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Eleições Presidenciais e Risco Soberano: Influência do Processo Eleitoral no Rating de
Risco Soberano Brasileiro
1. CONTEXTUALIZAÇÃO E HIPÓTESE DE PESQUISA
De acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional - STN (STN, 2018), a classificação
de risco (rating) soberano refere-se a nota dada por instituições especializadas em análise de
crédito, denominadas agências classificadoras de risco, a um país emissor de dívida.
Atualmente, o Brasil possui contratos oficiais com as seguintes agências para classificação de
seu risco de crédito: Standard &Poor´s(S&P); Fitch Ratings(Fitch); e, Moody´s Investor
Service.
No risco soberano as agências buscam avaliar a capacidade e a disposição de um
governo em honrar, de forma pontual e integralmente a sua dívida nos prazos e condições
acordados com os credores quando da contratação do empréstimo. Em decorrência, o
resultado desta avaliação é sintetizado em classificações, que são estimativas da probabilidade
de um dado governo entrar em moratória, o que significa não apenas a suspensão do
pagamento dos juros ou principal da dívida na data de seu vencimento, mas também sua troca
ou reestruturação “involuntária” (CANUTO & SANTOS, 2003, p. 8-9). Verifica-se que o
rating é um instrumento de particular relevância para os investidores, tendo em vista o
fornecimento de uma opinião independente sobre o nível do risco de crédito da dívida do país
sub examine.
De acordo com a metodologia e premissas de avaliação do Risco-País
(STANDARD& POORS, 2013) para a avaliação geral de risco-país (risco soberano) são
atribuídas notas em um ranking de classificação após a análise dos seguintes 4 (quatro)
subfatores: risco econômico; risco institucional e de eficácia da governança (conhecido como
risco político); risco do sistema financeiro; e, risco da cultura de pagamento ou do Estado de
Direito.
Notadamente em relação ao risco político, estudos técnicos realizados pela Standard
&Poors (2012) em Inaugural Emerging Markets Corporate Default Studyand Rating
Transitions constataram que períodos de estresse em países de economias emergentes
normalmente caracterizam-se por um cenário de instabilidade política, grande dependência
das exportações, dívida externa alta, mercados financeiros instáveis, e políticas financeiras
insustentáveis. Dessa forma, a análise de risco soberano pelas agências de rating recai sobre o
ambiente de estabilidade e previsibilidade da elaboração de políticas públicas e das
instituições políticas do país, aliado ao risco de eventos políticos que podem causar impactos
graves ao meio empresarial.
Downs (1957), Buchanan e Tullock (1962), Buchanan (1975), Krueger (1974), Olson
(1982) e Tullock (1996), ao tratarem dos pressupostos da Public Choice Theory (teoria da
escolha pública), asseveram que os políticos agem tão somente para conseguir rendas, poder
ou prestígio derivados do exercício de cargos públicos. Assim, o objetivo principal dos
políticos é, por meio do processo eleitoral, se apoderar do aparato do Estado. Portanto, mesmo
que “em certas ocasiões os governantes atendam ao interesse público, este é simplesmente
um meio de realizar seus objetivos pessoais (ganhar as eleições), nunca um fim em si mesmo”.
(DOWNS, 1957, p.28-29 apud BORGES,2001).
Nesse cenário, a teoria da escolha pública tem por objetivo precípuo aplicar um
método da ciência econômica a objetos comumente analisados no âmbito da ciência política,
tais como: grupos de interesse, partidos políticos, processo eleitoral, análise da burocracia e
escolha parlamentar (PEREIRA, 1997). Em decorrência, depreende-se dos trabalhos seminais
de Nordhaus (1975) e Hibbs (1977;1986) um desdobramento da Public Choice Theory na
Teoria dos Ciclos Político-Econômicos.
A idéia subjacente reside no fato de que, com o objetivo de se reelegerem, os políticos
quando estão no poder possuem incentivos para utilização de instrumentos de política fiscal e
monetária durante os anos de eleição de modo a satisfazerem o eleitor mediano. Dessa forma,
pressupõe-se potenciais efeitos adversos sobre a sustentabilidade fiscal e estabilidade
macroeconômica pela manipulação nos agregados monetários em períodos denominados pela
literatura acadêmica de Ciclos Políticos Oportunistas. (NORDHAUS, 1975; DE SIQUEIRA,
2016)
Espera-se, portanto, que a arena política que se estabelece em períodos eleitorais
interfira diretamente no ambiente macroeconômico, visto que, motivados por interesses
próprios, os políticos, as plataformas de governo, as pesquisas de intenções de voto, o
mercado financeiro e o cenário internacional reagem às incertezas e ao ambiente de
expectativas emergente, podendo refletir no rating de classificação do risco soberano. Para
Machado (2018), existe um forte viés político presente nas decisões das agências de
classificação de risco, a qual é capaz de mostrar o poder das finanças perante uma situação de
instabilidade econômica e política.
À vista do exposto, o presente estudo tem por objetivo esclarecer a seguinte questão de
pesquisa: O ambiente político estabelecido em períodos de eleição presidencial influencia
na classificação do risco soberano brasileiro pelas agências de rating?
Nessa linha de raciocínio, o presente artigo objetiva validar, valendo-se de abordagem
qualitativa por meio da técnica de observação sistemática dos dados, a seguinte Hipótese de
pesquisa:
H1 - Em períodos de eleição presidencial as classificações realizadas pelas agências
de rating elevam o nível do risco de inadimplência da dívida soberana do Brasil, pelo
rebaixamento de sua nota de análise de crédito (Rating Soberano).
A hipótese de pesquisa pode ser corroborada por diversos estudos que verificam a
influência desses processos políticos na classificação dos ratings. Para Megale (2005) “a
análise de determinantes do risco não é um exercício trivial, dado que ele é influenciado pelos
fatores econômicos, financeiro e políticos (...). Portanto, para se possa compreender a
evolução do risco-país, não basta entender a influência das características específicas dos
países, mas é também fundamental compreender o papel dos choques internacionais”. Já
Fenolio (2007) não encontrou evidências que o calendário eleitoral exerça influência na
política monetária.
A justificativa para o presente estudo concentra-seno fato de que a opinião emitida por
tais agências são capazes de impactar sobremaneira a visão do mercado global sobre a
solvência e credibilidade de um país. Países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil,
são muito dependentes de fontes externas para financiar suas dívidas públicas. Em momentos
de incertezas políticas, como o que antecede uma eleição presidencial, o capital externo pode
se sentir inseguro na continuidade do investimento e querer se retirar do país. As agências de
classificação de risco, portanto, são os organismos capazes de influenciar o capital externo
sobre a capacidade do país em continuar honrando com suas obrigações mesmo em momentos
de incerteza.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A globalização que ocorreu a partir do século XX culminou na internacionalização do
sistema financeiro, o que alterou, consideravelmente, a natureza e os determinantes da
economia mundial. Pode-se atribuir a esse dinâmico desenvolvimento a associação entre a
desregulamentação dos mercados financeiros juntamente com as inovações financeiras.
Exemplos disso são a securitização e os derivativos, a livre mobilidade mundial de capitais e a
alta flexibilidade e volatilidade das taxas de câmbio de e juros (FERRARI FILHO & DE
PAULA, 2016).
Para Greenwood e Smith (1997) o desenvolvimento do mercado financeiro está
atrelado ao desenvolvimento da economia. Para os autores, os mercados financeiros são o
meio mais proeminente de canalizar o capital para investimentos em retornos mais altos.
Esses mercados também fornecem liquidez e permitem a combinação eficiente de riscos,
alterando a composição da poupança de forma potencialmente favorável ao aumento da
acumulação de capital. Por fim, os mercados financeiros fomentam a especialização em
empreendedorismo, desenvolvimento empresarial e adoção de novas tecnologias por meio da
disponibilização de fundos para atividades de pequena, média e grande escala.
2.1. CLASSIFICAÇÃO DAS AGENCIAS DE RATING
A alta desregulamentação do mercado financeiro, aliado ao dinâmico desenvolvimento
da economia, fez com fossem criados parâmetros para avaliar a credibilidade do mercado
financeiro.
As entidades responsáveis pela classificação de risco, conhecidas como agências de
rating, são empresas privadas e independentes, especializadas em avaliar o crédito a partir de
instrumentos de emissão de dívida de diferentes empresas como os governos e empresas
privadas (MACHADO, 2018)
As notas de crédito emitidas pelas agências de classificação de risco são utilizadas
sobremaneira pelo mercado financeiro e de regulação de todo mundo. Os países
desenvolvidos se familiarizaram em receber notas altas e estáveis. No entanto, a crise
européia mudou drasticamente esse pensamento, tendo em vista que seus papéis não eram
mais investimentos relativamente seguros, o que causou insegurança e preocupação mundial
(DE SOUZA; FREITAS FILHO & LANZER, 2016).
O reflexo do impacto da opinião das agências de risco é tamanho que, quanto menor a
nota dada a um Estado, torna-se mais caro financiar seu capital, tendo reflexos negativos em
seu balanço de pagamentos e, consequentemente, na vida dos cidadãos. Além disso, em
concordância com o Acordo de Basiléia II, essas empresas formam as Organizações
Nacionalmente Reconhecidas de Estatística de Rating, nas quais diversos fundos de
investimento atrelam legalmente sua opinião(PARTNOY, 2006).
Para Souza et al. (2016) O crescimento da importância destas agências como
avaliadoras padronizadas de risco de crédito é devido a substancial importância dos mercados
de capitais para a captação de recursos em países desenvolvidos que, em muitos casos,
dependem de financiamento externo para se desenvolverem. Para a Standard & Poor’s,
segundo Martell (2005), o risco de crédito pode ser definido como “uma opinião corrente
sobre a solvabilidade de um devedor diante de uma obrigação creditícia específica, uma classe
especial de obrigações financeiras, ou a um programa de financiamento específico”. O crédito
soberano, ou rating soberano, retrata a opinião da agência de classificação de risco sobre a
capacidade e vontade do Estado em honrar suas obrigações completamente e de maneira
tempestiva, ou seja, reflete uma estimativa de probabilidade de inadimplência, o que é
denominado de default (DE SOUZAet al, 2016).
De acordo com o Tesouro Nacional (2018) a importância do rating soberano está
relacionada às seguintes implicações: impacto sobre o custo de financiamento de um país
afetando fortemente sua flexibilidade fiscal; por determinarem uma referência de risco das
empresas e do setor financeiro, afeta os custos de financiamento do setor privado; impacto o
risco de créditos bancários para os bancos que estão atrelados ao rating de seu país, afetando
os preços das linhas de crédito; serve como um guia para a alocação de recursos
internacionais no país; e, por fim, afeta a formação das percepções externas sobre o risco e
suas tendências.
Um rebaixamento da nota do risco soberano preocupa os governos por diversos
motivos. Primeiro, podem afetar a capacidade de acesso ao mercado de capitais, haja vista o
nível de risco ser usado por bancos e fundos de pensão para determinar se pode ou não
investir e, se sim, quanto pode ser investido. Em segundo lugar, a classificação afeta os pré-
requisitos dos bancos para investir em determinada empresa ou país. Terceiro, a classificação
fornece ao mercado informações sobre a qualidade de crédito, de modo que notas menores
terão um custo maior de capital (DE SOUZA et al, 2016)
No caso específico do Brasil, já havia uma exigência por parte da Comissão de
Valores Mobiliários - CVM, mesmo sem qualquer Instrução Normativa sobre as atividades de
agências de classificação de risco no país, para a preparação de um relatório emitido por uma
agência de rating acerca da distribuição de debêntures padronizadas (CVM, 2004).
2.2. TEORIA DA ESCOLHA PÚBLICA (Public Choice Theory)
O comportamento dos políticos já havia sido objeto de estudo por Stigler (1981) o
qual afirma que “as pessoas são basicamente egoístas, o que não exclui a possibilidade de
poderem ser em certas circunstâncias altruístas, mas, quando em situação de conflito interno
entre duas ações que se excluem mutuamente, optarão pela egoísta”.
Na teoria da Public Choice a teoria dos ciclos político-econômicos assume duas
vertentes: a primeira como a teoria dos ciclos eleitores na qual os governantes promovem
alteração na política pública econômica (inflação, taxa de juros e agregados
macroeconômicos) nos anos eleitorais para permanecerem no poder e satisfazer o eleitor
mediano. A segunda é a teoria dos ciclos partidários a qual considera que as flutuações
econômicas estão associadas à presença de diferentes partidos políticos no poder.
(NORDHAUS, 1975; HIBBS, 1977;1986; ROGOFF & SIBERT, 1988)
O trabalho de Renó e Spanakos (2006) afirma que existe uma relação entre
indicadores do mercado financeiro e o voto, bem como que o mercado reage mal às incertezas
geradas pelas eleições, envolvendo grandes riscos e gerando “trepidações no mercado”. Sua
conclusão é de que tais indicadores também podem melhorar a popularidade dos governantes .
Para Beers (2002) “a estabilidade e transparência das instituições políticas dos países
são importantes e consideradas na análise da condução da política econômica, incluindo a
rapidez com que os erros na orientação política são identificados e corrigidos”. Assim, retrata-
se que mudanças frequentes em governos e plataformas políticas de governo são examinadas
podendo-se considerar que há uma relação entre o ano de eleição presidencial e variações
significativas no Risco Soberano do Brasil (FUTURO, 2004).
Ao analisar a influência da política na economia, Gilpin (2001) define a economia
política global como sendo “a interação das forças de mercado com poderosos atores, como
Estados, firmas multinacionais e organizações internacionais”. Dessa forma, o autor defende
que o mecanismo de funcionamento da economia internacional não apenas é fruto das forças
de mercado, como também e determinado pelas políticas do Estado. Assim, as forças
econômicas operam dentro de um cenário em que os propósitos políticos, o nível de
cooperação entre os Estados e suas rivalidades interagem, mesmo em momentos de incerteza
política.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Segundo Marconi & Lakatos (2019, p.189) “técnica é um conjunto de procedimentos
de que se serve uma ciência ou arte; é a habilidade para usar esses preceitos ou normas. Toda
ciência utiliza inúmeras técnicas na obtenção de seus propósitos.”. Os autores afirmam ainda
ser por intermédio das técnicas de pesquisa que as fontes de informação “falam”: “são,
portanto, ferramentas essenciais para a pesquisa e merecem todo o cuidado na sua elaboração,
para garantir fidelidade, qualidade e completude dos resultados”.
A metodologia trata de estudos e pesquisas através da utilização de métodos, técnicas
e discursos, sendo um conjunto de operações sistematizadas e racionalmente encadeadas para
operacionalização da pesquisa que se pretende realizar. Assim, a metodologia refere-se a
estratégia, o plano de ação, o processo ou desenho por trás da escolha de métodos particulares
unindo a escolha e o uso dos métodos aos resultados desejados (CROTTY, 1998, p.3).
Dessa forma, classifica-se o presente estudo como sendo de caráter descritivo-
argumentativo, fundamentado em uma pesquisa exploratória quanto à sua finalidade, valendo-
se de uma abordagem qualitativa por meio da técnica de observação sistemática dos dados
(MARCONI & LAKATOS, 2019)
Para Selltiz (1965, p. 233), a técnica da observação torna-se científica à medida que:
“(a) convém a um plano de pesquisa; (b) é planejada sistematicamente; (c) é registrada
metodicamente, bem como relacionada a proposições gerais, e não se apresenta como uma
série de curiosidades interessantes; (d) está sujeita a verificações, testes empíricos e controles
sobre sua validade e segurança.”
3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS FENÔMENOS OBSERVÁVEIS (RATINGS
SOBERANOS)
O Brasil possui contratos oficiais para classificação de risco de crédito com as
agências Standards & Poor’s (S&P), Fitch Ratings (Fitch) e Moody’s Investor Service. Não
obstante, outras agências estrangeiras como a Dominion Bond Rating Service (DBRS), do
Canadá, a Japan Credit Rating Agency (JCR) e Rating and Investment Information (R&I),
ambas do Japão, a NICE Investors Service, da Coreia do Sul e a Dagong Global Credit
Rating, da China, também monitoram o risco de crédito brasileiro. As classificações de tais
agências compõem notas que são atribuídas para as dívidas de curto prazo e dividas de longo
prazo, em moeda local e em moeda estrangeira, sendo esta última, a longo prazo, a mais
comumente usada para classificar o risco de crédito de um país (STN, 2018).
Como evidenciado na Tabela 1 a seguir, as notas usadas pelas agencias podem tanto
ser representadas por letras que normalmente vão de “D” (nota mais baixa) a “AAA” (nota
mais alta), por números, como também por sinais (+ ou -).
Segundo as definições de rating estabelecidas pela Agência FitchRatings (2018), os
termos "grau de investimento" e “grau especulativo” foram estabelecidos ao longo do tempo
como abreviações para descrever as categorias de ‘AAA’ a ‘BBB’ (grau de investimento) e de
‘BB’ a ‘D’ (grau especulativo). Esses termos são uma convenção do mercado e não indicam
qualquer recomendação ou endosso de um título específico com o propósito de investimento.
Categorias de grau de investimento indicam uma probabilidade baixa a moderada de risco de
crédito; enquanto categorias de grau especulativo ou sinalizam uma probabilidade de risco de
crédito mais alta ou indicam que a inadimplência já ocorreu.
Canuto e Santos (2003) esclarecem que cada agência possui uma taxonomia própria de
classificação e tal fato dificulta sua interpretação e comparação, havendo necessidade, na
maioria dos casos, de se construir uma tabela comparativa de transposição das escalas de risco.
Os autores afirmam que para cada governo avaliado normalmente as agências opinam acerca
do direcionamento provável da classificação de risco no médio prazo:
Esse indicador é chamado de perspectiva (outlook), que pode ser positiva,
negativa, estável e em desenvolvimento. Quando surge uma possibilidade
de mudança na classificação de um soberano, as agências podem colocá-lo
em uma listagem a parte. A Moody’s a chama de “lista de aviso”(Watchlist)
e fornece a possível direção da classificação nos proximos 90 dias: em
revisão para elevação (upgrade), em revisão para rebaixamento
(downgrade), ou indefinido. A listagem da Fitch é chamada de “alerta de
classificação” (RatingAlert) e a da S&P de “aviso de crédito” (CreditWatch),
de caráter positivo, negativo ou indefinido (CANUTO; SANTOS, 2003)
Tabela 1. Notas de Investimento das Agências de Classificação de risco oficiais
Moody’s
Investor
Service
Fitch
Ratings
Standards
&Poor’s Significado
Aaa AAA AAA
“Grau de Investimento”
Qualidade alta
Baixo risco de crédito
Aa1 AA+ AA+
Aa2 AA AA1
Aa3 AA- AA-
A1 A+ A+
A2 A A
A3 A- A-
Baa1 BBB+ BBB+ “Grau de Investimento”
Qualidade média
Pequeno risco de crédito
Baa2 BBB BBB
Baa3 BB- BB-
Ba1 BB+ BB+
“Grau especulativo”
Qualidade baixa
Moderado risco de crédito
Ba2 BB BB
Ba3 BB- BB-
B1 B+ B+
B2 B B
B3 B- B-
Caa1 CCC CCC+
“Grau especulativo”
Qualidade muito baixa
Elevado risco de calote
Caa2 CC CCC
Caa3 C CCC-
Ca RD CC
C D C
D
Fonte: elaboração dos autores a partir dos sítios eletrônicos das agências.
De acordo com a agência FitchRatings (2018):
Os termos "grau de investimento" e “grau especulativo” foram estabelecidos
ao longo do tempo como abreviações para descrever as categorias de ‘AAA’
a ‘BBB’ (grau de investimento) e de ‘BB’ a ‘D’ (grau especulativo). Esses
termos são uma convenção do mercado e não indicam qualquer
recomendação ou endosso de um título específico com o propósito de
investimento. Categorias de grau de investimento indicam uma
probabilidade baixa a moderada de risco de crédito; enquanto categorias de
grau especulativo ou sinalizam uma probabilidade de risco de crédito mais
alta ou indicam que a inadimplência já ocorreu.
No presente trabalho a nota de rating baseia-se nas dívidas de longo prazo em moeda
estrangeira. As avaliações estão disponíveis no sítio eletrônico do Tesouro Nacional
(www.tesouro.fazenda.gov.br), sendo a primeira avaliação ocorrida em 18 de novembro de
1986, pela agência Moody’s Investor Service, e a última avaliação divulgada em 9 de agosto
de 2018, pela agência Standard &Poor's.
Subsidiariamente, será utilizada, por analogia, apenas o “fundamento” da técnica do
estudo de evento (FAMA; FISCHER; JENSEN & ROLL, 1969) a qual consiste em analisar a
existência ou não de uma reação do mercado relativamente a evolução passada das cotações
de uma ou mais empresas em virtude da ocorrência de algum evento específico, in casu o
período eleitoral, que por hipótese esteja alterando seus valores de mercado, notadamente, as
classificações de risco soberano.
3.2 DOS CICLOS POLÍTICO-ELEITORAIS.
No Brasil, o processo eleitoral é regido fundamentalmente pelo Código Eleitoral
instituído pela Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965, bem como pela Lei nº 9.504, de 30 de
setembro de 1997, a qual estabelece normas para as eleições. O registro de candidaturas é
uma das fases importantes do processo de eleições, pois é nesse momento que os partidos e as
coligações solicitam à Justiça Eleitoral o registro das pessoas que concorrerão aos cargos
eletivos que serão objeto do pleito.
O prazo começa a partir do dia em que o partido realiza a convenção partidária, as
quais devem ocorrer impreterivelmente no último decêndio junino, ou seja, entre os dias 10 e
30 de junho do ano eleitoral. Nesse contexto, é possível que algum partido político realize sua
convenção logo no início do prazo e que, imediatamente, solicite o registro dos candidatos
escolhidos. No entanto, a data de término é fixa e ocorre sempre no dia 5 de julho do ano da
eleição, data em que a Justiça Eleitoral encerra o recebimento dos pedidos de registro de
candidatura apresentados pelos partidos políticos (TSE,2018).
Uma vez homologado o registro das candidaturas, a lei eleitoral estabelece a data de 5
de julho, posteriormente alterado para 15 de agosto a partir de 2015, como marco inicial para
o efetivo início da campanha eleitoral dos candidatos. Decorridos os procedimentos de
campanha e eleição em primeiro e segundo turno (conforme o caso), para o cargo de
Presidente da República, de acordo com o art. 82 da Constituição Federal (CF, 1988) seu
mandato será de quatro anos e terá início em 1º de janeiro do ano seguinte ao da sua eleição.
No entanto, uma vez que a plataforma partidária e as propostas de governo dos
candidatos são conhecidas a partir do momento do registro da candidatura; e a (re)composição
da equipe de governo normalmente ocorre nos primeiros meses após a posse e exercício do
“novo” Presidente da República; será estabelecido para o presente estudo o lapso temporal
compreendido entre o 3º trimestre(julho-setembro) do ano eleitoral e o 1º trimestre (janeiro-
março) do ano subsequente, como o período sujeito às instabilidades e incertezas políticas
hipoteticamente capazes de influenciar a classificação do rating soberano do Brasil pelas
agências classificadoras de risco. A Teoria dos Ciclos Político-Econômicos defendida pelos
estudos de Nordhaus (1975) e Hibbs (1977;1986) pressupõe o estabelecimento de um período
de análise compreendido no interregno pré e pós eleições.
Da análise realizada nos dados constantes sítio eletrônico oficial do Tribunal Superior
Eleitoral – TSE (http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-plebiscitos-e-referendos),
verifica-se a seguinte disposição temporal das últimas eleições presidenciais no Brasil
conforme evidenciado na tabela 2.
Tabela 2: Cronologia de eleições presidenciais no Brasil (1989-2018).
Ano de eleição Mandato Presidente eleito
1989 1990-1994 Fernando Affonso Collor de Melo
1994 1995-1998 Fernando Henrique Cardoso
1998 1999-2002 Fernando Henrique Cardoso
2002 2003-2006 Luiz Inácio Lula da Silva
2006 2007-2010 Luiz Inácio Lula da Silva
2010 2011-2014 Dilma VanaRoussef
2014 2015-2018 Dilma VanaRoussef
2018 2019-2022 Jair Messias Bolsonaro
Fonte: Construção própria dos autores.
4 OBSERVAÇÃO ESTRUTURADA DOS RATINGS SOBERANOS.
Tendo em vista que a menor nota de classificação do risco de crédito brasileiro dado
pelas agências de risco foi o de Grau Especulativo de baixa qualidade, as tabelas começam
pela menor nota dentro deste grupo, conforme cada agência. Vale ressaltar que a apresentação
dos relatórios de rating pelas agências ao Brasil possui periodicidade mensal, no entanto, as
tabelas oficiais divulgadas pela Secretaria do Tesouro Nacional – STN
(https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2810:2) evidenciam apenas os meses em que a
nota de classificação foi modificada, permanecendo inalteradas no interregno.
Gráfico 1 – Classificação da agência Standard &Poor’s.
Fonte: Elaboração própria dos autores (ratings oficiais divulgados pela STN/2018).
A metodologia de ratings soberanos da agência S&P Global Ratings (S&P,2017)
define governo soberano como aquele Estado capaz de administrar seu próprio governo, não
estando sujeito e nem dependente de outro governo para o exercício de suas atividades. A
agência considera o direito de determinar a moeda que utiliza, o quadro político, e o marco
institucional em que Estado opera como sendo a prerrogativa mais importante de um governo
soberano.
A estrutura de avaliação de Ratings de Crédito de Emissor Soberanos da S&P prevê
cinco pilares para que seja determinada a qualidade do crédito do país quais sejam: avaliação
institucional; avaliação econômica; avaliação externa; avaliação social e avaliação monetária.
A avaliação institucional analisa a capacidade de afetação das instituições e da
elaboração de políticas públicas sobre os fundamentos do crédito de um Estado soberano, o
qual deve estar apto à promoção de finanças públicas sustentáveis que fomentem um
crescimento econômico equilibrado e responsivo a choques econômicos e políticos. A análise
da avaliação institucional combina dois fatores: a eficácia, estabilidade e previsibilidade da
elaboração de políticas e das instituições políticas do governo soberano; e a transparência e
accountability das instituições, dados e processos, bem como a cobertura e a confiabilidade
das informações estatísticas.
A classificação final do rating decorre da combinação ponderada do perfil
institucional e econômico com o perfil de flexibilidade e desempenho do governo soberano. O
primeiro reflete a força e a estabilidade das instituições e o nível de resiliência econômica do
país, bem como a eficácia de suas políticas públicas. O segundo refere-se à sustentabilidade e
à flexibilidade fiscal e monetária de um país, considerando o nível de endividamento e o
equilíbrio fiscal do governo.
Merece especial destaque o fato de que para a avaliação institucional a metodologia da
S&P (S&P, 2017) estabelece como fatores qualitativos de análise do governo soberano seu
histórico na gestão de crises políticas, na formulação de políticas prudentes, na
implementação tempestiva de reformas para a garantia de finanças públicas sustentáveis, e na
gestão prudente de política monetária. Ademais, avalia-se ainda para a confecção dos
relatórios de rating periodicos, “fatores relativos a previsibilidade da estrutura política geral e
desdobramentos que podem afetar as respostas políticas a uma crise futura ou levar mudanças
políticas significativas”.
Corrobora a hipótese defendida no presente artigo o fato de que para a S&P os riscos
de sucessão e desafios potenciais às instituições políticas são fatores que podem afetar a
estabilidade institucional e à continuidade das principais características de crédito. Assim,
visto que um componente da análise de risco soberano baseia-se no histórico de conflitos
políticos e esse é mais evidente em períodos de disputa eleitoral, era de se esperar que o nível
de rating oscilasse nesse período.
Do confronto entre os 7 (sete) lapsos temporais escopo do presente estudo,
considerando os anos de eleição constantes da tabela 2, e as notas de classificação de risco do
gráfico 1 realizada pela empresa S&P observa-se:
a) 1º período (julho/1994-março/1995) – a avaliação realizada em novembro/1994 classificou
o risco soberano Brasil em moeda estrangeira na categoria B, não sendo possível aferir pela
ausência de dados divulgados anteriormente, se houve rebaixamento ou melhora em sua
classificação no período eleitoral. A nota manteve-se estável até junho/1995 quando se elevou
da categoria B para B+;
b) 2º período (julho/1998-março/1999) – em setembro/1998 houve a manutenção do risco
soberano em moeda nacional na categoria BB+ porém com revisão de perspectiva para
negativa (viés). Em janeiro/1999, logo após a posse presidencial, houve rebaixamento da nota
para BB-, com perspectiva negativa;
c) 3º período (julho/2002-março/2003) – em julho/2002 houve rebaixamento do risco
soberano em moeda nacional de BB+ para BB com perspectiva negativa. O rating soberano
só melhorou em abril/2003 se elevando para BB com revisão da perspectiva para estável;
d) 4º período (julho/2006-março/2007) – em novembro/2006 houve manutenção do rating
soberano em BB+, porém com revisão da perspectiva de positiva para estável;
e) 5º período (julho/2010-março/2011) – não houve variação do rating soberano no período,
mantendo-se estável em BBB+ de abril/2010 a maio/2011, com a revisão da perspectiva de
estável para positiva;
f) 6º período (julho/2014-março/2015) – não houve variação do rating soberano no período,
mantendo-se estável do ultimo rebaixamento ocorrido em março/2014 de A- para BBB+, com
revisão de perspectiva de positiva para estável. Tal nível de risco perdurou até julho/2015
quando então a perspectiva foi revista para negativa;
g) 7º período (julho/2018-outubro/2018) – no início de agosto de 2018 houve a manutenção
da nota de rating soberano em BB-, com perspectiva estável. Até 1º de janeiro de 2019 não
havia sido liberado pela STN o relatório de avaliação ocorrido após o resultado oficial das
eleições divulgado em 28/10/2018.
Depreende-se da análise descritiva dos dados que em 4 períodos eleitorais dos 7
compreendidos entre os anos de 1994 e 2018 (57,14%), houve a confirmação da hipótese H1
evidenciando que em períodos de eleição presidencial as classificações realizadas pelas
agências de rating elevam o nível do risco da dívida soberana de um país, pelo rebaixamento
de sua nota de análise de crédito, seja pela mudança de categoria, seja pelo declínio da
perspectiva de crédito (negativo, estável, positivo).
O período correspondente às eleições de 1994, ainda que a classificação do risco
soberano tenha se mantido estável, ficou prejudicado pela ausência da disponibilização das
classificações anteriores.
Merece especial destaque, no entanto, os períodos relativos às eleições de 2010 e 2014.
O primeiro, em que se sagrou vencedora a então candidata a presidência da república Dilma
Vana Roussef, foi marcado pela continuidade política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva o qual a indicou como sua sucessora na convenção partidária do Partido dos
Trabalhadores em 2010. Dessa forma, considerando que a candidata havia chefiado o
Ministério das Minas e Energia, e, posteriormente a Casa Civil da Presidência da República,
durante o governo Lula, sua plataforma política de continuidade à administração anterior
manteve o mercado cauteloso, fato esse certamente levado em consideração na manutenção
do nível de risco soberano Brasil pela S&P durante o processo eleitoral.
No segundo, verifica-se que o rebaixamento da classificação do rating soberano
ocorreu em março/2014, período em que já havia a sinalização partidária de lançamento da
então presidente Dilma à reeleição. Dessa forma, levando-se em consideração a hipótese
eficiente de mercado em sua forma forte ou moderada, o cenário de instabilidade política e
econômica em que se encontrava o Brasil em 2014 podem ter levado ao rebaixamento
antecipado da nota de classificação do Brasil.
Gráfico 2 – Classificação da agência FitchRatings.
Fonte: Elaboração própria dos autores (ratings oficiais divulgados pela STN/2018).
De acordo com a agência de classificação de rating Fitch Ratings (2018) o risco
soberano está relacionado a uma opinião sobre as condições relativas de um país em honrar
com suas obrigações financeiras, tais como pagamento de juros, principal, sinistros, entre
outros. Tais classificações são utilizadas pelos investidores como indicação da probabilidade
de receberem o capital investido, de acordo com os termos acordados na ocasião da realização
de determinado investimento. Os ratings soberanos são aplicados aos títulos de dívida
emitidos por um país, assim como operações estruturadas lastreadas em recebíveis ou demais
ativos financeiros (FITCH, 2018).
As perspectivas de rating refletem tendências financeiras que ainda não atingiram um
nível a ponto de opinar a uma ação de rating, mas que, caso essas tendências perdurem,
ocasionar a emissão de uma nota. Elas indicam para qual direção, em um prazo de um a dois
anos, é provável que uma classificação de altere.
Uma perspectiva positiva indica uma tendência futura de alta na escala de rating de um
soberano, enquanto que uma perspectiva negativa indica uma tendência negativa na estala de
classificação de rating. Em casos excepcionais, quando as tendências positivas e negativas
são fortes e conflitantes, a perspectiva de rating pode ser descrita como “indefinida”.
A partir do confronto dos sete períodos eleitorais estabelecidos no presente trabalho,
assim como da análise do Gráfico 2 e das tabelas 1 e 2, observa-se:
a) 1º período (julho/1994-março/1995) – a primeira classificação do risco soberano
brasileiro realizada pela agência Fitch ocorreu em dezembro/1994, com uma nota B+. Tal
nota permaneceu até março/1995, com confirmação da nota em outubro deste mesmo ano.
b) 2º período (julho/1998-março/1999) – no período estabelecido para análise das
eleições presidenciais de 1998, houve rebaixamento da Nota de BB- para B em janeiro de
1999, logo após a posse presidencial.
c) 3º período (julho/2002-março/2003) – no mês de junho/2002, durante o período de
realização da convenção partidária, o risco soberano brasileiro foi rebaixado de B+ para B,
com perspectiva negativa para o futuro. Em agosto/2002, houve revisão da perspectiva para
estável, perdurando até outubro/2002 quando houve o rebaixamento da perspectiva de estável
para negativa, preservando-se até março/2003.
d) 4º período (julho/2006-março/2007) – em julho/2006 a classificação do risco soberano
brasileiro estava em BB, com perspectiva estável. Em fevereiro/2007 tal perspectiva
aumentou para positiva e, em maio/2007, houve a elevação da nota para BB+, com
perspectiva estável.
e) 5º período (julho/2010-março/2011) – em julho/2010 não houve alteração da nota, que
se manteve em BBB- desde a última classificação, em maio/2009, mas houve um aumento da
perspectiva, que se preservou até março/2011.
f) 6º período (julho/2014-março/2015) – em 2014 a nota do risco soberano do Brasil
manteve-se em BBB desde julho/2012 e teve sua perspectiva reduzida somente em abril/2015.
g) 7º período (julho2018-outubro/2018) – o último período foi marcado por uma redução
da nota de BB, classificado em novembro/2017, para BB-, classificado em fevereiro/2018.
Verifica-se, pela análise descritiva dos dados, que houve predominância do
rebaixamento da classificação de rating durante os períodos eleitorais (segundo, terceiro e
sétimo períodos) corroborando a hipótese H1 defendida no presente trabalho (42,86%). No
primeiro e sexto lapsos temporais houve a permanência da nota e das perspectivas para
tendências futuras durante o intervalo estabelecido como “período eleitoral” (28,57%). No
quarto e quinto períodos houve elevação da classificação de rating(28,57%).
Os aumentos das classificações de rating soberano pela FitchRatings atribuída aos
títulos emitidos pelo Brasil, durante um período eleitoral, ocorreram no quarto (julho/2006-
março/2007) e quinto (julho/2010-março/2011) períodos eleitorais, onde consagrou-se como
presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva. Em contrapartida, entre julho/2014 e
março/2015 (sexto período) deu-se a maior classificação do risco soberano brasileiro, com
uma nota BBB, durante a reeleição da presidente Dilma Vana Roussef.
Gráfico 3 – Classificação da agência Moody’s.
Fonte: Elaboração própria dos autores (ratings oficiais divulgados pela STN/2018).
De acordo com a agência Moody’s (2018) os ratings soberanos são usados para permitir
o financiamento das operações do Estado. Para que consigam se financiar, os governos
emitem diversas combinações de títulos, letras e notas, cuja estrutura de dívida é baseada em
condições mercadológicas e políticas. Nos mercados de crédito em todo o mundo, os
governos, em sua grande maioria, são os maiores tomadores de empréstimos, além de suas
posições de crédito servirem como referência para outros emissores de títulos de dívida.
Não obstante, uma série de características diferenciam os emissores de títulos soberanos
de outros emissores institucionais as quais são de extrema importância para diferenciar a
abordagem utilizada para avaliar a qualidade de crédito. São eles: (i) capacidade de um
soberano reduzir suas despesas ou alterar a tributação de seus contribuintes como forme de
arrecadar receita com a qual conseguirá honrar dívidas pendentes; (ii) liberdade de uma
autoridade superior para submeter resolução da dívida e aliviara obrigação de garantia; e (iii)
a alta probabilidade de continuidade, mesmo depois de um episódio de default (MOODY’S,
2018).
A metodologia de rating soberano da agência Moody’s é baseada na interação de quatro
fatores centrais: força econômica, força institucional, força fiscal e suscetibilidade a risco de
evento.
A análise da força econômica tem como foco a capacidade de um país de absorver
choques e está centrada em fatores como o potencial de crescimento, diversificação,
competitividade e renda nacional. Além disso, o crescimento econômico e a prosperidade são
essenciais para a capacidade relativa de um país para gerar receita e honrar suas obrigações a
médio prazo. Nos últimos anos, a falta de força econômica de um soberano foi um fator
fundamental nos defaults soberanos ocorridos, geralmente em países que tiveram perspectivas
econômicas enfraquecidas, nos quais pode-se incluir um grande choque em termos comerciais
ou uma série de choques menores, mas permanentes, ao longo do tempo.
A força institucional refere-se à capacidade de um soberano em realizar políticas
econômicas sólidas, a fim de promover o crescimento econômico e a prosperidade. Fraquezas
institucionais estão relacionadas a instabilidade políticas, problemas de gestão orçamentaria e
de governança e a falta de vontade política de pagar dívidas. Constitui-se como o fator
decisivo de 30% dos últimos defaults soberanos ocorridos. Vale destacar que não há diferença
quanto a forma de governo. Tais avaliações, de acordo com a Moody’s (2018), podem ser
realizadas tanto em democracias como em estados totalitários.
A força fiscal corresponde a saúde geral das finanças públicas. Levando em conta a
estrutura da dívida de cada soberano, a análise leva em conta as cargas das dívidas relativas
(dívida/receita, dívida/PIB) e a acessibilidade da dívida (pagamentos de juros relacionados a
receitas e PIB). Países que tiveram, ao longo dos anos, uma carga de dívida
insustentavelmente alta, adicionado com o acumulo de dívida, alta dependência de credores
externos assim como uma baixa acessibilidade da dívida, tiveram como consequência a
incapacidade de honrar com suas dívidas, ocasionando defaults.
A suscetibilidade de evento de um país, diferentemente dos três primeiros fatores, avalia
a capacidade de um país suportar um choque em uma perspectiva de curtíssimo prazo, ou seja,
um evento súbito, tais como crises bancárias sistêmicas ou crises cambiais. A incapacidade de
sustentar um choque súbito pode prejudicar severamente as finanças públicas, aumentando, de
maneira drástica, a probabilidade de default de um país.
A partir das análises conjuntas das tabelas 1 e 2, assim como do gráfico 3, concomitante
às circunstancias temporais relacionadas aos sete períodos de eleição presidencial, depreende-
se que:
a) 1º período (julho/1994-março/1995) – em julho/1994 o risco soberano do Brasil estava
classificado pela agência Moody’s na categoria B2, cuja nota foi rebaixada desde a avaliação
anterior, em novembro/1986. A avaliação realizada em outubro/1994 manteve o risco
soberano do país, sob revisão de nota, na categoria B2, sendo elevada para a categoria B1, em
novembro/1994.
b) 2º período (julho/1998-março/1999) – em julho/1998 a nota do risco soberano do
Brasil foi rebaixada de B1 para B2 e se manteve na classificação de setembro/1998, com
perspectivas futuras de novos rebaixamentos.
c) 3º período (julho/2002-março/2003) – em junho/2002 o risco soberano do país estava
classificado em B1, com alteração da última avaliação de revisão da perspectiva de estável
para negativa durante a divulgação dos resultados das convenções partidárias. Vale destacar
que tais mudanças de perspectivas, com a permanência da nota, ocorreram um menos de um
mês, evidenciando um evento subido ocorrido naquela época, capaz de fazer com que a
agência emite uma nova classificação rapidamente, corroborando o fator relacionado a
suscetibilidade de evento de um país como proxy da metodologia de classificação da
Moody’s. Em agosto/2002 veio o rebaixamento da nota para B2, com perspectiva estável.
d) 4º período (julho/2006-março/2007) – em julho/2006 o risco do país estava
classificado em Ba3, cuja nota foi elevada desde a última classificação, em outubro/2005. Em
primeiro de agosto/2006 houve a emissão de que a nota estaria sob revisão e logo em seguida,
em 31 de agosto/2016 houve a elevação da nota para Ba2, com perspectiva estável. Em
maio/2007 o risco soberano do Brasil entrou novamente em revisão, com elevação da nota em
agosto/2007.
e) 5º período (julho/2010-março/2011) – no período entre julho/2010 e março/2011 não
houve alterações nas notas ou perspectivas do risco soberano do Brasil. Neste período, a nota
estava classificada com Baa3, cuja perspectiva foi considerada positiva na última avaliação,
em setembro/2009.
f) 6º período (julho/2014-março/2015) – neste período, a classificação se manteve desde
a última avaliação ocorrida em novembro/2012, em Baa2, mas com rebaixamento da
perspectiva para negativa. Tal fato foi corroborado em agosto/2015, quando houve o
rebaixamento da nota para Baa3, com revisão da perspectiva para estável.
g) 7º período (julho/2018-outubro/2018) – no último período de avaliação, o rating
começou com a classificação Ba2, que havia sido elevada pela mudança de perspectiva de
negativa (ocorrida em maio/2017) para estável (em abril/2018).A nota de classificação
permaneceu estável durante todo o último período eleitoral.
Infere-se que, pelas análises das classificações de risco soberano da agência Moody’s,
houve, na maioria dos casos (42,86%), um rebaixamento da nota ou uma mudança de
perspectiva para negativa (rebaixamento de perspectiva), nos períodos estabelecidos como
critério de análise do presente trabalho. Nos demais períodos amostrais as classificações de
rating se mantiveram em perspectiva estável (28,57 %), ou se elevaram (28,57%).
Merece destaque o período eleitoral analisado entre julho/2014 e março/2015, onde
houve a maior classificação do risco soberano do Brasil realizado pela Moody’s, em Baa3.
Nessa eleição, foi consagrada a vitória de Dilma Vana Roussef. Por outro lado, nos períodos
transcorridos entre julho/1994 - março/1995, e julho/1998 - março/1999, houve a menor nota
de rating do risco soberano do país, classificado em B2, época da vitória do presidente
Fernando Henrique Cardoso para os dois períodos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Pela observação estruturada das classificações de rating soberano dos gráficos, assim
como das análises descritivas evidenciadas, é possível verificar que o Brasil, em tempo algum
no espaço amostral, conseguiu uma nota de rating do risco soberano classificada como Grau
de Investimento com qualidade alta e baixo risco de crédito (tabela 1). Todas as classificações
de rating soberano do país circundaram em torno do Grau de Investimento com qualidade
média e pequeno risco de crédito e Grau Especulativo com qualidade baixa e moderado risco
de crédito.
Sob outra perspectiva, merece destaque especial o fato de que, em nenhum momento,
foi atribuída uma nota de classificação de rating do Brasil em Grau Especulativo de qualidade
muito baixa e elevado risco de default.
Além disso, pela análise conjunta dos três gráficos, depreende-se um padrão quanto as
variações de classificação de rating, principalmente nos períodos compreendidos entre 2005 e
2014, onde houve uma linearidade de elevação da nota, seguida de reduções consecutivas, por
parte das três agências. Constata-se, também, a inexistência de uma nota distante das demais
em algum período específico, ou seja, nenhuma agência elevou ou reduziu substancialmente
uma classificação dada de forma díspare das demais.
A hipótese H1 de pesquisa, a qual afirma que nos períodos de eleição presidencial as
classificações realizadas pelas agências de rating elevam o nível do risco da dívida soberana
de um país, pelo rebaixamento de sua nota de análise de crédito (Rating Soberano), foi
confirmada pela observação estruturada das evidências corroborando as expectativas
decorrentes da teoria de base.
Nos períodos dos ciclos políticos analisados houve uma tendência padrão de
rebaixamento da nota pelas três agências analisadas. Do total de 21 (vinte e um) eventos
observados, em 10 (dez) ocorrências houve o efetivo rebaixamento, perfazendo 47,62% do
total. Em 6 momentos (28,57%) houve estabilidade das classificações de rating, e em apenas
5 períodos eleitorais (23,81%) as notas ou perspectivas se elevaram.
Períodos eleitorais configuram-se como momentos de instabilidade e dúvida quanto ao
funcionamento da máquina pública. No caso do risco soberano brasileiro, as observações
sistemáticas realizadas evidenciaram que o cenário de incerteza política instalada no período
compreendido entre o anúncio do candidato presidenciável pelas convenções partidárias e os
primeiros 90 dias após a efetiva posse como presidente da república, promoveram, na maioria
absoluta dos cenários, o rebaixamento dos níveis de rating soberano do Brasil.
Segundo informações disponibilizadas pela Secretaria do Tesouro Nacional – STN,
mediante a Lei de Acesso a Informação (formulário 16853007428201810/2018), as agências
de classificação de risco soberano Standard & Poor’s, Moody’s e FitchRatings, pelas quais o
Brasil possui contrato firmado também se utilizam dos dados públicos, como qualquer
cidadão, e produzem, de acordo com suas metodologias, as classificações de risco, bem como
relatórios, arquivos de dados e outros produtos disponibilizados em seus respectivos sítios
eletrônicos.
O objeto da contratação das agências pela Secretaria do Tesouro Nacional é a
avaliação de risco, não expressa em termos materiais, pelos arquivos de dados, relatórios e
publicações da agência e, sim, pela nota de crédito a ele atribuída, fruto do trabalho de
analistas que têm o mandato da agência de avaliar o risco do crédito do emissor contratante.
O presente estudo inova ao valer-se da técnica de observação estruturada de
informações para demonstrar a influência da instabilidade política no rebaixamento da nota da
classificação do rating Brasil nos períodos amostrais, pela utilização de abordagem qualitativa
de evidências que corroboram a hipótese de pesquisa fundamentada na teoria dos ciclos
político-econômicos como vertente da teoria da escolha pública.
Como agenda futura, no intuito de configurar maior robustez às evidências, propõe-se
a utilização dos ciclos eleitorais observados no presente estudo como Proxy para o
desenvolvimento modelagem estatística de análise das metodologias estabelecidas pelas
agências de rating.
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