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ELETROBRÁS Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Presidente José Antônio Muniz Lopes Diretor de Tecnologia Ubirajara Rocha Meira ELETROBRÁS PROCEL Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica Departamento de Projetos de Eficiência Energética Fernando Pinto Dias Perrone Divisão de Eficiência Energética em Edificações Solange Nogueira Puente Santos Equipe Técnica Estefânia Neiva de Melo Frederico Guilherme Souto Maior de Castro José Luiz Grünewald Miglievich Leduc Maria Tereza Marques da Silveira Rodrigo da Costa Casella IAB RJ Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento Rio de Janeiro Presidente Dayse Góis Vice-Presidente e Diretor Financeiro Armando Mendes Diretora Administrativa Adriana Larangeira Diretor de Comissões Marco Leão Gelman Diretor Cultural Jorge Costa Ficha catalográfica c129 IAB RJ Caderno de boas práticas em arquitetura : eficiência energética nas edificações : Edificações Comerciais - Rio de Janeiro : ELETROBRÁS : IAB, Departamento do Rio de Janeiro, 2009. 28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. – (caderno de boas práticas em arquitetura : v.10) Inclui Bibliografia Publicado em coedição com a RJ Planejamento Integrado Ltda. ISBN 978-85-87083-18-0 1. Arquitetura e conservação de energia. 2. Energia elétrica e conforto ambiental. I. ELETROBRÁS. II. Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro. III. Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Brasil) IV. Série CDD 720.472

ELETROBRÁS IAB RJ Centrais Elétricas Brasileiras …...para alcançar um determinado nível de eficiência, e assim havendo uma inte-gração maior entre os projetistas. Para licitações

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética2

ELETROBRÁS

Centrais Elétricas Brasileiras S.A.

PresidenteJosé Antônio Muniz Lopes

Diretor de TecnologiaUbirajara Rocha Meira

ELETROBRÁS PROCEL

Programa Nacional de Conservação deEnergia Elétrica

Departamento de Projetos de Eficiência EnergéticaFernando Pinto Dias Perrone

Divisão de Eficiência Energética em EdificaçõesSolange Nogueira Puente Santos

Equipe TécnicaEstefânia Neiva de MeloFrederico Guilherme Souto Maior de CastroJosé Luiz Grünewald Miglievich LeducMaria Tereza Marques da SilveiraRodrigo da Costa Casella

IAB RJ

Instituto de Arquitetos do BrasilDepartamento Rio de Janeiro

PresidenteDayse Góis

Vice-Presidente e Diretor FinanceiroArmando Mendes

Diretora AdministrativaAdriana Larangeira

Diretor de ComissõesMarco Leão Gelman

Diretor CulturalJorge Costa

Ficha catalográfica

c129 IAB RJ

Caderno de boas práticas em arquitetura : eficiência energética nas edificações :Edificações Comerciais - Rio de Janeiro : ELETROBRÁS : IAB, Departamento do Rio de Janeiro, 2009.

28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. – (caderno de boas práticas em arquitetura : v.10)

Inclui BibliografiaPublicado em coedição com a RJ Planejamento Integrado Ltda.

ISBN 978-85-87083-18-0

1. Arquitetura e conservação de energia. 2. Energia elétrica e conforto ambiental. I.ELETROBRÁS. II. Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro. III.Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Brasil) IV. Série

CDD 720.472

Milazzo
Typewritten Text
www.milazzo.com.br
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3Edificações Comerciais

APRESENTAÇÃO

É com grande satisfação que a Eletrobrás, por meio do Procel Edifica, se une ao Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para apublicação deste “Caderno de Boas Práticas em Arquitetura”. A busca de soluções arquitetônicas sustentáveis é objeto do cuidadoda empresa há mais de 20 anos. As edificações são, atualmente, responsáveis por quase metade da energia elétrica gasta emnosso país, sobretudo em decorrência da utilização de sistemas artificiais de iluminação e climatização. Não se pode, portanto,desconsiderar esse importante segmento ao se investir na racionalização de energia – caminho mais seguro para o futuro energéticodo país.

O desenvolvimento tecnológico, ao longo da história, tem permitido ao homem vencer inúmeras limitações impostas pela natureza.Na arquitetura, a modernização se reflete em soluções nas quais os recursos técnicos substituem cada vez mais os elementosnaturais. Crescem o conforto e a independência das edificações em relação ao ambiente externo, mas também a demanda porenergia elétrica.

No Brasil, o incremento das estruturas para geração, transmissão e distribuição de energia se acentuou entre as décadas de 1950e 1960, como reflexo da demanda gerada pelo desenvolvimento industrial e o crescimento urbano. Nessa época, também marcadapela criação da Eletrobrás, o modelo de planejamento ainda trabalhava com a idéia de uma oferta sempre superior à demanda,assegurando confiabilidade no suprimento. Não havia preocupação com os desperdícios, nem tampouco conhecimento sobre omodo como a sociedade utilizava essa energia.

A história mostrou, no entanto, que a construção de grandes empreendimentos geradores de energia exige altos investimentos,além de produzir impactos significativos no meio ambiente. No caso do modelo brasileiro, apoiado essencialmente em hidrelétricas,as consequências incluem alagamento de áreas produtivas e necessidade de deslocamento de comunidades inteiras. O desenvol-vimento da consciência sobre os limites dos recursos naturais e financeiros transformou a racionalização em palavra-chave.

Para investir nessa idéia, foi criado, em 1985, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), com propostas deações para incentivar o uso eficiente da energia. A enorme representatividade do segmento de edificações no perfil do consumobrasileiro, por sua vez, motivou a criação do Procel Edifica – Eficiência Energética nas Edificações, que vem ampliando e direcionandoas ações da Eletrobrás em prol da racionalização do uso da energia e do aproveitamento dos recursos naturais nas edificações.

Por meio do Procel Edifica, a Eletrobrás investe nos requisitos básicos para uma arquitetura mais integrada ao meio ambiente e aosrecursos naturais, desenvolvendo indicadores de eficiência energética, certificação de materiais e equipamentos, procedimentospara regulamentação e projetos educacionais.

Disseminar boas práticas para soluções arquitetônicas sustentáveis é uma ação que vai ao encontro dos grandes ideais da empre-sa. A Eletrobrás acredita no aprendizado e na consciência como caminhos para o crescimento sustentável do país. E acredita,sobretudo, na capacidade humana de promover soluções que aliem o desenvolvimento tecnológico ao aproveitamento dos recur-sos ambientais na construção de um futuro limpo.

Diretoria da Eletrobrás

SUMÁRIO

0303030303 Apresentação Diretoria da Eletrobrás0404040404 Editorial Presidente do IAB RJ0505050505 Reportagem Jornalista Matilde Silveira

Torres de vidro: beleza que desafia a eficiência energética0707070707 Documento Arquiteto Mauro Almada

Irmãos Roberto: a invenção a serviço da boa técnica1010101010 Artigo Arquiteto Carlos Murdoch e Arquiteta Adriana Figueiredo

CH21414141414 Boas práticas Arquiteto Marco Milazzo

Edifícios Comerciais1919191919 Boas Práticas Arquiteta Ana Seroa e Engenheiro Denilson Moreira

Case de Eficiência Energética: Candelária Corporate – RJ2222222222 Projetos Arquiteto Carlos Murdoch e Arquiteta Adriana Figueiredo

Forma, Fôrma e Ruptura2727272727 Créditos

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética4

EDITORIAL

Prezado(a) Leitor(a),

Dayse Góis

Presidente do IAB RJ

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5Edificações Comerciais

TORRES DE VIDRO: DESAFIO PARA REDUZIRCONSUMO DE ENERGIA

Matilde SilveiraJornalista

Reportagem

Mesa-redonda organizada pelo IAB-RJreuniu os arquitetos Ana Seroa, CarlosMurdoch, Jorge Eduardo Hue, MarcosMilazzo e Mariane Azevedo¹ para deba-ter eficiência energética em edificaçõescomerciais com o convidado, professortitular da Universidade de Santa Catarina,Roberto Lamberts. Atuando na área deEngenharia Civil, com ênfase em Efici-ência Energética, bioclimatologia e con-forto térmico, Lamberts trabalha no de-senvolvimento de uma metodologia paraa criação de uma base nacional de da-dos sobre o consumo específico de ener-gia para consulta pública na página doProcel, elaboração de regulamentação eclassificação de edificações eficientes,entre outros projetos.²

O tema inicialmente abordado pelos par-ticipantes foi a utilização do vidro nas edi-ficações comerciais. Com a introduçãoda climatização artificial das edificações,houve uma desvinculação do clima ex-terno e do interno, fazendo com que osarquitetos somente se preocupassemcom a estética das fachadas. A chama-da “arquitetura internacional” começa aser reproduzida pelos arquitetos brasilei-ros, e com isso, a tendência da utilizaçãode fachadas totalmente envidraçadas.

Segundo Lamberts, os países desenvol-vidos continuam a utilizar muito vidro, mascom o advento das regulamentações,cada vez mais restritivas, são emprega-dos muitos artifícios para minimizar o gan-ho de calor. Por fora estamos vendo umafachada totalmente de vidro, mas por den-tro existe uma série de isolamentos.Estamos comprando a imagem e não umasolução completa de edificação eficiente.

Na Europa, há muita discussão sobrecomo utilizar melhor o vidro, como o usode fachadas duplas, fachadas ventiladas,etc.. “Mas ninguém consegue fazer má-gica com o vidro. O fator solar de um vi-dro transparente está na faixa de 0.85, epodemos baixar isso para 0.20, utilizan-do vidros especiais, mas ainda assimestariam passando 20% de radiação so-

lar enquanto que por uma superfície opa-ca nada passa. Não estamos dizendoque os edifícios tenham que ser totalmen-te fechados e que não se enxergue o ex-terior, mas temos que dosar a necessi-dade de transparência, para que seja su-ficiente no conforto do usuário. Nossoproblema é não termos avançado nasproteções solares. Utilizamos o vidro edepois deixamos que o ar-condicionadoresolva o problema do calor.

Em resposta à questão apresentada porMurdoch, de quando o arquiteto brasilei-ro teria perdido a conexão com o seu cli-ma, o professor disse não existir um sóculpado. Os construtores passaram apreferir o vidro, pois o sistema reduz ex-tremamente o tempo da construção.“Muitos usuários não se sentem confor-táveis em estar cercados por uma vitri-ne”, disse. Um exemplo de solução cons-trutiva com intuito totalmente estético foiutilizado nas fachadas do edifício do Ban-co Central: foi colocado vidro na frentedas lajes de concreto pintadas de mar-rom, imitando o vidro “ray-ban”, para es-conder as áreas opacas da fachada. “Osfuncionários são obrigados a ligar o ar-condicionado às 3:00h da manhã paraque o edifício fique refrigerado às 8:00h,quando começa o expediente.”

Jorge Eduardo Hue comentou que nãoexistem estatísticas no Brasil sobre oconsumo energético das edificações,para que seja possível fazer alguma com-paração, e determinar quais seriam asboas práticas na arquitetura. Lambertscitou que nos Estados Unidos há basesde dados que estabelecem estatistica-mente o consumo de energia dos prédi-os comerciais, enquanto no Brasil a ca-rência de informações ainda é grande.“A determinação e limitação do consumode energia por metro quadrado das edifi-cações é uma ideia já muito discutida,mas quando analisamos edificações exis-tentes e realizamos simulações de pro-jetos, verificamos que não é possívelcomparar uma edificação com outra. Não

podemos comparar uma loja de 200m2com uma edificação de 2.000m2, e nãopodemos comparar um prédio com 1andar com outro de 10 andares. Por issotoda a filosofia de etiquetagem do Procel/Inmetro é baseada na comparação doprédio com ele mesmo. A comparação dedois edifícios também se torna ineficienteporque cada um deles será ocupado porusuários com hábitos diferentes. A parti-cipação do usuário é fundamental no pro-cesso”, lembrou.

O arquiteto deve principalmente se pre-ocupar com a envoltória do edifício queele está projetando: qual o tipo de pare-de, cobertura, vidros, sombreamentos,cores, etc.. e juntamente com algum pro-fissional especialista em iluminação, fa-zer a integração da iluminação artificialcom a natural. O arquiteto também deveorientar os projetistas de ar-condiciona-do para que eles levem em considera-ção nos seus cálculos as soluções arqui-tetônicas de redução da carga térmicaque foram adotadas. Existe uma tendên-cia do mercado de dimensionar a cargatérmica genericamente, apenas conside-rando a metragem quadrada dos ambi-entes. Acredito que a etiquetagem doProcel/Inmetro é uma ferramenta muitoimportante para o consumidor e para oarquiteto, e não vai diminuir a sua liber-dade de criação. O consumidor poderásolicitar ao arquiteto qual o nível de efici-ência que ele quer para seu edifício, e oarquiteto, por outro lado, poderá contra-tar os projetistas complementares quemelhor atendam as suas necessidadespara alcançar um determinado nível deeficiência, e assim havendo uma inte-gração maior entre os projetistas. Paralicitações isto vai ser muito importante,porque de acordo com a lei 8.666 os pro-jetos podem ser escolhidos pela melhortécnica e preço, portanto a etiquetagemvai servir como parâmetro para escolherum projeto pela melhor técnica em rela-ção à eficiência energética.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética6

Lamberts explicou que o selo de eficiên-cia energética é concedido em dois mo-mentos: primeiramente será feita umaanálise e emitida uma etiqueta quando oprojeto estiver finalizado. Quando é soli-citada a etiquetagem para o projeto, oempreendedor firma um compromissocom o Inmetro, para submeter a obra fina-lizada a uma nova análise e nova etique-tagem, assim evitando que o empreen-dedor não execute a edificação confor-me os projetos. Quando a obra estiverfinalizada haverá uma auditoria pós ha-bite-se, onde serão verificadas as mudan-ças que foram feitas durante a obra e osequipamentos comprados e instalados.Preferimos utilizar a etiquetagem ao in-vés de determinar uma regra de consu-mo máximo ou eficiência mínima, comoa norma americana, porque no Brasil omercado é o diferencial. Esta classifica-ção vai ser utilizada pelos empreende-dores como uma forma de obter mídia.

Murdoch questiona se haverá no Brasiluma mudança de paradigma: o olhar, queé voltado para quanto o edifício custa,se voltaria para quanto ele custará emsua vida útil. Lamberts acredita que sim,e que isto deve ocorrer quando for dis-cutido o futuro da construção, quandocomeçar a se estabelecer metas no Bra-sil para que as edificações tenham ener-gia zero. “Nos EUA, a meta é que até2030 todos os prédios a serem cons-

truídos sejam energia zero e até 2050 osque não tiverem sido construídos sobessa nova concepção terão que ser re-formados. São metas extremamente ar-rojadas”.

“Um edifício é considerado energia zeroquando no balanço anual tudo o que eleconsome é igual ao que ele gerou deenergia localmente.” esclarece.

“Quando falamos em um edifício ener-gia zero, devemos procurar os limites daeficiência, pois os custos da geraçãoenergética no local é muito cara.” A Eu-ropa e Estados Unidos já têm uma estru-tura muito mais sólida construída, e porisso se fala mais em manutenção dasedificações e poucas construções novas.O Brasil ainda precisa crescer muito, con-sumir muita energia. Mas podemos utili-zar a experiência de outros países parafazer uma evolução diferente, mais efici-ente.

Jorge Hue acredita que no Rio de Janei-ro não é possível abrir mão dos sistemasde ar-condicionado pelo fato de que é ne-cessário deixar do lado de fora, além docalor, a poeira e o barulho. “Considerouma batalha difícil contra a indústria daconstrução civil: estamos caminhandopara prédios comerciais blindados. Osconstrutores não se preocupam em apro-veitar o potencial da ventilação natural

oferecida em certas épocas do ano”, ava-liou Hue.

Quando tratamos de edificações existen-tes, para buscar um aumento da eficiên-cia energética, um recurso utilizado comsucesso, lembrou o professor Lamberts,é a modernização dos equipamentos. Omelhor custo-benefício seria com oretrofit da iluminação, pois a troca do sis-tema de ar-condicionado é cara, só sejustificando após 20-25 anos de uso,quando é necessária a troca das máqui-nas. A alteração das fachadas envolveproblemas com direitos autorais dos pro-jetos com os arquitetos, e poderiam tra-zer benefícios através da utilização depintura com cores claras, incorporaçãode isolantes na cobertura, do sombrea-mento dos vidros, etc..

Sobre a nova arquitetura do século XXI,assunto lembrado por Murdoch, apesarde não ter conhecimento detalhado doensino nas faculdades, o professor Lam-berts mostrou-se preocupado com o con-traste existente entre o que é ensinadono Brasil e em países como Argentina,Chile, Uruguai, EUA e Portugal. “Aqui, aformação é mais voltada para a estética;a funcionalidade é delegada aos enge-nheiros. Enquanto isso, o arquiteto uru-guaio pensa nas duas coisas, e o arqui-teto americano é o próprio construtor. Éna escola que ele vai adquirir os concei-tos que levará para sua vida profissio-nal; se não os adquire, fica mais difícilmudar depois. Outro aspecto que mechama a atenção é que, no exterior, osarquitetos são obrigados a se atualizar,o que não ocorre aqui”, lamentou.

COMO AUMENTAR A EFICIÊNCIA ENERGÉTICAO professor Lamberts enumerou uma série de sugestões que contribuem para au-mentar a eficiência energética das edificações comerciais:- Fazer o aproveitamento máximo da luz natural- Buscar o emprego eficiente da luz artificial- Optar pelo sistema de iluminação por tarefa- Implantar iluminação geral mais baixa (rebaixamento do teto)- Otimizar a utilização da fachada para minimizar a carga térmica- Empregar superfícies frias no telhado- Utilizar tetos brancos e telhados verdes- Recorrer ao uso de fotossínteses, sombreamento das folhas- Aplicar cores claras nas fachadas opacas- Evitar contraste com cores escuras, pois produz efeitos “catastróficos” (desloca-mento de pastilhas, cerâmicas etc)- Usar área transparente para proporcionar iluminação natural, mas dosar a cargatérmica-Adotar cortinas claras para evitar o efeito estufa, que só o ar-condicionado poderáamenizar- Fazer previsão do uso final de energia do edifício (que em média utiliza 25% a 30%com iluminação, 50% com ar-condicionado)- Ter preocupação com o envoltório, buscando sempre eficiente ganho de luz natural- Reverter tendência entres projetistas de sistemas de ar-condicionado, que fazem odimensionamento da capacidade dos aparelhos com base no metro quadrado, igno-rando cuidados que reduzem o consumo, como brises, isolantes etc.

NOTAS¹ Ana Seroa, Doutora e Professora da Faculda-de de Arquitetura da UFF; Carlos Murdoch, Co-ordenador da Pós-Graduação em ArquiteturaSustentável da Estácio; Jorge Eduardo Hue,Arquiteto e MA. Sustainability Design pelaArchiteture Association, Marco Milazzo, Mestreem Conforto Ambiental e Eficiência Energéticae Professor da Universidade Estácio de Sá;Mariane Azevedo, Mestre em Conforto Am-biental e Eficiência Energética e Editora dosCadernos de Boas Práticas em Arquitetura 8.

² Trabalha também no desenvolvimento de pes-quisas ligadas à simulação térmica/energéticade edificações; eficiência energética de edifica-ções; medição e verificação de eficiência ener-gética; bioclimatologia aplicada a edificações(desenvolvimento do software analysis BIO);processamento de dados climáticos brasileiros;conforto e estresse térmico (desenvolvimento dosoftware analysis CST).

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7Edificações Comerciais

IRMÃOS ROBERTO: A INVENÇÃO A SERVIÇO DA BOATÉCNICA

Mauro AlmadaArquiteto UFRJ, Mestre em Planejamento Urbano e Regional UFRJ.

Documento

Ainda que marginalizados pela Academiae pela crítica oficialista da Arquitetura bra-sileira – que até hoje não produziram umúnico livro dedicado à sua obra –, figu-ram os irmãos Roberto entre os mais im-portantes arquitetos modernistas do Bra-sil.

Autores de uma extensa e qualificadaprodução, os irmãos Marcelo (1908-1964), Milton (1914-1953) e MaurícioRoberto (1921-1996) assinaram, entreoutras, obras pioneiras do MovimentoModerno no Brasil, de importância histó-rica incontestável, como o edifício Morrode Santo Antônio (1929), a sede da Asso-ciação Brasileira de Imprensa (1936-38),o Aeroporto Santos Dumont (1937-44) ea sede do Instituto de Resseguros do Bra-sil (1941-42), todas no Rio de Janeiro.

Desde o início, no entanto, os irmãos ar-quitetos se destacaram, não apenas pelorigor estético e funcional de seus edifíci-os, mas também pela acurada pesquisatecnológica – sempre inventiva –, queempreendiam para cada projeto que de-senhavam, como se pode observar nassoluções estruturais para o Hangar nº 1

do Santos Dumont (1937), em gigantes-cas treliças pré-moldadas de concretoarmado – importadas da França –, oupara o estande de vendas da empresaSotreq (1934) – revendedora dos tra-tores Caterpillar –, em arcos treliçadosde madeira laminada, com 44 m de vãolivre.

É no estudo dos ‘envelopes’ termo-pro-tetores para as fachadas dos edifícios,

no entanto, que os irmãos Roberto se tor-naram inigualáveis, entre todos os gran-des arquitetos modernistas brasileiros.Enquanto seus colegas limitavam-se àespecificação de brises e outros disposi-tivos convencionais, os Roberto inventa-vam soluções atípicas e criativas.

Desde seu primeiro projeto de importân-cia, o edifício-sede da ABI – objeto deconcurso, que lograram vencer –, a en-tão dupla MM Roberto propunha uma so-lução inusitada para a época, ao apre-sentar um edifício ‘sem janelas’ visíveis,posto que ocultas por uma segunda‘pele’, escamada por quebra-sóis deduralumínio – material, à época, sofisti-cadíssimo –, infelizmente substituídos, na

construção do edifício, por placas de con-creto com 80 cm de profundidade e ape-nas 7 cm de espessura. No prédio doIRB, outra solução inédita: painéis de fa-chada pré-fabricados em madeira e cha-pas de fibrocimento – substituindo a tra-dicional alvenaria de tijolos cerâmicos –,montados nos vãos definidos pelosmódulos estruturais de concreto, em ape-nas 19 dias.

Mas foi no edifício Marquês de Herval,na Avenida Rio Branco, que os arquite-tos ousaram mais: venezianas metálicaspivotantes, fixadas em estruturas tubula-res, conformando uma inusitada sobre-fachada ondulante, de aparência variá-vel, conforme a posição assumida porcada módulo de esquadria.

Solução semelhante foi adotada no Edi-fício Seguradoras, que aqui examinamosem maior detalhe. O terreno de esquina,em ângulo agudo, com duas fachadasprincipais orientadas a sudeste e oeste-sudoeste, representava um desafio e tan-to para os projetistas. À época, o entor-no do edifício era composto por constru-ções baixas ou de média altura, o que

1 - Edifício Seguradoras.

2 - Treliças do Hangar nº 1 do Santos Dumont.

3 - Arcos do estande de vendas da Sotreq.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética8

não premiava a futura edificação comqualquer sombreamento projetado pelasedificações vizinhas, exceto nos pavi-mentos baixos.

Embora não tão castigadas pelo solquanto as elevações norte e oeste, asorientações sudeste e oeste-sudoestesão ingratas e muitas vezes enganado-ras. Situado a 22° 54' de latitude sul, olote em questão tem sua face oeste-su-doeste ensolarada durante todo o verão,a partir das 12:30 horas, inclinando-seos raios para baixo, ao entardecer, o queagrava as dificuldades de proteção tér-mica, sobretudo nos andares altos. Já aorientação SE apresenta o mesmo pro-blema, porém invertido: sol pela manhãdurante todo o verão, do alvorecer até

quase o meio-dia, o que, em edifícios deescritórios é dramático, pois quando aspessoas chegam para trabalhar, por vol-ta de 9 horas da manhã, o edifício já estábastante aquecido – ainda que, com oavançar das horas, se reduza o ângulode incidência do sol nessa fachada.

Diante dessas condicionantes climáticas,optaram os irmãos Roberto por tratar asduas fachadas principais do edifício –sudeste e oeste-sudoeste – de maneiradiferenciada e com os seguintes dispo-sitivos protetores:

Os andares baixos, o embasamento doprédio, pouco ensolarados e provavel-mente sombreados pelas construções vi-zinhas, receberam um duplo tratamento:

na fachada voltada para a Rua Evaristoda Veiga, uma galeria coberta, conformeestabelecido nas posturas derivadas doPlano Agache; já na outra face – voltadapara a Rua Senador Dantas e onde essagaleria não era prevista pelas ordenaçõesurbanísticas –, optaram os projetistas porum recuo das fachadas das lojas, man-tendo-se as vitrines no alinhamento dolote, criando-se, entre ambas, uma ‘ga-leria interna’ – hoje descaracterizada –que trazia os pedestres para ‘dentro’ doedifício. Complementarmente, uma gran-de marquise contínua e balanceada, nes-sa mesma fachada, protegia das intem-péries o acesso principal do prédio.

De outra parte, os andares altos no coro-amento do edifício, mais expostos à inci-

4 - Edifício Marquês de Herval. 5 - Planta de Situação.

6- Plantas baixas do embasamento do edifício: subsolo, térreo e 2º pavimento.

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9Edificações Comerciais

dência solar, também receberam umtratamento diferente do aplicado aos pa-vimentos-tipo, com brises verticais con-tínuos, apenas na fachada oeste-sudo-este.

Já os andares-tipo do corpo intermediá-rio do edifício (3º ao 15º pavimentos) fo-ram objeto de decisões projetuais maisdifíceis, posto que objetivou-se preser-var as vistas da paisagem circundante.Nessa linha de raciocínio, os arquitetosoptaram por envidraçar a fachada sudes-te, com algum prejuízo quanto ao con-forto térmico, em especial no período damanhã dos meses mais quentes: dezem-bro, janeiro e fevereiro, quando o nascer

do sol é quase frontal a essa orientação,atingindo a inclemência máxima no sols-tício de verão (20 a 22 de dezembro, con-forme o ano). Considerando-se, que to-dos esses andares possuíam previsãopara instalação de ar-condicionado cen-tral, e que a vista dali descortinada é atéhoje deslumbrante – incluindo a Cinelân-dia, a enseada da Glória e, ao fundo, oPão de Açúcar –, supomos que os irmãosRoberto confrontaram-se com uma “es-colha de Sofia”, optando por uma solu-ção não de todo satisfatória em termosclimáticos, mas talvez mais aprazível –e, em consequência, comercialmentemais rentável para seus clientes-incorpo-radores. A real motivação para essa es-colha, no entanto, permanece no terre-no das suposições.

É na fachada oeste-sudoeste, no entan-to, que o gênio dos arquitetos se mani-festa com vigor. Ali, a solução projetual

proposta começa com o recuo das es-quadrias com relação à extremidade ba-lanceada dos pisos dos pavimentos; nes-sas lajes abriram-se “janelas horizontais”,providas com venezianas fixas, que per-mitem a circulação vertical do ar quenteenclausurado entre elas, facilitando ochamado “efeito chaminé”; na ponta daslajes, foram montados painéis pivotantessobre o eixo horizontal, vazados em ri-pas de madeira, estruturados com cabosde aço e equipados com um dispositivo“fixador de posições”, de tal forma que,conforme o ângulo de incidência solar,cada quebra-sol pudesse ser ajustadonas posições horizontal, vertical ou incli-nada a 45°.

Decorridos 60 anos de sua concepção,o Edifício Seguradoras se encontra hojebastante descaracterizado. Os dispositi-vos termo-protetores da fachada oeste-sudoeste – hoje sombreados pelos edifí-cios vizinhos, de maior gabarito – foramremovidos e substituídos por aparelhosde ar-condicionado de janela. Constata-se, ainda, que os complexos mecanismosde comando dos painéis, se preservados,exigiriam uma manutenção rigorosa parao seu perfeito funcionamento, o que, infe-lizmente, não costuma ser prática corren-te em nossa cultura. De tal modo que,contratempos semelhantes foram obser-vados no Edifício Marquês de Herval, dosmesmos autores. Neste último caso,sombreada sua fachada oeste-sudoestepelo novo edifício-sede da CEF – cons-truído nos anos 70 –, optaram igualmen-te os condôminos pela retirada dos que-bra-sóis, descaracterizando por comple-to a obra, o que só nos cabe lamentar.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

LIVROSGOODWIN, Philip L. Brazil Builds:Architecture New and Old: 1652-1942.New York: The Museum of Modern Art,1943.MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Mo-derna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeropla-no, 1999 [1ª edição: 1956]; pp. 236-237.XAVIER, Alberto; BRITTO, Alfredo &NOBRE, Ana Luiza. Arquitetura Moder-na no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:RIOARTE, e São Paulo: Pini & Funda-ção Vilanova Artigas, 1991; p. 70.CZAJKOWSKI, Jorge (org.). Guia da Ar-quitetura Moderna no Rio de Janeiro.Rio de Janeiro:Casa da Palavra & PCRJ/ SMU / Centro de Arquitetura e Urba-nismo do Rio de Janeiro & Editora Casada Palavra, 2000; p. 34.

PERIÓDICOS“Shops and real estate offices” in TheArchitectural Forum Magazine of Buil-ding”, vol. 87, nº 5, nov. 1947; p. 112 [1ªversão do projeto; não executada].“Edifice ‘Seguradoras’ a Rio de Janei-ro” in L’Architecture d’Aujourd’hui, nº 42-43, aout 1952; p. 39.“Edifício Seguradoras” in Brasil Arqui-tetura Contemporânea, nº 1, ago./set.1953; pp.23-28.VERONESI, Giulia. “Marcelo e MauriícioRoberto: scioltezza e libertà” in Zodiac,nº 6, abr. 1960; pp. 109-117.

FICHA TÉCNICAEDIFÍCIO SEGURADORASCliente: Sindicato dos Seguradores do Riode Janeiro.Endereço: Rua Senador Dantas 74,Centro, Rio de Janeiro-RJ, esquina comRua Evaristo da Veiga.Projeto de Arquitetura: MMM Roberto(arquitetos Marcelo, Milton & MaurícioRoberto), 1949; última obra de MiltonRoberto, antes de falecer.Mosaicos da fachada e do hall doselevadores: Paulo Werneck.Pavimentos: subsolo (avançando sob agaleria da R. Evaristo da Veiga), térreo esobreloja (recuados, com galeria de duplaaltura), 2º pavimento (balanceado sobre agaleria), 3º ao 15º (pavimentos-tipo), 16º e17º (alinhados com os tipos, mas combrises verticais nas fachadas) e 18º(cobertura recuada).Usos: lojas (subsolo, térreo, sobreloja e 2ºpavimento), escritórios (3º ao 12º, e 14º ao16º), e Clube dos Seguradores e Banquei-ros (13º, 17º e 18º pavimentos).

7 - Plantas baixas dos pavimentos intermediários (corpo do edifício): andares-tipoe 13º pavimento.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética10

CH2

Arquiteto Carlos MurdochArquiteto UFRJ, Professor da Universidade Estácio de Sá – Curso de Arquitetura

Arquiteta Adriana FigueiredoArquiteta Universidade Gama Filho, MA. Sustainability Design – East London University. Professora daUniversidade Estácio de Sá – Curso de Arquitetura

Artigo

Concebido para abrigar a expansão dosescritórios administrativos da prefeiturade Melbourne, Austrália, o edifício CH2(Council House 2) é o melhor e mais bemdocumentado exemplo de arquiteturaverde abaixo da linha do Equador. Idea-lizado com um grande repertório desoluções conhecidas e ainda com espa-ço para experimentação, pesquisa emonitoramento de novos sistemas etecnologias, foi projetado em 2004 porLincolne Scott, do núcleo AdvancedEnvironmental Concepts, do escritórioDesignInc, entrando em operação em2006.

CONTEXTO

A cidade de Melbourne possui um climatemperado oceânico (classificação climá-tica de Köppen), latitude -37° 49', quatroestações bem definidas, enfrentandocongelamento no inverno (raramenteneva) e altas temperaturas no verão. Asmáximas ocorrem no período de dezem-bro a março com picos acima dos 30°C,sendo detentora do recorde de calor emcidades australianas com a marca de46.4°C em 7 de fevereiro de 2009. Adici-onalmente, a cidade se depara com séri-as questões ambientais, notadamentecom a falta de água. Períodos de secausuais e baixo índice pluviométrico sãoacentuados pelas altas temperaturas,

provocando uma defasagem no forneci-mento de água da cidade. Em resposta,foram implementadas medidas com res-trição do uso da água, esquemas de cap-tação de chuva e programas de recicla-gem. A cidade assumiu o compromissode restringir em grande parte suas emis-sões de carbono até o ano de 2020. OCH2 faz parte desse planejamento.

O EDIFÍCIO

Localizado no número 240 da rua LittleCollins, o edifício possui 12.500 m2 dis-tribuídos por 10 pavimentos. O CH2 foiprojetado com a meta de se produzir umedifício saudável tanto no seu uso comotambém na sua relação com o meio ur-bano. Além disso, foram minimizados osimpactos ambientais provocados pelasua construção e pelo curso de sua vidaútil, potencializando todos os recursosnaturais disponíveis, notadamente: a ra-diação solar, o ar fresco noturno, a água,o vento e a chuva. O objetivo de fazerum edifício orgânico (não no sentido tipo-lógico e sim na forma como interage como meio no qual está inserido) resultounuma arquitetura sustentável em relaçãoao meio externo e ao ambiente interno.Sob a ótica urbana, o edifício traz vidaao seu entorno imediato (Little CollinsStreet) através da inserção de novas lo-jas, cafés e conexões de pedestres.

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Resfriamento

Como observado no diagrama, a cidadede Melbourne possui picos de tempera-tura acima da zona de conforto durantesete meses do ano (outubro a abril). Na-turalmente, o resfriamento do edifício foia primeira questão a ser enfrentada.

A estratégia de resfriamento possui qua-tro fases distintas em ciclo de 24 horas.

Fase 1 – 1:00h às 5:00h.

Em Melbourne, a temperatura noturna émuito menor do que a diurna. Neste pe-ríodo o edifício entra no modo “noturno”,no qual as janelas são abertas automati-camente fazendo o ar fresco da madru-gada circular pelo espaço interno, baixan-do a temperatura do ar e resfriando ostetos de concreto (massa térmica).

Fase 2 – 7:00h às 12:00h.

O teto de concreto refrigerado durante operíodo noturno mantém a temperaturainterna em um nível confortável (inérciatérmica). Isto significa uma economia de20% no consumo energético.

Fase 3 – 12:00h às 15:00h.

Utilização das torres de aspersão deágua (shower towers) – resfriamentoevaporativo (evaporative cooling). O arpróximo ao solo é resfriado através daevaporação da água que é despejada datorre 15 metros acima do solo. Este ar éutilizado para resfriar as lojas do níveltérreo. A água resfriada é então reutili-zada para refrigerar milhares de esferasmetálicas contendo um material especi-al (phase change material) que possui a

8 - Gráficos de variação de temperaturaem Melbourne – Dados do aeroporto de

Melbourne extraídos do

9 - Vista interna durante a fase 2.

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11Edificações Comerciais

propriedade de congelar a 15oC. Estasesferas agem como uma bateria de a-cumulação de energia refrigerante, quepor sua vez irão resfriar as vigas e pla-cas de teto que conduzem essa energiaao interior.

Fase 4 – 15:00h às 19:00h.

Utiliza energia convencional para obterrefrigeração.

O TRATAMENTO DOENVELOPE

Cada fachada possui sua própria carac-terística de acordo com a solicitação ex-terna.

Fachada Norte

A fachada norte possui 10 dutos de ar decor escura que absorvem o calor do sol.O ar quente sobe até o topo e para forado edifício. Este sistema é auxiliado porum conjunto de turbinas eólicas na co-

bertura, as quais contribuem no proces-so de resfriamento noturno e geram ener-gia durante o dia. As fenestrações nessafachada são importantes: possuem di-mensões diferentes a cada pavimento,alargando-se à medida que se aproxi-mam do solo (proporcionalmente inver-sa à penetração da luz solar). O sombre-amento das aberturas se realiza atravésde balcões e treliças vegetais.

Fachada Oeste

A fachada oeste é protegida por brisesmóveis de madeira reciclada. Sua aber-tura é regulada de modo automático einterativo de acordo com a luminosidadee temperatura do momento. A energiapara a movimentação dos brises é for-necida por painéis fotovoltaicos localiza-dos no topo do edifício.

11 - Vista interna durante a fase 3.

10 - Vista das shower towers.

12 - Esquema da fachada norte.

14 - No detalhe, balcões e treliçasvegetais

13 - Vista da fachada norte.

16 - Vista da fachada oeste.

15 - Esquema da fachada oeste.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética12

Fachada Leste

Varandas revestidas por placas de metalperfurado sombreiam a fachada leste,permitindo a ventilação natural dos sani-tários e ocultando o núcleo de serviçosdo edifício (incluindo os elevadores).

Fachada Sul

Inversamente à fachada norte, a facha-da sul utiliza cores claras para refletir a

radiação. Os dutos em cores claras con-duzem o ar fresco do teto e o distribuempelos pavimentos (ar quente sobe/ar friodesce). A seção desses dutos é maior notopo e menor na base. Isso se dá porqueno topo deve alimentar todos os pisos evai diminuindo conforme a vazão tambémdiminui (similar a dutos tradicionais de ar-condicionado). A estratégia de aberturas(fenestrações) é similar à da fachada nor-te. As torres aspersoras (shower towers)jorram água sobre as marquises de vi-dro (térreo) localizadas nesta fachada. Aevaporação é capaz de resfriar o ar dasimediações a 21oC (partindo de uma tem-peratura de 35oC ) e a água a 12oC.

Iluminação

Como observado, as fachadas possuempropriedades de filtragem da luz natural.Os brises automáticos regulam o equilí-brio de luminosidade e calor e os balcõese vegetação da fachada norte auxiliamno processo de absorção de luz externa.

Análise de entrada da luz natural no am-biente através de simulação pelo soft-

ware Radiance resultou no corretodimensionamento das aberturas.

Por sua largura, a planta tipo do edifício(lâmina) demanda um uso considerávelde luz artificial. A luz natural do períme-tro foi projetada para ser compensada porluz artificial quando necessário (dias nu-blados), comandada por sensores foto-sensíveis.

Uma iluminação geral é utilizada na mai-or parte da área ocupada, sendo com-plementada por luzes de tarefa individu-ais. Cada espaço é iluminado especifi-camente para a tarefa a ser realizada. Aluminância média no ambiente é de 150lux. As luzes de tarefa possuem 320 luxe em nenhum ponto do escritório se ul-trapassa o nível de 400 lux, o que é per-tinente uma vez que a predominância dosocupantes utiliza computadores em seutrabalho. Luz indireta é largamente utili-zada, sendo potencializada pela distribui-ção luminosa proporcionada pela formaondulada do teto.

Cogeração

A cogeração consiste no aproveitamen-to local do calor residual originado nosprocessos termodinâmicos de geraçãode energia elétrica.

O CH2 produz uma parte da eletricidadeque consome através de uma pequenacentral de cogeração a gás combinada(Combined Heat & Power – CHP).

Para reduzir as emissões de carbono eo efeito estufa, se utiliza gás natural comofonte combustível do gerador. Adicional-

17 - Esquema da fachada leste.

18 - Vista da fachada leste.

19 - Esquema da fachada sul.

20 - Vista da fachada sul.

21 - Bandejas de luz refletem a luzexterna de forma difusa para o interior.

22 - Iluminação geral.

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13Edificações Comerciais

mente, o gás funciona como reserva deenergia para o uso emergencial das fun-ções críticas do edifício (elevadores e lu-zes de emergência) em caso de falha dofornecimento externo.

Lógica de Layout

A localização das funções internas fazparte da estratégia de conservação deenergia. Observa-se na planta uma hie-rarquia de ocupação:

- Serviços (elevadores, escadas, banhei-ros e etc. – locais de pouca permanên-cia) estão localizados nas fachadas les-te e oeste, as mais castigadas pela radi-ação. Atuam como zonas de proteçãotérmica à área de trabalho;

- Área de trabalho principal (maior per-manência) se encontra no miolo, junto àfachada norte, onde se obtém a melhoriluminação natural e;

- Áreas de apoio (menor permanência)localizadas junto à fachada sul – menorluminosidade.

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Os sistemas de energia do edifício con-sistem na combinação de células foto-voltaicas, uma usina de cogeração e tur-binas eólicas no topo do edifício. Adicio-nalmente, seu projeto minimiza o uso deeletricidade na iluminação, na refrigera-ção e no aquecimento de água (aquece-dores solares). Consome 373.012 kWhde eletricidade e 65.963k Wh de gás anu-almente. Comparado ao CH1 (CouncilBuilding original - 1970), são obtidos osseguintes resultados:

Consumo de energia – economia de 82%.

Consumo de gás – - economia de 87%.

Consumo de água – economia de 72%.

Como efeito colateral, observou-se umincremento de produtividade da equipena ordem de 5% como resultado de am-biente de trabalho saudável – ar limpo eacabamentos não tóxicos.

O custo-benefício

Os custos de desenvolvimento e implan-tação do projeto CH2 ultrapassaram em25% ao valor equivalente em edifícios co-merciais tradicionais. A um custo base deU$AUS 50 mi (dólares australianos), fo-ram investidos U$AUS 11,8 mi nas es-tratégias de sustentabilidade (20% dovalor total). A taxa de retorno desse in-vestimento é da ordem de 10 anos. Umótimo prognóstico para um edifício comum ciclo de vida de pelo menos 50 anos.

Sustentabilidade Holística

Água – O CH2 recicla toda a sua água eainda é negativo em termos de sua po-luição. Uma estação de tratamento de es-gotos (ETE) drena 100.000 litros de águado sistema de esgotos municipal e tam-bém toda a água cinza e negra produzi-da no edifício. Um sistema de micro-filtragem gera um elevado nível de pure-za na água reciclada, tornado-a apta aqualquer tipo de uso (exceto ingestão):refrigeração, irrigação, higiene pessoal edescarga. O excesso é utilizado em ou-tros edifícios municipais, parques e fon-tes. Dessa forma, o edifício excede suasnecessidades e auxilia na melhoria daqualidade da água nas cidades.

Transporte – É incentivado o uso de bici-cletas aos que trabalham ou visitam oCH2. A garagem subterrânea possui ape-nas 20 vagas para automóveis contra 80para bicicletas e nove chuveiros para osciclistas.

Lições do CH2

Observa-se que não existe um caminhoúnico na busca de eficiência energéticana arquitetura, ou sob uma ótica mais am-pla, na procura da sustentabilidade. Abase de tudo reside na capacidade e von-tade de arquitetos e engenheiros emreciclarem seus conhecimentos e que-brarem seus próprios paradigmas inter-nos. No século XXI, não existirá o “proje-to pronto” ou “de gaveta”. Cada caso éum caso, cada sítio um desafio. O edifí-cio deixa de ser visto como um objetoestático, passando a ser encarado comoum organismo vivo, capaz de interagircom o meio ambiente. Os custos devemser analisados pela vida útil do edifício enão apenas em seu processo construti-vo. O bom projeto será revalorizado. Nãoapenas o edifício deve ser inteligente. Oconceito inicial passa a ser o item maisimportante do processo em detrimento deequipamentos e especificações.

As condições do CH2 reproduzem con-dições mercadológicas normais, não ha-vendo espaço para jogos volumétricosexcessivos ou implantações alternativasque pudessem favorecer o menor impac-to da radiação solar. O edifício é o queé... : uma caixa habitada que ocupa todaa área disponível com todas as suas li-mitações dimensionais, insolação e am-plitude térmica do sítio. Sua estratégiade projeto enfrenta todas as dificuldadesde modo criativo e diferenciado. Cadadetalhe é analisado e estudado de formamultidisciplinar. A simulação computacio-nal passa a ser um dos principais alia-dos dessa arquitetura, embasando a mai-or parte das decisões de projeto e per-manentemente incorporada ao processoarquitetônico. Muitas das estratégias aquiapresentadas dependem apenas do ar-quiteto, sendo independente de custosexcessivos ou equipamentos de últimageração.

As bases para uma melhor arquiteturaestão à nossa disposição. A tecnologiaavança a passos largos, ao mesmo tem-po em que a economia de escala popu-lariza equipamentos mais eficientesenergeticamente. As simulações compu-tacionais estão cada vez mais precisas.Porém, a maior ferramenta talvez seja asimples observação do nosso própriocorpo e dos sistemas da natureza.23 - A distribuição interna do pavimento.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética14

EDIFICIOS COMERCIAIS

Marco MilazzoArquiteto e Mestre em Conforto Ambiental e Eficiência Energética e Professor da Universidade Estácio de Sá

Boas Práticas

As edificações comerciais têm recebidomuitas críticas pela falta de soluçõesadequadas em relação à eficiênciaenergética, principalmente no Brasil,adotando na sua maioria, uma estéticaimportada de outros países, de clima di-ferente do nosso. É também comum emmuitas edificações a falta de estudos eprojetos eficientes de iluminação e equi-pamentos mecânicos da edificação.

Da mesma forma que nas edificaçõesresidenciais, os empreendedores estãoprincipalmente preocupados com o cus-to de construção, e não com o gastoenergético da edificação após a sua ocu-pação. Encontramos algumas exceçõesquando o responsável pela contrataçãodo arquiteto e da construtora é o própriofuturo usuário da edificação.

Os exemplos apresentados neste artigoforam selecionados por apresentarem al-gum diferencial em relação à grandemaioria das edificações comerciais bra-sileiras atuais.

EDIFÍCIO HARMONIA, EMSÃO PAULO, TRIPTYQUEARQUITETOS

Mais do que somente a utilização deboas práticas, o edifício comercial emSão Paulo, projetado pelos arquitetos daTriptyque, possui uma forte concei-tualização. A ideia foi criar uma edificaçãocomo um organismo vivo, que respira,que não envelhece, pois está em cons-tante mudança. Para isso, as fachadassão revestidas de diversas espécies ve-getais, implantadas em espessas pare-des. O terreno onde o Edifício Harmoniafoi implantado, não permitia muita flexi-bilidade, obrigando a edificação a ser ori-entada no sentido nordeste - sudoeste.Mas essa orientação não foi fator impe-ditivo para que não houvesse uma boailuminação natural e ao mesmo tempouma proteção da insolação direta. Suavolumetria é bastante simples e marcan-te: dois grandes blocos conectados poruma passarela metálica e recortados por

janelas e terraços de concreto e vidro.Entre os blocos, uma praça interna seabre e serve como local comunitário, deencontros e trocas.

Os terraços estão dispersos em cada pa-vimento, criando assim um jogo de chei-os e vazios no exterior além de alter-nâncias de iluminação e transparência

nos ambientes internos. O bloco frontalé todo suspenso sobre pilotis, onde es-tão localizados o acesso principal no tér-reo e mais dois pavimentos para dois

escritórios. As janelas frontais são prote-gidas por painéis de madeira móveis. Obloco ao fundo é um maciço com trêspavimentos com um escritório em cada,complementado por um estúdio na suacobertura, volume que se assemelha auma casa de pássaros.

Na cobertura dos blocos também foi uti-lizada muita vegetação, formada por umacamada de argila expandida, bidim, en-tulho limpo de metal, madeira, plástico eterra e uma camada de terra. Devido aessa composição, as águas de chuvacaptadas pela cobertura já são parcial-mente filtradas para posterior redirecio-namento para cisternas e reutilização. Oresultado desse conjunto de cobertura efachadas verdes reduz os efeitos do ca-lor excessivo, tanto para o interior daedificação, quanto para a cidade, filtra aágua de chuva e reduz o ruído urbano.

Para ajudar a manter a vitalidade dasplantas ao longo do ano, algumas bor-rifações são feitas com um adubo orgâ-

24 - Vista geral da volumetria do edifício.

25 - Vista da praça interna.

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15Edificações Comerciais

nico líquido dentro do próprio sistema deirrigação. A irrigação de tantas espéciesvegetais é baseada na utilização de umsistema de alta pressão e baixa vazãoque permite uma grande economia deágua. Ele é composto por nebulizadoresdistribuídos em tubulações de PVC emdois setores verticais – duas fachadas –e sistema de sprays escamoteáveis parairrigação de dois setores horizontais, ostetos verdes. A água borrifada pe-losmicroaspersores forma uma névoa úmi-da que confere um caráter ainda mais in-trigante ao edifício. O sistema é pres-surizado por um conjunto motobombaque também ajuda a manter a vitalidadedas plantas ao longo do ano, pois possi-bilita a injeção de fertilizantes líquidosoriundos de um reservatório especial. Ogerenciamento é totalmente automatiza-do por um controlador eletrônico onde se

programam otempo e a fre-qüência de irrigação, além de dispor deum sensor de chuva regulado para desli-gar a programação de irrigação a partirde determinada faixa de precipitação.

Mercado Público deBlumenau

O projeto vencedor do concurso nacio-nal para o Mercado Público de Blume-nau, em Santa Catarina, teve como prin-cipais diretivas a simplicidade e a aces-sibilidade, a integração com o entorno ecom a cultura da cidade, e as condicio-nantes ambientais.

O projeto será implantado onde hojeacontece a feira livre da cidade, um ter-

reno quase quadrado, contornado portrês ruas, um espaço estratégico, juntoao complexo da Vila Germânica (ondeocorre a Oktoberfest), ao Parque RamiroRuediger e ao Ginásio de EsportesGalegão. Essa necessidade de integra-ção a esse complexo turístico e culturalexigiu um projeto completamente conec-tado com seu entorno, como descrevemos arquitetos: “ É permeável por suasamplas aberturas que favorecem o aces-so físico e visual. Pode ser usado comopassagem e também como abrigo noscaracterísticos dias quentes deBlumenau.”

As necessidades funcionais solicitadaspara o mercado e as limitações de gaba-rito impostas pela legislação da cidade,contribuíram para a criação de uma edifi-cação formada por um grande bloco a-

companhando as proporções do terreno,mas levemente inclinado, se abrindo paraas orientações nordeste, sudeste e sudo-este. Na parte noroeste do terreno, na di-visa com outras edificações, um bloco maisfechado abriga as funções de serviço.

Preocupados em desenvolver um empre-endimento de alto desempenho ambien-tal, os arquitetos utilizaram diretrizes decertificação para guiá-los nas soluçõesadotadas no projeto, como o uso de ma-teriais construtivos de menor impacto,aproveitamento da ventilação natural ereuso da água de chuvas.

Um dos principais conceitos adotados noprojeto foi a tentativa de representar as

26 - Painéis de madeira da fachada frontal.

27 - Irrigação proporcionada pelas tubulaçõesinstaladas nas fachadas.

28 - Esquema Hidráulico da Edifício.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética16

características da cultura local. Os arqui-tetos encontraram nos jardins a tradiçãoda cidade. Segundo eles: “os jardins dasruas e das casas de Blumenau demons-tram de forma delicada toda potenciali-dade desse povo, um povo que cuida desua cidade, que tem orgulho de suas ruase de seus jardins floridos”. Assim, umagrande área das três fachadas principais

é constituída de painéis de madeira, ondesão implantadas diversas flores caracte-rísticas da região. Esses painéis prote-gem parcialmente o interior do mercadoda entrada da insolação direta.

Os acessos são feitos por grandes por-tas pivotantes que percorrem quase todoperímetro da edificação. As portas, ao seabrirem, criam uma grande marquise queprotege os pedestres da chuva e do sol.A cobertura de telhas metálicas é estru-turada por uma treliça espacial, comgrandes projeções de beirais, que som-breiam a parte superior das fachadas,

onde não há mais os painéis de madei-ra, e é por onde a maior parte da ventila-

ção e iluminação natural penetram nointerior. Na cobertura, serão instaladospainéis para aquecimento de água, utili-zada nos vestiários e nas cozinhas, eserá deixada a previsão para que futura-mente possam ser instalados painéisfotovoltaicos.

As soluções escolhidas para os materi-ais construtivos mostram a preocupaçãodos arquitetos nesse aspecto: a estrutu-ra metálica da cobertura do pavilhão atualda feira será reutilizada nas novas facha-das, e o restante do material da demoli-ção será doado. Os brises das fachadas

serão de lâminas de madeira certificadaprovenientes do Paraná. O bloco de ser-viços será construído com tijolos cerâmi-cos auto-portantes produzidos na região,a menos de 100 km. O piso será de con-creto polido a partir de laje zero, ou seja,não receberá contra-piso e nem piso ce-râmico. Toda a estrutura será de concre-to aparente, economizando mão de obrae material. A estrutura da cobertura seráde treliça espacial com telhas zipadastermo-acústicas brancas. Nenhuma su-perfície externa do Mercado será pinta-da e as superfícies internas receberãopintura com tinta a base de água branca.

A água da chuva será captada e tratadanuma estação instalada no subsolo, jun-

tamente com o estacionamento de veí-culos. Também está prevista a infiltraçãodireta da água nos jardins. Estas medi-das servem, além de uma economia deágua, também como estratégia de con-trole da quantidade e qualidade da águatorrencial e mostra-se indispensável, prin-cipalmente após o evento que causou ascheias e os deslizamentos em Blumenaue região no fim do ano de 2008. Após otratamento, a água da chuva e a águaservida serão reutilizadas nos vasos sa-nitários, a água da chuva será tambémutilizada na lavagem diária dos pisos dafeira, atividade que consome um grande

29 - Vista geral da edificação.

30 - Detalhe da fachada com as flores. 31 - Pavimento Térreo.

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volume de água. Todos os equipamen-tos hidráulicos contarão com limitador devazão, temporizadores para liberar ape-nas a água necessária e modelos queconsideram o menor consumo de águapossível para seu funcionamento. A ve-getação utilizada no tratamento paisagís-tico será nativa e rústica de forma quedemande pouca utilização de água.

PRIMAVERA GREEN OFFICE

Projetado para incorporar conceitos desustentabilidade e alta tecnologia, o Pri-mavera Green Office é um edifício desti-nado ao multiuso administrativo, dirigidoa empresas corporativas que têm comoobjetivo passar a imagem de estar emharmonia com o contexto urbano e o na-tural, com o objetivo de minimizar o im-pacto resultante da sua implantação.

Localizado às margens da rodovia SC401, na Ilha de Florianópolis, Santa Cata-rina, importante via de acesso ao norteturístico, o edifício de escritórios tiroupartido do entorno arborizado e da suaproximidade com a mata nativa. A solu-ção adotada pela MOS Arquitetos Asso-ciados que atendesse os objetivos pre-vistos, resultou numa proposta horizon-tal com 10.000 m2 de área útil, organiza-do em um bloco retangular, distribuídosem um térreo, mezanino, dois andares eum subsolo de garagens para 160 car-ros. A proporção predominantemente li-near permite uma densidade maior parausuários que precisem funcionar em ummesmo pavimento. Dentre as estraté-gias bioclimáticas definidas para a cida-de de Florianópolis, foram adotadas a

ventilação natural com sombreamento noverão e o uso de inércia térmica com a-quecimento solar passivo no inverno.

32 - Esquema de ventilação.

33 - Esquema de balanço de calor..

34 - Vista aérea da edificação.

35 - Esquemas do Aploux.

A entrada principal se dá no térreo atra-vés de uma marquise na fachada nordes-te, que conduz ao átrio de acesso emuma espécie de vestíbulo que corta oprédio na sua metade no sentido do eixonordeste-sudoeste. O pé direito triplodesse átrio/vestíbulo cria um espaço in-terno que funciona como ponto centralde distribuição das circulações horizon-tal e vertical para todo o prédio.

O projeto possui um outro eixo de desta-que ortogonal no sentido nordeste-sudes-te ao longo de todo comprimento daedificação, manifestando-se como umgrande vazio de 3 metros de largura, emtodos os andares. Essa abertura foi ado-tada para permitir o acesso de luz natu-ral zenital, dividindo a planta baixa emduas partes, e possibilitando alcançar osíndices luminotécnicos adequados, aomesmo tempo em que permite a ventila-

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética18

ção por termo-sifão. A iluminação natu-ral ainda é reforçada com a utilização delight shelfs. Sobre este eixo se situam ostrês núcleos de serviço, um localizado nocentro da edificação e os outros dois nassuas extremidades. Estes núcleos con-têm banheiros, escadas e salas de con-trole.

Todos os ambientes destinados a escri-tórios são panorâmicos, dinamizando asrelações internas e externas de modo apossibilitar uma flexibilidade de layout,adaptando-se às variações solicitadaspelo mercado imobiliário. Para isso, foiproposto um sistema estrutural protendi-do, enquadrado em uma grelha demódulos variáveis que permitiu solucio-nar todas as tipologias sobrepostas semtransições.

As proteções das fachadas atuam comouma pele que permite a visibilidade ex-terna, e a entrada de iluminação natural,mas com diminuição da entrada do soldiretamente. Atuando também na redu-ção da absorção de calor, foi estudada autilização em parte da cobertura de umterraço jardim, que atua como área deexpansão ou descompressão para os

usuários, além de colaborar com as con-dições ecológicas, garantindo uma bai-xa emissividade, isolamento térmico e aretenção pluvial. A edificação utiliza ma-teriais de baixo impacto e de forte expres-são arquitetônica, que denote a culturado local, como o tijolo, a cerâmica, a ma-deira certificada e materiais reciclados.

A instalação de um piso elevado permitea flexibilidade e a locação de cabeamen-to estruturado, tubulações, sistema PECe o condicionamento de ar, alimentadopor uma rede de água gelada, que espa-lhada pelo prédio e suspensa nas lajesinsufla o ar por saídas reguláveis.

O critério de um uso racional da águatambém é parte integrante do projetocomo um todo. A linguagem arquitetô-nica se expressa através de uma cobertu-ra metálica através da qual se faz a cap-tação da água, a qual é conduzida a seurespectivo tratamento para ser usada noprédio, garantindo-se com isso e com oreuso de águas cinzas uma independên-cia do sistema de água municipal.

Além do descrito, agregam-se diversossistemas técnicos que atendem às vári-

as solicitações de uso controlado por umacentral computadorizada para lograr umamaior harmonia entre os usos como omenor consumo de energia.

CONCLUSÃO

Os projetos selecionados representamexemplos de edificações comerciais comcaracterísticas muito diversas, principal-mente em relação a sua escala, funçãoe perfil de usuário. O Edifício Harmoniapossui apenas seis ambientes indepen-dentes, com áreas em torno de 120m2

cada, mas com espaços de alta qualida-de. No mercado de Blumenau, encontra-mos um uso mais “popular”, onde umaquantidade grande de profissionais podeocupar um dos diversos pequenos espa-ços disponíveis. No Primavera GreenOffice, temos pavimentos corridos, comuma infraestrutura muito completa, comum perfil para grandes empresas, queocupem vastas áreas. Podemos corre-lacionar essas características às solu-ções adotadas em relação à eficiênciaenergética de cada edificação.

As soluções adotadas no Edifício Harmo-nia demandam um custo de implantaçãoe de manutenção maiores, principalmen-te quando comparados à área útil dos es-critórios, dando importância às soluçõesestéticas e a qualidade dos espaços, va-lorizando o empreendimento e investin-do em uma arquitetura inovadora e dife-renciada. No mercado de Blumenau, assoluções são mais simples e abrangen-tes. Por não haver condicionamento dear artificial, a ventilação natural é maisutilizada e o ambiente principal do mer-cado apresenta pé-direito bem elevado.No projeto do Primavera Green Office,houve um investimento maior para alcan-çar o máximo de eficiência energética,através da contratação de profissionaisespecialistas, na utilização de softwaresde simulação e na adoção do máximo desoluções necessárias. Porém, este inves-timento se justifica pelo padrão e escalada edificação.

É possível notar que a prática de umaarquitetura eficiente pode e deve ser apli-cada para qualquer tipo de projeto. En-tretanto, os projetistas devem ter a capa-cidade de saber quando e como aplicaras técnicas e os materiais mais adequa-dos às necessidades de cada edificação.

36 - Planta Baixa do Atiço.

37 - Corte esquemático.

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19Edificações Comerciais

CASE DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA: CANDELÁRIACORPORATE – RJ

Ana Lucia Torres Seroa da MottaPh.D., M.Sc., Arquiteta, Professora da niversidade Federal Fluminense (UFF).

Denílson França MoreiraAdministrador, Gestor em Comércio Exterior, Mestrando em Engenharia Civil – UFF.

Boas Práticas

INTRODUÇÃO

As iniciativas do Programa Nacionalde Conservação de Energia Elétrica (Pro-cel)/Eletrobrás, reforçadas pelos financi-amentos do BIRD e GEF e a atuação doConselho Nacional de Políticas Energé-tica (CNPE) aumentaram o poder de atu-ação na implantação de políticas efica-zes de eficiência energética.

No setor comercial e de serviços, obser-vam-se diversas medidas eficazes paraa conservação de energia elétrica, princi-palmente da energia consumida pelosedifícios comerciais. Dentre as mais uti-lizadas, destaca-se a utilização de siste-mas de controles prediais. Eles têm tra-zido maior eficiência e conforto aos usu-ários, permitindo uma participação maisativa quando adotam medidas de conser-vação de energia.

Este artigo descreve os resultados da im-plantação de uma gestão ambiental comfoco na eficiência energética para o edi-fício Candelária Corporate – RJ. O pré-

dio tem seu projeto construtivo assinadopela empresa S&W Arquitetos Associa-dos. Com 12 anos de funcionamento, oprédio tem um projeto construtivo ba-seado no conceito de prédio inteligente.Possui um sistema automatizado paragerenciamento dos sistemas de: refrige-ração, hidráulico, prevenção de incêndio,iluminação e controle de acesso de visi-tantes aos elevadores. É gerido a partirde uma central de controle a qual, com autilização dos softwares apropriados,monitora todos os sistemas de forma in-tegrada.

O edifício foi concebido adotando-se atipologia padrão empregada na constru-ção de prédios comerciais durante as ul-timas décadas. Nele se utilizou grandequantidade de transparência nas facha-das. O prédio é composto de dois pisosno subsolo onde se localizam as gara-gens. No pavimento térreo, encontra-seo hall social, com pé direito de 5,30 m,onde estão localizados os acessos aoselevadores. Acima deste, encontram-se24 andares projetados no estilo OpenOffice e destinados às atividades comer-ciais. Possui 22.450m² de área construí-da distribuídas em seus pavimentos tipo,térreo e garagens. Trata-se de um empre-endimento que abriga atualmente em-presas locatárias do segmento estatal eprivado, com aproximadamente 1.500 re-sidentes/dia.

Suas fachadas são adornadas com pai-néis revestidos de Mármore CarraraBranco e Granito Capão-Bonito totalizan-do 2.200 m2 de material opaco aplicadosobre panos de alvenaria e concreto,minimizando a incidência direta da radia-ção solar (foto 38). O prédio possui 2.200janelas recobertas com esquadrias Cur-tain Wall em alumínio anodizado na corgrafite. Os vidros, num total de 4.780 m2

possuem um tratamento para isolamen-to termo-acústico o qual aumenta a re-flexão, sendo espelhados na cor azul erosa. Embora utilizando um vidro espe-cial capaz de minimizar a incidência so-lar diurna, não é uma solução arquitetô-nica recomendada para climas quentes.Possui ainda uma empena (lateral) empanos de alvenaria com revestimentocamurçado e pintura acrílica.

GESTÃO PARA A EFICIÊNCIAENERGÉTICA

A eficiência energética advém de váriosaspectos: um projeto arquitetônico queconsidere as características climáticas doentorno e no terreno, a escolha de ele-mentos construtivos adequados, a parti-cipação efetiva do usuário assim comouma gestão ambiental durante seu uso eocupação. Conforme relata Lamberts, éde vital importância a participação de umgrupo multidisciplinar com o objetivo deobter um bom desempenho energéticoao longo da vida útil do prédio. A gestãoambiental compreende o controle de gas-tos com água, energia, operação dos e-quipamentos, etc., sempre mantendo aqualidade e a eficiência dos espaços. Nocaso do edifício Candelária Corporate, osprincipais focos da gestão estiveram nospontos descritos a seguir.

Conforme relata Pinheiro, a administra-ção traçou metas para economizar aenergia elétrica e a água durante o anode 2009. Em 2007/2008, a partir de umagestão integrada foi possível uma redu-ção no consumo de energia elétrica de28.000kw/ mês, representando uma eco-nomia de 9% no consumo total anual.

As fachadas permitem a entrada de gran-de quantidade de energia térmica e lumí-nica em face de sua tipologia e localiza-

38 - Fachadas.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética20

39 - Corte.

ção. Tal fato, faz com que o prédio res-ponda rapidamente aos aumentos natemperatura externa. Isto fica evidencia-do nos picos de consumo registrados nosmeses de novembro e dezembro de2008. Neste período, a alta da tempera-tura atmosférica exigiu maior desempe-nho das unidades de refrigeração.

MEDIDAS ADOTADAS

Durante o ano de 2007 e 2008, foramexecutadas pelo gestor responsável, di-versas melhorias no edifício CandeláriaCorporate com foco na conservação deenergia e na diminuição dos custos ope-racionais do prédio. Por estar conscien-te do Programa Nacional de Conserva-ção de Energia Elétrica, Pinheiro execu-tou programas em sua gestão que sinto-nizam com a filosofia do “pensar global-mente, agir pontualmente”.

Dentre as ações promovidas destacam-se as que seguem:

Sistema de iluminação

A primeira medida implementada foi a ins-talação de sensores de presença nas es-cadas de incêndio e a substituição daslâmpadas incandescentes existentes porlâmpadas fluorescentes econômicas, quepassaram a ser acionadas somentequando alguém adentra as áreas de es-cape.

Nas garagens e no hall de entrada, hou-ve adequação do nível de iluminação, emconformidade com a NBR 5413, com a

substituição das lâmpadas existentes poroutras mais eficientes.

Nos corredores de acesso aos elevado-res dos 24 andares, durante o períodonoturno, em função da baixa utilização,reduziu-se em 50% a intensidade da ilu-minação. Em ambos os casos, as lâm-padas antes permaneciam acesas 24 ho-ras. A iluminação atual dos corredores deacesso nos pavimentos tipo é compostade 25 lâmpadas dicróicas de 50W distri-buídas no forro tipo colméia. Está emestudo substituí-las por um sistema com-posto de lâmpadas fabricadas com dio-dos emissores de luz (LED).

Sistema de refrigeração

O prédio, devido aos materiais que com-põem suas fachadas, apresenta umagrande demanda no sistema de refrige-ração. A carga térmica é aumentada emface de sua implantação no terreno e dosmateriais construtivos empregados. Noinicio da década de 90, quando foi conce-bido, ainda não havia uma conscientiza-

ção da importância do consumo total deenergia durante a operação do prédio.

O sistema de refrigeração atual é com-posto de dois chillers com capacidade de200 toneladas de refrigeração (Tr), umacentral de água gelada que através determo-acumulação totaliza 670 Trs e 74fan coils distribuídos pelos pavimentostipo. Este sistema de refrigeração, antesda gestão ambiental, possuía motoressem controle de velocidade e de torque.Estes motores foram corrigidos, poisdemandavam maior quantidade de ener-gia para o seu funcionamento. Para redu-zir o consumo de energia, foram insta-lados os inversores de frequência queatuam de forma integrada. Eles permi-tem alterar, dentre outras variáveis, afrequência de alimentação de determina-da carga elétrica, numa faixa de varia-ção entre 1,5 até 400 Hz. Os inversoresajustam a frequência de motores elétri-cos de modo a se ter rendimentos próxi-mos ao nominal, isto é, rendimento domotor para a condição de 100% da car-ga nominal (EBERLE, 1997). O ajuste defrequência garante um fator de potênciasuperior a 92%, quaisquer que sejam assolicitações, evitando os picos de con-sumo e melhorando o desempenho dosequipamentos.

Para permitir um controle de temperatu-ra por setor, foram instalados sensoresque monitoram as temperaturas em di-versos pontos de cada um dos andaresmantendo o padrão sugerido pelas nor-mas brasileiras. Elas sugerem uma tem-peratura máxima de 23,4 a 24o C, comosuficientes para garantir o conforto tér-mico de seus usuários. Através da salade controle e da utilização do sistemaautomatizado, pode-se ligar e desligar oschillers. Assim como também é possívelcontrolar o insuflamento de ar nos fancoils. Com o monitoramento, verificou-seque o sistema de refrigeração apresentasinais de ineficiência em face da deman-da da carga térmica e do seu tempo devida útil. A gestão estuda a viabilidadetécnico-financeira de um novo redimen-sionamento que inclui substituir as uni-dades existentes por unidades mais efi-cientes e compactas.

Operação dos elevadores

O prédio possui duas colunas de eleva-dores com quatro unidades por coluna.O primeiro conjunto atende usuários dosubsolo ao 11o andar. O segundo con-40 - Planta Baixa do pavimento tipo.

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21Edificações Comerciais

junto atende aos usuários do 12o ao 24o

pavimento. O funcionamento dos eleva-dores possui um sistema de automaçãoe monitoramento integrado. Inicialmen-te, todos os oito elevadores funcionavamininterruptamente tanto durante o diaquanto à noite. Para melhor gerenciar oconsumo energético, no período notur-no, adotou-se o procedimento de desli-gar seis elevadores. Apenas um eleva-dor por coluna transporta os usuários.

No período diurno os elevadores possu-em um sistema inteligente que permiteatender chamadas de acordo com umaprogramação. Este sistema evita o en-vio de mais de um carro por chamada.Outra característica do sistema é desli-gar os motores e a iluminação interna evi-tando o consumo de energia quando oselevadores não estão em operação.

CONCLUSÃO

Embora não tenha sido projetado com oobjetivo especifico de economizar ener-gia, uma gestão atenta e eficiente, quemonitora os vários tipos de uso de ener-gia, pode reduzir o total consumido signi-ficativamente. Programas de gestão queincluem a participação do usuário juntoà administração são considerados de-terminantes para a redução desse con-sumo.

Os sistemas de monitoramento permitemum controle individualizado não somen-te das fontes de consumo de energia,mas também do consumo de água, ma-

41- Mapa das Zonas Bioclimáticas

Zona 8: Rio de Janeiro– RJ Candelária CorporateAberturas grandes para ventilação e com sombreamento.- Paredes externas e cobertura leves e refletoras. Coberturas com telhade barro sem forro poderão ser aceitas, desde que as telhas não sejampintadas ou esmaltadas. Também serão aceitas coberturas comtransmitâncias térmicas acima dos valores tabelados, desde queatendam às seguintes exigências: contenham aberturas para ventilaçãoem, no mínimo, dois beirais opostos; e as aberturas para ventilaçãoocupem toda a extensão das fachadas respectivas.- Nestes casos, em função da altura total para ventilação; e no verãodeve adotar ventilação cruzada permanente.Zona 3: São Paulo – SP Edifício Harmonia

Florianópolis – SC Primavera Office GreenBlumenau – SC Mercado Público

Aberturas médias para ventilação e sombreamento de maneira quepermita o sol durante o inverno.- Paredes externas leves e refletoras e cobertura leve e isolada- No verão deve adotar ventilação cruzada como estratégias decondicionamento térmico passivo; e no inverno aquecimento solar naedificação e vedação interna pesada – inércia térmica.

ReferênciasPINHEIRO, Julieta. Entrevista com agerente predial em 14 de abril de 2009.Jornal Informe-se Candelária, Ano VIn.30, Março/Abril 2009.ABNT (1991), NBR 5413 Iluminânciade interiores procedimento. AssociaçãoBrasileira de Normas Técnicas. Rio deJaneiro. P 13.EBERLE. Inversores de uso geral –otimizados para a economia de ener-gia. Caxias do Sul; 15p. 1997. 37LAMBERTS R., Dutra L., Pereira F. Efi-ciência energética na arquitetura, SãoPaulo 1997.Programa Nacional de Conservaçãode Energia Elétrica (Procel), disponí-vel http://www.eletrobras.com/elb/procel/mainFicha Técnica do projetoArquiteto: S&W Arquitetos Associa-dos. Av. Mal. Henrique Lott, 120 gr.201/202 Tel.: (21)3325-6522/ 3325-4364 Barra da Tijuca - RJ - http://www.sewarquitetos.com.br/)Cliente: Previ Caixa de Previdênciados Funcionários do Banco do BrasilDenominação da obra: Ed. Candelá-ria Corporate.Construtora: A.C. Lobato S/A.Rua Visconde de Inhaúma 51/53 ouRua da Candelária n. 65, CEP 20091-906, Centro, Rio de Janeiro.Área construída total: 22.451,91m2

Data do projeto: julho de 1995Data de inauguração: 01 de novem-bro de 1996.

nejo do lixo, entre outros. Quando se falaem economia de energia não é suficien-te uma boa idéia. Ser capaz de fiscalizaro processo continuamente faz a diferen-ça no resultado final. É preciso ter emmente que o processo de execução docontrole de consumo energético é um dosmaiores problemas a serem enfrentados.Neste edifício já se reduziu cerca de 9%do consumo total de energia com a im-plantação das medidas descritas acimae uma gestão atenta.

Desenvolver políticas de eficiência ener-gética constitui-se hoje num dos mais im-portantes elementos da sustentabilidadeurbana e formas de combate às perdasprecisam ser aceleradas. Para a produ-ção de cada bem de consumo existe umaquantidade de energia embutida, desdeo pão nosso de cada dia até a constru-ção de grandes edifícios. O emprego e odesenvolvimento de inovações tecnológi-cas que reduzam o consumo de energiasão de vital importância para se estabe-lecer políticas de incentivo ao não des-perdício dos recursos naturais. A eficiên-cia energética não significa racionamen-to nem racionalização forçada. Ela estápautada no desenvolvimento de técnicas,procedimentos e equipamentos eficien-tes, na utilização de fontes de energia re-nováveis como por exemplo os painéissolares para aquecimento de água, as-sim como numa gestão ambiental efici-ente.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética22

FORMA, FÔRMA E RUPTURA

Arquiteto Carlos MurdochArquiteto UFRJ, Professor da Universidade Estácio de Sá – Curso de Arquitetura

Arquiteta Adriana FigueiredoArquiteta Universidade Gama Filho, MA. Sustainability Design – East London University. Professora daUniversidade Estácio de Sá – Curso de Arquitetura

Projetos

Aceitamos a produção arquitetônica dacivilização como a expressão de seus va-lores culturais e tecnológicos. Cada agru-pamento humano desenvolveu seu pró-prio sistema para sobreviver frente àscondições impostas pelo habitat climáti-co e geográfico no qual estava inserido.A variedade de resultados e soluçõesadaptadas e, ao mesmo tempo, resultan-tes do local e a adequação ao clima seráa origem do que denominamos arquite-tura vernacular.

Durante os milênios da história conheci-da, a humanidade erigiu monumentos,templos, habitações e abrigos diretamen-te conectados à sua realidade, aos ma-teriais, à tecnologia e às suas manifes-tações culturais e religiosas. Deste modo,podemos identificar forças e elementosintrínsecos que caracterizam a produçãoarquitetônica de cada sociedade, geran-do uma manifestação singular da sínte-se entre ambiente e cultura. Identificare-mos essa síntese como “fôrma” no sen-tido em que é a base, direciona e forne-ce o sentido da geração da forma arquite-tônica.

As variáveis climáticas formam um ele-mento de fator preponderante na com-posição da “fôrma” arquitetônica. No in-tuito de adaptar o abrigo ao conforto in-terno de seus habitantes, a arquiteturavernacular desenvolveu soluções utili-zando-se das tecnologias disponíveis aoalcance do homem comum. As formasresultantes são um resultado direto dascaracterísticas climáticas do ambiente naqual a arquitetura está sendo inserida,assim como do caráter simbólico ou fun-ção para a qual a edificação foi erigida.

Os climas sobre a superfície do nossoplaneta são extremamente variados:quentes, frios, úmidos ou secos. Irão tam-

bém variar de acordo com a época doano, com a variação de altitude, com ahora do dia, com a angulação solar, como índice pluviométrico e o regime deventos.

A FORMA E O CLIMA

Para efeito de análise puramente arquite-tônico, utilizaremos uma divisão climáti-ca simplificada baseada na classificaçãoproposta por Rafael Serra in Climas(Gustavo Gilli – 1999), o qual será repre-sentado por casos-tipo e acompanharáo modelo a seguir.

REGIÕES QUENTES E SECAS

Predominante de regiões continentaispróximas à faixa equatorial. As tempera-turas são muito altas durante o períododo dia e caem significativamente nas ho-ras noturnas. A insolação é intensa e asprecipitações e a umidade são baixas.

Normalmente, esse clima está associa-do a zonas áridas e de baixa vegetação.A arquitetura popular característica ten-de a ser compacta, com aberturas escas-sas e paredes espessas no intuito de se

obter a maior inércia térmica possível emface às extremas variações da tempera-tura externa. Observa-se também o usoextensivo do pátio interno, em torno doqual a casa se desenvolve. Esse espaçoprotegido do sol é refrescado pela pre-sença da água.

42 -Pátio interno - Cairo - Egito.

43 - Poucas aberturas para o exterior (alta inércia térmica) e captadores de vento nascoberturas. - Yazd- Iran.

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23Edificações Comerciais

REGIÕES QUENTES EÚMIDAS

Característico de zonas subtropicais ma-rítimas ou próximas de grandes concen-trações de água. Temperaturas quentes,porém mais amenas e constantes do queas apresentadas pelo clima quente eseco. A nebulosidade e a chuva são fre-quentes, notadamente em determinadosperíodos do ano, no qual a intensa radi-ação solar passa a ser mais difusa doque no caso anterior. Umidade constan-temente alta.

Apresenta uma arquitetura muito venti-lada, protegida da radiação solar por to-dos os lados e mínima inércia térmica.Edificações estreitas e compridas, isoladasentre si para melhor exposição à brisa.

REGIÕES FRIAS

Nas regiões frias, as temperaturas sãobaixasdurante todo o ano, especialmen-te no inverno; escassa radiação e preci-pitações predominantemente sólidas.Nessas condições, o fator da umidade éposto em segundo plano. Clima caracte-

rístico das regi-ões de latitudealta, próximasàs zonas pola-res. A arquitetu-ra tem comoobjetivo a con-servação do ca-lor em seu inte-rior. Por isso, asconstruções sãocompactas, li-sas (minimizaárea de som-breamento), pe-

quenas aberturas e aerodinâmicas(minimiza a ação dos ventos frios). Sobalguns aspectos, apresentam similarida-des com a arquitetura dos climas quen-tes e secos, principalmente no sentidoda busca da alta inércia térmica.

CLIMAS TEMPERADOS

Apresentam acentuadas variações detemperatura ao longo do ano. Parado-xalmente, nesse clima é produzida a ar-quitetura mais complexa ao ter de seadaptar, mesmo que por curtos períodos,a todas as variáveis climáticas previa-mente citadas, oferecendo condiçõesque podem variar de extremo calor até ofrio excessivo, assim como todas as va-riações metereológicas inerentes às es-tações intermediárias. Ainda que as con-dições enfrentadas não sejam críticas,quando em conjunto, proporcionam queas arquiteturas dos climas temperadospossuam maior grau de complexidade eapresentem um grande número de vari-ações. Passando a incorporar sistemase soluções flexíveis, ou seja, componen-tes que possuam a característica demodificar sua ação de acordo com a cir-cunstância climática. Poderemos obser-var essa característica de modo claro nosistema de esquadrias e suas partesmóveis.

A ESTUFA E A ARQUITETURA

A propriedade física do vidro em aprisio-nar a radiação infravermelha e conse-quentemente o calor é utilizada desde ofinal do século XVI, notadamente naFrança para os cultivos de ervas medici-nais tropicais. Seu uso se espalhou pelohemisfério norte pela característica demanter condições de cultivo de plantassob baixas temperaturas externas. A re-volução industrial e a popularização deestruturas em ferro fundido tornarão asestufas um elemento de presença co-mum no século XIX. Será natural que asprincipais experiências baseadas no sis-tema construtivo em ferro e vidro surjamna Inglaterra, principal potência industri-al da época.

A leveza da estrutura, a praticidade douso de peças pré-fabricadas, a modulari-dade e as possibilidades formais e tér-micas propiciadas pelo novo sistemaconstrutivo foram exploradas em umageração de estufas construídas nas prin-cipais cidades inglesas.

Joseph Paxton adquiriu notoriedadecomo paisagista e construtor de estufaspara a nobreza britânica na primeirametade do séc. XIX. Seu ápice seria aconstrução do Palácio de Cristal para aGrande Exposição de 1851, em Londres.Este reúne toda a experiência acumula-da anteriormente aplicada a uma cons-

44 - Batak Toba - Sumatra.

46 - Lozzo di Cadore - Belluno – Itália.

O vidro e o efeito estufaObservamos de modo simplificado queo vidro comum possui boa transparên-cia a comprimentos de onda curtas doespectro solar que incluem as radia-ções visíveis (luz) e regiões próximasdo infravermelho (responsável pelatransmissão de calor de um corpo parao outro). Por outro lado, o vidro apre-senta opacidade ao comprimento doespectro de onda longa (infraver-melho). Dessa forma, quando a radia-ção solar incide diretamente sobre ovidro comum, a maior parte da radia-ção passa para o interior (ondas cur-tas). Esta é absorvida e refletida soba forma de onda longa pelos corpos eelementos no interior do ambiente.Como o vidro é opaco em relação àonda longa, a energia é aprisionadapromovendo seu aquecimento.45 - Iglu - Círculo Polar Ártico.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética24

48 - Larkin Administration Building,Buffalo, Nova York, EUA, 1906, Frank

Lloyd Wright.

49 - Cité de Refuge, após reforma da fachada sul – janelasfuncionais e elementos sombreadores.Paris, França, 1929 –

1933, Le Corbusier.

trução de grande porte. O edifício setransformaria em um ícone universal desua época e suas características cons-trutivas seriam a base da Arquitetura In-ternacional do século XX.

Importante ressaltar que o “edifício estu-fa” é perfeitamente adequado ás carac-terísticas climáticas do local de sua cons-trução, reiterando a relação forma/siste-ma construtivo e fôrma (característicaslocais e tecnologia disponível).

O AR-CONDICIONADO E AREINVENÇÃO DA REALIDADE

Patenteado originalmente em 1906 comoum “aparato para o tratamento do ar”,William Carrier desenvolve o que atual-

mente conhecemos como ar-condiciona-do, inicialmente para resolver problemasde impressão provocados pela umidadeem fábricas têxteis.

A adição desta tecnologia incorporada aoprojeto arquitetônico irá gerar profundas

modificaçõesnas caracte-rísticas dosedifícios econsequente-mente das ci-dades. O pri-meiro projetoa incorporar ouso do ar-con-dicionado nasua concep-ção foi o Lar-kin Adminis-tration Buil-ding (Buffalo,Nova York,

EUA), projetado por Frank Lloyd Wright,em 1906. O sistema utilizava dióxido decarbono (CO2) para combater o clima ex-tremamente quente e seco do verão da-quela região.

A inovação do ar-condicionado permiti-ria que os edifícios possuíssem um mai-or ganho de luz natural através da tecno-logia do curtain wall (fachada envi-draçada), compensando o ganho de tem-peratura provocado pela superfícieenvidraçada com o resfriamento artificialda temperatura interna. Estava assimaberto o caminho para o aparecimentode uma arquitetura independente do cli-ma e do lugar onde seria construída. Umaarquitetura padronizada, pré-fabricada e,muitas vezes, inadequada à realidade ecultura locais.

EXPERIÊNCIASCORBUSIANAS

Na contramão da disseminação do usodo condicionamen-to de ar em soloestadunidense, naEuropa em 1930,Le Corbusieranuncia ter inven-tado uma técnicapara cancelar osefeitos de aqueci-mento provocadopelos grandes pa-nos de vidro carac-terísticos da novaarquitetura, conhe-c i d asubsequentementecomo “Estilo Inter-nacional”. A idéia

de Corbusier era utilizar fachadas comvidros duplos contendo ar resfriado a umatemperatura de 18°C em seu interior. De-nominou essa técnica como murneutralisant (parede neutralizadora – detemperatura). A oportunidade para tes-tar esse novo conceito, surgiu no projetopara o Palácio Centro-soyus, em Mos-cou (URSS), 1930, porém acabou igno-rada pela cúpula soviética. A solução foifinalmente implantada na Cidade dosRefugiados, um abrigo para o Exércitoda Salvação construído em Paris.

Le Corbusier concebeu a ideia de fecharhermeticamente a fachada sul do edifí-cio (maior radiação no hemisfério norte)com um total de 1.000 m2 de vidro. Na-quele momento, Corbusier acreditavaque estaria proporcionando o equilíbrioperfeito entre a captação de luz natural ea adequação ao conforto térmico. O sis-tema funcionou muito bem no inverno. Omesmo não pode ser dito do verão, quan-do este não recebeu ar frio suficiente parao resfriamento do mur neutralisant e asjanelas seladas não permitiram um míni-mo de ventilação natural. Para decepçãode Corbusier, foram adaptadas janelasfuncionais e elementos sombreadoresnas fachadas.

Essa experiência fez com que os edifíci-os Corbusianos posteriores possuíssemelementos sombreadores sobrepostos aoenvelope. A ele é creditada a invençãodo brise-soleil.

ESTILO INTERNACIONAL

O Edifício PSFS

Inaugurado em 1932, na Filadélfia (EUA),o edifício PSFS (Philadelphia Savings

47 - Crystal Palace, Londres. 1985, projeto de Joseph Paxton.

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25Edificações Comerciais

Fund Society Building – arquitetos Howeand Lescaze) com 32 pavimentos é con-siderado um marco na relação entre ar-quitetura e o condicionamento de ar. Suaaparência foi considerada moderna e dis-tinta de edifícios contemporâneos à suaépoca. O projeto utiliza um vocabulárioarquitetônico radicalmente diferenciadodo padrão americano vigente para edifí-cios comerciais da década de 30 (artdeco).

Ausência de elementos decorativos ex-ternos, janelas de fita, composição volu-métrica retilínea e racional e uma gran-de área de vidro estruturado por esqua-drias de metal (curtain walls). Elementosque se tornariam comuns na arquiteturaproduzida no período conhecido como“Estilo Internacional”, principalmente noperíodo pós segunda guerra mundial. Oedifício PSFS compartilha dessas carac-terísticas com a Cité de Refuge Corbu-siana e com trabalhos de outros arquite-tos do mesmo período como WalterGropius e Adolf Loos. A diferença princi-pal é a de que o PSFS possuía, já na-quela época, um sistema completo de arcondicionado. Outra inovação identifica-da foi à liberação dos padrões de plan-tas tradicionais: “U”, “E” e “H”, além desupostamente tornar obsoleta a presen-ça do pátio central (light courts). Estraté-gias comuns para a otimização da ilumi-nação e ventilação de edifícios de médioe grande porte.

O condicionamento de ar em edificaçõesde escritórios cresceu de forma rápida ecomeçou a ser utilizado em larga escala

até o hiato provocado pela segunda guer-ra mundial. Muitos arquitetos e incorpo-radores reconheceram o potencial dobinômio ar-condicionado / iluminação ar-tificial. Edifícios selados passaram a seruma realidade, sendo construídos atéhoje.

Os Estados Unidos saem fortalecidos dasegunda guerra mundial. Praticamentesem ser atacado em seu próprio territó-rio (exceto Pearl Harbor), a economiafortalecida, a capacidade industrial refor-çada pela corrida armamentista e con-tando com uma máquina de propagandaeficiente capitaneada pelo cinema. Esteconjunto de fatores criará condições paraque a mudança da matriz cultural domundo ocidental fosse deslocada da Eu-ropa para a América. Enquanto na pri-meira metade do séc. XX se observa apredominância europeia na geração degostos e costumes, notadamente na dé-cada de 50, a prosperidade econômicaamericana e a disputa pela esfera de in-fluência em nível global com a URSS re-forçarão a difusão do modo de vida ame-ricano (American Way of Life). Cidadescomo Nova Iorque e Chicago se transfor-marão em ícones da modernidade. A ima-gem do arranha-céu de aço e vidro seráassociada ao progresso e difundida comosímbolo de uma nova ordem mundial.

O indiscutível sucesso da segunda faseda Arquitetura Internacional é comprova-do através da observação de que o mo-delo “caixa de vidro” foi reproduzido emlarga escala em todas as principais cida-des do mundo, pasteurizando tipologiasarquitetônicas e modelos urbanos nemsempre adequados às condições regio-nais, notadamente nos países em desen-volvimento (América Latina, Ásia e Áfri-ca). Dessa forma, desconectando suarealidade cultural e ambiental de seu am-biente urbano. Essa ruptura viria atrazerconsequências também nos campos so-ciais e comportamentais como resultadodireto da mudança do habitat humano.

O elemento climático como parte inte-grante da “fôrma” geratriz da arquiteturaperde a força, deixando de ser um fatordecisivo para a concepção da arquitetu-ra. Com o advento do ar-condicionado,qualquer realidade passa a ser viável eaceita. Até mesmo o fato de construir-mos estufas em climas tropicais e as de-nominarmos como edifícios comerciais.A importação sem critério de modelosarquitetônicos provoca a seguinte rela-

ção causa e efeito: copia-se o modelo(caixa de vidro); como este é inadequa-do ao clima, não é capaz de prover con-forto aos usuários; importa-se a solução(ar-condicionado); este passa a deman-dar mais energia do que um edifício adap-tado às condições locais; constroem-seusinas de força para suprir a demandadesnecessária. Este ciclo também ocor-rerá em menor escala em outros cam-pos da arquitetura: habitacional e indus-trial.

AMBIENTE, ENERGIA E AARQUITETURA DO SÉCULOXXI

Dentre as questões inerentes ao nossotempo, talvez a mais urgente seja o pro-blema ambiental, traduzido principalmen-te pelo aquecimento global. Hoje, com-preendemos que a alteração climática éuma realidade, sendo monitorada e afe-rida por todo o planeta.

O desenvolvimento tecnológico trazidopela revolução industrial (séc. XVIII) é omomento de passagem da energia hu-mana, hidráulica e animal para a forçamotriz. Como resultado imediato, obser-vamos uma mudança radical nos meiosde produção através da inserção do ma-quinário movido à queima de combustí-veis fósseis no processo produtivo. A par-tir deste momento, é observado um in-cremento na difusão de produtos in-dustrializados. Este fato irá alimentar ocrescimento do número de fábricas e in-dústrias, colocando as nações mais de-senvolvidas tecnologicamente em posi-ção de destaque no cenário econômicomundial.

50 - PSFS, Filadélfia, EUA, 1929-1932 ,Howe and Lescaze.

51 - Lever House, Nova Iorque, EUA,1951, Gordon Bunshaft (SOM).

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética26

53 - Edifício Avenida Central, Rio deJaneiro, Brasil, 1961, Henrique Mindlin.

Nota¹SMITH, Peter F. in: ARCHITECTURE IN ACLIMATE CHANGE, Architectural Press

52 - Chicago – Illinois – EUA. Clima temperado continental, com quatro estaçõesbem definidas. Temperaturas médias variam entre -5oC a 23oC.

Para produzirem, fábricas e indústrias de-pendem de matéria-prima extraída domeio natural, assim como, de energiapara alimentar as máquinas que execu-tam esse processamento. Dessa forma,cria-se um círculo, o qual compreende aextração, a produção e a economia, quese tornarão a base que denominamoscomo o modelo de desenvolvimento con-temporâneo. Sob uma ótica simplista, ob-servamos que quanto mais se extrai domeio, maior será a produção e conse-quentemente maior a riqueza em circu-lação.

A matriz energética baseada principal-mente na extração e queima de carvão,petróleo e gás têm como efeito colaterala emissão de carbono na atmosfera soba forma de CO2 (dióxido de carbono).Este, juntamente com outros subpro-

dutos/resíduos dos meios de produçãoe extração, altera o equilíbrio do efeitoestufa natural, provocando um incremen-to na temperatura do planeta.

O nosso modelo de subsistência estáapoiado sobre um padrão energéticofinito, não renovável, predatório e con-denado. A busca de um novo modelo, oqual tenha por princípio a não-depreda-ção do ambiente e a renovação de re-cursos naturais deve se dar em todas asáreas de atuação humana.

“Um dos maiores potenciais para a reali-zação das mudanças reside no campodas edificações, as quais nos países de-senvolvidos totalizam 47% das emissõesde CO2 na atmosfera” ¹.

Ao aceitarmos esta afirmativa, colocamosos arquitetos como um dos principaisagentes do processo de alteração demodelos arquitetônicos estabelecidos.Novos edifícios e novas cidades que res-pondam a essas demandas passam a seruma necessidade urgente e não uma ex-periência estética ou sensorial.

A arquitetura do século XXI será carac-terizada pela busca de modelos auto-su-ficientes em termos de energia e recur-sos de subsistência. Técnicas de arrefe-cimento ou aquecimento passivas em-basadas no processo de projeto e uso(implantação, projeto, especificação egestão), adicionado à incorporação denovas tecnologias farão surgir novas for-mas e um novo modo de nos relacionar-mos com a arquitetura e as cidades. Estamudança de paradigma obrigatoriamen-te passa pela compreensão das realida-des locais, sejam climáticas, econômicase culturais.

O entendimento das forças que com-põem a fôrma arquitetônica já produzsoluções diversificadas que acentuam ascaracterísticas e identidades regionais,sendo expressões diretas da arquiteturade nosso tempo.

54 - Menara Mesiniaga – KualaLumpur, clima quente e úmido, Malásia

– 1992. Ken Yeang.

55 - Commerzbank – Frankfurt , climatemperado úmido, Alemanha – 1997.

Foster & Partners 50.

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27Edificações Comerciais

ELETROBRÁS

Centrais Elétricas Brasileiras S.A.

Av. Presidente Vargas, 409 – 13°andarCentro – Rio de JaneiroCEP 20071-003Caixa Postal 1639Tel.: (21) [email protected]

ELETROBRÁS PROCEL

Programa Nacional de Conservação deEnergia Elétrica

Av. Rio Branco, 53 – 14°andarCentro – Rio de JaneiroCEP 20090-004Ligação Gratuita: 0800.560.506www.eletrobras.com/[email protected]

ELETROBRÁS PROCEL EDIFICA

Eficiência Energética em Edificações

Av. Rio Branco, 53 – 15°andarCentro – Rio de JaneiroCEP 20090-004Fax: (21)2514.5767Ligação Gratuita: 0800.560.506

IAB RJ

Instituto de Arquitetos do Brasil -Departamento Rio de Janeiro

Rua do Pinheiro, 10Flamengo - Rio de JaneiroCEP 22220-050Tel.: 2557.4192 / [email protected]

LISTA DE CADERNOS

1. Shopping Centers2. Edificações de Saúde3. Hospedagem4. Edificações Esportivas e de Lazer5. Edificações Unifamiliares6. Edificações Multifamiliares7. Ecovilas8. Edificações Educacionais9. Universidades10. Edificações Comerciais

EXPEDIENTE

Cadernos de Boas Práticas emArquitetura - Eficiência Energética nasEdificações

Conselho EditorialAna SeroaArmando MendesCarlos MurdochDayse GóisMarco MilazzoMauro AlmadaVera Hazan

Responsável TécnicaRuth JurbergRJ Planejamento Integrado Ltda

EditoraMariane Azevedo

DiagramadoraLeila Fernandes

RevisoraClaudia Jurberg

CapaQualiurb Design

CRÉDITOS

1 - Carlos Botelho in MINDLIN (1999), p. 236.2 - GOODWIN (1943), p. 154, ou XAVIER et alli (1991).3 - Marcel Gautherot in MINDLIN (1999), p. 239.4 - Zodiac (1960), p. 112, fig. 180.5 - Brasil Arquitetura Contemporânea (1953), p. 24.6 - Brasil Arquitetura Contemporânea (1953), p. 25.7 - Brasil Arquitetura Contemporânea (1953), p. 27, fig. 3 e p. 28, fig. 1.8 a 22 - www.melbourne.vic.gov.au/info.cfm?top=171&pg=193323 - Intervenção de Isabella de Souza Gomes e Nayanse Guima-rães in www.melbourne.vic.gov.au/info.cfm?top=171&pg= 193324 e 26 - Fotos Nelson Kon, cedidas pela Triptyque Arquitetos25 - Fotos Beto Consorte, cedidas pela Triptyque Arquitetos27 - Fotos Greg Bousquet, cedidas pela Triptyque Arquitetos28 - Cedidas pela Triptyque Arquitetos29 a 33 - Cedidas pelos Arquitetos Daniela Pareja, ChristianKrambeck, Osvaldo S. de Oliveira, sócios no escritório TerraArquitetura e Planejamento; Carla Caroline Tomaselli, Chiara M. G.Destro, Francisco Refosco N., Sara Moretti, Eng. Florestal JulioCesar Refosco; estudantes de Arquitetura Aliessa Sabadin e deEngenharia Civil Maycon Gasda.34 a 37 - Cedidas pela MOS Arquitetos Associados38 a 40 - Cedidas pelo Engenheiro Denilson Moreira41 - Intervenção sobre mapa produzido pela NBR 15220-3 .ABNT42 - www.flickr.com/photos/worldexplorers/382112602443 - www.payvand.com/news/07/dec/1158.html44 - www.anthroarcheart.org/tblb7.htm45 - pt.wikipedia.org/wiki/Iglu46 - commons.wikimedia.org/wiki/File:Lozzo_chiesa_loreto.JPG47 - commons.wikimedia.org/wiki/File:Crystal_Palace.PNG48 - www.flickr.com/photos/9903467@N06/95732885449 - www.mimoa.eu/projects/France/Paris/Cit%E9%20de%20Refuge50 - www.GreatBuildings.com51 - www.arch.tu-dresden.de/ibad/Baugeschichte/Vorlesung_Die_Stadt_New_York.html52 - pt.wikipedia.org/wiki/Chicago53 - informativorio.blogspot.com/2008/05/edifcio-avenida-central-comemora-47.html54 - www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=2735321255 - www.presselounge.de/pressefaecher/pi.html?fach=17&pid=504