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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA PEQUENA EMPRESA: UM ESTUDO DE CASO. São Carlos 2014

ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PLANEJAMENTO … · planejamento estratégico, adaptado dos moldes de um planejamento para grandes empresas, aplicado ... a necessidade e os benefícios

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PLANEJAMENTO

ESTRATÉGICO NA PEQUENA EMPRESA: UM ESTUDO DE CASO.

São Carlos

2014

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PEDRO DE CARVALHO MIYAKE

Trabalho de Conclusão de Curso

ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PLANEJAMENTO

ESTRATÉGICO NA PEQUENA EMPRESA: UM ESTUDO DE CASO - EESC jr.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de

Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo

para obtenção do título de Engenheiro de Produção

Mecânica

Orientador: Prof. Dr. Edmundo Escrivão Filho

São Carlos

2014

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RESUMO

MIYAKE, P. C., (2014). “Elaboração e Implementação do Planejamento Estratégico na Pequena

Empresa: Um Estudo de Caso”. Trabalho de Conclusão de Curso. São Carlos : EESC –USP.

O presente estudo tem por objetivo identificar os resultados da realização e execução de um

planejamento estratégico, adaptado dos moldes de um planejamento para grandes empresas,

aplicado na Empresa Júnior dos Alunos da Escola de Engenharia de São Carlos. A empresa

analisada no estudo de caso a Empresa Júnior dos Alunos da Escola de Engenharia de São Carlos

e tal análise dividida em duas etapas. A primeira é a análise da organização antes da adoção de um

planejamento estratégico formalizado. A segunda aborda a implementação de um processo formal

de elaboração e execução da estratégia, dado após uma parceria com uma empresa de consultoria

estratégica. A pesquisa foi realizada por meio do uso de roteiros de estrevista, aplicados em três

colaboradores da empresa júnior. Os resultados que puderam ser observados foram a melhoria da

visão estratégica em todos os níveis da organização, o alinhamento dos processos e projetos com

o planejamento estratégico, o maior envolvimento dos colaboradores com a estratégia e a

importância da definição da finalidade da empresa para o planejamento estratégico bem como do

porte da empresa para a elaboração dos indicadores. A principal contribuição é auxiliar a pequenas

empresas a viabilizarem o seu planejamento estratégico formal.

Palavras chave: Planejamento Estratégico, Formulação da Estratégia, Implementação da

Estratégia, Pequena Empresa, Empresa Júnior.

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ABSTRACT

The present work has by purpose to identify the results of strategic planning and

implementation process in a small company, adapting well stablished models created for large

companies. The analisys consists of a study case of the Junior Enterprise of the Students of the São

Carlos Engineering School and is dived in two stages. The first stage focusses on analyzing a

previous non-formalized strategic planning process adopted by the junior enterprise. The second

stage focusses on the formalized strategic planning and implementation process adopted by the

organization with the colaboration of a strategic consultancy enterpsie. The results that could be

observed were: the improvement of the strategy understanding in all company levels, the alignment

of processes and projects with the strategic planning, the greater involvement of the company’s

colaborators with the strategy and the importance of both company finality and size for the

strategic plan and for the performance indicators creation, respectively.

Keywords: Strategic Planning, Strategy Formulation, Strategy Implementation, Small Businesess,

Junior Enterprise.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 9

1.1. Contextualização do Tema da Pesquisa .................................................................................... 9

1.2. Caracterização do Tema da Pesquisa ........................................................................................ 9

1.3. Formulação do Problema ........................................................................................................ 10

1.4. Declaração do Objetivo .......................................................................................................... 11

1.5. Relevância do Tema da Pesquisa ............................................................................................ 12

2. ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA ........................................................................................ 13

2.1. Conceito de Estratégia e Administração Estratégica ................................................................ 13

2.2. Processo Gerencial de Elaboração e Execução da Estratégia ................................................... 14

3. EXECUÇÃO DA ESTRATÉGIA E BALANCED SCORECARD............................................. 21

3.1. Perspectiva Financeira ........................................................................................................................... 22

3.2. Perspectiva dos Clientes ........................................................................................................................ 22

3.3. Perspectiva dos Processos Internos ....................................................................................................... 23

3.4. Perspectiva do Aprendizado Organizacional ....................................................................................... 23

3.5. Mapas Estratégicos ................................................................................................................................ 23

4. EMPRESA JUNIOR .................................................................................................................... 25

4.1. Panorama Histórico ..................................................................................................................... 25

4.3. Empresa júnior como pequena empresa ....................................................................................... 26

4.2. EESC jr. ..................................................................................................................................... 26

5. MÉTODOS DE PESQUISA ........................................................................................................ 29

5.1. Caracterização da Pesquisa ..................................................................................................... 29

5.2. Técnicas de Coleta de Dados .................................................................................................. 30

5.3. Técnicas de Análise de Dados ................................................................................................ 31

5.4. Questões da Pesquisa ............................................................................................................. 32

6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................... 33

6.1. Apresentação e análise dos dados: anterior a 2013 .................................................................. 33

6.1.1. Sobre o processo de planejamento estratégico ................................................................. 33

6.1.2. Sobre a elaboração da estratégia ..................................................................................... 35

6.1.3. Sobre a comunicação da estratégia .................................................................................. 37

6.1.4. Sobre a declaração de alvos estratégicos ......................................................................... 38

6.1.5. Sobre a implantação de alvos estratégicos ....................................................................... 40

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6.2. Apresentação e análise dos dados: após 2013.......................................................................... 41

6.2.1. Sobre o processo de planejamento estratégico ................................................................. 41

6.2.2. Sobre a elaboração da estratégia ..................................................................................... 44

6.2.3. Sobre a comunicação da estratégia .................................................................................. 45

6.2.4. Sobre a declaração de alvos estratégicos ......................................................................... 46

6.2.5. Sobre a implantação de alvos estratégicos ....................................................................... 49

6.3. Discussão dos Resultados ....................................................................................................... 50

6.4. Proposta de compreensão de atuação da EESC jr. (CANVAS) ................................................ 54

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................... 57

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 59

APÊNDICE I – Roteiro de Entrevista ................................................................................................ 64

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização do Tema da Pesquisa

A partir a disseminação em massa das tecnologias de informação e da globalização, por volta

da década de 1980, as grandes organizações encontraram-se em um ambiente altamente

competitivo e mutável. Hoje é possível realizar transações em praticamente qualquer local do

globo. No mundo contemporâneo e sociedade nele inserida são, de certa forma, institucionalizados

e compostos por organizações. Estas organizações têm o papel de planejar, coordenar, dirigir,

executar e controlar as atividades relacionadas à prestação de serviços ou à produção de bens de

consumo (CHIAVENATO, 2003). Esta composição de sociedade, avanços tecnológicos e

melhorias sociais e econômicas exigem das organizações um esforço cada vez maior para adquirir

vantagem competitiva. Neste contexto, a administração estratégica tem papel chave para coordenar

esforços, estabelecer metas e objetivos e traçar o caminho que permitirá atingi-los (THOMPSON;

STRICKLAND, 2008).

1.2. Caracterização do Tema da Pesquisa

Cada vez mais os consumidores exigem respostas do mercado às suas necessidades e cada vez

mais empresas inovadoras identificam nichos de mercado e demandas não exploradas, adquirindo

vantagem perante a concorrência. A fim de se diferenciar, manter a saúde financeira da empresa e

gerar retorno para os acionistas e para os clientes, os administradores são exigidos em relação a

planejamento e leitura da situação do ambiente no qual está inserida a sua organização. As

demandas se mostram crescentes em todos os setores e os clientes se tornam agentes críticos das

ações da empresa. Isso acarreta no fortalecimento das grandes corporações que atuam como

agentes pressionadores, uma vez que estes têm acesso ao capital, ao conhecimento e à experiência

de mercado.

No contexto de mercado competitivo, mensurar o desempenho da organização é de grande

importância, uma vez que está diretamente relacionado com metas estratégicas da empresa. Tratar

da pequena empresa pensando somente em indicadores financeiros não é mais suficiente para

garantir produtos competitivos no mercado e sucesso no planejamento a longo prazo. A utilização

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correta dos princípios do Balanced Scorecard (BSC) como um sistema de gestão pode

proporcionar uma visão sólida do desempenho organizacional.

1.3. Formulação do Problema

A literatura da área de administração, no geral, trata a pequena empresa como uma grande

empresa em estágio inicial de desenvolvimento, ignorando suas particularidades. Existe uma

infinidade de classificações para o porte das empresas e inúmeros critérios para efetuar tais

classificações.

Pequenas empresas, em geral, possuem características únicas, fator que as diferencia das

grandes empresas quer seja nas práticas operacionais, na utilização de técnicas de gestão

organizacional ou na utilização de ferramentas gerencias. Neste viés, segundo Leone (1999), as

pequenas empresas não devem receber o mesmo tratamento das grandes empresas em escala

menor. É necessário que adaptações aos modelos aplicados em grandes empresas sejam feitas para

que se possa atender os objetivos de ações gerenciais das pequenas empresas (LEONE, 1999).

Nesta perspectiva, os benefícios do BSC podem ser justificáveis e significativos para as

pequenas empresas, cujo foco é predominantemente o resultado financeiro positivo. Pequenas

empresas se encontram, normalmente, lutando pela sobrevivência e com dificuldade para planejar

o futuro, tornando difícil o planejamento a longo prazo. A maioria das pequenas empresas

requerem baixo volume de informação para executar suas operações e avaliar seu desempenho, se

comparadas a grandes empresas. Mesmo assim, a informação e a comunicação são cruciais a

pequena empresa. Portanto, apesar do escopo e magnitude da avaliação de desempenho da

organização ser menor nas pequenas empresas, a necessidade e os benefícios de um sistema de

medição de performance são fundamentais para qualquer porte de empresa (VON BERGEN;

BENCO, 2004).

Em uma empresa júnior, as peculiaridades não são diferentes em relação às das pequenas

empresas. O formato da empresa júnior permite que uma estrutura organizacional hierárquica atue

na coordenação e gerenciamento de uma pequena empresa, visto que tanto em faturamento quanto

em número de funcionários, a empresa júnior pode ser encarada como uma pequena empresa

prestadora de serviços.

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O BSC, como ferramenta de gestão estratégica, que visa transformar a missão da empresa em

indicadores mensuráveis, fornecerá resultados quantitativos que demonstrem a efetividade do

planejamento realizado com base nas metas definidas. Assim, com base nas peculiaridades

descritas, a presente pesquisa visa responder a seguinte pergunta:

Quais os benefícios e dificuldades encontrados na elaboração e execução do

planejamento estratégico em uma pequena empresa, com base nos modelos de planejamento

das grandes empresas?

1.4. Declaração do Objetivo

O objetivo principal deste trabalho é identificar os resultados da realização e execução de

um planejamento estratégico, adaptado dos moldes de um planejamento para grandes

empresas, aplicado na Empresa Júnior dos Alunos da Escola de Engenharia de São Carlos

(EESC jr.).

O alcance do objetivo envolve elaborar um roteiro de entrevista a ser aplicado à alta gestão,

que será dividido em dois momentos. O primeira abordará a forma como o planejamento

estratégico era realizado anteriormente à uma formalização do processo estratégico. O segundo

momento será dedicado à análise do processo de planejamento após uma parceria com uma

consultoria estratégica, que auxiliou a empresa júnior em elaborar uma estrutura formal. A análise

será pautada na comparação das estruturas formal e informal, nos resultados e nas dificuldades e

problemas encontrados de cada processo. Além das entrevistas, documentos e relatórios também

serão avaliados de forma qualitativa para enriquecer as análises.

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1.5. Relevância do Tema da Pesquisa

De acordo com o Anuário de Trabalho nas Micro e Pequena Empresas de 2012, divulgado em

conjunto pelo DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos e

pelo SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas:

"O bom desempenho da economia brasileira no período 2000-2011, aliado às

políticas de crédito, impulsionou o crescimento de micro e pequenas empresas

(MPE) no país e confirmou sua expressiva participação na estrutura produtiva

nacional. Entre 2000 e 2011, verificou-se aumento do número de

estabelecimentos das MPEs e do emprego gerado por estes estabelecimentos. Em 2011, as MPEs responderam em média por 99% dos estabelecimentos, mais da

metade dos empregos formais de estabelecimentos privados não agrícolas do país

e por parte significativa da massa de salários paga aos trabalhadores destes

estabelecimentos. Seguindo o movimento de formalização de toda a economia,

cresceu também o número de empregos com carteira de trabalho assinada, assim

como o rendimento médio real recebido" (SEBRAE, 2012, p.27).

Segundo dados da organização Global Entrepreneurship Monitor (GEM), na faixa de 18 à 64

anos da população, o Brasil cresceu de 8.2% para 11.3% de pessoas que possuem um novo negócio

à mais de 3 meses mas não mais do que 48 meses. Comparando com os Estados Unidos, que obteve

um decréscimo de 5.2% em para 4.1% no mesmo período ou com a China, decréscimo de 9.4%

para 7.4%, também no mesmo período, observa-se que há grande potencial empreendedor no

Brasil e que a vontade de empreender do brasileiro continua crescendo. Ainda, segundo o GEM,

em relação ao índice de medo da falha no Brasil vem decrescendo, de 38% para 31% da população.

Isto reflete na necessidade da formalização de um planejamento estratégico para pequenas

empresas, que vem crescendo em número e que possui gerentes ou proprietários cada vez mais

destemidos em relação a iniciativa de empreender.

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2. ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA

2.1. Conceito de Estratégia e Administração Estratégica

O conceito de estratégia já foi abordado por diversos autores ao longo do tempo, produzindo

um número significativo de diferentes definições. Isto é devido a estratégia ser um conceito

multidimensional e situacional, dificultando o consenso convergente uma única definição

(HAMBRICK, 1983). Segundo Cabral (1998), devido a abrangência do tema, a conceituação de

estratégia apresenta um paradoxo, devido ao fato de exigir integração de teorias e enfoques

distintos, impedindo uma compilação dos seus conceitos e abordagens de forma única. Alguns

aspectos, porém, são abordados de forma semelhante e convergente que fundamentam os alicerces

do conceito de estratégia. Apesar de muito do conteúdo e dos processos de formação da estratégia

serem abordados de formas diversas, estes se assemelham no modo com o qual os autores

entendem a concepção da organização e o seu funcionamento.

De acordo com Chandler (1962), a estratégia é a determinação dos objetivos básicos de longo

prazo de uma empresa e a adoção das ações adequadas e mobilização de recursos para atingir esses

objetivos.

Para Mintzberg (1988), estratégia é uma força de mensuração entre a organização e o meio

ambiente: um padrão no processo de tomada de decisões organizacionais para fazer face ao meio

que a circunda.

Segundo Thompson e Strickland, estratégia é o plano de ação da administração que visa

coordenar as operações da empresa. A elaboração da estratégia é uma formalização de um acordo

gerencial visando a adoção de um mesmo plano de ação que promova o crescimento da

organização, satisfaça os clientes, auxilie nos fatores competitivos, direcione as operações e

fomente a saúde financeira da empresa (THOMPSON; STRICKLAND, 2008).

Para Kotler (1975), planejamento da estratégia consiste em uma metodologia gerencial que

auxilia no estabelecimento um norte que guiará a organização, que permitirá um maior

envolvimento e entre empresa e o meio ambiente no qual ela está inserida. Portanto, o

planejamento da estratégia é um método sistemático que visa coordenar a construção da estratégia,

baseando suas diretrizes nas relações das organizações e o meio ambiente.

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A estratégia, porém, não é estática ao longo do tempo, o que demanda que o planejamento

estratégico seja uma ação contínua. Portanto, a empresa precisa estar disposta e disponível para

realizar alterações em sua estratégia de acordo com as variações das condições do meio mutante,

como inovações tecnológicas, ações dos concorrentes, flutuação das necessidades e do perfil dos

clientes, oportunidades em novos mercados, alterações no cenário econômico, entre outras

(THOMPSON; STRICKLAND, 2008). Neste viés, Thompson e Strickland afirmam que a

estratégia de uma empresa é uma combinação de iniciativas proativas e ajustes reativos. Pro-

ativamente, busca-se melhorar o desempenho financeiro e da vantagem competitiva da

organização e reativamente, se toma atitudes de resposta à acontecimentos não previstos no

planejamento estratégico inicial. Dessa forma, a estratégia da empresa evolui de acordo com o

descarte pelos gerentes de elementos obsoletos ou ineficazes, adaptando a estratégia a necessidade

atual (THOMPSON; STRICKLAND, 2008).

Administração estratégica é, então, um conjunto de orientações, decisões e ações estratégicas,

visando o longo prazo, que podem proporcionar um excelente desempenho da organização

(THOMPSON; STRICKLAND, 2008). Sendo assim, a administração estratégica analisa

profundamente os ambientes internos e externos, formula a estratégia a longo prazo, executa a

estratégia e avalia e controla o desempenho organizacional.

2.2. Processo Gerencial de Elaboração e Execução da Estratégia

Segundo Thompson e Strickland (2003, p.19):

"O processo gerencial de elaboração e execução da estratégia de uma empresa

inclui cinco fases inter-relacionadas e integradas:

Desenvolver uma visão estratégica quanto à direção que a empresa

precisa seguir e qual deve ser seu foco em

produtos/mercado/clientes/tecnologia futuros.

Determinar objetivos e usa-los como referencial para medir o

desempenho e o progresso da empresa

Elaborar uma estratégia para cumprir os objetivos e conduzir a empresa

ao longo de percurso estratégico que os clientes traçaram.

Implementar e executar de modo eficiente e eficaz a estratégia

escolhida.

Avaliar o desempenho da empresa e dar início a ajustes corretivos na

direção, nos objetivos, na estratégia ou na execução de longo prazo

diante da experiência presente, das condições em alteração, das novas

ideias, e das novas oportunidades."

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Para representar estas etapas, a figura 1 é apresentada:

Figura 1: Processo de Elaboração e Execução da Estratégia. Fonte: Thompson e Strickland, 2003, p.20.

Para o melhor entendimento das etapas, elas serão descritas com maior profundidade, a seguir,

segundo Thompson e Strickland (2003):

Etapa 1: Desenvolvimento de uma visão estratégica

A visão estratégica consiste nas opiniões e conclusões da alta gerência em relação à direção

na qual a empresa deve rumar e ao foco em produto/ mercado/ tecnologia/ cliente. Basicamente, a

visão estratégica deve responder a pergunta "onde queremos chegar" e justificar o motivo de tal

escolha. A visão deve ser distinta e específica a fim de se tornar palpável e visual para todos os

colaboradores e ao mesmo tempo prover uma perspectiva futura de crescimento. Segundo

Dornelas (2011), a declaração da visão guia a direção a ser seguida pela empresa e é algo que deve

sempre ser buscado.

Comunicar essa visão a todos os colaboradores em todos os níveis hierárquicos é

indispensável, pois ela agirá como elemento motivador. Sem saber onde se quer chegar, os

colaboradores perdem o foco e deixam de entender ou, até mesmo, de executar a estratégia.

Desenvolvimento de uma

visão estratégica

Determinação de objetivos

Elaboração de uma

estratégia para alcançar os objetivos e

a visão

Implementação e

execução da estratégia

Acompanhamento dos

desdobramentos. avaliação do

desempenho e realização dos

ajustes corretivos

Revisar conforme necessário diante do desenvolvimento real, das novas

oportunidades ideais

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Para se obter resultados em relação a comunicação da visão, alguns aspectos podem ser

relevados durante a sua elaboração: relevar a essência da visão em um slogan (transmitir a visão

em uma frase simples e fácil de ser lembrada), quebrar a resistência a uma nova visão estratégica

(deve haver entendimento das motivações que levaram a tal visão por parte de todos os

colaboradores), reconhecer os pontos de inflexão estratégicos (pontos sobre os quais mudanças

drásticas são requeridas a fim de se viabilizar o alcance da visão) e compreender os retornos de

uma declaração de visão clara (concretização das decisões da alta gestão, direcionamento das

decisões, comprometimento dos demais colaboradores, orientação gerencial e visão de futuro).

Também nesta primeira etapa, missão e valores são criados ou revisados. A missão é a

identidade da empresa e, por meio dela, é possível identificar qual a vocação, razão de existir da

organização. A luz de Fischmann e Almeida (1991), o planejamento estratégico viabiliza o

cumprimento da missão e é deste modo que a empresa se aproxima da sua visão.

Valores de uma organização ajudam na compreensão do perfil dos colaboradores desta

organização. Eles estão reflexos de aspectos humanos e sociais da empresa e de como a empresa

se relaciona com o ambiente na qual está inserida. O compromisso dos funcionários de uma

empresa é fortemente influenciado do grau de identificação com os valores da organização

(McDONALD, 2002).

Etapa 2: Determinação de objetivos

Segundo Fischmann (1987), a definição de objetivos e metas é a base para se estabelecer quais

seriam os resultados esperados a partir da implantação das estratégias elaboradas. Ao se determinar

os objetivos, o administrador está transformando uma visão mais abrangente em alvos de

desempenho específicos. Objetivos definidos refletem o compromisso dos gerentes na obtenção

de resultados específicos, como taxas de produção, produtividade, nível de absenteísmo, de forma

quantificável e mensurável. Segundo Thompson e Strickland, "(...) os gerentes devem usar o

exercício de determinação de objetivos como uma ferramenta para impulsionar a organização a

desempenhar seu pleno potencial e produzir os melhores resultados possíveis." (THOMPSON;

STRICKLAND, 2003, p.30).

Esta etapa tem destaque particular, pois é nela em que ocorre a utilização do BSC, que visa

auxiliar na criação de indicadores traduzidos da visão, focando em seus quatro pilares: financeiro,

cliente, processos internos e aprendizado e crescimento. Esta ferramenta, assim como a criação de

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indicadores para os objetivos será melhor descrita no tópico três deste trabalho, Execução da

Estratégia e Balanced Scorecard.

Cabe ressaltar a importância de objetivos tanto de curto quanto de longo prazo. No curto prazo,

os objetivos podem sinalizar o andamento da organização em atingir suas metas de longo prazo e

mostra mais facilmente a necessidade de alterações na estratégia caso necessário. Também é

importante que haja objetivos em todos os níveis organizacionais, garantindo a mobilização de

toda a organização e seus colaboradores. A iniciativa estratégica e a fixação dos objetivos é um

processo Top-Down (de cima para baixo), ou seja, deve ter início na alta gerencia e ser repassado

para todos os níveis, aumentando assim o comprometimento das partes envolvidas.

O estabelecimento de objetivos estratégicos esta diretamente ligado ao entendimento das

capabilidades e recursos da organização e do ambiente no qual esta está inserida. Neste viés,

Andrews (1998) define a estratégia como o elo entre as diferentes áreas funcionais de uma empresa

com o ambiente que há cerca. Os objetivos da organização estão intimamente ligados às relações

entre estas e a sociedade.

Desta maneira, outro aspecto importante a ser ressaltado quanto a formulação e a execução da

estratégia é que, no cenário atual, a velocidade com que fatores externos se modificam e redefinem

configurações globais de mercado. Por exemplo, a crise economica mundial de 2008 modificou

profundamente as condições de praticamente todos os mercados do globo. Neste contexto, as

estratégias devem ser elaboradas não somente com base em análise de competidores como também

no estudo de negócios globais constantemente em mutação (BOSSIDY; CHARAN, 2005).

Estratégias devem incluir em suas formulações as análises de fatores internos e externos que

possam afetar o negócio como um todo. Análises mais amplas podem tanto minar concorrentes

quanto gerar novo segmento de mercado com base em práticas empresariais em outros países.

Etapa 3: Elaboração de uma estratégia para alcançar os objetivos e a visão

A elaboração da estratégia pode ser baseada em algumas perguntas relacionadas ao modo ou

forma de trazer crescimento a uma empresa, de satisfazer os clientes, de vencer a concorrência,

reagir a situações inesperadas do mercado, de gerir as áreas funcionais, entre outras. Visa

identificar qual das alternativas estratégicas se encaixa melhor para se atingir os objetivos traçados.

Apesar do grande papel do CEO (Chief Executive Officer) e da alta gerência na elaboração

da estratégia, as áreas funcionais e operacionais da organização exercem papel fundamental nessa

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atividade. Os gerentes das atividades de linha de frente possuem o conhecimento técnico de suas

áreas, fundamental para a compreensão do funcionamento da aplicação da visão.

Neste sentido, podemos dividir as estratégias de uma empresa em três níveis hierárquicos:

corporativo, empresarial e das áreas funcionais, definidos à luz de Barbosa & Brodini (2004).

A estratégia corporativa visa o estabelecer o posicionamento em setores diferentes,

considerando o desempenho global. Esta, abrange quatro linhas de ação: desenvolver uma idéia

clara da missão, considerando o contexto da organização, definir as unidades de negócios de

acordo com s grupos de clientes e recursos necessários, alocar recursos às unidades de negócios

definidas e, por fim, desenvolver novas frentes de negócios para preencher possíveis lacunas no

plano estratégico.

A estratégia empresarial, ou do negócio, por sua vez, foca em uma linha de negócio específica,

desenvolvendo principalmente aspectos ligados à competitividade. Cada unidade de negócios

realiza um planejamento estratégico individualmente, a partir dos objetivos e metas corporativos.

As etapas de elaboração do planejamento estratégico da corporação e da unidade de negócios são

bastante semelhantes. As estratégias deste plano visam especificamente os produtos e serviços que

serão providos pela empresa.

Por último, as estratégias ligadas às áreas funcionais dizem respeito aos processos

empresariais específicos. Abordagem bastante aprofundada e detalhista, que gera a melhoria das

atividades críticas e atendimento de demandas específicas dos clientes. O impacto do planejamento

estratégico funcional é refletido diretamente nas funções de cada negócio. Este plano consolida os

requisitos funcionais que a organização deverá atender a fim de se atingir os objetivos corporativos

e da unidade de negócios.

As estratégias geradas no processo de elaboração, alinhadas a visão estratégica e visando

atingir os objetivos definidos gera a plano estratégico.

Etapa 4: Implementação e execução da estratégia

Esta etapa visa o gerenciamento da implementação e da execução focando nas operações. A

implementação da estratégia é a transformação ou tradução do planejamento realizado em ações

concretas, processos operacionais enquanto a execução de fato é o cumprimento real do plano ao

longo do horizonte de planejamento (FISCHMANN, 1987). As ações são definidas de acordo com

as diretrizes da estratégia e incluem os seguintes aspectos: primar pela capacitação e pelo

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aproveitamento de aptidões dos colaboradores, utilizar políticas e procedimentos enxutos, alocar

recursos de acordo com a criticidade das atividades, promover a cultura organizacional, reconhecer

o e incentivar o bom desempenho visando atingir os objetivos e utilizar as melhores práticas nas

atividades chave da organização.

Apenas um bom planejamento não é suficiente para se obter resultados excelentes e

diferenciação. A boa execução da estratégia é fundamental, pois garante que os planejamento está

sendo realizado de forma correta e coerente.

Certo e Peter (1993) estabelecem que a implementação da estratégia deve incluir cinco

estágios: mensuração das alterações necessárias para se implementar a nova estratégia, análise de

estruturas organizacionais quer permeiem ou resistam à estratégia proposta, tradução da cultura e

dos valores organizacionais e a forma como as pessoas afetam a organização, seleção da

abordagem mais apropriada às características da organização e validação da estratégia e avaliação

dos resultados.

Etapa 5: Acompanhamento dos desdobramentos, avaliação do desempenho e realização

dos ajustes corretivos

Nesta última etapa, ocorre o monitoramento do desempenho da execução das atividades

organizacionais e as flutuações no mercado e no ambiente no qual a empresa está inserida. Com

base na identificação de situações adversas ou mudanças no ambiente, são realizadas ações

corretivas no plano estratégico que podem abranger mudanças na visão, nos objetivos ou nos

métodos de execução da estratégia.

À luz de Oliveira (1993), é nesta fase em que ocorre a comparação entre o planejado e o

executado e se de fato, a organização se movendo em direção aos objetivos havia sido

estabelecidos (aproximação da visão). Parâmetros devem ser definidos a respeito da dinâmica de

avaliação de desempenho e de criação de planos de ação corretivos.

Ao passo que o a organização e seus fatores internos e externos se modificam, também a

estratégia deve ser modificada, a fim de se manter coerente e conferir à organização vantagem

competitiva. Novos cenários demandam objetivos renovados e, consequentemente, avanços nos

sistemas de medição e análise de desempenho. Neste ínterim, os modelos de planejamento

estratégico, em geral, estão alinhados ao conceito de melhoria contínua, presente nos mais diversos

tipos de sistema de gestão. A evolução de processos sujeitos à melhoria contínua em sua exceução

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exige que os sistemas de medição acompanhem as mudanças (CARINA; ATTADITA; MARTINS,

2003). Sistemas de avaliação de desempenho obsoletos não produziram informações consistentes

para a tomada de decisões estratégicas. Assim, avaliações de desempenho e ações corretivas

também devem ser realizadas nos próprios sistemas de avaliação de desempenho.

As etapas do planejamento não explicitam uma forma concreta de como se realizar um

planejamento estratégico. O processo descrito é proposto de forma genérica, assim como demais

sistemas de gestão encontrados na literatura. Isto torna o modelo aplicável a uma grande

diversidade de empresas e em diversas situações distintas sem, entretanto, deixar de orientar a

execução de um planejamento estratégico. O modelo também permite o aprimoramento pelo

aprendizado, de modo a permitir melhorias contínuas durante o processo de implementação.

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3. EXECUÇÃO DA ESTRATÉGIA E BALANCED SCORECARD

O Balancedo Scorecard (BSC) surgiu da necessidade de se obter as informações precisas e

coerentes a respeito do desempenho da organização. Estas informações, ou indicadores, deverem

estar alinhados com a visão estratégica da empresa e fornecer uma abordagem mais ampla, não se

prendendo somente a perspectivas financeiras. Esta ferramenta serve para complementar

indicadores financeiros, que somente mostram o desempenho passado, com indicadores de vetores

que refletirão em crescimentos e aumento de desempenho futuros (KAPLAN; NORTON, 1998).

Segundo Kaplan e Norton (1997), o BSC esclarece e reforça a necessidade dos indicadores

financeiros e não financeiros estarem atrelados ao sistema de informação, com acesso a todos os

níveis hierárquicos. Isto auxilia na compreensão dos impactos financeiros das ações e decisões

praticadas pelos colaboradores da linha de frente.

Fica claro, desta forma, que o BSC é uma ferramenta de auxílio da gestão estratégica, tendo

sua utilização alinhada com os conceitos da administração estratégica de planejamento e execução

da estratégia. Neste viés, o BSC visa atingir o esclarecimento e o consenso da estratégia, a

comunicação da estratégia, o alinhamento das metas, a identificação de iniciativas estratégicas, a

revisão periódica da estratégia e a retroalimentação das informações para aprofundamento do

conhecimento da estratégia (KAPLAN; NORTON, 1998).

O Balanced Scorecard, visando essa harmonização entre visão e estratégia da empresa e

perspectivas financeiras, está fundamentado em quatro pilares, a fim de se obter as perspectivas

mais relevantes para uma organização. As quatro perspectivas são: das finanças, dos clientes, dos

processos internos e do aprendizado organizacional e estão representadas na figura 2.

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Figura 2: Estrutura do Balanced Scorecard. Fonte: KAPLAN e NORTON, 1997, p.10.

3.1. Perspectiva Financeira

Medidas financeiras são importantes pois é por meio delas que se pode fazer uma leitura do

retorno financeiro direto das ações consumadas. Tais métricas financeiras visam a leitura de

aspectos focados diretamente no retorno financeiro para a organização e possibilitam ações

corretivas para se atingir os objetivos financeiros (KAPLAN; NORTON, 1998). Costumeiramente,

medidas financeiras remetem a lucratividade, e podem ser traduzidas em retorno sobre capital

investido, receita operacional, valor econômico agregado, entre outros.

3.2. Perspectiva dos Clientes

A perspectiva do cliente auxilia a alta gestão a identificar os mercados alvo a serem explorados

pela organização e quais as medidas mais indicadas para acompanhar o desempenho dos

segmentos selecionados. Clientes insatisfeitos migram de um fornecedor ou empresa para outro

que atenda melhor suas necessidades. Performances insuficientes nestes indicados por estas

medidas podem significar um futuro declínio no desempenho da empresa. Algumas das medidas

utilizadas podem ser tamanho do mercado penetrado, satisfação do cliente, e retenção de clientes.

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3.3. Perspectiva dos Processos Internos

Métricas baseadas nesta perspectiva auxiliam os gerentes a mensurar o quão bem os processos

de negócios estão sendo executados, e se seus produtos ou serviços estão de acordo com os

requisitos dos clientes (missão). Essas medidas devem ser cuidadosamente determinadas por

aqueles que possuem maior proximidade aos processos que se desejam medir e, não somente por

consultores externos. Alguns indicadores comuns são inovação em processos e serviços pós-venda.

3.4. Perspectiva do Aprendizado Organizacional

O foco da perspectiva do aprendizado organizacional visa estruturar o atendimento das

necessidades da organização para que esta gere crescimento e melhoria a longo prazo. Esta

perspectiva inclui o treinamento dos funcionários, e atitudes relacionadas à cultura organizacional

individual e da organização, que visem o aperfeiçoamento. Em uma organização que valoriza a

gestão do conhecimento, os funcionários devem estar em constante aprendizado. Algumas das

medidas exemplificadas por Kaplan e Norton (1998) são capacitação dos funcionários,

aprendizado e expectativa de crescimento, disponibilidade dos sistemas de informação e

motivação e empowerment. É importante ressaltar que, de acordo com Kaplan e Norton (1998), o

aprendizado não representa apenas o treinamento na perspectiva de quem aprende, mas também a

mentoria, facilidade de comunicação entre colaboradores e sistemas de informação baseados em

tecnologia.

3.5. Mapas Estratégicos

Mapas Estratégicos surgiram a partir do BSC como ferramenta de auxílio para a descrição do

planejemento estratégico. Os mapas são instrumentos visuais para se ligar a estratégia e ativos

intangíveis a processos agregadores de valor. Para se produzir um mapa estratégico é necessário

compreender as quatro perspectivas do BSC e qual a situação da organização que pretende adotá-

lo perante a estas perspectivas (KAPLAN; NORTON, 1998). A seguir, uma representação de um

mapa estratégico genérico. As perspectivas são elencadas conforme a priorização definida pela

empresa e, para cada perspectiva, são elaborados os objetivos. Por fim, são identificados os

vínculos entre os objetivos estratégicos.

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Figura 3: Exemplo genérico de Mapa Estratégico. Fonte: autoria própria.

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4. EMPRESA JUNIOR

4.1. Panorama Histórico

As empresas juniores têm sua origem na França, por volta de 1960, na L'Ecole Supérieure des

Sciences Economiques et Commerciales de Paris. O fator motivador foi a demanda por pesquisas

de mercado e consultorias em gestão, áreas de interesse de muitos estudantes. A ideia rapidamente

se difundiu e no fim da década de 1960 foi criada a primeira associação nacional de empresas

juniores. O intuito desta organização era prover diretrizes para o funcionamento das empresas

juniores da França (FEJESP, 2013).

Empresas juniores são organizações estudantis que proporcionam atividades que visam a

complementação da formação técnica dos alunos de graduação de instituições de ensino superior,

com enfoque prático na área de atuação da respectiva empresa júnior. Elas se encontram presentes

em diversas universidades e podem pertencer a diferentes tipos de faculdade e cursos.

A difusão do movimento empresa júnior se deu ao passar dos anos por todo o mundo, e após

cerca de vinte anos depois de seu início, ele chega ao Brasil, em 1988. A primeira empresa júnior

brasileira foi a Empresa Júnior da Fundação Getúlio Vargas (EJ-FGV). O embasamento para a

implantação de empresas juniores no Brasil veio pela parceria com Câmara de Comércio e

Indústria Franco-Brasileira. Ainda em 1988, mais duas empresas juniores surgiram, a empresa da

Universidade Federal da Bahia e a da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (FEJESP,

2013).

Empresas juniores (EJs) costumam contar com a colaboração da instituição de ensino ou de

algum departamento específico da universidade a fim de obter uma sede física, recursos como

telefone, internet, computadores, impressoras, etc., bens necessários para a realização de projetos

e estruturação de boas condições de trabalho e aprendizado. Ainda, empresas juniores contam (na

maioria dos casos) com estrutura jurídica, CNPJ e nota fiscal próprios. Os alunos estruturam as

diretrizes da empresa por meio de estatutos e as políticas por regimentos internos. A legislação

aplicável é a mesma à aplicável a organizações sem fins lucrativos (MORETTO et al, 2004).

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4.2. Empresa júnior como pequena empresa

De acordo com as classificações do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE), existe uma grande variedade de critérios que definem uma pequena

empresa. Para o SEBRAE, a classificação do porte das empresas depende da quantidade do quadro

de funcionários e do setor ao qual a empresa pertence. Já o Governo Federal, busca classificar as

empresas de acordo com o faturamento.

O critério de quantidade de funcionários por si só desconsidera fatores críticos para o

dimensionamento de um negócio, como produtividade, setor da economia, finalidade, etc.

(RATTNER, 1985).

Drucker (1981) afirma que o critério mais utilizado é o que considera a quantidade de

funcionários, visto que a medida que o quadro de funcionários se amplia, maiores alterações

ocorrerão na estrutura da organização. Segundo o autor, entretanto, o porte da organização não

altera sua finalidade ou os princípios pelos quais ela deve ser gerida mas sim, impacta a estrutura

organizacional e dos sistemas de gestão.

Portanto, pode-se atribuir à empresa júnior a classificação de pequena empresa sem fins

lucrativos, com a particularidade da estrutura organizacional. Apesar de algumas empresas

apresentarem um considerável número de colaboradores e um organograma semelhante ao de

grandes empresas, os demais fatores que definem a organização são mais preponderantes para a

sua classificação.

4.3. EESC jr.

A EESC jr. – Empresa Júnior dos alunos da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC -

USP) - é uma empresa sem fins lucrativos - , que realiza projetos nas áreas das engenharias civil,

de produção, mecânica, de materiais, de computação, ambiental, elétrica e arquitetura sendo

administrada exclusivamente por alunos dos cursos de graduação da EESC.

A empresa, fundada em 1992, é atualmente constituída pelos grupos (áreas funcionais):

Eventos, Jurídico-financeiro, Marketing, Projetos, Qualidade, Recursos Humanos e

Responsabilidade Social e Empresarial. Tais áreas possuem os níveis hierárquicos: trainee,

analista, gerente, diretor, conselheiro e membro sênior. Trainee é o membro recém ingressado e

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em período de adaptação (seis meses) e, se aprovado neste período, se torna um analista. Analistas

que apresentem bom desempenho, podem se candidatar aos cargos de gerência, cargos estes que

estão atrelados aos processos da EESC jr. Gerentes e analistas podem se canditadar ap cargo de

diretor, por um processo de eleição, realizado ao fim de cada ano. Conselheiros são indicados pela

diretoria, e realixam o papel de conselho fiscal da organização. Mebros seniores são membros

experentes alocados em projetos criados por eles mesmo, a fim de implementar melhorias internas

em processos da empresa. Além de possibilitar o contato dos membros com o mercado de trabalho,

bem antes de estarem propriamente inseridos nele, a EESC jr. desenvolve uma série de habilidades

que impactam não apenas a futura vida profissional do membro, mas também sua vida pessoal.

Detalhando as áreas de atuação, a empresa apresenta de forma resumida os seguintes projetos:

Arquitetura: Inclusão (adequação arquitetônica de edifícios para a melhor mobilidade de

deficientes físicos); Desenho arquitetônico; Layout interno e externo de ambientes;

Conforto de estruturas; Paisagismo; Comunicação visual.

Engenharia Ambiental: Impacto e adequação ambiental de empresas; Recursos hídricos

e energéticos.

Engenharia Civil: Consultoria em construção civil; Seleção de materiais para construção;

Planejamento e programação da construção; Orçamento da obra; Análise de sistemas de

transportes.

Engenharia Elétrica: Lógica digital; Instrumentação; Rendimento e qualidade de energia;

Sistemas elétricos.

Engenharia Mecânica e Mecatrônica: Projetos e desenhos em Computer Aided Design

(CAD); Otimização de máquinas e equipamentos; Projetos de automação; Ensaios

mecânicos; Tratamentos térmicos.

Engenharia de Produção Mecânica: Sistemas de informações; Análise financeira; Análise

de viabilidade e plano de negócios; Gestão de estoque, armazenagem e distribuição física;

Organização e otimização de sistemas produtivos.

O principal processo da EESC jr. é a venda de projetos. Basicamente, um cliente entra em

contato com a empresa, ou por prospecção ativa ou por iniciativa própria. Uma reunião de

alinhamento superficial é realizada, a fim de identificar a qual das grandes áreas da engenharia o

projeto melhor se enquadra. Um primeiro filtro é aplicado nesta etapa, a fim de permitir que

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somente os projetos que acrescentem as experiências que a EESC jr. visa proporcionar aos alunos

sejam selecionados. Caso o projeto já seja pertencente ao portifólio de projetos, o qual abrange os

projetos mais consolidados já realizados pela EESC jr, um colaborar da emrpesa é alocado no

projeto. Caso não seja um projeto do portifólio, um aluno da área de engenharia correspondente à

do projeto é convidado pela empresa a participar como consultor externo. Uma equipe de

colaborares é alocada para acompanhar o consultor (interno ou externo), das áreas Jurídico-

Financeira, Qualidade e Marketing e um gerente de projeto (membro mais experiente do grupo de

projetos) é selecionado. Outro filtro é aplicado, com base na disponibilidade de recursos e pessoas

necessários para a realização do projeto. Após isto, com as equipes alocadas nos projetos

adequados, o projeto é executado conforme as definições contratuais, definidas pele membro grupo

jurídico financeiro. Ao longo do projeto, o responsável da qualidade aplica questionários de

avaliação específicos para cada papel desempenhado pelos membros da equipe. Ao final do projeto

e, posteriormente, meses após a execução do projeto, o responsável de marketing aborda o cliente

a fim de identificar a satisfação e a utilizada dos serviços prestados.

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5. MÉTODOS DE PESQUISA

5.1. Caracterização da Pesquisa

A pesquisa será focada na análise da implementação e execução do planejamento estratégico

da EESC jr, e balizada nos quatro pilares da ferramenta de gestão estratégica Balanced Scorecard.

Primeiramente, será feita uma análise crítica da situação da empresa anteriormente à introdução

do planejamento estratégico estruturado pela empresa de consultoria estratégica parceira, por meio

da avaliação dos relatórios de gestão fornecidos pela gestão anterior à responsável pelo

planejamento. Ainda nesta etapa, será levantada a perspectiva de alguns dos diretores da empresa

em relação ao andamento da realização do planejamento estratégico, com base nas fases do

processo de elaboração e execução da estratégia apresentadas por Thompson e Strickland (2003)

e nos princípios do Balanced Scorecard.

Em sequência, serão analisados o processo de planejamento estratégico e alguns aspectos de

sua implementação, visto que seria necessário um tempo de implementação maior para que uma

análise de indicadores de gestão estratégica fosse consistente. Tais dados serão obtidos utilizando

o cronograma da elaboração do planejamento e o mapa estratégico do Balanced Scorecard.

Também, será feito mais um levantamento de dados com os diretores a fim de se levantar

problemas, alterações, melhorias e acertos em relação a utilização do modelo de planejamento

estratégico utilizado.

A abordagem será qualitativa pois, desta forma, torna-se mais flexível a interpretação das

informações obtidas. O tipo de dado a ser coletado, como possíveis erros no planejamento,

modificações realizadas e dificuldades encontradas podem ser melhor explanadas e aprofundadas

em uma abordagem qualitativa.

A pesquisa terá a finalidade descritiva e o intuito é a demonstração de como o planejamento

estratégico foi realizado, quais foram os recursos necessários para sua elaboração, dificuldades

encontradas, etc. Assim, a pesquisa se enquadra como um estudo de caso, no qual a empresa júnior

será estudada a fim de se obter dados necessários para avaliar a validade da execução e

implementação do planejamento estratégico.

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5.2. Técnicas de Coleta de Dados

As técnicas de coleta de dados usadas neste trabalho são: a entrevista de tipo qualitativo,

análise de documentos (serão analisados o relatório de gestão do passado, o mapa estratégico e a

documentação referente à estrutura do planejamento estratégico nos moldes atuais).

Segundo Rosa (2006, p.16):

"...a entrevista é uma ferramenta imprescindível para se trabalhar buscando-se

contextualizar o comportamento dos sujeitos, fazendo a sua vinculação com os

sentimentos, crenças, valores e permitindo, sobretudo, que se obtenham dados

sobre o passado recente ou longínquo, de maneira explícita, porém tranquila, e

em comunhão com o seu entrevistador que deverá, inicialmente, transmitir

atitudes que se transformem em transferência e troca mútua de confiabilidade".

Ainda de acordo com Rosa (2006) a escolha de entrevista como técnica de coleta de dados

deve ser feita de acordo com a necessidade do pesquisador de se obter dados mais profundos e

respostas mais completas, ou seja, a realização de entrevistas proporcionam leituras mais acuradas

do objeto da pesquisa e trazem maior confiabilidade aos dados coletados.

Três pessoas foram entrevistadas para a presente pesquisa e serão referenciados:

Referência Descrição do Cargo

Entrevistado 1 Diretor Jurídico-Financeiro em 2012, diretor Presidente-2013, Alumni -

2014

Entrevistado 2 Gerente Jurídico-Financeiro - 2012, diretor Jurídico-Financeiro - 2013,

Alumni - 2014

Entrevistado 3 Gerente de eEventos – 2012, diretor de Eventos – 2013, diretor Presidente

- 2014

Além dos questionários, o mapa estratégico, o Balanced Scorecard e relatórios anuais são

públicos e serão avaliados a fim de se obter informação a respeito do desempenho da empresa com

base nos indicadores estabelecidos pelo planejamento estratégico. A técnica a ser utilizada será

baseada na observação estruturada.

A observação estruturada, também chamada sistemática, planejada ou controlada, tem por

objetivo a obtenção de respostas a propósitos preestabelecidos. Nesta técnica, o pesquisador esta

ciente do tipo de informação que deseja coletar, garantindo a objetividade, reconhecendo possíveis

erros e eliminando a influência sobre o objeto de observação, e visa fornecer descrições precisas

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dos fenômenos ou o teste de hipóteses (BUY, 2002). Deste modo, critérios foram estabelecidos,

balizados nas teorias de Thomson e Kaplan e Norton de modo a garantir a objetividade da coleta

dos dados a serem analisados.

5.3. Técnicas de Análise de Dados

Segundo Moraes (1999), a análise de conteúdo é uma metodologia de pesquisa usada com a

finalidade de descrever e interpretar o conteúdo textos e documentos. Essa análise, conduzindo a

descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, auxilia na reinterpretação de mensagens para

se atingir um maior entendimento dos significados em uma profundidade que ultrapassa a da

leitura comum.

Tal técnica é parte de uma busca teórica e prática a fim de se obter as informações e suas

análises. A análise de conteúdo vai além do que é proposto por uma simples técnica de análise de

dados, representando uma abordagem metodológica com características e possibilidades próprias

que visam explorar e identificar: se o sentido que o autor pretende expressar pode coincidir com o

sentido percebido pelo leitor; se o sentido do texto poderá ser diferente de acordo com cada leitor;

se um mesmo autor pode emitir uma mensagem, sendo que diferentes leitores poderão captá-la

com sentidos diferentes; se um texto pode expressar um sentido do qual o próprio autor não esteja

consciente. (MORAES, 1999).

Neste sentido, os questionários serão analisados por meio de uma abordagem qualitativa. De

acordo com Hair Jr. (2005), as informações coletadas de acordo com a observação de pessoas,

eventos ou objetos, resultando em dados descritivos ou numéricos. Ao se analisar o conteúdo,

os dados são obtidos por meio de observação da mensagem de texto escrito. Utilizando-se de uma

abordagem sistemática da observação das informações, o pesquisador analisa criticamente as

palavras e os temas mais recorrentes e a frequência com que estes ocorrem. Assim, é possível

traduzir o conteúdo e os principais aspectos das informações apresentadas (HAIR JR., 2005).

A análise dos relatórios de gestão anuais da EESC jr. possibilita o uso de um método que, de

acordo com Cellard (2010) elimina, parcialmente, a ocorrência de influências que podem ser

causadas pela presença ou intervenção do pesquisador, do conjunto das interações entre as partes

envolvidas. Tais alterações podem ser interpretadas como o erro inerente a realização de

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entrevistas, uma vez que neste caso, o pesquisador possui relações pessoais com uma grande

parcela dos membros da alta gestão.

As entrevistas foram gravadas e apenas as partes relevantes de acordo com os critérios

estabelecidos pela estrutura de coleta de dados serão consideradas. Os diálogos não serão

transcritos na integra para que não ocorra excesso de dados e, consequentemente, dificuldade na

análise do conteúdo.

5.4. Tópicos da Pesquisa

De acordo com o direcionamento dado pelo objetivo do trabalho, algumas questões deverão

ser respondidas:

Sobre o processo de planejamento estratégico;

Sobre a elaboração da estratégia;

Sobre a comunicação da estratégia;

Sobre a declaração de alvos estratégicos;

Sobre a implantação da estratégia.

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6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A apresentação dos dados coletados, conforme descrito anteriormente, é dividida em dois

momentos. O primeiro, visa descrever como eram realizadas a elaboração e a execução do

Planejamento Estratégico anteriormente ao projeto de consultoria e será referenciado como

“anterior a 2013”. O segundo, descreve o modelo desenvolvido pela parceria da consultoria

estratégica com a EESC jr, em um projeto que ocorreu entre o final de 2012 e o início de 2013.

Este segundo será referenciado com “após 2013”.

6.1. Apresentação e análise dos dados: anterior a 2013

6.1.1. Sobre o processo de planejamento estratégico

O planejamento estratégico era divido em três etapas distintas: Planejamento Estratégico

Participativo (PEP), Planejamento Estratégico e, posteriormente, o “refinamento” da estratégia

dentro de cada departamento. Estas etapas consistam basicamente em um pré planejamento que

permitia a participação de todos os membros da empresa, o planejamento estratégico em si,

realizado pela diretoria executiva e um alinhamento com os membros de cada um dos grupos a

respeito do que havia sido decidido.

A primeira etapa, denominada Planejamento Estratégico Participativo (PEP), era uma reunião

anual, que se dava no período de co-gestão entre diretorias, na qual todos os membros eram

convidados a participar. Nesta reunião, os membros da EESC jr. tinham a oportunidade de levar

suas opiniões e debater aspectos de curto, médio e longo prazo dos objetivos que pautariam o norte

da empresa pelos próximos dois ciclos de gestão. O diretor Presidente eleito e o diretor Presidente

em exercício elaboravam as pautas que seriam abordadas no PEP e as informavam com

antecendência, permitindo que quaisquer membros enviassem pautas propostas caso sentissem a

necessidade. Alguns dos exemplos de pautas citadas pelos entrevistados para último PEP foram a

função do cargo de gerente e qual, de fato, era sua diferenciação em relação ao papel

desempenhado pelo analista e se o programa de “Blitz” (atribuição de pontos para os grupos da

empresa utilizando critérios de organização, com base em política de 5S) continuaria a existir.

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“Não era uma discussão estratégica, eram pontos muito táticos. A gente tinha uma

visão muito errada do que era importante ou não. A questão dos gerentes até era

estratégica, mas desconexa à um plano maior, vira tática” (Entrevistado 1)

De acordo com todos os entrevistados, o PEP não era de fato um evento significativo para as

decisões estratégicas e tinha pouca ou nenhuma influência na formulação da estratégia da empresa.

A fase de Planejamento Estratégico se dava durante uma semana de reuniões ao longo do dia.

Primeiramente, foi feito o contrato psicológico entre os diretores para alinhamento de expectativas.

O contrato psicológico consiste em um acordo entre membros e diretres, no qual todos expões suas

expectativas e seus objetivos para o ciclo de gestão que está sendo iniciado. No dia seguinte, houve

um treinamento com teoria de planejamento estratégico, havendo escolha de um modelo mais

adequado à empresa de acordo com a bibliografia e, em seguida, a revisão da missão e da visão.

Os dados para a escolha do modelo eram provenientes do relatório de Planejamento Estratégico

do ano anterior. Posteriormente, análises qualitativas eram feitas para que valores, objetivos, metas

e indicadores da empresa fossem obtidos. Algumas dinâmicas de team building eram realizadas

juntamente com o planejamento para gerar maior engajamento da equipe.

Ao fim da semana, se fazia um processo semelhante de formulação de missão e objetivos para

cada grupo individualmente, com uma visão mais focada no nível tático.

No início das aulas, com a volta de todos os membros à empresa, estratégia era “refinada”

dentro dos grupos. O diretor era o responsável por indicar como o planejamento seria traduzido

nas ações rotineiras dos membros. Primeiramente, era feito um contrato psicológico entre o diretor

e os membros.

“No refinamento do Planejamento Estratégico, o tático repassado (planejamento)

era bem na atividade mesmo. Na época a gente recebeu o planejamento tático no

financeiro e era bem assim, o que vai ser feito em cada época.” (Entrevisado 2)

A figura a seguir, retirada do relatório do planejamento estratégico, ilustra as etapas do

processo estrategico anteroir a 2013.

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Figura 4: Estrutura Planejamento Estratégico da EESC jr. anterior a 2013. Fonte: Relatório de Planejamento

Estratégico da EESC jr, 2012.

A revisão do planejamento ocorria semestralmente, em uma reunião de Replanejamento

Estratégico (Replan). Cada grupo tinha um momento de discussão, no qual as realizações e o

desempenho até o momento eram discutidos e o quais seriam os próximos passos a partir dali.

Segundo o Entrevistado 2, a respeito do Replan:

“O Replan que eu participei foi bem desorganizado. Nisso, já havíamos feito

contato com a consultoria mas ninguém sabia direito que tipo de parceria poderia ser feita. (...) Era muito tempo em uma sala fechada, rendia pouquíssimo, as

discussões muitas vezes não levavam a nada. Foram dois dias e as pessoas saiam

frustradas e desgastadas. Alguns membros não voltaram no segundo dia. Pouco

ou nenhum preparo da diretoria para as discussões” (Entrevistado 2)

De acordo com os entrevistados, na época não houve preocupação com a adaptação do modelo

teórico à realidade da empresa júnior, seja levando em consideração o seu porte ou sua finalidade.

A necessidade de uma adaptação pode ter sido levada em conta durante a elaboração do primeiro

relatório de planejamento estratégico formal, gerado no ano de 2010.

6.1.2. Sobre a elaboração da estratégia

O planejamento estratégico da EESC jr. era embasado no livro “Planejamento estratégico:

elaboração, implementação e execução” de Thompson e Strickland (2004), no que se refere ao

entendimento do que era o planejamento estratégico de modo generalizado. O livro servia como

PEP 2011 Revisão do

PE 2011-

2013

PE Diretoria

Executiva

2012

Aval. Diretoria-

Executiva

Conselho Adminis-

trativo

Refinamento nos

Grupos

PLANO ESTRATÉGICO 2012-2014

(abordagem colaborativa)

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um guia didático para os membros entenderem como se dava o processo do planejamento

estratégico, quais seriam os papeis desses membros envolvidos e como se daria a implementação

do plano.

Como descrito pelo Entrevistado 1:

”Como qualquer livro antiquado de planejamento estratégico, ele (livro) te dava

algumas estratégias possíveis, e não te deixava escolher o que você queria ser (...). Dentre as estratégias possíveis, achamos que a EESC jr. deveria se

diferenciar pelo custo, pelo fato de nossos projetos serem mais baratos.”

O Entrevistado 2 afirma que o modelo não foi adaptado da melhor maneira possível para a

realidade da EESC jr. Segundo o relatório do planejamento estratégico produzido, a empresa júnior

adotou um dos cinco modelos propostos na bibliografia, o de estratégia de baixo custo, com a

justificativa de este modelo representar a “vocação” da empresa. Este modelo era tido como e fator

de diferenciação perante a concorrência. Estratégias auxiliares eram traçadas para dar suporte a

estratégia mestra, e consistiam em um apanhado do brainstorming da segunda macro etapa do

planejamento. As variações de tais modelos eram propostas de acordo com diferentes

configurações para as relações entre as perspectivas do Balanced Scorecard. A única preocupação

com brainstorming nessa etapa, de acordo com os entrevistados, era garantir que não houvesse

repetição de idéias.

O Planejamento Estratégico ocorria durante o período de férias das aulas. Os membros eram

convidados a participar, porém não havia adesão alguma. A grande maioria dos estudantes do

compus da USP de São Carlos são originários de outras cidades ou estados e, por isso, fatores

como distância, custo e ausência familiar podem inviabilizar o retorno à universidade durante o

período de férias.

Desconsiderando fatores de disponibilidade dos membros, somente algumas etapas eram

abertas para a participação. A pauta mais crítica e com acesso restrito ao grupo da diretoria, era a

avaliação do relatório de Pesquisa de Clima Organizacional (PCO), que muitas vezes trazia a

opinião pessoal a respeito das relações de trabalho entre membros e dos membros com seus

respectivos grupos. Para evitar possíveis conflitos, não era permitido o acesso aos membros não

diretamente ligados ao processo.

Essa característica de indisponibilidade de participação de membros na formulação da

estratégia por um período relativamente longo se comparado ao tempo que se disponível (três

meses de férias para aproximadamente duas semanas de planejamento) é particular da empresa

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júnior. Entretanto, vale ressaltar que nas demais empresas, caso exista período de férias coletivas

coincidente com alguma etapa que possibilite a participação ampla de funcionários no

planejamento, pode ocorrer o mesmo tipo de problema de baixa participação.

Duas atividades eram desenvolvidas ao longo da semana de planejamento estratégico para a

obtenção de dados para análises interna e externa. A primeira era uma análise SWOT feita em uma

sessão de brainstorming e a segunda era análise do relatório de Pesquisa de Clima Organizacional.

Em termos de quantidade de esforços para a obtenção de informações internas e externas, pode-se

verificar que havia maior preocupação ou foco em fatores internos. Segundo as entrevistas, isto se

deveu a maior facilidade de obtenção de dados produzidos internamente em comparação com

pesquisas de mercado, por exemplo.

Apesar de serem levantados tanto fatores externos quanto internos que pudessem ser

impactantes na estratégia, estes não possuem uma aplicabilidade ou inserção no planejamento

estratégico. As análises eram incluídas no relatório, exerciam pouca influência no estabelecimento

dos objetivos e apenas serviam para constar como parte do roteiro proposto para o processo.

6.1.3. Sobre a comunicação da estratégia

A comunicação inicial era feita por meio de um convite aos membros a participarem do PEP.

A participação era ativa, porém, como dito anteriormente, gerava informação que não era refletida

na estratégia. Após o término do processo de planejamento e início do período letivo, o material

gerado era impresso e disponibilizado. Cabia a cada diretor gerar um cronograma de planejamento

e alinhamento da estratégia com os grupos. Não havia um controle formal da realização deste

cronograma. A falta de um acompanhamento frequente fazia com que as atividades se

distanciassem das metas e até mesmo dos objetivos ao longo do ano, e isso só seria observado no

meio do ano, quando era feito o Replan. Mesmo nas reuniões semanais da diretoria, uma

comparação entre objetivos e resultados dos grupos não era feita.

Após as primeiras reuniões anuais, não havia uma política de comunicação da estratégia

consolidada.

“Arrisco dizer que era email (ferramenta de política de comunicação), mas não

lembro. Foi falado na primeira reunião geral do ano, porém não houve esforço de

comunicação além disso. O próprio relatório do planejamento estratégico só foi

conluído no segundo semestre do ano. Nisso, vários diretores perdiam o foco

estratégico dos seus grupos e a informação se perdia. A falta de comunicação

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imperava.” (Entrevistado 2).

Quanto a preocupação com o alinhamento os membros com o que foi proposto, ainda segundo

o Entrevistado 2, os membros não entendiam ao certo de onde vinha a estratégia, eles a aceitavam

e executavam suas funções. Este fato gerava problemas de baixa motivação e desempenho dos

colaboradores.

Não houve identificação e alinhamento dos membros com a estratégia e, por sua vez, a

estratégia não estava alinhada com os objetivos pessoais dos colaboradores.

6.1.4. Sobre a declaração de alvos estratégicos

Os alvos estratégicos propostos pelo planejamento estratégico feito anteriormente a 2013

foram encontrados no relatório final do planejamento.

Missão:

“A EESC jr. existe para proporcionar soluções de qualidade em engenharia e arquitetura,

preparando seus membros para a realidade do mercado e contribuindo para o desenvolvimento da

sociedade e do MEJ.”

soluções de qualidade: com foco no cliente, em sua satisfação e suprimento pleno de suas

demandas, através da excelência de nosso trabalho.

em engenharia e arquitetura: pois a empresa é gerida por alunos de graduação de engenharia

e arquitetura e pretende continuar a atuar nestas áreas.

preparando seus membros para a realidade do mercado: pela capacitação teórica e prática, pela

vivência empresarial, desenvolvimento pessoal e realização de eventos que contribuam para

com o desenvolvimento da sociedade em que atuamos. O desenvolvimento do membro leva à

maior satisfação do cliente.

desenvolvimento da sociedade: dar à sociedade um retorno dos recursos que ela proporciona

à Universidade, através dos projetos comerciais com preços acessíveis, dos projetos sociais,

da cultura de valores da organização e das oportunidades aos alunos do campus.

desenvolvimento do MEJ: através da participação efetiva nas atividades do movimento, da

interação com outras EJs e pelo próprio crescimento da EESC jr. que, como legítima

representante do MEJ, leva ao consequente crescimento do movimento.

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Visão:

“Ser referência em projetos de engenharia e arquitetura em São Carlos e região, na realização

de eventos e buscar a excelência em gestão.”

Valores:

Integridade: agir sempre de forma ética e transparente.

Respeito: tratar todas as pessoas igualitariamente com importância e consideração.

Profissionalismo: trabalhar com seriedade e comprometimento, agindo com postura coerente

às suas responsabilidades.

Cooperação: valorizar o trabalho em equipe, a fim de atingir um objetivo comum, tendo

consciência da igual responsabilidade de todos os membros para o sucesso da empresa e

satisfação do cliente.

Iniciativa: propor novas ideias e agir com disposição para empreender e ousar.

Foco em resultados: direcionar esforços para que os objetivos sejam alcançados, sem que haja

quebra de valores.

Resiliência: persistir diante das adversidades, não se deixando abater mesmo com resultados

negativos.

Quanto às metas, estas eram elaboradas com base em materiais dos anos anteriores. Não havia

uma base de dados bem estruturada, entretanto. Estimativas em sessões de brainstorming

produziram as metas sem histórico.

Quanto aos indicadores, os entrevistados afirmaram que não havíam rotinas de coleta bem

estruturadas. O grupo da qualidade era responsável por auditar e coletar os indicadores de todos

os grupos, distanciando a responsabilidade de avaliação de desempenho feita pelo próprio grupo.

“Era muito sintomático. Como qualquer empresa sem estratégia, nós só tínhamos

indicadores financeiros. Não se, em quanto tempo eu entrego um projeto, mas sei qual foi o faturamento do no retrasado.” (Entrevistado 1).

Missão, Visão e Valores eram criados em sessões de brainstorming pelo grupo da diretoria

durante a semana de Planejamento Estratégico. Algumas informações a respeito da empresa eram

levadas em consideração porém de modo informal. Analogamente, os objetivos eram traçados de

forma semelhante e estabelecidos individualmente para cada grupo. Não havia integração entre

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áreas ou abordagens processuais para correlação de objetivos comuns entre grupos funcionais. Não

havia preocupação com a possilidade de objetivos ou metas conflitantes entre os grupos.

“Não se levava em conta que para realizar mais projetos, por exemplo,

precisaríamos de mais membros e melhorar a capacitação. Eu precisaria melhorar

o meu processo seletivo. E seu eu perdesse membros ao longo do ano? Como

cumprir metas com menos recursos do que o planejado? Não seria possível

esperar até o próximo processo seletivo. Esse tipo de discussão não vinha durante

o processo seletivo. Era muito voltado a se manter o status quo. Não havia desafio

à diretoria. Não era verdadeiramente um plano trienal, como supostamente

deveria ser.” (Entrevistado 1)

As missões criadas para cada grupo eram vagas e objetivos e metas desdobrados eram focados

em aspectos operacionais em um nível muito específico, chegando a serem propostos objetivos a

serem cumpridos em um período de semanas. Havia a consciência de que as metas eram

demasiadamente operacionais e que, de fato, deveriam ser mais estratégicas, porém existia a

dificuldade em transcrever a teoria à prática.

Algumas planilhas foram elaboradas após o término do planejamento, porém, segundo os

entrevistados, nunca foram de fato utilizadas para que se pudesse obter um entendimento da

situação da empresa. Não havia uma relação direta entre a avaliação dos indicadores e ações

corretivas a desvios da estratégia.

6.1.5. Sobre a implantação de alvos estratégicos

De acordo com o Entrevistado 1 houve uma implantação parcial da estratégia, visto que o foco

das principais atividades referentes realização de projetos estava sendo mantido e que houve

superação das metas propostas apesar do fraco acompanhamento. Já os Entrevistados 2 e 3

julgaram que não houve implantação.

“Não era algo que estávamos sempre atentos (metas) e só em algum momento era

lembrado. Como eram meta operacionais com horizontes de até algumas semanas, os membros viam os objetivos como o dia-a-dia e não como estratégia.”

(Entrevistado 2).

O grau de sucesso do planejamento foi julgado muito abaixo do esperado pelos três

entrevistados, visto que havia várias lacunas entre o planejado, o entendimento do planejado e que

era de fato realizado. Por estes motivos, também não houve nenhuma alteração no plano

estratégico. Durante o Replan, a intenção de minimizar possíveis atritos entre diretores foi mais

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relevante do que o baixo desempenho da de alguns grupos funcionais em relação ao que havia sido

inicialmente proposto.

“Não havia ações claras. Existia missão, visão e valores que era onde a gente

queria chegar mas nada era planejado para que fossem atingidos de fato. Em

nenhum momento existiam ações palpáveis para se atingir isso.” (Entrevistado 3)

6.2. Apresentação e análise dos dados: após 2013

6.2.1. Sobre o processo de planejamento estratégico

Uma primeira diferença notada pelo Entrevistado 2 a respeito do processo atual foi em relação

ao cronograma:

“Um dos pontos importantes para esse novo modelo foi começar cedo. Foi no

começo das férias antes do início de 2013. Foi aprendizado puro. A gente tinha

uma ideia muito superficial do que era estratégia e foi feito um processo

preparatório importante.”

O novo processo de planejamento estratégico, proposto pela consultoria, possuía 4 macro

etapas: planejamento e entendimentos das expectativas, revisão do planejamento estratégico,

tradução do planejamento com o BSC e governança da estratégia. Ao longo destas quatro etapas,

havia o processo suporte de gestão da mudança, do qual fazia parte a realização de um workshop

ao final de cada etapa para comunicar e validar o trabalho desenvolvido.

A primeira macro etapa estabeleceu a base para todo o processo e envolveu a formulação do

projeto, a preparação da equipe, o levantamento de informações iniciais e a primeira etapa de

divulgação e repasse de informação para todos os membros. O início do planejamento e

entendimento de expectativas consistia na estruturação do projeto, com cronogramas, papéis e

responsabilidades e atividades bem definidas. Após isto foi feita uma capacitação da equipe de

trabalho, na qual foram passados treinamentos sobre planejamento estratégico e BSC. Também

eram levantadas de forma qualitativa algumas das principais necessidades de negócio da EESC jr.

Para obter algumas informações mais específicas a respeito de cada cargo da diretoria, foram feitas

entrevistas com dois ex-diretores de cada cargo, realizadas pelo diretor atual do respectivo grupo.

O diretor atual também respondeu ao mesmo questionário. Como ferramenta de comunicação e

obtenção de dados para visão e alguns objetivos estratégicos, foi feito um workshop com várias

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dinâmicas em grupo. Este workshop durou dois dias e contou com a presença de membros e ex-

membros.

“No workshop houve revisão da missão, que foi um dos grandes fatores que

mudaram a cara da empresa hoje. (comparação entre fazer projetos (antes) e

capacitar pessoas (hoje)) Isso se refletiu na nossa forma de trabalho. Hoje as

nossas decisões são pautadas no desenvolvimento das pessoas. Acho que isso vai

ser sempre uma prioridade da empresa.” (Entrevistado 3).

A segunda etapa, foi iniciada com a consolidação das informações coletadas durante a fase de

abertura e com a revisão do planejamento estratégico existente. Nesta fase, eram incluídas a revisão

da missão, da visão e dos valores utilizando os insumos obtidos até então. Havia a consolidação

de uma análise SWOT feita na primeira etapa para a exploração dos ambientes interno e externo.

Era nesta etapa que o posicionamento competitivo e alguns objetivos estratégicos eram definidos.

A terceira etapa, tradução do planejamento com o BSC, pode ser entendida como a

concretização da estratégia, ou a aproximação da estratégia às atividades da EESC jr. Houve a

construção de um mapa estratégico, beseado na bibliografia de referência “Mapas Estratégicos”

de Kaplan e Norton (1998). Este mapa era utilizado para vincular e alinhar os objetivos

estratégicos. Também eram criados metas e indicadores e projetos estratégicos que permeariam o

estabelecimento dos objetivos e o alcance das metas.

“Esses projetos eram mais para podermos estruturar a avaliação de desempenho

do que para atingirmos os objetivos em si. Mais para o fim do ano foram surgindo

projetos para melhorar s processos que levariam ao cumprimento das metas dos objetivos.” (Entrevistado 3).

A última etapa do processo foi a formulação de um modelo de gestão estratégica ou

governança da estratégia. Nesse modelo, as diretrizes de implementação, avaliação de resultados

e tomada ações corretivas seriam estruturadas e consolidadas. Na prática, a governança propunha

reuniões ao final de cada mês para o acompanhamento da implementação.

“As reuniões eram uma espécia de acompanhamento de desempenho. As pautas

eram lançadas por grupos com antecedência a respeito do andamento das atividades. Os membros envolvidos diretamente em cada situação eram

encarregados de apresentar o assunto e propor soluções. Havia também uma

revisão geral semestral, de acordo com a nova governança, com uma proposta

semelhante a do Replan.” (Entrevistado 2)

A seguir, um fluxograma simplificado do processo de planejamento estratégico atual.

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Figura 5: Estrutura do Planejamento Estratégico da EESC jr. após 2013. Fonte: Apresentação de

slides informativos sobre o planejamento estratégico da EESC jr, 2013.

Como estabelecido na governança, nas reuniões mensais do comitê de estratégia, grupo

responsável pela cobrança e acompanhamento de indicadores e metas dos projetos estratégicos, já

eram identificadas oportunidades de melhoria e ações corretivas eram tomadas. Além disso, ao

meio do ano havia uma revisão mais aprofundada da estratégia, que poderia incluir alterações de

maior impacto e análises mais minuciosas.

No que tange a adaptação do modelo teórico para um mais adequado a situação da empresa

júnior, houve grande concordância entre as visões dos entrevistados. Todos os entrevistados

acreditam que a finalidade da empresa, teve um impacto grande na adaptação feita. No caso da

EESC jr., a empresa é uma organização sem fins lucrativos, em comparação com as demais

empresas, que possuem o objetivo de gerar valor para os seus acionistas, há divergência na ordem

de importância das perspectivas do Balanced Scorecard. Uma empresa júnior tem como principais

perspectivas os clientes e o aprendizado organizacional, tendo os clientes internos um grande

importância. Grandes multinacionais, por exemplo, devem enfatizar a perspectiva financeira, que

trará o retorno para os seus portadores de ações.

Entretanto, ocorreu certa divergência quanto a adoção de indicadores. O Entrevistado 2

possuía a visão de que não foram feitas adaptações pautadas no porte da empresa, e que isto não

havia impactado de forma significativa no desempenho da implementação do processo.

“Houve preocupação na adequação dos modelos para a realidade da empresa jr.

A escolha de um modelo foi muito mais pautada na finalidade do que no porte da

empresa. Se houve alguma preocupação com o porte, esta não foi explícita, e

pode ter sido muito mais focada na comunicação e simplicidade da formulação

de objetivos, metas indicadores. Não houve grande necessidade de alterações no

modelo.” (Entrevistado 2)

O Entrevistado 3, que continuou por um período mais longo e hoje (2014) é o presidente em

exercício da EESC jr, afirma a respeito de problemas na adaptação:

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“Eu acho que pegamos um modelo de empresa grande e não adaptamos muito

bem nesse sentido. A inserção dessa cultura (de manutenção de indicadores) foi

um pouco custosa e demandava um certo trabalho. A gente tem muitos objetivos

e muitos indicadores que precisam de um acompanhamento mais formal e

burocrático da estratégia, mais constante, e no nosso caso, temos um ambiente

mais informal com contato direto com todos os membros. Nossa gestão estratégica trabalha num modelo de empresa grande, temos um board, um

conselho administrativo, e precisamos apresentar resultados muito grandes. Isso

hoje é um problema e pretendemos solucionar para o próximo planejamento. “

Essa divergência leva a observação de que, possivelmente, somente após o término dos

projetos de criação de processos para a implementação das rotinas de gestão da estratégia e

primeiras rodadas de implementação é que foi possível identificar que algumas rotinas poderiam

ter sido simplificadas.

6.2.2. Sobre a elaboração da estratégia

As referências para a realização do projeto foram os livros “Estratégia em Ação” (1997) e

“Mapas Estratégicos” (2004), de Kaplan e Norton e “Execução – A Disciplina para se Atingir

Resultados” (2010) de Charan e Bossidy. Também foram utilizados amplamente os conhecimentos

do consultor e o material por ele fornecido.

Os principais envolvidos com o panejamanto estratégico eram os diretores, assim como na

metodologia anterior a 2013. Entretanto, os workshops em cada uma das etapas, contavam com a

ampla participação de membros e ex-membros, contribuíram significativamente para o

envolvimento de toda a empresa. O problema relacionado às férias do período letivo foi contornado

com uma forte comunicação e muita importância foi dada a participação dos membros. A data do

primeiro workshop foi planejada para antes das férias e fora do período de provas finais.

Para a obtenção e análise de fatores internos e externos uma análise SWOT foi feita em

dinâmicas de grupos durante o workshop. Todos os dados gerados foram consolidadas pelo

consultor em uma SWOT final. De acordo com o Entrevistado 2, o principal output do workshop

foi a análise SWOT. De forma semelhante a análise SWOT da metodologia anterior a 2013, esta

atual balizou a criação de objetivos do BSC de forma qualitativa. Ainda assim, houveram alguns

pontos críticos quanto a coleta de dados externos:

“O workshop, como primeiro evento mais significativo do processo, foi muito

voltado para a análise interna. Isso eu vejo hoje como um ponto fraco do nosso

planejamento. Uma coisa que a gente precisava fazer é uma análise externa seja

com pesquisa de mercado, pesquisa de imagem, que é uma coisa que começamos

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esse ano (2014). Como os stakeholders enxergam a gente. Não usamos o quadro

comparativo para saber como a nossa marca se posiciona entre as outras empresas

com serviço semelhante dentro de São Carlos e não tem um comparativo com

outras empresas juniores. Hoje nós fazemos 15 projetos por ano e há empresas

juniores menores que fazem 30. Foi uma coisa que não levamos em cona na hora

de estabelecer nossas metas. Deveríamos ter feito uma análise mais objetiva do ambiente externo.” (Entrevistado 3)

6.2.3. Sobre a comunicação da estratégia

Os entrevistados convergiram no que diz respeito à proposta de comunicação da

estratégia, e esta opinião é ilustrada claramente pelo Entrevistado 2:

“A comunicação permeou todo projeto, o consultor frisou bastante essa parte. A

comunicação não era uma etapa ao final do projeto, ela era parte do processo,

sempre mandávamos emails, infográfos, realizávamos workshops, palestras nas

reuniões gerais, etc.)”

Fica bastante claro o amadurecimento do processo de planejamento estratégico quanto a

necessidade de se estabelecer políticas adequadas para a comunicação. Todos os membros e ex-

membros receberam acesso aos emails informativos, eram convidados a participarem dos

workshops, e sempre foram incentivados a colaborar ativamente de todo o processo.

Conforme o relatado, no início da aproximação com a consultoria, houve pouca participação

dos membros. O trabalho era mais focado na preparação da diretoria. Conforme o projeto foi

avançando e as ferramentas de comunicação foram sendo executadas, houve crescente interesse

dos membros. Nas palavras do Entrevistado 2, o workshop, foi um divisor de águas, houve grande

adesão dos membros e todos saíram bastante satisfeitos.

“A comunicação fez com que os membros se identificassem e se sentissem mais

donos da estratégia. No começo houve uma certa dificuldade no entendimento do

processo de elaboração e implementação, mas a repetição do assunto pela

comunicação fez com que esse problema fosse sanado.” (Entrevistado 2)

O grau de identificação foi grande segundo todos os entrevistado. Isto foi devido tanto ao

modelo de comunicação forte quanto ao grau de relacionamento dos membros. O comportamento

das pessoas dentro da EESC jr se assemelha ao cenário de uma pequena empresa, relacionamentos

informais e proximidade entre membros.

O Entrevistado 2 ainda fez observações sobre a aderência à estratégia no diz respeito ao

cumprimento das metas. Ele afirma que um próximo passo seria a real incorporação da estratégia

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pelos membros. Seria a consciência e a proatividade de realizar as atividades alinhadas aos

objetivos e com motivação para o cumprimento e superação das metas. Estas observações foram

ao encontro da vivência do Entrevistado 3, que revelou que em 2013 ainda havia muitos problemas

com aderência ao planejamento, pois havia baixo comprometimento dos membros em se ater

rigorosamente às metas.

O Entrevistado 3 relata que houve um amadurecimento da implantação da estratégia. Segundo

ele, vários gerentes se envolveram mais a fundo como gestores dos indicadores de projetos

estratégicos enquanto os diretores se dedicavam aos objetivos estratégicos de forma mais

abrangente. Todos os meses os relatórios robustos de indicadores são entregues gerando uma base

de dados bem consolidada.

6.2.4. Sobre a declaração de alvos estratégicos

Os alvos estratégicos propostos pelo novo modelo de planejamento estratégico foram

encontrados no material fornecido pela empresa júnior.

Missão:

"A EESC jr. existe para desenvolver os membros por meio da realização de projetos, eventos

e treinamentos gerando impacto no campus, na sociedade e no MEJ."

"desenvolver os membros": significa tanto desenvolver novas habilidades e competências nos

membros, quanto aprimorar aquelas que os mesmos já possuem. O desenvolvimento de

membros envolve tanto o aprendizado técnico, quanto o desenvolvimento pessoal. A principal

finalidade de se desenvolver os membros, além de prepará-los para o mercado de trabalho, é

formar cidadãos com visibilidade e alta capacidade de inovação e que busquem fazer a

diferença na sociedade, empresa ou organização em que estiverem futuramente inseridos.

"projetos, eventos e treinamentos": Por meio da inclusão da parte de eventos e treinamentos,

a missão torna-se abrangente, contando com todos os serviços que oferecemos. Com isso

esperamos conseguir aproveitar o potencial de todos os setores da EESC jr. e incentivar a

busca pelas melhores práticas.

Explicando um a um:

o Projetos de Engenharia e Arquitetura, da mesma forma que fazemos hoje;

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o Eventos para o campus, MEJ e promoção de nossos serviços;

o Treinamentos para outras atividades extracurriculares que podem ser ministrados por

qualquer grupo funcional da empresa.

"impacto no campus e na sociedade": O impacto no campus da USP - São Carlos pode ser

causado, por exemplo, através de treinamentos e eventos abertos e de oportunidades

oferecidas aos alunos que passam a trabalhar como consultores da EESC jr ou membros

efetivos. O impacto na sociedade, ou seja, na população em geral, será alcançado através da

realização de todos nossos serviços e pela formação de nossos membros.

"impacto no MEJ": o impacto no MEJ é visto por nós como consequência de todo o bom

andamento que tivermos em nossas atividades e processos internos. Por exemplo, conseguir

estar entre os três melhores cases em determinada categoria no Prêmio da Qualidade da

FEJESP (PQ) é uma consequência de termos feito um bom trabalho, é uma espécie de

merecimento, recompensa. Além disso, enxergamos como impactar o MEJ possuir cada vez

mais membros envolvidos nas atividades da FEJESP e do Núcleo USP Jr, tanto participando

como membros dessas organizações quanto participando de eventos realizados pelas mesmas.

Compartilhar práticas de sucesso da EESC jr. com outras EJs, fazer benchmarkings frequentes

e produtivos e realizar sempre serviços com alto padrão de qualidade são todas formas muito

positivas de gerar impacto no MEJ.

Visão:

"Ser referência como atividade extracurricular em desenvolvimento de membros e nos

consolidarmos em excelência em gestão."

Valores:

Todos pelo Time

Foco no Resultado

Respeito e Transparência

Resiliência Sempre

Brilho nos Olhos

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A diretoria utilizou os resultados do workshop no estabelecimento da missão, da visão e dos

valores. A análise dos dados foi qualitativa e houve maior participação do consultor para traduzir

o material produzido no workshop. Alguns detalhes, como a escolha de palavras mais adequadas,

foram definidos com o auxílio mais próximo do conultor, pelo próprio know-how da empresa.

Algo que não foi devidamente aprofundado antes de 2013 que recebeu maior atenção com o

novo processo foi a adoção do mapa estratégico e a definição das perspectivas do Balanced

Scorecard. As perspectivas foram adaptadas a partir de um dos modelos de referência apresentados

no livro “Mapas Estratégicos” de Kaplan e Norton (2004). A escolha do modelo foi feita com base

na finalidade da EESC jr, empresa sem fins lucrativos. O modelo sugeria o mapa estratégico mais

semelhante a situação da empresa. A base eram os tópicos de aprendizado organizacional e

processos internos, respectivamente e, no topo, lado a lado, ficavam as perspectivas dos clientes e

financeira. A perspectiva financeira era um viabilizador da estratégia de desenvolvimento. Acima

do mapa estratégico, pautando todos os objetivos, estavam a missão e a visão da empresa.

Os objetivos estratégicos foram desenvolvidos a partir da análise SWOT consolidada e das

entrevistas feitas com ex-diretores, cada diretor eleito entrevistando um ex-diretor da sua área.

Cada objetivo estratégico era inserido na perspectiva que melhor lhe cabia e, a partir disto, as

relações entre os objetivos era estabelecida.

Para mensurar se os objetivos estão sendo atingidos e a relação entre objetivos e realizações,

os indicadores foram elaborados. A partir do acervo/repertório da consultoria e com auxílio do

consultor, os indicadores julgados mais adequados foram selecionados e validados. De acordo com

o Entrevistado 1, nesta etapa houve a maior adaptação do modelo do BSC para a pequena empresa.

Estabelecimento de indicadores também contempla o planejamento da coleta de dados. Empresas

pequenas, mais informais, tendem a apresentar maior dificuldade com a manutenção de certas

rotinas.

Quanto a escolha de indicadores para a avaliação do desenvolvimento dos membros (missão),

o Entrevistado 3 fez algumas considerações:

“A empresa peca no que tange a real mensuração da capacitação dos membros.

Se o objetivo da empresa é desenvolver membros, como avaliar se isso foi

atingido ou não? Proposta de gestão por competências e curva de aprendizado de

atividades, que alinhe o que e o quanto o membro pretende se desenvolver,

alinhando expectativas com os objetivos estratégicos da empresa, qual caminho

ele deve seguir para atingir esses objetivos, e no momento em que ele se desligar da empresa, qual foi o real aproveitamento da experiência em comparação com

as metas de desenvolvimento pessoal por ele estabelecidas.”

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Para definir metas a diretoria utilizou estimativas a partir de dados do passado. Alguns

objetivos tiveram metas estimadas para seus indicadores com visão de futuro (o que seria uma

meta factível para se atingir a visão), uma vez que anteriormente não havia uma diversidade

significativa de indicadores e histórico de desempenho.

Na gestão de 2014 foi feito uma planilha automatizada de acompanhamento chamada de

Panorama Estratégico. Neste panorama, são apresentados os números atuais dos indicadores de

desempenho de todos os grupos.

As principais ferramentas foram planilhas com os indicadores, preenchidas pelos diretores e

enviada para o comitê de estratégia. O comitê decide quais indicadores serão incluídos na pauta

das reuniões. A comunicação a partir daí era traduzida para apresentações em slide, e divulgada

nas listas de email da empresa. Os processos eram desenhados por meio da linguagem BPMN

(Business Process Modeling and Notation), amplamente utilizada por empresas seniores.

Quanto ao acesso aos indicadores:

“Os membros não tinham acesso aos indicadores na rede de computadores interna

da EESC jr, porém isso não era amplamente divulgado. Nunca houve um

questionamento a respeito dos indicadores e não havia uma política de

comunicação de indicadores de desempenho entre os grupos. Não há uma razão específica (planejada) que justifique esse fato, mas evitar a desmotivação e

conflitos devido às diferentes situações em relação as metas entre os diferentes

grupos pode ter sido algo subconsciente.” (Entrevistado 2)

6.2.5. Sobre a implantação de alvos estratégicos

Os entrevistados julgaram o grau de sucesso da implementação do planejamento estratégico

como elevado. Avaliando os frutos colhidos em 2014, o Entrevistado 3 acrescentou que houve

melhoria na assimilação da cultura da estratégia entre os membros.

Como afirmado anteriormente, o comitê estratégico é, atualmente, o responsável pela

manutenção da estratégia. Pautados pela governança da estratégia, o comitê avalia os indicadores

e o desempenho dos projetos estratégicos. Caso haja necessidade de ações corretivas, a equipe

elabora as propostas em conjunto com os responsáveis pelos projetos e vincula as alterações às

políticas de comunicação. Essa revisão de indicadores e metas se torna relativamente contínua. O

Entrevistado 2 mostra que a própria estrutura de governança foi avaliada e alterada de acordo com

as necessidades da EESC jr.

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“A definição inicial carecia de embasamento, o que foi sendo melhorado com o

tempo e vivência no dia-a-dia. E obtenção de relatórios de desempenho em

reunião com o diretor de cada área, para ampliar o entendimento da situação dos

objetivos de cada grupo.” (Entrevistado 2)

6.3. Discussão dos Resultados

A partir das informações provenientes das análises feitas, é possível traçar paralelos com o

modelo teórico selecionado anteriormente.

Primeiramente, quanto às etapas do modelo Thompson e Strickland (2008):

Etapa 1: Desenvolvimento de uma visão estratégica

O desenvolvimento da visão estratégica teve duas abordagens significativamente distantes

antes e depois de 2013. No passado, a visão era obtida em reuniões entre os membros da diretoria

da EESC jr, sem a participação dos demais membros. Já no modelo atual, todos os colaboradores

da empresa foram convidados a participar. O primeiro workshop, no qual a visão foi obtida por

meio de dinêmicas de grupo, contou com a participação de quase todos os colaboradores. Com a

melhoria do processo estratégico, além da visão estar alinhada entre todos, a visão era de fato, algo

que os indivíduos almejavam (DORNELAS, 2011). As diferenças entre o modelo atual e o seu

antecessor se estenderam a elaboração da missão e dos valores. A forma de obtenção destes foi a

mesma utilizada na obtenção da missão. Os membros não só se identificaram como auxiliaram na

construção dos valores, o que, de acordo com McDonald (1991), auxiliou na adesão ao processo

estratégico e ao maior comprometimento dos colaboradores.

Etapa 2: Determinação de objetivos

A criação dos objetivos está intimamente ligada às análises interna e externa, sendo estes os

responsáveis por tornar a estratégia mais palpável. Os objetivos já eram elaborados antes de 2013

e de forma semelhante à atual. A análise SWOT foi a ferramenta adotada para a análise do

ambiente em ambos os casos. O diferencial, segundo os entrevistados foi a forma com a qual os

objetivos foram relevantes ao longo do horizonte de planejamento. O grau de profundidade do

modelo atual de planejamento da EESC jr. é significativamente superior no que diz respeito à

utilização do Blanced Scorecard.

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Anteriormente à 2013, o BSC não era utilizado, apesar de seus conceitos serem adotados de

forma mais ampla. Não existia um mapa estratégico com o papel de cada uma das perspectivas

propostas por Kaplan e Norton. Já no modelo mais atual, o mapa estratégico foi formalmente e

rigorosamente elaborado. Os objetivos estavam inter-relacionados, indicando as relações entre as

frente de projetos estratégicos de implementação do planejamento. Para cada objetivo, foram

criadas metas atingíveis e mensuráveis.

Os processos não eram bem definidos no passado e não estavam mapeados. O novo modelo

propôs o mapeamento de todos os processos vitais à organização e suas atualizações. A execução

dos processos, que leva a atingir os objetivos estratégicos, era mais estruturada e, portanto, gerava

melhor desempenho. A própria criação de indicadores estratégicos foi um dos projetos realizados.

O fato relatado pelo Entrevistado 3 quanto a falha na avaliação de fatores externos do modelo

atual está relacionada à necessidade de se obter análises mais profundas do contexto no qual a

empresa está inserida. A luz de Bossidy e Charan (2005), seria necessário realizar uma leitura do

ambiente externo mais estruturada e profunda a fim de se contemplar com maior precisão os reais

fatores que impactam a competitividade da organização.

Etapa 3: Elaboração de uma estratégia para alcançar os objetivos e a visão

A operacionalização da estratégia foi um ponto de grande divergência entre os dois modelos.

No modelo mais recente, os objetivos foram destrinchados em projetos nos níveis empresarial e

das áreas funcionais. Havia uma compreensão da hierarquia dos projetos, e essa compreensão

estava também atrelada ao organograma da EESC jr. Tal compreensão vai ao encontro das

definições de Barbosa e Brodani (2004), mostrando a hierarquização da estratégia e a abordagem

processual integradora da estratégia. Os três níveis hierárquicos, diretor, gerente e analista, eram

responsáveis por projetos bastante distintos e em níveis de operacionalização diferentes. Diretores

desempenhavam papel estratégico (empresarial), gerentes desempenhavam papel tático e analistas

recebiam as tarefas operacionais (áreas funcionais).

A proposta de planejamento estratégico anterior não distinguia essa hierarquia. Não houve

preocupação em tornar os objetivos do planejamento estratégico mais próximos da execução de

fato. A falta de acompanhamento e o baixo grau de sucesso relatado pelos entrevistados são reflexo

dessa falta de clareza e palpabilidade dos meios para se atingir os objetivos.

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Etapa 4: Implementação e execução da estratégia

Anteriormente à 2013, de acordo com os entrevistados, não houve implementação da

estratégia. Não havia uma consolidação do planejamento com rotinas diárias e tarefas operacionais

da EESC jr. O BSC, que consiste na tradução da estratégia em objetivos mensuráveis, se mostrou

uma ferramenta de extrema importância para a implantação de um planejamento estratégico. Antes

de 2013, o Balanced Scorecard não era utilizado, e isto comprometia a materizalição do plano a

objetivos palpáveis.

No modelo atual, além da adoção do BSC que permeou a implantação do planejamento

estratégico houve o estabelecimento de um sistema governança da estratégia. A utilização deste

sistema da estratégia no modelo atual, com atribuição de papéis e responsabilidades, reuniões

formais periódicas para avaliação de desempenho e estruturação de planos de ação corretivos, fez

com que o plano estratégico fosse implementado.

Etapa 5: Acompanhamento dos desdobramentos, avaliação do desempenho e realização dos ajustes

corretivos

Esta última etapa abordada é relacionada a atividades que devem ser realizadas ao longo de

todo o processo estratégico. Acompanhar, avaliar e alterar a estratégia de acordo com as

necessidades não são tarefas exclusivas da etapa de implementação mas também de todo o

processo de formulação. Este acompanhamento está intimamente ligado à etapa anterior,

implantação da estratégia. Uma organização ter sua estratégia implementada significa que esta,

periodicamente, age reflexivamente sobre o plano, adapta-o de acordo com as demandas e

oportunidades internas e externas da organização e mensura o sucesso (ou fracasso) de esforços a

fim de realizar ajustes corretivos. O planejamento estratégico saudável é um processo de melhoria

contínua no qual alvos e projetos que os viabilizam são elaborados, avaliados, revisados e

alterados, incluindo a comunicação para todos os níveis em todas as etapas (CARINA et. al., 2003).

Sendo assim, o modelo atual cumpre os requisitos que caracterizam a revisão a avaliação de

desempenho e a proposição de ações corretivas para de planejamento estratégico. Os

desdobramentos da implementação foram julgados bem sucedidos por todos os entrevistados.

No modelo utilizado anteriormente à 2013, não havia um acompanhamento formal da

estratégia. Ajustes corretivos eram feitos no evento de avaliação do desempenho do plano

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formulado no início do ano, porém sem grande comprometimento com objetivos e metas. Os

ajustes eram realizados com base nas tarefas operacionais e julgados de acordo com a interpretação

dos participantes do Replan.

Em um segundo momento, há a comparação entre as considerações feitas por ambos os

modelos, anterior e posterior a 2013, quanto ao porte da EESC jr. O fato de a EESC jr. ser uma

pequena empresa teve níveis de relevância distintos entre os dois modelos. No primeiro, não houve

preocupação particular com este fato. Como os objetivos e a implantação da estratégia não foram

atingidos, não foi possível estimar qual o impacto deste fato naquele modelo. Houve somente uma

preocupação com a finalidade da organização para elaboração da missão e da visão. Durante a

elaboração da estratégia pelo processo atual, também houve preocupação com a finalidade da

EESC jr. como empresa sem fins lucrativos. Tal preocupação segue as proposições de Drucker

(1981), quanto a importância da finalidade da organização para a estrutura administrativa e de

gestão da empresa. Já este fato no contexto atual teve impacto direto na elaboração do mapa

estratégico e na tradução do planejado em objetivos.

Como relatado, houve alguma preocupação com o porte da empresa, de forma indireta, na

construção dos indicadores e no estabelecimento das metas. Uma pequena empresa possui diversas

limitações em relação a médias e grandes empresas no que tange a viabilização da alocação de

recursos para a medição de indicadores. Para uma organização de menor porte, os indicadores

devem ser elaborados tendo-se em mente o perfil do empregado que irá realizar as medições, suas

competências, limitações, motivações e atividades principais de seu cargo. Neste ponto, de acordo

com o Entrevistado 3, que presenciou a implantação da estratégia ao longo de 2014 como

presidente da EESC jr, poder-se-ia ter havido maior empenho na escolha de indicadores. Alguns

dos indicadores escolhidos possuíam grande complexidade de mensuração e demandavam mais

esforço do que os colaboradores estavam dispostos ou aptos a despender.

Comparativamente, os moldes antigo e atual são níveis de amadurecimento bastante distintos

de um processo relativamente semelhante. As macro etapas possuem pontos em comum, sendo a

execução e o comprometimento significativamente mais eficazes no modelo atual. O primeiro

modelo foi inovador em sua época por haver proposto a utilização de modelos teóricos

consolidados para o planejamento estratégico. Suas limitações estavam relacionadas a falta de

experiência dos envolvidos, que é justificável pelo contexto da empresa júnior.

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O segundo modelo foi uma evolução formal e conceitual, utilizando técnicas mais refinadas,

ferramentas de suporte e material apoio de um consultor experiente. Além disto, a comunicação

exerceu um papel fundamental no comprometimento de todos os colaboradores e não somente da

equipe diretamente envolvida na elaboração da estratégia. Isto possibilitou um maior sucesso na

implementação e adesão dos membros à estratégia.

Um próximo passo, poderia ser a simplificação do modelo no que diz respeito a seleção dos

indicadores mais adequados. O estudo impacto do porte da empresa nesta questão pode ser um

fator de sucesso para a melhoria do sistema de avaliação de desempenho de objetivos e projetos

estratégicos.

6.4. Proposta de compreensão de atuação da EESC jr. (CANVAS)

Durante o processo de análise dos dados coletados houve uma relativa necessidade em se

visualizar de forma sistemática um quadro comparativo da estratégia implementada e do modelo

teórico de referência. O modelo de referência é uma junção entre as etapas do planejamento

estratégico propostas por Thompson e Strickland e o Balanced Scorecard e o Mapa Estratégico de

Kaplan e Norton. A partir desta necessidade, foi elaborada a figura 7 que visa descrever

brevemente o modelo atual de planejamento adotado pela EESC jr. e o modelos teóricos citados e

como estes se relacionam entre si.

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Figura 6: Canvas da estrutura da elaboração do planejamento estratégico. Fonte: autoria própria.

A figura 7 a seguir visa dispor as informações de forma estruturada.

A partir desta sintese, também é possível, de forma estruturada, auxiliar uma empresa a

estabelecer as fases do seu processo de planejamento e facilitar a adaptação de modelos teóricos

consagrados à realidade da pequena empresa.

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Figura 7: Canvas aplicado ao modelo atual de planejamento estratégico da EESC jr.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho foi proposto com o intuito de analisar os resultados da realização e

execução de um planejamento estratégico em uma pequena empresa a partir de modelos propostos

amplamente utilizados em grandes corporações. A análise de deu de forma comparativa, anterior

e após a adoção de um processo de planejamento estratégico estruturado. O objetivo principal a

ser atingido era a identificação de vantagens na formalização a do processo de planejamento

estratégico em pequenas empresas e identificar possíveis particularidades ou dificuldades na

adaptação de modelos elaborados para grandes empresas.

Pode-se dizer que o objetivo foi alcançado. Foi possível observar as vantagens que a EESC jr.

obteve ao adotar uma dinâmica formal para o processo de formulação e execução da estratégia.

Foi possível também observar as diferenças entre um planejamento informal e um formal

estruturado por meio da comparação das informações obtidas pelas entrevistas e pelos documentos

fornecidos pela empresa junior.

De forma objetiva, é possível responder a pergunta chave deste trabalho: “quais os benefícios

e dificuldades encontrados na elaboração e execução do planejamento estratégico em uma pequena

empresa, com base nos modelos de planejamento das grandes empresas?”

Os principais benefícios foram a maior acurácia ao se materizaliar o plano estratégico em

objetivos palpáveis e o comprometimento dos colaboradores com a estratégia. A tradução da

estratégia em ações concretas permitiu que a organização executasse seus processos focados em

atingir os objetivos propostos, com base na declaração da missão e buscando trilhar o caminho no

sentido da visão da organização. O comprometimento dos colaboradores foi chave para que estes

incorporassem a estratégia em suas decisões e tarefas do dia-a-dia, impactando suas funções e

entregas.

As dificuldades principais, mesmo que reduzidas após a formalização do processo, ainda

envolvem certos aspectos do estabelecimento de objetivos, metas e indicadores. Tais aspectos

estão relacionados ao porte e a finalidade da empresa e, consequentemente à adaptação do modelo

teórico à realidade da pequena empresa.

Algumas limitações restringem a aplicabilidade deste trabalho ao universo das pequenas

empresas. A EESC jr, apesar de poder ser enquadrada como pequena empresa, possui duas

particularidades: ser uma organização sem fins lucrativos que tem por objetivo desenvolver

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profissionalmente seus colaboradores e possuir uma estrutura organizacional departamental assim

como grandes empresas. A finalidade da empresa impacta o planejamento no que se refere à

escolha do modelo de mapa estratégico, sem real prejuízo à aplicabilidade das etapas do processo

de planeamento estratégico. A estrutura organizacional, entretanto, interferiu nas políticas de

comunicação, que seguiram um modelo bastante aplicável às grandes empresas. Isto se deve ao

fato de que a empresa júnior possui um organograma semelhante ao de empresas seniores de maior

porte. Limitações na metodologia de pesquisa também podem ser observadas: numero reduzido de

entrevistados, análise exclusivamente qualitativa dos dados e curto horizonte de planejamento

disponível para análise de resultados.

Outro fato importante a ser ressaltado refere-se a alta qualificação do consultor envolvido e

dos membros da empresa júnior. A EESC jr, apesar de não contar com profissionais formados com

experiências prévias no mercado, conta com a alta qualificação dos estudantes da Universidade de

São Paulo. Estudantes da universidade tendem a possuir facilidade de aprendizado para novos

conteúdos, não são avessos à mudança e estão inseridos em um ambiente que incentiva o

aprendizado. Como é sabido, muitas pequenas empresas são formadas por pessoas com menor

grau de instrução e que muitas vezes estão distanciadas há um tempo considerável sem o

envolvimento em programas de educação continuada. Também, pequenas empresas não possuem

capital para aquisição de projetos tão complexos quanto um planejamento estratégico.

A partir disto, para posterior aprofundamento do tema, poder-se-ia analisar os resultados da

empresa júnior de forma quantitativa e mensurar as vantagens da utilização do planejamento

estratégico formalizado. Também poderia haver uma análise da aplicabilidade do modelo adotado

pela EESC jr. utilizando o canvas da estrutura do elaboração do planejamento estratégico,

conforme a figura 7 na página 50, em pequenas empresas de diversas finalidades. Desta forma,

tanto a avaliação do modelo adotado quanto a verificação da utilidade do quadro proposto

poderiam ser realizadas. Seria possível analisar vantagens e dificuldades na aplicação do modelo

e estabelecer dinâmicas diferenciadas de comunicação do planejamento estratégico de acordo com

o organograma das empresas alvo do estudo. Por último, este trabalho pode servir de material

auxiliar a gestão de outras empresas juniores, contribuindo com a formização de seus processos de

planejamento estratégico.

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APÊNDICE I – Roteiro de Entrevista

Passado (antes de 2013):

1. Sobre o processo de Planejamento Estratégico

Como eram as etapas de planejamento estratégico nos anos anteriores?

Quando havia revisão?

Como o porte da empresa afetava o processo de formulação da estratégia?

2. Sobre a elaboração da estratégia

Quem participava do processo?

Como era feita a análise dos fatores externos à empresa?

Como era feita a análise dos fatores internos à empresa?

Como essas informações eram inseridas na elaboração da estratégia?

3. Sobre a comunicação da estratégia

Como era feita a comunicação da estratégia?

Qual era o grau de identificação/adesão dos membros com a estratégia?

4. Sobre a declaração de de alvos estratégicos

Quais eram a missão, a visão, os valores, as metas e os indicadores da empresa?

Como eram criados?

Quais ferramentas eram utilizadas no sistema de avaliação de desempenho?

5. Sobre a implantação da estratégia

Houve a implantação da estratégia?

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Qual o grau de sucesso da implantação?

Houve necessidade de ajustes corretivos? Como foram realizados?

Estratégia hoje:

1. Sobre o processo de Planejamento Estratégico

Como são as etapas de planejamento estratégico hoje?

Quando é feita a revisão?

Como o porte da empresa afeta o processo de formulação da estratégia?

2. Sobre a elaboração da estratégia

Quem participa do processo?

Como era feita a análise dos fatores externos à empresa?

Como era feita a análise dos fatores internos à empresa?

Como essas informações são inseridas na elaboração da estratégia?

3. Sobre a comunicação da estratégia

Como é feita a comunicação da estratégia?

Qual o grau de identificação/adesão dos membros com a estratégia?

4. Sobre a declaração de de alvos estratégicos

Quais são a missão, a visão, os valores , as metas e os indicadores da empresa?

Como são criados?

Quais ferramentas são utilizadas no sistema de avaliação de desempenho?

5. Sobre a implantação da estratégia

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Houve a implantação da estratégia?

Qual o grau de sucesso da implantação?

Houve necessidade de ajustes corretivos? Como foram realizados?