Upload
timosteos
View
74
Download
1
Embed Size (px)
Citation preview
1
ELO18
Acidadaniaeademocracianasescolas
2
RevistadoCentrodeFormaoFranciscodeHolanda
CentrodeFormaoFranciscodeHolanda
EscolaSecundriaFranciscodeHolanda
AlamedaDr.AlfredoPimenta
4814528Guimares
www.cffh.pt
253412954e253552181
3
FICHATCNICA
Director JorgedoNascimentoPereiradaSilva
Coordenador FranciscoTeixeiraJorgeNascimento
ConselhoCientfico AlmerindoJanelaAfonsoUniversidadedoMinho
CarlindaleiteUniversidadedoPorto
FernandoRibeiroGonalvesUniversidadedoAlgarve
JosAugustoPachecoUniversidadedoMinho
ManuelaEstevesUniversidadedeLisboa
ConselhoRedactorial JorgedoNascimentoPereiradaSilva
AgostinhoFerreira
AntnioOliveiraSousa
FranciscoTeixeira
ManuelAlvesBarbosa
MariaLucindaPalhaesdaCunhaBessa
Capa PedroAlmeida
Maquetagem FranciscoTeixeira
Propriedadeeedio CentrodeFormaoFranciscodeHolandaEscolaSecundriaFranciscodeHolandaAlamedaDr.AlfredoPimenta4814528Guimarescfaecff@cffh.ptwww.cffh.pt253513073
ISBN 97296465
Impresso
GrficaCovense,Ld
PolvoreiraGuimares
Nmero RevistaELO18Julhode2011
Tiragem 200Exemplares
Apoios ME
4
5
NDICENOTADEABERTURAJorgedoNascimentoDirectordoCFFH
11
ESCOLA,IGUALDADEEAUTONOMIAJooFormosinho,JoaquimMachadoIEUniversidadedoMinho
15
LIDERANASINGULARNAESCOLADEMOCRTICA:AMEAASECONTRADIESLeonorLimaTorresIEUniversidadedoMinho
27
FAZERAESCOLAACONTECER:ACOLABORAOCRIANASPROFESSORESPAISCOMOPRTICADECIDADANIATeresaSarmentoIEUniversidadedoMinhoIldaFreireESEBInstitutoPolitcnicodeBragana
37
DESGNIOSPARAUMCURRCULODEMOCRTICOJosCarlosMorgadoIEUniversidadedoMinhoAnaMargaridaGonalvesEB2,3deGilVicente,Guimares
51
AESCOLA,ESPAODECONSTRUODECIDADANIA?VictorinoCostaESEFafe
67
OGOSTOEODESGOSTODAESCOLACIDADANIA,DEMOCRACIAELGICASDEPARTICIPAOJUVENILNASESCOLASElisabeteFerreira,AmliaLopesFPCEUP
77
6
AEDUCAODOTRABALHADOR:CONTRIBUTOREFLEXOSOBRECURRCULO,TRABALHOECIDADANIATatianaMariaHolandaLandimUniversidadedoMinho/UniversidadeFederaldoParJosAugustoPachecoIEUniversidadedoMinho
85
FORMAOCONTNUAPARAAPROFISSIONALIDADEECIDADANIADOCENTEGuilhermeRegodaSilvaIEUniversidadedoMinho
97
APARTICIPAODEMOCRTICAEMEDUCAOJooAdelinoMatiasLopesdosSantosAgrupamentodeEscolasdeVilaNovadePaiva
107
PARTICIPAONADECISOEDUCATIVAECURRICULARODEBATEDADECISOCENTRALIZADAVERSUSADECISODESCENTRALIZADAHenriqueManuelPereiraRamalhoESEVInstitutoSuperiorPolitcnicodeViseuFernandaEmliaRibeiroAlvesArajoAgrupamentodeEscolasdeInfiasVizela
117
FORMARPROFESSORESPARAAESCOLADEQUEPRECISAMOSEDUCARPARAACIDADANIAngelaRodriguesIEUniversidadedeLisboa
133
AFELICIDADENOSEGUARDA,PARACONSUMOIMEDIATOOSCONTORNOSDEUMAEDUCAODESPOLITIZADAEusbioAndrMachadoUniversidadePortucalense
141
OPAPELDAESCOLANUMCONTEXTOMULTICULTURALEINTERCULTURALJosPintoPinheiroDirectordoAgrupamentodeEscolasFernandoTvora
145
REINVENODADEMOCRACIAVitorLeiteEscolaSecundriaFranciscodeHolanda
151
7
ACIDADANIANOIMAGINRIODAEDUCAOURBANA,UMVALORCOMPERFILTECNOLGICOIsabelCarvalhoVianaIEUniversidadedoMinho
165
GLOBALIZAO,FORMAOEAPRENDIZAGEMHelenadeSousaLeiteAgrupamentodeEscolasProfessorJoodeMeira
177
LITERACIA,ESCOLAECIDADANIAAdelinaPaulaMendesPintoCoordenadoraInterconcelhiadaRededeBibliotecasEscolares
195
ACIDADANIANUMASOCIEDADEDEMOCRTICAOPAPELDAESCOLAEDASBIBLIOTECASESCOLARESOdliaBaleiroGabineteRededeBibliotecasescolares
201
UMOLHARSOBREASNOVASOPORTUNIDADES:PARAALMDORECONHECIMENTODECOMPETNCIASMariaManuelPinto,CoordenadoradoCNOFranciscodeHolandaAnabelaLopesFormadoradoCNOFranciscodeHolanda
213
EDUCAOPARAACIDADANIAEPARAADEMOCRACIAOCONTRIBUTODOSPROCESSOSRVCCGilSantosCoordenadordoCNOdaEscolaSecundriadeCaldasdasTaipas
223
AEDUCAOSEXUALNORUMODACIDADANIACarlaSerroEscolaSuperiordeEducaodoInstitutoPolitcnicodoPorto
237
SERCIDADONAESCOLA:NAPERSPECTIVADOSALUNOSHelenaLeite,AlexandraMendes,CarlaNunes,LciaRibeiro,LusaTeixeira,PaulaGadelhoeTeresaRibeiroEquipadeProjectoNepsoAgrupamentodeEscolasProf.JoodeMeira
243
8
OASSOCIATIVISMODEPAISNOCONTEXTODAESCOLADEMOCRTICA:PARADOXOS,CONSTRANGIMENTOSEPOTENCIALIDADESJosCarlosFernandesDirectordoCENFIPE
267
OSPROGRAMASDEPORTUGUS:AIDENTIDADEDANAOSUSPENSAENTREESPAOSDEAUTORIDADEEESPAOSDELIBERDADECarlosMachadoEscolaSecundriadeCaldasdasTaipas
287
CONSCINCIAHISTRICAEEDUCAOPARAACIDADANIAHelenaPintoCIEdUniversidadedoMinho
295
FILOSOFIANAESCOLAEEDUCAOPARAACIDADANIAAFILOSOFIAORIENTADAPARAAACTUALIDADESOCIALEPOLTICACarlosJustoEscolaSecundriadeCaldasdasTaipas
305
UMACIDADANIAQUESEPRATICAAmadeuFariaAgrupamentodeEscolasdeBriteiros
315
PROJECTOTRIGAL,JORNALESCOLAR,DOZEANOSDEEXISTNCIAAlfredoOliveira,AlexandraVieiraEscolaSecundriadeCaldasdasTaipas
321
UMPROJECTODECIDADANIANOMUSEUInsTerroso,ManuelFlores,MiguelBasto,RosliaDias,SylvieCastroFaculdadedeFilosofiaUniversidadeCatlica
339
OIMPACTODASTICNAEDUCAOPARAACIDADANIADEJOVENSCOMNECESSIDADESEDUCATIVASESPECIAISMariaGorettiPinto,MariaHelenaSoeiroJosAlvesFernandes,EugniaVieira,OtliaMatosAgrupamentodeEscolasdoValedeS.Torcato
347
9
OCURRCULONA(RE)CONSTRUODEIDENTIDADESJooVieiraAgrupamentodeEscolasdeBriteiros
357
DESENVOLVIMENTOPROFISSIONALDOCENTE:IDENTIDADESETRAJECTOSAntnioAbreuSilva,FtimaBraga,IsabelCruzSAME(UCP)
367
COMPETNCIAS,SABERESETECNOLOGIASEDUCATIVASAldaSilvaEscolaSecundriaGarciadeOrta
383
FORMAODEPROFESSORESERENOVAOEDUCATIVALinoMoreiradaSilvaIEUniversidadedoMinho
395
AORGANIZAOINTERNADASESCOLASCOMOCAMINHODEAUTONOMIAJorgeSarmentoMoraisInspectordoME
415
QUEFUTUROPARAADESCENTRALIZAODAPOLITICAEDUCATIVA?UMPERCURSOINTERROMPIDO?AlbinoAlmeidaCONFAP
433
10
11
NOTADEABERTURA
JorgedoNascimento
DirectordoCFFH
Aestonmero18darevistaElo,correspondendoa18anosdesteprojectoeditorialdoCentrode
FormaoFranciscodeHolanda.
So quase duas dcadas ao servio dos educadores, dos professores, do pessoal no docente das
escolasedacomunidadeeducativaalargadaemqueestamosinseridos.
ArevistaEloapresentousenolongnquoanode1994comoumespaodeencontrodeprofessores
edetrocadesaberesedeexperincias.Aolongodestesanostemdadovozsescolasenquantocolectivos,
aoseducadoreseprofessoresedemaisactoreseducativosindividualmente.
Osltimosnmeroscentraramsenastemticasdaavaliao.OELO16naavaliaodeprofessores,
reunindocontributosdeespecialistaseescolaseoELO17naavaliaodasescolas,atravsquerde textos
tericos,querdemltiplasexperinciasvivenciadasemescolas,que interpretaram,aseumodo,omandato
pblico da autoavaliao organizativa, de acordo com as suas concepes, ainda que no contexto das
injunesnormativas.
O ELO18 dedicado,por inteiro, discusso e investigaodeum tema central:a cidadania ea
democracianasescolas.
Tratasedeum tema comoqual,hojemaisdoquenunca,os sistemaseducativos,asescolaseos
principais agentes educativos so confrontados nos planos curricular, pedaggico e organizacional, face s
transformaesdomundoactual,decorrentes, sobretudo,do impactodas tecnologiasda informaoeda
comunicao,daglobalizaoedaemergnciadenovaslgicasdeparticipaonavidapolticaesocial.
O ensino e a aprendizagem no so, primacialmente, fins em si mesmo, antes encerram
intencionalidadesticas,polticaseculturaisqueprocuramconstruirocaminhodeumavidaboa,decidida
pessoalmente.Assimsendo,aorientaoeaprticapedaggicadasescolaseasuaorganizao,asopesde
naturezacurriculareasrelaesinstitucionaisedegestosempredefiniro,ouajudaroadefinir,ocampoe
12
os instrumentosdessa intencionalidadeticaecultural,commatizesmaisoumenosdemocrticosemaisou
menosrespeitadoresdanaturezacidaddecadaumdosprotagonistasdasescolas,acomearpelosalunose
pelosprofessores.
Estudardequemodo,emPortugal,o sistemaeducativoeasescolasapostamnaeducaoparaa
cidadaniaeparaademocracia,mastambmeaomesmotemponademocratizaodasrelaesdegesto
e deciso organizacionais e na consubstanciao dos seus projectos educativos e curriculares, permitir
esclareceraconfiguraodemocrticaecvicadasnossasescolasechegaraconclusessobreoqueofuturo,
desenhado aqui e agora, nos prepara, relativamente qualidade da cidadania e da democracia nacional e
internacional.
Neste sentido, abordmos cerca de quatro dezenas de educadores, professores, investigadores,
membrosde associaesdepaise representantesda administraoeducacionalno sentidodeescreverem
sobreestatemtica.Asnossaspreocupaesperpassaramporumconjuntodequestesdasquaiselencamos
asseguintes:
Aescoladeveounoserumcampoexemplardecidadaniaactiva?
Aescoladeveserumresultadodomeiooudeveimporsenomeiocomassuasprpriaslgicas?
Qual a relao dos vrios corpos sociais presente na escola com os vrios poderes internos e
externos?
Qual a participao da comunidade escolar nos rgos de gesto e deliberao das
escolas/agrupamentos?
Quemmandanaescola?
Qual a presena dos professores, dos alunos e das famlias na definio no s dos objectivos
educativosmastambmnoscaminhosparalchegar?
H ou no uma responsabilidade profissional dos professores, com fins prprios, que eles no
podemdeclinar?
Que relaes, democrticas ou normativas, estabelece a escola com as autarquias locais e a
administraoemgeral?
13
Qualaparticipaocvicadosalunosnaescola?Comoqueelespercepcionamacidadaniaactiva?
Na escola h lugar para o sonho por parte das crianas e jovens com necessidades educativas
especiais?
Qualonveldeparticipaodosassistentesoperacionais,assistentestcnicos,psiclogos,socilogos
edemaistcnicosdeeducaonaescola?
Qualaexpressodosconflitospedaggicosnasescolas?
Qualo lugarqueosprojectosocupamnasescolasenquanto integraodesaberes transversaise
espaosdeliberdade?
Umaescolaquetemcomoseuiderioadefesadevalores,atitudesecomportamentos,aformao
deidentidadespessoaisecomunitriaspodepremcausaotopropaladosucessoescolar?
NointeriordarevistaElonoencontramos,nemfoiesseonossopensamento,respostasclaraspara
estasquestes,masantesumconjuntode reflexes, resultadosde investigaese relatosdeprojectosque
podem contribuir quer para o desenvolvimento profissional dos docentes quer para o desenvolvimento
organizacionaldasinstituies.
O nosso objectivo foi reunir textos sobre a temtica referenciada que servissem como ponto de
partida para uma reflexo sobre a escola que temos e aquela que gostaramos de ter, passando pela
importncia do professor no quadro da consecuo dos objectivos relativos educao, tendo sempre no
horizonte, comobvio,o sucessoescolarmas tambm cvicodosalunos.Ao fimde contaspretendemos,
maisumavez,darumcontributoparaodebatede ideiaseparaumareflexosobreprticasno interiordas
escolascomvistasuaautoavaliao,numaperspectivadeumaescolaaprendente.
Contudo,onossoobjectivonoseesgotaaqui.Nonossatisfazemoscomaposiodeindutoresdeescritae
organizadoresdetextosqueefectivamenteconstituemumexcelentembilreflexosobreademocraciaea
cidadania.Queremostambmser indutoresdeescolasmaisdemocrticas,maisparticipativasereflexivas.E,
issoconseguido,quandoafincadamentelutamospormaisemelhorformao.
Assim, temonos empenhado na negociao/construo de um Projecto Global de Formao, que
contemple adimenso cientfica,pedaggicaeorganizativadas actividades, assumindonos como factorde
14
desenvolvimentodasescolas,dosprofessoresedemaisactoreseducativosquenelastrabalham.TalProjecto
temsidoencaradocomoumgrandequadroderefernciadeopesprioritriasemtermosdeformao,qual
contrato de autonomia baseado numa espcie de Projecto Educativo/Formativo assumido como um
processoparticipadotendocomoreferenteaqualidadeeapertinnciadaformao,balizadopeloConselho
CientcoPedaggicodaFormaoContnua.Porisso,foielaboradoparaque,quemol,oentendatambmna
amplitudedosonhoedaambio.
Aformaoconstituiumpilardasustentabilidadedaescolaedosseusprofissionaiseogaranteparao
seudesenvolvimento.Osmltiplosreflexosquedelaadvmnoseesgotamnonveldosresultadosescolares,
nemnobemestardocente.Elapromoveodebate,areflexo,acolegialidade,aparticipaoactiva,logo,induz
atitudesmaisesclarecidasereflectidasedinmicasdetrabalhoautnomoeparticipado.
Seosprofissionaissedesenvolvempessoaleprofissionalmente,as instituiesquehabitam tambmsevo
desenvolvendoorganizacionalmente.Preconizamosumaescolaqueaprende,queacompanhaamodernizao,
quesatisfazemplenoasuamisso.Anossa formadeparticipar,desercidadoticaeprofissionalmente
responsvelconstituirmonoscomorecurso,comoumamaisvalia,dasescolasassociadas,democratizandoo
conhecimentoeexpelindoareflexo.
Fazemos isso no e como ELO 18,mas sobretudo fazemolodiariamente. Participamos, atravs da
formao,nadesalienaodosindivduos,facilitandoaaquisiodecapacidades,competnciasesaberesque
favoream no somente a sua liberdade de escolha, a sua participao democrtica, mas tambm que
favoreamaconstruodaautonomiadasescolassustentadanosseusprojectoseducativos.
15
ESCOLA,IGUALDADEEAUTONOMIA
JooFormosinho,JoaquimMachado
IEUniversidadedoMinho
A crenana educao escolar comomeiode superaodasdesigualdades sociais estnabaseda
universalizao da escola primria e, posteriormente, da escola secundria. A generalizao da escola
aumentouasuacomplexidade,masasrespostasorganizacionaispautadaspelocentralismoeauniformidade
burocrtica,emboragarantamaigualdadedeacesso,falhamnagarantiadaigualdadedesucessoeobrigama
repensar a organizao da escola, a diversificao curricular e a diferenciao pedaggica como vias de
materializao da igualdade de acesso educao escolar. Estas duas dimenses da democratizao da
educaoescolaroacessoeosucessoimprimemactualidadereivindicaodaautonomiadaescolaedos
professoresemalternativaaumsistemacentralizadodeadministrao.
1.AUNIVERSALIZAODAESCOLA
Aescolafoium instrumentoprivilegiadonaconstruodoEstadonao.Substituindose Igrejano
seupapeleducador,oEstadovaescolacomoanovaigrejacvicadoPovoedoprofessorcomosacerdote
doensino,evangelizador,apstolo[laico]dareligiosocial,aquemseimpunhaodeversacratssimode
formarosfuturoscidadosedeserummodelodevirtudes,exemplodecompostura,bondadeemtodode
trabalho,comosepodelernostextoslegaisdasReformasde1911(EnsinoPrimrio)e1918(EnsinoTcnico).
Com efeito, cedo a escola passou a integrar no seu principal objecto a instruo pblica o nomenos
importantedesgniodeeducaonacional,paracujaprossecuocontribuiuoprocessodenacionalizaodo
ensino e a organizao da escola em conformidade com ummodelo que atribui administrao central a
definiodo currculoacadmicoeosmodosdeorganizaodosprofessores,dosalunosedoprocessode
ensino.
16
A ideiadamodernidadedequeaeducaocontribuiparaofimdasdesigualdadessociais inspiroua
implantao de um sistema escolar que se desenvolveu no sentido da universalizao do ensino primrio
preconizadapeloliberalismo,procuradapelosrepublicanosesalcanadajnasegundametadedosculoXX.
A ideia de que o acesso aoABC elementar para o exerccio da cidadania inspirou o lema pombalino de
construir uma escola (primria) em cada aldeia e a implementao de medidas de obrigatoriedade que
tornassemefectivaapolticadeuniversalizaodainstruoprimria.
Entretanto,oensinopsprimriodesenvolviasesegundoduasviasseparadasoensino licealeo
ensino tcnico cumprindo as funes de uma sociedade predominantemente agrria e estratificada.
Contudo, a procura cada vez mais generalizada da educao escolar a partir da II Guerra Mundial e as
exignciasdaeconomia levamoEstadoaperspectivaroalargamentodaescolaridade tornandoobrigatrios
nveissucessivosdeciclosdoensinosecundrio.Em1964,foitornadoobrigatriaaescolaridadede6anos;em
1986,ade9anos;eem2009(Lein46/86,de14deOutubro)ade12anos(Lein85/2009,de27deAgosto).
Depermeio fica a ReformaVeiga Simo (Lein5/73,de25de Julho)quepreconizavao alargamentoda
escolaridadeobrigatriapara8anos.
Emsuma,emPortugalforamprecisosquasedoissculosparauniversalizarainstruoprimriaeem
meiosculouniversalizadaaescolasecundria,sendoqueauniversalizaodaescolaafacetamaisvisvel
dademocratizaodaeducao.Acresceaindaaconsagraodauniversalizaodaeducaoprescolarpara
as crianasapartirdoscincoanosde idade (Lein85/2009,de27deAgosto), retirandodefinitivamenteo
carcterdeiniciaoescolarescolaprimria.
2.AHETEROGENEIDADEDAESCOLADEMASSAS
A universalizao da escola psprimria comporta transformaes quantitativas e transformaes
qualitativasnosistemaescolarportugus.Astransformaesquantitativastraduzemseemmaisalunos,mais
professores e mais estabelecimentos de ensino. As transformaes qualitativas traduzemse na
heterogeneidadedealunos,deprofessoresedascomunidadeslocaisondeasescolasseinserem.
17
Auniversalizaodaescolapsprimria trazparao interiordestaumaheterogeneidade socialdos
alunos:hcrianaseadolescentesdosdiversosgrupossociaisedeorigemrural,suburbanaeurbana,oque
implicadiversidadedeeducaesinformaisfamiliares,devalorizaesdistintasdaeducaoescolareesforos
diferentespelaobtenodosdiplomas,arrastandoadiversidadedemotivaese interesses,necessidadese
projectos de vida. A heterogeneidade social dos alunos comporta uma heterogeneidade acadmica,
aumentandoaamplitudedecapacidadeseconhecimentosdosalunos.Aheterogeneidadetrazparaointerior
daescolaadiversidadesocialevalorizaesdiversasdaeducaoescolar,colocandoporvezesemcausaos
valoresveiculadospelaescola.Aheterogeneidadeintroduznaescolaumconjuntodecrianaseadolescentes
quenovalorizamaescolaeresistemculturaescolardeformamaisoumenosviolenta.
Paraacolhercadavezmaiornmerodealunos,osistemaescolarrecrutoucadavezmaisprofessorese
aumentou a heterogeneidade do corpo docente: em primeiro lugar, a heterogeneidade que advm dos
diferentescamposdisciplinaresdeterminadospelocurrculoescolarpsprimrio,sobretudocomaunificao
dos anteriores ensinos liceal e tcnico, particularmente fazendo conviver namesma escola professores de
currculo liberalcomprofessores ligadosaotrabalhooficinalemanual.Emsegundo lugar,aheterogeneidade
que resulta do recrutamento massivo de agentes qualificados disponveis, aumentando a amplitude de
motivaesecapacidadesdentrodocorpodocente.Parafazerfaceheterogeneidadedocentepromovesea
diversidade demecanismos de acesso estabilidade e plenitude profissional, a reorientao da formao
inicial (anos 70 e 80), a estruturao de um sistema massivo de formao contnua (anos 90) e o
desenvolvimento de um sistema de formao especializada (anos 90) atravs da oferta de cursos de
qualificao para o exerccio de outras funes educativas na escola e de cursosdemestrado e cursos de
doutoramento(Formosinho,2009).
Daexpansodarededeestabelecimentosescolarescomvistaaoacolhimentodemaisalunosresulta
quehojehmuitasmaisescolassecundriasemzonasruraisesuburbanasdoqueanteriormente,tornando
maisheterogneoocontextogeogrficoesocialdasuainsero.
18
3.ASDESIGUALDADESNOINTERIORDAESCOLA
A democratizaodo ensino iniciadanaltimadcadade EstadoNovo leva universalizaoda
escola psprimria, inspirada numa concepo liberal emeritocrtica de igualdade de oportunidades que
deveriapermitiroacessodosmelhoresanveismaiselevadosdeescolarizao.Auniversalizaodaescola
psprimria transforma, assim, a estrutura de qualificaes da populao portuguesa, acarretando a
desvalorizaodosdiplomasdeensinosecundrioealimentandoageneralizaoda ideiadedegradaoda
escola pblica e de menor preparao dos alunos para os estudos ulteriores. Enfim, afirmase
peremptoriamente que o nvel educativo desceu, pondo em causa a realizao do objectivo poltico de
universalizaodaeducaoescolar.
Por outras palavras, medida que crescem as taxas de crescimento dos nveis psprimrios a
massificao escolar, inicialmente concebida como sinnimo de universalizao, acaba conotada com
decrscimodonveleducativomesmoquealgunsestudosmostremqueonveleducativosobe(Baudelot&
Establet, 1994). Pierre Bourdieu esclarece que, opondose ao ensino reservado ao pequeno nmero de
herdeirosdaculturaexigidapelaescola,oensinodemassasestcondenadocrise,percebidaporexemplo
como baixadenvel,apartirdomomentoemquerecebeumnmerocadavezmaiordeeducandosque j
nodominamnomesmograuqueosseusantecessoresaheranaculturaldasuaclassesocialouque,sendo
originrios de classes sociais culturalmente desfavorecidas, so desprovidos de qualquer herana cultural
(Bourdieu,1966:340341).
Poroutrolado,comoexplicaSrgioGrcio(1986:115127),aprocuraoptimistadaescolanoterceiro
quartel do sculo XX era alimentada pelo crescimento econmico e pelasmudanas na estrutura social e
econmicaepelasoportunidadesdemobilidadesocialascendenteatribudasescola,elevandoosnveisde
expectativasquanto aos ganhos possveis com tal investimento, resultanteda interaco entre quadros de
valoreseclculoeconmicodas famlias.Contudo,oabrandamentodocrescimentoeconmicoacabarpor
pr em causa esta associao entremaior certificao emelhor posicionamento na estratificao social e
conduzir procura desencantada da educao. Por outro lado, os indivduos e grupos sociais que
ascenderam a uma posio social superior de origem, graas aos estudos efectuados, encaram a
19
desvalorizao dos diplomas como ameaa reproduo da posio social pelos seus descendentes e
consequente despromoo familiar e, por isso, investem na procura de formao mais qualificada. Ao
mesmo tempo,assisteseaum reforodopapel centraldaescolanasestratgiasde reproduo socialdos
gruposcolocadosnapartesuperiordapirmidesocialemfunodasalteraesestruturaisnacomposiodo
capitaldetidopelaburguesia(Pinon&PinonCharlot,2007)edacompetionoacessosmelhoresposies
domercadodetrabalho(Sebastio&Correia,s/d:6).
Ao receio dos primeiros e s novas exigncias colocadas aos segundos juntase o desencanto
daqueles que vem frustrada a correspondncia da reduo das desigualdades de acesso escola com a
reduodasdesigualdades sociais,omalestarproporcionadopelaocorrnciade situaesde violnciaem
espaoescolareaimpreparaodaescolaparaorganizacionalmentesetornarinclusivadetodosospblicos
em idadeescolar,comosecomprometeramosEstadospelaDeclaraodeSalamanca,em1994,sabendose
queosestudos sobreos factoresde sucessodosalunosmostrama importnciados factoresassociadosao
aluno,famliaesoportunidadessociais,econmicaseculturais,mastambmescolaesuaorganizao.
Aconstataodequenaescolanohum,masvrios insucessos (Pires,1987a)obrigaestaa repensara
questodoinsucessoedoabandonoescolar,centrandoanoapenasnoinsucessodoalunoedafamlia,mas
tambmno insucessodaescolaemcumprirasfinalidadesqueasociedade lheatribui,aomesmotempoque
reala os factores de (in)sucesso que aprpria escola comporta, como o regime de aprovao/reprovao
anualeaestruturacurricular(Formosinho&Fernandes,1987),adescontinuidadenastransiesentreciclose
nveis de aprendizagem (Silva, 1987) e a sequencialidade regressiva do ensino (Pires, 1987b), oumesmo a
interacoselectivanointeriordasaladeaula(Gomes,1987).
4.PEDAGOGIA,UNIFORMIDADEECOMPENSAO
Aacumulaodemissesedecontedosea infinidadedetarefasqueforamatribudasescolaao
longodossculosXIXeXXlevaramaumaespciedetransbordamentodaescolademassasqueparecetla
conduzidoaumimpasseeconvidaraumprocessoderetraimentoqueafaareencontrarcomoorganizao
centrada na aprendizagem, partilhando com outras instncias um trabalho educativomais amplo (Nvoa,
20
2005:16 e 17). Mas ela mantmse fincada organizacionalmente no modelo liceal de inspirao liberal,
caracterizado pela uniformidade das normas, dos espaos, dos tempos, dos alunos, dos professores, dos
saberes edosprocessosde inculcao com vista a ensinar amuitos como se fosseum s (Barroso,2001).
Visandoauniversalidade,aescolademassasfazabstracodasparticularidades individuaisefaz imperaros
princpios da uniformidade e da impessoalidade. Na organizao do ensino, ela confrontase com o
agrupamentodosalunospor turmae comopercursoeducativode cada indivduoeprometea conciliao
entre o ensino de todos e a aprendizagem individual, promete a flexibilidade curricular e a diferenciao
pedaggicae,noentanto,fazprevalecerumsistemacurricularcommatriasdefinidas,horrios inflexveise
salasfixas.
Aheterogeneidadedaescolademassaspeemevidnciaainadequaodeumapedagogiauniforme
que idealiza como bom aluno aquele que consegue acelerar a inscrio do que est prescrito
(conhecimentos, tcnicas, valores e atitudes), quando a finalidade igualizadora da educao escolar se
confrontacomo insucessoeoabandonoescolares,cujaanliseconduzacumulaodeevidnciasdeque
este fenmeno incide predominantemente sobre os alunos mais desfavorecidos sob os pontos de vista
econmico, social, cultural, familiar e psicolgico e que estes factores so externos ao funcionamento da
escola.Assim,ocumprimentodafinalidadeigualizadoradaeducaoescolarexigequeaescolacompenseos
dficescujapersistnciaacabasistematicamenteporneutralizaraeficciadaacopedaggica,assumindoum
conjuntodepapisqueabarcamdiferentesmodalidadesdepolticasocial (Saviani,2008:33)eatribuindoao
professoratarefadecompensarosdficesdosalunosqueapresentamdificuldadesdeaprendizagem(Oliveira
Formosinho,2007:21).
Apedagogiada compensaomaterializase, assim, em aco socialnas vertentesda alimentao,
sade, higiene e dos apoios socioeducativos e em apoio psicopedaggico com vista compensao de
carncias detectadas nos alunos. Contudo, a persistncia de alunos insucedidos refora a ligao entre
privilgiosocialeinsucessoescolarepeemcausaarelaoentreculturasescolareseoutrasculturassociais,
entreculturasescolaresfortementevinculadasaospadresdeclassesmdiasurbanasresidindonasregies
mais favorecidas e aos padres de Estado nacional e, da outra banda, as culturas de classes populares,
21
designadamentequando acumulam a residnciaem regiesdeprimidase a ligaoaos sectoresprimrioe
secundrio, ou quando sofrem processos de hipermarginalizao por razes tnicas, religiosas ou outras
(Silva,1994:1220).
Naverdade,apedagogiadacompensaodesenvolveseemcoernciacomumsistemaque fazdo
currculoprescritooprojectounificadordasaprendizagens,semabalarasuarigidezprogramtica,que,porsua
vez,inviabilizaaadequaoeadiferenciaocurricularnecessriasparaquetodostenhamacessoaomesmo
aquetmdireito,atravsdoscaminhosdiversosquelhespermitamchegarl(Roldo,1999:41).
5.REORGANIZAOCURRICULAREAUTONOMIADASESCOLASEDOSPROFESSORES
Aproblematizaodopapeldaescolanosucessoenousodosbenseducativossuscitaosprincpiosda
equidadeedadiferenciaopositivacomomaterializaodaigualdadeformaldosalunos:oqueigualdeve
sertratadoigualmenteeoquedesigualdevesertratadodeformadiferenciada;asmedidasdevemadequar
se em funo das necessidades e das especificidades de cada aluno ou grupo de alunos. Estes princpios
requeremmedidasdediversificaocurricularediferenciaopedaggica.
Na sequnciada LBSEenombitodaacodaCRSE,a reforma curricularde finaisdosanos80
(Dec.Lei n 286/89, de 26 de Agosto) cria a reaEscola, uma rea curricular no disciplinar destinada a
fomentarasprticasdeinterdisciplinaridadeentreosprofessores,narealizaodeprojectosemcomum,por
iniciativa dos alunos, abrindo, assim, uma vlvula de segurana, tubo de escape do sistema qual estaria
cometidaarespostaaosanseiosdosquedesejamumaescoladiferentecomautonomia,descentralizada,
comparticipaolocal,comcurrculomenosacadmicoenocingidasactividadeslectivasdasaladeaulae
commais ateno aos aspectos da educao pessoal e social, ao nvelmoral e dos valores (Formosinho,
1991:13).
Nasequnciadestareformacurricular,formulamsenovosprogramas,determinasequeaavaliao
seja formativa (Despacho Normativo n 98A/92, de 19 de Junho) e introduzemse mudanas relativas
diferenciao curricular, como as adaptaes curriculares (DecretoLei n 319/91, de 23 de Agosto) e os
currculosalternativos (Despachon22/SEEI/96de19deJunho).Apartirde1996,estetempodereforma
22
deulugaraumtempodeinovao(Pacheco,2007:85),emqueseinseremasmudanascurricularescomo
a gesto flexvel do currculo, discutida e experimentada entre 1997 e 2001 e que viriam a conduzir
reorganizaocurriculardosensinosbsicoesecundrio(DecretoLein6/2001,de18deJaneiro,eDecreto
Lein7/2001,de18deJaneiro)eintroduodetrsreascurricularesnodisciplinaresareadeprojecto,
oestudoacompanhadoeaformaocvica.
Estas alteraes curriculares no s no conduziram a alteraes significativas nas prticas
pedaggicas(Pacheco,2007,p.98),comonobeliscaramomodeloorganizacionaldaescola,cujadirecolhes
externa,acimaeforadassuasfronteirasfsicasesociais,semprejuzodatransfernciadecompetnciaspara
as escolas numa lgica de autonomia meramente tcnica ou funcional (Lima, 2007: 45). As alteraes
curriculares por si s no garantem as transformaes que visam e correm o risco de se esgotarem nos
normativos que as suportam, no centralismo dos reformadores, na subjectividade das medidas e na
uniformizao[aparentemente]desejadadasprticasescolares(Pacheco,2007:98).
Naverdade,ocurrculouniformeprontoavestir (Formosinho,1987),sejadetamanhonicoou
detamanhosestandardizadosmassempredecididocentralmente,arrastaconsigoumapedagogiauniforme,
quese traduznosmesmoscontedos,amesmaextensodosprogramase limitesestreitosparaoritmode
implementao,agrelhahorriasemanaluniforme,ascargashorriasdeterminadaspordisciplina.Porisso,se
pode afirmar que a pedagogia proposta uma pedagogia burocrtica: elabora normas pedaggicas de
aplicaouniversaleimpessoal,partindodoprincpiodequetodasascrianas,independentementedosseus
interesses,necessidadeseaptides,experinciaescolarerendimentoacadmiconasdiversasdisciplinas,tero
de se sujeitar simultaneamente s mesmas disciplinas durante o mesmo perodo de tempo escolar
(Formosinho,1999:13).
Assim, as inovaes por decreto, mesmo aquelas que mexeram em determinadas dimenses da
estrutura da classe, mantiveram tudo o resto e acabaram por ser bloqueadas pela prpria reaco
regeneradora da estrutura original, a turmaclasse, elamesma uma unidade para a definio do espao
escolar, a diviso do tempo, a seriao dos alunos, a distribuio do servio docente, a progresso das
aprendizagens (Barroso,2001:82).Comefeito,apesarde todasasmudanascurriculareseorganizacionais,
23
consolidouse uma gramtica escolar prpria, cujas caractersticas organizacionais e estruturais so parte
integrantedanossa imagemdoensino:alunosagrupadosem turmasmaisoumenoshomogneas segundo
uma graduao serial; um ou mais professores alocados a uma turma (professor generalista, no ensino
primrio, e professor de matrias, no ensino psprimrio); a sala de aula como espao estruturado da
actividade lectiva; unidades temporais rigidamente estabelecidas que cadenciam o ritmo das actividades;
saberesorganizadosemdisciplinasescolares,que so as refernciasestruturantesdoensinoedo trabalho
pedaggico.
Tratase,comefeito,detodoumconjuntodemodalidades,queregemacooperaoeacoordenao
entreosdiferentestrabalhadoresescolares(adultosealunos),queaprpriafamiliaridadeserviuparaocultare
querepousamemideias,representaesecrenasquegeraesdealunosinteriorizarampelossimplesfacto
dasuaescolarizao,pelomodoprtico,informal,dofazer,doverfazeredoouvirdizer(Hutmacher,1992,p.
51).A naturalizaodesta gramtica escolarque fazda turmaclasse a suaunidadeorganizativabsica
provoca,assim,umaespciedecegueiranaanlisedomododetrabalhoescolareestnabasedoinsucesso
detodososesforosdemudanadaescola(Nvoa,1995,p.XXII).
6.MAISAUTONOMIAPARAASESCOLASEPARAOSPROFESSORES
ApartirdasegundametadedadcadadeoitentadosculoXX,surgempropostasdereestruturao
daescolaquevisampenetrarnasaladeaula,prestaratenoaodesenvolvimentoprofissionaldosprofessores
e concederlhes maior poder discricionrio na tomada de decises, bem como fazer redistribuies
significativas(enosuperficiais)nasrelaesdepoderexistentesentreosgestores,osprofessores,ospaiseos
alunos(Hargreaves,1998:274).Essareestruturaodeveriacontemplardiversasdimenses,comoumagesto
centradana escola (sitebasemanagement),o fortalecimentodosprofessores (teacher empowerment)que
teriammaiorflexibilidadenaprogramaoenoagrupamentodosalunoseformaocentradanaescola.
Actualmente,estemcausatodooprocessodamudanaorganizacionalque,assentandonalgicado
decreto,no incluaasuacontextualizaoscaractersticasecapacidadesconcretasdossistemashumanos
que devero executlos e que so os nicos que lhes podem dar vida (Friedberg, 1993: 329 e 331). As
24
polticaseducativasorientamsenosentidodoreconhecimentodaescolacomo lugarcentraldegestoeda
comunidadelocalcomoparceiroessencialnatomadadedeciso.
Esta alterao dos processos de administrao do sistema escolar fazem deslocar a regulao do
Estado de um controlo baseado na conformidade com as regras e directivas impostas pela Administrao
Educativaparaumcontrolobaseadonaconformidadecomosobjectivoseasfinalidadesdeaco,prpriode
ummodo de funcionamentomais profissional.Ao pr omodo de regulao burocrtico em questo e ao
afirmar o primado das finalidades sobre as modalidades, este novo modelo de regulao concede aos
profissionaismaiorliberdadeparaencontrarasmodalidades,asviaseosmeiospararealizarosobjectivosea
prestaode contasdaescola fazse atravsdeuma avaliao aposteriori,quemede adistnciaentreos
resultadoseosobjectivos(enoaconformidadecomasdirectivasdahierarquia),cuja interpretao integra
parmetrosdocontexto(Wutmacher,1992:56e62).
REFERNCIASBIBLIOGRFICAS
Barroso, J. (2001).Osculodaescola:domitodareformareformadeummito. InT.Ambrsio,E.
Terrn,D.Hameline&J.Barroso,OSculodaEscolaEntreautopiaeaburocracia.Porto:EdiesASA,pp.6394
Baudelot,C.&Establet,R. (1994).ONvelEducativoSobe.Refutaodeumavelha ideia relativa
pretensadecadncianasnossasescolas.Porto:PortoEditora.
Bourdieu,P. (1966)Lcoleconservatrice.Les ingalitsdevant lcoleetdevant laculture,Revue
FranaisedeSociologie,VII,325347.
Formosinho,J.(1987).OCurrculoUniformeProntoavestirdeTamanhonico.InAAVV,OInsucesso
EscolaremQuesto.CadernosdeAnliseSocialdaEducao.Braga:UniversidadedoMinho,pp.4150.
Formosinho,J.(1991).ConcepesdeEscolanaReformaEducativa.InSPCE,CinciasdaEducaoem
Portugal:SituaoActualePerspectivas.Porto:Afrontamento,pp.3151.
Formosinho, J. (1999). A renovao pedaggica numa administrao burocrtica centralizada. In
J.Formosinhoetal.,ComunidadesEducativas:NovosDesafiosEducaoBsica.Braga:LivrariaMinho,pp.1123.
25
Formosinho, J. (Org.) (2009).FormaodeProfessores.Aprendizagemprofissionaleacodocente.
Porto:PortoEditora.
Formosinho, J.&Fernandes,A.S. (1987).A influnciados factoresescolares. InAAVV,O Insucesso
EscolaremQuesto.CadernosdeAnliseSocialdaEducao.Braga:UniversidadedoMinho,pp.2934.
Formosinho, J., Ferreira, F. I.&Machado, J. (2000). Polticas Educativas e Autonomia das Escolas.
Porto:EdiesASA.
Formosinho, J. & Machado, J. (2009). Equipas Educativas. Para uma Nova Organizao da Escola.
Porto:PortoEditora.
Friedberg,E.(1993).Lepouvoiretlargle.Dynamiquedelactionorganise.Paris:ditionsduSeui.
Gomes,C.A. (1987).A interacoselectivanaescolademassas,OEnsino,n1819202122,169
180.
Grcio,S.(1986)APolticaeducativacomotecnologiasocial.Asreformasdoensinotcnicode1948e
1983.Lisboa,LivrosHorizonte.
Hargreaves,A.(1998).OsProfessoresemTemposdeMudana.Otrabalhoeaculturadosprofessores
naidadepsmoderna.Lisboa:McGrawHill.
Lima,L.C.(2007).AdministraodaEducaoeautonomiadasescolas. inCNE(Ed.),AEducaoem
Portugal.Algunscontributosdeinvestigao.Lisboa:MinistriodaEducao,pp.1577.
Nvoa,A. (1995).Prefcio. inBarroso, J.OsLiceus.OrganizaoPedaggicaeAdministrao (1836
1960).Lisboa:FundaoCalousteGulbenkian/JuntaNacionaldeInvestigaocientfica,pp.XVIIXXVII.
Nvoa,A.(2005).Evidentemente.HistriasdaEducao.Porto:EdiesASA.
OliveiraFormosinho,J.(2007).Pedagogia(s)dainfncia:reconstruindoumapraxisdeparticipao.In
J.OliveiraFormosinho,T.M.Kishimoto&M.A.Pinazza (Orgs.),Pedagogia(s)da Infncia.Dialogandocomo
passado,construindoofuturo.PortoAlegre:Artmed,pp.1336.
Pacheco,J.A.(2007).Currculo,investigaoemudana,inCNE(Ed.),AEducaoemPortugal.Alguns
contributosdeinvestigao.Lisboa:MinistriodaEducao,pp.79148.
26
Perrenoud,Ph.(1986)Dasdiferenasculturaissdesigualdadesescolares:aavaliaoeanormanum
ensino indiferenciado em Allal, L., Cardinet, J. e Perrenoud, Ph., A avaliao formativa num ensino
diferenciado,Coimbra,LivrariaAlmedina.(ediooriginal1978).
Pinon,Michel e PinonCharlot,Monique (2007) Sociologie de la bourgeoisie, 3eme ed. Paris: La
Dcouverte.
Pires, E. L. (1987a). No h um, mas vrios insucessos. In AAVV Vrios, O Insucesso Escolar em
Questo.CadernosdeAnliseSocialdaEducao.Braga:UniversidadedoMinho,pp.1115.
Pires,E.L.(1987b).Oensinosuperiorquemmaisordena:asequencialidaderegressiva.InAAVV,O
InsucessoEscolaremQuesto.CadernosdeAnliseSocialdaEducao.Braga:UniversidadedoMinho,pp.51
56.
Pires,E.L.,Fernandes,A.S.&Formosinho,J.(1998).AConstruoSocialdaEducaoEscolar,2ed..
Porto:EdiesASA.
Roldo,M. C. (1999).Os Professores e aGesto do Currculo. Perspectivas e Prticas em Anlise.
Porto:PortoEditora.
Saviani,D. (2008).EscolaeDemocracia: teoriasdaeducao,curvaturadavara,onze tesessobrea
educaopoltica.Campinas,SP:AutoresAssociados.
Sebastio,J.&Correia,S.V.(s/d).AdemocratizaodoensinoemPortugal.Santarm:EscolaSuperior
deEducao(policopiado).
http://www.ese.ipsantarem.pt/projectos/artigos_fct/A%20democratiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20ensino%20e
m%20portugal.pdf(acessoem15/04/2011,10h00).
Silva, A. S. (1994). Anlise sociolgica e reflexo democrtica sobre a educao: um dilogo com vantagens
recprocas,AnliseSocial,Vol.XXIX(129),1994(5.),12111227.
Silva,J.R.(1987).Doprimrioaopreparatrio:aeliminaoprecoce.InAAVV,OInsucessoEscolaremQuesto.
CadernosdeAnliseSocialdaEducao.Braga:UniversidadedoMinho,pp.3540.
Wutmacher,W.(1992).Aescolaemtodososseusestados:Daspolticasdesistemassestratgiasde
estabelecimento. InA.Nvoa(Coord.).AsOrganizaesEscolaresemAnlise(pp.4576).Lisboa:Publicaes
domQuixote.
27
LIDERANASINGULARNAESCOLADEMOCRTICA:AMEAASECONTRADIES
LeonorLimaTorresIEUniversidadedoMinho
1.INTRODUO
Nasltimasduasdcadas,omodelodegestoescolar tem constitudoumadas travemestrasdas
reformaseducativas,apardodesenvolvimentodemodelosdeavaliao (dasescolas,dosprofessores,dos
alunos),ambasaspreocupaes,alis,profundamentearticuladascomoparadigmadegestoneoliberalque
temmarcado,nosltimosanos,aagendaeducativa.Surgecomevidncianosdiscursospolticosenosmeios
decomunicaosocial,aideiadequeosproblemaseducacionaisresultantesdatopropaladacrisedaescola,
sepodemresolverouminimizarporviadaimplementaodeummodeloeficazdegestoescolar.Ensaiaram
sefigurinosvriosemsubstituiodosConselhosDirectivos,rgocolegial institudodesde1975Director
Executivo,em1991;ConselhoExecutivo,em1998;Director,em2008,cujasmudanasdedesignaoforam
acompanhadasdeligeirasalteraesnasuacomposio,competnciasemodosdefuncionamento.Emtodos
os regimesdegoverno sedestacaa figurado lder formalda instituio (PresidentedoConselhoDirectivo,
PresidentedoConselhoExecutivo,Director),sempresujeitosregrasdemocrticasdaeleioalargadapelos
pares,comaexcepodoactualcargodeDirectorinstitudopeloDecretoLein75/2008,de22deAbril.
Faceaestasalteraesmorfolgicas,interessaquestionaratquepontoomodeloactualintroduziu,
porumlado,mudanassignificativasaonveldofuncionamentodainstituioescolare,poroutro,dinmicase
solues organizacionais alternativas capazes de tratar dos sintomas de crise imputados quase sempre a
factores internos ao sistema de ensino. Mais, de que forma as escolas fazem uso das suas margens de
autonomia relativa? Como se desenvolvem os processos de liderana num contexto marcado pela
unipessoalidadedadireco?Comoseposicionamosprofessoresgestoresemrelaoaoprprioprocessode
autonomiadasescolas?
28
2.CRUZANDOALGUNSDADOSDEINVESTIGAO
Partimosdoprincpiodequeosconstrangimentospolticoestruturaisqueseabatemsobreasescolas
exercemumcondicionamentodiferenciadosobreasprticas,abrindodiversosespaosdepossibilidadesque
podemserapropriadospelosactoresdeformaculturalmentesignificativa.precisamentenestepontona
apropriao quotidiana deste espaotempo e desta margem relativa de actuao que nos parece
pertinente discutir as potencialidades das organizaes escolares na construo de uma escola
progressivamentemaisdemocrticaemaisjusta.
Esta abordagem apoiase em dados de investigao recolhidos no mbito de trs pesquisas
actualmente em curso: i) anlise crtica dos Relatrios de Avaliao Externa das escolas, nos domnios da
organizaoegestoescolare liderana; ii)estudodecasocentradonospercursosdeexcelnciaescolardos
alunosdeumaescolasecundria;iii)anlisedosProjectosdeIntervenodosDirectoresdeescolas.
3.PERFILIDEALDELDERESCOLARNAPERSPECTIVADAAVALIAOEXTERNA
De entre as diversas formas de regulao das escolas pblicas (cf Barroso, Org., 2003, 2005), os
dispositivosdeavaliaoexternainstituiramsenosltimosquatroanosnumpoderosomecanismodecontrolo
sobreosresultadosescolares.DaanlisequeefectumosaosRelatriosdeAvaliaoExternadasescolasno
agrupadas (cf. Torres& Palhares, 2009) foi possvel extrair ummodelo idealtpico de organizao escolar,
claramente alicerado num referencial para a aco, em funo do qual se procedeu classificao das
instituies. Esta matriz uniformizadora, ao funcionar como uma espcie de molde norteador da aco,
tendeadiluirasespecificidadesorganizacionaiseculturaisdecadaescola,induzindonestasorganizaesuma
aproximao,nalgunscasos,ummimetismo,aosparmetrosdefuncionamentoconsideradosideais.
De forma a apreender o perfil ideal de liderana veiculado nos Relatrios de Avaliao Externa,
efectuamosumaanlisede contedoaosdomniosda lideranaeda organizaoegestoescolarque
obtiveram a classificaodeMuitoBom.Aprimeiradeduogenrica retiradadesta anlise apontaparaa
subordinaodoperfilde lideranas lgicasdaprestaodecontasederesponsabilizao (accountability)
(cf.Afonso,2010aeb),bemcomodaracionalizaodosrecursos.Pressionadaregulaodosresultados,a
29
escola precisa, na ptica do quem avalia, de um lder forte, de um rosto que se responsabilize pela
implementaoeficientedeumprojectoeducativoquesepretendepartilhado.Masosignificadodepartilha
perspectivadomaiscomoumatcnicadegestodeafectosdoquedeumprocessoresultantedaparticipao
democrticadosactoresnassuasesferassignificativasdeaco.OqueefectivamentevalorizadopeloGrupo
deAvaliaooperfildedesempenhodaescolaaonveldosresultados,dependendoestesdaeficinciacom
queosactoresoperacionalizem,nasperiferiasescolares,uma tecnoestrutura impostapor instncias supra
organizacionais.
A focalizaona figuradoPresidentedoConselhoExecutivoe,apartirda4 fasedeavaliao,do
Director,comorefernciaparaavaliaralideranadaescolasubentendeclaramenteumaimagemdeliderana
individual, contrariando a tradio das prticas de colegialidade culturalmente instituidas nas organizaes
escolares.Valorizaseprimordialmenteodomniodeferramentasdegestoquepermitamaconcretizaodas
metas nas esferas do Mercado (angariao de verbas, projectos e parcerias; inovao tecnolgica; oferta
educativa; indicadores de procura), do Estado (eficincia dos processos e eficcia dos resultados, com
monotorizaoeavaliao;qualidadeeexcelncia)edaEscola(culturaorganizacionaldaescola).Transparece
umperfildelideranadetipogestionrio,reverencialereceptivo,orientadomaisporumalgicadeprestao
de contas (ao Estado e aoMercado) do que por princpios de desenvolvimento da cidadania democrtica.
Nesta lgica as dimenses culturais da escola assumemse como tcnicas de gesto facilitadoras da
concretizao dos resultados, reforandose a crena culturalista de que o empenhamento, o
comprometimento,astradiesculturaispromovemaeficciaeaexcelnciaescolar.
4.MISSODAESCOLAPBLICA
Nocontextodasociedadeportuguesa,amissodaescolapblicatemsidoobjectodeumaretrica
poltica democratizadora que contrasta claramente com a adopo de medidas reformadoras de pendor
neoliberal (cf. Lima, 2011), como o caso, do regresso dos exames nacionais, do reforo da inspeco e
controlodosresultados,daopopor lideranasunipessoais,damultiplicaodemecanismosdeavaliaoe
deprestaodecontasedaemergnciadeumanovanarrativaelitistaquedefendeaexcelnciaacadmica
30
como valor fundamental (Magalhes& Stoer,2002). Tendo comoquadrode fundooparadigmade gesto
dominante, interessasabercomoquecadaescolaemconcretodefineepriorizaasuamissoestratgica:
Como resolve a tenso entre a dimenso democrtica da instituio e a presso para a produo de
resultados?
DaanlisequeefectumosacercadeduasdezenasdeProjectosde IntervenodosDirectores, foi
possvelidentificaralgunsreportriosinterpretativosapropsitodamissodaescola.Situadosnumaespcie
decontinuum,estesreportriosenunciadospelasequipasdirectivasdasescolasconfiguramdistintasvisesda
funosocialda instituioescolar,elasprpriasdenunciadorasdo lugaredoestatutoatribudoaosvalores
democrticos e participativos. Para efeitos de ilustrao, circunscrevemos esta reflexo apenas a dois
posicionamentos,nosporserevelaremmaisrepresentativosdaglobalidadedoscasos,masigualmentepor
representaremasduasvisesquemaisseopemedistanciamemtermosdeconcepodeescola.Oprimeiro
posicionamentodefendedeformaveementeafunoselectivaemeritocrticadaescola,centrandotodasas
prioridadesnaconstruodaexcelnciaacadmicacomoviamaiseficazparagarantiroprosseguimentodos
estudos superiores; um segundo, mais voltado para as dimenses igualizadoras e democratizadoras da
educao,privilegiacomoprincpiosfundamentaisaigualdadedeacessoesucesso,adiversificaodaoferta
formativaeapromoodaparticipaodemocrtica.
Estesdoisperfisdeescola,assentesemdistintasvisesdasuamissoestratgica,tendemareflectir
os traos culturais destas instituies: o primeiro, mais conectado com os traos da cultura liceal ainda
reminiscente de certas tradies historicamente enrazadas e refm de uma imagem social que tende a
perpectuarse;osegundo,herdeirodaescola industrialecomercial,culturalmentevocacionadaparaatender
snecessidadessociaiseeconmicasdaregio.Estasduasformasdeconceberamissoestratgicadaescola
remetemparadistintasprticasde intervenodemocrticaedeconstruodaautonomia.Ea interrogao
queseimpenoimediatoadesaberdequeformaamissodaescolaeassuaslinhasderumocondicionam,
potenciandoou limitando,a construodeprticasdemocrticas?Atquepontoasorganizaesescolares
tm conseguido ultrapassar as fortes tradies individualistas inerentes profisso docente e as rgidas
31
regulaesexternas,colocandoassuasmargensde liberdadeede independnciaaoserviodaparticipao
democrticaedaautonomia?
Tornase claroque asorganizaes escolaresdispemde alguma latitudeparadefinir as linhasde
rumo, em consonncia com as suas especificidades culturais e com o sentido de pertena partilhado pela
comunidadeeducativamaisalargada(cf.Torres,1997,2004).Tambmnospareceevidentequeasestratgias
dedesenvolvimentodaescolapodemampliare/oulimitarosseusespaosdeparticipaoeautonomia.
5.LIDERANASCOLEGIAISOULIDERANAINDIVIDUAL?
DaanliseefectuadaaosPlanosde IntervenodosDirectoresedeoutrosdados complementares
(entrevistas,discursosoficiais)foipossveldeduzirpelomenosdoisestilosdeliderana:umestilodecarcter
mais implementativo, decalcado do esprito do diploma legal (decretolei n 75/2008), associado misso
elitistadeescola;eumperfilmaisprximodocolegial,perspectivandoaparticipaoeacoresponsabilizao
comodimensesdavidacolectiva,relacionadocomamissomaisdemocratizadoradeescola.
A liderana de tipo implementativo tende a valorizar a produo de resultados escolares, criando
mecanismosdemonitorizaodosmesmos,sejaparaelevarosnveisdeexcelncia,aumentaronmerode
parcerias ede iniciativas culturais, sejaparadiminuiro graude expressode abandono,de reteno ede
indisciplina.Nasendadaexcelnciaescolar!Assimresumiramosamissoprioritria,o lemadeumconjunto
deescolaspblicas,sobretudodenvelsecundrio.Movidaporesteesprito,a lideranadaescolaafirmase
comoumadimensocentraldavidaorganizacional,tendendoaconcentrarospoderesdedeciso,bemvisveis
aonveldaconstituiodasequipasdegestoecoordenao,namaioriadoscasosalvodeumanomeao
directaporpartedoDirectordaescola
Alideranacolegial,aocontrriodaanterior,tendeafocarsenosprocessos,nopressupostodeque
osmesmos se revestem de uma dimenso pedaggica, formativa e transformadora. Inspirada numa viso
regeneradoradeescola,acreditasenaspotencialidadesdestapara repararou compensarasdesigualdades
sociais,alargandoasuamissoeducativaatodosospblicosescolares.Adiversificaodasofertasformativas
e dos seus respectivos pblicos impeliu naturalmente o desenvolvimento de um estilo de liderana mais
32
sustentadonosinteressesdacomunidadeescolar,maiscomprometidocomasdiversasracionalidadeselgicas
detrabalhocoexistentesnaorganizao.Valorescomoaflexibilidadeorganizacional,otrabalhocolaborativoe
a inovaopedaggicaemergemcomoossuportesdeumamatriz identitriaque interessareforartantoao
nveldalideranadetopocomoaonveldaslideranasintermdias.
6.PEDAGOGIAPERFORMATIVAOUPEDAGOGIADEMOCRTICA?
Dequeformaamissodaescolaeoseuestilodelideranainterferemcomosmodosdeorganizao
pedaggica?Apesardearelaonemsempreserdirectaedeterminista,foipossvel,mesmoassim,encontrar
alguns indicadorespertinentes.Nas escolasdeperfil elitista, apreocupao com aproduoda excelncia
acadmicatendeaconcentraroolhardogestornassoluespedaggicasconsideradasindutorasdaqualidade
doensino:aconstituiodasturmas,ainstituiodeprmiosescolares,ocontrolodaindisciplina,oreforoda
componente formal do ensino, entre outros aspectos. Os tempos e os espaos escolares so pensados e
organizadosem funodasuaoptimizaoemtermosderesultados,sendoconsideradocritriopedaggico
aquelequemelhorservirodesempenhoescolar.
Numoutroextremo,asescolasdeperfilmaisdemocrtico,tendemaorganizarocampopedaggico
por referncia heterogeneidade do seu pblico e da sua oferta, criando diversas modalidades de
agrupamentosdealunos,ensaiandovriasestratgiasde controloda indisciplinaemultiplicandoasviasde
ocupao dos tempos no curriculares. Numa tentativa de promover o sucesso para todos, procurase
diversificarasopesformativasepedaggicas,sendonotriaumamaiorpreocupaocomosprocessosde
ensinoaprendizagem, arriscando novas estratgias pedaggicas, experimentando dispositivos avaliativos
alternativos,ouainda,introduzindoalgumasinovaesnoscurrculosoficiais.
7.TENSESECONTRADIESDAESCOLAPBLICA
Ousodasmargens limitadasdaautonomiacomvistaampliaodavivnciademocrticadaescola
esbarra com as lgicas gerencialistas impostas a nvel central, gerando no quotidiano destas organizaes
algumas tenses difceis de superar: de um lado, a tentativa de corresponder diversidade dos pblicos,
33
criando uma variedade de solues formativas e educativas e, por outro, a necessidade de consolidar a
qualidadedo ensino, garantindo elevadosnveisde sucesso.Odifcil equilbrio entremais escola emelhor
escolanemsempreconseguido,revelandofrequentementesituaesconflituais.Porexemplo,aslgicasque
prevalecemconstituiodeturmasprocuramcombinaroprincpiodadiversidadedosgrupos(turmasde
ensinoregular,turmasdeensinoprofissional,turmasdeensinorecorrente,cursosdeeducaoeformao...)
comoprincpiodahomogeneidadedaclasse(turmasdenvel),numatentativadegarantirasimultaneidade
deumaescolaparatodosedeumaescoladeexcelncia.Porm,aadesodaescolaaoidealmulticulturalno
suficiente para gerar um acrscimo de democratizao escolar, desde logo porque o modelo de
funcionamento da organizao se mantm inalterado, replicando as mesmas frmulas desigualitrias de
configuraodasturmasprevalecentesnaescolaelitista.Nofundo,alunoseprofessoressodistribudospelos
vriosgrupos/turmas,elesprpriossocialeculturalmentehierarquizados,nosevislumbrandonasdinmicas
organizacionais da escola, a existncia de mecanismos que visem contrariar este tipo de segmentao e
selectividadesocialeescolar.
Mesmo reconhecendo os avanos notveis em algumas escolas nos domnios pedaggico e
organizacional, persistem ainda dificuldades, ao nvel dos professores, em desenvolver um trabalho
colaborativo, em alterar as rotinas pedaggicas institudas, em pensar e trabalhar a escola como agncia
multicultural.Tornase cadavezmaisevidentequeasescolasprocuramgerirasdesigualdadeseaexcluso
dentro dos constrangimentos impostos pelo sistema que as produz. E neste sentido, importante
compreenderosentidoeoalcancedaapostanadiversificaodaoferta,toexpressivamenteproblematizada
porMagalhes&Stoer(2002:41;itliconooriginal):
De facto, quando hoje em dia amuito apregoada diversificao entra emjogonosistemaeducativosobretudonosentidodediversificarsadasparaaestruturaocupacional.Poroutraspalavras,oensinoparaoalunopadrodosistemano sealtera.Oquemudao canal,a viapelaqual cadaalunodimensionadoparaachamadavidaactiva.
34
Pese,ento,aquestode saberatqueponto seconsegueevitarqueadiversificao formativa
funcione como um mero canal de passagem selectiva de alunos, seja directamente para a estrutura
ocupacional,sejaparaoensinosuperior?Dequeformaaescolapodertransformarestescanaisemcontextos
significativosdeaprendizagenssusceptiveisdeinverteremosdestinossocialmentetraados?Atquepontoas
instituiestmsabidolidarcomodilemainerenteaobinmiodemocraciaversusexcelncia?
8.SOBREAOFERTAFORMATIVA:ALGUMASNOTASSOLTAS
Submetidaaexignciasopostas,tantasvezesdenunciadorasdeumacriseinsanvel,aescolapblica
convivediariamentecomatensoentreosfinspropostoseosmeiosindispensveisparaosatingir.Oslimites
da aco propriamente escolar, associados a uma autonomia poltica praticamente inexistente, impelem e
intensificamasantinomiasdemocratizao/selecoeresultados/processos.portantoindispensvelrepensar
dequeformaaescolapodesertodemocrticaquantopossvel,semperderosentidodasuavocao.Afinal
como conciliar mais escola com melhor escola? Como garantir uma escola de excelncia para todos?
Diversificandoouretraindoaofertaformativa?Emqualquerdoscasos,valeapenaconsideraralgunsfactores
chaverelativamentequestodasofertasformativas:
A oferta formativa sobretudo uma questo poltica.De outra forma, reduzse a uma espcie de
prtesepara supriras insuficinciasdaescola (eda sociedade),podendomesmo transformarsemaisem
certificaodoqueemformao.Maisperigosoainda,podeainclusodevriospblicosconstituirapenasum
meroadiamentodaexclusosocial,umsubtilmecanismodegestodiferidadaprpriaexcluso;
Sendoumaquestopoltica,oseuenquadramentodesejavelmentemultireferenciado:i)integradoe
contextualizado na dinmica de uma poltica educativamais vasta, em articulao estreita com o projecto
educativodomunicpio;ii)inseridanaespecificidadedacomunidadeenquantoestratgiaderevitalizaodas
culturaslocais;iii)articuladaprofundamentecomasespecificidadesevalnciasdaescola;
A estrutura da oferta formativa dever ter em conta a centralidade das invariantes estruturais da
escola, isto , a sua forma clssica e secular.A opo poltica pela diversidade ou restrio da oferta ter
sempredeconvivercomaimutabilidadedaestruturaescolar(tempos,espaoseprocessos);
35
Por outro lado, a diversificao da oferta exerce um impacto visvel sobre a fragmentao e
segmentao organizacional (relacional, pedaggica).O papel das lideranas informais e intermdias, bem
como as dinmicas de intercomunicao entre elas, constituem factoreschave a considerar na gesto
quotidianadasescolas;
Tornasecadavezmaispertinentereconhecerapluralidadedeformasdeexcelnciaescolaraliada
pluralidadedepedagogias.Ouseja,procederrelativizaoedessacralizaodahierarquiaunidimensionalda
excelncia,dottuloescolarnico;
Em consequncia, o desafio pode passar pela dinamizao de novas formas de competio, mais
focadas em grupos, comunidades ou mesmo escolas e menos no culto do indivduo ou da performance
individual.
A condio scioprofissional dos professores tornaos naturalmente nos principais veculos do
processodemocrticonasescolas,commaisoumenosautonomiademocrtica.Por isso,osentidodassuas
prticas (sociais,polticas,educativas,pedaggicas),ouseja,a formacomoutilizamosespaos limitadosde
autonomia e como recontextualizam as prprias imposies centrais, acabam por ser determinantes no
desenvolvimentodacidadaniademocrticadainstituioescolar.Efectivamente,entreasconfiguraeslegais
concebidasnosespaosministeriaiseasrealidadesvivenciadasnasescolasconcretasenassalasdeaulareais,
identificamosum fosso enorme, cada vezmaisprofundo.Mas este enormedesajustamento,mesmo sob a
apertadavigilncia informtica,avaliativae inspectivaquepressionaparaauniformidade,pode tambmser
explorado pelos actores locais no sentido de reforar as suas agendas democrticas e participativas,
valorizandoerepondo,assim,adimensopblicadaeducao.
REFERNCIASBIBLIOGRFICAS
Afonso,A.(2010a).Gesto,autonomiaeaccountabilitynaescolapblicaportuguesa:brevediacronia.
RevistaBrasileiradePolticaeAdministraodaEducao,26(1),1330.
Afonso,A.(2010b).Polticaseducativaseautoavaliaodaescolapblicaportuguesa.Apontamentos
deumaexperincia.RevistaEstudosemAvaliaoEducacional,21(46),343362.
36
Barroso,J.(2005).Polticaseducativaseorganizaoescolar.Lisboa:UniversidadeAberta.
Barroso,J.(Org.)(2003).AEscolapblica.Regulao,desregulao,privatizao.Porto:EdiesASA.
Lima,L.(2011).Administraoescolar:estudos.Porto:PortoEditora.
Magalhes,A.&Stoer,S.(2002).Aescolaparatodoseaexcelnciaacadmica.Maia:Profedies.
Torres, L. L. (1997). Cultura organizacional escolar. Representaes dos professores numa escola
portuguesa.Oeiras:CeltaEditora.
Torres,L.L. (2004).Culturaorganizacionalemcontextoeducativo.Sedimentosculturaiseprocessos
deconstruodosimbliconumaescolasecundria.Braga:UniversidadedoMinho.
Torres, L. L. (2011). A construo da autonomia num contexto de dependncias. Limitaes e
possibilidadesnosprocessosde(in)decisonaescolapblica.Educao,Sociedade&Culturas,32(noprelo).
Torres,L.L.&Palhares, J.A. (2009).Estliosde lideranaeescolademocrtica.RevistaLusfonade
Educao,14,7790.
37
FAZERAESCOLAACONTECER:ACOLABORAOCRIANASPROFESSORESPAISCOMOPRTICADECIDADANIA
TeresaSarmentoIEUniversidadedoMinho
IldaFreireESEBInstitutoPolitcnicodeBragana
INTRODUO
O exerccio da cidadania hoje entendido como um dever e um direito a usufruir em qualquer
contextoeducativo.No interiordaescolatodososseusprotagonistassoconvidadosaexercitarprticasde
cidadania.No se exclui ningum,mesmo osmais pequenos interlocutores tm o direito a participar nas
decisesque,poralgumarazo,possamterinfluncianasuavidaacadmica.Acidadaniadacrianaconstitui
sedestemodocomoumdesafiomudanadasestruturaspolticas,educativasesociais,transformaodas
instituieserenovaocultural(Sarmento,T.1999).
Asrelaesqueseestabelecemnointeriordasinstituieseducativaspodemserdeterminantespara
dar voz e visibilidade criana. Se athdcadas atrs as fronteiras entre a escola e as famlias estavam
claramentedefinidas e fechadas cadauma em si, actualmente, e tendo em linhade conta a relevnciada
cidadania, tornase pertinente efectivar prticas de colaborao que impliquem a coresponsabilizao de
todos (pais, professores e comunidade) na educao. De uma relao conturbada e frgil (Montandon e
Perrenoud, 2001) h assim a possibilidade de passar a revelarse uma relao entre a escola e os pais,
melodiosaerefinada,aindaquenogeneralizadaatodososcasos.
A escola faz parte da vida quotidiana das famlias e, nos dias que correm, a gesto partilhada da
instituioescolarumarealidadecadavezmaisassumida,contribuindoparaumacooperaomaisestreita
entre todos os actores directamente envolvidos. As vantagens desta proximidade so inmeras e
manifestamentepositivasparaobomdesenvolvimentoeducativo.
Aexistnciaderelaesharmoniosasentreacomunidadeeducativa,aescola,ascrianaseafamlia
estdependenteda capacidadedeentendimentoede comunicaoentre todos.Deve,por isso,basearse
38
numprocessode respeitomtuo,de tolerncia ede reconhecimentodosdiversospontosde vista, como
intuitodeproporcionaraoseducandosmelhorescondiesdeaprendizagemeconduzindoaosucessoescolar.
Paiseprofessorescomprometemse,agora,comumdilogoprofcuoeunssonoemproldeumaeducaode
qualidade.
Ora, a relao escolapais, aparentementemais fortalecida, faz prevalecer a ideia de que a escola
possibilitaaexistnciadeumaparticipaoefectivaeactivadospaisemactividadeseducativas.Poisbem,por
vialegislativa,atutelaincentivaestaparceria,porm,osestudosmostramquequandoaparticipaodospais
estipuladaouencorajadapelalei,permanecefracaouilusria(Montandon,2001:157).Estaideiadeiluso,
segundo o autor, acontece quando se pensa que: (i) h participao parental s porque os pais se fazem
representarnosrgospedaggicosedegestodasescolas, (ii)estorepresentadasas famliasdetodasas
classessociais,(iii)aparticipaodospaisreal,quando,emcontrapartida,opapelqueosprofissionaisos
deixamdesempenharpareceseemmuitos casos comode figurantes (ibid:157). Salientasequea relao
escolapais existe em todas as instituies escolares embora s se concretize efectivamente num nmero
reduzido de escolas. Por um lado, para que a parceria escolapais seja sustentada por uma ligao mais
efectiva,sernecessrioqueaescolacrieoportunidadesdeparticipaoeseabrasemreservasfamliae
comunidade,permitindoumenvolvimentorealnassuasactividades.Poroutro lado,ospais tambmdevem
mostrarumaposturadeaberturaeestaremdisponveisparaestabeleceremanteressarelao.
Acreditamosqueestarelaopodercontribuirparatornarmaisdemocrticasasescolasetornaro
seupbliconuminterventormaisautnomoe,comotal,maiscidado.
Neste artigo partese de uma anlise sobre as novas realidades sociais e os diferentes sentidos
atribudoseducao,paradepoissereflectirnosvaloreseducativosactuaisenasprticascongruentescom
essas finalidades.A cidadania,bem como a autonomia, surgem assim como conceitos centrais apartirdos
quaiscadacomunidadeeducativaencontrarazesparaFazeraEscolaAcontecer.
39
NOVOSSENTIDOSDAEDUCAO:CONSTRUINDOACIDADANIADASCRIANAS
Seemtempos idosaescolaeratidacomoobjectodepossedeumconjuntodeprofessoresaquem
cabiadifundiros saberes construdosexternamente, saberesesses transmitidosdeuma formanormalizada,
nosnossosdias,numasociedadedemocrticaqueapelaparticipao,aquelarepresentaosocialnotem
maisespaodeaceitao.Tidacomoumaagnciadedesenvolvimentodascomunidades,construdacomestas
eaoserviodasmesmas,estaalteraodeposiescomporta igualmentealteraodepapis,alteraode
perspectivas,alteraodefunes,alteraoinclusivamentedeagenteseducativosedeelementosactivosna
escola.Acomplexificaodasfinalidadesedaorganizaodaescolaacompanha,deresto,acomplexificao
queseverificanosvrioscenriossociais,peloquenos importa,nestaaltura,analisaraquelesque intervm
maisdirectamentenaeducaodascrianas.
Comecemos por analisar algumas perspectivas sobre a agncia da criana. Para se assumir
verdadeiramenteacidadaniadacrianaimportanteouvirasuavozevalorizarasuaparticipaonomundo
quearodeia,afirmandovaloreseosdireitosdascrianas.Aatribuiode importnciavozdacriana (dos
alunosemgeral)umanovidaderecentenocampodaeducao.Aparticipaonasdecisesqueseprendem
comasuavidaestprogressivamenteaserincrementadanosdiferentescontextosemquehabita.
Ouvirascrianasdeformaapropriadaenvolvemudanassignificativasemmuitasprticas,estruturas
sociaiseinstitucionais(Roche,1999).Darvozscrianaseouvirasuaopiniorelevanteparaaconstruoda
cidadanianainfnciae,entreoutrospressupostos,envolveaimplicaodoadultonumaprticacomcrianas
eadolescentesnaquallhesdadainformaoadequada,naqualelespodemexpressarosseuspensamentos
esentimentosacercadoassuntoemquesto,numtempoeespaoadequado(ibid:57).Comoosadultoseas
crianas tm uma relao de interdependncia na aprendizagem da ambivalncia da infncia actual (Jans,
2004),estastambmestointerdependentesnoprocessodeaprendizagemdasuacidadania.
Cockburn(1998,citinJans,2004)vestainterdependnciacomoopontodepartidaparaaconcepo
de cidadania infantil, pois ao reconhecer esta mtua dependncia a posio social da criana menos
problemticae,destemodo, a cidadaniada criana tornaseum facto,deixandode serumautopia.Deste
modoJans(2004)fazsobressairaideiadequeacidadaniadacriananopodeserdeclinada,aoconsiderarse
40
queestaspoderseratingidaquandoacrianativerosmesmosdireitosqueosadultos.Ora,etendoanoo
claradequesercidadonoseconfinaapenasaosdireitosconfeccionadoseconferidospeloEstado,sendo
imprescindvel a valorizao da participao como princpio bsico para a configurao da cidadania, este
pensamentodeixade ter fora.Sepensarmosquessepodeexercerodireitodevotoapartirdosdezoito
anos,teramosumalongaesperaeacrianajamaisseriaconsideradacidadcompleta.Assim,ecorroborando
aopiniodeSoares (2005),pensamosqueaquestodoexercciorealdedireitosdeparticipaosocialter
que ser equacionada na promoo e valorizao da cidadania infantil. Jans (2004) de opinio que para
perspectivarmosumacidadaniaaotamanhodacriananosedevedescurarocarcterldicoqueenvolveas
suasbrincadeiras.Destemodo,acidadanianodeveresumirseaumconjuntoderesponsabilidades.Acriana
assumedeterminadasresponsabilidadesenquantobrincaecomotalimportantesaberqueacrianapodeser
chamada a qualquer momento para participar e opinar. Encarar a cidadania como uma identidade, uma
pertenaaum local, tambmnoomelhorcaminhoparadescreveracidadania infantil (Jans,2004),pois
quandoestacidadaniaestconectadacomastradiesculturaisesociaisemlocaisondeestasnoexistamou
estejamescamoteadas,acriananopodeserconsideradacidad.Acrianapossuicapacidadeparasealiara
uma identidade civile, ao fazlo ligaseessencialmente a smbolos, valoresenormasque caracterizam tal
identidade.Devidoaistoeformacomoseadaptamaomeioambienteondeseinserem,algumasformasde
cidadaniapodemfacilmenteestaraoseualcance.
Noquerendoque a imagemde crianacidad seja apenasumamiragem, necessriopromover
umarealcidadaniadacrianatendoemmentequeestecenrioumprocessomarcadopordesigualdadese
obstculos (Soares,2005).Porum lado, tmque seultrapassaros impedimentosqueexistemnas relaes
entre adultos e crianas, como o caso do controlo e da regulao e, por outro, temse de ponderar as
diferenasestruturaisdenaturezasocialeeconmica,queacarretaimplicaesrelevantesnavisibilidadedas
crianasenaorganizaodoseudiaadia (Soares,2005).Como tal, fundamentalpensarnacrianacomo
umapessoadetentoradosseusdireitos,queumsersocialeque,porissoacaba,inclusivamente,pordispor
deumacidadaniaquepoucodiferedadoadulto.
41
Na sua dimenso social, a valorizao da crianacidad ganha uma maior amplitude quando se
considera a capacidade de compreender os sentimentos, intenes, percepes, pensamentos e
comportamentos de outras pessoas, bem como a capacidade para compreender interaces em diversas
situaes, para prever comportamentos considerando os diversos contextos scioculturais e as diferentes
caractersticaspessoais.
,por isso,prementeque a criana seja reconhecida comopessoa/cidad com competnciaspara
exercerdireitoseliberdadesfundamentais.Porm,ereconhecendoqueosucessodatarefanofcile,por
vezes,estenvoltaemconstrangimentos,nodevemosesquecerqueainfnciaassumecontornosdiferentes
deacordocomascaractersticasdas famliasedaprpriasociedadeondeesto inseridas,oque,porvezes,
podecondicionaroacessocidadaniaquesedeseja.
Esta perspectiva de cidadania para a infncia ter sempre implcita a noo de promoo da
participao infantil (Soares,2006;Toms,2007) considerandoas crianas comoactoresparticipativosnas
relaes sociais, fundamentalmente implicadas no processo de relao social (Toms, 2007:131). Importa
concretizarestanooeformarcidadosparticipativosesocialmentecomprometidos.
AFAMLIAENQUANTOPRIMEIROCONTEXTOSOCIALIZADORDACRIANA
Aactualsociedadecaracterizadapelasuaversatilidade.Elaatravessamomentosdemudanaque
criamnovoscenriossociais.Afamlia,responsvelpelocomportamentodosHomensenquantopessoas,edos
povos enquanto colectividadesorganizadas,umdos elementos centrais ebasilaresde todas as sociedades,
sendomesmoamaisantigainstituiosocial,noficouindiferenteperanteastransformaessocietais.Foram
muitasastransformaesquea famliasofreunostemposmaisrecentes: (i)acrescenteprivatizaodasua
natureza (ii), a progressiva reduo da sua dimenso, (iii) a diminuio gradual das suas funes e (iv) a
igualitarizaodospapissociaisnoseuinterior(Cruz,1997).
Quando, hoje, falamos de famlia temos que nos referir a uma realidademultifacetada as suas
finalidades, o seu tempo de interaco, os seus espaos de interveno , organizada em diferentes
modalidadesfamliasmonoparentais(umprogenitoreosfilhos);famliasreconstrudas(osmeus,osteuseos
42
nossos);famliascomuns(paimefilhos),comcdigos intrae interrelacionaisecomfuneseducativas
quenosojasmesmasdehpoucasdcadasatrs.
As famlias tmhojedimenses reduzidas,oque comporta inevitavelmente implicaesno campo
educativo.Comadiminuiodonmerode filhosnormalmenteumoudoiscomumadiferenamdiade
idadesdetrsanosemeio,algumasprticaseducativasinformaisqueserealizavamnointeriordasfamlias
noencontram,hoje,asmesmaspossibilidadesdedesenvolvimento.Osbrinquedosquesepartilhavamentre
irmos de idadesmuito prximas, a solidariedade e cumplicidade na realizao dos trabalhos escolares, a
responsabilidade atribuda aos irmos mais velhos na socializao dos mais novos com outras crianas e,
inclusivamente, no seu acompanhamento e guarda, no se verificam actualmente damesma forma nestes
contextos.
Todasestas situaes fazembaixarascondiesparaaconstruodedeterminadosvalores sociais
dentro da prpria famlia, valores esses que continuam fundadores de um equilibrado desenvolvimento
individualecomunitrio.Asolidariedade,apartilha,atolerncia,aconvivncianotmasmesmascondies
paraseremefectivadasentreirmos,oquecomportarepercussesnaeducaodestascrianas,repercusses
essasqueaescolanopodeignorar.
A organizao do tempo familiar outra condicionante no displicente na anlise das questes
educativas.Organizadas essencialmente numa base nuclear, distantes geograficamente dos outros ncleos
familiaresderazescomuns,asredesdeapoioexistentesnasfamliasalargadas,deixamdeseefectivar.Assim,
aumentaanecessidadedeospaisprocuraremoutrossuportesparaoacompanhamentodascrianasnashoras
desfasadasdoshorriosdetrabalhocomoshorriosescolares.
Aospoucosepoucosospapisfamiliaresadquiremnovoestatutoeemmuitaspartesdomundo,as
mulheres esto a exigirmaior autonomia em relao ao passado e a entrar nomundo laboral em grande
nmero(Giddens,2002:17),nosparasevalorizaremprofissionalmente,masnatentativadeajudaremno
sustentodafamlia,oquetraznovosproblemasenovasnecessidades.Nestecontexto,parecequeadimenso
profissional se tornou, sociologicamente falando, mais importante que a prpria dimenso familiar. A
participaodamulheremactividadessociaisforadecasa(emprego,associativismo,culturaise/ourecreativas
43
e outras) progressivamente maior, no sendo essa realidade ainda acompanhada, no entanto, pela
reorganizaodeexecuodastarefasdomsticas,peloqueotempopassadoemcomumemcasa,acabapor
ser,muitasvezes,vividonumgrandeclimadetenso.
Aomesmotempo,confrontadoscomestasrealidadesapardeummaior investimentonaeducao
dascrianas,ospaisprocuramcriaroutrassituaesempreendedorasdecomunicaoeaumentamassuas
expectativasdequenasescolassevalorizemtambmestasdimenseseducativas.Asexpectativasdasfamlias
faceaosserviosprestadospelasescolasso,assim,devriaordem:porumlado,sociais,poroutro,deordem
pedaggica.As famliasesperamqueasescolasasajudema resolverosproblemasdeatendimentoebem
estarssuascrianasnashorasemquehdesfasamentodehorriosentrepaisefilhos,valorizandoprocessos
de socializao qualificados. Aomesmo tempo, conscientes da relao entre educao e desenvolvimento
individualecolectivo,tmelevadasexpectativasnospercursosacadmicosdosseusfilhos.
Esta instituio de socializao primria de vital importncia para o indivduo ao assumir um
protagonismo evidente na transmisso cultural e social, porm, estruturas familiares slidas e coesas
encontramsecadavezemmenornmero.Nopanoramasocialactual,h famliasquenopassamdemera
iluso e que cada vezmais se demitem das suas responsabilidades.De facto, e olhando para todas estas
modificaes,parecequeafamliaseeclipsou,jnodesempenhaasmesmasfunesdeoutrostempos,ou
seja, existe um enfraquecimento da sua capacidade socializadora, que em parte se fica a dever s sbitas
alteraes emocionais com que se transmitem os contedos de socializao (Tedesco, 2000; Fernndez
Enguita,2001)esmaisvariadasopes.
DeacordocomTedesco(2000),acargaafectivacomqueseeducaacriana,actualmente,deveras
diferentedadeoutrora,talvezporser impulsionadaquerpelosdiversosgrupos,querpelasmltiplasopes
prdefinidasaqueacrianaexpostaequetendemamodificarserapidamente.Comtodasestasmudanas
a processaremse a um ritmo estonteante, essa agncia de socializao primria tornase incerta nas suas
modalidadesdeconstituio,claudicanasuamissodeeducaoeremeteparaaescolagrandepartedassuas
responsabilidades,inclusiveadecustdia(FernndezEnguita,2001).Nonovidadeafianarqueasfamlias
dependemcadavezmaisdeoutras instnciasparasocializarascrianasnasprticasdecidadania(Barbosa,
44
2006:72). As famlias comeam a transferir para a escola a maior parte das responsabilidades que lhe
pertenciamtradicionalmente,comoaeducaodosseusfilhos.Assisteseconcomitantementeaumacriseda
famliaedacomunidadecomo instituiescom responsabilidades (FernndezEnguita,2001:88),ou seja,a
suacapacidadesocializadoraestpostaemcausa,estemaparentecrise.Segundooautor,asinstituiesde
socializaodainfnciaestoretradas,inibidaseperderamaquelacapacidadededomesticao,disciplinae
moralizao(ibid:88),oquecontribuiparaaumentaranecessidadeeacargarelativadaescola.
Verificada a baixa possibilidade de educar por parte da famlia, empurramna para a escola, que
procura resistir a este enfraquecimento. escola comeam a ser exigidas novas funes diferentes da
tradicional instruo e aprendizagem. Este novo sentido acarreta novas competncias profissionais e
inovadorasprticaspedaggicas.Opapeldoprofessortornaseassimmuitoinfluentenaformaodocarcter
edoespritodasnovasgeraes.Cabeaoprofessoreaosseusparceiros (comunidadeeducativaemquese
integraafamlia)favoreceramudanaeacompreenso,contribuindoparaobemestarpresenteefuturodas
crianas.
APARTICIPAODOSPAISNASESCOLAS:UMDIREITOEDEVERDECIDADANIA
Osnovosconceitoseperspectivassobreaeducaonaactualidade,nomundoocidental,decorremda
conscinciadosdireitosdoscidados.
Aparticipaoidentificvelcomooprincipaldireitonareadacidadania.Oquesepassanoespao
pblico, com a vida das pessoas em comunidade, tem que decorrer de actos pensados, projectados pelos
prprios cidados. Assim, estes deixam de poder ser actores sociais passivos no desenvolvimento de uma
comunidadeparaseassumiremcomoautoresdaconstruodessamesmacomunidade.
Estas so realidades sociais novas, pelo que no se pode continuar a entender a escola como
prestadoradefavoressfamliasqueseconfrontamcomdificuldadesdeassumiremfuneseducativascom
osseusfilhos,mascomoumaparceiraactivanaeducaodacomunidadeemqueestinserida.
Umaparticipaoactivaeresponsvel,bemcomoumenvolvimentoefectivodospaisnasactividades
da escola, possibilitalhes um maior conhecimento acerca dos seus papis e das suas competncias e
45
proporcionalhesmaisinflunciaparamelhorparticiparemnoprocessodedesenvolvimentoedeescolarizao
dosseuseducandos.
Destemodo,podemosreferirqueaconstruosocialedemocrticadaautonomiadaescola impe
queseampliemosespaosdeinteraco,separtilhemdecisesesentidosinerenteslgicaorganizacional,o
quepode implicaraescolhadeespaosetemposdeparticipaoactivaondesepoderealizaroexercciode
cidadanianavidadasescolasporpartedospais.
Importa,pois, refazero relacionamentoentre a famliae aescola,nabasedodilogo construtivo,
numaanalogiadeconfiana,poisassimsepoderdiminuiradistnciaexistenteentreambos.Numambiente
decoesopodeestabelecerseumarelaodeamizadeeentreajuda,possibilitandoseumavivnciaplenada
criana que deixa de ter uma dupla aprendizagem e educao em casa e na escola para ter uma
aprendizagemeeducaoconvergentes.
OSNOVOSPAPISDAESCOLA
Estes novos sentidos da escola opemse conservao da cultura de isolamento que a tem
caracterizadoao longodemuitasdcadas:nos jardinsdeinfnciaeescolasdo1ciclo,por seremdebaixas
dimensesecomgrandedispersogeogrfica;nosoutrosciclosporqueosprofessoressecentramnosseus
grupos disciplinares, uns e outras porque definem fronteiras claras com as comunidades. Se continuarem
isoladas, as escolas continuaro confrontadas com a falta de recursos comummente apontada, com a
mobilidade constante dos professores, com a sobre ocupao ou no ocupao, com as dificuldades de
formao.
No entanto, a escola, aos poucos, vai rompendo as fronteiras rgidas quemanteve em relao s
comunidadesemqueseinsere:osprofessoresquebramasbarreirasdefinitriasdoseuespaodeacoeos
pais passam, ento, a ser assumidos como parceiros activos, integrantes do processo educativo. A
conceptualizaodaeducaodascrianasconstituiparatodosns,odireitoeodeverdeaprojectarmosem
conjunto.
46
Aescolahojeumaencruzilhadade culturas sociais,tnicas, religiosas.O respeitoea valorizao
dessadiversidadeconstituiumenriquecimentoparaaescolaemdiferentesdimenses.Umenriquecimento
emtermoscurriculares,emtermosdeconstruodecompetnciassociais,emtermosdeconhecimentos,em
termosdepartilhadosentimentodequepertencemosaummundoquenoseconfinaaoespaogeogrfico
emquevivemos.
A escola agora chamada a acolheros filhosdas famliasque vm de fora,procura fazero seu
acolhimento,ajudlosnaaprendizagemeinserilosnacomunidadeeducativa.Procuratambmdesempenhar
um papel relevante na preparao de todas as crianas na educao para a diversidade.Na atribuio de
importnciadiversidade,urgecriarnovasestratgias,novasrespostasparapromoverointeresse,osucesso
educativo de todos osque pertencem escola. ,pois,necessrio educarna convivncia,no respeito dos
princpiosdemocrticos,nainteracopositiva,noincentivodeatitudessolidriasetolerantes;ouseja,educar
nacidadania.Nestecenriopodemosafirmarquetantoas famliascomoosprofessoresassumemumpapel
centralumavezquetantopodempromovercomooutrorelaesdeafastamentocomorelaesconstrutivas
(Sarmento,T.2009).Assuasatitudes,comportamentosemodosdepensarpodemserfacilmentereproduzidas
eimitadaspeloqueseesperaqueesteseducadoresseassumamcomomediadoresinterculturais.
Pensamosqueosprofessoresnodevemestarsozinhosquandosepretendemdesenvolverprojectos
quepromovamaeducaomulticultural.Elesdevemcontarcomacolaboraodeoutrosparceiros,comoos
paiseacomunidadeenvolvente,edeoutras instituies,contribuindo,destemodo,paraqueseassegurea
igualdade e a dignidade de todos os envolvidos, essencialmente das crianas oriundas de outros pases, e
fomentandoasidentidadesculturaisdeformapositiva.
Face enormidade de solicitaes e de recursos dos tempos actuais, as nossas crianas e jovens
sobrevalorizamodirecto,o imediato,peloquesernaarticulaoentreasaprendizagensescolarescomas
actividades do quotidiano que progressivamente a educao poder ir abrindo dilogos e perspectivas,
proporcionandodesenvolvimento.Asaprendizagensdesejamseactivas,proporcionandoscrianasdesafios
estimulanteseamanipulaodeobjectos;significativas,correspondendoaos interessesereaisnecessidades
dascrianas;integradoras,relacionandosecomasvivnciasdecadaum;diversificadas,permitindooacessoa
47
umavariedadederecursoseautilizaodeinmerasestratgias;esocializadoras,garantindoumaformao
pessoal, social e crtica consistente. S com a integrao de saberes se torna possvel a compreenso da
realidadecomoumtodointegrado.
Estasperspectivasvoaoencontrodosquatropilaresidentificadoscomoprioritriosparaaeducao
para o sculo XXI apontados pela UNESCO, segundo os quais importa promover a aprendizagem para o
conhecimento,ogostodeaprenderaaprender,aaprendizagemdofazer,avalorizaodoaprenderasereo
aprenderaviver juntos.Aeducao,hoje,apelarevalorizaodaacodirecta,daconstruo,enfatizando
valores sociais inultrapassveis como sejamademocracia,a solidariedade,apartilha,aatenoaooutro,a
alteridade.Nessabase,odilogoentre culturas,anegociao sobreaparticipaode cadaumoude cada
gruposobreosespaosdepartilhaeasperspectivasaprosseguirsofundamentaisparaacolaboraoactiva
na resoluo dos problemas das nossas crianas, bem como para a realizao de aces comunitrias
promotorasdeprogresso.
ACONSTRUODOPROJECTOEDUCATIVOCOMOEXPLICITAODACIDADANIADAESCOLA
Sercombasenessedilogo,nessanegociaoenessacolaboraoqueemergeapossibilidadede
construirumaescolaautnomae,comotal,cidad.Autnomaporquesingular,porquediferentedetodasas
outras,porquepossuiumaidentidadeprpriaquelhedadapelogrupodepessoasqueahabitam,pelogrupo
deparceiros concretos comquem se interrelaciona,peloespao geogrfico concretoondeest localizada.
Cidad, porque viabiliza prticas de cidadania, porque experiencia e vive democraticamente, porque cria
oportunidadesdeparticipaoedeescuta.
A autonomia de cada escola ter que ser manifesta na construo de um projecto educativo
partilhado.
Projectoeducativoondeseclarifiqueaidentidadeesingularidadedecadaescola,ondeseexplicitem
osvaloresreferenciaisparaoquotidianodetodososelementosdacomunidadeeducativa,oque implicade
todospais,professores,alunos,outrosabertura,sentidoderesponsabilidade,reflexividade,capacidadede
diagnsticoede intervenoconstanteecontextualizada.Projectoeducativoesseondesedefinamas linhas
48
daeducao,asprioridadesanveldainstruoedasocializaodascrianas,jovenseadultosdessaescola.
Projectoeducativoessequereconheaquehinteressesdiferentesnacomunidadeeducativa,interessesesses
queprecisamdeser respeitadosparaqueaescolasepossaassumircomooespaodeconvivncianormal,
natural, empreendedora de cada um. No respeito pela diversidade de interesses se poder congregar a
participaode todososmembrosdaescola,salvaguardando,necessariamente,ascompetnciasespecficas
decadagrupo.
Os professores tm um saber especializado, tm competncias educacionais prprias e reas de
intervenoespecficas.Talcomoospais.Snorespeitomtuoserpossvelaunseaoutrosconviveremem
conjunto,partilhandoosseussaberes,assuashistriasdevida,assuasansiedades,assuasexpectativas,de
forma a tornar possvel o bom desenvolvimento do projecto educativo. Este projecto educativo criar
estratgiasdeinovaoindoaoencontrodasespecificidadesdecadacomunidade.
Neste processo determinante a incluso de uma praxis que fomente a valorizao das ideias e
opinies das crianas, da sua participao em diversas circunstncias vivenciais e das suas decises, entre
outrosaspectos.
Enquanto comunidade educativa, a escola fundamentase numa articulao entre os diferentes
parceiros sociais pais, grupos culturais e recreativos, autarquias, outros. Todos estes agentes so co
responsveispelaeducaodassuascrianaspeloquearesponsabilidadeeducativaassimentendidacomo
umdeverdetodososcidados.
Assim, ser na base do exerccio dessa cidadania, assumindo a autonomia, que se far a escola
acontecer.
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA,Manuel(2006).Educaoecidadania.RenovaodaPedagogia.Amarante:gora.
CRUZ,ManuelBraga(1997).Aformaoparaacidadaniaeasinstituiesdasociedadecivil.Brotria,
145(2/3),pp.195202.
FERNNDEZENGUITA,Mariano(2001).Educarentiemposinciertos.Madrid:EdicionesMorata.
49
GIDDENS,Antony(2002).Omundonaeradaglobalizao.Lisboa:EditorialPresena.
JANS, Marc (2004). Children as citizens: towards a contemporary notion of child participation.
Disponvelemhttp://chd.sagepub.com/cgi/content/abstract/11/1/27[ConsultadoemAgostode2009].
MONTANDON,C.,ePERRENOUD,P. (2001).Entrepaiseprofessoresumdilogo impossvel.Oeiras:
CeltaEditora.
MONTANDON,C.,(2001).AlgumastendnciasactuaisnasrelaesFamliasEscola.MONTANDON,C.,
ePERRENOUD,P.Entrepaiseprofessoresumdilogoimpossvel.Oeiras:CeltaEditora.153167.
ROCHE, Jeremy (1999).Children, rights,participationand citizenship.Childhood,4(6).475493.JANS
(2004).
SARMENTO,Teresaetal(1999).RelaoEscolaPais:asnossasprticasumprojectodeinterveno
numarededeeducadoreseprofessoresemPortugal.EncuentroMundialdeEducadoresInfantiles,Colmbia.
Http://waece.com/waece
SARMENTO, Teresa (2009). As crianas e a cidadania: abordagens participativas em projectos
educativos.SARMENTO,Teresa(org.)Infncia,famliaecomunidade.Ascrianascomoactoressociais.Porto:
PortoEditora.4368.
SOARES,NatliaFernandes(2005).InfnciaeDireitos:participaodascrianasnoscontextosdevida
Representaes,PrticasePoderes.TesedeDoutoramento.InstitutodeEstudosdaCriana.Universidadedo
Minho.(documentopolicopiado).
TEDESCO, JuanCarlos (2000).Onovopacto educativoEducao, competitividade, e cidadaniana
sociedademoderna.VilaNovadeGaia:FundaoManuelLeo.
TOMS,Catarina(2007).Paradigmas,imagenseconcepesdainfnciaemsociedadesmediatizadas.
InMedia&Jornalismo,(11).119134.
50
51
DESGNIOSPARAUMCURRCULODEMOCRTICO
JosCarlosMorgadoIEUniversidadedoMinhoAnaMargaridaGonalves
EB2,3deGilVicente,Guimares
INTRODUO
Nosuscitacontrovrsiaaideiadequeaescoladesempenhouumpapelfundamentalnaorganizao
polticadosEstados,sobretudodosEstadosdemocrticos,querporserummeiopropcioparaa(re)produo
da identidade e cultura nacionais, quer por ser um esteio imprescindvel na escolarizao e formao dos
indivduos,quer,ainda,porseridealizadacomoumelementotransformadordaprpriasociedade,umautopia
particularmenteevidentenaideologiaprogressista.
Assimsecompreendequeacentralidadequeaescolafoigranjeandoaolongodostemposresultasse,
emboaparte,daimportnciaqueaeducaoassumenarealizaodecadaindivduoe,porconsequncia,no
desenvolvimentoeprogressodecadapas,bemcomodaconvicodosseusbenefciosnaconstruodeuma
sociedademaisjustaesolidria.
Contudo, embora exista uma correlao positiva entre a escolarizao dos cidados, o progresso
econmico e social e a progressiva democratizao do sistema poltico de um pas, a verdade que uma
educaodebasegeneralizadaatodososcidadosnogarante,porsis,aconstruodeumasociedademais
democrtica. Apesar da concretizao de uma educao de base ser essencial para desenvolver saberes,
capacidades e competncias que permitam a cada indivduo construir um pensamento autnomo,
compreender os desafios com que se depara e integrarse de forma plena numa sociedade em constante
transformao, a melhoria dos nveis de escolarizao no exime a escola de desenvolver, de forma
intencional, uma educao democrtica, isto , uma educao capaz de dinamizar processos e prticas de
adesoavaloreseprincpiosdeigualdade,respeito,solidariedade,tolerncia,justiaeliberdade.
Umaeducaodemocrticahojeumanecessidadepremente,nosentid