446

Elo 18

Embed Size (px)

Citation preview

  • 1

    ELO18

    Acidadaniaeademocracianasescolas

  • 2

    RevistadoCentrodeFormaoFranciscodeHolanda

    CentrodeFormaoFranciscodeHolanda

    EscolaSecundriaFranciscodeHolanda

    AlamedaDr.AlfredoPimenta

    4814528Guimares

    [email protected]

    www.cffh.pt

    253412954e253552181

  • 3

    FICHATCNICA

    Director JorgedoNascimentoPereiradaSilva

    Coordenador FranciscoTeixeiraJorgeNascimento

    ConselhoCientfico AlmerindoJanelaAfonsoUniversidadedoMinho

    CarlindaleiteUniversidadedoPorto

    FernandoRibeiroGonalvesUniversidadedoAlgarve

    JosAugustoPachecoUniversidadedoMinho

    ManuelaEstevesUniversidadedeLisboa

    ConselhoRedactorial JorgedoNascimentoPereiradaSilva

    AgostinhoFerreira

    AntnioOliveiraSousa

    FranciscoTeixeira

    ManuelAlvesBarbosa

    MariaLucindaPalhaesdaCunhaBessa

    Capa PedroAlmeida

    Maquetagem FranciscoTeixeira

    Propriedadeeedio CentrodeFormaoFranciscodeHolandaEscolaSecundriaFranciscodeHolandaAlamedaDr.AlfredoPimenta4814528Guimarescfaecff@cffh.ptwww.cffh.pt253513073

    ISBN 97296465

    Impresso

    GrficaCovense,Ld

    PolvoreiraGuimares

    Nmero RevistaELO18Julhode2011

    Tiragem 200Exemplares

    Apoios ME

  • 4

  • 5

    NDICENOTADEABERTURAJorgedoNascimentoDirectordoCFFH

    11

    ESCOLA,IGUALDADEEAUTONOMIAJooFormosinho,JoaquimMachadoIEUniversidadedoMinho

    15

    LIDERANASINGULARNAESCOLADEMOCRTICA:AMEAASECONTRADIESLeonorLimaTorresIEUniversidadedoMinho

    27

    FAZERAESCOLAACONTECER:ACOLABORAOCRIANASPROFESSORESPAISCOMOPRTICADECIDADANIATeresaSarmentoIEUniversidadedoMinhoIldaFreireESEBInstitutoPolitcnicodeBragana

    37

    DESGNIOSPARAUMCURRCULODEMOCRTICOJosCarlosMorgadoIEUniversidadedoMinhoAnaMargaridaGonalvesEB2,3deGilVicente,Guimares

    51

    AESCOLA,ESPAODECONSTRUODECIDADANIA?VictorinoCostaESEFafe

    67

    OGOSTOEODESGOSTODAESCOLACIDADANIA,DEMOCRACIAELGICASDEPARTICIPAOJUVENILNASESCOLASElisabeteFerreira,AmliaLopesFPCEUP

    77

  • 6

    AEDUCAODOTRABALHADOR:CONTRIBUTOREFLEXOSOBRECURRCULO,TRABALHOECIDADANIATatianaMariaHolandaLandimUniversidadedoMinho/UniversidadeFederaldoParJosAugustoPachecoIEUniversidadedoMinho

    85

    FORMAOCONTNUAPARAAPROFISSIONALIDADEECIDADANIADOCENTEGuilhermeRegodaSilvaIEUniversidadedoMinho

    97

    APARTICIPAODEMOCRTICAEMEDUCAOJooAdelinoMatiasLopesdosSantosAgrupamentodeEscolasdeVilaNovadePaiva

    107

    PARTICIPAONADECISOEDUCATIVAECURRICULARODEBATEDADECISOCENTRALIZADAVERSUSADECISODESCENTRALIZADAHenriqueManuelPereiraRamalhoESEVInstitutoSuperiorPolitcnicodeViseuFernandaEmliaRibeiroAlvesArajoAgrupamentodeEscolasdeInfiasVizela

    117

    FORMARPROFESSORESPARAAESCOLADEQUEPRECISAMOSEDUCARPARAACIDADANIAngelaRodriguesIEUniversidadedeLisboa

    133

    AFELICIDADENOSEGUARDA,PARACONSUMOIMEDIATOOSCONTORNOSDEUMAEDUCAODESPOLITIZADAEusbioAndrMachadoUniversidadePortucalense

    141

    OPAPELDAESCOLANUMCONTEXTOMULTICULTURALEINTERCULTURALJosPintoPinheiroDirectordoAgrupamentodeEscolasFernandoTvora

    145

    REINVENODADEMOCRACIAVitorLeiteEscolaSecundriaFranciscodeHolanda

    151

  • 7

    ACIDADANIANOIMAGINRIODAEDUCAOURBANA,UMVALORCOMPERFILTECNOLGICOIsabelCarvalhoVianaIEUniversidadedoMinho

    165

    GLOBALIZAO,FORMAOEAPRENDIZAGEMHelenadeSousaLeiteAgrupamentodeEscolasProfessorJoodeMeira

    177

    LITERACIA,ESCOLAECIDADANIAAdelinaPaulaMendesPintoCoordenadoraInterconcelhiadaRededeBibliotecasEscolares

    195

    ACIDADANIANUMASOCIEDADEDEMOCRTICAOPAPELDAESCOLAEDASBIBLIOTECASESCOLARESOdliaBaleiroGabineteRededeBibliotecasescolares

    201

    UMOLHARSOBREASNOVASOPORTUNIDADES:PARAALMDORECONHECIMENTODECOMPETNCIASMariaManuelPinto,CoordenadoradoCNOFranciscodeHolandaAnabelaLopesFormadoradoCNOFranciscodeHolanda

    213

    EDUCAOPARAACIDADANIAEPARAADEMOCRACIAOCONTRIBUTODOSPROCESSOSRVCCGilSantosCoordenadordoCNOdaEscolaSecundriadeCaldasdasTaipas

    223

    AEDUCAOSEXUALNORUMODACIDADANIACarlaSerroEscolaSuperiordeEducaodoInstitutoPolitcnicodoPorto

    237

    SERCIDADONAESCOLA:NAPERSPECTIVADOSALUNOSHelenaLeite,AlexandraMendes,CarlaNunes,LciaRibeiro,LusaTeixeira,PaulaGadelhoeTeresaRibeiroEquipadeProjectoNepsoAgrupamentodeEscolasProf.JoodeMeira

    243

  • 8

    OASSOCIATIVISMODEPAISNOCONTEXTODAESCOLADEMOCRTICA:PARADOXOS,CONSTRANGIMENTOSEPOTENCIALIDADESJosCarlosFernandesDirectordoCENFIPE

    267

    OSPROGRAMASDEPORTUGUS:AIDENTIDADEDANAOSUSPENSAENTREESPAOSDEAUTORIDADEEESPAOSDELIBERDADECarlosMachadoEscolaSecundriadeCaldasdasTaipas

    287

    CONSCINCIAHISTRICAEEDUCAOPARAACIDADANIAHelenaPintoCIEdUniversidadedoMinho

    295

    FILOSOFIANAESCOLAEEDUCAOPARAACIDADANIAAFILOSOFIAORIENTADAPARAAACTUALIDADESOCIALEPOLTICACarlosJustoEscolaSecundriadeCaldasdasTaipas

    305

    UMACIDADANIAQUESEPRATICAAmadeuFariaAgrupamentodeEscolasdeBriteiros

    315

    PROJECTOTRIGAL,JORNALESCOLAR,DOZEANOSDEEXISTNCIAAlfredoOliveira,AlexandraVieiraEscolaSecundriadeCaldasdasTaipas

    321

    UMPROJECTODECIDADANIANOMUSEUInsTerroso,ManuelFlores,MiguelBasto,RosliaDias,SylvieCastroFaculdadedeFilosofiaUniversidadeCatlica

    339

    OIMPACTODASTICNAEDUCAOPARAACIDADANIADEJOVENSCOMNECESSIDADESEDUCATIVASESPECIAISMariaGorettiPinto,MariaHelenaSoeiroJosAlvesFernandes,EugniaVieira,OtliaMatosAgrupamentodeEscolasdoValedeS.Torcato

    347

  • 9

    OCURRCULONA(RE)CONSTRUODEIDENTIDADESJooVieiraAgrupamentodeEscolasdeBriteiros

    357

    DESENVOLVIMENTOPROFISSIONALDOCENTE:IDENTIDADESETRAJECTOSAntnioAbreuSilva,FtimaBraga,IsabelCruzSAME(UCP)

    367

    COMPETNCIAS,SABERESETECNOLOGIASEDUCATIVASAldaSilvaEscolaSecundriaGarciadeOrta

    383

    FORMAODEPROFESSORESERENOVAOEDUCATIVALinoMoreiradaSilvaIEUniversidadedoMinho

    395

    AORGANIZAOINTERNADASESCOLASCOMOCAMINHODEAUTONOMIAJorgeSarmentoMoraisInspectordoME

    415

    QUEFUTUROPARAADESCENTRALIZAODAPOLITICAEDUCATIVA?UMPERCURSOINTERROMPIDO?AlbinoAlmeidaCONFAP

    433

  • 10

  • 11

    NOTADEABERTURA

    JorgedoNascimento

    DirectordoCFFH

    Aestonmero18darevistaElo,correspondendoa18anosdesteprojectoeditorialdoCentrode

    FormaoFranciscodeHolanda.

    So quase duas dcadas ao servio dos educadores, dos professores, do pessoal no docente das

    escolasedacomunidadeeducativaalargadaemqueestamosinseridos.

    ArevistaEloapresentousenolongnquoanode1994comoumespaodeencontrodeprofessores

    edetrocadesaberesedeexperincias.Aolongodestesanostemdadovozsescolasenquantocolectivos,

    aoseducadoreseprofessoresedemaisactoreseducativosindividualmente.

    Osltimosnmeroscentraramsenastemticasdaavaliao.OELO16naavaliaodeprofessores,

    reunindocontributosdeespecialistaseescolaseoELO17naavaliaodasescolas,atravsquerde textos

    tericos,querdemltiplasexperinciasvivenciadasemescolas,que interpretaram,aseumodo,omandato

    pblico da autoavaliao organizativa, de acordo com as suas concepes, ainda que no contexto das

    injunesnormativas.

    O ELO18 dedicado,por inteiro, discusso e investigaodeum tema central:a cidadania ea

    democracianasescolas.

    Tratasedeum tema comoqual,hojemaisdoquenunca,os sistemaseducativos,asescolaseos

    principais agentes educativos so confrontados nos planos curricular, pedaggico e organizacional, face s

    transformaesdomundoactual,decorrentes, sobretudo,do impactodas tecnologiasda informaoeda

    comunicao,daglobalizaoedaemergnciadenovaslgicasdeparticipaonavidapolticaesocial.

    O ensino e a aprendizagem no so, primacialmente, fins em si mesmo, antes encerram

    intencionalidadesticas,polticaseculturaisqueprocuramconstruirocaminhodeumavidaboa,decidida

    pessoalmente.Assimsendo,aorientaoeaprticapedaggicadasescolaseasuaorganizao,asopesde

    naturezacurriculareasrelaesinstitucionaisedegestosempredefiniro,ouajudaroadefinir,ocampoe

  • 12

    os instrumentosdessa intencionalidadeticaecultural,commatizesmaisoumenosdemocrticosemaisou

    menosrespeitadoresdanaturezacidaddecadaumdosprotagonistasdasescolas,acomearpelosalunose

    pelosprofessores.

    Estudardequemodo,emPortugal,o sistemaeducativoeasescolasapostamnaeducaoparaa

    cidadaniaeparaademocracia,mastambmeaomesmotemponademocratizaodasrelaesdegesto

    e deciso organizacionais e na consubstanciao dos seus projectos educativos e curriculares, permitir

    esclareceraconfiguraodemocrticaecvicadasnossasescolasechegaraconclusessobreoqueofuturo,

    desenhado aqui e agora, nos prepara, relativamente qualidade da cidadania e da democracia nacional e

    internacional.

    Neste sentido, abordmos cerca de quatro dezenas de educadores, professores, investigadores,

    membrosde associaesdepaise representantesda administraoeducacionalno sentidodeescreverem

    sobreestatemtica.Asnossaspreocupaesperpassaramporumconjuntodequestesdasquaiselencamos

    asseguintes:

    Aescoladeveounoserumcampoexemplardecidadaniaactiva?

    Aescoladeveserumresultadodomeiooudeveimporsenomeiocomassuasprpriaslgicas?

    Qual a relao dos vrios corpos sociais presente na escola com os vrios poderes internos e

    externos?

    Qual a participao da comunidade escolar nos rgos de gesto e deliberao das

    escolas/agrupamentos?

    Quemmandanaescola?

    Qual a presena dos professores, dos alunos e das famlias na definio no s dos objectivos

    educativosmastambmnoscaminhosparalchegar?

    H ou no uma responsabilidade profissional dos professores, com fins prprios, que eles no

    podemdeclinar?

    Que relaes, democrticas ou normativas, estabelece a escola com as autarquias locais e a

    administraoemgeral?

  • 13

    Qualaparticipaocvicadosalunosnaescola?Comoqueelespercepcionamacidadaniaactiva?

    Na escola h lugar para o sonho por parte das crianas e jovens com necessidades educativas

    especiais?

    Qualonveldeparticipaodosassistentesoperacionais,assistentestcnicos,psiclogos,socilogos

    edemaistcnicosdeeducaonaescola?

    Qualaexpressodosconflitospedaggicosnasescolas?

    Qualo lugarqueosprojectosocupamnasescolasenquanto integraodesaberes transversaise

    espaosdeliberdade?

    Umaescolaquetemcomoseuiderioadefesadevalores,atitudesecomportamentos,aformao

    deidentidadespessoaisecomunitriaspodepremcausaotopropaladosucessoescolar?

    NointeriordarevistaElonoencontramos,nemfoiesseonossopensamento,respostasclaraspara

    estasquestes,masantesumconjuntode reflexes, resultadosde investigaese relatosdeprojectosque

    podem contribuir quer para o desenvolvimento profissional dos docentes quer para o desenvolvimento

    organizacionaldasinstituies.

    O nosso objectivo foi reunir textos sobre a temtica referenciada que servissem como ponto de

    partida para uma reflexo sobre a escola que temos e aquela que gostaramos de ter, passando pela

    importncia do professor no quadro da consecuo dos objectivos relativos educao, tendo sempre no

    horizonte, comobvio,o sucessoescolarmas tambm cvicodosalunos.Ao fimde contaspretendemos,

    maisumavez,darumcontributoparaodebatede ideiaseparaumareflexosobreprticasno interiordas

    escolascomvistasuaautoavaliao,numaperspectivadeumaescolaaprendente.

    Contudo,onossoobjectivonoseesgotaaqui.Nonossatisfazemoscomaposiodeindutoresdeescritae

    organizadoresdetextosqueefectivamenteconstituemumexcelentembilreflexosobreademocraciaea

    cidadania.Queremostambmser indutoresdeescolasmaisdemocrticas,maisparticipativasereflexivas.E,

    issoconseguido,quandoafincadamentelutamospormaisemelhorformao.

    Assim, temonos empenhado na negociao/construo de um Projecto Global de Formao, que

    contemple adimenso cientfica,pedaggicaeorganizativadas actividades, assumindonos como factorde

  • 14

    desenvolvimentodasescolas,dosprofessoresedemaisactoreseducativosquenelastrabalham.TalProjecto

    temsidoencaradocomoumgrandequadroderefernciadeopesprioritriasemtermosdeformao,qual

    contrato de autonomia baseado numa espcie de Projecto Educativo/Formativo assumido como um

    processoparticipadotendocomoreferenteaqualidadeeapertinnciadaformao,balizadopeloConselho

    CientcoPedaggicodaFormaoContnua.Porisso,foielaboradoparaque,quemol,oentendatambmna

    amplitudedosonhoedaambio.

    Aformaoconstituiumpilardasustentabilidadedaescolaedosseusprofissionaiseogaranteparao

    seudesenvolvimento.Osmltiplosreflexosquedelaadvmnoseesgotamnonveldosresultadosescolares,

    nemnobemestardocente.Elapromoveodebate,areflexo,acolegialidade,aparticipaoactiva,logo,induz

    atitudesmaisesclarecidasereflectidasedinmicasdetrabalhoautnomoeparticipado.

    Seosprofissionaissedesenvolvempessoaleprofissionalmente,as instituiesquehabitam tambmsevo

    desenvolvendoorganizacionalmente.Preconizamosumaescolaqueaprende,queacompanhaamodernizao,

    quesatisfazemplenoasuamisso.Anossa formadeparticipar,desercidadoticaeprofissionalmente

    responsvelconstituirmonoscomorecurso,comoumamaisvalia,dasescolasassociadas,democratizandoo

    conhecimentoeexpelindoareflexo.

    Fazemos isso no e como ELO 18,mas sobretudo fazemolodiariamente. Participamos, atravs da

    formao,nadesalienaodosindivduos,facilitandoaaquisiodecapacidades,competnciasesaberesque

    favoream no somente a sua liberdade de escolha, a sua participao democrtica, mas tambm que

    favoreamaconstruodaautonomiadasescolassustentadanosseusprojectoseducativos.

  • 15

    ESCOLA,IGUALDADEEAUTONOMIA

    JooFormosinho,JoaquimMachado

    IEUniversidadedoMinho

    A crenana educao escolar comomeiode superaodasdesigualdades sociais estnabaseda

    universalizao da escola primria e, posteriormente, da escola secundria. A generalizao da escola

    aumentouasuacomplexidade,masasrespostasorganizacionaispautadaspelocentralismoeauniformidade

    burocrtica,emboragarantamaigualdadedeacesso,falhamnagarantiadaigualdadedesucessoeobrigama

    repensar a organizao da escola, a diversificao curricular e a diferenciao pedaggica como vias de

    materializao da igualdade de acesso educao escolar. Estas duas dimenses da democratizao da

    educaoescolaroacessoeosucessoimprimemactualidadereivindicaodaautonomiadaescolaedos

    professoresemalternativaaumsistemacentralizadodeadministrao.

    1.AUNIVERSALIZAODAESCOLA

    Aescolafoium instrumentoprivilegiadonaconstruodoEstadonao.Substituindose Igrejano

    seupapeleducador,oEstadovaescolacomoanovaigrejacvicadoPovoedoprofessorcomosacerdote

    doensino,evangelizador,apstolo[laico]dareligiosocial,aquemseimpunhaodeversacratssimode

    formarosfuturoscidadosedeserummodelodevirtudes,exemplodecompostura,bondadeemtodode

    trabalho,comosepodelernostextoslegaisdasReformasde1911(EnsinoPrimrio)e1918(EnsinoTcnico).

    Com efeito, cedo a escola passou a integrar no seu principal objecto a instruo pblica o nomenos

    importantedesgniodeeducaonacional,paracujaprossecuocontribuiuoprocessodenacionalizaodo

    ensino e a organizao da escola em conformidade com ummodelo que atribui administrao central a

    definiodo currculoacadmicoeosmodosdeorganizaodosprofessores,dosalunosedoprocessode

    ensino.

  • 16

    A ideiadamodernidadedequeaeducaocontribuiparaofimdasdesigualdadessociais inspiroua

    implantao de um sistema escolar que se desenvolveu no sentido da universalizao do ensino primrio

    preconizadapeloliberalismo,procuradapelosrepublicanosesalcanadajnasegundametadedosculoXX.

    A ideia de que o acesso aoABC elementar para o exerccio da cidadania inspirou o lema pombalino de

    construir uma escola (primria) em cada aldeia e a implementao de medidas de obrigatoriedade que

    tornassemefectivaapolticadeuniversalizaodainstruoprimria.

    Entretanto,oensinopsprimriodesenvolviasesegundoduasviasseparadasoensino licealeo

    ensino tcnico cumprindo as funes de uma sociedade predominantemente agrria e estratificada.

    Contudo, a procura cada vez mais generalizada da educao escolar a partir da II Guerra Mundial e as

    exignciasdaeconomia levamoEstadoaperspectivaroalargamentodaescolaridade tornandoobrigatrios

    nveissucessivosdeciclosdoensinosecundrio.Em1964,foitornadoobrigatriaaescolaridadede6anos;em

    1986,ade9anos;eem2009(Lein46/86,de14deOutubro)ade12anos(Lein85/2009,de27deAgosto).

    Depermeio fica a ReformaVeiga Simo (Lein5/73,de25de Julho)quepreconizavao alargamentoda

    escolaridadeobrigatriapara8anos.

    Emsuma,emPortugalforamprecisosquasedoissculosparauniversalizarainstruoprimriaeem

    meiosculouniversalizadaaescolasecundria,sendoqueauniversalizaodaescolaafacetamaisvisvel

    dademocratizaodaeducao.Acresceaindaaconsagraodauniversalizaodaeducaoprescolarpara

    as crianasapartirdoscincoanosde idade (Lein85/2009,de27deAgosto), retirandodefinitivamenteo

    carcterdeiniciaoescolarescolaprimria.

    2.AHETEROGENEIDADEDAESCOLADEMASSAS

    A universalizao da escola psprimria comporta transformaes quantitativas e transformaes

    qualitativasnosistemaescolarportugus.Astransformaesquantitativastraduzemseemmaisalunos,mais

    professores e mais estabelecimentos de ensino. As transformaes qualitativas traduzemse na

    heterogeneidadedealunos,deprofessoresedascomunidadeslocaisondeasescolasseinserem.

  • 17

    Auniversalizaodaescolapsprimria trazparao interiordestaumaheterogeneidade socialdos

    alunos:hcrianaseadolescentesdosdiversosgrupossociaisedeorigemrural,suburbanaeurbana,oque

    implicadiversidadedeeducaesinformaisfamiliares,devalorizaesdistintasdaeducaoescolareesforos

    diferentespelaobtenodosdiplomas,arrastandoadiversidadedemotivaese interesses,necessidadese

    projectos de vida. A heterogeneidade social dos alunos comporta uma heterogeneidade acadmica,

    aumentandoaamplitudedecapacidadeseconhecimentosdosalunos.Aheterogeneidadetrazparaointerior

    daescolaadiversidadesocialevalorizaesdiversasdaeducaoescolar,colocandoporvezesemcausaos

    valoresveiculadospelaescola.Aheterogeneidadeintroduznaescolaumconjuntodecrianaseadolescentes

    quenovalorizamaescolaeresistemculturaescolardeformamaisoumenosviolenta.

    Paraacolhercadavezmaiornmerodealunos,osistemaescolarrecrutoucadavezmaisprofessorese

    aumentou a heterogeneidade do corpo docente: em primeiro lugar, a heterogeneidade que advm dos

    diferentescamposdisciplinaresdeterminadospelocurrculoescolarpsprimrio,sobretudocomaunificao

    dos anteriores ensinos liceal e tcnico, particularmente fazendo conviver namesma escola professores de

    currculo liberalcomprofessores ligadosaotrabalhooficinalemanual.Emsegundo lugar,aheterogeneidade

    que resulta do recrutamento massivo de agentes qualificados disponveis, aumentando a amplitude de

    motivaesecapacidadesdentrodocorpodocente.Parafazerfaceheterogeneidadedocentepromovesea

    diversidade demecanismos de acesso estabilidade e plenitude profissional, a reorientao da formao

    inicial (anos 70 e 80), a estruturao de um sistema massivo de formao contnua (anos 90) e o

    desenvolvimento de um sistema de formao especializada (anos 90) atravs da oferta de cursos de

    qualificao para o exerccio de outras funes educativas na escola e de cursosdemestrado e cursos de

    doutoramento(Formosinho,2009).

    Daexpansodarededeestabelecimentosescolarescomvistaaoacolhimentodemaisalunosresulta

    quehojehmuitasmaisescolassecundriasemzonasruraisesuburbanasdoqueanteriormente,tornando

    maisheterogneoocontextogeogrficoesocialdasuainsero.

  • 18

    3.ASDESIGUALDADESNOINTERIORDAESCOLA

    A democratizaodo ensino iniciadanaltimadcadade EstadoNovo leva universalizaoda

    escola psprimria, inspirada numa concepo liberal emeritocrtica de igualdade de oportunidades que

    deveriapermitiroacessodosmelhoresanveismaiselevadosdeescolarizao.Auniversalizaodaescola

    psprimria transforma, assim, a estrutura de qualificaes da populao portuguesa, acarretando a

    desvalorizaodosdiplomasdeensinosecundrioealimentandoageneralizaoda ideiadedegradaoda

    escola pblica e de menor preparao dos alunos para os estudos ulteriores. Enfim, afirmase

    peremptoriamente que o nvel educativo desceu, pondo em causa a realizao do objectivo poltico de

    universalizaodaeducaoescolar.

    Por outras palavras, medida que crescem as taxas de crescimento dos nveis psprimrios a

    massificao escolar, inicialmente concebida como sinnimo de universalizao, acaba conotada com

    decrscimodonveleducativomesmoquealgunsestudosmostremqueonveleducativosobe(Baudelot&

    Establet, 1994). Pierre Bourdieu esclarece que, opondose ao ensino reservado ao pequeno nmero de

    herdeirosdaculturaexigidapelaescola,oensinodemassasestcondenadocrise,percebidaporexemplo

    como baixadenvel,apartirdomomentoemquerecebeumnmerocadavezmaiordeeducandosque j

    nodominamnomesmograuqueosseusantecessoresaheranaculturaldasuaclassesocialouque,sendo

    originrios de classes sociais culturalmente desfavorecidas, so desprovidos de qualquer herana cultural

    (Bourdieu,1966:340341).

    Poroutrolado,comoexplicaSrgioGrcio(1986:115127),aprocuraoptimistadaescolanoterceiro

    quartel do sculo XX era alimentada pelo crescimento econmico e pelasmudanas na estrutura social e

    econmicaepelasoportunidadesdemobilidadesocialascendenteatribudasescola,elevandoosnveisde

    expectativasquanto aos ganhos possveis com tal investimento, resultanteda interaco entre quadros de

    valoreseclculoeconmicodas famlias.Contudo,oabrandamentodocrescimentoeconmicoacabarpor

    pr em causa esta associao entremaior certificao emelhor posicionamento na estratificao social e

    conduzir procura desencantada da educao. Por outro lado, os indivduos e grupos sociais que

    ascenderam a uma posio social superior de origem, graas aos estudos efectuados, encaram a

  • 19

    desvalorizao dos diplomas como ameaa reproduo da posio social pelos seus descendentes e

    consequente despromoo familiar e, por isso, investem na procura de formao mais qualificada. Ao

    mesmo tempo,assisteseaum reforodopapel centraldaescolanasestratgiasde reproduo socialdos

    gruposcolocadosnapartesuperiordapirmidesocialemfunodasalteraesestruturaisnacomposiodo

    capitaldetidopelaburguesia(Pinon&PinonCharlot,2007)edacompetionoacessosmelhoresposies

    domercadodetrabalho(Sebastio&Correia,s/d:6).

    Ao receio dos primeiros e s novas exigncias colocadas aos segundos juntase o desencanto

    daqueles que vem frustrada a correspondncia da reduo das desigualdades de acesso escola com a

    reduodasdesigualdades sociais,omalestarproporcionadopelaocorrnciade situaesde violnciaem

    espaoescolareaimpreparaodaescolaparaorganizacionalmentesetornarinclusivadetodosospblicos

    em idadeescolar,comosecomprometeramosEstadospelaDeclaraodeSalamanca,em1994,sabendose

    queosestudos sobreos factoresde sucessodosalunosmostrama importnciados factoresassociadosao

    aluno,famliaesoportunidadessociais,econmicaseculturais,mastambmescolaesuaorganizao.

    Aconstataodequenaescolanohum,masvrios insucessos (Pires,1987a)obrigaestaa repensara

    questodoinsucessoedoabandonoescolar,centrandoanoapenasnoinsucessodoalunoedafamlia,mas

    tambmno insucessodaescolaemcumprirasfinalidadesqueasociedade lheatribui,aomesmotempoque

    reala os factores de (in)sucesso que aprpria escola comporta, como o regime de aprovao/reprovao

    anualeaestruturacurricular(Formosinho&Fernandes,1987),adescontinuidadenastransiesentreciclose

    nveis de aprendizagem (Silva, 1987) e a sequencialidade regressiva do ensino (Pires, 1987b), oumesmo a

    interacoselectivanointeriordasaladeaula(Gomes,1987).

    4.PEDAGOGIA,UNIFORMIDADEECOMPENSAO

    Aacumulaodemissesedecontedosea infinidadedetarefasqueforamatribudasescolaao

    longodossculosXIXeXXlevaramaumaespciedetransbordamentodaescolademassasqueparecetla

    conduzidoaumimpasseeconvidaraumprocessoderetraimentoqueafaareencontrarcomoorganizao

    centrada na aprendizagem, partilhando com outras instncias um trabalho educativomais amplo (Nvoa,

  • 20

    2005:16 e 17). Mas ela mantmse fincada organizacionalmente no modelo liceal de inspirao liberal,

    caracterizado pela uniformidade das normas, dos espaos, dos tempos, dos alunos, dos professores, dos

    saberes edosprocessosde inculcao com vista a ensinar amuitos como se fosseum s (Barroso,2001).

    Visandoauniversalidade,aescolademassasfazabstracodasparticularidades individuaisefaz imperaros

    princpios da uniformidade e da impessoalidade. Na organizao do ensino, ela confrontase com o

    agrupamentodosalunospor turmae comopercursoeducativode cada indivduoeprometea conciliao

    entre o ensino de todos e a aprendizagem individual, promete a flexibilidade curricular e a diferenciao

    pedaggicae,noentanto,fazprevalecerumsistemacurricularcommatriasdefinidas,horrios inflexveise

    salasfixas.

    Aheterogeneidadedaescolademassaspeemevidnciaainadequaodeumapedagogiauniforme

    que idealiza como bom aluno aquele que consegue acelerar a inscrio do que est prescrito

    (conhecimentos, tcnicas, valores e atitudes), quando a finalidade igualizadora da educao escolar se

    confrontacomo insucessoeoabandonoescolares,cujaanliseconduzacumulaodeevidnciasdeque

    este fenmeno incide predominantemente sobre os alunos mais desfavorecidos sob os pontos de vista

    econmico, social, cultural, familiar e psicolgico e que estes factores so externos ao funcionamento da

    escola.Assim,ocumprimentodafinalidadeigualizadoradaeducaoescolarexigequeaescolacompenseos

    dficescujapersistnciaacabasistematicamenteporneutralizaraeficciadaacopedaggica,assumindoum

    conjuntodepapisqueabarcamdiferentesmodalidadesdepolticasocial (Saviani,2008:33)eatribuindoao

    professoratarefadecompensarosdficesdosalunosqueapresentamdificuldadesdeaprendizagem(Oliveira

    Formosinho,2007:21).

    Apedagogiada compensaomaterializase, assim, em aco socialnas vertentesda alimentao,

    sade, higiene e dos apoios socioeducativos e em apoio psicopedaggico com vista compensao de

    carncias detectadas nos alunos. Contudo, a persistncia de alunos insucedidos refora a ligao entre

    privilgiosocialeinsucessoescolarepeemcausaarelaoentreculturasescolareseoutrasculturassociais,

    entreculturasescolaresfortementevinculadasaospadresdeclassesmdiasurbanasresidindonasregies

    mais favorecidas e aos padres de Estado nacional e, da outra banda, as culturas de classes populares,

  • 21

    designadamentequando acumulam a residnciaem regiesdeprimidase a ligaoaos sectoresprimrioe

    secundrio, ou quando sofrem processos de hipermarginalizao por razes tnicas, religiosas ou outras

    (Silva,1994:1220).

    Naverdade,apedagogiadacompensaodesenvolveseemcoernciacomumsistemaque fazdo

    currculoprescritooprojectounificadordasaprendizagens,semabalarasuarigidezprogramtica,que,porsua

    vez,inviabilizaaadequaoeadiferenciaocurricularnecessriasparaquetodostenhamacessoaomesmo

    aquetmdireito,atravsdoscaminhosdiversosquelhespermitamchegarl(Roldo,1999:41).

    5.REORGANIZAOCURRICULAREAUTONOMIADASESCOLASEDOSPROFESSORES

    Aproblematizaodopapeldaescolanosucessoenousodosbenseducativossuscitaosprincpiosda

    equidadeedadiferenciaopositivacomomaterializaodaigualdadeformaldosalunos:oqueigualdeve

    sertratadoigualmenteeoquedesigualdevesertratadodeformadiferenciada;asmedidasdevemadequar

    se em funo das necessidades e das especificidades de cada aluno ou grupo de alunos. Estes princpios

    requeremmedidasdediversificaocurricularediferenciaopedaggica.

    Na sequnciada LBSEenombitodaacodaCRSE,a reforma curricularde finaisdosanos80

    (Dec.Lei n 286/89, de 26 de Agosto) cria a reaEscola, uma rea curricular no disciplinar destinada a

    fomentarasprticasdeinterdisciplinaridadeentreosprofessores,narealizaodeprojectosemcomum,por

    iniciativa dos alunos, abrindo, assim, uma vlvula de segurana, tubo de escape do sistema qual estaria

    cometidaarespostaaosanseiosdosquedesejamumaescoladiferentecomautonomia,descentralizada,

    comparticipaolocal,comcurrculomenosacadmicoenocingidasactividadeslectivasdasaladeaulae

    commais ateno aos aspectos da educao pessoal e social, ao nvelmoral e dos valores (Formosinho,

    1991:13).

    Nasequnciadestareformacurricular,formulamsenovosprogramas,determinasequeaavaliao

    seja formativa (Despacho Normativo n 98A/92, de 19 de Junho) e introduzemse mudanas relativas

    diferenciao curricular, como as adaptaes curriculares (DecretoLei n 319/91, de 23 de Agosto) e os

    currculosalternativos (Despachon22/SEEI/96de19deJunho).Apartirde1996,estetempodereforma

  • 22

    deulugaraumtempodeinovao(Pacheco,2007:85),emqueseinseremasmudanascurricularescomo

    a gesto flexvel do currculo, discutida e experimentada entre 1997 e 2001 e que viriam a conduzir

    reorganizaocurriculardosensinosbsicoesecundrio(DecretoLein6/2001,de18deJaneiro,eDecreto

    Lein7/2001,de18deJaneiro)eintroduodetrsreascurricularesnodisciplinaresareadeprojecto,

    oestudoacompanhadoeaformaocvica.

    Estas alteraes curriculares no s no conduziram a alteraes significativas nas prticas

    pedaggicas(Pacheco,2007,p.98),comonobeliscaramomodeloorganizacionaldaescola,cujadirecolhes

    externa,acimaeforadassuasfronteirasfsicasesociais,semprejuzodatransfernciadecompetnciaspara

    as escolas numa lgica de autonomia meramente tcnica ou funcional (Lima, 2007: 45). As alteraes

    curriculares por si s no garantem as transformaes que visam e correm o risco de se esgotarem nos

    normativos que as suportam, no centralismo dos reformadores, na subjectividade das medidas e na

    uniformizao[aparentemente]desejadadasprticasescolares(Pacheco,2007:98).

    Naverdade,ocurrculouniformeprontoavestir (Formosinho,1987),sejadetamanhonicoou

    detamanhosestandardizadosmassempredecididocentralmente,arrastaconsigoumapedagogiauniforme,

    quese traduznosmesmoscontedos,amesmaextensodosprogramase limitesestreitosparaoritmode

    implementao,agrelhahorriasemanaluniforme,ascargashorriasdeterminadaspordisciplina.Porisso,se

    pode afirmar que a pedagogia proposta uma pedagogia burocrtica: elabora normas pedaggicas de

    aplicaouniversaleimpessoal,partindodoprincpiodequetodasascrianas,independentementedosseus

    interesses,necessidadeseaptides,experinciaescolarerendimentoacadmiconasdiversasdisciplinas,tero

    de se sujeitar simultaneamente s mesmas disciplinas durante o mesmo perodo de tempo escolar

    (Formosinho,1999:13).

    Assim, as inovaes por decreto, mesmo aquelas que mexeram em determinadas dimenses da

    estrutura da classe, mantiveram tudo o resto e acabaram por ser bloqueadas pela prpria reaco

    regeneradora da estrutura original, a turmaclasse, elamesma uma unidade para a definio do espao

    escolar, a diviso do tempo, a seriao dos alunos, a distribuio do servio docente, a progresso das

    aprendizagens (Barroso,2001:82).Comefeito,apesarde todasasmudanascurriculareseorganizacionais,

  • 23

    consolidouse uma gramtica escolar prpria, cujas caractersticas organizacionais e estruturais so parte

    integrantedanossa imagemdoensino:alunosagrupadosem turmasmaisoumenoshomogneas segundo

    uma graduao serial; um ou mais professores alocados a uma turma (professor generalista, no ensino

    primrio, e professor de matrias, no ensino psprimrio); a sala de aula como espao estruturado da

    actividade lectiva; unidades temporais rigidamente estabelecidas que cadenciam o ritmo das actividades;

    saberesorganizadosemdisciplinasescolares,que so as refernciasestruturantesdoensinoedo trabalho

    pedaggico.

    Tratase,comefeito,detodoumconjuntodemodalidades,queregemacooperaoeacoordenao

    entreosdiferentestrabalhadoresescolares(adultosealunos),queaprpriafamiliaridadeserviuparaocultare

    querepousamemideias,representaesecrenasquegeraesdealunosinteriorizarampelossimplesfacto

    dasuaescolarizao,pelomodoprtico,informal,dofazer,doverfazeredoouvirdizer(Hutmacher,1992,p.

    51).A naturalizaodesta gramtica escolarque fazda turmaclasse a suaunidadeorganizativabsica

    provoca,assim,umaespciedecegueiranaanlisedomododetrabalhoescolareestnabasedoinsucesso

    detodososesforosdemudanadaescola(Nvoa,1995,p.XXII).

    6.MAISAUTONOMIAPARAASESCOLASEPARAOSPROFESSORES

    ApartirdasegundametadedadcadadeoitentadosculoXX,surgempropostasdereestruturao

    daescolaquevisampenetrarnasaladeaula,prestaratenoaodesenvolvimentoprofissionaldosprofessores

    e concederlhes maior poder discricionrio na tomada de decises, bem como fazer redistribuies

    significativas(enosuperficiais)nasrelaesdepoderexistentesentreosgestores,osprofessores,ospaiseos

    alunos(Hargreaves,1998:274).Essareestruturaodeveriacontemplardiversasdimenses,comoumagesto

    centradana escola (sitebasemanagement),o fortalecimentodosprofessores (teacher empowerment)que

    teriammaiorflexibilidadenaprogramaoenoagrupamentodosalunoseformaocentradanaescola.

    Actualmente,estemcausatodooprocessodamudanaorganizacionalque,assentandonalgicado

    decreto,no incluaasuacontextualizaoscaractersticasecapacidadesconcretasdossistemashumanos

    que devero executlos e que so os nicos que lhes podem dar vida (Friedberg, 1993: 329 e 331). As

  • 24

    polticaseducativasorientamsenosentidodoreconhecimentodaescolacomo lugarcentraldegestoeda

    comunidadelocalcomoparceiroessencialnatomadadedeciso.

    Esta alterao dos processos de administrao do sistema escolar fazem deslocar a regulao do

    Estado de um controlo baseado na conformidade com as regras e directivas impostas pela Administrao

    Educativaparaumcontrolobaseadonaconformidadecomosobjectivoseasfinalidadesdeaco,prpriode

    ummodo de funcionamentomais profissional.Ao pr omodo de regulao burocrtico em questo e ao

    afirmar o primado das finalidades sobre as modalidades, este novo modelo de regulao concede aos

    profissionaismaiorliberdadeparaencontrarasmodalidades,asviaseosmeiospararealizarosobjectivosea

    prestaode contasdaescola fazse atravsdeuma avaliao aposteriori,quemede adistnciaentreos

    resultadoseosobjectivos(enoaconformidadecomasdirectivasdahierarquia),cuja interpretao integra

    parmetrosdocontexto(Wutmacher,1992:56e62).

    REFERNCIASBIBLIOGRFICAS

    Barroso, J. (2001).Osculodaescola:domitodareformareformadeummito. InT.Ambrsio,E.

    Terrn,D.Hameline&J.Barroso,OSculodaEscolaEntreautopiaeaburocracia.Porto:EdiesASA,pp.6394

    Baudelot,C.&Establet,R. (1994).ONvelEducativoSobe.Refutaodeumavelha ideia relativa

    pretensadecadncianasnossasescolas.Porto:PortoEditora.

    Bourdieu,P. (1966)Lcoleconservatrice.Les ingalitsdevant lcoleetdevant laculture,Revue

    FranaisedeSociologie,VII,325347.

    Formosinho,J.(1987).OCurrculoUniformeProntoavestirdeTamanhonico.InAAVV,OInsucesso

    EscolaremQuesto.CadernosdeAnliseSocialdaEducao.Braga:UniversidadedoMinho,pp.4150.

    Formosinho,J.(1991).ConcepesdeEscolanaReformaEducativa.InSPCE,CinciasdaEducaoem

    Portugal:SituaoActualePerspectivas.Porto:Afrontamento,pp.3151.

    Formosinho, J. (1999). A renovao pedaggica numa administrao burocrtica centralizada. In

    J.Formosinhoetal.,ComunidadesEducativas:NovosDesafiosEducaoBsica.Braga:LivrariaMinho,pp.1123.

  • 25

    Formosinho, J. (Org.) (2009).FormaodeProfessores.Aprendizagemprofissionaleacodocente.

    Porto:PortoEditora.

    Formosinho, J.&Fernandes,A.S. (1987).A influnciados factoresescolares. InAAVV,O Insucesso

    EscolaremQuesto.CadernosdeAnliseSocialdaEducao.Braga:UniversidadedoMinho,pp.2934.

    Formosinho, J., Ferreira, F. I.&Machado, J. (2000). Polticas Educativas e Autonomia das Escolas.

    Porto:EdiesASA.

    Formosinho, J. & Machado, J. (2009). Equipas Educativas. Para uma Nova Organizao da Escola.

    Porto:PortoEditora.

    Friedberg,E.(1993).Lepouvoiretlargle.Dynamiquedelactionorganise.Paris:ditionsduSeui.

    Gomes,C.A. (1987).A interacoselectivanaescolademassas,OEnsino,n1819202122,169

    180.

    Grcio,S.(1986)APolticaeducativacomotecnologiasocial.Asreformasdoensinotcnicode1948e

    1983.Lisboa,LivrosHorizonte.

    Hargreaves,A.(1998).OsProfessoresemTemposdeMudana.Otrabalhoeaculturadosprofessores

    naidadepsmoderna.Lisboa:McGrawHill.

    Lima,L.C.(2007).AdministraodaEducaoeautonomiadasescolas. inCNE(Ed.),AEducaoem

    Portugal.Algunscontributosdeinvestigao.Lisboa:MinistriodaEducao,pp.1577.

    Nvoa,A. (1995).Prefcio. inBarroso, J.OsLiceus.OrganizaoPedaggicaeAdministrao (1836

    1960).Lisboa:FundaoCalousteGulbenkian/JuntaNacionaldeInvestigaocientfica,pp.XVIIXXVII.

    Nvoa,A.(2005).Evidentemente.HistriasdaEducao.Porto:EdiesASA.

    OliveiraFormosinho,J.(2007).Pedagogia(s)dainfncia:reconstruindoumapraxisdeparticipao.In

    J.OliveiraFormosinho,T.M.Kishimoto&M.A.Pinazza (Orgs.),Pedagogia(s)da Infncia.Dialogandocomo

    passado,construindoofuturo.PortoAlegre:Artmed,pp.1336.

    Pacheco,J.A.(2007).Currculo,investigaoemudana,inCNE(Ed.),AEducaoemPortugal.Alguns

    contributosdeinvestigao.Lisboa:MinistriodaEducao,pp.79148.

  • 26

    Perrenoud,Ph.(1986)Dasdiferenasculturaissdesigualdadesescolares:aavaliaoeanormanum

    ensino indiferenciado em Allal, L., Cardinet, J. e Perrenoud, Ph., A avaliao formativa num ensino

    diferenciado,Coimbra,LivrariaAlmedina.(ediooriginal1978).

    Pinon,Michel e PinonCharlot,Monique (2007) Sociologie de la bourgeoisie, 3eme ed. Paris: La

    Dcouverte.

    Pires, E. L. (1987a). No h um, mas vrios insucessos. In AAVV Vrios, O Insucesso Escolar em

    Questo.CadernosdeAnliseSocialdaEducao.Braga:UniversidadedoMinho,pp.1115.

    Pires,E.L.(1987b).Oensinosuperiorquemmaisordena:asequencialidaderegressiva.InAAVV,O

    InsucessoEscolaremQuesto.CadernosdeAnliseSocialdaEducao.Braga:UniversidadedoMinho,pp.51

    56.

    Pires,E.L.,Fernandes,A.S.&Formosinho,J.(1998).AConstruoSocialdaEducaoEscolar,2ed..

    Porto:EdiesASA.

    Roldo,M. C. (1999).Os Professores e aGesto do Currculo. Perspectivas e Prticas em Anlise.

    Porto:PortoEditora.

    Saviani,D. (2008).EscolaeDemocracia: teoriasdaeducao,curvaturadavara,onze tesessobrea

    educaopoltica.Campinas,SP:AutoresAssociados.

    Sebastio,J.&Correia,S.V.(s/d).AdemocratizaodoensinoemPortugal.Santarm:EscolaSuperior

    deEducao(policopiado).

    http://www.ese.ipsantarem.pt/projectos/artigos_fct/A%20democratiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20ensino%20e

    m%20portugal.pdf(acessoem15/04/2011,10h00).

    Silva, A. S. (1994). Anlise sociolgica e reflexo democrtica sobre a educao: um dilogo com vantagens

    recprocas,AnliseSocial,Vol.XXIX(129),1994(5.),12111227.

    Silva,J.R.(1987).Doprimrioaopreparatrio:aeliminaoprecoce.InAAVV,OInsucessoEscolaremQuesto.

    CadernosdeAnliseSocialdaEducao.Braga:UniversidadedoMinho,pp.3540.

    Wutmacher,W.(1992).Aescolaemtodososseusestados:Daspolticasdesistemassestratgiasde

    estabelecimento. InA.Nvoa(Coord.).AsOrganizaesEscolaresemAnlise(pp.4576).Lisboa:Publicaes

    domQuixote.

  • 27

    LIDERANASINGULARNAESCOLADEMOCRTICA:AMEAASECONTRADIES

    LeonorLimaTorresIEUniversidadedoMinho

    1.INTRODUO

    Nasltimasduasdcadas,omodelodegestoescolar tem constitudoumadas travemestrasdas

    reformaseducativas,apardodesenvolvimentodemodelosdeavaliao (dasescolas,dosprofessores,dos

    alunos),ambasaspreocupaes,alis,profundamentearticuladascomoparadigmadegestoneoliberalque

    temmarcado,nosltimosanos,aagendaeducativa.Surgecomevidncianosdiscursospolticosenosmeios

    decomunicaosocial,aideiadequeosproblemaseducacionaisresultantesdatopropaladacrisedaescola,

    sepodemresolverouminimizarporviadaimplementaodeummodeloeficazdegestoescolar.Ensaiaram

    sefigurinosvriosemsubstituiodosConselhosDirectivos,rgocolegial institudodesde1975Director

    Executivo,em1991;ConselhoExecutivo,em1998;Director,em2008,cujasmudanasdedesignaoforam

    acompanhadasdeligeirasalteraesnasuacomposio,competnciasemodosdefuncionamento.Emtodos

    os regimesdegoverno sedestacaa figurado lder formalda instituio (PresidentedoConselhoDirectivo,

    PresidentedoConselhoExecutivo,Director),sempresujeitosregrasdemocrticasdaeleioalargadapelos

    pares,comaexcepodoactualcargodeDirectorinstitudopeloDecretoLein75/2008,de22deAbril.

    Faceaestasalteraesmorfolgicas,interessaquestionaratquepontoomodeloactualintroduziu,

    porumlado,mudanassignificativasaonveldofuncionamentodainstituioescolare,poroutro,dinmicase

    solues organizacionais alternativas capazes de tratar dos sintomas de crise imputados quase sempre a

    factores internos ao sistema de ensino. Mais, de que forma as escolas fazem uso das suas margens de

    autonomia relativa? Como se desenvolvem os processos de liderana num contexto marcado pela

    unipessoalidadedadireco?Comoseposicionamosprofessoresgestoresemrelaoaoprprioprocessode

    autonomiadasescolas?

  • 28

    2.CRUZANDOALGUNSDADOSDEINVESTIGAO

    Partimosdoprincpiodequeosconstrangimentospolticoestruturaisqueseabatemsobreasescolas

    exercemumcondicionamentodiferenciadosobreasprticas,abrindodiversosespaosdepossibilidadesque

    podemserapropriadospelosactoresdeformaculturalmentesignificativa.precisamentenestepontona

    apropriao quotidiana deste espaotempo e desta margem relativa de actuao que nos parece

    pertinente discutir as potencialidades das organizaes escolares na construo de uma escola

    progressivamentemaisdemocrticaemaisjusta.

    Esta abordagem apoiase em dados de investigao recolhidos no mbito de trs pesquisas

    actualmente em curso: i) anlise crtica dos Relatrios de Avaliao Externa das escolas, nos domnios da

    organizaoegestoescolare liderana; ii)estudodecasocentradonospercursosdeexcelnciaescolardos

    alunosdeumaescolasecundria;iii)anlisedosProjectosdeIntervenodosDirectoresdeescolas.

    3.PERFILIDEALDELDERESCOLARNAPERSPECTIVADAAVALIAOEXTERNA

    De entre as diversas formas de regulao das escolas pblicas (cf Barroso, Org., 2003, 2005), os

    dispositivosdeavaliaoexternainstituiramsenosltimosquatroanosnumpoderosomecanismodecontrolo

    sobreosresultadosescolares.DaanlisequeefectumosaosRelatriosdeAvaliaoExternadasescolasno

    agrupadas (cf. Torres& Palhares, 2009) foi possvel extrair ummodelo idealtpico de organizao escolar,

    claramente alicerado num referencial para a aco, em funo do qual se procedeu classificao das

    instituies. Esta matriz uniformizadora, ao funcionar como uma espcie de molde norteador da aco,

    tendeadiluirasespecificidadesorganizacionaiseculturaisdecadaescola,induzindonestasorganizaesuma

    aproximao,nalgunscasos,ummimetismo,aosparmetrosdefuncionamentoconsideradosideais.

    De forma a apreender o perfil ideal de liderana veiculado nos Relatrios de Avaliao Externa,

    efectuamosumaanlisede contedoaosdomniosda lideranaeda organizaoegestoescolarque

    obtiveram a classificaodeMuitoBom.Aprimeiradeduogenrica retiradadesta anlise apontaparaa

    subordinaodoperfilde lideranas lgicasdaprestaodecontasederesponsabilizao (accountability)

    (cf.Afonso,2010aeb),bemcomodaracionalizaodosrecursos.Pressionadaregulaodosresultados,a

  • 29

    escola precisa, na ptica do quem avalia, de um lder forte, de um rosto que se responsabilize pela

    implementaoeficientedeumprojectoeducativoquesepretendepartilhado.Masosignificadodepartilha

    perspectivadomaiscomoumatcnicadegestodeafectosdoquedeumprocessoresultantedaparticipao

    democrticadosactoresnassuasesferassignificativasdeaco.OqueefectivamentevalorizadopeloGrupo

    deAvaliaooperfildedesempenhodaescolaaonveldosresultados,dependendoestesdaeficinciacom

    queosactoresoperacionalizem,nasperiferiasescolares,uma tecnoestrutura impostapor instncias supra

    organizacionais.

    A focalizaona figuradoPresidentedoConselhoExecutivoe,apartirda4 fasedeavaliao,do

    Director,comorefernciaparaavaliaralideranadaescolasubentendeclaramenteumaimagemdeliderana

    individual, contrariando a tradio das prticas de colegialidade culturalmente instituidas nas organizaes

    escolares.Valorizaseprimordialmenteodomniodeferramentasdegestoquepermitamaconcretizaodas

    metas nas esferas do Mercado (angariao de verbas, projectos e parcerias; inovao tecnolgica; oferta

    educativa; indicadores de procura), do Estado (eficincia dos processos e eficcia dos resultados, com

    monotorizaoeavaliao;qualidadeeexcelncia)edaEscola(culturaorganizacionaldaescola).Transparece

    umperfildelideranadetipogestionrio,reverencialereceptivo,orientadomaisporumalgicadeprestao

    de contas (ao Estado e aoMercado) do que por princpios de desenvolvimento da cidadania democrtica.

    Nesta lgica as dimenses culturais da escola assumemse como tcnicas de gesto facilitadoras da

    concretizao dos resultados, reforandose a crena culturalista de que o empenhamento, o

    comprometimento,astradiesculturaispromovemaeficciaeaexcelnciaescolar.

    4.MISSODAESCOLAPBLICA

    Nocontextodasociedadeportuguesa,amissodaescolapblicatemsidoobjectodeumaretrica

    poltica democratizadora que contrasta claramente com a adopo de medidas reformadoras de pendor

    neoliberal (cf. Lima, 2011), como o caso, do regresso dos exames nacionais, do reforo da inspeco e

    controlodosresultados,daopopor lideranasunipessoais,damultiplicaodemecanismosdeavaliaoe

    deprestaodecontasedaemergnciadeumanovanarrativaelitistaquedefendeaexcelnciaacadmica

  • 30

    como valor fundamental (Magalhes& Stoer,2002). Tendo comoquadrode fundooparadigmade gesto

    dominante, interessasabercomoquecadaescolaemconcretodefineepriorizaasuamissoestratgica:

    Como resolve a tenso entre a dimenso democrtica da instituio e a presso para a produo de

    resultados?

    DaanlisequeefectumosacercadeduasdezenasdeProjectosde IntervenodosDirectores, foi

    possvelidentificaralgunsreportriosinterpretativosapropsitodamissodaescola.Situadosnumaespcie

    decontinuum,estesreportriosenunciadospelasequipasdirectivasdasescolasconfiguramdistintasvisesda

    funosocialda instituioescolar,elasprpriasdenunciadorasdo lugaredoestatutoatribudoaosvalores

    democrticos e participativos. Para efeitos de ilustrao, circunscrevemos esta reflexo apenas a dois

    posicionamentos,nosporserevelaremmaisrepresentativosdaglobalidadedoscasos,masigualmentepor

    representaremasduasvisesquemaisseopemedistanciamemtermosdeconcepodeescola.Oprimeiro

    posicionamentodefendedeformaveementeafunoselectivaemeritocrticadaescola,centrandotodasas

    prioridadesnaconstruodaexcelnciaacadmicacomoviamaiseficazparagarantiroprosseguimentodos

    estudos superiores; um segundo, mais voltado para as dimenses igualizadoras e democratizadoras da

    educao,privilegiacomoprincpiosfundamentaisaigualdadedeacessoesucesso,adiversificaodaoferta

    formativaeapromoodaparticipaodemocrtica.

    Estesdoisperfisdeescola,assentesemdistintasvisesdasuamissoestratgica,tendemareflectir

    os traos culturais destas instituies: o primeiro, mais conectado com os traos da cultura liceal ainda

    reminiscente de certas tradies historicamente enrazadas e refm de uma imagem social que tende a

    perpectuarse;osegundo,herdeirodaescola industrialecomercial,culturalmentevocacionadaparaatender

    snecessidadessociaiseeconmicasdaregio.Estasduasformasdeconceberamissoestratgicadaescola

    remetemparadistintasprticasde intervenodemocrticaedeconstruodaautonomia.Ea interrogao

    queseimpenoimediatoadesaberdequeformaamissodaescolaeassuaslinhasderumocondicionam,

    potenciandoou limitando,a construodeprticasdemocrticas?Atquepontoasorganizaesescolares

    tm conseguido ultrapassar as fortes tradies individualistas inerentes profisso docente e as rgidas

  • 31

    regulaesexternas,colocandoassuasmargensde liberdadeede independnciaaoserviodaparticipao

    democrticaedaautonomia?

    Tornase claroque asorganizaes escolaresdispemde alguma latitudeparadefinir as linhasde

    rumo, em consonncia com as suas especificidades culturais e com o sentido de pertena partilhado pela

    comunidadeeducativamaisalargada(cf.Torres,1997,2004).Tambmnospareceevidentequeasestratgias

    dedesenvolvimentodaescolapodemampliare/oulimitarosseusespaosdeparticipaoeautonomia.

    5.LIDERANASCOLEGIAISOULIDERANAINDIVIDUAL?

    DaanliseefectuadaaosPlanosde IntervenodosDirectoresedeoutrosdados complementares

    (entrevistas,discursosoficiais)foipossveldeduzirpelomenosdoisestilosdeliderana:umestilodecarcter

    mais implementativo, decalcado do esprito do diploma legal (decretolei n 75/2008), associado misso

    elitistadeescola;eumperfilmaisprximodocolegial,perspectivandoaparticipaoeacoresponsabilizao

    comodimensesdavidacolectiva,relacionadocomamissomaisdemocratizadoradeescola.

    A liderana de tipo implementativo tende a valorizar a produo de resultados escolares, criando

    mecanismosdemonitorizaodosmesmos,sejaparaelevarosnveisdeexcelncia,aumentaronmerode

    parcerias ede iniciativas culturais, sejaparadiminuiro graude expressode abandono,de reteno ede

    indisciplina.Nasendadaexcelnciaescolar!Assimresumiramosamissoprioritria,o lemadeumconjunto

    deescolaspblicas,sobretudodenvelsecundrio.Movidaporesteesprito,a lideranadaescolaafirmase

    comoumadimensocentraldavidaorganizacional,tendendoaconcentrarospoderesdedeciso,bemvisveis

    aonveldaconstituiodasequipasdegestoecoordenao,namaioriadoscasosalvodeumanomeao

    directaporpartedoDirectordaescola

    Alideranacolegial,aocontrriodaanterior,tendeafocarsenosprocessos,nopressupostodeque

    osmesmos se revestem de uma dimenso pedaggica, formativa e transformadora. Inspirada numa viso

    regeneradoradeescola,acreditasenaspotencialidadesdestapara repararou compensarasdesigualdades

    sociais,alargandoasuamissoeducativaatodosospblicosescolares.Adiversificaodasofertasformativas

    e dos seus respectivos pblicos impeliu naturalmente o desenvolvimento de um estilo de liderana mais

  • 32

    sustentadonosinteressesdacomunidadeescolar,maiscomprometidocomasdiversasracionalidadeselgicas

    detrabalhocoexistentesnaorganizao.Valorescomoaflexibilidadeorganizacional,otrabalhocolaborativoe

    a inovaopedaggicaemergemcomoossuportesdeumamatriz identitriaque interessareforartantoao

    nveldalideranadetopocomoaonveldaslideranasintermdias.

    6.PEDAGOGIAPERFORMATIVAOUPEDAGOGIADEMOCRTICA?

    Dequeformaamissodaescolaeoseuestilodelideranainterferemcomosmodosdeorganizao

    pedaggica?Apesardearelaonemsempreserdirectaedeterminista,foipossvel,mesmoassim,encontrar

    alguns indicadorespertinentes.Nas escolasdeperfil elitista, apreocupao com aproduoda excelncia

    acadmicatendeaconcentraroolhardogestornassoluespedaggicasconsideradasindutorasdaqualidade

    doensino:aconstituiodasturmas,ainstituiodeprmiosescolares,ocontrolodaindisciplina,oreforoda

    componente formal do ensino, entre outros aspectos. Os tempos e os espaos escolares so pensados e

    organizadosem funodasuaoptimizaoemtermosderesultados,sendoconsideradocritriopedaggico

    aquelequemelhorservirodesempenhoescolar.

    Numoutroextremo,asescolasdeperfilmaisdemocrtico,tendemaorganizarocampopedaggico

    por referncia heterogeneidade do seu pblico e da sua oferta, criando diversas modalidades de

    agrupamentosdealunos,ensaiandovriasestratgiasde controloda indisciplinaemultiplicandoasviasde

    ocupao dos tempos no curriculares. Numa tentativa de promover o sucesso para todos, procurase

    diversificarasopesformativasepedaggicas,sendonotriaumamaiorpreocupaocomosprocessosde

    ensinoaprendizagem, arriscando novas estratgias pedaggicas, experimentando dispositivos avaliativos

    alternativos,ouainda,introduzindoalgumasinovaesnoscurrculosoficiais.

    7.TENSESECONTRADIESDAESCOLAPBLICA

    Ousodasmargens limitadasdaautonomiacomvistaampliaodavivnciademocrticadaescola

    esbarra com as lgicas gerencialistas impostas a nvel central, gerando no quotidiano destas organizaes

    algumas tenses difceis de superar: de um lado, a tentativa de corresponder diversidade dos pblicos,

  • 33

    criando uma variedade de solues formativas e educativas e, por outro, a necessidade de consolidar a

    qualidadedo ensino, garantindo elevadosnveisde sucesso.Odifcil equilbrio entremais escola emelhor

    escolanemsempreconseguido,revelandofrequentementesituaesconflituais.Porexemplo,aslgicasque

    prevalecemconstituiodeturmasprocuramcombinaroprincpiodadiversidadedosgrupos(turmasde

    ensinoregular,turmasdeensinoprofissional,turmasdeensinorecorrente,cursosdeeducaoeformao...)

    comoprincpiodahomogeneidadedaclasse(turmasdenvel),numatentativadegarantirasimultaneidade

    deumaescolaparatodosedeumaescoladeexcelncia.Porm,aadesodaescolaaoidealmulticulturalno

    suficiente para gerar um acrscimo de democratizao escolar, desde logo porque o modelo de

    funcionamento da organizao se mantm inalterado, replicando as mesmas frmulas desigualitrias de

    configuraodasturmasprevalecentesnaescolaelitista.Nofundo,alunoseprofessoressodistribudospelos

    vriosgrupos/turmas,elesprpriossocialeculturalmentehierarquizados,nosevislumbrandonasdinmicas

    organizacionais da escola, a existncia de mecanismos que visem contrariar este tipo de segmentao e

    selectividadesocialeescolar.

    Mesmo reconhecendo os avanos notveis em algumas escolas nos domnios pedaggico e

    organizacional, persistem ainda dificuldades, ao nvel dos professores, em desenvolver um trabalho

    colaborativo, em alterar as rotinas pedaggicas institudas, em pensar e trabalhar a escola como agncia

    multicultural.Tornase cadavezmaisevidentequeasescolasprocuramgerirasdesigualdadeseaexcluso

    dentro dos constrangimentos impostos pelo sistema que as produz. E neste sentido, importante

    compreenderosentidoeoalcancedaapostanadiversificaodaoferta,toexpressivamenteproblematizada

    porMagalhes&Stoer(2002:41;itliconooriginal):

    De facto, quando hoje em dia amuito apregoada diversificao entra emjogonosistemaeducativosobretudonosentidodediversificarsadasparaaestruturaocupacional.Poroutraspalavras,oensinoparaoalunopadrodosistemano sealtera.Oquemudao canal,a viapelaqual cadaalunodimensionadoparaachamadavidaactiva.

  • 34

    Pese,ento,aquestode saberatqueponto seconsegueevitarqueadiversificao formativa

    funcione como um mero canal de passagem selectiva de alunos, seja directamente para a estrutura

    ocupacional,sejaparaoensinosuperior?Dequeformaaescolapodertransformarestescanaisemcontextos

    significativosdeaprendizagenssusceptiveisdeinverteremosdestinossocialmentetraados?Atquepontoas

    instituiestmsabidolidarcomodilemainerenteaobinmiodemocraciaversusexcelncia?

    8.SOBREAOFERTAFORMATIVA:ALGUMASNOTASSOLTAS

    Submetidaaexignciasopostas,tantasvezesdenunciadorasdeumacriseinsanvel,aescolapblica

    convivediariamentecomatensoentreosfinspropostoseosmeiosindispensveisparaosatingir.Oslimites

    da aco propriamente escolar, associados a uma autonomia poltica praticamente inexistente, impelem e

    intensificamasantinomiasdemocratizao/selecoeresultados/processos.portantoindispensvelrepensar

    dequeformaaescolapodesertodemocrticaquantopossvel,semperderosentidodasuavocao.Afinal

    como conciliar mais escola com melhor escola? Como garantir uma escola de excelncia para todos?

    Diversificandoouretraindoaofertaformativa?Emqualquerdoscasos,valeapenaconsideraralgunsfactores

    chaverelativamentequestodasofertasformativas:

    A oferta formativa sobretudo uma questo poltica.De outra forma, reduzse a uma espcie de

    prtesepara supriras insuficinciasdaescola (eda sociedade),podendomesmo transformarsemaisem

    certificaodoqueemformao.Maisperigosoainda,podeainclusodevriospblicosconstituirapenasum

    meroadiamentodaexclusosocial,umsubtilmecanismodegestodiferidadaprpriaexcluso;

    Sendoumaquestopoltica,oseuenquadramentodesejavelmentemultireferenciado:i)integradoe

    contextualizado na dinmica de uma poltica educativamais vasta, em articulao estreita com o projecto

    educativodomunicpio;ii)inseridanaespecificidadedacomunidadeenquantoestratgiaderevitalizaodas

    culturaslocais;iii)articuladaprofundamentecomasespecificidadesevalnciasdaescola;

    A estrutura da oferta formativa dever ter em conta a centralidade das invariantes estruturais da

    escola, isto , a sua forma clssica e secular.A opo poltica pela diversidade ou restrio da oferta ter

    sempredeconvivercomaimutabilidadedaestruturaescolar(tempos,espaoseprocessos);

  • 35

    Por outro lado, a diversificao da oferta exerce um impacto visvel sobre a fragmentao e

    segmentao organizacional (relacional, pedaggica).O papel das lideranas informais e intermdias, bem

    como as dinmicas de intercomunicao entre elas, constituem factoreschave a considerar na gesto

    quotidianadasescolas;

    Tornasecadavezmaispertinentereconhecerapluralidadedeformasdeexcelnciaescolaraliada

    pluralidadedepedagogias.Ouseja,procederrelativizaoedessacralizaodahierarquiaunidimensionalda

    excelncia,dottuloescolarnico;

    Em consequncia, o desafio pode passar pela dinamizao de novas formas de competio, mais

    focadas em grupos, comunidades ou mesmo escolas e menos no culto do indivduo ou da performance

    individual.

    A condio scioprofissional dos professores tornaos naturalmente nos principais veculos do

    processodemocrticonasescolas,commaisoumenosautonomiademocrtica.Por isso,osentidodassuas

    prticas (sociais,polticas,educativas,pedaggicas),ouseja,a formacomoutilizamosespaos limitadosde

    autonomia e como recontextualizam as prprias imposies centrais, acabam por ser determinantes no

    desenvolvimentodacidadaniademocrticadainstituioescolar.Efectivamente,entreasconfiguraeslegais

    concebidasnosespaosministeriaiseasrealidadesvivenciadasnasescolasconcretasenassalasdeaulareais,

    identificamosum fosso enorme, cada vezmaisprofundo.Mas este enormedesajustamento,mesmo sob a

    apertadavigilncia informtica,avaliativae inspectivaquepressionaparaauniformidade,pode tambmser

    explorado pelos actores locais no sentido de reforar as suas agendas democrticas e participativas,

    valorizandoerepondo,assim,adimensopblicadaeducao.

    REFERNCIASBIBLIOGRFICAS

    Afonso,A.(2010a).Gesto,autonomiaeaccountabilitynaescolapblicaportuguesa:brevediacronia.

    RevistaBrasileiradePolticaeAdministraodaEducao,26(1),1330.

    Afonso,A.(2010b).Polticaseducativaseautoavaliaodaescolapblicaportuguesa.Apontamentos

    deumaexperincia.RevistaEstudosemAvaliaoEducacional,21(46),343362.

  • 36

    Barroso,J.(2005).Polticaseducativaseorganizaoescolar.Lisboa:UniversidadeAberta.

    Barroso,J.(Org.)(2003).AEscolapblica.Regulao,desregulao,privatizao.Porto:EdiesASA.

    Lima,L.(2011).Administraoescolar:estudos.Porto:PortoEditora.

    Magalhes,A.&Stoer,S.(2002).Aescolaparatodoseaexcelnciaacadmica.Maia:Profedies.

    Torres, L. L. (1997). Cultura organizacional escolar. Representaes dos professores numa escola

    portuguesa.Oeiras:CeltaEditora.

    Torres,L.L. (2004).Culturaorganizacionalemcontextoeducativo.Sedimentosculturaiseprocessos

    deconstruodosimbliconumaescolasecundria.Braga:UniversidadedoMinho.

    Torres, L. L. (2011). A construo da autonomia num contexto de dependncias. Limitaes e

    possibilidadesnosprocessosde(in)decisonaescolapblica.Educao,Sociedade&Culturas,32(noprelo).

    Torres,L.L.&Palhares, J.A. (2009).Estliosde lideranaeescolademocrtica.RevistaLusfonade

    Educao,14,7790.

  • 37

    FAZERAESCOLAACONTECER:ACOLABORAOCRIANASPROFESSORESPAISCOMOPRTICADECIDADANIA

    TeresaSarmentoIEUniversidadedoMinho

    IldaFreireESEBInstitutoPolitcnicodeBragana

    INTRODUO

    O exerccio da cidadania hoje entendido como um dever e um direito a usufruir em qualquer

    contextoeducativo.No interiordaescolatodososseusprotagonistassoconvidadosaexercitarprticasde

    cidadania.No se exclui ningum,mesmo osmais pequenos interlocutores tm o direito a participar nas

    decisesque,poralgumarazo,possamterinfluncianasuavidaacadmica.Acidadaniadacrianaconstitui

    sedestemodocomoumdesafiomudanadasestruturaspolticas,educativasesociais,transformaodas

    instituieserenovaocultural(Sarmento,T.1999).

    Asrelaesqueseestabelecemnointeriordasinstituieseducativaspodemserdeterminantespara

    dar voz e visibilidade criana. Se athdcadas atrs as fronteiras entre a escola e as famlias estavam

    claramentedefinidas e fechadas cadauma em si, actualmente, e tendo em linhade conta a relevnciada

    cidadania, tornase pertinente efectivar prticas de colaborao que impliquem a coresponsabilizao de

    todos (pais, professores e comunidade) na educao. De uma relao conturbada e frgil (Montandon e

    Perrenoud, 2001) h assim a possibilidade de passar a revelarse uma relao entre a escola e os pais,

    melodiosaerefinada,aindaquenogeneralizadaatodososcasos.

    A escola faz parte da vida quotidiana das famlias e, nos dias que correm, a gesto partilhada da

    instituioescolarumarealidadecadavezmaisassumida,contribuindoparaumacooperaomaisestreita

    entre todos os actores directamente envolvidos. As vantagens desta proximidade so inmeras e

    manifestamentepositivasparaobomdesenvolvimentoeducativo.

    Aexistnciaderelaesharmoniosasentreacomunidadeeducativa,aescola,ascrianaseafamlia

    estdependenteda capacidadedeentendimentoede comunicaoentre todos.Deve,por isso,basearse

  • 38

    numprocessode respeitomtuo,de tolerncia ede reconhecimentodosdiversospontosde vista, como

    intuitodeproporcionaraoseducandosmelhorescondiesdeaprendizagemeconduzindoaosucessoescolar.

    Paiseprofessorescomprometemse,agora,comumdilogoprofcuoeunssonoemproldeumaeducaode

    qualidade.

    Ora, a relao escolapais, aparentementemais fortalecida, faz prevalecer a ideia de que a escola

    possibilitaaexistnciadeumaparticipaoefectivaeactivadospaisemactividadeseducativas.Poisbem,por

    vialegislativa,atutelaincentivaestaparceria,porm,osestudosmostramquequandoaparticipaodospais

    estipuladaouencorajadapelalei,permanecefracaouilusria(Montandon,2001:157).Estaideiadeiluso,

    segundo o autor, acontece quando se pensa que: (i) h participao parental s porque os pais se fazem

    representarnosrgospedaggicosedegestodasescolas, (ii)estorepresentadasas famliasdetodasas

    classessociais,(iii)aparticipaodospaisreal,quando,emcontrapartida,opapelqueosprofissionaisos

    deixamdesempenharpareceseemmuitos casos comode figurantes (ibid:157). Salientasequea relao

    escolapais existe em todas as instituies escolares embora s se concretize efectivamente num nmero

    reduzido de escolas. Por um lado, para que a parceria escolapais seja sustentada por uma ligao mais

    efectiva,sernecessrioqueaescolacrieoportunidadesdeparticipaoeseabrasemreservasfamliae

    comunidade,permitindoumenvolvimentorealnassuasactividades.Poroutro lado,ospais tambmdevem

    mostrarumaposturadeaberturaeestaremdisponveisparaestabeleceremanteressarelao.

    Acreditamosqueestarelaopodercontribuirparatornarmaisdemocrticasasescolasetornaro

    seupbliconuminterventormaisautnomoe,comotal,maiscidado.

    Neste artigo partese de uma anlise sobre as novas realidades sociais e os diferentes sentidos

    atribudoseducao,paradepoissereflectirnosvaloreseducativosactuaisenasprticascongruentescom

    essas finalidades.A cidadania,bem como a autonomia, surgem assim como conceitos centrais apartirdos

    quaiscadacomunidadeeducativaencontrarazesparaFazeraEscolaAcontecer.

  • 39

    NOVOSSENTIDOSDAEDUCAO:CONSTRUINDOACIDADANIADASCRIANAS

    Seemtempos idosaescolaeratidacomoobjectodepossedeumconjuntodeprofessoresaquem

    cabiadifundiros saberes construdosexternamente, saberesesses transmitidosdeuma formanormalizada,

    nosnossosdias,numasociedadedemocrticaqueapelaparticipao,aquelarepresentaosocialnotem

    maisespaodeaceitao.Tidacomoumaagnciadedesenvolvimentodascomunidades,construdacomestas

    eaoserviodasmesmas,estaalteraodeposiescomporta igualmentealteraodepapis,alteraode

    perspectivas,alteraodefunes,alteraoinclusivamentedeagenteseducativosedeelementosactivosna

    escola.Acomplexificaodasfinalidadesedaorganizaodaescolaacompanha,deresto,acomplexificao

    queseverificanosvrioscenriossociais,peloquenos importa,nestaaltura,analisaraquelesque intervm

    maisdirectamentenaeducaodascrianas.

    Comecemos por analisar algumas perspectivas sobre a agncia da criana. Para se assumir

    verdadeiramenteacidadaniadacrianaimportanteouvirasuavozevalorizarasuaparticipaonomundo

    quearodeia,afirmandovaloreseosdireitosdascrianas.Aatribuiode importnciavozdacriana (dos

    alunosemgeral)umanovidaderecentenocampodaeducao.Aparticipaonasdecisesqueseprendem

    comasuavidaestprogressivamenteaserincrementadanosdiferentescontextosemquehabita.

    Ouvirascrianasdeformaapropriadaenvolvemudanassignificativasemmuitasprticas,estruturas

    sociaiseinstitucionais(Roche,1999).Darvozscrianaseouvirasuaopiniorelevanteparaaconstruoda

    cidadanianainfnciae,entreoutrospressupostos,envolveaimplicaodoadultonumaprticacomcrianas

    eadolescentesnaquallhesdadainformaoadequada,naqualelespodemexpressarosseuspensamentos

    esentimentosacercadoassuntoemquesto,numtempoeespaoadequado(ibid:57).Comoosadultoseas

    crianas tm uma relao de interdependncia na aprendizagem da ambivalncia da infncia actual (Jans,

    2004),estastambmestointerdependentesnoprocessodeaprendizagemdasuacidadania.

    Cockburn(1998,citinJans,2004)vestainterdependnciacomoopontodepartidaparaaconcepo

    de cidadania infantil, pois ao reconhecer esta mtua dependncia a posio social da criana menos

    problemticae,destemodo, a cidadaniada criana tornaseum facto,deixandode serumautopia.Deste

    modoJans(2004)fazsobressairaideiadequeacidadaniadacriananopodeserdeclinada,aoconsiderarse

  • 40

    queestaspoderseratingidaquandoacrianativerosmesmosdireitosqueosadultos.Ora,etendoanoo

    claradequesercidadonoseconfinaapenasaosdireitosconfeccionadoseconferidospeloEstado,sendo

    imprescindvel a valorizao da participao como princpio bsico para a configurao da cidadania, este

    pensamentodeixade ter fora.Sepensarmosquessepodeexercerodireitodevotoapartirdosdezoito

    anos,teramosumalongaesperaeacrianajamaisseriaconsideradacidadcompleta.Assim,ecorroborando

    aopiniodeSoares (2005),pensamosqueaquestodoexercciorealdedireitosdeparticipaosocialter

    que ser equacionada na promoo e valorizao da cidadania infantil. Jans (2004) de opinio que para

    perspectivarmosumacidadaniaaotamanhodacriananosedevedescurarocarcterldicoqueenvolveas

    suasbrincadeiras.Destemodo,acidadanianodeveresumirseaumconjuntoderesponsabilidades.Acriana

    assumedeterminadasresponsabilidadesenquantobrincaecomotalimportantesaberqueacrianapodeser

    chamada a qualquer momento para participar e opinar. Encarar a cidadania como uma identidade, uma

    pertenaaum local, tambmnoomelhorcaminhoparadescreveracidadania infantil (Jans,2004),pois

    quandoestacidadaniaestconectadacomastradiesculturaisesociaisemlocaisondeestasnoexistamou

    estejamescamoteadas,acriananopodeserconsideradacidad.Acrianapossuicapacidadeparasealiara

    uma identidade civile, ao fazlo ligaseessencialmente a smbolos, valoresenormasque caracterizam tal

    identidade.Devidoaistoeformacomoseadaptamaomeioambienteondeseinserem,algumasformasde

    cidadaniapodemfacilmenteestaraoseualcance.

    Noquerendoque a imagemde crianacidad seja apenasumamiragem, necessriopromover

    umarealcidadaniadacrianatendoemmentequeestecenrioumprocessomarcadopordesigualdadese

    obstculos (Soares,2005).Porum lado, tmque seultrapassaros impedimentosqueexistemnas relaes

    entre adultos e crianas, como o caso do controlo e da regulao e, por outro, temse de ponderar as

    diferenasestruturaisdenaturezasocialeeconmica,queacarretaimplicaesrelevantesnavisibilidadedas

    crianasenaorganizaodoseudiaadia (Soares,2005).Como tal, fundamentalpensarnacrianacomo

    umapessoadetentoradosseusdireitos,queumsersocialeque,porissoacaba,inclusivamente,pordispor

    deumacidadaniaquepoucodiferedadoadulto.

  • 41

    Na sua dimenso social, a valorizao da crianacidad ganha uma maior amplitude quando se

    considera a capacidade de compreender os sentimentos, intenes, percepes, pensamentos e

    comportamentos de outras pessoas, bem como a capacidade para compreender interaces em diversas

    situaes, para prever comportamentos considerando os diversos contextos scioculturais e as diferentes

    caractersticaspessoais.

    ,por isso,prementeque a criana seja reconhecida comopessoa/cidad com competnciaspara

    exercerdireitoseliberdadesfundamentais.Porm,ereconhecendoqueosucessodatarefanofcile,por

    vezes,estenvoltaemconstrangimentos,nodevemosesquecerqueainfnciaassumecontornosdiferentes

    deacordocomascaractersticasdas famliasedaprpriasociedadeondeesto inseridas,oque,porvezes,

    podecondicionaroacessocidadaniaquesedeseja.

    Esta perspectiva de cidadania para a infncia ter sempre implcita a noo de promoo da

    participao infantil (Soares,2006;Toms,2007) considerandoas crianas comoactoresparticipativosnas

    relaes sociais, fundamentalmente implicadas no processo de relao social (Toms, 2007:131). Importa

    concretizarestanooeformarcidadosparticipativosesocialmentecomprometidos.

    AFAMLIAENQUANTOPRIMEIROCONTEXTOSOCIALIZADORDACRIANA

    Aactualsociedadecaracterizadapelasuaversatilidade.Elaatravessamomentosdemudanaque

    criamnovoscenriossociais.Afamlia,responsvelpelocomportamentodosHomensenquantopessoas,edos

    povos enquanto colectividadesorganizadas,umdos elementos centrais ebasilaresde todas as sociedades,

    sendomesmoamaisantigainstituiosocial,noficouindiferenteperanteastransformaessocietais.Foram

    muitasastransformaesquea famliasofreunostemposmaisrecentes: (i)acrescenteprivatizaodasua

    natureza (ii), a progressiva reduo da sua dimenso, (iii) a diminuio gradual das suas funes e (iv) a

    igualitarizaodospapissociaisnoseuinterior(Cruz,1997).

    Quando, hoje, falamos de famlia temos que nos referir a uma realidademultifacetada as suas

    finalidades, o seu tempo de interaco, os seus espaos de interveno , organizada em diferentes

    modalidadesfamliasmonoparentais(umprogenitoreosfilhos);famliasreconstrudas(osmeus,osteuseos

  • 42

    nossos);famliascomuns(paimefilhos),comcdigos intrae interrelacionaisecomfuneseducativas

    quenosojasmesmasdehpoucasdcadasatrs.

    As famlias tmhojedimenses reduzidas,oque comporta inevitavelmente implicaesno campo

    educativo.Comadiminuiodonmerode filhosnormalmenteumoudoiscomumadiferenamdiade

    idadesdetrsanosemeio,algumasprticaseducativasinformaisqueserealizavamnointeriordasfamlias

    noencontram,hoje,asmesmaspossibilidadesdedesenvolvimento.Osbrinquedosquesepartilhavamentre

    irmos de idadesmuito prximas, a solidariedade e cumplicidade na realizao dos trabalhos escolares, a

    responsabilidade atribuda aos irmos mais velhos na socializao dos mais novos com outras crianas e,

    inclusivamente, no seu acompanhamento e guarda, no se verificam actualmente damesma forma nestes

    contextos.

    Todasestas situaes fazembaixarascondiesparaaconstruodedeterminadosvalores sociais

    dentro da prpria famlia, valores esses que continuam fundadores de um equilibrado desenvolvimento

    individualecomunitrio.Asolidariedade,apartilha,atolerncia,aconvivncianotmasmesmascondies

    paraseremefectivadasentreirmos,oquecomportarepercussesnaeducaodestascrianas,repercusses

    essasqueaescolanopodeignorar.

    A organizao do tempo familiar outra condicionante no displicente na anlise das questes

    educativas.Organizadas essencialmente numa base nuclear, distantes geograficamente dos outros ncleos

    familiaresderazescomuns,asredesdeapoioexistentesnasfamliasalargadas,deixamdeseefectivar.Assim,

    aumentaanecessidadedeospaisprocuraremoutrossuportesparaoacompanhamentodascrianasnashoras

    desfasadasdoshorriosdetrabalhocomoshorriosescolares.

    Aospoucosepoucosospapisfamiliaresadquiremnovoestatutoeemmuitaspartesdomundo,as

    mulheres esto a exigirmaior autonomia em relao ao passado e a entrar nomundo laboral em grande

    nmero(Giddens,2002:17),nosparasevalorizaremprofissionalmente,masnatentativadeajudaremno

    sustentodafamlia,oquetraznovosproblemasenovasnecessidades.Nestecontexto,parecequeadimenso

    profissional se tornou, sociologicamente falando, mais importante que a prpria dimenso familiar. A

    participaodamulheremactividadessociaisforadecasa(emprego,associativismo,culturaise/ourecreativas

  • 43

    e outras) progressivamente maior, no sendo essa realidade ainda acompanhada, no entanto, pela

    reorganizaodeexecuodastarefasdomsticas,peloqueotempopassadoemcomumemcasa,acabapor

    ser,muitasvezes,vividonumgrandeclimadetenso.

    Aomesmotempo,confrontadoscomestasrealidadesapardeummaior investimentonaeducao

    dascrianas,ospaisprocuramcriaroutrassituaesempreendedorasdecomunicaoeaumentamassuas

    expectativasdequenasescolassevalorizemtambmestasdimenseseducativas.Asexpectativasdasfamlias

    faceaosserviosprestadospelasescolasso,assim,devriaordem:porumlado,sociais,poroutro,deordem

    pedaggica.As famliasesperamqueasescolasasajudema resolverosproblemasdeatendimentoebem

    estarssuascrianasnashorasemquehdesfasamentodehorriosentrepaisefilhos,valorizandoprocessos

    de socializao qualificados. Aomesmo tempo, conscientes da relao entre educao e desenvolvimento

    individualecolectivo,tmelevadasexpectativasnospercursosacadmicosdosseusfilhos.

    Esta instituio de socializao primria de vital importncia para o indivduo ao assumir um

    protagonismo evidente na transmisso cultural e social, porm, estruturas familiares slidas e coesas

    encontramsecadavezemmenornmero.Nopanoramasocialactual,h famliasquenopassamdemera

    iluso e que cada vezmais se demitem das suas responsabilidades.De facto, e olhando para todas estas

    modificaes,parecequeafamliaseeclipsou,jnodesempenhaasmesmasfunesdeoutrostempos,ou

    seja, existe um enfraquecimento da sua capacidade socializadora, que em parte se fica a dever s sbitas

    alteraes emocionais com que se transmitem os contedos de socializao (Tedesco, 2000; Fernndez

    Enguita,2001)esmaisvariadasopes.

    DeacordocomTedesco(2000),acargaafectivacomqueseeducaacriana,actualmente,deveras

    diferentedadeoutrora,talvezporser impulsionadaquerpelosdiversosgrupos,querpelasmltiplasopes

    prdefinidasaqueacrianaexpostaequetendemamodificarserapidamente.Comtodasestasmudanas

    a processaremse a um ritmo estonteante, essa agncia de socializao primria tornase incerta nas suas

    modalidadesdeconstituio,claudicanasuamissodeeducaoeremeteparaaescolagrandepartedassuas

    responsabilidades,inclusiveadecustdia(FernndezEnguita,2001).Nonovidadeafianarqueasfamlias

    dependemcadavezmaisdeoutras instnciasparasocializarascrianasnasprticasdecidadania(Barbosa,

  • 44

    2006:72). As famlias comeam a transferir para a escola a maior parte das responsabilidades que lhe

    pertenciamtradicionalmente,comoaeducaodosseusfilhos.Assisteseconcomitantementeaumacriseda

    famliaedacomunidadecomo instituiescom responsabilidades (FernndezEnguita,2001:88),ou seja,a

    suacapacidadesocializadoraestpostaemcausa,estemaparentecrise.Segundooautor,asinstituiesde

    socializaodainfnciaestoretradas,inibidaseperderamaquelacapacidadededomesticao,disciplinae

    moralizao(ibid:88),oquecontribuiparaaumentaranecessidadeeacargarelativadaescola.

    Verificada a baixa possibilidade de educar por parte da famlia, empurramna para a escola, que

    procura resistir a este enfraquecimento. escola comeam a ser exigidas novas funes diferentes da

    tradicional instruo e aprendizagem. Este novo sentido acarreta novas competncias profissionais e

    inovadorasprticaspedaggicas.Opapeldoprofessortornaseassimmuitoinfluentenaformaodocarcter

    edoespritodasnovasgeraes.Cabeaoprofessoreaosseusparceiros (comunidadeeducativaemquese

    integraafamlia)favoreceramudanaeacompreenso,contribuindoparaobemestarpresenteefuturodas

    crianas.

    APARTICIPAODOSPAISNASESCOLAS:UMDIREITOEDEVERDECIDADANIA

    Osnovosconceitoseperspectivassobreaeducaonaactualidade,nomundoocidental,decorremda

    conscinciadosdireitosdoscidados.

    Aparticipaoidentificvelcomooprincipaldireitonareadacidadania.Oquesepassanoespao

    pblico, com a vida das pessoas em comunidade, tem que decorrer de actos pensados, projectados pelos

    prprios cidados. Assim, estes deixam de poder ser actores sociais passivos no desenvolvimento de uma

    comunidadeparaseassumiremcomoautoresdaconstruodessamesmacomunidade.

    Estas so realidades sociais novas, pelo que no se pode continuar a entender a escola como

    prestadoradefavoressfamliasqueseconfrontamcomdificuldadesdeassumiremfuneseducativascom

    osseusfilhos,mascomoumaparceiraactivanaeducaodacomunidadeemqueestinserida.

    Umaparticipaoactivaeresponsvel,bemcomoumenvolvimentoefectivodospaisnasactividades

    da escola, possibilitalhes um maior conhecimento acerca dos seus papis e das suas competncias e

  • 45

    proporcionalhesmaisinflunciaparamelhorparticiparemnoprocessodedesenvolvimentoedeescolarizao

    dosseuseducandos.

    Destemodo,podemosreferirqueaconstruosocialedemocrticadaautonomiadaescola impe

    queseampliemosespaosdeinteraco,separtilhemdecisesesentidosinerenteslgicaorganizacional,o

    quepode implicaraescolhadeespaosetemposdeparticipaoactivaondesepoderealizaroexercciode

    cidadanianavidadasescolasporpartedospais.

    Importa,pois, refazero relacionamentoentre a famliae aescola,nabasedodilogo construtivo,

    numaanalogiadeconfiana,poisassimsepoderdiminuiradistnciaexistenteentreambos.Numambiente

    decoesopodeestabelecerseumarelaodeamizadeeentreajuda,possibilitandoseumavivnciaplenada

    criana que deixa de ter uma dupla aprendizagem e educao em casa e na escola para ter uma

    aprendizagemeeducaoconvergentes.

    OSNOVOSPAPISDAESCOLA

    Estes novos sentidos da escola opemse conservao da cultura de isolamento que a tem

    caracterizadoao longodemuitasdcadas:nos jardinsdeinfnciaeescolasdo1ciclo,por seremdebaixas

    dimensesecomgrandedispersogeogrfica;nosoutrosciclosporqueosprofessoressecentramnosseus

    grupos disciplinares, uns e outras porque definem fronteiras claras com as comunidades. Se continuarem

    isoladas, as escolas continuaro confrontadas com a falta de recursos comummente apontada, com a

    mobilidade constante dos professores, com a sobre ocupao ou no ocupao, com as dificuldades de

    formao.

    No entanto, a escola, aos poucos, vai rompendo as fronteiras rgidas quemanteve em relao s

    comunidadesemqueseinsere:osprofessoresquebramasbarreirasdefinitriasdoseuespaodeacoeos

    pais passam, ento, a ser assumidos como parceiros activos, integrantes do processo educativo. A

    conceptualizaodaeducaodascrianasconstituiparatodosns,odireitoeodeverdeaprojectarmosem

    conjunto.

  • 46

    Aescolahojeumaencruzilhadade culturas sociais,tnicas, religiosas.O respeitoea valorizao

    dessadiversidadeconstituiumenriquecimentoparaaescolaemdiferentesdimenses.Umenriquecimento

    emtermoscurriculares,emtermosdeconstruodecompetnciassociais,emtermosdeconhecimentos,em

    termosdepartilhadosentimentodequepertencemosaummundoquenoseconfinaaoespaogeogrfico

    emquevivemos.

    A escola agora chamada a acolheros filhosdas famliasque vm de fora,procura fazero seu

    acolhimento,ajudlosnaaprendizagemeinserilosnacomunidadeeducativa.Procuratambmdesempenhar

    um papel relevante na preparao de todas as crianas na educao para a diversidade.Na atribuio de

    importnciadiversidade,urgecriarnovasestratgias,novasrespostasparapromoverointeresse,osucesso

    educativo de todos osque pertencem escola. ,pois,necessrio educarna convivncia,no respeito dos

    princpiosdemocrticos,nainteracopositiva,noincentivodeatitudessolidriasetolerantes;ouseja,educar

    nacidadania.Nestecenriopodemosafirmarquetantoas famliascomoosprofessoresassumemumpapel

    centralumavezquetantopodempromovercomooutrorelaesdeafastamentocomorelaesconstrutivas

    (Sarmento,T.2009).Assuasatitudes,comportamentosemodosdepensarpodemserfacilmentereproduzidas

    eimitadaspeloqueseesperaqueesteseducadoresseassumamcomomediadoresinterculturais.

    Pensamosqueosprofessoresnodevemestarsozinhosquandosepretendemdesenvolverprojectos

    quepromovamaeducaomulticultural.Elesdevemcontarcomacolaboraodeoutrosparceiros,comoos

    paiseacomunidadeenvolvente,edeoutras instituies,contribuindo,destemodo,paraqueseassegurea

    igualdade e a dignidade de todos os envolvidos, essencialmente das crianas oriundas de outros pases, e

    fomentandoasidentidadesculturaisdeformapositiva.

    Face enormidade de solicitaes e de recursos dos tempos actuais, as nossas crianas e jovens

    sobrevalorizamodirecto,o imediato,peloquesernaarticulaoentreasaprendizagensescolarescomas

    actividades do quotidiano que progressivamente a educao poder ir abrindo dilogos e perspectivas,

    proporcionandodesenvolvimento.Asaprendizagensdesejamseactivas,proporcionandoscrianasdesafios

    estimulanteseamanipulaodeobjectos;significativas,correspondendoaos interessesereaisnecessidades

    dascrianas;integradoras,relacionandosecomasvivnciasdecadaum;diversificadas,permitindooacessoa

  • 47

    umavariedadederecursoseautilizaodeinmerasestratgias;esocializadoras,garantindoumaformao

    pessoal, social e crtica consistente. S com a integrao de saberes se torna possvel a compreenso da

    realidadecomoumtodointegrado.

    Estasperspectivasvoaoencontrodosquatropilaresidentificadoscomoprioritriosparaaeducao

    para o sculo XXI apontados pela UNESCO, segundo os quais importa promover a aprendizagem para o

    conhecimento,ogostodeaprenderaaprender,aaprendizagemdofazer,avalorizaodoaprenderasereo

    aprenderaviver juntos.Aeducao,hoje,apelarevalorizaodaacodirecta,daconstruo,enfatizando

    valores sociais inultrapassveis como sejamademocracia,a solidariedade,apartilha,aatenoaooutro,a

    alteridade.Nessabase,odilogoentre culturas,anegociao sobreaparticipaode cadaumoude cada

    gruposobreosespaosdepartilhaeasperspectivasaprosseguirsofundamentaisparaacolaboraoactiva

    na resoluo dos problemas das nossas crianas, bem como para a realizao de aces comunitrias

    promotorasdeprogresso.

    ACONSTRUODOPROJECTOEDUCATIVOCOMOEXPLICITAODACIDADANIADAESCOLA

    Sercombasenessedilogo,nessanegociaoenessacolaboraoqueemergeapossibilidadede

    construirumaescolaautnomae,comotal,cidad.Autnomaporquesingular,porquediferentedetodasas

    outras,porquepossuiumaidentidadeprpriaquelhedadapelogrupodepessoasqueahabitam,pelogrupo

    deparceiros concretos comquem se interrelaciona,peloespao geogrfico concretoondeest localizada.

    Cidad, porque viabiliza prticas de cidadania, porque experiencia e vive democraticamente, porque cria

    oportunidadesdeparticipaoedeescuta.

    A autonomia de cada escola ter que ser manifesta na construo de um projecto educativo

    partilhado.

    Projectoeducativoondeseclarifiqueaidentidadeesingularidadedecadaescola,ondeseexplicitem

    osvaloresreferenciaisparaoquotidianodetodososelementosdacomunidadeeducativa,oque implicade

    todospais,professores,alunos,outrosabertura,sentidoderesponsabilidade,reflexividade,capacidadede

    diagnsticoede intervenoconstanteecontextualizada.Projectoeducativoesseondesedefinamas linhas

  • 48

    daeducao,asprioridadesanveldainstruoedasocializaodascrianas,jovenseadultosdessaescola.

    Projectoeducativoessequereconheaquehinteressesdiferentesnacomunidadeeducativa,interessesesses

    queprecisamdeser respeitadosparaqueaescolasepossaassumircomooespaodeconvivncianormal,

    natural, empreendedora de cada um. No respeito pela diversidade de interesses se poder congregar a

    participaode todososmembrosdaescola,salvaguardando,necessariamente,ascompetnciasespecficas

    decadagrupo.

    Os professores tm um saber especializado, tm competncias educacionais prprias e reas de

    intervenoespecficas.Talcomoospais.Snorespeitomtuoserpossvelaunseaoutrosconviveremem

    conjunto,partilhandoosseussaberes,assuashistriasdevida,assuasansiedades,assuasexpectativas,de

    forma a tornar possvel o bom desenvolvimento do projecto educativo. Este projecto educativo criar

    estratgiasdeinovaoindoaoencontrodasespecificidadesdecadacomunidade.

    Neste processo determinante a incluso de uma praxis que fomente a valorizao das ideias e

    opinies das crianas, da sua participao em diversas circunstncias vivenciais e das suas decises, entre

    outrosaspectos.

    Enquanto comunidade educativa, a escola fundamentase numa articulao entre os diferentes

    parceiros sociais pais, grupos culturais e recreativos, autarquias, outros. Todos estes agentes so co

    responsveispelaeducaodassuascrianaspeloquearesponsabilidadeeducativaassimentendidacomo

    umdeverdetodososcidados.

    Assim, ser na base do exerccio dessa cidadania, assumindo a autonomia, que se far a escola

    acontecer.

    BIBLIOGRAFIA

    BARBOSA,Manuel(2006).Educaoecidadania.RenovaodaPedagogia.Amarante:gora.

    CRUZ,ManuelBraga(1997).Aformaoparaacidadaniaeasinstituiesdasociedadecivil.Brotria,

    145(2/3),pp.195202.

    FERNNDEZENGUITA,Mariano(2001).Educarentiemposinciertos.Madrid:EdicionesMorata.

  • 49

    GIDDENS,Antony(2002).Omundonaeradaglobalizao.Lisboa:EditorialPresena.

    JANS, Marc (2004). Children as citizens: towards a contemporary notion of child participation.

    Disponvelemhttp://chd.sagepub.com/cgi/content/abstract/11/1/27[ConsultadoemAgostode2009].

    MONTANDON,C.,ePERRENOUD,P. (2001).Entrepaiseprofessoresumdilogo impossvel.Oeiras:

    CeltaEditora.

    MONTANDON,C.,(2001).AlgumastendnciasactuaisnasrelaesFamliasEscola.MONTANDON,C.,

    ePERRENOUD,P.Entrepaiseprofessoresumdilogoimpossvel.Oeiras:CeltaEditora.153167.

    ROCHE, Jeremy (1999).Children, rights,participationand citizenship.Childhood,4(6).475493.JANS

    (2004).

    SARMENTO,Teresaetal(1999).RelaoEscolaPais:asnossasprticasumprojectodeinterveno

    numarededeeducadoreseprofessoresemPortugal.EncuentroMundialdeEducadoresInfantiles,Colmbia.

    Http://waece.com/waece

    SARMENTO, Teresa (2009). As crianas e a cidadania: abordagens participativas em projectos

    educativos.SARMENTO,Teresa(org.)Infncia,famliaecomunidade.Ascrianascomoactoressociais.Porto:

    PortoEditora.4368.

    SOARES,NatliaFernandes(2005).InfnciaeDireitos:participaodascrianasnoscontextosdevida

    Representaes,PrticasePoderes.TesedeDoutoramento.InstitutodeEstudosdaCriana.Universidadedo

    Minho.(documentopolicopiado).

    TEDESCO, JuanCarlos (2000).Onovopacto educativoEducao, competitividade, e cidadaniana

    sociedademoderna.VilaNovadeGaia:FundaoManuelLeo.

    TOMS,Catarina(2007).Paradigmas,imagenseconcepesdainfnciaemsociedadesmediatizadas.

    InMedia&Jornalismo,(11).119134.

  • 50

  • 51

    DESGNIOSPARAUMCURRCULODEMOCRTICO

    JosCarlosMorgadoIEUniversidadedoMinhoAnaMargaridaGonalves

    EB2,3deGilVicente,Guimares

    INTRODUO

    Nosuscitacontrovrsiaaideiadequeaescoladesempenhouumpapelfundamentalnaorganizao

    polticadosEstados,sobretudodosEstadosdemocrticos,querporserummeiopropcioparaa(re)produo

    da identidade e cultura nacionais, quer por ser um esteio imprescindvel na escolarizao e formao dos

    indivduos,quer,ainda,porseridealizadacomoumelementotransformadordaprpriasociedade,umautopia

    particularmenteevidentenaideologiaprogressista.

    Assimsecompreendequeacentralidadequeaescolafoigranjeandoaolongodostemposresultasse,

    emboaparte,daimportnciaqueaeducaoassumenarealizaodecadaindivduoe,porconsequncia,no

    desenvolvimentoeprogressodecadapas,bemcomodaconvicodosseusbenefciosnaconstruodeuma

    sociedademaisjustaesolidria.

    Contudo, embora exista uma correlao positiva entre a escolarizao dos cidados, o progresso

    econmico e social e a progressiva democratizao do sistema poltico de um pas, a verdade que uma

    educaodebasegeneralizadaatodososcidadosnogarante,porsis,aconstruodeumasociedademais

    democrtica. Apesar da concretizao de uma educao de base ser essencial para desenvolver saberes,

    capacidades e competncias que permitam a cada indivduo construir um pensamento autnomo,

    compreender os desafios com que se depara e integrarse de forma plena numa sociedade em constante

    transformao, a melhoria dos nveis de escolarizao no exime a escola de desenvolver, de forma

    intencional, uma educao democrtica, isto , uma educao capaz de dinamizar processos e prticas de

    adesoavaloreseprincpiosdeigualdade,respeito,solidariedade,tolerncia,justiaeliberdade.

    Umaeducaodemocrticahojeumanecessidadepremente,nosentid