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www.brasiliaconfidencial.com.br número 243 - segunda-feira, 24 de maio de 2010 “Dilma é favorita” eleições Do presidente do Vox Populi ao blog do Noblat: E m entrevista concedida pelo Twitter ao blog do jor- nalista Ricardo Noblat, na tarde deste domingo, o presidente do instituto de pesquisa Vox Populi, Marcos Coimbra, apontou a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, como favorita para vencer a eleição presidencial; atribuiu essa avaliação ao desejo, “muito alto” entre o eleitorado, de que o atual governo tenha continuidade; e minimizou a influência que pode ter, para o resultado da disputa, a presença do ex-gover- nador mineiro Aécio Neves como companheiro de chapa do candidato da oposição, José Serra (PSDB). A entrevista sucedeu à divulgação dos resultados apurados nas pesquisas eleitorais de maio por três dos quatro principais institutos de pesquisa do país – o pró- prio Vox Populi, o Sensus e o Datafolha. Todos apontam contínuo crescimento da candidatura de Dilma, queda ou estagnação de Serra, empate entre esses dois can- didatos – com vantagens para Dilma no caso do Vox Populi e do Sensus -, crescente conhecimento e identi- ficação de Dilma como candidata do presidente Lula, crescimento da petista em todas as regiões, maior índice de rejeição ao pré-candidato tucano do que à petista, altíssima aprovação ao governo e, mais alta ainda, ao desempenho de Lula. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista do sociólogo Marcos Coimbra ao jornalista Ricardo Noblat: Noblat - Quem tem mais chances de se eleger pre- sidente da República em outubro próximo? Coimbra - Dilma é favorita, mas favoritismo não basta para ganhar uma eleição. Noblat - Por que você considera Dilma favorita? Coimbra - Ela empatou com Serra e tem um espaço de crescimento aberto à frente junto ao eleitorado que está disposto a votar na candi- data do Lula. Noblat - Isso é suficiente para que Dilma se eleja? Serra não tem espaço para crescer? Coimbra - Serra é conhecido por 80% da po- pulação. Tem menos espaço para crescer. Dilma tem crescido tirando intenções de voto dele. Noblat - A essa altura, quantos porcento das in- tenções de voto de Dilma resultam de transferência feita por Lula? Coimbra - Dilma é a candidata dele, de con- tinuidade do que ele representa. Nesse sentido, toda a intenção de voto que tem vem de Lula e do governo. Noblat - Dilma corre o risco de o eleitor, a certa al- tura, concluir que votar nela não significa votar em Lula, não é a mesma coisa? Coimbra - Claro que não é, e o eleitor sabe disso. Quem pensa em votar nela não acha que Lula vai mandar, mas acha que ela preservará o que ele fez. Noblat - Pelos seus cálculos, quantos por cento a mais de votos Lula ainda poderá repassar para Dilma? Coimbra - Há ainda cerca de 40% do elei to- rado que conhecem mal ou não conhecem Dilma. Ela pode crescer mais 20 pontos nesse segmento. Noblat - Fernando Henrique Cardoso tira votos de Serra? Ou freia seu crescimento? Há algum tipo de cál- Katia Lombardi/Folha Imagem/Folhapress

eleições Do presidente do Vox Populi ao blog do Noblat ... · número 243 - segunda-feira, 24 de maio de 2010 ... eleitorado que está disposto a votar na candi-data do Lula. Noblat

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www.brasiliaconfidencial.com.brnúmero 243 - segunda-feira, 24 de maio de 2010

“Dilma é favorita”

eleições

Do presidente do Vox Populi ao blog do Noblat:

Em entrevista concedida pelo Twitter ao blog do jor-nalista Ricardo Noblat, na tarde deste domingo, opresidente do instituto de pesquisa Vox Populi,

Marcos Coimbra, apontou a pré-candidata do PT,Dilma Rousseff, como favorita para vencer a eleiçãopresidencial; atribuiu essa avaliação ao desejo, “muitoalto” entre o eleitorado, de que o atual governo tenhacontinuidade; e minimizou a influência que pode ter,para o resultado da disputa, a presença do ex-gover-nador mineiro Aécio Neves como companheiro dechapa do candidato da oposição, José Serra (PSDB).

A entrevista sucedeu à divulgação dos resultadosapurados nas pesquisas eleitorais de maio por três dosquatro principais institutos de pesquisa do país – o pró -prio Vox Populi, o Sensus e o Datafolha. Todos apontamcontínuo crescimento da candidatura de Dilma, quedaou estagnação de Serra, empate entre esses dois can-didatos – com vantagens para Dilma no caso do VoxPopuli e do Sensus -, crescente conhecimento e identi-ficação de Dilma como candidata do presidente Lula,crescimento da petista em todas as regiões, maioríndice de rejeição ao pré-candidato tucano do que àpetista, altíssima aprovação ao governo e, mais altaainda, ao desempenho de Lula.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista dosociólogo Marcos Coimbra ao jornalista RicardoNoblat:

Noblat - Quem tem mais chances de se eleger pre -sidente da República em outubro próximo?

Coimbra - Dilma é favorita, mas favoritismonão basta para ganhar uma eleição.

Noblat - Por que você considera Dilma favorita?Coimbra - Ela empatou com Serra e tem um

espaço de crescimento aberto à frente junto aoeleitorado que está disposto a votar na candi-data do Lula.

Noblat - Isso é suficiente para que Dilma se eleja?Serra não tem espaço para crescer?

Coimbra - Serra é conhecido por 80% da po -pulação. Tem menos espaço para crescer. Dilmatem crescido tirando intenções de voto dele.

Noblat - A essa altura, quantos porcento das in-tenções de voto de Dilma resultam de transferênciafeita por Lula?

Coimbra - Dilma é a candidata dele, de con-tinuidade do que ele representa. Nesse sentido,toda a intenção de voto que tem vem de Lula edo governo.

Noblat - Dilma corre o risco de o eleitor, a certa al-tura, concluir que votar nela não significa votar emLula, não é a mesma coisa?

Coimbra - Claro que não é, e o eleitor sabedisso. Quem pensa em votar nela não acha queLula vai mandar, mas acha que ela preservaráo que ele fez.

Noblat - Pelos seus cálculos, quantos por cento amais de votos Lula ainda poderá repassar para Dilma?

Coimbra - Há ainda cerca de 40% do elei to -rado que conhecem mal ou não conhecemDilma. Ela pode crescer mais 20 pontos nessesegmento.

Noblat - Fernando Henrique Cardoso tira votos deSerra? Ou freia seu crescimento? Há algum tipo de cál-

Katia Lombardi/Folha Imagem/Folhapress

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PESQUISAS DE MAIO

Candidato Vox Populi/Band Sensus/CNT Datafolha

Dilma 38 35,7 37

Serra 35 33,2 37

EVOLUÇÃO POR INSTITUTO

VOx POPULI/BANDCandidato Janeiro Março Maio

Dilma 27 31 38

Serra 34 34 35

DATAfOLhACandidato fevereiro Março Abril Maio

Dilma 31 30 30 37

Serra 38 40 42 37

SENSUS/CNTCandidato Janeiro Maio

Dilma 27,8 35,7

Serra 33,2 33,2

eleições/continuação

culo a esse respeito?Coimbra - A imagem de FHC é negativa e a

maioria das pessoas acha que o governo dele foimuito pior do que o de Lula. Isso é ruim paraSerra.

Noblat - Por que Dilma cresceu tanto em maio? Ex-posição em programas partidários na tv? Companhiade Lula no programa do PT? Ou cresceria de todo jeito?

Coimbra - Todas as opções estão corretas. Apropaganda do partido ajudou, Lula também, eela estava em crescimento lento, mas firme.

Noblat - Em junho, Serra terá muito espaço nosprogramas de tv de partidos. Automaticamente elecrescerá?

Coimbra - Serra é muito conhecido, o quelimita essa hipótese. Mas deve melhorar, nemque seja por sustar o crescimento natural deDilma.

Noblat - Lula já foi multado 4 vezes por fazer pro -paganda de Dilma antes do tempo. Faz mais de 1 anoque ele está em campanha por ela. Isso não a ajudou?

Coimbra - Mais que ajudou, é a explicação detudo. Ele antecipou a campanha, todo mundoentrou em campo e ele teve tempo para apre-sentar sua candidata.

Noblat - Todo mundo, não. Serra não entrou. Eninguém dispunha do grau de exposição de Lula e deDilma.

Coimbra - Desde 2009, todos os programaspartidários foram eleitorais, PT, PSB e PSDB.

Quanto à demora de Serra, a decisão foi dele esó dele.

Noblat - Serra tem um "teto" de votos que dificil-mente ultrapassará? Qual seria?

Coimbra - Serra tem um piso alto e um tetolimitado pelo tipo de eleição que fazemos, ondeo eleitor se pronuncia sobre politicas e gover-nos e não sobre biografias.

Noblat - E o teto de Dilma e de Marina Silva?Coimbra - O teto de Dilma é o desejo de con-

tinuidade, que é muito alto. Marina corre orisco de ficar espremida entre os dois grandese não conseguir crescer.

Noblat - O que Serra precisaria fazer para driblaresse quadro desfavorável e ganhar? Ou não tem como?

Coimbra - Trazer a eleição para o campo dele, oda comparação de currículos. Torcer para queDilma erre muito. Mas sua posição é desvantajosa.

Noblat - Aécio de vice poderia ajudar Serra a seeleger ou não acrescentaria grande coisa?

Coimbra - Aécio só é bem conhecido em MinasGerais, onde Lula é muito querido. Serra estábem e é dificil avaliar se um ganho em Minasfaria diferença.

Noblat - Não dá para avaliar se um ganho em Minasfaria diferença para Serra? Ou você prefere não avaliar?

Coimbra - Minas é 11% do eleitorado. Au-mentar 20 pontos no estado é 2% no total dopaís. Pode ser muito pouco no resultado final.

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eleições/continuação

Gabeira faz festa sempresidenciáveis e com

boicote a MarinaSem a presença dos dois candidatos à Pre -

sidência da República que promete apoiar,o deputado federal Fernando Gabeira

lançou ontem sua pré-candidatura ao governodo Rio pela aliança PV-PSDB-DEM e PPS. Emdiscurso, ele comparou essa coligação aotu i u iú, pássaro do Pantanal que parece inca-paz de voar.

“Nossa coligação começou um pouco de-sajeitada. Teve alguns problemas para co me -çar e chegar até hoje. Ela me lembra um poucoum pássaro do Pantanal, o símbolo dessaregião: o tuiuiú. Quando se move, parece quenão irá conseguir alçar voo. Mas quando alçavoo é mais rápido do que os outros e atinge al-titudes que ou tros pássaros não atingem”.

Gabeira considerou natural a ausência deMarina e de Serra da sua festa.

“Aqui, além da minha posição favorável à Marina,há inúmeros majoritários que apoiam o Serra. Então,seria interessante que estivessem os dois ou não es-tivesse nenhum”.

Além de ausente, a pré-candidata à Presidênciapelo PV, Marina Silva, teve o nome escondido em al-gumas faixas (foto), segundo relato publicado peloportal iG.

“Algumas faixas foram modificadas em cima da ho -ra, como a levada por militantes da Juventude do PV.Nesse cartaz, descreve a reportagem, panfletos de Ga -

beira foram colados em cima do nome de Marina.“Como houve uma coligação na qual existe um grupo

de partidos que só apoia o Gabeira, houve um impedi-mento de apresentar o nome da Marina Silva na faixa.Recebemos a orientação aqui e tivemos que fazer a al-teração”, explicou ao iG o militante Daniel Fonseca, daJuventude do PV.

Gabeira alegou desconhecer a orientação.“Não houve nenhuma orientação, pelo contrário. O

nome da Marina foi citado inúmeras vezes no discursoe ela é muito querida por nós. Não há nenhuma in-tenção de tapar faixas ou criar conflitos. Procuramos aharmonia em todos os discursos”.

Bernardo Tabak/G1

Dissidentes do PV formam outro partido e apoiam DilmaDissidentes do Partido Verde se reuniram

neste fim de semana, em Belo Horizonte,para realizar a primeira convenção na-

cional do Partido Livre, que está em processode legalização, e declarar apoio à candidaturapresidencial da petista Dilma Rousseff.

“Entre os três pré-candidatos, Dilma é aúnica que pode defender e implementar aspropostas do partido. Somos um grupo for-mado por militantes de esquerda. Apoiá-la éuma resolução natural”, afirmou o vice-presi -dente nacional, Carlos Magno.

O comando do Livre – Liberdade, Igual-dade, Verdade, Responsabilidade e Educação– é formado por ex-militantes do PV em SãoPaulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito

Santo e Paraíba. De acordo com os dirigentes,o futuro partido já tem filiados em 15 estados.Sua presidente, Rose Losacco, disse que a ini-ciativa de deixar o Partido Verde e criar oLivre foi adotada no fim do ano passado, emreação à entrada da senadora Marina Silva noPV.

“Quando Marina se filiou ao PV, houveuma reforma programática no partido. Algu-mas discussões históricas e prioritárias saí -ram de pauta e foram relegadas ao segundoplano. O Partido Verde deixou de defendercausas importantes como a união civil entrepessoas do mesmo sexo. Não concordamoscom a decisão do PV de jogar no lixo o seuprograma”.

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GRiPe sUÍNA

GReVe NO RiO

Começa vacinação de crianças de até 5 anosTrinta e dois mil postos de saúde estão disponíveis a partir de hoje, em todo o país, para a vacinação, contra

a gripe A, de crianças com idade entre 2 anos e 4 anos e 11 meses. Ao mesmo tempo, continua a imuniza-ção de gestantes e adultos com idade entre 30 e 39 anos. A campanha será encerrada em 2 de junho.

Trabalhadores param ônibus por aumento salarial e plano de saúde

ÍNTeGRA DA MeNsAGeM DO siNDiCATO DOs RODOViÁRiOs

Rodoviários do município do Rio de Janeiro inicia-ram greve nesta madrugada, para pressionar osempresários a pagar reajuste salarial de 15%, plano

de saúde e vale-alimentação de R$ 150,00 para toda acategoria. Os motoristas e cobradores reivindicam tam-bém que as empresas voltem a pagar em dinheiro osuniformes e que acabem com a imposição de duplafunção aos motoristas.

Em “Manifesto à população do Rio”, publicadoem sua página na internet, o sindicato dos ro do -viários pede desculpas aos usuários pelos trans tor -nos que a parali sação provoca, expõe asrei vin dicações do movimento e afirma que “umrodoviário explorado, mal pago e estressado é uma

irresponsabilidade do empresário com a popu-lação”. A greve, deflagrada por tempo indeter mi na -do, pode parar quase 8.000 ônibus de 45 em presas.E deixar sem transporte coletivo aproximadamentetrês milhões de passageiros.

O sindicato dos empresários vai entrar na Justiçacontra a greve, que considera injustça e ilegal, e pediuà Secretaria de Segurança Pública que garanta a saídados ônibus das garagens.

A Secretaria Estadual de Transportes recomendouàs concessionárias dos serviços públicos de trens, bar-cas e metrô que operem com a capacidade total de pas-sageiros, para tentar reduzir o prejuízo causado àpopulação pela falta de ônibus.

“Manifesto à população do Rio

Respeito aos rodoviários e bons serviços aospassageiros!

Os rodoviários do Rio lutam por dignidade notrabalho, respeito e reconhecimento. Reivin-dicamos a presença obrigatória do cobrador emtodos os ônibus e o fim da dupla função. Atual-mente muitos motoristas são obrigados a dirigir ecobrar passagem, situação que explora o profis-sional e coloca em risco os passageiros. Queremostambém o direito de recorrer de multas injustas,um plano de saúde que nos ampare diante do des-gaste físico e emocional da nossa profissão e umacesta básica (vale-alimentação) que nos permitacolocar comida em nossa mesa.

Temos consciência de que transportamos acarga mais valiosa que existe: a vida humana. Porisso, um rodoviário explorado, mal pago e estressado é uma irresponsabilidade do empresário com a popu-lação.

Desculpe os transtornos por causa da nossa luta. Mas ela também beneficiará você, prezado passageiro.”

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eNTReVisTA/Economista Fabrício dE olivEira

Tucanos criaram em Minas governo

de falsos resultadosRODRIGO NARCISO

Doutor em Economia pela Universi-dade Estadual de Campinas (Uni-camp), professor da Escola de

Go verno da Fundação João Pinheiro, emBelo Ho ri zonte, e coordenador do Centrode Estudos de Conjun tura do Departa-mento de Economia da Uni versidadeFederal do Espírito Santo (UFES), o pro-fessor Fabrício Augusto de Oliveira éautor de vários livros sobre economia efinanças públicas. Em 2010, produziu oartigo “Contabilidade Criativa: comochegar ao pa raíso, cometendo pecadoscontábeis - o caso do governo do Estadode Minas Gerais“. Este trabalho examinao significado e a prática da ContabilidadeCriativa, instrumento usado por admi -nis trações públicas e privadas para ma -quiar e apresentar resultados maisfa vo ráveis de seu desempenho. Nesta en-trevista a Brasília Confidencial, Fa -brí cio Oliveira identifica práticas doGo verno de Minas, então sob comando de Aécio Neves(PSDB), onde essa manipulação se manifesta.

Brasília Confidencial - O que é a ContabilidadeCriativa?

Fabrício de Oliveira - É um artifício contábilusado pelos administradores públicos e privados paraocultar resultados negativos de suas atividades ou paraproduzir melhores resultados em relação aos que foramefetivamente alcançados. Trata-se, assim, mais clara-mente, de uma maquiagem da realidade patrimonial deuma entidade, por meio da manipulação de dados con-tábeis, para apresentar uma imagem mais favorável deseu desempenho. A não ser nos casos em que essa prá -tica contábil provoca prejuízos para investidores, acio -nistas ou fornecedores, ela não se configura legalmentecomo crime, apenas se vale de brechas, omissões e faltade melhor regulamentação das regras contábeis paraproduzir resultados mais favoráveis para a entidadeprivada ou pública. Mas, ao prejudicar a credibilidadedas informações apresentadas, induzindo seus usuáriosa erros de avaliação, representa uma prática eticamentecondenável.

BC - Os Relatórios do Tribunal de Contas de MinasGerais constatam que, entre 2003 e 2006, os cálculosda Receita Corrente Líquida (RCL) realizados pelogover no estadual foram sempre superiores aos do Tri-bunal. Significa que o governo de Minas se valeu daContabilidade Criativa para inflar sua receita e os re-sultados do programa “Choque de Gestão”?

Fabrício - De fato, entre 2003 e 2006, e, em menordimensão, também em 2007, o cálculo da Receita Cor-rente Líquida (RCL) realizado pelo Poder Executivo deMinas Gerais foi sempre superior ao realizado pelo Tri-bunal de Contas do Estado (TCE-MG). Isso se explicaporque o Executivo deixou, durante este período, deconsiderar várias deduções previstas em lei para a rea -lização deste cálculo, incorrendo em duplicidade na

contabilização de algumas de suas receitas e alargando,in devidamente, essa base. Só a partir de 2007 é quecomeçou, efetivamente, a haver uma convergência des -ses valores, provavelmente devido a um acerto da me -todologia entre as duas instituições. Ao inflar essa base,todos os indicadores da Lei de Responsabilidade Fiscalapresentaram resultados bem melhores do que os quevinham sendo alcançados.

BC - Ao alargar indevidamente a base da ReceitaCorrente Líquida, quais foram os benefícios alcança-dos pelo governo do Estado?

Fabrício - O conceito de Receita Corrente Líquidados governos é usado como parâmetro para o cálculodos principais indicadores das finanças públicas pre-vistos na Lei de Responsabilidade Fiscal, como, porexem plo, os de gastos com pessoal e de endividamento.No caso das despesas com pessoal, esse limite é de 60%para os gastos do Executivo, Legislativo, Judiciário eMinistério Público, mas o limite prudencial é de 57%.No da dívida, o limite atual é de duas vezes o valor des -sa receita para o governo se considerar perfeitamenteenquadrado nas normas da Lei. Quando ocorre esse en-quadramento, ele passa a ter condições legais de voltara tomar empréstimos no mercado, ou seja, de lançarmão do endividamento como forma complementar definanciamento de seus gastos. Pelos cálculos do TCE,isso só teria ocorrido a partir de 2006. Pelos do Execu-tivo, em 2005, ano em que recebeu autorização para re-tornar ao mercado de crédito e para voltar a contratardívida. Sem dúvida, um grande benefício, além do fatode que tal situação foi vendida para a população comoresultado de uma administração competente no manejoe administração das contas públicas.

BC - O governo de Minas usa o critério do Resul-tado Orçamentário para mostrar que as contas públi-cas têm se apresentado superavitárias desde 2004. Osenhor diz que este critério pode esconder desequi-

fotos:Mac Silva

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eNTReVisTA/continuação

líbrios que não estão à vista.Quais são esses desequilíbrios?

Fabrício - O conceito usadopelo governo pouco nos diz sobrea situação e o desempenho dassuas contas, porque ele contabi-liza, do lado das receitas, as ope -rações de crédito, que se referema empréstimos con tratados exata-mente para fechar o orçamento.As sim, uma situação de superávitou equilíbrio pode estar ocul-tando uma situação de desequi-líbrio das contas. Em segundolugar, os governos que renegocia-ram a dívida com a União, em1998, não têm mais registrado, noorçamento, a parcela dos jurosdessa dívida que não são pagos,transferindo-os diretamente parao seu estoque. Como o pagamento desses encargos estálimitado em 13% de sua Líquida Real e, no caso deMinas Gerais, o estoque dessa dívida, que atualmentesupera os R$ 50 bilhões, é corrigido pela variação doIGP-DI acrescentado de juros reais de 7,5% ao ano, osjuros pagos, que aparecem no orçamento, têm sidosempre bem inferiores aos efetivamente devidos. Essadiferença não aparece no orçamento, sendo direta-mente incor porada ao estoque da dívida. Se inscrita noor ça mento, em lugar do superávit que o governo tantoalardeia na sua estratégia de marketing, apareceria umdéficit, às vezes bem elevado, indicando que não foi re-alizado nenhum ajuste estrutural de suas contas e que,ao contrário, o passivo do governo é crescente notempo.

BC - Quais fatores contribuíram para o aumentoda Dívida Líquida Consolidada (DCL) do estado deMinas Gerais, que evoluiu de R$ 30,5 bilhões, em2002, para R$ 52,2 bilhões em 2009?

Fabrício - Não restam dúvidas de que são os en-cargos da dívida do governo renegociada com a Uniãoque têm alimentado e devem continuar alimentando ocrescimento de seu estoque no tempo, já que os jurosque são anualmente pagos, limitados em 13% de suareceita corrente líquida, são insuficientes para cobriros juros totais, o que termina aumentando o seu es-toque. Nesse estoque não estão contabilizados muitosprecatórios e outras dívidas e também outros passivosocultos ainda não reconhecidos, o que nos permite in-ferir que o endividamento do governo do estado é bemmaior do que os números atualmente divulgados daDívida Líquida Consolidada. Além disso, desde 2005o governo voltou a contratar novos empréstimos parafinanciar investimentos, o que deve agravar sua situ-ação financeira nos próximos anos e aumentar o com-prometimento da receita com o pagamento de seusencargos, engessando ainda mais o orçamento esta -dual.

BC - O Sistema de Informações sobre OrçamentosPúblicos em Saúde (SIOPS) diz que, ao contrário doque informa o governo de Minas, o estado destinapara a saúde menos recursos do que exige a EmendaConstitucional 29, não raro figurando entre os estadosque apresentam a pior performance no cumprimentodesta determinação constitucional. Por que há essadiscordância entre os cálculos do SIOPS e do governodo estado?

Fabrício - Isso também é verdade. Desde 2004, ogoverno do estado tem divulgado que os gastos que des-tina para a saúde têm sido superiores ao índice mínimoestabelecido pela Emenda Constitucional n. 29, que éde 12% da receita de impostos e transferências consti -tucionais. O SIOPS, que é um órgão do Ministério daSaúde criado para fazer o acompanhamento da imple-mentação da Emenda 29 e verificar o seu cumprimento,não concorda com os cálculos do governo, pois conside -ra que neste cálculo estão incluídas várias despesas quenão representam gastos especificamente com as “açõese serviços de saúde”, de acordo com as diretrizes esta-belecidas pela Resolução 322, do Conselho Nacional daSaúde, de 08/05/2003. Gastos com inativos do setorda saúde, com oferta de serviços para clientelasfechadas, com saneamento básico e mesmo com me di -camentos/vacinas para animais são geralmente excluí-dos do cálculo deste índice pelo SIOPS. Em 2007, porexemplo, enquanto o governo do estado de Minas cal-culou que despendeu 13,3% de suas receitas com o setorda saúde, para o SIOPS esse percentual foi de apenas7,09%. Em 2008, último ano de que se dispõe de cálculodeste órgão, o índice de Minas Gerais foi de apenas8,65%. Para o governo do estado, de 12,2%. A inexistên-cia de regulamentação dessa matéria, ainda em trami ta -ção no Congresso Nacional, permite estes ma la barismoscontábeis sem nenhuma punição para o governo e aindalhe dá argumentos para realizar propagandas sobre seucompromisso com o social, já que os números do SIOPSsão desconhecidos.

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EDITOR: Robson Barenho - SUBEDITORA: Marilene de Freitas - PRODUTORA: Cláudia Guerreiro - REPÓRTERES: Ayrton Centeno (RS), Janaína Michalski (RJ), Lúcia Leão e Natallie Valleijo (BSB), Monica Martins(SP), Rodrigo Narciso (MG) - EDITOR DE ARTE: Aristides Pires - ASSISTENTE DE ARTE: Fernanda Castro - CONTATO: (61) 8150.4893 - [email protected] - Brasília Confidencial circula diariamente. Autorizada a reprodução do conteúdo, desde que citada a fonte.

FlORA BRAsileiRA

Novo catálogo inclui mais de 40 milespécies de plantas

LÚCIA LEÃO

As 41.123 espécies catalogadas daflora brasileira estão a um cliquede quem se interessar. A lista,

elaborada por uma equipe de 400 es-pecialistas sob coordenação do Mi nis -tério do Meio Ambiente, está ex postadesde sexta-feira no site do JardimBo tânico do Rio de Janeiro(www.jbrj.gov.br). Esta é, em mais deum século, a primeira atualização docatálogo de plantas brasileiras. Apesarda imensa diversidade florística doBrasil, a última compilação dessas in-formações foi feita entre os anos 1846e 1906 pelos cientistas alemães vonMartius, Eichler e Urban, que identi-ficaram 22.767 espécies na publicação“Flora brasiliensis”.

Com a atualização e a publicaçãoonline da lista, o Brasil cumpre umadas metas da Estratégia Global para aConservação de Plantas. Apoiada noprincípio de que é preciso conhecer para conservar, aestratégia estabeleceu que todos os países signatáriosda Convenção da Diversidade Biológica, da ONU,elabo rassem uma lista “funcional e amplamente aces -sível” das espécies que ocorrem em seus territórios.

Assim é a brasileira: a consulta pode ser feita pornome científico, popular, gênero ou família. Sobre cadaespécie são fornecidos os dados de distribuição geográ-fica por Região, Unidade da Federação e Domínios Fi-togeográficos. Também é possível saber os sinônimospara o nome aceito de cada espécie e consultar quaisdelas são endêmicas, ou seja, exclusivas do territóriobrasileiro.

Segundo a coordenadora-geral do projeto, a botâ -nica Rafaela Campostrini Forzza, do Jardim Botânicodo Rio de Janeiro, isso é apenas o início.

“A intenção é de que a lista seja dinâmica e atuali -zada periodicamente para incluir novas espécies e mu-danças de classificação ao longo do tempo”.

DO MUSEU AOS ZOOLÓGICOS O lançamento da Lista de Espécies da Flora Bra -

sileira marcou o início das comemorações, no Brasil, do

Dia Internacional da Biodiversidade, celebrado dia 22de maio. Em São Paulo, a data foi dedicada à MataAtlântica, bioma que tem uma das mais altas taxas debiodiversidade do mundo e que já perdeu 70% da veg-etação original. Ambientalistas, gestores públicos e rep-resentantes da sociedade se reu niram no Museu AfroBrasil para fazer um balanço das ações em curso desti-nadas a reverter a escalada de des truição.

As crianças também se mobilizaram para comemo-rar a data. Quinze zoológicos tiveram atividades lúdicaspara explicar aos visitantes o que é biodiversidade e en-sinar como e porque proteger o meio ambiente.

Segundo dados da World Conservativon Union(União Mundial de Conservação), o mundo perde,anual mente, 0,2% de suas espécies vivas, por conta dasintervenções humana, especialmente queimadas e des-matamentos para expansão urbana e monoculturas,caça, extrativismo sem manejo e mineração. Além dasperdas incalculáveis de biodiversidade, os prejuízoseconômicos do processo de extinção alcançam umacifra anual entre U$ 2 trilhões e US$ 4,5 trilhões, se-gundo estimativa de pesquisadores do Programa dasNações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).