Elson Faxina – 2015 Evangelização e espiritualidade na cultura digital Comunicação e mudanças socioculturais provocadas pelas tecnologias digitais

Elson Faxina – 2015

Evangelização e espiritualidade na cultura digital

Comunicação e mudançassocioculturais provocadaspelas tecnologias digitais


Tecnologias da comunicação e mudanças socioculturais

Precisamos reconhecer que até agora as classes dominantes foram muito mais conscientes que as subalternas do poder contido na cultura. (García Canclini)

Cultura não pode ser entendida apenas como manifestações artísticas, mas como o conjunto da ritualidade cotidiana de uma sociedade.



A Igreja Católica fez isso ao longo da história (Alex Periscinotto)

SinoDisplay LogotipoPesquisaConfessionário – recompensa psicológica



Auditório = missaPromoção = procissão (roupas especiais,

estandarte, bandeirolas, mística)Indumentária = embalagemTruque de comunicação: preencher vaziosProduto = fé (“em falta na praça”)



“Propagar fé não é rezar a missa às 8h da manhã na Globo. É vender um conteúdo chamado fé. Algo que faça o cliente acreditar no que a igreja pode fazer por ele”.

Para isso, é preciso estar sintonizado com o seu tempo.



• Duas realidades: física e virtual• O tempo da imagem• A epifania do ser (massa x indivíduo)• O tempo da paixão, não da obrigação• Incremento das novas comunidades



- Luiz Fernando Verissimo: Dunga- Enquanto não passa na televisão, o povo não

acredita muito. Depois que passa na televisão é rápido que eles começam a acreditar. (Alzira - PA)

- Elas acreditam mais no que veem na televisão ou no rádio do que propriamente naquilo que a gente fala. As famílias ficam mais firmes, acreditam mesmo na Pastoral, gostam mais, se alertam mais, ficam mais atentas. (Socorro - CE)



Todos os domínios da vida social, mesmo os reputados sérios, são “contaminados” pelo jogo das formas. Isso é demonstrado na produção das ideias, na vida religiosa, até mesmo na política. Em cada um desses casos, o 'produto’ em questão só é aceito quando é posto em forma, quando sabe aparecer, quando nos empenhamos em embelezá-lo, em pô-lo em imagem, em suma, quando nos dedicamos a epifanizar sua aparência.(Michel Maffesoli)



A ética destes tempos democráticos é mais ‘indolor’, alérgica aos deveres, às obrigações e aos sacrifícios; uma ética que só se coloca em marcha pela espontânea vontade dos sujeitos (Gilles Lipovetsky).



O que em última instância conta para as pessoas não é a ideologia política nem os interesses econômicos. Os problemas se identificam com a fé e a família, o sangue e as crenças, e por isso lutarão e morrerão.(Adela Cortina)



Eleger a possibilidade comunitária quer dizer opor-se, ou pelo menos não aceitar incondicionalmente o ideal societário, no qual a globalização traz como lógica os princípios de hegemonia e exclusão. (Raquel Paiva)



A sociedade em tribos• Marshall McLuhan* e os três estágios da

Humanidade.1º Tribalização2º Destribalização 3º Retribalização• Já existem dois novos estágios:4º Sociedade Midiatizada5º Sociedade Tecnomidiatizada



1º MUNDO TRIBALIZADO• A presencialidade = imagem como referente. • Os ensinamentos se davam a partir de

instituições modeladoras da sociedade: Família, Religião, Comunidade rural, Escola Mas também Feira, Praça pública, Taverna...

• Característica: profundo ensinamento dos clássicos da Antiguidade e a cosmovisão de um modo de vida emanado de uma compreensão do Sagrado.



• A aura desse tempo é Deus. • O Processo de cognição, de absorção do

conhecimento é o empático.



2º MUNDO DESTRIBALIZADO• A prensa de Gutenberg (mas também as

demais tecnologias: navegações, trens, etc.), marca o 2º estágio da Humanidade: o tempo da Destribalização.

• Responsáveis pela multiplicação de informações, logo, do conhecimento.

• Descentra o controle do conhecimento pelas grandes instituições.



• Possibilitada a um número incontável de pessoas, a leitura estimula o desenvolvimento do indivíduo e o exercício do pensamento livre.

• O mundo passa do conhecimento das “tribos” (família, religião, comunidade...) para o conhecimento do indivíduo, ou por uma espécie de simbiose entre ambos.



• O indivíduo ganha autonomia e as instituições seculares começam a entrar em crise.

• Passamos a outra era, classificada mais tarde como o Iluminismo, levando a grandes reformas nas estruturas sociais, políticas e, até, religiosas.

• A consolidação de novas igrejas cristãs surge a partir desse momento histórico.



• É o período da razão, da lógica, do pensamento linear.

• A imagem presencial e o conhecimento tribal perdem força, para dar lugar ao conhecimento individual, ao discurso linear, à lógica textual, ao questionamento, a novas possibilidades de pensamentos, a novas explicações para o universo, para o mundo, para a vida. A ciência floresce.



• Nietzsche e a “morte” de Deus: “Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos que inventar para suprir tal ausência? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele?”

• Era o ruir da grande narrativa: Deus como explicação para o mundo, para a existência, para a vida, para as coisas.

• Qual será então a nova grande narrativa, a explicação totalizante?



• Um dos grandes marcos: a Revolução Francesa, que define como insígnia de luta e organização social o tripé: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

• É o apogeu da razão. • A aura desse tempo é o homem• O Processo de cognição é o intelecto, o

racional, a lógica.



3º MUNDO RETRIBALIZADO• Com os meios de comunicação de massa

elétricos e eletrônicos (rádio, cinema e televisão) surge o terceiro estágio da Humanidade: Retribalização.

• Acontece a recuperação da imagem, agora não mais presencial, mas mediada pelos suportes tecnológicos.

• A imagem referencial se transforma em representação e auto-referente.



• Aqui, quase todos os seres humanos parecem estar ao alcance de todos, em qualquer momento e em qualquer lugar: Aldeia Global (McLuhan).

• Não é um retorno à tribalização, mas um novo processo social de convivência e aquisição de conhecimento.

• A aura desse tempo é o consumo• O Processo de cognição “volta” a ser o

empático, mas também o emocional.



4º SOCIEDADE MIDIATIZADA• A informação, o conhecimento chega às

pessoas e ganha legitimidade pela mídia.• Há uma espécie de extensão do ser humano

com e na máquina (McLuhan). Com o rádio, o cinema e a televisão a voz e a imagem passam a dar volta ao mundo.

• Mas não é o mundo que vem a mim, sou eu que ‘viajo’ o mundo.



• O avanço das mídias instaura o poder central da imagem, da forma, e surge, segundo Maffesoli, a epifania da aparência.



• Formamos comunidades, participamos de uma “tribo”, acumulamos informações, apreendemos mundos e aprendemos a manejar a vida a partir do processo da empatia que temos com este ou aquele personagem, com este ou aquele grupo.

• O que nos vincula não são mais os ideais de vida, são as proximidades empáticas - por isso mesmo, efêmeras e mutantes -, possibilitadas pelas imagens oferecidas pela mídia.



• Como antes, passamos a viver proximidades empáticas sobre as quais desenhamos nossos sonhos, nosso devir, nos heróis, nos vencedores.

• Passamos a ser pautados por imagens que circulam, de forma transversal, entre os meios de comunicação e nos impõem modelos de vida, de condutas, comportamentos, padrões de se viver, modos de ser e de pensar.



• Retomamos o processo de empatia na compreensão da vida, das coisas, do mundo, por meio da imagem.

• Ou melhor, da dupla imagem: a física e a virtual• A aura desse tempo são as comunidades de

consumo• Eis o diapasão que instaura a crise da razão,

para dar retorno da empatia e da emoção.



5º SOCIEDADE TECNOMIDIATIZADA• O surgimento da internet e das consequentes

mídias sociais vem ampliar a sociedade “retribalizada” e “midiatizada” e instaurar o 5º estágio da Humanidade: a Tecnomidiatização.

• A tecnologia não me representa, ela me leva: antes eu viajava o mundo virtualmente, agora viajo “fisicamente” pelas redes sociais



• É a potencialização das mídias, mas agora com a recuperação também da presencialidade e da proximidade.

• Uma proximidade que dá um certo poder de ubiquidade e:– Garante o anonimato – Estimula o espírito de turba.



• Amplia à exaustão o volume de informações, não necessariamente críveis

• É o sangrar da ética• Substitui os poderes estabelecidos, julgando e

condenando (O povo na rua: “Dilma é corrupta”)



• As tecnologias digitais reconfiguraram a comunicação. – Extinguiram as esferas do emissor/receptor e

criaram o “Comunicar é conectar-se”.– Fizeram surgir fenômenos comunicacionais

efêmeros • (Marco véio, A banda mais bonita da cidade…)



• Criaram novos modelos de comunidade definida, especialmente, por novas identidades, não só ligadas à etnia, religião e território. São comunidades que se formam a partir de

interesses comuns, definidos pelo universo cultural. (O mercado se apropria disso, criando sua própria subjetividade)



Mudanças individuais e coletivas• Sente-se cidadão se estiver conectado• Pensa-se com as mãos e com o corpo.

Aprende-se fazendo.• Pensa-se mais com o coração e menos com a

cabeça.• Criam-se vínculos pela paixão e não pela

obrigação• Insere-se em comunidades por afinidades



Críticas possíveis• A efemeridade técnica parece levar à

efemeridade de valores• Uma sociedade que busca pela felicidade

imediata, ainda que passageira• Uma sociedade consumista

– Com forte apelo ao ensimesmar-se, ao individualismo– Pouco afeita ao aprofundamento dos temas, à

reflexão, à contemplação



Surge um “novo” ser humano- Não quer ser massa, mas indivíduo- Não quer ser número, mas protagonista- Desenraizado, em busca de pertença- Afeito ao “novo” e às explicações simplificadas

de tudo- Avesso à obrigação, participa por paixão



Surge um “novo” ser humanoA ética destes tempos democráticos é mais ‘indolor’, alérgica aos deveres, às obrigações e aos sacrifícios; uma ética que só se coloca em marcha pela espontânea vontade dos sujeitos (Gilles Lipovetsky).

- Não quer ser representado, mas representar-se- Carente de sentido de vida.



Desafios à Igreja• As redes sociais são hoje o espaço de uma

infinidade de novas comunidades que vão sendo criadas e recriadas.

• Precisamos estar ali para fazer a diferença.• Precisamos usar esses novos instrumentos para

ser Igreja e se comunicar com a sociedade. • Estar nessas novas comunidades, sem

“esquecer” as antigas formas comunitárias.


Trabalho em grupo 1

1. Que implicações essas novas tecnologias da comunicação trazem para a sociedade e para a nossa Igreja?

2. Os agentes da Evangelização são chamados a ser autênticos, testemunhando os valores nos quais acreditam em qualquer ambiente em que estiverem. Como anunciar/testemunhar o Evangelho a partir da Igreja no espaço digital? Como favorecer o encontro das pessoas com Jesus Cristo no mundo digital?


Trabalho em grupo 21. Que implicações essas novas tecnologias da

comunicação trazem para a sociedade e para a nossa Igreja?

2. Os primeiros discípulos de Jesus eram missionários, testemunhavam, com a própria vida, o Evangelho e o anunciavam sempre que tinham uma oportunidade. Como atualizar a atitude dos discípulos-missionários nos espaços sociais (família, faculdade, trabalho, âmbitos culturais, mídia digital, entre outros) significativos para o encontro na cultura atual?




2. A Comunidade Cristã precisa pensar a fé, compreendendo a dimensão do plano de Deus para a humanidade. A autêntica comunicação do Evangelho penetra a consciência de cada um, suscitando a adesão pessoal a Jesus Cristo. Como isso é possível nas redes digitais?




2. Como estabelecer um diálogo eficaz entre a Igreja e a Juventude? Como a Catequese, a Pastoral da Juventude e os outros grupos eclesiais podem ajudar as crianças, os adolescentes, os jovens e adultos a assumirem uma posição crítica diante dos apelos e atrativos da rede digital?

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