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0 FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA - FGF NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD PROGRAMA ESPECIAL DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NA ÁREA DE LICENCIATURA EM ARTE E EDUCAÇÃO Elaine Pecorari Tudisco UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA: O ENSINO DE ARTE PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Fortaleza-CE 2011

Elaine Pecorari Tudisco UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO … · 2011-09-09 · Não espere amor, ame Nunca espere ... era algo normal quando se percebia que a criança era portadora de

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FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA - FGF

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

PROGRAMA ESPECIAL DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA

DE DOCENTES NA ÁREA DE

LICENCIATURA EM ARTE E EDUCAÇÃO

Elaine Pecorari Tudisco

UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA:

O ENSINO DE ARTE PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISU AL

Fortaleza-CE

2011

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Elaine Pecorari Tudisco

UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA:

O ENSINO DE ARTE PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISU AL

Monografia apresentada ao Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes na Área de Licenciatura em Arte e Educação, da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza, como requisito parcial para obtenção do grau de licenciado em Arte e Educação.

Orientador: Prof. Esp. Nertan Dias Silva Maia

Fortaleza-CE

2011

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Elaine Pecorari Tudisco

UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA:

O ENSINO DE ARTE PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISU AL

Banca Examinadora

______________________________________________

Orientador: Prof. Esp. Nertan Dias Silva Maia

_______________________________________________

Coordenador do Curso

Prof. Esp. Nertan Dias Silva Maia

Data de aprovação: ______ /_______________ /2011

Conceito obtido: ______________________

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DEDICATÓRIA

A meus pais, pelo empenho, dedicação, carinho e incentivo para que eu estudasse. A

minha filha Gabriela que mora no céu junto a Deus. E ao meu filho Guilherme que é a

razão do meu viver.

Aos meus amigos e familiares pela compreensão, apoio, incentivo e companheirismo

que recebi durante o curso e que ficarão registrados em minha memória para sempre.

4

AGRADECIMENTOS

A Deus que incomparável e inconfundível, em sua infinita bondade, nos dá forças para

enfrentarmos os desafios que nos são impostos.

Por sempre me iluminar no caminho da vida, cheia de pedras e espinhos, mas também

cheios de flores e cascatas.

A minha família por compartilharem comigo as minhas dificuldades e alegrias e

também pela compreensão nas minhas ausências. Mostrando que as dificuldades da vida só

nos fazem crescer.

A todas as professoras dos módulos do curso de Arte Educação da Faculdade

Integrada da Grande Fortaleza, em especial ao professor orientador e coordenador do curso

de Arte Educação, professor Nertan Dias Silva Maia, por me orientar, e me ajudar na

construção desta monografia.

Aos professores e colegas de curso, pois juntos trilhamos uma etapa importante de

nossas vidas.

A todos que de uma forma ou outra colaboraram para a realização deste trabalho.

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"Não espere favor, faça um Não espere agradecimento, agradeça

Não espere gentilezas, proceda Assim, não espere simpatia, sorria

Não espere amor, ame Nunca espere nada da vida dos outros

sem que você já tenha feito por alguém!”

Guilherte

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RESUMO

A presente pesquisa destaca a importância do ensino de Artes Visuais no contexto da inclusão de alunos com necessidades educativas especiais na Educação Básica. Tem por objetivo, oferecer aos profissionais da educação a oportunidade de refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem do aluno portador de Deficiência Visual (DV) nas aulas de Artes Visuais. Apresenta também breve histórico e alguns conceitos acerca da deficiência visual. Traz considerações acerca do ensino pela Arte, bem como apresenta também considerações em torno da contextualização social da deficiência. Objetiva ainda despertar a reflexão sobre a recente questão da inclusão de alunos portadores de necessidades especiais no ensino regular, e aponta para a urgência do educador que trabalha com a disciplina de Artes, especialmente Artes Visuais, em elaborar atividades artísticas considerando o processo de inclusão e o acesso dos alunos aos conteúdos fundamentais das Artes Visuais. O trabalho foi pautado pela metodologia do Estudo de Caso, com apoio de pesquisa bibliográfica, a partir das quais foi possível identificar recursos utilizados no desenvolvimento das atividades artísticas que favorecem significado das Artes no mundo do aluno incluso. O estudo salienta ainda a percepção acerca dos desafios da inclusão de profissionais de uma escola pública da cidade de Indianópolis, no Estado do Paraná, no intuito de obter subsídios para o adequado desenvolvimento da disciplina de Artes Visuais nesse contexto.

Palavras-chaves: Ensino de Arte; Artes visuais; Educação inclusiva; Deficiente visual.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................

08

2. BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA ............... 09

3. EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEITO S E PRINCÍPIOS ............................................................................................................... 14

3.1. Educação Especial .................................................................................................. 14 3.2. Educação Inclusiva ................................................................................................. 16 3.3. Deficiência visual ...................................................................................................

19

4. DUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA NO BRASIL E AS LEIS EDUCACIONAIS ........................................................................................................ 21

5. O ENSINO DE ARTE NA EDUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA .................. 27

5.1. O papel do professor de Arte na Educação Especial/Inclusiva ............................... 32 5.2. Ensinando crianças com deficiência visual a desenhar ...........................................

34

6. METODOLOGIA .................................................................................................... 36

6.1. Instrumentos e procedimentos metodológicos ........................................................

37

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...........................................................................

40

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 45

9. REFERÊNCIAS ......................................................................................................

47

ANEXOS ....................................................................................................................... 51

8 1. INTRODUÇÃO

A Educação de crianças com deficiência tem sido bastante discutida nos últimos

tempos, dada sua importância no contexto social. As crianças com deficiência visual são

indivíduos dotados de emoções como as normais, mas a barreiras do não enxergar e da

linguagem limitada fazem muitas vezes com que se sintam frustradas, pois as pessoais que

enxergam não conseguem comunicarem-se satisfatoriamente com elas.

E a necessidade, que se têm essas crianças com deficiência visual e como as mesmas

exigem auxílio para lidar com a frustração que acompanham o constante fracasso. Sendo

assim, surge à necessidade em fazer algumas considerações gerais a respeito da deficiência

visual e a inclusão dessas crianças no ensino regular.

Portanto, a educação inclusiva se concilia com uma educação para todos e com ensino

especializado ao aluno portador de necessidades especiais, porém não consegue programar

uma opção de inserção tão revolucionária sem enfrentar um desafio maior o que recai sobre o

fator humano. É na escola inclusiva que pode ocorrer o aprendizado do respeito às diferenças

e a consolidação de uma sociedade mista.

Um ensino que leva em consideração a aprendizagem que parte do pressuposto que

todos os alunos podem aprender e alguns podem necessitar de algumas adaptações

curriculares, produto da existência infinita de perfis de aprendizagem. Pensando na

aprendizagem e suas dificuldades são possíveis conseguir que os alunos portadores de

necessidades especiais, tanto a deficiência mental como a visual tenham êxito sim em seu

processo de aprendizagem. Portanto, a escola inclusiva tem a missão de fazer a diferença na

vida de todos os seres humanos, sendo eles portadores de alguma deficiência ou não, todas as

crianças podem aprender juntas, mesmo apresentando objetivos e dificuldades diferentes, a

inclusão significa dar a cada indivíduo o que ele necessita de acordo com suas necessidades

educacionais, valorizando assim todos os avanços do educando, para que ele tenha estimulo e

gosto pelo conhecimento.

Este estudo foi desenvolvido através de pesquisas bibliográficas e de campo

embasado nas ideias de alguns autores e estudiosos do assunto tais como: Ribas (1993), Rossi

(2004), Sassaki (1999) entre outros.

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A importância do tema acerca da inclusão de alunos portadores de necessidades nas

aulas de artes desperta nosso interesse como educadores reconhecendo que todas as maneiras

de incluir devem ser buscadas, aperfeiçoadas e valorizadas para que a Educação não seja

apenas uma forma de “instrução”, mas seja formadora de cidadania, de uma comunidade, de

um povo ou nação. Neste sentido, valorizar o ensino da arte para que atenda ao objetivo de

despertar para a sensibilidade, para o desenvolvimento do senso crítico.

Os objetivos que movem a presente pesquisa são os de analisar as condições de

aprendizagem e a socialização das crianças com deficiência visual, dentro e fora da escola.

Verificando a inclusão de indivíduos com deficiência visual na rede regular de ensino, e as

suas condições de aprendizagem. Identificando assim as oportunidades oferecidas aos alunos

com deficiências visuais, e comparar se os mesmos criam condições de aprendizagem.

Também o de chamar atenção para uma realidade que se apresenta em nosso país no âmbito

educacional, já que fora dele diversos setores da sociedade começam a operar mudanças,

ainda que lentas, em direção a um processo de inclusão.

Sabe-se que a inclusão não é apenas inserir crianças com deficiência nas escolas

regulares. Esse processo exige uma reflexão mais ampla sobre a realidade vivenciada. Portando,

esta pesquisa guiou-se a partir da seguinte problemática: o sistema educacional está preparado

para incluir esta clientela que está chegando?

2. BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA

Nos tempos primórdios, os povos nômades viviam percorrendo grande extensão de

terras em busca da sobrevivência, por isso, a própria natureza selecionava os que tinham e os

que não tinham condições de se adaptar a esse estilo de vida. Os que podiam acompanhar as

migrações e as mutações sobreviviam. Na época de Cristo, os deficientes eram curados

através de milagres.

Já na Grécia Antiga as crianças com deficiência eram expostas, abandonadas à própria

sorte, pois a sociedade achava que elas refletiam a ira divina e essa exposição redimia os

pecados da comunidade. O chamado infanticídio, isto é, o assassinato de recém-nascido e

crianças, era algo normal quando se percebia que a criança era portadora de alguma

deficiência, ou seja, anormal (CASARIN, 1997, pp.215-219).

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Na Idade Média, com o advento do cristianismo surge mudança na organização

político-administrativo no cenário político um novo segmento: o clero. Portanto as pessoas

portadoras de deficiências foram reconhecidas, e que os mesmos tinham alma, sendo

chamados de filhos de Deus. Sendo que o caráter Cristão conferiu a sociedade, valores éticos,

impondo o dever de amar o seu próximo.

Todavia com esta visão cristã, existindo a caridade, os deficientes acabaram sendo

acolhidos em instituições religiosas, mas vistos como doentes, incapazes e inválidos. Assim

esta fase de exclusão social vem caracterizando a etapa do assestencialialismo.

Assim, as pessoas doentes, defeituosas ou mentalmente afetadas, em função das ideias

cristãs, não podiam ser exterminadas, pois eram criaturas de Deus. Porém elas eram ignoradas

à própria sorte e passavam a depender da caridade e da boa vontade de terceiros para

sobreviver.

Entretanto a partir do século XII, sucederam e instalaram momentos de tensão e

gravidade, visto que a Igreja, tentando proteger-se de manifestações e das insatisfações de

pessoas que não concordavam dentro e fora da mesma, teve início a uns dos períodos mais

tristes da História da Humanidade: o da caça, perseguição e extermínio de seus dissidentes,

sob o argumento de que heregeus, ou “endemoniados”. Pois assim todas as pessoas com

deficiências passaram também a sofrer perseguições, torturas e exterminação.

Do século XVI a deficiência passa a ser tratada por meio da alquimia, envolvendo

magia e astrologia. Já o século XVII se torna o palco de avanços no conhecimento produzido

na área da medicina. Porém mesmo com o a medicina em evolução, a institucionalização do

deficiente em conventos, asilos, hospitais psiquiátricos durou mais de 500 anos.

O século XX aparece trazendo para o mundo todo o tipo de crenças, mitos,

preconceitos, e ainda a pessoa com deficiência era considerada um fardo pesado para

sociedade, mesmo com toda a evolução alcançada.

Desta maneira, tornava absoluta a impossibilidade de acesso ás escolas comuns para

os jovens, crianças com deficiências. Porém suas famílias buscaram meios de criar escolas

especiais. E essa etapa histórica é conhecida como a Segregação Institucional. Pois as escolas,

hospitais e Residências Clínicas foram utilizados como locais de educação especial. A reação

contra a segregação institucional dos deficientes, ocorridas entre os anos 1960 e 1970, fez

aparecer ao seu favor movimentos da desinstitucionalização, com a idéia de criar um espaço

para educar em ambientes menos restritos.

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Assim crianças e jovens considerados mais aptos eram encaminhados às escolas

comuns classes especiais e salas de recursos, dando assim início à fase de integração. E foi

esta fase um dos marcos mais importante para a inclusão dos deficientes na sociedade.

Pode-se comprovar com as Organizações das Nações Unidas (ONU), a instituição do

ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiências, que assinalou um marco

fundamental na luta pelos direitos das PPD no mundo todo. A igualdade de oportunidades em

educação é na verdade essencial, dando a importância da educação na transmissão de atitudes,

conhecimentos e competências que a sociedade como um todo encara como importante para

todas as crianças e jovens.

Muitos avanços foram significativos e registrados no decorrer do século XX, e que se

encontram até hoje no século XXI o direito de ser diferente, de viver e conviver em

sociedade. Hoje conhecida e denominada de inclusão. Que foi conquistada e adquirida com

vários marcos e conferencias mundiais. Pode-se citar que na Espanha, em 1994, um conjunto

de princípios e diretrizes sob a designação de “Declaração de Salamanca” foi referendado por

delegados de 87 países, cujo paradigma primordial era a educação como direito, em uma

concepção de escola inclusiva. Assim.

As escolas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras: Deve-se acolher crianças com deficiências e bem dotadas, crianças ruem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades, crianças de minoria lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou pessoas desfavorecidas ou marginalizadas [...] o desafio que enfrentam as escolas integradoras é o de desenvolver uma pedagogia centralizada na criança, capaz de educar com sucesso todos os meninos e meninas inclusive os que possuem deficiências graves. O mérito dessas escolas não está só na capacidade de dispensar educação de qualidade a todas as crianças, com sua criação. Atitudes de discriminação, criar comunidades que acolham a todos e sociedades integradoras (SALAMANCA: 1994, p. 18).

Sendo assim muitos foram os movimentos mundiais que propiciaram estas mudanças e

juntamente com os avanços na maneira de tratar e abordar os deficientes, entre os que devem

ser mencionados é a Revolução Industrial, exigindo novas competências; a Revolução

Francesa, idealizada sobre princípios da liberdade, fraternidade, igualdade criou o movimento

humanitário em favor das pessoas reclusas; a Proclamação dos Direitos Humanos, entre eles o

Direito à Educação; avanços nas áreas das Ciências médicas; o surgimento da filosofia da

normalização e integração; a Conferencia Mundial de Educação para Todos realizada em

1990, na cidade de Jomtien, na Tailândia; a Conferencia Mundial sobre Necessidades

Educativas Especiais, que ocorreu em 1994, na cidade espanhola Salamanca.

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Em nossa atualidade o mundo esta caminhando para construir uma sociedade

inclusiva, vindo mostrar sinais visíveis dessa construção. Porém os resultados são pequenos,

mas animadores. Portanto, a evolução e o reconhecimento da educabilidade dos deficientes,

têm um fator de suma importância, no informe que a comissão de especialistas que foi

presidida por Warnock, que elaborou entre os anos de 1974 a 1978, a pedido do Secretário do

Reino Unido, que ficou conhecido como informe Warnock, sendo que “este documento

recomendava a abolição da classificação por categorias de deficiência, considerando que,

todas as crianças são educáveis, devendo antes de classificá-las como deficientes, determinar

quais são suas necessidades.” (WARNOCK, 1990)¹. E foi a partir deste documento que a

educação especial foi modificada em muitos aspectos inclusive em seu pronunciamento.

Vindo buscar denominações não pejorativas, como aluno diferente, com necessidade

educativa especial, atenção a diversidade. “o informe Warnock é considerado o principal

responsável pela reconceitualização e mudanças da Educação Especial² (BRASIL, 1999b).

¹ O Relatório Warnock foi elaborado e apresentado por Mary Warnock em 1978 ao Parlamento do ReinoUnido e sugeria modificações no atendimento de pessoas com deficiência na Inglaterra. ² O documento considera que o aluno com necessidades educacionais especiais é aquele que no decorrer da escolaridade apresenta: “I – dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificulte o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II – dificuldade de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagem e códigos aplicáveis; III – altas habilidades/superdotação que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes”.

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Portando, com o informe Warnock as definições de necessidades educacionais

especiais e educação especial ficaram estabelecidas. Para Brennan (1988 apud Sanchez &

Palomino,1998)³:

O conceito necessidades educacionais especiais surge quando a deficiência, seja ela física, mental, sensorial, emocional, social ou qualquer combinação entre elas, prejudica a aprendizagem, de tal maneira que são necessárias respostas didáticas como, por exemplo, acessos especiais ao currículo, sela ele modificado ou especial, como também são necessárias condições de aprendizagem especialmente adaptadas para que o aluno seja educado de forma adequada e eficaz. (BRENNAN 1988 Apud Sanchez & Palomino, 1998, p.36).

Sendo assim, a educação especial deve ser oferecida em função da necessidade

especial no percurso da vida acadêmica (escolar) e não pelo grau de deficiência do sujeito.

Pois assim, este fato tende a diluir a deficiência, vindo ampliar o grupo de receptores e

diversidade a atenção especializada. Implicando que não é unicamente o indivíduo que deve

adaptar-se a escola, mas ao contrário a escola que deve modificar suas estruturas físicas,

organizativas e pedagógicas, vindo assim facilitar o seu acesso ao currículo, orientando

quanto á sua permanência no ensino especial. Pois muitas passarão um grande tempo, talvez a

totalidade da jornada escolar recebendo ensino especial e outras saindo da classe regular por

algum tempo para receber reforço escolar e apoio especial, indicando assim alguns diferentes

níveis de integração e inclusão escolar. Desta maneira, hoje atualmente a Educação Especial,

sofreu nas últimas décadas, enormes modificações, ultrapassando a singela concepção de

atendimento por categorias para inclusão do indivíduo com vistas ao pleno exercício da

cidadania, quais sejam: Deficiência visual (DV); Deficiência motora (DM); Deficiência

auditiva (DA) e Deficiência física (DF).

³Monroy, Ângela (2003). Desenvolvimento e aperfeiçoamento de habilidades adaptativas como facilitadores da inclusão social de alunos com deficiência mental: uma proposta de formação continuada de professores. Tese de Doutorado.Universidad Autônoma de Barcelona, Cerdanyola Dell Vallés, Espanha.

14 3. EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEITO S E

PRINCÍPIOS

Neste tópico aborda-se a Educação Especial e como ela vem sendo desenvolvida em

todos os setores da sociedade, não somente na escola. Em outro momento, são discutidas

algumas estratégias e características da educação inclusiva, ampliando a discussão em torno

da temática entre os educadores no sentido de favorecer o acolhimento e a participação dos

indivíduos com necessidades especiais na sociedade.

3.1. Educação Especial

Educação Especial é, sem dúvida, um tema muito complexo, uma vez que envolve

diversas abordagens. No entanto, como todo processo educacional, visa a formar cidadãos

conscientes e participativos. No caso, o termo “especial” é utilizado por se tratar de alunos

especiais, os quais apresentam alguma necessidade no processo de aprendizagem, exigindo

assim, uma atenção específica, a fim de promover a integração dos mesmos no contexto

social. Neste ponto, o ato pedagógico objetiva propiciar a esses alunos especiais o

desenvolvimento necessário para que os mesmos possam exercer sua cidadania.

A Educação Especial tem como principal meta reabilitar o aluno com necessidades

educacionais especiais à sociedade. Uma das muitas definições usadas para referir-se aos

alunos com necessidades especiais é como sendo aqueles que se desviam da média daqueles

ditos normais e, por isso, surgiu a necessidade de se modificar as práticas educacionais ou se

criar serviços educacionais especiais, a fim de desenvolver suas capacidades ao máximo, visto

que a educação é um dos direitos humanos, sendo eles portadores de alguma deficiência ou

não.

De acordo com Ribas (1993), a partir da década de 1970, muita gente, principalmente

fora do Brasil, começou a pensar nos termos e definições que até então eram suficientes para

expressar a realidade concreta e total das pessoas deficientes, pois estes ora estavam repletos

de questões ideológicas, ora fragmentavam a imagem dos deficientes. O termo deficiente é

questionável no sentido de que não há uma definição clara do que implica ser deficiente. O

termo “excepcional” foi substituído por “pessoas portadoras de necessidades especiais”, que

15 foi definido como aquela pessoa que apresenta em caráter permanente ou temporário de

algum tipo de deficiência, seja ela, física, sensorial, cognitiva, múltiplas entre outras,

necessitando assim de recursos especializados para desenvolver seu potencial, ou até superar

suas dificuldades.

Inicialmente, é necessário que os alunos, ditos necessitar de Educação Especial,

passem por uma avaliação diagnóstica para que se possa determinar qual o nível de

defasagem de aprendizagem, bem como para verificar seus avanços durante o processo.

Estudiosos da área de Educação Especial alertam para que tal diagnóstico acerca do quadro

geral da criança seja objetivo e que não se prenda a mitos, pois poderia prejudicar o resultado.

Grossman (1973, p. 32) ressalta que:

O diagnóstico deverá subentender o aspecto interindividual e intra-individual. O primeiro diz-nos que uma criança é significativamente diferente de outra, isto é, determina as capacidades individuais numa característica particular dentro de uma população dada. O segundo compara as capacidades, as aquisições e as dificuldades da criança, subdividindo-as em áreas fracas, condição necessária para planejar intervenções pedagógicas imediatas. O diagnóstico em Educação Especial deve justiçar-se pelas estratégias educacionais que implica.

Portanto, uma definição de Educação Especial, quando verifica somente o Coeficiente

de Inteligência (QI) ou depende exclusivamente de um critério social, é considerada

acientífico, pois somente um diagnóstico feito a partir da avaliação de um médico, um

psicólogo e de um pedagogo, poderá verificar adequadamente o nível de educabilidade de

uma criança deficiente, especificamente a criança portadora de deficiência visual e sua

condição real de integração social.

Portanto, reconhecer que os grandes desafios da inclusão, que na realidade, no sentido

educacional transparece uma interpretação dúbia. Sendo que na prática, as maiorias dos

educadores ainda não sabem falar o certo sobre o tema, designam suas respostas à inserção no

sistema regular, aquelas crianças ditas, “diferentes” que apresentam impedimentos nos órgãos

sensoriais ou no sistema nervoso central. Esta interpretação baseada no defeito ou

impedimento e impossibilidade são vista por Mittler (2003, p. 13) “como parte da consciência

de quase todos os profissionais que trabalham com esta clientela”.

Porém, em muitas situações há uma enorme preocupação em incluir os “diferentes” no

sistema educacional regular de ensino, pois aqueles que são vistos como “normais” não são

compreendidos em suas particularidades, vindos gerar um possível sentimento de exclusão,

16 ocasionando, outras consequências, como por exemplo, a evasão escolar ou a multi-

repetência. Acredita-se que a temática inclusão seja sugestiva a compreensões ou análises

direcionadas ao deficiente por questões ideológicas, como salienta Sassaki:

É preciso fazer uma análise profunda e aguda da palavra com signo social para compreender seu funcionamento com instrumento de consciência. É devido a esse papel excepcional de instrumento da consciência que a palavra funciona como elemento essencial que acompanha toda a criação ideológica, seja ela qual for (SASSAKI, 1997, p. 37).

Desta forma, o papel da inclusão está além de aceitar as diferenças, ele tem início em

uma tomada de consciência por parte daquele que está inicialmente mais próximo dos alunos

ou crianças. O educador, independente da faixa etária ou deficiência em que ele trabalha,

precisa buscar alguns referenciais para compreender a inclusão na sua complexidade. Este

momento tem uma grande importância por corresponder à inclusão ou exclusão de indivíduos

na comunidade escolar.

A partir de movimentos internacionais e da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB) surgiu no Brasil um forte movimento em defesa do direito à

educação para todos os indivíduos, ou seja, independentemente de classe, etnia ou gênero,

incluindo principalmente aquelas que apresentam significativas diferenças físicas, sensoriais e

intelectuais, decorrentes de alguns fatores inatos ou adquiridos, de caráter permanente ou

temporário e que precisam, portanto receber Educação Especial.

3.2. Educação Inclusiva

O termo inclusão instiga artigos e debates em torno do seu significado social. A palavra

inclusão se deriva do verbo incluir, tendo a sua origem do latim incluir, vindo a corresponder a

inserir, introduzir, acrescentar ou abranger. O termo se refere à conduta de inserir alguém ou

alguma coisa em um lugar.

O Conselho Mundial determina novas linhas de ação, justificando como princípio de

integração assegurar ao deficiente os direitos e deveres de igualdade e participação ativa que é

requisito indispensável à verdadeira integração social. O ano de 1981 foi o “Ano Internacional

das Pessoas Deficientes” e serviu como embrião para o conceito de sociedade inclusiva.

17

A UNESCO, em 1988, a esse respeito diz que “A integração deve ser considerada na

reforma do sistema escolar, cuja meta é a criação de uma escola comum, que ofereça uma

educação diferenciada a todos, em função de suas necessidades e num marco único e coerente

de planos de estudo”.

A Declaração de Salamanca foi outro marco para a Educação Inclusiva. Pois o

documento oficializa o termo inclusão no campo da educação. Aborda também, os princípios,

a política e a prática de educação para pessoas com necessidades especiais. Ela firma a

urgência em se criar ações que transformem em realidade uma educação capaz de reconhecer

as diferenças, promovendo a aprendizagem e atendendo às necessidades de cada aluno. Por

tanto, as escolas devem adequar-se a essas necessidades sejam elas condições físicas, sociais

ou lingüísticas.

Pela LDB, as crianças, independentemente de suas dificuldades devem aprender

juntas. Porém, o fato de “incluir” é muito questionado, pois os educadores da rede regular,

nem sempre têm uma formação adequada para o atendimento desses alunos especiais.

A inclusão escolar busca integrar o deficiente, entretanto é necessário que ajustem às

necessidades específicas de cada deficiência, adaptando a escola com estruturas físicas e

pedagógicas.

O ensino de arte deve ser valorizado, ele possibilita ao ser humano ampliar o

conhecimento acerca de si mesmo e o leva a perceber-se como ser social, presente no

contexto da sociedade em que vive e comprometido com as mudanças rumo a uma melhor

qualidade de vida para todos, ou seja, o leva a exercer a verdadeira cidadania.

Além disso, o processo criativo lança constantes desafios à imaginação e à

resolução de conflitos, sendo visto como uma constante superação de barreiras. É possível

superar a si mesmo a cada atividade, proporcionando a descoberta e o desenvolvimento de

habilidades, promovendo a elevação da auto-estima a cada objetivo conquistado, estimulando

a capacidade de tomar decisões e de buscar as soluções necessárias para os problemas que vão

surgindo. Um indivíduo que vivencia tais desafios estará muito mais preparado para lidar com

as dificuldades que a vida lhe apresentar e para alcançar seus sonhos e ideais.

A escola inclusiva tem a missão de fazer a diferença na vida de todos os seres

humanos, sendo eles portadores de alguma deficiência ou não, todas as crianças podem

aprender juntas, mesmo apresentando objetivos e dificuldades diferentes, a inclusão significa

18 dar a cada o que ele necessita de acordo com suas necessidades educacionais, valorizando

todos os avanços do educando, para que ele tenha estimulo e gosto pelo conhecimento.

Na concepção da educação inclusiva, o trabalho docente é pensar e agir inclusão. É

integrar e valorizar todos os alunos. A educação inclusiva não pretende a correção do sujeito e

sim a manifestação de suas potencialidades. Segundo Mantoan (2000, p. 127).

Talvez seja este o nosso maior mote: fazer da escola um lugar em que cada um vai para aprender coisas úteis, para enfrentar e viver a vida como um ser livre, criativo e justo. Fazer da escola o local do encontro com o outro, que é sempre e necessariamente diferente.

Assim, a arte pode contribuir significativamente para que a educação inclusiva seja

uma realidade em nossas escolas. Ela possui os mesmos ideais da educação quando o assunto

é formar cidadãos e desde os tempos mais remotos esteve presente, participando da

construção cultural e histórica da humanidade e auxiliando no desenvolvimento das relações

sociais. Seu papel de elevar o homem de um estado de fragmentação, na individualidade, a

um estado de integração, no coletivo, é de suma importância para nós, seres humanos. A

produção artística apesar de individual reflete aspectos da cultura e da sociedade em que o

sujeito está inserido, ou seja, da coletividade.

De acordo com Rossi (2004, p. 31).

Para ocorrer à inclusão no ambiente escolar deve-ser haver adaptação da escola, dos procedimentos utilizados para o ensino, as metodologias utilizadas, interação de tempo e de espaço, pois a escola inclusiva modifica papéis tradicionais dos educadores e de toda equipe escolar, como serviços gerais e técnico administrativos, secretário e bibliotecário, e dos demais educandos ditos normais, assim identificam a dificuldade de cada um, buscando superá-las.

A inclusão nada mais é do que aceitar e compreender que todos possuem diferentes

potencialidades e formas de aprender, e que o convívio com essas diferenças num espaço

onde haja companheirismo, cooperação e troca de experiências, contribui para um maior

crescimento de todos enquanto seres humanos e cidadãos. Todos se enriquecem mutuamente

porque começam a aceitar com naturalidade todas as pessoas, independente da cor da pele, da

cultura, do sexo ou da religião.

Pela arte há interação e a espontaneidade se dá o desenvolvimento do intelecto, e

motiva para algo novo.

Costa (2006, p. 9) declara que:

19

Ao interagir com educando com necessidades especiais se faz necessário o entendimento dos limites dos conhecimentos e da relação diferente que se constrói no “desejo de saber”. Vygotsky relata que o processo de construção de conhecimento ocorre pela interação do sujeito com o ambiente em que vive assim as pessoas com deficiências deveriam participar, mais ativamente da vida social.

Neste contexto, devemos ter em mente que nenhum ser humano é igual ao outro,

mesmo os gêmeos mais idênticos, apresentam algumas diferenças físicas e comportamentais.

O mesmo ocorre com as pessoas com deficiência, nenhuma pessoa com deficiência é igual à

outra. O que devemos lembrar é que as particularidades individuais das pessoas com

deficiência devem ser levadas sempre em conta. Além disso, todos devem fazer parte da

integração da criança com necessidades especiais, só assim acontecerá à inclusão de fato.

3.3. A Deficiência Visual no contexto da Arte-Educação

A presente pesquisa teve como objetivo analisar e refletir sobre as possibilidades de

ensinar Arte para sujeitos com deficiência visual, buscando também no decorrer do texto

discutir a valorização dos indivíduos com deficiências visuais as diversas maneiras que eles se

apropriam dos conhecimentos, mostrando que, suas constituições como indivíduos não estão

destituía de significados, sejam elas, culturais, sociais ou afetivos, pelo fato de não verem,

como os outros vêem. Pois apropriar-se destas experiências, para um indivíduo cego ou com

baixa visão, mesmo que as circunstâncias não sejam tão favoráveis, mostra que eles não são

inferiores com incapacidade, impotente e se quer “deficientes”, mas sim sujeitos que possuem

potencialidades como os demais ditos “normais”.

Sendo assim, o ensino da arte, no contexto da inclusão, apresenta possibilidades para

que todos os indivíduos vivenciem diferentes expressões que irão contribuir na sua

aprendizagem. Para Puccetti, (2005, p. 25).

A arte proporcia a interação dos deficientes, integrando-os num processo de desenvolvimento por meio do fazer, sem falar, sem levar em conta os aspectos patológicos ou orgânicos. Não enfatiza os defictis, as deficiências, mas a capacidades e possibilidades reais num processo mental e sensível de compreensão abstração, planejamento, elaboração e criação artística.

A função do sistema visual é converter energia luminosa em atividades neural que

tenha significado para nós. Logo, a visão é a nossa principal experiência sensorial e o cérebro

20 humano é muito mais usado para a visão do que para qualquer outro sentido. É através da

visão que adquirimos mais da metade dos conhecimentos a respeito do mundo que nos cerca.

Estudos revelam que enxergar não é uma habilidade inata, ou seja, quando nascemos

ainda não sabemos enxergar, é preciso aprender e uma das formas como isso acontece,

inconscientemente, quando chamar a atenção do bebê dizer: “Olha a mamãe Paulinho”, ou

“Chama o cachorrinho.”

Portanto, com o passar dos tempos essa criança cresce e chega o momento dela ir para

a escola. Essa criança com cegueira deve ter como ponto de partida em sua educação o seu

próprio mundo de experiências, a fim de que ela possa viver em harmonia consigo mesma e

com a sua forma de se relacionar com o mundo, incluindo o mundo da escrita e da leitura.

Portanto, é viável que desde o período pré-escolar até o momento que a criança estiver

estudando, o professor deve seguir algumas orientações quando o mesmo receber um aluno

com deficiência visual.

• Diga o nome do aluno com deficiência visual sempre que desejar a sua

participação;

• Informe-o se precisar se ausentar ou se alguém é visita na sala de aula;

• Informe-o sobre as coisas que acontecem, antecipando a ação;

• Quando escrever na lousa, leia em voz alta e dê tempo suficiente para que ele tome

nota com sua reglete e pulsão ou máquina de escrever;

• Ofereça opções em relevo e faça o aluno observar pelo tato sempre que for utilizar

modelos, objetos, mapas. Caso não disponha desse material adequado, descreva

oralmente com a maior clareza possível;

• Não se esqueça que a escrita em Braille é mais lenta do que a escrita

convencionalmente;

• O melhor lugar para o aluno com deficiência visual sentar, é no meio e no centro da

sala, com iluminação adequada;

• Forneça o maior numero de informações verbais possíveis;

• Faça com que o aluno com deficiência visual seja participativo, ativo e integrado

com a turma;

21

• Não o superproteja, ajude-o, mas não lhe dê as soluções. Passe essa informação

para as demais crianças da sala de aula também;

• No caso de não saber o que fazer para ajudá-lo em alguma tarefa, pergunte a ele

como prefere ser ajudado.

Assim, a comunicação é um aspecto do conhecimento, não uma habilidade

independente. É um reflexo do desenvolvimento cognitivo que se manifesta durante as

interações sociais.

Mesmo percebendo que a maior parte do tempo a comunicação vinda do aluno tem

como objetivo principal a satisfação de necessidades mais urgentes e praticas, devemos nos

concentrar na função comunicativa como instrumento para favorecer o desenvolvimento

cognitivo e como uma conseqüência natural do uso das habilidades cognitivas em seu meio

social.

4. EDUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA NO BRASIL E AS LEIS EDUCACIONAIS

Neste momento, foram feitas analises sobre as políticas públicas brasileiras e, o que

elas já desenvolveram em relação ao processo de inclusão escolar de pessoas com

deficiências. Neste sentido, destacam-se, aqui, apenas as principais ações políticas já

existentes.

Em princípio, a educação de pessoas com deficiência dava-se em instituições especiais

e nas chamadas segregadoras, visto serem eles considerados incômodos à sociedade e, até

mesmo, à sua família. No presente, o que se verifica é uma preocupação em integrar esses

sujeitos ao convívio social, tendo assim garantia de seus direitos e deveres.

O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), embasado no Artigo 53 da Lei nº 8069,

de 1990, referente à educação, descreve que: “toda criança e adolescente tem direito a

educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da

cidadania e qualificação para o trabalho”. Além disso, o referido Estatuto ainda assegura a

igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, o direito de ser respeitado por

seus educadores e o acesso à escola pública e gratuita próxima a sua residência.

A LDB n. 9.394/96, o Plano Nacional de Educação (2000) e demais documentos

oficiais referentes a Parâmetros Curriculares da Educação Básica e das Diretrizes para a

22 formação de seus professores referendam o direito à inclusão educacional de pessoas com

necessidades educacionais especiais. Porém, o que se percebe é que a grande maioria dos

alunos que requer Educação Especial permanece à margem da escola e com poucas

oportunidades de escolarização.

O Artigo 58 da LDB assegura o atendimento aos deficientes. Segundo este, a

Educação Especial é uma modalidade de educação escolar, oferecida aos alunos com

necessidades educacionais especiais, preferencialmente na rede regular de ensino e no artigo

59, consta que os sistemas de ensino assegurarão a esses educados, a educação em escolas

regulares.

A Constituição Federal (1988), no Artigo 203, sobre a assistência social afirma que

esta:

[...] será prestada a quem dela necessitar, independente de contribuição à seguridade social. Quanto aos alunos com necessidades visa habilitar e reabilitar as pessoas portadoras de deficiência e promover sua integração à vida comunitária. Em seu Artigo 208, ressalta que o atendimento ao aluno com necessidades especiais deve ocorrer, preferencialmente, na rede regular de ensino e que esse deve ser especializado.

As Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica, aprovada em

2001, ressalta a necessidade de se organizar os sistemas de ensino para o atendimento ao

aluno que apresenta necessidades educacionais especiais, no âmbito técnico, científico e de

formação dos professores para o ensino na diversidade. Por tanto, são necessários alguns

preparos, adequação da prática pedagógica, a atuação de professores capacitados e garantia de

atendimento especializado de acordo com a necessidade do aluno.

Hoje a escola não pode deixar de matricular o aluno com necessidades educacionais

especiais, sob a acusação de preconceito. A equipe escolar deve estar pronta a receber e

acolher todos os alunos e para isso deve estar preparada. Para orientação dos professores

existe o serviço de apoio especializado garantido na LDB e na Resolução de Conselho

Nacional de Educação (LDB n. 9.394/96, Art. 58 § 1º; Resolução CNE/CEB Nº. 2/2001

parágrafo único do Art. 8º IV, V e Art. 13).

Se com a nova Legislação o professor passar a ter novas obrigações profissionais,

também os governos têm suas responsabilidades, capacitando os professores para o trabalho

educacional com alunos com necessidades educacionais especiais. Cabe aos sistemas de

23 ensino correspondentes, responderem pela capacitação dos professores que estão em sala de

aula antes de lhe enviar alunos com essas necessidades.

Apesar de garantida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996, a

filosofia da inclusão não se consolidou na forma desejada. É preciso que o professores se

adaptem a este processo. É importante que seja revistos os conceitos e preconceitos existentes

para que sejam possíveis as elaborações de um trabalho educativo de qualidade.

Para muitos professores a inclusão é vista como uma prática positiva, tanto para o

aluno portador de paralisia cerebral, quanto para os outros alunos. No entanto, ainda há

muitos professores que dizem existir problemas, estruturados e os causados pelas

peculiaridades dos alunos.

Para que se realize a inclusão efetiva destes alunos é necessário que haja troca de

informações entre as famílias dos alunos, a escola e a comunidade, como nos propõem

Carvalho (citado por Rosa, 2004, p. 193):

A operacionalidade da inclusão de qualquer aluno no espaço escolar deve resultar de relações dialógicas envolvendo família, escolas e comunidades, de modo que cada escola ressignifique as diferenças individuais bem reexamine sua prática pedagógica.

Acredita-se que por meio mais efetivo de todos aqueles que fazem parte da rotina

desses alunos dentro e fora da escola e inclusive com os próprios alunos, pois ninguém

melhor do que ele para saber do que necessita e que iremos construir uma escola inclusiva

democrática.

Além de contribuir para socialização de alunos portadores de necessidades

educacionais especiais, a Educação Inclusiva favorece melhor desenvolvimento físico e

psíquico dos mesmos, beneficiando também os demais alunos que aprendem a adquirir

atitudes de respeito e compreensão e diferenças.

No entanto a educação vem sendo submetida a novos, parâmetros e como é

necessária a revisão das práticas pedagógicas no redimensionamento nas ações. Haverá

situações, porém, em que se recomendam as adequações curriculares, como forma de atender

as especificidades de alunos com necessidades educativas especiais, a fim de favorecer a

inclusão. Estas adequações deve ser fruto da avaliação sistemática para que se possam fazer

modificações e ajustes são necessários a cada caso. Esse é um procedimento gradativo no

currículo geral, pois um aluno que hoje necessita desta adaptação ou de um serviço de apoio

24 pode prescindir dele no ano seguinte. Neste sentido, uma adaptação curricular deverá ser

planejada para um ano letivo, com acompanhamento permanente e avaliação sistemática que

indicam a manutenção ou alteração da mesma.

O trabalho pedagógico em uma Escola Inclusiva deve partir de uma avaliação que

indique o caminho já percorrido por nossos alunos apesar de comprometidos que apresentem

para que as propostas a serem elaboradas sirvam de horizonte a ser atingido, indicando, ainda

as metas seguintes. De acordo com Rosa (2004, p. 157).

O termo necessidades educativas e especiais nos leva a refletir sobre sua importância no contexto educacional. Todos os alunos necessitam de um tempo maior ou de caminhos alternativos para aprender, deve ser considerados como portadores de necessidades educativas especiais. A escola deve estar atenta a está questão. Diante destes novos posicionamentos educacionais é inevitável o aperfeiçoamento das práticas docentes, redefinindo novas alternativas que favoreçam a todos alunos, o que implica na atualização e desenvolvimento de conceitos em aplicações educacionais compatíveis com esse grande desafio. Nesse sentido é preciso mudar a escola e o ensino nela ministrado.

Para Rosa (2004), na visão inclusiva será também necessária a revisão do papel da

avaliação, não cabendo mais o caráter classificatório através de notas, provas, que deverá ser

substituída por diagnósticos contínuos e qualitativos, visando depurar o ensino e torná-lo cada

vez mais adequado eficiente a aprendizagem de todos os alunos.

A educação no país se esforça para dar conta do desafio, integrar, acolher, ensinar e

propor diferentes formas educacionais, metodologias alternativas e fundamentação teórica

variada para a acessibilidade da igualdade de oportunidades educacionais para todos que

possuem necessidades especiais no que diz respeito ao adquirir conhecimentos, tendo algum

tipo de limite imposto por algum motivo cujo às vezes nem ele sabe o que é na verdade,

deixando alheio ao processo, precisando assim ser analisado e melhor ainda incluso no

processo educativo.

No entanto podemos também compreender, que a complexidade da questão sócio-

educativa-cultural voltada para inclusão, que permeia a área da Educação. Conforme

Deliberação Nº 02/03 da Educação Especial, cap. III, art. 5º (2003).

As necessidades educacionais especiais são definidas pelos problemas de aprendizagem apresentado pelo aluno, em caráter temporário ou permanente, bem como pelos recursos e apoios que a escola deverá proporcionar objetivando a remoção das barreiras para a aprendizagem.

25

Em certo momento histórico, o Brasil sofreu mudanças conjunturais fundamentais

como o processo de industrialização. E de acordo com a própria história, inclusão

desempenhou função significativa. Desta maneira, é inegável a influência sobre a sociedade e,

conseqüentemente, sobre o sistema educacional como um todo.

A LDB, aprovada em 1996, trouxe um grande avanço no sistema de educação de

nosso país. Esta Lei visa tornar a escola um espaço de participação social, valorizando a

democracia, o respeito, a pluralidade cultural e a formação do cidadão. A escola ganhou vida

e mais significado para os estudantes.

O contexto educacional vem ganhando novos diferenciais educacionais, multiplicando

meios possíveis para que se obtenham resultados satisfatórios, principalmente na atualidade

em que o processo de inclusão busca se fortalecer. Neste sentido, a atuação de profissionais

capacitados, equipes multidisciplinares e adequação estrutural, são instrumentos de muito

valor.

Existem algumas diretrizes que regularizam a educação especial, seu norte é de grande

valia, apesar de que muitas lutas precisam acontecer para que de fato aconteça em todo seu

teor. Estas diretrizes estabelecidas para a inclusão abordam os seguintes pontos (BRASIL,

1994): a inclusão é um princípio norteador das políticas educacionais no âmbito da educação

especial; defende a garantia do direito de todos à educação especial como modalidade

transversal; a acessibilidade na perspectiva ampla a inclusão das pessoas com necessidades

educacionais; a atenção e diversidade que pressupõe a valorização das diferenças na escola e

o princípio da participação na superação de preconceitos e da segregação para a

transformação dos sistemas educacionais inclusivos.

É de fundamental importância para os alunos especiais serem acolhidos pela família,

escola e sociedade, cada qual com sua diversidade, sem nenhum tipo de distinção. A

sociedade atual tem percebido muito vagarosamente que as diferenças completam e devem

completar o cenário escolar, desta forma, vêm-se adotando serviços complementares, práticas

criativas revendo posturas e construindo novas filosofias educacionais no que diz respeito à

Educação e principalmente a educação às crianças portadoras de necessidades especiais.

A escola hoje vem se adequando aos diferentes tipos de deficiências. Incluir significa

inovar. A inclusão exige transformação social, provoca desafios e novas perspectivas a partir

de sua implementação, exigindo novos posicionamentos, pois as dificuldades não podem ser

consideradas apenas no aluno especial, elas estão na forma da família e sociedade em

26 conceber, ministrar e avaliar este processo de aprendizagem. Portanto as instituições escolares

devem exigir treinamento continuado no quadro de docentes, e a seção de apoio psicológico e

terapêutico responsável pelo atendimento extracurricular dos alunos com dificuldades

especiais.

A construção garante a todos o acesso à escola, sem excluir ninguém, sendo que as

pessoas portadoras de deficiências têm os mesmos direitos e liberdades que as demais. A

inclusão de estudantes com deficiência nas classes regulares representa um avanço histórico

em relação ao movimento de integração, ela postula uma reestruturação do sistema de ensino,

como objetivo.

Este processo de apoio dos pais começa no inicio da vida da criança e é imprescindível

quando o aluno começa a se alfabetizar. A relação da criança com os pais, o exemplo e a

formação de uma estrutura psíquica em que as letras já fazem parte, é fundamental no

momento em que a criança começa a buscar a leitura de fazer com que a escola se torne aberta

as diferenças e competente para trabalhar com todos os educados sem distinção de raça,

classe, gênero ou características pessoais.

Assegurar que a inclusão esteja presente no bojo do desenvolvimento da Escola, permeando todas as políticas, de forma que estas aumentem a aprendizagem e a participação de todos os alunos. Considera-se apoio aquelas atividades que aumentem a capacidade de uma escola em responder à diversidade dos alunos. Todas as formas de apoio são consideradas juntas em uma estrutura única, e são vistas a partir da perspectiva dos alunos e seu desenvolvimento, ao invés de serem vistas da perspectiva da escola ou das estruturas administrativas do órgão responsável pela organização da educação (BOOTH, 2000, p. 45).

Importante ressaltar que o educador deve atuar no ensino de maneira que guie,

estimulando os educados no processo de aprendizagem. O ensino deve despertar o interesse

pelo conhecimento, propiciando o desenvolvimento da dignidade humana, pois o professor

para atuar em sala de aula deve ter acima de tudo amor pelo que exerce, buscando em si

mesmo o verdadeiro sentido de educar (MARTINELLI, 1996, p. 11).

O ser humano obtém aprendizagem por meio de trocas com o mundo que circunda,

mediante a socialização, assim ele consegue absorver diversificados conhecimentos. Se as

crianças com deficiências são diferentes da “ditas normais”, diferentes em seus

comportamentos, modos de agir, em suas capacidades, elas possuem em comum o desejo de

viver, de conhecer. Todas as crianças deficientes têm o dever de participar da educação,

atuando desta forma o processo global de socialização (RONCIN; VAYER, 2005, p. 157).

27

5. O ENSINO DE ARTE NA EDUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA

Este capítulo versa sobre tópicos de história do ensino de Arte fazendo uma relação

com as práticas de ensino de arte para crianças portadoras de deficiência visual no contexto

escolar. O texto apóia-se principalmente nas ideias dos seguintes autores: Barbosa (2008) e

Puccetti (2005), entre outros.

Tendo o conhecimento que a história do ensino da arte na escola não é recente. Hoje,

se pode afirmar que a arte-educação vem ganhando espaço e reconhecimento por se tratar de

uma área de conhecimento, por possibilitar o desenvolvimento de propostas relacionadas à

arte e à vida, de propostas que valorizam e respeitam a diversidade, que permitem o

autoconhecimento e o conhecimento cultural e social a partir das relações consigo mesmo e

com o mundo.

De acordo com Barbosa (2008, p. 01).

O Movimento de Arte para a Recuperação Social vem demonstrando a necessidade da Arte para todos os seres humanos, por mais desumanas que tenham sido as condições que a vida impôs a alguém. Basta que o cérebro funcione, basta não estar em estado de coma para ser possível estabelecer alguma ligação com a Arte ou através dela.

Assim sendo, o ensino da arte, no contexto da inclusão, apresenta possibilidades para

que todos os alunos vivenciem diferentes expressões, que contribuirão na construção do

conhecimento. Puccetti (2005, p. 02) diz que:

[...] A arte propicia a inteiração dos deficientes, integrando-os num processo de desenvolvimento por meio do fazer, sem levar em conta os aspectos patológicos ou orgânicos. Não enfatizando os déficits, as deficiências, mas as capacidades e possibilidades reais num processo mental e sensível de compreensão, abstração, planejamento, elaboração, relações e sociações, que resulta na produção e criação artística.

Sendo assim a arte na Educação Inclusiva é importante não só por proporcionar a

integração e a descoberta do valor e do potencial de cada indivíduo, mas também pela

possibilidade de transformar os valores humanos através da criatividade. Os educadores têm o

difícil papel de despertar nas crianças a sensibilidade, o reconhecimento de uma obra de arte,

sua critica, respeitando as diferenças e subjetividade.

28

O processo de aprendizagem de arte esta contida dentro de seu próprio cotidiano, do

que ele acha bonito ou feio, de que gosta ou não gosta tudo isso é construção de cidadania e

cultura. A arte possibilita ao ser humano expandir o conhecimento acerca de si mesmo e o

leva a descobrir-se como ser social, presente no contexto da sociedade em que vive sendo

comprometida com as mudanças rumo a uma melhor qualidade de vida para todos, ou seja, os

leva a exercer a verdadeira cidadania.

Para Nardes & Andreta (1999, p. 30).

A arte pode lhe ensinar desde que você se abra para ela, que existe uma infinidade de olhares e informações sobre o mundo, e também, que existem inúmeros ‘mundos’ diferentes dentro de uma única pessoa. Isso implica num princípio norteador de todo processo de Inclusão: o respeito às individualidades.

Quando se fala em diversidade fala-se também multiplicidade e coletividade, no

entanto no cerne do coletivo existe o singular, o ímpar, ou seja, aceitar e respeitar essa

condição são aceitar o ser humano, único e ao mesmo tempo coletivo.

Porém, os alunos com necessidades educacionais especiais convivem também nesta

coletividade. O ensino da Arte representa um diálogo possível, pois partem de um princípio

singular para uma coletividade, valorizando a diversidade, os múltiplos olhares e

sensibilizações como elementos enriquecedores do desenvolvimento pessoal e social. As salas

de aula devem ser mais do que apenas quatro paredes, devem ser o ambiente de aprendizagem

em todos os sentidos, devem ser o espaço de educação e de reabilitação de alunos com

necessidades especiais.

A educação infantil tem o objetivo de transmitir os conhecimentos científicos e

culturais aos alunos, sem nenhum tipo de desigualdade ou de discriminação, respeitando as

necessidades e os limites de cada um.

Existem necessidades educativas comuns, compartilhadas por todos os alunos, relacionadas às aprendizagens essenciais para o seu desenvolvimento pessoal e sua socialização, que se expressam no currículo escolar. Nem todos os alunos, porém, enfrentam com a mesma bagagem e da mesma forma as aprendizagens estabelecidas nele, visto que têm capacidades, interesses ritmos, motivações e experiências diferentes que medeiam seu processo de aprendizagem. O conceito de diversidade remete-nos ao fato de que todos os alunos têm necessidades educativas individuais próprias e específicas para ter acesso às experiências de aprendizagem necessárias à sua socialização [...]. Nem toda necessidade individual, porém, é especial. Algumas necessidades individuais podem ser atendidas pelo trabalho individual que o professor realiza na sala de aula: dar mais tempo ao aluno para a aprendizagem de determinados conteúdos, utilizar outras estratégias ou materiais educativos, planejar atividades complementares, etc (COLL; MARCHESI; PALACIOS; COLS, 2004, p. 290).

29

Para que a educação inclusiva venha a acontecer de forma natural, é necessário que as

escolas busquem alternativas para melhor receber e atender os alunos com necessidades

especiais independente da sua gravidade, pois incluir esses alunos é recebê-los com respeito e

procurar ao máximo valorizar cada um deles, sendo de suma importância para sua formação

enquanto individuo pensante e capaz de se desenvolver plenamente.

É preciso ter a consciência de que Arte é uma disciplina, tem sua área de

conhecimento, tem seus objetivos a serem alcançados e precisa ser valorizada, se faz

necessário, proporcionar capacitações aos professores e com isso conscientizá-los que são

necessárias alterações nas concepções e procedimentos pedagógicos e principalmente o

entendimento por parte dos professores para que haja inclusão de forma ampla e contínua,

sem nenhum tipo de restrição que possa vir a excluí-lo dos trabalhos escolares.

Portanto, traçar um planejamento entre a educação inclusiva no âmbito do ensino da

arte abre um grande leque para discussões quando se pensa na educação como meio por onde

o ser humano é capaz de se transformar e alterar o ambiente onde vive e na arte como grande

via de acesso a essas transformações. Isto significa que todas as experiências estéticas quando

refletidas com arte, o aluno poderá se aproximar mais do universo sensível, estabelecendo

com certeza um elo entre si e sua própria subjetividade, reconhecendo assim, seu lugar como

colaborador na construção do mundo.

De um ponto de vista genérico e com base em qualquer dos teóricos modernos, a arte é,

pois, todo trabalho criativo, ou seu produto, que se faça consciente ou inconsciente com

intenção estética, isto é, com a finalidade de alcançar resultados belos. Se bem que o ideal de

beleza seja de caráter subjetivo varie com os tempos e costumes e todo artista seja ele pintor,

escultor, arquiteto, músico, escritor, dramaturgo, cineasta ou certamente investe mais na

possível beleza de sua obra do que na verdade, na elevação ou utilidade que se possa ter.

Vale ressaltar que, nessa área de arte, que destaca especialmente as questões de

aprendizagem relacionadas à percepção, critica e criativa estética, os alunos precisam de

envolvimento criativo do professor na formulação e na realização de profissionais de suas

propostas para também se envolverem no aprendizado e desenvolverem plenamente sua

capacidade criadora, pois a arte educa para a ampliação da compreensão do mundo.

Diante do exposto, arte é um elemento constante na vida dos seres humanos. Desde os

períodos mais remotos, é possível identificá-la em suas diferentes manifestações, na história

da humanidade. Segundo Lima (1990), o fato de a arte integrar a vida dos homens, não ocorre

30 por acaso, mas sim por possuir uma função “determinada e necessária”, que é a de auxiliar na

construção cultural do saber humano. Nesse sentido, a arte adquiriu papéis sociais de maior

ou menor relevância, de acordo com a época e a própria organização dos homens.

Enquanto para alguns possui um papel aparentemente menos relevante, para outras

culturas, como por exemplo, para os povos primitivos, tem tanta importância quanto às

atividades diretamente ligadas à sobrevivência, onde a arte consiste em um fenômeno

coletivo. Qualquer que seja a época ou a cultura a que pertença, o ser humano precisa

estabelecer ligações com os demais, pois ele não sobrevive sozinho. No entanto, tal ligação só

ocorre e se mantém, em função da capacidade que o homem tem de emocionar-se e a partir

daí, estabelecer vínculos.

Lima (2000, p. 79) mostra a importância da arte em relação aos sentimentos:

É bastante difundida a idéia de que a manifestação artística seja algo ligado aos sentimentos, ao emocional, à sensibilidade, opondo-se ao racional, ao objetivo, ao real. De fato em toda atividade artística há emoção. Mas não é no sentido em que ela é vulgarmente identificada. É na ação artística, pelo contrário, que a emoção pode se organizar concretamente. Esta é uma organização que se dá no coletivo, ou seja, é um momento partilhado por dois ou mais elementos da espécie e que acontece em virtude desta emoção que os congrega. Assim, as experiências artísticas possibilitam também esta organização dos seres em grupo, condição necessária para que o homem sobreviva.

Ao mesmo tempo, a atividade artística está também ligada à função simbólica. É

importante ressaltar que foi com o auxílio dessa função que o ser humano alcançou a

capacidade de armazenar conhecimentos, desenvolvendo suas capacidades cognitivas, entre

elas a imaginação e a capacidade de criação. A simbolização tem origem na representação,

que por sua vez é acionada por imagens mentais, desencadeadas pelos diferentes movimentos

executados pela criança ou pelo adulto.

Geralmente a criatividade e os processos de criação são entendidos como algo inerente

a determinados indivíduos e, portanto, como dons que não fazem parte do potencial de todos

os seres humanos. No entanto, diferentes autores (VYGOTSKY, 1982; OSTROWER, 1987;

LOWENFELD, 1977), têm discutido o processo de criatividade e de imaginação mostrando

que são habilidades que podem e devem ser desenvolvidas em qualquer pessoa, pois nada

mais são do que a expressão do cotidiano, uma forma peculiar de perceber a natureza e o

mundo exterior.

De acordo com Ostrower (1987, p. 05).

31

O criar só pode ser visto num sentido global, como um agir integrado em um viver humano. De fato, criar e viver se interligam. A natureza criativa do homem se elabora no contexto cultural. Todo indivíduo se desenvolve em uma relação cultural em cujas necessidades e valorações culturais se moldam os próprios valores da vida. No indivíduo confrontam-se por assim dizer, dois pólos de uma mesma relação: a sua criatividade que representa as potencialidades de um ser único e sua criação que será a realização dessas potencialidades já dentro do quadro de determinada cultura.

Conforme Vygotsky (1982) pode-se entender por atividade criadora, toda realização

humana que cria algo novo, seja ao refletir algo sobre um dado objeto do mundo exterior, seja

através da manifestação de determinadas construções mentais ou afetivas, próprias do ser

humano. Para ele o ser humano não se limita a reproduzir fatos ou impressões vividas e

experiências passadas, mas principalmente se propõe a criar combinar e re-elaborar com

elementos de situações vividas anteriormente, novas imagens, novas ações e normas.

Entre as questões mais importantes da psicologia infantil e da pedagogia, figura a da

capacidade criadora nas crianças, a do fomento desta capacidade e sua importância para o

desenvolvimento geral e da maturidade da criança. Desde os primeiros anos de sua infância,

encontramos processos criadores que se refletem sobre tudo nos jogos.

O mesmo autor aponta, ainda, para a necessidade de entender-se que a fantasia, tão

necessária para o desenvolvimento saudável da criança, muitas vezes é compreendida de

forma errônea, ao traçar-se uma barreira entre fantasia e realidade. Segundo Vygotsky (1982,

p. 23), é preciso entender que.

Todas as formas da representação criadora contêm elementos afetivos. Isto significa que tudo o que constrói a fantasia influencia de forma recíproca nossos sentimentos e ainda que essa construção não corresponda à realidade, todos os sentimentos que provoca são reais, efetivamente vividos pelo homem que os experimenta.

Nessa perspectiva as atividades alternativas para pessoas com necessidades especiais,

têm como objetivo, propiciar aos alunos a possibilidade de manifestar seus conhecimentos e

sentimentos, através de diferentes formas expressão, tais como, o desenho, pintura,

modelagem, dramatização, entre outras. Objetiva ainda incentivar a aquisição de atitudes de

cooperação, iniciativa, hábitos de observação, percepção e organização.

5.1. O papel do professor de Arte na Educação Especial/Inclusiva

32

Sabe-se que o futuro professor de Arte em formação já começa a entrar em contato

com alunos com deficiência nos estágios curriculares. Na escola, o graduando do curso de

licenciatura em Arte tem a oportunidade ímpar de conhecer a realidade atual da diversidade

na aula de arte. Temos visto que muitas vezes são os graduandos, mobilizados pela situação

de estágio, que começam a procurar literatura e conhecimento para dar conta dos desafios que

começam a enfrentar. Mobilizados, procuram cursos de Língua Brasileira de Sinais

(LIBRAS), bem como suporte na literatura para compreender as especificidades de trabalhar

com alunos com deficiência auditiva e estratégias em como trabalhar os conteúdos com

deficientes visuais.

A prática supervisionada coloca o graduando, com seu olhar crítico, com sua

facilidade para aprender novas tecnologias, seu interesse em linguagens, num lugar

privilegiado para participar juntamente com a universidade da consolidação do trabalho de

ensino de arte para alunos na diversidade. Cabe aos professores do curso trabalhar as bases

teóricas e de pesquisa que auxiliarão o estagiário a estabelecer um diálogo mais sólido entre

os campos da educação especial e do ensino de arte. Sabendo que o conhecimento sobre o

ensino de arte para todos os alunos está para ser construído, entendemos que é essencial que

os cursos de licenciatura em Educação Artística ou em Artes Visuais se atualizem para

contemplar a nova demanda da heterogeneidade nos espaços educativos formais e informais.

Não há dúvida de que a prática é constitutiva da docência. Na dinâmica da sala de

aula, os modos de produção plástica dos alunos mobilizam a reorganização metodológica do

professor e incentivam a pesquisa e podem levar a aprofundamentos epistemológicos. A

prática é integradora, promovendo um lugar de tensão entre o campo da teoria e o campo do

fazer. Entretanto, se o professor de arte não tiver um embasamento sobre a natureza das

deficiências que os seus alunos apresentam e sobre os modos de promover a sua participação

plena e o aprendizado dos conteúdos específicos da sua área, ele vai trazer para a sua prática o

senso comum e, provavelmente, também os estereótipos sobre o deficiente que circulam na

sociedade.

Um dos desafios que qualquer época apresenta para Instituição Escolar é a formação

para trabalhar com uma diversidade de alunos durante o curso de licenciatura ou em cursos de

formação continuada é um diferencial na prática docente. O professor que não teve os

conteúdos necessários para atuar com alunos com deficiência recorre à intuição e à consulta

aos colegas, o que muitas vezes não é suficiente para prepará-lo para atuar da melhor maneira

possível, considerando as especificidades do trabalho com arte. Ao invés de depender da sua

33 intuição, o professor pode se apoiar na produção de conhecimento da área, consolidando

saberes que dizem da prática, mas se apóiam na epistemologia.

Compreende-se que os profissionais que atuam no campo da arte com grupos muito

heterogêneos, sejam dentro da escola ou em outros contextos culturais e de lazer, necessitam

de subsídios para trabalhar os conteúdos da arte numa dimensão cultural, de linguagem e de

representação visual.

A partir dessas considerações, observa-se que os conhecimentos sobre ensino de arte

na escola inclusiva estão em construção, já que grande parte dos conhecimentos específicos

sobre recursos e metodologias de trabalho em arte com alunos com deficiência foi constituída

nos contextos da educação especial com populações homogêneas, geralmente em instituições

beneficentes e escolas especiais. Não é possível, simplesmente, transpor os saberes

constituídos num espaço institucional para outro espaço de inclusão.

Ainda na referida abordagem, professores bem informados são de importância vital para

o futuro dos alunos com necessidades educacionais especiais, especialmente os que

apresentam deficiência visual. Não há fator isolado mais importante que professor

especializado, preparado e eficiente. Porém, no ensino especial não dispõe de profissionais

graduados dispostos a educar artisticamente, uma vez que ignoram sua importância.

No trabalho com alunos com necessidades educacionais especiais, o professor, além

dos requisitos básicos inerentes à sua função, deve ter uma personalidade adequada ao tipo de

trabalho que irá desenvolver, para que possa encarar as dificuldades que se apresentarem com

serenidade, compreensão e tolerância.

Antes de tudo, este profissional deve deixar de lado todo e qualquer tipo de preconceito

ideológico ou naturalista, para que possa ver seus alunos como um ser social, dotado de

potencialidades e necessidades de integração, tendo sempre em mente que sua tarefa é mediar

o aluno e o saber, ajudando-o a adaptar-se ao mundo, o que é uma tarefa bastante complexa.

O professor é o grande responsável pela formação da personalidade da criança, por isso,

em sua formação deve constar conhecimento de base genética, a fim de compreender as

diferenças para que possa desenvolver um trabalho visando à educação integral de seu

educando. É preciso que tenha, também, vivência social, uma vez que não poderá atuar

sozinho, antes fará parte de uma equipe cujo objetivo maior é educar o aluno com

necessidades educacionais especiais em todos os aspectos necessários para que possa se

integrar à sociedade.

34

Dentre as habilidades exigidas deste profissional deve-se destacar a habilidade de lidar

com situações inusitadas, imprevistas, com firmeza, sem, porém, deixar de ser amável. Outra

habilidade indispensável é a de demonstrar entusiasmo pelo que faz ser criativo, sincero,

gentil, revelando sempre o seu interesse e respeito pelo educando.

Vale destacar que o trabalho com alunos com necessidades educacionais especiais

exige, também, do profissional uma boa formação técnica para que possa definir métodos e

processos adequados ao que deseja alcançar, isso significa que ele deve ter domínio de

conteúdos, assim, poderá contextualizar o conhecimento específico no conhecimento geral.

Dotado de tais conhecimentos, o professor poderá utilizar diferentes matérias-prima,

bem como as diversas técnicas de utilização destas. Em termos práticos, essas questões se

traduzem em trabalhar conceitos artísticos e estéticos a partir do cotidiano da criança, por

meio da natureza e da cultura existentes no meio em que está inserido.

Durante a realização de atividades artísticas, com alunos com necessidades

educacionais especiais, o professor deve considerar ainda, a utilização de outros recursos,

específicos às necessidades de cada educando. No caso dos alunos com necessidades

educacionais especiais na área visual, esses recursos representam, muitas vezes, mais tempo,

mais incentivos e perseverança, ou seja, mais mediação no encaminhamento das atividades.

Requer do professor, mais reflexão, mais estudo, a fim de superar as barreiras de uma

formação, muitas vezes, deficitária.

Vale ressaltar que barreiras nem sempre são negativas, uma vez que a superação

dessas representa uma meta que foi vencida. A tarefa do professor do aluno com necessidades

educacionais especiais é tão complexa que descrevê-la em poucas palavras a faz parecer um

tanto quanto abstrata. Entretanto, seu objetivo primordial é a criança. Devendo, portanto,

incentivá-la, encorajá-la a enfrentar, mesmo com suas limitações, o mundo.

5.2. Ensinando crianças com deficiência visual a desenhar

Este tópico vem fazer uma abordagem sobre as práticas pedagógicas nas aulas de artes

visuais envolvendo sujeitos com deficiência visual. Pois se compreende que para trabalhar

artes visuais com indivíduos cegos ou com baixa visão, a adaptação do professor tem que ser

35 coerente às necessidades específicas de cada um. Assim o professor criará novas estratégias

de ensino possibilitando aos mesmos que eles se apropriem do objeto de estudo.

Além de descentralizar a ideia de que a arte visual está vinculada na utilização da

visão com o meio de apropriação das informações nelas centradas. Todavia há necessidade

também de que o professor atente principalmente as práticas humanas sensíveis das pessoas

que estão envolvidas neste processo. Pois a arte tem a função de desenvolver o conhecimento

sensível, como proporcionar a esses indivíduos momentos de reflexão sobre o universo onde

os mesmos se encontram, para que eles possam sentir perceber, imaginar, criar algo perante a

vida.

Portanto, a arte na escola em seu papel desenvolve a criatividade dos alunos, dando

aos mesmos a possibilidade de expressar seus sentimentos, como também a própria visão do

mundo utilizando-se de diferentes linguagens artísticas. Segundo Karagiannis, Stainbak e

Stainbak (1999, p. 21), “o ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos,

independentemente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou origem cultural”.

Em relação ao material didático que trata do ensino do desenho para crianças não

visuais é escasso, e pesquisas nesta área ainda apontam controvérsias. Muitos consideram que

ensinar desenho para uma criança com deficiência visual, é impor uma aprendizagem imposta

pelos videntes, que se dá a partir de “padrões visuais”, sendo assim, a representação gráfica

do cego uma reprodução visual imposta por quem enxerga é, portanto, falsa (AMIRALIAN,

1997, p. 85).

Porém, Oliveira (2008, p. 247) relata alguns casos de artistas deficientes visuais, e na

análise de entrevistas e depoimentos também indica a participação relevante de familiares e

profissionais em sua formação e em seu trabalho cotidiano. Reily (citado por Oliveira, 2008,

p. 247) aponta certa tendência a não se colocar em relevo a participação de outras pessoas na

formação dos artistas com deficiência, segundo ela, “a mediação de outros sujeitos fica

ofuscada, muitas vezes por uma visão de desempenho do artista como algo inato, um dom”.

Entretanto, quando falamos em crianças cegas e principalmente cegas de nascimento,

temos de levar em conta que o conhecimento do mundo se dará pela mediação desse

conhecimento. Neste processo de construção, a informações concedidas pelas pessoas que

convivem com a criança cega, terão papel importante na formação de conceitos sobre os

objetos.

Quando apresentamos um objeto para que aquele que não vê desenhe, além de permitir o toque no objeto, quando isso é possível, usamos também a fala para

36

descrevê-lo. A descrição verbal é um recurso essencial para auxiliar, passo a passo, ou toque a toque, o reconhecimento do objeto pelo cego (DUARTE, s/ data, p.14).

Outro ponto que deve ser destacado é que muitas vezes o recurso verbal se sobrepõe as

experiências da criança cega. É importante que a criança cega utilize todos os recursos

possíveis para formar a sua própria conceituação dos objetos, seja por meio de sua vivência,

ou pela mediação dos conhecimentos por outras pessoas.

Embora estudos sobre o ensino do desenho para cegos sejam escassos, esta

preocupação não é recente. Amiralian (1997, p. 87-89) aponta os estudos de Victor Lowenfeld

(1939), que utilizou desenhos de cegos para analisar o desenvolvimento da criatividade, de

conceitos de forma e espaço, e de representações mentais. Este estudo trouxe importantes

contribuições para a compreensão da arte da criança e da influencia do sentido da visual sobre

o desenho. Para Duarte (2004 p. 138), “ensinar uma criança cega a desenhar tem como meta

imediata integrá-la a uma brincadeira infantil extremamente usual desde os primórdios da

historia da humanidade”.

6. METODOLOGIA

A pesquisa é um processo sistemático de construção do conhecimento que tem como

metas principais gerar novos conhecimentos ou corroborar ou refutar algum conhecimento

pré-existente. É basicamente um processo de aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza

quanto da sociedade na qual esta se desenvolve. A pesquisa como atividade regular também

pode ser definida como o conjunto de atividades orientadas e planejados pela busca de um

conhecimento.

Portanto as questões formuladas para o desenvolvimento do trabalho foram extraídas

após pesquisas de materiais bibliográficos. A pesquisa de campo ocorreu com professores e

alunos da Escola Estadual Felisberto Nunes Gonçalves, na cidade de Indianópolis, Estado do

Paraná. Foi verificada a preocupação da comunidade escolar com a inclusão e a importância

da preparação continuada aos professores para que os alunos se sintam acolhidos e aconteça o

aprendizado de forma efetiva, mas que a conscientização e as transformações ocorram, alguns

37 objetivos são especificamente priorizados, tais como, identificar possibilidades de mudanças

nas práticas educativas.

Portanto, este estudo pautou-se por uma pesquisa bibliográfica, tendo por base fontes

secundárias sobre o tema inclusão, com o objetivo de identificar se os alunos com deficiência

visual estão sendo recebidos e tendo as mesmas oportunidades de aprendizagem dentro do

contexto escolar. Segundo Lakatos e Marconi (1992, p. 43) a pesquisa bibliográfica da

oportunidade para que o pesquisador entre “[...] em contado direto com tudo aquilo que foi

escrito sobre determinado assunto” e possibilita o reconhecimento dos aspectos importantes

que cercam o tema, no caso específico deste estudo, a inclusão.

Este trabalho também está relacionado com o método de pesquisa descritiva, sobre a

qual Gil (2002, p. 42) afirma que:

As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como questionário e a observação sistemática.

As questões que nortearam o trabalho foram: é possível o ensino da Arte na

perspectiva da educação inclusiva? Pode haver um canal de comunicação entre o ensino de

Arte e a educação inclusiva, pensando na arte não somente como um trabalho terapêutico,

mas também como aspecto social?

A pesquisa foi enfocada com dois professores que atuam na disciplina de Arte e

Língua Portuguesa na Escola Felisberto Nunes Gonçalves e alunos de classificação aleatória,

de várias séries, sendo de forma informal, dispensando critérios específicos como idade, sexo,

cor, religião e outros. No entanto, nove alunos pesquisados têm necessidades especiais todos

incluídos no sistema de ensino.

6.1. Instrumentos e procedimentos metodológicos

Para a coleta e levantamento dos dados, partiu-se do questionamento apresentado no

início deste trabalho, com ênfase nas questões: É difícil trabalhar hoje com a inclusão? Ela

acontece necessariamente? São necessárias grandes mudanças para que haja aprendizado para

a pessoa com necessidades especiais? Quais as verdadeiras funções da arte e sua conseqüente

aplicação à educação especial?

38 Mesmo sendo entrevistas informais na escola, como instrumento de coleta foi utilizado

um questionário pré-elaborado, com as questões acima (ver anexo no final deste trabalho).

Logo, a execução do presente trabalho ocorreu de forma sistematizada, oferecido a 20

alunos, sendo 9 (nove) com necessidades especiais todos incluídos no sistema de ensino. Para

tal seu desenvolvimento e execução se deu em aulas, ministradas na disciplina de Língua

Portuguesa e aulas de artes e foram realizadas em algumas etapas, para que os alunos

pudessem trabalhar de forma continuada.

Com base nestes pressupostos, pode-se afirmar que na primeira etapa o propósito foi

tornar o trabalho mais prazeroso, então, o professor regente da sala de aula começou a

explicar a obra de Vincent Van Gogh, “Quarto em Arles” (1888), apresentando aos alunos

uma cópia do quadro, para compreender o universo interior e exterior do autor. O professor

fez com que os alunos observassem que os elementos desenhados na obra, têm ligação com os

fatos históricos vivenciados pelo autor no momento da criação.

Nesse momento os alunos com deficiência visual tocarão no desenho da tela e o mais

importante, o professor descreveu na oralidade a tela, pois a descrição verbal é um recurso

essencial para auxiliar, passo a passo, o reconhecimento e apropriação da obra pelo deficiente

visual.

Então, o foco principal dessa etapa foi à leitura não verbal, atividade por meio da qual

os alunos tiveram a possibilidade de construir e reconstruir o significado da obra por meio da

oralidade. Durante a aula não foram verificados quaisquer problemas na assimilação do

conteúdo os “Quarto em Arles”. No decorrer das aulas um aluno do 5º ano disse: “Nossa!

Essas aulas foram ótimas, não imaginava que através da pintura de um quadro existe tantas

coisas. O desenho do quadro deve ser igual o quarto dele. Eu também posso representar meu

quarto através de desenho. Adoramos as aulas de arte”.

Na segunda etapa, nas aulas de Língua Portuguesa, os alunos realizaram o trabalho

escrito de Van Gogh para se familiarizar com sua obra. Então, a professora B regente da sala

de aula desenvolveu um trabalho com o uso das estratégias de leitura o antes, o durante e o

depois. Análise essa que subsidiou aos mesmos um aprimoramento do estudo sobre a vida do

autor, da ambientação, da época, já que estratégias são procedimentos conscientes ou

inconscientes utilizados pelo leitor, seja para decodificar, isto é, fazer uma leitura à primeira

vista, compreender e interpretar o texto ou resolver os problemas que se encontra durante a

mesma.

39

Na terceira etapa, após a professora B desvendar os elementos composto no quadro

por meio do título, os alunos demonstraram através da oralidade seus conhecimentos de

mundo, ou seja, da realidade social que os cerca, tecendo alguns comentários sobre cada

detalhe observado na pintura, buscando descobrir os possíveis significados, bem como as

condições em que se encontrava o autor no momento que pintava. O trabalho fluiu, pois a

professora B trabalhou bastante a oralidade doa alunos com deficiência visual, dando atenção

às necessidades específicas de cada um. Quanto à compreensão da análise nenhuma

dificuldade foi detectada.

Depois de realizada as etapas anteriores, nesta 4ª etapa os alunos se aventuraram em

desenhar uma replica do autor que se deu de maneira programada, seqüenciada e processou-se

da seguinte maneira. Os alunos iniciaram fazendo uma reflexão sobre tudo que já havia sido

trabalhado, após análise, partiu para o desenho propriamente dito, dado o tempo da “aula de

arte”, aproximadamente quarenta e cinco minutos hora/aula, cada aluno anotou em seu

caderno a data (dia) onde o mesmo parou com o desenho.

Na semana seguinte, dando continuidade a aula anterior pré-estabelecida com os

alunos, fez-se uma retrospectiva do trabalho. Neste diálogo alunos e professor interagiram

esclarecendo pontos que possivelmente ficaram obscuros evitando assim, erros de

compreensão guiados a uma visão global da obra. Nesse espaço pôde-se ouvir várias vezes

questionamentos tais como, porquê o autor preferiu desenhar um quarto ao invés de outros

desenhos, demonstrando que os alunos estavam realmente interessados porque havia uma

inferência grande por parte dos mesmos. Em vários momentos eles até discutiam com os

colegas sobre a postura de Vincent Van Gogh. A maioria tentava desvendar o enigma antes de

concluir a seu desenho. Após o avivamento da memória sobre a obra que durava, no máximo,

quinze minutos, pois o restante do tempo hora/aula fora destinado à apresentação aos demais

da sala. Alunos e professor continuaram suas respectivas análises até o fim da aula e assim

sucessivamente, nas próximas semanas, até que todos lessem a obra completa sempre

respeitando o tempo e leitura de cada um.

Para que o trabalho desse certo todas as ações estavam atentas entre as partes

interessadas, professor e alunos. Foi uma das etapas mais interessante, pois percebe-se que

eles gostaram do trabalho com obras de arte, o que não há de fato neles é a prática da mesma.

Outra constatação, por vez, até assustadora foi: “Esse foi, esse é, o único quadro que eu

realmente consegui fazer uma analise, ou seja, concluíram que fora muito importante a

40 oportunidade ‘as aulas de arte’ para que os mesmos a iniciassem dessem continuidade e

finalizassem”.

Em meio a esses argumentos abordados acima, percebe-se que todos sabem e

conhecem a importância da leitura não verbal na escola. Os objetivos de propiciar ao aluno

momentos de trabalho de qualidade para que pudessem avaliar se valeu a pena ou não ao seu

processo de aprendizagem, foi alcançado, pois até os deficientes visuais nos surpreenderam,

mostrando que não há barreiras quando os mesmos são tratados como alunos sem alguma

deficiência.

Concluída todas as etapas de análise da obra de Van Gogh a turma do 5º ano definiu o

autor Van Gogh assim: “Esse Vincent Van Gogh é muito misterioso, deixou nas entrelinhas

todas as possibilidades de leitura. Assim como responder ao enigma: Por que desenhar um

quarto?”.

Diante de tantos problemas decorrentes da necessidade de formação educativa, pela

falta de leitura verbal e não verbal é de suma importância que se reflita sobre o papel do

trabalho com Arte e com Literatura, principalmente com crianças com necessidades especiais

inclusa no contexto escolar. A vantagem do texto literário é que ele contribui para a formação

de um leitor mais hábil. O texto literário não é fechado e passivo, ao contrário, este por sua

vez abre espaços para a subjetividade, provoca reflexão e estranhamento, ou seja, faz o leitor

pensar, refletir, pois este tipo de texto o desafia e o leva a ter outros conhecimentos. Portanto,

pode-se trabalhar uma obra de arte como um livro de historinha na disciplina de Artes e

também em Língua Portuguesa, ou seja, assim estaremos trabalhando a interdisciplinaridade.

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diante de tudo o que se foi abordado nesta pesquisa conclui que a mesma possibilitou

de forma ampla o conhecimento acadêmico em sua realização, pois o mesmo trouxe a

aprendizagem de forma que veio aumentar o nosso conhecimento em relação à leitura de

obras não verbal em sala de aula e o desenvolvimento do mesmo frente à clientela que dispõe

da mesma.

Sendo que o mesmo teve como objetivo formar alunos capazes de analisar uma obra

de arte não verbal “que busque na mesma uma forma de aprender. E a obra “Quarto em

41 Arles” foi à base necessária para que isto acontecesse, pois o mesmo é produzido pelo autor

Van Gogh que narra seus dias num quarto isto é, situações cotidianas, ou seja, acontecimentos

também de nossa sociedade.

Para realização deste feito, inicialmente, foi realizada uma exposição oral do tema aos

alunos, sobre o trabalho a respeito de texto não verbal e sondagem do conhecimento prévio

que estes possuem sobre o assunto. Neste momento foi aberto um espaço para a interação

professor e aluno (diálogo), visando à apresentação de expectativas e novos horizontes, que,

aliás, foi muito gratificante.

Além disso, foi deixado de forma explicita aos alunos que autor e leitor são sujeitos

ativos que dialogam que se constroem e são construídos a partir de um texto. Para tal é

preciso deixar claro o objetivo de estudo, trabalhar as artes visuais e inclusão de alunos com

deficiência visual.

Porém, em pesquisa realizada em sala de aula foi comprovado que alunos não gostam

desse tipo de atividade por que os mesmos acham as obras pintadas chatas, não tem paciência,

não sentem prazer, também não entendem o que o quadro quer mostrar e tem preguiça. Com

a determinação do horizonte de expectativas, partiu-se para o atendimento oferecendo aos

alunos a fazer uma reflexão a partir do titulo da obra de Van Gogh.

Assim, o desenvolvimento do trabalho exigiu muita dedicação por parte dos alunos,

principalmente os com necessidades especiais e do professor, pois o tema “Quarto em Arles”

contemplou e se desenvolveu com base em leitura bibliográfica apropriada, que

possibilitassem a conceituação e a análise de questões pertinentes á temática abordada, que se

focou na importância da leitura verbal mediada pelo professor para o crescimento do

educando como cidadão, que constitui literalmente uma liberdade intelectual, pois quem

consegue fazer uma analise solta a sua imaginação e cria a imagem que vem aumentar seu

conhecimento de mundo.

Logo, os estudos realizados e a proposta implementada na escola foram no sentido de

sensibilizar os professores e alunos quanto à necessidade do constante aperfeiçoamento, ou

seja, mostrar a importância de se trabalhar com os mais variados textos em sala de aula.

Nesse contexto, o estudo permitiu a investigação e a resolução de que tanto alunos

quanto a equipe escolar defendem a idéia de que não apenas a conscientização da importância

das práticas educativas em Artes deve ser aprimorada, mas sim toda prática pedagógica tem

muita responsabilidade no processo da inclusão de alunos com necessidades especiais.

42 Observou-se que não apenas o aprendizado com Artes pode garantir as transformações

necessárias no processo de inclusão. Foi concluído através das pesquisas que os professores

acreditam que é mais difícil trabalhar com alunos especiais do que com os demais alunos.

Entretanto, ficou claro, que é necessário resgatar a disciplina de artes quanto á

verdadeira função da Arte, sendo que entre os alunos ainda persiste a concepção de

contemplação da beleza, valorização do aspecto decorativo. Essas concepções podem estar

ligadas à ausência de um trabalho mais intenso e consciente nas séries iniciais do Ensino

Fundamental. A disciplina de artes deve ser trabalhada como movimento, expressão e

sensibilidade para que assim possa despertar o sujeito como cidadão pleno.

O espaço onde se desenvolveu parte desta pesquisa foi na Escola Felisberto Nunes

Gonçalves do município de Indianópolis-PR, na disciplina de Arte e Língua Portuguesa. É

uma escola publica municipal que atende a criança de 5º ao 8º ano do Ensino Fundamental.

É uma instituição cujos caminhos percorridos em direção à educação inclusiva não são

recentes. Nesse sentido os alunos do grupo A assim citados na pesquisa participam desse

contexto escolar, ou seja, são alguns alunos portadores de deficiência visual. Os alunos do

grupo A faz parte da 5º ano, e as aulas de artes, por sua vez, possuem a carga horária, para

essa turma, de 2 aulas, num total de 1h36m semanais.

Para compreender melhor os dizeres dos sujeitos da pesquisa, optou-se primeiramente,

em analisar as evocações dos professores A e B; em seguida, a participação dos alunos do

grupo B e, a articulação das vozes desses sujeitos sobre seu envolvimento com a inclusão.

Apresentou-se a primeira proposta de discussão para os professores, a partir do item já

mencionado (o significado de escola inclusiva). A Professora A assim se manifestou: “A

verdadeira inclusão pra mim seria que os professores pudessem ajudar todas as crianças que

têm alguma dificuldade, mas que os professores tivesse uma orientação, continuada, assim,

por exemplo, eu não tive ninguém que me desse um curso, que conversasse comigo, que me

dissesse: ‘não, a gente vai trabalhar assim, tem essa possibilidade, essa, pra trabalhar com

essa criança que não enxerga. Sabe, mas, a gente não tem. Eu não tive pelo menos”.

Para a Professora A, inclusão está diretamente relacionada à formação e à qualificação

dos professores, de modo a “ajudar” todos os alunos. Para isso, faz-se necessário o

envolvimento de outros profissionais, para que o trabalho em sala de aula se efetive com mais

qualidade. Para a Professora A, lecionar para alunos com necessidades especiais exige outra

metodologia, à parte, diferente do que já foi trabalhado até então com os alunos sem

43 necessidades especiais. A mesma professora se refere, também, à necessidade de outro

sujeito, de preferência um especialista, para que avalie e diga o que trabalhar com o aluno

“diferente”.

Conforme Mittler (2003) indiferente de suas limitações, a inclusão das crianças

portadoras de deficiências deve ser levada em consideração pelos professores, onde seu

trabalho cotidiano em sala de aula deverá ser pensado de forma enriquecedora, pois a inclusão

parte da aceitação da diversidade humana valoriza as pessoas como únicas e a educação como

um processo de cooperação. Portanto, a inclusão depende exclusivamente do trabalho do

professor do seu sucesso em garantir que todas as crianças possam participar de cada aula e da

vida da escola como um todo (MITTLER, 2003, p. 20).

Quanto à inclusão social, Sassaki (1999) a coloca como um novo modelo para que

juntos na diversidade humana se possa construir uma sociedade onde todos possam cumprir

os deveres de cidadania e se beneficiar dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais,

culturais e de desenvolvimento. Para ele, a inclusão social é um processo, podendo ocorrer no

mercado de trabalho, lazer, recreação, nas artes, na cultura nos esportes, religião, e traz

desafios à educação.

A inclusão social, [...], é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos (espaços internos e externos),equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliário e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do próprio portador de necessidades especiais (SASSAKI, 1999, p. 42).

Para a professora B, por sua vez, vê da seguinte forma a escola inclusiva: “Eu vejo

assim que, nas outras matérias, nas outras disciplinas, o aluno participa, mas que já tem

algumas coisas escritas e também é ditada pra ele a matéria, o conteúdo e através daquela

máquina né, ele digita, ele registra o que ouve. Agora na matéria de artes eu tenho bastante

dificuldade porque realmente eu não sei, sabe o que fazer [...]”.

Na concepção da professora B, o enfoque da inclusão está, primeiramente, na criança,

consiste no fato de que é preciso que se tenha a garantia da participação efetiva de todos os

alunos nas rotinas escolares, de modo a promover a aprendizagem na sua maior plenitude.

Porém, já em suas primeiras palavras, a referida professora expõe sua angústia e a

comparação do desempenho do seu aluno com deficiência visual nas aulas de artes com as

demais disciplinas.

44

A Professora B ainda se manifesta a respeito da escola inclusiva assim se expressando:

“ [...] trabalho com crianças com deficiência visual, mas digo que é, bem difícil, porque eu

tento encontrar novas idéias, mas a gente acaba ficando com medo de dar atividades para

eles fazer, e fico me perguntando se eles estão vendo o exemplo que eu mostrei, claro que

não, apenas em sua imaginação,ai fico preocupada. E quando é a parte teórica eu passo pra

ele, eu dito, explico, mas fora isso é bem difícil”.

Como se podem observar, por meio dos dizeres da Professora B, para ela, os

instrumentos e as estratégias de trabalho em outras aulas não são possíveis de utilização e

adequação para as suas e, principalmente, a ausência de visão traz restrições ao trabalho,

inviabilizando grande parte das propostas sugeridas pela professora.

As opiniões dadas pelas professoras permitem compreender que a participação dos

alunos do grupo A nas aulas de artes estava diretamente relacionada à iniciativa e ao

envolvimento dos colegas para a inclusão destes nas atividades.

Portanto, foram questionados os alunos do grupo B sobre o envolvimento da turma,

principalmente os alunos com deficiência visual e o professor do contexto escolar, relatando

as experiências nas aulas de artes, apresentando alguma posição quanto à sua participação, ao

seu interesse e à realização das atividades propostas.

Os alunos do grupo B disseram o seguinte: “Gostamos de estudar com as crianças que

não enxergam sim; é bom, porque tem tanta alegria. Todos se ajudam; da maneira que

entendemos, pega os lápis de cor, tintas e entregamos para eles. Eles também fazem as

atividades e sempre procuram tocar os objetos para saber o que é. Quando saímos para o

lanche, pra sala, guardar as coisas pra ir embora, sempre tem um pegando na mão da

criança quando a mãe vem buscar. Gostamos das aulas de arte porque tem sempre novidades

e as crianças com deficiência visual não tem vergonha de pergunta às coisas pra gente. Eles

não brigam com os outros alunos e nem com a professora, eles são crianças do bem”.

Assim sendo, ao analisar os dizeres dos alunos do grupo B, tem-se o entendimento de

que, para eles, a assimilação dos conteúdos trabalhados pela professora de arte com as

crianças portadoras de deficiência visual se deu por meio da experiência com o tato. Sabe-se

que é de fundamental importância a utilização de diferentes sentidos para a exploração de

observação de imagens com crianças portadoras de deficiência visual, além do mais, não

existe um método individualizado, mas sim um método universal de observar, utilizando a

maior quantidade de sentidos que lhe são disponíveis para observação e apreensão.

45

Por isso, ressalta-se a necessidade de que os professores devem adequar-se seus

planejamentos as necessidades de cada indivíduo, conscientes de que não existe apenas um

meio de exteriorizar as informações do mundo, principalmente se tratando das artes.

Experimentar novas possibilidades pedagógicas que valorizem as vivências concretas dos

alunos pode proporcionar maior apreensão das informações escolares, maiores sentidos e

significados a todos os educando.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos que moveram este trabalho foram os de analisar as condições de

aprendizagem e a socialização dos indivíduos com deficiência visual, dentro e fora da escola.

Como também verificou a inclusão desses sujeitos com deficiência visual na rede regular de

ensino, e as suas condições de aprendizagem. Também se buscou identificar as oportunidades

oferecidas aos alunos portadores de deficiência visual, e comparar se os mesmos se

apropriaram das condições de aprendizagem. Também o de chamar atenção para uma

realidade que se apresenta em nosso país no âmbito educacional, já que fora dele diversos

setores da sociedade começam a operar mudanças, ainda que lentas, em direção a um

processo de inclusão mais consciente.

Portando diante de tudo o que se foi analisado, conclui-se que, apesar das dificuldades

impostas aos educandos com deficiência visual, os mesmos através de intervenções bem

sucedidas pelos professores possibilitaram a eles a interação com os demais alunos, e também

a apropriação do tema estudado, visto que a maioria aprende através do sentido da visão, os

sujeitos com deficiência visual também aprende através do tato da oralidade tornando possível

garantir que tenham acesso com satisfação e condição de permanência no processo de

aprendizagem em escolas regulares, adquirindo assim autonomia e participação de forma

ativa e consciente em seus espaços de convivência.

Assim, o processo inclusivo tem um longo caminho a seguir procurando favorecer a

inclusão social e o aprendizado a todos os cidadãos sem distinção. A educação especial tem

necessidades educativas especiais, promovendo situações que favoreçam o ser incluso de

maneira que desenvolva alternativas de atendimento diferenciado que valorize a assimilação de

conteúdo das pessoas com necessidades especiais.

46

O trabalho desenvolvido demonstrou também a extrema sensibilidade e percepção dos

professores presentes em todos os momentos, pois o processo de ensino aprendizagem exige

muito dos professores e a diferença pode estar nos pequenos detalhes, o que leva a crer, que

seja um dos motivos pelos quais os autores enfatizam a necessidade da valorização da

organização das atividades prazerosas que despertem nos alunos o gosto e a valorização do

que se aprende, assegurando que os alunos com necessidades especiais, tenham os mesmos

direitos que seus colegas e sejam por eles aceitos, esse ponto de vista tanto pode ser escolar

como social.

Devendo assim buscar ações que os valorizem, independente de seu grau de

desenvolvimento, logo, as escolas devem oferecer todos os recursos necessários, pois o ser

humano tem uma base comum, inteligência, emoção e afetividade, e tudo é educável e

construído aos poucos.

Porém, que os educadores possam a cada dia convencer-se e sentir diante de sua

prática pedagógica e diante de seus alunos, principalmente os especiais, que realmente “Arte é

Viver alegremente”!

Embora a criança com necessidade educacional especial na área visual apresente um

desempenho intelectual abaixo da média, ela pode desenvolver suas potencialidades e superar

suas limitações, desde que, receba uma educação voltada para a sua especificidade. Podendo

constatar, ainda, que essa não é uma tarefa fácil, porém não é impossível.

Portanto foi possível verificar o quanto que a Educação Especial tem avançado desde

seus primórdios e que, atualmente, a proposta política educacional tem tratado desse assunto

com afinco, buscando resgatar a dignidade do educando com necessidades educacionais

especiais, propiciando a este uma educação que visa seu desenvolvimento integral, a fim de

levá-lo a participar ativamente da sociedade, observando seus direitos e deveres de cidadãos.

Ao finalizar este trabalho pode-se afirmar que a Arte é uma forma de expressão

constante na vida do ser humano, a descoberta dessa como instrumento para o progresso do

indivíduo com necessidade educacional especial na área visual, constitui-se uma fonte de

aprendizagem, na qual o educando aprende de forma lúdica, prazerosa, aumentando assim, o

interesse deles, embora seja um fazer sistematizado, é motivador, já que aprendem e

descobrem de forma ativa, criativa, participativa e mediada.

47 9. REFERÊNCIAS

AMIRALIAN, M. L. T. M. Compreendendo o Cego: uma visão psicanalítica da cegueira

por meio de Desenhos-Estórias. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997.

BARBOSA, Ana Mãe. Arte na educação para todos. V Congresso Nacional de Arte-

Educação na Escola para Todos, VI Festival Nacional de Arte sem Barreiras. Ministério da

Educação, Secretaria de Educação Especial, 06-09 de novembro 2000. Disponível em: <

http://www.arteducacao.pro.br/>. Acesso em: 01 de agosto de 2011.

BOOTH, T. (Org.). Index para a inclusão: aprendizagem em desenvolvimento e participação

em chools. Bristol: CSIE, 2000.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1998.

BRASIL. Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9.394, de 20 de dezembro de

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51

ANEXOS

1 - Perguntas feitas na entrevista com duas (02) professoras, mencionadas no trabalho como:

Professora A e Professora B que atuam na disciplina de Arte e Língua Portuguesa na Escola

Felisberto Nunes Gonçalves do município de Indianópolis-PR.

• São necessárias grandes mudanças para que haja aprendizado para a pessoa com

necessidades especiais?

• É difícil trabalhar hoje com a inclusão? Ela acontece necessariamente?

• É possível o ensino da Arte na perspectiva da educação inclusiva?

• Quais as verdadeiras funções da arte e sua conseqüente aplicação à educação especial?

• Pode haver um canal de comunicação entre o ensino de Arte e a educação inclusiva,

pensando na arte não somente como um trabalho terapêutico, mas também como

aspecto social?

1 Questões feitas aos alunos citados no trabalho como: alunos do grupo B do 5º ano da

Escola Felisberto Nunes Gonçalves.

• Como ocorre o envolvimento dos alunos da 5ª série com os alunos portadores

de deficiência visual?

• E o envolvimento do professor com as crianças portadoras de deficiência

visual?

• Vocês acham que eles têm direito de estudar com vocês no Ensino Regular?

• Qual o comportamento dessas crianças que não enxergam na sala de aula?

• Eles têm interesse em participar das aulas de Artes?