitamente claras. As leis de Moisés proibiamessa prática, sob pena de morte (Lev, 18:21; 20:2-5). No entanto, em cerca de 1000 A. C., Salomãoedificou um lugar alto em honra a essadivindade (naquele lugar que, mais tarde, veio aser chamado de monte das Oliveiras) (I Reis 11:7).

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O rei Acaz, em cerca de 730 A.C., queimou seusfilhos na fogueira (II Crô. 28:3), tal como veio afazê-lo Manassés (II Reis 21:6). Em Samariatambém chegou-se a praticar esse incrívelpecado, e a cidade foi julgada por esse motivo (IIReis 17:17). Josias destruiu os lugares altos deMoloque (II Reis 23:10,13). E foi necessário queEzequiel condenasse essa prática, já tão tardequando o começo do século VI A.C. Somente ocativeiro babilônico parece ter posto fim,definitivamente, a esse horrendo culto, embora,fora da Palestina, ainda tivesse permanecido nonorte da África, entre os fenícios cartagineses, atédentro da própria era cristã. (14)

Um ponto importante que se deve ressaltar é o

fato do envolvimento dos hebreus no culto a

Moloque, conforme mencionado na transcrição.

De tudo que foi dito, podemos concluir que, na

pior das hipóteses, Abraão vivia numa região em que

o sacrifício de crianças era praticado sem qualquer

constrangimento. Porém, temos confirmação de que

Taré (ou Terá, em algumas traduções), o pai de

Abraão, servia a outros deuses:

Josué 24,1-3: “Josué reuniu todas as tribos deIsrael em Siquém; convocou todos os anciãosde Israel, seus chefes, seus juízes e seus

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escribas, que se colocaram ordenadamente napresença de Deus. Disse então Josué a todo opovo: 'Assim diz Iahweh, o Deus de Israel:Além do Rio (15) habitavam outrora osvossos pais, Taré, pai de Abraão e deNacor, serviam a outros deuses. Eu, porém,tomei vosso pai Abraão do outro lado do Rio eo fiz percorrer toda a terra de Canaã,multipliquei a sua descendência e lhe deiIsaac.'”

E para provar que não estamos vendo o que

não existe, apresentamos essas explicações dos

tradutores bíblicos:

24.2 Vossos pais… serviram… deuses. Terá, oPai de Abraão, habitava na cidade de Ur dosCaldeus, onde o povo servia a vários deuses. Omonumento principal da cidade era dedicado aodeus da lua, o padroeiro da cidade. Também foireconhecido Sumas, o deus-Sol e Nana (ouAstarte), a filha do deus da lua, e outros deuses.(16)

24.2. Deuses estrangeiros: Os pais de Abraãoteriam sido, pois, pagãos. (17)

24,2-4 Etapa patriarcal. Começa a história emtempos imemoriais na Mesopotâmia, onde seencontram as raízes étnicas do povo. Naperspectiva do capítulo, os antepassados

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serviam ou prestavam culto a “outros deuses”.(18)

Samuel J. Schultz, em A História de Israel no

Antigo Testamento, afirma categórico:

A religião de Abraão forma um tema vital nasnarrativas sobre os patriarcas. Vindo de umambiente politeísta, onde o deus-lua Nanar erareconhecido como principal divindade da culturababilônica, Abraão chegou em Canaã. Que suafamília servia a outros deuses é claramenteafirmado em Js 24:2. […]. (19)

Em Champlin, encontramos:

Serviram a outros deuses. Abraão, seu irmão,Naor, e o pai deles, Terá era todos idólatras.Isso posto, em certo sentido, a chamada do povode Israel foi a chamada de um pequeno clã daidolatria para o monoteísmo yahwista. Isso foi umautêntico avanço espiritual; e Josué anelava porpreservar esse passo para frente. […].

Que Abraão anteriormente tinha sido idólatranão é dito especificamente no livro de Gênesis.Entretanto, certos trechos do livro de Gêneses (ver31.19,29,30,53; 35,2-4) dão a entender que houveum passado idólatra em sua família. (20)

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Page 19: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

Em a Enciclopédia de Bíblia, teologia e

filosofia, (vol. 4), Champlin e Bentes afirmam que:

“[…] É inegável que os antepassados de Abraão

eram politeístas (ver Gên. 35:2; Jos. 24:2)”. (21)

Em outro volume dessa coleção (vol. 6),

Champlin e Bentes explicam:

Na Bíblia. Ficamos desolados diante dovigésimo segundo capítulo de Gênesis.Nenhuma explicação pode aliviá-lo de suademonstração de uma religião primitivista.Mesmo que Abraão tenha crido, sinceramente, queDeus requerera dele um sacrifício humano, e issode seu próprio filho, é impossível crer que Deuslhe tenha dado, realmente, tal mensagem.Abraão teria agido em boa fé; mas o Senhor nãoestaria vinculado à questão, sob hipótese alguma.É óbvio, pois, que Abraão ainda retinha traçosde selvageria e paganismo em sua fé, apesar doseu grande avanço espiritual. Podemos extrairdo relato muitas boas lições morais; mas écatastrófico para a fé religiosa sã, a suposiçãode que Deus, sob qualquer circunstância ourazão, tenha ordenado que se fizesse umsacrifício humano. Mais tarde, na legislação deIsrael, os sacrifícios humanos foram estrita eenfaticamente proibidos. Ver Lev. 18:21. E a penade morte era imposta aos desobedientes (Lev.20:2,3). (22)

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Page 20: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

Além desse, há um outro comportamento de

Abraão, que também nos remete à ideia de que ele

praticava rituais muito semelhantes aos dos pagãos,

quando, por exemplo, ele ia a um monte alto (ou

montanha) a fim de realizar seus cultos de adoração.

Inclusive, o caso que estamos citando, sobre o seu

filho Isaac, ele, por ordem divina, subiu a uma

montanha (Gênesis 22,2.9), cujo nome, segundo

Josefo, é Moriá. (23)

Em Gênesis 31,54, narra-se, também, que Jacó

– o terceiro patriarca da Bíblia, filho de Isaac e

Rebeca e neto de Abraão – ofereceu um sacrifício

sobre a montanha. Jacó teve seu nome mudado para

Israel (Gênesis 32,29); são os seus descendentes que

passaram a ser chamados de israelitas (Gênesis

32,33).

Muito curioso é o fato de que o “nome Isaac, é

forma abreviada de Yçhq-El, que significa: ‘Que Deus

sorria, seja favorável’ ou ‘sorriu, mostrou-se

favorável’.” (24) Entre os hebreus, essa terminação de

nomes em “El” era fato comum, conforme veremos

um pouco mais à frente.

Na sequência da narrativa, quando Abraão

19

Page 21: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

pega uma faca para imolar seu filho, aparece-lhe um

anjo e o impede de concretizar tal ato bárbaro,

dizendo: Gênesis 22,10: “Não estendas a mão contra

o menino! Não lhe faças nenhum mal! Agora sei que

temes a Deus: tu não me recusaste teu filho, teu

único.”

Ora, como Deus é onisciente, certamente sabia

o que se passava no íntimo de Abraão; portanto, não

precisava submetê-lo a nenhum teste; nós, seres

humanos, sim, podemos fazer testes, pois nunca

sabemos o que vai no âmago das outras pessoas.

Se prestarmos bem atenção ao teor do passo

bíblico acima, veremos que estranhamente está dito

que Abraão não recusou oferecer o seu filho único ao

anjo e não exatamente a Deus, porquanto o pronome

“me” refere a ele próprio, ou seja, ao anjo, que era o

personagem que dialogava com o patriarca.

Caso não atentemos para isso seremos

induzidos a acreditar que o anjo, que apareceu a

Abraão, seria o próprio Deus, o que seria incoerente

diante da afirmativa do que ele disse: “Agora sei que

temes a Deus”.

20

Page 22: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

Não deixamos também de estranhar essa

relação de Abraão com os anjos, em busca da origem

nós a encontramos nesta explicação em Champlin e

Bentes:

II. Angelologia e origens. Os anjos sãoreferidos na Bíblia de Gên. Ao Apocalipse, desde“os carvalhais de Manre” (Gên. 13:18) até a “ilhachamada Patmos” (Apo. 1:9). As mais antigasevidências arqueológicas em favor da crença naexistência dos anjos vêm de Ur-Namus, de cercade 2250 A.C., onde anjos são vistos a adejar porsobre a cabeça do rei, enquanto este orava. Vistoque Abraão chegou àquela região pouco depoisdisso, é possível que ele estivesse familiarizadocom a angelologia desde a juventude. Como éóbvio, a angelologia estava misturada a todasas formas mitológicas possíveis, religiões esuperstições primitivas, sendo crençageneralizada entre todas as religiões daantiguidade. Que nem todos os conceitos acercados anjos correspondem à realidade é algo óbvio,mas isso não significa que tais seres (dotados deimpressionantes atributos) não existam. Durante ocativeiro babilônico, a angelologia recebeumaior atenção da parte dos judeus. Ozoroastrismo (cerca de 1000 A.C.) sem dúvidamuito contribuiu para a angelologia dos hebreus,mas a sua crença na existência desses seresantecede por muitos séculos ao zoroastrismo.Parece que quase todos os povos têm acreditadoem seres espirituais que poderíamos chamar de

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“anjos”, embora seus idiomas não tenham algumvocábulo que possamos traduzir em portuguêsdessa maneira (“mensageiro”, ou algo similar). ONovo Testamento se inicia com anjos ocupados emserviço ativo e jamais põe em dúvida a suaexistência. (25)

Podemos, portanto, relacionar essa crença em

anjos como sendo um produto da cultura na qual

Abraão estava inserido; não como uma revelação

particular a ele ou dele.

A primeira vez que um ser espiritual dessa

espécie aparece na Bíblia é quando, supostamente,

Deus coloca os querubins para guardar a “porta” do

Paraíso, para que o casal Adão e Eva não comesse

do fruto da árvore da vida (Gênesis 3,24).

Eis uma imagem do que, provavelmente,

seriam os querubins:

22

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Esfinges aladas (querubins) guardando aArca da Aliança no Templo de Salomão (26)

Querubins, segundo o “Aurélio”, que reflete o

conceito moderno, é uma classe de anjos;

entretanto, parece-nos que àquela época não eram

considerados bem isso:

Querubins são seres da mitologia babilônica,metade homens e metade animais, guardas dosportais de templos e palácios. Aqui significamministros de Deus. O “cintilar da espada” são osraios, símbolo da ira de Deus. (27)

Os querubins eram seres mistos,representados com rosto humano e corpo deleão ou touro ou outros quadrúpedes com asas,

23

Page 25: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

vindo portanto a ser uma espécie de esfinge. […].(28)

Figuras mitológicas, representadas comasas, que ornamentavam a entrada dos templosbabilônicos. Eram os “anjos da guarda” dosreferidos templos. Por isso, o texto inspirado osutiliza como guardas do Éden. Estas estátuasornamentais aparecem ainda na Arca da Aliança(Êx 37,7ss); no pórtico do Templo (1Rs 6,23-28); ena visão de Ezequiel (Ez 1 e 10). (29)

O nome corresponde ao dos karibu babilônicos;gênios, metade homens, metade animais, quevigiavam a porta dos templos e dos palácios.Segundo as descrições bíblicas e a iconografiaoriental, os querubins são esfinges aladas. […]. (30)

Realmente, podemos confirmar que “anjo” se

trata mesmo de um ser mitológico, pois existem

duas passagens nas quais se narra Deus literalmente

montado num deles: Salmo 18,10-11: “Ele inclinou o

céu e desceu, tendo aos pés uma nuvem escura,

cavalgou um querubim e voou, planando sobre

as asas do vento”. (ver tb 2 Samuel 22,10-11).

Supor que Deus tenha usado um anjo como montaria

é fora de propósito; não é mesmo?

Muito curiosa é a definição apresentada por

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Page 26: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

Ambrogio Donini (1903-1991), em Breve História das

Religiões, sobre esses seres alados:

[…] Os querubins, touros alados que erguemna entrada dos templos babilônicos para afastaros maus espíritos, aparecem como anjos tambémna mitologia hebraica e cristã: os serafins era, emsua origem, serpentes. […]. (31)

Destacamos o termo touro, que mais à frente

será esclarecido do que representava para os

hebreus.

E ao falar de Adão e Eva acabamos por nos

lembrar da serpente que os tentou; porém, Joseph

Campbell (1904-1987) nos conta uma lenda dos

bassari, povo da África Central, bem interessante:

Um dia a Serpente disse: 'Nós tambémdeveríamos comer desses frutos. Por que ficar comfome?' O Antílope disse: 'Mas não sabemos nadadeste fruto'. Então o Homem e sua mulhercolheram alguns frutos e comeram-nos.Unumbotte desceu do céu e perguntou: 'Quemcomeu o fruto?' Eles responderam: 'Nóscomemos'. Unumbotte perguntou: 'Quem lhesdisse que podiam comer desse fruto?' Elesresponderam; 'A Serpente'. (32)

25

Page 27: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

Aí Campbell arremata, comparando-a com a

história da queda de Adão e Eva: “É praticamente a

mesma história”.

Apenas para que se possa ter um mesmo

entendimento do que significa o termo holocausto,

citado em Gênesis 22,1-9, relativamente ao

“sacrifício” de Isaac, vamos recorrer ao “Aurélio”, que

assim o define:

Holocausto: [Do gr. Holókauston, ‘sacrifício emque a vítima era queimada inteira’, pelo lat. Tard.Holocausto.] S. m. 1. Entre os antigos hebreus,sacrifício em que se queimavam inteiramente asvítimas; imolação; 2. A vítima assim sacrificada. 3.P. ext. Sacrifício, expiação. (33)

O detalhe desse ritual dos hebreus é que nele

se queimava totalmente a vítima, o que,

necessariamente, não ocorria em todos os rituais

pagãos semelhantes ao que praticavam.

Entretanto, não vemos nisso um ponto para se

estabelecer uma grande diferença entre um e outro,

já que em ambos havia sacrifício de seres humanos,

pouco importa a forma com a qual praticavam esse

26

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ignóbil ritual.

Encontramos uma informação sobre uma

prática religiosa que, não se fazia na época, caso do

barbarismo dela, hoje chocaria a maioria de nós, os

pais:

Visto que as divindades dos cananeus nãoteriam caráter moral, não é de surpreender que amoralidade daquele povo fosse extremamentebaixa. A brutalidade e imoralidade que se destacamnas narrativas sobre esses deuses é algo muitopior que qualquer outra coisa vista no OrientePróximo. E, posto que isso se refletia na sociedadecananeia, os cananeus, nos dias de Josué,praticavam sacrifícios de crianças, a prostituiçãosagrada e adoração à serpente com seus ritos ecerimônias religiosos. Naturalmente, a civilizaçãodeles se degenerou debaixo dessa influênciadesmoralizadora. (34)

Fora a questão da proposta de sacrificar um

ser humano, mais uma coisa nos chamou a atenção,

que foi o fato de Deus ter indicado uma montanha

para que Abraão realizasse o ritual de holocausto de

seu filho; mais à frente voltaremos a esse curioso

detalhe visando comentá-lo.

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Vejamos, por oportuno, informações sobre a

religião dos cananeus, porquanto, terá ligação com o

item que, imediatamente, se segue a esse. Tomamos

esta explicação de Champlin e Bentes, que dizem:

6. A Religião dos Cananeus. O AntigoTestamento informa-nos muita coisa a respeito doPanteão dos cananeus. A divindade principal eraEl, a quem os outros deuses precisavam consultarsobre questões importantes. Porém, Baal, filho deEl, tornou-se mais significativo. Ver o artigo sobreBAAL. Essa palavra significa “senhor”. Haviamuitas manifestações locais de Baal, como deusda fertilidade, deus da tempestade, etc. Tanto Baalquanto Dagom tinham um templo em, Ugarite. Atarera a divindade que substituía a Baal, quando esteúltimo supostamente excursionava pelo submundodos espíritos. Atar era filho de Aterate, consortede El. Havia muitas deusas, como Anate, Aserá eAstarte (ou Astarote), deusas do sexo, dafertilidade e da guerra. - Anate era uma importantedeusa para a agricultura. Os deuses Shahru(estrela matutina) e Yarbu (deus-lua), bem comoResebe, deus da pestilência e da morte, tambémeram adorados em Canaã. Não há certeza se odeus Yahweh era conhecido ou não peloscananeus. Milhares de tabletes de argila,guardados em uma biblioteca existente entre doistemplos, datados de cerca dos séculos XV e XIV A.C., descobertos em Ras Shamra, nos fornecemabundantes informações sobre a religião doscananeus. Havia grosseira imoralidade de mistura

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com a adoração prestada a várias divindades dafertilidade, e os cananeus estavam maduros para ojulgamento divino. É significativo que alguns dosnomes de Deus, no hebraico, têm paralelo nosnomes dos deuses cananeus, o que mostra quehavia certo contacto e troca de ideias ali,embora a religião cananeia e a religião hebreiatanto diferissem, mormente no tocante aomonoteísmo. Os deuses cananeus não sedestacavam quanto à santidade.

Templos cananeus têm sido escavados na Síriae na Palestina, e significativos modelos têm sidoencontrados em Laquis (que vide), Megido, Jericó,Bete-Seãe e Hazor, pertencentes a um tempo tãoremoto quanto 3000 A.C., e daí até 1900 A.C.Muitos objetos relacionados à adoração pagã têmsido desenterrados, como objetos de culto, facas,tenazes, vasos de libação e ossos de animais, oque mostra que ali se praticava o sacrifício deanimais.

Em Ugarite, havia um sistema complexo dereligião, talvez típico também de outraslocalidades. Havia um sumo sacerdote e nadamenos de doze famílias de sacerdotes. O reiexercia funções sacerdotais. Havia cantores,costureiros de vestimentas, escultores e outrosespecialistas. Novamente, vemos considerávelcorrespondência entre isso e a religião deIsrael. Pelo menos é verdade que, quanto àsquestões culturais, os cananeus eram superioresaos israelitas, que muito se aproveitaram dacultura cananeia. Já vimos como Salomãodependeu desse povo quanto aos planos e à

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construção do templo de Jerusalém. Era tarefa dosprofetas impedir pesados empréstimos ecorrupções provenientes dos pagãos, mas osprofetas nem sempre mostraram-se bem-sucedidos em seus esforços. A confusão entreBaal e Yahweh destruiu a distintiva fé doshebreus. Lembremo-nos do desafio lançado porElias: “Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal,segui-o”. (I Reis 18:21). (ALB ALBR AM LAM) (35)

Os vários trechos que grifamos no texto tem

objetivo de ressaltar as coisas ditas neles, uma vez

que elas irão ser mencionadas, ao longo de nosso

estudo.

2ª) Deus se identifica a Jacó como “Eu sou El”

O teor do passo, cujo texto nós transcrevemos

da Bíblia de Jerusalém (= Bíblia Sagrada Edição

Pastoral), é:

Gênesis 46,3: “Deus retomou: ‘Eu sou El, oDeus de teu Pai. Não tenhas medo de descerao Egito, porque lá eu farei de ti uma grandenação’”.

Em outra passagem, na qual se fala da

chegada de Jacó a Siquém, na terra de Canaã, a

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identificação de “El” como sendo o Deus dos hebreus

também é direta:

Gênesis 33,20: “E lá erigiu um altar, quechamou ‘El, o Deus de Israel’”.

Epa!!!: “Eu sou El” e “El, o Deus de Israel”?

Que “El” é esse?! Desconhecíamos de quem se

tratava; por isso fomos pesquisar e encontramos, no

Dicionário Bíblico Universal, a seguinte explicação

para a palavra “El”:

É o nome do deus venerado pelos semitasdo Oeste. Esse deus pessoal é chamado “pai dosdeuses e dos homens”, o “criador das coisascriadas”, o “pai dos anos”; é imaginado como umancião de barba branca. É “sábio, benevolente emisericordioso”. Habita num lugar misterioso, noextremo do mundo, “na fonte dos rios, naprofundidade dos abismos”. É qualificado de El-Touro, muito mais por seu poder do que por suafecundidade. Entre os arameus, os nomescompostos de El são muito frequentes: Batuel(Gn 22,22), Tabeel (Is 7,6). Nomes semelhantesencontram-se entre os israelitas, desde ostempos mais remotos: Ismael, Jerael, Elias, Eliseu,Emanuel…

É que, vindo da Mesopotâmia, os patriarcasencontraram em Canaã o culto do deus El,celebrado sob diversos nomes: El-Roi (Gn 22,14),

31

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El-Olam (Gn 21,33), El-Berit (Jz 8,33). Facilmenteidentificaram seu deus Shaddai com adivindade adorada pelos cananeus e louvada emtermos que convinham à sua fé.

É a forma Elohim que mais comumente designaDeus. Esse plural, constantemente acompanhadode um verbo no singular (Gn 1,1), deve significar amajestade ou a plenitude. (36)

Damos apenas uma rápida pincelada, pois,

mais à frente, voltaremos a esse ponto; trazemos,

também, em Mircea Eliade (1907-1986), na obra

Tratado de História das religiões e em Werner Keller

(1909-1980), no livro e a Bíblia tinha razão…, o

seguinte:

[…] Os textos de Ras Shamra, que sãopreciosos documentos sobre a vida religiosa dossemitas pré-mosaicos, mostram que El e Bethelsão os nomes intermutáveis de uma mesmadivindade. (37)

O deus El ocupava o primeiro lugar sobre osbaalim de Canaã. Sua esposa era Achira, deusatambém citada na Bíblia. Ele casou com suas trêsirmãs, uma das quais era Astarteia. Como Astarot(Juízes 2.13, 10.6, e outros), é mencionadarepetidamente no Velho Testamento. El não sómatou seu irmão, mas também o próprio filho;

32

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cortou a cabeça da sua filha, castrou seu pai e a sipróprio e obrigou seus companheiros a fazerem omesmo. (38)

A História Pagã do termo El não é muitoagradável. Dentro da religião dos cananeus,conforme é referido pelo historiador fenício, Filo deBiblos (cerca de 100 d.C.), bem como na literaturareligiosa desenterrada em Ras Shamra (a antigaUgarite, no sul da Síria, 1929-1937), El era adivindade principal de um elaborado panteãocananeu. De acordo com essas fontesinformativas. El teria três esposas, todas elas suasirmãs. Aparece ali como um tirano sanguinário,de destronou o seu próprio pai, Urano, assassinouo seu filho favorito e decapitou uma de suas filhas.Também era uma criatura sensual e mórbida.Contudo, pelo lado bom, ele era intitulado de “Paidos Anos”, “Pai do Homem”, e “Touro Pai”. Àsemelhança de Zeus, deus grego, ele eraimaginado como o progenitor de todos os deuses.Baal, que finalmente chegou a ser o principalobjeto de adoração, era considerado filho de El.Seja como for, El foi tão importante, em certaépoca, que a literatura de Ras Shamra refere-se àterra de Canaã como “terra de El”.

Todas as religiões, antigas ou modernas,quando descrevem Deus (ou algum deus), sãoforçadas a lançar mão de termos antropomórficos,quando então são atribuídas qualidades humanas,visto que a linguagem é o principal meio deexpressão e comunicação e que a mesma reveste-se de tão grande importância para nós, sereshumanos. As religiões pagãs constantemente

33

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atribuíam aos seus deuses todas as másqualidades humanas, excetuando que os homensvão se tornando cada vez piores, multiplicando adestruição e a selvageria que caracterizam aspessoas. Encontramos algo dessa atividade naspáginas do Antigo Testamento, onde Deus éretratado como cabeça de exércitos destruidores,que exige toda a forma de matanças. As tentativasde muitos evangélicos para justificar esse quadrosobre Deus são comuns e insistentes, mas não meconvencem. É ridículo supor que uma revelaçãomais avançada não melhora o nosso conceito deDeus, conforme melhora tudo o mais queconhecemos a respeito da espiritualidade. Deusatua através do processo histórico e suaautorrevelação ocorre apenas em estágios e muigradualmente. Ainda estamos a longa distância daverdadeira compreensão sobre Deus, emborasaibamos muitas coisas sobre as suas obras,especialmente o que foi feito por meio de Cristo,que é o Irmão mais velho dos homens e que veioredimir e restaurar à humanidade. (39)

Informações muito interessantes encontramos

aqui: título de “Pai dos deuses”, qualificação “El-

Touro”, que falaremos na sequência, e os nomes de

pessoas terminados em “El”. Inclusive, o próprio

nome Jacó é: “na realidade, o nome abreviado de

Ya’aqob-El, significa provavelmente: ‘Que Deus

proteja’.” (40)

34

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As considerações finais de Champlin e Bentes

são desconcertantes para os fundamentalistas, que

nunca enxergam coisas óbvias nos textos bíblicos,

dado ao literalismo e ao dogmatismo de que são

portadores.

Para o primeiro título, ou seja, “Pai dos

deuses”, temos a correspondente expressão bíblica

“Deus dos deuses” (Deuteronômio 10,17; Josué

22,22; Salmo 50,1; 136,2; Daniel 11,36) com a qual

os israelitas, algumas vezes, designavam a sua

divindade; iremos citá-las mais à frente.

Em relação ao segundo, no caso, “El-Touro”,

percebemos uma estreita relação com os touros e

bezerros oferecidos em sacrifício; na imagem do

bezerro de ouro, que os hebreus fabricaram para

representar sua divindade e nos doze touros de

bronze que sustentavam o Mar (bacia), feitos por

ordem de Salomão como utensílio do Templo, que,

sob suas ordens, foi edificado em Jerusalém. Mais à

frente traremos uma imagem representativa deles.

E, por fim, os nomes de pessoas com

terminação em “El”, cuja origem nós encontramos

35

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esta explicação no Dicionário Bíblico Universal:

[…] Entre os arameus, os nomes compostosde El são muito frequentes: Batuel (Gn 22,22),Tabeel (Is 7,6). Nomes semelhantes encontram-se entre os israelitas, desde os tempos maisremotos: Ismael, Jerael, Elias, Eliseu, Emanuel…(41)

Então, vemos uma grande possibilidade de os

hebreus terem adotado o costume dos arameus,

colocando a terminação El para os nomes de seus

cidadãos; termo, cujo significado é Deus, isto é, El =

Deus, conforme poder-se-á ver, por exemplo, no

sentido dado a cada um destes nomes listados:

Abdeel: servo de Deus.Abiel: Deus é meu pai.Abnel: rebanho de Deus.Babel: porta de Deus.Betel: casa de Deus.Daniel: Deus é meu juiz.Elcana: possessão de

Deus.Eleazar: Deus ajudou.Eli: meu Deus.Elias: Deus é meu pai.Elifaz: Deus é sua força.Eliseu: Deus é salvação.

Israel: que luta com Deus.Jabneel: Deus edifica.Jadiel: Deus alegra.Jediael: conhecido de

Deus.Jeiél: Deus consola.Jesreel: Deus semeia.Lael: consagrado a Deus.Lemuel: dedicado a Deus.Malquiel: Deus é rei.Matusael: homem de

Deus.Micael: quem é como

36

Page 38: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

Emanuel: Deus conosco.Ezequiel: Deus fortalece.Gamaliel: recompensa de

Deus.Haniel: graça de Deus.Isabel: Deus, que faz

pacto.Ismael: Quem Deus ouve.

nosso Deus?Misael: quem é igual a

Deus?Natanael: dom de Deus.Netanel: Deus deu.Samuel: ouvir de Deus ou

nome de Deus.Uriel: Deus é luz.Uziel: Deus é a minha

força.

Vê-se, portanto, quão forte era, entre eles, a

influência do deus dos cananeus denominado El. E

como viveram nas suas terras (ou vieram de lá?) não

é muito difícil fazer uma relação e concluir que essa

divindade cananeia era, de fato, adorada pelos

hebreus, embora isso não signifique que não

adorassem outros deuses; o que nos levaria,

portanto, a um politeísmo.

Além desses, é oportuno ainda acrescentar

aqueles com os quais designavam alguns seres

espirituais, no caso os anjos:

Gabriel: varão ou soldado de Deus.

Miguel: quem como Deus?

Rafael: medicina de Deus.

37

Page 39: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

É até curioso que anjos, sempre considerados

como seres especiais, bem acima da humanidade,

tenham nomes comuns a seres humanos.

E, por fim, encontramos até um nome

terminado em El designando um demônio:

Azazel: a força de Deus (42).

Esse nome aparece em Levítico 16,8s;

entretanto, temos várias traduções para ele, como

“bode emissário”, por exemplo; porém, quase

ninguém dá o seu real significado. Claro! Como

relacionar o nome de um demônio a Deus? Dele,

temos estas explicações:

Azazel, como bem parece ter compreendido aversão siríaca, é o nome de um demônio que osantigos hebreus e cananeus acreditavam quehabitasse o deserto, terra árida onde Deus nãoexercia a sua ação fecundante (cf. Lv 16,22 e ref.17,7+) (43)

[…] O misterioso Azazel, que aparece só nestecapítulo da Bíblia (Lv 16), seria, conforme umaopinião corrente, um chefe de demônios (sátiros)que habita no deserto. Ver Is 13,21; 34,14; Mt12,43; Lc 11,23, e a descrição fantástica de Zc 5,5-11. Parece tratar-se de crença antiga, tomada de

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outra cultura e não bem integrada na fé javista.Precisamente por sua estranheza, a cerimôniapodia ser mais impressionante. (Bíblia doPeregrino, p. 205, grifo nosso)

Oriundas desse fundo comummesopotâmico são as lendas do demônio dodeserto – Azazel (aziz = “força” e El = “Deus”,ao qual se ofereciam sacrifícios ao mesmo tempoque a Deus (Levítico 16,8-10) – e as de Lilith – aprimeira e insubmissa mulher de Adão e,posteriormente, demônio da luxúria –, bem comoas lendas que povoam de espíritos os espaços emtorno do rei Salomão, […]. (44)

A esse demônio, os hebreus ofereciam um

bode vivo, enviando-o para o deserto, cuja função

era a de expiar os pecados do povo; daí vem a

conhecida expressão “bode expiatório”.

Ao que tudo indica, embora poucos tenham a

coragem de admitir, sua origem é pagã,

provavelmente dos cananeus, povo que os hebreus

lhe tomaram as terras, a fio de espada.

Cabe uma pergunta: demônios ou espírito

maus? Ora, a crença dos hebreus era em espíritos

maus, não em demônios, como querem fazer

entender alguns tradutores e exegetas; tanto é que

39

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essa palavra não aparece no Antigo Testamento,

para designar um ser opositor a Deus, de maneira a

se formar a dualidade: deus do bem, deus do mal.

Em nenhuma passagem do VelhoTestamento, o Diabo é citado. Satanás émostrado no livro de Jó mais como um anjo oficiala serviço de Deus do que como um inimigo. E aspoucas referências a demônios contidas noantigo livro, sempre no plural e genéricas,tratam de divindades pagãs dos povos antigos.(45)

Demônios. Ao lado dos anjos bons, o judaísmoreconhece a existência de espíritos maus, ouanjos-maus, que causavam mal aos homens. […].(46)

Em Deuteronômio 32,17, consta a palavra

“demônios”; vejamos como tradutores bíblicos a

explicam:

“A demônios (ídolos).” Hebr.: lash-she-dhim;gr.; daí-mo-ní-os; lat.: dae-mó-ni-bus. (47) (grifo dooriginal)

Demônios. Heb shēdhim, uma palavraderivada do assírio, que empregavam no sentidode “espírito protetor”, que significa, para os

40

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hebreus, “um demônio dos pagãos”. Tudo aquiloque não é de Deus, mesmo sendo sobrenatural, ouusado como objeto de devoção, pertence aoMaligno; cf. v.21 com 1Co 10.14-22. Confiar num“espírito protetor” dos pagãos e abandonar aadoração a Deus, e cair em idolatria, em umaadoração falsa, inspirada por poderes do inferno.(48)

A prova de que nesse passo o termo não

corresponde ao que hoje entendemos por demônio

está em que os tradutores da Bíblia Sagrada Vozes

usaram o termo “gênios”. Citam, no Índice Temático,

as seguintes ocorrências para a palavra demônio:

“existe: Is 14,12-15; tentador: Gn 3,1-15; Sb 2,24.”

(49)

Porém, citar Isaías é pura apelação, pois nesse

livro, no capítulo 14, fala-se do rei da Babilônia e não

de demônio; em Gênesis cita-se uma serpente e no

de Sabedoria encontramos a palavra diabo, cujo

“texto grego usa a palavra diabo (diábolos), que

significa caluniador, acusador e que corresponde

exatamente à palavra hebraica satã” (50), portanto,

em nenhuma delas o termo usado corresponde a um

ser do mal em oposição a Deus.

41

Page 43: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

O significado da palavra demônio como espírito

mau (impuro), pode ser corroborado no Novo

Testamento, quando as passagens, que narram o

caso do possesso de Gerasa (Mateus 8,28-34; Marcos

5,1-13; Lucas 8,26-39), o do possesso de Cafarnaum

(Marcos 1,2128; Lucas 4,31-37), o da filha da mulher

cananeia (Mateus 15,21-28; Marcos 7,24-30) e o do

menino mudo e epilético (Marcos 9,14;29; Mateus

17,14-21; Lucas 9,37-43), os autores bíblicos usam

indistintamente os dois termos para designar a

mesma ocorrência, tornando-os, portanto, sinônimos.

Interessante informação nós encontramos em

Champlin e Bentes:

Era ponto teológico comum, entre os judeus(sendo ensinado nas escolas teológicas judaicasdos fariseus e de outros), que os demônios,capazes de possuir e de controlar um corpovivo, são espíritos de mortos partidos destemundo, especialmente, aqueles de caráter vil e denatureza perversa. (ver Josefo, de Bello Jud. VII.6:3). Os gregos, os romanos e outros povosantigos compartilhavam dessa crença. Algunsdos pais da Igreja também aceitavam essa ideia,tais como Justino Mártir (150 D.C.) e Atenágoras.(51)

42

Page 44: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

Assim, fica claro que foi somente com o tempo

que o vocábulo “demônio” tomou o significado de

uma potência do mal, cuja existência consiste em

rivalizar-se com Deus.

Há outra designação utilizada para o Deus dos

hebreus, tomemos este passo:

Gênesis 17,1: “Quando Abraão completounoventa e nove anos, Iahweh lhe apareceu elhe disse: ‘Eu sou El Shaddai, anda na minhapresença e sê perfeito.’”

A designação de “El Shaddai”, é utilizada em

outras sete passagens (52), porém, a sua tradução foi

usada a expressão “Deus Todo-poderoso”, fato que

levou os tradutores da Bíblia de Jerusalém a colocar

uma nota de rodapé, esclarecendo:

Antigo nome divino da época patriarcal (28,3;35,11; 43,14; 48,3; 49,25), mantido especialmentepela tradição sacerdotal (cf. Ex 6,3), raro fora doPentateuco, salvo em Jó. (53) A tradução comum“Deus Todo-poderoso” é inexata. O sentido éincerto; propôs-se “Deus da montanha”, segundo oacádico shadû; seria preferível entender “Deus daEstepe”, segundo o hebraico sadeh é outro sentidodo termo acádio. É uma apelação divina quecorresponde ao modo de vida. (54)

43

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Se é “Deus Todo-poderoso” ou “Deus da

montanha”, isso pouco nos importa, uma que, no

momento, o que mais nos interessa é o uso do termo

“El”, para designar Deus.

Em Tradução do Novo Mundo das Escrituras

Sagradas, temos um Apêndice, do qual destacamos

o tópico 1 G - “O [verdadeiro] Deus”, Hebr.

ha.’Él, onde lemos:

O título ‘El, quando precedido pelo artigodefinido ha, forma a expressão ha.’Él. Estaexpressão ocorre 32 vezes no M, no singular, esempre se refere ao verdadeiro Deus, Jeová.Gesenius’ Hebrew Grammar (GK), sec. 125 e,verte ha.’Elo-hím e ha.”Él por “o único verdadeiroDeus”.

A Tradução do Novo Mundo verte ha.’Él por “o[verdadeiro] Deus” no texto principal ou nas notasem todos os 32 lugares onde ocorre no M, nosingular, a saber, em Gên 31:13; 35:1, 3; 46,3; De7:9; 10:17; 33,26: 2Sa 22:31; 33, 48; Ne 1:5; 9:32;Jó 13,8; 21:14; 22:17; 31:28; 33:6; 34:10; 37; 40:9;Sal 18:30, 32, 47: 57:2; 68:19, 20; 77:14; 85:8; Is5:16; 42:5; Je 32:18; Da 9:4.

O plural de ‘el é ‘e-lím. No M, ‘e-lím ocorre umavez precedido pelo artigo definido, a saber, em Êx15:11, onde se refere a outros deuses. (55) (grifo dooriginal)

44

Page 46: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

A grande maioria dos tradutores fazem de tudo

para esconder ao leitor que El é, na verdade, o nome

do deus cananeu, porém, tratam-no como um título

ao traduzi-lo como Deus, portanto, passam longe ao

significado original do termo.

3ª) O bezerro de ouro é identificado como o

Deus de Israel

Com a demora de seu líder Moisés no topo do

Sinai, o povo fabrica uma estátua de um bezerro de

ouro tomando-o como sendo o seu deus.

Êxodo 32,1-6: “Quando o povo viu que Moiséstardava em descer da montanha, congregou-se em torno de Aarão e lhe disse: ‘Vamos,faze-nos um deus que vá à nossa frente,porque a esse Moisés, a esse homem que nosfez subir da terra do Egito, não sabemos o quelhe aconteceu’. Aarão respondeu-lhes: ‘Tirai osbrincos de ouro das orelhas de vossasmulheres, de vossos filhos e filhas, e trazei-mos’. Então todo o povo tirou das orelhas osbrincos e os trouxeram a Arão. Este recebeu oouro das suas mãos, o fez fundir em ummolde e fabricou com ele uma estátua debezerro. Então exclamaram: ‘Este é teu Deus,ó Israel, o que te fez subir da terra do Egito’.

45

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Quando Aarão viu isso, edificou um altar dianteda estátua e fez esta proclamação: ’Amanhãserá festa para Iahweh’. No dia seguinte,levantaram-se cedo, ofereceramholocaustos e trouxeram sacrifícios decomunhão. O povo assentou-se para comer epara beber, depois se levantou para sedivertir”.

Moisés permaneceu, no alto do Sinai, por um

período de “quarenta dias e quarenta noites” (Êxodo

24,18), entende-se “muitos dias” (56); nesse texto

bíblico, isso nos chamou a atenção, pois julgamos

muito pouco tempo para que os hebreus fossem logo

fabricando a imagem do bezerro de ouro como uma

representação de seu deus, para adorá-la.

Isso nos parece muito estranho para um povo

que dizem ter sido monoteísta desde um tempo mais

remoto; julgamos que num período de tempo

significativamente maior de vários anos, até que

poderia ser mais razoável. Vejamos a explicação:

O “bezerro” de ouro, assim chamado porironia, é de fato imagem de novilho, um dossímbolos divinos do antigo Oriente. Um grupoconcorrente com o grupo de Moisés, ou fracçãodissidente desse grupo, quis ou pretendeu ter

46

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como símbolo da presença do seu Deus umafigura de touro em vez da arca da Aliança. […].(57)

Juntamos a ela essa informação:

[…] O deus El, que ocupava um lugarproeminente no panteão paleofenício, é designadopor “touro” (shor) e também por El “touropoderoso”. (58)

Assim, a relação do bezerro de ouro com o

deus cananeu “El” fica, por demais, evidente, sem

campo para alguma contestação.

Também não nos passou despercebido que, na

festa de Iahweh, representado pelo bezerro de ouro,

ocorreram as oferendas de holocaustos e sacrifícios

de comunhão, rituais comuns aos povos pagãos,

assunto que mais à frente retornaremos.

Uma última curiosidade foi o que vimos na

atitude de Moisés que está narrada na seguinte

passagem:

Êxodo 32,19-20: “Quando se aproximou doacampamento e viu o bezerro e as danças,

47

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Moisés acendeu-se em ira; lançou das mãos astábuas e quebrou-as no sopé da montanha.Pegou o bezerro que haviam feito,queimou-o e o triturou-o até reduzi-lo apó miúdo, que espalhou na água e fez osisraelitas beberem”.

Tal expediente utilizado por Moisés já deixa

bem claro, pelo menos para nós, que sua intenção

era, sem a menor dúvida, impor sua crença aos

hebreus.

Tempos depois Jeroboão, primeiro rei de Israel

(931-910 a.C.), após a divisão em dois reinos – Israel

e Judá – também teve a brilhante ideia de fazer dois

bezerros de ouro, colocando um em Betel e o outro

em Dã59, dizendo ao povo: 1 Reis 12,28: “Deixai de

subir a Jerusalém! Israel, eis teus deuses que te

fizeram sair da terra do Egito”, isso significa que

é retomada a crença de origem.

48

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As pistas encontradas ao longo dos textos

bíblicos

A crença em outros deuses sobressai do teor

de inúmeras passagens bíblicas, como, por exemplo,

estas a seguir, que só fazem sentido diante de quem

tinha crença em vários deuses. Aliás, é bom informar

que:

[…] Os gregos, os romanos e os judeus daAntiguidade acreditaram sempre que seusdeuses apenas protegiam sua nação, e que opoder de cada um deles não se estendia para alémdo seu território. […]. (60)

Se Iakov Abramovitch Lentsman (1908-1967)

estiver correto, então arriscaremos dizer que os

hebreus possivelmente passaram do politeísmo para

o henoteísmo. Com isso em mente, vejamos agora

algumas passagens bíblicas.

Êxodo 12,12: “E naquela noite eu passarei pelaterra do Egito e ferirei na terra do Egito todosos primogênitos, desde os homens até os

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animais; e eu, Iahweh, farei justiça sobretodos os deuses do Egito”.

Êxodo 18,11: “Agora sei que Iahweh é o maiorde todos os deuses…”

Êxodo 20,3: “Não terás outros deusesdiante de mim”.

Êxodo 22,19: “Quem sacrificar a outrosdeuses, fora Iahweh, será entregue aoanátema”.

Êxodo 23,13: “Prestai atenção a tudo o que vostenho dito, e não fareis menção do nomede outros deuses: nem se ouça da vossaboca”.

Êxodo 23,23-24.32: “O meu anjo irá adiante deti, e te levará aos amorreus, aos heteus, aosferezeus, aos cananeus, aos heveus e aosjebuseus, e eu os exterminarei. Não adorarásos seus deuses, nem os servirás; não faráso que eles fazem, mas destruirás os seusdeuses e quebrarás a suas colunas. Não façaaliança nenhuma com eles, nem com osseus deuses”.

Êxodo 34,14-16: “Não adorarás outro deus.Pois Iahweh, tem por nome Zeloso: é um DeusZeloso (61). Não faça aliança com os moradoresda terra. Não suceda que, em se prostituindocom os deuses deles e lhes sacrificando,

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alguém te convide e comas dos seus sacrifíciose tomes mulheres das suas filhas para os teusfilhos, e suas filhas, prostituindo-se comseus deuses, façam com que também os teusfilhos se prostituam com os seus deuses”.

Deuteronômio 3,24: “Iahweh, meu Senhor!Começastes a mostrar ao teu servo tuagrandeza e a força da tua mão. Qual é o deusno céu e na terra que pode realizar obrase feitos poderosos como os teus?”

Deuteronômio 6,13-14: “É a Iahweh teu Deusque temerás. A ele servirás e pelo seu nomejurarás. Não seguireis outros deuses,qualquer um dos deuses dos povos queestão ao vosso redor, pois Iahweh é umDeus ciumento, que habita em teu meio […].”

Deuteronômio 8,19: “Contudo, se teesqueceres completamente de Iahweh teuDeus, seguindo outros deuses, servindo-os e adorando-os, eu hoje testemunhocontra vós: é certo que perecereis”.

Deuteronômio 10,16-17: “Circuncidai, pois, ovosso coração e nunca mais reteseis a vossanuca! Pois Iahweh vosso Deus é o Deus dosdeuses e o Senhor dos Senhores, o Deusgrande, o valente, o terrível, que não fazacepção de pessoas e não aceita suborno”.

Deuteronômio 18,20: “Todavia, se o profeta

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tiver a ousadia de falar em meu nome umapalavra que eu não lhe tiver ordenado, ou sefalar em nome de outros deuses, talprofeta deverá ser morto.”

Josué 22,22: “O Deus dos deuses, Iahweh,o Deus dos deuses, Iahweh, bem o sabe, eIsrael deve sabê-lo: se houve de nossa parterebelião ou infidelidade para com Iahweh, queele deixe de nos salvar neste dia.”

2 Crônicas 2,4: “A Casa que vou construir serágrande, porque nosso Deus é maior quetodos os deuses”. (fala de Salomão)

Salmo 82,1: “Deus preside, na assembleiadivina, em meio aos deuses ele julga:”

Salmo 86,8: “Entre os deuses não há outrocomo tu, nada que se iguale às tuas obras!”

Salmo 95,3: “Porque Iahweh é Deus grande, ogrande rei sobre todos os deuses.”

Salmo 135,5: “Sim, eu sei que Iahweh égrande, que nosso Deus excede os deusestodos”.

Salmo 136,2: “Celebrai o Deus dos deuses,porque o seu amor é para sempre!”

Isaías 19,1: “Oráculo a respeito do Egito.Iahweh, montado em nuvem veloz, vai aoEgito. Os deuses do Egito tremem diante

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dele e o coração dos egípcios se derrete nopeito”.

Daniel 11,36: “O rei agirá a seu bel-prazer,exaltando-se e engrandecendo-se acima detodos os deuses. Proferirá coisas inauditascontra o Deus dos Deuses e, no entanto,prosperará, até que a cólera chegue a seucúmulo – porque o que está decretado secumprirá”.

Oséias 13,4: “Mas eu sou Iahweh teu Deus,desde a terra do Egito. Não devesreconhecer outro Deus além de mim, nãohá salvador que não seja eu”.

Jeoel 2,27: “E sabereis que eu estou no meiode Israel, eu, Iahweh, vosso Deus, e nãooutro! Meu povo não se envergonhará nuncamais!”

Apesar do que Isaías disse (Is 19,1), muito

estranhamente, em algumas passagens mais à

frente, ele aqui aparece advogando uma divindade

única. Entre elas podemos citar estas três, para

exemplo:

Isaías 44,8: “Não vos apavoreis, não temais;não vo-lo dei a conhecer há muito tempo e nãoo anunciei? Vós sois minhas testemunhas.Porventura existe um Deus fora de mim?

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Não existe outra Rocha; eu não conheçonenhuma!”

Isaías 45,14: “Assim diz Iahweh: Os produtosdo Egito e a riqueza de Cuch, bem como ossabeus, homens de grande estatura, passarãopara o teu domínio e te pertencerão.Caminharão atrás de ti, seguindo-te emcadeias, prostrar-se-ão diante de ti e com vozsúplice dirão: ‘Só contigo Deus está! Foradele não há nenhum Deus’”.

Isaías 46,9: “Lembrai-vos das coisas passadashá muito tempo, porque eu sou Deus e nãohá outro!”

Essas duas afirmativas de que “Fora dele não

há nenhum Deus” e “eu sou Deus e não há outro”,

embora com características do monoteísmo, só

cabem em meio à crença da existência de vários

deuses. Pareceu-nos que houve uma mudança na

maneira de Isaías pensar, fato esse que merece ser

explicado: Isaías nascido por volta de 765 a.C.,

exerceu suas atividades proféticas de 740 a 700.

O livro que tem o seu nome é dividido, pelos

estudiosos e exegetas, em três partes:

1ª) Proto-Isaías – cap. 1 a 39;

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2ª) Dêutero-Isaías, cap. 40-55; e,

3ª) Trito-Isaías, cap. 56-66.

Vejamos as seguintes informações dos

tradutores da Bíblia de Jerusalém:

[…] Suas palavras sofreram acréscimos. Olivro que traz seu nome é o resultado de um longoprocesso de composição, impossível de reconstituirem todas as etapas. […].

O livro recebeu acréscimos mais consideráveisainda. Os caps. 40-55 não podem ser obra doprofeta do século VII. Não só nunca émencionado aí o seu nome, mas também ocontexto histórico é posterior cerca de doisséculos: Jerusalém foi tomada, o povo se achavacativo em Babilônia, Ciro já está em cena e será oinstrumento da libertação. […] Esses capítuloscontêm a pregação dum anônimo, continuadorde Isaías e grande profeta, como ele, o qual, nafalta de um nome melhor, chamamos de Dêutero-Isaías ou de Segundo Isaías. Pregou emBabilônia entre as primeiras vitórias de Ciro,em 550 a.C. – que levam a adivinhar a ruína doimpério babilônico – e o edito libertador de 538,que permitiu os primeiros retornos. […]. (62)

Corroborando com Champlin e Bentes, que, em

outro volume, falando sobre o henoteísmo, dizem:

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Enoteísmo. Essa palavra se deriva de umapalavra grega, hen, que é um adjetivo numeral,“um”. Trata-se da crença em um deus que age emnosso favor, mas que não nega que talvez existamoutros deuses, cuja ação e autoridade sãoexercidas em outras esferas. Assim sendo, haviaum deus que exerce controle sobre os homens,interessando-se por alguma pessoa, algumacultura ou alguma nação. Por essa razão algunsinterpretes acreditam que esse conceito dedivindade, na cultura dos hebreus, precedeu aopuro monoteísmo. Em outras palavras, supõemque os israelitas originalmente criam queYahweh era deus deles, – e não Deus criador detodos. Os israelitas também pensariam que nãoeliminava a possibilidade da existência deoutros deuses, que de Yahweh receberiam asua autoridade. Isso seria apenas a combinaçãode ideias monoteístas e politeístas. Praticamenteseria monoteísmo, mas teoricamente seriapoliteísmo. Também seria uma forma de teísmo,porquanto ensina que o deus supremo ou mesmovários deuses mantêm contato com os homens,estando interessados por eles, guiando-os,punindo-os por suas más ações e galardoando-ospor suas boas ações. (63)

Diante disso a suspeita que levantamos sobre

as características de monoteísmo, torna-se

convicção de que os hebreus, na realidade,

praticavam o henoteísmo, pelo menos até um certo

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momento histórico.

Assim, diante dessas passagens, somente por

fanatismo não se enxerga que, na verdade,

acreditavam em vários deuses e até, pelo menos,

nesse momento histórico ainda não se vê que

alimentassem a crença num Deus único.

Aliás, são poucos os versículos bíblicos nos

quais poder-se-á ter, de fato, a ideia de um Deus

único; porém, o seu número é extremamente

insignificante diante dos quase 23.000 (64) versículos

que compõem o Antigo Testamento:

Deuteronômio 4,35: “Foi a ti que ele mostroutudo isso, para que soubesse que Iahweh é oúnico Deus. Além dele não existe outro.”

Deuteronômio 4,39: “Portanto, reconhece hojee medita em teu coração: Iahweh é o únicoDeus, tanto no alto do céu, como cá embaixo,na terra. Não existe outro!”

1 Reis 8,60: “Assim, todos os povos da terrasaberão que somente Iahweh é Deus e quenão há outro além dele.” (prece deSalomão)

Em quantidade um pouco maior que essa,

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ainda temos outras passagens bem interessantes,

que nos permitem suspeitar da crença em vários

deuses:

Levítico 11,45: “Sou eu, Iahweh, que vos fizsubir da terra do Egito para ser o vossoDeus: sereis santos, porque eu sou santo”.

Levítico 22,33: “Eu vos fiz sair da terra doEgito, a fim de ser o vosso Deus, eu souIahweh”.

Levítico 25,38: “Eu sou Iahweh vosso Deus,que vos tirei da terra do Egito para vos dar aterra de Canaã e para ser o vosso Deus”.

Levítico 26,45: “Lembrar-me-ei, em favordeles, da aliança feita com os seusantepassados, que fiz sair da terra do Egito, àvisita das nações, a fim de ser o seu Deus,eu mesmo Iahweh”.

Números 15,41: “Eu sou Iahweh vosso Deus,que vos tirei da terra do Egito, a fim de servosso Deus, eu, Iahweh vosso Deus”.

A expressão “para/a fim de ser o vosso Deus”

nos remete à conclusão de que Deus Se sentindo

isolado, resolveu escolher o povo judeu para adorá-

Lo e que, também, de fato, havia outros deuses.

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E se foi neste momento que Deus o escolheu,

então, não há que se falar que, antes disso, ele era o

Deus de Israel ou de algum seu antepassado.

Provavelmente, podemos até aceitar que é aqui,

nesse momento histórico, que do politeísmo passam

para henoteísmo.

E não podemos deixar de citar aqui a

conclusão de Sigmund Freud (1856-1939), médico

neurologista judeu-austríaco, fundador da

psicanálise:

[…] Ainda mais enigmática é a noção de umdeus que repentinamente “escolhe” um povo,que o declara como seu e a ele próprio comoseu deus. Acredito que este é o único exemplodesse tipo na história das religiões humanas.Comumente, deus e povo estão indissoluvelmentevinculados, são um só desde o próprio início dascoisas. Sem dúvida, às vezes ouvimos falar de umpovo que adquire um deus diferente, mas nunca deum deus que busca um povo diferente. Poderemostalvez entender esse acontecimento único serelembrarmos as relações existentes entre Moisése o povo judeu. Moisés abaixara-se até os judeus,fizera-os o seu povo: eles eram o seu “povoescolhido”. (65)

Vejamos a nota de rodapé do autor relativa a

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essa transcrição:

Javé era indubitavelmente um deusvulcânico. Não havia motivo para que oshabitantes do Egito o adorassem. De certo não soua primeira pessoa a se impressionar com asemelhança do som no nome “Javé” com a raizde outro nome divino “Júpiter (Jove)”. O nome“Jochanan” é composto por uma abreviação dohebraico Javé, da mesma maneira que [o alemão]“Gotthold” [“Deus é gracioso”] é o equivalentecartaginês “Aníbal”. Esse nome (Jochanan), sob asformas “Johann”, “John”, “Jean”, “Juan”, tornou-seo nome de batismo favorito da cristandadeeuropeia. Os italianos, traduzindo-o por “Giovanni”e, além disso, chamando a um dia da semana“Giovedí [quinta-feira]”, trazem à luz umasemelhança que talvez não signifique nada ou,talvez, muito. Nesse ponto, perspectivas amplas,mas muito incertas, se nos abrem. Parece que,naqueles séculos obscuros, que mal sãoacessíveis à pesquisa histórica, os paísessituados em torno da bacia oriental doMediterrâneo eram cena de frequentes eviolentas erupções vulcânicas, que devem tercausado a intensa impressão em seushabitantes. Evans presume que também adestruição final do palácio de Minos, em Cnossos,foi consequência de um terremoto. Em Creta,nesse período (como, provavelmente, no mundoegeu em geral), adorava-se a grande deusa-mãe. Acompreensão de que ela não fora capaz deproteger sua casa contra os ataques de um poder

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mais forte pode ter contribuído para que ela tenhacedido o lugar a uma divindade masculina, e, seassim foi, o deus vulcânico tinha o primeiro direitoa ocupar seu lugar. Afinal de contas, Zeus nuncadeixou de ser o “abalador da terra”. Há poucadúvida de que foi durante essas épocas obscurasque as deusas-mães foram substituídas pordeuses masculinos (que, originalmente, talveztenham sido filhos delas). O destino de PalasAtena, que, sem dúvida, constituía a forma local dadeusa-mãe, é particularmente impressionante. Elafoi conduzida à condição de filha pela revoluçãoreligiosa, despojada de sua própria mãe e, por ter avirgindade imposta a si, permanentemente excluídada maternidade. (66)

Vimos também, nos textos bíblicos, várias

referências a “chifres” e “boi selvagem”, como as

seguintes, em que algumas delas faremos

acompanhar das notas dos tradutores:

Êxodo 27,1-2: “Farás o altar de madeira deacácia; com cinco côvados de comprimento ecinco côvados de largura, o altar seráquadrado; a sua altura será de três côvados.Dos quatro lados farás levantar chifres, queformarão uma só peça com o altar; e o cobrirásde bronze”.

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Nota: Os “chifres” são protuberâncias nos quatrocantos do altar. Esses chifres possuíam santidadeparticular. O sangue do sacrifício era aí aplicado(29,12), assim como sobre os chifres do altar dosperfumes (30,10). O criminoso podia agarrar-se aeles para se proteger do castigo (1Rs 1,50; 2,28).(67)

Números 23,22: “Deus o fez sair do Egito, e épara ele como os chifres do búfalo”.

Nota: 1) Deus: Em lugar de Elohim, o heb. Tem“El”, que significa “Deus”, mas que é também onome próprio do grande deus cananeu El. Este jáfora identificado como o deus dos pais, e o foi comIahweh. Dá-se o mesmo em 24,4.8.16. (68)

2) chifres de búfalo: Texto difícil. Outras traduções:“Ele (Jacó) tem como que o vigor do búfalo”, ou:“Ele (El) tem como chifres de búfalo”. (69)

Números 24,8: “Deus o tirou do Egito, e é paraele como os chifres do búfalo”.

Deuteronômio 33,17: “Ele [José] é seu touroprimogênito, a glória lhe pertence. Seuschifres são chifres de búfalo: com eles investecontra os povos até as extremidades de terra”.

1 Reis 1,50: “Adonias, temendo Salomão,levantou-se e foi se agarrar aos chifres doaltar”.

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1 Reis 22,11: “Sedecias, filho de Canaana, fezpara si chifres de ferro e disse: 'Assim falaIahweh: com isto ferirás os arameus atéexterminá-los'”

Salmo, 18,3: “Iahweh é minha rocha e minhafortaleza, meu libertador, é meu Deus. Nele meabrigo, meu rochedo, meu escudo e minhaforça (h) salvadora, minha cidade forte”.

(h) Lit.: “meu chifre”, símbolo de poder e vigor (Sl75,5; 89,18, 92,11 etc., Dt 33,17; 1Rs 22,11; Zc2,4), às vezes com tom messiânico (Sl 132,17; Ez29,11) (70)

Salmo 29,5-6: “A voz de Iahweh despedaça oscedros, Iahweh despedaça os cedros doLíbano, faz o Líbano pular qual bezerro e oSarion (71) como cria de búfalo”.

Salmo 92,10-11: “Eis que teus inimigosperecem, e os malfeitores todos se dispersam;tu me dás o vigor de um touro e espalhas óleonovo sobre mim”.

Salmo 132,17: “Ali farei brotar umalinhagem (a) a Davi, e prepararei umalâmpada (b) ao meu Messias:”

(a) Lit. “farei brotar um chifre” (cf. Sl 18,3+) (72)

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Ezequiel 29,21: “Naquele dia suscitarei umnovo rebento (b) para a casa de Israel epermitirei que se abra a boca no meio dela (e)e saberão que eu sou Iahweh”.

(d) Lit.: “farei germinar um chifre”; este símbolo daforça tem, às vezes, alcance messiânico (cf. Sl132,17). (73)

Ezequiel 43,15: “A lareira tinha quatro côvadose acima da lareira havia quatro chifres”.(Templo erguido por Salomão)

Oseias 10,11: “Efraim é novilha adestrada,que gosta de pisar a eira, mas eu passei o jugoem seu pescoço soberbo! Eu atrelarei Efraim,Judá lavrará e Jacó gradeará”.

Miqueias 4,13: “Levanta-te e pisa o chão, filhade Sião, porque farei de ferro os teus chifres eteus cascos de bronze, para que esmaguesnumerosos povos.”

Em diversas traduções em lugar de chifres de

búfalo, a comparação é com “boi selvagem”. Todas

as comparações acima só nos remetem a ideia de

que davam valor ao touro, às vezes visto com búfalo

ou boi selvagem, que era, como vimos, a imagem

representativa do deus cananeu El.

64

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Várias outras situações nos remetem a concluir

sobre a forte influência cultural de outros povos;

vejamos, por exemplo:

Êxodo 28,31-33: “Farás o manto do efod todode púrpura violeta. No meio dele haverá umaabertura para a cabeça; essa abertura serádebruada como a abertura de um colete, paraque não se rompa. Ao redor de sua orla inferiorporás romãs de púrpura violeta, púrpuraescarlate e carmesim, e entre elas, em todo oredor, campainhas de ouro”.

Explicam-nos os tradutores da Bíblia de

Jerusalém que o uso das campainhas de ouro é um

“Vestígio de concepção primitiva amplamente

espalhada, segundo a qual o tilintar das campainhas

afastava os demônios”. (74); portanto, mais uma

crença pagã que os hebreus adotaram.

Levítico 23,23-25: “Iahweh falou a Moisés edisse: ‘Fala aos israelitas e dize-lhes: Nosétimo mês, o primeiro dia do mês será paravós o dia de repouso, comemoração com somde trombeta, santa assembleia. Não fareisnenhuma obra servil e apresentareis oferendaqueimada a Iahweh’.”

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Os tradutores da Bíblia de Jerusalém dão-nos a

seguinte explicação para esse passo:

O primeiro dia do mês (lunar), a “lua nova”ou “neomênia”, era uma festa celebrada tantoentre os israelitas como entre os cananeus.(1Sm 20,5.24; Is 1,13; Am 8,5), e o foi até a épocado NT (cf. Nm 28,11-15; Ez 46,6-7; Ne 10,34; Cl2,16). Os rituais de Lv 23 e Nm 29,1-6 contêm só aneomênia do sétimo mês (do ano que começa naprimavera), que foi durante muito tempo o primeiromês (do ano que começa no outono). (75)

Era a festa da lua nova, que, conforme

afirmado, os cananeus também a praticavam.

Embora os antepassados dos hebreus tenham

origem neles, o que se confirma em Ezequiel 16,3:

“Por tua origem e por teu nascimento, tu procedeste

da terra de Canaã”, nessa época, os consideravam

como um povo pagão; portanto, esse ritual, dentro

dessa perspectiva, é um ritual pagão.

1 Samuel 16,14-16: “O espírito de Iahwehtinha se retirado de Saul, e um mau espírito,procedente de Iahweh, o atormentava. Entãoos servos de Saul lhe disseram: ‘Eis que ummau espírito vindo de Deus te atormenta.

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Mande nosso senhor, e os servos que teassistem irem buscar um homem que saibadedilhar a lira e, quando o mau espíritoda parte de Deus te atormentar, eletocará e tu te sentirás melhor.”

Confirma-se, novamente, tratar-se de um ritual

pagão: “A música foi empregada em toda a

antiguidade quer para estimular o bom espírito (cf.

10,5), quer para expulsar o mau espírito”. (76)

Para dar a você, caro leitor, um melhor

esclarecimento, voltamos a algo que já falamos,

porém, rapidamente:

1 Reis 7,13-14.23-29: “Salomão mandouchamar Hiram de Tiro, filho de uma viúva datribo de Neftali e cujo pai era natural de Tiro etrabalhava em bronze. Era dotado de grandehabilidade, talento e inteligência para executarqualquer trabalho em bronze. Apresentou-seao rei Salomão e executou todos os seustrabalhos. Fez o Mar de metal fundido, comdez côvados de diâmetro. Era redondo, tinhacinco côvados de altura; sua circunferênciamedia-se com um fio de trinta côvados. Haviapor baixo da borda coloquíntidas em todo oredor: rodeavam o Mar pelo espaço de dez porcôvado, dispostas em duas fileiras e fundidas

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numa só peça com o Mar. Este repousavasobre doze touros, dos quais trêsolhavam para o norte, três para o oeste,três para o sul e três para o leste; o Mar seelevada sobre eles e a parte posterior de seuscorpos estava voltada para o interior. Suaespessura era de um palmo e sua borda tinhaa mesma forma que a borda de uma taça,como uma flor de lótus. Sua capacidade era dedois mil batos. Fez as dez bases de bronze,tendo cada uma quatro côvados decomprimento, quatro côvados de largura e trêscôvados de altura. Eis como foram feitas:tinham molduras que estavam entre astravessas. Sobre as molduras que estavamentre as travessas havia leões, touros equerubins, e sobre as travessas havia umsuporte; abaixo dos leões e dos touros haviavolutas em pingentes.”

Esse Mar de bronze ou mar de fundição é

assim explicado:

O Mar de Fundição

Esse pesado item do templo de Salomãosubstituiu a bacia de bronze do tabernáculo. Masoutros lavatórios foram adicionados, em face doaumento do número de sacerdotes que serviam notemplo. A palavra hebraica correspondente ao marde fundição é yam, “mar”. Era uma gigantesca

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bacia redonda, com cerca de 2,22 m de altura eo dobro disso em diâmetro, e que ficava cheiade água até a borda. Era feita de bronze fundido ebatido, com a espessura de uma mão (cerca de 7,5cm). Ficava apoiada sobre doze bois de bronze,divididos em quatro grupos de três bois, cadagrupo voltado na direção de algum pontocardeal. Esses doze bois ficavam todos sobre umamesma plataforma. O original mar de fundição foifeito com metal que Davi havia tomado de Zobá(ver I Crô. 18:8). Finalmente, porém, foidespedaçado e levado aos pedaços para aBabilônia, quando do exílio babilônico (ver II Reis25:13). Esse item do templo era altamentedecorativo, e não somente útil. Para exemplificar, abeirada da bacia era recurvada, a fim de dar aaparência de uma folha de lírio. Algunsestudiosos têm opinado que os doze boisrepresentavam os doze sinais do zodíaco, ouque eram símbolos da fertilidade, ouremanescentes da adoração egípcia ao boi. Defato, havia o boi Apsu, cujo templo na Babilôniadispunha de uma bacia de bronze similar. Porém, éimpossível dizermos se havia qualquer conexãoentre essa bacia e o mar de fundição dos hebreus.Sabe-se, todavia, que Apsu estava vinculado àsideias de vida e fertilidade. O mar de fundição doshebreus simbolizava a purificação que énecessária para a participação no culto a Deus. (77)

Muito provavelmente ela seria algo como o que

se vê nesta imagem (78):

69

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Observe os bois, menciona-se doze,

sustentando a bacia de bronze.

Muitas vezes, nas suas explicações, os

teólogos fogem da realidade, pretendendo justificar

dogmas ou interpretações do passado; porém, não

há como esconder a verdade, pois, mais dia menos

dia, ela aparecerá triunfante.

Assim, podemos concluir que os doze bois que

sustentavam o Mar de bronze correspondiam a algo

aprendido na Babilônia, ou talvez no Egito, por serem

povos de culturas anteriores à dos hebreus.

Por outro lado, é bem interessante a

determinação de “não vos pervertais, fazendo

para vós uma imagem esculpida em forma de

ídolo: uma figura de homem ou de mulher, figura de

algum animal terrestre, de algum pássaro que voa

70

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no céu, de algum réptil que rasteja sobre o solo, ou

figura de algum peixe que há nas águas que estão

sob a terra” (Deuteronômio 4,16-17; ver tb

Deuteronômio 6,4), que parece não terem seguido.

Outro ponto, que podemos listar em reforço ao

fato de que os hebreus, por muito tempo, não

adoravam um Deus único, é o que se relaciona às

suas práticas ritualísticas. Pelo menos, três delas

merecem ser destacadas: 1ª) as que dizem respeito

aos rituais de sacrifícios; 2ª) quanto aos locais de

adoração; e, 3ª) relacionadas aos rituais de

purificação.

1ª) rituais de sacrifícios

Os hebreus tinham suas práticas ritualísticas

descritas e regulamentadas no livro Levítico, do qual

extraímos as seguintes:

a) os holocaustos

Sobre eles, explicam-nos os tradutores da

Bíblia de Jerusalém:

Sacrifícios nos quais a vítima é inteiramenteconsumida. A imposição das mãos pelo ofertante(v. 4) é testemunho solene de que esta vítima,

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apresentada em seguida pelo sacerdote, érealmente seu próprio sacrifício. As narrativas,como os textos rituais do Pentateuco, fazem estetipo de sacrifício remontar à época do deserto (Ex18,12; Nm 7,12) e até mesmo aos Patriarcas (Gn8,20; 22,9-10). Na realidade, os testemunhoshistóricos mais antigos datam da época dos Juízes(cf. Jz 6,26; 11,31; 13,15-20). Parece que estaforma de sacrifício foi influenciada pelo ritualcananeu (cf. 1Rs 18: o holocausto dos profetasde Baal é semelhante ao de Elias) e que não éanterior à instalação das tribos. Em Lv 1, dá-sevalor expiatório ao holocausto; na época antiga, émais sacrifício de ação de graças (cf. 1Sm 6,14;10,8; 2Sm 6,17) ou sacrifício para obter um favorde Iahweh (1Sm 7,9; 13,9; 1Rs 3,4). (79)

Tentando amenizar a situação dizem “parece”,

quando, pelas evidências, deveriam, humildemente,

ter assumido que essa forma de sacrifício é, na

verdade, pura influência do ritual cananeu, por mais

que isso lhes doesse.

Por outro lado, temos flagrante contradição

nesses tipos de rituais, porquanto, em outras

passagens, se afirma sobre Iahweh:

Salmo 51, 17-18 “Ó Senhor, abre os meuslábios, e minha língua anunciará o teu louvor.Pois tu não queres sacrifício e um

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holocausto não te agrada”.

Isaías 1,11: “Que me importam os vossosinúmeros sacrifícios?, diz Iahweh. Estou fartode holocaustos de carneiros e da gordurade bezerros cevados; no sangue detouros, de cordeiros e de bodes nãotenho prazer”.

Jeremias 6,20: “Que me importa o incenso quevem de Seba, e a cana aromática de paíseslongínquos? Vossos holocaustos não meagradam e vossos sacrifícios não mecomprazem”.

Oseias 6,6: “Porque é amor que eu quero enão sacrifício, conhecimento de Deusmais do que holocaustos”.

E aqui fica claro que, além de criticar e

condenar os atos praticados pelo povo, com relação

aos holocaustos (Jeremias 7,16-20), Iahweh declara

que não prescreveu qualquer atitude relacionada a

sacrifícios:

Jeremias 7,21-23: “Assim disse Iahweh dosExércitos, Deus de Israel: Acrescentai osvossos holocaustos aos vossos sacrifícios ecomei a carne! Porque eu não disse e nemprescrevi nada a vossos pais, no dia emque vos fiz sair da Terra do Egito, em

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relação ao holocausto e ao sacrifício. Maseu lhes ordenei isto: Escutai a minha voz, e euserei o vosso Deus e vós sereis o meu povo.Andai em todo caminho que eu vos ordenopara que vos suceda o bem”.

Então, por conclusão lógica, cai por terra o livro

Levítico como de origem divina.

E, seguindo as notas, vejamos agora o que

dizem sobre expiação, para esclarecer o “valor

expiatório” do ritual:

A Expiação é o sacrifício pelo qual o homem queofendeu a Deus, transgredindo a aliança, podevoltar à graça. O animal oferecido em sacrifício(kipper) foi interpretado como resgate (koper; cf. Ex30,12). Nos sacrifícios de expiação, os ritos dosangue desempenham papel primordial (17,11; cf.4,1+; 4,12+). Conhecida pelos assírio-babilôniose pelos cananeus, a expiação ligou-se aosfundamentos da Lei israelita. No NT, aparecerá,não como pagamento ou substituição, mas como odom da vida de Deus para vivificar os homens (Rm3,25-26). (80)

Se na explicação anterior poder-se-ia dizer

“parecia”, nessa de agora devemos concluir que tal

prática foi mesmo tomada da cultura de outros

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povos, o que foi assumido quando explicam que a

expiação era conhecida pelos assírio-babilônicos e

pelos cananeus, pois sabe-se que a existência

desses povos é anterior à dos hebreus.

Segundo o estudioso Bart D. Ehrman: “A

religião de Israel, em particular, era uma

religião de sacrifício.” (81)

b) a oblação

Vejamos a explicação:

A oblação, com as primícias, que aqui sãosemelhantes a ela (vv. 14-15), é oferenda deprodutos do solo; é, portanto, desde a origem ritode sedentários, que deve remontar aosprimórdios da instalação em Canaã. A oferendade incenso que acompanha, conhecida entre ospovos vizinhos, especialmente no Egito, podeter origem mais antiga. A oblação assemelha-se aholocausto em que se queima um punhado defarinha umedecida com azeite, como “odoragradável” a Iahweh (cf. Ex 29.18; Lv 1.9+). Estesacrifício é oferecido, em geral, como complementode sacrifício sangrento, e é então acompanhado delibação de vinho (cf. 23.13; Ex 29,40; Nm 15.5.7).(82)

É…, pelo que estamos vendo, os seus rituais

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quase nada possuíam de original, praticamente tudo

quanto faziam tinha origem em outras culturas – nas

pagãs.

c) o sacrifício de comunhão

Leiamos do que se trata:

O sacrifício chamado “de comunhão”, noqual a vítima é repartida entre Deus e oofertante, encontra-se em Canaã, mas osacrifício israelita distingue-se pelo antigo ritual dosangue (cf. 1,5+). É banquete sagrado; as partesmais vitais da vítima são oferecidas a Deus: amelhor parte é atribuída aos sacerdotes (cf. 7,28s)e a parte restante é consumida pelos fiéis. Naépoca antiga, este tipo de sacrifício era o maisfrequente e formava o rito central das festas,exprimindo de modo eminente a comunidade devida e a relação de aliança e de amizade entre ofiel e o seu Deus. (83)

Vê-se, portanto, que esses rituais não

primavam pela originalidade; como já dito, todos

eles foram tomados de outras culturas, as quais

passaram a tratá-las como pagãs. Pura ironia do

destino, pois faziam o mesmo que elas!

Transcrevemos o que Champlin e Bentes, em

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Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, dizem

sobre tais rituais:

Os Sacrifícios. A descrição dos vários tipos deofertas, segundo sua sequência, mostra asignificação dos mesmos.

1. Ofertas expiatórias. Estas dividiam-se em: a.Ofertas pelo pecado; e b. Ofertas pela culpa. Asofertas pelo pecado tinham em vista a vindicaçãoda lei, mediante um sacrifício vicário (ver Lev. 4:1-35; 6:24-30). As ofertas pela culpa eram um tipo deoferta pelo pecado, tendo em vista a reparação dealguma injustiça (ver especialmente Lev. 7:1-10).[…].

2. Ofertas consagratórias. Essas subdividem-seem: a. Ofertas queimadas; b. Ofertas de cereais; ec. Libações. As ofertas queimadas ou “holocaustos”indicavam a ideia de total rendição a Deus. Nohebraico, o nome significa “aquilo que sobe” (verLev. 1:3-17; 6:8-13). As ofertas de cereaisacompanhavam quase todas as outras ofertas enunca faltavam no caso das ofertas queimadas.Acompanhavam, por exemplo, na purificação deum leproso, no fim do voto dos nazireus e naconsagração dos sacerdotes (ver Lev. 2 e 6:14-23).Nossa versão portuguesa prefere chamá-las de“ofertas de manjares”. As libações, por sua vez,normalmente, acompanhavam as ofertasqueimadas e pacíficas. Interessante é observarque as libações não são mencionadas entre asofertas (ver Lev. 1-7), embora sejam incluídas nasinstruções dos sacrifícios que seriam oferecidos

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quando os israelitas se instalassem na Terra Santa(ver Núm. 15:5-7). As libações eram sempre“derramadas”, nunca sorvidas. A primeira mençãoa uma libação aparece em Gênesis 35:14. Nuncaacompanhavam uma oferta pelo pecado, ou umaoferta pela culpa, quando oferecidas isoladamente.

3. Ofertas de comunhão. Estas subdividem-seem várias categorias: a. Ofertas pacíficas; b.Ofertas movidas; c. Ofertas de agradecimento; d.Ofertas votivas; e. Ofertas voluntárias; e, f. ofertasde consagração sacerdotal. As ofertas pacíficasfalam da comunhão restaurada, após a expiaçãode pecados e o perdão recebido. Todas as outrasofertas de comunhão são variantes das ofertaspacíficas (ver Lev. 3 e 7:11-36). As ofertas movidaseram a porção, dentre as ofertas pacíficas, quepertencia ao sacerdote oficiante. As ofertas deagradecimento podem ser entendidas até porcausa de seu sugestivo nome, o que também se dáno caso das ofertas votivas. Estas últimas podiamconsistir em ofertas queimadas ou em ofertaspacíficas. As ofertas voluntárias, como seu nomeindica, eram de natureza espontânea. E as ofertasde ordenação, que a LXX chama de “ofertas deaperfeiçoamento”, são chamadas no hebraico por“ofertas de instalação”. Essas ofertas estavamintimamente vinculadas ao conceito de “encher amão”, expressão usada para indicar a consagraçãode alguém ao serviço do Senhor (ver Êxo, 28:41;29; cf. Êxo. 32:29), exigindo um estado de purezaritual e de devoção espiritual (ver II Crô. 29:31). (84)

E do Dicionário Bíblico Universal, retiramos:

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Sacrifício no Velho Testamento. O sacrifício(q.v.) era a parte mais importante do culto judaico.De acordo com o objeto sensível oferecido a Deus,os sacrifícios eram classificados em: cruentos (emque havia derramamento de sangue: bois,carneiros, cabras, pombas) e incruentos (semderramamento de sangue: grãos ou produtosagrícolas). Nos sacrifícios cruentos só podiam seroferecidos animais que fossem propriedade dooferente (2Sam 24,24); os animais imundos,defeituosos ou roubados eram consideradosindignos (Mal 1,13). A cerimônia do sacrifício, emgeral, consistia nos seguintes elementos: 1) acondução do animal até a porta do Tabernáculo; 2)a imposição das mãos sobre a vítima, o queprovavelmente simbolizava a transmissão dospecados do oferente para o animal: 3) a morte davítima e o derramamento de seu sangue; 4) aaspersão com o sangue da vítima; 5) a cremaçãode toda a carne da vítima ou de apenas uma parteda vítima, seguia-se a refeição sacrifical, na qual oofertante, pela manducação da carne da vítimaoferecida a Deus, patenteava sua amizade comEle.

Os sacrifícios cruentos eram de três espécies:Sacrifícios em holocausto: os mais antigos e maisimportantes sacrifícios, em que toda a vítima eraqueimada. Somente os animais machos podiamser oferecidos em holocausto. Os sacrifícios pelopecado: a vítima não era completamenteconsumida pelo fogo; algumas partes eramconservadas para uso do sacerdote. Estes eramoferecidos em remissão dos pecados. Nestaclasse, só no sacrifício da vaca vermelha é que se

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queimava tudo (Num 19,2-10). Os sacrifíciospacíficos: em que também só se queimava umaparte da vítima. Eram oferecidos para agradecer aDeus ou para lhe suplicar uma graça. Exemplostípicos de sacrifícios cruentos foram os holocaustose as ofertas pacíficas oferecidas por Moisés, aotempo da promulgação da Lei (Ex 24,4-8; Hebr9,19-21) e o sacrifício da vaca vermelha, cujascinzas serviam para fazer a água da aspersão(Num 19,2-10).

Os sacrifícios incruentos eram ofertas de grãose vinho, farinha pura, espigas de trigo, pão semfermento ou bolos. Eram oferecidosfrequentemente com holocaustos e ofertaspacíficas; algumas vezes, porém eram ofertadasseparadamente. (85)

Em sua maioria, as ofertas eram de animais

sacrificados e queimados, uma ritualística

totalmente tétrica e mórbida, que hoje nos choca

diante de tanta crueldade para com os pobres dos

animais e, mais ainda, vendo o sangue deles

espargido por sobre o altar, num estilo bem próximo

de filmes vampirescos.

Esses sacrifícios deviam ser feitos todos os

dias, tornando-se, novamente, nesse ponto, de algo

ligado às ritualísticas pagãs:

80

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Nos templos de todas as cidades principais daMesopotâmia havia sacrifícios diariamentepropiciados aos deuses. Eram oferecidosvegetais e carnes, libações de água, cerveja evinho; queimavam-se especiarias aromáticas eincenso perfumado. Tais cerimônias eramrealizadas por sacerdotes e, de um modo geral,delas bem pouco ou nada participavam oscidadãos comuns. […]. (86)

Se esses sacrifícios eram, também, uma

prática diária dos hebreus, não há como não aceitar,

mais uma vez, que tomaram isso da cultura pagã.

Uma curiosidade entre os gêneros que se

ofereciam como oblação é o sal, porquanto “atribuía-

se ao sal valor purificador”. (87)

Ora, ainda hoje encontramos isso em alguns

segmentos espiritualistas, quando se recomenda o

famoso “banho de sal grosso”.

Acrescentam os tradutores que o sal:

Entre os assírios, era utilizado no culto, eentre os nômades, na refeição de amizade oualiança, de onde a expressão ‘aliança de sal’ (Nm18,19) para exprimir a estabilidade da aliança entreDeus e o seu povo. (88)

81

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Portanto, mais uma coisa tomada de outros

povos.

2ª) locais de adoração

Não nos passaram despercebidas as citações

nas quais se vincula uma montanha a Deus como,

por exemplo:

Êxodo 3,1: “Apascentava Moisés o rebanho deJetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Conduziuas ovelhas para além do deserto e chegou aoHoreb, a montanha de Deus”.

Êxodo 19,3: “Então Moisés subiu a montanhade Deus. E da montanha Iahweh o chamou,[…].”

Êxodo 24,12: “Iahweh disse a Moisés: 'Sobe amim na montanha, e fica lá; dar-te-ei tábuasde pedra – a lei e o mandamento – que escrevipara eles'”.

As montanhas eram, muitas vezes, os locais

nos quais adoravam aos deuses. A determinação

divina dada aos hebreus, para quando chegassem na

terra de Canaã, onde habitava um povo pagão, foi

taxativa: Números 33,51: “Expulsareis diante de vós

todos os habitantes da terra. Destruireis as suas

82

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imagens esculpidas, todas as suas estátuas de metal

fundido, e demolireis todos os seus lugares

altos”. Assim, temos que os rituais pagãos eram, via

de regra, realizados em lugares altos, que não são

outra coisa senão as montanhas ou os montes na

visão dos hebreus.

É claro que das altas montanhas vêm asrevelações, daquela atmosfera misteriosa eencoberta. É uma antiquíssima e muitodifundida concepção a de que os deuses e opoder divino estão escondidos entre as nuvens,no alto das grandes montanhas. Isto se acreditano Japão, no Fuji; isto se acredita na Grécia, noOlimpo; isto se acredita e se relata no Sinai,revelação também vinda de cima de uma altamontanha. […]. (89)

A montanha está “mais próxima” do Céu, oque a investe de uma dupla sacralidade: por umlado, participa do simbolismo espacial datranscendência (“alto”, “vertical”, “supremo”, etc.) e,por outro, é o domínio por excelência dashierofanias atmosféricas e, como tal, a moradados deuses. Todas as mitologias têm umamontanha sagrada, variante mais ou menosilustre do Olimpo grego. Todos os deusespossuem lugares reservados ao seu culto nospontos altos. Os valores simbólicos e religiososdas montanhas são inúmeros. A montanha éfrequentemente considerada como o ponto de

83

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reencontro entre o Céu e a Terra, portanto um“centro”, o ponto pelo qual passa o eixo do mundo,região saturada de sagrado, local onde podemrealizar-se as passagens entre as diferentes zonascósmicas. Assim, segundo as crençasmesopotâmicas, “o Monte dos Países” une o Céu ea Terra (90) e o monte Meru da mitologia indianaeleva-se no meio do mundo; acima dele brilha aestrela polar (91). Também os povos uralo-altaicosconhecem um monte central, o Sumbur, Sumur ouSumeru, em cujo cimo está suspensa a estrelapolar (crenças buriatas) (92). Segundo as crençasiranianas, o monte sagrado Haraberezaiti (Harburz)encontra-se no meio da Terra e está ligado ao Céu(93). Na Edda, Himingbjörg é, como seu nomeindica, um “monte celeste”; aí o arco-íris (Bifröst)atinge a abóbada do Céu. Crenças parecidasencontram-se entre os finlandeses, os japoneses,etc.

Devido ao fato de ser o ponto de encontro entreo Céu e a Terra, o “monte” acha-se no “centro domundo” e é certamente o ponto mais elevado daTerra. Por isso as regiões consagradas – “lugaressantos”, templos, palácios, cidades santas – sãoassimiladas a “montanhas” e elas mesmas tornam-se “centros”, isto é, são integradas de maneiramágica no cume do monte cósmico (cf. § 145). […].(94)

Interessante, também, foi esta outra

explicação que encontramos:

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No livro do Êxodo, Moisés e os israelitas estãono monte Horebe, tendo viajado desde o Egitoatravés do Mar Vermelho. Moisés escala a rochapara falar com El Shaddai, o Senhor daMontanha (mais tarde chamado Jeová), queensina que, a partir de então, ele será seu Deus eque eles não mais devem usar seu ouro para fazerídolos e imagens deiformes (95). (96)

Vê-se a relação da expressão El Shaddai com

o Senhor da Montanha; aliás, era no que acreditavam

naquela época:

1 Reis 20,22-28: “O profeta aproximou-se dorei de Israel e lhe disse: ‘Vamos! Coragem!Pondera com cuidado o que deves fazer, poisna passagem do ano o rei de Aram te atacará’.Os servos do rei de Aram disseram-lhe: ‘ODeus dessa gente é um Deus demontanha, é por isso que nos venceram. Maslutamos contra eles na planície e certamenteos venceremos”… O homem de Deusaproximou-se do rei de Israel e disse-lhe:‘Assim, fala Iahweh: Já que Aram disse queIahweh é um Deus de montanhas e não umDeus de planície, entrego em tuas mãos todaessa multidão e reconhecerás que souIahweh’”.

Certamente que esse fato será bem

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desconcertante para quem possui e sustenta

argumentos dogmáticos.

Nova surpresa nos estava reservada; coube ao

jornalista do G1 (Globo) Reinaldo José Lopes, que, no

artigo “Conheça a verdadeira 'cara' da Arca da

Aliança, objeto mais sagrado da Bíblia”, nos

apresenta esta afirmação de Cristine Hayes,

professora de Bíblia Hebraica da Universidade de

Yale (EUA): “O principal deus cananeu, El, era

retratado como morando numa tenda, no alto

de uma montanha”. (97)

Diante disso, podemos ainda acrescentar como

sendo de origem cananeia a Tenda da Reunião, na

qual Moisés falava com Deus “face a face” (Êxodo

33,7-11).

3ª) ritual de purificação

O Dicionário Prático Barsa, explica:

Cerimônia religiosa de acordo com a LeiMosaica, pela qual um israelita ficava livre dedeterminada mancha legal. Podia-se contrairimpureza legal (e por conseguinte necessitar depurificação) de vários modos: tocando numcadáver (Num 19,11-22; 31,19; Lev 11,24-40); pelo

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contacto com um leproso (Lev 14,4-32); pelasvárias atividades referentes ao sexo (Lev 15; Dt23,10-11); pelo parto. (98)

O ritual de purificação para quem havia tocado

num cadáver humano é o que nos interessa. Usava-

se nele a água da purificação ou água lustral,

conforme os procedimentos listados em Números,

que transcrevemos:

Números 19,1-9: “Iahweh falou a Moisés e aAarão. Disse-lhes: ‘Eis um estatuto da Lei queIahweh prescreve. Fala aos israelitas. Quetragam a ti uma novilha vermelha semdefeito e perfeita e que não tenha ainda sidosubmetida ao jugo. Entregá-la-eis a Eleazar, osacerdote. Será levada para fora doacampamento e será imolada diante dele.Depois o sacerdote Eleazar tomará com o seudedo um pouco do sangue da vítima e comesse sangue fará sete aspersões na direção daentrada da Tenda da Reunião. Queimar-se-á,então, a novilha na sua presença; ocouro, a carne, o sangue e osexcrementos serão queimados. Osacerdote tomará em seguida madeira decedro, hissopo e escarlate de cochonila eos lançará no fogo onde arde a novilha. …Um homem em estado de pureza recolherá

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as cinzas da novilha e as depositará, fora doacampamento, em lugar puro. Alipermanecerão para uso ritual da comunidadedos israelitas, para fazerem a água lustral;é um sacrifício pelo pecado”.

Os tradutores da Bíblia de Jerusalém explicam-

nos que:

[…] Este ritual, ao qual somente outro texto fazreferência (Nm 31,23, além de Hb 9,13), legitimaantiga prática colorida de magia, assimilando-a asacrifício de expiação pelo pecado (v. 17 e comp.vv. 4-5 com Lev 16,27; v. 8 com Lv 16,28). Outroscostumes análogos foram assim admitidos pelaLei mosaica (Lv 14,2-7; 16,5-10; Nm 5,17-28; Dt21,1-9). A novilha devia ser avermelhada, porque,no antigo Oriente, tudo aquilo que se aproximado vermelho tem valor profilático: esta cor evocao sangue, princípio da vida, e protege contra amorte. (99)

Quanto a alguns dos materiais usados:

Madeira de cedro: simbolizava a longevidade ea incorruptibilidade. – Um fio de escarlate: usadoprovavelmente para atar o feixe de hissopo à hastedo cedro. – Hissopo: era considerado como umpurificador por excelência (Sl 51,9). Segundo osrabinos, a purificação feita com a madeira de cedro

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e com o hissopo significa que, tanto os grandescomo os pequenos, devem inclinar as suascabeças diante de Deus quando estão em pecado.(100)

Seria oportuno ver esses outros costumes

análogos, citados na explicação anterior; inclusive

um deles já o mencionamos:

Levítico 14,1-7: “Iahweh falou a Moisés e disse:‘Esta é a lei a ser aplicada ao leproso no dia dasua purificação. Será conduzido ao sacerdote,e o sacerdote sairá para fora doacampamento. Se verificar, após exame, que oleproso está curado da sua lepra, determinaráque se tomem para o homem a serpurificado, duas aves vivas e puras,madeira de cedro, lã escarlate e hissopo.E ordenará, em seguida, que se imole umaave em um vaso de argila, sobre águascorrentes. Tomará a ave viva, a madeira decedro, a lã escarlate, o hissopo e mergulharátudo (inclusive a ave viva) no sangue daave imolada sobre a água corrente. Faráentão sete aspersões sobre o homem a serpurificado da lepra e, tendo-o declarado puro,deixará que voe para o campo a ave viva’.

Levítico 16,5-10: “Receberá a comunidade dosisraelitas dois bodes destinados ao sacrifício do

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pecado, e um carneiro para o holocausto.Depois de haver oferecido o novilho dosacrifício pelo seu próprio pecado e de ter feitoo rito de expiação por si mesmo e pela suacasa. Aarão tomará os dois bodes e oscolocará diante de Iahweh na entrada da Tendada Reunião. Lançará a sorte sobre os doisbodes, atribuindo uma sorte a Iahweh eoutra a Azazel. Aarão oferecerá o bode sobreo qual caiu a sorte ‘De Iahweh’ e fará com eleum sacrifício pelo pecado. Quanto ao bodesobre o qual caiu a sorte ‘De Azazel’, serácolocado vivo diante de Iahweh, para se fazercom ele o rito de expiação, a fim de serenviado a Azazel, no deserto”.

Números 5,16-28: “O sacerdote fará aproximara mulher e a colocará diante de Iahweh. Emseguida tomará água santa em um vaso debarro e, tendo tomado do pó do chão daHabitação, o espargirá sobre a água. Eapresentará a mulher diante de Iahweh,soltará a sua cabeleira e colocará nas suasmãos a oblação comemorativa (isto é, aoblação de ciúme). E nas mãos do sacerdoteestarão as águas amargas e de maldição. Aseguir o sacerdote fará a mulher jurar e lhedirá: ‘Se não é verdade que algum homem sedeitou contigo e que te desviaste e que tetornaste impura, enquanto sob o domínio deteu marido, que estas águas amargas e de

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maldição te sejam inofensivas! Porém, se éverdade que te desviaste enquanto sob opoder de teu marido e que te tornaste impurae que outro homem, que não o teu marido,participou do teu leito…' O sacerdote fará,aqui, a mulher prestar um juramentoimprecatório e lhe dirá: ‘…Que Iahweh te faça,no teu povo, objeto de imprecação e maldição,fazendo murchar o teu sexo e inchar o teuventre! Que estas águas de maldiçãopenetrem nas tuas entranhas, a fim de que oteu ventre se inche e o teu sexo murche!’ Amulher responderá: ‘Amém! Amém!’ Emseguida o sacerdote escreverá essasimprecações e as apagará com as águasamargas. E fará a mulher beber essaságuas amargas e de maldição, e serão paraela amargas. O sacerdote, então, tomará dasmãos da mulher a oblação de ciúme e aerguerá, apresentando-a diante de Iahweh, e acolocará sobre o altar. E tomará um punhadoda oblação de ciúme e o queimará sobre oaltar, para memorial. O sacerdote fará amulher beber dessas águas. E ao fazê-la beberas águas, se realmente ela se tornou impuraenganando a seu marido, então as águas demaldição, penetrando nela, ser-lhe-ãoamargas: seu ventre inchará, seu sexomurchará e ela servirá para o seu povo deexemplo nas maldições. Se, ao contrário, elanão se tornou impura, mas está pura, sairá

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ilesa e será fecunda”.

Deuteronômio 21,1-9: “Quando for encontradoum homem morto estendido no campo, naterra cuja posse Iahweh teu Deus te dará, eninguém souber quem o matou, teus anciãos eteus escribas” sairão e medirão as distânciasaté às cidades que estiverem ao redor domorto, determinando a cidade mais próximado morto. A seguir, os anciãos daquelacidade tomarão uma novilha do gado, coma qual não se tenha trabalhado e ainda nãotenha sido atrelada ao jugo. Os anciãosdaquela cidade farão com que a novilhadesça até uma torrente de águapermanente, onde ninguém trabalha nemsemeia. E ali, sobre a torrente,desnucarão a novilha. Depois aproximar-se-ão os sacerdotes levitas, pois foram eles queIahweh teu Deus escolheu para o seu serviço epara que abençoem em nome de Iahweh,cabendo-lhes também resolver qualquer litígioou crime. E todos os anciãos da cidade maispróxima ao morto lavarão as mãos sobre anovilha desnucada na torrente, fazendo aseguinte declaração: ‘Nossas mãos nãoderramaram este sangue, e nossos olhos nadaviram. Perdoa ao teu povo Israel, queresgataste, Ó Iahweh; não permitas que umsangue inocente recaia sobre o teu povo Israele este sangue lhe será perdoado’. Tu porém,

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farás com que desapareça do teu meio oderramamento de sangue Inocente, porquefarás o que é reto aos olhos de Iahweh”.

Dessa última passagem, destacamos o trecho

“a novilha desnucada na torrente”, em relação ao

qual nos explicam:

O animal é desnucado num lugar deserto, e nãose faz menção do sangue: não se trata de umsacrifício mas sim de um velho rito mágicocomo os de Lv 14,2-9; 16,5-16.21-22; Nm 19,2-10,que foi assimilado pelo javismo (cf. v. 8). (101)

Dessa forma, temos um ritual mágico, e

puramente pagão, incorporado à tradição religiosa

dos hebreus. É Fantáaaaastico!

De tudo o que até agora vimos, seguramente,

podemos concluir que o povo hebreu aceitou a

mudança de nome de sua divindade maior, mas não

abandonou a ritualística pagã.

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Épocas em que os hebreus praticavam

rituais pagãos

Seguindo o que consta na Bíblia de Jerusalém

(p. 2.170-2.188), vamos dividir a história dos

hebreus nos seguintes períodos: a) Patriarcas; b)

Moisés e Josué, c) Dos Juízes a Salomão (1.200-931

a.C.); d) Judá e Israel (931-721 a.C.), e) Fim do reino

de Judá (721-587 a.C.); f) A restauração durante o

período persa (538-333 a.C.) e g) Época helenística

(333-63 a.C.).

a) Os patriarcas

Na época do Bronze antigo – 3.100 a 2.100 –,

viviam na Palestina os cananeus, ancestrais de

Abraão, que eram nômades na Mesopotâmia. Na

época do Bronze médio – 2.100 a 1.550 aprox. –, foi

que Abraão chegou em Canaã (cerca de 1.850). De

1.700 a 1.250 é o período dos patriarcas no Egito.

(102)

Gênesis 17,1: “Quando Abrão completounoventa e nove anos, Iahweh lhe apareceu e

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lhe disse: ‘Eu sou El Shaddai, anda na minhapresença e sê perfeito’”.

Explicam-nos o “El Shaddai”, desse passo, da

seguinte forma:

Antigo nome divino da época patriarcal (28,3;35,11; 43,14; 48,3; 49,25), mantido especialmentepela tradição sacerdotal (v. Ex. 6,3), raro fora doPentateuco, salvo em Jó. A tradução comum“Deus Todo-Poderoso” é inexata. O sentido éincerto; propôs-se “Deus da montanha”,segundo o acádico shadû; seria preferível entender“Deus da Estepe”, segundo o hebraico sadeh éoutro sentido do termo acádico. É uma apelaçãodivina que corresponde ao modo de vida. (103)

É bem verdade que em muitas traduções

bíblicas aparece mesmo a expressão “Deus Todo-

Poderoso”, como, por exemplo, na Bíblia Sagrada

Vozes, na qual explicitam: “Deus Poderoso (em

hebr. El-Shaddai) é nome do verdadeiro Deus

adorado pelos patriarcas (Gn 28,3; Ex 6,3)”. (104)

Vê-se o “El Shaddai” também ser usado em

Gênesis 28,3 e 35,11, quando Deus muda o nome de

Jacó para Israel e lhe revela este seu nome.

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Mais à frente veremos uma correlação direta

entre as práticas religiosas dos hebreus com

proposta de se entender “El Shaddai” como o “deus

da montanha”. (105)

Corroborando, a evolução do processo de

crença:

Naquela época, Abraão acabara de completarsua campanha militar em Canaã, tendo conduzidosua armada com sucesso contra as tropas dealguns reis incômodos. O Deus a que se refere énomeado mais especificamente, em antigostextos, como o senhor da montanha El Shaddai(106); o mesmo título ao qual novamente aludiu oSenhor que falou com Moisés no Monte Horebe, noSinai. Foi apenas durante a narrativa dosacontecimentos feita pelos escribas que o títuloJavé foi introduzido, baseado na raiz hebreiaYHVH: “Eu sou o que sou”, semelhante a: “Meunome é irrelevante”. Mais importante, porém, foi aafirmação que esse Senhor fez a Moisés (Êxodo6:3) de que era o Deus de Abraão. Textosprimitivos dizem que o Deus de Abraão era ElShaddai (Gênesis 17:1), mas em Bíbliasmodernas traduziu-se erroneamente esse nomecomo Deus Todo-Poderoso. Usado em textoshebraicos e mantido na Vulgata latina (107), ElShaddai era um termo semítico, sinônimo dodeus mesopotâmico Enlil, chamado Ilu Kurgal:grande Senhor da Montanha (muito mais tarde,

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em 1518, Javé foi convertido no híbridomoderno, Jeová) (108). (109)

Embora já tenhamos citado El, o deus cananeu,

deixamos para este momento desenvolver mais essa

questão, conforme, anteriormente, havíamos

prometido. Leiamos:

El

O povo de Canaã (ou filisteu) considerava estadivindade o deus superior do seu panteão. Eletinha criado a Terra e os Céus e delegou a tarefade gerir as vidas dos homens em Baal. Tinha umtrono na “nascente das nascentes dos rios”, deonde via tudo o que passava no Universo e ogovernava, à semelhança de Odin e Zeus.

Como deus da água fertilizava os campos.

Foi venerado também nas tribos israelitascom o nome de Javé, aparecendo na Bíbliacomo El ou Elohim. Passou o nome de El asignificar deus para os hebreus, sendo o pluralelim (tal como o plural de Baal é baalim). Assim sepresencia o Elohim cananita a dar origem ao Deuscristão. (110) (grifo itálico do original, negrito nosso)

Parece que o mito de Marduc e Tiamatinfluenciou o povo de Canaã, que contava umahistória semelhante sobre Baal-Habab, o deus datempestade e da fertilidade, muitas vezes citadoem termos extremamente descorteses na Bíblia. A

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história da batalha de Baal com Yam-Nahar, o deusdos mares e dos rios, é contada em tabuinhas quedatam do século XIV AEC. Baal e Yam viviam comEl, o Deus Alto cananeu. No Conselho de El, Yamexige que Baal lhe seja entregue. Com duas armasmágicas, Baal derrota Yam e está para matá-loquando Asera (esposa de El e mãe dos deuses) dizque é desonroso matar um prisioneiro. Baalenvergonha-se e poupa Yam, representante doaspecto hostil dos mares e dos rios queconstantemente ameaçam inundar a terra,enquanto Baal, o deus da tempestade, fertiliza aterra. Em outra versão do mito, Baal mata odragão de sete cabeças Lotan, chamado emhebraico de Leviatã. Em quase todas as culturas,o dragão simboliza o latente, o informe e oindiferenciado. Assim, Baal interrompe o retorno àinformidade primordial com um atoverdadeiramente criativo e é recompensado comum belo palácio construído pelos deuses em suahonra. Portanto, já no início da religião, acapacidade criadora era vista como divina: aindausamos a linguagem da religião para falar da“inspiração” criadora, que refaz a realidade econfere novo sentido ao mundo.

Mas Baal sofre um revés: morre e tem dedescer ao mundo de Mot, o deus da morte e daesterilidade. Ao tomar conhecimento desse fato, oDeus Alto El deixa seu trono, veste uma tanga eretalha as faces, porém não consegue resgatar ofilho. É Anat, amante e irmã de Baal, quem partedo reino divino à procura de sua alma gêmea,“desejando-o como uma vaca a seu bezerro ouuma ovelha a seu cordeiro”. Quando encontra seu

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corpo, realiza um banquete fúnebre em suahomenagem. Depois, corta Mot ao meio com suaespada, queima-o, tritura-o como milho e o espalhapelo chão. Há histórias semelhantes sobre asoutras grandes deusas – Inana, Ishtar e Ísis – quebuscam o deus morto e dão vida nova ao solo. Avitória de Anat, no entanto, deve ser perpetuadaano após ano em celebração ritual. Mais tarde –não sabemos ao certo como, pois nossas fontessão incompletas – Baal é revivificado e devolvido aAnat. Na antiga Canaã, festejava-se com sexoritual essa apoteose da inteireza e da harmonia,simbolizada pela união dos sexos. Assim, ao imitaros deuses, homens e mulheres participavam desua luta contra a esterilidade e asseguravam acapacidade criadora e a fertilidade do mundo. Amorte de um deus, a busca empreendida peladeusa e o retorno triunfante à esfera divinaeram temas religiosos presentes em muitasculturas e reaparecem na religião, muitodiferente, do Deus Único adorado por judeus,cristãos e muçulmanos.

A Bíblia atribui essa religião a Abraão, que, emalgum momento entre os séculos XX e XIX AEC,saiu de Ur e se instalou em Canaã. Não temosinformações contemporâneas sobre ele, mas osestudiosos acham que talvez tenha sido um doschefes tribais errantes que conduziram seu povoda Mesopotâmia para o Mediterrâneo no fim doterceiro milênio AEC. Esses errantes, alguns dosquais são chamados abiru, apiru ou habiru emfontes mesopotâmicas e egípcias, falavam idiomassemitas ocidentais, um dos quais é o hebraico. Nãoeram nômades do deserto como os beduínos, que

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migravam com seus rebanhos segundo o ciclo dasestações; eram mais difíceis de classificar e comfrequência entravam em choque com asautoridades conservadoras. Tinham um nívelcultural geralmente superior ao do povo do deserto.Alguns atuavam como mercenários; outros eramfuncionários do governo; outros ainda trabalhavamcomo mercadores, criados ou funileiros. Algunsenriqueciam e tratavam de adquirir terra eassentar-se. O livro do Gênesis mostra Abraãoservindo ao rei de Sodoma como mercenário edescreve seus frequentes conflitos com asautoridades de Canaã e arredores. Por fim, quandosua esposa Sara morreu, ele comprou terra emHebron, na atual Cisjordânia.

Tal como é relatada no Gênesis, a história deAbraão e seus descendentes imediatos sugere quea instalação dos hebreus em Canaã, o modernoIsrael, ocorreu em três etapas. A primeira,associada a Abraão e Hebron, teve lugar por voltade 1850 AEC. A segunda relaciona-se com o netode Abraão, Jacó, que recebeu o nome de Israel(“Que Deus mostre sua força!”); ele se estabeleceuem Siquém, hoje a cidade árabe de Nablus, naCisjordânia. A Bíblia nos informa que os filhos deJacó, que se tornaram os ancestrais das dozetribos de Israel, emigraram para o Egito duranteuma grande fome em Canaã. A terceira etaparemonta a aproximadamente 1200 AEC, quandotribos que se diziam descendentes de Abraãopartiram do Egito para Canaã. Contavam que osegípcios as escravizaram e uma divindadechamada Javé, deus de seu chefe, Moisés, aslibertara. Depois de entrar à força em Canaã,

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aliaram-se aos hebreus locais e passaram a serchamadas de o povo de Israel. A Bíblia deixa claroque o povo que conhecemos como os antigosisraelitas era uma confederação de váriosgrupos étnicos, ligados sobretudo por sualealdade a Javé, o Deus de Moisés. Mas ahistória bíblica foi escrita séculos depois, por voltado século VIII AEC, embora, sem dúvida, usassefontes narrativas anteriores. No século XIX,estudiosos bíblicos alemães conceberam ummétodo crítico que discerne quatro fontesdiferentes nos cinco primeiros livros da Bíblia –Gênesis, Êxodo, Levítico, Números eDeuteronômio –, que, reunidos no século V AEC,formam o Pentateuco. […].

[…] Passa rapidamente dos acontecimentos dapré-história ao final do período mítico – que incluiepisódios como o Dilúvio e a Torre de Babel – e àhistória do povo de Israel. Ela começa de formaabrupta no capítulo 12, quando o homem Abrão,que mais tarde será chamado de Abraão (“Pai deuma multidão”), recebe ordem de Javé paradeixar sua família em Haran, onde hoje é aTurquia oriental, e migrar para Canaã, à margemdo mar Mediterrâneo. Sabemos que seu pai, opagão Taré, já havia migrado de Ur para o oeste,com a família. Agora Javé diz a Abraão que ele temum destino especial: tornar-se pai de uma grandenação, que um dia será mais numerosa que asestrelas do céu, e um dia seus descendentespossuirão a terra de Canaã. […] Sua primeirarevelação de si mesmo consiste numa ordem: queAbraão deixe seu povo e vá para a terra de Canaã.

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Mas quem é Javé? Abraão adorava o mesmoDeus que Moisés, ou o conhecia por um nomediferente? Essa seria uma questão de extremaimportância para nós hoje, porém a Bíblia écuriosamente vaga sobre o assunto e nos fornecerespostas conflitantes. J diz que os homensadoravam Javé desde a época do neto de Adão,mas no século VI P sugere que os israelitas sóouviram falar de Javé quando ele apareceu aMoisés na sarça ardente. P faz Javé explicar queera de fato o mesmo Deus de Abraão, como seessa fosse uma ideia meio controvertida: ele diz aMoisés que Abraão o chamara de “El Shaddai” enão conhecia o nome divino Javé. A discrepâncianão parece preocupar muito os autores bíblicos ouseus editores. J chama seu deus de “Javé” doprincípio ao fim: em sua época, Javé era o Deus deIsrael, e só isso importava. A religião israelita erapragmática e não tinha maior interesse no tipo dedetalhe que nos preocuparia. Contudo, nãodevemos imaginar que Abraão ou Moisésacreditavam em seu Deus como nós acreditamos.Estamos tão familiarizados com a narrativa bíblicae a história subsequente de Israel que tendemos aprojetar nosso conhecimento da religião judaicaposterior nessas primeiras personagens históricas.

Por conseguinte, supomos que os trêspatriarcas de Israel – Abraão. Seu filho Isaac eseu neto Jacó – eram monoteístas, acreditavamnum único Deus. Não parece que assim fosse.Na verdade, provavelmente é mais correto definiresses primeiros hebreus como pagãos quepartilhavam muitas das crenças religiosas deseus vizinhos. Decerto acreditavam na existência

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de divindades como Marduc, Baal e Anat. Talveznão adorassem a mesma divindade: é possívelque o Deus de Abraão, o “Temor” ou “Parente”de Isaac e o “Poderoso” de Jacó fossem trêsdeuses distintos.

Podemos ir mais longe. É muitíssimo provávelque o Deus de Abraão fosse El, o Deus Alto deCanaã. Ele se apresenta a Abraão como ElShaddai (El da Montanha), que era um dostítulos tradicionais de El. Em outras passagens, échamado de El Elyon (O Deus Altíssimo) e El deBetel. O nome do Deus Alto cananeu sepreserva em nomes hebraicos como Isra-El eIsma-El. Os israelitas o vivenciaram de modos quenão seriam estranhos para os pagãos do OrienteMédio. Veremos que, séculos depois, acharamaterrorizante o mana ou “santidade” de Javé. Nomonte Sinai, por exemplo, ele se manifestou aMoisés no meio de uma apavorante erupçãovulcânica, e o povo teve de manter distância.Em comparação, o deus El de Abraão é umadivindade bem gentil. Aparece-lhe como umamigo e às vezes até assume forma humana. Essetipo de aparição divina, conhecida comoepifania, era bastante comum no mundo pagãoda Antiguidade. Embora em geral não seesperasse que os deuses interviessem diretamentena vida dos mortais, nos tempos míticos algunsindivíduos privilegiados se viram face a face comseus deuses. A Ilíada está repleta dessasepifanias. Os deuses e as deusas aparecem agregos e troianos em sonhos, quando seacreditava que caía a barreira entre os mundoshumano e divino. No final da Ilíada, Príamo é

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conduzido até os navios gregos por um jovemencantador que acaba se revelando como Hermes.Quando os gregos lembravam a Idade do Ouro deseus heróis, acreditavam que eles tiveram estreitocontato com os deuses, que eram, afinal, damesma natureza dos seres humanos. Essashistórias de epifanias expressam a visão holísticapagã: não sendo o divino essencialmente distintoda natureza ou da humanidade, podia-seexperimentá-la sem alarde. O mundo vivia cheio dedeuses, que se podia ver inesperadamente aqualquer momento, numa esquina ou na pessoa deum transeunte desconhecido. Ao que parece, agente simples acreditava que esses encontros como divino podiam ocorrer em sua vida: issoexplicaria a estranha passagem dos Atos dosApóstolos em que, já no século I EC. O apóstoloPaulo e seu discípulo Barnabé são identificadoscomo Zeus e Hermes pelo povo de Listra, na atualTurquia.

Assim também, ao lembrar sua Idade do Ouro,os israelitas viam Abraão, Isaac e Jacó convivendofamiliarmente com seu deus. El lhes dáconselhos amistosos, como qualquer xeque ouchefe tribal: orienta suas andanças, diz-lhes comquem se casar e fala-lhes em sonhos. De vez emquando, eles o veem em forma humana – umaideia que mais tarde os israelitas abominariam. Nocapítulo 18 do Gênesis, J nos conta que Deusapareceu a Abraão junto ao carvalho de Mambré,perto de Hebron. Abraão ergueu os olhos e avistoutrês estranhos aproximando-se de sua tenda, nahora mais quente do dia. Com a cortesia típica doOriente Médio, insistiu que se sentassem e

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descansassem, enquanto corria a preparar-lhesuma refeição. Durante a conversa subsequente,descobriu, com toda a naturalidade, que umdaqueles homens era ninguém menos que seuDeus, a quem J sempre chama de “Javé”. Quantoaos outros dois, eram anjos. A revelação nãoprovocou grande surpresa. Quando J escrevia, noséculo VIII AEC, nenhum israelita esperaria “ver”Deus dessa forma: a maioria acharia a ideiachocante. E, o contemporâneo de J, consideraindecorosas as velhas histórias sobre a intimidadedo patriarca com Deus: ao relatar os tratos deAbraão ou Jacó com Deus, prefere distanciar o fatoe tornar as velhas lendas menos antropomórficas.Assim, diz que Deus fala a Abraão por intermédiode um anjo. J, no entanto, não é tão escrupuloso epreserva o antigo sabor dessas primitivasepifanias.

Jacó também presenciou várias epifanias.Numa ocasião, decidiu retornar a Haran para tomaresposa entre a parentela local. Na primeira etapada viagem, dormiu em Luza, perto do vale doJordão, usando uma pedra como travesseiro.Nessa noite, sonhou com uma escada que seerguia até o céu: anjos subiam e desciam entreos reinos de Deus e do homem. Não podemosdeixar de lembrar o zigurate de Marduc: notopo, como que suspenso entre o céu e a terra,o homem podia encontrar seus deuses. No altode sua escada, Jacó viu El, que o abençoou erepetiu as promessas feitas a Abraão: osdescendentes de Jacó se tornariam uma poderosanação e possuiriam a terra de Canaã. Também fezuma promessa que, como veremos, causou

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profunda impressão em Jacó. A religião pagãcomumente era territorial: um deus tinha jurisdiçãosobre determinada área, e sempre era sensatoadorar as divindades locais, quando se ia aoexterior. Mas El prometeu a Jacó que oprotegeria quando deixasse Canaã e vagassenuma terra estranha: “E eis que estou contigo, ete guardarei por onde quer que fores”. A históriadessa primeira epifania mostra que o Deus Altode Canaã começava a adquirir uma implicaçãomais universal.

Quando acordou, Jacó compreendeu quepassara a noite num lugar santo, onde os homenspodiam conversar com seus deuses. “Na verdade,Javé está neste lugar, e eu não sabia!”, J o fazdizer. Estava tomado de assombro, comogeralmente ocorria com os pagãos, quando sedeparavam com o poder sagrado do divino: “quetemível é este lugar! E outra coisa não é senão acasa de Deus (beth-El) e a porta do céu!”Expressou-se instintivamente na linguagemreligiosa de seu tempo e de sua cultura: aBabilônia, morada dos deuses, chamava-se“Porta dos deuses” (Bab-ili). Jacó resolveuconsagrar aquele solo santo à maneira pagãtradicional da região. Colocou de pé a pedra queusara como travesseiro e santificou-a com umalibação de óleo. Dali em diante, o nome do lugarseria Beth-El [Betel], a Casa de El. Pedraseretas eram uma característica comum doscultos cananeus da fertilidade, que, comoveremos, floresceram em Betel até o século VIIIAEC. Embora israelitas posteriores condenassemvigorosamente esse tipo de religião, o santuário

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pagão de Betel estava associado, na lendaantiga, a Jacó e seu Deus.

Antes de deixar Betel, Jacó resolveu: o deusque encontrara ali seria seu elohim (o termoabrangia tudo que os deuses podiam significarpara os mortais). Se cuidasse dele em Haran, El(ou Javé) devia ser muito eficiente. Jacó fez umabarganha: em troca da proteção especial de El,o tornaria seu elohim, o único deus queimportava. A crença israelita em Deus eraprofundamente pragmática. Abraão e Jacódepositaram sua fé em El porque funcionava paraeles: não se preocuparam em provar suaexistência; El não era uma abstração filosófica. Nomundo antigo, o mana era um fato consumado, eum deus provava seu valor se conseguia transmiti-lo com eficiência. Esse pragmatismo seria um fatorconstante na história de Deus. As pessoascontinuariam adotando determinada concepção dodivino porque funcionava para elas, não porque eracientífica ou filosoficamente correta.

Anos mais tarde, Jacó deixou Haran comesposas e família e, ao entrar na terra de Canaã,presenciou mais uma estranha epifania. No vau doJaboc, na Cisjordânia, lutou a noite inteira com umdesconhecido. Como a maioria dos seresespirituais, pela manhã o adversário disse quetinha de partir, mas Jacó o segurou: não o soltariaenquanto não revelasse seu nome. No mundoantigo, saber o nome de alguém equivalia a tercerto poder sobre ele, e o desconhecido semostrou relutante em fornecer essa informação. Nodecorrer do estranho encontro, Jacó percebeu

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que o adversário era o próprio El:

E Jacó lhe pediu: “Diz-me, teu nome”. Mas elerespondeu: “Por que perguntas meu nome?”. E alio abençoou. E Jacó chamou esse lugar de Fanu-El [Rosto de El], dizendo: “Porque vi El face aface e sobrevivi”.

O espírito dessa epifania está mais próximo daIlíada que do monoteísmo judaico posterior, queconsideraria blasfemo um contato tão íntimo com odivino.

Contudo, embora mostrem os patriarcasencontrando seu deus quase do mesmo modoque seus contemporâneos pagãos, essasprimeiras narrativas introduzem uma novacategoria de experiência religiosa. Em toda aBíblia, Abraão é chamado de homem de “fé”. Hojetendemos a definir fé como a aceitação intelectualde um credo, mas, conforme vimos, para osautores bíblicos a fé em Deus não é uma crençaabstrata ou metafísica. Quando louvam a “fé” deAbraão, o que enaltecem não é sua ortodoxia (aaceitação de uma opinião teológica correta sobreDeus), porém sua confiança, mais ou menos comoquando dizemos que temos fé numa pessoa ounum ideal. Na Bíblia, Abraão é um homem de féporque confia que Deus cumprirá suas promessas,mesmo que pareçam absurdas. Como Abraãopoderia ser o pai de uma grande nação se suaesposa, Sara, era estéril? Imaginar que ela poderiater um filho é tão ridículo – Sara já passara damenopausa – que o casal ri da promessa. Quando,apesar de tudo, finalmente o filho nasce, eles ochamam de Isaac, um nome que pode significar

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“risada”. Mas a alegria acaba quando Deus fazuma exigência horripilante: Abraão devesacrificar-lhe seu único filho.

O sacrifício humano era comum no mundopagão. Era cruel, mas tinha uma lógica e umaexplicação. Com frequência, acreditava-se que oprimogênito era filho de um deus queengravidara a mãe num ato de droit deseigneur. Ao gerar a criança, a energia do deus seesgotava, e, para restaurá-la e assegurar acirculação de todo o mana existente, devolvia-se oprimogênito ao pai divino. O caso de Isaac, porém,era muito diferente. Ele era uma dádiva de Deus, enão seu filho natural. Não havia motivo parasacrifício nem necessidade de restaurar a energiadivina. Na verdade, o sacrifício tornaria semsentido a vida de Abraão, baseada na promessa deque ele seria o pai de uma grande nação. Essedeus já começava a ser concebido de um mododiferente de quase todas as divindades do mundoantigo. Não partilhava da condição humana; nãoprecisava de um influxo de energia de homens emulheres. Pertencia a outra categoria e podia fazeras exigências que quisesse. Abraão decidiu confiarem seu deus. Junto com Isaac, empreendeu umaviagem de três dias ao monte Moriá, onde maistarde se ergueria o Templo de Jerusalém. Isaac,que ignorava a ordem divina, carregou a lenhapara o próprio holocausto. Só no último instante,quando Abraão já empunhava a faca, Deus recuoue disse que tudo não passara de um teste. Abraãose revelara digno de tornar-se pai de umapoderosa nação, que seria tão numerosa quanto asestrelas do céu ou os grãos de areia da praia.

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Aos ouvidos modernos, a história é horrível:mostra Deus como um sádico despótico ecaprichoso, e não surpreende que, hoje em dia,muita gente que soube desse episódio nainfância rejeite tal divindade. […].

Esse é um Deus brutal, sanguinário, guerreiro –seria conhecido como Javé Sabaot, o Deus dosExércitos. Passionalmente parcial, propenso acompadecer-se apenas de seus favoritos, nãopassa de uma divindade tribal. Quanto antesdesaparecesse, melhor para todo mundo. […].

Os hebreus chamavam Javé de “o Deus denossos pais”, mas parece que ele era umadivindade bem diferente de El, o Deus Altocananeu adorado pelos patriarcas. Talvez tenhasido o Deus de outro povo, antes de ser o deIsrael. Em suas aparições a Moisés, Javé repeteque é o Deus de Abraão, apesar deoriginalmente ser chamado de El Shaddai. Essainsistência talvez preserve os ecos distantes de umantigo debate sobre a identidade do Deus deMoisés. Sugeriu-se que, em sua origem, Javé teriasido um deus guerreiro, um deus dos vulcões,um deus adorado em Madian, onde hoje é aJordânia. Nunca saberemos onde os israelitas odescobriram, se ele era de fato uma divindadecompletamente nova. Essa questão também seriamuito importante para nós, mas não foi tão crucialpara os autores bíblicos. Na Antiguidade pagã,muitas vezes se amalgamavam diferentes deusesou uma localidade identificava com seus deusesdivindades de outro povo. A única coisa de quepodemos ter certeza é que, fosse qual fosse sua

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proveniência, os acontecimentos do Êxodo fizeramde Javé o definitivo Deus de Israel e que Moisésconseguiu convencer os israelitas de que eleera o mesmo El, o Deus amado por Abraão,Isaac e Jacó. (111)

Confirma-se El como o Deus cananeu,

estabelece a hipótese de que os primeiros hebreus

eram pagãos e, sem meias palavras, Karen

Armstrong afirma: “É muitíssimo provável que o

Deus de Abraão fosse El, o Deus Alto de Canaã. Ele

se apresenta a Abraão como El Shaddai (El da

Montanha), que era um dos títulos tradicionais de

El”, corroborando tudo quanto já foi dito desde o

início, e também a informação da Bíblia de Jerusalém

a respeito da possibilidade de significar “deus da

montanha”. (112) Uma outra tradução, que não ficaria

fora do que vimos, seria entender El Shaddai como

“touro poderoso”.

Vamos acrescentar essas duas últimas

definições do termo “El”:

El em nossa versão portuguesa “Deus” ou“deus”, tem formas cognatas em outras línguassemíticas, e significa um Deus no sentido mais

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lato, verdadeiro ou falso, ou mesmo uma imagemque é tratada como deus (Gn 35:2). Por causadesse caráter geral, a palavra é frequentementeassociada com um adjetivo ou predicado definidor.Por exemplo, em Dt 5:9, lemos: ‘porque eu, oSenhor (Yahweh), teu Deus (elohim), sou Deus (el)zeloso’, ou, em Gn 31:13: ‘Eu sou o Deus (el) deBetel’ Nos tabletes de Ras Shamra, entretanto, Elaparece como substantivo próprio, o nome do“alto Deus” cananeu, cujo filho era Baal. Oplural de El é Elohim e quando é usada comoplural é traduzido por “deuses”. Esses “deuses”podiam ser meras imagens, “madeira e pedra” (Dt4:28), ou os seres imaginários que as mesmasrepresentam (Dt 12:2). (113)

No hebraico, “força”, “poder”. Essa palavra écognata do termo assírio ilu, bem como dovocábulo ugarítico il. Essa palavra significa “deus”(em contextos não-hebraicos), ou então “Deus” (noAntigo Testamento). Esse nome para Deus (oupara deus), não foi inventado pelos hebreusreligiosos, mas foi adotado por empréstimo douso semita pagão. O termo latino deus, quechegou ao português sem qualquer modificação,era o nome pagão de uma divindade similar aZeus, o principal dos deuses dos gregos.Significava apenas deus ou divindade, tendoperdurado mais que os nomes específicos dosdeuses, e assim tornou-se um termo genérico paraindicar a natureza divina. Por essa razão,podemos dizer que a origem do termo Deus, emportuguês, é pagã. A palavra correspondente eminglês, God, é de origem anglo-saxônica, referindo-

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se a qualquer objeto de respeito e adoraçãoreligiosa e, naturalmente, também estavarelacionada ao paganismo. Isso ocorre no caso dequalquer outro idioma, visto que os vocábulosantecedem às revelações dadas aos hebreus e aosapóstolos de Jesus. Portanto, o mero fato de queo termo El é empregado como nome comumpara indicar deuses, divindades, poderesdivinos, etc., nas religiões semíticas, em nadadetrata do valor desse vocábulo, usado noAntigo Testamento, para indicar o Deus daForça. Ver o artigo geral sobre Deus, porção VI,onde são alistados e discutidos os muitos nomesdados a Deus no Antigo Testamento, incluindonome El, sozinho ou em suas muitas combinações.

Essa palavra, como um substantivo, é um dosnomes de Deus, embora também possa ser usadacomo um adjetivo, com o sentido de ‘forte’, emalusão a qualquer coisa, inclusive seres humanos(Eze. 31:11) ou anjos (Sal. 29:1). Essa palavratambém pode indicar deuses pagãos, incluindo osseus ídolos representativos, conforme se vê emÊxo. 15:11; 34:14; Isa. 43:10, um fato quedemonstra a larga aplicação dessa palavra, não selimitando a indicar o único verdadeiro Deus forte,conforme é usada, na maioria de suas ocorrênciasno Antigo Testamento.

A palavra El aparece isolada, algumas vezes;mais frequentemente, porém, em combinações,como El Elyon (o Deus Altíssimo, Gên. 14:18), ElShaddai (o Deus Todo Poderoso, Gên. 17:1), e ElHai (o Deus Vivo, Jos. 3:10). A forma plural dessapalavra é Elohim, embora esse plural seja a forma

113

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intensiva e não um verdadeiro plural. A tradução deElohim poderia ser algo como Grande Deus. Alémdisso, encontramos El Olam (o Deus daEternidade, Gên. 21:33), El Roi (o Deus que vê,Gên. 16:13), El Rehum (o Deus da Compaixão,Deu. 4:31), El Nose (o Deus do Perdão, Sal. 99:8),El Hannun (o Deus Gracioso, Nee. 9:31), e ElKanna (o Deus Zeloso, Êxo. 20:5), etc. (114)

Apenas destacaremos da última explicação:

“Esse nome para Deus (ou para deus), não foi

inventado pelos hebreus religiosos, mas foi adotado

por empréstimo do uso semita pagão.” e “Por essa

razão, podemos dizer que a origem do termo Deus,

em português, é pagã”; tais afirmações selam essa

questão.

Importante, ainda, colocar as considerações de

Pepe Rodrígues, em Mentiras fundamentais da Igreja

Católica:

As compilações mais antigas de tradições queaparecem no Génesis, no Exodo, no Levitico e nosNúmeros foram escritas numa data difícil deprecisar, mas foram-no, algures, durante adenominada época dos reis – provavelmente, noreinado de Salomão (± 970-930 a. C.) –, momentoem que se desenvolveu a historiografia israelita nasequência do esplendor político dessa época.

114

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Nesses livros aparecem claramente identificáveisos textos pertencentes a duas fontes tradicionaismuito distintas – a iaveísta e a eloísta. Essaidentificação foi feita, pela primeira vez, em 1711,num livro de Henning Bernhard Witter, que passoudespercebido; voltou a ser feita, em 1753, por JeanAstruc, médico de Luís XIV, mas, desta vez, foisilenciada; finalmente, em 1780, as duas fontesforam postas em evidência pelo erudito alemãoJohann Gottfried Eichhorn.

Estes três analistas repararam em algo de muitosimples: nos livros do Pentateuco – ou seja, nosprimeiros cinco livros da Bíblia, de que Moisés é osuposto autor –, há muitas histórias que seduplicam, que contam os mesmos actos, só queentre esses relatos há notáveis contradições, sãodiferentes as estruturas da linguagem e, emespecial, o nome dado a Deus varia de uns paraos outros; nuns, aparece como Iavé e, noutros,como El ou Elohim, daí o nome por que passarama chamar-se essas fontes. Dado que ambas asfontes foram escritas por autores que viveram emcontextos sociopolíticos marcados por diferentesnecessidades legislativas, a análise do conteúdodos textos revela claramente que o autor iaveístaviveu em Judá, enquanto o eloísta viveu em Israel.Nalguns relatos, ambas as tradições se juntaram efundiram numa única. A este respeito, a descriçãoque dá Richard Elliot Friedman, teólogo e professorde Hebreu da Universidade da Califórnia, sobretodo este processo parece bastante consistente:

“No decorrer das investigações sobre a antigahistória israelita, alguns investigadores chegaram à

115

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conclusão de que, historicamente, apenas umapequena parte do antigo povo israelita partiu para oEgipto e se tornou escrava. É possível que essegrupo fosse exclusivamente composto por levitas.Feitas as contas, é justamente entre eles queencontramos pessoas com nomes egípcios. Osnomes levitas de Moisés, Hofni e Pineas são todosegípcios, e não hebreus. Por outro lado,contrariamente às outras tribos, os levitas nãoocuparam nenhum território no país. Estesinvestigadores sugerem que o grupo que esteve noEgipto e, depois, no Sinai adorava o deus Iavé. Sómais tarde chegaram a Israel, onde seencontraram com as tribos israelitas queadoravam o deus El. Em vez de lutarem paradecidir qual deus era verdadeiro, os doisgrupos aceitaram a crença de que Iavé e Eleram um único e mesmo Deus. Os levitastransformaram-se nos sacerdotes oficiais dareligião unificada, empregando possivelmente aforça, ou apenas a influência. Ou talvez tivessesido unicamente um modo de serem compensadospelo facto de não possuírem nenhum território. Emvez de um território, passaram a receber, comosacerdotes, dez por cento dos animais sacrificadose das oferendas.

Esta hipótese concorda igualmente com a ideiade que o autor da fonte E [eloísta] foi um levitaisraelita. A sua versão sobre a revelação do nomede Iavé a Moisés seria, no fundo, um reflexo destahistória: o deus que as tribos adoravam no paísera El. Possuíam tradições sobre o deus El e sobreos seus antepassados Abraão, Isaac e Jacob.Entretanto, chegaram os levitas, com as suas

116

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tradições sobre Moisés, o êxodo do Egipto e odeus Iavé. O tratamento que se dá na fonte E aosnomes divinos explica por que motivo o nome deIavé não formava parte das mais antigas tradiçõesda nação”. (115). (116)

Se a informação de J. J. Hurtak estiver correta,

o nome El aparece 250 vezes no Antigo Testamento

(117).

Aceitar isso que estamos comprovando é

complicado para muitos seguidores de igrejas

evangélicas, pois, segundo nos informou uma amiga,

ex-evangélica, a explicação (ipsis litteris) que lhe

deram é a seguinte:

Na Igreja Batista diziam que “El” significava“Dele” ou “Ele” porque o judeu não pronunciava onome de Deus em vão, pois este é um dos 10Mandamentos, veja:

Êxodo 20:7 Não tomará o nome do SENHORteu Deus em vão; porque o SENHOR não terá porinocente o que tomar o seu nome em vão.

Então, todos os nomes que terminam em “El”como Samuel, Rafael, Daniel, etc, são traduzidosassim:

Samuel: Nome “Dele”.

117

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Rafael: “Ele” é quem me cura ou “Ele” é a minhacura.

Daniel: “Ele” é meu juiz ou “Ele” é quem mejulga.

Que os judeus evitavam pronunciar o nome de

Deus isso é lá uma verdade; porém, não quanto ao

que usavam para substitui-lo, uma vez que o termo

El significa Deus, e não “Ele” ou “Dele”. Vejamos as

explicações na Tradução Novo Mundo citando

Theological Wordbook of the Old Testament, Vol. 1,

Chicago (1980), p. 13:

Para evitar o risco de tomar o nome de Deus(YHWH) em vão, os judeus devotos começarama substituir o nome próprio de Deus pelapalavra ‘ădōnā(y). Embora os massoretasdeixassem as quatro consoantes originais no texto,acrescentaram as vogais ē (em lugar de ă, poroutros motivos) e ă para lembrar o leitor depronunciar ‘ădōnā(y), sem consideração dasconsoantes. Esta particularidade ocorre mais deseis mil vezes na Bíblia hebraica. […]. (118)

O que não fazem para fugir daquilo que pode

colocar seus dogmas em contradição?… Quanto aos

significados dos nomes já listados anteriormente, e,

118

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conforme se poderá perceber, nada tem a ver com a

explicação dada por muitos líderes a seus fiéis.

Vejamos, ainda sobre esse assunto, o que disse

o professor Ambrogio Donini (1903-1991), italiano,

catedrático de história das religiões na Universidade

de Bari e livre docente da mesma cadeira na

Universidade de Roma, embaixador italiano na

Polônia em 1947 e senador da República de 1953 a

1963 (119):

Cada vez que encontrava nas sagradasescrituras as quatro consoantes (ou “tetragrama”)do nome divino JHVH – sem as vogais, que sóforam acrescentadas muitos séculos depois doinício da era cristã – o sacerdote hebreu ou o pioleitor comum eram levados desde temposimemoráveis, em virtude da regra do tabu, queproíbe pronunciar o nome do deus do clã, asubstituí-lo, quando declamado em voz alta,pelo termo Adonai, “o meu senhor”. Muito maistarde, no início da Idade Média, as vogais destapalavra foram inseridas entre as quatro consoantesdo nome JHVH para facilitar a leitura obrigatória eimpedir que se violasse de qualquer modo aantiga proibição, transformada em rígida normade fé: daí Jahovah ou Jehovah. (120)

Foi, portanto, confirmada a informação anterior

119

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quanto à questão da pronúncia. E, conforme dito, se

acreditavam num “deus do clã”, é porque

admitiram outros deuses.

Essa questão de não se falar nome nos fez

recordar a informação de que, na Bíblia,

especificamente no Antigo Testamento, a palavra

Egito aparece 529 vezes e Faraó 234 vezes (121);

entretanto, não há uma só menção ao nome próprio

de qualquer Faraó egípcio, ponto esse muito

interessante, levantado por Carlos Boaretto, em

Brasília Egípcia.

Assim, a bem da verdade, se há um nome que

não se falava ou não se escrevia, era o do Faraó do

Egito. E, segundo este autor, “os egípcios

acreditavam que existia um nome divino que não

poderia ser revelado nem pronunciado” (122);

portanto, se tal costume era praticado pelos

egípcios, é sinal que os hebreus tomaram

emprestado deles.

Gênesis 28,16-18: “Jacó acordou do seu sonhoe disse: ‘Na verdade Iahweh está neste lugar eeu não o sabia!’ Teve medo e disse: ‘Este lugaré terrível! Não é nada menos que uma casa de

120

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Deus e a porta do céu’. Levantando-se demadrugada, tomou a pedra que lhe servirade travesseiro, ergueu-a como uma estelae derramou óleo sobre o seu topo. A estelugar deu o nome de Betel, mas anteriormentea cidade se chamava Luza”.

Explicando esse passo, dizem os tradutores da

Bíblia de Jerusalém:

Neste relato parece haver elementos de tradiçãoeloísta e javista, mas sua separação nem sempre éfácil. À primeira pertencem o sonho da escada(mais que uma escadaria) que conduz ao céu,uma ideia mesopotâmica que eram simbolizadaspelas torres em estágios, os zigurates (vv. 12,17), ovoto de Jacó e a fundação do santuário de Betel(vv. 18,20.21a.22); conforme a segunda, Iahwehaparece e renova a Jacó as promessas feitas aAbraão e a Isaac, e Jacó o reconhece como seuDeus (vv. 13-16.19.21b). Ambas realçam oprestígio do santuário de Betel (1Rs 12.19-30+)[…]. (123)

A pedra localiza a presença divina. Ela se tornauma bêt El, uma “casa de Deus”, o que explica onome Betel, e recebe a unção de óleo, como atocultual. Mas tais práticas, difundidas na religiãocananeia e em todo o meio semítico, mais tardeforam condenadas pela Lei e pelos Profetas (verEx. 23,24). Aqui mesmo, à ideia de morada divinasobre a terra se justapõe a noção mais espiritual:

121

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Betel é a “porta do céu”, onde Deus reside (cf. 1Rs8,27). (124)

Quanto o termo estela, eis o que encontramos,

como explicação:

Gn 28,18: Estela ou coluna sagrada, deorigem cananeia, era uma pedra colocada de pécom finalidade religiosa; aqui serve para localizar apresença divina. Mais tarde, para combater oscostumes pagãos, o seu uso foi condenado (Ex23,34; Lv 26,1; Dt 7,5; 12,3; 16,22). (125)

Continua o uso do nome El e também as

práticas difundidas na religião cananeia, sendo feitas

pelos hebreus. Certamente, que isso se justifica por

estarem ligados às práticas pagãs e ainda não

acreditarem num Deus único, embora sempre nos

tenham dito o contrário.

Gênesis 35,2: “Jacó disse à sua família e atodos os que estavam com ele: 'Lançaifora os deuses estrangeiros que estão nomeio de vós, purificai-vos e mudai vossasroupas. Partamos e subamos a Betel! Aí fareium altar ao Deus que me ouviu quando euestava na angústia e me assistiu na viagem

122

Page 124: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

que fiz'”.

Sendo sua ordem generalizada aos que

estavam com ele, concluímos que tinham ídolos;

portanto, adoravam a deuses pagãos. Isso pode ser

confirmado com essa nota: “A família de Jacó não

era ainda monoteísta, mas a ordem do pai

constitui já um ato de fé no Deus único que lhe

aparecera em Betel”. (126)

É bom aqui relembrar que Jacó foi o terceiro

patriarca, era filho de Isaac e Rebeca, portanto, neto

de Abraão. Ele, conforme em breve veremos, oferece

um sacrifício sobre a montanha (Gênesis 31,54), que,

como sobejamente sabemos, era algo característico

dos povos pagãos.

Um pouco atrás citamos essa fala de Champlin

e Bentes: “[…] É inegável que os antepassados de

Abraão eram politeístas (ver Gên. 35:2; Jos. 24:2)”.

(127) Resta-nos agora ver o que podemos encontrar

em Josué:

Josué 24,2: “Assim diz Iahweh, o Deus deIsrael: Além do Rio habitavam outrora osvossos pais, Taré, pai de Abraão e de

123

Page 125: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

Nacor, e serviam a outros deuses”.

A afirmação de que a família de Abraão servia

a outros deuses é tão desconcertante que em

apenas duas traduções bíblicas isso é mencionado,

uma delas é a da editora Ave-Maria: “Deuses

estrangeiros: Os pais de Abraão teriam sido, pois,

pagãos”. (128)

Vejamos a passagem na qual Moisés,

conversando com Deus, obteve d’Ele a revelação do

nome pelo qual Ele se revelou aos patriarcas:

Êxodo 6,2: “Deus falou a Moisés e lhe disse:‘Eu sou Iahweh. Apareci a Abraão, a Isaac e aJacó como El Shaddai; mas meu nomeIahweh, não lhes fiz conhecer”.

Aparece-lhes como o Senhor da Montanha (El

Shaddai); entretanto a afirmação de que não teria

dado a conhecer a Abraão, a Isaac e a Jacó o nome

Iahweh não procede, pois em Gênesis 15,7 Ele revela

seu nome a Abraão, em Gênesis 26,25 Isaac invoca o

seu nome e em Gênesis 28,13 é a vez de Jacó.

Veremos agora mais alguns detalhes que ligam

os hebreus às crenças ou costumes pagãos.

124

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Gênesis 12,10-14: “Houve uma fome na terra eAbrão desceu ao Egito, para aí ficar, pois afome assolava a terra. Quando estavachegando ao Egito, disse à sua mulher Sarai:‘Vê, eu sei que és uma mulher muito bela.Quando os egípcios te vierem, dirão: ‘É suamulher’, e me matarão, deixando-te com vida.Dize, eu te peço, que és minha irmã, paraque me tratem bem por causa de ti e, por tuacausa, me conservem a vida’. De fato, quandoAbrão chegou ao Egito, os egípcios viram quea mulher era muito bela”.

O trecho negritado é assim explicado pelos

tradutores da Bíblia de Jerusalém:

A aproximação com um costume da AltaMesopotâmia: na aristocracia hurrita, o maridopodia ficticiamente adotar sua mulher como“irmã”, e esta passava a gozar então de maiorconsideração e de privilégios especiais. Esta teriasido a condição de Sarai, e Abrão ter-se-iaprevalecido disso diante dos egípcios, que, por suavez, ter-se-iam equivocado (v. 19), comotambém o autor bíblico, que não mais conheciao costume. A explicação é incerta. (129)

Considerando que os habitantes da

Mesopotâmia são de uma civilização anterior à dos

125

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hebreus, não temos alternativa senão considerar que

estes copiaram daqueles.

Ora, a afirmação de que “ter-se-iam

equivocado (v. 19), como também o autor bíblico,

que não mais conhecia o costume” prova que a

Bíblia não é a palavra de Deus como estabeleceram

nos dogmas teológicos.

É muito curiosa a preocupação de Abraão,

porquanto, a essa época, Sara, sua mulher, era uma

velha com 65 anos (comparando-se Gênesis 12,4

com Gênesis 17,17); portanto, não dá para acreditar

que, a essa altura do campeonato, ela ainda

despertava “desejo” nos homens.

Além disso, temos que, de fato, Sara era

mesmo irmã de Abraão, segundo sua própria

afirmação: “ela é realmente minha irmã, filha de

meu pai, mas não filha de minha mãe, e tornou-se

minha mulher” (Gênesis 20,12); portanto, a única

conclusão a se tirar é que ele falou exatamente a

verdade.

Gênesis 16,1-2: “A mulher de Abrão, Sarai, nãolhe dera filho. Mas tinha uma serva egípcia,

126

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chamada Agar, e Sarai disse a Abrão: ‘Vê, eu tepeço: Iahweh não permitiu que eu desse à luz.Toma, pois, a minha serva. Talvez, porela, eu venha a ter filhos’. E Abrão ouviu avoz de Sarai”.

Explicam-nos: “Segundo o direito

mesopotâmico, uma esposa estéril podia dar a seu

marido uma serva como mulher e reconhecer como

seus os filhos nascidos dessa união. O caso se

repetirá com Raquel (30,1-6) e Lia (30,9-13)”. (130)

Mais uma vez, relaciona-se algo praticado pelos

hebreus ao costume mesopotâmico, entenda-se:

pagão.

Gênesis 17,9-14: “Deus disse a Abraão:‘Quanto a ti, observarás a minha aliança, tu etua raça depois de ti, de geração em geração.E eis a minha aliança, que será observadaentre mim e vós, isto é, tua raça depois de ti:todos os vossos machos sejamcircuncidados. Fareis circuncidar a carne devosso prepúcio, e este será o sinal da aliançaentre mim e vós. Quando completarem oitodias, todos os vossos machos serãocircuncidados, de geração em geração. […] Oincircunciso, o macho cuja carne do prepúcionão tiver sido cortada, esta vida será

127

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eliminada de sua parentela: ele violouminha aliança’”.

Destaca-se aqui o rito da circuncisão:

A circuncisão é a amputação do prepúciomasculino, sendo um dos mais antigoscostumes da antiguidade, praticado pordiversos povos. É, ou era, prática a circuncisão(embora com muitas variações quando ao método,a idade e a realização do rito etc.), entre os judeus,islamitas, egípcios, polinésios e indígenas doNovo Mundo, bem como por muitas tribosprimitivas da África e da Austrália. De fato, calcula-se que um sétimo da população masculina domundo é circuncidada. (131)

Na lista dos povos que praticavam a

circuncisão, podemos incluir também os cananeus e

os egípcios. (132)

Lentsman também nos informa:

Este rito era próprio não apenas aos hebreus,mas, também, aos egípcios, aos árabes e amuitos outros povos da Antiguidade e épraticado ainda hoje por crentes de váriasnações. Ora, nessa fonte, ele é apresentado comoo símbolo da aliança entre Jeová e o povo eleito.Semelhante interpretação não seria possível, a não

128

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ser em um país em que não se conhecesse acircuncisão, na Mesopotâmia neste caso. (133)

Especificamente quanto ao Egito, ele se

encontra bem retratado nesta cena de circuncisão

gravada na tumba de Ankn-mahor VI dinastia (2323-

2150 a.C.) (134), que coloca os dados históricos,

provenientes das pesquisas arqueológicas, em

supremacia aos que, posteriormente, e por

interesses, que não nos cabe aqui discutir, se

atribuíram ao fato:

Art Publishers Lehnert & Landrock – Kurt &Edouard Lambelet, Cairo, Egypt

Em relação aos hebreus, essa prática,

129

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transformada em ritual de iniciação religiosa, coloca

a religião deles como altamente machista, pois,

obviamente, cortar a pele que cobre a cabeça do

pênis, é coisa exclusiva para homens.

Além disso, ainda temos “não cobiçarás a

mulher do teu próximo” (Deuteronômio 5,21),

mandamento, obviamente, para homens.

A recomendação de “esta vida será eliminada”,

se a entendermos como pena de morte, evidencia-se

a gravidade de não se praticar a circuncisão.

Para Freud, quem, na verdade, introduziu esse

costume aos hebreus foi outro personagem senão o

próprio Moisés:

Moisés não apenas forneceu aos judeus umanova religião; pode-se afirmar com igualcerteza que ele introduziu para eles o costumeda circuncisão. Esse fato é de importânciadecisiva para nosso problema e nem sequer foilevado em consideração. É verdade que o relatobíblico o contradiz mais de uma vez. Por um lado,faz a circuncisão remontar à era patriarcal,como sinal de um pacto entre Deus e Abraão;por outro, descreve, em passagem particularmenteobscura, como Deus ficou irado com Moisés por ternegligenciado um costume que se tornara sagrado

130

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(135), e procurou matá-lo: a esposa dele, porém,uma madianita, salvou-o da ira de Deus realizandorapidamente a operação. Estas, contudo, sãodeformações que não nos devem desencaminhar;posteriormente, descobriremos a razão para elas.Permanece o fato de haver apenas uma sóresposta para a questão de saber de onde osjudeus derivaram o costume da circuncisão – asaber, do Egito. Heródoto, o “pai da História”,conta-nos que o costume da circuncisão pormuito tempo fora indígena no Egito, e suasafirmações são confirmadas pelas descobertasem múmias e, na verdade, por pinturas nasparedes dos túmulos. Nenhum outro povo doMediterrâneo oriental, até onde sabemos, praticavaesse costume, e pode-se com segurança suporque os semitas, os babilônios e os sumérios nãoeram circuncidados. A própria história da Bíbliadiz que isso é típico dos habitantes de Canaã:constitui uma premissa necessária para a aventurada filha de Jacó e o príncipe de Siquém. (136) Apossibilidade de que os judeus tenhamadquirido o costume da circuncisão durantesua estada no Egito por outra maneira que nãoa vinculação com o ensinamento religioso deMoisés pode ser rejeitada como completamentedespida de fundamento. Ora, tomando comocerto que a circuncisão era costume popular euniversal no Egito, adotemos por um momento ahipótese de que Moisés era judeu, de que buscoulibertar da servidão seus compatriotas no Egito ede que os conduziu a desenvolver uma existêncianacional independente e autoconsciente em outropaís – que foi realmente o que aconteceu. Que

131

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sentido poderia ter, nesse caso, o fato de que, aomesmo tempo, ele lhes tenha imposto um costumeincômodo que inclusive, até certo ponto, ostransformava em egípcios e devia manterpermanentemente viva a lembrança deles emrelação ao Egito, ao passo que os esforços deMoisés só podiam visar a direção oposta, isto é, atornar alheio o povo à terra de sua servidão e asuperar o anseio pelas “panelas de carne” doEgito? Não, o fato do que partimos e a hipóteseque lhe acrescentamos são tão incompatíveis entresi, que podemos atrever-nos a chegar a estaconclusão: se Moisés deu aos judeus não apenasuma nova religião, como também o mandamentoda circuncisão, ele não foi um judeu, mas umegípcio, e, nesse caso, a religião mosaica foiprovavelmente uma religião egípcia, que, em vistade seu contraste com a religião popular, era areligião de Aten, com a qual a religião judaicaposterior concorda em alguns aspectos marcantes.(137)

O fato de encontrarmos sinais de esforçosfeitos para negar explicitamente que Javé eraum novo deus, estrangeiro aos judeus, malpode ser descrito como sendo o aparecimento denovo intuito tendencioso; trata-se, antes, de umacontinuação do anterior. Com esse objetivo emvista, as lendas dos patriarcas do povo –Abraão, Isaac e Jacó – foram introduzidas. Javéasseverou que ele já era o deus dessesantepassados, embora seja verdade que elepróprio teve de admitir que eles não o tinhamadorado sob esse nome (138). Não acrescenta,

132

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contudo, qual era o outro nome.

E aqui estava a oportunidade para um golpedecisivo contra a origem egípcia do costume dacircuncisão: Javé, foi dito, já insistira nela comAbraão e a introduzira como penhor do pactocelebrado entre ele e este último. Mas foi umainvenção particularmente inábil. Como marcadestinada a distinguir determinada pessoa dasoutras e preferir aquela a estas, escolher-se-iaalgo que não pudesse ser encontrado em outropovo, e não uma coisa que podia ser exibida,da mesma maneira, por milhões de outraspessoas. Um israelita que se tivesse transplantadopara o Egito teria sido obrigado a reconhecer todoegípcio como irmão no pacto, como irmão emJavé. É impossível que os israelitas que criaram otexto da Bíblia pudessem ignorar o fato de acircuncisão ser indígena ao Egito. A passagem emJosué citada por Eduard Meyer admite isso semdiscussão, mas, por esse próprio motivo, tinha deser renegada a qualquer preço. (139)

Seja lá qual tenha sido a origem desse ritual, o

certo é que ele provém de povos ditos pagãos; não

há como fugir dessa irrefutável realidade: “Os

israelitas nascidos homens eram circuncidados, mas

o mesmo ocorria com outros povos vizinhos

(inclusive os egípcios)”. (140)

Gênesis 31,54: “Jacó ofereceu um sacrifício

133

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sobre a montanha e convidou seus irmãospara a refeição. Eles comeram e passaram anoite sobre a montanha”.

Sacrifícios sobre uma montanha reporta ao

costume dos cananeus que os praticavam nos

lugares altos, fato que se entende com estas

explicações:

Os lugares altos eram santuáriosestabelecidos sobre uma colina nasvizinhanças das cidades. Existiam na tradiçãocananeia; neles Iahweh substitui Baal (Jz 6,25s)e o culto legítimo os tolerou por muito tempo (1Rs3,4s), até que foram proibidos pela lei da unidadedo santuário (Dt 12,2s). (141)

Os lugares altos eram lugares tradicionaispara culto entre os cananeus. Na Bíblia, esteculto é muitas vezes reprovado, por causa daidolatria a que, frequentemente, dava lugar. Noentanto, antes da centralização do culto a Javé, noTemplo de Jerusalém, vários profetas e sacerdotesprestaram ao Senhor um culto perfeitamenteortodoxo nessas elevações. É o que aqui fazSamuel. (142)

Nos lugares altos eram adorados tambémídolos, mas os que eram consagrados a Deusforam tolerados até que o tabernáculo recebessesede estável no templo. Adorava-se o verdadeiro

134

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Deus ali onde se manifestara em certas ocasiões.(143)

Os altos: ou “alturas” eram os lugares (depreferência sobre colinas) em que o povooferecia sacrifícios a Deus, embora contrariandoa lei que prescrevia só fossem oferecidos notabernáculo. (144)

Nos altos. Não somente trata-se de lugaresaltos (como colinas, etc.), mas também deplataformas construídas para as cerimôniasreligiosas. Estes lugares, e inclusive os bosques,eram os pontos prediletos dos cananitaspraticarem sua religião pagã, razão por quesurgiu o desejo de se realizar o culto verdadeirotão somente no Templo. (145)

Lugares Altos. Nome dado a altares esantuários erigidos a Deus ou a ídolos fora doTemplo, geralmente nos topos das colinas oumontes. Até o estabelecimento definitivo doTemplo de Jerusalém, estes lugares altos (assimchamados algumas vezes, mesmo quando nãoconstruídos em elevação) eram perfeitamentelegítimos se dedicados ao verdadeiro Deus (Ex20,24; Jz 6,26; 2Sam 25,18; 1Par 21,15). Mesmodepois da construção do Templo não foramcompletamente abandonados, e Joroboão, oprimeiro rei do reino separado de Israel (930-909a.C.), favoreceu-os em seu território (3Rs 12,31-32;13,33). Também no reino de Judá os “lugares altos”continuaram a ser frequentados (3Rs 3,3; 15,14;22,44; 4Rs 12,3; 14,4; 15,4.35; 16,4; etc.), até o

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tempo de Ezequias (721-693 a.C.), que destruiuquantos pode (4Rs 18,4.22) por serem contrários àLei (Dt 12,13-14), quer principalmente porque eramem regra geral o cenário de ritos pagãosrevoltantes (Is 57,5-7; 65,7; Jer 2,20; 3,6; 7,31;17,2-3; 19,5; Ez 6,13; 16,6.31; Os 10,8; Miq 1,5).

O culto dos lugares altos foi restabelecidopelo sucessor de Ezequias, Manassés, 693-639a.C. (4Rs 21,3), mas de novo destruído por Josias,638-609 a.C. (4Rs 23,5). (146)

Pelos registros bíblicos, esses rituais passaram

a fazer parte da cultura dos hebreus, o que veremos,

mais adiante, pois, em quase todo o período de

administração política – de Moisés aos reis de Israel e

Judá –, o povo insistia em realizar rituais nesses

locais.

Gênesis 32,23-30: “Naquela mesma noite, elese levantou, tomou suas duas mulheres, suasduas servas, seus onze filhos e passou o vaudo Jaboc. Ele os tomou e os fez passar atorrente e fez passar também tudo o quepossuía. E Jacó ficou só. E alguém lutou comele até surgir a aurora. Vendo que não odominava, tocou-lhe na articulação da coxa, ea coxa de Jacó se deslocou enquanto lutavacom ele. Ele disse: ‘Deixa-me ir, pois já rompeuo dia’. Mas Jacó respondeu: ‘Eu não te deixarei

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se não me abençoares’. Ele lhe perguntou:‘Qual é o teu nome?’ - ‘Jacó’, respondeu ele.Ele retomou: ‘Não te chamarás mais Jacó, masIsrael, porque foste forte contra Deus econtra os homens, e tu prevaleceste’. Jacó fezesta pergunta: ‘Revela-me teu nome, porfavor’. Mas ele respondeu: ‘Por que perguntaspelo meu nome?’ E ali mesmo o abençoou”.

Têm razão os tradutores bíblicos de afirmarem

que se trata de uma “narrativa misteriosa” (147), pois,

pelo relato, temos Jacó travando uma luta física, um

autêntico corpo a corpo, com Deus. Haja fanatismo

para acreditar nisso!

O costume de um deus vir à terra e se

relacionar com homens, certamente, que é pagão. O

trecho “deixa-me ir, pois já rompeu o dia”, nos fez

lembrar os vampiros que só “trabalham” de noite, e

aí fica a pergunta: por qual motivo, esse ser, que

lutou com Jacó, teve que pedir para ir, porque havia

rompido o dia?

Gênesis 37,35: “Todos os seus filhos e filhasvieram para consolá-lo, mas ele recusou todaconsolação e disse: ‘Não, é em luto quedescerei ao Xeol para junto de meu filho’. Eseu pai o chorou”.

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Algumas traduções trazem “sheol”, em vez de

xeol; vejamos como o explicam:

O sheol dos israelitas, no tempo dadecadência religiosa, é praticamente idêntico aohades do povo helênico e ao infernus (lugarinferior) dos romanos – isto é, uma regiãosombria onde os fantasmas humanos vegetamnuma semi-vida sonâmbula e triste. Compreende-se, assim, porque a literatura antiga desses povospermeada de prece e súplicas para que adivindade preserve ou liberte o humano viajordessa deplorável existência após-morte. Só maistarde, o sheol-hades-infernus veio a ser maisnitidamente discriminado de uma vida da almadesencarnada menos vaga, culminando, por fim,na ideia do olympos (céu) como oposto àquele. Eraproverbial entre os gregos que a vida mais humildeaqui na terra era preferível à existência da alma dofamoso herói Aquiles, no além. (148)

Não temos dúvida que tal crença foi absorvida

dos outros povos aqui mencionados; mas, além

deles, podemos citar também os gregos, que tinham,

de igual modo, o tártaro.

Gênesis 40,5-23: “Ora, numa mesma noite, osdois, o copeiro e o padeiro do rei do Egito, queestavam detidos na prisão, tiveram um sonho,

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cada qual com a sua significação. De manhã,vindo encontrá-los, José percebeu que estavamacabrunhados e perguntou aos eunucos doFaraó que estavam com ele detidos na casa deseu senhor: ‘Por que tendes hoje o rostotriste?’ Eles lhe responderam: ‘Tivemos umsonho e não há ninguém para interpretá-lo’.José lhes disse: É Deus quem dá ainterpretação; mas contai-mo!’ O copeiro-mor narrou a José o sonho que tivera:‘Sonhei’, disse ele, ‘que havia diante de mimuma videira, e na videira três ramos: derambrotos, floresceram e as uvas amadureceramem cachos. Eu tinha na mão a taça do Faraó:peguei os cachos de uva, espremi-os na taçado Faraó e coloquei a taça na mão do Faraó’.José lhe disse: ‘Eis o que isto significa: ostrês ramos representam três dias. Mais trêsdias e o Faraó te erguerá a cabeça e terestituirá o emprego: colocarás a taça do Faraóem sua mão, como outrora tinhas o costumede fazer, quando eras seu copeiro. Lembra-tede mim, quando te suceder o bem, e sêbondoso para falares de mim ao Faraó, a fimde que me faça sair desta prisão. Com efeito,fui arrebatado da terra dos hebreus e aquimesmo nada fiz para que me pudessemprender’. O padeiro-mor viu que era umainterpretação favorável e disse a José: ‘Eutambém tive um sonho: havia três cestas debolos sobre a minha cabeça. Na cesta mais

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alta havia todos os tipos de doces que o Faraócome, mas as aves os comiam na cesta, sobrea minha cabeça”. José respondeu assim: ‘Eis oque isto significa: as três cestasrepresentam três dias. Mais três dias ainda e oFaraó te erguerá a cabeça, enforcar-te-á e asaves comerão a carne acima de ti”.Efetivamente, no terceiro dia, que era oaniversário do Faraó, este deu um banquete atodos os seus oficiais e soltou o copeiro-mor eo padeiro-mor no meio de seus oficiais. Elereabilitou o copeiro-mor na copa real eeste colocou a taça na mão do Faraó;quanto ao padeiro-mor, enforcou-o, comoJosé lhe havia explicado. Mas o copeiro-mornão se lembrou de José; ele o esqueceu”.

Entre os vários tipos de adivinhação havia a

interpretação dos sonhos. Entretanto, os israelitas

não consideravam as “revelações” de Iahweh, por

esse meio, como adivinhações, embora o processo

seja o mesmo para as revelações dadas por outros

deuses. Vejamos o que dizem sobre os sonhos:

Os egípcios, como tantos outros povos antigos,davam aos sonhos o valor de presságios. (149)

Gn 40,8. Tanto no Egito, como na Babilônia,atribuía-se aos sonhos grande importância e

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eram muitos os adivinhos que osinterpretavam. Ao contrário do que faziam osoutros adivinhos, José não atribui à Ciência ou àarte humana o poder de interpretar os sonhos, masà assistência e inspiração especial de Deus. (150)

1. Os antigos povos orientais, incluindo osjudeus, davam grande valor aos sonhos,supondo que eles tinham o intuito de fazer-noscomunicações divinas. O Antigo Testamentoexprime essa ideia, mas também outras, as quaisdescrevo na secção III. Os Sonhos na Bíblia. Osintérpretes de sonhos eram altamenteestimados no Egito, conforme a narrativa de Josénos assegura (Gên. 40:41). Outro tanto sucediana Pérsia, na época de Daniel (ver Daniel 7). Trêsideias principais podem ser extraídas dos sonhosentre os povos orientais: a. Os sonhos comorevelações divinas; b. Os sonhos como reflexos davida normal do indivíduo, incluindo problemas desaúde física ou mental, presumivelmente com ointuito de dar-nos um meio de melhorá-la; c. Ossonhos de conhecimento prévio, como avisos ouencorajamentos acerca de certos atos.

2. Na cultura grega. Hipócrates pensava queos sonhos são úteis para diagnosticar os malesfísicos. Sócrates tinha um sonho que se repetia;dizendo-lhe para “fazer música”, que eleinterpretava como “sê um filósofo”, visto que, paraele, a filosofia era a mais linda música. Platãoantecipou alguns elementos da teoria freudiana,supondo que os sonhos refletem toda a espécie derépteis horrendos que se ocultam na mentehumana, e que são combatidos mediante o

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processo da santificação moral. Aristótelesmencionou a ideia comum de que os sonhos sãocomunicações divinas; mas terminou supondo queos sonhos, até mesmo os de conhecimento prévio,usualmente (se não mesmo sempre) sãoacidentais, ou seja, são coincidentes. Entretanto,ele reconhecia também o valor da teoriafuturamente chamada Adleriana (ver 1.11), que dizque um sonho pode criar estados emocionais queafetam nossa vida desperta, condicionando nossosatos.

3. Na cultura romana. Como era usual, osromanos também tomaram por empréstimo o que acultura grega dizia sobre os sonhos, sem grandesmodificações. Eles praticavam a incubação a fimde provocar sonhos supostamente espirituais esignificativos. Isso era feito permanecendo apessoa em algum lugar sagrado, como um temploou um santuário, na esperança de ter um sonhodurante a noite, estando naquele lugar. Os sonhosassim obtidos eram considerados espiritualmentesignificativos, podendo ser interpretados pelopróprio indivíduo ou por algum sacerdote. Aincubação era praticada em nada menos detrezentos templos do mundo greco-romano. Cícero,porém, mostrava-se cético quanto ao método,preferindo o ponto de vista aristotélico dos sonhos.No entanto, ele não se mostrou coerente sobre aquestão, porque uma das razões pelas quais ele sealiou a Otávio, quando houve a luta pelo poder, emRoma, foi que um sonho lhe dissera que Otávioseria vitorioso nesse conflito. O sonho realizou-se,mas não na época certa. Marco Antônio obtevesucesso em um apelo que fez, e Cícero e seus

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irmãos foram executados.

4. No islamismo. Tanto os antigos quanto osmodernos adeptos do islamismo dão muito valoraos sonhos. Maomé afirmou que os sonhos sãoum dos quarenta e seis aspectos da missãoprofética. O Alcorão tem muitas alusões aossonhos divinos, proféticos. A interpretação dossonhos é um exercício religioso dentro dessesistema. Entretanto, julga-se que diferentes classesde pessoas teriam diferentes níveis de sonhos,alguns mais valiosos do que outros. Portanto, osgovernantes e os santos seriam aqueles que têmos sonhos mais profundos, enquanto que aspessoas comuns teriam sonhos mais corriqueiros.Entre as mulheres, as mães seriam as que têmsonhos mais significativos.

III. Os sonhos na Bíblia

1. No Antigo Testamento. Os sonhos alirelatados envolvem instruções e revelaçõesespirituais. Ver os sonhos de Jacó (Gên. 28:12 ss;31:11 ss), de José (Gên. 37:5; 41:1 ss), os deDaniel (Dan. 1:7; 2:1 ss, cap. 7). Ver também oprincípio ensinado em Joel 2:28. Há trechos, comoNúm. 12:6 e J6 33:15, que ensinam que a vontadede Deus é revelada por meio de sonhos. Os falsosprofetas julgavam-se dotados de sonhossignificativos, ou então contavam sonhos quenunca tiveram (Deu. 13:1-3; Jer. 23:25-28; 29:8).Contudo, os sonhos, de acordo com Eclesiastes5:7, podem ser vazios e sem sentido.

2. No Novo Testamento. Podemos evocar ossonhos de advertência dados a José, que salvaram

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a vida de Jesus (Mat. 1:20); os sonhos dos magos,com o mesmo propósito (Mat. 2:12,13); asinstruções dadas a José, para retornarem aNazaré, o que propiciou a formação de Jesus, emseus primeiros anos de vida terrena, naquelacidade (Mat. 2:18); o sonho da esposa de Pilatos,que pode ter sido orientado por Deus ou não, masque, sem dúvida, foi muito significativo (Mat.27:10); e a declaração sobre a utilidade espiritual eprofética dos sonhos, em Atos 2:17. Com basenessas referências, chegamos a entender que ossonhos são tidos, no Novo Testamento, comorevestidos de uma importante função, mascertamente sujeitos a outras funções espirituais,como a função profética. (151)

E aqui uma explicação do ponto de vista

totalmente dogmático:

Uma das fontes e um dos métodos deadivinhação ilícita. As escrituras advertem queos sonhos não devem ser tomados comocomunicações sobrenaturais, a não ser aquelesque tenham origem e interpretação do mesmoDeus (Gn 40,8). Tal advertência entende sustar aprática dos falsos profetas que acreditavam seremos sonhos sinais de favor divino, pelo queproclamavam e interpretavam seus sonhos comosobrenaturais. Os verdadeiros profetas, aocontrário, davam a entender que as comunicaçõesdivinas são espontâneas e só Deus era seuintérprete (Jer 23,16). Ordinariamente e assim os

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devemos considerar. Isto não impede que Deuspossa enviar sonhos, como de fato enviou e oslemos na Bíblia. Pode-se preliminarmente negar aorigem divina de um sonho, se este nos induzir aopecado, a alguma tolice ou mesmo a diminuir oamor de Deus. Seria pecado mortal orientar a vidade quem quer que seja através de sonhos que,certamente, não são de origem divina. (152)

Como sempre acontece, o que “nós” fazemos é

lícito, o que os “outros” fazem é ilícito, provando que

somos totalmente incoerentes, por permitir que

nosso egoísmo e orgulho sempre falem mais alto.

Aqui, deixamos essas perguntas: quem está com a

verdade – aqueles que já praticavam a interpretação

dos sonhos ou os que passaram a praticar depois, só

que com uma justificativa de um deus único? E mais:

será que os deuses dos outros povos não eram iguais

aos anjos do cristianismo, agindo sob a inspiração do

Deus “único” dos judeus? Ou só porque, por

ignorância desses povos, eram chamados de

deuses?…

Gênesis 44,1-5: “Depois José disse a seuintendente: ‘Enche de mantimentos as sacasdesses homens, quanto puder levar, e põe odinheiro de cada um na boca de sua saca.

145

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Minha taça, a de prata, tu a porás na boca dasaca do mais novo, junto com o dinheiro deseu mantimento’. E assim ele fez. Quandoamanheceu, foram despedidos os homens comseus jumentos. Eles tinham apenas saído dacidade não iam longe, quando José disse a seuintendente: ‘Levanta! Corre atrás desseshomens, alcança-os e dize-lhes: ‘Por quepagastes o bem com o mal? Não é o queserve a meu senhor para beber e tambémler os presságios? Procedestes mal no quefizestes’”.

Aqui, fica claro que José realizava

adivinhações, o que é afirmado por ele mesmo em

Gênesis 44,15, usando a sua taça de prata, uma

prática totalmente “abominável” a Iahweh

(Deuteronômio 18,9-12).

Não conseguimos levantar nada da cultura

religiosa dos hebreus no período em que eles ficaram

subjugados aos egípcios, que, conforme relatado na

Bíblia, teria sido de 430 anos (Êxodo 12,40).

Somente temos registro a partir do nascimento

de Moisés, que se tornou o líder desse povo;

inclusive, foi ele quem, segundo se acredita,

conduziu os hebreus para fora do Egito. Entretanto,

146

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nós não conseguimos definir por qual motivo isso se

deu: se foram expulsos (Êxodo 12,39); se o Faraó os

deixou partir (Êxodo 13,17) ou, finalmente, se eles

fugiram (Êxodo 14,5).

Como os hebreus viveram mais de quatro

séculos entre os egípcios (que ao longo de sua

história também adoravam vários deuses), é bom

lembrar que isso nos sugere uma boa chance de que

tenham absorvido a cultura deles. Informam-nos que

o Faraó Akhenaton teria defendido a ideia de um

Deus único; portanto, podemos dizer que ele possuía

uma crença monoteísta:

Outra possibilidade nos é aberta por umacontecimento marcante na história da religiãoegípcia, um acontecimento que só ultimamente foireconhecido e apreciado. Continua sendopossível que a religião que Moisés deu a seupovo judeu era, mesmo assim, a sua própria,que era uma religião egípcia, embora não areligião egípcia.

Na gloriosa XVIII Dinastia, sob a qual o Egito setornou uma potência mundial, um jovem faraósubiu ao trono, por volta de 1375 a.C.Inicialmente ele foi chamado, tal como seu pai,Amenófis (IV); mais tarde, porém, mudou seunome, e não apenas seu nome. Esse rei dispôs-

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se a impor uma religião a seus súditosegípcios, uma religião que ia de encontro àssuas tradições de milênios e a todos os hábitosfamiliares de suas vidas. Ela era ummonoteísmo estrito, a primeira tentativa dessaespécie, até onde sabemos. Na história do mundo,e, juntamente com a crença num deus único,nasceu inevitavelmente a intolerância, queanteriormente fora alheia ao mundo antigo eque por tão longo tempo permaneceu depois dele.O reino de Amenófis, contudo, durou apenas 17anos. Logo após sua morte, em 1358 a.C. anova religião foi varrida e proscrita a memóriado rei herético. O pouco que sabemos delederiva-se das ruínas da nova capital real queconstruiu e dedicou a seu deus, e das inscriçõesnas tumbas de pedras adjacentes a ela. Tudo oque pudemos aprender sobre essa personalidademarcante e, na verdade, única, será merecedor domais elevado interesse. (153)

[…] Sob a influência dos sacerdotes do deussolar em On (Heliópolis), fortalecida talvez porimpulsos provindos da Ásia, surgiu a ideia de umdeus universal Aten, a quem a restrição a um únicopaís e a um único povo não mais se aplicava. Nojovem Amenófis IV, chegou ao trono um faraó quenão tinha interesse mais alto do que odesenvolvimento dessa ideia de um deus. Elepromoveu a religião de Aten a religião estatal e,através dele, o deus universal tornou-se oúnico deus: tudo o que se contava dos outrosdeuses era engano e mentira. Com magníficainflexibilidade, ele resistiu a toda tentação ao

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pensamento mágico, e rejeitou a ilusão, tão caraaos egípcios, especificamente, de uma vida após amorte. Num espantoso pressentimento dedescobertas científicas posteriores, identificou naenergia da radiação solar a fonte de toda a vidasobre a Terra e adorou-a como símbolo do poderde seu deus. Gabava-se de sua alegria na criaçãoe de sua vida em Ma’at (Verdade e Justiça).

Esse é o primeiro e talvez o mais claro casode uma religião monoteísta na história humana;uma compreensão mais profunda dosdeterminantes históricos e psicológicos de suaorigem seria de valor incomensurável. Entretanto,cuidou-se de que informações demasiadassobre a religião de Aten não chegassem aténós. Já sob os débeis sucessores de Akhenatentudo o que ele havia criado entrou em colapso. Avingança da classe sacerdotal que ele haviasuprimido grassou contra sua memória; a religiãode Aten foi abolida, e a cidade capital do faraó,estigmatizado como um criminoso, foi destruída esaqueada. Por volta de 1350 a.C., a XVIII Dinastiaterminou; após um período de anarquia, a ordemfoi restaurada pelo general Haremhab, que reinouaté 1315 a.C. A reforma de Akhenaten parecia serum episódio fadado ao esquecimento. (154)

[…] No Egito, até onde podemos compreender,o monoteísmo cresceu como um subproduto doimperialismo. Deus era um reflexo do faraó que erasoberano absoluto de um grande império mundial.Com os judeus, as condições políticas eramaltamente desfavoráveis ao desenvolvimento daideia de um deus nacional exclusivo para a de um

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soberano universal do mundo. E onde foi que essaminúscula e impotente nação achou a arrogânciade declarar-se a si própria filha favorita do grandeSenhor? O problema da origem do monoteísmoentre os judeus permanecera assim irresolvido, outeríamos de nos contentar com a resposta comumsegundo a qual o monoteísmo era expressão dogênio religioso peculiar desse povo. É bem-sabidoque o gênio é incompreensível e irresponsável:portanto, não devemos trazê-lo à baila comoexplicação até que toda outra solução nos tenhafalhado (155).

Além disso. Deparamo-nos com o fato deque os próprios registros e escritos históricosjudaicos nos apontam o caminho. Asseverandobastante definidamente – dessa vez, semcontradizer-se – que a ideia de um deus únicofoi trazida ao povo por Moisés. Se há umaobjeção à fidedignidade dessa afirmação, é a deque a revisão sacerdotal do texto que temos diantede nós faz, obviamente, demasiadas coisasremontarem a Moisés. Instituições tais como asordenações rituais, que datam inequivocamentede épocas posteriores, são dadas comomandamentos mosaicos, com a clara intençãode lhes emprestar autoridade. Isso certamentenos fornece fundamentos para suspeita, mas não osuficiente para uma rejeição, pois o motivo maisprofundo para um exagero desse tipo é óbvio. Anarrativa sacerdotal busca estabelecer umacontinuidade entre seu período contemporâneo e oremoto passado mosaico: busca repudiarexatamente o que descrevemos como sendo o fato

150

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mais notável da história religiosa judaica, a saber, aexistência de uma lacuna hiante entre a legislaçãode Moisés e a religião judaica posterior – lacunaque foi, a princípio, preenchida pela adoração deJavé, e só lentamente remendada depois. Eladiscute esse curso de eventos por todos os modospossíveis. Embora sua correção histórica estejaestabelecida para além de qualquer dúvida, desdeque, no tratamento específico dado ao textobíblico, provas superabundantes foram deixadaspara prová-lo. Aqui, a revisão sacerdotal tentoualgo semelhante à deformação tendenciosa quetransformou o novo deus Javé no deus dosPatriarcas. Se levarmos em consideração essemotivo do Código Sacerdotal, acharemos difícilreter nossa crença a partir da asserção de que foirealmente o próprio Moisés que forneceu a ideiamonoteísta aos judeus. Estaremos ainda maisprontos a dar assentimento, já que podemos dizerde onde Moisés derivou essa ideia. A qual,certamente, os sacerdotes judeus não conheciammais. (156)

Corroborando essa informação sobre

Akhenaton, temos: “[…] Aquenáton, o faraó herético

que tentou substituir os numerosos deuses do país

por uma única deidade universal”. (157)

Uma outra versão:

Por causa de sua criação parcialmente israelita,

151

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Amenhotep IV (algumas vezes chamado AmenófisIV) (158) não podia aceitar as divindades egípcias esua miríade de ídolos. Assim, ele desenvolveu anoção de Aten, um deus onipotente semimagem, representado por um disco solar comraios voltados para baixo (distinguindo-se dodeus-sol egípcio Rá) (159). O nome Aten eraequivalente à palavra hebraica Adon, um títuloemprestado do fenício, que significa “Senhor”,como a palavra igualmente familiar Adonai, quesignifica “Meu Senhor” (160). Ao mesmo tempo,Amenhotep (Amen está contente) mudou seupróprio nome para Akhenaton (Glorioso espíritode Aten) (161). Fechou todos os Templos dosdeuses egípcios, tornando-se muito impopular,particularmente entre os sacerdotes de Rá e os dadivindade nacional anterior, Amen.

Com sua esposa Nefertite, Akhenaton teve seisfilhas e mantinha uma vida domésticaextraordinariamente bem disciplinada. Mas haviacomplôs contra sua vida e ameaças de insurreiçãoarmada se ele não permitisse que os deusestradicionais fossem adorados junto com o Aten semrosto. Ele recusou e acabou sendo forçado aabdicar em favor de seu primo, Smenkhkare, quefoi sucedido por Tutancaten (filho de Akhenatoncom sua segunda rainha, Kiya).

Ao chegar ao trono, com cerca de 11 anos,Tutancaten foi obrigado a mudar seu nome paraTutankhamon – denotando assim uma fidelidaderenovada a Amen, no lugar de Aten, mas ele viveriaapenas mais nove ou dez anos (162). Akhenaton,nesse tempo, foi banido do Egito em

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aproximadamente 1361 a.C. (163), embora seuspartidários ainda o considerassem monarca dedireito. Para eles, era o herdeiro vivo do trono deseu pai; eles ainda o viam como o Mose real (emgrego: Mosis) (164).

Desde o momento de seu exílio, Akhenaton(dali em diante igualado a Moisés) fez duasviagens ao Sinai, tendo retornado brevementeao Egito entre elas, como explicado no livro doÊxodo. O êxodo israelita geral, que ele liderou,ocorreu na segunda ocasião, por volta de 1330a.C. O culto a Aten continuou por algum tempodepois da morte de Tutankhamon, época em que acoroa foi transferida para seu tio-avô, Aye, maridode Tey, que criara Akhenaton e sua meia-irmã,Nefertite. Tey era a Gloriosa – a Yokâbar, que aBíblia chama Jochebede. Aye foi sucedido por seugenro, o general Horemheb, que anulou Aten,proibiu a menção do nome de Akhenaton eamputou os reis de Amama da lista oficial de Reis.Destruiu também diversos monumentos da época(165); foi por essa razão que a descoberta do túmulode Tutankhamon em novembro de 1922 foirecebida como uma grata surpresa, poispouquíssimo se sabia a respeito deleanteriormente (166). (167)

Encontramos uma surpreendente informação

de quem era Akhenaton:

Recentemente, no livro The Head of God, de

153

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Keith Laidler, foi sugerido que o pai de Scota eraAkhenaton, o faraó que tentou estabelecer omonoteísmo no Egito usando o Sol pararepresentar o único deus verdadeiro, que nãodeveria ter outra imagem além dessa. Maissurpreendente ainda, Laurence Gardner, autor deBloodline of the Holy Grail, afirmou recentementeque Akhenaton seria na realidade Moisés, ohomem que conduziu os israelitas para fora doEgito. (168)

Acreditamos que, no período em que se

tornaram escravos no Egito, é pouco provável que os

hebreus, subjugados fisicamente, também não o

fosse em suas práticas religiosas, até por uma

questão de sobrevivência, embora pelos registros

bíblicos, isso não fique bem claro.

Um exemplo recente desse tipo de adaptação

é o sincretismo das religiões afro no Brasil,

adaptadas às imagens do catolicismo. Essa hipótese

também a encontramos em Russell P. Shedd, que, ao

se referir ao bezerro de ouro, citado em Êxodo. 32,1,

disse:

O hábito de idolatria aprendido no Egito eratão forte, que poucos dias sem ouvir a voz doprofeta e líder dinâmico, eram suficientes para o

154

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povo voltar à lama idolátrica (2Pe 2.20-22), umadescrição dos que voltam à vida mundana, apósterem conhecido a Jesus Cristo. (169)

A confirmação da prática da idolatria é

confirmada por Mons. José Alberto L. de Castro Pinto,

em nota na Bíblia Sagrada – Barsa, quando explica o

passo Deuteronômio 34,9: “E o sepultou: i.e., pelo

ministério de anjos e deixou que o lugar ficasse

desconhecido para que os israelitas, tão propensos à

idolatria, não viessem prestar culto a seu cadáver”

(170), para justificar que, pelo texto, se subentende

que o Senhor sepultou o corpo de Moisés num lugar

desconhecido. Mais à frente, vários estudiosos irão

também confirmar essa prática, que, certamente,

não é compatível para um povo que dizem ser

monoteísta.

Considerando, conforme se crê, que todo

profeta falou em nome de Deus, temos algo para

apresentar com esta fala de Oseias, profeta em

Israel no século VIII a.C., filho de Beeri, que

“começou a pregar no tempo de Jeroboão II; seu

ministério se prolongou pelos reinados dos

sucessores deste rei, mas não parece ter ele

155

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presenciado a ruína de Samaria em 721”. (171), que

disse:

Oseias 12,10: “Eu sou Iahweh teu Deus, desdea terra do Egito […].”

Se Iahweh é Deus dos hebreus “desde a terra

do Egito”, não seria ilógico afirmar que, antes disso,

Ele não era o deus desse povo; certo? Então, a

conclusão que tiramos vai justamente ao encontro

da informação de que Moisés foi quem apresentou

aos hebreus a ideia de um Deus único.

Particularmente nós restringiríamos esse

“único” para o âmbito local dos hebreus (que de

vários deuses passaram a adorar somente um) e não

como “único” no sentido de um Deus Universal,

como hoje se entende, ou seja, eram adeptos do

henoteísmo.

Corroborando:

No livro do Êxodo, Moisés e os israelitas estãono monte Horebe, tendo viajado desde o Egitoatravés do Mar Vermelho. Moisés escala a rochapara falar com El Shaddai, o Senhor daMontanha (mais tarde chamado Jeová), que

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ensina que, a partir de então, ele será seu Deuse que eles não mais devem usar seu ouro parafazer ídolos e imagens deiformes. (172)

Gardner, também, chegou à mesma conclusão,

quanto ao fato de Deus ter se tornado a divindade

dos hebreus a partir de Moisés, especificamente,

quando este recebe, no monte Horeb (Sinai), os Seus

mandamentos.

Pepe Rodrígues, por sua vez, apresenta-nos

outra hipótese:

Na realidade, Moisés nunca pode ter sido ofundador do monoteísmo judeu, como se afirma,porque Moisés, fiel à religião semítica dospatriarcas, praticou o henoteísmo, a“monolatria”, ou seja, não acreditava queexistisse um deus único, mas vários, tendo-selimitado, no entanto, a adorar aquele que julgavaser o maior de todos eles. Só assim sendo sepodem interpretar frases como a do seu cânticotriunfal: “Quem entre os deuses é como tu, ó Iavé?”(Ex 15,11), ou como as do cântico de Jetro, sogrode Moisés: “Agora sei como Iavé é maior que todosos deuses” (Ex 18,11). Crença que, aliás, estápatente nas palavras do próprio Iavé, quandoordena: “Não tereis outro Deus senão eu […]porque eu sou Iavé, teu Deus, um Deus ciumento”(Ex 20,2-5) (173)

157

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Realmente, os argumentos são bem coerentes;

dão o que pensar.

Em Thomas de Wesselow, historiador de arte,

foi onde encontramos a informação sobre as

possíveis épocas nas quais os hebreus tornaram-se

monoteístas:

15. Os especialistas ainda não sabem comprecisão quando os israelitas se tornarammonoteístas, mas, ao que tudo indica, a partirdo fim do século VII a.C., no mais tardar, umpartido que promoveu o culto apenas de Iavé (VerFinkelstein e Silberman 2001, p. 247-249). Éprovável que o monoteísmo tenha se impostocomo o paradigma hebreu dominante nos séculosVI e V a.C. (ver Kninght 2008, pp. 28-29). Tambémnão se sabe com certeza se o primeiromandamento prescrevia, na origem, que Iavé fosseo único ou apenas o principal deus de Israel (verLane Fox 199, pp. 54-5). (174)

Embora não se tenha precisado a época, ela

gira em torno do VII a V a.C. Levando-se em conta a

data mais antiga, estaremos bem próximos de

quando o povo hebreu se tornou cativo na Babilônia.

b) Moisés a Josué

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Embora, a um pouco da história de Moisés seja

de conhecimento de todos nós, vamos transcrevê-la,

para que não sejamos traídos pela memória:

Êxodo 2,1-10: “Certo homem da casa de Levifoi tomar por esposa uma descendente deLevi, a qual concebeu e deu à luz um filho.Vendo que era belo, escondeu-o por trêsmeses. E como não pudesse mais escondê-lo,tomou um cesto de papiro, calafetou-o combetume e pez, colocou dentro a criança e adepôs nos juncos, à beira do Rio. De longe,uma irmã do menino observava o que lhe iriaacontecer. Eis que a filha de Faraó desceu parase lavar no Rio, enquanto as suas criadasandavam à beira do Rio. Ela viu o cesto entreos juncos e mandou uma de suas servasapanhá-lo. Abrindo-o, viu a criança: era ummenino que chorava. Compadecida, disse: ‘Éuma criança dos hebreus!’ Então a sua irmãdisse à filha do Faraó: ‘Queres que eu vá e techame uma mulher dos hebreus que possacriar esta criança?’ A filha do Faraó disse: ‘Vai!’Partiu, pois, a moça e chamou a mãe dacriança. A filha de Faraó lhe disse: ‘Leva estacriança e cria-a e eu te darei a tua paga’. Amulher recebeu a criança e a criou. Quando omenino cresceu, ela o entregou à filha deFaraó, a qual o adotou e lhe pôs o nome deMoisés, dizendo: ‘Eu o tirei das águas’”.

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O que é interessante nessa história, contada

pelo próprio Moisés, uma vez que a autoria desse

livro é atribuída a ele, é que sempre acreditamos

nela como algo real, quando, na verdade, ela foi

tomada de uma lenda; vejamos:

Etimologia popular do nome de Moisés (hebr.Moshê) a partir do verbo masha, “tiras”. Mas a filhado Faraó não falava hebraico. De fato, esse nomeé egípcio. É conhecido na forma abreviada,mosés, ou na forma completa, p. ex., Thutmosés ‘odeus Tot nasceu’. – A história de Moisés tiradodas águas foi comparada com as lendas sobrea infância de algumas personagens célebres,de modo especial Sargon de Agadê, rei daMesopotâmia no III milênio: sua mãe o haviadepositado no rio em um cesto de junco. (175)

O relato do nascimento e salvamento deMoisés se assemelha à lenda contada arespeito de Sargão, o conquistador daMesopotâmia (3º milênio AC). Nascido de paidesconhecido e de uma mãe que o abandonou naságuas do Eufrates numa cesta de vime calafetadacom betume, foi salvo e criado por um jardineiroreal. Depois, amado pela deusa Istar, se tornou reidurante 56 anos. Lendas semelhantes contam-sesobre a origem de Ciro, rei da Pérsia, e de Rômuloe Remo, fundadores de Roma. Com recurso a umtal clichê literário Moisés é colocado entre osgrandes personagens da história. (176)

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Ambas as explicações nos dão conta de que o

nome Moisés é egípcio, e não hebreu como

habitualmente querem nos fazer crer. Além de que,

essa história a seu respeito, se assemelha à lenda

sobre Sargão, rei da Mesopotâmia.

Freud, em Moisés e o Monoteísmo, desenvolve

seus argumentos, concluindo que, de fato, isso é

verdadeiro, pois dedica um capítulo específico

intitulado “Moisés é Egípcio”, do qual transcrevemos:

A primeira coisa que atrai nossa atenção arespeito da figura de Moisés é seu nome, que emhebraico é “Mosheh”, “Qual é a sua origem”,podemos perguntar, “e o que significa?” Comosabemos, a descrição contida no segundo capítulodo Êxodo já fornece uma resposta. É-nos dito aíque a princesa egípcia que salvou o menininhoabandonado no Nilo deu-lhe esse nome,fornecendo-se uma razão etimológica: “porquedas águas o tirei”. Essa explicação, contudo, éclaramente inadequada. “A interpretação bíblicado nome como ‘o que foi tirado das águas’”,argumenta um autor no Jüdisches Lexikon (177),“constitui etimologia popular, com a qual, de início,é impossível harmonizar a forma ativa da palavrahebraica, pois ‘Mosheh’ pode significar, nomáximo, apenas ‘o que tira fora’”. Podemosapoiar essa rejeição por dois outros argumentos:em primeiro lugar, é absurdo atribuir a uma

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princesa egípcia uma derivação do nome apartir do hebraico, e, em segundo, as águas deonde a criança foi tirada muito provavelmentenão foram as do Nilo.

Por outro lado, há muito tempo foi expressa umasuspeita, em muitas direções diferentes, de que onome “Moisés” deriva-se do vocabulárioegípcio. Em vez de enumerar todas as autoridadesque argumentaram nesse sentido, citarei apertinente passagem de um livrocomparativamente recente, The Dawn ofConscience, da autoria de J.H. Breasted, autor cujaHistory of Egypt é considerada obra padrão: “Éimportante notar que seu nome, Moisés, eraegípcio. Ele é simplesmente a palavra egípcia‘mose’, que significa ‘criança’, e constitui umaabreviação da forma mais completa de nomestais como ‘Amon-mose’, significando ‘Amon-uma-criança’, ou ‘Ptah-mose’, significando‘Ptah-uma-criança’, sendo essas próprias formas,semelhantemente, abreviações da forma completa‘Amon-(deu)-uma-criança’ ou ‘Ptah-(deu)-uma-criança’. A abreviação ‘criança’ cedo tornou-se umaforma breve e conveniente para designar ocomplicado nome completo, e o nome Mós ou Més(Mose), ‘criança’, não é incomum nos monumentosegípcios. O pai de Moisés indubitavelmenteprefixou ao nome do filho o de um deus egípciocomo Amon ou Ptah, e esse nome divino perdeu-se gradativamente no uso corrente, até que omenino foi chamado ‘Mose’. (O s final constitui umacréscimo tirado da tradução grega do AntigoTestamento. Ele não se acha no hebraico, que tem‘Mosheh’)” (178) Repeti essa passagem palavra por

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palavra e de maneira alguma estou disposto apartilhar da responsabilidade por seus pormenores.Fico também bastante surpreso que Breastedtenha deixado de mencionar precisamente osnomes teóforos que figuram na relação dos reisegípcios, tais como Ahmose, Toth-mose e Ra-mose.

Ora, deveríamos esperar que uma das muitaspessoas que reconheceram ser “Moisés” um nomeegípcio, houvesse também tirado a conclusão, ou,pelo menos, considerado a possibilidade, de que apessoa que portava esse nome egípcio fosse elaprópria egípcia. […]. (179)

Portanto, é confirmado o que foi dito pelos

tradutores bíblicos a respeito da origem do nome

Moisés; porém, acreditamos que, com bastante

lógica, Freud vai mais longe, dando ao próprio

legislador hebreu uma origem egípcia, fato que dá

suporte à hipótese de que Moisés queria implantar a

ideia de um Deus único.

Além desse livro – Êxodo –, os outros que

fazem parte do chamado Pentateuco – Gênesis,

Levítico, Números e Deuteronômio – têm, segundo

tradição, a Moisés como autor; isso é curioso, pois

algumas coisas neles nos chamam a atenção por ter

origem na mitologia antiga e muitas de suas leis na

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legislação babilônica:

[…] O Deuteronômio, como está dito nosegundo livro dos Reis (Cap. XXII), surgiu em finsdo século VII antes da nossa era, tendo sidodescoberto “por acaso” em um templo deJerusalém, simples subterfúgio da parte dossacerdotes desse templo, desejosos de revestir anova legislação com a autoridade do Moisés. ODeuteronômio, tal como as leis expostas noÊxodo não pode de modo algum datar da épocaem que os hebreus vagavam pelo deserto, umavez que todas elas se endereçam não anômades mas a agricultores estabelecidosdefinitivamente. Notemos, por outro lado, quegrande número de leis do Pentateuco foramtomadas à legislação do rei babilônicoHamurabi, que é um milênio mais antiga. (180)

E aqui entra um ponto importante: se até para

escrevê-lo Moisés usou da mitologia, por que razão,

somente as coisas relacionadas à própria divindade,

que seguia, não o seria? Hoje em dia, essa suposta

autoria de Moisés é bastante questionada, mas não é

o caso de tratarmos disso aqui. Vejamos alguns

exemplos:

Gênesis 6,17: “Quanto a mim, vou enviar odilúvio, as águas, sobre a terra, para

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exterminar de debaixo do céu toda carne quetiver sopro de vida: tudo o que há na terradeve perecer”.

Parece que não é nada original essa ideia de

dilúvio:

O tema de um dilúvio está presente em todasas culturas, mas os relatos da antigaMesopotâmia têm um interesse particular porcausa das semelhanças com o relato bíblico.(181)

Vejamos então, para confirmar, esse relato

originado da Mesopotâmia, que transcrevemos do

livro A história de Gilgamesh, rei de Uruk, de Rosana

Rios:

E Ut-Napistim lhe contou que, havia muito,muito tempo, tinha morado em Shuruppak, umacidade às margens do rio Eufrates. Naquela época,os deuses se sentiram perturbados com obarulho dos mortais, tão alto que não os deixavadormir. Enlil, o deus dos ventos, propôs:

– Vamos soltar as águas do mundo e afogaresse povo barulhento, que perturba nossa paz.

Todos concordaram: Anu, o deus dos céus;Shamash, o deus-sol: Sin, o deus-lua: Ishtar, a

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deusa do amor. E fizeram o juramento de nãorevelar a nenhum mortal o que aconteceria.

Mas Enki, o deus das águas doces, era amigodos humanos. Ele foi a Shuruppak para revelar avinda do dilúvio a Ut-Napistim, um homem bome fiel aos deuses. Como não podia quebrar seujuramento e contar a verdade a ele, usou umestratagema: não se dirigiu ao homem, mas a suacasa feita de juncos.

– Casa de juncos – disse Enki –, escute o quevou dizer. Diga ao homem de Shuruppak que oCavaleiro da Tempestade (182) trará as chuvas, e aságuas afogarão todas as pessoas e todos osanimais. A única forma de sobreviver será construirum grande barco e colocar nele a semente detodas as coisas vivas.

E, sempre falando para a cabana de juncos,Enki explicou o formato e o tamanho que devia tera embarcação.

Ut-Napistim entendeu a mensagem e obedeceuao deus. Derrubou sua casa e em sete diasconstruiu um enorme barco. Nele, acomodoutoda a sua família, os trabalhadores da região etudo o que possuía, além dos animais decriação e dos animais selvagens da floresta edos campos.

Afinal, o Cavaleiro da Tempestade veio trazendoa chuva destruidora. O barco foi carregado pelaágua e pelo vento. Mortal como uma batalha, otemporal se abateu sobre as pessoas e as cidades.Vendavais varreram as florestas e a água furiosa atudo cobriu. A violência era tanta que os próprios

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deuses se encolheram nos céus, com medo dafúria do dilúvio.

Depois de uma semana o temporal se acalmou;Ut-Napistim olhou para fora do barco e, com ocoração dolorido, viu que toda a humanidadetinha voltado ao barro primitivo.

O barco encalhou no topo do monte Nisin, edali o homem de Shuruppak soltou uma pomba.Mas ela não encontrou onde pousar e voltou;então, soltou uma andorinha, que também voltou.Por fim, soltou um corvo, que encontrou terra enão voltou. Ele e sua família desceram o monte eacenderam uma fogueira em homenagem aosdeuses. No alto do céu, os deuses estavamarrependidos por terem enviado o dilúvio edestruído os humanos e se reuniram como moscasem torno da fumaça da fogueira. Apenas Enlil seenfureceu por Ut-Napistirn ter escapado e acusouEnki de tê-lo avisado. Mas Enki respondeu:

– Não revelei o segredo dos deuses ao homemde Shuruppak. Você é um dos deuses mais sábiose não percebe o erro do dilúvio? Se há maldadeentre os homens, que eles sejam punidos. Quesejam atacados pelas feras ou pelas doenças, masnão destruídos. (183)

Caro leitor, você não está com a impressão que

já ouviu essa história em algum lugar, apenas com

outros nomes? Pois é, tal e qual a do nosso Noé

bíblico; só que o detalhe é que essa é bem anterior à

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que consta na Bíblia, o que nos leva, por força da

lógica, a concluir que tomaram essa lenda

emprestada dos que habitavam na Mesopotâmia,

fato que, por consequência, faz cair por terra a

crença na inspiração divina dos textos sagrados.

E ainda temos, nessa lenda da mesopotâmia,

que a humanidade havia voltado ao barro primitivo,

ou seja, acreditavam também que o homem veio do

barro, tal e qual dizem do lendário Adão bíblico.

E para reforçar mais ainda essa origem,

transcrevemos:

No Gênesis, a história do dilúvio é uma daspoucas que ainda alimenta o interesse doscientistas, depois que os físicos substituíram acriação do mundo pelo Big Bang e Darwinsubstituiu Adão pelos macacos. O que intrigou ospesquisadores foi o fato de uma história parecidaexistir no texto épico babilônico de Gilgamesh – oque sugere que uma enchente de enormesproporções poderia ter acontecido no OrienteMédio e na Ásia Menor. Parte do mistério foisolucionado quando os filósofos conseguiramdemonstrar que a narrativa do Gênesis é umaapropriação do mito mesopotâmico. “Não hádúvida de que os hebreus se inspiraram nomito de Gilgamesh para contar a história do

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dilúvio”, afirma Rafael Rodrigues da Silva,professor do Departamento de Teologia da PUC deSão Paulo, especialista em exegese do AntigoTestamento. (184)

Não há como contestar esse fato.

Êxodo 19,10-11: “Iahweh disse a Moisés: ‘Vaiao povo, e faze-o santificar-se hoje e amanhã;lavem as suas vestes, estejam prontos depoisde amanhã, porque depois de amanhã Iahwehdescerá aos olhos de todo o povo sobre amontanha do Sinai”.

Duas coisas nos remetem a esse passo: a

primeira, é a montanha do Sinai, na qual pensavam

morar a divindade (185), lembra-nos a designação de

El Shaddai, como o Senhor da Montanha (186); a

segunda, é a crença de que os deuses se

manifestavam nos montes, pela ligação bem próxima

que faziam entre o céu e a terra. Essa manifestação

divina vem reforçar tudo que já foi dito a respeito

disso sobre ambas.

Êxodo 19,16: “Ao amanhecer, desde cedo,houve trovões, relâmpagos e uma espessanuvem sobre a montanha, e um clamormuito forte de trombeta: e o povo estava

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no acampamento pôs-se a tremer. Moisés fez opovo sair do acampamento ao encontro deDeus, e puseram-se ao pé da montanha. Todaa montanha do Sinai fumegava, porque Iahwehdescera sobre ela no fogo; a sua fumaça subiucomo a fumaça de uma fornalha, e toda amontanha tremia violentamente. O som datrombeta ia aumentando pouco a pouco;Moisés falava e Deus lhe respondia no trovão.Iahweh desceu sobre a montanha do Sinai, nocimo da montanha”.

As explicações, a seguir, sobre o Sinai são bem

interessantes:

A localização do Sinai é difícil. Desde o séculoIV de nossa era, a tradição cristã o coloca ao sulda península da qual leva o nome, no djebel Musa(2.245m). Mas uma opinião atualmentedifundida evoca os traços característicos de umvulcão na descrição da teofania (19,6+) e oitinerário de Nm 33 (cf. 33,1+), para situar o Sinaina Arábia, onde os vulcões estavam ainda ematividade naquela época histórica. Estesargumentos não são decisivos (cf. As notasindicadas), e outros textos supõem umalocalização mais próxima do Egito e do Sul daPalestina. Por isso, outra teoria situa o Sinai, pertode Cades, apoiando-se nos textos que põe Seir,Edon e o monte Farã em relação com amanifestação divina (Jz 5,4; Dt 33,2; Hab 3,3).

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Todavia, Cades nunca está associado com odeserto do Sinai, e alguns textos localizamclaramente este último longe de Cades (Nm 11-13;33; Dt 1,2.19). A localização ao sul da penínsulapermanece a mais verossímil. Apesar daimportância constante dos acontecimentos e dalegislação ligada ao Sinai (Ex 3,1-4-4,17; 18;19-40;Nm 1-10), os israelitas parecem ter-se logoesquecido de sua localização exata. […]. (187)

[…] O monte Sinai é normalmente identificadocom Jebel Musa, um pico de 2.500 metros dealtura ao sul do “V” formado pelos golfos de Sueze Aqaba. Ao pé deste monte há uma planície de4.000 metros de cumprimento por 800 metros delargura na qual o povo poderia facilmente teracampado durante os mais de 11 meses em que alificou. (188)

O monte Sinai, que supera em altura a todos osdas províncias vizinhas, está tão cheio de rochedosescarpados, de todos os lados, que não somentecom muita dificuldade lá se pode subir, mas não sepoderia contemplá-lo, sem temor, pois é crençacomum que Deus mora lá e esse lugar parecetemível e inacessível. […]. (189)

Ora, as descrições “fumaça na montanha”,

“clamor muito forte de trombeta” e “toda a

montanha tremia violentamente”, nos faz lembrar

uma ocorrência vulcânica; e com a explicação de

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que, naquela época, os vulcões próximos da região

estavam em atividade (190), não temos como pensar

em algo diferente disso.

Curioso é como acreditavam na presença da

divindade no Monte Sinai:

[…] O céu estava tão claro e tão sereno, quenão existia a menor nuvem; mas surgiu umanuvem quase de repente, que cobriu todo oacampamento dos israelitas; um vento impetuoso,acompanhado de grande chuva, levantou umfuracão violento; os relâmpagos seguiam-se, umtão perto do outro, que deslumbravam os olhos,não somente, mas lançavam o terror nos espíritos;o raio que caía com um ruído estranho, indicava apresença de Deus. […]. (191)

A ignorância das causas dos fenômenos

naturais fazia-os ver tais ocorrências como sendo a

presença ou manifestação da divindade. Algumas

vezes tinham-nos como resultado de sua ira,

castigando os homens, como, por exemplo, nesta

explicação de Josefo para o Mar Vermelho se fechar:

O vento juntou-se às vagas para aumentar atempestade: grande chuva caiu dos céus. Os

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relâmpagos misturaram-se com o ribombo dotrovão, os raios seguiam-se aos trovões e, paraque não faltasse nenhum sinal dos maisseveros castigos de Deus, na sua justa cólerapara punir os homens, uma noite sombria etenebrosa cobriu a superfície do mar, de modo quede todo esse exército tão temível não restou umúnico homem que pudesse levar ao Egito a notíciada horrível catástrofe. (192)

Por outro lado, sendo isso verdade, então, as

observações de Sigmund Freud, já mencionadas, e as

que seguem, a respeito de Jeová, como um deus

vulcânico, fazem sentido:

Esses historiadores modernos, dos quaispodemos tomar Eduard Meyer comorepresentante, concordam com a história bíblicanum ponto decisivo. Também eles acham que astribos judaicas, que mais tarde sedesenvolveram no povo de Israel, adquiriramuma nova religião num determinado ponto dotempo. Contudo, segundo eles isso não serealizou no Egito ou ao sopé de uma montanhana Península de Sinai, mas numa certa localidadeconhecida como Meribá-Cades, um oásisdistinguido por sua riqueza em fontes e poços, naextensão de terra ao sul da Palestina; entre a saídaoriental da Península de Sinai e a fronteiraocidental da Arábia. Aí eles assumiram aadoração de um deus Iavé ou Javé,

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provavelmente da tribo árabe vizinha dosmadianitas. Parece provável que outras tribos davizinhança também fossem seguidoras dessedeus.

Javé era, indiscutivelmente, um deusvulcânico. Ora, como é bem-sabido, o Egito nãopossui vulcões e as montanhas da Península deSinai nunca foram vulcânicas; por outro lado,existem vulcões que podem ter sido ativos, atétempos recentes, ao longo da fronteira ocidental daArábia. Assim, uma dessas montanhas deve tersido Sinai-Horeb, considerado a morada de Javé.(193) Apesar de todas as revisões a que a históriabíblica foi submetida, o retrato original do caráterdo deus pode ser reconstruído, segundo EduardMeyer: era um demônio sinistro e sedento desangue, que vagueava pela noite e evitava a luz dodia. (194)

O mediador entre Deus e o povo, na fundaçãodessa religião, chamava-se Moisés. Era o genro dosacerdote madianita Jetro e cuidava de seusrebanhos quando recebeu a convocação de Deus.Foi também visitado por Jetro em Cades e recebeualguns conselhos dele. (195)

Confirma-se, também, a questão de que

somente ao pé do Sinai é que os hebreus tiveram

contato com o Deus que Moisés queria lhes impor;

não sem atritos, conforme veremos com os fatos

registrados na Bíblia.

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Números 14,1-4: “Então toda a comunidadeelevou a voz; puseram-se a clamar, e o povochorou aquela noite. Todos os filhos deIsrael murmuraram contra Moisés eAarão, e toda a comunidade lhes disse: ‘Antestivéssemos morrido na terra do Egito! Estamosmorrendo neste deserto! E por que Iahweh nostraz a esta terra para nos fazer perecer àespada para entregar como presa as nossasmulheres e as nossas crianças? Não nos seriamelhor voltar para o Egito?’ E diziam uns aosoutros: ‘Escolhamos um chefe e voltemospara o Egito’”.

Números 14,11-12: “E Iahweh disse a Moisés:‘Até quando este povo me desprezará?Até quando recusará crer em mim, apesardos sinais que fiz no meio deles? Vou feri-lo com pestilência e o deserdarei. De ti,contudo, farei uma nação maior e maispoderosa do que este povo”.

Realmente é de se questionar: se Deus havia

feito tantos sinais a favor dos hebreus por que

motivo não O seguiam incondicionalmente?

Certamente é pelo motivo de estarem ligados a uma

outra crença, que não a que Moisés queria implantar.

Moisés faz Deus refletir sobre a ameaça de

ferir o povo com pestilência, conseguindo que Ele

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voltasse atrás:

Números 14,13-19: “Moisés respondeu aIahweh: ‘Os egípcios ouviram que pela tuaprópria força fizeste sair este povo do meiodeles’. Disseram-no também aos habitantesdesta terra. Souberam que tu, Iahweh, estásno meio deste povo, a quem te fazes ver facea face; que és tu, Iahweh, cuja nuvem pairasobre eles; que tu marchas diante deles, de dianuma coluna de nuvem e de noite numacoluna de fogo. Se fazes perecer este povocomo um só homem, as nações queouviram falar de ti vão dizer: ‘Iahweh nãoconseguiu fazer este povo entrar na terraque lhe havia prometido com juramentoe, por isso, o destruiu no deserto’. Não!Mas que agora a tua força, meu Senhor,se engrandeça! Segundo a tua palavra:‘Iahweh é lento para a cólera e cheio de amor,tolera a falta e a transgressão, mas não deixaninguém impune, ele que castiga a falta dospais nos filhos até a terceira e quarta geração.’'Perdoa, pois, a falta deste povo segundo agrandeza da tua bondade, tudo conforme otens tratado desde o Egito até aqui’”.

Números 14,20-23: “Disse Iahweh: ‘Eu operdoo, conforme a tua súplica. Mas – eisque eu vivo! E a glória de Iahweh enche toda aterra! – todos estes homens que viram minha

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glória e os sinais que fiz no Egito e no deserto,estes homens que já me puseram à provadez vezes, sem obedecer à minha voz, nãoverão a terra que prometi com juramento aseus pais. Nenhum daqueles que medesprezam a verá’”.

E aqui vemos o próprio Deus reclamando que

os hebreus não o obedeciam. Estranha essa

mudança de atitude, pois pensávamos que em suas

decisões Deus não mudava de opinião, voltando

atrás em alguma coisa, uma vez que isso é próprio

de seres imperfeitos. E, a bem da verdade, não

houve um perdão incondicional, porque apenas Ele

mudou a ameaça:

Números 14,26-35: “Iahweh falou a Moisés e aAarão. Disse-lhes: ‘Até quando estacomunidade perversa há de murmurarcontra mim? Ouvi as queixas que os israelitasmurmuram contra mim. Dize-lhes: Por minhavida – oráculo de Iahweh – eu vos tratareisegundo as próprias palavras quepronunciastes aos meus ouvidos. Os vossoscadáveres cairão neste deserto, todosvós os recenseados, todos vós osenumerados desde a idade de vinte anospara cima, vós que tendes murmurado contra

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mim. Juro que não entrareis neste país, arespeito do qual eu, levantando a mão, fizjuramento de nele vos estabelecer. ApenasCaleb, filho de Jefoné, e Josué, filho de Nun, eos vossos filhos, dos quais dizíeis que seriamlevados como presa, serão eles que fareientrar e que conhecerão a terra quedesprezastes. Quanto a vós, os vossoscadáveres cairão neste deserto, e vossosfilhos andarão errantes neste desertodurante quarenta anos, carregando o pesoda vossa infidelidade, até que os vossoscadáveres se consumam no deserto.Explorastes a terra durante quarenta dias. Acada dia corresponde um ano: por quarentaanos levareis o peso de vossas faltas esabereis o que é o fato de me abandonar.’ Eufalei, eu mesmo, Iahweh; é assim que tratareitoda esta comunidade perversa amotinadacontra mim. Neste mesmo deserto não restaráum deles e é ali que morrerão.”

Apesar dos israelitas estarem às “portas” da

terra prometida, foram mandados de volta para o

deserto, local em que vagaram por quarenta anos e

onde todas as pessoas de mais de 20 anos

morreram. Então, percebe-se que Iahweh queria Se

impor aos hebreus à força; usava Moisés como seu

intermediário, conforme se apreende das narrativas

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bíblicas. Porém, nós acreditamos que isso era do

próprio Moisés, que, querendo se impor, usou

fartamente do nome de Deus para conseguir seu

intento.

Agora veremos uma rebelião na qual

questionavam a liderança religiosa de Aarão e a

política de Moisés.

Números 16,1-3: “Coré, filho de Isaar, filho deCaat, filho de Levi, Datã e Abiram, filhos deEliab, e On, filho de Felet (Eliab e Felet eramfilhos de Rúben), encheram-se de orgulho;levantaram-se contra Moisés, juntamentecom duzentos e cinquenta israelitas,príncipes da comunidade, respeitados nassolenidades, homens de renome.Ajuntaram-se, pois, contra Moisés eAarão, dizendo-lhes: 'Basta! Toda acomunidade e todos os seus membros sãoconsagrados, e Iahweh está no meio deles. Porque, então, vos exaltais acima da assembleiade Iahweh?”

Números 16,12-14: “Moisés mandou chamar aDatã e Abiram, filhos de Eliab. Responderameles: ‘Não iremos. Não é por acaso bastanteque nos fizeste deixar uma terra que manaleite e mel, para nos fazer morrer neste

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deserto, e queres ainda fazer-te príncipesobre nós? Na verdade não é uma terra quemana leite e mel a terra para a qual nosconduziste e não nos deste por herançacampos e vergéis! Pensas em tornar cego aeste povo? De modo algum iremos”.

O questionamento dos revoltosos “queres

ainda fazer-te príncipe sobre nós”, fez-nos lembrar

de algo que nós vimos alhures sobre a possibilidade

de Moisés ter retirado os hebreus do Egito para se

tornar rei deles. Acreditamos que essa afirmativa

cabe bem em quem lidera e quer impor alguma

coisa, um novo deus, por exemplo, como, ao que

tudo se parece, foi o caso de Moisés.

Curioso é o desenrolar dessa história:

Números 16,28-35: “Disse Moisés: ‘Nistoconhecereis que foi Iahweh que me envioupara realizar todos estes feitos e que não fizpor mim mesmo: se estas pessoas morreremde morte natural, atingidas pela sentençacomum a todos os homens, então não foiIahweh que me enviou. Mas se Iahweh fizeralguma coisa estranha, se a terra abrir a suaboca e os engolir, a eles e tudo aquilo que lhespertence, e se descerem vivos ao Xeol,

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sabereis que estas pessoas desprezaram aIahweh’. E aconteceu que, acabando depronunciar todas essas palavras, o solo sefendeu sob os seus pés, a terra abriu asua boca e os engoliu, a eles e suas famíliasbem como todos os homens de Coré e todos osseus bens. Desceram vivos ao Xeol, eles e tudoaquilo que lhes pertencia. A terra os recobriu edesapareceram ao meio da assembleia. A seusgritos, fugiram todos os israelitas que seencontravam ao redor deles. E diziam: ‘Que aterra não engula a nós também!’ Saiu fogoda parte de Iahweh e consumiu osduzentos e cinquenta homens que ofereciamsacrifício”.

Provavelmente um fenômeno natural foi levado

à conta da intervenção de Iahweh; aliás, sempre

faziam isso. Tudo leva a crer tratar-se de alguma

movimentação de placas tectônicas que produziram

simultaneamente, abertura de uma fenda no solo

com uma lufada incandescente de alguma matéria

de dentro da terra.

É certo que Moisés se esforçou para instituir a

ideia de um Deus único; para isso tomou a

providência de proibir que o povo adorasse a outros

deuses e que também não tomasse para si as

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práticas dos cananeus ao chegar à terra prometida.

E, para nós, o fato dele ter-se esforçado tanto para

instituir a adoração a um Deus único, torna-se óbvio

que o povo era politeísta, ou, na melhor das

hipóteses, adeptos do henoteísmo.

Êxodo 34,12-14: “Abstém-se de fazeraliança com os moradores da terra paraonde vais, para que não te sejam uma cilada.Ao contrário, derrubareis os seus altares,quebrareis as suas colunas e os seuspostes sagrados. Não adorarás outro Deus.Pois Iahweh tem por nome Zeloso: é um Deuszeloso”.

Moisés, como se vê, queria eliminar tudo o que

se referia à crença dos povos da região, entre eles,

os cananeus. Robin Lane Fox, explicando o último

versículo, diz:

Esta parte do relato já foi definitivamentedatada, e sabe-se que foi escrita no século VI a.C.:o monoteísmo não era uma tradição tãoprimitiva em Israel, e nem a ideia de umaaliança com Deus. (196)

Isso só vem reforçar tudo quanto já se disse

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sobre o assunto.

A partir daí, Moisés estabelece estatutos e

normas, entre os quais encontramos esta

recomendação:

Deuteronômio 5,7-9: “Não terás outrosdeuses diante de mim. Não farás para tiimagem esculpida de nada que seassemelhe ao que existe lá em cima, nocéu, ou cá embaixo na terra, ou nas águas queestão debaixo da terra. Não te prostrarásdiante desses deuses nem os servirá,porque eu, Iahweh teu Deus, sou um Deusciumento, […].”

Certamente, uma determinação desse tipo,

que, inclusive, consta dos Dez Mandamentos, só faz

sentido para quem ainda não tinha um Deus único,

ou seja, a crença monoteísta, que era justamente o

que se queria implantar ao impedi-los de adorar,

servir e fazer imagens de outros deuses. Fato que

podemos confirmar com a explicação do passo Êxodo

20,3-5, cujo teor é igual ao deste que estamos

comentando:

Aqui é rigidamente inculcado o monoteísmo,

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ou seja, o culto do único e verdadeiro Deus edetesta-se a idolatria, à qual o povo era tãoexposto e inclinado. É a razão por que é proibida aprodução de imagens. Hoje, inexistindo esseperigo, são permitidas, pois são um auxílio válidopara o culto exterior. (197)

Obviamente que era de se esperar o

“salvamento” para o culto das imagens, porquanto,

ela é de cunho católico, que admite imagens para

identificar os seus denominados santos.

E quanto a isso, ou seja, a adorar outros

deuses, os hebreus foram severamente advertidos,

caso fizessem imagens: Deuteronômio: “sereis

depressa e completamente exterminados da face da

terra da qual ides tomar posse ao atravessardes o

Jordão.”; porém, nem com essa ameaça eles O

seguiram incondicionalmente. Insiste na questão de

ser um Deus Zeloso (ciumento).

Aliás, essas ameaças eram uma constante

entre os “homens de Deus”, num autêntico

terrorismo religioso, visando implantar Iahweh como

o Deus único dos hebreus; mais à frente, daremos

alguns exemplos.

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E especificamente sobre os Dez Mandamentos,

Champlin e Bentes, explicam-nos:

[…] Muitos teólogos têm HUMAN-izado a ideiaveterotestamentária da lei, pois dizem que areivindicação de origem divina, da lei mosaica,não passa um uma invenção humana.Historicamente, isso exprime uma verdade –pode-se mostrar que os babilônios e outrospovos antigos contavam com códigos legaisbastante similares aos dos judeus, e expressoscom bastante elaboração. É nossa tendênciasubestimar a sensibilidade moral dos povosantigos. […]. (198)

Portanto, nem neste ponto podemos dizer que

os hebreus foram originais.

E não sabemos as razões pelas quais não

foram exterminados, pois, de fato, eles adoraram a

outros deuses. Até vemos nisso uma certa

incoerência, pois a vingança que havia prometido

contra Amalec, por ele não ter permitido o povo

hebreu passar por suas terras, deu ordens expressas

a Saul para executá-la:

1 Samuel 15,3: “Vai, pois, agora, e investecontra Amalec, condena-o ao anátema com

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tudo o que lhe pertence, não tenhas piedadedele, mata homens e mulheres, crianças erecém-nascidos, bois e ovelhas, camelose jumentos”.

Se nos horrorizamos diante das barbaridades

cometidas nas guerras contra civis, por qual motivo

não deveríamos ter o mesmo procedimento em

relação ao narrado nesse passo? Nos dias atuais

alguém com um comportamento semelhante seria

julgado e certamente condenado por crime contra a

humanidade.

É por passagens como essas que não dá para

se aceitar que o Deus do Antigo Testamento, fosse o

Criador do Universo, que, sem a menor dúvida,

nunca mandaria matar seus filhos e muito menos

vingaria a atitude de um rei em mulheres, crianças e

recém-nascidos, sem falar nos pobres animais que

nada tinham a ver com a história e mesmo assim

sofreram-lhes as consequências; acreditar nisso só

para os fanáticos, que parecem deletar de sua mente

qualquer possibilidade de raciocínio lógico.

Além disso, esse Deus é adepto do “faça o que

eu digo, mas não faça o que faço”, pois, em seus

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mandamentos, encontramos: “Não matarás” (Êxodo

20,13) e “não matarás o inocente e o justo” (Êxodo

23,7).

Outras recomendações lhes foram transmitidas

para quando tomassem posse da Terra Prometida:

Deuteronômio 18,9-14: “Quando entrares naterra que Iahweh teu Deus te dará, nãoaprendas a imitar as abominaçõesdaquelas nações. Que em teu meio não seencontre alguém que queime seu filho ou suafilha, nem que faça presságio, oráculo,adivinhação ou magia, ou que pratiqueencantamentos, que interrogue espíritos ouadivinhos, ou ainda que invoque os mortos;pois quem pratica essas coisas é abominável aIahweh, e é por causa dessas abominaçõesque Iahweh teu Deus as desalojará em teufavor. Tu serás íntegro para com Iahweh teuDeus. Eis que as nações que vais conquistarouvem oráculos e adivinhos. Quanto a ti, issonão te é permitido por Iahweh teu Deus”.

A terra que “mana leite e mel”, que estavam

por conquistar, era justamente a terra dos cananeus,

o povo que adorava o deus El, que, pelo visto acima,

também era dado a prognósticos e adivinhações,

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muitas vezes obtidos por meio de suas relações com

os seres espirituais, tidos à época como sendo

deuses.

Números 21,7-9: “[…] Moisés intercedeu pelopovo e Iahweh respondeu-lhe: ‘Faze umaserpente abrasadora e coloca-a em uma haste.Todo aquele que for mordido e a contemplarviverá’. Moisés, portanto, fez umaserpente de bronze e a colocou em umahaste; se alguém era mordido por umaserpente, contemplava a serpente de bronze evivia”.

Aqui temos mais uma confirmação de uma

incongruência de Deus, pelo uso do “faça o que digo,

mas não faça o que eu faço”, porquanto, Ele proíbe

fazer ídolos (Levítico 26:1) e, nesta passagem manda

fazer uma serpente, que se tornou objeto de culto:

A serpente na antiguidade era o símbolo dadivindade que cura. Trata-se de um cultoestranho que se introduziu até no templo deJerusalém, e foi abolido só no tempo de Ezequias.Para afastar a impressão de magia, já no livro daSabedoria se afirma que a cura não provinha daserpente mas da misericórdia divina. (199)

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Essa estátua só foi destruída por Ezequias; e

neste período todo – sete séculos –, ela foi objeto de

adoração, conforme corrobora a seguinte explicação:

A serpente de bronze. O que fora, setecentosanos antes, um meio de cura (Nm 21:8-9)tornara-se um ídolo adorado pelo povo. Neustãsignifica “um mero pedaço de bronze” – umdesmascaramento desdenhoso do que aquelavenerada relíquia realmente era. Destruí-la era aúnica alternativa certa para Ezequias. (200)

A serpente de bronze foi conservada emJerusalém até ao tempo de Ezequias (725-697a.C.), o qual a destruiu por se ter tornado objeto deculto idolátrico (2Rs 18,4). O próprio Cristo explicao significado simbólico de todo o fato (Jo 3,14-15).(201)

Embora alguns tradutores e exegetas tentem

amenizar ou disfarçar o fato, não há como negar que

os hebreus praticavam rituais cananeus; portanto,

cultos pagãos aos quais tiveram ordem expressa de

os eliminar destruindo todos os apetrechos e locais,

conforme se vê nessa ordem divina a Moisés:

Números 33,51-52: “Fala aos israelitas: tu lhesdirás: Quando tiverdes atravessado o Jordão,

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em direção à terra de Canaã, expulsareis dediante de vós todos os habitantes da terra.Destruireis as suas imagens esculpidas, todasas suas estátuas de metal fundido, edemolireis todos os seus lugares altos”.

Vemos aqui que houve ordem expressa aos

hebreus para que destruíssem os lugares altos, onde

os cananeus praticavam seus rituais; porém,

conforme vimos, eles, os próprios hebreus, também

se utilizavam desses locais para praticar os seus

rituais.

Josué 8,30-31: “Josué então edificou um altara Iahweh, Deus de Israel, sobre o monteEbal, como Moisés, servo de Iahweh, haviaordenado aos israelitas, segundo o que estáescrito no livro da Lei de Moisés: um altar depedras brutas não trabalhadas com ferro. Enele ofereceram holocaustos a Iahweh eimolaram sacrifícios de comunhão”.

Exatamente o que acabamos de falar sobre os

lugares altos, utilizados pelos cananeus, que os

hebreus também usavam, ou mais provavelmente,

continuaram usando-os.

Números 25,1-3: “Israel estabeleceu-se em

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Setim. O povo se entregou à prostituição comas filhas de Moab. Estas convidaram o povopara sacrifício dos seus deuses; o povocomeu e prostrou-se diante de seusdeuses. Estando Israel assim ligado com oBaal de Fegor, a ira de Iahweh se inflamoucontra Israel”.

Encontramos que o “prado das acácias, muitas

vezes somente chamado de Setim, local a leste da

Jordânia, na planície de Moab, quase em frente a

Jericó. Foi o quadragésimo segundo acampamento

dos israelitas, sendo seu último local de descanso

antes de cruzar o rio Jordão” (202), para conquistar

Canaã.

Assim, temos que, já bem às “portas” da terra

prometida, os israelitas se envolveram com o culto

pagão, prostrando-se diante do deus dos moabitas, o

que se pode comprovar com esta explicação:

Beelfegor [Baal-Fegor], ou Senhor de Fegor, erauma divindade dos moabitas, que habitavam aleste do mar Morto. Seu culto comportava práticasobscenas. Israel consagrou-se a Beelfegor.Trata-se da primeira apostasia do culto doverdadeiro Deus. Não souberam resistir aosconvites das mulheres moabitas, participaram

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dos ritos em honra do seu deus nacional,comeram as carnes das vítimas imoladas nossacrifícios de comunhão, estabelecendo assimum vínculo sagrado com a divindade pagã epraticaram em larga escala a prostituiçãosagrada. Donde o castigo terrível de Deus. (Nm21,8-9: A serpente de bronze foi conservada emJerusalém até ao tempo de Ezequias (725-697a.C.), o qual a destruiu por se ter tornado objeto deculto idolátrico (2Rs 18,4). O próprio Cristo explicao significado simbólico de todo o fato (Jo 3,14-15).(203)

Como se vê, não estavam tão convictos assim

da exclusividade da divindade à qual dizem que

adoravam.

c) Dos Juízes a Salomão

Vejamos o que podemos encontrar no período

em que os hebreus viveram sob administração dos

juízes.

Juízes 2,6-19: “Então Josué despediu o povo eos israelitas partiram cada qual para a suaherança, a fim de tomar posse da terra. O povoserviu a Iahweh durante toda a vida de Josué etoda a vida dos anciãos que sobreviveram aJosué e que conheceram toda a grande obraque Iahweh fizera a favor de Israel… E quando

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toda aquela geração, por seu turno, se reuniua seus pais, sucedeu-lhe uma outra geraçãoque não conhecia a Iahweh nem a obra que eletinha feito por Israel. Então os israelitasfizeram o que era mau aos olhos deIahweh, e serviram aos baais. Deixaram aIahweh, o Deus de seus pais, que os tinha feitosair da terra do Egito, e seguiram a outrosdeuses dentre os dos povos ao seu redor.Prostraram-se ante eles, e irritaram a Iahweh,e deixaram a Iahweh para servir a Baal eàs Astartes. Então a ira de Iahweh seacendeu contra Israel. […] Então Iahweh lhessuscitou juízes que os livrassem das mãos dosque os pilhavam. Mas não escutavam nemmesmo aos seus juízes, e se prostituírama outros deuses, e se prostraram diantedeles. Depressa se afastaram do caminho queseus pais haviam seguido, obedientes aosmandamentos de Iahweh, e não agiram assim.Quando Iahweh lhes suscitava juízes, Iahwehestava com o juiz e os salvava das mãos dosseus inimigos enquanto vivia o juiz, porquantoIahweh se comovia por causa dos seusgemidos perante os seus perseguidores eopressores. Mas logo que morria o juiz,reincidiam e se tornavam piores do queos seus pais. Seguiam a outros deuses,serviam-nos e se prostravam diantedeles, e em nada renunciavam às obras eà conduta endurecida de seus pais”.

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Essa é a visão geral do período dos juízes, no

qual os hebreus “prostituíram-se” com outros

deuses. É muito sintomática a informação de que a

Josué “sucedeu uma outra geração que não conhecia

Iahweh nem a obra que ele tinha feito por Israel”;

sinal que, ou foram incompetentes em passar suas

crenças à nova geração, ou, então, que Iahweh não

era tão bem conhecido por ser mais um entre os

vários deuses a que seguiam.

Imagine, caro leitor, depois de tantos

“milagres” feitos – as pragas no Egito, abrir o Mar

Vermelho em dois, as codornizes, o maná, água

saindo de pedra, etc. – ainda assim, diante de tantas

coisas extraordinárias feitas a favor deles, os

hebreus não seguiram incondicionalmente a Iahweh.

Não vemos outra razão senão a de que viviam em

meio a crenças politeístas, cada uma tendo o seu

deus maior, por mais que isso possa doer a algumas

pessoas.

Explicam-nos os tradutores da Bíblia de

Jerusalém, que:

A dupla “Baal e Astarte”, ou, no plural, “os

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baais e astartes”, é, na Bíblia, a designaçãocorrente das divindades cananeias. Baal, “osenhor”, é o princípio divino masculino, comumenteconsiderado como o proprietário do solo. Astarte,que corresponde à Ishtar assíria, é a deusa doamor e da fecundidade. O seu nome é por vezes(3,7; 2Rs 23,4) substituído pelo de Aserá, outradivindade feminina do mesmo caráter (cf. Ex34,13+) (204)

Assim, fica claro, com as provas se

acumulando cada vez mais, que os hebreus

serviram, também a essas duas divindades

cananeias.

E, especificamente, sobre Baal trazemos estas

explicações de Champlin e Bentes:

BAAL (BAALISMO)

A palavra e seu uso. Essa é a palavra hebraicaque significa “proprietário”, “senhor” ou“marido”. É usada em I Crô. 5:5; 8:30 e 9:36 comoum nome pessoal; e, de modo geral, designa adivindade cananeia desse nome. Asidentificações incluem aquelas com restrições aalgum mero lugar de adoração, como Baal-Peor(Núm. 25:3), Baal-Gade (Jos. 11:17), Baal-Hermom(Juí. 3:3), etc. Algumas vezes, tais combinaçõesindicam uma característica da divindade, e nãoalgum lugar com o qual estaria associada, como

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Baal-Berite (Baal do pacto, em Juí. 8:33); Baal-Zebube, talvez uma corruptela de Baal-Zebul (quesignifica “príncipe”, em II Reis 1:2). O próprio termosugere que a divindade era consideradaproprietária de um determinado lugar, pelo queexerceria controle ali, no tocante a certos aspectosda vida humana, mas, sobretudo, no tocante àfertilidade.

Baalismo. A adoração a Baal era,essencialmente, uma religião da natureza, cujaênfase principal era a fertilidade. O OrientePróximo exibiu várias formas de religião dafertilidade, e essa religião dos cananeus era a maisdesenvolvida entre elas, quanto a esse aspecto.Israel deixou-se arrastar pela influência dobaalismo por meio de sincretismo (os hebreusincorporaram-no, ou ao menos aspectos seus,à sua fé), tendo havido uma reação profética(os profetas que reagiram contra esseselementos corruptores).

Fontes informativas. O A.T., os tabletes de RasShamra (ver o artigo) e Filo Bíblio.

Ideias. El seria o pai dos deuses, mas nãoteria muito contato com os homens. Aserá era adeusa-mãe. Um filho (ou neto) de destaque delesseria Baal. Sua consorte, Astarte (que no A.T.aparece como Astarote ou Astorete), era a deusada fertilidade (ver o artigo sobre ela). Nos tabletesde Ras Shamra, Anate aparece como a consortede Baal. Seu maior inimigo era Mote (a morte). Oclima da Síria e da Palestina contribuía para aelaboração dessa religião. As chuvas cessam emmarço-abril. Só começa a chover novamente em

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outubro-novembro; e, durante o intervalo, poucavegetação pode crescer. A menos que as chuvasvoltem, a fome é inevitável. Assim, os cananeuspersonificaram as forças que fazem a vegetaçãovoltar à vida. A razão pela qual as chuvascessariam é que Baal seria morto em uma lutaferoz contra Mote. E as chuvas retornariam porqueos amigos de Baal (como o Sol – Shapsh ouShemesh) e Astarte (fertilidade), devolveriam-lhe avida (princípio da ressurreição). A terra florescerianovamente porque Baal e Astarte copulavam.Assim, temos nisso uma forma de religião que é,essencialmente, a adoração à natureza. Quandoos homens perturbam os deuses ou deixam deagradá-los, há perturbações nas condiçõesatmosféricas, ou nas vidas das famílias e dastribos.

Festividades, A fim de promover o sentimentoreligioso do povo e honrar os deuses, foraminstituídas festas que apelavam ao impulsoprocriador e a licenciosidade, incluindo aprostituição masculina e feminina, que se tornouum acompanhamento indispensável nesses cultosde fertilidade. Isso prosseguia durante os períodosde festividade e fora dos mesmos.

Influência sobre Israel. Essa religião exerceugrande influência sobre Israel, especialmenteno norte (Israel, em contraste com Judá), ondeas ideias e as culturas pagãs tomaram-se parte,mais rapidamente, da perspectiva religiosa dosisraelitas. Isso provocou os protestos dos profetas.Sob tais circunstâncias foi que Elias e seussucessores postularam a pergunta se o Deus de

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Israel era Yahweh ou Baal (ver I Reis 18). Ossímbolos dessa adoração foram condenados pelosprofetas, incluindo a árvore ou bosque sagrado, acoluna e os terafins (imagens, que incluíamfigurinhas da deusa da fertilidade, que se tomarampopulares e numerosas entre os israelitas). Oprotesto levantado pelos profetas contra esse tipode religião pode ter sido um dos fatores queraramente permitia que Deus fosse chamado dePai; e o A.T. não tem palavra que corresponda adeusa. Além disso, a expressão filho de Deus,aplicada ao homem, é rara no A.T. Tais termospoderiam ser erroneamente entendidos, em termospagãos. No judaísmo havia o cuidado de se evitara terminologia sexual no seio da família, porquantoisso era por demais comum nas religiõespoliteístas e de fertilidade, entre os vizinhos deIsrael.

Fatores do vigor da religião de fertilidade. 1.Israel não expulsou os cananeus de suas terras,mas antes, misturou-se com eles em casamento. 2.Aqueles que tinham acabado de entrar na TerraPrometida tinham acabado de sair dasexperiências no deserto. Formas religiosas quefomentavam festividades e os prazeres sensuaiseram alternativas tentadoras. Ou, pelo menos,elementos tomados por empréstimo dessasatividades que, sem dúvida, eram muito atrativos.3. A lei de Israel era austera. Sempre será maisfácil seguir o curso de menor resistência. Assim,persistia por um lado a fé em Yahweh, e esta ia-semisturando com elementos cananeus. Esseprocesso sincretista é ilustrado em passagenscomo Juí. 2:1-5; 2:11-13,17, Is. 3:5-7; 6:25. A

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mesma coisa se dava com combinações depalavras, como Jerubaal (ver Juí. 7:1), Beeliada(ver I Crô. 14:7), És-Baal e Meribe-Baal (ver I Crô.8:33,34), que surgiram de outros nomes próprios.As ostraca de Samaria (cerca de 780 A.C.)demonstram que para cada dois nomes queenvolviam o nome de Yahweh, um era umaforma qualquer composta de Baal. O trecho de IReis 18 mostra-nos que o baalismo tornou-se tãoforte em Israel que somente sete mil delespermaneceram fiéis à antiga fé. Elias conseguiuevitar o colapso total da fé judaica. Emboracontinuassem havendo reformas e o protesto dosprofetas (ver Osé. 2:16,17), parece que foinecessário o cativeiro para impor a purificaçãonecessária.

Dois grandes mitos de Baal. Os textos de RasShamra contêm esses mitos, a saber: 1. O conflitocom o Príncipe do Mar e Juiz do Rio (o deus daságuas obtém a ascendência e, arrogantemente,intimida os outros deuses). Baal, com a ajuda dealguns outros deuses, é capaz de derrotá-lo,confiando-o à sua devida esfera de atividade.Talvez essa luta seja simbolizada pelo leviatã daBíblia, que poderia ser o mesmo lotan, a serpenteenroscada. e que possivelmente seja idêntica aoPríncipe do Mar. – Alguns supõem que o Dia doSenhor (segundo originalmente concebido nojudaísmo) poderia referir-se à vitória de Yahwehsobre as forças do caos. E esse conceito poderiadepender do mito cananeu, acima descrito. 2.Outrossim, havia o deus que morria e ressuscitava;Baal, morto por Mote, era então ressuscitado pelodeus Sol e por Astarte. Tal suposta ressurreição era

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acompanhada por grandes festividades desensualismo. Apesar de que o judaísmo, como éóbvio, nunca desenvolvesse qualquer coisa similar,excetuando casos de empréstimos diretosextraídos das religiões de seus vizinhos pagãos,alguns estudiosos supõem que o próprioconceito de ressurreição pode ter sidoprovocado, pelo menos em parte, por essaantiga crença. Não há como determinar até queponto isso pode ter sido verdade. Mas a verdadedo conceito da ressurreição em nada é prejudicadaainda que os povos pagãos, de maneira crua,tivessem antecipado e expressado essa ideia à suamaneira ímpia. (E ID SMIT Z). (205)

Ao referenciarem Baal e Astera, na verdade,

estavam retomando às divindades cananeias, ou

quem sabe poderíamos dizer: estavam voltando às

raízes.

Juízes 3,5-6: “E os israelitas habitaram no meiodos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dosferezeus, dos heveus e dos jebuseus;desposaram as filhas deles, deram seusfilhos às filhas deles e serviram aos seusdeuses”.

Eis mais uma prova bíblica irrefutável de que

os hebreus adotaram as práticas dos povos, no meio

200

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dos quais viviam. Esse tipo de comportamento é algo

totalmente previsível a qualquer grupamento

humano, e, certamente, com os hebreus não seria

diferente.

É interessante ressaltar a coincidência dealguns pontos entre as crenças dos povosmesopotâmicos e as dos hebreus, que, sendoseus vizinhos, naturalmente foraminfluenciados pela tradição regional.Destacamos, entre outros pontos de contato, aanalogia de Utnapishtim e Noé, do pobreinominado e Jó, a gula de Enil e o episódio daserpente, e entre o Éden e o Dilum. Também namitologia grega encontramos a réplica deGilgamesh em Héracles. (206)

A questão do casamento dos hebreus com

pessoas desses povos citados era algo

terminantemente proibido:

Deuteronômio 7,3-4: “Não contrairásmatrimônio com elas, não darás tua filha aum de seus filhos, nem tomarás uma de suasfilhas para teu filho; pois deste modo o teufilho se afastaria de mim para servir aoutros deuses, e a cólera de Iahweh seinflamaria contra vós, exterminando-te

201

Page 203: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

rapidamente”.

Fica claro que o objetivo da proibição era evitar

que os hebreus se “contaminassem” com as

divindades desses povos aos quais conquistariam a

fio de espada.

Vejamos alguns juízes, citados em “História dos

Juízes”, pela Bíblia de Jerusalém, em cujo período os

hebreus abandonaram a Iahweh, para adorar a

outros deuses:

1. Otoniel

Juízes 3,7: “Os israelitas fizeram o que émau aos olhos de Iahweh. EsqueceramIahweh seu Deus para servir aos baais e àsaserás”.

2. Aod

Juízes 3,12: “Os israelitas recomeçaram afazer o que era mau aos olhos de Iahweh,e Iahweh fortaleceu Eglon, rei de Moab, contraIsrael, porque faziam o que era mau aos olhosde Iahweh”.

3. Débora e Barac

202

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Juízes 4,1: “Depois da morte de Aod, osisraelitas recomeçaram a fazer o que eramau aos olhos de Iahweh”.

4. Gedeão e Abimelec

Juízes 6,1: “Os israelitas fizeram o que era mauaos olhos de Iahweh, […].”(grifo nosso)

Juízes 8,33: “Depois da morte de Gedeão, osisraelitas voltaram a se prostituir aosbaais e tomaram por Deus a Baal-Bertic”.

5. Jefté

Juízes 10,6: “Recomeçaram os israelitas afazer o que era mau aos olhos de Iahweh.Serviram aos baais e às astartes, etambém aos deuses de Aram e de Sidônia,aos deuses de Moab e aos dos amonitas edos filisteus. Abandonaram a Iahweh e nãomais o serviram”.

Inclusive esse juiz fez uma promessa a Iahweh

que, se vitorioso sobre os amonitas, ele, Jefté,

quando voltasse da guerra, ofereceria em holocausto

a primeira pessoa que saísse da porta de sua casa

para recebê-lo. Quem lhe apareceu foi sua filha,

única, pois não tinha mais filhos, que foi a vítima

oferecida a Iahweh, por tê-lo feito ganhar a guerra.

203

Page 205: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

Esse triste episódio se encontra narrado em Juízes

11,29-40.

Presumimos que, para tomar tal atitude de

oferecer em sacrifício um ser humano, é porque isso

fazia parte de uma prática à qual estava

acostumado. E não se diga que essa foi uma atitude

de obediência, semelhante à de Abraão em relação

ao quase sacrifício de Isaac…

6. Sansão

Juízes 13,1: “Os israelitas recomeçaram apraticar o que era mau aos olhos deIahweh, […].”

7. Samuel

1 Samuel 7,3-4: “Desde o dia em que a Arcafoi instalada em Cariat-Iarim, um longo tempoocorreu, cerca de vinte anos, toda a casa deIsrael suspirou por Iahweh. Então, Samuelfalou a toda a casa de Israel, dizendo: ‘Se é detodo o vosso coração que voltais a Iahweh,tirai do meio de vós os deusesestrangeiros e as astartes, fixai o vossocoração em Iahweh, e a ninguém maissirvais a não ser a ele; então ele vos livraráda mão dos filisteus’”.

204

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Pela advertência de Samuel, o último dos juízes

de Israel (1 Samuel 7,15), fica óbvio que, no período,

serviam “aos deuses estrangeiros e as astartes” e,

como estamos vendo, isso é algo recorrente entre os

hebreus. Além disso, ainda podemos encontrar entre

eles o uso de práticas pagãs, como a que já

mencionamos, sobre as montanhas ou lugares altos;

este passo é mais um exemplo:

1 Samuel 9,12: “Elas lhes responderam comestas palavras: ‘Está sim. Acaba de chegar, umpouco antes de ti. Apressa-te: ele veio hoje àcidade porque será oferecido um sacrifíciopelo povo no lugar alto”.

No passo narra-se a resposta de duas jovens a

Saul, quando ele estava procurando Samuel.

Conforme já vimos, os rituais praticados em lugares

altos era uma prática pagã que os hebreus

absorveram dos cananeus, incluindo-os no rol dos

seus atos cultuais.

1 Samuel 12,19-21: “Todo o povo disse aSamuel: ‘Intercede por nós, teus servos, aIahweh teu Deus, para que não morramos,pois a todos os nossos pecados acrescentamos

205

Page 207: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

a desgraça de pedir um rei para nós’. MasSamuel disse ao povo: ‘Não temais!Cometestes todo esse mal. Somente não vosafasteis de Iahweh, mas servi-o com todo ovosso coração. Não vos afasteis dele, poisisso seria seguir o vazio, que não servepara nada e não pode libertar, pois osídolos são vazios’”.

Foi Samuel quem sagrou Saul como o primeiro

dos reis de Israel, que reinou apenas dois anos. Nada

de muito anormal em seu reinado, quanto ao

aspecto de fazer as coisas agradáveis a Iahweh;

entretanto, um acontecimento simples põe em

evidência uma das formas, entre outras, com a qual

consultavam a Deus; vejamos:

1 Samuel 14,41-42: “Saul disse a Iahweh:‘Iahweh, Deus de Israel, por que nãorespondeste hoje ao teu servo? Se o pecadorecai sobre mim ou sobre o meu filho Jônatas,ó Iahweh, Deus de Israel, dá Urim; se a faltafoi cometida pelo teu povo de Israel, dáTummim’. Saul e Jônatas foram apontados, e opovo ficou livre. Saul disse: ‘Lançai a sorteentre mim e o meu filho Jônatas’, e Jônatas foiapontado”.

Sobre essas duas pedras em forma de dados,

206

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explicam-nos os tradutores da Bíblia de Jerusalém:

O texto mostra como se consultava a Deus apartir de dois dados contidos numa caixa ouefod; chamavam-se Urim e Tummim (o valor daspalavras é incerto) e davam-lhes uma significaçãoconvencional. Era, pois, uma resposta por sim ounão (cf. 23,10-12), e a consulta era às vezes longa.O manejo das sortes estava reservado aossacerdotes levitas (Nm 27,21; Dt 33,8). O costumecaiu em desuso depois do reinado de Davi e nãofoi restabelecido (cf. Esd 2,63=Ne 7,65). (207)

O urim e tummim eram considerados como

sortes sagradas, e por meio deles se faziam as

consultas a Deus. Conforme a maneira com que

caíam, eram vistos como um “sim” ou como um

“não”, numa versão bem antiga de um autêntico

“cara ou coroa”. Essa foi de morte!

Vejamos, agora, uma outra história bem

interessante:

1 Samuel 19,10-17: “[…] Naquela mesmanoite, Saul despachou emissários para vigiar acasa de Davi para que o matassem pelamanhã. Mas Micol, mulher de Davi, lhe deueste conselho: ‘Se não escapares esta noite,

207

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amanhã serás um homem morto!’ Micol fezDavi descer pela janela e ele saiu correndo eescapou naquela noite. Micol apanhou oterafim, deitou-o na cama, pôs-lhe na cabeçauma pele de cabra e estendeu sobre ele ummanto. Aos mensageiros que Saul mandaratrazer Davi, ela disse: ‘Está doente’. Mas Saulmandou outra vez os mensageiros, para quevissem Davi, e disse-lhes: ‘Trazei-mo na suacama, para que eu o mate!’ Os mensageirosentraram e deram com o terafim na cama, e apele de cabra na cabeceira. Saul disse a Micol:‘Por que me traíste e deixaste fugir o meuinimigo?’ Micol respondeu a Saul: ‘Foi elequem me disse; Deixa-me partir ou te mato!’”.

Micol foi a filha que Saul, quando rei de Israel,

deu a Davi por mulher (1 Samuel 18,27); ela trai o

pai para salvar seu marido, colocando em seu lugar,

na cama, um terafim. Vejamos do que isso se trata:

Terafim. Palavra hebraica que significa “ídolos”.Quando Jacó se afastou de seu sogro Labão, suaesposa Raquel ocultou os terafim da casa sob asroupas (Gen 31,19.34s). Por onde se vê que erampequenas estátuas veneradas supersticiosamentecomo as representações dos espíritos tutelares dolar dos antigos romanos. No tempo dos Juízes, umisraelita de nome Micas fez uns terafim (Jz 17,5ss)que tanto podiam ser ídolos como outros

208

Page 210: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

objetos empregados como meio deadivinhação. Micol, filha de Saul e esposa deDavi, salvou a seu esposo colocando na cama umterafim (estátua) coberto com uma pele para fazercrer aos guardas que Davi estivesse ali, doente(1Sam 19,13). O bom rei Josias destruiu os terafimaos quais se prestava culto no reino de Judá (4Rs23,24). (208)

TERAFINS

Há várias opiniões quanto ao significado dessapalavra, desde “nutridores” até “coisas vis”. Poresse motivo, alguns estudiosos preferem pensarque o termo é de sentido incerto. O que é certo éque os “terafins” eram ídolos domésticos, queiam desde aqueles de pequenas dimensões (Gên.31:34,35), até aqueles de tamanho quase natural (ISam. 19:13,16).

Recentes descobertas arqueológicas, feitas emNuzi, no Iraque, têm iluminado a função e asignificação desses ídolos. A posse de um terafimindicava quem era o líder da família, com todosos direitos daí provenientes. Quando Raquelfurtou os terafins de seu pai (ver Gên. 31:19), issofoi uma tentativa que ela fez de conseguir talliderança, para seu marido, Jacó, embora tal direitopertencesse por direito, aos irmãos dela. A irritaçãode Labão, pois, fica esclarecida por meio dessedetalhe.

Ao que parece, durante grande parte de suahistória os israelitas não pensavam que apossessão de tais ídolos era incoerente com aadoração a Yahweh, cf. Juí. 17,18, mas,

209

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especialmente, o trecho de I Sam. 19:13,16, ondese aprende que havia terafins até mesmo nacasa de Davi. Foi a partir da época de Samuel (verI Sam. 15:23), e daí até os dias de Zacarias (verZac. 10:2), que os terafins começaram a serdesaprovados.

A função dos terafins que os profetas maiscombatiam era a função da adivinhação. Nessaqualidade de objetos de adivinhação, os terafinssão, frequentemente mencionados juntamente comestolas sacerdotais, também usadas nasadivinhações (Juí, 17 e 18; onde parecem serobjetos separados dos ídolos; e também Osé. 3:4).Entre as coisas e as atividades que foramexpurgadas durante a reforma instituída por Josias,parece que os terafins foram reunidos juntamentecom os médiuns e os bruxos. Lemos que o rei daBabilônia costumava consultá-los (Eze. 21:21),mas o profeta Zacarias declarou que eles eramfaladores de “cousas vãs”. Nessa passagem dolivro de Ezequiel, novamente vemos a designação“ídolos do lar”. Oseias referiu-se, esperançoso, aotempo futuro quando Israel, dependendototalmente de Deus, será capaz de viver semapelar para os terafins (Osé. 3:4).

Alguns estudiosos têm sugerido que a função deadivinhação dos ídolos do lar talvez explique o usoobscuro da palavra hebraica elohim, que pode sercompreendida como “deus” ou como “deuses”, emÊxodo 21:6 e 22:7-10. (209)

Então, fica claro que na casa de Davi havia um

210

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terafim, que, conforme explicado, era usado para se

fazer adivinhações; consequentemente, algo

relacionado a ritual pagão para se consultar os

deuses. Inclusive, foi dito que o rei da Babilônia

costumava consultá-los.

A dúvida que nos surgiu foi: se o terafim usado

por Micol, fazia parte dos ídolos que Davi e seus

homens teriam levado pertenciam aos filisteus (2

Samuel 5,21) ou seria algum outro que, porventura,

já possuía? Além disso, ficamos ainda sem entender

essa atitude de Davi, pois o que, geralmente, os

hebreus faziam era destruir os ídolos dos povos

pagãos vencidos nas batalhas.

Temos conhecimento de que “Isbaal, filho de

Saul, tinha quarenta anos quando se tornou rei de

Israel, e reinou por dois anos. Somente a casa de

Judá seguia Davi. E Davi reinou sobre a casa de Judá,

em Hebron, durante sete anos e meio”. (2 Samuel

2,10-11). Davi, à frente do governo de Judá, segue

fielmente a Iahweh; contudo, ao lhe construir um

altar, comprando o terreno de Areúna, adota o

costume pagão dos lugares altos:

211

Page 213: El, o verdadeiro deus dos hebreus - paulosnetos.net

A eira de Areúna encontrava-se fora da cidade,sobre a colina que dominava a primitivaJerusalém ao norte; foi aí que mais tarde seconstruiu o Templo de Salomão (cf. 5,9+). (210)

Ao ficar com idade avançada, Davi resolve

transferir o trono a seu filho Salomão. O interessante

é que de Salomão (970 a.C. aprox.) a Sedecias (587

a.C.), ou seja, durante quase 400 anos, época da

deportação para a Babilônia, veremos que, na maior

parte desse período de tempo, eles adoravam a

outros deuses, o que reforça, acreditamos, até sem

ter como se contestar, que não eram mesmo

monoteístas, mas sim, politeístas.

Salomão foi o terceiro rei de Israel, cujo

reinado, sabemos, se deu de 970 aproximadamente

a 931 a.C.:

1 Reis 3,1-3: “Salomão tornou-se genro doFaraó, rei do Egito; tomou por sua esposa afilha de Faraó e introduziu-a na Cidade deDavi, até que acabasse de construir o seupalácio, o Templo de Iahweh e as muralhas emtorno de Jerusalém. O povo ofereciasacrifícios nos lugares altos, pois até entãoainda não tinha sido construída uma casa para

212

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o Nome de Iahweh. Salomão amou a Iahweh:comportava-se segundo os preceitos de seupai Davi: mas oferecia sacrifícios e incensonos lugares altos”.

Aqui, parece-nos que quem tentou amenizar o

fato de estarem oferecendo sacrifícios em lugares

altos foi o próprio autor bíblico:

O autor pretende talvez desculpar osacrifício de Salomão num desses lugaresaltos. Trata-se de santuários locais, com umaárvore frondosa, um altar, uma estela sagrada. […]geralmente herdados dos cananeus ededicados aos baais. Os israelitas os dedicam aYhwh, não sem expor-se ao sincretismo religioso.Josias pretende suprimi-los totalmente. (211)

Agora, sim, temos afirmações mais coerentes

com a realidade do povo hebreu, pois, certamente,

viviam num sincretismo religioso: “fusão de

diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com

reinterpretação de seus elementos”. (212)

1 Reis 11,4-8: “Quando ficou velho, suasmulheres desviaram seu coração para outrosdeuses e seu coração não foi mais todo deIahweh seu Deus, como o fora o de Davi, seu

213

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pai. Salomão prestou culto a Astarte, deusados sidônios e a Melcom, a abominação dosamonitas. Fez mal aos olhos de Iahweh enão lhe foi fiel plenamente, como seu pai Davi.Foi então que Salomão construiu umsantuário para Camos, a abominação deMoab, na montanha a leste de Jerusalém, epara Moloc, a abominação dos amonitas. Fezo mesmo para todas as suas mulheresestrangeiras, que ofereciam incenso esacrifícios aos seus deuses”.

Interessante que Salomão era considerado um

sábio, cuja sabedoria lhe foi dada pelo próprio Deus.

Aí cabe a pergunta: Se o rei, pessoalmente, teve seu

coração desviado para outros deuses, que dirá o

resto dos súditos? Após sua morte, seu filho Roboão

lhe sucederia no trono; entretanto, houve um cisma

em Israel, cujo resultado foi a sua divisão em dois

reinos: o de Israel e o de Judá. Listaremos seus reis

separadamente, objetivando mostrar uma visão mais

pormenorizada de cada um deles.

d) Judá e Israel

1) Reis de Israel

Jeroboão I (931-910):

214

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1 Reis 12,28-33: “Depois de ter pedidoconselho, fez dois bezerros de ouro e disseao povo: 'Deixai de subir a Jerusalém! Israel,eis teus deuses que te fizeram sair daterra do Egito”. Erigiu um em Betel e pôs ooutro em Dã. Esse procedimento levou aopecado, o povo foi em procissão diante dooutro até Dã. Estabeleceu o templo doslugares altos, e designou como sacerdoteshomens tirados do povo, que não eram filhosde Levi. Jeroboão celebrou uma festa no oitavomês, no décimo quinto dia do mês, àsemelhança da que se celebrava em Judá, esubiu ao altar. Assim, fez ele em Betel,sacrificando aos bezerros que fizera eestabeleceu em Betel os sacerdotes doslugares altos que instituíra. Subiu ao altarque tinha feito em Betel, no décimo quinto diado oitavo mês, isto é, no mês que eleescolhera arbitrariamente; instituiu uma festapara os israelitas e subiu ao altar para queimarincenso”.

Nadab (910-909):

1 Reis 15,26: “Fez mal aos olhos deIahweh; imitou o comportamento de seupai e o pecado ao qual tinha arrastadoIsrael”.

Baasa (909-886):

215

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1 Reis 15,34: “Fez mal aos olhos de Iahwehe imitou a conduta de Jeroboão e opecado ao qual ele tinha arrastadoIsrael”.

Ela (886-885):

1 Reis 16,12-13: “Zambri exterminou toda acasa de Baasa, segundo a predição que Iahwehfizera contra Baasa, por intermédio do profetaJeú, por causa de todos os pecados quecometeram Baasa e Ela, seu filho, e fizeramIsrael cometer, irritando Iahweh, Deus deIsrael, com seus ídolos vãos”.

Zambri (885):

1 Reis 16,18-19: “Quando Zambri viu que acidade ia ser tomada, entrou na cidadela dopalácio real, pôs fogo no palácio, estando ládentro, e morreu. Tudo por causa do pecadoque cometera, fazendo mal aos olhos deIahweh, imitando a conduta de Jeroboão eo pecado que fizera, levando Israel apecar”.

Amri (885-874):

1 Reis 16,25-26: “Amri fez o mal aos olhosde Iahweh, superando nisso todos os seus

216

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antecessores. Imitou em tudo a conduta deJeroboão, filho de Nabat, e os pecados que aeste levara Israel, irritando Iahweh, Deus deIsrael, com seus ídolos vãos”.

Acab (874-853):

1 Reis 16,30-33: “Acab, filho de Amri, fez omal aos olhos de Iahweh, mais do que todosos seus antecessores. Como se não lhebastasse imitar os pecados de Jeroboão, filhode Nabat, desposou ainda Jesabel, filha deEtbaal, rei dos idônios e passou a servir aBaal e a adorá-lo, erigiu-lhe um altar notemplo de Baal, que construiu em Samaria.Acab também erigiu um poste sagrado ecometeu ainda outros pecados, irritandoIahweh, Deus de Israel, mais que todos os reisde Israel que o precederam”.

Ocozias (853-852):

1 Reis 22,53-54: “Fez mal aos olhos deIahweh e imitou o comportamento de seu paie de sua mãe, e o de Jeroboão, filho de Nabat,que levara Israel a pecar. Prestou culto aBaal e prostrou-se diante dele provocandoa ira de Iahweh, Deus de Israel, como o fizeraseu pai”.

217

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Jorão (852-841):

2 Reis 3,2-3: “Fez mal aos olhos de Iahweh;não, porém, como seu pai e sua mãe, poisderrubou a estela de Baal que seu pai tinhafeito. Mas continuou apegado aos pecados deJeroboão, filho de Nabat, fez Israel cometer edeles não se apartou”.

Jeú (841-814):

2 Reis 10,28-31: “Assim, Jeú fez Baaldesaparecer de Israel. Entretanto, Jeú não sedesviou dos pecados que Jeroboão, filhode Nabat, fizera Israel cometer, os bezerros deouro de Betel e Dã. […] Mas Jeú não seguiufielmente e de todo o seu coração a lei deIahweh, Deus de Israel; não se afastou dospecados que Jeroboão fizera Israel cometer”.

Joacaz (814-798):

2 Reis 13,2: “Fez o mal aos olhos deIahweh e imitou o pecado ao qual Jeroboão,filho de Nabat, arrastou Israel e não se afastoudele”.

Joás (798-783):

2 Reis 13,11: “Fez o mal aos olhos de

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Iahweh e não se afastou do pecado ao qualJeroboão, filho de Nabat, havia arrastadoIsrael, mas obstinou-se nele”.

Jeroboão II (783-743):

2 Reis 14,24: “Fez mal aos olhos de Iahwehe não se afastou de todos os pecados aosquais Jeroboão, filho de Nabat, havia arrastadoIsrael”.

Zacarias (743):

2 Reis 15,9: “Fez o mal aos olhos deIahweh, como fizeram seus pais, e não seafastou dos pecados aos quais Jeroboão, filhode Nabat, havia arrastado Israel”.

Selum (743):

2 Reis 15,13: “Selum, filho de Jabes, tornou-serei no trigésimo nono ano de Ozias, rei de Judá,e reinou um mês em Samaria’.

Nada foi informado sobre o período de um mês

de seu reinado, porém, é provável que tenha agido

como o seu antecessor e o seu sucessor, que fizeram

mal aos olhos de Iahweh.

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Manaém (743-738):

2 Reis 15,18: “Fez mal aos olhos de Iahweh,não se afastando, durante sua vida, dospecados aos quais Jeroboão, filho de Nabat,havia arrastado Israel”.

Faceias (738-737):

2 Reis 15,24: “Fez o mal aos olhos deIahweh, não se afastando dos pecados aosquais Jeroboão, filho de Nabat, havia arrastadoIsrael”.

Faceia (737-732):

2 Reis 15,28: “Fez o mal aos olhos deIahweh, não se afastando dos pecados aosquais Jeroboão, filho de Nabat, havia arrastadoIsrael”.

Oseias (732-724):

2 Reis 17,2: “Fez o mal aos olhos deIahweh, mas não como os reis de Israel seuspredecessores”.

O rei da Assíria conquistou toda essa região,

tendo como justificativa, pelo autor de 2 Reis:

220

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2 Reis 17,7-23: “Isso aconteceu porque osisraelitas pecaram contra Iahweh seu Deus,que os fizera subir da terra do Egito,libertando-os da opressão do Faraó, rei doEgito. Adoraram outros deuses e seguiram oscostumes das nações que Iahweh haviaexpulsado de diante deles, e os costumesestabelecidos pelos reis de Israel. Os israelitasproferiram palavras inconvenientes contraIahweh seu Deus, construíram lugares altosem toda parte em que habitavam, deste astorres de vigia até as cidades fortificadas.Erigiram para si estelas e postes sagradossobre toda colina elevada e debaixo de todaárvore verdejante. Sacrificaram em todos oslugares altos, imitando as nações que Iahwehhavia expulsado de diante deles, e cometeramações más, provocando a ira de Iahweh.Prestaram culto aos ídolos, embora Iahwehlhes houvesse dito: ‘Vós não fareis tal coisa’.No entanto, Iahweh tinha feito estaadvertência a Israel e a Judá, por meio detodos os profetas e videntes: ‘Convertei-vos devossa má conduta e observai meusmandamentos e meus estatutos, conformetoda a Lei que prescrevi a vossos pais e quelhes comuniquei por intermédio de meusservos, os profetas’. Mas eles nãoobedeceram e endureceram a sua cervizcomo o haviam feito seus pais, que não tinhamacreditado em Iahweh seu Deus. Desprezaram

221

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seus estatutos, bem como a aliança que elehavia concluído com seus pais, e as ordensque lhes havia dado. Correndo atrás daVaidade eles próprios se tornaram vaidade,como as nações ao redor, apesar de Iahwehlhes ter ordenado que não agissem como elas.Rejeitaram todos os mandamentos deIahweh seu Deus, fabricaram para siestátuas de metal fundido, os doisbezerros de ouro, fizeram um postesagrado. Adoraram todo o exército do céue prestaram culto a Baal. Fizeram passarpelo fogo seus filhos e filhas, praticarama adivinhação e a feitiçaria, e venderam-se para fazer o mal na presença deIahweh, provocando sua ira. Então Iahwehirritou-se sobremaneira contra Israel e arrojou-o para longe de sua face. Restou apenas atribo de Judá. Judá tampouco guardou osmandamentos de Iahweh seu Deus; seguiu osestatutos que Israel praticava. Por isso,Iahweh, rejeitou toda a raça de Israel,humilhou-a e entregou-a aos saqueadores, eenfim baniu-a para longe de Sua face. Ele, comefeito, havia separado Israel da casa de Davi eIsrael tinha proclamado como rei Jeroboão,filho de Nabat; Jeroboão afastou Israel deIahweh e levou-o a cometer um grandepecado. Os israelitas imitaram todos ospecados que Jeroboão cometera e delenão se afastaram, até que finalmente

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Iahweh baniu Israel de sua presença, como ohavia anunciado por Intermédio de seusservos, os profetas; deportou Israel paralonge de sua terra, para a Assíria, ondeestá até hoje”.

Confirma-se, portanto, que os hebreus não

faziam questão de adorar e servir a Iahweh, pois, ao

longo de toda a sua história, sempre estiveram

envolvidos com o culto a outros deuses, com maior

ênfase aos deuses dos cananeus.

E aqui temos o relato sobre o repovoamento do

reino do Norte, Israel:

2 Reis 17,24-41: “O rei da Assíria mandou virgente de Babilônia, de Cuta, de Ava, de Emat ede Sefarvaim, e estabeleceu-os nas cidades daSamaria, em lugar dos israelitas; tomaramposse da Samaria e fixaram-se em suascidades. Quando começaram a se instalar naterra, não veneravam Iahweh e este mandoucontra eles leões, que os matavam. Disseram,pois, ao rei da Assíria: ‘As populações quedeportaste para fixá-las nas cidades daSamaria não conhecem o ritual do deus daterra, e ele mandou leões contra elas. Os leõesas matam porque elas não conhecem o ritualdo deus da terra”. Então o rei da Assíria

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ordenou: ‘Mandai para lá um dos sacerdotesque deportastes,” que ele se estabeleça lá elhes ensine o ritual do deus da terra’. Entãoveio um dos sacerdotes que haviam deportadode Samaria e se fixou em Betel; este ensinava-lhes como deviam venerar Iahweh. Mas cadanação fabricou para si seus própriosdeuses e os colocou nos templos doslugares altos, que os samaritanos haviamfeito; assim fez cada povo nas cidades em quehabitou. Os babilônios fizeram uma estátua deSucot-Benot, os de Cuta, uma de Nergel, os deEmat, uma de Asima, os de Ava, uma deNebaaz e uma de Tartac, e os de Sefarvaimqueimavam seus filhos em honra deAdramelec e de Anamelec, deuses deSefarvaim. Prestavam culto também a Iahwehe dentre seus homens elegeram sacerdotes,que oficiavam para eles nos templos doslugares altos. Veneravam Iahweh e serviama seus deuses, segundo o costume dasnações de onde tinham sido deportados.Seguem ainda hoje seus ritos antigos. Nãohonravam Iahweh, nem observavam suasregras e seus ritos, nem a lei e osmandamentos que Iahweh havia determinadoaos filhos de Jacó, a quem dera o nome deIsrael. Iahweh concluíra com eles uma aliançae lhes havia dado esta ordem: ‘Não adorareisdeuses estrangeiros, nem vos prostrareisdiante deles, não lhes prestareis culto e não

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lhes oferecereis sacrifícios. Mas somente aIahweh, que vos fez subir da terra do Egitopelo grande poder de seu braço estendido, éque deveis tributar vosso culto, adoração esacrifícios. Observareis os estatutos e asnormas, a lei e os mandamentos que ele vosdeu por escrito, a fim de que os guardeis parasempre, e não prestareis culto a outrosdeuses. Não esqueçais a aliança que concluíconvosco e não presteis culto a deusesestrangeiros; adorai somente a Iahweh, vossoDeus, e ele vos libertará da mão de todos osvossos inimigos’. Eles, porém, não obedecerame continuam a seguir seu antigo rito. Assim,essas nações adoravam a Iahweh eprestavam culto a seus ídolos; seus filhose seus netos continuam até hoje fazendoo que fizeram seus pais”.

Antes de avançar para os reis de Judá, vamos

dar algumas informações do profeta Elias, que

exerceu atividades durante o reinado de Acab (874-

853), porquanto, elas reforçarão mais ainda o que

estamos descobrindo sobre a prática religiosa dos

hebreus.

Elias, o mais célebre dos profetas, foi enviadopor Deus para se opor à idolatria que grassava.Cumpriu a missão com a virtude e com milagres.

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Tesbita, isto é, de Tisbe, cidade a oriente doJordão. Estes poucos traços de uma biografiacertamente mais ampla do profeta, foramprovavelmente inseridos no livro não só paralembrar a obra, mas também para despertar a félânguida dos israelitas, chamando-lhes a atençãopara a atitude firme de Elias. A missão do profetacomeça vaticinando a seca, como castigo deidolatria, enquanto ruptura da Aliança.Interessante notar a particularidade do castigo: osisraelitas haviam abandonado o seu Deus paraadorar Baal, considerado precisamente o deus dachuva; ora, a seca devia fazer constatar aincapacidade daquela divindade em dar a chuva.(213)

Elias: Profeta dos israelitas. Os judeusacreditavam num Deus único. Mas essa crençasofreu mudanças. Na Bíblia hebraica se lê que osisraelitas sempre se voltaram para os deuses Baal,adorados pelos povos vizinhos. Elias anunciou-lhes um só e único Deus de Israel, Javé. Elepropunha o monoteísmo. – Do hebraico = meuDeus é Javé. (214)

Se Elias teve a missão de “anunciar-lhes um só

e único Deus”, então, fica provado que não é tão

pacífica assim a ideia de que já acreditavam nisso.

Ambas as explicações confirmam que os hebreus

adoravam outros deuses.

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O deus aqui citado é Baal, do qual já falamos

alguma coisa, mas para clarear mais o assunto

traremos as seguintes informações.

Baal: No mundo bíblico, designação paradivindades cultuadas em determinados lugares. Adivindade era considerada proprietária da fonte,árvore ou cidade, onde era invocada. Havianumerosos Baais, tidos como deuses da fertilidade.Os profetas de Israel combateram o culto a Baalcomo um desvio do Deus único. – Do hebraico =senhor, proprietário. (215)

Baal. Palavra hebraica que significa senhor,marido, dono. Nos primeiros tempos, osisraelitas usavam o termo Baal para overdadeiro Deus, como se pode concluir do usode certos nomes de pessoas e lugares, taiscomo Baal-Farasim (2 Sam 5,20), Esbaal, filho deSaul (I Par 8,33), Meribaal, filho de Jônatan (I Par8,34), Baaliada, filho de Davi (I Par 14,7), etc. Maistarde entretanto, por causa das recordaçõesidólatras que sugeria o termo, a palavra Baal nãofoi mais aplicada ao verdadeiro Deus e tornou-se comum usá-la para designar qualquer uma dasvárias divindades pagãs, especialmente o Deus Soldos fenícios (Os 2,16). Os judeusfrequentemente caiam no pecado de adorar aBaal, oferecendo-lhe sacrifícios humanos,erigindo-lhe altares e templos e consagrando-lhe sacerdotes para seu culto (3 Rs 16,31-33;18,22; 4 Rs 17,16; 2 Par 33,3-6; Jer 19,5; 32,35). O

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culto de Baal era frequentemente caracterizadopelos ritos mais revoltantes e impuros (3 Rs 14,24;15,12; 22,47; 4 Rs 23,7; Os 4,14). Gedeão destruiuos sacerdotes de Baal (3 Rs 18). Frequentementeo nome Baal é encontrado em sua forma plural:Baalim (Jz 3,7; etc.). Depois que a palavra passoua designar deuses pagãos, conceberam osisraelitas bons tal horror ao termo que chegaram amudar os nomes de antigos personagens em cujacomposição estivesse essa palavra, assim Isbaal(homem de Deus) recebeu nova forma: lsboset(homem da ignomínia). (216)

Fulminante: “a palavra Baal não foi mais

aplicada ao verdadeiro Deus”, ou seja, se “não foi” é

porque ela era usada, provando que o tinha o deus

pagão Baal como sua divindade.

Voltando ao curso, com a lista dos reis,

vejamos agora os de Judá.

2) Reis de Judá

Roboão (931-913):

1 Reis 14,21-24: “Roboão, filho de Salomão,tornou-se rei de Judá; tinha quarenta e umanos quando subiu ao trono. […] Judá fez malaos olhos de Iahweh; irritaram seu ciúmemais do que tinham feito seus pais, com todos

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os pecados que cometeram, construindolugares altos, erguendo estelas e postessagrados sobre toda colina elevada e debaixode toda árvore frondosa. Houve atéprostitutos sagrados na terra. Ele imitoutodas as abominações das nações que Iahwehhavia expulsado de diante dos israelitas.”

Abiam (913-911):

1 Reis 15,1-3: “No décimo oitavo ano do reiJeroboão, filho de Nabat, Abiam tornou-se reide Judá e reinou três anos em Jerusalém; […]Imitou os pecados que seu pai cometeraantes dele e seu coração não foi plenamentefiel a Iahweh seu Deus como o coração deDavi, seu antepassado”.

Asa (911-870):

1 Reis 15,11-14: “Asa fez o que é reto aosolhos de Iahweh, como Davi seu pai.Expulsou da terra todos os prostitutossagrados e aboliu os ídolos que seus paishaviam feito. […] Os lugares altos nãodesapareceram; mas o coração de Asa foiplenamente fiel a Iahweh, por toda a sua vida”.

Josafá (870-848):

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1 Reis 22,43-44: “Seguiu em tudo oprocedimento de seu pai Asa, sem dele seapartar, fazendo o que é reto aos olhos deIahweh. Entretanto, os lugares altos nãodesapareceram; o povo continuou aoferecer sacrifícios e incenso nos lugaresaltos”.

Jorão (848-841):

2 Reis 8,18: “Imitou o comportamento dos reisde Israel, como fizera a casa de Acab, pois foiuma filha de Acab que ele tomou como esposa,e fez o mal aos olhos de Iahweh”.

Ocozias (841):

2 Reis 8,27: “Ele imitou a conduta da famíliade Acab e fez o mal aos olhos de Iahweh,como a família de Acab, pois era ligada a estapor afinidade”.

Atalaia (841-835):

2 Reis 11,17: “Joiada concluiu entre Iahweh, orei e o povo uma aliança pela qual o povo secomprometia a ser o povo de Iahweh; e aaliança entre o rei e o povo. Todo o povo daterra dirigiu-se depois ao templo de Baale demoliu; quebraram totalmente os altares eas imagens e mataram Matã, sacerdote de

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Baal, diante dos altares”.

Joiada era chefe do sacerdócio de Jerusalém, e

tramou contra Atalaia, fazendo o povo eleger Joás,

como rei. Assim, na verdade, no seu reinado,

existiam os cultos que foram eliminados por ele. O

resultado disso será visto no reinado de Joás, que se

tornou rei quando contava com apenas sete anos de

idade.

Joás (835-796):

2 Reis 12,3-4: “Joás fez o que é agradávelaos olhos de Iahweh, durante toda a suavida, pois o sacerdote Joiada o havia educado.Contudo, os lugares altos nãodesapareceram e o povo continuava aoferecer sacrifícios e incenso sobre oslugares altos”.

Amasias (796-781):

2 Reis 14,3-4: “Fez o que é agradável aIahweh, mas não como seu pai Davi; em tudoimitou Joás, seu pai. No entanto, os lugaresaltos não desapareceram e o povocontinuava a oferecer sacrifícios eincenso sobre os lugares altos”.

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Ozias (781-740):

2 Reis 15,3-4: “Fez o que é agradável aIahweh, como tudo o que fizera seu paiAmasias. Entretanto, os lugares altos nãodesapareceram e o povo continuava aoferecer sacrifícios e incenso nos lugaresaltos”.

Joatão (740-736):

2 Reis 15,34-35: “Fez o que é agradável aosolhos de Iahweh, imitando em tudo aconduta de seu pai Ozias. Entretanto, oslugares altos não desapareceram e opovo continuava a oferecer sacrifícios eincenso nos lugares altos”.

Acaz (736-716):

2 Reis 16,2-4: “Acaz tinha vinte anos quandocomeçou a reinar e reinou dezesseis anos emJerusalém. Não fez o que é agradável aosolhos de Iahweh, seu Deus, como havia feitoDavi, seu antepassado. Imitou a conduta dosreis de Israel, e chegou a fazer passar seufilho pelo fogo, segundo os costumesabomináveis das nações que Iahweh haviaexpulsado de diante dos israelitas. Ofereceusacrifícios e incensos nos lugares altos,

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nas colinas e debaixo de toda árvoreverdejante”.

e) Fim do reino de Judá

Ezequias (716-687):

2 Reis 18,3-6: “Fez o que agrada aos olhosde Iahweh, imitando tudo o que fizera Davi,seu antepassado. Foi ele que aboliu oslugares altos, quebrou as estelas, cortouo poste sagrado e reduziu a pedaços aserpente de bronze que Moisés havia feito,pois os israelitas até então ofereciam-lheincenso: chamavam-na Noestã”.

Manassés (687-642):

2 Reis 21,2-9: “Ele fez o mal aos olhos deIahweh, imitando as abominações das naçõesque Iahweh havia expulsado de diante dosisraelitas. Reconstruiu os lugares altos queEzequias, seu pai, havia destruído,ergueu altares a Baal, fabricou um postesagrado, como havia feito Acab, rei deIsrael, e prostrou-se diante de todo oexército do céu e lhe prestou culto.Construiu altares no Templo de Iahweh, doqual Iahweh dissera: ‘É em Jerusalém quecolocarei meu Nome’. Edificou altares para

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todo o exército do céu nos dois pátios doTempo de Iahweh. Fez passar seu filho pelofogo. Praticou encantamentos e adivinhação,estabeleceu necromantes e adivinhos emultiplicou as ações que Iahweh consideramás, provocando assim sua ira. Colocou oídolo de Aserá, que mandara esculpir, noTemplo, do qual Iahweh dissera a Davi e a seufilho Salomão: ‘Neste Templo em Jerusalém,cidade que escolhi entre todas as tribos deIsrael, colocarei meu Nome para sempre’”.

Amon (642-640):

2 Reis 21,20-22: “Fez o mal aos olhos deIahweh, como havia feito seu pai Manassés.Seguiu em tudo a conduta de seu pai, prestouculto aos ídolos que ele havia servido eprostrou-se diante deles. AbandonouIahweh, Deus de seus pais, e não seguiu ocaminho de Iahweh”.

Josias (640-609):

2 Reis 22,2: “Fez o que é agradável aosolhos de Iahweh e imitou em tudo a condutado seu antepassado Davi, sem se desviar paraa direita nem para esquerda”.

Josias fez uma reforma total; vejamos:

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Reforma religiosa em Judá: 2 Reis 23,4-14:“O rei ordenou a Helcias, o sumo sacerdote,aos sacerdotes que ocupavam o segundo lugare aos guardas das portas que retirassem dosantuário de Iahweh todos os objetos de cultoque tinham sido feitos para Baal, para Aserá epara todo o exército do céu; queimou-os forade Jerusalém, nos campos do Cedron e levousuas cinzas para Betel. Destituiu os falsossacerdotes que os reis de Judá haviamestabelecido e que ofereciam sacrifícios noslugares altos, nas cidades de Judá e nosarredores de Jerusalém, e os que ofereciamsacrifícios a Baal, ao sol, à lua, às constelaçõese a todo o exército do céu. Transportou doTemplo de Iahweh para fora de Jerusalém parao vale do Cedron, o poste sagrado e queimou-ono vale do Cedron; reduziu-o a Cinzas e lançousuas cinzas na vala comum. Demoliu as casasdos prostitutos sagrados, que estavam noTemplo de Iahweh, onde as mulheres teciamvéus para Aserá. Mandou vir das cidades deJudá todos os sacerdotes e profanou os lugaresaltos onde esses sacerdotes haviam oferecidosacrifícios desde Gaba até Bersabeia. Demoliuos lugares altos das portas, que se achavam àentrada da porta de Josué, governador dacidade, à esquerda de quem entra na porta dacidade. Mas os sacerdotes dos lugares altosnão podiam subir ao altar de Iahweh emJerusalém; comiam, porém, pães sem fermento

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no meio de seus irmãos. O rei profanou o Tofetdo vale de bem-Enom, para que ninguém maispudesse passar pelo fogo seu filho ou sua filhaem honra de Moloc. Fez desaparecer oscavalos que os reis de Judá tinham dedicadoao sol na entrada do Templo de Iahweh, pertodo aposento do eunuco Natã-Melec, nasdependências, e queimou os carros do sol. Osaltares que estavam no terraço do quartosuperior de Acaz, e edificados pelos reis deJudá, e os que Manassés tinha construído nosdois pátios do Templo de Iahweh, o rei osdemoliu, quebrou-os lá e lançou suas cinzas novale do Cedron. O rei profanou os lugares altossituados diante de Jerusalém, ao sul do montedas Oliveiras e que Salomão, rei de Israel,tinha construído para Astarte, abominação dossidônios, e para Camos abominação dosmoabitas, e para Melcom, abominação dosamonitas. Quebrou as estelas, cortou os postessagrados e encheu de ossos humanos o seulocal”.

A reforma se estende ao antigo reino donorte: 2 Reis 23,15-20: “Demoliu também oaltar que estava em Betel, o lugar altoedificado por Jeroboão, filho de Nabat, quehavia arrastado Israel ao pecado; demoliutambém esse altar e esse lugar alto, queimouo lugar alto e o reduziu a pó; queimou o postesagrado. Josias voltou-se e viu os túmulos que

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estavam na montanha; mandou buscar osossos daqueles túmulos e queimou-os sobre oaltar. Profanou-o assim, cumprindo a palavrade Iahweh que havia anunciado o homem deDeus que havia anunciado essas coisas,perguntou: ‘Que sepulcro é esse que estouvendo?’ Os homens da cidade responderam: ‘Éo túmulo do homem de Deus que veio de Judáe anunciou essas coisas que acabas de realizarcontra o altar de Betel’ – Disse o rei: ‘Deixai-oem paz e que ninguém toque em seus ossos’.Deixaram, pois, seus ossos intactos, bem comoos do profeta que tinha vindo da Samaria deBetel. Josias fez desaparecer também todos ostemplos dos lugares altos que estavam nascidades da Samaria, e que os reis de Israelhaviam construído, irritando com isso aIahweh, e procedeu com eles exatamentecomo tinha agido em Betel. Todos ossacerdotes dos lugares altos que ali seachavam foram por ele imolados sobre osaltares e queimou sobre esses altares ossoshumanos. Depois regressou a Jerusalém”.

Conclusão da reforma. 2 Reis 23,24-27:“Josias eliminou também os necromantes, osadivinhos, os deuses domésticos, os ídolos etodas as abominações que se viam na terra deJudá e em Jerusalém, a fim de executar aspalavras da Lei inscritas no livro que osacerdote Helcias havia encontrado no Templo

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de Iahweh. Não houve antes dele rei algumque se tivesse voltado, como ele, para Iahweh,de todo o seu coração, de toda a sua alma ecom toda a sua força, em toda a fidelidade àLei de Moisés; nem depois dele houve algumse lhe pudesse comprar”.

Se foi nesse tempo que encontraram o livro da

Lei, é sinal que antes não o tinham; portanto, não

havia como segui-lo; daí, talvez, justifica-se o motivo

pelo qual tantos reis praticaram rituais pagãos.

Joacaz (609):

2 Reis 23,32: “Ele fez o mal aos olhos deIahweh, como o haviam feito seus pais”.

Joacaz governou só por três meses e mesmo

depois da grande reforma realizada por Josias, ainda

assim, voltaram-se aos cultos pagãos, o que

demonstra como arraigadas estavam tais práticas.

Joaquim (609-597):

2 Reis 23,37: “Ele fez o mal aos olhos deIahweh, como haviam feito seus pais”.

Jeconias (598):

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2 Reis 24,9: “Ele fez o mal aos olhos deIahweh, como o havia feito seu pai”.

Sedecias (598-587) (586):

2 Reis 24,19: “Ele fez o mal aos olhos deIahweh, como o havia feito Joaquim”.

A partir daqui os hebreus tiveram o seu Templo

incendiado e, além disso, foram levados cativos para

a Babilônia, sob o governo de Nabucodonosor. Lá

permaneceram exilados de 586 a 539 a.C. Será

oportuno explicar:

O Cativeiro da Babilônia acabou em 539 a.C.,quando Ciro, imperador persa conquistou aBabilônia libertou os judeus, que retornaram aPalestina e reconstruíram o templo de Jerusalém,que havia sido destruído por Nabucodonosor. Em332 a.C. os persas foram derrotados porAlexandre, o Grande, e os macedônios e gregospassaram a dominar a Palestina, seguido pelodomínio romano, a partir de 63 a.C. Após acontenção da revolta judaica iniciada em meadosda década de 60 d.C., e a destruição de Jerusalémem 70 d.C., os judeus se dispersaram pelo mundo– foi o início da Diáspora Judaica. (217)

Voltando ao ponto da divisão, vejamos o que

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Ambrogio Donini, em Breve História das religiões,

nos informa:

Os dois reinos nos quais se dividiramimediatamente depois as tribos hebraicas, o deIsrael no norte, tendo Samaria como centro, e o deJudá no sul, tendo Jerusalém como capital, tiveramvida efêmera. Com a deportação de milhares defamílias para a Babilônia, no ano 586 a.C., ahistória dos hebreus, como Estado nacionalindependente, praticamente termina: à opressãosocial característica da época da escravidão,contra a qual já tinham reagido os primeiros“profetas” (Amos, Jeremias, o primeiro Isaías, etc.),acrescenta-se a dominação estrangeira nas suasformas mais brutais.

Além das massas reduzidas à escravidão pelosinvasores, dezenas de milhares de hebreusemigraram mais ou menos voluntariamente eestabeleceram-se em quase todos os centroshabitados do mundo oriental, na bacia doMediterrâneo e até na Índia e na China. (218) Frutoda derrocada da liberdade, surgiu e foi elaborada aideia de um “salvador”, político e social, que sópodia ser concebido com o aspecto de um novo“rei” (o messias), comandante de exércitos elibertador nacional.

Esta concepção, que sofreu uma evolução cujasfases são de fácil reconstrução, identificou-se coma reforma monoteísta, contribuindo para dar àreligião dos hebreus aquele aspecto típico queséculos e séculos de história não conseguiram

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apagar. (219)

Encontramos informações, na Bíblia de

Jerusalém, de que o “Segundo Isaías” foi profeta

anônimo e continuador de Isaías, pregou em

Babilônia, entre as primeiras vitórias de Ciro, em 550

a.C., e o édito libertador de 538 a.C. (220)

Ao que nos parece, foi nesse período que a

pregação de um Deus único foi implementada de

forma mais evidente.

Isaías 44,6-8: “Assim diz Iahweh, o rei deIsrael, Iahweh dos Exércitos, o seu redentor:Eu sou o primeiro e o último, fora de mimnão há Deus. Quem é como eu? Que clame,que anuncie, que o declare na minhapresença; desde que estabeleci um povoeterno, diga ele o que se passa, e anuncie oque deve acontecer. Não vos apavoreis, nãotemais; não vo-lo dei a conhecer há muitotempo e não o anunciei? Vós sois minhastestemunhas. Porventura existe um Deus forade mim? Não existe outra Rocha: eu nãoconheço nenhuma!”.

Isaías 44,24: “Assim diz Iahweh, o teuredentor, aquele que te modelou desde o

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ventre materno: eu, Iahweh, é que tudo fiz, esozinho estendi os céus e firmei a terra(com efeito, quem estava comigo?)”.

Isaís 45,5-6: “Eu sou Iahweh, e não há nenhumoutro, fora de mim não há Deus. Emboranão me conheças, eu te cinjo, a fim de quesaiba desde o nascente do sol até o poenteque, fora de mim, não há ninguém: eu souIahweh e não há nenhum outro!”.

Isaías 45,18: “Com efeito, assim diz Iahweh, ocriador dos céus, - ele é Deus, o que modeloua terra e a fez, ele a estabeleceu; não a crioucomo deserto, antes modelou-a para serhabitada. Eu sou Iahweh; não há nenhumoutro”.

Isaías 45,21: “Anunciai, trazei vossas provas, -sim, tomem conselho entre si! Quemproclamou isto desde os tempos antigos?Quem o anunciou deste há muito tempo? Nãofui eu, Iahweh? Não há outro Deus fora demim, Deus justo e salvador não existe, a nãoser eu”.

Isaías 46,3-9: “Ouvi-me, vós, da casa de Jacó,tudo o que resta da casa de Israel, vós, a quemcarreguei desde o seio materno, a quem leveidesde o berço. Até a vossa velhice continuo omesmo, até vos cobrirdes de cãs continuo acarregar-vos: eu vos criei e eu vos conduzirei,eu vos carregarei e vos salvarei. A quem

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haveis de assemelhar-me? Quem igualareis amim? A quem haveis de comparar-me, comose fôssemos semelhantes? Há os que tiramouro da bolsa e pesam prata na balança,contratam um ourives para lhes fazer umdeus, prostram-se diante dele e oadoram. Em seguida, põem-no sobre osombros e carregam-no, colocam-no no seulugar para que aí fique, sem afastar-se da suaposição. Por mais que alguém o chame, nãoresponde, da sua tribulação não salva.Lembrai-vos disto e sede homens; caí em vósmesmos, vós, infiéis. Lembrai-vos das coisaspassadas há muito tempo, porque eu souDeus e não há outro!”.

A referência aos que faziam deuses com ouro e

prata, em se referindo às casas de Jacó e de Israel,

leva-nos a concluir, que, ainda no exílio na Babilônia,

continuaram adorando outros deuses. É bom ter em

mente que “Os babilônios e os assírios, que

sucederam aos sumérios, adotaram a maioria dos

deuses e das suas práticas religiosas. […].” (221);

portanto, campo fértil para se prostituírem com

outros deuses.

Samoel Noah Kramer (1897-1990) vai ainda

mais longe:

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Da mesma forma, um opulento conjunto derituais e de mitos mesopotâmicos, instituídos porum notável grupo de teólogos que viveram 3.000anos antes do nascimento de Cristo, influenciouprofundamente as religiões ocidentais, sobretudo ojudaísmo e o cristianismo. A ideia mesopotâmicade que da água nasceram todas as coisas, porexemplo, infiltrou-se na narrativa do Gênesissobre a criação do mundo, e a noção bíblica deque o homem foi feito de barro e recebeu o“sopro de vida” brotou de raízesmesopotâmicas. Assim também o conceitobíblico de que o homem foi criadoprimordialmente para servir a Deus e o de que opoder criador da divindade está no Seu Verbo. Aideia de que as catástrofes são castigos celestespor más ações, como a de que a dor e aadversidade devem ser suportadas com paciência,também encontram analogia na Mesopotâmia. Atémesmo a região dos mortos, imaginada pelosmesopotâmios, a sua escura e lúgubre “terra deonde não se volta”, tem a sua contrapartida noSheol dos hebreus e no Hades dos gregos.

Até na atualidade a liturgia judaica está repletade contribuições babilônicas. O Kol Nidre, o cantojudaico recitado nas vésperas do Dia daInspiração, em penitência pela quebra dos votos, ésemelhante às preces que figuravam nascerimônias mesopotâmicas do Ano Novo. Omesmo quanto à solene descrição do destinohumano que é declamada no próprio Dia daInspiração. Durante o seu exílio em Babilônia oshebreus também adquiriram a crença nosdemônios e sua exorcização, o que, sem

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dúvida, explica diversas passagens do NovoTestamento concernentes à expulsão dosespíritos malignos.

Desde os dias do cativeiro em Babilônia, edaí em diante, o judaísmo apresenta umenxame de místicos religiosos com visõesapocalípticas sobre o futuro do homem. Pormeio desses visionários, diz o eminente orientalistaW. F. Albright, “elementos inumeráveis da fantasiapagã e até mitos inteiros entraram na literatura dojudaísmo e do cristianismo”. Por exemplo, o ritodo batismo – diz ele – remonta às religiões daMesopotâmia, como também muitos doselementos na história da vida de Cristo. Entreestes o Dr. Albright inclui a sua concepção poruma virgem, o seu nascimento relacionado comos astros, e os temas da prisão, da morte,descida aos infernos, o desaparecimento portrês dias e posterior ascensão aos céus.

A religião mesopotâmica era, sem dúvida, pagãe politeísta, e portanto um profundo abismoespiritual a separa do monoteísmo judaico ecristão. Além disso, tanto o Velho como o NovoTestamento se impregnam de uma sensibilidadeética e de um fervor moral que não encontramcorrespondência nos textos mesopotâmicos. Nema Suméria, nem Babilônia, nem a Assíria jamaischegaram à elevada crença de que o “coraçãopuro” e “mãos limpas” tinham mais valor espiritualdo que sacrifícios e rituais esmerados. O vínculode amor entre Deus e o homem, embora não detodo alheio ao pensamento religioso daMesopotâmia, decerto é nele de significação muito

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menor do que no judaísmo e no cristianismo.Todavia, os primitivos mesopotâmios cultivaramo conceito de um deus pessoal e familiar queteve o seu eco na Bíblia com o “deus deAbraão, Isaac e Jacó” - e entre essa divindadeprotetora e o seu devoto adorador há umarelação íntima, de ternura e confiança, emalguns aspectos, comparável, com a que existiuentre Jeová e os patriarcas.

A literatura da Mesopotâmia, assim como a suareligião e o seu direito, contaminaram também todoo mundo ocidental. Temas que figuram noscapítulos iniciais do Gênesis – a Criação, oParaíso, o Dilúvio, a rivalidade de Caim e Abel, e aTorre de Babel – todos têm antecedentes literáriosna Mesopotâmia. No Livro dos Salmos, muitosdentre eles lembram hinos do culto mesopotâmico,e o Livro das Lamentações copia um dos motesliterários mais cultivados pelos escritoresmesopotâmicos – na Suméria era comum secomporem lamentações formais sobre a destruiçãode uma cidade. Nas coleções sumerianas debrocardos, máximas e adágios, há tambémantecedentes estilísticos para o Livro dosProvérbios. Mesmo ao Cântico dos Cânticos, deSalomão, o livro diferente de quaisquer outros doVelho Testamento pode ser atribuído umprecedente da Mesopotâmia, com os cantos deamor do culto sumeriano.

A literatura grega mostra igualmenteinumeráveis indícios da influência mesopotâmica.A história mesopotâmica do dilúvio, porexemplo, corresponde na mitologia grega à

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história de Deucalião, que constrói um barco enele sobrevive a uma inundação que destrói oresto da humanidade. O tema do combate aodragão nos mitos mesopotâmicos encontraequivalência em algumas ficções, como as deJasão e Héracles, os quais mataram diversosmonstros. Pragas lançadas como punição pelosdeuses também figuram na mitologia da Grécia ena da Mesopotâmia. E há acentuada semelhançaentre o inferno grego e o mesopotâmico, sendoambos lugares tenebrosos, separados do reinodos vivos por um rio sinistro que os mortosatravessavam de barca. Da mesma forma, anênia grega, ou elegia para o morto, parece ter oseu prenúncio em duas composições sumerianas,recentemente traduzidas de uma inscrição noMuseu Pushkin, de Moscou; nelas, um poetamesopotâmico pranteia em linguagem hiperbólica amorte do pai e da esposa. Até a forma da epopeiagrega, que conduziu à criação da Ilíada e daOdisseia, tem analogia com o estilo dos poemasépicos da Mesopotâmia. (222)

Confirma-se que a influência mesopotâmica

sobre a cultura religiosa dos hebreus é um fato

incontestável, tendo em vista os vários relatos

bíblicos que têm nítida origem nas crenças dos que

viviam naquela região; somente por fanatismo cego

é que não se vê isso.

Antes de irmos para o período seguinte, vamos

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ver algo que na própria Bíblia corrobora a apostasia

de quase todos os reis dos hebreus, salvando-se

apenas três deles: “Exceto Davi, Ezequias e Josias,

todos os reis cometeram pecados. Os reis de

Judá desapareceram porque abandonaram a Lei do

Altíssimo”. (Eclesiástico 49,4). Apenas para lembrar:

este livro Eclesiástico só faz parte do cânon católico.

f) A restauração durante o período persa

Este era o quadro da época:

No ano de 538 a.C., quando os judeus voltaramdo exílio da Babilônia, a situação de Judá eJerusalém era deplorável: cada um procurando sedefender sozinho, sem nenhum interesse emformar a unidade que lhes desse a característicade povo. Mesmo aqueles que voltaram do exílioestavam preocupados em construir a própria casa,plantar a sua roça, vender as suas mercadorias,mais do que restabelecer a dignidade nacional.[…]. (223)

Destaca-se, nesse período, o profeta Ageu, que

incentivava o povo a reconstruir o templo de

Jerusalém, seguindo uma revelação que teve sobre

isso.

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Com Ageu começa o último período profético, oposterior ao Exílio. A mudança é impressionante.Antes do Exílio, a palavra de ordem dos profetasfora Castigo. Durante o Exílio, passou a serConsolação. Agora é Restauração. Ageu cheganum momento decisivo para a formação dojudaísmo: o nascimento da nova comunidade daPalestina. Suas breves exortações datamexatamente do final de agosto a meados dedezembro do ano de 520. Os primeiros judeus queregressaram da Babilônia para reconstruir oTemplo logo perderam a coragem. Mas os profetasAgeu e Zacarias reavivaram as energias einduziram o governador Zorobabel e o sumosacerdote Josué a recomeçarem os trabalhos noTemplo, o que foi feito em setembro de 520 (1,15/cf. Esd 5,1). (224)

Nesse período vemos que os hebreus, apesar

de estarem fiéis a Iahweh, não deixaram de absorver

a cultura persa.

Hendrik Willem Van Loon (1882-1944), em A

História da Bíblia, informa-nos que:

Sob a influência das doutrinas de Zaratustra, osjudeus começaram a crer na existência dumespírito que procurava desfazer a obra de Jeová. Ea esse adversário deram o nome de Satã. (225)

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O que é confirmado por Julio Trebolle Barrera,

em A Bíblia judaica e a Bíblia cristã: introdução à

história da Bíblia:

[…] A invasão de Alexandre Magno e oconseguinte desaparecimento do império persanão supõe uma virada total da situação. O centroda cultura não se deslocou de um polo a outro, doOriente ao Ocidente, da Pérsia e Mesopotâmia àMacedônia e Grécia. As mudanças surgiram dosentão diversos centros culturais e políticosespalhados de um canto a outro do mundohelenístico. A incorporação da Palestina ao impériopersa já supôs sua integração dentro de umaunidade política e cultural, que incluía amplosterritórios gregos na Ásia Menor. Por isto mesmo aconquista de Alexandre não marcou um começoabsoluto nas relações entre as culturas judaica,semítica e irânica por um lado, e a cultura helênicapor outro, mas simplesmente houve umaintensificação das relações já existentes.

A conquista de Alexandre tampouco marcou ofim da irradiação da cultura persa, que seguiráinfluindo na literatura bíblica e apócrifa, emparticular pelo que se refere à visão dualista docosmo e da história e ao desenvolvimento daangeologia e demonologia. (226)

Realmente, conforme já dissemos, é muito

difícil um povo se isolar culturalmente para não

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receber influência de um outro, seja pela

proximidade geográfica, seja por submissão política.

Zacarias 1,1-4: “No oitavo mês, no segundoano de Dario, a palavra de Iahweh foi dirigidaao profeta Zacarias (filho de Baraquias), filhode Ado, nestes termos: Iahweh esteveprofundamente irritado contra vossos pais. Tulhes dirás: Assim disse Iahweh dos Exércitos:Retornai a mim – oráculo de Iahweh dosExércitos – e eu retornarei a vós, disseIahweh dos Exércitos. Não sejais comovossos pais, a quem os antigos profetasanunciaram: Assim disse Iahweh dos Exércitos:Convertei-vos de vossos caminhos perversos ede vossas ações perversas. Mas eles nãoouviram e não me deram atenção – oráculo deIahweh”.

Essas admoestações do profeta Zacarias

podem significar que estavam se desviando dos

caminhos de Iahweh; entretanto, não logramos

descobrir em qual sentido, se estavam ou não

adorando a outros deuses, pois casamento de

hebreus com indivíduos de outras crenças, já era

considerado não seguir os caminhos de Iahweh.

Zacarias 3,6-7: “Então o anjo de Iahweh fez a

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Josué esta declaração: ‘Assim disse Iahweh dosExércitos: Se andares pelos meuscaminhos e guardares os meus preceitos,então tu governarás a minha casa eadministrarás os meus pátios e eu te dareiacesso entre os que estão aqui de pé’”.

Valem as mesmas considerações da passagem

anterior.

Esdras 9,1-2: “Feito isso, os chefes vieramprocurar-me, dizendo: ‘O povo de Israel, ossacerdotes e os levitas não se separaramdos povos das terras mergulhados emsuas abominações – cananeus, heteus,ferezeus, jebuseus, amonitas, moabitas,egípcios e amorreus! – porque, para si epara seus filhos, tomaram esposas entreas filhas deles: a linhagem santa misturou-secom os povos das terras: os chefes e osmagistrados foram os primeiros a participardessa infidelidade!’”.

Está aí a prova do que acabamos de falar a

respeito do casamento de hebreus com gente de

outros povos.

Destacamos nesse período o personagem

Esdras, que liderou, em 457 a.C., o segundo grupo

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de retorno dos israelitas do exílio da Babilônia. Ele

era um escriba entendido na lei de Moisés. Ele chega

a Jerusalém em 458 a.C. e, segundo narrativa, “vem

munido de um decreto que lhe dá autoridade para

impor à comunidade a Lei de Moisés, reconhecida

pelo rei”. (227) Em vista disso se conclui que:

[…] Esdras é de fato o pai do judaísmo,com suas três ideias essenciais: a Raça eleita, oTemplo e a Lei. Sua fé ardente e a necessidadede salvaguardar a comunidade renascenteexplicam a intransigência de suas reformas e oparticularismo que ele impôs aos seus. É opatrono dos escribas e sua figura foi semprecrescendo na tradição judaica. […]. (228)

Na Bíblia Sagrada Pastoral encontramos a

seguinte explicação para as passagens Esdras 9,1-

10,17 e Neemias 7,72b-8,12, respectivamente:

Temos aqui o início do movimento queculminará com a estruturação da comunidadejudaica e, portanto, do que se costuma chamarde judaísmo. Esdras usa o matrimônio comocritério para separar definitivamente a comunidadedos repatriados da população local. Esta eraformada de judeus que não estiveram no exílio eque se misturaram com elementos de povos

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vizinhos (samaritanos, moabitas, edomitas eoutros). Desse modo, o conflito latente desde achegada dos repatriados (cf. 3,3; e,4s) semanifestou de maneira permanente. Não faltaramvozes de protesto (10,15), mas a maioria dosrepatriados concordou com Esdras. (229)

No primeiro dia do sétimo mês de um anosituado na segunda metade do séc. V a.C.,nasce o fenômeno político-religioso chamadojudaísmo. O acontecimento marcante é o livro daLei, certamente o núcleo do atual Pentateuco. Tallivro é promulgado publicamente como a lei queregerá a vida política, social e religiosa dacomunidade. Daí por diante e até nossos dias, ojudaísmo foi pouco a pouco se tornando a religiãodo livro, que acabou por substituir completamenteo Templo e os sacrifícios. (230)

Se, por volta do ano 458 a.C., é que o judaísmo

nasceu, então, antes disso, o que temos?

“Mosaísmo” (para manter-se o sufixo “ismo”

atribuída às correntes religiosas)?

g) Época helenística

Uma visão do período:

O macedônio Alexandre Magno formou umgrande império, que foi disputado e dividido entre

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seus oficiais após sua morte prematura. APalestina ficou disputada entre Ptolomeu, rei doEgito, e Selêuco, rei da Síria. Após certo tempo derelativa tranquilidade, os judeus se veempressionados pelos selêucidas, sucessores deSelêuco, especialmente por Antíoco IV Epífanes,que assumiu o poder em 175 a.C.

Para assegurar seu domínio Antíoco IVimpunha costumes gregos aos povosdominados. Entre os judeus, um grupo lideradopelo sumo sacerdote Jasão (“geração de ímpios”),tornou-se favorável às medidas de Antíoco efacilitou a entrada de usos estrangeiros até emJerusalém.

Toda a dominação político-econômica lançamão da dominação cultural, para veicular suaideologia, descaracterizando a identidadenacional. Para isso conta sempre com gruposnativos que se tornam porta-vozes do dominador,em troca de privilégios.

Antíoco IV conquista o Egito para formar umgrande império junto com a Síria. Situada a meiocaminho, de Jerusalém era importante pontoestratégico. Por isso, Antíoco a toma e atransforma em fortaleza.

É grande ingenuidade pensar que o dominadorpossa ir contra seus próprios interesses, parabeneficiar os dominados. Mais uma vez se justificaa crítica que os profetas faziam contra as aliançascom os grandes.

Para assegurar a unidade do império, Antíoco IVameaça a identidade de cada povo. Suas medidas

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compreendem a imposição de leis, costumes ereligião gregos. A resistência dos judeus provocamedidas drásticas: ou aceitar o decreto, ou morrer.A Abominação da Desolação (v. 54) é o altardedicado ao deus grego Júpiter, construído dentrodo Templo de Jerusalém (cf. Nota em Dn 9,1-27)(231)

Essas notas constam do primeiro livro de

Macabeus (1 Macabeus 1,1-64) na Bíblia citada.

Temos alguns registros no período, embora não

possamos estendê-los para abranger a todo ele.

1 Macabeus 1,11-15: “Por esses dias apareceuem Israel uma geração de perversos, queseduziram a muitos com estas palavras:‘Vamos, façamos aliança com as naçõescircunvizinhas, pois muitos males caíram sobrenós desde que delas nos separamos’. Agradou-lhes tal modo de falar. E alguns dentre opovo apressaram-se em ir ter com o rei, oqual lhes deu autorização paraobservarem os costumes pagãos.Construíram, então, em Jerusalém, uma praçade esportes, segundo os costumes das nações,restabeleceram seus prepúcios e renegaram aaliança sagrada. Assim associaram-se aospagãos e se venderam para fazer o mal”.

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Uma debandada para o lado dos pagãos, cujos

ritos passaram a praticar. Ao que parece, isso

aconteceu antes até de Antíoco impor o costume

grego a todos os povos conquistados.

1 Macabeus 1,41-53: “O rei prescreveu, emseguida, a todo o seu reino, que todosformassem um só povo, renunciando cada quala seus costumes particulares. E todos ospagãos conformaram-se ao decreto do rei.Também muitos de Israel comprazeram-seno culto dele, sacrificando aos ídolos eprofanando o sábado. Além disso, o reienviou, por emissários, a Jerusalém e àscidades de Judá, ordens escritas para quetodos adotassem os costumes estranhosa seu país e impedissem os holocaustos,o sacrifício e as libações no Santuário,profanassem sábados e festas,contaminassem o Santuário e tudo o queé santo, construíssem altares, recintos eoratórios para os ídolos e imolassemporcos e animais impuros. Que deixassem,também, incircuncisos seus filhos e setornassem abomináveis por toda sorte deimpurezas e profanações, de tal modo queolvidassem a Lei e subvertessem todas asobservâncias. Quanto a quem não agisseconforme a ordem do rei, esse incorreria

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em pena de morte. Nesses termos, eleescreveu a todo o seu reino, nomeouinspetores para todo o povo e ordenou àscidades de Judá que oferecessem sacrifíciosem cada cidade. Muitos dentre o povoaderiram a eles, todos os que eram desertoresda Lei. E praticaram o mal no país, reduzindoIsrael a ter de se ocultar onde quer queencontrasse refúgio”.

Explicam-nos esse passo:

Visando à unidade de seu império AntíocoEpífanes impôs aos judeus práticas pagãs,abolindo assim a concordata que em 198 AntíocoIII lhes havia concedido, ao reconhecer-lhes a leide Moisés como o seu estatuto legal (como ohaviam feito os reis da Pérsia após o Exílio). Afidelidade à Lei tornava-se, depois dessarevogação, ato de rebeldia política, que motivaria aperseguição. A liberdade religiosa estárestabelecida pelo rescrito de Antíoco V (6,57-61;2Mc 11,22-26). (232)

Se antes alguns o fizeram espontaneamente,

agora se impõe a todos o costume dos gregos. A

pena de morte aos infratores, certamente, fez ir para

o lado dos pagãos quase todos os hebreus; a

resistência coube a poucos, que, inicialmente, foram

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liderados por Judas Macabeu (166-160 a.C.), sendo

seu sucessor Jônatas (160-143 a.C.), que, por sua

vez, foi sucedido por Simão (143-134 a.C.).

Apenas para dar uma sequência histórica,

transcrevemos do graduado em História Rainer

Souza, da Equipe Brasil Escola, o seguinte:

No século I a.C., os romanos conquistaram osjudeus depois de subjugar os territóriosanteriormente controlados pelos macedônicos. Adominação romana contou com grande agitaçãopolítica entre os grupos judeus que não seconformavam com a falta de autonomia política deseu povo. Os intensos conflitos resultaram naviolenta destruição da cidade de Jerusalém no anode 70 d.C. Depois de destruírem a capital judaica,o povo judeu foi proibido de retornar à Palestina.(233)

Eis o trágico fim dos hebreus, agora vistos

como judeus, que até nos dias de hoje não

conseguiram mais se restabelecerem como uma

nação, separados como se encontram pelo mundo

afora.

O Estado de Israel existe desde maio de 1948,

poderá, futuramente, juntá-los, caso os povos da

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região da Palestina deixem de lado suas divergências

religiosas.

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Ou crê ou morre!

Não podemos deixar de destacar que, ao longo

da história religiosa dos hebreus, a atitude da

divindade, a qual seguiam, para com eles era na

base de um autêntico terrorismo religioso, tipo “ou

crê ou morre!”, uma verdadeira tática de “guerra”;

foram inúmeras vezes ameaçados, caso buscassem

outros deuses. Muitas dessas ameaças se

concretizaram, pois se tornaram uma realidade, as

quais só podemos classificar como autênticas

barbaridades praticadas contra eles.

Aliás, elas, em si, já provam que pacificamente

eles não seguiam a Iahweh como sua divindade.

Vamos demonstrar isso, para que se veja que os

hebreus sempre estiveram debaixo de pressão para

ter Iahweh como seu único Deus; infelizmente, ao

que nos parece, não tiveram a oportunidade de

exercerem o seu livre-arbítrio, algo fundamental para

o progresso espiritual de cada um de nós.

Antes de listar as passagens, destacaremos

duas delas, por serem mais importantes, onde

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veremos Moisés, suposto representante de Iahweh,

já aplicando a lei máxima, a dar exemplo aos

hebreus de que a sua divindade não estava mesmo

para brincadeiras, caso desrespeitassem suas leis.

Êxodo 32,25-28: “Moisés viu que o povo estavadesenfreado, porque Aarão os haviaabandonado à vergonha no meio dos seusinimigos. Moisés ficou de pé no meio doacampamento e exclamou: 'Quem for deIahweh venha até mim'. Todos os filhos de Levireuniram-se em torno dele. Ele lhes disse:'Assim fala Iahweh, o Deus de Israel: Cingi,cada um de vós, a espada sobre o lado, passaie tornai a passar pelo acampamento, de portaem porta, e matai, cada qual, a seu irmão,a seu amigo, a seu parente. Os filhos de Leifizeram segundo a palavra de Moisés, enaquele dia morreram do povo uns trêsmil homens”.

Além de terem sido obrigados a tomar água

com ouro em pó, outra consequência da adoração do

bezerro de ouro, registrada nessa passagem, foi a

morte de uns três mil homens. O curioso é que

Moisés mal acabara de descer do Sinai e,

certamente, ainda tinha debaixo dos braços as

tábuas de pedra com os Dez Mandamentos, entre os

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quais havia o “Não matarás” (Êxodo 20,13), manda,

a pedido de Iahweh, matar seus compatriotas. O fato

é que ele já queria se impor, logo de início.

Números 15,32-36: “Enquanto os israelitasestavam no deserto, um homem foisurpreendido apanhando lenha no dia desábado. Aqueles que o surpreenderamrecolhendo lenha trouxeram-no a Moisés, aArão e a toda a comunidade. Puseram-no sobguarda, pois não estava ainda determinado oque se devia fazer com ele. Iahweh disse aMoisés: 'Tal homem deve ser morto. Toda acomunidade o apedrejará fora doacampamento'. Toda a comunidade o levoupara fora do acampamento e o apedrejou atéque morreu, como Iahweh ordenara a Moisés”.

Meu Deus!!!… como um ato tão banal desse –

apanhar lenha –, poderia ter como resultado a pena

de morte ao pobre homem que o praticava? Somente

por que ele “violara” o “santificar o dia de sábado”

(Êxodo 20,8), cujo motivo de sua instituição sequer é

bem definido? É só ler as passagens abaixo:

Êxodo 20,11: “Porque em seis dias Iahweh fezo céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm,mas repousou no sétimo dia; por isso

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Iahweh abençoou o dia de sábado e oconsagrou”.

Deuteronômio 5,15: “Recorda que fosteescravo do Egito, e que Iahweh teu Deus tefez sair de lá com mão forte e braçoestendido. É por isso que Iahweh teu Deuste ordenou guardar o dia de sábado”.

Enfim, deve-se guardar o sábado porque a

divindade descansou no sétimo dia da criação ou

para que os hebreus recordassem o dia em que eles

foram libertados da escravidão no Egito?

O apedrejamento até a morte nada mais foi

que a aplicação da tática terrorista que visava impor

aos hebreus a ideia do deus único: Iahweh.

Ocorreu-nos uma dúvida: será que

apedrejavam os infratores no sábado, considerado

que era proibido fazer qualquer coisa nesse dia? Mas

se o fizessem para obedecer à Iahweh, também o

desobedeceriam na questão de não se fazer nada

aos sábados, ou seja, uma determinação estaria em

conflito com a outra.

Agora sim, veremos as outras passagens nas

quais essa tática terrorista de Iahweh é,

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sobejamente, incontestável:

Êxodo 20,3-6: “Não terás outros deuses diantede mim. Não farás para ti imagem esculpida denada que se assemelhe ao que existe lá emcima nos céus, ou embaixo na terra, ou naságuas que estão debaixo da terra. Não teprostrarás diante desses deuses e não ossirvais, porque eu, Iahweh teu deus sou umDeus ciumento, que puno a iniquidade dospais sobre os filhos até a terceira equarta geração dos que me odeiam, masque também ajo com amor até a milésimageração para com aqueles que me amam eguardam os meus mandamentos”.

Números 14,26-35: “Iahweh falou a Moisés e aAarão. Disse-lhe: ‘Até quando esta comunidadeperversa há de murmurar contra mim? Ouvi asqueixas que os israelitas murmuram contramim. Dize-lhes: Por minha vida – oráculo deIahweh – eu vos tratarei segundo as própriaspalavras que pronunciastes aos meus ouvidos.Os vossos cadáveres cairão neste deserto,todos vós os recenseados, todos vós osenumerados desde a idade de vinte anos paracima, vos que tendes murmurado contra mim.[…] Quanto a vós, os vossos cadáverescairão neste deserto, e vossos filhosandarão errantes neste deserto porquarenta anos, carregando o peso da

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vossa infidelidade, até que os vossoscadáveres se consumam no deserto.Explorastes a terra durante quarenta dias. Acada dia corresponde um ano: por quarentaanos levareis o peso de vossas faltas esabereis o que é de fato de me abandonar. Eufalei, eu mesmo, Iahweh; é assim que tratareitoda esta comunidade perversa amotinadacontra mim. Neste mesmo deserto não restaráum deles e é ali que morrerão’”.

Números 17,11-14: “Em seguida Moisés disse aAarão: ‘Toma o incensório, põe nele fogo doaltar e em cima o incenso, e vai depressa àcomunidade, a fim de fazer o rito da expiaçãopor ela. Eis que a ira já saiu de diante deIahweh: já começou a praga. Aarão o tomou,conforme ordenou Moisés, e correu para omeio da assembleia; mas a Praga já haviacomeçado entre o povo. Colocou o incenso efez o rito de expiação pelo povo. E,permaneceu entre os mortos e vivos; e cessoua Praga. Foram catorze mil e setecentas asvítimas da Praga, sem contar aqueles queforam mortos por causa de Coré”.

Números 21,4-6: “[…] No caminho o povoperdeu a paciência. Falou contra Deus e contraMoisés: ‘Por que nos fizestes subir do Egitopara morrer neste deserto? Pois não há nempão, nem água; estamos enfastiados dessealimento de penúria’. Então Iahweh enviou

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contra o povo serpentes abrasadoras,cuja mordedura fez perecer muita genteem Israel”.

Números 25,4-5.9: “Iahweh disse a Moisés:‘Toma todos os chefes do povo. Empala-os emface do sol, para Iahweh: então a ira ardentede Iahweh se afastará de Israel’. Moisés disseaos juízes de Israel: ‘Mate cada um aquele dosseus homens que se ligaram a Baal de Fegor’.E morreram dentre eles vinte e quatromil, devido à praga”.

Deuteronômio 4,3-4: “Vossos olhos foramtestemunhas do que Iahweh fez em Baal-Fegor: Iahweh teu Deus exterminou do teumeio todos os que seguiram o Baal deFegor; quanto a vós, porém, permanecestesapegados a Iahweh vosso Deus, e hoje estaisvivos”.

Deuteronômio 4,23-28: “Ficai atentos a vósmesmos, para não vos esquecerdes da Aliançaque Iahweh vosso Deus concluiu convosco, enão fazerdes uma imagem esculpida dequalquer coisa que Iahweh teu Deus te proibiu,pois teu Deus Iahweh é fogo devorador.Ele é um Deus ciumento. Quando tiverdesgerado filhos e netos, e fordes velhos na terra,e vos corromperdes, fazendo uma imagemesculpida qualquer, praticando o que é mauaos olhos de Iahweh teu Deus, de modo a

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irritá-lo, eu tomo hoje o céu e a terra comotestemunhas contra vós: sereis depressa ecompletamente exterminados da face daterra da qual ides tomar posse aoatravessardes o Jordão. Não prolongareisvossos dias sobre ela, pois sereiscompletamente aniquilados. Iahweh vosdispersará entre os povos e restará de vósapenas um pequeno número, no meio dasnações para onde Iahweh vos tiver conduzido.Lá servireis a deuses feitos por mãos humanas,de madeira e de pedra, que não podem ver ououvir, comer ou cheirar”.

Deuteronômio 6,13-15: “É a Iahweh teu Deusque temerás. A ele servirás e pelo seu nomejurarás. Não seguireis outros deuses, qualquerum dos deuses dos povos que estão ao vossoredor, pois Iahweh teu Deus é um Deusciumento, que habita em teu meio. A cólerade Iahweh teu Deus se inflamaria contrati, e ele te exterminaria da face da terra”.

Deuteronômio 7,1-4: “Quando Iahweh teu Deuste houver introduzido na terra que estáentrando para possuí-la, e expulsando naçõesmais numerosas que tu – os heteus, osgergeseus, os amorreus, os cananeus, osferezeus, os heveus e os jebuseus –, setenações mais numerosas e poderosas do quetu; quando Iahweh teu Deus entregá-las a ti, tuas derrotarás e as sacrificarás como anátema.

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Não farás aliança com elas e não as trataráscom piedade. Não contrairás matrimônio comelas, não darás tua filha a um de seus filhos,nem tomarás uma de suas filhas para teu filho;pois deste modo o teu filho se afastaria demim para servir a outros deuses, e acólera de Iahweh se inflamaria contravós, exterminando-te rapidamente”.

Deuteronômio 8,18-20: “Lembra-te de Iahwehteu Deus, pois é ele quem te concede forçapara te enriqueceres, mantendo a Aliança quejurou aos teus pais, como hoje se vê. Contudo,se te esquecerdes completamente de Iahwehteu Deus, seguindo outros deuses, servindo-ose adorando-os, eu hoje testemunho contra vós:é certo que perecereis! Perecereis domesmo modo que as nações que Iahwehvai exterminar à vossa frente, por nãoterdes obedecido à voz de Iahweh vossoDeus”.

Deuteronômio 11,16-17: “Contudo, ficai atentoa vós mesmos, para que o vosso coração nãose deixe seduzir e não vos desvieis para servira outros deuses, prostrando-se diante deles. Acólera de Iahweh se inflamaria contra vóse bloquearia o céu: não haveria maischuva e a terra não daria o seu produto;deste modo desaparecereis rapidamenteda boa terra que Iahweh vos dá!”.

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Deuteronômio 11,26-28: “Vede: hoje proponhoa benção e a maldição diante de vós: Abenção, se obedecerdes aos mandamentos deIahweh vosso Deus que hoje vos ordeno; amaldição, se não obedecerdes aosmandamentos de Iahweh vosso Deus,desviando-vos do caminho que vos ordeno,para seguirdes outros deuses, que nãoconhecestes”.

Deuteronômio 13,7-12: “Se teu irmão – filhode teu pai ou de tua mãe –, teu filho, tuafilha, ou a mulher que repousa em teuseio, ou o amigo que é como tu mesmo,quiser te seduzir secretamente, dizendo:‘Vamos servir a outros deuses’, deuses quenem tu nem teus pais conheceram, – deusesde povos vizinhos, próximos ou distantes de ti,de uma extremidade à outra –, não lhe darásconsentimento, não o ouvirás, e que teu olhonão tenha piedade dele; não uses demisericórdia e não escondas o seu erro. Pelocontrário: deve matá-lo! Tua mão será aprimeira a matá-lo e, a seguir, a mão detodo o povo. Apedreja-o até que morra,pois tentou afastar-te de Iahweh teu Deus, quete fez sair da terra do Egito, da casa daescravidão. E todo Israel ouvirá, ficará commedo e nunca mais se fará uma ação má comoesta em teu meio”.

Deuteronômio 13,13-16: “Caso ouças dizer

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que, numa das cidades que Iahweh teu Deuste dará para aí morar, homens vagabundos,procedentes do teu meio, seduziram oshabitantes da sua cidade, dizendo:‘Vamos servir a outros deuses’, que nãoconhecestes, deverás investigar, fazendo umapesquisa e interrogando cuidadosamente.Caso seja verdade, se o fato for constatado, seesta abominação foi praticada em teu meio,deverás então passar a fio de espada oshabitantes daquela cidade. Tu asacrificarás como anátema, juntamentecom tudo o que nela existe”.

Deuteronômio 17,2-7: “Se em teu meio,numa das cidades que Iahweh teu Deus tedará, houver algum homem ou mulher quefaça o que é mau aos olhos de Iahweh teuDeus, transgredindo sua Aliança paraservir a outros deuses e prostrar-sediante deles – diante do sol, da lua ou detodo o exército do céu –, o que eu não ordenei;se isto for denunciado a ti, ou se o ouvires,primeiros farás uma acurada investigação. Sefor verdade, se for constatado que talabominação foi cometida em Israel, entãofarás sair para as portas da cidade ohomem ou a mulher que cometeu esta máação, e apedrejarás o homem ou a mulheraté que morra. Somente pela disposição deduas ou três testemunhas, poder-se-á

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condenar alguém à morte; ninguém será mortopela deposição de uma só testemunha. A mãodas testemunhas será a primeira a fazê-lomorrer, e, depois a mão de todo o povo. Destemodo extirparás o mal do teu meio”.

Deuteronômio 28,58-63: “Se não cuidares depôr em prática todas as palavras desta Leiescritas neste livro, temendo este nomeglorioso e terrível – ‘Iahweh teu Deus' –,Iahweh ferirá a ti e à tua descendênciacom pragas espantosas, pragastremendas e persistentes, doençasgraves e incuráveis. Voltará contra ti aspragas do Egito que te horrorizavam, e elas seapegarão a ti. E ainda mais: Iahweh lançarácontra ti todas as doenças e pragas que estãoescritas neste livro da Lei, até que sejaexterminado. Restarão de vós poucos homens,vós que éreis tão numerosos quanto asestrelas do céu! Uma vez que não obedecestesà voz de Iahweh teu Deus, do mesmo modoque Iahweh se comprazia em vos fazer o beme vos multiplicar, assim também ele teráprazer em vos destruir e vos exterminar:sereis arrancados do solo em que estáentrando a fim de tomardes posse dele”.

Deuteronômio 29,17-20: “Que não existaentre vós homem ou mulher, clã ou tribocujo coração se desvie hoje de Iahwehnosso Deus, indo servir a outros deuses

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daquelas nações! Que entre vós não existauma raiz que produza planta venenosa ouamarga! Portanto, ouvindo as palavras destepacto com imprecação, se alguém abençoar asi próprio no coração, dizendo: ‘Vou ter paz,mesmo que ande conforme a obstinação domeu coração, pois a abundância da água fará asede desaparecer’, Iahweh jamais consentiráem perdoá-lo. Pelo contrário, sua ira e ciúmese inflamarão contra tal homem,sobrevindo-lhe toda a imprecação escritaneste livro, e Iahweh lhe apagará o nomede sob o céu. E, para seu infortúnio, Iahweh oseparará de todas as tribos de Israel, conformeas imprecações da Aliança escrita neste livroda Lei”.

Deuteronômio 30,17-18: “Contudo, se o teucoração se desviar e não ouvires, e tedeixares seduzir e te prostrares diante deoutros deuses, e os servirdes, eu hoje vosdeclaro: é certo que perecereis! Nãoprolongareis vossos dias sobre o solo em que,ao atravessar o Jordão, estás entrando paradele tomar posse”.

Josué 7,15: “Enfim, aquele que for designadopela sorte naquilo a que se refere o anátemaserá queimado, ele e tudo o que lhepertence, por haver transgredido a Aliançacom Iahweh e haver cometido uma infâmia emIsrael”.

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Josué 23,16: “Se transgredirdes a Aliança queIahweh vosso Deus vos impôs, e se servirdes aoutros deuses e vos prostrardes diante deles,então a ira de Iahweh se inflamará contravós e bem depressa desaparecereis daboa terra que ele vos deu”.

Josué 24,20: “Se abandonardes Iahweh paraservir os deuses do estrangeiro, elenovamente vos fará mal e vos consumirádepois de vos haver feito o bem”.

Juízes 3,7-8: “Os israelitas fizeram o que é mauaos olhos de Iahweh. Esqueceram Iahweh seuDeus para servir aos baais e às aserás. Então aira de Iahweh se acendeu contra Israel, eos entregou nas mãos de Cusã-Rasataim,rei de Aram Naariam, e os israelitas serviram aCusã-Rasataim durante oito anos”.

Juízes 3,12-14: “Os israelitas recomeçaram afazer o que era mau aos olhos de Iahweh, eIahweh fortaleceu Eglon, o rei de Moab,contra Israel, porque faziam o que era mauaos olhos de Iahweh. Eglon uniu a si os filhosde Amom e Amalec, marchou contra Israel,venceu-o e tomou posse da cidade dasPalmeiras. Os israelitas serviram a Eglon,rei de Moab, dezoito anos”.

Juízes 4,1-2: “Depois da morte de Aod, osisraelitas recomeçaram a fazer o que era mauaos olhos de Iahweh, e Iahweh os entregou

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a Jabin, rei de Canaã, que reinava em Hasor.[…].”

Juízes 6,1-2: “Os israelitas fizeram o que eramau aos olhos de Iahweh, e Iahweh osentregou por sete anos às mãos dosmadianitas, e a mão de Madiã se tornoupesada sobre Israel. […].”

Juízes 10,6-8: “Recomeçaram os israelitas afazer o que era mau aos olhos de Iahweh.Serviram aos baais e às astartes, e tambémaos deuses de Aram e de Sidônia, aos deusesde Moab e aos dos amonitas e dos filisteus.Abandonaram a Iahweh e não mais oserviram. Então a ira de Iahweh seacendeu contra Israel, e ele os entregouàs mãos dos filisteus e às dos amonitas.Estes humilharam e oprimiram osisraelitas desde esse ano, durantedezoito anos, todos os israelitas quehabitavam além do Jordão, na terra dosamorreus em Galaad”.

Juízes 13,1: “Os israelitas recomeçaram apraticar o que era mau aos olhos de Iahweh, eIahweh os entregou nas mãos dosfilisteus durante quarenta anos”.

1 Samuel 12,15: “Mas se não obedecerdes aIahweh, se vos revoltardes contra as ordens deIahweh, então a mão de Iahweh pesarásobre vós e sobre vossos pais”.

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1 Reis 14,7-11.15-16: “Vai dizer a Jeroboão:‘Assim fala Iahweh, Deus de Israel: […] fizestemais mal que todos os teus antecessores, echegaste a fazer para ti outros deuses,imagens fundidas para me irritares; lançaste-me para trás das costas. Por isso, farei vir adesgraça sobre a casa de Jeroboão,ligados ou livres em Israel; varrerei acasa de Jeroboão como se varrecompletamente o lixo. Os membros dafamília de Jeroboão que morrerem na cidadeserão devorados pelos cães; e os quemorrerem no campo serão comidos pelas avesdo céu. É Iahweh quem o diz. Iahweh feriráIsrael, como o caniço que vacila na água;arrancará Israel desta boa terra que deu aseus pais e o dispersará do outro lado do rio,porque fizeram seus postes sagrados,provocando a ira de Iahweh. Ele abandonaráIsrael por causa dos pecados que Jeroboãocometeu e levou Israel a cometer”.

1 Reis 16,1-4.11: “A palavra de Deus foidirigida a Jeú, filho de Hanani, contra Baasa,nestes termos: ‘Eu te tirei do pó e te estabelecichefe sobre o meu povo Israel, mas tuimitastes o comportamento de Jeroboão elevaste Israel, meu povo, a cometer pecadosque me irritam. Por isso, varrerei Baasa e suacasa; tratarei a sua casa como a de Jeroboão,filho de Nabat. Todo membro da família de

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Baasa que morrer na cidade será devoradopelos cães; e o que morrer no campo serácomido pelas aves do céu. Logo que se tornourei e sentou-se no trono [Zambri], massacroutoda a família de Baasa, sem lhe deixar um sóvarão, e matou também seus parentes e seuamigo. Zambri exterminou toda a casa deBaasa, segundo a predição que Iahwehfizera contra Baasa, por intermédio doprofeta Jeú, por causa de todos ospecados que cometeram Baasa e Ela, seufilho, e fizeram Israel cometer, irritandoIahweh, Deus de Israel, com seus ídolosvãos”.

2 Reis 1,15-17: “Anjo de Iahweh disse a Elias:‘Desce com ele, não o temas’. Ele se levantou,desceu com ele e foi ter com o rei [Ocozias], aquem disse: ‘Assim fala Iahweh. Por teresenviado mensageiros para consultar BaalZebub, deus de Acaron – porventura não háDeus em Israel, cuja palavra possa serconsultada –, não descerás do leito ao qualsubiste, mas, com certeza, morrerás. E elemorreu, conforme a palavra de Iahweh,pronunciada por Elias. […].”

2 Reis 17,5-8: “Depois, o rei da Assíria invadiutoda a terra e pôs cerco a Samaria durantetrês anos. No nono ano de Oseias, o rei daAssíria tomou Samaria e deportou Israelpara a Assíria, estabelecendo-o em Hala e às

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margens do Habor, rio de Gozã, e nas cidadesdos medos. Isso aconteceu porque osisraelitas pecaram contra Iahweh seuDeus, que os fizera subir da terra do Egito,libertando-os da opressão do Faraó, rei doEgito. Adoraram outros deuses e seguiram oscostumes das nações que Iahweh haviaexpulsado de diante deles, e os costumesestabelecidos pelos reis de Israel”.

2 Reis 17,19-20: “Judá tampouco guardouos mandamentos de Iahweh seu Deus;seguiu os estatutos que Israel praticava. Porisso, Iahweh rejeitou toda a raça deIsrael, humilhou-a e entregou-a aossaqueadores, e enfim baniu-a para longede sua face”.

2 Reis 18,11-12: “O rei da Assíria deportouIsrael para a Assíria e conduziu-o a Hala e àsmargens de Habor, rio de Gozã, e nas cidadesdos medos. Isso aconteceu porque elesnão obedeceram a tudo o queprescrevera Moisés, servo de Iahweh. Nãoo ouviram e nem puseram em prática”.

2 Reis 21,11-15: “Já que Manassés, rei de Judá,cometeu essas abominações, procedendoainda pior que tudo o que tinham feito antesdele os amorreus, e fez pecar também Judácom seus ídolos, assim fala Iahweh, Deus deIsrael: Eis que faço cair sobre Jerusalém e

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sobre Judá uma desgraça tal, que fará retiniros dois ouvidos de todos que o ouvirem falar.Passarei sobre Jerusalém o mesmo cordel quepassei sobre Samaria, o mesmo nível que useipara a casa de Acab; limparei Jerusalém comose limpa um prato, que se vira para baixodepois de haver limpado. Abandonarei osrestos de minha herança, entregá-los-ei nasmãos de seus inimigos, e eles servirão depresa e de espólio a todos os seusinimigos, porque fizeram o mal aos meusolhos e provocaram minha ira, desde o diaem que seus pais saíram do Egito até hoje”.

2 Reis 24,1-4: “No seu tempo, Nabucodonosor,rei de Babilônia, marchou contra ele, e Joaquimlhe esteve sujeito durante três anos e depoisse revoltou de novo contra ele. Iahwehmandou contra ele bandos de caldeus,arameus, moabitas e amonitas; incitou-oscontra Judá para destruí-lo, conforme apalavra que Iahweh havia pronunciado porintermédio de seus servos, os profetas. Issoaconteceu a Judá unicamente por ordemde Iahweh, que queria rejeitá-lo de suapresença, por causa dos pecados de Manassés,por tudo o que ele fizera, e também por causado sangue inocente que ele havia derramado,inundando Jerusalém de sangue inocente.Iahweh não quis perdoar”.

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Daqui para frente vamos citar algumas coisas

ditas por alguns dos profetas que servem ao assunto

desse tópico.

Joel 2,1-14: “Tocai a trombeta em Sião. Daialarme em minha montanha santa! Tremamtodos os habitantes da terra porque estáchegando o dia de Iahweh! Sim, estápróximo um dia de trevas e de escuridãoum dia de nuvens e de obscuridade! Comoa aurora espalha-se sobre as montanhas umpovo numeroso e poderoso, não existiu jamaisoutro como ele, e nem tornará a existir, depoisdele, de geração em geração. Diante dele ofogo devora, atrás dele a chama consome.Antes dele, a terra era como um jardim deÉden depois dele será um deserto desolado!Nada lhe escapa! Seu aspecto é como o decavalos, galopam como ginetes. E como oruído de carros de guerra, que saltam sobre oscumes das montanhas como o crepitar dofogo, que devora o restolho, como um povopoderoso, preparado para a batalha. Diantedele os povos tremem de medo, todas as facesperdem sua cor. Como heróis eles avançam,como guerreiros escalam a muralha. Cada qualsegue o seu caminho, sem se afastar de suarota. Ninguém empurra o seu vizinho, cadaqual segue a sua via; por entre os dardos elesse lançam, sem romper a fila. Assaltam a

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cidade, correm sobre a muralha, escalam ascasas e entram como ladrões, pelas janelas.Diante dele a terra se comove, os céustremem, o sol e a lua escurecem e as estrelasperdem o seu brilho! Iahweh levanta a sua vozdiante do seu exército! Sim, seu acampamentoé muito grande, o executor de sua palavra époderoso. Sim, o dia de Iahweh é grande,extremamente terrível! Quem poderá suportá-lo? 'Agora, portanto – oráculo de Iahweh –retornai a mim de todo vosso coração,com jejum, com lágrimas e gritos de luto.Rasgai os vossos corações, e não as vossasroupas, retornai a Iahweh, vosso Deus, porqueele é bondoso e misericordioso, lento para aira e cheio de amor, e se compadece dadesgraça. Quem sabe? Talvez ele volteatrás, se arrependa e deixe atrás de siuma bênção, oblação e libação paraIahweh, vosso Deus'”.

Oseias 4,8: “Eles [os sacerdotes] se alimentamdos pecados do meu povo e anseiam por suafalta. Como ao povo, assim acontecerá aosacerdote: eu o castigarei por seuprocedimento e farei recair sobre ele assuas obras. Comerão, mas não ficarãosaciados, prostituir-se-ão, mas não semultiplicarão, porque abandonaram aIahweh pra se entregarem à prostituição”.

Oseias 14,1: “Samaria deverá expiar, porque

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se revoltou contra o seu Deus. Cairão pelaespada, seus filhos serão esmagados, àssuas mulheres grávidas serão abertos osventres”.

Amós 2,4-5: “Assim falou Iahweh: Por trêscrimes Judá, e por quatro, não o revogarei!Porque desprezaram a lei de Iahweh e nãoguardaram os seus decretos, suas mentiras osseduziram, aquelas atrás das quais os seuspais correram, enviarei fogo contra Judá, eele devorará os palácios de Jerusalém”.

Miqueias 1,2-7: “Ouvi, povos todos, prestaatenção, terra, e o que habita! Que Iahwehseja testemunha contra vós, o Senhor saiu deseu santo Templo! Porque eis que Iahweh saide seu lugar santo, ele desce e pisa sobre osaltos da terra. Debaixo dele os montes sederretem e os vales se desfazem como a cerajunto do fogo, como a água derramada emuma encosta. Tudo isso por causa do crime deJacó, por causa dos pecados da casa de Israel.Qual é o crime de Jacó? Não é Samaria? Qual éo pecado de casa de Judá? Não é Jerusalém?Farei da Samaria um campo de ruínas,uma plantação de vinhas. Lançarei assuas pedras para o vale e desnudarei osseus fundamentos. Todas as suas estátuasserão quebradas, todos os seus salários serãoqueimados pelo fogo, e arruinarei todas assuas imagens, já que elas foram ajuntadas

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com o salário da prostituição”.

Isaías 1,27-28: “Sião será redimida pelo direito,e os seus retornantes, pela justiça. Será adestruição dos ímpios e dos pecadores,todos juntos! Os que abandonaramIahweh perecerão”.

Isaías 5,24-25: “Por isso, como a chama devoraa palha, como o feno se incendeia e seconsome, assim sua raiz se reduzirá a mofo,sua flor será levada como o pó. Com efeito,eles rejeitaram a lei de Iahweh dos Exércitos,desprezaram a palavra do Santo de Israel. Poresta razão inflamou-se a ira de Iahwehcontra o seu povo; ele estendeu sua mãoe feriu, os montes tremeram e seuscadáveres jazem no meio das ruas comolixo. Com tudo isso não se amainou a sua ira,a sua mão continua estendida. Ele deu sinal aum povo distante, assobiou-lhe desde osconfins da terra; ei-lo que vem chegandoapressado e ligeiro;” (234)

Isaías 9,18: “Em virtude do furor de Iahwehdos Exércitos a terra foi queimada e o povose tornou presa do fogo”.

Isaías 10,5-6: “Ai da Assíria, vara da minhaira; ela é o bastão do meu furor posto nas suasmãos. Contra uma nação ímpia a enviei; arespeito de um povo contra o qual eu estavaenfurecido lhe dei ordens, para que o

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saqueasse e o despojasse, para que opisasse como a lama das ruas”.

Isaías 24,1-6: “Eis que Iahweh vai assolar aterra e devastá-la, porá em confusão a suasuperfície e dispersará os seus habitantes. […]Certamente a terra será devastada,certamente ela será despojada, pois foi Iahwehquem pronunciou esta sentença. A terra cobre-se de luto, ela perece; o mundo definha, eleperece; a nata do povo da terra definha. Aterra está profanada sob os pés dos seushabitantes; com efeito, eles transgrediramas leis, mudaram o decreto e romperam aaliança eterna. Por este motivo amaldição devorou a terra e os seushabitantes da terra foram consumidos:poucos são os que restam”.

Isaías 65,11-12: “Mas, quanto a vós queabandonais a Iahweh, que vos esqueceis domeu monte santo, que preparais uma mesapara Gad, que ofereceis misturas em taçascheias de Meni (235), vos destinarei àespada; todos dobrareis as costas para amatança, visto que chamei e nãorespondestes, falei e não ouvistes; antes,fizestes o que é mau aos meus olhos eescolhestes o que é mau aos meus olhos eescolhestes aquilo que não é do meu agrado”.

Isaías 66,14-16: “Vós o vereis e vosso coração

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se regozijará: vossos membros serão viçososcomo a erva; a mão de Iahweh se revelará aosseus servos, mas a sua cólera, aos seusinimigos. Com efeito, Iahweh virá nofogo, com seus carros de guerra, comoum furacão, para acalmar com ardor suaira e sua ameaça com chamas de fogo.Sim, por meio do fogo Iahweh executa ojulgamento, com sua espada, sobre todaa carne; muitas serão as vítimas deIahweh”.

Sofonias 1,2-6: “Na verdade suprimirei tudoda face da terra, oráculo de Iahweh.Suprimirei homens e gado, suprimirei ospássaros do céu e os peixes do mar, fareitropeçar os perversos e aniquilarei oshomens da face da terra, oráculo deIahweh. Estenderei minha mão contra Judáe contra todos os habitantes deJerusalém, aniquilarei deste lugar e resto deBaal, o nome dos sacerdotes dos ídolos, os quese prostram nos telhados diante do exércitodos céus, os que se prostram diante deIahweh, mas juram por Melcom, os que seafastam de Iahweh, que não procuram aIahweh nem consultam”.

Jeremias 4,3-4: “Porque assim disse Iahweh aohomem de Judá e a Jerusalém: Arroteai paravós um campo novo e não semeeis entreespinhos. Circuncidai-vos para Iahweh e tirai o

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prepúcio de vosso coração, homens de Judá eJerusalém, para que a minha cólera nãoirrompa como fogo, queime e não hajaninguém para apagar, por causa da maldadede vossas obras”.

Jeremias 5,11-18: “Sim, realmente me traíram,a casa de Israel e a casa de Judá, – oráculo deIahweh. Eles renegaram a Iahweh e disseram:'Ele não existe! Nenhum mal nos atingirá, nãoveremos nem espada nem fome! Seus profetasnão são senão vento, a palavra não está neles;assim lhes aconteça!' Por isso, assim disseIahweh, o Deus dos Exércitos: Porque falastesesta palavra, eis que farei de minhaspalavras fogo em tua boca, e, desse povo,lenha que o fogo devorará. Eis que tragocontra vós uma nação de longe, ó casa deIsrael, oráculo de Iahweh. É naçãoduradoura, é nação antiga, nação cujalíngua não conheces e não compreendeso que ela fala. Sua aljava é como sepulcroaberto, todos os seus homens são heróis.Devorará tua messe e teu pão, devoraráteus filhos e filhas, devorará tuas ovelhase tuas vacas, devorará tua vinha e tuafigueira; destruirá pela espada tuascidades fortificadas em que depositas atua confiança'. Contudo, mesmo naquelesdias – oráculo de Iahweh – não vos aniquilareicompletamente”.

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Jeremias 7,20: “Por isso, assim disse o SenhorIahweh: Eis que minha ira ardente sederramará sobre este lugar, sobre oshomens, sobre os animais, sobre as árvoresdo campo e sobre os frutos da terra. Ela arderáe não se extinguirá”.

Jeremias 9,12-15: “E Iahweh disse: Porque elesabandonaram a minha Lei, que eu lhes dera, enão obedeceram a minha voz, não a seguiram,mas seguiram a obstinação de seu coração eos baais que os seus pais lhes fizeramconhecer. Por isso, assim disse Iahweh dosExércitos, o Deus de Israel: Eis que fareiesse povo comer absinto, e lhes darei abeber água envenenada. Eu osdispersarei entre as nações que nãoconhecem, nem eles nem seus pais, eenviarei atrás deles a espada, até que ostenha exterminado”.

Jeremias 13,13-14: “Tu lhes dirás: 'Assim disseIahweh. Eis que encherei de embriaguez todosos habitantes desta terra, os reis que estãosentados no trono de Davi, os sacerdotes, osprofetas e todos os habitantes de Jerusalém.Então eu os quebrarei, cada um contra oseu irmão, pais contra filhos, oráculo deIahweh. Sem piedade, sem pena, semmisericórdia os destruirei”.

Jeremias 15,3-4: “Eu os visitarei com quatro

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coisas – oráculo de Iahweh –: a espadapara matar; os cães para dilacerar; asaves do céu e os animais selvagens paradevorar e destruir. Eu os porei como objetode horror para todos os reinos da terra, porcausa de Manassés, filho de Ezequias e rei deJudá, pelo que fez em Jerusalém”.

Jeremias 16,1-4.12-13: “A palavra de Iahwehme foi dirigida nestes termos: Não tomes parati mulher e não tenhas filhos e filhas nestelugar. Porque assim disse Iahweh a respeitodos filhos e das filhas que nascerão nestelugar, e a respeito de suas mães que osconceberão e a respeito de seus pais que osgerarão nesta terra. Eles morrerão dedoenças mortais, não serão lamentadosnem enterrados; servirão de estercosobre o solo. Perecerão pela espada epela fome, e seus cadáveres serãoalimento para os pássaros do céu e paraos animais selvagens. Mas vós fizestes piorque vossos pais. Eis que cada um de vósseguiu a obstinação de seu coração perverso,sem me ouvir. Eu vos lançarei para foradesta terra, numa terra que vós e vossos paisnão conhecestes; servireis lá a outros deuses,de dia e de noite, pois não usarei demisericórdia convosco'”.

Jeremias 19,3-9: “E dirás: Escutai a palavra deIahweh, reis de Judá e habitantes de Jerusalém.

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Assim disse Iahweh dos Exércitos, Deus deIsrael: eis que trarei uma desgraça sobreeste lugar, que fará zunir os ouvidos de quemouvir. Porque eles me abandonaram,desvirtuaram este lugar, ofereceram neleincenso a deuses estrangeiros, que nem ele,nem seus pais nem os reis de Judá tinhamconhecido, e encheram este lugar com osangue dos inocentes. Eles construíramlugares altos a Baal, para queimarem os seusfilhos em holocausto a Baal, o que eu não tinhaordenado nem falado e nem jamais pensado.Por isso, eis que dias virão – oráculo de Iahweh– em que não se chamará mais este lugar Tofetou vale de Ben-Enom, mas sim vale daMatança. Esvaziarei os planos de Judá e deJerusalém neste lugar e os farei cair pelaespada diante dos seus inimigos, pela mãodaqueles que atentam contra a sua vida, edarei os seus cadáveres como alimento dospássaros do céu e aos animais selvagens. Eufarei desta cidade um objeto de pavor e deburla; cada um que passar por ela ficaráestupefato e assobiará, por causa de todos osseus ferimentos. Farei que eles devorem acarne de seus filhos e a carne de suas filhas:eles se devorarão mutuamente na angústia ena necessidade com que os oprimem os seusinimigos e aqueles que atentam contra a suavida”.

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Jeremias 21,4-7: “Assim disse Iahweh, o Deusde Israel. Eis que farei voltar as armas queestão em vossas mãos, com as quaiscombateis o rei da Babilônia e os caldeus, quevos cercam: de fora dos muros os reunireidentro desta cidade. E eu mesmocombaterei contra vós com mãoestendida e com braço forte, com ira, comfuror e com grande indignação. Ferirei oshabitantes desta cidade, homens eanimais, com uma grande peste, e elesmorrerão. Depois disto – oráculo de Iahweh –entregarei Sedecias, rei de Judá, seusservos, o povo e aqueles, nesta cidade,que escaparem da peste, da espada e dafome, nas mãos de Nabucodonosor, rei daBabilônia, nas mãos de seus inimigos e nasmãos daqueles que procuram a sua vida; eleos passará ao fio da espada, não ospoupará, não terá pena, não terá compaixão”.

Jeremias 25,8-11: “Por isso, assim disse Iahwehdos Exércitos: Porque não ouvistes as minhaspalavras, eis que mandarei buscar todasas tribos do Norte (– oráculo de Iahweh! aoredor de Nabucodonosor, rei da Babilônia, meuservo) e trazê-las contra esta terra e seushabitantes (e contra todas as nações emredor); eu os ferirei com anátema e fareideles objeto de horror, de escárnio, euma ruína perpétua. Farei cessar entre eles

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a voz de júbilo e de alegria, a voz do noivo eda noiva, o ruído da mó e a luz da lâmpada.Toda esta terra será reduzida a ruína edesolação e estas nações servirão ao rei daBabilônia durante setenta anos”.

Jeremias 26,4-6: “Tu lhes dirás: Assim disseIahweh. Se não me escutardes para seguirdesa minha Lei, que vos dei, para atenderdes aspalavras de meus servos, os profetas, que vosenvio sem cessar, mas vós não escutais,tratarei este Templo como Silo (236) e fareidesta cidade maldição para todas asnações da terra”.

Jeremias 29,17-19: “Assim disse Iahweh dosExércitos: Eis que lhes enviarei a espada, afome e a peste; e os farei semelhantes afigos podres que não podem ser comidos, detão ruins que são. Persegui-lo-ei pela espada,pela fome e pela peste. Farei deles umobjeto de horror para todos os reinos daterra, uma maldição, um objeto deespanto, de escárnio e de vergonha, emtodas as nações, onde os dispersei. Porquenão escutaram as minhas palavras – oráculode Iahweh –, embora lhes tenha enviado semcessar meus servos, os profetas, mas eles nãoos escutaram, oráculo de Iahweh”.

Jeremias 44,1-14: “Palavra que foi dirigida aJeremias para todos os judeus instalados na

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terra do Egito, residentes em Magdol, Táfnis,Nof e na terra de Patros. Assim disse Iahwehdos Exércitos, Deus de Israel: Vós vistes todaa desgraça que fiz vir sobre Jerusalém esobre todas as cidades de Judá: ei-lashoje em ruínas e sem habitantes! Foi porcausa das maldades que cometeram para meirritar, indo incensar e servir deusesestrangeiros, que nem eles, nem vós, nemvossos pais conheciam. E eu vos enviei,constantemente, todos os meus servos, osprofetas, para dizer: 'Não façais essa coisaabominável que detesto!' Mas não escutaramnem deram ouvidos para se converterem desua maldade e não mais incensarem deusesestrangeiros. Então minha fúria e minha cóleratransbordaram e abrasaram as cidades de Judáe as ruas de Jerusalém, que se tornaram ruínase solidão, como hoje. Agora, assim disseIahweh, Deus dos Exércitos, Deus de Israel: Porque causais a vós mesmos um mal tão grande?Iríeis exterminar do meio de Judá homens emulheres, crianças e lactantes, sem que vossubsista um resto, visto que teríeis irritadocom as obras de vossas mãos, incensandodeuses estrangeiros na terra do Egito, ondeentrastes para nela morardes, trabalhandoassim para o vosso extermínio e tornando-vosum objeto de maldição e zombaria entre todasas nações da terra? Vós vos esquecestes dasmaldades de vossos pais, das maldades dos

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reis de Judá e da maldade de vossos príncipes,de vossas maldades e das maldades de vossasmulheres, cometidas na terra de Judá e nasruas de Jerusalém? Eles não se deixaramabater até o dia de hoje, não temeram e nãocaminharam conforme a minha Lei e conformeas prescrições que apresentei diante de vós ediante de vossos pais. Por isso, assim disseIahweh dos Exércitos, Deus de Israel: Eis quevolto minha face contra vós para vossadesgraça, para exterminar todo Judá. Tomareio resto de Judá que decidiu entrar naterra do Egito para ali morar: elesperecerão todos, na terra do Egito cairão,perecerão pela espada e pela fome, domenor ao maior morrerão pela espada epela fome, e serão objeto de escárnio,estupefação, desprezo e opróbrio.Castigarei aqueles que se instalaram naterra do Egito, como castiguei Jerusalém:pela espada, pela fome e pela peste. Nãohaverá quem escape ou fuja, do resto deJudá, daqueles que entraram na terra do Egitopara lá morarem. Quanto a voltar para a terrade Judá, para onde desejam voltar, a fim de láhabitarem, certamente não voltarão, a não seralguns fugitivos”.

Ezequiel 5,11-17: “Eis porque – por minha vida,oráculo do Senhor Iahweh – visto queprofanaste o meu santuário com todos os ritos

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detestáveis e com todas as abominações,também eu te rejeitarei; também eu não lhepouparei. A terça parte dos teushabitantes morrerá pela peste e pereceráde fome no meio de ti; outra terça partecairá à espada em torno de ti; finalmente,a outra terça parte a espalharei a todosos ventos e desembainharei a espadaatrás deles. Assim se cumprirá a minha ira,saciarei a minha cólera neles e ficareisatisfeito. Então saberão que eu, Iahweh, faleino meu zelo, cumprindo a minha ira contraeles. Reduzir-te-ei a ruína, a objeto deludíbrio entre as nações que te cercam,aos olhos de todos os que passam. Sim,serás objeto de ludíbrio e de insultos,advertência e motivo de horror para as naçõesque te cercam, ao cumprir eu em ti osmeus julgamentos, com cólera e com ira,e com castigos terríveis. Eu, Iahweh, odisse. Atirando contra eles as flechas malignasda fome – com efeito, atirá-las-ei para a vossadestruição e acrescentarei ainda a fome –,reduzirei a vossa reserva de pão. Sim, atirareia fome e animais ferozes que vos desfilharão;a peste e o sangue passarão pelo meio de ti;trarei a espada contra ti. Eu, Iahweh, o disse”.

Ezequiel 6,1-10: “A palavra de Iahweh me foidirigida nestes termos: Filho do homem, voltaa tua face para os montes de Israel e profetiza

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contra eles. Dir-lhes-ás: Montes de Israel, ouvia palavra do Senhor Iahweh. Eis o que diz oSenhor Iahweh aos montes, às colinas, àsravinas e aos vales: Eu estou para trazercontra vós a espada para destruir os vossoslugares altos. Os vossos altares ficarãodevastados, os vossos altares de incenso serãodespedaçados: farei cair os vossostrespassados perante os vossos ídolosimundos, porei os cadáveres dos israelitasdiante dos seus ídolos imundos e espalharei osseus ossos ao redor de vossos altares. Emtodos os lugares onde habitais, ascidades serão arrasadas e os lugaresaltos ficarão desertos, a fim de que osvossos altares sejam destruídos e fiquemdesertos, e os vossos ídolos imundossejam despedaçados e desapareçam, e osvossos altares de incenso sejamreduzidos a pedaços e as vossas açõesaniquiladas. Muitos dentre vós cairãotrespassados e sabereis que eu souIahweh. Mas para que entre vós hajasobreviventes da espada no meio das nações,espalhados em meio às nações, deixar-vos-eium resto. Então os vossos sobreviventes nomeio das nações por onde tiverem sidolevados cativos – quando eu tiver quebrado oseu coração prostituído que me abandonara, eos seus olhos prostituídos com ídolos imundos– se lembrarão de mim. Sentirão asco de si

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mesmos pelo mal que fizeram, por todas assuas abominações. Saberão então que eu souIahweh e que não foi em vão que lhes falei quehavia de infligir-lhes todo este mal”.

Ezequiel 14,6-11: “Portanto, dize à casa deIsrael: Assim diz o Senhor Iahweh: Voltai,desviai-vos dos vossos ídolos imundos, desviaios vossos rostos de todas as vossasabominações, porque a todo homem da casade Israel ou dentre os estrangeiros que vivemem Israel, que se afastar de mim, dando lugarde honra no seu coração aos seus ídolosimundos, e pondo diante da sua face o tropeçoda sua iniquidade, e que vier ao profeta parame consultar, serei eu, Iahweh, que lheresponderei. Porei o meu rosto contra essehomem, farei dele sinal e provérbio,riscando-o do seio do meu povo, esabereis que eu sou Iahweh. E se o profetase deixar seduzir e pronunciar uma palavra,eu, Iahweh, seduzirei esse profeta e estendereia minha mão contra ele, exterminando-o doseio do meu povo, Israel. Ambos levarão sobresi a sua iniquidade. Como será a iniquidade doconsultante, tal será a iniquidade do profeta.Deste modo a casa de Israel não tornará adesviar-se de mim, nem se contaminará maiscom todas as suas transgressões. Serão entãoo meu povo e eu serei o seu Deus, oráculo doSenhor Iahweh”.

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Ezequiel 33,23-29: “Então a palavra de Iahwehme foi dirigida nestes termos: Filho do homem,os habitantes daquelas ruínas do solo de Israeldizem: 'Abraão era um só quando tomou posseda terra. Ora, a nós que somos muitos, a terrafoi dada como patrimônio'. Dize-lhes, pois:Assim diz o Senhor Iahweh: Vós devorais sobreo sangue e elevais os olhos para os vossosídolos imundos, derramais sangue e tereis aposse da terra? Vós vos apoiais em vossasespadas, cometeis abominação, cada umprofana a mulher do seu próximo e tereis aposse da terra? Assim lhes dirás: Eis o que dizo Senhor Iahweh: Por minha vida,certamente uns cairão à espada no meiodas ruínas, enquanto outros em plenocampo, serão dados a comer às feras,enquanto outros ainda, refugiados nasmontanhas e nas cavernas, morrerão depeste. Farei da terra uma solidão e umdeserto, e assim cessará o orgulho da suaforça e os montes de Israel ficarãoabandonados por falta de quem passe poreles. Desse modo saberão que eu sou Iahweh,quando reduzir a terra a uma desolação e aum deserto, por causa de todas asabominações que praticaram”.

Zacarias 14,1-5: “Eis que vem o dia de Iahweh,quando em teu seio serão repartidos os teusdespojos. Reunirei todas as nações contra

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Jerusalém para o combate; a cidade serátomada, as casas serão saqueadas, asmulheres violentadas; a metade dacidade sairá para o exílio, mas o resto dopovo não será eliminado da cidade. EntãoIahweh sairá e combaterá essas nações, comoquando combate no dia da batalha. Naqueledia, estarão os seus pés sobre o monte dasOliveiras, que está diante de Jerusalém, naparte oriental. O monte das Oliveiras serachará pela metade, e surgirá do oriente parao ocidente um enorme vale. Metade do montese desviará para o norte, e a outra para o sul.Fugireis do vale de minhas montanhas, pois ovale das montanhas atingirá Jasol; fugireiscomo fugistes por causa do terremoto nos diasde Ozias, rei de Judá. E Iahweh, meu Deus,virá, todos os santos com ele”.

Aqui, damos por terminados os relatos nos

quais a divindade dos hebreus ameaça-os com

castigos, destruição, peste, etc., caso não se

voltassem a servi-lo e adorá-lo, provando, portanto,

a imposição do culto a Iahweh, de forma irrefutável.

Diante disso é fácil entender porque vários

pensadores têm ojeriza à Bíblia, inclusive alguns com

uma visão da divindade bem próxima à de Georg

Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831): “O Deus

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judaico era um tirano, que exigia submissão

incondicional às suas leis intoleráveis.” (237)

Porém, não nos iludiremos pensando que os

ortodoxos aceitarão essa verdade tão facilmente

assim, uma vez que só enxergam o que querem:

aquilo que não contraria seus dogmas. Bem disse

Kardec: “O fanatismo é cego; não raciocina.” (238)

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Absurdos atribuídos à divindade dos hebreus

Quando estávamos pesquisando o livro de

Josué, que narra as guerras de conquista de Canaã,

levada a efeito pelos hebreus, não deixamos de

lembrar de um pequeno texto que havíamos feito

tempos atrás (abril de 2007), que serve ao propósito

do assunto desse tópico. Leiamos:

Uma história de estarrecer e a Bíblia

Uma certa pessoa, a qual chamaremos deJosé, o homem mais rico e poderoso do país do“Faz de Contas”, promete a seu amigo João, aquem muito estimava, que lhe daria um relógiode ouro. Algum tempo depois, José diz a Joãoque estava chegando a hora de cumprir com oprometido. Que ele, João, deveria ir à loja doJúlio, o mais hábil joalheiro da capital, quetrabalhava juntamente com a sua mulher edois filhos, pois não tinha nenhuma confiançaem pessoas de fora, não sem razão, dada apeculiaridade de seu negócio.

José recomenda a João exatamente isso: vá àloja do Júlio, mate a ele, mulher e filhos, depoispegue o relógio de ouro da melhor marca quehouver por lá, e pode ir tranquilo para sua casa

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e assim considere cumprido o que lhe prometi.

Já estou imaginando o que você deve estarpensando, e que obviamente me dirá:

– Que cara maluco, meu! Que história éessa, sem sentido algum? Só um “doido depedra” poderia vir com algo assim.

– Sinceramente? Você está coberto de razão.Não há sentido algum numa coisa absurdadessa, mas…

– Eita! Lá vem você com o “mas”.

– Isso aconteceu de verdade.

– Como, aconteceu de verdade? Xiii, você émais maluco do que pensei de início.

– Então vou provar-lhe que isso realmenteaconteceu, mas sei que é bem provável quenão gostará do que vai ouvir, dado o seutradicionalismo religioso. A única diferença emrelação ao que vou lhe contar é que oprometido não foi um simples relógio, mas umavastidão de terra pertencente a outros povos.

– Tá certo, essa quero pagar para ver.

– Bom, não vá dizer que não avisei, certo?Vamos lá, ouça:

Conta-nos, os escritores bíblicos, que Deushavia prometido a Abraão, patriarca do povohebreu, uma terra, na qual correria leite e mel,que, segundo se entende, seria onde viviam os

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cananeus (Gn 12,6-7; 15,8).

Tempos mais tarde, resolve dizer a este povoque já estava pronto para cumprir o prometidoa Abraão, era o momento de dar-lhe essa terra.Para isso retira-o do Egito, onde vivia nacondição de escravidão, mandando-o seguirrumo a essa terra, por um caminho orientadopor Ele. Chegando lá, com o seu exércitopromove uma carnificina geral, passando a fiode espada todos os habitantes – homens,mulheres e crianças –, das cidades: Jericó(Josué 6,21), Hai (Josué 8,24), Maceda (Josué8,28), Lebna, Laquis, Gazer, Eglon, Hebron eDabir (Josué 10,28-39). Tudo isso pordeterminação de “Javé” (Deuteronômio 20,16-17), que, ainda lhes envia “o chefe de seuexército” (Josué 5,14) para, dessa forma, dar-lhes apoio incondicional a esse ato ignominiosoque os hebreus levaram a efeito. Os únicosdaquela região que não sucumbiram, foram osgabaonitas, porém, impuseram-lhes aescravidão (Josué 9,23).

E para se vangloriarem do feito, são listadosos trinta e um reis que pereceram nessachacina, executada naquela vasta região (Josué12).

Narra-se que “desse modo, Javé deu a Israeltoda a terra que jurara dar a seusantepassados. Eles tomaram posse e nela seestabeleceram” (Josué 21,43). O próprio

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“Javé”, disse aos hebreus: “Eu dei a vocês umaterra que não lhes custou nada, …” (Josué24,13). Para dizer isso, certamente, só poderiapensar que a vida das pessoas não valia nada.

E, ao que tudo indica dos acontecimentos,devia querer implantar a raça do “povo eleito”aqui na terra, mesmo que a custa de milharesde vidas humanas. Não muito diferente do quea história registra em relação a umadeterminada personagem que queria que sóexistisse a “raça pura”. Comparação durapoderá achar, mas são os fatos que levam aela. Nos tempos atuais, tais atrocidades seriamenquadradas como crime contra humanidade,seus responsáveis seriam punidos, sem sombrade dúvida.

Não posso fechar essa história senãoafirmando que isso obviamente não pode tervindo da Divindade. Acredito que Moisés, nacondição de chefe guerreiro, usou desseartifício para levar os hebreus a uma guerra deconquista, pensava, talvez, em tornar-se o reideles. É por esse e outros muitos absurdos quenão posso, em sã consciência, aceitar a Bíbliacomo sendo mesmo a palavra de Deus. Os queassim acreditam, de duas uma: leram e nãoentenderam nada ou estão evolutivamentepróximos desse deus tribal.

Paulo Neto

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O que nos deixa completamente perplexos é

ver como as pessoas acreditam nesse absurdo, como

se o Criador fosse capaz de tais atitudes. Nos dias

atuais, procedimentos como esses seriam

enquadrados como crimes contra a humanidade e

seu idealizador julgado por um tribunal internacional,

que, certamente, o condenaria, no mínimo, à prisão

perpétua.

Vejamos alguns outros absurdos, dentre vários

atribuídos à divindade dos hebreus, que nos leva à

conclusão ser ela apenas mais um deus pagão do

que, propriamente, o Criador do Universo, de tão

ridículos e impróprios que são.

Êxodo 25,10-22: “Farás uma arca de madeirade acácia com dois côvados e meio decumprimento, um côvado e meio de largura eum côvado e meio de altura. Tu a cobrirásde ouro puro por dentro e por fora, efarás sobre ela uma moldura de ouro aoredor. Fundirás para ela quatro argolas deouro: que porás nos quatro cantos inferiores daarca: duas argolas de um lado e duas argolasde outro. E enfiarás os varais nas argolas aoslados da arca, para ser carregada por meiodeles. Os varais ficarão nas argolas da arca,

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não serão tirados dela. E colocarás na arca oTestemunho que te darei. Farás tambémpropiciatório de ouro puro, com dois côvados emeio de comprimento e um côvado e meio delargura. Farás dois querubins de ouro, deouro batido os farás, nas duas extremidadesdo propiciatório; faze-me um dos querubinsnuma extremidade e o outro na outra: farás osquerubins formando um só corpo com opropiciatório, nas duas extremidades. Osquerubins terão as asas estendidas para cimae protegerão o propiciatório com suas asas,um voltado para o outro. As faces dosquerubins estão voltadas para o propiciatório.Porás o propiciatório em cima da arca; edentro dela porás o Testemunho que te darei.Ali virei a ti, e, de cima do propiciatório, domeio dos querubins que estão sobre a arca doTestemunho, falarei contigo acerca de tudo oque eu te ordenar para os israelitas”.

A arca de madeira aqui mencionada nada mais

é que a Arca da Aliança, também denominada de

Arca do Testamento; para sua confecção foi utilizado

o côvado como medida, que sabemos ser de origem

egípcia. Após pronta ela seria algo próximo disto

(239):

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Arca da Aliança ou Arca do Testemunho

Reinaldo José Lopes, no artigo já anteriormente

citado, coloca:

Os historiadores e arqueólogos modernos aindanão conseguiram determinar o paradeiro da Arca,se é que o objeto ainda existe, mas a grande ironiaé que, ao que tudo indica, o artefatoincorporava características originalmentepagãs, da época em que os israelitas nãoadoravam um deus único. “A Arca parece ter tidosua origem nos amuletos protetores parecidos comcaixas usados até hoje por algumas tribos debeduínos. Colocadas em cima de camelos, essascaixas são a vanguarda das migrações deles, damesma maneira como se descreve a Arcaliderando os israelitas no deserto”, escreveStephen A. Geller, professor de estudos bíblicos doSeminário Teológico Judaico de Nova York. (240)

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Apesar da relação da arca com o paganismo, o

fato mais importante que aqui, neste item, queremos

realçar é que a divindade dos hebreus comporta-se

em total contradição com o que ela mesma havia

determinado – o que para nós é um grande absurdo

–, pois havia proibido a confecção de qualquer tipo

de imagem (Deuteronômio 4,16-17), enquanto aqui

ela mesma orienta para se fazer a de dois querubins,

que, para piorar ainda mais o fato, foi tomada dos

cultos pagãos, conforme já explicado anteriormente.

Levítico 25,44-46: “Os servos e as servas quetiveres deverão vir das nações que voscircundam: delas podereis adquirir servos eservas… Tê-los-eis como escravos, mas sobreos vossos irmãos, os israelitas, pessoa algumaexercerá poder de domínio”.

Dos outros povos se permite fazer escravos,

designados como servos e servas, algo contrário a

um lúcido sentimento humanitário.

Deuteronômio 15,12: “Quando um dos teusirmãos, hebreu ou hebreia, for vendido a ti, elete servirá por seis anos. No sétimo ano tu odeixarás ir em liberdade”.

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Se acima se proibia ter um irmão israelita

como escravo, aqui se permite.

Deuteronômio 5,21: “Não cobiçarás a mulherdo teu próximo; nem desejarás para ti a casado teu próximo, nem o seu campo, nem o seuescravo, nem a sua escrava, nem o seu boi,nem o seu jumento, nem coisa alguma quepertença a seu próximo”.

Todo o versículo poderia ser resumido nisto:

“não desejar o que pertence a seu próximo”. Então,

devemos concluir que, entre os bens do seu próximo,

está incluída a mulher dele, ou seja, a sua esposa.

Não soa muito mal para uma divindade dizer isso?

E, aqui, novamente a questão do escravo é

aceita como coisa mais normal do mundo. Então, por

que, nos dias atuais, toda a humanidade se horroriza

quando fica sabendo de casos de escravidão? Somos

melhores do que essa divindade dos hebreus; é o

que se pode concluir.

Deuteronômio 21,15-16: “Se alguém tiver duasmulheres, amando a uma e não gostando deoutra, e ambas lhe tiverem dado filhos, se oprimogênito for da mulher da qual não gosta,

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este homem, quando for repartir a herançaentre seus filhos, não poderá tratar o filho damulher que ama como se fosse o mais velho,em detrimento do filho da mulher da qual elenão gosta, mas que é o verdadeiroprimogênito”.

Embora a intenção seja preservar o direito do

filho da mulher que o homem não goste, está se

admitindo a poligamia. Será que não prevalece “o

homem se une à sua mulher, e eles se tornam uma

só carne” (Gn 2,24)? Por outro lado, se ter duas

mulheres era algo de bom naquela época, por que

não o será mais?

Deuteronômio 21,18-21: “Se alguém tiver umfilho rebelde e indócil, que não obedece ao paie à mãe e não os ouve mesmo quando ocorrigem, o pai e a mãe o pegarão e levarãoaos anciãos da cidade, à porta do lugar, e dirãoaos anciãos da cidade: ‘Este nosso filho érebelde e indócil, não nos obedece, é devassoe beberrão. E todos os homens da cidade oapedrejarão até que morra. Deste modoextirparás o mal do teu meio, e todo o Israelouvirá e ficará com medo”.

Que pedagogia!… Como têm coragem de

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admitir tal barbaridade como emanada do Criador do

Cosmo?!

Deuteronômio 23,2: “O homem com testículosesmagados ou com o membro viril cortado nãopoderá entrar na assembleia de Iahweh”.

Será que a assembleia de Iahweh era somente

para homens com capacidade de reproduzir?! Não

seria uma discriminação, tal atitude?

Deuteronômio 23,14: “Junto com teuequipamento tenhas também uma pá. Quandosaíres para fazer as tuas necessidades, cavacom ela, e ao terminar cobre as fezes”.

Sim, deveriam fazer igual aos gatos, que, por

instinto, cobrem suas fezes. É certo que, como

medida de higiene e prevenção de doenças, foi uma

medida útil; entretanto, a vemos como atitude

completamente humana e não uma preocupação

que deveria emanar da divindade.

Deuteronômio 23,16: “Quando um escravofugir do seu amo e se refugiar em tua casa,não o entregues ao seu amo; ele permanecerácontigo, entre os teus, no lugar que escolher,

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numa das tuas cidades, onde lhe pareçamelhor. Não o maltrates!”.

Se foi permitido ter escravo, aqui não estaria

se aceitando a usurpação de propriedade alheia?

Será que o “não o maltrates” incluiria não o usar em

trabalhos forçados?

Deuteronômio 24,1-2: “Quando um homemtiver tomado uma mulher e consumado omatrimônio, mas esta, logo depois, nãoencontra mais graça a seus olhos, porque viunela algo de inconveniente, ele lhe escreveráentão uma ata de divórcio e a entregará,deixando-a sair de sua casa em liberdade”.

O poder do divórcio estava nas mãos dos

homens, que, pelo que consta nesse versículo,

poderiam dispensar sua mulher pelos motivos mais

irrisórios. E a igualdade entre os direitos do homem e

da mulher não existe perante a divindade?

Josué 10,12-14: “Foi então que Josué falou aIahweh, no dia em que Iahweh entregou osamorreus aos israelitas. Disse Josué napresença de Israel: ‘Sol, detém-te em Gabaon,e tu, lua, no vale de Aialon!’ E o sol se detevea lua ficou imóvel até que o povo se vingou

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dos seus inimigos. Não está escrito no livro doJusto? O sol ficou imóvel no meio do céu eatrasou o seu ocaso de quase um dia inteiro.Nunca houve dia semelhante, nem antes, nemdepois, quando Iahweh obedeceu à voz de umhomem. É que Iahweh combatia por Israel”.

A divindade obedecendo a um homem? Eita!

Como acreditam num absurdo desse? E o pior é que

ainda temos mais um outro: o sol e a lua pararem.

Isto só poderia acontecer para quem não sabe o que

criou, pois, para que o dia aumentasse suas horas de

claridade recebida do Sol, quem deveria parar era a

Terra e não o Sol, porquanto, é a rotação dela, sobre

seu próprio eixo, que produz o ciclo dia e noite. Ou,

quem sabe, o escritor desse livro não sabia disso?…

Juízes 14,19: “Então o espírito de Iahweh caiusobre ele e se apossou dele, e ele desceu aAscalon, matou trinta homens, tirou-lhes asroupas de festa e entregou-as aos que lhetinham apresentado a solução do enigma, edepois, enfurecido, voltou para a casa de seupai”.

A pessoa de quem se fala aqui é Sansão.

Pensar que a divindade Cósmica possa apoderar-se

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de um homem levando-o a matar outros homens, é,

simplesmente, ridícula. E ainda têm a coragem de

afirmar que a possessão só existe por parte do

demo…

1 Samuel 11,6-7: “E, quando Saul ouviu taispalavras, o espírito de Deus caiu sobre ele, eele se encheu de cólera. Tomou uma junta debois e os fez em pedaços, os mandou pormensageiros a todo o território de Israel, comeste recado: ‘A todo aquele que não sair para ocombate de Saul e Samuel, assim se fará atodos os seus bois. Um terror de Iahweh seabateu sobre o povo e eles marcharam comose fossem um só homem”.

E o ridículo continua…

1 Sameul 15,2-3: “Samuel disse a Saul; ‘Foi amim que Iahweh enviou para te ungir rei sobreo seu povo Israel. Portanto, escuta agora, aspalavras de Iahweh. Assim diz Iahweh dosExércitos: Resolvi punir Amalec o que fez aIsrael cortando-lhe o caminho quando subia doEgito. Vai, pois agora, e investe contra Amalec,condena-o ao anátema com tudo o que lhepertence, não tenhas piedade dele, matahomens e mulheres, crianças e recém-nascidos, bois e ovelhas, camelos e

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jumentos’”.

Cumprindo a promessa de vingança contra

Amalec: “eu vou apagar a memória de Amalec

debaixo do céu” (Êxodo 17,14; Deuteronômio 25,19),

pelo motivo acima exposto, esse “Deus dos

Exércitos” manda os israelitas matar tudo que

encontrasse pela frente que fosse do povo

amalecita: homens, mulheres, crianças, recém-

nascidos e até os seus animais, algo compatível a

um nefando criminoso de guerra que também ataca

a população civil, sem poupar ninguém. Isso é crime

de guerra!!! E, mais à frente, sem se preocupar com

nada do que faz, justifica-se dizendo que “nem se

arrepende, porque não é homem para se

arrepender” (1 Samuel 15,29), igualando-se ao mais

vil criminoso de guerra que já passou aqui pela

humanidade, cujo nome nem é preciso citar.

2 Reis 2,23-24: “De lá subiu a Betel; ao subirpelo caminho, uns rapazinhos que saíram dacidade zombaram dele, dizendo: ‘Sobe,careca! Sobe, careca!’ Eliseu virou-se, olhoupara eles e os amaldiçoou em nome deIahweh. Então saíram do bosque duas ursas edespedaçaram quarenta e dois deles”.

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Por uma simples brincadeira os rapazinhos, ou

seja, jovens de 12 a 16 anos (241) a divindade

castiga-os, mandando-lhes duas ursas para

despedaçá-los. Tão absurdo tal ato que chocou até

alguns tradutores bíblicos:

O episódio dos meninos mostra que Deusprotege o seu profeta contra os que os insultam (cf.1,9-12), mas nos deixa bastante vexados. Jesus,ao contrário, abençoou as crianças (Mc 10,14-16).(242)

Há que ser uma pessoa muito tacanha para

admitir essa barbaridade como proveniente de Deus.

2 Reis 20,8-11: “Ezequias disse a Isaías: ‘Qualé o sinal de que Iahweh vai me curar e de que,dentro de três dias subirei ao Templo deIahweh?’ Isaías respondeu: ‘Eis, da parte deIahweh, o sinal de que ele realizará o quedisse: Queres que a sombra avance dezdegraus ou que retroceda dez degraus?’Ezequias disse: ‘Avançar dez degraus é fácilpara sombra! Não! Prefiro que ela recue dezdegraus!’ O profeta Isaías invocou Iahweh eeste fez a sombra recuar os degraus que tinhadescido nos degraus de Acaz – dez degrauspara trás”.

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Segundo os tradutores da Bíblia de Jerusalém,

trata-se de degraus de uma escada para o quarto

superior de Acaz e não de quadrante solar; ainda

segundo eles, foram tomados como base os

manuscritos de Qumrã. (243) Isso pouco importa para

o nosso caso, pois, qualquer que seja a opção, na

qual a sombra pudesse voltar atrás se presume que

o Sol teria recuado, fato impossível de acontecer

perante as leis que regem os astros, as quais

sabemos serem divinas, portanto, imutáveis.

Isaías 20,2-4: “Falou Iahweh por intermédio deIsaías, filho de Amós, e disse: 'Eia, tira o panode saco de sobre os teus ombros e descalça assandálias dos teus pés'. Ele assim fez, andandonu e descalço. Então disse Iahweh: 'Da mesmamaneira que o meu servo Isaías andou nu edescalço durante três anos – sinal epresságio que diz respeito ao Egito e a Cuch –,dessa maneira o rei da Assíria levará os cativosdo Egito e Cuch – jovens e velhos – nus edescalços, com as nádegas descobertas –vergonha do Egito!”.

Fantástico: Isaías, a mando de Iahweh, anda nu

e descalço por três anos apenas para servir de

exemplo do que Ele fará ao Egito e Cuch. Quem

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acredita nisso, merece toda a nossa compaixão.

Isaías 27,1: “Naquele dia, punirá Iahweh com asua espada dura, grande e forte, Leviatã,serpente escorregadia, Leviatã, serpentetortuosa, matará o monstro que habita omar”.

Iahweh chega ao cúmulo do absurdo, quando

promete matar até um ser totalmente mitológico.

Vejamos as informações que nos dão conta disso:

Leviatã (ou também o Dragão, a SerpenteFugitiva – cf. 26,13; 40,25+; Is 27,1; 51,9; Am 9,3;Sl 74,14; 104,26) era, na mitologia fenícia,monstro do caos primitivo (cf. 7,12+); a imaginaçãopopular podia sempre recear que despertasse,atraído por uma eficaz maldição contra a ordemexistente… (244)

[…] E depois os autores atribuem aos deusesmotivações corriqueiras que chegam até a sermesquinhas: os homens são escravos de quemos deuses precisam para nutrir-se (Poemababilônico, 30-40); a desgraça do homem seexplica pela inveja dos deuses preocupados emnão perder seus privilégios. Esses mesmosantropomorfismos aparecem no texto bíblico. Deusforma montanhas (Am 4,13), animais e o homem,como o oleiro modela a argila (Gn 2,7.8.19). Otema do combate cósmico travado por Javé

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contra o Mar, Raab, Leviatã e o Dragão éatestado por Jó 3,8; 7,12; 9,13; 26,12 etc.; pelosSI 74, 13-14; 77,17; Is 27,1; 51,9 etc. Os motivosde Javé continuam ambíguos segundo Gn 3,22.

Mas a tendência é utilizar imagens despojadasde seu mofo mítico e verbos que melhor seadaptem ao caráter único do ato criador. (245)

O Dragão. A imaginação popular pensava queos mares ou abismos eram habitados pormonstros, cujo chefe era Leviatã (Jó 3,8ss;7,12ss). (246)

Leviatã, muitas vezes representado pelocrocodilo, é propriamente um dragão mítico,que simboliza o poder do mal que ameaça acriação. Deus o teria derrotado, confinando-o naágua. […]. (247)

Fica aí configurada a mitologia, que os autores

bíblicos tomaram de outros povos para atribuí-la a

Iahweh, fato que os dogmáticos não fazem a mínima

questão de apontar.

Isaías 40,22: “Ele está entronizado sobre ocírculo da terra, cujos habitantes são comogafanhotos; ele estende os céus como umatela, abre-os como uma tenda que sirva dehabitação”.

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Um círculo, até onde sabemos, é “uma

superfície plana limitada por uma circunferência

(linha curva)” (248), o que não cabe se aplicar à Terra,

porquanto ela é esférica, com sua superfície curvada

e não plana como parecia aos povos da antiguidade.

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O que de interessante os estudiosos nos

informam

Trazemos, para este tópico, tudo que achamos

de tradutores, de estudiosos e de outros autores

sobre os vários assuntos aqui relacionados, e que

ainda não transcrevemos. Preferimos fazer isso a

colocá-los nos tópicos anteriores, por acharmos mais

importante a realçar que foram os próprios textos

bíblicos a nos dar base para os argumentos

colocados até então.

1 – Tradutores da Bíblia de Jerusalém:

Da Bíblia de Jerusalém, em “Os Profetas”, parte

que se explica a respeito dos que supunham falar em

nome de Deus, especificamente no tópico “A

doutrina dos profetas”, transcrevemos o seguinte

trecho:

Os profetas desempenharam um papelconsiderável no desenvolvimento religioso deIsrael. […] cada qual teve sua função própria, cadaqual contribuiu com sua pedra para o edifíciodoutrinal. Suas contribuições, porém, se conjugame se combinam segundo três linhas mestras,

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aquelas precisamente que distinguem a religião doAntigo Testamento: o monoteísmo, a moral e aespera da Salvação.

O monoteísmo. Só lentamente é que Israelchegou a uma definição filosófica domonoteísmo: afirmação da existência de um Deusúnico, negação da existência de qualquer outrodeus. Durante muito tempo, aceitou-se a ideiade que os outros povos podiam ter outrosdeuses, mas isso não era motivo de preocupação:Israel não reconhecia senão Iahweh, que era omais poderoso dos deuses e exigia um cultoexclusivo, A passagem dessa consciência e dessaprática monoteísta a uma definição abstrata foifruto da pregação dos profetas. Quando o maisantigo deles, Amós, apresenta lahweh como oDeus que impera sobre as forças da natureza eque é o senhor dos homens e da história, não fazmais que recordar verdades antigas, que dão todoo seu peso às ameaças que ele profere. Mas oconteúdo e as consequências desta fé antiga vãose afirmando cada vez mais claramente. Arevelação do Deus do Sinai tinha sido vinculada aeleição do povo e à conclusão da Aliança, e emconsequência Iahweh aparecia como o Deuspróprio de Israel vinculado à terra e aos santuáriosde Israel. Sem deixar de sublinhar fortemente osvínculos que unem Iahweh a seu povo, os profetasmostram que ele dirige também os destinos dosoutros povos (Âm 9,7). Ele julga os pequenosEstados e os grandes impérios (Am 1-2 e todas asprofecias contra as nações), concede-lhes e retira-lhes o poder (Jr 27,5-8), serve-se deles comoinstrumentos de suas vinganças (Am 6,11; Is 7,18-

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19; 10,6; Jr 5,15-17), mas detém-nos quando quer(Is 10,12). Embora proclamem que a terra de Israelé a de Iahweh. (Jr 7,7) e que o Templo é suamorada (Is 6; Jr 7,10-11), predizem a destruição dosantuário (Mq 3,12; Jr 7,12-14; 26) e Ezequiel vê aGlória de Iahweh deixar Jerusalém (Ez 10,18-22;11,22-23).

Iahweh, senhor da terra inteira, não deixalugar para outros deuses. Lutando contra ainfluência dos cultos pagãos e as tentações dosincretismo, que ameaçavam a fé ele Israel, osprofetas afirmam a impotência dos falsosdeuses e a validade dos ídolos (Os 2,7-15: Jr2,5-13.27-28; 5,7; 16,20)., Durante o Exílio, nomomento em que o desmoronar das esperançasnacionais poderia suscitar dúvidas quanto aopoder de Iahweh, a polêmica contra os ídolos setorna mais incisiva e mais racional no Dêutero-Isaías (Is 40,19-20; 41,6-7.21-24; 44,9-20; 46,1-7;Jr 10,1-16) e mais tarde na Carta de Jeremias (=Br 6) e em Dn 14. A esta crítica se opõe aexpressão triunfante do monoteísmo absoluto (Is44,6-8; 46,1-7.9). (249) (itálico do original)

Ao que se pode depreender dessa explicação

dos tradutores, os judeus de fato, não eram

monoteístas, como admitiam, até determinada

época, a existência de outros deuses, conclui-se que

era o politeísmo vigorava.

2 – Samuel J. Schultz:

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A religião de Canaã era politeísta. El erareputado como principal divindade cananeia.Simbolizado como um touro entre um rebanho devacas, e o povo se referia a ele como “pai touro”,considerando-o criador. Asera era a esposa de El.Nos dias de Elias, Jezabel patrocinava aquatrocentos profetas de Asera (veja 1Rs 18:19). Orei Manassés erigiu a imagem dela no templode Jerusalém (veja 2Rs 21:7). O primeiro dentreos setenta deuses e deusas que eram tidos comoprole de El e Asera era Hadade, mais comumenteconhecido pelo nome de Baal, que quer dizer“Senhor”. Como monarca reinante dos deuses,ele controlaria os céus e a terra. Por ser deus dachuva e da tempestade, ele era o responsável pelavegetação e pela fertilidade. Anate, a deusaamante da guerra, era sua irmã e consorte. Noséculo IX a. C., Astarte, deusa da estrelavespertina, era adorada como sua esposa. Mote,deus da morte, era o principal adversário de Baal.Iom, deus do mar, foi derrotado por Baal. Esses emuitos outros deuses são os primeiros a figurar nocatálogo do panteão cananeu. (250)

Mais dados que provam que a região era

“infestada” de deuses.

3 – Iakov Abramovitch Lentsman:

Os teólogos judeus e cristãos declaram que,se o judaísmo desempenhou tal papel naformação do cristianismo, foi graças ao fato de

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os judeus, contrariamente aos outros povos daAntiguidade, terem sido sempre monoteístas,não admitirem senão um único deus. Segundo asua opinião essa foi a causa decisiva da difusão eda vitória da religião cristã sobre as outras religiõespagãs. Mas isso não é justo, não corresponde àrealidade. Se o cristianismo nasceu do judaísmo,não foi por causa do caráter monoteísta desteúltimo, mas como consequência da situaçãopolítica e social geral da metade oriental do ImpérioRomano em meados do século I. No que respeitaao monoteísmo, enquanto traço específico dojudaísmo, é preciso dizer, primo que todas asoutras religiões da época manifestavam amesma tendência para o monoteísmo, e,segundo, que o judaísmo não foi sempremonoteísta.

O sistema filosófico e religioso de Sêneca nãoera menos monoteísta do que o judaísmo. Aampliação das funções de Ísis, deusa egípcia, deMitra, deus mazdeano, e até mesmo de umadivindade romana como Telus mostra que atendência ao monoteísmo era comum a todas asreligiões da época. Uma religião monoteísta era, nofim das contas, a que melhor convinha a umapotência mundial como o Império Romano.

O monoteísmo só predominou no judaísmodepois de demorada luta. A Bíblia está repletade relatos em que se apresentam os judeusadorando todas as espécies de divindades alémde Jeová, o Eterno. Este teve durante muitotempo, como concorrentes, a Serpente de Bronze,o Bezerro de Ouro etc. As desgraças sofridas pelos

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antigos hebreus são explicadas na Bíblia peladesobediência do povo eleito, que criava ídolos,apesar dos mandamentos de Jeová. Omonoteísmo só se impôs definitivamente aosjudeus a partir do século V antes de nossa era.(251)

Confirma-se o politeísmo dos hebreus pelo

menos até o Século V AEC, quando, a partir daí,

passaram ao monoteísmo.

4 – Ambrogio Donini:

Continua-se a discutir, entre os estudiosos dehistória das religiões, a origem do hábito de nãocomer carne de porco, existente entre osárabes e hebreus. Pretendeu-se ver nestainterdição de caráter religioso uma espécie deespontânea e compreendida medida de caráterhigiênico: o consumo da carne de porco teria sidovetado porque este animal, especialmente nospaíses quentes, é portador de germes de doençasinfecciosas e apodrece facilmente logo depois demorto. A paternidade desta tese é assumidainclusive por críticos como Renan, além doshabituais historiadores teologizantes, para os quaistodo fenômeno histórico deve ter forçosamenteuma origem providencial.

Mas o homem primitivo não tem a mínima ideiado que seja a higiene, entendida como correlaçãode causa e efeito. Ele crê, por exemplo, que adoença seja a consequência de determinadas

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transgressões de caráter moral e social, e não oproduto de um contágio físico qualquer. A proibiçãode comer carne de porco deriva simplesmente dofato de que, num determinado momento de suaevolução, os povos semitas atravessaram comotodos os outros, a fase o totemismo, e queporcos e javalis tinham sido originariamenteconsiderados animais-parentes, animaissagrados, e, por conseguinte, tabu para aquelesque os caçavam. Quando se perdeu a noção dessaprática antiquíssima, codificada nas leis religiosas,inventaram-se explicações mais fantásticas parajustificar a sua existência. (252)

Interessante essa informação sobre a origem

do hábito de não comer carne de porco que os

hebreus tinham.

Além disso, não se deve ignorar que jamaisexistiu um verdadeiro monoteísmo no seu estadopuro. Os hebreus, considerados erradamentecomo um povo monoteísta por excelência,chegaram, é verdade, à concepção de um só deusnacional, Jeová; mas acreditavam igualmente naexistência real das divindades dos outros povos,como Marduk dos babilônios e Baal dos fenícios.(253)

O monoteísmo hebraico

É opinião corrente, e não apenas entre aspessoas menos cultas, que o povo hebreu, nas

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suas condições religiosas, tenha-se transformadodesde o início em propagandista da crença numsó deus (monoteísmo), diante de um mundocaracterizado pela aceitação de uma variada sériede divindades (politeísmo). Esta interpretaçãonão tem nenhum valor histórico.

Ressalte-se mais uma vez que o estudo daevolução religiosa da humanidade não conhecenem um período primitivo, caracterizado pela fénum “ser supremo”, nem um desvio posterior nosentido de formas grosseiras de animismo efetichismo, ou “idolatria”. O recente e amplo estudode Raffaele Pettazzoni sobre L’onniscienza di Dio(254) fez justiça definitivamente a esta artificiosaconstrução, ditada por preocupações confessionaise não científicas. Jamais existiu um“monoteísmo primordial”, degeneradoposteriormente no culto dos espíritos, danatureza e dos animais e triunfalmentereafirmado, por mérito da tradição judaica, porvolta do fim da era antiga. Estamos em plenoreino da “ficção científica”, e já é hora, na Itália, detratar o assunto em termos de maior seriedade.

[…].

A história da religião hebraica permite-nosver claramente como a ideia de um só deus,superior aos outros, surge no momento em quedas várias tribos e gentes em que erasubdividido o povo de Israel se originam asprimeiras instituições monárquicas. De muitoschefes para um só chefe; da fé em muitasdivindades, surge lentamente a ideia de um só sersupremo, que inicialmente se apresenta como

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“mais forte” do que todos (enoteísmo, ou melhormonolatria, culto de um deus hierarquicamentesuperior) e depois como “único”, excluindo-sequalquer outro (monoteísmo no sentido maisexato).

[…].

A concepção monoteísta não podia predominarna mente dos israelitas antes de teremexperimentado na prática aquele tipo deorganização econômica e social que é própria doregime monárquico; mas a crença num só Deus,defendida tão ardorosamente pelos “profetas”do século VII-VI, desenvolveu-se depoisindependentemente das causas que explicam asua origem, adquiriu força autônoma e terminoupor sua vez reagindo profundamente sobre ahistória e sobre a própria estrutura do mundohebraico.

O processo de desenvolvimento do judaísmo,da constituição da monarquia no ano 935 a. C. atéo período das origens do cristianismo, oferece-nosuma prova bastante eficaz desta lei objetiva dasociedade.

Inicialmente, o povo hebreu conheceu asdiversas formas de vida religiosa queacompanham o surgimento da comunidadeprimitiva e a sua passagem gradual à economiaescravista. O culto dos animais, das plantas,dos fenômenos naturais, das águas e dasnascentes, característico da fase totêmica davida tribal, domina a parte mais antiga da Bíblia,tenuemente mascarada pelas preocupações

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polêmicas e pela incompreensão dos seusúltimos redatores. São dessa mesma época asprescrições rituais típicas de uma sociedadenômade, dedicada essencialmente à caça e àpecuária, tais como os tabus alimentares e aprática da “circuncisão”, a qual, embora sejaencontrada frequentemente entre os árabes enumerosos grupos da África tropical eequatorial, transformou-se depois, naimaginação popular, numa das característicasfundamentais do judaísmo. (255)

A serpente e o touro são os dois animais quedeixaram as marcas mais profundas na práticareligiosa de Israel.

Como totem e como deus da fertilidade, aserpente surge no primeiro plano em toda aPalestina; da narrativa da tentação de Adão à“serpente de bronze” de Moisés, destruída pelo reiEzequias no século VIII a. C., a tradição bíblicaoferece-nos testemunhos frequentes e pitorescos.O nome da serpente, seraph, está na raiz deSerafins, os anjos alados que montam guardano trono de Deus; é muito provável que na arcasanta – um cofrezinho vermelho do tipo daquelemais tarde usado pelos árabes – inicialmenteestivesse guardada uma serpente viva, símbolodo deus Jeová, nascido no deserto e às vezesidentificado também com o touro, o vento, ofogo, a pedra, o monte, a nascente. Aquilo que écerto é que o nome dos primeiros sacerdotes deJeová, os “levitas”, está ligado ao culto dasserpentes; o termo árabe lawah, que significadesenroscar-se, torcer-se, arrastar-se, e a

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etimologia do famosíssimo Levi-athan, o deusdragão dos primeiríssimos mitos hebraicos, levam-nos ao mesmo conceito.

Quanto ao touro, as coisas se mostram aindamais claras. O grande sacerdote deste cultoprofessado no norte da península sinaíta, eraArão, o lendário irmão de Moisés. Mais tarde,em sinal de desprezo, a Bíblia falará do touroapenas como de um bezerro; mas permanece ofato de que, ainda na época dos reis, o culto deJeová, no santo dos santos, era caracterizadopor estatuetas douradas de dois touros, quedesfilavam nas procissões e eram expostas àveneração dos fiéis (I Reis, XII, 28; II Reis, X, 29;XVII, 16). O culto de um deus tauriforme dafertilidade, difundido em toda a bacia doMediterrâneo, deve ter alcançado um tal grau dedesenvolvimento entre os hebreus, que nanarrativa do Deuteronômio, XXXIII, 17, o próprioMoisés agonizante, ao abençoar as doze tribosde Israel, atribui o sobrenome de “touromajestoso” à descendência do primogênito deJosé, Efraim, que tem “chifres de boiselvagem”.

[…].

Ao lado das divindades típicas dos povosprimitivos, a gente hebraica, nas suas migraçõesrepletas de riscos e contrastes, quando ainda nãohavia saído do deserto arábico, elaborara uma dasmuitas crenças dos nômades: a ideia de fôrçasmisteriosas, mencionadas ora no singular e orano plural, que acompanham a tribo na suamarcha, numa caixa levada às costas, na qual

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repousam durante as longas paradas (el,elohim). A crítica bíblica pôde separar os doisdocumentos fundamentais da velha tradiçãoreligiosa hebraica, os quais frequentementereferem-se aos mesmos mitos: aquele que chamaa divindade pelo nome de Elohim e aquele que usao nome Javé. Mas não é fácil estabelecer qual dosdois é mais antigo, em virtude do processo dereelaboração a que estes textos foram submetidosdurante e depois do período do exílio, sob ainfluência dos profetas e das castas sacerdotais doséculo V-IV.

O termo El é encontrado entre os outrosnomes de divindades nas tábuas de argila emlíngua ugárica, descobertas por Schaeffer entre1929 e 1933 em Ras Shamra, nome árabe daantiga Ugarit, nas regiões mais setentrionais daPalestina, e atribuídas ao século XIV a.C.; algumasvezes é acompanhado por uma palavra feminina,resíduo talvez de uma longínqua idade matriarcal.(256) Ao contrário, a forma exata do outro termo,Javé, não pode ser fixada com segurança porqueaté uma época muito avançada, contemporânea àsorigens do cristianismo, este nome continuava aser reproduzido nos textos hebraicos com as letrasdo alfabeto fenício, há muito tempo substituídas naprática corrente pela escrita “quadrada” usada atéhoje, e a sua pronúncia era mantida em segredopor motivos de concorrência mágica. Talvez fosseJahu, ou Jeho, que se incorpora em algumasformas rituais como hallelu-já (“deus sejaglorificado”) e em muitos nomes próprios dahistória hebraica, entre os quais Jeho-shua(“socorro de deus”) que estranhamente nós

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confundimos hoje ora com Josué e ora com Jesus.

Uma outra forma do nome de deus era Jao, quecom etimologia imaginária os círculos anti-hebraicos de Alexandria procuravam ligar aoegípcio Eio (asno). Daí a lenda popular de que oshebreus adoravam uma divindade com cabeçade asno; no século II d.C. Esta acusação seráretomada contra os cristãos. Quando Pompeu, noano 63 a.C., invadiu o Templo de Jerusalém,espantou-se por não encontrar na arca a imagemdo deus asno que lhe fora indicada comocaracterística do culto judaico.

Pode ser que se tenha chegado à forma Javésob a influência de uma etimologia teológica quepretendia aproximar o nome divino de uma formado verbo ser: “aquele que é”. De resto, tambémesta divindade tinha uma consorte celeste; e asua história não se diferencia muito, até a reformaprofética, da história de todos os outros deusesposteriores ao período pastoral, ou melhor, que setransformaram de época em época de acordo comas vicissitudes do desenvolvimento da sociedade.Recorde-se que no Velho Testamento a vida dopastor é tida na máxima consideração, tanto queuma metáfora quase estereotipada, que sedesenvolverá enormemente no cristianismo,assemelhava Deus ao “bom pastor”; só no séculoIII d.C., quando a atividade pastoril se rebaixaraprofundamente, um rabino mostrará a contradiçãoentre o apelativo de “pastor” que a Bíblia dá àdivindade e a pouca consideração em que era tidaentão aquela atividade. (257)

Quanto à forma Jehovah, ela tem uma origem

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perfeitamente clara e é devida a uma pura esimples transliteração litúrgica.

[…].

Ao contrário, as divindades dos povos quehabitavam a Palestina antes dos hebreus erampredominantemente de tipo agrícola e sedentário:as pedras sagradas, as plantas sagradas, as fôrçasda natureza (Sol, chuva, vento, insetos) e os Baalou “senhores”, o equivalente celeste dos“senhores” da terra, dos lugares altos e doscampos cultivados. Diferentemente do ser supremoe das vagas fôrças misteriosas veneradas pelosnômades, os deuses cananeus e filisteus tinhamtemplos e cultos fixos. A vitória das triboshebraicas sobre estas populações, no períododa conquista da Palestina, é apresentada pelaBíblia como uma vitória dos poderes divinos deIsrael sobre os Baal inimigos, que foramgradualmente reduzidos à função de seresdemoníacos (Astarte-Astarote; Baal Peor-Belgafor; Baal Zebu-Belzebu; Bel-Belial ou Beliar,etc.).

Mas a verdadeira religião hebraica, tal comoera praticada no momento em que nasceu ocristianismo, formou-se num período aindamais recente, quando as tribos que conseguiramocupar a Palestina modificaram radicalmente o seumodo de vida e passaram a uma organizaçãoeconômico-social baseada na predominância,embora sob formas mais atenuadas do que nosoutros países do Oriente Próximo e da bacia doMediterrâneo, das relações de escravidão.

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Os dois reinos nos quais se dividiramimediatamente depois as tribos hebraicas, o deIsrael no norte, tendo Samaria como centro, e o deJudá no sul, tendo Jerusalém como capital, tiveramvida efêmera. Com a deportação de milhares defamílias para a Babilônia, no ano 586 a.C., ahistória dos hebreus, como Estado nacionalindependente, praticamente termina: à opressãosocial característica da época da escravidão,contra a qual já tinham reagido os primeiros“profetas” (Amos, Jeremias, o primeiro Isaías, etc.),acrescenta-se a dominação estrangeira nas suasformas mais brutais.

Além das massas reduzidas à escravidão pelosinvasores, dezenas de milhares de hebreusemigraram mais ou menos voluntariamente eestabeleceram-se em quase todos os centroshabitados do mundo oriental, na bacia doMediterrâneo e até na Índia e na China. (258) Frutoda derrocada da liberdade, surgiu e foielaborada a ideia de um “salvador”, político esocial, que só podia ser concebido com oaspecto de um novo “rei” (o messias),comandante de exércitos e libertador nacional.

Esta concepção, que sofreu uma evoluçãocujas fases são de fácil reconstrução,identificou-se com a reforma monoteísta,contribuindo para dar à religião dos hebreusaquele aspecto típico que séculos e séculos dehistória não conseguiram apagar. (259)

5 – Werner Keller:

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Aliás, a própria Bíblia sugere quepresumivelmente houve muita coisa bem diferentedaquilo que parecia ser à primeira vista. Porexemplo, a religião, como era efetivamentepraticada em vastas regiões, e o cultogenuinamente popular dos “filhos de Israel”,assumiram aspectos bem diversos daqueles queos autores da Bíblia teriam gostado queassumissem. Sempre houve motivo para osprofetas ficarem irados, sempre os autores bíblicosclamaram contra a “idolatria”, os “bezerros deouro”, e, a julgar por tais pronunciamentos,obviamente, pelo menos parte do povo deveriater continuado a praticar cultos, consideradospelos autores bíblicos como fora das normasestabelecidas e portanto altamente condenáveis.

Quanto à realidade daqueles dias, é só citaralguns poucos exemplos tirados da Bíblia. Já foimencionado em outra parte que Raquel, mulher deJacó, “patriarca” bíblico, furtou os ídolos (terafim)de seu pai, Labão (Gênese 31.19), e que umaserpente de bronze, em efígie, datando dos temposda marcha pelo deserto (Números 21.9), continuoua ser venerada no templo de Jerusalém, até oreinado de Ezequias, rei de Judá (Reis II 18.4), porvolta de 700 a.C. Da mesma forma, o próprioSalomão, o construtor do templo, permitiu –muito contra a vontade dos autores bíblicos –que as damas do seu serralho venerassemdeidades e prestassem cultos a deuses alheios(I Reis 11.1 a 8); ademais ele mesmo mandouedificar “um templo a Camos, ídolo dosmoabitas”, e mais outro “a Moloc, ídolo dosfilhos de Amon”, e participou, pessoalmente, de

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cultos (II Reis 23.13). Aliás, quase todos ossoberanos israelitas, sucessores de Salomão,agiram dessa maneira. Até um fanático como Jeú,rei de Israel (842-815 a.C.), que afogou em rios desangue os adeptos de Baal, deu motivo de censuracom a prática de cultos nada ortodoxos (II Reis10.18 a 29). Da mesma forma, em toda parte entreos “filhos de Israel” eram encontradas figurinhasnuas de Astarteia e ainda à sombra do templo, dotemplo de Salomão, em Jerusalém, a arqueólogabritânica Kathleen M. Kenyon desenterrou umrecinto, caracterizado como de culto pagão pelospilares lá encontrados. De fato, na realidade, areligião popular, efetivamente praticada pelos“filhos de Israel”, era bem diversa daquela quea Bíblia nos mostra e faz crer que tivesse sidopraticada. Para tanto, eis os indícios dados pelaprópria Bíblia, em número bastante grande.

Ao passo que na Terra Santa a moral nemsempre era tal como a anuncia a Bíblia, por outrolado os povos vizinhos de Israel, por ela frequentee veementemente censurados, tambémconheceram personificações divinas de princípioséticos e morais. Assim, entre os cananeus eradifundida a ideia “bíblica” do reinado de Deus, quenão ficou, portanto, limitada à Bíblia. Aliás, aoconhecermos os textos de Ugarit, que falam dasdivindades da antiga terra de Canaã, como El eBaal, verificamos com surpresa a que ponto essaspersonagens encarnaram conceitos religiososposteriormente surgidos na Bíblia. Isso vai tãolonge que o salmista decanta o deus real da Bíbliacomo “rei de todos os deuses”, o que somentetem sentido quando, ao seu lado, ainda se

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admite a presença de outros deuses (vejaSalmos 95.3, 96.4, 97.7 e 9). A exemplo de Baalde Ugarit, também o deus-rei bíblico tem o seu“santo monte” (Salmos 3.5), situado ao norte. Porintermédio de Otto Eissfeldt, pesquisador da Bíblia,natural de Halle, Alemanha Federal, sabemos aque se refere tal “santo monte”; é o Zaphon,também chamado Mons Casius, o atual Djebel al-Agra, de mil setecentos e setenta metros dealtitude, trinta quilômetros ao norte de Ras Shamra,na costa mediterrânea da Síria setentrional. E, aexemplo de Baal, que, como o deus dastempestades, monta nas nuvens, também o Deusda Bíblia é decantado nos Salmos como vindocarregado por nuvens e ventos (Salmos 104.9).

Todavia, não obstante todo o palavreado iradodos profetas, também El e Baal personificavamvalores éticos; assim, El era “sagrado”, e Baal, naqualidade de “juiz” e a exemplo do Deus da aliançabíblica, encarregou-se de fazer justiça. Dessemodo, a Bíblia foi confirmada e elucidada a partirde um dado do qual ninguém teria esperado queviessem tais confirmações e elucidações. E foijustamente a religião tão difamada esupostamente diabólica da antiga Canaã afornecer elementos para uma novacompreensão dos pronunciamentos bíblicos arespeito da “religião dos patriarcas”. Há muitoscientistas que não têm a menor dúvida de que,quando os “patriarcas” bíblicos invocavam El-Eljon (o “Altíssimo”), El-Olam (o “Velho”, o“Eterno”), El-Roj (aquele “que aparece” ou “queme vê”) e El-Shadday (o “Supremo”, ou “Todo-Poderoso”), suas invocações eram dirigidas a

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El, o principal deus cananeu, em uma das suasrespectivas versões regionais.

El e Baal eram os deuses reais do panteãocananeu. Posteriormente, seu lugar foi tomadopor Jeová, o Deus do “povo eleito” da Bíblia.Contudo, houve certas diferenciações. El eraestático, absorto em si próprio, distante,inacessível, ao passo que Baal era mais dinâmico,ativo, presente. Segundo o mito cananeu, El criouo mundo, ao passo que Baal deu àquele mundofecundidade e vida sempre novas, renovadas. Elera o deus distante; Baal, o deus próximo. Jeová, oDeus dos “eleitos” da Bíblia, reuniu os traçostípicos de ambos; seu domínio sobre as demaisdeidades era imaginado como tendo sido maisradical, a ponto de negar, por completo, acoexistência de todas elas.

Aliás, é ponto pacífico, claro e patente, que umdeus real dessa natureza, a cujo lado não haviamais lugar para as outras divindades, nem naqualidade de súditos, tampouco tolerava um mitodivino, cuja exuberância – a nosso ver – conferiaalgo de bizarro aos antigos deuses cananeus, poisaquele mito teria por pressuposto a crença naexistência de deuses alheios… (260)

6 – Philotheus Boehner (1901-1955) e

Etienne Gilson (1884-1978):

É verdade que a aceitação incontroversa domonoteísmo só se impôs ao fim de longo

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processo educativo, embora já viesse propostocom toda a clareza desejável no Deuteronômio(6,4). A luta incansável dos profetas contra asvárias formas do politeísmo nos dá uma ideiada estranheza com que o homem antigo acolhiaa doutrina monoteísta. O cristianismo recebe-acomo herança preciosa, e os filósofos cristãosfarão grande empenho em penetrá-laracionalmente dos argumentos da existência deDeus. (261)

7 – Will Durant (1885-1981):

Quando penetraram no palco da história, osjudeus não passavam de beduínos nômades,medrosos dos demônios do ar, adoradores daspedras, dos carneiros, dos bois, dos espíritosdas cavernas e montanhas. O culto do boi e docarneiro era muito vivo; Moisés nunca pôdeextirpar da sua gente a fé no Bezerro de Ouro,porque a adoração egípcia do touro aindaestava fresca em sua memória; por longo tempoJeová foi simbolizado por esse herbívoro. Vemosno Êxodo como os judeus se regalavam emdanças diante do Bezerro e como Moisés e oslevitas – ou a classe sacerdotal – mataramtrezentos deles, como punição à idolatria. Daadoração da serpente existem inúmeros traços nocomeço da história hebraica, desde as imagens deserpentes que encontramos nas ruínas maisrecuadas, até a serpente de bronze feita porMoisés e adorada no Templo até a época de

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Ezequiel (720 a.C.). Como entre tantos outrospovos, a serpente se lhes afigurava sagrada,parte como símbolo fálico da virilidade, partecomo símbolo da sabedoria, da subtileza e daeternidade – ou, literalmente, pela faculdade dejuntar a cauda com a cabeça. Baal, simbolizadoem pedras de forma cônica muito semelhante aolinga dos hindus era venerado por muitos judeuscomo o princípio masculino da reprodução, oesposo da terra que ele fecundava. Assim como oprimitivo politeísmo sobreviveu na adoração dosanjos e santos e no teraphim, ou ídolos portáteisque serviam de deuses caseiros, assim tambémas nações mágicas, abundantes nos cultosprimitivos, permaneceram até os últimos tempos, adespeito dos protestos dos sacerdotes. O povoparece ter olhado para Moisés e Aarão comomágicos, e ter fomentado a profissão de mágicos efeiticeiros. A adivinhação do futuro era obtidapor meio de dados (Urim e Thummim)sacudidos numa caixa (ephod) – ritual tambémusado para conhecer a vontade dos deuses. Ossacerdotes opuseram-se a esta prática e pregarama confiança exclusiva na mágica do sacrifício, daoração e das oferendas.

Lentamente a concepção de Jeová como o deusnacional tomou forma e deu à fé judaica a unidadee simplicidade que a elevou acima do caóticomosaico dos panteons mesopotâmicos.Aparentemente os judeus, depois da conquista,tomaram um dos deuses de Canaã, Iahu, (262) e orecriaram à sua própria imagem, severo, belicoso,rígido, com quase louváveis limitações. […].

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Originariamente Jeová parece ter sido o deus dotrovão, morando nas montanhas e adorado pelasmesmas razões que levavam o jovem Gorki àcrença quando trovejava. […]. (263)

Jeová não era a única deidade cuja existênciafoi reconhecida pelos judeus, ou por ele mesmo;tudo quanto exigia no Primeiro Mandamento eraque fosse colocado acima dos outros. “Eu sou umdeus ciumento”, confessa Jeová, e induz os fiéis a“derribar” seus rivais e “quebrar suas imagens”.Antes de Isaías raramente os judeus pensavamde Jeová como o deus de todas as tribos [fosseo] mesmo de todos os hebreus. Os moabitastinham o deus Chemosh, a quem, a conselho deNoémi, Rute devia permanecer leal; Belzebu era odeus de Ekron, e Milcon era o deus de Amon; oseparatismo político e econômico daqueles povosmuito naturalmente resultou no que podemoschamar independência teológica. Em seu famosocântico, Moisés canta: “Quem entre os deuses ésemelhante a ti, Jeová?”, e Salomão diz:“Grande é o nosso deus acima de todos osdeuses.” Não somente era Tammuz aceito portodos os judeus menos cultos como um deusreal, como o seu culto se tornara popular naJudeia; Ezequiel lamentava-se de que o clamorfeito lá fora, no rito da morte de Tammuz fosseouvido no interior do Templo. O separatismo dastribos judaicas levava-as a terem suas própriasdivindades; “os teus deuses são em númeroigual ao número das tuas cidades, ó Judá”; e osombrio profeta revolta-se contra a adoração eBaal e Moloch pelos judeus. Com o

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desenvolvimento da unidade política nos reinadosde Davi e Salomão e com a centralização doritual no Templo de Jerusalém, a teologiarefletiu a história e a política, e Jeová se tornouo único deus dos judeus. Além deste“henoteísmo” (264) não deram eles mais nenhumpasso rumo ao monoteísmo, até ao advento dosProfetas. (265) Mesmo no princípio a religiãohebraica aproximou-se mais do monoteísmo doque qualquer outra fé pré-profética, com exceçãodo efêmero culto do sol do faraó Ikhnaton. Ojudaísmo mostrou-se igual em sentimento e poesiaao politeísmo da Babilônia e Grécia e eraimensamente superior a outras religiões de seutempo em majestade e poder, em unidadefilosófica, em fervor moral e influência. (266)

Mas os hebreus, apesar de tudo, jamaisfugiram à superstição e à idolatria. Os altos dasmontanhas e os bosques continuavam aabrigar deuses de fora e a testemunharestranhos ritos; uma boa minoria do povo aindase prostrava diante de pedras divinas ouadorava Baal e Astarte, ou praticava a artedivinatória à maneira da Babilônia, ou queimavaincenso diante de imagens, ou ajoelhava-se dianteda Serpente de Bronze ou do Bezerro de Ouro, ouenchia o Templo com o barulho de festins pagãos,ou fazia suas crianças “passarem pelo fogo” emsacrifício; mesmo alguns dos reis, como Salomão eAcab, “prostituíam-se” diante de deusesestrangeiros. Homens santos, como Elias e Eliseu,ergueram-se contra essas práticas e sem sersacerdotes procuraram com o exemplo de suas

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vidas levar o povo ao caminho da retidão. […]. (267)

8 – Júlio Trebolle Barrera:

Entre as descobertas epigráficas mais recentessobressaem as de Tell Deir ‘Alla, de meados doséculo VIII a.C., em escritura aramaica cursiva,com a menção de “Balaão, filho de Beor”, célebrepersonagem aludido nos relatos de Nm 22-24 (Vander Kooij); Kuntillet Ajrud, com a representaçãode três figuras, duas das quais podemcorresponder a Javé e sua consorte, se esta forefetivamente a interpretação correta da inscriçãoque a acompanha: “Javé de Samaria e sua‘Ašerah” (lyhwh šmrn wl”šrth) (Meshel); Khirbetel-Kom, de meados do século VIII, com o texto deuma benção: “Bendito é Javé e sua ‘Ašerah”(Dever, Lemaire). Estes dois textos não deixamde ser enormemente perturbadores para ahistória do javismo monoteísta. (268)

9 – Karen Armstrong:

[…] Originalmente Jeová fora membro daAssembleia Divina dos “santos”, que El, opoderoso deus de Canaã, havia presidido comsua consorte Aserá. Cada nação da região tinhasua própria divindade padroeira, e Jeová era “osanto de Israel”. (269) No século VIII, Jeová haviaexpulsado El da Assembleia Divina (270) e

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reinava sozinho sobre uma multidão de“santos”, guerreiros do exército celeste. (271)Nenhum dos outros deuses podia se igualar aJeová na fidelidade a seu povo. Nisso ele não tinhapares, não tinha rivais. (272) Mas a Bíblia mostraque até a destruição do templo porNabucodonosor, em 586, os israelitas tambémadoraram grande número de outras divindades.(273)

[…].

No século VIII, um pequeno número deprofetas quis levar o povo a adorarexclusivamente Jeová. Mas esse não foi ummovimento popular. Como guerreiro, Jeová erainsuperável, mas não tinha conhecimentoespecializado em agricultura, de modo que,quando queria uma boa colheita, era natural que opovo de Israel e Judá recorresse ao culto dodeus local da fertilidade, Baal, e sua irmã-esposa Anat, praticando o rito sexual comum paratornar os campos férteis. No início do século VIII,Oseias, um profeta do reino do norte, invectivoucontra essa prática. Sua mulher Gomer serviracomo prostituta sagrada a Baal, e a dor que ainfidelidade lhe causava era, imaginava ele,semelhante à que Jeová experimentava quandoseu povo se prostituía com outros deuses. Osisraelitas deviam retornar a Jeová, que podia suprirtodas as suas necessidades. Era inútil tentaraplacar Jeová com o ritual do templo: este querialealdade de culto (hesed), não sacrifício animal.(274) Se eles continuassem a ser infiéis a Jeová,o reino de Israel seria destruído pelo poderoso

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Império Assírio, suas cidades, arrasadas, eseus filhos, exterminados. (275)

A Assíria havia estabelecido um poder semprecedentes no Oriente Médio; ela devastavaregularmente os territórios de vassalosrecalcitrantes e deportava a população. O profetaAmós, que pregava em Israel em meados doséculo VIII, afirmou que Jeová movia umaguerra contra Israel para punir sua injustiçasistêmica. (276) Enquanto Oseias condenava oamplamente respeitado culto de Baal, Amóstransformou por completo o culto de Jeová: ele nãomais adotava o lado de Israel de maneiraautomática. Amós cobriu também de desprezo osrituais do templo no reino do norte. Jeová estavaenojado de cantorias ruidosas e do arranhar devotodas harpas. Em vez disso, Ele queria que a justiça“fluísse como água, e a integridade como umatorrente inexaurível”. (277) Desde essa data remota,os Escritos bíblicos foram subversivos eiconoclásticos, desafiando a ortodoxia dominante.

[…].

Embora os historiadores bíblicos reverenciemEzequias como um rei devoto, que tentouproscrever a adoração de deuses estrangeiros, suapolítica exterior foi um desastre. Após umaimprudente rebelião contra a Assíria em 701,Jerusalém foi quase destruída, a zona ruralbrutalmente devastada e Judá reduzido a umpequenino Estado residual. Judá melhorou. Numatentativa de se integrar ao império, ele revogou ajurisdição religiosa do pai, erguendo altarespara Baal, erigindo uma efígie de Aserá e

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estátuas dos cavalos divinos do sol no templode Jerusalém, e instituindo o sacrifício decrianças fora da cidade. (278) O historiador bíblicoficou horrorizado com esses desdobramentos, maspoucos dos súditos de Manassés teriam ficadosurpresos, já que em sua maioria eles tinhamícones semelhantes em suas próprias casas. (279)Apesar da prosperidade de Judá, eles foramamplamente espalhados pelos inquietos distritosrurais que haviam suportado o impacto brutal dainvasão assíria; e, depois da morte de Manassés, odescontentamento latente irrompeu num golpepalaciano, que depôs Amon, filho de Manassés, epôs no trono seu filho de oito anos, Josias. (280)

No texto final do Êxodo, editado no século VAEC, Deus faz uma aliança com Moisés no monteSinai (o que teria ocorrido por volta de 1200).Travou-se um debate erudito sobre isso: algunscríticos acreditam que a aliança só se tornouimportante em Israel no século VII AEC. Qualquerque seja a data, a ideia da aliança indica que osisraelitas ainda não eram monoteístas, pois elasó faria sentido num cenário politeísta. Elesnão acreditavam que Javé, o Deus do Sinai, erao único Deus, mas prometeram, em sua aliança,ignorar todas as outras divindades e dedicar-lheadoração exclusiva. É muito difícil encontrar umaúnica declaração monoteísta em todo oPentateuco. Até os Dez Mandamentosentregues no monte Sinai reconhecem aexistência de outros deuses: “Não terás outrosdeuses diante de mim” (281). A adoração de umaúnica divindade era um passo praticamente inédito:

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o faraó Akhenaton tentara adorar o Deus Sol erejeitar as outras divindades do Egito, porémseu sucessor reverteu essa política. Desprezaruma fonte potencial de mana parecia uma grandeimprudência, e a história posterior dos israelitasmostra que eles relutaram muito em abandonaro culto de outros deuses. Javé provara suahabilidade na guerra, mas não era um deus dafertilidade. Quando se instalaram em Canaã, oshebreus instintivamente abraçaram o culto deBaal, o Senhor de Canaã, que fazia as plantaçõescrescerem desde tempos imemoriais. Os profetasos exortavam a se manter fiéis à aliança, mas amaioria continuava adorando Baal, Asera e Anatà maneira tradicional. A Bíblia nos diz que,enquanto Moisés estava no monte Sinai, osisraelitas retomaram o velho paganismocananeu. Fizeram um bezerro de ouro, efígietradicional de El, e diante dele executaram osantigos ritos. Ao contrapor esse incidente àapavorante revelação no monte Sinai, os editoresfinais do Pentateuco talvez estivessem tentandomostrar a gravidade da divisão em Israel. Profetascomo Moisés pregavam a elevada religião de Javé,mas o povo em geral preferia os rituais antigos,com sua visão holística de unidade entredeuses, natureza e humanidade.

Contudo, os israelitas prometeram fazer deJavé seu único Deus após o Êxodo, e osprofetas os lembravam desse acordo.Prometeram adorar apenas Javé como seuelohim e, em troca, receberam a promessa deque seriam seu povo especial e desfrutariam desua proteção, esplendidamente eficaz. Javé lhes

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advertira que os destruiria sem piedade sequebrassem esse acordo. Mesmo assim, fizeram opacto. […].

[…].

Era possível optar entre Javé e os deusestradicionais de Canaã. Os israelitas não hesitaram.Não havia outro deus como Javé; nenhumadivindade ajudara seus adoradores com tamanhaeficiência. Sua poderosa intervenção nos assuntosde seus devotos demonstrara, sem sombra dedúvida, que Javé tinha os requisitos necessáriospara ser seu elohim: adorariam apenas a ele eabandonariam os outros deuses. Josué advertiu-os de que Javé era extremamente ciumento. Sedescumprissem os termos da aliança, ele osdestruiria. O povo se manteve firme: Javé era seuúnico elohim. “Então, expulsai os deusesestranhos do meio de vós”, exclamou Josué, “eentregai vosso coração a Javé, o Deus de Israel”.(282)

A Bíblia mostra que os israelitas não foramfiéis à aliança. Lembravam-na em tempos deguerra, quando precisavam da especializadaproteção militar de Javé, mas em tempos debonança adoravam Baal, Anat e Asera. Emborafosse fundamentalmente diferente em suatendência histórica, o culto de Javé muitas vezesse expressava nos termos do velho paganismo. Otemplo que o rei Salomão construiu para Javé,em Jerusalém – a cidade que seu pai, Davi, tomarados jebuseus –, era semelhante aos templos dosdeuses cananeus. Compunha-se de três áreasquadrangulares, que culminavam no Santo dos

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Santos, pequena sala onde ficava a Arca daAliança, o altar portátil que os israelitas carregaramconsigo durante seus anos no deserto. Dentro doTemplo havia um enorme tanque de bronze,representando Yam, o mar primordial do mitocananeu, e duas colunas de doze metros,indicando o culto da fertilidade de Asera. Osisraelitas continuavam adorando Javé nos antigossantuários que haviam herdado dos cananeus emBetel, Silo, Hebron, Belém e Dan, ondefrequentemente se realizavam cerimônias pagãs.Mas o Templo logo se tornou especial, embora,como veremos, também ali houvesse algumasatividades bem pouco ortodoxas. Os israelitascomeçavam a ver o Templo como a réplica da corteceleste de Javé. Festejavam o Ano-Novo nooutono, começando com a cerimônia do bodeexpiatório no Dia do Perdão e prosseguindo, cincodias depois, com a festa dos Tabernáculos, quecelebrava a colheita e o início do ano agrícola.Estima-se que alguns Salmos comemoram aentronização de Javé em seu Templo na festa dosTabernáculos, que, como a entronização deMarduc, relembrava sua vitória sobre o caosprimordial. (283) O próprio rei Salomão foi umgrande sincretista: teve muitas esposas pagãs,que adoravam seus próprios deuses, e relaçõesamistosas com os vizinhos pagãos.

O perigo de o culto de Javé acabar submersopelo paganismo popular era constante e seagravou na segunda metade do século IX AEC. Em869, o rei Acab ascendeu ao trono do reinosetentrional de Israel. Sua esposa, Jezabel, filhado rei de Tiro e Sidônia, no Líbano atual, era uma

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pagã fervorosa, decidida a converter o país àreligião de Baal e Asera. Importou sacerdotesde Baal, que imediatamente conquistaramseguidores entre os setentrionais, que haviam sidosubmetidos pelo rei Davi e eram javistas tíbios.Acab permaneceu fiel a Javé, mas não tentouconter o proselitismo de Jezabel. Contudo,quando uma grave seca atingiu o país, no final deseu reinado, um profeta chamado Elias (“Javé émeu Deus!”) passou a vagar por lá, com sua capade pelos e sua tanga de couro, fulminando adeslealdade de Acab. Convocou o rei e o povopara uma disputa no monte Carmelo entre Javé eBaal. Ali, na presença de 450 profetas de Baal,perguntou à multidão: até quando hesitarãoentre as duas divindades? Depois, ordenou quedois bois, um para si e outro para os profetas deBaal, fossem colocados em dois altares. Ambos oslados pediriam a seus deuses que mandassemfogo do céu para consumar o holocausto. “Deacordo!”, gritou o povo. Os profetas de Baalinvocaram seu nome a manhã inteira, saltitando aoredor do altar, gritando e cortando-se com espadase lanças. Mas “não houve voz nem resposta”. Eliaszombou: “Gritai mais alto! Porque ele é um deus:estará preocupado, atarefado ou viajando; talvezesteja dormindo e venha a despertar”. Nadaaconteceu: “Não houve voz nem resposta, enenhuma atenção lhes foi dada”.

Então foi a vez de Elias. A multidão se apinhouem torno do altar de Javé. Elias cavou um fossoem volta do altar e encheu-o de água, paradificultar ainda mais a combustão. Depois, chamouJavé. Imediatamente, o fogo baixou do céu e

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consumiu o altar, o boi e toda a água do fosso. Amultidão se prostrou com o rosto por terra,exclamando: “Javé é Deus! Javé é Deus!”. Eliasnão foi um vencedor generoso. “Pegai os profetasde Baal!”, ordenou. E não poupou nenhum deles:levou-os para um vale das proximidades e osmatou. (284) O paganismo não tentava se impor –Jezabel é uma exceção interessante –. poissempre havia lugar para mais um deus no panteão.Esses acontecimentos míticos mostram que, desdeo início, o javismo exigia repressão violenta enegação de outros credos, um fenômeno queexaminaremos mais detalhadamente no próximocapítulo. […]. (285)

Não surpreende que a maioria dos israelitasrecusasse o convite do profeta para dialogar comJavé. Preferiam uma religião de observância ritualmenos exigente, no Templo de Jerusalém ou nosvelhos cultos da fertilidade de Canaã. Continuasendo assim: apenas uma minoria segue a religiãoda compaixão; a maioria das pessoas religiosascontenta-se com a adoração na sinagoga, naigreja, no templo, na mesquita. As antigasreligiões cananeias ainda floresciam em Israel.No século X, o rei Jeroboão I estabelecera oculto de dois touros nos santuários de Dan eBetel. Duzentos anos depois, os israelitas aindaparticipavam de ritos da fertilidade e sexosagrado, como vemos nos oráculos do profetaOseias, contemporâneo e Amós. (286) Algunsachavam que Javé tinha esposa, como os outrosdeuses: recentemente, arqueólogos encontraraminscrições dedicadas “A Javé e sua Asera”.

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Oseias irritava-se particularmente com o fato deIsrael violar os termos da aliança ao adoraroutros deuses, como Baal. Preocupava-se com osentido intrínseco da religião, como todos os novosprofetas. “Porque o que eu quero é amor [hesed], enão sacrifício”, faz Javé dizer; “e o conhecimentode Deus [daath Elohim], não holocaustos” (287). Nãose referia a um conhecimento teológico: a palavradaath deriva do verbo hebraico yada: conhecer,que tem conotações sexuais. Assim, J diz queAdão “conheceu” sua esposa, Eva (288). Na velhareligião cananeia, Baal se casava com a terra esua união era celebrada com orgias rituais, masOseias insistia que, desde a aliança, Javésubstituíra Baal e se casara com o povo deIsrael. Eles tinham de compreender que era Javé,e não Baal, quem fertilizaria o solo (289). Ele aindacortejava a nação israelita como um amantedecidido a reconquistá-la dos Baals que aseduziram:

E nesse dia, diz Javé,ela me chamará: “Meu marido”;e não me chamará mais: “Meu Baal”.E de sua boca tirarei os nomes de Baal,e eles nunca mais serão pronunciados. (290)

Enquanto Amós atacava a maldade social,Oseias repisava a falta de interioridade na religiãoisraelita: o “conhecimento” de Deus se relacionavacom “hesed”, implicando uma apropriação e umvínculo interiores com Javé que deviam sesobrepor à observância exterior.

[…].

Como todos os outros profetas, Oseias tinha

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horror à idolatria. Previu que as tribos setentrionaissuscitariam a vingança divina, adorando deusesque elas mesmas haviam criado:

E agora acumulam pecados e mais pecados,e com sua prata fundiram imagens,

ídolos de sua própria fabricação, todos obras deartífices.‘’A eles sacrificai”, dizem, “homens que lançaisbeijos aos bezerros.” (291)

[…].

[…] depois que Javé venceu as outrasdivindades de Canaã e do Oriente Médio e setornou o único Deus, os homens prevaleceram emsua religião. O culto das deusas desapareceu,sinalizando uma transformação culturalcaracterística do mundo recém-civilizado.

Veremos que a vitória de Javé foi difícil.Envolveu tensão, violência e confronto, e sugereque a nova religião do Deus Único não seconsolidou com tanta facilidade entre osisraelitas quanto o budismo e o hinduísmo entreos povos do subcontinente. Javé não pareciacapaz de transcender as velhas divindades demaneira natural e pacífica. Teve de expulsá-las àforça. Assim, no Salmo 82, nós o vemos pleiteandoa liderança da Assembleia Divina, quedesempenhara um papel tão importante no mitobabilônico e cananeu:

Javé toma seu lugar no Conselho de Elpara proferir julgamentos entre os deuses.(292)“Não mais arremedeis a justiça.

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Não mais favoreçais os maus!Fazei justiça ao fraco e ao órfão,sede justos com o aflito e o desvalido,salvai o fraco e o necessitado,tirai-os das garras dos maus!”Ignorantes e insensíveis, eles prosseguemcegamente, solapando os fundamentos dasociedade humana.Eu disse: “Vós também sois deuses, filhos de ElElyon, todos vós; no entanto, morrereis comohomens; como homem, deuses, caireis”.

Em seu confronto com o Conselho presididopor El desde tempos imemoriais, Javé acusa osoutros deuses de não corresponderem aodesafio social da época. Ele representa omoderno ethos compassivo dos profetas, mas seuscolegas divinos nunca fizeram nada para promovera justiça e a equidade. Nos velhos tempos, Javéesteve disposto a aceitá-los como elohim, filhos deEl Elyon (“Deus Altíssimo”) (293), porém agora osdeuses se revelaram obsoletos. Desapareceriamcomo os mortais. O salmista descreve Javé nãosó condenando à morte seus semelhantesdivinos como usurpando a prerrogativatradicional de El, que, aparentemente, aindatinha defensores em Israel.

Apesar de malvista na Bíblia, a idolatria per senada tem de errado: só se torna condenável ouingênua se a imagem de Deus, construída comtanto amor e carinho, é confundida com a inefávelrealidade a que se refere. Veremos que algunsjudeus, cristãos e muçulmanos trabalharam essaimagem primitiva da realidade absoluta e

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chegaram a uma concepção mais próxima dasvisões hinduístas ou budistas. Outros, porém,nunca conseguiram dar esse passo e concluíramque sua concepção de Deus era idêntica aomistério último. Os perigos de uma religiosidade“idólatra” se evidenciaram por volta de 622 AEC.Josias, rei de Judá, queria muito revogar aspolíticas sincretistas de seus antecessoresManassés (687-42) e Arnon (642-40), quehaviam estimulado o povo a adorar os deusesde Canaã juntamente com Javé. Manasséschegou a colocar uma estátua de Asera noTemplo, onde florescia um culto da fertilidade.Como muitos israelitas eram devotos de Aserae alguns achavam que ela era esposa de Javé,só os javistas mais severos consideravam issouma blasfêmia. Todavia, decidido a promover oculto de Javé, Josias tratou de restaurar o Templo.Durante as obras, o sumo sacerdote Helciasencontrou um antigo manuscrito que supostamentecontinha o último sermão de Moisés aos filhos deIsrael. Helcias o entregou ao secretário de Josias,Safan, que o leu em voz alta na presença do rei. Ojovem monarca rasgou as vestes, horrorizado:compreendeu por que Javé se enfurecera tantocom seus ancestrais! Eles não seguiram suasinstruções, confiadas a Moisés. (294)

[…] Em seu último sermão, Moisés confereuma nova centralidade à aliança e à ideia daeleição especial de Israel. Javé distinguira seupovo de todas as outras nações, não por algummérito próprio, mas por seu grande amor. Emtroca, exigia lealdade absoluta e uma ferrenharejeição de todos os outros deuses. O núcleo do

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Deuteronômio inclui a declaração que mais tardese tornaria a profissão de fé judaica:

Ouve [shema], Israel! Javé é nosso Elohim,Javé somente [ehad]! Amarás, pois, Javé comtodo o teu coração, com toda a tua alma, comtoda a tua força. E estas palavras, que hoje teordeno, estarão escritas em teu coração. (295)

Ao ser eleito por Deus, Israel se diferenciou dosgoyim e, portanto, quando chegasse à TerraPrometida, não teria nenhum relacionamento comas populações nativas: “Não farás aliança com elasnem lhes demonstrarás piedade”. (296) Não deveriahaver casamentos mistos nem intercâmbio social.E, principalmente, a religião cananeia deveria serbanida: “Derrubai seus altares, despedaçai suaspedras eretas, cortai suas estacas sagradas equeimai seus ídolos”, Moisés ordena aos israelitas.“Porque és um povo consagrado a Javé, teuElohim; foi a ti que Javé, nosso Elohim, escolheupara que fosses seu povo, dentre todos os povosda terra.” (297)

Hoje em dia, quando recitam o Shema, osjudeus lhe dão uma interpretação monoteísta:Javé, nosso Deus, é único. O deuteronomistaainda não atingira essa perspectiva. “Javé ehad”não queria dizer que Deus é Único, mas queJavé era a única divindade a quem erapermitido adorar. Os outros deuses aindaconstituíam uma ameaça: seus cultos sedutorespodiam afastar os israelitas de Javé, que era umDeus ciumento. Se obedecessem às leis de Javé,ele os abençoaria e lhes daria prosperidade; se o

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abandonassem, as consequências seriamdevastadoras:

Serás arrancado da terra que passas a possuir.Javé te espalhará entre todos os povos, de umaextremidade da terra até a outra; e lá servirás aoutros deuses de madeira e de pedra, que nãoconheceste, nem tu nem teus pais […] E tuavida será um fardo para ti […] Dirás, pelamanhã, “Ah, quem me dera fosse noite!” e, ànoite, “Ah, quem me dera fosse manhã!”, porcausa do terror de teu coração, por causa doque verás com teus olhos. (298)

Quando ouviram essas palavras, no final doséculo VII, o rei Josias e seus súditos estavamprestes a enfrentar uma nova ameaça política.Tinham conseguido manter os assírios à distância,escapando, assim, ao destino das dez tribossetentrionais, que sofreram os castigos descritospor Moisés. Porém, em 600 AEC, o reiNabucodonosor, da Babilônia, esmagaria osassírios e começaria a erguer seu próprio império.

Nessa atmosfera de extrema insegurança, aspolíticas do deuteronomista causaram grandeimpacto. Longe de obedecer às ordens de Javé, osdois últimos reis de Israel haviam sidodeliberadamente imprudentes. Josias iniciou deimediato uma reforma, agindo com zelo exemplar.Retirou do Templo e queimou todas asimagens, ídolos e símbolos de fertilidade.Derrubou a grande efígie de Asera e destruiu osaposentos das prostitutas sagradas do Templo,que ali teciam vestes para a deusa. Destruiu

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todos os antigos santuários do país, que haviamsido enclaves do paganismo, e estabeleceu que,dali em diante, os sacerdotes só poderiam oferecersacrifícios a Javé no purificado Templo deJerusalém. O cronista, que registrou suas reformasquase trezentos anos depois, descreve comeloquência essa piedade de negação e supressão:

Josias viu os altares de Baal seremdemolidos; derrubou os altares de incensoexistentes sobre eles, despedaçou as estacassagradas e os ídolos esculpidos e fundidos;reduziu-os a pó e os espargiu sobre assepulturas dos que lhes ofereceram sacrifícios.Queimou sobre seus altares os ossos dossacerdotes e purificou Judá e Jerusalém. Assimfez também nas cidades de Manassés, deEfraim, de Simeão e até de Neftali, e noslugares devastados a seu redor. Ele derrubou osaltares e as estacas sagradas, despedaçou osídolos e os reduziu a pó e deitou abaixo todosos altares de incenso em toda a terra de Israel.(299)

Estamos longe da serena tolerância de Budapara com as divindades que acreditava terdeixado para trás. Essa destruição em massanasce de um ódio enraizado em ansiedade emedo.

Os reformadores reescreveram a históriade Israel. Os livros históricos de Josias,Samuel e Reis foram revisados segundo anova ideologia, e depois os editores doPentateuco acrescentaram trechos que

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conferiam às narrativas mais antigas de J e Euma interpretação deuteronomista do mitodo Êxodo. Javé era agora o autor de umaguerra santa de extermínio em Canaã. Aosisraelitas foi dito que os cananeus nativos nãodeveriam viver em seu país, (300) uma políticaque Josué implementou com terrívelmeticulosidade:

Naquele tempo, veio Josué e extirpou osenacins das montanhas de Hebron, de Dabir, deAnab, de todas as montanhas de Judá e deIsrael; destruiu a todos, juntamente com suascidades. Não sobraram enacins no territórioisraelita, exceto em Gaza, Gat e Azoto. (301)

Na verdade, nada sabemos da conquista deCanaã por Josué e pelos Juízes, embora não hajadúvida de que muito sangue foi derramado. Agorao banho de sangue recebia uma justificaçãoreligiosa. Os perigos de tais teologias de eleição,não atenuadas pela perspectiva transcendente deum Isaías, são evidentes nas guerras santas quetêm marcado a história do monoteísmo. Em taiscircunstâncias, em vez de funcionar como umsímbolo que conteste nosso preconceito e nosobrigue a contemplar nossas próprias deficiências,Deus é usado para endossar nosso ódio egotista etorná-lo absoluto; age exatamente como nós, comose fosse mais um ser humano. Provavelmente émais atraente e popular que o Deus de Amós eIsaías, que exige implacável autocrítica.

[…].

Devemos observar que nem todos os israelitas

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endossavam o deuteronomismo nos anos queprecederam a destruição de Jerusalém porNabucodonosor, em 587 AEC, e a deportação dosjudeus para a Babilônia. Em 604, ano da ascensãode Nabucodonosor, o profeta Jeremias retomou aperspectiva iconoclasta de Isaías, invertendo adoutrina triunfalista do Povo Eleito: Deus usava aBabilônia para punir Israel, e agora era a vez deIsrael ser “entregue à destruição”. (302) Cumpririasetenta anos de exílio. Quando ouviu esse oráculo,o rei Joaquim arrancou o pergaminho da mão doescriba, rasgou-o e jogou-o no fogo. Temendo porsua vida, Jeremias foi obrigado a se esconder.

[…].

Enquanto o inimigo esteve às portas, Jeremiasesbravejou com seus compatriotas em nome deDeus (embora, diante de Deus, implorasse poreles). Assim que os babilônios conquistaramJerusalém, em 587, os oráculos de Javé setornaram mais confortadores: agora que seu povoaprendera a lição, ele prometia salvá-lo e levá-lode volta para casa. Com a permissão dasautoridades babilônicas, Jeremias permaneceu emJudá e, para manifestar sua confiança no futuro,comprou algumas propriedades: “Porque assim dizJavé Sabaot: ‘Ainda se comprarão casas, campose vinhas nesta terra”’. (303) Não surpreende que unse outros culpassem Javé pela catástrofe. Duranteuma visita ao Egito, Jeremias encontrou umgrupo de judeus que fugira para a região dodelta e não queria saber de Javé. As mulherescontaram que estavam muito bem enquantorealizavam os ritos tradicionais em honra a Ishtar,

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Rainha do Céu, mas, assim que os abandonaram,estimulados por tipos como Jeremias, sobrevieramo desastre, a derrota, a miséria. Parece, porém,que a tragédia aguçou o entendimento deJeremias. (304) Após a queda de Jerusalém e adestruição do Templo, ele passou a compreenderque tais aspectos externos da religião nãopassavam de símbolos de um estado interior,subjetivo. No futuro, a aliança com Israel seriamuito diferente: “Porei minha lei em seu íntimo, e aescreverei em seu coração”. (305)

[…].

Como estavam junto aos rios da Babilônia,alguns exilados inevitavelmente achavam que nãopodiam praticar sua religião fora da TerraPrometida. Os deuses pagãos eram territoriais, eos que julgavam impossível entoar os cânticos deJavé num país estrangeiro saboreavam aperspectiva de arremessar bebês babilônios contraas pedras. (306) Um novo profeta, porém, pregavacalma. Nada sabemos sobre ele, e isso pode sersignificativo, porque seus oráculos e salmos nãosugerem uma luta pessoal, como as de seusantecessores. Mais tarde, suas obras foramacrescentadas aos oráculos de Isaías, e por essemotivo ele geralmente é chamado de SegundoIsaías. No exílio, alguns judeus passaram aadorar os antigos deuses da Babilônia, masoutros adquiriram uma nova consciênciareligiosa. O Templo de Javé estava em ruínas;haviam sido destruídos os velhos santuários deBetel e Hebron. Na Babilônia, não podiamparticipar de liturgias que haviam sido

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fundamentais para sua vida religiosa na pátria. Sótinha, Javé. O Segundo Isaías deu mais essepasso e declarou que Javé era o único deus.Em seu remanejamento da história israelita, o mitodo Êxodo se reveste de imagens que nos lembrama vitória de Marduc sobre Tiamat, o mar primordial:

E Javé secará o braço de mar do Egitocom o calor de seu sopro,e estenderá a mão sobre o rio [Eufrates],e o dividirá em sete canais, para que se passepor ele a pé enxuto.E haverá caminho para o resto de seu povo […].como houve para Israelquando saiu da terra do Egito. (307)

O Primeiro Isaías fizera da história um avisodivino; após a catástrofe, em seu livro daConsolação, o Segundo Isaías fez a história gerarnova esperança para o futuro. Se Javé resgataraIsrael uma vez, podia fazê-lo de novo. Eleplanejava as questões da história; a seus olhos,todos os goyim juntos não passavam de uma gotano oceano. Ele era o único Deus que contava. OSegundo Isaías imagina as velhas divindades daBabilônia amontoadas em carroças, transportadasaos solavancos. (308) Seu tempo acabara: “Não souJavé?”, ele pergunta repetidas vezes. “Não háoutro Deus além de mim”. (309)

Nenhum deus foi formado antes de mim,nem o será depois de mim.Eu, eu sou Javé,e fora de mim não há salvador. (310)

O Segundo Isaías não perdeu tempo

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denunciando os deuses dos goyim, que, desde acatástrofe, podiam ser vistos como vitoriosos.Calmamente assumiu que Javé – não Marduc nemBaal – realizara os grandes feitos míticos queresultaram na criação do mundo. Pela primeira vez,os israelitas se interessavam de fato pelo papel deJavé na criação, talvez por causa do renovadocontato com os mitos cosmológicos da Babilônia.Obviamente, não tentavam formular umaexplicação científica das origens físicas douniverso, mas buscavam encontrar conforto noduro mundo do presente. Se Javé derrotara osmonstros do caos nos tempos primordiais, seriamuito simples para ele redimir os israelitasexilados. Percebendo a semelhança entre o mitodo Êxodo e as narrativas pagãs da vitória sobre ocaos aquático no começo dos tempos, o SegundoIsaías exortou seu povo a esperar com confiançauma nova demonstração da força divina. Aqui, porexemplo, ele se refere à vitória de Baal sobreLotan, o monstro marinho da mitologia dacriação cananeia, que também se chamavaRaab, o Crocodilo (tannim) e o Abismo (tehõm):

Desperta, desperta! Veste-te de força,braço de Javé,Desperta, como antes,em tempos de gerações há muito passadas.Não cortaste Raab ao meio,e transpassaste o Dragão [tannim]?Não secaste o mar,as águas do grande Abismo [terom],para fazer do leito do mar uma estradapor onde passassem os remidos? (311)

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Finalmente Javé absorvera seus rivais naimaginação religiosa de Israel; no exílio, a atraçãodo paganismo perdera força e nascera o judaísmo.Numa época em que seu culto poderiadesaparecer com facilidade, Javé infundiaesperança em seus devotos, apesar dascircunstâncias adversas.

Tornara-se, portanto, o único Deus. Nãohouve nenhuma tentativa de justificação filosófica.Como sempre, a nova teologia venceu não por serracionalmente demonstrável, mas por conseguirevitar o desespero e incutir esperança. Os judeusdeslocados já não achavam estranha eperturbadora a descontinuidade do culto de Javé:ela se coadunava com sua condição.

No entanto, o Deus do Segundo Isaías não tinhanada de acolhedor. Continuava inacessível àmente humana:

Porque meus pensamentos não são vossospensamentos. Nem vossos caminhos meuscaminhos, diz Javé. Porque, assim como oscéus são mais altos que a terra, assim sãomeus caminhos mais altos que vossoscaminhos, e meus pensamentos mais altos quevossos pensamentos. (312)

A realidade de Deus ultrapassa o alcance depalavras e conceitos. Tampouco Javé faria sempreo que seu povo esperava. Num trecho bastanteousado, particularmente pungente hoje em dia, oprofeta anseia por uma época em que o Egito e aAssíria também se tornariam o povo de Javé:“Bendito seja meu povo do Egito, e da Assíria,obra de minhas mãos, e de Israel, minha

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herança”, Javé diria. (313) Ele se tornara o símbolode uma realidade transcendente que fazia astacanhas interpretações de eleição pareceremmesquinhas e inadequadas.

A conquista do Império Babilônio por Ciro, rei daPérsia, em 539 AEC, aparentemente demonstrouque os profetas estavam certos. Ciro não impôs osdeuses persas aos novos súditos, mas adorou notemplo de Marduc, quando entrou, triunfante, naBabilônia. Também devolveu aos países de origemas efígies das divindades pertencentes aos povosconquistados pelos babilônios. Agora que o mundose acostumara a viver em gigantescos impériosinternacionais, Ciro provavelmente não precisourecorrer aos velhos métodos de deportação. Ofardo de governar seria mais leve se os povossubmetidos adorassem seus próprios deuses emseus próprios territórios. Por todo o Império, Ciroestimulou a restauração de templos antigos,alegando, repetidas vezes, que as divindades daspopulações locais o encarregaram dessa tarefa.Foi um exemplo da tolerância e largueza de visãode algumas formas de religião pagã. Em 538,promulgou um édito que permitia aos judeusretomarem a Judá e reconstruírem seu templo. Amaioria deles, porém, preferiu ficar: dali em diante,só uma minoria viveria na Terra Prometida. A Bíblianos diz que 42.360 judeus deixaram a Babilônia eTel Aviv e voltaram para Israel, onde impuseramseu novo judaísmo aos perplexos irmãos que láhaviam permanecido. (314)

10 – Tobias Churton:

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[…] Para começar, você teria de saber o que é“Barbelo”. Tal conhecimento não é compartilhadopor todos. Na verdade, ele não é compartilhadocomigo. Se “Barbelo” chegou a significar algumacoisa específica, no que se refere à sua etimologiaprecisa, o segredo foi muito bem mantido.

A palavra soa como se significasse algo. “Bar”pode significar parentesco em hebraico; “arba”sugere a palavra hebraica para o número 4; “El” éa palavra semita para “Deus”: o nome do deussupremo da religião dos cananeus em RasShamra. “Bel” (ou Baal) era o nome de um deuspai algumas vezes apresentado como inferior a“El”, mas adorado do mesmo modo peloscananeus e israelitas no Antigo Testamento. (315)

Dois Deuses?

O artigo sobre Judas na revista New Dawn(“Judas: The Greatest Disciple?”) foi escrito peloespecialista em assuntos esotéricos, RichardSmoley. Ele faz considerações interessantesacerca das possíveis origens judaicas da ideia do“Deus superior” e do “Deus inferior”, que é umacaracterística marcante do Evangelho de Judas.Smoley examina a obra da estudiosa do AntigoTestamento Margaret Barker. Ela apresenta ahipótese de que, durante o período do“Primeiro Templo” (por volta de 940-586 a.C.) dahistória judaica antiga, os judeus adoravam umtipo de trio divino: El, o Deus supremo;Yahweh, o Deus nacional; e Asherah, umaconsorte.

Segundo essa hipótese, Asherah foi descartada

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durante as reformas sacerdotais promovidas pelorei Josias (por volta de 640-609 a.C.), e ordenou-se que El e Yahweh fossem vistos não comouma entidade separada, mas como um Deusúnico. Barker acredita que esse período marcou amudança do henoteísmo (um deus supremo entreum círculo de deuses) para o monoteísmo (sóexiste um Deus; não há nenhum outro além dele).De acordo com a hipótese de Barker, essaestrutura reformada de adoração dupla dominariaas Escrituras hebraicas depois do século VII a.C.

Segundo essa ideia, Yahweh poderia servisto como um usurpador, que “ficou acima deseu nível” e se igualou a “El” (o termo genéricopara Deus e o Deus supremo de algunscananitas). Originalmente um “deus nacional”(toda nação teve um), Yahweh tornou-se adivindade absoluta nos interesses da unidadedivina, contra o politeísmo dos vizinhos dos judeus,os cananitas (e outros). Ou seja, “El” estavamuito perto para dar conforto e teve de ser“transformado em Yahweh”. Isso é uma teoria.

No que se refere à origem das divindadessuperiores e inferiores do “gnosticismo”, uma teoriasugere que houve um tipo de “movimento decontinuidade” das ideias judaicas mais antigas,apoiada por aqueles que se apegaram à estruturadualista de uma divindade suprema e umadivindade secundária, nacional. Eles chegaram aconsiderar a lei judaica inferior ao modo gnósticocomo um meio de alcançar o Deus supremo.Assim, a crítica posterior de Paulo à lei judaicareflete o contato com essa tradição de

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continuidade, ou o conhecimento dela. Como osassim chamados gnósticos seguiram Paulo em seuconceito das limitações da lei judaica, a distinçãognóstica das divindades superior e inferior tambémreflete uma evolução dos conflitos sacerdotais eproféticos do antigo reino judaico.

A hipótese é plausível, mas será difícilconvencer àqueles que recordam as narrativaspatriarcais concernentes a Abraão e sua crençaquintessencial em um Deus (mas qual?). Contudo,a questão sobre o quão verdadeiramentemonoteístas eram os ancestrais dos judeus éassunto de um debate considerável entre osacadêmicos – em especial porque a questão seaproxima muito das crenças e dos desejossinceros de muitas pessoas religiosas.

Sem uma máquina do tempo – e mesmo comtodo o progresso feito pela Arqueologia – nãotemos conhecimento absoluto das complexidadesdas crenças experienciadas no Oriente Médio1.500 anos, ou mais, antes de Cristo. Sabemos noque as pessoas passaram a acreditar, mas temospouco conhecimento sobre como elas passaram aacreditar nisso. Todos os relatos favorecem osinteresses dominantes daqueles cujas versões dosacontecimentos e crenças foram escritas. Isso valetanto para o Antigo Testamento quanto para oNovo. (316)

11 – C. W. Ceram (1915-1972):

A língua sumeriana é semelhante à dos antigos

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turcos (turanianos). Pelo tipo eles pertencem aoramo indo-europeu. Isto é tudo o que se sabe aseu respeito – tudo o mais é pura hipótese. Umpovo que habitualmente representava seusdeuses no alto da montanha, que os adoravaem lugares elevados e que, para esse fim,construía montanhas artificiais em terrasestranhas e planas, não podia provir das grandesplanícies. Teria vindo, talvez, das terras altas doIrã, ou de mais longe ainda, das montanhasasiáticas? Tal conclusão é apoiada pelo fato de aarquitetura sumeriana mais primitiva encontradaaté o presente na Mesopotâmia basear-se numatradição de construções de madeira, quenormalmente só poderiam ocorrer em terras altascobertas de espessa mata. (317)

12 – Maria Fernanda Vomero:

A religião de Abraão

São 14 capítulos do Gênesis dedicados aAbraão. Ao contrário de outros profetas epersonagens do Antigo Testamento, cuja sagacomeça a ser narrada a partir do nascimento,Abraão estreia já adulto. No início do relato, elevive com seu pai, Terá, seus irmãos e sua esposa,Sara, em Ur, uma das cidades mais importantes domundo antigo, localizada ao sul do rio Eufrates(veja mapa na página 44). Não tem filhos, porqueSara era estéril. Certo dia, Terá reúne Abraão, Sarae Ló, sobrinho do patriarca, e resolve seguir coma família para as terras de Canaã, que se

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estendiam do sudoeste da Síria até o Egito. Aochegarem à cidade de Harã, depois de umaviagem longa e exaustiva, decidem ficar por lámesmo. Terá morre. Abraão ouve pela primeira vezo chamado de Deus, que lhe promete terra edescendência. Sem pestanejar, ele deixa Harã eparte rumo à terra dos cananeus.

O relato bíblico narra o episódio como seAbraão fosse monoteísta desde sempre,segundo a concepção que temos hoje. Noentanto, o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos,evoca passagens da vida do patriarca que nãoconstam da Bíblia e que explicitam como se deua adesão ao Deus único e o rompimento com acrença dos antepassados. Abraão (ou Ibrahim,como é chamado no Islã), ainda jovem, inicia seuitinerário religioso recusando a adoração dosastros. Nega os deuses petrificados como estátuase parte para uma verdadeira batalha de fécontra a idolatria dos seus antepassados,destruindo os ídolos locais e pregando a existênciade um único Deus – como fez o profeta Maomémais de 20 séculos depois, quando o Estado Árabeestava se constituindo. O povo condenou Abraão àfogueira e, milagrosamente, ele se salvou. “Porrevelação divina, Abraão sabia que deveria divulgaro Deus único, o monoteísmo”, diz o xeque AliAbdune, da Associação Mundial da JuventudeIslâmica, em São Paulo. “A aceitação dele aochamado de Deus significou submissão total evoluntária à vontade divina. Abraão deixou tudo –por isso, se tornou o patriarca, o amigo de Deus.”

[…].

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[…] Achados arqueológicos mostram que ospovos da região do Crescente Fértil – comoficaram conhecidas as terras produtivas que seestendiam da antiga Mesopotâmia ao Egito –não acreditavam em um Deus único esoberano. No período patriarcal, que vai de2000 a.C. a 1500 a.C., vigorava o politeísmo. Osseminômades, porém, eram henoteístas, ou seja,adoravam apenas uma divindade, mas admitiam aexistência de outras. “Cada clã cultuava o seupróprio deus”, diz o pastor luterano MiltonSchwantes, cientista da religião da UniversidadeMetodista de São Paulo. “A cultura seminômadenão permitia uma diversidade grande deconcepções de mundo.”

Segundo Milton, o politeísmo surge porquevários subgrupos, dentro de uma grandepopulação, requisitam funções diferentes dadivindade – deus da guerra, deus da colheita,deus do poço… Como a população do clã épequena e homogênea, uma diferenciação comoessa poderia pôr em risco o grupo social. “Daí atendência a um só caminho religioso”, afirmaMilton. “Mas isso não significa que exista umpensamento teórico monoteísta no mundo antigo.Existe, sim, um monoteísmo de adesão, em quecada grupo adere a um único deus.”

Mulheres de Abraão

[…].

[…] Num dos mais belos trechos do Gênesis,Deus surge a Agar próximo a um poço, no meio dodeserto, e pede que ela volte para casa. (O “Deus

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do poço” é uma imagem bastante recorrente nareligiosidade do período patriarcal) Também a elaDeus promete: “Multiplicarei tua descendência detal forma e será tão numerosa que não se poderácontar”. Isso acontecerá por meio de Ismael, filhoque ela carrega no ventre. Agradecida, Agarnomeia o Deus que conversou com ela de El-roío “Deus que me vê”. (ver em Gn 16,15).

Abraão interpretado

Segundo o narrador do Gênesis, o Deus deAbraão é Javé (Iahweh, em hebraico). No entanto,os exegetas, como são chamados os estudiososdos textos sagrados, reconhecem que se trata deum anacronismo, um acréscimo posterior feito aorelato. No período patriarcal, a denominaçãomais comum de Deus seria El, comocomprovam achados arqueológicos da época.Para entender por que El (o Deus da vida) setornou Javé (o Deus libertador), você precisa voltarno tempo e mais precisamente ao início daformação do povo de Israel, entre 1250 a.C. e 1000a.C., quando os primeiros cinco livros da Bíblia,que também formam a Torá judaica, começaram aser redigidos.

Até aquela época, as narrativas erambasicamente orais. Circulavam várias históriassobre Abraão e os demais patriarcas. Aos poucos,esses relatos começaram a ser escritos,obviamente sofrendo influências literárias eideológicas de acordo com o momentohistórico que o povo vivia. A versão final doGênesis e dos demais livros data de 400 a.C.,mais de mil anos depois da época em que Abraão

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teria vivido. “Nesse período, houve um grandemovimento para considerar o povo de Israel umaraça única e Javé, o Deus único. Era precisoconsolidar a teocracia, e esse tipo de instituiçãoexigia a existência de um Deus absoluto parajustificar o poder do rei”, afirma o padre ShigeNakanose, biblista do Centro Bíblico Verbo, emSão Paulo.

Até então, havia vários nomes para Deus e Javéera um deles. Referia-se a uma divindademasculina cultuada ao lado da deusa Aserá emum período posterior ao patriarcal. Javé era oDeus adorado pelos grupos que escaparam daescravidão e do exílio e que se juntaram aoincipiente povo de Israel. Assim, quando as últimasversões do Gênesis foram escritas, os redatorestentaram substituir referências às divindadesda região de Canaã – como o nome El – porinvocações a Iahweh. (318)

13 – Sigmund Freud:

[…] Não devemos esquecer que Moisés foi nãoapenas o líder político dos judeusestabelecidos no Egito, mas também seulegislador e educador, forçando-os a pôr-se aserviço de uma nova religião, que até o dia dehoje é conhecida, por sua causa, como a religiãomosaica. Mas, é tão fácil a um homem isolado criaruma nova religião? E se alguém quisesseinfluenciar a religião de outra pessoa, maisnaturalmente não a converteria ele à sua própria?

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Decerto. De uma forma ou de outra, não faltava aopovo judeu no Egito uma religião. E se Moisés, quelhes forneceu uma nova, era egípcio, não se podecolocar de lado a suposição de que essa outranova religião era a egípcia. (319)

Era nossa esperança que a possibilidade deMoisés ser egípcio se mostrasse frutífera eesclarecedora em diversas direções, mas aprimeira conclusão que tiramos dessa hipótese– que a nova religião que ele deu aos judeusera a sua, egípcia – foi invalidada por nossacompreensão do caráter diferente e, emverdade, contraditório das duas religiões. (320)

[…] Em 1922, Emest Sellin fez uma descobertaque influenciou decisivamente nosso problema.Descobriu no profeta Oseias (segunda metade doséculo VIII a.C.) sinais inequívocos de umatradição segundo a qual Moisés, o fundador dareligião dos judeus, encontrou um final violentonum levante de seu povo refratário e obstinado,ao mesmo tempo que a religião por eleintroduzida era repudiada. Essa tradição,contudo, não se restringe a Oseias; reaparece namaioria dos profetas posteriores, e, na verdade,segundo Sellin, tornou-se a base de todas asexpectativas messiânicas mais tardias. Ao fim docativeiro babilônico, surgiu entre o povo judeu aesperança de que o homem que fora tãovergonhosamente assassinado retornasse dentreos mortos e conduzisse seu povo cheio deremorso, e talvez não apenas esse povo. Para oreino da felicidade duradoura. A vinculação óbvia

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disso com o destino do fundador de uma religiãomais tardia não nos interessa aqui. (321)

De todos os acontecimentos de temposprimitivos que posteriormente poetas, sacerdotes ehistoriadores empreenderam elaborar, um sesalienta, cuja supressão foi imposta pelos maisimediatos e melhores motivos humanos. Trata-sedo assassinato de Moisés. O grande líder elibertador, descoberto·por Sellin a partir dealusões nos escritos dos profetas. A hipótesede Sellin não pode ser chamada de fantástica; ébastante provável. Moisés. Derivando-se daescola de Akhenaten, não empregou métodosdiferentes dos que o rei usara; ele ordenou, forçousua fé ao povo (322). A doutrina de Moisés pode tersido inclusive mais dura do que a de seu mestre.Ele não tinha necessidade de manter o deus solarcomo apoio: a escola de On não possuíasignificação para seu povo estrangeiro. Moisés,como Akhenaten, defrontou-se com o mesmodestino que espera todos os déspotasesclarecidos. O povo judeu. Sob Moisés, era tãocapaz de tolerar uma religião tão altamenteespiritualizada e encontrar satisfação de suasnecessidades no que ela tinha a oferecer quantoos egípcios da XVIII Dinastia. Em ambos os casos.Aconteceu o mesmo: aqueles que tinham sidodominados e mantidos em falta levantaram-se elançaram fora o fardo da religião que lhes foraimposta. Mas, ao passo que os dóceis egípciosesperaram até que o destino removesse a figurasagrada de seu faraó, os selvagens semitastomaram o destino nas mãos e livraram-se de seu

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tirano (323).

Tampouco se pode sustentar que o textoremanescente da Bíblia não nos dá ciência de umfim desse tipo para Moisés. A descrição do“pastoreio no deserto”, que pode representar operíodo durante o qual Moisés governou, descreveuma sucessão de sérias revoltas contra suaautoridade. As quais também foram, por ordemde Javé, suprimidas mediante sangrentoscastigos. É fácil imaginar que uma dessasrebeliões terminou de maneira diferente daquelaque o texto sugere. A defecção do povo quanto ànova religião também é descrita no texto. Nahistória do bezerro de ouro. Nesse episódio.Através de uma mudança engenhosa. Orompimento das tábuas da lei (que deve serentendido simbolicamente: “ele rompeu a lei”) étransposto para o próprio Moisés, e sua indignaçãofuriosa é atribuída como motivo desse rompimento.(324)

14 – Liliane Crétè (?):

[…] Seu rei, Acaz, tinha na verdade se curvadode tal forma diante dos temidos assírios quechegou até a construir um espaço para seusdeuses no Templo. Os judeus se renderam àidolatria e à injustiça, insensíveis à voz exaltadado profeta Isaías, que os estimulava a sereformarem. (325)

Seguindo a obra de Amós, de Oseias, de Isaías

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e de Miqueias, Jeremias levou mais longe suasdoutrinas, afirmando que Jeová não era somenteDeus de Israel, mas o do Universo, responsávelpelo destino de todos os povos. […]. (326)

[…] A guerra triunfara e Jerusalém caiu em julhode 586 a.C. O Templo foi devastado, depoisqueimado e as muralhas destruídas. […] O tempodo exílio propriamente dito foi de meio século. Em539 a.C., a Babilônia sucumbiu ao poder do reiCiro, fundador do império persa. No ano seguinteCiro publicou um édito autorizando os exilados avoltarem para suas terras. Mas nem todosaproveitaram a oferta, alguns preferirampermanecer. Os que voltaram levaram uma novaconcepção de suas relações com Jeová, o queresultou no estabelecimento do judaísmo. (327)

Apesar de que os relatos se referiam ao“cativeiro em Babilônia, o exílio foi suave. Osjudeus não foram jogados em prisões nemforçados à escravidão. Graças à liberdade que lhesfoi concedida, construíram casas, plantaram jardinse se corresponderam com seus compatriotas queficaram na Palestina. Alguns até ficaram ricos. Elesconservaram sua organização em famílias e emclãs; tiveram chefes religiosos e mantiveramvivos seus costumes e ritos. Com o pão de cadadia garantido pelo trabalho, os exilados nãoparavam de pensar em seu Deus e em sua pátria,indissociáveis em sua alma. (328)

Apesar de hostil às “nações” das quais eleanunciava a exterminação final e aos

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“incircuncidados de coração e incircuncidados dacarne”, que ele excluiu do futuro templo, o profetaEzequiel utilizou, como diz Alfred Lods, “grandequantidade de mitos estrangeiros e de figurasemprestadas da arte babilônica”, entre eles acrença na montanha de Deus e no jardim do Éden(Ezequiel 28,13; 16). Também o mito dos setesdeuses planetários, transformados eminstrumentos de vingança de Jeová, que eramfiguras de anjos semi-animais que levavam o tronodivino (Ezequiel 10,9-22). Essas figuras foramencontradas mais tarde, nos autores doApocalipse. (329)

[…] O Segundo Isaías também foi consolador:anunciou ao povo no exílio o perdão de Jeová e arenovação da história primordial. Disse que oshebreus atravessariam um novo deserto, mas umdeserto ao longo do qual o Deus único do Universofaria fontes brotarem e árvores crescerem. Esseprofeta ressaltou a transcendência douniversalismo e fez do conceito monoteístauma doutrina. Talvez por estar sob a influênciababilônica, colocou constantemente esse Deusúnico e universal em relação com o Cosmos, deque era, ao mesmo tempo, Criador, Conservador eGovernador. (330)

15 – Bertrand Russell (1872-1970):

No período de cativeiro e, durante algumtempo, antes e depois desse período, a religião

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judaica passou por desenvolvimento bastanteimportante. Parece não ter havido, em suaorigem, grande diferença, do ponto de vistareligioso, entre os israelitas e as tribosadjacentes. Jeová era, a princípio, apenas umdeus tribal que favorecia os filhos de Israel masnão se negava que havia outros deuses e queseu culto era habitual. Quando o primeiromandamento diz: “Não terás outro Deus senão eu”,está dizendo algo que era uma inovação no tempoimediatamente anterior ao cativeiro. Isto é evidenteatravés de diversos textos dos primeiros profetas.Foram os profetas dessa época que ensinaram,pela primeira vez, que a adoração dos deusespagãos era pecado. Para se conseguir a vitórianas constantes guerras daquele tempo,proclamavam essencial o favor de Jeová; e Jeováretiraria seu favor, se outros deuses fossemtambém venerados. Jeremias e Ezequiel,principalmente, parecem ter inventado a ideia deque todas as religiões, exceto uma, eram falsas,e que o Senhor castiga a idolatria.

Algumas citações ilustrarão esses ensinamentose a preponderância das práticas pagãs contra asquais protestavam. “Acaso não vês tu o que estesfazem nas cidades de Judá, e nas praças deJerusalém? Os filhos ajuntam a lenha, e os paisacendem o fogo, e as mulheres misturam amanteiga como os mais adjuntos necessários parafazerem tortas à rainha do céu (Ester), e parasacrificarem a deuses estranhos, e para meprovocarem a ira” (331). O Senhor está irritado comisso. “E edificaram os altos de Tofeth, que está novale do filho de Ennom, para queimarem no fogo

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os seus filhos e as suas filhas; o que eu nãomandei, nem pensei no meu coração”. (332)

Há uma passagem muito interessante emJeremias, na qual denuncia os judeus no Egitopela sua idolatria. Ele próprio viveu entre elesdurante algum tempo. O profeta diz aos refugiadosjudeus no Egito que Jeová os destruirá a todos,porque suas mulheres queimaram incenso a outrosdeuses. Mas eles se negam a escutá-lo, dizendo:“Mas pontualmente cumpriremos toda a palavraque sair da nossa boca, de sacrificarmos à rainhado céu, e de lhe oferecermos libações, como nós otemos feito, e nossos pais, nossos reis, e nossospríncipes, nas cidades de Judá e nas praças deJerusalém; e tivemos fartura de pão, e nos ia bem,e não vimos mal algum.” Mas Jeremias lhesassegura que Jeová notou essas práticas idólatras,e que o infortúnio havia chegado por causa delas.“Eis aqui estou eu que jurei pelo meu grandenome, diz o Senhor, que de nenhum modo serápronunciado mais o meu nome por boca denenhum homem judeu em toda a terra do Egito…Eis aqui estou eu, que vigiarei sobre vós para mal,e não para bem; e todos os varões de Judá, que hána terra do Egito, perecerão à espada, e de fome,até que todos sejam consumidos”. (333)

Ezequiel mostra-se igualmente chocado comas práticas idólatras dos judeus. O Senhor,numa visão, mostra-lhe mulheres, à porta norte doTemplo, chorando por Tammuz (uma deidadebabilônica); depois, mostra-lhe “maioresabominações”, vinte e cinco homens à porta dotemplo adorando o Sol. O Senhor declara:

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“Desafogarei, pois, o meu furor contra ti: e não tepoupará o meu olho, nem me apiedarei de ti: eembora gritem em meus ouvidos com altas vozes,não os ouvirei”. (334)

A ideia de que todas as religiões, excetouma, são perversas, e que o Senhor castiga aidolatria, foi, ao que parece, inventada poresses profetas. Os profetas, de modo geral, eramnacionalistas ferrenhos, e aguardavam o dia emque o Senhor destruiria inteiramente os gentios.

O cativeiro prestou-se para justificar asdenúncias dos profetas. Se Jeová era todo-poderoso e os judeus o seu Povo Escolhido, seussofrimentos só podiam ser explicados pela suamaldade. A psicologia é a da correção paterna: osjudeus tinham de purificar-se pelo castigo. Sob ainfluência dessa crença, desenvolveram nodesterro uma ortodoxia muito mais rígida e muitomais nacionalmente exclusiva do que a que haviapredominado enquanto eram independentes. Osjudeus que ficaram para trás e não foramtransplantados a Babilônia não experimentaramessa modificação no mesmo grau. Quando Esdrase Nehemias voltaram para Jerusalém depois docativeiro, ficaram escandalizados ao verificarque haviam sido comuns os matrimôniosmistos, e dissolveram todos esses casamentos.(335)

Os judeus distinguiam-se de todas as outrasnações da antiguidade pelo seu inflexível orgulhonacional. Todas as outras, quando conquistadas,aquiesciam. Tanto em seu íntimo comoexteriormente; somente os Judeus conservavam a

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crença em sua própria preeminência e a convicçãode que seus infortúnios eram devidos à ira deDeus, porque haviam deixado de conservar apureza de sua fé e de seu ritual. Os livroshistóricos do Antigo Testamento, que foram, emsua maioria, compilados depois do cativeirodão uma impressão errônea, já que sugerem queas práticas idólatras contra as quais os profetasprotestaram eram uma decadência da primitivaseveridade, quando, na verdade, a primitivaseveridade jamais existiu. Os profetas eraminovadores, num grau muito maior do que o queaparece na Bíblia quando não é lida de maneirahistórica.

[…].

O que temos como Livro de Isaías é obra dedois profetas diferentes, um anterior ao desterro eoutro posterior. O segundo destes, que é chamado,pelos estudantes bíblicos, Dêutero Isaías, é o maisnotável dos profetas. É o primeiro que se refere aoSenhor como tendo dito: “Não há outro Deus senãoeu”. Acredita na ressurreição do corpo, talvezcomo resultado da influência persa. Suasprofecias relativas ao Messias foram, mais tarde,os principais textos do Antigo Testamento utilizadospara mostrar que os profetas previram a vinda deCristo.

[…].

Depois de Esdras e Nehemias, os judeusdesapareceram por um momento da história. OEstado judeu sobreviveu como teocracia, mas seuterritório era muito diminuto, somente uma região

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de dez ou quinze milhas em torno de Jerusalém,segundo E. Bevan. (336) Depois de Alexandre,tornou-se um território disputado entre osptolomeus e os selêucidas. Isso, no entanto,raramente provocou lutas no verdadeiro territóriojudeu, deixando os judeus livres, por muito tempo,para exercer a sua religião.

[…].

Essa tranquila existência de cômoda virtude foiinterrompida bruscamente pelo rei selêucidaAntíoco IV, que estava resolvido a helenizar todosos seus domínios. Em 175 A.C., estabeleceu umginásio em Jerusalém e ensinou os jovens a usargorros gregos e a praticar o atletismo. Foiajudado nisso por um judeu helenizadochamado Jasão, ao qual fez alto sacerdote. Aaristocracia sacerdotal tornara-se frouxa, sentindo-se atraída pela civilização grega; mas havia umpartido que se lhe opunha com veemência,chamado “Hasidim” (que significa “Santo”), e queera forte entre a população rural. Quando, em 170A.C., Antíoco se envolveu em guerra com o Egito,os judeus se rebelaram. Diante disso, Antíocoretirou os vasos santos do Templo e colocou nele aimagem de Deus. Identificava Jeová com Zeus,seguindo uma prática que fora bem-sucedidaem todos os outros lugares. (337) Resolveuextirpar a religião judaica, acabando com acircuncisão e com a observância das leisrelativas aos alimentos. A tudo isso Jerusalém sesubmeteu, mas, fora de Jerusalém, os judeusresistiram com a máxima obstinação.

[…].

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Foi a esse tempo que, entre os judeus,muitos passaram a crer na doutrina daimortalidade. Pensava-se que a virtude seriarecompensada aqui na Terra; mas a perseguição,que recaiu sobre os mais virtuosos, tornou evidenteque esse não era o caso. A fim de salvaguardar ajustiça divina, portanto, era necessário crer-se nasrecompensas e castigos na vida futura. Estadoutrina não era adotada por todos os judeus; notempo de Cristo, os saduceus ainda a rejeitavam.Mas, nessa altura, constituíam um pequeno partidoe, em tempos posteriores, todos os judeusacreditavam na imortalidade.

A revolta contra Antíoco foi chefiada por JudasMacabeu, um hábil comandante militar querecapturou primeiro Jerusalém (164 A.C.),lançando-se depois à agressão. Às vezes, matavatodos os varões; outras vezes, circuncidava-os àfôrça. Seu irmão Jônatas, que foi feito altosacerdote, teve permissão para ocupar Jerusalémcom uma guarnição, e conquistou parte daSamaria, adquirindo Joppa e Acra. Realizounegociações bem-sucedidas com Roma,assegurando completa autonomia. Sua família erade altos sacerdotes até Herodes, sendo conhecidacomo a dinastia harmônia.

Ao suportar e resistir à perseguição, os judeusde então revelaram imenso heroísmo, embora emdefesa de coisas que não nos parecemimportantes, tais como a circuncisão e a proibiçãode se comer carne de porco.

O tempo da perseguição por Antíoco IV foicrucial na história judaica. Os judeus da

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Dispersão estavam, nesse tempo, se tornandocada vez mais helenizados; os judeus da Judeiaeram poucos; e mesmo entre eles os ricos epoderosos se achavam inclinados a aquiescer àsinovações gregas. Não fosse a heroica resistênciado Hasidim, e a religião judaica poderia haverfacilmente perecido. […].

Os próprios macabeus, todavia, não eramadmirados pelos últimos judeus, porque suafamília, constituída de altos sacerdotes, adotou,depois de seus êxitos, uma conduta mundana econtemporizadora. A admiração era pelos mártires.O Quarto Livro dos Macabeus, escrito,provavelmente, em Alexandria, mais ou menos aotempo de Cristo, ilustra tanto este como outrospontos interessantes. Apesar de seu título, não serefere, em parte alguma, aos macabeus, masrelata a surpreendente fortaleza, primeiro de umvelho e, depois, de sete irmãos jovens, que foramtodos torturados e depois queimados por Antíoco,enquanto a mãe, que se achava presente, osexortava a que se mantivessem firmes. O rei, aprincípio, procurou conquistá-los pelabenevolência, dizendo-lhes que, se apenasconsentissem em comer porco ele os tomaria sobsua proteção, fazendo com que tivessem êxito emsuas carreiras. Quando recusaram mostrou-lhes osinstrumentos de tortura. Mas eles permaneceraminabaláveis, dizendo-lhe que ele sofreriatormentos eternos depois da morte, ao passoque eles herdariam para sempre a bem-aventurança. Um a um, na presença uns dosoutros e na de sua mãe, foram primeiro exortadosa comer porco e, quando se negaram, torturados e

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mortos. No fim, o rei voltou-se para os soldados edisse-lhes que esperava que eles aproveitassemaquele exemplo de coragem. O relato é,certamente, embelezado pela lenda, mas éhistoricamente verdadeiro que a perseguição foisevera e suportada com heroísmo – como tambémque os seus pontos principais eram a circuncisão eo comer carne de porco.

Esse livro também é interessante sob outroaspecto. Embora o autor seja, evidentemente, umjudeu ortodoxo, emprega a linguagem da filosofiaestoica e procura provar que os judeus vivemcompletamente de acordo com os seuspreceitos. O livro começa com a seguintesentença:

“Filosófica no mais alto grau é a questão que meproponho discutir, isto é, se a Razão Inspirada temdomínio supremo sobre as paixões e, para afilosofia disso, suplicaria seriamente a vossa maisviva atenção”.

Os judeus alexandrinos estavam dispostos, nafilosofia, a aprender dos gregos, mas aderiam comextraordinária tenacidade à Lei, principalmente acircuncisão, a observância do Sabá e a abstinênciade carne de porco e outros alimentos impuros.Desde o tempo de Nehemias até depois da quedade Jerusalém, no ano 70 da nossa era, aimportância que atribuíam à Lei aumentouconstantemente. Já não toleravam os profetas quetinham algo de novo a dizer. Aqueles dentre elesque se sentiam impelidos a escrever no estilo dosprofetas pretendiam haver descoberto um velholivro de Daniel, Salomão ou algum outro antigo de

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impecável respeitabilidade. Suas peculiaridadesrituais os mantinham unidos como nação, mas aênfase quanto à Lei lhes destruiu, gradualmente, aoriginalidade, tornando-os extremamenteconservadores. Essa rigidez torna sumamentedigna de nota a revolta de São Paulo contra odomínio da Lei. (338)

16 – Israel Finkelstein e Niel Asher

Silbermar:

Religião tradicional de Judá

Os livros dos Reis são explícitos na suadescrição de apostasia, que provocou tantoinfortúnio no reino de Judá. Essa apostasia éregistrada em detalhes típicos no relato sobre oreinado de Roboão:

E Judá fez o mal diante dos olhos do SENHOR,e o povo provocou o seu ciúme e a sua ira com ospecados que cometeram, muito mais do que seuspais os fizeram. Porque eles também construíramlugares elevados, pilares e postes sagrados[Asherim] em cada colina e sob cada árvore dosbosques verdes; e houve também prostitutosmasculinos do culto em sua terra. Eles secomportaram de acordo com todas asabominações das nações que o SENHOR destruiudiante dos filhos de Israel. (1 Reis 14,22-24)

Como na época do rei Acaz, cerca de duzentosanos mais tarde, a natureza dos pecados parecia

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ser substancialmente a mesma. Acaz foi apóstatanotório, que seguiu os passos ímpios dos reisde Israel e inclusive queimou seu filho comooferenda (2 Reis 16,2-4).

Estudiosos bíblicos demonstraram queessas não eram práticas pagãs, isoladas earbitrárias, mas parte de um complexo derituais que apelavam para os poderescelestiais, para a fertilidade e o bem-estar dopovo e da terra. Em sua representação externa,eles se parecem com as práticas usadas pelospovos vizinhos para honrar e receber asbênçãos de outros deuses. De fato, os achadosarqueológicos de figuras de barro, de altares deincenso, de vasos de libação e de plataformas deoferendas, em todo o território de Judá, sugeremque a prática da religião era bem variada,geograficamente descentralizada e, comcerteza, não restrita à adoração apenas deYHWH no Templo de Jerusalém.

De fato, para Judá, com sua burocracia e suasinstituições nacionais relativamentesubdesenvolvidas, os rituais religiosos eramrealizados em duas arenas distintas, algumasvezes trabalhando em conjunto, outras em conflitoaberto. A primeira arena era o Templo deJerusalém, sobre o qual existe abundantedescrição bíblica de vários períodos mas (como osítio foi obliterado mais tarde por construçõesposteriores) quase nenhuma evidênciaarqueológica. O segundo foco da prática religiosaera dividido entre os clãs espalhados por toda aárea rural. Ali, redes complexas de relações de

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parentesco dominavam todas as fases da vida,incluindo a religião. Rituais para a fertilidade daterra e as bênçãos dos antepassados davamesperança ao povo, para o bem-estar de suasfamílias, e santificavam a posse do campo edas terras de pastos de suas aldeias.

O historiador bíblico Baruch Halpem e oarqueólogo Lawrence Stager compararam asdescrições bíblicas da estrutura dos clãs com osremanescentes de assentamentos nas áreasmontanhosas da Idade do Ferro e identificarampadrão arquitetônico distinto em extensivosconjuntos familiares, cujos habitantes talvezrealizassem rituais que algumas vezes eram bemdiferentes daqueles do Templo de Jerusalém.Costumes e tradições locais sustentam que oshabitantes de Judá herdaram suas casas, sua terrae mesmo seus túmulos do seu Deus e dos seusantepassados. Os sacrifícios eram oferecidos emsantuários, dentro das propriedades familiares, emtúmulos das famílias e em altares abertos em todaa área rural. Esses lugares de adoraçãoraramente eram perturbados ou destruídos,mesmo pelos reis mais “piedosos” e maisagressivos. Assim, não é de admirar que a Bíbliaobserve repetidas vezes que “os lugares altosnão foram destruídos”.

A existência de lugares elevados – ou altaresem campo aberto – e outras formas de veneraçãoancestral ou familiar a deuses não eram, como oslivros dos Reis afirmam, a apostasia de uma féantiga e mais pura. Era parte de uma tradiçãointemporal dos colonos assentados na zona rural

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montanhosa de Judá, que veneravam YHWHjunto com uma variedade de deusas e deuses,conhecidos e adaptados de cultos de povosvizinhos. Em resumo, YHWH era venerado deuma ampla variedade de modos e, algumas vezes,retratado como possuindo grande séquito celestial.Da evidência indireta e definitivamente negativados livros dos Reis, aprendemos que ossacerdotes na área rural também queimavamincenso, com regularidade, nos altares ao arlivre, para o sol, a lua e as estrelas.

Como os lugares elevados erampresumivelmente áreas abertas ou cumes naturaisde colinas, não foram identificados traços de suaexistência. Assim, a evidência arqueológica maisclara e definitiva da popularidade desse tipo deprática religiosa, em todo o reino, é a descobertade centenas de figuras de barro de deusas dafertilidade nuas em todos os sítios da antigamonarquia em Judá. Ainda mais sugestivas são asinscrições encontradas no antigo sítio doséculo VIII de Kuntillet Ajrud, no nordeste doSinai, sítio que mostra laços culturais com o reinodo norte. Essas inscrições parecem se referir àdeusa Asherat como sendo a esposa de YHWH.E, antes que se diga que a condição matrimonialde YHWH era simplesmente uma alucinaçãopecaminosa do norte, uma fórmula de certo modosimilar falando de YHWH e da sua Asherat aparecenuma inscrição monárquica posterior, da região doShephelah, de Judá.

Esse culto bem enraizado não era restrito àsáreas rurais. Existe ampla informação bíblica e

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arqueológica de que o culto sincrético deYHWH floresceu em Jerusalém, mesmo nostempos monárquicos tardios. As condenaçõesde vários profetas de Judá deixam muito claro queYHWH era venerado em Jerusalém junto comoutras deidades, como Baal, Asherat, o sol, alua, as estrelas e os anjos do céu, e mesmo asdeidades nacionais das terras e naçõesvizinhas. Da crítica bíblica a Salomão (refletindotalvez realidades posteriores da monarquia)conhecemos a veneração a Melcom, Amon,Camos, Moab e a Ashtoret de Sidon, em Judá (1Reis 11,5; 2 Reis 23,13). Jeremias (11,13) nos falaque o número de deidades veneradas em Judá eraigual ao número de suas cidades, e que o númerodos altares em Jerusalém era igual ao número detendas nos bazares da capital. Além disso, objetosdo culto dedicado a Baal, a Asherat, ao sol, àlua, às estrelas e aos anjos do céu estavaminstalados no Templo de YHWH, em Jerusalém.O livro de Ezequiel descreve com detalhestodas as abominações praticadas no Temploem Jerusalém, incluindo a veneração ao deusTammuz, da Mesopotâmia.

Assim, os grandes pecados de Acaz e de outrosreis ímpios de Judá não deveriam ser consideradosexcepcionais, de nenhuma maneira. Essesgovernantes apenas permitiram que as tradiçõesrurais continuassem inalteradas. Eles e muitos deseus súditos expressavam sua devoção a YHWHem ritos realizados em incontáveis túmulos,santuários e lugares elevados em todo oterritório do reino, com a ocasional esubsidiária veneração a outros deuses. (339)

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17 – Daniel Lazare (jornalista):

Sobre um seu artigo publicado em março de

2002 na revista americana Harper's, Tom Harpur

assim comenta:

De acordo com as descobertas de Lazare, omonoteísmo judaico – isto é, a adoração exclusivade uma divindade semítica chamada YHWA, ouIavé (Jeová), não “coalesceu” completamenteaté um ponto entre uma conquista assíria doreino do norte de Israel, em 722 a.C. e aconquista babilônica do reino do sul de Judá,em 586”. (340)

18 – Eliane Pagels (professora de história da

religião):

O partido que exigia que Israel fosse leal“apenas ao Senhor”, incluindo profetas como Amós(c. 750 a.C.), Isaías (c. 730 a.C.) e Jeremias (c.600 a.C.), denunciava acima de tudo osisraelitas que adotavam costumes estrangeiros,em especial a adoração de outros deuses. (341)(342)

19 – Reinaldo José Lopes (jornalista de

Ciência da Folha de S. Paulo):

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Do seu interessante artigo “Deus bíblico pode

ser fusão de vários deuses pagãos, dizem

especialistas”, publicado no site G1 (Globo.com) (343),

transcrevemos:

Memórias de Ugarit

Os cananeus não deixaram para trás umaherança literária tão rica quanto a Bíblia. Noentanto, poucos quilômetros ao norte de Canaã, naatual Síria, ficava a cidade-Estado de Ugarit, cujalíngua e cultura eram praticamente idênticas às deseus primos do sul. Ugarit foi destruída porinvasores bárbaros em 1200 a.C., mas osarqueólogos recuperaram numerosas inscrições dacidade, nas quais dá para entrever uma mitologiaque apresenta semelhanças (e diferenças)impressionantes com as narrativas da Bíblia. “Porisso, Ugarit é uma parte importante do fundocultural que, mais tarde, daria origem às tribos deIsrael”, resume Christine Hayes, professora deestudos clássicos judaicos da Universidade Yale(EUA).

Uma das figuras mais proeminentes nessestextos é El – nome que quer dizer simplesmente“deus” nas antigas línguas da região, mas quetambém se refere a uma divindade específica, opatriarca, ou chefe de família, dos deuses.“Patriarca” é a palavra-chave: o El de Ugarit temparalelos muito específicos com a figura de Deusdurante o período patriarcal, retratado no livro doGênesis e personificado pelos ancestrais dos

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israelitas: Abraão, Isaac e Jacó.

Nesses textos da Bíblia há, por exemplo,referências a El Shadday (literalmente “El daMontanha”, embora a expressão normalmente sejatraduzida como “Deus Todo-Poderoso”), El Elyon(“Deus Altíssimo”) e El Olam (“Deus Eterno”). Ocurioso é que, na mitologia ugarítica, El também éimaginado vivendo no alto de uma montanha evisto como um ancião sábio, de vida eterna.

Tal como os patriarcas bíblicos, El é umaespécie de nômade, vivendo numa versão divinada tenda dos beduínos; e, mais importante ainda,El tem uma relação especial com os chefes dosclãs, tal como Abraão, Isaac e Jacó: eles osprotege e lhes promete uma descendêncianumerosa. Ora, a maior parte do livro do Gênesis éo relato da amizade de Deus com os patriarcasisraelitas, guiando suas migrações e fazendo apromessa solene de transformar a descendênciadeles num povo “mais numeroso que as estrelasdo céu”.

Israel ou “Israías”?

Outros dados, mais circunstanciais, traçamoutros elos entre o Deus do Gênesis e El: numdos trechos aparentemente mais antigos dolivro bíblico, Deus é chamado pelo epítetopoético de “Touro de Jacó” (frase às vezestraduzida como “Poderoso de Jacó”), enquantoa mitologia ugarítica compara Elfrequentemente a um touro. Finalmente, opróprio nome do povo escolhido – Israel,originalmente dado como alcunha ao patriarca

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Jacó – carrega o elemento “-el”, lembra Airton Joséda Silva, professor de Antigo Testamento do Centrode Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto(SP).

“É o nome do deus cananeu, mais um indício deque Israel surge dentro de Canaã, por um processogradual”, diz Silva. Ele argumenta que, se Javéfosse desde sempre a divindade dos israelitas, onome desse povo seria “Israías”. Isso porque oelemento adaptado como “-ías” em português (algocomo -yahu) era, em hebraico, uma forma contratado nome “Javé”. Curiosamente, o elemento setorna dominante nos chamados nomes teofóricos(ligados a uma divindade) dados a israelitas noperíodo da monarquia, a partir dos séculos 10 a.C.e 9 a.C.

E esse nome (provavelmente Yahweh emhebraico; a sonoridade original foi obscurecida pelocostume de não pronunciar a palavra por respeito)é um enigma e tanto. As tradições bíblicas são umtanto contraditórias, mas, pelo menos, uma fontedas Escrituras afirma que Javé só deu a conhecerseu verdadeiro nome aos israelitas quandoconvocou Moisés para ser seu profeta e arrancaros descendentes de Jacó da escravidão no Egito.(A Moisés, Deus diz que apareceu a Abraão, Isaace Jacó como “El Shadday”.) O problema é queninguém sabe qual a origem de Javé, o qual nuncaparece ter sido uma divindade cananeia,exatamente como diz o autor bíblico. (344)

Como se pode observar, muito do que foi dito

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anteriormente, está comprovado no que estes

autores falam, demonstrando que a nossa ideia não

é tão louca assim.

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Conclusão

Diante de tudo o que aqui colocamos não nos

resta senão a única alternativa em afirmar que os

hebreus, partindo-se dos patriarcas, praticavam o

politeísmo, daí evoluindo para o henoteísmo, para,

finalmente, numa época mais recente, adotarem o

monoteísmo. Sabemos que isso contrariará alguns

mitos estabelecidos e, fatalmente, irritará os

dogmáticos que não admitem pensamentos

contrários aos seus.

O que nos deixa bem tranquilo é que a

comprovação de tudo quanto foi falado, está bem

argumentado no Dicionário Bíblico Universal, na

explicação do termo politeísmo, do qual

transcrevemos:

Enquanto Deus exclui todo rival (Ex 20,5), Israelé constantemente levado a reconhecer que cadapovo (Jz 11,24) tem seu deus (o que se chamahenoteísmo), ou a oferecer um culto a diversasdivindades. Segundo Js 24, a tendência politeístacaracterizava já a atitude religiosa dosantepassados. Ez (20,7-9) pensa que, durante suaestadia no Egito, os hebreus se entregaram ao

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culto de diversas divindades. O tempo do desertofoi o tempo da corrupção pagã (Nm 25) e quando opovo se instalou em Canaã, a fé javista foiconstantemente misturada com característicaspoliteístas (Jz 6,25-32). Os profetas fizeram tudopara arrancar pela raiz essa tendência permanenteque se manifestava até no templo (2Rs 23,4-11; Ez8): mas foi em vão. A população que se instala naPalestina, na volta do exílio, ainda é politeísta (Is65-66). Finalmente, a perseguição de AntíocoEpífanes provoca a rejeição definitiva de todopoliteísmo. (345)

Então, fica claro que só a partir da perseguição

de Antíoco Epífanes é que o povo hebreu largou de

vez do politeísmo.

Por outro lado, concordamos com a opinião de

que “as religiões são seletivas em suas memórias e

procuram conduzir as pessoas a crerem naquilo que

consideram o mais importante para o seu proveito,

obviamente. […].” (346), por isso, os seus líderes,

utilizando-as como forma de impor suas concepções

teológicas, não se preocupam com a verdade.

Entretanto, a verdade deve ser restabelecida,

doa a quem doer – somente pessoas de mente

fechadas sofrem os seus efeitos –, até mesmo

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porque continua valendo esta recomendação de

Jesus: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos

libertará” (Jo 8,33).

Estamos plenamente de acordo com Ernest

Renan (1823-1892), escritor, filósofo e historiador

francês:

Eu escrevo para propor minhas ideias aos quebuscam a verdade. Quanto às pessoas quenecessitam, no interesse de sua crença, que euseja um ignorante, um espírito falso ou um homemde má-fé, não tenho a pretensão de modificar seusjulgamentos. Se essa opinião é necessária aosossego de algumas pessoas piedosas, terei omaior escrúpulo em desiludi-las. (347)

E por falar em pessoas piedosas, lembramos

do renomado filósofo do século XVII, Baruch de

Espinosa (1632-1677), que, sabiamente, disse:

Julgam que é piedoso não se fiar na razão e nopróprio juízo e que é ímpio duvidar daqueles quenos transmitiram os livros sagrados: mas isso nãoé piedade, é pura demência! Afinal, pergunto eu, oque é que os preocupa? O que é que receiam?Porventura a religião e a fé só podem ser mantidasse os homens forem totalmente ignorantes edespedirem definitivamente a razão? Se é isso o

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que pensam, então é porque a Escritura lhesinspira mais medo que confiança. (348)

Pensamento de sábio é o que não nos falta; eis

mais um que vale a pena reproduzir:

Não creiais em coisa alguma pelo fato de vosmostrarem o testemunho escrito de algum sábioantigo. Não creiais em coisa alguma com base naautoridade de mestres e sacerdotes. Aquilo, porém,que se enquadrar na vossa razão e, depois deminucioso estudo, for confirmado pela vossaexperiência, conduzindo ao vosso próprio bem e aode todas as outras coisas vivas: A isso aceitaicomo Verdade. Por isso, pautai a vossa conduta.(Gautama Buda, c. 500 a.C.) (349)

Apenas queremos reforçar que só temos

interesse em demonstrar a verdade, embora, para

fazer isso, nós tenhamos que pôr em dúvida a

descrição de alguns fatos constantes da Bíblia; em

função disso, fiquem tranquilos os bibliólatras, pois

não somos contra os princípios morais nela contidos,

ainda que essa dúvida possa ser considerada como

uma contestação àquilo que alguns consideram

como sendo o seu livro sagrado. Não é contra o seu

significado de símbolo de um seguimento religioso,

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mas contra fatos contraditórios existentes em seu

texto, que não concordamos.

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Dados biográficos do autor

Paulo da Silva Neto Sobrinho é naturalde Guanhães, MG. Formado em CiênciasContábeis e Administração de Empresaspela Universidade Católica (PUC-MG).Aposentou-se como Fiscal de Tributos pelaSecretaria de Estado da Fazenda de MinasGerais. Ingressou no movimento Espíritaem Julho/87.

Escreveu vários artigos que forampublicados em seu site www.paulosnetos.net e alguns outrossites Espíritas na Web.

Livros publicados:

a) impressos: 1) A Bíblia à Moda da Casa; 2) Alma dosAnimais: Estágio Anterior da Alma Humana?; 3) Espiritismo,Princípios, Práticas e Provas; 4) Os Espíritos Comunicam-se naIgreja Católica; 5) As Colônias Espirituais e a Codificação; e 6)Kardec & Chico: 2 missionários. Vol. I;

b) digitais: 1) Espiritismo e Aborto; 2) Kardec & Chico: 2missionários. Vol. II, 3) Kardec & Chico: 2 missionários. Vol. III;4) Racismo em Kardec?; 5) Espírito de Verdade, quem seriaele?; 6) A Reencarnação tá na Bíblia; 7) Manifestações deEspírito de pessoa viva (em que condições elas acontecem); 8)Homossexualidade, Kardec já falava sobre isso; 9) Chico Xavier,verdadeiramente uma alma feminina; 10) Os nomes dos títulosdos Evangelhos designam seus autores?; 11) Apocalipse:autoria, advento e a identificação da besta; 12) Francisco deAssis e Chico Xavier seriam o mesmo Espírito?; 13) A mulher naBíblia; 14) Todos nós somos médiuns?; 15) Os seres do invisívele as provas ainda recusadas pelos cientistas; 16) O Perispírito e

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as polêmicas a seu respeito; 17) Allan Kardec e a lógica dareencarnação; 18) O fim dos tempos está próximo?; 19)Obsessão, processo de cura de casos graves; 20) Umbral, hábase doutrinária para sustentá-lo?; 21) A aura e os chakras noEspiritismo; 22) Os Quatro Evangelhos, obra publicada porRoustaing, seria a revelação da revelação?; 23 – Espiritismo:Religião sem dúvida; e 24) Allan Kardec e suas reencarnações.

Belo Horizonte, MG.

e-mail: [email protected]

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1 CHAMPLIN e BENTES, 1995c, p. 82.2 CHAMPLIN e BENTES, 1995d, p. 346.3 CHAMPLIN e BENTES, 1995e, p. 321.4 RENAN, 2004, p. 19.5 Bíblia Sagrada Vozes, p. 1513.6 Link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cana%C3%A3.7 Nota da Transcrição (N.T.): Essas terras também eram

conhecidas como Padã-Arã, motivo pelo qual foi aplicado onome de “arameus” a Abraão e seus parentes. Cf. Gn 25:20;28:5; 31:20,24 e Dt 26:5. Além disso, Labrão falava oaramaico. Cf. Gn 31:47.

8 N. T.: G. E. Wright, Biblical Archaeology (Filadelfia:Westminster Press, 1957), pág. 41, observa: “Seja como for,podemos dizer com segurança que Harã era o lar com oqual os patriarcas estiveram mais intimamente ligados,havendo pouca evidência de qualquer influência sobre suastradições da parte do sul da Mesopotâmia”.

9 SCHULTZ, 1995, p. 31.

10 N.T.: Cf. Merrill F. Unger, Israel and the Aramaeans ofDamascus (Londres: James Clarke & Co., 1957), pág. 19)(grifo do original)

11 SCHULTZ, 1995, p. 25-2612 Link:

https://3.bp.blogspot.com/-d3tbXWluiJY/Wvrqfmd-4RI/AAAAAAAAA1s/gQaBU5ArFQUEs2sFCA3bdGPl-p5fDVWRQCLcBGAs/s400/Mapa%2B01%2B-%2BO%2BMundo%2BPatriarcal.jpg.

13 https://blogdoseualipio.com.br/wp-content/uploads/2016/12/Acaz-oferece-filhos-em-sacrif%C3%ADcio-696x779.jpg

14 CHAMPLIN e BENTES, 1995d, p. 342.15 O Rio mencionado em outras traduções é o Eufrates.16 Bíblia Shedd, p. 339.17 Bíblia Ave-Maria, p. 275.

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18 Bíblia do Peregrino, p. 415.19 SCHULTZ, 1995, p. 33.20 CHAMPLIN, 2001, p. 983.21 CHAMPLIN e BENTES, 1995d, p. 347.22 CHAMPLIN e BENTES, 1995f, p. 38.23 JOSEFO, 2003, p. 59.24 Bíblia de Jerusalém, p. 55.25 CHAMPLIN e BENTES, 1995a, p. 171.26 Link:

http://www.revista-temas.com/contacto/Images/10salomao1.jpg.

27 Bíblia Sagrada Vozes, p. 31.28 Bíblia Sagrada Vozes, p. 376.29 Bíblia Sagrada Santuário, p. 8.30 Bíblia de Jerusalém, p. 138.31 DONINI, 1965, p. 106.32 CAMPBELL, 1997, p. 47.33 Dicionário Eletrônico Aurélio XXI.34 SCHULTZ, 1995, p. 90.35 CHAMPLIN e BENTES, 1995a, p. 621.36 MONLOUBOU, e DU BUIT, 1997, p. 218.37 ELIADE, 1998, p. 186.38 KELLER, 2000, p. 285.39 CHAMPLIN e BENTES, 1995b, p. 312.40 Bíblia de Jerusalém, p. 66.41 MONLOUBOU, e DU BUIT, 1997, p. 218.42 Bíblia Shedd, p. 163.43 Bíblia de Jerusalém, p. 183-184.44 NOGUEIRA, 2002, p. 17.

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45 GIASSETTI e CORCI, s/d, p. 12.46 Bíblia Sagrada Vozes, p. 1520.47 Tradução do Novo Mundo, p. 271.48 Bíblia Shedd, p. 299.49 Bíblia Sagrada Vozes, p. 1497.50 Bíblia Sagrada Ave-Maria, p. 837.51 CHAMPLIN e BENTES, 1995b, p. 47.52 Gênesis 28,3; 35,11; 43,14; 48,3; 49,25; Êxodo 6,3 e

Ezequiel 10,5.53 Em Jó 5,17: “Ditoso o homem a quem Deus corrige: não

desprezes a lição de Shaddai.” Em nota de rodapé, lemos:Este nome divino da época patriarcal (cf. Gn 17,1+) éempregado por Jó com intenção de arcaísmo. (Bíblia deJerusalém, p. 808) Isoladamente o termo Shaddai é tambémusado: Jó 6,4.13; 8,3.5; 11,7; 13,3; 15.25; 21,15.20;22,3.17.23.25.26; 23,16; 24,1; 27,2.10.11.13; 29,5; 31,2.35;32,8; 33,4; 34,10.12; 35,13; 37,28; 40,2; Salmo 68,15; 91,1;Isaías 13,6; Ezequiel 1,24 e Joel 1,15.

54 Bíblia de Jerusalém, p. 54.55 Tradução do Novo Mundo, p. 1507.56 PASTORINO, 1964a, p. 9.57 Bíblia de Jerusalém, p. 148.58 ELIADE, 1998, p. 82.59 Dã, perto de uma fonte do Jordão, e Betel, no caminho de

Jerusalém, delimitam o novo reino. Eram já santuáriosvenerados (Gn 12,8 etc; Jz 17-18). (Bíblia de Jerusalém, p.489)

60 LENTSMAN, 1963, p. 81.61 Em outras traduções: ciumento.62 Bíblia de Jerusalém, p. 1238.63 CHAMPLIN e BENTES, 1995b, p. 98.64 Exatos 23.146 em:

http://www.cadecristo.com.br/curiosidades_biblicas.htm.

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65 FREUD, 1997, p. 42.66 FREUD, 1997, p. 42.67 Bíblia de Jerusalém, p. 141.68 Bíblia de Jerusalém, p. 238.69 Bíblia de Jerusalém, p. 238.70 Bíblia de Jerusalém, p. 877.71 N.T.: Nome sidônio do Líbano (Dt 3,9). (Bíblia de Jerusalém,

p. 890)72 Bíblia de Jerusalém, p. 1004.73 Bíblia de Jerusalém, p. 1523.74 Bíblia de Jerusalém, p. 143.75 Bíblia de Jerusalém, p. 193.76 Bíblia de Jerusalém, p. 412.77 CHAMPLIN e BENTES, 1995d, p. 110-111.78 Link:

https://thereasonerscorner.files.wordpress.com/2016/08/d7e15fe175914d2a8fa8ceea58129a80.jpg.

79 Bíblia de Jerusalém, p. 162.80 Bíblia de Jerusalém, p. 162.81 EHRMAN, 2008, p. 79.82 Bíblia de Jerusalém, p. 163.83 Bíblia de Jerusalém, p. 164.84 CHAMPLIN e BENTES, 1995f, p. 41.85 Dicionário Prático Barsa, p. 241.86 KRAMER, 1983, p. 112.87 Bíblia de Jerusalém, p. 163.88 Bíblia de Jerusalém, p. 164.89 REHFELD, 1986, p. 24.90 N.T.: JEREMINAS, Handbuch, p. 130.91 N.T.: KIRFEL, Kosmographie, p. 15.

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92 N.T.: HOLMBERG, Der Daum des Lebens, p. 41.93 N.T.: Textos em Christensen, Le premier homme, II, p. 42.94 ELIADE, 1998, p. 90-91.95 N.T.: Êxodo 20:23. Da mesma maneira, Êxodo 20:4 traz uma

injunção anterior contra a confecção de imagens gravadas.96 GARDNER, 2004, p. 24.97 LOPES, 2008, disponível em:

http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL465154-5603,00-CONHECA+A+VERDADEIRA+CARA+DA+ARCA+DA+ALIANCA+OBJETO+MAIS+SAGRADO+DA+BIBLIA.html.

98 Dicionário Barsa, p. 225.99 Bíblia de Jerusalém, p. 230-231.100 Bíblia Sagrada Santuário, p. 152.101 Bíblia de Jerusalém, p. 283.102 Bíblia de Jerusalém, p. 2170.103 Bíblia de Jerusalém, p. 54.104 Bíblia Sagrada Vozes, p. 43.105 Bíblia de Jerusalém, p. 54.106 N.T.: Armstrong, Karen. A History of God, Ballantine. New

York, NY, 1994, cap. 1, p. 14,20-21.107 N.T.: Ver capítulo 1, nota 2.108 N.T.: Hastings, James. Dictionary of the Bible. T & T. Clark,

Edinburgh, 1909, em “God”.109 GARDNER, 2004, p. 31.110 Site Infopédia – Enciclopédia e Dicionários Porto Editora,

disponível em: https://www.infopedia.pt/$el?uri=lingua-portuguesa/EL.

111 ARMSTRONG, 2008, p. 23-36.112 Ver Bíblia de Jerusalém, p. 54.113 DOUGLAS, 1984, p. 409.114 CHAMPLIN e BENTES, 1995b, p. 311-312.

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115 N.T.: Cf. Friedman, R. E. (1989), ¿Quién escribió la Bíblia?,Martinez Roca, Barcelona, pp. 76-77. Livro muito bemdocumentado e escrito numa linguagem acessível aos leigosna matéria. Recomendamo-lo a todos os leitores quedesejem aprofundar o estudo dos autores bíblicos (doPentateuco, no caso vertente) e das muitas contradiçõesque se detectam nos seus textos.

116 RODRÍGUES, 2007, p. 30-31.117 Link: http://www.chavesdeenoch.org/html/hebraico.html.118 Tradução Novo Mundo, p. 1501.119 Link: http://it.wikipedia.org/wiki/Ambrogio_Donini.120 DONINI, 1965, p. 158.121 Bíblia Eletrônica – 3.0.7.122 BOARETTO, 2009, p. 315.123 Bíblia de Jerusalém, p. 70-71.124 Bíblia de Jerusalém, p. 71.125 Bíblia Sagrada Vozes, p. 57.126 Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, p. 60.127 CHAMPLIN e BENTES, 1995d, p. 347.128 Bíblia Sagrada – Ave-Maria, p. 275.129 Bíblia de Jerusalém, p. 50.130 Bíblia de Jerusalém, p. 54.131 CHAMPLIN e BENTES, 1995a, p. 746.132 MONLOUBOU e DU BUIT, 1997, p. 131.133 LENTSMAN, 1963, p. 94.134 Link: http://www.coladaweb.com/historia/hebreus,-gregos-e-

fenicios-primordios.135 N.T.: “Heilig”.136 N.T.: [Gênesis, XXXIV.] Dou-me muito bem conta de que. Ao

lidar tão autocrática e arbitrariamente com a tradiçãobíblica – trazendo-a para confirmar minhas opiniões quandoela me serve e rejeitando-a sem hesitações quando mecontradiz –, estou expondo-me a uma seria critica

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metodológica e debilitando a força convincente de meusargumentos. Mas essa é a única maneira pela qual se podetratar um material de que se sabe definitivamente que suafidedignidade foi gravemente prejudicada pela influênciadeformante de intuitos tendenciosos. É de esperar que euencontre certo grau de justificação mais adiante, quando medeparar com o rastro desses motivos secretos. A certeza é,de qualquer modo, inatingível, e, além disso, pode-se dizerque todos os outros que escreveram sobre o assuntoadotaram o mesmo procedimento.

137 FREUD, 1997, p. 26-27.138 N.T.: Isso não torna as restrições ao uso desse novo nome

mais inteligíveis, embora as torne mais suspeitas.139 FREUD, 1997, p. 41-42.140 FOX, 1993, p. 51.141 Bíblia de Jerusalém, p. 401.142 Bíblia Sagrada Santuário, p. 365.143 Bíblia Sagrada Paulinas, 1980, p. 338.144 Bíblia Sagrada – Barsa, p. 249.145 Bíblia Sagrada Shedd, p. 483.146 Dicionário Prático Barsa, p. 163.147 Bíblia de Jerusalém, p. 77.148 ROHDEN, s/d, p. 131-132.149 Bíblia de Jerusalém, p. 86.150 Bíblia Sagrada Santuário, p. 59.151 CHAMPLIN e BENTES, 1995f, p. 336-337.152 Dicionário Barsa, p. 258.153 FREUD, 1997, p. 20-21.154 FREUD, 1997, p. 52-53.155 N.T.: Essa mesma consideração aplica-se também ao caso

notável de William Shakespeare, de Strattord.156 FREUD, 1997, p. 58-59.

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157 KRAMER, 1983, p. 57.158 N.T.: Gardiner; Alan. Egyptian Grammar, excursion A, p. 75;

e Clayton, Peter A. Chronicle of lhe Pharaohs, p. 78.Amenhotep IV também era chamado Amenemhet IV eAmenemes IV.

159 N.T.: O conceito israelita de um Deus sem imagem já estavaestabelecido no Egito antes que Akhenaton chegasse aotrono. O que ele fez, exclusivamente, foi instalar Aten comoúnico deus do Egito. Foi o primeiro exemplo no mundo deintolerância religiosa em nível de Estado; um monoteísmoestrito impingido ao povo. Esse conceito, algo discordantedo Deus Uno no Egito, inspirou originalmente a pesquisa,nos anos de 1930, de Sigmund Freud, que o levou aassociar Moisés com o reino do faraó Akhenaton.

160 N.T.: Osman, Ahmed. Moses, Pharaoh of Egypt, cap.17 p.167.

161 N.T.: Rohl, David M. A Test of Time, p. 197.162 N.T.: lb., p. 199. Embora Aten fosse relegado a uma posição

mais geral dentro do Panteão egípcio durante o reinado deTutankhamon, a adoração de Aten não foi banida pelojovem faraó. Confirma-o o colorido painel de trás de seutrono, dourado e marchetado, que o retrata com suaesposa, Ankhesenpaaten, e o disco de Aten. Porém,Tutankhamon moveu a capital real de Akhenaton paraMênfis.

163 N.T.: Osman, Ahmed. Moses, Pharaoh of Egypt, p. 105.164 N.T.: Anteriormente à sua partida inicial, Akhenaton (Moisés)

fora persuadido por sua mãe, Tiye, a mudar-se de Tebas, eele o fez, estabelecendo seu centro recém-construído deAkhenaton (Horizonte do Aten), o sítio da moderna Tell el-Amarna. Ver Clayton, Peter A. Chronicle of the Pharaohs, p.122. Porém, um fato que os livros de referência geralmentedeixam de explicar é que Akhenaton não inventou o deusAten. Mesmo antes do nascimento de Akhenaton, o barcousado por seu pai, Amenhotep III, no lago de Zaru, erachamado Tehen Aten (Fulgores de Aten). Ver Baikie, James.The Amarna Age. A. &c. Black, London, 1926, p. 91. Haviatambém um Templo de Aten em Zaru antes que Akhenatonconstruísse seus próprios Templos de Aten em Carnac e

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Luxor. Ver Osman, Ahmed. Moses, Pharaoh of Egypt, capo12, p. 121.

165 N.T.: Osman, Ahmed. Moses, Pharaoh of Egypt, cap.6, pp. 63-4.

166 N.T.: Clayton, Peter A. Chronicle of the Pharaohs, pp. 128-34.

167 GARDNER, 2004, p. 56-57.168 NISBET, 2008, p. 100.169 Bíblia Shedd, p. 121.170 Bíblia Barsa, p. 157.171 Bíblia de Jerusalém, p. 1247.172 GARDNER, 2004, p. 24.173 RODRÍGUES, 2007, p. 26.174 WESSELOW, 2012, p. 370.175 Bíblia de Jerusalém, p. 104.176 Bíblia Sagrada Vozes, p. 83.177 N. T.: G. Herlitz e B. Kirschner (org.). Jüdisches Lexikon.

Berlim, 4(1). 303. 1930. [O colaborador citado foi M.Soloweítschík.]

178 N.T.: J. H. Breasted. The Dawn of Conscience. Londres: 1934.p. 350. [Em grego. Mosés ali Mousés. Deste último. Originou-se a forma portuguesa do nome. – N. do T. Brasileiro].

179 FREUD, 1997, p. 9-10.180 LENTSMAN, 1963, p. 93-94.181 Bíblia de Jerusalém, p. 42.182 N.T.: Ser enviado pelos deuses para desencadear o dilúvio.

(N. da A.)183 RIOS, 2007, p. 30-32.184 ROMANINI, 2002, p. 43.185 JOSEFO, 2003, p. 92.186 GARDNER, 2004, p. 24.

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187 Bíblia de Jerusalém, p. 128.188 Bíblia Anotada, p. 106.189 JOSEFO, 2003, p. 92.190 Bíblia de Jerusalém, p. 128.191 JOSEFO, 2003, p. 92.192 JOSEFO, 2003, p. 87.193 N.T.: Em alguns lugares do texto bíblico ainda se afirma que

Javé desceu do Sinal para Meribá-Cades.194 N.T.: Meyer.195 FREUD, 1997, p. 32.196 FOX, 1993, p. 51.197 Bíblia Sagrada – Edição Popular, p. 96.198 CHAMPLIN e BENTES, 1995c, p. 123.199 Bíblia Sagrada Vozes, p. 181.200 Bíblia Anotada, p. 512.201 Bíblia Sagrada – Edição Popular, p. 168.202 LinK: http://pt.wikisource.org/wiki/Dicion%C3%A1rio_B

%C3%ADblico_Easton_%281897%29/Abel-Sitim.203 Bíblia Sagrada – Edição Popular, p. 172.204 Bíblia de Jerusalém, p. 351.205 CHAMPLIN e BENTES, 1995a, p. 416-417.206 KRAMER, 1983, p. 114.207 Bíblia de Jerusalém, p. 408-409.208 Dicionário Barsa, p. 266.209 CHAMPLIN e BENTES, 2995b, p. 497.210 Bíblia de Jerusalém, p. 467.211 Bíblia do Peregrino, p. 617.212 HOUAISS 3.0, 2009.213 Bíblia Sagrada – Edição Popular, p. 357.

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214 SCHUWIKART, 2001, p. 39.215 SCHUWIKART, 2001, p. 14.216 Dicionário Prático Barsa, p. 29.217 Link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hebreus.218 N.T.: Segundo alguns cálculos recolhidos por Baron, em sua

história social e religiosa de Israel, nos limites do ImpérioRomano, no século I d.C., sobre uma população de 60-70milhões de habitantes, pouco menos de 7 milhões eramhebreus, dos quais mais de 6 milhões fora da Palestina.

219 DONINI, 1965, p. 159.220 Bíblia de Jerusalém, p. 1238.221 KRAMER, 1983, p. 105.222 KRAMER, 1983, p. 168-170.223 Bíblia Sagrada Pastoral, p. 1213.224 Bíblia de Jerusalém, p. 1250.225 VAN LOON, 1981, p. 122.226 BARRERA, 1999, p. 44.227 Bíblia de Jerusalém, p. 548.228 Bíblia de Jerusalém, p. 549.229 Bíblia Sagrada Pastoral, p. 508.230 Bíblia Sagrada Pastoral, p. 518.231 Bíblia Sagrada Pastoral, p. 576-577.232 Bíblia de Jerusalém, p. 721.233 Link: http://www.brasilescola.com/historiag/hebreus3.htm.234 “O ato com que Javé vai julgar a corrupção será a invasão

do país pela Assíria, cujo emblema era o leão e cujo exércitoera um dos mais poderosos e famosos da época”. (BíbliaSagrada Pastoral, p. 954)

235 “Gad, deus arameu da fortuna. Meni, deus desconhecido,talvez uma divindade do destino”. (Bíblia de Jerusalém, p.1358)

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236 O santuário de Silo, residência da Araca, fora destruídopelos filisteus (1Sm 4)… Silo encontra-se cerca de 40 km aonorte de Jerusalém. (Bíblia de Jerusalém, p. 1378)

237 ARMSTRONG, 2007, p. 198.238 KARDEC, Revista Espírita 1862, p. 263.239 Link:

https://3d.leoaragao.com.br/wp-content/uploads/2013/10/intro_arca2.jpg.

240 LOPES, 2008, disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL465154-5603,00-CONHECA+A+VERDADEIRA+CARA+DA+ARCA+DA+ALIANCA+OBJETO+MAIS+SAGRADO+DA+BIBLIA.html.

241 Bíblia Shedd, p. 528.242 Bíblia Sagrada Vozes, p. 407.243 Bíblia de Jerusalém, p. 537.244 Bíblia de Jerusalém, p. 805.245 MONLOUBOU, e DU BUIT, 1997, p. 161.246 Bíblia Sagrada Santuário, p. 1374.247 Bíblia Sagrada Pastoral, p. 669.248 HOUAISS 3.0, 2009.249 Bíblia de Jerusalém, p. 1234.250 SCHULTZ, 1995, p. 90.251 LENTSMAN, 1963, p. 91-92.252 DONINI, 1965, p. 46.253 DONINI, 1965, p. 84.254 N.T.: Turim, Einaudi, 1955 (“Coleção de estudos religiosos

etnológicos 6 psicológicos”, n.° 24). Veja-se acima, pág. 16,nota 6.

255 N.T.: No que se refere a toda esta parte, recomendamosuma obra de alto valor científico: La religion d’Israel, de R.KREGLINGER, 2.a ed., Bruxelas, 1926 (Études sur l’origine etle développement de la vie religieuse, III).

256 N.T.: Veja-se o recente estudo de J. GRAY, The legacy of

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Canaan (a herança de Canaan). The Ras Shamra texts andtheir relevance to the Old Testament (suplemento de VetusTestamentum, V, 1957, com índice dos passos ugáricos eescriturais.

257 N.T.: Hama bem-Hamina, Omelia sul salmo 23 (v. BARON,Histoire d’Israel, vol. I, cit., pág. 341).

258 N.T.: Segundo alguns cálculos recolhidos por Baron, em suahistória social e religiosa de Israel, nos limites do ImpérioRomano, no século I d.C., sobre uma população de 60-70milhões de habitantes, pouco menos de 7 milhões eramhebreus, dos quais mais de 6 milhões fora da Palestina.

259 DONINI, 1965, p. 152-159.260 KELLER, 2000, p. 288-290.261 BOEHNER e GILSON, 2003, p. 16.262 N.T.: Entre ruínas da Idade do Bronze (3000 a.C.) foram

encontradas em Canaã, em 1931, peças de cerâmica com onome duma deidade canaanita, Yah ou Yahu.

263 DURANT, 1957, p. 13-14.264 N.T.: Palavra inventada por Max Müller para designar a

adoração dum deus como supremo, combinada com aexplícita (Índia) ou tácita (Judeia) admissão de outrosdeuses.

265 Eliseu, entretanto, já no século 9º a.C., anunciava um deusúnico: “Eu sei que não há nenhum deus em toda terra, salvoem Israel” (2 Reis V, 15). Devemos ter em mente quemesmo o atual monoteísmo é muito relativo. Como osjudeus adoravam uma divindade tribal, assim nós adoramosum deus europeu, um deus francês, inglês, alemão; e osmilhões de habitantes da Índia, China e Japão nãoreconhecem o deus dos nossos pais. Só quando a terra seunificar num governo só poderá haver um deus único paratoda a terra.

266 DURANT, 1957, p. 16-17.267 DURANT, 1957, p. 19.268 BARRERA, 1999, p. 105.269 N.T.: Deuteronômio 32:8-9.

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270 N.T.: Salmo 82.271 N.T.: Salmo 47-8, 96,148-51.272 N.T.: Salmo 89:5-8; Mark S. Smith, Origins of Biblical

Monotheism, p. 9.273 N.T.: Mark S. Smith, The Early History of God: Yahweh and

the Other Deities in Ancient Israel, Nova York / Londres,1990, p. 44-9.

274 N.T.: Oseias 6:6.275 N.T.: Oseias 11:5-6.276 N.T.: Amós 1: 3-5; 6:13; 2:4-16.277 N.T.: Amós 5:24.278 N.T.: 2 Reis 21:2-7; 23:11; 23:10; Ezequiel 2025-26; 22:30.279 N.T.: Cf. Salmos 68;18; 84;12. Gosta W. Ahlstrom, The

History of Ancient Palestine, Menneapolis, 1993, p. 734.280 ARMSTRONG, 2007, p. 22-26.281 N.T.: Êxodo 20,2.282 N.T.: Josué 24,24.283 N.T.: James, The ancient gods, p. 152; Salmos 29,89 e 93.

Mas esses Salmos são posteriores ao Exílio.284 N.T.: 1 Reis 19,20-40.285 ARMSTRONG, 2008, p. 38-42.286 N.T.: Oseias 8,5.287 N.T.: Oseias 6,6.288 N.T.: Gênesis 4,1.289 N.T.: Oseias 2,23-4.290 N.T.: Oseias 2,18-9.291 N.T.: Oseias 13,2.292 N.T.: A tradução inglesa deste versículo é de John Bowker

Tbe religious imagination and tbe sense of God (Oxford,1978), p. 73.

293 N.T.: Ver Gênesis 14,30.

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294 N.T.: II Reis 22,3-10; II Crônicas 34,14.295 N.T.: Deuteronômio 6,4-6.296 N.T.: Deuteronômio 7, 3.297 N.T.: Deuteronômio 7, 5-6.298 N.T.: Deuteronômio 28, 64-8.299 N.T.: II Crônicas 34,5-7.300 N.T.: Êxodo 23,33.301 N.T.: Josué 11,21-2.302 N.T.: Jeremias 25, 8,9.303 N.T.: Jeremias 32, 15.304 N.T.: Jeremias 44,15-9.305 N.T.: Jeremias 31, 33.306 N.T.: Salmo 137.307 N.T.: Isaías 11, 15, 16.308 N.T.: Isaías 51, 9,10. Este seria um tema constante. Ver

Salmos 65 7; 74,13-4; 77,16; Jó 3,8; 7,12.309 N.T.: Isaías 46, 1.310 N.T.: Isaías 43, 10, 12.311 N.T.: Isaías 51, 9,10.312 N.T.: Isaías 55, 8, 9.313 N.T.: Isaías 19,24,25314 ARMSTRONG, 2008, p. 66-85.315 CHURTON, 2009, p. 85.316 CHURTON, 2009, p. 167-168.317 CERAM, s/d, p. 275.318 VOMERO, 2003, p. 40-48 passim.319 FREUD, 1997, p. 19.320 FREUD, 1997, p. 20.321 FREUD, 1997, p. 34.

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322 N.T.: Nesse período, mal era possível qualquer outro métodode influenciá-lo.

323 N.T.: É realmente notável quão pouco ouvimos, nos milharesde anos de história egípcia, sobre o afastamento violento ouo assassinato de um faraó. Uma comparação com a históriaassíria, por exemplo, só aumenta nossa surpresa quanto aisso, o que, naturalmente, pode ser explicado pelo fato de ahistória ter sido inteiramente escrita para servir a finsoficiais.

324 FREUD, 1997, p. 43-44.325 CRÉTÉ, s/d, p. 88.326 CRÉTÉ, s/d, p. 89.327 CRÉTÉ, s/d, p. 90.328 CRÉTÉ, s/d, p. 90.329 CRÉTÉ, s/d, p. 91.330 CRÉTÉ, s/d, p. 91.331 N.T.: Jeremias VII, 17-18.332 N.T. ibid; VII, 31.333 N.T.: Jeremias, XLIV, II-fim.334 N.T.: Ezequiel, VII, III-fim.335 N.T.: Esdras, IX-X, 5.336 N.T.: Jerusalém under the High Priests p. 12.337 N.T.: Alguns judeus alexandrinos não fizeram objeção a essa

identificação. Vide Carta de Aristeas, 15, 16.338 RUSSELL, 1968, p. 7-15.339 FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 325-328.340 HARPUR, 2008, p. 125.341 N.T.: Ver Morton Smith, Palestinian Parties and Politics That

Shaped the Old Testament (Nova York: Columbia UniversityPress, 1971), em especial as pp. 62-146; ver também PaulHanson, The Dawn of Apocalyptic (Filadélfia: Fortress Press,1975).

342 PAGELS, 1996, p. 6.

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343 LinK: http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL652419-9982,00-DEUS+BIBLICO+PODE+SER+FUSAO+DE+VARIOS+DEUSES+PAGAOS+DIZEM+ESPECIALISTAS.html.

344 LOPES, 2008, disponível em: http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL652419-9982,00-DEUS+BIBLICO+PODE+SER+FUSAO+DE+VARIOS+DEUSES+PAGAOS+DIZEM+ESPECIALISTAS.html.

345 MONLOUBOU e DU BUIT, 1997, p. 633.346 BOARETTO, 2009.347 RENAN, 2004, p. 18.348 ESPINOSA, 2003, p. 225-226.349 Link: http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae398.html.

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